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Ensaio _ MPA _ Boletim_A4_4páginas_ENAE_Asa

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Nos critérios alimentação animal, os milhos hibra, vermelho e do Campo receberam as melhores notas. No entanto<br />

senhor José, ao comparar os critérios altura da planta e ciclo faz um relato importante:<br />

“Pra ração sair de qualidade, mesmo a planta sendo pequena, se ela tiver espiga é melhor, tem mais qualidade.”<br />

Outros agricultores concordaram com a afirmação do guardião, explicando que não adianta ter só palha, que a ração<br />

é mais nutritiva se a planta tiver palha e espiga.<br />

Senhor Peba conclui: “Pra o nosso sertão a qualidade de milho boa pra ração é a semente do cateto e do catingueiro”.<br />

Sobre os principais ensinamentos colhidos com o experimento, os camponeses afirmaram:<br />

“A gente nunca tinha feito uma experiência dessa de olhar os milho. Pra gente milho era tudo a mesma coisa e agora a<br />

gente sabe que não é.”Afirmou senhor Valberto.<br />

Dona Josefa também se manifesta explicando: “A gente plantava ao Deus dará, tudo era semente de milho. Agora a<br />

gente já sabe a diferença. Se um é bom pra ração e outro é bom pra nós, tem que ter dos dois”.<br />

Senhor José também levanta uma avaliação positiva do ensaio: “Deu pra gente comparar a partir da nossa realidade e<br />

vê a variedade que é melhor pra gente”.<br />

Os guardiões e a equipe já se preparam novamente para implantar um novo ensaio em 2016, dando continuidade ao<br />

processo de valorização do conhecimento popular e reconhecimento da qualidade das sementes da Liberdade em<br />

Sergipe.<br />

MONTE ALEGRE<br />

Pesquisa fortalece conservação<br />

das sementes da Liberdade<br />

Atividades de Campo<br />

As sementes são fundamento e produto de culturas e sociedades através da historia. Nelas se incorporam valores,<br />

afetos, visões, mitos, e formas de vida. Sem as sementes é impossível o sustento e a soberania das comunidades e<br />

dos povos.<br />

Tendo a semente crioula como prioridade dentro do conjunto da organização da produção, em 2015 o Movimento<br />

dos Pequenos Agricultores (<strong>MPA</strong>) resolveu juntamente com a Embrapa Tabuleiros Costeiros e o Instituto Federal de<br />

Sergipe trabalhar a semente crioula a partir da união do conhecimento científico e do saber popular. Foi decidido<br />

então fazer um ensaio comparativo com sementes de milho envolvendo camponeses guardiões de sementes das<br />

comunidades do Retiro em Monte Alegre (local onde foi implantado o ensaio); Poço Preto, Patos, Lagoa Grande,<br />

Garrote do Emeliano e Sítio Óleo em Poço Redondo; e da Comunidade Deserto no município de Porto da Folha.O<br />

processo da pesquisa teve várias fases até a implantação propriamente dita da experiência. A primeira fase foi a do<br />

levantamento de variedades crioulas junto com os guardiões do alto sertão sergipano, em que os camponeses<br />

explicavam suas técnicas de plantio, seleção e armazenamento das sementes. Nessa etapa foram entrevistados/as<br />

vinte oito guardiões e identificadas quinze variedades de milho, dentre outras espécies.<br />

A segunda fase do processo foi o planejamento do ensaio. Foi realizada uma reunião com os guardiões na<br />

comunidade Retiro em Monte Alegre, onde o ensaio foi implantado. Na reunião foi explicado como funcionava o<br />

ensaio, e os critérios de avaliação foi definido com base no que os guardiões levam em consideração na escolha das<br />

variedades para o plantio. Ainda sobre o experimento foi apresentado que seriam utilizadas oito variedades de<br />

milho, seis variedades crioulas, dos próprios guardiões e duas variedades comerciais, porém as mesmas não seriam<br />

identificadas para que no momento da avaliação, os guardiões observassem somente os critérios sem tomar partido<br />

pela variedade que eles já conhecem.<br />

Agricultores/as do <strong>MPA</strong> e Técnicos/as da EMBRAPA


Senhor Lula, guardião das sementes da Liberdade relatou: “É porque a terra é diferente em cada lugar.<br />

