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RPA 4 de 2012 - Embrapa

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ISSN 1413-4969Publicação TrimestralAno XXI – N o 4Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>Brasília, DFSumárioConselho editorialEliseu Alves (Presi<strong>de</strong>nte) – <strong>Embrapa</strong>Wilson Vaz <strong>de</strong> Araújo – MapaElísio Contini – <strong>Embrapa</strong>Marlene <strong>de</strong> Araújo – <strong>Embrapa</strong>Paulo Magno Rabelo – ConabBiramar Nunes <strong>de</strong> Lima – Consultorin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteHélio Tollini – Consultor in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteJúlio Zoé <strong>de</strong> Brito – Consultorin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteMauro <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong> Lopes – Consultorin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteVitor Afonso Hoeflich – Consultorin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteVitor Ozaki – Consultor in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteCaio Tibério da Rocha – MapaSecretaria-GeralRegina Mergulhão VazCoor<strong>de</strong>nadoria editorialWesley José da RochaCadastro e atendimentoCarla TrigueiroFoto da capaStudio Tachtig (www.sxc.hu)<strong>Embrapa</strong> Informação TecnológicaSupervisão editorialWesley José da RochaCopi<strong>de</strong>sque e Revisão <strong>de</strong> textoAna Luíza Barra SoaresMicla Cardoso <strong>de</strong> SouzaNormalização bibliográficaCelina Tomaz <strong>de</strong> CarvalhoIara Del Fiaco RochaProjeto gráficoCarlos Eduardo Felice BarbeiroEditoração eletrônica e capaLuiz Antonio <strong>de</strong> Faria ArantesImpressão e acabamento<strong>Embrapa</strong> Informação TecnológicaCarta da AgriculturaA crise europeia e a agricultura brasileira..........................3Eliseu AlvesDeterminantes das exportações brasileiras <strong>de</strong> etanol.........4Geraldo Moreira Bittencourt / Rosa Maria Olivera Fontes / Antônio Carvalho CamposTransações e governança na apicultura<strong>de</strong> Mato Grosso: o caso da Apisnorte..............................20Leandro José <strong>de</strong> Oliveira / Alan Santana Rauschkolb / Adriano Marcos Rodrigues FigueiredoUm mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produção para a agriculturabrasileira e a importância da pesquisa da <strong>Embrapa</strong>.........35Eliseu Alves / Geraldo da Silva e Souza / Eliane Gonçalves Gomes /Eduardo Magalhães / Daniela <strong>de</strong> Paula RochaExportação <strong>de</strong> mel: proposta metodológica para queo mel produzido em Alagoas tenha acesso a mercados...60Cícero Phillipe Alves Baracho / Ricardo Kropf Santos Fermam / Reinaldo WachaCaminhos da soja e o <strong>de</strong>senvolvimentorural no Paraná e em Mato Grosso..................................75Marines Orlandi / Ednilse Maria Willers / Jefferson Andronio Ramundo Staduto /Paulo Henrique Cezaro Eberhardt / Carlos Alberto PiacentiCarbono florestal em sistemas <strong>de</strong>integração lavoura-pecuária-floresta...................................91Ismael Martins da Silva / Kátia Katsumi ArakakiExportações <strong>de</strong> café do Espírito Santo:aplicação da metodologia VAR.....................................106Edson Zambon MonteFontes <strong>de</strong> crescimento da produção <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcare a proposição <strong>de</strong> política setorial: o caso alagoano......120Kellyane Pereira dos Anjos / Francisco José Peixoto RosárioAplicação do mo<strong>de</strong>lo da cocriação <strong>de</strong>valor no agronegócio citrícola paulista..........................131Irene Raguenet Troccoli / Joyce Gonçalves AltafPonto <strong>de</strong> VistaSustentabilida<strong>de</strong> e impactos ambientaisda agropecuária: o caso do ciclo hidrológico................147Emilson França <strong>de</strong> Queiroz


Determinantesdas exportaçõesGeraldo Moreira Bittencourt 2Rosa Maria Olivera Fontesbrasileiras3Antônio Carvalho Campos 4<strong>de</strong> etanol 1Resumo – Nos últimos anos, o etanol, representante <strong>de</strong> uma das principais alternativas energéticasrenováveis tanto para a diminuição da <strong>de</strong>pendência do petróleo quanto para a amenização dosproblemas ambientais e climáticos, tem motivado vários países a usá-lo em mistura com a gasolina.Dessa forma, tem-se verificado gran<strong>de</strong> acréscimo na <strong>de</strong>manda mundial por esse biocombustível.Nesse contexto, este trabalho se propôs a investigar os <strong>de</strong>terminantes do <strong>de</strong>sempenho das exportaçõesbrasileiras <strong>de</strong> etanol no comércio internacional <strong>de</strong>sse produto. No referencial teórico, foirealizado um estudo das teorias do comércio internacional e do termo competitivida<strong>de</strong>. Posteriormente,na metodologia analítica, foi <strong>de</strong>scrito o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Constant Market Share. Nos resultados,observa-se que o crescimento do comércio internacional do etanol e o ganho <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>foram os principais responsáveis pelo elevado <strong>de</strong>sempenho das exportações brasileiras <strong>de</strong>sse produto<strong>de</strong> 1999 a 2008, ressaltando que esses mesmos fatores foram os responsáveis pela quedado <strong>de</strong>sempenho das exportações nos anos posteriores; e revelando a gran<strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> dacompetitivida<strong>de</strong> e do comércio do etanol às condições climáticas, ao crédito interno e externo, àsvariações cambiais, à variação do preço do açúcar e ao nível da <strong>de</strong>manda interna <strong>de</strong> álcool.Palavras-chave: Brasil, comércio internacional, <strong>de</strong>sempenho, setor alcooleiro.Determinants of Brazilian exports of ethanolAbstract – In recent years, ethanol, which represents a major renewable energy alternative for boththe reduction of oil <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce and the mitigation of environmental and climate problems, hasprompted several countries to use it in combination with gasoline. Thus, there has been a greatincrease in world <strong>de</strong>mand for this biofuel. In this context, this study aims to investigate the <strong>de</strong>terminantsof the performance of Brazilian ethanol exports in international tra<strong>de</strong> of this product. In the1Original recebido em 29/6/<strong>2012</strong> e aprovado em17/8/<strong>2012</strong>.2Economista pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa, Departamento <strong>de</strong> Economia (DEE/UFV), Mestrando em Economia Aplicada pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>Viçosa, Departamento <strong>de</strong> Economia Rural (DER/UFV). E-mail: geraldo.bittencourt@ufv.br3Economista pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa, Mestre em Economia pela North Carolina State University, Ph.D. em Economia pela North Carolina StateUniversity, professora titular aposentada da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa, Departamento <strong>de</strong> Economia (DEE/UFV). E-mail: rfontes@ufv.br4Engenheiro-agrônomo pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa, Mestre em Economia Rural pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa, D.Sc. em Economia Agrícolapela Oklahoma State University, Pós-Doutor em Análise do Equilíbrio Geral Computável pela Purdue University, professor titular da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<strong>de</strong> Viçosa, Departamento <strong>de</strong> Economia Rural (DER/UFV). E-mail: accampos@ufv.br.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>4


theoretical framework, a study of the theories of international tra<strong>de</strong> and the term “competitiveness”was performed. Subsequently, in the analytical methodology, the Constant Market Share mo<strong>de</strong>l was<strong>de</strong>scribed. The results show that the growth of international tra<strong>de</strong> of ethanol and the gain in competitivenesswere the main factors responsible for the high performance of Brazilian exports of thisproduct from 1999 to 2008, noting that these same factors were the responsible ones for the <strong>de</strong>clinein export performance in later years, and revealing the extreme vulnerability of competitiveness andthe tra<strong>de</strong> of ethanol to climatic conditions, the internal and external credit, exchange rate changes,the change in the price of sugar, and the level of domestic <strong>de</strong>mand for alcohol.Keywords: Brazil, international tra<strong>de</strong>, performance, alcohol sector.IntroduçãoNo Brasil, até a década <strong>de</strong> 1970, o etanolera apenas um simples subproduto da indústriacanavieira. Contudo, essa situação mudou completamentea partir da primeira crise do petróleo.Des<strong>de</strong> então, o Brasil iniciou um processo <strong>de</strong>mudança na estrutura energética com a criaçãodo Programa Nacional do Álcool (Proálcool),que tinha o objetivo <strong>de</strong> aumentar a produção <strong>de</strong>safras agroenergéticas e a capacida<strong>de</strong> industrial<strong>de</strong> transformação, visando à obtenção <strong>de</strong> álcoolpara substituir o petróleo e seus <strong>de</strong>rivados, emespecial a gasolina (LÍRIO et al., 2006).Segundo Souza (2008), no período <strong>de</strong> duraçãodo Proálcool, <strong>de</strong> 1975 até o final da década<strong>de</strong> 1980, o governo atuou instituindo diversosincentivos para o <strong>de</strong>senvolvimento da produção<strong>de</strong> álcool combustível, que po<strong>de</strong>m ser divididosem duas partes principais: a primeira, <strong>de</strong>stinadaao estabelecimento da estrutura produtiva <strong>de</strong> álcoolno país e fomento ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>tecnologia para fabricação <strong>de</strong> carro movido aálcool; e a segunda parte, orientada para a expansãoda produção <strong>de</strong> álcool, incluindo a expansãoda área plantada <strong>de</strong> cana.Já na década <strong>de</strong> 1990, o setor passou peloprocesso <strong>de</strong> <strong>de</strong>sregulamentação com o fim dascotas <strong>de</strong> produção e liberação da comercializaçãodo álcool combustível, modificando profundamentea estrutura e o padrão <strong>de</strong> competiçãodo setor. Nesse contexto, as empresas passarama adotar estratégias ligadas à especialização, diferenciaçãoe aumento da produção <strong>de</strong> açúcar eálcool para obterem vantagens competitivas sustentáveisno mercado (PIACENTE, 2006).Além <strong>de</strong>ssas modificações na política comercial,o início do Plano Real, em 1994, e aposterior valorização do câmbio brasileiro, quedurou <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1994 a janeiro <strong>de</strong> 1999, proporcionaramaos exportadores maior acesso àimportação <strong>de</strong> máquinas, novas tecnologias einsumos produtivos a preços mais baixos. Dessaforma, a produção nacional aumentou significativamente,fazendo que produtos brasileiros,como o etanol, se tornassem mais competitivosno comércio internacional (SILVA, 2005).Segundo Nastari (2005), até 1999 as exportações<strong>de</strong> álcool eram realizadas principalmentepara o escoamento <strong>de</strong> exce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> produção,sem preocupação <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> laços comerciaiscom clientes e mercados no exterior.Uma das principais razões da regra <strong>de</strong> exportarexce<strong>de</strong>ntes era o fato <strong>de</strong> os preços <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>do etanol no mercado externo, em geral,terem sido inferiores aos preços <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>do etanol no mercado interno.A exportação <strong>de</strong> etanol, portanto, tevecomo origem a oferta. Foi assim que em 1984o Brasil exportou mais <strong>de</strong> 850 milhões <strong>de</strong> litros,viu no final da década <strong>de</strong> 1980 e início da <strong>de</strong>1990, as exportações cairem para praticamentezero e, <strong>de</strong>pois, lentamente, recuperar os volumesexportados. Porém, a realida<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong>1999 passou a ser diferente, uma vez que com amaior liberalização do câmbio e o afloramentoda competitivida<strong>de</strong> do açúcar e álcool brasileiros,conquistados durante os anos <strong>de</strong> investimentosem P&D, o etanol brasileiro passou a sercompetitivo com a gasolina a preços <strong>de</strong> mercadoe consolidou-se <strong>de</strong>finitivamente no mercado5Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


doméstico. Sendo assim, as <strong>de</strong>mandas do mercadointerno e externo passaram a crescer, e aexpansão da indústria sucroalcooleira passou aser influenciada pela <strong>de</strong>manda (NASTARI, 2005).Conforme dados da Uncomtra<strong>de</strong> (2011),após o ano 2000, o Brasil apresentou trajetóriacrescente <strong>de</strong> sua quantida<strong>de</strong> exportada <strong>de</strong> etanole já no ano <strong>de</strong> 2002 passou a ser o maiorexportador mundial <strong>de</strong>sse produto. Além disso,no período <strong>de</strong> 2006 a 2008, as exportações brasileiras<strong>de</strong> etanol representaram, em média, mais<strong>de</strong> 1% das exportações totais do país e valor superiora 36% das exportações mundiais do produto,revelando a gran<strong>de</strong> importância do etanolna pauta <strong>de</strong> exportação brasileira.Marcoccia (2007) salienta em seu trabalhoque, além do <strong>de</strong>staque na produção e exportação<strong>de</strong> álcool, o segmento alcooleiro do Brasilapresenta relevância pelo seu <strong>de</strong>sempenho positivoem relação ao Produto Interno Bruto (PIB),pela geração <strong>de</strong> divisas externas, empregos diretose progresso tecnológico.Vale ressaltar, <strong>de</strong> acordo com Souza(2008), que a partir <strong>de</strong> 2003 o crescimento da<strong>de</strong>manda por etanol foi intensificado pela gran<strong>de</strong>aceitação do consumidor em relação aos veículosflex-fuel, que usam tecnologia baseadano reconhecimento, por meio <strong>de</strong> sensores, doteor <strong>de</strong> álcool em mistura com a gasolina e noajuste automático da operação do motor para ascondições mais favoráveis <strong>de</strong> uso da mistura emquestão. Essa tecnologia resgatou a confiança nocarro movido a álcool ao oferecer ao consumidora opção <strong>de</strong> escolha pelo combustível.Outra modificação na estrutura e na dinâmicado setor, na última década, foi <strong>de</strong>correntedo maior interesse <strong>de</strong> outros países (a exemplodos EUA, Japão, China, Índia, Tailândia e UniãoEuropeia) no etanol brasileiro. Motivados principalmentepelas questões ambientais relativas aoaquecimento global (sendo uma <strong>de</strong>las o cumprimentodos compromissos <strong>de</strong>finidos pelo Protocolo<strong>de</strong> Kyoto 5 e pela insegurança do suprimento<strong>de</strong> combustíveis fósseis (diante do crescimentodo preço do petróleo), esses países têm aumentadoa importação do produto para misturá-loà gasolina. Assim, a exportação <strong>de</strong> etanol, queno início da década <strong>de</strong> 1990 – período <strong>de</strong> reestruturaçãopor causa da <strong>de</strong>sregulamentação dosetor – era praticamente zero, em 2008 foi <strong>de</strong> 5,1bilhões <strong>de</strong> litros (UNCOMTRADE, 2011).Porém, dos países que têm interesse peloaumento do consumo do etanol em mistura coma gasolina, ou já têm ações concretas visando aisso, somente alguns têm condições <strong>de</strong> serem superavitários(a exemplo <strong>de</strong> Brasil, China e França)na produção do álcool em média ou largaescala, ainda que a custos elevados. Ou seja, sãonecessários gran<strong>de</strong>s e produtivos exportadoresno setor para que não haja incerteza quanto aofornecimento seguro e regular do etanol para ospaíses importadores (PIACENTE, 2006).Adicionalmente, <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>stacar que omercado internacional <strong>de</strong> etanol é bastante volátil,pois é fortemente influenciado pelo dinamismoda economia mundial, pela taxa <strong>de</strong> câmbio,pelas barreiras tarifárias nos mercados importadorese pelos preços do petróleo. Logo, um cenário<strong>de</strong> perspectiva <strong>de</strong> aumento da <strong>de</strong>mandamundial <strong>de</strong> etanol po<strong>de</strong> tanto receber gran<strong>de</strong>impulso, caso esses fatores sejam favoráveis aessa elevação, quanto sofrer <strong>de</strong>saquecimento,caso aconteça o contrário (SOUZA, 2008).Exemplo da influência do preço do petróleono mercado <strong>de</strong> etanol foi a reação do setoralcooleiro do Brasil no ano <strong>de</strong> 2008, quanto oaumento do barril do petróleo para além dosUS$ 100 durante parte do ano foi <strong>de</strong>terminantepara a forte expansão nas exportações brasileiras<strong>de</strong> etanol no mesmo período. Segundo dados daUnião da Indústria <strong>de</strong> Cana-<strong>de</strong>-Açúcar (UNICA,2011), o total exportado cresceu 45% e passou<strong>de</strong> 3,5 bilhões <strong>de</strong> litros em 2007 para 5,1 bilhõesem 2008, tendo gerado receita também recor<strong>de</strong>15Segundo Freitas e Fredo (2005), o Protocolo <strong>de</strong> Kyoto, tratado internacional com compromissos mais rígidos para a redução da emissão dos gases que agravamo efeito estufa, entrou em vigor em fevereiro <strong>de</strong> 2005, com vários países a<strong>de</strong>quando suas legislações para estimular o uso <strong>de</strong> combustíveis renováveis.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>6


<strong>de</strong> US$ 2,39 bilhões, 62% superior à <strong>de</strong> 2007, <strong>de</strong>US$ 1,48 bilhão.Entretanto, essa forte expansão das exportaçõesbrasileiras <strong>de</strong> etanol até 2008 foi interrompidapela crise financeira que atingiu o mundoa partir <strong>de</strong> outubro do mesmo ano. Depois doestopim <strong>de</strong>ssa crise, houve gran<strong>de</strong> restrição docrédito internacional, dos financiamentos e dosinvestimentos nos variados setores da economia.Esse foi o caso do setor sucroalcooleiro brasileiroque, além dos problemas climáticos do períodoe da falta <strong>de</strong> políticas públicas para o referidosetor, passou a presenciar o endividamento dasusinas e o aumento dos custos <strong>de</strong> produção doetanol, o que resultou na queda das exportaçõesnacionais <strong>de</strong>sse produto.De acordo com dados da Unica (2011), asexportações brasileiras <strong>de</strong> etanol caíram para 3,3bilhões <strong>de</strong> litros em 2009 e para 1,9 bilhão <strong>de</strong> litrosem 2010, correspon<strong>de</strong>ndo a uma queda, relativamenteàs exportações nacionais <strong>de</strong> etanol<strong>de</strong> 2008, <strong>de</strong> 35,30% e 62,75%, respectivamente.Diante <strong>de</strong>ssa evolução do setor alcooleiroe tendo em vista a importância do etanol napauta <strong>de</strong> exportação do Brasil, torna-se relevanteavaliar os <strong>de</strong>terminantes do <strong>de</strong>sempenho dasexportações brasileiras <strong>de</strong>sse produto visando,<strong>de</strong>sse modo, fornecer subsídios para que a ativida<strong>de</strong>possa ampliar e manter sua competitivida<strong>de</strong>e espaço no mercado mundial <strong>de</strong>ssebiocombustível.De forma geral, este estudo procura analisaro <strong>de</strong>sempenho das exportações brasileiras <strong>de</strong>etanol no mercado internacional, no período <strong>de</strong>1994 a 2010. Especificamente, preten<strong>de</strong>-se avaliarquais são os principais <strong>de</strong>terminantes dasexportações brasileiras <strong>de</strong> etanol, no referidoperíodo, avaliando-se o efeito do comércio mundial,o efeito <strong>de</strong>stino das exportações e o efeitocompetitivida<strong>de</strong>.Este artigo está estruturado em quatro seções,além <strong>de</strong>sta introdução. Na seção a seguir,apresenta-se discussão teórica que fundamenta apesquisa. Na terceira, <strong>de</strong>screvem-se o método eos dados utilizados. Na quarta, expõem-se os resultados.Por fim, a última seção contém as conclusõesdo trabalho.Referencial teóricoTeorias do comércio internacionalAs teorias ligadas ao comércio internacionaliniciaram-se com a Teoria da VantagemAbsoluta <strong>de</strong> Adam Smith, em 1776. No livroA Riqueza das Nações: Investigação sobre suaNatureza e suas Causas, Smith argumentou afavor do livre comércio, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo que cadapaís <strong>de</strong>veria se especializar na produção daqueleproduto para o qual possuísse vantagem absolutasobre os <strong>de</strong>mais. Isto é, para Smith, um paíspossui vantagem absoluta na produção <strong>de</strong> umbem quando ele po<strong>de</strong> produzir uma unida<strong>de</strong><strong>de</strong> tal bem utilizando menos trabalho que outropaís e, <strong>de</strong>ssa forma, realiza o comércio internacional(CARVALHO; SILVA, 2000).Em 1817, David Ricardo publicou a obraOs Princípios da Economia, Política e Tributaçãoe, aprimorando o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Adam Smith,propôs a Teoria da Vantagem Comparativa. Elapreconizou que um país teria vantagem comparativana produção <strong>de</strong> um bem quando tivessemenor custo <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> na sua produção.Assim, um país po<strong>de</strong> ter vantagem absoluta naprodução <strong>de</strong> todos os bens, no senso do menorcusto do trabalho, mas não po<strong>de</strong> ter vantagemcomparativa em todos os bens, no senso do menorcusto <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> (KRUGMAN; OBS-TFELD, 2001).De acordo com Salvatore (2000), para DavidRicardo o comércio internacional e os ganhosdo comércio seriam possíveis pela diferença doscustos relativos ou comparativos <strong>de</strong>rivados daprodutivida<strong>de</strong> do trabalho, ou seja, cada paísse especializa em ativida<strong>de</strong>s produtivas em quesua produtivida<strong>de</strong> comparada (relativa) é maiselevada.No século 20, com o objetivo <strong>de</strong> estabeleceralguns princípios que permitissem instituiro padrão <strong>de</strong> comércio entre os países, foi <strong>de</strong>sen-7Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


volvida a Teoria da Dotação Relativa <strong>de</strong> Fatores,também chamada <strong>de</strong> Teoria Mo<strong>de</strong>rna do ComércioInternacional, <strong>de</strong>senvolvida pelos economistassuecos Eli Filip Hecksher e Bertil Ohlin(KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).Essa teoria da dotação relativa <strong>de</strong> fatoresse fundamenta em duas proposições: a primeira,chamada Teorema <strong>de</strong> Hecksher-Ohlin, afirmaque os países possuem tecnologias idênticas, masdiferem entre si na disponibilida<strong>de</strong> dos fatores <strong>de</strong>produção. Dessa forma, cada país se especializae exporta o bem que requer utilização maisintensiva <strong>de</strong> seu fator <strong>de</strong> produção abundante,ou seja, um país teria vantagem comparativa naprodução do bem que utilizasse intensamente ofator <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> maior abundância no país(KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).A segunda proposição, chamada <strong>de</strong> Teoremada Equalização do Preço dos Fatores, refere-seao efeito do comércio internacional sobre a remuneraçãodos fatores <strong>de</strong> produção em cada país.Segundo sua dimensão externa, sob certas condições,o livre comércio <strong>de</strong> bens finais será suficientepara a equalização dos preços dos fatoresinternacionalmente. Já em sua dimensão interna,o teorema afirma que, com o preço constantedas mercadorias, uma pequena mudança na dotação<strong>de</strong> um fator <strong>de</strong> produção não afetará o preçodos fatores (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).Na sequência, foi lançado o Teorema Stolper-Samuelson,preconizando que o crescimentono preço relativo <strong>de</strong> uma mercadoria aumentao retorno real ao fator usado intensivamente naprodução <strong>de</strong>ssa mercadoria e reduz o retorno dooutro fator (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).Já o Teorema <strong>de</strong> Rybczynski afirmou que,se o preço <strong>de</strong> um produto for fixo, um aumentona dotação <strong>de</strong> um fator acarreta um crescimentomais que proporcional na produção da mercadoriaque usa o fator relativamente <strong>de</strong> formaintensiva e uma queda absoluta da produçãoda outra mercadoria (KRUGMAN; OBSTFELD,2001).Os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> <strong>de</strong>fasagem tecnológica e <strong>de</strong>ciclo do produto são consi<strong>de</strong>rados extensões dinâmicasdo mo<strong>de</strong>lo estático <strong>de</strong> Hecksher-Ohlin.De acordo com Carvalho e Silva (2000), essesmo<strong>de</strong>los esboçam uma gran<strong>de</strong> parte do comércioentre os países industrializados baseando-sena introdução <strong>de</strong> novos produtos e novos processos<strong>de</strong> produção, que conce<strong>de</strong>m à naçãoinovadora o monopólio temporário do mercadomundial, que é baseado em patentes e direitosautorais, concedidos para estimular o fluxo dasinvenções.Nesse contexto <strong>de</strong> evolução <strong>de</strong> teorias,surge um novo paradigma da competição <strong>de</strong>nominadoTeoria da Vantagem Competitiva. Krugman(1991) <strong>de</strong>senvolve a Teoria da VantagemCompetitiva, na qual os padrões <strong>de</strong> comércio ea competitivida<strong>de</strong> internacional são o resultadoda especialização arbitrária baseada em rendimentoscrescentes, não somente das vantagenscomparativas. Segundo a teoria, os retornos crescentes<strong>de</strong> escala são uma das mais importantesforças que atraem os produtores para essasregiões, o que contribui para a conformação efortalecimento <strong>de</strong>sses sistemas e arranjos locais<strong>de</strong> produtores concentrados.Posteriormente, novas teorias do comércio<strong>de</strong>senvolveram explicações dos padrões <strong>de</strong>comércio internacional e da vantagem competitivacom base nas interações estratégicas dasempresas e dos governos. Essas teorias enfatizama importância do <strong>de</strong>senvolvimento tecnológicopara o <strong>de</strong>senvolvimento econômico, para a localizaçãoespacial da ativida<strong>de</strong> econômica e para acompetitivida<strong>de</strong> internacional (NAKANO, 1994).É nesse cenário que surge a Teoria do ComércioEstratégico, <strong>de</strong>senvolvida por Krugman(1991), que modifica a teoria convencional <strong>de</strong>Hecksher-Ohlin ao enfatizar que as firmas e osgovernos po<strong>de</strong>m melhorar sua balança comerciale seu bem-estar mediante sua atuação estratégicaem mercados globais imperfeitos. Essateoria <strong>de</strong>staca a importância da pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento(P&D) e das economias <strong>de</strong> escalana <strong>de</strong>terminação dos padrões do comércio, incorporandoa concorrência imperfeita.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>8


Segundo Silva (2005), a teoria estratégica<strong>de</strong> comércio internacional incorpora, em mo<strong>de</strong>losrigorosos, alguns elementos da nova realida<strong>de</strong>mundial e explica aspectos dos padrões<strong>de</strong> comércio observados nas últimas décadas,como o gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong> comércio intraindustriale a crescente participação das empresasmultinacionais no comércio mundial.O comércio mundial atual ocorre entrenações com dotações <strong>de</strong> fatores não similares,e a maior parte do comércio é do tipo intraindustrial.A estratégia mais a<strong>de</strong>quada para as empresasdiante da competição mundial é a <strong>de</strong> seespecializar e se concentrar na produção e comercialização<strong>de</strong> bens em que tenha eficiência,ou começar a produzir bens próximos à sua ativida<strong>de</strong>principal, em vez <strong>de</strong> transferir para outraindústria (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).O comércio intraindústria é o comércioentre indústrias do mesmo tipo ou mesmo setor;por exemplo, indústrias <strong>de</strong> manufaturas dopaís local que comercializam manufaturas como país estrangeiro. Esse tipo <strong>de</strong> comércio nãoestá relacionado com o conceito <strong>de</strong> vantagenscomparativas, isto é, mesmo se os países possuíssema mesma razão <strong>de</strong> fatores, haveria comercializaçãoentre eles. Isso acontece porqueas economias <strong>de</strong> escala <strong>de</strong> cada país evitam quecada país produza sozinho a gama total <strong>de</strong> seusprodutos (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).Enfim, a evolução teórica do comércio internacionalcomplementa o fundamento inicialdas vantagens comparativas e mostra que só atécerto ponto o padrão <strong>de</strong> comércio internacionalé <strong>de</strong>terminado pelos gostos (preferências), pelastecnologias e pelos recursos dos países. Apesardo notável <strong>de</strong>senvolvimento teórico observadonas vertentes apresentadas, explicativas do padrão<strong>de</strong> comércio internacional, ainda não setem uma total comprovação com respeito aosseus <strong>de</strong>terminantes (GUIMARÃES, 1997).Compreen<strong>de</strong>ndo a competitivida<strong>de</strong>Existe vasta literatura que discute o conceito<strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>, que, apesar <strong>de</strong> aparentementetrivial, ainda é um conceito virtualmentein<strong>de</strong>finido. Dada a complexida<strong>de</strong> do assunto,quando o termo competitivida<strong>de</strong> é utilizado, éenvolvida uma imensidão <strong>de</strong> variáveis, fato querequer a especificação do contexto no qual estásendo trabalhado. Po<strong>de</strong> se referir à competitivida<strong>de</strong>entre empresas, em <strong>de</strong>terminados setoresprodutivos, numa <strong>de</strong>terminada nação, entre nações,no curto ou no longo prazo, ex ante ou expost, etc. Enfim, a diversida<strong>de</strong> do assunto obrigaa dar um foco à análise, para que, <strong>de</strong>ssa forma,não ocorra o equívoco <strong>de</strong> utilizar o termo numsentido tão genérico a ponto <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r seu significadoou relevância (VENÂNCIO, 2008).A maior parte dos estudos costuma tratara competitivida<strong>de</strong> como fenômeno diretamenterelacionado às características <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhoou <strong>de</strong> eficiência técnica e alocativa apresentadaspor empresas e produtos, e consi<strong>de</strong>rar a competitivida<strong>de</strong>das nações como a agregação <strong>de</strong>ssesresultados (FERRAZ et. al. 1995).A competitivida<strong>de</strong> revelada é vista como<strong>de</strong>sempenho e é expressa pela participação nomercado (market share) alcançada por uma firma/paísem um mercado em certo momento. Aparticipação das exportações da firma ou conjunto<strong>de</strong> firmas (indústria ou nação) no comérciointernacional total da mercadoria aparece comoseu indicador mais imediato. Em outras palavras,trata-se <strong>de</strong> uma visão ex post, em que acompetitivida<strong>de</strong> do país ou empresa é avaliada<strong>de</strong> acordo com sua atual posição nos mercadosdoméstico e internacional, limitando-se, <strong>de</strong>ssaforma, à análise estática da competitivida<strong>de</strong>(HAGUENAUER, 1989).Uma sofisticação na medida da competitivida<strong>de</strong>como <strong>de</strong>sempenho consiste na suaobtenção por resíduo, <strong>de</strong>scontando-se, do crescimentoefetivamente observado das exportaçõesespecíficas <strong>de</strong> um produto/país, o efeitoconjuntura internacional (taxa <strong>de</strong> crescimentodo comércio mundial); o efeito competitivida<strong>de</strong>(evolução da participação nos diversos mercados,em razão da competitivida<strong>de</strong> do produto); eo efeito mercado (evolução das importações dospaíses <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino) (FRANCHINI, 2006).9Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Já a competitivida<strong>de</strong> potencial é vistacomo eficiência e é <strong>de</strong>terminada pela relaçãoinsumo-produto praticada pela firma, isto é, acapacida<strong>de</strong> da empresa <strong>de</strong> converter insumosem produtos com o máximo <strong>de</strong> rendimento. Osindicadores são buscados em comparativos <strong>de</strong>custos e preços, coeficientes técnicos ou produtivida<strong>de</strong>dos fatores, em termos das best practicesverificadas na indústria internacional. Ou seja,essa busca compreen<strong>de</strong> uma análise ex ante, emque a competitivida<strong>de</strong> reflete o grau <strong>de</strong> capacitação<strong>de</strong>tido pelas firmas, que se traduz nas técnicaspor elas praticadas (HAGUENAUER, 1989).Para Porter (1993), o fortalecimento da posiçãocompetitiva <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da implementação<strong>de</strong> estratégias genéricas <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>três dimensões:• Li<strong>de</strong>rança no custo total – custo baixoem relação aos concorrentes é o temacentral <strong>de</strong> toda a estratégia.• Diferenciação – criação <strong>de</strong> projeto ouimagem da marca, tecnologia, peculiarida<strong>de</strong>s,serviços sob encomenda, re<strong>de</strong><strong>de</strong> fornecedores, ou outras dimensõesque sejam consi<strong>de</strong>radas únicas.• Enfoque – capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r seualvo estratégico mais eficientemente doque os concorrentes que estão competindo<strong>de</strong> forma mais ampla.Quanto ao enfoque, as empresas <strong>de</strong>vemescolher se vão atuar orientadas para um alvoamplo (mercado mundial ou nacional) ou estreito(mercados locais ou regionais). As estratégias<strong>de</strong> enfoque po<strong>de</strong>m ser aplicadas em um ou maisprocessos operacionais, como o suprimento <strong>de</strong>insumos ou matérias-primas; a produção agropecuáriaou industrial; e as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> marketing,vendas e distribuição (PORTER 1993).A li<strong>de</strong>rança em custo é essencial no agronegócio,pois boa parte dos produtos é classificadacomo commodities, que requerem amplovolume <strong>de</strong> operação para obter ganhos nas economias<strong>de</strong> escala e <strong>de</strong> escopo e, assim, reduziros custos unitários <strong>de</strong> produção e distribuição.É importante <strong>de</strong>stacar a diferenciação comocontribuinte para o aumento do valor agregadodos produtos e serviços do agronegócio e paraa abertura <strong>de</strong> novos mercados (WEDECKIN,2002).Conforme Ferraz et al. (1995), os novos <strong>de</strong>safioscompetitivos do grupo commodities são:associar parâmetros energéticos e ambientaisao uso da base <strong>de</strong> recursos naturais; incentivara infraestrutura <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> novas varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sementes, <strong>de</strong> novas técnicas<strong>de</strong> cultivo ou, ainda, <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> safras;dispor <strong>de</strong> logística a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> movimentação<strong>de</strong> produtos; atuar em condições <strong>de</strong> maior concorrência;fortalecer o porte empresarial; e internacionalizaras operações.Gonçalves (1996) <strong>de</strong>staca que o aumentodos riscos e incertezas, no que se refere àinternacionalização das transações, repercutediretamente nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exportação e importaçãoe, como resultado, afeta a composiçãoe os níveis <strong>de</strong> produção, emprego e investimentoe a competitivida<strong>de</strong>. O nível geral <strong>de</strong> preçospo<strong>de</strong> ser também afetado pela volatilida<strong>de</strong>e pelo <strong>de</strong>salinhamento cambial na medida emque os agentes econômicos fazem reajustes <strong>de</strong>preços para compensar o risco cambial.Para Bielschowsky e Stumpo (1996), nocurto prazo uma das variáveis cruciais da competitivida<strong>de</strong>internacional continua sendo a taxa<strong>de</strong> câmbio, plano em que sobram divergências(fora e <strong>de</strong>ntro dos governos). No longo prazo,o aumento da produtivida<strong>de</strong> e da qualida<strong>de</strong> naprodução industrial é essencial para a competitivida<strong>de</strong>internacional, contribuindo para melhoresresultados na balança comercial; por outrolado, se a <strong>de</strong>svalorização da taxa <strong>de</strong> câmbiofor menor, a estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preços será maior.Consequentemente, sempre que uma política <strong>de</strong>competitivida<strong>de</strong> industrial pu<strong>de</strong>r ajudar a fortalecera produtivida<strong>de</strong> e a qualida<strong>de</strong> da indústria,ela será elemento <strong>de</strong> política <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong>macroeconômica.No plano doméstico, é fundamental assegurarcoor<strong>de</strong>nação e consistência entre as diversaspolíticas <strong>de</strong> construção da competitivida<strong>de</strong>.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>10


Para Coutinho e Ferraz (1994), a intervenção doEstado, baseada em instrumentos <strong>de</strong> proteção ena concessão indiscriminada <strong>de</strong> subsídios fiscaise financeiros à exportação, <strong>de</strong>ve evoluir em direçãoà coor<strong>de</strong>nação e ao fomento estruturante,com ênfase na difusão das inovações técnicas,organizacionais e financeiras e na capacitaçãotecnológica das empresas.Por fim, po<strong>de</strong>-se afirmar que a relevânciado comércio internacional e da competitivida<strong>de</strong>para a economia <strong>de</strong> um país é fundamental,pois po<strong>de</strong> proporcionar condições favoráveis aocrescimento econômico da nação e aumentar aeficiência na alocação <strong>de</strong> recursos.MetodologiaMo<strong>de</strong>lo Constant Market share (CMS)Em estudos sobre o <strong>de</strong>sempenho das exportaçõese seus <strong>de</strong>terminantes, são frequentementeutilizadas análises do tipo Constant MarketShare (CMS), pois essa técnica permite avaliar aparticipação <strong>de</strong> um país no fluxo mundial <strong>de</strong> comércio<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado produto, <strong>de</strong>sagregandoas tendências <strong>de</strong> crescimento das exportações<strong>de</strong> acordo com os seus <strong>de</strong>terminantes.Segundo Leamer e Stern (1976), o mo<strong>de</strong>loCMS consi<strong>de</strong>ra o produto homogêneo no mercadoanalisado, e a i<strong>de</strong>ia básica do mo<strong>de</strong>lo é a<strong>de</strong> que a participação <strong>de</strong> um país no comérciointernacional permanece constante no tempo;as alterações na participação dos países e/ou regiõesno comércio internacional são explicadaspela competitivida<strong>de</strong> e associadas às variaçõesnos preços relativos.A <strong>de</strong>rivação dos componentes do mo<strong>de</strong>lo<strong>de</strong> market share é feita tomando-se como baseuma função <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda, que expressa a relaçãoprevalecente em dado mercado quanto ao volumeadquirido <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada commodity emduas fontes competitivas (Leamer e Stern, 1976).Essa função po<strong>de</strong> ser expressa da seguinte forma:Q ie P i, i = (1,2), representam as quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>mandadase o preço da commodity a partir dai-ésima fonte <strong>de</strong> oferta (ou país exportador), respectivamente.Tal relação po<strong>de</strong> ser reconhecidacomo a forma básica da elasticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> substituição,po<strong>de</strong>ndo ser alterada por meio <strong>de</strong> suamultiplicação pelos preços relativos (P 1/P 2).A igualda<strong>de</strong> (1), por sua vez, implica a seguinterelação:Isso implicacom g’ < 0.(1)(2)A equação (3) indica que a participação<strong>de</strong> mercado ou o market share do país 1 nãose altera, a menos que os preços relativos (P 1/P 2)venham a alterar-se. Se o preço relativo (P 1/P 2)aumenta, dado que g' < 0, a participação relativado país 1 no mercado ten<strong>de</strong> a reduzir-se; casocontrário, se o preço relativo diminui, a participaçãorelativa <strong>de</strong>sse país no mercado mundial<strong>de</strong>sse produto ten<strong>de</strong> a aumentar.De acordo com Leamer e Stern (1976),essa proposição estabelece a base para <strong>de</strong>rivara expressão da norma <strong>de</strong> participação constante.A diferença entre o estimado crescimentodas exportações, calculado com base na participaçãoconstante, e o seu crescimento efetivo éassociada a uma mudança nos preços relativos.Tal diferença é i<strong>de</strong>ntificada como “efeito competitivida<strong>de</strong>”.Assim, quando uma região <strong>de</strong>ixa<strong>de</strong> manter sua parcela no mercado mundial, otermo competitivida<strong>de</strong> é negativo e indica preçosaumentando para a região em questão, emproporção maior que os preços <strong>de</strong> seus com-(3)11Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


petidores. Esse efeito residual está relacionadocom mudanças nos preços relativos, ou seja,os importadores ten<strong>de</strong>m a substituir o consumodos bens cujos preços se elevaram pelo consumodaqueles com preços menores, em termosrelativos.O percentual da mudança que po<strong>de</strong> serexplicada pelo crescimento do mercado globale o percentual da alteração relacionada à estruturae evolução dos mercados importadores doproduto exportado pelo país 1 constituem a diferençaentre o <strong>de</strong>sempenho efetivo e o calculado,<strong>de</strong> acordo com a pressuposição <strong>de</strong> participaçãoconstante.No <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> todas as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<strong>de</strong>scritas anteriormente, consi<strong>de</strong>rou-se umasituação em que o país exporta uma única mercadoriae que ela <strong>de</strong>stina-se a um único comprador(país/região/resto do mundo).Essa técnica permite <strong>de</strong>compor o crescimentodas exportaçõesem três componentes e avaliar a contribuição <strong>de</strong>cada um <strong>de</strong>sses fatores para explicar o crescimentodas exportações:(4)V' j= valor das exportações <strong>de</strong> etanol dopaís em foco para o mercado j, no período 2;V j= valor das exportações <strong>de</strong> etanol dopaís em foco para o mercado j, no período 1;(V' j- V j) = crescimento efetivo do valor dasexportações <strong>de</strong> etanol do país em foco para omercado j;= porcentagem <strong>de</strong> crescimentodo valor das exportações mundiais <strong>de</strong> etanolpara o mercado j, entre os períodos 1 e 2;X mj= valor das exportações mundiais <strong>de</strong> etanolpara o mercado j, no período 1, excluídasas exportações do país em foco;X' mj= valor das exportações mundiais <strong>de</strong> etanolpara o mercado j, no período 2, excluídas as exportaçõesdo país em foco;X m= valor das exportações mundiais <strong>de</strong> etanolno período 1; eX' m= valor das exportações mundiais <strong>de</strong> etanolno período 2.A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> (4) po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sagregada,por sua vez, em três componentes, resultandona seguinte expressão:(a) (b) (c)De acordo com a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> (5), o crescimentodas exportações <strong>de</strong> etanol do país emfoco po<strong>de</strong> ser explicado pelos seguintes efeitos:(5)1) Efeito do crescimento do comérciomundial:Representa o crescimento percentual que seriaobservado caso as exportações do país crescessemproporcionalmente ao comércio mundial.Esse efeito indica a expansão dos mercados-alvo;portanto, é um fator exógeno.2) Efeito <strong>de</strong>stino das exportações:= porcentagem <strong>de</strong> crescimentodo valor das exportações mundiais <strong>de</strong> etanol,entre os períodos 1 e 2;Representa os ganhos (perdas), em termosda porcentagem <strong>de</strong> crescimento, em razão doAno XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>12


fato <strong>de</strong> as funções das exportações serem direcionadasa países que apresentaram importações ataxas superiores (inferiores) à média do mercadomundial do produto em estudo; ou seja, o efeito<strong>de</strong>stino refere-se ao aquecimento dos mercadosalvo,sendo um fator externo à nação. Esse efeitoserá positivo se as exportações estiverem concentradasem mercados que experimentaram maiordinamismo nas importações no período analisado;e negativo se as exportações se concentraremem regiões estagnadas.3) Efeito competitivida<strong>de</strong>:Representa, em termos <strong>de</strong> porcentagem <strong>de</strong>crescimento, os ganhos (perdas) em participaçãonos mercados <strong>de</strong> cada país, em razão da competitivida<strong>de</strong>do produto, po<strong>de</strong>ndo ser em termos<strong>de</strong> preços e/ou custos ou ainda em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>melhorias na qualida<strong>de</strong> do produto, processotecnológico ou também condições dos financiamentos.Logo, esse efeito é endógeno, pois é <strong>de</strong>terminadopor fatores internos às nações. Se umpaís <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> manter sua parcela no mercadomundial, o termo competitivida<strong>de</strong> torna-se negativoe indica preços aumentando para o paísem questão, em proporção maior que <strong>de</strong> seusconcorrentes.Nessa metodologia, é necessário que sei<strong>de</strong>ntifiquem períodos para se fazer uma análisecomparativa entre pontos discretos no tempo.A subdivisão em períodos, segundo Sereia et al.(2002), permite i<strong>de</strong>ntificar com mais profundida<strong>de</strong>as influências e as alterações internas direcionadaspara os setores exportadores no comérciomundial.Os períodos selecionados para a análiseCMS <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>finidos com base em <strong>de</strong>staquerelevante para o setor, refletindo em suasexportações. Nesse caso, no presente estudo,consi<strong>de</strong>rou-se como relevante para análise dacompetitivida<strong>de</strong> das exportações <strong>de</strong> etanol doBrasil, no comércio internacional, o período apósa implantação do Plano Real (<strong>de</strong> 1994 a 1998);o período <strong>de</strong> 1999 a 2003, marcado principalmentepela <strong>de</strong>svalorização cambial; o período<strong>de</strong> 2004 a 2008, caracterizado pela vigência doProtocolo <strong>de</strong> Kyoto e pela valorização cambial;e o intervalo <strong>de</strong> 2008 a 2010, afetado pela crisefinanceira <strong>de</strong> 2008.Fonte <strong>de</strong> dadosOs dados utilizados neste trabalho sãoreferentes ao período <strong>de</strong> 1994 a 2010 e foramobtidos da seguinte fonte: United Nations CommodityTra<strong>de</strong> Statistics Database (UNCOMTRA-DE). Desse banco <strong>de</strong> dados das Nações Unidasforam retiradas as séries anuais <strong>de</strong> exportaçãoe importação brasileira <strong>de</strong> etanol (pela classificação2207 do Sistema Harmonizado: ÁlcoolEtílico Não Desnaturado e Álcool Desnaturado),além dos dados referentes às exportações e importaçõesmundiais totais <strong>de</strong> etanol. Os valoresFOB (Free on Board) das exportações e importaçõesestão expressos em dólares (US$).Resultados e discussãoO mo<strong>de</strong>lo foi adotado com o objetivo <strong>de</strong>estudar o <strong>de</strong>sempenho e os <strong>de</strong>terminantes dasexportações <strong>de</strong> etanol do Brasil no comérciomundial. A análise foi feita por meio da <strong>de</strong>composiçãodo crescimento das exportações em trêscomponentes: crescimento do comércio mundial– incremento observado quando as exportaçõesdo país em foco cresceram na mesmaproporção <strong>de</strong> crescimento que a do comérciomundial; efeito <strong>de</strong>stino das exportações – mudanças<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> exportações <strong>de</strong> produtospara mercados <strong>de</strong> crescimento mais ou menosdinâmicos; e efeito competitivida<strong>de</strong> – resultante<strong>de</strong> ganhos ou perdas <strong>de</strong> participação nos diversosmercados.No período <strong>de</strong> 1994 a 1998, após a implementaçãodo Plano Real, a utilização da âncoracambial proporcionou a estabilização <strong>de</strong> preçosdomésticos; porém, em relação ao comportamentodas contas externas, verificou-se que avalorização cambial, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong>ssa estraté-13Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


gia, resultou na redução das exportações e noaumento das importações totais. Em relação àsexportações <strong>de</strong> etanol, ocorreu queda tanto nasexportações mundiais quanto na participaçãodo Brasil nesse setor do mercado internacional,conforme valores <strong>de</strong>scritos na Tabela 1.A taxa anual média <strong>de</strong> crescimento dasexportações brasileiras <strong>de</strong> etanol foi negativa,-20,31%, <strong>de</strong>créscimo que também ocorreu nasexportações mundiais do produto (taxa anualmédia <strong>de</strong> -0,87%). Constatou-se então que noperíodo <strong>de</strong> 1994 a 1998 o elevado <strong>de</strong>créscimoefetivo das exportações brasileiras <strong>de</strong> etanol foiexplicado pela queda no comércio mundial doproduto e, em maior parte, pela perda <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>,revelada pelo valor negativo doefeito competitivida<strong>de</strong> (-102,88%).Essa gran<strong>de</strong> queda na competitivida<strong>de</strong>do etanol brasileiro <strong>de</strong>veu-se principalmente àvalorização cambial nesse período, pois, com avalorização da sua moeda, o Brasil passou a ter<strong>de</strong>svantagens em relação aos <strong>de</strong>mais exportadores,por ofertar etanol no mercado internacionala um maior preço relativo. Já o efeito <strong>de</strong>stinoapresentou-se positivo em 8,63%, indicandoque as exportações do biocombustível brasileiroficaram concentradas em mercados queexperimentaram maior dinamismo no períodoanalisado.No período <strong>de</strong> 1999 a 2003, marcado pelaliberação total dos preços do setor sucroalcooleiroem 1999 e pelas crises estrangeiras no mercadointernacional (crise russa e crise mexicana),que resultaram em pressão para a <strong>de</strong>svalorizaçãocambial, observou-se que as exportações<strong>de</strong> etanol apresentaram maior crescimento nocomércio internacional. Dessa forma, <strong>de</strong> acordocom a Tabela 2, a taxa anual média <strong>de</strong> crescimentodas exportações brasileiras <strong>de</strong> etanol foi<strong>de</strong> 24,45%, quase o dobro da taxa anual média<strong>de</strong> crescimento das exportações mundiais, queobteve o valor <strong>de</strong> 13,54%.Os resultados da Tabela 2 evi<strong>de</strong>nciamtambém que <strong>de</strong> 1999 a 2003 o crescimento efetivodas exportações <strong>de</strong> etanol <strong>de</strong>veu-se principalmenteao efeito competitivida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> 57,49%,além <strong>de</strong> ter sido beneficiado pelo aquecimentodas exportações mundiais do produto, reveladoTabela 1. Taxas <strong>de</strong> crescimento das exportações brasileiras e mundiais, e fontes <strong>de</strong> crescimento das exportaçõesbrasileiras <strong>de</strong> etanol, em dólares, <strong>de</strong> 1994 a 1998.Exportações(US$)Crescimento(%)Exportações <strong>de</strong> etanol em 1998 35.602.344,00Exportações <strong>de</strong> etanol em 1994 88.298.448,00Fontes <strong>de</strong> crescimento no períodoCrescimento efetivo -52.696.104,00 -100,00Efeito do comércio mundial -3.032.192,52 -5,75Efeito <strong>de</strong>stino das exportações 4.548.533,57 8,63Efeito competitivida<strong>de</strong> -54.212.445,05 -102,88Taxa <strong>de</strong> crescimentoanual médiaExportações do país -20,31Exportações mundiais -0,87Fonte: dados da pesquisa.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>14


Tabela 2. Taxas <strong>de</strong> crescimento das exportações brasileiras e mundiais, e fontes <strong>de</strong> crescimento das exportaçõesbrasileiras <strong>de</strong> etanol, em dólares, <strong>de</strong> 1999 a 2003.Exportações(US$)Crescimento(%)Exportações <strong>de</strong> etanolem 2003Exportações <strong>de</strong> etanolem 1999158.016.401,0065.880.152,00Fontes <strong>de</strong> crescimento no períodoCrescimento efetivo 92.136.249,00 100,00Efeito do comércio mundial 43.597.361,80 47,32Efeito <strong>de</strong>stino das exportações -4.432.042,03 -4,81Efeito competitivida<strong>de</strong> 52.970.929,23 57,49Taxa <strong>de</strong> crescimento anual médiaExportações do país 24,45Exportações mundiais 13,54Fonte: dados da pesquisa.pelo efeito do comércio mundial, que atingiuo valor <strong>de</strong> 47,32%. Porém, o efeito <strong>de</strong>stino dasexportações apresentou sinal negativo, -4,81%,indicando necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mercados-alvo maisdinâmicos, ou, por outro lado, fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> políticasinternas direcionadas à conquista <strong>de</strong> novosmercados e divulgação do setor no exterior.A elevada competitivida<strong>de</strong> do etanol brasileirotambém foi confirmada em trabalho realizadopor Lirio et al. (2007). Nele, ao analisarem-seas exportações brasileiras <strong>de</strong> açúcar e etanol, noperíodo <strong>de</strong> 1990 a 2004, obtiveram-se resultadosque evi<strong>de</strong>nciam que tanto o açúcar quantoo etanol foram competitivos no mercado internacionale que o <strong>de</strong>sempenho das exportações<strong>de</strong> etanol apresentou-se melhor, se comparadoao do açúcar.O período <strong>de</strong> 2004 a 2008, além <strong>de</strong> sercaracterizado pelo crescimento econômico internacional,foi o período em que a preocupaçãocom o clima, com o meio ambiente e com asfontes <strong>de</strong> energia renováveis passaram a ter gran<strong>de</strong><strong>de</strong>staque no cenário mundial, principalmen-te com a validação das metas do Protocolo <strong>de</strong>Kyoto. Estas levaram os países <strong>de</strong>senvolvidos aprojetar meta <strong>de</strong> 12% <strong>de</strong> energia limpa em suasmatrizes energéticas até 2010. Adicionalmente,as estimativas da Agência Internacional <strong>de</strong> Energiapara 2020 são <strong>de</strong> que a representação dosbiocombustíveis no mercado mundial <strong>de</strong> combustíveiseleve-se para 30%. Esse percentualrefere-se à substituição <strong>de</strong> fontes fósseis tanto nosegmento <strong>de</strong> transporte quanto na produção <strong>de</strong>energia elétrica (FREITAS; FREDO, 2005).Nesse contexto, o mercado internacional<strong>de</strong> etanol, uma das principais fontes renováveis<strong>de</strong> energia, foi altamente beneficiado pelo gran<strong>de</strong>impulso no consumo mundial do produto,fazendo que a taxa anual média <strong>de</strong> crescimentodas exportações mundiais <strong>de</strong> etanol atingisse ovalor <strong>de</strong> 40,50%, <strong>de</strong> 2004 a 2008, praticamenteo triplo do valor obtido no período analisado anteriormente,que foi <strong>de</strong> 13,54%.Com esse cenário, o Brasil apresentouaumento efetivo <strong>de</strong> 79,17% no valor das exportações<strong>de</strong> etanol, conseguindo aumentá-lo emUS$ 1.892.465.684,00 <strong>de</strong> 2004 a 2008. Dessa15Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


forma, a taxa anual média <strong>de</strong> crescimento dasexportações do país atingiu o valor <strong>de</strong> 48,03%,como observado na Tabela 3, e ultrapassou o valor<strong>de</strong> 40,50% da taxa mundial.Analisando a Tabela 3, constata-se queo aumento efetivo das exportações <strong>de</strong> etanolbrasileiro <strong>de</strong> 2004 a 2008 foi altamente influenciadopelo efeito do comércio mundial,já que esse valor foi positivo na or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>76,19%; e também pelo efeito competitivida<strong>de</strong>,que obteve o valor <strong>de</strong> 34,19%, evi<strong>de</strong>nciandoo afloramento da competitivida<strong>de</strong> do álcoolbrasileiro, conquistado por meio dos anos <strong>de</strong>investimentos em P&D. Já o efeito <strong>de</strong>stino dasexportações continuou negativo, tendo atingidonesse período o patamar <strong>de</strong> 10,38%.Lírio et al. (2006) e Venâncio (2008), utilizandodiversos indicadores <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>,quais sejam coeficiente <strong>de</strong> exportação,market share doméstico e relação produção/<strong>de</strong>manda nacional, no período <strong>de</strong> 1992 a2004, também concluíram que a competitivida<strong>de</strong>do setor alcooleiro do Brasil foi negativamenteafetada no período do Plano Real. Essasdificulda<strong>de</strong>s foram superadas posteriormente;o setor <strong>de</strong>monstrou ganhos <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>e aumentou a participação <strong>de</strong> suas exportaçõesno mercado internacional <strong>de</strong> etanol. Essefato também foi confirmado pelos relevantesresultados do efeito competitivida<strong>de</strong> alcançadosnos dois últimos períodos analisados. Forameles: 57,49%, no período <strong>de</strong> 1999 a 2003,e 34,19%, no período <strong>de</strong> 2004 a 2008.Adicionalmente, é válido <strong>de</strong>stacar que ocontínuo investimento do Brasil em tecnologiaspara obtenção <strong>de</strong> etanol, a partir da cana-<strong>de</strong>-açúcar,proporcionou baixo custo <strong>de</strong> produção aoálcool brasileiro e garantiu alta competitivida<strong>de</strong>para o produto no mercado internacional. Noentanto, a partir <strong>de</strong> 2008, esse cenário foi revertido,iniciando um <strong>de</strong>créscimo nas exportaçõesbrasileiras <strong>de</strong>sse biocombustível e quedano seu comércio mundial.No período <strong>de</strong> 2008 a 2010, <strong>de</strong>pois dacrise financeira <strong>de</strong> 2008, causada pela criaçãomaciça <strong>de</strong> riqueza financeira fictícia iniciadana década <strong>de</strong> 1980, cujo estopim foi o mercadoimobiliário norte-americano, houve consi<strong>de</strong>rável<strong>de</strong>saquecida na economia mundial e,consequentemente, no nível <strong>de</strong> investimentos– dada a restrição <strong>de</strong> crédito – e no comérciointernacional. Esse cenário, associado aosTabela 3. Taxas <strong>de</strong> crescimento das exportações brasileiras e mundiais, e fontes <strong>de</strong> crescimento das exportaçõesbrasileiras <strong>de</strong> etanol, em dólares, <strong>de</strong> 2004 a 2008.Exportações(US$)Crescimento(%)Exportações <strong>de</strong> etanol em 2008 2.390.281.559,00Exportações <strong>de</strong> etanol em 2004 497.815.875,00Fontes <strong>de</strong> crescimento no períodoCrescimento efetivo 1.892.465.684,00 100,00Efeito do comércio mundial 1.441.870.499,64 76,19Efeito <strong>de</strong>stino das exportações -196.367.690,02 -10,38Efeito competitivida<strong>de</strong> 646.962.874,38 34,19Taxa <strong>de</strong> crescimento anual médiaExportações do país 48,03Exportações mundiais 40,50Fonte: dados da pesquisa.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>16


nelada <strong>de</strong> cana para R$ 60. Uma série <strong>de</strong> fatoresexplicam esse avanço. Alguns <strong>de</strong>les estão presentesna extensa lista do chamado custo Brasil, comoa valorização do real e a carga tributária elevada,que reduz a competitivida<strong>de</strong> das empresas nacionais.Outros fatores foram criados pela própria expansãodo setor sucroalcooleiro, como a falta damão <strong>de</strong> obra especializada. Esse problema surgiucom o início da mecanização da colheita <strong>de</strong> cana– apesar <strong>de</strong> ela ser mais barata, o processo pegouo setor <strong>de</strong>spreparado. Não havia frota suficientepara fazer a colheita, e a mão <strong>de</strong> obra, antes acostumadaa usar facões para cortar a cana, não sabiamanusear tratores e colheita<strong>de</strong>iras equipadas comalta tecnologia. O resultado disso foi o aumentono preço das máquinas, dos salários e, consequentemente,dos custos <strong>de</strong> produção.ConclusõesNos últimos anos, o etanol, representante<strong>de</strong> uma das principais alternativas energéticasrenováveis tanto para a diminuição da <strong>de</strong>pendênciado petróleo quanto para a amenizaçãodos problemas ambientais e climáticos, temmotivado vários países a usá-lo em misturacom a gasolina. Dessa forma, tem-se verificadogran<strong>de</strong> acréscimo na <strong>de</strong>manda mundial poresse biocombustível. Nesse contexto, este trabalhose propôs a investigar os <strong>de</strong>terminantesdo <strong>de</strong>sempenho das exportações brasileiras <strong>de</strong>etanol no comércio internacional do produto.De acordo com os resultados do mo<strong>de</strong>lo<strong>de</strong> Constant Market Share, observa-se comportamentonegativo das exportações brasileiras<strong>de</strong> etanol no período <strong>de</strong> 1994 a 1998. Isso evi<strong>de</strong>nciaque, com a apreciação do câmbio apósa implantação do Plano Real, o setor <strong>de</strong> etanoldo Brasil, que ainda não era tão competitivo,passou a ter <strong>de</strong>svantagens comparativas em relaçãoaos <strong>de</strong>mais exportadores do produto aoofertar etanol no mercado internacional a ummaior preço relativo. Por outro lado, no intervalo<strong>de</strong> 1999 a 2008 as exportações brasileiras<strong>de</strong> etanol obtiveram resultados positivos, confirmandoa conquista <strong>de</strong> maior competitivida<strong>de</strong>do produto brasileiro nesse período.Esses ganhos <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> confirmarama gran<strong>de</strong> importância do investimentobrasileiro em tecnologias para obtenção <strong>de</strong>etanol a partir da cana-<strong>de</strong>-açúcar. Entretanto,a crise financeira <strong>de</strong> 2008 freou a oferta <strong>de</strong>crédito mundial e a continuida<strong>de</strong> dos investimentose financiamentos no setor, fazendoque houvesse <strong>de</strong>créscimo das exportaçõesbrasileiras e mundiais <strong>de</strong> etanol nos anos seguintes.Esse <strong>de</strong>créscimo <strong>de</strong>veu-se também àinsuficiente renovação dos canaviais, passandopela ocorrência <strong>de</strong> fatores climáticos quelevaram à redução na oferta do biocombustívelno mercado interno e para exportação.O crescimento do comércio internacionaldo etanol e o ganho <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>foram os principais responsáveis pelo elevado<strong>de</strong>sempenho das exportações brasileiras<strong>de</strong>sse produto entre 1999 e 2008. Entretanto,<strong>de</strong>ve-se ressaltar que os mesmos fatores foramresponsáveis pela queda do <strong>de</strong>sempenho dasexportações nos anos posteriores, revelando agran<strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> da competitivida<strong>de</strong> edo comércio do etanol às condições climáticas,ao crédito interno e externo, às variaçõescambiais, à variação do preço do açúcar e aonível da <strong>de</strong>manda interna <strong>de</strong> álcool.Por fim, é importante <strong>de</strong>stacar a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> que o governo brasileiro reveja atributação sobre o produto, amplie os financiamentospara renovação dos canaviais e continuepromovendo a reforma na regulação dosetor, para que, <strong>de</strong>sse modo, não haja incertezaquanto ao fornecimento seguro e regular doetanol para os países importadores, e para queo Brasil consiga inserir o etanol como importantecommodity no mercado internacional.ReferênciasBIELSCHOWSKY, R.; STUMPO, G. A internacionalizaçãoda indústria brasileira: números e reflexões <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>alguns anos <strong>de</strong> abertura. In: BAUMANN, R. (Org.). OBrasil e a economia global. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Campus, 1996.CARVALHO, M. A.; SILVA, C. R. L. Economiainternacional. São Paulo: Saraiva, 2000.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>18


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Transações egovernança naapicultura <strong>de</strong>Mato GrossoAlan Santana Rauschkolb 3Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo 4O caso da Apisnorte 1 Leandro José <strong>de</strong> Oliveira 2Resumo – Este trabalho analisa o funcionamento produtivo do setor apícola da Associação dosApicultores do Norte do Estado <strong>de</strong> Mato Grosso (Apisnorte) e suas relações comerciais, com baseteórica da Nova Economia Institucional (NEI). I<strong>de</strong>ntificam-se as diversas formas contratuais comoestruturas <strong>de</strong> governança <strong>de</strong>ssas transações. A análise sugere mudanças significativas nas formasorganizacionais do setor apícola, no caso dos agentes que fazem parte da Apisnorte. Houve poucacentralida<strong>de</strong> da Apisnorte na coor<strong>de</strong>nação e organização da ca<strong>de</strong>ia produtiva. I<strong>de</strong>ntificou-se quea transação é efetuada por meio <strong>de</strong> governança do tipo mercado Spot (a transação ocorre em umúnico instante <strong>de</strong> tempo). Nesse contexto, os mecanismos mais elaborados, como o mercado a termoou qualquer outra forma <strong>de</strong> governança, ainda são pouco ou nunca utilizados pelos produtoresapícolas da Apisnorte.Palavras-chave: abelhas, mercado, NEI.Transactions and governance in the apiculture of thestate of Mato Grosso: the case of ApisnorteAbstract – This work analyzes the beekeeping sector operation of the Beekeepers Association ofNorthern Mato Grosso (Apisnorte), as well as its tra<strong>de</strong> relations, based on the New Institutional Economics(NIE) theory. This study i<strong>de</strong>ntifies the different forms of contracts as governance structures ofthese transactions. The analysis suggests significant changes in organizational forms of the beekeepingsector, regarding the agents of Apisnorte. Apisnorte had low centrality in the coordination andorganization of the productive chain. The transactions are done through the spot market governance1Original recebido em 18/4/<strong>2012</strong> e aprovado em 30/4/<strong>2012</strong>.2Economista, mestrando em Agronegócio e Desenvolvimento Regional pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Mato Grosso (UFMT). E-mail: leandrogtaune@hotmail.com3Economista, mestrando em Agronegócio e Desenvolvimento Regional pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Mato Grosso (UFMT). E-mail: alanraus@gmail.com4Economista, Doutor em Economia Aplicada pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa (UFV), professor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Economia (FE) da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<strong>de</strong> Mato Grosso (UFMT). E-mail: adriano@ufmt.brAno XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>20


