Revista UnicaPhoto - Edição 06 - Maio/2016
Revista que reúne a produção de alunos, professores, funcionários e colaboradores do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap)
Revista que reúne a produção de alunos, professores, funcionários e colaboradores do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap)
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Revista</strong> do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap - #6, mai <strong>2016</strong><br />
www.unicap.br/unicaphoto
Na web<br />
www.unicap.br/unicaphoto<br />
/fotografiaunicap<br />
Expediente<br />
Coordenação: Renata Victor<br />
<strong>Edição</strong>: Carolina Monteiro<br />
Diagramação: Arline Lins<br />
Textos: Carolina Monteiro, Dario Brito,<br />
Germana Soares, Juliana Nascimento<br />
Torezani, Maria Sofia de Queiroga Vieira,<br />
Renata Victor e Suann Medeiros.<br />
Ensaios: Grupo (Ammanda Falcão, Paulo<br />
Vasconcelos, Priscila Silva, Nitali Angélica,<br />
Rautemberg Nóbrega, Amanda Bezerra,<br />
Daniel Guimarães, Alzio Dias, Alexandre<br />
Torres, Allan Oliveira, José Maurício, Ana<br />
Nery, Jéssyca Artico, Humberto Pereira,<br />
Suann Medeiros e Jundy Leal) Luara Olívia,<br />
Kesya Souza e Renata Victor.<br />
A <strong>UnicaPhoto</strong> é uma publicação semestral do<br />
Curso Superior de Tecnologia em Fotografia<br />
da Universidade Católica de Pernambuco<br />
(ISSN 2357-8793).<br />
Fotos da capa: Keila Castro<br />
Foto da contra-capa: Eva Feitosa<br />
[2]
EDITORIAL<br />
Foto: Daniel Guimarães<br />
Renata Victor<br />
Coordenadora do Curso Superior de<br />
Tecnologia em Fotografia da Unicap<br />
Na última década, a fotografia vivenciou grandes transformações, não só nas linguagens, mas na sua<br />
produção. As experimentações nas redes sociais, no audiovisual, na arte contemporânea e o avanço<br />
tecnológico dos artefatos fotográficos levaram a fotografia a patamares jamais imaginados. Dessa forma,<br />
necessitamos compreender os novos conceitos e os prováveis caminhos da fotografia.<br />
O curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap, com apenas cinco anos, obteve nota<br />
máxima na avaliação do MEC, em novembro de 2015, e também passou a ser considerado pelo site<br />
ENEM VIRTUAL o curso líder no Ranking das Melhores Faculdades de Fotografia do Brasil. Apresentando<br />
dessa forma, até parece que a trajetória foi rápida e simples. Não foi o caso. Trabalhamos muito,<br />
acertamos e erramos em vários momentos, mas nunca esquecemos que o nosso maior bem é o aluno<br />
e a fotografia. Assim, buscamos sempre manter o curso jovem e atuante. O projeto pedagógico passou<br />
por duas atualizações, o corpo docente é formado por professores com experiências profissional e<br />
acadêmica. O curso promove diversas atividades interdisciplinares e transdisciplinares e tem como<br />
missão a excelência acadêmica e humanista. Sabemos que nada é perfeito e eterno, pois trabalhamos<br />
com gente, e cada turma se torna um novo desafio.<br />
Desafio. É assim que vemos o curso de especialização “As Narrativas Contemporânea da Fotografia e<br />
do Audiovisual”, que tem como princípio a reflexão sobre as novas perspectivas de uso da fotografia. O<br />
curso começou no dia 25 de maio e contará com um corpo docente de excelência. A Professora Doutora<br />
Simonetta Persichetti abriu o ciclo dos módulos, com a disciplina “Fotografia: Crítica e Curadoria”, e é<br />
com ela a entrevista dessa 6ª edição. Trazemos também quatro ensaios, matérias sobre audiodescrição e<br />
sobre a exposição de formatura da última turma, com o tema Manguebeat, uma homenagem ao falecido<br />
artista Chico Science, além de uma retrospectiva do momento da divulgação da nota de avaliação do<br />
MEC e muito mais.<br />
Boa leitura!<br />
[3]
ACONTECEU<br />
ENTREVISTA<br />
ACERVO UNICAP<br />
FOTOGRAFIA DA UNICAP É NOTA<br />
MÁXIMA NO MEC<br />
SOBRE FOTOGRAFAR O SUBLIME<br />
AUDIODESCRIÇÃO: UMA ARTE<br />
QUE INCLUI!<br />
FILMES FEITOS COM O CELULAR<br />
CHEGAM AOS CINEMAS<br />
[4]
100 ANOS DO VALE DE YOSEMITE<br />
PELAS LENTES DE ANSEL ADAMS<br />
RECIFE: RECORTES CONCRETOS<br />
ANÁLISE DE IMAGEM<br />
DIR. AUTORAL E DIR. DE IMAGEM<br />
O MAR VISTO DE CIMA<br />
DA LAMA PARA O MUNDO: CHICO<br />
SCIENCE E O MOVIMENTO MANGUEBEAT<br />
A MORTE AMOROSA<br />
DICAS<br />
[5]
[6]A CO NTE C EU
[7]
Entrevista<br />
S i m o n e t t a P e r s i c h e t t i<br />
A Professora Doutora, jornalista, pesquisadora e crítica de Fotografia, Simonetta Persichetti<br />
é dona de um currículo vasto e bem-conceituado no universo da fotografia brasileira. Ela<br />
vai ministrar o módulo Fotografia: Crítica e Curadoria da especialização As Narrativas<br />
Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual oferecida pela primeira vez este ano na<br />
Unicap. Nesta entrevista ela fala sobre a sua relação com a fotografia pernambucana e faz um<br />
balanço do mercado da fotografia artística no Brasil e no mundo.<br />
Foto: Paulo Villar<br />
[8]
<strong>UnicaPhoto</strong>: Os cursos de graduação em<br />
fotografia são bem jovens no Brasil. No entanto,<br />
hoje percebemos um número considerável<br />
de instituições ofertando graduações e pósgraduações<br />
na área da imagem. Como você<br />
analisa esse atual cenário? Tem alguma previsão<br />
para o futuro?<br />
Simonetta: Sou bastante otimista e acho que a<br />
partir do momento em que a fotografia entrou<br />
para a academia e passou a ser discutida<br />
e reconhecida de forma mais ampla como<br />
uma linguagem a ser estudada, decodificada<br />
e entendida passamos a ter um olhar mais<br />
crítico não só dos acadêmicos, mas também<br />
do público em geral. Com certeza, a fotografia<br />
crescerá ainda mais.<br />
<strong>UnicaPhoto</strong>: É sabido que você tem uma<br />
ligação com a fotografia pernambucana. Como<br />
você avalia a produção fotográfica artística em<br />
Pernambuco?<br />
Simonetta: Graças ao Fernando Neves e<br />
Luciana Carvalho que me convidaram para<br />
ser curadora da Arte Plural em 2009, tive a<br />
oportunidade de ver a consistência e a seriedade<br />
da produção pernambucana. Fotógrafos como<br />
Helia Scheppa, Ricardo Labastier, Yeda Bezerra<br />
Mello, Roberta Guimarães, Teresa Maia, e o<br />
saudoso Alexandre Severo, Gustavo Bettini, Lia<br />
Lubambo, Gilvan Barreto, enfim uma infinidade<br />
de nomes (fica até chato deixar de citar alguns)<br />
que desenvolvem trabalhos preciosos em<br />
conexão com uma linguagem contemporânea<br />
de micro-histórias, micro universos que tem sido<br />
aplaudidos no Brasil e no exterior e que, ainda<br />
bem, nos tiram dos já conhecidos eixos Rio-São<br />
Paulo. A fotografia pernambucana é tão rica<br />
quanto a própria cultura do estado.<br />
<strong>UnicaPhoto</strong>: O que define uma fotografia<br />
artística?<br />
Simonetta: Essa é uma pergunta que vale um<br />
milhão de dólares, ou euros, vocês decidem!<br />
É muito difícil responder o que é arte e o que<br />
não é. A própria filosofia ainda não discutiu o<br />
que é arte. Acho que se o século XIX registrou<br />
o mundo e o século XX o interpretou, agora<br />
no século XXI somos livres para contar nossas<br />
histórias e aí alargamos o conceito de poiésis, de<br />
criação e de articidade de uma fotografia.<br />
<strong>UnicaPhoto</strong>: Como você vê o mercado da<br />
fotografia artística no Brasil e no mundo?<br />
Simonetta: Ainda acho que muito se fala, mas<br />
pouco se realiza. No sentido de que ainda não<br />
vejo um mercado institucionalizado, criado.<br />
Isto ainda está para acontecer. Precisamos<br />
ainda entender quem compra fotografia, quem<br />
são os colecionadores, e como estabelecer<br />
preços. Esta é uma questão de mercado que<br />
eu não gosto e nem quero entrar. Eu quero ver<br />
boas e consistentes fotografias e não trabalhos<br />
que somente atendem a um mercado e criam<br />
receitas vendáveis.<br />
<strong>UnicaPhoto</strong>: Quais os fotógrafos que você<br />
destaca no mercado da fotografia artística no<br />
Brasil e no mundo?<br />
Simonetta: Esta é uma escolha de Sofia, prefiro<br />
não responder!<br />
<strong>UnicaPhoto</strong>: Algum fotógrafo da nova geração<br />
lhe impressiona?<br />
Simonetta: Vale a mesma resposta acima. Sim,<br />
