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Outubro 2016<br />
Edição 02<br />
aviacaoemercado.com.br<br />
GRAND CARAVAN EX O UTILITÁRIO, CONFIÁVEL E ECONÔMICO<br />
P<br />
JOUVELOT<br />
O
Editorial<br />
aviacaoemercado.com.br<br />
Presidente<br />
Vilso Ceroni<br />
Editora<br />
Cláudia Terra ( MTB 26254 )<br />
Web Design/Projeto Gráfico<br />
e Diagramação<br />
Bruno Hilário<br />
Colaboradores<br />
Jardel Leal<br />
Leonardo Dutra<br />
Magda Gomes<br />
Henrique Navarro<br />
Carlos Barbosa<br />
Elisandro Sousa<br />
Comercial e Marketing<br />
55 - 11 3467 6504<br />
vilso@a350.com.br<br />
Redes sociais<br />
Neste mês do aviador apresentamos, na revista Aviação &<br />
<strong>Mercado</strong>, uma homenagem muito bacana escrita por Elisandro<br />
Sousa, aviador apaixonado, em homenagem aos aviadores. Não<br />
poderíamos deixar passar em branco essa data tão importante<br />
para nós que amamos e trabalhos com a viação.<br />
Elaboramos uma matéria sobre o voo com o Grand Caravan EX,<br />
voltada para sua usabilidade e versatilidade, custos operacionais<br />
e suporte ao cliente.<br />
Na sequência, temos uma análise aprofundada, da primeira<br />
parte da trilogia sobre seguros aeronáuticos, em um conjunto<br />
composto com uma matéria sobre seguro RETA. Apresentamos<br />
os 3 erros comuns na contratação dos seguros, seguido por<br />
uma entrevista que inaugura a nova seção “ Com a palavra, o<br />
presidente”, que sempre irá entrevistar um presidente de<br />
empresa, que esteja ligado ao mercado aeroespacial. Nesta<br />
edição temos o presidente aviador Phelippe Jouvelot, que<br />
comanda a AXA Brasil. Teremos também uma entrevista com<br />
Tiago Longuini, da Patrimon Seguros, e uma análise jurídica<br />
sobre o mesmo tema, apresentada pelo Dr. Carlos Barbosa,<br />
especialista no assunto.<br />
A nossa editora Cláudia Terra apresenta uma matéria muito<br />
bacana aos apaixonados (as) pela aviação, que conta um pouco<br />
sobre o Stinson 108, um avião com muita história e raro no<br />
Brasil. E no qual tivemos uma experiência de voo durante o<br />
evento do Bonanza Clube, no Aeroporto São Joaquim da<br />
Barra-SP, no dia 03/09/16.<br />
Temos também um artigo do Leonardo Dutra, fundador do<br />
Clube Aeroboero, que mostra o descaso governamental e<br />
regulatório com essa aeronave e com o investimento público<br />
feito nessa aeronave.<br />
Na aviação experimental temos a participação de Jardel Leal,<br />
conhecedor da aviação experimental, que traz uma matéria<br />
sobre a luta de um empreendedor de Rondônia para construir<br />
uma indústria de aeronave experimental.<br />
E, para fechar essa edição, temos uma coluna sobre planadores,<br />
escrita por Henrique Navarro e a primeira parte da trilogia<br />
sobre Planadores, escrita por Cláudia Terra.<br />
Tenha a certeza que estamos construindo a Aviação & <strong>Mercado</strong><br />
como um canal de notícias relevante. Sempre com muito<br />
carinho e com assuntos variados para você leitor e empreendedor<br />
do mercado aeroespacial brasileiro.<br />
Vilso Ceroni<br />
Boa leitura e até a próxima!<br />
40 Aviação & <strong>Mercado</strong>
Cessna Grand Caravan EX8<br />
<br />
<br />
<br />
A <strong>Revista</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> foi convidada pela TAM Aviação Executiva para uma experiência<br />
de voo em um dos seus modelos distribuídos no Brasil, no Grand Caravan EX. Essa aeronave vem<br />
sendo fabricada há mais de 30 anos pela Cessna. O voo aconteceu às 10 hs do dia 03/09 no<br />
hangar da anfitriã, em Congonhas-SP.<br />
Fomos muito bem recebidos<br />
pelos simpáticos funcionários,<br />
na confortável<br />
sala Vip da TAM Aviação<br />
Executiva, onde nos serviram<br />
um saboroso café<br />
com leite e pães de queijos<br />
quentinhos. Nossa partida<br />
foi de Congonhas com<br />
destino ao SDJO (Aeroporto<br />
São Joaquim da Barra-SP).<br />
Fomos ao encontro<br />
anual do Clube Bonanza,<br />
para o qual fomos convidados<br />
pelo Sr Luiz Gustavo,<br />
presidente do Clube.<br />
Voamos com o Grand<br />
Caravan EX, de prefixo<br />
N269EX, um utilitário<br />
confiável e econômico.<br />
Hangar da TAM - Congonhas - SP<br />
Dividimos a experiência desse voo com Tiago Longuini,<br />
especialista em seguros aeronáuticos e proprietário da<br />
Patrimon Seguros, com Humberto Vinhais, Gerente<br />
Comercial da TAM Executiv e com o Comandante Hugo<br />
Schrickte responsável pelo voo, que teve duração uma<br />
hora e trinta minutos, aproximadamente.<br />
Sala VIP<br />
<br />
<br />
O projeto desta aeronave<br />
teve início na década de<br />
1980 para suprir uma<br />
necessidade do mercado<br />
para aviões utilitários e<br />
multifuncionais. Na época,<br />
havia espaço entre aviões<br />
muito grandes ou muito<br />
pequenos para fazer as<br />
funções que vinham a ser<br />
ocupadas pelo modelo<br />
que iniciava seu desenvolvimento.<br />
A primeira<br />
versão foi o Cessna Caravan<br />
(Cessna 208), que se<br />
tornou um dos aviões de<br />
grande sucesso no mundo<br />
e voou pela primeira vez<br />
em 1982, mas com lançamento<br />
comercial em 1984.<br />
Um dos fatores que ajudaram<br />
muito no desenvolvimento<br />
e no sucesso de<br />
vendas dessa aeronave foi<br />
a parceria entre a Cessna<br />
e a Fedex, que buscava<br />
uma aeronave leve e de<br />
baixo custo para ampliar<br />
sua cobertura de entrega<br />
nos Estados Unidos. Dessa<br />
parceria surgiu um pedido<br />
de compra, antes mesmo<br />
do projeto concluído,<br />
abrindo assim, caminho<br />
para novos interessados na<br />
aeronave. Com uma estrutura<br />
robusta e capacidade<br />
de pousar e decolar em<br />
pistas de terra. Com uma<br />
estrutura robusta e com a capacidade de pousar em<br />
pistas de terra, o Caravan se tornou um meio de transporte<br />
aéreo adequado para operar em regiões remotas,<br />
com pouco apoio. O modelo passou a ser utilizado em<br />
vários tipos situações como: no transporte de passageiros,<br />
cargas e uso militar.<br />
1981 – Projeto do Caravan<br />
1985 – Homologação e Primeira Entrega<br />
1990 – Homologação do Grand Caravan<br />
2008 – Mudança para G1000<br />
2013 – Upgrade para PT6A-140 = Grand Caravan EX<br />
O Grand Caravan, pode ser classificado como um<br />
utilitário que preza pela confiabilidade e economia,<br />
apesar de não ter beleza expressiva, ele se destaca<br />
pelo conforto. Desse modelo há variações mais e<br />
menos confortáveis, a escolha entre um e outro,<br />
dependerá da finalidade de uso.<br />
06 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 07
Cessna Grand Caravan EX8<br />
CARAVAN 675<br />
1 Piloto e 2 + 9 assentos para passageiros<br />
CARAVAN 675 ANFÍBIO<br />
1 Piloto e 2 + 9 assentos de passageiros<br />
<br />
O momento da partida e subida foi muito suave, bem tranquilo, precisando de aproximadamente<br />
400 metros de pista para sua decolagem. O Grand Caravan mostrou-se uma<br />
aeronave firme, que traz sensação de segurança, o mínimo que uma aeronave desse<br />
porte poderia oferecer.<br />
GRAND CARAVAN EX<br />
1 Piloto e 2 + 9 assentos de passageiros<br />
GRAND CARAVAN EX ANFÍBIO<br />
1 Piloto 2 + 9 assentos de passageiros<br />
SUPERCARGOMASTER EX<br />
1 Piloto 2 (CARGUEIRO)<br />
A maior parte do voo foi por instrumento, dando tranquilidade ao piloto Hugo e a nós<br />
passageiros. Voamos a uma velocidade de cruzeiro com media de 182 Ktas ( True airspeed ),<br />
a uma altitude de 10.000 pés. Durante o período do voo conseguimos falar sobre quase<br />
tudo da aeronave, como: sua versatilidade, tecnologias, custo de manutenção, seguros,<br />
operacional e mercado de revenda. Foi possível perceber que a aeronave praticamente não<br />
tem concorrência em sua categoria, pelos benefícios que ela oferece.<br />
Sala VIP<br />
<br />
<br />
A palavra de ordem<br />
aqui é: Confiável!<br />
Um verdadeiro gigante<br />
que se ajusta às configurações<br />
de acordo com a<br />
sua operação. Cumpre<br />
tudo o que promete. É<br />
bem espaçoso, é confortável<br />
e moderno, se<br />
comparado aos modelos<br />
anteriores. Decolagem<br />
curta e pouso suave com um toque especial do som do<br />
motor, que pouco incomoda na cabine não pressurizada,<br />
na verdade senti mais confiança ainda voando ao som do<br />
turbo-hélice. Um verdadeiro espetáculo dentro de seus<br />
limites. Visibilidade nota 10, com janelas grandes e poltronas<br />
bem posicionadas, deu até para fotografar a paisagem<br />
durante o voo. Apesar das condições do tempo, o<br />
avião se manteve estável e tivemos turbulências quase<br />
que imperceptíveis. Em fim, senti-me em casa, diante de<br />
tanta tecnologia e força! Tudo nele é robusto e muito<br />
funcional. Uma aeronave para o trabalho e para o lazer,<br />
ele adapta-se a tudo. É um excelente parceiro!<br />
10 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 11
ATENDIMENTO<br />
A empresa tem uma rede<br />
de atendimento e manutenção<br />
composta por<br />
20 pontos pelo país, com<br />
todas as oficinas<br />
homologadas pela ANAC.<br />
Além da própria TAM com<br />
seu centro de serviço<br />
autorizado Cessna, o<br />
maior do mundo, que<br />
representa um ponto<br />
muito forte sobre atendimento<br />
e no pós-venda<br />
das aeronaves.<br />
Custo operacional da aeronave<br />
É UM TURBOHÉLICE COM CUSTO OPERACIONAL<br />
MENOR QUE MUITOS PISTÕES:<br />
O que é Alta Disponibilidade?<br />
Valor de LABOR representa hora na manutenção por hora de voo:<br />
O que é Baixo Custo?<br />
Custo Operacional Direto (US$) por Assento disponível<br />
A pilotagem do<br />
Caravan, por ser uma<br />
aeronave CLASSE, ou<br />
seja, não precisa que o<br />
piloto tenha habilitação<br />
de piloto comercial para<br />
pilotá-lo, bastando para<br />
isso apenas ser PP (piloto<br />
privado). E isso define<br />
o perfil de muitos clientes<br />
que a compram para<br />
eles mesmos pilotarem.<br />
<br />
<br />
Os principais pontos chaves do avião<br />
é o novo motor em uso desde 2013,<br />
G1000 implantado em 2008 e o<br />
sistema FAST, desde 2013, também<br />
já habilitado aqui no Brasil.<br />
A Aeronave atende a três principais<br />
perfis de clientes: Governamental,<br />
para transporte de tropas e material<br />
logístico. Atualmente a FAB possui<br />
uma frota com 30 Caravan; Comercial,<br />
que é dividido nas categorias:<br />
taxis aéreos, linhas regionais,<br />
aerolevantamento e paraquedismo,<br />
esses representam o maior percentual<br />
da frota, com cerda de 30 operadores<br />
no total; Privado, em geral<br />
fazendeiros que já possuíram<br />
aeronaves como Barons e Senecas.<br />
<br />
<br />
<br />
Nesse setor o Caravan é um<br />
dos modelos de aeronaves<br />
que mais retém valor no<br />
mercado pós-venda. Com<br />
dez anos uso, tendo a sua<br />
manutenção em dia e boa<br />
conservação, a aeronave<br />
poderá ser vendida a um<br />
preço próximo ao pago na<br />
fábrica, há dez anos.<br />
<br />
<br />
O caravan é sem dúvida uma aeronave fantástica de se<br />
voar pela sua versatilidade, conforto e incrível capacidade<br />
de carga. Ela tornou-se um ícone na aviação mundial. O<br />
Caravan EX é a evolução! Ele já era bem performático, mas<br />
aumentou essa performance em até 20% na decolagem.<br />
Deu um salto na velocidade de cruzeiro, chegando facilmente<br />
a 185 ktas.<br />
O Pouso no evento do Clube<br />
Bonanza foi tranquilo, tanto quanto<br />
foi a decolagem em Congonhas.<br />
Podemos concluir quê, quem<br />
adquirir essa aeronave estará bem<br />
servido de equipamento, tanto pela<br />
aeronave em si, quanto pela empresa<br />
solida e responsável, que ainda<br />
segue os mandamentos de seu<br />
fundador Comandante Rolin Amaro.<br />
12 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 13<br />
Placa Mandamentos Rolin Amaro - Fundador da TAM
Foto de divulgação<br />
<br />
<br />
Carlos Barbosa é piloto de avião e advogado especialista<br />
em Direito Aeronáutico e Direito Internacional. Atuou<br />
como advogado de associações profissionais como a<br />
Associação Brasileira de Pilotos da Aviação Civil (ABRA-<br />
PAC), Associação dos Aeronautas da Gol Linhas Aéreas<br />
(ASAGOL) e do Sindicato Nacional dos Aeronautas<br />
(SNA). Atualmente é sócio do escritório Carlos Barbosa<br />
