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“Desejamos que a juventude acorde e cresça essa história. Já temos o espaço, a técnica, a linha de atuação, convicção do<br />

papel da nossa arte. Precisamos de mais jovens criativos, conscientes na sociedade, respirando vida, sonho, cuidando<br />

da sua cultura e não a cultura de massa que coisifica tudo e todos. Entre os desafios está o de inserir ainda mais os pais<br />

nos processos, muitos jovens tem dificuldade de se mantar no grupo pela visão dos pais. Uma vez que os jovens<br />

chegam ao teatro temos responsabilidades coletivas compartilhadas”.<br />

Com 15 anos de estrada, os sonhos não mudaram, a essência do grupo continua a mesma, e seguem com a<br />

esperança que os ajuda na superação dos desafios cotidianos. Atualmente, no Raízes, considerando todos os seus<br />

trabalhos, a média 180 pessoas envolvidas, entre crianças, adolescentes, jovens, adultos. “O horizonte de<br />

transformação é o grande norteador da nossa caminhada. Estamos fazendo<br />

história, como muitos fazendo o que será, firmes no solo fértil da arte. Alguns<br />

mudaram de tempo-espaço visto suas vidas, contudo o olhar crítico é o mesmo,<br />

seguimos”. Jaqueline Araújo ,Maria Clara,Crislaine Santos,Marcela dos Santos (Atrizes do Teatro Raízes<br />

Nordestinas).<br />

A arte que produzimos<br />

Não está no palco parada<br />

Esta na terra plantada<br />

Brotando convicção<br />

Envolvendo uma geração<br />

No movimento da história<br />

No resgate da memoria<br />

A cultura vem na guia<br />

Canta, dança rebeldia<br />

Na luta rumo à vitória.<br />

Nossa cultura vem da roça<br />

Teatro, poema, canção<br />

Cheiro de transformação<br />

No sonho de liberdade<br />

Do campo e da cidade<br />

Juventude faz a frente<br />

Organiza bem diferente<br />

O Raízes Nordestinas<br />

No passo desfaz as sinas<br />

O povo mais consciente.<br />

Rafaela Alves<br />

Jovens participam de oficina e de atividades formativas aliando<br />

cultura, arte e convivência com o Semiárido. Foto: ACRANE<br />

RAIZES NORDESTINA NA ARTE<br />

DA RESISTÊNCIA CAMPONESA<br />

“...Há sempre um mundo inacabado pra gente<br />

construir...” Emicida<br />

“Para nós, o Teatro é uma ferramenta pedagógica,<br />

forma de conscientizar pessoas”. (Jaqueline Araújo -<br />

Uma das Fundadoras do Teatro Raízes Nordestinas).<br />

O Grupo Raízes mostra sua experiência concreta, a<br />

arte e a ligação direta com a emancipação, com a<br />

formação da consciência crítica de um povo.<br />

Dada sua criação em meados do ano de 2001, o Grupo<br />

de Teatro Raízes Nordestinas reunia quarenta<br />

meninos e meninas de povoados de Maranduba e<br />

Queimadas em Poço Redondo/SE”As inquietações os<br />

possibilitava visão críticas da realidade,<br />

preocupações com questões ligadas ao semiárido<br />

nordestino e a cultura do seu povo.<br />

Logo no inicio o grupo era conhecido como<br />

“Juventude União Base da Confraternização – JUBC”,<br />

mais tarde como Grupo de Teatro Raízes Nordestinas.<br />

Em 2005, funda a ACRANE - Associação Cultural<br />

Raízes Nordestinas, com o objetivo de criar condições<br />

também jurídicas para possibilitar ampliação do seu<br />

POÇO REDONDO<br />

trabalho, sua atuação, sobretudo na região do Alto<br />

Sertão Sergipano, onde seus sonhos ganham forma.<br />

As peças iniciais traziam temas gerais como o<br />

alcoolismo e suas consequências por exemplo. Mas<br />

logo-logo avançaria para temática que refletem a<br />

realidade camponesa com a peça “A cabra e o<br />

consórcio do bode”, que refletia a história da<br />

Associação Sertaneja de Caprinocultura de Nossa<br />

Senhora da Glória, contando as vantagens da criação<br />

de cabras no sertão, devido seu porte pequeno,<br />

alimentação mais simples, boa produção de leite e<br />

seus derivados. Nesse contexto demonstravam<br />

também que a alternativa de ir embora do sertão na<br />

esperança de uma melhor condição de vida na cidade<br />

grande, não poderia ser viável, ou a única solução para<br />

enfrentar os desafios na região.<br />

A cada passo uma nova experiência. Assim, a ação<br />

coletiva do grupo conduzira muitas peças e esquetes<br />

com diversos temas, com entradas e saídas constante<br />

de atores e atrizes, mirins e jovens. Dentre as centenas<br />

de peças produzidas, destacam-se clássicos da<br />

dramaturgia brasileira e internacional além das<br />

próprias criações, indo desde “A Megera Domada” do<br />

grande Shakespeare, “Os Corumbas”, de Amando<br />

Fontes, “A Água Dividida”, uma adaptação da obra “A<br />

Exceção e a Regra”, de Bertolt Brecht, até “A Ida ao<br />

Juazeiro”, como produção conjunta do grupo.<br />

Sendo um dos poucos grupos de teatro do interior,<br />

sofriam com discriminação por parte de outros<br />

grupos da capital aracajuana, mesmo assim o grupo<br />

ganhava olhares e amizades dos grandes atores,


A inserção do MPA no Raízes Nordestinas, auxiliou na intensificação da organização, formação política<br />

dos sujeitos do grupo, fortalecendo a compreensão da arte enquanto ferramenta da luta camponesa. Hoje<br />

o grupo é parte orgânica do MPA, encontrasse intensamente inserido nos processos de luta.<br />

