You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Um <strong>Só</strong><strong>Corpo</strong>VOLUME 2A SIDA e a Comunidade ReligiosaUm <strong>Corpo</strong> Vol<strong>um</strong>e 1 consiste n<strong>um</strong>a colecção de reflexões sobreos desafios para a Igreja, do estigma associado à SIDA. Um<strong>Só</strong> <strong>Corpo</strong> vol<strong>um</strong>e 2 foca os recursos de oração, liturgia, cultoe estudo bíblico, bem como testemunhos pessoais de pessoasafectadas pelo VIH e SIDA. Tanto vol<strong>um</strong>e 1 como vol<strong>um</strong>e 2 sãoeditados em inglês e português.EDITORCOORDENADOR DO PROJECTOCOMITÉ EDITORIALCONSULTOR EXTERNOTRADUTORESFOTÓGRAFOMODELOS PARA FOTOGRAFIASDESIGN GRÁFICOIMPRESSÃOPUBLICADO PELAISBN 13ISBN 10©Elizabeth Knox-Seith, Consultora daDanChurchAidJan Bjarne Sødal, Conselho Cristão daNoruegaPrecious Mwewa, Jornalista, Zâmbia; Rev.Japhet Ndhlovu, Conselho das Igrejas daZâmbia; Rev. Elias Zacarias Massicame,Conselho Cristão de Moçambique;Jan Bjarne Sødal, Conselho Cristão daNoruega; Rev. Birthe Juel Christensen,DanChurchAid, Dinamarca.Gillian PatersonIvan Chetwynd (inglês), Melodie andTony Winch (português), CandidaFernandes Meili (português)Ulrik Jantzen, Das Büro, CopenhagaBeauty Chandra and Preben BakboSloth, Activistas VIHKit Halding + Anne Mousten, Dan-ChurchAidJØNSSON & NKN, CopenhagaNordic-FOCCISA Church Cooperation.978-82-7941-025-682-7941-025-2Christian Council of Norway 2006A Nordic-FOCCISA Church Cooperation é <strong>um</strong>a relação de colaboraçãoentre onze conselhos de Igrejas na África Austral ecinco conselhos de Igrejas nos países nórdicos.A Nordic-FOCCISA Church Cooperation gostaria de agradecer aNORAD e Danida/DanChurchAid pelo seu apoio generoso para esteprojecto.Esta publicação não pode ser vendida ou utilizada para fins comerciais. O material desta publicação podeser citado, ou a publicação ou suas páginas serem fotocopiadas, desde que seja feita devida referência aosautores e editores.PODEM SER ENCOMENDADOS EXEMPLARES DE AMBOS OS VOLUMES A:Christian Council of Mozambique (Conselho Cristão de Moçambique)Telefone: +258-21-322836 E-mail: titosccm@virconn.comCouncil of Churches in Zambia (Conselho de Igrejas na Zâmbia)Telefone: +260-1-229551 E-mail: info@ccz.org.zmDanChurchAidTelefone: +45 33 15 28 00Email: mail@dca.dkChristian Council of Norway (Conselho Cristão da Noruega)Telefone: +47 23081300 E-mail: nkr@ek<strong>um</strong>enikk.org
UM SÓ CORPOVOLUME 2A SIDA e a Comunidade ReligiosaEstudos bíblicos, liturgias e histórias pessoais do Sul e do NorteTHE NORDIC-FOCCISA CHURCH COOPERATIONINTRODUÇÃO 1
INTRODUÇÃOCulto na DiversidadeDINAMARCA PositivoDINAMARCA Uma Visão de Jubileu para a IgrejaZÂMBIA Quebrando o Silêncio e VergonhaNORUEGA Estigma e H<strong>um</strong>anidadeNORUEGA Um Local Seguro de DiálogoNORUEGA A Bíbilia como Livro SagradoZÂMBIA Estudo da BíbliaA IGREJAZÂMBIA Uma Igreja de CompaixãoMOÇAMBIQUE Incluindo os MarginalizadosDINAMARCA Criação de <strong>um</strong>a Nova Comunidade de FéNORUEGA <strong>Ser</strong> Um <strong>Só</strong> <strong>Corpo</strong>NORUEGA A Mulher Que Ia ser ApedrejadaDINAMARCA Retiros de EsperançaSEXUALIDADE HUMANAZÂMBIA Patriarcado, Género e JesusZÂMBIA Sexualidade - Dávida e ResponsabilidadeNORUEGA Quem se Atreve a Atirar a Primeira PedraDINAMARCA Significado, Morte e PerdaIMAGENS DE DEUSDINAMARCA FéZÂMBIA Os Actos Milagrosos de JesusDINAMARCA Quatro Imagens de DeusZÂMBIA O Deus ClementeZÂMBIA O Deus da CriaçãoNORUEGA A Mulher AleijadaZÂMBIA Sem CondenaçãoNORUEGA Liturgia das EstaçõesDINAMARCA Sobre a ProximidadeDINAMARCA Deus que nos TocaDINAMARCA Acender as VelasDINAMARCA Oração no Dia Mundial da SIDA3561012141618212224262930333436404344464849505254586062642 INTRODUÇÃO
Culto naDiversidadeDE JAPHET NDHLOVU, CONSELHO DAS IGREJAS NA ZÂMBIA, JANBJARNE SØDAL, CONSELHO CRISTÃO DA NORUEGA, BIRTHE JUELCHRISTENSEN, DANCHURCHAID, DINAMARCA E ELIAS MASSI-CAME, CONSELHO CRISTÃO DE MOÇAMBIQUEAtravés da História, a maioria dos cristãos consideraram o culto<strong>um</strong> acto fulcral que exprime a identidade cristã. Muitos teólogoscristãos definiram a h<strong>um</strong>anidade como “homo adorans”: o ser cujanatureza é adorar. Tal sugere que o culto de Deus se encontrano centro daquilo que significa ser h<strong>um</strong>ano. É no nosso culto - obater das nossas vidas em comunidade - que podemos comunicare trazer Deus às nossas experiências individuais de vida.Como parte integrante do projecto conjunto sobre a reflexãoteológica acerca do VIH e SIDA pelos conselhos cristãos na ÁfricaAustral e nos países nórdicos na Europa - a Nordic FOCCISAChurch Cooperation - temos vindo a trabalhar em liturgias e estudosbíblicos. Na Bíblia e através dos estudos bíblicos, e ao criarliturgias experimentais, redescobrimos novas fontes e inspiração.Isto reflecte a necessidade premente de recursos práticos quepermitam unir a palavra de Deus e as nossas vidas, no contextodo VIH e SIDA, e à luz dos desafios e necessidades especiais quea epidemia colocou.A liturgia da Igreja tem origem na experiência das comunidadesindividuais. Estas comunidades reflectem geralmente <strong>um</strong>a grandevariedade de experiências e situações de vida - jovens e idosos,ricos e pobres, pessoas saudáveis e doentes, homens e mulheres,seropositivos e seronegativos, famílias e pessoas solteiras, pessoasque lutam e que vivem em paz, pessoas alegres e tristes. A liturgiada Igreja exprime o culto de toda a comunidade, pelo que o cultodeve ser dinâmico, ou seja deve abarcar os vários problemas comque os seres h<strong>um</strong>anos se confrontam. A liturgia deve, assim, empenhar-senos vários problemas que as pessoas trazem para oculto. Deve também ser abrangente: por forma que ao falar deDeus ou referir-se a Ele, tenhamos consciência da necessidade deevitar a estigmatização ou atitudes e linguagem discriminatórias.Tentámos observar estes princípios nas nossas liturgias e estudosbíblicos, e torná-los o mais adaptáveis possível.Fizemos <strong>um</strong>a opção consciente em começar o livro com testemunhospessoais de pessoas com VIH e SIDA, tanto no NorteINTRODUÇÃO 3
INTRODUÇÃOcomo no Sul. Estes testemunhos levantam questões cruciais sobrea descoberta ou recuperação da fé cristã. A nossa esperança éque o resto do vol<strong>um</strong>e de certa forma reflicta parte de <strong>um</strong>a resposta- pelo menos <strong>um</strong>a vontade de criar liturgias e estudos bíblicosabrangentes, como parte do desafio que as Igrejas enfrentama nível global em tempos de SIDA.Cooperação entre Sul e NorteEste projecto foi criado pelos conselhos cristãos de cinco paísesnórdicos e onze países da África Austral, no âmbito da Nordic-FOCCISA Church Cooperation. Foi avançado pelas igrejas naZâmbia, Moçambique, Noruega e Dinamarca, e com o objectivode promover <strong>um</strong>a reflexão teológica sobre assuntos levantadospela epidemia do VIH.Neste vol<strong>um</strong>e encontrará recursos para utilizar, nos tempos daSIDA, na liturgia, estudo bíblico, culto ou outras situações de grupo.O material inclui testemunhos pessoais, estudos bíblicos, liturgias,poemas e reflexões. Estes foram escritos ou preparados por pessoascom ou intimamente associadas ao VIH ou SIDA, que acharamque os recursos existentes nem sempre correspondem àsnecessidades dos seus grupos ou igrejas na situação actual.O material destina-se às pessoas das comunidades locais, noNorte global bem como no Sul, que estão encarregadas do ensino,pregação, culto e outro trabalho congregacional. A necessidadeé imensa, em termos de fornecimento de material liturgícoe estudo bíblico para utilização n<strong>um</strong> tempo de VIH e SIDA. Noentanto, as nossas tradições litúrgicas são muito diferentes, e nãopretendemos que esta colectânea seja suficientemente ampla,profunda ou complexa para abordar o vasto leque de requisitosexistentes. Ao invés, o projecto reflecte a natureza contrastante daexperiência cristã em relação ao VIH e SIDA.Os três temasA focagem, tal como no vol<strong>um</strong>e 1 desta série, é em três temas queforam salientados em particular pela experiência do VIH:1) a Igreja abrangente2) a sexualidade h<strong>um</strong>ana3) as nossas imagens de DeusO que fizemos foi associar cada <strong>um</strong> dos nossos focos temáticoscom passagens bíblicas especiais, e de nos interrogarmos comopoderá ser <strong>um</strong>a liturgia ou <strong>um</strong> estudo bíblico à luz das nossasreflexões - expostas no vol<strong>um</strong>e 1 - sobre a sexualidade h<strong>um</strong>ana, aIgreja e as imagens de Deus. Os textos variam, assim, grandementede acordo com o contexto regional em que foram criados.Não pretendemos sugerir que estas são as únicas formas emque certas passagens bíblicas possam ser usadas. Estas divergirãoradicalmente consoante a situação e contexto daqueles que asusarem. O objectivo foi que esta colectânea de recursos reflectissea unidade na diversidade a que somos chamados: a diversidade do“<strong>um</strong> só corpo universal de Cristo”, a que chamamos Igreja.Pode utilizar estes recursos da forma que pretender. Pode seleccionar,adaptar ou cortar e colar da forma que lhe pareça maisadequada na sua própria tradição e contexto.Esperamos que este material possa inspirar e gerar mais reflexão,levando à criação de outras liturgias e estudos bíblicos sobre aspectosrelativos ao VIH e SIDA. Acima de tudo, temos esperançade que o processo por que passamos ao criar este material, disseminesementes que possam levar à formação de irmandadesabrangentes nas Igrejas, a nível global, nacional e local.Independentemente do nosso local de origem, seja quem forque sejamos, quer sejamos seropositivos ou seronegativos, precisamosuns dos outros para nos tornarmos os seres verdadeirosque Deus pretendeu que fossemos - Um <strong>Só</strong> <strong>Corpo</strong> em Cristo.4 INTRODUÇÃO
PositivoCom medo...Com medo por mim,com medo da minha doença.Quando aconteceráquando acontecerá?Uma morte lenta,ou talvez rápida e sem dor?Pessoas...as que não retribuem o meu amoras que não me dão a segurança de que necessitoA crise financeira...em que não se encontra ajudaque torna a dor ainda piorTodos olham para mim e abanam a cabeça...“Vais morrer de qualquer modo”“Não sabemos o que o futuro trarᔓTens seguro de vida?”“Não me atrevo a amar-te, e se morreres e me deixares sozinho!”“E se me infectares?”Quero fazê-lo...Vou atar <strong>um</strong>a corda ao pescoçoVou saltarVou engolir comprimidos,mas talvez amanhã,no cruzamentoou o avião de guerra que embate na minha sala de estar?Não...Avisaram-me.O aviso que apenas poucos recebem.Isto faz de mim algo especial?Algo especial?Faz-me ter medo- mas também alegria.Ensinou-me a amar a vidae a apreciá-laem vez de apenas a viver.Agora quero viver.Quero saber o que é o amor.Quero saber o que é a segurança.Acreditem em mim ...Façam-me ouvir ...Ouvir a minha voz interior.A voz.Faz-me erguer a cabeçae sorrir ao meu destino.Faz-me viver intensamentee diz-meque ok, a minha vida será mais curta que a dos outros,mas talvez também será melhor?Espero...DORTHE , AFECTADO PELO VIH, DINAMARCAINTRODUÇÃO 5
Um testemunho de <strong>um</strong>sobrevivente a longo prazoUma VisãoPOR PREBEN BAKBO SLOTHQuando se é jovem é suposto olhar-se a vida de frente, fazerplanos, ter visões e sonhos. Concentrar-se no sofrimento e morteprematura não é o que geralmente se associa à juventude. Mas ter<strong>um</strong> teste de VIH positivo aos 24 anos altera as nossas perspectivas.Além disso, durante a nossa primeira conversa, o meu médicodisse-me que tinha cerca de 5 anos de vida. O futuro tornou-se<strong>um</strong>a ameaça, planear não parecia fazer qualquer sentido, as visõesseriam <strong>um</strong>a fuga à realidade, os sonhos apenas ilusões e esperançasfalsas.Ficar infectado através de alguém que não teve a coragem de dizera verdade, foi <strong>um</strong> golpe terrível na minha confiança nos outros.Como poderia jamais voltar a acreditar em alguém, se a minhaconfiança tinha sido traída tão completamente por forma a infectar-memortalmente? Como é que poderia voltar a acreditar nomeu próprio bom senso? Poderia eu alg<strong>um</strong> dia voltar a acreditarem mim mesmo para me responsabilizar pela minha própria vida?Estas questões resultaram n<strong>um</strong>a auto-estima muito baixa e n<strong>um</strong>sentimento de apatia ao decepcionar os outros.Nessa altura, alguns aderentes da ala conservadora da Igrejaproclamavam com todo o vigor que o VIH e SIDA eram castigosde Deus por <strong>um</strong>a vida depravada. Já paralisado com o choquede estar condenado à morte, era impossível não interiorizar essamensagem, tomar pessoalmente este juízo de Deus, carregá-lonos meus ombros e tentar aceitar esta forma de justiça divinabizarra. E foi assim que eu, com a marca da morte provocada peloVIH em mim, atingido pela fúria de Deus, n<strong>um</strong>a crise existenciale acompanhado pela vergonha e culpa, pensei que era impossívelprocurar ajudar junto de mais alguém. Não me atrevia a abordarninguém para partilhar o meu sofrimento, dado que estava convencidode que todos me virariam as costas, tal como Deus otinha feito.Não podemos enganar Deus, mas podemos tentar enganar aspessoas. O resultado foram dois anos a sós com o meu segredo.Dois anos n<strong>um</strong> inferno psicológico, espiritual e emocional. Dois6 INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃODINAMARCAde Jubileu para a Igrejaanos de mentiras, desculpas e repressão. Dois anos que me afastaramcada vez mais dos amigos e família, para <strong>um</strong>a solidão friae escura. Fugi da Igreja a que pertencia na altura, dado que enfrentavaa excomunhão.Uma nova imagem de DeusFoi apenas dois anos mais tarde que tive a coragem de pedir ajuda,que me atrevi a abrir-me sobre a minha situação de seropositivo,de reflectir se o VIH era <strong>um</strong> castigo de Deus e de considerar asminhas imagens de Deus. Deus falou comigo também, através deimagens que me disseram claramente que podia fugir das Igrejas,mas que Deus nunca me abandonaria. Encontrei <strong>um</strong> lar espiritualn<strong>um</strong>a pequena congregação em Copenhaga. Aí senti calor h<strong>um</strong>ano,compreensão, aceitação e carinho. Encontrei outras pessoascom SIDA, <strong>um</strong>a circunstância que iniciou <strong>um</strong> processo de curaque não está ainda concluído, quinze anos mais tarde. Descobrique nada, mesmo o VIH e a SIDA, me podem separar do amorde Deus (Romanos 8:38). Neste ambiente de amor e inclusão, ossentimentos de culpa e vergonha rapidamente desapareceram.A pregação do amor incondicional de Deus e do calor h<strong>um</strong>anoda irmandade deram-me <strong>um</strong>a nova imagem de Deus. Uma imagemonde me podia rever e encontrar força. Aos poucos, a minhaconfiança nos outros e em mim mesmo começou a crescer.O processo de adquirir mais auto-estima e confiança em mim enos outros durou muitos anos e foi apoiado por pessoas pacientes,carinhosas e compreensivas, tanto dentro como fora da Igreja,e pela experiência repetida de nunca ser abandonado por Deus.A vida necessita de <strong>um</strong> sentidoMuitas outras questões e problemas deixaram marcas nos últimosdezoito anos. O medo de ficar doente, o medo da dor, o medoda morte, o sentimento de impotência e falta de sentido apósperder tantos amigos e conhecidos, falta de confiança no futuro,etc. Por vezes foi mesmo difícil manter objectivos a curto prazo,já para não falar de manter <strong>um</strong> significado para a vida, no meio dador, perda e sofrimento. Foi apenas nos últimos quatro ou cincoanos que compreendi que se a vida e a morte têm <strong>um</strong> significado,então o sofrimento deve ter também <strong>um</strong> significado. Sem acreditarno significado, ou sem a vontade de procurar <strong>um</strong> significado,teria desistido, achado tudo sem sentido, e ficado destroçado doponto de vista espiritual e emocional. Na realidade, é a própriavida que exige <strong>um</strong> significado e eu tenho de dar <strong>um</strong>a resposta.Uma resposta ao procurar e achar <strong>um</strong> significado - ou significados- em concordância com as variações na vida que o tempo trazconsigo. Resposta ao viver.A irmandade com Deus em diálogo, oração e meditação, em vera minha vida reflectida no Evangelho e no Livro de Salmos, irmandadee diálogo na Igreja e irmandade com os outros infectadospelo VIH foram os meios que Deus pôs à minha disposição nesteprocesso de cura.A comunidade religiosa e a irmandade com outros cristãosforam <strong>um</strong>a ajuda e apoio preciosos. Ajudaram a fazer a ponte damorte para a vida, da fragmentação para a integridade e do ódiopara consigo próprio para o amor.A Igreja tem SIDAO meu primeiro encontro com a Igreja e a sua mensagem, logoapós ficar infectado, foi ouvir <strong>um</strong>a mensagem de condenação. Mas“condenar é ocultar o amor de Deus”, tal como a pastora CarinaWøhlk afirmou <strong>um</strong>a vez n<strong>um</strong> sermão no Dia Mundial da SIDA.Porque é que a Igreja, ou pelo menos parte dela, é <strong>um</strong> porta-vozda condenação? Encontro muitos exemplos na Bíblia de que acaracterística principal da atitude de Deus perante os fracos, osexpostos e os excluídos é <strong>um</strong> abraço abrangente, carinhoso echeio de amor. E o que fizeste a <strong>um</strong> dos irmãos mais pequeninos,a Mim o fizeste - tanto no aspecto positivo como negativo.Com a comparação de Paulo da Igreja como <strong>um</strong> só corpo espiritual,tenho por vezes a impressão de que alguns teólogos e outrosexegetas são os dentes, enquanto que eu sou parte do limo deque o corpo se quer livrar! Mas quando <strong>um</strong>a parte do corpo temSIDA, todo o corpo sofre, e por essa razão a Igreja tem SIDA. AIgreja tem de mostrar compaixão e carinho, se pretender estarde acordo com a metáfora de Paulo. E se não pretender fazê-lo,então deve ter outro nome, dado que se tornou <strong>um</strong> terreno fértilpara a frustação, desilusão e sofrimento.INTRODUÇÃO 7
Os sem abrigoCresci a considerar a minha Igreja, a Igreja Luterana Evangélica naDinamarca, a minha segunda casa. Da mesmo forma que estavafamiliarizado com a minha própria casa, estava também familiarizadocom a vida da Igreja, os seus rituais e linguagem, e sentia-meem casa aí. Mas quando descubro que n<strong>um</strong>a das minhas casasnão posso falar da dor e ansiedade provocadas pelo VIH, sinto derepente que não me sinto à vontade na minha própria casa.Por vezes, a dor e ansiedade foram tão grandes que me vi obrigadoa falar sobre elas com alguém, e quando a minha confiança edor receberam em troca apenas silêncio e repugnância mal disfarçada,então sinto-me como <strong>um</strong> sem abrigo na minha própria casa.Dividido. Se tenho de fingir ser outro para dar lugar à parte demim que é saudável, normal, respeitável a fim de ser aceite, então émenos doloroso abandonar a minha casa e permancer só <strong>um</strong> coma minha dor - mas sem abrigo.Ouvir os membros da minha família e da Igreja dizerem que tiveramvergonha de mim, a<strong>um</strong>entou este sentimento de abandono.Quando a Igreja rejeita pessoas infectadas pelo VIH desta forma,estas devem ter <strong>um</strong>a fé forte ou <strong>um</strong>a experiência religiosa profundapara não voltarem as costas a Deus. Mas a Igreja não devia serconhecida por isto.<strong>Ser</strong> <strong>um</strong>a pessoa íntegra na casa de DeusDeus criou seres íntegros. Espírito, alma e corpo. E na casa deDeus a pessoa íntegra tem, assim, de ser tida em conta e acarinhada.Claro que isto acarreta aconselhamento pastoral, orientaçãoespiritual, intercessão, etc. - mas para pessoas com <strong>um</strong>a doençaestigmatizante como o VIH e SIDA, não basta saber que podemdirigir-se à Igreja com os seus problemas espirituais.A Igreja deve enviar mensagens contínuas e explícitas de queas pessoas com VIH são bem vindas. O VIH/SIDA, a sexualidade,a estigmatização, etc. devem estar constantemente na agenda daIgreja - não apenas no Dia Mundial da SIDA.Felizmente vejo Igrejas em várias regiões do mundo que c<strong>um</strong>prema sua visão do Reino de Deus, tanto na sua irmandade cristãcomo na comunidade local. Mas com quarenta milhões de pessoasno mundo com VIH esta é <strong>um</strong>a necessidade premente. Nesta situação,a Igreja deve libertar-se da forma de pensar convencionale de <strong>um</strong>a teologia e prática paralisantes, opressivas e discriminatórias.Como extensão do ano de jubileu do Velho Testamento- embora tal nunca tenha sido posto em prática talvez - a Igrejapodia proclamar <strong>um</strong> ano de jubileu, <strong>um</strong>a época de jubileu, <strong>um</strong>local de jubileu.Poderia contribuir para o júbilo e libertação da culpa e vergonha- mostrando aceitação e carinho para com as pessoas com VIH. Ojubileu envolveria orações de perdão pelos muitos anos de atrasoem fazê-lo. Haveria júbilo por <strong>um</strong>a comunidade em que todossão tratados como iguais; em que os conhecimentos, experiênciae sabedoria das pessoas com VIH são valorizados e utilizados. Júbilopor todos os recursos h<strong>um</strong>anos, que são agora libertados daansiedade que os manteve paralisados anteriormente. Júbilo dadoque podemos começar a viver <strong>um</strong>a vida de qualidade. Júbilo aover a auto-estima das pessoas com VIH a crescer e os seus recursosa serem conhecidos para benefício de todos.A coragemOnde é que a Igreja pode encontrar a coragem para fazer tudoisto? Penso que temos de começar por vasculhar os nossos sentimentos- e não apenas os nossos sentimentos de amor. Tambéma dor, tristeza, aflição e raiva podem ser estados de espírito dinâmicosque podem fazer com que nos dirijamos aos outros e nosassociemos a outras pessoas e sociedades à nossa volta. Temos deanalisar as necessidades das pessoas com VIH, ouvir os seus pedidose encontrar formas e meios de atender aos mesmos.Temos de orar para termos coragem, confiança em Deus e emnós mesmos, fé de que o Espírito de Deus nos possa habitar paraque a visão do jubileu se torne realidade: <strong>um</strong> espaço cheio de vidae liberdade e esperança; com paredes de amor, carinho, respeitoe confiança.Se todo o trabalho da Igreja puder começar com <strong>um</strong> coraçãoaberto e confiante, tal como o Irmão Roger de Taizé disse,as pessoas com VIH deixarão de ter medo de abordarem aIgreja.8 INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃOEsperançaTemos esperança de <strong>um</strong> novo céu e de <strong>um</strong>a nova Terra, onde predomine a paz, onde o sopro de Deus infunda vida e crie <strong>um</strong>arco-iris de cores e formas.Temos esperança de <strong>um</strong> novo céu e de <strong>um</strong>a nova Terra, onde predomine o amor, onde o espírito de Cristo que dá Vida se difundapara as pessoas e entre estas, em que todo o sofrimento tenha sido sofrido, a morte tenha acabado e a sepultura estejavazia como na manhã de Páscoa. Temos esperança de <strong>um</strong> novo céu e de <strong>um</strong>a nova Terra, onde predomine a alegria, onde o EspíritoSanto de Deus renove continuamente a irmandade que ultrapassa todas as barreiras h<strong>um</strong>anas e a esperança incontrolávelde <strong>um</strong>a vida sem limites.ÁmenO <strong>Corpo</strong> UniversalDevo confessar que penso que a Igreja geralmente é muito boa em tomar partido do lado da classe dirigente queforma a opinião pública - e, desta forma, esquece-se do papel que tinha inicialmente como instituição e <strong>um</strong>a forçado Bem. O papel da Igreja era ir ter com as pessoas e mostrar que era possível pensar de outra forma. Que havia<strong>um</strong>a forma alternativa de olhar para as pessoas, de olhar para a vida.É tão cristão, tem tanta fé e - penso - é <strong>um</strong> membro tão legítimo da Igreja, quem estiver infectado pelo VIH comoquem tiver cancro ou esclerose ou tuberculose ou qualquer outra doença. Posso compreender que alg<strong>um</strong>as pessoassentem que a Igreja não as recebe de braços abertos - e isso faz-me sentir triste, dado que Igreja esquece-seentão do seu dever e evita a sua tarefa inicial de ser <strong>um</strong> local de encontro para os mais fracos e mais desfavorecidosna sociedade.Se a Igreja pretender ser <strong>um</strong>a Igreja abrangente, deve incluir todos, ou seja, os que vivem com VIH - e que podemencontrar-se em todos os grupos sociais. Ninguém escapa. Uma Igreja abrangente consegue reunir todos debaixodo seu tecto. É <strong>um</strong> desafio fantástico para a Igreja neste momento, mostrar como pode dirigir-se a todos. Mostrarque não é só <strong>um</strong> local de encontro para os poderosos e para os teólogos. Que é <strong>um</strong> local onde as pessoas podemvir e encontrar o conforto, a força e a energia de que necessitam para sobreviverem mentalmente, espiritualmentee fisicamente. Isto aplica-se não apenas aos que estão doentes, mas também aos que estão perto deles.O problema da SIDA é universal. Trata-se de <strong>um</strong>a necessidade h<strong>um</strong>ana a que a Igreja tem de atender, e não podehaver dúvida de que a motivação existe nos mandamentos de Jesus relativos ao amor. Há espaço para todos nósnessas palavras - e não nos devemos julgar uns aos outros.TESTEMUNHO DE JESPER, QUE MORREU DE SIDA, DINAMARCAINTRODUÇÃO 9