Advogados, é membro efetivo da Academia Brasileira de<br />
Direito Aeronáutico (ABDA) e da Comissão de Direito<br />
Aeronáutico da OAB/SP, além de colunista, palestrante e<br />
escritor sobre o assunto.<br />
<br />
E entre todos esses acidentes, se formos dividi-los por segmentos da aviação, surge uma<br />
estatística preocupante. A devastadora maioria deles ocorre no âmbito da aviação geral, do<br />
Serviço Aéreo Especializado (SAE), na modalidade agrícola e da instrução de voo.<br />
Conforme o gráfico a seguir, vemos nitidamente que estes três segmentos representam 77,8% do total de acidentes.<br />
Segmento da Aviação / Acidente<br />
Particular<br />
45,80%<br />
Instrução<br />
17,86%<br />
Agrícola<br />
14,16%<br />
Táxi Aéreo<br />
12,39%<br />
Especializada<br />
4,00%<br />
Administração Direta 2,46%<br />
Regular 1,46%<br />
*** 0,92%<br />
Múltipla 0,54%<br />
Administração Indireta 0,31%<br />
O mercado aéreo brasileiro<br />
consolidou se como o<br />
segundo maior mercado em<br />
aviação geral do mundo,<br />
mantendo-se atrás, apenas<br />
dos Estados Unidos. De<br />
acordo com dados da<br />
Associação Brasileira de<br />
Aviação Geral (Abag),<br />
mesmo com a recente queda<br />
de vendas de aeronaves, a<br />
frota da aviação geral<br />
brasileira cresceu 1,1% entre<br />
2014 e 2015, subindo de<br />
15.120 para 15.290 unidades,<br />
considerando jatos, helicópteros,<br />
entre outros.<br />
E, mesmo em um cenário<br />
onde o número de aeronaves<br />
em movimento só aumenta,<br />
paradoxalmente, houve uma<br />
significativa redução de<br />
acidentes aeronáuticos no<br />
país, de acordo com o Panorama<br />
Estatístico da<br />
Aviação Civil Brasileira, entre<br />
2006 a 2015, dados elaborados pelo Centro de Investigação e<br />
Prevenção de Acidentes Aeronáuticos - CENIPA.<br />
Os dados na figura a seguir mostram o quantitativo de<br />
acidentes ocorridos entre 2006 e 2015. Observa-se que neste<br />
período houve 1.294 acidentes, sendo que por ano, em média,<br />
ocorreram 130. Dessa totalidade, nota-se que o maior número<br />
de acidentes (185) aconteceu no ano de 2012 e o menor (71),<br />
em 2006. No ano passado o Brasil registrou exatamente a<br />
média entre o menor índice (2006) e o maior (2012), contabilizando<br />
126 acidentes.<br />
200<br />
150<br />
100<br />
50<br />
0<br />
71<br />
101<br />
Ocorrências Aeronáuticas / Acidente<br />
109<br />
114 115<br />
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013Foto 2014 de divulgação 2015<br />
161<br />
185<br />
165<br />
147<br />
126<br />
Histórica<br />
0,08%<br />
0% 10% 20% 30% 40% 50%<br />
Sabemos que 100% da segurança de voo significa avião no chão. Infelizmente ainda não<br />
conseguimos atingir um índice absoluto neste sentido. E mesmo com todos os esforços de<br />
todos os agentes envolvidos para elevar cada vez mais os níveis de segurança de voo,<br />
acidentes acontecem. É nesse cenário que surge a figura do Seguro Aeronáutico, que garante<br />
cobertura para os riscos do transporte aéreo, isto é, os danos causados, os reembolsos de<br />
despesas e as responsabilidades legais que o segurado venha a ser obrigado a pagar em<br />
virtude da utilização da aeronave.<br />
Essa proteção abrange riscos como os danos causados ao casco do avião (célula) e aos seus<br />
motores e equipamentos (aviônicos); os reembolsos de despesas de sinistros; as responsabilidades<br />
civis sobre passageiros, carga, tripulação, pessoas e bens no solo (terceiros) que o<br />
segurado venha a ser obrigado a pagar, em decorrência da utilização da aeronave segurada.<br />
16 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 17
Foto de divulgação<br />
A contratação desse tipo de seguro é feita, em regra, na modalidade “all risks” (todos os riscos).<br />
Ou seja, é assegurada a garantia total e ampla para todo e qualquer dano à aeronave, com<br />
exceção apenas àqueles decorrentes de riscos explicitamente excluídos na apólice.<br />
Uma dúvida muito comum é: todos os tipos de aeronaves são seguráveis? Sim, principalmente as<br />
aeronaves de asas fixas (jatos, turboélices e aviões convencionais, por exemplo) e asas rotativas<br />
(helicópteros e outros). Conceitualmente, aeronave é qualquer aparelho capaz de se sustentar e<br />
se conduzir no ar com objetivo de transportar pessoas e/ou coisas. Com isso, é plenamente<br />
possível a contratação de seguro aeronáutico para asas deltas e balões, por exemplo.<br />
O documento que contém as condições gerais e as condições especiais do seguro chama-se<br />
apólice. Nas condições gerais são inseridos os aspectos básicos do contrato, comuns para todas<br />
as coberturas (ex.: riscos excluídos em qualquer caso), bem como são firmados os direitos e<br />
obrigações das partes (ex.: vigência, prêmio, foro, prescrição etc). Já as condições especiais, por<br />
sua vez, trazem algumas garantias adicionais e outras obrigatórias, explicando as situações em<br />
que cada uma delas poderá ser acionada. São as condições especiais que trazem a previsão dos<br />
conhecidos “Aditivos A e B” e a cobertura “R.E.T.A. a 2° risco”.O Aditivo A nada mais é do que outra<br />
nomenclatura para a garantia do casco da aeronave. É a cobertura dos danos materiais, das<br />
despesas com socorro, salvamento da aeronave sinistrada, no caso de acidentes e atos danosos<br />
praticados por terceiros. O Aditivo B é a garantia chamada R.E.T.A. (Responsabilidade do Explorador<br />
e Transportador Aéreo). De acordo com o Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA) toda<br />
aeronave no Brasil deve, obrigatoriamente, possuir tal cobertura que garante o reembolso de<br />
indenizações por danos corporais e/ou materiais que o segurado venha a ser obrigado a pagar<br />
em decorrência da aeronave sinistrada. Trata-se do seguro similar ao seguro automotivo DPVAT.<br />
Há também uma cobertura de responsabilidade civil facultativa para os proprietários de<br />
aeronaves, chamada R.E.T.A. a 2º risco, cujo propósito é complementar a garantia R.E.T.A., uma<br />
vez que os valores de indenização desta são considerados relativamente baixos (aproximadamente<br />
R$15.000 por pessoa, incluindo todos a bordo), já que limitados pelo CBA.<br />
Mas como em qualquer outro contrato de seguro, há riscos que são excluídos. No seguro<br />
aeronáutico não são indenizados, por exemplo: a) perda, destruição ou dano direta ou<br />
indiretamente causado por radiações ionizantes ou por radioatividade de qualquer combustível<br />
nuclear; b) perdas ou danos causados por ventos de velocidade igual ou superior a<br />
60 nós, terremotos e outras convulsões da natureza, salvo quando a aeronave estiver em<br />
voo ou manobra; c) perdas, danos ou responsabilidades decorrentes direta ou indiretamente<br />
de atos de hostilidade ou de guerra, rebelião, insurreição, revolução, confisco, nacionalização,<br />
destruição ou requisição por autoridade de fato ou de direito; d) lucros cessantes<br />
e danos emergentes direta ou indiretamente resultantes da paralisação da aeronave segurada,<br />
dentre outros. Contudo, o interessado poderá optar pela cobertura de alguns desses<br />
riscos através das condições especiais do contrato, adquirindo coberturas facultativas e<br />
adicionais. Acidentes, infelizmente, acontecem e vão desde colisão com aves e impacto de<br />
raios até atos de terrorismo, aterrissagens forçadas e, em último caso, a queda da aeronave.<br />
Não surpreende a recente informação da Comissão Europeia de que os prêmios diretos<br />
arrecadados em seguro aeronáutico no mundo pelas empresas aéreas superem os US$ 2<br />
bilhões por ano. O seguro aeronáutico é uma obrigação e, cada vez mais, uma necessidade,<br />
pois além de garantir as atividades realizadas pelas empresas aéreas, por proprietários de<br />
aeronaves no geral e pelo Estado, garante a execução das tarefas atinentes aos aeronautas,<br />
fornecendo segurança ao serviço em todos seus aspectos, inclusive aos terceiros e bens na<br />
superfície, aos passageiros e à carga, pois, nesse setor, o risco é inerente e não há formas de<br />
sua desvinculação.<br />
Sabemos que 100% da segurança de voo significa avião no chão. Infelizmente ainda não<br />
conseguimos atingir um índice absoluto neste sentido. E mesmo com todos os esforços de<br />
todos os agentes envolvidos para elevar cada vez mais os níveis de segurança de voo,<br />
acidentes acontecem. É nesse cenário que surge a figura do Seguro Aeronáutico, que garante<br />
cobertura para os riscos do transporte aéreo, isto é, os danos causados, os reembolsos de<br />
despesas e as responsabilidades legais que o segurado venha a ser obrigado a pagar em<br />
virtude da utilização da aeronave.<br />
Foto de divulgação<br />
18 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 19
Introdução ao<br />
Direito Aeronáutico<br />
Primeiro Curso Online da Aviação & <strong>Mercado</strong><br />
<br />
<br />
VAGAS LIMITADAS<br />
abriremos para venda em 03/11/2016 as 9:30<br />
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20 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 21<br />
Placa Mandamentos Rolin Amaro - Fundador da TAM
Aproveitamos o momento para lançar nossa nova sessão<br />
da <strong>Revista</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong>, denominada, “Com a<br />
palavra, o presidente”, nessa sessão sempre teremos um<br />
presidente entrevistado, que seja ligado ao mercado de<br />
aviação, seja na profissão ou na vida pessoal. Nessa<br />
edição a pauta principal é seguros aeronáuticos e não<br />
teríamos como falar sobre o tema sem entrevistar um<br />
presidente aviador que comanda uma das maiores<br />
seguradoras do planeta e que iniciou a venda de seguros<br />
aeronáuticos no Brasil há 5 meses. Estamos falando do<br />
presidente da AXA no Brasil, Philippe Jouvelot. Francês,<br />
casado, aviador desde os 16 anos de idade. Nesta entrevista<br />
traremos um pouco sobre ele e dessa empresa<br />
centenária, que teve inicio no final do século XIX, no norte<br />
da França e espalhou-se pelo mundo, tornando-se uma das<br />
maiores seguradoras a nível global. No segmento de<br />
seguros aeronáuticos a AXA está entre as três maiores.<br />
1) Como construiu sua carreira na AXA para chegar<br />
à presidência no Brasil?<br />
Entrei há 30 anos no Grupo AXA, quase no mesmo<br />
momento em que a empresa mudou para essa<br />
marca. Toda minha carreira foi desenvolvida na<br />
AXA. Não trabalhei para nenhuma outra empresa e<br />
nunca imaginei trabalhar em outra empresa. Em<br />
2013 trabalhei em varias empresas do grupo em 18<br />
países. Fui designado para assumir o Brasil a partir<br />
de 2014 e continuar a expansão na América Latina,<br />
iniciada há 7 anos. No Brasil sou presidente das 3<br />
empresas do grupo que operam aqui.<br />
2) Qual a estrutura de negócios da AXA Brasil?<br />
No Brasil a AXA é formada por três empresas, onde<br />
temos 720 funcionários e 10 filiais pelo país. Temos<br />
mais de 35 mil empresas prestadoras de serviços<br />
que dão suporte à operação de atendimento no<br />
país. Após a compra da carteira de grandes riscos<br />
(Aeronáutica, Marinha, grandes riscos industriais e<br />
grandes obras) da Sulamérica, passamos a ter um<br />
novo patamar competitivo e de produtos a ofertar.<br />
3) Qual a quantidade e quais as principais<br />
linhas de produtos no Brasil em que<br />
a AXA atua?<br />
Temos dezenas de produtos à<br />
disposição dos clientes no Brasil com<br />
três pilares principais:<br />
1) Seguros comerciais e de grandes<br />
riscos;<br />
2) Seguros para varejo, ou seja, para o<br />
público final, atuando através de parcerias<br />
como por exemplo, a parceria com<br />
as Lojas Pernambucanas que acabamos<br />
de assinar, no valor de 2 Bilhões de<br />
reais, onde serão vendidos seguros<br />
estendidos e outros diretamente ao<br />
consumidor final.<br />
3) Seguros de vida, que atuamos na<br />
venda de seguros em grupo.<br />
Mas continuamos desenvolvendo novos<br />
produtos porque a AXA é uma empresa<br />
completa no ramo de seguros e aos<br />
poucos vamos colocando no mercado.<br />
4) Como é a burocracia no Brasil para aprovar e operar novos produtos?<br />
A meu ver não é muito burocrático, honestamente se tivesse que abrir uma instituição financeira<br />
igual no Brasil e na Alemanha, lá seria muito pior, lógico que tem dificuldades, mas não que isso<br />
