2Est rogare ducum species violenta jubendi.E assim foi este de tanta força, <strong>que</strong> não só incitei a um amigo <strong>que</strong> a mesma históriacompu<strong>se</strong>s<strong>se</strong> <strong>em</strong> verso, de sorte <strong>que</strong> pudes<strong>se</strong> dizer o <strong>que</strong> dis<strong>se</strong> Santo Agostinho ao Santo bispoSimpliciano, <strong>que</strong> haven<strong>do</strong>-lhe pedi<strong>do</strong> um trata<strong>do</strong> breve <strong>em</strong> declaração de certas dificuldades lheofereceu <strong>do</strong>is <strong>livro</strong>s inteiros, desculpan<strong>do</strong>-<strong>se</strong>, ainda, com <strong>se</strong>r a letra tanta, <strong>que</strong> pudera causar fastio,de não satisfazer <strong>que</strong> lhe foi pedi<strong>do</strong>, conforme ao de<strong>se</strong>jo <strong>do</strong> suplicante; são suas palavras as <strong>que</strong> <strong>se</strong><strong>se</strong>gu<strong>em</strong>:Vereor ne ista, quae sunt a me dicta, et non satisfecerint expectationi et taedio fuerintgmavitati tuae, quan<strong>do</strong>quid<strong>em</strong> et tu ex omnibus, quae interrogati unum a me libellum misti veles,ego duos libros, eosd<strong>em</strong><strong>que</strong> longissimos misi, et fortas<strong>se</strong> quaistionibus nequaquam expeditediligenter respondi. Aug. Lb. 2 º quaistion. ad Simplic.Desta maneira haven<strong>do</strong>-me Vossa Mercê pedi<strong>do</strong> um trata<strong>do</strong> das coisas <strong>do</strong> Brasil, lhe ofereço<strong>do</strong>is, leitura, <strong>que</strong> pudera causar fastio, <strong>se</strong> o diverso méto<strong>do</strong> a não variara, e dera apetite, e contu<strong>do</strong>receio de não satisfazer curiosidade de Vossa Mercê, <strong>se</strong>gun<strong>do</strong> <strong>se</strong>i, <strong>que</strong> gosta desta iguaria. Dondetomei também motivo para a dedicar a Vossa Mercê e não a outr<strong>em</strong>, l<strong>em</strong>bran<strong>do</strong>-me <strong>que</strong> por darJacó a Isac <strong>se</strong>u pai uma de <strong>que</strong> gostava alcançou a bênção como a mãe lho havia certifica<strong>do</strong>,dizen<strong>do</strong>:Nuncergo, fihi mi, acquiesce consiliis meis: et mihi duos hce<strong>do</strong>s ut faciam ex eis escas patrituo, quibus libentar vescituri quas cum intulenis, et comedenit bençdicat tibi.B<strong>em</strong> enxergou o santo velho, ainda <strong>que</strong> cego, <strong>que</strong> Jacob o enganava, pois o conheceu pelavoz. Vere quid<strong>em</strong> voz Jacob, est; mas leva<strong>do</strong> <strong>do</strong> gosto da iguaria a <strong>que</strong> era afeiçoa<strong>do</strong> depois dainspiração <strong>do</strong> céu lhe concedeu a bênção, esta peço eu a Vossa Mercê, e com ela não tenho <strong>que</strong>t<strong>em</strong>er a maldizentes. Nosso Senhor, vida, saúde, e esta<strong>do</strong> con<strong>se</strong>rve e aumente a Vossa Mercê, comoos <strong>se</strong>us lhe de<strong>se</strong>jamos.Bahia, 20 de dez<strong>em</strong>bro de 1627.Servo de Vossa MercêFREI VICENTE DO SALVADOR.LIVRO PRIMEIRODO DESCOBRIMENTO DO BRASIL
3CAPÍTULO PRIMEIROComo foi descoberto este Esta<strong>do</strong>A terra <strong>do</strong> Brasil, <strong>que</strong> está na América, uma das quatro partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, não <strong>se</strong> descobriude propósito, e de principal intento; mas acaso in<strong>do</strong> Pedro Álvares Cabral, por manda<strong>do</strong> de el-rei d.Manuel, no ano de 1500 para as Índias, por capitão-mor de 12 naus, afastan<strong>do</strong>-<strong>se</strong> da costa de Guiné,<strong>que</strong> já era descoberta ao Oriente, achou estoutra ao Ocidente, da qual não havia notícia alguma, foicostean<strong>do</strong> alguns dias com tormenta até chegar a um porto <strong>se</strong>guro, <strong>do</strong> qual a terra vizinha ficoucom o mesmo nome.Ali des<strong>em</strong>barcou o dito capitão com <strong>se</strong>us solda<strong>do</strong>s arma<strong>do</strong>s, para pelejar<strong>em</strong>; por<strong>que</strong> man<strong>do</strong>u<strong>primeiro</strong> um batel com alguns a descobrir campo, e deram novas de muitos gentios, <strong>que</strong> viram;porém não foram necessárias armas, por<strong>que</strong> só de ver<strong>em</strong> homens vesti<strong>do</strong>s, e calça<strong>do</strong>s, brancos, ecom barba / <strong>do</strong> <strong>que</strong> tu<strong>do</strong> eles carec<strong>em</strong> / os tiveram