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Seu Humberto _ Boletim_A4_4páginas_ENAE_Asa (1)

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Veja bem, vou dizer uma coisa, nesse tempo de assentado, consegui uma das minhas maiores conquistas na vida, que<br />

foi deixar de trabalhar para o latifúndio e trabalhar para mim mesmo e tirar o meu sustento e da minha família, com o<br />

fruto do meu trabalho na minha terra. Outra coisa, o conhecimento! O conhecimento esse não se perde, vamos levar<br />

para o resto da vida, graças o aprendizado, a organização e luta do movimento. A gente conseguiu além da terra,<br />

conseguimos educação, formação, qualificação profissional e trabalho, foram conquistas para as famílias.<br />

GARARU<br />

A criação e alimentação animal<br />

no lote de <strong>Seu</strong> <strong>Humberto</strong><br />

No município ribeirinho do nosso Rio São Francisco, de nome Gararu, está o assentamento Cachoeirinha, onde mora<br />

o agricultor <strong>Humberto</strong> Vieira, beneficiado e lutador da reforma agrária pelo Movimento dos Trabalhadores Sem<br />

Terra (MST). Pai de quatro filhos e filhas, desenvolvem em sua propriedade com cerca de 23 hectares, os trabalhos de<br />

criação e melhoramento genético de ovinos e bovinos e alimentação proteica melhorada.<br />

Diz-nos, o agricultor – Sou <strong>Humberto</strong> Vieira, natural do povoado Riacho Grande, da cidade aqui vizinha chamada<br />

Nossa Senhora da Glória. Sou agricultor e desde menino trabalho com as coisas do campo, com plantação e gado.<br />

Tenho quatro filhos e filhas de nomes Galdênia, Graciene, Graziele e Breno Alberto. O Breno e a Graziele ainda mora e<br />

trabalha aqui comigo. Durante muito tempo trabalhei e dependia dos latifundiários da região para ter o sustento meu<br />

e da família. De uns anos para cá tudo mudou, hoje consigo todo meu sustento daqui do meu lote de 75 tarefas.<br />

Foi no ano de 1995, que minha vida começou a ter outro rumo. Foi quando entrei no Movimento dos Trabalhadores<br />

Sem Terra (MST) e estou até hoje. Mesmo sendo assentado continuo fazendo parte do movimento, onde contribuo na<br />

organização e na luta, junto do coletivo de produção do regional do MST alto sertão, na consciência de ajudar quem<br />

ainda está de baixo da lona e não tem seu pedaço de chão para trabalhar. Fui uma pessoa durante muito tempo sem<br />

condições de adquirir terra e animais para trabalhar, passei durante muito tempo trabalhando de vaqueiro nas<br />

fazendas de um latifundiário. No ano de 2000, depois de cinco anos de acampado, minha família e mais 97 famílias<br />

foram contempladas pelo movimento. Fomos assentados a gente aqui no assentamento Cachoeirinha, no total de 98<br />

famílias.<br />

Área de Produção de Forragem Animal<br />

Ovino Reprodutor


No início, muitos dos trabalhos e projetos desenvolvidos nas famílias assentadas eram semelhantes<br />

relacionados a tipo e tamanho, mas é fato que <strong>Seu</strong> <strong>Humberto</strong> devido ao seu espírito de liderança, seu<br />

conhecimento adquirido e desejo de aprender mais, a manutenção mesmo pouca do que foi conquistado<br />

e no seu acreditar na convivência no Semiárido, se tornou uma referência de liderança e exemplo de<br />

agricultor e criador diferenciado, no assentamento, no movimento e na região.<br />

No início do ano 2000, a gente recebeu a emissão de posse da terra, pouco tempo depois foi feito a divisão<br />

dos lotes. Algum tempo depois no meu lote, eu e meus filhos começamos a trabalhar no lote, fazendo a<br />

cerca e brocando (desmatando) algumas parcelas para pasto e cultivo. Depois plantamos capim e palmas,<br />

isso com a intenção de primeiro preparar o lote antes de iniciar a criação, fazendo a estruturação do<br />

necessário para criar, para depois ver como adquirir os animais para criação. Daí você tem uma chance<br />

grande de seu criatório dar resultado, foi assim que aprendi durante os anos que trabalhei na fazenda do<br />

doutor. Durante alguns anos fiquei em duas frentes de trabalho, na fazenda do latifundiário e no meu lote.<br />