impeça de trabalhar. Um exemplo! Uma empresa financeira que tem o PIB do tamanho do Brasil,<br />
que queira entrar aqui, operar e ter essa liberação em apenas 8 meses, não se pode dizer que é<br />
difícil. Temos sim, países como EUA que são bem menos burocráticos e culturalmente mais abertos<br />
ao empreendedorismo, não tenha dúvida! Mas não posso de verdade reclamar do Brasil.<br />
5) Qual sua ligação com a aviação?<br />
Eu comecei a tirar a licença para pilotar aos 16<br />
anos de idade, na França é permitido a partir<br />
dos 15 anos. Tive três momentos que me<br />
marcaram muito na aviação. O primeiro foi<br />
quando fui ao salão de Le Burget, em Paris, e<br />
comprei um avião, um Grumman Tiger, foi<br />
muito emocionante. Um trajeto que demorava<br />
8 horas de caro passamos a fazer em uma<br />
hora, valeu o investimento. Vendi esse avião<br />
em 2014, quando vim para o Brasil. No meu<br />
aniversário de 40 anos meu irmão me presenteou<br />
com um voo junto com a Força Aérea<br />
Tcheca, em um avião militar Delfin L 29, de<br />
fabricação Russa. Demorei 2 horas para me<br />
preparar e entender o avião, para poder voar e<br />
esse voo foi inesquecível, durou 45 minutos.<br />
Tive o apoio de um coronel da Força Aérea<br />
Francesa que colecionava aviões de guerra e<br />
para eu poder voar demoraram 2 meses para<br />
que o avião pudesse vir para a França e conseguir<br />
as autorização necessárias. Foi um período<br />
de expectativa muita grande. No Brasil fiz<br />
um voo sobre o Pantanal junto aos pássaros,<br />
foi muito incrível, completamente diferente,<br />
em uma perspectiva totalmente diferente e<br />
maravilhosa! Você vê tudo de longe, as<br />
belezas da natureza, foi encantador!<br />
O Grumman Tiber, primeiro avião adquirido por<br />
Philippe juntamente com seu irmão,<br />
na feira de Le Burget, em Paris.<br />
6) Por que a decisão de entrar no segmento<br />
de seguros aeronáuticos no Brasil em um<br />
momento de crise econômica que pegou em<br />
cheio a aviação brasileira, em especial a<br />
aviação geral?<br />
O momento é de inteligência de negócio. Nós<br />
acreditamos que essa situação econômica é<br />
passageira e o Brasil irá superar. É por isso que<br />
seguimos investindo e otimistas com as<br />
perspectivas que o país nos oferece. O Brasil<br />
está barato para investimento internacional que<br />
chega aqui. Podemos criar e produzir produtos<br />
melhores para nossos clientes e a remuneração<br />
sobre a reserva que temos que ter no Brasil,<br />
para cumprir nossa carteira de segurados, rende<br />
14,25% ao ano. Em nenhum lugar do mundo<br />
conseguimos isso. No Brasil tinha uma grande<br />
casa seguradora chamada Itaú, que dominava o<br />
mercado e tinha as demais empresas pequenas,<br />
em torno de 17. A Tókio Marine também atuava<br />
muito bem e diferente de outros Países. E nisso,<br />
decidimos nos posicionar como uma pequena<br />
casa ao redor das demais pequenas, para de<br />
alguma forma, conquistar a fortaleza do Itaú.<br />
Logo que cheguei eles decidiram vender a<br />
carteira de seguros e nós disputamos com os<br />
americanos da Chubb, que a levaram por muito<br />
pouco, isso fez mudar o mercado.<br />
22 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 23
A fortaleza se distribuiu no mercado e a competição começou. Nós aceleramos, abrindo 10 filiais pelo<br />
país, porque o momento exigia crescer acelerado. Também compramos a carteira de grandes riscos da<br />
Sulamérica, que nos posicionou em outro patamar no Brasil. O mercado de aviação está reprimido<br />
nesse momento, mas estamos indo muito bem pelo pouco tempo de mercado, apenas 5 meses. Nós<br />
não estamos aqui para simplesmente competir, mas sim criar produtos inteligentes e corretos. Precisamos<br />
desenvolver o seguro RC correto, não é possível tantas aeronaves sem esse seguro complementar,<br />
tão barato! Falta a cultura de produtos bons e baratos.<br />
9) Como você analisa o nível de empreendedorismo dos corretores brasileiro?<br />
Eu gosto muito dos corretores, não tenho como criticá-los. As seguradoras, inclusive a AXA, somos muito<br />
ruins para ajudar os corretores a serem bons profissionais. Se analisar tudo o que é escrito na imprensa<br />
profissional, inclusive nos órgãos e associações, eles não falam bem dos corretores, não são amigáveis, falta<br />
carinho com o corretor. Os corretores são tradados como um mal necessário e não como um parceiro<br />
importante para a venda de seguros. Dos 1700 corretores cadastrados na AXA, temos 500 que trabalham<br />
regularmente gerando 80% dos negócios e 100 desses 500 corretores produzem 80% dos 80% dos<br />
negócios. Isso mostra que temos corretores que são empresários profissionais, mas ao mesmo tempo<br />
temos os pastinhas, são corretores pequenos, que produzem muito pouco e precisam muito de ajuda.<br />
Precisamos entender melhor qual o problema de cada um, além disso, a remuneração deles é muito<br />
pequena. Podemos comparar o corretor com o clínico geral. Ele recebe muito pouco dinheiro e por receber<br />
pouco dinheiro tem que fazer muitas consultas por hora e por isso não te dá o devido atendimento. Aí eu<br />
pergunto: A culpa é do médico ou da operadora do plano de saúde que não paga o suficiente? Se a operadora<br />
pagasse o suficiente, com certeza ele teria um atendimento muito melhor, pediria apenas os exames<br />
necessários porque tem o conhecimento de sua saúde. O mesmo ocorre com o corretor quando a seguradora<br />
pode pagar 15% ao invés de 20%, ela faz e se puder pagar 10% também faz. Então, o menos que ela<br />
puder pagar de comissão, ela pagará. O ideal seria que o cliente final fosse bem atendido, o corretor bem<br />
remunerado e a seguradora economicamente viável, têm que olhar a cadeia total. Os corretores pequenos<br />
são muito mal tradados e mal remunerados, já os grandes são melhores pagos e melhores tratados, mas<br />
não por vontade das seguradoras, mas sim pelo poder de negociação que têm com a seguradora, pelo<br />
volume de negócio. Isso está errado, temos que passar a ter um tratamento melhor, com mais carinho e<br />
atenção com os corretores, dando melhor treinamento e oportunidade de crescimento profissional. Falta<br />
amor ao corretor e ao cliente.<br />
10) Como você considera o papel do corretor de seguros no Brasil?<br />
No Brasil uma seguradora tem que considerar o corretor como o cliente e temos que amar de verdade, do<br />
fundo do coração, respeitar e ouvir o mesmo. Mas sem fazer besteira, pois você tem que ter uma operação<br />
economicamente viável.<br />
O Prospect que tem um problema, o corretor identificou qual é o problema, por exemplo: Fábrica de faróis<br />
tem um limite de responsabilidade civil nos EUA de 5 milhões de dólares e no Brasil ninguém quer garantir,<br />
mas nós oferecemos no mundo inteiro um Recall de até 100 milhões de dólares. Isso faz toda a diferença no<br />
atendimento, mantendo sempre o foco no atendimento das necessidades do corretor e do cliente. Sem o<br />
corretor não temos como chegar ao detalhe do problema e oferecer a solução correta a ele. A equipe AXA<br />
tem que estar à disposição do corretor e do cliente.<br />
<br />
7) Disputar 20 mil clientes do mercado de<br />
aviação, economicamente, vale a pena?<br />
Nós não disputamos clientes, nós seduzimos<br />
clientes! Somos da cultura de marketing e venda<br />
latina, somos sedutores, vimos o cliente como<br />
único, não importa o valor do seguro, ele é um<br />
cliente. Detestamos competir! Queremos criar<br />
produtos bons e inteligentes. É dessa forma que<br />
várias empresas francesas conquistaram o<br />
mundo dentre elas, a AXA.<br />
8) Levando em consideração que apenas 35%<br />
desse mercado contrata seguro Casco e RC, como<br />
a AXA pretende atuar para conquistar os 65%<br />
que não contratam?<br />
Pretendemos desenvolver uma comunicação<br />
com foco na educação e informação, demonstrando<br />
custo X benefício, colocar preço dos<br />
seguros, apresentar comparativos criando<br />
produtos inteligentes, corretos e baratos. Eu<br />
pessoalmente adoro vender o primeiro seguro.<br />
11) Existe uma confusão no mercado onde o<br />
cliente muitas vezes acredita que o corretor é a<br />
seguradora. Em termos de estratégia de marca<br />
e volume de negócios isso atrapalha?<br />
Eu não tenho o orgulho de colocar a marca AXA<br />
acima de tudo. Por exemplo: a parceria com as<br />
Pernambucanas, a marca é Pernambucana, o<br />
cliente final não sabe que é a AXA, somos<br />
apenas o garantidor. O mais importante é que o<br />
produto seja bom, que o cliente esteja feliz e<br />
que tenha o benefício.<br />
12) Utilizar o termo sinistro não é negativo<br />
para a seguradora?<br />
Sim! Eu detesto esse termo porque nós não<br />
levamos sinistros, e sim benefícios aos clientes.<br />
A partir de 2017 os funcionários da AXA estarão<br />
impedidos de falar de sinistralidade, falarão<br />
sobre os benefícios que levamos ao cliente,<br />
somos criadores de soluções e benefícios, não<br />
sinistralidade.<br />
13) Existem dificuldades em concorrer com<br />
bancos que às vezes utilizam-se da ilegalidade,<br />
como venda casada para forçar o fechamento<br />
do contrato?<br />
O balcão de banco é muito bom para fazer<br />
seguro de vida associado ao crédito e previdência,<br />
não atrapalha o mercado de seguros. É<br />
concorrência normal. Eu não acredito que isso<br />
atrapalhe as vendas da AXA. Como estamos<br />
acompanhando os bancos, eles estão indo para<br />
a venda digital e quando isso estiver todo<br />
implantado acabou o balcão, pois as pessoas<br />
não irão ao banco, automaticamente acabou,<br />
definitivamente. Para mim, a venda de balcão é<br />
o passado dos seguros brasileiros. Estamos<br />
investindo este ano 43 milhões de reais em<br />
tecnologia para os corretores melhorarem a sua<br />
performance, forma de trabalho e atendimento.<br />
14) Uma mensagem aos aviadores brasileiros<br />
Curta o prazer de voar e não tenha medo de<br />
voar! Quando começamos voar, na noite que<br />
precede o voo pensamos: onde vai decolar,<br />
como vai ser o vento, será que vai ter nuvem,<br />
será que consigo voltar, será que vou me<br />
perder, o VOR vai funcionar, não tenho GPS,<br />
vou entrar em um buraco que não consigo<br />
sair, tenho a mulher que vai me criticar!<br />
Normalmente não dormimos bem antes de<br />
voar, mas quando estamos voando tudo fica<br />
muito bem. Se acontecer uma dificuldade<br />
será bom estar protegido com uma apólice<br />
de seguro bem feita. Você precisa saber que<br />
os seguros que existem hoje no mercado não<br />
são bons e precisam melhorar. Na AXA<br />
estamos trabalhando todos os dias para<br />
mudar essa realidade desenvolvendo produtos<br />
bons e corretos.<br />
24 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 25
Portanto, o correto é que o cliente cote com seguradoras, através<br />
de corretores nomeados. Adquira um relacionamento de confiança<br />
e respeito, não de esperteza, pois quando o corretor percebe que<br />
está sendo usado pelo possível cliente, em jogo de preço, saberá<br />
que não se trata de um cliente confiável e sim um espertalhão<br />
fazendo-o perder tempo atrás de uma proposta já travada, porque<br />
a seguradora irá lhe informar que já há outro corretor cotando o<br />
risco. Caso não tenha certeza da honestidade e competência do<br />
corretor ou não tenha ainda construído um relacionamento profissional<br />
com um corretor, pode ser nomeados corretores para seguradoras<br />
especificas, ou seja, 3 seguradoras para cada corretor e dessa<br />
forma terá um comparativo de preço mais competitivo e poderá<br />
analisar qual corretor lhe forneceu o melhor atendimento e serviço.<br />
Último erro cometido pelo cliente é ele pagar o boleto do seguro emitido pela corretora e não pela<br />
seguradora. O boleto do seguro deve ser pago em nome da seguradora, ou seja, os dados contidos no<br />
boleto devem ser os mesmos dados da seguradora na qual está sendo contratado o seguro e não dados<br />
da corretora que lhe efetuou a venda do seguro. Lembrando que pagar boleto ou efetuar depósito em<br />
nome do corretor é ato ilegal perante as normas da SUSEP e ao fazer isso você poderá estar:<br />
Sobre o tema seguro aeronáutico para a aviação geral faremos uma sequência de matérias, em três<br />
