Revista de Política Agrícola nº 2/2013 - Ministério da Agricultura ...
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ISSN 1413-4969Publicação TrimestralAno XXII – N o 2Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>Brasília, DFConselho editorialEliseu Alves (Presi<strong>de</strong>nte)EmbrapaWilson Vaz <strong>de</strong> AraújoMapaElísio ContiniEmbrapaMarlene <strong>de</strong> AraújoEmbrapaPaulo Magno RabeloConabBiramar Nunes <strong>de</strong> LimaConsultor in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteHélio TolliniConsultor in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteJúlio Zoé <strong>de</strong> BritoConsultor in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteMauro <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong> LopesConsultor in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteVitor Afonso HoeflichConsultor in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteVitor OzakiConsultor in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteNeri GellerMapaSecretaria-GeralRegina Mergulhão VazCoor<strong>de</strong>nadoria editorialWesley José <strong>da</strong> RochaCa<strong>da</strong>stro e atendimentoBren<strong>da</strong> BarreirosFoto <strong>da</strong> capaFrancisco C. MartinsEmbrapa Informação TecnológicaSupervisão editorialWesley José <strong>da</strong> RochaCopi<strong>de</strong>sque e Revisão <strong>de</strong> textoAna Luíza Barra SoaresNormalização bibliográficaRejane OliveiraProjeto gráfico,editoração eletrônica e capaCarlos Eduardo Felice BarbeiroImpressão e acabamentoEmbrapa Informação TecnológicaSumárioCarta <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>Safra recor<strong>de</strong> e gran<strong>de</strong>s mu<strong>da</strong>nças noPlano <strong>Agrícola</strong> e Pecuário para a safra <strong>2013</strong>–2014...........3Neri GellerChina: gigante também na agricultura...............................5Eliana Valéria Covolan Figueiredo / Elisio ContiniExpansão <strong>de</strong> área agrícola no período 1994–2010..........30Rogério Edivaldo Freitas / Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça / Geovane <strong>de</strong> Oliveira Lopes<strong>Política</strong> agrícola em países <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> média:uma perspectiva brasileira...............................................48Antônio Salazar P. BrandãoDesempenho exportador do agronegócio no Ceará.........54Naisy Silva Soares / Eliane Pinheiro <strong>de</strong> Sousa / Wescley <strong>de</strong> Freitas BarbosaDesigual<strong>da</strong><strong>de</strong> nos campos naótica do Censo Agropecuário 2006.................................67Eliseu Alves / Geraldo <strong>da</strong> Silva e Souza / Daniela <strong>de</strong> Paula RochaAnálise <strong>da</strong> volatili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> preços doóleo <strong>de</strong> girassol no Brasil <strong>de</strong> 1960 a 2011............................76Lucas Siqueira Castro / Aziz Galvão Silva JúniorO custo privado <strong>da</strong> reserva legal.....................................85Samuel Alex Coelho Campos / Carlos José Caetano BachaSete teses sobre o mundo rural brasileiro.......................105Antônio Márcio Buainain / Eliseu Alves / José Maria <strong>da</strong> Silveira / Zan<strong>de</strong>r NavarroExpansão canavieira no Centro-Oeste:limites e potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s...............................................122Pery Francisco Assis Shiki<strong>da</strong>Ponto <strong>de</strong> VistaProfessor Robert E. Evenson:uma carreira brilhante marca<strong>da</strong> porinestimáveis contribuições à pesquisa agropecuáriae à medição dos impactos <strong>de</strong> seus resultados................138Antonio Flavio Dias Avila / Denisard Cneio <strong>de</strong> Oliveira Alves / Elmar Rodrigues <strong>da</strong> Cruz
Interessados em receber esta revista, comunicar-se com:<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, Pecuária e AbastecimentoSecretaria <strong>de</strong> <strong>Política</strong> <strong>Agrícola</strong>Esplana<strong>da</strong> dos <strong>Ministério</strong>s, Bloco D, 5 o an<strong>da</strong>r70043-900 Brasília, DFFone: (61) 3218-2505Fax: (61) 3224-8414www.agricultura.gov.brspa@agricultura.gov.brEmpresa Brasileira <strong>de</strong> Pesquisa AgropecuáriaEmbrapa Informação TecnológicaParque Estação Biológica (PqEB)Av. W3 Norte (final)70770-901 Brasília, DFFone: (61) 3448-2418Fax: (61) 3448-2494Wesley José <strong>da</strong> Rochawesley.jose@embrapa.brEsta revista é uma publicação trimestral <strong>da</strong> Secretaria <strong>de</strong><strong>Política</strong> <strong>Agrícola</strong> do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, Pecuária eAbastecimento, com a colaboração técnica <strong>da</strong> Secretaria<strong>de</strong> Gestão Estratégica <strong>da</strong> Embrapa e <strong>da</strong> Conab, dirigi<strong>da</strong> atécnicos, empresários, pesquisadores que trabalham com ocomplexo agroindustrial e a quem busca informações sobrepolítica agrícola.É permiti<strong>da</strong> a citação <strong>de</strong> artigos e <strong>da</strong>dos <strong>de</strong>sta revista,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seja menciona<strong>da</strong> a fonte. As matérias assina<strong>da</strong>snão refletem, necessariamente, a opinião do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong><strong>Agricultura</strong>, Pecuária e Abastecimento.Tiragem7.000 exemplaresRepresentantes e avaliadores <strong>da</strong> RPA nas Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>sA Coor<strong>de</strong>nação Editorial <strong>da</strong> <strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Política</strong> <strong>Agrícola</strong> (RPA) do <strong>Ministério</strong><strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, Pecuária e Abastecimento (Mapa) criou a função<strong>de</strong> representante nas universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, visando estimular professores eestu<strong>da</strong>ntes a discutir e escrever sobre temas relacionados à políticaagrícola brasileira. Os representantes citados abaixo são aqueles queexpressaram sua concordância em apresentar essa revista aos seusalunos e avaliar artigos que a eles forem submetidos.Profa. Dra. Yolan<strong>da</strong> Vieira <strong>de</strong> AbreuProfessora adjunta IV do Curso <strong>de</strong> CiênciasEconômicas e do Mestrado <strong>de</strong> Agroenergia <strong>da</strong>Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Tocantins (UFT)Prof. Almir Silveira MenelauUniversi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> PernambucoTânia Nunes <strong>da</strong> SilvaPPG AdministraçãoEscola <strong>de</strong> AdministraçãoUniversi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (UFRGS)Geraldo Sant’Ana <strong>de</strong> Camargo BarrosCentro <strong>de</strong> Estudos e Pesquisa em Economia <strong>Agrícola</strong> (Cepea)Maria Izabel NollInstituto <strong>de</strong> Filosofia e Ciências HumanasUniversi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (UFRGS)Lea Carvalho RodriguesCurso <strong>de</strong> Pós-Graduação em Avaliação <strong>de</strong> <strong>Política</strong>s PúblicasUniversi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará (UFC)Está autoriza<strong>da</strong>, pelos autores e editores, a reprodução <strong>de</strong>stapublicação, no todo ou em parte, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que para fins não comerciaisDados Internacionais <strong>de</strong> Catalogação na Publicação (CIP)Embrapa Informação Tecnológica<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> política agrícola. – Ano 1, n. 1 (fev. 1992) - . – Brasília, DF :Secretaria Nacional <strong>de</strong> <strong>Política</strong> <strong>Agrícola</strong>, Companhia Nacional <strong>de</strong>Abastecimento, 1992-v. ; 27 cm.Trimestral. Bimestral: 1992-1993.Editores: Secretaria <strong>de</strong> <strong>Política</strong> <strong>Agrícola</strong> do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>,Pecuária e Abastecimento, 2004- .Disponível também em World Wi<strong>de</strong> Web: ISSN 1413-49691. <strong>Política</strong> agrícola. I. Brasil. <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, Pecuáriae Abastecimento. Secretaria <strong>de</strong> <strong>Política</strong> <strong>Agrícola</strong>. II. <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong><strong>Agricultura</strong>, Pecuária e Abastecimento.CDD 338.18 (21 ed.)
perfazendo aumento <strong>de</strong> 18,4% em relação à safraanterior. A taxa <strong>de</strong> juros foi reduzi<strong>da</strong> <strong>de</strong> 5,0%para 4,5%, o limite <strong>de</strong> financiamento por produtorem relação ao custeio passou <strong>de</strong> R$ 500 milpara R$ 600 mil, e o limite <strong>de</strong> investimento subiu<strong>de</strong> R$ 300 mil para R$ 350 mil.O apoio do Governo Fe<strong>de</strong>ral ao abastecimentoe, por conseguinte, ao consumidor brasileiro,estará presente com a garantia <strong>de</strong> recursosdo Tesouro Nacional <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> R$ 5,6 bilhõespara a comercialização, dos quais R$ 2,5bilhões são para aquisição <strong>de</strong> produtos agrícolas(Aquisição do Governo Fe<strong>de</strong>ral – AGF, Contratos<strong>de</strong> Opção e Contratos a Termo) e manutenção<strong>de</strong> estoques públicos e R$ 3,1 bilhões são paraequalização <strong>de</strong> preços (PEP e Pepro)O Plano <strong>Agrícola</strong> e Pecuário <strong>2013</strong>–2014também contempla a mo<strong>de</strong>rnização <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesaagropecuária, já que o novo plano prevê investimentospara ampliação dos laboratórios nacionaisagropecuários, a consoli<strong>da</strong>ção do sistemabrasileiro <strong>de</strong> inspeção <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> origemanimal (Sisbi-POA) e a tipificação <strong>de</strong> carcaçabovina.Percebemos quão dinâmico é o setoragropecuário e o quanto se po<strong>de</strong> produzir ain<strong>da</strong>mais. A logística é o gran<strong>de</strong> gargalo, que po<strong>de</strong>dificultar o aumento <strong>da</strong> produção. A nova lei dosportos, o termino <strong>da</strong> BR 163, o término <strong>da</strong> rodoviaNorte-Sul, entre outros projetos do GovernoFe<strong>de</strong>ral, fazem parte dos esforços para a soluçãodos graves problemas logísticos que, em últimainstância, transformam-se em custos para o produtorrural.A disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos para o produtorrural tem crescido ao longo dos últimosanos e <strong>de</strong>ve continuar neste caminho, até porqueesse é um compromisso do Governo Fe<strong>de</strong>ral.A ampliação vem <strong>da</strong>ndo resultados porque,além <strong>de</strong> uma nova safra recor<strong>de</strong> em 2012–<strong>2013</strong>(184 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s <strong>de</strong> grãos), do plano <strong>de</strong>R$ 115 bilhões do ano passado, os financiamentosjá somaram quase R$ 96 bilhões (entre julho<strong>de</strong> 2012 e abril <strong>de</strong> <strong>2013</strong>).O Governo está fazendo sua parte, comuma política agrícola forte. Ao mesmo tempo, aexpectativa <strong>de</strong> alta rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> mantém o produtormotivado a investir. Este é o sucesso <strong>da</strong>agropecuária brasileira.Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>4
Nos últimos 10 anos, a taxa média anual<strong>de</strong> crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)foi ao redor <strong>de</strong> 10%, tornando-se, em 2010, a segun<strong>da</strong>maior do mundo, com US$ 5,927 trilhões(valores correntes), apenas atrás dos Estados Unidos(THE WORLD BANK, 2012). Em virtu<strong>de</strong> dotamanho <strong>da</strong> população, a ren<strong>da</strong> per capita anualain<strong>da</strong> é baixa: US$ 4.429 em valores correntesem 2010. To<strong>da</strong>via, para que seja possível compararo nível <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> <strong>de</strong> economias distintas,utiliza-se o PIB em Pari<strong>da</strong><strong>de</strong> do Po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Compra(PPP). Nesse caso observou-se um crescimentovertiginoso <strong>de</strong> 137% no PIB chinês (PIB-PPP emvalores constantes <strong>de</strong> 2005) <strong>de</strong> 2001 a 2010, secomparado aos 27% do crescimento do PIB brasileirono mesmo período (Figura 2).Figura 2. PIB per capita PPP (pari<strong>da</strong><strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>compra, em dólares) e taxa <strong>de</strong> crescimento do PIB, noBrasil e na China, <strong>de</strong> 2001 a 2010.Fonte: The World Bank (2012).Quanto ao comércio internacional, Chinae Estados Unidos ocupam hoje os dois primeirospostos como exportadores e importadores mundiais.A China é o maior exportador, segui<strong>da</strong> dosEUA, e os EUA são os maiores importadores, seguidos<strong>da</strong> China. Mas enquanto a China apresentasuperávits na balança comercial ano apósano, os EUA acumulam déficits. O superávit chinêsem 2011 foi <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> US$ 155 bilhões,com uma pauta exportadora volta<strong>da</strong> basicamentepara os produtos industrializados, enquanto odéficit norte-americano no mesmo ano foi <strong>de</strong>,aproxima<strong>da</strong>mente, US$ 800 bilhões (CIA, 2012).Esses superávits constantes têm elevado substancialmenteas reservas internacionais <strong>da</strong> China,que em 2011 apontavam para US$ 3,2 trilhões<strong>de</strong> dólares, ocupando o primeiro lugar mundial,segui<strong>da</strong> do Japão, com cerca <strong>de</strong> US$ 1 trilhão. OBrasil aparece em 6º, com US$ 360 bilhões, e osEUA em 19º, com US$ 132 bilhões.Além do crescimento do PIB per capita,<strong>da</strong> redução na taxa <strong>de</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> infantil e doaumento <strong>da</strong> expectativa <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, outros indicadorestambém apontam para uma melhoria <strong>da</strong>quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> dos chineses na última déca<strong>da</strong>,como o aumento do consumo per capita <strong>de</strong>energia elétrica: <strong>de</strong> 1.184 kWh em 2002 para3.490 kWh em 2011, crescimento em parte explicadopelo aumento <strong>da</strong> população urbana emcerca <strong>de</strong> 120 milhões <strong>de</strong> pessoas – a populaçãorural passou <strong>de</strong> 62% em 2002 para 53% em 2011(THE WORLD BANK, 2012). Essas mu<strong>da</strong>nças estruturais,associa<strong>da</strong>s ao aumento <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>, têmcontribuído para o incremento <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> poralimentos – crescimento <strong>de</strong> 28,2% no consumodoméstico <strong>da</strong>s principais commodities <strong>de</strong> 2002a 2011 (USDA, 2012).A análise setorial do PIB mostra a importância<strong>da</strong> indústria no peso <strong>da</strong> economia chinesa.Em 2001, a indústria representava 45,15%do PIB, e em 2010 passou para 46,8%; o setor<strong>de</strong> serviços cresceu <strong>de</strong> 40,06% para 43,1%; e aparticipação <strong>da</strong> agricultura <strong>de</strong>cresceu <strong>de</strong> 14,79%para 10,1%, uma diminuição <strong>de</strong> 4,69% em 10anos. Esse alto peso <strong>da</strong> indústria na composiçãodo PIB chinês difere do <strong>de</strong> outros países emergentescomo Brasil e Rússia, nos quais o maiorpeso vai para o setor <strong>de</strong> serviços (67% e 59%,respectivamente), índices esses mais próximos<strong>da</strong>queles dos países <strong>de</strong>senvolvidos – por exemplo,<strong>da</strong> Alemanha, com 71% (CIA, 2012).Produção agrícola <strong>da</strong> ChinaDado o tamanho <strong>da</strong> população chinesa ea elevação <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> observa<strong>da</strong> nos últimos anos,a segurança alimentar é uma <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s priori<strong>da</strong><strong>de</strong>sdo governo <strong>da</strong>quele país. A China temAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>8
uscado incrementar a sua produção agrícola,mantendo alto grau <strong>de</strong> autossuficiência (acima<strong>de</strong> 95%), tendo aumentado o apoio interno à suaagricultura, na última déca<strong>da</strong>, conce<strong>de</strong>ndo subsídios<strong>de</strong> 3,01% do PIB agrícola em 2010, contra1,55% em 1997 (OCDE, 2012). Além disso, impôsrestrições às exportações, baixou tarifas e buscounas importações o fechamento <strong>da</strong> conta. Nosúltimos anos, o país passou a buscar no exteriorparte <strong>de</strong> sua segurança alimentar para o futuro,por meio <strong>de</strong> acordos comerciais, <strong>da</strong> compra <strong>de</strong>terras em outros países, ou mesmo do aumentodo investimento em empresas transnacionais doagronegócio (LONDON, 2011; OMC, 2012).Produção <strong>de</strong> grãos e oleaginosasNos últimos 10 anos, a produção chinesa<strong>de</strong> grãos e oleaginosas cresceu 32,8%, a produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>,18,7%, e a área agricultável, 9,3%, tendoa produção atingido em 2011 514 milhões <strong>de</strong>tonela<strong>da</strong>s (Figura 3). A incorporação <strong>de</strong> área foirelativamente pequena, <strong>da</strong>ndo sinais <strong>de</strong> esgotamento<strong>de</strong>sse recurso natural, enquanto a produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>cresceu o dobro do valor acrescido <strong>da</strong>área, indicando maior eficiência produtiva.A evolução <strong>da</strong> produção para os principaisprodutos, <strong>de</strong> 2002 a 2011, encontra-se na Tabela1. O milho é o produto com maior volumeFigura 3. Evolução <strong>da</strong> safra <strong>de</strong> grãos e oleaginosas (produçãoem milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s, e área em milhões <strong>de</strong>hectares) na China.Dados: a) grãos – trigo, milho, arroz, aveia, centeio, ceva<strong>da</strong>, sorgo e outroscereais; b) oleaginosas – soja, amendoim, girassol e outras oleaginosas.Fonte: USDA (2012).<strong>de</strong> produção, tendo atingido 191,8 milhões <strong>de</strong>tonela<strong>da</strong>s em 2011, um crescimento no período<strong>de</strong> 58,1%, indicando sua importância como insumopara rações animais. A produção chinesa<strong>de</strong> milho atendia, até recentemente, ao mercadointerno. Notícias recentes (SIYU, 2012) informamque o país está iniciando um período <strong>de</strong> importaçõestambém <strong>de</strong> milho, uma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>para o Brasil.O segundo produto com maior volume é oarroz, com 140,5 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s em 2011,crescimento <strong>de</strong> 15,0% no período, com a produçãoacompanhando o crescimento populacional,já que, também na China, é um produto <strong>de</strong> baixaelastici<strong>da</strong><strong>de</strong>-ren<strong>da</strong> (GALE; HUANG, 2007). Aprodução <strong>de</strong> outro alimento básico, o trigo, aumentouem 36,6%, tendo atingido em 2011 117,9milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s. A soja teve um <strong>de</strong>créscimoem produção <strong>de</strong> -8,2% no período (13,5 milhões<strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s), explicado pela que<strong>da</strong> na área planta<strong>da</strong><strong>de</strong> 8,7 milhões <strong>de</strong> hectares em 2002 para 7,7milhões em 2011. A produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> soja na Chinaé relativamente baixa, <strong>de</strong> 1,8 t ha -1 , se compara<strong>da</strong>com a norte-americana e a brasileira, perto<strong>de</strong> 3 t ha -1 nas últimas safras (Tabela 2).Outro ponto a analisar-se é o posicionamento<strong>da</strong> produção <strong>da</strong> China em comparaçãocom a produção mundial. Consi<strong>de</strong>rando-se aprodução <strong>de</strong> 2011–2012, dos cinco principaisprodutos, a China ocupa a primeira posiçãopara arroz e algodão, e a segun<strong>da</strong> para milho(apenas atrás dos Estados Unidos), e trigo (<strong>de</strong>pois<strong>da</strong> União Europeia). A China, compara<strong>da</strong>ao mundo, <strong>de</strong>tinha 30% <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> arroz,17% <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> trigo, 27% <strong>da</strong> produção <strong>de</strong>algodão, 22% <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> milho e 6% <strong>da</strong>produção <strong>de</strong> soja. Somente para arroz, a China<strong>de</strong>tinha maior percentual <strong>de</strong> produção em relaçãoà mundial, do que o <strong>de</strong> sua população emrelação à mundial (Tabela 2).Produtos <strong>de</strong> origem animalPara a produção <strong>de</strong> origem animal são<strong>de</strong>staca<strong>da</strong>s as três principais carnes (bovina, suínae <strong>de</strong> frango) e o leite. Dados do USDA (2012)9Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
progresso, o país é apenas o 4º maior produtormundial, produzindo o equivalente a 22,6% doproduzido pelo maior produtor, a União Europeia,com 141,8 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s, e 6% emrelação à produção mundial. Para leite em pó,passou a ocupar o 1º lugar em 2011–2012, com1,1 milhão <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s, e uma participação naprodução mundial <strong>de</strong> 26%. A produção <strong>de</strong> leitefluido representa apenas 6% <strong>da</strong> produção mundial,ou seja, 32 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s, mesmonível que o Brasil.Consumo <strong>da</strong> China porprodutos agrícolasO consumo <strong>de</strong> alimentos e <strong>de</strong> outrosprodutos agrícolas <strong>de</strong> um <strong>da</strong>do país é igual àprodução interna, soma<strong>da</strong>s as importações esubtraí<strong>da</strong>s as exportações, e, <strong>de</strong> um ano paraoutro, retiram-se ou adicionam-se os estoques.Os valores <strong>de</strong> consumo agregado chinês dosprincipais grãos e carnes relativos a 2002 e 2011,e as variações no período em percentuais encontram-sena Tabela 3. Como a população chinesacresceu abaixo <strong>de</strong> 6% nesse período, conclui-seque na maioria dos produtos a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong>per capita cresceu fortemente. Os dois produtoscom maior crescimento foram o leite em pó,com crescimento do consumo <strong>de</strong> 133%, e a soja,com 98,6%; milho e açúcar tiveram um crescimentopróximo <strong>de</strong> 50%.Para a proteína animal, o <strong>de</strong>staque foi oconsumo <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> frango, com 36,2%, enquantopara as <strong>de</strong>mais carnes o aumento foi aoredor <strong>de</strong> 20%. Principalmente para a carne suína(+21,4%), esse crescimento é consi<strong>de</strong>rável, umavez que o ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> é elevado, atingindoum consumo <strong>de</strong> quase 50 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>sem 2011. Isso representa quase a meta<strong>de</strong>do consumo mundial <strong>de</strong> carne suína. Esses <strong>da</strong>dossão consistentes com os <strong>de</strong> outros estudos(ABLER, 2010; GALE; HUANG, 2007), indicandoque carnes têm alta elastici<strong>da</strong><strong>de</strong>-ren<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>,enquanto o arroz tem elastici<strong>da</strong><strong>de</strong>-ren<strong>da</strong>negativa, isto é, com o crescimento <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> aspessoas passam a consumir menos arroz e maisoutros produtos, como carnes (Tabela 3).Tabela 3. Consumo doméstico <strong>de</strong> produtos selecionados(em milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s) na China.Produto 2002 2011Variação(%)Milho 125,9 188,0 49,3Arroz 135,7 139,0 2,4Trigo 105,0 118,0 12,4Soja 35,3 70,1 98,6Carne suína 41,0 49,8 21,4Carne bovina 6,5 7,8 20,2Carne <strong>de</strong> aves 9,6 13,0 36,2Leite em pó 0,6 1,5 133,3Açúcar 9,4 14,0 49,7Total 468,9 601,2 28,2Fonte: USDA (2012).Para alguns produtos importantes, apresentam-seinformações mais <strong>de</strong>sagrega<strong>da</strong>s.Como po<strong>de</strong> ser observado na Figura 4, o consumototal <strong>de</strong> soja quase dobrou nos últimos 10anos, tendo atingido mais <strong>de</strong> 70 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>sem 2011. No próprio país, foram esmaga<strong>da</strong>s59,1 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s, e produzi<strong>da</strong>s46,5 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s <strong>de</strong> farelo e 11,7 milhões<strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s <strong>de</strong> óleo. As curvas apontamuma níti<strong>da</strong> aceleração a partir <strong>de</strong> 2008, com importaçõestendo passado <strong>de</strong> 21,4 milhões para56 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s nos últimos 10 anos.A análise dos <strong>da</strong>dos <strong>de</strong> farelo <strong>de</strong> soja eóleo <strong>de</strong> soja mostra que a China adotou umapolítica <strong>de</strong> importar produtos primários, comosoja em grãos, para processar no país, gerandoemprego e ren<strong>da</strong> internamente. O esmagamento<strong>de</strong> soja em grão aumentou <strong>de</strong> 26,5 milhõespara 59,1 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s (+122,68%), nosúltimos 10 anos, tendo gerado uma oferta em2011 <strong>de</strong> 47 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s <strong>de</strong> farelo e <strong>de</strong>12 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s <strong>de</strong> óleo. As importa-11Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Figura 4. Consumo do complexo soja (em milhões <strong>de</strong>tonela<strong>da</strong>s) na China.Fonte: USDA (2012).ções <strong>de</strong>sses dois produtos processados foraminsignificantes. O consumo doméstico <strong>de</strong> farelo<strong>de</strong> soja aumentou em 130,48%, e o <strong>de</strong> óleo em83,75%. O consumo per capita <strong>de</strong> farelo passou<strong>de</strong> 15,7 kg hab. -1 ano -1 para 34,6 kg hab. -1 ano -1(+119,66%), e o <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> soja, <strong>de</strong> 5,0 kg hab. -1ano -1 para 8,7 kg hab. -1 ano -1 (+74,18%), no períodoconsi<strong>de</strong>rado (Tabela 4).Outro produto básico para a produção <strong>de</strong>proteína animal, principalmente carnes <strong>de</strong> frangoe <strong>de</strong> suínos, é o milho. A produção internaem 2011 aumentou em 59% em relação à <strong>de</strong>2002. Mesmo assim, apesar <strong>de</strong> a China ter ex-portado 15 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s em 2002, em2011 importou 5 milhões. O consumo total noperíodo passou <strong>de</strong> 126 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>spara 188 milhões. Em termos <strong>de</strong> consumo percapita, elevou-se em 42%. O milho na China ébasicamente utilizado para rações animais, principalmentepara suínos e aves, cuja produçãoaumentou significativamente (Tabela 5).O arroz é um produto com baixa elastici<strong>da</strong><strong>de</strong>-ren<strong>da</strong>no Brasil (HOFFMANN, 2010), e na Chinatambém (GALE; HUANG, 2007). Mesmo assim,continua sendo um produto básico <strong>de</strong> consumoalimentar. Tanto a produção quanto o consumodoméstico chinês situaram-se ao redor <strong>de</strong> 140 milhões<strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s em 2011, o que <strong>de</strong>monstra aautossuficiência <strong>da</strong> China também na produção <strong>de</strong>arroz, a exemplo do que acontece com o <strong>de</strong>maisprodutos básicos. O alto consumo per capita chinêsfoi superior a 100 kg hab. -1 ano -1 , muito superiorao <strong>da</strong> Índia (79 kg hab. -1 ano -1 ), por exemplo,on<strong>de</strong> o produto também é base <strong>da</strong> alimentação,e a população é muito próxima à chinesa. NaUnião Europeia o consumo é baixo, com 6,7 kg,atrás dos Estados Unidos, com 12,9 kg. No BrasilTabela 4. Quadro <strong>de</strong> suprimentos do complexo soja (mil tonela<strong>da</strong>s) <strong>da</strong> China.EspecificaçãoSoja em grão Farelo <strong>de</strong> soja (1) Óleo <strong>de</strong> soja (1)2002 2011Variação(%)2002 2011Variação(%)2002 2011Variação(%)Produção 16.510 13.500 -18,2 26.540 59.100 122,6 26.540 59.100 122,6Importação 21.417 56.000 161,4 0 150 789,4 1.712 1.200 -29,9Estoque 2.095 14.588 594,8 0 150 789,4 210 203 -3,3Oferta total 40.022 84.058 110,0 21.000 46.957 123,6 6.652 11.982 80,1Exportação 265 200 -24,5 843 500 -40,6 13 60 361,5Consumo doméstico 35.290 70.100 98,6 20.157 46.457 130,4 6.389 11.676 82,7% <strong>de</strong> autossuficiência 46,8 19,3 -58,8 104,2 100,8 -3,2 74,0 90,6 22,3Consumo per capita(kg hab. -1 ano -1 )27,6 52,2 89,3 15,7 34,6 119,6 5,0 8,7 74,1(1)A produção refere-se à soja esmaga<strong>da</strong>.Fonte: USDA (2012).Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>12
Tabela 5. Quadro <strong>de</strong> suprimentos <strong>de</strong> milho, arroz e trigo (mil tonela<strong>da</strong>s) <strong>da</strong> China.Especificação2002 2011Milho Arroz TrigoVariação(%)2002 2011Variação(%)2002 2011Variação(%)Produção 121.300 192.780 58,9 122.180 140.700 15,1 90.290 117.400 30,0Importação 29 5.000 17.141,3 258 1.000 287,6 418 3.000 617,7Estoque 84.788 49.415 -41,7 79.156 42.574 -46,2 76.588 59.091 -22,8Oferta total 206.117 247.195 19,9 201.594 184.274 -8,5 167.296 179.491 7,2Exportação 15.244 200 -98,6 2.583 500 -80,6 1.718 1.000 -41,7Consumodoméstico% <strong>de</strong>autossuficiênciaConsumo per capita(kg hab. -1 ano -1 )125.900 188.000 49,3 135.700 139.000 2,4 105.200 120.500 14,596,3 102,5 6,4 90 101 12,4 100,9 101,0 0,198 140 42,32 106,002 103,50 -2,3 82,19 89,72 9,1Fonte: USDA (2012).o consumo per capita situa-se ao redor <strong>de</strong> 40 kgpor pessoa por anoPara os níveis <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> <strong>da</strong> China, o trigo éum produto com elastici<strong>da</strong><strong>de</strong>-ren<strong>da</strong> maior. Nosúltimos 10 anos, sua produção cresceu 30%,tendo atingido 117 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s, e oconsumo per capita atingiu valor próximo <strong>de</strong> 90kg hab. -1 ano -1 , mais alto que o do Brasil (55,3kg hab. -1 ano -1 ), mas menor que o dos EstadosUnidos (117 kg hab. -1 ano -1 ) e <strong>da</strong> União Europeia,com expressivos 247 kg hab. -1 ano -1 . A produçãodo país é autossuficiente para seu abastecimento,e as importações e exportações são quase insignificantes(Tabela 5).As carnes têm em geral elastici<strong>da</strong><strong>de</strong>sren<strong>da</strong>mais eleva<strong>da</strong>s. À medi<strong>da</strong> que aumenta aren<strong>da</strong>, as famílias <strong>de</strong>stinam boa parte <strong>de</strong>la parao consumo <strong>de</strong> proteína animal. Mesmo comlimitação <strong>de</strong> área para a agricultura, a produção<strong>de</strong> carne bovina aumentou 20%, <strong>de</strong> 2002a 2011, com a produção <strong>da</strong> China situando-seem 5,55 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s. A importação ea exportação não são significativas, e o consumoper capita é muito baixo, pouco superior a 4kg hab. -1 ano -1 , principalmente quando comparadoao do Brasil, com consumo per capita <strong>de</strong>39,6 kg em 2001, sendo mais baixo ain<strong>da</strong> se comparadocom o <strong>da</strong> Argentina, com impressionantes61,3 kg (Tabela 6).A proteína animal mais importante paraos chineses é a <strong>da</strong> carne suína. A produção em2011 foi <strong>de</strong> 49,5 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s, equivalentea quase a meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> produção mundial(109 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s em 2011), e o aumentonos últimos 10 anos foi <strong>de</strong> 38%. Tendo a Chinaum grau <strong>de</strong> autossuficiência <strong>de</strong> 99%, suas importaçõessomaram 758 mil tonela<strong>da</strong>s em 2011.O consumo per capita foi <strong>de</strong> 37,4 kg hab. -1 ano -1em 2011 (Tabela 6).A exemplo do que acontece em outraspartes do mundo e também no Brasil, a carne <strong>de</strong>frango foi a que apresentou o maior aumento <strong>de</strong>produção e consumo na China. De 2002 a 2011,seu crescimento foi <strong>de</strong> 90,6%, tendo atingido13,2 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s, com um consumoper capita <strong>de</strong> apenas 9,7 kg hab. -1 ano -1 . Tantoas exportações quanto as importações <strong>de</strong>cresceram,e o grau <strong>de</strong> autossuficiência ficou próximodos 100%. Como o Brasil está iniciando processo<strong>de</strong> exportação <strong>de</strong>sse produto para a China,13Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Tabela 9. Principais <strong>de</strong>stinos <strong>da</strong>s exportações agrícolas brasileiras <strong>de</strong> 2002 a 2011 (valores em bilhões <strong>de</strong>dólares (1) ).PaísesselecionadosPaís/A(2)2002(%)2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 País/A(2)(%)Variação2007–2011 (%)UniãoEuropeia – 277,8 41,9 9,6 11,3 11,5 11,7 15,2 17,1 14,3 14,2 16,6 23,9 113China 1,1 6,1 1,8 2,4 2,4 2,7 3,4 6,1 6,8 8,4 12,7 18,4 1.021Rússia 1,3 7 1,5 1,6 2,7 3 3,2 3,8 2,5 3,6 3,5 5 167EstadosUnidos1,4 7,4 1,8 2 2,1 3,1 2,9 3,1 2,4 2,7 3,8 5,6 180Japão 0,8 4,5 0,9 1,2 1,4 1,1 1,4 1,9 1,5 1,9 2,8 4 231Hong Kong 0,3 1,4 0,4 0,4 0,4 0,5 0,9 1,2 1,4 1,2 0,4 0,6 76Total dospaísesselecionados12,7 68,3 15,9 18,9 20,4 22,2 26,9 33,2 28,8 32 39,8 57,5 213Exportaçõestotais (A) (3) 18,6 100 23,1 29,3 32,2 35,8 42,3 52,9 49,9 57,1 69,1 100 272(1)Valores constantes <strong>de</strong> 2005 – IPC-EUA.(2)Participação percentual <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado país, <strong>de</strong>stino <strong>da</strong>s exportações brasileiras.(3)Exportações totais agrícolas brasileiras.Fonte: Brasil (2012).Tabela 10. Participação dos 14 principais produtos <strong>da</strong> pauta agrícola brasileira no mercado mundial em 2007 eem 2011 (valores constantes em bilhões <strong>de</strong> dólares (1) ).Descrição2007 2011Mundo Brasil % Total Brasil %Produtos selecionados (14 produtos HS-4) 189,6 35,8 18,9 283,1 62,4 22,1Bens agrícolas 908,7 42,2 4,6 1.194,1 70,9 5,9% dos produtos selecionados sobre o total <strong>de</strong> bens agrícolas 21 85 24 88(1)Valores constantes <strong>de</strong> 2005 – IPC-EUA.Fonte: Tra<strong>de</strong> Map (2012).Importações chinesastotais e agrícolasA reforma e abertura <strong>da</strong> China e sua ativaparticipação na economia globaliza<strong>da</strong> fez dopaís uma <strong>da</strong>s economias com maior índice <strong>de</strong>crescimento ao longo <strong>da</strong> última déca<strong>da</strong>. Des<strong>de</strong> aa<strong>de</strong>são <strong>da</strong> China à OMC (Organização Mundialdo Comércio) em 2001, a China e outros paísesem <strong>de</strong>senvolvimento, como o Brasil, tornaram-seuma importante força propulsora <strong>da</strong> economiaglobal.O <strong>de</strong>senvolvimento do comércio internacional<strong>da</strong> China, nos últimos anos, acelerou amo<strong>de</strong>rnização <strong>de</strong> sua economia e melhorou o17Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Figura 5. Participação brasileira no mercado mundial para os 14 principais produtos <strong>da</strong> pauta exportadora agrícolado Brasil (média do período <strong>de</strong> 2007 a 2011, em %).Nota: os <strong>da</strong>dos referem-se à carne bovina congela<strong>da</strong>. Quando computados os <strong>da</strong>dos <strong>de</strong> carne bovina fresca, a participação cai para 11,8%.Fonte: Tra<strong>de</strong> Map (2012).padrão <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> seus mais <strong>de</strong> 1,3 bilhão <strong>de</strong>habitantes, além <strong>de</strong> ter contribuído para a integração<strong>da</strong> China na economia mundial (OMC,2012). De 2005 a 2011, as taxas <strong>de</strong> crescimentomédio anual <strong>da</strong>s exportações e importações chinesasforam 16% e 18% respectivamente, bemmaiores que os 10% e 9% anuais <strong>da</strong>s exportaçõese importações mundiais, respectivamente,no mesmo período.Em resposta às fortes pressões internacionaispara que equilibrasse sua balança comercialem termos <strong>de</strong> importações e exportações, o governochinês tem buscado mecanismos <strong>de</strong> expansão<strong>de</strong> sua <strong>de</strong>man<strong>da</strong> interna, o que é positivopara a economia mundial, além <strong>de</strong> fator essencialtambém para a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um crescimentosustentado <strong>da</strong> economia chinesa. Essas medi<strong>da</strong>sjá po<strong>de</strong>m ser observa<strong>da</strong>s pelo fato <strong>de</strong> as taxas <strong>de</strong>crescimento <strong>da</strong>s importações terem sido maioresque aquelas <strong>da</strong>s exportações nos anos recentes.Isso tem provocado uma que<strong>da</strong> no superávit <strong>de</strong>sua balança comercial, que, após ter atingido opico <strong>de</strong> 298 bilhões <strong>de</strong> dólares em 2008, passoua 155 bilhões em 2011.Quanto a isso, observa-se o crescimento<strong>da</strong>s importações chinesas totais <strong>de</strong> 68% <strong>de</strong> 2007a 2011 e <strong>de</strong> 111% nas importações agrícolas para omesmo período. No entanto, estas ain<strong>da</strong> são muitopequenas se compara<strong>da</strong>s com as importações<strong>de</strong> bens não agrícolas na China, embora tenhamcrescido nos últimos 5 anos (Tabela 11). Em 2007as importações <strong>de</strong> bens agrícolas representavam4,2% do total, tendo passado para 5,4% em 2011,e, quando consi<strong>de</strong>rado o aumento <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>por alimentos, impulsionado pelo aumento <strong>da</strong>ren<strong>da</strong> e mu<strong>da</strong>nças nos hábitos alimentares chinesesnos anos recentes, infere-se a existência<strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> crescimento <strong>da</strong>s importaçõeschinesas <strong>de</strong> alimentos nos próximosanos. A acelera<strong>da</strong> urbanização <strong>de</strong> 8% a.a. observa<strong>da</strong><strong>de</strong> 2001 a 2010 (THE WORLD BANK,2012) trouxe para as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s um contingente <strong>de</strong>mais <strong>de</strong> 100 milhões <strong>de</strong> pessoas no período.Ao analisarem-se o volume importado <strong>de</strong>bens agrícolas e os principais fornecedores aoAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>18
Tabela 14. Tarifas aplica<strong>da</strong>s pela China aos principais produtos <strong>da</strong> pauta exportadora brasileira.Descrição Tarifa MFN (1) Quota tarifária(t)Tarifa intraquota/EAV (2)(%)Carne <strong>de</strong> frango (inteiro)Cortes <strong>de</strong> frango congelados, com ossoCortes <strong>de</strong> frango congelados, não especificadosAsas <strong>de</strong> frango congela<strong>da</strong>sGarras <strong>de</strong> frango frescas, refrigera<strong>da</strong>s oucongela<strong>da</strong>sMiu<strong>de</strong>zas <strong>de</strong> frango congela<strong>da</strong>s, não especifica<strong>da</strong>s1,3 yuan/kg0,6 yuan/kg1,0 yuan/kg0,8 yuan/kg0,5 yuan/kg0,5 yuan/kgN/A (3) 19,6 (em 2009)Milho 65% 7.200.000 1Açúcar (bruto e refinado) 50% 1.945.000 15Algodão 40% 894.000 1Café 8%Farelo <strong>de</strong> soja 5%Carne bovina fresca e congela<strong>da</strong> 12%Fumo 10%Óleo <strong>de</strong> soja 9%Álcool 40%Carne processa<strong>da</strong> 12%Carne suína 12%Suco <strong>de</strong> laranja 7,5%Soja 3%N/AN/A(1)MFN: a tradução do termo é “nação mais favoreci<strong>da</strong>”, jargão utilizado pela OMC para tarifas aplica<strong>da</strong>s a todos os países que não possuam acordosespecíficos; (2) EAV: “equivalente ad valorem”, valor percentual <strong>da</strong> tarifa específica, calculado com base em <strong>da</strong>dos <strong>de</strong> comércio <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado ano;(3)N/A: “não se aplica”.Fonte: OMC (2012).exportações brasileiras para aquele país passaram<strong>de</strong> US$ 2,7 bilhões em 2002 para US$ 38,5bilhões em 2012, um aumento <strong>de</strong> 14 vezes. Já asexportações chinesas para o Brasil cresceram <strong>de</strong>US$ 1,7 bilhão para US$ 28,5 bilhões, representandoum aumento <strong>de</strong> 16,7 vezes, para o mesmoperíodo. Em 2011, a corrente <strong>de</strong> comércio (exportações+ importações) representou US$ 66,9bilhões. Apenas em dois anos, o saldo comercialfoi positivo para a China, mas em 2011 o saldofoi positivo em US$ 10,0 bilhões para o Brasil(Tabela 15).Em 2002 a China ocupava o 4º lugar noranking <strong>de</strong> principais <strong>de</strong>stinos <strong>da</strong>s exportaçõesbrasileiras agrícolas, e dos 2,7 bilhões <strong>de</strong> dólaresexportados aos chineses naquele ano, 41,5%foram <strong>de</strong> produtos agrícolas. Mas nos últimos 10anos, como as exportações totais para a Chinacresceram mais que as agrícolas (14 e 10 vezesrespectivamente), a participação <strong>de</strong>stas no totalexportado caiu <strong>de</strong> 41,5% para 33% em 2011.Ao analisar-se a pauta importadora agrícolachinesa, consi<strong>de</strong>rando-se os quadros <strong>de</strong>21Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Tabela 15. Corrente <strong>de</strong> comércio entre Brasil e China<strong>de</strong> 2002 a 2011 (em bilhões <strong>de</strong> dólares FOB (1) ).Ano Exportação Importação SaldoCorrente<strong>de</strong>comércio2002 2,7 1,7 1,1 4,42003 4,8 2,3 2,5 7,12004 5,6 3,8 1,8 9,52005 6,8 5,4 1,5 12,22006 8,1 7,7 0,4 15,92007 10,1 11,9 -1,8 22,02008 15,0 18,2 -3,2 33,22009 19,1 14,5 4,6 33,62010 27,6 22,9 4,6 50,52011 38,5 28,5 10,0 66,9(1)Valores constantes <strong>de</strong> 2005 – IPC-EUA; FOB: free on board.Fonte: Brasil (2012).suprimentos para as principais commodities,observa-se que a China é autossuficiente na produção<strong>da</strong> maioria <strong>de</strong>las, como milho, arroz, trigoe carnes, e não produz o necessário para seuconsumo apenas para algodão, açúcar e soja.Desses três, o açúcar e o algodão apresentamautossuficiência alta, ao redor <strong>de</strong> 80% em 2011,e apenas para a soja, a situação é mais crítica,com suprimento interno ao redor <strong>de</strong> 20%, fator<strong>de</strong>terminante <strong>da</strong> concentração <strong>da</strong> pauta importadora<strong>da</strong> China nesse produto (Tabelas 4, 5 e 7).Os 15 principais produtos importadospela China <strong>de</strong> 2007 a 2011 representaram 74,3%do total, apontando uma alta concentração emapenas cinco produtos. A soja respon<strong>de</strong>u por34%; óleo <strong>de</strong> palma, 7,8%; algodão, 7,6%; pescados,4,8%; e óleo <strong>de</strong> soja, 3,2% (Tabela 16).Tabela 16. Importações chinesas mundiais para os principais produtos <strong>da</strong> pauta importadora agrícola <strong>da</strong> China(em bilhões <strong>de</strong> dólares (1) ) e market share (%) do Brasil (média do período <strong>de</strong> 2007 a 2011).HS4 Descrição Importações mundiais% sobre o totalimportado% correspon<strong>de</strong>nte ao valorimportado do Brasil1201 Soja 19.196 33,9 35,71511 Óleo <strong>de</strong> palma 4.403 7,8 05201 Algodão 4.330 7,6 3303 Pescado congelado 2.710 4,8 0,021507 Óleo <strong>de</strong> soja 1.790 3,2 35,15101 Lã 1.754 3,1 02301 Farinha <strong>de</strong> carne/peixe 1.329 2,3 04101 Couros e peles 1.322 2,3 0,002207 Carne <strong>de</strong> frango 835 1,5 29,6714 Raízes <strong>de</strong> mandioca 815 1,4 0402 Leite em pó 778 1,4 0Selecionados 39.305 69,3 19,99Demais produtos 17.372 30,7Total 56.677 100,0(1)Valores constantes <strong>de</strong> 2005 – IPC-EUA.Fonte: Tra<strong>de</strong> Map (2012).Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>22
A<strong>de</strong>mais, ressalte-se que as importaçõeschinesas agrícolas <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> US$ 57 bilhõessão pequenas se compara<strong>da</strong>s às importações totais.Desse total, o Brasil respon<strong>de</strong>u por 14,5%<strong>da</strong>s importações chinesas, mas quando analisadosapenas os 14 principais produtos <strong>da</strong> pautabrasileira, essa participação subiu para 20%. Assim,o total agrícola exportado pelo Brasil para aChina saltou <strong>de</strong> 1,14 bilhão <strong>de</strong> dólares em 2002para 12,7 bilhões em 2011, o que faz do mercadochinês o segundo mais importante na pautaexportadora agrícola brasileira, ressaltando queo primeiro é o bloco <strong>da</strong> União Europeia.Da mesma maneira que a pauta importadora<strong>da</strong> China é concentra<strong>da</strong> em poucos produtos,ao analisar-se a evolução <strong>da</strong>s exportaçõesagrícolas brasileiras para a China, percebe-setambém uma alta concentração (Tabela 17). Seforem consi<strong>de</strong>rados os países isola<strong>da</strong>mente, aChina é o principal <strong>de</strong>stino <strong>da</strong>s exportações brasileirasagrícolas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2007, e a soja em grãoé <strong>de</strong> longe o principal produto exportado paraesse país, com 79% em 2002 e 75% em 2011.Ao acrescentar-se o valor do óleo, o complexosoja (nesse caso consi<strong>de</strong>rados apenas grãoe óleo, pois o valor do farelo foi praticamenteTabela 17. Evolução <strong>da</strong>s exportações agrícolas brasileiras para a China <strong>de</strong> 2002 a 2011 (valores em milhões<strong>de</strong> dólares (1) ).NCM Descrição 2002 % 2005 2008 2011 %Médiapara2007–2011%12010090 Outros grãos <strong>de</strong> soja, mesmotriturados15071000 Óleo <strong>de</strong> soja, em bruto, mesmo<strong>de</strong>gomado896 79 1.717 4.829 9.513 75 6.426 78,4127 11 144 747 660 5 477 5,817011100 Açúcar <strong>de</strong> cana, em bruto 72 6 247 333 326 3 417 5,124012030 Fumo não manuf. total/parc.<strong>de</strong>stalado em folhas secas, etc.- - - 20 1.005 8 295 3,652010020 Algodão simplesmente <strong>de</strong>bulhado 3 0 63 29 492 4 216 2,62071400 Pe<strong>da</strong>ços e miu<strong>de</strong>zas comestíveis<strong>de</strong> galos/galinhas, congelados20091100 Sucos <strong>de</strong> laranjas, congelados,não fermentados17019900 Outros açúcares <strong>de</strong> cana,beterraba, sacarose5 0 78 1 367 3 162 2,08 1 37 51 99 1 68 0,85 0 25 5 3 0 20 0,215200010 Glicerina em bruto 1 0 0 0 52 0 16 0,223080000 Matérias vegetais e <strong>de</strong>sperdício<strong>de</strong> outros vegetaisTotal dos produtosselecionados- - - 5 31 0 13 0,21.118 98 2.311 6.021 12.548 99 8.109 99,00Total agrícola 1.136 100 2.384 6.073 12.694 100 8.194 100,00(1)Valores constantes <strong>de</strong> 2005 – IPC-EUA.Fonte: Brasil (2012).23Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
zero) respon<strong>de</strong>u por 90% e 80% em 2002 e em2011, respectivamente (Tabela 17).A pauta <strong>da</strong> soja com a China está concentra<strong>da</strong>nos dois sentidos: a China é o maior importador<strong>de</strong> soja do Brasil (56% <strong>de</strong> nossa soja noperíodo 2009–2011), e a soja é o principal produto<strong>da</strong> pauta com aquele país (75% em 2011). A<strong>de</strong>mais,o Brasil é o segundo maior fornecedor paraa China, com um market share <strong>de</strong> 35,7% (média<strong>de</strong> 2007–2011), atrás apenas dos Estados Unidos.Apenas 10 linhas tarifárias (HS-8) foramresponsáveis por 98% e 99% <strong>da</strong>s exportaçõesagrícolas brasileiras para a China, respectivamente,para 2002 e 2011. Além do complexosoja, aparece também o açúcar, com 11% e 5%.Já o fumo, o algodão e a carne <strong>de</strong> frango tiveramexportações apenas em 2011 com 8%, 4%e 3%, respectivamente. A carne <strong>de</strong> frango merece<strong>de</strong>staque, pois até 2005 o Brasil não estavahabilitado (acordo sanitário) a exportar carne <strong>de</strong>aves para a China. Essa abertura <strong>de</strong> mercado foipossível <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> negociações entre o<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> do Brasil e as autori<strong>da</strong><strong>de</strong>schinesas, e também em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> gripeaviária, que na época ameaçava o abastecimento<strong>de</strong> carne <strong>de</strong> aves <strong>da</strong>quele país. Embora a tarifapara esse produto seja consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> alta, comequivalente ad valorem ao redor <strong>de</strong> 20%, ain<strong>da</strong>assim foi possível acessar esse mercado.No que se refere ao açúcar, embora a tarifaseja <strong>de</strong> 50%, a China oferece uma quota <strong>de</strong>1.945.000 tonela<strong>da</strong>s com tarifa intraquota <strong>de</strong>15%, o que possibilitou a exportação. Já a tarifaenfrenta<strong>da</strong> pelo fumo, <strong>de</strong> 10%, não é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>muito alta, e com relação ao algodão, emboraa alíquota <strong>de</strong> 40% seja proibitiva, a China tambémconce<strong>de</strong> quota tarifária <strong>de</strong> 894.000 tonela<strong>da</strong>scom tarifa <strong>de</strong> 1% (Tabela 14).A<strong>de</strong>mais, na análise do mercado internacionalchinês, <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados os <strong>da</strong>dos<strong>de</strong> Hong Kong, já que muitas importações docontinente são feitas por essa via. No caso docomércio bilateral agrícola com o Brasil, a interfacecom Hong Kong se dá principalmente nocomércio <strong>de</strong> carnes. Observa-se, por exemplo,que <strong>de</strong> 2007 a 2011 as importações <strong>de</strong> carne bovinado Brasil por Hong Kong foram <strong>de</strong> US$ 149milhões (37,5% <strong>da</strong>s importações totais do produto),valor mais que três vezes superior aos US$ 46milhões <strong>de</strong> carne brasileira importa<strong>da</strong> pela China.Com relação à carne <strong>de</strong> frango, os númerossão ain<strong>da</strong> mais significativos, com média <strong>de</strong> 475milhões <strong>de</strong> dólares <strong>de</strong> importação brasileira porHong Kong no período (market share <strong>de</strong> 41,3%),e as reexportações <strong>de</strong>sse produto ao mercadochinês foram <strong>de</strong> 245 milhões no mesmo período.No caso <strong>da</strong> carne suína, apesar <strong>de</strong> o mercadochinês ficar fechado para o Brasil até outubro <strong>de</strong>2012 por questões sanitárias, o produto apresentou148 milhões <strong>de</strong> importações brasileiras paraHong Kong, ou 29,1% do total importado, e asreexportações para a China foram <strong>de</strong> 69 milhões(Tabela 18).Há que se ressaltar que no comércio comHong Kong, não há incidência <strong>de</strong> tarifas (freetra<strong>de</strong>), além <strong>de</strong> haver facili<strong>da</strong><strong>de</strong>s logísticas <strong>de</strong>importações e exigências sanitárias mais flexíveisque aquelas <strong>da</strong> China continental. Entretanto, aoutra Região Especial Administrativa (sigla eminglês: SAR) <strong>da</strong> China, Macau, apresentou umcomércio ínfimo com o Brasil, <strong>de</strong> apenas 17,5milhões <strong>de</strong> dólares <strong>de</strong> importação <strong>de</strong> 2007 a2011 (0,3% <strong>de</strong> suas importações totais agrícolas),e 90% (15,8 milhões) foram <strong>da</strong>s três carnes(bovina, suína e <strong>de</strong> aves).Análise do atual marketshare brasileiro na China epotencial <strong>de</strong> crescimento paraprodutos selecionadosAo cruzar-se a pauta importadora chinesacom a pauta exportadora brasileira, observa-seque para os 14 principais produtos (responsáveispor 88% <strong>da</strong>s exportações brasileiras agrícolas em2011), o market share no mercado chinês foi <strong>de</strong>29,8% em média, <strong>de</strong> 2007 a 2011. Essa participaçãovai <strong>de</strong> zero, como o caso <strong>da</strong> carne suína, atécerca <strong>de</strong> 80%, para o suco <strong>de</strong> laranja (Tabela 19).Ao analisarem-se os principais produtos napauta exportadora brasileira e sua participaçãoAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>24
Tabela 18. Importações por Hong Kong <strong>de</strong> carne bovina, suína e <strong>de</strong> frango – totais e do Brasil – e <strong>de</strong> <strong>de</strong>maisprodutos; e reexportações para a China no período 2007–2011 (valores em milhões <strong>de</strong> dólares (1) ).ProdutoImportaçõestotaisImportações doBrasil% <strong>da</strong>s importaçõesdo Brasil sobre ototalReexportaçõespara ChinaCarne bovina fresca econgela<strong>da</strong>399 149 37,3 4Carne suína 508 148 29,1 69Carne <strong>de</strong> frango 1.149 475 41,3 245Carnes – total 2.054 772 37,6 318Demais produtos 12.879 540 4,2 2.011Total dos produtos agrícolas 14.933 1.312 8,8 2.329(1)Valores constantes <strong>de</strong> 2005 – IPC-EUA.Fonte: Tra<strong>de</strong> Map (2012).no mercado chinês, observaram-se os seguintesaspectos.a) Complexo soja (soja em grão, farelo eóleo <strong>de</strong> soja)Em 2002, o valor <strong>da</strong> soja (tarifa <strong>de</strong> 3%) exportadopara a China foi <strong>de</strong> US$ 896 milhões,número que foi multiplicado por 11 nos últimos10 anos, o que fez o Brasil aumentar tambémseu market share (35,7% no período), só per<strong>de</strong>ndopara os Estados Unidos, com 42,5%, e à frente<strong>da</strong> Argentina, com 19,5% (Tabela 19). Dadosdo USDA (2012) apontam para uma tendência<strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> consumo nos próximos anos,puxado pela que<strong>da</strong> na produção chinesa, poisprodutores locais estão optando por produtosmais rentáveis. Associado a isso, a produção <strong>de</strong>rações animais continua a ser um fator chave naimportação <strong>de</strong> soja em grão, setor esse que temapresentado gran<strong>de</strong> crescimento, impulsionadopelo crescimento <strong>da</strong> produção em larga escala<strong>de</strong> suínos e aves. Market share semelhante, <strong>de</strong>35,1%, foi obtido pelo óleo <strong>de</strong> soja brasileiro,mas para um volume bem menor <strong>de</strong> importaçãochinesa, se comparado ao grão. A tarifa para oóleo <strong>de</strong> soja é <strong>de</strong> 9%, não representando umabarreira. O principal fornecedor para a China éa Argentina, com 53,8%. Para o farelo, a participaçãodo Brasil é zero, embora seja competitivono mercado internacional do produto, e a tarifachinesa seja baixa (5%). A ínfima importaçãochinesa <strong>de</strong> 62 milhões <strong>de</strong> dólares foi 95% supri<strong>da</strong>pela Índia, país com o qual tem acordo <strong>de</strong>preferências tarifárias.b) Carnes: bovina fresca, congela<strong>da</strong> eprocessa<strong>da</strong>; suína; e <strong>de</strong> avesO consumo <strong>de</strong> proteína animal na Chinacresceu cerca <strong>de</strong> 10 kg per capita (soma<strong>da</strong>s astrês carnes e o leite em pó) na última déca<strong>da</strong>,impulsionado pelo aumento <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>, mu<strong>da</strong>nças<strong>de</strong> hábitos alimentares na direção <strong>de</strong> maiora<strong>de</strong>são às comi<strong>da</strong>s oci<strong>de</strong>ntais, alta urbanização,alimentação fora <strong>de</strong> casa, entre outros (Figura 6).Das três carnes, a bovina é a que apresentao menor consumo per capita na China, aoredor <strong>de</strong> 4 kg hab. -1 ano -1 em 2011, número muitobaixo se comparado aos oci<strong>de</strong>ntais (USDA,2012). Embora a importação do produto tenhaapresentado crescimento <strong>de</strong> 2007 a 2011, ossubsídios governamentais que visam ao aumento<strong>da</strong> produção interna po<strong>de</strong>rão inibir aumentos naimportação (OCDE, 2012). O Brasil respon<strong>de</strong>upor 7% <strong>da</strong>s importações <strong>de</strong> carne bovina pelaChina, que foram <strong>de</strong> apenas 46 milhões <strong>de</strong> dólares.A tarifa aplica<strong>da</strong> ao produto é <strong>de</strong> 12%, e,<strong>da</strong><strong>da</strong> a alta competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> carne brasileira,25Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Tabela 19. Participação brasileira no mercado chinês para produtos selecionados, tarifa aplica<strong>da</strong> e principais fornecedores <strong>da</strong> China para o período<strong>de</strong> 2007 a 2011 (valores em milhões <strong>de</strong> dólares (1) ).HS4 DescriçãoTarifa MFN (2)– China (%)Imp.totaischinesasMarketshare doBrasil (%)Principais fornecedores ao mercado chinês (por país, em %)1201 Soja em grão 3 19.196 35,7 EUA 42,5 Argentina 19,5 Uruguai 1,9 Outros 0,45201 Algodão 40 4.330 3,0 EUA 40,2 Índia 26,5 Austrália 7,9 Uzbequistão8,5 BurkinaFaso3,01507 Óleo <strong>de</strong> soja 9 1.790 35,1 Argentina 53,8 EUA 10,9 Outros 0,20207 Carne <strong>de</strong> aves ad valorem<strong>de</strong> 19,1%(2009)835 29,6 EUA 51,0 Argentina 16,4 Chile 2,5 Outros 0,51701 Açúcar 50 698 28,7 Cuba 35,6 Tailândia 8,3 Coreia 14,0 Austrália 2,6 Outros 10,82401 Fumo 10 657 50,7 Zimbábue 18,6 Argentina 7,2 EUA 15,0 Outros 8,50203 Carne suína 12 328 0,0 EUA 40,0 UE 37,7 Canadá 18,5 Outros 3,81005 Milho em grão 65 173 0,0 EUA 51,5 Laos 21,3 Mianmar 13,6 UE 3,4 Peru 1,1200911 Suco <strong>de</strong> laranja 7,5 108 79,5 Israel 14,3 EUA 4,1 Outros 2,10901 Café em grão 8 65 3,7 Vietnã 52,6 EUA 15,7 UE 6,6 Indonésia 5,5 Colômbia 2,32304 Farelo <strong>de</strong> soja 5 62 0,0 Índia 94,6 Dinamarca 3,1 Formosa 1,8 Outros 0,50202 Carne bovina frescae congela<strong>da</strong>12 46 7,0 Austrália 49,0 Uruguai 31,0 NovaZelândia9,01602 Carne processa<strong>da</strong> 12 4 0,1 EUA 22,2 Formosa 16,1 UE 15,8 Outros 45,82207 Álcool etílico 40 2 0,1 Japão 52,6 Indonésia 15,9 EUA 7,1 Outros 24,3Total Produtos selecionados 28.330 29,8Total Bens agrícolas 56.677 15,1Produtos selecionados/total <strong>de</strong> bens agrícolas (%)50 0,0(1)Valores constantes <strong>de</strong> 2005 – IPC-EUA; (2) Nação mais favoreci<strong>da</strong>.Nota: produtos selecionados são os 14 principais produtos <strong>da</strong> pauta exportadora brasileira.Fonte: Tra<strong>de</strong> Map (2012).Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>26
Figura 6. Evolução do consumo per capita <strong>de</strong> proteínaanimal na China <strong>de</strong> 2002 a 2011 (kg hab. -1 ano -1 ).Fonte: USDA (2012).não representa uma barreira. Há que se ressaltarain<strong>da</strong> a existência do comércio por meio <strong>de</strong>Hong Kong, já discutido anteriormente.Com um consumo per capita <strong>de</strong> 9,7 kghab. -1 ano -1 em 2011 (USDA, 2012), , a carne <strong>de</strong>frango apresentou importações <strong>de</strong> 835 milhões<strong>de</strong> dólares na média do período <strong>de</strong> 2007 a 2011,tendo o Brasil exportado 30% <strong>de</strong>sse total, e osEstados Unidos, 50%. Há que se consi<strong>de</strong>rar nessamédia que o Brasil passou a exportar o produtopara a China apenas em 2009, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> entãoas exportações brasileiras têm crescido ano aano, com a crescente habilitação <strong>de</strong> novos frigoríficos.A carne <strong>de</strong> frango está sujeita à tarifa específicana China, com equivalente ad valoremem torno <strong>de</strong> 20%. O produto tem apresentado<strong>de</strong>man<strong>da</strong> crescente por ser uma proteína animal<strong>de</strong> mais baixo custo.No que se refere à carne suína, no períodoanalisado, o Brasil ain<strong>da</strong> não acessava o mercadochinês em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> acordo sanitário, oqual vinha sendo negociado pelo <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong><strong>Agricultura</strong> do Brasil havia vários anos, tendo sidoanuncia<strong>da</strong> a abertura do mercado para o produtobrasileiro em 2012. A tarifa aplica<strong>da</strong> para o produtoé <strong>de</strong> 12%, não representando uma barreiraàs exportações. Além <strong>de</strong> a China ser o maiorprodutor mundial, com cerca <strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> carnesuína produzi<strong>da</strong> no mundo, é também o maiorconsumidor mundial do produto, com um crescenteconsumo per capita (era <strong>de</strong> 32,1 kg hab. -1ano -1 em 2002 e passou para 37,3 kg hab. -1 ano -1em 2011). Isso tem levado a aumentos anuais novolume importado (<strong>de</strong> 91 mil tonela<strong>da</strong>s em 2002para 550 mil em 2011), embora a produção internatambém tenha crescido.c) Açúcar e álcoolO crescente consumo <strong>de</strong> açúcar tanto parauso in natura pelas famílias, quanto para consumo<strong>da</strong> indústria (doces e refrigerantes) cresceu 50% nosúltimos 10 anos na China, tendo passado <strong>de</strong> 9,3milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s em 2002 para 14 milhões em2011. Mesmo com o aumento <strong>da</strong> produção interna,e uma tarifa proibitiva <strong>de</strong> 50%, as importaçõeschinesas do produto cresceram 56% no período,totalizando 2,4 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s em 2011. Oproduto tem tarifa <strong>de</strong> 50%, muito alta, mas se beneficia<strong>de</strong> uma quota tarifária <strong>de</strong> 1.945.000 tonela<strong>da</strong>scom tarifa <strong>de</strong> 15%, e teve como principaisfornecedores, <strong>de</strong> 2007 a 2011, Cuba e Brasil, tendoas exportações brasileiras passado <strong>de</strong> apenas 50mil tonela<strong>da</strong>s em 2007 para cerca <strong>de</strong> 2 milhõesem 2011. O <strong>de</strong>scolamento do preço interno do internacionaltambém contribuiu para o aumento <strong>da</strong>importação, tornando viável a importação <strong>de</strong> produtosaté fora <strong>da</strong> quota, embora o governo chinêspossa aumentar o volume <strong>da</strong> quota conforme suanecessi<strong>da</strong><strong>de</strong>.As importações <strong>de</strong> álcool chinesas foramínfimas, <strong>de</strong> 2 milhões <strong>de</strong> dólares em média <strong>de</strong>2007 a 2011, e 52% vieram do Japão. O produtoapresenta uma tarifa muito alta, <strong>de</strong> 40%, enão existe quota para ele. A barreira nesse casoé tarifária.d) AlgodãoAs importações chinesas <strong>de</strong> algodão noperíodo analisado foram responsáveis por 8% dototal agrícola importado pela China. Os EstadosUnidos, o mais importante fornecedor do produto,foram responsáveis por 40% do valor importadopela China. O Brasil aparece com apenas3% do valor importado pela China. A tarifa parao produto é <strong>de</strong> 40%, proibitiva, mas existe umaquota tarifária <strong>de</strong> 894.000 t com tarifa <strong>de</strong> 1%,que possibilita a entra<strong>da</strong> do produto no mercadochinês.27Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