alguns me impressionam, mas prefiro ainda<br />
esperar...<br />
<strong>UnicaPhoto</strong>: A tecnologia apresentada pelos<br />
equipamentos fotográficos digitais aproximou os<br />
fotógrafos para a produção audiovisual. Qual é<br />
sua avaliação sobre tal situação?<br />
Simonetta: Eu acredito, mas não tenho<br />
nenhuma certeza, de que a fotografia foi a<br />
expressão do século XX e que entrou no século<br />
XXI cheia de poderes, mas acho que o tempo vai<br />
nos aproximar cada vez mais do vídeo. Talvez<br />
as fotografias se tornem frames de vídeos, mas<br />
acho que essa vai ser a tendência: o vídeo, sem<br />
acabar com a foto, mas será preponderante.<br />
<strong>UnicaPhoto</strong>: Qual o conselho que você daria<br />
para quem está começando na fotografia?<br />
Simonetta: Com dizia o meu querido e saudoso<br />
amigo Thomaz Farkas: “para você que está<br />
começando agora, fotografe, fotografe muito”.<br />
[9]
ACERVO<br />
UNICAP<br />
O sincretismo religioso é uma das<br />
características mais marcantes do Brasil<br />
de hoje, cuja identidade e cultura são<br />
fortemente influenciadas pelas tradições<br />
de índios (sua população nativa); brancos<br />
colonizadores e negros trazidos da África<br />
a partir do século 16 para trabalharem<br />
como escravos nas plantações de café e<br />
cana-de-açúcar até pelo menos o ano de<br />
1888, quando toda forma de escravidão<br />
foi abolida no país. No início da colonização,<br />
no entanto, junto com as obrigações<br />
do trabalho forçado, índios e negros também<br />
eram convertidos às tradições católicas<br />
portuguesas em rituais e cultos que<br />
permanecem intactos até os dias atuais.<br />
É o caso da devoção a Santa Quitéria,<br />
jovem portuguesa venerada como<br />
mártir desde o século VIII em Portugal e<br />
cujo culto foi trazido pelos portugueses<br />
para o Nordeste do Brasil. Um vilarejo<br />
nordestino chamado Santa Quitéria das<br />
Frexeiras, localizado a 15km da cidade de<br />
São João, no Agreste de Pernambuco, foi<br />
nomeado em homenagem à santa desde<br />
o século 17 e até hoje recebe milhares<br />
de romeiros durante o mês de setembro<br />
para agradecer pedidos alcançados e<br />
renovar a fé na santa a quem se atribuem<br />
milagres e graças. Os primeiros fiéis eram<br />
índios e escravos convertidos, mas a<br />
crença se espalhou pela região de forma<br />
indiscriminada, atingindo várias etnias e<br />
classes sociais.<br />
[10]
fotógrafa: inês campelo<br />
câmera: nikon 60<strong>06</strong> (analógica)<br />
filme: preto e branco<br />
(t-max 3.200, kodak)<br />
ano: 2000<br />
O vilarejo, que vive da agricultura<br />
de subsistência e da movimentação do<br />
comércio em torno das romarias, tem<br />
pouco mais de duas ruas e o culto à santa<br />
é realizado em uma casa pertencente<br />
a uma família do local há cerca de 300<br />
anos, sem a participação oficial da Igreja<br />
Católica. O culto acontece em torno<br />
de uma imagem da Santa de 44 cm de<br />
altura, trazida pela família portuguesa<br />
“Corrêa da Rocha” para o local em 1695.<br />
A casa foi transformada em santuário no<br />
século 18, segundo os registros familiares.<br />
Para agradecer as graças alcançadas,<br />
os fiéis trazem ex-votos (esculturas de<br />
madeira, gesso ou bronze) que representam<br />
os pedidos atendidos na forma de<br />
cabeças, pés, braços e pernas (locais das<br />
enfermidades curadas) ou casas, carro e<br />
animais (pedidos alcançados).<br />
Conheci a festa de Santa Quitéria de<br />
Frexeiras em 2000, quando fiz um ensaio<br />
fotográfico documental orientado pela<br />
professora Renata Victor, como projeto<br />
de conclusão de curso de jornalismo na<br />
Universidade Católica de Pernambuco.<br />
Estive no lugarejo na semana entre 31 de<br />
agosto a sete de setembro. O local me<br />
impressionou não apenas pela riqueza<br />
imagética, mas pela força da fé e da devoção<br />
das famílias e das pessoas que iam<br />
até o santuário para rezar e agradecer.<br />
[11]
Fotografia da<br />
Unicap é nota<br />
máxima no MEC<br />
O Curso de Fotografia da Universidade<br />
Católica de Pernambuco recebeu nota 5<br />
na avaliação do MEC. Um reconhecimento<br />
de excelência e qualidade<br />
Texto de Suann Medeiros<br />
Fotos: Selftime e Luara Olívia<br />
O Curso Superior Tecnológico em Fotografia<br />
da Universidade Católica de Pernambuco<br />
(Unicap), no Recife, conquistou nota máxima<br />
na avaliação do Ministério da Educação (MEC),<br />
principal indicador de qualidade do ensino<br />
superior no país. A nota 5 é a maior pontuação<br />
que um curso de ensino superior pode receber<br />
no conceito do Governo Federal. O resultado<br />
comprova que o curso atende aos critérios de<br />
formação de profissionais, tanto no que se refere<br />
à dimensão institucional quanto ao corpo docente<br />
e projeto pedagógico. “Penso que 2015<br />
foi um ano feliz para o curso de Fotografia porque<br />
em apenas cinco anos de existência, teve<br />
dois prêmios no Intercom Regional e também<br />
[12]
a avaliação máxima do MEC. Ou seja, o curso<br />
mostrou a que veio, fortaleceu-se e adquiriu<br />
reconhecimento dentro e fora da instituição”,<br />
comenta a coordenadora Renata Victor.<br />
O curso, que teve início em fevereiro de<br />
2010, busca aliar formação teórica à vivência<br />
prática das atividades fotográficas, preservando<br />
as identidades nordestina e nacional, sem<br />
esquecer do contexto atual do mundo globalizado.<br />
Segundo a Pró-reitora Acadêmica e Professora<br />
da Unicap, Aline Grego, “é extremamente<br />
positiva a nota máxima do MEC, pois mostra<br />
que as opções por cursos superiores de caráter<br />
tecnológicos, que têm uma duração menor do<br />
que as demais graduações, são viáveis e que<br />
existe demanda na cidade para eles, sobretudo<br />
como um upgrade para as demais áreas, como<br />
podemos constatar que existem alunos que já<br />
trabalham com fotografia, mas também outros<br />
que vêm de graduações totalmente distintas da<br />
área da comunicação”.<br />
O entusiasmo é compartilhado pelos alunos.<br />
“Me sinto extremamente feliz e orgulhoso<br />
de fazer parte de um curso mantido com tanto<br />
zelo e dedicação. O reconhecimento do MEC é<br />
apenas uma consequência de uma construção<br />
sólida, que mescla professores super qualificados,<br />
competentes e dedicados, uma estrutura<br />
acadêmica adequada ao mercado, e claro, o<br />
incansável carinho e comprometimento da co-<br />
[13]
ordenadora Renata Victor. É uma alegria fazer<br />
parte disso tudo, sabendo que o curso não nos<br />
impõe limites, pelo contrário, nos oferece um<br />
ambiente que abre portas e nos permite alçar<br />
voos, seja no mundo acadêmico, seja na formação<br />
profissional”, contou o ex-aluno Paulo<br />
Souza.<br />
Para a professora e coordenadora Geral<br />
de Graduação da Unicap, Verônica Brayner, o<br />
conceito 5 obtido pelo curso de Fotografia veio<br />
coroar uma breve trajetória. “Não foi uma surpresa.<br />
Devido ao zelo que o curso veio sendo<br />
construído desde a sua origem e concepção.<br />
Essa nota representa a capacidade da universidade<br />
de ter um curso tradicional como Direito,<br />
que tem 55 anos de existência, que tira 5 na<br />
nota máxima do MEC e a graduação de Fotografia,<br />
com apenas 5 anos. Para um curso<br />
superior em tecnologia, insisto, é um ganho<br />
enorme porque eles são avaliados da mesma<br />
forma que um bacharelado ou uma licenciatura<br />
de cinco anos”, comenta Verônica.<br />
Atualmente, o curso é noturno e tem duração<br />
de dois anos. São oferecidas 40 vagas por ano.<br />
A Graduação em Fotografia da Unicap é considerada<br />
a melhor universidade privada de fotografia<br />
no Brasil - segundo o site Enem Virtual.<br />
Seu corpo docente é formado por nove professores,<br />
entre especialistas, mestres e doutores.<br />
Além das atividades em sala de aula, o curso<br />
ainda oferece ao graduando importantes atividades<br />
de extensão como o Prêmio Alcir Lacerda,<br />
o Concurso Fotográfico de Carnaval, a <strong>Revista</strong><br />
<strong>UnicaPhoto</strong>, Exposições Interdisciplinares<br />