Depois de quase cinco anos de assentado e de período de seca na região no final do ano de 2004,<br />

conseguimos dar um mínimo de estruturação no lote para iniciar o meu criatório de ovelhas. Naquele<br />

tempo nos criávamos umas três vaquinhas, mais o meu desejo era criar animais de pequeno porte, é a<br />

criação adequada para o pequeno produtor no Semiárido, porque é menos gastos para cuidar e gera<br />

maior renda na hora de comercializar, isso comparando os gasto e o tempo de lida entre o gado e a ovelha,<br />

do nascimento a fase adulta.<br />

Iniciei com um “casal” de ovelhas, doado pelo meu patrão. Comecei com ovelhas, foi quando no ano de<br />

2004 fomos beneficiados com o surgimento de projetos para famílias assentadas da reforma agrária. O<br />

primeiro foi financiado pela Petrobras e gerido pelo PDHC (Projeto Dom Helder Câmara) em parceria<br />

com a SASAC (Sociedade de Apoio Ambientalista e Cultural) e que durou muitos anos. Também teve pela<br />

PRONESE (Empresa Sergipana de Desenvolvimento do Estado de Sergipe) e o INSA (Instituto Nacional<br />

do Semiárido), SEBRAE, todos esses com o objetivo de melhorar o desenvolvimento agrícola das famílias.<br />

Foi então que das realizações desses projetos começamos a desenvolver nosso assentamento. Logo<br />

fundamos nossa associação, onde fiz parte da direção durante muito tempo. E a nossa organização em<br />

associação veio a facilitar nas conquistas de mais projetos, que colaboraram bastante na estruturação<br />

com tecnologias, técnicas agrícolas e plantio nos lotes.<br />

Criação de Bovinos<br />

Criação de Ovinos<br />

Falando de mim, do meu lote, porque o que veio pros outros, veio para mim. Eu sou uns dos poucos que<br />

mantem ainda hoje grande parte dos benefícios conquistados pelos projetos. No meu lote eu trabalho de<br />

forma diferenciada nos criatórios de ovelhas para reprodução e corte, vacas leiteiras e alimentação<br />

proteica melhorada. Isso devido aos aprendizados adquiridos por mim, alguns filhos e companheiros<br />

quando participamos dos cursos de cultivos de plantas forrageiras, melhoramento genético dos animais,<br />

inseminação artificial, conservação e beneficiamento de leite de gado, conservação do solo, manejo da<br />

caatinga, e também nas trocas de conhecimento com outros agricultores e técnicos, nos intercâmbios em<br />

outros municípios e até em outros estados, e nos momentos que sou visitado. Pois então, eu já tinha<br />

alguns animais e um pouco de ração e água no lote, foi então quando executando os projetos, os técnicos<br />

em combinação com a gente, planejaram seguir uma ordem de implementação agrícola. Primeiro foi<br />

produzir uma alimentação proteica melhorada, junto com a captação e armazenamento de água. Nos dois<br />

anos seguintes trabalhamos no melhoramento genético e qualidade na produção e armazenamento do<br />

leite de gado. Veja bem, além dos cursos que fizemos, tivemos beneficiamento com plantio de Gliricidia,<br />

palma, sorgo, milho, hortas e pomares. O plantio inicialmente de forma experimental, em espaço coletivo,<br />

depois definitivo nos lotes das famílias, e estruturas com máquinas forrageiras, silos com capacidade de<br />

armazenamento de 1200 kg de ração proteica, estrutura PAIS (Produção Agroecológica Integradas<br />

Sustentável) e para o coletivo dez botijões de sêmen, cada um com 50 doses, dez tanques de resfriamento<br />

para as comunidades, ficando três para a Cachoeirinha, servindo para a conservação do leite com<br />

capacidade de 1000 litros cada.

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