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SEU PEDRO _ Boletim_A4_4páginas_ENAE_Asa (1)

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PORTO DA FOLHA<br />

Vista parcial da propriedade<br />

Na região, Seu Pedro é bem conhecido, leva consigo o nome das sementes. É chamado em algumas ocasiões de<br />

homem das sementes crioulas e tem muito orgulho disso. Segundo ele, nada é fácil nessa vida, mas o trabalho e o<br />

amor pelo que se faz supera tudo, hoje. “eu posso não ter muita sementes guardada, mas tenho muito conhecimento e<br />

tenho alternativas para garantir a qualidade do pouco que produzo”.<br />

Assim, é parte da história de vida do Seu Pedro e família, homem que carrega em sua vida as marcas do respeito ao<br />

meio ambiente, respeito à cultura local, a força da religiosidade, a importância da família e da permanência na<br />

comunidade.<br />

“É bem verdade que produzo pouco, mas esse pouco é de qualidade, sei o que planto, sei o que como e o que os meus<br />

animais também comem”.<br />

Seu Pedro, há 36 anos como<br />

Guardião de Sementes Crioulas<br />

Pedro Jose Lima, mais conhecido como seu Pedro, 57 anos, casado com a senhora Maria Zélia da Silva Lima, de 54<br />

anos, e pai de seis filhos nascidos e criados na Fazenda Inxu, nas redondezas da comunidade Lagoa da Volta, há 15<br />

quilômetros da cidade de Porto da Folha – SE.<br />

Em 1980, Seu Pedro casou com dona Maria Zélia, e ganhou, do seu pai, 30 tarefas de terra e começou a produzir junto<br />

com sua esposa, (milho e feijão), práticas traduzida de pai para filho. Sempre o Seu Pedro teve em seu pensamento,<br />

manter as sementes crioulas armazenadas para garantir a permanência das mesmas ao longo dos anos e ter<br />

sementes de qualidade para fazer as plantações. Daí começa a história de um guardião das sementes crioulas que<br />

resgatou as sementes que seus pais utilizavam na lavoura e a partir da utilização de técnicas alternativas garantem a<br />

permanência das mesmas há 36 anos com a família.<br />

A diversidade de milho e feijão é grande, pode-se destacar: Pé de Boi, Milho Cunha e outra, que até hoje não se deu um<br />

nome, mas que traz bons resultados. Entre os feijões destaca-se: Feijão de Corda Branco, Feijão de Corda Preto, Feijão<br />

de Corda Cabeçudo, Feijão Carioca, Feijão de Arranca, Feijão Preto e Feijão Mulatinho.<br />

Seu Pedro fazendo a limpeza nas sementes<br />

Seu Pedro e Suas Sementes


Na sua essência, Seu Pedro traz a importância de utilizar alternativas para propagação das sementes e<br />

também para multiplicação das mesmas. O manejo do solo é algo muito importante para se sucesso na<br />

produção vegetal. Segundo ele, a utilização de adubos orgânicos, com destaque para esterco bovino<br />

curtido, traz muitos ganhos na produção do milho e feijão. Adubo de qualidade, adquirido na própria área<br />

sem a presença de veneno.<br />

Uma das grandes preocupações do guardião das sementes crioulas, Seu Pedro, são os períodos de<br />

estiagem prolongados. Segundo ele, para garantir a multiplicação das sementes no sentido de guarda-las,<br />

e ainda garantir algo para o consumo humano e a palha para forragem dos animais, utiliza a prática de<br />

plantar em pequenas áreas no fundo da casa para que se possa irrigar manualmente e ter uma garantia de<br />

sucesso no fim do ciclo. A água para garantir essa produção ao longo dos anos em pequena escala, é<br />

coletada de um minador na própria área próximo da casa e de alguns tanques distribuídos pelo terreno.<br />

