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PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E VIDA LITERÁRIA - UNESP-Assis

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II Colóquio da Pós-Graduação em Letras<strong>UNESP</strong> – Campus de <strong>Assis</strong>ISSN: 2178-3683www.assis.unesp.br/coloquioletrascoloquiletras@yahoo.com.br<strong>PARNASIANISMO</strong>, <strong>SIMBOLISMO</strong> E <strong>VIDA</strong> LITERÁRIA: UM ESTUDO DA POESIALÍRICA PUBLICADA NA GAZETA DE NOTÍCIAS (1890-1900)Camila Soares López(Mestranda – <strong>UNESP</strong>/<strong>Assis</strong> – FAPESP)RESUMO: Pensar a história da imprensa no cenário brasileiro na década de 1890 é, também,refletir sobre o papel exercido pela Gazeta de Notícias nesse período. Esse importante jornalnotabilizou-se pelo fato de ter democratizado a informação e de ter criado um novo públicoleitor. Juntamente à divulgação da matéria informativa e da prestação de serviços, a Gazetacedeu espaço à literatura, publicando textos de autores reconhecidos na época, comoMachado de <strong>Assis</strong>. Entre os gêneros literários estampados em suas páginas se conta a poesia,objeto de estudo deste trabalho. A análise dos poemas líricos publicados na Gazeta deNotícias permitiu-nos avaliar a contribuição da folha dada à publicação de textos de tal gênero,além de apontar os preceitos estéticos seguidos por grande parte dos escritores, os temasmais frequentes, entre outros aspectos, proporcionando assim um maior conhecimento daliteratura do período.PALAVRAS-CHAVE: Parnasianismo; Simbolismo; Gazeta de Notícias.IntroduçãoAo final do século XIX, o cenário político-social brasileiro enfrentou diversastransformações. A dinamização social desencadeou as migrações internas e asmodificações políticas. A então Capital Federal – o Rio de Janeiro – consolidava-secomo território marcado pela formação de uma população urbana diferenciada, da qualconstavam pessoas vinculadas à burocracia e, especialmente, ao universo das Letras.Nascia, assim, a “Paris do Segundo Império”.Na época, muitos homens encontravam na literatura uma fonte condigna deobtenção de renda. O Rio de Janeiro concentrava o maior mercado de trabalho paraos literatos, bem como a oportunidade de profissionalização dos escritores e algunsavanços concernentes à lei dos direitos autorais, que ocorreram graças a fatores comoa modernização da imprensa e o crescimento populacional.A produção literária que data desse período possui relação íntima com aimprensa, posto ter sido esta a sua via primordial de divulgação. A Gazeta de Notícias,jornal fundado em 1875 por Ferreira de Araújo e Elísio de Menezes, cedeu espaço aos251


textos literários de gêneros diversos, dentre os quais se conta a poesia. Nestetrabalho, serão apresentadas elucidações referentes aos poemas publicados pelaGazeta nos anos de 1890, em especial no que concerne ao embate parnasianosimbolista,à figura de Cruz e Sousa e à poesia de circunstância.Em suma, o objetivo deste escrito é apresentar elementos relacionados àpoesia lírica publicada no periódico Gazeta de Notícias, assim como oferecerconceitos referentes ao cenário literário da década de 1890.A Gazeta de Notícias e o embate parnasiano-simbolista no BrasilO Brasil do século XIX foi cenário para o estabelecimento de diferentesestéticas literárias, entre os quais se contam o Parnasianismo e o Simbolismo. Foramdiversos os autores que se filiaram aos preceitos desses movimentos, que apesar deterem coexistido e de serem “identificados ou misturados pelos seus elementosformais e ideológicos, divergem à medida que avançam no tempo, e se tornamparalelos e adversários”. (COUTINHO, 1997, p. 319)O Parnasianismo, – termo que passou a vigorar no país a partir da publicaçãoda obra Sonetos e rimas, de autoria de Luís Guimarães, – e o Simbolismo provêm daFrança, possuindo como origem comum a coletânea Le Parnasse Contemporain, quedata de 1866. Segundo Péricles Eugênio de Ramos, coube a Artur de Oliveiraintroduzir em terras brasileiras os preceitos do Parnaso: durante a sua estada naEuropa, que durou dois anos, tomou conhecimento dos versos de autores parnasianos– Oliveira chegou a afirmar ter convivido com figuras como Leconte de Lisle eThéophile Gautier, – apresentando-os aos seus amigos após o seu retorno. (RAMOS,1967, p. 161)No tocante ao Simbolismo, sabe-se que tal vertente foi, em especial, ummovimento parisiense, “por seu aspecto cosmopolita, que preparou um determinadoclima internacional propício aos subsequentes grupos de vanguarda: cubismo,futurismo, dadaísmo e surrealismo”. (BALAKIAN, 1985, p. 15) Foi, ainda, fruto de umacrise do século XIX, período permeado por questões vinculadas à identidade humanae à individualidade do artista na sociedade de consumo. Além disso, particularizou-sepor conta de elementos como a negação das soluções racionalistas e pelo culto aosvalores espirituais.Consideram-se Medeiros e Albuquerque e Wenceslau de Queiróz osprecursores do Simbolismo no Brasil. Toma-se, igualmente, o ano de 1893 como o252