e) Suco <strong>de</strong> laranjaDa<strong>da</strong> a alta participação brasileira do suco<strong>de</strong> laranja no mercado chinês, favoreci<strong>da</strong> pelatarifa <strong>de</strong> 7,5% e pela praticamente ausência <strong>de</strong>gran<strong>de</strong>s competidores, aumentos no consumochinês do produto muito provavelmente provocarãoaumentos nas importações do produtobrasileiro.f) FumoDe 2007 a 2011, o mercado <strong>de</strong> fumo <strong>da</strong> Chinafoi suprido em 50% pelo Brasil, e seu principalcompetidor foi Zimbábue (19%). Esse país temtarifa preferencial no mercado chinês, concedi<strong>da</strong>no âmbito dos LDCs (sigla em inglês para países<strong>de</strong> menor <strong>de</strong>senvolvimento). O terceiro lugar ficoucom os Estados Unidos, com 15%. A tarifa MFNpara fumo na China é <strong>de</strong> 10%, está abaixo <strong>da</strong> médiatarifária agrícola do país (15%) e não <strong>de</strong>verá representaruma importante barreira às importaçõesbrasileiras, caso haja aumento <strong>de</strong> consumo.g) CaféO mercado importador <strong>de</strong> café <strong>da</strong> Chinaé ain<strong>da</strong> muito restrito e importou 65 milhões <strong>de</strong>dólares em média <strong>de</strong> 2007 a 2011, tendo a participaçãodo Brasil sido <strong>de</strong> apenas 4%. O principalfornecedor é o Vietnã, com o qual a China temacordo <strong>de</strong> preferências tarifárias, mas <strong>de</strong> qualquermaneira a tarifa <strong>de</strong> 8% aplica<strong>da</strong> pela Chinanão representa uma forte barreira ao comércio.Mu<strong>da</strong>nças no hábito <strong>de</strong> consumo chinês ten<strong>de</strong>ma aumentar a <strong>de</strong>man<strong>da</strong> pelo produto no futuro.h) MilhoQuanto às importações <strong>de</strong> milho <strong>da</strong> China,<strong>de</strong> 173 milhões <strong>de</strong> dólares no período analisado,40% foram supri<strong>da</strong>s pelos Estados Unidos,e 38% pela União Europeia, e estão sujeitas auma quota tarifária <strong>de</strong> 7,2 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>scom intraquota <strong>de</strong> 1% (a extraquota é <strong>de</strong> 65%).Existe a tendência <strong>de</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> crescente paraesse produto, puxa<strong>da</strong> pelo crescimento <strong>da</strong> produçãoindustrial e <strong>de</strong> carnes. A participação doBrasil nesse mercado foi muito pequena no período,com exportações médias <strong>de</strong> 2,5 milhões<strong>de</strong> dólares no período. No entanto, Brasil e Argentinapo<strong>de</strong>m se beneficiar <strong>de</strong>sse mercado seacor<strong>da</strong>rem a regulamentação <strong>da</strong> exportação <strong>de</strong>organismos geneticamente modificados (OGMs).Consi<strong>de</strong>rações finaisA China é um gigante também na agriculturae tem conseguido, ao longo dos últimosanos, alimentar sua população, mantendo umalto grau <strong>de</strong> autossuficiência em sua produção.Atingiu recentemente o posto <strong>de</strong> maior produtormundial <strong>de</strong> grãos, à frente dos Estados Unidos,além <strong>de</strong> ser o maior produtor <strong>de</strong> carne suína,com meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> produção mundial, o segundo<strong>de</strong> carne <strong>de</strong> frango e o quarto na produção <strong>de</strong>carne bovina. Nos últimos anos vem incrementandoseu apoio interno à agricultura e incentivandoa produção <strong>de</strong> proteína animal, com fortepressão sobre o mercado mundial <strong>de</strong> soja e, maisrecentemente, <strong>de</strong> milho.No entanto, questões como a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>em aumentar a área <strong>de</strong> produção, associa<strong>da</strong>s àfalta <strong>de</strong> água em algumas regiões e ao crescenteêxodo rural, tem feito que a China busque fora <strong>de</strong>seu território a sua segurança alimentar. Isso temsido feito tanto pela via <strong>da</strong>s importações, quantopela compra <strong>de</strong> terras no exterior.Alimentar uma população <strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente1,4 bilhão <strong>de</strong> pessoas, que, com o aumento<strong>de</strong> ren<strong>da</strong>, vem se tornando mais exigente emsuas escolhas, não é tarefa fácil e exigirá ca<strong>da</strong>vez mais um planejamento estratégico <strong>de</strong> seusgovernantes na escolha <strong>da</strong>s melhores opçõesque possam garantir seu abastecimento. O Brasilnão po<strong>de</strong> ficar longe <strong>de</strong>sse gran<strong>de</strong> e importanteparceiro comercial. Assim, necessário se torna oestabelecimento <strong>de</strong> uma estratégia brasileira <strong>de</strong>curto, médio e longo prazos quanto ao comérciopara usufruir <strong>de</strong>ssa oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ímpar para aagricultura brasileira.Além do aumento <strong>da</strong> população e <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>,outros fatores vêm mu<strong>da</strong>ndo a <strong>de</strong>man<strong>da</strong> por produtosagrícolas na China. Recente estudo conduzidopela Aca<strong>de</strong>mia Chinesa <strong>de</strong> Ciências <strong>de</strong>mostrouque a dieta em geral na China está incorporandoAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>28
comi<strong>da</strong>s oci<strong>de</strong>ntais ao cardápio, em virtu<strong>de</strong> docrescimento econômico, urbanização e liberalização<strong>de</strong> mercado. Hábitos como consumir leite,pão e café no café <strong>da</strong> manhã foram observados emgran<strong>de</strong>s centros <strong>de</strong> Beijing, Nanjing e Chengdu, eapresentam tendência <strong>de</strong> crescimento importantenos próximos anos, o que refletirá na importação<strong>de</strong> alimentos que hoje tem um peso muito pequenona pauta importadora <strong>da</strong> China.Outro fator relevante que tem contribuídopara a mu<strong>da</strong>nça dos hábitos alimentares refereseà inclusão digital, seja pelo acesso à informaçãosobre novos e diversos produtos, seja peladisponibilização <strong>de</strong> um novo canal <strong>de</strong> distribuição,com uma plataforma para ven<strong>da</strong> direta <strong>de</strong>fornecedores aos consumidores.Finalmente, espera-se que os <strong>da</strong>dos apresentadossobre a China e suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s futuras<strong>de</strong> produtos agrícolas subsidiem as políticaspúblicas do governo brasileiro, particularmenteas relaciona<strong>da</strong>s à produção e comercialização,e que o setor privado tenha mais subsídios parasuas negociações com a gigante China.ReferênciasABLER, D. Demand growth in <strong>de</strong>veloping countries.2010. 50 p. (OECD. Food, agriculture and fisheriespapers, 29). DOI: 10.1787/5km91p2xcsd4-en.BAI, J.; SEALE, J.; LOHMAR, B.; WAHL, T. Meat <strong>de</strong>mandin urban Chinese households. Washington, DC: UnitedDepartment of Agriculture, 2012. 48 p. (Gain report).BRASIL. <strong>Ministério</strong> do Desenvolvimento, Indústria eComércio Exterior. Secretaria <strong>de</strong> Comércio Exterior.AliceWeb: Sistema <strong>de</strong> Análise <strong>da</strong>s Informações <strong>de</strong>Comércio exterior. Disponível em: . Acesso em: 16 nov. 2012.CIA. Central Intelligence Agency. The world factbook.Washington, DC, 2012. Disponível em: . Acessoem: 23 ago. 2012.GALE, F.; HUANG, K. Demand for food quantity andquality in China. Washington, DC: Economic ResearchService, 2007. (USDA. Economic research report, 32).Disponível em: . Acesso em: 24 set. 2012.HOFFMANN, R. Estimativas <strong>da</strong>s elastici<strong>da</strong><strong>de</strong>s-ren<strong>da</strong><strong>de</strong> várias categorias <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesa e <strong>de</strong> consumo,especialmente alimentos, no Brasil, com base na POF <strong>de</strong>2008-2009. <strong>Revista</strong> <strong>de</strong> Economia <strong>Agrícola</strong>, São Paulo, v.57, n. 2, p. 49-62, jul./<strong>de</strong>z. 2010.LONDON, G.D. What the future looks like: new film:“when China met Africa”. The Economist, 1 nov. 2011.Disponível em: .Acesso em: 12 set. 2012.OCDE. <strong>Agricultura</strong>l policy monitoring and evaluation2012: OECD countries. 2012. DOI: 10.1787/agr_pol-2012-en.OMC. Organização Mundial do Comércio. Tra<strong>de</strong> policyreview: report by China. (WT/TPR/G/264). Disponívelem: .Acesso em: 29 <strong>de</strong> set.2012.ONU. United Nations Department of Economic andSocial Affairs. Population Division, Population Estimatesand Projections Scetion. World population prospects:the 2010 revision, volume II: <strong>de</strong>mographic profiles.2010. Disponível em: . Acesso em: 17 nov. 2012.SIYU, Z. China may begin importing corn fromArgentina as <strong>de</strong>mand soars. China Daily, p. 16, may2012. Disponível em: . Acesso em:30 nov. 2012.THE WORLD BANK. Data: indicators. Disponível em:. Acesso em: 16nov. 2012.THOMAS, S. C. China´s economic <strong>de</strong>velopment from1860 to the present: the roles of sovereignty and theglobal economy. 2006. (Forum on public policy).Disponível em: . Acesso em: 16 nov. 2012.TRADE MAP. Tra<strong>de</strong> statistics for international business<strong>de</strong>velopment. Geneva: International Tra<strong>de</strong> Centre, 2012.Disponível em: . Acesso em:16 nov. 2012.USDA. United States Department of Agriculture. Foreign<strong>Agricultura</strong>l Service. Foreign <strong>Agricultura</strong>l Service[home page]. Disponível em: . Acesso em: 16 nov.2012.29Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Expansão <strong>de</strong> áreaRogério Edivaldo Freitasagrícola no período2Marco Aurélio Alves <strong>de</strong> Mendonça 3Geovane <strong>de</strong> Oliveira Lopes 41994–2010 1Resumo – Este artigo teve por objetivo mensurar a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento <strong>da</strong> área <strong>de</strong> produção<strong>da</strong> agricultura brasileira <strong>de</strong> 1994 a 2010, no contexto <strong>da</strong>s mesorregiões brasileiras, discutindo-seem segundo plano as diferenças oriun<strong>da</strong>s do subperíodo 2006 a 2010. Empregaram-se <strong>da</strong>dos <strong>da</strong>pesquisa <strong>de</strong> Produção <strong>Agrícola</strong> Municipal (PAM), do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística(IBGE). Foram utilizados indicadores <strong>de</strong> crescimento e um procedimento <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> grupamentospara i<strong>de</strong>ntificar similari<strong>da</strong><strong>de</strong>s entre as mesorregiões agrícolas brasileiras. Os resultados sinalizaramum crescimento <strong>de</strong> área agrícola substantivo no caso do Norte Mato-Grossense, Sul Goiano,Sudoeste <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul, Extremo Oeste Baiano, Su<strong>de</strong>ste Mato-Grossense, TriânguloMineiro/Alto Paranaíba, Nor<strong>de</strong>ste Mato-Grossense, São José do Rio Preto, Sul Maranhense e NorteCentral Paranaense.Palavras-chave: agricultura, análise <strong>de</strong> grupamentos, mesorregiões.Expansion of agricultural area from 1994 to 2010Abstract – This article aimed at measuring growth inequality of Brazilian agricultural productionarea from 1994 to 2010, in the context of Brazilian mesoregions, including discussions, on the backburner, about differences that originated in the period of 2006 to 2010. The employed <strong>da</strong>ta arefrom Municipal <strong>Agricultura</strong>l Production (PAM), of the Brazilian Institute of Geography and Statistics(IBGE). The cluster analysis and growth indicators were used to i<strong>de</strong>ntify similarities between theBrazilian agricultural mesoregions. Results indicate a consi<strong>de</strong>rable growth of the agricultural area inNorte Mato-Grossense, Sul Goiano, Sudoeste <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul, Extremo Oeste Baiano, Su<strong>de</strong>steMato-Grossense, Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, Nor<strong>de</strong>ste Mato-Grossense, São José do RioPreto, Sul Maranhense, and Norte Central Paranaense.Keywords: agriculture, cluster analysis, mesoregions.1Original recebido em 8/1/<strong>2013</strong> e aprovado em 1º/2/<strong>2013</strong>.2Economista, Doutor em Ciências pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (USP), técnico <strong>de</strong> planejamento e pesquisa do Instituto <strong>de</strong> Pesquisa Econômica Aplica<strong>da</strong>(Ipea). E-mail: rogerio.freitas@ipea.gov.br3Economista, Doutor em Engenharia <strong>de</strong> Sistemas e Computação pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra <strong>de</strong> Pós-Graduação e Pesquisa <strong>de</strong> Engenharia (Coppe/UFRJ), técnico <strong>de</strong> planejamento e pesquisa do Instituto <strong>de</strong> Pesquisa Econômica Aplica<strong>da</strong> (Ipea), superinten<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Relações Fe<strong>de</strong>rativas <strong>da</strong> Secretaria <strong>da</strong>Fazen<strong>da</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro. E-mail: marco.mendonca@ipea.gov.br4Estatístico, mestrando em Economia pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília (UnB), assessor na Diretoria <strong>de</strong> Crédito do Banco do Brasil. E-mail: loggolest@gmail.comAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>30
IntroduçãoNo século 21, tanto a produção <strong>de</strong> alimentose <strong>de</strong> fibras quanto a <strong>de</strong> energia são questõesinescapáveis. Segundo estimativas <strong>da</strong> Organização<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (UNITED NATIONS,2011), em 2050 a população mundial será <strong>de</strong>cerca <strong>de</strong> 11 bilhões <strong>de</strong> pessoas.Diante <strong>de</strong> tal contexto, os aumentos <strong>de</strong>ren<strong>da</strong> per capita e <strong>da</strong>s taxas <strong>de</strong> urbanização nospaíses em <strong>de</strong>senvolvimento, sobretudo na Ásia ena África, po<strong>de</strong>m catapultar as <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s internacionaispor alimentos, por seus processados,e por fontes <strong>de</strong> energia ambientalmente neutrasem comparação com o emprego <strong>de</strong> combustíveisfósseis. A riqueza <strong>de</strong>sse argumento éreforça<strong>da</strong> pelo simples reconhecimento <strong>de</strong> queo homem mais perigoso é o homem com fome(JAMES, 2007).Segundo Vinholis (<strong>2013</strong>), do lado <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>,o aumento <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> per capita médiacombinado com o crescimento <strong>da</strong> populaçãoresultou no aumento <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> por alimentos,particularmente nos países em <strong>de</strong>senvolvimento.Segundo a autora, a elevação <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> propiciounão apenas o aumento <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> produtosbásicos, mas também a diversificação <strong>de</strong> consumo,Vinholis (<strong>2013</strong>) apud (TROSTLE, 2008).Nesse contexto, Barros (2012), por exemplo,lista diversos motivos pelos quais outrosgran<strong>de</strong>s players mundiais, que não o Brasil, terãodificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> atuar consistentemente na produção<strong>de</strong> alimentos 5 , <strong>de</strong>stacando-se questõesclimáticas (Austrália), dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> sustentarsubsídios (União Europeia), baixo dinamismoeconômico (México e Japão), dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s econômicasinternas (Argentina) e relativamentepequena disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> área para expansãoagropecuária (Rússia e Estados Unidos).Ao mesmo tempo, conforme Gasques(2011), ain<strong>da</strong> que já existam 235 milhões <strong>de</strong> hectaresincorporados à produção agropecuária noBrasil, 82 milhões <strong>de</strong> hectares são áreas ain<strong>da</strong>disponíveis para tais ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, sem avanços sobreáreas protegi<strong>da</strong>s pela legislação.Também nessa direção, análise anterior(FREITAS et al., 2011) havia <strong>de</strong>tectado, ressalva<strong>da</strong>sáreas <strong>de</strong>nsamente ocupa<strong>da</strong>s pela agriculturano Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e Paraná, crescimentomais intenso <strong>da</strong> agricultura, sobretudo no oestenor<strong>de</strong>stino, norte <strong>da</strong> região Centro-Oeste e amplasáreas <strong>da</strong> região Norte do país.Houve, no caso brasileiro, gran<strong>de</strong> acúmulo<strong>de</strong> conhecimento na esfera agropecuária, porconta <strong>de</strong> contribuições <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, do governoe do próprio setor privado. Tal incrementoocorreu tanto em termos <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> campo,aplicado às uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s produtoras, quanto no queconcerne à compreensão dos elos <strong>de</strong> suprimento,financiamento e escoamento nas adjacênciasdo setor.Em particular, o novo ambiente <strong>de</strong> políticas<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 6 conduziu a um consi<strong>de</strong>rávelajustamento estrutural <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> agriculturabrasileira, processo cujos impactos têm sido bastanteheterogêneos entre as regiões.Em termos <strong>de</strong> resultados, as exportaçõesagropecuárias do país têm sido indispensáveis aoequilíbrio do balanço <strong>de</strong> pagamentos local. Emnível <strong>de</strong> divisas <strong>de</strong> exportações, algo como 29%<strong>da</strong>s receitas <strong>de</strong> exportação brasileira, na médiado período 1989–2011, foram obti<strong>da</strong>s com aven<strong>da</strong> <strong>de</strong> produtos agropecuários 7 , conforme aFigura 1.A expansão <strong>da</strong> agricultura, ao longo <strong>da</strong>súltimas duas déca<strong>da</strong>s, tem re<strong>de</strong>finido as áreasgeográficas <strong>de</strong> ocupação e as culturas dinâmicascorrespon<strong>de</strong>ntes, constituindo um fenômeno5Esse argumento também está presente em World Economic Forum (2011).6Abertura comercial, estabilização monetária e redução <strong>da</strong> participação do Estado na ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva, inclusive com a substantiva alteração <strong>de</strong> políticas<strong>de</strong> comercialização especificamente volta<strong>da</strong>s para o setor agrícola.7Sobre esse aspecto, Teixeira Filho et al. (2001) haviam analisado 59 ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção agropecuária no Brasil, tendo concluído que em 39 casoso coeficiente <strong>de</strong> proteção efetiva era menor que a uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, o que <strong>de</strong>monstrara o elevado grau <strong>de</strong> abertura e condição <strong>de</strong> competição internacional doproduto agropecuário brasileiro.31Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Figura 1. Participação <strong>da</strong> agropecuária nas exportaçõesbrasileiras <strong>de</strong> 1989 a 2011.Fonte: Freitas (2012).que merece atenção, pois <strong>de</strong>corre principalmente<strong>de</strong> condicionantes ambientais para o uso <strong>de</strong>novas áreas, e <strong>da</strong> exclusão <strong>de</strong> áreas já homologa<strong>da</strong>scomo reservas indígenas.Em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s diferenças regionaisexistentes no comportamento do clima, o<strong>de</strong>senvolvimento agrícola tem <strong>de</strong>terminantes geográficosclaros. Elementos não diretamente observáveisou mensurados, como a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> dosolo (HOMEM DE MELLO, 1990; MANZATTO etal., 2002) ou o grau <strong>de</strong> avanço <strong>da</strong> tecnologia agrícolaadota<strong>da</strong>, também são fatores significativos.Para um <strong>de</strong>terminado nível efetivo <strong>de</strong> ocupação<strong>de</strong> área, novas fronteiras serão incorpora<strong>da</strong>scom base na tecnologia disponível e narentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> relativa espera<strong>da</strong>, oscilante ao sabor<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> específica produção agrícola.Isso posto, e reconheci<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> monitoramento do ritmo e <strong>da</strong> direção <strong>da</strong> expansão<strong>de</strong> área agrícola no País, faz-se importanteuma análise <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos que dê conta <strong>de</strong> umperíodo mais recente <strong>da</strong> ocupação <strong>da</strong> fronteiraagrícola nacional.ObjetivosEm vista do contexto acima apresentado,o objetivo do estudo é mensurar a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>inerente ao crescimento <strong>da</strong> área <strong>de</strong> produção <strong>da</strong>agricultura brasileira <strong>de</strong> 1994 a 2010, no contexto<strong>da</strong>s mesorregiões brasileiras.Subsidiariamente, discutem-se as diferenças<strong>de</strong> expansão <strong>de</strong> área agrícola oriun<strong>da</strong>s dosubperíodo 2006 a 2010, em comparação com ointervalo <strong>de</strong> 1994 a 2005, <strong>de</strong> modo a especificaros grupamentos geográficos mais dinâmicos.O trabalho não procura <strong>da</strong>r explicaçõespara o fenômeno, o que teria <strong>de</strong> incluir variáveisadicionais como disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tecnologia,política <strong>de</strong> crédito diferenciado entre as regiões,condições macroagroecológicas, e malha <strong>de</strong>transportes e infraestrutura, para citar apenas fatores<strong>de</strong> explicação imediatos. Esse refinamentoconstitui <strong>de</strong>safio posterior <strong>de</strong> investigação.A investigação está estrutura<strong>da</strong> <strong>da</strong> seguinteforma: em “Dados e metodologia”, <strong>de</strong>staca-sea estratégia empírica utiliza<strong>da</strong>; os resultados sãoapresentados em segui<strong>da</strong>; e, por fim, há as consi<strong>de</strong>raçõesfinais.Dados e metodologiaO estudo utilizou <strong>da</strong>dos <strong>de</strong> valor <strong>da</strong> produção(R$), área colhi<strong>da</strong> (ha) e área planta<strong>da</strong> (ha)<strong>da</strong> Produção <strong>Agrícola</strong> Municipal (PAM), disponibilizadospelo Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia eEstatística (IBGE, 2011) para o período <strong>de</strong> 1994 a2010, em relação a mesorregiões, e obtidos pelaBase Multidimensional <strong>de</strong> Estatísticas (BME) domesmo órgão 8 .O trabalho dá seguimento à metodologiae aos resultados <strong>de</strong> Freitas et al. (2011), e doisprocedimentos foram utilizados para medir e8As produções contempla<strong>da</strong>s nessas áreas foram abacate, abacaxi ou ananás, algodão arbóreo (em caroço), algodão herbáceo (em caroço), alho, amendoim(em casca), arroz (em casca), aveia (em grão), azeitona, banana, batata-doce, batata-inglesa (tubérculo), borracha natural coagula<strong>da</strong>, cacau (em amêndoa),café (em coco), café (em grão), cana-<strong>de</strong>-açúcar, caqui, castanha <strong>de</strong> caju, cebola, centeio (em grão), ceva<strong>da</strong> (em grão), chá-<strong>da</strong>-índia, coco-<strong>da</strong>-baía, <strong>de</strong>ndê(coco), erva-mate (folha ver<strong>de</strong>), ervilha (em grão), fava (em grão), feijão (em grão), figo, fumo (em folha), girassol (semente oleaginosa), goiaba, guaraná(semente), juta (fibra), laranja, limão (fruto), linho (semente), maçã, malva (fibra), mamão, mamona (baga), mandioca, manga, maracujá, marmelo, melancia,melão, milho (em grão), noz, palmito, pera, pêssego, pimenta-do-reino, rami (fibra), sisal ou agave (fibra), soja (em grão), sorgo (em grão), tangerina, tomate,trigo (em grão), triticale (em grão), tungue (fruto seco), urucum (semente colorífica) e uva.Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>32
<strong>de</strong>tectar as mesorregiões 9 brasileiras com crescimentodiferenciado em termos <strong>de</strong> expansão <strong>da</strong>área planta<strong>da</strong>.Em primeiro lugar, foram calculados ospercentuais <strong>de</strong> média <strong>de</strong> crescimento <strong>da</strong> áreaplanta<strong>da</strong> para ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s 137 mesorregiõesbrasileiras, tendo por base o ano <strong>de</strong> 1994:t = 1995,..., T (1)em queC 94,t: taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>da</strong> área planta<strong>da</strong> pelamesorregião i no ano t, com base em 1994.Como controle adicional por conta doefeito <strong>da</strong>s condições climáticas sobre a produçãoagrícola e para ter um indicador <strong>de</strong> curtoprazo recente, <strong>de</strong>smembrou-se o indicador anteriorno indicador 2, <strong>de</strong> modo a contemplar somenteo quinquênio 2006–2010 em relação aoano-base 1994.t = 2006,..., 2010 (2)Adicionalmente, utilizou-se a técnica estatística<strong>de</strong> análise <strong>de</strong> clusters (ou grupamentos)para a análise <strong>da</strong>s áreas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Em continui<strong>da</strong><strong>de</strong>à metodologia <strong>de</strong> Freitas et al. (2011),consi<strong>de</strong>rou-se a distância euclidiana, que, entredois elementos 10 , 1 e k, é <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> em função dosvetores <strong>de</strong> variáveis X associa<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> um doselementos:em quep: número <strong>de</strong> variáveis (características) <strong>de</strong> ca<strong>da</strong>elemento.k: número <strong>de</strong> elementos.(3)Essa distância apresenta uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>abstrata (PEREIRA, 2001) que, vale dizer, nãoserá medi<strong>da</strong> na escala <strong>de</strong> nenhuma <strong>da</strong>s variáreissob análise e“... estabeleci<strong>da</strong> a regra, o pesquisador é convi<strong>da</strong>doa um exercício <strong>de</strong> abstração em quesupõe, sem conseguir imagem correspon<strong>de</strong>nte,um espaço multiplano formado por tantoseixos quantas sejam as medi<strong>da</strong>s que tenha realizadosobre seu objeto <strong>de</strong> estudo.” (PEREIRA,2001, p. 108).Três foram as variáveis-chave <strong>de</strong> avaliação,ou seja:• A própria área planta<strong>da</strong> (AP): intenção<strong>de</strong> colheita do produtor agrícola na hipótesevirtual <strong>de</strong> não haver per<strong>da</strong> <strong>de</strong>área durante as operações <strong>de</strong> campo.• O valor bruto <strong>da</strong> produção (VBP), vistoque uma maior receita <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>em uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s monetárias teoricamenteincentiva em maior grau a ocupação <strong>de</strong>novas áreas.• A per<strong>da</strong> <strong>de</strong> área (P), que correspon<strong>de</strong> àdiferença entre área planta<strong>da</strong> (intenção<strong>de</strong> colheita) e área colhi<strong>da</strong> (<strong>de</strong> realização),equivalente à expressãoP = A.P. - A.C. t = 1994,..., T (4)em queA.P.: área planta<strong>da</strong> em hectares.A.C.: área colhi<strong>da</strong> em hectares.Consi<strong>de</strong>ra-se que as variáveis climáticas,<strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> solo, e também <strong>de</strong> manejo,como controle <strong>de</strong> pragas, que não estão sob plenocontrole do produtor e que afetam o nível <strong>de</strong>área colhi<strong>da</strong>, impactam diretamente o nível <strong>de</strong>per<strong>da</strong>s verificado no momento <strong>da</strong>s safras, tantopara as lavouras temporárias quanto para as lavouraspermanentes.9Os municípios não foram empregados como base <strong>de</strong> análise porque não estão necessariamente <strong>de</strong>finidos com base nas condições macroagroecológicas locais.A agroecologia é <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> como o conjunto <strong>de</strong> conceitos, princípios, normas e métodos que possibilitam estu<strong>da</strong>r, avaliar e manejar <strong>de</strong> forma consciente ossistemas naturais para produção <strong>de</strong> alimentos, permitindo compreen<strong>de</strong>r a natureza dos agrossistemas e <strong>de</strong>senvolvendo sistemas com <strong>de</strong>pendência mínima<strong>de</strong> insumos energéticos externos (ORMOND, 2004).10Essa análise po<strong>de</strong> ser estendi<strong>da</strong> do espaço bidimensional para um espaço multidimensional para o caso <strong>de</strong> n diferentes medi<strong>da</strong>s (características) X do objeto<strong>de</strong> estudo, porque a distância entre dois pontos sempre será linear e passível <strong>de</strong> visualização num plano, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> do espaçoem que se esteja trabalhando (PEREIRA, 2001).33Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Tabela 1. Taxas <strong>de</strong> crescimento <strong>da</strong> área agrícola no Brasil em relação ao ano-base 1994.AnoCrescimento <strong>da</strong> área colhi<strong>da</strong>(%)Crescimento <strong>da</strong> área planta<strong>da</strong>(%)1994 - -1995/1994 -1,12 -1,821996/1994 -10,94 -11,351997/1994 -7,30 -8,541998/1994 -8,88 -8,151999/1994 -4,58 -4,002000/1994 -2,25 -1,892001/1994 -2,00 -2,232002/1994 3,51 3,212003/1994 12,28 10,692004/1994 20,73 19,352005/1994 21,99 21,782006/1994 19,46 18,462007/1994 20,08 18,032008/1994 25,83 24,072009/1994 25,75 24,442010/1994 25,70 23,77Média <strong>de</strong> 1994–2005 1,95 1,55Média <strong>de</strong> 2006–2010 23,36 21,75Média <strong>de</strong> 1994–2010 8,64 7,86Fonte: IBGE (<strong>2013</strong>a).mesorregiões mais dinâmicas no curto prazo(2006–2010).Como critério mais rigoroso <strong>de</strong> seleção, 46mesorregiões aten<strong>de</strong>ram simultaneamente a ambasas restrições. Nesse subconjunto, oito pertencemao Paraná, cinco estão no Mato Grosso,cinco em São Paulo, e quatro no Amazonas. Osestados <strong>da</strong> Bahia e do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul contemplaramtrês mesorregiões ca<strong>da</strong> um; e contemplaram-seduas mesorregiões para ca<strong>da</strong> umdos estados <strong>de</strong> Amapá, Goiás, Mato Grosso doSul, Minas Gerais e Roraima. Por fim, Acre, Rondônia,Piauí, Pará, Distrito Fe<strong>de</strong>ral, Tocantins,Maranhão e Sergipe estiveram individualmenterepresenta<strong>da</strong>s.Conforme a Tabela 2, em termos <strong>de</strong> distribuição<strong>da</strong>s 46 mesorregiões seleciona<strong>da</strong>s, obteve-seque 12 estão localiza<strong>da</strong>s na região Norte,11 na Sul, 10 na Centro-Oeste, 7 na Su<strong>de</strong>ste e 6na Nor<strong>de</strong>ste. Em gran<strong>de</strong>s linhas, isso aponta aconcentração <strong>da</strong> expansão <strong>da</strong> área agrícola noBrasil no sentido Centro–Noroeste (22 mesorregiõeslí<strong>de</strong>res localiza<strong>da</strong>s no Centro-Oeste ou naregião Norte do país).35Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Figura 2. Crescimento <strong>da</strong> área planta<strong>da</strong> no Brasil – ano versus ano-base 1994.Fonte: IBGE (<strong>2013</strong>a).Figura 3. Crescimento <strong>da</strong> área planta<strong>da</strong> no Brasil – médias quinquenais em relação ao ano-base 1994.Fonte: IBGE (<strong>2013</strong>a).Isso posto, no intuito <strong>de</strong> se tentar controlaros casos em que as taxas <strong>de</strong> crescimento <strong>da</strong> áreaagrícola foram eleva<strong>da</strong>s por conta <strong>de</strong> uma basecomparativamente reduzi<strong>da</strong> no exercício inicial,1994, elaborou-se um procedimento adicional.Confrontaram-se as participações (no total <strong>de</strong>área planta<strong>da</strong> para lavouras no Brasil) <strong>da</strong>s mesorregiõesseleciona<strong>da</strong>s no ano-base (1994) e noano final (2010) <strong>da</strong> série <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos, com resultadosresumidos na Tabela 3.Também interessante é notar que houveum subgrupo <strong>de</strong> mesorregiões que, embora ti-Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>36
Tabela 2. Mesorregiões seleciona<strong>da</strong>s com base em crescimento <strong>da</strong> área planta<strong>da</strong>, em 1994–2010.Araçatuba, SPBaixo Amazonas, PABauru, SPCentro Amazonense, AMCentro Norte <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul, MSCentro Oci<strong>de</strong>ntal Paranaense, PRCentro Oci<strong>de</strong>ntal Rio-Gran<strong>de</strong>nse, RSCentro Oriental Paranaense, PRCentro-Sul Mato-Grossense, MTCentro-Sul Paranaense, PRDistrito Fe<strong>de</strong>ral, DFExtremo Oeste Baiano, BAItapetininga, SPLeste Goiano, GOLeste Sergipano, SEMa<strong>de</strong>ira-Guaporé, ROMetropolitana <strong>de</strong> Curitiba, PRNor<strong>de</strong>ste Baiano, BANor<strong>de</strong>ste Mato-Grossense, MTNor<strong>de</strong>ste Rio-Gran<strong>de</strong>nse, RSNoroeste <strong>de</strong> Minas, MGNoroeste Paranaense, PRNorte Amazonense, AMFonte: IBGE (<strong>2013</strong>a).I 1 e I 2Norte Central Paranaense, PRNorte <strong>de</strong> Roraima, RRNorte do Amapá, APNorte Mato-Grossense, MTNorte Pioneiro Paranaense, PROriental do Tocantins, TOPresi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte, SPSão José do Rio Preto, SPSu<strong>de</strong>ste Mato-Grossense, MTSu<strong>de</strong>ste Paranaense, PRSudoeste Amazonense, AMSudoeste <strong>de</strong> Mato Grosso do Su,l MSSudoeste Mato-Grossense, MTSudoeste Piauiense, PISudoeste Rio-Gran<strong>de</strong>nse, RSSul Amazonense, AMSul <strong>de</strong> Roraima, RRSul do Amapá, APSul Goiano, GOSul Maranhense, MATriângulo Mineiro/Alto Paranaíba, MGVale do Juruá, ACVale São-Franciscano <strong>da</strong> Bahia, BAvessem expressado taxas <strong>de</strong> expansão <strong>de</strong> áreaagrícola acima <strong>da</strong> média do país, conforme asequações 1 e 2, per<strong>de</strong>ram participação no total<strong>de</strong> áreas agrícolas brasileiras nas comparaçõesdos anos extremos <strong>da</strong> série. Foram os casos <strong>da</strong>Metropolitana <strong>de</strong> Curitiba, Centro-Sul Paranaense,Norte <strong>de</strong> Roraima, Centro-Oci<strong>de</strong>ntal Paranaensee Norte Amazonense.Com os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Tabela 3, é possível hierarquizaras mesorregiões seleciona<strong>da</strong>s em subconjuntoscategorizados conforme os resultados<strong>da</strong> coluna (B/A)-1. Observando-se os <strong>de</strong>sempenhosparticipativos em 1994 e em 2010, as 46mesorregiões po<strong>de</strong>m ser agrupa<strong>da</strong>s entre as quedobraram ou mais que dobraram sua participação14 ; aquelas que elevaram sua parcela entre1,0 e 2,0 vezes; as que aumentaram sua participação<strong>de</strong> 0,5 até 1,0 vez; ou aquelas que incrementarampositivamente até 0,5 vez a respectivaparcela na área planta<strong>da</strong> brasileira. Há tambémo subgrupo <strong>da</strong>quelas mesorregiões que exibiramque<strong>da</strong> participativa <strong>de</strong> 1994 a 2010.Categoriza<strong>da</strong>s segundo os critérios <strong>de</strong>scritosno parágrafo anterior, as mesorregiões seleciona<strong>da</strong>sforam a seguir reuni<strong>da</strong>s nos respectivossubgrupos, exibindo-se também os valores abso-14Sob tal contexto, o valor 3,28 verificado para a mesorregião Oriental do Tocantins informa que sua participação na área planta<strong>da</strong> em 2010 era 4,28 vezesa sua participação no ano-base <strong>de</strong> análise, 1994.37Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Tabela 3. Participação <strong>da</strong>s mesorregiões seleciona<strong>da</strong>s na área planta<strong>da</strong> em 1994 e em 2010.MesorregiãoParticipação (%) em 1994(A)Participação (%) em 2010(B)(B/A)-1Norte do Amapá, AP 0,001 0,013 7,97Oriental do Tocantins, TO 0,126 0,540 3,28Sul do Amapá, AP 0,006 0,025 3,00Sul Amazonense, AM 0,019 0,067 2,59Norte Mato-Grossense, MT 3,092 9,506 2,07Sul Maranhense, MA 0,292 0,855 1,92Vale do Juruá, AC 0,033 0,082 1,50Nor<strong>de</strong>ste Mato-Grossense, MT 0,689 1,490 1,16Extremo Oeste Baiano, BA 1,211 2,478 1,05Leste Goiano, GO 0,571 1,057 0,85Araçatuba, SP 0,543 0,995 0,83Noroeste Paranaense, PR 0,676 1,145 0,69Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte, SP 0,503 0,791 0,57Centro Amazonense, AM 0,106 0,165 0,55Su<strong>de</strong>ste Mato-Grossense, MT 1,834 2,839 0,55Sudoeste <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul, MS 2,146 3,319 0,55Ma<strong>de</strong>ira-Guaporé, RO 0,072 0,110 0,53Sudoeste Piauiense, PI 0,655 0,936 0,43Sul Goiano, GO 3,585 5,076 0,42Nor<strong>de</strong>ste Rio-Gran<strong>de</strong>nse, RS 0,612 0,833 0,36Centro Oci<strong>de</strong>ntal Rio-Gran<strong>de</strong>nse, RS 0,904 1,219 0,35Bauru, SP 0,953 1,270 0,33Centro Oriental Paranaense, PR 0,998 1,294 0,30Noroeste <strong>de</strong> Minas, MG 0,821 1,067 0,30Centro Norte <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul, MS 0,782 0,996 0,27São José do Rio Preto, SP 1,388 1,753 0,26Sudoeste Amazonense, AM 0,021 0,027 0,26Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, MG 2,189 2,738 0,25Baixo Amazonas, PA 0,241 0,296 0,23Centro-Sul Mato-Grossense, MT 0,167 0,204 0,22Continua...Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>38
Tabela 3. Continuação.MesorregiãoParticipação (%) em 1994(A)Participação (%) em 2010(B)(B/A)-1Sul <strong>de</strong> Roraima, RR 0,024 0,029 0,21Nor<strong>de</strong>ste Baiano, BA 1,027 1,213 0,18Itapetininga, SP 0,674 0,790 0,17Distrito Fe<strong>de</strong>ral, DF 0,159 0,182 0,15Sudoeste Mato-Grossense, MT 0,340 0,391 0,15Su<strong>de</strong>ste Paranaense, PR 0,833 0,943 0,13Norte Pioneiro Paranaense, PR 1,308 1,440 0,10Sudoeste Rio-Gran<strong>de</strong>nse, RS 1,179 1,293 0,10Norte Central Paranaense, PR 2,446 2,598 0,06Leste Sergipano, SE 0,267 0,272 0,02Vale São-Franciscano <strong>da</strong> Bahia, BA 0,278 0,279 0,01Metropolitana <strong>de</strong> Curitiba, PR 0,511 0,507 -0,01Centro-Sul Paranaense, PR 1,301 1,278 -0,02Norte <strong>de</strong> Roraima, RR 0,037 0,036 -0,03Centro Oci<strong>de</strong>ntal Paranaense, PR 1,607 1,527 -0,05Norte Amazonense, AM 0,007 0,005 -0,33Subgrupos I 1 e I 2 37,23 55,97 0,50Total do Brasil 100,00 100,00Fonte: IBGE (<strong>2013</strong>a).lutos <strong>de</strong> área planta<strong>da</strong> em ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>las nosanos limites <strong>da</strong> série.A<strong>de</strong>mais, não po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser tambémcita<strong>da</strong>s as mesorregiões que vivenciaramum crescimento absoluto <strong>de</strong> área agrícola superiora 400.000 ha <strong>de</strong> 1994 a 2010 15 . Esse é o casodo Norte Mato-Grossense, Sul Goiano, Sudoeste<strong>de</strong> Mato Grosso do Sul, Extremo Oeste Baiano,Su<strong>de</strong>ste Mato-Grossense, Triângulo Mineiro/AltoParanaíba, Nor<strong>de</strong>ste Mato-Grossense, São Josédo Rio Preto, Sul Maranhense e Norte CentralParanaense.Esses resultados estão apresentados na Tabela4.Ain<strong>da</strong> em relação à Tabela 4, dois pontos<strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>stacados. Primeiramente, <strong>de</strong>stacasea ain<strong>da</strong> predominância <strong>de</strong> mesorregiões doCentro-Oeste entre as <strong>de</strong> maior expansão absoluta<strong>de</strong> área agrícola no Brasil. Ao mesmo tempo,ressalta-se a presença <strong>de</strong> São José do RioPreto (SP), do Alto Paranaíba/Triângulo Mineiro(MG) e do Norte Central Paranaense (PR) entreas lí<strong>de</strong>res na expansão absoluta <strong>de</strong> área agrícola.Como estão localiza<strong>da</strong>s em estados que já eram15O crescimento absoluto médio <strong>de</strong> área agrícola nas 46 mesorregiões entre os anos limites <strong>da</strong> série foi <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 367.906 ha.39Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Tabela 4. Continuação.Mesorregião Área planta<strong>da</strong> em 1994 (ha) Área planta<strong>da</strong> em 2010 (ha) Crescimento (p.p.)Sudoeste Piauiense, PI 345.899 611.682Sul Goiano, GO 1.893.281 3.318.556Nor<strong>de</strong>ste Rio-Gran<strong>de</strong>nse, RS 323.462 544.711Centro Oci<strong>de</strong>ntal Rio-Gran<strong>de</strong>nse, RS 477.392 796.938Bauru, SP 503.183 830.369Noroeste <strong>de</strong> Minas, MG 433.772 697.332Centro Oriental Paranaense, PR 527.236 846.027Centro Norte <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul, MS 413.157 651.179São José do Rio Preto, SP 732.835 1.145.887Sudoeste Amazonense, AM 11.237 17.558Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, MG 1.156.249 1.789.903Baixo Amazonas, PA 127.503 193.657Centro-Sul Mato-Grossense, MT 88.107 133.265Sul <strong>de</strong> Roraima, RR 12.439 18.646Nor<strong>de</strong>ste Baiano, BA 542.609 793.248Itapetininga, SP 355.758 516.650Sudoeste Mato-Grossense, MT 179.777 255.766Distrito Fe<strong>de</strong>ral, DF 84.003 119.198Su<strong>de</strong>ste Paranaense, PR 439.757 616.718Norte Pioneiro Paranaense, PR 690.595 941.392Sudoeste Rio-Gran<strong>de</strong>nse, RS 622.715 845.390Continua...41Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Tabela 4. Continuação.Mesorregião Área planta<strong>da</strong> em 1994 (ha) Área planta<strong>da</strong> em 2010 (ha) Crescimento (p.p.)Norte Central Paranaense, PR 1.291.646 1.698.183Leste Sergipano, SE 141.047 177.799Vale São-Franciscano <strong>da</strong> Bahia, BA 146.636 182.461Total <strong>da</strong> área 4 11.540.295 17.742.515Área 4/total do Brasil (%) 21,9 27,1 5,3Metropolitana <strong>de</strong> Curitiba, PR 270.091 331.687Centro-Sul Paranaense, PR 687.161 835.444Norte <strong>de</strong> Roraima, RR 19.701 23.547Centro Oci<strong>de</strong>ntal Paranaense, PR 848.619 998.104Norte Amazonense, AM 3.603 2.975Total <strong>da</strong> área 5 1.829.175 2.191.757Área 5/total do Brasil (%) 3,5 3,4 0,1Demais mesorregiões do país (%) 63 44 19Fonte: IBGE (<strong>2013</strong>a).Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>42
tradicionais produtores agrícolas, com fronteirasagrícolas em tese já estabiliza<strong>da</strong>s, é <strong>de</strong> se suporque houve incorporação <strong>de</strong> estoque <strong>de</strong> terrasociosas ou realocação <strong>de</strong> terras entre ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>sem favor <strong>da</strong> agricultura.Em termos agregados, um elemento importantea ressaltar sobre as 46 mesorregiõesbrasileiras é que em 1994 elas correspondiama 37% <strong>da</strong> área agrícola planta<strong>da</strong> no País, tendosaltado para 56% em 2010, resultante <strong>de</strong>um aumento participativo <strong>de</strong> 19 p.p. em 17anos. Desses 19 p.p., as parcelas <strong>da</strong>s áreas “1”a “4” cresceram, respectivamente, em 6,9 p.p.,2,7 p.p., 4,0 p.p. e 5,3 p.p., conforme ilustradona Figura 4.Delinea<strong>da</strong>s as mesorregiões similares no quese refere à expansão <strong>de</strong> área planta<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1994 a2010, é possível traçar um mapa (Figura 5) <strong>da</strong> natureza<strong>da</strong> expansão <strong>de</strong> área agrícola no Brasil, combase nas informações <strong>da</strong> Tabela 4.Com base nos <strong>da</strong>dos exibidos na Tabela 4 enos <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Figura 5, algumas ilações são possíveisacerca <strong>da</strong> expansão recente <strong>de</strong> área planta<strong>da</strong>entre as mesorregiões brasileiras. Ao menos cincoapontamentos po<strong>de</strong>m ser feitos nesse âmbito:• Há uma maior dinâmica <strong>de</strong> expansão<strong>de</strong> área planta<strong>da</strong> pela rota Centro–Noroestedo País, e que se projeta <strong>de</strong> formarelativamente bem <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> na direçãodos trechos oci<strong>de</strong>ntais <strong>da</strong> região Norte.• Existe um segundo eixo <strong>de</strong> incrementos<strong>de</strong> áreas planta<strong>da</strong>s, que se baseianas mesorregiões do Nor<strong>de</strong>ste Mato-Grossense, Norte Mato-Grossense, SulAmazonense e Vale do Juruá, <strong>de</strong> modoa atingir novamente um dinamismoexpressivo no Amapá, que é fronteiraem expansão.• Observa-se um núcleo <strong>de</strong> ganhos <strong>de</strong>área planta<strong>da</strong> entre as regiões Nor<strong>de</strong>stee Norte, com epicentro nas mesorregiõesOriental <strong>de</strong> Tocantins, Sul Maranhensee Extremo Oeste Baiano.• Um “quadrado” <strong>de</strong> ritmo intermediário<strong>de</strong> expansão <strong>de</strong> área planta<strong>da</strong>, com referênciasno Norte do PR, oeste paulista,cercanias do DF, e Centro Sul <strong>de</strong> MS.• As mesorregiões situa<strong>da</strong>s no litoral brasileiro,à exceção do Leste Sergipano edo Nor<strong>de</strong>ste Baiano, mostraram-se estabiliza<strong>da</strong>sno que se refere à expansão <strong>de</strong>suas áreas agrícolas.Em relação aos testes estatísticos pseudo-Fe pseudo-T, Tabela 5, para as variáveis em nível(N) e em taxas <strong>de</strong> crescimento (T), observou-seum máximo <strong>de</strong> seis e uma média <strong>de</strong> até cincogrupamentos <strong>de</strong> mesorregiões diferencia<strong>da</strong>s.Para as variáveis normaliza<strong>da</strong>s (NO), o númeromáximo <strong>de</strong> grupamentos, no período analisado,foi <strong>de</strong> cinco subgrupos com dinâmicas distintas.Figura 4. Participação <strong>da</strong>s áreas agrupa<strong>da</strong>s por crescimento participativo em 1994 e em 2010.Fonte: IBGE (<strong>2013</strong>a).43Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Figura 5. Áreas <strong>de</strong> expansão agrícola, segundo as mesorregiões brasileiras, <strong>de</strong> 1994 a 2010.Fonte: IBGE (<strong>2013</strong>a).Os resultados <strong>da</strong> Tabela 5 foram gerados<strong>de</strong> acordo com SAS INSTITUTE (2007b, 2007c).Tais números corroboram os resultados anteriormente<strong>de</strong>scritos com a indicação <strong>de</strong> que oterritório brasileiro possui <strong>de</strong> cinco a seis áreas(subgrupos <strong>de</strong> mesorregiões) heterogêneas emtermos <strong>de</strong> crescimento <strong>da</strong> área planta<strong>da</strong>.Nunca é excesso registrar que, em virtu<strong>de</strong>do objetivo e <strong>da</strong> metodologia do estudo, umsubgrupo (em branco na Figura 5) será <strong>de</strong> baixoou ausente dinamismo, sobretudo em comparaçãocom as mesorregiões brasileiras presentesnos <strong>de</strong>mais subgrupos.Consi<strong>de</strong>rações finaisPresentemente, as questões relativas à produção<strong>de</strong> alimentos, fibras e energia são centraisno <strong>de</strong>bate internacional, sobretudo se consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>sestimativas <strong>de</strong> população global no século emcurso. No que se refere à produção <strong>de</strong> alimentos,há indícios claros <strong>de</strong> que o Brasil é um dos rarospaíses capazes <strong>de</strong> incorporar novas áreas à ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>agrícola em padrões econômicos viáveis.Houve uma expansão média <strong>de</strong> área planta<strong>da</strong>no Brasil, no longo período <strong>de</strong> 1994 a 2010,<strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 7,86%, niti<strong>da</strong>mente superior ao ritmomédio <strong>de</strong> crescimento <strong>da</strong> economia brasileirano mesmo intervalo <strong>de</strong> tempo.Entre as 46 mesorregiões seleciona<strong>da</strong>s,observou-se uma concentração <strong>da</strong> expansão<strong>da</strong> área agrícola no Brasil no sentido Centro–Noroeste. Certas mesorregiões <strong>de</strong>stacaram-seindividualmente por conta <strong>de</strong> seu crescimentoabsoluto <strong>de</strong> área agrícola superior a 400.000ha <strong>de</strong> 1994 a 2010; vale dizer, o caso do Nor-Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>44
Tabela 5. Número <strong>de</strong> grupamentos <strong>da</strong>s mesorregiões para área agrícola no Brasil em 1994–2010.PeríodoVariáveis em nível (N)Variáveis em taxa <strong>de</strong>crescimento (T)Variáveis normaliza<strong>da</strong>s (NO)Pseudo-F Pseudo-T Média Pseudo-F Pseudo-T Média Pseudo-F Pseudo-T Média1994 3 2 2,5 - - - 3 2 2,51995 3 2 2,5 5 3 4,0 5 4 4,51996 4 3 3,5 6 4 5,0 4 3 3,51997 4 3 3,5 5 5 5,0 4 3 3,51998 3 2 2,5 3 2 2,5 5 3 4,01999 3 2 2,5 5 5 5,0 5 4 4,52000 4 5 4,5 5 4 4,5 3 2 2,52001 4 6 5,0 4 3 3,5 4 3 3,52002 4 5 4,5 4 3 3,5 5 4 4,52003 6 4 5,0 3 5 4,0 3 2 2,52004 6 4 5,0 3 2 2,5 3 5 4,02005 4 5 4,5 5 4 4,5 5 3 4,02006 3 2 2,5 5 3 4,0 3 2 2,52007 3 2 2,5 3 2 2,5 4 3 3,52008 4 3 3,5 4 2 3,0 3 2 2,52009 4 5 4,5 3 2 2,5 4 2 3,02010 4 5 4,5 4 3 3,5 5 2 3,5Fonte: IBGE (<strong>2013</strong>a).te Mato-Grossense, Sul Goiano, Sudoeste <strong>de</strong>Mato Grosso do Sul, Extremo Oeste Baiano, Su<strong>de</strong>steMato-Grossense, Triângulo Mineiro/AltoParanaíba, Nor<strong>de</strong>ste Mato-Grossense, São Josédo Rio Preto, Sul Maranhense e Norte CentralParanaense.Ressalta-se a presença <strong>de</strong> São José do RioPreto, SP, do Alto Paranaíba/Triângulo Mineiro,MG, e do Norte Central Paranaense, PR. Em relaçãoa essas fronteiras agrícolas teoricamentejá estabiliza<strong>da</strong>s, é razoável supor que houve incorporação<strong>de</strong> estoque <strong>de</strong> terras ociosas ou realocação<strong>de</strong> terras entre ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s em favor <strong>da</strong>agricultura, o que sem dúvi<strong>da</strong> constitui aprofun<strong>da</strong>mentopara trabalhos posteriores.Detectou-se também um segundo vértice<strong>de</strong> crescimentos, com base nas mesorregiões doNor<strong>de</strong>ste Mato-Grossense, Norte Mato-Grossense,Sul Amazonense e Vale do Juruá, e no Estadodo Amapá. Além disso, expressivos resultadosforam verificados em Oriental <strong>de</strong> Tocantins, SulMaranhense e Extremo Oeste Baiano.Diversas políticas agrícolas associam-se àtemática <strong>da</strong> expansão <strong>de</strong> área usa<strong>da</strong> pela agriculturano Brasil, <strong>de</strong>stacando-se as <strong>de</strong> créditoagrícola, infraestrutura, extensão rural, armazenageme seguro agrícola.No âmbito do crédito agrícola, sabe-seque o dispêndio total tem impacto significativo45Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
sobre a oferta dos principais produtos (CASTRO;TEIXEIRA, 2010) e, portanto, sobre o incentivodo uso do fator terra. Na questão <strong>de</strong> infraestrutura,melhorias seriam bem-vin<strong>da</strong>s em termos <strong>da</strong>manutenção <strong>de</strong> rodovias e <strong>de</strong> maior integração<strong>de</strong>stas com os mo<strong>da</strong>is hidroviário e ferroviário(CORREA; RAMOS, 2010). Para Campos Netoe Moura (2012), ao longo dos últimos anos temhavido elevação dos gastos públicos e privadosem transporte, o que, juntamente com o melhoruso <strong>de</strong> concessões rodoviárias e Parcerias Público-Priva<strong>da</strong>s(PPP), po<strong>de</strong> gerar soluções nessequesito.Já as disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> extensão rural e<strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong> armazenagem estão atrela<strong>da</strong>s àpenetração <strong>de</strong> diferentes mo<strong>da</strong>is <strong>de</strong> transporte,sobretudo no caso <strong>da</strong>s fronteiras agrícolas maisdistantes. Aqui, há perspectiva <strong>de</strong> renova<strong>da</strong>sanálises à medi<strong>da</strong> que sejam disponibilizados<strong>da</strong>dos do Projeto <strong>de</strong> Reformulação <strong>da</strong>s PesquisasAgropecuárias do IBGE (IBGE, <strong>2013</strong>b).Quanto às políticas <strong>de</strong> seguro agrícola,elas po<strong>de</strong>m ser particularmente necessária quandohá concentração <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> risco nas mesorregiõesi<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s, como em trechos orientais<strong>da</strong> região Sul, no centro-sul do Mato Grosso doSul e em áreas limítrofes <strong>de</strong> Goiás/Minas Gerais,e <strong>de</strong> Tocantins/Bahia/Maranhão (BURGO, 2005).Estudos futuros po<strong>de</strong>m levar em contaproxies representativas <strong>de</strong> aptidão agrícola <strong>da</strong>sterras e <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência hídrica, incluindo-se solo,água, relevo, categorias <strong>de</strong> manejo agrícola e apresença <strong>de</strong> mo<strong>da</strong>is <strong>de</strong> transporte. Não menosrelevante também seria investigar quais culturas,e em que monta, estão sendo mais marcantes nocrescimento <strong>de</strong> área agrícola nas mesorregiõesdinâmicas.ReferênciasBARROS, J. R. M. <strong>de</strong>. O Brasil e a agricultura mundial.O Estado <strong>de</strong> S. Paulo, São Paulo, 05 fev. 2012. Ca<strong>de</strong>rnoeconomia, não paginado.BURGO, M. N. Caracterização espacial <strong>de</strong> riscos naagricultura e implicações para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>instrumentos para seu gerenciamento. 2005. 116 f.Dissertação (Mestrado em Economia Aplica<strong>da</strong>) – EscolaSuperior <strong>de</strong> <strong>Agricultura</strong> Luiz <strong>de</strong> Queiroz, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>São Paulo, Piracicaba.CAMPOS NETO, C. A. <strong>da</strong> S.; MOURA, F. S. <strong>de</strong>.Investimentos na infraestrutura econômica: avaliaçãodo <strong>de</strong>sempenho recente. 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<strong>Política</strong> agrícola empaíses <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> médiaAntônio Salazar P. Brandão 3Uma perspectivabrasileira 1,2Resumo – O trabalho faz referência ao estudo <strong>da</strong> OECD que mostra baixos níveis <strong>de</strong> proteção aosetor agrícola no Brasil, em comparação a outros países. Depois <strong>de</strong> uma breve revisão <strong>da</strong> história<strong>da</strong> intervenção do governo no setor agrícola, são apresentados <strong>de</strong>talhes do cálculo do suporte aosetor realizado pela OECD, procurando mostrar que a política agrícola brasileira atual, que apresentabaixo nível <strong>de</strong> proteção, não está sendo eficaz para reduzir a duali<strong>da</strong><strong>de</strong> no setor. Sugere-se umredirecionamento dos recursos para treinamento, educação e extensão rural, com menos ênfase naspolíticas <strong>de</strong> crédito subsidiado.Palavras-chave: crédito subsidiado, educação, extensão, pesquisa, subsídio equivalente ao produtor.<strong>Agricultura</strong>l policy in middle income countries: a Brazilian perspectiveAbstract – This paper refers to the OECD study that shows low levels of protection to Brazilian agriculturalsector in comparison to other countries. After a brief review of the history of governmentintervention in the sector, this paper showed <strong>de</strong>tails of the calculation of support to the sector, whichwas conducted by OECD, seeking to <strong>de</strong>monstrate that the current Brazilian agricultural policy, <strong>de</strong>spitethe current low level of protection, is not effective in reducing the existing duality in the sector.This paper suggests that more resources should be <strong>de</strong>voted to training, education and rural extension,and fewer resources should aim subsidized credit policies.Keywords: subsidized credit, education, extension, research, equivalent subsidy to producers.IntroduçãoAs intervenções nos mercados agrícolassão eventos comuns tanto nos países <strong>de</strong>senvolvidosquanto nos países em <strong>de</strong>senvolvimento. <strong>Política</strong>s<strong>de</strong>ssa natureza vêm sendo critica<strong>da</strong>s pordiversas instituições multilaterais como o BancoMundial, o FMI e a OECD, e também por pesquisasacadêmicas.1Original recebido em 14/2/<strong>2013</strong> e aprovado em 25/2/<strong>2013</strong>.2Este texto é baseado na apresentação feita pelo autor no simpósio Matching <strong>Agricultura</strong>l Policies to Development Needs, organizado pela OCDE, naConferência Internacional <strong>de</strong> Economistas <strong>Agrícola</strong>s, em Foz do Iguaçu, <strong>de</strong> 18 a 24 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2012.3Economista, Doutor em Economia <strong>Agrícola</strong>, professor associado <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Econômicas <strong>da</strong> UERJ. E-mail: abran<strong>da</strong>o1@gmail.comAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>48