por divinos, e mais <strong>que</strong> homens, e assimchaman<strong>do</strong>-lhe Caraíbas, <strong>que</strong> <strong>que</strong>r dizer na sua língua coisa divina, <strong>se</strong> chegaram pacificamente aosnossos.Donde assim como os índios da Nova Espanha, quan<strong>do</strong> viram des<strong>em</strong>barcar nela o<strong>se</strong>spanhóis lhes chamaram viracocés, <strong>que</strong> significa escumas <strong>do</strong> mar, parecen<strong>do</strong>-lhes <strong>que</strong> o mar oslançara de si como escumas, e este nome lhes ficou s<strong>em</strong>pre, assim somos ainda destoutroschama<strong>do</strong>s Caraíbas e respeita<strong>do</strong>s mais <strong>que</strong> homens. Mas muito mais cresceu neles o respeito,quan<strong>do</strong> viram oito frades da ord<strong>em</strong> <strong>do</strong> nosso padre São Francisco, <strong>que</strong> iam com Pedro ÁlvaresCabral, e por guardião o padre <strong>frei</strong> Henri<strong>que</strong>, <strong>que</strong> depois foi bispo de Cepta, o qual dis<strong>se</strong> ali missa, epregou, onde os gentios ao levantar da hóstia, e cálice <strong>se</strong> ajoelharam, e batiam nos peitos comofaziam os cristãos, deixan<strong>do</strong>-<strong>se</strong> b<strong>em</strong> nisto ver como Cristo <strong>se</strong>nhor nosso neste divino Sacramento<strong>do</strong>mina os gentios, <strong>que</strong> é o <strong>que</strong> a igreja canta no Invitatório de suas Matinas, dizen<strong>do</strong>: Christumreg<strong>em</strong> <strong>do</strong>minant<strong>em</strong> gentibus, qui <strong>se</strong> manducantibus dat spiritus pinguedin<strong>em</strong>, venite a<strong>do</strong>r<strong>em</strong>us.Do deus Pã, diziam os antigos gentios, <strong>que</strong> <strong>do</strong>minava e era <strong>se</strong>nhor <strong>do</strong> Universo, e dis<strong>se</strong>ramverdade <strong>se</strong> o entenderam deste Pã divino; por<strong>que</strong> s<strong>em</strong> falta ele é o Deus <strong>que</strong> tu<strong>do</strong> <strong>do</strong>mina, e apenashá lugar <strong>em</strong> toda a terra onde já não <strong>se</strong>ja venera<strong>do</strong>, n<strong>em</strong> nação tão bárbara de <strong>que</strong> não <strong>se</strong>ja <strong>que</strong>ri<strong>do</strong>e a<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>, como estes Brasis bárbaros fizeram.B<strong>em</strong> qui<strong>se</strong>ram os nossos frades, pela facilidade <strong>que</strong> nisto mostraram, para aceitar<strong>em</strong> a nossafé católica, ficar-<strong>se</strong> ali, para os ensinar<strong>em</strong> e batizar<strong>em</strong>, mas o capitão-mor, <strong>que</strong> os levava para outra<strong>se</strong>ara não menos importante, partiu daí a poucos dias com eles para a Índia, deixan<strong>do</strong> ali uma cruzlevantada como também <strong>do</strong>is portugue<strong>se</strong>s degrada<strong>do</strong>s para <strong>que</strong> aprendess<strong>em</strong> a língua, e despediuum navio a Portugal, de <strong>que</strong> era capitão Gaspar de L<strong>em</strong>os com a nova a el-rei d. Manuel, <strong>que</strong> arecebeu com o contentamento, <strong>que</strong> tão grande coisa, e tão pouco esperada merecia.CAPÍTULO SEGUNDODo nome <strong>do</strong> BrasilO dia <strong>em</strong> <strong>que</strong> o capitão-mor Pedro Álvares Cabral levantou a cruz, <strong>que</strong> no capítulo atrásdiss<strong>em</strong>os, era 3 de maio, quan<strong>do</strong> <strong>se</strong> celebra a invenção da Santa Cruz, <strong>em</strong> <strong>que</strong> Cristo NossoRedentor morreu por nós, e por esta causa pôs nome à terra, <strong>que</strong> havia descoberta, de Santa Cruz, epor este nome foi conhecida muitos anos: porém como o d<strong>em</strong>ônio com o sinal da cruz perdeu to<strong>do</strong> o<strong>do</strong>mínio, <strong>que</strong> tinha sobre os homens, recean<strong>do</strong> perder também o muito <strong>que</strong> tinha nos desta terra,trabalhou <strong>que</strong> <strong>se</strong> es<strong>que</strong>ces<strong>se</strong> o <strong>primeiro</strong> nome, e lhe ficas<strong>se</strong> o de Brasil, por causa de um pau assimchama<strong>do</strong>, de cor abrasada e vermelha, com <strong>que</strong> ting<strong>em</strong> panos, <strong>que</strong> o da<strong>que</strong>le divino pau <strong>que</strong> deu
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165CAPÍTULO QUADRAGÉSIMODe outras
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