ZÂMBIATer <strong>um</strong> teste positivo e viver de forma positivaQuebrando o Silêncio e VergonhaPOR JOY LUBINGA, COORDENADORA DE “CIRCLES OF HOPE”(CÍRCULOS DE ESPERANÇA)Não é fácil enfrentar o facto de que mais cedo ou mais tardemorrerei, dado que estou infectada com <strong>um</strong>a doença incurável.No entanto, <strong>um</strong> dia ganhei coragem e fiz <strong>um</strong> teste do VIH, quedeu positivo.Sou <strong>um</strong>a viúva de 52 anos que vive com VIH. Fiz o teste em 2003.Tenho cinco filhos - todas raparigas - com idades compreendidasentre 3 e 13 anos, e tomo conta de <strong>um</strong>a sobrinha órfã cujos paismorreram de SIDA.Foi diagnosticada ao meu marido tuberculose em Fevereiro de1998. Mais tarde, foi-lhe diagnosticada meningite a criptococos eos médicos disseram-me que ele tinha SIDA e em breve morreriaou ficaria louco. Estas notícias fizeram-me arrepiar e chorei, dadoque senti que podia ser seropositiva. Um dia estava a chegar acasa do trabalho, e lembro-me que os meus filhos me disseramque o pai não tinha saído do quarto. Entrei e perguntei como sesentia. Ele afastou o olhar. Foi o início de <strong>um</strong>a longa doença. Esteveinternado no hospital e voltou para casa durante vários meses atémorrer em 5 de Setembro de 1998. Após ser informado de quetinha tuberculose, perdeu a esperança e tomou o medicamentocontra a tuberculose apenas por pouco tempo. Penso que foi porisso que morreu tão cedo.A partir daí, a minha vida decorreu normalmente. Vivi com asminhas filhas, e ajudei-as nas necessidades escolares básicas. Nãofoi fácil. Mas consegui. A ideia de fazer <strong>um</strong> teste nunca me passoupela cabeça, dado que não tinha quaisquer indícios de doença.Teste positivoEm 2003 aconteceu-me algo no escritório que me perturbou, poisnão pude aceitar. Foi o início das minhas dores de cabeça constantes,perda de apetite e perda de peso. Não me sentia feliz eperdi peso radicalmente. Tinha mau aspecto, dado que tinha <strong>um</strong>aerupção cutânea nas pernas e borbulhas na cara. Não podia vestirvestidos curtos. Apenas à medida que a minha saúde se começoua deteriorar me lembrei que os médicos me tinham dito que omeu marido tinha SIDA. Isto levou-me a fazer <strong>um</strong> teste do VIH.O teste positivo não foi <strong>um</strong>a grande surpresa. Mas foi <strong>um</strong> grandegolpe para mim enfrentar a verdade de que estava infectada comVIH. A primeira coisa em que pensei foi a morte e o facto depoder deixar as minhas filhas orfãs. Este pensamento é sempretriste, e a primeira pessoa com quem partilhei estas notícias foia minha filha mais velha. Choramos juntas, e ela disse-me muitaspalavras de esperança e de alento.De seguida, fiz todos os testes necessários. A minha primeiracontagem de células CD 4 foi 314, o que não era mau no nossocontexto da Zâmbia. Mas devido às muitas preocupações, acontagem de células CD 4 diminuiu para 119 em muito poucotempo - apenas <strong>um</strong> mês ou isso. Aconselharam-me a iniciar otratamento anti-retroviral. Uma vez que este tratamento não erabarato, decidi partilhar esta situação muito difícil com o meuchefe, o Secretário-Geral do Conselho das Igrejas na Zâmbia.Ajudou-me a obter o medicamento através de <strong>um</strong> acordo como governo. Fui na realidade ajudada. Pesava 51 kg quando efectueio teste, e agora tenho cerca de 90 kg. A minha contagem decélulas CD4 a<strong>um</strong>entou para 470. Tenho consulta de controlono médico todos os meses e tenho cuidado comigo dado queconheço a minha situação.Partilhei a minha história com muita gente. Não é que goste deser seropositiva ou que esteja contente com esta situação - massenti que era importante dar força aos outros que se encontraravamn<strong>um</strong>a situação semelhante. Fui estigmatizada e rejeitada navida. Mas sei que Deus me ama. Tenho <strong>um</strong> objectivo na vida, e há<strong>um</strong>a razão para estar viva. Aprendi a encorajar os outros a viveremde forma positiva e aceitarem a sua situação e deixarem tudo nasmãos de Deus. Ele tem a última palavra a dizer nas nossas vidase promete dar-nos a mão para romper o estigma, o silêncio e avergonha associados ao VIH e SIDA.10 INTRODUÇÃO
Círculos de Esperançaé <strong>um</strong>a rede de apoio para pessoas com VIH e SIDA ou afectadas peladoença. Os grupos de auto-ajuda são formados em toda a região de Lusaka,e o trabalho deve ser alargado também a outras áreas da Zâmbia.Os grupos encontram-se geralmente nas igrejas e congregações locais,ou ainda em casas privadas. O trabalho foi iniciado pelo Conselho dasIgrejas na Zâmbia.Joy Lubinga é conselheiro psico-social e Ackim Sakala é professor.São ambos bem conhecidos do público na Zâmbia, dado que tiverama coragem de divulgar a sua situação. Através de muitas reuniões darede ec<strong>um</strong>énica das Igrejas e através de entrevistas na televisão e rádio,bem como em jornais nacionais e locais, incentivam as pessoas aromperem o silêncio e estigma associados ao VIH/SIDA.A coragem de divulgarTestemunhoPOR ACKIM SAKALA, ACTIVISTA NO CÍRCULOS DE ESPERANÇA, ZÂMBIAComecei a sofrer em 1998. Tinha várias dores abdominais e osmédicos não conseguiam encontrar a causa das dores. Iniciei <strong>um</strong>tratamento para as úlceras mas não tinha úlceras. Antes disso- em1995 - perdi <strong>um</strong> amigo chegado. Morreu muito magro e comtodos os indícios de SIDA. Mais tarde, em 1996, perdi outro amigochegado da mesma forma.Em meados de 2003, comecei a revelar os mesmos indícios dosmeus dois amigos. Foi então que decidi agir. Entre 1998 e 2002perdi peso, de 70 kg para 41 kg. Tinha então tido vários surtos demalária, suores nocturnos e erupção cutânea - para mencionarapenas alguns sintomas.TesteMais ou menos em Junho de 2002, estava na cidade e vi o NewStart Counselling and Testing Centre, e foi então que se fez luz naminha cabeça. Decidi entrar e fazer <strong>um</strong> teste. Tive aconselhamentoe fiz o teste, que deu positivo.Quando desci as escadas após o teste, fiquei com soluços duranteseis dias - dia sim dia não. Foi-me diagnosticada tuberculosee fiz <strong>um</strong> tratamento contra a tuberculose de Junho de 2002 a Fevereirode 2003. Tinha então a<strong>um</strong>entado de peso, e pesava 65 kg.A primeira pessoa a quem contei a minha situação após o testefoi a minha esposa. Mais tarde, partilhei a situação com as minhasirmãs e irmãos e alguns amigos em quem confiava. Desde que fizo teste, senti-me muito doente. A minha esposa concentrou-seem cuidar de mim, mas sei que tinha muito medo de se infectar.Seis meses mais tarde efectuou <strong>um</strong> teste do VIH. Desde entãotem efectuado o teste de três em três meses. Felizmente que oteste foi sempre negativo.Viver abertamente como <strong>um</strong>a famíliaNão tem sido fácil viver com o vírus. Nasci em 24 de Junho de1961, n<strong>um</strong>a família de nove irmãos - quatro irmãos e cinco irmãs.Após o meu casamento, tivemos cinco filhos, três raparigas e doisrapazes. O mais velho tem agora 16 e o mais novo 4 anos. Nosprimeiros dois anos não disse nada aos meus filhos, mas quandoiniciei o tratamento em 2004 decidi divulgar a minha situação. Pediram-meque fizesse <strong>um</strong> esboço biográfico na televisão nacional,e antes disso levei as minhas duas filhas mais velhas para obteremaconselhamento. Foi assim que a minha situação foi divulgada aosmeus filhos. Sei que não foi fácil para as minhas filhas, que frequentamo liceu, ter <strong>um</strong> pai seropositivo - tal como não foi fácilpara mim no meu local de trabalho e na comunidade. Mas tinhade enfrentar o estigma e a vergonha e ajudar a quebrar o silêncio,falando publicamente sobre a minha situação.TratamentoComecei a fazer a terapêutica antiretroviral, dado que tive <strong>um</strong>ataque de tuberculose. Quatro meses mais tarde, tive <strong>um</strong>a infecçãooportunista de meningite a criptococos e tive de ter <strong>um</strong>a punçãolombar. Seis meses mais tarde, quando fui fazer nova contagemde células CD4, esta tinha descido para 247, mas quando fui fazeroutra contagem seis meses mais tarde era de 324. Tenho de fazer<strong>um</strong>a nova contagem em breve, e espero que melhore, dado queme sinto muito melhor agora. Após estar desempregado <strong>um</strong> ano,retomei a minha antiga função como professor de escola e desempenhotambém as funções de árbitro de futebol qualificado.O meu estilo de vida actualVivo agora <strong>um</strong>a vida holística. Creio que sou <strong>um</strong>a criatura de Deus eque vivo segundo os Seus desígnios. Creio que posso ajudar a rompero silêncio tanto na Igreja como na comunidade mais geral, dada aminha posição de professor na sociedade.Posso falar sobre a minha situação na Igreja e publicamente atravésdo Círculos de Esperança, a rede criada pelo Conselho das Igrejas naZâmbia. Através do Círculos de Esperança obtenho <strong>um</strong> apoio espiritualvalioso e as minhas necessidades pessoais são apoiadas. Tentamostodos romper o estigma e a vergonha e encorajar-nos mutuamente adivulgarmos a nossa situação para ajudarmos os outros.INTRODUÇÃO 11
Pensamentos, experiências e reflexões depessoas com VIH ou afectadas pela doençaNORUEGAEstigma e H<strong>um</strong>anidadeEm resposta à necessidade de reflexão teológica sobre o estigmaassociado ao VIH e SIDA, o Conselho Cristão da Noruega convidoupessoas seropositvas residentes em Oslo para <strong>um</strong> debate.Participaram também colaboradores das Igrejas, de seminários teológicose de instituições diaconais. Os diálogos tiveram lugar emAksept, a Igreja do Centro de Missões da Cidade em Oslo paratodos os afectados pelo VIH e SIDA. Estas reuniões continuarampor <strong>um</strong> período de vários meses, em grupos mais pequenos emaiores. As seguintes reflexões ilustram o fluxo dos diálogos quepartilhamos em Oslo e são <strong>um</strong>a tentativa de partilhar alguns dosconhecimentos que emergiram dos mesmos. Abordam a experiênciado estigma e a necessidade de compreender o que é serh<strong>um</strong>ano.As condições do estigmaNa Noruega, as pessoas com VIH vivem n<strong>um</strong>a situação geral deestigmatização. Embora as atitudes estigmatizantes raramente sejamexpressas por palavras, são no entanto óbvias para quem vive comVIH. ‘As pessoas tratam-nos de forma diferente; evitam-nos e falamnas nossas costas,’ disse <strong>um</strong>a pessoa. ‘A mensagem é compreendidade forma tão clara como se fosse proclamada de cima dos telhados.’Mesmo no sector da saúde, ‘exactamente no local onde esperamosencontrar perícia e nunca preconceitos’, há conhecimento de casosde pacientes seropositivos que são deixados para o fim da fila nosseus tratamentos ou a quem é negado acesso a cirurgias. ‘Acontece,’de acordo com <strong>um</strong>a vítima deste tipo de discriminação, ‘porque osolhos, corações e consciência das pessoas estão fechados!’Para as pessoas com VIH, a estigmatização sentida na sociedade émuitas vezes reforçada pela auto-estigmatização, o que por sua vezpode levar a <strong>um</strong>a determinação de ocultarem a sua situação aosoutros. Por vezes, este medo de rejeição não tem fundamento, eoutras pessoas podem reagir inesperadamente de forma positiva ecalorosa perante a revelação da situação de seropositivo. Contudo,o contrário também se aplica com frequência. Uma mãe diz quenão consegue contar aos amigos que o filho é seropositivo, commedo de ‘arruinar a sua reputação’. Há <strong>um</strong> medo justificado deque as crianças sejam estigmatizadas, ou de se perder o apoio tãonecessário dos amigos e família. Assim, ‘há incrivelmente muita genteque se isola, fica em casa e não sai’: <strong>um</strong>a situação que se pode tornar<strong>um</strong> celibato imposto a si próprio, que pode levar à depressão e porvezes ao suicídio.Identidade e culpaOs aspectos da identidade parecem ser especialmente problemáticosno que respeita ao VIH. Isto deve-se em parte aoelemento de culpa que lhe está associado. Como <strong>um</strong> participanteafirmou, ‘Quando digo que tenho VIH, ouço <strong>um</strong>a voz que diz,“Bem, porquê?” Ao contrário do cancro, o VIH implica que foi <strong>um</strong>asituação que provocámos.’ Perante estas atitudes, viver com o VIHpode levar <strong>um</strong> indivíduo a interiorizar a auto-imagem criada pelosoutros, e de seguida a torná-la <strong>um</strong>a verdade sobre si. Deste modo,o vírus torna-se a verdade que define a nossa identidade. ‘Dizerque temos VIH é diferente de dizer que somos seropositivos,’ dissealguém. ‘Sim,’ disse outra pessoa: ‘é <strong>um</strong>a distinção realmente crucialdado que ‘ser’ se relaciona com a nossa identidade global; aopasso que se disser que tem o vírus, ele torna-se algo exterior asi, algo que tem e não algo que é. Ou seja, está menos associadocom a identidade.’ ‘O que quer dizer,’ disse outra pessoa, ‘que a linguagemé importante, incluindo a linguagem que utilizamos sobrenós próprios.’<strong>Ser</strong> excluídoÀ medida que o diálogo avançou, tornou-se cada vez mais claroque a experiência das pessoas seropositivas dirige a atenção parao nosso ponto de vista global do que significa ser h<strong>um</strong>ano na nossasociedade. ‘Não vou dizer a ninguém que tenho VIH, porque tenhomedo que me olhem com comiseração,’ disse <strong>um</strong>a pessoa; ‘vãorelacionar-se comigo de forma completamente diferente; vão tercuidado com o que me dizem.’ ‘Sinto-me tão pequeno,’ disse outroparticipante. ‘Se pudessem aceitar que sou <strong>um</strong>a pessoa real compotencial e com recursos: mas tudo o que vêem é <strong>um</strong> grandevírus.’ Os participantes falaram do muro de incompreensão quegeralmente encontram quando tentam explicar que também sãoseres h<strong>um</strong>anos com necessidades h<strong>um</strong>anas normais. Muitos dosparticipantes partilharam o sentimento de serem desprezados ejulgados.Isto acontece porque as pessoas se concentram no vírus (que ébiológico) e em lhe darem <strong>um</strong> significado moral (e não biológico).Não significa que as pessoas com VIH sejam menos pecaminosasque as outras, mas também não o são mais. A perversidadee a maldade existem no mundo, e todos transportamos em nósa bondade e a maldade. ‘É isso que temos em com<strong>um</strong>,’ disse <strong>um</strong>participante. ‘ Mas o problema é que há <strong>um</strong>a imagem ideal a que as12 INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃOos outros a serem como nós, nem os devemos condenar porserem diferentes.’Então o que significa “ser diferente”? ‘A diferença implica oabandono visível de <strong>um</strong>a imagem normativa que todos, no nossoambiente específico, interiorizamos. Subconscientementeassociamos esta imagem ao ser h<strong>um</strong>ano ideal, por forma quetemos tendência a fazer juízos negativos sobre aqueles que nãoobedecem a este padrão. E afastamo-nos deles. Mas não devemosass<strong>um</strong>ir que alguém é menos h<strong>um</strong>ano apenas por ser diferente.’Há <strong>um</strong>a grande diversidade entre nós, da mesma formaque há <strong>um</strong>a grande diversidade dentro de cada <strong>um</strong> de nós.pessoas julgam que têm de obedecer,’ disse outro; ‘e atribuir a cargada maldade a indivíduos específicos é apenas <strong>um</strong>a forma de protegera “imagem ideal” que gostaríamos de ter de nós mesmos.’‘E então essas imagens e modelos idealizados dificultam a nossapercepção de nós próprios e dos outros tal como somos realmente;criamos divisões fictícias e perdemos o contacto com anossa própria vida, com a nossa própria tendência de fazer o beme o mal.’ ‘Como resultado, aqueles que pretendem restaurar a moralidadena sociedade criam bodes expiatórios para “arcarem como pecado”; e se isso acontecer, não só negamos a verdade sobrea sociedade como negamos algo importante sobre nós mesmoscomo indivíduos.’O duplo padrãoEstas divisões artificiais criam distâncias entre os indivíduos.‘Mas o problema é,’ disse <strong>um</strong> participante, ‘que criam tambémdistâncias dentro dos indivíduos. Deste modo, evitamos relacionarmosconnosco próprios e com os outros da forma comosomos (ou eles são) realmente. O que resulta n<strong>um</strong> duplo padrão:dizemos <strong>um</strong>a coisa, e fazemos ou vivemos outra. O quenão passa de hipocrisia. As pessoas vêem isso, e por isso muitaspessoas abandonam a Igreja.’ ‘Mas “ser h<strong>um</strong>ano” significa aprendermosa ser nós próprios, não obecermos a <strong>um</strong>a imagemideal que,de qualquer forma, é artificial. Não devemos forçarMedo e recusaMuita da nossa resistência ao que é diferente resulta do medo. ‘Mastodos temos medo de alg<strong>um</strong>a coisa,’ disse alguém. ‘Tem a ver com asobrevivência. Temos medo de coisas que ameaçam a nossa vida. Etentamos afastar-nos de tudo que ameaça a nossa vida.’ ‘Mas muitodeste medo tem a ver com a ignorância, e com preconceitos,’ disseoutra pessoa. ‘Todos temos preconceitos e complexos. Mas devoadmitir este facto e tentar agir, p.ex. corrigir as minhas concepçõeserradas ou analisar os meus preconceitos. O facto é que condenarmo-nospelas nossas diferenças é <strong>um</strong>a recusa de <strong>um</strong>a verdadeprofunda sobre a condição h<strong>um</strong>ana, que é sermos todos diferentes,mas de <strong>um</strong>a forma também importante, somos todos iguais.’A própria Bíblia foi muitas vezes usada para justificar a discriminação.Por exemplo, ‘abençoados sejam os pobres de espírito’ foimuitas vezes representada como <strong>um</strong>a mensagem opressiva quediz aos pobres ou sofredores, ‘na medida em que forem pobres ousofrerem aqui na Terra, irão para o Céu quando morrerem.’ Maso significado é provavelmente que, devido às suas experiências, osmarginais, doentes ou excluídos ou - neste caso- os afectados peloVIH e SIDA têm muitas vezes conhecimentos especiais. ‘É comose os seus olhos tivessem sido abertos e eles tivessem ganho contactocom algo importante.’ ‘Somos forçados a trabalhar connoscopróprios, a elevar pedras pesadas dentro de nós, e, digamos, aencontrar o que está escondido debaixo delas.’Assim, o Novo Testamento torna-se <strong>um</strong> texto profético e libertador,que fala às nossas fraquezas e pontos-fortes, aos nossosaspectos pecaminosos e bondade, aos nossos aspectos comuns eàs nossas diferenças, e insiste em que todos estes aspectos fazemparte do ser h<strong>um</strong>ano.INTRODUÇÃO 13
Alg<strong>um</strong>as sugestões práticas- experiências de <strong>um</strong> grupo actual em OsloUm LocalA importância de criar <strong>um</strong> local seguro para o diálogo é muitasvezes enfatizada. Em Aksept, na Cidade de Oslo, City Mission Centrepara os afectados pelo VIH, realizou-se <strong>um</strong>a série de diálogosentre pessoas seropositivas e pessoas afectadas pelo VIH e SIDAde outras formas. A ideia e inspiração para realizar esse tipo dediálogo veio da metodologia do Estudo Bíblico Contextual criadano Ujimaa Center em Pietermaritzburg, África do Sul. Os diálogosdecorreram por vários meses, em grupos mais pequenos e maiores.Com base nas experiências que resultaram destes diálogos - tantonegativas como positivas - chegámos a alg<strong>um</strong>as considerações epreocupações básicas que são necessárias para tornar possível essapartilha. Os seguintes pontos são ilustrados com exemplos das nossasreuniões em Oslo.1. Começando com as experiênciasNo diálogo que encetámos, as experiências de vida reais das pessoasmarginalizadas e estigmatizadas tiveram prioridade desde oinício. Mas frequentemente, quando a nossa base para incitarmosa tais diálogos é o nosso trabalho na Igreja ou <strong>um</strong> projecto teológico,é fácil estabelecer <strong>um</strong>a agenda para as reuniões que nãocorresponda às experiências genuínas e às necessidades sentidaspelos participantes. Para tentar evitar isto, combinámos a primeirareunião apenas com três frases em aberto: “1. A estigmatizaçãoé pecado. 2. O sexo é bom? 3. A Igreja tem SIDA!” Duas mulherescom VIH fizeram observações iniciais e foi-lhes pedido querespondessem às seguintes perguntas: “Qual crê ser a agenda daIgreja relativamente ao VIH?” e “Qual deveria ser a agenda da Igrejarelativamente ao VIH?”2. Criação de <strong>um</strong> espaço seguroQuando nos encontrámos pela primeira vez, protelámos o início dareunião, para ver se mais pessoas que se tinham inscrito compareceriam.Muitas não o fizeram. Pairava <strong>um</strong>a incerteza. Que tipo deatitudes encontraríamos no grupo? Vários participantes não tinhamdito a ninguém que estavam infectados pelo VIH. Mas foi claro quandose apresentaram, quem estava presente devido ao seu trabalhona Igreja e quem o fazia porque o VIH fazia parte da sua vida. Foi<strong>um</strong> ponto de partida muito desigual, que podia ser aterrador paraalguns, e enfatiza a importância da criação de <strong>um</strong> espaço seguro.3. LocalO local de <strong>um</strong>a reunião nunca é neutro. Os nossos debates tiveramlugar em Aksept. Foi importante criar <strong>um</strong>a estrutura tão seguraquanto possível para os que falaram das suas experiências de infectadospelo VIH.4. ParticipantesPara criar <strong>um</strong>a maior confiança para a partilha de experiências pessoais,a segunda reunião foi <strong>um</strong>a reunião à porta fechada, especialmentepara pessoas com VIH. Mais tarde, alargámos os debates amais participantes, mas tivemos também grupos de debate maispequenos, em que as pessoas podiam aprofundar mais os seus pen-14 INTRODUÇÃO
Criação de <strong>um</strong> Espaço para Estudos Bíblicos Contextuais• Do tema ao textoNeste tipo de estudo bíblico, não escolhemos <strong>um</strong> texto qualquer, mas <strong>um</strong> texto que achemos essencialpara lidar com as nossas experiências pessoais ou aspectos existenciais associados.• A autoridade do textoA Bíblia foi usada por vezes para oprimir ou legitimar a opressão. Sendo <strong>um</strong> livro religioso, tem autoridadeconsiderável para muita gente, o que pode por vezes fazer com que as pessoas silenciem as suaspróprias vidas. Assim, tem de ser apresentado e usado com cuidado - <strong>um</strong> cuidado que tem a sua própriaorigem no Evangelho.• Um terceiro parceiro de diálogoMuitas pessoas tiveram experiências negativas da forma como a Bíbliatem sido usada. É quase <strong>um</strong> livro fechado para alguns. Mas n<strong>um</strong> ambienteseguro, <strong>um</strong> texto bíblico pode ser apresentado e o seu significado tornadopatente. Os pontos importantes no método que usamos são:Um texto bíblico pode ter a função de ser <strong>um</strong> terceiro parceiro de diálogo aquando da partilha. Cada <strong>um</strong>dos participantes no debate tem a sua própria história e experiências. A realidade pode por vezes parecerdesesperante. A “terceira” história da Bíblia pode muitas vezes ser exactamente essa “outra” história quepode derramar luz sobre as nossas vidas e trazer esperança, ou revelar a esperança que já aí existe.NORUEGASeguro de Diálogosamentos e experiências. Em Pietermaritzburg, trabalham especialmentecom grupos organizados de marginalizados, dado que estescriaram a auto-confiança para falarem.5. FacilitadorO papel do facilitador é importante para tornar a situação segurae aberta ao (a) organizar o diálogo, (b) assegurar-se de que todosque pretendam têm a oportunidade de partilhar e (c) garantir aosparticipantes que podem sempre quebrar tabus.6. Regras básicasForam estabelecidas regras claras para os debate tem de ouvir, apreciare mostrar respeito por aquilo que é dito, e não atacar ou criticarferozmente o que os outros dizem. Pode levar tempo a percebero que é mais importante e o que pensa realmente. Isto pressupõeque saiba que o que diz não será sujeito a crítica destrutiva.7. TempoLeva tempo a criar <strong>um</strong> local seguro. E <strong>um</strong> grupo estável que sereuna várias vezes cria sempre mais confiança que <strong>um</strong> grupo ondeas pessoas entram e saem.8. Um ambiente afirmanteTão elementar e esquecido tantas vezes! Mas os nossos pensamentos,reflexões e partilha de experiências têm de ser confirmadospelos outros, basta que ouçamos que aquilo que dizemos estácerto ou está bem.9. Diálogo - participação activaO silêncio pode ser <strong>um</strong>a linguagem de poder. Uma vez <strong>um</strong>a dasparticipantes nas nossas reuniões que trabalha na Igreja e tinhaestado muito calada foi interrogada por <strong>um</strong>a das senhoras, quetinha sido muito aberta sobre a sua vida: “O que acha?” A formacomo o disse revelou claramente que queria saber se o silêncioescondia alg<strong>um</strong> tipo de crítica.10. Estruturas do poderN<strong>um</strong>a área como o VIH e SIDA há o perigo de haver <strong>um</strong>a agendaoculta. As reuniões e debates podem então ser desiquilibrados. Apresença de pessoas com autoridade na sociedade ou na Igrejapode muitas vezes fazer com que as outras pessoas tenham muitocuidado naquilo que dizem. É seguro mencionar coisas que a Igrejageralmente condena ou exprimir crítica feroz sobre a congregaçãolocal?11. PartilhaAos poucos, após várias reuniões, a confiança melhorou, a distânciaentre nós diminui e os nossos debates tornaram-se maisprofundos. Partilhámos pensamentos e questões, incidentes nasnossas vidas, fé, desespero e raiva. <strong>Ser</strong>opositivo ou seronegativo- éramos principalmente pessoas que procuravam em conjuntoalgo bom para as nossas vidas e a nossa irmandade.INTRODUÇÃO 15