edições, para detalhar e mostrarmos esse mercado no Brasil. Teremos a participação de seguradoras<br />
que atendem o segmento, de corretor de seguro especializado, além da complementação do<br />
conteúdo elaborado a partir das nossas minuciosas pesquisas.<br />
1) Pagando um valor indevido pelo seguro;<br />
2) Não ter a garantia de que a apólice foi de fato paga para a seguradora;<br />
3) Acreditar que sua aeronave está com seguro regular, mas na verdade apenas efetuou o<br />
pagamento de forma errada a uma corretora que não transferiu o valor à seguradora;<br />
4) Estará contribuindo com as ilegalidades e golpistas do mercado.<br />
O Brasil possui a segunda maior frota de aviação geral do planeta. De acordo com estimativa da<br />
Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC no país são mais de 16 mil aeronaves.<br />
Nesta edição abordaremos os três, dos principais, erros ocorridos no momento da contratação dos<br />
seguros aeronáuticos.<br />
No primeiro erro o contratante não sabe a<br />
diferença entre corretor e seguradora, não conhece<br />
a função de cada um deles. Existe um órgão<br />
responsável pelo controle e fiscalização do mercado<br />
de seguros que define as regras e leis que<br />
regem esse mercado. Esse órgão é chamado<br />
SUSEP, e é ele quem determina o funcionamento<br />
e as operações das seguradoras e das corretoras<br />
de seguro. Segundo a SUSEP, as seguradoras são<br />
empresas autorizadas a assumir o risco de seus<br />
clientes, por meio dos contratos que as comprometem<br />
a indenizar o cliente, caso o bem segurado<br />
sofra determinado dano. As corretoras de seguro,<br />
segundo a SUSEP, são empresas autorizadas a<br />
comercializar os produtos e serviços criados pelas<br />
seguradoras, ou seja, a corretora é uma intermediação<br />
obrigatória entre o cliente e a seguradora.<br />
O segundo erro é a pessoa cotar corretores<br />
e não seguradoras. Os clientes, compradores<br />
de seguros, cometem uma falha<br />
enorme ao cotar dois ou três corretores de<br />
seguros em vez de nomeá-los e designá-los<br />
a cotar cada um em uma seguradora, a fim<br />
de obter uma apólice que atenda às suas<br />
necessidades e condições. Assim, o<br />
primeiro corretor que for cotado sem<br />
nomeação específica cadastra a proposta de<br />
seguro junto a todas as seguradoras e dessa<br />
forma trava a cotação da aeronave, não<br />
dando chance aos demais corretores para<br />
cotarem. Mas nem sempre o corretor que<br />
fecha o mercado irá apresentar a melhor<br />
cotação, ele poderá apresentar a cotação<br />
que lhe dá melhor retorno em comissão.<br />
A corretora recebe comissão pela venda de seguros da seguradora contratada, jamais o cliente deve pagar pelos<br />
serviços do corretor separadamente do valor da apólice contratada.<br />
O Seguro Aeronáutico protege contra os riscos do transporte aéreo, tais como, os danos causados a aeronave e<br />
seus aviônicos, reembolsos de despesas incorridas por causa dos sinistros e as responsabilidades civis sobre<br />
passageiros, carga, tripulação, pessoas e bens no solo (terceiros) pelas quais o segurado venha a ser obrigado a<br />
pagar. Mas tudo depende da modalidade de seguros contratado pelo segurado. As modalidades de seguros<br />
aeronáuticos são:<br />
Para aeronaves: RETA, seguro<br />
obrigatório para todas as aeronaves.<br />
A obrigatoriedade foi instituída na<br />
Lei n° 7.565, de 1986-Código<br />
Brasileiro de Aeronáutica, com limite<br />
mínimo exigido por lei;<br />
Os tipos de aeronaves seguráveis:<br />
IMPAER / EXPLORER<br />
4 ASSENTOS + BAGAGENS<br />
R$ 1.449,09 (PET)<br />
4X SEM JUROS<br />
R22 2 ASSENTOS + BAGAGENS<br />
R$ 807,07 (PRI)<br />
CASCO + LUC (Limite Único Combinado),<br />
2° Risco que realmente pode<br />
ser combinado de acordo com a<br />
operação de voo estendendo a<br />
cobertura do RETA.<br />
4X SEM JUROS<br />
EMBRAER / EMB 500 = PHENON<br />
100 6 ASSENTOS<br />
R$ 1.807,77 (TPP)<br />
4X SEM JUROS<br />
NEIVA - EMB202A = IPANEMA<br />
R$ 437,00 (AGRICOLA)<br />
fonte de cotação www.segurosaeronauticos.com.br<br />
Para operações - RC Aeroportuário,<br />
Operações / Hangares.<br />
As principais seguradoras do mercado<br />
e aeronaves são seguradas de acordo<br />
com as classes.<br />
4X SEM JUROS<br />
BELL HELICOPTER - 206L<br />
4 = LONG RANGER<br />
R$ 1.892,21 (OPERAÇÃO SAE)<br />
4X SEM JUROS<br />
28 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 29
Aeronave de asas fixas (pistão / turbo hélices / jatos / mono / bi ou trimotores). Aeronave de asas rotativas (helicópteros com<br />
motores a pistão e turbo eixo). Planadores (sem propulsão) , Balão de ar quente e Asas delta.<br />
A apólice de seguros contém as condições gerais e as condições especiais do seguro. As condições gerais apresentam os aspectos<br />
básicos, comuns para todas as coberturas, também apresenta os riscos excluídos em qualquer caso. Ela estabelece as obrigações e<br />
os direitos das partes, a vigência, pagamento de prêmio, foro, prescrição etc. As condições especiais registram as garantias<br />
facultativas ou adicionais e obrigatórias, detalhando as condições em que cada uma delas pode ser acionada.<br />
Modelo de apólice<br />
Modelo de boleto<br />
Boleto sempre deve estar em nome da seguradora e não da corretora,<br />
jamais deve ser pago um boleto em nome da corretora<br />
RETA - O seguro obrigatório para todas as aeronaves. Toda aeronave deve possuir cobertura do Seguro de Responsabilidade do<br />
Explorador e transportador Aeronáutico (RETA). As transportadoras aéreas de linhas ou táxis aéreos estão obrigadas a contratar as<br />
coberturas 1, 2, 3 / 4 e 5. Já os aviões não comerciais são obrigados a adquirir as coberturas 1,2, 3 e 4 sendo ainda facultativo a<br />
contratação da classe 1 = passageiros e quando isso ocorre o proprietário da aeronave é quem assume o risco.<br />
Temos também os aditivos A (CASCOS) e B (na forma de LUC) estendendo os limites da cobertura RETA a 2° risco, de acordo com a<br />
operação. O aditivo A é a garantia do casco da aeronave que cobre os danos materiais e das despesas com socorro e salvamento<br />
da aeronave sinistrada em razão de acidentes e atos danosos praticados por terceiros. O Aditivo B é que dá garantia ao seguro<br />
RETA. É obrigatório possuir a cobertura conforme previsto na Lei n° 7.565, de 1986, (Código Brasileiro de Aeronáutica - CBA).<br />
Foto: Marcio Ribeiro/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo<br />
A garantia RETA é subdivide em 5 classes sendo estas:<br />
Classe 1 – danos a passageiros (e suas bagagens – contratado adicionalmente);<br />
Classe 2 – Danos a tripulantes (e suas bagagens – contratado adicionalmente);<br />
Classe 3 – Danos a pessoas e bens no solo;<br />
Classe 4 – Danos por colisão ou abalroamento;<br />
Classe 5 – Cargas e Bagagens despachadas (Obrigatório no TPX)<br />
A cobertura RETA 2º risco é de responsabilidade civil facultativa<br />
para os proprietários de aeronaves e tem como finalidade<br />
complementar a garantia RETA. Ela é acionada quando o valor a<br />
ser indenizado é maior do que a importância segurada via<br />
cobertura obrigatória. A garantia RETA a 2° risco LUC pagará o<br />
valor restante. A cobertura RETA a 2° risco é a cobertura de RC?<br />
mais importante a ser contratada. O transportador responde pelos<br />
danos causados às pessoas transportadas e pelas suas bagagens,<br />
salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula<br />
excludente da responsabilidade.<br />
A cobertura RETA garante o reembolso de toda e qualquer indenização<br />
por danos corporais e/ou materiais causados pela aeronave<br />
sinistrada que o segurado venha a ser judicialmente obrigado a pagar<br />
ou por acordo expressamente autorizado pela seguradora, respeitados<br />
os limites de indenização estipulados no contrato de seguro.<br />
Valores bases para o cálculo do seguro RETA em forma de LUC<br />
Cálculo do prêmio do seguro RETA<br />
Em contato com o site www.segurosaeronauticos.com.br, que acaba<br />
de colocar no mercado uma ferramenta para cálculo online do seguro<br />
RETA, apresentamos a seguinte tabela de cálculo.<br />
Na próxima edição conheça a lista das principais seguradoras<br />
atuantes no segmento de seguros aeronáuticos no Brasil. Não perca!<br />
Seguro cobertura R.E.T.A. 2º RISCO - RC<br />
Custa muito menos do que você imagina estar coberto<br />
pelo seguro complementar R.E.T.A. 2º RISCO - RC<br />
Para cobertura de U$ 10 Milhões de Dólares,<br />
investimento de 0,036%, ou U$ 3.600,00.<br />
Valor de indenizações Seguro RETA Custo do Seguro PREMIO COBERTURA<br />
Classe 1 – Passageiros Morte, invalidez permanente (parcial ou total), incapacidade temporária, assistência médica suplementar<br />
Classe 2 – Tripulantes Morte, invalidez permanente (parcial ou total), incapacidade temporária, assistência médica suplementar<br />
Classe 1 e 2 - BAGAGENS dos Passageiros e Tripulantes e para riscos de perda, dano ou avaria a bagagens.<br />
Classe 3 – Pessoas e Bens no Solo e riscos de morte, invalidez permanente (parcial ou total), incapacidade temporária, assistência médica,<br />
despesas suplementares<br />
e danos materiais: o limite varia em função do peso da aeronave. - Aeronaves com PMD (Peso Máximo de Decolagem) de até 1.000 kg para<br />
terceiros envolvidos<br />
Classe 4 – Danos por Colisão ou Abalroamento e riscos de morte, invalidez permanente (parcial ou total), incapacidade<br />
temporária, assistência médica, despesas suplementares de passageiros e tripulantes da aeronave abalroada, o limite varia em<br />
função do peso da aeronave. - Aeronaves com PMD de até 1.000 kg – para todos os terceiros envolvidos, (ANAC), e mais R$<br />
1,95 por quilograma de peso máximo de decolagem que a aeronave possua em excesso aos 1.000 kg. Tais valores são corrigidos<br />
mensalmente pelo IPCA, de acordo com o estabelecido pela Resolução n° 37, de 2008, ANAC.<br />
até 1%<br />
até 1,1%<br />
até 1,1%<br />
R$124,27<br />
R$124,27<br />
R$ 67.189,81 POR PESSOA/POR ASSENTO<br />
R$ 67.189,81 POR PESSOA/POR ASSENTO<br />
R$ 2.879,53 POR PESSOA/POR ASSENTO<br />
LMI ÚNICO<br />
PARA AS<br />
CLASSES 3 E 4<br />
R$<br />
222.315,35 +<br />
R$1,95 por kg<br />
acima de<br />
1000<br />
POR AERONAVE<br />
classe 5 - cargas e bagagens despachadas R$90,00 2.879,53 POR AERONAVE<br />
Fonte de Cotação AXA<br />
Na próxima edição da Aviação & <strong>Mercado</strong> trataremos em detalhes desse seguro<br />
e do seguro casco, demonstraremos em detalhes para que serve cada um deles<br />
e o quanto é importante contrata-lo.<br />
28 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 17
No mercado de seguros, seja<br />
ele aeronáutico ou não, a peça<br />
fundamental é o corretor. Ele<br />
trabalha entre o segurado e a<br />
seguradora. Apesar de ter<br />
obrigações com a companhia<br />
seguradora, o principal dever<br />
do corretor é prestar um bom<br />
serviço ao segurado, seu<br />
cliente. Lembrando que<br />
companhia seguradora e<br />
corretor têm funções e<br />
obrigações diferentes. A<br />
seguradora é responsável por<br />
salvaguardar, garantir a cobertura<br />
e o sinistro ao cliente.<br />
Corretor faz a intermediação<br />
da venda dos produtos das<br />
seguradoras aos clientes.<br />
Conheça algumas atribuições do corretor:<br />
Análise de Risco: Verificar as possibilidades de prejuízos e recomendar<br />
as apólices mais adequadas para ressarcir tais perdas possíveis;<br />
Elaboração de um Programa de Seguros: O corretor deve estabelecer<br />
prioridades para que sejam atendidos, primeiramente, os de<br />
maior repercussão sobre o patrimônio do cliente;<br />
Assessorar o Cliente: Ajudar a escolher a seguradora, levando em<br />
conta o melhor atendimento técnico econômico-financeiro, caso<br />
aconteça o evento previsto na apólice. Orientar quanto às<br />
renovações, adequando o seguro às condições que ocorreram;<br />
Acompanhamento das Modificações: Mudanças ocorridas na<br />
vigência das apólices devem ser comunicadas à seguradora e ao<br />
cliente para os efeitos das mudanças, inclusive indicar medidas<br />
mais aconselháveis;<br />
Preparação dos Elementos: Obter melhores coberturas ou<br />
reduções dos prêmios, melhorando as condições de segurança<br />
para evitar riscos. O corretor deve colocar o cliente em condições<br />