Outra prática traduzida da crença na religião e nos costumes adquiridos a partir da experiência de seus<br />

pais é a época do plantio, sempre na primeira quinzena de abril, para colher nos festejos juninos. Segundo<br />

Seu Pedro, passando desse período de plantio a colheita é menor e as sementes perde a qualidade.<br />

“Eu sempre planto o milho na lua crescente e colho na fase escura, sempre dá de boa qualidade. Outras<br />

plantas como as raízes, eu planto sempre na lua minguante”.<br />

Para garantir a qualidade das sementes armazenadas, ele utiliza alternativas sustentáveis com a<br />

utilização de pimenta do reino e cinzas em vasilhames plásticos e toneis de zinco, livrando as sementes da<br />

contaminação dos fungos e também após a colheita sempre seca as sementes na sobra e em local<br />

ventilado.<br />

“Se eu secar as sementes no sol elas perdem a qualidade, isso eu já testei e já comprovei por isso, seco elas<br />

na sombra”.<br />

Com os problemas com o uso dos agrotóxicos pela vizinhança, seu Pedro utiliza a técnica das barreiras<br />

pelas próprias arvores, seu terreno é rodeado de arvores que impedem a passagem dos venenos e adubos<br />

químicos livrando seus plantios da contaminação, o que garante a qualidade das suas sementes.<br />

No ano 2000 sua esposa herdou 70 tarefas de terras em outra região, vendeu e comprou 35 tarefas<br />

vizinho a sua propriedade que era da sua irmã, ampliando a propriedade 65 tarefas. Com o aumento da<br />

terra, ele pode aumentar a sua produção forrageira e conseguir manter a criação do gado, suínos, ovinos e<br />

galinhas caipiras com alimentação saudável produzida no próprio terreno. Outra parte do terreno que<br />

Seu Pedro tem muito orgulho em citar é a Reserva Legal com mais da metade de mata nativa, local em que<br />

é possível encontrar várias espécies de árvores e animais, mantendo a biodiversidade ativa e com muita<br />

contribuição para o equilíbrio do meio ambiente. Na área de reserva acontece também a pega de boi no<br />

mato, mantendo a cultura local em evidência e as tradições da região.<br />

“Na minha mata, ninguém derruba árvore, aqui acontece a pega de boi e ainda mantenho os animais e as<br />

plantas vivas”.<br />

Com o espírito de trabalho comunitário e no movimento sindical, ele sempre buscou a melhoria para a<br />

comunidade e para sua família. Sempre participando das reuniões e contribuindo com as discussões, em<br />

2010, conhece a Articulação Semiárido Brasileiro – ASA e conquista a cisterna de placas de 16.000 litros<br />

para captação e armazenamento de água da chuva para o consumo humano pelo Programa Um Milhão de<br />

Cisternas – P1MC.<br />

Cisterna 16 Mil Litros<br />

“Antes da cisterna era difícil, tinha que pegar de um minador que tinha no seu terreno ou dos barreiros,<br />

sofria muito com falta d'água”.<br />

Em 2012, a família conquistou a cisterna de 52.000 litros pelo Programa Uma Terra e Duas Águas – P1+2,<br />

com isso ele pode fortalecer a produção vegetal saudável e ter água de qualidade para o consumo dos<br />

animais. Com a chegada do P1+2, o agricultor participou das formações para manejo adequado da água,<br />

manejo da caatinga e produção agroecológica, com destaque para os intercâmbios entre agricultores/as.<br />

Outro ponto importante do P1+2 é o caráter produtivo, em que a família aumentou seu rebanho e<br />

melhorou o manejo a partir das experiências compartilhadas por outras pessoas nos espaços de<br />

construção do conhecimento.<br />

Com a chegada das tecnologias sociais da ASA, seu Pedro teve outras possibilidades de produzir mais<br />

sementes, água disponível, conhecimento adquirido e uma consciência de que é muito importante<br />

produzir sem agrotóxicos e guardar as suas sementes que conhece muito bem.<br />

Casa da família

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