Tem lugar que é melhor que outro”. Como a terra não é homogênea e existe a possibilidade ter manchas de<br />

solo melhores que outras, é feito o sorteio das variedades para que a avaliação não seja influenciada pelas<br />

possíveis melhores manchas de solo.<br />

A fase seguinte foi à implantação do ensaio. Um grupo formado por agricultores/as, militantes do <strong>MPA</strong> e<br />

pesquisadores reuniu-se em mutirão para fazer o roçado do experimento.<br />

Na ocasião, uma das lideranças do <strong>MPA</strong>, Rafaela Alves, articuladora dos guardiões e presente no mutirão,<br />

explicou em poesia o que aconteceu no dia:<br />

<strong>Ensaio</strong> na roça<br />

Rafaela Alves<br />

Vou le apresentar um estudo bem precioso. Estamos a fazer por cá, pra aprofundar as sementes do<br />

nosso querido lugar.<br />

Aprofundando o debate a respeito das sementes crioulas bem camponesas<br />

O movimento foi pra frente<br />

Convidando alguns parceiros para um projeto decente<br />

Resgatar sementes crioulas eis o grande objetivo<br />

Comunidade interessada, se dispõe, povo ativo<br />

Estudo e planejamento, é necessário nesse sentido<br />

O dialogo de conhecimento pra garantir a ação<br />

Aprendizados coletivos de convivência desse chão<br />

De todo lado tem ciência, soberania, nossa questão<br />

Fizemos a iniciação<br />

Implantamos grandes ensaios de milho no escolhido chão<br />

Os bois arando a terra deixaram pegadas na ação<br />

Escolhidas as sementes, faz o desenho da area<br />

Esquadria metro a metro, dividindo com estacas<br />

5 blocos de 60 metros para oito variedades<br />

Reunindo conhecimento plantando milho do povo<br />

foi do hibra ao vermelho<br />

milho do campo, alho novo<br />

Catingueiro e bioforte<br />

tem Catarina, o bom com ovo.<br />

Com todos bem reunidos, fizemos sorteio das sementes<br />

Pela via do consorcio, foi milho, feijão crescente.<br />

Rapidamente aconteceu um plantio diferente<br />

Com cuidado e atenção para não errar no esquema<br />

cada bloco de sementes não segue no mesmo dilema.<br />

As anotações bem ajudam a monitorar o sistema<br />

O proximo passo vem no processo da colheita<br />

Até lá vamos estudando, mostrando a forma bem feita<br />

resgatando nosso patrimônio<br />

Ta ai, semiárido com nosso jeito.<br />

Depois da boa chuvada camponês bem que se anima<br />

Se planeja na produção, considera o seu clima<br />

Enverdece a esperança para conviver sem a tal sina<br />

Vejo as terras aradas, sementes crioulas esperando<br />

Camponeses e alguns técnicos<br />

Algo novo preparando,<br />

Fazendo ensaio de sementes<br />

Soberania genética assegurando.<br />

A outra etapa do processo foi à avaliação do ensaio. “A gente se dividiu em grupos e foi olhar o tamanho do<br />

milho, se era mais ligeiro, se tinha espiga” Explicou senhor José.<br />

Nessa fase, conforme descreveu senhor José, formaram-se quatro grupos com guardiões e um facilitador<br />

que provocava a avaliação. Cada grupo observava as variedades, atribuindo notas (1 – ruim, 2 – regular, 3<br />

– bom e 4 – ótimo) a cada critério estabelecido no planejamento. As anotações foram transformadas em<br />

gráficos para serem apresentadas aos guardiões.<br />

Atividades de Campo<br />

A apresentação dos resultados foi à última etapa do processo. Também aconteceu na comunidade Retiro.<br />

Em cada resultado apresentado, os agricultores contribuíam com comentários a respeito do resultado.<br />

Nos critérios altura das plantas, espessura do caule (grossura da canela) e palhada, as variedades Hibra,<br />

milho Vermelho e milho do Campo receberam as melhores notas. Nestes quesitos, senhor José explicou<br />

que milho alto e de canela grossa rende mais para a ração dos animais.<br />

Quando foi apresentado o resultado relacionado com o ciclo, onde o milho cateto e o catingueiro<br />

receberam as melhores notas por terem o ciclo mais curto (mais ligeiros, como eles explicam), o<br />

momento foi de muita discussão e avaliação das condições climáticas de hoje em dia.<br />

“Os invernos com o passar dos anos estão ficando cada vez mais curtos. A gente tem milho de três meses,<br />

de dois meses e meio, mas do pendão volta pra trás porque as chuvas estão muito poucas”. Explicou<br />

senhor José Cardoso, mais conhecido como Peba da comunidade Deserto, Porto da Folha.<br />

O guardião complementa sua reflexão afirmando que mesmo perdendo as sementes devido a pouca<br />

chuva, faz questão de guardar o seu milho.<br />

Nesse ponto, Senhor Lula, outro agricultor ressalta: “Eu compro milho pra da as galinhas, mas a minha<br />

semente eu deixo fechada pra plantar na hora certa.”<br />

Essas duas últimas falas revelam a sabedoria no que diz respeito à importância da conservação das<br />

sementes crioulas.

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