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Vamos falar sobre identidade de gênero?

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vamos <strong>falar</strong> <strong>sobre</strong><br />

<strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>gênero</strong>?


OS PAPÉIS DE GÊNERO SÃO DETERMINADOS POR<br />

NORMAS CULTURAIS<br />

Entenda a diferença entre <strong>gênero</strong> e sexo!<br />

O termo sexo se refere a diferenças biológicas entre os<br />

indivíduos machos e fêmeas.<br />

As diferenças biológicas são:<br />

1. Órgãos genitais.<br />

2. Presença ou ausência do<br />

cromossomo Y.<br />

Pessoas com diferentes combinações <strong>de</strong>sses fatores, que têm<br />

características pertencentes aos dois sexos chamam-se<br />

intersexos.<br />

Já o termo <strong>gênero</strong> refere-se às diferenças socialmente e<br />

culturalmente construídas entre homens e mulheres. Ou seja,<br />

noções como as <strong>de</strong> que existem profissões, roupas, trejeitos<br />

masculinos ou femininos que dizem respeito a uma representação<br />

sociocultural do que é ser um homem ou uma mulher.<br />

Digamos que uma menina <strong>de</strong> cinco anos vá à loja <strong>de</strong> brinquedos<br />

com os pais. Chegando lá, interessa-se por um brinquedo<br />

<strong>de</strong>signado como ‘<strong>de</strong> menino’. Por um carrinho azul, por exemplo.<br />

1


Os pais, ao saberem do <strong>de</strong>sejo da filha, passam a tentar<br />

convencer ela a gostar, e <strong>de</strong> pedir, um brinquedo ‘feminino’, no fim a<br />

obrigando a levar uma boneca.<br />

Ou então, digamos que você, ao visitar uma padaria para comprar<br />

algo, ouça <strong>de</strong> outro cliente que seu filho chora como uma ‘menininha’,<br />

ou que sua filha, por utilizar roupas culturalmente <strong>de</strong>terminadas como<br />

masculinas, ‘parece um homem’.<br />

Todas essas situações<br />

apresentadas dizem respeito a<br />

noção <strong>de</strong> <strong>gênero</strong> no que<br />

atribuem<br />

características<br />

específicas a um <strong>de</strong>terminado<br />

sexo.<br />

Os casos acima <strong>de</strong>notam<br />

também situações <strong>de</strong><br />

discriminação <strong>de</strong> <strong>gênero</strong> nas<br />

quais um sujeito contrai prejuízos por pertencer a um <strong>gênero</strong><br />

específico, ou ainda, por não correspon<strong>de</strong>r em <strong>gênero</strong> ao sexo da<br />

maneira estipulada pela comunida<strong>de</strong>. Esse tipo <strong>de</strong> discriminação<br />

po<strong>de</strong> causar gran<strong>de</strong> sofrimento à criança, sendo necessário, com<br />

fins <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> direitos humanos, enfrentá-lo nos<br />

diferentes contextos em que ela se insere.<br />

2


A orientação sexual diz respeito a atração sexual e/ou<br />

afetiva que uma <strong>de</strong>terminada pessoa sente, involuntariamente,<br />

com relação a outra(s) pessoas.<br />

Comumente nos referimos a três orientações sexuais:<br />

A pessoa que sente-se atraída afetivo-sexualmente por<br />

pessoas do sexo/<strong>gênero</strong> oposto é chamada <strong>de</strong> heterossexual.<br />

Alguém que sinta-se atraída por alguém do mesmo<br />

sexo/<strong>gênero</strong> é chamada <strong>de</strong> homossexual.<br />

E, por fim, a quem sente-se atraído tanto pelo sexo e/ou<br />

<strong>gênero</strong> masculino e feminino se convencionou a chamar <strong>de</strong><br />

bissexual.<br />

CURIOSIDADE!<br />

Até 1990, a comunida<strong>de</strong> médica utilizava o termo<br />

‘homossexualismo’, cujo sufixo -ismo, nesse caso, <strong>de</strong>nota<br />

doença. Após muita pressão social, a OMS retirou da<br />

Classificação Internacional <strong>de</strong> Doenças (CID) o termo,<br />

retificando que “a homossexualida<strong>de</strong> não constitui<br />

doença, nem distúrbio e nem perversão”.<br />

No Brasil, o Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Psicologia (CFP) em<br />

