O Quarto Estado da Matéria - Instituto de FÃsica - UFRGS
O Quarto Estado da Matéria - Instituto de FÃsica - UFRGS
O Quarto Estado da Matéria - Instituto de FÃsica - UFRGS
Transforme seus PDFs em revista digital e aumente sua receita!
Otimize suas revistas digitais para SEO, use backlinks fortes e conteúdo multimídia para aumentar sua visibilidade e receita.
TEXTOS DE APOIO AO PROFESSOR DE FÍSICANº 15, 2004O <strong>Quarto</strong> <strong>Estado</strong><strong>da</strong> MatériaLuiz F. ZiebellINSTITUTO DE FÍSICA - <strong>UFRGS</strong>
Série Textos <strong>de</strong> Apoio ao Professor <strong>de</strong> Física, nº.15, 2004PAS - Programa <strong>de</strong> Atualização em ServiçoPara Professores <strong>de</strong> FísicaGRUPO DE ENSINOEditor: Marco Antonio MoreiraCIP-Brasil. Dados Internacionais <strong>de</strong> Catalogação na Publicação(Letícia Strehl; CRB 10/1279)Z65qZiebell, Luiz FernandoO quarto estado <strong>da</strong> matéria / Luiz F. Ziebell. – Porto Alegre :<strong>UFRGS</strong>, <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Física, 2004.30 p. : il. (Textos <strong>de</strong> apoio ao professor <strong>de</strong> física, ISSN 1807-2763; v. 15)1. Plasma 2. <strong>Estado</strong>s físicos <strong>da</strong> matéria I. Título II. SériePACS 52.Impressão: Waldomiro <strong>da</strong> Silva OlivoIntercalação: João Batista C. <strong>da</strong> Silva
O <strong>Quarto</strong> <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> MatériaL. F. Ziebell<strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Física, <strong>UFRGS</strong>, Caixa Postal 1505191501-970 Porto Alegre, RS, Brasil(Dated:)ResumoNeste texto introduzimos o conceito <strong>de</strong> ”plasma”como sendo um dos estados possíveis <strong>de</strong>organização <strong>da</strong> matéria. Discutimos suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas, sua ocorrência na natureza,sua presença em laboratórios, e suas aplicações em processos <strong>de</strong> importância tecnológica.Apresenta-se também uma pequena introdução a processos básicos ocorrendo em plasmas,como o confinamento magnético <strong>de</strong> plasmas, on<strong>da</strong>s e instabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s em plasmas, e fusãonuclear.1
SumárioI. Introdução 3II. Confinamento Magnético <strong>de</strong> Plasmas 7III. On<strong>da</strong>s e Instabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s em Plasmas 10IV. Ocorrência <strong>de</strong> Plasmas na Natureza 12A. Magnetosferas Planetárias 12B. Estrelas 14C. Supernovas e Estrelas <strong>de</strong> Nêutrons 17V. Plasmas em Laboratório e em Aplicações Tecnológicas 18A. Fusão Nuclear e Fusão Nuclear Controla<strong>da</strong> 18B. Fusão Controla<strong>da</strong> em Sistemas <strong>de</strong> Confinamento Magnético 20C. Fusão Controla<strong>da</strong> em Dispositivos <strong>de</strong> Confinamento Inercial 26D. Outras Aplicações Tecnológicas 26VI. Encerramento 29Referências 312
I. INTRODUÇÃOA idéia <strong>de</strong> que a matéria po<strong>de</strong> ser encontra<strong>da</strong> na forma <strong>de</strong> três estados diferentes, sólido,líquido e gasoso, está bastante embasa<strong>da</strong> no senso comum e é compartilha<strong>da</strong> pela maioria <strong>da</strong>spessoas. Entretanto, quando refletimos um pouco sobre a estrutura e organização <strong>da</strong> matéria,à luz <strong>de</strong> noções básicas <strong>de</strong> física atômica, é fácil percebermos a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> existência<strong>de</strong> um quarto estado, e é fácil também inferir algumas <strong>de</strong> suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas.Como sabemos, a matéria é basicamente forma<strong>da</strong> <strong>de</strong> átomos, por sua vez formados<strong>de</strong> prótons, elétrons e nêutrons. Os prótons possuem carga elétrica positiva e repelem-seelétricamente uns aos outros. Entretanto, po<strong>de</strong>m atrair-se fortemente, <strong>de</strong>vido à chama<strong>da</strong>interação nuclear forte, que age apenas a curtas distâncias. Os nêutrons não são afetadospelas forças elétricas, mas também interagem entre si e com os prótons via forças nucleares.Sendo assim, é possível a ocorrência <strong>de</strong> configurações estáveis envolvendo prótons enêutrons. Estas configurações constituem os chamados núcleos atômicos, i<strong>de</strong>ntificados pelonúmero atômico (número <strong>de</strong> prótons) e pelo número <strong>de</strong> massa (soma <strong>de</strong> prótons e nêutrons).Os núcleos têm uma carga elétrica, e como conseqüência atraem partículas <strong>de</strong> carga oposta,os elétrons. Estes po<strong>de</strong>m portanto estabelecer-se nas vizinhanças do núcleo, atraídos poreste e repelindo-se entre si. Como se percebe, há uma forte tendência para estabelecer umaconfiguração estável, em que o número <strong>de</strong> elétrons é igual ao número <strong>de</strong> prótons. A estasconfigurações <strong>da</strong>mos o nome <strong>de</strong> átomos. Para fins <strong>de</strong> classificação, dizemos que o número <strong>de</strong>prótons no núcleo caracteriza o elemento (H, He, C, Fe, etc.), enquanto o número <strong>de</strong> massacaracteriza o isótopo do elemento.Os átomos po<strong>de</strong>m unir-se entre si por meio <strong>de</strong> forças <strong>de</strong> origem elétrica, origina<strong>da</strong>s <strong>de</strong>mu<strong>da</strong>nças na configuração eletrônica que ocorrem quando os átomos se aproximam. Comoresultado <strong>de</strong>stas ligações, resultam as moléculas, e mesmo os corpos sólidos. Os diferenteselementos têm maior ou menor facili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se unirem <strong>de</strong>ssa forma, <strong>de</strong>vido às suas diferentesconfigurações eletrônicas. As ligações forma<strong>da</strong>s também po<strong>de</strong>m ter características diferentes,sendo chama<strong>da</strong>s <strong>de</strong> iônicas, covalentes, ligações <strong>de</strong> Van <strong>de</strong>r Waals, etc...Esta breve introdução já nos forneceu elementos que permitem caracterizar os chamadosestados <strong>da</strong> matéria. O estado sólido se caracteriza pela relativa proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> entre átomose/ou moléculas, e pela rigi<strong>de</strong>z <strong>da</strong>s ligações estabeleci<strong>da</strong>s. Os átomos ou moléculas unidos3
entre si para formar o sólido mantêm posições relativas fixas e po<strong>de</strong>m somente vibrar emtorno <strong>de</strong> suas posições <strong>de</strong> equilíbrio. Como conseqüência, as partículas que formam umsólido constituem um conjunto com forma <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>, e que ocupa um <strong>da</strong>do volume no espaço.No estado líquido as distâncias inter-atômicas ou inter-moleculares são <strong>da</strong> mesma or<strong>de</strong>m<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za que no estado sólido, porém as ligações estabeleci<strong>da</strong>s são muito mais tênuese efêmeras. Como resultado, as partículas po<strong>de</strong>m mover-se umas em relação às outras, eo conjunto não tem forma <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>, embora ocupe um volume <strong>de</strong>finido. Obviamente, asfronteiras entre estes dois estados não são perfeitamente <strong>de</strong>limita<strong>da</strong>s. O vidro, por exemplo,é consi<strong>de</strong>rado um sólido, <strong>de</strong> estrutura amorfa (não há uma organização geométrica na distribuição<strong>da</strong>s moléculas que o constituem). Entretanto, po<strong>de</strong> escorrer como um líquido, natemperatura ambiente, embora o processo seja extremamente lento e só perceptível a olhonú com o transcurso <strong>de</strong> anos ou séculos.Já no caso dos gases, os átomos ou moléculas que os compõem não têm praticamenteinteração entre si, com exceção <strong>de</strong> colisões ocasionais. As partículas são eletricamente neutras(átomos ou moléculas) e movem-se livremente entre colisões. O conjunto não tem forma<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>, nem volume <strong>de</strong>finido, apresentando a tendência <strong>de</strong> ocupar todo o volume disponível.