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uma vertente “marinha” da literatura são­tomense tradicionalmenteatravessada pelo elemento telúrico (Mata 2005:142­144).A paisagem humana e cultural do arquipélago também é alterada pelachegada de trabalhadores contratados oriundos quer de outras “partes” doimpério português, quer de outras áreas do continente africano. Da cidadanialiterária desta outra componente, Inocência Mata refere textos isolados de F.J. Tenreiro, Manuela Margarido, Alda Espiríto Santo, ou seja, a tradiçãoliterária São­tomense.É Conceição Lima quem escreve poemas onde se ouve a voz de serviçais econtratados, no intuito de retratar o estatuto multicultural do universo sãotomense:“Manifesto imaginado de um serviçal”Chão inconquistado, chama­me teu que sobre minha fronte seesvai a lua esburacada na senzala. Não <strong>mais</strong> regressarei ao Sul.Morador interdito, ficarei nas tuas entranhas. Aqui, onde tudodei e me perdi. Morro sem respirar o hálito de uma outra cidadeque adubei.Irmãos:Deitai­me amanhã no terreiro à hora do sol nascente: queroolhar de frente as plantações. Quero contemplar, morto e inteiro, meulegado involuntário de africano em África desterrado.Clamo o pó que reclama a exaustão serena do meu corpo.Não mo podeis usurpar, ngwêtas, com o ferro da vossa força.Não mo negueis, ó híbridos forros, com o vosso frio desdém deséculos. Este barro é meu, espinho a espinho penetrou o osso dosmeus passos como um sopro cruel e palpitante. Até ao fim ondeagoracomeço porque a morte é o estuário de onde desertam os barcostodosque cavaram meu destino.Irmãos:Pelo mar viemos com febre. De longe viemos com sede.Chegamos de muito longe sem casa.Dai­me a beber agora a amarga infusão do caule do aloé, queroesgotar o cálice do nosso calvário.Dai­me uma coreografia de labaredas e vertigens que a nossasaga é uma constelação de astros absurdos.Dai­me amanhã em oferenda todos os sons que criei e os sonsque não criei mas aprendia puíta, o ndjambi, o bulauê

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