1999 na sua resolução nº 001/99, resolve que o<br />

profissional <strong>de</strong> psicologia não po<strong>de</strong> ofertar entre os seus<br />

serviços a preconceituosa “cura gay”, o que é um avanço<br />

na legislação garantindo os direitos da comunida<strong>de</strong> LGBT.<br />

No entanto, em 2014, a psicóloga Marisa Lobo teve seu<br />

registro cassado pelo Conselho Regional <strong>de</strong> Psicologia do<br />

3


Paraná, por, na ilegalida<strong>de</strong>, promover a “cura gay”. O CFP,<br />

em resposta, <strong>de</strong> maneira corporativista, julgou o registro<br />

da psicóloga como não passível <strong>de</strong> cassação, o que gerou<br />

gran<strong>de</strong> indignação.<br />

O QUE É IDENTIDADE DE GÊNERO?<br />

É a percepção que a pessoa tem <strong>de</strong> si mesma <strong>sobre</strong> o<br />

<strong>gênero</strong> (masculino, feminino ou a combinação dos dois)<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do sexo biológico. Ou seja, é como a<br />

pessoa se i<strong>de</strong>ntifica e como <strong>de</strong>seja ser reconhecida.<br />

Explicando...<br />

Transexual é a pessoa que em <strong>de</strong>terminado momento da<br />

vida percebe que sua <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>gênero</strong> não é a mesma<br />

que o sexo biológico. Ela po<strong>de</strong> recorrer à medicina para fazer<br />

mudanças corporais <strong>de</strong> acordo com o <strong>gênero</strong> ao qual ela se<br />

i<strong>de</strong>ntifica.<br />

Travesti é a pessoa que nasce com o sexo biológico<br />

masculino, mas assume papel <strong>de</strong> <strong>gênero</strong> diferente daquele<br />

imposto pela socieda<strong>de</strong>, se i<strong>de</strong>ntificando como mulher. Em<br />

geral não <strong>de</strong>sejam fazer a mudança <strong>de</strong> sexo.<br />

Cis<strong>gênero</strong> são aquelas pessoas que têm a <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />

<strong>gênero</strong> correspon<strong>de</strong>nte ao sexo biológico. Ou seja, uma<br />

pessoa do sexo feminino que se i<strong>de</strong>ntifica com o <strong>gênero</strong><br />

feminino e uma pessoa do sexo masculino que se i<strong>de</strong>ntifica<br />

com o <strong>gênero</strong> masculino.<br />

4


Trans<strong>gênero</strong> são as pessoas que não se i<strong>de</strong>ntificam com o<br />

sexo biológico e <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m viver <strong>de</strong> acordo com a sua<br />

<strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>gênero</strong>. Po<strong>de</strong>m transitar entre os <strong>gênero</strong>s como<br />

travestis, drag queens/kings, crossdressers e não<br />

necessariamente querem fazer modificações corporais ou se<br />

i<strong>de</strong>ntificam como transexuais.<br />

Drag Queen é a pessoa do sexo masculino que se<br />

apresenta <strong>de</strong> forma artística e /ou profissional com roupas do<br />

<strong>gênero</strong> feminino.<br />

Drag King é a pessoa do sexo feminino que se apresenta <strong>de</strong><br />

forma artística e/ou profisional com roupas do <strong>gênero</strong><br />

masculino.<br />

Crossdresser é a pessoa que quer vivenciar<br />

momentaneamente a experiência da troca <strong>de</strong> papéis <strong>de</strong><br />