É bem ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que as moléculas po<strong>de</strong>m também sofrer ação gravitacional, mas a ação mútuaé geralmente <strong>de</strong>sprezível, a não ser no caso <strong>de</strong> massas gasosas suficientemente gran<strong>de</strong>s (comono caso <strong>da</strong> formação <strong>de</strong> estrelas, por exemplo, que discutiremos mais adiante).O fio condutor entre todos os estados discutidos acima é a existência <strong>de</strong> ligações entre aspartículas. Um sólido é sólido porque seus átomos ou moléculas estão ligados entre si <strong>de</strong> umacerta forma. Estas ligações requerem uma certa energia para serem <strong>de</strong>sfeitas. Por exemplo,se o sólido for suficientemente aquecido, as ligações po<strong>de</strong>rão ser rompi<strong>da</strong>s, e o materialtransformar-se em líquido (no processo chamado fusão). Se continuarmos fornecendo energiana forma <strong>de</strong> calor, po<strong>de</strong>remos atingir o ponto <strong>de</strong> vaporização, em que o líquido passa para oestado gasoso (Este ponto <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> pressão a que está submetido o material. É fato bemconhecido que a água ao nível do mar ferve à temperatura <strong>de</strong> 100 ◦ C, enquanto em altitu<strong>de</strong>smais eleva<strong>da</strong>s, on<strong>de</strong> a pressão atmosférica é menor, a temperatura <strong>de</strong> vaporização <strong>da</strong> água émenor).O mesmo raciocínio nos leva a consi<strong>de</strong>rar o fato <strong>de</strong> que as ligações moleculares em umgás também po<strong>de</strong>m ser rompi<strong>da</strong>s, restando átomos isolados, e que as ligações entre elétrons4
e núcleos po<strong>de</strong>m ser igualmente rompi<strong>da</strong>s. Quando elétrons são retirados dos átomos, diz-seque o átomo ficou ionizado, sendo então chamado <strong>de</strong> íon. O mesmo também se diz quandoum elétron livre liga-se a um átomo neutro, resultando um íon <strong>de</strong> carga negativa. Se umafração significativa do material ficar ionizado, ele <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um gás, em que as partículasmovem-se livremente e apenas interagem via colisões, e passa a ser um meio em que aspartículas po<strong>de</strong>m agir à distância umas sobre as outras, via forças eletromagnéticas, além <strong>de</strong>continuarem a interagir diretamente via colisões. Este meio tem portanto comportamento eproprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s diferentes <strong>de</strong> um gás, e é chamado <strong>de</strong> plasma.Esta <strong>de</strong>finição que acabamos <strong>de</strong> apresentar é bastante qualitativa, mas serve aos nossospropósitos. Tratamentos introdutórios um pouco mais rigorosos po<strong>de</strong>m ser encontrados naliteratura pelo leitor interessado [1, 2].Passaremos agora a tratar <strong>de</strong> alguns fenômenos relevantes para o estudo e compreensãodos plasmas. Evi<strong>de</strong>ntemente, não esgotaremos o assunto. Simplesmente discutiremos algunsaspectos básicos do comportamento dos plasmas, bem como examinaremos algumas situações<strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> plasmas na natureza e algumas aplicações <strong>da</strong> física <strong>de</strong> plasmas a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> laboratório e <strong>de</strong> interesse tecnológico.5
II. CONFINAMENTO MAGNÉTICO DE PLASMASComo vimos, o plasma é um material em estado gasoso, com uma fração substancial <strong>de</strong>partículas ioniza<strong>da</strong>s. Um caso simples e comum é aquele em que o material está completamenteionizado, isto é, somente existem no plasma íons e elétrons e nenhum átomo neutro(ou pelo menos uma quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezível <strong>de</strong>stes). Um problema que logo se apresenta éligado ao confinamento do plasma. O plasma não po<strong>de</strong> simplesmente ser encerrado <strong>de</strong>ntro<strong>de</strong> um recipiente material. As partículas carrega<strong>da</strong>s do plasma imediatamente colidiriamcom as pare<strong>de</strong>s do material e ce<strong>de</strong>riam sua energia. Ou seja, os íons e elétrons imediatamentese combinariam com o material <strong>da</strong>s pare<strong>de</strong>s, ou se recombinariam novamente naforma <strong>de</strong> átomos neutros, uma vez perdi<strong>da</strong> a energia <strong>de</strong> que dispunham e que lhes permitiapermanecerem livres. Como resultado, o estado <strong>de</strong> plasma <strong>de</strong>sapareceria rapi<strong>da</strong>mente.Entretanto, sabemos que partículas carrega<strong>da</strong>s na presença <strong>de</strong> campos magnéticos po<strong>de</strong>msofrer a ação <strong>de</strong> força magnética. A magnitu<strong>de</strong> <strong>da</strong> força é proporcional à componente <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>da</strong> partícula na direção perpendicular ao campo magnético. Ou seja, uma partícula<strong>de</strong> carga q, movendo-se com veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> módulo v na presença <strong>de</strong> uma indução magnética<strong>de</strong> módulo B, sofrerá uma força cuja magnitu<strong>de</strong> será <strong>da</strong><strong>da</strong> porF = qvB senθ,on<strong>de</strong> θ é o ângulo entre a direção do movimento e a direção <strong>da</strong> indução magnética. A direção<strong>da</strong> força é perpendicular tanto ao campo magnético como à veloci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Como conseqüência,uma partícula carrega<strong>da</strong> em uma região em que existe campo magnético <strong>de</strong>senvolve um movimentocircular uniforme, em que a força magnética é centrípeta [3–5]. Como a partículapo<strong>de</strong> ain<strong>da</strong> mover-se livremente ao longo <strong>da</strong>s linhas <strong>de</strong> força do campo magnético, o movimentomais geral é uma hélice (ver Fig. 1). Ou seja, as partículas po<strong>de</strong>m mover-se ao longodo campo, mas na direção perpendicular só po<strong>de</strong>m mover-se em órbitas circulares (chama<strong>da</strong>sórbitas <strong>de</strong> Larmor, ou órbitas <strong>de</strong> cíclotron). Portanto, seu movimento na direção perpendicularfica restringido pelo campo magnético. Po<strong>de</strong>-se dizer que elas ficam presas às linhasmagnéticas, ou confina<strong>da</strong>s pelo campo magnético. Elas movem-se em órbitas circulares, massua posição média (o centro <strong>da</strong> órbita) não se altera, na direção perpendicular ao campo.O problema <strong>de</strong> confinar um plasma po<strong>de</strong> parecer portanto simples, à primeira vista. Entretanto,há diversas coisas a consi<strong>de</strong>rar. Por exemplo, quando uma partícula coli<strong>de</strong> com7
Figura 1: Esquemas <strong>da</strong> força magnética e <strong>da</strong> trajetória <strong>de</strong> uma partícula carrega<strong>da</strong> em campomagnético uniforme.outra, ela po<strong>de</strong> sofrer uma mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> órbita que a leve a mover-se através <strong>da</strong>s linhasmagnéticas. Uma sucessão <strong>de</strong> colisões po<strong>de</strong> portanto levar a partícula a escapar do confinamento.Há também que consi<strong>de</strong>rar que as partículas, sendo carrega<strong>da</strong>s, geram campoelétrico; estando em movimento, geram também campo magnético. Ou seja, mesmo que ocampo magnético seja preparado para confinar o plasma, a própria presença do plasma po<strong>de</strong>alterar o campo. Algumas alterações que surgem são estáveis e <strong>de</strong>saparecem <strong>de</strong> imediato.Outras são instáveis e ten<strong>de</strong>m a crescer, po<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>struir o equilíbrio do plasma e seu confinamento.Além disso, temos o fato óbvio <strong>de</strong> que o plasma é livre para mover-se ao longo <strong>da</strong>slinhas do campo magnético. Há maneiras engenhosas para tentar evitar este escape, porémo plasma é um sistema ”teimoso”, por assim dizer. O problema <strong>de</strong> confinamento magnético,bem como o estudo do equilíbrio e estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> plasmas magnéticamente confinados, éuma área muito rica em fenômenos e oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> estudo. Voltaremos a este assuntoquando mencionarmos aplicações <strong>da</strong> física <strong>de</strong> plasmas.8