marco do início do movimento simbolista no país, graças à publicação das obras, deautoria de Cruz e Sousa, Missal e Broquéis, – esta anunciada pela Gazeta comosendo “[...] versos de moço, quase sempre cantando as harmonias da carne, e nãoraro fazendo-os com exuberâncias de estilo, que vão até a obscuridade”. (GAZETA deNotícias, 1893, p. 1)No que tange à recepção do Parnasianismo e do Simbolismo no territórionacional, viu-se que o primeiro foi supremo na preferência do público leitor. Quanto àcrítica, observou-se uma série de escritos que depreciava o Simbolismo. A estéticasimbolista era entrevista, na época, enquanto um movimento não representativo delinguagem, que se distanciava do referencial da realidade e do imitativo, o que eraalmejado pela literatura do período. (CARA, 1983, p. 10) Os versos de caráterparnasiano apresentavam, por exemplo, regras sintáticas fixas e artifícios retóricos, oque os tornava claros, no que concerne à compreensão (ASSUMPÇÃO, 1979, p. 35);realizavam, por meio do léxico, o discurso do domínio e do poder, em um ritual deestabelecimento de uma “fantasia verbal”.As obras de cunho lírico publicadas na Gazeta de Notícias denotam asupremacia do Parnasianismo frente ao Simbolismo. Em tal folha, obras de autorescomo Alphonsus de Guimaraens raramente eram publicadas. Em contrapartida, o jámencionado Alberto de Oliveira, além de Olavo Bilac e Magalhães de Azeredo,divulgavam com assiduidade suas estrofes na Gazeta. Igualmente, críticasdepreciativas relativas ao poeta Cruz e Sousa, maior representante da estéticasimbolista no Brasil, ganharam espaço no jornal em questão. A exemplo do queocorreu na França, como a publicação Les déliquescences d´adoré Floupette (1885),de Beauclair e Vicaire, consta da Gazeta de Notícias um escrito da autoria deMagalhães de Azeredo (AZEREDO, 1893, p. 1-2) no qual o poeta, em sua coluna“Homens e Livros”, fez duras considerações concernentes à obra Missal, de Cruz eSousa, afirmando terem sido os textos desse último “literatura de manicômio”.Encontraram-se, também, textos satíricos que ridicularizavam a produção poética e afigura do poeta catarinense, alcunhado “Dante Negro” pelos seus. Esse é o caso, porexemplo, dos poemas “Na costa d’África”, (CRUZ, 1893, p. 3) assinado por Souza eCruz, e “Chorar”, de Pedro Malazarte:ChorarAntes chorar! Mais fácil nos parece.Porque o chorar nos ilumina e aquecenesta noite gelada do existirCruz e Souza.253