de conseguir reduções, descontos, tarifações e outras vantagens.<br />
Diante da importância do corretor de seguros<br />
realizamos uma entrevista com Tiago Longuini,<br />
sócio da Patrimon Seguros, para contar um pouco<br />
da sua trajetória como corretor de seguros e em<br />
especial no mercado de seguros aeronáuticos,<br />
uma de suas especializações.<br />
1) Tiago, gostaríamos de saber a quanto tempo atua como corretor de seguros e<br />
em especial em seguros aeronáuticos?<br />
Estamos no mercado há 7 anos atuando nos ramos de seguros diversos. O foco<br />
no aeronáutico começou chamar mais a atenção quando comecei o curso de PP<br />
(piloto privado) em 2011, realizando um sonho de ser piloto, e isso me trouxe uma nova visão sobre esse mercado.<br />
Apresentou-se uma boa oportunidade de focar em um nicho com características distintas nos tipos de seguros e no perfil<br />
dos clientes.<br />
2) Porque escolheu especializar se em venda de seguros aeronáuticos?<br />
Vimos uma oportunidade em iniciar um trabalho diferenciado no atendimento desses clientes e amigos. Conheci muita<br />
gente que comprava o seguro simplesmente por estar obrigado e não sabia se quer das coberturas e benefícios, outros<br />
compravam ou vendiam sua aeronave e tinham problemas em transferir os direitos e obrigações da apólice para o novo<br />
proprietário. O mercado estava acomodado sem concorrência livre, até os clientes perceberem que nem tudo é caro e<br />
nem tudo é preço. Neste nicho é muito importante entender a especificidade da operação de cada cliente para regular<br />
uma apólice e garantir que o cliente tenha cobertura quando realmente precisar.<br />
3) Como é o trabalho de parceria com as seguradoras, você<br />
tem respaldo das mesmas para divulgar e ampliar seu<br />
trabalho perante aos clientes?<br />
Uma boa parceria, com a companhia certa para cada produto<br />
negociado é essencial. Procuramos manter nossos contratos e<br />
vínculos de amizade em contato diário com subscritores e<br />
presidentes. A propaganda é a alma do negócio, mas no Brasil<br />
ainda existem algumas barreiras a superar, muitas vezes<br />
colegas corretores deixam a ética de lado e faltam com a<br />
transparência, obrigando as seguradoras a continuarem<br />
desacreditadas ou limitadas nessa parceria. Quando a concorrência<br />
descobrir que a lei do exemplo gera riquezas, os<br />
clientes vão negociar com mais confiança elegendo um<br />
parceiro que apresente um valor justo, digno da cobertura<br />
contratada e não só um preço obtido na disputa desenfreada<br />
de uma simples concorrência.<br />
4) Como é o perfil do cliente de seguros aeronáuticos? Qual é o<br />
perfil do cliente comprador do seguro aeronáutico?<br />
Eu diria que o cliente tem o perfil de sua aeronave, equilibrado<br />
e confiável. Nós atendemos todas as classes e operações, no<br />
mercado existe um perfil que já se apresenta solidificado e<br />
sabe o que está buscando. Em contrapartida temos uma nova<br />
geração chegando, novas pessoas com poder aquisitivo, que<br />
sempre sonharam em ter uma aeronave para o lazer e que por<br />
necessidade utilizam o equipamento para o trabalho também.<br />
Uma aeronave custa bem menos do que você imagina, hoje<br />
temos os mais variados perfis de clientes em nossa carteira.<br />
5) Sabemos que apenas 35% das aeronaves da aviação<br />
geral no Brasil tem seguro casco, o que você sugere às<br />
seguradoras e o que deveria ser feito para mudar<br />
essa realidade?<br />
Sim, mas antes de sugerir às seguradoras é necessário<br />
desenvolver uma certa cultura do seguro com esse tipo de<br />
cliente. Alguns proprietários imaginam que tudo na<br />
aviação é caro ou inviável. Nosso trabalho, em parceria<br />
com as seguradoras é justamente expor de maneira mais<br />
clara e direta as coberturas para este mercado, provando<br />
que o seguro fica mais barato, se comparado ao prejuízo<br />
causado pelo dano sofrido em um eventual sinistro. E,<br />
claro que se nós começarmos a segurar uma fatia maior<br />
deste mercado pela lei da oferta. Logo teremos apólices<br />
com preços mais acessíveis ainda. Para um começo, já seria<br />
muito interessante incentivar os proprietários ou operadores<br />
a contratarem pelo menos o LUC, que é a extensão<br />
de cobertura do RETA obrigatório, de acordo com a sua<br />
operação. A maioria dos proprietários desconhecem esse<br />
seguro, mas hoje é possível contratá-lo independente<br />
do seguro CASCO.<br />
6) O que os clientes de seguros aeronáuticos podem<br />
esperar de diferente no atendimento da Patrimon para as<br />
demais corretoras de seguros?<br />
Nosso propósito é atender nossos clientes com transparência,<br />
garantindo lhes a tranquilidade de ter feito<br />
sempre um bom negócio. Nós esforçamos e empreendemos<br />
muita energia para fidelizar nossa carteira de<br />
clientes com um bom atendimento. Não podemos apenas<br />
fazer negócios! O cliente continua vivo após fechar<br />
negócios conosco, por esse motivo procuramos<br />
conhecê-lo cada vez mais. Um corretor é tão importante<br />
quanto um médico ou advogado, por exemplo. Nós<br />
precisamos atender ao telefone, independente da hora em<br />
que ele tocar. É isso que os nossos novos clientes podem<br />
esperar de nós.<br />
7) Gostaríamos que deixasse uma mensagem em<br />
homenagem aos aviadores.<br />
Em primeiro lugar, queremos agradecer aos que sonharam<br />
primeiro e tiveram a brilhante ideia de voar,. É por causa de<br />
todos eles que, testaram suas máquinas de voar no<br />
passado, que hoje conseguimos ir e vir com tanta<br />
facilidade. A esta nova geração cabe o desafio de<br />
aprimorar o invento, evoluir e manter cada vez mais viva<br />
essa paixão que nos fazem livres o tempo todo. Na aviação<br />
cada detalhe importa e tem o seu valor. Costumo dizer que<br />
tudo na vida surge de uma semente, hoje o sonho dos<br />
antigos aviadores carregam por aí milhares de novos<br />
sonhadores. É só você olhar para o céu e imaginar quantos<br />
projetos, quantas vidas estão chegando ou estão à espera<br />
de uma solução que viaja tranquila agora, cruzando os<br />
vales e até oceanos levando esperança, alimento,<br />
vestimentas, levando um abraço de alguém. Só tenho a<br />
agradecer, pois sempre que estamos voando estamos<br />
em casa. Aviação é isso, um mundo de possibilidade<br />
para transforma o sonho em realidade com muita<br />
rapidez e confiança.<br />
32 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 33
O verdadeiro aviador nasce com o<br />
amor pelo desconhecido e tem a<br />
necessidade de ganhar os céus para<br />
purificar sua alma, o desconhecido<br />
que desafia a física, que transforma<br />
tudo em tranquilidade, que faz o<br />
tempo passar mais devagar, que<br />
traz o sorriso até então, escondido<br />
em solo.<br />
Leva em sua alma a necessidade de<br />
voar, assim como precisam dormir,<br />
comer ou respirar. Quando crianças<br />
colecionavam recortes, desenhos ou<br />
qualquer coisa relacionada a motivos<br />
aéreos, vive para voar, sonha com os<br />
céus. Para um aviador nada é mais belo<br />
que as formas esquisitas de uma aeronave,<br />
“infelizmente” já estão infectadas<br />
com o vírus da aviação e viverão o resto<br />
de suas vidas contemplando os céus.<br />
Em meio à multidão é fácil identifica-lo.<br />
Quando um avião passa seu olhar volta-se<br />
imediatamente ao firmamento. Ficará<br />
inquieto até que o veja, não importa<br />
quantas vezes já tenha visto o mesmo<br />
avião, é preciso vê-lo novamente. É algo<br />
incontrolável e espontâneo.<br />
Necessariamente o aviador nem sempre<br />
vive em um piloto que exerce a profissão.<br />
Vive naquele passageiro que alça voo pela<br />
primeira vez, no mecânico que cuida com<br />
carinho de cada parte da aeronave, no<br />
empreendedor que cria formas e meios<br />
para continuar com o sonho de voar, neste<br />
cenário muitas vezes nada favorável, no<br />
aluno de PP que inicia sua trajetória em<br />
alguma parte do mundo, no comissário<br />
que traz gentileza e tranquilidade para os<br />
passageiros, no piloto agrícola quê, com<br />
seu voo auxilia o cotidiano da população,<br />
no piloto comercial que vem para servir e<br />
proteger em seus voos, no piloto militar<br />
que alça voo com a missão de proteger<br />
uma nação. Todos são Aviadores!<br />
Porém, aquele menino ou menina que<br />
pela primeira vez olha para uma<br />
aeronave com brilho no olho, muda a<br />
alma e cria em si uma vontade que foge<br />
da compreensão humana, este sim é o<br />
verdadeiro AVIADOR.<br />
36 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 23
O Modelo 108-3 do Stinson tinha estabilizador<br />
vertical com um leme e um bordo de fuga em<br />
linha reta, com capacidade para até 3 passageiros,<br />
peso vazio 590 kg, peso bruto 1,089 kg, capacidade<br />
de combustível de 190 litros, motor Franklin<br />
6A4 de 6 cilindros, 4 tempos 165 hps. Velocidade<br />
máxima 230 km/124kn, velocidade de cruzeiro<br />
195 km/h, velocidade stol 105km/h teto de serviço<br />
16.500pés, taxa de subida 850pés.<br />
O modelo 108 foi último projeto de aeronaves da Stinson Aircraft<br />
Company, um projeto pós-segunda guerra mundial que competiu<br />
com as empresas Piper e Cessna. Ele foi desenvolvido a partir do<br />
modelo pré-guerra, o Stinson Voyager 10A. Todos os Stinson modelos<br />
108, 108-1, 108-2, 108-3 e 108-4 foram construídos pela Stinson, em<br />
Wayne, Michigan. Quando a Stinson vendeu o certificado para Piper,<br />
em 1949, cerca de 325 aviões, dos 5.260, eram modelos 108s e<br />
estavam completos, mas não vendidos. Estes 325, modelos 108 foram<br />
para a Piper como parte da venda. A Piper, em seguida passou a<br />
vendê-los como o Piper-Stinson, desde então.<br />
1949 Station Wagon<br />
Stinson 108-3 Voyager<br />
O 108-4 era um modelo de maior potência 108, sn<br />
108-4693, NX149C, não certificadas, voava experimentalmente<br />
por Stinson, mais tarde, construído<br />
pela Piper. A versão Station Wagon era uma opção<br />
disponível com modelos 1, 2 e 3, tinha painéis de<br />
madeira incorporada e um piso reforçado,<br />
permitindo 600 lb (272 kg) de bagagem do<br />
passageiro. A aeronave pode ser equipada com<br />
rodas, flutuadores ou trem de pouso de esqui.<br />
O 108-5 foi construído por Univair, semelhante ao<br />
108-3, com 180 HP (134 kW), motor de Franklin.<br />
Univair comprou o certificado do tipo Stinson 108<br />
da Piper, construído em 1975. Este modelo teve a<br />
produção de 5.261 aeronaves, dos quais 5.260<br />
foram construídos por Stinson, 1 por Univair.<br />
O Voyager 125 era alimentado por 125hp (93 kW)<br />
Lycoming e um motor a pistão de 235. O Voyager<br />
150 era alimentado por um 150 hp (112 kW)<br />
Franklin 6A4-150 motor a pistão. Voyager 165 era<br />
alimentado por um 165 hp (123 kW) Franklin<br />
6A4-165-B3 motor a pistão.<br />
Em 1949 a Piper anunciou o lançamento do PA-17 "Vagabond", do<br />
Piper-Stinson "Voyager" e do Piper-Stinson "Station Wagon". Originalmente<br />
criada em 1927, a Piper, se chamava Aircraft Company Taylor, mas<br />
em 1937 a empresa foi reorganizada e rebatizada para Piper Aircraft. A<br />
empresa esta sediada no Aeroporto Municipal de Vero Beach, em Vero<br />
Beach, Flórida. É representada no Brasil pela JP Martins Aviação, sediada<br />
em São Paulo. Empresa fundada em 1965. Trabalha com venda de<br />
aeronaves novas e usadas, além de realizar manutenção e venda de peças.<br />
De acordo com Rogério Faria, assessoria de vendas da JP Martins Aviação,<br />
no Brasil são vendidos 4 modelos da Pipper, desses o mais vendido é o<br />
consagrado Seneca, projeto dos anos 70, com versões atualizadas, sendo a<br />
última, o Seneca V. O segundo modelo mais vendido é o Matrix, projeto<br />
novo, com designer moderno e tecnologicamente mais avançado, que<br />
esta conquistando o mercado no Brasil na sua categoria.<br />
A Aircraft Company Stinson, fundada em Dayton, Ohio, em 1920, pelo aviador Edward "Eddie" Stinson e o<br />
irmão de Katherine Stinson. Após cinco anos de empreendimentos comerciais, Stinson fez de Detroit,<br />
Michigan, o foco de seus futuros empreendimentos de voo. Ele encontrou apoio empresarial Detroit para<br />