III. ONDAS E INSTABILIDADES EM PLASMASOs movimentos <strong>da</strong>s partículas carrega<strong>da</strong>s livres que constituem o plasma produzem camposeletromagnéticos. Portanto, em plasmas po<strong>de</strong>m propagar-se on<strong>da</strong>s que não são apenasmovimentos <strong>da</strong> matéria que compõem o meio, mas são também acompanha<strong>da</strong>s <strong>de</strong> oscilações<strong>de</strong> campos eletromagnéticos. A varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fenômenos é muito gran<strong>de</strong>, e vamos apenasmencionar algumas características gerais e compreen<strong>de</strong>r um pouco <strong>da</strong> nomenclatura utiliza<strong>da</strong>[1, 2].Em um plasma po<strong>de</strong>m propagar-se on<strong>da</strong>s que apresentam oscilações <strong>de</strong> campo elétrico,paralelo à direção <strong>de</strong> propagação <strong>da</strong> on<strong>da</strong>, e com componente magnética <strong>de</strong>sprezível. Estason<strong>da</strong>s são chama<strong>da</strong>s <strong>de</strong> eletrostáticas. Oscilações que apresentam tanto campo elétricocomo magnético são chama<strong>da</strong>s <strong>de</strong> on<strong>da</strong>s eletromagnéticas. No caso <strong>de</strong> um plasma magnetizado,po<strong>de</strong>mos caracterizar as on<strong>da</strong>s quanto à sua direção <strong>de</strong> propagação. Po<strong>de</strong>mos teron<strong>da</strong>s propagando-se paralelamente ao campo magnético presente no plasma, ou perpendicularmente,ou obliquamente. Po<strong>de</strong>mos também ter diferentes tipos <strong>de</strong> polarização, linear,circular ou elíptica. Por meio <strong>de</strong>stas e outras características, po<strong>de</strong>mos classificar diversos tipos<strong>de</strong> on<strong>da</strong>s, como as on<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Langmuir, que são on<strong>da</strong>s eletrostáticas <strong>de</strong> alta freqüência, ouas on<strong>da</strong>s magnetosônicas, que são on<strong>da</strong>s eletromagnéticas <strong>de</strong> baixa freqüência, propagandoseperpendicularmente ao campo magnético, ou as on<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Alfvén, ou as on<strong>da</strong>s <strong>de</strong> cíclotroneletrônicas, etc...As on<strong>da</strong>s em plasmas po<strong>de</strong>m trocar energia com as partículas do plasma. As on<strong>da</strong>s po<strong>de</strong>mser absorvi<strong>da</strong>s pelo plasma, fazendo com que a oscilação <strong>de</strong>cresça ou <strong>de</strong>sapareça enquantoce<strong>de</strong> energia para as partículas. Po<strong>de</strong>m também ser amplifica<strong>da</strong>s, sob certas circunstâncias,resultando um crescimento <strong>da</strong> on<strong>da</strong> às custas <strong>da</strong> energia <strong>da</strong>s partículas. Nesse caso, dizemosque existe uma instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> no plasma. Po<strong>de</strong>m também ocorrer instabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s mais”macroscópicas”, como a chama<strong>da</strong> ”instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> dobra”, que po<strong>de</strong> fazer com que umacoluna <strong>de</strong> plasma se dobre e acabe atingindo a pare<strong>de</strong> do recipiente, apesar do confinamentomagnético. A compreensão dos fenômenos ondulatórios que ocorrem nos plasmas é essencialpara a compreensão do comportamento dos plasmas na natureza e em laboratório, e o conhecimentodo comportamento <strong>da</strong>s instabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s é fun<strong>da</strong>mental para o controle dos plasmasem laboratório.9
IV.OCORRÊNCIA DE PLASMAS NA NATUREZAOs plasmas estão presentes em muitas situações na natureza, em escalas as mais diversas.Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, já tem sido dito, sem muito rigor, que cerca <strong>de</strong> 99 % <strong>da</strong> matéria observáveldo Universo está em estado <strong>de</strong> plasma, e que vivemos sobre uma <strong>da</strong>s poucas exceções [1].Esta afirmativa um tanto chocante, e algo jocosa, quer enfatizar o fato <strong>de</strong> que os plasmassão muito mais presentes no mundo dos fenômenos naturais do que se po<strong>de</strong>ria imaginar,tendo em vista o <strong>de</strong>sconhecimento quase generalizado <strong>da</strong> existência <strong>de</strong>ste estado <strong>da</strong> matéria.Vamos a alguns exemplos.A. Magnetosferas PlanetáriasOs planetas são circun<strong>da</strong>dos por mantos gasosos, chamados <strong>de</strong> atmosferas. A <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>da</strong>s atmosferas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitos fatores, entre os quais a massa do planeta e sua temperaturasuperficial. Sabemos que planetas existem ao redor do Sol, e em princípio po<strong>de</strong>mtambém existir em torno <strong>de</strong> outras estrelas, embora a fração <strong>de</strong> estrelas que possuem planetasseja <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong> e objeto <strong>de</strong> controvérsia. Pois bem, admitamos a existência <strong>de</strong> planetas,envolvidos por suas atmosferas, orbitando em torno <strong>de</strong> uma estrela. As cama<strong>da</strong>s mais externas<strong>da</strong>s atmosferas estão constantemente sujeitas ao bombar<strong>de</strong>io <strong>de</strong> partículas <strong>de</strong> energiaconsi<strong>de</strong>rável ejeta<strong>da</strong>s pela estrela, bem como ao bombar<strong>de</strong>io por partículas <strong>de</strong> alta energiaque percorrem a Galáxia (os chamados raios cósmicos). Além disso, as cama<strong>da</strong>s externas<strong>da</strong>s atmosferas são expostas à radiação ultravioleta proveniente <strong>da</strong> estrela. O bombar<strong>de</strong>iopor partículas energéticas e a interação <strong>de</strong> radiação estão continuamente ionizando átomose moléculas na atmosfera superior. Em conseqüência, cria-se uma cama<strong>da</strong> <strong>de</strong> plasma circun<strong>da</strong>ndoo planeta. Detalhes <strong>da</strong> distribuição <strong>de</strong>ste plasma po<strong>de</strong>m ser bastante complexos,e não é nosso objetivo aqui envere<strong>da</strong>r por tal discussão. Entretanto, po<strong>de</strong>mos discutir umpouco a respeito <strong>de</strong> um exemplo <strong>de</strong> planeta que, além <strong>de</strong> possuir atmosfera significativa,possui campo magnético apreciável. Tal planeta é a Terra, que além <strong>de</strong> tudo é acessível aobservações diretas.O campo magnético terrestre isola<strong>da</strong>mente seria do tipo dipolar, com os pólos magnéticosum tanto <strong>de</strong>slocados em relação ao eixo <strong>de</strong> rotação. Entretanto, o campo terrestre está imersono campo solar, que nas imediações <strong>da</strong> Terra po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong>scrito por linhas mais11
ou menos retilíneas que têm origem no Sol e se dirigem para fora do Sistema Solar, fazendoum certo ângulo com a direção <strong>da</strong> linha Terra-Sol (ver Figs. 2 e 3). O campo dipolar terrestrefica então <strong>de</strong>formado pelo campo solar. Do lado que aponta para o Sol, cria-se uma espécie<strong>de</strong> on<strong>da</strong> <strong>de</strong> choque, separando o plasma ligado ao campo solar do plasma confinado ao campoterrestre. Do lado oposto ao Sol, o campo dipolar fica distendido formando uma longa cau<strong>da</strong>.Como um todo, a região on<strong>de</strong> fica confinado o campo terrestre é chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> magnetosfera.A região <strong>de</strong> contato entre o campo geomagnético e o campo solar é a chama<strong>da</strong> magnetopausa.A magnetosfera é dividi<strong>da</strong> em muitas regiões, incluindo a ionosfera, e incluindo cinturõeson<strong>de</strong> estão aprisiona<strong>da</strong>s partículas energéticas. Estes cinturões foram <strong>de</strong>scobertos no final<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 50 e receberam o nome <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>scobridor, sendo chamados <strong>de</strong> cinturões <strong>de</strong>Van Allen.A magnetosfera terrestre é palco <strong>de</strong> muitos fenômenos interessantes. Processos envolvendoo campo magnético na região <strong>da</strong> cau<strong>da</strong> geomagnética, chamados processos <strong>de</strong> reconexãomagnética, po<strong>de</strong>m acelerar partículas, que se precipitam sobre a ionosfera na região dos pólos.A ionização causa<strong>da</strong> na atmosfera superior por estas partículas, e a posterior recombinação <strong>de</strong>íons e elétrons, é responsável pelos fenômenos <strong>de</strong> emissão luminosa conhecidos como auroras,boreais e austrais [8]. As perturbações <strong>da</strong> ionosfera po<strong>de</strong>m também causar problemas para ascomunicações, uma vez que o plasma <strong>da</strong> ionosfera é que é responsável pela reflexão <strong>de</strong> on<strong>da</strong>s<strong>de</strong> rádio <strong>de</strong> volta para a superfície terrestre. Muitos outros fenômenos po<strong>de</strong>m ocorrer <strong>de</strong>vidoàs complexas interações envolvendo as partículas e campos nas magnetosferas planetárias.Por exemplo, parte <strong>da</strong> energia presente nas partículas acelera<strong>da</strong>s nos processos <strong>de</strong> reconexãopo<strong>de</strong> ser converti<strong>da</strong> em on<strong>da</strong>s eletromagnéticas. Devido a isto, a Terra é forte emissor<strong>de</strong> on<strong>da</strong>s <strong>de</strong> rádio naturais, o que foi verificado por meio <strong>de</strong> satélites em órbitas a gran<strong>de</strong>distância <strong>da</strong> superfície. Em particular, a Terra emite gran<strong>de</strong> intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> on<strong>da</strong>s comcomprimento <strong>de</strong> on<strong>da</strong> <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> quilômetros, radiação essa que recebeu o nome <strong>de</strong> radiaçãoquilométrica <strong>da</strong>s auroras, ou AKR (Auroral Kilometric Radiation). A Terra é o planeta maisacessível a observações diretas e evi<strong>de</strong>ntemente apresenta para nós um interêsse especial,embora o campeão em fenômenos envolvendo o plasma <strong>da</strong> magnetosfera seja Júpiter, comseu campo magnético avantajado.12