INTRODUÇÃOMetodologia para efectuarestudo bíblico contextualNORUEGAA Bíblia como <strong>um</strong> Livro SagradoPonto de partida nas nossas vidasA Bíblia é <strong>um</strong> livro sagrado para todos os cristãos. É importantenas vidas dos cristãos individuais e para compreender a sociedade.Muitas pessoas acreditam que quem estudou a Bíblia possui alg<strong>um</strong>tipo de código que desvenda os vários textos, e a forma comocompreendem o texto não importa. Nós cremos que os conhecimentosteológicos são importantes para estudar a Bíblia, mas cremostambém que as nossas experiências diárias são importantespara compreendermos a mensagem contida nos textos bíblicos.Os cristãos na América Latina e na África do Sul abriram os nossosolhos para a importância das experiências diárias de pessoasnormais ao ler a Bíblia. O princípio essencial do estudo bíblicocontextual é associar activamente a Bíblia e a vida diária, com aconvicção de que há <strong>um</strong>a relação entre o que a Bíblia diz e o queas pessoas vivem actualmente.O método aqui apresentado baseia-se nos métodos utilizadosno centro Ujamaa em Pietermaritzburg, África do Sul. Os gruposde estudo bíblico são aí organizados para muitas pessoas diferentes,incluindo pessoas com VIH e SIDA. Estudam a Bíblia à luz dasexperiências das pessoas que são seropositivas. Como resultado,os textos bíblicos permitem conhecimentos novos e mais profundos.Acreditamos que o seu método de estudo bíblico nos podeajudar a ver mais claramente a importância que os textos bíblicostêm para a estigmatização e para o VIH e SIDA.Estudo bíblico que envolve o indivíduoComo chefe de <strong>um</strong> grupo de estudo bíblico, o seu papel é maiso de <strong>um</strong> facilitador que de <strong>um</strong> professor. Os participantes nãodevem ser instruídos sobre o significado do texto. Devem chegarao significado do texto por eles próprios, com base na sua própriasituação. Alg<strong>um</strong>as pessoas pensam que sabem mais que os outros!E há alg<strong>um</strong>as que não acreditam que as suas interpretações tenhamqualquer significado. Por exemplo: “É <strong>um</strong> pastor, não nos podedizer qual o significado deste texto?” É importante que explique atodos os participantes que as suas experiências são importantespara a compreensão do texto.O estudo bíblico contextual não é <strong>um</strong> método a ser seguidode forma cega. É mais <strong>um</strong> aspecto de atitude perante a leitura daBíblia. Ao familiarizar-se e sentir-se à vontade com esta forma deleitura bíblica, pode libertar-se das questões.A leitura bíblica contextual pode ser formulada como quatro atitudesbásicas de abordagem do texto bíblico:1. Ler a Bíblia do ponto de vista da própria situação dos leitores edos desafios que enfrentam.2. Ler a Bíblia em conjunto com os outros.3. Ler a Bíblia integralmente e em pormenor.4. Ler a Bíblia pensando em efectuar alterações individuais e sociaisquotidianas.As quatro atitudes básicas:1. Ler o texto com basena própria situação dos leitoresO método que usamos aqui é geral e pode ser usado com quaisquertópicos que o interessem ou lhe digam respeito. Sugerimosque comece o debate com questões que ajudam cada pessoa nogrupo a partilhar experiências que, por sua vez, podem ajudá-lo acompreender a mensagem do texto bíblico. Em relação ao VIH eSIDA como tópico, há pessoas que não têm qualquer ideia do queé viver com VIH. Embora possam não ter VIH, acreditamos quetêm experiências de que pode fazer uso.2. Ler o texto em conjuntoApós partilharem experiências associadas a <strong>um</strong> tópico, leiam otexto bíblico. É importante que o leiam em conjunto, em voz alta.Ao lerem o texto em conjunto, podem compreender o textocomo <strong>um</strong> grupo.Devem escolher textos que se aproximem o mais possível dostópicos. Irão provavelmente achar que a Bíblia não trata directa-16 INTRODUÇÃO
mente todos os aspectos de <strong>um</strong> tópico que pretenda considerar.Por exemplo, o VIH não existia nos tempos bíblicos.Mas ser estigmatizado, excluído, perguntar que quem é a culta dadoença são temas que todos conheciam.3. Ler o texto integralmente e em pormenorApós terem lido o texto em conjunto, podem colocar questõesque os ajudarão a entrar no texto. Peça a <strong>um</strong> dos participantes queescreva palavras-chave n<strong>um</strong> quadro e afixe as folhas preenchidasn<strong>um</strong>a parede. Desta forma, tudo que é mencionado será ouvidoe levado a sério.Em primeiro lugar, alg<strong>um</strong>as questões gerais:• De que trata o texto?• Que temas ou tópicos são abordados no texto?• O que lhe chama mais a atenção no texto?De seguida, analise o texto mais especificamente:• Quem são as pessoas na história?• O que sabemos acerca da pessoa neste texto?Dedique <strong>um</strong> pouco de tempo a estas questões e deixe que, como tempo, alg<strong>um</strong>as destas coisas que são mencionadas despertemnovas ideias nos outros. Pode pedir a alguém para pormenorizarmais o que disse. Mas não deve dizer que está errado. Cada <strong>um</strong>de nós vê segundo a perspectiva que a nossa vida e as nossasexperiências nos deram.Por vezes, pode ser útil que os participantes discutam alg<strong>um</strong>asdas questões em pares ou reflictam sobre elas por si própriosdurante alguns momentos, antes de partilharem as respostas comtodo o grupo.Pode também ser útil analisar as relações entre as pessoas no texto,ou seja, do ponto de vista social, político, religioso e económico.• Qual é a relação entre as pessoas mencionadas no texto?• Como é que se vêem <strong>um</strong>as às outras?• Têm <strong>um</strong>a relação equilibrada?Quando estiver familiarizado com o “elenco de actores,” podetentar imaginar o que as pessoas no texto pensam sobre a vida esobre Deus. Se analisar <strong>um</strong> dos Evangelhos, pode também analisara forma como Jesus apresenta Deus no texto em questão.• Que tipo de percepção de Deus tem o indivíduo?• O que causa esperança e luz no texto?Após ter trabalhado integralmente com o texto bíblico, é importanteque se volte para a sua própria vida e situação.• Quem de entre nós tem experiências semelhantes ou correspondentesàs das pessoas no texto?• Como é que nos relacionamos uns com os outros em taissituações?• Como deveríamos relacionar-nos uns com os outros?Ao falar sobre situações actuais, pode de repente achar necessáriovoltar ao texto e ver aquilo que este diz. Isto ajuda a abrir o diálogoentre o texto e a nossa própria situação. Pode encontrar clareza nasua própria experiência, que o ajuda de repente a ver algo novo notexto e algo novo sobre si próprio.4. Ler o texto pensandoem efectuar alterações.A leitura bíblica não está acabada até ter visto o que pode fazerpara trazer a dimensão de esperança contida no texto para aactualidade.• O que podemos fazer para evitar a injustiça actualmente?• Como podemos tornar a vida melhor para os que senteminjustiça?Por vezes, <strong>um</strong>a das mudanças principais é simplesmente que ostemas são abordados e debatidos. Outras vezes, pode não serclaro para si o que pode fazer. Mas frequentemente pode darpequenos passos para tornar a vida melhor para alguém. Podefazer algo para criar abertura sobre alg<strong>um</strong>a coisa acerca da qual foimuito difícil falar, contrariar atitudes negativas no ambiente, iniciar<strong>um</strong> projecto ou começar a ter contacto com as pessoas que sabeque lutam pela vida.INTRODUÇÃO 17
Um guia práticoZÂMBIAEstudo BíblicoPodem ser seguidos os seguintes passos em formas diferentes deestudo bíblico. Mas são sempre necessários três pontos essenciais:1. Vida espiritual - a sua falta leva a <strong>um</strong> debate académico vazio.2. Uso do intelecto - falta de disciplina mental e pensamento apuradoleva a “pensamentos belos” sem fundamento, e também a pontosde vista desiquilibrados.3. Vontade - falta de vontade em obedecer torna o estudo inviável.1. Leia o texto cuidadosamenteFaça <strong>um</strong>a primeira avaliação. Leia a passagem repetidamente, sepossível em traduções diferentes. Escreva os pensamentos que lhevierem à cabeça. Decida de que tipo de escrita se trata - poesia,prosa, história ou arg<strong>um</strong>ento.2. Estudo pormenorizadoTente escrever n<strong>um</strong>a frase o tema principal da passagem.3. Divisão do textoAs traduções modernas são em parágrafos. Mas pode ser possíveldividir <strong>um</strong> parágrafo.4. LigaçõesMuitas passagens formam <strong>um</strong>a unidade muito coesa. Temos detentar descobrir as ligações entre os parágrafos. As palavras “assim”e “de seguida” são exemplos disto: P.ex. Romanos 6:1, e 8:15. IlustraçõesNecessitamos de ilustrações para clarificar ideias abstractas, taiscomo as parábolas de Cristo e o seu uso de palavras como luz,sal, etc.6. RepetiçãoTodos os bons professores conhecem o valor da repetição. Noteo paralelismo dos Salmos: a poesia na Bíblia é repetitiva; o escritordiz a verdade de <strong>um</strong>a forma e de seguida a mesma verdade deoutra forma. P.ex. Salmos 42:1 –27. CarácterPor vezes, <strong>um</strong> carácter é mencionado para ilustrar <strong>um</strong> aspecto.Tente descobrir mais sobre essa pessoa. Pode ser feito <strong>um</strong> contrasteentre carácteres, p.ex. o Fariseu e o cobrador de impostosLucas 18: 9-148. A nossa abordagem de aspectos actuaisSe acreditarmos na Bíblia, a nossa abordagem será diferente da demuitas outras pessoas. P.ex. não seremos influenciados pela conveniência.Tomaremos a Bíblia como importante para a nossa situaçãoactual. Alguns aspectos são claramente abordados. Outrosproblemas não são abordados especialmente - temos de adoptar<strong>um</strong> método de análise diferente para estes problemas.9. Encontrar princípiosque nos orientem para respostasComo cristãos, temos de modelar as nossas vidas segundo Cristo,por forma a encontrarmos as nossas directrizes para aspectosmorais na natureza de Deus e naquilo que Deus revelou sobreas suas intenções a nosso respeito. Os seguintes aspectos podemformar <strong>um</strong>a estrutura na qual chegamos a conclusões sobre váriosproblemas actuais:O amor de Deus -Deuteronomia 7: 6-8 Romanos 5: 6-11A rectidão de Deus -Deuteronomia 32: 4, Romanos 3: 21 –26A santidade de Deus -Mateus 5:48Deus é o Criador -Génesis 1:2, Salmo 8: 5-8Deus provém as necessidades básicas -Mateus 6: 25-33Deus é o Redentor -Efésios 1:7Deus Julga os Pecadores -Mateus 25:31-46Deus ?criou o ser h<strong>um</strong>ano á sua imagem e semelhança -Génesis1: 28-30Dependemos uns dos outros -Génesis 4: 9-11, Levítico 19:1810. Como aplicar os princípiosEm primeiro lugar, recolha o maior número de informações possívelsobre o problema específico a abordar e, de seguida, decidaque princípios bíblicos se aplicam. Analise cuidadosamente os capítulosdas Escrituras que parecem ser relevantes. Tome em consideraçãoas circunstâncias diferentes das dos tempos bíblicos.Se os princípios parecerem ser contraditórios, verifique em primeirolugar a sua interpretação. Se persistir <strong>um</strong> conflito, decida que princípioé superior. Lembre-se de distinguir cuidadosamente entre as suaspróprias ideias preconcebidas e os ensinamentos da Bíblia.18 INTRODUÇÃO
Um <strong>Só</strong> <strong>Corpo</strong>O corpo não é somente composto de <strong>um</strong> membroou parte, mas de muitos. Se o pé disser: ‘Porquenão sou mão, não sou do corpo’ nem por issodeixará de ser do corpo. E se a orelha disser:‘Porque não sou olho, não sou do corpo’, nem porisso deixará de ser do corpo. Se o corpo todo fosseolho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido,onde estaria o olfato? Mas agora Deus colocou osmembros no corpo, cada <strong>um</strong> deles como quis. E,se todos fossem <strong>um</strong> só membro, onde estaria ocorpo? Agora, porém, há muitos membros, mas<strong>um</strong> só corpo. E o olho não pode dizer à mão, ‘Nãotenho necessidade de ti’, nem ainda a cabeça aospés, ‘Não tenho necessidade de vós’. Antes, osmembros do corpo que parecem ser mais fracossão indispensáveis; e os membros do corpo quereputamos serem menos honrados, a esses revestimoscom muito mais honra; e os que em nós nãosão decorosos têm muito mais decoro, ao passoque os decorosos não têm necessidade disso. MasDeus assim formou o corpo, dando muito maishonra ao que tinha falta dela, para que não hajadivisão no corpo, mas que os membros tenhamigual cuidado uns dos outros. De maneira que, se<strong>um</strong> membro padece, todos os membros padecemcom ele; e, se <strong>um</strong> membro é honrado, todos osmembros se regozijam com ele.1 CORÍNTIOS 12: 14-26INTRODUÇÃO 19
20 A IGREJA
IGREJALiturgiaZÂMBIAUma Igreja de CompaixãoNa Igreja Reformada da Zâmbia, <strong>um</strong> dos pastores que é coordenadorde VIH/SIDA criou esta liturgia e usou-a com alguns gruposde pessoas que vivem com VIH na Zâmbia.L= LíderT = Todos1. Apelo ao CultoL: Vangloriai o Senhor! Vangloriai, ò escravos do Senhor, vangloriaio nome do Senhor! Bendito seja o nome do Senhor a partir deagora e para sempre!Irmãos e irmãs em Jesus Cristo: reunimo-nos hoje perante Deus,o nosso pai piedoso e cheio de amor. Vamos, com corações h<strong>um</strong>ildes,adorá-lo em oração, cânticos e louvor. ÁMEN.2. Hino de louvor3. Oração inicialT: Meu Deus, queremos honrar e louvar o teu nome, devidoao amor e protecção que nos concedes, em cada dia das nossasvidas. Obrigado pelo amor e protecção constantes quenos concedeste hoje.Senhor, reunimo-nos hoje para reclamar a essência perdidada tua Igreja neste mundo que sofre devido à pandemia doVIH e SIDA.Senhor, como Igreja temos estado silenciosos sobre os aspectosdo VIH e SIDA e, ao fazê-lo, excluimos da tua missãoe ministério os teus filhos afectados por esta doença. Pedimosperdão.Senhor, pedimos-te em nome de Nosso Senhor Jesus Cristoque mudes os nossos ensinamentos e acções em relação aosnossos irmãos e irmãs infectados ou afectados pelo VIH. Dános<strong>um</strong> coração que não julgue mas que ame e cuide. Oremosem nome de Cristo. ÁMEN.4. Cântico5. Confissão geralT: Confessamos e reconhecemos que muitas vezes contribuimospara a estigmatização e discriminação e que as nossas Igrejas nãoforam sempre locais seguros e acolhedores para as pessoas comHIV e SIDA ou afectadas pela doença. Nalguns casos, foi recusadaa Sagrada Comunhão a pessoas com VIH, foram recusados funeraisa pessoas que morreram com SIDA, e a família dos defuntos nãofoi consolada. Confessamos que a Igreja rejeitou quando deviater incluído e julgou quando devia ter demonstrado amor, compaixãoe carinho. Arrependemo-nos destes pecados. Assim, vamosempenhar-nos n<strong>um</strong>a resposta fiel e corajosa ao rompermos osilêncio, falarmos abertamente e com verdade sobre a sexualidadeh<strong>um</strong>ana e o VIH e SIDA. ÁMEN.6. Proclamação de perdão e graçaL: ‘É este o pacto que farei com eles após esses dias, diz o Senhor:colocarei nos seus corações as minhas leis, e escrevê-las-ei nassuas mentes, não lembrarei mais os seus pecados e actos ilegítimos.’Heb 10:16-17.7. Um cântico de louvor e de acção de graças8. Oração de abertura da Palavra do SenhorL: Deus nosso Pai, a Tua palavra é <strong>um</strong>a candeia para os nossos pés,sem ela nós extraviar-nos-íamos. Abramos os nossos olhos e ouvidos,para podermos ver e conhecer o segredo que está escondidona Vossa palavra. Pai, ensina-nos através desta palavra. Oremos emnome de Cristo. ÁMEN.9. Leitura das Escrituras1 Coríntios 12:14-2610. <strong>Ser</strong>mão• É <strong>um</strong> apelo à Igreja em todo o mundo para que reconheça aepidemia do VIH e SIDA como sua;• A Igreja deve não só admitir que o VIH está no seu seio, comodeve oferecer aceitação e amor completos e abertos aosinfectados e afectados.11. Oração após o sermão12. Cântico final13. A BençãoT: Que Deus, o nosso Pai piedoso e cheio de amor, seja glorificadopara sempre através de Jesus Cristo, o nosso Senhor. ÁMEN.A IGREJA 21
MOÇAMBIQUEReflexão bíblica: doença, estigmatizaçãoe o papel da IgrejaIncluindo os MarginalizadosPOR: REV. ELIAS MASSICAMEO Velho Testamento diz-nos que as pessoas que sofriam de leprae tuberculose eram marginalizadas e discriminadas pelas sociedadesem que viviam (Levítico 13). A sociedade em geral herdouesta prática de estigmatizar as pessoas que sofrem de doençasconsideradas crónicas. Mas o Senhor toma conta de todos os tempose locais, dado que conhece a situação do Seu Povo tanto nosofrimento como na saúde.Por esta razão, a Igreja tem de trabalhar com as pessoas infectadase afectadas pelo VIH e SIDA para as ajudar a manterem afé, e é a fé que move montanhas, acalma tempestades e operamilagres. É importante lembrar os que sofrem, que apenas Deuspode responder a todas as situações h<strong>um</strong>anas e, ao fazê-lo, vamosajudá-los a recuperarem o seu estado espiritual (Hebreus 10:39).Nesta reflexão, a fé aparece como <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento importante,que é necessário e eficaz para compreender o desafio do VIH eSIDA. A Bíblia diz-nos que Job sofreu muito mas a sua persistênciana fé fê-lo superar o mal (Job 1:14-21).Nas Escrituras Sagradas, o Evangelho segundo S. João 8:1-11 descreve<strong>um</strong> episódio entre Jesus Cristo e <strong>um</strong>a mulher que cometeuadultério. O facto de Jesus não ter permitido que a mulher fosseapedrejada é <strong>um</strong> sinal claro de protecção e carinho para com <strong>um</strong>apessoa rejeitada pela comunidade.Outro exemplo dado por Jesus Cristo aparece no Evangelho segundoS. Mateus 8:1-3. É onde Jesus mostrou o seu amor ao tocarn<strong>um</strong> leproso, que era <strong>um</strong> excluído de acordo com a Lei Mosaica.Ao tocar o leproso, Jesus Cristo mostrou o amor que tem portodos sem discriminação e quebrou a tradição de rejeição e discriminaçãodos que sofrem de lepra.De <strong>um</strong> ponto de vista teológico, nesta ilustração Jesus Cristomostrou que <strong>um</strong>a doença é <strong>um</strong>a fraqueza h<strong>um</strong>ana e não representaa vontade de Deus.Na sua carta aos Romanos 3:10, Paulo revela <strong>um</strong>a verdade cruelpara todos os cristãos, dizendo ‘Não há ninguém que seja justo.Ninguém’. Por outro lado, Isaías 6:5 acrescenta também, “Ai de mim!Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros e habito nomeio de <strong>um</strong> povo de impuros lábios”. Assim, a acção divina de purificaçãodos lábios tem lugar como sinal de agradecimento a Deus.É devido à Sua graça que somos considerados puros. Não temos odireito de nos rirmos dos outros. É por essa razão que apontar odedo a pessoas com VIH e SIDA seria injusto, independentementedos meios ou causa da infecção.Outro exemplo que Jesus Cristo deu encontra-se no Evangelhosegundo S. Marcos 10:46-52. Aqui, o cego Bartimeu, filho de Timeu,que era rejeitado pela sua comunidade na cidade de Jericó, aoouvir que Jesus de Nazaré estava a passar, começou a gritar ‘Jesus,22 A IGREJA
IGREJAO Café Ec<strong>um</strong>énicoFilho de David tem piedade de mim!’ E apesar da reacção dosdiscípulos e da multidão de pessoas que O seguiam, Jesus parou,chamou Bartimeus e devolveu-lhe a visão.Actualmente, Bartimeus representa o irmão ou irmã que vivecom VIH e SIDA. E a Igreja e os seus líderes são chamados a abriros olhos, pensar e ouvir a voz de Bartimeus, que na sociedadeactual representa a pessoa que vive com VIH e SIDA, cujo apelo àacção é feito à Igreja e sociedade em geral.O amor e compaixão caracterizam o ministério de Jesus e, poressa razão, Ele torna-se <strong>um</strong> imperativo acima de todos para os quesão chamados pelo Seu Nome de Cristo. Assim, como Cristãossomos chamados a amar e não a julgar. O próprio Jesus deu-nos oexemplo da forma como mostrou amor e compaixão por aquelesque sofriam no Seu tempo. Para Jesus, o amor tem de ser expressoem “amem-se uns aos outros como se amam a si mesmos”e mostrem compaixão “na intenção deliberada de sofrer com osoutros”.É da responsabilidade da Igreja aproximar-se das pessoas comVIH e SIDA, para que estas possam descobrir o rosto de Deus.A Igreja tem a obrigação de fazer as pessoas com VIH e SIDAcompreenderem que Deus ama todos. Foi por essa razão que nosdeu o Seu filho Jesus Cristo, para que os que acreditam Nele nãomorressem e tivessem a vida eterna.A Igreja é chamada a ser <strong>um</strong>a voz profética e<strong>um</strong>a instituição que cura, como parte da jornadade combater o estigma e a discriminação. ‘CaféEc<strong>um</strong>énico’ é o nome dado a <strong>um</strong> programa quereúne pessoas que vivem com VIH e SIDA ou sãoafectadas pela doença, lideres das Igrejas, a Redede Pastores no Combate ao VIH e SIDA e a sociedadecivil. O objectivo principal é fazer da Igreja<strong>um</strong> local aberto e seguro para <strong>um</strong>a reflexão ediálogo comuns sobre o VIH e SIDA.Uma vez por mês, as pessoas reúnem-se paradebater assuntos relacionados com a pandemiado VIH e SIDA. Reúnem-se no âmbito do Projectode Prevenção e Combate ao VIH e SIDA, em parceriacom o Conselho Cristão de Moçambique, aRede de Pastores no Combate ao VIH/SIDA na Cidadede Maputo e Província, a Associação de Pessoascom VIH e SIDA no Bairro de Polana Caniçoe o World Relief.Até ao momento, há mais de 140 membros leigosda Associação de Pessoas com VIH e SIDA noBairro de Polana Caniço e cerca de 30 membrosdo clero na Rede de Pastores no Combate ao VIHe SIDA. Desempenham <strong>um</strong>a função importantena criação de <strong>um</strong>a rede de apoio. Alguns dospastores vêm de Igrejas que não são membrosdo Conselho Cristão de Moçambique, o que traz<strong>um</strong> contributo adicional ao ‘Café Ec<strong>um</strong>énico’.A IGREJA 23
IGREJADINAMARCAAconselhamento pastoral e trabalhocongregacional entre pressoas com VIH e SIDACriação de <strong>um</strong>a novacomunidade de féPOR CARINA WØHLKDurante os últimos anos, foi criada <strong>um</strong>a congregação para pessoasque vivem com VIH e SIDA ou são afectadas pela doença, naIgreja do Espírito Santo em Copenhaga, onde se baseia a capelaniade VIH e SIDA. A fundação real da congregação teve lugar emsequência do primeiro retiro para pessoas com VIH em 1999. Acongregação cresceu de forma constante e tranquila - lado a ladocom <strong>um</strong>a congregação de culto tradicional e outra congregaçãoespecial que explora o culto à noite.A iniciativa para a congregação de VIH veio de pessoas portadorasde VIH. Disseram que precisavam de culto e irmandade n<strong>um</strong>ambiente cristão. O seu pedido explícito de irmandade cristã écompreensível quando penso na solidão que vejo tão frequentementenas pessoas com esta doença grave e rodeada de tabus. Nomeu aconselhamento pastoral encontrei, de modo geral, dois tiposde problemas associados à solidão: voluntária e involuntária.A solidão voluntária ocorre nas pessoas com VIH que, devidoa muitas tragédias e tra<strong>um</strong>as sociais associados à sua doença, optarampor se isolar do contacto social. Procuram <strong>um</strong>a vida semligações emocionais, para evitar mais perdas.A solidão involuntária é <strong>um</strong> problema que afecta as pessoas comVIH que foram rejeitadas e excluídas das comunidades devido àsua doença. Foram empurradas para o isolamento e não se atrevema procurar contacto social, com medo de serem condenadase expulsas.Superar a solidãoNa Epístola aos Romanos 14:7-8 Paulo escreve: “Porque nenh<strong>um</strong>de nós vive para si mesmo, e ninguém morre para si mesmo.Se vivemos, é para o Senhor que vivemos; se morremos épara o Senhor que morremos; pertencemos ao Senhor.”Estas palavras podem falar directamente à solidão existencialque muitas pessoas com VIH sentem - como forma de as lembrarno Evangelho que nunca somos abandonados, embora àsvezes possa parecer.Na minha opinião, a Igreja tem <strong>um</strong> contributo significante adar na superação da solidão. No universo cristão, todos os seresh<strong>um</strong>anos são criados à imagem de Deus e são de valor igual.Somos membros vivos do mesmo corpo. Este encadear de ideiassignifica que estamos ligados e fazemos parte da família dos seresh<strong>um</strong>anos nossos irmãos. Precisamos uns dos outros, para que avida funcione. Mas de facto, há <strong>um</strong>a tendência, mesmo na Igreja,de olhar alg<strong>um</strong>as pessoas como mais iguais que outras - e isto é<strong>um</strong>a ameaça à nossa irmandade.Há <strong>um</strong> ano, após a minha primeira viagem à Zâmbia e o meuprimeiro encontro com a dimensão e custo em termos h<strong>um</strong>anosda epidemia, fiz <strong>um</strong>a palestra para os frequentadores daIgreja do Espírito Santo. No decurso da palestra, usei a frase,“A Igreja tem SIDA” para incitar à solidariedade cristã e a <strong>um</strong>sentido de responsabilidade. A frase causou <strong>um</strong>a grande ofensa.Os ouvintes só ouviram <strong>um</strong>a coisa: que a Igreja está doente, eque a doença está associada ao sexo.Mas o que queria realçar é precisamente que o VIH e SIDAdizem respeito a todos nós. A epidemia de SIDA é <strong>um</strong> desafiopara todos nós. Como cristãos temos de nos preocupar como sofrimento dos nossos irmãos e irmãs cristãos. Temos demostrar compaixão e aceitarmos a nossa quota de responsabilidade,se pretendermos parar a catástrofe.Apenas se trabalharmos em conjunto, nos podemos livrar dadoença e dos preconceitos que a rodeiam.A Igreja Cristã tem os recursos para se abrir a <strong>um</strong>a irman-24 A IGREJA