a cada finalização dos semestres, o FotoVídeo,<br />
caminhadas fotográficas e aulas de campo visitando<br />
algumas áreas do litoral pernambucano<br />
e do agreste. Entre os parceiros estão Canon,<br />
IPHAN, Museu da Cidade do Recife, a gráfica<br />
FacForm, Sebrae, Livraria Cultura, Hotel Dorisol,<br />
Galeria Arte Plural e o Ateliê de impressão<br />
ADI, Liceu, os festivais Stop Motion e Ver/Ouvindo<br />
e o Projeto Criança Esperança, patrocinado<br />
pela Universidade Católica de Pernambuco.<br />
[14]
Professoras Veronica Brayner, Aline Grego, Renata Victor, Conceição Bizerra, e o reitor da Unicap,<br />
padre Pedro Rubens Ferreira, comemoram o resultado.<br />
[15]
Ensaios<br />
SOBRE FOTOGRAFAR<br />
O SUBLIME<br />
Texto e fotos de Kezya Souza<br />
Presenciar o sublime é uma verdadeira dádiva.<br />
Vejo a mulher parindo como uma deusa. E o<br />
que mais seria um ser capaz de gerar um novo<br />
ser em seu ventre, capaz de gestá-lo por meses,<br />
pari-lo e ainda saciar a sua fome com o alimento<br />
que ela mesma produz? O parto é um evento<br />
sagrado e transformador para todos os que o<br />
presencia.<br />
Ser escolhida para estar no seio das famílias,<br />
neste momento tão importante em suas vidas, me<br />
deixa infinitamente feliz. Gratidão plena! É preciso<br />
estar sempre atenta para não deixar escapar<br />
cenas importantes e, ao mesmo tempo, fazer-se<br />
invisível. O aconchego do lar e seus detalhes, a<br />
expectativa amorosa dos familiares presentes, a<br />
participação do pai do bebê no processo, o envolvimento<br />
e forte profissionalismo das parteiras, o<br />
carinho e apoio psicológico das doulas, a expectativa<br />
do irmão que aguarda o caçula, o cãozinho<br />
que, mesmo sem entender o que está acontecendo<br />
em seu lar, de longe tudo observa com candura<br />
e apreensão, o momento do expulsivo.<br />
Ah, o momento do expulsivo! O que dizer<br />
dele? Ver a natureza, ali, agindo para perpetuar<br />
uma espécie é fantástico. Nesse momento é preciso<br />
respirar fundo, brigar com as lágrimas para<br />
que elas não embacem o visor da câmera, firmar<br />
as mãos e pernas trêmulas e dedo atento no botão<br />
do obturador para não perder uma linda cena:<br />
o bebê nascendo, a emoção dos pais ao pegá-lo<br />
nos braços pela primeira vez, o pequenino buscando<br />
o olhar da mãe poucos minutos após seu<br />
nascimento, todos aos prantos de tanta emoção,<br />
o primeiro choro, a primeira mamada.<br />
[16]
[17]
Ensaios<br />
[18]
[19]
Ensaios<br />
Tecnicamente falando, o cenário é bastante<br />
hostil para fotografar, pois geralmente,<br />
o ambiente está com baixa luminosidade e<br />
a temperatura ambiente oscilando entre de<br />
36 e 38ºC, pois a água da banheira deve<br />
estar sempre quentinha. Algumas vezes,<br />
a falta de espaço para a movimentação<br />
em busca de pontos de vista diferentes,<br />
também é um fator que dificulta um pouco<br />
o trabalho. Então, ficar embaixo de uma<br />
mesa, subir numa cama, cadeira, um sofá<br />
(tudo com permissão, claro!) são algumas<br />
das alternativas que utilizo para me posicionar.<br />
Mas ressalto que nenhuma dessas<br />
dificuldades diminui minha alegria por estar<br />
ali, muito pelo contrário, só alimentam o<br />
desejo de vencer os desafios. Captar todas<br />
as emoções envolvidas durante o processo<br />
de nascimento de um bebê, que nasce de<br />
forma instintiva, está sendo uma oportunidade<br />
para compreender, aceitar, agradecer<br />
pela vida e crer em um mundo melhor para<br />
a humanidade. É doce a minha missão!<br />
[20]
[21]
Audiodescrição:<br />
uma arte que inclui!<br />
Texto de Suann Medeiros<br />
A audiodescrição permite que pessoas com<br />
deficiência visual tenham as mesmas sensações<br />
e entendimento de todos. Seja na arte, na<br />
educação, na saúde, ou em quaisquer outras<br />
áreas e situações.<br />
“Para mim é uma forma de expressão artística<br />
no sentido de mediação, a audiodescrição<br />
media uma obra, um evento, uma imagem para<br />
uma pessoa com deficiência visual. Na arte e<br />
na cultura, ela [a audiodescrição] também é<br />
uma forma de arte, de fazer arte e de proporcionar<br />
essa tradução”, assim Liliana Tavares,<br />
audiodescritora apaixonada, trata o seu ofício.<br />
Formada em Psicologia, ela conta que a partir<br />
da sua primeira experiência com audiodescrição,<br />
por volta de 2010, passou a dedicar-se<br />
totalmente à técnica, fazendo dela a sua profissão.<br />
Hoje, Liliana é doutoranda em Comunicação,<br />
pela UFPE, estudando a audiodescrição<br />
na fotografia e no cinema. Ela também é audiodescritora<br />
e produtora cultural.<br />
A audiodescrição é a técnica de traduzir para<br />
as pessoas cegas ou com baixa visão, a imagem<br />
observada, de forma clara, direta e precisa.<br />
Nas artes, por exemplo, o audiodescritor<br />
deve traduzir aquilo que está além dos diálogos<br />
(quando se trata de teatro ou cinema), descrever<br />
o figurino, o cenário e as reações, para que<br />
o deficiente visual possa também ser envolvido<br />
pelas sensações da manifestação artística em<br />
questão. Mas Liliana lembra que não é apenas<br />
nas artes que a técnica se faz presente. Na<br />
educação, na saúde e até em algumas questões<br />
jurídicas, faz-se de suma importância a<br />
presença do audiodescritor. Vale frisar que<br />
audiodescrição é uma atividade profissional, repleta<br />
de técnicas e exige estudo e capacitação.<br />
Liliana explica que “existem várias modalidades<br />
da audiodescrição, ela pode ser ao vivo ou<br />
gravada e, pode ser exibida de várias formas:<br />
aberta para todos ouvirem, fechadas com fones<br />
de ouvidos, e também pode ser escrita em<br />
braile”. E emenda: “o Brasil tem muitos bons<br />
profissionais na audiodescrição hoje em dia em<br />
São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro<br />
e aqui em Pernambuco. Esses são os Estados<br />
que mais sobressaem e os cursos são restritos”.<br />
O professor Francisco Lima, da UFPE, é<br />
um grande formador, bem como Lívia Motta<br />
(SP) coordenadora do primeiro curso de pós-<br />
-graduação em audiodescrição na UFJF. Ela<br />
conta que Pernambuco é um dos estados que<br />
mais produz audiodescrição no Brasil e que a<br />
maioria das pessoas com alguma deficiência visual<br />
– que pode ser total ou parcial – já conhece<br />
e entende o que é audiodescrição. Um dos<br />
motivos apontados pela audiodescritora, como<br />
razão deste pioneirismo, surgiu da exigência da<br />
audiodescrição em editais de cultura no Estado,<br />
principalmente os editais do Funcultura, que<br />
pontuam os projetos que oferecem acessibilidade<br />
comunicacional.<br />
Dentre as modalidades em que a audiodescrição<br />
se encontra presente, Liliana destaca a<br />
[22]
Informações sobre a imagem<br />
Fotógrafo: Graciliano Paes<br />
Audiodescrição: com acessibilidade Comunicacional<br />
UM MENINO É FOTOGRAFADO EM SALTO SOBRE UM GRAMADO. Ele está de perfil braços abertos e<br />
joelhos flexionados. Tem cabelos escuros e lisos e a pele morena. Usa camiseta verde de malha e bermuda<br />
jeans. A imagem está um pouco borrada devido ao movimento.<br />
fotografia, área estudada por ela, que considera<br />
um desafio, por precisar descrever e passar a<br />
emoção e profundidade de tudo o que a fotografia<br />
fala, mas tomando cuidados para não tornar<br />
cansativo. Ela explica que a narração deve<br />
ser feita “inicialmente pela hiperonímia, que<br />
significa a gente dar, em uma ou duas frases, a<br />
noção do todo”. Isso levando em consideração<br />
as técnicas de leitura de imagens que é feita da<br />
esquerda para direita, de cima para baixo, e do<br />
primeiro plano para o fundo, etc., e completa,<br />
“dependendo da fotografia a gente fala o que<br />
vê. Leva-se em consideração o ‘punctum’ e a<br />
‘aura’ - citando Walter Benjamin, primeiro, a<br />
gente estuda o que a imagem toca, fala e diz,<br />
depois disso vai detalhar a imagem, transmitindo<br />
a sensação, o sentimento, o questionamento<br />
que a imagem está mostrando”.<br />
O lado de quem sente<br />
A deficiente visual Michele Alheiros, 39, que<br />
é pedagoga e professora de braile, lembra do<br />
