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A4<br />
SALVADOR SEGUNDA-FEIRA 30/5/2016<br />
Editor-coordenador<br />
Luiz Lasserre<br />
llasserre@grupoatarde.com.br<br />
REGIÃO METROPOLITANA<br />
SALVADOR<br />
salvador@grupoatarde.com.br<br />
PARTICIPE Enviesugestõesdematérias<br />
paraoportal<br />
www.atarde.com.br<br />
LUANA ALMEIDA<br />
Em vigor há três anos no<br />
país, alei dos 60 dias<br />
(12.732/12) –que determina<br />
que pacientes com câncer<br />
iniciem o tratamento pelo<br />
Sistema Único de Saúde<br />
(SUS) em, no máximo,60<br />
dias após o diagnóstico –é<br />
alvo de reclamação de pacienteseespecialistas<br />
pela<br />
falta de cumprimento.<br />
NaBahianãohádadosoficiais<br />
sobre o tempo médio<br />
entreodiagnósticoeoacesso<br />
ao tratamento pelo SUS,<br />
mas representantes de entidades<br />
médicas e de associaçõesdeapoioapacientes<br />
naBahiainformamqueesse<br />
períodopode durardeoito<br />
meses a até um ano. E para<br />
o paciente oncológico cada<br />
minuto é precioso.<br />
De acordo comdados do<br />
InstitutoNacionaldoCâncer<br />
JoséAlencarGomesdaSilva<br />
(Inca), a alta taxa de mortalidadeporcâncernoBrasil<br />
está diretamente associada<br />
àdemora no início do tratamento.Nocasodaauxiliar<br />
doméstica Célia Maria Santos<br />
Santana, 60, a via crucis<br />
entre a descoberta e o começo<br />
da quimioterapia durou<br />
quase dois anos.<br />
No início de 2014, ela notou<br />
um caroço no seio direito.<br />
Entre a primeira consulta,<br />
realizada no município<br />
de Ituberá (a 348 km da<br />
capital), e a confirmação do<br />
diagnóstico de câncer de<br />
mama, em Salvador, foram<br />
necessários 11 meses.<br />
Daassinaturadolaudopatológico<br />
atéacirurgia, mais<br />
quatro meses se passaram.<br />
Em seguida, ela aguardou<br />
mais três meses paraconseguir<br />
a intervenção cirúrgicaparaaretiradadotumor<br />
e, posteriormente,iniciar a<br />
quimioterapia.<br />
Céliaaindanãoconseguiu<br />
chegar à metade do tratamento<br />
prescrito pelo oncologista.Comosenãobastassealongacaminhadaatéter<br />
acesso às terapias, frequentemente<br />
as sessões são interrompidas<br />
por causa da<br />
“Para o câncer,<br />
o diagnóstico<br />
precoce é<br />
fundamental.<br />
A morosidade<br />
dificulta o<br />
tratamento”<br />
KÁTIA BALDINI, coord. do Naspec<br />
“Por vezes ela<br />
pensou em<br />
desistir. Mas<br />
não vamos<br />
deixar ela<br />
fraquejar”<br />
CLAUDICÉLIA SANTANA, filha de<br />
paciente<br />
manutenção dos aparelhos<br />
radioterápicosedacarência<br />
de medicamentos.<br />
“Por muitas vezes, ela<br />
pensouemdesistir.Masnão<br />
vamos deixar ela fraquejar,<br />
temosqueserfortes”,conta,<br />
emocionada, a filha mais<br />
nova da paciente,Claudicélia<br />
Santana, 33.<br />
Morosidade<br />
Ahistóriadadomésticanão<br />
éumcasoisolado.Entreos72<br />
pacientesabrigadosnasede<br />
do Núcleo Assistencial para<br />
Pessoas com Câncer (Naspec),<br />
no Engenho Velhode<br />
Brotas, pelo menos metade<br />
deles esperoupor cerca de<br />
oitomesespeloresultadode<br />
uma biópsia –exame imprescindível<br />
para comprovação<br />
do diagnóstico eindicação<br />
de tratamento.<br />
De acordo com a coordenadora<br />
de enfermagem da<br />
entidade, Kátia Baldini, a<br />
morosidadeparaoacessoao<br />
tratamentocontribuiparaa<br />
rápidaevoluçãodadoença,o<br />
que torna a curaou ocontrole<br />
