L+D 12
Edição 12: Março/ Abril de 2006
Edição 12: Março/ Abril de 2006
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l+d
iluminação + design + arquitetura
FACES DA LUZ
Luz, arte e muita festa em Lisboa e Lyon
POESIA ORIENTAL
O primoroso projeto da Casa de Hóspedes do Estado, em Quioto
ano 2 ed.12 mar/abr 2007
www.revistald.com.br
OS PRIMÓRDIOS DO OFÍCIO
A história de Richard Kelly, um dos pioneiros do Lighting Design
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sumário
Capa
Capa: instalação “Fado
Morgana”, do grupo
belga Het Pakt! para o
Luzboa, em Portugal.
Foto: Andrés Otero> 40
1>¿QuÉ Pasa?
Movimentação do mercado e sugestões de atualização
profissional>20
2>eventos
O Festival das Luzes de Lyon, na França>28
Luzboa em Portugal>40
2
3
3>projetos de cá
Atelier Vanguarda, em São Paulo, por Gilberto Franco e Carlos
Fortes>48
Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, por Fabiano Xavier e
Alain Maître>54
Showroom da SAAD, em São Paulo, por Guinter
Parscharlk>60
4>projetos de lá
Casa de Hóspedes do Estado, em Quioto (Japão), por Kaoru
Mende>64
4
5>raio x
Luminárias de Orientação com Led, da Erco>72
Pagoda, da Louis Poulsen>74
Wafer, de Ingo Maurer>75
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6>portfolio
Richard Kelly>76
5
6
7>etc
Editorial>16
Relação de endereços>82
EDITORIAL
Iluminação, arte e invenção
Paulo Bareta
Recentemente, em sua coluna na Folha de São Paulo, o escritor Bernardo
Carvalho escreveu que “em arte, você pode defender muita coisa em teoria,
mas muitas vezes é só na realização dos outros que consegue aquilatar a
verdade e o alcance daquilo em que se acredita. Por isso, os outros artistas
são tão importantes para os artistas. Porque abrem caminhos e apontam
desvios onde parecia não haver saídas”.
Bernardo Carvalho falava sobre literatura, mas acredito que os conceitos
valem perfeitamente para a iluminação. De fato, também na iluminação
os trabalhos estrangeiros, na sua pluralidade, são essenciais para a iluminação
de qualquer país, tanto contra a hipertrofia da auto-imagem e dos
modelos nacionais como contra a imposição de um consenso mundial
estético, ideológico ou mercadológico. Segundo o autor, “o que resiste
como estrangeiro (estranho) serve de antídoto e de contra-exemplo quando
a realidade insiste em contradizer projetos desviantes e quando, de tanto
lutar por eles os artistas fraquejam e cedem ao que os cerca”.
Quando você acha que tudo só pode ser de um jeito (quando todo
mundo faz do mesmo jeito), só a surpresa de obras inusitadas (e muitas
vezes indesejáveis) permite redescobrir o próprio fundamento do que
leva à iluminação e à arte: que sempre haverá outros jeitos. O sentido
de liberdade que esses contra-exemplos produzem é fundamental para a
sobrevivência de qualquer criação.
É exatamente essa a mensagem, ao meu ver, “estampada” em cada uma
das instalações dos dois eventos internacionais apresentados nessa edição
- Luzboa e Fête des Lumières de Lyon. Exageros de cores, excessos tecnológicos
e juízos de valor à parte, os eventos exaltam exatamente esse elemento
fundamental para existência e continuidade da arte: a invenção.
Boa leitura
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expediente
PUBLISHER
>Thiago Mata Gaya
REDAÇÃO | redacao@portallumiere.com.br
EDITOR
>Thiago Mata Gaya
REPORTAGEM
>Gustavo Garde
REVISÃO
>Carolina Caires Coelho
ARTE | arte@portallumiere.com.br
Jones Siqueira
Pedro Saito
PUBLICIDADE | publicidade@portallumiere.com.br
PARA ANUNCIAR LIGUE:
>11 6827-0660
>Impressão_Gráfica Ipsis
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO
> Andrés Otero, Fernando Prado, Gilberto Franco, Orlando Marques, Paula
Longato, Sergio Binda e Verônica Coutinho (Ascom RIOLUZ)
A Revista L+D é uma publicação da Editora Lumière, dirigida a arquitetos, lighting designers,
decoradores, paisagistas, projetistas, designers, engenheiros, prefeituras, construtoras,
incorporadoras, shopping centers, fabricantes e lojistas do setor.
Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias ou fotos sem expressa autorização
da Editora Lumière.
FILIADA A
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ASSINATURAS | assinaturas@portallumiere.com.br
COORDENADOR
>Márcio Silva
EQUIPE
>Maria Fernanda Nicolai e Robson Costa
CONSELHO EDITORIAL
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1_EDO ROCHA> arquiteto urbanista e artista plástico, membro da
Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (AsBEA) e diretorpresidente
da Edo Rocha Arquitetura e Planejamento. 2_ELVO CALIX-
TO> doutor em iluminação, pesquisador do Instituto de Eletrotécnica e
Energia da Universidade de São Paulo (IEE-USP). 3_ESTHER STILLER>
arquiteta, lighting designer e diretora da Esther Stiller Consultoria.
4_FÁBIO FALANGHE> designer pós-graduado pelo Istituto Europeo
di Design e projetista luminotécnico, titular do escritório E27.
5_IAKYRA BOUGLEUX> física e presidente do Comitê Nacional da
Comissão Internacional de Iluminação (CIE-Brasil), chefe da Divisão de
Metrologia Ótica do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização
e Qualidade Industrial (Inmetro). 6_MARCOS ELLERT> engenheiro
eletrônico e gerente de vendas da Osram. 7_ROSE JUNG> Arquiteta
e sócia do escritório Paulo Lisboa Arquitetura.
¿QuÉ Pasa?
Por Gustavo Garde
malas prontas para a euroluce 2007
Divulgação / Euroluce
Divulgação / Euroluce
Está chegando a hora de um dos mais aguardados eventos do calendário de
arquitetura, iluminação e mobiliário contemporâneo do ano. A cidade de Milão
recebe, entre os dias 18 e 23 de abril, a edição 2007 do aclamado I Saloni.
Promovido pela Cosmit, o evento traz como carro-chefe a 24ª Euroluce, referência
mundial para o setor de iluminação, e que apresenta a cada dois anos
ao público e aos profissionais da área as inovações tecnológicas e a vanguarda
no design de iluminação residencial, comercial, técnica e pública. Essa edição
contará com mais de 500 empresas do mundo todo, ocupando uma área de
aproximadamente 50 mil m² dentro do espaço Rho Fairgrounds, que abriga
o I Saloni pelo 2º ano consecutivo. Além desse espaço, toda a iluminação da
cidade de Milão será envolvida na ocasião.
Outros três eventos acontecem simultaneamente à Euroluce dentro do I
Saloni. Um deles, o Salão Internacional do Móvel, é a oportunidade perfeita
para quem quer conhecer e se encantar com as grandes novidades de design
e mobiliário contemporâneos. Já a Mostra Internacional de Acessórios para
o Mobiliário, em seu 46º ano, exibe cases reconhecidos por sua excelência
estética e funcional.
Finalmente, o Salão Satélite representa o “celeiro” dos novos e promissores
talentos do design internacional. Nele, os jovens profissionais têm a chance
de mostrar seu trabalho e trocar experiências com quem já está no mercado
há mais tempo.
A Câmara Ítalo-Brasileira promove pacotes especiais para grupos de visitantes
nas principais feiras italianas, oferecendo apoio logístico e operacional. O
pacote inclui passagens aéreas, acomodação, ingressos para a feira, translado
aeroporto-hotel-aeroporto e assistência durante toda a viagem. Para consultar
os pacotes e obter mais informações, entre no site www.italcam.com.br ou
através do telefone 11.3179.0130.
Divulgação / Euroluce
O quê: Euroluce 2007
Onde: Rho fairgrounds – Milão, Itália
Quando: 18 a 23 de abril de 2007
Mais informações: +39 02725941
www.cosmit.it / info@cosmit.it
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Divulgação / Euroluce
¿QuÉ Pasa?
Design brasileiro é premiado no exterior
Para não perder o hábito, o Brasil marca presença mais uma vez na iF Design
Award, uma das mais importantes premiações internacionais da categoria e que
concede anualmente, desde 1954, um selo de distinção a objetos de design em
todo o mundo. Dos 156 projetos brasileiros inscritos na edição 2007, 154 foram
selecionados pela banca internacional da premiação alemã como finalistas. Desse
montante, foram premiados 19 produtos e 17 empresas nacionais.
Essa participação maciça dos projetos brasileiros só foi possível graças ao
apoio do Design Excellence Brazil (DEBrazil) e da parceria entre a APEX Brasil e
o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Também teve
participação fundamental nesse processo a Câmara Brasil-Alemanha.
Na categoria Lighting, a Lumini Soluções em Iluminação, de São Paulo, foi
uma das premiadas pelo quinto ano consecutivo. Dessa vez, com duas diferentes
luminárias: a Cut e a Bossa. “As duas têm como característica principal
a versatilidade de aplicações por meio da interação com o usuário, tornando
o produto menos ocioso”, explica Fernando Prado, Gerente de Produto da
Lumini. Segundo ele, esses prêmios são resultado do investimento da empresa
em design como uma estratégia de mercado. “A estética é uma característica
muito importante em uma peça. Tem uma função emocional que, assim como
a função prática, procura melhorar a vida dos usuários”, conta.
Ainda na categoria lighting, para completar a participação brasileira, foram
premiadas a Ever Light Indústria e Comércio com as luminárias Sotile Spot e Sotile
Pendente, do designer Giuliano Brandi, e a Marton + Marton, com as luminárias
de acrílico LUX 001 e LUG 003, desenhadas por José Antônio Marton.
Apesar dos resultados já estarem disponibilizados desde o começo de dezembro
de 2006, o evento de premiação acontece no dia 15 de março de 2007 em
Hannover, na Alemanha, quando os selecionados poderão exibir suas peças.
Lug 003
Lux 001
O quê: IF Design Award 2007
Quando: 15 de março de 2007
Onde: Hannover (Alemanha)
Mais informações: www.ifdesign.de
Bossa
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Cut
¿QuÉ Pasa?
La Lampe by Ingo Maurer
Desde o dia 26 de fevereiro, o showroom da La Lampe, em São Paulo, exibe suas
novas vitrines com o conceito ‘La Lampe by Ingo Maurer’. O tema também está presente
em todos os showrooms da empresa, localizados nas principais capitais brasileiras.
Em São Paulo, além da vitrine, todo o interior da La Lampe foi preparado
para mostrar aos visitantes aplicações práticas das luminárias, que estão distribuídas
pelos ambientes da loja.
O lustre Birdie, um dos mais conhecidos do designer e destaque da coleção,
pode ser visto no living. A peça convida o cliente a exercitar sua criatividade: as
12 lâmpadas fixadas em arames flexíveis dão um caráter lúdico à peça, permitindo
que elas sejam posicionadas de acordo com o desejo e a necessidade do
cliente. Suas asinhas são feitas de metal e pena de ganso, conferindo à peça a
sensação de leveza do vôo dos pássaros.