seu primeiro contato com a audiodescrição, que<br />
foi aos 36 anos, em uma exposição fotográfica,<br />
na Torre Malakof, no Bairro do Recife. “Gostei<br />
do empoderamento, de ter acesso à fotografia<br />
daquela maneira não amadora. Porque,<br />
se fosse uma exposição sem audiodescrição,<br />
não faria efeito em mim como faz em um uma<br />
pessoa que enxerga. Eu me senti útil, me senti<br />
igual a todos”.<br />
Michele fala que cada vez mais, os eventos<br />
culturais em Recife, estão trazendo a audiodescrição<br />
ou as informações em braile, destacando<br />
a Fenearte, exposições nos museus e galerias<br />
e festivais de cinema, entre outros. E admite<br />
que gosta bem mais quando tem audiodescrição,<br />
“a gente sente mais a exposição”.<br />
[23]
Filmes feitos<br />
com o celular<br />
chegam aos<br />
cinemas<br />
Texto de Carolina Monteiro<br />
“O longa-metragem norte-americano<br />
e independente “Tangerine” [...] foi<br />
filmado unicamente com a câmera traseira<br />
de iPhones, foi exibido no Festival de<br />
Sundance e chegou a salas comerciais do<br />
mundo todo, inclusive do Brasil.”<br />
[24]
Fotografar com o smartphone é tão comum<br />
quanto usar o aparelho para falar com os amigos,<br />
interagir no Whatsapp e resolver problemas.<br />
Percebendo o uso cada vez mais frequente do<br />
telefone como câmera fotográfica os fabricantes<br />
têm se esforçado a cada novo lançamento para incrementar<br />
os recursos e a qualidade das câmeras<br />
e programadores se desdobram em novos aplicativos<br />
que suprem eventuais limitações do aparelho<br />
permitindo editar as imagens com qualidade<br />
“quase” profissional. Na verdade, a qualidade dos<br />
equipamentos de captação dos telefones celulares<br />
atingiu um nível técnico tão razoável que a onda<br />
agora parece ser fazer filmes com ele. Mas não<br />
aqueles filmes caseiros de momentos em família,<br />
filmes mesmo, curtas e longas metragens de ficção,<br />
alguns deles já reconhecidos e premiados em<br />
festivais internacionais.<br />
O longa-metragem norte-americano e independente<br />
“Tangerine”, por exemplo, foi filmado<br />
unicamente com a câmera traseira de iPhones, foi<br />
exibido no Festival de Sundance e chegou a salas<br />
comerciais do mundo todo, inclusive do Brasil.<br />
A história de duas prostitutas transsexuais que<br />
procuram por um rapaz que traiu uma delas numa<br />
véspera de Natal em Hollywood foi filmada por<br />
Sean Baker, que usou modelos 5s com alguns<br />
assessórios como steadycam e um protótipo de<br />
adaptador que se conecta à lente para permitir<br />
filmar em widescreem e dar às imagens um estilo<br />
mais “cinematográfico”, além de recursos do aplicativo<br />
Filmic Pro e retoques de pós-produção para<br />
aprimorar as cores e dar ao longa um visual mais<br />
saturado e cheios de grãos que simulam as películas<br />
hollywoodianas. Técnica e criatividade de<br />
sobra com um orçamento de 120 mil dólares, nada<br />
que se compare aos custos dos demais filmes que<br />
dividiram as salas de cinema com ele.<br />
Tangerine fez barulho depois de sua exibição<br />
em Sundance no ano passado, mas ele certamente<br />
não foi o primeiro. O pioneirismo é atribuído aos<br />
coreanos Chan-kyong Park e Chan-wook Park que<br />
lançaram, ainda em 2011, o curta Paranmanjang,<br />
filmado com um iPhone 4. Também vem da Coreia<br />
o primeiro longa neste formato, uma comédia<br />
romântica chamada Cachorros e Gatos, sobre o<br />
romance entre uma artista depressiva que adota<br />
um cachorro e um desenhista que encontra um<br />
gato amarrado a um banco. O filme lançado em<br />
2013 não chegou a fazer a carreira internacional<br />
de Tangerine mas é apontado como pioneiro em<br />
longas-metragens feitos com celular.<br />
Também em 2014, o cineasta espanhol Pablo<br />
Lacurén usou o iPhone para contar o pesadelo de<br />
amigos presos em uma casa durante uma festa<br />
em Barcelona. O terror recebeu elogios da critica<br />
internacional e se vale do clichê de filmagens<br />
encontradas, estilo A Bruxa de Blair, para assustar<br />
garota que adota um , apesar não filmou tudo<br />
apenas apontando o celular na direção dos atores.<br />
Além de lentes especiais e o aplicativo Filmic Pro<br />
para controles técnicos especiais, ele adquiriu o<br />
protótipo de um adaptador que se conecta à lente<br />
do celular e dá ao conteúdo filmado um estilo<br />
mais cinematográfico. Na pós-produção, as cores<br />
foram aprimoradas e o visual fica bastante saturado<br />
e cheio de grãos, quase uma caricatura de<br />
Hollywood. Ainda assim, o equipamento “base” é o<br />
smartphone da Apple.<br />
Do Brasil, o principal representante até agora é<br />
Charlotte SP, dirigido pelo paulistano Frank Mora e<br />
capturado e editado com iPhones modelos 4 e 5.<br />
O longa de ficção conta a história de uma modelo<br />
brasileira que retorna ao país após carreira internacional<br />
e tenta reencontrar os amigos. O filme,<br />
produzido no ano passado, tenta agora emplacar<br />
participações em festivais de cinema e não tem<br />
previsão de estreia nos circuitos nacionais.<br />
Filme Tangerine<br />
Filme Charlotte<br />
[25]
100 Anos<br />
do Vale de<br />
Yosemite pelas<br />
lentes de Ansel<br />
Adams<br />
Texto de Julianna Nascimento Torezani<br />
Professora do Curso de Fotografia da Unicap.<br />
Doutorando em Comunicação pela UFPE.<br />
Mestre em Cultura e Turismo e Bacharel em<br />
Comunicação Social pela UESC.<br />
Email: juliannatorezani@yahoo.com.br<br />
No início do século XX um grupo de fotógrafos<br />
americanos defendeu fotografias em preto<br />
e branco, com texturas e detalhes diferenciados.<br />
Os temas escolhidos eram o cotidiano e o<br />
ambiente onde viviam e as câmeras de grande<br />
formato davam clareza e as gradações de tom<br />
de forma espetacular. Esta nova tendência era<br />
considerada puramente fotográfica, pois deixava<br />
de lado a estética pictorialista, buscava<br />
a partir deste momento maior nitidez, exame<br />
rigoroso dos objetos e da natureza, tendo como<br />
marco histórico o movimento Photo-Secession<br />
criado por Alfred Stieglitz nos Estados Unidos.<br />
Na Costa Oeste, o defensor da fotografia<br />
direta era Ansel Easton Adams, que nasceu<br />
no inverno de 1902, em 20 de fevereiro em<br />
San Francisco, Estados Unidos. Inicialmente<br />
dedicou-se a música como pianista, aprendeu<br />
a tocar sozinho e praticava seis horas por dia,<br />
mas voltou-se à fotografia quando publicou um<br />
álbum onde procurava imitar a pintura impressionista,<br />
com efeitos suaves, obtidos no laboratório.<br />
Começou a fotografar o Vale de Yosemite em<br />
1916, além de colecionar fotografias alheias.<br />
Conheceu o vale numa viagem com os pais em<br />
1o de junho de 1916 durante dois dias de trem<br />
e de ônibus, o que o fez escrever mais tarde:<br />
“O esplendor de Yosemite explodiu sobre nós.<br />
[...] Havia luz em todo lugar. Uma nova era se<br />
iniciava para mim”. Quando chegou ao vale seu<br />
pai lhe presenteou com uma Kodak no 1 Box<br />
Brownie, depois que aprendeu como a câmera<br />
funcionava, correu pelo vale fotografando<br />
tudo o que via. Depois dessa viagem em todo<br />
verão voltava à Yosemite. Ao explorar a beleza<br />
extraordinária do lugar, cada vez que alcançava<br />
um ponto mais alto, melhor ficavam suas<br />
fotos. Aprendeu sozinho a revelar seus negativos<br />
e, assim, começou a experimentar novas<br />
abordagens de exposição. Ao observar que as<br />
imagens não representavam exatamente o que<br />
estava visualizando resolveu utilizar um filtro<br />
vermelho Wratten A, que tinha como resultado<br />
escurecer o céu para fazer contraste com as<br />
rochas e as nuvens.<br />
Em 1919, entrou para o Sierra Club, onde<br />
teve suas imagens publicadas em boletim e sua<br />
primeira exposição, em 1934 foi eleito diretor<br />
do clube. Adams trabalhava sem parar, sem<br />
férias, sete dias por semana, todos os dias do<br />
ano, mesmo aos 80 anos.<br />
Em 1930, abandonou a música pela fotografia<br />
e, dois anos mais tarde, participou na criação<br />
do grupo f/64, com Edward Weston, Willard<br />
Van Dyke e Imogen Cunningham. O grupo<br />