(the transaction occurs at a single time). In this sense, the most elaborate mechanisms, such as theforward market or any other form of governance, are still little or never used by Apisnorte’s beekeepers.Keywords: bee, market, NIE.IntroduçãoA ativida<strong>de</strong> apícola no Brasil vem conquistandocada vez mais espaço no cenário nacionale internacional, tornando-se alternativa rentávelcomo fonte <strong>de</strong> renda e geração <strong>de</strong> emprego,principalmente para os pequenos produtores rurais.Em muitas regiões do país, já é produto <strong>de</strong>exportação em gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>, voltada principalmentepara o comércio japonês, que é gran<strong>de</strong>comprador da própolis – produto <strong>de</strong>rivado domel. Em regiões carentes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento ecrescimento econômico, como o Nor<strong>de</strong>ste brasileiro,a apicultura tem se tornado fonte <strong>de</strong> subsistênciapara muitas famílias. Atualmente, sãovárias as cooperativas e associações espalhadaspor várias regiões do país, com trabalho coletivoe maior facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manejo, comercializaçãoe capacitação dos apicultores envolvidos naativida<strong>de</strong>.De acordo com Zylbersztajn e Scare(2003, p. 217), existem cerca <strong>de</strong> 80 mil apicultoresno Brasil, representados institucionalmentepela Confe<strong>de</strong>ração Brasileira <strong>de</strong> Apicultura(CBA). São sete fe<strong>de</strong>rações estaduais (RS, SC, PR,MG, RJ, PI e BA), 215 associações regionais/estaduaisou cooperativas, 1.491 empresas (microe pequenas) e perto <strong>de</strong> 7.500 postos <strong>de</strong> trabalhodiretos.Em 2009, a produção <strong>de</strong> mel cresceu2,57%, o equivalente a 972.322 kg. A regiãoNor<strong>de</strong>ste e a região Sul tiveram crescimento naprodução e se mantiveram como as regiões <strong>de</strong>maior produção <strong>de</strong> mel 5 .Atualmente existem 14 fe<strong>de</strong>rações, 200associações municipais ou regionais e 160 empresasapícolas registradas no Ministério da Agri-cultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) comServiço <strong>de</strong> Inspeção Fe<strong>de</strong>ral (SIF). No entanto,esses números não refletem a realida<strong>de</strong> da organizaçãodo setor no Brasil, uma vez que gran<strong>de</strong>parte das associações e cooperativas não estãovinculadas às fe<strong>de</strong>rações e não têm registro noMapa (SILVA; FREITAS JÚNIOR, 2007).O Estado <strong>de</strong> Mato Grosso <strong>de</strong>staca-se comopotência na exportação <strong>de</strong> grãos, com ênfase nasgran<strong>de</strong>s plantações <strong>de</strong> soja, milho, algodão e arroz.Mas para os pequenos produtores essas ativida<strong>de</strong>sacabam se tornando inviáveis por causados elevados custos <strong>de</strong> produção e tecnológicosque englobam esse tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>.Segundo o Sebrae (REDE APIS, 2009) –Serviço Brasileiro <strong>de</strong> Apoio às Micro e PequenasEmpresas –, em Mato Grosso a apicultura passaa chamar a atenção porque é uma ativida<strong>de</strong>em franca evolução, bem organizada, economicamentesustentável e ecologicamente correta.O Estado <strong>de</strong> Mato Grosso tem ambiente favorávelpara o <strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong>, proporcionadopelos três biomas <strong>de</strong> seu território– Amazônia, Cerrado e Pantanal. Essa diversida<strong>de</strong>favorece uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mel eestimula o setor no cenário regional e nacional.Para impulsionar a ativida<strong>de</strong> apícola emMato Grosso, a Re<strong>de</strong> Apis (Apicultura Integradae Sustentável) recomenda a promoção <strong>de</strong> políticasespeciais para o setor, tendo em vista, porum lado, o seu gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> propiciar o<strong>de</strong>senvolvimento sustentável e, por outro, a fragilida<strong>de</strong><strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> um setor emergente emfranca expansão, constituído por milhares <strong>de</strong>agricultores familiares (RESENDE, 2010).5Informação disponível no setor <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento regional sustentável do Banco do Brasil (DESENVOLVIMENTO..., 2010).21Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


A apicultura po<strong>de</strong> ser um apoio ao <strong>de</strong>senvolvimentosocial e econômico, possibilitandoo aproveitamento dos recursos naturais. Outroefeito seria o <strong>de</strong> criar postos <strong>de</strong> trabalho assalariadocomo alternativa <strong>de</strong> emprego e renda.Dentro <strong>de</strong>sse contexto, o problema a seranalisado preten<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r: qual a naturezadas transações e a forma <strong>de</strong> governança adotadapelos apicultores da Apisnorte?Portanto, este estudo busca diagnosticaros atributos adotados nas transações dos produtoresda Apisnorte. Também preten<strong>de</strong>-se analisara estrutura <strong>de</strong> governança adotada pelos produtoresapícolas que fazem parte da associação.As seções do artigo tratam da Nova EconomiaInstitucional (NEI), focalizando o estudo daTeoria Econômica dos Custos <strong>de</strong> transação (ECT)e da governança e dimensão das transações;apresentam alguns indicadores econômicosda ativida<strong>de</strong> apícola e o potencial <strong>de</strong> mercadodo setor; apresentam o método empregado ea forma <strong>de</strong> coleta dos dados; e apresentam osresultados e discussões do trabalho, relatando aforma <strong>de</strong> governança dos produtores da associação,bem como o atributo <strong>de</strong> suas transações. Éfeita a <strong>de</strong>scrição da forma organizacional atualda associação, e, com base nos resultados dapesquisa, foi proposta uma alternativa <strong>de</strong> governançaalmejada pelos produtores da associação.Nas consi<strong>de</strong>rações finais, faz-se uma avaliaçãodo ambiente estrutural atual e esperado pelaApisnorte.Estrutura <strong>de</strong> governança e contratosDe acordo com a literatura da NovaEconomia Institucional, o estudo das estruturas<strong>de</strong> governança, ao contrário da abordagem doambiente institucional, tem enfoque microinstitucional,representado pela economia das organizações,que estuda a natureza explicativa dosdiversos arranjos institucionais observados.Enquanto a corrente <strong>de</strong> Ambiente Institucional<strong>de</strong>dica-se mais especificamente ao estudodas regras do jogo, a corrente <strong>de</strong> instituições <strong>de</strong>Governança, ou seja, a Economia dos Custos <strong>de</strong>Transação (ECT) estuda as transações com enfoquemicroanalítico, tomando como dadas as regrasgerais <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>. Portanto, abordaas diversas formas contratuais como estruturas<strong>de</strong> governança <strong>de</strong>ssas transações. Por conseguinte,a ECT fornece os microfundamentos aoestudo do ambiente institucional, ao mesmotempo em que este último fornece a análise dosparâmetros macroinstitucionais aos quais todasas transações se referenciam. Diante disso, acomplementarieda<strong>de</strong> entre ambas as correntese as coincidências <strong>de</strong> proposta e método sãoo ponto que as une em um corpo teórico conhecidopor Nova Economia Institucional (NEI)(FARINA et al., 1997).De acordo com Farina et al. (1997), a estrutura<strong>de</strong> governança tem como função principala redução dos custos <strong>de</strong> transação. Possuiferramentas organizacionais que possibilitamredução nos custos contratuais, <strong>de</strong> fiscalização<strong>de</strong> direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, e monitoramento do<strong>de</strong>sempenho, <strong>de</strong> organização das ativida<strong>de</strong>s ou<strong>de</strong> adaptação, que são respostas eficientes dosagentes ao problema <strong>de</strong> se transacionar.O objetivo fundamental da ECT é o <strong>de</strong>estudar o custo das transações como o indutordos modos alternativos <strong>de</strong> organização daprodução (governança). Dentro do arcabouçoanalítico institucional, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar que aunida<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> análise fundamental passa aser a transação. Ou seja, é uma operação emque são negociados direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, eo objetivo <strong>de</strong>scrito acima po<strong>de</strong> ser revisto comoanálise sistemática das relações entre a estruturados direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> e as instituições(ZYLBERSZTAJN, 1995).Segundo Kaufman (2006), a teoria institucionalprecisava <strong>de</strong> uma maneira clara <strong>de</strong>conceituação e <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem, e, para essefim, Commons inventou o conceito <strong>de</strong> umatransação.Para Commons (1934, citado por KAUF-MAN, 2006, p. 35), a transação po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finidaAno XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>22


como uma “transferência legal da proprieda<strong>de</strong>”;ou seja, a transação po<strong>de</strong> ser assim <strong>de</strong>finida:[...] não são apenas troca <strong>de</strong> mercadorias, nosentido físico <strong>de</strong> entrega, elas são a alienaçãoe aquisição, entre os indivíduos, dos direitos<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> futuro das coisas físicas,como <strong>de</strong>terminado pelas regras <strong>de</strong> trabalhoda socieda<strong>de</strong> (COMMONS, 1934, citada porKAUFMAN, 2006, p. 35).De acordo com Kaufman (2006), tendo<strong>de</strong>finido a transação como uma transferência <strong>de</strong>proprieda<strong>de</strong> legal, Commons distingue três tipos<strong>de</strong> transações: a <strong>de</strong> negociação, a <strong>de</strong> racionamentoe a <strong>de</strong> gestão.Elas são diferenciadas com base na maneirapela qual os direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> sãotransferidos.A Teoria Econômicados Custos <strong>de</strong> TransaçãoO artigo <strong>de</strong> Coase (1936, citado porKUPFER; HANSENCLEVER, 2002) foi pioneiro noestudo das condições sob as quais os custos <strong>de</strong>transação <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sprezíveis e passam aser elemento importante nas <strong>de</strong>cisões dos agenteseconômicos, contribuindo para <strong>de</strong>terminar aforma pela qual são alocados os recursos naeconomia. O estudo da análise <strong>de</strong>ssas condições,assim como das consequências dos custos <strong>de</strong>transação para a eficiência do sistema, constitui oobjeto da Teoria dos Custos <strong>de</strong> Transação – TCT(KUPFER; HASENCLEVER, 2002).Para Kupfer e Hasenclever (2002), custos<strong>de</strong> transação são os custos que os agentes enfrentamtoda vez que recorrem ao mercado. Deforma mais elaborada, custos <strong>de</strong> transação sãoos custos <strong>de</strong> negociar, redigir e garantir o cumprimento<strong>de</strong> um contrato.De acordo com Correia (2001), esses custosconsistiam na i<strong>de</strong>ntificação dos preços relevantesdos fatores <strong>de</strong> produção e da negociaçãoe encerramento <strong>de</strong> cada contrato celebrado paracada transação <strong>de</strong> troca.Kogut (2004), citado por Cár<strong>de</strong>nas (2007),<strong>de</strong>fine os custos <strong>de</strong> transação como as <strong>de</strong>spesasincorridas por escrever e executar contratos, paranegociar os termos e as contingências <strong>de</strong> possíveisreivindicações <strong>de</strong> fornecedores, clientes ouparceiros, ou mesmo o custo para administrar arealização <strong>de</strong> uma transação. Já para Han (1997),citado por Correia (2001), os custos <strong>de</strong> transaçãosão apresentados como perspectiva alternativaao clássico conceito <strong>de</strong> firma como sistema <strong>de</strong>gestão dos fatores primários <strong>de</strong> produção – recursos,mão <strong>de</strong> obra e capital.Segundo Correia (2001), uma transaçãoocorre quando a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um bem ouserviço é transferida por meio <strong>de</strong> uma interfacetecnologicamente separável. Assim, o esforço <strong>de</strong>redução <strong>de</strong> seus custos é focalizado para aten<strong>de</strong>raos objetivos da organização. Dessa maneira,quanto melhor se conhecem essas interfaces,mais suavemente se realizam as transferências.Ainda na mesma contextualização, Milgrom eRoberts (1992), citados por Franco (2009), <strong>de</strong>finema transação como a transferência <strong>de</strong> bens eserviços <strong>de</strong> um indivíduo a outro.Para Sagari (1999), citado por Correia(2001), os custos <strong>de</strong> transação “são os custos <strong>de</strong>fazer negócios” ou “os custos <strong>de</strong> utilização domercado”, não se referindo aos fatores <strong>de</strong> produçãoou aos bens e serviços em si, mas focandoa utilização dos mecanismos <strong>de</strong> produção etrocas.Para Williamson (1985), citado por Shin(2002), os custos <strong>de</strong> transação são os custos relacionadoscom um contrato “ex ante e ex post”,que, apesar <strong>de</strong> se originarem <strong>de</strong> diferentes fatores,são inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e <strong>de</strong>vem ser tratadossimultaneamente, e não <strong>de</strong> foma sequencial,estando presentes tanto nos contratos explícitosquanto nos contratos implícitos.Já para North (1990), citado por Shin(2002), os custos <strong>de</strong> transação são todos os custosincorridos em <strong>de</strong>finir, proteger e fazer respeitaros direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> dos bens (o direito<strong>de</strong> utilizar, o direito <strong>de</strong> obter renda a partir douso, o direito <strong>de</strong> excluir e o direito <strong>de</strong> câm-23Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


io), em comparação aos custos incorridos emtransformar os atributos físicos <strong>de</strong> mercadorias(tamanho, peso, cor, localização, composiçãoquímica, e assim por diante). North ainda enfatizaa importância do custo <strong>de</strong> transação na economianacional, citando o exemplo <strong>de</strong> que mais<strong>de</strong> 45% do rendimento nacional dos EUA estáatualmente <strong>de</strong>dicado a transacionar ativida<strong>de</strong>s.Eggerstsson (1990), citado por Arbage(2004), pon<strong>de</strong>ra que, em geral, os custos <strong>de</strong> transaçãosão os custos que aparecem quando osindivíduos trocam direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ativoseconômicos e reforçam seus direitos exclusivos.Ainda, segundo o mesmo autor, quando ainformação é custosa, várias ativida<strong>de</strong>s envolvidascom as trocas <strong>de</strong> direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> entreindivíduos dão origem a custos <strong>de</strong> transação.Com base em Williamson (1985), citadopor Correia (2001), os custos <strong>de</strong> transação sãoos custos <strong>de</strong> percorrer o sistema econômico, que<strong>de</strong>vem ser claramente distinguidos dos custos <strong>de</strong>produção.Para Zylbersztajn e Neves (2005), custos<strong>de</strong> transação são os custos <strong>de</strong> fazer funcionar osistema econômico. Os mesmos autores aindaenfocam que não haveria custos <strong>de</strong> transaçãose os agentes econômicos fossem oniscientes, senão houvesse incerteza e se os ativos produtivospu<strong>de</strong>ssem ser utilizados em diferentes ativida<strong>de</strong>salternativas, <strong>de</strong> tal modo que se um negócio não<strong>de</strong>r certo, po<strong>de</strong>m-se utilizar esses recursos emoutros negócios, sem perda <strong>de</strong> valor.Portanto, para Batalha (2011), ven<strong>de</strong>r ecomprar não são tarefas triviais. Ao contrário, aadoção <strong>de</strong> um mecanismo <strong>de</strong> comercializaçãoinapropriado fatalmente implica prejuízo à empresa,mesmo sendo ela competitiva em termos<strong>de</strong> eficiência produtiva.A competitivida<strong>de</strong> global <strong>de</strong> uma empresa<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> profundamente <strong>de</strong> sua eficiência nacomercialização <strong>de</strong> seus insumos e produtos.Quanto mais apropriada for a coor<strong>de</strong>nação entreos componentes do sistema, intermediadospor mecanismos <strong>de</strong> comercialização, menoresserão os custos <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les (referindo-seaqui aos custos <strong>de</strong> produção, e principalmenteaos custos <strong>de</strong> transação, importantes <strong>de</strong> seremconsi<strong>de</strong>rados), mais rápida será a adaptação àsmodificações <strong>de</strong> ambiente, e menos custosos serãoos conflitos inerentes às relações entre clientee fornecedor (BATALHA, 2011).Diante disso, é preciso frisar que, apesar<strong>de</strong> os contratos criarem certas garantias paraas organizações envolvidas numa <strong>de</strong>terminadatransação, sua elaboração e manutenção representamincrementos nos custos totais.Pressupostos comportamentaisO ponto <strong>de</strong> partida para a existência <strong>de</strong>custos <strong>de</strong> transação é o reconhecimento <strong>de</strong> queos agentes econômicos são: a) racionais, porém,limitadamente; e b) oportunistas (FARINA et al.,1997).De acordo com esse mesmo autor, <strong>de</strong> umlado, admitindo racionalida<strong>de</strong> limitada, os contratosserão intrinsecamente incompletos, namedida em que será impossível aos agentes prevere processar todas as contingências futuras relativasao contrato. De outro, admitindo tambémoportunismo, a inevitável renegociação sujeitaas partes envolvidas na transação ao comportamentoantiético da(s) outra (<strong>de</strong>mais).Para Williamson (1999), os atores humanossão <strong>de</strong>scritos como limitadamente racionais,dados ao oportunismo, e com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>previsão. Todos os contratos complexos são inivevitavelmenteincompletos, por causa do pressupostoda racionalida<strong>de</strong> limitada.Perturbações que empurram as partes parafora da curva <strong>de</strong> contrato vão, assim, dar origemà ineficiência, a menos que as adaptações <strong>de</strong>correção sejam feitas <strong>de</strong> forma imediata. Nessecontexto, aliviar tais riscos contratuais por meio<strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> governança tem sido fococentral da ECT.Po<strong>de</strong>-se concluir que os pressupostos <strong>de</strong>racionalida<strong>de</strong> limitada e oportunismo indicamum mesmo sentido <strong>de</strong> fundamentação teórica: aimpossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> confecção <strong>de</strong> contratos com-Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>24


pletos e a geração <strong>de</strong> assimetria <strong>de</strong> informações,proporcionando assim a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> umaação oportunística (Figura 1).Isso resulta na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contínuasnegociações pós-transação, que terminam portornar a questão da flexibilida<strong>de</strong> elemento importantea ser consi<strong>de</strong>rado quando da confecçãodas estruturas <strong>de</strong> governança nos arranjosinterorganizacionais.A governança e a dimensãodas transaçõesA especificida<strong>de</strong> dos ativos, incerteza efrequência são as dimensões relevantes para<strong>de</strong>screver as transações, embora gran<strong>de</strong> partedo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> explicação <strong>de</strong>ssa teoria se remeta àespecificida<strong>de</strong> dos ativos (WILLIAMSON, 2005).Segundo o mesmo autor, a incerteza é a fonte <strong>de</strong>perturbações em que o processo <strong>de</strong> adaptaçãose faz necessário. No que diz respeito à frequência,é relevante em dois aspectos: 1) os efeitos <strong>de</strong>reputação e os custos <strong>de</strong> instalação; 2) os efeitoslíquidos que variam <strong>de</strong> acordo com as indicações.No entanto, a especificida<strong>de</strong> dos ativos emconjunto com os distúrbios é o quesito no quala principal ação preditiva resi<strong>de</strong>. Nesse aspecto,a especificida<strong>de</strong> dos ativos po<strong>de</strong> ser atribuída ainvestimentos duráveis que são feitos durante eapós a execução do contrato.Segundo Kupfer e Hasenclever (2002),uma estrutura <strong>de</strong> governança <strong>de</strong>fine-se como[...] o arcabouço institucional no qual a transaçãoé realizada, isto é, o conjunto <strong>de</strong> instituiçõese tipos <strong>de</strong> agentes diretamente envolvidosna realização da transação e na garantia <strong>de</strong>sua execução.Já Williamson (1996), citado por Franco(2009), <strong>de</strong>fine estrutura <strong>de</strong> governança comoconjunto <strong>de</strong> instituições (regras) inter-relacionadas,capazes <strong>de</strong> garantir a integrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> umatransação ou <strong>de</strong> uma sequência <strong>de</strong> transações.De acordo com Kupfer e Hasenclever (2002),a TCE classifica essas estruturas e <strong>de</strong>screve comoelas se relacionam com o tipo <strong>de</strong> investimento realizadopela empresa da seguinte maneira:1) Governança pelo mercado: forma adotadaem transações não específicas, especialmenteeficazes no caso <strong>de</strong> transações recorrentes.Não há esforço para sustentar a relação, e, naavaliação <strong>de</strong> uma transação, as partes precisamconsultar apenas sua própria experiência.É o caso que mais se aproxima da noção i<strong>de</strong>al<strong>de</strong> mercado puro.2) Governança trilateral: aqui é exigida a especificaçãoex ante <strong>de</strong> uma terceira parte, tantona avaliação da execução da transação quantopara a solução <strong>de</strong> eventuais litígios. É a maisa<strong>de</strong>quada em transações ocasionais, sejamelas <strong>de</strong> caráter misto, ou mesmo específico.3) Governança específica <strong>de</strong> transações: nessecenário, o fato <strong>de</strong> os ativos transacionados nãoenvolverem padronização aumenta significativamenteo risco da transação e a possibilida<strong>de</strong>do surgimento <strong>de</strong> conflitos <strong>de</strong> solução custosae incerta. Nesse caso, dois tipos <strong>de</strong> estruturapo<strong>de</strong>m então surgir: a) um contrato <strong>de</strong> relação,em que as partes preservam sua autonomia;e b) uma estrutura unificada e hierarquizada,isto é, uma empresa. Esse mesmo autor concluique a probabilida<strong>de</strong> da opção por uma estruturaunificada e hierarquizada cresce com ocaráter idiossincrático do investimento.4) Diante <strong>de</strong>sse contexto, Williamson (1985),citado por Franco (2009), indica a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> se buscar uma estrutura <strong>de</strong> governançaFigura 1. Pressupostos comportamentais da racionalida<strong>de</strong> e incerteza.Fonte: Williamson (1991, 1996), citado por Franco (2009).25Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


a<strong>de</strong>quada para cada tipo <strong>de</strong> transação, tendocomo foco principal a redução dos custos <strong>de</strong>transação.Indicadores econômicos daativida<strong>de</strong> apícola e o potencial<strong>de</strong> mercado do setorO setor apícola no Brasil vem ganhandocada vez mais dados expressivos <strong>de</strong> sua produtivida<strong>de</strong>em nossa economia. Por ser uma ativida<strong>de</strong><strong>de</strong> fácil manejo e exigir baixo custo <strong>de</strong>produção, muitas famílias estão encontrando naapicultura uma nova fonte <strong>de</strong> renda e uma alternativa<strong>de</strong> emprego principalmente para a classedos pequenos produtores que são <strong>de</strong>sprovidos<strong>de</strong> recursos financeiros e possuem baixo nível <strong>de</strong>capacitação.Conforme relata a Re<strong>de</strong> Apis (2009), a apiculturabrasileira reúne alguns requisitos que lheconferem elevado potencial <strong>de</strong> inclusão, pois,sob os pontos <strong>de</strong> vista ambiental, econômico esocial, é capaz <strong>de</strong> gerar ocupações “socialmentejustas”, “ambientalmente corretas” e “economicamenteviáveis”. É uma das ativida<strong>de</strong>s econômicasque mais se enquadram no conceito <strong>de</strong>sustentabilida<strong>de</strong>, pois é uma das raras ativida<strong>de</strong>specuárias que não têm impacto ambiental negativo,mas, ao contrário, transforma o apicultorem um ecologista prático.De acordo com Paula Filho (2007), até oano 2000 o Brasil ocupava apenas a 27ª posiçãono ranking mundial <strong>de</strong> exportação <strong>de</strong> mel, commenos <strong>de</strong> 300 toneladas/ano. No ano <strong>de</strong> 2004,o Brasil alcançou a 5ª posição entre os exportadores<strong>de</strong> mel, com mais <strong>de</strong> 20 mil toneladas/ano.O clima favorável e a resistência das abelhas àsdoenças possibilitaram crescimento expressivodo setor apícola no Brasil, fazendo que o paíssaísse <strong>de</strong> um patamar <strong>de</strong> mero consumidor epassasse em pouco tempo a ser exportador domel e seus <strong>de</strong>rivados. Conforme dados do IBGE(<strong>2012</strong>a), <strong>de</strong> 2002 a 2009 houve aumento significativoda quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mel produzida no Brasil,tendo passado <strong>de</strong> 24.028.652 kg em 2002para 267.798.308 kg em 2009.Segundo Paula Filho (2007), o embargodas exportações <strong>de</strong> mel da China e da Argentina,que eram os dois principais exportadores <strong>de</strong>mel no período 2000–2006, provocou um vazio<strong>de</strong> oferta estimado em 50 mil toneladas <strong>de</strong>mel por ano, o que significou excelente janela<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> para a entrada <strong>de</strong> novos paísesno mercado exportador. Convém ressaltar queo Brasil foi o país que melhor aproveitou essajanela <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>, tendo chegado a alcançaro 5 o lugar no ranking <strong>de</strong> países exportadoresno ano <strong>de</strong> 2004. O cenário internacional vinhase mostrando bastante promissor para o Brasilaté 2006. Todavia, em 17 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2006,a União Europeia estabeleceu um embargo comercialproibindo a exportação <strong>de</strong> mel brasileiropara o mercado europeu, sob alegação <strong>de</strong><strong>de</strong>scumprimento dos prazos <strong>de</strong> implantação doPrograma Nacional <strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Resíduos –PNCR (PAULA FILHO, 2007).Segundo esse mesmo autor, o mercado europeurepresentava, até então, o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> 80%das exportações do mel brasileiro. A apiculturabrasileira viu-se então diante do <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> redirecionarsua produção para outros mercados,<strong>de</strong> modo a manter a posição conquistada noranking mundial <strong>de</strong> países exportadores. Apesardo embargo da União Europeia às exportaçõesbrasileiras, o Brasil conseguiu fechar o ano comincremento <strong>de</strong> suas exportações, redirecionando-asda Europa – sobretudo da Alemanha, atéentão o maior comprador do produto brasileiro– para os Estados Unidos.Antes do embargo, o Brasil exportou somentepara a União Europeia cerca <strong>de</strong> 17 miltoneladas <strong>de</strong> mel, tendo gerado receita <strong>de</strong> US$35,2 milhões/ano. No ano <strong>de</strong> 2007, o setor apícolanacional produziu cerca <strong>de</strong> 34,7 mil toneladase exportou 12,9 mil toneladas, e a receitagerada com as exportações foi <strong>de</strong> US$ 21,1 milhões(AMARAL, 2010).Consi<strong>de</strong>rando a produção média <strong>de</strong>mel nas regiões do Brasil no período <strong>de</strong> 2002a 2009, tem-se que enquanto as regiões Sul eNor<strong>de</strong>ste li<strong>de</strong>ram o ranking <strong>de</strong> produção com15.358.519,63 kg e 10.979.613,63 kg, respecti-Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>26


vamente, as regiões Norte e Centro-Oeste estãocom um volume pouco expressivo – 646.140,38kg e 1.081.863,38 kg produzidos, respectivamente.A região Su<strong>de</strong>ste ocupa posição intermediária,com 5.408.651,50 kg (IBGE, <strong>2012</strong>a).O Estado <strong>de</strong> Mato Grosso exportou melem 2008, pela primeira vez, tendo comercializadocerca <strong>de</strong> 38 toneladas e obtido receita <strong>de</strong>US$ 94,4 mil. De janeiro a novembro <strong>de</strong> 2009,o estado exportou cerca <strong>de</strong> 57 toneladas, comreceita <strong>de</strong> US$ 165,9 mil (AMARAL, 2010). Segundoesse mesmo autor, esse novo <strong>de</strong>stino daprodução inaugurou nova fase da apiculturaestadual, estimulando a ampliação e profissionalizaçãoda ativida<strong>de</strong> apícola, bem como a melhoriano preço regional do mel.O volume médio <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> mel noEstado <strong>de</strong> Mato Grosso foi <strong>de</strong> 326.385 kg noperíodo <strong>de</strong> 2002 a 2009. Porém, espera-se quepara os próximos anos a produção aumente paraum patamar expressivo, dado o aumento do número<strong>de</strong> associações que vêm se formando emdiversas regiões do Estado.MetodologiaO estudo <strong>de</strong> caso foi adotado para a concretizaçãoda presente pesquisa. Teve comoinstrumentos <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados a elaboração<strong>de</strong> um questionário para os produtores apícolasda associação dos apicultores do Norte <strong>de</strong> MatoGrasso, bem como um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> entrevista focalizadono agente-chave da associação (nesteestudo, o presi<strong>de</strong>nte da Apisnorte). O estudo <strong>de</strong>caso é uma categoria <strong>de</strong> pesquisa cujo objetoé uma unida<strong>de</strong> que se analisa profundamente(TRIVIÑOS, 1987, p.133).Portanto, com a tabulação e a análise<strong>de</strong>sses dados foi possível obter o máximo <strong>de</strong>informações sobre a estrutura <strong>de</strong> governança ea natureza das transações adotadas pelos produtoreslocais. As informações coletadas sãoproce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> um questionário aplicado peloSebrae no ano <strong>de</strong> 2008. O questionário foi aplicadocom o intuito <strong>de</strong> diagnosticar a situação emque se encontra o setor apícola nessa região, epropiciar alternativas que venham <strong>de</strong>senvolveressa ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> forma competitiva e sustentável.Entretanto, ele foi cedido para a presente pesquisaem 2009, na qual, por meio <strong>de</strong> adaptação,teve como fundamentação uma análise da estrutura<strong>de</strong> governança e da natureza das transaçõesadotadas pelos produtores da Apisnorte.A Apisnorte foi fundada em maio <strong>de</strong> 2006por 21 apicultores e está localizada no município<strong>de</strong> Sinop, MT, distante 480 km da capital.O município <strong>de</strong> Sinop tem importância significativapara a economia <strong>de</strong> Mato Grosso, comagronegócio diversificado e setor <strong>de</strong> serviços em<strong>de</strong>senvolvimento, com fortes expectativas quantoà geração <strong>de</strong> emprego e renda para a populaçãolocal. A exportação <strong>de</strong> grãos <strong>de</strong>ssa regiãoganha <strong>de</strong>staque no cenário nacional pelo volumeproduzido e pelas receitas geradas na economia,principalmente puxada pelas lavouras <strong>de</strong>soja e milho. A fundação da associação partiu dointeresse dos próprios associados por causa dafalta <strong>de</strong> maior representativida<strong>de</strong> do setor e danecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propiciar novos cursos para qualificaros apicultores. Além disso, por causa dafalta <strong>de</strong> infraestrutura e da ausência <strong>de</strong> recursosinvestidos no setor, tornou-se muito gran<strong>de</strong> falta<strong>de</strong> materiais e equipamentos para a ativida<strong>de</strong>.Em 2009, a Apisnorte passou a contar com28 associados, tendo produzido mais <strong>de</strong> 60.000kg <strong>de</strong> mel (safra 2009). São cerca <strong>de</strong> 1.200 colmeias<strong>de</strong> abelhas, produzindo mel, própolis,pólen, geleia real e cera, espalhadas pela matanativa, pelo cerrado e pelas <strong>de</strong>mais plantações.Por meio <strong>de</strong>sse estudo <strong>de</strong>talhado com os produtoresda associação, foi possível compreen<strong>de</strong>r asestruturas <strong>de</strong> governança e as características dastransações adotadas pelos produtores.ResultadosEstrutura <strong>de</strong> governança adotadapelos produtores da ApisnorteCom base nas informações obtidas pormeio do questionário, e principalmente por meio27Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


da entrevista com o agente-chave da Apisnorte,foi possível diagnosticar que atualmente o papelda associação é organizar e concretizar açõespara os produtores que fazem parte da instituição.Destacam-se as seguintes ações realizadaspela organização:• Incentivo à parceria, capacitação e comercialização.• Desconto na aquisição <strong>de</strong> produtos –caixas e outros.• Obtenção <strong>de</strong> cursos.• Aquisição <strong>de</strong> equipamentos, caixas evendas, mel e cera.• Informações.• Trabalho coletivo, organização, vendaem comum (feira), compra em comum,participação em eventos.• Acompanhamento técnico.• Incentivo e aprendizado na área apícola.• Divulgação, participação em feiras, cursose viagens.A Tabela 1 faz uma análise comparativa daprodução anual <strong>de</strong> mel e subprodutos da Apisnorteem 2007 e 2008. O volume <strong>de</strong> mel produzidono período foi <strong>de</strong> 86.036 kg – acréscimo <strong>de</strong>cerca <strong>de</strong> 6% no período; a produção <strong>de</strong> própolisfoi <strong>de</strong> 2.107,8 kg, acréscimo <strong>de</strong> 50%; a produção<strong>de</strong> cera e atingiu 1.539 kg, ou acréscimo <strong>de</strong> 17%.De acordo com as informações coletadas,a perspectiva é que, para os próximos anos, essecenário se modifique, já que está havendo maiorTabela 1. Produção anual <strong>de</strong> mel e subprodutos daApisnorte em 2007 e 2008 (em kg).ProdutoProdução2007 2008∆%Total(kg)Mel 41.750 44.286 6 86.036Própolis 843,1 1.264,7 50 2.107,8Cera 710 829 17 1.539Fonte: dados do Sebrae (2008), adaptados pelos autores.integração entre os agentes, dada a implantação<strong>de</strong> um Arranjo Produtivo Local (APL) da apicultura.O Sebrae, juntamente com o apoio <strong>de</strong> outrasinstituições, visa facilitar o acesso dos apicultoresao mercado consumidor por meio <strong>de</strong> participaçõesem eventos nacionais e internacionais.A Figura 2 mostra os agentes componentesda Apisnorte, bem como as transações entre elesefetuadas, que são objeto <strong>de</strong>ste trabalho.Das transações constatadas pelos produtoresda Apisnorte, evi<strong>de</strong>nciou-se <strong>de</strong>ntro do arcabouçoteórico da NEI apenas uma forma <strong>de</strong>governança: o mercado spot, cujas transaçõesse resolvem em um único instante <strong>de</strong> tempo.Foi i<strong>de</strong>ntificado que a comercialização do mele seus subprodutos é efetuada diretamente aoconsumidor, por meio <strong>de</strong> intermediário ou emfeiras livres.A forma <strong>de</strong> governança via mercado refere-se,em sua maior parte, às transações envolvendopequenos volumes <strong>de</strong> investimento ou,ainda, a transações esporádicas (não recorrentes).Essa informação ganha relevância por causado fato <strong>de</strong> os produtores da associação alegaremnão ter continuida<strong>de</strong> nem garantia <strong>de</strong> fornecimentoda produção aos compradores. Essa condiçãomostra alto grau <strong>de</strong> incerteza no ambienteorganizacional produtivo da Apisnorte.Esse tipo <strong>de</strong> comercialização é utilizado,sobretudo, quando não há planejamento <strong>de</strong>compras e uma relação estável <strong>de</strong> vendas, o queexige a <strong>de</strong>finição da quantida<strong>de</strong> comprada ouvendida a cada momento da necessida<strong>de</strong> (BATA-LHA, 2011). Diante disso, os produtores da associação,apesar <strong>de</strong> fazerem a transferência físicados produtos (mel e subprodutos), não estão tendoa garantia <strong>de</strong> eficiência do sistema produtivo,principalmente no que se refere à parte <strong>de</strong> comercialização<strong>de</strong>les. Nesse enfoque, cabe <strong>de</strong>stacarque o mercado spot sozinho é insuficientepara garantir governança <strong>de</strong> modo eficiente.Nesse caso, o estudo i<strong>de</strong>ntificou a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> alternativas mais aprimoradas <strong>de</strong> governançasna estrutura produtiva da Apisnorte.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>28


gargalos e colocar a associação como centro comercialda produção do mel e seus subprodutos.No planejamento da Apisnorte está aconstrução <strong>de</strong> entreposto ou <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> apícola(indústria <strong>de</strong> extração <strong>de</strong> mel <strong>de</strong>ntro dos padrõestécnicos da legislação), pois, <strong>de</strong> acordo com osprodutores, isso possibilitaria mais eficiência ecompetitivida<strong>de</strong> no setor produtivo da associação.Nesse caso, po<strong>de</strong>-se afirmar que há tambémnecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> futuros estudos para avaliarmelhor o nível organizacional e o ambiente institucionalda associação, propiciando assim caminhosalternativos que venham dar suporte eestrutura aos produtores da associação.Portanto, no mercado do tipo spot nãoexiste qualquer tipo <strong>de</strong> contrato – formal ou informal– que obrigue a compra e a venda dosprodutos entre agentes. Nesse caso, não se observaa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controle da transação.Na Apisnorte, atributos como a frequência,incerteza e especificida<strong>de</strong>s dos ativos tiverampouca significância pelo fato <strong>de</strong> as naturezas dastransações dos produtores serem via mercadospot (em que não há obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> comprafutura). Entretanto, enfatiza-se o gran<strong>de</strong> ambiente<strong>de</strong> incerteza nesse tipo <strong>de</strong> transação (spot) emrelação ao comportamento dos preços aos quaisos produtores da associação estão expostos (nãohá preço fixado como se po<strong>de</strong>ria caso fossemutilizados contratos). Esse tipo <strong>de</strong> ambiente <strong>de</strong>sencorajao produtor a expandir seu mercadoconsumidor (como varejo e atacado, por exemplo),além <strong>de</strong> inibir a produção em gran<strong>de</strong> escalapara exportação tanto para o mercado nacionalquanto para o internacional, que é forte consumidor<strong>de</strong> mel e subprodutos brasileiros.Estrutura <strong>de</strong> governançaproposta para a ApisnorteDe acordo com as informações coletadascom os produtores e com o agente-chave daApisnorte, foi possível propor formas alternativas<strong>de</strong> governanças no setor produtivo <strong>de</strong> modo aaumentar a eficiência organizacional dos produtoresapícolas.Como já abordado, atualmente o mercadoa termo não é utilizado como forma <strong>de</strong> governança,dada a falta <strong>de</strong> registro do Serviço <strong>de</strong>Inspeção (SIM, SIE e SIF) e por causa da falta <strong>de</strong>equipamentos a<strong>de</strong>quados para a prática da ativida<strong>de</strong>.Relata-se que fatores como esses diagnosticadosna associação levam o produtor ater custos <strong>de</strong> transação na hora <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r suamercadoria, cuja causa está condicionada à falta<strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> dos ativos; isso ocorre comogarantia <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> cumprimento do prazo<strong>de</strong> entrega do produto, e por causa da impossibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> monitorar a transação, já que ela éefetuada em um único instante <strong>de</strong> tempo.Nesse caso, mesmo que a transação nãoseja efetuada via contrato ou verticalmente integrada,o cenário é propício para ações oportunísticas.Isso se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> o produtor nãoter garantia se o preço <strong>de</strong> hoje será o mesmo <strong>de</strong>amanhã (não se tem uma certeza <strong>de</strong> lucro futuros).No entanto, a partir do momento em que aassociação conseguir recursos para a construção<strong>de</strong> um entreposto ou uma unida<strong>de</strong> apícola (máquinasou equipamentos a<strong>de</strong>quados para extraire envasar o mel produzido), ela po<strong>de</strong>rá estabelecercontratos com os produtores e comercializara produção <strong>de</strong> maneira integrada em gran<strong>de</strong>squantida<strong>de</strong>s, por meio do mercado spot ou pormeio <strong>de</strong> contratos a termo com o mercado varejistaou atacadista.A meta da Apisnorte para os próximos anosé elevar o volume <strong>de</strong> produção e melhorar ascondições estruturais da organização. Seu objetivoé ser um centro comercial da produção dosapicultores do norte do estado <strong>de</strong> Mato Grosso.De acordo com as informações coletadas, foipossível propor o mercado a termo como forma<strong>de</strong> governança mais eficiente para transacionar aprodução dos apicultores da associação, comopo<strong>de</strong> ser observado na Figura 3.No entanto, <strong>de</strong>ve ficar claro que outrasformas <strong>de</strong> governança são passíveis <strong>de</strong> análisee po<strong>de</strong>m ser mais eficientes para <strong>de</strong>terminadatransação. Ao contrário do que está acontecendoatualmente na associação, em vez <strong>de</strong> os produtorescomercializarem seus produtos <strong>de</strong> formaAno XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>30


individual, a associação não mais apenas teriaum papel paralelo <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação e <strong>de</strong> concretização,como visto na sessão anterior, mas simseria a responsável pelo recebimento da produçãoe distribuição <strong>de</strong>sses produtos para seusmercados <strong>de</strong>stinatários por meio do mercadospot ou do mercado a termo.Na estrutura organizacional almejada pelaApisnorte (Figura 3), os custos transacionais ten<strong>de</strong>riama ser reduzidos, pois, com a comercializaçãosendo feita no mercado a termo, na produção, oregistro do Serviço <strong>de</strong> Inspeção seria proporcionadopela associação (centro comercial); issopossibilitaria garantia <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, produto rotulado(marca) e certificação da originalida<strong>de</strong> doproduto, além do prazo <strong>de</strong> entrega ao mercadoconsumidor (ou seja, haveria a especificida<strong>de</strong>dos ativos).As vantagens da associação em comercializarseus produtos por meio do mercado a termosão as seguintes:• Maior integração entre os produtorese a associação (naturalmente haverámaior frequência nas transações entreos agentes).• Todos teriam o compromisso <strong>de</strong> entregara produção para a associação, pormeio <strong>de</strong> contratos preestabelecidos entreas partes (ou seja, cláusulas <strong>de</strong> salva-Figura 3. Estrutura organizacional proposta para a Apisnorte.31Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Ressalta-se, no entanto, que a associaçãonão tem papel relevante nas etapas <strong>de</strong> comercialização,pois os apicultores comercializam oproduto individualmente, sem nenhum selo <strong>de</strong>certificação (SIM, SIE e SIF). A falta <strong>de</strong> selo <strong>de</strong>inspeção e a ausência <strong>de</strong> equipamentos a<strong>de</strong>quadospara extração e embalagem do mel e seussubprodutos prejudicam a comercialização epo<strong>de</strong>m ocasionar custos transacionais adicionaiscaso a governança seja feita via contratos.Foi elaborada proposta para uma novaforma <strong>de</strong> organização para a Apisnorte, buscandoviabilizar o processo <strong>de</strong> comercialização pormeio <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> governança alternativospara transacionar a produção apícola: contratosa termo. A associação funcionaria não lateralmente,como <strong>de</strong>tectado na pesquisa, mas comoo centralizador das ativida<strong>de</strong>s para o recebimentoe a criação dos canais <strong>de</strong> comercializaçãopara os produtores.Assim, o mercado a termo (venda pormeio <strong>de</strong> contratos) possibilitaria melhorar e consolidaros canais <strong>de</strong> comercialização dos apicultores,expandindo a venda para o mercadovarejista e atacadista, com a finalida<strong>de</strong> também<strong>de</strong> melhorar o preço final e <strong>de</strong> garantir a vendado mel e seus subprodutos. Com base na NovaEconomia Institucional (NEI), essa reestruturaçãogeraria maior eficiência organizacional tanto noambiente macroinstitucional como no ambientemicroinstitucional (este último foi o objetivo epropósito <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>sta pesquisa).ReferênciasAMARAL, A. M. do. Arranjo produtivo local e apiculturacomo estratégia para o <strong>de</strong>senvolvimento do sudoeste <strong>de</strong>Mato Grosso. <strong>2012</strong>. 147 f. Tese (Doutorado)–Universida<strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos, São Carlos. Disponível em:. Acesso em: 10 abr. <strong>2012</strong>.ARBAGE, A. P. Custos <strong>de</strong> transação e seu impactona formação e gestão da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> suprimentos:estudo <strong>de</strong> caso em estruturas <strong>de</strong> governança híbridasdo sistema agroalimentar no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.2004. 267 f. Tese (Doutorado em Administração)–Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, Porto Alegre.Disponível em: . Acessoem: 10 abr. <strong>2012</strong>.BATALHA, M. O. (Org.). Gestão agroindustrial. 3. ed. 5.reimpr. São Paulo: Atlas, 2011. v. 1.CÁRDENAS, L. Q. 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Um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>produção para aEliseu Alves 2Geraldo da Silva e Souzaagricultura brasileira3Eliane Gonçalves Gomes 4Eduardo Magalhães 5Daniela <strong>de</strong> Paula Rochae a importância da6pesquisa da <strong>Embrapa</strong> 1Resumo – Neste trabalho ajusta-se um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> fronteira estocástica para a agricultura brasileiracom base em uma amostra representativa dos dados primários do censo agropecuário <strong>de</strong> 2006. O mo<strong>de</strong>loé especificado com a combinação <strong>de</strong> erros normal-meia normal para as componentes aleatóriae <strong>de</strong> ineficiência. A função <strong>de</strong> produção do mo<strong>de</strong>lo está <strong>de</strong>finida na família Cobb-Douglas e englobaos insumos terra, trabalho e insumos tecnológicos. Para o censo agropecuário <strong>de</strong> 2006, a elasticida<strong>de</strong>dos insumos tecnológicos é dominante. Postula-se a presença <strong>de</strong> efeitos técnicos nas componentes <strong>de</strong>erro. Esses efeitos incluem diversas classes <strong>de</strong> renda, regiões, assistência técnica e a percepção sobrea importância da pesquisa da <strong>Embrapa</strong> na melhoria da renda dos produtores rurais. A presença <strong>de</strong>assistência técnica e as variáveis não categóricas, como a importância da <strong>Embrapa</strong> e a probabilida<strong>de</strong><strong>de</strong> renda líquida positiva, influenciam positivamente a componente <strong>de</strong> eficiência técnica. Esses resultadospersistem com a inclusão <strong>de</strong> observações representativas do censo agropecuário <strong>de</strong> 1995–1996.Palavras-chave: eficiência técnica, fronteiras estocásticas, função <strong>de</strong> produção, pobreza rural, produtivida<strong>de</strong>.A production mo<strong>de</strong>l for the Brazilian agricultureand the importance of <strong>Embrapa</strong>’s researchAbstract – This work adjusts a stochastic frontier mo<strong>de</strong>l for the Brazilian agriculture based on arepresentative sample of the primary data from the Brazilian agricultural census of 2006. The study1Original recebido em 7/8/<strong>2012</strong> e aprovado em 14/8/<strong>2012</strong>.2Engenheiro-agrônomo, Ph. D. em Agricultural Economics pela Indiana University-Purdue University Indianapolis (IUPUI), assessor do Presi<strong>de</strong>nte da <strong>Embrapa</strong>.E-mail: eliseu.alves@embrapa.br3Economista, Ph.D. em Estatística, pesquisador da <strong>Embrapa</strong> – SGE. E-mail: geraldo.souza@embrapa.br4Engenheira química, Doutora em Engenharia da Produção, pesquisadora da <strong>Embrapa</strong> – SGE. E-mail: eliane.gomes@embrapa.br5Consultor do IFPRI. Presi<strong>de</strong>nte da Datalyze Consulting Corporation, B.Sc. em Economia pela Universida<strong>de</strong> do Texas, Austin, MPhil in Economia pelaUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Glasgow, Escocia. E-mail: emagalhaes@gmail.com6Pesquisadora do IBRE/FGV, Bacharel em Economia pela Universida<strong>de</strong> Santa Úrsula, Mestre em Economia Aplicada pela Escola Superior <strong>de</strong> Agricultura Luiz<strong>de</strong> Queiroz (Esalq/USP). E-mail: daniela.rocha@fgv.br35Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


used the normal half-normal mo<strong>de</strong>l of combination of errors for the random and inefficiency components.The production function of the mo<strong>de</strong>l is <strong>de</strong>fined in the Cobb-Douglas family and inclu<strong>de</strong>sthe inputs land, labor, and technological inputs. For the Brazilian agricultural census of 2006, theelasticity of technological inputs prevails. The presence of technical effects in the error componentsis postulated. These effects inclu<strong>de</strong> several income classes, regions, technical assistance, and theperception about the importance of <strong>Embrapa</strong>’s research in improving the income of rural producers.The presence of technical assistance and the non-categorical variables, such as the importance of<strong>Embrapa</strong> and the likelihood of positive net income, positively affect the technical efficiency component.These results remain the same with the inclusion of notes representing the Brazilian agriculturalcensus of 1995–1996.Keywords: technical efficiency, stochastic frontiers, production function, rural poverty, productivity.IntroduçãoO objetivo <strong>de</strong>ste artigo foi a construção <strong>de</strong>um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produção para a agricultura brasileirautilizando os dados do censo agropecuário.Uma característica inovadora <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lofoi a inclusão <strong>de</strong> uma covariável representandoo esforço <strong>de</strong> pesquisa da <strong>Embrapa</strong>, entre outrosfatores como assistência técnica e diferençasregionais.A abordagem escolhida para a avaliaçãoda produção e, em consequência, do efeito dapesquisa da <strong>Embrapa</strong>, entre outros, na renda foia i<strong>de</strong>ntificação do efeito das tecnologias geradaspela empresa em medidas <strong>de</strong> eficiência técnica<strong>de</strong>finidas por meio <strong>de</strong> fronteiras estocásticas(COELLI et al., 2005). A fronteira <strong>de</strong> produção foiespecificada globalmente e por tipos distintos <strong>de</strong>agricultura – lavoura, pecuária e mista –, sujeitasa efeitos <strong>de</strong> classes <strong>de</strong> renda distintas.O efeito das tecnologias da <strong>Embrapa</strong> foiquantificado por meio da percepção das Unida<strong>de</strong>sda <strong>Embrapa</strong> quanto à extensão geográfica dainfluência <strong>de</strong> cada tecnologia e <strong>de</strong> seus impactosna renda <strong>de</strong> produtores. A consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> fronteira <strong>de</strong> produção estocásticosnesse contexto permitiu estimar mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> produçãopara o censo agropecuário <strong>de</strong> 2006 e fazercomparações com o censo agropecuário <strong>de</strong>1995–96. Desse modo, foi possível avaliartambém a evolução temporal da importânciada pesquisa. O uso <strong>de</strong> fronteiras estocásticas,no contexto da análise aqui levada a efeito, éoriginal.O ajuste <strong>de</strong> observações <strong>de</strong> produção amo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> fronteiras <strong>de</strong> produção, na presença<strong>de</strong> variáveis contextuais que afetam a componente<strong>de</strong> ineficiência, <strong>de</strong>manda forte interação doinvestigador com o objeto da análise estatística,uma vez que técnicas <strong>de</strong> otimização, nem sempreconvergentes, <strong>de</strong>vem ser utilizadas. Dessemodo, optou-se por uma análise tendo por baseuma amostra aleatória estratificada (COCHRAN,1977). As populações dos censos agropecuários<strong>de</strong> 1995–1996 e <strong>de</strong> 2006 foram estratificadas porregiões e classes <strong>de</strong> renda, <strong>de</strong>finidas com basena renda anual dos estabelecimentos agropecuários(ALVES et al., 2001, 2006, <strong>2012</strong>). Em cadaregião, três classes <strong>de</strong> renda anual foram consi<strong>de</strong>radascom base em rendimentos mensais emunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> salário mínimo: (0, 2], (2, 10] e (10,200]. Um grupo adicional, <strong>de</strong>finido pela população<strong>de</strong> estabelecimentos com renda superior a200 salários mínimos <strong>de</strong> média mensal, foi tambémincluído na amostra.Na seção seguinte, apresenta-se o mo<strong>de</strong>loamostral utilizado. Na seção “Fronteiras <strong>de</strong> produção”,discutem-se a abordagem <strong>de</strong> fronteiraestocástica e os mo<strong>de</strong>los econométricos utilizadosna análise. A seção “O efeito <strong>Embrapa</strong>” discorresobre a construção da variável percepçãodo efeito <strong>Embrapa</strong>. A seção “Resultados estatísticos”,que se inicia com uma motivação sobre aespecificação utilizada para a fronteira <strong>de</strong> produção,apresenta os resultados estatísticos obtidos,e na seção “Consi<strong>de</strong>rações finais” apresentam-seresumo dos resultados obtidos e as conclusõesfinais.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>36


Plano amostralTomou-se uma amostra aleatória estratificadada população <strong>de</strong> 4.614.030 estabelecimentosrurais no censo agropecuário <strong>de</strong> 2006 e <strong>de</strong>4.722.101 estabelecimentos no censo agropecuário<strong>de</strong> 1995–1996. A amostra foi obtida admitindo-sealocação proporcional (COCHRAN, 1977)e compreen<strong>de</strong>u 258.684 estabelecimentos para ocenso <strong>de</strong> 2006 e 284.923 estabelecimentos parao censo <strong>de</strong> 1995–1996. A escolha da alocaçãoproporcional força representativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todas asclasses <strong>de</strong> renda na amostra. O critério levou emconta um nível <strong>de</strong> precisão <strong>de</strong> R$ 50,00 na estimativada renda média bruta no censo <strong>de</strong> 1995–1996, e <strong>de</strong> R$ 150,00 no censo <strong>de</strong> 2006, comprobabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 95%. O salário mínimo utilizadofoi <strong>de</strong> R$ 300,00 para 2006 e <strong>de</strong> R$ 100,00para 1995–1996.As classes <strong>de</strong> renda consi<strong>de</strong>radas em cadaregião (no = norte; ne = nor<strong>de</strong>ste; se = su<strong>de</strong>ste;sul = sul; e ce = Centro-Oeste), com base narenda bruta anual em 2006, foram: A – rendabruta anual no intervalo (0, 7.200,00]; B – rendabruta anual no intervalo (7.200,00; 36.000,00];C – (36.000,00; 720.000,00]. Um terceiro grupofoi consi<strong>de</strong>rado com renda bruta superior aR$ 720.000,00 e observado populacionalmente(sem amostragem). As classes correspon<strong>de</strong>ntespara 1995–1996 são exatamente as que se obtêmdividindo-se os limites acima por três.A Tabela 1 mostra a alocação das amostraspara os censos <strong>de</strong> 2006 e 1995–1996.O interesse principal <strong>de</strong>ste estudo, associadoao programa amostral, está relacionadoao ajuste <strong>de</strong> fronteiras <strong>de</strong> produção estocásticaspara os estabelecimentos rurais, levando emconta regiões e classes <strong>de</strong> renda. A consi<strong>de</strong>raçãoda classe <strong>de</strong> renda superior a 200 salários mínimosmensais eleva o total <strong>de</strong> estabelecimentosinvestigados nos censos. Essa população é <strong>de</strong>particular interesse para o censo <strong>de</strong> 2006, noqual se observam 27.434 estabelecimentos nessacategoria.O ajuste <strong>de</strong> fronteiras <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>da existência <strong>de</strong> observações válidas <strong>de</strong> rendabruta, efeitos técnicos e utilização <strong>de</strong> insumos(terra, mão <strong>de</strong> obra e outros). Estabelecimentoscom informações inexistentes dos efeitos técnicos<strong>de</strong> interesse ou com valores nulos com gastos<strong>de</strong> insumos ou renda foram eliminados daanálise.A comparação entre os censos agropecuários<strong>de</strong> 1995–1996 e 2006 <strong>de</strong>manda, adicionalmente,compatibilida<strong>de</strong> entre as variáveisobservadas em cada um dos censos. Nesse contexto,as amostras efetivamente utilizadas emnosso exercício estatístico foram reduzidas para74.149 estabelecimentos para o ajuste econométricocorrespon<strong>de</strong>nte ao censo agropecuário<strong>de</strong> 2006 e para 89.626 na base comparativa dosdois censos.Uma classificação adicional por tipo oudominância <strong>de</strong> agricultura foi consi<strong>de</strong>rada e tratadacomo um domínio <strong>de</strong> estudo no programaamostral (COCHRAN, 1977). A dominância foi<strong>de</strong>finida como <strong>de</strong> lavoura, pastagem ou mistacom base na utilização da área do estabelecimento,como segue:1. Área <strong>de</strong> lavoura/área total > 0,5 –lavoura.2. Área <strong>de</strong> pastagem/área total > 0,5 –pastagem.3. Ambas menores ou iguais a 0,5 – mista.Fronteiras <strong>de</strong> produçãoReferências básicas para a discussão nestaseção são: Khumbhakar e Lovell (2000), Coelliet al. (2005), Greene (2011) e Stata (2011). Os mo<strong>de</strong>los<strong>de</strong> fronteira <strong>de</strong> produção apareceram primeiramentena literatura no artigo <strong>de</strong> Aigneret al. (1977).As i<strong>de</strong>ias básicas envolvidas na análiseeconométrica <strong>de</strong> fronteiras <strong>de</strong> produção estocásticaspassam inicialmente pela especificação<strong>de</strong> uma função <strong>de</strong> produção real ƒ(x, z, q) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntedo vetor <strong>de</strong> insumos x <strong>de</strong> dimensão k,do vetor <strong>de</strong> efeitos contextuais z <strong>de</strong> dimensão g,37Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Tabela 1. Alocação da amostra – censos agropecuários <strong>de</strong> 2006 e <strong>de</strong> 1995–1996.Estrato2006 1995–1996População Peso Alocação População Peso AlocaçãoA/no 271.417 0,05882 15.217 190.205 0,04028 11.477B/no 105.082 0,02277 5.891 213.051 0,04512 12.855C/no 35.340 0,00766 1.981 35.553 0,00753 2.145A/ne 1.905.803 0,41305 106.848 1.818.626 0,38513 109.733B/ne 236.400 0,05124 13.254 387.212 0,08200 23.364C/ne 81.424 0,01765 4.565 73.067 0,01547 4.409A/se 426.899 0,09252 23.934 277.838 0,05884 16.764B/se 230.379 0,04993 12.916 311.635 0,06599 18.803C/se 131.985 0,02861 7.400 208.638 0,04418 12.589A/sul 392.730 0,08512 22.018 249.812 0,05290 15.073B/sul 362.070 0,07847 20.299 488.711 0,10349 29.488C/sul 177.182 0,03840 9.934 240.002 0,05083 14.481A/ce 128.956 0,02795 7.230 68.955 0,01460 4.161B/ce 78.107 0,01693 4.379 96.206 0,02037 5.805C/ce 50.256 0,01089 2.818 62.590 0,01325 3.777Total 4.614.030 1,00000 258.684 4.722.101 1,00000 284.924e <strong>de</strong> um vetor paramétrico <strong>de</strong> dimensão finitaq. Sem erros aleatórios e ineficiência, o máximo<strong>de</strong> produção y jque po<strong>de</strong> ser obtido pelo estabelecimentoj com o uso <strong>de</strong> x j, na presença dascovariáveis z j, é dado por y j= ƒ(x j, z j, q).A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ineficiência no processo<strong>de</strong> produção pressupõe a existência <strong>de</strong> umacomponente estocástica h jϵ (0,1) tal que a produçãona realida<strong>de</strong> seja dada por y j= ƒ(x j, z j, q) h j.Se h jse aproxima <strong>de</strong> 1, isso significa que no estabelecimentosua produção é próxima do ótimo<strong>de</strong>finido pela função <strong>de</strong> produção ƒ(x, z, q).Quando h j< 1, o estabelecimento não está produzindoo máximo possível em face da tecnologiadisponível para o conjunto <strong>de</strong> produtorese incorporada na função <strong>de</strong> produção ƒ(x, z, q).Tipicamente as observações <strong>de</strong> produçãotambém estão sujeitas a variações aleatórias resultantes<strong>de</strong> efeitos <strong>de</strong> per si <strong>de</strong>sprezáveis, masque apresentam <strong>de</strong>slocamentos na produção.Desse modo, é comum postular também a presença<strong>de</strong> choques estocásticos na função <strong>de</strong>produção e presumir a existência <strong>de</strong> variáveisaleatórias reais v j, tais que y j= ƒ(x j, z j, q) h jexp(v j).A especificação acima é equivalente aomo<strong>de</strong>lo estatístico ln y j= ln ƒ(x j, z j, q) + v j- u j,em que u jé uma variável aleatória não negativarepresentando a componente <strong>de</strong> ineficiência domo<strong>de</strong>lo, i.e., u j= -ln(h j) .Uma função <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> uso correnteem Teoria <strong>de</strong> Produção é dada pela especificaçãoCobb-Douglas:Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>38


Nessa representação, q = (b,w), sendob v> 0 a elasticida<strong>de</strong> do insumo x v. Portanto, tipicamente,tomando logs, obtém-se a representaçãoMo<strong>de</strong>lo normal-normal truncada:Especificações estocásticas distintas paraas componentes <strong>de</strong> erro levam a mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>fronteira alternativos. Tipicamente assume-seque os v jsão distribuídos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntementeda componente <strong>de</strong> ineficiência u j. Representamuma amostra aleatória da distribuição normalcom média zero e variância s 2 . Para u jassumemseobservações in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, provenientes dadistribuição exponencial com variância s 2 , da udistribuição meia normal, do truncamento positivoda normal com média zero e variância s 2,uou da distribuição normal truncada resultante dotruncamento positivo da distribuição normal commédia m e variância d 2 . Ineficiências esperadassão dadas por s 2 para a distribuição exponencial,upara a distribuição meia normal, e m +fl com l = f(m/d)/F(m/d) para a distribuição normaltruncada, em que f( . ) e F( . ) são as funções<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> distribuição<strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>s da normal padrão.O vetor <strong>de</strong> parâmetros q do mo<strong>de</strong>lo é estimadopara n observações ou estabelecimentospelo método <strong>de</strong> máxima verossimilhança.O processo <strong>de</strong> inferência estatística é válidoassintoticamente. As seguintes funções são otimizadasna obtenção da estimativa q ^do vetor q(STATA, 2011).Mo<strong>de</strong>lo normal-exponencial:Nas expressões acima, e j= v j-u jrepresentaa diferença ln y j-lnƒ(x j, z j, q) entre a variávelresposta e a parte <strong>de</strong>terminística do mo<strong>de</strong>lo,s 2 s = s2 + s 2 u , r = s u /s e g = s2 u / s2 s . O parâmetroq * inclui q e a parametrização adicional usada nacomponente <strong>de</strong> ineficiência.Efeitos associados a variáveis contextuaisque afetam a eficiência técnica são mo<strong>de</strong>ladospor meio dos parâmetros envolvidos nas especificaçõesdas distribuições associadas à ineficiência.Nos casos exponencial e meia normal,postula-se que s 2 = exp(m'b), em que m é umuvetor <strong>de</strong> covariáveis, e b, o vetor <strong>de</strong> efeitos correspon<strong>de</strong>ntes.Para a distribuição normal truncada,postula-se m = (m'b). O valor esperado daineficiência, em qualquer caso, é uma funçãomonótona do construto linear m'b. Heterocedasticida<strong>de</strong>na componente v é obtida impondo umtipo análogo <strong>de</strong> especificação para s 2 . Tal opçãoé tipicamente utilizada nas especificações exponenciale meia normal e não está disponível emStata (2011) para a normal truncada.Nas aplicações <strong>de</strong>ste estudo, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>escolha (os <strong>de</strong>mais não convergiram) foi o <strong>de</strong>finidopela especificação normal-meia normal, coma consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> variáveis contextuais nas duascomponentes <strong>de</strong> erro e na função <strong>de</strong> produção.Nesse contexto, a medida <strong>de</strong> eficiência técnicate jé estimada por (STATA, 2011):Mo<strong>de</strong>lo normal-meia-normal:39Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


O efeito <strong>Embrapa</strong>O levantamento <strong>de</strong> dados relativo à influênciada pesquisa da <strong>Embrapa</strong> na melhoria da rendados produtores rurais teve caráter subjetivo e representauma proxi da percepção dos centros <strong>de</strong> pesquisada <strong>Embrapa</strong> sobre a área <strong>de</strong> influência dastecnologias geradas em cada Unida<strong>de</strong>. Solicitou-se<strong>de</strong> cada Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisa breve <strong>de</strong>scrição dasmelhorias introduzidas nos sistemas <strong>de</strong> produçãoe que justificam impactos (melhorias) na renda dosprodutores, segundo a percepção da Unida<strong>de</strong>, levando-seem conta, notadamente, a época do censoagropecuário.Nesse contexto, foi proposta a cada centrosua colaboração focada nas regiões mais próximas etendo como referência aqueles produtos associadoscom sua missão <strong>de</strong> pesquisa. A importância <strong>de</strong> cadatecnologia na melhoria da renda foi classificadacomo baixa, média ou alta, e foi transformada para aescala 1-3. Valores médios foram <strong>de</strong>terminados paracada mesorregião brasileira, seguindo uma classificaçãodo IBGE. As médias referem-se às respostas<strong>de</strong> 13 centros <strong>de</strong> pesquisa e 54 tecnologias, não necessariamentepresentes em todas as mesorregiões.Os dados do escore <strong>de</strong> importância constantes dasTabelas 2 a 6 foram então associados aos <strong>de</strong> produçãodos estabelecimentos <strong>de</strong> cada mesorregião eTabela 2. Percepção da intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> importância da pesquisa da <strong>Embrapa</strong> por mesorregião – região Norte.Estado Código do estado Mesorregião Código da mesorregião EscoreRondônia 11 Ma<strong>de</strong>ira-Guaporé 1101 1,143Rondônia 11 Leste Rondoniense 1102 2,308Acre 12 Vale do Juruá 1201 1,000Acre 12 Vale do Acre 1202 1,000Amazonas 13 Norte Amazonense 1301 2,000Amazonas 13 Sudoeste Amazonense 1302 2,000Amazonas 13 Centro Amazonense 1303 2,000Amazonas 13 Sul Amazonense 1304 2,000Roraima 14 Norte <strong>de</strong> Roraima 1401 1,000Roraima 14 Sul <strong>de</strong> Roraima 1402 1,500Pará 15 Baixo Amazonas 1501 1,500Pará 15 Marajó 1502 1,000Pará 15 Metropolitana <strong>de</strong> Belém 1503 1,000Pará 15 Nor<strong>de</strong>ste Paraense 1504 1,000Pará 15 Sudoeste Paraense 1505 1,000Pará 15 Su<strong>de</strong>ste Paraense 1506 1,500Amapá 16 Norte do Amapá 1601 1,000Amapá 16 Sul do Amapá 1602 1,000Tocantins 17 Oci<strong>de</strong>ntal do Tocantins 1701 1,500Tocantins 17 Oriental do Tocantins 1702 2,000Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>40


