09.07.2016 Views

1. CUIDA Revista da Ordem dos Enfermeiros

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ROE 52 Julho 2016<br />

4 PULSAÇÕES<br />

DE SORRISO NA ESTRADA<br />

A COMBATER A SOLIDÃO<br />

Já lá vai o tempo em que eram confundi<strong>dos</strong> com o padeiro. “Era preciso buzinar”,<br />

recor<strong>da</strong> Maria José Valente, a enfermeira que as gentes de Nisa transformaram em Zézinha.<br />

Hoje, no Interior envelhecido e desertificado, há um País que espera na berma <strong>da</strong> estra<strong>da</strong><br />

pela visita <strong>dos</strong> enfermeiros. Ângela diz, sem medo, que ama os i<strong>dos</strong>os com quem se cruza nas<br />

estra<strong>da</strong>s de Baião porque decidiu que queria viver assim: a cui<strong>da</strong>r de quem já tanto deu.<br />

com grande estima que Rosária Pires, de 71 anos,<br />

habitante de Pé <strong>da</strong> Serra, Nisa (Alentejo), fala de<br />

Maria José Valente, enfermeira <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de Móvel<br />

de Saúde (UMS). “Tive a minha mãe 12 anos na minha<br />

casa. Morreu com quase 99 anos. E a Zézinha ia sempre<br />

ver-lhe a tensão e a diabetes ou <strong>da</strong>r injecções. Sempre<br />

me disse que se a minha mãe chegasse a ficar acama<strong>da</strong><br />

também estava disponível para me aju<strong>da</strong>r”.<br />

“A Maria José é uma queri<strong>da</strong> na maneira como<br />

executa o trabalho e para nós é uma amiga. Não é a<br />

“senhora enfermeira”, é a Zézinha”. É desta forma que<br />

Maria Almei<strong>da</strong>, de 68 anos, reforça o carinho que to<strong>dos</strong><br />

sentem por quem deles cui<strong>da</strong> e os arranca às “malhas”<br />

<strong>da</strong> solidão. Para a ex-emigrante em Paris, a existência<br />

<strong>da</strong> UMS “é essencial principalmente para as pessoas<br />

que não têm meio de transporte. E se é algo bom temos<br />

que aproveitá-lo”.<br />

Já Maria Correia, de 72 anos, e<br />

José Pereira, com 79 anos, salientam<br />

o valor <strong>da</strong> acessibili<strong>da</strong>de.<br />

“Assim temos sempre consulta,<br />

o que nem sempre acontece no<br />

Centro de Saúde de Nisa”, acrescenta<br />

a nossa entrevista<strong>da</strong>.<br />

O reconhecimento e o afecto<br />

transmiti<strong>dos</strong> pelas populações<br />

foram factores que levaram a<br />

enfermeira a optar por este projecto.<br />

“Gosto muito do contacto<br />

com as pessoas e fico contente<br />

com a confiança que elas depositam<br />

em mim”. Mas no início, em<br />

2007, não foi fácil: “as pessoas<br />

não conheciam a iniciativa e por isso era preciso buzinar<br />

para as trazer até nós. Mesmo assim havia quem, pensando<br />

que éramos o padeiro, não saía de casa ou dizia<br />

que não precisava de pão”, recor<strong>da</strong> sorrindo.<br />

Uma vez quebrado o “gelo” inicial, tudo se modificou.<br />

Há até casos em que pessoas de umas locali<strong>da</strong>des vão a<br />

outra ter com a enfermeira. Nazaré Gomes, de 66 anos,<br />

corrobora: “Melhor é impossível. Ain<strong>da</strong> há dias me senti<br />

maldisposta e fiquei mais tranquila depois de falar com<br />

a Enf.ª Zézinha”.<br />

E se hoje há um grupo que frequenta a ginástica e a<br />

hidroginástica em Nisa, “isso foi porque nós os incentivámos”,<br />

salienta Maria José Valente. Da mesma forma,<br />

alguns casos de doentes cardíacos sujeitos a pacemaker<br />

foram primariamente identifica<strong>dos</strong> pela equipa de<br />

Enfermagem.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!