tinha por propósito executar imagens de grande<br />
nitidez mediante o diafragma mais reduzido<br />
[26]
Yosemite National Park<br />
(1916)<br />
da objetiva, máxima profundidade de campo<br />
e uso de papéis fotográficos com baixo brilho.<br />
Foi influenciado pelo fotógrafo americano Paul<br />
Strand, pelo impacto que as imagens dele causaram.<br />
Ao tratar da obra de Adams a historiadora<br />
Marie-Loup Sougez (2001, p. 248) comenta<br />
que “sobretudo as suas paisagens californianas<br />
são composições muito depuradas, em que<br />
dominam as linhas horizontais e verticais, cujo<br />
rigor e harmonia parecem diretamente herdados<br />
da sua formação musical”.<br />
Em janeiro de 1936, foi à Washington para<br />
solicitar que o Kings Canyon, a sudeste de Yosemite,<br />
se transformasse em parque nacional,<br />
feito que ocorreu quando o presidente Franklin<br />
Roosevelt criou a lei em 1940. Neste mesmo<br />
período foi em Nova York mostrar a Alfred Stiglitz<br />
seu trabalho que lhe convidou a fazer uma<br />
exposição individual em sua galeria, American<br />
Place, a mais importante para os fotógrafos da<br />
época.<br />
Criou o método para controle de exposição<br />
e revelação chamado Sistema de Zonas. Consiste<br />
na forma para determinar com precisão o<br />
tom e a forma de cada parte da cena fotografada<br />
na cópia final, ou seja, o resultado final<br />
da ampliação fotográfica. Estudando todas as<br />
etapas do processamento fotográfico com rigor,<br />
sobretudo o uso dos químicos.<br />
A imagem Nascer da lua, Henandez, Novo<br />
México foi feita em 1941 quando Adams vinha<br />
dirigindo na estrada rumo a Santa Fé sob<br />
a lua nascente quando a aldeia e as cruzes<br />
do cemitério chamaram sua atenção, agindo<br />
rápido, parou freneticamente e instalou sua<br />
câmera e mediu a exposição pelo brilho da lua,<br />
fez apenas uma foto e é considerada uma das<br />
imagens mais marcantes de sua carreira e uma<br />
das mais famosas imagens do século XX.<br />
Em 1940, ajudou a fundar o primeiro acervo<br />
museológico de fotografias no mundo, o do<br />
Museum of Modern Art de Nova York (MOMA).<br />
Começou a produzir murais para o governo dos<br />
Estados Unidos em 1941 para o Ministério do<br />
Interior, eram imagens épicas, imensas e de<br />
grande dificuldade técnica. Em 1945, Adams<br />
Monolith, a Face of Half Dome<br />
(1926)<br />
[27]
North Palisade from Windy Point<br />
(1936)<br />
Nascer da lua, Henandez, Novo México<br />
(1941)<br />
Clouds above Golden Canyon, Death<br />
Valley, California (1946)<br />
El Capitan, Sunrise<br />
(1956)<br />
cria um departamento de fotografia artística na<br />
California School of Fine Arts. Na Escola de<br />
Belas Artes de San Francisco criou o primeiro<br />
curso universitário de fotografia. Abriu uma<br />
galeria em San Francisco para promoção da<br />
fotografia artística. Dedicou assim toda sua vida<br />
a fotografia, produzindo imagens, organizando<br />
exposições e ministrando aulas.<br />
O livro Making a Photograph (1935) foi o<br />
primeiro guia de fotografia que trata tanto da<br />
técnica quanto da estética. Dedicado à conservação<br />
da natureza desde jovem, muitos de<br />
seus livros são apelos em favor da proteção<br />
ambiental, como My Camera in the National<br />
Parks (1950), This is the American Earth (1960)<br />
e Photographs of the Southwest (1976). Adams<br />
apresentou os elementos de sua técnica fotográfica<br />
nos livros A Câmera, O Negativo, A<br />
Cópia, utilizados em cursos de fotografia em<br />
vários lugares do mundo.<br />
[28]
“Moon and Half Dome”. Yosemite<br />
National Park, California (1960)<br />
Em 1979, foi homenageado com uma retrospectiva<br />
de seu trabalho no MOMA. Em 1980,<br />
em uma cerimônia de gala na Casa Branca ele<br />
ganhou a Medalha Presidencial da Liberdade, a<br />
mais alta condecoração civil.<br />
Ninguém melhor do que Adams demonstrou<br />
através de suas fotografias a beleza da Serra<br />
Nevada, em Yosemite, exaltando a natureza<br />
a cada fotograma, fazendo daquele lugar seu<br />
lar. Nas palavras de Adams a descrição de seu<br />
trabalho: “Eu realmente não consigo verbalizar<br />
o significado das fotografias. Alguns amigos<br />
meus conseguem de uma forma mística, mas<br />
eu... Eu prefiro dizer que, quando sinto uma<br />
grande emoção, eu faço uma fotografia equivalente<br />
ao que vi e senti”. Adams morreu em<br />
Carmel, na Califórnia, em 22 de abril de 1984.<br />
Seis meses após sua morte o congresso americano<br />
batizou a área a sudeste de Yosemite de<br />
Ansel Adams Wilderness. Em 1985, um pico<br />
no coração de Serra Nevada foi oficialmente<br />
chamado de Monte Ansel Adams.<br />
El Capitan, Winter Sunrise, Yosemite<br />
(1968/1976)<br />
Filme: Ansel Adams: um documentário.<br />
Direção de Ric Burnd, 2002.<br />
Referências:<br />
HACKING, Juliet (editora geral). Tudo sobre fotografia. Tradução<br />
de Fabiano Morais, Fernanda Abreu e Ivo Korytowski.<br />
Rio de Janeiro: Sextante, 2012.<br />
SOUGEZ, Marie-Loup. História da fotografia. Tradução de<br />
Lourenço Pereira. Lisboa: Dinalivro, 2001.<br />
[29]
Ensaios<br />
Recife<br />
recortes concretos<br />
Texto e fotos de<br />
Luara Olívia<br />
Da janela do ônibus ou andando pelas ruas,<br />
percebo os prédios da cidade. Janelas me<br />
chamam atenção, como um elemento que se<br />
repete e cria um padrão visual, são de certa<br />
forma únicas. Por trás delas existem histórias<br />
singulares. Alguns daqueles prédios são residências,<br />
outros escritórios, empresas, existem<br />
os que são os dois ou os que já não servem de<br />
habitação, são apenas espaços esquecidos.<br />
[30]
Recife tem dessas coisas. De espaços esquecidos,<br />
prédios, praças, espaços históricos<br />
abandonados. A capital cresce desordenada e<br />
está à beira de transformações na arquitetura<br />
“velha” para a construção de um suposto Novo<br />
Recife.<br />
Se para alguém, esses prédios passam despercebidos,<br />
em ‘’Recife: Recortes Concretos”<br />
eles são registrados de uma forma diferente.<br />
O ensaio busca cortes de prédios do centro<br />
da cidade do Recife, na Avenida Guararapes,<br />
na Conde da Boa Vista e redondezas. As fotografias<br />
valorizam a geometria dos prédios,<br />
buscam as linhas que os tornam ligados entre<br />
si. Sua textura única, suas cores, suas particularidades.<br />
Seja sua pintura degastada, seja seu<br />
revestimento metálico moderno. São<br />
todos concretos.<br />
[31]
Ensaios<br />
[32]
[33]
Analise de<br />
Imagem<br />
Francesca Woodman e<br />
seu fluxo temporal<br />
Análise feita pela aluna Maria Sofia de Queiroga<br />
Vieira do curso de Fotografia da Universidade<br />
Católica de Pernambuco (Unicap)<br />
dentro das atividades da disciplina Linguagem<br />
Fotográfica I, ministrada no semestre letivo de<br />
<strong>2016</strong>.1 pelo professor Leonardo Ariel.<br />
[34]
Introdução<br />
Francesca Woodman foi uma fotógrafa estadunidense,<br />
nascida em 1958. Quando recebeu<br />
uma câmera fotográfica do seu pai, aos 13<br />
anos de idade, começou o seu acervo, o qual<br />
veio a ser parado nove anos depois, já que aos<br />
seus 22 anos, infelizmente, cometeu suicídio.<br />
Suas fotografias são compostas por elementos<br />
opostos, como cenários envelhecidos,<br />
deteriorados; e modelos jovens, de pele lisa e<br />
limpa. Ela costumava fazer autorretratos, o que<br />
gera uma discussão sobre o narcisismo e auto-<br />
-representação, tanto que muitos procuram em<br />
seus últimos trabalhos índices do seu suicídio.<br />
Contudo, percebe-se que Woodman queria não<br />
necessariamente representar a si própria, mas<br />
sim materializar seu corpo nas fotografias.<br />
A imagem fotográfica é um recorte espaço-<br />
-temporal de fragmentos do mundo, ela recorta<br />
lugares, tirando-os do seu fluxo temporal contínuo<br />
para o perpétuo e congelado. As obras<br />
de Woodman, por vezes, explorava as baixas<br />
velocidades do obturador, o que, muitas vezes,<br />
não congelava completamente o movimento,<br />
ficando algumas partes borradas. Além disso,<br />
usava cenários com paredes, chão e objetos<br />
envelhecidos, esmaecidos e abandonados,<br />