Tabela 3. Percepção da intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> importância da pesquisa da <strong>Embrapa</strong> por mesorregião – região Nor<strong>de</strong>ste.Estado Código do estado Mesorregião Código da mesorregião EscoreMaranhão 21 Norte Maranhense 2101 2,286Maranhão 21 Oeste Maranhense 2102 2,333Maranhão 21 Centro Maranhense 2103 2,286Maranhão 21 Leste Maranhense 2104 2,200Maranhão 21 Sul Maranhense 2104 2,429Piauí 22 Norte Piauiense 2201 3,000Piauí 22 Centro-Norte Piauiense 2202 2,667Piauí 22 Sudoeste Piauiense 2203 3,000Piauí 22 Su<strong>de</strong>ste Piauiense 2204 2,857Ceará 23 Noroeste Cearense 2301 2,667Ceará 23 Norte Cearense 2302 3,000Ceará 23 Metropolitana <strong>de</strong> Fortaleza 2303 3,000Ceará 23 Sertões Cearenses 2304 3,000Ceará 23 Jaguaribe 2305 2,833Ceará 23 Centro-Sul Cearense 2306 2,571Ceará 23 Sul Cearense 2307 2,714Rio Gran<strong>de</strong> do Norte 24 Oeste Potiguar 2401 2,667Rio Gran<strong>de</strong> do Norte 24 Central Potiguar 2402 3,000Rio Gran<strong>de</strong> do Norte 24 Agreste Potiguar 2403 3,000Rio Gran<strong>de</strong> do Norte 24 Leste Potiguar 2404 3,000Paraíba 25 Sertão Paraibano 2501 2,833Paraíba 25 Borborema 2502 3,000Paraíba 25 Agreste Paraibano 2503 2,667Paraíba 25 Mata Paraibana 2504 2,800Pernambuco 26 Sertão Pernambucano 2601 3,000Pernambuco 26São FranciscoPernambucano2602 3,000Pernambuco 26 Agreste Pernambucano 2603 2,444Pernambuco 26 Mata Pernambucana 2604 3,000Pernambuco 26 Metropolitana <strong>de</strong> Recife 2605 3,000Alagoas 27 Sertão Alagoano 2701 2,667Alagoas 27 Agreste Alagoano 2702 2,667Alagoas 27 Leste Alagoano 2703 3,000Sergipe 28 Sertão Sergipano 2801 3,000Sergipe 28 Agreste Sergipano 2802 2,833Sergipe 28 Leste Sergipano 2803 3,000Bahia 29 Extremo Oeste Baiano 2901 3,000Bahia 29Vale São-Franciscanoda Bahia2902 3,000Bahia 29 Centro Norte Baiano 2903 2,417Bahia 29 Nor<strong>de</strong>ste Baiano 2904 3,000Bahia 29 Metropolitana <strong>de</strong> Salvador 2905 3,000Bahia 29 Centro Sul Baiano 2906 2,625Bahia 29 Sul Baiano 2907 3,00041Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Tabela 4. Percepção da intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> importância da pesquisa da <strong>Embrapa</strong> por mesorregião – regiãoSu<strong>de</strong>ste.Estado Código do estado Mesorregião Código da mesorregião EscoreM inas Gerais 31 Noroeste <strong>de</strong> Minas 3101 3,000Minas Gerais 31 Norte <strong>de</strong> Minas 3102 2,750Minas Gerais 31 Jequitinhonha 3103 2,571Minas Gerais 31 Vale do Mucuri 3104 2,333Minas Gerais 31 Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba 3105 1,833Minas Gerais 31 Central Mineira 3106 1,500Minas Gerais 31 Metropolitana <strong>de</strong> Belo Horizonte 3107 1,700Minas Gerais 31 Vale do Rio Doce 3108 1,500Minas Gerais 31 Oeste <strong>de</strong> Minas 3109 1,571Espírito Santo 32 Noroeste Espírito-Santense 3201 0,000Espírito Santo 32 Litoral Norte Espírito-Santense 3202 0,000Espírito Santo 32 Central Espírito-Santense 3203 1,500Espírito Santo 32 Sul Espírito-Santense 3204 1,333Rio <strong>de</strong> Janeiro 33 Noroeste Fluminense 3301 0,000Rio <strong>de</strong> Janeiro 33 Norte Fluminense 3302 0,000Rio <strong>de</strong> Janeiro 33 Centro Fluminense 3303 0,000Rio <strong>de</strong> Janeiro 33 Baixadas 3304 0,000Rio <strong>de</strong> Janeiro 33 Sul Fluminense 3305 0,000Rio <strong>de</strong> Janeiro 33 Metropolitana do Rio <strong>de</strong> Janeiro 3306 0,000São Paulo 35 São José do Rio Preto 3501 1,833São Paulo 35 Ribeirão Preto 3502 2,167São Paulo 35 Araçatuba 3503 2,000São Paulo 35 Bauru 3504 1,833São Paulo 35 Araraquara 3505 2,000São Paulo 35 Piracicaba 3506 2,000São Paulo 35 Campinas 3507 1,714São Paulo 35 Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte 3508 2,000São Paulo 35 Marília 3509 3,000Minas Gerais 31 Sul/Sudoeste <strong>de</strong> Minas 31010 1,833Minas Gerais 31 Campo das Vertentes 31011 1,500Minas Gerais 31 Zona da Mata 31012 1,700São Paulo 35 Assis 35010 3,000São Paulo 35 Itapetininga 35011 2,143São Paulo 35 Macro Metropolitana Paulista 35012 2,000São Paulo 35 Vale do Paraíba Paulista 35013 3,000São Paulo 35 Litoral Sul Paulista 35014 3,000São Paulo 35 Metropolitana <strong>de</strong> São Paulo 35015 3,000Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>42


Tabela 5. Percepção da intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> importância da pesquisa da <strong>Embrapa</strong> por mesorregião – região Sul.Estado Código do estado Mesorregião Código da mesorregião EscoreParaná 41 Noroeste Paranaense 4101 2,000Paraná 41 Centro Oci<strong>de</strong>ntal Paranaense 4102 2,000Paraná 41 Norte Central Paranaense 4103 2,000Paraná 41 Norte Pioneiro Paranaense 4104 2,143Paraná 41 Centro Oriental Paranaense 4105 1,889Paraná 41 Oeste Paranaense 4106 1,889Paraná 41 Sudoeste Paranaense 4107 1,900Paraná 41 Centro-Sul Paranaense 4108 1,875Paraná 41 Su<strong>de</strong>ste Paranaense 4109 1,857Paraná 41 Metropolitana <strong>de</strong> Curitiba 41010 1,667Santa Catarina 42 Oeste Catarinense 4201 1,733Santa Catarina 42 Norte Catarinense 4202 1,692Santa Catarina 42 Serrana 4203 2,333Santa Catarina 42 Vale do Itajaí 4204 1,500Santa Catarina 42 Gran<strong>de</strong> Florianópolis 4205 1,750Santa Catarina 42 Sul Catarinense 4206 1,636Rio Gran<strong>de</strong> do Sul 43 Noroeste Rio-Gran<strong>de</strong>nse 4301 2,000Rio Gran<strong>de</strong> do Sul 43 Nor<strong>de</strong>ste Rio-Gran<strong>de</strong>nse 4302 2,071Rio Gran<strong>de</strong> do Sul 43Centro Oci<strong>de</strong>ntal Rio-Gran<strong>de</strong>nse4303 1,800Rio Gran<strong>de</strong> do Sul 43 Centro Oriental Rio-Gran<strong>de</strong>nse 4304 2,000Rio Gran<strong>de</strong> do Sul 43 Metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre 4305 1,778Rio Gran<strong>de</strong> do Sul 43 Sudoeste Rio-Gran<strong>de</strong>nse 4306 2,200Rio Gran<strong>de</strong> do Sul 43 Su<strong>de</strong>ste Rio-Gran<strong>de</strong>nse 4307 2,000tratados como variável contextual com valores contínuosno intervalo (1,3) nas análises <strong>de</strong> regressão.Resultados estatísticosAspectos <strong>de</strong>scritivosComeça-se a discussão, nesta seção, comuma introdução motivadora sobre a abordagem<strong>de</strong>ste estudo envolvendo o ajuste <strong>de</strong> fronteirasestocásticas, tal como <strong>de</strong>scrito na seção “Fronteiras<strong>de</strong> produção”.Existe uma fronteira <strong>de</strong> produção que estabeleceo produto máximo para cada cesta <strong>de</strong>insumo. Digamos que o máximo seja 100 paradada cesta. Produziu-se um produto <strong>de</strong> 60. Então,a eficiência técnica vale 0,6, e a ineficiênciaé 0,4. Note-se que o máximo <strong>de</strong> eficiência é um.É óbvio que existem muitas complicações parase estimar a fronteira <strong>de</strong> produção, <strong>de</strong>la <strong>de</strong>riva-43Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


dices <strong>de</strong> eficiência. Particularmente no contextodo efeito <strong>Embrapa</strong>, como <strong>de</strong>scrito na seção “Oefeito <strong>Embrapa</strong>”, a cada Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisa da<strong>Embrapa</strong> e para cada mesorregião, segundo oIBGE, foi perguntado se a tecnologia gerada teveimpacto nela e em que intensida<strong>de</strong>, numa escala<strong>de</strong> 1 a 3. Como as Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sconheciam asclasses <strong>de</strong> renda, a hipótese é <strong>de</strong> que não existeassociação entre renda e o escore mencionado.A fronteira estocástica relaciona a rendabruta com os insumos terra, trabalho, insumostecnológicos e variáveis contextuais. Dada acesta <strong>de</strong> insumos, o ponto correspon<strong>de</strong>nte dafronteira <strong>de</strong> produção representa o máximo queaquela cesta po<strong>de</strong> produzir. É claro que se admiteexistir uma fronteira <strong>de</strong> produção para osdados do censo agropecuário <strong>de</strong> 2006 que seenquadraram nos critérios da pesquisa. A fronteirafoi estimada baseando-se numa amostraprobabilística estratificada que abrangeu 74.296estabelecimentos, sendo os estratos as regiões, eestando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>las as classes <strong>de</strong> renda bruta,como <strong>de</strong>scrito na seção “Plano amostral”.As regiões serão <strong>de</strong>scritas com algum <strong>de</strong>talhepara fundamentar a escolha <strong>de</strong> variáveiscontextuais representando sua variabilida<strong>de</strong>. Aquestão que se coloca é se é possível, por algumcritério, agregar as cinco regiões em um únicogrupo <strong>de</strong> regiões. Consi<strong>de</strong>rando-se os critériosexplicados abaixo, a resposta a essa questão énegativa, ou seja, cada uma <strong>de</strong>las <strong>de</strong>ve ser tratadaindividualmente.O critério dominante escolhido é a rendalíquida, que é um critério <strong>de</strong> eficiência,medido em termos da porcentagem dos estabelecimentoscom renda líquida não negativa, ouvice-versa. Por esse critério <strong>de</strong> renda líquida, trêsregiões estão muito próximas em termos percentuais:Norte, com 51,43; Nor<strong>de</strong>ste, com 51,59, eSul, com 55,70. No entanto, o rendimento porhectare é muito maior no Sul, com 1.143,74, noNor<strong>de</strong>ste, com 445,91, e no Norte, com 194,14.Pelo critério <strong>de</strong> rendimento por hectare, essastrês regiões se separam. É possível alegar queNorte e Nor<strong>de</strong>ste têm rendimentos por hectarebaixos e, assim, não se separam. Mas, pela áreamédia, mediana e índice <strong>de</strong> Gini, elas são bemdiferentes entre si, como também pelo patrimônioe dispêndio por hectare. Note-se que o índice<strong>de</strong> Gini me<strong>de</strong> a concentração da renda bruta.Centro-Oeste e Su<strong>de</strong>ste se separam entre si pelocritério da renda líquida e, pelo mesmo critério,das <strong>de</strong>mais três regiões. Por esse critério, o pior<strong>de</strong>sempenho é o do Centro-Oeste, seguido doSu<strong>de</strong>ste. Em relação ao total <strong>de</strong> estabelecimentos,essas duas regiões tiveram as duas maioresporcentagens <strong>de</strong> estabelecimentos com rendalíquida negativa (Tabela 7.)Em síntese, as cinco regiões são muitodiferentes. Assim, em mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> regressão, oTabela 7. Características das cinco regiões geográficas brasileiras.ItemRegiãoNorte Nor<strong>de</strong>ste Centro-Oeste Su<strong>de</strong>ste SulRenda líquida ≥ 0: % <strong>de</strong> estabelecimentos 48,57 48,41 25,70 36,51 44,30Rendimento: renda bruta por hectare 194,14 445,91 309,59 1.096,49 1.143,74Área média (hectares) 124,78 32,60 357,83 62,39 41,87Área mediana (hectares) 37,38 5,63 126,01 20,86 17,31Patrimônio: reais por hectare 1.653,34 1.847,29 2.940,24 6.917,53 8.015,47Dispêndio: reais por hectare 180,88 324,34 386,10 1.020,23 946,71Índice <strong>de</strong> Gini 0,84 0,91 0,91 0,90 0,81Fonte: IBGE (2006).45Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


efeito região não <strong>de</strong>ve ser ignorado. A Tabela 7ainda salienta os seguintes pontos: as três regiões<strong>de</strong> menores rendimentos por hectare são Norte,Centro-Oeste e Nor<strong>de</strong>ste, nessa or<strong>de</strong>m. O menorrendimento é o da região Norte. Seguem-seCentro-Oeste e Nor<strong>de</strong>ste. Como os rendimentos<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m dos dispêndios por hectare, é naturalque os valores dos dispêndios por hectare sigama mesma or<strong>de</strong>m, o que aconteceu. Na medidaem que o rendimento por hectare reflete a mo<strong>de</strong>rnizaçãoda agricultura, essas três regiões atrasaram-semuito em relação ao Sul e ao Su<strong>de</strong>ste.Os dados do Centro-Oeste indicam baixorendimento, dispêndio e patrimônio por hectare,principalmente na comparação com o Su<strong>de</strong>ste eo Sul. Não refletem, assim, a imagem que se temda região no que tange à mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Ressalteseque essa imagem é construída em torno daprodução <strong>de</strong> grãos em gran<strong>de</strong>s áreas. Não selevam em consi<strong>de</strong>ração outras explorações e aprodução em pequenas áreas.Sul e Su<strong>de</strong>ste têm os maiores rendimentospor hectare. Por essa dimensão, são as regiõesmais mo<strong>de</strong>rnas. Substancia essa proposição ofato <strong>de</strong> elas terem tido os maiores dispêndios epatrimônio por hectare, distanciando-se da agriculturatradicional. No Su<strong>de</strong>ste, o número <strong>de</strong>agricultores, em relação ao total, que não foramcapazes <strong>de</strong> remunerar todos os fatores <strong>de</strong> produçãosó foi suplantado pelo do Centro-Oeste.Nesse respeito, a região Sul está bem: seus estabelecimentostêm melhores condições <strong>de</strong> sobrevivência,porque foram muitos os que pagaramtodos os custos.Em relação ao critério renda líquida, osestabelecimentos foram classificados em doisgrupos: os <strong>de</strong> renda líquida negativa e os <strong>de</strong> rendalíquida não negativa. Os dois grupos comportam-semuito diferentemente em todas as regiõesem relação a rendimento por hectare, produtivida<strong>de</strong>total dos fatores (PTF), área média, áreamediana, dispêndio e patrimônio por hectare. Ogrupo <strong>de</strong> renda líquida negativa tem maior áreamédia, mediana, dispêndio e patrimônio porhectare. Ainda tem bem menor rendimento porhectare e PTF, obviamente. Administraram muitomal o patrimônio e a tecnologia. Sendo assim, éimportante consi<strong>de</strong>rar essas duas classes <strong>de</strong> rendalíquida em um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> regressão. Usa-se umatransformação conveniente para transformar asduas classes <strong>de</strong> renda líquida em variável contínua.Essa variável me<strong>de</strong> a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obter rendalíquida positiva.Os estabelecimentos foram agrupados emquatro classes <strong>de</strong> renda bruta: (0, 2], sendo a rendabruta medida em salário mínimo mensal; (2, 10];(10, 200]; e >200. Em cada região, o rendimentopor hectare cresce dos estabelecimentos <strong>de</strong> menoresrendas brutas para os <strong>de</strong> maiores. O mesmoocorre com PTF, área, patrimônio, dispêndio porhectare e a porcentagem dos estabelecimentos <strong>de</strong>renda líquida não negativa. Por isso, os mo<strong>de</strong>los<strong>de</strong> regressão <strong>de</strong>vem incluir efeitos específicos <strong>de</strong>classes <strong>de</strong> renda bruta para levar em conta a variabilida<strong>de</strong>distinta <strong>de</strong> cada grupo. Resumidamente,por região e por classes <strong>de</strong> renda bruta, relata-se aseguir a distribuição <strong>de</strong> variáveis como rendimentopor hectare, PTF, área, patrimônio e dispêndio porhectare.O rendimento por hectare representa oquanto cada hectare produziu <strong>de</strong> renda bruta noano <strong>de</strong> 2006, conforme a Tabela 8. Me<strong>de</strong> a produtivida<strong>de</strong>da terra. Três regiões <strong>de</strong>stacaram-se comos menores rendimentos por hectare em cada umadas quatro classes <strong>de</strong> renda bruta e por classe <strong>de</strong>renda líquida: Norte, Nor<strong>de</strong>ste e Centro-Oeste. Su<strong>de</strong>stee Sul tiveram as maiores produtivida<strong>de</strong>s daterra. Nessa visão, a mo<strong>de</strong>rnização da agriculturaatrasou-se muito naquelas regiões vis-à-vis o Sul eo Su<strong>de</strong>ste.O rendimento por hectare é bem menorpara a classe <strong>de</strong> renda líquida negativa.O rendimento por hectare da classe <strong>de</strong> rendalíquida não negativa cresce firmemente da menorpara a maior classe <strong>de</strong> renda bruta. O mesmoocorre na classe <strong>de</strong> renda líquida negativa, masmais lentamente. Isso significa que os menoresprodutores enfrentam maiores restrições <strong>de</strong> crédito,<strong>de</strong> assistência técnica e <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s paraapren<strong>de</strong>r a administrar a tecnologia.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>46


Tabela 8. Distribuição dos rendimentos por hectare (R$/ha) das cinco regiões, em salários mínimos mensais,por classes <strong>de</strong> renda bruta e por renda líquida.Renda bruta Renda líquida Norte Nor<strong>de</strong>ste Centro-Oeste Su<strong>de</strong>ste Sul(0, 2] ≥0 143,16 268,63 248,02 436,83 440,96


Tabela 9. Distribuição da produtivida<strong>de</strong> total dos fatores das cinco regiões, em salários mínimos mensais, porclasses <strong>de</strong> renda bruta e por renda líquida.Renda bruta Renda líquida Norte Nor<strong>de</strong>ste Centro-Oeste Su<strong>de</strong>ste Sul(0, 2] ≥0 2,58 2,08 1,49 1,62 1,50


Tabela 11. Distribuição do patrimônio por hectare dos estabelecimentos das cinco regiões, em salários mínimosmensais, por classes <strong>de</strong> renda bruta e por renda líquida.Renda bruta Renda líquida Norte Nor<strong>de</strong>ste Centro-Oeste Su<strong>de</strong>ste Sul(0, 2] ≥0 650,13 1.183,92 2.032,91 3.139,51 3.467,18


<strong>de</strong> 1995–1996. Além <strong>de</strong> explicar as tecnologiasenvolvidas nas diversas instâncias e sua evoluçãono período entre censos, buscou-se nesseexercício caracterizar propriamente os gruposmais beneficiados no contexto da percepção <strong>de</strong>importância da pesquisa da <strong>Embrapa</strong>.Inicia-se com o mo<strong>de</strong>lo global para o censoagropecuário <strong>de</strong> 2006. A função <strong>de</strong> produçãoé <strong>de</strong>finida seguindo a especificação da seção“Fronteiras <strong>de</strong> produção” e tem a formaln(y j) = b 0+ b 1ln(xtrab j) + b 2ln(xterra j) + b 3ln(xtec j)+ b 4D 1j+ b 5D 2j+ b 6D 3j+ b 7D 4j+ v j- u jNessa expressão, ln representa o logneperiano, y representa renda bruta, xtrab sãogastos com mão <strong>de</strong> obra, xterra são gastos comterra, e xtec são gastos com insumos tecnológicos.As variáveis D são indicadoras regionais, comeliminação <strong>de</strong> uma das regiões (Centro-Oeste)para evitar singularida<strong>de</strong>. As componentes v jeu jsão as componentes <strong>de</strong> erro aleatório e <strong>de</strong>ineficiência do mo<strong>de</strong>lo. A representação normalmeianormal foi escolhida entre as <strong>de</strong>mais porser a única convergente.O erro aleatório representado pela componentev jtem distribuição normal, com média zeroe com variância <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das classes <strong>de</strong> renda.A <strong>de</strong>pendência na classe <strong>de</strong> renda leva em contaa heterocedasticida<strong>de</strong> herdada do plano amostral.Desse modo, controla-se a variabilida<strong>de</strong> regionalna função <strong>de</strong> produção e a das classes <strong>de</strong> rendana variância do erro.O erro u jé a componente <strong>de</strong> ineficiência técnicacom distribuição meia normal, com variância<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos efeitos técnicos contextuais – probabilida<strong>de</strong><strong>de</strong> renda líquida negativa (p), ação dapesquisa agropecuária (escore), assistência técnica(assitec) e dummies <strong>de</strong> regiões. A probabilida<strong>de</strong><strong>de</strong> renda líquida negativa (positiva) foi estimadaexternamente por meio <strong>de</strong> uma regressão comvariável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte binária, na qual se supõe quep = F(l'c), em que c é um vetor <strong>de</strong> parâmetros, el é <strong>de</strong>finido com o uso <strong>de</strong> um conjunto gran<strong>de</strong><strong>de</strong> variáveis instrumentais, não mostradas aqui. Afunção F(.), como na seção “Fronteiras <strong>de</strong> produção”,é a função <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>sda normal padrão. A análise é condicional aos valoresda probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda líquida negativa.A parte sistemática do mo<strong>de</strong>lo representa,portanto, uma função <strong>de</strong> produção na famíliaCobb-Douglas. O mo<strong>de</strong>lo foi ajustado a umaamostra aleatória <strong>de</strong> 74.296 produtores ruraiscom observações válidas (não nulas das variáveisenvolvidas nos cálculos dos logaritmos) pelométodo <strong>de</strong> máxima verossimilhança. Como representativida<strong>de</strong>do ajuste econométrico, consi<strong>de</strong>rou-sea correlação entre valores observadose preditos. O valor obtido para essa medida foi93,5%. O mo<strong>de</strong>lo a<strong>de</strong>riu bem aos dados. Todosos efeitos técnicos <strong>de</strong> interesse da medida<strong>de</strong> ineficiência são significantes e apresentam sinaisnegativos indicando variação inversa com acomponente <strong>de</strong> ineficiência técnica. Estimou-se,simultaneamente com a função <strong>de</strong> produção, aeficiência técnica como função do escore queme<strong>de</strong> o efeito <strong>Embrapa</strong> e da assistência técnica.A Tabela 13 apresenta os resultados obtidosna estimação com a utilização do software Stata11. Os estratos <strong>de</strong> renda são representados porest1-est15 (consecutivamente A/no, B/no, C/no,A/ne, B/ne, C/ne, A/se, B/se, C/se, A/sul, B/sul,C/sul, A/ce, B/ce, C/ce) e tomam por base a classe<strong>de</strong> estabelecimentos com renda bruta médiamensal superior a 200 salários mínimos. As variáveisindicadoras regionais são representadas porreg_1-reg_4 e representam as regiões Norte,Nor<strong>de</strong>ste, Sul e Su<strong>de</strong>ste, respectivamente. Oscoeficientes representam, portanto, diferenças<strong>de</strong> intercepto relativamente à região Centro-Oeste. Variáveis logaritimizadas são representadascom um ‘l’ como inicial.Vê-se que, <strong>de</strong> modo geral, a influência daterra no aumento da renda bruta é pequena, eavulta-se a dos insumos tecnológicos, e <strong>de</strong>les <strong>de</strong>correo efeito dos rendimentos. Esse resultado temforte implicação para a difusão <strong>de</strong> tecnologia, qualseja, quem não tiver condições <strong>de</strong> usar os insumostecnológicos ficará con<strong>de</strong>nado às pequenas produções.Claro está: usar seguindo as regras apropriadas(Tabela 14).Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>50


Tabela 13. Resultados da estimação do mo<strong>de</strong>lo geral – censo agropecuário <strong>de</strong> 2006.Coeficiente Desvio padrão z P>|z| [Intervalo <strong>de</strong> confiança a 95%]lylxtrab 0,2101736 0,0029902 70,29 0,000 0,2043129 0,2160342lxterra 0,0900793 0,0021386 42,12 0,000 0,0858878 0,0942708lxtec 0,6399367 0,0035038 182,64 0,000 0,6330693 0,646804reg_1 0,0958635 0,0292983 3,27 0,001 0,0384399 0,1532871reg_2 -0,1063913 0,0230666 -4,61 0,000 -0,151601 -0,0611817reg_3 0,0334667 0,0220642 1,52 0,129 -0,0097783 0,0767116reg_4 -0,0581097 0,0207371 -2,80 0,005 -0,0987537 -0,0174658_cons 20,249738 0,0345432 65,13 0,000 2,0182034 2,0317441lnsig2vest1 -1,0140726 0,0581575 -19,61 0,000 -1,0254712 -1,00260739est2 -1,0620287 0,0435122 -37,24 0,000 -1,0705569 -1,05350004est3 -0,7374148 0,0528319 -13,96 0,000 -0,8409634 -0,63386620est4 -0,8818618 0,0177799 -49,60 0,000 -0,9167098 -0,84701390est5 -1,0377323 0,0229791 -59,94 0,000 -1,0422361 -1,03320284est6 0,0951125 0,0311404 3,05 0,002 0,0340785 0,15614650est7 -1,0238299 0,0652115 -18,99 0,000 -1,0366111 -1,01100487est8 -2,0483695 0,0438376 -56,66 0,000 -2,0569615 -2,03970775est9 -1,0626789 0,0306396 -53,09 0,000 -1,0686841 -1,05660736est10 -1,0955574 0,0751655 -26,02 0,000 -2,0102896 -1,08080253est11 -2,0807572 0,0329233 -85,28 0,000 -2,0872100 -2,07430043est12 -1,0731906 0,026218 -66,06 0,000 -1,0783292 -1,06800519est13 -1,0624397 0,2624252 -6,19 0,000 -2,0138741 -1,01100053est14 -2,0491668 0,0977874 -25,48 0,000 -2,0683328 -2,03000008est15 -1,0966792 0,0550696 -35,71 0,000 -2,0074726 -1,08580858_cons 1,0063889 0,0111711 95,24 0,000 1,0041994 1,00857840lnsig2up 7,0524358 0,0733391 102,60 0,000 7,0380616 7,0668100escore -0,0594332 0,0223698 -2,66 0,008 -0,1032772 -0,0155891assitec -0,1164718 0,0266358 -4,37 0,000 -0,168677 -0,0642665reg_1 0,2133495 0,0606021 3,52 0,000 0,0945715 0,3321275reg_2 0,1155704 0,0491867 2,35 0,019 0,0191663 0,2119745reg_3 -0,0317031 0,0502839 -0,63 0,528 -0,1302578 0,0668516reg_4 0,036403 0,0507546 0,72 0,473 -0,0630741 0,1358802_cons -5,0201734 0,0948005 -54,87 0,000 -5,038754 -5,0015092951Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Tabela 14. Elasticida<strong>de</strong>s dos insumos.Insumo Elasticida<strong>de</strong> Intervalo <strong>de</strong> confiança a 95% Proporção (1)Trabalho 0,210 (0,204; 0,216) 22,34Terra 0,090 (0,086; 0,094) 09,57Tecnológicos 0,640 (0,633; 0,647) 68,09Soma dos coeficientes 0,940 (0,923; 0,957) 100,00(1)Em relação à soma das elasticida<strong>de</strong>s.Vê-se, portanto, na Tabela 13 a significânciados efeitos <strong>de</strong> assistência técnica, probabilida<strong>de</strong><strong>de</strong> renda líquida negativa e importância da<strong>Embrapa</strong>. O mo<strong>de</strong>lo ajustado na Tabela 13 produza classificação gerada pela Tabela 15 com basenas estimativas <strong>de</strong> 1 - p jdas eficiências te je dosefeitos pesquisa escore j. Via mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> análise <strong>de</strong>variância é possível levar a efeito uma análise adicionaldos construtos envolvidos. Nesse contexto,as respostas são médias por estabelecimento.Os valores médios do escore obtidos paraas classes <strong>de</strong> renda são 2,066 – (0, 2]; 2,058 –(2, 10]; 2,069 – (10, 200]; 2,137 – > 200. Observa-sedominância suave para as classes <strong>de</strong> rendasuperiores. Para as regiões existem diferenças significantes.Os valores médios obtidos são: 1,568Tabela 15. Valores médios do escore <strong>Embrapa</strong> (escore), eficiência técnica (te) e probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda líquidapositiva (p), por região e classe <strong>de</strong> renda.Região Renda te escore p(0, 2] 0,326 1,51 0,192Norte(2, 10] 0,571 1,586 0,441(10, 200] 0,671 1,608 0,534(0, 2] 0,519 2,770 0,340Nor<strong>de</strong>ste(2, 10] 0,734 2,776 0,608(10, 200] 0,846 2,768 0,780(0, 2] 0,236 1,877 0,084Su<strong>de</strong>ste(2, 10] 0,438 1,747 0,259(10, 200] 0,699 1,821 0,526(0, 2] 0,282 1,931 0,108Sul(2, 10] 0,617 1,923 0,464(10 , 200] 0,770 1,926 0,620(0, 2] 0,157 2,244 0,037Centro-Oeste(2, 10] 0,377 2,258 0,204(10, 200] 0,593 2,220 0,378- >200 0,864 2,137 0,786Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>52


– Norte; 2,771 – Nor<strong>de</strong>ste; 1,815 – Su<strong>de</strong>ste; 1,927– Sul; 2,241 – Centro-Oeste. Há dominância claradas regiões Nor<strong>de</strong>ste e Centro-Oeste.A distribuição <strong>de</strong> médias da medida <strong>de</strong>eficiência técnica é dada por 0,304 – (0, 2];0,547 –(2, 10]; 0,716 – (10, 200]; 0,864 – > 200.A dominância das classes <strong>de</strong> renda superior énotória. Quanto à distribuição regional, obtémse0,523 – Norte; 0,700 – Nor<strong>de</strong>ste; 0,458 –Su<strong>de</strong>ste; 0,556 – Sul; 0,376 – Centro-Oeste,corroborando a impressão quando da análise<strong>de</strong>scritiva das regiões. O <strong>de</strong>sempenho da regiãoCentro-Oeste é o mais tímido. O mesmogradiente é observado para as probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>renda líquida positiva.A correlação <strong>de</strong> posições entre as medidas<strong>de</strong> eficiência técnica e o escore <strong>de</strong> percepção <strong>Embrapa</strong>,embora positiva, não é substancial: 17%.A presença significante do efeito <strong>Embrapa</strong>leva à conjectura da importância da variávelquanto à distribuição <strong>de</strong> renda <strong>de</strong>ntro dasregiões e por tipo <strong>de</strong> agricultura. O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>produção não converge por estrato, mas é possívelajustar mo<strong>de</strong>los por tipos <strong>de</strong> agricultura.As Tabelas 16, 17 e 18 mostram os resultados obtidoscom esse exercício. O mesmo mo<strong>de</strong>lo geral foiajustado para os tipos lavoura, pastagem e misto.Vê-se nas Tabelas 16, 17 e 18 que para todosos tipos <strong>de</strong> agricultura (lavoura, pecuária emista) há um efeito positivo da variável percepçãoda <strong>Embrapa</strong> na redução da ineficiência. Os resultadossão marginais para pecuária e agriculturamista e significantes para a lavoura. A componente<strong>de</strong> assistência técnica <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser significantepara o grupo pecuária. A estimativa <strong>de</strong> elasticida<strong>de</strong>ssegue o gradiente observado no mo<strong>de</strong>lo geralcom dominância dos insumos tecnológicos.A inclusão dos dados do censo agropecuário<strong>de</strong> 1995–1996 na análise conduz aos resultadosapresentados na Tabela 19. A consi<strong>de</strong>raçãoconjunta dos dois censos <strong>de</strong>mandou a correçãodos valores monetários e a correção própria dosestratos <strong>de</strong> classe <strong>de</strong> renda. Utilizou-se o fatortrês nessa correção. Ao mo<strong>de</strong>lo original adicionaram-seefeitos <strong>de</strong> tempo e interações na estimativadas elasticida<strong>de</strong>s. A variável escore foitomada como constante no período. As novasvariáveis introduzidas foram a variável indicadoray2006, com valor unitário em 2006, e asinterações a = y2006*lxtrab, b = y2006*lxterra,c = y2006*lxtec, escoreint = y2006*escore.O ajuste apresenta resultados interessantes. Ointercepto da função <strong>de</strong> produção é negativo,indicando amenização da componente técnicano período. O valor relativo da elasticida<strong>de</strong> dosinsumos tecnológicos é significativamente maiorem 2006, o que indica maior importância douso dos insumos tecnológicos para o aumentoda produção. As variáveis escore (<strong>Embrapa</strong>),assistência técnica (assitec) e probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>renda líquida positiva (p) são estatisticamentesignificantes e favorecem a redução da ineficiênciatécnica. A interação positiva da variávelescore com y2006, contudo, indica aumento daineficiência técnica no período entre censos.Comparação entre os censos<strong>de</strong> 1995–1996 e 2006A Tabela 19 permite a construçãoda Tabela 20, que facilita a comparação dos doiscensos analisados. Note-se que a coluna i<strong>de</strong>ntificadapor “%” indica o impacto relativo <strong>de</strong> cada insumona variação total da renda bruta resultante <strong>de</strong>aumentos relativos unitários em cada insumo.Valem as seguintes observações: na explicaçãodo aumento da produção, trabalho fica menosimportante, porque houve queda significativa nasua elasticida<strong>de</strong>, dada pelo coeficiente <strong>de</strong> A na Tabela19. Isso significa que a agricultura ficou maismecanizada em 2006; da mesma forma, terra, queera pouco importante já em 1995–1996, per<strong>de</strong> aindamais a capacida<strong>de</strong> para explicar o incremento daprodução. No caso, é o coeficiente B (Tabela 19). Ocoeficiente C evi<strong>de</strong>ncia expressiva importância dosinsumos tecnológicos. Os coeficientes A, B e C foramadicionados, respectivamente, a lxtrab, lxterra elxtec na Tabela 19 para construir a Tabela 20.53Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Tabela 17. Resultados da estimação do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produção para pecuária – censo agropecuário <strong>de</strong> 2006.Coeficiente Desvio padrão z P>|z| [Intervalo <strong>de</strong> confiança a 95%]lylxtrab 0,1331749 0,0047139 28,25 0,000 0,1239359 0,1424139lxterra 0,0641547 0,0030481 21,05 0,000 0,0581806 0,0701289lxtec 0,7126432 0,0060869 117,08 0,000 0,7007131 0,7245733reg_1 -0,094204 0,0311844 -3,02 0,003 -0,1553244 -0,0330836reg_2 -0,1144621 0,026617 -4,30 0,000 -0,1666305 -0,0622937reg_3 0,0113711 0,0245941 0,46 0,644 -0,0368324 0,0595746reg_4 -0,0440258 0,0268282 -1,64 0,101 -0,096608 0,0085564_cons 2,054059 0,0526206 39,04 0,000 1,950924 2,157193lnsig2vest1 -1,192218 0,1070533 -11,14 0,000 -1,402039 -0,9823979est2 -2,210792 0,0630627 -35,06 0,000 -2,334393 -2,087192est3 -1,451913 0,0717912 -20,22 0,000 -1,592621 -1,311205est4 -0,9927785 0,0349705 -28,39 0,000 -1,061319 -0,9242376est5 -1,839492 0,0395156 -46,55 0,000 -1,916942 -1,762043est6 -0,3851028 0,0512528 -7,51 0,000 -0,4855564 -0,2846491est7 -1,581233 0,1087979 -14,53 0,000 -1,794473 -1,367993est8 -2,777035 0,0559109 -49,67 0,000 -2,886619 -2,667452est9 -1,794801 0,0437278 -41,04 0,000 -1,880506 -1,709096est10 -2,709878 0,2118471 -12,79 0,000 -3,12509 -2,294665est11 -2,676587 0,0676716 -39,55 0,000 -2,809221 -2,543953est12 -1,783883 0,0554956 -32,14 0,000 -1,892652 -1,675113est13 -1,73992 0,2654407 -6,55 0,000 -2,260175 -1,219666est14 -3,089022 0,124606 -24,79 0,000 -3,333245 -2,844799est15 -1,939055 0,0645392 -30,04 0,000 -2,065549 -1,81256_cons 1,039507 0,0224888 46,22 0,000 0,9954297 1,083584lnsig2uP 10,98389 0,1987805 55,26 0,000 10,59428 11,37349escore -0,0440523 0,0318262 -1,38 0,166 -0,1064305 0,018326assitec 0,0070475 0,0435512 0,16 0,871 -0,0783112 0,0924062reg_1 -0,0033683 0,0799603 -0,04 0,966 -0,1600876 0,153351reg_2 -0,0732304 0,065315 -1,12 0,262 -0,<strong>2012</strong>455 0,0547846reg_3 -0,1362259 0,0644883 -2,11 0,035 -0,2626206 -0,0098311reg_4 -0,0621696 0,072203 -0,86 0,389 -0,2036849 0,0793457_cons -8,806909 0,2121524 -41,51 0,000 -9,22272 -8,39109855Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Tabela 18 Resultados da estimação do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produção para agricultura mista – censo agropecuário <strong>de</strong>2006.Coeficiente Desvio padrão z P>|z| [Intervalo <strong>de</strong> confiança a 95%]lylxtrab 0,2034542 0,0058049 35,05 0,000 0,1920768 0,2148315lxterra 0,0741757 0,0040504 18,31 0,000 0,0662371 0,0821142lxtec 0,6727018 0,0069279 97,10 0,000 0,6591234 0,6862802reg_1 0,2965908 0,0625383 4,74 0,000 0,1740179 0,4191636reg_2 -0,1461399 0,0538251 -2,72 0,007 -0,2516351 -0,0406446reg_3 0,0974003 0,0570336 1,71 0,088 -0,0143835 0,2091841reg_4 0,0766202 0,051110 1,50 0,134 -0,0235536 0,176794_cons 2,0403750 0,0771897 26,43 0,000 1,8890860 2,191664lnsig2vest1 -1,658426 0,1019016 -16,27 0,000 -1,85815 -1,458702est2 -1,821715 0,0769607 -23,67 0,000 -1,972555 -1,670875est3 -0,6512171 0,096573 -6,74 0,000 -0,8404966 -0,4619376est4 -1,298884 0,0368505 -35,25 0,000 -1,37111 -1,226,658est5 -1,744736 0,0460373 -37,90 0,000 -1,834968 -1,654505est6 -0,2399819 0,0638643 -3,76 0,000 -,3651537 -0,1148102est7 -1,829965 0,1322446 -13,84 0,000 -2,089160 -1,57077est8 -2,407285 0,0887542 -27,12 0,000 -2,581240 -2,23333est9 -1,580956 0,0793698 -19,92 0,000 -1,736518 -1,425394est10 -3,240255 0,2388013 -13,57 0,000 -3,708297 -2,772213est11 -3,132744 0,0638164 -49,09 0,000 -3,257822 -3,007666est12 -1,857096 0,0529882 -35,05 0,000 -1,960951 -1,753241est13 -3,44884 0,98687 -3,49 0,000 -5,383069 -1,51461est14 -3,078961 0,297937 -10,33 0,000 -3,662907 -2,495015est15 -2,347091 0,1528976 -15,35 0,000 -2,646765 -2,047417_cons 1,350890 0,0246612 54,78 0,000 1,302555 1,399225lnsig2uP 7,246999 0,1386535 52,27 0,000 6,9752430 7,518755escore -0,0700092 0,0441473 -1,59 0,113 -0,1565363 0,0165179assitec -0,1339115 0,0525628 -2,55 0,011 -0,2369327 -0,0308904reg_1 0,2032254 0,116752 1,74 0,082 -0,0256042 0,4320551reg_2 -0,3268201 0,0997452 -3,28 0,001 -0,5223172 -0,1313231reg_3 -0,1644176 0,1058674 -1,55 0,120 -0,3719139 0,0430788reg_4 -0,0779473 0,1016955 -0,77 0,443 -0,2772669 0,1213722_cons -4,629410 0,1886099 -24,54 0,000 -4,999078 -4,259741Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>56


Tabela 19. Resultados da estimação do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produção combinado – censos agropecuários <strong>de</strong> 2006 e<strong>de</strong> 1995–1996.Coeficiente Desvio padrão z P>|z| [Intervalo <strong>de</strong> confiança a 95%]lylxtrab 0,2627443 0,0060728 43,27 0,000 0,2508418 0,2746469lxterra 0,154983 0,0056721 27,32 0,000 0,1438659 0,1661002lxtec 0,4228871 0,0054242 77,96 0,000 0,4122559 0,4335184A -0,0446646 0,0066375 -6,73 0,000 -0,0576738 -0,0316554B -0,0624464 0,006004 -10,40 0,000 -0,074214 -0,0506788C 0,2163822 0,0061568 35,15 0,000 0,2043151 0,2284494reg_1 0,118062 0,0271728 4,34 0,000 0,0648044 0,1713197reg_2 -0,0735393 0,0199053 -3,69 0,000 -0,112553 -0,0345255reg_3 0,0189029 0,0188997 1,00 0,317 -0,0181399 0,0559456reg_4 -0,0603655 0,0175005 -3,45 0,001 -0,0946658 -0,0260652y2006 -1,449398 0,0312646 -46,36 0,000 -1,510675 -1,388121_cons 3,681674 0,0342937 107,36 0,000 3,614460 3,748889lnsig2vest1 -0,9847103 0,0596628 -16,50 0,000 -1,101647 -0,8677733est2 -1,427466 0,0428506 -33,31 0,000 -1,511451 -1,343480est3 -0,5939629 0,0516525 -11,50 0,000 -0,6951999 -0,4927259est4 -0,8869989 0,0164528 -53,91 0,000 -0,9192458 -0,8547519est5 -1,2048 0,0211607 -56,94 0,000 -1,246274 -1,163325est6 0,1790314 0,0293148 6,11 0,000 0,1215754 0,2364874est7 -1,159777 0,0652486 -17,77 0,000 -1,287662 -1,031892est8 -2,272441 0,0414835 -54,78 0,000 -2,353747 -2,191135est9 -1,518292 0,0275912 -55,03 0,000 -1,572370 -1,464214est10 -1,814012 0,0673065 -26,95 0,000 -1,945930 -1,682094est11 -2,535865 0,0296246 -85,60 0,000 -2,593928 -2,477802est12 -1,735983 0,0227188 -76,41 0,000 -1,780511 -1,691455est13 -1,422837 0,2180653 -6,52 0,000 -1,850237 -0,9954369est14 -2,312775 0,0895381 -25,83 0,000 -2,488267 -2,137284est15 -1,839738 0,0474704 -38,76 0,000 -1,932778 -1,746698_cons 0,8731669 0,0100303 87,05 0,000 0,8535078 0,8928259lnsig2uP 7,052352 0,0662184 106,50 0,000 6,922566 7,182137escore -0,2733019 0,0721271 -3,79 0,000 -0,4146684 -0,1319353escoreint 0,2252259 0,0725119 3,11 0,002 0,0831051 0,3673467assitec -0,1616768 0,0243449 -6,64 0,000 -0,2093919 -0,1139616reg_1 0,2516861 0,0574537 4,38 0,000 0,1390790 0,3642932reg_2 0,2310962 0,0455902 5,07 0,000 0,1417411 0,3204513reg_3 -0,0178715 0,0465145 -0,38 0,701 -0,1090383 0,0732953reg_4 0,073924 0,0470051 1,57 0,116 -0,0182043 0,1660522y2006 -2,439015 0,167003 -14,60 0,000 -2,766335 -2,111695_cons -2,315361 0,1700406 -13,62 0,000 -2,648635 -1,98208857Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Tabela 20. Determinantes do crescimento da produção.VariávelConsi<strong>de</strong>rações finais1995–1996 2006Coeficiente % Coeficiente %Trabalho 0,26 31,3 0,22 23,1Terra 0,15 18,1 0,09 9,5Tecnologia 0,42 50,6 0,64 67,4Total 0,83 100,0 0,95 100,0Resumo da análise estatísticaOs mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> fronteira <strong>de</strong> produção estocásticaajustados apresentaram boa concordânciaentre valores preditos e observados, eestimam as elasticida<strong>de</strong>s das funções <strong>de</strong> produçãocom o sinal correto. A correlação observadapara o mo<strong>de</strong>lo geral ajustado para o censo agropecuário<strong>de</strong> 2006 é <strong>de</strong> 93,5%. A inclusão <strong>de</strong> observaçõesdo censo agropecuário <strong>de</strong> 1995–1996na análise produz o valor 94,3% para a mesmaquantida<strong>de</strong>.O tamanho relativo das elasticida<strong>de</strong>s estimadasindica a dominância dos insumos tecnológicosna melhora da produção. Esse fato éacentuado no ajuste conjunto dos dois censos.Detectou-se efeito positivo da componente<strong>de</strong> assistência técnica na redução da ineficiência.O mesmo se observa em relação à variável percepçãoda importância da pesquisa da <strong>Embrapa</strong>segundo suas Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa. O efeito persistena presença dos dados conjuntos <strong>de</strong> ambosos censos.A probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda líquida positivaé uma componente que causa eficiência e é <strong>de</strong>suma importância na caracterização da eficiênciatécnica da produção agrícola para qualquertipo <strong>de</strong> agricultura. Estabelecimentos com rendalíquida positiva são mais eficientes.A presença da assistência técnica só nãoé importante para o grupo pecuária. Já a importânciada <strong>Embrapa</strong> é dominante no tipo lavoura,e marginal na pecuária e na agricultura mista.Houve aumento da ineficiência técnica no período,o que é consistente com a hipótese <strong>de</strong> haverentre os dois censos um período <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> intensida<strong>de</strong><strong>de</strong> mudanças tecnológicas, e a Tabela20 suporta essa pressuposição. A análise <strong>de</strong> variânciado escore <strong>de</strong> importância <strong>Embrapa</strong> indicavalores semelhantes para os três principais grupos<strong>de</strong> classe <strong>de</strong> renda. Mas se observa pequenadominância nas médias para a classe com rendabruta média mensal superior a 200 salários mínimos.Nesse atributo, observou-se dominânciadas regiões Nor<strong>de</strong>ste e Centro-Oeste.Quanto à eficiência técnica, observa-segradiente <strong>de</strong> crescimento significante da classecom renda menor para a maior. Quanto àsregiões, nota-se <strong>de</strong>sempenho sofrível da regiãoCentro-Oeste.Implicações para a <strong>Embrapa</strong>1. Os censos 1995–1996 e 2006 mostramque terra e trabalho per<strong>de</strong>m po<strong>de</strong>r para explicaro crescimento da agricultura e que avulta a influênciada tecnologia. Há gran<strong>de</strong> concentraçãoda produção, pois poucos estabelecimentos, em2006, produziram 51% <strong>de</strong> toda a renda brutadaquele ano. Como a agricultura tem crescidomuito, e por influência da produtivida<strong>de</strong> – tecnologia–, conclui-se que esta, em vista <strong>de</strong> falhas nosmecanismos <strong>de</strong> difusão, <strong>de</strong>ixou à margem da mo<strong>de</strong>rnizaçãomilhões <strong>de</strong> estabelecimentos, o que éum gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio para a empresa.2. Tecnologia é conhecimento criado pelapesquisa e <strong>de</strong>senvolvido pelos produtores emsistema <strong>de</strong> produção. Poucos estabelecimentosforam capazes <strong>de</strong> fazer essa organização, sejaporque contaram com assistência técnica especializada,seja porque seus administradoreseram competentes nessa especialização. Ora,não ocorreu o mesmo com milhões <strong>de</strong> estabelecimentos.À pesquisa, no caso da agriculturafamiliar, em conjunto com a assistência técnicae extensão rural, cabe organizar os sistemas <strong>de</strong>produção, tendo como critério <strong>de</strong> organização acompreensão dos agricultores e a lucrativida<strong>de</strong>.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>58


3. Os dados indicam que todas as classes<strong>de</strong> renda bruta apresentaram número expressivo<strong>de</strong> produtores que pagaram todas as contas e tiveramprodutivida<strong>de</strong>s elevadas. Esses dados sãoconsistentes com o resultado que não mostrouassociação entre o escore da <strong>Embrapa</strong> e eficiênciatécnica para as três primeiras classes <strong>de</strong> rendabruta, e um pequeno incremento para as <strong>de</strong>renda bruta maior do que 200 salários mínimosmensais 7 . Sobre esse aspecto, os resultados <strong>de</strong>pesquisa foram neutros em relação às classes <strong>de</strong>renda. Por isso, a marginalização <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong>produtores não é consequência dos resultados<strong>de</strong> pesquisa, mas está relacionada aos obstáculosa sua difusão.4. Houve incremento da ineficiência técnicanos dois períodos. Ora, em 2006, a tecnologiateve maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> explicar o crescimentodo que em 1995–1996. Assim, o período <strong>de</strong>1995–1996 a 2006 assistiu a uma intensa mo<strong>de</strong>rnizaçãoda agricultura. Nessas condições, osagricultores não têm a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> efetuar osajustes necessários, e é esperado que aumentea ineficiência técnica. Por isso, a pesquisa e aextensão rural precisam ficar muito mais atentasàs classes que enfrentam maiores restrições <strong>de</strong>mercado à adoção <strong>de</strong> tecnologia em períodos<strong>de</strong> rápidas transformações.5. A extensão rural teve influência positivano índice <strong>de</strong> eficiência técnica. A probabilida<strong>de</strong><strong>de</strong> obter renda líquida negativa é fortementeassociada à ineficiência técnica. Como essa probabilida<strong>de</strong><strong>de</strong>pen<strong>de</strong>u dos conhecimentos dosagricultores, o efeito positivo da extensão ruralfoi contrabalanceado pela falta <strong>de</strong> conhecimentosdos agricultores para bem administrarem seusnegócios. Assim, a tecnologia é ensinada nos seusaspectos físicos pela extensão rural, mas esta falhouem ensinar administração rural, que é o queconta quando se trata <strong>de</strong> ganhar dinheiro.ReferênciasAIGNER, D.; LOVELL, C. A. K.; SCHIMIDT, P. Formulationand estimation of stochastic frontier production functionmo<strong>de</strong>ls. Journal of Econometrics, Amsterdam, v. 6, p. 21-37,1977.ALVES, E.; SOUZA, G. S.; BRANDÃO, A. S. P. A situação doprodutor com menos <strong>de</strong> 100 hectares. Revista <strong>de</strong> PolíticaAgrícola, Brasília, DF, v. 10, n. 1, p. 27-36, 2001.ALVES, E.; SOUZA, G. S.; OLIVEIRA, C. A. V. Desempenhodos estabelecimentos do Pronaf. Revista <strong>de</strong> Política Agrícola,Brasília, DF, v. 15, n. 4, p. 5-23, 2006.ALVES, E.; SOUZA, G. S.; ROCHA, D. P. Lucrativida<strong>de</strong> naagricultura. Revista <strong>de</strong> Política Agrícola, Brasília, DF, v. 21, n.2, p. 45-63, <strong>2012</strong>.COCHRAN, W. G. Sampling techniques. 3. ed. New York:John Willey, 1977. 428 p.COELLI, T. J.; RAO, D .S. P.; O’DONNEL, C. J. AnIntroduction to efficiency and productivity analysis. 2. ed.New York: Springer, 2005. 367 p.GREENE, W. H. Econometric analysis. 7. ed. New York:Prentice Hall, 2011. 1232 p.IBGE. Censo Agropecuário 2006. Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2006.KHUMBHAKAR, S. C.; LOVELL, C. A. K. Stochasticfrontier analysis. Cambridge: Cambridge University Press,2000. 344 p.STATA: base reference manual: release 12. CollegeStation: StataCorp, 2011. v. 1, p. 562-575.7Note-se que a pergunta feita às Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa não fazia qualquer referência às classes <strong>de</strong> renda bruta.59Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Exportação <strong>de</strong> melProposta metodológicapara que o mel produzidoem Alagoas tenhaCícero Phillipe Alves Baracho 2Ricardo Kropf Santos Fermam 3Reinaldo Wacha 4acesso a mercados 1Resumo – Integrando a região Nor<strong>de</strong>ste do Brasil, Alagoas expõe baixos índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.Sua economia se baseia principalmente na indústria da cana-<strong>de</strong>-açúcar, no comércio e nosserviços, sendo necessário i<strong>de</strong>ntificar ativida<strong>de</strong>s econômicas que possam gerar emprego e renda.O mel tem potencial para satisfazer essas necessida<strong>de</strong>s. A produção melífera <strong>de</strong> Alagoas se encontrasub<strong>de</strong>senvolvida; por isso, <strong>de</strong>ve ser estimulada a sua venda em mercados internacionais, poisgera saldos positivos na balança comercial (o Brasil não importa, somente exporta), e seu mercadointernacional está em expansão. O acesso a mercados do mel alagoano exige como condição quesejam observados requisitos técnicos dos países importadores, a maioria dos quais integra o primeiromundo. Propõe-se uma ferramenta <strong>de</strong> acesso a mercados que leva em consi<strong>de</strong>ração essesrequisitos técnicos. Ao mesmo tempo, <strong>de</strong>staca-se a relevância <strong>de</strong> incentivar a realização <strong>de</strong> ArranjosProdutivos Locais (APLs).Palavras-chave: arranjos produtivos locais, avaliação da conformida<strong>de</strong>, barreiras técnicas, requisitostécnicos aplicáveis.Exports of honey: methodological proposal in or<strong>de</strong>r forthe honey produced in Alagoas to have access to marketsAbstract – Part of the Northeast Region of Brazil, the state of Alagoas has low levels of <strong>de</strong>velopment.Its economy is based mainly on the sugar cane industry, tra<strong>de</strong>, and services; therefore, it isnecessary to i<strong>de</strong>ntify economic activities that may generate jobs and income. Honey has potential1Original recebido em 28/6/<strong>2012</strong> e aprovado em 17/8/<strong>2012</strong>.2Administrador, mestrando do curso <strong>de</strong> Mestrado Profissional em Metrologia e Qualida<strong>de</strong> do Instituto Nacional <strong>de</strong> Metrologia, Qualida<strong>de</strong> e Tecnologia(Inmetro). E-mail: cpab75@hotmail.com3Engenheiro-químico, Doutor em Tecnologia <strong>de</strong> Processos Químicos e Bioquímicos, professor titular do curso <strong>de</strong> Mestrado Profissional em Metrologia eQualida<strong>de</strong> do Instituto Nacional <strong>de</strong> Metrologia, Qualida<strong>de</strong> e Tecnologia (Inmetro). E-mail: rkfermam@inmetro.gov.br4Engenheiro-mecânico, Doutor em Engenharia Nuclear, professor titular do curso <strong>de</strong> Mestrado Profissional em Metrologia e Qualida<strong>de</strong> do Instituto Nacional<strong>de</strong> Metrologia, Qualida<strong>de</strong> e Tecnologia (Inmetro). E-mail: rwacha@inmetro.gov.brAno XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>60


to meet these needs. The honey production in Alagoas is un<strong>de</strong>r<strong>de</strong>veloped, so its sales in internationalmarkets must be stimulated, because this would generate surpluses in the tra<strong>de</strong> balance (Brazil does notimport honey, only exports), and because its international market is expanding. Access to markets ofhoney from Alagoas requires, as a condition, compliance with the technical requirements of importingcountries, most of which belong to the first world. This study proposes a tool for market access that takesinto account these technical requirements. At the same time, this study highlights the importance of encouragingthe implementation of Local Productive Arrangements (LPAs).Keywords: local productive arrangements, comformity assessment, thecnical barriers, applicabletechnical requirements.IntroduçãoO Estado <strong>de</strong> Alagoas tem superfície <strong>de</strong>27.767,7 km 2 , apresenta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica(habitantes/km²) igual a 112,39 e se encontra divididopoliticamente em 102 municípios. O total <strong>de</strong> habitantes,segundo o censo <strong>de</strong> 2010, é <strong>de</strong> 3.120.494(IBGE, 2011). Em relação à geração <strong>de</strong> riqueza, oPIB <strong>de</strong> Alagoas em 2009 alcançou R$ 21,235 bilhões,e o PIB per capita foi <strong>de</strong> R$ 6.728,21 (14,47salários mínimos, segundo o valor do ano 2009).O <strong>de</strong>sempenho do estado está representadopelos seguintes indicadores setoriais referentesà composição do PIB do estado: agropecuária,com 7,5%; indústria, com 20,6%; e serviços, com71,9%. Neste último setor, verifica-se elevada predominânciado comércio (17,5%) e da administraçãopública (27,8%).Conforme os dados acima, observa-se queo tamanho da economia <strong>de</strong> Alagoas é pequeno,com alta concentração em serviços e baixa ativida<strong>de</strong>produtiva (agropecuária e industrial). Em 2009,a ativida<strong>de</strong> agropecuária experimentou expressivaredução, mas a produção do mel cresceu quase namesma medida em que caiu essa ativida<strong>de</strong>.O mel, principal produto da apicultura, satisfazas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego e renda, o quedá origem a outro dilema: exportar ou não exportaresse produto. Para exportar, <strong>de</strong>ve ser observadauma condição exclu<strong>de</strong>nte: aten<strong>de</strong>r aos requisitostécnicos exigidos pelos países importadores/clientes,questão esta que remete a uma das duas <strong>de</strong>finições<strong>de</strong> Joseph Moses Juran (2004) sobre aqualida<strong>de</strong>: esta satisfaz o cliente porque aten<strong>de</strong> àssuas necessida<strong>de</strong>s (e/ou requisitos).Esses requisitos técnicos, os quais compõemo que se convencionou chamar <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> avaliaçãoda conformida<strong>de</strong>, são nomeadamente: metrologia;normalização e regulamentação técnica;avaliação da conformida<strong>de</strong>; e acreditação. Tais requisitossão utilizados pelos países <strong>de</strong>senvolvidoscomo medidas protecionistas <strong>de</strong> cunho técnico,conhecidas como Barreiras Técnicas ao Comércio,dificultando, onerando ou impedindo o acesso amercados pelas empresas exportadoras dos paísesem <strong>de</strong>senvolvimento.O melDe acordo com a Instrução Normativanº 11, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2000, do Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), aqual aprova o Regulamento Técnico <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>e Qualida<strong>de</strong> do Mel, enten<strong>de</strong>-se por mel:[...] produto alimentício produzido pelas abelhasmelíferas (abelhas com ferrão), a partir do néctardas flores ou das secreções proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>partes vivas das plantas ou <strong>de</strong> excreções <strong>de</strong> insetossugadores <strong>de</strong> plantas que ficam sobre partesvivas <strong>de</strong> plantas, que as abelhas recolhem, transformam,combinam com substâncias específicaspróprias, armazenam e <strong>de</strong>ixam madurar nos favosda colméia. (BRASIL, 2002).O mel é o principal produto do setor apícola(STARON et al., 2010).Quimicamente, o mel é uma solução concentrada<strong>de</strong> açúcares com predominância <strong>de</strong> glicosee frutose. Contém ainda mistura complexa <strong>de</strong>outros hidratos <strong>de</strong> carbono, enzimas, aminoácidos,ácidos orgânicos, minerais, substâncias aromáticas,pigmentos e grãos <strong>de</strong> pólen, po<strong>de</strong>ndo conter cera61Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


