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Comentário Evangelho Segundo João - Vol. 1

Comentário de João Calvino no Evangelho Segundo João - Vol. 1.

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30 • <strong>Comentário</strong> do <strong>Evangelho</strong> de <strong>João</strong><br />

O Evangelista denomina o Filho de Deus de a Palavra [Sermo]<br />

simplesmente porque, primeiro, ele é a eterna Sabedoria e Vontade<br />

de Deus; e, segundo, porque ele é a imagem expressa do propósito<br />

divino. Pois assim como no homem se denomina a linguagem como<br />

sendo “a expressão dos pensamentos”, então não é fora de propósito<br />

aplicar isso a Deus e dizer que ele nos é expresso por meio de sua Palavra.<br />

Os outros significados da palavra grega λόγος logos (logos) não<br />

são muito apropriados. Para os gregos, certamente significa definição,<br />

razão e cálculo; contudo, me recuso a filosofar além da compreensão<br />

de minha fé. E descobrimos que o Espírito de Deus está tão longe de<br />

aprovar tais sutilezas que, ao balbuciar conosco, seu próprio silêncio<br />

proclama quão sóbrio deve ser nosso acesso intelectual em mistérios<br />

tão profundos.<br />

Além do mais, visto que Deus, ao criar o mundo, revelou-se através<br />

da Palavra, anteriormente ele a conservou oculta nos recessos de<br />

seu Ser. Por conseguinte, a Palavra exerce uma dupla relação, a saber:<br />

para com Deus e para com os homens. Serveto, certo canalha arrogante<br />

pertencente a Espanha, imagina que a Palavra eterna só veio<br />

à existência quando ela entrou em ação na criação do mundo, como<br />

se antes disso seu poder não fosse notório através de sua operação<br />

externa! Aqui, o ensino do Evangelista é totalmente diferente, pois ele<br />

não atribui à Palavra um princípio temporal, senão que, ao dizer que<br />

ela era desde o princípio, tal fato transcende a todos os tempos.<br />

Conheço muito bem o ladrar desse cão e os sofismas outrora suscitados<br />

pelos arianos, a saber, que no princípio Deus criou céu e terra<br />

[Gn 1.1], os quais, contudo, não são eternos, uma vez que princípio indica<br />

sequência e não eternidade. O Evangelista, porém, antecipa essa<br />

calamidade, quando ele diz<br />

E a Palavra estava com Deus. Se porventura a Palavra tivera<br />

um princípio temporal, então seria necessário que descobrissem em<br />

Deus alguma sequência de tempo. E, aliás, com esta expressão, <strong>João</strong><br />

pretendia distingui-lo de todas as criaturas. Porquanto muitas perguntas<br />

poderiam surgir: Onde realmente estava essa Palavra? Como

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