Figura 2: Evolução do conhecimento sobre a estrutura do campo magnético terrestre [6].B. EstrelasPara termos uma compreensão global dos plasmas na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s estrelas, convém fazerum breve resumo <strong>da</strong>s idéias correntes sobre a formação e evolução <strong>da</strong>s estrelas. Imaginemosuma gran<strong>de</strong> massa <strong>de</strong> gás, que po<strong>de</strong> naturalmente apresentar inomogenei<strong>da</strong><strong>de</strong>s em <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong>.13
Figura 3: Representação bi-dimensional do vento solar e <strong>da</strong> magnetosfera [6, 7].As regiões mais <strong>de</strong>nsas do gás exercem atração gravitacional sobre as <strong>de</strong>mais partículas <strong>da</strong>nuvem, com o que há uma tendência a um a<strong>de</strong>nsamento progressivo <strong>da</strong>s regiões originalmentemais <strong>de</strong>nsas. As partículas gravitacionalmente atraí<strong>da</strong>s adquirem energia cinéticaao moverem-se em direção ao núcleo original <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nsação, <strong>de</strong>vido à força gravitacional.Com isso, a região atrativa vai crescendo em <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong>, e vai contando ca<strong>da</strong> vez mais compartículas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> energia cinética. Ou seja, a temperatura <strong>da</strong> região central, atrativa,vai aumentando. Chega um momento em que a temperatura (medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> energia cinéticamédia) <strong>da</strong> região fica suficientemente eleva<strong>da</strong> para que uma parte consi<strong>de</strong>rável <strong>da</strong>s colisõesentre partículas seja capaz <strong>de</strong> ionizar os átomos do gás. O processo continua evoluindopara a existência <strong>de</strong> um plasma na região central <strong>da</strong> proto-estrela. Com a continuação doprocesso, atinge-se um estágio em que a temperatura na região central é suficiente para14
que ocorram reações <strong>de</strong> fusão nuclear em quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> significativa. Discutiremos mais adiantealguns <strong>de</strong>talhes sobre fusão nuclear, mas por ora é suficiente lembrar que um processo<strong>de</strong> fusão nuclear é uma reação nuclear, em que núcleos leves unem-se para formar núcleosmais pesados, liberando energia no processo. A energia produzi<strong>da</strong> pelas reações nuclearesentão aquece as cama<strong>da</strong>s adjacentes ao núcleo. A evolução <strong>da</strong> estrela então po<strong>de</strong> continuarseguindo <strong>de</strong>talhes diferentes, <strong>de</strong>terminados essencialmente pela massa <strong>da</strong> estrela. Estrelasmuito massivas exibem pressão e temperatura tão eleva<strong>da</strong>s na região do núcleo, que provocamuma alta taxa <strong>de</strong> reações <strong>de</strong> fusão. O combustível nuclear então é consumido muitorapi<strong>da</strong>mente, e o ciclo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> estrela po<strong>de</strong> ser curto. Estrelas menores, <strong>de</strong> maneira geral,evoluem mais <strong>de</strong>vagar, e po<strong>de</strong>m apresentar fases estáveis <strong>de</strong> longa duração. É o caso do Sol,que <strong>de</strong>ve estar em situação semelhante à presente há cerca <strong>de</strong> 5 bilhões <strong>de</strong> anos.Como dissemos, diferentes processos po<strong>de</strong>m ocorrer ao longo <strong>da</strong> evolução <strong>de</strong> uma estrela.Por exemplo, se o núcleo produz energia muito rapi<strong>da</strong>mente, em um processo acelerado <strong>de</strong>reações <strong>de</strong> fusão, po<strong>de</strong> exercer muita pressão sobre as cama<strong>da</strong>s adjacentes e levar à expansão<strong>da</strong> estrela. Quando diminuem as reações <strong>de</strong> fusão <strong>de</strong> um certo tipo, pois acabam na regiãodo núcleo <strong>da</strong> estrela os núcleos <strong>de</strong> um certo elemento leve que estava sofrendo as reações,a região central po<strong>de</strong> esfriar e as cama<strong>da</strong>s externas po<strong>de</strong>m colapsar <strong>de</strong>vido à diminuição <strong>da</strong>pressão. É tudo um processo complexo, mas estamos procurando <strong>da</strong>r as idéias básicas, paraque se tenha uma compreensão em linhas gerais.As idéias apresenta<strong>da</strong>s nos parágrafos anteriores têm como ponto central a constatação <strong>de</strong>que as estrelas são imensas bolas <strong>de</strong> plasma, contendo cama<strong>da</strong>s com diferentes características.Estas cama<strong>da</strong>s vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a região do núcleo, on<strong>de</strong> está sendo produzi<strong>da</strong> a energia <strong>da</strong> estrela,em reações <strong>de</strong> fusão nuclear, até as cama<strong>da</strong>s mais externas, incluindo o plasma tênue quecircun<strong>da</strong> a estrela. É importante salientar que as reações <strong>de</strong> fusão só ocorrem no núcleo<strong>da</strong> estrela, região pequena compara<strong>da</strong> com seu tamanho. É só lá que as temperaturase <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong>s são suficientes para que haja reações <strong>de</strong> fusão em número significativo. Aenergia produzi<strong>da</strong> pela estrela acaba sendo irradia<strong>da</strong> <strong>de</strong> sua superfície, tanto sobre a forma<strong>de</strong> radiação eletromagnética (luz, calor, raios X), como sob a forma <strong>de</strong> partículas energéticasarremessa<strong>da</strong>s ao espaço. No caso do Sol, este fluxo <strong>de</strong> partículas é conhecido como ventosolar, e já foi mencionado quando falamos sobre a interação entre a magnetosfera terrestree o campo solar.15
C. Supernovas e Estrelas <strong>de</strong> NêutronsAin<strong>da</strong> sobre estrelas, cabe mencionar que estrelas <strong>de</strong> massa muito eleva<strong>da</strong> po<strong>de</strong>m sofrer acerta altura <strong>de</strong> sua evolução um processo <strong>de</strong> reações nucleares catastrófico, que libera tantaenergia em espaço <strong>de</strong> tempo tão curto, que as cama<strong>da</strong>s exteriores <strong>da</strong> estrela são ejeta<strong>da</strong>sexplosivamente. A estrela que sofre este tipo <strong>de</strong> processo é conheci<strong>da</strong> como supernova, eo núcleo remanescente po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> dois tipos, <strong>de</strong> acordo com os mo<strong>de</strong>los teóricos <strong>de</strong> quedispomos. Se a massa é suficientemente gran<strong>de</strong>, colapsa até formar um buraco negro. Se amassa é inferior a um certo limite crítico, resta um núcleo constituído basicamente <strong>de</strong> matérianuclear, circun<strong>da</strong>do por um plasma em que coexistem elétrons e pósitrons. Este remanescente<strong>de</strong> explosão é conhecido como estrela <strong>de</strong> nêutrons, <strong>de</strong>vido à natureza do material <strong>de</strong> que éconstituído. A estrela <strong>de</strong> nêutrons <strong>de</strong>ve girar muito rápi<strong>da</strong>mente, por conservar o momentumangular original <strong>da</strong> estrela muito maior. O plasma que a envolve <strong>de</strong>ve emitir radiação aolongo <strong>da</strong>s linhas <strong>de</strong> campo magnético. Se a Terra estiver no caminho do facho <strong>de</strong> radiação,que gira junto com a estrela, observaremos pulsos <strong>de</strong> radiação que se repetem <strong>de</strong> formaregular com pequenos intervalos, ditados pelo período <strong>de</strong> rotação <strong>da</strong> estrela. A estas fontescósmicas <strong>de</strong> radiação chamamos pulsares, <strong>de</strong>tectados pela primeira vez na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 60 econhecidos atualmente em gran<strong>de</strong> número. Quanto aos buracos negros, sua <strong>de</strong>tecção ain<strong>da</strong>é tema <strong>de</strong> controvérsia.Após estes poucos exemplos <strong>de</strong> fenômenos envolvendo plasmas na natureza, vamos passara algumas aplicações <strong>de</strong> plasmas em laboratório e em processos tecnológicos. Antes <strong>de</strong> terminar,entretanto, po<strong>de</strong>mos ain<strong>da</strong> mencionar que o plasma po<strong>de</strong> existir em outras situações.Por exemplo, as concentrações <strong>de</strong> matéria que <strong>de</strong>ram origem às galáxias po<strong>de</strong>m exibir, além<strong>da</strong>s estrelas, nuvens <strong>de</strong> gás interestelar. Este gás po<strong>de</strong> ser parcialmente ionizado por radiaçãoprovin<strong>da</strong> <strong>da</strong>s estrelas, <strong>de</strong> modo que acaba sendo criado um plasma interestelar. Os processosque ocorrem neste plasma po<strong>de</strong>m levar à emissão <strong>de</strong> diferentes tipos <strong>de</strong> radiação, que po<strong>de</strong>mser <strong>de</strong>tectados na Terra. Em particular, po<strong>de</strong>mos citar a chama<strong>da</strong> radiação <strong>de</strong> síncrotron,emiti<strong>da</strong> por elétrons <strong>de</strong> alta energia, na presença <strong>de</strong> um campo magnético. Por meio <strong>de</strong>stasobservações é que po<strong>de</strong>mos estimar o valor dos campos magnéticos galácticos, por exemplo.16
V. PLASMAS EM LABORATÓRIO E EM APLICAÇÕES TECNOLÓGICASInicialmente, vamos discutir um pouco a questão <strong>da</strong>s reações <strong>de</strong> fusão nuclear, menciona<strong>da</strong>sacima como fonte <strong>de</strong> energia <strong>da</strong>s estrelas.A. Fusão Nuclear e Fusão Nuclear Controla<strong>da</strong>Como dissemos na Introdução, os núcleos atômicos são constituídos <strong>de</strong> prótons e nêutrons,e mantêm-se unidos <strong>de</strong>vido às forças nucleares, apesar <strong>da</strong> repulsão elétrica entre os prótons.A natureza <strong>da</strong>s ligações nucleares faz com que os núcleos com situação energética maisfavorável sejam aqueles com número atômico intermediário. Ou seja, se por meio <strong>de</strong> algumprocesso fracionarmos um núcleo <strong>de</strong> elemento com gran<strong>de</strong> número atômico, criando doisnúcleos com cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> massa do núcleo original, haverá liberação <strong>de</strong> energia. Esteé o processo chamado <strong>de</strong> fissão nuclear, e é a base <strong>da</strong> tecnologia dos reatores nucleares emuso no mundo <strong>de</strong> hoje. Por outro lado, se ocorrer a união <strong>de</strong> núcleos leves, criando ummais pesado, haverá também liberação <strong>de</strong> energia, sendo o processo conhecido como fusãonuclear. O núcleo criado terá massa menor do que a soma <strong>da</strong>s massas dos núcleos originais.A diferença <strong>de</strong> massa terá sido transforma<strong>da</strong> em energia, segundo a bem conheci<strong>da</strong> relação<strong>de</strong> equivalência entre massa e energia, E = m c 2 .Vamos agora discutir algumas reações <strong>de</strong> fusão, importantes do ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> produção<strong>de</strong> energia em estrelas, ou do ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> busca <strong>da</strong> fusão nuclear controla<strong>da</strong>. Umareação importante na produção <strong>de</strong> energia em estrelas é a fusão <strong>de</strong> dois prótons, formandoum núcleo <strong>de</strong> <strong>de</strong>utério:p + p − > D + e + + ν + 1.44 MeV,on<strong>de</strong> e + representa um pósitron, ν um neutrino, e 1.44 MeV é a energia libera<strong>da</strong> na reação,medi<strong>da</strong> em milhões <strong>de</strong> elétrons-Volts (1 eV ≃ 1.6 ×10 −19 joules). Esta reação tem umaprobabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência, medi<strong>da</strong> pela chama<strong>da</strong> seção <strong>de</strong> choque <strong>da</strong> reação, muito pequenapara que seja viável sua realização controla<strong>da</strong> em laboratório. Muito mais facilmente seriapossível realizar alguma <strong>da</strong>s seguintes reações [9, 10]:D + T − > He 4 (3.52 MeV) + n (14.06 Mev)D + D − > T (1.01 MeV) + p (3.02 MeV)17
D + D − > He 3 (0.82 MeV) + n (2.45 MeV)D + He 3 − > He 4 (3.67 MeV) + p (14.67 MeV)Nestas expressões, D representa o <strong>de</strong>utério, T o trítio, p um próton, n um nêutron, Heum núcleo <strong>de</strong> hélio, e o número entre parênteses representa a energia cinética carrega<strong>da</strong> pelapartícula.Entre as reações apresenta<strong>da</strong>s, a que tem a maior seção <strong>de</strong> choque é a primeira, entre<strong>de</strong>utério e trítio. Assim, se algum dia for possível construir um reator <strong>de</strong> fusão, ele provavelmenteutilizará a reação D + T. Ela não é a melhor sob muitos aspectos, mas seráprovavelmente a mais fácil <strong>de</strong> alcançar.Vamos agora discutir alguns requerimentos para a ocorrência <strong>de</strong> uma reação <strong>de</strong> fusão. Aprimeira constatação é que a fusão nuclear não ocorre com facili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Dois núcleos leves, oudois prótons, são carregados positivamente e repelem-se entre si. A fusão só po<strong>de</strong> ocorrerse os núcleos forem aproximados o suficiente para que atue a força nuclear, mais intensaporém <strong>de</strong> curto alcance. Imaginemos um próton sendo arremessado contra outro. Eles vãosendo freados pela repulsão mútua, sendo a sua energia cinética transforma<strong>da</strong> em energiapotencial. Chegado o ponto <strong>de</strong> mínima aproximação, os prótons começam a se afastar umdo outro e a energia potencial vai <strong>de</strong> novo sendo gradualmente transforma<strong>da</strong> em energiacinética. A fusão só po<strong>de</strong> ocorrer se a energia cinética for suficientemente alta para que adistância <strong>de</strong> menor aproximação esteja <strong>de</strong>ntro do alcance <strong>da</strong> força nuclear. Po<strong>de</strong>-se mostrarque não é eficiente acelerar feixes <strong>de</strong> prótons uns contra os outros para serem produzi<strong>da</strong>sreações <strong>de</strong> fusão. A energia gasta para acelerar o feixe seria maior do que aquela libera<strong>da</strong>pelas reações nucleares.Consi<strong>de</strong>remos agora um plasma, a uma <strong>da</strong><strong>da</strong> temperatura. A temperatura é uma medi<strong>da</strong><strong>da</strong> energia cinética média. Ou seja, à medi<strong>da</strong> que a temperatura aumenta, aumenta o número<strong>de</strong> partículas, com veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> bem acima <strong>da</strong> média, que têm energia suficiente para sofreremreações <strong>de</strong> fusão quando coli<strong>de</strong>m. Se a temperatura for suficientemente alta, a energialibera<strong>da</strong> pelas reações <strong>de</strong> fusão po<strong>de</strong> superar a energia emprega<strong>da</strong> na criação e aquecimentodo plasma [9, 11]. Se o processo pu<strong>de</strong>r ser realizado <strong>de</strong> forma controla<strong>da</strong>, teremos um meio<strong>de</strong> produzir energia para as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas.As estrelas realizam o processo <strong>de</strong> fusão em seus núcleos, sendo o material <strong>da</strong> estrela confinadogravitacionalmente, <strong>de</strong>vido a sua gran<strong>de</strong> massa. Em laboratório não é possível utilizar18