<strong>de</strong> abelhas proce<strong>de</strong>nte do processo <strong>de</strong> extração(BRASIL 2002).Trata-se <strong>de</strong> um adoçante natural <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>valor energético, composto <strong>de</strong> açúcares, água, saisminerais, enzimas e pequenas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vitaminas(SEBRAE, 2009). A cor, o sabor, o aromae a consistência do mel variam <strong>de</strong> acordo comas floradas e com o clima, entre outros fatores. Amanipulação do mel pelo apicultor também po<strong>de</strong>alterar suas características (PEREIRA et al., 2003;SEBRAE, 2009).Brasil: produção, exportaçãoe consumo interno do melEm 2009, 12 estados brasileiros produzirame exportaram mel natural, com total <strong>de</strong> 25.987,19toneladas, que geraram ingressos (dólares) ao Brasil<strong>de</strong> 65,79 milhões. Desses estados, sete concentram97,70% do total exportado: Piauí, Ceará, Rio Gran<strong>de</strong>do Norte, São Paulo, Paraná, Santa Catarina eRio Gran<strong>de</strong> do Sul.Em matéria <strong>de</strong> preços, existe expressivadispersão, pois os preços médios oscilaram entreUS$ 2,27/kg e US$ 2,90/kg (a diferença entre osextremos é <strong>de</strong> 27,75%, a respeito do menor valor),verificando-se que não existe relação entre a quantida<strong>de</strong>exportada e o respectivo preço.Também em 2009, Ceará, Rio Gran<strong>de</strong> doNorte e São Paulo exportaram mel acima do totalproduzido. Isso sugere que nesses estados se encontram<strong>de</strong>senvolvidos sistemas <strong>de</strong> comercializaçãopara mercados do exterior, que operam comointermediários, comprando o produto em outrosestados, entre os quais possivelmente se encontreAlagoas, cuja produção nesse ano foi <strong>de</strong> 169.000kg, quantida<strong>de</strong> que representou 0,44% do total doBrasil.Outra questão importante que surge naanálise do mercado local é i<strong>de</strong>ntificar a estruturada ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor do mel, na qual se <strong>de</strong>tecta apresença <strong>de</strong> atravessadores, tanto situados entreprodutores e processadores locais quanto entreprocessadores locais e consumidores do exterior.Sua atuação implica muito mais que a intermediação,pois oferecem serviços ao produtor, sejam logísticos,comerciais ou financeiros (USAID, 2006).Em relação ao consumo <strong>de</strong> mel no Brasil, oSebrae (2011) indica que a média é <strong>de</strong> 60 gramas/hab./ano, reduzido se comparado, por exemplo,com Alemanha, 960 gramas/hab./ano, e a Suíça,1.500 gramas/hab./ano.Mercado internacionalBorges (2010) afirma que a ca<strong>de</strong>ia produtivada apicultura brasileira atravessa momento excepcional.A partir do ano 2000, o País <strong>de</strong>u início aum processo <strong>de</strong> inserção do mel no mercado internacional,alçando rapidamente projeção comopaís exportador. O tamanho do mercado mundial,medido em termos <strong>de</strong> produção, é <strong>de</strong> 1.401.000toneladas; <strong>de</strong>sse total, em 2007 se <strong>de</strong>stinaram aocomércio mundial 410.000 toneladas – 29,26%daquela produção –, com valor <strong>de</strong> US$ 902 milhõese com preço médio <strong>de</strong> US$ 2.200/t ou US$2,2 por kg.Babiano (<strong>2012</strong>) apresenta os 5 principais importadorese os 6 principais exportadores do melconforme dados para o ano 2009 (Figuras 1 e 2).Figura 1. Mercado mundial do mel – principais importadoresem 2009 (%).Obs.: outros ≤ 3,0%. Fonte: Babiano (<strong>2012</strong>).Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>62


o Brasil aproveitou a oportunida<strong>de</strong> que implicou aqueda nas exportações da Argentina e da China.A Figura 4 mostra a evolução dos preçosmédios das exportações que o Brasil realizou noperíodo 2001–2010.A Figura 5 se apresenta os três principaispaíses consumidores do mel brasileiro no período2008–2010.Figura 2. Mercado mundial do mel – principais exportadoresno ano 2009 (%).Obs.: outros ≤ 5,0%. Fonte: Babiano (<strong>2012</strong>).Alguns países importam e exportam (caso daAlemanha), <strong>de</strong> forma que as quantida<strong>de</strong>s que importamnão têm como <strong>de</strong>stino final seu mercadointerno, pois evi<strong>de</strong>ntemente reexportam o mel. Emtermos <strong>de</strong> importações, a Alemanha e os EstadosUnidos são os players mais <strong>de</strong>stacados, com 21,3%e 30,0% do total, respectivamente. Os maiores exportadoressão China, com 24,8%, e Argentina,com 20,2%, respectivamente.Em relação ao Brasil, a Figura 3 mostra aevolução das exportações no período 2001–2010,o qual foi escolhido por incluir o momento em queFigura 4. Evolução dos preços médios <strong>de</strong> exportação(US$) <strong>de</strong> mel (unida<strong>de</strong>) do Brasil <strong>de</strong> 2001 a 2010.Fonte: dados da Confe<strong>de</strong>ração Brasileira <strong>de</strong> Apicultura (2011).Figura 5. Principais países importadores do mel brasileiro<strong>de</strong> 2008 a 2009.Fonte: dados da Confe<strong>de</strong>ração Brasileira <strong>de</strong> Apicultura (2011).Figura 3. Evolução das exportações totais <strong>de</strong> mel noBrasil <strong>de</strong> 2001 a 2010.Fonte: dados da Confe<strong>de</strong>ração Brasileira <strong>de</strong> Apicultura (2011).Requisitos técnicos do comércionacional e internacionalPreliminarmente, é necessário estabelecero conceito <strong>de</strong> requisito técnico. É uma condiçãoque <strong>de</strong>ve ser atendida por um sistema <strong>de</strong> produçãopara satisfazer dada necessida<strong>de</strong> (exigência) <strong>de</strong> ummercado internacional. A observação <strong>de</strong> RequisitosTécnicos (RT) não se relaciona apenas com apretensão <strong>de</strong> que empresas nacionais conquistem63Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


mercados internacionais. O consumidor brasileiroé um sujeito-objeto para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> parâmetrosque outorguem confiança a produtos (bens ou serviços)e processos.Assim, conforme mencionado, os requisitostécnicos do comércio nacional e internacional sãoparte integrante daquilo que se convencionou chamarca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> avaliação da conformida<strong>de</strong>, a qualserá apresentada.Ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> avaliação da conformida<strong>de</strong>Fermam (2011, p. 34) afirma que ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>avaliação da conformida<strong>de</strong> é uma expressão intelectiva<strong>de</strong>stinada a articular logicamente “[...]as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> metrologia, normalização, regulamentaçãotécnica, avaliação da conformida<strong>de</strong>,acreditação e reconhecimento mútuo [...]”. Essasativida<strong>de</strong>s também são <strong>de</strong>finidas, segundo Tassey(2005, citado por FERMAM, 2011), como infratecnologiasou tecnologias estruturais. AcrescentaFermam (2011) que as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scritas se encontramrelacionadas faticamente entre si: cadauma se torna pré-requisito para as outras, <strong>de</strong> formaenca<strong>de</strong>ada, conforme se observa na Figura 6.A ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> avaliação da conformida<strong>de</strong>po<strong>de</strong> ser entendida como um processo concertado,em que a entrada é o objeto a ser avaliado,e a saída é o resultado do processo em termos daqualida<strong>de</strong> do objeto.A Figura 7 indica que o objeto se encontra“[...] conforme à norma ou ao regulamento técnicoaplicável ao mesmo” (INMETRO, 2011c, p.13). Verifica-se outra questão relevante: “[...] oprocesso <strong>de</strong> avaliação da conformida<strong>de</strong> objetivapropiciar confiança na conformida<strong>de</strong>, e não agarantia da qualida<strong>de</strong> do produto, que é responsabilida<strong>de</strong>inerente ao fabricante” (INMETRO,2011c, p. 13). A avaliação da conformida<strong>de</strong> épossível se existe norma ou regulamento técnico,ou documento similar, no qual sejam <strong>de</strong>finidosos requisitos a serem atendidos pelo objeto daavaliação (INMETRO, 2011c).Figura 6. Ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> avaliação da conformida<strong>de</strong>.Fonte: Fermam (2009, p. 95).Figura 7. Qualida<strong>de</strong> como resultado do processo <strong>de</strong>avaliação.Normalização eregulamentação técnicaO Inmetro (2011c) indica que a NormaTécnica é um documento que conta com a aprovação<strong>de</strong> uma instituição reconhecida, no qualforam previstas regras, diretrizes ou característicasaplicáveis a produtos, processos e métodos<strong>de</strong> produção conexos, que são utilizados em formacomum e repetitiva, e cuja observância nãoé obrigatória. As normas também po<strong>de</strong>m incluirprescrições referentes a terminologia, símbolos,embalagem, marcação ou etiquetagem aplicáveisa um produto, processo ou método <strong>de</strong> produção,ou tratar exclusivamente <strong>de</strong>las.Regulamento é um conjunto <strong>de</strong> prescriçõesque <strong>de</strong>terminam uma conduta; é um documentoaprovado por órgãos governamentais no qualAno XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>64


se estabelecem as características <strong>de</strong> um produtoou dos processos e métodos <strong>de</strong> produção comele relacionados; a<strong>de</strong>mais, o regulamento incluias disposições administrativas aplicáveis, e a suaobservância é obrigatória, sendo esta uma dascaracterísticas que o diferenciam da norma técnica(INMETRO, 2011c).Avaliação da conformida<strong>de</strong> (AC)A Avaliação da Conformida<strong>de</strong> (AC) é <strong>de</strong>finidacomo o processo sistemático, acompanhadoe avaliado, que confere um a<strong>de</strong>quado grau<strong>de</strong> confiança a um produto, processo ou serviço,ou ainda a um profissional, no atendimentoa requisitos pré-estabelecidos em normas e regulamentostécnicos com o menor custo para asocieda<strong>de</strong> (INMETRO, 2011b).A avaliação da conformida<strong>de</strong> se justificapara informar e proteger o consumidor (quantoa sua saú<strong>de</strong>, segurança e meio ambiente); estimulara concorrência justa; propiciar a melhoriacontínua da qualida<strong>de</strong>; facilitar o comércio internacional;e fortalecer o mercado interno (INME-TRO, 2011b).Fermam (2011) e Ferreira (2009) concordamem <strong>de</strong>stacar que a avaliação da conformida<strong>de</strong>po<strong>de</strong> ser voluntária ou compulsória, sendoimportante <strong>de</strong>stacar que ambas as formas <strong>de</strong>avaliação estão claramente <strong>de</strong>stinadas a superarbarreiras técnicas instauradas em mercados exigentes,<strong>de</strong> forma que permitem adicionar valorao produto. A avaliação compulsória <strong>de</strong>corre daobrigatorieda<strong>de</strong> provocada por instrumento legal,emitido por órgão regulador; e a avaliaçãovoluntária <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> uma norma (esta tem caráterconsensual). O <strong>de</strong>stino da avaliação compulsóriaé a <strong>de</strong>fesa do consumidor em três aspectos:proteção da vida, proteção da saú<strong>de</strong> e preservaçãodo meio ambiente.Processo <strong>de</strong> avaliação daconformida<strong>de</strong>A avaliação da conformida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquerobjeto respon<strong>de</strong> a um processo sistêmico, uti-lizando um conjunto <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> gestão daqualida<strong>de</strong>, com o intuito <strong>de</strong> gerar confiança naa<strong>de</strong>quação do objeto submetido à avaliação <strong>de</strong>requisitos estabelecidos em norma ou regulamentotécnico (INMETRO, 2011c).A Figura 8 mostra o processo <strong>de</strong> avaliaçãoda conformida<strong>de</strong>.O processo <strong>de</strong> avaliação da conformida<strong>de</strong>tem uma fase inicial <strong>de</strong> maior relevância, que éa seleção da norma ou regulamento. A fase seguinteconsiste em um conjunto <strong>de</strong> ações queacompanham o gestor do programa para quepossa se certificar que o produto disponibilizadono mercado está em conformida<strong>de</strong> com regraspara ele estabelecidas. Essa fase <strong>de</strong> acompanhamentoe controle é, na perspectiva operacional,mais complexa que a fase inicial; por isso, exigemaior grau <strong>de</strong> sistematização (INMETRO, 2011c).Figura 8. Processo <strong>de</strong> avaliação da conformida<strong>de</strong>.Fonte: Inmetro (2011c, p. 17).Mecanismos <strong>de</strong> avaliação daconformida<strong>de</strong>: CertificaçãoDe acordo com o Inmetro (2011b), noBrasil se praticam mecanismos tradicionais <strong>de</strong>avaliação da conformida<strong>de</strong>. Essa é uma metodo-65Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


logia especialmente <strong>de</strong>senvolvida que consi<strong>de</strong>raferramentas <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> risco, baseando-se emaspectos legais, ambientais, sociais, técnicos eeconômico-financeiros.A certificação <strong>de</strong> produtos, processos, serviços,sistemas <strong>de</strong> gestão e pessoal é realizadapor terceira parte, ou seja, por organização in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,acreditada pelo Inmetro, para executara AC <strong>de</strong> um ou mais <strong>de</strong>sses objetos. Essacertificação consi<strong>de</strong>ra aspectos como o produto,o processo produtivo, as características damatéria-prima, os aspectos econômicos e o nível<strong>de</strong> confiança necessário, entre outros fatores,para <strong>de</strong>terminar qual mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> certificação,entre oito disponíveis, será utilizado (INMETRO,2011c).Acordos <strong>de</strong> reconhecimento mútuoO Inmetro (2011e) <strong>de</strong>staca que os Acordos<strong>de</strong> Reconhecimento Mútuo (Mutual RecognitionAgreement – MRA) <strong>de</strong> procedimentos <strong>de</strong>AC têm o objetivo <strong>de</strong> evitar custos adicionais,fazendo-se valer a seguinte máxima: “testadouma vez, aceito em qualquer lugar”. Contudo, aobtenção <strong>de</strong>sses reconhecimentos é muito difícilpara os países em <strong>de</strong>senvolvimento.Para alcançar esses reconhecimentos, énecessária a promoção <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> cooperaçãotécnica que se tornem uma via eficientepara a transferência <strong>de</strong> tecnologia e a expertisedos países <strong>de</strong>senvolvidos. Esses programas<strong>de</strong> cooperação técnica possuem a capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> fornecer à infraestrutura <strong>de</strong> acreditação dospaíses em <strong>de</strong>senvolvimento, como o Brasil, aconfiança nos seus processos, o que lhe facilitaa busca <strong>de</strong>sses reconhecimentos internacionais(INMETRO, 2011e).Acreditação <strong>de</strong> organismos <strong>de</strong>certificaçãoFermam (2011) <strong>de</strong>staca que a acreditaçãoé outorgada pelo Inmetro com base em normasinternacionais (como as normas elaboradas pelaISO). Isso facilita a estruturação <strong>de</strong> uma baseconsistente para que sejam aceitos, nos mercados<strong>de</strong> <strong>de</strong>stino, os produtos das empresas que seutilizam dos serviços dos organismos <strong>de</strong> avaliaçãoda conformida<strong>de</strong> acreditados.Conforme o Inmetro (2011d), o Decreto nº6.275, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2007, <strong>de</strong>terminaa competência da Coor<strong>de</strong>nação Geral <strong>de</strong> Acreditaçãodo Inmetro (CGCRE) para atuar comoorganismo <strong>de</strong> acreditação <strong>de</strong> organismos <strong>de</strong> avaliaçãoda conformida<strong>de</strong>. Três tipos <strong>de</strong> organismossão acreditados pela CGCRE: laboratórios,organismos <strong>de</strong> certificação e organismos <strong>de</strong> inspeção(INMETRO, 2011d).Um dos problemas enfrentados frequentementepelas pequenas e médias empresas sãoos custos envolvidos nas certificações e ensaios<strong>de</strong> seus produtos, realizados por organismos <strong>de</strong>avaliação da conformida<strong>de</strong> acreditados. Essescustos geralmente são maiores do que aquelesrealizados por organismos não acreditados, nosquais a empresa precisa necessariamente incorrersob pena do impedimento da colocação <strong>de</strong>seus produtos no mercado dos países alvo.Barreiras técnicasAs “barreiras técnicas” po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radassubcategoria <strong>de</strong>ntro da categoria “barreirasnão tarifárias” (estas, por sua vez, sãoespécie <strong>de</strong>ntro do gênero “barreiras”) e <strong>de</strong>vemser entendidas como restrições sofridas pela entrada<strong>de</strong> mercadorias importadas, as quais sefundamentam em requisitos técnicos, po<strong>de</strong>ndoser <strong>de</strong>finidas como:[...] barreiras comerciais <strong>de</strong>rivadas da utilização<strong>de</strong> normas ou regulamentos técnicosnão transparentes ou que não se baseiem emnormas internacionalmente aceitas ou, ainda,<strong>de</strong>correntes da adoção <strong>de</strong> procedimentos <strong>de</strong>avaliação da conformida<strong>de</strong> não transparentesou <strong>de</strong>masiadamente dispendiosos, bem comoinspeções excessivamente rigorosas. (FER-MAM, 2006).As Barreiras Técnicas ao Comércio sãomedidas relacionadas a regulamentos técnicos,normas e procedimentos <strong>de</strong> avaliação da conformida<strong>de</strong>,com o propósito <strong>de</strong> criar obstáculosAno XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>66


ao comércio, e sua utilização respon<strong>de</strong> à lógicada economia global, quanto a regulamentaros mercados (utilizando-se muitas vezes comomecanismo <strong>de</strong> proteção contra a concorrência)(INMETRO, 2011c).Para superar as dificulda<strong>de</strong>s que provocamas barreiras técnicas para o comércio internacional,os países mais <strong>de</strong>senvolvidos assumiram ocompromisso, exarado no WTO Technical Barriersof Tra<strong>de</strong> Agreement 5 (TBT), <strong>de</strong> promoverprogramas <strong>de</strong> cooperação técnica com os paísesmenos <strong>de</strong>senvolvidos, possibilitando, <strong>de</strong>ssa forma,a transferência <strong>de</strong> tecnologia e a expertisenas áreas da metrologia legal e industrial (INME-TRO, 2011a).Metodologia propostaCaracterizaçãoA metodologia proposta neste estudo foiparte integrante da Tese <strong>de</strong> Doutorado em Ciênciasem Tecnologia <strong>de</strong> Processos Químicos eBioquímicos do engenheiro Ricardo Kropf SantosFermam, submetida ao corpo docente da Escola<strong>de</strong> Química da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio<strong>de</strong> Janeiro (UFRJ), intitulada Os requisitos ambientaisno comércio internacional: ferramentas<strong>de</strong> acesso a mercados para o setor <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensivosagrícolas.Em sua tese, Fermam (2009) <strong>de</strong>senvolveumetodologia para o uso dos requisitos ambientais,comumente utilizados como barreiras técnicasao comércio, consi<strong>de</strong>rando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>contar com uma ferramenta para acessar mercadosinternacionais. É importante esclarecer queo dito mo<strong>de</strong>lo admite ser aplicado a diversosprodutos, resguardando-se as condicionantesnecessárias em cada caso.De forma geral, a metodologia consiste nai<strong>de</strong>ntificação e no levantamento dos requisitostécnicos aplicáveis ao produto-alvo. Isso implicatarefa <strong>de</strong> homogeneização dos dados e <strong>de</strong> sistematização<strong>de</strong>stes, em uma sequência que Fermam(2009) aborda em cinco etapas. Cada uma<strong>de</strong>ssas etapas correspon<strong>de</strong> a uma ação específicae está associada a um <strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong>informação, <strong>de</strong>sembocando todo o processo naetapa 5, na qual se conclui a metodologia como uso estratégico das informações obtidas paraprover o acesso a mercados para o produto emquestão.A adaptação foi possível porque os requisitosambientais constantes na metodologiaoriginal são uma espécie <strong>de</strong>ntro do gênero RequisitosTécnicos, fator este que facilita compreen<strong>de</strong>ra aplicação da metodologia <strong>de</strong>Fermam (2009) ao setor <strong>de</strong> produtos apícolas.Na Figura 9 se amplia a sequência <strong>de</strong> etapas dametodologia adaptada.Figura 9. Metodologia <strong>de</strong> Fermam adaptada à apicultura.Fonte: adaptado <strong>de</strong> Fermam (2009, p. 124-125).5Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio da OMC.67Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Seleção do produto apícolaA seleção do produto apícola se realizacom base na balança comercial, ou seja, é condiçãosine qua non que o produto apícola possaser <strong>de</strong>stinado ao mercado internacional, gerandosaldo positivo. Definida a variável <strong>de</strong> seleção, seguidamentese <strong>de</strong>termina o critério específico <strong>de</strong>aceitação e rejeição <strong>de</strong>la, <strong>de</strong>vendo-se explicitaros parâmetros utilizados para esse propósito, <strong>de</strong>acordo com a Tabela 1.Tabela 1. Critérios <strong>de</strong> seleção do produto apícola.Variável <strong>de</strong>seleçãoBalançacomercialCritério <strong>de</strong>aceitaçãoProduto menosexportado/principalpaís importadorCritério <strong>de</strong>rejeiçãoNão satisfazero critério <strong>de</strong>aceitaçãoA Figura 10 mostra o fluxograma simplificadodo processo <strong>de</strong> seleção do produto.A apicultura é uma ativida<strong>de</strong> agropecuáriaque satisfaz o critério <strong>de</strong> aceitação, pois existeimportante mercado externo para os produtosapícolas, especialmente para o mel, <strong>de</strong> formaque é possível gerar saldos positivos e usufruirdas respectivas consequências favoráveis(PAXTON, 1995, citado por MELO et al., 2011).I<strong>de</strong>ntificação dos requisitostécnicos aplicáveis (RTAs)Uma vez que se tenha realizado a escolhae <strong>de</strong>senvolvido conhecimento do mercadoglobal respectivo, é importante verificar se ospaíses aos quais se preten<strong>de</strong> exportar integramblocos econômicos, como União Europeia (UE),Mercosul, Nafta (Estados Unidos, México e Canadá),Mercado Comum Centro-Americano(Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua eCosta Rica) ou Cooperação Econômica da Ásiae do Pacífico (integrada por 21 países, não funcionacomo mercado comum, mas a tendênciaé constituí-lo). Tal importância dá-se porque osRTAs po<strong>de</strong>m ser diferentes, ou seja, mais ou me-Figura 10. Fluxograma simplificado do processo <strong>de</strong>seleção do produto.nos abrangentes, no caso <strong>de</strong> países que integramblocos econômicos.Depois <strong>de</strong> ter sido escolhido o país alvo,surge a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adquirir informação sobreos RTAs relativos ao produto selecionado,sejam do bloco econômico que integra, sejampróprios. Esses requisitos são um construto integradopor seis conceitos: metrologia química,normalização, regulamentação técnica, avaliaçãoda conformida<strong>de</strong>, acreditação e acordos <strong>de</strong>reconhecimento mútuo.A interpretação da Figura 11 <strong>de</strong>ve ser realizadacom duas consi<strong>de</strong>rações: a) todos osconceitos dos RTAs são tributários; b) entre osconceitos, existe uma relação sequencial (da esquerdapara a direita), que começa com a metrologiaquímica e finaliza com os acordos <strong>de</strong>Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>68


Figura 11. Requisitos Técnicos Aplicáveis (RTAs) – etapa 2.reconhecimento mútuo sobre a avaliação daconformida<strong>de</strong>, sendo indispensável ressaltar queestes acrescentam as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conquistarmercados.Uma questão sensível a ser consi<strong>de</strong>rada éo papel que <strong>de</strong>sempenham os acordos <strong>de</strong> reconhecimentomútuo (MRA) referentes a procedimentos<strong>de</strong> avaliação da conformida<strong>de</strong> específicospara o produto selecionado. Quanto a isso, eles<strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes dos RTAs,pois têm matriz conceitual diferente da dos RTAs,uma vez que sua existência <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> fatoresrelacionados com os interesses estratégicos dospaíses <strong>de</strong>senvolvidos, que influenciam a <strong>de</strong>cisão<strong>de</strong> transferir essa tecnologia para os menos <strong>de</strong>senvolvidos.Esses acordos implicam para o Brasiloportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso a mercados, visto quetais acordos significam grau maior <strong>de</strong> confiançanos processos <strong>de</strong> acreditação.I<strong>de</strong>ntificação dos parâmetros <strong>de</strong>qualida<strong>de</strong> (PQ) contidos nos RTAsOs parâmetros <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> (PQ) se encontraminseridos no conceito <strong>de</strong> regulamentotécnico (RT); <strong>de</strong>ssa forma, parte-se para sua conceituação.Segundo o Inmetro (2011b), trata-se <strong>de</strong>documento aprovado por órgãos governamentaisno qual se estabelecem as características <strong>de</strong> umproduto ou dos processos e métodos <strong>de</strong> produçãorelacionados com ele – incluindo as disposiçõesadministrativas aplicáveis – e cuja observância éobrigatória.Gadret (2009) <strong>de</strong>staca que os RTs cobrem,entre outros aspectos, especificações dos produtosque indicam as suas características, qualida<strong>de</strong>e segurança, e também processos e métodos usadosna produção, na hipótese <strong>de</strong> que esses métodos<strong>de</strong> produção produzam efeitos na qualida<strong>de</strong>.Conforme a conceituação do Inmetro(2011b), um RT po<strong>de</strong> incluir disposições relacionadasà terminologia, símbolos, embalagem, marcaçãoou etiquetagem, aplicáveis a um produto,processo ou método <strong>de</strong> produção, ou po<strong>de</strong> tratarexclusivamente <strong>de</strong>stes; ou seja, os RTs se relacionamdiretamente com um produto ou processo,e também indiretamente, por meio dos aspectosantes indicados.I<strong>de</strong>ntificação do atendimento doproduto apícola selecionadoaos RTAsA i<strong>de</strong>ntificação do atendimento do produtoapícola selecionado aos RTAs consiste emcomparar os parâmetros <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do produtoselecionado com os parâmetros <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>do mercado-alvo para esse mesmo produto. Oprocesso se apresenta na Figura 12.A Figura 13 mostra o processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificaçãodo atendimento do produto apícola aosRTAs. São verificadas as disposições do respectivoregulamento aplicável e as características doproduto; então, imediatamente se comparam asinformações e se conclui se o produto aten<strong>de</strong> aoRTA. Se o produto não cumprir as especificaçõesda regulamentação técnica pertinente, sua vendaserá proibida – diferentemente do que ocorrecom o não cumprimento <strong>de</strong> uma norma, fatoque não inviabiliza a venda, mas po<strong>de</strong> diminuirsua participação no mercado.69Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


prazo. Por isso, falar em SWOT é se referir aoplano estratégico, já que implica fazer conjecturasracionais sobre o futuro distante (HOFRI-CHTER, 2011).Figura 12. Fluxograma simplificado da i<strong>de</strong>ntificaçãodo atendimento aos RTAs.Uso dos requisitos técnicos:acesso a mercados e P&DEmbora a metodologia exposta busque<strong>de</strong>senvolver ferramentas para o acesso a mercadosinternacionais, sua aplicação implica a colheita<strong>de</strong> informações <strong>de</strong> natureza estratégica;<strong>de</strong>ssa forma, sua utilização <strong>de</strong>ve ser estratégica,ou seja, <strong>de</strong>ve ser parte <strong>de</strong> um planejamento <strong>de</strong>longo prazo, e preferivelmente aplicar a ferramenta<strong>de</strong> análise SWOT 6 (Figura 13).A análise SWOT é um instrumento para oplanejamento nas organizações, partindo do conhecimentodos pontos fortes, dos pontos fracos,das oportunida<strong>de</strong>s e das ameaças quando se trata<strong>de</strong> um projeto, ou para o estabelecimento <strong>de</strong>cenários para a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> longoFermam (2009) <strong>de</strong>staca a importância<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r que o termo “acesso a mercado”está relacionado com instrumentos e disciplinasque influenciam a entrada <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> umpaís em outros, como as restrições e/ou limitaçõesà importação (tarifas, quotas <strong>de</strong> importação,normas, regulamentos, etc.), interferindo naconcorrência entre produtos importados e seussimilares domésticos. Acrescenta Fermam (2009)que se apren<strong>de</strong> o uso inventivo dos requisitos,pois antes eram usados como “obstáculos aocomércio”, e atualmente constituem ferramentaspara o livre comércio.Outro efeito da aplicação da metodologiaapresentada diz respeito a esta ser útil comoorientação <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento (P&D)para a melhoria permanente dos processos <strong>de</strong>produção do mel, tendo em consi<strong>de</strong>ração quea evolução do setor apícola está altamente relacionadacom a realização <strong>de</strong> arranjos produtivoslocais; assim, a melhoria <strong>de</strong> um dos produtoresprovoca intensos reflexos nos outros que compartilhamo mesmo arranjo.Aplicação da metodologiaAlagoas não exporta mel. Esse fato nãoimpe<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>senvolva a metodologia propostano que diz respeito ao atendimento domel produzido nesse estado aos RTAs aplicadospelos Estados Unidos da América. Procurou-severificar o que aconteceria, adaptando a lógicaAmbiente externoFigura 13. Análise SWOT.Fonte: adaptado <strong>de</strong> Dornelas (2011).Ambiente interno2 - Capitalizar 3 - Melhorar Oportunida<strong>de</strong>s4 - Monitorar 1 - Eliminar AmeaçasPontos fortesPontos fracos6Do inglês: Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats (pontos fortes, pontos fracos, oportunida<strong>de</strong>s e ameaças). Os pontos fracos e fortes dizemrespeito ao ambiente interno da empresa; já as ameaças e as oportunida<strong>de</strong>s se i<strong>de</strong>ntificam no ambiente externo.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>70


<strong>de</strong> “produto menos exportado X principal paísimportador” para “produto menos exportado- marca mais vendida no mercado local Xprincipal país importador”, se a pretensão fosseexportar o mel que se distribui no mercado local.Para tanto, pesquisou-se nas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> varejoa marca mais vendida.A marca mais vendida apresenta no rótuloa informação nutricional conforme a Figura 14.A Tabela 2 mostra o atendimento do mel da marcamais vendida em Alagoas aos RTAs dos EUA.O produto pesquisado NÃO aten<strong>de</strong> aosRTAs dos Estados Unidos porque a informaçãonutricional no rótulo indica que os carboidratosse encontram em uma proporção <strong>de</strong> 54,2%– a USDA (2011) <strong>de</strong>termina que os RTAs paraos carboidratos <strong>de</strong>vem observar uma proporção<strong>de</strong> 82,4%. Resultam disso <strong>de</strong>snecessárias outrasanálises, pois não aprovado o RTA para carboidratos,todo o produto, nas condições atuaisem que é distribuído no Estado <strong>de</strong> Alagoas, nãoaten<strong>de</strong> aos requisitos dos EUA.Porção <strong>de</strong> 24 g (1 colher <strong>de</strong> sopa)Quantida<strong>de</strong> por porção% VDValor energético: 52 kcal = 218 kJ 3Carboidratos 13 g 4Figura 14. Informação nutricional do rotulo da marcamais vendidaA importância dos arranjosprodutivos locaisPara <strong>de</strong>senvolver a consciência da necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a requisitos técnicos por partedos produtores apícolas, necessita-se <strong>de</strong> um marcofavorável para isso acontecer, pois estes são majoritariamente<strong>de</strong> pequeno porte; por isso, os investimentospo<strong>de</strong>m superar as suas possibilida<strong>de</strong>s.A solução consiste em um agrupamento sinérgicoentre eles, <strong>de</strong> forma que não apenas dividam custos,mas compartilhem conhecimentos.O que foi acima exposto reflete claramenteo objetivo dos Arranjos Produtivos Locais. Estes sãoorganizações que não envolvem apenas produtores,mas outros atores econômicos e sociais, poissua formação e seu <strong>de</strong>senvolvimento necessitamda ação dos governos (fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal)e também da <strong>de</strong> órgãos que facilitem o encontrodos produtores e forneçam o conhecimentopara alcançar seus objetivos.Essas organizações, entre outros aspectos,facilitam a capacitação <strong>de</strong> recursos humanos, geramnova consciência a respeito do negócio e sãoo cenário propício para o intercâmbio <strong>de</strong> conhecimentos,muitas vezes adquiridos empiricamente,<strong>de</strong> forma que não estão disponíveis em abordagensacadêmicas.Um aspecto que ressalta a importância dosAPLs é o fato <strong>de</strong> constituírem a<strong>de</strong>quado instrumentopara materializar políticas públicas <strong>de</strong>stinadas apromover a passagem dos produtores da informalida<strong>de</strong>para a formalida<strong>de</strong>, por meio da capacitaçãoe/ou assistência técnica, voltadas para o aprimoramentodo produto e para a colocação <strong>de</strong>ste emmercados dos países <strong>de</strong>senvolvidos, com o <strong>de</strong>vidoatendimento aos requisitos técnicos. Assim, dotaros APLs <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> ferramentas que elevecada empresa a um nível <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>padrão – por meio da mo<strong>de</strong>rnização e capacitaçãoempresarial, e inovações técnicas, gerenciaisTabela 2. Atendimento do mel da marca mais vendida em Alagoas aos RTAs dos EUA segundo informação emrótulo.ComponenteMel da marcamais vendidaRTAs:Estados Unidos da AméricaAtendimento do mel damarca mais vendida aosRTAsCarboidratos13 g em uma porção <strong>de</strong> 24 gRelação: carboidratos/tamanhoda porção = 54,2%17,30 g em uma porção <strong>de</strong> 21 gRelação: carboidratos/tamanhoda porção = 82,4%Não aten<strong>de</strong> aosRTAs dos EUAFonte: dados da pesquisa.71Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


e tecnológicas – possibilitará às empresas que opossuem um melhor <strong>de</strong>sempenho nos mercadosnacional e internacional.Outra questão pela qual se recomenda ofortalecimento dos APLs (em Alagoas existe umespecífico para o mel, <strong>de</strong>nominado “Mel doSertão”) é o fato <strong>de</strong> a integração permitir o fortalecimento<strong>de</strong> cada produtor, e, por essa via,o conjunto gera nova e maior escala <strong>de</strong> produção,permitindo alcançar níveis mais altos <strong>de</strong>competitivida<strong>de</strong>.Especificamente, para o APL “Mel doSertão”, é importante consi<strong>de</strong>rar a interlocuçãocom o Inmetro, especialmente no que se refereao uso da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> laboratórios <strong>de</strong> ensaio acreditadospara análises químicas, físico-químicas emicrobiológicas do mel; aos organismos <strong>de</strong> certificação<strong>de</strong> produtos acreditados para o escopo“mel”; e ao uso do Ponto Focal do Acordo sobreBarreiras Técnicas ao Comércio na obtenção <strong>de</strong>informações sobre os requisitos técnicos dos diversospaíses importadores do mel.Consi<strong>de</strong>rações finaisConforme a lógica do livre mercado, coma globalização os países centrais começaram abatalhar pela eliminação das barreiras tarifárias(com as quais dominavam o ingresso <strong>de</strong> produtosaos seus mercados) e iniciaram a utilizaçãodos requisitos técnicos como a nova e mais temívelbarreira <strong>de</strong> controle sobre os seus mercados.O produto apícola mel, objeto <strong>de</strong>ste estudo,experimentou as oscilações do mercadointernacional. Em 2003 e 2004, o Brasil se beneficioupelo embargo imposto aos dois principaisplayers da exportação mundial do mel, Chinae Argentina, por parte dos Estados Unidos e daComunida<strong>de</strong> Econômica Europeia (CEE). Mas em2006 foi a vez <strong>de</strong> o País sofrer o embargo do seuproduto, realizado pela CEE porque não foramobservadas as exigências impostas pela diretriz96/23, emitida por essa comunida<strong>de</strong> com respeitoa resíduos veterinários.Esse embargo ao mel <strong>de</strong>monstra a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> repensar o conceito <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>como fundamento estratégico das exportaçõesdo Brasil em geral. As empresas brasileiras quepreten<strong>de</strong>m exportar <strong>de</strong>vem compreen<strong>de</strong>r queter qualida<strong>de</strong> é satisfazer necessida<strong>de</strong>s/requisitos(exigências) do cliente (país/bloco importador).Os requisitos técnicos po<strong>de</strong>m ser objeto<strong>de</strong> negociação entre países (por exemplo, osacordos <strong>de</strong> cooperação técnica) ou <strong>de</strong> harmonizaçãointrablocos, mas é necessário lembrarque os países têm direito <strong>de</strong> estabelecer regraspara o ingresso <strong>de</strong> produtos aos seus mercados.Contudo, essa liberda<strong>de</strong> tem limites, particularmenteos que surgem da Organização Mundialdo Comércio (OMC) por meio do Acordo SobreBarreiras Técnicas ao Comércio.O Estado <strong>de</strong> Alagoas não exportou nemexporta mel. Essa realida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>radaum problema pontual ou uma consequênciasistêmica. A primeira das alternativas <strong>de</strong>ve ser<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rada, uma vez que não houve intentos<strong>de</strong> exportar, ou seja, não se trata <strong>de</strong> falta <strong>de</strong>atendimento a requisitos técnicos.O fato <strong>de</strong> não exportar constitui umaconsequência sistêmica relacionada com a estruturaprodutiva agropecuária <strong>de</strong> Alagoas, absorvidapelo complexo sucroalcooleiro, quedomina quase 95% das exportações (principalmenteaçúcar bruto – VHP), e o restante (5%) secompõe <strong>de</strong> produtos químicos, fumo e <strong>de</strong>maisprodutos. A apicultura ainda é uma alternativaprodutiva complementar <strong>de</strong> outras ativida<strong>de</strong>sagropecuárias, está ganhando espaço, mas aindanão se encontra em nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentosemelhante ao que se observa em outros estadosda União; por isso, não se aproveita a oportunida<strong>de</strong><strong>de</strong> exportar.O agrupamento <strong>de</strong> produtores em APLspo<strong>de</strong> aumentar sua competitivida<strong>de</strong>, tornandopossível mantê-la no longo prazo e ao mesmotempo facilitar o planejamento e <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s conexas ao core business,o qual provoca benefícios na equação econômi-Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>72


co-financeira <strong>de</strong> cada integrante e também doconjunto.A metodologia proposta para acesso amercados ultrapassa o nível <strong>de</strong> “diagnóstico situacional”para operar como uma guia <strong>de</strong>stinadaa concretizar as ações que a observação metódicaindicou como necessárias para que Alagoaspossa, por meio da produção <strong>de</strong> mel, reduziras necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego e renda, facilitando oacesso a mercados <strong>de</strong>sse produto.ReferênciasBABIANO, J. A. Mercado internacional <strong>de</strong> la miel.[Madrid, ES]: cooperativas agro-alimentarias <strong>de</strong>España, <strong>2012</strong>. Disponível em: . Acesso: 8 abr. <strong>2012</strong>.BORGES, J. A. R. Mel natural: Brasil no mercado mundial.AgroAnalysis, São Paulo, maio 2010. Disponível em:. Acesso: 20 out. 2011.BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento. Instrução Normativa n. 11, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong>outubro <strong>de</strong> 2000. Aprova o regulamento técnico <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> do mel. Diário Oficial [da]República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, Brasília, DF, Seção 1,p. 23, 23 out. 2000. Disponível em: . Acesso: 3 <strong>de</strong>z. 2011.CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE APICULTURA(CBA). Meliponicultura. Disponível em: .Acesso: 15 out. 2011.DORNELAS, J. Planejamento estratégico do negócio.Disponível em: . Acesso: 6 <strong>de</strong>z. 2011.FERMAM, R. K. S. Comércio internacional e mudançasclimáticas: o papel da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> avaliação daconformida<strong>de</strong>. Revista Ibero-Americana <strong>de</strong> CiênciasAmbientais, Aquidabã, v. 2, n. 1, p. 32-44, 2011.FERMAM, R. K. S. O processo <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong>normativas técnicas Mercosul: o caso das negociaçõessobre produtos elétricos. Revista Brasileira <strong>de</strong> PolíticaInternacional (RBPI), Brasília, DF, v. 49, n. 1, 2006, p.117-130.FERMAM, R. K. S. Os requisitos ambientais no comérciointernacional: ferramentas <strong>de</strong> acesso a mercados parao setor <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensivos agrícolas. 2009. 240 f. Tese(Doutorado)–Escola <strong>de</strong> Química Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral doRio <strong>de</strong> Janeiro, Rio <strong>de</strong> Janeiro.FERREIRA, F. V. Tecnologia industrial básica e inovaçãonas micro, pequenas e médias empresas <strong>de</strong> basetecnológica. 2009. 117 f. Dissertação (Mestrado)–Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em Metrologia, PontifíciaUniversida<strong>de</strong> Católica (RJ), Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2009.GADRET, E. T. Barreiras e regulamentos técnicos aocomércio dos biocombustíveis na União Europeia.Trabalho apresentado no 6º Congresso Brasileiro <strong>de</strong>Plantas Oleaginosas, Óleos, Gorduras e Biodiesel, MontesClaros (MG), 2009. Disponível em: . Acesso: 27 <strong>de</strong>z.2011.HOFRICHTER, M. Análise SWOT. RC Invest. Disponívelem: . Acesso: 23 <strong>de</strong>z. 2011.IBGE. Censo <strong>de</strong>mográfico e contagem da população.Disponível em: . Acesso: 22 <strong>de</strong>z.2011.INMETRO. Articulação Internacional. Acordos <strong>de</strong>reconhecimento mútuo. Disponível em: . Acesso:12 nov. 2011e.INMETRO. Articulação Internacional. Barreiras técnicas:conceitos. Disponível em: . Acesso em: 22out. 2011a.INMETRO. Avaliação da conformida<strong>de</strong>. Disponívelem: . Acesso: 10 nov. 2011b.INMETRO. Coor<strong>de</strong>nação Geral <strong>de</strong> Acreditação (CGCRE).Acreditação. Disponível em . Acesso: 12 nov. 2011d.INMETRO. Diretoria da qualida<strong>de</strong>. Avaliação daconformida<strong>de</strong>. 5. ed. 2007. Disponível em: . Acesso: 10nov. 2011c.JURAN, J. M. A qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o projeto: os novospassos para o planejamento da qualida<strong>de</strong> em produtose serviços. Tradução, Nivaldo Montinguelli Júnior. 5.reimpressão. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,2004. Título original em inglês: Juran on quality by<strong>de</strong>sign.MÉLO, D. <strong>de</strong> B. M.; ALVES, J. J. <strong>de</strong> M.; COSTA, J. H. <strong>de</strong>Q.; BEELEN, R. N. Apicultura no Estado <strong>de</strong> Alagoas: umestudo sobre práticas <strong>de</strong>senvolvidas por apicultores emMunicípio do Agreste Alagoano. Pubvet, Londrina, v. 5,n. 2, ed. 149, art. 1001, 2011.PEREIRA, F. <strong>de</strong> M.; LOPES, M. T. DO R.; CAMARGO, R.C. R. DE; VILELA, S. L. <strong>de</strong> O. Produção <strong>de</strong> Mel. Terezina:<strong>Embrapa</strong> Meio Norte, 2003. Versão eletrônica. (<strong>Embrapa</strong>Meio Norte. Sistema <strong>de</strong> Produção, 3). Disponível73Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


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Caminhos da soja eMarines Orlandio <strong>de</strong>senvolvimento2Ednilse Maria Willers 3Jefferson Andronio Ramundo Stadutorural no Paraná e4Paulo Henrique Cezaro Eberhardt 5Carlos Alberto Piacenti 6em Mato Grosso 1Resumo – O objetivo <strong>de</strong>ste artigo é discutir o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural nas regiões produtoras<strong>de</strong> soja dos estados do Paraná e <strong>de</strong> Mato Grosso, mais especificamente nos municípios quecompõem as principais mesorregiões produtoras <strong>de</strong>ssa commodity. Com base na análise dos componentesprincipais, classificaram-se os municípios <strong>de</strong> acordo com o índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentorural (IDR). Constataram-se evidências <strong>de</strong> que a cultura da soja tem contribuído para o processo <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento rural das mesorregiões produtoras, mas sua contribuição no Paraná e em MatoGrosso ocorre <strong>de</strong> formas completamente distintas.Palavras-chave: análise fatorial, mesorregiões, sojicultura.Soybean paths and rural <strong>de</strong>velopment in Paraná and Mato GrossoAbstract – The objective of this paper is to discuss the rural <strong>de</strong>velopment in the areas that producesoybean, in states of Paraná and Mato Grosso, Brazil, specifically in the municipalities that make upthe main mesoregions that produce this commodity. From the analysis of the main components, themunicipalities were classified according to the rural <strong>de</strong>velopment in<strong>de</strong>x (RDI). It was evi<strong>de</strong>nced thatsoybean culture has contributed to the rural <strong>de</strong>velopment process of the producer mesoregions, butits contribution in Paraná and in Mato Grosso occurs in completely different ways.Keywords: factor analysis, msoregions, soybean production.IntroduçãoA discussão do significado <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentodas áreas rurais é tão <strong>de</strong>safiadora quantoa <strong>de</strong>finição do próprio termo <strong>de</strong>senvolvimento.Nos últimos anos parece haver consenso na literatura<strong>de</strong> que o <strong>de</strong>senvolvimento rural nãosignifica somente crescimento econômico e nãoestá pautado exclusivamente na produção agro-1Original recebido em 22/8/<strong>2012</strong> e aprovado em 31/8/<strong>2012</strong>.2Administradora, doutoranda em Desenvolvimento Regional e Agronegócio, docente assistente do curso <strong>de</strong> Administração da Unemat/Sinop-MT. E-mail:marinesorlandi@gmail.com3Graduada em Secretariado Executivo Bilíngue, Mestre e doutoranda em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Unioeste/Toledo-PR, professora docurso <strong>de</strong> Secretariado da Unioeste/Toledo-PR, bolsista do CNPq. E-mail: ednilse26@gmail.com4Engenheiro-agrônomo, Doutor em Economia Aplicada, professor associado na Unioeste/Toledo-PR, bolsista em Produtivida<strong>de</strong> em Pesquisa do CNPq.E-mail: jarstaduto@gmail.com5Economista, Mestrando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio na Unioeste/Toledo-PR, bolsista Capes. E-mail: pauloeberhardt@yahoo.com.br6Economista, Doutor em Economia Aplicada, professor adjunto na Unioeste/Toledo-PR. E-mail: piacenti8@yahoo.com.br75Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


pecuária. A produção no espaço rural <strong>de</strong>ve estarintegrada ao <strong>de</strong>senvolvimento social e ambiental.Os estudos sobre esse tema tornaram-se maisintensos no Brasil a partir da década <strong>de</strong> 1990,<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> forte avanço do processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnizaçãoagropecuária.A partir da década <strong>de</strong> 1970, as áreas ruraissofreram significativa transformação em suasbases produtivas e sociais, processo conhecidocomo Revolução Ver<strong>de</strong>. As áreas <strong>de</strong> culturas <strong>de</strong>subsistência, que eram gran<strong>de</strong> parte da produçãoagrícola nacional, passaram a ser <strong>de</strong>stinadasà produção <strong>de</strong> monoculturas, as quais foramintroduzidas no país por meio da transferênciatecnológica importada dos países industrializados– principalmente dos Estados Unidos –, cujaforma <strong>de</strong> tecnificação não alterou a estruturafundiária e a distribuição <strong>de</strong> renda, ambas extremamente<strong>de</strong>siguais (DELGADO, 2001). A adoção<strong>de</strong>ssa tecnologia, principalmente nas regiõesSul e Su<strong>de</strong>ste do país, ocasionou novas formas<strong>de</strong> organização da produção rural, os complexosagroindustriais, os quais, a partir da década <strong>de</strong>1980, se expandiram para o cerrado brasileiro.A principal expressão do rápido espraiamentoda mo<strong>de</strong>rnização da agropecuária nacionalfoi a cultura da soja, configurando-se comoimportante vetor <strong>de</strong> produção agrícola e <strong>de</strong> usodo solo, primeiramente no Sul e no Su<strong>de</strong>ste, e<strong>de</strong>pois no Centro-Oeste. Esse cenário produtivoposicionou o Brasil como segundo maior produtormundial (EMBRAPA SOJA, 2011). A culturada soja está fortemente imbricada com o processo<strong>de</strong> organização produtiva <strong>de</strong> muitas regiõesdo país, muitas das quais têm espaço territoriale valor da produção muito próximos aos damonocultura.Para Ellis e Biggs (2005), em termos mundiais,os avanços das discussões acerca da temáticado <strong>de</strong>senvolvimento rural po<strong>de</strong>m categorizaresse processo a partir da década <strong>de</strong> 1960, como foco nas discussões sobre a mo<strong>de</strong>rnização; ena década <strong>de</strong> 1970, sobre a intervenção do Estado.Já a década <strong>de</strong> 1980 fica marcada pelaliberalização dos mercados, e a <strong>de</strong> 1990 li<strong>de</strong>raas discussões sobre a participação e o empo<strong>de</strong>ramentodos atores rurais. No Brasil, as discussõesacerca do tema do <strong>de</strong>senvolvimento ruralinicialmente estavam circunscritas em torno daeconomia agrícola, do agronegócio e <strong>de</strong> seusrespectivos mercados (KAGEYAMA, 2008). Contudo,a aca<strong>de</strong>mia brasileira, a partir da década<strong>de</strong> 1990, também passou a discutir e a aprofundaros <strong>de</strong>bates sobre o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentorural no país (ABRAMOVAY, 2000, 2006;FAVARETO, 2006; SCHNEIDER, 2007; VEIGA,2001). A inserção do tema no Ministério do DesenvolvimentoAgrário foi importante marco <strong>de</strong>institucionalização governamental das discussõesacerca dos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentorural brasileiro.De um lado, pesquisas apontam que a monoculturanão é suficiente para <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar o<strong>de</strong>senvolvimento rural <strong>de</strong> uma região, como afirmamKageyama (2004, 2008), Schnei<strong>de</strong>r (2007)e Veiga (2001), e que o rural não é sinônimo nemexclusivida<strong>de</strong> do setor agrícola. Por outro lado, asoja é uma cultura importante para a ocupaçãoe a geração <strong>de</strong> renda em muitas áreas <strong>de</strong> produçãoagrícola antigas, assim como nas recentes.Quanto a isso, consi<strong>de</strong>rando a diversida<strong>de</strong>territorial do país <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a estrutura fundiária atéos spectos edafoclimáticos, a cultura da soja produziudistintas marcas no meio rural brasileiro.Dessa forma, esta pesquisa buscou reuniralgumas variáveis, já levantadas por outros estudos– particularmente foi construído o Índice<strong>de</strong> Desenvolvimento Rural baseado em Melo eParré (2007) –, que pu<strong>de</strong>ssem refletir o cenárioeconômico e social dos municípios pertencentesàs principais mesorregiões produtoras <strong>de</strong> sojanos estados do Paraná e <strong>de</strong> Mato Grosso, comoforma <strong>de</strong> reunir elementos para examinar a relaçãoda produção <strong>de</strong> soja com o <strong>de</strong>senvolvimentorural.Os caminhos da sojaA produção <strong>de</strong> soja tem crescido sistematicamentepelo mundo por ter se tornado umadas principais matérias-primas para a indústriana produção <strong>de</strong> alimentos para humanos e ani-Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>76


mais. No período <strong>de</strong> 1980 a 2005, a <strong>de</strong>mandamundial <strong>de</strong> soja expandiu em 174,3 milhões <strong>de</strong>toneladas, para aten<strong>de</strong>r a um consumo mundialque cresceu à taxa média anual <strong>de</strong> 5,5%. Nessemontante, a participação da produção da sojaadvinda da América do Sul cresceu <strong>de</strong> 30% dototal mundial para 47,8% ao final do ano <strong>de</strong>2006. No mesmo ano, Brasil e Argentina respon<strong>de</strong>rampor 91,8% da soja adicional ofertada nomercado mundial (PINAZZA, 2007).Em termos nacionais, da década <strong>de</strong> 1970a 2010, houve acentuado crescimento da área<strong>de</strong>stinada à produção da soja. O aumento foi<strong>de</strong> 6.949 milhões <strong>de</strong> hectares para 23.467,9milhões <strong>de</strong> hectares, transformando a soja nacultura agrícola brasileira que mais cresceu nasúltimas décadas, correspon<strong>de</strong>ndo a 49% do totalda área plantada em grãos do país (EMBRAPASOJA, 2011). Esses números posicionam o Brasilcomo segundo maior produtor mundial <strong>de</strong> soja,atrás apenas dos EUA. Esses resultados estão associadosaos avanços tecnológicos, ao manejoe eficiência dos produtores, e principalmenteà expansão da fronteira agrícola para a regiãoCentro-Oeste.No Cerrado, o cultivo da soja tornou-sepossível graças aos resultados obtidos pelas pesquisasda <strong>Embrapa</strong>, em parceria com produtores,indústrias e centros privados <strong>de</strong> pesquisa.Os avanços nessa área possibilitaram também oincremento da produtivida<strong>de</strong> média por hectare,atingindo os maiores índices mundiais (EMBRA-PA SOJA, 2011).Os caminhos da soja noEstado do ParanáO Paraná faz parte da região Sul do Paíse está dividido em <strong>de</strong>z mesorregiões (Centro-Oci<strong>de</strong>ntal, Norte Central, Norte Pioneiro, OesteParanaense, Sudoeste Paranaense, Centro-SulParanaense, Su<strong>de</strong>ste Paranaense, Metropolitana<strong>de</strong> Curitiba, Noroeste e Centro-Oriental). Nesseespaço territorial, há 399 municípios em 199.880km² (IPARDES, 2011), com população <strong>de</strong>10.439.601 pessoas, o que representa 5,5% dapopulação total nacional (IBGE, 2010a).A soja, como lavoura comercial, chegouao estado em meados da década <strong>de</strong> 1950. Suaprodução era irrisória, e as poucas e pequenaslavouras existentes na região <strong>de</strong>stinavam-se aoconsumo doméstico e à alimentação <strong>de</strong> suínos.O total da produção não passava <strong>de</strong> 60 toneladas.A cultura <strong>de</strong>senvolveu-se com a migração<strong>de</strong> colonos vindos do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul,on<strong>de</strong> a soja já era cultivada há mais tempo. Ocrescimento da produção a partir <strong>de</strong>sse períodofoi explosivo: <strong>de</strong> 8 mil toneladas, na safra <strong>de</strong>1960–1961, para 150 mil já no final da década<strong>de</strong> 1960. Na década <strong>de</strong> 1970, a produção atingiua marca dos 3,5 milhões <strong>de</strong> toneladas, evoluindopara 4,15 milhões <strong>de</strong> toneladas na década <strong>de</strong>1980 e para 6,5 milhões <strong>de</strong> toneladas na década<strong>de</strong> 1990. Mas é na década <strong>de</strong> 2000 que a safraparanaense <strong>de</strong> soja atingiu seu maior índice <strong>de</strong>produção, atingindo o volume <strong>de</strong> 11 milhões <strong>de</strong>toneladas, e consolidando o estado na segundaposição entre os estados produtores, atrás apenas<strong>de</strong> Mato Grosso (EMBRAPA SOJA, 2011).De acordo com Bulhões (2007) e Mazzali(2000), a consolidação da soja no Paraná a partirda década <strong>de</strong> 1970 se <strong>de</strong>u em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> doisfatores principais: a) a conjuntura internacionalfavorável; e b) a intervenção do Estado em todoo processo da ca<strong>de</strong>ia produtiva do grão. Essesfatores favoreceram a substituição <strong>de</strong> extensasáreas <strong>de</strong> plantio <strong>de</strong> outras culturas e <strong>de</strong> pastagenspela soja, e também a melhoria <strong>de</strong> infraestruturasao longo das regiões produtoras, comorodovias, portos, armazenamento, processamentoe comercialização.Na Figura 1 po<strong>de</strong>m-se visualizar os municípiosque têm os maiores índices <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>soja ao longo da primeira década do século 21,com <strong>de</strong>staque para os anos <strong>de</strong> 2000 e 2007. Aolongo <strong>de</strong>sse período, houve a consolidação dasmesorregiões Oeste, Centro Oci<strong>de</strong>ntal, CentroOriental e Norte Central como maiores produtoras<strong>de</strong> soja do estado. Mas também se visualiza otransbordamento do cultivo da commodity parapraticamente todas as <strong>de</strong>mais mesorregiões do77Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Paraná, exceto a mesorregião Metropolitana ealguns municípios da mesorregião Noroeste.De acordo com o Ipar<strong>de</strong>s (2011), na safra2000–2001 a área com cultivo da soja no estadofoi <strong>de</strong> 2.859.362 hectares, com produção <strong>de</strong>7.189.810 toneladas. Nesse período, os municípios<strong>de</strong> Toledo e Cascavel (Meso Oeste) foramos principais produtores. Já na safra 2007–2008,a produção atingiu montante <strong>de</strong> 11.882.704toneladas, cultivada em uma área <strong>de</strong> 4.001.443hectares. Nessa safra, o maior produtor estadualpassou a ser o município <strong>de</strong> Tibaji, seguido <strong>de</strong>Cascavel.Os caminhos da soja noEstado <strong>de</strong> Mato GrossoMato Grosso está dividido em cinco mesorregiões(Centro-Sul, Nor<strong>de</strong>ste, Norte, Su<strong>de</strong>stee Sudoeste), com população <strong>de</strong> 3.035.122habitantes, distribuída em área <strong>de</strong> 903.329,70km², e com <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica <strong>de</strong> 3,36hab./km² (IBGE, 2010a). A economia tem apresentadodinamismo econômico, com crescimentodo Produto Interno Bruto (PIB), fato quecontribui para saldos positivos na balança comercialbrasileira e aumento da exportação,principalmente <strong>de</strong> commodities.É um estado que compõe a Amazônia Legale é transfronteiriço internacional; portanto,tem papel relevante nos planos <strong>de</strong> integração e<strong>de</strong>senvolvimento nacional. Nesse aspecto, a partirda década <strong>de</strong> 1970 houve certo favorecimentopelo governo fe<strong>de</strong>ral para a ocupação por contada política <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento regional, fortalecendoa expansão do sistema viário estadual,o que veio a viabilizar a interiorização da populaçãoe a consequente urbanização gradativada ocupação do sul ao norte do estado (HIGA,2005; SOUZA, 2004; VILARINHO NETO, 2005).No final da década <strong>de</strong> 1970, o estado apareceunas estatísticas nacionais como estadoprodutor <strong>de</strong> soja. No final da década <strong>de</strong> 1980, jáocupava o quarto lugar em relação a esse produto.Na safra <strong>de</strong> 1991–1992, estava ranqueado emterceiro lugar, e foi o primeiro produtor <strong>de</strong> sojabrasileiro na safra 1998–1999, superando o Paraná(CONAB, 2011). Nas safras <strong>de</strong> 2002–2003, osmaiores produtores <strong>de</strong> soja do estado já estavamsituados no cerrado mato-grossense, em particularnos municípios <strong>de</strong> Sorriso, Nova Mutum, Tapurahe Lucas do Rio Ver<strong>de</strong> (MORENO, 2005).Na Figura 2 vê-se que ao longo da primeiradécada do século 21, a plantação da culturada soja esteve concentrada nos municípios dasmesorregiões Norte e Su<strong>de</strong>ste. Segundo a Secretaria<strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Planejamento e Coor<strong>de</strong>naçãoGeral (MATO GROSSO, 2001), no ano <strong>de</strong> 2000Mato Grosso produziu 8.774.470 toneladas dogrão em 2.906.448 hectares <strong>de</strong> área plantada,Figura 1. Municípios do Paraná produtores <strong>de</strong> soja em 2000 e em 2007.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>78


com <strong>de</strong>staque para os municípios <strong>de</strong> Sorriso eCampo Novo do Parecis. No ano <strong>de</strong> 2007, MatoGrosso produziu 15.275.087 milhões <strong>de</strong> toneladas<strong>de</strong> soja em uma área <strong>de</strong> 5.075.079 milhões<strong>de</strong> hectares. Contudo, mesmo com o aumentoda área plantada (Meso Nor<strong>de</strong>ste), os maioresvolumes <strong>de</strong> produção continuaram concentradosnas mesorregiões Norte e Su<strong>de</strong>ste (MATOGROSSO, 2008).Base metodológicaDada a característica multidimensional ecomplexa do conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rurale da peculiarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa pesquisa em analisaras mesorregiões produtoras <strong>de</strong> soja do Paraná e<strong>de</strong> Mato Grosso, utilizaram-se métodos <strong>de</strong> estudos<strong>de</strong> abordagem qualitativa e quantitativa. Emtermos <strong>de</strong> abordagem qualitativa, foi adotadaa proposta <strong>de</strong> Kageyama (2008), na qual a autorase propõe a <strong>de</strong>screver e avaliar o grau <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma região rural num momentoespecífico. Quanto a isso, esta pesquisaexaminou as áreas produtoras <strong>de</strong> soja e o seu<strong>de</strong>senvolvimento rural por meio do exame dasmesorregiões produtoras do grão no Paraná eem Mato Grosso ao longo da década <strong>de</strong> 2000.Utilizou-se a técnica da análise estatística multivariada(análise fatorial), para consubstanciara abordagem quantitativa da pesquisa, <strong>de</strong>scritamatematicamente da seguinte forma:X i= A i1F 1+ A i2F 2+ ... + A ikF k+ U i+ E iA ik: cargas fatoriais usadas para combinarlinearmente os fatores comuns; F 1, F 2...F k: fatorescomuns; U i: fator único; e E i: fator erro.Desse cálculo obtiveram-se as cargas fatoriais,as quais indicam a força <strong>de</strong> interação entreas variáveis utilizadas. Para verificar qual omelhor ajuste entre as variáveis, foi utilizado ométodo <strong>de</strong> rotação Varimax. Depois <strong>de</strong> estimadasas cargas fatoriais, calcularam-se os escoresfatoriais:F j: W j1X 1+ W j2X 2+ W j3X 3... + W jpX pTendo-se os valores calculados das cargase escores fatoriais, criou-se um Índice Bruto (IB),como meio para se chegar ao Índice <strong>de</strong> DesenvolvimentoRural (IDR) proposto por Mello e Parré(2007). A equação utilizada para calcular oíndice bruto foiFigura 2. Municípios <strong>de</strong> Mato Grosso produtores <strong>de</strong> soja em 2000 e em 2007.79Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


IB: índice bruto (média pon<strong>de</strong>rada dos escores fatoriais);w i: proporção da variância explicada pelofator; e F i: escores fatoriais.Possuindo os valores do IB <strong>de</strong> cada municípioprodutor <strong>de</strong> soja <strong>de</strong> Mato Grosso e do Paraná,por meio <strong>de</strong> interpolação foi criado o IDR, com omaior valor sendo 100 e o menor, 0.A escolha dos dados refere-se ao embasamentoteórico acerca do <strong>de</strong>senvolvimento rural,e sua coleta foi feita com dados secundários daConab (2011), <strong>Embrapa</strong> Soja (2011), IBGE (2005,2006, 2010a, 2010b), Ipar<strong>de</strong>s (2003, 2011), Ipeadata(2009, 2010, <strong>2012</strong>) e Mato Grosso (2001, 2010).A escolha do conjunto <strong>de</strong> variáveis utilizadas tevepor norte i<strong>de</strong>ntificar on<strong>de</strong> estão instaladas as culturasda soja e se há evidências <strong>de</strong> indicadores <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento rural nessas culturas, no Paraná eem Mato Grosso, a partir da década <strong>de</strong> 2000. Essetipo <strong>de</strong> análise já está referendada em vários estudoscom escopos semelhantes ao <strong>de</strong>sta pesquisa, como:Ferreira Júnior et al. (2003), Hoffmann (1992, 1994),Melo e Parré (2007), Rezen<strong>de</strong> e Parré (2004), Silva eFernan<strong>de</strong>s (2004), e Zambrano e Pinto (2004). Parater o mínimo <strong>de</strong> reflexão comparativa dos dois processos<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento regional, foram selecionadasas mesmas variáveis explicativas.Dessa forma, foram selecionadas 14 variáveispara os dois estados. Ressalta-se que algumas dasvariáveis utilizadas foram extraídas <strong>de</strong> anos diferentes,em virtu<strong>de</strong> da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>las e do elevadonúmero <strong>de</strong> municípios pesquisados.As variáveis utilizadas na análise dos componentesprincipais (ACP) foram: crédito rural (R$); populaçãoocupada na área rural por município; IDHpor município; esperança <strong>de</strong> vida ao nascer pormunicípio (em anos); matrículas (soma do número<strong>de</strong> matrículas no ensino fundamental e no médiopor município); pessoas pobres (% do total da populaçãomunicipal com renda domiciliar per capitainferior a R$ 75,50); <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional (populaçãototal dividida pela área total do município, emkm 2 ); trator/área colhida (quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratores existentesnos estabelecimentos agropecuários, divididapelo total <strong>de</strong> área colhida por município); energia/PIB primário (kW total utilizado na área rural do município,dividido pelo PIB primário do município);<strong>de</strong>spesas/PIB primário (<strong>de</strong>spesas com a agricultura,por município, divididas pelo PIB primário do município);porcentagem da população rural (porcentagemda população total que vive em área rural);PIB primário/pessoas na agricultura (PIB primário domunicípio dividido pela população ocupada na árearural); e valor da produção da soja/PIB primário (valorda produção da soja dividido pelo PIB primáriodo município).Resultados e discussãoOs componentes principais foram obtidospor meio do software computacional SPSS, queagrupou as variáveis analisadas em cinco componentespara os estados do Paraná e <strong>de</strong> MatoGrosso, sendo todos isentos <strong>de</strong> correlação. Utilizou-sea rotação varimax, que é, <strong>de</strong> acordo comHo (2006), o mais utilizado dos métodos rotacionais,por fornecer a separação mais clara dosfatores. Serão feitos cálculos do IDR para cadaestado, consi<strong>de</strong>rando apenas os municípios dasmesorregiões produtoras <strong>de</strong> soja.ParanáAs variáveis selecionadas explicam 0,642da variância total 7 , conforme Teste <strong>de</strong> KMO, o que<strong>de</strong>monstra que a maior parte da variância das variáveisoriginais é explicada por esses componentes.A análise aplicada ao mo<strong>de</strong>lo para a década<strong>de</strong> 2000 possibilitou a extração <strong>de</strong> cincofatores com raiz característica maior que aunida<strong>de</strong> e que sintetizam as informações contidasnas 14 variáveis originais. Após rotação(Tabela 1), percebe-se que os cinco componentesselecionados explicam, em conjunto, 78,68%da variância total das variáveis selecionadas.7O teste Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e o teste <strong>de</strong> esfericida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bartlett são duas das principais medidas do ajuste da amostra à análise <strong>de</strong> componentesprincipais. Para o teste KMO, a literatura recomenda que um nível acima <strong>de</strong> 0,5 é mais a<strong>de</strong>quado para a realização da ACP; e o resultado <strong>de</strong> 0,642 significaque a amostra é a<strong>de</strong>quada para a realização da ACP (HO, 2006).Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>80