Birdie
O quê: La Lampe By Ingo Maurer
Quando: 26 de fevereiro a 1º de agosto
Onde: Lojas La Lampe em todo o Brasil
Informações: (11) 3069-3949
Nova tecnologia em leds
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Divulgação / Philips
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A Philips Lumileds, líder mundial no mercado de Leds, anunciou no
último mês de janeiro o advento de uma nova tecnologia para Leds
brancos de alta performance. A novidade permite uma luminância até
então inédita para esse tipo de fonte de luz.
Os novos Lumileds Luxeon K2, chips de 1x1m² para Leds brancos,
são capazes de, operando a 350 mA, fornecer 136 lúmens para uma
fonte de luz de 115 lúmens por Watt, com uma temperatura de cor
de 4685 K. Funcionando com 2000 mA, podem proporcionar 502
lúmens para uma fonte de 61 lúmens por Watt.
Esses Leds são os primeiros de alta performance a quebrar a marca
de 100 lúmens por Watt e evidenciam o avanço e o potencial da tecnologia
de iluminação em estado sólido.
Além da luminância, os novos Lumileds K2 também apresentam
uma vida útil mais longa quando operados a 1000 - 2000mA. Com
isso, a empresa busca aumentar a eficiência e a qualidade luminosa
desses produtos, aliando baixo custo a uma vasta possibilidade de
aplicações (como iluminação automotiva, flashs para máquina fotográfica,
televisores LCD, entre outras).
O primeiro Led de alta performance foi introduzido pela Philips
no mercado em 1999. Hoje, oito anos depois, os novos Lumileds K2
apresentam uma performance 17 vezes maior que o seu antecessor,
operando com a mesma potência.
A Philips conseguiu atingir esses índices graças a estudos, pesquisas
e à soma de algumas tecnologias que têm sido desenvolvidas dentro da
empresa nos últimos anos. Os primeiros produtos a utilizarem a nova
tecnologia devem ser introduzidos no mercado até abril. Esse lançamento
é o primeiro de uma série que a empresa prepara para 2007.
Lumileds Luxeon K2 Philips de alta performance
• Corrente..................... 350 mA / 2000mA
• Lúmens...................... 136 / 502
• Lúmens por Watt ...... 115 / 61
• Watts.......................... 1.2 / 8.3
¿QuÉ Pasa?
SCHRÉDER, LUZ DOS MONUMENTOS!
Lightfair 2007
Igreja de Nossa Senhora da Candelária
Rio de Janeiro, RJ
Christian Richters
Philip Rose
Jomar Bragança
Considerado um dos eventos mais importantes do calendário anual
de iluminação por seu caráter de formação e atualização profissional,
a Lightfair International 2007 oferece, em sua 18ª edição, 72 cursos
e palestras ministrados por renomados profissionais da iluminação
mundial. Ao todo serão mais de 210 horas de programação.
Entre os temas presentes estão os softwares para projetos de iluminação,
fundamentos da iluminação, inovação, design e estudos
de casos específicos - como o Georgia Aquarium, o New York Times
Building e museus americanos.
Outros cursos oferecerão certificações internacionais AIA, ASID, IIDA,
IESNA e IFMA, dependendo ainda da aprovação de cada entidade.
Patrocinada pelo IALD e IESNA, a Lightfair 2007conta também com
exposição de produtos para iluminação comercial e arquitetônica.
Na ocasião ainda serão premiados os produtos mais inovadores e as
tecnologias emergentes de iluminação presentes na grande indústria.
O novo LFI Innovation Awards premiará os produtos a partir das seguintes
categorias: Produto Mais Inovador do Ano, Inovação Técnica,
Excelência em Design e Menção dos Jurados. As inscrições foram encerradas
no último dia 23 de fevereiro. Todos os produtos concorrentes
serão exibidos em telões durante o evento e constarão em seu catálogo
oficial. A premiação está prevista para o dia 8 de maio.
No dia 9, o IALD ainda promove sua 24ª festa de premiação dos
melhores projetos de Lighting Design do ano no Alfred Lerner Hall,
dentro do Campus da Universidade de Columbia, também em Nova
York. A cerimônia será precedida por um jantar beneficente, onde
serão arrecadados fundos para a divisão de educação do IALD a fim
de estimular atividades relacionadas ao futuro da profissão Lighting
Design ao redor do planeta.
Mais uma vez a editora Lumière marcará presença no evento como
mídia internacional convidada.
A Schréder se
sente honrada por
ter sido escolhida
com exclusividade
para fornecer os
equipamentos de
iluminação desta
obra de arte.
Igreja de Nossa Senhora da Candelária
Projeto Luminotécnico:
Arqto. Fabiano Xavier e
Arqto. Alain Maître do Atelier Lumière.
Processo desenvolvido por:
Citéluz Serviços de Iluminação Urbana Ltda.
www.citeluz.com.br
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Nas fotos acima, alguns dos projetos vencedores
do IALD Design Award 2006
O quê: Lightfair 2007 e Premiação IALD Design Award 2007
Quando: 6 a 10 de maio
Onde: Javits Convention Center – Nova York (EUA)
Informações: 1(404) 220-2215
www.lightfair.com / info@lightfair.com
Schréder do Brasil Iluminação ltda.
Rua Forte do Rio Branco, 300
Pq. Industrial São Lourenço
São Paulo – SP – 08340-140
Fone: 11 6114-4300 | Fax: 11 6114-4318
vendas@schreder.com.br
www.schreder.com.br
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evento : lyon . fête des lumières
Espetáculo de luz!
Por Thiago Gaya e Andrés Otero
Fotos de Andrés Otero, com exclusividade para a L+D
Aconteceu entre os dias 7 e 10 de dezembro a tradicional
Fête des Lumières de Lyon, o maior evento público de iluminação
do mundo, que reuniu em sua quinta edição anual quatro milhões
de pessoas. As 70 intervenções expandiram-se além dos tradicionais
locais do centro histórico para ocupar novos espaços, geridos pelos
próprios moradores dos bairros do subúrbio lionês.
A origem do evento remete ao dia 8 de dezembro de 1962, quando
foi inaugurada na capela Fourvière a estátua da Virgem Maria. Nessa
data, as pessoas colocaram velas em suas janelas para agradecer
e homenagear a Virgem, responsável, segundo a crença local, pela
erradicação de uma epidemia que assolara Lyon na época. O que era
uma festividade religiosa atravessou os anos e acabou se tornando uma
das maiores referências do calendário dos eventos de lighting design,
atraindo milhares de turistas e profissionais de todo o planeta.
A grande festa se mantém fiel à sua origem como um grande
acontecimento popular, tendo, no entanto, desviado o seu foco da
esfera religiosa para o domínio do espetáculo. Aliás, nenhuma palavra
poderia melhor definir o que é a Fête de Lumières: um verdadeiro
espetáculo, composto por manifestações das mais diversas formas.
Da performance à multimídia; do intimista à gigantesca encenação
histórica com som e luz. Tudo isso, contemplado pela multidão que
se espremia sob a chuva em vielas e confraternizava com um copo de
vin Chaud, aos gritos de “brrrrravô!!”.
A L+D esteve presente no evento e traz, através das lentes de Andrés
Otero, um ensaio fotográfico com as principais instalações da
Fête des Lumièress 2006.
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Lyon em festa: 70 instalações fazem da cidade
o palco do maior evento público de iluminação
do mundo. Na foto, duas das três pontes sobre
o Rio Saône iluminadas por Carole Ferreri e
Akari-Lisa Ishii. A dupla utilizou 90.400 Leds
– reaproveitados da edição de 2005 – com
uma potência total de 14 kW
MUNDUS MUNDUS EST, L’HARMONIE
DES SPHÈRE
Por Hélène Mugot e Éric Desnoues
Talvez tenha sido essa a mais bela das instalações. Fruto da parceria
entre a artista plástica Hélene Mugot e o diretor do Festival de Música
Antiga de Lyon, Eric Desnoues, o trabalho foi realizado na Capela da
Trinité, que teve sua nave completamente ocupada por grandes globos
espelhados, com diâmetros de 25 a 120 centímetros. O que se via era
um grande colar quebrado, ao chão, com suas pérolas esparramadas
e refletindo luz por todo ambiente.
Personagens escondidos à sombra dos globos maiores os faziam
girar em sincronia com as alterações da iluminação e com a música
– da erudita à new age –, animando o espaço circunstante.
Uma instalação realizada com recursos simples, mas de grande impacto.
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AU FIL DE SOIE (NO FIO DE SEDA)
por Leslie Labonne e equipe do escritório Les Eclairagistes Associés
Se Lyon é a “Petit Paris”, a Gran Côte (Grande Costa) equivale às
escadarias de Monmatre. Neste parque, Leslie Labonne “teceu” uma
instalação que faz referência a todo o processo da produção da seda.
Dos bichos-da-seda, localizados sobre as paredes das casas da parte
baixa da instalação, partiam os fios, que se interligavam com os casulos
nas árvores. Os casulos, por sua vez, se uniam sobre a escadaria e formavam
um painel de tecido ao final da subida. Completando o ciclo,
borboletas projetadas voavam nas paredes da parte alta da costa.
Todas as estruturas da instalação foram criadas com a utilização de um tecido
fluorescente, oco, de 25 mm de diâmetro, iluminado com luz negra.
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CURIOSITÉS...
Por Alain Benini e HCL/DAT (França)
SAINT-JEAN EN SCÈNE
por Departamento de Iluminação Pública de Lyon
A instalação de Alain Benine em uma das cortes do Hôtel-Dieu
tinha o mérito de respeitar e dialogar perfeitamente com o espaço:
o profundo silêncio e a escuridão de uma corte interna foram transformados
em um ambiente aquático fluorescente, no qual medusas
feitas de um fino tecido e iluminadas por luzes negras “flutuavam” e
ondejavam à mínima corrente de ar.
O excepcional trabalho da equipe de iluminação pública de Lyon cobriu
a fachada da Catedral de Saint-Jean com um verdadeiro véu de Leds.
Uma cascata luminosa de 1.400 m² revelava e encobria a catedral por
meio da simples dimerização combinada com refletores externos.
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TRAVERSÉE CONTEMPLATIVE
Por Warrener Art et Technique
A exuberante instalação de Patrice Warrener destaca-se pela precisão
da técnica utilizada. Embora já seja bastante difundido na Europa, o
procedimento “chromolite” é pouco conhecido pelo público brasileiro.
“O processo é muito simples: faz-se uma foto em preto e branco
em grande formato da locação. A imagem é escaneada e colorizada
digitalmente. Por fim, é enviada para um laboratório que fará os filmes
que permitirão a projeção precisa de luz colorida sobre um grande
número de detalhes arquitetônicos”, explica o autor.
Seguramente existem outros segredos, mas a base do trabalho é
esta. Trata-se, grosso modo, de projetar sobre o prédio a sua própria
imagem colorizada.
