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JORNAL DE LEIRIA | 18 DE SETEMBRO DE 2008 | V | I | V | E | R | 2 |AberturaEm poucasdécadas, serjovem mudouradicalmente <strong>de</strong>significado. Se,no passado, ossonhos eramcondicionadospor um Estadorepressivo, asgerações quehoje estão nacasa dos 40 e50 anosconhecerammais cedo osabor daliberda<strong>de</strong>.Quem nasceunos últimos 30anos, então,cresceu semamarras. OJORNAL DELEIRIA ouviu ageração dosavós, dos filhose dos netos <strong>de</strong>três famílias econta-lhe asdiferenças <strong>de</strong>pensamento.Textos: Alexandra BarataFotos: Ricardo GraçaGeração da falta <strong>de</strong> tempoJoana Louro, 29 anos, médica no hospital <strong>de</strong> Caldasda Rainha, encara a família como uma priorida<strong>de</strong>em relação ao trabalho, apesar <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r que avida é muito mais difícil para os jovens <strong>de</strong> hoje doque na época da sua mãe. “Vivemos num mundomais competitivo, on<strong>de</strong> ser bom é obrigatório e sermuito bom é o <strong>de</strong>sejável e on<strong>de</strong> é mais difícil vingarnas carreiras. Somos muitos para poucos empregose há mais exigência a nível profissional. Somos ageração da falta <strong>de</strong> tempo.”Apesar disso, afirma que continua a ser exigidoà mulher que seja boa esposa, boa mãe e boa profissional.“Os homens <strong>de</strong> hoje já ajudam e participam, mas nãoé o suficiente. A mulher continua e continuará semprea ser a estrutura da família. Se assim não for, a família<strong>de</strong>smorona-se.” No seu caso, a maternida<strong>de</strong> tem sidoadiada por motivos profissionais. Neste momento,encontra-se a fazer especialização em MedicinaInterna. “Não quero ter um filho para não ser eu acuidar <strong>de</strong>le.” Confessa, contudo, que como casouapenas há um ano também quer “curtir” a vida adois.A mãe, Clarisse Louro, <strong>de</strong> 52 anos casou aos 22anos e com a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Joana já tinha as duas filhas.“O meu objectivo principal era ter autonomia, espaçoe sair <strong>de</strong> Alqueidão da Serra”, no concelho <strong>de</strong> Porto<strong>de</strong> Mós. “Isso passava pelo casamento”, justifica. Naaltura estava a acabar o bacharelato em Enfermageme o marido, Eduardo Louro, a concluir o curso <strong>de</strong>Economia. O apoio dos pais permitiu-lhe dar essepasso apesar <strong>de</strong> ainda não serem autónomosfinanceiramente.“Não tinha perspectivas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoprofissional, mas pessoal. Queria ser uma boa dona<strong>de</strong> casa e uma boa mãe”, conta Clarisse Louro. Noentanto, nunca equacionou ficar em casa sem trabalhar.Na altura, tinha tirado o bacharelato em Enfermageme era responsável por uma Extensão <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> emLoures. Só quando as filhas eram crescidas é que<strong>de</strong>cidiu concluir a licenciatura em Coimbra, o mestradoem Lisboa e, mais recentemente, o doutoramento noPorto. Hoje, dá aulas no Instituto Politécnico <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>.Alzira, 75 anos, é a matriarca da família. “Aindahoje me dá sentenças”, diz a filha, Clarisse Louro,entre risos. Mãe solteira aos 23 anos, contou com oapoio dos pais, que acompanharam <strong>de</strong> perto osprimeiros anos <strong>de</strong> vida da neta, já que os pais sócasariam seis anos mais tar<strong>de</strong>. Isto porque Alzirafazia questão <strong>de</strong> só casar <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> construir casa.Ao fim <strong>de</strong> dois anos <strong>de</strong> vida em comum, o maridoadoeceu e morreu quatro anos <strong>de</strong>pois.Apesar <strong>de</strong> ter tido um percurso <strong>de</strong> vida difícil,Alzira nunca cruzou os braços. Aos 39 anos, concluiua 4ª classe para po<strong>de</strong>r tirar a carta, comprou uma“carrinha velha” e tornou-se ven<strong>de</strong>dora ambulante<strong>de</strong> cristais e Vista Alegre. Conseguiu, assim, proporcionarà filha estudar numa escola privada e, mais tar<strong>de</strong>,oferecer um carro às duas netas e pagar-lhes o vestido<strong>de</strong> casamento. “Ainda hoje gosto <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r. Mas jánão o faço por necessida<strong>de</strong>.”Amealhar paJosé Manuel Moura, 45 anos, coor<strong>de</strong>nador do CentroDistrital <strong>de</strong> Operações e Socorro (CDOS), perito das NaçõesUnidas e docente do Instituto Politécnico <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, cresceuno seio <strong>de</strong> uma família humil<strong>de</strong> em Caldas da Rainha, apesardo pai sempre se ter esforçado para que nada faltasse aostrês filhos. Talvez por isso, nunca esbanjou dinheiro e procuroutransmitir esse princípio às duas filhas.Sem condições económicas para prosseguir estudos apósa conclusão do secundário, apesar <strong>de</strong> ser um dos melhoresalunos, José Manuel Moura acabou por se licenciar emEconomia já com 29 anos e ainda tirou um mestrado. “Durante<strong>de</strong>z anos dormi quatro a cinco horas por noite. Trabalhava<strong>de</strong> dia e <strong>de</strong> noite e, aos fins-<strong>de</strong>-semana, estudava para asfrequências.”“Fui remando contra a maré”, explica o coor<strong>de</strong>nador doCDOS. Exemplo disso foi o facto <strong>de</strong> ter praticado hóquei empatins quando era jovem, um <strong>de</strong>sporto <strong>de</strong> elites, on<strong>de</strong> fezamiza<strong>de</strong>s que ainda hoje duram. Da juventu<strong>de</strong> recorda doismomentos especiais: a aventura <strong>de</strong> ter viajado <strong>de</strong> jipe atéTorremolinos, em Espanha, e os três meses que passou atrabalhar no aeroporto <strong>de</strong> Amesterdão, na Holanda, aos 17anos, que o tornou in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte economicamente e lheabriu a porta para o mundo.FUTURO TRAÇADO AOS 19 ANOSAdriana, a filha mais velha <strong>de</strong> José Manuel Moura, estáa frequentar o 3º ano <strong>de</strong> Reabilitação Psicomotora naUniversida<strong>de</strong> Técnica <strong>de</strong> Lisboa com uma mesada dos paise preten<strong>de</strong> tirar, <strong>de</strong> seguida, um mestrado em Coimbra paraficar em igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> circunstâncias com os alunos que jávão sair da universida<strong>de</strong> com o grau <strong>de</strong> mestre. “Quer sequeira quer não, isso vai interferir no mercado <strong>de</strong> trabalho”,argumenta, pois sabe que o pai gostava que fosse trabalharprimeiro como psicomotricista para po<strong>de</strong>r escolher <strong>de</strong> umaforma mais esclarecida qual a melhor área para tirar ummestrado.aaccos6V5ppcpgatvdonacup-éaedE

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