Tabela 1. Raiz característica, variância explicadapelo fator e variância acumulada.FatorRaizcaracterísticaVariânciaexplicadapelo fator (%)Variânciaacumulada(%)1 2,956 21,117 21,1172 2,795 19,962 41,0793 1,814 12,960 54,0394 1,745 12,467 66,5065 1,704 12,174 78,680A Tabela 2 apresenta as variáveis e ascomunalida<strong>de</strong>s para os componentes consi<strong>de</strong>rados.Os valores encontrados para as comunalida<strong>de</strong>srevelam que, em praticamente todas asvariáveis, a variabilida<strong>de</strong> é captada e representadapelos cinco componentes.Percebe-se que os 3 primeiros componentesaglutinam 9 das 14 variáveis da ACP, explicando54,04% da variância das variáveis. Noprimeiro componente, as variáveis positivas matrículas,<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional, e energia/PIBprimário foram as que atingiram o maior pesopara o IDR, sendo as duas primeiras variáveisrelacionadas ao capital humano, e a última, aocapital físico e à tecnificação, pois a energiaelétrica está fortemente relacionada às váriasformas <strong>de</strong> produção na agropecuária, e poucoà produção <strong>de</strong> soja. As variáveis que formam osegundo componente – IDH, esperança <strong>de</strong> vidae porcentagem <strong>de</strong> pobres no meio rural – estãodiretamente relacionadas aos aspectos <strong>de</strong> melhoria<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população rural eestão fortemente presentes nesses componentes.Esse fator po<strong>de</strong> estar relacionado ao fato <strong>de</strong> osespaços rurais estarem cercados pelo urbano, oque possibilita a essa população uma relação <strong>de</strong>proximida<strong>de</strong> à urbanização, ou seja, aos serviçospúblicos.No vetor três, as variáveis <strong>de</strong>spesas/PIBprimário e porcentagem da população rural sãopositivas e aparentemente contraditórias à variávelPIB primário/pessoas ocupadas na agricul-Tabela 2. Componentes e comunalida<strong>de</strong>s para o Paraná.ComponenteVariável1 2 3 4 5Comunalida<strong>de</strong>Crédito 0,228 0,170 -0,085 0,403 0,610 0,623População ocupada -0,092 -0,067 0,180 -0,084 0,824 0,732IDH 0,160 0,937 -0,142 0,162 0,103 0,96Esperança <strong>de</strong> vida -0,018 0,933 0,102 0,035 -0,090 0,891Matrículas 0,764 0,104 -0,150 0,059 0,429 0,805Pessoas pobres -0,202 -0,830 0,344 -0,193 -0,112 0,898Densida<strong>de</strong> 0,925 0,207 -0,084 0,058 0,101 0,919Trator/área colhida 0,069 -0,104 0,011 -0,753 -0,081 0,589Energia/PIB primário 0,905 -0,010 0,113 -0,055 -0,217 0,882Despesas/PIB prim. 0,469 0,153 0,603 0,186 0,155 0,665PIB prim./pop. total -0,460 -0,109 -0,059 0,387 -0,535 0,663% pop. rural -0,348 -0,424 0,704 -0,134 -0,152 0,837PIB prim./pes. agric. 0,002 0,135 -0,824 0,289 -0,167 0,808Valor prod./PIB prim. 0,109 0,158 -0,208 0,805 -0,113 0,74281Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


tura, que é negativa. Ao longo das décadas <strong>de</strong>1990 e 2000, houve forte evidência <strong>de</strong> que asativida<strong>de</strong>s agrícolas geraram menor renda doque as ativida<strong>de</strong>s não agrícolas nas áreas ruraisparanaenses (SOUZA; NASCIMENTO, 2007;STADUTO et al., 2007). Nesse cenário, a populaçãorural contribuiu para o <strong>de</strong>senvolvimentorural, particularmente para a renda rural, quandonão exercem ativida<strong>de</strong>s não agrícolas. A relaçãonegativa PIB primário/pessoas na agriculturaevi<strong>de</strong>ncia que o meio rural ainda é o lócus quepotencialmente intensifica a pobreza relativa dosmunicípios.Já os componentes 4 e 5 da ACP explicam24,64% das variâncias das variáveis. No 4º vetorda ACP, a variável trator/área colhida está negativamenterelacionada ao <strong>de</strong>senvolvimento rural,o que evi<strong>de</strong>ncia o estágio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong>ssas áreas, que já estão bastante mecanizadas.Cabe ressaltar que o aumento <strong>de</strong> tratores, consi<strong>de</strong>randouma estrutura fundiária <strong>de</strong> pequenae média proprieda<strong>de</strong>, como as do Paraná, nãogera <strong>de</strong>senvolvimento rural, e até o reduz. Comoa mecanização está associada à concentração<strong>de</strong> terra, que não é o caso <strong>de</strong>sse estado, as ativida<strong>de</strong>srealizadas por tratores e colheita<strong>de</strong>irassão, em boa parte, terceirizadas para não imobilizaremtanto o capital. Por sua vez, o aumentoda participação da soja na produção total primáriagera renda importante para o agricultor, mascontribui muito pouco em relação aos <strong>de</strong>maiscomponentes. No 5º vetor da ACP, as variáveiscrédito e população ocupada caracterizam-secomo fatores <strong>de</strong> produção e têm contribuiçãomo<strong>de</strong>sta para o <strong>de</strong>senvolvimento rural paranaense.A relação negativa PIB primário/populaçãototal revela que o setor primário por si só nãocontribui para o <strong>de</strong>senvolvimento rural. Essescomponentes mostram como a produção <strong>de</strong>soja no espaço paranaense tem um peso menorpara a população do campo, visto que esta atuanão só na diversificação agrícola e pecuária, masem ativida<strong>de</strong>s não agrícolas.Uma vez verificados os componentes,partiu-se para o valor do fator para cada municípiodas mesorregiões produtoras <strong>de</strong> soja doParaná. A análise do fator foi feita levando emconta que seus escores originais, quando consi<strong>de</strong>radostodos os municípios em conjunto dasmesorregiões, são variáveis, com média zero e<strong>de</strong>svio-padrão igual a 1. Portanto, po<strong>de</strong>-se interpretarque os IDRs com valores próximos <strong>de</strong> zeroindicam um nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento baixo, equanto mais próximo <strong>de</strong> 100 for o IDR, mais altoé seu <strong>de</strong>senvolvimento.O IDR médio para as quatro principais mesorregiõesprodutoras <strong>de</strong> soja do Paraná foi <strong>de</strong>31,72. Por meio da interpolação, foram criadoscinco graus <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural, quais sejam:MA (muito alto), com IDR ≥ 50,76; A (alto),com IDR <strong>de</strong> 38,06 a 50,75; M (médio), com IDR<strong>de</strong> 25,37 a 38,05; B (baixo), com IDR <strong>de</strong> 12,68 a25,36; e MB (muito baixo), com IDR ≤ 12,67. ATabela 3 resume a classificação dos municípios,por grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural, para cadamesorregião estudada.Dez municípios alcançaram grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoMA; 17 municípios estão nasegunda categoria, A; 41 municípios estão naterceira categoria proposta, M; 38 municípios,na categoria B; e 6 municípios, com grau <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento MB. Vinte e sete municípiosatingiram grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento MA ou A.Desses, 77,78% estão localizados na mesorregiãoOeste, e 22,22% estão nas <strong>de</strong>mais mesorregiõesprodutoras do grão. Na mesorregião Oeste, osmunicípios <strong>de</strong> Cascavel, Toledo e Foz do Iguaçusituam-se entre as principais economias do estadoTabela 3. Grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural dos municípiosdas mesorregiões produtoras <strong>de</strong> soja do Paraná.MesorregiãoNúmero <strong>de</strong> municípios porgrau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoMA A M B MBOeste 8 13 21 8 0Centro Oci<strong>de</strong>ntal 1 0 6 16 1Centro Oriental 1 0 3 6 4Centro Sul 0 4 11 8 1Total 10 17 41 38 6Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>82


e estão também entre os municípios mais populosos.Também possuem malha viária pavimentadaque se junta ao principal entroncamento rodoviáriodo Oeste do Estado, a BR-277 (que liga oOeste ao Leste do Paraná). Possuem 3 aeroportos,sendo 1 internacional (em Foz do Iguaçu), alémda Ferroeste, ferrovia com se<strong>de</strong> em Cascavel, queliga o Oeste ao porto <strong>de</strong> Paranaguá e à maiorusina geradora <strong>de</strong> energia elétrica do país, ItaipuBinacional. Além <strong>de</strong>ssa infraestrutura, a dinâmicaeconômica da mesorregião está baseada em umcomplexo agroindustrial mo<strong>de</strong>rno e consolidado,tendo o município <strong>de</strong> Cascavel como referênciada mesorregião, configurando-se como centropolarizador <strong>de</strong> serviços, comércio e indústrias.Mato GrossoAs variáveis selecionadas explicam 0,669da variância total, conforme Teste <strong>de</strong> KMO,o que <strong>de</strong>monstra que a maior parte da variânciadas variáveis originais é explicada por essescomponentes.A análise aplicada ao mo<strong>de</strong>lo para a década<strong>de</strong> 2000 possibilitou a extração <strong>de</strong> 5 fatorescom raiz característica maior que a unida<strong>de</strong> eque sintetizam as informações contidas nas 14variáveis originais. Após rotação, conforme aTabela 4 percebe-se que os cinco fatores selecionadosexplicam, em conjunto, 71,51% da variânciatotal das variáveis selecionadas.A Tabela 5 apresenta as variáveis e as comunalida<strong>de</strong>spara os componentes consi<strong>de</strong>rados.Os valores encontrados para as comunalida<strong>de</strong>srevelam que a variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todas as variáveis écaptada e representada pelos cinco componentes.Percebe-se que os dois primeiros componentes,que aglutinam 10 das 14 variáveis da ACP,explicam 46,10% da variância das variáveis. Noprimeiro componente, as variáveis que estão positivamenterelacionadas são: crédito, esperança<strong>de</strong> vida, PIB primário/população total, e valor daprodução <strong>de</strong> soja/PIB primário, sendo a maiorparte <strong>de</strong>las relacionada diretamente à produção,e tendo peso menor para o <strong>de</strong>senvolvimento ruralno Paraná do que para Mato Grosso.Tabela 4. Raiz característica, variância explicada pelofator e variância acumulada.FatorRaizcaracterísticaVariânciaexplicadapelo fator (%)Variânciaacumulada(%)1 3,315 23,677 23,6772 2,720 19,429 43,1063 1,446 10,331 53,4374 1,363 9,738 63,1765 1,167 8,332 71,508Como esperado, pessoas pobres têm pesonegativo para o IDR, mas a variável <strong>de</strong>spesa naagricultura/PIB primário foi inesperadamente negativa.Isso po<strong>de</strong> ser explicado pelo fato <strong>de</strong> quenos lugares mais pobres intensificam-se os gastospúblicos, e nos municípios mais ricos há gran<strong>de</strong>peso dos investimentos privados, consi<strong>de</strong>randoa gran<strong>de</strong> dimensão dos municípios matogrossenses.Como exemplo, na manutenção dasestradas para escoamento da produção, há importanteparticipação dos gran<strong>de</strong>s produtores <strong>de</strong>soja. Além disso, <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar a baixíssima<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional, principalmente se comparadaàs das áreas produtoras <strong>de</strong> soja do Paraná,o que po<strong>de</strong> vir a influenciar a importânciarelativa <strong>de</strong>ssa variável. O segundo componenteé formado pelas variáveis matrícula, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>populacional, e energia/PIB primário, que estãorelacionadas ao capital humano, relacionandosediretamente com a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida do homemdo campo.O componente 3, formado pelas variáveispopulação ocupada e porcentagem da populaçãorural, e positivamente relacionado com o IDR, representaa força <strong>de</strong> trabalho no campo. Em umestado em que prevalece o vazio territorial, ter forçalaboral é extremamente importante. O componente4 é formado apenas pelo IDH e respon<strong>de</strong>por parcela importante da variância, bem comoo componente 5, que é formado somente pelonúmero <strong>de</strong> tratores. A importância relativa <strong>de</strong>ssesdois componentes era esperada em razão da estruturaprodutiva <strong>de</strong> Mato Grosso (monocultura).83Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Tabela 5. Componentes e comunalida<strong>de</strong>s para Mato Grosso.VariávelComponente1 2 3 4 5Comunalida<strong>de</strong>Crédito 0,738 0,356 -0,067 0,040 -0,015 0,678População ocupada -0,106 0,372 0,770 0,071 -0,047 0,750IDH 0,162 -0,029 0,063 0,877 -0,044 0,802Esperança <strong>de</strong> vida 0,540 0,216 -0,322 0,332 -0,316 0,653Matrículas -0,017 0,840 0,194 0,137 0,151 0,786Pessoas pobres -0,607 -0,368 0,237 -0,197 0,357 0,727Densida<strong>de</strong> 0,035 0,828 -0,008 0,027 0,007 0,688Trator/área colhida -0,051 0,026 -0,057 -0,014 0,914 0,842Energia/PIB primário -0,025 0,693 0,003 -0,185 -0,162 0,541Despesas/PIB primário -0,618 0,008 -0,466 0,418 0,077 0,780PIB prim./pop. total 0,710 -0,332 0,090 0,368 0,110 0,770% pop. rural -0,292 -0,524 0,608 0,059 0,014 0,733PIB prim./pes. agric. 0,798 -0,037 -0,216 0,244 0,118 0,759Valor prod./PIB prim. 0,677 -0,117 -0,049 -0,103 -0,132 0,503Após a verificação dos componentes, foii<strong>de</strong>ntificado o valor do fator para cada municípiodas mesorregiões produtoras <strong>de</strong> soja <strong>de</strong> MatoGrosso, como o construído no Paraná. Nesses aspectos,o IDR médio para as três principais mesorregiõesprodutoras <strong>de</strong> soja <strong>de</strong> Mato Grosso foi<strong>de</strong> 41,83. Por meio da interpolação, foram criadoscinco graus <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural, quais sejam:MA (muito alto), com IDR ≥ 66,92; A (alto),com IDR <strong>de</strong> 50,19 a 66,91; M (médio), com IDR<strong>de</strong> 33,46 a 50,18; B (baixo), com IDR <strong>de</strong> 16,73 a33,45; e MB (muito baixo), com IDR ≤16,72 .A Tabela 6 resume a classificação dosmunicípios por grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural,para cada mesorregião estudada. Nove municípiosalcançaram grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento MA;14 municípios estão na segunda categoria (A);51 estão na terceira categoria proposta (M); e 28municípios, na categoria B. Nenhum municípiose enquadrou no grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento MBnas mesorregiões produtoras <strong>de</strong> soja do estado.Tabela 6. Grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural dos municípiosdas mesorregiões produtoras <strong>de</strong> soja <strong>de</strong>Mato Grosso.MesorregiãoNúmero <strong>de</strong> municípiospor grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoMA A M B MBNorte 6 8 30 10 0Nor<strong>de</strong>ste 0 3 13 9 0Su<strong>de</strong>ste 3 3 7 9 0Total 9 14 50 28 0Em comum, os 23 municípios que alcançaramgrau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento MA ou A estãolocalizados ao longo das principais rodoviasfe<strong>de</strong>rais e estaduais (pavimentadas) do estado,fazendo parte dos principais entroncamentos rodoviáriosfe<strong>de</strong>rais, como a BR 163 e a BR 364, eestaduais, como a MT 208 e a MT 070, o que facilitao escoamento da produção para os centrosAno XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>84


<strong>de</strong> distribuição e/ou processamento. Tambémestão próximos <strong>de</strong> centros urbanos estruturadoscom serviços públicos (saú<strong>de</strong>, educação, saneamento,administrativo) e serviços financeiros ecomerciais, como é o caso <strong>de</strong> Alta Floresta, Sinop,Sorriso e Rondonópolis. Vale ressaltar tambémque dos 23 municípios, 14 estão localizadosna mesorregião Norte, ou seja, 61% <strong>de</strong>sse universo;3 estão na Nor<strong>de</strong>ste (13%); e 6 na Su<strong>de</strong>ste(26%), ou seja, há significativa concentração <strong>de</strong>municípios na mesorregião Norte, caracterizadapor centros urbanos, cuja base produtiva está estruturadano agronegócio.Já entre os <strong>de</strong>mais municípios (79), comgrau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento M ou B, 20% estãolocalizados na mesorregião Su<strong>de</strong>ste; 27,85% estãona Nor<strong>de</strong>ste; e 52,15% na Norte. Novamentea mesorregião Norte <strong>de</strong>tém o maior número<strong>de</strong> municípios. Esse fato evi<strong>de</strong>ncia o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>atração econômica/social da mesorregião, quepossui aproximadamente 41 plantas industriaisvoltadas à agropecuária (3 sucroalcooleiras, 14 <strong>de</strong>laticínios e <strong>de</strong> beneficiamento, e 24 frigoríficas)<strong>de</strong> um total <strong>de</strong> aproximadamente 117 agroindústrias<strong>de</strong> Mato Grosso (35,04%). Na mesorregiãoNor<strong>de</strong>ste havia, em 2009, 14 agroindústrias (6 laticíniose 8 frigoríficos), o que equivalia a 11,96%do estado. Na mesorregião Su<strong>de</strong>ste havia 19agroindústrias (2 sucroalcooleiras, 9 laticínios, 6frigoríficos e 2 esmagadoras <strong>de</strong> soja), representando16,24% do total <strong>de</strong> agroindústrias <strong>de</strong> MatoGrosso (MATO GROSSO, 2010).Paraná e Mato Grosso: doiscaminhos e uma culturaUma vez obtidos os graus <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentorural dos estados estudados, po<strong>de</strong>-sepontuar algumas disparida<strong>de</strong>s encontradas. Nasanálises da ACP (Tabelas 2 e 5) observa-se queo <strong>de</strong>senvolvimento rural apresenta estágios diferenciados,refletindo estruturas diferenciadas.Enquanto em Mato Grosso os componentes <strong>de</strong>maior peso no cálculo do IDR estavam concentrados(10 das 14) nas variáveis vinculadas aosaspectos <strong>de</strong> produção, no Paraná essas variáveismostraram-se mais dispersas entre os cinco componentesagrupados.A cultura da soja em Mato Grosso, aolongo da última década, continuou concentradanas mesorregiões Norte e Su<strong>de</strong>ste (Figura 2),espraiando-se para a Nor<strong>de</strong>ste. No entanto, onúmero <strong>de</strong> municípios que passaram a produzira cultura aumentou in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da limitaçãoimposta pelos biomas do estado: biomaamazônico (Norte/Nor<strong>de</strong>ste) e pantanal (Sudoeste),indicando que o perfil econômico do estadoestá estruturado na produção da commodity.Para o Paraná, constatou-se, Figura 1, queao longo da última década, as mesorregiõesque mais produziam a cultura se consolidaram(Oeste, Centro-Sul, Centro Oci<strong>de</strong>ntal e Centro-Oriental). No entanto, houve extenso transbordamentodo cultivo da soja para praticamentetodas as mesorregiões do estado. Esse fato po<strong>de</strong>ser explicado pela melhoria da infraestrutura dasrodovias, pelo crédito rural e pela ampliação dasplantas agroindustriais capitaneadas pelas cooperativasagropecuárias, as quais ampliaram acompra do grão, tanto para a produção do farelo<strong>de</strong> soja e do óleo refinado quanto para a produção<strong>de</strong> ração animal (suínos e aves).A estrutura fundiária é uma das características<strong>de</strong>terminantes para o distanciamento <strong>de</strong>ssasregiões produtoras dos dois estados, tornando-se“mundos” distintos. Na Tabela 7 observa-se queenquanto no Paraná 92,27% dos estabelecimentosrurais estão em uma área <strong>de</strong> até 100 ha, emMato Grosso, 77,43% das proprieda<strong>de</strong>s estão emáreas acima <strong>de</strong> 1.000 ha, fazendo as estruturasfundiárias <strong>de</strong>sses estados serem completamentedistintas. Se se relacionar esse dado com a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>populacional, constata-se que a dispersãoda população equipara-se a essa estrutura fundiária.O território paranaense possui 199.880 km²,divididos em 399 municípios, com <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográficatotal <strong>de</strong> 52,40 hab./km². Mato Grossopossui 903.329,70 km², divididos em 141 municípios,e com <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica <strong>de</strong> 3,36hab./km² (IBGE, 2010a), refletindo isolamentoterritorial elevado se comparado com o Paraná.Isso significa que a população <strong>de</strong> Mato Grosso85Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Tabela 7. Total <strong>de</strong> estabelecimentos rurais e área total para Paraná e Mato Grosso.Área <strong>de</strong> cada estab. (ha)ParanáMato GrossoTotal estab. rurais Área total (ha) Total estab. rurais Área total (ha)Menos <strong>de</strong> 10 143.994 725.549 14.987 58.603De 10 a menos <strong>de</strong> 100 170.403 4.798.744 61.774 2.582.257De 100 a menos <strong>de</strong> 1.000 25.112 6.814.290 26.577 8.109.979De 1.000 a menos <strong>de</strong> 2.500 950 1.410.273 4.870 7.621.6942.500 ou mais 241 1.544.679 3.754 29.432.982Total 340.700 15.293.535 111.962 47.805.515teria que crescer cerca <strong>de</strong> 15 vezes para que sua<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica se igualasse à do Paraná,o que equivaleria a uma população em torno <strong>de</strong>47 milhões <strong>de</strong> habitantes.Esses números evi<strong>de</strong>nciam o quanto asestruturas produtivas dos estados são diferentes.Em Mato Grosso a soja é a cultura agrícolapredominante, caracterizando-se como monocultura.No Paraná, a soja divi<strong>de</strong> espaço com omilho e a pecuária, a avicultura, a suinocultura ea bovinocultura.As dimensões das populações rurais dosdois estados também são completamente díspares.Em Mato Grosso, em 2010, havia 3.035.122habitantes. Desses, 549.153 pessoas residiam naárea rural, o que correspondia a 18,1% do total.Já o Paraná, com 10.439.601 habitantes, possuía1.531.834 pessoas no campo, o que correspondiaa 14,67% da população total <strong>de</strong>sse estado.Mesmo Mato Grosso tendo, percentualmente,mais população no campo, esta está muito maisdispersa no território em vista do tamanho dasáreas das proprieda<strong>de</strong>s e da área total dos municípios,sendo a média das áreas dos municípios<strong>de</strong> 6.406,594 km², enquanto no Paraná, essamédia municipal <strong>de</strong> área é <strong>de</strong> 500,752 km².A população resi<strong>de</strong>nte no meio rural paranaenseatua <strong>de</strong> forma direta no campo, umavez que as proprieda<strong>de</strong>s rurais têm produçãodiversificada, e a agricultura e a pecuária se relacionam<strong>de</strong> forma ininterrupta. Gran<strong>de</strong> parte dasproprieda<strong>de</strong>s rurais paranaenses é <strong>de</strong> pequenoe médio porte, as quais, apesar da mecanizaçãoda produção, <strong>de</strong>mandam significativa mão <strong>de</strong>obra, principalmente no setor pecuário – avicultura(postura/corte), suinocultura e bovinocultura<strong>de</strong> leite (IBGE, 2010a; IPARDES, 2003). Em MatoGrosso, o ator social <strong>de</strong>mandante <strong>de</strong> apoio érelativamente escasso, tal como ilustra a baixa<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional dos municípios. Isso<strong>de</strong>marca contornos <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentodiferenciadas entre os estados analisados.No entanto, esse quadro não isenta as comunida<strong>de</strong>srurais, imersas nos gran<strong>de</strong>s territórios rurais,da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> políticas públicas.A classificação do IDR dos 20 principaismunicípios <strong>de</strong> Mato Grosso revela que os municípioscom os maiores índices têm base econômicaestruturada na agropecuária, cuja produçãoé absorvida pelas agroindústrias no seu entorno.Rondonópolis (Meso Su<strong>de</strong>ste), por exemplo, temre<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços consolidada, dando suporte aosetor agroindustrial <strong>de</strong> alimentos (frigoríficos e laticínios).Em Campos <strong>de</strong> Júlio, Lucas do Rio Ver<strong>de</strong>e Nova Mutum (Meso Norte), a produção éfortemente integrada com os frigoríficos e indústrias<strong>de</strong> óleo vegetal e biodiesel. Para os <strong>de</strong>maismunicípios, como Sinop (Meso Norte), além daagroindústria, há uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços consolidada(saú<strong>de</strong>, educação e administração pública)(MATO GROSSO, 2010).No Paraná, os 20 municípios que atingiramos maiores IDRs apresentam estrutura produtivada produção agropecuária integrada àsagroindústrias <strong>de</strong> alimentos, nas quais o sistemaAno XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>86


cooperativado e <strong>de</strong> integração com os produtoresgarante a comercialização da soja como matéria-primapara a produção <strong>de</strong> alimento animal(avicultura e suinocultura) e humano (óleo <strong>de</strong>soja), bem como para exportação. Essas agroindústrias<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>aram uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços e<strong>de</strong> comércio expressiva nas cida<strong>de</strong>s-polo, comoCascavel e Toledo (Meso Oeste), Campo Mourão(Centro-Oci<strong>de</strong>ntal), Guarapuava (Centro-Sul)e Ponta Grossa (Centro-Oriental).Cabe ressaltar também algumas diferençaspontuais encontradas na pesquisa e que po<strong>de</strong>mimpactar o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento ruraldos 20 municípios que <strong>de</strong>tiveram os maioresIDRs.a) Razão <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência 8 : enquanto noParaná se encontrou razão <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência média<strong>de</strong> 43,27%, em Mato Grosso foi <strong>de</strong> 31,9%.Dessa média, no caso do Paraná, 37,76% são<strong>de</strong> pessoas com ida<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong> 65 anos, eem Mato Grosso, 5,59%. Com isso, fica claroque no Paraná a população em ida<strong>de</strong> produtiva<strong>de</strong>ve sustentar gran<strong>de</strong> proporção <strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,o que significa consi<strong>de</strong>ráveis encargosassistenciais para a socieda<strong>de</strong>. Outro fator dizrespeito ao futuro das regiões produtoras nesseestado, em vista do envelhecimento progressivoda população rural, bem como da relativamasculinização, o que po<strong>de</strong>rá vir a <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ara estagnação econômica e social em razão <strong>de</strong>problemas <strong>de</strong>mográficos nas áreas rurais, além<strong>de</strong> impactar negativamente a previdência ruralno médio prazo. Ao contrário do Paraná, MatoGrosso possui população economicamente ativaexpressiva, propiciando possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> crescimentoeconômico por longo prazo, vindo dasativida<strong>de</strong>s econômicas.b) Proximida<strong>de</strong> dos entroncamentos <strong>de</strong>rodovias pavimentadas (fe<strong>de</strong>rais e estaduais)e ferrovias: no Paraná há uma malha viária pavimentada<strong>de</strong> 13.750 km para área total <strong>de</strong>199.880 km², ou seja, há 69 m/km² na relação<strong>de</strong> rodovia pavimentada por área geográfica doestado. Nessas rodovias há entroncamentos rodoviáriosque interligam os municípios a todasas regiões paranaenses, como a capital e o porto<strong>de</strong> Paranaguá, bem como os interligam entre si.Já em Mato Grosso, a malha viária pavimentadaé <strong>de</strong> 4.460 km para área total <strong>de</strong> 903.329,70km², ou seja, 4,9 m/km² na relação <strong>de</strong> rodoviapavimentada por área geográfica do estado.Esses números indicam a escassez <strong>de</strong> rodoviasmato-grossenses e o consequente isolamentodo território, o que interfere significativamentena comunicabilida<strong>de</strong> entre os municípios, configurandoum gargalo para o escoamento da produção,bem como para o acesso da populaçãoe <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s rurais aos serviços nas se<strong>de</strong>sdos municípios e nas cida<strong>de</strong>s-polos. No entanto,<strong>de</strong>ve-se levar em conta a baixa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional,isto é, Mato Grosso é formado porgran<strong>de</strong>s vazios. Na estrutura produtiva e fundiária,no cenário analisado, não se consi<strong>de</strong>rou oprocesso <strong>de</strong> ocupação, em que, <strong>de</strong> modo geral,o ator social é ausente, formando imensos territóriosvazios.c) Proximida<strong>de</strong> às cooperativas agropecuáriase/ou agroindústrias: no Paraná, os municípiosque se enquadraram nos maiores IDRsestão cercados por cooperativas agropecuárias,as quais, em sua maioria, têm plantas industriais(agroindústrias) que absorvem a produção.Essa participação fica claramente expressa nosnúmeros: são 238 cooperativas com 535 milassociados (SISTEMA OCEPAR, <strong>2012</strong>), o que representa34,92% da população rural vinculadaao cooperativismo. Esse sistema <strong>de</strong> verticalizaçãocontribui para o crescimento econômico esocial <strong>de</strong>sses municípios e <strong>de</strong> suas áreas rurais,que, <strong>de</strong>ssa forma, criam várias re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentorural (STADUTO; AMORIM, 2011). Jáem Mato Grosso, em 2009, segundo o Sindicatoe Organização das Cooperativas Brasileiras noEstado <strong>de</strong> Mato Grosso, havia 57 cooperativasagropecuárias, com 10.115 cooperados, o querepresentava apenas 1,84% da população ruralvinculada ao cooperativismo, atuando no setor8Peso da população consi<strong>de</strong>rada inativa (<strong>de</strong> 0 a 14 anos e 65 anos ou mais <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>) sobre a população potencialmente ativa (<strong>de</strong> 15 a 64 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>)(IBGE, 2010b).87Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


da agroindustrialização. Consi<strong>de</strong>rando os aspectosfundiários do estado e sua população, vêseque essas cooperativas ainda necessitam <strong>de</strong>maior re<strong>de</strong> <strong>de</strong> cooperados para se tornarem maisrepresentativas em seus segmentos.Consi<strong>de</strong>rações finaisO objetivo <strong>de</strong>ste artigo foi discutir o processo<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural nas mesorregiõesprodutoras <strong>de</strong> soja do Paraná e <strong>de</strong> MatoGrosso, mais especificamente nos municípiosque compõem as principais mesorregiões produtorasda commodity.A cultura da soja contribui significativamentepara o saldo positivo da balança comercialdos estados do Paraná e Mato Grosso, e dopaís, sendo sua estrutura produtiva altamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntedas oscilações dos mercados mundiaisda commodity. No Paraná, a estrutura fundiáriapredominante é <strong>de</strong> pequeno e médio porte.Agricultores familiares <strong>de</strong>senvolveram uma produçãodiversificada, tanto em termos agrícolasquanto <strong>de</strong> pecuária, principalmente a partir dadécada <strong>de</strong> 1990, <strong>de</strong>ssa forma reduzindo o impactoda cultura da soja na composição da rendaagropecuária. A cultura da soja contribuiu paraconsolidar a expansão da fronteira agrícola paranaensee viabilizou muitas proprieda<strong>de</strong>s rurais,sendo fundamental para a formação <strong>de</strong> estoque<strong>de</strong> capital e <strong>de</strong> infraestrutura nas regiões produtoras.Atualmente, se for consi<strong>de</strong>rado o estágio<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do estado, são outros osfatores que contribuem para o <strong>de</strong>senvolvimentorural, os quais estão associados às ativida<strong>de</strong>snão agrícolas e à diversificação produtiva queestá apoiada em várias organizações produtivas– associações, cooperativas, parque agroindustrial,mercados locais –, em assistência técnicapública e privada, em disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> créditoe em outras instituições, articulando várias re<strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento horizontal e vertical.Em Mato Grosso, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> monocultura(além da soja, o milho e o algodão) possuempapel fundamental na geração da renda,na formação <strong>de</strong> estoque <strong>de</strong> capital e na melhoriada infraestrutura das áreas rurais. Os resultadosalcançados vêm se intensificando nos últimosanos, acomodados nas condições fundiárias <strong>de</strong>gran<strong>de</strong>s proprieda<strong>de</strong>s. Mato Grosso está em estágio<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento anterior ao do Paraná.Nesta atual fase, a cultura da soja está contribuindopara a formação <strong>de</strong> estoque <strong>de</strong> capitale na melhoria da infraestrutura básica para asregiões produtoras <strong>de</strong> soja, ou seja, para as condiçõesestruturantes, para que sejam alcançadasnovas fases do <strong>de</strong>senvolvimento das áreas rurais.Nesta pesquisa, avaliou-se o cenário postopara a primeira década do século 21 em MatoGrosso e no Paraná, sendo esse cenário em <strong>de</strong>corrênciado processo <strong>de</strong> ocupação dos seusterritórios, os quais tomaram os atuais contornos,como <strong>de</strong>scritos e analisados nesta pesquisa.Com base nesse retrato, refletiu-se sobre o papelda monocultura da soja no <strong>de</strong>senvolvimento rural.A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das áreas ruraisdo Paraná e <strong>de</strong> Mato Grosso não se distanciados objetivos últimos <strong>de</strong> aumentar a qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> vida da população rural com sustentabilida<strong>de</strong>ambiental. No entanto, as estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentorural refletirão a estrutura fundiáriae produtiva, a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional e outrascaracterísticas, bem como os estágios <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentorural.Nesse contexto, as políticas públicas direcionadaspara o <strong>de</strong>senvolvimento rural <strong>de</strong>vemobservar as particularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sses estados, e asimples transferência das experiências bem-sucedidas<strong>de</strong> projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> áreasrurais <strong>de</strong> um estado para outro provavelmenteserá incapaz <strong>de</strong> gerar os resultados esperados<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural. Assim, conclui-se queeste trabalho po<strong>de</strong> servir <strong>de</strong> parâmetro para <strong>de</strong>smistificara i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma política comum pararegiões distintas.ReferênciasABRAMOVAY, R. O capital social dos territórios:repensando o <strong>de</strong>senvolvimento rural. Economia Aplicada,Ribeirão Preto, v. 14, n. 2, p. 379-397, 2000.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>88


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Carbono florestalem sistemas <strong>de</strong>Ismael Martins da Silvaintegração lavourapecuária-floresta3Kátia Katsumi Arakaki 41,2Resumo – O sistema produtivo <strong>de</strong> integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF) se apresenta comouma alternativa mais apropriada, em termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, do que a monocultura,pois consorcia a criação <strong>de</strong> bovinos à exploração florestal, integrando-as e alternando-as à lavoura.O iLPF propicia a geração <strong>de</strong> serviços ambientais, entre os quais o sequestro <strong>de</strong> carbono, que,quantificado, tem representativida<strong>de</strong> econômica e po<strong>de</strong> ser comercializado no mercado em nívelinternacional. Este trabalho tem por objetivo a projeção do mercado <strong>de</strong> carbono no Estado <strong>de</strong>Mato Grosso do Sul, produzido em um sistema <strong>de</strong> iLPF, em comparação à comercialização doscréditos <strong>de</strong> carbono em nível regional, nacional e mundial. A pesquisa utilizou a base <strong>de</strong> dados doScielo, artigos científicos, periódicos e livros. Enfatiza-se neste trabalho a perspectiva ambientalinstrumentaldo mercado <strong>de</strong> crédito <strong>de</strong> carbono <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> iLPF para o <strong>de</strong>senvolvimentosustentável, na medida em que apresenta vantagens <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ecológica, social e econômica. Osprincipais resultados mostram que a exploração dos créditos <strong>de</strong> carbono é mais expressiva empaíses <strong>de</strong>senvolvidos, como os países da União Europeia e os Estados Unidos, sendo incipiente noBrasil e inexpressiva no Estado <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul.Palavras-chave: créditos <strong>de</strong> carbono, <strong>de</strong>senvolvimento, sistema agrossilvipastoril.Forest carbon in integration systems of crop-livestock-forestAbstract – The integrated production system of crop-livestock-forest (iLPF) is a more appropriatealternative than monoculture, in terms of sustainable <strong>de</strong>velopment, because it consorts cattle rearingwith forestry, integrating them and alternating them with farming. The iLPF system provi<strong>de</strong>s thegeneration of environmental services, including carbon sequestration, which, when quantified, haseconomic representativeness and can be marketed internationally. This work aims at projectingthe carbon market in the state of Mato Grosso do Sul, Brazil, which is produced in an iLPF system,in comparison to the commercialization of carbon credits regionally, nationally and globally. Theresearch used database from Scielo, scientific articles, journals and books. This paper emphasizes1Original recebido em 16/9/<strong>2012</strong> e aprovado em 21/9/<strong>2012</strong>.2Os autores agra<strong>de</strong>cem a contribuição inestimável da professora Madalena Maria Sclindwein.3Graduado em Agronomia pelo Centro Acadêmico da Gran<strong>de</strong> Dourados (Unigran), mestrando em Agronegócios pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Administração, Economiae Ciências Contábeis da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Gran<strong>de</strong> Dourados (UFGD), Dourados, MS. E-mail: ismael.agronomo@hotmail.com4Graduada em Administração pela UFGD e em Direito pela Unigran, mestranda em Agronegócios pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Administração, Economia e CiênciasContábeis da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Gran<strong>de</strong> Dourados, Dourados, MS. E-mail: katiaarakaki@ufgd.edu.br91Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


the environmental and instrumental perspective of the carbon credit market of an iLPF system forsustainable <strong>de</strong>velopment, as it provi<strong>de</strong>s ecological, social and economic advantages. The mainresults show that the exploitation of carbon credits is more significant in <strong>de</strong>veloped countries, likethe European Union countries and the United States, that it is still incipient in Brazil, and that it isinsignificant in the state of Mato Grosso do Sul.Keywords: carbon credits, <strong>de</strong>velopment, agrosilvopastoral system.IntroduçãoA prática conhecida como sistema <strong>de</strong> integração<strong>de</strong> Lavoura-pecuária-floresta (iLPF), consisteno manejo conjunto entre lavouras, criação<strong>de</strong> bovinos e exploração florestal. A técnica sebaseia na integração, sucessão ou rotação doscomponentes envolvidos. Dessa forma, o sistematen<strong>de</strong> a se contrapor aos mo<strong>de</strong>los atuais <strong>de</strong>monocultura, po<strong>de</strong>ndo ampliar os benefíciosambientais e econômicos nas proprieda<strong>de</strong>s queo adotam (FLORES et al., 2010).Um sistema iLPF enquadra-se como umsistema agroflorestal (SAF). Arco-Ver<strong>de</strong> (2008)confirma a viabilida<strong>de</strong> e a sustentabilida<strong>de</strong> dosSAFs, <strong>de</strong> forma que suas características auxiliamna conservação do meio ambiente. Além disso,<strong>de</strong> proporcionam maior estabilida<strong>de</strong> econômica,segurança alimentar e, consequentemente,bem estar social nas proprieda<strong>de</strong>s em que estãoinseridos.O sistema iLPF ten<strong>de</strong> a proporcionar melhoranas proprieda<strong>de</strong>s químicas, físicas e biológicasdo solo (KLUTHCOUKI; STONE, 2003).De acordo com Castro Júnior (1998), a implantação<strong>de</strong> algumas leguminosas (soja, feijão), comgramíneas perenes (pastagens), sob um corretomanejo com herbicidas, mostrou-se viável, trazendovantagens como: aumento na qualida<strong>de</strong>nutricional dos animais; presença <strong>de</strong> coberturaao solo; redução <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas na dieta animal; etambém redução no custo com adubação nitrogenadana área.Os créditos <strong>de</strong> carbono são comercializadospor meio <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> Mecanismos <strong>de</strong>Desenvolvimento Limpo (MDL). A prática baseia-seno artigo 12 do Protocolo <strong>de</strong> Quioto, queocorreu no ano <strong>de</strong> 1997 no Japão. Segundo oacordo, os países não <strong>de</strong>senvolvidos po<strong>de</strong>riamcooperar com a redução <strong>de</strong> emissões <strong>de</strong> gases<strong>de</strong> efeito estufa (GEE) dos países <strong>de</strong>senvolvidos(países relacionados no anexo I da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudançasdo Clima – CQNUMC). Dessa forma, os paísesem <strong>de</strong>senvolvimento po<strong>de</strong>riam <strong>de</strong>senvolver projetos<strong>de</strong> MDL para a comercialização <strong>de</strong> ReduçõesCertificadas <strong>de</strong> Emissões (RCEs). Assim, asnações mais poluidoras aumentariam a chance<strong>de</strong> atingirem suas metas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões(JAPÃO, 2006).A possibilida<strong>de</strong> da valoração econômicado serviço ambiental <strong>de</strong> sequestro <strong>de</strong> carbonooperacionaliza e viabiliza o mercado que envolvepráticas ambientalmente responsáveis. Entreos produtos e serviços comercializados nessenovo segmento estão as Reduções Certificadas<strong>de</strong> Emissões (RCEs), os Mecanismos <strong>de</strong> DesenvolvimentoLimpo (MDL), as consultorias, aspesquisas, as tecnologias, os serviços <strong>de</strong> manutenção,e outros (IPEA, 2010).A comercialização do sequestro <strong>de</strong> carbonotorna-se potencializada num sistema produtivo<strong>de</strong> integração lavoura-pecuária-floresta. Issoocorre uma vez que se maximiza a capacida<strong>de</strong>produtiva <strong>de</strong> um ativo que antes era inutilizado,não <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando outros benefícios secundários,como a geração <strong>de</strong> energia e a produção <strong>de</strong>biofertilizantes, quando se utilizam Mecanismos<strong>de</strong> Desenvolvimento Limpo como os biodigestores(SIMÃO; AMODEO, 2011).Apesar das vantagens econômicas – comoas melhorias no clima, no solo, em micro-organismos,em plantas forrageiras e em animais –, ésabido que em alguns casos, como o apresentadopor Ribeiro (2007), o cenário <strong>de</strong> pagamentopor serviços ambientais (FPSA) po<strong>de</strong> não serAno XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>92


viável economicamente, em razão do elevadocusto <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> da terra, principalmentequando se tratar <strong>de</strong> uma região com alto preçoda terra.Ao consi<strong>de</strong>rar-se que o conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoelaborado por Sen (2000) é um processo<strong>de</strong> expansão das liberda<strong>de</strong>s substantivasque as pessoas <strong>de</strong>sfrutam, tem-se como pontosindicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento os aspectosrelacionados a ativida<strong>de</strong>s e oportunida<strong>de</strong>s econômicas,as liberda<strong>de</strong>s políticas, os serviços sociais,as garantias <strong>de</strong> transparência e a segurançaprotetora.O mercado <strong>de</strong> carbono e o sistema <strong>de</strong>integração lavoura-pecuária-floresta serão consi<strong>de</strong>radosmais próximos <strong>de</strong> um instrumental<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento quanto maiores forem asalternativas <strong>de</strong> aferir renda por meio da mesmaativida<strong>de</strong> produtiva. Assim, partindo do pressupostoque a valoração dos serviços ambientais<strong>de</strong> sequestro <strong>de</strong> carbono, e sua consequente comercialização,possibilitam a geração <strong>de</strong> rendapela conservação e/ou utilização mais a<strong>de</strong>quadada área produtiva, questiona-se: qual a representativida<strong>de</strong>do mercado <strong>de</strong> carbono no Estado <strong>de</strong>Mato Grosso do Sul em relação às diversas esferas(mundial, nacional, regional e do estado)?Sob essa perspectiva, este trabalho tempor finalida<strong>de</strong> a i<strong>de</strong>ntificação do cenário domercado <strong>de</strong> carbono no Estado <strong>de</strong> Mato Grossodo Sul, a ser produzido em sistemas agroflorestaiscomo o sistema <strong>de</strong> integração lavoura-pecuáriafloresta,em comparação à comercialização doscréditos <strong>de</strong> carbono em nível regional, nacionale mundial.O presente trabalho segue estruturado emquatro partes, além <strong>de</strong>sta breve introdução. Narevisão teórica, será apresentada uma discussãoconceitual do <strong>de</strong>senvolvimento e da valoraçãoambiental. E, na revisão <strong>de</strong> literatura, será mostradaa aplicabilida<strong>de</strong> prática da valoração econômicado sequestro <strong>de</strong> carbono em sistemas <strong>de</strong>iLPF, em estudos <strong>de</strong> casos. Na metodologia, ficaestabelecido o método pelo qual se <strong>de</strong>u a pesquisa;e posteriormente, seguem a discussão dosresultados e as consi<strong>de</strong>rações finais.Revisão bibliográficaNa revisão bibliográfica, apresentam-se osprincipais estudos sobre a integração lavourapecuária-floresta,bem como a valoração doserviço ambiental <strong>de</strong> sequestro <strong>de</strong> carbononesse sistema produtivo e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.Inicialmente se discutirá a temática ambiental e,a seguir, alguns estudos sobre o tema proposto.Revisão teóricaA discussão sobre o funcionamento dossistemas ambientais iniciou nas universida<strong>de</strong>s,expandiu-se e tomou proporção em nível mundial(IPEA, 2010). A gran<strong>de</strong> motivação para o<strong>de</strong>bate <strong>de</strong>correu da análise das repercussõesdo sistema capitalista e do modo <strong>de</strong> produçãofordista, sendo incontroverso que a intensificaçãodas ativida<strong>de</strong>s antrópicas, principalmente aseconômicas, ocorrem em ritmo mais aceleradoque o da recuperação dos recursos naturais.As primeiras referências <strong>de</strong> estudo sobreo funcionamento dos sistemas ambientais sãointernacionais e interdisciplinares. As aca<strong>de</strong>miasinternacionais apresentam teorias e conceitos atéhoje aplicados, tais como as leis da termodinâmicae a teoria sistêmica, <strong>de</strong>finindo que o meioambiente é um sistema aberto, com interações<strong>de</strong> troca <strong>de</strong> energia e matéria (BERTALANFLY,2009).Po<strong>de</strong>-se perceber a institucionalização datemática ambiental com a criação <strong>de</strong> órgãos eprogramas públicos <strong>de</strong>stinados a aten<strong>de</strong>r à especificida<strong>de</strong>da <strong>de</strong>manda, qual seja a proteção dosecossistemas em face da predatória ativida<strong>de</strong>humana. Como exemplos, citam-se o Programadas Nações Unidas <strong>de</strong> Meio Ambiente, em nívelinternacional, e o Ministério do Meio Ambiente,em nível nacional (ALCÂNTARA; SILVA, 2011).Desenvolvimento po<strong>de</strong> ser conceituadocomo um processo <strong>de</strong> expansão das liberda<strong>de</strong>s93Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


substantivas das pessoas, sendo instrumentaldo <strong>de</strong>senvolvimento a promoção <strong>de</strong> políticas eativida<strong>de</strong>s que favoreçam as oportunida<strong>de</strong>s econômicas,liberda<strong>de</strong>s políticas, serviços sociais,garantias <strong>de</strong> transparência e segurança protetora(SEN, 2000). Para Souza (2009, p. 6) o <strong>de</strong>senvolvimentoimplica:[...] mudanças qualitativas no modo <strong>de</strong> vidadas pessoas das instituições e das estruturasprodutivas. Nesse sentido, o <strong>de</strong>senvolvimentocaracteriza-se pela transformação <strong>de</strong> umaeconomia arcaica em uma economia mo<strong>de</strong>rna,eficiente, juntamente com a melhoria donível <strong>de</strong> vida do conjunto da população.Os conceitos são bastante esclarecedoresna medida em que <strong>de</strong>finem que o crescimentoeconômico é uma condição necessária para o<strong>de</strong>senvolvimento, mas não uma condição suficientepara tanto. Não se <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rarque diversos aspectos sociais e ambientais tambémimplicam a promoção do <strong>de</strong>senvolvimento.A Convenção Mundial <strong>de</strong> Meio Ambientee Desenvolvimento (1990 citado por IPEA, 2010)<strong>de</strong>finiu como <strong>de</strong>senvolvimento sustentável umprocesso <strong>de</strong> transformação que respeita e garanteàs gerações presentes e futuras condições paraque suas necessida<strong>de</strong>s e anseios humanos sejamatendidos.Verifica-se a importância <strong>de</strong> um planejamentoestratégico e uma visão mo<strong>de</strong>rnizadora,pois são ferramentas para superar os obstáculos<strong>de</strong>correntes da estrutura econômica que, muitasvezes, impe<strong>de</strong>m o <strong>de</strong>senvolvimento. Promovemse,<strong>de</strong>ssa forma, situações <strong>de</strong> transformação social,e não apenas <strong>de</strong> relações quanto à produção(LIMA; DAVID, 2008).Serviços ambientais são os benefícios geradospor ecossistemas ou por ambientes saudáveisque, <strong>de</strong> forma direta e/ou indireta, sãoapropriados pelo homem (COSTANZA et al.,1997). Como exemplos <strong>de</strong> serviços ambientais<strong>de</strong>stacam-se: purificação <strong>de</strong> ar e água; regulaçãodos cursos d’água; <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> resíduos;geração e renovação do solo e sua fertilida<strong>de</strong>;polinização da safra e vegetação natural; controle<strong>de</strong> pragas agrárias; dispersão <strong>de</strong> sementes etransação <strong>de</strong> nutrientes; manutenção da biodiversida<strong>de</strong>;estabilização parcial do clima; mo<strong>de</strong>raçãodas temperaturas extremas; ventos; auxílioa diversas culturas humanas; e beleza estética eriqueza da terra (UNITED NATIONS ENVIRON-MENT PROGRAMME, 2008).A valoração econômica <strong>de</strong> serviços ambientaisimplica a representação financeira quepo<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificada e mensurada. Trata-se <strong>de</strong>um instrumento econômico, originado das diretrizesda política ambiental mundial, que visareduzir os meios <strong>de</strong> produção agressivos ou estimularos agentes econômicos a utilizar meios <strong>de</strong>produção (processos e procedimentos) menosagressivos ao meio ambiente (LUSTOSA et al.,2003).O mercado <strong>de</strong> carbono <strong>de</strong>corre do Pagamentopor Serviços Ambientais, e da valoraçãodo serviço ambiental <strong>de</strong> sequestro <strong>de</strong>carbono (UNITED NATIONS ENVIRONMENTPROGRAMME, 2008). Sua exploração, em umsistema <strong>de</strong> integração lavoura-pecuária-floresta,po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada mais próxima <strong>de</strong> um instrumental<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento na medida emque o mercado <strong>de</strong> carbono respon<strong>de</strong> às necessida<strong>de</strong>se à urgência <strong>de</strong> alternativas inovadoraspara a proteção dos ecossistemas, conciliando aresponsabilida<strong>de</strong> ambiental com os objetivos <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento econômico e social.Revisão <strong>de</strong> literaturaOs trabalhos <strong>de</strong> Schreiner e Balloni (1986)tratam dos sistemas produtivos que integram asativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lavoura, pecuária e floresta (iLPF),sob o enfoque dos seus possíveis benefícios aoprodutor rural, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> qual fatorseja o foco <strong>de</strong> sua produção. O empresárioflorestal se beneficiará com a receita a curto prazodos cultivos intercalares, o que auxiliará naviabilização dos custos iniciais e na manutenção<strong>de</strong> suas florestas. Os agricultores e pecuaristas,além dos diversos benefícios ambientais, garantemuma receita extra e em períodos variados,garantidos pela produção florestal. A integra-Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>94


ção dos fatores auxiliará na rentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suaproprieda<strong>de</strong>.Balbino et al. (2011) têm o mesmo objeto<strong>de</strong> pesquisa, e sua abordagem abrange a utilizaçãodo componente arbóreo como agenteque possibilita trazer maior sustentabilida<strong>de</strong> aosistema como um todo. A integração po<strong>de</strong> serutilizada em regime <strong>de</strong> consorciação, rotaçãoou sucessão. A viabilização econômica po<strong>de</strong> seralcançada por meio da diversificação na produção<strong>de</strong> uma mesma área, em que grãos, carneou leite, produtos ma<strong>de</strong>ireiros e não ma<strong>de</strong>ireirospo<strong>de</strong>m ser produzidos na proprieda<strong>de</strong> no anointeiro.Dossa e Vilcahuaman (2001), em um estudosobre a participação do fator floresta e seucomportamento econômico no sistema, i<strong>de</strong>ntificama floresta como viável e tão competitivaquanto a produção agrícola e da pecuária. Cravoet al. (2005) citam algumas tecnologias <strong>de</strong> produçãoutilizadas em um sistema iLPF e <strong>de</strong>monstramcomo elas po<strong>de</strong>m aumentar a produtivida<strong>de</strong> dasculturas, trazer melhoras na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida doprodutor e, consequentemente, aumentar a <strong>de</strong>mandapor mão <strong>de</strong> obra nessa região. Tais fatoresconfirmam a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal sistema.De acordo com Valver<strong>de</strong> (2000), o setorflorestal se i<strong>de</strong>ntificou com uma peculiarida<strong>de</strong>que o diferencia da agricultura e <strong>de</strong> alguns segmentos<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> alimentos. O setor é capaz<strong>de</strong> remunerar tanto os trabalhadores ruraisquanto os urbanos. O Instituto <strong>de</strong> Pesquisas eEstudos Florestais (IPEF, 2002), em um diagnósticosobre o setor florestal, relatou que esse setorcompunha aproximadamente 5% do PIB brasileiroe 8% das exportações. Sua atuação socialgerava aproximadamente 7,2 milhões <strong>de</strong> empregosdiretos e indiretos. Gerava, também, uma receita<strong>de</strong> 20 bilhões e arrecadação <strong>de</strong> 3 bilhõesem impostos. Subdividia-se entre florestas plantadas(6,4 milhões <strong>de</strong> hectares) e florestas nativas(2,6 milhões <strong>de</strong> hectares).A Food and Agriculture Organization ofthe United Nations (FAO, 1998), ao pesquisaros produtos exploráveis do fator floresta, em umsistema iLPF, classifica-os em ma<strong>de</strong>ireiros e nãoma<strong>de</strong>ireiros (nestes está contemplada outra amplavarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos, como frutas, nozes,mel, plantas medicinais, cortiça, resinas, taninos,extratos industriais ou óleos essenciais).É fato notório que as árvores, em <strong>de</strong>senvolvimento,possuem ampla capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sequestrarcarbono, reduzindo as emissões <strong>de</strong>gases do efeito estufa (GEE). Práticas já realizadasem regiões do bioma Cerrado comprovamque o iLPF traz maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> armazenamento<strong>de</strong> carbono, tanto na superfície como nasubsuperfície da área implantada. A técnica <strong>de</strong>consórcio entre eucalipto x soja e arroz nos doisprimeiros anos, seguida <strong>de</strong> pastagens no terceiroano, há alguns anos vem sendo implantada emregiões com esse tipo <strong>de</strong> bioma e comprova essaafirmação. Isso mostra também a boa adaptabilida<strong>de</strong>do sistema na região do Cerrado (NAIRet al., 2011).Os trabalhos <strong>de</strong> Oliveira et al. (2008) quetiveram como objeto a análise do sistema agroflorestalapresentaram, entre a imensa gama <strong>de</strong>produtos oriundos <strong>de</strong> um componente florestal,um diferente produto <strong>de</strong> rentabilida<strong>de</strong> nesse sistema,qual seja a venda <strong>de</strong> créditos <strong>de</strong> carbono.Esse segmento torna o ambiente florestal aindamais atrativo. A comercialização dos créditos<strong>de</strong> carbono traz bom retorno econômico ao sistema,e com um diferencial <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> negócios já no período <strong>de</strong> implantação doprojeto.Em um estudo sobre o mercado <strong>de</strong> créditos<strong>de</strong> carbono, Daily (1997) concluiu queele tem como objeto a comercialização <strong>de</strong> umserviço ambiental específico – ou seja, <strong>de</strong> umbenefício direto ou indireto, apropriado pelo homem,<strong>de</strong>corrente do funcionamento <strong>de</strong> ambientessaudáveis.Penteado Júnior (2008) avalia os sistemas<strong>de</strong> produção e suas formas para viabilizar a análiseeconômico-financeira comparativa entre ossistemas <strong>de</strong> produção tradicionais e os sistemas<strong>de</strong> integração lavoura-pecuária-floresta. O autor95Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


conclui que existem instrumentos hábeis paratanto, a exemplo do aplicativo “ECOPI”.Os trabalhos <strong>de</strong> Amazonas (1994, 2009)enfocam a abordagem neoclássica com basenos marcos evolucionista e institucionalista para<strong>de</strong>monstrar seus estudos na construção teóricada economia do meio ambiente, que incluem oenfoque sobre <strong>de</strong>senvolvimento e sustentabilida<strong>de</strong>.Um dos principais instrumentos utilizadospara essa perspectiva é a valoração <strong>de</strong> serviçosambientais.Cavalcanti (1997) realiza trabalhos na área<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e políticas públicas,apresentando motivações e justificativas paraferramentas que viabilizem o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> forma sustentável, tais como o sistema produtivo<strong>de</strong> integração lavoura-pecuária-floresta.Na valoração dos serviços ambientais, avaloração monetária <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado bemou serviço, disponível na economia, torna-secomplexa na esfera <strong>de</strong> serviços ambientais, porsua característica <strong>de</strong> ser público. Contudo, Motta(1998), em seu estudo, apresenta metodologiasempregadas para aferir o valor econômico<strong>de</strong> alguns bens ecossistêmicos.A comercialização dos créditos estabeleceu-secom a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os países <strong>de</strong>senvolvidosadquirirem as chamadas reduçõescertificadas <strong>de</strong> emissões (RCEs). Tais certificadossão equivalentes a uma tonelada <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong>carbono. O cálculo é baseado em como essaquantia <strong>de</strong> gases geradores do efeito estufa (GEE)po<strong>de</strong> aumentar o aquecimento global (SIMÃO;AMODEO, 2011).O fato é que em países <strong>de</strong>senvolvidos háum custo muito mais elevado para a reduçãodas emissões <strong>de</strong> carbono. Estima-se um custo <strong>de</strong>US$ 15 a US$ 100 na redução <strong>de</strong> emissão <strong>de</strong>uma tonelada <strong>de</strong> CO 2, contra um custo que varia<strong>de</strong> US$ 1 a US$ 5 nos países em <strong>de</strong>senvolvimento.O cálculo é referente a projetos <strong>de</strong> melhoria<strong>de</strong> eficiência energética (COSTA, 2008).Barbieri (2006, p. 35) <strong>de</strong>fine que as receitasgeradas pelos créditos <strong>de</strong> carbono são provenientesda comercialização <strong>de</strong> coprodutos e fazuma ressalva:[...] os créditos <strong>de</strong> carbono são títulos financeirossemelhantes às commodities agrícolas,<strong>de</strong>vendo ser consi<strong>de</strong>rados como <strong>de</strong>rivativos,no momento em que as transações <strong>de</strong> comprae venda futuras forem registradas na contabilida<strong>de</strong>das empresas negociantes”.Tal <strong>de</strong>finição po<strong>de</strong>rá auxiliar, além <strong>de</strong> empresas,qualquer proprieda<strong>de</strong> agrícola na administração<strong>de</strong> suas negociações com créditos <strong>de</strong>carbono.Por meio <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> casos, a União Internacional<strong>de</strong> Conservação da Natureza (IUCN,2007) apresenta trabalhos que focalizam a viabilida<strong>de</strong>econômica da conservação <strong>de</strong> ecossistemas,e entre os serviços ambientais está osequestro <strong>de</strong> carbono. Os mercados para o pagamentos<strong>de</strong> serviços ecossistêmicos estão abordadosnas pesquisas do Programa Ambiental dasNações Unidas (PNUMA, <strong>2012</strong>), que explica aorigem dos mercados dos serviços ecossistêmicos,os agentes que neles transacionam e os produtoscomercializáveis.De acordo com Soares e Oliveira (2002),para se conhecer o verda<strong>de</strong>iro potencial das florestaspara sequestro <strong>de</strong> carbono, assim como aviabilida<strong>de</strong> econômica do sistema, é imprescindívelque se <strong>de</strong>terminem os estoques <strong>de</strong> carbonopresentes em cada subdivisão da floresta (solo,raízes e parte aérea das árvores).Para que se possa enten<strong>de</strong>r a relação entreo carbono (C) presente nas plantas e o gás carbônico(CO 2), é necessário enten<strong>de</strong>r as suas equivalências.Dessa forma, tem-se que uma tonelada<strong>de</strong> C emitirá 0,27 t <strong>de</strong> CO 2, ou seja, para se obter1 t <strong>de</strong> CO 2são necessárias 3,67 t <strong>de</strong> C (FACE,1994). Estima-se que tanto a biomassa quanto osprodutos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira po<strong>de</strong>m reter algo em torno<strong>de</strong> 110 a 200 mg ha -1 <strong>de</strong> carbono (NABUURS;MOHREN,1995).Em um estudo sobre a cultura <strong>de</strong> eucaliptoda espécie Eucalyptus grandis W. Hill ex Mai<strong>de</strong>n,Soares e Oliveira (2002) concluíram que a maiorpresença <strong>de</strong> carbono nos componentes aéreosAno XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>96


das árvores apresenta-se no fuste, <strong>de</strong>pois nos galhos,na casca e, por último, nas folhas. Tambémse po<strong>de</strong> observar uma relação positiva do volume<strong>de</strong> carbono com o tamanho das árvores e o diâmetrodo fuste. Estima-se que tanto a biomassaquanto os produtos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira po<strong>de</strong>m reter algoem torno <strong>de</strong> 110 a 200 mg.ha -1 <strong>de</strong> carbono.Para florestas <strong>de</strong> Pinus taeda com 5 anos,foram encontrados os seguintes resultados quantoà biomassa seca dos componentes acículas,galhos, casca, ma<strong>de</strong>ira e raízes: 6,9; 5,2; 2,7;18,4; e 8,3, respectivamente. O carbono acumuladonesses componentes foi <strong>de</strong>: 3,3; 2,5; 1,1;8,4; e 3,6 mg ha -1 , apresentando um percentual<strong>de</strong> 47,3%; 43,0%; 40,0%; 45,7%; e 42,8% <strong>de</strong>carbono orgânico, respectivamente. O trabalho<strong>de</strong>terminou também a participação do sistemaradicular na capacida<strong>de</strong> total <strong>de</strong> fixação <strong>de</strong> carbonoatmosférico da espécie, que representoucerca <strong>de</strong> 19% do carbono total fixado (BALBI-NOT et al., 2003).A pesquisa <strong>de</strong> Paixão et al. (2006), estudandoa varieda<strong>de</strong> Eucalyptus Grandis, em espaçamento3 m x 2 m, obteve o percentual <strong>de</strong>carbono estocado por hectare, baseando-se nadivisão por compartimento das árvores. Suaconclusão indicou 81,84% <strong>de</strong> carbono no fuste,8,05% na casca, 7,74% nos galhos e 2,47% nasfolhas. Consi<strong>de</strong>rando tal povoamento <strong>de</strong> árvores,estimou-se uma média <strong>de</strong> 47,7 toneladas <strong>de</strong>carbono por hectare.Essa estimativa representa algo próximodos 67,06% <strong>de</strong> carbono fixado na floresta. Aproximadamente20,68% (ou seja, 14, 71 t/ha) docarbono estão fixados nas raízes, e 12,26% (8,72t/ha) na matéria orgânica (PAIXÃO, 2004). Dessaforma, Paixão et al. (2006) estimaram que paraum valor relativo <strong>de</strong> US$ 10,00 por tonelada <strong>de</strong>carbono sequestrado, se atingiria um ativo <strong>de</strong>US$ 711,30 por hectare.Os estudos <strong>de</strong> Paixão et al. (2006) concluírampela viabilida<strong>de</strong> da implantação <strong>de</strong> florestasmesmo que fossem voltadas apenas para acomercialização dos créditos <strong>de</strong> carbono, levando-seem conta preços superiores a US$ 10,07sendo pagos pela tonelada <strong>de</strong> carbono sequestrado.Isso se <strong>de</strong>ve ao fato que os créditos po<strong>de</strong>mser recebidos logo no início do projeto, tornandoassim o sistema bem mais atrativo.Em um trabalho <strong>de</strong> Nishi et al. (2005), éressaltado o aumento da viabilida<strong>de</strong> financeiratrazido pela comercialização das RCEs no plantio<strong>de</strong> eucaliptos para celulose e <strong>de</strong> Pinus pararesinagem. No projeto <strong>de</strong> eucalipto, por exemplo,houve um incremento expressivo <strong>de</strong> ativos –o VPL saltou <strong>de</strong> 17,59 US$ por hectare para 971,71US$. Já a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> extração <strong>de</strong> borracha das seringueiras<strong>de</strong>monstrou-se viável somente com a comercializaçãodas RCEs; <strong>de</strong>ssa forma, a vinculaçãoentre as duas práticas torna-se fundamental.MetodologiaEste estudo consistiu numa pesquisa exploratóriacom o intuito <strong>de</strong> gerar uma melhorcompreensão do tema proposto. Para tanto, foirealizada uma pesquisa bibliográfica por meioda utilização <strong>de</strong> artigos científicos, livros, revistas,dissertações, teses e documentos, e pormeio <strong>de</strong> órgãos públicos, tais como IBGE, PrefeituraMunicipal, Instituto do Meio Ambiente,entre outros.O estudo contemplou o mercado <strong>de</strong> créditos<strong>de</strong> carbono em nível mundial, com a apresentação<strong>de</strong> dados do quantitativo <strong>de</strong> carbonoque é comercializado, bem como os comparativoscom dados em nível nacional, regional e doEstado <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul, consi<strong>de</strong>rando osúltimos 12 anos.A fim <strong>de</strong> alcançar o objetivo proposto e<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r à questão <strong>de</strong> pesquisa estabelecidapara este trabalho, foi necessário o enquadramentodos dados coletados para traçar umcomparativo entre as áreas. O método <strong>de</strong> enquadramentodos resultados foi elaborado por esfera(internacional, nacional, regional e do Estado<strong>de</strong> Mato Grosso do Sul), analisando os dados <strong>de</strong>2000 até a presente data.97Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Resultados e discussãoEm um cenário mundial, as organizaçõesnão governamentais (ONGs) ambientalistas sediadasna Europa – entre elas a World RainforestMovement (WRM), World Wildlife Fund (WWF),Greenpeace, Friends of Earth (FOE) e Birdlife International– oferecem resistência às intenções<strong>de</strong> incluir o sequestro <strong>de</strong> carbono florestal comoum projeto MDL (FERNSIDE, 2001). Segundo asONGs, tanto o reflorestamento quanto a conservaçãoflorestal envolvem incertezas, como, porexemplo, dificulda<strong>de</strong>s na mensuração dos estoques<strong>de</strong> carbono; portanto, a prática implicariaum nível <strong>de</strong> confiabilida<strong>de</strong> baixo. Outro pontoseria o não comprimento do principal objetivodo projeto, por parte dos países industrializados,que acabariam não praticando a reduçãodas emissões em seu próprio território. Para osambientalistas, somente a substituição dos combustíveisfósseis por fontes renováveis <strong>de</strong> combustíveisseria uma providência realmente válidapara se combater a emissão <strong>de</strong> GEE (YU, 2004).Mesmo sendo clara <strong>de</strong>fensora da proteçãoflorestal, a Greenpeace se posiciona contraa inclusão dos projetos <strong>de</strong> sequestro florestal <strong>de</strong>carbono no hall <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> MDL, uma vezque as nações que mais poluem facilmente atingiriamsuas metas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões, semprecisarem reduzir a emissão <strong>de</strong> GEE domésticos(GRUPO GUAYUBIRA, 2000).As novas plantaçõespo<strong>de</strong>m aumentar a pressão sobre as florestasnaturais, aumentando a sua <strong>de</strong>struição. Algumasimagens <strong>de</strong> satélite da década <strong>de</strong> 1980 apontamque cerca <strong>de</strong> 75% dos reflorestamentos nos paísesno sul dos trópicos surgiram após o <strong>de</strong>smatamentoda floresta natural. Dessa forma, o objetivo <strong>de</strong>sequestro <strong>de</strong> carbono por reflorestamento é emvão, e o <strong>de</strong>smatamento <strong>de</strong>ve ter liberado cerca<strong>de</strong> 725 milhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> carbono para aatmosfera (WORLD RAINFOREST MOVEMENT,1999).No ambiente internacional, há ainda algumasONGs ambientalistas sediadas nos EUA que<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a prática do sequestro <strong>de</strong> carbono pormeio da floresta. A Conservation International(CI), a The Nature Conservancy (TNC), a EnvironmentalDefense (EDF) e a Natural ResourcesDefense Council (NRDC) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a posição<strong>de</strong> que a preservação da floresta apresenta maioreficiência que o <strong>de</strong>smatamento, quanto a reduziremissões <strong>de</strong> CO 2e amenizar o efeito estufa(FERNSIDE, 2001).In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das pressões políticas,sociais e ambientais, o mercado <strong>de</strong> carbonojá está bastante aquecido mundo afora. Em meados<strong>de</strong> 2005, estimava-se que, entre os paísescompradores, 60% eram da União Europeia, seguidos<strong>de</strong> 21% do Japão e <strong>de</strong> 4% do Canadá. E,entre os países que mais ofertavam os créditos,estavam a Índia, com um consi<strong>de</strong>rável volume,seguida pelo Brasil e pelo Chile. Ressalta-se que,no caso da União Europeia, o não cumprimento<strong>de</strong> suas metas <strong>de</strong> emissão resultaria em multas<strong>de</strong> 40 euros por tonelada <strong>de</strong> carbono exce<strong>de</strong>ntea partir <strong>de</strong> 2007 (GUTIERREZ, 2007).Visualiza-se que o <strong>de</strong>senvolvimento daeconomia tem-se expandido com investimentosem processos e tecnologias limpas e eficientes.Direcionadas à redução <strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> poluentes,especialmente emissões <strong>de</strong> CO 2, as RCEstambém são comercializadas no mercado <strong>de</strong>carbono (BANCO MUNDIAL, <strong>2012</strong>).Segundo dados do Banco Mundial (<strong>2012</strong>),o mercado <strong>de</strong> carbono tem movimentado milhões<strong>de</strong> dólares. Para tornar os empreendimentoseconômicos, e as ativida<strong>de</strong>s produtivas maiscompetitivas e ambientalmente responsáveis, acada ano esse montante torna-se maior, conforme<strong>de</strong>monstra a Figura 1.No Brasil, as discussões praticamente estãono mesmo patamar. Algumas ONGs <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m oargumento das ONGs europeias, e afirmam que aquantificação do carbono florestal é pouco específica,e que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sviar dos verda<strong>de</strong>iros objetivosdo Protocolo <strong>de</strong> Kyoto, com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>os países <strong>de</strong>senvolvidos não reduzirem suas emissõesdomésticas <strong>de</strong> carbono. Outro ponto é queos benefícios referentes à proposta dos MDLs <strong>de</strong>estímulo à geração <strong>de</strong> tecnologias voltadas para aenergia limpa, e a proposta <strong>de</strong> encaminhar o <strong>de</strong>senvolvimentosustentável em países em <strong>de</strong>senvol-Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>98