<strong>gênero</strong> e faz isso vestindo-se com roupas do <strong>gênero</strong> oposto<br />

ao seu.<br />

Mulher trans ou transmulher é a pessoa que nasceu<br />

com o sexo biológico masculino, mas se i<strong>de</strong>ntifica como<br />

mulher, ou seja, sua <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>gênero</strong> é feminina.<br />

Homen trans ou transhomem é a pessoa que nasceu<br />

com o sexo biológico feminino, mas se i<strong>de</strong>ntifica como<br />

homem, ou seja, sua <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>gênero</strong> é masculina.<br />

5


Retomando...<br />

É muito importante ressaltar que ser trans não é o mesmo<br />

que ser gay ou lésbica. Ser trans está relacionado com a<br />

<strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>gênero</strong> da pessoa, ou seja, a forma como ela se<br />

i<strong>de</strong>ntifica com o mundo e como ela se sente. Ser<br />

homossexual está relacionado com a orientação sexual, que<br />

é com quem a pessoa escolhe para namorar e se relacionar<br />

<strong>de</strong> forma afetiva e/ou sexual. Uma coisa é completamente<br />

diferente da outra.<br />

Orientação sexual ≠ <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>gênero</strong><br />

Transexual é o mesmo que trans<strong>gênero</strong>?<br />

Transexuais são tran<strong>gênero</strong>s, mas não são todas as<br />

pessoas transgêneras que se i<strong>de</strong>ntificam como transexuais<br />

ou modificam o nome ou o corpo. Trans<strong>gênero</strong>s não <strong>de</strong>sejam<br />

necessariamente que o corpo ou que a forma <strong>de</strong> se vestir se<br />

pareça com o <strong>gênero</strong> ao qual elas se i<strong>de</strong>ntificam.<br />

6


I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero<br />

Como você, na sua mente,<br />

pensa <strong>sobre</strong> você mesmo e se<br />

i<strong>de</strong>ntifica, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do<br />

sexo biológico.<br />

Orientação Afetivo-sexual<br />

Refere-se a quem você é<br />

fisicamente e emocionamente<br />

atraído, baseado na relação entre o<br />

seu sexo/<strong>gênero</strong> e o da outra<br />

pessoa.<br />

Sexo Biológico<br />

Refere-se as características<br />

físicas sexuais com as quais você<br />

nasce, incluindo genitais, formato<br />

do corpo, voz, hormônios,<br />

cromossomos, etc.<br />

Expressão <strong>de</strong> Gênero<br />

É a maneira como você<br />

<strong>de</strong>monstra seu <strong>gênero</strong>, através da<br />

sua forma <strong>de</strong> agir. vestir, se<br />

comportar e interagir.<br />

7


Cis<strong>gênero</strong> - Trans<strong>gênero</strong> -<br />

Não-binário<br />

Gênero não é binário. E na<br />

maioria dos casos, ninguém é<br />

100% uma coisa só. Somos<br />

um pouquinho disso e daquilo.<br />

O gráfico não é capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir<br />

Heterossexual -<br />

Bissexual - Homossexual -<br />

Assexual<br />

todas as possibilida<strong>de</strong>s que a<br />

sexualida<strong>de</strong> humana oferece.<br />

A melhor forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir<br />

alguém é perguntando como a<br />

pessa se sente. É isso que<br />

conta.<br />

Fêmea - Intersex - Macho<br />

Feminino - Andrógino -<br />

Masculino<br />

* Baseado no The Gen<strong>de</strong>rbread Person v3.3 do<br />

itspronouncedmetrosexual.com<br />

8


VOCÊ SABIA?<br />

O Brasil é o país com mais mortes <strong>de</strong> transexuais no<br />

mundo! Entre 2008 e 2013 ocorreram 486 mortes, o que<br />

é quatro vezes mais do que o segundo lugar (México).<br />

Para piorar, esse número retrata apenas os casos<br />

reportados, ou seja, o número <strong>de</strong> mortes <strong>de</strong>ve ser ainda<br />