CIEL EN DEMEURE
Por Association L/S
A iluminação do interior da Gare Saint-Paul buscava reproduzir o
universo onírico do pintor René Magritte. O “Céu de Magritte”, reproduzido
pela luz azul e por projeções na parte interna da estação, se
propunha a jogar com a inversão da percepção de interior e exterior
do edifício.
4104
por Koert Vermeulen e equipe do escritório ACT Archicteture
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Realizada na praça Louis Pradel, onde está situada a Ópera de Lyon,
a instalação 4104 lançou mão de três elementos cênicos que se correspondiam.
Havia as “Kabouters”, espécie de árvores de luz espalhadas
por toda a praça com seus galhos constituídos de tubos de Leds. Entre
as arcadas e o teto da Ópera, cada uma das janelas foi “vestida” com
Leds. Por fim, as performances aéreas dos artistas da cia. francesa In
Senso ”humanizavam” a instalação.
Entre as apresentações, os “galhos” e as janelas permaneciam fixos
no vermelho, como a cor da luz da cobertura da Ópera. A cada
espetáculo – que não era anunciado para evitar a superlotação da
praça – iniciava-se uma variação de cores, em consonância com a
música e a dança.
Segundo Koert Vermeulen, autor do projeto, a apropriação da fachada
por um lado simboliza uma crítica ao uso indiscriminado da superfície
arquitetônica pela publicidade. Por outro lado, contemporaneamente,
a apropriação que os arquitetos fazem da tecnologia, da imagem e
do que chamam de “pixelização”.
Os dançarinos eram apenas visíveis, “como vagalumes adejando na
altura das janelas”, afirma Vermeulen.
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1 2 3
UM PASSEIO fotográfico pelas
instalações de lyon
Visage du temps
Por Damien Fontaine e Daniel Knipper, do LC 2000 (França)
1, 2 e 3: GYROFLEURS D’HIVER, por Diabolo Spectacles, Pierre-Jean
Na instalação VISAGE DU TEMPS, os autores Damien Fontaine e Daniel
Carpentiero e Michel Noureux. Nas fotos, projeções sobre as paredes
Knipper iluminaram a Igreja de Saint Nizier utilizando vídeo-projetores
e sobre uma cortina de spray d’água.
de última geração, com grande potência (25000 lúmens) e alta defi-
4,5 e 6: mais imagens da instalação TRAVERSÉE CONTEMPLATIVE,
nição. Um espetáculo multimídia com recursos em profusão: cores,
4 5 6 7
8
de Patrice Warrener, onde foi utilizada a técnica “chromolite” para
iluminação da Prefeitura de Lyon
animação e imagens fotográficas.
7 e 8: A instalação de Cristophe Schohn, DISPOSITIF D’ENVOL, na Place
Mais informações sobre o evento Fête des Lumières podem
des Jacobins: luz, música e interatividade entretinham o público
ser obtidas no site www.lumieres.lyon.fr
9: Iluminação pública sinaliza o percurso das instalações
10, 11, 12 e 13: Projeções sobre a fachada do Hôtel-Dieu na instalação
L’HÔPITAL ET SES LUMIÈRES, de Mon Oeil de Bertiaux
14: PARURES DE LUMIÈRES, por Carole Ferreri e Akari-Lisa Ishii: 90.400
Leds iluminam três pontes sobre o Rio Saône
15, 16 e 17: cores e imagens sobre a fachada do Hotel du Departement
ao som de Mozart
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18 e 19: APESANTEUR, do grupo francês BBCF: luz e poesia nos quinze
balões luminosos instalados na Place des Terreaux
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evento : lisboa . luzboa
Luzboa,
Lisboa
Elaborado por Gilberto Franco*
Fotos: Andrés Otero, com exclusividade para a L+D
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Em setembro do ano passado, a cidade de Lisboa
deu lugar, pela segunda vez, ao evento Bienal Luzboa. Originalmente
criado pelo grupo interdisciplinar Extra-Muros com apoio da Câmara
trabalho tenha contribuído, de alguma forma, para o desenvolvimento
de uma “Cultura de Iluminação”, ainda segundo os curadores.
Embora congregue nomes de diferentes partes do mundo, a Bienal
suas ruas é a de estar em alguma desconhecida capital brasileira. Não se
sabe se Salvador, Rio, ou, quem sabe, alguma outra capital nunca antes
visitada. Esse é um aspecto encantador da cidade: é possível ser forasteiro
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de Lisboa e patrocínio, entre outros, da EDP (Eletricidade de Portugal)
Luzboa iniciou-se como uma ação destinada principalmente a estimular
e habitante ao mesmo tempo. É como estar no Brasil e na Europa ao
e Schrèder, o evento abriga uma série de manifestações artísticas a
os lisboetas a terem um olhar mais atento à sua cidade.
mesmo tempo. Ouvimos as pessoas falarem a nossa língua, mas, por
céu aberto, todas com temática relacionada à luz.
Arte, cidade, luz: três diferentes vertentes que se encontram nesse
vezes, o idioma falado parece outro. Estranha familiaridade...
Eventos paralelos à exposição também acontecem pela cidade,
evento de divertido nome.
O traçado urbanístico de Lisboa em muito ajuda a se ter uma
como o “Congresso da Noite”, cujo objetivo é “discutir critérios de
iluminação pública em função do modo atual com que a noite tem
sido sentida e vivida”, segundo os organizadores. Há ainda o Prêmio
A cidade
rápida compreensão da cidade. As ruas parecem verter das colinas,
como rios, para uma mesma região, a Baixa Pombalina, defronte à
Barra do Tejo. Topografia e traçado urbano parecem fundir-se num
Luzboa-Schrèder, destinado a arquitetos, cientistas ou artistas cujo
Para quem não conhece Lisboa, a sensação que se tem ao percorrer
só corpo, como que concebidas ao mesmo tempo.
Percursos da Bienal Luzboa
Ao contrário do evento anterior, cujas instalações artísticas eram
contidas em espaços fechados, nesta edição todas funcionaram a céu
aberto e unidas por uma seqüência de três percursos interligados,
situada na área central da cidade. A oeste da Baixa Pombalina se
inicia o primeiro trecho, intitulado “Lisboa Aristocrática”, nas colinas
do Bairro Alto/Chiado. O trecho “Lisboa Pombalina” situa-se na
região de mesmo nome, e a leste, nas colinas de Mouraria e Alfama,
temos o terceiro, “Lisboa Antiga”. As regiões são diferenciadas por
alterações cromáticas na iluminação pública; cada trecho recebeu
uma cor própria, respectivamente aos trechos descritos, vermelho,
verde e azul, numa alusão ao sistema RGB. Esse efeito foi conseguido
por meio da colocação de filtros dentro das antigas lanternas que
ornamentam o centro de Lisboa. Vale lembrar, entretanto, que a
iluminação pública de Lisboa é feita com lâmpadas de sódio, muito
ricas em amarelo e pobre nas outras cores. Os filtros vermelhos e
verdes ainda permitem uma percepção real da cor, mas o filtro azul
deixa bastante a desejar, já que o espectro da lâmpada de sódio
quase não emite esta cor. Complementarmente, para cada um dos
três circuitos foram criadas projeções luminosas sobre fachadas
ou pisos, com gobos contendo desenhos ornamentais, na cor do
circuito correspondente.
As Instalações Artísticas
Compreenderam 24 diferentes instalações, sendo cinco no circuito
Lisboa Aristocrática, sete no circuito Lisboa Pombalina, e doze
no Lisboa Antiga. Foram selecionados alguns mais significativos
nesta descrição.
Circuito Aristocrático
Merece destaque a instalação “Coração”, de Jana Matejkova, a
representação de um eletrocardiograma luminoso gigante, feito de
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mangueiras luminosas, apoiado sobre o piso do Jardim do Príncipe
Real. Sem dúvida, um belo resultado fotográfico, embora não faça,
necessariamente, palpitar o coração dos transeuntes. Na instalação
“Misérias Ilimitadas Ltd.”, de Javier Nuñez Gasco (presente em mais
de um circuito), moradores de rua e mendigos da região, contratados
para participar deste trabalho, permanecem nas ruas atuando
como si mesmos, ao lado de cartazes em um néon vermelho e
brilhante onde se lê textos como“I need money for food and to go
home” ou “Por favor, ajude minha família a comprar comida, não
As diferentes cores que caracterizavam
os três percursos do evento
podem ser observadas nas fotos
da página ao lado. Na foto acima,
a instalação “Coração”. Ao lado,
um dos mendigos da instalação
“Miséria Ilimitada Ltd.”
L+D
43
tenho trabalho, tenho dois filhos, ajude-me, pelo amor de Deus”.
A idéia dos autores seria escandalizar os transeuntes com a questão
social; entretanto, há um grande desrespeito à pessoa que ali se
encontra. Durante as visitas guiadas, por exemplo, os ouvintes do
guia se reúnem em frente ao mendigo, expondo-o a uma situação
um tanto quanto constrangedora enquanto ouvem as explicações
do guia acerca do projeto artístico. Há de se perguntar, neste caso,
se os fins justificam os meios.
Circuito Lisboa Antiga
Neste circuito dois destaques ficam com o grupo belga Het Pakt!.
O primeiro deles, “Fado Morgana”, consiste numa instalação de
rua onde são reproduzidos, por alto-falantes, tradicionais fados
portugueses, cantados pelos habitantes do local e gravados especialmente
para este projeto durante meses. Banners iluminados,
pendurados nas fachadas das casas, com fotografias gigantes
dos participantes, completam a cena. É um trabalho que reforça
o sentimento de identificação dos moradores com seu lugar, sua
cultura, e utiliza-se adequadamente dos recursos técnicos para tal
fim, portanto, bastante integrado aos propósitos da Bienal Luzboa.
É do mesmo grupo o trabalho “Ceci n’est pas un bus” (isto não é
um ônibus), uma experiência onde os espectadores são convidados
a entrar num microônibus e instruídos a colocar vendas nos
olhos até que sejam autorizados a tirá-las. A partir daí, descobre-se
que todas as janelas foram transformadas em telas de projeção e
inicia-se um filme com cerca de 15 minutos de duração, que mais
é um conjunto de imagens e experiências sensoriais de excelente
qualidade. Como a projeção é de 360 graus através das janelas do
ônibus, o espectador fica imerso nas imagens. Finalmente, e encerrando
o circuito, a instalação “Nightshot #2”, de Gerard Petit,
onde uma caixa tipo backlight, com um retrato feminino, dialoga
com a belíssima vista do Rio Tejo.