Figura 1. Crescimento dos fundos <strong>de</strong> carbono e recursosdo Banco Mundial (em milhões <strong>de</strong> dólares por período)no mundo.Fonte: dados do Banco Mundial (<strong>2012</strong>).vimento seriam ignorados. Além disso, a presençadas florestas nativas no âmbito do MDL ofuscariaa atenção para a necessida<strong>de</strong> urgente <strong>de</strong> mudançano cenário atual do mercado <strong>de</strong> combustíveis fósseis(YU, 2004).O governo brasileiro compartilha, em partes,da posição <strong>de</strong>ssas ONGs. Mesmo vendo combons olhos a proposta <strong>de</strong> preservação das florestaspor meio dos MDLs, o governo também visualizaa falta <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> do projeto, o que dificultariamuito a gestão <strong>de</strong>ste. Dessa forma, o governoexpressa também a sua intenção <strong>de</strong> privilegiar osprojetos <strong>de</strong> MDL, pela sua característica <strong>de</strong> tecnologiaslimpas (CAMPOS, 2001).A exemplo do exterior, no Brasil as opiniõessobre a inclusão do fator floresta entre os projetos<strong>de</strong> MDL no cenário nacional também estão divididas.Algumas ONGs, juntamente com algunspesquisadores e a socieda<strong>de</strong> civil, são a favor <strong>de</strong>ssaprática. Basicamente, estão à frente <strong>de</strong>sse posicionamentoalguns técnicos, alguns pesquisadores,assim como ONGs que <strong>de</strong>senvolvem trabalhos naAmazônia, além da Secretaria do DesenvolvimentoSustentável do Ministério do Meio Ambiente(YU, 2004). De acordo com Fernsi<strong>de</strong> (2001), atualmentedois terços da emissão brasileira vêm do<strong>de</strong>smatamento florestal, ou seja, o setor florestal,não preservado, passa por uma inversão – <strong>de</strong>ixa<strong>de</strong> ser um sumidouro e passa a ser um emissor.Dessa forma, a conservação florestal seria uma dasalternativas <strong>de</strong> contenção do carbono com melhorcusto-benefício. Sabendo do atual conforto brasileirocom relação à produção <strong>de</strong> energia limpa,projetos energéticos pouco influenciariam na redução<strong>de</strong> emissões nacionais; portanto, a possívelfonte <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> recursos externos po<strong>de</strong>ria serconvertida para a estruturação da fiscalização e daprevenção do <strong>de</strong>smatamento (MONZONI, 2000).Em nível global, o <strong>de</strong>smatamento representa, aproximadamente,20% das emissões (NOBRE, 2000).Quanto à relação do Brasil com o BancoMundial, verifica-se que os empréstimos tomadospelo país iniciaram-se em 2008 com o montante<strong>de</strong> US$ 1.940,39. Já em 2010, esse valor chegou aUS$ 3.771,1301; e em 2011, reduziu-se para US$2.587,44. Em <strong>2012</strong>, até o mês <strong>de</strong> maio, o montanteera <strong>de</strong> US$ 119,630005, conforme po<strong>de</strong> ser observadona Figura 2.Figura 2. Empréstimos tomados pelo Brasil, por volume,do Banco Mundial (em milhões <strong>de</strong> dólares porperíodo) <strong>de</strong>stinados a programas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.Fonte: dados do Banco Mundial (<strong>2012</strong>).Ainda que os valores emprestados do BancoMundial tenham sido <strong>de</strong>stinados diretamenteaos programas do Plano <strong>de</strong> Aceleração do Crescimento(PAC) – lançado em 2007, com a finalida<strong>de</strong>99Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


dos 8,4% da participação das terras em uso nasuperfície territorial total das terras do Brasil, ou2,7% <strong>de</strong> toda a área territorial do Brasil, conformea Figura 6.Figura 4. Proporção das terras em uso agrossilvipastorildos estabelecimentos agropecuários no total da áreaterritorial, segundo o tipo <strong>de</strong> utilização das terras noBrasil, <strong>de</strong> 1970 a 2006.(1)Nas lavouras permanentes, somente foi pesquisada a área colhida dosprodutos com mais <strong>de</strong> 50 pés em 31/12/2006.(2)Lavouras temporárias e cultivo <strong>de</strong> flores, inclusive hidroponia e plasticultura,viveiros <strong>de</strong> mudas, estufas <strong>de</strong> plantas, casas <strong>de</strong> vegetação e forrageiraspara corte.(3)Pastagens plantadas, <strong>de</strong>gradadas por manejo ina<strong>de</strong>quado ou por falta<strong>de</strong> conservação, e em boas condições, incluindo aquelas em processo <strong>de</strong>recuperação.Fonte: IBGE (2010).Figura 6. Proporção do Estado do Mato Grosso do Suldas terras em uso agrossilvipastoril em relação aos estabelecimentosagropecuários no total da região doCentro-Oeste em 2006.Fonte: dados do IBGE (2010).Figura 5. Proporção regional das terras em uso agrossilvipastorildos estabelecimentos agropecuários no totalda área territorial do Brasil em 2006.Fonte: dados do IBGE (2010).Para melhor visualizar a representativida<strong>de</strong>das três esferas – nacional, regional e estadual –,a Figura 7 <strong>de</strong>monstra que 26,5% da área total doBrasil são <strong>de</strong>stinados para o uso da terra, sendo8,4% da região do Centro-Oeste e 2,7% do Estado<strong>de</strong> Mato Grosso do Sul.No Estado <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul, apesardo incontestável papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque do Pantanal, obioma predominante é o Cerrado. Esse bioma esten<strong>de</strong>-sedo Estado do Maranhão até a parte sul <strong>de</strong>Mato Grosso do Sul, e seu zoneamento limita-seno início do Estado <strong>de</strong> São Paulo. Sua característicapeculiar é a presença <strong>de</strong> formações <strong>de</strong> savana,estabelecidas sobre solos comumente ácidos,e com algumas <strong>de</strong>ficiências químicas, intercaladaspor matas ciliares que acompanham rios e fundos<strong>de</strong> vale (EITEN, 1979; FERRI, 1980).101Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Figura 7. Proporção comparativa das terras em usoagrossilvipastoril dos estabelecimentos agropecuáriosno total da região do Brasil, em níveis nacional, regionale estadual, em 2006.Fonte: dados do IBGE (2010).Levando-se em conta que, na área do Estado<strong>de</strong> Mato Grosso do Sul – 357.145,836 km²–, conforme os dados do IBGE (2009), o biomaCerrado, cuja extensão é <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 2.000.000km², apresenta taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento que po<strong>de</strong>mchegar a 1,5% ao ano, o que correspon<strong>de</strong>a 30.000 km²/ano (MACHADO et al., 2004).A emissão originada do <strong>de</strong>smatamento <strong>de</strong> 22.000km 2 seria <strong>de</strong> 99,9 TgC/ano – isso consi<strong>de</strong>randoapenas a parte aérea da floresta –; no entanto, estima-seque cerca <strong>de</strong> 70% do carbono estocadono Cerrado esteja no subterrâneo, <strong>de</strong>vido às raízesprofundas (LAL, 2008; SAWYER, 2008). Esses valoresaproximam-se do dobro da área <strong>de</strong>smatada naAmazônia (SAWYER, 2009).Em um cenário pouco animador, a regiãodo Cerrado <strong>de</strong>staca-se sob a perspectiva negativado alto potencial <strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> gases por partedos <strong>de</strong>smatamentos. Atualmente, na região, nãoexiste nenhum programa ou política <strong>de</strong> controledo <strong>de</strong>smatamento. Tem-se a impressão <strong>de</strong> que obioma do Cerrado vem sendo sacrificado comouma alternativa <strong>de</strong> salvação da Amazônia (SA-WYER; LOBO, 2008).Devido às características extremamente favoráveispara a pecuária e para a agricultura, tantoo Estado <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul quanto toda a extensãodo Cerrado vêm sofrendo com os altos índices<strong>de</strong> produção extensiva. Atualmente estima-seque cerca <strong>de</strong> 388 milhões <strong>de</strong> hectares da área dobioma estejam ocupados com ativida<strong>de</strong>s agropecuárias– <strong>de</strong>ssa área, seriam 62 milhões utilizadosna agricultura, e 200 milhões na pecuária. Somentea cultura da soja estima-se ocupar 20 milhões<strong>de</strong> hectares no Cerrado. Na preparação <strong>de</strong> áreaspara pastagens, geralmente é feito o <strong>de</strong>smatamentopelo arrastão <strong>de</strong> correntes, e quando <strong>de</strong>para-secom a dificulda<strong>de</strong> das raízes profundas, recorre-seàs queimadas, e estas aceleram o processo <strong>de</strong> liberação<strong>de</strong> CO 2para a atmosfera (MASSI et al., 2010).Consi<strong>de</strong>rações finaisDe modo geral, pô<strong>de</strong>-se concluir que acomercialização <strong>de</strong> créditos <strong>de</strong> carbono ten<strong>de</strong>a agregar receitas, aumentando a viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>projetos relacionados ao setor agroflorestal. Noentanto, pelas pesquisas realizadas, po<strong>de</strong>-se percebero quanto esse tema é <strong>de</strong>licado, e existe ahipótese <strong>de</strong> que a implantação <strong>de</strong> novas florestaspossa acentuar o <strong>de</strong>smatamento das florestasnaturais, o que aumentaria a emissão <strong>de</strong> gás carbônico.Porém, levando-se em conta as gran<strong>de</strong>sáreas já <strong>de</strong>smatadas no Estado <strong>de</strong> Mato Grosso doSul, é possível que a a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> projetos florestais<strong>de</strong> MDL po<strong>de</strong>ria gerar divisas aos produtoreslocais, assim como estimular o reflorestamento eaumentar a estabilida<strong>de</strong> socioecossistêmica naregião.Embora apresentem baixa lucrativida<strong>de</strong> porunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> área no período <strong>de</strong> curto prazo, os sistemasagroflorestais associados ao reflorestamentopropiciam gran<strong>de</strong>s vantagens socioambientais,em especial nas áreas <strong>de</strong> solos <strong>de</strong>gradados queocupam gran<strong>de</strong>s extensões em todo o país, assimcomo no Mato Grosso do Sul. Há gran<strong>de</strong>s possibilida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a prática seja associada à criaçãoextensiva <strong>de</strong> gado, ou às culturas tradicionais daregião, caso sejam compensadas pelo mercado<strong>de</strong> carbono (MAY et al., 2005)O estudo buscou <strong>de</strong>terminar se em proprieda<strong>de</strong>spraticantes <strong>de</strong> SAFs, como o iLPF, hápossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingresso no mercado <strong>de</strong> carbono.Entre as características <strong>de</strong> mercado i<strong>de</strong>ntificadasno estudo, chama atenção a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>102


ecebimento <strong>de</strong>sse ativo logo no início dos projetos<strong>de</strong> reflorestamento, o que po<strong>de</strong>ria auxiliarnos custos <strong>de</strong> implantação, assim como se tornarum capital <strong>de</strong> giro, e, por meio <strong>de</strong>ssa diversificação,complementaria a renda das proprieda<strong>de</strong>sque o adotam. A pesquisa i<strong>de</strong>ntificou o gran<strong>de</strong>potencial que o setor florestal tem para atuar nomercado do carbono. No entanto, alguns impasses– tanto na esfera mundial quanto nacional –dificultam a criação <strong>de</strong> um “elo” entre o produtorrural e o mercado comprador dos RCEs.ReferênciasALCÂNTARA, M. G.; SILVA, J. I. A. O. Ainstitucionalização da questão ambiental nas políticaspúblicas para o seminário. In: CONGRESSO DEINICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNIVERSIDADE FEDERALDE CAMPINA GRANDE, 8., 2011, Campina Gran<strong>de</strong>.Anais... Campina Gran<strong>de</strong>: PIVIC-UFCG, 2011. Disponívelem: . Acesso em: 22 jun. <strong>2012</strong>.AMAZONAS, M. <strong>de</strong> C. Economia do meio-ambiente:uma análise da abordagem neoclássica a partir <strong>de</strong>marcos evolucionistas e institucionalistas. 1994. 223f. Dissertação (Mestrado em Economia) -- Unicamp,Campinas.AMAZONAS, M. <strong>de</strong> C. O pluralismo da economiaecológica e a economia política do crescimento e dasustentabilida<strong>de</strong>. Boletim da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong>Economia Ecológica, Rio <strong>de</strong> Janeiro, n. 20, p. 5-12, 2009.ARCO-VERDE, M. F. Sustentabilida<strong>de</strong> biofísica esocioeconômica <strong>de</strong> sistemas agroflorestais na Amazôniabrasileira. 2008. 188 f. Tese (Doutorado em CiênciasFlorestais) – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, Curitiba.BALBINO, L. C.; BARCELLOS, A. O.; STONE, L. F. (Ed.).Marco referencial: integração lavoura-pecuária-floresta.Brasília, DF: <strong>Embrapa</strong>, 2011.130 p.BALBINOT, R.; SCHUMACHER, M. V.; WATZLAWICK,L. F.; SANQUETTA, C. R. Inventário do carbono orgânicoem um plantio <strong>de</strong> Pinus taeda aos 5 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> noRio Gran<strong>de</strong> do Sul. Revista Ciências Exatas e Naturais,Guarapuava, v. 5, n. 1, p. 59-68, 2003.BANCO MUNDIAL. Carbon finance at the World Bank.Disponível em: . Acesso em: 26 jun.<strong>2012</strong>.BARBIERI, K. S. Créditos <strong>de</strong> carbono: aspectos comerciaise contábeis. 2006. 120 f. Monografia (Graduaçãoem Ciências Contábeis) - Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Economia,Administração e Contabilida<strong>de</strong>, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> SãoPaulo, Ribeirão Preto.BERTALANFLY, L. von. Teoria geral dos sistemas:fundamentos, <strong>de</strong>senvolvimentos e aplicações. 4. ed.Petrópolis: Vozes, 2009. 318 p.BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. O Ministério:apresentação. Disponível em: .Acesso em: 3 maio <strong>2012</strong>.CAMPOS, P. C. A conservação das florestas no Brasil,mudanças do clima e o mecanismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentolimpo no Protocolo <strong>de</strong> Quioto. 2001. 161 f. Dissertação(Mestrado em Planejamento Energético) – Universida<strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Rio <strong>de</strong> Janeiro.CASTRO JÚNIOR, T. G. Efeito da aplicação <strong>de</strong> herbicidasem pré-plantio, no estabelecimento <strong>de</strong> pastagens <strong>de</strong>verão e inverno, em semeadura direta. 1998. 143f. Dissertação (Mestrado em Produção Vegetal) –Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, Curitiba.CAVALCANTI, C. Meio ambiente, <strong>de</strong>senvolvimentosustentável e políticas públicas. São Paulo: Cortez;Recife: Fundação Nabuco, 1997. 436 p.COSTA, T. V. da. Perpectivas do mercado <strong>de</strong> crédito<strong>de</strong> carbono para o Brasil. 2008. 56 f. Monografia(Bacharelado em Ciências Econômicas) – Universida<strong>de</strong>Estadual <strong>de</strong> Londrina, Londrina.COSTANZA, R.; D’ARGE, R.;, DE GROOT, R. S.;FARBER, S.; GRASSO, M.; HANNON, B.; LIMBURG, K.;NAEEM, S.; O’NEILL, R. V.; PARUELO, J.; RASKIN, R. G.;SUTTON, P.; BELT, M. van <strong>de</strong>n. The value of the world’secosystem services and natural capital. Nature, London,GB,v. 387, n. 6630, p. 253-260, 1997.CRAVO, M. da S.; CORTELETTI, J.; NOGUEIRA, O. L.;SMYTH, T. J.; SOUZA, B. D. L. <strong>de</strong>. Sistema Bragantino:agricultura sustentável para a Amazônia. Belém: <strong>Embrapa</strong>Amazônia Oriental, 2005. 93 p. (<strong>Embrapa</strong> AmazôniaOriental. Documentos, 218).DAILY, G. C. (Ed.). Nature’s services: societal <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nceon natural ecosystem. Washington, DC: Island Press,1997. Disponível em: . Acesso em: 3 abr. <strong>2012</strong>103Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


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Exportações <strong>de</strong> cafédo Espírito SantoEdson Zambon MonteAplicação da2metodologia VAR 1Resumo – Este trabalho objetivou estimar os impactos <strong>de</strong> choques na taxa <strong>de</strong> câmbio, nopreço <strong>de</strong> exportação, no preço interno, na renda interna e na renda externa sobre as exportações<strong>de</strong> café do Espírito Santo, utilizando a metodologia vetorial autorregressiva (VAR).Os resultados mostraram que: i) um choque na taxa <strong>de</strong> câmbio tem efeito positivo sobreas exportações <strong>de</strong> café do terceiro ao décimo segundo mês após o choque; ii) o preço dasexportações, contrário ao esperado, somente apresentou efeitos positivos sobre as exportações<strong>de</strong> café no segundo mês após o choque; iii) mesmo o preço interno tendo gerado umaumento das exportações <strong>de</strong> café até o quarto mês após o choque, <strong>de</strong>pois do quinto período,a tendência é <strong>de</strong> redução das exportações; iv) o aumento da renda interna leva a umaredução das exportações na maior parte dos meses após o choque; e v) choques na rendaexterna impactam positivamente as exportações no segundo e no terceiro mês. A variáveltaxa <strong>de</strong> câmbio apresentou os maiores impactos positivos sobre as exportações <strong>de</strong> café.Palavras-chaves: comércio externo, economia capixaba, funções impulso-resposta, séries temporais.Coffee exports of Espírito Santo: application of the VAR methodologyAbstract – The objective of this paper was to estimate the impacts of shocks on exchange rate, exportprice, domestic price, domestic income, and foreign income on the coffee exports of EspíritoSanto, using the vector autoregressive (VAR) methodology. The results showed that: i) a shock in theexchange rate has a positive effect on coffee exports from the third to the twelfth month after theshock; ii) the price of exports, contrary to expectations, only presented positive effects on coffee exportsin the second month after the shock; iii) even when the domestic price generated an increasein coffee exports until the fourth month after the shock, after the fifth period, the trend is to reduceexports; iv) the increase in domestic income leads to a reduction in exports in most months after theshock; and v) shocks on foreign income positively impact exports in the second and third months.The exchange rate variable showed the greatest positive impact on coffee exports.Keywords: foreing tra<strong>de</strong>, economy of Espírito Santo, impulse response functions, time series.1Original recebido em 27/9/<strong>2012</strong> e aprovado em 2/10/<strong>2012</strong>.2Mestrado em Economia, professor do Departamento <strong>de</strong> Economia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo, Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras, Vitória,ES, CEP 29075-910. E-mail: edsonzambon@yahoo.com.brAno XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>106


IntroduçãoApós a forte crise vivenciada no período <strong>de</strong>1930 a 1970, tendo como um dos fatores a reduçãodo preço no mercado internacional, a culturacafeeira começou a se recuperar a partir <strong>de</strong> 1975.A crise reduziu o volume <strong>de</strong> café produzido peloEspírito Santo, assim como suas exportações. SegundoRocha e Morandi (1991), o café, que, em1960, era a ativida<strong>de</strong> predominante em 69,9%das proprieda<strong>de</strong>s rurais capixabas, teve sua participaçãoreduzida em 1975, quando passou a sera ativida<strong>de</strong> predominante em apenas 34,7% dosestabelecimentos rurais. No entanto, mesmo coma redução dos preços internacionais e a erradicação<strong>de</strong> lavouras cafeeiras, o café continuou sendoa principal cultura capixaba, principalmente emgeração <strong>de</strong> emprego e renda.A partir <strong>de</strong> 1975, retomam-se os plantios,a produção aumenta novamente e as exportaçõescomeçam a crescer significativamente. Valeressaltar que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1950, o setor cafeeiroexportadoroscilou entre crises e recuperações,tanto em termos <strong>de</strong> volume exportado quantoem termos <strong>de</strong> valor das exportações, o que afetoudiretamente as exportações capixabas <strong>de</strong> café.Alguns fatos que contribuíram para isso foram:excesso <strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> café no mercado internacional,o que reduziu o preço internacional doproduto; elevação da concorrência internacional(sobretudo África, América Central e Colômbia);crises do petróleo <strong>de</strong> 1974 e 1979, que, ao reduzira renda real dos consumidores <strong>de</strong> café, contraiu,significantemente, as importações mundiais dacommodity; e <strong>de</strong>svalorizações cambiais. No período<strong>de</strong> 1982 a 1992, por exemplo, o setor entrouem forte crise em virtu<strong>de</strong> da redução do preçointernacional.Após a década <strong>de</strong> 1990, a liberalização <strong>de</strong>mercado para a cultura <strong>de</strong>u novo impulso à cafeicultura,com a extinção do Instituto Brasileiro doCafé (IBC). Isso promoveu o incentivo à melhoriada qualida<strong>de</strong> do café produzido e consumido domesticamente,assim como dos cafés exportados.Esse aumento <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> foi causado, também,pela vinda <strong>de</strong> multinacionais para o Brasil ao longodos anos 1990, o que fez com que os agentesdo agronegócio aumentassem sua produtivida<strong>de</strong>na cultura. No Espírito Santo, <strong>de</strong> 1990 a 2011, asexportações <strong>de</strong> café em grão tiveram um aumento<strong>de</strong> 55,67%.Mesmo com a nova fase vivenciada pelacafeicultura após 1990, na qual se elevaram asexportações do setor, <strong>de</strong>ve-se atentar para aquelesfatores que já afetaram e po<strong>de</strong>m voltar a afetara participação, tanto do Espírito Santo como doBrasil, no comércio internacional <strong>de</strong> café e comprometera sustentabilida<strong>de</strong> da cultura, tais como:<strong>de</strong>svalorização da taxa <strong>de</strong> câmbio, queda dospreços internacionais e crescimento da produçãoe da exportação dos países concorrentes, como oVietnã e a Colômbia.O Espírito Santo é o segundo maior produtor<strong>de</strong> café do Brasil, respon<strong>de</strong>ndo por cerca <strong>de</strong>25% da produção. O estado cultiva duas espécies<strong>de</strong> café: Coffea arabica (café arábica) e Coffeacanephora (café conilon), sendo que, no casodo café conilon, é o maior produtor nacional.Do total produzido em 2011, aproximadamente50,29% foi exportado. Do total exportado <strong>de</strong> caféem grãos, 53,83% correspondia ao café arábica e46,17% ao café conilon 3 .Os principais <strong>de</strong>stinos das exportações capixabas<strong>de</strong> café foram os Estados Unidos, a Alemanha,o México, a Síria, a Eslovênia, o Líbano,a Argentina, a Bélgica, a Turquia, a Grécia e aEspanha. As exportações <strong>de</strong> café do estado correspon<strong>de</strong>rama, aproximadamente, 14,47% dasexportações brasileiras <strong>de</strong> café em 2011. A máximaparticipação do Espírito Santo nas exportaçõesbrasileiras <strong>de</strong> café ocorreu em 2002 (32,5%).O Estado do Espírito Santo vem crescendosignificantemente nos últimos anos, com taxassuperiores as do crescimento nacional. A agriculturaainda é a ativida<strong>de</strong> econômica com maiorrelevância social, mantendo a população ruralno campo, com expressiva geração <strong>de</strong> emprego3O Espírito Santo também exporta café processado, torrado e solúvel. No entanto, a exportação <strong>de</strong>stes tipos <strong>de</strong> café é relativamente baixa.107Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


e renda. Neste contexto, a cafeicultura continuasendo essencial, uma vez que representa cerca<strong>de</strong> 44% do Produto Interno Bruto (PIB) agrícolaestadual.Dessa forma, ao se consi<strong>de</strong>rar que i) o EspíritoSanto é o segundo maior produtor <strong>de</strong> café doBrasil; ii) que suas exportações <strong>de</strong> café alcançam,em média, 15% das exportações nacionais; e iii)que a cultura cafeeira é um importante gerador<strong>de</strong> receitas e fundamental para o <strong>de</strong>sempenhosocioeconômico do estado, este trabalho objetivouestimar os impactos <strong>de</strong> choques na taxa <strong>de</strong>câmbio, no preço <strong>de</strong> exportação, no preço interno,na renda interna e na renda externa sobre asexportações <strong>de</strong> café do Espírito Santo, utilizandoa metodologia VAR.Revisão <strong>de</strong> literatura empíricaEste item tem a intenção <strong>de</strong> apresentar algunstrabalhos que vem sendo realizados nos últimosanos no Brasil, analisando as exportaçõesnacionais ou regionais, seja no agregado ou porprodutos, especialmente commodities. Algunsdos autores <strong>de</strong>scritos estudaram as exportações<strong>de</strong> café em grão, em específico, e adotaram, emgeral, a metodologia VAR, a qual foi utilizada nestapesquisa.Cavalcanti e Ribeiro (1998) analisaram o<strong>de</strong>sempenho das exportações brasileiras, no período1977–1996, com <strong>de</strong>staque para os anos1990. Como método econométrico, os autoresadotaram, inicialmente, um mo<strong>de</strong>lo VAR para asexportações e, a partir <strong>de</strong> testes <strong>de</strong> cointegraçãoe exogeneida<strong>de</strong>, estimaram uma equação autorregressivacom <strong>de</strong>fasagens distribuídas (ADD).Os resultados mostraram que, para os produtosbásicos, semimanufaturados e manufaturados, asexportações <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, principalmente, das condições<strong>de</strong> <strong>de</strong>manda do mercado internacional, asaber: renda mundial e preços dos produtos exportadosrelativamente aos bens substitutos. Paraos produtos industriais, as exportações são fortementeafetadas por fatores ligados à oferta, comotaxa <strong>de</strong> rentabilida<strong>de</strong> e, possivelmente, capacida<strong>de</strong>produtiva. Além disso, as exportações <strong>de</strong> produtosindustrializados são influenciadas pelo nível<strong>de</strong> comércio externo.Castro e Rossi Júnior (2000) estimaramequações para o valor exportado e o preço dasprincipais commodities brasileiras: café, açúcar,soja, minério <strong>de</strong> ferro, carne bovina, alumínio, cacau,suco <strong>de</strong> laranja e fumo. Como metodologia,os autores adotaram os mo<strong>de</strong>los VAR irrestritos eos mo<strong>de</strong>los em diferenças restritos. Neste contexto,testaram a inclusão <strong>de</strong> variáveis exógenas nomo<strong>de</strong>lo e compararam a capacida<strong>de</strong> preditiva domo<strong>de</strong>lo restrito com a do VAR irrestrito.Os resultados sugeriram que, somente nocaso do café e do alumínio, as exportações brasileiras<strong>de</strong>fasadas influenciaram o preço internacional.Para as outras commodities, as exportaçõesbrasileiras não apresentaram causalida<strong>de</strong> comos preços internacionais. No caso específico dacommodity café, o mo<strong>de</strong>lo VAR foi ajustado comseis <strong>de</strong>fasagens, sendo os dados trimestrais. Alémdisso, <strong>de</strong> acordo com os autores, os preços <strong>de</strong>fasadosdo café foram altamente significativosna equação do valor exportado; as importaçõesmundiais são significativas apenas na quinta ena sexta <strong>de</strong>fasagens; a variável Libor apresentouefeito contemporâneo positivo; e o câmbio realefetivo tem um efeito negativo bastante <strong>de</strong>fasado.Silva e Maia (2003) analisaram os efeitos darenda externa, da taxa <strong>de</strong> câmbio real efetiva edo preço <strong>de</strong> exportação do café em grãos sobreas exportações brasileiras <strong>de</strong> café, no período <strong>de</strong>1961 a 2001. Os autores também adotaram o mo<strong>de</strong>loVAR. Os resultados revelaram que: a) o valordas exportações <strong>de</strong> café foi mais impactado peloschoques no preço do café em grãos e na rendaexterna do que pelos choques na taxa <strong>de</strong> câmbioreal; b) inovações na renda externa tiveram efeitospositivos nas exportações <strong>de</strong> café a curto prazo;c) choques no preço <strong>de</strong> exportação do café emgrãos acarretaram aumentos nas exportações <strong>de</strong>café nos primeiros dois anos após os choques; ed) o efeito do choque na taxa <strong>de</strong> câmbio nas exportações<strong>de</strong> café revelou-se positivo, no primeiroano, e negativo no segundo ano.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>108


Maia (2003) examinou os impactos da taxa<strong>de</strong> câmbio e da taxa <strong>de</strong> juros sobre as exportações<strong>de</strong> produtos agrícolas brasileiros em dois períodosdistintos: a) <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1980 até <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>1990, e b) <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1990 até <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>2001. O autor utilizou, como mo<strong>de</strong>lo teórico, aabordagem <strong>de</strong> microeconomia aberta a partir domo<strong>de</strong>lo Mun<strong>de</strong>ll-Fleming. A metodologia empíricaadotada foi o mo<strong>de</strong>lo VAR, com causalida<strong>de</strong>scontemporâneas.Quanto aos resultados, a taxa <strong>de</strong> câmbioapresentou-se significativa na <strong>de</strong>terminação dasexportações agrícolas brasileiras, tanto a curtoprazo como a longo prazo. Ressalta-se que, naanálise contemporânea (curto prazo), a influênciada taxa <strong>de</strong> câmbio diminuiu do período1980–1990 para o período 1990–2001. No primeiroperíodo, uma elevação da taxa <strong>de</strong> câmbiorepresentava 45% das variações das exportações;no segundo período, este valor passou para 39%,perfazendo uma redução <strong>de</strong> seis pontos percentuais.A taxa <strong>de</strong> juros também teve efeito sobreas exportações agrícolas brasileiras, tanto a curtoprazo como a longo prazo.Alves e Bachi (2004) estimaram uma função<strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> exportação brasileira <strong>de</strong> açúcar,para o período <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1995 a <strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 2002. Como procedimento empírico, os autoresutilizaram a metodologia VAR. Os resultadosmostraram que o preço e a renda doméstica,variáveis que refletem a situação do mercadointerno, têm gran<strong>de</strong> relevância na <strong>de</strong>terminaçãodas exportações brasileiras <strong>de</strong> açúcar, e o efeito<strong>de</strong>fasado (subsequente ao choque) <strong>de</strong>ssas variáveissobre o quantum exportado é bastante agressivo.Também observou-se que as exportaçõesbrasileiras <strong>de</strong> açúcar elevam-se à medida que amoeda nacional <strong>de</strong>svaloriza-se perante o dólarnorte-americano. Destaca-se que o efeito da taxa<strong>de</strong> câmbio sobre o quantum exportado é mais expressivoapós três meses <strong>de</strong> choque. Já o preçodas exportações, apresentou menor elasticida<strong>de</strong>quando comparado às variáveis <strong>de</strong> mercado interno;porém, também teve algum grau <strong>de</strong> influênciasobre o quantum <strong>de</strong> açúcar exportado peloBrasil.Silva e Bachi (2005) estimaram as equações<strong>de</strong> exportação para o açúcar bruto brasileiro, coma finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar os <strong>de</strong>terminantes do <strong>de</strong>sempenhoexportador <strong>de</strong>ssa commodity. A metodologiautilizada foi a VAR/VEC (vetor <strong>de</strong> correção<strong>de</strong> erros), tendo-se consi<strong>de</strong>rado as proprieda<strong>de</strong>s<strong>de</strong> integração e cointegração das séries utilizadas.Os resultados indicaram que as exportações<strong>de</strong> açúcar bruto <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, essencialmente, dascondições do mercado externo – que, neste caso,são representadas pelas variáveis renda da Rússiae taxa <strong>de</strong> câmbio – e do preço doméstico. Esta últimavariável não teve efeito contemporâneo significativosobre o quantum exportado; contudo,seu efeito aumentou ao longo do tempo.O objetivo do estudo <strong>de</strong> Padrão et al.(2010) foi verificar os <strong>de</strong>terminantes da oferta <strong>de</strong>exportação mineira <strong>de</strong> café no período <strong>de</strong> julho<strong>de</strong> 1999 a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008, tomando comobase o mo<strong>de</strong>lo-padrão da teoria do comérciointernacional. Como metodologia econométrica,os autores adotaram o VEC, para analisar as funções<strong>de</strong> impulso-resposta e realizar a <strong>de</strong>composiçãoda variância. Os resultados apontaram quea quantida<strong>de</strong> exportada <strong>de</strong> café é afetada, principalmente,pelo preço externo e pela taxa efetivareal <strong>de</strong> câmbio.Mo<strong>de</strong>lo econômicoVárias formulações teóricas po<strong>de</strong>m ser utilizadaspara a análise empírica dos <strong>de</strong>terminantesdo comportamento das exportações <strong>de</strong> certoproduto por um país ou região. Ao se tomar comobase, sobretudo, as teorias do consumidor e doprodutor, estas formulações levam em direçãoaos condicionantes das exportações que po<strong>de</strong>matuar tanto pelo lado da <strong>de</strong>manda quanto pelolado da oferta.São vários os trabalhos existentes sobre ocomércio internacional <strong>de</strong> commodities. Algunsanalisam os produtos no agregado, enquanto outrosavaliam a comercialização <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong>forma individual. Entre os estudos que analisamfunções <strong>de</strong> exportação, po<strong>de</strong>-se citar, entre outros:Alves e Bachi (2004), Barros et al. (2002),109Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Carvalho e De Negri (2000), Castro e Cavalcanti(1997), Cavalcanti e Ribeiro (1998), Miranda(2001), Morais e Barbosa (2006), Silva e Bachi(2005) e Zini Júnior (1988).Nesta pesquisa, adotou-se o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> exportaçãoproposto por Barros et al. (2002). Nestemo<strong>de</strong>lo, consi<strong>de</strong>ra-se que o quantum exportadodo produto <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dos exce<strong>de</strong>ntes do mercadodoméstico. As equações <strong>de</strong> oferta (s) e <strong>de</strong>mandainterna (D) po<strong>de</strong>m ser escritas, respectivamente,comos = a + bp d+ cz, a > 0, b < 0 (1)D = d + ep d+ fy, e < 0, f > 0 (2)em que p drepresenta o preço doméstico; z indica<strong>de</strong>slocadores da oferta; e y indica <strong>de</strong>slocadoresda <strong>de</strong>manda, entre os quais se po<strong>de</strong> citar a rendainterna.Em equilíbrio <strong>de</strong> mercado, a oferta (s) éigual à <strong>de</strong>manda (D):s = D (3)ou seja,a + bp d+ cz = d + ep d+ fy (4)A partir da equação 4, po<strong>de</strong>-se expressar opreço doméstico <strong>de</strong> equilíbrio (p * ), existente nadausência <strong>de</strong> comércio exterior, comop * d=(a - d) + fy - czb - eAdmite-se que o produto doméstico sejaexportado ao preço <strong>de</strong> exportação expresso emmoeda nacional (p x). Pressupõe-se que o produtoa ser exportado diminui a disponibilida<strong>de</strong> doméstica(e eleva o preço interno) e não afeta a qualida<strong>de</strong>do produto comercializado internamente,uma vez que se assume que não existe controlerigoroso da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal produto.Ao se relacionar o preço das exportações(p x) com o preço interno (p d), tem-se uma margem<strong>de</strong> exportação que cobre o custo <strong>de</strong>ssa operação.O preço externo é dado pelo mercadointernacional; logo, seu valor não é influenciado(5)pelo volume exportado pelo agente doméstico.Dessa forma, a <strong>de</strong>manda externa é perfeitamenteelástica.Admite-se que essa margem seja <strong>de</strong>finidada seguinte forma:m = ap d, (6)em que a é a elasticida<strong>de</strong> que relaciona m e p d.Dado que o preço <strong>de</strong> exportação expresso emmoeda nacional (p x) é igual à soma do preço quevigora no mercado interno, com a margem <strong>de</strong> exportação,tem-se quep x= p d+ m (7)p d= p x- m (8)ou, ainda,p d= p x- ap d(9)Assim, as equações 1 e 2 po<strong>de</strong>m ser reescritascomo a seguir:S = a + bp x- bap d+ cx (10)D = d + ep x- eap d+ fy (11)Po<strong>de</strong>-se, agora, <strong>de</strong>terminar a função <strong>de</strong>oferta <strong>de</strong> exportação, que é representada peloexcesso <strong>de</strong> oferta sobre a <strong>de</strong>manda doméstica.Portanto, ela envolve as mesmas variáveis que impactamessas duas funções. Desse modo, po<strong>de</strong>-serepresentar a função <strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> exportação porq x= h(p d, p x, z, y) (12)No entanto, uma vez que p x= p e.t c, em quep eé o preço das exportações em moeda estrangeirae t cé a taxa <strong>de</strong> câmbio real, a equação 12po<strong>de</strong> ser reescrita da seguinte forma:q x= h(p e, t c, p d, y, w) (13)Conforme mo<strong>de</strong>lo apresentando, a quantida<strong>de</strong>exportada <strong>de</strong> uma commodity é funçãodos preços das exportações, expressos em moedaestrangeira (p e); da taxa <strong>de</strong> câmbio real (t c); dopreço doméstico (p d); da renda interna(y); e <strong>de</strong> um<strong>de</strong>slocador da oferta (w) . Assim, espera-se a ocorrência<strong>de</strong> uma relação positiva entre a quantida<strong>de</strong>exportada <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada commodity e as variáveistaxa <strong>de</strong> câmbio e preço das exportações. NoAno XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>110


caso das variáveis preço doméstico e renda interna,espera-se que tenham uma relação negativacom a quantida<strong>de</strong> exportada.Vetores autorregressivos (VAR) 4Po<strong>de</strong>-se expressar um mo<strong>de</strong>lo VAR 5 <strong>de</strong>or<strong>de</strong>m pem função <strong>de</strong> um vetor com n variáveisendógenas X t, sendo que estas se conectam pormeio <strong>de</strong> uma matriz A, da seguinte forma:(14)consi<strong>de</strong>rado. Entre as suas principais vantagensna análise econométrica, estão a obtenção dasfunções <strong>de</strong> impulso-resposta (FRI) e a <strong>de</strong>composiçãoda variância (DV).Resultados e discussõesEste item está dividido em quatro partes.A primeira será <strong>de</strong>stinada à realização dos testes<strong>de</strong> raiz unitária. Na segunda parte, apresentasea i<strong>de</strong>ntificação do mo<strong>de</strong>lo VAR. Em seguida,apresentam-se as funções <strong>de</strong> impulso-resposta(FIR). E, por fim, faz-se a análise <strong>de</strong> <strong>de</strong>composiçãoda variância (DV).A é uma matriz n×n que <strong>de</strong>fine as restrições contemporâneasentre as variáveis que constituem ovetor n×1, X t; B 0é o vetor <strong>de</strong> constantes n×1; B irepresenta as matrizes n×n; B é a matriz diagonaln×n <strong>de</strong> <strong>de</strong>svios-padrão; e e té o vetor n×1 <strong>de</strong> perturbaçõesaleatórias não correlacionadas entre sicontemporânea ou temporalmente, isto é:e t~ i.i.d(0; I n) (15)A equação 14 expressa as relações entre asvariáveis endógenas, geralmente advindas <strong>de</strong> ummo<strong>de</strong>lo econômico teoricamente estruturado, e é<strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> forma estrutural. Porém, em razãoda endogeneida<strong>de</strong> das variáveis do VAR, omo<strong>de</strong>lo é normalmente estimado em sua formareduzida, dada por:em que: F i= A -1 B i, i = 0,1,2,..., p e Be t= Ae t.(16)A metodologia VAR po<strong>de</strong> ser estimada pormeio do método <strong>de</strong> mínimos quadrados ordinários(MQO), levando-se em conta, principalmente,a interação entre as variáveis do sistemaApresentação das variáveisEste estudo compreen<strong>de</strong> o período entrejaneiro <strong>de</strong> 2000 e <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011.A Tabela 1 sintetiza as variáveis utilizadas. Osdados referentes à quantida<strong>de</strong> exportada (kg)e ao valor das exportações capixabas <strong>de</strong> café(US$ FOB), utilizados para o cálculo do preçoexterno (US$/kg), foram adquiridos junto à Secretaria<strong>de</strong> Comércio Exterior do Ministério da Indústriae Comércio (Mdic/Secex), na base <strong>de</strong> dadosAlice-Web. O valor das exportações foi <strong>de</strong>flacionadopelo índice <strong>de</strong> preços por atacado (Ipea) dosEstados Unidos. Para a renda interna, coletadado Banco Central do Brasil (Bacen), foi utilizado,como proxy, o Produto Interno Bruto (PIB), em R$milhões. A série foi <strong>de</strong>flacionada pelo índice nacional<strong>de</strong> preços ao consumidor amplo (IPCA). Ataxa <strong>de</strong> câmbio efetiva real foi coletada junto àFundação Getúlio Vargas (FGV/FGVdados).Utilizou-se o índice <strong>de</strong> produção industrialdos Estados Unidos como proxy para renda externa.O preço médio interno (doméstico) do café foicoletado do Centro <strong>de</strong> Pesquisa Econômica Aplicada(Cepea) e <strong>de</strong>flacionado pelo índice geral <strong>de</strong>preços – disponibilida<strong>de</strong> interna (IGP-DI). No mais,testou-se a presença <strong>de</strong> sazonalida<strong>de</strong> nas sériespelo teste combinado para a presença <strong>de</strong> sazonalida<strong>de</strong>,i<strong>de</strong>ntificável na rotina <strong>de</strong> <strong>de</strong>ssazonalização4Metodologia <strong>de</strong>senvolvida inicialmente por Sims (1980).5A metodologia VAR <strong>de</strong>scrita aqui está baseada em Bueno (2011).111Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Tabela 1. Variáveis, unida<strong>de</strong>s, siglas e fontes.Variável Unida<strong>de</strong> Sigla FonteQuantida<strong>de</strong> exportada<strong>de</strong> café em grãoTaxa <strong>de</strong> câmbio efetiva real – <strong>de</strong>flação pelo IPA-OG – <strong>de</strong>ssazonalizadapelo método X12 (US Census Bureau)kg EXP Mdic/SecexÍndice TXCAM FGVdadosPreço das exportações <strong>de</strong> café em grão US$/kg PREXP IpeadataPreço interno médio do café em grãoR$/saca<strong>de</strong> 60 kgPRINTCepeaProduto Interno Bruto (PIB) – proxy para renda interna R$ milhões RINT BacenProdução industrial mensal dos Estados Unidos – proxy para rendaexterna – <strong>de</strong>ssazonalizada pelo método X12 (US Census Bureau)REXTIpeadataX12 do US Census Bureau. As séries que apresentaramsazonalida<strong>de</strong> foram <strong>de</strong>ssazonalizadas pelomesmo método. Todas as análises econométricasforam realizadas com as séries expressas em logaritmosnaturais.Testes <strong>de</strong> raiz unitáriaO primeiro passo na análise <strong>de</strong> séries temporaisé verificar se estas são estacionárias. Se elasnão forem estacionárias em nível, <strong>de</strong>ve-se realizaralgum procedimento para estacionarizá-las (emgeral, aplica-se a primeira diferença das séries temporais,dado que a maioria das séries econômicasé I(1), ou seja, são integradas <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m).Neste trabalho, foram utilizados os seguintes testes<strong>de</strong> raiz unitária: Augmented Dickey-Fuller, ADF (DI-CKEY; FULLER, 1981); Phillips-Perron, PP (PHILLIPS;PERRON, 1988); e Kwiatkowski-Phillips-Schmidt-Shin, KPSS (KWIATKOWSKI et al., 1992).Os resultados estão <strong>de</strong>scritos na Tabela 2.Pela análise dos testes estabelecidos, observouseque as seguintes variáveis são estacionáriasem nível: EXP, PRINT e REXT. Já as variáveisTXCAM, PEXP e RINT, mostraram-se não estacionáriasem nível. Ressalta-se que não há umconsenso na literatura no que se refere a trabalharcom as variáveis no mo<strong>de</strong>lo VAR em nívele/ou em primeira diferença. Sims (1980) e Simset al. (1990), por exemplo, não veem maioresproblemas em se trabalhar com variáveis estacionáriase não estacionárias em um mo<strong>de</strong>lo VAR.Contudo, esta pesquisa adotou o que vem sendoTabela 2. Testes <strong>de</strong> raiz unitária para as variáveis em nível.Variável ADF K PP K KPSS KLEXP -5,881943*** 0 -5,836845*** 0 0,131353ns 7LTXCAM_SA -2,956556 ns 1 -2,668054 ns 3 0,148715** 9LPREXP -0,783663 ns 1 -0,815327 ns 5 0,089458* 9LPRINT -3,335743* 1 -3,906863** 4 0,293783 ns 9LRINT -2,261976 ns 12 -5,326191*** 23 0,266209* 7LREXT -4,830320*** 5 -2,649468* 8 0,117762 ns 9***significativo a 1%; **significativo a 5%;*significativo a 10%; ns não significativo a 10% (em estatística, não significativo refere-se a não rejeitar a hipótesenula); K indica o número <strong>de</strong> <strong>de</strong>fasagens <strong>de</strong> dado teste para cada variável; L indica que as variáveis estão expressas em logaritmos; e SA indica a série<strong>de</strong>ssazonalizada.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>112


utilizado como padrão na maioria dos estudosque tomam como base a metodologia VAR, istoé, buscou-se utilizar somente variáveis estacionárias.Assim, foi aplicada a primeira diferençanas séries que se mostraram não estacionáriasem nível. Após a diferenciação, os testes mostraramque as variáveis TXCAM, PEXP e RINTtornaram-se estacionárias.Neste contexto, é importante mencionarque as séries analisadas não são integradas damesma or<strong>de</strong>m, ou seja, algumas são I(0) e outrasI(1), o que impossibilita, a princípio, a realização<strong>de</strong> testes <strong>de</strong> cointegração entre as variáveis 6 e aestimação do mo<strong>de</strong>lo vetor <strong>de</strong> correção <strong>de</strong> erros(VECM) 7 . Uma vez realizados os testes <strong>de</strong> raizunitária, serão apresentadas as estimativas relativasà i<strong>de</strong>ntificação do mo<strong>de</strong>lo VAR.I<strong>de</strong>ntificação do mo<strong>de</strong>lo VARCom o intuito <strong>de</strong> selecionar o mo<strong>de</strong>lo VARi<strong>de</strong>al, adotou-se, inicialmente, os critérios da razão<strong>de</strong> verossimilhança (LR), do erro <strong>de</strong> previsãofinal (FPE), <strong>de</strong> Akaike (AIC), <strong>de</strong> Schwarz (SC) e <strong>de</strong>Hannan-Quinn (HQ), para selecionar o número<strong>de</strong> <strong>de</strong>fasagens a ser empregado. Os critérios SCe HQ sugeriram a utilização <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>fasagempara o mo<strong>de</strong>lo (Tabela 3). Entretanto, optou-sepor trabalhar com quatro <strong>de</strong>fasagens, com basenos critérios FPE e AIC, uma vez que o mo<strong>de</strong>locom <strong>de</strong>fasagem apresentou autocorrelação dosresíduos e heterocedasticida<strong>de</strong>.Ainda em relação à a<strong>de</strong>quação do mo<strong>de</strong>locom quatro <strong>de</strong>fasagens, foram realizados os testes:a) análise do padrão das raízes do polinômioestimado; b) teste <strong>de</strong> Breusch Godfrey (BG) outeste LM, para verificar se existe autocorrelaçãodos resíduos; c) teste <strong>de</strong> heterocedasticida<strong>de</strong>; e d)teste <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong> dos resíduos <strong>de</strong> Jarque-Bera(JB). O mo<strong>de</strong>lo apresentou todas as raízes dopolinômio <strong>de</strong>ntro do círculo unitário, o que satisfaza condição <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> do VAR. Os resultadosforam satisfatórios para não autocorrelaçãoe também para ausência <strong>de</strong> heterocedasticida<strong>de</strong>.Quanto ao teste <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong> dos resíduos,o teste <strong>de</strong> Jarque-Bera rejeitou a hipótesenula <strong>de</strong> que os resíduos são normais. Entretanto,uma vez que não há possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elevar oTabela 3. Determinação do número <strong>de</strong> <strong>de</strong>fasagens do mo<strong>de</strong>lo VAR.Defasgens LR FPE AIC SC HQ0 - 4,89E-12 -9,016259 -8,887135 -8,9637871 767,2795 2,08E-14 -14,4773 -13,57343* -14,10999*2 82,83804 1,80E-14 -14,62296 -12,94436 -13,940833 64,30759 1,78E-14 -14,64401 -12,19066 -13,647044 100,2611 1,24e-14* -15,02214* -11,79405 -13,710335 46,38136 1,38E-14 -14,93478 -10,93196 -13,308146 43,56483 1,57E-14 -14,84598 -10,06842 -12,904527 37,13418 1,88E-14 -14,71628 -9,16398 -12,459988 55,96997* 1,79E-14 -14,83376 -8,506721 -12,26263* Indica a or<strong>de</strong>m selecionada pelo critério; LR indica a razão <strong>de</strong> verossimilhança (LR); FPE indica o erro <strong>de</strong> previsão final; AIC indica o critério <strong>de</strong> Akaike;SC indica o critério <strong>de</strong> Schwarz; e HQ indica o critério <strong>de</strong> Hannan-Quinn.6A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> que as variáveis <strong>de</strong>vem ser integradas <strong>de</strong> mesma or<strong>de</strong>m para serem cointegradas é <strong>de</strong> Engle e Granger (1987). Entretanto, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>Campbell e Perron (1991) é mais abrangente, não impondo a restrição <strong>de</strong> mesma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> integração para a existência <strong>de</strong> cointegração. Para mais <strong>de</strong>talhes,veja Bueno (2011). Neste trabalho, será adotada a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Engle e Granger (1987).7Para mais informações sobre o VECM consultar Bueno (2011).113Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


tamanho da amostra e tendo em vista os possíveisproblemas que a ausência <strong>de</strong>sta hipótesepo<strong>de</strong> causar para o mo<strong>de</strong>lo, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rou-se aamostra, continuando com a estimação do mo<strong>de</strong>loem questão. Oreiro et al. (2006) salientamque esse procedimento é comum em algunstrabalhos no Brasil, como em Camuri (2005) eGrôppo (2004).Funções impulso-respostaFinalizada a etapa i<strong>de</strong>ntificação do mo<strong>de</strong>lo,serão analisadas as funções <strong>de</strong> impulso-resposta.Cabe ressaltar que, antes <strong>de</strong> estimar as funções <strong>de</strong>impulso-resposta, é fundamental i<strong>de</strong>ntificar o or<strong>de</strong>namento<strong>de</strong> Cholesky do mo<strong>de</strong>lo VAR, um dosmétodos mais populares para essa finalida<strong>de</strong>. Esteor<strong>de</strong>namento também é importante para a análise<strong>de</strong> <strong>de</strong>composição da variância. Isso porque asfunções <strong>de</strong> impulso-resposta são sensíveis à or<strong>de</strong>naçãodas variáveis. Esta pesquisa adotou, comométodo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nação das variáveis, o <strong>de</strong> informaçãoa priori (teoria econômica, conhecimentodo mercado, artigos, entre outros) 8 . A or<strong>de</strong>naçãoadotada foi: EXP, PEXP, REXT, PRINT, RINT e TX-CAM. Em razão da importância da or<strong>de</strong>nação <strong>de</strong>Cholesky para a correta estimação das funções <strong>de</strong>impulso-resposta, tentou-se outros or<strong>de</strong>namentos(o que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado um teste <strong>de</strong> robustez),que não alteraram significantemente essas funções.A Figura 1 apresenta as funções <strong>de</strong> impulsorespostapara a quantida<strong>de</strong> exportada <strong>de</strong> café doEspírito Santo 12 meses <strong>de</strong>pois do choque nas variáveisTXCAM, PREXP, PRINT, RINT E REXT. Inicialmente,para exemplificar a análise <strong>de</strong> uma função<strong>de</strong> impulso-resposta, toma-se o caso do efeito daTXCAM sobre as exportações <strong>de</strong> café do EspíritoSanto. Nota-se que uma elevação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sviopadrãona TXCAM não altera as exportações noprimeiro período após o choque inicial. No segundomês, há um pequeno impacto negativo,contrário ao esperado. Já no terceiro mês, há umaumento das exportações, que ficam em um patamarsuperior do primeiro até o décimo segundomês. Neste caso, ocorre certa <strong>de</strong>fasagem <strong>de</strong> tempoaté que os efeitos da taxa <strong>de</strong> câmbio afetem positivamenteas exportações <strong>de</strong> café.No caso da PREXP, observa-se que umchoque nesta variável causa um efeito positivonas exportações somente no segundo mês. Apóso terceiro mês, as exportações passam por sucessivoschoques negativos e ficam abaixo do patamarinicial, contrário ao esperado. Cabe <strong>de</strong>stacarque se esperava que o efeito <strong>de</strong> crescimento dochoque em PREXP fosse prolongado por ummaior período. Vários fatores po<strong>de</strong>m ter levado aeste resultado, entre eles: i) o fato <strong>de</strong> o preço <strong>de</strong>exportação po<strong>de</strong>r ser <strong>de</strong>terminado pela quantida<strong>de</strong><strong>de</strong> café exportada, mas não a quantida<strong>de</strong><strong>de</strong>terminada pelo preço; ii) a existência <strong>de</strong> simultaneida<strong>de</strong>entre as variáveis quantida<strong>de</strong> exportadae preço <strong>de</strong> exportação; iii) o fato <strong>de</strong> o aumento dopreço <strong>de</strong> exportação não levar, essencialmente, aum aumento da rentabilida<strong>de</strong> e, logo, das exportações;iv) a concorrência no mercado internacional<strong>de</strong> café, principalmente, quanto à qualida<strong>de</strong>do café exportado; v) a estocagem da commodityfrente à expectativa <strong>de</strong> novos choques positivos nopreço <strong>de</strong> exportação; e vi) o fator <strong>de</strong>manda. Caberiaaqui uma análise mais apurada <strong>de</strong>ste resultado,o que não é o objetivo <strong>de</strong>ste trabalho.Verifica-se, também, que um choque emPRINT, contrário ao esperado, provoca um crescimentodas exportações no segundo, no terceiroe no quarto mês após o choque. O Brasil aindaapresenta um baixo consumo per capita <strong>de</strong> café,mesmo este tendo se elevado nos últimos anos.Um aumento no preço interno não significa, necessariamente,crescimento na venda interna <strong>de</strong>café. Isso porque, se não houver <strong>de</strong>manda interna,a opção são as exportações. Do quinto mês emdiante, as exportações seguem a trajetória esperada,ou seja, há uma redução <strong>de</strong>stas até o décimosegundo mês. Aqui também seria interessante uma8Vale lembrar que vários autores brasileiros passaram a justificar a or<strong>de</strong>nação das variáveis em seus mo<strong>de</strong>los com base no teste <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> granger(block exogeneity wald tests). No entanto, segundo Cavalcanti (2010), a i<strong>de</strong>ntificação do or<strong>de</strong>namento do mo<strong>de</strong>lo VAR por meio da causalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Grangernão seria apropriada, uma vez que a or<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Cholesky indica causalida<strong>de</strong> contemporânea entre as variáveis, ao passo que o teste <strong>de</strong> Granger refere-seà causalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> precedência temporal.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>114


Figura 1. Funções <strong>de</strong> impulso-resposta para quantida<strong>de</strong> exportada <strong>de</strong> café (L indica que as variáveis estão expressasem logaritmos; D indica a primeira diferença da variável; e SA indica a série <strong>de</strong>ssazonalizada).análise mais <strong>de</strong>talhada, o que não é objetivo <strong>de</strong>steestudo.O aumento da renda interna (RINT) leva auma redução das exportações no segundo, no terceiro,no quarto e no quinto mês. No sexto mês,ocorre um pequeno aumento das exportações, eo impacto volta a ser negativo no sétimo, no oitavo,no nono e no décimo mês. No décimo segundoperíodo, as exportações ficam ligeiramentesuperiores ao nível inicial. Os choques da rendaexterna (REXT) sobre as exportações <strong>de</strong> café sãopositivos no segundo e no terceiro mês. Do quartoao décimo segundo período, ocorrem pequenoschoques negativos, ten<strong>de</strong>ndo à estabilida<strong>de</strong> apósos 12 meses. Em geral, tanto a renda interna quantoa renda externa apresentaram impactos nas exportações<strong>de</strong> café, conforme a teoria econômica, mesmocom pequenas divergências no que se refere àtrajetória esperada.Análise <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição da variânciaA metodologia VAR permite, em complementoà análise das funções <strong>de</strong> impulso-resposta,a realização do exercício <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição davariância (DV), para avaliar o po<strong>de</strong>r explanatório<strong>de</strong> cada variável do mo<strong>de</strong>lo sobre as <strong>de</strong>mais, pormeio da <strong>de</strong>composição da variância do erro <strong>de</strong>previsão. Neste trabalho, também se adotou o or<strong>de</strong>namento<strong>de</strong> Cholesky: EXP, PEXP, REXT, PRINT,RINT e TXCAM.115Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


