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A terra foi ampliada, com a compra de mais dez tarefas e além da Cisterna da primeira água, existem outras<br />
tecnologias que ele conseguiu através da ASA, como a Cisterna Calçadão e o Barreiro Trincheira. Ele construiu com a<br />
renda de sua roça, outra cisterna de 16 mil litros para ampliar sua estocagem de água.Ao participar do VIII<br />
ENCONASA, na Cidade de Januária-MG em 2012, seu <strong>Carlinhos</strong> descobriu que em alguns estados do Semiárido as<br />
sementes crioulas passaram por um ritual de batismo, e isso o motivou para ao voltar para Sergipe, provocar dentro<br />
da Coordenação Estadual da ASA a importância da semente ser batizada no estado. Ele é guardião de uma grandiosa<br />
variedade de sementes, que armazena numa pequena casinha ao lado de sua casa dentro do Sítio. Com esse empenho<br />
todo em batizá-las, Liberdade foi o nome que seu <strong>Carlinhos</strong> propôs para as sementes, que logo ganhou simpatia de<br />
todo o estado, e assim as sementes crioulas fora batizadas de Sementes da Liberdade.<br />
Com essa bela história de convivência com o semiárido e manejo da Caatinga, seu <strong>Carlinhos</strong> nos deixa lições<br />
importantes sobre esperança, persistência e respeito para com a Mãe Terra. Ele conta que nunca aprendeu a ler e a<br />
escrever, no entanto é um verdadeiro cientista da terra. Ele orienta que cada agricultor e agricultora precisa<br />
conservar ou plantar, no mínimo, três árvores por tarefa na pastagem. Cerca de 70% da sua propriedade é composta<br />
por mata.<br />
MONTE ALEGRE DE SERGIPE/SE<br />
A HISTÓRIA DO GUARDIÃO DA<br />
CAATINGA<br />
A comunidade Lagoa das Areias distancia-se 37 quilômetros da sede do Município de Monte Alegre de Sergipe, no<br />
território Alto Sertão Sergipano. Foi nessa comunidade que há 22 anos chegou Carlos Soares de Menezes (<strong>Seu</strong><br />
<strong>Carlinhos</strong>), ou o “caipira”, pois é assim que é conhecido na região e como ele se identifica nos diversos encontros que<br />
participa.<br />
Aos 62 anos de idade, nasceu na comunidade Augustinho, município de Nossa Senhora da Glória e “criado nesse<br />
mundão de Deus”, <strong>Seu</strong> <strong>Carlinhos</strong> foi para Lagoa das Areias, movido pelo sonho de ter seu pedaço de chão. Comprou<br />
naquele ano uma terra com 71 tarefas. Casado com Dona Maria, tiveram juntos oito filhos, mas a família se dividiu no<br />
momento de ir para a terra.<br />
Ninho de Pássaro na Área Caatinga<br />
“Meu avó disse<br />
que a gente tem que cercar um tampo de terra<br />
e ir plantando devagarzinho,<br />
para viver é assim,<br />
tem que deixar a vida no meio”.<br />
Cerca de Facheiro na área Capoeira
“Veio primeiro eu e os cinco mais novos,Clecinha, Vaninha, Nadinha, Josée Ninho. Dona Maria disse que<br />
não vinha para aqui, ai os mais velhos disse que só vinham se ela viesse..” “Ela não queria vim para os<br />
matos, o negócio dela era querer morar na cidade. As coisas foi sendo construída aos pouquinhos, depois<br />
de dois meses de eu aqui minha esposa veio e trouxe os outros filhos”.<br />
Com a coragem de construir uma nova vida, morou num pequeno barraco e só depois de alguns anos,<br />
conseguiu construir uma casa dentro da comunidade.<br />
<strong>Seu</strong> <strong>Carlinhos</strong> nunca usou veneno na sua terra, e conta que construiu essa consciência em cuidar dela<br />
depois que se aproximou da ASA.Ele conta que foi a partir dessa aproximação que despertou nele uma<br />
nova maneira de ver a convivência com o semiárido e a relação com a natureza e a “Mãe Terra”. No ano de<br />
1999, o Centro Dom José Brandão de Castro procurou o seu <strong>Carlinhos</strong> para participar da 1ª capacitação<br />
sobre a técnica de construção da cisterna, na cidade de Delmiro Gouveia (AL). A 2ª capacitação com o<br />
mesmo tema foi na cidade de Caruaru (PE), facilitada pela ONGDiaconia. Em 2000 participou de um<br />
curso de formação em convivência com o semiárido na cidade de Juazeiro (BA), facilitado pelo IRPAA.<br />
Nessa época, só existia o recurso para construção das cisternas de placas e acompanhamento técnico,<br />
pois a mão de obra era a contrapartida da família. Tornou-se presidente da Associação dos<br />
Trabalhadores Rurais de Lagoa das Areias onde atuou durante oito anos pelo desenvolvimento da<br />
comunidade. “Foi muito difícil” conta seu <strong>Carlinhos</strong>, “pois era preciso mobilizar 20 famílias para<br />
receberem as cisternas, porém as pessoas não aceitavam a contrapartida”. Segundo <strong>Seu</strong> <strong>Carlinhos</strong>, só<br />