Na página ao lado e à direita, as instalações
“Fado Morgana” e “Ceci n’est pas un bus”,
ambas do grupo belga Het Pakt!. Na
foto abaixo, a vista do Tejo e a instalação
“Nightshot #2”, de Gerard Petit
L+D
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L+D
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Circuito Lisboa Pombalina
Destacamos “A Lua”, de Bruno Peinado: uma grande lua luminosa
de plástico inflado, com um dos hemisférios em branco, colocada
sobre o centro do Largo de São Carlos, que cria uma interessante
relação de escala com o observador. “Demópolis”, do grupo Moov,
compreende uma seqüência de tendas improvisadas e instaladas no
metro quadrado mais caro da cidade, sobre o pátio de um edifício
projetado por Álvaro Sisa-Vieira. Este trabalho, segundo os autores,
propõe-se a explorar o contraste entre o “institucional e egoísta
versus um modo precário, mas interativo”, formulação essa que
pareceu ao mesmo tempo complicada, mas simplista. Nos Armazéns
do Chiado, importante edifício de Lisboa, temos a instalação
“Sur Nature”, de Miguel Chevalier, onde sensores de movimento e
ruído captam a movimentação existente na rua e a transmitem a
um software, desenvolvido especialmente para este projeto, que
os “interpreta”, transformando-os em imagens abstratas inspiradas
em formas vegetais. Essas imagens são projetadas na fachada do
edifício e, quando há movimento, as “plantas” projetadas crescem
e se multiplicam, criando uma verdadeira floresta sobre a fachada.
Se a rua se acalma, as plantas minguam. Sua multidisciplinaridade
e integração com o espaço urbano atendem perfeitamente aos
propósitos do “Luzboa”.
Na seqüência abaixo, as diferentes
projeções sobre o edifício dos Armazens
do Chiado da instalação “Sur Nature”,
de Miguel Chevalier. Na página ao lado,
acima, “A Lua”, de Bruno Peinado e
abaixo, “Demópolis”, do grupo Moov
Comentários Gerais sobre
o Luzboa
L+D
46
Embora o tema “luz” faça parte do escopo e dos critérios de
seleção dos trabalhos, o enfoque dado neste evento é bem mais
genérico e distante da forma com que nós, profissionais da área,
estamos acostumados a lidar. Não é necessariamente a iluminação
de espaços ou de edifícios; fala-se mais de manifestações artísticas
que, de alguma maneira, utilizam-se da luz como uma das suas
matérias-primas. Isso não quer dizer que não se possa tirar proveito
dessas experiências como insumos para a atividade profissional
(muito pelo contrário). Mas é importante que se faça a distinção
entre a manipulação artística e muitas vezes experimental da luz
e a atividade de utilizar a luz como um elemento qualificador da
arquitetura ou do urbanismo. São enfoques diferentes.
Quanto à compreensão do projeto, pode-se dizer que depende
de uma certa dedicação; não é uma interferência que se imponha
por si só e se descobre na cidade, mas, sim, um roteiro que necessita
de uma explicação prévia para ser compreendido. Se não se
tem um conhecimento preciso dos percursos e seus significados, as
intervenções ocorridas terminam muitas vezes por se fundir ao caos
da cidade, principalmente para os cidadãos desavisados.
Mas é inegável que é sempre muito positiva a iniciativa de se ter
um evento cujo principal enfoque é a luz e suas interferências em
nossa vida cotidiana. Em última análise, pode-se dizer que a Luzboa
ajuda a olhar e refletir.
L+D
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*Gilberto Franco é arquiteto e lighting designer, titular da Franco
& Fortes Lighting Design e, atualmente, presidente da AsBAI.
projetos de cá
“Less is More”
por Thiago Gaya e Gustavo Garde
fotos Andrés Otero
L+D
48
Esse pequeno ditado (escrito originalmente
pelo poeta e dramaturgo inglês Robert Browing em 1855) adequa-se
perfeitamente às soluções da arquitetura e iluminação encontradas
pelos arquitetos e pelos lighting designers responsáveis pelo projeto
do Atelier Vanguarda, espaço que congrega galeria de arte e atelier de
pintura no bairro de Pinheiros, em São Paulo.
O projeto arquitetônico minimalista de Eduardo Areias e Suzana Prizendt
é um jogo de planos horizontais e verticais, que vão se combinando e
acabam por resolver muito bem os quatro ambientes principais (área de
exposição de arte, área de exposição de pequenos objetos, escritórios e
atelier de pintura), oferecendo a cada um deles a área, escala e leitura
interessantes e bem adequados. Para atingir esses objetivos, chamam
a atenção algumas soluções encontradas pelos arquitetos.
A primeira delas refere-se à fachada. A enorme janela horizontal
se contrapõe ao elevado pé-direito da galeria, com cinco metros, e
oculta a grande parede do mezanino, acima da área de exposições de
pequenos objetos, para a qual não haveria uma boa escala para visualização
externa. Assim, a fachada consegue harmonizar dois ambientes
“acidentados” (o pé-direito duplo e a parede do mezanino) e valoriza
a profundidade do edifício.
A segunda solução diz respeito à implantação do mezanino próximo
à fachada, oferecendo, desse modo, um bom espaço para a área
do atelier, ao fundo. A perda de escala devido à sua proximidade da
fachada é bem resolvida com a solução anterior.
A escada de concreto – único elemento não branco – recuada na
lateral esquerda da galeria, também merece destaque, pois dá escala
ao espaço e, por isso, torna a leitura do ambiente muito agradável.
Seus degraus, suspensos sobre o pequeno espelho d´água instalado
no piso, são engastados apenas nas laterais.
L+D
49
As imagens à erquerda mostram a transição da iluminação
na galeria em 3 diferentes momentos do dia. Na 1ª, apenas
a luz natural ilumina o espaço. Na 2ª, é possível perceber
a interação entre luz natural e artificial. Na última, já com
o cair da noite, apenas a luz artificial ilumina o atelier. À
direita, a foto da escada ilustra bem o jogo de planos que
caracterizam o ambiente. Abaixo, croqui da galeria a partir
do mesmo ponto de vista exibido nas imagens anteriores.
Mais abaixo, os cortes detalham o funcionamento das
clarabóias no forro.
4 4
3
5 5
3 3
1
1. Forro de gesso
2. Laje
3. Projetor/ Lâmpada AR111
4. Claraboia
5. Lâmpadas fluorescentes
Finalmente, a preocupação com alinhamentos e proporções, a precisa
contraposição entre eixos verticais e horizontais e o layout do forro
ajudam a definir o desenho do espaço.
Face ao partido arquitetônico, os lighting designers Gilberto Franco
1
1
e Carlos Fortes, da Franco e Fortes Lighting Design, buscaram algumas
intervenções na arquitetura.
O objetivo da iluminação foi integrar a luz natural e artificial, com a
2
2
garantia de uma transição equilibrada da luminosidade ao longo do dia
e com o cair da noite. “Procuramos a mesma qualidade de luz natural e
4 5
4 5
1. Claraboia
2. Laje
1. Claraboia
3. Forro de gesso 2. Laje
4. Trilho eletrificado 3. Forro de gesso
5. Projetor/ Lâmpada 4. AR111 Trilho eletrificado
6. Lâmpadas Fluorescentes 5. Projetor/ Lâmpada AR111
6. Lâmpadas Fluorescentes
6
3
6
3
artificial. Para isso, criamos um sistema de iluminação artificial bem difuso,
onde não é possível identificar a fonte de luz, já que ela está instalada
no mesmo lugar onde fica a clarabóia”, explica Gilberto Franco.
O projeto arquitetônico previa inicialmente a instalação de uma clarabóia
estendendo-se por toda a parede lateral da galeria para a entrada
L+D
50
de luz natural. Para garantir a maior uniformidade da iluminação e trazer
a luz natural também para o espaço do mezanino, os lighting designers
L+D
51
sugeriram a mesma instalação na lateral oposta.
Para que os sistemas de iluminação não interferissem na arquitetura,
1
1
os rasgos das clarabóias foram utilizados para locar os sistemas de ilumi-
3 4
3 4
4
3
4
3
nação, sem deixá-los aparecer. E, com esse fim, foi ainda providenciado
um terceiro “rasgo” no eixo longitudinal da edificação.
1. Laje
2. Forro de gesso 1. Laje
3. Trilho eletrificado 2. Forro de gesso
4. Projetor/ Lâmpada 3. AR111 Trilho eletrificado
4. Projetor/ Lâmpada AR111
2
2
Nas clarabóias, foram inseridas sancas de iluminação com lâmpadas
fluorescentes de 32W e temperatura de cor de 3.000 K. A iluminação
difusa resultante se integrou perfeitamente à luz natural, recriando
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9
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5
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3
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3
2
ESPELHO DÁGUA
11
12
1
13
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15
16
projeção de marquise
As imagens mostram os fundos
da galeria a partir de dois pontos
de vista distintos. Em ambas, é
perceptível mais uma vez o jogo
de planos horizontais e verticais e
a iluminação equilibrada e discreta
a partir das sancas longitudinais
instaladas junto à clarabóia
L+D
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A B C D E F G H
3
1
DIMMER DIMMER
2
Pavimento Superior
DIMMER
COPA
RESERVA TÉCNICA W.C.
DIMMER
A B C D E F G H
1. Lampadas Fluorescentes para iuminação indireta
2. Projetores / Lâmpadas AR111
3. Luminarias embutidas Vapor Metalico 70W
4. Projetores / Lâmpadas AR70
5. Balizador em LED
A B C D E F G H
5
Pavimento Terreo
DIMMER
DIMMER
DIMMER
COPA
4
eixo central
A B C D E F G H
no período noturno o efeito existente durante o dia. Na verdade,
durante todo o dia, ao entardecer e durante a noite, o que se percebe
é a harmonização da iluminação, como pode ser visualizado
na seqüência das fotos.
Também nas clarabóias, foram instalados trilhos eletrificados com
projetores parcialmente escondidos, com lâmpadas halógenas refletoras
(AR 111) com diversos fachos de luz (24°, 8°, 4°). Os trilhos e
projetores também foram instalados na clarabóia central para complementar
o sistema.
O fundo da galeria possui divisórias removíveis que permitem a criação
de um atelier de pintura; para esse trecho foi prevista iluminação
complementar composta de luminárias embutidas para lâmpadas a
vapor metálico de bulbo cerâmico, com excelente reprodução de cores
– condição, aliás, presente em toda a galeria.
Em consonância com a proposta da arquitetura, quase toda a fachada
foi deixada sem luz, valorizando-se sua transparência e a claridade
interna. O único elemento iluminado da fachada é o ripado de madeira
acima da porta, que teve sua silhueta iluminada por luminárias instaladas
na parte de trás, criando transparência e mistério.
Assim, com um sistema com referências visuais praticamente invisíveis,
tendo a maior parte da iluminação oculta em detalhes da arquitetura,
foi possível atender todas as possibilidades de iluminação necessárias,
criando um ambiente tecnicamente bem iluminado e perfeitamente
integrado à iluminação natural.