A Tabela 4 apresenta a <strong>de</strong>composição paraa variável quantida<strong>de</strong> exportada <strong>de</strong> café. Nota-seque os maiores percentuais <strong>de</strong> explicação do erro<strong>de</strong> previsão das exportações são <strong>de</strong>correntes daspróprias exportações. O preço doméstico explica<strong>de</strong> 0,87% a 6,51% da variância do erro <strong>de</strong> previsãodo quantum exportado, e o preço externo, <strong>de</strong>0,21% a 5,33%, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do período consi<strong>de</strong>rado.Até o nono mês (exceto para o segundo e oterceiro mês), o preço das exportações é a segundavariável que tem o maior impacto no erro <strong>de</strong> previsãodo quantum exportado. Ao final dos 12 meses,o segundo maior po<strong>de</strong>r explicativo é o do preçointerno. A taxa <strong>de</strong> câmbio, a renda interna e a rendaexterna aumentam seu po<strong>de</strong>r na explicação doerro <strong>de</strong> previsão ao longo do tempo.Os resultados da Tabela 5 são relativos à <strong>de</strong>composiçãoda variância do erro <strong>de</strong> previsão dopreço externo. Verifica-se que os maiores efeitossobre o erro <strong>de</strong> previsão são <strong>de</strong>correntes da própriavariável PREXP. O preço interno explica, aproximadamente,12% do erro <strong>de</strong> previsão do preço dasexportações, após o segundo período. A taxa <strong>de</strong>câmbio, após o segundo mês, explica em torno <strong>de</strong>6% das variações do erro <strong>de</strong> previsão do preço externo.A participação das exportações apresentoucrescimento significativo do primeiro para o décimosegundo mês, enquanto a renda externa teve amenor participação em quase todo o período.Conforme po<strong>de</strong> ser observado na Tabela 6,a variável com maior impacto no erro <strong>de</strong> previsãodo preço interno <strong>de</strong> café foi o próprio PRINTER.O preço externo apresenta gran<strong>de</strong> influência naformação do preço doméstico. A participaçãopassou <strong>de</strong> 4,61%, no primeiro mês, para 14,72%no décimo segundo mês. A renda externa tambémapresentou impactos consi<strong>de</strong>ráveis <strong>de</strong>poisdo décimo primeiro período. As outras variáveistiveram baixa participação no erro <strong>de</strong> previsãodo preço interno, especialmente a taxa <strong>de</strong>câmbio.ConclusõesO objetivo <strong>de</strong> estudo foi estimar os impactos<strong>de</strong> choques na taxa <strong>de</strong> câmbio, no preço <strong>de</strong>exportação, no preço interno, na renda internae na renda externa nas exportações <strong>de</strong> café noTabela 4. Decomposição histórica da variância dos erros <strong>de</strong> previsão da quantida<strong>de</strong> exportada <strong>de</strong> café (1) .Mês Erro-padrão LEXP D(LTXCAM_SA) D(LPREXP) LPRINT D(LRINT) LREXT_SA1 0,3237 100,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,00002 0,3703 97,5222 0,0412 0,2110 0,8686 0,6702 0,68693 0,4028 96,2291 0,6288 0,5730 1,0486 0,7235 0,79704 0,4203 94,0581 0,8975 2,3105 1,2082 0,7726 0,75325 0,4258 92,7194 0,9717 3,4353 1,2868 0,7552 0,83176 0,4309 90,9865 1,0182 4,0708 2,3388 0,7455 0,84037 0,4350 89,3092 1,1013 4,6541 3,2328 0,8262 0,87638 0,4393 87,8355 1,1710 5,0871 4,0384 0,9625 0,90559 0,4432 86,6763 1,1786 5,2870 4,9432 1,0208 0,894110 0,4461 85,9748 1,1697 5,3507 5,6080 1,0079 0,888911 0,4478 85,4460 1,1657 5,3414 6,1252 1,0279 0,893912 0,4488 85,0729 1,1604 5,3337 6,5096 1,0283 0,8951(1)L indica que as variáveis estão expressas em logaritmos; D indica a primeira diferença da variável; e SA indica a série <strong>de</strong>ssazonalizada.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>116


Tabela 5. Decomposição histórica da variância dos erros <strong>de</strong> previsão do preço externo (1) .Mês Erro-padrão LEXP D(LTXCAM_SA) D(LPREXP) LPRINT D(LRINT) LREXT_SA1 0,3237 4,2921 0,0000 95,7079 0,0000 0,0000 0,00002 0,3703 3,6332 5,9038 80,3385 9,0677 0,3540 0,70273 0,4028 4,0965 5,9990 75,5228 13,3000 0,4188 0,66294 0,4203 5,9016 6,5870 72,6141 13,1182 1,1419 0,63725 0,4258 8,9291 6,3789 67,8528 12,4025 3,2268 1,21006 0,4309 9,5609 6,3113 66,9683 12,3263 3,5883 1,24487 0,4350 9,4931 6,2820 66,5983 12,4532 3,9063 1,26718 0,4393 9,4450 6,2440 66,1965 12,4987 3,9901 1,62579 0,4432 10,3105 6,1871 65,6005 12,3496 3,9423 1,610010 0,4461 10,3488 6,1723 65,1333 12,3164 4,3802 1,649111 0,4478 10,3477 6,1571 64,9397 12,5191 4,3840 1,652412 0,4488 10,3407 6,1585 64,8740 12,5905 4,3856 1,6507(1)L indica que as variáveis estão expressas em logaritmos; D indica a primeira diferença da variável; e SA indica a série <strong>de</strong>ssazonalizada.Tabela 6. Decomposição histórica da variância dos erros <strong>de</strong> previsão do preço interno (1) .Mês Erro-padrão LEXP D(LTXCAM_SA) D(LPREXP) LPRINT D(LRINT) LREXT_SA1 0,3237 0,2446 0,0000 4,6062 95,0771 0,0000 0,07212 0,3703 0,1123 0,1526 6,1887 93,4995 0,0018 0,04513 0,4028 0,2000 0,1105 6,7651 92,6923 0,1188 0,11334 0,4203 0,6531 0,0952 10,6135 88,3276 0,1278 0,18275 0,4258 1,0405 0,0735 12,5519 85,7961 0,1636 0,37456 0,4309 1,3835 0,0774 12,6938 85,2276 0,1632 0,45477 0,4350 1,9013 0,0683 13,4312 83,7822 0,1844 0,63278 0,4393 2,1286 0,0737 13,9333 82,6587 0,1961 1,00969 0,4432 2,1536 0,0710 14,1394 82,0618 0,2068 1,367510 0,4461 2,0956 0,0736 14,3454 81,5547 0,2181 1,712711 0,4478 2,0217 0,0915 14,5161 81,0245 0,2492 2,096912 0,4488 1,9604 0,1185 14,7251 80,4211 0,2870 2,4879(1)L indica que as variáveis estão expressas em logaritmos; D indica a primeira diferença da variável; e SA indica a série <strong>de</strong>ssazonalizada.Espírito Santo, utilizando a metodologia VAR.Foram estimadas as funções impulso-resposta, erealizada a análise da <strong>de</strong>composição da variânciados erros <strong>de</strong> previsão.A análise das funções <strong>de</strong> impulso respostamostrou que: i) um choque na taxa <strong>de</strong> câmbiotem efeito positivo sobre as exportações <strong>de</strong> café,do terceiro ao décimo segundo mês após o cho-117Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


que, com tendência à estabilida<strong>de</strong>; ii) o preçodas exportações, contrário ao esperado, somenteapresentou efeitos positivos sobre as exportações<strong>de</strong> café no segundo mês após o choque;iii) embora o preço interno tenha gerado umaumento das exportações <strong>de</strong> café até o quartomês após o choque, <strong>de</strong>pois do quinto período,a tendência é <strong>de</strong> redução das exportações; iv) oaumento da renda interna leva a uma reduçãodas exportações na maior parte dos meses apóso choque; e v) choques na renda externa impactampositivamente as exportações no segundo eno terceiro mês; <strong>de</strong>pois, ocorrem pequenos choquesnegativos.Observa-se que a variável taxa <strong>de</strong> câmbioé a que apresentou maior impacto positivo epersistente sobre as exportações <strong>de</strong> café, quandoanalisadas as funções <strong>de</strong> impulso-resposta.Essa variável tem impacto direto sobre a rentabilida<strong>de</strong>do setor, uma vez que os cafeicultorestambém são influenciados pela diferença entre acotação do dólar norte-americano no momentoda compra <strong>de</strong> insumos e no período <strong>de</strong> venda dacolheita. Logo, uma redução na taxa <strong>de</strong> câmbiotem efeitos negativos sobre a cafeicultura, tantono valor recebido pela saca <strong>de</strong> café quantonos custos <strong>de</strong> produção. A variável preço internoocasionou os mais elevados efeitos negativossobre as exportações, após o quinto mês a partirdo choque inicial. Além disso, o preço externonão impacta fortemente, <strong>de</strong> forma positiva, asexportações, a não ser no segundo período apóso choque inicial.No que se refere à análise da <strong>de</strong>composiçãoda variância, nota-se que as exportações,o preço <strong>de</strong> exportação e o preço interno são asvariáveis que mais explicam a variância do erro<strong>de</strong> previsão das exportações <strong>de</strong> café do EspíritoSanto. Além disso, verifica-se que a <strong>de</strong>composiçãoda variância do erro do preço externo éimpactada significantemente pela própria variávelpreço externo e pelo preço interno, e que a<strong>de</strong>composição da variância do erro <strong>de</strong> previsãodo preço interno é fortemente afetada pelo preçointerno e pelo preço externo.No mais, vale mencionar que as variáveisutilizadas não são os únicos fatores que afetamas exportações <strong>de</strong> café. Fatores como infraestrutura,qualida<strong>de</strong>, competitivida<strong>de</strong>, concorrênciainternacional, entre outros, são <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevânciapara se conseguir <strong>de</strong>staque no concorridomercado internacional. Uma logística a<strong>de</strong>quada,por exemplo, é necessária para que os produtoscheguem aos mercados (países) <strong>de</strong>mandantes,além <strong>de</strong> impactar diretamente o preço finaldos produtos exportados e, consequentemente,a competitivida<strong>de</strong>. Para que isso ocorra, investimentoscontínuos em infraestrutura <strong>de</strong> rodovias,portos, aeroportos, disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crédito,<strong>de</strong>sburocratização dos procedimentos para exportação,entre outros, são fundamentais.Em relação à qualida<strong>de</strong> do café, por exemplo,<strong>de</strong>vem ocorrer avanços em propaganda emarketing no mercado internacional, <strong>de</strong> maneiraa divulgar os cafés nacionais e estaduais, especialmenteos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, para elevar o consumoexterno do café brasileiro e capixaba. Nestecontexto, as entida<strong>de</strong>s ligadas à cafeicultura, tantoprivadas como governamentais, têm avançadonos últimos anos, mas ainda têm um longo caminhoa percorrer, dado que países, como a Colômbia,a longa data, promovem seus cafés nomercado mundial. Esta promoção precisa contarcom o financiamento a<strong>de</strong>quado e ser contínuaao longo do tempo.ReferênciasALVES, L. R. A.; BACCHI, M. R. P. Oferta <strong>de</strong> exportação<strong>de</strong> açúcar do Brasil. Revista <strong>de</strong> Economia e SociologiaRural, Brasília, DF, v. 42, n. 1, p. 9-33, 2004.BARROS, G. S. C.; BACCHI, M. R. P.; BURNQUIST, H.L. Estimação <strong>de</strong> equações <strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> exportação <strong>de</strong>produtos agropecuários para o Brasil (1992/2000).Brasília, DF: Ipea, 2002. 51 p. (Texto para Discussão,865).BUENO, R. D. L. S. Econometria <strong>de</strong> séries temporais.2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011. 338 p.CAMPBELL, J. Y.; PERRON, P. Pitfalls andopportunities: what macroeconomists should knowabout unit roots. In: BLANCHARD, O. J.; FISCHER, S.(Ed.). NBER Macroeconomics annual. Cambridge: TheMIT Press, 1991. p. 141-201.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>118


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Fontes <strong>de</strong> crescimentoda produção <strong>de</strong>Kellyane Pereira dos Anjoscana-<strong>de</strong>-açúcar e2Francisco José Peixoto Rosário 3a proposição <strong>de</strong>política setorialO caso alagoano 1Resumo – Este artigo tem como objetivo i<strong>de</strong>ntificar as fontes <strong>de</strong> crescimento da cultura canavieira emAlagoas no período <strong>de</strong> 1990 a 2010. Para isso, foi utilizado o mo<strong>de</strong>lo shift-share, que atribui tal crescimentoa três fatores: os efeitos área, rendimento e localização geográfica. Os resultados apontam parao esgotamento do sistema produtivo sucroalcooleiro em Alagoas, uma vez que os indicadores do mo<strong>de</strong>loshift-share, no geral, se mostraram instáveis quanto à tendência. Contudo, a taxa <strong>de</strong> crescimentomédia anual da produção <strong>de</strong> cana foi positiva, e o efeito rendimento foi o principal <strong>de</strong>terminante<strong>de</strong>sse resultado. Já o efeito área agiu <strong>de</strong> forma negativa, dada a redução da área colhida no períodoem estudo. O efeito localização geográfica agiu <strong>de</strong> forma positiva, porém, com pouca representativida<strong>de</strong>,uma vez que o processo <strong>de</strong> migração da produção do litoral para os tabuleiros ocorreu aindana década <strong>de</strong> 1980. Por último sugere-se uma política industrial e tecnológica <strong>de</strong> cunho setorial comoforma <strong>de</strong> revitalizar a produção <strong>de</strong> cana e seus coprodutos em outras bases produtivas, e não apenasfundamentada na escala das usinas e vantagens comparativas na produção do açúcar e do etanol.Palavras-chave: agroindústria canavieira, <strong>de</strong>sregulamentação, mo<strong>de</strong>lo shift-share.Growth sources of sugar cane production andthe proposition of a sectorial policy in AlagoasAbstract – This article aims to i<strong>de</strong>ntify the sources of growth of sugar cane production in state ofAlagoas, Brazil, from 1990 to 2010. Thus, this study used the shift-share mo<strong>de</strong>l, which attributesthis growth to three factors: the area effect, the yield effect, and the geographical location effect.1Original recebido em 20/9/<strong>2012</strong> e aprovado em 2/10/<strong>2012</strong>.2Economista, Mestre em Economia Aplicada pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Economia, Administração e Contabilida<strong>de</strong> (FEAC) da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Alagoas(UFAL). E-mail: kellyane.anjos@gmail.com3Economista, Doutor em Economia pelo Instituto <strong>de</strong> Economia (IE) da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UFRJ), professor do curso <strong>de</strong> graduação e mestradoem economia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Economia, Administração e Contabilida<strong>de</strong> (FEAC) da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Alagoas (UFAL). E-mail: chicorosario@gmail.comAno XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>120


The results point to the exhaustion of the sugarcane production system in Alagoas, since the indicatorsof the shift-share mo<strong>de</strong>l, in general, proved to be unstable concerning the trend. However, the averageannual growth rate of sugarcane production was positive, and the yield effect was the main factor forthis result. The area effect produced negative results, due to the reduction in the harvested area in thestudied period. The geographical location effect produced positive results, but with little representativeness,because the process of changing the production from the state’s coast to the tablelands occurredin the 1980s. Finally, the study suggests a technological and industrial sectorial policy in or<strong>de</strong>r toimprove the production of sugarcane and its coproducts in other production bases – not based only onthe scale of plants and comparative advantages in the production of sugar and ethanol.Keywords: sugarcane agro-industry, <strong>de</strong>regulation, shift-share mo<strong>de</strong>l.IntroduçãoA história econômica <strong>de</strong> Alagoas tem iníciocom a introdução da cana-<strong>de</strong>-açúcar emseu território. Segundo Diégues Júnior (2006), aprópria formação territorial do estado surgiu emvirtu<strong>de</strong> das áreas propícias ao cultivo da cana,estabelecendo os primeiros municípios ao redordos antigos engenhos <strong>de</strong> açúcar. As <strong>de</strong>mais lavourassurgiram em caráter <strong>de</strong> subsistência; já acriação do gado, necessária para o transporte dacana, ficou restringida às áreas on<strong>de</strong> não comprometessea lavoura da cana, bem distantes dossolos mais férteis.Atualmente a economia alagoana ainda écaracterizada pela baixa diversificação produtiva,com a cana-<strong>de</strong>-açúcar ocupando a maiorparte da área <strong>de</strong>stinada a culturas temporárias.Segundo o IBGE (<strong>2012</strong>c), o Estado <strong>de</strong> Alagoasdivi<strong>de</strong>-se em três mesorregiões geográficas,quais sejam: Leste Alagoano, Agreste e Sertão. Aárea plantada com cana-<strong>de</strong>-açúcar está localizada,em sua quase totalida<strong>de</strong>, na mesorregião doLeste Alagoano, tendo correspondido em 2010a aproximadamente 74% do total do estado. OSertão, <strong>de</strong>vido à qualida<strong>de</strong> do clima, solo e hidrografia,não se caracteriza como região propíciaao cultivo da cana. Assim, o feijão e o milhosão as principais lavouras temporárias <strong>de</strong>ssamesorregião, e a criação <strong>de</strong> gado é a principalativida<strong>de</strong> produtiva. Já o Agreste localiza-se naregião <strong>de</strong> transição, apresentando característicasdas outras duas mesorregiões. Por ter terras maisférteis que o Sertão, apresenta maior diversifica-ção da produção, especialmente com a agriculturafamiliar.Devido à representativida<strong>de</strong> da cana-<strong>de</strong>açúcarem Alagoas, o presente trabalho utilizaapenas essa lavoura temporária como objeto <strong>de</strong>estudo. Já o período <strong>de</strong> análise correspon<strong>de</strong> aoperíodo <strong>de</strong> 1990 a 2010, pois este é marcado porprofundas mudanças econômicas e políticas queinfluenciaram diretamente a produção agrícolanacional. E, especificamente, aponta-se para oimpacto que a <strong>de</strong>sregulamentação da agroindústriacanavieira exerceu no <strong>de</strong>sempenho da taxa<strong>de</strong> crescimento médio da produção da cana-<strong>de</strong>açúcarpor meio das alterações ocorridas na área<strong>de</strong> ocupação e na sua produtivida<strong>de</strong>.Desse modo, o objetivo <strong>de</strong>ste trabalho éverificar, por meio do mo<strong>de</strong>lo diferencial estrutural,ou shift-share, os principais <strong>de</strong>terminantesdo comportamento da produção <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>açúcarno Estado <strong>de</strong> Alagoas, no período <strong>de</strong>1990 a 2010. Com isso, preten<strong>de</strong>-se evi<strong>de</strong>nciarque o principal fator <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> tal resultadoé a maior produtivida<strong>de</strong> obtida por meio<strong>de</strong> melhorias nas técnicas produtivas, na qualida<strong>de</strong>da cana, em avanços tecnológicos, entreoutros fatores. Tal expectativa foi obtida medianteestudos anteriores que mostraram que após a<strong>de</strong>sregulamentação do setor sucroenergético e,consequentemente, com a reestruturação <strong>de</strong>ste,houve uma busca por maiores fontes <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>,e a principal mudança tecnológica ocorridano Nor<strong>de</strong>ste se <strong>de</strong>u na área agrícola, sendocondição <strong>de</strong> sobrevivência das usinas/<strong>de</strong>stilariasdo setor <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então.121Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


A agroindústriacanavieira <strong>de</strong> AlagoasSegundo dados da Pesquisa Agrícola Municipal(IBGE, <strong>2012</strong>b), em 1990 a área colhidacom cana-<strong>de</strong>-açúcar em Alagoas correspon<strong>de</strong>ua aproximadamente 72% do total da lavouratemporária <strong>de</strong>ste estado, permanecendo praticamentecom o mesmo valor em 2010, com aproximadamente76% da área colhida. Nesse mesmoano, a cultura temporária da cana-<strong>de</strong>-açúcar,somada à do feijão, do milho e da mandioca,ocupou 96,93% da área colhida. Esses dados po<strong>de</strong>mser observados na Tabela 1. Isso posto, opresente trabalho analisará apenas as fontes <strong>de</strong>crescimento da produção <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar emAlagoas, visto que o método utilizado, shift-share,po<strong>de</strong> ser aplicado individualmente a cadacultura e não envolve interações entre as <strong>de</strong>maisculturas.Tabela 1. Área colhida total e percentual das principaislavouras temporárias <strong>de</strong> Alagoas para os anos<strong>de</strong> 1990 e 2010.LavouratemporáriaÁrea(ha)1990 2010Área(%)Área(ha)Área(%)Cana-<strong>de</strong>-açúcar 558.550 72,51 433.725 76,17Feijão (em grão) 94.378 12,25 54.318 9,54Milho (em grão) 50.773 6,59 43.486 7,64Mandioca 19.968 2,59 20.396 3,58Total <strong>de</strong> Alagoas 770.352 100,00 569.448 100,00Fonte: IBGE (<strong>2012</strong>b).Segundo o IBGE (<strong>2012</strong>a), o Estado <strong>de</strong>Alagoas ocupa uma área <strong>de</strong> aproximadamente27.779,343 km 2 e está dividido em 102 municípios,três mesorregiões geográficas (Leste Alagoano,Agreste e Sertão) e 13 microrregiões. Aárea plantada com cana-<strong>de</strong>-açúcar está localizada,em sua quase totalida<strong>de</strong>, na mesorregiãodo Leste Alagoano, com aproximadamente 97%da área <strong>de</strong>stinada a culturas temporárias. Nessamesorregião encontra-se a microrregião <strong>de</strong> SãoMiguel dos Campos, que respon<strong>de</strong> por aproximadamente39,32% da área plantada com acana no estado.Devido a sua significância econômica,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período colonial, a agroindústria canavieiraalagoana contava com a forte presença doestado na sua operação. A intervenção foi <strong>de</strong>fundamental importância na sustentação do setorao longo da sua história. Esta é marcada pordiversas crises como períodos <strong>de</strong> superproduçãoe baixas <strong>de</strong> preços dos seus principais produtos.Segundo Vian (2003), o governo buscava equilibraros mercados, por meio <strong>de</strong> intervenções,evitando que ocorressem <strong>de</strong>sabastecimentos evariações bruscas <strong>de</strong> preços. Porém, o apoio governamentalnão buscou equalizar as diferençasentre as regiões Nor<strong>de</strong>ste e Centro-Sul.Dessa forma, o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sregulamentaçãoocorrido a partir da década <strong>de</strong> 1990evi<strong>de</strong>nciou tais disparida<strong>de</strong>s, e muitas unida<strong>de</strong>sprodutivas não sobreviveram sem o apoio aoqual estavam adaptadas; assim, viram-se obrigadasa encerrar suas operações ou foram adquiridaspor outras unida<strong>de</strong>s. Já aquelas maiscompetitivas que permaneceram no setor perceberama necessida<strong>de</strong> da mo<strong>de</strong>rnização, sejana esfera agrícola, seja na industrial. Quanto aisso, Vian et al. (2008) constataram que a <strong>de</strong>sregulamentaçãoprovocou uma maior concentraçãotécnico-produtiva no setor sucroenergéticoalagoano. As usinas/<strong>de</strong>stilarias menos eficientesnão sobreviveram ao ambiente concorrencial,tendo ocorrido, assim, uma maior concentraçãodas ativida<strong>de</strong>s produtivas nas unida<strong>de</strong>s commaior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esmagamento e eficiênciaindustrial.De acordo com o Sindaçúcar–AL (SIN-DICATO DA INDÚSTRIA DO AÇUCAR E DOÁLCOOL NO ESTADO DE ALAGOAS, <strong>2012</strong>), nasafra <strong>de</strong> 1990/1991, a região Nor<strong>de</strong>ste totalizouuma produção <strong>de</strong> 50,065 mil toneladas <strong>de</strong> cana<strong>de</strong>-açúcar.O maior estado produtor foi Alagoas,com 45% <strong>de</strong>sse total, seguido por Pernambuco,com aproximadamente 37%. Dada essa repre-Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>122


sentativida<strong>de</strong>, é possível observar, por meio daFigura 1, que a produção <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar emAlagoas <strong>de</strong>termina a tendência no Nor<strong>de</strong>ste. Naprimeira safra, quando tem início o processo <strong>de</strong><strong>de</strong>sregulamentação, Alagoas produziu aproximadamente22,617 mil toneladas. A partir <strong>de</strong>sseano, verifica-se uma queda acentuada, atingindo-sea menor produção do período – 15,827mil toneladas – na safra <strong>de</strong> 1993/1994. SegundoAnjos e Lages (2010), para Alagoas esse resultadopo<strong>de</strong> ser atribuído à redução na área <strong>de</strong>plantio, provocada pela reestruturação do setor.Além disso, o Nor<strong>de</strong>ste sofreu com problemasclimáticos, ocasionando a quebra <strong>de</strong> safra verificada.A safra <strong>de</strong> 1994/1995 apresenta uma recuperação,mantendo oscilações leves explicadastanto por fatores ligados a <strong>de</strong>manda, quanto porfatores climáticos, e fechando a safra 2009/2010com 24,270 mil toneladas.petitivas não sobreviveram ao ambiente <strong>de</strong> livremercado ocasionado pela <strong>de</strong>sregulamentação.A reestruturação foi implementada por umgrupo <strong>de</strong> indústrias lí<strong>de</strong>res que incorporaraminovações tecnológicas e organizacionais emníveis e ritmos distintos, gerando disparida<strong>de</strong>sinterempresariais na dinâmica do setor alagoano.Algumas unida<strong>de</strong>s se capacitaram e seguemna produção; outras, menos competitivas, foram<strong>de</strong>sativadas (CARVALHO, 2009, p. 55).E segundo as tendências recentes, a reduçãodo parque produtivo sucroalcooleiro <strong>de</strong>vecontinuar sem, no entanto, reduzir a produçãodo estado, uma vez que, com o aumento da concorrênciacom a região Centro-Sul e o precáriocenário do mercado internacional do açúcar enacional para o etanol, as fragilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gestãoe da tecnologia das usinas remanescentes emAlagoas po<strong>de</strong>m ser potencializadas.MetodologiaFigura 1. Produção <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar (moída) paraAlagoas e Nor<strong>de</strong>ste nas safras <strong>de</strong> 1990–1991 a2009–2010.Fonte: Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado <strong>de</strong> Alagoas(<strong>2012</strong>).Segundo Carvalho (2009), apesar das dificulda<strong>de</strong>ssofridas pelo setor, não houve diminuiçãono nível <strong>de</strong> crescimento e <strong>de</strong> expansão daagroindústria sucroalcooleira alagoana. Porém,a manutenção da agroindústria canavieira emAlagoas é atribuída a algumas poucas empresasque se mo<strong>de</strong>rnizaram, pois aquelas menos com-Como exposto, este trabalho utilizará ametodologia shift-share para <strong>de</strong>screver os fatores<strong>de</strong>terminantes do crescimento da produção<strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar em Alagoas <strong>de</strong> 1990 a2010. Para isso, foi extraída da PAM-IBGE (IBGE,<strong>2012</strong>b) a base <strong>de</strong> dados necessária, cujos dadossão: a quantida<strong>de</strong> produzida <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar(toneladas), a área colhida (hectare) e o rendimentomédio da produção. Seguindo a metodologiautilizada por Almeida et al. (2006), osdados foram transformados em médias aritméticasmóveis trienais, o que, segundo o autor,ameniza os efeitos dos anos anormais, como, porexemplo, possíveis interferências climáticas e/oueconômicas na produção agrícola. Após a coletados dados, buscou-se i<strong>de</strong>ntificar as fontes docrescimento da produção no período citado: sebaseado na expansão da área agrícola, se <strong>de</strong>correntedo aumento no rendimento, se provocadopor melhorias nas técnicas produtivas, ou se foi<strong>de</strong>vido a alterações entre as regiões geográficas.123Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Método shift-share ou Mo<strong>de</strong>loDiferencial-EstruturalA metodologia shift-share, ou Mo<strong>de</strong>lo Diferencial-Estrutural,é utilizada para i<strong>de</strong>ntificar asfontes <strong>de</strong> crescimento da produção agrícola. Taisfatores explicativos são i<strong>de</strong>ntificados como EfeitoÁrea (EA), Efeito Rendimento (ER) (ou produtivida<strong>de</strong>)e Efeito Localização Geográfica (ELG). Eestes, por sua vez, po<strong>de</strong>m ser classificados emcomponentes estruturais e diferencias. De acordocom Almeida et al. (2006), os componentesestruturais estão relacionados à composição setorialdas ativida<strong>de</strong>s produtivas na região; já osdiferencias se relacionam às vantagens locacionaiscomparativas.O Efeito Área (EA) indica que o crescimentoda produção agrícola <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada culturafoi motivado pela ampliação da sua área <strong>de</strong> cultivo,mantendo constantes os <strong>de</strong>mais componentesexplicativos ao longo do período <strong>de</strong> análise.O segundo efeito, Efeito Rendimento (ER), refletefatores como mudanças tecnológicas, utilizandocomo proxy a produtivida<strong>de</strong> da cultura. Comoexemplos <strong>de</strong> alterações na produtivida<strong>de</strong> tem--se o melhoramento das técnicas produtivas, aadoção <strong>de</strong> novos insumos, e a especialização docapital humano, isto é, fatores que, consequentemente,alteram a produção, estando os outrosefeitos constantes. Já o terceiro efeito, Efeito LocalizaçãoGeográfica (ELG), está relacionado aoimpacto das mudanças locacionais da cultura naprodução, mantidos os efeitos área e rendimentoconstantes. Em outras palavras, no ELG é observadoo impacto da alteração entre as regiões <strong>de</strong>cultivo como, por exemplo, mudanças entre microrregiõesou mesorregiões geográficas.Em Shikida e Alves (2001) é feita uma comparaçãoda produção <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar com osseus principais concorrentes no Estado do Paranáno período <strong>de</strong> 1980 a 1998. Nesse estudo, osresultados mostraram que a cultura canavieira,confrontada com as <strong>de</strong>mais, obteve as maiorestaxas <strong>de</strong> crescimento, ocasionado pelo aumentoda área cultivada e pelo alto rendimento, e impulsionado,entre outros fatores, pelo Proálcool.Segundo os referidos autores, o mo<strong>de</strong>loshift-share foi utilizado inicialmente por Curtis(1972) em um estudo sobre as fontes <strong>de</strong> crescimentoda renda e emprego. Posteriormente, ecom algumas modificações, o mo<strong>de</strong>lo foi aplicadoem estudos com o objetivo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificaras fontes <strong>de</strong> crescimento da produção agrícola<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada cultura, ou para comparar diferentesculturas, ou também para analisar o crescimentoda produção bovina.Variáveis utilizadasAo aplicar o mo<strong>de</strong>lo shift-share à produção<strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar no Estado <strong>de</strong> Alagoaspara o período <strong>de</strong> 1990 a 2010, este trabalho seguea <strong>de</strong>scrição do mo<strong>de</strong>lo feita em Shikida e Alves(2001), para o Estado do Paraná, assim comoem aplicações posteriores como, por exemplo,Almeida et al. (2006) para o Estado da Bahia.Desse modo, abaixo estão <strong>de</strong>scritas as variáveisutilizadas e os correspon<strong>de</strong>ntes subíndices.m = microrregião, variando <strong>de</strong> 1 a k (com k = 13)t = período <strong>de</strong> tempo que vai do período inicial,<strong>de</strong>finido por i, até o período final, <strong>de</strong>finido por f.Já as variáveis utilizadas foram:Q ct= quantida<strong>de</strong> produzida <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcarno Estado <strong>de</strong> Alagoas, no período t;A ct= área total cultivada com cana-<strong>de</strong>-açúcar noEstado <strong>de</strong> Alagoas, no período t;A mct= área total cultivada com cana-<strong>de</strong>-açúcar nom-ésimo núcleo regional, no período t;R ct= rendimento médio da cana-<strong>de</strong>-açúcar noEstado <strong>de</strong> Alagoas, no período t;R mct= rendimento médio da cana-<strong>de</strong>-açúcar nom-ésimo núcleo regional, no período t;g mct= proporção da área total cultivada com cana<strong>de</strong>-açúcardo m-ésimo núcleo regional na áreacultivada com cana-<strong>de</strong>-açúcar no estado (A mct/A ct), no período t.Como exposto, Alagoas encontra-se divididoem 13 microrregiões: Alagoana do Sertãodo São Francisco, Santana do Ipanema, Batalha,Palmeira dos Índios, Arapiraca, Traipu, SerranaAno XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>124


dos Quilombos, Mata Alagoana, Litoral Norte,Maceió, São Miguel dos Campos, Serrana doSertão Alagoano e Penedo. Dessa forma, o subíndicem varia <strong>de</strong> 1 a k, com k =13.Descrição do Mo<strong>de</strong>loA quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar produzidano estado no período t éA quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar produzida noestado no período inicial i éDefinidas as equações acima, po<strong>de</strong>m ser calculadosos fatores <strong>de</strong>terminantes da variação daprodução <strong>de</strong> cana <strong>de</strong> 1990 a 2010.• Efeito Área (EA): variação total da produção<strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar entre o períodoinicial e o final, quando há somentea variação da área cultivada.• Efeito Rendimento (ER): variação totalda produção <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar entre operíodo inicial e o final, quando há somentea variação do rendimento.E no período final f correspon<strong>de</strong> aMantendo-se constantes o rendimento e a localizaçãogeográfica, a produção <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar,no período final, <strong>de</strong>vido à alteração na áreatotal cultivada, seráE quando há alteração na área total cultivadae no rendimento, permanecendo constantes alocalização geográfica e a estrutura <strong>de</strong> cultivo,tem-sePor último, se variarem a área total cultivada, orendimento e a localização geográfica, a quantida<strong>de</strong>final produzida seráA diferença na produção total <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcarentre o período inicial e o final po<strong>de</strong> ser representadaporOu po<strong>de</strong> ser representada pela seguinte equação• Efeito Localização Geográfica (ELG):variação total da produção <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>açúcarentre o período inicial e o final,quando há somente a variação da localizaçãogeográfica.Representação em taxasanuais <strong>de</strong> crescimentoNeste trabalho os resultados referentes aosefeitos área, rendimento e localização geográficaserão apresentados na forma <strong>de</strong> taxas anuais<strong>de</strong> crescimento. Dessa forma, os valores isoladoscorrespon<strong>de</strong>rão ao percentual da mudança totalda quantida<strong>de</strong> produzida <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar.Para isso, divi<strong>de</strong>m-se ambos os lados da equaçãopor(Q cf- Q ci)o que leve aEm seguida, multiplicam-se ambos os lados dai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> acima por125Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Nessa equação, o índice f correspon<strong>de</strong> à quantida<strong>de</strong><strong>de</strong> anos contidos no período <strong>de</strong> análise(nesse caso, f = 20); e r é <strong>de</strong>finida como ataxa anual média <strong>de</strong> variação da produção <strong>de</strong>cana, em percentagem. Após a multiplicação,obtém-sePor meio <strong>de</strong>ssa expressão é possível obteros efeitos área, rendimento e localização geográficaem termos <strong>de</strong> taxa <strong>de</strong> crescimento anual, empercentual.• Efeito Área• Efeito Rendimento• Efeito Localização GeográficaDescrito o mo<strong>de</strong>lo shift-share, a seguir sãoapresentados os principais resultados obtidoscom a aplicação <strong>de</strong> tal mo<strong>de</strong>lo para a culturacanavieira em Alagoas.Resultados e discussãoEsta seção objetiva i<strong>de</strong>ntificar o comportamentoindividual da lavoura temporária dacana-<strong>de</strong>-açúcar em termos <strong>de</strong> taxa anual <strong>de</strong>crescimento, subdividida nos efeitos área, rendimentoe localização geográfica. Como <strong>de</strong>scritona metodologia, são utilizadas as médias trienaisdo período <strong>de</strong> análise (1990-2010) para as variáveis<strong>de</strong> produção, área e rendimento. Como forma<strong>de</strong> melhor i<strong>de</strong>ntificar tais comportamentos,o método shift-share também foi aplicado nosseguintes subperíodos: <strong>de</strong> 1990 a 1995, períodomarcado pela abertura comercial brasileira epela <strong>de</strong>sregulamentação do setor sucroalcooleiro;<strong>de</strong> 1995 a 2000, marcado pela introduçãodo plano real; <strong>de</strong> 2000 a 2005, marcado pelaintrodução dos automóveis flex-fuel; e <strong>de</strong> 2005a 2010, marcado pela expansão e crise setorial.A Tabela 2 mostra a taxa média anual <strong>de</strong>crescimento da produção <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcarpara os diversos períodos analisados. Para o períodointegral analisado, <strong>de</strong> 1990 a 2010, a taxa<strong>de</strong> crescimento foi <strong>de</strong> 1,78%. A redução da áreaplantada, nesse período, é <strong>de</strong>tectada pelo efeitoárea, que diminuiu em -1,71% ao ano, em média.Porém, tal queda foi compensada pelo aumentoda produtivida<strong>de</strong>, com o efeito rendimento <strong>de</strong>3,44% a.a. – este foi o que mais contribuiu paraa taxa <strong>de</strong> crescimento observada. Já o efeito localizaçãogeográfica também contribuiu <strong>de</strong> for-Tabela 2. Taxa média anual <strong>de</strong> crescimento, e efeitos área, rendimento e localização geográfica da cana-<strong>de</strong>açúcarem Alagoas.PeríodoTaxa anual <strong>de</strong>crescimento da produção(%)Efeito Área(%)Efeito Rendimento(%)Efeito LocalizaçãoGeográfica(%)1990–2010 1,78 -1,71 3,44 0,05Subperíodos1990–1995 -3,16 -3,52 0,36 0,001995–2000 4,32 -0,05 4,35 0,022000–2005 -2,61 -1,64 -0,99 0,022005–2010 0,44 1,1 -0,65 -0,01Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>126


ma positiva para a taxa <strong>de</strong> crescimento anual daprodução <strong>de</strong> cana, porém, com apenas 0,05%do resultado.A realocação dos canaviais da região commenor produtivida<strong>de</strong>, localizada na Zona daMata, para os tabuleiros alagoanos influenciou<strong>de</strong> forma <strong>de</strong>cisiva o resultado do ELG.Segundo Nascimento e Santos (2005), aredução na participação dos fornecedores <strong>de</strong>cana e o aumento na integração vertical nas usinasinfluenciaram a adoção <strong>de</strong> novas técnicasprodutivas e cultivares que garantiram o aumentoda produtivida<strong>de</strong> da cana-<strong>de</strong>-açúcar no campo.Ainda segundo os autores, em contrastecom a década <strong>de</strong> 1980, quando o aumento daprodução canavieira ocorreu <strong>de</strong> forma extensiva,na década <strong>de</strong> 1990 o fator produtivida<strong>de</strong>passa a ser fundamental na produção <strong>de</strong>vidoao aumento da competitivida<strong>de</strong> provocadopela abertura econômica. Além do mais, coma <strong>de</strong>sregulamentação do setor, e a sua consequentereestruturação, evi<strong>de</strong>nciou-se a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnizar as unida<strong>de</strong>s produtivascomo questão <strong>de</strong> sobrevivência <strong>de</strong>stas.Ainda na Tabela 2 é possível observaro comportamento da produção por subperíodos,e verifica-se que <strong>de</strong> 1990 a 1995 houveuma redução na produção <strong>de</strong> cana <strong>de</strong> 3,16%,explicada em sua quase totalida<strong>de</strong> pelo efeitoárea <strong>de</strong> -3,52% a.a. Essa redução evi<strong>de</strong>ncia oinício da redução do número <strong>de</strong> fornecedores<strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar em todo o estado, pois,segundo Carvalho (2009), em 1988 existiam6.982 fornecedores, que produziram 11,3 milhões<strong>de</strong> toneladas naquela safra; já em 1995restaram apenas 4.942 fornecedores <strong>de</strong> cana,com a produção <strong>de</strong> 20,5 milhões <strong>de</strong> toneladas.O efeito rendimento, em 1990–1995, foimo<strong>de</strong>sto, tendo respondido por 0,36% a.a. docrescimento da produção. Nesse período teminício a <strong>de</strong>sregulamentação do setor sucroalcooleiro,inserida no processo <strong>de</strong> liberalizaçãoda economia brasileira ocorrida a partirdo governo Collor. O efeito rendimento nesseperíodo, representando a questão tecnológica,<strong>de</strong>monstra a <strong>de</strong>sorganização setorial <strong>de</strong>correnteda <strong>de</strong>sregulamentação.O Programa Nacional <strong>de</strong> Melhoramentoda Cana-<strong>de</strong>-Açúcar (Planalsucar) foi extinto juntocom o Instituto Nacional do Açúcar e do Álcool(IAA), em 1990. Isso <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou um retardono lançamento <strong>de</strong> cultivares mais adaptados etecnologicamente mais avançados, que só vierama surgir em fins da década <strong>de</strong> 1990, e issorefletiu fortemente nos valores do ER na primeirameta<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa década.Além <strong>de</strong>sses fatores, tal período foi marcadopor profundas mudanças institucionais,com a maior liberalização da economia, implicandomudanças nas relações entre os agentes<strong>de</strong>vido à exigência <strong>de</strong> maior eficiência dadapelo novo regime competitivo. Isso gerou umaforte crise nas empresas do setor, particularmentenaquelas com gestão familiar tradicionale que não se aperceberam das transformaçõesestruturais que estavam ocorrendo na economiabrasileira.De acordo com Nascimento e Santos(2005, p. 13),O que mais <strong>de</strong>sestimulou a expansão da produçãofoi a política <strong>de</strong> preços adotada nesseperíodo, resultando em queda da produção<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano-safra <strong>de</strong> 1986-1987 e a estabilizaçãoda produção total <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então.Já <strong>de</strong> acordo com Carvalho (2008), naprimeira década após a <strong>de</strong>sregulamentação,o setor sucroalcooleiro alagoano <strong>de</strong>senvolveuum processo <strong>de</strong> reestruturação produtivacom adoção <strong>de</strong> novas estratégias competitivas.Tal comportamento possibilitou o fortalecimentodas usinas/<strong>de</strong>stilarias sobreviventesao novo ambiente institucional, pois em 2001,seis usinas/<strong>de</strong>stilarias já tinham soçobrado astransformações ambientais. As remanescentespassaram a investir em mo<strong>de</strong>rnização tecnológica,tanto na produção agrícola quanto naindustrial.Em relação ao subperíodo <strong>de</strong> 1995 a2000, verifica-se que este apresentou taxa <strong>de</strong>crescimento médio da cana positiva <strong>de</strong> 4,32%.127Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Dessa vez, houve uma mudança <strong>de</strong> tendência,com a produtivida<strong>de</strong> explicando a maior parteda taxa <strong>de</strong> crescimento – ER <strong>de</strong> 4,35% a.a.Nesse período, segundo Carvalho (2009), houvea introdução <strong>de</strong> duas varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>produtivida<strong>de</strong> e a consolidação da integraçãovertical na produção <strong>de</strong> cana, garantindo melhortrato agrícola por parte das usinas.O efeito área, por sua vez, apresentouuma taxa <strong>de</strong> apenas -0,05% a.a., indicandoque a área <strong>de</strong> plantio da cana permaneceu relativamenteestável. Já o efeito localização geográficacontinuou pouco representativo, umavez que a migração para os tabuleiros já haviasido completada.No subperíodo <strong>de</strong> 2000 a 2005 a taxa<strong>de</strong> crescimento anual volta a cair, mais umavez influenciada pela redução na área colhida– efeito área <strong>de</strong> -1,64% a.a. –, e <strong>de</strong>ssa vezocorrendo uma queda na produtivida<strong>de</strong> – efeitorendimento <strong>de</strong> -0,99% a.a. A principal causafoi a ocorrência <strong>de</strong> uma profunda seca <strong>de</strong>2000 a 2002, que afetou todo o Brasil e repercutiuaté na geração <strong>de</strong> energia hidroelétrica,tendo causado a Crise do Apagão em 2001.No último subperíodo, <strong>de</strong> 2005 a 2010,a taxa média <strong>de</strong> crescimento na produção <strong>de</strong>cana foi <strong>de</strong> apenas 0,44%. Diferentemente dosoutros subperíodos, neste o efeito área foi positivo,indicando que houve expansão na área<strong>de</strong> cultivo em 1,1% a.a. O rendimento, porém,foi negativo em 0,65% a.a. Esses dois indicadoresmostram dois fenômenos que ocorreramem Alagoas, fruto da expansão da agroindústriasucroalcooleira em todo o Brasil.Em primeiro lugar, <strong>de</strong> 2004 a 2010, essaagroindústria viveu um período <strong>de</strong> expansãona produção e na área plantada – o Brasilpraticamente dobrou a produção <strong>de</strong> cana<strong>de</strong>-açúcar,com um aumento <strong>de</strong> 5% na áreaplantada. O aumento da área se refletiu emAlagoas também, contudo, os investimentosem renovação dos canaviais foram relegados asegundo plano; a cana nova não permite maiorprodutivida<strong>de</strong> nos dois primeiros anos após oplantio, e isso ficou claro na taxa negativa daprodutivida<strong>de</strong>.Já o efeito localização geográfica, assimcomo nos <strong>de</strong>mais períodos, não foi significativo,indicando que a área <strong>de</strong> plantio da cana<strong>de</strong>-açúcarnão sofreu gran<strong>de</strong>s alocações entreos municípios, ainda <strong>de</strong>vido à consolidação daregião dos tabuleiros alagoanos como produtores<strong>de</strong> cana.ConclusãoA formação econômica <strong>de</strong> Alagoas estáassociada à introdução da cana-<strong>de</strong>-açúcar emsuas terras, tendo surgido seus primeiros municípiosao redor dos engenhos açucareiros. As<strong>de</strong>mais lavouras surgiram em caráter <strong>de</strong> subsistência.Atualmente Alagoas ainda é caracterizadopela baixa diversificação agrícola, coma cana-<strong>de</strong>-açúcar ocupando aproximadamente76% da área <strong>de</strong>stinada a culturas temporárias.No ano <strong>de</strong> 2010, essa lavoura, juntamentecom a do feijão, milho e mandioca, respon<strong>de</strong>rampor aproximadamente 97% da área <strong>de</strong>stinadaà lavoura temporária no estado, ou seja,as três últimas culturas respon<strong>de</strong>m por apenas21% <strong>de</strong>sse total.O que fica claro na análise é que a taxa<strong>de</strong> crescimento da produção <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>açúcarem Alagoas está num estágio <strong>de</strong> esgotamento.Esse esgotamento vem refletindotambém na produtivida<strong>de</strong> dos canaviais. Diantedisso, e consi<strong>de</strong>rando que a maior parte daprodução <strong>de</strong> cana é da própria usina, é possívelinferir que essa agroindústria po<strong>de</strong> estarem <strong>de</strong>cadência localmente.Por outro lado, os resultados apresentadosna Tabela 2 mostram que a produtivida<strong>de</strong>setorial no Estado <strong>de</strong> Alagoas esteve, até então,fortemente <strong>de</strong>terminada pela adoção <strong>de</strong>novas tecnologias pela parte agrícola, uma vezque não houve surgimento <strong>de</strong> novas plantasindustriais, ou mesmo reestruturação tecnológicanas plantas existentes, particularmentenos últimos 10 anos.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>128


Além disso, há um processo <strong>de</strong> “seleçãonatural” das empresas menos eficientes, implicando<strong>de</strong>socupação <strong>de</strong> terras, e consequentementeredução do emprego industrial, mascom aumento da produtivida<strong>de</strong> total. Esse processo<strong>de</strong> seleção foi <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado, recentemente,pela <strong>de</strong>sregulamentação setorial – emque as empresas saíram da tutela do estadopara o regime <strong>de</strong> mercado, aumentando a concorrência<strong>de</strong> mercado – e por fatores produtivos,como crédito, mão <strong>de</strong> obra e tecnologia.Mais recentemente, o setor sucroalcooleirono Brasil vem passando por uma novareestruturação, e isso invariavelmente influenciaráo funcionamento <strong>de</strong>ssa agroindústria emAlagoas. É nesse contexto que surge a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> uma política pública setorial para essaagroindústria no Estado <strong>de</strong> Alagoas.A política, para esse caso, tem <strong>de</strong> ocorrervia incentivos à produção <strong>de</strong> coprodutos <strong>de</strong>rivadosda cana, que não apenas o açúcar e oálcool, uma vez que a escala média em Alagoasé bem menor que a escala mínima eficiente<strong>de</strong>ssa indústria no Brasil, tornando essa indústriano estado pouco competitiva em relação asua congênere no Centro-Sul. Assim, produtos<strong>de</strong> nicho e que atinjam mercados mais selecionadospo<strong>de</strong>riam permitir que essa indústriaobtivesse vantagens competitivas mais sólidasque simplesmente as tradicionais e estáticasvantagens comparativas, baseadas principalmentenos menores custos <strong>de</strong> transporte.Uma política industrial e tecnológica setorial,<strong>de</strong>finida localmente, po<strong>de</strong>rá criar umaestrutura <strong>de</strong> incentivos que permitirá a integraçãoentre os agentes <strong>de</strong>senvolvedores <strong>de</strong> tecnologiae o setor produtivo.Atualmente, a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>Alagoas (UFAL) possui um centro <strong>de</strong> pesquisae <strong>de</strong>senvolvimento (P&D) que já trabalha como setor sucroalcooleiro local, mas, <strong>de</strong>vido àpouca <strong>de</strong>manda tecnológica das usinas, especializou-seapenas em melhoramento genético.Por outro lado, áreas como a engenhariaquímica e <strong>de</strong> materiais, por exemplo, po<strong>de</strong>riam<strong>de</strong>senvolver novos processos e produtos<strong>de</strong>rivados da cana.Já estão disponíveis tecnologias maisavançadas para a produção <strong>de</strong> coprodutos;contudo, a adoção <strong>de</strong>ssas tecnologias requerbem mais que recursos financeiros, mas tambémcapacida<strong>de</strong>s tecnológicas e <strong>de</strong> gestão quenem sempre as usinas instaladas em Alagoasconseguem construir. Assim, o estado necessitadotar e incentivar o Sistema <strong>de</strong> InovaçãoSetorial local para conduzir a introdução <strong>de</strong>ssastecnologias e a concomitante capacitaçãonessa agroindústria, sob pena <strong>de</strong> haver um colapsocompetitivo das usinas existentes.Isso já po<strong>de</strong> ser comprovado pela chegadaem Alagoas da primeira planta <strong>de</strong> bioetanol <strong>de</strong>segunda geração do Brasil. Essa planta traráum novo processo produtivo, que, ao tornarseum padrão dominante, po<strong>de</strong>rá concorrercom o das usinas instaladas, com a vantagem<strong>de</strong> ser mais produtivo. Por enquanto os custos<strong>de</strong> produção ainda são altos. Mas caso hajauma política <strong>de</strong> transferência tecnológica ecapacitação <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra nessa e em outrastecnologias, será possível proporcionar umarevitalização ao setor em Alagoas.ReferênciasALMEIDA, P. N. A.; SANTOS, V. C.; CHAVES, A. F.Fontes <strong>de</strong> crescimento das principais culturas temporáriasno estado da Bahia. In: CONGRESSO BRASILERIODE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 44., 2006,Fortaleza. Anais... [Brasília, DF]: Sober, 2006. p. 1-17.ANJOS, K. P.; LAGES, A. M. G. Desregulamentação emigração da cana-<strong>de</strong>-açúcar em Alagoas. Revista <strong>de</strong>Política Agrícola, Brasília, DF, ano XIX, n. 3, p. 83-94,2010.CARVALHO, C. P. O. Análise da reestruturaçãoprodutiva da agroindústria sucroalcooleira alagoana.3. ed. Maceió: Edufal, 2009. 111 p.CARVALHO, C. P. O. Setor sucroalcooleiro <strong>de</strong> Alagoas:a ultra-especialização como estratégia competitiva(1990/2008). In: CONGRESSO DA SOCIEDADEBRASILEIRA DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO ESOCIOLOGIA RURAL, 46., 2008, Rio Branco. Anais...São Paulo: Sober, 2008. p. 1-21.129Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


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Aplicação do mo<strong>de</strong>loda cocriação <strong>de</strong>Irene Raguenet Troccoli 2Joyce Gonçalves Altafvalor no agronegócio3citrícola paulista 1Resumo – Em um ambiente empresarial cada vez mais semelhante a um campo <strong>de</strong> disputas pelapreferência dos clientes por bens e serviços, apenas atrair o consumidor não mais é o suficiente.O que passou a importar é cuidar dos clientes, assegurando a manutenção dos relacionamentosentre as empresas e os atores em seu microambiente: fornecedores, intermediários, o público e osclientes. Nesta linha <strong>de</strong> raciocínio, surgiu a teoria da cocriação <strong>de</strong> valor entre produtor e cliente,<strong>de</strong>scartando o paradigma anteriormente seguido <strong>de</strong> que esta criação <strong>de</strong> valor seria exercida, <strong>de</strong>forma solitária, pelo produtor. Este artigo é o terceiro <strong>de</strong> uma série que se propõe à construção <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atuação estratégica, com base na teoria da cocriação <strong>de</strong> valor, aplicado ao ambiente empresarialdo agronegócio citrícola paulista na figura dos dois players mais relevantes do segmento.Ele i<strong>de</strong>ntifica sete categorias <strong>de</strong> influência nessa interação, advindas dos elementos que compõem oreferido relacionamento, classificadas pela intensida<strong>de</strong> (inexistente, baixa, média e alta) e pela direção(positiva ou negativa). No item <strong>de</strong> conclusão, indicam-se inferências obtidas a partir do materialapresentado e os planejados <strong>de</strong>sdobramentos a este trabalho.Palavras-chave: agronegócio citrícola, cocriação <strong>de</strong> valor, estratégia corporativa.Application of the mo<strong>de</strong>l of value co-creationin the citrus industry of São PauloAbstract – In a corporate environment that is more and more similar to a battlefield in which clients’preferences for goods and services are fought for, merely attracting the buyer is no longer feasible.What is important now is to care for the clients, assuring the maintenance of relationships betweenthe companies and the actors in their micro-environment: suppliers, intermediaries, the public, andthe clients. In this line of reasoning, emerged the theory of value co-creation between producer andclient, discarding the previously accepted paradigm that value creation would be done solely by theproducer. This article is the third of a series aimed at constructing a mo<strong>de</strong>l for strategic performance1Original recebido em 20/11/<strong>2012</strong> e aprovado em 28/11/<strong>2012</strong>.2Professora do Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial da Universida<strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá, Av. Presi<strong>de</strong>nte Vargas, 640/22º andar,CEP 20071-001 Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ. E-mail: irene.troccoli@estacio.br.3Professora das Faculda<strong>de</strong>s Integradas do Instituto Vianna Júnior, Rua Princesa Isabel, no.155, Apt. 501, CEP 36010-400 Juiz <strong>de</strong> Fora, MG.E-mail: jgaltaf@yahoo.com.br.131Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


ased on the theory of value co-creation, to be applied to the citrus industry of São Paulo, focusingon the two most relevant players of this segment. The mo<strong>de</strong>l i<strong>de</strong>ntifies seven categories of influencein this interaction, originated from the elements that make up this relationship, which are classifiedaccording to their intensity (nonexistent, low, medium, and high) and direction (positive or negative).In the conclusion, inferences are drawn from the presented material and the next steps in thisbuilding process are indicated.Keywords: citrus agribusiness, value cocreation, corporate strategy.IntroduçãoUltimamente, a participação dos estudossobre o processo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> valor tem aumentado– apesar <strong>de</strong> forma ainda lenta – na literaturaacadêmica brasileira <strong>de</strong> Estratégias Empresariaise <strong>de</strong> Marketing. Exemplos são os trabalhos <strong>de</strong>A<strong>de</strong>lino et al. (2007), <strong>de</strong> Gartner e Garcia (2005),<strong>de</strong> Ito (2010) e <strong>de</strong> Martins e Rodrigues (2005).Menos comuns têm sido as pesquisasbrasileiras na área <strong>de</strong> cocriação <strong>de</strong> valor entreplayers industriais, po<strong>de</strong>ndo-se citar, especificamente,Moraes e Manzini (2009). Este <strong>de</strong>sinteressesurpreen<strong>de</strong>, tendo em vista que, no ambientebusiness-to-business (B2B), não mais é o suficienteapenas saber o que a outra parte <strong>de</strong>seja, paragarantir-lhe a satisfação do negócio efetuado ea perpetuação <strong>de</strong>ste. Portanto, não basta maispropor um produto ou um serviço que atenda àsnecessida<strong>de</strong>s percebidas dos clientes, preferencialmentea<strong>de</strong>quado ao seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra ecom preço afinado ao custo <strong>de</strong> produção. Maisdo que isso, é necessário que ambos os ladosentendam o universo que os cerca em aspectosque transcen<strong>de</strong>m seu próprio mundo corporativo.Isso porque, cada vez mais, os clientes seencontram envolvidos em uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> elementossociais, psicológicos, ambientais, políticos etecnológicos que, simultaneamente, interagempara <strong>de</strong>finir sua <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> consumo.Contudo, parece persistir o problema daincompreensão da dinâmica da cocriação <strong>de</strong> valorem relacionamentos comprador-fornecedor,fundamentalmente pela ótica dos executivosenvolvidos em interfaces <strong>de</strong> negócios. Quandoestes não conseguem ver o valor <strong>de</strong> um relacionamentono mundo atual, complexo e dinâmico,isto implica a perda <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios.Assim, a escolha pelo engajamento em umaparceria <strong>de</strong> alto envolvimento, em substituição auma abordagem meramente transacional comum fornecedor ou um cliente, é uma escolhaestratégica. Por isso, os benefícios da cooperaçãoestão sendo cada vez mais reconhecidos emmercados industriais.Ao se discutirem recursos heterogêneospossuídos por dois agentes em uma relaçãocomprador-fornecedor, a questão da interaçãotorna-se crucial. Isso porque as partes interagempara tirar, cada uma, o melhor proveito <strong>de</strong> seuspróprios recursos, dos recursos da outra parte edos recursos em conjunto. Vai daí que o sucesso,ou o resultado da relação, é altamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<strong>de</strong> quão bem cada agente use os recursosdominados pelo outro.Esta interação, portanto, é influenciadapelas partes envolvidas e pelo contexto em queelas interagem. Dessa forma, é a história do relacionamentoque moldará esta interação em seusaspectos presente e futuro, ao mesmo tempoem que o momento presente molda a forma <strong>de</strong>interpretação da história do relacionamento. Ainteração é um processo em movimento constante,sujeita a mudanças frequentes.Contudo, cooperar significa praticar estratégiaintensiva em recursos. A<strong>de</strong>mais, ver acooperação como benéfica per se é simplificar<strong>de</strong>mais o assunto: a escolha pela estratégia cooperativaao invés <strong>de</strong> uma prática meramentetransacional <strong>de</strong>ve ser vista como escolha estratégicaque merece muita atenção.Fundamentado nestes aspectos, este artigobusca iniciar a construção <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>loAno XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>132


teórico <strong>de</strong> atuação estratégica no segmento B2B,baseado na teoria da cocriação <strong>de</strong> valor, paraser aplicado ao caso da citricultura paulista. Suajustificativa resi<strong>de</strong> no referido baixo interesse dapesquisa acadêmica brasileira da Administração<strong>de</strong> Empresas pelas re<strong>de</strong>s estratégicas e <strong>de</strong> relacionamentoscom foco no fenômeno da criação<strong>de</strong> valor, por meio da interação dos agentes atuantesno mundo dos negócios, nos mercadosindustriais. Permanece pouco atendida a curiosida<strong>de</strong>quanto à compreensão <strong>de</strong>ste processocriatório, abandonando-se o entendimento tradicional<strong>de</strong> que o valor seria algo estático e mensurávelobjetivamente, por meio, por exemplo,<strong>de</strong> retorno financeiro.A segunda justificativa para este artigoprovém das próprias características do segmentocitrícola brasileiro, cuja pujança econômica nãoconseguiu impedir que, ao longo dos últimos40 anos, o relacionamento entre seus dois principaisplayers – citricultores e indústria <strong>de</strong> suco– tenha sido temperado por fortes divergências<strong>de</strong> interesses, no qual pesa o fato <strong>de</strong> as plantaçõescomerciais <strong>de</strong> laranja serem <strong>de</strong>stinadas,fundamentalmente, a abastecer as empresasprodutoras <strong>de</strong> suco. Ou seja, apesar <strong>de</strong> existir<strong>de</strong>pendência mútua entre ambos os players,uma vez que sem laranja não há suco, o mercadointerno <strong>de</strong> fruta in natura absorve menos <strong>de</strong>1/3 da sua colheita comercial, e as relações entreeles têm sido recorrentemente pautadas porações conflituosas em maior ou menor grau.À luz <strong>de</strong>ste fato e ao se consi<strong>de</strong>rar que aca<strong>de</strong>ia citrícola envolve ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> agentesque se complementam uns aos outros, é relevantese propor mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atuação estratégicafundamentado na cocriação <strong>de</strong> valor entre estesdois atores.Uma vez dado esse passo, em etapas futurasserá disponibilizado instrumento capaz <strong>de</strong>prover maior otimização do uso dos recursosprodutivos nesse segmento. Por isso, proximamenteesses achados serão dispostos sob a formafinal <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo operacional voltado à atuaçãoestratégica dos citados players envolvidosno negócio citrícola; mo<strong>de</strong>lo esse <strong>de</strong>finido comoa inter<strong>de</strong>pendência entre o mo<strong>de</strong>lo operacionaldo sistema e a solução obtida ou <strong>de</strong>sejada. Cabenotar que o mo<strong>de</strong>lo, pelo bem <strong>de</strong> sua eficácia,<strong>de</strong>verá contemplar as percepções <strong>de</strong> agentes envolvidosnesse segmento produtivo quanto aostatus <strong>de</strong> suas interações estratégicas, semprecom foco na cocriação <strong>de</strong> valor advinda <strong>de</strong>stasrelações.MetodologiaTrata-se <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> abordagem qualitativa,teórica e bibliográfica quanto aos meios.No primeiro caso, porque “[...] se propõe a discutire criticar teorias existentes [...]” (MICHEL,2009, p. 41), e, no segundo caso, porque a coleta<strong>de</strong> dados se <strong>de</strong>u via levantamentos bibliográficoe telematizado. Quanto aos fins, esta pesquisa é<strong>de</strong>scritiva, já que “[...] expõe características <strong>de</strong><strong>de</strong>terminada população ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado fenômeno”(VERGARA, 2009, p. 42).A proposta central é avançar na construção<strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo teórico <strong>de</strong> atuação estratégicano segmento B2B, especificamente situado<strong>de</strong>ntro da citricultura paulista e baseado na teoriada cocriação <strong>de</strong> valor. A justificativa paraesse esforço resi<strong>de</strong> em se propor nova forma <strong>de</strong>os atores-chave ali proce<strong>de</strong>rem nos seus interrelacionamentos,com vistas a aumentar a criação<strong>de</strong> valor.Martins e Teóphilo (2009, p. 29) remetema Abbagnano (1970) para <strong>de</strong>finir o mo<strong>de</strong>lo como[...] uma das espécies fundamentais dos conceitoscientíficos e precisamente aquele queconsiste na especificação <strong>de</strong> uma teoria científicaque consinta a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> uma zonarestrita e específica do campo coberto pelaprópria teoria.Em seguida, <strong>de</strong>finem as cinco etapas paraa construção <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo: conceitualização,mo<strong>de</strong>lagem, solução do mo<strong>de</strong>lo operacional,implementação e validação.Neste artigo, preten<strong>de</strong>-se cobrir a primeiraetapa e dar-se início à segunda. Na etapa <strong>de</strong>conceitualização, é resgatada a teoria que ajuda133Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


a explicar o fenômeno que está sendo representado,ou seja, a teoria da cocriação <strong>de</strong> valorem mercado B2B. Para tanto, são levantadosfundamentos teóricos afetos à criação <strong>de</strong> valorpor meio do compromisso mútuo gerado nosrelacionamentos entre parceiros situados em re<strong>de</strong>s<strong>de</strong> negócios no mercado B2B, revendo-se aprópria teoria da cocriação <strong>de</strong> valor. Ilustra-seesta última com a visão extensamente aprofundada<strong>de</strong> Prahalad e Ramaswamy (2000, 2001a,2001b, 2002, 2004a, 2004b, 2004c, 2004d) ecom as mo<strong>de</strong>lagens realizadas por Möller et al.(2007) e Payne et al. (2008). Em seguida, comose preten<strong>de</strong> utilizar a citricultura paulista comoa referência <strong>de</strong> segmento B2B para a construçãodo mo<strong>de</strong>lo, expõem-se as características do relacionamentodos dois players mais relevantesneste ambiente empresarial específico do agronegócio:os produtores <strong>de</strong> laranja e a indústria<strong>de</strong> suco da fruta, salientando-se as características<strong>de</strong>sse relacionamento. Para tanto, lança-semão <strong>de</strong> revisão bibliográfica sobre a evoluçãonão só econômica do segmento produtivo, masrelacional entre os players envolvidos.No passo seguinte, inicia-se a segunda etapada construção <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo: a mo<strong>de</strong>lagemem si, que, <strong>de</strong> acordo com Martins e Teóphilo(2009, p. 30), é o[...] processo <strong>de</strong> lapidação e enriquecimentoatravés <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> representações maissimples e eficazes [por meio do] estabelecimento<strong>de</strong> associações ou analogias com estruturasteóricas previamente <strong>de</strong>senvolvidas.Esse passo será dado com base nos mecanismos<strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação relacional que emergemdos interesses coletivos tanto das empresas <strong>de</strong>suco quanto dos citricultores, <strong>de</strong>senhando-se ostatus relacional atual entre esses players. Esse<strong>de</strong>senho, por sua vez, será feito com base nosquatro construtos relacionais <strong>de</strong> atuação estratégica<strong>de</strong> re<strong>de</strong>s industriais e em suas respectivassubdivisões, i<strong>de</strong>ntificados por Troccoli e Altaf(2009, 2010).Resultados e discussãoA teoria da cocriação <strong>de</strong> valorA visão <strong>de</strong> Prahalad e Ramaswamy (2000,2001a, 2001b, 2002, 2004a, 2004b, 2004c,2004d), para a teoria da cocriação <strong>de</strong> valor, fundamenta-seem um paradoxo no mundo corporativono século atual: cada vez mais escolhassão disponibilizadas aos consumidores sem queos ofertantes lhes consigam assegurar a obtenção<strong>de</strong> satisfação. Esta análise parte do resgatedos conceitos aplicados na pesquisa sobre estratégiasempresariais ao final do século 20 e iníciodo século 21, baseados na premissa <strong>de</strong> que asempresas antigas e consolidadas (chamadas <strong>de</strong>“tipo A”) não <strong>de</strong>sapareceriam no futuro, assimcomo as novas e exuberantes empresas “pontocom” (as “tipo B”) não necessariamente sobreviveriam.O que aconteceria seria o aparecimento<strong>de</strong> um novo tipo <strong>de</strong> empresas (as “tipo C”) a partirda fusão e da evolução das empresas A e B. Aoexaminar mais a fundo esse fenômeno previsto,os autores verificaram que o cliente po<strong>de</strong>ria participarativamente no processo pelo qual todasessas empresas geram valor, isto é, o cliente ea empresa estariam intimamente envolvidos nacriação conjunta <strong>de</strong> valor, o que é diferenciadopara o cliente e sustentável para a firma. Nessanova visão conceitual, estaria sendo questionadoo universo convencional das empresas dostipos A e B, no qual quase todo o trabalho estavacentrado nelas – daí a categorização tradicionaldos negócios em business-to-business (B2B) ebusiness-to-consumer (B2C), ambos colocandoo negócio (business) em primeiro lugar, numavisão da economia centrada na empresa, on<strong>de</strong>esta cria e oferece valor aos clientes.Nesta linha <strong>de</strong> raciocínio, os autorespropuseram um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômicaconsumer-to-business-to-consumer (C2B2C).Este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>safia as noções tradicionais <strong>de</strong>valor e <strong>de</strong> sua criação, assim como os dois princípiosfundamentais <strong>de</strong> nosso sistema industrial,uma vez que sugere que: 1) os esforços conjuntosdo cliente e da empresa – por meio da re<strong>de</strong>Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>134