o que causa estranhamento e admiração no<br />
observador. Dessa forma, o artigo é dividido<br />
em duas partes, na primeira são discutidas as<br />
questões dos autorretratos e performance para<br />
depois abrir para o tema da temporalidade, em<br />
que serão abrangidos o uso dos cenários em<br />
ruínas e do não congelamento total do movimento.<br />
Autorretrato e Performance<br />
Francesca Woodman costumava ser a sua<br />
própria modelo. Muitos procuram, a partir disso,<br />
representações da personalidade da fotógrafa<br />
em seus autorretratos, principalmente, índices<br />
de seu suicídio. É fato que a artista, incluída<br />
em um contexto social, histórico e geográfico,<br />
expressa os seus sentimentos nas suas obras,<br />
porém Woodman não estava em suas imagens<br />
como ela própria, na verdade, apropriava-se<br />
de seu corpo para a representação de algo, ou<br />
seja, fazia uma performance.<br />
Como já foi citado, a câmera se apodera do<br />
fotografado, se o outro souber da presença do<br />
aparelho, não há como permanecer inocente,<br />
tanto que Barthes afirmava que “não para de<br />
se imitar” (1980) quando para ele é apontada<br />
uma objetiva. “A fotografia, em si, é da ordem<br />
do performativo” (DUBOIS, 1993), o acervo de<br />
Woodman é consciente dessa performance,<br />
tanto que pode até ser chamada de fotografia<br />
Encenada, visto que é toda planejada e composta<br />
previamente a pose e o cenário já como<br />
um enquadramento.<br />
Essa fotografia é um dos poucos autorretratos<br />
em que o rosto de Woodman aparece de<br />
forma mais nítida; seu studium pode parecer<br />
simples inicialmente: uma jovem moça nua está<br />
com o rosto virado para o espelho em uma clara<br />
característica narcisista, um duplo do duplo.<br />
Entretanto, percebe-se que ela se encara no<br />
espelho nem para a objetiva, como se negasse<br />
a sua imagem para si própria e para a câmera.<br />
Há um elemento fora de campo que só nos é<br />
permitido ver devido ao seu reflexo no espelho:<br />
uma espécie de búzio posicionado acima de<br />
sua cabeça. Normalmente, a fotografia remete<br />
ao extracampo quando o fotografado encara<br />
diretamente a lente ou quando o dispositivo<br />
aparece no enquadramento, aqui ela remeteu<br />
ao colocar esse objeto que não está enquadrado,<br />
apenas o seu reflexo.<br />
Sua pele lisa e seu cabelo bem arrumado<br />
contrasta com a parede rude e degrada, apenas<br />
a sua mão está focada no quadro, enquanto<br />
o resto do seu corpo compõe o ambiente. A<br />
decomposição da parede traz a da retratada,<br />
como se essas duas estivessem se esvaindo.<br />
Recorte temporal<br />
O filósofo Zenão afirmava que o movimento<br />
é uma ilusão, ao argumentar que ao lançar uma<br />
flecha de um lugar a outro, há o deslocamento<br />
de espaço, porém em cada aqui-agora a flecha<br />
se encontra parada (DUBOIS, 1993). É fato que<br />
são tempos distintos o da realidade e o da fotografia,<br />
visto que o daquela é efêmero e o dessa<br />
é perpétuo (KOSSOY, 2007), dessa forma, a<br />
maneira que o olho humano enxerga o mundo<br />
é diferente do modo da lente, o que causa percepções<br />
do movimento distintas.<br />
Se vemos a flecha ir de um canto a outro de<br />
forma contínua, a câmera consegue capturar<br />
o aqui-agora de Zenão, imobilizando o objeto,<br />
isso quando a velocidade do obturador consegue<br />
alcançar números maiores. Nos primeiros<br />
anos da fotografia, a emulsão não conseguia<br />
capturar o elemento de forma rápida o suficiente,<br />
assim, o movimento desaparecia, restando<br />
apenas o que ficara imóvel, um exemplo é a<br />
[35]
[36]<br />
Figura 1 - Woodman. “Autoengodo nº1”, Roma. 1978. Disponível em: . Acesso em: 13 de<br />
dezembro de 2015.<br />
Figura 2 - Woodman, House#3, Providence, Rhode Island, 1976. Disponível<br />
em: .<br />
Acesso no dia 14 de dezembro de 2015.
fotografia de Daguerre, tirada em 1858, da rua<br />
Boulevard du Temple, em que apenas o homem<br />
cujos sapatos estavam sendo engraxados foi<br />
capturado pelo daguerreotipo, enquanto que as<br />
outras pessoas que andaram na rua não foram<br />
eternizadas ali.<br />
Muitas fotografias de Francesca Woodman<br />
abordam o movimento de forma ainda distinta<br />
dessas duas. Ao usar velocidade do obturador<br />
baixa, a película não conseguia congelar o objeto,<br />
porém era rápida o suficiente para deixá-lo<br />
borrado, capturando o índice de movimentação.<br />
Se “ao cortar, o ato fotográfico faz passar para<br />
o outro lado (da fatia); de um tempo evolutivo a<br />
um tempo petrificado” (DUBOIS, 1993, p. 168),<br />
então essas imagens da fotógrafa ficam entre<br />
esses dois tempos, já que detém a fluidez da<br />
passagem do tempo.<br />
Na fotografia House#3, percebe-se que há<br />
uma dicotomia entre o rastro do corpo do jovem<br />
moça e a arquitetura rígida, antiga e esmaecida<br />
do quarto. Woodman parece saber que a câmera<br />
se apodera do fotografado (SONTAG, 1977),<br />
tanto que não permite que a película capture<br />
seu rosto e corpo, esses que parecem fugidios,<br />
mutáveis e fragilizados perto do cenário rígido,<br />
caindo aos pedaços. Por outro lado, a modelo<br />
se cobre com uma espécie de papelão ou lenço<br />
parecido com a textura da parede, o que dá a<br />
interpretação de que faz parte da construção<br />
daquele espaço, materializando o seu corpo.<br />
A presença humana, tão importante desde<br />
o início da fotografia comercial, em que muitas<br />
pessoas ficavam quinze minutos expostas ao<br />
obturador a fim de que eternizassem sua imagem,<br />
aparece como um vulto nas fotografias de<br />
Woodman. “A imagem que é pesada, imóvel,<br />
obstinada (por isso que a sociedade se apoia<br />
nela), e sou eu que sou leve, dividido, disperso”<br />
(BARTHES, 1980, p.20), é fato que o autor, ao<br />
afirmar essa frase, estava comparando a sua<br />
representação fotográfica e a sua pessoa real,<br />
porém aqui, quando Woodman nos esconde<br />
sua imagem focada, ela nos mostra a fragilidade<br />
do objeto retratado e nega as propriedades<br />
comuns da fotografia que tem a presença<br />
humana.<br />
A casa parece abandonada, assim como a<br />
moça. Aquela pode representar o interior dessa,<br />
enquanto que a essa tem memória, aquela<br />
já fez parte da de outrem. O quarto apresenta<br />
objetos quebrados, como se estivesse caindo<br />
aos pedaços, já a modelo, ao aparecer borrada<br />
devido à movimentação, parece desaparecer<br />
aos poucos, assim como a estrutura arquitetônica.<br />
Referências Bibliográficas<br />
MONTENEGRO, Tércia. Woodman. Blog “Livros e Bichos”, 2013. Disponível em: . Acesso em: 13 de dezembro de 2015.<br />
CLARO, Alexandre. A Dimensão fotográfica: uma observação ao trabalho de Francesca Woodman. Faculdade de<br />
Belas Artes da Universidade de Lisboa, 2014/2015. Disponível em: .<br />
Acesso em: 15 de dezembro de 2015.<br />
Gorjon, Melina; Pereira, Bruno. O olho da águia- a fotografia de Francesca Woodman para além do visível. Universidade<br />
Estadual de Londrina, III Simpósio Gênero e Políticas Públicas, 2014. Disponível em: . Acesso em: 15 de dezembro de 2015.<br />
DUBOIS, Philippe. O Ato fotográfico e outros ensaios. Tradução<br />
Marina Appenzeller. Campinas, SP : Papirus, 1993 (Coleção Oficio de Arte e forma).<br />
BARTHES, Roland. A câmera clara: notas sobre fotografia. Tradução Júlio Castañon Guimarães. 1980. Ed. Especial,<br />
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Sarava de bolso, 2012.<br />
SONTAG, Susan. Sobre fotografia. Tradução Rubens Figueiredo. 1977. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.<br />
KOSSOY, Boris. Os tempos da fotografia: o efêmero e o perpétuo. Editora Ateliê, São Paulo: 2007.<br />
[37]
DIREITO AUTORAL E<br />
DIREITO DE IMAGEM<br />
DIREITO À IMAGEM: MENORES E DETENTOS<br />
Julianna Nascimento Torezani,<br />
professora do Curso de Fotografia da Unicap.<br />
Email: juliannatorezani@yahoo.com.br.<br />
Para tratar do direito à imagem de menores,<br />
além da Constituição Federal de 1988, que garante<br />
o direito à vida, à liberdade, à intimidade, à<br />
vida privada e à honra, também existe o Estatuto<br />
da Criança e do Adolescente, Lei no 8.<strong>06</strong>9 de<br />