OCDE (2011) argumenta que é necessáriauma reorientação <strong>de</strong> política na maioria dospaíses analisados no relatório. Essa reorientação<strong>de</strong>verá propiciar condições para que os produtoresrurais possam respon<strong>de</strong>r aos sinais <strong>de</strong> mercado,levando-os a iniciativas que os tornemmais competitivos e inovadores. Para que essesobjetivos sejam atingidos, os governos <strong>de</strong>verãosubstituir os incentivos existentes por outros quenão tenham influência sobre a oferta agrícola(<strong>de</strong>coupled payments). Os governos <strong>de</strong>vem usarinstrumentos específicos com o fim <strong>de</strong> criar políticaspara corrigir falhas <strong>de</strong> mercado.O relatório <strong>da</strong> OCDE (2011) ressalta ain<strong>da</strong>que o crescimento <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> é essencialpara que a oferta possa respon<strong>de</strong>r às pressões<strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>. Nesse aspecto específico, segundoo relatório, o papel do governo inclui apoiofinanceiro às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento,mas os <strong>da</strong>dos analisados mostram queapenas uma pequena parcela <strong>da</strong>s transferênciaspara o setor agrícola é <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> para essa finali<strong>da</strong><strong>de</strong>.Além <strong>de</strong> maior apoio à pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento,o relatório faz referência à extensãorural, irrigação e outras obras <strong>de</strong> infraestrutura 4 .Os princípios apresentados acima pelaOCDE são a motivação para uma breve revisão<strong>da</strong>s políticas agrícolas recentes no Brasil. A seguiré feita uma breve <strong>de</strong>scrição histórica e, emsegui<strong>da</strong>, o artigo faz uma análise do estado atual<strong>da</strong> política agrícola no país.HistóriaTaxas <strong>de</strong> juro inferiores às taxas do mercadointerno fazem parte <strong>da</strong> política agrícola pelomenos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960 e forama peça central <strong>de</strong>ssa política durante a maiorparte <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970. Naquele período astaxas <strong>de</strong> juros no crédito rural eram in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> inflação, tendo <strong>da</strong>do origem ataxas <strong>de</strong> juros reais consistentemente negativas.As dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para fiscalizar o uso dos recursose a gran<strong>de</strong> diferença entre as taxas <strong>de</strong> juros <strong>de</strong>mercado e as taxas <strong>de</strong> juros cobra<strong>da</strong>s no créditorural criaram oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> arbitragemque reduziram <strong>de</strong> forma expressiva o volume <strong>de</strong>recursos adicionais efetivamente aplicados naagricultura.Outro importante instrumento durante adéca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970 foi a política <strong>de</strong> preços mínimos.Essa, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, era uma política <strong>de</strong> suporte<strong>de</strong> preço com um subsídio ao consumo. Ogoverno formava estoques <strong>de</strong> produtos agrícolasimportantes que na entressafra eram usados paradiminuir os preços no varejo. Valores elevados<strong>de</strong> recursos do orçamento do governo foram<strong>de</strong>stinados a essas operações, que contribuírampara reduzir o preço médio recebido pelos produtorese para <strong>de</strong>sinteressar o setor privado emparticipar <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estocagem.Restrições às exportações e impostos <strong>de</strong>exportação também foram comuns até meados<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980. Exportações tradicionaiscomo café, açúcar e cacau estavam sujeitas aosimpostos <strong>de</strong> exportação, enquanto exportaçõesnão tradicionais, como soja e algodão, estavamsujeitas a controles quantitativos <strong>de</strong> exportações.Controles <strong>de</strong> preços no varejo completavamo conjunto <strong>de</strong> políticas que discriminavamdiretamente a agricultura. Ao lado disso, a supervalorização<strong>da</strong> moe<strong>da</strong> doméstica era um imposto– mais um – implícito sobre o setor.Brandão e Carvalho (1990) estimaram omontante <strong>da</strong>s transferências líqui<strong>da</strong>s por meio<strong>da</strong>s intervenções diretas e indiretas. As estimativasmostram que durante o período 1966–19834,6% do PIB agrícola foi transferido para o setoragrícola. Entretanto, quando as transferências viacrédito são elimina<strong>da</strong>s, as transferências líqui<strong>da</strong>ssão <strong>de</strong> -3,6% do PIB agrícola.A reforma <strong>da</strong> política agrícola teve iníciona segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, quandoas restrições quantitativas às exportações docomplexo soja e <strong>de</strong> algodão foram elimina<strong>da</strong>s.4As i<strong>de</strong>ias neste parágrafo e no anterior resumem <strong>de</strong> forma sucinta o que está em OECD (2011). Visão semelhante também é compartilha<strong>da</strong> por outrasinstituições multilaterais e por um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> analistas e pesquisadores.49Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Essas medi<strong>da</strong>s foram acompanha<strong>da</strong>s pela eliminaçãodos controles <strong>de</strong> preços, pela reduçãodo nível dos estoques governamentais e por reduçõessignificativas na diferença entre as taxas<strong>de</strong> juros do crédito rural e as taxas <strong>de</strong> juros <strong>de</strong>mercado.A redução generaliza<strong>da</strong> nas tarifas queocorreu no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 contribuiupara o aumento <strong>da</strong> competição e para a criação<strong>de</strong> um ambiente mais favorável para os mercadosagrícolas. A conclusão <strong>da</strong>s negociações paraformação do Mercosul também contribuiu parao aumento <strong>da</strong> pressão competitiva sobre os produtoresrurais brasileiros e para a reestruturaçãodo setor.Des<strong>de</strong> o início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, apesardos incentivos negativos <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> preçosagrícolas, as autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s brasileiras <strong>de</strong>ram expressivosuporte para a pesquisa agrícola. A criação<strong>da</strong> Embrapa foi a iniciativa mais importantenessa direção. Uma <strong>da</strong>s mais importantes contribuições<strong>da</strong> Embrapa foi a pesquisa para a<strong>da</strong>ptação<strong>da</strong> soja às condições tropicais, fato quepermitiu a expansão <strong>de</strong>ssa cultura para a regiãodo Cerrado e para outras partes do país.A situação atualAs estimativas <strong>de</strong> suporte aos produtoresagrícolas (PSE) feitas pela OECD mostram valorespositivos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1997 para o Brasil, tendosido o valor médio entre 1998 e 2012 iguala 5,2%, aparentemente sem nenhuma tendênciano período. Esse nível <strong>de</strong> proteção é baixo emcomparação com os <strong>de</strong> outros países <strong>da</strong> OECDe também com os <strong>de</strong> alguns países emergentescomo China e Rússia, on<strong>de</strong> os valores do PSEestão se aproximando <strong>da</strong>queles observados nospaíses <strong>da</strong> OECD (OECD, 2011).As políticas atuais no Brasil ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>mmuito dos instrumentos <strong>de</strong> crédito paraatingir seus objetivos. A Tabela 1 mostra queapesar <strong>da</strong> redução na diferença entre as taxas<strong>de</strong> juros <strong>de</strong> mercado e as taxas do crédito rurala partir <strong>de</strong> 2000, os valores são ain<strong>da</strong> elevados,tendo atingido 42% do PSE em 2010.Segundo o Plano <strong>Agrícola</strong> e Pecuário2012–<strong>2013</strong> (BRASIL, 2012), o <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>e o <strong>Ministério</strong> do Desenvolvimento Agráriopreten<strong>de</strong>m alocar R$ 133 bilhões para osprogramas <strong>de</strong> crédito. Esses programas incluemcrédito para capital <strong>de</strong> giro, comercialização einvestimento, bem como programas para agriculturafamiliar. Um volume adicional <strong>de</strong> R$ 5,4bilhões será direcionado para aquisição <strong>de</strong> produtose para manutenção <strong>de</strong> estoques na política<strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> preços mínimos.Outros aspectos <strong>da</strong> política atual são acontinui<strong>da</strong><strong>de</strong> do suporte para pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento,para os programas <strong>de</strong> reforma agráriae para o novo programa intitulado <strong>Agricultura</strong><strong>de</strong> Baixa Emissão <strong>de</strong> Carbono (ABC). Este últimotem por objetivo contribuir para atingir as metas<strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões estabeleci<strong>da</strong>s para oBrasil na reunião <strong>de</strong> Copenhagen em 2009. Seiselementos compõem o programa:• Aumentar a área com plantio direto entre25 e 33 milhões <strong>de</strong> hectares.• Recuperar 15 milhões <strong>de</strong> hectares <strong>de</strong>áreas <strong>de</strong>gra<strong>da</strong><strong>da</strong>s.• Aumentar o uso <strong>da</strong> rotação agriculturapecuária-silviculturaem 4 milhões <strong>de</strong>hectares.• Aumentar a área com florestas planta<strong>da</strong>sem 4 milhões <strong>de</strong> hectares.Tabela 1. Participação percentual <strong>da</strong> diferença entre os juros <strong>de</strong> mercado e os juros do crédito rural no PSE.Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010Participação 62% 81% 84% 79% 71% 55% 54% 46% 62% 31% 42%Fonte: OCDE (2011).Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>50
• Usar técnicas <strong>de</strong> fixação biológica <strong>de</strong>nitrogênio para aumentar a fertili<strong>da</strong><strong>de</strong>do solo em cerca <strong>de</strong> 5,5 milhões <strong>de</strong>hectares.• Usar resíduos animais para produzirenergia (gás).Ain<strong>da</strong> que alguns <strong>de</strong>sses programas jáexistissem, a sua unificação e a priori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>da</strong>a eles dá nova e importante dimensão para a políticaagrícola. A meta do governo é completar osobjetivos em 2020.Entretanto, para atingir as metas propostas,o instrumento a ser utilizado é o crédito ataxas <strong>de</strong> juros inferiores às <strong>de</strong> mercado. Estimativasfeitas pelo <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> indicamque serão necessários R$ 197 bilhões parao programa e, <strong>de</strong>sse total, R$ 157 bilhões serãorecursos <strong>de</strong> crédito a taxas inferiores às <strong>de</strong> mercado.O custo <strong>de</strong>sse componente do programa,<strong>de</strong> acordo com o <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, será<strong>de</strong> R$ 33 bilhões 5 . No ano agrícola 2012–<strong>2013</strong>foram alocados R$ 3,4 bilhões para o programaABC.Atualmente os custos fiscais <strong>da</strong> política <strong>de</strong>crédito rural são bem menores do que os <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s<strong>de</strong> 1970 e <strong>de</strong> 1980. Em consequência, sãomenores os incentivos para que sejam <strong>de</strong>sviadospara outros setores. Apesar disso, um fato que<strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>stacado é que os bancos comerciaisquase não realizam operações <strong>de</strong> empréstimopara o setor agrícola, sendo a gran<strong>de</strong> maioria docrédito para o setor proveniente do Banco doBrasil, em que o governo fe<strong>de</strong>ral é o acionistamajoritário.Apesar <strong>da</strong>s observações anteriores, aprodutivi<strong>da</strong><strong>de</strong> na agricultura cresceu à taxa <strong>de</strong>2,27% ao ano <strong>de</strong> 1970 a 2006 (GASQUES et al.,2010). Esse fato marcante é um dos principaiselementos que explicam o excelente <strong>de</strong>sempenho<strong>da</strong> agricultura e dos produtos agrícolas nosmercados mundiais. Não obstante, a agriculturaain<strong>da</strong> po<strong>de</strong> ser caracteriza<strong>da</strong> como dual, conformemostra o estudo <strong>de</strong> Alves et al. (2012), quese basearam em <strong>da</strong>dos do Censo Agropecuário2006. O artigo mostra que 88% do valor <strong>da</strong> produçãoagrícola naquele ano originou-se <strong>de</strong> apenas11% dos estabelecimentos rurais. Apenas44% dos estabelecimentos tiveram ren<strong>da</strong> líqui<strong>da</strong>positiva. Por um lado, dos estabelecimentos cujaren<strong>da</strong> agrícola foi inferior a 2 salários mínimos,somente 35% obtiveram ren<strong>da</strong> líqui<strong>da</strong> positiva.Por outro lado, a ren<strong>da</strong> líqui<strong>da</strong> é positiva para81% dos estabelecimentos com ren<strong>da</strong> bruta superiora 200 salários mínimos.O trabalho atribui à falta <strong>de</strong> crédito e <strong>de</strong>conhecimento as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s encontra<strong>da</strong>s pelos89% <strong>de</strong> estabelecimentos que contribuemcom 12% do valor <strong>da</strong> produção. Por um ladoessa conclusão ilustra dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s comuns associa<strong>da</strong>saos programas que conce<strong>de</strong>m créditoa taxas menores do que as <strong>de</strong> mercado, nota<strong>da</strong>menteo fato <strong>de</strong> que o acesso fica restrito a umpequeno número <strong>de</strong> produtores. Por outro ladoa conclusão mostra a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> maior oferta<strong>de</strong> serviços para os agricultores, em particulareducação e extensão rural. Os <strong>da</strong>dos mostradosindicam, entretanto, que o componente <strong>de</strong> serviços<strong>de</strong> suporte ao setor vem diminuindo ao longodo tempo, inclusive os serviços associados àeducação.O estudo <strong>da</strong> OCDE (2011) mostra que aparcela do suporte total aos produtores (TotalSupport Estimate – TSE) advin<strong>da</strong> <strong>da</strong> prestação <strong>de</strong>serviços gerais (General Services Support Estimate– GSSE) diminuiu <strong>de</strong> 35% para 24% <strong>de</strong> 2001a 2010. A Figura 1 mostra a evolução <strong>de</strong>sse indicadorno período 2000–2010.O componente mais elevado do GSSE sãoos gastos com reforma agrária que aumentaram<strong>de</strong> 7% do TSE em 2000 para 12% em 2010, eem 2006 os gastos com reforma agrária chegarama 16% do TSE, conforme po<strong>de</strong> ser visto naFigura 2. As porcentagens relativas a pesquisa e<strong>de</strong>senvolvimento diminuíram <strong>de</strong> 2000 a 2006e a partir <strong>de</strong> então, aumentaram um pouco. A5O custo do programa está provavelmente superestimado, uma vez que as taxas <strong>de</strong> juros foram substancialmente reduzi<strong>da</strong>s nos últimos dois anos. Os valorescitados no texto foram obtidos na página do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> em 30 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2012 (BRASIL, <strong>2013</strong>).51Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
suporte tem como base as transferências diretaspara produtores; a<strong>de</strong>mais, os gastos com a política<strong>de</strong> crédito constituem uma eleva<strong>da</strong> parcela<strong>da</strong>s transferências.Figura 1. Relação GSSE/TSE (porcentagem).Fonte: OCDE (2011).Apesar do <strong>de</strong>sempenho marcante <strong>da</strong>agricultura nos últimos 30 anos, o setor ain<strong>da</strong>apresenta uma característica dual, sendo umapequena parcela <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s responsávelpela maior parte do valor <strong>da</strong> produção (ALVES etal., 2012). As <strong>de</strong>mais proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s não usam tecnologiasmo<strong>de</strong>rnas e sofrem severas restriçõespara acesso ao crédito 6 .O suporte para serviços gerais vem <strong>de</strong>crescendocomo porcentagem do valor total do suporte<strong>da</strong>do à agricultura. Nota-se que educaçãorural e extensão rural constituem uma pequenaparcela dos serviços. Entretanto, esses serviçossão essenciais para reduzir o grau <strong>de</strong> duali<strong>da</strong><strong>de</strong>existente na agricultura.Figura 2. Relação entre componentes selecionados doGSSE e TSE (porcentagem).Fonte: OCDE (2011).parcela referente à educação rural permaneceupraticamente constante, com exceção do período2003–2006, quando houve um acréscimosignificativo. Nota-se também crescimento contínuono suporte relativo à manutenção <strong>de</strong> estoques<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> política <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> preçosmínimos. Em 2010 a parcela <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> a essecomponente foi superior às parcelas <strong>de</strong>dica<strong>da</strong>sa educação, pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento, e serviços<strong>de</strong> inspeção.ConclusõesO suporte para a agricultura no Brasil é relativamentebaixo em relação aos <strong>de</strong> outros paísescom nível <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> semelhante. Entretanto, oComo consequência <strong>da</strong> ênfase <strong>da</strong><strong>da</strong> paraa política <strong>de</strong> crédito e do elevado risco associadoaos empréstimos para a agricultura, osbancos comerciais, com exceção do Banco doBrasil, têm uma participação muito pequena naconcessão <strong>de</strong> crédito para o setor. Isso, por suavez, limita a oferta <strong>de</strong> crédito aos recursos alocadospelo Tesouro Nacional 7 .O <strong>de</strong>safio para os formuladores <strong>da</strong> políticaé criar condições para que o setor privado venhaa oferecer crédito para a agricultura. A redução<strong>da</strong>s taxas <strong>de</strong> juros no Brasil abre uma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>i<strong>de</strong>al para que o governo <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> visar aomercado <strong>de</strong> crédito e redirecione recursos paraeducação, extensão e outros serviços que contribuampara reduzir o grau <strong>de</strong> duali<strong>da</strong><strong>de</strong> no setor.ReferênciasALVES, E.; SOUZA, G. <strong>da</strong> S. e; ROCHA, D. <strong>de</strong> P.Lucrativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> agricultura. <strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Política</strong> <strong>Agrícola</strong>,Brasília, DF, v. 21, n. 2, p. 45-63, abr./mai./jun. 2012.6Isso ocorre apesar <strong>de</strong> existirem programas <strong>de</strong> crédito direcionados para as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s familiares.7Em alguns casos os fornecedores <strong>de</strong> insumos ou empresas que compram produtos agrícolas fornecem crédito para os produtores. Esses contratos, entretanto,não são oferecidos para a gran<strong>de</strong> maioria dos produtores.Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>52
BRANDÃO, A. S. P.; CARVALHO, J. L. Brasil. In:KRUEGER, A. O.; SCHIFF, M.; VALDES, A. (Org.).Economia politica <strong>de</strong> las intervenciones <strong>de</strong> preciosagricolas en America Latina. San Francisco: BancoMundial, Centro Internacional para El DesarolloEconomico, 1990. p. 81-144.BRASIL. <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>. Financiamento.Disponível em: .Acesso em: 16 maio <strong>2013</strong>.BRASIL. Secretaria <strong>de</strong> <strong>Política</strong> <strong>Agrícola</strong>. Plano agrícola epecuário 2012-<strong>2013</strong>. Brasília, DF: MAPA, 2012. 106 p.GASQUES, J. G.; BASTOS, E. T.; BACHHI, M. R.P.; VALDES, E. C. Produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> total dos fatores etransformações <strong>da</strong> agricultura brasileira: análise dos<strong>da</strong>dos dos censos agropecuários. In: GASQUES, J.G.; VIEIRA FILHO, J. E. R.; NAVARRO, Z. (Org.).A agricultura brasileira: <strong>de</strong>sempenho, <strong>de</strong>safios eperspectivas. Brasília, DF: IPEA, 2010. p. 19-64.OECD. <strong>Agricultura</strong>l policy monitoring and evaluation2011: OECD countries and emerging economies. Paris:OECD Publishing, 2011. 300 p. Doi: 10.1787/agr_pol-2011-en.53Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
DesempenhoNaisy Silva Soaresexportador do2Eliane Pinheiro <strong>de</strong> Sousa 3Wescley <strong>de</strong> Freitas Barbosa 4agronegócio no Ceará 1Resumo – Este estudo analisa o <strong>de</strong>sempenho exportador dos 12 principais produtos do agronegóciocearense <strong>de</strong> 2001 a 2011. Para tal, utilizaram-se os indicadores <strong>de</strong> vantagem comparativa revela<strong>da</strong><strong>de</strong> Vollrath, contribuição ao saldo comercial, competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> revela<strong>da</strong> e comércio intraindústria.Os <strong>da</strong>dos foram coletados pela Secretaria <strong>de</strong> Comércio Exterior (Secex), órgão vinculado ao <strong>Ministério</strong>do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Os resultados revelaram quediversos produtos – castanha <strong>de</strong> caju, mel <strong>de</strong> abelha, ceras vegetais, abacaxi, banana, melão, melancia,couros e peles, lagosta, camarão, flores e extrato vegetal – exportados pelo Ceará apresentaramvantagens em relação ao Brasil. Entre esses produtos, verificou-se que castanha <strong>de</strong> caju, mel<strong>de</strong> abelha, ceras vegetais, melão, couro e peles e camarão mostraram-se fortemente competitivosno comércio internacional. A<strong>de</strong>mais, constatou-se predomínio do comércio interindústria para osprodutos analisados.Palavras-chave: comércio internacional, competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho.Export performance of agribusiness in the state of CearáAbstract – This study analyzes the export performance of the twelve main products of agribusiness ofthe state of Ceará, Brazil, from 2001 to 2011. In or<strong>de</strong>r to achieve that, the following indicators wereused: Vollrath’s revealed comparative advantage indices, contribution to the tra<strong>de</strong> balance, revealedcompetitiveness, and intra-industry tra<strong>de</strong>. The <strong>da</strong>ta were collected by the Secretariat of ForeignCommerce (Secex), an institution linked to the Ministry of Development, Industry and Foreign Commerce(MDIC). The results revealed that many products – cashew nut, bee honey, vegetable waxes,pineapple, banana, melon, watermelon, leather and skins, lobster, shrimp, flowers and vegetableextract – exported by the state of Ceará had advantages in comparison with Brazil. Among theseproducts, it was found that the cashew nut, bee honey, vegetable waxes, melon, leather and skins,and shrimp showed to be strongly competitive in the international tra<strong>de</strong>. In addition, this study i<strong>de</strong>ntifiedthe predominance of inter-industry tra<strong>de</strong> for the analyzed products.Keywords: international tra<strong>de</strong>, competitiveness, performance in<strong>de</strong>xes.1Original recebido em 18/6/2012 e aprovado em 19/2/<strong>2013</strong>.2Economista, Doutora em Ciência Florestal pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa (UFV), professora <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Santa Cruz (Uesc). E-mail:naisysilva@yahoo.com.br3Economista, Doutora em Economia Aplica<strong>da</strong> pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa, professora do Departamento <strong>de</strong> Economia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Regionaldo Cariri (Urca). E-mail: pinheiroeliane@hotmail.com4Graduando em Ciências Econômicas pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Regional do Cariri (Urca), bolsista <strong>de</strong> iniciação científica Pibic/CNPq. E-mail: barbosa.wescley@gmail.comAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>54
IntroduçãoCom o processo <strong>de</strong> globalização, acentuadoa partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, há o fortalecimento<strong>da</strong> disputa pelo mercado mundial. Assim,têm-se requerido esforços do Estado e dos <strong>de</strong>maisagentes para conquistar níveis internacionais<strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> (MARTINS et al., 2010).No Brasil, <strong>da</strong>dos fornecidos pelo <strong>Ministério</strong>do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior(BRASIL, 2012b) mostram um crescimento<strong>de</strong> 265,94% no valor exportado <strong>de</strong> 2001 a 2011,registrando um montante exportado <strong>de</strong> US$ 1,4bilhão em 2011. Entre os estados brasileiros, oCeará apresenta <strong>de</strong>staque nas exportações <strong>de</strong>produtos do agronegócio, ocupando o primeirolugar nas exportações brasileiras <strong>de</strong> castanha<strong>de</strong> caju, lagosta, melão e melancia. A<strong>de</strong>mais, éimportante <strong>de</strong>stacar que, conforme <strong>da</strong>dos doMDIC (BRASIL, 2012b), 42,34% <strong>da</strong>s exportaçõescearenses são resultantes do agronegócio.Segundo Viana et al. (2006), o agronegóciotem contribuído para o incremento do saldo<strong>da</strong> balança comercial cearense, gerando empregoe ren<strong>da</strong>, e garantindo a permanência <strong>de</strong> famíliasna área rural.Da<strong>da</strong> a relevância do segmento do agronegóciocearense, a Tabela 1 mostra a evolução dovalor absoluto exportado cearense dos principaisprodutos que compõem o agronegócio <strong>de</strong> 2001a 2011. Conforme se observa, apesar <strong>da</strong>s oscilaçõesverifica<strong>da</strong>s, houve um acréscimo <strong>de</strong> 265%no valor exportado cearense <strong>de</strong> 2001 a 2011, superiorao crescimento registrado pelo montanteexportado do agronegócio brasileiro, que foi <strong>de</strong>236% nesse período. Em termos comparativoscom o Brasil, os <strong>da</strong>dos indicam que, dos US$2,8 bilhões correspon<strong>de</strong>ntes às exportações brasileirasdos principais produtos do agronegócioem 2011, US$ 594,1 milhões foram provenientesdo Ceará. Portanto, o Ceará foi responsável por21,2% do valor gerado pelas exportações brasileirasdos principais produtos do agronegócioem 2011, registrando um acréscimo na participaçãorelativa <strong>da</strong>s exportações <strong>de</strong>sse segmento emrelação ao Brasil <strong>de</strong> 2001 a 2011, uma vez que aparticipação <strong>de</strong>sse estado era <strong>de</strong> apenas 18,88%em 2001.Tabela 1. Exportações brasileiras e cearenses do agronegócio (1) <strong>de</strong> 2001 a 2011.AnoBrasil(US$)Ceará(US$)CE/BR (%)2001 1.187.669.340 224.205.720 18,882003 1.737.317.512 348.120.093 20,042004 2.010.514.170 403.314.250 20,062005 2.107.412.608 434.159.168 20,602006 2.559.437.920 434.798.533 16,992007 2.929.652.007 488.777.047 16,682008 2.648.119.958 559.710.537 21,142009 1.855.221.742 494.992.482 26,682010 2.484.890.434 563.251.681 22,672011 2.802.918.044 594.136.898 21,20(1)Produtos consi<strong>de</strong>rados: castanha <strong>de</strong> caju, mel <strong>de</strong> abelha, ceras vegetais, abacaxi, banana, melão, melancia, couros e peles, lagosta, camarão, florese extrato vegetal.Fonte: Brasil (2012a).55Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Gran<strong>de</strong> parte do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssesetor po<strong>de</strong> ser atribuí<strong>da</strong> às ações do governo doestado, visto que este tem incorporado mu<strong>da</strong>nçasestruturais que buscaram <strong>de</strong>senvolver a agriculturae aumentar sua participação no mercadointerno e externo. A<strong>de</strong>mais, os incentivos fiscaisconcedidos influenciaram <strong>de</strong> forma positiva oscustos relativos <strong>de</strong> produção, tendo tornado osegmento mais competitivo no mercado internacional(VIANA et al., 2006).Nesse contexto, <strong>da</strong><strong>da</strong> a importância <strong>de</strong>sempenha<strong>da</strong>pelo segmento do agronegóciocearense, torna-se relevante a realização <strong>de</strong> estudosque busquem avaliar a sua competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>quanto aos principais produtos que fazem parte<strong>de</strong>sse setor por meio <strong>da</strong> mensuração dos indicadores<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho. A construção <strong>de</strong>ssesindicadores é fun<strong>da</strong>mental para a formulação <strong>de</strong>estratégias competitivas e políticas governamentaisque visem melhorar a participação dos produtosdo agronegócio no cenário internacional.Estudos <strong>de</strong>ssa natureza têm sido amplamenterealizados na literatura econômicainternacional e nacional para diversas commodities,como os <strong>de</strong>senvolvidos por Albuquerqueet al. (2010), Almei<strong>da</strong> et al. (2007), Batra eKhan (2005), Cardoso et al. (2009), Coronel etal. (2008), Cunha Filho (2005), Esperança et al.(2011), Fertö e Hubbard (2002), Ilha e Coronel(2006), Lacayo e Morales (2007), Machado et al.(2007), Martins et al. (2010), Moreno e Posa<strong>da</strong>(2007), Pereira et al. (2009), Rosa e Alves (2006),Serin e Civan (2008), Silva (2006), Vasconcelos(2003), Viana et al. (2006) e Waquil et al. (2004).Entre esses estudos, apenas os <strong>de</strong> Albuquerqueet al. (2010), Esperança et al. (2011), Silva (2006)e Viana et al. (2006), contemplaram em suasanálises a competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos do agronegóciono Ceará – respectivamente, plantas vivase produtos <strong>de</strong> floricultura; melão; castanha<strong>de</strong> caju; e flores e plantas ornamentais.A contribuição <strong>de</strong>ste trabalho em relaçãoaos realizados consiste em expandir a análiseconsi<strong>de</strong>rando a competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos 12 principaisprodutos do agronegócio cearense – castanha<strong>de</strong> caju, mel <strong>de</strong> abelha, ceras vegetais,abacaxi, banana, melão, melancia, couros e peles,lagosta, camarão, flores e extrato vegetal –para o período mais recente, com o intuito <strong>de</strong>verificar o <strong>de</strong>sempenho exportador do Ceará.Outra inovação é que este estudo incorporaos indicadores vantagem comparativa revela<strong>da</strong><strong>de</strong> Vollrath (RCAV), comércio intraindústria(G-L) e contribuição ao saldo comercial (ICSC),que não foram consi<strong>de</strong>rados nesses trabalhosreferenciados. A<strong>de</strong>mais, o índice <strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>revela<strong>da</strong> (CR) também foi tratado nesteestudo, tendo sido enfocado apenas no estudo<strong>de</strong> Esperança et al. (2011), entre os estudos citadosque incluíram o Ceará. Portanto, o presenteestudo preten<strong>de</strong> analisar o <strong>de</strong>sempenho exportadordo agronegócio cearense <strong>de</strong> 2001 a 2011.Referencial teóricoOs pioneiros nos estudos relacionadoscom o comércio internacional e a competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>foram os clássicos A<strong>da</strong>m Smith e DavidRicardo, que abor<strong>da</strong>ram, respectivamente, as teorias<strong>da</strong>s Vantagens Absolutas e <strong>da</strong>s VantagensComparativas.Diz-se que a instituição que precisa <strong>de</strong>uma quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> menor <strong>de</strong> insumos para produzirum bem tem uma vantagem absoluta naprodução <strong>de</strong>sse bem. Já a vantagem comparativaé usa<strong>da</strong> para <strong>de</strong>screver o custo <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> duas instituições. Uma instituição queabre mão <strong>de</strong> produzir vários bens para produzirapenas um bem específico tem menor custo <strong>de</strong>oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>sse bem específico;portanto, tem uma vantagem comparativa nasua produção (PASSOS; NOGAMI, 2005).De outra forma, um país tem vantagemcomparativa na produção <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado bemse for relativamente mais eficiente na produção<strong>de</strong>sse mesmo bem. Segundo a Lei <strong>da</strong> VantagemComparativa, todos os países se beneficiam docomércio internacional mesmo que sejam absolutamentemenos eficientes na produção <strong>de</strong>todos os bens. Basta que, para isso, se especializemna produção dos bens em que são relativa-Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>56
mente mais eficientes, ou seja, aqueles em queapresentam vantagens comparativas, adquirindoaqueles em que são relativamente menos eficientes(KRUGMAN; OBSTFELD, 2005; PASSOS;NOGAMI, 2005).Para Passos e Nogami (2005), a teoria <strong>da</strong>vantagem comparativa mostra que a especialização<strong>da</strong> produção estimula o comércio internacionale favorece o consumidor. Já o enfoqueneoclássico <strong>da</strong> teoria do comércio <strong>de</strong> Heckscher-Ohlinenfatiza as diferenças internacionaisnas dotações <strong>de</strong> fatores como a causa última <strong>da</strong>svantagens comparativas. Segundo essa teoria,um país exportará mercadorias que são intensivasno fator relativamente abun<strong>da</strong>nte nesse país,e importará mercadorias intensivas no fator escasso(KRUGMAN; OBSTFELD, 2005).Contudo, as teorias mais recentes do comérciointernacional enfatizam que à medi<strong>da</strong>que os mercados são ampliados e tornam-semais complexos, outros fatores passam a interferirna dinâmica do comércio internacional, taiscomo: contratos, aumentos na exigência <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>dos produtos, barreiras comerciais e nãotarifárias, economias <strong>de</strong> escala, concorrênciaimperfeita, padrões <strong>de</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> e diferenciaçãodos produtos. Assim, verifica-se que a competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>no comércio internacional possui umsignificado além <strong>da</strong> vantagem comparativa, ouseja, outros pré-requisitos são importantes naampliação <strong>de</strong> seus mercados (HIDALGO, 1998;MARTINS et al., 2010).Segundo Gonçalves et al. (1995), a competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>consiste na capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> umaempresa, estado ou nação em construir dinamicamenteuma posição competitiva sustentávelno tempo para <strong>de</strong>terminados produtos ougrupos <strong>de</strong> produtos no mercado internacional,não sendo resultante <strong>de</strong> posições her<strong>da</strong><strong>da</strong>s, mas<strong>de</strong> condições gera<strong>da</strong>s com base em estratégiasconsistentes e sustentáveis no tempo diante <strong>da</strong>concorrência. Portanto, a análise <strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>para um <strong>da</strong>do produto possibilita formularestratégias capazes <strong>de</strong> manter ou aumentar suaposição competitiva no mercado internacional.Para Almei<strong>da</strong> et al. (2007) e Cunha Filho(2005), a competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser abor<strong>da</strong><strong>da</strong> sobdiferentes aspectos. Entre eles, estão os indicadores<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho, eficiência e capacitação.Os indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho avaliam a competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>do agente consi<strong>de</strong>rado no mercadoregional, nacional ou internacional. Os indicadores<strong>de</strong> eficiência associam-se com os preços eos custos dos bens e serviços comercializados, eos indicadores <strong>de</strong> capacitação incluem os avançostecnológicos em produtos e processos.Neste estudo, para a análise <strong>da</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>cearense no comércio exterior <strong>de</strong> produtosdo agronegócio, <strong>de</strong> 2001 a 2011, foramconsi<strong>de</strong>rados estes indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho:vantagem comparativa revela<strong>da</strong> <strong>de</strong> Vollrath(RCAV), contribuição ao saldo comercial (CSC),competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> revela<strong>da</strong> (CR) e comércio intraindústria(G-L).O índice <strong>de</strong> vantagem comparativa revela<strong>da</strong><strong>de</strong> Vollrath permite a i<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong>existência <strong>de</strong> vantagem comparativa revela<strong>da</strong>,no Ceará, para o produto em análise quando secompara a relação entre o valor <strong>da</strong>s exportaçõescearenses do produto consi<strong>de</strong>rado e o valor dos<strong>de</strong>mais produtos exportados pelo estado coma relação entre o valor total <strong>da</strong>s exportaçõesbrasileiras do produto enfocado – exclusive asexportações <strong>de</strong>sse produto provenientes do estado– e o valor total <strong>da</strong>s exportações brasileiras,exclusive suas exportações do produto avaliadoe <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando as exportações do estadoem análise. Entretanto, esse índice não leva emconsi<strong>de</strong>ração as importações, que passam a fazerparte <strong>da</strong> composição do índice <strong>de</strong> contribuiçãoao saldo comercial, que compara o saldocomercial <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> produto analisado com o seusaldo comercial teórico; e do índice <strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>,que possibilita i<strong>de</strong>ntificar se o estadoapresenta vantagem competitiva no comércio doproduto em análise. De acordo com a literaturaeconômica, apesar <strong>de</strong> a vantagem comparativaser relevante, não se po<strong>de</strong> atribuir o sucesso do<strong>de</strong>sempenho exportador <strong>de</strong> um setor somenteao fato <strong>de</strong> ele ter apresentado vantagem comparativa,mas <strong>de</strong>ve-se levar em consi<strong>de</strong>ração57Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
também sua vantagem competitiva. Outra abor<strong>da</strong>gemutiliza<strong>da</strong> para verificar a competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>do setor em estudo po<strong>de</strong> ser traduzi<strong>da</strong> em termosdo tipo <strong>de</strong> relação comercial estabeleci<strong>da</strong>,ou seja, se predomina o comércio intraindústriaou interindústria.MetodologiaA seguir apresenta-se o referencial analíticosobre os índices utilizados neste estudo e afonte dos <strong>da</strong>dos adota<strong>da</strong>.Vantagem comparativarevela<strong>da</strong> <strong>de</strong> Vollrath (RCAV)Segundo Ben<strong>de</strong>r e Li (2002), o índice <strong>de</strong>vantagem comparativa revela<strong>da</strong> consiste emuma dupla contagem do setor no total do país,e do país no total do mundo. Para remover essalimitação, empregou-se o índice <strong>de</strong> vantagemcomparativa revela<strong>da</strong> <strong>de</strong> Vollrath (RCAV i), combase na sugestão <strong>de</strong>sses autores. Esse indicadorpo<strong>de</strong> ser expresso pela equação(1)Índice <strong>de</strong> contribuição aosaldo comercial (ICSC)Outro índice que auxilia na i<strong>de</strong>ntificação<strong>da</strong> especialização <strong>da</strong>s exportações é o índice <strong>de</strong>contribuição ao saldo comercial (ICSC), <strong>de</strong>finidopor Lafay (1990). Ele consiste na comparação dosaldo comercial <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> produto, ou grupo <strong>de</strong>produtos, com o saldo comercial teórico <strong>de</strong>ssemesmo produto. O ICSC <strong>de</strong> um produto ou <strong>de</strong>um grupo <strong>de</strong> produtos i, em um período <strong>de</strong> tempot, é estimado conforme equação(2)em que refere-se às exportações do bem i doCeará no período t; , importações <strong>de</strong> i do Cearáno período t; X t , exportação total do Cearáno período t; e M t , importação total do Ceará noperíodo t. O primeiro termo entre colchetes representaa balança comercial observa<strong>da</strong> do produtoi, e o segundo, a balança comercial teóricapara o produto i.Se ICSC tiver valor positivo, consi<strong>de</strong>ra-seque o produto apresenta vantagem comparativarevela<strong>da</strong>; caso contrário, o produto apresenta<strong>de</strong>svantagem.em que i representa os produtos do agronegócio;j representa Ceará; X ijé o valor <strong>da</strong>s exportaçõescearenses do produto em análise; é o valortotal <strong>da</strong>s exportações cearenses; é o valortotal <strong>da</strong>s exportações brasileiras do produto emanálise; e é o valor total <strong>da</strong>s exportaçõesbrasileiras.O estado apresenta vantagem comparativarevela<strong>da</strong> <strong>de</strong> Vollrath na exportação do produtoconsi<strong>de</strong>rado em relação ao Brasil se o valor doindicador <strong>de</strong> RCAV ifor maior do que a uni<strong>da</strong><strong>de</strong>e, caso contrário, apresenta <strong>de</strong>svantagem comparativarevela<strong>da</strong> <strong>de</strong> Vollrath.Índice <strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>revela<strong>da</strong> (CR)Conforme Esperança et al. (2011) e Machadoet al. (2007), o indicador <strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>revela<strong>da</strong> (CR) é um índice abrangente, que incorporatodo o comércio, isto é, além <strong>da</strong>s exportações,inclui as importações, que não foramconsi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s no índice <strong>de</strong> vantagem comparativarevela<strong>da</strong>.A estimativa <strong>de</strong>sse índice po<strong>de</strong> servir comomedi<strong>da</strong> complementar para auxiliar as políticaspúblicas setoriais e as empresas com estratégias<strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s ao setor em análise (MACHADOet al., 2007). Esse índice po<strong>de</strong> ser expresso pelaequaçãoAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>58
em que i representa os produtos consi<strong>de</strong>radosdo agronegócio; j refere-se ao Ceará; X ji, valor<strong>de</strong> i exportado pelo estado j; X ir, valor <strong>da</strong>s exportaçõesbrasileiras <strong>de</strong> i; X jm, diferença entre ovalor total exportado pelo estado j e o valor exportado<strong>de</strong> i pelo estado j; X mr, diferença entre ovalor total exportado pelo Brasil e o valor totalexportado pelo estado j; M ji, valor <strong>de</strong> i importadopelo estado j; M ir, valor <strong>da</strong>s importaçõesbrasileiras <strong>de</strong> i; M jm, diferença entre o valor totalimportado pelo estado j e o valor importado <strong>de</strong>i pelo estado j; M mr, diferença entre o valor totalimportado pelo Brasil e o valor total importadopelo estado j.Se CR tiver valor positivo, indica que oestado apresenta vantagem competitiva no comérciodo produto em análise; caso contrário, oproduto possui <strong>de</strong>svantagem competitiva.Comércio intraindústria (G-L)De acordo com Vasconcelos (2003), ocomércio intraindústria consiste no comércio –exportação e importação – entre dois ou maispaíses <strong>de</strong> uma gama <strong>de</strong> produtos pertencentes aum mesmo segmento industrial.Essa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> comércio é explica<strong>da</strong>pela diferenciação dos produtos, pelas economias<strong>de</strong> escala, pela integração econômica e pelaimperfeição <strong>de</strong> mercado, entre outras variáveis.O conhecimento mais aprofun<strong>da</strong>do do comérciointraindústria torna-se importante para a <strong>de</strong>finição<strong>da</strong> melhor estratégia <strong>de</strong> inserção e <strong>da</strong> política comercial,principalmente quando se <strong>de</strong>lineia ummundo formado por gran<strong>de</strong>s blocos comerciais,(3)on<strong>de</strong> o fluxo comercial é caracterizado por umcrescente comércio intraindústria (HIDALGO,1998; KRUGMAN; OBSTFELD, 2005).Os ganhos <strong>de</strong>correntes do aumento no fluxo<strong>de</strong> comércio intraindústria po<strong>de</strong>m ser observadospor dois ângulos. Pelo lado <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>,o comércio intraindústria acarretaria um aumento<strong>de</strong> bem-estar em termos <strong>de</strong> satisfação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>se gostos, pois a maior disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> produtos possibilitaria um maior leque <strong>de</strong> escolhas.Pelo lado <strong>da</strong> produção, o aumento nocomércio intraindústria possibilitaria, por meiodo ganho <strong>de</strong> escala e diferenciação <strong>de</strong> produtos,a especialização <strong>da</strong>s firmas em poucas linhas<strong>de</strong> produção. Logo, essa maior especializaçãopropiciaria um incremento <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> eeficiência, traduzindo-se em maior competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>internacional para o país (VASCONCELOS,2003).Nesse contexto, o objetivo aqui é investigara importância do comércio intraindústria <strong>de</strong>ntrodo comércio internacional do agronegócio cearense.A mensuração do comércio intraindústriafoi feita com base no índice sugerido por Grubele Lloyd (G-L) (GRUBEL; LLOYD, 1975):(4)sendo X ie M io valor <strong>da</strong>s exportações e importaçõesdo produto i, respectivamente; (X i+M i) é o comércio total <strong>da</strong> indústria i; (X i+ M i) -|X i- M i| é o comércio intraindústria; e |X i- M i| éo comércio interindústria.Se o índice calculado for igual a um, significaque todo o comércio é do tipo intraindústria,e se for zero, todo o comércio será do tipointerindustrial (ou comércio do tipo Heckscher-Ohlin). A<strong>de</strong>mais, consi<strong>de</strong>ra-se como predominância<strong>de</strong> comércio intraindústria um valor <strong>de</strong>G-L acima <strong>de</strong> 0,5. Nesse caso, os efeitos <strong>da</strong>seconomias <strong>de</strong> escala e <strong>da</strong> diferenciação <strong>de</strong> produtosestariam compensando os efeitos relacionadosàs diferenças nas dotações <strong>de</strong> fatores. Paraum valor menor ou igual a 0,5, estaria predo-59Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
minando o comércio interindústria, e os efeitosassociados às diferenças na dotação relativa <strong>de</strong>fatores superariam os efeitos <strong>da</strong>s economias <strong>de</strong>escala e diferenciação <strong>de</strong> produtos (HIDALGO,1998; ROSA; ALVES, 2006).Fonte <strong>de</strong> <strong>da</strong>dosOs <strong>da</strong>dos referentes às exportações e importaçõesdo Ceará e do Brasil para os principaisprodutos do agronegócio foram coletados naSecretaria <strong>de</strong> Comércio Exterior (Secex), órgãovinculado ao <strong>Ministério</strong> do Desenvolvimento,Indústria e Comércio Exterior (MDIC). As séries<strong>de</strong> valor exportado e importado estão expressasem US$ Free on Board do Brasil, e o períodoconsi<strong>de</strong>rado é <strong>de</strong> 2001 a 2011.Para realização <strong>de</strong>ste estudo, com basena Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM),consi<strong>de</strong>raram-se 12 produtos representativos <strong>da</strong>pauta <strong>de</strong> exportação do agronegócio cearenseque fazem parte <strong>da</strong>s seguintes categorias: i) castanha<strong>de</strong> caju fresca ou seca sem casca (NCM08013200); ii) mel <strong>de</strong> abelha natural (NCM04090000); iii) ceras vegetais (NCM 15211000);iv) abacaxis frescos ou secos (NCM 08043000);v) bananas frescas ou secas (NCM 08030000);vi) melões frescos (NCM 08071900); vii) melanciasfrescas (NCM 08071100); viii) couros e peles(SH4 – 4104, 4105, 4106, 4107 e 4115); ix) lagostas(NCM 03061100, 03061190 e 03061110); x) camarões(NCM 03061399, 03061391 e 03061310);xi) flores e plantas ornamentais (SH 0601-04); exii) sucos e extratos vegetais (SH 4 1302).Resultados e discussãoAntes <strong>de</strong> apresentar os resultados concernentesaos indicadores <strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, éimportante mostrar a evolução <strong>da</strong>s exportaçõese importações cearenses dos principais produtosdo agronegócio. Quanto a isso, a seguir, apresenta-seo comportamento <strong>da</strong> balança comercialcearense proveniente do agronegócio, e em segui<strong>da</strong>,mostram-se os resultados dos indicadores<strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.Evolução <strong>da</strong>s exportações eimportações cearenses dos principaisprodutos do agronegócioConforme se observa na Tabela 2, apesar<strong>da</strong>s oscilações registra<strong>da</strong>s tanto no valor <strong>da</strong>s exportaçõesquanto <strong>da</strong>s importações, o agronegóciocearense apresenta saldo positivo na balançacomercial do estado durante todo o períodoanalisado, indicando que esse segmento geradivisas para o estado. Entre os principais produtosanalisados do agronegócio cearense, parcelamajoritária (83,09%) <strong>da</strong> pauta <strong>de</strong> exportaçõesdo agronegócio cearense em 2011 provém <strong>de</strong>couros e peles, castanha <strong>de</strong> caju, melão e cerasvegetais.Analisando-se a evolução <strong>da</strong>s exportações,verifica-se que, <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> que<strong>da</strong> acentua<strong>da</strong>em 2009, resultante <strong>da</strong> crise internacional, oano <strong>de</strong> 2010 retoma o valor exportado em 2008,mesmo diante <strong>da</strong>s condições climáticas adversasocorri<strong>da</strong>s em 2010. Essa evidência é observa<strong>da</strong>no saldo <strong>da</strong> balança comercial. Em 2011,o acréscimo do saldo <strong>da</strong> balança comercial emtermos absolutos não foi acompanhado em termosrelativos. Quanto às importações, os <strong>da</strong>dosmostram um expressivo acréscimo em 2004 eem 2006, po<strong>de</strong>ndo ser atribuído ao crescimento<strong>da</strong>s importações <strong>de</strong> couro e peles.Análise dos resultados dosindicadores <strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>Aqui são apresentados os resultados dosindicadores vantagem comparativa revela<strong>da</strong> <strong>de</strong>Vollrath, contribuição ao saldo comercial, competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>revela<strong>da</strong> e comércio intraindústriapara as exportações cearenses <strong>da</strong> castanha <strong>de</strong>caju, mel <strong>de</strong> abelha, ceras vegetais, abacaxi, banana,melão, melancia, couros e peles, lagosta,camarão, flores e extrato vegetal, <strong>de</strong> 2001 a 2011.Vantagem comparativarevela<strong>da</strong> <strong>de</strong> VollrathNa Tabela 3 estão expostos os resultadosdo índice <strong>de</strong> vantagem comparativa revela<strong>da</strong> <strong>de</strong>Vollrath (RCAV) para os produtos sob análise.Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>60
Tabela 2. Balança comercial cearense dos principais produtos do agronegócio (1) <strong>de</strong> 2001 a 2011.AnoExportação(US$, FOB)%Importação(US$, FOB)%Saldo(US$, FOB)%2001 224.205.720 – 4.061.002 – 220.144.718 –2002 270.867.984 20,81 1.809.058 -55,45 269.058.926 22,222003 348.120.093 28,52 672.343 -62,83 347.447.750 29,132004 403.314.250 15,85 6.772.115 907,24 396.542.135 14,132005 434.159.168 7,65 5.279.305 -22,04 428.879.863 8,152006 434.798.533 0,15 23.935.701 353,39 410.862.832 -4,202007 488.777.047 12,41 25.876.682 8,11 462.900.365 12,672008 559.710.537 14,51 32.231.857 24,56 527.478.680 13,952009 494.992.482 -11,56 8.227.836 -74,47 486.764.646 -7,722010 563.251.681 13,79 5.975.279 -27,38 557.276.402 14,492011 594.136.898 5,48 6.096.572 2,03 588.040.326 5,52(1)Produtos consi<strong>de</strong>rados: castanha <strong>de</strong> caju, mel <strong>de</strong> abelha, ceras vegetais, abacaxi, banana, melão, melancia, couros e peles, lagosta, camarão, florese extrato vegetal.Fonte: Brasil (2012a).Tabela 3. Vantagem comparativa revela<strong>da</strong> <strong>de</strong> Vollrath dos produtos sob análise <strong>de</strong> 2001 a 2011.AnoCastanha<strong>de</strong> cajuMel Ceras Abacaxi Banana Melão Melancia Courose pelesLagosta Camarão FloresExtratovegetal2001 474,41 10,02 105,78 0,37 1,11 45,19 43,76 10,32 165,87 - (2) 0,57 31,242002 409,56 19,42 122,81 1,59 1,12 58,43 81,97 8,85 161,62 56,91 2,42 11,362003 360,70 13,52 74,42 0,98 0,18 43,99 42,84 9,63 88,02 52,46 2,95 7,352004 427,38 13,35 93,23 157,73 0,16 40,81 44,90 11,89 113,32 50,95 7,15 12,732005 397,70 28,02 152,09 299,49 0,33 79,07 73,67 13,17 174,41 64,67 12,92 18,862006 439,06 34,87 197,28 624,29 17,07 72,20 105,88 11,99 120,98 74,58 29,14 17,942007 655,85 24,98 147,16 1.243,59 13,51 70,05 101,70 11,19 80,30 42,86 26,51 13,862008 511,59 28,34 141,61 1.085,65 37,58 212,77 327,81 20,00 120,30 31,07 25,84 24,862009 712,22 39,83 110,61 534,74 37,57 233,54 274,33 18,10 343,16 16,93 27,06 10,842010 706,01 34,15 125,76 19,24 52,21 261,22 194,02 18,88 403,83 0,85 21,90 24,162011 721,64 40,28 220,85 34,86 65,61 282,07 218,55 20,55 355,19 13,99 39,11 42,85Média 528,74 26,07 135,60 363,87 20,59 127,21 137,22 14,05 193,36 40,53 17,78 19,64TAC (1) 6,43 22,59 13,31 1.642,85 524,03 31,28 33,76 9,55 21,10 152,10 75,03 21,79(1)Taxa média anual <strong>de</strong> crescimento.(2)Não há <strong>da</strong>dos disponíveis para o período.Fonte: Brasil (2012a).61Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Os resultados <strong>de</strong>sse índice mostraram vantagemcomparativa para castanha <strong>de</strong> caju, mel natural,ceras vegetais, melão, melancia, couros e peles,lagosta e extrato vegetal em todos os anos,confirmando a importância <strong>de</strong>sses produtos napauta <strong>da</strong>s exportações cearenses, com <strong>de</strong>staquepara a castanha <strong>de</strong> caju, que apresentou elevadoíndice <strong>de</strong> RCAV em todos os anos consi<strong>de</strong>rados.Apesar <strong>de</strong> a castanha <strong>de</strong> caju ter apresentadoexpressivo valor do indicador <strong>de</strong> RCAV, a taxamédia anual <strong>de</strong> crescimento foi a menor entreos produtos avaliados. No tocante ao abacaxi,à banana, ao camarão e às flores, constatou-seque apesar <strong>de</strong> terem apresentado <strong>de</strong>svantagemcomparativa em alguns anos, a vantagem comparativafoi predominante no período estu<strong>da</strong>do.Os <strong>da</strong>dos também evi<strong>de</strong>nciam altos valoresdo indicador <strong>de</strong> RCAV para o melão, confirmandoque esse produto tem gran<strong>de</strong> relevânciana geração <strong>de</strong> divisas para o Ceará. Essa eleva<strong>da</strong>competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser atribuí<strong>da</strong> à adoção dosistema <strong>de</strong> produção integra<strong>da</strong> <strong>de</strong> frutas (PIF).De acordo com Viana et al. (2006), esse sistemaproduz frutas <strong>de</strong> eleva<strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e sani<strong>da</strong><strong>de</strong>,seguindo normas <strong>de</strong> sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> ambientale segurança alimentar por meio <strong>da</strong> utilização <strong>de</strong>tecnologias apropria<strong>da</strong>s, funcionando como propulsor<strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.No caso do mel <strong>de</strong> abelha, banana, courose peles, flores e extratos <strong>de</strong> vegetais, esse índicefoi menor quando comparado com os dos <strong>de</strong>maisprodutos consi<strong>de</strong>rados na análise, caracterizandoum menor grau <strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> no mercadointernacional ao longo do período estu<strong>da</strong>do. Essefato po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>vido à baixa exportação cearense<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>sses produtos em comparaçãocom as exportações brasileiras <strong>de</strong>les. Acredita-seque a melhoria na estrutura produtiva e industrialestimule as exportações cearenses <strong>de</strong>sses produtose proporcione ganhos <strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.Quanto à banana, constata-se que <strong>de</strong> 2003a 2005 ela apresentou <strong>de</strong>svantagem comparativarevela<strong>da</strong> <strong>de</strong> Vollrath, haja vista que o índice<strong>de</strong> RCAV foi menor que a uni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Entretanto,em termos médios, esse produto registrou umforte crescimento, 524,03%, consi<strong>de</strong>rando-se operíodo enfocado. Segundo a A<strong>de</strong>ce (EXPORTA-ÇÕES..., 2011), mesmo pagando-se atualmentesobretaxa alfa<strong>de</strong>ngária, a banana cearense tipoexportação tem-se mostrado competitiva, conquistandoo mercado europeu.Outra inferência que po<strong>de</strong> ser extraí<strong>da</strong> éque, apesar <strong>da</strong> expressiva redução do indicador<strong>de</strong> RCAV do abacaxi, sobretudo <strong>de</strong> 2009 a 2010,resultante <strong>da</strong> que<strong>da</strong> <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> exporta<strong>da</strong> emvirtu<strong>de</strong> do difícil controle <strong>de</strong> doenças no campo,esse produto registrou um crescimento médioexorbitante do índice <strong>de</strong> RCAV <strong>de</strong> 2001 a 2011.No tocante ao camarão, verifica-se que<strong>da</strong>do índice <strong>de</strong> RCAV <strong>de</strong> 2007 a 2010, indicandoper<strong>da</strong> <strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s exportações cearenses<strong>de</strong>sse produto no mercado internacional(Tabela 3). Isso po<strong>de</strong> ser atribuído principalmenteà expressiva que<strong>da</strong> do valor exportado <strong>de</strong> camarãoem 2010 em relação a 2009, que passou<strong>de</strong> US$ 3.161.404,00 para US$ 82.543,00, umavez que em 2010, a única categoria que o Cearáexportou foi "outros camarões congelados",exceto krill. De acordo com a A<strong>de</strong>ce (EXPOR-TAÇÕES..., 2011), em virtu<strong>de</strong> dos problemas nomercado internacional e no câmbio, os produtoresredirecionaram a produção <strong>de</strong> camarãopara o mercado interno. O retorno do camarãocearense no mercado internacional passa necessariamentepela redução <strong>da</strong> taxação extra sobreo produto brasileiro nos Estados Unidos, pelaagregação <strong>de</strong> valor e por avanços tecnológicosdo setor com apoio governamental.Índice <strong>de</strong> contribuiçãoao saldo comercialNa Tabela 4, encontram-se os resultadosdo índice <strong>de</strong> contribuição ao saldo comercial<strong>da</strong>s exportações do agronegócio cearense dosprodutos analisados. Verifica-se que o índice <strong>de</strong>ICSC assume valores positivos, indicando que oCeará possui vantagem comparativa nas exportações<strong>de</strong> todos os produtos analisados, com exceçãoapenas <strong>de</strong> flores em 2002.O indicador ICSC apresentou um comportamentosemelhante ao verificado com o RCAV,com <strong>de</strong>staque para a castanha <strong>de</strong> caju, <strong>da</strong><strong>da</strong>s asAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>62
Tabela 4. Índice <strong>de</strong> contribuição ao saldo comercial brasileiro dos produtos sob análise <strong>de</strong> 2001 a 2011.AnoCastanha<strong>de</strong> cajuMel Ceras Abacaxi Banana Melão MelanciaCourose peles Lagosta Camarão Flores Extratovegetal2001 16,54 0,04 3,32 0 0,03 2,13 0,12 11,98 6,46 - (1) 0 0,912002 14,59 0,63 2,71 0 0,06 2,35 0,21 11,58 7,46 9,17 -0,05 0,382003 14,00 0,72 1,34 0 0,01 2,31 0,14 11,10 3,92 10,31 0,07 0,292004 15,83 0,50 1,53 0,40 0 1,86 0,13 11,22 4,47 7,25 0,19 0,392005 13,87 0,35 2,16 0,44 0,01 3,50 0,26 11,09 4,49 6,31 0,26 0,522006 14,09 0,47 2,58 0,61 0,43 3,01 0,43 11,07 3,89 5,30 0,49 0,452007 15,51 0,28 2,97 1,37 0,34 3,61 0,46 10,64 2,85 1,50 0,43 0,352008 11,35 0,52 3,11 1,11 0,54 6,64 0,95 12,47 2,88 0,73 0,38 0,662009 17,24 1,32 2,42 0,77 0,76 6,84 0,96 10,32 3,34 0,29 0,35 0,352010 13,36 0,71 3,20 0,01 0,82 5,45 0,50 11,77 4,37 0,01 0,24 0,642011 11,68 0,85 3,86 0,01 0,69 5,07 0,50 11,91 3,33 0,04 0,33 0,92(1)Não há <strong>da</strong>dos disponíveis para o período.Fonte: Brasil (2012a).maiores contribuições para o saldo comercial(Tabela 4). Assim, o produto, com gran<strong>de</strong>s vantagenscomparativas, foi também o que mais contribuiupara o saldo comercial positivo do Ceará,na categoria dos produtos mais exportados peloestado. Os <strong>da</strong>dos também mostram a notóriacontribuição para o saldo comercial cearense <strong>de</strong>couros e peles.É importante ressaltar que com o auxílio <strong>da</strong>inovação dos processos produtivos, <strong>da</strong> obtenção<strong>de</strong> economias <strong>de</strong> escala na produção ou <strong>da</strong> reduçãorelativa dos custos, é possível melhorar asvantagens comparativas expressas pelo índice <strong>de</strong>contribuição ao saldo comercial (XAVIER, 2001).Índice <strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> revela<strong>da</strong>Como se verifica na Tabela 5, o Cearáapresenta competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> revela<strong>da</strong> no comércio<strong>de</strong> flores a partir <strong>de</strong> 2004, e <strong>de</strong> couros e peles<strong>de</strong> 2001 a 2011, com exceção dos anos 2006,2007 e 2008, nos quais couros e peles tiveram<strong>de</strong>svantagem competitiva.No caso <strong>da</strong> castanha <strong>de</strong> caju, mel <strong>de</strong> abelhae ceras vegetais, o estado apresenta vantagemcompetitiva nos anos em que teve importação. Jámelão e camarão, respectivamente em 2002 e em2004, registraram <strong>de</strong>svantagem competitiva. Nãofoi possível calcular esse índice para a maioria dosprodutos, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> ausência <strong>de</strong> importações.Comércio intraindústriaOs resultados referentes ao indicador docomércio intraindústria para as exportações cearensesdos produtos do agronegócio sob análiseestão apresentados na Tabela 6. Nota-se que,para todos os produtos consi<strong>de</strong>rados, com exceção<strong>de</strong> flores em 2001 e em 2002, o índiceG-L manteve-se abaixo <strong>de</strong> 0,50 <strong>de</strong> 2001 a 2011,tendo predominado no agronegócio cearense ocomércio interindústria, refletindo as vantagenscomparativas em relação às dotações dos fatores<strong>de</strong> produção e seus parceiros comerciais.Assim, o comércio ocorre entre produtosdiferentes, isto é, o Ceará exporta os produtos doagronegócio supracitados, pois obtém vantagenscomparativas na produção, e importa outros tipos(<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a vantagem comparativa seja baixana produção). No caso <strong>de</strong> flores, verificou-sea presença <strong>de</strong> comércio intraindústria em 2001 e63Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Tabela 5. Índice <strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> revela<strong>da</strong> dos produtos sob análise <strong>de</strong> 2001 a 2011.AnoCastanha<strong>de</strong> cajuMel Ceras Abacaxi Banana Melão MelanciaCourose peles Lagosta Camarão Flores Extratovegetal2001 - 0,78 - - - - - 1,29 - - -1,34 -2002 - - - - - -0,64 - 2,49 - - -1,24 -2003 - - - - - - - 3,41 - - -0,49 -2004 - - - - - - - 0,55 - -1,11 0,58 -2005 - - - - - - - 0,58 - - 0,83 -2006 - - - - - - - -0,43 - - 4,89 -2007 0,97 - - - - - - -0,51 - - 4,45 -2008 - - 6,68 - - - - -0,51 - - - -2009 0,96 - - - - - - 0,02 - - 2,84 -2010 - - - - - - - 0,79 - - 4,80 -2011 - - - - - - - 0,44 - - 4,77 -Nota: o símbolo "-" indica que não foi possível realizar os cálculos, pois não houve importação cearense do produto no ano consi<strong>de</strong>rado.Fonte: Brasil (2012a).Tabela 6. Índice comércio intraindústria dos produtos sob análise <strong>de</strong> 2001 a 2011.AnoCastanha<strong>de</strong> cajuMel Ceras Abacaxi Banana Melão Melancia CourosExtratoLagosta Camarão Florese peles vegetal2001 0 0,15 0 0 0 0 0 0,11 0 0 0,86 02002 0 0 0 0 0 0 0 0,03 0 0 0,74 02003 0 0 0 0 0 0 0 0,01 0 0 0,50 02004 0 0 0 0 0 0 0 0,11 0 0 0,20 02005 0 0 0 0 0 0 0 0,08 0 0 0,15 02006 0 0 0 0 0 0 0 0,32 0 0 0,01 02007 0 0 0 0 0 0 0 0,30 0 0 0,01 02008 0 0 0 0 0 0 0 0,29 0 0 0 02009 0 0 0 0 0 0 0 0,12 0 0 0,12 02010 0 0 0 0 0 0 0 0,07 0 0 0,03 02011 0 0 0 0 0 0 0 0,06 0 0 0,04 0Fonte: Brasil (2012a).em 2002, já que apresentaram o valor do índiceacima <strong>de</strong> 0,5.Conclusões e sugestõesOs resultados do indicador vantagemcomparativa revela<strong>da</strong> <strong>de</strong> Vollrath <strong>de</strong>monstramque castanha <strong>de</strong> caju, mel <strong>de</strong> abelha, ceras vegetais,melão, melancia, couros e peles, lagosta,camarão e extrato vegetal apresentaram vantagenscomparativas em todos os anos analisados.Entre esses produtos, a castanha <strong>de</strong> caju apresentouo maior <strong>de</strong>staque em termos <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong>do índice <strong>de</strong> RCAV; porém, foi o produto queAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>64