dade que possa incluir todos. E nessa irmandade podemos daruns aos outros a possibilidade de nos revelarmos, tal comosomos.Formação de <strong>um</strong>a rede congregacionalA congregação de VIH na Igreja do Espírito Santo é <strong>um</strong> exemploda formação de <strong>um</strong>a rede social e espiritual para pessoas profundamenteafectadas pelo VIH e SIDA. No início, a congregaçãoera muito frágil e virada para si mesma. Os serviços eram inicialmenteapenas para as pessoas com VIH, dado que os crentestinham <strong>um</strong>a grande necessidade de anonimidade e isolamento.Havia <strong>um</strong>a tendência de segregação, mas a razão era ansiedadede - e nalguns casos experiências concretas de - condenaçãoindevida pelos outros cristãos.Com o correr do tempo, os frequentadores da Igreja com VIHtornaram-se mais abertos e confiantes. Começaram a sentir-se àvontade e estão a sentir cada vez mais familiarização e confiançaem relação ao pessoal e ao resto da congregaçãona Igreja.O culto actual é para todos os afectados peloVIH e SIDA, não apenas para os infectados. Talsignifica que os infectados, as suas famílias eamigos, as famílias dos defuntos, os que participamno trabalho sobre o VIH e outras pessoasinteressadas por este tema são bem vindos. Acongregação de VIH ainda não chegou ao pontode tocar os sinos da igreja e abrir as portas de parem par, mas a tendência é para <strong>um</strong>a integraçãocompleta.Quatro vezes por ano, em Janeiro, Abril, Julhoe Outubro, o culto de VIH tem a forma da Comunhão Sagradaseguida de <strong>um</strong>a refeição em conjunto. É importante que estasreuniões atraiam muitos participantes - geralmente mais de 20.Oferecem duas formas de irmandade - à mesa do Senhor e àmesa de jantar.Os crentes têm a oportunidade de se relacionarem - tantocom os outros como com Deus. O símbolo mais importante daCristandade, a cruz, mostra-nos a importância de abrir os braçosà vida - tanto no sentido horizontal como vertical.Os seres h<strong>um</strong>anos necessitam de <strong>um</strong>a base firme e de relaçõesíntimas. Isto aplica-se também às pessoas com VIH, que vivemtantas perdas e relações quebradas, tanto abandono, sim, talvezmesmo o sentimento de serem abandonados por Deus.Tenho esperança de que, com o tempo, haverá <strong>um</strong>a maior vontadea nível geral de incluir aqueles que vivem com VIH e SIDA.Precisamos de <strong>um</strong>a irmandade cristã que não se feche em simesma.A IGREJA 25
IGREJANORUEGA<strong>Ser</strong> <strong>um</strong> <strong>Só</strong> <strong>Corpo</strong>LiturgiaEm debates em Oslo, Noruega, em que participaram pessoascom ou afectadas pelo VIH, <strong>um</strong> dos aspectos importantes era que“todos transportamos em nós a bondade e a maldade”. Criamosdivisões fictícias e não dizemos a verdade sobre nós mesmos seatribuirmos a carga do mal a indivíduos específicos. Embora sendoextremamente diferentes como indivíduos todos fazemos partedo mesmo corpo. São alguns dos pensamentos subjacentes a estaliturgia. As palavras introdutórias e as objecções são citações dosdebates. É bom deixar pessoas diferentes fazerem as leituras.L = LíderR = LeitorT = Todos1. IntroduçãoL: O que fazem aos outros, fazem a vocês mesmos e a todos nós.No sentido mais profundo, somos <strong>um</strong>a só pessoa, <strong>um</strong> corpo universal.Quando destruimos outra pessoa, destruimos também algodentro de nós, e, deste modo, algo na h<strong>um</strong>anidade. Mas tal nãosignifica que nós h<strong>um</strong>anos somos todos iguais. Há <strong>um</strong>a grande diversidadeentre nós, da mesma forma que há diversidade dentrode cada <strong>um</strong> de nós.2. Cântico3. ObjecçãoDois leitores da parte de trás do santuário:T: Há quanto tempo. ò Senhor? Vais esquecer-me para sempre?R1: É como se as pessoas me evitassem, falassem nas minhas costas,me tratassem como sendo diferente. Acham que sou <strong>um</strong> falhado,que sou <strong>um</strong> excluído.R2: Não me atrevo a contar a ninguém que sou seropositivo,porque não sei como os outros vão reagir.R1: Estou tão farto de todas as perguntas. É <strong>um</strong>a necessidade h<strong>um</strong>anater intimidade: também tenho necessidades, o desejo de terfilhos, de ter <strong>um</strong> marido.R2: Alg<strong>um</strong>as pessoas vêem apenas o vírus, não me vêem a mim!R1: Tenho tanto medo de ser rejeitado ou desiludido. Não tenhocoragem de me apaixonar. R2: Porque é que parece que Deus estázangado quando faço o meu melhor?R1: Procurei <strong>um</strong> Deus que me ame, que não julgue e que mepossa ajudar a aceitar o VIH e a libertar-me da condenação. Não oencontrei na Igreja. Foi <strong>um</strong>a busca solitária.T: Há quanto tempo? Ò Senhor? Vais esquecer-me para sempre?4. Afirmação de participaçãono que é construtivoLeitura de <strong>um</strong> lado do santuário:R: Afirmamos que fazemos parte de toda a criação de Deus e eleviu que era “muito bom”, que todos participamos no bem e possuimos<strong>um</strong>a bondade básica.Afirmamos que todo o nosso ser, ou seja o nosso corpo físico, osnossos anseios e desejos fazem todos parte da imagem de Deusem nós.Afirmamos que todos temos valor, e que temos valor dado quefazemos parte da criação de Deus, porque vivemos e existimos.5. Silêncio ou cântico6. Reconhecimento departicipação no que é destrutivoLeitura do outro lado do santuário:R: Reconhecemos o nosso papel na criação de divisões e exclusãode alg<strong>um</strong>as pessoas enquanto incluimos outras.Reconhecemos os nossos preconceitos, de que temos medo doque é estranho e que contribuimos para que as pessoas se sentissemisoladas, silenciadas e discriminadas.26 A IGREJA
Reconhecemos que estamos muitas vezes mais preocupadoscom o estatuto de <strong>um</strong>a pessoa e que ela é diferente do que comos seus recursos interiores, o seu potencial e a nossa h<strong>um</strong>anidadecom<strong>um</strong>.Reconhecemos que muitas vezes identificamos certas pessoasou grupos de pessoas como sendo maus, e não vemos que somostodos parte do que é mal e do que é bem.Reconhecemos que há injustiça no facto de os mais fortes, maissaudáveis e mais ricos de entre nós terem muitas vezes prioridade,receberem o melhor tratamento e, dessa forma, recebem aindamais.Tem piedade de nós, perdoa-nos, purifica-nos e torna-nos íntegros.7. Silêncio ou cântico8. Afirmação da nossah<strong>um</strong>anidade com<strong>um</strong>Leitura da coxia central do santuário:R: Afirmamos o nosso papel em sermos feridos e ofendidos, nuse expostos.Afirmamos <strong>um</strong>a h<strong>um</strong>anidade com<strong>um</strong>, onde ninguém está acimaou abaixo dos outros, ninguém é melhor ou pior que os outros.Afirmamos que participamos na diversidade, de variedades evariações que fazem todas elas parte de <strong>um</strong>a e da mesma h<strong>um</strong>anidade;que fazemos parte de <strong>um</strong> só corpo, de <strong>um</strong>a só Igreja- onde os últimos são os primeiros e onde o poder pertence aosmais pobres.9. Afirmação do amor de DeusL: És amado, muito mais do que julgas - amado, perdoado e redimido.E este amor mantém a tua vida. A tua identidade mais profundaÉ o amor.10. Leitura das EscriturasLucas 13:10-1711. Confissão de féT: Cremos n<strong>um</strong> Deus que É amor; que nos criou em amor; que sofrequando sofremos, e que trabalha activamente no mundo paraque o bem vença.Cremos n<strong>um</strong> Deus que não envia doenças ou outro sofrimentocomo castigo pelo pecado.Cremos em Jesus Cristo, que encarnou na nossa carne e sangue;que nos revela o que Deus é; que colocou as pessoas acima dasleis e regulamentos; que nos purifica e liberta para seguirmos ocaminho do amor.Cremos que Jesus Cristo não pode ser propriedade nem sercontrolado por ninguém, nem pode ser limitado por leis e regras.Cremos no Espírito Santo, o sopro de vida; a força que transformaos nossos corpos n<strong>um</strong> local onde o céu e a Terra se encontram.Cremos n<strong>um</strong> Espírito que não nos afasta dos nossos corpos nemda vida terrena e não faz de alg<strong>um</strong>as pessoas melhores crentes doque outras.Cremos que constituimos <strong>um</strong>a Igreja, e que em conjunto somos<strong>um</strong>a irmandade viva; nesta Igreja ninguém é, por definição, excluído;nesta Igreja as pessoas encontram ajuda para se aceitarem e amarem,a si e ao seu próximo.Cremos n<strong>um</strong>a Igreja que não estigmatiza, discrimina, exclui oucondena ninguém.Cremos, Deus. Ajuda-nos a crer.12. Meditação sobre o textoAlg<strong>um</strong>as directrizes:Em Lucas 13:10-17 deparamos com <strong>um</strong> Deus que se opõe àsautoridades e liberta as amarras das pessoas escravas. É <strong>um</strong> Deusque é activo não apenas nas horas de expediente, das 9 às 5, ouA IGREJA 27
seja, dentro de <strong>um</strong> certo horário, mas é <strong>um</strong>a força que não podeser limitada ou restringida. O próprio Deus quebra as regras dasEscrituras Sagradas, dado que as pessoas e a compaixão são maisimportantes que as regras. A intenção da lei é mais importante quea obediência a leis individuais. A natureza de Deus é o Amor, e aintenção subjacente às Suas palavras e acções é desprender laços,erguer os oprimidos e libertar as pessoas; Deus cura e salva.Este episódio e outras histórias centrais sobre Jesus ajudam aeliminar noções de Deus caracterizadas pela agressão, vingança ecastigo, e em vez disso apontam para o centro do Evangelho - oAmor de Deus por cada <strong>um</strong> de nós.A Cristandade e o Evangelho têm potencial que por vezes pareceestar totalmente inexplorado. Podem ser instr<strong>um</strong>entos fantásticospara as nossas vidas; podem libertar-nos e purificar-nos de tudo emnós e do nosso meio-ambiente que reprime o indivíduo. Afastam<strong>um</strong>a visão fragmentada da h<strong>um</strong>anidade, que cria culpa e vergonhae escraviza as pessoas. Enfatizam a importância de ter amor por sie pelos seus próximos.13. Oração intercessora• Deus de cada ser h<strong>um</strong>ano, dá-nos a força e coragem de reconhecere nos opormos a todas as formas de estigmatização,exclusão e discriminação. Ajuda-nos a combater os preconceitos,e permite-nos reconhecer a tua presença em todas as pessoas.Nos nossos corações apresentamos-te aqueles que conhecemospessoalmente e que sabem o que é ser excluído.• Deus de amor, revela-Te a nós e ajuda-nos a testemunharmosperante Ti na verdade. Liberta-nos da tentação de fazermos <strong>um</strong>uso indevido de Ti para nos aproveitarmos dos outros, ou sermosservidos em vez de servirmos. Ajuda-nos a partilhar o amorque nos dás e a tentarmos substituir as concepções destrutivasde Ti.• Deus, fonte de toda a vida e vitalidade, ajuda-nos a tomarmosconta dos nossos corpos, das nossas vidas e uns dos outros. Dánosa coragem e força de resistirmos à injúria, discriminação eviolação de mulheres, e pormos <strong>um</strong> fim à violência que ocorretanto dentro como fora do matrimónio. Ajuda-nos sempre apreocuparmo-nos com os menos afortunados que nós, e a falarmosdo VIH com <strong>um</strong>a linguagem caracterizada pelo respeito,amor, perdão e intimidade.• Deus Trindade, faz das nossas congregações locais de irmandadeabrangente e de diversidade, onde a nossa diversidade de experiênciaspossa encontrar reconhecimento e o valor de cadaindivíduo encontrar afirmação. Ajuda-nos a sermos aquilo queno fundo já somos: membros de <strong>um</strong> só corpo. Permite-nos vero indivíduo acima das leis, vírus ou doenças. Oramos por <strong>um</strong>aIgreja que possa tornar a vida bela e possível para todos nós, quepossa ser <strong>um</strong> canal para os Teus poderes de cura no mundo.14. Benção e encerramentoL: Que o Senhor te abençoe e guarde;Que o Senhor faça o Seu Rosto brilhar sobre ti e ser amávelcontigo;O Senhor erga o Seu semblante sobre ti e te dê a sua paz.Vai em paz:em alegria e orgulho;sabendo que és amado;sabendo que sempre e em qualquer lado fazes parte do corpode Cristo.Vai em paz e serve o Senhor da Vida.28 A IGREJA
Uma comunidade estava a planear condenar <strong>um</strong>a mulher que tinha sido apanhadaa cometer adultério; o homem que estava com ela não ia ser condenado.Trouxeram a mulher a <strong>um</strong> mestre que se encontrava na cidade de momento. Omestre não se opôs ao que tinham planeado. Disse apenas que quem não tivessepecado atirasse a primeira pedra.Um por <strong>um</strong>, a começar pelo mais velho, começaram a dissipar-se. Foi assimevitada <strong>um</strong>a tentativa de dividir e excluir, não através de <strong>um</strong> milagre, mas pelarevelação do motivo com<strong>um</strong> que todos partilhamos. Desta forma, somos todos<strong>um</strong> só corpo.VER JOÃO 8:2-11IGREJAA Mulherque ia ser apedrejadaAo reflectir sobre o aspecto abrangente da Igreja, torna-se tambémimportante analisar e examinar as razões principais por quea estigmatização e discriminação têm lugar nas nossas comunidadese o que representa ser-se estigmatizado. Este estudo bíblico,e também a história sobre Zaqueu em Lucas 19:2-10, podemajudar-nos a tal.1. Leia o texto à luz da sua própria situaçãoe dos desafios que enfrenta• Pode falar de <strong>um</strong> tempo em que foi tratado injustamente?• Ou de <strong>um</strong> tempo em que foi culpado por algo que não fez?• O que queria que acontecesse quando sentiu injustiça?2. Leiam o texto em conjuntoLeiam a história da mulher que ia ser apedrejada, João 8:1-11, emconjunto.Pode ser <strong>um</strong> texto muito convincente, especialmente para pessoasque tenham sido perseguidas. Pode evocar emoções fortes àmedida que trabalha com o texto.3. Leia o texto na íntegra e em pormenorEscreva palavras-chave n<strong>um</strong> quadro. Coloque questões geraissobre o texto em primeiro lugar.• De que trata o texto?• O que lhe chama mais a atenção acerca do texto?• Como é que este texto se pode relacionar com ser tratadoinjustamente?De seguida, analise o texto mais em detalhe:• Quem encontramos na história?NORUEGA• O que ficamos a saber sobre as personagens no texto?Pode também ser útil analisar as relações entre as personagens noEstudo bíblico sobre a estigmatização. João 8:2-11.texto, dos pontos de vista social, político, religioso e económico.Por exemplo:• Como pensa que os escribas trataram a mulher?• Porque pensa que os escribas trouxeram a mulher até Jesus?• Onde pensa que os escribas apanharam a mulher a cometeradultério?• Porque acha que não se fala do homem com quem pres<strong>um</strong>ivelmenteestava a cometer adultério?• Porque acha que não há nenh<strong>um</strong> mandamento que diz que oshomens devem ser apedrejados?• O que faz Jesus quando se encontra com a mulher e osescribas?• Porque é que os escribas se vão embora sem apedrejar amulher?• O que é que Jesus revela sobre Deus?Após terem trabalhado intensamente com o texto bíblico, é importanteque analisem as suas próprias vidas e situações.• Pode rever-se no texto?• Com quem é que se identifica?• Teve experiências semelhantes?• Quem pensa que tem experiências semelhantes actualmente?4. Leia o texto pensando em efectuaralteraçõesUm estudo bíblico contextual não está acabado até ver o quepode fazer para trazer a dimensão de esperança expressa notexto para o mundo actual.• O que podemos fazer para evitar que as pessoas, especialmentemulheres, sejam expostas a este tipo de injustiças actualmente?• Como é que podemos tornar a vida das pessoas que senteminjustiça melhor?A IGREJA 29
IGREJADINAMARCADar amor e carinho n<strong>um</strong>Retiros de Esperançaambiente espiritualmente confortantePOR CARINA WØHLKUm retiro pode definir-se como <strong>um</strong> afastamento estratégico. Apalavra representa <strong>um</strong> termo militar que não implica necessariamentederrota. Pode simplesmente indicar <strong>um</strong>a necessidadede fazer <strong>um</strong>a pausa e pensar na situação particular que surgiu.Fazer retiros é <strong>um</strong>a tradição com longa história na Igreja. Umretiro na linguagem da Igreja significa <strong>um</strong> tempo e local de calmae meditação. Um retiro é <strong>um</strong>a oportunidade de se afastarpara descansar e recuperar forças.O próprio Jesus Cristo nos oferece a oportunidade de efectuarmosretiros. Em Marcos 6:31 Jesus diz aos seus discípulos,“Afastem-se para <strong>um</strong> local deserto e descansem”. O próprioJesus procura clarificação e reflexão - pensem apenas no Jardimde Gethsemane. Em anos recentes, tem havido <strong>um</strong> interesserenovado em retiros e na energia e perspectiva que estes podemdar às pessoas no mundo moderno. Um retiro pode ser<strong>um</strong> protesto directo contra a poluição pelo ruído e nível destress que sentimos hoje. Ou pode definir-se de forma positivacomo <strong>um</strong>a busca de espaço de vivência espiritual.Desde 1999 que colaboro com <strong>um</strong> colega da Associação contraa SIDA Luterana Nacional, efectuando retiros para pessoasafectadas pelo VIH e SIDA, ou seja, os infectados e as famíliase amigos das pessoas com VIH ou que já morreram com SIDA.Os retiros são realizados n<strong>um</strong> centro de retiros no meio de<strong>um</strong>a paisagem harmoniosa.Um dos principais desafios associados a estes retiros temsido encontrar a relação certa entre diálogo e silêncio. O primeiroretiro foi efectuado n<strong>um</strong>a irmandade silenciosa, e apenasusamos a voz para cantar e orar. A vários dos participantes talcausou <strong>um</strong>a ansiedade significativa.Um dos participantes exprimiu-se da seguinte forma: sentiuque tinha sido levantada <strong>um</strong>a tampa mental, e não sabia comolidar com os sentimentos e pensamentos caóticos que oassolavam.SilêncioTornou-se claro para mim que muitas pessoas com VIH associam osilêncio à morte. As pessoas que vivem isoladas e sozinhas devidoà sua infecção pelo VIH precisam de falar, não de estar caladas. Émuito importante partilharmos experiências e encontrarmo-noscom outros que têm o vírus. Ao verem a sua situação reflectidanoutras pessoas, as pessoas com VIH podem aprender novasestratégias de combaterem a doença.Nos últimos anos, conseguimos o equilíbrio entre diálogo esilêncio d<strong>um</strong>a forma especial. Asseguramo-nos de que podemosusar dois espaços comuns. Um é dedicado ao diálogo, e o outro épara quem precisa de silêncio e se pretende concentrar nas suasnecessidades interiores. Além disso, todos os participantes têmquartos individuais para onde se podem retirar para encontrarempaz e silêncio.Enfatizamos aos participantes que devem manter-se silenciososno período desde as devoções da noite até ao pequeno-almoçona manhã seguinte. No dia final - antes do culto final - tomamoso pequeno-almoço em silêncio. Em vez de falarmos, comunicamoscom sorrisos, abraços e carícias.O ritmo do retiroOs temas dos retiros nos últimos anos têm sido “Luz na escuridão”,“Coragem para viver”, “Ansiedade”, “Proximidade”,“Alegria em Viver”, “Culpa e Perdão” e “A Tua Vontade sejafeita!”. Após o retiro de cada ano é enviado <strong>um</strong> formuláriode avaliação, e incitamos os participantes a sugerirem temaspara o retiro do ano seguinte. Desta forma, os próprios utentesinfluenciam a forma e teor dos retiros.Um retiro tem <strong>um</strong> ritmo especial. É realizado n<strong>um</strong> fim-desemana,de sexta-feira à tarde a segunda-feira ao meio-dia. Sãoescolhidas duas passagens bíblicas relacionadas com o temadesse ano. Estas passagens são explicadas, <strong>um</strong>a no sábado e aoutra no domingo.O retiro termina na segunda-feira com <strong>um</strong> culto temáticocom a Sagrada Comunhão. Este culto do retiro reúne os pensamentose sentimentos que a concentração e diálogo acercado tema desse ano levantaram.A Comunhão e o uso litúrgico da Paz no culto reforçam afunção do retiro de criar irmandade. Os participantes podemseguir caminhos diferentes, sabendo que não estão sozinhos.30 A IGREJA
O CânticoSilenciosoDeus está com eles - e há outros que partilham as suas experiênciasem todo o país.Os dois dias completos que passamos no retiro têm por basetrês períodos de culto: Oração da manhã, meditação sobre<strong>um</strong>a série de textos de tarde e <strong>um</strong>a leitura à noite. Estas trêsdevoções são os únicos temas fixos do programa para cada dia.A vivência conjunta no retiro é por si só intensa. É importanteque o programa não seja demasiado héctico. Não podemosesquecer que os participantes precisam de descansar, tomaras refeições e os medicamentos. Além disso, deve haver tempopara diálogos espontâneos e para passeios.Irmandade inspiradoraTodos os anos entre 20 e 30 pessoas participam no retiro -homossexuais e heterossexuais com VIH, sua família, amigos e osque perderam entes queridos com SIDA. Em res<strong>um</strong>o, os retirossão <strong>um</strong>a oportunidade para <strong>um</strong>a irmandade inspiradora e realistapara as pessoas com VIH e suas famílias. Muitos formulários deavaliação ao longo dos anos testemunham a importância dos retiros,tanto do ponto de vista espiritual como social.Talvez a consequência que mais faz reflectir é que estes retirosreforçaram a formação de comunidades de culto para pessoascom VIH e SIDA ou afectadas pela doença. Após o primeiroretiro, foi delineada a ideia de realizar cultos regulares para osparticipantes. Ao longo dos anos, esta comunidade foi consolidada,e consiste agora em mais de 30 pessoas.O interesse recorrente ano após ano nos retiros e a crescentecomunidade de culto de pessoas afectadas pelo VIH e SIDA enfatizaa importância para a Igreja de oferecer <strong>um</strong>a irmandade calorosae abrangente para este grupo de pessoas. A Igreja cristã temde se dirigir aos fracos - para os abarcar na esfera do amor.Nunca pensei que a fé é aquilo que fazemos naigreja. A fé é algo que faz parte da nossa vida, danossa vida diária. Nem pensei alg<strong>um</strong> dia que sepode satisfazer Deus apenas ao orar antes de irpara a cama ou dar graças antes das refeições. Aoração é a melhor oportunidade que temos para<strong>um</strong>a relação íntima com Deus, e pode ser usadaem todas as situações e em todas as alturas dodia - e noite. Penso que é óptimo orarmos emconjunto na igreja - por exemplo rezarmos o PaiNosso ou o Credo em voz alta em conjunto - maspenso que é igualmente importante termos <strong>um</strong>arelação completamente privada com Deus.Sinto-me triste quando vejo pessoas, em vozestridente, falarem de intercessões aqui e ali evamos sentar-nos e dar as mãos e ò, como é fortea nossa fé e como somos bons cristãos. É igualmenteimportante lembrarmo-nos de a mantersempre, seja qual for a condição em que estejamos,toda a nossa vida.Não quero com isto dizer que a intercessão nãotem valor, ou que não há imensa força em sabermosque alguém reza por nós e que estamos nopensamento de alguém de <strong>um</strong>a forma carinhosa.Vi frutos muito positivos disso - mas por amor dasua relação com Deus, é importante que não seconvença que só pode fazer isto se se ajoelharjunto à cama antes de desligar a luz.É <strong>um</strong>a oportunidade que temos permanentemente,e isto é algo que considero muito preciosoe relevante quando canto. Penso que foiatravés do canto que tive o meu contacto maisintenso com Deus. Quase senti que cantar foi aminha forma de orar - a minha forma de confessara minha fé. Alg<strong>um</strong>as pessoas chamam a issotestemunho, e podem fazê-lo. A fé não tem nadaa ver com arg<strong>um</strong>entar a favor ou contra. A fé érealmente <strong>um</strong>a coisa muito simples e tranquila,e existe como <strong>um</strong> fio durante toda a minha vida,muito inocentemente.TESTEMUNHO DE JESPER,QUE MORREU DE SIDA, DINAMARCAA IGREJA 31