Andrés Otero
Carlos Fortes e Gilberto Franco
são lighting designers e titulares
do escritório Franco & Fortes
Lighting Design, em São Paulo (SP)
Ficha técnica
Atelier Vanguarda
Local: São Paulo (SP)
Projeto luminotécnico: Gilberto Franco e Carlos Fortes
Colaboradores: Arq. Orlando Marques e Arq. Martina Weiss
Cliente: Jairo Juliano
Entrega do projeto: Março de 2005
Conclusão da obra: Novembro de 2005
Arquitetura: Eduardo Areias e Suzana Prizendt
Instalação elétrica: MA2
Construtora: Facchini e Dinelli
Fornecedores
Lâmpadas: Philips e Osram
Luminárias: Altena
Reatores: Philips
Transformador: Trancil
L+D
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projetos de cá
Nova luz sobre a Candelária
L+D
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Por Gustavo Garde
Fotos: Luciana Tancredo
A Igreja Nossa Senhora da Candelária está mais viva do
que nunca. Erguida no século XVIII, a obra é um verdadeiro tesouro
da arquitetura religiosa colonial no Rio de Janeiro e hoje, mais de
200 anos após o início de sua construção, a recente reforma de toda
a sua estrutura luminotécnica externa ajuda a revitalizar e chamar
a atenção para um dos poucos símbolos da memória nacional que
ainda teima em resistir e sobreviver à ação do tempo e do homem.
Sua posição urbana atual, cravada no eixo da Avenida Presidente Vargas,
lhe confere papel de destaque no panorama urbano do centro
do Rio de Janeiro. Como ocorre também com a maioria das igrejas
coloniais do Rio, a fachada da Igreja da Candelária está voltada para
a Baía de Guanabara.
O novo projeto de iluminação buscou priorizar e valorizar os detalhes
da fachada frontal, torre e cúpula a partir de um desenho de
iluminação de caráter clássico no edifício, baseado no equilíbrio das
intensidades e na harmonização adequada das nuances cromáticas.
Os detalhes da arquitetura neoclássica da Igreja são uma profusão
de elementos formais muito ricos, propícios a efeitos de luz e
sombra. “Por um lado, é muito interessante trabalhar monumentos
Na página ao lado, o contrate de tonalidades
entre a fachada principal e a cúpula dissocia os
dois planos e confere profundidade de campo à
composição. Nessa página, é possível visualizar a
cúpula, contemplada com uma iluminção mais fria,
a partir de dois pontos de vista distintos
L+D
55
Na página anterior, canto esquerdo superior, estudo mostra o
direcionamento dos fachos de luz na parte frontal da Igreja. Ao
lado, renderizações simulam a ação da luz na fachada. Abaixo,
no canto esquerdo, imagem panorâmica da Candelária. A seguir,
novo croqui exibe a instalação das fontes de luz na fachada. Nessa
página, detalhe da cúpula, tratada com uma iluminação com
temperatura de cor entre 4000 e 5600K
históricos tão ricos esteticamente e com tantos detalhes. Por outro,
é necessário um cuidado todo especial na preservação do edifício.
Procuramos fazer da maneira menos agressiva possível a instalação
dos equipamentos e a passagem dos cabos elétricos, tudo de acordo
com o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)”,
explica um dos responsáveis pelo projeto luminotécnico, o lighting
designer Alain Maître.
fachada frontal é quase totalmente recoberta por elementos e pai-
Os projetos anteriores para a Igreja sempre foram baseados em
néis de cantaria de pedra, optou-se pela adoção de uma tonalidade
sistemas de projeção à distância e sobre o telhado do edifício. Tais
branca dourada (3000K). Já a cúpula, predominantemente branca, foi
sistemas, embora necessários à iluminação geral do monumento,
contemplada com uma iluminação mais fria, tendendo para o bran-
tendem a reduzir a percepção das profundidades, anulando os re-
co azulado (5600K). “Prever e aceitar os limites e as oportunidades
levos, dos quais é possível obter um resultado visual mais profícuo
que o edifício oferecia à iluminação, tirando o máximo das soluções
quando submetidos a uma iluminação próxima e rasante. “Além de
fotométricas disponíveis e respeitando a natureza cromática dos ele-
favorecer e destacar as ornamentações, o novo sistema rasante em
mentos, foi outra marca desse projeto”, atesta Fabiano Xavier.
uplight instalado na Igreja revela detalhes que não aparecem durante
Os únicos elementos da cúpula tratados com uma luz mais cálida
o dia. Essa é uma das marcas do projeto”, explica Maître.
(3000K) foram as estátuas, a partir de projetores dispostos sobre a
O arquiteto Fabiano Xavier, também responsável pelo projeto lu-
cornija, circundando o terraço com balaustrada. O efeito dessa ilu-
minotécnico, ressalta que outro ponto fundamental para o êxito nos
minação com potência de 70W, posicionada no eixo das estátuas, foi
resultados do projeto foi a escolha do fornecedor dos equipamentos
reforçado por projetores equipados com lâmpadas de 35W de facho
utilizados. “Optamos pelo fornecedor em questão por sua vasta
muito fechado a fim de evitar sombras indesejáveis.
L+D
56
gama de soluções, pela longevidade e pelo excelente desempenho
fotométrico de seus equipamentos”.
O nível térreo da fachada frontal é antecedido por uma escadaria
frontal e por duas rampas de acesso lateral com guarda-corpo em
L+D
57
Para a visão frontal da Igreja, foi adotado um contraste de tona-
cantaria dotada de balaustrada. Distando cerca de 1,5 m do último
lidades entre a fachada principal e a cúpula, a fim de dissociar os
degrau da escadaria, foram instalados na calçada de pedra portu-
dois planos e conferir profundidade de campo à composição. Para
guesa dois grupos de sete projetores de piso de facho assimétrico
tanto, foi adotada uma iluminação com temperatura de cor de 3000K
da marca belga Schrèder, nos quais foram utilizadas lâmpadas a
para os frontispícios e as torres, enquanto a cúpula foi tratada entre
vapor metálico de bulbo cerâmico de 150 W de potência e 3000K
4000 e 5600K.
de temperatura de cor. O posicionamento dos equipamentos evita
Tais temperaturas também foram escolhidas levando-se em conta
o ofuscamento dos pedestres.
a natureza dos materiais que constituem esses elementos: como a
“Como não era possível instalar esses projetores junto à fachada,
L+D
58
pois temos um piso de pedra lavrada em toda a extensão do adro,
havíamos previsto instalá-los bem mais afastados, além da escadaria.
Houve justas ponderações quanto ao ofuscamento frontal gerado.
Pensei, então, em liberar toda a porção em frente à escadaria e concentrar
os projetores em dois grupos simétricos laterais, com projeção
oblíqua à fachada. A solução foi tão satisfatória que fomos ao extremo
de dispor os projetores acompanhando as curvas do arabesco do
calçamento em mosaico português”, enfatiza Xavier.
As sombras geradas pelas balaustradas sobre a fachada e pelos
passantes que se deslocam entre os projetores e a fachada são corrigidas
por dois projetores instalados à distância sobre postes do
sistema de iluminação pública.
As partes mais altas das torres recebem uma iluminação mais fria, que
evolui em degradê a partir das sineiras iluminadas a uma temperatura
de cor de 3000K, passando por 4200K no terraço com balaustrada, e
atingindo 5600K nos bulbos revestidos com azulejo. Esse efeito compõe
um contraponto entre os três elementos altos do edifício.
Ainda nas sineiras, outro elemento de destaque é instalado em
seu peitoril de abertura. Naquele ponto, um projetor com lâmpada
com temperatura de cor a 4200K, em contraste com a iluminação
externa de 3000K, fica encarregado de iluminar o sino e marcar a
espessura interna da sineira.
Acima do frontão, ainda na fachada frontal, a cruz principal recebe
um tratamento a partir de três ângulos diferentes. Fixado ao pé
da cruz, um projetor de facho concentrado com lâmpada a vapor
metálico de 3000K ilumina sua base na parte frontal. Junto a ele,
outros dois projetores com lâmpadas de mesma temperatura de cor,
instalados um de cada lado, revelam suas ornamentações. Atrás do
frontão, projetores com lâmpadas de 4200K salientam os recortes
da cruz e destacam sua espessura com uma iluminação concentrada
sobre suas partes metálicas.
As faces laterais e posterior da Igreja foram contempladas com
uma iluminação geral com lâmpadas de vapor metálico na potência
de 400W e temperatura de cor de 4300K provenientes de aparelhos
instalados sobre postes de iluminação pública. Porém, a interferência
da iluminação pública oriunda dos seis postes de pétalas quádruplas
localizados nos canteiros laterais da Igreja é bastante considerável
nas fachadas laterais, interferindo no resultado final do projeto. Para
corrigir essa interferência, está prevista a renovação das lâmpadas
dessas luminárias a partir da mescla de duas luminárias com lâmpadas
a vapor de sódio (perpendiculares à Igreja) e duas com lâmpadas a
vapor metálico (paralelas à Igreja) para cada pétala, proporcionando
uma iluminação mais cálida no entorno e harmonizando a tonalidade
geral da composição.
A boa solução apresentada pelos luminotécnicos garantiu a valorização
elegante dos volumes e detalhes arquitetônicos da Igreja,
bem como das cores dos materiais nela empregados. Os contrastes
e as diferentes tonalidades dos quais os arquitetos lançaram mão
acentuam o aspecto cênico do monumento e oferecem a devida visibilidade
a um dos maiores patrimônios culturais do País.
À esquerda, esboço detalha a ação das luminárias
na parte superior da fachada. Acima, é possível
visualizar o resultado prático dessa iluminação no
frontão, na cúpula e nas sineiras
Divilgação / Citéluz
Fabiano Xavier e Alain
Maître são lighting
designers e titulares
do Atelier Lumière,
em Salvador (BA).
Ficha técnica
Igreja Nossa Senhora da Candelária
Local: Rio de Janeiro
Iluminação: Fabiano Xavier e Alain Maître - Atelier Lumiere
LTDA. (Grupo Citéluz)
Assessoria: Leonardo de Castro Harth
Responsável técnico pela obra: Pedro Martins e Luiz Carlos
Alves Lima - Citéluz Serviços de Iluminação Urbana LTDA.
Início do Projeto Luminotécnico: Abril de 2005
Conclusão do Projeto Luminotécnico: Dezembro de 2006
Instalação elétrica: Citéluz Serviços de Iluminação Urbana LTDA.
Fornecedores
Projetores: Schrèder
Lâmpadas: Osram
Reatores: Transvoltec
L+D
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projetos de cá
Luz e a leitura do espaço
Por Gustavo Garde
Fotos: Guinter Parschalk
L+D
60
Quando foi convidado pela SAAD para
cuidar do projeto de iluminação de seu showroom, em São Paulo,
Guinter Parschalk tinha como principal desafio transformar um antigo
galpão industrial com paredes cinzas e o chão de cimento queimado
em um espaço dinâmico e sofisticado para receber lojistas e comerciantes.
Desde o início, Parschalk teve liberdade total para trabalhar
o espaço e agregar seus conceitos para ambientar o showroom
através da iluminação.
Para amenizar a atmosfera de fábrica, o arquiteto optou por criar
um conjunto bastante claro – e branco –, valendo-se de destaques
pontuais para enfatizar formas e organizar a leitura do espaço. E,
para evitar um ambiente estanque, Parschalk lançou mão das cores,
utilizando filtros em determinados nichos. “Um grande espaço pode
virar um galpão ou um loft dependendo do tratamento. É só mudar
a leitura”, diz ele.