egistrou menor acréscimo durante o período. Asmaiores taxas <strong>de</strong> crescimento foram conquista<strong>da</strong>spelo abacaxi e pela banana.O índice <strong>de</strong> contribuição ao saldo comercialcorrobora os resultados do índice <strong>de</strong> RCAV,indicando que a castanha <strong>de</strong> caju foi a que maisse <strong>de</strong>stacou na contribuição para o saldo comercial<strong>da</strong>s exportações do Ceará, ou seja, foi acommodity que mais contribuiu para o superávit<strong>da</strong> balança comercial.Com base no índice <strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>revelado, constata-se que o Ceará apresentavantagem competitiva para a castanha <strong>de</strong> caju,mel <strong>de</strong> abelha e ceras vegetais nos anos em queteve importação. Tendo em vista a ausência <strong>de</strong>importações para a maioria dos produtos, nãofoi possível <strong>de</strong>terminar esse indicador.Quanto à análise <strong>da</strong> contribuição do comérciointraindústria, verifica-se predomínio docomércio interindústria para todos os produtosanalisados, excetuando-se apenas flores queapresentaram comércio intraindústria em 2001e em 2002.Esses resultados permitem revelar, para oCeará, os produtos do agronegócio pertencentesa sua pauta exportadora que mais se <strong>de</strong>stacaramem termos competitivos. O conhecimento <strong>de</strong>sseresultado é útil como indicativo <strong>de</strong> que o Ceará<strong>de</strong>veria não apenas buscar ações priva<strong>da</strong>s e/oupúblicas <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s aos produtos com melhor<strong>de</strong>sempenho exportador, mas também fortaleceraqueles que fazem parte <strong>da</strong> pauta exportadorado estado com menor notorie<strong>da</strong><strong>de</strong>.Para fortalecer a competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos produtosdo agronegócio cearense que fazem parte<strong>da</strong> pauta exportadora do estado, bem como doBrasil, recomen<strong>da</strong>m-se, como medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> políticaspúblicas, a realização <strong>de</strong> maiores investimentosem infraestrutura, assessoria técnicae pesquisas científicas; crédito para aquisição<strong>de</strong> equipamentos mais mo<strong>de</strong>rnos; melhoria noapoio à gestão <strong>de</strong> logística, <strong>de</strong> mercado e <strong>de</strong> fluxos<strong>de</strong> informação; redução dos custos <strong>de</strong> transação;e inovação com o intuito <strong>de</strong> agregar valoraos produtos exportados para conquistar novosmercados.Este estudo buscou verificar o <strong>de</strong>sempenhoexportador dos principais produtos do agronegóciocearense. Para trabalhos posteriores,sugere-se que seja analisa<strong>da</strong> também a competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong>ssas commodities nos principais estadosbrasileiros e nos principais países produtoresque exportam tais produtos.ReferênciasALBUQUERQUE, D. P. <strong>de</strong> L.; KHAN, A. S.; LIMA, P. V.P. S.; CARVALHO, E. B. S. A competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> externa<strong>da</strong> amêndoa <strong>de</strong> castanha <strong>de</strong> caju brasileira no período<strong>de</strong> 1990 a 2007. In: ENCONTRO DE ECONOMIA DOCEARÁ EM DEBATE, 6., 2010. Anais... Fortaleza: IPECE,2010. CD-ROM.ALMEIDA, E.; LIMA, P. S.; SILVA, L. M.; MAYORGA,R. D.; LIMA, F. <strong>de</strong>. 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Desigual<strong>da</strong><strong>de</strong>nos campos naEliseu Alves 2Geraldo <strong>da</strong> Silva e Souzaótica do Censo3Daniela <strong>de</strong> Paula Rocha 4Agropecuário 2006 1Resumo – O artigo analisa a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo índice <strong>de</strong> Gini para a ren<strong>da</strong> bruta <strong>de</strong> 4.400.527estabelecimentos localizados em 5.036 municípios. Os estabelecimentos foram <strong>de</strong>finidos em doisgrupos <strong>de</strong> áreas (em hectares): ≤ 100 e > 100. O índice <strong>de</strong> Gini total por município também foicalculado. O artigo também utilizou uma abor<strong>da</strong>gem não paramétrica basea<strong>da</strong> em or<strong>de</strong>nações paraavaliar a influência <strong>da</strong> terra, trabalho e tecnologia no índice <strong>de</strong> Gini. A análise dos índices <strong>de</strong> Giniregionais mostra que a tecnologia é o fator responsável para explicar as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>,especialmente nas regiões Nor<strong>de</strong>ste, Su<strong>de</strong>ste e Sul. Portanto, apenas distribuir terra não é a soluçãopara reduzir a pobreza no campo. Segundo os <strong>da</strong>dos do Censo Agropecuário, há 3,9 milhões<strong>de</strong> estabelecimentos que não estão inseridos na agricultura mo<strong>de</strong>rna, em razão <strong>da</strong>s imperfeiçõesdos mercados <strong>de</strong> insumos e produtos, <strong>da</strong> assistência técnica, além <strong>de</strong> outros fatores. Sem políticaspúblicas que reforcem e aprimorem a extensão rural pública, estimulem a assistência técnica particular– inclusive remunerando seu trabalho com fundos públicos – e intensifiquem as medi<strong>da</strong>sque procuram fazer os mercados serem mais eficientes, em pouco tempo os campos se esvaziarão.A situação exige medi<strong>da</strong>s urgentes.Palavras-chave: assistência técnica, <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>, índice <strong>de</strong> Gini para ren<strong>da</strong> bruta, pobrezarural, tecnologia mo<strong>de</strong>rna.Countrysi<strong>de</strong> inequality in the view of the 2006 census of agricultureAbstract – This paper analyzes the inequality by the Gini in<strong>de</strong>x of gross income of 4,400,527establishments located in 5,036 municipalities. The establishments were <strong>de</strong>fined in two area groups(in hectares): ≤ 100 and > 100. The total Gini in<strong>de</strong>x by municipality was also calculated. The paperalso used a non-parametric approach based on ranks to evaluate the influence of land, labor andtechnology in the Gini in<strong>de</strong>x. The regional Gini in<strong>de</strong>xes analysis shows that technology is the factorthat explains income disparities, especially in the Northeast, the Southeast and the South regions of1Original recebido em 28/3/<strong>2013</strong> e aprovado em 5/4/<strong>2013</strong>.2Engenheiro-agrônoma, Ph.D. em <strong>Agricultura</strong>l Economics, assessor do presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Embrapa e pesquisador <strong>da</strong> Embrapa. E-mail: eliseu.alves@embrapa.br3Economista, Ph.D. em Estatística e pesquisador <strong>da</strong> Embrapa. E-mail: geraldo.souza@embrapa.br4Economista, Mestre em Economia, pesquisadora <strong>da</strong> Economia Aplica<strong>da</strong> (IBRE/FGV). E-mail: <strong>da</strong>niela.rocha@fgv.br67Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Brazil. Thus, just distributing land is not the solution to reduce poverty in the countrysi<strong>de</strong>. Accordingto 2006 census of agriculture, there are 3.9 million establishments that are not inclu<strong>de</strong>d in the mo<strong>de</strong>rnagriculture, due to the imperfections of markets for inputs and products, and technical assistance,besi<strong>de</strong>s other factors. Without public policies that strengthen and improve the public rural extension,stimulate private technical assistance – even rewarding their work with public funds –, and intensifymeasures that seek to make markets more efficient, soon (countrysi<strong>de</strong>) the rural areas will be empty.The current situation requires urgent measures.Keywords: technical assistance, income inequality, Gini in<strong>de</strong>x of gross income, rural poverty,mo<strong>de</strong>rn technology.IntroduçãoDistingue-se concentração <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> bruta<strong>de</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> bruta. Se a concentraçãoestá presente, significa que uma minoria <strong>de</strong>estabelecimentos gera porcentagem eleva<strong>da</strong> <strong>da</strong>ren<strong>da</strong> bruta. E a gran<strong>de</strong> maioria contribui poucopara produção. Por exemplo, o Censo Agropecuário2006 mostrou que 500 mil estabelecimentos,<strong>de</strong> 4,4 milhões, geraram 87% <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>bruta. E 3,9 milhões somente contribuíram com13%. E <strong>de</strong>sses, a contribuição <strong>de</strong> 2,9 milhõesapenas alcançou 3,27% (ALVES et al., 2012).Numa situação <strong>de</strong> completa igual<strong>da</strong><strong>de</strong>,todos os estabelecimentos têm a mesma ren<strong>da</strong>bruta. Quanto maior for a soma <strong>da</strong>s diferençasabsolutas <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> bruta entre todos os pares <strong>de</strong>estabelecimentos, maior será sua dispersão.O presente trabalho estu<strong>da</strong> a dispersão <strong>da</strong>ren<strong>da</strong> bruta, pelo índice <strong>de</strong> Gini. A conclusão ésimilar à do estudo <strong>da</strong> concentração <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>bruta: a tecnologia explicou a maior parte <strong>da</strong>s<strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> bruta, no Brasil e nasregiões, e a terra ficou pouco importante. PeloCenso Agropecuário 2006, <strong>de</strong> 100% <strong>de</strong> crescimento<strong>da</strong> ren<strong>da</strong> bruta, terra explicou 9,6%; trabalho,22,3%; e tecnologia, 68,1% (ALVES et al.,2012). Consi<strong>de</strong>rando-se apenas o rendimentoe a área explora<strong>da</strong>, o rendimento praticamenteexplicou todo o crescimento <strong>da</strong> produção (GAS-QUES et al., 2012). Como a tecnologia precisaser difundi<strong>da</strong> para ser adota<strong>da</strong>, a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileiratem gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio a enfrentar, qual sejao <strong>de</strong> incluir milhões <strong>de</strong> produtores que ficaram àmargem na agricultura mo<strong>de</strong>rna.Medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> dispersão <strong>da</strong>ren<strong>da</strong> bruta: índice <strong>de</strong> GiniSerá estu<strong>da</strong><strong>da</strong> a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>bruta dos estabelecimentos, ou seja, <strong>de</strong> tudo oque foi produzido, incluindo-se o autoconsumoe a indústria caseira, em 2006, conforme estáno Censo Agropecuário 2006, realizado peloIBGE. A uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos é o estabelecimento.Na análise, estão os estabelecimentosque <strong>de</strong>clararam ren<strong>da</strong> bruta e área – ao todo,4.400.527.Desigual<strong>da</strong><strong>de</strong> aqui se refere a grupos <strong>de</strong>estabelecimentos. Estu<strong>da</strong>ram-se as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando-se municípios, regiões e oBrasil. Em ca<strong>da</strong> caso, os estabelecimentos pertinentesforam utilizados para estimar a medi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>.A dispersão <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> bruta está associa<strong>da</strong>com a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>. Mas há exceções. Porexemplo, se um estabelecimento acumulasseto<strong>da</strong> ren<strong>da</strong> bruta, e os <strong>de</strong>mais relatassem ren<strong>da</strong>bruta zero, a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> seria imensa, ea dispersão, exceto por um estabelecimento,inexistente.Será utilizado o conceito <strong>de</strong> dispersão relativano estudo <strong>da</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> bruta,conforme evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong> pelo Censo Agropecuário<strong>de</strong> 2006. A medi<strong>da</strong> que interessa neste estudo éo índice <strong>de</strong> Gini, <strong>de</strong>finido porAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>68
Tem-se interesse na contribuição <strong>de</strong> ca<strong>da</strong>parcela na soma b + c + d; por exemplo, a dotrabalho é <strong>da</strong><strong>da</strong> porNa Tabela 1 estão as estimativas do mo<strong>de</strong>lopor região e no Brasil. Apenas na região Sule no Brasil o trabalho resultou significante. Essavariável foi então excluí<strong>da</strong>, e o mo<strong>de</strong>lo, reestimadonas <strong>de</strong>mais regiões. Não se formulou nenhumahipótese para os sinais dos coeficientesa não ser que diferem estatisticamente <strong>de</strong> zero.Tecnologia tem coeficiente estatisticamente diferente<strong>de</strong> zero e positivo, indicando que, mantendo-seas outras variáveis constantes, acréscimos<strong>de</strong> tecnologia redun<strong>da</strong>m em agravamento <strong>da</strong>s<strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Trabalho tem sinal negativo noTabela 1. Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> regressão por região e no Brasil: variáveis, coeficientes, valores <strong>de</strong> t e níveis <strong>de</strong> significância(Pr > |t|),R 2 e número <strong>de</strong> municípios usados na estimativa do índice <strong>de</strong> Gini.Região Variável Coeficiente t Pr > |t|NorteR 2 = 0,77Municípios usados = 439Nor<strong>de</strong>steR 2 = 0,69Municípios usados = 1.689Centro-OesteR 2 = 0,77Municípios usados = 461Su<strong>de</strong>steR 2 = 0,73Municípios usados = 1.533SulR 2 = 0,79Municípios usados = 914BrasilR 2 = 0,65Municípios usados = 5.036Intercepto -155,98 -1,42 0,16Trabalho - - -Tecnologia 0,87 33,40 < 0,0001Terra 0,22 7,41 < 0,0001Intercepto 173,36 5,44 < 0,0001Trabalho - - -Tecnologia 0,71 60,63 < 0,0001Terra 0,05 4,54 < 0,0001Intercepto -272,93 1,68 0,09Trabalho - - -Tecnologia 0,77 32,33 < 0,0001Terra 0,31 7,74 < 0,0001Intercepto -88,65 -1,64 0,10Trabalho - - -Tecnologia 0,82 60,43 < 0,0001Terra 0,09 6,05 < 0,0001Intercepto 2.094,71 33,25 < 0,0001Trabalho -0,21 -10,43 < 0,0001Tecnologia 0,62 28,14 < 0,0001Terra -0,15 -6,23 < 0,0001Intercepto 511,92 16,87 < 0,0001Trabalho -0,12 -13,40 < 0,0001Tecnologia 0,82 10,97 < 0,0001Terra 0,09 10,97 < 0,0001Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>70
Sul, e o mesmo ocorreu com terra. Pelo R 2 , omo<strong>de</strong>lo se ajustou bem aos <strong>da</strong>dos, tanto quandose consi<strong>de</strong>ram as regiões quanto consi<strong>de</strong>randoseo Brasil.O coeficiente negativo <strong>de</strong> terra na regiãoSul, mantendo-se as outras variáveis constantes,significa que incremento na área do estabelecimentoredun<strong>da</strong> em redução <strong>da</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>ren<strong>da</strong> bruta. Esse resultado não era esperado eprecisa ser investigado.Questões importantesDesignando a estimativa <strong>de</strong> Gini total paraárea menor ou igual a 100 ha por Gini1 e porGini2, a classe maior que 100 ha, a primeiraquestão é saber, para o Brasil e para as regiões,em quantos municípios se obteve Gini1 ≥ Gini2.A Tabela 2 respon<strong>de</strong>: em apenas duas regiõesGini1 foi menor que Gini2: Norte e Centro-Oeste. São duas regiões ain<strong>da</strong> domina<strong>da</strong>s pelatecnologia que usa muito pouco <strong>de</strong> insumos mo<strong>de</strong>rnos,embora no Centro-Oeste haja extensões<strong>de</strong> agricultura mo<strong>de</strong>rna. No caso <strong>de</strong> agriculturatradicional a terra tem maior po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> explicaro crescimento <strong>da</strong> produção, a concentração <strong>de</strong>ren<strong>da</strong> e sua dispersão. Contudo, no Nor<strong>de</strong>ste,Su<strong>de</strong>ste e Sul, 60% ou mais dos municípios tiveramGini1 > Gini2.Porque é importante estu<strong>da</strong>r a questãoassocia<strong>da</strong> aos indicadores <strong>de</strong> Gini? Na<strong>da</strong> relacionadocom a reforma agrária, que não é objeto<strong>de</strong>ste trabalho. Mas, sim para mostrar quehá forças na economia brasileira que têm gran<strong>de</strong>po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> criar e <strong>de</strong> fazer perdurar a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>,em termos <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> bruta, com muito maiorcapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> influência que a área do estabelecimento.Ora se fosse a terra o fator mais importante,não se teria encontrado, como <strong>de</strong> fatoocorreu, Gini1 ≥ Gini2, na maioria dos municípios,exceto no Norte e Centro-Oeste.A próxima seção mostra que a terra temmenor importância em explicar a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>e que a tecnologia é dominante. E a tecnologiaestá produzindo maior <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> nos estabelecimentos<strong>da</strong> classe ≤ 100 ha em comparaçãocom os <strong>da</strong> classe > 100 ha, à exceção <strong>da</strong>s duasregiões já menciona<strong>da</strong>s. Como tecnologia, paraser adota<strong>da</strong>, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> que ela seja difundi<strong>da</strong> eque se resolvam os problemas <strong>de</strong> imperfeições<strong>de</strong> mercado, pelas quais os pequenos recebemmenos pelo que ven<strong>de</strong>m e pagam mais pelo quecompram, então há carência <strong>de</strong> políticas públicasvolta<strong>da</strong>s para aqueles não incluídos na mo<strong>de</strong>rnizaçãoe que façam os mercados serem maisefetivos. As imperfeições <strong>de</strong> mercado fazem apequena produção pagar mais pelos insumos, inclusivemaior taxa <strong>de</strong> juros, e receber menos peloproduto. Elas abrangem todos os mercados: <strong>de</strong> insumos,<strong>de</strong> produtos, <strong>de</strong> terra, financeiro, <strong>de</strong> assistênciatécnica, etc. Significam as imperfeições <strong>de</strong>mercado dois preços para o mesmo produto ouinsumo e, nos contratos, cláusulas que favorecema gran<strong>de</strong> produção.Dominância <strong>da</strong> tecnologiaA Tabela 3 apresenta a contribuição <strong>de</strong>ca<strong>da</strong> variável para o Gini total. Conforme docu-Tabela 2. Número <strong>de</strong> municípios estu<strong>da</strong>dos, relação entre Gini1 e Gini2 e porcentagem, por região e no Brasil.Região Nº <strong>de</strong> municípios estu<strong>da</strong>dos Gini1 ≥ Gini2 (municípios) %Norte 439 189 43,0Nor<strong>de</strong>ste 1.689 1.164 68,9Centro-Oeste 461 149 32,3Su<strong>de</strong>ste 1.533 918 59,9Sul 914 615 67,3Brasil 5.036 3.035 60,371Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Tabela 3. Coeficientes <strong>de</strong> regressão e contribuições do trabalho, <strong>da</strong> tecnologia e <strong>da</strong> terra para a variação doíndice <strong>de</strong> Gini total, em porcentagem.VariávelNorte Nor<strong>de</strong>ste Centro-Oeste Su<strong>de</strong>ste Sul BrasilCoef. % Coef. % Coef. % Coef. % Coef. % Coef. %Trabalho - - - - - - - -0,21 -80,8 -0,12 -15,2Tecnologia 0,87 79,8 0,71 93,4 0,77 71,3 0,82 90,1 0,62 238,5 0,82 103,8Terra 0,22 20,2 0,05 6,6 0,31 28,7 0,09 9,9 -0,15 -57,6 0,09 11,4Total 100,0 100,0 0,76 100,0 1,08 100,0 0,91 100,0 0,26 100,0 0,79 100,0mentado em Souza et al. (<strong>2013</strong>), as regiões Norte,Nor<strong>de</strong>ste e Centro-Oeste estão em estágiotecnológico mais atrasado que a Su<strong>de</strong>ste e a Sul,<strong>de</strong>stacando-se Norte e Centro-Oeste. Assim sendo,espera-se contribuição maior <strong>da</strong> terra para as<strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> bruta nessas regiões. Defato isso ocorreu. Mesmo nessas regiões, a dominância<strong>da</strong> tecnologia, como nas outras regiões,se sobressaiu, sempre contribuindo com mais <strong>de</strong>70% para o incremento <strong>da</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>. Mas oimpacto <strong>da</strong> tecnologia é mais <strong>de</strong>stacado no Nor<strong>de</strong>ste,Su<strong>de</strong>ste e, principalmente, na região Sul.Na regressão, trabalho somente alcançounível <strong>de</strong> significância na região Sul e no Brasil.Neles, seu coeficiente foi negativo; sendo assim,mantendo-se as outras variáveis constantes,quando se aumenta o número <strong>de</strong> trabalhadores,o valor <strong>de</strong> Gini <strong>de</strong>cresce. Nessas condições, acontribuição <strong>de</strong> trabalho é negativa, como a Tabela3 mostra para o Sul e o Brasil. Na região Sul,terra também tem condição semelhante a trabalho,visto ter coeficiente <strong>de</strong> regressão negativo.Características <strong>da</strong>s distribuiçõesdos índices <strong>de</strong> GiniA Tabela 4 apresenta algumas características<strong>da</strong>s distribuições dos índices Gini1, Gini2e Gini total, como a média, mínimo, máximo,além <strong>da</strong>s separatrizes dos quartis 25%, 50% e75%. Com base nesses <strong>da</strong>dos, chegou-se a algumasconclusões.1) Nas regiões Nor<strong>de</strong>ste, Su<strong>de</strong>ste e Sul,a média, mínimo, máximo e as separatrizesdos quartis 25%, 50% e 75%<strong>de</strong> Gini1 são maiores que os <strong>de</strong> Gini2,mostrando uma dispersão maior <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>bruta dos estabelecimentos <strong>de</strong> 100ou menos hectares. Como já indicado,trata-se do efeito <strong>da</strong> tecnologia. Portanto,nessa classe <strong>de</strong> estabelecimentos, atecnologia agravou as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>ren<strong>da</strong> bruta. É a classe que acumula agran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong> estabelecimentos– 91,2% dos 4,4 milhões <strong>de</strong> estabelecimentosestu<strong>da</strong>dos –, e nela resi<strong>de</strong> oproblema <strong>de</strong> difusão <strong>de</strong> tecnologia e <strong>de</strong>imperfeição <strong>de</strong> mercado.2) Nas regiões Norte e Centro-Oeste, o inversodo <strong>de</strong>scrito em (1) ocorreu. A produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>da</strong> terra e <strong>de</strong> todos os fatorespara essas duas regiões se retar<strong>da</strong>ramem relação às <strong>de</strong>mais, e, por isso, o efeito<strong>da</strong> tecnologia na ren<strong>da</strong> bruta teve impactomenor. Nessas duas regiões, porisso mesmo, a área do estabelecimentose realçou (ALVES et al., 2012).3) Os valores índice <strong>de</strong> Gini, média e medianasão elevados em to<strong>da</strong>s as regiõese no Brasil. Entre as possíveis causasestá a maneira como se processa a difusão<strong>de</strong> tecnologia, que beneficiou tãosomente 500 mil estabelecimentos, <strong>de</strong>4,4 milhões. Esses 500 mil foram capazes<strong>de</strong> apropriar-se dos conhecimentosAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>72
Tabela 4. Características <strong>da</strong> distribuição dos índices <strong>de</strong> Gini dos municípios, por região e por classes <strong>de</strong> áreado estabelecimento, e separatrizes dos quartéis (25%, 50% e 75%) (1) .RegiãoNorteNor<strong>de</strong>steCentro-OesteSu<strong>de</strong>steSulBrasilClasse <strong>de</strong>área (ha)Nº <strong>de</strong>estabelecimentosMédia Mínimo 25%Mediana(50%)75% Máximo≤ 100 321.887 0,70 0,42 0,64 0,70 0,78 0,96> 100 62.108 0,73 0,33 0,66 0,74 0,81 0,99Total 383.995 0,78 0,45 0,71 0,78 0,85 1,00≤ 100 1.892.812 0,76 0,45 0,69 0,77 0,84 1,00> 100 98.501 0,70 0,20 0,61 0,70 0,80 1,00Total 1.991.313 0,80 0,50 0,73 0,81 0,88 0,99≤ 100 178.718 0,69 0,43 0,62 0,68 0,76 0,97> 100 81.467 0,75 0,45 0,67 0,75 0,82 1,00Total 260.185 0,82 0,56 0,76 0,82 0,87 1,00≤ 100 673.403 0,73 0,45 0,67 0,73 0,80 0,98> 100 81.178 0,70 0,26 0,61 0,70 0,80 1,00Total 754.581 0,80 0,50 0,74 0,80 0,87 1,00≤ 100 710.925 0,70 0,37 0,62 0,70 0,77 1,00> 100 53.157 0,63 0,04 0,52 0,63 0,74 1,00Total 764.082 0,75 0,38 0,69 0,77 0,83 1,00≤ 100 3.777.745 0,73 0,37 0,66 0,72 0,81 1,00> 100 376.411 0,70 0,04 0,60 0,70 0,80 1,00Total 4.154.156 0,79 0,38 0,66 0,80 0,86 0,99(1)O índice <strong>de</strong> Gini foi sempre estimado usando-se as observações referi<strong>da</strong>s na segun<strong>da</strong> coluna.gerados e estabelecer a linha <strong>de</strong> montagemque redundou nos sistemas <strong>de</strong> produçãoque ocasionaram o seu sucesso(ALVES et al., 2012).4) Norte e Sul, dois extremos quanto àsprodutivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s alcança<strong>da</strong>s, <strong>da</strong> menorpara a maior, apresentaram os menores,mas ain<strong>da</strong> elevados, índices <strong>de</strong> Gini. Oatraso quanto à mo<strong>de</strong>rnização <strong>da</strong> agriculturajustifica o primeiro caso; melhorestrutura <strong>de</strong> difusão <strong>de</strong> tecnologia, tantopública quanto priva<strong>da</strong>, e maior capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>para enfrentar as imperfeições <strong>de</strong>mercado, capitanea<strong>da</strong> pelas cooperativas,justificam o outro.Imperfeições <strong>de</strong> mercadoO trabalho ficaria incompleto se não fossemanalisa<strong>da</strong>s, embora <strong>de</strong> forma resumi<strong>da</strong>,as imperfeições <strong>de</strong> mercado. Elas são bem conheci<strong>da</strong>s,mas rigorosamente precisam ser maisbem documenta<strong>da</strong>s. Assim, <strong>de</strong>ixou-se o <strong>de</strong>safiopara os estudiosos, qual seja evi<strong>de</strong>nciá-lasnumericamente.A gran<strong>de</strong> tragédia <strong>da</strong>s políticas públicasque lutam contra elas é que seus regulamentosagravam as imperfeições ou introduzem novas.No crédito rural, os bancos públicos, comoBanco do Brasil e Banco do Nor<strong>de</strong>ste, têm linhasespeciais <strong>de</strong> crédito para a agricultura familiar eassentados <strong>da</strong> reforma agrária. Mas as restrições73Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
a que se submetem as instituições financeiras limitammuito sua eficácia na promoção para umavi<strong>da</strong> melhor dos agricultores familiares, e tambémpromovem discriminações contra os maispobres. Contudo, tem sido aumentado o montante<strong>de</strong> recursos e aperfeiçoa<strong>da</strong> a execução<strong>da</strong> política <strong>de</strong> crédito para agricultura familiar.Apesar disso, há muito a caminhar em relação acrédito <strong>de</strong> investimento e ao prazo <strong>de</strong> financiamento,que atualmente guar<strong>da</strong> tênue correlaçãocom a vi<strong>da</strong> útil <strong>de</strong> máquinas e equipamentos.Os procedimentos burocráticos discriminam osmais pobres e fazem o custo do crédito ser maiselevado para estes ou, então, reduzem os benefíciosimaginados pelas políticas públicas.A compra antecipa<strong>da</strong> é outro instrumento,mas ain<strong>da</strong> com muito pequena influêncianas imperfeições dos mercados <strong>de</strong> produtos. Oacesso a ela é o maior problema. O seguro agrícolaain<strong>da</strong> patina.O cooperativismo é instrumento po<strong>de</strong>roso,mas ain<strong>da</strong> vinculado ao Sul e Su<strong>de</strong>ste e, também,quem sabe em menor escala, pratica doispreços e limita a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> pequena produção,premido pela competição que enfrenta e pelanecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mostrar resultados. Mas é a melhoropção para <strong>da</strong>r igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>a gran<strong>de</strong>s e pequenos produtores.O mercado <strong>de</strong> terra é muito imperfeito.É louvável o esforço que o governo faz para<strong>da</strong>r acesso à terra a milhões <strong>de</strong> brasileiros. Masesse esforço tem <strong>de</strong> ser coor<strong>de</strong>nado, simultaneamente,com uma extensão rural, aquela emcondições <strong>de</strong> enfrentar os <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> milhões<strong>de</strong> produtores, e com a eliminação <strong>da</strong>s outrasimperfeições <strong>de</strong> mercado. Como é tecnologiaque explica a concentração e a dispersão <strong>da</strong>ren<strong>da</strong> bruta, apenas conce<strong>de</strong>r terra não aju<strong>da</strong> aresgatar <strong>da</strong> pobreza os produtores rurais e levaao fracasso os programas <strong>de</strong>senhados para diminuira pobreza rural. O governo é consciente doproblema, mas os <strong>da</strong>dos <strong>de</strong>ste trabalho mostramque o efeito <strong>de</strong> sua ação ficou muito a <strong>de</strong>sejar.A gran<strong>de</strong> produção – mesmo que a áreado estabelecimento seja pequena – tem acesso àextensão particular que é paga, direta ou indiretamente,po<strong>de</strong>ndo ela ser <strong>de</strong> cooperativas, <strong>de</strong> firmasparticulares e <strong>de</strong> técnicos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes oucontratados. O mercado exige muita quali<strong>da</strong><strong>de</strong>.Essa extensão rural, juntamente com o produtor,estabelece a linha <strong>de</strong> montagem, pela qual osconhecimentos são transformados em sistemas<strong>de</strong> produção e planos <strong>de</strong> negócio, tudo avaliadopelo critério <strong>da</strong> rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. A extensão pública,quando em condições, é também chama<strong>da</strong>.Como já registrado, no Censo Agropecuário2006, 500 mil produtores, que produziram 87%<strong>de</strong> to<strong>da</strong> a ren<strong>da</strong> bruta <strong>de</strong> 2006, beneficiaram-se<strong>de</strong>sse esquema. Mas 3,9 milhões, que compõema pobreza rural, não tiveram acesso à extensãorural <strong>de</strong> eleva<strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. O assunto está napauta, como o maior <strong>de</strong>safio <strong>da</strong> agricultura brasileira.Uma solução que ponha a extensão particularna luta pela mo<strong>de</strong>rnização <strong>da</strong> agriculturapobre, sendo, para isso, financia<strong>da</strong> com dinheiropúblico, é um imperativo. O estabelecimento ea família do produtor têm que ser o fun<strong>da</strong>mentodo planejamento. Contrato entre o produtorou grupos <strong>de</strong> produtores e o agente <strong>de</strong> extensão,com punições e avaliação claramente estabeleci<strong>da</strong>s,<strong>de</strong>ve ser o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> ação, sejaela pública, seja priva<strong>da</strong>. O contrato tem <strong>de</strong> terprazo <strong>de</strong> duração firmemente estabelecido, comcláusulas que indiquem medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho<strong>da</strong> assistência técnica e do produtor rural– sendo uma <strong>de</strong>las o período <strong>de</strong> carência <strong>de</strong> pagamento<strong>da</strong> assistência técnica – e, ain<strong>da</strong>, bem<strong>de</strong>talha<strong>da</strong>mente, como será sua avaliação.ConclusõesA principal conclusão é que a tecnologiaexplica a dispersão <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> bruta, ou seja,as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s na ótica <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> bruta e suaconcentração. A terra per<strong>de</strong>u a hegemoniaque tinha, não obstante ter ain<strong>da</strong> algum papel.A implicação principal <strong>de</strong>ssa conclusão é queprogramas <strong>de</strong> assentamentos <strong>de</strong> agricultores fracassarão,caso não <strong>de</strong>em priori<strong>da</strong><strong>de</strong> à tecnologiamo<strong>de</strong>rna. Isso inclui extensão rural e remoção<strong>da</strong>s imperfeições <strong>de</strong> mercado.Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>74
Ora, a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> transformar conhecimentosnovos em tecnologias, e mesmo osantigos, tem sido muito <strong>de</strong>sigual na agriculturabrasileira. Os agricultores capazes <strong>de</strong> fazer essatransformação, pelo Censo Agropecuário 2006,correspon<strong>de</strong>ram a 12% dos 4,4 milhões <strong>de</strong> estabelecimentos– 500 mil <strong>de</strong>les. Assim, 3,9 milhõesficaram à margem <strong>da</strong> agricultura mo<strong>de</strong>rna.Esse é o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio <strong>da</strong>s políticas públicas,ou seja, remover as imperfeições <strong>de</strong> mercado e<strong>da</strong>r acesso à tecnologia a milhões <strong>de</strong> produtoresrurais. A extensão particular tem <strong>de</strong> ser incluí<strong>da</strong>nessa tarefa, mesmo que remunera<strong>da</strong> com fundospúblicos. E a extensão pública precisa serreorienta<strong>da</strong> e amplia<strong>da</strong>. A pesquisa, ain<strong>da</strong> noseu nível <strong>de</strong> trabalho e ao lado <strong>da</strong> extensão rural,precisa formular os sistemas <strong>de</strong> produção eavaliá-los, consi<strong>de</strong>rando-se regiões e níveis <strong>de</strong>entendimentos dos produtores. Depois disso, aextensão rural fará o seu trabalho.A relação entre preço do produto e insumoé crucial na adoção <strong>de</strong> tecnologia. Como apequena produção paga mais pelos insumos erecebe menos pelos produtos, tecnologias rentáveispara a gran<strong>de</strong> produção não são eficientespara aquela – exatamente as que aumentam aquanti<strong>da</strong><strong>de</strong> do produto por área, <strong>de</strong> que tantocarece a agricultura pobre. Assim, as imperfeiçõesdos mercados <strong>de</strong> insumos, produtos, terra,financeiros, assistência técnica e <strong>de</strong> contratos sãoa gran<strong>de</strong> pedra <strong>de</strong> tropeço que explica o atraso<strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> produtores, ou seja, a não adoção<strong>de</strong> tecnologia por esses produtores.É geral no Brasil a consciência <strong>de</strong> quemorar no meio rural é uma opção apenas. Elaé compara<strong>da</strong> com a opção urbana. A migraçãoocorrerá se a família, como um todo, julgar queganhará em termos <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. O encantoque a terra produzia, por razões culturais,ca<strong>da</strong> vez faz menos sentido. Sendo assim, as famílias,inclusive as mais pobres, procuram moraron<strong>de</strong> mais lhes convêm, seja nos campos, sejanas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Ou seja, mantêm o pé na estra<strong>da</strong>.As políticas agrícola e social precisam criar condiçõesobjetivas para que a opção <strong>de</strong> morar nomeio rural seja uma boa escolha para milhões <strong>de</strong>produtores. A situação exige urgência. O tempopara isso se exaure rapi<strong>da</strong>mente. E a preocupaçãomaior é o Nor<strong>de</strong>ste, on<strong>de</strong> 47% <strong>da</strong> populaçãorural brasileira resi<strong>de</strong> (ALVES et al., 2011).Nas <strong>de</strong>mais regiões, o êxodo rural já cumpriuseu papel, tendo restado nos campos pequenaparcela <strong>da</strong> população total. O Nor<strong>de</strong>ste teria <strong>de</strong>per<strong>de</strong>r muita população, em termos <strong>de</strong> habitantesnos campos, para se igualar ao Su<strong>de</strong>ste. E vaiperdê-la se as políticas públicas não tornarem,lá, a agricultura uma solução para o problema <strong>de</strong>pobreza, alia<strong>da</strong>s às políticas <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong>ren<strong>da</strong>, quando a opção agricultura for inviável.ReferênciasALVES, E.; SOUZA, G. <strong>da</strong> S. e; GOMES, E. G.;MAGALHÃES, E.; ROCHA, D. <strong>de</strong> P. Um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>produção para a agricultura brasileira e a importância<strong>da</strong> pesquisa <strong>da</strong> Embrapa. <strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Política</strong> <strong>Agrícola</strong>,Brasília, DF, ano 21, n. 4, p. 35-59, out./nov./<strong>de</strong>z. 2012.ALVES, E.; SOUZA, G. <strong>da</strong> S. e; MARRA, R. Êxodo e suacontribuição à urbanização <strong>de</strong> 1950 a 2010. <strong>Revista</strong> <strong>de</strong><strong>Política</strong> <strong>Agrícola</strong>, Brasília, DF, ano 20, n. 2, p. 80-88,abr./jun. 2011.CONOVER, W. J. Practical nonparametric statistics. 3 r<strong>de</strong>d. New York: J. Wiley, 1999.GASQUES, J. G.; BASTOS, E. T.; VALDES, C.; BACCHI,M. R. P. Produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> agricultura brasileira e osefeitos <strong>de</strong> algumas políticas. <strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Política</strong> <strong>Agrícola</strong>,Brasília, DF, ano 21 n. 3, p. 83-92, jul./set. 2012.HOFFMANN, R. Distribuição <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>: medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong><strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> e pobreza. São Paulo: Edusp, 1998.SOUZA, G. S.; ALVES, E. R. A.; GOMES, E. G.;MAGALHAES, E.; ROCHA, D. P. 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Análise <strong>da</strong> volatili<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> preços do óleoLucas Siqueira Castro 2Aziz Galvão Silva Júnior<strong>de</strong> girassol no Brasil3<strong>de</strong> 1960 a 2011 1Resumo – O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho foi analisar os retornos <strong>da</strong> commodity óleo <strong>de</strong> girassol. As análisesenfatizaram o risco <strong>de</strong> mercado, medido pelo comportamento condicional <strong>da</strong> variância. Foramutilizados os mo<strong>de</strong>los autorregressivos com heteroce<strong>da</strong>stici<strong>da</strong><strong>de</strong> condicional (ARCH), os autorregressivoscom heteroce<strong>da</strong>stici<strong>da</strong><strong>de</strong> condicional generaliza<strong>da</strong> (GARCH) e os autorregressivos comheteroce<strong>da</strong>stici<strong>da</strong><strong>de</strong> threshold (TARCH) para janeiro <strong>de</strong> 1960 a junho <strong>de</strong> 2011. A confirmação <strong>de</strong>que a variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos retornos possui <strong>de</strong>pendência condicional indicou, para essa cultura, baixapersistência na resposta aos choques na variância, reduzindo riscos <strong>de</strong> produção com relação aospreços para os produtores.Palavras-chave: commodities brasileiras, mo<strong>de</strong>los ARCH, perspectivas para o biodiesel.Volatility analysis of sunflower oil prices in Brazil from 1960 to 2011Abstract – The objective of this study was to analyze the returns of commodity sunflower oil. Theanalyses emphasized market risk, which is measured by the behavior of the conditional variance. Thefollowing mo<strong>de</strong>ls were used for the period of January 1960 to June 2011: Autoregressive ConditionalHeterosce<strong>da</strong>sticity (ARCH), Generalized Autoregressive Conditional Heterosce<strong>da</strong>sticity (GARCH),and Threshold Autoregressive Conditional Heterosce<strong>da</strong>sticity (TARCH). Confirmation that the variabilityof returns is conditionally <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt has indicated that this culture has low persistence inresponse to shocks in the variance, thus reducing production risks with respect to prices for growers.Keywords: Brazilian commodities, ARCH mo<strong>de</strong>ls, prospects for biodiesel.IntroduçãoO mercado <strong>de</strong> óleos sofreu alterações estruturaisao longo <strong>da</strong>s últimas déca<strong>da</strong>s. A gorduraanimal, que era a maior responsável pela fonte<strong>de</strong> óleo para consumo humano, per<strong>de</strong>u espaçono setor alimentício, sobretudo para os óleosvegetais. Adicionalmente, a implementação eexpansão <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> biocombustíveis, emespecial o biodiesel, aumentou a <strong>de</strong>man<strong>da</strong> poróleos vegetais. Portanto, a mu<strong>da</strong>nça no setor1Original recebido em 11/3/<strong>2013</strong> e aprovado em 5/4/<strong>2013</strong>.2Economista, mestrando em Economia Aplica<strong>da</strong> pelo Departamento <strong>de</strong> Economia Rural <strong>da</strong> UFV. E-mail: lucancastro@hotmail.com3Engenheiro-agrônomo, Doutor em Administração Rural pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Bonn, Alemanha, professor do Departamento <strong>de</strong> Economia Rural <strong>da</strong> UFV.E-mail: aziz@ufv.brAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>76
alimentar e a influência, direta ou indireta, doprograma <strong>de</strong> biodiesel são chaves para explicara mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> preços no mercado <strong>de</strong> óleosvegetais via variações nas curvas <strong>de</strong> oferta e<strong>de</strong>man<strong>da</strong>.Programas <strong>de</strong> biocombustíveis surgiramcomo alternativa a crises no mercado do petróleo,à perspectiva <strong>de</strong> esgotamento <strong>de</strong> reservas,ou à insegurança quanto ao suprimento regulare, recentemente, por pressões ambientais.A Lei <strong>nº</strong> 11.097 introduziu o biodiesel namatriz energética brasileira em 13 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong>2005, tendo ampliado, sobretudo, as perspectivaseconômicas e sociais por meio <strong>da</strong> produção<strong>de</strong> oleaginosas como soja, <strong>de</strong>ndê, girassol,babaçu, amendoim, mamona e pinhão-mansopor pequenos produtores organizados ou nãoem cooperativas, tendo gerado ren<strong>da</strong> e inclusãosocial, além <strong>de</strong> ter possibilitado a fixação do homemno campo. Esse esforço coletivo do governoe <strong>da</strong>s empresas <strong>de</strong> biodiesel permitiu, em 1º<strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2010, a antecipação <strong>da</strong> meta estabeleci<strong>da</strong>para <strong>2013</strong> <strong>da</strong> produção do B5 – óleodiesel comercializado pelo País com 5% <strong>de</strong> biodiesel(ANP, 2011).Em relação às oleaginosas cita<strong>da</strong>s anteriormente,o girassol (Helianthus annuus L.), originário<strong>da</strong> América do Norte (sudoeste dos EstadosUnidos e norte do México), é uma dicotiledôneaanual, e sua utilização <strong>de</strong>stacou-se principalmentecomo oleaginosa a partir <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong>Guerra Mundial. Dados do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong>agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostramque, na produção <strong>de</strong> óleos vegetais no mundo,o óleo <strong>de</strong> girassol ocupa o quarto lugar (USDA,2011).No Brasil, seu cultivo começou a ser significantena safra 1997–1998, com 12.400 ha plantados,acompanhado por oscilações ao longo dosanos. Na safra 2008–2009 apresentou uma área<strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente 75.000 ha, como po<strong>de</strong> servisto na Figura 1, com produção concentra<strong>da</strong>,principalmente, na região Centro-Oeste. É umacultura que apresenta características <strong>de</strong>sejáveissob a perspectiva agronômica, como ciclo curto,a<strong>da</strong>ptação a varia<strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> clima e possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> cultivo em to<strong>da</strong>s as regiões do Brasil,tornando-se uma boa opção aos produtoresbrasileiros (EMBRAPA, 2011).Figura 1. Série histórica <strong>da</strong> área planta<strong>da</strong> <strong>de</strong> girassol noBrasil <strong>de</strong> 1997 a 2009.Fonte: Conab (2011).O interesse mundial pela cultura do girassolestá associado à quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do óleo, rico emácidos graxos poli-insaturados. O teor <strong>de</strong> óleonas sementes é alto, ren<strong>de</strong>ndo 950 litros <strong>de</strong> óleopor hectare, e proporcionando assim maior rendimentona produção <strong>de</strong> óleo por hectare secomparado com o <strong>da</strong> cultura <strong>da</strong> soja, que gera450 litros <strong>de</strong> óleo por hectare (IAPAR, 2011).O fato <strong>de</strong> o óleo <strong>de</strong> girassol possuir aplicaçõesna indústria alimentícia, farmacêutica ecosmética, além <strong>de</strong> ser uma commodity, faz quehaja uma preocupação relaciona<strong>da</strong> ao preço<strong>de</strong>sse óleo. Nesse contexo, a análise <strong>da</strong> volatili<strong>da</strong><strong>de</strong>dos preços do óleo <strong>de</strong> girassol é importante,pois essa volatili<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> explicar que<strong>da</strong>sna produção em períodos <strong>de</strong> preços baixos oupicos na produção.Flutuações que mantenham <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>tendência, ciclo ou sazonali<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong>m comprometera ren<strong>da</strong> do produtor rural e a produção– nesse caso, do girassol e <strong>de</strong> seu subproduto, oóleo <strong>de</strong> girassol. A <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> um padrãoflutuante <strong>de</strong>sses preços é um instrumento impor-77Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
tante para a formulação <strong>de</strong> políticas públicas quetenham como objetivo estabilizar preços entre asafra e a entressafra. A menor volatili<strong>da</strong><strong>de</strong> dospreços é um incentivo à produção, pois diminuio risco quanto aos rendimentos <strong>da</strong> produção.Campos e Campos (2007) fazem uma análisecomparativa <strong>da</strong> volatili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> preços entresoja, café, milho e boi gordo, utilizando a metodologiaARCH; Cunha et al. (2009) analisam avolatili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos preços recebidos pela cana-<strong>de</strong>açúcarno Estado <strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong> 1995 a 2007,também utilizando mo<strong>de</strong>los <strong>da</strong> família ARCH;Gontijo et al. (2009) fazem o estudo <strong>da</strong> volati<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> preços para o mercado do óleo <strong>de</strong> palmano Brasil utlizando o mo<strong>de</strong>lo GARCH; Pereira etal. (2010) utilizaram os mo<strong>de</strong>los ARCH, GARCH,EGARCH e TARCH para estimar a volatili<strong>da</strong><strong>de</strong>dos retornos <strong>da</strong> soja, café e boi gordo <strong>de</strong> 1997 a2008 no Brasil; Campos et al. (2007) elabora seuestudo com base na questão <strong>da</strong> volatili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>preços e avalia o efeito alavancagem dos produtosagrícolas com base na utilização dos mo<strong>de</strong>losnão lineares <strong>da</strong> família ARCH; e Silva et al.(2005) utiliza os mo<strong>de</strong>los ARCH e suas variaçõespara captar a volatili<strong>da</strong><strong>de</strong> do retorno <strong>de</strong> preçosdo café e <strong>da</strong> soja no Brasil.Este trabalho analisará a volatili<strong>da</strong><strong>de</strong> dospreços <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> girassol <strong>de</strong> 1960 a 2011. Especificamentepreten<strong>de</strong>-se: a) estu<strong>da</strong>r o comportamentodos retornos <strong>de</strong> preços do óleo <strong>de</strong>girassol; b) abor<strong>da</strong>r os possíveis riscos aos produtores,<strong>da</strong><strong>da</strong>s as variações <strong>de</strong> preços sobre o óleo<strong>de</strong> girassol.MetodologiaA realização do teste Jarque-Bera (JB) éresponsável por diagnosticar se os resíduos domo<strong>de</strong>lo seguem uma distribuição normal. Ahipótese nula do teste consiste na presença <strong>de</strong>normali<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra extraídos <strong>de</strong>uma população, observa<strong>da</strong> por meio <strong>da</strong>s diferençasentre os coeficientes <strong>de</strong> assimetria e curtose,como po<strong>de</strong> ser visto na equaçãoJB = n[S 2 /s) + (C(-3) 2 /24)] (1)em queJB = teste Jarque-Bera.n = número <strong>de</strong> observações.S² = assimetria <strong>da</strong> distribuição <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos.s = <strong>de</strong>svio-padrão.C = efeito <strong>da</strong> curtose.Para a utilização <strong>de</strong> séries temporais comofontes <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos é importante comprovar se elaspossuem raízes unitárias. O teste Dickey-Fuller(1979) e o teste <strong>de</strong> Dickey-Fuller Aumentado(ADF) <strong>de</strong> raízes unitárias são capazes <strong>de</strong> verificara or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> interesse, permitindoevitar o comportamento <strong>de</strong> variáveis espúrias,ou seja, uma correlação entre duas variáveis semnenhuma lógica (GUJARATI, 2006).Seguem as implementações do testeDickey-Fuller:DY t= dY t-1+ u t, para um mo<strong>de</strong>lo sem intercepto esem tendência. (2)DY t= b 0+ dY t-1+ u t, para um mo<strong>de</strong>lo com interceptoe sem tendência. (3)DY t= b 0+ b 1T t+ dY t-1+ u t, para um mo<strong>de</strong>lo comintercepto e com tendência. (4), para o testeDickey-Fuller Aumentado. (5)em queDY t= operador <strong>de</strong> primeiras diferenças.b 0= constante ou intercepto.b 1T t= componente <strong>de</strong> tendência.dY t-1= testa a presença ou ausência <strong>de</strong> estacionarie<strong>da</strong><strong>de</strong>(r-1).= <strong>de</strong>fasagens incluí<strong>da</strong>s no mo<strong>de</strong>loaumentado.u t= componente <strong>de</strong> erro estocástico.Concentrando a análise no teste Dickey-Fuller Aumentado, a teoria mostra que ele é consistentecom a não normali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos resíduos ecom a presença <strong>de</strong> heteroce<strong>da</strong>stici<strong>da</strong><strong>de</strong>. DesseAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>78
modo, caso haja autocorrelação entre resíduos(diferentemente do teste Dickey-Fuller), ela po<strong>de</strong>ser controla<strong>da</strong> por meio <strong>da</strong> inclusão <strong>de</strong> <strong>de</strong>fasagensna variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte (GUJARATI, 2006).As distribuições são tabula<strong>da</strong>s por meio <strong>da</strong>estatística t (tau), <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> por Dickey-Fuller,com valores críticos para 0,01, 0,05 e 0,10. Para<strong>de</strong>terminar a escolha do melhor mo<strong>de</strong>lo e donúmero <strong>de</strong> <strong>de</strong>fasagens a serem incluí<strong>da</strong>s no mo<strong>de</strong>lo,serão adotados os critérios <strong>de</strong> Akaike (AIC)e Schwartz (SC), por serem os mais utilizados emtrabalhos empíricos (MORETTIN; TOLOI, 2006).Como objetiva-se medir a volatili<strong>da</strong><strong>de</strong>dos preços do óleo <strong>de</strong> girassol, verificou-se quena literatura existem mo<strong>de</strong>los apropriados paraséries financeiras que apresentam a evolução <strong>da</strong>variância condicional ao longo do tempo. Tratasedos mo<strong>de</strong>los não lineares <strong>da</strong> família ARCH(Autoregressive Conditional Heterosce<strong>da</strong>sticity),apresentados por Engle (1982), e <strong>de</strong> ajustes feitosposteriormente. O objetivo do mo<strong>de</strong>lo ARCH(p)consiste em mostrar que o retorno é nãocorrelacionado serialmente, mas a volatili<strong>da</strong><strong>de</strong>ou a variância condicional <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> retornosdo passado em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> uma funçãoquadrática.Um mo<strong>de</strong>lo ARCH po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finidocomoe t= s tu t(6)(7)em que e té uma sequência <strong>de</strong> variáveis aleatóriasi.i.d. com média zero e variância um (seguemuma distribuição normal ou t <strong>de</strong> stu<strong>de</strong>nt),<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do tamanho ao quadrado do termo<strong>de</strong> erro do período anterior, e t-1, com a 0> 0, 0 1 , i > 0 (restrições do mo<strong>de</strong>lo que estabelecemque a variância condicional seja fracamenteestacionária e positiva). O parâmetro relacionaa influência dos efeitos passados (<strong>de</strong>fasados)e o quão gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser o efeito implicadona volatili<strong>da</strong><strong>de</strong> presente.Bollerslev (1986) <strong>de</strong>senvolveu uma generalizaçãodo mo<strong>de</strong>lo ARCH, o mo<strong>de</strong>lo GARCH(Generalized Autoregressive Conditional Heterosce<strong>da</strong>sticity),que relata a volatili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> maneiramais parcimoniosa, ou seja, com menosparâmetros que o mo<strong>de</strong>lo ARCH. Nesse mo<strong>de</strong>loa variância condicional <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> não apenasdo termo <strong>de</strong> erro quadrático, como no mo<strong>de</strong>loARCH, mas também <strong>da</strong> variância condicional noperíodo <strong>de</strong> tempo prece<strong>de</strong>nte.Uma representação proposta para o mo<strong>de</strong>loé(8)em que e té uma sequência <strong>de</strong> variáveis aleatóriasi.i.d. com média zero e variância um (seguemuma distribuição normal ou t <strong>de</strong> stu<strong>de</strong>nt) comas restrições <strong>de</strong> a 0> 0, 0 < a i< 1 , 0 < b j< 1,, r = max(q,p). O diferencial domo<strong>de</strong>lo está no parâmetro , que captaas variâncias passa<strong>da</strong>s previstas. O coeficiente a icapta o quanto um choque sofrido pelo retornopresente (hoje) afeta a variância condicionaldo retorno futuro (amanhã). Já o coeficiente b jindica que quanto mais próximo <strong>de</strong> 1 for o seuvalor, maior a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo que a volatili<strong>da</strong><strong>de</strong>leva para retornar ao padrão. A restriçãoindica, <strong>de</strong> certo modo, a persistência<strong>de</strong> volatili<strong>da</strong><strong>de</strong>, e quanto mais próximoesse resultado for <strong>de</strong> 1, maior será a volatili<strong>da</strong><strong>de</strong>no período seguinte a ser analisado, e menorserá o recuo do choque para o padrão <strong>da</strong> série.Em geral, é observado que, nos mercadosfinanceiros, os períodos <strong>de</strong> que<strong>da</strong>s nos preçossão normalmente sucedidos por períodos <strong>de</strong>consi<strong>de</strong>rável volatili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Já nos períodos <strong>de</strong>alta nos preços, essa volatili<strong>da</strong><strong>de</strong> é menor. Talefeito, na literatura, é <strong>de</strong>nominado alavancagem,em que choques positivos e negativos ten<strong>de</strong>ma ter diferentes impactos sobre a volatili<strong>da</strong><strong>de</strong>.Para mo<strong>de</strong>lar essa nova característica <strong>da</strong> volatili<strong>da</strong><strong>de</strong>,será utiliza<strong>da</strong> uma transformação do mo<strong>de</strong>loGARCH, <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo TARCH(Threshold Autoregressive Conditional Heterosce<strong>da</strong>sticity),proposta por Zakoian (1994).O mo<strong>de</strong>lo po<strong>de</strong> ser proposto <strong>da</strong> seguinteforma:79Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
(9)em que dummy assume valor unitário parae t-1< 0 (condições adversas no mercado) e valorzero (condições positivas no mercado) para casocontrário. Caso g 1seja zero, não há assimetria navolatili<strong>da</strong><strong>de</strong>; e para g 1diferente <strong>de</strong> zero, há indícios<strong>de</strong> alavancagem. Portanto, <strong>da</strong><strong>da</strong> a significânciado parâmetro g 1, é inferi<strong>da</strong> a presença <strong>de</strong>assimetria, enquanto o sinal positivo <strong>de</strong>le remeteà presença <strong>de</strong> alavancagem.Os <strong>da</strong>dos são preços <strong>da</strong> commodity óleo<strong>de</strong> girassol, e a série é expressa mensalmente,relacionando a cotação internacional à vista emdólares (preço/kg). A série abrange o período <strong>de</strong>janeiro <strong>de</strong> 1960 a junho <strong>de</strong> 2011, com um total<strong>de</strong> 618 observações. Esses <strong>da</strong>dos foram obtidosna base <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos do site do Instituto <strong>de</strong> PesquisaEconômica Aplica<strong>da</strong> (IPEA, 2011). Uma vez quese <strong>de</strong>sejava mo<strong>de</strong>lar a volatili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos retornosgerados pela commodity, foram calculados osretornos instantâneos, compostos pela fórmular t= ln(P t) - ln(P t-1), visto que a literatura <strong>de</strong>screveas séries <strong>de</strong> retornos como mais fáceis <strong>de</strong> manipulardo que as séries <strong>de</strong> preços, <strong>da</strong>do queas primeiras têm proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s estatísticas maistratáveis, como o fato <strong>de</strong> os retornos raramenteapresentarem tendências ou sazonali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, excetoos retornos intradiários (MORETTIN; TO-LOI, 2006).O software utilizado para se estimar a regressãodos <strong>da</strong>dos e dos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> análise foiEVIEWS 6.0, <strong>da</strong> Quantitative Micro Software.Resultados e discussãoA Figura 2 mostra a volatili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos preçose retornos do óleo <strong>de</strong> girassol no períodoproposto. Nos movimentos oscilatórios existentesse <strong>de</strong>staca a elevação entre o final <strong>de</strong> 2007 eo início <strong>de</strong> 2008, que po<strong>de</strong> ser atribuí<strong>da</strong> à crisedo subprime imobiliário norte-americano. Essacrise afetou os preços <strong>de</strong> maneira geral, bemcomo os <strong>da</strong>s commodities ligados às bolsas <strong>de</strong>mercados futuros e <strong>de</strong> seus subprodutos, comoo óleo <strong>de</strong> girassol.Figura 2. Evolução <strong>da</strong>s séries <strong>de</strong> preços e retornos doóleo <strong>de</strong> girassol <strong>de</strong> 1960 a 2011.Fonte: resultados <strong>da</strong> pesquisa elabora<strong>da</strong> pelo próprio autor.A Tabela 1 relaciona as estatísticas <strong>de</strong>scritivas<strong>da</strong> série <strong>de</strong> retornos do óleo <strong>de</strong> girassol.Observa-se que a série não possui uma distribuiçãonormal em virtu<strong>de</strong> do resultado do testeJarque-Bera <strong>de</strong> 6.138,235 com p-valor aproxima<strong>da</strong>menteigual a zero.O fato <strong>de</strong> a média ser maior que a medianaindica uma assimetria à direita, sendo issocomputado pelo resultado do coeficiente <strong>de</strong>assimetria <strong>de</strong> 1,619604. Como o coeficiente <strong>da</strong>curtose foi <strong>de</strong> 18,12149, a distribuição toma formaleptocúrtica (magra ou <strong>de</strong> cau<strong>da</strong> alonga<strong>da</strong>em relação à distribuição normal). Esses <strong>da</strong>dosanalisados indicam a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> presençaAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>80