<strong>de</strong> relacionamentos das empresas e das comunida<strong>de</strong>sdos clientes – sejam capazes <strong>de</strong> cocriaremvalor por meio <strong>de</strong> experiências personalizadasque são específicas para cada cliente em especial;2) estariam em xeque os princípios do valorem si, do processo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> valor, e da naturezado relacionamento entre a empresa e ocliente.Neste novo paradigma, a empresa e ocliente criariam valor, conjuntamente, nos chamados“pontos <strong>de</strong> interação”, momentos e locaison<strong>de</strong> a experiência <strong>de</strong> cocriação ocorre, com osclientes exercendo suas escolhas e o valor sendocriado em conjunto. Ou seja, é eliminado oconceito tradicional <strong>de</strong> que as empresas pensame agem unilateralmente. No caso, o papel docliente passa a ser fundamental nessa criação <strong>de</strong>valor, à medida que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um ente isoladoe passivo para se tornar conectado e ativo,características que causam impactos diversos.Com acesso à informação – por exemplo, viaInternet, os clientes passam a ter uma visão globalizadados bens e serviços, e expan<strong>de</strong>m seuspadrões <strong>de</strong> preferência <strong>de</strong> consumo para alémdas fronteiras tradicionais, passando a <strong>de</strong>safiar astradições das indústrias mais variadas, acostumadasa restringirem suas informações.Como visto, o novo paradigma <strong>de</strong> criação<strong>de</strong> valor e <strong>de</strong> estratégia empresarial proposto porPrahalad e Ramaswamy (2004a) é baseado emum conceito fundamental, no qual a criação <strong>de</strong>valor <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um processo unilateral paratornar-se bilateral, já que o cliente passa a <strong>de</strong>sempenharpapel <strong>de</strong>terminante.Tendo-se entendido o que é a cocriação<strong>de</strong> valor, passa-se, no próximo item, à apresentação<strong>de</strong> duas propostas <strong>de</strong> sua mo<strong>de</strong>lagem.As mo<strong>de</strong>lagens <strong>de</strong> cocriação<strong>de</strong> valor <strong>de</strong> Payne et al. (2008)e <strong>de</strong> Möller et al. (2007)A mo<strong>de</strong>lagem <strong>de</strong> cocriação <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>Payne et al. (2008) se propõe a informar às organizaçõesas formas como este procedimento<strong>de</strong>veria ser <strong>de</strong>senvolvido. Sua mo<strong>de</strong>lagem se baseia,fundamentalmente, na ênfase dos processos,remetendo a Lusch e Vargo (2004, 2006a,2006b) e a Vargo e Lusch (2004, 2008a, 2008b,2008c) quando enfatizam que o marketing <strong>de</strong>veser visto como um conjunto <strong>de</strong> processos e <strong>de</strong>recursos com o quais a empresa busca criarpropostas <strong>de</strong> valor. Nesse sentido, os processosincluem procedimentos, tarefas, mecanismos,ativida<strong>de</strong>s e interações que suportam a cocriação<strong>de</strong> valor.Com base nesses fundamentos, Payneet al. (2008) <strong>de</strong>finiram que seu mo<strong>de</strong>lo(Figura 1) consistiria em três componentes principais:1) processos <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> valor do cliente– processos, recursos e práticas usados pelosclientes para <strong>de</strong>sempenharem suas ativida<strong>de</strong>s;2) processos <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> valor dos ofertantes– processos, recursos e práticas usados pelosfornecedores para administrarem seu negócio eseus relacionamentos com os clientes e com outrosstakehol<strong>de</strong>rs relevantes; 3) processos <strong>de</strong> encontro– processos e práticas da interação e dointercâmbio que ocorrem <strong>de</strong>ntro do relacionamentocliente-ofertante e que precisam ser administradospara o surgimento <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>sbem sucedidas <strong>de</strong> cocriação <strong>de</strong> valor.No primeiro ponto – on<strong>de</strong> se liga acocriação <strong>de</strong> valor à fi<strong>de</strong>lização dos clientes –,temos que ali resi<strong>de</strong> a gran<strong>de</strong> diferença entre alógica serviço-dominante e a tradicional lógicabens-dominante, já que a primeira embute asexperiências que o cliente experimenta ao longodo tempo. Não mais é importante a criação <strong>de</strong>produtos em si, mas sim o entendimento <strong>de</strong> seupotencial em cocriar experiências relevantes.Ainda no que tange aos processos docliente, em seu mo<strong>de</strong>lo Payne et al. (2008) alertamque, apesar <strong>de</strong> terem ressaltado a importânciados papéis da emoção, da cognição e docomportamento do cliente para a experiência dorelacionamento, eles têm <strong>de</strong> ser vistos em umcontexto muito mais amplo do que aquele verificadona teoria comportamental tradicional noMarketing. Em que pese a lógica <strong>de</strong>ste raciocínio,há vozes acadêmicas que pregam que, maisdo que apenas garantir que a cocriação <strong>de</strong> va-135Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Figura 1. Mo<strong>de</strong>lo conceitual <strong>de</strong> cocriação <strong>de</strong> valor.Fonte: Payne et al. (2008).lor possa se concretizar – via, por exemplo, essamo<strong>de</strong>lagem <strong>de</strong> Payne et al. (2008) –, é necessáriopesquisar interiormente a esta criação em si.Este é o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Möller et al.(2007), que, mais do que interessados no fenômenoda cocriação do valor em si, mostraram-sepreocupados com as especificida<strong>de</strong>s apresentadaspor esta cocriação para qualquer das duaspartes – ofertante ou cliente. Para estes autores,muito embora a proposta da cocriação <strong>de</strong> valorseja a <strong>de</strong> estimular uma mudança positiva noserviço, o resultado da pretensa adição <strong>de</strong> valor,percebido por um dos atores, po<strong>de</strong> assumir aspectonão obrigatoriamente positivo do seu ponto<strong>de</strong> vista.Para estudar estas mudanças e construirsua mo<strong>de</strong>lagem analítica para o <strong>de</strong>senvolvimentodos serviços, Möller et al. (2007) propuseramuma tipologia para as alterações/inovações aplicadasaos serviços, classificadas como incrementaise radicais.A mudança incremental enquadra-senuma visão <strong>de</strong> menor prazo, tendo a ver apenascom melhorias aplicadas no formato e/ou naforma <strong>de</strong> implementação presentes do serviço.Neste caso, po<strong>de</strong> variar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aperfeiçoamentosmuito simples e autônomos até melhorias sistêmicascomplexas que requeiram a colaboração<strong>de</strong> vários atores do sistema <strong>de</strong> valor.Já as mudanças radicais, como o próprionome diz, revelam-se extremas e resultam emserviços completamente novos, o que implicaa quebra <strong>de</strong> paradigmas tradicionais <strong>de</strong> criação<strong>de</strong> valor. Aqui cabe ressaltar dois aspectos muitointeressantes, apresentados por Möller et al.(2007). O primeiro é que, embora estas mudan-Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>136


ças requeiram ambiente empresarial propícioàs inovações, não se sabe se a origem <strong>de</strong>stasmudanças resi<strong>de</strong> em estratégias conscientes dasempresas. O segundo é que o valor <strong>de</strong>stes serviçoscompletamente novos po<strong>de</strong> ser criado porparceiros ainda <strong>de</strong>sconhecidos à época do surgimentoda inovação.A partir <strong>de</strong>ste enfoque, os autores <strong>de</strong>finiramseu mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> valor, o ServiceInnovation Mo<strong>de</strong> Framework 4 , apoiado na construção<strong>de</strong> matriz 3 x 3, na qual se combinam asestratégias tanto do cliente quanto do ofertante(Figura 2). Estas estratégias foram distribuídas emtrês níveis: para serviços consolidados, para inovaçõesincrementais em serviços e para inovaçõesradicais em serviços. Suas especificida<strong>de</strong>ssão as seguintes:1) Serviços consolidados: neste caso, trata-se<strong>de</strong> serviços que são transacionados emmercados on<strong>de</strong> impera forte competição, o queobriga os ofertantes a priorizarem a eficiênciaoperacional.2) Inovações incrementais em serviços,com o objetivo <strong>de</strong> lhes adicionar valor: a i<strong>de</strong>iachaveé que, por meio <strong>de</strong> investimentos e adaptaçõesmútuos, o ofertante <strong>de</strong> um serviço e seucliente po<strong>de</strong>m produzir soluções mais eficientesdo que as já existentes.3) Inovações radicais em serviços, transformando-osem algo totalmente inédito: é o casodo MySQL, sistema <strong>de</strong> gerenciamento <strong>de</strong> banco<strong>de</strong> dados <strong>de</strong> código aberto que conta com mais<strong>de</strong> <strong>de</strong>z milhões <strong>de</strong> instalações pelo mundo – taiscomo, websites, data warehouses e aplicaçõescomerciais – e cuja missão é criar um banco <strong>de</strong>dados superior que contribua para aplicações <strong>de</strong>missão crítica, com altos volumes. Sua i<strong>de</strong>ia inovadoraé <strong>de</strong> que o código-fonte do software estejairrestritamente disponível e acessível a todospara uso e/ou para modificações, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que todosos trabalhos daí advindos sejam repassadosaos <strong>de</strong>senvolvedores do MySQL. Portanto, esteprincípio <strong>de</strong> licenciamento protege e estimula oco<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> software e a cocriação <strong>de</strong>conhecimento entre inovadores, <strong>de</strong>senvolvedorese clientes.Figura 2. Formas básicas <strong>de</strong> interação para a cocriação <strong>de</strong> valor.Fonte: Möller et al. (2007).4Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> inovação em serviços (tradução nossa).137Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


O foco do mo<strong>de</strong>lo são as formas básicas<strong>de</strong> interação cliente-ofertante para a cocriação<strong>de</strong> valor, nas quais ambos os players po<strong>de</strong>m seposicionar em qualquer uma das três estratégias,a saber: <strong>de</strong> serviço consolidado, <strong>de</strong> inovaçõesincrementais e <strong>de</strong> inovações radicais. Sua matrizrepresentativa mostra que as relações cliente--ofertante somente gerarão inovações <strong>de</strong> serviçosbem sucedidas à medida que as empresasconseguirem reconhecer as estratégias <strong>de</strong> criação<strong>de</strong> valor <strong>de</strong> ambas as partes. Por isso, nãohaveria nenhuma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a cocriação<strong>de</strong> valor ocorrer quando houvesse extrema discrepânciaentre as estratégias do cliente e do fornecedor(células 3 e 7 da matriz).Esta possibilida<strong>de</strong> ocorreria <strong>de</strong> três formas,sempre que houvesse interação cliente/fornecedorpara a cocriação <strong>de</strong> valor:1) Orientada ao ofertante (células 2 e 6):a cocriação <strong>de</strong> valor surgiria a partir da tendência<strong>de</strong> os ofertantes <strong>de</strong> serviços visarem-na pormeio <strong>de</strong> relacionamentos distantes e meramentetransacionais com os clientes, conforme priorizamsua eficiência operacional. Assim, haveriaa aplicação <strong>de</strong> inovações (incrementais ou radicais)no serviço por <strong>de</strong>terminação da estratégiado ofertante, o que indica que estas iniciativassão bem sucedidas caso se apliquem sobre umserviço estrategicamente visto pelo cliente comoconsolidado (no caso da inovação incremental)ou sobre um serviço estrategicamente visto pelocliente em um contexto que já acomo<strong>de</strong> inovaçõesincrementais (no caso da inovação radical).2) Orientada ao cliente (células 4 e 8):trata-se <strong>de</strong> contexto <strong>de</strong>sequilibrado para a inovaçãodo serviço, em que as necessida<strong>de</strong>s eas expectativas dos clientes quanto a esta inovaçãoexce<strong>de</strong>m o <strong>de</strong>sejo dos ofertantes em seesforçarem para atendê-los. Neste contexto, aspropostas <strong>de</strong> valor são dirigidas às necessida<strong>de</strong>sexplícitas <strong>de</strong> clientes conhecidos. Portanto,a organização visa, por meio <strong>de</strong> uma inovaçãocentrada no cliente, aten<strong>de</strong>r, da melhor formapossível, a necessida<strong>de</strong>s já existentes, por meio<strong>de</strong> soluções bem <strong>de</strong>finidas e orientadas para omercado. Em nível relacional, esta abordagemprejudica a postura colaborativa ao priorizar asnecessida<strong>de</strong>s imediatas dos clientes. Isso reduza própria capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reprodução do serviço,além <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r frustrar os clientes e afetar a suafi<strong>de</strong>lização, caso estes se frustrem com a relutânciados ofertantes em investirem na inovaçãoorientada ao cliente. O que <strong>de</strong>ve ser salientadoaqui é que, se o ofertante não dispuser dascompetências necessárias e <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> para<strong>de</strong>senvolver as competências requeridas porseus clientes, estes po<strong>de</strong>rão simplesmente procurarnovos parceiros. No entanto, os ofertantes<strong>de</strong>vem ter a sensibilida<strong>de</strong> necessária para nãoexagerarem seu foco nas necessida<strong>de</strong>s imediatasdos clientes, já que isto po<strong>de</strong> criar um <strong>de</strong>svio naativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inovação colaborativa, perniciosoao bom <strong>de</strong>sempenho empresarial, ao limitar seupotencial futuro e reduzir o alcance do serviçosobre outros clientes.3) Advinda <strong>de</strong> inovação ditada por umapostura colaborativa ofertante-cliente (células 1,5 e 9): aqui residiriam os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negóciosmais bem sucedidos, já que ambos os players“[...] enten<strong>de</strong>riam a lógica <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> valorum do outro, assim como as metas e ativida<strong>de</strong>sque tornam ambos os lados mais competitivos.”(MÖLLER et al., 2007, p. 4). Neste sentido, a cocriação<strong>de</strong> valor se situaria em um ambiente <strong>de</strong>superiorida<strong>de</strong> competitiva mútua, concretizadaem mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócios com foco nos serviços,priorizando a complexida<strong>de</strong> relacional, as priorida<strong>de</strong>soperacionais e as exigências cognitivas.Ou seja, ambas as partes perseguem estratégiasimilar, seja com foco em serviços consolidados,seja em inovações incrementais ou radicaisnos serviços. Os benefícios nos serviços ficammuito claros na proposta <strong>de</strong> valor, e os clientesapresentam as competências necessárias parausufrui-los. Isso não impe<strong>de</strong>, porém, que os relacionamentosentre as partes se tornam altamentecomplexos e, às vezes, contraditórios, o que implica<strong>de</strong>safios à criação coletiva <strong>de</strong> valor.O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Möller et al. (2007) frisa quea interação mais eficiente, para a cocriação <strong>de</strong>valor, é aquela em que as estratégias dos clientese dos ofertantes convergem entre si. Contu-Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>138


do, um <strong>de</strong>safio para os ofertantes é conseguiremque, em um contexto <strong>de</strong> inovação, os clientesretenham o valor por ela criado. Se o cliente nãoconseguir conciliar uma oferta <strong>de</strong> valor complexacom as competências <strong>de</strong> que já dispõe, elenão compreen<strong>de</strong>rá nem <strong>de</strong>sfrutará <strong>de</strong>ste valor.Com isso, ficará mais vulnerável a eventuaisabordagens da concorrência.Segmento citrícola brasileiro:formação e conflitoO Brasil é o maior produtor mundial <strong>de</strong>laranja e do seu suco, com quase 40% da quantida<strong>de</strong>total da fruta produzida, <strong>de</strong> acordo como Departamento <strong>de</strong> Agricultura dos EstadosUnidos, USDA (UNITED STATES, <strong>2012</strong>). Com85% do total da fruta sendo direcionados paraa produção <strong>de</strong> suco, segundo a mesma fonte, oPaís <strong>de</strong>tém cerca <strong>de</strong> 60% da produção mundial<strong>de</strong>sta bebida. Esta, sob a forma <strong>de</strong> concentradocongelado ou <strong>de</strong> não concentrado, é majoritariamente<strong>de</strong>stinada ao mercado externo, tendo rendidocerca <strong>de</strong> US$ 2,4 bilhões em 2011 (BRASIL,<strong>2012</strong>), o que mostra a importância do parque industrialbrasileiro <strong>de</strong> suco.A produção, tanto da fruta quanto dosuco, concentra-se, geograficamente, no Estado<strong>de</strong> São Paulo, que se responsabiliza por cerca<strong>de</strong> 80% da colheita brasileira. Medida em caixas<strong>de</strong> 40,8 kg e com o ano-safra esten<strong>de</strong>ndo-se<strong>de</strong> julho (floração) a junho (colheita), a colheitapaulista <strong>de</strong> laranja, em 2011–<strong>2012</strong>, foi estimadapelo Instituto <strong>de</strong> Economia Agrícola (IEA), da Secretaria<strong>de</strong> Agricultura e Abastecimento <strong>de</strong> SãoPaulo, em cerca <strong>de</strong> 365,5 milhões <strong>de</strong> caixas <strong>de</strong>40,8 kg cada uma (INSTITUTO DE ECONOMIAAGRÍCOLA, <strong>2012</strong>).O parque citrícola brasileiro engloba diversosplayers em variados segmentos do agronegócio(Figura 3). Inicia-se na indústria <strong>de</strong> insumosà lavoura e passa, sucessivamente, pelas ativida<strong>de</strong>sda lavoura da laranja, <strong>de</strong> seu transporte àsempresas produtoras do suco, da transformaçãoda fruta em suco, da sua distribuição atacadistae, finalmente, da sua distribuição tanto no mercadobrasileiro quanto no exterior. Numa visãoainda mais estendida, po<strong>de</strong>m-se consi<strong>de</strong>rar,também, os fabricantes <strong>de</strong> suco originários doBrasil que também atuam na Flórida, on<strong>de</strong> se estima,extraoficialmente, serem responsáveis por,aproximadamente, 1/3 <strong>de</strong> todo o processamentolocal <strong>de</strong>sta fruta.Figura 3. Representação do sistema agroindustrial citrícola brasileiro e valores gerados por alguns <strong>de</strong> seus Playersem 2003.Fonte: Neves et al. (2004).139Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Apesar <strong>de</strong>sta diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atores no cenáriocitrícola brasileiro, o foco fundamental, emnível <strong>de</strong> atuação, resi<strong>de</strong> no binômio produtores<strong>de</strong> laranja-empresas transformadoras <strong>de</strong> suco.Isso porque estes são os responsáveis pela <strong>de</strong>mandados insumos no mercado chamado <strong>de</strong>“antes da porteira”, bem como pela disponibilizaçãodo produto (tanto a laranja in natura quantoo suco <strong>de</strong>sta fruta) ao consumo. Dessa forma,trata-se dos atores-chave na ca<strong>de</strong>ia produtiva.É importante notar que as características dosagricultores praticantes da citricultura, em solopaulista, não apresentam unicida<strong>de</strong>, nem no quetange à proprieda<strong>de</strong> dos pomares, nem no quetange à forma como a fruta é comercializada àindústria.No primeiro caso, há pomares <strong>de</strong> trêstipos: 1) os dos chamados “produtores in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes”,ou seja, plantadores que não têmvínculo pré-concebido com nenhuma empresaprodutora <strong>de</strong> suco; 2) os da chamada “fruta prisioneira”,que se trata <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s agrícolas<strong>de</strong> diretores <strong>de</strong> empresas, <strong>de</strong> amigos e <strong>de</strong> “clientesespeciais” (SOUZA, 2003), isto é, pomarespertencentes a pessoas ligadas às empresas esmagadoras,cuja produção é 100% <strong>de</strong>stinada aestas empresas; 3) os das empresas, ou seja, pomaresque formalmente pertencem às empresasprodutoras <strong>de</strong> suco e cuja produção também é100% <strong>de</strong>stinadas a elas, no formato <strong>de</strong> integraçãovertical para trás. De acordo com avaliaçõesinformais do USDA, a atual divisão da produçãopaulista <strong>de</strong> laranja, entre estes três tipos, seria <strong>de</strong>,aproximadamente, 40% para os in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,20% para os pomares <strong>de</strong> “fruta prisioneira” e40% para os pomares das empresas.Obviamente, apenas a produção dos citricultoresin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes po<strong>de</strong>ria não se dirigirobrigatoriamente às empresas esmagadoras.Porém, tendo em vista a vocação da citriculturapaulista em abastecer estas últimas, aquelesprodutores são, em sua maioria, fornecedores daindústria <strong>de</strong> suco. Há uma <strong>de</strong>pendência mútuaentre estes players, já que sem laranja não hásuco e que a indústria <strong>de</strong> suco é o sustentáculoda estrutura produtiva <strong>de</strong> laranja no País, aose consi<strong>de</strong>rar que o mercado interno <strong>de</strong> fruta innatura é capaz <strong>de</strong> absorver somente 15% da colheitacomercial.Interessantemente, porém, esta <strong>de</strong>pendênciamútua não tem sido capaz <strong>de</strong> amenizar, aolongo dos últimos 40 anos, as divergências <strong>de</strong>interesses <strong>de</strong> ambas as partes, em que pesemas diversas formas tentadas para se contornar asdiferenças entre os respectivos interesses. Esteambiente conflituoso entre citricultores e indústriaconfigurou seis gran<strong>de</strong>s movimentos <strong>de</strong>s<strong>de</strong>o surgimento da citricultura enquanto ativida<strong>de</strong>econômica no País (CHADDAD; JANK, 2006):1) Des<strong>de</strong> os anos <strong>de</strong> 1960, com a instalaçãodo parque citrícola, citricultores e indústriainteragiam por meio <strong>de</strong> contratos <strong>de</strong> compra evenda firmados antes da colheita, a preço fixo,com base numa projeção futura <strong>de</strong> produção.No entanto, como essa forma <strong>de</strong> estabeleceros preços excluía os produtores agrícolas <strong>de</strong>qualquer efeito aci<strong>de</strong>ntal que viesse a alterarpositivamente o preço do suco <strong>de</strong> laranja, beneficiandoa indústria do suco – como ocorria emocasião das geadas na Flórida, quando a safranorte-americana <strong>de</strong> laranja quebrava e as cotaçõesdo suco no mercado internacional disparavam–, a partir da década <strong>de</strong> 1980, ela passoua ser combatida pelos citricultores, <strong>de</strong>sejosos <strong>de</strong>participarem <strong>de</strong>stes lucros.2) A partir da safra 1986–1987, foi firmadonovo tipo <strong>de</strong> contrato entre citricultores e indústria:o contrato-padrão ou <strong>de</strong> participação, comas negociações passando a ser realizadas entreas associações dos produtores e da indústria.Neste novo contrato, os preços da laranja foramligados às cotações do suco no mercado internacional,expresso pela Bolsa <strong>de</strong> Nova Iorque,além <strong>de</strong> referirem-se à remuneração da produçãoindustrial e <strong>de</strong> comercialização. O preço finalda caixa <strong>de</strong> laranja só era fechado quandose encerravam as vendas do suco, no final dasafra, com a primeira parte do pagamento sendocalculada <strong>de</strong> acordo com a produção do pomarestimada inicialmente. Assim, se o preço finalsuperasse o que já havia sido pago, os citricultoresrecebiam a diferença; caso a indústria tives-Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>140


se saldo negativo, a diferença <strong>de</strong>veria ser paga àindústria em dinheiro corrigido ou em laranja dasafra seguinte.3) A partir dos anos 1990, novos pontos<strong>de</strong> conflito surgiram, conforme a produção <strong>de</strong>laranja aumentou, tanto no Brasil quanto na Flórida,pressionando os preços do suco para baixo.Para Mazzali (1995 citado por VIEIRA; ALVES,1997), nesta ocasião, a indústria reduziu os preçosda caixa da laranja em proporção superior àqueda da cotação internacional do suco, comoforma <strong>de</strong> buscar manter a sua parte no montanteda renda do setor, manipulando a taxa <strong>de</strong> rendimentoacordada da fruta e as planilhas <strong>de</strong> custos<strong>de</strong> industrialização e comercialização. Com isso,novos pontos <strong>de</strong> discordância surgiram em tornodo contrato-padrão.4) Em 1994, associações <strong>de</strong> citricultoresentraram com ação na Secretaria do DireitoEconômico (SDE) contra doze empresas processadoras<strong>de</strong> suco, acusando-as <strong>de</strong> práticas queimplicariam o fim da concorrência (ADACHI,1995). A <strong>de</strong>núncia foi julgada proce<strong>de</strong>nte, e foiiniciado processo administrativo a ser julgadopelo Conselho Administrativo <strong>de</strong> Defesa Econômica(Ca<strong>de</strong>), que acusou as empresas <strong>de</strong> formaremcartel para uniformizar e <strong>de</strong>preciar o preçoda laranja, e aprovou termo <strong>de</strong> compromissoentre as empresas, suspen<strong>de</strong>ndo suas práticascomerciais. Em 1995, em troca da suspensão doprocesso <strong>de</strong> investigação <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> cartel,em andamento no Ca<strong>de</strong>, firmou-se acordo entreas partes, que não agradou os citricultores.5) A partir da safra 1995–1996, gran<strong>de</strong> parteda produção passou a ser negociada caso acaso, <strong>de</strong> acordo com as condições da livre concorrência.Neste caso, a equação que <strong>de</strong>finia opreço da caixa <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser obrigatória, passandoa valerem as leis da oferta e procura ou opo<strong>de</strong>r <strong>de</strong> negociação.6) Pelas novas regras, os produtores passarama negociar <strong>de</strong> acordo com as condições<strong>de</strong> mercado, expondo-se ao que as empresas <strong>de</strong>suco oferecem. Vai daí que, quando a produçãoda laranja aumenta, os produtores obviamenterecebem menos pelo seu produto. A saída encontradapelos citricultores – venda da fruta pormeio <strong>de</strong> grupos, <strong>de</strong>nominados pools <strong>de</strong> produtores,tendo em vista o ganho <strong>de</strong> escala – nãotrouxe os resultados esperados, já que, mesmopara os produtores que vendiam <strong>de</strong>sta forma, ospreços pagos ainda foram consi<strong>de</strong>rados baixos.Com este longo histórico <strong>de</strong> encontros e<strong>de</strong>sencontros, e com o amadurecimento naturaldo segmento citrícola ao longo <strong>de</strong> quatro décadas,seria <strong>de</strong> se esperar que, mais recentemente,houvesse uma melhoria consistente no nível dosrelacionamentos entre as partes. Contudo, issonão ocorreu. Em 1999, por exemplo, a Secretaria<strong>de</strong> Direito Econômico (SDE) foi solicitada, peloCongresso, a investigar <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong> citricultores<strong>de</strong> que as empresas <strong>de</strong> suco teriam feito umagran<strong>de</strong> repartição dos pomares produtores dafruta, combinando entre si o pagamento <strong>de</strong> valoresbaixos aos produtores. Esta <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong> cartelfoi julgada improce<strong>de</strong>nte pela Secretaria <strong>de</strong>Acompanhamento Econômico (SEAE) em 2001.Isso não impediu, porém, que novos problemassurgissem em 2005 e <strong>de</strong> forma muitoaguda. Isso porque, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início dos anos2000, muitos citricultores haviam optado porfirmarem contratos <strong>de</strong> fornecimento da fruta àindústria com durações que, geralmente, variavamentre três e cinco anos, firmando a remuneraçãoem dólares. Ocorre que, especialmenteentre 2004 e 2007, esta rigi<strong>de</strong>z contratual passoua conviver com seguidas elevações dos preçosinternacionais do suco ocasionado pelo déficitna produção norte-americana. Portanto, muitosprodutores foram prejudicados, pois seu contratonão captava estas altas – caso daqueles quefecharam negócio por prazo <strong>de</strong> três anos oumais antes da explosão dos preços internacionais(BRAGA; BOTEON, 2008; JANK; NEVES, 2006).Ao longo <strong>de</strong>stes embates, instalou-se achamada “CPI do Suco” para a análise da condutadas empresas. As investigações da Secretaria<strong>de</strong> Direito Econômico (SDE), que se seguiram,incluíram, em 2006, ação <strong>de</strong> busca e apreensão<strong>de</strong> documentos por parte da Polícia Fe<strong>de</strong>ral emempresas <strong>de</strong> suco e na residência do ex-presi-141Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>las – documentos cuja análiseà época foi impedida por <strong>de</strong>cisão da Justiça,o que se reverteu no início <strong>de</strong> 2009. Ainda norastro <strong>de</strong>stas investigações, em abril <strong>de</strong> 2009,renovaram-se as <strong>de</strong>núncias da Associtrus ao MinistérioPúblico do Estado <strong>de</strong> São Paulo quantoà prática <strong>de</strong> cartel por parte da indústria. Comisso, o Grupo Especial <strong>de</strong> Delitos Econômicos(Ge<strong>de</strong>c), ligado àquele Ministério, iniciou maisuma averiguação.Este breve resgate histórico da estruturarelacional entre os dois principais atores do segmentocitrícola paulista serviu a dois propósitos:a) sinalizar a elevadíssima importância econômica<strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> produtiva no País; e b) indicarque estes atores, profundamente especializadose mutuamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, recorrentementeentram em confronto. Assim, po<strong>de</strong>-se passar àpróxima etapa da pesquisa, que apresenta osfundamentos da coor<strong>de</strong>nação e do status relacionalatuais na citricultura paulista.Coor<strong>de</strong>nação e status relacionalatuais na citricultura paulistaNesta parte da pesquisa, <strong>de</strong>senha-se a coor<strong>de</strong>naçãoe o status relacional atual entre indústria<strong>de</strong> suco e produtores <strong>de</strong> laranja, iniciativaque se configura como o primeiro passo na segundaetapa da construção do mo<strong>de</strong>lo proposto– a fase <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem, realizada em três etapas.Na primeira etapa, tomam-se, como base,as quatro variáveis relacionais, apresentadas porTroccoli e Altaf (2009), que <strong>de</strong>screvem: 1) as partesenvolvidas, tanto organizações como indivíduos;2) os elementos e o processo da interação;3) a atmosfera <strong>de</strong>ntro da qual a interação ocorre;e 4) a atmosfera que afeta e que é afetada pelainteração. Na segunda etapa, resgatam-se asrespectivas subvariáveis relacionadas <strong>de</strong> acordocom Troccoli e Altaf (2010), a saber: o processo<strong>de</strong> interação entre fornecedores e adquirentesem “episódios individuais” e em aspectos <strong>de</strong>longo prazo, que inclui tecnologia, tamanho-estrutura-estratégiaorganizacionais, experiênciaorganizacional, indivíduos, estrutura <strong>de</strong> mercado,dinamismo, internacionalização, disposiçãono canal <strong>de</strong> produção, sistema social, atmosferaeconômica e atmosfera <strong>de</strong> controle. Na terceiraetapa, utilizam-se os enquadramentos <strong>de</strong>stas variáveise <strong>de</strong> suas subdivisões à realida<strong>de</strong> citrícola,realizados por Troccoli e Altaf (2010), para concluiro primeiro passo da etapa <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem.Para isso, foram i<strong>de</strong>ntificadas a intensida<strong>de</strong> (inexistente,baixa, média e alta) e a direção (positivaou negativa) da influência <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>stasvariáveis no relacionamento entre as empresas<strong>de</strong> suco e os citricultores (Tabela 1).Consi<strong>de</strong>rações finaisEmbora a citricultura brasileira não tenha<strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> crescer ao longo <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 40 anos,consolidando sua posição dominante no rankingdos países produtores <strong>de</strong> suco <strong>de</strong> laranja, esteavanço tem sido feito à sombra <strong>de</strong> um históricoconflituoso no que tange ao relacionamento indústria-citricultor.Os efeitos <strong>de</strong>ste ambiente sãovários e incluem, por exemplo, aquele relativo aaspecto muito sensível para a empresa esmagadorada fruta: o rendimento da laranja quando<strong>de</strong> sua transformação em suco.Tendo em vista que as empresas tradicionalmenteremuneram os citricultores com base nataxa <strong>de</strong> rendimento caixas <strong>de</strong> laranja/tonelada <strong>de</strong>suco, por elas <strong>de</strong>finida, este fator tem sido, recorrentemente,um foco <strong>de</strong> <strong>de</strong>sencontros entre os doisplayers, com os produtores <strong>de</strong> laranja reclamandoque esta conversão tem sido utilizada como instrumento<strong>de</strong>svalorizador do preço pago pela fruta.No caso, a ausência <strong>de</strong> ambiente conciliadorimpe<strong>de</strong> que se adote a utilização da relação sólidos/solúveispara o cálculo <strong>de</strong>sta remuneração – aexemplo do que já é feito no setor sucroalcooleiro.Isso adia o surgimento <strong>de</strong> situação <strong>de</strong> ganha-ganha,na qual os citricultores se aplicariamcada vez mais à melhoria das condições fitossanitáriasdos pomares, e as empresas passariama se beneficiar com as externalida<strong>de</strong>s positivasadvindas do uso <strong>de</strong> matéria-prima com melhorrendimento na transformação industrial. A esterespeito, <strong>de</strong> acordo com Lusch et al. (2007, p. 6),a vantagem competitiva das empresas aumentaAno XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>142


Tabela 1. Variáveis e subvariáveis que <strong>de</strong>screvem e que influenciam a interação entre empresas compradorase fornecedoras <strong>de</strong> laranja.Tipo <strong>de</strong>variávelSubvariável relacionadaInfluência no relacionamento entre empresas <strong>de</strong> suco ecitricultores1. Que <strong>de</strong>screveas partesenvolvidas1.1 Processo <strong>de</strong> interaçãoentre fornecedores eadquirentes em “episódiosindividuais”, envolvendo:a) Produtob) Serviçoc) Informaçãod) Recursos financeirose) Elementos sociais1.2 Processo <strong>de</strong> interaçãoem aspectos <strong>de</strong> longo prazo1.1a) Alta negativa, ocasionada pelos <strong>de</strong>sencontros sobre o preçopago pela frutab) Inexistentec) Alta negativa, com as empresas <strong>de</strong> suco cultivando a assimetria<strong>de</strong> informaçãod) Inexistentee) Inexistente1.2 Média negativa, com baixo aproveitamento dos indicadores <strong>de</strong>relacionamento, em razão dos tradicionais <strong>de</strong>sencontros quanto àremuneração pela fruta2. Que <strong>de</strong>screveos elementos eo processo dainteraçãoa) Tecnologiab) Tamanho-estruturaestratégiaorganizacionaisc) Experiênciaorganizacionald) Indivíduosa) Média positiva, com ausência <strong>de</strong> interação causada pelaseparação natural que existe entre as características dos doissistemas tecnológicos e as diferenças entre eles, aliada àconjunção dos interesses na questão fitossanitáriab) Alta negativa, mas com mecanismos compensatórios, tais comoa Câmara Setorial da Ca<strong>de</strong>ia Produtiva da Citriculturac) Alta positiva, dada a profunda expertise <strong>de</strong> ambas as partesd) Alta negativa, em razão da assimetria <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ditada pelaestrutura oligopsônica por parte da indústria3. Que <strong>de</strong>screvea atmosfera<strong>de</strong>ntro da qual ainteração ocorrea) Estrutura <strong>de</strong> mercadob) Dinamismoc) Internacionalizaçãod) Disposição no canal <strong>de</strong>produçãoe) Sistema sociala) Alta positiva e alta negativa simultaneamente, tendo em vistao <strong>de</strong>sdobramento em quatro situações, cada qual apresentandoforças positivas ou negativasb) Média negativa, pois há várias formas <strong>de</strong> arranjos comerciais,mas o relacionamento entre as partes não é próximoc) Inexistented) Ineistentee) Alta, po<strong>de</strong>ndo ser positiva ou negativa, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do nível<strong>de</strong> ciência dos players quanto às regulações e às limitações aonegócio4. Que <strong>de</strong>screvea atmosferaque afeta e queé afetada pelaproduçãoa) Econômicab) De controlea) Alta positiva, dada a <strong>de</strong>pendência mútua entre os players e ofato <strong>de</strong> as ativida<strong>de</strong>s serem complementaresb) Alta positiva, pela ótica da indústria, e alta negativa, pela óticados citricultores, ao se consi<strong>de</strong>rar a tendência <strong>de</strong> aumento dospomares próprios das empresasFonte: Troccoli e Altaf (2009, 2010).143Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


quando elas optam por adotar políticas <strong>de</strong> fixação<strong>de</strong> preços (<strong>de</strong> venda <strong>de</strong> seus produtos ou<strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> insumos) baseadas, não no riscoeconômico, mas sim naquilo que chamam <strong>de</strong>“proposição <strong>de</strong> valor cocriado”.Esta pesquisa i<strong>de</strong>ntificou, <strong>de</strong> forma estruturadae com base na análise relacional realizada porTroccoli e Altaf (2009, 2010), as influências na interaçãodos atores envolvidos, advindas dos elementosque compõem o relacionamento entre eles eque foram classificadas em sete categorias, a saber:• Alta negativa: o processo <strong>de</strong> interaçãoentre fornecedores e adquirentes em“episódios individuais”, envolvendo produtoe informação, tamanho-estrutura--estratégia organizacionais (embora commecanismo compensatório) e indivíduos.• Alta simultaneamente negativa e positiva:a estrutura <strong>de</strong> mercado.• Alta positiva ou negativa: o sistema sociale a atmosfera <strong>de</strong> controle.• Média negativa: o processo <strong>de</strong> interaçãoem aspectos <strong>de</strong> longo prazo e o dinamismo.• Média positiva: a tecnologia.• Alta positiva: a experiência organizacionale a atmosfera econômica.• Inexistente: o processo <strong>de</strong> interação entrefornecedores e adquirentes em “episódiosindividuais”, envolvendo serviço,recursos financeiros e elementos sociais,internacionalização e disposição no canal<strong>de</strong> produção.O próximo passo para se concluir a etapa<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem a que se refere esta pesquisa,será realizar um levantamento junto a representantestanto da indústria <strong>de</strong> suco quanto dos citricultoresin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong> forma a i<strong>de</strong>ntificarproposições que sejam válidas para reforçar assubvariáveis positivas, mitigar as negativas e criarcondições para as inexistentes emergirem comcaracterísticas positivas.ReferênciasABBAGNANO, N. Dicionário <strong>de</strong> filosofia. São Paulo:Mestre Jou, 1970. 976 p.ADACHI, V. Coinbra cessa ação. Gazeta Mercantil, SãoPaulo, p. 21, 28 maio 1995.ADELINO, R.; KAYO, E.; BASSO, L. Criação <strong>de</strong> valore seus direcionadores na indústria <strong>de</strong> transporteaéreo brasileira. In: ENCONTRO DE ESTUDOS EMESTRATÉGIA DA ANPAD, 3., 2007, São Paulo. Anais...São Paulo: Anpad, 2007. p. 1-16.BRAGA, D.; BOTEON, M. Preparando a citricultura parauma nova década. Revista Hortifruti Brasil, Piracicaba,v. 7, n. 68, p. 6-15, 2008.BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria eComércio Exterior. Secretaria <strong>de</strong> Comércio Exterior.Exportações <strong>de</strong> commodities. Disponível em: . Acesso em: 20 nov.<strong>2012</strong>.CHADDAD, F.; JANK, M. The evolution of agriculturalpolicies and agribusiness <strong>de</strong>velopment in Brazil. Choices,Washington, DC, v. 21, n. 2, p. 85-90, 2006.GARTNER, I.; GARCIA, F. Criação <strong>de</strong> valor e estratégia <strong>de</strong>operações: um estudo do setor químico e petroquímicobrasileiro. Revista Gestão e Produção, São Carlos, v. 12,n. 3, p. 459-468, 2005.INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Safra paulista<strong>de</strong> laranja 2011/12 tem previsão <strong>de</strong> 365 milhões <strong>de</strong>caixas. <strong>2012</strong>. Disponível em: . Acesso em: 20nov. <strong>2012</strong>.ITO, N. Conversas e construção teórica na administraçãoestratégica: Porter e VBR em uma teoria do valor dastransações da vantagem competitiva. In: ENCONTRONACIONAL DOS CURSOS DE PÓS GRADUAÇÃO EMADMINISTRAÇÃO, 34., 2010, Rio <strong>de</strong> Janeiro. Anais... Rio<strong>de</strong> Janeiro: Anpad, 2010. p. 29-56.JANK, M.; NEVES, M. Perspectivas da ca<strong>de</strong>ia produtivada laranja no Brasil: a agenda 2015. 2006. Disponívelem: . Acesso em: 28maio 2008.LUSCH, R.; VARGO, S. Evolving to a new dominantlogic for marketing. Journal of Marketing, Chicago, v. 68,p. 1-17, 2004.LUSCH, R.; VARGO, S. Service-dominant logic as afoundation for building a general theory. In: LUSCH,R.; VARGO, S. (Ed.). The service-dominant logic ofmarketing: Dialog, <strong>de</strong>bate and directions. Armonk: M.E.Shaprpe, 2006b. p. 406-420.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>144


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Ponto <strong>de</strong> VistaSustentabilida<strong>de</strong> eimpactos ambientaisEmilson França <strong>de</strong> Queirozda agropecuária2O caso do ciclohidrológico 1A presença da água em nosso planeta éum dos elementos essenciais para a existênciada vida humana e das outras formas <strong>de</strong> vidaque nos acompanham aqui. A água está principalmentelocalizada nos oceanos, que ocupam,aproximadamente, 350 milhões <strong>de</strong> quilômetrosquadrados, o que correspon<strong>de</strong> a dois terçosda superfície terrestre. A partir dos oceanos, aágua, numa movimentação contínua, se espalhapara toda a superfície do planeta, passando pelaatmosfera.O processo que viabiliza essa eternamovimentação da água na Terra é <strong>de</strong>nominadociclo hidrológico. Inicia-se a <strong>de</strong>scrição do ciclohidrológico pelo processo <strong>de</strong> evaporação daágua na superfície dos oceanos, rios e lagos epela evapotranspiração das plantas constituintesdos diversos ecossistemas naturais e agropecuários,em resposta à <strong>de</strong>manda evaporativada atmosfera. Esse vapor se eleva na atmosferapor meio <strong>de</strong> diversos mecanismos e, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndodas condições da atmosfera, atinge os níveisa<strong>de</strong>quados para se con<strong>de</strong>nsar, formando as nuvens,que são constituídas por microgotículas<strong>de</strong> água. Essas microgotículas <strong>de</strong> água, por suavez, seguindo processos e mecanismos que resultamna sua colisão e coalescência (agregação),crescem em tamanho e, se atingirem um pesosuperior às forças que as mantinham flutuandono ar, precipitam, principalmente sob a forma <strong>de</strong>chuva. Depen<strong>de</strong>ndo da temperatura no interiordas nuvens, essa precipitação também po<strong>de</strong>ráocorrer sob a forma <strong>de</strong> granizo ou neve.A água da chuva, ao atingir a superfície dosolo, po<strong>de</strong>rá seguir alguns dos seguintes caminhos:a) voltar à atmosfera, pela ocorrência <strong>de</strong>novo processo <strong>de</strong> evaporação ou evapotranspiração;b) rolar pelo solo, atingir os rios e retornarao oceano; c) infiltrar-se no solo, atingir os lençóis<strong>de</strong> água e, posteriormente, chegar ao oceanodiretamente ou através dos rios.Uma parte relevante da precipitação, soba forma <strong>de</strong> neve, granizo ou chuva, cai sobre ascalotas polares e sobre as geleiras, po<strong>de</strong>ndo voltarao mar diretamente, ou <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> passar peloprocesso <strong>de</strong> congelamento e fusão. Em qualquer<strong>de</strong>ssas alternativas, inicia-se outro ciclo do processoquando a água volta ao mar.1Original recebido em 28/8/<strong>2012</strong> e aprovado em 31/8/<strong>2012</strong>.2Engenheiro-agrônomo, CREA-PR 2032-D, Doutor, pesquisador da <strong>Embrapa</strong>, ex-diretor-geral do Instituto Nacional <strong>de</strong> Meteorologia, foi representantepermanente do Brasil junto à Organização Mundial <strong>de</strong> Meteorologia e integrou o seu Conselho Executivo.147Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>


Em regiões originalmente cobertas por florestase mesmo por cerrados, o solo está protegidodo po<strong>de</strong>r erosivo da água das chuvas pelomanto <strong>de</strong> vegetação constituído pela copa dasárvores, serrapilheira, raízes e <strong>de</strong>mais elementosbiológicos do solo. O arrastamento <strong>de</strong> partículasdo solo, pelo escoamento superficial da água, édificultado pela presença <strong>de</strong>ssa capa protetora.Nessas condições naturais, gran<strong>de</strong> parte da águadas chuvas penetra no solo e nele resi<strong>de</strong>, poralgum tempo, em condições <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong>para as plantas.Além disso, a gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> espéciespresentes numa floresta tropical ou numcerrado exerce um efeito <strong>de</strong> suavização dos impactosda variabilida<strong>de</strong> do volume <strong>de</strong> chuvas.Ou seja, amortece o impacto das gran<strong>de</strong>s variações<strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> ou duração da ocorrência<strong>de</strong> chuvas ou estiagens sobre <strong>de</strong>terminada área.Como resultado da presença da floresta ou docerrado, tanto a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água para asplantas quanto a <strong>de</strong>scarga <strong>de</strong> água através dosrios oscilam gradual e lentamente em resposta àsflutuações da precipitação. O ecossistema presenteé um resultado natural do equilíbrio entresolo, planta, <strong>de</strong>mais entes biológicos e atmosfera.Com a inevitável instalação da agricultura,é perturbada a parte do ciclo hidrológico queocorre na superfície do solo. Em geral, aumentao impacto <strong>de</strong> gotas <strong>de</strong> chuva sobre o solo, reduzsea infiltração e o tempo <strong>de</strong> residência da águano solo, e aumenta o escoamento superficialda água. Essas modificações, intensificando osimpactos naturais da água da chuva sobre o solo,se refletem em imediato aumento dos diversostipos <strong>de</strong> erosão hídrica.Especificamente, as práticas <strong>de</strong> conservaçãodo solo e da água visam ao aumento do tempo<strong>de</strong> residência da água no sistema solo-planta,à redução e controle do escoamento superficial<strong>de</strong> água e, consequentemente, à redução do arrastamento<strong>de</strong> fertilizantes, matéria orgânica epartículas do solo. Também está incluída nessecontexto a redução do impacto direto <strong>de</strong> gotassobre o solo e a preservação dos agregados naturais.Nesse caso, o <strong>de</strong>senvolvimento das práticas<strong>de</strong> mitigação dos impactos sobre o segmentodo ciclo hidrológico que ocorre na superfície dosolo, como é natural e óbvio, está fundamentadono conhecimento das condições naturais e dosimpactos provocados pela intervenção humana.Portanto, a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá dacontínua vigilância e da efetiva ação do homemem buscar e manter sob controle o equilíbrio entreo nível dos seus impactos inevitáveis e o nível<strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mitigação,com base nos conhecimentos das condições naturaise dos próprios impactos. Ou seja, o nível<strong>de</strong> conhecimento atingido para dotar o homemda capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir impactos também<strong>de</strong>verá ser utilizado para mitigar esses impactos.Nas últimas décadas, por exemplo, comoresultado do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> máquinas eimplementos agrícolas, bem como <strong>de</strong> práticasculturais visando à conservação do solo e daágua, foi implementada a incorporação do sistema<strong>de</strong> plantio direto à agricultura mecanizada,com relevantes resultados para a conservação dosolo e da água e para a mitigação dos impactosprovocados pelo homem. Nesse caso, o conhecimentoda condição natural e dos impactos provocadospelo homem no ciclo hidrológico, entreoutros, permitiu o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> mais umconjunto <strong>de</strong> tecnologias <strong>de</strong> mitigação.Recentemente, buscando a conciliaçãoentre sustentabilida<strong>de</strong> e rentabilida<strong>de</strong>, um gran<strong>de</strong>esforço está sendo aplicado na geração etransferência <strong>de</strong> conhecimentos e tecnologiaspara a viabilização do sistema <strong>de</strong> integraçãolavoura-pecuária-floresta.Aí estão dois exemplos <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>no mundo real, com relevante redução dosimpactos da ativida<strong>de</strong> agropecuária sobre o segmentodo ciclo hidrológico que ocorre na superfíciedo solo.Ano XXI – N o 4 – Out./Nov./Dez. <strong>2012</strong>148


Instrução aos autores1. Tipo <strong>de</strong> colaboraçãoSão aceitos, por esta Revista, trabalhos que se enquadrem nasáreas temáticas <strong>de</strong> política agrícola, agrária, gestão e tecnologiaspara o agronegócio, agronegócio, logísticas e transporte, estudos<strong>de</strong> casos resultantes da aplicação <strong>de</strong> métodos quantitativos equalitativos aplicados a sistemas <strong>de</strong> produção, uso <strong>de</strong> recursosnaturais e <strong>de</strong>senvolvimento rural sustentável que ainda não forampublicados nem encaminhados a outra revista para o mesmo fim,<strong>de</strong>ntro das seguintes categorias: a) artigos <strong>de</strong> opinião; b) artigoscientíficos; e d) textos para <strong>de</strong>bates.Artigo <strong>de</strong> opiniãoÉ o texto livre, mas bem fundamento, sobre algum tema atual e<strong>de</strong> relevância para os públicos do agronegócio. Deve apresentar oestado atual do conhecimento sobre <strong>de</strong>terminado tema, introduzirfatos novos, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r i<strong>de</strong>ias, apresentar argumentos e dados,fazer proposições e concluir <strong>de</strong> forma coerente com as i<strong>de</strong>iasapresentadas.Artigo científicoO conteúdo <strong>de</strong> cada trabalho <strong>de</strong>ve primar pela originalida<strong>de</strong>, istoé, ser elaborado a partir <strong>de</strong> resultados inéditos <strong>de</strong> pesquisa queofereçam contribuições teóricas, metodológicas e substantivaspara o progresso do agronegócio brasileiro.Texto para <strong>de</strong>batesÉ um texto livre, na forma <strong>de</strong> apresentação, <strong>de</strong>stinado à exposição<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e opiniões, não necessariamente conclusivas, sobretemas importantes, atuais e controversos. A sua principalcaracterística é possibilitar o estabelecimento do contraditório.O texto para <strong>de</strong>bate será publicado no espaço fixo <strong>de</strong>sta Revista,<strong>de</strong>nominado Ponto <strong>de</strong> Vista.2. EncaminhamentoAceitam-se trabalhos escritos em Português. Os originais <strong>de</strong>vemser encaminhados ao Editor, via e-mail, para o en<strong>de</strong>reço regina.vaz@agricultura.gov.br.A carta <strong>de</strong> encaminhamento <strong>de</strong>ve conter: título do artigo; nomedo(s) autor(es); <strong>de</strong>claração explícita <strong>de</strong> que o artigo não foienviado a nenhum outro periódico, para publicação.3. Procedimentos editoriaisa) Após análise crítica do Conselho Editorial, o editor comunicaaos autores a situação do artigo: aprovação, aprovaçãocondicional ou não aprovação. Os critérios adotados são osseguintes:• a<strong>de</strong>quação à linha editorial da Revista;• valor da contribuição do ponto <strong>de</strong> vista teórico, metodológico esubstantivo;• argumentação lógica, consistente e que, ainda assim, permitacontra-argumentação pelo leitor (discurso aberto);• correta interpretação <strong>de</strong> informações conceituais e <strong>de</strong> resultados(ausência <strong>de</strong> ilações falaciosas);• relevância, pertinência e atualida<strong>de</strong> das referências.b) São <strong>de</strong> exclusiva responsabilida<strong>de</strong> dos autores as opiniõese os conceitos emitidos nos trabalhos. Contudo, o editor, com aassistência dos conselheiros, reserva-se o direito <strong>de</strong> sugerir ousolicitar modificações aconselhadas ou necessárias.c) Eventuais modificações <strong>de</strong> estrutura ou <strong>de</strong> conteúdo, sugeridasaos autores, <strong>de</strong>vem ser processadas e <strong>de</strong>volvidas ao Editor, noprazo <strong>de</strong> 15 dias.d) A sequência da publicação dos trabalhos é dada pela conclusão<strong>de</strong> sua preparação e remessa à oficina gráfica, quando, então,não serão permitidos acréscimos ou modificações no texto.e) À Editoria e ao Conselho Editorial é facultada a encomenda<strong>de</strong> textos e artigos para publicação.4. Forma <strong>de</strong> apresentaçãoa) Tamanho – Os trabalhos <strong>de</strong>vem ser apresentados no programaWord, no tamanho máximo <strong>de</strong> 20 páginas, espaço 1,5 entre linhase margens <strong>de</strong> 2 cm nas laterais, no topo e na base, em formatoA4, com páginas numeradas. A fonte é Times New Roman, corpo12 para o texto e corpo 10 para notas <strong>de</strong> rodapé. Utilizar apenasa cor preta para todo o texto. Devem-se evitar agra<strong>de</strong>cimentose excesso <strong>de</strong> notas <strong>de</strong> rodapé.b) Títulos, Autores, Resumo, Abstract e Palavras-chave (keywords)– Os títulos em Português <strong>de</strong>vem ser grafados em caixabaixa,exceto a primeira palavra, ou em nomes próprios, com, nomáximo, 7 palavras. Devem ser claros e concisos e expressaro conteúdo do trabalho. Grafar os nomes dos autores porextenso, com letras iniciais maiúsculas. O Resumo e o Abstractnão <strong>de</strong>vem ultrapassar 200 palavras. Devem conter síntese dosobjetivos, <strong>de</strong>senvolvimento e principal conclusão do trabalho.É exigida, também, a indicação <strong>de</strong> no mínimo três e no máximocinco palavras-chave e key-words. Essas expressões <strong>de</strong>vem sergrafadas em letras minúsculas, exceto a letra inicial, e seguidas<strong>de</strong> dois-pontos. As Palavras-chave e Key-words <strong>de</strong>vem serseparadas por vírgulas e iniciadas com letras minúsculas, não<strong>de</strong>vendo conter palavras que já apareçam no título.c) No rodapé da primeira página, <strong>de</strong>vem constar a qualificaçãoprofissional principal e o en<strong>de</strong>reço postal completo do(s) autor(es),incluindo-se o en<strong>de</strong>reço eletrônico.d) Introdução – A palavra Introdução <strong>de</strong>ve ser grafada em caixaaltae baixa e alinhada à esquerda. Deve ocupar, no máximoduas páginas e apresentar o objetivo do trabalho, a importânciae a contextualização, o alcance e eventuais limitações do estudo.e) Desenvolvimento – Constitui o núcleo do trabalho, on<strong>de</strong> quese encontram os procedimentos metodológicos, os resultados dapesquisa e sua discussão crítica. Contudo, a palavra Desenvolvimentojamais servirá <strong>de</strong> título para esse núcleo, ficando a critériodo autor empregar os títulos que mais se apropriem à natureza doseu trabalho. Sejam quais forem as opções <strong>de</strong> título, ele <strong>de</strong>ve seralinhado à esquerda, grafado em caixa-baixa, exceto a palavrainicial ou substantivos próprios nele contido.Em todo o artigo, a redação <strong>de</strong>ve priorizar a criação <strong>de</strong> parágrafosconstruídos com orações em or<strong>de</strong>m direta, prezando pela clarezae concisão <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias. Deve-se evitar parágrafos longos que nãoestejam relacionados entre si, que não explicam, que não secomplementam ou não concluam a idéia anterior.f) Conclusões – A palavra Conclusões ou expressão equivalente<strong>de</strong>ve ser grafada em caixa-alta-e-baixa e alinhada à esquerda dapágina. São elaboradas com base no objetivo e nos resultadosdo trabalho. Não po<strong>de</strong>m consistir, simplesmente, do resumo dosresultados; <strong>de</strong>vem apresentar as novas <strong>de</strong>scobertas da pesquisa.Confirmar ou rejeitar as hipóteses formuladas na Introdução, sefor o caso.


g) Citações – Quando incluídos na sentença, os sobrenomesdos autores <strong>de</strong>vem ser grafados em caixa-alta-e-baixa, com adata entre parênteses. Se não incluídos, <strong>de</strong>vem estar também<strong>de</strong>ntro do parêntesis, grafados em caixa-alta, separados dasdatas por vírgula.• Citação com dois autores: sobrenomes separados por “e”quando fora do parêntesis e com ponto e vírgula quando entreparêntesis.• Citação com mais <strong>de</strong> dois autores: sobrenome do primeiro autorseguido da expressão et al. em fonte normal.• Citação <strong>de</strong> diversas obras <strong>de</strong> autores diferentes: obe<strong>de</strong>cer àor<strong>de</strong>m alfabética dos nomes dos autores, separadas por pontoe vírgula.• Citação <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um documento dos mesmos autores: nãohá repetição dos nomes dos autores; as datas das obras, emor<strong>de</strong>m cronológica, são separadas por vírgula.• Citação <strong>de</strong> citação: sobrenome do autor do documento originalseguido da expressão “citado por” e da citação da obraconsultada.• Citações literais que contenham três linhas ou menos <strong>de</strong>vemaparecer aspeadas, integrando o parágrafo normal. Após o anoda publicação, acrescentar a(s) página(s) do trecho citado (entreparênteses e separados por vírgula).• Citações literais longas (quatro ou mais linhas) serão <strong>de</strong>stacadasdo texto em parágrafo especial e com recuo <strong>de</strong> quatroespaços à direita da margem esquerda, em espaço simples,corpo 10.h) Figuras e Tabelas – As figuras e tabelas <strong>de</strong>vem ser citadas notexto em or<strong>de</strong>m sequencial numérica, escritas com a letra inicialmaiúscula, seguidas do número correspon<strong>de</strong>nte. As citaçõespo<strong>de</strong>m vir entre parênteses ou integrar o texto. As tabelas eas figuras <strong>de</strong>vem ser apresentadas, em local próximo ao <strong>de</strong>sua citação. O título <strong>de</strong> tabela <strong>de</strong>ve ser escrito sem negrito eposicionado acima <strong>de</strong>la. O título <strong>de</strong> figura também <strong>de</strong>ve ser escritosem negrito, mas posicionado abaixo <strong>de</strong>la. Só são aceitas tabelase figuras citadas no texto.i) Notas <strong>de</strong> rodapé – As notas <strong>de</strong> rodapé <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong> naturezasubstantiva (não bibliográficas) e reduzidas ao mínimo necessário.j) Referências – A palavra Referências <strong>de</strong>ve ser grafada comletras em caixa-alta-e-baixa, alinhada à esquerda da página.As referências <strong>de</strong>vem conter fontes atuais, principalmente <strong>de</strong>artigos <strong>de</strong> periódicos. Po<strong>de</strong>m conter trabalhos clássicos maisantigos, diretamente relacionados com o tema do estudo. Devemser normalizadas <strong>de</strong> acordo com a NBR 6023 <strong>de</strong> Agosto 2002,da ABNT (ou a vigente).Devem-se referenciar somente as fontes utilizadas e citadas naelaboração do artigo e apresentadas em or<strong>de</strong>m alfabética.Os exemplos a seguir constituem os casos mais comuns, tomadoscomo mo<strong>de</strong>los:Monografia no todo (livro, folheto e trabalhos acadêmicospublicados).WEBER, M. Ciência e política: duas vocações. Trad. <strong>de</strong> LeônidasHegenberg e Octany Silveira da Mota. 4. ed. Brasília, DF: EditoraUnB, 1983. 128 p. (Coleção Weberiana).ALSTON, J. M.; NORTON, G. W.; PARDEY, P. G. Scienceun<strong>de</strong>r scarcity: principles and practice for agricultural researchevaluation and priority setting. Ithaca: Cornell University Press,1995. 513 p.Parte <strong>de</strong> monografiaOFFE, C. The theory of State and the problems of policy formation.In: LINDBERG, L. (Org.). Stress and contradictions in mo<strong>de</strong>rncapitalism. Lexinghton: Lexinghton Books, 1975. p. 125-144.Artigo <strong>de</strong> revistaTRIGO, E. J. Pesquisa agrícola para o ano 2000: algumasconsi<strong>de</strong>rações estratégicas e organizacionais. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong>Ciência & Tecnologia, Brasília, DF, v. 9, n. 1/3, p. 9-25, 1992.Dissertação ou TeseNão publicada:AHRENS, S. A seleção simultânea do ótimo regime <strong>de</strong><strong>de</strong>sbastes e da ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rotação, para povoamentos <strong>de</strong> pínustaeda L. através <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> programação dinâmica.1992. 189 f. Tese (Doutorado) – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná,Curitiba.Publicada: da mesma forma que monografia no todo.Trabalhos apresentados em CongressoMUELLER, C. C. Uma abordagem para o estudo da formulação<strong>de</strong> políticas agrícolas no Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DEECONOMIA, 8., 1980, Nova Friburgo. Anais... Brasília: ANPEC,1980. p. 463-506.Documento <strong>de</strong> acesso em meio eletrônicoCAPORAL, F. R. Bases para uma nova ATER pública. SantaMaria: PRONAF, 2003. 19 p. Disponível em: . Acesso em:06 mar. 2005.MIRANDA, E. E. <strong>de</strong> (Coord.). Brasil visto do espaço: Goiás eDistrito Fe<strong>de</strong>ral. Campinas, SP: <strong>Embrapa</strong> Monitoramento porSatélite; Brasília, DF: <strong>Embrapa</strong> Informação Tecnológica, 2002. 1CD-ROM. (Coleção Brasil Visto do Espaço).LegislaçãoBRASIL. Medida provisória n o 1.569-9, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>1997. Estabelece multa em operações <strong>de</strong> importação, e dáoutras providências. Diário Oficial [da] República Fe<strong>de</strong>rativado Brasil, Po<strong>de</strong>r Executivo, Brasília, DF, 14 <strong>de</strong>z. 1997. Seção1, p. 29514.SÃO PAULO (Estado). Decreto n o 42.822, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong>1998. Lex: coletânea <strong>de</strong> legislação e jurisprudência, São Paulo,v. 62, n. 3, p. 217-220, 1998.5. Outras informaçõesa) O autor ou os autores receberão três exemplares do númeroda Revista no qual o seu trabalho tenha sido publicado.b) Para outros pormenores sobre a elaboração <strong>de</strong> trabalhosa serem enviados à Revista <strong>de</strong> Política Agrícola, contatar ocoor<strong>de</strong>nador editorial, Wesley José da Rocha, ou a secretária,Regina M. Vaz, em:wesley.jose@embrapa.brTelefone: (61) 3448-2418 (Wesley)Telefone: (61) 3218-2209 (Regina)

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