da patologia ainda<br />
mais distante.<br />
“O diagnóstico precoce é<br />
fundamental. Muitas vezes,<br />
a mulher descobre um pequenocaroçoe,quandoiniciaotratamento,essetumor<br />
játriplicoudetamanho.Isso<br />
reduzapossibilidadedecura”,<br />
ela lamenta.<br />
OpresidentedoSindicato<br />
dos Médicos na Bahia (Sindimed),<br />
Francisco Magalhães,<br />
atribui ademora no<br />
atendimento à faltade estrutura<br />
dos CentrosdeAlta<br />
Complexidade em Oncologia(Cacon)dointeriordoestado.<br />
Tal condição, segundo<br />
ele,éresponsávelporsuperlotar<br />
os hospitais da capital<br />
baiana.<br />
“Os centros de referência<br />
de tratamento de câncer do<br />
interior do estado não têm<br />
condições estruturais de receber<br />
os pacientes. Para as<br />
prefeituras, é mais cômodo<br />
trazerospacientesparaSalvador<br />
do quelutar por um<br />
atendimento de qualidade<br />
nas cidades-polo”, afirmou.<br />
SAÚDE Lei<br />
que garante<br />
início de<br />
atendimento<br />
em até 60<br />
dias não é<br />
cumprida<br />
Fotos Adilton Venegeroles / Ag. A <strong>TARDE</strong><br />
DEMORAPREJUDICAPACIENTES<br />
EMTRATAMENTODECÂNCER<br />
Entre o<br />
diagnóstico e a<br />
quimioterapia,<br />
Célia Maria<br />
esperou dois anos<br />
Contra o tempo<br />
Umacorridacontraotempo:<br />
éassimqueacoordenadora<br />
daregulaçãoambulatoriale<br />
hospitalardaSecretariaMunicipal<br />
da Saúde (SMS), Daniela<br />
Alcântara, define as<br />
ações da prefeitura no sentido<br />
de garantir o cumprimentodaleidos60diasnos<br />
hospitais da capital.<br />
Segundoela,paraacelerar<br />
o diagnóstico de pacientes<br />
com suspeita de câncer, são<br />
disponibilizadas 80 vagas<br />
para consultas e 967 procedimentos<br />
de biópsias guiadas<br />
por imagem por mês.<br />
Apósconstatadaadoença,<br />
estãodisponíveisnasquatro<br />
unidades de saúde que oferecemtratamentooncológico<br />
pelo SUS –os hospitais<br />
SantaIzabel,SantoAntônio,<br />
SãoRafaeleAristidesMaltez<br />
–mensalmente4.500vagas<br />
para quimioterapia e radioterapia.<br />
“No município há uma<br />
grande demanda pelo serviço.Porémnãotemosmais<br />
tantas filas em nossas unidades.<br />
No Aristides Maltez,<br />
porexemplo,ondeaprocura<br />
é maior, procuramos distribuirospacientesparaasoutras<br />
unidades e acelerar o<br />
tratamento”, diz Daniela.<br />
NoCentroEstadualdeOncologia<br />
(Cican) são oferecidas,<br />
de segunda a sexta-feira,<br />
40 senhas para triagem.<br />
“A partir dessa consulta, o<br />
pacienteéencaminhadopara<br />
os exames e, a depender<br />
do caso, para cirurgia. O<br />
ideal é quetodo o processo<br />
dure menos que 60 dias”,<br />
explicaadiretoratécnicada<br />
unidade, Conceição Coelho.<br />
DESAFIOPARACUMPRIR<br />
LEIÉDEBATIDOEMFÓRUM<br />
Beto Monteiro / Divulgação<br />
TRATAMENTOPODESER<br />
GARANTIDOPELAJUSTIÇA<br />
O não cumprimento da lei<br />
dos60diasnãoestárestrito<br />
àBahia:olongocaminhoentreodiagnósticodocâncere<br />
otratamentoefetivoérecorrenteem<br />
todas as grandes<br />
capitaisdopaís.Osentraves<br />
edesafios da efetivação do<br />
decreto foram tema de debate<br />
no VI Fórum Nacional<br />
dePolíticasdeSaúdeemOncologia,realizadonaúltima<br />
semana, em Brasília.<br />
Oevento,promovidopela<br />
companhiadeprodutosfarmacêuticos<br />
Roche, reuniu<br />
especialistasdetodooBrasil<br />
acerca de temas como detecçãoprecocedocâncer,financiamentodepesquisase<br />