Tabela 1. Estatísticas <strong>de</strong>scritivas dos retornos <strong>de</strong>1/1/1960 a 30/6/2011.Estatística <strong>de</strong>scritivaMédiaGirassol1,73e-06Mediana 0,005410Máximo 0,653970Mínimo 0,396767Desvio-padrão 0,070139Assimetria 1,619604Curtose 18,12149Jarque-Bera 6.138,235P-valor Jarque-Bera 0,000000Fonte: resultados <strong>de</strong> pesquisa.<strong>de</strong> heteroce<strong>da</strong>stici<strong>da</strong><strong>de</strong> na série <strong>de</strong> retornos doóleo <strong>de</strong> girassol.Partindo-se para o teste Dickey-FullerAumentado, os resultados são apresentados naTabela 2. Realizando-se os testes em nível ouprimeiras diferenças, o coeficiente Dickey-Fulleré sempre menor que os valores críticos a 1%, 5%e 10%; portanto, rejeita-se a hipótese nula doteste, assumindo a hipótese alternativa em que asérie <strong>de</strong> retornos do óleo <strong>de</strong> girassol é estacionáriae não possui raízes unitárias.Para i<strong>de</strong>ntificar o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> retorno doóleo <strong>de</strong> girassol, foram estima<strong>da</strong>s funções <strong>de</strong>autocorrelações (FAC) e funções <strong>de</strong> autocorrelaçõesparciais (FACP), indicando que para omo<strong>de</strong>lo a proposição ARMA (p,q) que melhora<strong>da</strong>ptou-se foi AR(1), MA(1), MA(2).No intuito <strong>de</strong> verificar a presença <strong>da</strong> volatili<strong>da</strong><strong>de</strong>na série <strong>de</strong> retornos do óleo <strong>de</strong> girassol,foi feito o teste LM <strong>de</strong> Granger – também propostopor Engler em 1982. Os resultados estãodispostos na Tabela 3, e o fato <strong>de</strong> os p-valoresserem próximos a zero indica a rejeição <strong>da</strong> hipótesenula do teste em <strong>de</strong>trimento <strong>da</strong> hipótesealternativa. Assim, os resíduos <strong>da</strong> série <strong>de</strong> retornosão heterocedásticos (apresentam o efeitoARCH). Além disso, a Tabela 3 apresenta osR² dos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>fasados, todos com p-valorespróximos a zero, indicando a consistência do testepara ser utilizado no cômputo <strong>da</strong> volatili<strong>da</strong><strong>de</strong>.Tabela 2. Teste <strong>de</strong> estacionarie<strong>da</strong><strong>de</strong> para a série <strong>de</strong> retornos do preço do óleo <strong>de</strong> girassol.CommodityRestriçõesADF – teste em nível(level)ADF – teste em primeirasdiferençasIntercepto -16,13326 -18,52023Óleo <strong>de</strong> girassolIntercepto e tendência -16,12564 -18,50475Sem intercepto e sem tendência -16,11246 -18,53529Tabela 3. Teste do Multiplicador <strong>de</strong> Granger (Teste LM).Defasagem (Lag) Estatística F P-valor R² observado P-valor1 14,18007 0,0002 13,90469 0,00022 7,108554 0,0009 13,96204 0,00093 4,718806 0,0029 13,92569 0,00304 3,524418 0,0074 13,89117 0,00775 2,819497 0,0158 13,91309 0,016281Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
O procedimento para estimar um mo<strong>de</strong>loque visualizasse o componente <strong>de</strong> volatili<strong>da</strong><strong>de</strong>na série <strong>de</strong> retorno do óleo <strong>de</strong> girassol se <strong>de</strong>upor meio <strong>de</strong> uma seleção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los ARCH eGARCH em que a escolha <strong>de</strong>le foi feita comparativamenteentre o critério <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong>Schwarz (SIC) e do logaritmo <strong>da</strong> verossimilhança.A Tabela 4 mostra os resultados propostospara o mo<strong>de</strong>lo ARCH.O melhor mo<strong>de</strong>lo que ajustou <strong>da</strong> série<strong>de</strong> retornos para a média condicional foi umAR(1), MA(1), MA(2) para o mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> classeARCH(1) com os parâmetros (coeficientes) estatisticamentesignificativos a níveis <strong>de</strong> 1%, 5% e10%. A análise dos correlogramas dos resíduosconcluiu que não existe heteroce<strong>da</strong>stici<strong>da</strong><strong>de</strong>condicional nos resíduos do mo<strong>de</strong>lo ajustado.A equação <strong>da</strong> variância indicou que o coeficiente<strong>de</strong> reação <strong>da</strong> volatili<strong>da</strong><strong>de</strong> foi <strong>de</strong> 0,257864.Partindo-se para a estimação do mo<strong>de</strong>loGARCH, o melhor mo<strong>de</strong>lo estimado foi oGARCH (1,1), que po<strong>de</strong> ser visto na Tabela 5. Deveselembrar que a teoria afirma que a condiçãonecessária para a variância ser positiva e fracamenteestacionária implica que os parâmetros <strong>da</strong>regressão <strong>de</strong>vem ser maiores que zero. O parâmetroARCH representa a reação <strong>da</strong> volatili<strong>da</strong><strong>de</strong>,e o GARCH representa a persistência <strong>da</strong> volatili<strong>da</strong><strong>de</strong>.A soma <strong>de</strong> ambos os coeficientes <strong>de</strong>terminaa persistência <strong>de</strong> riscos na série <strong>de</strong> retorno.O óleo <strong>de</strong> girassol tem valor <strong>de</strong> 0,43905para a soma dos coeficientes ARCH e GARCH.Tabela 5. Mo<strong>de</strong>lo GARCH.Variância condicionaldo óleo <strong>de</strong> girassolGARCH (1,1)Constante 0,002921P-valor 0,000000ARCH (1) 0,251225P-valor 0,000000GARCH (1) 0,18782P-valor 0,0861Teste <strong>de</strong> Durbin-Watson 1.979.821Critério <strong>de</strong> Schwarz -2.469.782Log <strong>da</strong> verossimilhança 7.831.743Estatística F 1.213.604P-valor <strong>da</strong> estatística F 0,0000Isso indica fraca persistência <strong>de</strong> choques sobrea volatili<strong>da</strong><strong>de</strong>; por isso, nem to<strong>da</strong> alteração nopreço <strong>da</strong> commodity po<strong>de</strong>rá correspon<strong>de</strong>r àinstabili<strong>da</strong><strong>de</strong> em seus mercados, incluindo produtores,que po<strong>de</strong>m sofrer alguns problemas,bem como a economia nacional. Nesse caso, oschoques se dissipam rapi<strong>da</strong>mente, o que torna oprocesso <strong>de</strong> reversão à normali<strong>da</strong><strong>de</strong> ou padrão<strong>de</strong> equilíbrio acelerado.Para o mo<strong>de</strong>lo TARCH mais bem estimado,TARCH (1,1), expresso na Tabela 6, o coe-Tabela 4. Resultados <strong>da</strong> estimação do mo<strong>de</strong>lo ARCH.Variável Coeficiente Erro-padrão Estatística Z P-valorC 0,00434 0,004394 0,987633 0,3233AR(1) -0,98257 0,021072 -46,62874 0,0000MA(1) 1,331106 0,047458 28,04811 0,0000MA(2) 0,359251 0,04428 8,113264 0,0000Equação <strong>da</strong> variânciaC 0,003822 0,000111 34,29509 0,0000RESID(-1)^2 0,257864 0,050151 5,141757 0,0000Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>82
Tabela 6. Mo<strong>de</strong>lo TARCH.Variável Coeficiente Erro-padrão Estatística Z P-valorEquação <strong>da</strong> variânciaC 0,000574 0,0000835 6,880394 0,0000RESID(-1)^2 0,058019 0,011822 4,907556 0,0000RESID(-1)^2*(RESID(-1)
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O custo privadoSamuel Alex Coelho Campos 2<strong>da</strong> reserva legal 1 Carlos José Caetano Bacha 3Resumo – Este artigo estima o custo arcado pelos produtores rurais por alocarem terra como reservalegal, como estabelece o código florestal. Tomam-se como casos <strong>de</strong> estudo as culturas <strong>da</strong> laranjeirae <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar, para o estado <strong>de</strong> São Paulo; e as culturas do milho e <strong>da</strong> soja, para Goiás, MatoGrosso e Paraná. A análise se pauta pela redução <strong>da</strong> rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s em razão <strong>de</strong>ssecusto adicional com terra, pois, para ca<strong>da</strong> hectare plantado com as culturas supracita<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>veráser mantido 0,25 ha <strong>de</strong> reserva legal. Foram utiliza<strong>da</strong>s, como ferramental <strong>de</strong> análise, as fórmulas<strong>da</strong> taxa interna <strong>de</strong> retorno e do valor presente líquido para calcular a que<strong>da</strong> <strong>da</strong> rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> ao seter reserva legal (em relação a não tê-la) e calcular um possível valor <strong>de</strong> pagamento pelo serviçoambiental prestado pelo produtor rural. Os resultados indicaram que: i) entre as culturas analisa<strong>da</strong>s,a que teve menor redução média relativa em sua lucrativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, em termos absolutos, por cumprir areserva legal, foi a <strong>da</strong> laranjeira, e a que teve maior redução absoluta média relativa <strong>de</strong> lucrativi<strong>da</strong><strong>de</strong>foi a <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar; ii) caso o produtor rural fosse compensado financeiramente pela reservalegal, o preço que ele <strong>de</strong>veria receber seria <strong>de</strong> 3% a 6,7% a mais para as culturas <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar,milho e soja, e <strong>de</strong> 4% a 15% a mais para a laranja; e iii) sem esses pagamentos, o valor custo <strong>de</strong>oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> reserva legal assume dimensões <strong>de</strong> bilhões <strong>de</strong> reais, como no caso do milho, quefoi <strong>de</strong> R$ 1 bilhão na safra 2012–<strong>2013</strong>.Palavras-chave: agropecuária, Brasil, estudos <strong>de</strong> casos, rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.The private cost of the legal reserveAbstract – This paper estimates the costs affor<strong>de</strong>d by farmers due to allocation of land as legal reserveby them, as established by the Brazilian forest co<strong>de</strong>. The following cultures were analyzed ascase studies: orange and sugarcane in the state of São Paulo; and maize and soybean in the states ofGoiás, Mato Grosso and Paraná (all in Brazil). The analysis is based on the profitability reduction ofthese activities due to the additional costs with land affor<strong>de</strong>d by farmers (because for each hectareplanted with these crops, farmers should maintain 0.25 ha as legal reserve). As analysis tools, theinternal rate of return and the net present value formulas were used for calculating both profitabilityreduction when there is legal reserve (compared to the lack of it), and a possible payment for environmentalservice (PES) that farmers would receive. The results indicated that: 1) among the analyzedcrops, orange had the lowest relative reduction in profitability, because it met the legal reserve1Original recebido em 26/3/<strong>2013</strong> e aprovado em 3/4/<strong>2013</strong>.2Graduado em Gestão do Agronegócio, doutorando em Economia Aplica<strong>da</strong> pelo Departamento <strong>de</strong> Economia, Administração e Sociologia, <strong>da</strong> Escola Superior<strong>de</strong> <strong>Agricultura</strong> Luiz <strong>de</strong> Queiroz, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. E-mail: s.alex.coelho@gmail.com3Economista, Doutor em Economia, professor do Departamento <strong>de</strong> Economia, Administração e Sociologia, <strong>da</strong> Escola Superior <strong>de</strong> <strong>Agricultura</strong> Luiz <strong>de</strong> Queiroz,<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. E-mail: carlosbacha@usp.br85Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
equirement, and sugarcane had the largest reduction; 2) if farmers were financially rewar<strong>de</strong>d for thelegal reserve, they would receive an amount 3 to 5 percent larger for sugarcane, maize and soybean,and from 4 to 10 percent larger for orange; and 3) if these PES are not paid, the opportunity cost oflegal reserve reaches billions of reais, as in the case of maize – it reached 1 billion reais during the2012–<strong>2013</strong> crop.Keywords: agriculture and livestock, Brazil, case studies, profitability.IntroduçãoAo longo do processo <strong>de</strong> ocupação doterritório brasileiro, as áreas ocupa<strong>da</strong>s originalmentecom florestas nativas têm sido removi<strong>da</strong>se vêm sendo, principalmente, utiliza<strong>da</strong>s no processoprodutivo agropecuário. Para a produçãoagropecuária, a terra é um insumo fun<strong>da</strong>mental,no qual se <strong>de</strong>senvolvem as culturas agrícolas e aprodução pecuária, principalmente.Entretanto, a área possível <strong>de</strong> ocupação eexploração agropecuária <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um imóvelrural tem sido limita<strong>da</strong> pela legislação florestal –em especial pelo Código Florestal –, que impõelimites mínimos <strong>da</strong> área total <strong>de</strong> um imóvel rurala serem mantidos com cobertura <strong>de</strong> vegetaçãonativa, a título <strong>de</strong> reserva legal e <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> preservaçãopermanente.O Novo Código Florestal (BRASIL, 2012a) 4<strong>de</strong>fine Área <strong>de</strong> Preservação Permanente (APP)comoa área protegi<strong>da</strong>, coberta ou não por vegetaçãonativa, com a função ambiental <strong>de</strong> preservaros recursos hídricos, a paisagem, aestabili<strong>da</strong><strong>de</strong> geológica e a biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, facilitaro fluxo gênico <strong>de</strong> fauna e flora, protegero solo e assegurar o bem-estar <strong>da</strong>s populaçõeshumanase a reserva legal comoa área localiza<strong>da</strong> no interior <strong>de</strong> uma proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>ou posse rural (<strong>de</strong>limita<strong>da</strong> conforme percentuaismínimos <strong>de</strong> acordo com a região dopaís), com a função <strong>de</strong> assegurar o uso econômico<strong>de</strong> modo sustentável dos recursos naturaisdo imóvel rural, auxiliar a conservação ea reabilitação dos processos ecológicos e promovera conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, bemcomo o abrigo e a proteção <strong>de</strong> fauna silvestree <strong>da</strong> flora nativa (BRASIL, 2012a, grifo nosso).A legislação florestal impõe à maioria dosimóveis rurais a obrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> manutenção<strong>de</strong> reserva legal, sendo os seus percentuais mínimosem relação à área total do imóvel rural <strong>de</strong>80%, 35% e 20% para os imóveis rurais localizadosna Amazônia Legal em área <strong>de</strong> floresta, <strong>de</strong>cerrado e <strong>de</strong> campos gerais, respectivamente; epara as <strong>de</strong>mais regiões do país, essa área <strong>de</strong>ve ser<strong>de</strong>, no mínimo, 20% <strong>da</strong> área total do imóvel rural.Por <strong>de</strong>finição, a Amazônia Legal compreen<strong>de</strong>Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapáe Mato Grosso; as regiões situa<strong>da</strong>s ao norte doparalelo 13º S, <strong>de</strong> Tocantins e Goiás; e as regiõesao oeste do meridiano <strong>de</strong> 44º W, do Maranhão.A reserva legal é um mecanismo <strong>de</strong> restriçãoà ocupação <strong>da</strong> área <strong>de</strong> um imóvel ruralpara a produção agropecuária e impõe custo <strong>de</strong>oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> aos produtores rurais. Esse custo <strong>de</strong>oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> é <strong>de</strong>finido como o custo adicionalarcado pelos produtores por alocar terra a sermanti<strong>da</strong> coberta com matas que não geram, necessariamente,receitas. Esse custo é tanto maiorquanto maior é a área que o produtor <strong>de</strong>stina àexploração agropecuária, e há relação com a culturaagrícola explora<strong>da</strong>, bem como com a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>produtiva e gerencial dos produtores, suaeficiência e tecnologia usa<strong>da</strong>, entre outros fatores.Apesar <strong>de</strong> a reserva legal resultar em benefíciospara to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, os seus custos são arcadosunicamente pelos produtores agropecuários.Devido a esse custo, o produtor rural sómantém a reserva legal <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu imóvel ruralse for compelido a tanto. De 1972 a 1998, aárea ocupa<strong>da</strong> pela reserva legal reduziu-se <strong>de</strong>4Alguns <strong>de</strong> seus artigos foram alterados pela Lei <strong>nº</strong> 12.727/2012 (BRASIL, 2012b).Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>86
12,75% para 9,58% <strong>da</strong> área total dos estabelecimentosagropecuários, segundo os ca<strong>da</strong>stros <strong>de</strong>imóveis rurais do Instituto Nacional <strong>de</strong> Colonizaçãoe Reforma Agrária (Incra). O percentual <strong>de</strong>estabelecimentos que registraram sua presençacaiu <strong>de</strong> 9,78% em 1972 para 7,04% em 1988(INCRA, 2012). Destaca-se que mesmo em 1972,a área ocupa<strong>da</strong> pela reserva legal se encontravaabaixo <strong>da</strong> mínima exigi<strong>da</strong> (BACHA, 2005).No contexto supracitado, o presente artigoobjetiva analisar e calcular o custo <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>do cumprimento <strong>da</strong> reserva legal para algumasativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícolas, seleciona<strong>da</strong>s conformea sua importância econômica ou alimentar. Essasativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s são as culturas <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar e <strong>da</strong>laranjeira no Estado <strong>de</strong> São Paulo, e as culturas domilho e <strong>da</strong> soja em Goiás, Mato Grosso e Paraná.A escolha <strong>de</strong>ssas culturas e <strong>de</strong>ssas regiõesse pautou pela importância econômica <strong>de</strong>las.Consi<strong>de</strong>rando-se as 66 culturas agrícolas disponíveisnas estatísticas <strong>da</strong> Produção <strong>Agrícola</strong>Municipal em 2010 (IBGE, 2012), a soja, a cana<strong>de</strong>-açúcar,o milho e a laranja foram responsáveis,respectivamente, por 24,3%, 18,4%, 9,9% e3,9% do valor total <strong>da</strong> produção agrícola nacional.A<strong>de</strong>mais, o Estado <strong>de</strong> São Paulo respon<strong>de</strong>upor 71% e 55,3% <strong>da</strong> área planta<strong>da</strong> nacional comlaranjeiras e com cana-<strong>de</strong>-açúcar, respectivamente,em 2010. Já a área planta<strong>da</strong> com milhoe soja está concentra<strong>da</strong> em três estados: Paraná,Mato Grosso e Goiás. Paraná possuía 17,4% e19,2% <strong>da</strong> área planta<strong>da</strong> com milho e soja, respectivamente,em 2010; Mato Grosso possuía15,5% e 26,7%; e Goiás possuía 6,7% e 10,5%,respectivamente, em 2010.A seguir apresenta-se a revisão <strong>da</strong> literaturarelaciona<strong>da</strong> ao objetivo do artigo. A seção“A evolução <strong>da</strong> preocupação com as florestasnativas no Brasil” apresenta uma análise histórica<strong>da</strong> preocupação em manter florestas nativas<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva agrícola no Brasil.A seção “Metodologia” expõe a metodologia utiliza<strong>da</strong>para calcular o custo <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, ea seção “Resultados” apresenta e analisa essescustos. Por fim, são apresenta<strong>da</strong>s algumas consi<strong>de</strong>raçõesfinais.Revisão <strong>da</strong> literaturaO custo privado <strong>da</strong> reserva legal para osestabelecimentos agropecuários tem sido avaliadona literatura por meio do custo <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>,utilizando-se indicadores financeiros,como a taxa interna <strong>de</strong> retorno (TIR), o valorpresente líquido (VPL) e o tempo <strong>de</strong> retorno doinvestimento, além <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>de</strong> receita e mu<strong>da</strong>nçanesses indicadores. Outros estudos utilizammétodos econométricos para estimar os preçoshedônicos e a per<strong>da</strong> no valor <strong>da</strong> terra associa<strong>da</strong>à reserva legal.Os instrumentos previstos no Código Florestalsão do tipo “comando-e-controle”, quepo<strong>de</strong>m não ser custo-eficientes, pois não focamno menor custo <strong>de</strong> redução <strong>da</strong> externali<strong>da</strong><strong>de</strong> negativagera<strong>da</strong> no processo produtivo (PERMAN etal., 2003). Ferramentas <strong>de</strong>sse tipo são reconheci<strong>da</strong>menteassocia<strong>da</strong>s à redução dos retornos econômicospotenciais, no caso <strong>da</strong> agricultura, e,no caso do uso <strong>da</strong> terra, à redução do seu valor(FASIABEN et al., 2011); ou po<strong>de</strong>m comprometerganhos <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> ou mesmo reduzi-la(BOYD; MCCLEALLAND, 1999). A<strong>de</strong>mais, essesmecanismos <strong>de</strong>man<strong>da</strong>m do Estado capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> fiscalizar o cumprimento <strong>da</strong> lei, já que os produtoresnão recebem incentivos econômicos expressivospara seu cumprimento (RIGONATTO,2006; SIQUEIRA; NOGUEIRA, 2004).Para o Brasil, po<strong>de</strong>m ser citados os estudos<strong>de</strong> An<strong>de</strong>rsen et al. (2002), Bacha (2005), Fasiabenet al. (2011), Igarati et al. (2009), Oliveira eBacha (2003), Siqueira (2004), entre outros quetrataram do cumprimento <strong>da</strong> legislação florestale seu custo aos produtores rurais.Avaliando os custos e benefícios globais do<strong>de</strong>smatamento na Amazônia por meio do valoreconômico total (TEV) via mo<strong>de</strong>lo econométrico,An<strong>de</strong>rsen et al. (2002), comparando o CódigoFlorestal <strong>de</strong> 1965 com a Medi<strong>da</strong> Provisória2.166/67, constataram que os custos sociais paraambas as legislações são maiores que os benefíciossociais que geram. Os autores <strong>de</strong>stacam asdificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s e limitações na estimação para osvalores <strong>de</strong> não uso, como a biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e ser-87Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
sem expressa licença real. Esse regimento estabeleceupunições para a extração ilegal <strong>de</strong>ssaárvore, e os culpados po<strong>de</strong>riam ser con<strong>de</strong>nadosà morte. Essa legislação também estabeleceunormas para a extração <strong>da</strong> ma<strong>de</strong>ira: tudo <strong>de</strong>veriaser aproveitado; e matas <strong>de</strong> pau-brasil nãopodiam ser transforma<strong>da</strong>s em roças. SegundoNarloch (2009), essa política garantiu a manutençãoe a exploração <strong>da</strong>s florestas até 1875,tendo compreendido replantios e estimulado omáximo aproveitamento <strong>da</strong>s árvores. Os diversosciclos <strong>da</strong> economia brasileira, caracterizadospela maior exploração <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados recursosnaturais, <strong>de</strong>terminaram a forma como osrecursos naturais eram percebidos e valorados(MONOSOWSKI, 1989), influenciando a criaçãoe/ou modificações <strong>de</strong> legislações ambientais, entreelas, o Código Florestal.Com a Proclamação <strong>da</strong> República em1889, a Assembleia Nacional Constituinte inseriuna Constituição Fe<strong>de</strong>ral apenas um artigo (o<strong>de</strong> número 34, inciso 29) relacionado à questãoambiental, que atribuía à União a competênciapara legislar sobre minas e terras. No final do século19, o Brasil era majoritariamente agrário; opaís era governado ou fortemente influenciadopelos interesses do setor agropecuário, que eraresponsável pela maior proporção <strong>da</strong>s divisas gera<strong>da</strong>sno país e era o motor <strong>da</strong> economia (NAZO;MUKAI, 2003). No final do século 19 e início do20, a <strong>de</strong>struição <strong>da</strong> natureza era critica<strong>da</strong> por razõespolíticas e em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> aproveitamento produtivo <strong>de</strong>sses recursosnaturais (PÁDUA, 2010; ZULAUF, 2000).A<strong>de</strong>mais, a restrição <strong>de</strong> exploração dosrecursos naturais po<strong>de</strong>ria “comprometer” a ocupaçãodo território nacional, uma vez que o Paísfoi construído com a apropriação <strong>de</strong> terras, tendona conquista territorial um forte elemento <strong>de</strong>i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> e coesão sociais. Um padrão <strong>de</strong> ocupaçãointensivo, do ponto <strong>de</strong> vista dos recursos,e extensivo, no que tange ao espaço, dominavagenericamente o histórico nacional, atribuindolheum sentido expansionista “civilizador”. Durantea era republicana, a mo<strong>de</strong>rnização foipersegui<strong>da</strong>. O objetivo político sempre foi a integraçãodo território. Estra<strong>da</strong>s <strong>de</strong>veriam ser construí<strong>da</strong>spara interligar o País. Os recursos naturaiseram vistos como uma riqueza a ser utiliza<strong>da</strong> noprocesso produtivo, em que os recursos naturaise o espaço eram consi<strong>de</strong>rados inesgotáveis (MO-RAES, 2003).As criações do Código <strong>da</strong>s Águas, do Código<strong>da</strong>s Minas, do primeiro Código Florestal (em1934) e do Parque Nacional <strong>de</strong> Itatiaia (em 1937)marcaram, segundo Monosowski (1989), o início<strong>da</strong>s políticas ambientais nacionais com visão holística.Nesse período, ao incentivar a industrialização,o governo assumiu a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> construir infraestrutura, ao mesmo tempo emque racionalizava e regulamentava o uso dosrecursos naturais (MONOSOWSKI, 1989) comoforma para que estes pu<strong>de</strong>ssem contribuir para ocrescimento e o <strong>de</strong>senvolvimento econômico doPaís. A<strong>de</strong>mais, o papel <strong>da</strong> agropecuária passoua ser o <strong>de</strong> permitir e apoiar a industrializaçãodo País, apoio este feito por meio <strong>de</strong> transferênciasindiretas ao setor industrial, uma vez que o<strong>de</strong>senvolvimento do País <strong>de</strong>veria ser baseado naindustrialização (BACHA, 2012).Segundo Monosowski (1989) e Peccatiello(2011), a regulamentação dos recursos naturais,inicia<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1930, objetivava permitirque os recursos naturais contribuíssem e aten<strong>de</strong>ssemàs necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> indústria nascente.Essas políticas foram categoriza<strong>da</strong>s por Monosowski(1989) em quatro abor<strong>da</strong>gens: aquelas queobjetivavam a administração dos recursos naturais;o controle <strong>da</strong> poluição industrial; o planejamento<strong>da</strong> ocupação territorial; e a gestão dosrecursos naturais <strong>de</strong> forma integra<strong>da</strong>. Além disso,segundo Garfield (2004), o primeiro governo<strong>de</strong> Vargas (1930–1945) aproveitou o nacionalismogeográfico para difundir a i<strong>de</strong>ia e empreen<strong>de</strong>ra proteção ambiental com um esforço maisconcentrado.Nesse contexto, foi instituído o primeiroCódigo Florestal do Brasil por meio do Decreton o 23.793/1934. As florestas passaram a figurarcomo <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> todos os ci<strong>da</strong>dãos, etambém instituíram-se as Áreas <strong>de</strong> PreservaçãoPermanente – APPs (SIQUEIRA, 2004). Segun-89Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
do Moraes (2003), a criação <strong>de</strong>sses mecanismosconservacionistas seria consequência <strong>da</strong>crescente preocupação, origina<strong>da</strong> dos paíseshegemônicos, pela proteção e conservação dosrecursos naturais.O Estatuto <strong>da</strong> Terra (BRASIL, 1964) incluiua conservação dos recursos naturais como uma<strong>da</strong>s funções sociais <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> rural, condicionando,assim, as ações vincula<strong>da</strong>s aos direitose obrigações no uso <strong>da</strong> terra a essa prerrogativa.Um ano mais tar<strong>de</strong>, em 1965, ocorreu a primeirareformulação do código florestal, tendo<strong>da</strong>do origem ao segundo Código Florestal, Lei n o4.771 <strong>de</strong> 15/9/1965, e com a criação do que viriaa ser chamado, posteriormente, <strong>de</strong> reserva legal(SIQUEIRA, 2004).Com o Regime Militar (período <strong>de</strong> 1964a 1985), a conservação ambiental passou a sertrata<strong>da</strong> como questão não prioritária e um obstáculoao <strong>de</strong>senvolvimento e crescimento econômico,sendo essa preocupação atribuí<strong>da</strong> somenteaos países <strong>de</strong>senvolvidos. Apesar <strong>da</strong> emergênciados movimentos ecológicos internacionais, a relaçãocom a natureza foi muitas vezes consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>uma temática secundária pelos dirigentesbrasileiros diante <strong>da</strong> miséria, do analfabetismo,do <strong>de</strong>semprego, <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> moradia que o Paíssofria e, principalmente, diante <strong>da</strong> ausência <strong>de</strong><strong>de</strong>mocracia no Brasil (DUARTE, 2004). SegundoMonosowski (1989), a própria criação, em 1973,<strong>da</strong> Secretaria Especial do Meio Ambiente foi umanecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> diplomática <strong>de</strong>corrente <strong>da</strong>s críticasao lema brasileiro <strong>de</strong> que “poluição = progresso”,que foi <strong>de</strong>fendido na Conferência <strong>de</strong> Estocolmo.A<strong>de</strong>mais, segundo esse mesmo autor, a políticaambiental <strong>de</strong>sse período era bastante limita<strong>da</strong>: oobjetivo era reduzir a <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção ambiental quepo<strong>de</strong>ria comprometer o bom an<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>sprodutivas.Segundo Jacobi (2003), a questão ambientalpassou a ter maior expressão com o retornodo País à <strong>de</strong>mocracia em meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong>1980 e em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> pressão internacional contrao <strong>de</strong>smatamento <strong>da</strong> Amazônia. Como <strong>de</strong>corrênciadisso, a Assembleia Nacional Constituinte <strong>de</strong>1988 inseriu um mo<strong>de</strong>rno e abrangente capítulosobre o meio ambiente na Constituição Fe<strong>de</strong>ral.Segundo Monosowski (1989), a abor<strong>da</strong>gem inseri<strong>da</strong>na Nova Constituição <strong>de</strong> 1988 sobre o meioambiente é marca<strong>da</strong>mente conservacionista, <strong>de</strong>stacandoos fatores <strong>de</strong> restrição ao uso dos recursosnaturais e <strong>da</strong>ndo pouca atenção à utilizaçãodo meio ambiente para o <strong>de</strong>senvolvimento econômico.A partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990, a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>brasileira também passou a contestar os impactosambientais provenientes <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> mineradorae se mobilizou contra a <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção ambiental e apoluição (SÁNCHEZ, 2003). Reflexo <strong>de</strong>ssa maiorpreocupação foram as 67 reedições <strong>da</strong> MP 2.166<strong>de</strong> 1996 a 2001 e a promulgação <strong>da</strong> lei <strong>de</strong> crimesambientais. Segundo Bacha (2005), a alternânciaentre os endurecimentos e as flexibilizações<strong>de</strong>ssas 67 medi<strong>da</strong>s provisórias que alteraram a dimensãoe condições para a reposição <strong>da</strong> reservalegal foi resultado do embate entre produtivistas econservacionistas que divergiam quanto à finali<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>da</strong> reserva legal.A Tabela 1 apresenta as principais mu<strong>da</strong>nças<strong>da</strong> legislação florestal entre o 2 o CódigoFlorestal (a partir do final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980) ea aprovação do 3 o Código Florestal. Uma atençãoespecial <strong>de</strong>ve ser <strong>da</strong><strong>da</strong> ao Decreto n o 6.514<strong>de</strong> 22/7/2008. Ele regulamenta a Lei <strong>de</strong> CrimesAmbientais (<strong>de</strong> 1998), cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong>pois<strong>de</strong>sta, e <strong>de</strong>fine claramente as multas a serem<strong>da</strong><strong>da</strong>s a quem estiver em <strong>de</strong>sacordo com o 2 oCódigo Florestal. A rigorosi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Decreto n o6.514 levou a várias prorrogações <strong>de</strong> sua entra<strong>da</strong>em vigência e à discussão <strong>de</strong> um novo CódigoFlorestal, que envolveu ambientalistas, ruralistase cientistas. Um dos principais argumentos dosruralistas e <strong>de</strong> parte dos cientistas era a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptar a legislação florestal à reali<strong>da</strong><strong>de</strong>brasileira e evitar as multas do Decreto n o 6.514.A<strong>de</strong>mais, o código anterior (<strong>de</strong> 1965) foi modificadovárias vezes por <strong>de</strong>cretos e medi<strong>da</strong>s provisórias,os quais colocariam na ilegali<strong>da</strong><strong>de</strong> boaparte <strong>da</strong> produção agropecuária nacional (comoos produtores <strong>de</strong> café e <strong>de</strong> maçã, por exemplo,que ocupam encostas íngremes para seus plantios,as quais po<strong>de</strong>riam ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s Áreas<strong>de</strong> Preservação Permanente – APPs), o que po<strong>de</strong>riacomprometer a oferta <strong>de</strong> alimentos para aAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>90
população. Já os ambientalistas e os cientistascriticavam que as mu<strong>da</strong>nças no código florestaleram apenas uma forma <strong>de</strong> perdoar os passivosambientais dos produtores e anistiar multas, oque geraria insegurança jurídica e incentivaria o<strong>de</strong>scumprimento <strong>da</strong> nova legislação; a ocorrência<strong>de</strong> novos <strong>de</strong>smatamentos; o <strong>de</strong>scumprimento<strong>da</strong>s metas brasileiras <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões <strong>de</strong>gases <strong>de</strong> efeito estufa; entre outros efeitos (LIMA,2012).A discussão <strong>de</strong>ssa nova legislação gerouatritos entre a Presidência <strong>da</strong> República e a bancaruralista no Congresso Nacional. A legislaçãoinicialmente aprova<strong>da</strong>, Lei n o 12.651/12 (BRASIL,2012a), que substituiu a Lei n o 4.771/65, possui84 artigos – 12 <strong>de</strong>les foram vetados pela presi<strong>de</strong>nte<strong>da</strong> república, e outros 32 sofreram modificaçõespor meio <strong>da</strong> Medi<strong>da</strong> Provisória n o 571/12,que foi converti<strong>da</strong> na Lei n o 12.727 em 17 <strong>de</strong>outubro <strong>de</strong> 2012. Os principais pontos vetadosna Lei n o 12.651/12 foram a autorização indiscrimina<strong>da</strong>do uso isolado <strong>de</strong> frutíferas para arecomposição <strong>de</strong> APPs, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente dotamanho <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> ou posse rural; a reduçãodo limite mínimo <strong>de</strong> proteção ambiental doscursos d’água para cinco metros; e a dispensa<strong>da</strong> averbação <strong>da</strong> reserva legal sem um sistemasubstituto (BRASIL, 2012c).Destaca-se também que o novo CódigoFlorestal reafirma a exigência do Ca<strong>da</strong>stro AmbientalRural (CAR), o qual é:registro público eletrônico <strong>de</strong> âmbito nacional,obrigatório para todos os imóveis rurais,com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> integrar as informaçõesambientais <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s e posses rurais,compondo base <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos para controle, monitoramento,planejamento ambiental e econômicoe combate ao <strong>de</strong>smatamento (BRASIL,2012b).Esse novo mecanismo torna obrigatórioo georreferenciamento <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s rurais,uma vez que é necessário que o imóvel sejai<strong>de</strong>ntificado por meio <strong>de</strong> planta e memorial <strong>de</strong>scritivo,no qual se <strong>de</strong>vem contar as coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>sgeográficas e <strong>de</strong>ve-se informar a localização <strong>de</strong>remanescentes <strong>de</strong> vegetação nativa, Áreas <strong>de</strong>Preservação Permanente, Áreas <strong>de</strong> Uso Restrito,áreas consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s e, caso existente, reserva legal.A inscrição no CAR é obrigatória e <strong>de</strong>ve serfeita em até um ano contado <strong>da</strong> sua implantação,prorrogável uma única vez.A<strong>de</strong>mais, em seu artigo 59, o novo CódigoFlorestal atribui à União, aos estados e aoDistrito Fe<strong>de</strong>ral a incumbência <strong>de</strong> implantar, ematé um ano, contado a partir <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> publicação<strong>da</strong> Lei, prorrogável por até mais um ano,Programas <strong>de</strong> Regularização Ambiental <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>srurais, permitindo a solução <strong>de</strong> váriospassivos ambientais.Entretanto, o Novo Código Florestal apresentaalgumas polêmicas e po<strong>de</strong> ain<strong>da</strong> sofreralgumas alterações. A banca<strong>da</strong> ruralista <strong>da</strong> Câmara<strong>de</strong> Deputados preten<strong>de</strong> reestabelecer aflexibilização <strong>da</strong> recomposição florestal e o reflorestamentoem faixas mais estreitas às margensdos rios (PASSARINHO, <strong>2013</strong>). Além disso,a Procuradoria-Geral <strong>da</strong> República entrou noSupremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral com três Ações Diretas<strong>de</strong> Inconstitucionali<strong>da</strong><strong>de</strong> (ADIs 4901, 4902 e4903), em 21 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> <strong>2013</strong>, questionando aconstitucionali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns pontos que tratam<strong>da</strong> reserva legal: possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> contabilização<strong>de</strong> APPs no percentual <strong>da</strong> reserva legal; anistiapara produtores que <strong>de</strong>smataram irregularmenteantes <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008; e redução <strong>da</strong> área<strong>da</strong> mata ciliar por meio <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça no cálculo<strong>da</strong> margem <strong>da</strong> água mais alta para o leito menor(BRASIL, <strong>2013</strong>).MetodologiaPara o cálculo do custo <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>da</strong> reserva legal, calcula-se a redução <strong>da</strong> lucrativi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>da</strong> produção agrícola quando ela émanti<strong>da</strong> em relação a quando não é cumpri<strong>da</strong>.Para tanto, utilizam-se o valor presente líquidoe a taxa interna <strong>de</strong> retorno para as culturas <strong>da</strong>laranja e cana, consi<strong>de</strong>rando-se a estrutura <strong>de</strong>produção e custos do Estado <strong>de</strong> São Paulo; e domilho e <strong>da</strong> soja, tomando como base as regiões<strong>de</strong> Rio Ver<strong>de</strong>, Goiás; Campo Mourão, Paraná; ePrimavera do Leste, Mato Grosso.91Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Tabela 1. Principais mu<strong>da</strong>nças na legislação florestal brasileira a partir do final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980.Ato legalLei n o 7.803/1989DescriçãoInstituiu a reserva legal sobre as áreas <strong>de</strong> cerrado (20%); <strong>de</strong>finiu que a averbação <strong>da</strong> reservalegal fosse feita na matrícula do imóvel rural; alterou o tamanho <strong>da</strong>s Áreas <strong>de</strong> PreservaçãoPermanente (APPs) nas margens dos rios; e incluiu como APPs as áreas com altitu<strong>de</strong>superior a 1,8 mil metrosLei n o 8.171/1991 Obrigou os produtores rurais a recompor a reserva legal, prevista na Lei n o 4.771, <strong>de</strong> 1965,com a nova re<strong>da</strong>ção <strong>da</strong><strong>da</strong> pela Lei n o 7.803, <strong>de</strong> 1989, mediante o plantio, a ca<strong>da</strong> ano, <strong>de</strong>pelo menos 1/30 <strong>da</strong> área total para complementar a referi<strong>da</strong> reserva legalMP 1.511/1996MP 1.605/1998MP (1) 2.166, <strong>de</strong> 1996a 2001MP 1.736/1998;MP 1.885/1999; eMP 1.956/1999Lei n o 9.605/1998MP 2.080/2000; eMP 2.166/2001Decreto n o 6.514/2008Decreto n o 7.029/2009Decreto n o 7.497/2011Deu nova re<strong>da</strong>ção aos artigos 3 e 44 <strong>da</strong> Lei n o 4.771/1965. Proibiu o aumento <strong>da</strong> conversão<strong>de</strong> áreas florestais em áreas agrícolas na região Norte e na parte norte <strong>da</strong> região Centro-Oeste para proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s que possuam áreas <strong>de</strong>smata<strong>da</strong>s abandona<strong>da</strong>s, subutiliza<strong>da</strong>s ouutiliza<strong>da</strong>s <strong>de</strong> forma ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> conforme a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte do solo. Admitiu paraaqueles imóveis rurais, cuja cobertura arbórea se constitua <strong>de</strong> florestas, o corte raso em nomáximo 20% <strong>de</strong>ssas tipologias florestais.Determinou que a reserva legal fosse averba<strong>da</strong> à margem <strong>da</strong> inscrição <strong>da</strong> matrícula doimóvelModificou a MP 1.511, permitindo que proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s ou posses em processo <strong>de</strong> regularizaçãocom cobertura florestal, com áreas <strong>de</strong> até 100 ha, nas quais se pratique agropecuáriafamiliar, possam efetuar o corte raso, aumentando esse limite <strong>de</strong> 20% para, no máximo,50% <strong>da</strong> área <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>Permitiu o corte raso em 80% <strong>da</strong> área do imóvel para áreas cobertas com cerrado na regiãoNorte e na parte norte <strong>da</strong> região Centro-Oeste. Permitiu a compensação <strong>da</strong> área <strong>de</strong> reservalegal em outras áreas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que pertençam ao mesmo ecossistema e estejam no mesmoestadoA Lei <strong>de</strong> Crimes Ambientais transformou infrações administrativas em crimes, permitiu aaplicação <strong>de</strong> pesa<strong>da</strong>s multas e criou infraçõesO percentual mínimo <strong>da</strong> reserva legal foi modificado para 80% para proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s ruraissitua<strong>da</strong>s na região Norte e norte do Mato Grosso; 35% para áreas <strong>de</strong> cerrado localiza<strong>da</strong>sna Amazônia Legal, permitindo que 15% <strong>da</strong> área seja compensa<strong>da</strong> em outra área namesma microbacia; e 20% nas <strong>de</strong>mais regiões do País. O artigo 3 o permitiu que em áreas<strong>de</strong> pequena proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> ou posse rural familiar, o plantio <strong>de</strong> árvores frutíferas ornamentaisou industriais – composto por espécies exóticas, cultiva<strong>da</strong>s em sistema intercalar ou emconsórcio com espécies nativas – possa entrar no cômputo <strong>da</strong> reserva legal. Restituiu aobrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> recomposição <strong>da</strong>s áreas <strong>de</strong>gra<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelos produtoresEste <strong>de</strong>creto, <strong>de</strong> 22/7/2008, regulamentou a Lei <strong>de</strong> Crimes Ambientais. Entre as sanções,para os produtores rurais, pelo não cumprimento <strong>da</strong> legislação, po<strong>de</strong>ria haver mula, ouper<strong>da</strong> ou suspensão <strong>da</strong> participação em linhas <strong>de</strong> financiamento em estabelecimentosoficiais <strong>de</strong> crédito, etc.Instituiu o Programa Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Apoio à Regularização Ambiental <strong>de</strong> Imóveis Rurais,<strong>de</strong>nominado “Programa Mais Ambiente”, criando como instrumentos do programa oCa<strong>da</strong>stro Ambiental Rural (CAR) – sistema eletrônico <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação georreferencia<strong>da</strong> <strong>da</strong>proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> rural ou posse rural, com a <strong>de</strong>limitação <strong>da</strong>s áreas <strong>de</strong> preservação permanente,<strong>da</strong> reserva legal e <strong>de</strong> remanescentes <strong>de</strong> vegetação nativa localiza<strong>da</strong>s no interior do imóvel,para fins <strong>de</strong> controle e monitoramentoAdiou a aplicação <strong>de</strong> multas para o produtor rural que <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> averbar a reserva legal para11 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011 (art. 55 do Decreto n o 6.514/2008)Continua...Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>92
Tabela 1. Continuação.Ato legalLei n o 12.651/2012MP 571/2012Lei n o 12.727/2012DescriçãoDe modo geral, permitiu uma maior flexibilização na mensuração e no uso <strong>da</strong> reserva legale <strong>da</strong>s Áreas <strong>de</strong> Preservação Permanentes (APPs): reduziu o limite mínimo <strong>de</strong> proteçãoambiental dos cursos d’água para cinco metros; dispensou os produtores <strong>de</strong> averbara reserva legal, mas manteve o percentual mínimo <strong>da</strong> reserva legal <strong>da</strong> MP 2.080/2000;incorporou o conceito <strong>de</strong> área rural consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> como sendo aquela área utiliza<strong>da</strong> pelosprodutores rurais antes <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008 mas que estava em <strong>de</strong>sacordo com o CódigoFlorestal <strong>de</strong> 1965; previu a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrossilvipastoris, <strong>de</strong> ecoturismoe <strong>de</strong> turismo rural em áreas rurais consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s; modificou o critério <strong>de</strong> mensuração <strong>da</strong>dimensão <strong>da</strong>s APPs nas margens dos rios para a partir <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> calha do leito regular;permitiu algumas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s no topo <strong>de</strong> morros, bor<strong>da</strong>s <strong>de</strong> tabuleiros e áreas com altitu<strong>de</strong>smaiores do que 1.800 metros; para o cálculo <strong>da</strong> reserva legal, permitiu que pu<strong>de</strong>ssem serutiliza<strong>da</strong>s as APPs sem qualquer limite; e admitiu a recomposição <strong>da</strong>s APPs com até 50%<strong>de</strong> espécies exóticas e a compensação em estados diferentesPrivilegiou o pequeno produtor: modificou o artigo 61-A, prevendo um sistema <strong>de</strong>recomposição <strong>da</strong>s áreas <strong>de</strong> preservação permanente que varia <strong>de</strong> acordo com o tamanhodo imóvel, e permitindo a recomposição com espécies exóticas em proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> atéquatro módulos fiscais. Restringiu a utilização <strong>de</strong> APPs no cômputo <strong>da</strong>s áreas <strong>de</strong> reservalegal em condomínio, no caso <strong>de</strong> compensaçãoConversão <strong>da</strong> Medi<strong>da</strong> Provisória n o 571/2012 em lei(1)A MP 1.511/1996 foi republica<strong>da</strong> com essa <strong>de</strong>nominação até a 1.511-17 (<strong>de</strong> 20/11/1997). Em 11/12/1997 ela foi reedita<strong>da</strong> sob a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> MP1.605, que foi a 18ª republicação, até que esta foi republica<strong>da</strong> sob a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> MP 1.736/1998, e, <strong>de</strong>pois disso, tornou-se a MP 2.166 em 2001.A literatura, algumas vezes, fala em MP 2.166-67, mas as 67 reedições não são, necessariamente, <strong>da</strong> 2.166.Na situação em que se consi<strong>de</strong>ram proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>scom reserva legal, são acrescidos aoscustos totais as <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> arren<strong>da</strong>mento referentea 0,25 hectare para ca<strong>da</strong> hectare plantadocom as culturas supramenciona<strong>da</strong>s. Portanto,1,25 hectare <strong>da</strong> área é necessário, pois sobre aárea <strong>de</strong> 1,25 ha exigem-se 20%, ou seja, 0,25 ha<strong>de</strong> reserva legal.O valor presente líquido e a taxa interna<strong>de</strong> retorno foram calculados conforme Unido(1986). O valor presente líquido (VPL) parte doprincípio que um <strong>da</strong>do valor monetário a ser recebidono futuro apresenta um valor <strong>de</strong> compramenor no presente. Para tanto, o valor futuro é<strong>de</strong>scontado a uma <strong>da</strong><strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> juros a fim <strong>de</strong>obter o valor presente. O VPL é <strong>de</strong>finido comoem que VPL é o valor presente líquido; R té oresultado no período t, calculado pela diferençaentre a receita <strong>da</strong> cultura agrícola e o respectivo(1)custo operacional; e i é a taxa <strong>de</strong> juros utiliza<strong>da</strong>como <strong>de</strong>sconto. A escolha do valor para i é uma<strong>de</strong>cisão que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do contexto macroeconômicodo País e <strong>de</strong>ve ser usa<strong>da</strong> como custo <strong>de</strong>oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> do capital.Tomando-se o VPL como base, a taxa interna<strong>de</strong> retorno (TIR) é <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> como a taxa <strong>de</strong><strong>de</strong>sconto i* para a qual o VPL é igual a zero:(2)Intuitivamente, a TIR indica a rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong>do empreendimento. Calculam-se a TIR e oVPL para as culturas supracita<strong>da</strong>s no período <strong>de</strong>2000–2001 a 2012–<strong>2013</strong> para proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s padrãoque tenham e não tenham a reserva legal.Obviamente, o VPL e a TIR serão menores paraas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s com reserva legal, e po<strong>de</strong>-secalcular quanto <strong>de</strong>veria o seu mantenedor recebera mais pelo seu produto agrícola <strong>de</strong> modoa ter os mesmos VPL e TIR que o produtor ruralque não mantém a reserva legal. Esse valor mo-93Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
netário, a ser calculado por uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> produto(tonela<strong>da</strong>s ou quilos, conforme a forma maisusual adota<strong>da</strong> na comercialização do produto),representa uma precificação do serviço ambientalproporcionado pelo produtor rural, que nãotem sido reembolsado pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.Po<strong>de</strong>-se analisar a que<strong>da</strong> <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong>dos produtores consi<strong>de</strong>rando-se avariação do Valor Presente Líquido (VPL) paraaqueles que mantêm a área com reserva legalconforme prevê a legislação, tomando-se comobase os produtores que não mantêm áreas <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>sà reserva legal. Essa variação do VPL é<strong>da</strong><strong>da</strong> porem que |VPL C| e |VPL S| são o módulo do valorpresente líquido para aquelas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>scom e sem reserva legal, respectivamente, sendoDVPL expresso em percentual. Se |VPL C| >|VPL S|, DVPL é multiplicado por -1, já que, porconstrução, a variação do valor presente líquidonão po<strong>de</strong> ser positiva.Como <strong>da</strong>dos para a análise, foram utiliza<strong>da</strong>sas planilhas <strong>de</strong> custos <strong>de</strong> produção para acultura <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar e <strong>da</strong> laranjeira para oEstado <strong>de</strong> São Paulo, compreen<strong>de</strong>ndo o período<strong>de</strong> 2001 a 2011, tendo como fonte <strong>de</strong> <strong>da</strong>doso Agrianual <strong>de</strong> 2002 a 2012. O valor <strong>da</strong> terrae os valores médios recebidos pelos produtores<strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar e <strong>de</strong> laranja para a indústriaforam obtidos pelo Instituto <strong>de</strong> Economia <strong>Agrícola</strong>do Estado <strong>de</strong> São Paulo. Os valores médiosrecebidos pelos produtores <strong>de</strong> soja e milho foramobtidos pela FGV. Para as culturas anuaisdo milho e <strong>da</strong> soja, foram utiliza<strong>da</strong>s planilhas <strong>de</strong>custo <strong>de</strong> produção disponibiliza<strong>da</strong>s pela CompanhiaNacional <strong>de</strong> Abastecimento (Conab) parao período <strong>de</strong> 2000–2001 a 2012–<strong>2013</strong>. Para acultura do milho, os <strong>da</strong>dos foram estimados paraRio Ver<strong>de</strong>, GO, Campo Mourão, PR, e Primaverado Leste, MT, tendo-se consi<strong>de</strong>rado o plantiofeito com 80%, 85% e 50% sobre plantio direto,respectivamente; e para a cultura <strong>da</strong> soja, consi<strong>de</strong>raram-seessas mesmas regiões, tendo-se feito(3)o plantio sobre o sistema <strong>de</strong> plantio direto em100%, 90% e 80% <strong>da</strong> área, respectivamente.ResultadosPor meio <strong>da</strong>s fórmulas <strong>da</strong> TIR e do VPL, oimpacto <strong>de</strong> manter a reserva legal sobre a lucrativi<strong>da</strong><strong>de</strong>po<strong>de</strong> ser calculado para as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>sprodutivas seleciona<strong>da</strong>s (Tabelas 2, 3 e 4). Comoera previsível, to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícolas analisa<strong>da</strong>stêm redução <strong>de</strong> lucrativi<strong>da</strong><strong>de</strong> ao reporema reserva legal. Entre as culturas analisa<strong>da</strong>s, arentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar foi fortementecomprometi<strong>da</strong> quando adicionado o custo <strong>da</strong>reserva legal. Em 2001, por exemplo, a TIR paraessa cultura conduzi<strong>da</strong> no Estado <strong>de</strong> São Paulofoi <strong>de</strong> 42,1% se a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> padrão não tivessereserva legal, e <strong>de</strong> 4,6% tendo reserva legal.Em 2011, a mesma proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> sem reserva legalteria TIR <strong>de</strong> -5%, e tendo reserva legal, a TIRseria <strong>de</strong> -25,3%. A que<strong>da</strong> relativa no VPL seria<strong>de</strong> 82%.A cultura <strong>da</strong> laranjeira no Estado <strong>de</strong> SãoPaulo é, entre as analisa<strong>da</strong>s, a menos afeta<strong>da</strong> emsua lucrativi<strong>da</strong><strong>de</strong> quando se respeita a reservalegal. Em 2001, uma proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> citricultora obtinhaTIR <strong>de</strong> 23,5% em São Paulo ao não manterreserva legal, e uma TIR <strong>de</strong> 22,7% ao ter reservalegal. Em 2011, a que<strong>da</strong> <strong>da</strong> TIR <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>citricultora por ter reserva legal foi <strong>de</strong> 0,4 p.p.em relação à que não tinha reserva legal. A que<strong>da</strong>relativa no VPL seria <strong>de</strong> 3%.A análise <strong>da</strong>s culturas anuais (milho e soja)indica que a cultura <strong>da</strong> soja apresentou umamaior rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> entre a safra <strong>de</strong> 2000–2001e a <strong>de</strong> 2004–2005, e a partir <strong>da</strong> safra 2007–2008,reflexo <strong>da</strong> variação dos custos e/ou variação dospreços. Esse comportamento po<strong>de</strong> ser analisadocom base na redução <strong>da</strong> rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> tomandosea variação do VPL.Entre as culturas anuais, em alguns períodosa cultura <strong>da</strong> soja apresentou maior reduçãorelativa do VPL, enquanto em outros, issoocorreu para a cultura do milho, ao se respeitara reserva legal. Na safra 2000–2001, as redu-Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>94
Tabela 2. Rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um hectare plantado com cana-<strong>de</strong>-açúcar e laranja para o Estado <strong>de</strong> São Paulo,consi<strong>de</strong>rando-se proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s sem e com reserva legal.AnoIndicador <strong>de</strong>lucrativi<strong>da</strong><strong>de</strong>Proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> semreserva legalCana-<strong>de</strong>-açúcarProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> comreserva legalProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> semreserva legalLaranjaProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> comreserva legal2001 TIR (%) 42,1 4,6 23,5 22,7VPL (R$) 498,30 9,36 7.093,54 6.845,07Δ VPL (%) -98 -42002 TIR (%) 3,1 -10,1 -2,7 -2,8VPL (R$) -313,42 -750,29 -8.990,78 -9.239,25Δ VPL (%) -139 -32003 TIR (%) 56,5 42,7 9,4 9,1VPL (R$) 2.343,27 2.443,81 4.216,05 3.967,58Δ VPL (%) -4 -62004 TIR (%) 14,7 5,0 7,4 6,9VPL (R$) 272,04 66,44 3.613,69 3.090,58Δ VPL (%) -76 -142005 TIR (%) -13,6 -29,2 -8,8 -10,0VPL (R$) -1.262,52 -1.851,38 -7.923,29 -8.446,40Δ VPL (%) -47 -72006 TIR (%) 19,0 9,1 12,6 12,1VPL (R$) 652,30 429,63 11.379,29 10.731,92Δ VPL (%) -34 -62007 TIR (%) n.c. n.c. 18,2 17,7VPL (R$) -4.673,10 -5.883,48 23.625,04 22.971,16Δ VPL (%) -26 -32008 TIR (%) n.c. n.c. 9,9 9,5VPL (R$) -8.190,69 -10.124,46 9.360,61 8.706,73Δ VPL (%) -24 -72009 TIR (%) n.c. n.c. n.c. n.c.VPL (R$) -7.626,49 -9.520,32 -50.080,27 -50.734,15Δ VPL (%) -25 -12010 TIR (%) -36,0 n.c. n.c. n.c.VPL (R$) -2.394,50 -3.263,76 -20.777,51 -21.104,46Δ VPL (%) -36 -22011 TIR (%) -5,0 -25,3 15,6 15,2VPL (R$) -959,57 -1.748,60 21.594,66 20.940,78Δ VPL (%) -82 -3Obs.: n.c. = não calculável.Fonte: FNP Consultoria & Comércio (2002) e Instituto <strong>de</strong> Economia Aplica<strong>da</strong> (2012).95Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Tabela 3. Rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um hectare plantado <strong>de</strong> milho, consi<strong>de</strong>rando-se proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s sem e com reserva legal, em locais selecionados.Milho: plantio direto (80%) Milho: plantio direto (85%) Milho: plantio direto (50%)Safra IndicadorProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> semreserva legalRio Ver<strong>de</strong>, GO Campo Mourão, PR Primavera do Leste, MTProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> comreserva legalProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> semreserva legalProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> comreserva legalProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> semreserva legalProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> comreserva legalTIR (%) 44 38 100 91 55 482000–2001VPL (R$) 313,44 279,24 627,78 594,48 371,10 337,81Δ VPL (%) -11 -5 -9TIR (%) 5 1 39 32 20 152001–2002VPL (R$) 3,91 -35,35 249,60 210,35 115,17 75,91Δ VPL (%) -805 -16 -34TIR (%) 71 61 104 91 65 562002–2003VPL (R$) 575,76 518,85 805,83 748,92 541,95 485,04Δ VPL (%) -10 -7 -11TIR (%) 35 28 64 56 28 222003–2004VPL (R$) 359,62 297,81 660,90 599,10 293,45 231,64Δ VPL (%) -17 -9 -21TIR (%) 10,3 6 30,4 24,5 7 32004–2005VPL (R$) 76,13 11,82 327,72 263,42 32,02 -32,28Δ VPL (%) -84 -20 -1TIR (%) -4 -7 23 18 -7 -112005–2006VPL (R$) -127,80 -189,23 237,15 175,71 -188,52 -249,96Δ VPL (%) -48 -26 -33Continua...Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>96