32 SEXUALIDADE HUMANA
Daria tudo para ter <strong>um</strong> novo grupo do Círculo de Esperança. Podia partilharcom estas pessoas os meus segredos mais profundos e ainda ser amado. Quandofiquei doente pela primeira vez, foi o grupo que me deu força para continuar.No grupo falámos sobre a vida e tivemos também <strong>um</strong> orador convidadoque nos veio dar conselhos sobre nutrição, aspectos legais, medicina alternativae muitos outros programas. Quando ouvi o facilitador partilhar a suahistória sobre a forma como descobriu que estava infectada pelo VIH, identifiquei-mecom ela. Deu-me força para compreender que não estava só. Salveia minha vida. Sei, portanto, como isso pode ser importante para os outros.UM MEMBRO DO GARDEN TOWNSHIP DO CÍRCULO DE ESPERANÇASEXUALIDADEZÂMBIAEstudo bíblico sobre a sexualidade h<strong>um</strong>ana, estigma e VIHPatriarcado, Género e JesusIntroduçãoEm termos simples, o sexo é a diferença física e biológica entreos homens e mulheres. Refere-se ao facto de nascermos homensou mulheres. Por outro lado, a sexualidade tem a ver com sentimentossexuais, comportamento e relações. É a relação recíprocaentre parceiros sexuais potenciais ou reais. Mas em muitas sociedades,a noção de sexualidade como sinónimo de pecado estáprofundamente enraizada nas normas culturais.Perspectiva bíblica- A mulher apanhada a cometer adultérioNa história vemos como o pecado sexual está enraizado na culturae tradição hebraicas. Os Fariseus eram os guardiões da Lei deMoisés, a Torá. Trouxeram <strong>um</strong>a mulher apanhada a cometer adultériopara testarem Jesus. A Sua resposta à sua pergunta desafiouos acusadores. Jesus disse que quem não tivesse pecados de entreeles atirasse a primeira pedra. Protegeu a mulher. Os acusadoressairam <strong>um</strong> a <strong>um</strong>, com ar submisso. Jesus pediu à mulher que nãovoltasse a pecar e ela foi perdoada.• Qual é a nossa reacção perante os acusados de hoje?• Enfrentamos o mesmo desafio hoje?• Perdoamos ou temos as mesmas atitudes?Reflexões• Podemos querer saber por que razão o homem envolvido noadultério não foi ameaçado.• O que é pecado no nosso ponto de vista?• As mulheres são consideradas mais responsáveis pelo pecadosexual que os homens?• Consideramos a sexualidade h<strong>um</strong>ana como <strong>um</strong>a norma culturaldeterminada pela tradição?• A sexualidade é <strong>um</strong>a dádiva de Deus ou <strong>um</strong>a praga de Satanás?• Qual é o valor da sexualidade tanto para os homens como paraas mulheres?ConclusãoA história de João 8:3-11 anuncia o “status quo”: “Moisés ordenou-nosque atirássemos pedras a essas mulheres”. As atitudespatriarcais e estereotipadas estão ainda vivas na nossa Igreja actual.O pecado sexual é estigmatizado como o PECADO. Jesus desafiouos hebreus na resposta que deu. Jesus conhecia os motivos dediscriminação das mulheres.Podemos ouvir Jesus dizer:• A sexualidade é <strong>um</strong>a dádiva de Deus - Gen 1:27-28• Exige respeito• Exige plena responsabilidade de ambos os sexos• Exige perdão de parte a parte• Acima de tudo, exige amor recíproco. Ef. 5:25-32, Col. 3:12-14As normas e valores sociais centram-se em atitudes estereotipadasque, por sua vez, promovem imagens dos homens comopoderosos e fortes, enquanto que as mulheres ou raparigas sãoretratadas como “vítimas impotentes”. Cabe à Igreja eliminar a injustiçasocial e a discriminação de géneros.SEXUALIDADE HUMANA 33
SEXUALIDADESexualidadeLiturgia sobre sexualidade h<strong>um</strong>anaZÂMBIA- Dádiva e ResponsabilidadeEsta liturgia foi desenvolvida e usada no grupo “Circles of Hope”(Círculos de Esperança) de Busokololo, Lusaka, na Zâmbia. Os Circlesof Hope (Círculos da Esperança) são grupos de apoio parapessoas que vivem com VIH e SIDA.L= LíderR= Leitor1. Procissão enquanto é cantado <strong>um</strong> hino ou <strong>um</strong> cântico.2. Saudações e boas-vindasL: Queridos irmãos e irmãs, estamos hoje aqui reunidos para celebrara beleza da criação de Deus, e esta é a beleza da nossasexualidade. “Por isso, Deus criou a h<strong>um</strong>anidade à sua imagem, àimagem de Deus, Ele criou-os; homem e mulher Ele criou-os... Edepois Deus viu tudo o que tinha feito e, na verdade, foi muitobom”. Vamos por isso, com oração e louvor, pensamentos e actos,prestar culto ao Deus eterno. Ámen.3. Leitura de inicial1 Coríntios 7: 3-124. Hino de louvor5. Oração inicialL: Louvado seja Deus,De cuja mão hábil provimos,Agradecemos-Te pela dádiva da sexualidade,Damos graças pelos Teus milagres.Orientai-nos para que possamos apreciar os nossos corpos,E possamos expressar a nossa sexualidade de <strong>um</strong>a maneira responsável.Levai-nos a aceitar que somos templos do Espírito Santo.Perdoai-nos quando depreciamos a Tua criação.Ensinai-nos a evitarmos abusar do poder da atracção sexual.Dai-nos coragem para denunciar todos os sistemas que comercializamcorpos h<strong>um</strong>anos.Através do Teu espírito, deixa-nos apreciar a nossa sexualidade nonosso íntimo,Através de Jesus Cristo, oramos. Ámen.L: Vamos reflectir <strong>um</strong> pouco e lembrarmo-nos de todos os errosque cometemos no domínio da nossa sexualidade.6. Oração de ConfissãoL: Nas nossas funções e responsabilidades como indivíduos – pais,mães, conselheiros espirituais, líderes de jovens, etc. – não pensámosnem fizemos tudo o que devíamos ter feito para explicara beleza e o mistério do sexo, a sexualidade e as relaçõessaudáveis. Temos insistido sobretudo nos aspectos negativos dosexo e, por isso, demonizámos a sexualidade. Senhor, oramos peloTeu perdão.7. Cântico8. Leitura BíblicaGénesis1:27-28, 2:249. Guia do <strong>Ser</strong>mãoa. IntroduçãoCom milhões de pessoas a viverem ou pessoas afectadas peloVIH e SIDA, a pandemia representa <strong>um</strong> dos problemas maiscríticos dos nossos dias. As instituições religiosas em geral, e asIgrejas em particular, têm <strong>um</strong> papel muito importante a desempenharno combate à disseminação da doença entre as pessoas.Deus criou os seres h<strong>um</strong>anos com sentimentos sexuais poderosos,que os seres h<strong>um</strong>anos podem usar bem ou mal. Estespoderosos sentimentos podem ser vividos e tratados de <strong>um</strong>aforma responsável. Uma das funções da Igreja é falar acerca devalores e responsabilidades, e ajudar a minimizar a vulnerabilidadeatravés da educação. A Cristandade estigmatizou o sexocomo <strong>um</strong> pecado maior do que todos os outros, e no entanto34 SEXUALIDADE HUMANA
a fé bíblica aceita o pecado a nível relacional.Quando celebramos a nossa sexualidade, estamos• a reconhecer que Deus fez os seres h<strong>um</strong>anos – homens emulheres – à imagem Dele, e ao fazê-lo, concedeu-nos <strong>um</strong>adádiva que deve ser enaltecida, desfrutada e apreciada nonosso íntimo;• a aceitar a sexualidade como parte integrante da nossaidentidade, que enriquece as relações entre as pessoas e dáprazer;• a ser lembrados que, juntamente com o seu potencial deproporcionar grande intimidade e satisfação às relações h<strong>um</strong>anas,a sexualidade torna as pessoas vulneráveis <strong>um</strong>as àsoutras e às forças sociais.b. Lições aprendidas• A criação da h<strong>um</strong>anidade enquanto homem e mulher não foipor acaso;• As uniões sexuais no casamento foram concebidas por Deuspara oferecer satisfação psicológica, física, emocional e sociale lições espirituais, para além da procriação;• Se a família cristã não conseguir dar respostas aos adolescentes,a família perdê-los-á para alguém que seja capaz. Se aIgreja se mantiver em silêncio, a Igreja também os perderá.10. Orações• Pedir a Deus que nos dê a sabedoria para ensinarmos sobreo que é correcto e seguro relativamente ao sexo, aos actos erelações sexuais à luz do VIH e da SIDA• Rezar pelas mulheres e crianças vítimas de abuso• Agradecer a Deus a Sua orientação, protecção e vontade parapodermos levar <strong>um</strong>a vida produtiva e profícua.11. Oferenda enquantoé cantado <strong>um</strong> hino ou cântico.12. Oração de oferenda13. BençãoL: Que o próprio Deus da paz vos santifique inteiramente; e queo vosso espírito, corpo e alma se mantenham sãos e inocentesna vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. A graça de Nosso SenhorJesus Cristo esteja convosco. Ámen.14. Hino de despedidaSexualidade h<strong>um</strong>anaNa verdade, a sexualidade h<strong>um</strong>ana é <strong>um</strong>a dádiva de Deus que deve ser desfrutadaentre parceiros fiéis. Esta dádiva da sexualidade continua a existirnas pessoas seropositivas e deve ser usada, não suprimida. A sexualidade é<strong>um</strong>a maravilhosa dádiva criada por Deus que é para ser usufruída, tanto porpessoas seropositivas como por pessoas que não o são.CIRCLES OF HOPE, ZÂMBIASEXUALIDADE HUMANA 35
NORUEGADo estudo da Bíblia ao sermão em João 8: 2-11Quem se Atrevea Atirar a Primeira Pedra?Todos os anos, no Dia Mundial da SIDA, o serviço de culto celebradona Catedral Luterana em Oslo, Noruega, é elaborado no Aksept – ocentro da “Church City Mission”, em Oslo, para todos aqueles queestão afectados pelo VIH. Em 2002, o sermão foi preparado em colaboraçãocom utentes do Aksept. O que se segue é <strong>um</strong>a narraçãodo processo e do respectivo sermão pregado no culto.Estigmatização, discriminação e sexualidadeO processo começou com <strong>um</strong>a sessão de chuva de ideias (brainstorming)para encontrar temas e textos considerados pontuais erelevantes para os que participavam nas discussões. As notas dasreuniões constituíam a base para escrever o sermão. O objectivoera <strong>um</strong> diálogo entre seres h<strong>um</strong>anos e Deus – <strong>um</strong> sermão destinadoa escutar, compreender, confortar e desafiar. Esta metodologiapode ser usada e servir de base para alguém preparar os seuspróprios textos e sermão. Proporciona ainda <strong>um</strong>a reflexão sobreo pensamento e o diálogo entre aqueles que estão afectados peloVIH, <strong>um</strong> pastor e <strong>um</strong> texto bíblico.1. A primeira chuva de ideias (brainstorming)No Aksept, as pessoas seropositivas tiveram oportunidade de sereunirem duas vezes para trabalhar em grupo de modo a dizeremalg<strong>um</strong>a coisa sobre o que pensavam ser importante exprimirno Dia Mundial da SIDA este ano.A primeira reunião no Centro foi com “O grupo aberto dediscussão sobre ética, religião e filosofia”. Eis alg<strong>um</strong>as das notasque foram recolhidas:Desejos e reflexões sobre o serviço de culto:• A sexualidade devia ser o tema principal este ano.• A Igreja está muito longe da realidade quando aborda o sexo.• Mas até mesmo o nosso próprio ideal sobre a sexualidade ébastante difícil de realizar.• Teria sido apropriado com <strong>um</strong> serviço inter-religioso n<strong>um</strong> diacomo este! O VIH e a SIDA afectam-nos a todos.O que queremos dizer a Deus? O sermão pode ser assim como<strong>um</strong> diálogo entre Deus e as pessoas.• A necessidade de <strong>um</strong> medicamento contra o VIH!• Maior aceitação por parte dos outros. Deus deve abrir os olhosdas pessoas!• O desejo de encontrar alguém para amar. O seropositivo precisade <strong>um</strong>a oportunidade para amar!• A preocupação pelas crianças que nascem com VIH.• “Porquê eu?” É difícil e irritante aceitar a própria situação; provocaexasperação!• A necessidade de ajuda para voltar ao local de trabalho. Aspessoas continuam a sentir discriminação.36 SEXUALIDADE HUMANA
SEXUALIDADEA princípio, a estigmatização é <strong>um</strong> mecanismode protecção. Está ligada a <strong>um</strong>a percepção deque algo nos está a ameaçar: muitas vezes alg<strong>um</strong>acoisa que é desconhecida ou “estranha”. Osnossos receios podem ter bons fundamentosou ser completamente infundados. Apesar detudo, formamos ideias e representações sobreo que julgamos ser ameaçador. Podemos aténem ter consciência destas ideias pelo facto dea estigmatização ter origem muitas vezes nonosso subconsciente - nas atitudes e nos pensamentosque temos, mas sobre as quais não falamosou até nem admitimos. Para chegarmos aestas imagens, precisamos de vontade e coragempara pôr à prova os nossos preconceitosface à realidade, e para os avaliar face à visãode h<strong>um</strong>anidade que reclamamos ter. Mas istopode ser <strong>um</strong> processo doloroso - é preciso criarpropositadamente oportunidades e disponibilizar“espaços seguros”.As pessoas seropositivas não são <strong>um</strong> grupo homogéneo: mulherese homens, jovens e idosos, nacionais noruegueses e estrangeiros,homossexuais e heterossexuais, etc.Rapidamente surgiram dois temas considerados importantes noDia Mundial da SIDA:1. Estigmatização/discriminação, e2. Sexualidade. Na primeira reunião, trabalhámos nosentido de encontrar <strong>um</strong> texto bíblico que servisse debase de reflexão sobre estes dois temas. Foram sugeridasreferências aos samaritanos – os samaritanos foram <strong>um</strong> grupoestigmatizado e discriminado no tempo de Jesus. Porém, nessetexto existem poucas referências que tratem da sexualidade.Foi também referido o Cântico de Salomão, mas este nãocontém nenh<strong>um</strong>a menção de estigmatização. Acabou porser escolhida a história sobre a mulher que foi apanhada acometer adultério.2. É lido João 8:2-11DAS REFLEXÕES TEOLÓGICAS, EM OSLO3. A mulher apanhada a cometer adultérioNão estávamos inteiramente satisfeitos com este texto pelo factode associar sexualidade e pecaminosidade. O texto em si podia serconsiderado como estigmatizante; por que é apenas a mulher a serapanhada no acto? O que é feito do homem (supomos que estavaenvolvido <strong>um</strong> homem)?As associações n<strong>um</strong> dia como este, DiaMundial da SIDA, podem facilmente ir no sentido de que todas aspessoas seropositivas são infiéis aos seus cônjuges. O que, só por si,é <strong>um</strong>a atitude estigmatizante.4. Associações possíveisPor outro lado, o texto incita a muitas associações interessantes.Na segunda reunião, duas semanas mais tarde, foi feita a seguintereflexão sobre João 8:2-11:Esta mulher já foi julgada pelos homens que a levaram à presençade Jesus. De que foram acusados os escribas e os fariseus? Viram<strong>um</strong>a reflexão deles próprios na mulher? Devíamos olhar para nósantes de julgarmos os outros.Os escribas e os fariseus revelam <strong>um</strong>a má atitude face às mulheres.<strong>Ser</strong>á que a mulher sabe o que se está a passar? Onde está ohomem? Talvez ela nem tenha feito absolutamente nada de errado.Era apenas a vítima n<strong>um</strong>a sociedade dominada por homens. Poderiaa mulher ser seropositiva? Era acusada de infectar alguém? <strong>Ser</strong>áque a mulher se esforçou por se envolver n<strong>um</strong>a actividade reservadaaos homens? Era <strong>um</strong>a trabalhadora do sexo? Ou era <strong>um</strong>amulher que amava <strong>um</strong> homem e que foi vítima de <strong>um</strong> casamentoforçado? Existem aqui muitas hipóteses. O texto realmente nãonos diz nada sobre a mulher. E ela nada diz em sua defesa.Aprendemos mais sobre os homens que a levaram a Jesus. Queriamarmar <strong>um</strong>a cilada a Jesus, forçando-O a c<strong>um</strong>prir a lei e as normas,ou provar que Ele tinha quebrado a tradição, as leis e os cost<strong>um</strong>esjudaicos. Os teólogos e os religiosos conheciam a lei, eramespecialistas. De acordo com a lei, a mulher deveria ser apedrejada!E eles estavam prontos a fazê-lo! Compreenderiam realmente malJesus, pensando que Ele estava do lado deles?Mas o que tinham estes homens nas suas consciências? Porqueé que eram assim tão agressivos? Eram contra as mulheres quetinham a sua própria vida sexual? Eram esposos frustados? Quantosactos de abuso sexual tinham eles cometido? Ninguém nos dissenada, mas podemos usar a nossa imaginação...Este texto visto à luz do VIH é, só por si, estigmatizante: Não é necessárioque o VIH tenha alg<strong>um</strong>a coisa a ver com infidelidade. Alémdisso, o sexo não é a única coisa que infecta/transmite doença.Porém, tudo relacionado com sexo implica culpa. Neste contexto,o pecado é efectivamente <strong>um</strong> conceito errado porque o sexo nãoSEXUALIDADE HUMANA 37
SEXUALIDADEé pecaminoso. Mas o sexo é difícil com o VIH. O sexo era difícilantes do VIH. Alg<strong>um</strong>as pessoas deixaram de fazer sexo depois deserem seropositivas. No texto, a mulher foi, e nós somos, julgadospor toda a sociedade. Ninguém tem direito à vida enquanto seropositivo?As pessoas dizem: “tiveram o que mereciam”; “é castigode Deus”. Também ouvimos clero e lideres religiosos a afirmar omesmo. Um membro do grupo ouviu falar sobre <strong>um</strong>a mulher quefoi assassinada por causa de boatos falsos!O que é o pecado? Como tomamos conta da “boa sexualidade”?É mau quando são outros a descrever e a decidir o que é pecado.Deve ser <strong>um</strong>a responsabilidade do indivíduo, porque o que algunsjulgam ser errado pode não ser errado para outros. O que aconteceàqueles que não são casados? Mas a infidelidade é pecaminosa;alguém sai sempre magoado no fim.Hoje em dia, o que significa atirar pedras? São actos de julgamentopôr alguém acima de outros e excluir outros. 183 paísesnão emitirão vistos de entrada a pessoas seropositivas! Mas seráque condenamos aqueles que nos infectaram? Denunciamo-los?Ou não? O sexo é <strong>um</strong>a situação em que as duas partes são responsáveisquando a relação é equitativa. E o que acontece se formosapanhados n<strong>um</strong> acto sexual, e talvez infectando alguém como VIH? “Se souber que infectei alguém que amo – não conseguiriaenfrentar isso.”A mulher recebe alg<strong>um</strong>a resposta? Ela está reabilitada? Nem eutambém te condeno! Estas são palavras importantes. “Vai-te, e nãopeques mais.” <strong>Ser</strong>á que isso significa que não tenha mais relaçõessexuais? Ou significa “Partir daqui e viver “normalmente” a partirde agora? Partir e tomar conta de si própria; evitar os abusos, nãodeixar mais ninguém te magoar.”O que é que muda as atitude? Conhecimento, conhecimentopessoal: “podia ter sido eu”.5. PreconceitosExistem muitas coisas aqui com as quais nos podemos identificar.As pessoas com VIH são muitas vezes confrontadas com estaposição: não deves ter relações sexuais. Muitos esperam encontrareste tipo de atitude mesmo até no sector dos cuidados de saúde.E existem muitas pessoas seropositivas que se absterão de ter rela-cionamentos sexuais com outras por recearem infectar alguém,por sentirem que não são atraentes ou pensarem que ninguémquer ter relações sexuais com <strong>um</strong>a pessoa com VIH.Por conseguinte, muitas têm partilhado <strong>um</strong>a experiência algosemelhante à mulher do texto da Bíblia. Alg<strong>um</strong>as foram expostasnos meios de comunicação porque se permitiram ter relações sexuaiscom alguém, mas em contraste com esta história, as pessoasde hoje estão mais dispostas a atirar pedras, colocando em partemais responsabilidade nas pessoas seropositivas do que naquelasseronegativas. Que aspecto têm estas pedras?“Tiveste aquilo que merecias”. “Não te chegues perto de mim!”“Envergonhaste a nossa família!” São estas as “vozes” de alg<strong>um</strong>aspedras, e magoam mais do que pedras verdadeiras.A principal razão para a estigmatização de pessoas seropositivasé o facto de este vírus estar associado a muitas coisas que têm sidocondenadas como pecaminosas na nossa cultura: sexualidade, prostituição,abuso de drogas, homossexualidade, promiscuidade, etc.Durante séculos, as pessoas atiraram pedras nestes contextos,apesar da história no capítulo 8 de S. João.6. H<strong>um</strong>anos como seres sexuaisO que podemos fazer para nos livrarmos destes atiradores de pedrasimpacientes? Encontramo-los também dentro de nós próprios,se fizermos <strong>um</strong> exame de consciência.Talvez ajude a falar sobre sexualidade de <strong>um</strong>a forma tão abertae franca quanto possível. E não apenas sobre como deve ser oucomo desejamos que seja.A sexualidade não é algo que se tem; é algo que se é. A sexualidadeé complexa e difícil, com ou sem VIH. É difícil viver de acordocom o nosso próprio ideal. A sexualidade tem altos e baixos. Édivina e frustrante. Pode ser problemática dentro e fora do casamento.Nenh<strong>um</strong>a alegria pode ser maior, nenh<strong>um</strong>a pode ser maisvulnerável.É difícil falar acerca da nossa própria sexualidade, quer sobre osmomentos felizes, quer sobre os momentos que desejamos quenunca tivessem ocorrido. É penoso desabafar com alguém, porqueexistem pessoas na linha da frente para atirar pedras. Muitos dosque são seropositivos sentem que o próprio vírus representa <strong>um</strong>38 SEXUALIDADE HUMANA
símbolo de impureza sexual; revela, n<strong>um</strong> certo sentido, que a pessoanão viveu <strong>um</strong>a vida impecável. Como se alguém o fizesse...7. Estigmatização e discriminaçãoÉ extraordinário que <strong>um</strong>a Igreja que recebeu de herança estahistória acerca da mulher que foi apanhada no acto de adultério,não tenha educado os seus membros e mudado a sua cultura nosentido de ser menos crítica. Em vez disso, temos <strong>um</strong>a história deIgreja em que os atiradores de pedras puderam agir livremente.Chegou a hora desta atitude estigmatizante e discriminatória serapelidada daquilo que é, nomeadamente <strong>um</strong> pecado contra Deuse o Evangelho. Se a sexualidade for mais do que reprodução – e atéé – neste caso, tem que ser alg<strong>um</strong>a coisa a que todos têm direito, enão apenas alguns - com inteira responsabilidade, evidentemente.Isto deve ser o ponto de partida para todas as discussões sobrea forma como estamos a conviver como seres sexuais. Mas, sóquando isto englobar toda a gente é que os limites que definimospara nós próprios deixarão de ser discriminatórios. E é evidenteque isto deve incluir também as pessoas seropositivas.A estigmatização é evidente. Às pessoas portadoras de VIH sãonegadas vistos de viagem em 183 países do mundo, os dentistasrecusam-se a tratá-las, os amigos evitam-nas ou são afastadas doseu local de trabalho. Tudo isto corresponde a atitudes face à sexualidadeque são equivalentes ao apedrejamento.8. “Eu também não te condeno!”Isto é o Evangelho: “Eu também não te condeno”.Quando isto está determinado: que ninguém se encontra n<strong>um</strong>nível especial quando toca à sua vida sexual, qual o caminho aprosseguir? Como estamos a conviver com a nossa sexualidade?Como podemos evitar ferir alguém? Como podemos respeitar osoutros? Aceitar outras soluções, etc.?No final, o convite de Jesus à mulher - “não peques mais”- nãosignifica não ter relações sexuais no futuro. É mais <strong>um</strong>a questão de<strong>um</strong>a pessoa tomar conta de si própria no futuro. É este o desafio!Não somos poupados à discussão sobre o que está certo e o queestá errado. Mas somos poupados à hipocrisia de que alg<strong>um</strong>as pessoassão melhores do que outras nesta matéria.O que significa ser-se h<strong>um</strong>ano? Quer alguémseja seropositivo ou seronegativo,toda a vida individual é vida em perigo,é vida vulnerável. Por baixo de todas asdiferenças, cada pessoa se encontra nuae, no sentido mais profundo, ferida.Somos lembrados disto vezes semconta. Mesmo assim, tentamos negá-lo,manter isto à distância, tentamos convencer-nose aos outros de que não somosvulneráveis, que somos íntegros equase imortais.A verdadeira irmandade só poderáocorrer quando as pessoas se reunireme reconhecerem que todas as vidas sãovulneráveis – não enquanto conhecimentoabstracto mas enquanto revelaçãoda própria vulnerabilidade, exposiçãoe ferimento de alguém.Então, existe espaço para <strong>um</strong>a reuniãoentre nós, estamos no mesmo nível epodemos conversar.DAS REFLEXÕES TEOLÓGICAS, EM OSLOSEXUALIDADE HUMANA 39