os seus projetos. Um grupo de empresários locais - o Conselho de Detroit do Comité de Aviação da Commerce<br />
- apoiou os planos de Stinson para estabelecer a Aircraft Syndicate Stinson, em 1925 em um local ao<br />
sudoeste de Detroit e forneceu US $ 25.000 para desenvolver um novo monoplano o SM-1 Detroiter, que<br />
fez seu primeiro voo em 25 de Janeiro de 1926 e tornou-se um sucesso imediato, que permitiu a Stinson<br />
38 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 39
1949 Stinson 108-3<br />
acumular rapidamente US $ 150.000 em capital público para incorporar a Stinson Aircraft Corporation, em 4 de<br />
Maio de 1926. Sempre um aviador no coração, Eddie Stinson, era um piloto que voava por paixão, ainda estava<br />
voando como um piloto acrobático e ganhando US $ 100.000 por ano, por seus esforços - uma soma enorme<br />
naqueles dias. A Stinson Aircraft Corporation vendeu 10 SM-1 Detroiters, em 1926. O negócio estava em<br />
constante crescimento empresa vendeu 121 aeronaves em 1929.<br />
No auge da Depressão, em 1930, Stinson ofereceu seis<br />
modelos de aeronaves, que foram desde o Júnior, de<br />
quatro lugares, ao Stinson 6000, avião trimotor. Eddie<br />
Stinson não viveu para desfrutar o sucesso de sua empresa.<br />
Ele morreu em um acidente aéreo em Chicago, Illinois,<br />
em 26 de Janeiro de 1932, durante uma viagem de<br />
vendas. No momento da sua morte, aos 38 anos, ele já<br />
havia adquirido mais de 16.000 horas de voo, mais do<br />
que qualquer outro piloto naqueles tempos.<br />
Atualmente ainda há exemplares originais em boas<br />
condições de voos, mas também há muitas réplicas de<br />
qualidade voando pelo planeta. No Brasil há alguns<br />
exemplares, tanto de originais Stinson, quanto de réplicas,<br />
como o 108 3 do Cmte Garcia.<br />
Stinson 108-3<br />
Edward A. Stinson, Jr. e<br />
Lloyd Wilson Bertaud<br />
cerca de 1915<br />
Stinson 108-3<br />
“Existem no Brasil em torno de 4 aeronaves, já incluído<br />
esta e uma no Museu da TAM. O nosso PT-ZCC Stinson<br />
108-3 fica hangarado no aeroporto da Santa Lidya<br />
(SDUL), em Ribeirão Preto-SP. Este modelo tem o estabilizador<br />
vertical mais alto, com um leme e bordo de fuga<br />
em linha reta, tanques de combustível 40 galões<br />
norte-americanos (150 L; 33 imp gal) também foram<br />
incorporados às asas. O 108-3 tem um peso bruto mais<br />
elevado do que seus antecessores de 2.400 libras (1.089<br />
kg). Uma característica distintiva foi a ranhura de bordo<br />
de ataque parcial instalado nas asas e alinhados com os<br />
ailerons sobre o bordo de fuga, assegurando que a parte<br />
da asa, contendo os ailerons, permaneça unstalled, em<br />
ângulos elevados de ataque, contribuindo assim, para<br />
comportamento dócil em curvas de baixa velocidade.<br />
O 108 RPL ( Réplica) Experimental, de Prefixo PT-ZCC, foi<br />
restaurado por Carlos Cesar V. Marques, inspecionado<br />
pelo Engenheiro Aeronáutico Walter de Castro Barros,<br />
em setembro de 2004, quando recebeu a certificação de<br />
voo. Essa aeronave tem as seguintes características<br />
técnicas: Velocidade: nunca exceder (Vne) 254 Km/h;<br />
Velocidade de cruzeiro: (75% pot.) 195 Km/h; Velocidade<br />
de stol: 90 Km/h; Peso vazio: 729 Kg; Peso máximo de<br />
decolagem: 1090 Kg; Fator de carga máximos +3,8 g e<br />
-1,7 g e carga 75,7 Kg/m2.<br />
Eu não faço viagens longas com ele. Pode ser feito, com planejamento ele contém os rádios necessários para a<br />
navegação, sua autonomia é de três horas e meia. É uma aeronave estável, o que a torna fácil de pilotar. Seu sistema<br />
de pouso é convencional, exigindo do piloto um pouco mais de atenção na hora do pouso do que as aeronaves que<br />
possuem um sistema tricículo. As aeronaves fabricadas na década de 40 são mais lentas, não têm um apelo na<br />
aerodinâmica, elas são mais robustos, o que não combina com o século 21, onde tudo tem de ser rápido e atender às<br />
necessidades de uma vida bem diferente da década de 40. Pilotar essa aeronave te remete a outra época, há outros<br />
tempos... É para quem gosta! Eu sou piloto, gosto dos dois tempos. As aeronaves mais novas eu uso no trabalho.<br />
Aeronaves mais antigas, como o Stinson, piloto por lazer e entretenimento”, explica Cmte Garcia.<br />
José Paulo Rodrigues Garcia é brevetado desde<br />
1974, possui mais de 20 mil horas de voo,<br />
iniciou como piloto, dando instrução em aeroclube,<br />
após, começou a voar na aviação comercial,<br />
na qual ficou por 2 anos. Em 1978 formou<br />
se em piloto agrícola, em 1995 fundou a<br />
própria empresa de aviação agrícola, a Garcia<br />
Aviação Agrícola Ltda, baseada no aeródromo<br />
SDUL, na Usina Santa Lydia, em Ribeirão Preto<br />
que continua com sucesso até hoje.<br />
Stinson 108-3<br />
Voar em uma aeronave tão antiga e cheia de história é algo muito raro e especial, como mostram Tiago Longuini<br />
(Patrimon Seguros) e Vilso Ceroni (presidente da Aviação & <strong>Mercado</strong>), que tiveram a oportunidade de fazer um<br />
voo com Cmte Garcia no seu Stinson 108.<br />
40 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 41
No evento do Aeroclube Bonanza, realizado no dia 03/09/16, tive o privilégio de voar em um dos únicos exemplares<br />
do Stision 108 no Brasil. Depois de ter voado um Grand Caravan 2016, posso dizer que a comparação foi muito<br />
interessante. Em épocas diferentes, essas duas aeronaves tiveram funções semelhantes quanto a usabilidade.<br />
O proprietário da Aeronave, o Sr Garcia, uma pessoa impar, bom de papo, inteligente e conhecedor da aviação,<br />
apresentava-se angustiado para demonstrar seu brinquedo, um Stision 108, para alguém presente naquele<br />
evento. Na fila de um dos food truck, onde esperávamos por nossa alimentação, ele lançou a pergunta: Veio com<br />
qual máquina? Eu respondi apenas o que podia responder, vim de Caravan, a convite da TAM Executiva. E de<br />
réplica ele emendou: sabe que eu tenho um que foi o Caravan de muitas décadas atrás?! Como não sabia<br />
exatamente do que ele estava falando, respondi apenas: legal! Então o convidei para compormos a mesa para o<br />
almoço. Terminado o almoço e a sobremesa, o Sr. Garcia convidou a mim e ao Tiago Longuini para conhecermos<br />
o tal “Caravan” de muitas décadas atrás.<br />
Andamos alguns metros por uma das pistas e chegamos ao imponente Stision 108. Muito bonito e bem cuidado.<br />
Ali, percebi o brilho nos olhos do Sr. Garcia, que demonstrava o amor pela sua máquina e o orgulho em que<br />
contava sobre ela e sua história. E lá vem o Sr. Garcia de novo com uma pergunta: O que achou da máquina?<br />
Muito bonita! É a primeira vez que vejo um exemplar desse modelo. Foi aí que soube que temos apenas dois no<br />
Brasil e eu estava diante de uma raridade, uma “espécie” em extinção.<br />
mento positivo. Foi quando falei para Sr. Garcia:<br />
isso será matéria para próxima edição da AM, mas<br />
o Sr tem que nos devolver vivos. Ele replicou: Então<br />
teremos matéria! Voamos por uns 15 minutos<br />
muito interessantes, com uma vista muito bacana<br />
do local do evento e das dezenas de aeronaves<br />
expostas. Tivemos ainda o direito a um voo rasante<br />
para dar vontade de voar em quem assistia.<br />
Demos mais uma volta e o Sr Garcia se preparou<br />
para o pouso, que foi tranquilo e terminou com um<br />
cavalinho de pau na pista.<br />
Para mim, ficou muito claro o que é paixão por<br />
aviação. Ela supera riscos e desafios para te<br />
colocar contra o vento e desafiar a física. Obrigado<br />
Cmte Garcia pela experiência proporcionada.<br />
O Sr. Garcia olhou para mim e para o Tiago e perguntou<br />
se gostamos e então disse: vamos voar! O Tiago<br />
vira e me diz: você conhece alguma oração que<br />
podemos fazer muito rápido? Eu respondi: a vida é<br />
composta por desafios, e a morte é composta por um<br />
momento, vamos descobrir de qual estamos falando.<br />
Subimos na máquina! Eu ao lado do Sr Garcia e o<br />
Tiago no banco de traz. O Sr. Garcia deu uma aula<br />
rápida sobre o painel, também não tinha, ali, muita<br />
tecnologia a demonstrar. Partida do motor dada e o<br />
ronco do motor já demonstrava como seria a<br />
experiência. Começamos a rodar pela pista de acesso<br />
á pista de decolagem e fomos até o final dela.<br />
Cmte Garcia acelerou o motor... e seja o que Deus<br />
quiser, pensei eu! Rodamos por uns 600 metros de<br />
pista e a máquina do Sr. Garcia começou a deixar o<br />
solo. Esse foi momento em que fiquei muito tenso. Eu,<br />
ali, apertado em um pequeno espaço, que minhas<br />
pernas atrapalhavam a pilotagem, mas com pensa-<br />
<br />
<br />
42 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 43
Trata-se do Clube Aero Boero, um espaço organizado para reunir aviadores, entusiastas e o pessoal da<br />
aviação em geral em torno da temática da aviação de treinamento. Constituído no início de 2016, o<br />
Clube é resultado da pecepção da existência de oportunidades para a utilização deste patrimônio da<br />
União no desenvolvimento de atividades que conectem educação, ciência e cultura com a aviação.<br />
Leonardo Dutra é piloto comercial, administrador<br />
de empresas, doutor em Relações<br />
Internacionais com pós-doutorado em RI. Tem<br />
experiência como instrutor teórico em escolas<br />
de aviação e como professor do ensino superior<br />
em universidades brasileiras e europeias.<br />
É o idealizador do Clube Aero Boero.<br />
Por Leonardo Dutra<br />
Entre outras aeronaves para o treinamento<br />
primário de aviadores no Brasil, como o Cessna<br />
152 e o Paulistinha, frequentemente o primeiro<br />
voo dos pilotos que almejam uma carreira na<br />
aviação é feito em uma aeronave Aero Boero 115.<br />
Tem sido desta forma nas últimas três décadas,<br />
desde a chegada do primeiro AB-115 no país<br />
para equipar a frota dos diversos aeroclubes<br />
brasileiros. Os aviões Aero Boeros, que voam no<br />
território nacional, são uma herança do antigo<br />
DAC (Departamento de Aviação Civil da Força<br />
Aérea Brasileira) deixada para a ANAC (Agência<br />
Nacional de Aviação Civil).<br />
Isso se deve a oferta de editais para a concessão de recursos públicos e privados que fomentam a<br />
execução de atividades científicas e culturais. São recursos que poderiam permitir a implementação de<br />
atividades como palestras e cursos para jovens e crianças, pautados pela temática ciência e aviação; o<br />
desenvolvimento de atividades lúdicas para o público em geral, como a realização de expedições<br />
aéreas para o registro visual de paraísos naturais brasileiros; ou ainda, a própria restauração de<br />
aeronaves que foram ícones da formação aeronáutica brasileira como o J-3, o Paulistinha e o AB-115.<br />
Entre os anos de 1987 e 1994, o governo brasileiro adquiriu 366 aeronaves Aero Boeros para equipar as<br />
escolas de aviação do país. Todas as aeronaves foram cedidas para os aeroclubes, entretanto, apenas<br />
alguns destes aviões ainda continuam em condições de voo.Neste contexto, a precariedade em que se<br />
encontram muitas destas aeronaves, abandonadas em hangares de todo o país, fomentou o surgimento<br />
de um movimento que objetiva repensar a utilização deste patrimônio do povo brasileiro.<br />
Além disso, o Clube Aero Boero é fruto de algumas demandas de seus primeiros parceiros, em sua<br />
maioria, membros de diretorias de alguns aeroclubes brasileiros, que apontaram a necessidade de<br />
lobby, ou uma pressão organizada sob as decisões do poder público, que permitisse uma melhor<br />
utilização das aeronaves do governo federal.<br />
O principal problema hoje é a existência de entraves<br />
para a redistribuição das aeronaves Aero Boeros entre<br />
os aeroclubes. O decreto 99.658, de 30 de outubro de<br />
1990, estabelece limitações para a doação de muitas<br />
aeronaves, que hoje estão abandonadas nos aeroclubes,<br />
para instituições que tenham interesse em<br />
restaurar e operar estes aviões. Alterações nesta legislação<br />
permitiriam que os aviões Aero Boero fossem<br />
doados para escolas de aviação que possuem interesse<br />
em voar estas aeronaves, ao contrário da atual<br />
situação, onde escolas que não querem ou não podem<br />
operar o avião abandonam os equipamentos em<br />
hangares de diversas cidades brasileiras.<br />
Resumidamente, o Clube AB objetiva analisar e enfrentar esta problemática. Assim, entre outros desígnios<br />