Tabela 3. Continuação.Milho: plantio direto (80%) Milho: plantio direto (85%) Milho: plantio direto (50%)Safra IndicadorProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> semreserva legalRio Ver<strong>de</strong>, GO Campo Mourão, PR Primavera do Leste, MTProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> comreserva legalProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> semreserva legalProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> comreserva legalProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> semreserva legalProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> comreserva legalTIR (%) 6 1 40 33 2 -22006–2007VPL (R$) 17,99 -48,14 399,61 333,47 -34,17 -100,31Δ VPL (%) -168 -17 -194TIR (%) 38 31 75 66 26 202007–2008VPL (R$) 445,36 370,77 850,59 776,00 307,57 232,98Δ VPL (%) -17 -9 -24TIR (%) 37 30 61 54 30 242008–2009VPL (R$) 475,39 396,12 955,93 876,67 388,49 309,22Δ VPL (%) -17 -8 -20TIR (%) 4 -1 13 9 -8 -112009–2010VPL (R$) -19,86 -97,70 159,78 81,94 -229,76 -307,60Δ VPL (%) -392 -49 -34TIR (%) -7 -11 29 23 1 -42010–2011VPL (R$) -190,23 -271,47 372,45 291,21 -64,72 -145,96Δ VPL (%) -43 -22 -126TIR (%) 39 32 67 58 72 622011 –2012VPL (R$) 567,69 467,46 1.103,90 1.003,67 1.047,95 947,72Δ VPL (%) -18 -9 -10TIR (%) 25 19 50 43 22 162012–<strong>2013</strong>VPL (R$) 367,73 267,50 901,28 801,05 321,09 220,86Δ VPL (%) -27 -11 -31Fonte: Conab (2012) e Instituto <strong>de</strong> Economia Aplica<strong>da</strong> (2012).97Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Tabela 4. Rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um hectare cultivado com soja, sobre diferentes sistemas <strong>de</strong> produção, consi<strong>de</strong>rando-se proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s sem e com reservalegal, em locais selecionados.Soja: plantio direto Soja: plantio direto (90%) Soja: plantio direto (80%)Safra IndicadorProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> semreserva legalRio Ver<strong>de</strong>, GO Campo Mourão, PR Primavera do Leste, MTProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> comreserva legalProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> semreserva legalProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> comreserva legalProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> semreserva legalProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> comreserva legalTIR (%) 31 24 42 33 30 232000–2001VPL (R$) 157,56 121,89 183,04 147,37 149,16 113,49Δ VPL (%) -23 -19 -24TIR (%) 59 49 63 52 50 412001–2002VPL (R$) 329,88 287,37 311,49 268,98 291,00 248,50Δ VPL (%) -13 -14 -15TIR (%) 93 75 92 73 87 702002–2003VPL (R$) 604,07 530,96 541,13 468,02 579,45 506,34Δ VPL (%) -12 -14 -13TIR (%) 75 61 83 66 72 592003–2004VPL (R$) 668,41 583,73 641,23 556,54 653,78 569,09Δ VPL (%) -13 -13 -13TIR (%) 71 60 83 69 63 532004–2005VPL (R$) 692,65 617,94 686,81 612,10 635,33 560,61Δ VPL (%) -11 -11 -12TIR (%) 4 -3 20 10 4 -32005–2006VPL (R$) -12,16 -107,19 146,69 51,67 -11,49 -106,52Δ VPL (%) -781 -65 -827Continua...Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>98
Tabela 4. Continuação.Soja: plantio direto Soja: plantio direto (90%) Soja: plantio direto (80%)Safra IndicadorProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> semreserva legalRio Ver<strong>de</strong>, GO Campo Mourão, PR Primavera do Leste, MTProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> comreserva legalProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> semreserva legalProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> comreserva legalProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> semreserva legalProprie<strong>da</strong><strong>de</strong> comreserva legalTIR (%) -2 -7 8 2 4 -22006–2007VPL (R$) -82,87 -150,14 32,89 -34,38 -10,38 -77,64Δ VPL (%) -81 -5 -648TIR (%) 73 59 42 31 32 232007–2008VPL (R$) 606,48 525,86 336,47 255,85 290,84 210,23Δ VPL (%) -13 -24 -28TIR (%) 91 77 57 46 842 5582008–2009VPL (R$) 944,45 851,70 639,08 546,32 1.713,99 1.621,23Δ VPL (%) -10 -15 -5TIR (%) 82 69 56 46 34 262009–2010VPL (R$) 918,46 821,80 659,47 562,82 433,30 336,64Δ VPL (%) -11 -15 -22TIR (%) 51 39 64 50 33 242010–2011VPL (R$) 524,95 422,33 616,51 513,89 362,62 260,01Δ VPL (%) -20 -17 -28TIR (%) 72 57 87 69 51 392011–2012VPL (R$) 759,99 643,16 851,55 734,72 597,66 480,83Δ VPL (%) -15 -14 -20TIR (%) 146 125 122 103 90 772012–<strong>2013</strong>VPL (R$) 1.703,35 1.586,52 1.446,27 1.329,44 1.230,87 1.114,04Δ VPL (%) -7 -8 -9Fonte: Conab (2012) e Instituto <strong>de</strong> Economia Aplica<strong>da</strong> (2012).99Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
ções do VPL ao se ter reserva legal em relaçãoa não se ter foram <strong>de</strong> 19% a 24% para a cultura<strong>da</strong> soja (Tabela 4), enquanto para o milho, essasreduções variaram <strong>de</strong> 5% a 11% (Tabela 3). Entretanto,na safra <strong>de</strong> 2012–<strong>2013</strong>, por exemplo, aredução do VPL para a cultura do milho chegoua 31%, enquanto a redução para a cultura <strong>da</strong>soja chegou a 9%.As Tabelas 5 e 6 apresentam o custo monetário<strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> reserva legal por uni<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> produto, que equivale ao valor <strong>de</strong> umpossível pagamento por serviços ambientais necessáriospara compensar o agricultor pela áreaadicional aloca<strong>da</strong> para reserva legal. Em 2001,esse custo <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> foi <strong>de</strong> R$ 0,36 porcaixa <strong>de</strong> 40,8 quilos <strong>de</strong> laranja e <strong>de</strong> R$ 1,25 portonela<strong>da</strong> <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar. Esses valores correspon<strong>de</strong>rama 6% e a 4,4%, respectivamente,dos preços <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong>sses produtos.Os valores do pagamento dos serviçosambientais para a laranja foram crescentes noinício <strong>da</strong> série em análise, mas estabilizam-se nofinal do período analisado, enquanto para a cultura<strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar, os valores foram crescentesno final do período. O valor necessáriopara compensar o produtor <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcarpor ter reserva legal inicia a série com R$ 1,25(em 2001) e alcança R$ 2,76 em 2011 por tonela<strong>da</strong><strong>de</strong> cana. Esses valores também po<strong>de</strong>m serinterpretados como o custo <strong>da</strong> reserva legal poruni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> produto.Para a cultura do milho, na safra 2000–2001, o custo <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> reserva legalvariou <strong>de</strong> R$ 5,55 a R$ 5,70 por tonela<strong>da</strong>, e omesmo custo para a soja variou <strong>de</strong> R$ 11,89 a R$13,21 por tonela<strong>da</strong>. Em relação ao preço <strong>de</strong> mercado<strong>de</strong>sses produtos, o custo <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>da</strong> reserva legal representou 4,6% do preço <strong>da</strong>soja e 3,1% do preço do milho. No entanto, essecusto <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> soja elevou-se significativamentequando essa cultura gerou prejuízo.A Tabela 4 mostra que a cultura <strong>da</strong> soja geraTIR negativa na safra 2005–2006, e o custo <strong>de</strong>oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ter reserva legal passa a 7,5%do preço <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong>ssa cultura para CampoMourão (Tabela 6).Tabela 5. Precificação do custo <strong>da</strong> reserva legal para as culturas <strong>da</strong> laranja e cana-<strong>de</strong>-açúcar.AnoLaranjaCana-<strong>de</strong>-açúcarCusto (R$) Custo (%) Custo (R$) Custo (%)2001 0,36 6 1,25 4,42002 0,36 4 1,23 3,72003 0,36 4 1,43 4,52004 0,77 10 1,20 3,72005 0,77 10 1,27 3,12006 0,95 11 1,84 3,82007 0,96 9 1,58 4,12008 0,96 9 1,50 4,02009 0,96 15 1,73 4,02010 0,48 4 1,97 3,82011 0,96 8 2,76 4,3Nota: para a cultura <strong>da</strong> laranja, o valor expresso está representado em reais/caixa <strong>de</strong> 40,8 quilos, e para a cultura <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar, o valor estáexpresso em reais/tonela<strong>da</strong>.Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>100
Tabela 6. Precificação do custo <strong>da</strong> reserva legal para as culturas <strong>de</strong> milho e soja, em reais por tonela<strong>da</strong>.Safra Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>Rio Ver<strong>de</strong>,GOCampo Mourão,PRMilho SojaPrimavera do Leste,MTRio Ver<strong>de</strong>,GOCampoMourão, PRPrimavera do Leste,MT2000–2001 R$ 5,70 5,55 5,55 11,89 13,21 11,89% 3,2 3,1 3,1 4,2 4,6 4,22001–2002 R$ 6,54 6,54 6,54 14,17 15,74 14,17% 4,6 4,6 4,6 4,0 4,4 4,02002–2003 R$ 9,49 9,49 9,49 24,37 27,08 24,37% 4,0 4,0 4,0 5,0 5,6 5,02003–2004 R$ 10,30 10,30 10,30 28,23 31,36 28,23% 3,9 3,9 3,9 4,6 5,1 4,62004–2005 R$ 10,72 10,72 10,72 24,91 27,67 24,91% 4,1 4,1 4,1 3,8 4,2 3,82005–2006 R$ 10,24 10,24 10,24 31,68 35,20 31,68% 4,3 4,3 4,3 6,7 7,5 6,72006–2007 R$ 11,02 11,02 11,02 22,42 24,91 22,42% 5,3 5,3 5,3 5,3 5,9 5,32007–2008 R$ 12,43 12,43 12,43 24,80 29,86 26,87% 4,3 4,3 4,3 4,8 5,7 5,22008–2009 R$ 13,21 11,32 13,21 28,54 30,92 30,92% 4,2 3,6 4,2 4,0 4,4 4,42009–2010 R$ 12,97 11,12 12,97 29,74 32,22 32,22% 4,9 4,2 4,9 4,0 4,4 4,42010–2011 R$ 13,54 11,61 13,54 34,21 34,21 34,21% 5,3 4,5 5,3 5,5 5,5 5,52011–2012 R$ 16,71 14,32 14,32 38,94 38,94 38,94% 4,5 3,8 3,8 5,5 5,5 5,52012–<strong>2013</strong> R$ 16,71 14,32 16,71 35,95 38,94 38,94% 4,5 3,8 4,5 3,6 3,9 3,9101Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Para as culturas do milho e <strong>da</strong> soja, há umaumento do custo <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> reservalegal por tonela<strong>da</strong>, <strong>de</strong>stacando-se a cultura <strong>da</strong>soja. Para essa cultura, na safra 2012–<strong>2013</strong>, osprodutores necessitaram ser reembolsados emR$ 38,94 por tonela<strong>da</strong> para os localizados naregião <strong>de</strong> Campo Mourão e Primavera do Leste,sendo esse o maior custo para to<strong>da</strong>s as culturasanalisa<strong>da</strong>s e em todos os períodos.Esses custos por tonela<strong>da</strong> ou como percentualdo preço são aparentemente pequenos, masquando se consi<strong>de</strong>ra a produção nacional, essecusto assume valores elevados. Para a cultura domilho, por exemplo, a produção estima<strong>da</strong> para asafra 2012–<strong>2013</strong> foi <strong>de</strong> 71,54 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s(BRASIL, 2012d). Isso implicaria um custo <strong>de</strong>oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> mínimo <strong>de</strong> R$ 1,02 bilhão.Ressalte-se que este estudo estimou e analisouo custo <strong>da</strong> reserva legal para apenas quatroculturas. Quando se consi<strong>de</strong>rarem to<strong>da</strong>s asculturas agropecuárias, o custo <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>da</strong> reserva legal será elevado. Esse custo indicao quanto os produtores agropecuários estão pagandopara gerar benefícios a to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>,o que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como transferênciasnão monetárias dos produtores agropecuáriospara to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.Consi<strong>de</strong>rações finaisA área atualmente <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> à reserva legal,na maioria dos imóveis rurais, é pequenaquando compara<strong>da</strong> à área <strong>da</strong> exigência legal.Como responsável pelo não cumprimento <strong>da</strong>legislação foi apontado o custo <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong>ssa área <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> à reserva legal, que nãopo<strong>de</strong> gerar fluxos monetários aos estabelecimentosagropecuários.Os indicadores <strong>de</strong> rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> apontaramque a redução <strong>da</strong> rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s,associa<strong>da</strong> ao custo <strong>da</strong> área, não é idênticaentre as culturas. Ela é maior para os produtores<strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar e menor para os citricultoresno Estado <strong>de</strong> São Paulo.Como forma <strong>de</strong> compensação ao produtor,po<strong>de</strong>riam ser cria<strong>da</strong>s linhas <strong>de</strong> crédito específicasque permitam ao produtor que mantém área<strong>de</strong> reserva legal incorporar novas tecnologias afim <strong>de</strong> elevar sua produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e compensar,assim, a produção não obti<strong>da</strong> nas áreas cobertascom reserva legal. Essa seria uma forma <strong>de</strong>transferir recursos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> para o produtorrural e, assim, indiretamente pagar pelos serviçosambientais prestados pelos produtores. Destacasetambém a importância <strong>de</strong> treinamentos paraa correta utilização <strong>de</strong>ssas novas tecnologias eganhos <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.Por fim, <strong>de</strong>staca-se que as estimativas <strong>da</strong>sreceitas <strong>da</strong>s culturas agrícolas não consi<strong>de</strong>rarama receita origina<strong>da</strong> <strong>da</strong> extração ma<strong>de</strong>ireira e nãoma<strong>de</strong>ireira <strong>da</strong> reserva legal, bem como se supôsque a reserva legal seria regenera<strong>da</strong> naturalmente,não implicando, portanto, custos do plantio eregeneração <strong>da</strong> vegetação nativa.ReferênciasANDERSEN, L. E.; GRANGER, C. W. J.; REIS, E. J.;WEINHOLD, D.; WUNDER, S. The costs and benefits of<strong>de</strong>forestation. In: ANDERSEN, L. E.; GRANGER, C. W. J.;REIS, E. J.; WEINHOLD, D.; WUNDER, S. 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Sete teses sobreAntônio Márcio Buainain 2Eliseu Alveso mundo rural3José Maria <strong>da</strong> Silveira 4brasileiro 1 Zan<strong>de</strong>r Navarro 5Resumo – Este artigo apresenta sete teses que procuram interpretar a situação atual e as tendênciasdo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> agropecuária e <strong>da</strong>s regiões rurais brasileiras. Com base na primeira tese, queargumenta sobre a existência <strong>de</strong> uma nova etapa na história agrícola e agrária do País, instituindoum novo padrão <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> capital, as <strong>de</strong>mais estão associa<strong>da</strong>s a facetas diversas. As tesessão necessárias para interpretar o momento atual e seus <strong>de</strong>safios futuros – dos novos <strong>de</strong>safios paraa produção e difusão <strong>de</strong> inovações na agricultura à crescente inviabili<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica dos estabelecimentosrurais <strong>de</strong> menor porte; <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> melhor ajustamento <strong>da</strong> ação governamentalà inexistência <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural. O texto também sugere, como outratese, que essa nova fase po<strong>de</strong> estar marginalizando a relevância <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates nos quais, no passado,discutiram-se as regiões rurais e suas particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s.Palavras-chave: <strong>de</strong>senvolvimento agrário recente, regiões rurais brasileiras, tendências sobre omundo rural.Seven theses about the rural world in BrazilAbstract – This article presents seven theses that intend to interpret the current situation and the<strong>de</strong>velopment ten<strong>de</strong>ncies for Brazilian agriculture and livestock, and its rural areas. Based on the firstthesis, which argues for the existence of a new phase in the country’s agricultural and agrarian history,thus establishing a new pattern of capital accumulation, the following six theses are associatedto diverse facets, but the set of theses are necessary to interpret the current state of affairs and futurechallenges – from new challenges posed to the production and diffusion of agricultural innovationsto an increasing economic infeasibility of small rural establishments; from the need of better adjustmentin government action to the lack of a rural <strong>de</strong>velopment policy. The article also suggests, asanother thesis, that this new phase may be marginalizing the importance of <strong>de</strong>bates that, in the past,involved discussions about rural areas and their particularities.Keywords: recent agrarian <strong>de</strong>velopment, Brazilian rural areas, trends about rural regions.1Original recebido em 30/4/<strong>2013</strong> e aprovado em 7/5/<strong>2013</strong>.2Economista, Doutor em Ciência Econômica, pesquisador, professor <strong>da</strong> Unicamp. E-mail: buainain@gmail.com3Economista, Ph.D. em <strong>Agricultura</strong>l Economics, pesquisador <strong>da</strong> Embrapa. E-mail: eliseu.alves@embrapa.br4Engenheiro-agrônomo, Doutor em Ciência Econômica, pesquisador, professor <strong>da</strong> Unicamp. E-mail: jmsilv@eco.unicamp.br5Sociólogo, Ph.D. em Sociologia, pesquisador <strong>da</strong> Embrapa. E-mail: zan<strong>de</strong>r.navarro@embrapa.br105Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
IntroduçãoUm artigo e uma coletânea escritos nadéca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960, respectivamente por um sociólogomexicano e um economista brasileiro, ofereceramà literatura sobre “o <strong>de</strong>senvolvimento”um conjunto <strong>de</strong> argumentos inovadores. Amboscuriosamente coincidiram sobre o número sete,o qual englobaria os focos principais acerca dostemas que então os autores adiantaram para o<strong>de</strong>bate público. O artigo Siete tesis equivoca<strong>da</strong>ssobre América Latina, <strong>de</strong> Rodolfo Stavenhagen,foi publicado no diário mexicano El Día, em junho<strong>de</strong> 1965. Já o economista Antônio Barros<strong>de</strong> Castro lançou seu livro Sete ensaios sobre aeconomia brasileira em 1969 (CASTRO, 1969),publicação que representou uma criativa propostaanalítica, introduzindo uma visão que, naocasião, já prenunciava o futuro polemista. Esseautor foi notável interpretador dos processoseconômicos do País 6 . Em especial, foram autoresque confrontaram as narrativas dominantes coma ortodoxia então prevalecente. Já na abertura<strong>de</strong>sse artigo, uma advertência <strong>de</strong> Stavenhagenilustra os motivos que animam o presente artigo,em face <strong>da</strong> similari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa advertência comparte <strong>da</strong> bibliografia brasileira que atualmentediscute o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> agricultura 7 . Naocasião, alertava o sociólogo mexicano que(...) En la literatura abun<strong>da</strong>nte que se ha producidoen los últimos años sobre los problemas<strong>de</strong>l <strong>de</strong>sarrollo y <strong>de</strong>l sub<strong>de</strong>sarrollo económicoy social se encuentran tesis y afirmacionesequivoca<strong>da</strong>s, erróneas y ambiguas. A pesar<strong>de</strong> ello, muchas <strong>de</strong> estas tesis son acepta<strong>da</strong>scomo mone<strong>da</strong> corriente (...) Pese a que los hechoslas <strong>de</strong>smienten, y a que diversos estudiosen años recientes comprueban su false<strong>da</strong>d, ocuando menos hacen du<strong>da</strong>r <strong>de</strong> su veraci<strong>da</strong>d,dichas tesis adquieren fuerza y a veces carácter<strong>de</strong> dogma (STAVENHAGEN, 1965).Muitos elos analíticos po<strong>de</strong>riam unir a curtacontribuição <strong>de</strong> Stavenhagen a alguns dos argumentos<strong>de</strong> Barros <strong>de</strong> Castro nos Sete ensaios,sendo o principal a refutação <strong>da</strong> existência <strong>de</strong>“socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s duais” na América Latina (o notório“dualismo cepalino”) e a visão do economistasobre “as funções <strong>da</strong> agricultura” no processo<strong>de</strong> expansão capitalista brasileiro – discuti<strong>da</strong>sno segundo ensaio do livro. Para as teses entãodominantes, os ambientes rurais representariamo epítome do atraso econômico e <strong>da</strong>s práticassociais e políticas conservadoras, materializandobloqueios estruturais à expansão <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong>mo<strong>de</strong>rna. Castro, por seu turno, insistiu quena história nacional a agricultura não se constituíraem freio à industrialização, ain<strong>da</strong> que seu<strong>de</strong>senvolvimento não tivesse seguido uma viasimilar à dos países do capitalismo avançado. Eadvertiu, em premonitória observação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>relevância: sem a <strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>da</strong> terra, as regiões rurais exportavam a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>social do campo para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, pormeio <strong>de</strong> processos migratórios <strong>da</strong>s famílias maispobres. Adicionalmente, sua análise adiantavauma interpretação que os fatos posteriores comprovaramà exaustão, conforme a síntese <strong>de</strong> doisestudiosos <strong>de</strong> sua obra:(...) O “Ensaio 2”, do livro Sete Ensaios..., éuma <strong>da</strong>s mais instigantes interpretações sobrea relação <strong>de</strong> agricultura e indústria escrita noBrasil (...) Castro argumentou que a agriculturabrasileira contribuiu com a industrializaçãopor meio <strong>da</strong> geração e permanente ampliação<strong>de</strong> exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> alimentos e matérias-primas,<strong>da</strong> liberação <strong>da</strong> mão <strong>de</strong> obra e <strong>da</strong> transferência<strong>de</strong> capitais. O autor mostrou que, apesardo crescimento <strong>da</strong> população e <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> brasileiras,o País não foi pressionado a aumentarsignificativamente suas importações <strong>de</strong>alimentos (...), não foi obrigado a reduzir aexpansão <strong>de</strong> suas exportações agrícolas pela6Em diverti<strong>da</strong> ironia, o livro continha, <strong>de</strong> fato, apenas seis artigos. O sétimo não foi concluído pelo autor e foi publicado apenas posteriormente, embora otítulo cabalístico <strong>de</strong> “sete ensaios” tenha sido mantido. Em mais uma ilustração, analisando os “fatos marcantes” acerca <strong>da</strong> agricultura brasileira, Alves ecolaboradores também listaram sete fatos consi<strong>de</strong>rados principais (ALVES et al., <strong>2013</strong>).7É preciso que sejam claras as distinções conceituais entre expressões como “<strong>de</strong>senvolvimento agrícola”, “<strong>de</strong>senvolvimento agrário” e “<strong>de</strong>senvolvimentorural”, para não citar outros termos correlatos e analiticamente próximos. Como é muito débil a história institucional brasileira, no tocante a ações estataisestratégicas <strong>de</strong> indução à transformação social e econômica nas regiões rurais (que seria o “<strong>de</strong>senvolvimento rural”), as quais supõem prévias interpretaçõesacerca do “<strong>de</strong>senvolvimento agrário”, as tradições brasileiras, na literatura, confun<strong>de</strong>m frequentemente tais expressões. Não se a<strong>de</strong>ntrará em tal campoconceitual, mas os autores estão pressupondo que tais distinções conceituais são conheci<strong>da</strong>s dos leitores. Sobre o tema, consulte-se Navarro (2001).Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>106
pressão <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> doméstica <strong>de</strong> terras paraa produção <strong>de</strong> alimentos e, ain<strong>da</strong>, a agriculturabrasileira aumentou a oferta <strong>de</strong> alimentosliberando mão <strong>de</strong> obra para suprir a <strong>de</strong>man<strong>da</strong><strong>de</strong> trabalhadores no setor urbano <strong>da</strong> economia(...) a contribuição do setor foi importanteao permitir que o mercado urbano, que surgia<strong>da</strong> substituição <strong>da</strong>s importações e não do aumento<strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>da</strong>s regiões agrícolas, seexpandisse, sem que fosse estrangulado porproblemas gerados na oferta <strong>de</strong> alimentos ouna incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> agricultura <strong>de</strong> liberar mão<strong>de</strong> obra para as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s ou capitais (PRADO;BASTIAN, 2011, p. 245-246).Essas observações iniciais, representativas<strong>de</strong> diminuta parte <strong>de</strong> um gigantesco <strong>de</strong>bate sobreo <strong>de</strong>senvolvimento ocorrido meio século atrás,inspiram este artigo por várias razões 8 . Primeiro,porque assiste-se hoje, tal como aqueles autores,ao distanciamento entre os processos concretosque <strong>de</strong>man<strong>da</strong>m explicação, <strong>de</strong> um lado, e partesignificativa <strong>da</strong>s interpretações e <strong>da</strong> literatura, <strong>de</strong>outro lado. Trata-se <strong>de</strong> um hiato entre “teoria ereali<strong>da</strong><strong>de</strong>” que contribui para a persistência <strong>da</strong>s“afirmações equivoca<strong>da</strong>s, errôneas e ambíguas”(Stavenhagen), as quais po<strong>de</strong>riam ter tido algumavali<strong>da</strong><strong>de</strong> para explicar reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s que já foramtransforma<strong>da</strong>s, mas atualmente embaralham os<strong>de</strong>bates sobre o mundo rural brasileiro.Em segundo lugar, aqueles comentáriosdo passado permitem <strong>de</strong>stacar o impressionantecontraste entre os contextos produtivos <strong>da</strong> épocae os atuais. Os dois cientistas sociais citadosrealçaram, sobretudo, o atraso social, o primitivismotecnológico e produtivo dos setores agropecuários,a natureza politicamente reacionária<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> no campo e a pobreza então dissemina<strong>da</strong>.Meio século <strong>de</strong>pois, o contraste, pelo menosem relação ao caso brasileiro, não po<strong>de</strong>ria sermais abissal, particularmente se concretiza<strong>da</strong>s asprojeções <strong>de</strong> médio prazo <strong>da</strong> produção agropecuária(PROJEÇÕES..., <strong>2013</strong>). As diferenças sãoadmiráveis. A agricultura brasileira, tradicionalmenteentendi<strong>da</strong> como um binômio que articulavaum enclave exportador com um setor <strong>de</strong>produção <strong>de</strong> alimentos baseado em pequenosprodutores <strong>de</strong> baixa produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>staca-seatualmente como um dos setores mais dinâmicos<strong>da</strong> economia. É a base <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias produtivasque, no conjunto, produzem um quarto do PIBnacional e aproxima<strong>da</strong>mente um quinto do empregototal, mas, sobretudo, são extraordináriosvetores do <strong>de</strong>senvolvimento social do interiordo País, tanto em territórios <strong>da</strong> fronteira quantona reestruturação virtuosa <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> ocupaçãoagrícola antigas e estagna<strong>da</strong>s. Tome-se, porexemplo, a produção <strong>da</strong> safra 2012–<strong>2013</strong>, que,embora pontual, oferece uma i<strong>de</strong>ia <strong>da</strong> riquezagera<strong>da</strong> e <strong>da</strong> importância para a economia brasileira:estima-se que o valor bruto <strong>da</strong> produção(VBP) dos 20 principais produtos é <strong>de</strong> 305 bilhões<strong>de</strong> reais, soma que parece inacreditável.Se apenas uma parte do VBP previsto, por exemplo,for coteja<strong>da</strong> com o lucro líquido total <strong>da</strong>s 20maiores empresas brasileiras (públicas e priva<strong>da</strong>s),obtido em 2012, somente a riqueza previstana colheita <strong>de</strong> 2 produtos (milho e soja) <strong>de</strong>veráser quase 50% maior do que o total do lucroamealhado por aquelas 20 empresas que são asmais rentáveis do País (146 bilhões e 104 bilhões<strong>de</strong> reais, respectivamente).O texto preten<strong>de</strong> arrolar alguns focos <strong>de</strong>análise sobre a agricultura (ou, em sentido amplo,sobre “o mundo rural brasileiro”) na forma<strong>de</strong> teses, mantendo assim a expectativa <strong>de</strong> estimularo <strong>de</strong>bate sobre o estado atual <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>sagropecuárias e alguns aspectos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>social rural, além <strong>de</strong> apontar algumas <strong>de</strong> suastendências futuras. Há uma seção inicial, na qualtrês processos sociais são explicitados. Sem a suaaceitação, as sete teses, apresenta<strong>da</strong>s sinteticamentenas seções seguintes, se tornariam ilógicasou inconsistentes. São premissas que <strong>de</strong>finem ocontexto <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças do último meio século <strong>de</strong>transformações, semeando os pilares que anunciariamum novo período no <strong>de</strong>senvolvimento<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agropecuárias no Brasil.8Seria uma <strong>de</strong>smedi<strong>da</strong> presunção qualquer comparação <strong>de</strong>ste artigo com os textos <strong>da</strong>queles renomados autores.107Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
As sete teses e seu contextocontemporâneoÉ preciso, inicialmente, situar historicamenteo <strong>de</strong>bate proposto em relação a três dimensõeschaves: a temporali<strong>da</strong><strong>de</strong> do processo(quando), os atores e grupos sociais (quem) eos catalizadores e oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s (como) queconcretizaram as transformações referi<strong>da</strong>s peloconjunto <strong>da</strong>s teses apresenta<strong>da</strong>s nas páginasseguintes.O primeiro elemento <strong>de</strong> contextualizaçãose refere ao ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoagrário que fomentou a formação<strong>de</strong> uma economia agrícola orienta<strong>da</strong>, <strong>de</strong> fato,por um modo <strong>de</strong> funcionamento essencialmentecapitalista. Quando teve início o processo?A que período histórico se refere? As perguntaspo<strong>de</strong>riam gerar incontáveis <strong>de</strong>bates (KAGEYA-MA, 1990), mas, neste texto, tal origem obe<strong>de</strong>cea uma <strong>da</strong>tação relativamente precisa. Nãoobstante marcantes histórias agrárias e agrícolassetoriais e regionais, especialmente o caso docafé em São Paulo (mas também o arroz no RioGran<strong>de</strong> do Sul, a cana-<strong>de</strong>-açúcar no Nor<strong>de</strong>ste,o cacau no sul <strong>da</strong> Bahia, entre outras situaçõesregionais), as raízes mais promissoras <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rnaagricultura brasileira nasceram na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong>1960, com a instituição do sistema <strong>de</strong> créditorural e a implantação <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização<strong>da</strong> agricultura largamente inspirado nocaso norte-americano e fun<strong>da</strong>do em um tripéindissolúvel: crédito rural subsidiado, extensãorural e pesquisa agrícola por instituições públicas.Ain<strong>da</strong> que tenha sido um processo discriminatórioquanto às regiões, aos tipos <strong>de</strong> cultivosfavorecidos e aos beneficiários, aquele esforçoinicial assentou as condições para a conformação<strong>da</strong> agricultura mo<strong>de</strong>rna tal como a conhecemoshoje; além disso, os <strong>de</strong>bates em torno doprocesso <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização cimentaram as bases<strong>da</strong> compreensão hoje dominante – com os seusacertos e equívocos – sobre a agricultura do País.Uma segun<strong>da</strong> pergunta que situa o <strong>de</strong>batese refere a quem, em especial, ativou tal processo<strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça. Que grupos <strong>de</strong> produtoresforam aqueles principalmente atraídos para oprocesso <strong>de</strong> expansão? Essa investigação ain<strong>da</strong>não foi realiza<strong>da</strong> e, assim, sabe-se apenas episodicamentesobre as responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais(e produtivas) dos diversos atores. Mas sustentaseque os atores centrais não foram os membros<strong>da</strong> velha oligarquia agrária, os quais teriammo<strong>de</strong>rnizado seus latifúndios em um processoconservador <strong>de</strong> “mu<strong>da</strong>r a forma para manter aessência”, um argumento central do influente livro<strong>de</strong> Silva (1982). Sem citar outros subgrupos<strong>de</strong> produtores, a expansão inicia<strong>da</strong> no final <strong>da</strong>déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960 moldou a formação <strong>de</strong> uma geração<strong>de</strong> agricultores, especialmente sulistas. Estes,movidos por múltiplas razões – <strong>de</strong> naturezafamiliar, econômica e financeira –, migraram embusca <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> e lucro para as diversas regiões<strong>da</strong> fronteira agrícola, difundindo o novo padrãotécnico e seu obrigatório e correspon<strong>de</strong>nte mo<strong>de</strong>loorganizacional. No Centro-Oeste, foramprincipalmente os produtores sulistas que ativaramo crescimento <strong>da</strong> produção (com <strong>de</strong>staquepara a soja, uma vez a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> aos ecossistemastropicais). Outros grupos, em diversas regiões doPaís, também operaram um conjunto <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nçassimilares, embora em época mais recente –oriundos <strong>de</strong> São Paulo e do Triângulo Mineiro.São produtores com diversos perfis, responsáveispela expansão <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar, <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rnapecuária <strong>de</strong> corte e <strong>de</strong> leite, <strong>da</strong> horticultura e<strong>da</strong> floricultura – que hoje é pratica<strong>da</strong> sob novastécnicas organizacionais (<strong>de</strong> norte a sul) –, respon<strong>de</strong>ndoaté mesmo pelo dinamismo dos polos<strong>de</strong> irrigação no Nor<strong>de</strong>ste. São ilustrações sociaisque, no período contemporâneo, se espalharamem todo o País.Finalmente, a terceira in<strong>da</strong>gação, poucoconheci<strong>da</strong> na literatura, diz respeito a comose <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou a intensificação tecnológicae produtiva que catapultou as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agropecuáriasàs alturas. Não se está referindo aosmecanismos que promoveram a expansão nadéca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, mas àquelas mu<strong>da</strong>nças institucionais,menos conheci<strong>da</strong>s, que durante adéca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 corrigiram parte dos bloqueiosentão existentes, tendo promovido a estabilizaçãomonetária e promovido um esforço <strong>de</strong> re-Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>108
organização do Estado e suas políticas visandoao <strong>de</strong>senvolvimento agrícola. Foi instituído, porexemplo, um novo padrão <strong>de</strong> financiamento <strong>da</strong>agricultura (que contou crescentemente comrecursos privados), além <strong>de</strong> uma nova políticacambial (em 1999), o que tornou os produtos <strong>de</strong>exportação mais competitivos. 9Mas, assim como a expansão produtiva noperíodo pós-68 <strong>de</strong>mandou financiamento externo,também esse segundo momento expansivo<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 contoucom um formidável fator catalizador externoque, <strong>de</strong> fato, fez o processo acelerar e assumirmagnitu<strong>de</strong>s impensáveis. Trata-se do crescimentoespetacular <strong>da</strong>s importações chinesas <strong>de</strong>commodities, entre as quais, <strong>de</strong> soja. De 1996a 2011, a China multiplicou por 400 as importações<strong>da</strong> leguminosa oriun<strong>da</strong> do Brasil, tendoelevado o País à condição <strong>de</strong> segundo maior exportador<strong>de</strong> soja para o país asiático.Reunidos tais fatores (conhecimento tecnológico,um grupo <strong>de</strong> produtores preparados euma nova or<strong>de</strong>m político-institucional), ativadospela ampliação dos mercados externo e interno,o processo mo<strong>de</strong>rnizante se espalhou celerementepelo território, tendo produzido algunsimpactos facilmente verificáveis em um gran<strong>de</strong>número <strong>de</strong> regiões. Pelo menos três <strong>de</strong>sses resultadosse <strong>de</strong>stacam no Brasil rural.Primeiramente, a expansão produtiva recentese baseia em padrões técnicos e organizacionaisque modificam, <strong>de</strong> forma consi<strong>de</strong>rável,tanto os condicionantes quanto a dinâmica <strong>da</strong>sativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agropecuárias. De forma acelera<strong>da</strong>,esses padrões se tornam ca<strong>da</strong> vez mais “naturais”,universalizando uma racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> gerencialque abrange a escolha tecnológica e o usodos recursos, via <strong>de</strong>cisória que é ca<strong>da</strong> vez maisdifundi<strong>da</strong> entre os diversos atores produtivos,públicos e privados. Percebe-se, como resultado,uma níti<strong>da</strong> analogia entre a dinâmica <strong>da</strong>transformação atual no Brasil e a expansão ocorri<strong>da</strong>no pós-guerra, nos Estados Unidos, quandoigualmente enraizou-se uma compreensão tecnológicae organizacional do setor em regiõesque anteriormente eram profun<strong>da</strong>mente diversasno tocante à dinâmica agrícola.Em segundo lugar, esses padrões técnicose organizacionais vão se afirmando em ambientesprofun<strong>da</strong>mente diferenciados, conformandouma visível heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> estrutural, <strong>de</strong>correntee caracteriza<strong>da</strong> por distintas dinâmicas agrícolasque exigiriam uma igualmente diferencia<strong>da</strong>ação governamental – o que ain<strong>da</strong> não ocorreucom inteligibili<strong>da</strong><strong>de</strong> operacional que garanta asua efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. A heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> não <strong>de</strong>correapenas (e nem principalmente) <strong>de</strong> padrões tecnológicossupostamente exclu<strong>de</strong>ntes, mas também<strong>da</strong> combinação <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong>situações e fatores. Estes ain<strong>da</strong> precisam ser estu<strong>da</strong>dospara compreen<strong>de</strong>r por que, por exemplo,o mapa do Mato Grosso, um polo <strong>de</strong> dinamismo<strong>da</strong> produção <strong>de</strong> grãos, está manchado <strong>de</strong>regiões dinâmicas ao lado <strong>de</strong> outras fortementeatrasa<strong>da</strong>s, embora ambas tenham recursos naturaissemelhantes. A heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> se manifestatanto em condicionantes institucionais atuaisquanto em expectativas quanto ao futuro, e emdiversas regiões. Esten<strong>de</strong>-se <strong>da</strong> região amazônica,ca<strong>da</strong> vez mais blin<strong>da</strong><strong>da</strong> normativamente, emvirtu<strong>de</strong> dos imperativos ambientais, ao Nor<strong>de</strong>sterural. No Nor<strong>de</strong>ste rural, a produção vai sendoigualmente engessa<strong>da</strong>, tanto pela fragmentaçãoextrema na posse <strong>da</strong> terra e condições inclementes<strong>de</strong> produção – que ten<strong>de</strong>m a agravar-se comas mu<strong>da</strong>nças climáticas –, quanto pelo potencialesvaziamento <strong>de</strong>mográfico do meio rural emface dos níveis <strong>de</strong> pobreza (em comparação comas oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego urbano). A heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong>é observável até <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um estado<strong>de</strong> ocupação agrícola antiga – em São Paulo, porexemplo, existem polos radicalmente distintos <strong>de</strong>dinamismo, bastando comparar as regiões <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>iasucroenergética com as áreas rurais do Valedo Ribeira (GONÇALVES; GONÇALVES, <strong>2013</strong>),9Ain<strong>da</strong> está para ser <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente analisado, por exemplo, o papel não apenas <strong>da</strong>quelas mu<strong>da</strong>nças cita<strong>da</strong>s, mas também <strong>de</strong> outras, provavelmente <strong>de</strong> igualrelevância. De um lado, por exemplo, está a sequência inicia<strong>da</strong> com a Lei <strong>de</strong> Biossegurança (BRASIL, 1995), a Lei <strong>de</strong> Proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> Industrial (BRASIL, 1996)e a Lei <strong>de</strong> Cultivares (BRASIL, 1997), e <strong>de</strong> outro lado, o conjunto <strong>de</strong> normas aprova<strong>da</strong>s no campo ambiental, culminando com a Lei <strong>de</strong> Crimes Ambientais(BRASIL, 1998).109Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
especialmente a introdução e a segun<strong>da</strong> seção.É urgente uma leitura correta <strong>da</strong>s diferenças regionais,a qual contribua para melhor re<strong>de</strong>finir aspolíticas públicas correspon<strong>de</strong>ntes.Finalmente, o terceiro impacto que ain<strong>da</strong>requer análise está gerando e difundindo transformaçõese tendências já observa<strong>da</strong>s em outrospaíses, entre as quais o papel <strong>de</strong>terminante<strong>da</strong>s ca<strong>de</strong>ias produtivas (ou ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> valor) naconformação produtiva, tecnológica e, especialmente,financeira <strong>da</strong>s regiões rurais. A análise<strong>da</strong>s ca<strong>de</strong>ias produtivas mais sofistica<strong>da</strong>s – e, porisso mesmo, as mais “rígi<strong>da</strong>s” (por exemplo, acana-<strong>de</strong>-açúcar, a suinocultura e a avicultura) –evi<strong>de</strong>ncia caminhos <strong>de</strong> configuração que provavelmenterefletem o futuro <strong>da</strong>s <strong>de</strong>mais ca<strong>de</strong>iasora em formação.Depois <strong>de</strong> tais consi<strong>de</strong>rações iniciais, aspartes seguintes <strong>de</strong>ste artigo introduzem seteteses gerais sobre o atual momento vivido pelo<strong>de</strong>senvolvimento agrário brasileiro, na expectativa<strong>de</strong> serem proposições que possam estimularmais intensamente o <strong>de</strong>bate sobre o estadoatual <strong>da</strong>s regiões rurais e seu <strong>de</strong>senvolvimentofuturo. São proposições especialmente centra<strong>da</strong>sem dimensões tecnológicas e econômicas, poisestas passaram a ser as mais <strong>de</strong>cisivas. Outraspossíveis teses, <strong>de</strong> cunho sociocultural, seriamigualmente relevantes, mas provavelmente secundáriasem relação às primeiras.Primeira tese: uma nova fasedo <strong>de</strong>senvolvimento agrárioA partir do final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990, o <strong>de</strong>senvolvimentoagrícola e agrário passoua experimentar uma nova, inédita e irreversíveldinâmica produtiva e econômicosocialno Brasil – um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro divisor <strong>de</strong>águas em nossa história rural.Trata-se, <strong>de</strong> fato, <strong>de</strong> radical mu<strong>da</strong>nça nopadrão <strong>de</strong> acumulação <strong>da</strong> agricultura. O que teriasido alterado, em relação ao passado? Basicamente,as mu<strong>da</strong>nças dizem respeito às fontes <strong>de</strong>produção <strong>da</strong> riqueza social. Em tempos pretéritos,a principal fonte <strong>de</strong> formação e apropriação<strong>de</strong> riqueza no campo era a terra (especialmenteantes <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980), o que inevitavelmenteatribuía forte centrali<strong>da</strong><strong>de</strong> à sua posse eproprie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Por essa razão, o espaço rural e aagricultura foram <strong>de</strong>terminados pelos mecanismos<strong>de</strong> ocupação <strong>da</strong>s fronteiras em processos<strong>de</strong> acumulação principalmente patrimoniais,baseados na terra e no uso <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra <strong>de</strong>baixíssima remuneração, sem que a produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>jamais tivesse sido o motor principal doprocesso. Já o novo padrão introduz o capital“em to<strong>da</strong>s as suas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s” no centro do<strong>de</strong>senvolvimento agrícola e agrário. Rebaixa opapel <strong>da</strong> terra, pois a produção e as ren<strong>da</strong>s agropecuáriaspassam a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r, crescentemente,dos investimentos em infraestrutura, máquinas,tecnologia e na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> própria terra, além<strong>de</strong> investimentos em recursos ambientais e notreinamento do capital humano. Ca<strong>da</strong> vez mais épreciso capital <strong>de</strong> giro para introduzir no sistemaprodutivo os insumos que viabilizam as inovaçõespara manter-se rentável em ambientes <strong>de</strong>crescente tensionamento concorrencial.Diante <strong>de</strong> tal padrão, multiplicam-se osarranjos produtivos. O arren<strong>da</strong>mento capitalista(que se expan<strong>de</strong>, em especial, em regiões produtoras<strong>de</strong> grãos e <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar) é, talvez,uma <strong>da</strong>s sintomáticas expressões <strong>de</strong>sse novopadrão, pois sugere até mesmo alguma <strong>de</strong>smaterializaçãodo capital, cuja contraparti<strong>da</strong> é acrescente importância dos intangíveis – ou seja,as empresas optam pelo arren<strong>da</strong>mento no intuito<strong>de</strong> preservar sua liqui<strong>de</strong>z e a flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> seus investimentos –, incluindo os ativos quesão objeto <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> intelectual, que sãoca<strong>da</strong> vez mais centrais no processo <strong>de</strong> inovação.A tendência <strong>de</strong> separar a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> terra<strong>de</strong> seu uso implica diversos <strong>de</strong>sdobramentosrelevantes para o futuro <strong>da</strong> agropecuária, entreos quais a exigência <strong>de</strong> disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> capitaise a ampliação dos níveis <strong>de</strong> risco. E temuma consequência óbvia: a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ixou seuamadorismo do passado e, ca<strong>da</strong> vez mais, exigea gestão <strong>de</strong> “profissionais do capital”, o quecontribui não apenas para exacerbar o ambienteconcorrencial, mas também, e em particular,Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>110
para pressionar a vasta maioria dos produtoresrurais <strong>de</strong> menor porte.A dominação triunfal do capital, rebaixandoo peso do fator terra, e o papel central <strong>da</strong>sinovações como os mecanismos principais <strong>de</strong>crescimento <strong>da</strong> produção agropecuária são evi<strong>de</strong>nciadospela evolução <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> total<strong>de</strong> fatores (PTF) – a forma metodológica e empírica<strong>de</strong> oferecer indicadores sobre a crescenteeficiência tecnológica e produtiva <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>(GASQUES, 2010). Estudos recentes, que analisarama evolução agropecuária nas últimas trêsdéca<strong>da</strong>s, provam ser notável o <strong>de</strong>sempenho <strong>da</strong>PTF <strong>da</strong> agricultura brasileira, quando compara<strong>da</strong>às dos <strong>de</strong>mais países agrícolas mais <strong>de</strong>stacados,o que vem criando bases sóli<strong>da</strong>s para o crescimento<strong>de</strong> um padrão realmente sustentável –pois é poupador do recurso terra (FUGLIE et al.,2012).São inúmeras as evidências <strong>da</strong> transformaçãoestrutural opera<strong>da</strong> no período, mas suamanifestação mais iluminadora diz respeitoaos montantes <strong>de</strong> riqueza geral que a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>agropecuária vem produzindo. Tais sinais surgiramvisivelmente a partir <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong><strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990, quando o saldo comercial<strong>de</strong>corrente <strong>da</strong> produção agropecuária começoua aumentar velozmente. Na maior parte <strong>de</strong>ssadéca<strong>da</strong>, o saldo comercial total <strong>da</strong> agropecuáriase manteve em torno <strong>de</strong> 10–12 bilhões <strong>de</strong> dólares,mas no final <strong>da</strong>queles anos o crescimentofoi mais acelerado. Em 2003 verificou-se um salto(20,3 bilhões <strong>de</strong> dólares), e a partir <strong>de</strong> então,as taxas <strong>de</strong> crescimento anuais se tornaram maise mais significativas, até atingirem, em 2011, oespantoso total produzido pela agropecuária <strong>de</strong>77 bilhões <strong>de</strong> dólares, tendo garantido assim umvigoroso saldo positivo <strong>da</strong>s relações comerciaistotais. A principal força motriz para a obtenção<strong>de</strong>sse resultado foi o aperfeiçoamento contínuo<strong>de</strong> um “ambiente <strong>de</strong> inovações”, difundindo-seconhecimentos e novos aparatos técnicos, e estimulando-sea busca incessante <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>– por excelência, o mecanismo empírico <strong>de</strong>produção <strong>de</strong> riqueza.Nesse processo, consoli<strong>da</strong>-se e amplia-seno Brasil um mercado <strong>de</strong> produtos e serviçostecnológicos na agricultura, que opera em umambiente fortemente regulamentado, <strong>de</strong> intensacompetição. Esse mercado, fun<strong>da</strong>do crescentementena <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma ampla classe médiarural, viabiliza a existência <strong>de</strong> opções tecnológicasque respon<strong>de</strong>m às particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais,e que têm assegurado a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos insumos eequipamentos que garantem os ganhos <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>captados pela evolução numérica <strong>da</strong> PTF– para o País como um todo e para os principaissistemas produtivos <strong>de</strong> base regional. Ain<strong>da</strong> assim,as dinâmicas <strong>de</strong> geração e difusão <strong>de</strong> tecnologiasque causam impactos inovadores diferem paraos distintos produtos e regiões, concretizando ascircunstâncias do processo <strong>de</strong> diferenciação, quetanto po<strong>de</strong> atenuar quanto reforçar a heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong>entre produtores e sistemas produtivos.A instituição <strong>de</strong>ssa nova via <strong>de</strong> acumulaçãotem diversas implicações. Sob tal regime <strong>de</strong>acumulação e lógica tecnológica, por exemplo,são inevitáveis os processos <strong>de</strong> especializaçãoprodutiva e aumentos <strong>de</strong> escala <strong>de</strong> produção;a concentração (que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>smedi<strong>da</strong>) <strong>da</strong>riqueza agropecuária; e, como processo maior,a intensificação <strong>da</strong> diferenciação social entreos produtores rurais. Outra implicação merecemenção e <strong>de</strong>veria estimular amplo <strong>de</strong>bate: o padrãoeconômico-financeiro dominante impõeum formato tecnológico igualmente dominante.Ain<strong>da</strong> que o padrão técnico possa operar mu<strong>da</strong>nçasparciais (o que ocorre frequentemente),suas características mais essenciais passam crescentementea <strong>de</strong>terminar a organização produtivados diversos setores <strong>de</strong> produção vegetale animal, assim conformando a hegemonia <strong>da</strong>chama<strong>da</strong> “agricultura mo<strong>de</strong>rna” em praticamenteto<strong>da</strong>s as regiões agrícolas.Da tese <strong>de</strong>corre um corolário <strong>de</strong>cisivopara o futuro <strong>da</strong> agricultura e <strong>da</strong>s regiões rurais.Estruturas e processos econômicos não obe<strong>de</strong>cema um <strong>de</strong>spersonalizado e espontâneo motopróprio. Requerem agentes sociais e instituiçõesnovas. Dessa forma, o novo padrão que estásendo estruturado nas regiões agrícolas institui111Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
<strong>da</strong>s “velhas <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s” dos produtores (produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>,redução <strong>de</strong> custos e maior produção),os inéditos condicionantes reivindicados pornovos atores sociais. Em <strong>de</strong>corrência disso, asrespostas incorporam ca<strong>da</strong> vez mais os imperativossocioambientais, e a agricultura se estruturacrescentemente, não em pacotes, mas em“soluções tecnológicas” portadoras <strong>de</strong>ssa novainstitucionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, viabilizando sistemas produtivosa<strong>de</strong>quados às potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s diversasáreas <strong>da</strong> produção. Sob tal contexto, diante docrescimento explosivo <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> alimentarmundial, seria quimérica, para não dizer absur<strong>da</strong>,a proposta <strong>de</strong> difundir tecnologias chama<strong>da</strong>s“alternativas”, <strong>de</strong> uso local e <strong>de</strong> baixa produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>,sob o pretexto <strong>de</strong> proteção ao ambiente eain<strong>da</strong> ecoando as críticas do passado, que nãocorrespon<strong>de</strong>m mais ao cotidiano <strong>da</strong> agricultura.Em face <strong>de</strong> sua complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>, o <strong>de</strong>batesobre “inovações na agricultura” está exigindomaior abertura analítica e disposição para diálogosplurais. Há atualmente uma íntima ligaçãoentre agricultura e indústria; entre a vi<strong>da</strong> rural ea socie<strong>da</strong><strong>de</strong> como um todo; entre formas <strong>de</strong> produçãoe padrões <strong>de</strong> consumo; e entre estruturastecnológicas e vetores globais, como as mu<strong>da</strong>nçasclimáticas, para não citar a mais antiga <strong>da</strong>srelações, aquela que une a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> produtivaagropecuária e a função <strong>de</strong> alimentação humana.Diante <strong>de</strong>ssa extrema complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>, generalizaçõesrígi<strong>da</strong>s per<strong>de</strong>m seu sentido e significado,sobretudo quando motiva<strong>da</strong>s por enquadramentosi<strong>de</strong>ológicos e primarismos binários (comoagronegócio e agricultura familiar, por exemplo).São inúmeros os exemplos que revelam a urgência<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>bate sem peias e, sobretudo, semdogmas morais e políticos. Por exemplo, a agriculturamo<strong>de</strong>rna não é incompatível com processosprodutivos intensivos em trabalho, e nemrejeita formas organizacionais menos comuns,como as cooperativas basea<strong>da</strong>s na racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>econômica; além disso, um único grupo <strong>de</strong> produtospermite a coexistência <strong>de</strong> formas distintas<strong>de</strong> organização econômica. Mas é inegável queas transformações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> vêm tornando ouso do trabalho na agricultura um problema <strong>de</strong>safiador,pois enfrenta bloqueios <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>sua pouca disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e baixa qualificação.Sinteticamente, o que se percebe é que aquestão <strong>da</strong> inovação tecnológica na agriculturanão é muito diferente, em nossos dias, dos <strong>de</strong>safiosque afetam outros sistemas que combinam intensamenteinteresses privados e bens públicos. Há uma<strong>de</strong>nsa complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> a ser confronta<strong>da</strong> e interpreta<strong>da</strong>,além <strong>de</strong> um número expressivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>sque não po<strong>de</strong>m ser atendi<strong>da</strong>s imediatamente,assim gerando fontes <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontentamento queeventualmente serão manti<strong>da</strong>s por um longo tempo.Sob tal contexto, no Brasil o <strong>de</strong>safio se agravaquando existe um “caso <strong>de</strong> sucesso”, exemplificadopela história <strong>da</strong> Embrapa. A Embrapa foi cria<strong>da</strong>ain<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970 sob uma estratégia <strong>de</strong>ação prática e imediata, não sob uma promessagenérica <strong>de</strong> ser uma “política pública”. Manter seuorçamento, metas <strong>de</strong> crescimento e sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimento intimamente articuladosà complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> esboça<strong>da</strong> acima é umextremo <strong>de</strong>safio interno para essa empresa pública.Mas po<strong>de</strong>rá se tornar uma ameaça <strong>de</strong>struidorase externamente prosperar a aceitação <strong>da</strong> equivoca<strong>da</strong>crítica acerca <strong>da</strong> inviabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> agriculturamo<strong>de</strong>rna (ou sua suposta correlação negativa como meio ambiente). Esse é esforço, sobretudo, político<strong>de</strong> setores críticos que almejam construir um“senso comum”, propondo (ain<strong>da</strong> inexistentes) alternativasao formato tecnológico como um todo. É<strong>de</strong>man<strong>da</strong> que exigiria recursos, institucionalização<strong>de</strong> novos grupos <strong>de</strong> pesquisa e, até mesmo, a improvávelconstrução <strong>de</strong> uma nova ontologia científica,todos objetivos <strong>de</strong> longuíssimo prazo que, see quando forem viáveis e concretizados, comprometerãoprofun<strong>da</strong>mente uma atual trajetória <strong>de</strong> sucesso,como tem sido o caso <strong>da</strong> Embrapa. Manterum posicionamento ambíguo sobre o tema apenasalimentará aquela ameaça, minando a continui<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>da</strong> efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> potencial <strong>da</strong> empresa, sem agarantia <strong>de</strong> que um padrão tecnológico alternativovenha, <strong>de</strong> fato, a nascer algum dia.113Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Terceira tese: o <strong>de</strong>senvolvimentoagrário bifronteA nova fase vem concretizando uma duplaface – <strong>de</strong> um lado, a dinâmica econômicaconcentra a produção ca<strong>da</strong> vez mais, e <strong>de</strong>outro lado, aprofun<strong>da</strong> a diferenciação social,promovendo intensa seletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> entreos produtores rurais. Em nenhum outromomento <strong>da</strong> história agrária os estabelecimentosrurais <strong>de</strong> menor porte econômicoestiveram tão próximos <strong>da</strong> fronteira <strong>da</strong>marginalização.Provavelmente, uma <strong>da</strong>s conclusões estatísticas<strong>de</strong> maior relevância na história agráriabrasileira recente tenha sido aquela <strong>de</strong>corrente<strong>da</strong> pesquisa <strong>de</strong> Alves e Rocha (2010), com basenos resultados apurados pelo Censo 2006. Emsíntese, os autores agrupam os produtores emtrês categorias, <strong>de</strong> acordo com os resultados produtivosmensurados em valores brutos <strong>da</strong> produção(VBP) e, posteriormente, transformadosem valores <strong>de</strong> salários mínimos. 10 Surgem assim,grosso modo, três estratos sociais hierarquizadospelos ganhos gerados pela ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> agropecuária.Quando separados os estratos por seu númerototal e a ren<strong>da</strong> bruta medi<strong>da</strong> em saláriosmínimos médios mensais, a fotografia <strong>da</strong> situaçãovigente é pelo menos assustadora. O grau <strong>de</strong>concentração dos resultados produtivos, medidospelo VBP, é tão elevado que parece ter sidoum equívoco do Censo. A <strong>de</strong>corrência é imediata:a imensa maioria dos estabelecimentos rurais(2/3 do total <strong>de</strong> estabelecimentos), que alcançaquase 3 milhões <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, se apropria <strong>de</strong> magros3,3% do total <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> bruta. Causa ain<strong>da</strong>maior perplexi<strong>da</strong><strong>de</strong> a conclusão <strong>da</strong>quele estudoquando separou o estrato dos estabelecimentosmais ricos e concluiu que menos <strong>de</strong> 30 mil estabelecimentosrurais (0,62% do total geral) foramresponsáveis pela meta<strong>de</strong> do valor <strong>da</strong> produçãototal (ALVES; ROCHA, 2010).As implicações sociais e econômicas sãoimensas e, provavelmente, nem os númerosnem as consequências gerais foram <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>menteanalisados pelos responsáveis pelas políticaspúblicas, os quais argumentam repeti<strong>da</strong>menteque “70% <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> alimentos no Brasilorigina-se <strong>da</strong> agricultura familiar”. Tal afirmaçãoper<strong>de</strong> completamente o seu significado diante<strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> produção, revela<strong>da</strong> por umasimples e direta tabulação dos <strong>da</strong>dos do Censo;assim, colabora para manter uma política agráriaque não contribui para modificar o processoacelerado <strong>de</strong> inviabilização competitiva <strong>de</strong> umgran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> estabelecimentos que po<strong>de</strong>riamser economicamente viáveis, caso fossemsubmetidos a estímulos e apoios consistentescom as mu<strong>da</strong>nças estruturais indica<strong>da</strong>s acima.Não obstante serem históricas a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>social e a concentração <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>e <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>, os <strong>da</strong>dos censitários recentes,sistematizados no estudo citado, sugerem oaprofun<strong>da</strong>mento <strong>de</strong> um processo “bifronte” <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento agrário, o qual vai alargandoas disposições sociais (e possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s futuras)entre os grupos extremos. De um lado, estáum grupo muito reduzido <strong>de</strong> produtores extremamentepreparado para extrair o máximo <strong>da</strong>senormes oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s que vêm sendo abertaspara a ampliação <strong>de</strong> suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s; e <strong>de</strong> outro,a vasta maioria dos produtores <strong>de</strong> menorren<strong>da</strong>, os quais vão sendo empurrados contra apare<strong>de</strong>, em um ambiente concorrencial que seacirra diuturnamente. 11 É polarização que – agoraacentua<strong>da</strong> mais – questiona fortemente a viabili<strong>da</strong><strong>de</strong>econômica <strong>de</strong> pelo menos três milhões<strong>de</strong> estabelecimentos rurais, os quais, <strong>de</strong> acordocom o Censo analisado, conseguiram, naqueleano, auferir no máximo o equivalente a meio saláriomínimo – e por estabelecimento, não pormembro <strong>da</strong> família. É processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoque tornará “redun<strong>da</strong>ntes” (rapi<strong>da</strong>mente)a vasta maioria dos estabelecimentos rurais, <strong>de</strong>tamanho pequeno e até médio. Examinados os10Insista-se que a concentração aponta<strong>da</strong> nesse estudo é a do “valor bruto <strong>da</strong> produção”, não a concentração <strong>da</strong> terra. Esta última já indicava um dos mais altosíndices <strong>de</strong> concentração mundiais antes mesmo do processo expansivo iniciado no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960. Nos últimos 50 anos, a concentração <strong>da</strong> terrapraticamente não se alterou, nem mesmo com os aproximados 80 milhões <strong>de</strong> hectares distribuídos pela política <strong>de</strong> reforma agrária (HOFFMANN; NEY, 2010).11Sob tal contexto, a metáfora clássica do “treadmill” vem se tornando a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> crua do <strong>de</strong>senvolvimento agrário brasileiro (COCHRANE, 1958).Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>114