SEXUALIDADEDINAMARCAPOR ELIZABETH KNOX-SEITHRealidades existenciaisperante a SIDASignificado,Morte e PerdaNa cultura ocidental, a morte é considerada como <strong>um</strong>a derrota– e estar doente, ou seja, estar ameaçado pela morte, torna-sesubconscientemente <strong>um</strong>a forma mais ou menos subtil de castigo.Uma vez que tentámos eliminar a morte enquanto parte naturaldo nosso ciclo de vida, estar doente, e talvez também por issono processo da morte, torna-se <strong>um</strong>a ameaça à nossa mais íntimadignidade h<strong>um</strong>ana. Não devemos morrer; o que quer que aconteçadevemos ficar vivos – para sempre, ou pelo menos enquantopudermos. Isto mesmo transforma a doença n<strong>um</strong> fracasso.Para se encontrar constantemente justificações para o facto damorte ser <strong>um</strong>a parte natural do ciclo da nossa vida, individualizamosmuitas vezes razões para estarmos doentes. Foi o indivíduoquem cometeu o erro, falhou moralmente. O indivíduo portou-sede tal modo que é apenas certo e adequado que ele ou ela fiquemdoentes. A doença e a morte significam, no nosso profundosubconsciente, que não merecemos viver. Quando o sofrimentonos abala, diz-nos, indirectamente, que perdemos o nosso valorenquanto ser h<strong>um</strong>ano, que perdemos o nosso direito a viver.De <strong>um</strong>a certa maneira, este modo de pensar torna as coisasmais fáceis tanto para os que estão doentes como para os que estãosãos. Os que estão doentes podem, se apenas pudessem mudara sua maneira de viver e abandonar os seus famosos “erros”,esperar voltar a ganhar o direito a viverem e, assim, recuperaremda doença – enquanto que aqueles que são saudáveis podem aomesmo tempo e, de <strong>um</strong> modo triunfante, proclamar que os quevivem <strong>um</strong>a vida justa e “direita” também terão o direito de viverpara sempre.Mas <strong>um</strong>a doença como a SIDA expõe obviamente o desamparoque cada ser h<strong>um</strong>ano e cada sociedade experimentam bem lá nofundo quando confrontados com <strong>um</strong>a realidade como a morte.Com <strong>um</strong> ar de desespero, a SIDA traz à superfície a questão, Porquêeu? Por que tenho de ser afectado? Por que tenho de perdera vida? A SIDA deixa bem claro que a morte pode apresentar-seem qualquer idade, e que a medicina moderna não garante <strong>um</strong>prolongamento de vida eterno. E se não sou eu que estou envolvido,poderá ser o meu irmão, a minha irmã, a minha namorada,40 SEXUALIDADE HUMANA
Sentir amor, aceitação e apoio no seio de <strong>um</strong> grupo de apoio em queo amor de Deus é visível pode ser <strong>um</strong>a poderosa força curativa. Acura é apoiada nos sítios em que as igrejas se relacionam com a vidadiária, onde as pessoas se sentem seguras para partilharem as suashistórias e testemunhos. Através de culto sensível, as Igrejas ajudamas pessoas a interiorizar a presença curativa de Deus. As Igrejasexercem <strong>um</strong> ministério vital encorajando a discussão e a análise deinformação, ajudando a identificar problemas e apoiando a participaçãoem direcção a <strong>um</strong>a mudança construtiva na comunidade.JAPHET NDHLOVUo meu namorado, o meu filho ou a minha filha, a minha mãe ouo meu pai. Se alguém próximo de nós se encontra na zona deperigo, então a questão ressoa de <strong>um</strong>a maneira ensurdecedora nanossa dor - e a possibilidade de perder esse “alguém” torna-se oimpulso orientador na busca de significado que agora começa.Quando sabem da verdadeSaber que se tem VIH é para quase todos <strong>um</strong> choque, <strong>um</strong> durogolpe que muda a vida completa e inevitavelmente. Quem já fez <strong>um</strong>teste do VIH sabe o pesadelo por que se passa enquanto se esperapelo resultado. Por mais que alguém se tente preparar para o resultado,é impossível estar preparado. Mesmo para os que pensamque o risco de estarem infectados é mínimo, a espera é <strong>um</strong>a experiênciaque poderiam dispensar. E não é aconselhável fazer o testese não tiver <strong>um</strong>a rede sólida e de apoio à sua volta. Confrontar-secom o risco de ter VIH é confrontar-se com questões profundas eimprevisíveis, e se o deixarem sozinho com todas as especulações epreocupações implicadas pode levá-lo a <strong>um</strong> colapso pessoal.A ansiedade quanto à crítica é <strong>um</strong>a parte proeminente do padrãode sentimentos sobre o VIH e a SIDA, tanto para os que estãoinfectados como para as famílias. O que dirão os vizinhos se descobriremque o meu filho ...? O que pensarão a minha mãe e o meupai, se vierem a saber que eu ...? Sempre fui boa rapariga, ... o quepensarão agora...?As imagens passam perante os olhos da nossa mente assim quea conversa vira para VIH e SIDA – e <strong>um</strong>a pergunta inevitável quenem sempre é feita a alta voz é: Como é que ele ou ela ficouinfectado?O sexo é ainda <strong>um</strong>a área envolta em mistério, especulaçãoe horror – e não existem limites para as ideias que se fomentamà superfície, quando alguém descobre que <strong>um</strong>a pessoapróxima foi infectada.Questões de culpa escondem-se sempre por trás – e é por issoimportante encarar de frente essa dificuldade e dizer que não épossível fazer a distinção entre vítimas “culpadas” e “inocentes” doVIH. Estão todos no mesmo barco, seja qual for a forma por queforam infectados. Que alguém possa ter <strong>um</strong>a experiência pessoalde culpa e vergonha com que precisa de lidar, é outro assunto– mas essa experiência pode ser na mesma difícil, seja qual for amaneira de o vírus ter aparecido. Uma mãe que deixa o filho levar<strong>um</strong>a transfusão de sangue antes da época em que o sangue passoua ser testado, pode ter <strong>um</strong> doloroso e pesado fardo de culpa acarregar – e deve receber ajuda do mesmo modo que alguém quefoi infectado pelo namorado deve ser ajudado a lidar com a raivaque poderá sentir para com o namorado ou para consigo mesmo.Sentimentos de culpa e vergonha são muitas vezes <strong>um</strong> resultado de<strong>um</strong>a raiva não reconhecida. Essa é outra dificuldade importante aencarar de frente e que exige <strong>um</strong> esforço considerável – mas é <strong>um</strong>sossego quando essa dificuldade já não existe! As dificuldades podemser encaradas de frente na altura certa, mas significará sempre<strong>um</strong>a luta. Se for permitido que permaneçam, o prejuízo poderá sertão mau como <strong>um</strong> touro n<strong>um</strong>a loja de porcelana!A ansiedade sentida pela maior parte das pessoas deve-se aomedo pelo desconhecido, pela morte e pelo curso que inevitavelmenteterá a doença, normalmente durante <strong>um</strong> grande períodode tempo. Para a pessoa com VIH, o desconhecido é conhecido,ou torna-se conhecido a passo e passo, com o passar do tempo.Normalmente aqueles que se encontram perto da pessoa comVIH sentem-se mais ansiosos do que a própria vítima, precisamenteporque eles próprios não estão a passar pelo processo e apenaspodem adivinhar como é o sofrimento. O medo quanto ao que vaiacontecer é maior do que o medo que se sente quando já está aacontecer – e, por isso, muitas pessoas com VIH dizem, paradoxalmente,que é <strong>um</strong> alívio quando alcançam fases da doença de quetiveram medo antecipadamente. Isto não significa que a ansiedadedesaparece – algo novo pode sempre acontecer; novas fasesimprevisíveis da doença que se encontram latentes no horizonteexistencial enquanto ameaças indistintas.Viver com o VIH e a SIDA é <strong>um</strong> acto de equilíbrio delicado entrea capacidade de se soltar e a capacidade de se controlar – não sóna sexualidade, mas também na vida tal como ela é. Isto é <strong>um</strong> actode equilíbrio que estimula consideravelmente a consciência do quesignifica ser-se h<strong>um</strong>ano.SEXUALIDADE HUMANA 41
42 IMAGENS DE DEUS
IMAGENS DE DEUSFazer parte de <strong>um</strong>a esperançauniversal no meio do sofrimentoFéDINAMARCADesde que me conheço que sou crente, mas como acontece com amaior parte das pessoas, a minha fé atravessou várias fases e crises.Durante muito tempo antes de ter sido infectado com o VIH, atravessei<strong>um</strong> período muito confuso quanto à religião, e também nãotinha muita vida emocional. Depois de ter descoberto que tinha VIHregressei mais ou menos ao meu ponto de partida. Tinha tido dúvidasquanto à minha visão completa de Cristo, a minha visão de Cristoenquanto ideia. Mas nas crises que atravessei ao descobrir que tenhoVIH, regressei de certo modo à fé que tinha enquanto criança. Recordo-mede experiências que tive enquanto criança, experiências de<strong>um</strong>a relação profunda para com Cristo. Essas experiências deram-meforça – e são a fonte de <strong>um</strong>a maneira completamente nova de estarna minha fé.Depois de ter descoberto que tinha VIH, atravessei várias crisesemocionais. Vieram pensamentos de pecado e culpa, tal como acontececom a maior parte de nós – o sentimento de que eu era opróprio culpado da doença, e seguiu-se a vergonha como resultado.Lutei com isso durante <strong>um</strong> ano e a batalha fez-me sentir terrível.Eu era muito, muito duro para comigo próprio. Tinha <strong>um</strong> juiz dentrode mim, que continuava a dizer-me que a o facto de estar doente eraculpa minha. Sentimentos de vergonha, culpa e pecado perseguirammepura e simplesmente durante todo esse ano, enquanto lutavae lutava contra eles. Sentia verdadeiramente a falta de <strong>um</strong>a irmandadecristã à minha volta que me pudesse ter ajudado a livrar-me daminha culpa, vergonha e pecado. Já é bastante mau saber que se temVIH. Começa-se a ter pequenos sintomas aqui e ali, e isso deita-nosabaixo.Consegui ultrapassar a luta durante <strong>um</strong> ano resolvendo-a dentrode mim. Mas senti a falta de ter alguém que me apoiasse nisso. Nãotinha ninguém.OraçãoA oração ajudou-me ao longo das minhas crises. Quando descobrique tinha VIH, iniciou-se <strong>um</strong> processo, e a dado momento apercebi-me de que tinha de começar a orar de novo. Surgiu por si só. Isolei-men<strong>um</strong>a casa no campo e dei início a <strong>um</strong> período intensivo de oração.Queria orar – e começou a vida interior, tal como acontece quandose ora. Um mundo interior que se abriu mais ou menos sozinho... <strong>um</strong>sentido de comunhão. Sobrevivi ao meu medo de morrer e ao me<strong>um</strong>edo de desenvolver a SIDA, e gradualmente apercebi-me de quenão era culpa minha o facto de ter contraído a doença. Não era porter sido castigado. A doença tinha sido por razões completamentediferentes.Obtive mais energia psicológica e mais espaço. Reparei que me estavaa tornar cada vez mais feliz. A oração abriu caminho para a felicidade,e pude reunir todo <strong>um</strong> conjunto de recursos e força que poderiautilizar o resto do tempo. Foi como <strong>um</strong>a fonte de alegria a jorrardentro de mim. Entrara em contacto com algo ou outrem... e comoCristão diria naturalmente que entrara em contacto com Cristo oucom o Espírito Santo. Deus tocou-me, tocou o meu coração... abriuo meu coração, para que eu pudesse sentir <strong>um</strong> prazer fundamentalna existência, <strong>um</strong> prazer em ser h<strong>um</strong>ano e viver com outros seresh<strong>um</strong>anos. O meu medo diminuiu, e o facto de ficar doente ou morrertornou-se menos importante. O momento presente, agora, tornousetão importante. Senti <strong>um</strong> mundo interior que era tão pleno, queme deu tanta energia e poder para viver, que os meus planos para ofuturo começaram <strong>um</strong>a vez mais a ter significado.A minha profunda convicção é que todos os que sofrem participamno processo de terem de carregar com o sofrimento universal domundo – o sofrimento que Cristo viveu quando viu todos os pecadosdo mundo através da história – todos de <strong>um</strong>a só vez. A minha crençaé que cada ser h<strong>um</strong>ano que sofre participa no processo de ter decarregar este sofrimento colectivo que toda a h<strong>um</strong>anidade partilha. Epara mim isto significa que, através do sofrimento que suporto devidoà minha doença, participo no processo de carregar com este sofrimentouniversal. Por isso, de certo modo, estou a partilhar ao carregarcom o sofrimento de Cristo. Isto dá-me <strong>um</strong>a força e alegria incríveis.TESTEMUNHO DE BJARNE, QUE MORREU DE SIDAIMAGENS DE DEUS 43
ZÂMBIAOs ActosMilagrosos de JesusReflexão bíblicaPOR JAPHET NDHLOVUAs descrições bíblicas dos actos milagrosos de Jesus incluem pormenoresdas pessoas que são curadas e de como as mesmas respondem.A h<strong>um</strong>ilde mulher impura, o leproso desprezado e marginalizado,o paralítico isolado, o pedinte cego – estes sentem oabraço dramático do amor de Deus. Uma vez amados e aceitesdesta maneira, a experiência deles ameaça todos esses poderese tradições, bem como as pessoas que os ignoraram, rejeitaram esuprimiram.Depois do sermão de Pedro no dia de Pentecostes a mais de trêsmil pessoas, <strong>um</strong> homem coxo de quarenta anos que se encontravano portão do templo foi curado. Pedro proclamou que o poder daressurreição de Jesus, que se encontrava activo para restaurar todasas coisas, tinha curado o coxo, e que se devia prestar culto a esseJesus enquanto Senhor de todas as coisas. As autoridades ameaçadasprenderam Pedro e João. Perceberam que esta cura não era <strong>um</strong>mero acto de bondade, mas antes <strong>um</strong> desafio ao seu poder, <strong>um</strong>achamada para <strong>um</strong>a nova aliança, e <strong>um</strong> ataque ao sistema existente.A intensidade da resposta de Jesus à doença é ilustrada na históriada cura de <strong>um</strong> homem com <strong>um</strong>a mão mirrada (Marcos 3: 1-6).A cura é necessária no Sabat, <strong>um</strong>a vez que na maneira de pensarhebraica não curar o homem deixá-lo-ia mais próximo da morte.A luta contra a doença é <strong>um</strong>a luta para salvar os que são afligidospelo poder da morte e pela ameaça que isso representa. Umavez que a doença se opõe ao poder de salvação do Deus criador,deve ser endireitada e a criação restaurada. Jesus é o Redentor emquem está presente a misericórdia de Deus. O que é novo no se<strong>um</strong>inistério é que os beneficiários da misericórdia de Deus não sãoas autoridades religiosas e os eruditos legítimos mas sim os quesão considerados à margem: os pobres, os inválidos, os doentes,e os enlutados. Jesus fez-se acessível aos que dele precisavam, ignorandoas limitações convencionais e, deste modo, concedendo<strong>um</strong> reconhecimento apropriado aos proscritos da sociedade fossepor que razão fosse. Sistematicamente, encontrava pessoas com assuas necessidades específicas e tratava dessas necessidades. Jesusé apresentado como <strong>um</strong> combatente, opondo-se constantementecom o seu poder às forças que mantinham as pessoas subjugadas.Fosse o que fosse a deter as pessoas, tinha de ser confrontado e oseu poder para o fazer destruído. Assim, os doentes eram curados,os inválidos voltavam a ficar cheios de actividade e os oprimidoseram libertados.Quando Jesus acolheu os doentes e os inválidos de braços abertos,apresentou <strong>um</strong> modelo potente aos seus seguidores. A maneirana qual as Igrejas e os seus membros respondem ao desafio doVIH e da SIDA é <strong>um</strong>a indicação do grau de seriedade com a qualseguem o exemplo de Jesus. Uma resposta de amor e compaixão– <strong>um</strong>a resposta de braços abertos – é exigida ao povo de Deus. É<strong>um</strong>a ordem expressamente dada por Jesus, como por exemplo naparábola do juízo final (Mateus 25: 31-46). Além disso, tal resposta é<strong>um</strong> sinal do amor misericordioso de Deus, não só perante o VIH e àSIDA mas também para a comunidade inteira. Anuncia a todos quevejam e ouçam que o reino de Deus está a ser realizado e que estáa tomar forma no mundo. Uma aceitação afectuosa das pessoas quevivem com o vírus anuncia que o poder de salvação de Deus se viracontra o poder destruidor da morte. A compaixão é, de facto, <strong>um</strong>primeiro pedido ao povo de Deus nas crises criadas pela epidemiado VIH e da SIDA.Que reflexões nos oferece a fé cristã nesta fase madura da epidemiada SIDA? Alguns textos do Novo Testamento indicam queaquilo em que acreditamos tem de estar envolvido n<strong>um</strong>a respostacristã verdadeiramente holística para combater o silêncio, a vergonhae o estigma por estes estarem associados à infecção peloVIH e à SIDA, <strong>um</strong>a resposta que é hoje tão importante como o eraquando a SIDA foi diagnosticada pela primeira vez.44 IMAGENS DE DEUS
IMAGENS DE DEUSTalvez não tenha havido <strong>um</strong>a doença mais horrível na Palestinado Séc. I do que a lepra. A lepra espalhava-se devagar até tornar ocorpo feio e roubar a vitalidade do mesmo. A infecção significavaseparação do contacto com todos os que não tinham lepra; e nãosó a lepra era incurável, como era por fim fatal.Quando Jesus encontrou o leproso no caminho da Galileia,poderia ter pronunciado a palavra milagrosa a alg<strong>um</strong>a distância,como já o tivera feito em outras ocasiões (p.ex. Lucas 7:1-10). Todavia,Jesus preferiu estender a mão e tocar o leproso enquanto ocurava. Ao fazê-lo, Jesus não só desafiou os cost<strong>um</strong>es sociais comoignorou a terrível natureza da lepra. Escolheu arriscar tanto a suasaúde como a aceitação social para colocar a sua mão milagrosasobre <strong>um</strong> homem em desespero. Por que agiu desta forma inaceitávelem termos médicos e sociais? Marcos conta-nos que Jesus ofez por compaixão perante a situação difícil do leproso.A cura do leproso não foi <strong>um</strong> incidente isolado. A compaixãocaracterizava toda a vida e todo o ministério de Jesus. Respondiasempre com compaixão ao deparar-se com a ignorância, a fome, adoença e até a morte. Assim, Jesus estava possuído de compaixãoquando via a falta de r<strong>um</strong>o das pessoas como “ovelhas que nãotêm pastor” (Mateus 9:36; Marcos 6:34), os doentes e os cegos porentre as multidões (Mateus 14:14; 20:34), e a dor daqueles que haviamperdido os seus entes queridos (Lucas 7:13; João 11:35). Nãoficando meramente ao nível da emoção, a compaixão de Jesus traduzia-sen<strong>um</strong> ministério prático. Através da compaixão, ressuscitouos mortos (João 11; Lucas 7:14), ensinou as multidões (Marcos6:34), e curou os doentes (Mateus 14:14; 4:23; 9:35; 19:2).Ao pregar aos necessitados, Jesus Cristo não receava o contactofísico. Tomou a mão dos doentes (Marcos 1:31; Mateus 9:25) e dospossuídos pelo demónio (Marcos 9:27). Os seus dedos tocaramolhos cegos (Mateus 20:34; João 9:6; Mateus 9:29), ouvidos surdos(Marcos 7:33), e bocas mudas (Marcos 7:33). Mais surpreendentementeainda, Jesus tocou em leprosos - os marginalizados do seutempo (Mateus 8:3; Marcos 1:41; Lucas 5:12-13), demonstrandocom isso a grandeza da sua compaixão.A compaixão de Jesus não tinha limites, abrangendo tanto osseus amigos como os seus inimigos. Antecipando a rejeição final aque seria sujeito pela nação que amava, Jesus chorou pela cidadede Jerusalém (Mateus 23:37). Quando foi preso, ofereceu o seutoque milagroso ao soldado, cuja orelha havia sido ferida durante aescaramuça (Lucas 22:51). Jesus chegou mesmo a rezar para que oPai fosse misericordioso para com os soldados que o crucificavam(Lucas 23:34). Ao fazê-lo, Jesus viveu de acordo com o que ensinou,nomeadamente, que a compaixão deveria ser extensiva a todos,sem excepção, conforme o exemplo de seu piedoso Pai queestá nos céus (Mateus 5:43-45). Tal como <strong>um</strong> dos seus primeirosseguidores concluiu, após reflectir sobre a vida de Jesus: “Porque jásabeis a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, poramor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza, enriquecêsseis”(2 Coríntios 8:9).De acordo com o Novo Testamento, Jesus não é apenas <strong>um</strong>exemplo grandioso de compaixão h<strong>um</strong>ana. Sobretudo, Elepersonifica o coração piedoso do Deus da Bíblia. O tema do Deuspiedoso, aparecendo com a própria revelação de Deus, ocupa <strong>um</strong>aposição central na fé da comunidade hebraica. Após a revelação donome divino a Moisés, no Monte Sinai, Jeová descreveu-se como “oDeus misericordioso e clemente, vagaroso em irar-se e abundanteem benevolência e em vontade” (Êxodo 34:6). Este Deus respondepiedosamente à súplica dos seres h<strong>um</strong>anos, não por mérito destes,mas por causa do amor e graça misericordiosos próprios de Deus.Consequentemente, Deus é misericordioso mesmo perante arebelião e o pecado dos homens. Deus é certamente misericordiosoneste contexto do VIH e da SIDA. A compaixão divina conduzà acção divina, visível sobretudo em Jesus Cristo.IMAGENS DE DEUS 45
IMAGENS DE DEUSEstudo BíblicoDINAMARCAQuatro imagens de DeusDesde o primeiro surto da epidemia que o VIH e a SIDA têmmuitas vezes sido interpretados como castigo de Deus. Muitaspessoas com VIH aceitam esta interpretação, e isto acrescentasofrimento ao sofrimento. A ideia de que o VIH e a SIDAsão castigos divinos implica <strong>um</strong>a imagem de Deus enquantopoder de repreensão e punição.No seguinte estudo bíblico, concentrar-nos-emos em quatrohistórias do Novo Testamento que apresentam imagens deDeus alternativas, construtivas e de amor.Um factor com<strong>um</strong> nestas quatro histórias é que reflectemimagens de <strong>um</strong> Deus em movimento. Deus move e é movido.Deus não é rígido e distante. Encontra-nos aqui, onde estamos.LUCAS 15:11-32A Parábola do filho pródigoDeus que corre para nos encontrarA história do filho pródigo mostra-nos <strong>um</strong>a imagem poderosade Deus através da atitude e das acções do pai. Deus é quemnos abraça – ardente e acolhedoramente. Corre na nossa direcçãoe coloca os Seus braços à nossa volta, tal como contaa história que fez o pai. E o que o leva a fazer isso é o poderdinâmico do amor. O filho pródigo é <strong>um</strong> símbolo dos seresh<strong>um</strong>anos que estão em baixo ou ausentes. Pode acontecer aqualquer <strong>um</strong>. E muitas coisas podem fazer-nos cair em desespero.O assunto desta história do Evangelho é que Deus nosdá a possibilidade de termos <strong>um</strong>a nova vida, definida pelasexperiências que tivemos e as experiências que ganhámos nonosso caminho. Há <strong>um</strong> ponto de viragem em cada crise, igualmentepara nós quando desperdiçamos as nossas hipóteses,igualmente para nós quando nos envergonhamos das nossasescolhas e dos nossos erros.Esta história dá-nos esperança de que podemos continuarcom as nossas vidas apesar de tudo – e que há tanto seresh<strong>um</strong>anos como <strong>um</strong> Deus à espera de nos receber tal comosomos – quer tenhamos VIH ou seja qual for a história danossa vida.Questões para reflectir• Quando é que Deus veio ter consigo durante a sua vida?• Com quem se consegue identificar mais facilmente – com ofilho pródigo ou com o irmão mais velho e maltratado?• Qual deles se encontra verdadeiramente mais afastado do pai?• Qual a relação entre “perdão” e “justiça”?LUCAS 24:13-35A narrativa da viagem a EmaúsDeus que caminha ao nosso ladoA dor pode entorpecer os nossos sentidos. É o que acontece aosdiscípulos depois da morte de Jesus. São duros de ouvido, obtusos,cegos e distantes. Não se apercebem que o Senhor ressuscitadocaminha ao lado deles.A história reflecte <strong>um</strong>a imagem de Deus que conquistousofrimento para se identificar connosco no nosso pesar. Caminhaconnosco nos caminhos tortuosos sem deixar que nos desorientemosou desiludamos. Sacode-nos para nos fazer ver tudo com<strong>um</strong>a nova perspectiva. O Seu amor poderoso faz-nos aceitar omundo à nossa volta – e continuar as nossas vidas. Encoraja-nos edesafia-nos a viver. Encontra-nos em palavras e acções.Esta imagem de Deus é influenciada pela ideia do Velho Testamentode Deus como Emanuel, Deus connosco. Sim, Deus estáconnosco, e veio para ficar. Está perto – mesmo quando estamosa chorar ou nos enfurecemos com a sua ausência.Questões para reflectir• Quantas vezes na vida sentiu que foi abandonado por Deus?• Poderá esta imagem de Deus ser <strong>um</strong> exemplo para nós?• Poderá o Deus que caminha ao nosso lado ensinar-nos comocaminhar ao lado de seres h<strong>um</strong>anos que precisam de nós?• Que significa a imagem de Deus que caminha ao nosso lado46 IMAGENS DE DEUS