maior consi<strong>de</strong>rando, também, que em alguns países não<br />

existem dados <strong>sobre</strong> esse tipo <strong>de</strong> crime.<br />

Dessa forma, a excpectativa <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> uma pessoa<br />

trans é <strong>de</strong> 30 anos, enquanto que do resto da população<br />

é <strong>de</strong> 74,6 anos!<br />

IMPORTANTE!<br />

Travesti é um termo feminino, portanto usa-se o artigo<br />

A antes <strong>de</strong> travesti.<br />

A Travesti<br />

O Travesti<br />

O termo Opção Sexual não é correto por não se tratar<br />

<strong>de</strong> uma escolha. O certo é dizer Orientação Sexual.<br />

Orientação Sexual<br />

Opção Sexual<br />

Você não <strong>de</strong>ve se referir a uma mulher trans como ELE<br />

e nem a um homem trans como ELA!!!<br />

9


PROCESSO TRANSEXUALIZADOR, NOME SOCIAL,<br />

REGISTRO CIVIL<br />

O Processo Transexualizador<br />

Processo transexualizador não é simplesmente a realização<br />

<strong>de</strong> uma cirurgia. Existem vários critérios a serem seguidos. A<br />

finalida<strong>de</strong> do processo é conseguir permissão para realizar a<br />

Cirurgia <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>signação Sexual (termo médico) ou,<br />

recentemente chamada <strong>de</strong>, Cirurgia <strong>de</strong> Afirmação <strong>de</strong> Sexo.<br />

Esta é uma cirurgia plástica on<strong>de</strong> transforma-se o pênis em<br />

vagina ou a vagina em pênis para que o indivíduo sinta-se<br />

confortável com sua genitália, uma vez que não se i<strong>de</strong>ntifica<br />

com seu sexo biológico.<br />

Em 1997 o Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Medicina (CFM) regulamenta<br />

que estas cirurgias po<strong>de</strong>m ser realizadas <strong>de</strong> forma<br />

experimental em Hospitais Universitários. Além disso, o SUS<br />

(Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>) oferece suporte para as travestis e<br />

os/as transexuais <strong>de</strong>s<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2008. A ida<strong>de</strong> mínima<br />

estabelecida pelo Ministério da Saú<strong>de</strong> é <strong>de</strong> 18 anos para<br />

procedimentos ambulatoriais e <strong>de</strong> 21 anos para<br />

procedimentos cirúrgicos. Já as requisições legais para<br />

acontecer o processo, além da maiorida<strong>de</strong>, é o<br />

acompanhamento psicoterápico <strong>de</strong> no mínimo 2 anos, um<br />

laudo psicológico ou psiquiátrico favorável e também um<br />

diagnóstico médico <strong>de</strong> transexualida<strong>de</strong>. Existem também<br />

tratamentos hormonais que são necessários principalmente<br />

para homens transexuais e muitas vezes os médicos<br />

10


solicitam que a pessoa viva um período <strong>de</strong> teste em seu<br />

papel social <strong>de</strong> <strong>gênero</strong>, ou seja, se a pessoa é uma mulher<br />

transexual, ela tem que viver socialmente como mulher para<br />

que os médicos possam avaliar e <strong>de</strong>cidir se o laudo será<br />

favorável ou não.<br />

Quando todos os pré-requisitos foram cumpridos, logo<br />

antes da cirurgia a equipe multiprofissional do SUS<br />

acompanha a pessoa e realiza uma avaliação, oferecendo<br />

uma assistência integral durante o processo. Felizmente, a<br />

portaria <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2008 garante o atendimento<br />

especializado reconhecido pelo SUS para a população trans<br />

para que ocorra uma melhoria <strong>de</strong> sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