do Clube, a organização trabalha para salvaguardar o patrimônio material e imaterial da aviação no Brasil.<br />
Neste cenário, durante o segundo semestre de 2016, o Clube Aero Boero deu início à uma expedição<br />
aérea que está sobrevoando o país para registrar o presente e o passado das escolas de aviação.<br />
46 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 47
O primeiro circuito desta expedição aconteceu<br />
entre os meses de agosto e setembro. A bordo de<br />
um Aero Boero modelo AB-180, o Clube visitou<br />
algumas cidades do interior de São Paulo para<br />
evidenciar as nuances da aviação da região.<br />
A segunda edição da expedição já está confirmada<br />
para o mês de novembro no Brasil, e ainda, o<br />
Clube analisa a possibilidade de executar alguns<br />
trajetos fora do país, trazendo mais informação e<br />
entretenimento para aqueles que acompanham<br />
as atividades do Clube.<br />
Trabalhando em um dualismo composto por um<br />
ativismo social – que objetiva proteger o<br />
patrimônio da aviação – e pela produção de<br />
materiais de entretenimento para aviadores e<br />
entusiastas, o Clube AB desenvolve atividades<br />
inéditas dentro do meio aeronáutico brasileiro.<br />
Pois é urgente o trabalho de avaliação e enfrentamento<br />
de muitos problemas que rodeiam a<br />
aviação do país. Por exemplo, como o caso do<br />
elevado percentual de aviões Aero Boeros sem<br />
uso em diversas escolas de aviação.<br />
Segundo dados do Registro Aeronáutico Brasileiro<br />
(RAB/2016), das 366 aeronaves Aero Boeros<br />
compradas pelo governo federal nas décadas de<br />
1980 e 1990, apenas 128 ainda estão em<br />
condições de voo. Colocado de outra forma, 65%<br />
da frota de aviões de instrução da União federal<br />
está fora de operação nas escolas de aviação<br />
brasileiras.<br />
Embora as aeronaves Aero Boeros tenham quase<br />
30 anos de uso, muitas vezes estes aviões são o<br />
único aparelho disponível para instrução em<br />
diversas cidades, principalmente, nos municípios<br />
afastados dos grandes centros.<br />
E em que pese seja grande a discussão sobre a<br />
necessidade de modernização da frota de aviões<br />
de treinamento no Brasil, certo é que a frota de<br />
Aero Boero é um patrimônio que pertence ao<br />
povo brasileiro, e desta forma, é imperativo<br />
pensar sobre um melhor uso para mais de uma<br />
centena de aviões abandonados por todo o país.<br />
Mais informações sobre o Clube Aero Boero no<br />
www.aeroboero.com<br />
A aeronave danificada é um Aero Boero 115, matrícula<br />
PP-GIZ. Segundo o Registro Aeronáutico Brasileiro<br />
(RAB), disponível no website da ANAC, a aeronave foi<br />
cedida para a operação do Aeroclube de Bragança<br />
Paulista e está com o CA (Certificado de Aeronavegabilidade)<br />
vencido desde 2001.<br />
Apesar e a aeroneve estar em Bebedouro atualmente,<br />
ela não pertence a esse clube. Além disso, possui<br />
adesivos do Aeroclube de Itu. Há alguma confusão<br />
relativa ao histórico desta aeronave.<br />
.<br />
O avião é recuperável. Custo estimado entre R$ 100 mil e R$ 150 mil<br />
para colocar a aeronave novamente em operação. Alguns aeroclubes<br />
têm interesse e recursos para recuperar tal avião, como o Aeroclube<br />
de Itápolis, que já recuperou, a menos de um ano, 3 AB e atualmente<br />
está recuperando mais 3 AB, tem interesse em colocar mais dessas<br />
aeronaves em atividade para o uso em instrução.<br />
48 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 33
Construir uma fábrica de aeronaves era o sonho de criança do<br />
empresário e piloto Dediel Gomes, de 49 anos. A ideia ficou adormecida<br />
com o passar do tempo, mas depois de uma tragédia a fantasia<br />
dos tempos de menino se tornou uma alternativa para impulsionar a<br />
vontade de viver. Em 2012 um incêndio destruiu a empresa de<br />
semirreboques de Gomes em Ariquemes-RO. O prejuízo de 1,5 milhão<br />
de reais o deixou em depressão. Para superar o problema, em maio de<br />
2013 ele deu início ao projeto dos sonhos de infância.<br />
Projeto do ultraleve em desenvolvimento<br />
Ele estima que a aeronave fique<br />
pronta para voar ainda este ano.<br />
Gomes tinha uma empresa de<br />
semirreboques de fibra de vidro<br />
quê, em 2012 um incêndio destruiu<br />
os equipamentos e todo o estoque<br />
do estabelecimento. "Fiquei muito<br />
triste e teve um dia que chorei o<br />
dia todo. Foi quando passei em<br />
uma rua e vi um avião em um<br />
outdoor. Quando cheguei em<br />
casa e falei para minha esposa:<br />
vou construir algo impossível<br />
para mim'’, lembra.<br />
Ele diz que buscou informações e também usou a<br />
experiência de 15 anos como piloto para desenhar<br />
o projeto e construir um protótipo em madeira:<br />
"fiquei horas estudando. O modelo da aeronave é<br />
único. Pode haver parecidos, mas não igual. Já<br />
pedi o registro para patente", explica. O projeto<br />
está sendo executado em um galpão cedido por<br />
um colega empresário, que também se tornou<br />
sócio na fabricação de peças com fibra de vidro.<br />
O ultraleve será equipado com um motor Honda<br />
fit 1.5, aeronautizado, de 100 HP, que está pronto e<br />
já instalado na aeronave. Esse motor já é usado nos<br />
EUA há alguns anos. Ele é bem aceito e aprovado em<br />
aeronaves com as modificações adequadas para<br />
aviação. Dediel trabalhou também no motor, criando a<br />
caixa de redução e as demais peças para a transformação<br />
do motor automotivo para aviação. O trabalho<br />
dele tem sido elogiado no meio da aviação experimental<br />
em todo Brasil, seus vídeos no You Tube são muito<br />
apreciados devido a essa inovação em motores Honda<br />
para aviação, o que proporcionará redução de custos.<br />
O motor depois de pronto custará bem menos do que<br />
50 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 51
Projeto do ultraleve em desenvolvimento<br />
O motor depois de pronto custará bem menos do que o importado e esse avanço no Brasil pode ser marcado<br />
por este homem que fez do seu sonho a possibilidade de realizar o sonho de muitos que gostam da aviação<br />
experimental. Ele garante que sua fábrica, em breve, disponibilizará para venda este motor completo, bem como<br />
as peças. O modelo dos parabrisas veio pronto para ser instalado. As rodas foram compradas de uma empresa no<br />
Paraná. O restante da estrutura em fibra de vidro e de carbono confeccionados de forma artesanal por Gomes.<br />
Cada peça tem um molde. O empresário fabrica<br />
protótipos e depois as matrizes que servem de<br />
forma. "Aplicamos a manta de fibra de vidro ou de<br />
carbono no molde, impregnamos com resina e<br />
depois vem à secagem, que dura geralmente 12<br />
horas. Fazemos os acabamentos e a peça fica<br />
pronta", detalha. Ele acredita que o ultraleve deve<br />
ficar pronto para voar no prazo de um ano. Neste<br />
período ele constrói as últimas peças e tenta<br />
regulamentar a aeronave na Agência Nacional de<br />
Aviação Civil (Anac). O modelo experimental deve<br />
pesar 380 quilos quando for concluído. A documentação<br />
já foi encaminhada e agora ele está na<br />
espera para avaliações dos engenheiros, liberação<br />
de voo, etc. “As pessoas só acreditam em você<br />
depois do sucesso, enquanto você trabalha, sua a<br />
camisa e quebra a cabeça para chegar lá, ainda há<br />
os críticos e os pessimistas para enfrentar. Mas,<br />
sinto-me realizado, grato a Deus que me dá<br />
saúde, a minha família que me dá forças todos os<br />
dias e aos verdadeiros amigos que são poucos,<br />
mas existem. Criar um avião do zero e sem<br />
dinheiro não é fácil. Meu objetivo é fazer uma<br />
fábrica de aviões em Ariquemes ou em outro<br />
lugar que seja mais apropriado, que ainda será<br />
definido através de um estudo de mercado.<br />
<br />
A meta de Gomes é que este avião seja o primeiro de muitos. Como ele mesmo disse “criar um avião do zero e<br />
sem dinheiro não é fácil”. Seu objetivo é fazer uma fábrica de aviões em Ariquemes. O mesmo modelo poderá<br />
ser usado para aeronaves de quatro lugares com motores de 160HP. “Estamos fazendo devagar, e com carinho.<br />
Tenho fé que teremos sucesso neste projeto. Agora a depressão já foi embora", ressalta Dediel Gomes.<br />
Projeto do ultraleve em desenvolvimento<br />
<br />
52 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 53
pensei “pobre piloto de asa”, ainda bem que estou de planador!”. Passaram-se alguns segundos e foi a minha vez de<br />
ser cuspido. A térmica era forte mesmo. A asa esquerda do Quero-Quero começou a levantar e fiquei no dorso com<br />
o nariz para baixo. Mas, como o meu irmão já havia me ensinado acrobacia, fiz exatamente o necessário para<br />
consertar aquela situação anormal e voltar exatamente para onde estava antes, pois não ia desperdiçar uma<br />
térmica, uma tão forte como aquela. O piloto de asa não quis tentar mais e se mandou.<br />
Acrobacia em planador é a união de duas dádivas. A mágica do gerenciamento de energia encontra aqui o seu<br />
ponto mais alto, pois o voo de acrobacia em planador é a mais pura forma de troca de energia cinética por energia<br />
potencial e vice-versa. Voar acrobacia significa voar nos limites, e voar nos limites significa que pouco ou quase<br />
nenhuma margem de erro pode ser aceita.<br />
Voar em planador é a mais pura forma de voar. É o mais próximo que conseguimos chegar do voo dos pássaros.<br />
O voo sem motor, silencioso como ele só, onde o silvo do vento se torna o mais prazeroso instrumento, onde<br />
cada nuvem cumulus lhe acena como uma boa possi-<br />
Eu sou piloto e instrutor de avião e planador, inclusive de acrobacia,<br />
com cerca de 4.000 horas em planadores e 500 em aviões. Já voei uns<br />
60 tipos diferentes de planadores. Tenho experiência no treinamento<br />
de acrobacia em planadores. Já fiz muitos treinamentos nos últimos<br />
20 anos, em vários locais como Bebedouro, Tatuí, Pará de Minas, Ipuã,<br />
Varginha, Bauru, a mágica Rio Negrinho, etc. E uma certeza que eu tenho<br />
é que em todos esses voos desceram do planador pilotos mais<br />
seguros do que eram antes.<br />
Acrobacia é isto, conhecer as bordas do<br />
envelope da aeronave e saber passear<br />
por ali com segurança. E se o piloto<br />
soube chegar até lá, propositalmente,<br />
colocando a aeronave em qualquer<br />
posição que ele desejou, então irá<br />
saber sair de lá sempre que quiser.<br />
Uma vez em um campeonato em<br />
Formosa (cross country) eu peguei o<br />
miolo de uma térmica muito forte.<br />
Primeiro ela cuspiu uma asa delta<br />
que estava abaixo de mim (estava<br />
em outro campeonato, o Mundial<br />
de Asa Delta, nas cercanias) e eu<br />
bilidade de térmicas. Os pássaros (urubus, falcões,<br />
tuiuiús e até algumas andorinhas que são pegas de<br />
surpresa) lhe fazem companhia sem medo de chegar<br />
perto, eles quase tocam na fuselagem da aeronave,<br />
pois sabem que todos estão compartilhando a mesma<br />
fonte de energia térmica com um único intuito:<br />
Voar! Isso é o voo à vela.<br />
E quanto ao voo onde céu e terra trocam de posição no<br />
horizonte ao sabor da vontade do comandante, onde<br />
os limites do piloto e da aeronave são testados (nunca<br />
ultrapassados) a cada segundo, resultando em um<br />
aprendizado mais seguro para pilotos mais proficientes<br />
e em grande diversão para quem está lá em cima e<br />
para quem está lá em baixo? Isso é o voo de acrobacia.<br />
Acrobacia em planador é simplesmente juntar essas<br />
duas dádivas. A mágica do gerenciamento de energia<br />
encontra aqui o seu ponto mais alto, pois o voo de<br />
acrobacia em planador é a mais pura forma de troca de<br />
energia cinética por energia potencial e vice-versa.<br />
Eu escrevi, há 14 anos, um manual sobre acrobacia em<br />
planadores, o Rodas Para Cima: Manual de Acrobacia<br />
em Planadores, segunda edição lançada em 2010. Esse<br />
livro esta disponível para baixar, sem custo.<br />
E, lembrando! O manual não deve ser utilizado como<br />
fonte única para o aprendizado de acrobacia em<br />
planador, pois nenhuma literatura pode substituir<br />
um bom instrutor.<br />
O voo à vela nos abre as portas para<br />
diversos tipos de experiências. Basta<br />
ter o desejo e o empenho para<br />