o mesmo método <strong>de</strong> confinamento. O problema então po<strong>de</strong> ser resumido na dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>manter o plasma confinado, com os parâmetros a<strong>de</strong>quados para a ocorrência <strong>de</strong> um númerosuficiente <strong>de</strong> reações <strong>de</strong> fusão, por um tempo suficiente para que seja libera<strong>da</strong> mais energiado que foi gasta para criar e manter o plasma. Este problema tem consumido boa parte dosesforços <strong>da</strong> pesquisa em física <strong>de</strong> plasmas nos últimos 30 a 40 anos.B. Fusão Controla<strong>da</strong> em Sistemas <strong>de</strong> Confinamento MagnéticoUma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> confinar o plasma é utilizar campos magnéticos, como já discutimosanteriormente. Ao longo dos últimos anos, vários dispositivos, com diferentes configurações<strong>de</strong> campos, têm sido testados. Vamos mencionar brevemente alguns <strong>de</strong>les, e discutir comum pouco mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhe aquele que têm sido mais bem sucedido e parece mais promissor,o chamado tokamak.Um dispositivo <strong>de</strong> princípio simples constitui-se em um coluna cilíndrica <strong>de</strong> plasma, envoltapor um enrolamento <strong>de</strong> espiras (um solenói<strong>de</strong> cilíndrico). O plasma é criado por uma<strong>de</strong>scarga em um gás, que fica ionizado. Fazendo passar uma forte corrente nas espiras (nadireção θ), cria-se um campo magnético paralelo ao eixo do solenói<strong>de</strong>, que confina e comprimeo plasma. Ao ser comprimido pelo campo magnético crescente, o plasma se aquecee po<strong>de</strong> atingir temperaturas eleva<strong>da</strong>s. O dispositivo se chama θ − pinch, e apresenta comofraqueza importante a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> escape do plasma pelas extremi<strong>da</strong><strong>de</strong>s (ver Fig. 4).O problema <strong>de</strong> per<strong>da</strong> <strong>de</strong> plasma pelas extremi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> configurações lineares po<strong>de</strong> serreduzido pela adição <strong>de</strong> duas bobinas que reforçem o campo magnético próximo <strong>da</strong>s extremi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.Ou então, pela construção <strong>de</strong> um dispositivo com apenas duas bobinas, afasta<strong>da</strong>s<strong>de</strong> uma certa distância, com eixos coinci<strong>de</strong>ntes. Nesse caso, a região <strong>de</strong> campo mais intensoserve para refletir <strong>de</strong> volta partículas que po<strong>de</strong>riam escapar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que sua veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> paralelaseja inferior a um certo valor crítico, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dos valores máximo e mínimo <strong>da</strong>indução magnética <strong>de</strong>ntro do dispositivo. Esta configuração é chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> espelho magnético,e também tem sido utiliza<strong>da</strong> em pesquisas sobre confinamento <strong>de</strong> plasmas visando fusão controla<strong>da</strong>(ver Fig. 4).Uma maneira <strong>de</strong> tentar evitar a fuga <strong>de</strong> partículas pelas extremi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> um solenói<strong>de</strong>linear é fazer um solenói<strong>de</strong> toroi<strong>da</strong>l (torói<strong>de</strong>). No caso <strong>de</strong> um θ − pinch, resulta um θ −19
Figura 4: Representação esquemática <strong>de</strong> um θ-pinch (a) e <strong>de</strong> um espelho magnético (b).pinch toroi<strong>da</strong>l. Entretanto, novas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s aparecem e o confinamento não é perfeito.Em um torói<strong>de</strong> o campo mais próximo ao eixo é mais intenso que junto à bor<strong>da</strong> externa;ou seja, o campo não é homogêneo. Em um campo inomogêneo, po<strong>de</strong> ocorrer <strong>de</strong>riva <strong>de</strong>partículas através <strong>da</strong>s linhas <strong>de</strong> campo, o que não vamos discutir em <strong>de</strong>talhe aqui [1, 2, 11].Além disso, as linhas <strong>de</strong> campo são curvas, o que também é causa <strong>de</strong> difusão do plasmaperpendicularmente às linhas <strong>de</strong> campo.Outro dispositivo toroi<strong>da</strong>l é o chamado z − pinch. Faz-se passar uma corrente por umplasma encerrado em uma câmara toroi<strong>da</strong>l. A corrente cria um campo cujas linhas circun<strong>da</strong>mo plasma (campo poloi<strong>da</strong>l), confinando-o e comprimindo-o. Po<strong>de</strong> haver também umcampo toroi<strong>da</strong>l, produzido por correntes em bobinas externas. Embora não haja escapepelas extremi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a configuração é bastante instável.Também na forma toroi<strong>da</strong>l é o stellarator, no qual existem as bobinas externas, queproduzem o campo toroi<strong>da</strong>l, e um conjunto <strong>de</strong> bobinas também externas, enrola<strong>da</strong>s notorói<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma helicoi<strong>da</strong>l. O campo magnético resultante tem linhas ”torci<strong>da</strong>s”, que nãose fecham após uma volta completa no torói<strong>de</strong>. Este campo melhora as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do plasma e dificulta a <strong>de</strong>riva <strong>da</strong>s partículas, melhorando o confinamento doplasma.Finalmente, encerramos nossa pequena lista com uma <strong>de</strong>scrição do tokamak, certamenteo dispositivo <strong>de</strong> maior sucesso nas pesquisas e o melhor candi<strong>da</strong>to no momento a mo<strong>de</strong>lo20
Figura 5: Representação esquemática <strong>de</strong> um tokamak.para um reator que venha a funcionar. O tokamak tem seu nome tirado <strong>de</strong> uma expressãorussa que significa ”câmera magnética toroi<strong>da</strong>l”(toroi<strong>da</strong>lnaja kamera magnitnaja katusha).É um dispositivo toroi<strong>da</strong>l. Nele, também existem as bobinas externas enrola<strong>da</strong>s no torói<strong>de</strong>,pelas quais passa uma corrente que produz o campo toroi<strong>da</strong>l. Uma vez formado o plasma emseu interior, induz-se uma corrente neste plasma, que percorre a câmera toroi<strong>da</strong>l e produz ocampo poloi<strong>da</strong>l (ver Fig. 5). A soma <strong>de</strong>stes dois campos é um campo com linhas enrola<strong>da</strong>s,como no stellarator. Uma diferença fun<strong>da</strong>mental é que no tokamak o campo poloi<strong>da</strong>l éproduzido por uma corrente que percorre o plasma, enquanto no stellarator este campo é<strong>de</strong>vido a bobinas externas.Em sua concepção tradicional, o tokamak é um dispositivo que funciona <strong>de</strong> forma pulsa<strong>da</strong>.O plasma atua como circuito secundário em um transformador. Uma corrente externa nocircuito primário causa uma forte variação <strong>da</strong> indução magnética no núcleo <strong>de</strong> ferro dotransformador, que passa pelo eixo do tokamak (ver Fig. 5). Como conseqüência, umaforça eletromotriz induzi<strong>da</strong> forma-se na região do torói<strong>de</strong>, causando a corrente no plasma.Esta corrente serve para manter as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> equilíbrio, criando o campo poloi<strong>da</strong>l, etambém serve para aquecer o plasma, por efeito Joule. Ocorre que a resistivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do plasmadiminui com o aumento <strong>da</strong> temperatura, <strong>de</strong> modo que a eficiência do processo tem limites.21
Por esta razão, muitas pesquisas têm sido realiza<strong>da</strong>s buscando meios suplementares eficientes<strong>de</strong> aquecer o plasma, seja por meio <strong>de</strong> injeção <strong>de</strong> partículas neutras ou carrega<strong>da</strong>s <strong>de</strong> altaenergia, seja por meio <strong>de</strong> on<strong>da</strong>s eletromagnéticas. Da mesma forma, têm sido estu<strong>da</strong><strong>da</strong>sformas <strong>de</strong> manter a corrente do tokamak estacionária, ou pelo menos aumentar o tempo <strong>de</strong>duração <strong>da</strong> <strong>de</strong>scarga. Entre estas formas, contam-se a geração <strong>de</strong> corrente por absorção <strong>de</strong>on<strong>da</strong>s eletromagnéticas, ou pela injeção <strong>de</strong> feixes <strong>de</strong> partículas no plasma.Um dos maiores tokamaks em operação no mundo atualmente é o JET (Joint EuropeanTorus), localizado na Inglaterra. É um empreendimento multinacional, e atingiu parâmetrospróximos <strong>de</strong> satisfazer a condição mínima <strong>de</strong> que a potência <strong>de</strong> fusão iguale a potênciainjeta<strong>da</strong> no plasma. Para ser específico, no JET atingiu-se na primeira meta<strong>de</strong> dos anos90 uma <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> íons na região central <strong>de</strong> 3.5 × 10 19 m −3 , com energia cinética