A iluminação geral é feita por projetores fixados em eletrocalhas
de bandejas largas. O generoso pé-direito permitiu o uso de inúmeros
projetores voltados tanto para o chão como para o teto. Nessa
estrutura também ficam locados (sem serem vistos) os reatores.
Os projetores voltados para baixo são pequenos “canhões” de
iluminação cenográfica, responsáveis pela iluminação geral e de
destaque. Neles, o arquiteto alternou lâmpadas a vapor metálico e
halógenas, nos tipos AR 111 e PAR 30, esta com abertura de 30º.
Também foram utilizados filtros de vidro coloridos e gelatinas no
caso das lâmpadas halógenas.
L+D
61
Para a iluminação do teto foram utilizados projetores de facho
simétrico com lâmpadas a vapor metálico na cor azul, da marca
alemã BLV, e filtros de vidro na mesma cor.
Também foram aplicadas cores no pórtico da recepção. Nele, as lâmpadas
halógenas e as a vapor metálico receberam um filtro de gelatina da Rosco,
que deixaram o espaço com uma coloração âmbar-avermelhada.
Na entrada do showroom, onde há um pequeno túnel de acesso,
sancas longitudinais instaladas nas duas laterais alteram a noção de
espacialidade e perspectiva do visitante. As linhas de luz do rodapé e
do teto dão a impressão de que a passagem é ainda mais comprida
e cria uma certa sensação de enclausuramento, aliviada, porém, com
a visualização do espaço claro no qual culmina o túnel.
Outro aspecto importante do projeto reside na possibilidade de os
destaques serem trabalhados por setorização. Para os expositores e
para os nichos, Parschalk optou por lâmpadas fluorescentes T8 de
3.000K de 16 e 32 W de potência. Cada plano expositor conta com
três ou quatro produtos em destaque. Assim, enquanto os projetores
instalados nas eletrocalhas cumprem o papel de iluminação geral e
de destaque, as fluorescentes evidenciam os móveis, setorizam o
showroom e funcionam como componentes arquitetônicos, “organizando”
a leitura do espaço.
O que se percebe no showroom é uma linguagem estética bastante
impactante em um espaço, no entanto, equilibrado e harmonioso,
onde a sofisticação e qualidade dos produtos ficam evidentes.
L+D
62
As fluorescentes instaladas por trás das placas de
policarbonato na parede que ampara o expositor
lateral do showroom dão a impressão que o
expositor está “descolado” da parede. O letreiro
no fundo do galpão com o nome da SAAD também
é feito com fluorescentes
Andrés Otero
Guinter Parschalk é lighting
designer e titular do escritório
Studio IX, em São Paulo (SP)
Ficha técnica
Showroom SAAD
Local: São Paulo (SP)
Projeto Luminotécnico: Guinter Parschalk – Studio IX
Colaboradores: Ana Spina, Marlen Artigas e Paula Miranda
Cliente: SAAD
Entrega do Projeto: Janeiro de 2005
Conclusão da obra: Junho de 2006
Arquitetura: Mila Strauss
Instalação Elétrica: Takeyama Engenharia
Construtora: Takeyama Engenharia
Paisagismo: Bom Jardim, Mila Strauss e Luciana Saad
Fornecedores
Lâmpadas: Osram
Luminárias: Lumini
Reatores: Osram
Filtros: Rosco
L+D
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projetos de lá
L+D
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delicadeza japonesa
Por Débora Curbi
Fotos: Toshio Kaneko
A luz do portão principal é um delicado prólogo sobre o projeto
de arquitetura e lighting design da Casa. Na página ao lado: na
sala de jantar, luminárias tipo origami feitas de papel de arroz são
iluminadas por quatro fontes luminosas diversas, dimerizadas e
programadas para reproduzir quinze cenas de luz
Observar e “sentir” a luz e a arquitetura da
Casa de Hóspedes do Estado, em Quioto, é como entrar em contato
com uma breve história de toda a cultura japonesa.
A cidade de Quioto é a antiga capital imperial do Japão (794-1868).
Depois de ser palco de eras históricas importantes, como Heian,
Kamakura, Muromachi e Momoyama, de gueixas e samurais e de
lutas dos diversos shogunatos, hoje é possível transitar facilmente
em uma cidade romântica e zen, por seus jardins típicos japoneses,
em uma cidade frenética, por seus edifícios modernos e 500.000
habitantes, e em uma cidade fascinante, por seus tradicionais tesouros
histórico-culturais. E, ainda, na sede da Casa de Hóspedes do
Estado, recentemente restaurada pelo escritório de arquitetura Nikkei
Sekkei e iluminada por um dos maiores lighting designers japoneses
da atualidade, Kaoru Mende.
Neste projeto, para que não houvesse dissonância entre arquitetura,
tradição e iluminação, o conceito de lighting design de Mende
circunscreve o que ele denomina “luz japonesa”. Equipamentos de
altíssima tecnologia ótica e a elaborada integração entre arquitetura
e mobília auxiliaram-no a alcançar cinco objetivos: exaltar a riqueza
de contrastes, desfrutar a reflexão e a permeabilidade dos materiais,
considerar as variações de luz natural ao longo do dia e das estações
climáticas, coreografar os campos de visão nos eixos de circulação e
utilizar a beleza da luz natural.
No acesso principal à Casa, a luz suave do portão saúda os hóspedes,
que seguem no percurso em direção à entrada, convidados por
lanternas e pela luz vinda do interior do edifício. Lâmpadas de xênio
são usadas para evidenciar a cor e a textura das lanternas folheadas
a ouro alinhadas à parede do jardim.
No hall de entrada, a luz gradual da alcova cria um cenário atraente
para as luminárias japonesas especialmente desenhadas para
este ambiente.
Mais adiante, um corredor que leva aos quartos dos hóspedes contorna
um jardim interno. Ao longo desse corredor, num espaço minimalista
de paredes modulares típicas do estilo japonês, fibras óticas de
20mm de diâmetro foram instaladas para iluminar o forro inclinado,
numa suave graduação de luz e sombra. Uma iluminação adicional
é feita por fibras óticas de 70mm de diâmetro e por luz natural, que
penetra através de portas deslizantes feitas de shoji, o tradicional
papel de arroz. À noite, lanternas tremulantes e dimerizáveis foram
acrescentadas para dar destaque ao eixo do corredor.
Na formal sala de jantar, técnicas japonesas de artesanato foram
utilizadas para criar móveis e luminárias de motivo origami. Essas
luminárias tridimensionais, em três camadas de shoji, são equipadas
com quatro tipos de lâmpadas. Essa grande superfície luminosa foi
programada, por sua vez, com 15 “cenas” diversas, para que se adapte
e crie um ambiente confortável para qualquer situação. Além disso,
L+D
65
À esquerda: no hall de entrada da Casa, a luz
difusa proporciona um fundo suave para deixar
em primeiro plano luminárias especialmente
desenhadas para este projeto. Nas fotos
abaixo: um típico lago japonês circunda todo
o complexo que, iluminado à noite, presenteia
imagens poéticas aos hóspedes
para aumentar a reflexão dos talheres de prata, foram instalados discretos
downlights no forro.
Na sala de conferências, três tipologias de fibras óticas foram implementadas:
downlights de iluminação ambiente, luz direcionada às
esculturas pendentes e, para complementar a luz natural, luz indireta.
A fonte luminosa é uma lâmpada CDM-SA de 150W, equipada com
filtros de conversão de 8 temperaturas de cores diferentes e com um
controle de dimerização completo. Este sistema de iluminação permite
que a luz seja perfeitamente ajustada em função da luz natural.
A “luz japonesa” dilui-se por toda a atmosfera da Casa de Hóspedes do
Estado, num contínuo exercício de respeito entre luz natural e artificial.
O complexo do edifício é rodeado por um lago-jardim tradicionalmente
japonês, que oferece aos hóspedes um poético reflexo da
elevação do edifício.
A iluminação da Casa de Hóspedes do Estado é, mais do que um
projeto de lighting design bem-sucedido, uma expressão artística de
personalidade japonesa inconfundível, em que notas suaves de luz
confundem-se com a harmonia dos templos zen, com a precisão modular
dos tatames, com o cuidado e amor xintoístas dos jardins. É,
para seus hóspedes e visitantes, uma delicada recordação de estética,
rigor, respeito, gentileza e tradição.
L+D
66
L+D
67
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68
L+D
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A sala de conferências conta com um completo sistema de
fibras óticas que a iluminam em três diferentes modos: luz
indireta, luz direcionada sobre as esculturas suspensas e
downlight para a iluminação geral
Durante o dia, no corredor de acesso aos quartos, a luz de
fibras óticas complementa a luz natural, e se reforça à noite,
permanecendo sempre muito suave
L+D
70
Divulgação / LPA Inc.
Kaoru Mende é lighting designer e
titular do escritório Lighting Planners
Associates Inc., em Tóquio
Ficha técnica
Casa de Hóspedes do Estado
Local: Quioto, Japão
Cliente: Governo Central do Japão
Conclusão das obras: março de 2005
Projeto luminotécnico: Kaoru Mende (Lighting Planners
Associates)
Colaboradores: Ryuichi Sawada, Aki Hayakawa
Arquitetura: Mituso Nakamura, Yoshinobu Sato e Yasuhiko
Mitani (Nikken Sekkei Ltd)
Dimensão da obra: 8.074,03 m²
Custo: ¥20,5 milhões (aprox. R$360 milhões)
L+D
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Raio X
Por Gustavo Garde
Luminárias de
orientação da Erco
As luminárias de orientação LED IP 68 são algumas das novidades que a Erco preparou para 2007.
Acima, imagem da Orientation Luminaire e Orientation
Luminaire with Dynamic Colour Change.
Logo abaixo, o gráfico mostra o comportamento
do facho de luz das luminárias
Acima, dois diferentes modelos da luminária
Floor Washlight. Logo baixo, gráfico exibe sua
tecnologia de iluminação
Aplicação
› Indicada para a sinalização de corredores, terraços, identificação
Modelos
› Orientation luminaires: Disponível em dois tamanhos. Ambos
de linhas arquitetônicas, escadarias, áreas restritas, marcação de
podem ser encontrados nas cores branco, azul, âmbar ou verde.
rotas de entrada e saída (especialmente rotas de fuga), passagens,
A luz proveniente do LED é distribuída pela lente prismática da
corredores e escadarias em estabelecimentos como hotéis, teatros,
cobertura de vidro. Disponível em 230/240V.
cinemas e salas de concerto, elas podem ser aplicadas tanto em
› Orientation luminaires with dynamic colour change: Também
ambientes internos como externos.
disponível em dois diferentes tamanhos, vem equipado com dois
Leds coloridos e lente prismática para distribuir a luz. A mudança
Características
› O produto tem o corpo de plástico e conta com um lacre de
vedação. Sua cobertura de aço inoxidável (imune à corrosão)
e cristal resistente a arranhões denotam todo o cuidado no
acabamento e garantem um produto de qualidade por muitos
anos. Graças a elementos ópticos especiais, tais como refratores e
difusores, sua visualização é possível inclusive em ambientes claros.
de cor é feita por meio de um controle específico, que permite
ligar e desligar o aparelho, dimerizar e fazer sua luz piscar em três
diferentes velocidades.
