Boletim_A4_4páginas_ENAE-Asa__Josefa- Sítio Óleo
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Os produtos são vendidos em três feiras: aos domingos no <strong>Sítio</strong> Novos, segunda-feira em Poço Redondo e as sextasfeiras<br />
em Lagoa Redonda. O principal produto que ela comercializa são as hortaliças de sua produção agroecológica,<br />
além de frutas e mudas. Ela conta que esse tipo de alimento é bastante procurado pelos clientes e não “esquenta<br />
canto”. Para oferecer uma maior variedade, ela também comercializa alimentos adquiridos de produtores<br />
convencionais como tomate, batatinha e cebola.<br />
A chegada de dona <strong>Josefa</strong> na feira é fruto de uma superação, pois no início ela e a família tinham vergonha de vender<br />
seus produtos. O filho mais novo foi quem se desafiou a dar os primeiros passos nessa caminhada. A agricultora conta<br />
que a ideia de comercializar surgiu da necessidade de aumentar a renda e ajudar os filhos e filhas que cresceram e<br />
tinham suas necessidades e desejos.<br />
A produção animal está focada em dois agrossistemas, bovino e aves. Até bem pouco criava porcos, mas devido ao<br />
período longo de estio resolveu se desfazer dos animais, porém mantem a estrutura de produção no sistema.<br />
Ela destaca com muita segurança e emoção a paixão pelo trabalho no campo. O gosto pela arte de produzir alimentos.<br />
E de alguma forma contradizer algumas afirmações que costumava ouvir como por exemplo: essa terra não dá nada e<br />
isso é trabalho de homem. E ela afirma que sempre reage a isso com a seguinte reflexão:<br />
Canteiro econômico<br />
Biodigestor<br />
Morada e acolhida<br />
Área produtiva<br />
“Pra terra dá é preciso plantar e cuidar. E o trabalho é de quem tem<br />
coragem de fazer, e eu tenho. Não tenho inveja de nenhum homem. Hoje<br />
eu sou o homem e a mulher da minha casa”.<br />
POÇO REDONDO/ SE<br />
DONA JOSEFA, AGROECOLOGIA<br />
E PROTAGONISMO FEMININO.<br />
Dona <strong>Josefa</strong> tem 51 anos e reside no povoado sítio<br />
Vila Nova, também conhecido como <strong>Sítio</strong> <strong>Óleo</strong>, em<br />
Poço Redondo, Sergipe. Localizado na Rodovia<br />
SE200, “Rota do Sertão". Em 1976, aos 11 anos, ela<br />
migrou de Palmeiras dos Índios, em Alagoas, para<br />
Sergipe onde foi morar com o irmão mais velho. Aos<br />
17 anos casou-se e teve oito filhos, sendo cinco<br />
mulheres e três homens. O primeiro filho nasceu em<br />
1984, quando ela tinha 19 anos.<br />
Dona <strong>Josefa</strong> desde sempre tem cultivos<br />
diversificados e mantém a tradição de guardar,<br />
preservar e multiplicar suas sementes. Há 20 anos,<br />
ela iniciou o trabalho com as hortaliças, e a 16<br />
comercializa em feiras locais. As sementes usadas<br />
no quintal são dela mesma. Ela produz uma<br />
variedade de hortaliças como couve, alface, coentro,<br />
rúcula, salsa, cebolinha, pimentão, pimenta de<br />
cheiro, tomate, cenoura, quiabo, beringela. Também<br />
produz frutíferas como mamão, banana, seriguela,<br />
graviola, pinha, amora, acerola, goiaba e noni. Um<br />
dos experimentos no quintal é o plantio de abacaxi, uma fruta atípica na região, mas que vem se adaptando as<br />
condições locais. Por enquanto, o abacaxi é usado para consumo próprio.<br />
Ela é uma agricultora que sempre se preocupou com práticas e técnicas agroecológicas. Essa consciência foi<br />
repassada pelo seu pai, que também é agricultor e nunca usou veneno. Embora ela tenha essa consciência, Dona<br />
<strong>Josefa</strong> produziu durante 13 anos com uso de veneno por insistência do ex-marido. Após a separação, ela passou a<br />
ter autonomia para plantar da forma como sempre quis e aprendeu com o pai. “Há sete anos eu planto do meu<br />
jeito”.<br />
A área total é de quatro tarefas dividida entre produção agrícola e animal, criação de galinhas e boi. Em relação a<br />
bovinocultura o objetivo é produção de leite que é vendido diretamente para uma fabriqueta de queijo no povoado<br />
vizinho, Lagoa Redonda, Porto da Folha.