A cirurgia é procurada não só pelo <strong>de</strong>sconforto com<br />

a genitália como para que o registro civil possa ser alterado,<br />

como veremos a seguir.<br />

Na prática, o processo é extremamente burocrático e<br />

apenas 4 hospitais no Brasil realizam a cirurgia, o que gera<br />

filas <strong>de</strong> espera <strong>de</strong> até seis anos! De agosto <strong>de</strong> 2008 a<br />

setembro <strong>de</strong> 2014 foram realizados 186 procedimentos <strong>de</strong><br />

Re<strong>de</strong>signação Sexual 1º Tempo (a troca <strong>de</strong> genitais) e 45<br />

cirurgias <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>signação Sexual 2º Tempo, que são<br />

procedimentos para o alongamento das cordas vocais e<br />

redução do pomo <strong>de</strong> adão.<br />

11


O longo processo burocrático para a concessão da<br />

transgenitalização, por envolver um laudo psiquiátrico <strong>de</strong><br />

transtorno <strong>de</strong> <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>gênero</strong>, causa muito <strong>de</strong>sgaste<br />

emocional. O relato <strong>de</strong> Israel, mulher trans, nos permite<br />

perceber a frustração causada pelo processo:<br />

“‘Você faz o acompanhamento por dois anos, e no<br />

final eles vão dizer que você é uma pessoa louca, que<br />

você precisa disso para viver’, Israel explica. ‘Aqui no<br />

Brasil, eles é que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m se você faz a cirurgia.’”<br />

(“Desvairadas”, 2014, escrito por Red Ne<strong>de</strong>l, p. 25)<br />

Por conta <strong>de</strong>sse entrave, quem tem condições <strong>de</strong> pagar<br />

pelo procedimento em hospitais privados, geralmente o faz,<br />

por preços altíssimos.<br />

Nome Social e Registro Civil<br />

"Quem não é trans talvez não consiga enten<strong>de</strong>r o<br />

constrangimento <strong>de</strong> ter que respon<strong>de</strong>r pelo nome <strong>de</strong><br />

batismo no meio <strong>de</strong> toda a gente, levantar da ca<strong>de</strong>ira<br />

da sala <strong>de</strong> espera e acompanhar a enfermeira para a<br />

consulta, sob olhares <strong>de</strong> <strong>de</strong>boche e estranhamento. Por<br />

medo <strong>de</strong> situações como esta, algumas amigas <strong>de</strong><br />

Kelly evitaram ir ao posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> – e, <strong>de</strong>ssa forma,<br />

morreram." (Red Ne<strong>de</strong>l, 2014, p.18)<br />

12


Sabe-se que o nome é a principal i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> uma<br />

pessoa juntamente com sua aparência. As pessoas travestis<br />

e transexuais, por possuírem uma <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>gênero</strong><br />

diferente daquela que lhes foi atribuída quando nasceu, optam<br />

por serem chamadas ou até trocar seus nomes para um<br />

nome que corresponda a sua <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong>.<br />

No Brasil ainda não há uma lei que permita a troca <strong>de</strong> nome<br />

e <strong>de</strong> sexo no registro civil, sendo assim, muitas <strong>de</strong>ssas<br />

pessoas têm <strong>de</strong> entrar na justiça para po<strong>de</strong>r realizar a<br />

alteração e a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do(a) juiz(a). Muitas vezes a<br />

<strong>de</strong>cisão é realizada com base num laudo médico, terapia<br />

hormonal ou cirurgia (processo transexualizador). Em alguns<br />

municípios e estados existem leis que permitem a troca do<br />

nome sem complicações.<br />

NOTÍCIAS!<br />

Neste ano (2015), foi aprovada uma resolução (Conselho<br />

Nacional <strong>de</strong> Combate à Discriminação e Promoções dos<br />

Direitos LGBT) que <strong>de</strong>termina regras para o registro <strong>de</strong><br />

travestis e transexuais em cursos e escolas. A partir <strong>de</strong>sta<br />

resolução todos os documentos e formulários das<br />

instituições educacionais <strong>de</strong>vem registrar a pessoa por seu<br />

nome social. O que é um gran<strong>de</strong> avanço para a comunida<strong>de</strong><br />