› Orientation luminaires varychrome: Apropriado para o uso de
Leds coloridos – vermelho, azul e verde. O controle é disponível
na versão 1V-10V por meio do aparelho convencional da Erco
para o controle de iluminação ou na versão DALI para controles,
com o sistema de iluminação Erco DALI. Permite vasta gama de
variação cromática.
L+D
72
Acessórios
› O consumidor pode escolher a cor do Led embutido no produto:
branco, azul, âmbar ou verde.
› O controle remoto para operar o produto oferece uma série de
funções, como ligar e desligar, dimerização, pulsação (em três diferentes
velocidades) e é disponibilizado como acessório à parte. Com um outro
controle, é possível selecionar a mudança de cor da luminária.
› Floor washlights: Disponíveis para a aplicação em paredes.
Diferentemente dos outros três modelos, a metade superior
da lente circular de vidro que cobre a luminária é opaca e está
disponibilizada nas cores branco, azul, âmbar ou verde. Por trás da
parte de baixo da lente, translúcida, ficam instalados Leds brancos e
um refletor de alumínio. Outra peculiaridade dessa luminária é sua
distribuição assimétrica da luz.
› Todas as luminárias estão disponíveis em 0.3W, 0.9W, 0.5W e 1.5W.
L+D
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Onde encontrar: Erco América Latina
tel: + 54 (11) 4313-14 00
www.erco.com
Raio X
O “2 em 1” da Louis Poulsen
O grande
Wafer
Lançado no mercado em 2006 pela Louis Poulsen, o Pagoda representa
uma inovação e tanto no design de luminárias. Além do formato,
que imita os tradicionais pagodes asiáticos (templos pagãos destinados
ao culto e à adoração de alguns deuses), o objeto chama a atenção
“O Wafer foi utilizado pela primeira
por sua característica multiuso, capaz de desempenhar duas funções
vez na iluminação interna do edifício
de uma só vez – cadeira e balizador.
Atomium, ano passado, em Bruxelas.
Apesar de poder ser utilizado tanto em ambientes internos como
Sua principal marca é a multifuncio-
externos, o produto foi concebido inicialmente como uma “cadeira
nalidade: os spots para lâmpadas
O experimentalismo e a inventividade são duas das mar-
de rua”, capaz de integrar o mobiliário urbano de forma funcional e
halógenas nas suspensões de cardan
cas registradas de Ingo Maurer, um dos lighting designers
estética. A versatilidade do Pagoda permite sua instalação em ruas,
são ajustáveis, independentes do resto
mais conceituados e respeitados do planeta. Além dessas
praças, pórticos, jardins, estacionamentos, píeres, terminais de ônibus,
do conjunto”. - Ingo Maurer
características, o pendente Wafer, lançado no ano passado
passeios públicos e outros locais.
por Maurer e sua equipe, mostra como é possível aliar a
L+D
74
Ao mesmo tempo que iluminam, as peças balizam os espaços com
uma luz suave e oferecem aos pedestres um local confortável para
descanso. A emissão de luz é feita através de um projetor de Leds embutido
no solo e direcionado para cima. Sob o acento, um refletor em
formato elipsoidal rebate a luz pelos dois lados em direção ao solo.
O Pagoda pode ser instalado em superfícies de madeira, com o auxílio de
parafusos que vêm junto com o produto, ou diretamente no concreto.
Suas cores discretas e seu desenho arrojado permitem que o produto
se adapte tanto a ambientes onde a arquitetura é mais moderna, como
em ambientes que recebem um tratamento mais clássico.
Seu acabamento é cinza grafite com a superfície texturizada. A cobertura
é em aço inoxidável grau 316. O vidro é rígido e pode ser transparente
ou opaco (branco). Sua base é de alumínio fundido. Seu prato superior
também é de aço inoxidável grau 316. Seu corpo é revestido por uma
cobertura de teflon, alumínio colorido e alumínio fundido.
“O objetivo do Pagoda é combinar duas diferentes necessidades:
oferecer uma iluminação eficiente e um lugar
onde a pessoas possam se sentar. Seu formato é inspirado
nos pagodes (templos) asiáticos. É para ser um lugar de
luz e descanso”. - Rasmus Falkenberg (à esq.)
Especificações
› O Pagoda funciona com Leds 2x3x2,5mm²
› Entrada para os cabos: 1x M20 IP68
› Cabos: 6-12mm
› Peso: 20 kg
Onde encontrar: Delmak Rio
Tel: (11) 3326-4449 | www.delmak.com.br
Especificações
› composição: aço e alumínio
› lâmpadas: 7 fluorescentes de 24W, 12 halógenas de 65W
› soquetes: G5, G53
Dimensões
› 120 cm de diâmetro por 7 cm de altura
Onde encontrar: La Lampe
Tel.: (11) 3069-3949
www.lalampe.com.br
sensibilidade a uma técnica apurada.
Com um desenho todo peculiar, a luminária caracterizase
por ser um grande disco de 1,20m de diâmetro e 7 cm
de altura, confeccionado em aço e alumínio, e fixado no
teto por meio de cabos de aço. Seu controle de ofuscamento
se dá através de um louver metálico instalado sob
sete lâmpadas fluorescentes de 24W para a iluminação
geral do ambiente, complementadas por 12 projetores
para lâmpadas halógenas de 65W fixados na borda do
disco para uma iluminação pontual.
Com ampla liberdade de movimentos, esses projetores
periféricos podem ser direcionados para determinadas
áreas, dependendo da intenção do usuário. As halógenas
podem, inclusive, ser dimerizadas se a ligação elétrica for
realizada a partir de dois circuitos separados.
L+D
75
portfolio
O Jogo de Luzes de Richard Kelly
Por Orlando Marques*
Um dos pioneiros na profissão de lighting
designer de arquitetura, responsável pelo arrojado projeto de
meio de detalhados diagramas de cálculo luminotécnico de
luz artificial e natural, feitos à mão, e desenhos técnicos de
iluminação do Parque do Flamengo, inaugurado em 1965/66,
luminárias. Originalmente concebida em 1993, pelos cura-
no Rio de Janeiro, o arquiteto americano Richard Kelly (1910-
dores Renee Cooley a Mathew Tanteri, a partir de materiais
1977) é tema de uma importante exposição inaugurada no
selecionados no Arquivo Richard Kelly, da Universidade de
dia 8 de fevereiro em Estocolmo. A capital sueca é a primeira
Yale, nos EUA, a mostra ganhou, em sua versão européia,
cidade européia a receber a “Richard Kelly Selected Works”,
novas fotos e textos explicativos.
mostra itinerante, que já passou por Nova York e de Estocol-
Segundo o arquiteto e lighting designer sueco, Jan Ejhed,
L+D
76
Ezra Stoller
mo segue para Berlim (15/03 – 01/04), Paris (26/04 – 10/05),
Barcelona (14/06 – 30/06), Amsterdã (13/09 – 05/10), Londres
(25/10 – 16/11) e Milão (19/11-18/12).
Kelly colaborou em mais de 300 projetos de fundamental
importância para a história da arquitetura moderna norteamericana,
tais como a Torre Seagram, de Mies van der Rohe
e Philip Johnson, a Casa de Vidro e o Lincoln Center, de Philip
Jonhson, The Kimbell Art Museum e o Yale Center of British
Art, ambos de Louis Kahn.
Estes e outros projetos são apresentados na mostra por
presidente da European Lighting Design Association (ELDA+),
que organiza a exposição em parceira com o fabricante de
luminárias Erco, há pouco conhecimento sobre o trabalho de
Richard Kelly na Europa e esta exposição ajudará a divulgar
seu trabalho pelos países por onde passar.
Para Jan, o Kimbell Museum é o projeto que melhor representa
as idéias de lighting design. A combinação de luz
natural e artificial e a oportunidade de interferir no projeto
arquitetônico em favor da luz natural representam a essência
do trabalho do profissional desta área.
L+D
77
Torre Seagram (Nova York, 1957) de Mies
van der Rohe e Philip Johnson. Projeto ícone da
arquitetura moderna. Kelly interfere na escolha
dos materiais de revestimento do lobby para criar,
por meio de sistema de iluminação “wall washer”
de luminárias embutidas no teto, a sensação de
que o prédio flutua
Trajetória
L+D
78
Ezra Stoller
Glass House (New Cannan, Connecticut, 1948/49)
de Philip Johnson: com vidro no lugar de paredes
de alvenaria, uma das marcas da arquitetura
moderna, Kelly ilumina o interior com luminárias
embutidas no piso do perímetro externo da casa,
apontadas para o teto, criando o que ele chamou
de Ambient Luminescence ou Luz Ambiente
Richard Kelly nasceu em 1910, em Zannesville, Ohio, EUA. Desde
pequeno já se interessava pelo efeito da luz no ambiente. No teto de
seu quarto, na casa de seus pais, Kelly criou o efeito de uma noite de
céu estrelado com o uso de lampadinhas. Nas paredes, pôsteres de
atrizes de Hollywood foram meticulosamente iluminados com fachos
de luz rigorosamente controlados.
Em 1928, Kelly foi para Nova York e se matriculou na Universidade
Columbia, onde estudou Ciências e Literatura. No departamento de teatro
da universidade, atuou em diversas produções como iluminador e
cenógrafo. Depois de formado, em 1932, Kelly trabalhou com uma proeminente
designer de interiores. Em 1935, movido por um tenaz espírito
empreendedor, ele abriu seu escritório de iluminação, onde projetava,
vendia luminárias e prestava consultoria em projetos de iluminação.
Desde o começo de sua carreira, Kelly rejeitou o acréscimo indiscriminado
de luminárias ao ambiente construído e defendeu o projeto
de iluminação como parte do projeto de arquitetura desde os estudos
iniciais. Para completar, desenhava luminárias especiais de acordo com
o projeto em que trabalhava. Neste período, ele afirmava a importância
do uso de equipamentos de iluminação adequados para o novo
vocabulário que se formava com o edifício moderno.
Por não ter iniciado sua carreira já como arquiteto, Kelly enfrentou
muitas dificuldades e até discriminação para fazer valer suas idéias. Em
1942, ele se viu forçado a fechar seu recém-aberto escritório e decidiu
voltar a estudar, matriculando-se no curso de Arquitetura da Universidade
de Yale. Kelly acreditava que, com o diploma de arquiteto, seria
mais fácil legitimar suas idéias de arquitetura de iluminação.
Em Yale, Kelly estudou com o renomado lighting designer de teatro
Stanley McCandless, que o inspirou a formular seus princípios filosóficos
referentes à luz e aos efeitos desta na percepção humana.
Em 1944, ele se formou como arquiteto e, três anos depois, reabriu
seu escritório. Desta vez, com total segurança para falar, tanto quando
se tratava de luz natural quanto artificial, sobre “luz como arquitetura,
em vocabulário arquitetônico”, como apontou Margaret Maile em 2002,
em sua tese de mestrado sobre Kelly para o Bard Graduate Center.