para aqueles que estão a morrer de SIDA?• Os discípulos reconhecem Jesus quando Ele partilha o pão àceia. Que significa o sacramento da Ceia do Senhor para aspessoas em sofrimento?JOÃO 13:1-17A história de Jesus a lavar os pés dos discípulosDeus que se inclina para nos tocarA história de Jesus a lavar os pés dos discípulos ilustra <strong>um</strong>a imagemde Deus que está pronto a ajoelhar-se para estar junto denós. Esta prontidão é revelada na Encarnação, onde Deus noSeu Filho se inclina do céu para a terra, e nesta cena, antes dosacontecimentos da sexta-feira Santa e da Páscoa, em que Jesusse prosterna para servir os Seus discípulos. Deste modo, mostrah<strong>um</strong>ildade e <strong>um</strong>a prontidão para contacto íntimo.Muitas pessoas com VIH são vítimas de arrogância e de <strong>um</strong>medo de contacto físico. Sentem que a doença delas as obrigaa ajoelharem-se – e que as outras pessoas as desprezam e desistemdelas. A vontade de Jesus em ajudar, tocar e levantar osfracos é <strong>um</strong> exemplo – para cristãos individuais e para a Igrejacomo <strong>um</strong> todo.Questões para reflectir• Quando foi a última vez que se ajoelhou para se dirigir a outrapessoa?• Tem sido, ou sente que tem sido, <strong>um</strong>a vítima do medo de contactofísico?• Como se sente em relação a <strong>um</strong>a imagem de Deus que é tãorealista e em que ele está literalmente de gatas?• O que é que tal imagem de Deus significa para pessoas comVIH e SIDA?JOÃO 9:1Cura de <strong>um</strong> homem cego de nascençaDeus que nos ajuda a curarmo-nosNesta narração de <strong>um</strong>a cura, Jesus recusa qualquer ligação entreculpa e destino. E, ao fazê-lo, também recusa a imagemde Deus enquanto poder sentencioso e punidor, que nos dáaquilo que merecemos. Em vez disso, na própria cura, pinta<strong>um</strong>a clara imagem de <strong>um</strong> Deus que ajuda para fazer de nós<strong>um</strong> todo.Quando encontram o cego, os discípulos são prudentes eengenhosos. Anseiam poder atribuir culpas. Muitas pessoascom VIH deparam com <strong>um</strong>a meticulosidade moral semelhantequando se abrem em relação à sua doença. Um preconceitotípico é o facto das pessoas com VIH terem feito a própriacama e agora terem de se deitar nela. Nesta história, Jesustorna claro que NÃO temos o que merecemos. Esta históriado Evangelho é apenas <strong>um</strong>a das muitas narrações de cura doNovo Testamento. As pessoas que estão gravemente doentesprecisam de esperança, mas as falsas esperanças poderãocausar muita dor. Também ainda não há a possibilidade paraos que têm SIDA de serem curados, mas a esperança que oEvangelho dá, é a imagem de <strong>um</strong> Deus de amor que conseguereconciliar-nos com a realidade da doença e dá-nos força paravivermos – apesar de tudo.Questões para reflectir• Acredita que existe <strong>um</strong>a ligação entre o que fazemos e o quenos acontece em resultado disso?• <strong>Ser</strong>á que o tempo dos milagres acabou?• Poderá a reconciliação com <strong>um</strong>a doença grave curar-nosespiritualmente?IMAGENS DE DEUS 47
A Parábola do filho pródigoEstudo bíblico, Lucas 15:11-32ZÂMBIAO Deus Clemente1. Introduçãob. Questões relacionadas com o VIH e a SIDA:Na maior parte das culturas africanas, se não em todas, a relação • Vê a mesma tendência na nossa resposta ao desafio da infecçãopelo VIH?entre pai e filho não pode ser facilmente quebrada por qualquercoisa. Nem mesmo o pecado ou a morte podem acabar com essa • <strong>Ser</strong>á que às vezes desprezamos as pessoas com VIH e SIDArelação. Quando nos relacionamos com Deus, o Todo-Poderoso como sendo crianças perdidas?criador de todas as coisas, incluindo a h<strong>um</strong>anidade, apercebemonosque nada nos pode separar do amor de Deus. Poderão o VIH o vírus através de <strong>um</strong>a vida desregrada?• <strong>Ser</strong>á que olhamos para elas como pecadores que contraírame a SIDA separar-nos desse Deus clemente?• Como poderíamos saber a fonte da infecção e porque queremossaber? Não será pela mesma razão de querermos2. Reflexõesatribuir a culpa?Ao fazer <strong>um</strong> estudo pormenorizado da passagem – que poderá • <strong>Ser</strong>á que Deus olha para as pessoas com VIH e SIDAser lida muitas vezes a partir de diferentes traduções para que a como pessoas que praticam o mal e que não devem serparábola seja apreciada – as seguintes questões seriam úteis:perdoadas?a. Questões relacionadas com o próprio texto:• Mostre como é que esta parábola responde à objecção dos Fariseusencontrada em Lucas 15:2.• O que é que o Filho, o Espírito e o Pai estão ansiosos por veracontecer e provocar?• Se o filho mais novo da história se condenou a si próprio, poderiao pai recebê-lo de volta?• O que é que a parábola do filho pródigo ensina quanto à nossarelação com Deus?• O que era suposto os Fariseus aprenderem com este episódio?c. A importância do texto no nosso contexto:• <strong>Ser</strong>á que vemos a atitude do irmão mais velho da históriaentre outros membros da família cristã ao perpetuaremsilêncio, vergonha e estigma associados com a infecçãopelo VIH?• Olhe para as personagens mencionadas no texto. Quelição podemos retirar delas e aplicar no combate ao estigmado VIH.• Que princípios obtemos da passagem?• Como pode a Igreja ser <strong>um</strong> oásis de amor e harmonia?48 IMAGENS DE DEUS
Nunca tinha vivido a vida tão intensamente como o fizapós ter descoberto que tenho VIH. Ter de contactarconnosco próprios – é duro, não é tarefa fácil, algo deque obviamente prescindiria, e precisamos da ajuda edo apoio uns dos outros, durante todo o percurso.TESTEMUNHO DE RONNY, QUE MORREU DE SIDA, DINAMARCAIMAGENS DE DEUSDois estudos bíblicosZÂMBIAO Deus da CriaçãoN<strong>um</strong> seminário levado a cabo no salão St Paul’s UCZ, em Kabwata,foi realizado <strong>um</strong> debate com <strong>um</strong>a equipa de pessoas quevivem de <strong>um</strong> modo positivo com o VIH. São membros da redede apoio chamada Circle of Hope (Círculo de Esperança). O quese segue é <strong>um</strong>a gravação das respostas que deram a alg<strong>um</strong>as passagensda Bíblia.LUCAS 15: 1-11As ovelhas perdidas e a moeda perdidaA passagem foi lida pelo grupo a partir de diferentes versões daBíblia para que apreciassem o seu significado.Depois de lerem esta passagem, os participantes foram desafiadosa ser honestos em relação a como se sentiriam enquantopessoas seropositivas quando esta passagem lhes fosse lida. O quese segue foram as respostas:• Um sentimento de perdão – Deus perdoa• Um sentimento de amor – Deus é amor• Um sentimento de acolhimento – Deus é acolhimento• Um sentimento devoto depois de atravessarmos problemas. Deveríamoslembrarnos sempre que existe <strong>um</strong> Deus Todo-Poderosoa quem rezar. A passagem transmite <strong>um</strong> sentimento de segurançaque, até mesmo depois de atravessarmos problemas ou dificuldades,existe Deus para nos perdoar desde que nos mexamos.Outros sentiram que a passagem provocava sentimentos decondenação. Uma pessoa disse: “quando se ouve esta passagempela primeira vez poderá pensar-se que se está a ser condenadoespecialmente se se tiver levado <strong>um</strong>a vida desregrada relativamenteao sexo”. O grupo afirmou que aprendeu que Deus estáaqui para perdoá-los e ajudá-los a começar <strong>um</strong>a nova vida emque não olhem para como apanharam a doença mas que vivam<strong>um</strong>a vida positiva.GÉNESIS 1:27-28Deus criando a h<strong>um</strong>anidade à sua imagemA passagem foi lida pelo grupo a partir de diferentes versões daBíblia para que apreciassem o seu significado.Depois de lerem esta passagem <strong>um</strong>a vez mais, perguntou-se aosparticipantes o que lhes ia na mente enquanto ouviam a passagem.O que se segue foram as respostas:• Deus é óptimo.• Deus é Todo-Poderoso.• Deus é o criador apesar de termos VIH; abençoou-nos.• Somos criados à imagem de Deus por isso somos como Deuse o que quer que atravessemos, deixemo-lo nas mãos de Deus,<strong>um</strong>a vez que é o nosso Criador. Este criador também conhece epercebe muito bem este vírus.Devemos estar gratos e rezar sempre a Deus e continuar a agradecer-Lhepelas nossas vidas.O outro sentimento por parte dos membros era que seDeus era o nosso criador, porque deveríamos passar por tantosofrimento, porquê ter VIH? Porque não pode Ele simplesmenteremover-nos o vírus?No fim, os participantes encorajaram-se uns aos outros, quefossem quais fossem as situações que atravessavam deveriamsempre lembrar-se que há algo a aprender a partir de tudo.Deveriam aprender a ter compaixão e preocupar-se uns comos outros, e contar com Deus e rezar-lhe sempre para queEle os guiasse.IMAGENS DE DEUS 49
Estudo bíblico sobre Lucas 13:10-17NORUEGAA Mulher AleijadaNos diálogos em Oslo, que envolveram pessoas infectadas eafectadas pelo VIH, esta passagem da Bíblia tornou-se muito importantepara a nossa compreensão do que significa ver a pessoaperante nós e não ser obcecado com regras e regulamentos. Asseguintes linhas directrizes poderão ser <strong>um</strong>a ajuda na análise dotexto.1 Leia o texto à luz da sua própria situaçãoe dos desafios que enfrentaAntes de ler o texto da Bíblia, deverá colocar alg<strong>um</strong>as questõessobre como os participantes vêem Deus e como é que diferentessituações de vida podem provocar diferentes imagens de Deus.Por exemplo:• Podem falar sobre <strong>um</strong>a altura em que sentiram que Deus voscastigou? O que tinham feito?• Alg<strong>um</strong>a vez pensaram ou sentiram que Deus vos ama apenasse forem dignos disso ou se obedecerem aos mandamentos deDeus?• Existiram outros tipos de situações em que não tiveram acerteza do amor de Deus, pensando que Deus poderia estar<strong>um</strong> bocado mal disposto ou que fosse difícil acreditar Nele?Deixe os participantes pensar nisto durante <strong>um</strong> bocado antes deiniciar a discussão de grupo. Poderá começar contando sobre <strong>um</strong>aaltura em que talvez tenha sentido que Deus o estava a castigar,para tornar as coisas <strong>um</strong> bocado menos intimidadoras para osoutros. Tente ajudar as pessoas a perceber os diferentes tipos deimagens que carregamos connosco muitas vezes. Podemos tambémescrever as diferentes imagens mencionadas no quadro, por exemplo:o Deus zangado; o Deus mal disposto; o Deus que julga, etc.2. Leiam o texto juntosLeia a história da mulher aleijada em Lucas 13:10-17. Leiam <strong>um</strong>afrase ou <strong>um</strong> verso cada.3. Leia o texto cuidadosamentee em pormenorEscreva palavras-chave no quadro. Em primeiro lugar, façaperguntas gerais sobre o texto.• De que fala o texto?• O que é que vos chama a atenção neste texto?• Quais os temas do texto?Depois olhe mais especificamente para o texto:• Quem encontramos na história?• O que aprendemos sobre eles neste texto?Poderá também ser útil analisar as relações entre as pessoasdo texto, ainda sob perspectivas sociais, políticas, religiosas eeconómicas.• Como é que os líderes da sinagoga se relacionam com osofrimento da mulher?• Como é que os líderes da sinagoga se relacionam comJesus?• Como é que Jesus se relaciona com a mulher?• Como é que Jesus se relaciona com os líderes da sinagoga ?• Como é que Jesus se relaciona com o Sabat?• Como é que os líderes da sinagoga se relacionam com avida h<strong>um</strong>ana segundo Jesus?• Como é que as diferentes pessoas reagiram no final?• Que teologia ou entendimento de Deus têm as diferentespessoas ou grupos no texto?• Qual a teologia ou o entendimento de Jesus sobre Deus notexto?• Como se sente em relação ao texto?Depois de terem trabalhado de per to com o texto daBíblia, é impor tante que analisem as vossas próprias vidase situação.• Conseguem identificar-se com a mulher?• Tiveram experiências semelhantes à da mulher?50 IMAGENS DE DEUS
IMAGENS DE DEUS• Quem mais acham que hoje em dia se encontra n<strong>um</strong>a situaçãosemelhante à da mulher?• Como é que se relacionam com outros que são hojecomo ela?4. Leia o texto com o pensamento de fazeralteraçõesUm estudo bíblico contextual não acaba até ter visto o quepoderá fazer para trazer a dimensão da esperança presenteno texto para os nossos dias.• Quem comunica ou onde encontramos a imagem de Deusque Jesus representa hoje em dia?• Como podemos lutar contra imagens negativas de Deus?• Como podemos comunicar a imagem de Deus que Jesustraz?• Como podemos melhorar a vida para as pessoas de hojeem dia que estão n<strong>um</strong>a situação como a da mulher?ReflexãoOs debates em Oslo sobre este texto podem res<strong>um</strong>ir-se destemodo: O facto de Jesus ter curado no Sabat revelou-se importantepara a compreensão de <strong>um</strong> dos atributos de Deus maissignificativos. Aqui conhecemos <strong>um</strong> Deus que se opõe às autoridadese solta as correntes daqueles que estão presos.“É <strong>um</strong> Deus que não só está disposto a trabalhar das 9h00às 17h00, mas <strong>um</strong>a força que não será limitada.” Nesta históriavemos o próprio Deus a quebrar as regras das escrituras “porqueDeus colocou as pessoas e a compaixão acima da lei. O queJesus insinua é que a intenção da lei é mais importante que aadesão absoluta a regras individuais”. Ou como <strong>um</strong> participantedisse: “Amar está na natureza de Deus, e o propósito das suaspalavras e acções é soltar correntes, erguer os oprimidos, libertaras pessoas, curar e salvar”.IMAGENS DE DEUS 51
IMAGENS DE DEUSDeus é o eterno criador de amor. Deus é <strong>um</strong> Deus clemente. Apesar de sermosseropositivos, sabemos que Deus nos ama e se preocupa connosco.Uma vez que Ele é o nosso criador aceitámos o nosso estado e continuamosa procurá-Lo ao longo das nossas vidas. Nem as pessoas com VIH e SIDAnem Deus devem ser culpados pela doença. O amor e as obras de Deus podemser reveladas através das pessoas como nós que sofrem. Deus é <strong>um</strong>Deus de amor porque fomos criados à sua imagem e abençoados por Ele.CIRCLES OF HOPE (CÍRCULOS DA ESPERANÇA), ZÂMBIAZÂMBIASem condenaçãoL = LíderT = Todos1. Reunião das pessoasÉ tocada <strong>um</strong>a música2. Chamada para o cultoL: O Senhor diz: “Sou aquele que vos cura ... Olhai para mim esereis curados.”Amigos, estamos aqui hoje reunidos na presença de Deus Todo-Poderoso, <strong>um</strong> Deus carinhoso e piedoso. Vamos por isso, atravésda oração e louvor e cânticos, prestar culto ao Deus eterno eDeus de amor. Ámen.3. Hino de louvor4. Oração inicialL: Pai, o Vosso amor trabalha através de toda a criação. Filho deDeus, à Vossa semelhança deveremos renascer. Espírito Santo,tocais as nossas vidas com esperança. Recebei o nosso louvor;reclamai-nos para o Vosso serviço; libertai-nos para Voshonrarmos hoje.Senhor, na vossa presença reconhecemos o nosso lugar n<strong>um</strong>mundo que está cansado de dor. E na nossa época, vivemos a experiênciada dor de várias maneiras. Ao reunirmo-nos hoje, muitosestão a sofrer devido à pandemia do VIH e da SIDA. As pessoasque são portadoras do vírus estão a ser estigmatizadas. Oramos,Senhor, para que nos utilizeis como instr<strong>um</strong>entos através dos quaiso Vosso amor possa fluir para os nossos irmãos e irmãs portadoresdo vírus.Meu Deus, se tivermos estigmatizado os nossos amigos e uns aosoutros, perdoai-nos e fazei surgir novamente o amor nos nossoscorações para que possamos mostrar carinho e compaixão aosportadores do vírus.Conduzi-nos neste serviço. Que possamos sentir a verdadeirairmandade convosco e uns com os outros.Ouvi-nos em nome do Vosso Filho o nosso Senhor Jesus Cristo.Ámen.5. Oração de ConfissãoL: Meu Deus, por todas as nossas confissões de fé que foram malsucedidas quando foi para as pormos em prática, por todas as nossasafirmações de amor para convosco e uns para com os outrosque não deram em nada,T: Perdoai-nos, oramos.L: Perdoai-nos porque através da desobediênciaT: Partilhamos a violência, crueldade e estigmatização contra aquelesque se encontram entre nós e são portadores do VIH, privandoassim as pessoas da vida e esperança abundantes que dais atravésdo Vosso filho Jesus Cristo.L: Enquanto comunidade de fé no Vosso Filho, não temos mostradoa Vossa bondade para com todos os nossos irmãos e irmãs.T: Senhor, tende piedade de nós.L: Enquanto igreja, não nos amamos uns aos outros como Cristo52 IMAGENS DE DEUS
nos amou; não nos perdoamos uns aos outros como fomos perdoados;não nos entregámos ao amor e ao serviço neste mundodespedaçado.T: Confessamos o nossos pecado enquanto igreja em nome deDeus nosso Senhor. Ámen.6. Declaração de perdão:L: Amigos, em Jesus Cristo, eis a prova do maravilhoso amor deDeus: foi enquanto éramos ainda pecadores que Cristo morreupor nós. Recebei o perdão de Deus em nome de Deus Pai, DeusFilho e Deus Espírito Santo.T. Graça divina, como é agradável o som que salvou <strong>um</strong> desgraçadocomo eu; andava perdido mas agora fui encontrado, estava cegomas agora vejo.7. Oração de il<strong>um</strong>inaçãoL: Meu Deus, a Vossa palavra dá-nos vida abundante no meio dador e do sofrimento. Traz esperança nas alturas em que desesperamos.Permiti que possamos ouvir hoje a Vossa voz enquanto lemosa palavra sagrada e que esta possa trazer cura à nossa tristeza.Oremos em nome de Cristo. Ámen.8. Leitura das EscriturasJoão 8:1-119. Guia do <strong>Ser</strong>mão• Os Escribas e os Fariseus apenas trouxeram a mulher e ficamoscuriosos em saber onde estava o homem com quem elaestava a cometer adultério. A lei de Moisés exigia a execuçãode ambas as partes e não apenas da mulher (Levítico 20:10,Dueteronómio 22:22).• Os Escribas e os Fariseus também pretendiam h<strong>um</strong>ilhar amulher e estigmatizá-la. Algo de muito errado. As pessoasinfectadas com o VIH não devem ser estigmatizadas.• Alguns de nós agimos como se nunca tivéssemos pecado e pensamosque os nossos irmãos e irmãs portadores do vírus pecarammais do que nós. E contudo somos também pecadores.• Jesus não a condenou mas mostrou misericórdia e afavelmentedisse-lhe que não pecasse mais.10. OraçãoÀ sua escolha11. Hino Final12. BençãoT: Que a graça de nosso Senhor Jesus, o amor de Deus Pai e aunidade do Espírito Santo, estejam connosco hoje e para sempre.Ámen.IMAGENS DE DEUS 53
IMAGENS DE DEUS“Nele vivemos, e nosNORUEGALiturgia das Estaçõesmovemos e existimos”Este serviço de culto é o resultado de conversas tidas em Oslorelativamente à estigmatização das pessoas portadoras do VIH.Pretende-se que toda a área do culto seja <strong>um</strong> sermão e exprima<strong>um</strong>a imagem de Deus e <strong>um</strong>a visão da h<strong>um</strong>anidade.Introdução à liturgia e à preparaçãoEsta liturgia não tem <strong>um</strong>a ordem linear de culto. Durante grandeparte do serviço, os que assim o entenderem podem ir até àsvárias estações da sala. As várias estações relacionam-se com avida h<strong>um</strong>ana e o que acontece na presença de Deus que noscriou, aceitou e libertou.Este serviço de culto é bastante fora do com<strong>um</strong>, por isso é importanteque as pessoas que vão assistir ao culto estejam preparadasde antemão para que tenham <strong>um</strong>a ideia daquilo em que vãoparticipar. Esta preparação poderá realizar-se em serviços de cultoanteriores, boletins informativos da Igreja, etc. Isto é importante paraque as pessoas não se sintam excluídas ou alienadas. É igualmenteimportante definir <strong>um</strong>a ordem do dia para o serviço que expliqueo conceito que está por detrás do mesmo, bem como a sua progressão.O serviço tem alg<strong>um</strong>as semelhanças com as tradicionaisEstações da Cruz.As estações aqui mencionadas são as nossas recomendações. Deverãoestar preparadas antes do serviço. Uma vez que requeremalg<strong>um</strong> espaço, poderá acrescentar ou reduzir o número de acordocom as preferências locais e as limitações de espaço. Na maior partedos contextos, o número de estações aqui listadas não seriam praticáveis.Recomendamos, por isso, que faça <strong>um</strong>a escolha. Mas a estaçãoa que chamámos de Local de Admiração deverá ser incluída.É melhor encontrar formas de expressão locais que possamsimbolizar as várias estações.Fizemos alg<strong>um</strong>as sugestões de cores que podem ser incluídaspendurando peças de tecido na parede ou colocando-as no chão.É também possível deixar que pequenas fitas de tecido sejamestendidas desde a estação individual até ao Local de Admiração.Deverá haver <strong>um</strong>a Bíblia aberta em cada <strong>um</strong>a das estações, depreferência n<strong>um</strong>a das passagens bíblicas sugeridas. Além disso,o breve texto poderá ser escrito n<strong>um</strong>a folha de papel e serpendurado ou colocado ao lado da Bíblia. Isto fará com que sejamais fácil ver o que simboliza a estação. Não recomendamos notasem “Post-its”. Mais importante ainda: mantenha tudo simples ede modo a que consiga ser executado! O que sugerimos aquisão possibilidades, não necessidades; as condições locais e oscontextos deverão ser levados em consideração e determinarãode alg<strong>um</strong> modo o que decidiu incluir.Sugerimos também onde poderão estar posicionadas as váriasestações na sala. Estas posições são também opcionais. Outra possibilidadeé realizar todo o serviço no exterior. A entrada da “igreja”poderá ser <strong>um</strong>a espécie de área do altar. Mas não é boa ideia teralg<strong>um</strong>as estações no interior e outras no exterior. Isto pode serfacilmente interpretado como que alg<strong>um</strong>as estações são mais importantesdo que outras.Uma escola ou a entrada de <strong>um</strong>a paróquia podem ser tambémutilizadas como local de culto. A preparação para o serviço poderáser <strong>um</strong>a boa oportunidade para realizar <strong>um</strong> workshop que envolvajovens e adultos. Poder-se-á passar alg<strong>um</strong> tempo a reflectir nas estaçõese a chegada a essas estações deve ser incluída, realizandoa unidade do serviço, desenhando e fazendo as estações, e talvezencontrando <strong>um</strong>a maneira alternativa na qual introduzi-las. Poderá,por exemplo, anexar experiências pessoais e histórias a alg<strong>um</strong>as dasestações. É importante que isto seja breve.54 IMAGENS DE DEUS
As Estações• Local para agravos/queixasAmargura. Pedras. Cores escuras e vivas. Perto da entrada dosantuário. Salmo 22:2.• Local para conversaA possibilidade de descarregar fardos; confissão. Colocado n<strong>um</strong>canto da parte de trás da área de culto. Cadeiras colocadas empares. Mesas com chávenas e chá quente. Pedras com velas acesasem cima delas. Uma cor verde profunda, escura e repousante.João 3: “Nicodemos foi ter de noite com Jesus e disse-lhe...”• Local para irmandadeColocado no canto oposto da parte de trás da sala. Uma velaacesa no centro onde as pessoas se podem sentar em círculo aoredor da luz. I Coríntios 12:12-26 (v. 13); Filipenses 2:1.• Local para alegria e risoAo longo de <strong>um</strong>a das paredes exteriores. Amarelo; o palhaço;ou muitas cores, narizes vermelhos ou a imagem de <strong>um</strong> palhaço.Génesis 18:12; I Coríntios 1:27a .• Local para o corpo e a sexualidadeMassagem (pés ou mãos). Cores quentes de amor, cor-de-rosa,flores, véus preferencialmente com a forma de <strong>um</strong>a instalaçãoabstracta. Cânticos de Salomão 4:1; Lucas 7:38b .• Local de valorPérolas, estrelas, azul. De Isaías 45:3: “Dar-te-ei os tesouros escondidos,e as riquezas encobertas, para que saibas que eu sou oSENHOR, que te chama pelo teu nome.”• OásisA nascente. Na fonte baptismal, com plantas em vasos, <strong>um</strong>a árvore.Uma torneira para regar as flores; água fria para beber; <strong>um</strong>lavatório. Azul e verde. João 4:14; Baptismo de Jesus; Revelação 22vs 1 e 17; Salmo 42.1.• Local de vulnerabilidade e dorCentro, em direcção à parte de trás da área de culto. Tecido vermelhocor de sangue. A possibilidade de partilhar poesia e outrostextos. Jeremias 30:17.• Local de AdmiraçãoO local de transformação, gosto pela vida e força. No centro da áreade culto. Pão e vinho. Aqui podem estar misturadas todas as cores.• Local para oração deintercessão e para acender velasA caminho da área do altar. A oportunidade de se acenderem velase de se escreverem orações de intercessão em tiras de papel.Um vaso ou <strong>um</strong> receptáculo semelhante no qual colocar as tirasde papel. Cor da esperança. Filipenses 4:6.• Local de descansoEm frente ao altar. Cores quentes e escuras, almofadas, cobertores,colchões. Mateus 11:28.• Local de lutaPor trás do altar, de preferência ao longo da parede em direcçãoao púlpito. Posters/folhas de papel na parede nos quais escrever.Cores de batalha. Púrpura. Efésios 6:12.IMAGENS DE DEUS 55