LGBT.<br />

13


CURIOSIDADES<br />

- No ENEM <strong>de</strong> 2014 candidatos transexuais e travestis<br />

pu<strong>de</strong>ram solicitar o uso do nome social para a realização<br />

da prova e 102 pessoas se inscreveram! Já em 2015<br />

esse número cresceu para 278, tendo um aumento <strong>de</strong><br />

172%.<br />

- O dia 29 <strong>de</strong> Janeiro é o dia da visibilida<strong>de</strong> Trans.<br />

- Em 2015 o ministério da saú<strong>de</strong> anunciou que pessoas<br />

trans po<strong>de</strong>riam emitir o cartão do SUS com o nome<br />

social, garantindo maior acesso à re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>!<br />

- Infelizmente, pelo SUS, a cirurgia <strong>de</strong> afirmação <strong>de</strong><br />

sexo está disponível apenas para mulheres trans.<br />

CRIANÇAS E ADOLESCENTES<br />

Para Freud, os sujeitos ao nascerem não têm como um<br />

<strong>de</strong>stino uma orientação sexual específica pré-configurada,<br />

como, por exemplo a heterossexualida<strong>de</strong>. Para ele a mente<br />

tem um ponto <strong>de</strong> partida bissexual que é mo<strong>de</strong>lado através<br />

da repressão. Tanto o sexo quanto o <strong>gênero</strong>, para a<br />

psicanálise, são plásticos, ou seja, po<strong>de</strong>m tomar várias<br />

formas e são sempre singulares, únicos na sua performance.<br />

14


Para o psicanalista Erik Erikson, é em torno <strong>de</strong> 3 a 5 anos<br />

em que as crianças começam experimentar papéis <strong>de</strong><br />

<strong>gênero</strong>, através do faz-<strong>de</strong>-conta. Nessa fase é importante que<br />

se <strong>de</strong>ixe a criança imaginar. A repressão da criativida<strong>de</strong> po<strong>de</strong><br />

levar a sentimentos <strong>de</strong> vergonha para com suas aspirações,<br />

prejudicando o <strong>de</strong>senvolvimento saudável,<br />

causando<br />

sofrimento e confusão.<br />

Este autor, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> em sua teoria psicossocial do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, que o ser humano passa por oito fases no<br />

seu <strong>de</strong>senvolvimento, marcadas por conflitos que culminam<br />

em uma crise cuja a superação proporciona uma progressão<br />

psicológica. Caso o progresso não aconteça, o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento psicossocial ficaria afetado negativamente.<br />

Na quarta fase do <strong>de</strong>senvolvimento, que seria dos 5 aos 13<br />

anos, é chamado o período <strong>de</strong> latência. Este é o período<br />

escolar, on<strong>de</strong> a criança começa a sedimentar a confiança,<br />

autonomia e iniciativa, por conta disso e da <strong>de</strong>manda escolar<br />

a criança começa a ser responsável, esforçada e a ter a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prever uma gratificação. Se os pais e<br />

professores não reforçarem as posturas <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />

e esforço da criança estabelecem-se sentimentos <strong>de</strong><br />

inferiorida<strong>de</strong> e ina<strong>de</strong>quação nesta criança.<br />

15


Na teoria psicossexual <strong>de</strong> Freud esta ida<strong>de</strong> também é<br />

chamada <strong>de</strong> período <strong>de</strong> latência, on<strong>de</strong> o indivíduo começa a<br />

investir sua libido na escola e menos em si mesmo, sendo<br />

uma fase muito importante na constituição da <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> (vi<strong>de</strong><br />