Concordo com o Cruz, o poeta,Penso com ele, e garantoQue no mundo só o patetaPrefere a risada ao pranto.Chorar é coisa excelente,E’ meio caminho andado,E’ recurso, expedienteQue tem seguro atestado.A coisa classificando,E’ das esplendidas tretasA melhor, mormente quandoQuem chora não faz caretas.Chorar é coisa divina,Porquanto um rifão de famaAté, senhores, ensinaQue quem não chora, não mama.(MALAZARTE, 1891, p. 1, 2. col.)Assim, torna-se inteligível a tentativa de adequação aos preceitosparnasianos por aqueles que aspiravam à elaboração de versos da década de 1890.Possivelmente, eles observavam a supremacia dos representantes do Parnaso naspáginas dos jornais de renome e aliavam o desejo de inserir-se aos padrões literárioscorrentes à vontade de elogiar e angariar simpatias a partir da produção poética.Poesia de circunstânciaPode-se afirmar que não apenas poetas respeitados possuíam aoportunidade de publicar seus escritos na Gazeta de Notícias, mas também anônimosque, provavelmente, faziam parte de uma elite social que visava à obtenção de favorese ao cumprimento de certas funções sociais. Esse grupo seleto encontrava na poesiauma via de expressão de seus desejos e sentimentos.A Gazeta cedeu de maneira significativa espaço aos poemas ditos decircunstância. De modo geral, essas estrofes possuem caráter elogioso e temasdiversos, que transitam entre datas comemorativas, lamentos pela morte de entesqueridos, aniversários e experiências pessoais.Apenas no ano de 1890, foram publicados 36 poemas de circunstância. Essaprodução sofreu um declínio nos anos de 1894 e 1895, mas manteve-se presente naGazeta de Notícias até a virada do século. Mesmo Machado de <strong>Assis</strong> escreveupoemas de circunstância; “Soneto circular”, publicado em 18 de abril de 1895,homenageia Ferreira de Araújo, já mencionado neste trabalho como um dosfundadores da Gazeta.254


A bela dama ruiva e descansada,De olhos longos, macios e perdidosC’um dos dedos calçados e compridosMarca a recente página fechada.Cuidei que, assim pensando, assim caladaDa fina tela aos floridos tecidos,Totalmente calados os sentidos,Nada diria, totalmente nada.Mas, eis da tela se despega e anda,E diz-me: “– Horácio, Heitor, Cipião, Miranda,C. Pinto, X. Silveira, F. Araújo,Mandaram-me aqui para viver contigo”Ó bela dama, a ordens tais não fujo,Que bons amigos são! Fica comigo. (MACHADO DE ASSIS, 1895,p.1, 5. col.)Um exemplo de poema de circunstância característico, do qual o tema é olamento da morte de um parente, foi publicado em 1892, com a assinatura de CarmenAndrett. Intitulado “Lágrimas”, o poema denota, além do derramamento excessivo desentimentos, o esforço da autora em vencer as barreiras da metrificação, o que erauma exigência da estética parnasiana vigente na época. “Lágrimas” possui medidaregular, contando com três estrofes, cada qual dotada de seis versos; as rimastambém apresentam esquema regular, e os versos alternam-se em hexassílabos edecassílabos – sendo estes últimos os mais cultivados no período:Rosa branca que abristes, à luz do dia,Vivendo uma só hora de alegriaCom sorrisos de amorLinda sucena, que vivestes rindoJunto ao riacho, o vento te impelindoCaístes em chãos de dor.Que resta? ... Uma só folha acaso visteNesse jardim do mundo?... onde é que existeMortal dizes, que é minha!...Mentira! Oh! sim mentira! ... a tempestadeDa morte pavorosa – sem piedadeTudo levou daninha!Félix, Félix, ó filho queridoDe seus pais amante, a maior ventura,De seus avós a alegria,Era!... era, meu Deus, e a morte irada,Com sopro arrebatou-o ao triste nada,Àquela campa fria. (ANDRETT, 1892, p.2, 7.col)O poema cujo primeiro verso é “Os mimosos da sorte que te ofertem”, de1894, é assinado por A. da Silva e oferecido ao “popular e ativo negociante brasileiroJoão Batista da Silva.”. Configura-se como expressa via de bajulação e é, assim como255


o poema de Carmen Andrett, manifestação do esforço de se adequar à forma cultivadapelos parnasianos; é constituído de quartetos e com versos, em sua maioria,decassílabos, que apresentam meios poucos louváveis para atingirem tal medida,como a não-elisão de algumas das sílabas métricas:Ao aniversário natalício do popular e ativo negociante brasileiro JoãoBatista da Silva.Os mimosos da sorte que te ofertemJoias vistosas, luxuosas flores,Dádivas raras de mais raros climas,Objetos de artísticos lavores.Que quem pobre for, como eu apenasFeliz se julgará podendo agoraSaudar-te o aniversário em rude fraseExprimir o prazer que tem nesta hora!É pouco é certo, e pouco no entantoPara quem nada tem por muito vale;Outros poderão dar-te poemasNinguém talvez da alma te fale.Deixa pois que role a estrofe estultaEntre as flores e as galas deste dia;Mesmo pobre talvez possa dizer-teQuanto bem te quer quem te a envia. (SILVA, 1894. p.3, 4.col.)Os poemas de circunstância acompanhavam, também, as tensões políticasda época. Na ocasião da morte de Floriano Peixoto, que governou o país em umperíodo conturbado, poemas de circunstância foram a ele dedicados. Sob a forma desoneto e lançando mão de versos decassílabos e esquema rímicoABBA/ABBA/CCD/EED, Higino Rodrigues homenageou o Marechal com as seguintespalavras:Homenagem ao imortal democrata Floriano PeixotoCognominado pela história O MARECHAL DE FERROAdeus. Leal soldado, que partistePara as regiões ignotas do Insondável.Ceifado pela estúpida, implacávelFoice da morte, a qual ninguém resiste!O Espírito não morre; o Teu existe,Fosse embora teu corpo à insaciávelTerra servir de pasto confortável,Deixa que a Terra o seu quinhão conquiste!E agora que Tu vais, como num sonho,Rompendo o escuro véu desse medonhoPaís do Incógnito, glorioso, aflante...256