médiados íons <strong>de</strong> 25 keV, e tempo <strong>de</strong> confinamento do plasma <strong>de</strong> ≃ 1 s. O produto <strong>de</strong>stas trêsquanti<strong>da</strong><strong>de</strong>s fica em ≃ 9 × 10 20 keV s/m 3 , muito próximo <strong>de</strong> satisfazer o chamado critério<strong>de</strong> Lawson, que expressa uma condição mínima a ser satisfeita por um plasma <strong>de</strong> fusão. Sópara fins <strong>de</strong> comparação, cerca <strong>de</strong> uma déca<strong>da</strong> antes, em tokamaks <strong>de</strong> bom <strong>de</strong>sempenho,como o PLT (Princeton Large Torus), atingia-se <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong>s semelhantes às presentes, comtemperatura e tempo <strong>de</strong> confinamento muito menores, <strong>de</strong> modo que o produto <strong>da</strong>s trêsquanti<strong>da</strong><strong>de</strong>s era cerca <strong>de</strong> 200 vêzes menor do que o resultado atual [10]. Outros tokamaks<strong>de</strong> porte comparável ao JET são o TFTR (Tokamak Fusion Test Reactor, em Princeton, E.U. A., e o JT-60, em Naka, no Japão. A Fig. 6 mostra um <strong>de</strong>senho do TFTR, comparadoa um ser humano típico (A figura foi copia<strong>da</strong> <strong>de</strong> um folheto <strong>de</strong>scritivo do TFTR, impressono Princeton Plasma Physics Laboratory). No Brasil, esteve em operação durante váriosanos na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo um pequeno tokamak, chamado TBR-1. Atualmente,está sendo operado na mesma USP um tokamak bem mais avantajado, chamado TCA/BR[12]. Resultados obtidos em pesquisas realiza<strong>da</strong>s com esse tokamak po<strong>de</strong>m ser encontrados,por exemplo, nas Refs. [13] e [14]. Po<strong>de</strong>mos citar também um tokamak na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>Campinas [15, 16] e um outro que foi projetado e montado no INPE, com um torói<strong>de</strong> quase“esférico” que preten<strong>de</strong> investigar condições menos explora<strong>da</strong>s <strong>de</strong> confinamento magnético[17, 18].Além dos problemas <strong>de</strong> criar, aquecer e confinar o plasma, muitos outros problemas ain<strong>da</strong>precisam ser resolvidos para que possa ser <strong>de</strong>senvolvido um reator nuclear <strong>de</strong> fusão contro-22
Figura 6: TFTR [Folheto <strong>de</strong> divulgação, Princeton Plasma Physics Laboratory, E. U. A.].la<strong>da</strong>. Por exemplo, na reação <strong>de</strong> D −T, a maior parte <strong>da</strong> energia sai carrega<strong>da</strong> por nêutrons.Estes nêutrons não têm carga e não são confinados pelo campo magnético. Portanto, inci<strong>de</strong>msobre as pare<strong>de</strong>s do reator. Por um lado, este fluxo <strong>de</strong> nêutrons po<strong>de</strong> aquecer a pare<strong>de</strong>, <strong>de</strong>modo que a energia libera<strong>da</strong> pelas reações <strong>de</strong> fusão acaba transforma<strong>da</strong> em energia térmica,que po<strong>de</strong> ser então utiliza<strong>da</strong>. O problema está em que o fluxo <strong>de</strong> nêutrons po<strong>de</strong> <strong>da</strong>nificara pare<strong>de</strong> e também torná-la radioativa. Um dos temas <strong>de</strong> pesquisa em busca <strong>de</strong> soluções éa procura <strong>de</strong> materiais para a pare<strong>de</strong> que suportem bem o fluxo <strong>de</strong> nêutrons, gerem materiais<strong>de</strong> meia-vi<strong>da</strong> curta, para diminuir os problemas ambientais, e sejam economicamenteviáveis. Po<strong>de</strong>-se ain<strong>da</strong> mencionar que os projetos <strong>de</strong> reatores hipotéticos prevêem que umacama<strong>da</strong> <strong>de</strong> lítio po<strong>de</strong>ria fazer parte <strong>da</strong> pare<strong>de</strong>, na qual ocorreriam, sob o fluxo dos nêutrons,reações nucleares que gerariam trítio, necessário para o reator. Este trítio precisaria ser entãoreintroduzido no plasma. Muitos outros problemas complexos na fronteira entre a Física ea Engenharia <strong>de</strong>vem ser enfrentados até que um resultado satisfatório seja eventualmenteencontrado.O leitor interessado po<strong>de</strong> procurar mais informações em publicações relativamente re-23
centes, que informam sobre o ”estado <strong>da</strong> arte”e discutem as perspectivas futuras [10, 11].Po<strong>de</strong>mos também citar artigos mais antigos, que dão uma visão <strong>de</strong> uma perspectiva maisdistante no tempo mas que continuam interessantes <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista geral [19, 20]. Umaintrodução bastante <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> e didática sobre princípios gerais sobre a fusão controla<strong>da</strong>,e sobre <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> diversos dispositivos <strong>de</strong> confinamento magnético, po<strong>de</strong> ser encontra<strong>da</strong>em [9]. Po<strong>de</strong>-se também citar um artigo relativamente recente, <strong>de</strong> nível introdutório e <strong>de</strong>divulgação, que apareceu em publicação facilmente acessível [21].C. Fusão Controla<strong>da</strong> em Dispositivos <strong>de</strong> Confinamento InercialUma outra abor<strong>da</strong>gem não faz uso <strong>de</strong> campos magnéticos para confinar o plasma. Deforma simples, po<strong>de</strong> ser explica<strong>da</strong> <strong>da</strong> seguinte maneira: Utiliza-se uma pequena partícula <strong>de</strong>combustível, que <strong>de</strong>ve ser aqueci<strong>da</strong> até temperaturas <strong>de</strong> fusão termonuclear tão rapi<strong>da</strong>menteque ocorram reações nucleares, com a conseqüente liberação <strong>de</strong> energia, antes que o plasmaformado tenha tempo <strong>de</strong> se expandir. Ou seja, po<strong>de</strong>-se dizer que o confinamento se <strong>da</strong>ria pelaprópria inércia do material. Como este tempo <strong>de</strong> confinamento é compreensívelmente muitocurto, o plasma tem que ser criado e aquecido <strong>de</strong> forma extremamente eficiente. A idéia éentão utilizar lasers <strong>de</strong> alta potência para realizar esta tarefa, ou mesmo feixes <strong>de</strong> partículas<strong>de</strong> alta energia, incidindo sobre o elemento <strong>de</strong> combustível. Não vamos nos alongar muitosobre esta abor<strong>da</strong>gem ao problema <strong>da</strong> fusão controla<strong>da</strong>. Discussões sobre seus fun<strong>da</strong>mentose idéias básicas po<strong>de</strong>m ser encontra<strong>da</strong>s em [9, 19, 20]. Uma discussão mais recente, on<strong>de</strong> são<strong>de</strong>lineados eventuais reatores baseados neste sistema, po<strong>de</strong> ser encontra<strong>da</strong> na Ref. [22].D. Outras Aplicações TecnológicasAqui po<strong>de</strong>ríamos listar um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> aplicações <strong>de</strong> plasmas. Na maioria doscasos, os fenômenos físicos envolvidos são complexos e freqüentemente ain<strong>da</strong> não bem compreendidos,sendo muitas vêzes utilizados <strong>de</strong> forma empírica ou semi-empírica. Vamos noslimitar a fazer um pequeno apanhado <strong>de</strong> algumas aplicações <strong>de</strong> plasmas, com uma <strong>de</strong>scriçãosumária.Como primeiro exemplo, po<strong>de</strong>mos citar o uso <strong>de</strong> <strong>de</strong>scargas em gases para tratamento<strong>de</strong> superfícies. A concepção do processo é simples e remonta às experiências em tubos <strong>de</strong>24