13 de julho de 1990, que trata sobre a inviolabilidade<br />
da integridade física, psíquica e moral do<br />
menor, além da preservação de sua imagem.<br />
Artigo 143: É vedada a divulgação de atos<br />
judiciais, policiais e administrativos que digam<br />
respeito a crianças e adolescentes a que se atribua<br />
autoria de ato infracional.<br />
Parágrafo único: Qualquer notícia a respeito do<br />
fato não poderá identificar a criança ou adolescente,<br />
vedando-se fotografia, referência a nome,<br />
apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive,<br />
iniciais do nome e sobrenome.<br />
Em função da personalidade em formação,<br />
o menor recebe proteção integral, por conta do<br />
direito de personalidade peculiar. Para a advogada<br />
Maria Cecília Naréssi Munhoz Affornalli,<br />
no livro Direito à própria imagem (Editora Juruá,<br />
2012, p. 31): “A autorização para a utilização da<br />
imagem de crianças e adolescentes pode ser<br />
exercida pelos seus representantes legais, mesmo<br />
que para fins publicitários. Contudo, como os<br />
direitos destas pessoas em condição peculiar de<br />
desenvolvimento residem em seara do Direito<br />
Público, o Ministério Público pode vir a se insurgir<br />
contra o uso que, embora autorizado pelos<br />
pais ou responsáveis dos menores, não respeite<br />
parâmetros de dignidade e de preservação da<br />
integridade física, psíquica e moral”. Desta forma,<br />
todos são responsáveis pelo zelo da imagem de<br />
crianças e adolescentes, mesmo que pais e responsáveis<br />
autorizem, as pessoas podem dialogar<br />
em situações que coloquem tal imagem em risco.<br />
Para as produções fotográficas e videográficas,<br />
o Termo de Autorização de Imagem deve<br />
ter os dados do menor e dos pais ou responsáveis<br />
legais, com a assinatura destes. É importante<br />
deixar claro qual o projeto, em que ambientes<br />
será publicado (televisão, cinema, exposição em<br />
museu por exemplo) e por quanto tempo.<br />
O fotógrafo Marcelo Pretto conta no livro<br />
Direito Autoral para Fotógrafos (Editora iPhoto,<br />
2013) que uma fotografa parisiense chamada<br />
Irina Ionesco fez vários ensaios fotográficos com<br />
sua filha seminua quando era menor de idade.<br />
Eva Ionesco, a filha, processou a mãe que, em<br />
2012, foi condenada a pagar uma indenização de<br />
10 mil euros. O caso chegou ao cinema através<br />
do filme My Little Princess (Minha Pequena Princesa)<br />
realizado pela própria Eva. Se esse caso<br />
ocorresse no Brasil e as imagens fossem publicadas<br />
pela mãe, o Ministério Público deveria intervir<br />
no sentido de proteger os interesses da menor.<br />
Outro cuidado que deve ser tomado em produção<br />
fotojornalística é o referente a detentos,<br />
pois estes estão sob responsabilidade do Estado,<br />
quando estão em estabelecimentos penitenciários,<br />
que deve velar pela integridade física e<br />
moral dos detentos. Os fotógrafos Erivam Oliveira<br />
e Ari Vicentini, na obra Fotojornalismo:<br />
uma viagem entre o analógico e o digital (Editora<br />
Cengage Learning, 2009, p. 152), afirma que “os<br />
atos praticados por pessoas detidas pela polícia,<br />
quase sempre, de interesse jornalístico. [...] Os<br />
detentos podem negar autorização para divulgação<br />
de suas fotos, baseados no direito de imagem.<br />
E é dever do Estado respeitar tal decisão.<br />
Apoiado no direito de informação, porém, é possível<br />
fotografá-los, sem que isso fira seu direito de<br />
imagem, desde que estejam na rua. Portanto, em<br />
local público ou se concordar em tirar as fotos e,<br />
obviamente, se o caso for de importância social”.<br />
Affornalli (2012, p. 62) alerta ainda que “quanto<br />
à divulgação de imagens em informativos de<br />
cunho policial, deve-se ter cuidado quando as<br />
pessoas retratadas são suspeitos de autoria de<br />
ilícitos penais pois, com a publicação de seus<br />
traços pessoais acabam sendo lançadas a julgamento<br />
público e submetidas a agressões diversas.<br />
Não raro descobre-se, posteriormente a essa<br />
execração, serem inocentes, mas então suas<br />
vidas pessoas já se encontram em total e irremediavelmente<br />
desestruturadas”.<br />
Assim, o cuidado com a imagem das pessoas<br />
é fundamental para o bom trabalho do profissional<br />
de fotografia, trata-se de zelo, ética e respeito<br />
a todos, quanto a menores e detentos a atenção<br />
deve ser ainda maior.<br />
[38]
Sua fotografia merece esta ampliação<br />
Atelier de Impressão, agora em instalações novas, amplas e ainda mais modernas.<br />
Fotografias: Gustavo Bettini<br />
Atelier de Impressão em novas<br />
instalações que continuam<br />
atendendo aos rigorosos requisitos<br />
da verdadeira impressão fine-art.<br />
Infraestrutura ampla e moderna,<br />
equiparada aos maiores centros de<br />
impressões artísticas do mundo.<br />
Mais uma ação que vem para<br />
reafirmar o rigor técnico que faz<br />
do ADI referência em qualidade e<br />
tratamento de imagem no mercado<br />
nacional. Atelier de Impressão,<br />
aqui sua fotografia é tratada como<br />
obra de arte. Venha conhecer!<br />
www.atelierdeimpressao.com.br<br />
Recife<br />
R. da Moeda, 140, Bairro do Recife, 81 3424.1310<br />
São Paulo<br />
Al. Lorena, 1257, Casa 05, Jd Paulista, 11 4432.1253<br />
[39]
Ensaios<br />
O MAR<br />
vistO de cima<br />
Fotos de Renata Victor<br />
[40]
[41]
Ensaios<br />
[42]
[43]
Ensaios<br />
[44]
[45]
Da lama para<br />
o mundo:<br />
Chico Science<br />
e o movimento<br />
Manguebeat<br />
Texto de<br />
Germana Soares<br />
Foto: Paulo Souza<br />
[46]
[47]
Foto: Alexandre Magalhães<br />
Foto: Francisco Souza<br />
Movimento musical e cultural surgido<br />
na década de 90, na cidade do Recife,<br />
o Manguebeat teve como essência a<br />
mistura de ritmos mundialmente difundidos<br />
- rock, hip hop e música eletrônica<br />
- com ritmos regionais como<br />
maracatu, coco de roda e ciranda. Os<br />
principais responsáveis pela proposta<br />
estética foram os músicos Chico Science<br />
e Fred 04, que projetaram nacionalmente<br />
o movimento com seu ritmo<br />
inconfundível e letras com reflexões e<br />
críticas sociais.<br />
A batida mangue, que leva em sua<br />
raiz a essência do povo pernambuca-<br />
Foto: Hilário Martins<br />
Foto: Ricardo Deiga<br />
[48]
Foto: Amanda Melo<br />
Foto: Carolina Figueiredo<br />
no, tomou forma e difundiu<br />
para o resto do mundo<br />
a diversidade da cultura<br />
local através de compassos<br />
e cadência, acompanhados<br />
de poesia e contestação.<br />
Chico Science, o protagonista,<br />
faleceu em 1997<br />
em um acidente automobilístico.<br />
Sua maior herança<br />
ficou enraizada e<br />
cresceu, assim como os<br />
manguezais que cercam<br />
nossos rios e pontes. A<br />
bandeira defendida pelo movimento,<br />
a diversidade, ainda hoje encontra-se<br />
presente e responsável pela variada<br />
produção cultural local com relevância<br />
nacional.<br />
Em <strong>2016</strong> Chico Science estaria completando<br />
50 anos e, buscando valorizar<br />
esse importante movimento cultural e<br />
seu idealizador, o Curso Superior de<br />
Tecnologia em Fotografia, em parceria<br />
com o Museu da Cidade do Recife,<br />
montaram uma exposição fotográfica<br />
onde os alunos retrataram conceitos e<br />
propostas da “filosofia” Mangue, do seu<br />
surgimento aos dias atuais.<br />
[49]
Foto: Eva Feitosa Foto: Williams Fernandes Foto: Marcio Fonseca<br />
Foto: Nathália Nóbrega<br />
Foto: Josy Barbosa<br />
[50]
O tema foi escolhido com a participação<br />
dos alunos concluintes na<br />
disciplina de Montagem de portfólio e<br />
curadoria. Com a temática definida, foi<br />
feita uma pesquisa para apresentação<br />
e entendimento do tema para que as<br />
imagens fossem desenvolvidas. O processo<br />
criativo teve duração de 60 dias,<br />
onde cada fotógrafo teve a liberdade<br />
de escolha na abordagem do tema.<br />
Eles também desenvolveram um texto<br />
para acompanhar a imagem produzida.<br />
Dessa forma os visitantes puderam<br />
entender a obra de forma individualizada<br />
e, ao mesmo tempo no contexto do<br />
coletivo.<br />
A exposição contou com a participação<br />