Vê que o Brasil exânime soluçaE sobre a tua cova se debruçaPra reerguer-se intrépido, arrogante! (RODRIGUES, 1895. p.3, 4.col.)Observa-se, portanto, que a Literatura Brasileira não contou apenas com acontribuição de obras de grandes autores, mas igualmente com a de anônimos que,assim como muitos poetas célebres, ensaiaram seus versos sob o rigor da estéticavigente no XIX e deixaram marcas que possibilitam a análise das relações sociais doperíodo.Considerações finaisOs estudos que possuem como objeto os periódicos que circularam no Brasilnos primeiros anos da República apontam para diferentes questões, dentre as quaiscontam os preceitos referentes à produção poética no país. A análise dos poemaslíricos publicados na Gazeta de Notícias em tal época traz à luz particularidadesdiversas, especialmente aquilo que concerne às estéticas vigentes e à própriacondição de escritor.Além de ter se configurado como pano de fundo para a disputa entreparnasianos e simbolistas, a Gazeta cedeu suas páginas não somente a escritoresque possuíam algum êxito, mas também a anônimos que, provavelmente, faziam partede uma elite social que visava à obtenção de favores e ao cumprimento de certasfunções sociais a partir da divulgação de seus respectivos poemas de circunstância.Nessas publicações, – cujos temas mais frequentes eram o luto e os aniversários, –tais autores podiam louvar os feitos de determinados indivíduos que figuravam nacidade do Rio de Janeiro, além de lamentar a morte de seus entes ou o falecimento dehomens vinculados à política ou à chamada alta sociedade.A análise pormenorizada dos escritos de cunho lírico divulgados peloperiódico em questão resultou na construção de um repertório ainda mais vasto doselementos referentes à construção poética que eram comumente empregados, alémdo apontamento das inovações que surgiram em meio aos versos da poesia líricabrasileira. O número de poemas indexados revela que a Gazeta de Notícias atribuiugrande importância às publicações de cunho lírico, o que perdurou até a virada doséculo XIX.257


Referências bibliográficasANDRETT, Carmen. Lágrimas. Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 2 de nov. 1892.p.2, 7.col.ASSUMPÇÃO, Nívia. O Parnasianismo como fenômeno da cultura brasileira emconflito entre Kitsch e Vanguarda. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica (PUC),1979. Dissertação de mestrado.AZEREDO, Magalhães de. O missal. Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 18 set. 1893.p.1-2. 1.col.BALAKIAN, Anna. O simbolismo. São Paulo: Perspectiva, 1985.CARA, Salete de Almeida. A recepção crítica: O momento parnasiano-simbolista noBrasil. Pref. de Antonio Candido. São Paulo: Ática, 1986. (Ensaios, 98).COUTINHO, Afrânio. (dir.) A literatura no Brasil. 4. v. Rio de Janeiro: Global, 1997.CRUZ, Souza e. Na costa d´África. Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 3 de set. 1893.p.3, 3.col.GAZETA de Notícias. Rio de Janeiro, 1890-1900. Cotidiano.MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. Soneto circular. Gazeta de Notícias. Rio deJaneiro, 18 abr. 1895. p.1, 5.col.MALAZARTE, Pedro. Chorar. Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 5 de jan. de 1891.p.1, 2.col.RAMOS, Péricles Eugênio da Silva. Do Barroco ao Modernismo: Estudos de poesiabrasileira. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1967.RODRIGUES, Higino. Adeus, Leal Soldado, que partiste. Gazeta de Notícias. Rio deJaneiro, 9 jul. 1895. p.3, 4.col.SILVA, A. Os mimosos da sorte que te ofertem. Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 24jun. 1894. p.3, 4.col.258

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