“O MPA nos pauta, nos insere, qualifica nossa estratégia, o nosso “ser ator” e o “ator político.” (Jaqueline<br />

Araújo)dramaturgos, escritores de Sergipe, dentre os quais a Virginia da Fonseca, Isaac Galvão, Luiz<br />

Carlos Reis e Raimundo Venâncio que se dispuseram e se somaram ao Raízes para realizar longas<br />

jornadas de trabalhos que resultaram sempre em expressivas produções.<br />

À medida que o tempo passa, novos adolescentes e jovens aderem ao grupo, o que possibilita uma<br />

dinâmica interessante de sua construção, no trabalho com as gerações e com a população. Alguns atores<br />

\ atrizes, mais antigos em participação, com o tempo foram se afastando do grupo pelas questões da vida,<br />

da “sobrevivência”. O grupo hoje tem media de 30 integrantes do campo e da cidade.<br />

Entre tantos elementos que devemos destacar do grupo, está a disciplina com o trabalho, o compromisso<br />

e o esforço coletivo que sempre foi algo bonito no grupo. Os recursos de cachê, campanhas de<br />

contribuições foram sendo juntados para materializar o desejo de ter o próprio espaço físico. Hoje o<br />

espaço é uma realidade: o Teatro Raízes Nordestinas, está localizado na Av. Poeta Alcino Alves Costa, em<br />

Poço Redondo, cabe media de 160 pessoas e se transformou em uma grande referência cultural para a<br />

população local, o Sertão e para todo estado.<br />

Hoje, o grande espetáculo em cartaz é “O Segredo do Poço Redondo”, peça que possibilitou unir as duas<br />

gerações do teatro para contracenarem juntas. O edital do SEMEAR, para apoiar iniciativas de<br />

convivência com o semiárido, foi quem possibilitou a produção e a circulação em localidades diferentes<br />

de Sergipe. O grande ritmo de atividades permanentes, se tornam possível pelo programa de formação,<br />

clareza organizativa, a consciência politica e voluntaria dos membros do grupo, assim todos tem tarefas e<br />

se agregam em equipes para cumpri-las no dia a dia. O processo permite a juventude aprender, ensinar e<br />

ser protagonista da construção.<br />

A história segue, e o Raízes segue com ela, lembrando que sua arte tem um berço histórico, que é, por<br />

exemplo, o legado do MCP - Movimento de Cultura Popular que aconteceu no Nordeste do Brasil, de Paulo<br />

Freire, de Augusto Boal, da a Agitação e Propaganda que nasceu na Rússia em 1917, entre outras<br />

experiências da juventude que organizada cumpriu com seu papel em vários momentos da história por<br />

conseguir dá significativas contribuições para os processos de transformação na América Latina. O<br />

Raízes Nordestinas segue a marcha, desejando que sua experiência sirva de referência para outros<br />

jovens, para seu povo.<br />

Agora, o grupo segue na busca por mais pessoas que queiram somar-se aos processos, e está<br />

prevendo a realização de um curso de multiplicadores de teatro para jovens das comunidades, com<br />

expectativa na realização da “II Semana do Teatro”, no mês de agosto, com a mostra teatral camponesa e<br />

uma programação bastante diversa.<br />

Peça a Ida pra Juazeiro<br />

seu sentido está marcado pelo protagonismo de jovens que batalham, resistem, conquistam e assim<br />

fazem nova a sua história. O projeto “Ponto de Cultura”, que o grupo também conquistou possibilitou o<br />

inicio da compra de matérias para equipar o espaço com cadeiras, mesas, computadores, ventiladores.<br />

O tempo avança, a esperança, os sonhos, as experiências também.<br />

Em 2009 o grupo construiu uma proposta junto ao Projeto Dom Helder Câmara para possibilitar a<br />

comunidades camponesas do Sertão um trabalho cultural, e assim movimentar-se, conseguir novos<br />

corações dispostos a teatralizar de forma critica a realidade, foi quando nasceu o projeto “Arte em<br />

Movimento”. A proposta era conhecer expressões culturais que existem nas comunidades, socializar suas<br />

produções, realizar debates, oficinas e cursos com diversas temáticas incentivando o processo<br />

organizativo local. O processo em cada comunidade tinha duração de 03 dias, e sempre era finalizando<br />

com uma noite cultural onde se apresentava o resultado das oficinas e grupos culturais. Desse modo<br />

deixavam sementinhas plantadas em cada localidade, incentivando a arte, a organização comunitária e<br />

surgindo o nascimento de grupos. Alguns fruto do trabalho, hoje podem ser encontrados por ai a fora,<br />

exemplo: em Gararu, o Grupo Oiteros e em Sítios Novos<br />

O<br />

Apresentação da peça “O Segredo de Poço Redondo”,<br />

na Praça Fausto Cardoso, Aracaju/SE.<br />

Apresentação de Esquete contra os Agrotóxicos na UFS,<br />

Campus São Cristóvão.<br />

A identidade camponesa é algo forte do grupo. Como várias organizações, o Raízes Nordestinas também<br />

chegou ao seu momento de crise interna. A clareza do caminhar que era tão óbvio ficou confusa, a<br />

coordenação tomada por incertezas, parecia que faltava clareza da estratégia, dos seus objetivos com a<br />

arte. Foi nesse momento que o MPA - Movimento dos Pequenos Agricultores, a partir da militante Maria<br />

Isabel se aproximou do grupo e contribuiu no aprofundamento das reflexões a respeito do papel da arte,<br />

da história do grupo, do campesinato. Casamento perfeito, ambos conversavam a mesma língua, só não<br />

se conheciam ainda.

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