Plantio de abacaxi<br />
Dona <strong>Josefa</strong> possui sua DAP (Declaração de Aptidão) ao PRONAF e isso tem garantido o acesso ao Agro<br />
Amigo, para ampliar o seu plantel bovino e o Seguro SAFRA. No entanto ela desconhece a linha do<br />
PRONAF mulher e por isso nunca acessou o mesmo.<br />
Dona <strong>Josefa</strong> conta que faz o manejo do solo incorporando matéria orgânica, adubação com esterco<br />
bovino, cobertura com restos de cultura e rotação de culturas. Há seis meses, também incorporou o uso<br />
do biofertilizante a partir da chegada do biodigestor. Além do manejo, ela utiliza técnicas de<br />
sombreamento de culturas que ocorre de três formas: com malha, palha de aricuri e árvores frutíferas do<br />
próprio agrossistema.<br />
Nesse processo de transição agroecológica, ela vem adotando o uso de defensivos naturais como a urina,<br />
que é rica em nitrogênio e nutre a planta e repele as pragas. Outros tipos de defensivos que ela utiliza são a<br />
pimenta malagueta e extrato de coentro. Para enfrentar o problema da lagarta na cultura da couve, uma<br />
questão comum no período de seca, ela faz o controle manual catando as lagartas ou matando na própria<br />
folha.<br />
Embora a comunidade de Dona <strong>Josefa</strong> esteja localizada em uma área de micro clima, que possui<br />
características e condições um pouco diferenciada no tipo de solo e clima mais úmido, se comparado com<br />
outras áreas semiáridas o que por si só já colabora para um melhor resultado na produção. Em relação a<br />
pouca disponibilidade de água para produção ela se assemelha aos demais camponeses. Nesse sentido,<br />
ela relata que a chegada do P1+2 em sua propriedade em 2013 tem feito uma diferença tremenda na sua<br />
produção, na ampliação e manutenção dos cultivos, já que a cisterna-calçadão ampliou muito a sua<br />
capacidade de armazenamento. Antes ela possuía um pequeno reservatório com capacidade mínima de<br />
armazenamento em torno de 5 mil litros.<br />
Antes da chegada da cisterna-calçadão, quando chegava o verão havia grandes perdas de produção, pois<br />
não tinha como fazer a aguação. Mas com a nova tecnologia, mesmo com o período de estio prolongado<br />
como o atual, ela não perde produção. E afirma feliz: “ nunca mais eu perdi nada”.<br />
Contudo ela afirma que tem um sonho de ampliar a sua capacidade hídrica com a perfuração de um<br />
poço profundo na propriedade.<br />
O jeito de produzir de Dona <strong>Josefa</strong> possui aspectos bem interessante no que diz respeito ao modo de<br />
produzir, suas técnicas e manejos, mas também pela interação familiar com os filhos e netos que<br />
revela uma profunda preocupação com a continuidade do trabalho no campo. Tudo que é realizado no<br />
sistema é fruto de uma combinação prévia entre todos, onde há uma divisão de tarefas. Nessa divisão<br />
ela assume papel determinante no modo de produzir. Aos filhos e netos cabem os trabalhos como:<br />
feitura de canteiros, aguação, adubação, colheita e armazenamento de sementes e apoio à<br />
comercialização, porém o plantio é tarefa dela, pois não abre mão de seu jeito de plantar. “ Eles vão<br />
crescendo nisso e não precisa ir pra cidade procurar trabalho. Meus netos já ficam aqui e dizem, vovó<br />
eu quero ajudar. E aí eles já mexem com rastelo e tudo.”<br />
As sementes crioulas é outra tradição que ela relata com paixão. Com uma variedade de sementes de<br />
feijão, fava, milho e hortaliças ela possui uma extrema liberdade na hora de plantar e o que plantar.<br />
Além de torná-la referência de guardiã de semente boa na comunidade.<br />
Algumas variedades como o milho mestiço, bom para palhada e produção de sementes, já estão com ela<br />
há 30 anos. Entre os feijões variedades como o feijão cachinho, ramador sempre verde, cabeçudo,<br />
ligeirinho, fava coquinho e hortaliças integram o estoque familiar.<br />
Sua técnica de armazenamento é simples e de domínio de boa parte dos camponeses: tambores com<br />
pimenta e garrafa pet bem lacrada. Sendo que as garrafas pet são utilizadas apenas para o<br />
armazenamento de feijão e fava.<br />
Entre as técnicas populares utilizadas ela conta que as fases da lua são consideradas na sua prática<br />
também. Ou seja, a lua precisa está no escuro na hora de guardar as sementes. Em relação às hortaliças ela<br />
conta que o seu armazenamento é feito na geladeira. Essa técnica tem garantido a fertilidade da semente<br />
até 2 anos.<br />
Além de garantir a soberania e segurança alimentar da família, os alimentos cultivados no quintal geram<br />
renda pra Dona <strong>Josefa</strong> e sua família. É da venda dos produtos da roça que ela conquistou sua própria casa,<br />
ampliou a área de produção com a compra de um outro terreno e paga todas as suas despesas. A renda é<br />
complementada com o Bolsa Família e o Garantia Safra.<br />
Cisterna calçadão