<strong>da</strong>dos agregados no artigo referido, seria possívelconcluir, por exemplo, sob uma situação hipotética<strong>de</strong> extrema lineari<strong>da</strong><strong>de</strong> proporcional, quepouco mais <strong>de</strong> 1% dos produtores (55 mil estabelecimentosrurais) po<strong>de</strong>riam respon<strong>de</strong>r porto<strong>da</strong> a produção agropecuária, inclusive aquelaparte <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> à exportação, <strong>de</strong>ixando sem respostaa pergunta sobre o futuro e o lugar social(e econômico) dos <strong>de</strong>mais produtores. Se concretiza<strong>da</strong>,ain<strong>da</strong> que em parte, essa suposiçãoespeculativa, o futuro <strong>da</strong>s regiões rurais será apenaso seu vazio <strong>de</strong>mográfico.Quarta tese: a história não terminou,mas o passado vai se apagandoO último meio século <strong>de</strong>smentiu diversasantevisões: <strong>da</strong> exacerbação <strong>da</strong> questãoagrária, simboliza<strong>da</strong> nas disputas pela terra,às supostas tendências <strong>da</strong> concentração<strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> fundiária e, mais ain<strong>da</strong>, asteses sobre “campesinatos”. Desaparecemassim alguns temas do passado, entre osquais a reforma agrária.É preciso reconhecer que nos últimos 50anos diversos ingredientes <strong>da</strong> “questão agrária”foram vencidos pelas vicissitu<strong>de</strong>s <strong>da</strong>s transformaçõesrurais (ou as mu<strong>da</strong>nças mais gerais <strong>da</strong>socie<strong>da</strong><strong>de</strong>). É impossível discutir aqui a enormeriqueza <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes sobre o tema. E existemcuriosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s inexplicáveis: na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1950,por exemplo, quando se <strong>de</strong>u o alvorecer <strong>de</strong>sse<strong>de</strong>bate, algumas correntes propugnavam pelareforma agrária para permitir o <strong>de</strong>senvolvimentocapitalista, mas exatamente naquela época seobservou um primeiro e vigoroso ciclo <strong>de</strong> acumulação,com a emergência <strong>da</strong> industrializaçãopesa<strong>da</strong>. Meio século <strong>de</strong>pois, também inexplicavelmente,ain<strong>da</strong> se mantém uma autarquia comvolumoso orçamento <strong>de</strong>stinado à política redistributiva<strong>de</strong> terras – quando não é significativauma <strong>de</strong>man<strong>da</strong> social que reclame tal política.No tocante à reforma agrária, uma síntesedos <strong>de</strong>bates englobaria as diversas proposiçõesem quatro gran<strong>de</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para a sua implantação,a saber: ampliar o mercado doméstico,elevar a produção <strong>de</strong> alimentos e <strong>de</strong> divisas,distribuir ren<strong>da</strong> e, por fim, avaliar a questão socialno campo, especialmente o tema <strong>da</strong> pobrezarural. Inicialmente, esses foram os focos privilegiadospelos diversos autores. Enquanto algunsfalaram em transformar a “economia natural”vigente no campo, outros propuseram <strong>de</strong>struir o“complexo rural”, para não se esten<strong>de</strong>r nos <strong>de</strong>batessituados no campo <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong> – o famoso<strong>de</strong>bate sobre “feu<strong>da</strong>lismo versus capitalismo”.Economistas mais realistas, incluindo,entre outros, Celso Furtado, Antônio Barros <strong>de</strong>Castro e Maria <strong>da</strong> Conceição Tavares, se preocuparam,particularmente, com as chances <strong>de</strong> expansãocapitalista, em face do atraso produtivo<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agropecuárias. Também analisaramas implicações <strong>de</strong> uma estrutura <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>da</strong> terra concentra<strong>da</strong> e as repercussões <strong>da</strong>ausência <strong>da</strong> reforma agrária na configuração <strong>de</strong>uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que estava então emergindo –do exce<strong>de</strong>nte populacional que migrava e empurravapara baixo os salários urbanos (Furtado)ao argumento <strong>de</strong> Tavares sobre as facetas <strong>da</strong>expansão capitalista no País. Segundo esta economista,o atraso no campo e a concentraçãofundiária não impediram o vigoroso padrão <strong>de</strong>acumulação <strong>de</strong> capital observado, mas reforçarama concentração <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> e a estruturação <strong>de</strong>uma indústria <strong>de</strong> bens duráveis que reproduziaos padrões <strong>de</strong> consumo dos países mais avançados.Esse <strong>de</strong>bate foi abafado durante os anos doautoritarismo, mas ressurgiu na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980.E houve uma reviravolta, pois um ponto <strong>de</strong> inflexãofoi o argumento <strong>de</strong> Graziano <strong>da</strong> Silva, em1986. A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reforma agrária passoua ter apenas uma justificativa social, meramentepreten<strong>de</strong>ndo “aju<strong>da</strong>r os mais pobres” do campo,oferecendo-lhes uma parcela <strong>de</strong> terra e um conjunto<strong>de</strong> políticas sociais (SILVA, 1987).A evolução <strong>da</strong> agricultura, <strong>da</strong>s regiões ruraise <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> vem sepultando <strong>de</strong>finitivamentea questão agrária, pelo menos nos termospropostos no passado. Os níveis <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> agropecuária<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> produtores <strong>de</strong> menorporte não têm nenhuma significação para sustentaro “dinamismo do mercado interno”, assim115Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
como a emergente sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong> é que <strong>de</strong>termina,<strong>de</strong> fato, os padrões migratórios – não maisos fatores <strong>de</strong> expulsão discutidos naquela literatura.A capilari<strong>da</strong><strong>de</strong> atualmente existente, tantoem relação aos meios <strong>de</strong> transporte, quanto aosmeios <strong>de</strong> comunicação, assegura essa inversãohistórica em relação aos movimentos espaciais<strong>da</strong> população rural. A reforma agrária tambémnão se relaciona mais com a oferta <strong>de</strong> alimentose <strong>de</strong> matérias-primas <strong>de</strong> origem agropecuária.Diferentemente do passado, a incorporação<strong>de</strong> novas terras explica pouco do crescimento<strong>da</strong> produção, e o dinamismo <strong>da</strong> agropecuária<strong>de</strong>corre principalmente <strong>de</strong> investimentos e <strong>da</strong>intensificação tecnológica. Estudos recentes <strong>de</strong>monstramque entre os censos <strong>de</strong> 1995–1996 e o<strong>de</strong> 2006, os pesos <strong>da</strong> terra e do trabalho para explicara produção total caíram, respectivamente,<strong>de</strong> 18,1% para apenas 9,6%, e <strong>de</strong> 31,3% para22,3%. Mas o fator tecnologia disparou: antesexplicava 50,6% <strong>da</strong> produção, e em 2006, respondiapor 68,1% (ALVES et al., 2012).Em <strong>de</strong>corrência, uma imediata conclusãose impõe. O tema <strong>da</strong> reforma agrária, concretamente,per<strong>de</strong>u sua relevância, e a insistência (ecorrespon<strong>de</strong>nte alocação <strong>de</strong> recursos) em açõesestatais nesse campo não encontra nenhumajustificativa razoável. Ignorando-se outros aspectosjá também vencidos, sequer cabe menção acerta literatura que propõe uma discussão sobre“campesinatos”, os quais seriam outra via possível<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento agrário. É argumento tãoestapafúrdio que não merece comentário.Quinta tese: o Estado – <strong>da</strong>mo<strong>de</strong>rnização às novas tarefasDurante o período inicial <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização,esgotou-se um conjunto <strong>de</strong> “primeirastarefas” <strong>de</strong> transformações rurais induzi<strong>da</strong>spelo Estado, combinando crédito rural,pesquisa agrícola e serviços <strong>de</strong> ATERestatais. Nessa fase diversos agentes privadospassaram a se <strong>de</strong>dicar à produção <strong>de</strong>pesquisa e a difundir inovações, além <strong>de</strong>disputar o bolo <strong>da</strong> riqueza. Paralelamente,o Estado foi “saindo à francesa”, o que écomprovado pelos gastos públicos na agricultura.Abre-se assim uma nova fase, naqual os agentes privados serão os principaisatores do <strong>de</strong>senvolvimento.Essa é uma tese crucial, pois diz respeitoao Estado e suas políticas dirigi<strong>da</strong>s ao <strong>de</strong>senvolvimento<strong>da</strong>s regiões rurais. Consi<strong>de</strong>ra-se que oEstado tem lido incorretamente os diversos sinais<strong>da</strong>s transformações em curso, o que tem resultadoem iniciativas erráticas, usualmente resultantes<strong>da</strong> confusão <strong>de</strong> racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>s: <strong>de</strong> um lado,refletindo a persistência <strong>de</strong> políticas her<strong>da</strong><strong>da</strong>s doprojeto <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização iniciado na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong>1960, e <strong>de</strong> outro lado, introduzindo novas visõese instrumentos <strong>de</strong> regulação por meio <strong>de</strong> mercados.Esses últimos respon<strong>de</strong>m às novas reali<strong>da</strong><strong>de</strong>sagrárias e produtivas do período recente. Atese sustenta que o papel do Estado mudou (ou<strong>de</strong>veria mu<strong>da</strong>r), seja porque sua ação já não étão necessária, seja porque os <strong>de</strong>safios atuais sãomuito mais complexos e transcen<strong>de</strong>m as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>sdo Estado. Ain<strong>da</strong> além: muitas soluçõesnão serão mais estatais e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rão <strong>da</strong> mobilização<strong>de</strong> agentes privados.Uma ilustração reveladora <strong>de</strong>ssas mu<strong>da</strong>nçasé o financiamento <strong>da</strong> agropecuária. Com asreformas institucionais opera<strong>da</strong>s na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong>1990, as transferências <strong>de</strong> fundos públicos emcondições especiais foram drasticamente reduzi<strong>da</strong>s,conforme a Tabela 1, abaixo. Mencionava-seentão que a agricultura não resistiria aoscortes do crédito estatal pesa<strong>da</strong>mente subsidiadoque vigorou até o início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990,o que não se confirmou. Pelo contrário, nos anosmais recentes, o financiamento <strong>da</strong> agropecuáriavem crescendo vigorosamente, sem a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> aportes diretos do Tesouro Nacional. Essaexpansão, só possível em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> mobilizaçãodos agentes privados, não apenas viabilizou aexplosão <strong>da</strong> produção, mas também contribuiupara a rápi<strong>da</strong> difusão, em certas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e emregiões agrícolas específicas, do novo padrão<strong>de</strong> organização produtiva e <strong>de</strong> acumulação. Emconsequência, os agentes privados integrantes<strong>da</strong>s ca<strong>de</strong>ias produtivas passaram a <strong>de</strong>sempenharAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>116
Tabela 1. Participação dos fundos do Tesouro Nacional (TN) em relação ao financiamento total <strong>da</strong> agricultura,<strong>de</strong> 1985 a 2011 (incluindo Banco do Brasil e <strong>de</strong>mais fontes).1985 1990 1995 2000 2005 2010 2011% dos fundos do TN diretamente<strong>de</strong>stinados ao financiamento rural64,0 26,7 19,7 0,02 2,2 0,2 0,1Fonte: Brasil (<strong>2013</strong>).papéis tradicionais do Estado, não apenas no tocanteao financiamento, mas também à provisão<strong>de</strong> insumos tecnológicos, assistência técnica, comercializaçãoe gestão <strong>de</strong> risco.Deve-se <strong>de</strong>stacar que a retira<strong>da</strong> do sistema<strong>de</strong> crédito subsidiado, amparado na conta movimentodo Banco do Brasil, em vez <strong>de</strong> enfraquecera agricultura, gerou uma inédita dinâmica<strong>de</strong> integração crédito-inovação que estimuloua remo<strong>de</strong>lação dos sistemas produtivos, tendogerado novas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s, comoinvestimentos em infraestrutura <strong>de</strong> produção,logística <strong>de</strong> transporte e armazenamento, e serviçostecnológicos. Foram mu<strong>da</strong>nças mais relevantespara impulsionar a produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> geral<strong>da</strong> agricultura do que o crédito <strong>de</strong> custeio, e aausência <strong>de</strong> inovações é atualmente uma <strong>da</strong>sameaças principais à competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do setor.Estranhamente, a <strong>de</strong>man<strong>da</strong> por crédito subsidiadoain<strong>da</strong> surge nas pautas <strong>de</strong> reivindicações <strong>de</strong>organizações <strong>de</strong> produtores, sugerindo ser mais<strong>de</strong>man<strong>da</strong> política, apoia<strong>da</strong> por governantes, doque propriamente uma necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> que po<strong>de</strong>ria,<strong>de</strong> fato, incentivar o crescimento <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>.A “fuga do Estado” é também comprova<strong>da</strong>pela que<strong>da</strong> <strong>da</strong> participação dos gastos públicostotais com agricultura, agregados em duasgran<strong>de</strong>s contas no Orçamento <strong>da</strong> União, aschama<strong>da</strong>s funções “agricultura” e “organizaçãoagrária”. 12 Ain<strong>da</strong> que sejam alocações crescentesem termos absolutos, a participação relativa caiusubstancialmente, o que revela uma mu<strong>da</strong>nça<strong>de</strong> priorização por parte <strong>da</strong>s elites políticas (noExecutivo e no Congresso Nacional) no que dizrespeito ao tema “agricultura”. No entanto, comoesse afastamento <strong>de</strong> “velhas funções” do Estadonão vem sendo substituído por ações inovadorasconvergentes com a nova fase em an<strong>da</strong>mento,diversas tendências problemáticas estão em maturação,como já antes apontado. O próprio dinamismoprodutivo se vê hoje ameaçado pelasconheci<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ficiências sistêmicas, institucionaise regulatórias – <strong>da</strong> infraestrutura logística às incertezase in<strong>de</strong>finições regulatórias –, sobre asquais o Estado <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>sempenhar papel coor<strong>de</strong>nadore indutor <strong>de</strong> processos consistentescom os objetivos do <strong>de</strong>senvolvimento rural.Apesar <strong>da</strong> cita<strong>da</strong> per<strong>da</strong> relativa <strong>de</strong> importânciaorçamentária, o número <strong>de</strong> políticase ações <strong>de</strong> diversos ministérios e suas agênciasnão para <strong>de</strong> crescer. Mas são, na maioria, iniciativasfragmenta<strong>da</strong>s, improvisa<strong>da</strong>s e sem nítidosobjetivos estratégicos. É situação que parececonfirmar a hipótese acerca do “autismo” doEstado em relação às mu<strong>da</strong>nças estruturais <strong>da</strong>súltimas déca<strong>da</strong>s. Suscita, portanto, a pergunta:o que realmente quer o Estado do mundo ruralbrasileiro? Se os interesses rurais no âmbito<strong>da</strong>s instituições políticas <strong>de</strong>cisórias permitiram a“fuga do Estado” no período, sem contraparti<strong>da</strong>s<strong>de</strong> aportes em áreas estratégicas, é inescapávelconcluir que tais instituições políticas são setoresque também parecem <strong>de</strong>sconhecer as tendênciasdo <strong>de</strong>senvolvimento agrário no Brasil.A Tabela 2 <strong>de</strong>screve o gasto público totaldo Orçamento <strong>da</strong> União <strong>de</strong>stinado às funçõesrurais.12São os gastos públicos gerais <strong>de</strong>stinados às regiões rurais. A função “agricultura” inclui gastos com as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s produtivas, mas não apenas aquelas relativasao financiamento, pois inclui igualmente os gastos em serviços <strong>de</strong> apoio e infraestrutura. A função “organização agrária” inclui os gastos com o programa<strong>de</strong> redistribuição <strong>de</strong> terras, investimentos em assentamentos rurais, entre outras iniciativas governamentais.117Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Tabela 2. Gasto público total do Orçamento <strong>da</strong> União <strong>de</strong>stinado às “funções rurais”, incluindo o crédito rural,como proporções do total do orçamento.1980 1987 1990 1995 2000 2010% do orçamento <strong>de</strong>stinado às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s rurais 7,5 11,9 1,9 5,3 1,9 1,2Fonte: Brasil (<strong>2013</strong>).Sexta tese: a ativação <strong>de</strong>uma relação perversaMesmo nas regiões rurais que prosperaramem virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguma “dinâmica agrícola”,acaba prevalecendo uma tendênciaperversa em relação aos estabelecimentosrurais <strong>de</strong> menor porte econômico, ain<strong>da</strong>que apenas por duas razões. Primeiramente,os filhos migram para não mais voltar,pois existe um custo <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> muitoelevado. E, segundo, porque a oferta <strong>de</strong>trabalho contratado também se reduz, peloabandono do campo, o que eleva os saláriosrurais.A história agrária dos países do capitalismoavançado apresenta algumas similari<strong>da</strong><strong>de</strong>s e,entre essas, duas são salientes. Primeiramente, aativi<strong>da</strong><strong>de</strong> agrícola, comparativamente às <strong>de</strong>maisalternativas econômicas, com o tempo se mostroumenos rentável, o que gradualmente afastouos <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> capital no campo. Naqueles países,historicamente observou-se um processo <strong>de</strong>“<strong>de</strong>saburguesamento” <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica“agricultura” e, ao mesmo tempo, um processo <strong>de</strong>ocupação por uma classe média rural, intitula<strong>da</strong>genericamente <strong>de</strong> agricultores familiares. São paísesque observaram, na gênese <strong>de</strong> tais processos,uma fuga <strong>de</strong> capitais para outros setores econômicos,abrindo as chances para a consoli<strong>da</strong>ção<strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> produtores <strong>de</strong> menor porte como oprincipal esteio <strong>da</strong> economia agrícola.Em segundo lugar, as nações <strong>da</strong>quele grupo,praticamente sem exceções, implantaram diversasformas <strong>de</strong> ação governamental <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>sa proteger o conjunto <strong>de</strong> pequenos produtoresque foi se tornando majoritário no campo, sobretudopara garantir a oferta barata <strong>de</strong> alimentos(o que <strong>de</strong>pois seria intitulado <strong>de</strong> “segurançaalimentar”). Assim, o conjunto <strong>da</strong> “pequena produçãorural”, naqueles países, conta com aproteção do Estado, muitas vezes até mesmogarantindo a ren<strong>da</strong> líqui<strong>da</strong> <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em síntese,são processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento agráriocom inúmeras especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s, mas quase todoscom uma classe média rural que se tornou dominantena ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. E protegi<strong>da</strong> por uma amplagama <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> ação governamental.O Brasil vem seguindo uma trajetóriaagrícola e agrária muito distinta <strong>da</strong>quela <strong>de</strong>ssespaíses mencionados, com insuficiente (e equivoca<strong>da</strong>)ação governamental, o que vem animandoprocessos <strong>de</strong> transformação social que, mesmonos casos mais virtuosos e promissores, acabamsendo socialmente perversos. Como no enunciado<strong>da</strong> tese, ain<strong>da</strong> que as regiões rurais prosperem,em seus indicadores mais gerais, criandoriqueza e oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s mais amplamente, nãosão frea<strong>da</strong>s as varia<strong>da</strong>s formas <strong>de</strong> marginalizaçãosocial dos pequenos produtores. São processosque encontram pouca compreensão <strong>da</strong> políticapública, e nenhum “escudo protetor” tem sidoerigido a favor <strong>da</strong>s famílias rurais moradoras dospequenos estabelecimentos. Um caso iluminadore ilustrativo é o ocorrido no oeste catarinense,analisado por Miele e Miran<strong>da</strong> (<strong>2013</strong>), em artigoemblemático acerca <strong>da</strong>s tendências do <strong>de</strong>senvolvimentoagrário brasileiro. Trata-se <strong>de</strong> região<strong>de</strong> extraordinária dinâmica agrícola submeti<strong>da</strong> aca<strong>de</strong>ias produtivas sofistica<strong>da</strong>s, responsáveis porprodutos <strong>de</strong> alta rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>no mercado mundial (avicultura e suinocultura).No caso específico <strong>da</strong> suinocultura, enquantoa produção cresceu 197% durante duasdéca<strong>da</strong>s (1985–2006), o número <strong>de</strong> produtoresintegrados (com rebanhos acima <strong>de</strong> 20 cabeças)foi reduzido a 36% do total original no mesmoAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>118
período, mostrando uma tendência irrefreável <strong>de</strong>seletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> social, contra a qual nenhuma ação(pública ou priva<strong>da</strong>) foi capaz <strong>de</strong> opor-se no períodoanalisado (MIELE; MIRANDA, <strong>2013</strong>). Conformeo citado estudo <strong>de</strong>monstra cabalmente, aprópria “prosperi<strong>da</strong><strong>de</strong> geral” <strong>da</strong> região, ao oferecermais chances (<strong>de</strong> estudo, <strong>de</strong> trabalho ou outrasformas <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>, por meio <strong>da</strong> pluriativi<strong>da</strong><strong>de</strong>)para os filhos dos pequenos produtores, tambémcontribuiu, ain<strong>da</strong> mais acelera<strong>da</strong>mente, para oencurralamento produtivo <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao reduzirfortemente a força <strong>de</strong> trabalho disponívelnos estabelecimentos. Contribuiu, também, parao seu enfraquecimento, pelo aumento <strong>da</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>média dos responsáveis.No Nor<strong>de</strong>ste rural se observa um processo<strong>de</strong> esvaziamento associado, <strong>de</strong> um lado, à inviabili<strong>da</strong><strong>de</strong>econômica do minifúndio e às profun<strong>da</strong>sdispari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> entre osmeios rural e urbano; e, <strong>de</strong> outro, às novas oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> trabalho no meio urbano e regionale às expectativas e <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s pela vi<strong>da</strong> urbana,cria<strong>da</strong>s pela reconfiguração <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> ruralmenciona<strong>da</strong> anteriormente. Com o tempo, aconvergência <strong>de</strong> tais tendências (<strong>de</strong>mográficas,sociais, tecnológicas e econômicas) apenas contribuiupara tornar rígi<strong>da</strong> e perversa a relaçãoinversa entre “prosperi<strong>da</strong><strong>de</strong> geral” e as chances<strong>de</strong> permanência dos pequenos produtores naativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. 13Sétima tese: rumo à via argentina<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoJamais ocorreu no Brasil uma política <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento rural. Inexistindo talação governamental, o <strong>de</strong>senvolvimentoagrário brasileiro vai impondo uma “viaargentina”: o esvaziamento <strong>de</strong>mográficodo campo, o predomínio <strong>da</strong> agricultura <strong>de</strong>larga escala, a alta eficiência produtiva etecnológica, e o posicionamento, no casobrasileiro, como o maior produtor mundial<strong>de</strong> alimentos.Atualmente é observado no Brasil um contextorelativamente bizarro, quando se examinamo <strong>de</strong>senvolvimento agrário, suas interpretações eas ações governamentais. A mo<strong>de</strong>rnização capitalista<strong>da</strong> agricultura brasileira inspirou-se nomo<strong>de</strong>lo norte-americano do pós-guerra, masparte importante dos pesquisadores (especialmenteos sociólogos) examina principalmente ocaso europeu para contrapor ao caso brasileiro.Já as políticas públicas, no geral, ignoram amaior parte dos <strong>de</strong>bates dos pesquisadores e sãoimplanta<strong>da</strong>s com base em um relativamente altograu <strong>de</strong> improvisação.Enquanto isso, a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vai se impondo,mas seguindo rumo bem diverso <strong>da</strong>s prováveisintenções originais <strong>de</strong> seus interpretadores principais.Provavelmente, em prazo não muito distante,vingará no País outro mo<strong>de</strong>lo, similar ao<strong>da</strong> história agrária <strong>da</strong> Argentina, um país que <strong>de</strong>senvolveucom algum êxito <strong>de</strong>terminados setoresprodutivos agropecuários, mas observou simultaneamenteo drástico esvaziamento <strong>de</strong>mográfico<strong>de</strong> suas regiões rurais. O caso brasileiro, em termosprodutivos, experimenta um sucesso muitomais significativo, mas atravessa, por enquanto,uma transição <strong>de</strong>mográfica, a qual po<strong>de</strong>rá ounão repetir a experiência argentina, no tocante àsdimensões <strong>de</strong> sua população rural. Manti<strong>da</strong>s astendências econômicas atuais, aquele padrão dopaís vizinho provavelmente se repetirá em prazomédio em muitas regiões do Brasil rural. A únicapossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se evitar a plena consoli<strong>da</strong>ção <strong>de</strong>uma “via argentina” <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento agrárioé instituir, pela primeira vez, uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira política<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural, resultante <strong>de</strong> umamplo e plural processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates sobre as reali<strong>da</strong><strong>de</strong>sagrárias, e capaz <strong>de</strong> confrontar-se coma atual “mitologia” sobre as regiões rurais que amuitos encanta. É preciso afirmar incisivamenteque a ação governamental <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> ao campo13Sobre o Nor<strong>de</strong>ste, examine-se o <strong>de</strong>talhado estudo <strong>de</strong> Buanain e Garcia (<strong>2013</strong>), o qual analisou o <strong>de</strong>stino dos estabelecimentos rurais <strong>de</strong> reduzido tamanhono Nor<strong>de</strong>ste rural. Nesse caso, a generaliza<strong>da</strong> pobreza rural, associa<strong>da</strong> às oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho, seja na própria região, seja em outros estados, coma facilitação <strong>de</strong> menores riscos do processo migratório (sobretudo em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> menores “custos <strong>de</strong> transação”), tem igualmente indicado o esvaziamento<strong>de</strong>mográfico <strong>da</strong>queles estabelecimentos.119Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
asileiro é atualmente ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> do ponto <strong>de</strong>vista social e em relação às principais facetas do<strong>de</strong>senvolvimento agrário. Urge, portanto, obteruma resposta <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> à pergunta: queremosum pujante país agrícola, o maior produtor <strong>de</strong> alimentosdo mundo, assentado em uma agricultura<strong>de</strong> bases tecnologicamente mo<strong>de</strong>rnas, mas sendoesta opera<strong>da</strong> quase exclusivamente em uni<strong>da</strong><strong>de</strong>sprodutivas <strong>de</strong> larga escala? Ou o melhor objetivonacional seria obter o mesmo resultado econômico-produtivo,porém, também integrando parcelasignificativa dos produtores médios e <strong>de</strong> menorporte econômico ao mesmo processo <strong>de</strong> transformação?Se a segun<strong>da</strong> resposta for a seleciona<strong>da</strong>pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, então a ação governamentalprecisa ser modifica<strong>da</strong>, provavelmente <strong>de</strong> formaradical – e com urgência. 14ConclusõesEste artigo recolhe a experiência, relativamentelonga, <strong>de</strong> quatro pesquisadores do “mundorural brasileiro” e propõe sete teses sobre o<strong>de</strong>senvolvimento recente <strong>da</strong> agropecuária, tambémcomentando sobre aspectos sociais <strong>da</strong>s regiõesrurais do País. São proposições que têm,em especial, um inquestionável lastro empíricopara sustentá-las como argumentos gerais quemereceriam a atenção dos responsáveis e tomadores<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão sobre os rumos <strong>de</strong> uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>econômica que, <strong>de</strong> fato, vem “salvando” aeconomia brasileira <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a gran<strong>de</strong> crise econômicado início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980.Confirma<strong>da</strong>s <strong>de</strong>finitivamente as teses propostas,inúmeras consequências po<strong>de</strong>rão serantevistas. Entre as diversas leituras possíveis,diretas e indiretas, que o conjunto <strong>de</strong> teses arrola<strong>da</strong>spermite inferir, a mensagem principal <strong>de</strong>steartigo preten<strong>de</strong>u apontar dois gran<strong>de</strong>s focosrelacionados ao <strong>de</strong>senvolvimento agrário brasileiro.Ambos clamam por um urgente <strong>de</strong>batenacional entre os interessados. Primeiramente,salienta-se a natureza equivoca<strong>da</strong> <strong>da</strong> ação governamental,em suas facetas mais gerais – ouseja, ocasionalmente po<strong>de</strong> estar acertando novarejo, mas está largamente incorreta no atacado,pois não percebe com niti<strong>de</strong>z a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>irarevolução econômica e social em an<strong>da</strong>mento nocampo brasileiro. Sob tal percepção equivoca<strong>da</strong>,suas políticas e projetos precisariam sofrer radicalmu<strong>da</strong>nça operacional. Em segundo lugar, eem <strong>de</strong>corrência do relativo imobilismo governamental,o artigo preten<strong>de</strong>u indicar, com ênfase einsistência, em diversas partes, que a maior partedos estabelecimentos rurais – aqueles <strong>de</strong> menorporte econômico – encontra-se em crescenteencurralamento. São produtores que vão sendo<strong>de</strong>ixados para trás em um ambiente produtivo etecnológico cujo acirramento concorrencial vemsendo acelerado rapi<strong>da</strong>mente, na nova fase queora experimenta a agropecuária brasileira.O <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> setores <strong>da</strong> agropecuáriabrasileira, nos últimos 30 anos, apesar <strong>da</strong>sinúmeras políticas erráticas, tem conseguido semanter com <strong>de</strong>senvoltura econômica e produtiva– e, mais ain<strong>da</strong>, tem observado espetacularcrescimento <strong>de</strong> sua eficiência econômica, elevandocom brilhantismo sua produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> total.Vem, assim, correspon<strong>de</strong>ndo mais do que satisfatoriamenteao que Barros, no livro inicialmentecitado, intitulou <strong>de</strong> “funções <strong>da</strong> agricultura”, e setornando um <strong>de</strong>stacado espaço <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>riqueza social. Mas vem também encontrandocrescentes <strong>de</strong>safios e encruzilha<strong>da</strong>s a serem ultrapassados,para manter seu papel social e econômico.Espera-se que o conjunto <strong>de</strong> teses aquisubmetido ao <strong>de</strong>bate possa contribuir para umafértil e plural discussão, a qual aponte rumosmais robustos para a história agrária brasileira.ReferênciasALVES, E.; ROCHA, D. P. Ganhar tempo é possível? In:GASQUES J. G.; VIEIRA FILHO, J. E. R.; NAVARRO, Z.14Em algumas regiões brasileiras, a urbanização já é maior do que aquela do país vizinho. A comparação com a história rural argentina <strong>de</strong>stina-se mais aindicar a real possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> serem <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s duas gran<strong>de</strong>s alterações espaciais, ambas certamente in<strong>de</strong>sejáveis para o Brasil: o forte esvaziamento docampo e a concentração populacional massiva em algumas regiões metropolitanas. Ain<strong>da</strong> existe um tempo histórico que permitiria a maior <strong>de</strong>scentralizaçãoeconômica e espacial, mas está se esgotando, e a tendência indica<strong>da</strong> nesta tese parece ser irrefreável.Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>120
(Org.). A agricultura brasileira: <strong>de</strong>sempenho, <strong>de</strong>safios,perspectivas. Brasília, DF: IPEA, 2010. p. 275-290.ALVES, E.; SOUZA, G. <strong>da</strong> S. e.; GOMES, E. G.;MAGALHÃES, E.; ROCHA, D. <strong>de</strong> P. Um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>produção para a agricultura brasileira e a importância<strong>da</strong> pesquisa <strong>da</strong> Embrapa. <strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Política</strong> <strong>Agrícola</strong>,Brasília, DF, ano 21, n. 4, p. 35-59, out./nov./<strong>de</strong>z. 2012.ALVES, E.; SOUZA, G. <strong>da</strong> S. e; ROCHA, D. <strong>de</strong> P.;MARRA, R. Fatos marcantes <strong>da</strong> agricultura brasileira.In: ALVES, E. R. A.; SOUZA, G. S.; GOMES, E. G. (Org).Contribuição <strong>da</strong> Embrapa para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>agricultura no Brasil. Brasília, DF: Embrapa InformaçãoTecnológica, <strong>2013</strong>. p. 1-21.BRASIL. Lei <strong>nº</strong> 8.974, <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1995.Regulamenta os incisos II e V do § 1º do art. 225 <strong>da</strong>Constituição Fe<strong>de</strong>ral, estabelece normas para o uso <strong>da</strong>stécnicas <strong>de</strong> engenharia genética e liberação no meioambiente <strong>de</strong> organismos geneticamente modificados,autoriza o Po<strong>de</strong>r Executivo a criar, no âmbito <strong>da</strong>Presidência <strong>da</strong> República, a Comissão Técnica Nacional<strong>de</strong> Biossegurança, e dá outras providências. Diário oficial[<strong>da</strong>] República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil, Po<strong>de</strong>r Executivo,Brasília, DF, 6 jan. 1995.BRASIL. Lei <strong>nº</strong> 9.279, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1996. 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Expansão canavieirano Centro-OesteLimites e potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s 1Pery Francisco Assis Shiki<strong>da</strong> 2Resumo – Este trabalho analisa a expansão canavieira no Centro-Oeste do Brasil para caracterização<strong>de</strong> seus principais limites e potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Os resultados <strong>de</strong>monstram que a expansão <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcarno Centro-Oeste vem ocorrendo principalmente em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> busca por uma maiorsegurança alimentar (produção <strong>de</strong> açúcar) e energética sustentável (produção <strong>de</strong> etanol); saturaçãoou <strong>de</strong>cadência <strong>de</strong> algumas áreas tradicionalmente produtoras; condições naturais e <strong>de</strong> zoneamentoagroecológico favoráveis ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> cana; e perspectivas <strong>de</strong> melhorias logísticas. Asprincipais limitações encontra<strong>da</strong>s estão no atual quadro <strong>de</strong> instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do mercado <strong>de</strong> etanol, naineficiente infraestrutura <strong>de</strong> transporte (basea<strong>da</strong> no mo<strong>da</strong>l rodoviário), na incipiente tradição dosetor sucroalcooleiro no Centro-Oeste e no possível recru<strong>de</strong>scimento <strong>da</strong> concentração <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>.Palavras-chave: análise exploratória, cana-<strong>de</strong>-açúcar, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,perspectivas.Sugarcane expansion in the Central-West Regionof Brazil: limitations and potentialitiesAbstract – This paper analyzes the expansion of sugarcane in the Central-West Region of Brazil, forcharacterization of its main limitations and potentialities. Results <strong>de</strong>monstrate that the expansion ofsugarcane in this region has been happening mainly due to the search for better food safety (sugarproduction) and sustainable energy (ethanol production); saturation or <strong>de</strong>cline of some traditionalproducing areas; natural conditions and agro-ecological zoning favorable to the <strong>de</strong>velopment ofsugarcane; and prospects for logistics improvements. The main limitations are the current contextof instability in the ethanol market, the inefficient transport infrastructure (based on highway transportation),the incipient tradition of the sugarcane agroindustry in the Central-West Region of Brazil,and a possible aggravation in income concentration.Keywords: exploratory analisys, sugarcane, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, prospects.1Original recebido em 11/4/<strong>2013</strong> e aprovado em 22/4/<strong>2013</strong>.2Economista, Doutor em Economia Aplica<strong>da</strong>, bolsista <strong>de</strong> Produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> em Pesquisa do CNPq, pesquisador do Grupo <strong>de</strong> Pesquisa em Agronegócio eDesenvolvimento Regional (Gepec), professor do curso <strong>de</strong> Ciências Econômicas e do Programa <strong>de</strong> Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regionale Agronegócio <strong>da</strong> Unioeste/Toledo, Rua <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong><strong>de</strong>, 645, CEP 85903-000, Toledo, PR. E-mail: peryshiki<strong>da</strong>@hotmail.comAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>122
IntroduçãoMesmo diante <strong>de</strong> uma crise conjunturalvivencia<strong>da</strong> pelo mercado doméstico <strong>de</strong> etanol– “a baixa competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do etanol fez comque a média <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s diárias <strong>de</strong> gasolina em2012 fosse 41% maior que em 2009 e as <strong>de</strong> etanol41% menor comparando o mesmo período”(PIRES, <strong>2013</strong>, p. 2) –, a agroindústria canavieirabrasileira é uma <strong>de</strong>staca<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva.Com efeito, em um contexto em que segurançaalimentar e energética sustentável são umdos principais <strong>de</strong>safios <strong>de</strong>ste século, o Brasil é omaior produtor mundial <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar, tendoproduzido, na safra 2011–2012, 559 milhões<strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s <strong>de</strong> cana e 35,9 milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s<strong>de</strong> açúcar. Sua produção <strong>de</strong> etanol tambémé <strong>de</strong>staque, pois a cifra <strong>de</strong> 22,6 bilhões <strong>de</strong> litros<strong>de</strong> etanol produzidos equivale à segun<strong>da</strong> maiorprodução mundial, somente supera<strong>da</strong> pela dosEstados Unidos (que apresenta aproxima<strong>da</strong>menteo dobro <strong>da</strong> produção alcooleira nacional).Além disso, o Brasil é o maior exportadorsucroalcooleiro, tendo exportado 24,9 milhões<strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s <strong>de</strong> açúcar na safra 2011–2012 (comreceita <strong>de</strong> 14,8 bilhões <strong>de</strong> dólares) e exportado1,9 bilhão <strong>de</strong> litros <strong>de</strong> etanol (tendo propiciadouma receita <strong>de</strong> 1,5 bilhão <strong>de</strong> dólares). Os <strong>da</strong>dosforam compilados <strong>da</strong> União <strong>da</strong> Indústria <strong>de</strong> Cana-<strong>de</strong>-Açúcar– Unica (<strong>2013</strong>) e <strong>da</strong> Associação <strong>de</strong>Produtores <strong>de</strong> Bionergia do Estado do Paraná –Alcopar (<strong>2013</strong>). Conforme Neves et al. (2010), aagroindústria canavieira movimenta uma riquezaequivalente a quase 2% do Produto InternoBruto (PIB), gerando 1,28 milhão <strong>de</strong> postos <strong>de</strong>trabalhos formais, com massa salarial estima<strong>da</strong>em US$ 738 milhões.De acordo com a Unica (<strong>2013</strong>), tendo-secomo referência os <strong>da</strong>dos <strong>de</strong> 2011 (os mais recentesdisponíveis), a cultura canavieira ocupouuma área planta<strong>da</strong> <strong>de</strong> 9,6 milhões <strong>de</strong> hectares,ou seja, aproxima<strong>da</strong>mente 3% <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a terraarável brasileira. São Paulo <strong>de</strong>teve 54,2% <strong>de</strong>ssaárea, seguido, <strong>de</strong> longe, por Minas Gerais (8,6%),Goiás (7,3%), Paraná (6,7%), Mato Grosso do Sul(5,2%) e Alagoas (4,5%). Ao todo, esses estadosforam responsáveis por 86,5% <strong>da</strong> área planta<strong>da</strong>com cana no País. Vale citar que como essacultura ocupa tanto áreas do Centro-Sul comodo Norte-Nor<strong>de</strong>ste, permitem-se duas safras porano em solo nacional.Tendo-se como referência a média <strong>da</strong>ssafras 2010–2011 e 2011–2012, em termos <strong>de</strong>participação percentual <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> cana<strong>de</strong>-açúcarno total produzido, observa-se queSão Paulo (56,3%) é o principal representantenesse item, seguido <strong>de</strong> longe por Minas Gerais(8,8%), Goiás (7,8%), Paraná (7,1%), Mato Grossodo Sul (5,7%) e Alagoas (4,8%). Ao todo, essesestados foram responsáveis por 90,5% do total<strong>de</strong> cana produzido no País. Contudo, no início<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 (média <strong>da</strong>s safras 1990–1991e 1991–1992), a participação percentual <strong>da</strong> produçãocanavieira dos estados no total produzidoapontava para a seguinte configuração: SãoPaulo (59,6%) foi o principal representante nesseitem, seguido por Alagoas (9,8%), Pernambuco(8,2%), Paraná (4,9%), Minas Gerais (4,5%) e Rio<strong>de</strong> Janeiro (2,5%) – ao todo, esses estados foramresponsáveis por 89,5% do total <strong>de</strong> cana produzi<strong>da</strong>(UNICA, <strong>2013</strong>).Constata-se, pelos <strong>da</strong>dos expostos, quehouve uma concentração espacial um poucomaior <strong>da</strong> produção canavieira nos seis primeirosestados produtores. Contudo, entre as principaisregiões produtoras, houve diferenças <strong>de</strong> posicionamentosignificativas. Nota-se, por exemplo, ofortalecimento <strong>da</strong> representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> MinasGerais, que tem sido o segundo maior produtorcanavieiro, e <strong>de</strong> estados on<strong>de</strong> a cana não apresentava<strong>de</strong>staque, como Goiás e Mato Grossodo Sul, que superaram tradicionais produtoresnor<strong>de</strong>stinos, quais sejam Alagoas, Pernambuco eRio <strong>de</strong> Janeiro. A região Centro-Oeste (compostapor Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul eDistrito Fe<strong>de</strong>ral), uma importante área <strong>de</strong> produçãoagropecuária, passou a <strong>de</strong>ter 15,8% do total<strong>da</strong> produção canavieira brasileira. Como comparação,a participação percentual média <strong>da</strong> produção<strong>da</strong>s safras 1990–1991 e 1991–1992 <strong>de</strong>ssaregião, no início <strong>da</strong> <strong>de</strong>sregulamentação setorial,era <strong>de</strong> somente 5,2% – ou seja, a representativi<strong>da</strong><strong>de</strong>triplicou.123Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Para Bioetanol... (2008) e Fernan<strong>de</strong>s etal. (2011), as alterações geográficas expostasestão ocorrendo principalmente em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong>saturação <strong>de</strong> áreas em regiões tradicionalmenteprodutoras; <strong>da</strong> elevação dos custos <strong>da</strong> terra; edo fato que áreas contíguas às tradicionais regiõesprodutoras <strong>de</strong> cana apresentam condiçõese<strong>da</strong>foclimáticas propícias para o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> sistemas produtivos similares aos <strong>de</strong>outros estados <strong>da</strong> União. Vian (2003) e Vian eMoraes (2005) apontam que a fronteira agrícola<strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar está se <strong>de</strong>slocando emdireção ao Centro-Oeste porque nessa regiãoencontram-se áreas planas (algumas <strong>de</strong>las sãoterras férteis ain<strong>da</strong> não utiliza<strong>da</strong>s pela pecuáriaextensiva) e clima apropriado, on<strong>de</strong> a cultura <strong>da</strong>cana apresenta perspectiva <strong>de</strong> alta produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.Isso tudo ocorre em um ambiente institucional<strong>de</strong> modificações importantes no setor, comcrescente preocupação com o cumprimento <strong>da</strong>legislação trabalhista e ambiental; exigência <strong>de</strong>nova concepção produtiva sustentável; e maiorinserção no mercado externo, que apregoa o fim<strong>da</strong> queima <strong>da</strong> cana em áreas on<strong>de</strong> existam condições<strong>de</strong> mecanização <strong>da</strong> colheita – essa normatizaçãocomeçou em São Paulo, mas está seespalhando gra<strong>da</strong>tivamente para outros estados.Diante <strong>da</strong>s vicissitu<strong>de</strong>s espaciais <strong>da</strong> distribuiçãoentre os estados produtores, com potencial<strong>de</strong> novas fronteiras, uma questão que urgeser examina<strong>da</strong> é: como está se comportando aexpansão canavieira no Centro-Oeste do Brasil?Busca-se respon<strong>de</strong>r a essa in<strong>da</strong>gação pormeio <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong> natureza exploratóriae conforme a literatura. Cumpre dizer queas pesquisas exploratórias procuram esclarecere/ou <strong>de</strong>senvolver conceitos e i<strong>de</strong>ias visandomaior familiarização com o objeto investigado,<strong>de</strong> modo que estudos subsequentes possam serconcebidos com maior precisão e compreensão(GIL, 2000). Assim, este trabalho busca contribuirpara a melhor caracterização dos principaislimites e potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa importante cultura<strong>da</strong> economia brasileira, ressaltando sua regionalizaçãono Centro-Oeste.Além <strong>de</strong>sta introdução, apresenta-se aseguir uma <strong>de</strong>scrição <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong> culturacanavieira no Brasil, com <strong>de</strong>staque para o Centro-Oeste,realçando aspectos que caracterizamos pontos fracos e fortes para a expansão canavieiranessa região. As consi<strong>de</strong>rações finais encerrameste trabalho.Evolução <strong>da</strong> cultura canavieira noBrasil e na região Centro-OestePrimeiramente, faz-se necessário esclarecerque o recorte conceitual utilizado neste artigoexplora o ponto <strong>de</strong> vista econômico <strong>da</strong> culturacanavieira composta pelo segmento/setor agrícolaprocessador <strong>da</strong> cana, <strong>de</strong>rivando a produção<strong>de</strong> dois importantes subprodutos <strong>de</strong>ssa ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>,quais sejam açúcar e etanol. A queima dobagaço <strong>da</strong> cana em cal<strong>de</strong>iras também gera outrosubproduto que vem ganhando mercado, a cogeração<strong>de</strong> energia elétrica. Contudo, <strong>da</strong>dos doInstituto <strong>de</strong> Pesquisa Econômica Aplica<strong>da</strong> – IPEA(BIOCOMBUSTÍVEIS..., 2010) – apontam que to<strong>da</strong>sas usinas sucroalcooleiras em operação em2010 eram autossuficientes em energia graças àqueima <strong>de</strong> bagaço <strong>de</strong> cana, mas somente 20%<strong>de</strong>las comercializavam os seus exce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>energia elétrica no mercado.A cultura canavieira fez parte <strong>da</strong>s primeirasativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s econômicas no País. SegundoPina (1972, p. 11) “a história do Brasil se encontratão intimamente liga<strong>da</strong> ao cultivo <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>açúcar,que se faz impossível uma dissociação,sob a pena <strong>de</strong> incorrer-se em uma falsi<strong>da</strong><strong>de</strong>”.Durante os séculos 16 e 17, a cultura canavieirabrasileira foi praticamente a única ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> que<strong>da</strong>va sustentação à economia colonial (SZMREC-SÁNYI, 1979).Com uma evolução histórica marca<strong>da</strong> pormuitas conjunturas, tanto favoráveis quanto <strong>de</strong>sfavoráveisao setor canavieiro – sobre isso ver,entre outros: Moraes e Shiki<strong>da</strong> (2002), Que<strong>da</strong>(1972) e Ramos (1999) –, a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 mostraum ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro ponto <strong>de</strong> inflexão para essaeconomia que culminou com a extinção do Institutodo Açúcar e do Álcool (IAA) e com o iní-Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>124
cio do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sregulamentação setorial.Nesse novo panorama, os consumidores e produtorestiveram <strong>de</strong> se a<strong>de</strong>quar ao contexto maispróximo do livre mercado, em que o papel do Estadomudou para um perfil mais <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadordo que <strong>de</strong> interventor. Já na época <strong>de</strong> existênciado IAA, a intervenção estatal se fazia presente<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o estabelecimento <strong>de</strong> quotas <strong>de</strong> produção<strong>de</strong> matéria-prima (cana) até a consequentefabricação, distribuição, consumo e exportaçãodo produto final (nota<strong>da</strong>mente açúcar), atuandotambém no controle <strong>de</strong> preços e financiamento<strong>de</strong> safras (SHIKIDA, 1997; VIAN, 2003).A partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990, o preço doaçúcar no mercado interno <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser tabelado;em 1994 as exportações <strong>de</strong> açúcar foramlibera<strong>da</strong>s; em 1997 o preço do etanol anidro <strong>de</strong>ixou<strong>de</strong> ser tabelado; em 1998 o governo liberouo preço <strong>da</strong> cana; e em 1999 o preço do etanolhidratado também foi liberado (ALVES, 2002).Conforme já salientado, São Paulo é omaior produtor <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar, seguido <strong>de</strong>longe pelos <strong>de</strong>mais estados. A Figura 1 mostracomo se comportou essa distribuição <strong>da</strong> safra1990–1991 à 2011–2012, com base em <strong>da</strong>dos<strong>da</strong> produção dos nove principais estados nessesegmento (que juntos respon<strong>de</strong>ram por 95,5%<strong>da</strong> produção brasileira <strong>de</strong> cana na última safracita<strong>da</strong>).Analisando-se os 11 primeiros anos-safras(1990–1991 a 2000–2001), observa-se um ímpetomenor <strong>de</strong> crescimento <strong>da</strong> produção em comparaçãocom os 11 anos-safras seguintes. NoFigura 1. Produção <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar nos principais estados produtores do Brasil, para as safras 1990–1991 à2011–2012.Fonte: Unica (<strong>2013</strong>).125Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
entanto, <strong>de</strong> 2001–2002 a 2011–2012 houve umaforte elevação <strong>da</strong> produção canavieira brasileira,que quase dobrou (<strong>de</strong> 293,051 milhões <strong>de</strong>tonela<strong>da</strong>s em 2001–2002 passou para 559,215milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s em 2011–2012). Já é conheci<strong>da</strong>na literatura – vi<strong>de</strong> entre outros: Biocombustíveis...(2010) e Shiki<strong>da</strong> e Perosa (2012)– a correlação positiva <strong>de</strong>sse crescimento <strong>da</strong>produção canavieira nacional com o lançamentodo carro flex fuel em 2003 – que permite tantoo uso <strong>da</strong> gasolina quanto <strong>de</strong> etanol ou <strong>de</strong> umamistura entre ambos (sendo o etanol um combustívelmais “limpo”) –; com o crescimento <strong>da</strong>sexportações brasileiras <strong>de</strong> açúcar (melhoria dospreços); e com o mercado interno em expansão(significando mais consumo).Contudo, consi<strong>de</strong>rando-se a evolução dosnove principais estados produtores <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>açúcar(<strong>da</strong> safra 1990–1991 à safra 2011–2012),constata-se que Goiás obteve a maior taxa geométricamédia <strong>de</strong> crescimento, <strong>de</strong> 11,6% a.a.(significativo a 1%) – a estimativa <strong>de</strong>ssa taxa está<strong>de</strong> acordo com o método dos mínimos quadrados,e maiores consi<strong>de</strong>rações sobre isso po<strong>de</strong>mser vistas em Hoffmann e Vieira (1987). Essa taxaé segui<strong>da</strong> por aquelas <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul(10,6% a.a. – significativo a 1%), Minas Gerais(9,7% a.a. – significativo a 1%), Mato Grosso(8,0% a.a. – significativo a 1%), Paraná (6,8%a.a. – significativo a 1%), São Paulo (5,0% a.a.– significativo a 1%), Alagoas (1,8% a.a. – significativoa 1%), Pernambuco (0,07% a.a. – nãosignificativo) e Rio <strong>de</strong> Janeiro (este com taxa negativa<strong>de</strong> -3,2% a.a. – significativo a 1%).Logo, pelos <strong>da</strong>dos expostos (<strong>da</strong>s quatromaiores taxas <strong>de</strong> crescimento estaduais <strong>da</strong> produçãocanavieira, três estão localiza<strong>da</strong>s nos estadosdo Centro-Oeste), torna-se evi<strong>de</strong>nte que a regiãoCentro-Oeste é, no agregado, a mais expressivafronteira <strong>da</strong> produção canavieira do Brasil.Composta por quatro uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rativas(Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e DistritoFe<strong>de</strong>ral, on<strong>de</strong> se situa a capital do País, Brasília)a região Centro-Oeste do Brasil apresenta climatropical semiúmido, e a vegetação predominanteé o cerrado. Dados do último Censo (<strong>de</strong> 2010)apontam para essa região uma extensão <strong>de</strong> 1.606mil km², o que significa aproxima<strong>da</strong>mente 18,8%do total nacional e a qualifica como a segun<strong>da</strong>maior extensão territorial entre to<strong>da</strong>s as regiõesbrasileiras. Sua economia baseou-se inicialmentena mineração (exploração <strong>de</strong> garimpos <strong>de</strong> metaispreciosos), mas logo avançou com a pecuária(criação <strong>de</strong> gado) para, em segui<strong>da</strong>, construir umrazoável aporte <strong>de</strong> agroindústrias do setor alimentício(carnes e grãos) e <strong>de</strong> produtos como adubos,fertilizantes e rações. O PIB <strong>de</strong>ssa região é <strong>de</strong> R$279.015 bilhões (IBGE, <strong>2013</strong>).Para Andra<strong>de</strong> (1994), o crescimento <strong>da</strong>cultura <strong>da</strong> cana se tornou expressivo no Centro-Oeste quando o Programa Nacional do Álcool(Proálcool) passou a financiar a implantação<strong>de</strong> <strong>de</strong>stilarias em todo o País para aumentar aprodução <strong>de</strong> etanol, e os estados do Centro-Oeste tornaram-se atração <strong>de</strong> capitais canavieirosoriundos principalmente <strong>de</strong> São Paulo e doNor<strong>de</strong>ste. Com efeito, Shiki<strong>da</strong> (1997, p. 84) corroboraessa assertiva apontando que “os estadosque mais se <strong>de</strong>stacaram na absorção <strong>de</strong> recursosdo Proálcool foram: SP (36,0%), MG (10,3%),AL (8,1%), PR (7,9%), GO (7,2%), PE (7,1%), MT(3,2%), RJ (3,0%), PB (2,7%) e MS (2,5%)”. Valedizer, <strong>de</strong> acordo com Belik (1992), que o Proálcool– instituído em 1973 e executado a partir<strong>de</strong> 1975 – foi um programa governamental <strong>de</strong>múltiplos interesses (buscava economia <strong>de</strong> divisas,criação <strong>de</strong> empregos, etc.) que tinha comofito central tornar o álcool combustível, hoje conhecidotambém como etanol, uma alternativaenergética aos <strong>de</strong>rivados do petróleo.Assim, com essa alteração geográfica <strong>da</strong>produção canavieira nacional, capitanea<strong>da</strong> àépoca pela produção alcooleira, três importantesaspectos merecem menção: primeiro, houvefortalecimento <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcarem regiões tradicionais nesse segmento (com<strong>de</strong>staque para São Paulo); segundo, outros estadosdotados <strong>de</strong> uma razoável infraestruturaagroindustrial canavieira também expandiramsuas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s produtivas (com <strong>de</strong>staque paraMinas Gerais); terceiro, estados sem nenhumatradição anterior na agroindústria canavieira –Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>126