Nessa época, o arquiteto se declarou independente dos fabricantes
de luminárias e dos escritórios de engenharia elétrica. Desta forma, os
clientes evitariam “pagar duas vezes pelo mesmo serviço”, primeiramente
para o engenheiro elétrico, e em seguida para o lighting designer.
L+D
79
Alberto Jacob
Alberto Jacob
Kelly e a noite de luar
intenso no Rio
A passagem de Kelly pelo Brasil em dezembro de 1964 é um importante
– e curioso – capítulo da biografia de Lota Macedo Soares, entusiasta da
arquitetura e do urbanismo que esteve à frente do planejamento do Parque
do Flamengo, no Rio de Janeiro. No livro “Flores Raras e Banalíssimas”
(Rocco), a escritora Carmen Lúcia de Oliveira conta que, ao chegar a hora
de projetar a iluminação do parque, Lota não se conformou com a proposta
de meramente transformá-lo em “um paliteiro, com 1.800 postes,
de acordo com os recursos da indústria de luminária nacional”.
Ela pediu a Reidy que consultasse seu amigo Phillip Johnson, um dos
mais renomados arquitetos norte-americanos. Johnson recomendou Kelly,
um grande especialista em iluminação – conta Carmen, que em seu livro
narra a luta de Lota para fazer prevalecer o projeto de Kelly. “Foi mérito
dessa mulher acolher e prestigiar o grande arquiteto, que dispôs de um
invulgar cenário para concretizar sua visão arrojada e precursora.”
Kelly obteve um efeito de “noite de luar intenso”, cita Carmen em seu
livro, usando 112 postes, de 45m, com projetores dotados de lâmpadas
de vapor de mercúrio de 1000 watts e envolvidos por tambores antiofuscantes,
que ressaltavam o contorno da vegetação, sem revelar a fonte
luminosa. Carmen afirma que a magia visual de Kelly contribui para a
avaliação enfaticamente positiva que o parque recebe até hoje. Mas ela
ressalva que o resultado, na época, não foi apreciado por todos:
“Caetano Veloso disse que era um frio palmeiral de cimento. Burle
Marx taxou-o de Abajurlândia e rompeu com Lota pelos jornais”,
completa Carmen.
Addison Kelly, filha do arquiteto, e que também já realizou projetos
no Brasil, lembra que seu pai tinha um bom relacionamento com o
então governador da Guanabara, Carlos Lacerda, e que, além da obra
no Rio, trabalhou com Burle Marx e Oscar Niemeyer, e fez também
projetos em Brasília. “Meu pai tinha grande admiração pelo Brasil e,
ao menos até alguns anos atrás, a iluminação do Parque do Flamengo
L+D
80
Princípios Filosóficos
Numa conferência na Faculdade de Design da Universidade do Estado
da Carolina do Norte, nos EUA, Kelly deu uma palestra intitulada
“Iluminação como Parte Integral da Arquitetura”, e introduziu os três
elementos que ele chamou de Focal Glow, Ambient Luminescence e Play
of Brilliants, que podem ser traduzidos como “O Impacto da Energia
da Luz: Luz de Destaque, Luz Ambiente e Jogo de Luzes”. Segundo
Kelly, esses seriam os ingredientes básicos que a iluminação poderia
adicionar ao ambiente construído.
Kelly comparou o Focal Glow ao fogo da fogueira e ao foco de luz
que acompanha um ator no palco. E, ainda, à luz que ilumina o lugar
preferido de leitura de uma pessoa.
“É o raio de sol no fundo do vale, o facho da lanterna nos degraus
da escada. O focal Glow reúne elementos distintos, vende os produtos
de uma vitrine, separa o que é importante do banal, ajuda as
pessoas a ver o detalhe das coisas. Às vezes produz diversos focos
de atenção. Quanto maior o número de focos, mais ele se aproxima
do segundo elemento básico de luz.”
O arquiteto definiu este segundo elemento, a Ambient Luminescence,
como a luz ininterrupta de uma manhã de neve num descampado,
que produz um ambiente sem sombras, diminui a forma e o volume,
e reduz também a importância das pessoas e das coisas.
“É a luz da névoa em mar aberto, é a neblina do crepúsculo sobre
um rio caudaloso, em que margem, água e céu se confundem. É a
luz no domo do teatro antes do espetáculo começar. É uma galeria de
arte com as paredes nuas, é um teto translúcido e um piso branco. E
é também tudo o que conhecemos como luz indireta.”
Play of Brilliants é como a Times Square, de Nova York, à noite,
comparou Kelly.
“É o salão de baile com lustres de cristal. É o sol batendo na
fonte. É uma caixinha de diamantes aberta numa gruta. É a cidade
grande à noite vista de cima. É uma árvore do lado de fora da sua
janela entrelaçada nos raios de sol. Play of Brilliants excita o nervo
óptico e estimula o corpo e o espírito, abre o apetite, desperta a
curiosidade. Distrai e entretém.”
As imagens acima e na página anterior exibem a
iluminação do Parque do Flamengo, destacando
as luminárias projetadas por Kelly. Acima, os
desenhos técnicos das luminárias (retirados das
pranchas originais) mostram os anéis e suportes
em liga estrutural de alumínio
permanecia essencialmente igual à que ele tinha em mente”.
*Orlando Marques, arquiteto e lighting designer, é aluno do
curso Master in Architectural Lighting Design na KTH-Royal
Institute of Techonology de Estocolmo, Suécia, e trabalhou
como coordenador de Projetos no escritório Franco & Fortes
Lighting Design. orlandomarques@hotmail.com
L+D
81
endereços
Altena
Franco & Fortes Lighting Design
LedPoint
Philips Iluminação do Brasil
Rua Tranquillo Gianini , 920
Capitão Prudente, 43
Av. Ayrton Senna 3000, Bloco 1, sala
Rua Verbo Divino, 1.400, 6º andar
13329-901 Salto (SP)
05422-050 São Paulo (SP)
124
04719-002 São Paulo (SP)
Tel: (11) 4602-8664
Tel: (11) 3064-6861
22775-005 Rio de Janeiro (RJ)
Tel: (11) 2125-0588
www.altena.com.br
atendimento@lighting.com.br
Tel: (21) 2421-9051
www.luz.philips.com
PATROCINADOR
www.ledpoint.com.br
PATROCINADOR
Geo Luz e Cerâmica
PATROCINADOR
Associação Brasileira de Arquitetos
R. Anhandeara, 184
Rosco do Brasil
de Iluminação - AsBAI
13093-500 Campinas (SP)
Light Design Iluminação
Rua Antônio de Barros, 827
Rua Capitão Prudente, 43
Tel: (19) 3032-1053
Av. Jornalista Edson Régis, 727
03401-000 São Paulo (SP)
05422-050 São Paulo (SP)
www.geoceramica.com.br
51220-000 – Recife (PE)
Tel: (11) 6198-2865
Tel: (11) 3064-6861
PATROCINADOR
Tel: (81) 3339-1654
www.roscobrasil.com.br
www.asbai.com.br
www.lightdesign.com.br
Iluminar
PATROCINADOR
Schréder do Brasil Ltda.
Atelier Lumière
Avenida do Contorno, 5628
Rua Forte do Rio Branco, 300
Av. Tancredo Neves, 1632, sl. 1204
30110-100 Belo Horizonte (MG)
Lighting Planners Associates
08340-140 – São Paulo (SP)
41820-020 – Salvador – BA
Tel: (31) 3284-0000
5-28-10, Jingumae, Shibuya-KU
Tel: (11) 6114-4300
Tel: (71) 3271-2315
www.iluminar.com.br
150-0001 Tóquio (Japão)
www.schreder.com
www.atelierlumiere.com.br
PATROCINADOR
Tel: (81) 3 5469-1022
PATROCINADOR
www.lighting.co.jp
Bticino
Ingo Maurer
Studio IX
Av. João Dias, 2319
Distribuição no Brasil: La Lampe
Louis Poulsen
Rua Alves Guimarães, 1472
04723-901 São Paulo (SP)
Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1258
Distribuição no Brasil: Delmak Rio
05410-002 – São Paulo (SP)
Tel: (11) 5644-2400
01442-000 São Paulo (SP)
Avenida das Américas, 8505, lj. 112
Tel: 3872-9919
PATROCINADOR
Tel.: (11) 3069-3949
22793-081 Rio de Janeiro (RJ)
www.studioix.com.br
www.lalampe.com.br
Tel: (11) 3326-4449
Citéluz Serviços de iluminação
www.delmak.com.br
Tecnowatt
Urbana LTDA
International Association of
Rua Trajano de Araújo Viana, 1228
Av. Manoel Dias da Silva, 1784
Lighting Designers (IALD)
Lumini
32010-090 – Contagem (MG)
41830-001 Salvador (BA)
Tel: (71) 2102-8900
www.citeluz.com.br
PATROCINADOR
DL Iluminação
R. das Margaridas, 221
04704-040 – São Paulo (SP)
tel/fax: (11) 5538-3382
www.dliluminacao.com.br
PATROCINADOR
Merchandise Mart, Suite 9-104 200
WTC Chicago
IL 60654 Chicago (EUA)
Tel: +1 (312) 527-3677
www.iald.org
International Forum Design
Gabriele Bertemann Messegelände
D- 30521 Hannover (Alemanha)
Tel: + 49 (0) 5511 89 32426
www.ifdesign.de
Rua Ferreira Viana, 786
04761-010 São Paulo (SP)
Tel.: (11) 5522-1988
www.lumini.com.br
PATROCINADOR
Marton + Marton
Rua Cônego Vicente Miguel Marino,
286, 4º andar
01135-020 São Paulo (SP)
Tel: (11) 3392-6604
Tel: (31) 3359-8200
www.tecnowatt.com.br
PATROCINADOR
Trancil
Rua Rio Paranaguá, 1515
32280-300 Contagem (MG)
Tel: (31) 2191-1871
www.trancil.com.br
Transvoltec
Rua Forte dos Franceses, 274
Erco
Itaim Iluminação
Omega Iluminação Ltda
08340-150 São Paulo (SP)
Distribuição na América Latina: Erco
Rod. Régis Bittencourt, km 276
Rua Profº Heloísa Carneiro, 127
Tel: (11) 6114-2266
América Latina
06818-300 Embu (SP)
04630-050 São Paulo (SP)
www.transvoltec.com.br
Av. Alicia M. De Justo 2030, Of.202
Tel: (11) 4785-1010
Tel: (11) 5034-1233
1106 Buenos Aires - Argentina
www.itaim.ind.br
www.omegalight.com.br
L+D
82
tel: + 54 (11) 4313-14 00
www.erco.com
PATROCINADOR
PATROCINADOR
La Lampe
Osram do Brasil
Fabbian Brasil
Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1258
Avenida dos Autonomistas, 4.229
R. Julio C. R. De Souza, 331
01442-000 São Paulo (SP)
06090-901 Osasco (SP)
81610-120 Curitiba (PR)
Tel.: (11) 3069-3949
Tel: 0800-557-084
Tel: (41) 3284-4000
www.lalampe.com.br
www.osram.com.br
www.fabbian.com
PATROCINADOR
PATROCINADOR
L+D
84