"transfobia na escola").<br />

É aproximadamente, a partir dos 13 anos (e até o fim da<br />

adolescência), com a puberda<strong>de</strong> e suas gran<strong>de</strong>s mudanças<br />

corporais que a <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>gênero</strong> assume um caráter<br />

mais estável, na teoria <strong>de</strong> Erikson. O preconceito que muitas<br />

pessoas sofrem ao se i<strong>de</strong>ntificarem a um <strong>gênero</strong> diferente do<br />

seu sexo causa gran<strong>de</strong> impacto negativo na autoestima,<br />

po<strong>de</strong>ndo levar a pessoa a um sofrimento agudo. É importante<br />

o apoio <strong>de</strong> sua comunida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> pessoas próximas nesse<br />

processo. O acolhimento da diferença e o reconhecimento da<br />

<strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> (ver também Nome Social) é crucial nesse<br />

momento, como em todos os outros.<br />

“Se um pai ou mãe percebe que a criança é assim, tem que<br />

oferecer apoio. Eu já tentei suicídio. Meus pais sabiam, mas não<br />

tiveram a sabedoria <strong>de</strong> conversar comigo e dizer que era normal.<br />

Então se tu tens um filho gay, apoia ele, ajuda ele. Tem que ter<br />

uma proteção em cima <strong>de</strong>le.” (“Desvairadas”, 2014, escrito por<br />

Red Ne<strong>de</strong>l, p. 27)<br />

16


Transfobia na escola<br />

Quando falamos <strong>sobre</strong> transgenerida<strong>de</strong> na infância, não<br />

po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> perceber que essa criança, ao passar pelo<br />

processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong>, está frequentando uma<br />

escola que, na maioria das vezes, não possibilita esse<br />

<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Mesmo quando as escolas como um todo tentam praticar a<br />

inclusão, elas são atravessadas por pensamentos que não<br />

possibilitam a pluralida<strong>de</strong> na escola, o preconceito. Ou seja,<br />

quando os pressupostos cognitivos e afetivos criados pelo<br />

preconceito não são avaliados e reconsi<strong>de</strong>rados, a exclusão<br />

po<strong>de</strong> ocorrer da mesma forma impedindo a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>gênero</strong> e sexual que a escola com as melhores intenções<br />

tenta garantir.<br />

Visto que, são os profissionais da educação que são os<br />

responsáveis por dar condições <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> ao processo<br />

ensino-aprendizagem, a transfobia na escola torna-se uma<br />

violência institucional. Dessa forma, é <strong>de</strong> extrema importância<br />

que este profissional entenda <strong>sobre</strong> <strong>gênero</strong> e não pratique a<br />

transfobia, pois esses atos po<strong>de</strong>rão perpetuar na criança<br />

traumas que dificilmente serão esquecidos já que é nessa<br />

fase do <strong>de</strong>senvolvimento psicossocial que, se os sentimentos<br />

e esforços da criança forem <strong>de</strong>svalorizados, po<strong>de</strong>rão provocar<br />

sentimentos <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong> inapropriados a qualquer criança.<br />

17


Esta cartilha foi <strong>de</strong>senvolvida por estudantes da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina, do Curso <strong>de</strong><br />

Graduação em Psicologia para a disciplina <strong>de</strong><br />

Processos Psicológicos Básicos na Infância, ministrada<br />

pela Professora Doutora Carolina Baptista Menezes.<br />

Autores:<br />

André Luís Lahorgue Lopes<br />

Beatris Cristina Badia<br />

Luana Trevisan<br />

Luiz Carlos Espindola<br />

Reginaldo Martins<br />

Referências*<br />

* Para acessar as Referências você <strong>de</strong>ve baixar o<br />

aplicativo "QR Co<strong>de</strong> Rea<strong>de</strong>r" no seu celular. Abra o<br />

aplicativo e aponte o leitor para o código. Ele<br />

perguntará se você permite baixar um arquivo.<br />

Aceite! As referências estarão em formato PDF, on<strong>de</strong><br />

você po<strong>de</strong> simplesmente clicar nos links para<br />

abri-los!<br />

18

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