elativamente próximos às áreas tradicionalmenteprodutoras, os quais possuíam preços <strong>da</strong> terraacessíveis e condições e<strong>da</strong>foclimáticas propíciasà cultura canavieira – passaram a ganhar realce(com <strong>de</strong>staque para Goiás, Mato Grosso do Sule Mato Grosso, no Cerrado, e Paraná, no Sul)(BIOETANOL..., 2008; FERNANDES et al., 2011;SHIKIDA, 1997).Realmente a evolução <strong>da</strong> cultura <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcarno Centro-Oeste é recente comparativamentecom a centenária agroindústriacanavieira brasileira, e seu crescimento exponencialocorreu fun<strong>da</strong>mentalmente a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong><strong>de</strong> 1980, já na fase <strong>de</strong> expansão “acelera<strong>da</strong>”do Proálcool – quando políticas específicas <strong>de</strong>incentivo para a produção <strong>de</strong> álcool hidratadoforam amplamente utiliza<strong>da</strong>s (SHIKIDA, 1997).De fato, com base em <strong>da</strong>dos do início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong><strong>de</strong> 1980 (safra 1980–1981), verifica-se queGoiás <strong>de</strong>tinha 0,25% <strong>da</strong> produção canavieirado País, Mato Grosso, 0,24%, e Mato Grosso doSul, 0%. Em meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980 (<strong>da</strong>dos<strong>da</strong> safra 1985–1986), Goiás passou a <strong>de</strong>ter 1,9%<strong>da</strong> produção canavieira, Mato Grosso, 0,6%, eMato Grosso do Sul, 1,4%. No início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong><strong>de</strong> 1990 (<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> safra 1990–1991), Goiás manteve1,9%, Mato Grosso passou a <strong>de</strong>ter 1,5%, eMato Grosso do Sul atingiu 1,8% <strong>da</strong> produçãocanavieira nacional.Para Bioetanol... (2008, p. 197),o expressivo crescimento <strong>da</strong> área planta<strong>da</strong> emcana observado no Centro-Oeste, entre 1998e 2007, confirma a tendência <strong>da</strong> agroindústria<strong>de</strong> expandir-se nas regiões próximas às áreastradicionalmente produtoras e que apresentemtopografia e condições e<strong>da</strong>foclimáticasa<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s. Embora ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>vam ser equaciona<strong>da</strong>sas carências <strong>de</strong> infraestrutura, especialmente<strong>de</strong> transporte, essa região passaa constituir um novo e importante eixo paraa agroindústria canavieira no Brasil. Nessaregião, a expansão <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar temocorrido em substituição <strong>de</strong> pastagens e, eventualmente,<strong>de</strong> campos <strong>de</strong> soja, que há algumasdéca<strong>da</strong>s tinham substituído o cerrado original.Esse crescimento <strong>da</strong> cultura canavieiraestá evi<strong>de</strong>ntemente acompanhado do processo<strong>de</strong> expansão <strong>da</strong>s empresas no setor, ocorridocom maior veemência nas áreas não tradicionaisna produção <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar (principalmenteem Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e MatoGrosso do Sul). “Des<strong>de</strong> 2006, 115 novas usinas e<strong>de</strong>stilarias foram construí<strong>da</strong>s pelo País em áreasnão tradicionais <strong>de</strong> São Paulo e <strong>de</strong> outros estados”(SIQUEIRA, <strong>2013</strong>, p. 5).A Tabela 1 explicita a evolução <strong>da</strong> produção<strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar pós-safra 1990–1991para os três estados do Centro-Oeste, bem comoa participação <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>sses estados no total<strong>da</strong> produção brasileira. As taxas geométricasmédias <strong>de</strong> crescimento <strong>da</strong>s representativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>da</strong>s produções canavieiras <strong>de</strong> Goiás, Mato Grossoe Mato Grosso do Sul foram <strong>de</strong>, respectivamente,6,15% a.a. (significativo a 1%), 2,65% a.a.(significativo a 5%) e 5,10% a.a. (significativo a1%), taxas essas que corroboram a maior expressãorelativa <strong>de</strong> Goiás e Mato Grosso do Sul emcomparação com o Mato Grosso.Analisando-se a produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> cana<strong>de</strong>-açúcardos oito principais estados brasileiros(<strong>de</strong> 2000 a 2011), Tabela 2, observa-se quea maior produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> agrícola pertence a SãoPaulo (média <strong>de</strong> 81,98 tonela<strong>da</strong>s/hectare), seguido<strong>de</strong> Goiás (79,97), Paraná (79,85), Mato Grossodo Sul (76,70), Minas Gerais (73,68), MatoGrosso (68,35), Alagoas (61,68) e Pernambuco(52,27 tonela<strong>da</strong>s/hectare). Sem consi<strong>de</strong>rar o fatoque São Paulo tem uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> tecnológicaímpar nesse segmento (Shiki<strong>da</strong> et al., 2011) 3 , oCentro-Oeste tem dois estados entre os quatroprimeiros no ranking <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> cana<strong>de</strong>-açúcar,com taxas <strong>de</strong> crescimento expressivasnesse quesito (a do Mato Grosso do Sul sóper<strong>de</strong> para a taxa <strong>de</strong> crescimento mineira). Valelembrar que no centro do Brasil encontram-seáreas planas, sendo algumas <strong>de</strong>las terras férteis3“A agroindústria canavieira nacional é tecnicamente qualifica<strong>da</strong> e com os menores custos <strong>de</strong> produção do mundo, além <strong>de</strong> contar com bom potencial paraaumento <strong>da</strong> produção. [...]. Neste ínterim, a maior concentração técnica <strong>da</strong> agroindústria canavieira se verificou para São Paulo, mais à frente que MinasGerais e Paraná em vários itens <strong>da</strong> matriz <strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s tecnológicas.” (SHIKIDA et al., 2011, p. 620).127Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Tabela 2. Produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar (tonela<strong>da</strong>/hectare) do Brasil e dos principais estados produtores,<strong>de</strong> 2000 a 2011.Ano Brasil SP PR MG GO MS MT AL PE2000 67,88 76,08 70,89 64,26 73,02 59,00 62,73 62,03 49,812001 69,44 77,49 81,13 64,50 78,92 75,82 66,77 62,97 47,082002 71,44 79,94 78,25 65,60 80,47 76,50 71,55 57,47 50,622003 73,73 80,91 85,40 68,60 78,29 74,92 74,57 65,49 51,542004 73,73 81,15 81,70 72,71 79,40 73,09 69,09 62,10 52,302005 72,85 82,60 73,46 72,72 79,56 69,54 61,16 58,32 46,632006 75,12 82,75 78,36 74,75 81,91 78,64 67,03 58,41 52,942007 77,63 84,59 85,15 77,97 80,53 82,68 68,43 60,84 55,082008 79,27 85,21 86,18 78,78 82,55 84,59 72,42 67,33 54,812009 80,26 85,42 90,42 81,58 83,36 88,21 76,04 61,76 55,202010 79,04 85,54 77,27 81,18 82,95 87,12 68,54 56,15 54,542011 76,45 82,09 69,98 81,47 78,71 70,34 61,91 67,31 56,69Média 74,74 81,98 79,85 73,68 79,97 76,70 68,35 61,68 52,27TGC 1,35* 0,90* 0,23 ns 2,53* 0,65** 1,86** 0,15 ns 0,16 ns 1,39*TGC: taxa geométrica <strong>de</strong> crescimento; *: significativo a 1%; **: significativo a 5%; e ns: não significativo.Fonte: Siqueira (<strong>2013</strong>).Procurando-se analisar os dois principaissubprodutos <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar, a Tabela 3 ressaltaa evolução <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> açúcar pós-safra1990–1991 para os três estados do Centro-Oeste,bem como a sua participação no total <strong>da</strong> produçãobrasileira.Constata-se, nessa or<strong>de</strong>m, que as produçõesgoiana, sul-mato-grossense e matogrossense<strong>de</strong> açúcar apresentaram evoluções,em termos <strong>de</strong> números absolutos, expressivas,consi<strong>de</strong>rando-se as amplitu<strong>de</strong>s <strong>da</strong>s safras açucareiras– o crescimento <strong>da</strong> produção <strong>de</strong>ssa commoditypara Goiás foi <strong>de</strong> 4.071% <strong>de</strong> 1990–1991a 2011–2012, para Mato Grosso do Sul foi <strong>de</strong>7.840%, e para Mato Grosso foi <strong>de</strong> 1.630%. Astaxas geométricas médias <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong>ssasproduções foram <strong>de</strong>, respectivamente, 16,44%a.a. (significativo a 1%), 18,82% a.a. (significativoa 1%) e 11,66% a.a. (significativo a 1%). Astaxas geométricas médias <strong>de</strong> crescimento <strong>da</strong>participação percentual <strong>da</strong>s produções <strong>de</strong> Goiás,Mato Grosso do Sul e Mato Grosso foram <strong>de</strong>,respectivamente, 8,14% a.a. (significativo a 1%),10,38% a.a. (significativo a 1%) e 3,68% a.a.(não significativo).No tocante ao outro subproduto importante<strong>da</strong> cana, a Tabela 4 ressalta a evolução <strong>da</strong>produção <strong>de</strong> etanol pós-safra 1990–1991 para ostrês estados do Centro-Oeste, bem como a suaparticipação no total <strong>da</strong> produção brasileira.De igual maneira, para o etanol, constatase,nessa or<strong>de</strong>m, que as produções goiana, sulmato-grossensee mato-grossense apresentaramevoluções, em termos <strong>de</strong> números absolutos,expressivas, consi<strong>de</strong>rando-se as amplitu<strong>de</strong>s <strong>da</strong>ssafras alcooleiras – o crescimento <strong>da</strong> produção<strong>de</strong>ssa commodity para Goiás foi <strong>de</strong> 819,93% <strong>de</strong>1990–1991 a 2011–2012, para Mato Grosso do129Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
Tabela 3. Produção <strong>de</strong> açúcar nos estados do Centro-Oeste e participação relativa <strong>de</strong>ssa produção no total doBrasil, para safras 1990–1991 a 2011–2012.SafraProdução <strong>de</strong> açúcar (mil tonela<strong>da</strong>s)GO MT MS Brasil% <strong>da</strong>produção <strong>de</strong>GO/Brasil% <strong>da</strong>produção <strong>de</strong>MT/Brasil% <strong>da</strong>produção <strong>de</strong>MS/Brasil1990–1991 42 23 20 7.365 0,6 0,3 0,31991–1992 53 42 29 8.604 0,6 0,5 0,31992–1993 106 46 47 10.066 1,1 0,5 0,51993–1994 153 114 74 10.270 1,5 1,1 0,71994–1995 204 176 67 12.618 1,6 1,4 0,51995–1996 226 265 135 13.522 1,7 2,0 1,01996–1997 309 301 192 14.802 2,1 2,0 1,31997–1998 285 367 166 14.881 1,9 2,5 1,11998–1999 341 483 251 17.942 1,9 2,7 1,41999–2000 369 485 320 19.388 1,9 2,5 1,72000–2001 397 370 232 16.256 2,4 2,3 1,42001–2002 506 448 328 19.218 2,6 2,3 1,72002–2003 577 546 374 22.567 2,6 2,4 1,72003–2004 668 579 403 24.926 2,7 2,3 1,62004–2005 730 567 412 26.621 2,7 2,1 1,52005–2006 750 521 401 25.906 2,9 2,0 1,52006–2007 766 540 576 29.798 2,6 1,8 1,92007–2008 952 536 616 30.719 3,1 1,7 2,02008–2009 958 478 657 31.047 3,1 1,5 2,12009–2010 1.384 414 747 32.956 4,2 1,3 2,32010–2011 1.805 446 1.329 37.989 4,8 1,2 3,52011–2012 1.752 398 1.588 35.925 4,9 1,1 4,4Fonte: Unica (<strong>2013</strong>).Sul foi <strong>de</strong> 522,52%, e para Mato Grosso foi <strong>de</strong>339,58%. As taxas geométricas médias <strong>de</strong> crescimento<strong>de</strong>ssas produções foram <strong>de</strong>, respectivamente,10,61% a.a. (significativo a 1%), 9,42%a.a. (significativo a 1%) e 7,65% a.a. (significativoa 1%). As taxas geométricas médias <strong>de</strong> crescimento<strong>da</strong> participação percentual <strong>da</strong>s produções<strong>de</strong> Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso foram<strong>de</strong>, respectivamente, 6,46% a.a. (significativoa 1%), 5,32% a.a. (significativo a 1%) e 3,51%a.a. (significativo a 1%).Comparando-se os resultados <strong>da</strong>s Tabelas3 e 4, observa-se que os maiores crescimentosocorreram para as produções açucareiras nostrês estados focados. Isso significa que a dinâmica<strong>da</strong> expansão canavieira do Centro-Oeste éAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>130
Tabela 4. Produção <strong>de</strong> etanol nos estados do Centro-Oeste e participação relativa <strong>de</strong>ssa produção no total doBrasil, para safras 1990–1991 a 2011–2012.SafraProdução <strong>de</strong> etanol (mil m 3 )GO MT MS Brasil% <strong>da</strong>produção <strong>de</strong>GO/Brasil% <strong>da</strong>produção <strong>de</strong>MT/Brasil% <strong>da</strong>produção <strong>de</strong>MS/Brasil1990–1991 291 192 262 11.515 2,5 1,7 2,31991–1992 368 223 284 12.716 2,9 1,8 2,21992–1993 317 237 244 11.673 2,7 2,0 2,11993–1994 311 244 239 11.276 2,8 2,2 2,11994–1995 364 277 234 12.682 2,9 2,2 1,81995–1996 366 377 292 12.578 2,9 3,0 2,31996–1997 452 468 288 14.344 3,1 3,3 2,01997–1998 508 594 393 15.396 3,3 3,9 2,61998–1999 448 528 345 13.848 3,2 3,8 2,51999–2000 315 544 371 12.972 2,4 4,2 2,92000–2001 318 464 315 10.593 3,0 4,4 3,02001–2002 379 580 397 11.536 3,3 5,0 3,42002–2003 455 654 418 12.623 3,6 5,2 3,32003–2004 646 792 481 14.809 4,4 5,3 3,22004–2005 717 815 534 15.417 4,7 5,3 3,52005–2006 729 771 496 15.924 4,6 4,8 3,12006–2007 822 749 641 17.710 4,6 4,2 3,62007–2008 1.214 894 877 22.422 5,4 4,0 3,92008–2009 1.726 952 1.076 27.513 6,3 3,5 3,92009–2010 2.196 826 1.261 25.694 8,5 3,2 4,92010–2011 2.895 857 1.849 27.376 10,6 3,1 6,82011–2012 2.677 844 1.631 22.682 11,8 3,7 7,2Fonte: Unica (<strong>2013</strong>).fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>, na sua maior parte, no segmentoagrícola processador <strong>de</strong> açúcar, ain<strong>da</strong> que o etanoltambém tenha crescido consi<strong>de</strong>ravelmente.A razão <strong>de</strong>sse crescimento maior para osegmento açucareiro (que não é uma particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>regional, pois tem ocorrido em nível nacional)está no fato <strong>de</strong> essa commodity possibilitarmais lucrativi<strong>da</strong><strong>de</strong> para o empresário que o etanol.Fatores climáticos que oneram a produção<strong>da</strong> cana e, consequentemente, do etanol, tornando-omenos competitivo que a gasolina, e a altado preço do açúcar são argumentos amiú<strong>de</strong> usadospara sustentação <strong>de</strong>ssa opção empresarial.Como o etanol é 30% inferior em eficiênciaenergética do que a gasolina, o preço do primeirotem que estar, no mínimo, 30% abaixo131Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
do <strong>da</strong> gasolina para compensar o motorista.Este não tem sido o caso, pois a contenção pelogoverno do preço <strong>da</strong> gasolina e o aumento <strong>de</strong>custos na produção do etanol fizeram com queo último não aten<strong>de</strong>sse à diferença necessária.[...] Como em déca<strong>da</strong>s passa<strong>da</strong>s, quandohouve <strong>de</strong>sabastecimento do produto, o etanolacabou per<strong>de</strong>ndo para a produção <strong>de</strong> açúcarquando os preços internacionais <strong>de</strong>ste produtosubiram expressivamente. O Brasil é responsávelpor mais <strong>de</strong> 50% <strong>da</strong> exportação mundial<strong>de</strong> açúcar, assim os produtores aproveitamos altos preços para <strong>de</strong>dicar maior parcela <strong>de</strong>cana-<strong>de</strong>-açúcar para a produção do alimento.Junte a isso um período <strong>de</strong> poucas e irregulareschuvas, que levaram à que<strong>da</strong> <strong>da</strong> produção <strong>da</strong>matéria-prima, e tem-se a combinação exata <strong>de</strong>um recuo na oferta <strong>de</strong> etanol que, se não chegaa um <strong>de</strong>sabastecimento, afeta a confiança doconsumidor, principalmente em período <strong>de</strong> entressafra(WROBEL, <strong>2013</strong>, p. 1).De acordo com o <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>,Pecuária e Abastecimento – Mapa (BRASIL,<strong>2013</strong>) –, esse cenário converge para um maiornúmero <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s processadoras <strong>de</strong> açúcar eálcool no Centro-Oeste, no contexto geral, emcomparação com as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s processadorassomente <strong>de</strong> álcool (Tabela 5). E, com base eminformações obti<strong>da</strong>s pelos sindicatos patronaisdo setor, sabi<strong>da</strong>mente, quem é proprietário <strong>de</strong>uma <strong>de</strong>stilaria autônoma busca, por uma questãoestratégica, construir também uma usinapara po<strong>de</strong>r processar o açúcar, <strong>de</strong> modo a terdois subprodutos <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar e, assim,ampliar seu mercado. Ressalta-se que a agroindústriacanavieira é tradicionalmente um oligopólioconcentrado (por causa <strong>da</strong> exigência <strong>de</strong>eleva<strong>da</strong> concentração técnica e altas economias<strong>de</strong> escala) e competitivo (pois é composto poraproxima<strong>da</strong>mente 450 empresas). Uma <strong>de</strong> suascaracterísticas é a barreira à entra<strong>da</strong>, pois montaruma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva nesse setor requer forteaporte <strong>de</strong> recurso e crédito.Numa revisita à literatura, constata-se quea região Centro-Oeste apresenta <strong>de</strong> fato uma dinâmica<strong>de</strong> expansão para a cultura canavieira.Fernan<strong>de</strong>s et al. (2011), por exemplo, analisaramo comportamento do mercado <strong>de</strong> trabalhoformal no setor sucroalcooleiro brasileiro parao período <strong>de</strong> 1995 a 2009, utilizando o métodoshift-share. Seus resultados indicaram que oCentro-Oeste foi a região que mais gerou postos<strong>de</strong> trabalho no período mencionado, especialmenteMato Grosso do Sul e Goiás. “Tais resultadosmostram que a dinâmica no mercado<strong>de</strong> trabalho formal no setor sucroalcooleiro noBrasil está associa<strong>da</strong> com o avanço <strong>de</strong>ssa ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>,mormente, para novas fronteiras agrícolaslocaliza<strong>da</strong>s no Centro-Oeste” (FERNANDES etal., 2011, p. 1).Embora ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>vam ser equaciona<strong>da</strong>s carências<strong>de</strong> infraestrutura, especialmente <strong>de</strong> transporte(em todo o Brasil), para Centenaro (2012,p. 83) um dos motivadores do fato <strong>de</strong> as greenfields(novas usinas) se localizarem no Centro-Oeste tem sido a “viabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> implantação <strong>de</strong>um alcoolduto, ligando as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>sta últimaregião com terminais do Su<strong>de</strong>ste, facilitando oescoamento <strong>da</strong> produção e constituindo uma viapara exportação do etanol”.Em relação a isso, Montagnhani et al.(2011) confirmaram que a expansão <strong>da</strong> produção<strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar centralizará maior atençãono Centro-Oeste do Brasil; contudo, será precisosuperar uma ineficiente infraestrutura <strong>de</strong> transportepara escoamento do açúcar e etanol, fortementepauta<strong>da</strong> no mo<strong>da</strong>l rodoviário, que ain<strong>da</strong>assim é <strong>de</strong> má quali<strong>da</strong><strong>de</strong>.Os principais corredores <strong>de</strong> escoamento <strong>da</strong>produção sucroalcooleira do Centro-Oesteàs Regiões Sul e Su<strong>de</strong>ste do país são as BRs163, 364, 153, 158, 060 e 070. De modo geral,essas rodovias se encontram <strong>de</strong>gra<strong>da</strong><strong>da</strong>s eineficientes, com tráfego intenso <strong>de</strong> carretaspesa<strong>da</strong>s, má sinalização, <strong>de</strong>ficiências no pavimento,falta <strong>de</strong> acostamento e duplicação, oque compromete a competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do agronegóciono Centro-Oeste (MONTAGNHANIet al., 2011, p. 9).Numa outra percepção, Siqueira (<strong>2013</strong>),utilizando-se <strong>da</strong> análise multivaria<strong>da</strong> <strong>de</strong> regressãologística, constatou que fatores como a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> matéria-prima (cana-<strong>de</strong>-açúcar)e sua produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, acesso à energia elétrica,Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>132
Tabela 5. Relação <strong>da</strong>s usinas com <strong>de</strong>stilarias anexas (produzem açúcar e álcool) e <strong>da</strong>s com <strong>de</strong>stilarias autônomas(produzem somente álcool).Usinas com <strong>de</strong>stilarias anexasUsinas com <strong>de</strong>stilarias autônomasGoiásAnicunsCaçuCBB – BioenergéticaCentral MorrinhosCosan/JataíCRVGoianésiaGoiasaItumbiaraJalles MachadoPanoramaPorto <strong>da</strong>s ÁguasSanta HelenaSão SimãoSJC BioenergiaTropicalVale do VerdãoVale Ver<strong>de</strong>Boa VistaBom SucessoAgroindústriaCenasaCooper-RubiDecalDenusaEnergética SerranópolisETH BioenergiaFlorestaFortalezaJalles Machado – OtávioLageLago AzulMorro VermelhoNova GaliaPerolândia – BrencoSerra do CaiapóMato GrossoUsina Barralcool S.A.Coop. Agr. Prod. Cana <strong>de</strong>Campo Novo do Parecis –CoprodiaUsinas Itamarati S.A.Usina Jaciara S.A.Usina Pantanal <strong>de</strong> Açúcare Álcool Lt<strong>da</strong>.Alcopan – Álcool doPantanal Lt<strong>da</strong>.Brenco – CompanhiaBrasileira <strong>de</strong> EnergiaDestilaria <strong>de</strong> Álcool LibraLt<strong>da</strong>.Agropecuária Novo Milênio– MatrizAgropecuária Novo Milênio– FilialUsimat Destilaria <strong>de</strong> ÁlcoolLt<strong>da</strong>.Mato Grosso do SulAlcoolvaleAngélicaUsinas Itamarati S.A.Biosev – Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> RioBrilhante MistoBiosev – Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> MaracajuBiosev – Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> PassaTempoCBAA – SidrolândiaEldoradoMonte Ver<strong>de</strong>Raizen Caarapó S.A.Açúcar e ÁlcoolSão FernandoSonora EstânciaTonon BioenergiaUsinaviA<strong>de</strong>coagroCentro Oeste IguatemiETH – Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> Costa RicaFátima do SulIacoLagunaSanta HelenaSanta LuziaVicentinaFonte: Brasil (<strong>2013</strong>).taxa <strong>de</strong> analfabetismo e rendimento médio <strong>da</strong>população estão <strong>de</strong>terminando positivamente alocalização <strong>da</strong>s agroindústrias em novas áreascanavieiras, como no caso <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s produtivasnos municípios <strong>de</strong> Goiás, Minas Gerais, Paranáe São Paulo. Vale dizer que Siqueira (<strong>2013</strong>)optou por analisar em seu estudo somente osestados ora citados. A<strong>de</strong>mais, ressalta-se que avariável taxa <strong>de</strong> analfabetismo diz respeito aouso <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra para o corte <strong>de</strong> cana, comumentefeita por pessoas com baixo nível <strong>de</strong>instrução. Contudo, a mecanização <strong>da</strong> colheita<strong>da</strong> cana vem tolhendo essa perspectiva <strong>de</strong> trabalhogradualmente.Todo esse novo panorama <strong>da</strong> cultura canavieirado Centro-Oeste não é uma exclusivi-133Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
<strong>da</strong><strong>de</strong> somente <strong>de</strong>ssa ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Conforme Backes(2009), os novos rumos produtivos ocorridos noCentro-Oeste não po<strong>de</strong>m ser dissociados <strong>da</strong>stransformações na base técnica <strong>da</strong> produçãoagropecuária que ocorreram no País, com forteevidência regional. A adoção <strong>de</strong> equipamentosmecânicos e <strong>de</strong> insumos <strong>de</strong> origem industrial emlarga escala, associa<strong>da</strong> às características físicas<strong>da</strong> região <strong>de</strong> cerrado (com topografia plana, masque pela presença, em alguns casos, <strong>de</strong> solosácidos exigem a aplicação <strong>de</strong> nutrientes), abriuàs indústrias <strong>de</strong> máquinas e <strong>de</strong> insumos químicosum amplo mercado e dinâmica mo<strong>de</strong>rnizante.Logo, a cultura canavieira também foibeneficia<strong>da</strong> por esse processo.Visto que o aumento <strong>da</strong> produção <strong>de</strong>cana-<strong>de</strong>-açúcar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá diretamente <strong>de</strong> recursosnaturais e financeiros (crédito), uma novavariável, o zoneamento agroecológico <strong>da</strong> cana<strong>de</strong>-açúcar(ZAE Cana), precisa ser analisado jáque é capaz <strong>de</strong> limitar a expansão <strong>da</strong> culturacanavieira em algumas áreas e tornar favoráveisoutras, disciplinando a expansão <strong>da</strong> produção<strong>de</strong>ssa cultivar em todo o Brasil.As áreas indica<strong>da</strong>s para a expansão pelo zoneamentoagroecológico <strong>da</strong> cana compreen<strong>de</strong>maquelas atualmente em produção agrícolaintensiva, produção agrícola semi-intensiva,lavouras especiais (perenes, anuais) e pastagens.Estas foram classifica<strong>da</strong>s em três classes<strong>de</strong> potencial (alto, médio e baixo) discrimina<strong>da</strong>sain<strong>da</strong> por tipo <strong>de</strong> uso atual predominante(Agropecuária, <strong>Agricultura</strong> e Pastagem). [...]Estas estimativas <strong>de</strong>monstram que o país nãonecessita incorporar áreas novas e com coberturanativa ao processo produtivo, po<strong>de</strong>ndoexpandir ain<strong>da</strong> a área <strong>de</strong> cultivo com cana<strong>de</strong>-açúcarsem afetar diretamente as terrasutiliza<strong>da</strong>s para a produção <strong>de</strong> alimentos. [...]Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s industriais já instala<strong>da</strong>s, a produção<strong>de</strong> cana para seu suprimento e a expansãoprograma<strong>da</strong> não são objeto <strong>de</strong>ste zoneamento(MANZATTO et al., 2009, p. 7, 9).A Tabela 6 <strong>de</strong>staca um cenário <strong>de</strong> áreaantropiza<strong>da</strong> (verifica-se que foi ocupa<strong>da</strong> pelohomem, ou altera<strong>da</strong> pela ação do homem, incluindo-senão só cultivo como também pastose outros usos) apta para o plantio <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>açúcarpara os principais estados produtores doCentro-Sul e Norte-Nor<strong>de</strong>ste do Brasil.Nesse cotejo, no Centro-Sul percebe-se queas maiores extensões <strong>de</strong> terras aptas estão nos estados<strong>de</strong> Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso doSul, nos quais a dinâmica recente <strong>da</strong> produçãocanavieira vem ocorrendo com mais veemên-Tabela 6. ZAE Cana para os principais estados produtores no Brasil.EstadoÁrea total do estado(hectares)Área antropiza<strong>da</strong> apta para a expansãodo plantio – ZAE Cana (hectares)Goiás 34.008.669 12.600.530Minas Gerais 58.652.829 11.250.202Mato Grosso do Sul 35.712.496 10.869.820São Paulo 24.820.942 10.645.484Mato Grosso 90.335.790 6.812.854Paraná 19.931.485 4.039.496Maranhão 33.198.329 789.547Alagoas 2.776.766 450.537Pernambuco 9.831.161 205.157Fonte: Manzatto et al. (2009).Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>134
cia. Ao revés, São Paulo, Mato Grosso (para este,muito em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> existência <strong>de</strong> biomas naturais– Amazônia e Pantanal – em seu território)e Paraná apresentam as menores áreas antropiza<strong>da</strong>saptas para a expansão do plantio <strong>de</strong> cana<strong>de</strong>-açúcarno Centro-Sul. Quanto aos estados doNorte-Nor<strong>de</strong>ste (representados pelo Maranhão,Alagoas e Pernambuco), verificam-se as menoresáreas antropiza<strong>da</strong>s aptas para a expansãodo plantio <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar em comparaçãocom os estados centro-sulistas analisados. Dessaforma, a expansão <strong>de</strong>ssa cultura, sob a óticado ZAE Cana, <strong>de</strong>verá ocorrer fun<strong>da</strong>mentalmentena região Centro-Oeste, que soma, somente emseus três estados, 52,52% <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a área antropiza<strong>da</strong>apta para a expansão do plantio <strong>de</strong> cana<strong>de</strong>-açúcardos principais estados produtores doPaís; se forem consi<strong>de</strong>rados apenas os estados doCentro-Sul, essa área antropiza<strong>da</strong> seria um poucomaior, equivalendo a 53,87%. Ou seja, em ambosos casos a região Centro-Oeste é mais <strong>da</strong> meta<strong>de</strong><strong>de</strong> to<strong>da</strong> a área antropiza<strong>da</strong> propícia para o crescimentohorizontal <strong>da</strong> cultura canavieira.Em suma, a região Centro-Oeste está setornando a gran<strong>de</strong> beneficiária <strong>da</strong> expansão canavieirano Brasil em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong>variáveis; porém, foram apresentados alguns limitese algumas potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s ao longo <strong>de</strong>steartigo que <strong>de</strong>man<strong>da</strong>m reflexão para que essesetor possa ter um crescimento mais equilibrado,minimizando-se seus pontos fracos e maximizando-seos fortes.Consi<strong>de</strong>rações finaisEste trabalho teve como objetivo analisar aexpansão canavieira no Centro-Oeste do Brasilpara melhor caracterização dos principais limitese potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa importante cultura<strong>da</strong> economia brasileira.Como corolário po<strong>de</strong>-se afirmar, conformea literatura consulta<strong>da</strong> ao longo <strong>de</strong>ste trabalho,que a expansão <strong>da</strong> cultura <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcarno Centro-Oeste vem ocorrendo principalmenteem virtu<strong>de</strong> dos seguintes itens:• Boom <strong>da</strong> agroindústria canavieira motivadopelo contexto <strong>de</strong> busca por maiorsegurança alimentar (o que <strong>de</strong>man<strong>da</strong>o consumo <strong>de</strong> alimentos em nível satisfatório,no qual o açúcar é um componenteimportante <strong>da</strong> cesta básica) esegurança energética sustentável (o que<strong>de</strong>man<strong>da</strong> maior consumo <strong>de</strong> etanol,consi<strong>de</strong>rado um combustível mais “limpo”que os <strong>de</strong>rivados do petróleo).• Saturação <strong>de</strong> áreas e consequente elevaçãodos custos <strong>da</strong> terra em regiõestradicionalmente produtoras, particularmenteem São Paulo.• Decadência <strong>de</strong> regiões <strong>de</strong> tradição secularno setor, como o Nor<strong>de</strong>ste, especialmenteem Pernambuco.• Condições e<strong>da</strong>foclimáticas propíciaspara o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> cana.• Topografia favorável (áreas planas compouca <strong>de</strong>clivi<strong>da</strong><strong>de</strong>), o que estimula ouso <strong>da</strong> mecanização.• Existência <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s extensões <strong>de</strong> terra,pois as agroindústrias canavieiraspriorizam a expansão em uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s produtivasque <strong>de</strong>tenham áreas contínuas,<strong>de</strong> forma a maximizar as operaçõesagronômicas e <strong>de</strong> colheita.• O zoneamento agroecológico <strong>da</strong> cana<strong>de</strong>-açúcarfavorece especialmente oCentro-Oeste – mesmo diante <strong>da</strong> existência<strong>de</strong> importantes biomas nessa<strong>de</strong>limitação geográfica, na região, mais<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a área antropiza<strong>da</strong> épropícia para o crescimento horizontal<strong>da</strong> cultura canavieira nos principais estadosprodutores do País.• No tocante à quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s terras disponíveis,existem terras férteis ain<strong>da</strong> não utiliza<strong>da</strong>spela pecuária extensiva e/ou áreaspobres em nutrientes, mas que po<strong>de</strong>m sercorrigi<strong>da</strong>s pelo uso <strong>da</strong> adubação.• Tradição <strong>de</strong> produção agropecuária noCentro-Oeste e obtenção <strong>de</strong> índices <strong>de</strong>135Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar relevantesno cotejo nacional.• Embora a produção sucroalcooleira regionalesteja pauta<strong>da</strong> um pouco maisno açúcar do que no etanol, essa distribuiçãopossibilita uma diversificaçãoentre esses dois subprodutos, <strong>de</strong> modoa amenizar uma possível crise que umaou outra commodity venha a ter.• Perspectivas <strong>de</strong> melhorias na infraestruturalogística, haja vista a viabili<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> implantação <strong>de</strong> um alcoolduto queligue ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Centro-Oeste com terminaisdo Su<strong>de</strong>ste, facilitando o escoamento<strong>da</strong> produção e constituindo umavia para exportação do etanol.As principais limitações para a expansão<strong>da</strong> cultura canavieira no Centro-Oeste verifica<strong>da</strong>sneste estudo são as seguintes:• Instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> no mercado <strong>de</strong> etanol –por causa <strong>da</strong> contenção pelo governodo preço <strong>da</strong> gasolina e diante do fatoque produzir açúcar está sendo, na atualconjuntura, mais lucrativo para o empresário.Com essa instabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, algunsinvestimentos são tolhidos, e algumasuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s produtivas apresentam dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s.• Ineficiente infraestrutura <strong>de</strong> transporte,no Centro-Oeste, para escoamento doaçúcar e etanol, fortemente pauta<strong>da</strong> nomo<strong>da</strong>l rodoviário, que ain<strong>da</strong> assim é <strong>de</strong>má quali<strong>da</strong><strong>de</strong>.• Pouca tradição no setor sucroalcooleiro,que já é centenário no Brasil, exigindoassim um custo maior para os processos<strong>de</strong> aprendizagem – torna-se premente expandira verificação <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s tecnológicas<strong>da</strong> agroindústria canavieira parao Centro-Oeste, como feito em Shiki<strong>da</strong> etal. (2011) para São Paulo, Minas Gerais eParaná, para testar essa limitação.• Embora para o setor a exigência <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>sextensões <strong>de</strong> terra seja consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>uma vantagem competitiva, sob outraótica a formação <strong>de</strong> latifúndios tambémapresenta problemas, como o recru<strong>de</strong>scimento<strong>da</strong> concentração <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> (RA-MOS, 1999).Por fim, a orientação <strong>de</strong>ste artigo, emboraprofícua para diagnosticar os principais limitese potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> expansão canavieira noCentro-Oeste do Brasil, certamente não encerraas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s metodológicas <strong>de</strong> investigação<strong>de</strong>sse assunto, bem como <strong>de</strong> temas análogos àcultura <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar. Quanto a isso, sugere-se,como novas agen<strong>da</strong>s <strong>de</strong> trabalho, quemais pesquisas possam analisar não só a expansãocanavieira do Centro-Oeste, como tambémsua dinâmica, contribuindo para o <strong>de</strong>bate e <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong>sse importante segmento produtivo<strong>da</strong> economia brasileira.ReferênciasALCOPAR. Associação <strong>de</strong> Produtores <strong>de</strong> Bionergia doEstado do Paraná. Estatísticas. Disponível em: . Acesso em: 08 mar. <strong>2013</strong>.ALVES, L. R. A. Transmissão <strong>de</strong> preços entre produtoresdo setor sucroalcooleiro do Estado <strong>de</strong> São Paulo. 2002.107 f. Dissertação (Mestrado em Economia Aplica<strong>da</strong>)– Escola Superior <strong>de</strong> <strong>Agricultura</strong> Luiz <strong>de</strong> Queiroz,Piracicaba.ANDRADE, M. C. <strong>de</strong>. 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Ponto <strong>de</strong> VistaProfessor RobertE. EvensonUma carreira brilhantemarca<strong>da</strong> por inestimáveiscontribuições à pesquisaagropecuária e à medição dosimpactos <strong>de</strong> seus resultadosAntonio Flavio Dias Avila 1Denisard Cneio <strong>de</strong> Oliveira Alves 2Elmar Rodrigues <strong>da</strong> Cruz 3Robert E. Evenson, professor <strong>de</strong> Economiana Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Yale, que <strong>de</strong>u tantascontribuições à agricultura e à pesquisa agrícolabrasileira ao longo <strong>de</strong> sua carreira, faleceu em2 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> <strong>2013</strong>, aos 78 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>.Graduou-se nas universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Minnesota e<strong>de</strong> Chicago, na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960, e, em 1977, começousua carreira acadêmica na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> Yale. Em Yale, o professor Evenson orientoucentenas <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>ntes que ocupam hoje cargos<strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança em todo o mundo. Ele foi tambémprofessor visitante na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s Filipinas.Como professor <strong>de</strong> Economia em Yale,<strong>de</strong> 1977 a 2007, atuou como diretor do Centro<strong>de</strong> Crescimento Econômico (Economic GrowthCenter) e diretor do Programa Internacional <strong>de</strong>Desenvolvimento Econômico, que oferece curso<strong>de</strong> mestrado, sobretudo a estu<strong>da</strong>ntes <strong>de</strong> paísesem <strong>de</strong>senvolvimento. Robert Evenson foi autor<strong>de</strong> muitos livros, entre os quais os mais recentes– Ciência para agricultura (EVENSON et al.,2006) e Melhoramento genético e seus efeitosem produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> (EVENSON; GOLLIN, 2003)–, nos quais foram analisados os impactos doscentros internacionais <strong>de</strong> pesquisa agrícola doCGIAR. Também merece <strong>de</strong>staque o livro publicadopor Yale conjuntamente com a Embrapa– Avaliação econômica <strong>da</strong> pesquisa agrícola:metodologias e aplicações no Brasil (EVENSONet al., 1987).Além dos diversos livros publicados, colaborouem muitas publicações nas áreas <strong>de</strong> economiaagrícola; <strong>de</strong>senvolvimento e educação;biotecnologia agrícola e <strong>de</strong>senvolvimento; e consumo<strong>de</strong> alimentos geneticamente modificados.Em sua carreira profissional, sempre concentrousena avaliação <strong>de</strong> resultados, usando para tantoos mais variados mo<strong>de</strong>los econométricos.Robert E. Evenson (Bob) visitou o Departamento<strong>de</strong> Economia <strong>da</strong> FEA/USP várias vezesentre 1976 e 2003. Participou <strong>de</strong> pesquisas como professor Denisard Alves e pesquisadores doDepartamento <strong>de</strong> Economia <strong>da</strong> USP, e com professores<strong>de</strong> Yale, como T.N. Srnivasan, Mark Rosenweige Christopher Timmer. Bob orientou, na1Engenheiro-agrônomo, Doutor em Economia Rural pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Montpellier I, pesquisador <strong>da</strong> Embrapa. E-mail: aflavioavila@gmail.com2Economista, Ph.D. em Economia pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Yale, professor <strong>da</strong> FEA/USP. E-mail: dcoalves@usp.br3Economista, Ph.D. pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Londres, ex-pesquisador <strong>da</strong> Embrapa. E-mail: elmar044@gmail.comAno XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>138
USP, alunos <strong>de</strong> Yale em dissertações <strong>de</strong> doutoradosobre a agricultura brasileira.No primeiro trabalho sobre o impacto doaquecimento global no Brasil, publicado em1998, o professor Evenson era um dos autores. Ai<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que os agricultores buscavam tecnologiasa<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s para a produção, o que resultou<strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação, em geral, em queforam aju<strong>da</strong>dos pelos institutos <strong>de</strong> pesquisas,com pesquisadores que ajustavam as tecnologiasao meio ambiente local, foi central em suas análisessobre a agricultura brasileira. Nos seus estudossobre a agricultura brasileira, Bob semprerealçou o papel <strong>da</strong> pesquisa <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> pelosinstitutos <strong>de</strong> pesquisa e pelas empresas para explicaros ganhos <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.Nos trabalhos <strong>de</strong> Evenson no Brasil, oprofessor Denisard <strong>de</strong>staca que ele, nos idos<strong>de</strong> 1994 e 1995, conseguiu colocar numa únicabase <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos várias pesquisas sobre o solobrasileiro e elaborar uma classificação dos tipos<strong>de</strong> solo para o Brasil. Essa base <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos contribuiupara vários trabalhos sobre a agriculturabrasileira. Também <strong>de</strong>staca que, no contexto <strong>da</strong>cooperação Yale/USP, o professor Evenson tambémcolaborou para que vários alunos do Departamento<strong>de</strong> Economia <strong>da</strong> FEA/USP fossemfazer doutorado no Departamento <strong>de</strong> Economia<strong>de</strong> Yale.Em relação ao Brasil, outra gran<strong>de</strong> contribuição<strong>de</strong> Robert Evenson foi feita na Embrapa,on<strong>de</strong>, junto com pesquisadores <strong>da</strong> Empresa, <strong>de</strong>senvolveuinúmeros trabalhos, sempre com ênfaseem impacto. O protagonismo internacionalque a Embrapa assumiu no âmbito <strong>da</strong> avaliação<strong>de</strong> impacto <strong>de</strong>ve muito ao professor Evenson,sobretudo na formação profissional <strong>de</strong> pessoal,por meio <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> pós-doutorado em Yale eeventos <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong> curta duração.Nessa sua relação com a Embrapa, cabe<strong>de</strong>stacar a avaliação <strong>de</strong> impacto do Procisur, oprograma cooperativo <strong>de</strong> pesquisa agropecuáriaque envolve os países do Cone Sul <strong>da</strong> AméricaLatina, que foi li<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> pelo professor Evenson.Em tal trabalho, <strong>de</strong>senvolvido em 1990–1991, eque contou com apoio <strong>de</strong> técnicos <strong>da</strong> Embrapa,foram analisados os impactos do Programa noâmbito regional e por país. As suas recomen<strong>da</strong>çõesforam fun<strong>da</strong>mentais para o aprimoramentoe a sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tal programa regional,existente até hoje.Elmar Cruz, ex-pesquisador <strong>da</strong> Embrapa,que foi orientado do professor Evenson em seupós-doutorado em Yale, na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980,também ressalta que ele sempre se preocupoucom o impacto <strong>da</strong> pesquisa na produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>agrícola. Quanto aos trabalhos <strong>de</strong>senvolvidossobre esse tema, Elmar lembra que ele semprebuscou inovar em suas medições <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>,tendo sido pioneiro na América Latina nouso <strong>de</strong> publicações como variável quantitativa,bem como pela inclusão <strong>da</strong>s interações <strong>de</strong> pesquisa/extensão.Elmar foi coautor <strong>de</strong> vários trabalhoscom o professor Evenson, com <strong>de</strong>staquepara a avaliação do Procisur.Já Flavio Avila, também um dos colaboradoresdo professor Evenson em seus estudosno Brasil, <strong>de</strong>staca os trabalhos <strong>de</strong>senvolvidossob sua li<strong>de</strong>rança na área <strong>de</strong> medição dos ganhos<strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> agricultura brasileira,por meio do índice <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> total dosfatores (PTF). Foram várias as análises realiza<strong>da</strong>spara não só construir tais índices, mas sobretudotentar i<strong>de</strong>ntificar as fontes <strong>de</strong> suas variações, segundoas regiões e ecossistemas brasileiros.Finalmente, cabe <strong>de</strong>stacar que, sem sombra<strong>de</strong> dúvi<strong>da</strong>, a Embrapa <strong>de</strong>ve muito ao professorEvenson pela excelente imagem que hojeela possui na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira. Os estudos<strong>de</strong> impacto por ele <strong>de</strong>senvolvidos, ou então poraqueles que por ele foram capacitados, forame ain<strong>da</strong> estão sendo essenciais para a sua sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong>institucional. O Balanço Social <strong>da</strong>Embrapa, um dos pilares <strong>de</strong>ssa imagem, emboranão tenha sido fruto direto <strong>de</strong> sua atuação como“brasilianista”, certamente tem a sua mão invisível,<strong>da</strong><strong>da</strong> a origem <strong>da</strong> formação dos membros <strong>de</strong>sua equipe.139Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>
ReferênciasEVENSON, R. E.; CRUZ, E. R. <strong>da</strong>; AVILA, A. F. D.;PALMA, V. Economic evaluation of agricultural research:methodologies and brazilian applications. New Haven:The Economic Growth Center, Yale University; Brasília,DF: Embrapa, 1987.EVENSON, R. E.; HUFFMAN, W. Science for Agriculture.2 nd ed. Ames: Iowa State University, 2006.EVENSON, R. E.; GOLLIN, D. (Ed.). Crop varietyimprovement and its effect on productivity: the impactof international agricultural research. Oxon, UK: CABInternational, 2003.Ano XXII – N o 2 – Abr./Maio/Jun. <strong>2013</strong>140
Instrução aos autores1. Tipo <strong>de</strong> colaboraçãoSão aceitos, por esta <strong>Revista</strong>, trabalhos que se enquadrem nasáreas temáticas <strong>de</strong> política agrícola, agrária, gestão e tecnologiaspara o agronegócio, agronegócio, logísticas e transporte, estudos<strong>de</strong> casos resultantes <strong>da</strong> aplicação <strong>de</strong> métodos quantitativos equalitativos aplicados a sistemas <strong>de</strong> produção, uso <strong>de</strong> recursosnaturais e <strong>de</strong>senvolvimento rural sustentável que ain<strong>da</strong> não forampublicados nem encaminhados a outra revista para o mesmo fim,<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s seguintes categorias: a) artigos <strong>de</strong> opinião; b) artigoscientíficos; e d) textos para <strong>de</strong>bates.Artigo <strong>de</strong> opiniãoÉ o texto livre, mas bem fun<strong>da</strong>mento, sobre algum tema atual e<strong>de</strong> relevância para os públicos do agronegócio. Deve apresentar oestado atual do conhecimento sobre <strong>de</strong>terminado tema, introduzirfatos novos, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r i<strong>de</strong>ias, apresentar argumentos e <strong>da</strong>dos,fazer proposições e concluir <strong>de</strong> forma coerente com as i<strong>de</strong>iasapresenta<strong>da</strong>s.Artigo científicoO conteúdo <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> trabalho <strong>de</strong>ve primar pela originali<strong>da</strong><strong>de</strong>, istoé, ser elaborado a partir <strong>de</strong> resultados inéditos <strong>de</strong> pesquisa queofereçam contribuições teóricas, metodológicas e substantivaspara o progresso do agronegócio brasileiro.Texto para <strong>de</strong>batesÉ um texto livre, na forma <strong>de</strong> apresentação, <strong>de</strong>stinado à exposição<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e opiniões, não necessariamente conclusivas, sobretemas importantes, atuais e controversos. A sua principalcaracterística é possibilitar o estabelecimento do contraditório.O texto para <strong>de</strong>bate será publicado no espaço fixo <strong>de</strong>sta <strong>Revista</strong>,<strong>de</strong>nominado Ponto <strong>de</strong> Vista.2. EncaminhamentoAceitam-se trabalhos escritos em Português. Os originais <strong>de</strong>vemser encaminhados ao Editor, via e-mail, para o en<strong>de</strong>reço regina.vaz@agricultura.gov.br.A carta <strong>de</strong> encaminhamento <strong>de</strong>ve conter: título do artigo; nomedo(s) autor(es); <strong>de</strong>claração explícita <strong>de</strong> que o artigo não foienviado a nenhum outro periódico, para publicação.3. Procedimentos editoriaisa) Após análise crítica do Conselho Editorial, o editor comunicaaos autores a situação do artigo: aprovação, aprovaçãocondicional ou não aprovação. Os critérios adotados são osseguintes:• a<strong>de</strong>quação à linha editorial <strong>da</strong> <strong>Revista</strong>;• valor <strong>da</strong> contribuição do ponto <strong>de</strong> vista teórico, metodológico esubstantivo;• argumentação lógica, consistente e que, ain<strong>da</strong> assim, permitacontra-argumentação pelo leitor (discurso aberto);• correta interpretação <strong>de</strong> informações conceituais e <strong>de</strong> resultados(ausência <strong>de</strong> ilações falaciosas);• relevância, pertinência e atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s referências.b) São <strong>de</strong> exclusiva responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos autores as opiniõese os conceitos emitidos nos trabalhos. Contudo, o editor, com aassistência dos conselheiros, reserva-se o direito <strong>de</strong> sugerir ousolicitar modificações aconselha<strong>da</strong>s ou necessárias.c) Eventuais modificações <strong>de</strong> estrutura ou <strong>de</strong> conteúdo, sugeri<strong>da</strong>saos autores, <strong>de</strong>vem ser processa<strong>da</strong>s e <strong>de</strong>volvi<strong>da</strong>s ao Editor, noprazo <strong>de</strong> 15 dias.d) A sequência <strong>da</strong> publicação dos trabalhos é <strong>da</strong><strong>da</strong> pela conclusão<strong>de</strong> sua preparação e remessa à oficina gráfica, quando, então,não serão permitidos acréscimos ou modificações no texto.e) À Editoria e ao Conselho Editorial é faculta<strong>da</strong> a encomen<strong>da</strong><strong>de</strong> textos e artigos para publicação.4. Forma <strong>de</strong> apresentaçãoa) Tamanho – Os trabalhos <strong>de</strong>vem ser apresentados no programaWord, no tamanho máximo <strong>de</strong> 20 páginas, espaço 1,5 entre linhase margens <strong>de</strong> 2 cm nas laterais, no topo e na base, em formatoA4, com páginas numera<strong>da</strong>s. A fonte é Times New Roman, corpo12 para o texto e corpo 10 para notas <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>pé. Utilizar apenasa cor preta para todo o texto. Devem-se evitar agra<strong>de</strong>cimentose excesso <strong>de</strong> notas <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>pé.b) Títulos, Autores, Resumo, Abstract e Palavras-chave (keywords)– Os títulos em Português <strong>de</strong>vem ser grafados em caixabaixa,exceto a primeira palavra, ou em nomes próprios, com, nomáximo, 7 palavras. Devem ser claros e concisos e expressaro conteúdo do trabalho. Grafar os nomes dos autores porextenso, com letras iniciais maiúsculas. O Resumo e o Abstractnão <strong>de</strong>vem ultrapassar 200 palavras. Devem conter síntese dosobjetivos, <strong>de</strong>senvolvimento e principal conclusão do trabalho.É exigi<strong>da</strong>, também, a indicação <strong>de</strong> no mínimo três e no máximocinco palavras-chave e key-words. Essas expressões <strong>de</strong>vem sergrafa<strong>da</strong>s em letras minúsculas, exceto a letra inicial, e segui<strong>da</strong>s<strong>de</strong> dois-pontos. As Palavras-chave e Key-words <strong>de</strong>vem sersepara<strong>da</strong>s por vírgulas e inicia<strong>da</strong>s com letras minúsculas, não<strong>de</strong>vendo conter palavras que já apareçam no título.c) No ro<strong>da</strong>pé <strong>da</strong> primeira página, <strong>de</strong>vem constar a qualificaçãoprofissional principal e o en<strong>de</strong>reço postal completo do(s) autor(es),incluindo-se o en<strong>de</strong>reço eletrônico.d) Introdução – A palavra Introdução <strong>de</strong>ve ser grafa<strong>da</strong> em caixaaltae baixa e alinha<strong>da</strong> à esquer<strong>da</strong>. Deve ocupar, no máximoduas páginas e apresentar o objetivo do trabalho, a importânciae a contextualização, o alcance e eventuais limitações do estudo.e) Desenvolvimento – Constitui o núcleo do trabalho, on<strong>de</strong> quese encontram os procedimentos metodológicos, os resultados <strong>da</strong>pesquisa e sua discussão crítica. Contudo, a palavra Desenvolvimentojamais servirá <strong>de</strong> título para esse núcleo, ficando a critériodo autor empregar os títulos que mais se apropriem à natureza doseu trabalho. Sejam quais forem as opções <strong>de</strong> título, ele <strong>de</strong>ve seralinhado à esquer<strong>da</strong>, grafado em caixa-baixa, exceto a palavrainicial ou substantivos próprios nele contido.Em todo o artigo, a re<strong>da</strong>ção <strong>de</strong>ve priorizar a criação <strong>de</strong> parágrafosconstruídos com orações em or<strong>de</strong>m direta, prezando pela clarezae concisão <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias. Deve-se evitar parágrafos longos que nãoestejam relacionados entre si, que não explicam, que não secomplementam ou não concluam a idéia anterior.f) Conclusões – A palavra Conclusões ou expressão equivalente<strong>de</strong>ve ser grafa<strong>da</strong> em caixa-alta-e-baixa e alinha<strong>da</strong> à esquer<strong>da</strong> <strong>da</strong>página. São elabora<strong>da</strong>s com base no objetivo e nos resultadosdo trabalho. Não po<strong>de</strong>m consistir, simplesmente, do resumo dosresultados; <strong>de</strong>vem apresentar as novas <strong>de</strong>scobertas <strong>da</strong> pesquisa.Confirmar ou rejeitar as hipóteses formula<strong>da</strong>s na Introdução, sefor o caso.
g) Citações – Quando incluídos na sentença, os sobrenomesdos autores <strong>de</strong>vem ser grafados em caixa-alta-e-baixa, com a<strong>da</strong>ta entre parênteses. Se não incluídos, <strong>de</strong>vem estar também<strong>de</strong>ntro do parêntesis, grafados em caixa-alta, separados <strong>da</strong>s<strong>da</strong>tas por vírgula.• Citação com dois autores: sobrenomes separados por “e”quando fora do parêntesis e com ponto e vírgula quando entreparêntesis.• Citação com mais <strong>de</strong> dois autores: sobrenome do primeiro autorseguido <strong>da</strong> expressão et al. em fonte normal.• Citação <strong>de</strong> diversas obras <strong>de</strong> autores diferentes: obe<strong>de</strong>cer àor<strong>de</strong>m alfabética dos nomes dos autores, separa<strong>da</strong>s por pontoe vírgula.• Citação <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um documento dos mesmos autores: nãohá repetição dos nomes dos autores; as <strong>da</strong>tas <strong>da</strong>s obras, emor<strong>de</strong>m cronológica, são separa<strong>da</strong>s por vírgula.• Citação <strong>de</strong> citação: sobrenome do autor do documento originalseguido <strong>da</strong> expressão “citado por” e <strong>da</strong> citação <strong>da</strong> obraconsulta<strong>da</strong>.• Citações literais que contenham três linhas ou menos <strong>de</strong>vemaparecer aspea<strong>da</strong>s, integrando o parágrafo normal. Após o ano<strong>da</strong> publicação, acrescentar a(s) página(s) do trecho citado (entreparênteses e separados por vírgula).• Citações literais longas (quatro ou mais linhas) serão <strong>de</strong>staca<strong>da</strong>sdo texto em parágrafo especial e com recuo <strong>de</strong> quatroespaços à direita <strong>da</strong> margem esquer<strong>da</strong>, em espaço simples,corpo 10.h) Figuras e Tabelas – As figuras e tabelas <strong>de</strong>vem ser cita<strong>da</strong>s notexto em or<strong>de</strong>m sequencial numérica, escritas com a letra inicialmaiúscula, segui<strong>da</strong>s do número correspon<strong>de</strong>nte. As citaçõespo<strong>de</strong>m vir entre parênteses ou integrar o texto. As tabelas eas figuras <strong>de</strong>vem ser apresenta<strong>da</strong>s, em local próximo ao <strong>de</strong>sua citação. O título <strong>de</strong> tabela <strong>de</strong>ve ser escrito sem negrito eposicionado acima <strong>de</strong>la. O título <strong>de</strong> figura também <strong>de</strong>ve ser escritosem negrito, mas posicionado abaixo <strong>de</strong>la. Só são aceitas tabelase figuras cita<strong>da</strong>s no texto.i) Notas <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>pé – As notas <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>pé <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong> naturezasubstantiva (não bibliográficas) e reduzi<strong>da</strong>s ao mínimo necessário.j) Referências – A palavra Referências <strong>de</strong>ve ser grafa<strong>da</strong> comletras em caixa-alta-e-baixa, alinha<strong>da</strong> à esquer<strong>da</strong> <strong>da</strong> página.As referências <strong>de</strong>vem conter fontes atuais, principalmente <strong>de</strong>artigos <strong>de</strong> periódicos. Po<strong>de</strong>m conter trabalhos clássicos maisantigos, diretamente relacionados com o tema do estudo. Devemser normaliza<strong>da</strong>s <strong>de</strong> acordo com a NBR 6023 <strong>de</strong> Agosto 2002,<strong>da</strong> ABNT (ou a vigente).Devem-se referenciar somente as fontes utiliza<strong>da</strong>s e cita<strong>da</strong>s naelaboração do artigo e apresenta<strong>da</strong>s em or<strong>de</strong>m alfabética.Os exemplos a seguir constituem os casos mais comuns, tomadoscomo mo<strong>de</strong>los:Monografia no todo (livro, folheto e trabalhos acadêmicospublicados).WEBER, M. Ciência e política: duas vocações. Trad. <strong>de</strong> Leôni<strong>da</strong>sHegenberg e Octany Silveira <strong>da</strong> Mota. 4. ed. Brasília, DF: EditoraUnB, 1983. 128 p. (Coleção Weberiana).ALSTON, J. M.; NORTON, G. W.; PARDEY, P. G. Scienceun<strong>de</strong>r scarcity: principles and practice for agricultural researchevaluation and priority setting. Ithaca: Cornell University Press,1995. 513 p.Parte <strong>de</strong> monografiaOFFE, C. The theory of State and the problems of policy formation.In: LINDBERG, L. (Org.). Stress and contradictions in mo<strong>de</strong>rncapitalism. Lexinghton: Lexinghton Books, 1975. p. 125-144.Artigo <strong>de</strong> revistaTRIGO, E. J. Pesquisa agrícola para o ano 2000: algumasconsi<strong>de</strong>rações estratégicas e organizacionais. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong>Ciência & Tecnologia, Brasília, DF, v. 9, n. 1/3, p. 9-25, 1992.Dissertação ou TeseNão publica<strong>da</strong>:AHRENS, S. A seleção simultânea do ótimo regime <strong>de</strong><strong>de</strong>sbastes e <strong>da</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> rotação, para povoamentos <strong>de</strong> pínustae<strong>da</strong> L. através <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> programação dinâmica.1992. 189 f. Tese (Doutorado) – Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná,Curitiba.Publica<strong>da</strong>: <strong>da</strong> mesma forma que monografia no todo.Trabalhos apresentados em CongressoMUELLER, C. C. Uma abor<strong>da</strong>gem para o estudo <strong>da</strong> formulação<strong>de</strong> políticas agrícolas no Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DEECONOMIA, 8., 1980, Nova Friburgo. Anais... Brasília: ANPEC,1980. p. 463-506.Documento <strong>de</strong> acesso em meio eletrônicoCAPORAL, F. R. Bases para uma nova ATER pública. SantaMaria: PRONAF, 2003. 19 p. Disponível em: . Acesso em:06 mar. 2005.MIRANDA, E. E. <strong>de</strong> (Coord.). Brasil visto do espaço: Goiás eDistrito Fe<strong>de</strong>ral. Campinas, SP: Embrapa Monitoramento porSatélite; Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2002. 1CD-ROM. (Coleção Brasil Visto do Espaço).LegislaçãoBRASIL. Medi<strong>da</strong> provisória n o 1.569-9, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>1997. Estabelece multa em operações <strong>de</strong> importação, e dáoutras providências. Diário Oficial [<strong>da</strong>] República Fe<strong>de</strong>rativado Brasil, Po<strong>de</strong>r Executivo, Brasília, DF, 14 <strong>de</strong>z. 1997. Seção1, p. 29514.SÃO PAULO (Estado). Decreto n o 42.822, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong>1998. Lex: coletânea <strong>de</strong> legislação e jurisprudência, São Paulo,v. 62, n. 3, p. 217-220, 1998.5. Outras informaçõesa) O autor ou os autores receberão três exemplares do número<strong>da</strong> <strong>Revista</strong> no qual o seu trabalho tenha sido publicado.b) Para outros pormenores sobre a elaboração <strong>de</strong> trabalhosa serem enviados à <strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Política</strong> <strong>Agrícola</strong>, contatar ocoor<strong>de</strong>nador editorial, Wesley José <strong>da</strong> Rocha, ou a secretária,Regina M. Vaz, em:wesley.jose@embrapa.brTelefone: (61) 3448-2418 (Wesley)Telefone: (61) 3218-2209 (Regina)