acesso às medicações.<br />
O subfinanciamento da<br />
saúde pública foiapontado<br />
pelo oncologista Gilberto<br />
Lopescomocausaparaonegligenciamento<br />
da legislaçãoqueregeotemaemtodo<br />
o país. “Não há recursos suficientes<br />
para que o atendimento<br />
dos pacientes seja<br />
realizado de forma universal.<br />
Para um atendimento<br />
eficaz, seria necessárioinvestimento<br />
em estrutura e<br />
pessoal”, opinou.<br />
A ampliação dos investimentosna<br />
saúde também<br />
foidefendidapeladeputada<br />
federal Carmen Zanotto<br />
(PPS-SC),membrodaComissão<br />
de Seguridade Social e<br />
Família da Câmara dos Deputados:<br />
“A população não<br />
pode pagar porum problema<br />
na gestão de recursos”.<br />
Transparência<br />
Utilizar a tecnologia como<br />
instrumento para difusão<br />
de informações acerca do<br />
tratamento oncológico é a<br />
chave para amelhoria no<br />
atendimento aos pacientes<br />
oncológicos.Éoquedefende<br />
o especialista em direito à<br />
saúde Tiago Farina Matos.<br />
Para tanto, ele propõe a<br />
criaçãodeumaplicativoparacelular,nosmoldesdoWaze<br />
–sistema operacional de<br />
trânsito e navegação que<br />
compartilha informações<br />
detrânsitodasviasemtemporeal.Aintenção,alémde<br />
facilitaroacessoaquestões,<br />
consultas e tratamentos, é<br />
O especialista Tiago Farina foi um dos palestrantes<br />
proporcionar uma maior<br />
transparêncianosistemade<br />
marcação de consultas pelo<br />
SUS.<br />
“Muitas vezes, o paciente<br />
vai para uma primeira consulta<br />
enão sabe sequer<br />
quandoseráapróxima.Esse<br />
tipodeinformação,alémde<br />
oferecermaioragilidadena<br />
assistência, garanteocumprimento<br />
da lei dos 60 dias<br />
ecorroboraparaqueelenão<br />
desista de dar prosseguimento<br />
ao tratamento de<br />
saúde”, afirmou.<br />
O paciente que não tiver o<br />
iníciodoseutratamentooncológico<br />
garantido dentro<br />
de até 60 dias, contados a<br />
partir do dia em que for assinadoodiagnósticoemlaudopatológico,poderecorrer<br />
àSecretariadaSaúdedoseu<br />
município ou à Justiça para<br />
garantir o cumprimento da<br />
Lei nº 12.732/12.<br />
De acordo com o advogadoespecialistaemdireitodo<br />
consumidorJairo Torres, o<br />
primeiropassoéprocuraro<br />
setorderegulaçãodaSecretaria<br />
da Saúde. Em caso de<br />
descumprimento da lei por<br />
parte da autarquia, os gestores<br />
poderão sofrer penalidades<br />
administrativas.<br />
“Oórgãodesaúdedomunicípio<br />
é quem deve estar<br />
atentoaessa questão.Éde<br />
inteira responsabilidade da<br />
secretaria municipal proporcionar<br />
ao paciente consultasetratamentosprescritos<br />
pelo médico”, afirmou.<br />
Seaindaassimopaciente<br />
não conseguir ter acesso à<br />
consulta ou ao tratamento,<br />
elepoderecorreràJustiça.O<br />
advogado explica: “O paciente<br />
deve procurar o MinistérioPúblicoouqualquer<br />
assistência jurídica gratuita<br />
em faculdades de direito<br />
conveniadas com aOrdem<br />
dos Advogados do Brasil<br />
(OAB)”, afirmou.<br />
Documentação<br />
Paradarentradanaaçãojudicial,énecessário,<br />
alémde<br />
documentos básicos –carteiradeidentidade,comprovantederesidênciaecartão<br />
doSUS–,olaudodoexame<br />
patológico eum relatório<br />
médico contendo a identificação<br />
da doença.<br />
Os gestores de<br />
secretarias<br />
da saúde<br />
poderão sofrer<br />
penalidades<br />
administrativas