<strong>de</strong>scarga em gases do final do século XIX e início do século XX. A <strong>de</strong>scarga cria no gásum plasma, relativamente frio (quando comparado com os plasmas <strong>de</strong> fusão). Em um tipo<strong>de</strong> aplicação, materiais presentes na <strong>de</strong>scarga po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>positados sobre um substrato,criando um fino revestimento (um filme). O plasma <strong>da</strong> <strong>de</strong>scarga po<strong>de</strong> também interagircom uma superfície metálica <strong>de</strong> outra forma. Íons presentes na <strong>de</strong>scarga po<strong>de</strong>m penetrarno material e se difundirem até uma certa distância <strong>da</strong> superfície, criando uma cama<strong>da</strong> implanta<strong>da</strong>com material <strong>da</strong> <strong>de</strong>scarga. Por meio <strong>de</strong>ste processo, superfícies po<strong>de</strong>m ser trata<strong>da</strong>spara adquirirem proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>seja<strong>da</strong>s, como endurecimento, resistência, brilho, etc... Uma<strong>de</strong>scarga em gases po<strong>de</strong> servir para nitretar a superfície <strong>de</strong> aços, por exemplo, e melhorarsuas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s.Outro exemplo <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> plasmas é a chama<strong>da</strong> tocha <strong>de</strong> plasma. A tocha <strong>de</strong> plasma éessencialmente um instrumento que transforma potência elétrica em calor, na forma <strong>de</strong> gases<strong>de</strong> temperatura muito eleva<strong>da</strong> (3000 a 20000 K) [23]; encontra aplicações na metalurgia eindústria <strong>de</strong> materiais em geral. Não <strong>de</strong>vemos também esquecer um exemplo muito comume divulgado na vi<strong>da</strong> quotidiana, ou seja, o plasma existente no interior do tubo <strong>de</strong> vidro <strong>de</strong>uma lâmpa<strong>da</strong> fluorescente.A lista <strong>de</strong> aplicações po<strong>de</strong>ria ser bastante mais alonga<strong>da</strong> do que os poucos exemplosmencionados brevemente aqui. Entretanto, vamos encerrar este texto, mencionando umartigo introdutório à questão <strong>da</strong>s <strong>de</strong>scargas em gases e suas aplicações, o qual po<strong>de</strong> serencontrado em revista nacional, facilmente encontrável [24]. Po<strong>de</strong>mos também mencionarum texto bem mais profundo e complexo, que vem acompanhado <strong>de</strong> uma extensa lista <strong>de</strong>referências que po<strong>de</strong> encaminhar o leitor para a literatura especializa<strong>da</strong>, publicado há cerca<strong>de</strong> uma déca<strong>da</strong> em revista internacional <strong>de</strong> Física Aplica<strong>da</strong> [25].25
VI.ENCERRAMENTOEste texto preten<strong>de</strong>u servir como introdução aos fenômenos ligados ao estado <strong>da</strong> matériaque conhecemos por ”plasma”, e preten<strong>de</strong>u mencionar alguns textos <strong>da</strong> literatura disponível,que po<strong>de</strong>m encaminhar o leitor que <strong>de</strong>sejar aprofun<strong>da</strong>mento no assunto. Deve ser esclarecidoque a escolha e a extensão dos tópicos tratados obe<strong>de</strong>ceu bastante aos interesses e à familiari<strong>da</strong><strong>de</strong>que o autor <strong>de</strong>ste texto tem com <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s áreas. A extensão dos tópicos portantonão reflete necessariamente a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>, abrangência, ou importância dos mesmos nomundo científico ou tecnológico contemporâneo.27
[1] F. F. Chen, Introduction to Plasma Physics and Controlled Fusion, 2a. ed., Plenum, New York,1984.[2] J. A. Bittencourt, Fun<strong>da</strong>mentals of Plasma Physics, 3a. ed., São José dos Campos, 2003.[3] D. Halli<strong>da</strong>y & R. Resnick, Física, 4a. ed., Livros Técnicos e Científicos, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1985,V. 3.[4] F. W. Sears, M. W. Zemanski, & H. D. Young, Física, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1984, v. 3.[5] P. A. Tipler, Física, 2a. ed., Guanabara Dois, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1984, v. 2.[6] H. Alfvén, Cosmic Plasma, Astrophysics and Space Science Library, v. 82, D. Rei<strong>de</strong>l, Dordrecht,1981.[7] R. A. Wolf, Space Sci. Rev.. 17:537, 1975.[8] W. D. Gonzalez et al., Auroras, Ciência Hoje 10(60):26-31, <strong>de</strong>zembro 1989.[9] M. O. Hagler & M. Kristiansen, An Introduction to Controlled Thermonuclear Fusion, Lexington,Lexington, 1977.[10] J. G. Cor<strong>de</strong>y, R. J. Goldston, & R. R. Parker, Progress Toward a Tokamak Fusion Reactor,Physics To<strong>da</strong>y, 22-30, janeiro 1992.[11] N. Fiedler-Ferrari & I. C. Nascimento, Fusão Termonuclear Controla<strong>da</strong>, Ciência Hoje 7(41):44-56, abril 1988.[12] I. C. Nascimento, R. M. O. Galvão, I. L. Cal<strong>da</strong>s, M. V. A. P. Heller, A. Vannucci, Y. Kuznetsov,L. Ruchko, and R. P. <strong>da</strong> Silva. Perspectives of research with the tokamak TCA/BR of theInstitute of Physics of the University of São Paulo. In IV Encontro Brasileiro <strong>de</strong> Física <strong>de</strong>Plasmas, pages 68–71, Águas <strong>de</strong> Lindóia, SP, Brasil, 02-05 setembro 1996. SBF.[13] R. M. O. Galvão, Y. K. Kuznetsov, I. C. Nascimento, et al., New regime of runaway dischargesin tokamaks, Plasma Phys. Contr. Fusion, 43(9): 1181-1190, September 2001.[14] L. F. Ruchko, E. A. Lerche, R. M. O. Galvão, et al., The analysis of Alfven wave current driveand plasma heating in TCABR tokamak, Braz. J. Phys., 32(1): 57-64, Mar 2002.[15] M. Machi<strong>da</strong>, S. V. Lebe<strong>de</strong>v, D. O. Campos, S. A. Moshkalyov, G. R. V. Souza, M. J. R.Monteiro, and A. M. Daltrini. Tokamak NOVA-UNICAMP. In IV Encontro Brasileiro <strong>de</strong>Física <strong>de</strong> Plasmas, pages 64–67, Águas <strong>de</strong> Lindóia, SP, Brasil, 02-05 setembro 1996. SBF.29
[16] A. M. Daltrini, M. Machi<strong>da</strong>, M. J. R. Monteiro, et al., Spherical Tokamak NOVA-UNICAMPrecent results, Braz. J. Phys., 32(1): 26-29, Mar 2002.[17] E. Del Bosco, G. O. Ludwig, J. G. Ferreira, A. Montes, M. Ue<strong>da</strong>, P. R. P. Barreto, C. S.Shibata, M. C. Andra<strong>de</strong>, L. F. W. Barbosa, and A. M. Kabayama. The ETE sphericaltokamak: present status of construction. In IV Encontro Brasileiro <strong>de</strong> Física <strong>de</strong> Plasmas,pages 24–27, Águas <strong>de</strong> Lindóia, SP, Brasil, 02-05 setembro 1996. SBF.[18] G. O. Ludwig, E. Del Bosco, J. G. Ferreira, L. A. Berni, R. M. Oliveira, M. C. R. Andra<strong>de</strong>,C. S. Shibata, M. Ue<strong>da</strong>, L. F. W. Barbosa, and the high-power microwave sources group, J.J. Barroso, P. J. Castro, and H. Patire Jr., Spherical Tokamak Development in Brazil, Braz.J. Phys., 33(4): 848-859, December 2003.[19] W. C. Gough, & B. J. Eastlund, The Prospects of Fusion Power, Scientific American,224(2):50-64, fevereiro 1971.[20] F. L. Ribe, Fusion Reactor Systems, Reviews of Mo<strong>de</strong>rn Physics, 47(1):7-41, janeiro 1975.[21] F. F. S. Cruz, J. R. Marinelli, & M. M. W. <strong>de</strong> Moraes, Fusão Nuclear em Plasma, Cad. Cat.Ens. Física, 6(1): 59-74, abril 1989.[22] W. J. Hogan, R. Bangerter, and G. L. Kulcinski, Energy from Inertial Fusion, Physics To<strong>da</strong>y,42-50, setembro 1992.[23] J. Busnardo-Neto, V. A. Rodrigues, H. K. Böckelmann, and P. H. Sakanaka, Characteristicsof a 30 kW plasma torch, IN Energy In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce Conference (Fusion Energy and PlasmaPhysics), p. 248-258, ed. P. Sakanaka, 1987.[24] J. L. R. Muzart, Os Plasmas Pouco Ionizados, Cad. Cat. Ens. Física, 5(1): 39-49, abril 1988.[25] G. G. Lister, Low-Pressure Gas Discharge Mo<strong>de</strong>lling, Journal of Physics D: Applied Physics,25(12): 1649-80, 1992.30
<strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Física – <strong>UFRGS</strong>MPEF – Mestrado Profissionalizante em Ensino <strong>de</strong> FísicaTextos <strong>de</strong> Apoio ao Professor <strong>de</strong> Físican° 1: Um Programa <strong>de</strong> Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s sobreTópicos <strong>de</strong> Física para a 8ª Série do 1º Grau.Axt., R., Steffani, M.H. e Guimarães, V. H., 1990.n° 2: Radioativi<strong>da</strong><strong>de</strong>.Brückmann, M.E. e Fries, S.G., 1991.n° 3: Mapas Conceituais no Ensino <strong>de</strong> FísicaMoreira, M.A, 1992.n° 4: Um Laboratório <strong>de</strong> Física para Ensino MédioAxt, R e Brückmann, M.E., 1993.n° 5: Física para Secun<strong>da</strong>ristas – Fenômenos Mecânicos e Térmicos.Axt, R. e Alves, V.M., 1994.n° 6: Física para Secun<strong>da</strong>ristas – Eletromagnetismo e Óptica.Axt, R e Alves, V.M., 1995.n° 7: Diagramas V no Ensino <strong>de</strong> Física.Moreira, M.A, 1996.n° 8: Supercondutivi<strong>da</strong><strong>de</strong> – Uma proposta <strong>de</strong> inserção no Ensino Médio.Ostermann, F., Ferreira, L.M. e Cavalcanti, C.H., 1997.n° 9: Energia, entropia e irreversibili<strong>da</strong><strong>de</strong>.Moreira, M.A. 1998.n°10: Teorias construtivistas.Moreira, M.A, e Ostermann, F., 1999.n°11: Teoria <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong><strong>de</strong> especial.Ricci, T.F., 2000.n°12: Partículas elementares e interações fun<strong>da</strong>mentais.Ostermann, F., 2001.n°13: Introdução à Mecânica Quântica. Notas <strong>de</strong> curso.Greca, I.M. e Herscovitz. V. E., 2002.n°14: Uma introdução conceitual à Mecânica Quântica para professores do ensino médio.Ricci, T. F. e Ostermann, F., 2003.nº15: O quarto estado <strong>da</strong> matéria.Ziebell, L. F. 2004.