depois dos bons resultados é que muitas famílias começaram a despertar e a se somar para realizar o<br />
projeto.<br />
<strong>Seu</strong> <strong>Carlinhos</strong> é um guardião da biodiversidade no seu pedaço de chão. A Caatinga, Bioma genuinamente<br />
brasileiro que está inserida no clima semiárido e com grandes índices de desertificação, ocupa o lugar do<br />
t e r c e i r o b i o m a m a i s d e g r a d a d o n o B r a s i l ( d i s p o n í v e l e m :<br />
http://http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/bioma_caatinga/arvore/CONT000glz1ehqv02<br />
wx5ok0f7mv200nvg0xn.html, acessado em 05 de Abril de 2016). O manejo sustentável desse biomaé<br />
condição necessária para a sobrevivência da vida humana, animal e vegetal no semiárido. Há muito<br />
tempo seu <strong>Carlinhos</strong> adotou essa consciência de lidar com a natureza de forma respeitosa e harmoniosa,<br />
e foi desse despertar que nasceu sua experiência com o manejo sustentável da caatinga. Sua propriedade<br />
possui quatro divisões: Capoeira, Área do Manejo ou Caatinga, Abelhas e Barra de Ouro (Roçado e<br />
Barreiro Trincheiro)<br />
A Capoeira é uma área de quatro tarefas que começou a ser cultivada em 2009, antes disso não havia<br />
nenhuma planta nativa. <strong>Seu</strong> <strong>Carlinhos</strong> foi manejando o local e algumas espécies foram nascendo e outras<br />
ele plantou. Foram cultivados quarenta e seis pés de umbuzeiros para reflorestar e também para<br />
valorizar e afirmar essa árvore como símbolo do Sertão. Na Capoeira, existe uma variedade de plantas<br />
nativas, que têm diversas utilidades que vão desde finalidades medicinais tanto para os humanos quanto<br />
para os animais, até a produção de forragem para as criações, temperos para a culinária, e cerca viva.<br />
“A natureza é difícil de fazer, mas de destruir é fácil”. É com essa afirmação que <strong>Seu</strong> <strong>Carlinhos</strong> mostra com<br />
maior orgulho o cantinho da sua propriedade que costuma chama-lo de Caatinga, um lugar que ele conta<br />
que nada foi plantado ao chegar a terra, que já encontrou e simplesmente se tornou um guardião. Esse<br />
lugar apresenta uma valiosa quantidade de árvores que já existem há muitas décadas, inclusive algumas<br />
são centenárias. Vale destacar o pé de Umbuzeiro com 130 anos, o Facheiro com 90 anos e a Braúna com<br />
120 anos. Esse conhecimento em saber a idade das plantas veio da convivência com sua bisavó “Mãe<br />
Zefa”. <strong>Seu</strong> <strong>Carlinhos</strong> faz questão de fazer o visitante sentira diferença da temperatura entre a área do<br />
manejo e a parte descoberta, para demostrar a importância de preservar a mata. Outro destaque é para<br />
harmonia das aves que ali habitam ou buscam pouso, e que contribuem para o reflorestamento. A lindeza<br />
em ver diversos pássaros tirando de dentro da Caatinga seus alimentos, fazendo seus ninhos e ecoando<br />
seu canto que encanta os olhos e ouvidos de qualquer visitante.<br />
Quem pensa que na mata não é possível obter renda com o cultivo sustentável, está enganado. Pois seu<br />
<strong>Carlinhos</strong> mostra que é possível sim. Na parte do seu terreno, que ele chama de lugar das Abelhas, existe<br />
uma quantidade de aproximadamente 22 caixas de criatórios para a produção de mel que ele vende na<br />
feira e nos eventos que participa. Essa é a parte cercada que as outras criações não entram, somente<br />
animais silvestres. Um verdadeiro santuário fechado da natureza onde o silêncio só é quebrado com o<br />
canto dos pássaros. Mas como nem tudo na vida são flores, uma preocupação assombra a cabeça desse<br />
guardião, pois ele conta que “as abelhas estão se acabando, e se se acabarem a vida se acaba”. E já sente os<br />
impactos disso ao dizer que “tem ano que já tirei 600 quilos de mel e ano que não tirei nenhum, e isso tem<br />
um culpado, que é o veneno”.<br />
A parte do Barreiro é a área reservada para a produção de alimentos, criação de pequenos animais,<br />
hortas e tantas outras culturas. Essa produção ele usa no consumo da casa, faz doações e também<br />
comercializa. Também faz o cultivo da palma que serve de forragem para os animais. <strong>Seu</strong> <strong>Carlinhos</strong> cria<br />
três vacas de leite, um reprodutor, cinco ovelhas e um bode reprodutor, cria aves, e porcos. Ele<br />
desenvolveu um sal mineral para tratar da saúde dos animais, feito com a seguinte composição: babosa,<br />
alho, vage de pau ferro, vage de catingueira, girassol e vage de moringueira.No período da estiagem, ele<br />
utiliza a catingueira para soltar seus animais, já que as plantas oferecem uma boa alimentação para os<br />
animais.<br />
Barreiro Trincheira