de 22 alunos e 28 obras. Além das<br />
imagens, foi elaborado um documentário<br />
produzido por alunos e a projeção<br />
do filme “Manguebeat: 10 anos de efervescência<br />
cultural” (2003) dirigido por<br />
Foto: Luara Oliveira<br />
Alessandro Guedes e Juliano Domingues.<br />
Em cartaz de 16 de janeiro a 13<br />
de março de <strong>2016</strong>, a mostra fotográfica<br />
contou na sua estreia com a apresentação<br />
do maracatu Brincante Popular<br />
e no encerramento com palestra do<br />
fotógrafo Gil Vicente, um dos fotógrafos<br />
que acompanhou de perto a trajetória<br />
de Science e outros integrantes do movimento.<br />
Foto: Paloma Barros<br />
[51]
Foto: Marcílio Melo<br />
Foto: Thaís Carvalho<br />
Foto: Quintino Robson<br />
Foto: Jadna Lima<br />
MANGUE BEAT no Museu da Cidade<br />
Nos últimos anos o Museu da Cidade do<br />
Recife tem realizado investimentos na criação<br />
de parcerias como forma de revitalizar e dinamizar<br />
o museu. Entre muitos parceiros, o<br />
curso de fotografia da Universidade Católica de<br />
Pernambuco tem sido uma das experiências<br />
exitosas. Nos últimos três anos realizamos com<br />
os alunos da Católica e com a curadoria das<br />
professoras Renata Victor e Germana Soares<br />
em parceria com Betânia Corrêa de Araujo do<br />
museu três mostras, sendo a última sobre o<br />
MANGUE BEAT.<br />
MANGUE BEAT realizada entre os dias 17<br />
de janeiro e 13 de março de <strong>2016</strong>, apresentou<br />
além de fotografias e textos, um documentário<br />
sobre o movimento Mangue da Coleção Alberto<br />
Cavalcanti e uma seleção de vídeos clipes<br />
selecionados pelos fotógrafos participantes.<br />
No encerramento, a exposição apresentou<br />
uma palestra com o fotógrafo Gil Vicente, autor<br />
de vários retratos de Chico Science e do seu<br />
grupo.<br />
No período em que ocupou a Sala de Exposições<br />
temporárias do Museu, a mostra MAN-<br />
GUE BEAT recebeu 3624 visitantes (assinantes)<br />
entre brasileiros e estrangeiros e impactou<br />
o público com as imagens dos fotógrafos e a<br />
expressiva música do movimento mangue. A<br />
mostra fez parte das comemorações do aniversário<br />
de 50 anos de Chico Science.<br />
Betânia Corrêa de Araújo<br />
Diretora Geral do Museu da Cidade do Recife<br />
[52]
Foto: Isabele Marinho<br />
Foto: Mariana Aguiar<br />
[53]
Ensaios<br />
a morte<br />
amorosa<br />
Como atividade da disciplina de Poética<br />
da Imagem os alunos da disciplina de<br />
Poética da Imagem, ministrada no terceiro<br />
módulo do curso de Fotografia da Unicap,<br />
receberam a missão de transformar contos<br />
do século XIX em imagens. A seleção deveria<br />
ser feita entre as obras do livro Contos<br />
Fantásticos do Século 19 escolhidos por<br />
Italo Calvino. Entre os contos, histórias de<br />
Edgar Allan Poe, Honoré de Balzac, Hans<br />
Christian Andersen e Guy de Montpassant.<br />
O grupo formado pelos alunos Ammanda<br />
Falcão, Paulo Vasconcelos, Priscila Silva,<br />
Nitali Angélica, Rautemberg Nóbrega,<br />
Amanda Bezerra, Daniel Guimarães, Alzio<br />
Dias, Alexandre Torres, Allan Oliveira, José<br />
Maurício, Ana Nery, Jéssyca Artico, Humberto<br />
Pereira, Suann Medeiros e Jundy<br />
Leal escolheu o conto A Morte Amorosa, de<br />
Théophile Gautier, para contar em imagens<br />
a história do amor entre o padre recém-ordenado<br />
Romuald e a vampira Clarimonde<br />
em um ensaio produzido a partir do uso de<br />
figuras de linguagem e das características<br />
da Função Poética da Imagem, no esquema<br />
elaborado por Roman Jakobson. O resultado,<br />
quase uma fotonovela, virou ensaio<br />
nesta edição da <strong>UnicaPhoto</strong> pela qualidade<br />
do trabalho da equipe.<br />
[54]
[55]
Ensaios<br />
[56]
[57]
Ensaios<br />
[58]
[59]
Dicas<br />
A onipresença das câmeras<br />
Julianna Nascimento Torenzani<br />
Professora do Curso de Fotografia da UNICAP.<br />
Doutorando em Comunicação pela UFPE.<br />
Mestre em Cultura e Turismo e Bacharel em<br />
Comunicação Social pela UESC.<br />
Email: juliannatorezani@yahoo.com.br<br />
O livro Sobre Fotografia escrito pela<br />
filósofa norte-americana Susan Sontag,<br />
em 1977, é extremamente atual,<br />
visto que discute questões técnicas da<br />
fotografia amparadas na linguagem e na<br />
intencionalidade de cada fotógrafo ao<br />
fazer uma cena. Sontag nasceu em Nova<br />
Iorque em 1933 e morreu em 2004, aos<br />
71 anos, cursou Filosofia na Universidade<br />
de Chicago e pós-graduação em Harvard.<br />
Seus livros foram traduzidos para mais<br />
de trinta línguas. Escreveu ensaios e<br />
romances, além de dirigir filmes e peças.<br />
A obra Sobre Fotografia ganhou o<br />
National Book Critics Circle Award.<br />
Dividida em sete capítulos o livro traz<br />
uma profunda reflexão da fotografia do<br />
século XIX em diante, dando destaques<br />
a alguns fotógrafos documentais e<br />
fotojornalistas. O primeiro capítulo é<br />
intitulado Na caverna de Platão onde<br />
a autora trata do início da produção<br />
fotográfica a partir de 1839. O segundo<br />
capítulo, Estados Unidos, visto em fotos,<br />
de um ângulo sombrio, a filósofa trata de<br />
obras documentais de fotógrafos norteamericanos,<br />
que no século XX tiveram<br />
tendências diversas, inclusive de estilo,<br />
uma vez que movimentos artísticos como<br />
o surrealismo interferem diretamente<br />
nas possibilidades criativas de captura<br />
de luz, além das imagens vinculadas ao<br />
projeto Photo-Secession criado por Alfred<br />
Stieglitz.No terceiro capítulo chamado<br />
[60]<br />
Capa do livro<br />
Objetos de melancolia, Sontag revela os<br />
vários lados que a imagem fotográfica<br />
suscita, entre eles como elementos de<br />
tristeza analisando várias produções<br />
com temas que envolvem a miséria e a<br />
guerra.<br />
Como quarto capítulo será discutido<br />
o tema O heroísmo da visão já que a<br />
fotografia transbordou a potencialidade<br />
do olhar com equipamentos, trouxe<br />
novas visualidades, aproximou e ampliou<br />
os temas. Em Evangelhos Fotográficos,<br />
Sontag traça a interminável discussão<br />
entre a fotografia e a arte, ou ainda se a<br />
fotografia é arte ou produz arte, trazendo<br />
produções e frases de vários fotógrafos<br />
e artistas.O capítulo que fecha o livro,<br />
O mundo-imagem, discute a questão da<br />
fotografia e da realidade, pelos critérios<br />
de escolhas do fotógrafo há, segundo a<br />
autora, uma perturbação de quem olha<br />
para imagens de determinados temas.<br />
Esta obra abre muitas reflexões e<br />
também muitos campos de pesquisa.<br />
Pensar a fotografia de maneira<br />
múltipla, desvendar o que por trás das<br />
produções dos fotógrafos e entender as<br />
intencionalidades da cena a cada contexto<br />
histórico são algumas das contribuições<br />
que Sontag traz para a fotografia. Difícil<br />
ler este livro sem trazer exemplos de toda<br />
a história da fotografia, do século XIX em<br />
diante, mas, sobretudo refletir sobre a<br />
produção fotográfica contemporânea.
Confira outras dicas de livros, filmes<br />
e sites dos professores do curso de<br />
Fotografia da Unicap<br />
A<br />
Destrua<br />
essa câmera<br />
Diretor: Leon Gast,<br />
2010.<br />
Um diário russo<br />
John Steinbeck e Robert<br />
Capa, 2010.<br />
David Loftus<br />
Photography<br />
Masterclass<br />
B<br />
Swimmer<br />
Diretor: Lynne Ramsay,<br />
2012.<br />
Fotografia<br />
contemporânea: entre<br />
o cinem, o vídeo e as<br />
novas mídias.<br />
Antonio Fatoreli, 2013.<br />
DIY Photography<br />
C<br />
Mil vezes boa noite<br />
Diretor: Erik Poppe,<br />
2013.<br />
Filosofia da Caixa Preta<br />
Vilém Flusser, 1983.<br />
<strong>Revista</strong> Mira<br />
Fotográfica<br />
D<br />
Iluminados<br />
Diretores: Cristina Leal,<br />
2007.<br />
50 anos de luz: câmera e<br />
ação<br />
Edgar Moura, 2002.<br />
Humanæ<br />
E<br />
Meia noite em Paris<br />
Diretores: Woody Allen,<br />
2011.<br />
Quando a fotografia é<br />
genial<br />
Val Williams, 2014.<br />
ZUM<br />
Dicas de:<br />
A - João Guilherme<br />
B - Leonardo Castro Gomes<br />
C - Marina Feldhues (Ex-aluna do curso)<br />
D - Ricardo Marcelino<br />
E - Renata Victor<br />
[61]