IMAGENS DE DEUS“Nele vivemos, e nosA Liturgiamovemos e existimos”1. ProcissãoEnquanto é cantado <strong>um</strong> hino ou <strong>um</strong>a canção apropriados. Os participantestrazem pão e vinho (<strong>um</strong> pão grande), água para o oásise <strong>um</strong>a vela para cada estação. Uma pessoa para cada vela, queé transportada com as mãos em forma de concha. A procissãoavança em direcção ao altar.2. Saudação e pequeno texto da Bíblia• Actos 17:24-25; 27b-28.• As pessoas com velas vão para as suas respectivas estações aseguir à saudação ou durante a apresentação, enquanto cada<strong>um</strong>a das estações é mencionada. No último caso, as estaçõesmais próximas deverão ser mencionadas em primeiro lugar,para que a congregação possa ver que é para onde vão ostransportadores das velas, e depois as estações em direcção àparte de trás da área de culto.3. Cântico4. ApresentaçãoPalavras de abertura e descrição da sala. Crie <strong>um</strong>a sensação desegurança em relação ao que vai acontecer. A mencionar:• O direito a ser completo.• “Olhai o homem!” Arranje espaço para tudo da vida que éapoiado por Deus.• São mencionadas todas as estações, com alguém a contar <strong>um</strong>aexperiência pessoal que os liga a <strong>um</strong>a estação específica, outirando alg<strong>um</strong>as ideias do sermão apresentado no fim desta ordemsugerida de culto. Se os transportadores das velas tiveremido para as estações deles, levantam-se quando a sua estaçãofor mencionada e exibem a vela.• Diga às pessoas que podem permanecer sentadas em silêncionos seus lugares, ou ir para as estações que desejarem. Não hárazão para se ir a tantas estações quanto possível. Ouça os seussentimentos.• Anuncie se haverá a Comunhão Sagrada ou <strong>um</strong>a refeição Ágapeou talvez outra coisa a seguir às visitas às estações.• Tudo É FEITO na perspectiva de Deus, no Seu santuário, eaponta para Deus que aceita e nos criou como somos.• Oração para concluir a apresentação: “Agradecemos, meuDeus, que possamos ser pessoas completas na Vossa casa: Vós,o nosso criador; Vós, Jesus, que nos reconhece e liberta; Vós,Espírito Santo, que dá a vida e a renova dentro de nós.”5. Confissão da FéSugestão: O Credo Niceno6. MúsicaMúsica instr<strong>um</strong>ental ou cântico meditativo7. Visita às estaçõesPelo menos durante meia-hora; com música de fundo calma emeditativa, ou em silêncio se não for muito ameaçador. Se forescolhido o silêncio, poderá ser bom quebrar o silêncio duas outrês vezes com cânticos meditativos. Isto cria <strong>um</strong> sentimento deirmandade em toda a sala enquanto as pessoas visitam as váriasestações.8. Comunhão sagrada ou refeição ÁgapeEnquanto as pessoas ainda se encontram dispersas na sala, oserviço continua. As pessoas podem permanecer onde estão.- No caso da Comunhão Sagrada: o celebrante ajoelha-se juntoao pão e ao vinho na nave central perto do Local de Admiraçãoe pode começar directamente com as Palavras de Instituição: “Nanoite em que foi traído ...”• Troca do sinal da Paz: “Saudemo-nos na paz de Cristo/A paz doSenhor esteja convosco.”• A distribuição realiza-se a partir do Local de Admiração. Os quedesejarem poderão receber a Comunhão Sagrada. Pão que foiabençoado (não consagrado) poderá ser distribuído aos quenão desejarem receber a Comunhão. A distribuição poderárealizar-se em silêncio ou ser acompanhada por cânticos meditativos.9. A oração do Senhor,Bênção e DespedidaTodos se reúnem n<strong>um</strong> círculo, ou em círculos dentro de círculos.O Pai Nosso é rezado em uníssono, <strong>um</strong> pastor pronuncia aBênção.10. Cântico de saída56 IMAGENS DE DEUS
<strong>Ser</strong>mão sugeridoAqui estamos. Viemos para estar na presença Daquele que é sagrado.Virámos as nossas costas ao mundo. Ao mundo frágil, difícil,duro, injusto, s<strong>um</strong>ptuoso e maravilhoso. Estamos aqui, olhandoagradavelmente para o exterior. Mas “o mundo” não nos voltou ascostas. Ainda o carregamos connosco, dentro de nós. A frustraçãoe a raiva agitam-se debaixo da superfície. A ânsia e os insucessoscompetem <strong>um</strong> com o outro para desviarem a nossa atenção donosso encontro com Aquele que é Sagrado. Talvez o nosso corpofísico ainda se lembre das experiências da noite, muito embora onosso espírito tente esquecê-las, o orgulho pelos bons feitos deontem ameaça a h<strong>um</strong>ildade ou a vergonha sobre quem somosameaça a nossa auto-estima.Tentamos ser perfeitos e acreditar que é sinónimo de ser completo— e completo é o que devemos ser quando vamos encontrar-noscom Deus... Ou é a maneira como deveria ser? <strong>Ser</strong>completo não é aceitar toda a diversidade do bem e do mal? Nãoé dar a si próprio o direito de fazer parte da criação, mas tambémfazer parte de <strong>um</strong> mundo em luta?É quando aceitamos isto e levamos connosco para a igreja tudoo que somos enquanto seres h<strong>um</strong>anos, que se realiza o encontrocom Aquele que é Sagrado. Então arranjamos lugar para a graça, arestauração e a alegria. Tudo acontece - em Deus.Neste serviço vamos ser autorizados a ser o que somos, nomeadamente,seres h<strong>um</strong>anos. Dentro de cada <strong>um</strong> de nós há muitosquartos e hoje também há muitos “quartos” nesta casa de Deus.Alguns dias são os quartos com alegria e agradecimento quedominam o espaço dentro de nós. Se esse é hoje o seu caso, entãosiga o transportador da vela para o local de alegria e riso. Se, poroutro lado, este é <strong>um</strong> dia em que o quarto da vergonha e da raivadomina, então siga <strong>um</strong> transportador de vela diferente para o localde ofensas/queixas. Se o vosso corpo alterna entre a ânsia deser tocado e o querer descansar, então visite o local para o corpo,sexualidade e sensualidade e o local de descanso. Ou então, se seencontram n<strong>um</strong> ponto da vida em que tudo parece seco, comose vagueassem n<strong>um</strong>a paisagem estéril, então siga o transportadorda vela para a fonte de água viva ou vá até ao local de valor ondese pode erguer mais <strong>um</strong>a vez em toda a sua grandeza. Ou então,<strong>um</strong> caminho possível poderá levá-lo do sítio da conversa, ondepoderá descarregar-se do que quer que o impede de contactarcom os outros, para o local de irmandade onde recebe <strong>um</strong>a novacoragem por parte dos outros. A partir daí pode ir mais longe,para outros no local de oração de intercessão e acender velas,ou pode lançar-se violentamente para lutar pela boa vida no localde luta.Por fim, siga a estrada que vai de todas as estações para o LO-CAL DE ADMIRAÇÃO, onde erguemos as nossas mãos comoreceptáculos vazios e recebemos pão e vinho, a coragem de vivere força para sair para o mundo – juntamente com Deus.Aqui estamos a salvo. Na casa de Deus, face a face com Aquele queé sagrado, podemos ser quem somos. Tudo acontece - em Deus.Sente-se em silêncio durante <strong>um</strong> momento e sinta aquilo de queprecisa hoje. Talvez baste visitar <strong>um</strong>a estação — ou talvez queiramapenas sentar-se no banco da igreja o tempo todo. O que for correctopara você está correcto.Na casa de Deus somos livres.Em Deus vivemos, e nos movemos e existimos.IMAGENS DE DEUS 57
DINAMARCALiturgia do retiro:oração da manhãSobre a ProximidadeTodos os anos durante o Inverno, realiza-se <strong>um</strong> retiro para pessoascom VIH e SIDA e os seus entes queridos. As pessoas reúnem-separa meditarem, orarem, reflectirem e apoiarem-se – em silêncio,bem como em partilha. Este é <strong>um</strong> exemplo da liturgia partilhada.1. Hino2. Oração da manhãOremos:Senhor Deusagradecemo-Vos pela quietuden<strong>um</strong> mundo cheio de barulho e comoção.Agradecemos por estares aqui.Senhor, ide connosco para o novo diaque se estende perante nós.Não sabemos se esse dia será claro e lindoou maçador e amargo.Mas acreditamos e esperamos que sejais o Deus de amor,que ides connosco cada dia até ao fim dos tempos,sim, até ao além infinito,que nos amais e apoiais aconteça o que acontecer.Que possamos viver hoje momentos de oração.Que possamos ouvir o Vosso coração bater.Ámen!3.Leitura da BíbliaLUCAS 24:13-354. MeditaçãoPodemos seguir muitos caminhos na vida. Podemos ir pelas estradasprincipais ou pelas secundárias. Podemos apanhar atalhos oudesviar-nos. Podemos perder-nos e desnortearmo-nos. Podemoschegar a encruzilhadas e não ter ideia de que direcção escolher.Podemos seguir muitos caminhos na vida. Alguns deles apenasnos levam a becos sem saída. Outros terminam onde queremosestar. E depois há caminhos onde nunca pusemos os pés, caminhosinexplorados, o mundo de oportunidades não descobertas.Era <strong>um</strong>a vez <strong>um</strong> homem que chegou ao fim da sua viagem – oparaíso. Juntamente com o Senhor viu a vida a passar por ele. Sorriuquando viu os momentos maravilhosos e chorou quando viuos dolorosos. Mas apercebeu-se que em todos os bons momentos,havia outro conjunto de pegadas ao lado das suas, marcas de<strong>um</strong> companheiro. Mas nos maus tempos havia apenas dois pés apisarem o caminho através da vida.O homem olhou para o Senhor e perguntou acusadoramente:“Porque só estáveis comigo quando tudo era fácil e estava feliz?Porque não andáveis comigo quando as coisas eram difíceis?”O Senhor tocou na face do homem e disse: “Meu querido filho,quando a vida te era insuportável, eu não andava apenas a teulado, eu carregava-te...”Podemos seguir muitos caminhos na vida. Mas mais importantedo que os caminhos que tomamos são as pessoas que caminhamao nosso lado, os companheiros que temos ao nosso lado. JesusCristo não é apenas o nosso guia, é nosso companheiro. Passoa passo guia-nos e ajuda-nos com as nossas cargas quando sãopesadas. Suportar-nos-á e erguer-nos-á nos Seus ombros e carregar-nos-áse nos pusermos de joelhos. Ámen!5. Hino6. A pazA paz de Deus é partilhada com abraços.58 IMAGENS DE DEUS
IMAGENS DE DEUS1. HinoOração da tardeEscutarEstais aí sentadoscom feridasde sujidade e vergonhanos vossos braços com cicatrizes e nus,na vossa alma com cicatrizes e nuaContais a vossa história,contais as vossas perdaso homem que vos deixou,a criança que tivestes de deixaro venenoa inundar o vosso corpo<strong>um</strong> rio transbordanteque nada pode estancarque nunca pararáactuando furiosamenterebentando com todos os vossos diquesfrágeisQuero morrer,DizeisNão digo nadaestendam e agarremas vossas mãosas vossas mãos ásperas e irrequietas2. OraçãoTal como os Vossos discípulos no caminho para Emaúsmuitas vezes não conseguimos verque fostes Vós, Jesus, quem se juntou a nós na nossa viagem.Mas quando os nossos olhos estão abertosapercebemo-nos que fostes Vós quem nos falou o tempo todo,muito embora nos tenhamos talvez afastado de Vóse não tenhamos ouvido <strong>um</strong>a palavra do que dizíeis.Mas esta é a prova da nossa confiança em Vós:que tentamos amar e perdoarjuntamente Convosco.Apesar da nossa dúvidadevido à nossa féVós, Jesus, estais sempre aqui,o Vosso amor queimando nas profundezas dos nossos corações.Agradecemos a Deus!Ámen!3. Leitura de MeditaçãoLucas 24:13-35 é lido devagar4. Pequeno silêncioOs participantes escolhem <strong>um</strong>a palavra ou <strong>um</strong>a frase da leitura, que éespalhada como <strong>um</strong> mosaico no chão da capela.5. Silêncio6. Hino7. A Bênção de ArãoQue é lida enquanto todos dão as mãos:O Senhor nos abençoe e nos guarde. O Senhor faça resplandecer o seurosto sobre nós, e tenha misericórdia de nós. O Senhor sobre nós levanteo seu rosto e nos dê a paz! Ámen!IMAGENS DE DEUS 59
“Senhor, permanecei sempre aquiconnosco, perto de nós quando o diaamanhece e quando o sol e a luz dasestrelas desaparecem nas profundezasda escuridão da noite. Que o VossoEspírito nunca nos deixe até nosreceberdes nos céus!”Ámen!B.S. INGEMANN, NO. 366 NO LIVRO DE HINOS DINAMARQUÊS DE 1966<strong>Ser</strong>mão n<strong>um</strong> culto de retiroLucas 24:13-35DINAMARCADeus Que Nos TocaPOR CARINA WØHLKTemos tanto medo de nos tocar. E vocês que têm VIH experimentarama <strong>um</strong> alto nível este medo de proximidade do vosso corpoe alma – quando os que não estão infectados se afastaram de vósna sua ansiedade e ignorância, e quando vocês próprios afastaramos outros de vós porque tiveram medo de serem desprezados erejeitados.Temos tanto medo de nos tocar, porque o contacto físico expõea nossa fraqueza e diferença. Por isso avistamos as pessoas a certadistância em vez de as deixarmos aproximar. Evitamos envolvernoscom outros. Raramente nos atrevemos a avançar e a admitirquem somos. Isso requer sensibilidade para connosco e para comos outros – requer proximidade a Deus que nos envolve e amaalém das fronteiras da razão.Durante este retiro analisámos a natureza e a importância daproximidade. Longe da azáfama da vida diária insistimos em palavrase pensamentos. Falámos a linguagem da oração e encontrámo-nosuns aos outros em silêncio. Agora vamos percorrer <strong>um</strong>pequeno caminho com os discípulos na estrada de Emaús - paraentendermos e percebermos a proximidade divina.A história de Emaús leva-nos ao tempo e ao local – ao espaçovazio – depois da loucura do Calvário. Dois dos discípulos de Jesus,dois dos Seus amigos queridos e chegados, estão a caminho daaldeia de Emaús. Suspiram com dor enquanto caminham. Muitoembora ainda seja de dia, estão completamente às escuras. Nãoconseguem ver <strong>um</strong>a maneira de saírem da sua agonia. Porque éque Jesus, que era tão bom, teve <strong>um</strong> fim tão mau? Não tinha Eleprometido que estaria sempre ali com eles? E depois vai-se emborae abandona-os irrevogavelmente. Não percebem nada – muitomenos que Jesus estava destinado a sofrer. Não encontram sentidoalg<strong>um</strong> na loucura.Os discípulos estão perdidos. Perdem-se no sentimento deperda. Perderam <strong>um</strong>a pessoa que amavam. E perderam a fé quetinham nas Suas palavras, já não conseguem acreditar que Ele eraquem dizia ser: o libertador e o filho de Deus. Todas as esperançase expectativas deles estão desfeitas.Seguiram o homem que acreditavam ser o caminho para oParaíso - e esse caminho tornou se obviamente n<strong>um</strong> beco semsaída. Estão descontentes e abatidos. Deixaram Jerusalém comdesapontamento e descontentamento. Os r<strong>um</strong>ores são bastanteclaros de que a sepultura de Jesus se encontra vazia. Mas issoparece inacreditável, demasiado bom para ser verdade.De repente aparece <strong>um</strong> terceiro homem em cena. É o Senhorressuscitado, Jesus Cristo. Sabemos isso. Mas os discípulos não oreconhecem. Tudo o que vêem é <strong>um</strong> estranho. Não estão apenasdesiludidos, o que vêem é <strong>um</strong>a ilusão.O homem pergunta-lhes por que estão tão deprimidos. Parecemter acabado de perder o seu amigo mais próximo... Os discípulosexplicam-lhe o que aconteceu em Jerusalém durante os últimosdias. Contam-lhe todos os sonhos que tiveram que tinham ficadoagora esmagados aos pés de <strong>um</strong>a cruz.Ardente e completamente, o homem interpreta-lhes as antigasprofecias. Explica-lhes que está escrito nas Escrituras que o filhode Deus deve sofrer e depois ser levado à glória. Tenta modificar avisão a preto e branco dos discípulos do que aconteceu.Quando se aproximam da aldeia para onde vão, o estranho segueem frente como se fosse continuar. Mas os discípulos, que gostamda sua companhia e das suas palavras entusiasmadas, procurampersuadi-lo a ficar e a comer com eles. Durante a refeição, o milagreacontece. Abriram-se-lhes então os olhos.No segundo em que Jesus parte o pão, é recriada a última ceia- mas com <strong>um</strong>a diferença. Agora é claro que aquele que ofereceé também aquele que é oferecido. Jesus Cristo morreu e ressuscitou.A Sua carne e o Seu sangue são <strong>um</strong> só com o pão e o vinho.E isto é viver a irmandade, não a letra morta, que dá aos discípulosfé na ressurreição. É a companhia, não a conversa, que abre assuas mentes. Os discípulos vêm Jesus vivo em carne na estrada,mas não lhes diz nada. Ouvem-No interpretar as Escrituras, masnão ouvem. Não têm apenas o coração pesado, são duros deouvido e vagarosos na aprendizagem.É só no momento em que estão prestes a comer, no momento60 IMAGENS DE DEUS
IMAGENS DE DEUSem que são <strong>um</strong> com Jesus na refeição, que se apercebem como osofrimento e a glória andam lado a lado nesta história. A revelaçãoé mantermos os olhos abertos!Na alegria do reconhecimento, Jesus volatiliza-se. Os caminhosdeles têm de se separar, mas os discípulos já não sofrem da ansiedadeda separação. Viram-No e aperceberam-se de quem era.Identificam-No e reconhecem-No como filho de Deus. E issoliberta-os para regressarem às suas vidas e às relações com osoutros. Os discípulos paralisados tornam-se homens de acção.As condições de vida e a sua imprevisibilidade são inalteradas,mas não a fé dos discípulos. Já não estão desiludidos. Já não estãodesorientados. Podem de repente ver o significado no que aconteceu.A história da viagem a Emaús é a história de <strong>um</strong> processo desofrimento. Os discípulos viajam interior e exteriormente. Viajamda dúvida e do desespero para a fé e a acção.Quando perdemos aqueles de quem gostamos, quando as coisasse desmoronam em vez de seguirem em frente, quando osnossos corações se despedaçam e nada parecem aguentar, ficamosdominados por sentimentos de insignificância e de desespero.Somos como os dois discípulos a caminho de Emaús. Sentimo-nossozinhos e abandonados por Deus, o nosso “Porquê?” é bradadoaos céus.Mas muito embora não consigamos alcançar o significado noque não tem significado, muito embora não consigamos recriarcoerência no colapso, não somos deixados a nós próprios. Há<strong>um</strong>a maneira de sair do sofrimento. E Jesus Cristo juntar-se-á a nósnesse caminho – mesmo quando o vemos como <strong>um</strong> estranho.Arrancar-nos-á da escuridão da dúvida e do desespero. Darnos-á<strong>um</strong>a visão para que possamos ver a nossa própria situaçãoclaramente. Derramará o Seu amor e encher-nos-á de esperança.A esperança il<strong>um</strong>ina a vida. A Esperança vê as nossas vidas talcomo são – e ao mesmo tempo abre-se para a possibilidade demudança.Temos tanto medo de nos tocarmos. Mas temos <strong>um</strong> Deus quenos toca com a sua enorme bondade eterna. Ficamos tão aterrorizadoscom a proximidade. Mas temos <strong>um</strong> Deus que pretende<strong>um</strong> contacto próximo connosco; <strong>um</strong> Deus que - literalmente – semete por baixo da nossa pele, porque nos ama.Temos tanto medo de nos tocar. Mas na nossa vida e nas nossasrelações, Deus aproxima-se – muito embora não queiramos ternada a ver com Ele. Aproxima-se com <strong>um</strong> amor que atravessa asnossas fronteiras e nos esmaga com a sua força. Ámen!Querido Deus,Agradecemos por termos estado aqui presentesconvosco e uns com os outrosdurante este retiro.Oramos:Mantende os nossos corações receptivos ao amor.Mantende os nossos olhos abertospara a Vossa revelação.Mantende-nos firmes na fépois sois Senhorda vida e da morte,dos vivos e dos mortos.Vós que estais apenas à distância de <strong>um</strong>a oração,permanecei sempre ao pé de nós.Ámen.Oremos em silêncio durante <strong>um</strong> momento...Agora podem levantar-se, e com o apóstolo oremos por nóspróprios e uns pelos outros:A graça de nosso Senhor Jesus Cristo,o amor de Deus nosso Paie a unidade do Espírito Santoestejam e permaneçam com todos nós...Ámen!IMAGENS DE DEUS 61
Acender as velasDeus, criastes <strong>um</strong> mundo, sem fronteiras e divisões.Confessamos que é nossa culpa que o Vosso mundo esteja fendido e dividido.Ajudai-nos a restaurar unidade ao mundo,e uni-nos na luta para darmos a todas as pessoas com VIH as mesmas oportunidades e direitos que têm as outras pessoas.Deus, oramos por aqueles países onde as autoridades fecham os olhos à realidade do que representa o VIH e a SIDA.Dai-nos coragem para os expormos, para que mais ninguém precise de ser sacrificado no altar da negação.Acendemos <strong>um</strong>a vela pela unidade de toda a h<strong>um</strong>anidade. (Acende-se <strong>um</strong>a vela.)Deus, dai-nos coragem para trabalharmos por unidade.Deus, Vós que sois a fonte de toda a h<strong>um</strong>anidade e dignidade:Mostrai-nos a nossa responsabilidade uns para com os outros.Ajudai-nos a criar <strong>um</strong> mundo onde ninguém se aproveita do sofrimento e angústia das outras pessoas,<strong>um</strong> mundo onde os investigadores, a indústria farmacêutica e nós próprios estamos conscientes da nossa responsabilidade ética.Deus, oramos por <strong>um</strong> mundo onde a vida é o assunto principal - e não as estatísticas e o lucro.Acendemos <strong>um</strong>a vela por prioridades certas na sociedade. (Acende-se <strong>um</strong>a vela.)Deus, dai-nos discernimento para trabalharmos por justiça.Deus, Vós que nos criastes iguais independentemente da profissão, estatuto social, nacionalidade ou preferências sexuais,uni-nos sobre todas as fronteiras sociais que criámos.Oramos por todos os trabalhadores do sexo que são explorados e vivem sob pressão.Oramos por todos os que lutam pelo direito de se protegerem do VIH,que sejam ouvidos e encontrem porta-vozes poderosos e camaradas-de-armas.Acendemos <strong>um</strong>a vela por <strong>um</strong> mundo onde não existe “nós” e “eles”. (Acende-se <strong>um</strong>a vela.)Deus, dai-nos solidariedade para sermos a voz dos que não a têm.62 IMAGENS DE DEUS
Deus de amorPartilhámos convosco a nossa dor e perda.Sois a nossa esperançaNo nosso sofrimento e ânsia.Que possamos encontrar paz na crençaQue sois poderoso com os que não têm forças.Mostrai-nos que a Vossa força se pode revelarNa nossa incrível fraqueza.Vós, Senhor da falta de preconceito,ajudai-nos a criar <strong>um</strong> mundoonde ninguém precise de morrer sozinhoe onde todos possam vivercorajosamente e sem medo.Isto Vos pedimosem nome de Jesus Cristo.Ámen!Deus, servis-nos e chamastes-nos para servirmos uns aos outros sem contar com o custo.Reforçai a nossa inclinação e a nossa vontade para servimos uns aos outros.Oramos por funcionários nos sectores sociais e de saúde e por voluntários que trabalhem com pessoas portadoras de VIH.Deixai-os saber que Vos estão a servir, ó Deus, e dai-lhes resistência.Oramos pelos amigos, famílias e parceiros de pessoas com VIH, por aqueles enlutados pela SIDA.Acendemos <strong>um</strong>a vela por conforto para os que estão de luto. (Acende-se <strong>um</strong>a vela.)Deus, dai-nos compaixão para servirmos os que sofrem.Deus, criastes-nos a todos à Vossa imagem e tornastes-nos co-criadores de <strong>um</strong> mundo justo:Ajudai-nos na luta contra o preconceito, a ignorância e a estupidez,para que brevemente possamos ver os contornos de <strong>um</strong> mundo que trata todas as pessoas com VIH com respeito.Deus, permanecei perto dos que perderam o emprego, amigos, famílias e parceiros devido à sua condição com o VIH.Acendemos <strong>um</strong>a vela por <strong>um</strong> mundo com respeito pela dignidade de todos. (Acende-se <strong>um</strong>a vela.)Deus, dai-nos <strong>um</strong>a visão a partilhar com os que perderam toda a esperança.Deus, Vós que nos conheceis e sentis a nossa dor:Sabemos que nada poderá separar-nos do Vosso amor.Oramos por todas as pessoas com VIH e todos os que se encontram afectados pelo VIH e pela SIDA,que vivem com ansiedade, dor e perda.Deus, que criastes todas as pessoas à Vossa imagem, ajudai-nos a estar presentes quando outras pessoas sofrem.Acendemos <strong>um</strong>a vela por <strong>um</strong> mundo em que o sofrimento é partilhado e os fardos aliviados. (Acende-se <strong>um</strong>a vela.)Deus, dai-nos mais do Vosso amor para que possamos perceber mais profundamente a dor e a esperança que são parte do ser-se h<strong>um</strong>ano.IMAGENS DE DEUS 63
Oração no Dia Mundial da SIDAPai nosso que estais no céu,neste Dia Mundial da SIDAvimos até vós com tudoo que nos esmaga e compele.Oramos:Ficai junto de todos os Vossos filhos e filhasque têm VIH e SIDA.As crianças ficam órfãs.As mulheres ficam viúvas.Desaparecem gerações.Deus, dai-nos força para reagirmosà dimensão e ao custoda epidemia da SIDA.Erguei-nos,para que possamos sair pelo mundoe lutar contra o VIH -e contra a discriminação arrogante.Ajudai-nos a confrontara nossa própria rectidãoe as nossas falsas ideiasem relação ao VIH e àqueles que estão infectados.Abri os nossos coraçõespara a mudança e reconciliação.Na Vossa bondade, Deus,dai paz aos que morreram com SIDAe esperança aos que têm VIH.Isto Vos pedimosem nome de Jesus Cristo nosso Senhor.Ámen!64 INTRODUÇÃO
Um <strong>Só</strong><strong>Corpo</strong>“Um <strong>Só</strong> <strong>Corpo</strong>” surgiu de <strong>um</strong> grupo principal conjunto, quese reuniu em Lusaka em 2004. Da Zâmbia: Japhet Ndhlovu,Joy Lubinga, Munalula Akakulubelwa, Rose Malowa; De Moçambique:Dinis Matsolo, Elias Massicame; Da Noruega: Jan BjarneSødal, Estrid Hessellund, Steinar Eraker; Da Dinamarca: CarinaWøhlk, Birthe Juel Christensen; De EHAIA: Sue Parry.COLABORADORES DO VOLUME 2:ZÂMBIARev. Japhet Ndhlovu, Secretário-Geral do Conselho das Igrejasna Zâmbia, em colaboração com Circles of Hope (Círculosde Esperança); Joy Lubinga, Conselheiro Psico-Social, Circles ofHope (Círculos de Esperança); Ackim Sakala, Professor , ActivistaVIH, Circles of Hope (Círculos de Esperança); Bispo LucksonChibuye; Rev. Pearson Banda, VIH/SIDA, Coordenador da IgrejaReformada da ZambiaMOÇAMBIQUERev. Elias Zacarias Massicame, Coordenador Nacional do ProjectoVIH/SIDA no Conselho Cristão de Moçambique, em cooperaçãocom o Rev. Dinis Matsolo, Secretário-Geral do ConselhoCristão de MoçambiqueDINAMARCARev. Birthe Juel Christensen, DanChurchAid, Dinamarca; Rev.Carina Wøhlk, Associação Luterana Nacional da SIDA; PrebenBakbo Sloth, Activista VIH; Elizabeth Knox-Seith, SociólogaCulturalNORUEGAJan Bjarne Sødal, coordenador do Projecto sobre VIH e SIDA, oConselho Cristão da Noruega em colaboração com as pessoasafectadas pelo VIH, (reunião em Aksept - Church City MissionCentre) em Oslo; Rev. Helge Fisknes, pastor na Missão daCidade de Oslo; Rev. Steinar Eraker, antigo pastor em Aksept;Rev. Elisabeth Tveito, Membro do Conselho de Administraçãona Associação Norueguesa contra a Sida HivNorge, co-editora,com Estrid Hessellung, de Positive: Marcando, sexualidade, VIHe SIDA. Verb<strong>um</strong>, Noruega, 2005 páginas 16 à 29AGRADECEMOS A AUTORIZAÇÃO PARA AUTILIZAÇÃO DO MATERIAL NO PRESENTE VOLUME