correr atrás desse conhecimento e<br />
se aprofundar mais em cada tópico<br />
(mental, material, técnico, etc.),<br />
assim, nós ficaremos eternamente<br />
jovens, nem que seja de espírito.<br />
Bons voos de Rodas para Cima!<br />
54 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 55
competição foi realizada na Lituania; dois pilotos brasileiros – Henrique Navarro ( Aeroclube Bauru-SP) e Cláudio<br />
Schmidt (Aeroclube Rio Claro-SP) –representaram o Brasil. A Federação Brasileira de Voo a Vela é uma entidade sem<br />
fins lucrativos e de caráter desportivo; criada em 15 de janeiro de 1954 e vinculada ao Comitê Olímpico Brasileiro –<br />
COB que tem como finalidade a promoção e o desenvolvimento do volovelismo brasileiro. Suas atividades esportivas,<br />
especialmente os campeonatos, são regulamentadas e supervisionadas, em nível mundial, pela FAI, vinculada<br />
ao Comitê Olímpico Internacional (COI), também responsável pela homologação de recordes, insígnias e diplomas<br />
de performances. Estas aeronaves desmotorizadas estão muito avançadas tecnologicamente e tão seguras quanto<br />
qualquer pequena aeronave motorizada.<br />
Aeroclube de Itápolis KW-1 Quero-Quero<br />
<br />
Embora já existam modelos com motor para decolagens, todos se<br />
mantêm no ar com o auxílio das correntes de ar ascendentes. O<br />
planador é um avião tradicionalmente sem motor, que precisa ser<br />
colocado no ar por meio de auxílio externo, para impulsioná-lo até certa<br />
altura, em media, até os 500 m. Isso pode ser feito de várias maneiras. A<br />
mais comum delas é a decolagem por reboque, na qual o planador é<br />
puxado por um avião pequeno até alcançar a altura adequada, onde<br />
poderá manter-se com o auxílio das correntes de ar. O planador tem<br />
controles semelhantes aos de um ultraleve. A maior parte dos<br />
planadores é equipada com freios aerodinâmicos, usados para limitar a<br />
velocidade máxima e auxiliar na aterrissagem em campos de pequena<br />
extensão. Alguns modelos possuem também paraquedas na cauda, que<br />
atuam como freios na aterrissagem. Embora o voo muitas vezes seja<br />
feito em planadores de apenas um lugar, a equipe que participa de cada<br />
voo e o torna viável, envolve muitas pessoas , como: a equipe solo, o<br />
piloto do rebocador, o chefe de pista e outros. Devido à ausência de um<br />
motor essa grande equipe é imprescindível para os voos e cria esta<br />
oportunidade de rica convivência entre os praticantes.<br />
Voo à vela ou planadorismo teve desenvolvimento acentuado no<br />
período de 1920 a 1940 na Alemanha, tornando-se uma atividade<br />
altamente competitiva e tecnologicamente avançada. Os primeiros<br />
computadores eletrônicos de planeio surgiram em 1070. Em 1992 teve<br />
início o uso de aparelhos receptores de GPS's portáteis nos cockpits de<br />
planadores de competição. Em 1995 o uso de GPS, assim como os Flight<br />
Data Recorders ou registradores de<br />
voo, tipo de GPS acoplados aos<br />
computadores eletrônicos de planeio,<br />
eram comuns nas práticas esportivas<br />
em todo o mundo, inclusive no Brasil.<br />
Na Europa o esporte é bastante<br />
difundido: existem planadores<br />
especiais para crianças começarem a<br />
voar; além disso, há campeonatos<br />
para jovens, mas por aqui o volovelismo<br />
ainda é um dos esportes aéreos<br />
com menor número de praticantes e<br />
de pilotos competidores, se comprado<br />
com outros esportes aéreos, como<br />
o consagrado voo livre (parapente e<br />
asa delta). De acordo com a FBVV, no<br />
Brasil há 50 pilotos competidores, 15<br />
aeroclubes inscritos na federação e<br />
cerca de 1000 praticantes pelo país.<br />
Apesar disso, temos pilotos de nível<br />
técnico internacional, que representam<br />
muito bem o Brasil em campeonatos,<br />
como o Mundial de<br />
Planadores. Neste ano, essa<br />
No princípio da década de 30, a maioria das estruturas<br />
de aeronaves era de madeira. Em 1934, o Instituto de<br />
Pesquisa tecnológica (IPT) publicou o boletim técnico<br />
“Emprego de madeiras nacionais em aviação” e<br />
também o apresentou o 1º Congresso Nacional da<br />
Aeronáutica, de autoria de Frederico. Dirigindo a<br />
Seção de Madeiras do IPT, o interesse de Brotero pela<br />
aviação foi suscitado pela busca de aplicações para as<br />
madeiras brasileiras na fabricação de aeronaves. Em<br />
1938, o IPT uniu-se a Orthon Hoover para projetar<br />
uma aeronave de estrutura de madeira, para uma<br />
pessoa. O primeiro dos quatro protótipos de aeronave<br />
foi construído na Escola Politécnica e terminado em<br />
Rio Claro-SP, ficando conhecido como Bichinho de Rio<br />
Claro. Mais tarde ganhou a denominação IPT-0. O<br />
aparelho trazia algumas inovações, entre elas asas<br />
dotadas de passagens aerodinâmicas hipersustentadoras<br />
no bordo de ataque. Esse modelo de asa passou<br />
a se constituir numa característica dos aviões do IPT. O<br />
protótipo inicial foi dotado de um motor importado<br />
de 60 cavalos. As nervuras das asas e da fuselagem<br />
eram de freijó. A cobertura era de contraplacado<br />
fabricado pelo IPT.<br />
Em 194, o IPT realizou um novo projeto da aeronave,<br />
para que ela pudesse contar com motores mais possantes<br />
– de, respectivamente, 65, 75 e 80 cavalos. Foram então<br />
construídos no IPT outros três aparelhos. Todas as<br />
aeronaves apresentavam excelentes condições de voo;<br />
em 1940, Clay Presgrave do Amaral dera início às<br />
atividades aeronáuticas da Seção de Madeiras do instituto,<br />
dirigida por Brotero. Em 1948, a Seção de Aeronáutica foi<br />
elevada à condição de Divisão de Aeronáutica do IPT. O<br />
primeiro projeto de aeronave desenvolvido por essa seção<br />
foi um planador para instrução primária, registrado como<br />
IPT-1 e batizado de Gafanhoto.<br />
56 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 57
O instituto seguiu com novos planadores, como: o planador IPT-2, batizado de Aratinga, projetado para o treinamento<br />
primário de pilotos. Um único protótipo chegou a ser construído e voou pela primeira vez em julho de 1942; o planador<br />
IPT-3, denominado Saracura, que voou pela primeira vez em setembro de 1942. Era um modelo simples, de estrutura<br />
de madeira, e de fácil manejo. O modelo IPT-5, designado Jaraguá, era um planador experimental de dois lugares, de<br />
duplo comando, asas alongadas e de concepção moderna para a época. Voou pela primeira vez no final de 1943.<br />
O modelo IPT-6, designado Stratus, foi projetado por João Lepper. Era um planador experimental, de competição, e<br />
voou pela primeira vez em 1944. Era um aparelho de um único lugar, estrutura de madeira e cobertura de contraplacado<br />
fabricado pelo próprio IPT. O IPT-17, último projeto realizado pelo Instituto, era um planador de um lugar,<br />
de estrutura de freijó, e asas de perfil laminar. Apenas o protótipo foi construído e voou em 1960. O Instituto de<br />
Pesquisas Tecnológicas constituiu-se na base técnica sobre a qual surgiu a Companhia Aeronáutica Paulista. O<br />
Instituto projetou duas aeronaves, que vieram a ser fabricadas em série por essa empresa, além de projetar a<br />
famosa aeronave Paulistinha, cópia de um modelo norte-americano.<br />
O IPT foi fundado em 1889, atualmente<br />
com sede na Cidade Universitária –<br />
Butantã, São Paulo-SP. Está na história<br />
do Brasil com presença em diversos e<br />
importantes projetos de desenvolvimento<br />
do país, como na construção de<br />
rodovias e ferrovias; apoio tecnológico<br />
a siderúrgicas, aeroportos, construção<br />
de aeronaves; participação no plano<br />
de recuperação da Serra do Mar;<br />
desenvolvimento de materiais de<br />
construção reforçados com fibras<br />
vegetais, visando a redução de custos;<br />
desenvolvimento de liga de alumínio<br />
para cabeçotes de motores automotivos; desenvolvimento<br />
de plástico biodegradável; avaliação de<br />
produtos de consumo para o Inmetro, Procon e IDEC<br />
-programa de apoio tecnológico para a exportação<br />
produtos. Aos quase 120 anos de existência, o IPT<br />
investe firme na capacitação tecnológica para dar<br />
respostas consistentes aos desafios paulistas e<br />
nacionais do século XXI.<br />
Em 1894 foi fundada a Escola Politécnica, em São<br />
Paulo, uma das primeiras escolas de engenharia do<br />
país. Desde 1891, o Congresso Legislativo do Estado<br />
registrava projetos de lei prevendo a criação de uma<br />
escola de engenharia. Em 1892, o então presidente<br />
da Câmara dos Deputados do Estado e futuro<br />
diretor da Escola, Antônio Francisco de Paula Souza,<br />
apresentou um projeto dispondo sobre a criação do<br />
Instituto Politécnico.<br />
Em 2006, o IPT lançou o livro Ponierismos nos Céus:<br />
a História da Divisão de Aeronáutica do Instituto de<br />
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT)<br />
entre 1934 e 1957. O livro narra a participação do<br />
instituto no projeto e construção de protótipos de<br />
17 planadores e aviões, em projetos de aeroportos e<br />
na fabricação de centenas de hélices que supriram<br />
boa parte das necessidades do país durante a<br />
Segunda Guerra Mundial. O instituto deu suporte<br />
técnico à fundação e ao desenvolvimento da Companhia<br />
Aeronáutica Paulista para a fabricação de<br />
centenas de unidades do Paulistinha, aeronave que<br />
popularizou a aviação no Brasil durante o mesmo<br />
período. Entre 1957 e 1958, a divisão deixou o IPT e<br />
passou a ser subordinada à Diretoria de Aeroportos,<br />
da Secretaria de Viação do Estado.<br />
O IPT continua em plena atividade, não mais com<br />
projetos de planadores, porém, continua inovando<br />
na tecnologia aeronáutica. É um dos maiores<br />
institutos de pesquisas do Brasil; conta com laboratórios<br />
capacitados e equipe de pesquisadores e<br />
técnicos altamente qualificados, atuando basicamente<br />
em quatro grandes áreas: inovação, pesquisa<br />
e desenvolvimento; serviços tecnológicos; desenvolvimento<br />
e apoio metrológico, informação e<br />
educação em tecnologia. O IPT, com seu Núcleo de<br />
Estruturas Leves (LEL), aplica tecnologia inédita no<br />
Brasil na fabricação de estruturas aeronáuticas. É um<br />
projeto de parceria entre a Embraer, o IPT e a Empresa<br />
Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial<br />
(Embrapii). Essa parceira, assinada no dia de inauguração<br />
do Núcleo de Estruturas Leves (LEL) do Instituto,<br />
em maio de 2014, vem dando resultados positivos<br />
no desenvolvimento de estruturas aeronáuticas.<br />
Além dos planadores do IPT, um dos pioneiros do<br />
voo à vela no Brasil foi o alemão Hendrich Kurt. Em<br />
1942 ele construiu, nas oficinas do Aeroclube de<br />
Bauru-SP, o Zoling, planador de desenho alemão,<br />
batizado de “Arildo Soares”, em homenagem a um<br />
entusiasta bauruense da aviação, na época<br />
tesoureiro do Aeroclube de Bauru. Idêntico em forma<br />
e dimensão ao modelo original, Kurt utilizou apenas<br />
material nacional na sua confecção. Esse planador<br />
tinha asa alta e não possuía cabine fechada; o piloto<br />
voava sentindo o vento no rosto. O planador era<br />
rebocado por camioneta, decolava entre 50 e 60<br />
km/h e conseguia atingir velocidade de 80 km/hora.<br />
Seu primeiro voo foi realizado em 5 de setembro de<br />
1942. O planador recebeu o apelido de “Canguru” e<br />
fez sucesso nos céus de Bauru.<br />
No passado, vários outros fabricantes criaram seus<br />
modelos, como KW1- Quero-Quero, KW2 Biguá,<br />
KW1GB, IPE02 B Nhapecan, IPE 02 B Nhapecan II, IPE<br />
Nhapecan III, PE80367 URUBU, Niva B Monitor<br />
"Neivão", CEA-101 CB.1 Gaivota, CB-2 Minuano<br />
(aeronave com maior alongamento e maior razão de<br />
planeio construída no Brasil), EMB 400 Urupema, P1.<br />
Atualmente, de acordo com FBVV (Federação Brasileira<br />
de Voo à Vela) não há empresas fabricantes de<br />
planadores no Brasil. Mas ainda há por aqui alguns<br />
planadores nacionais preservados em museus, como<br />
o Elfe P1 “Colibri”, que está no museu TAM, em São<br />
Carlos-SP, em sistema de comodato. Este planador<br />
dos anos 40, pertence ao aeroclube de Bauru. Há<br />
planadores em fase de restauração e outros ainda em<br />
“forma”, que integram a frota de vários aeroclubes<br />
pelo país e dividem os céus com os muitos<br />
planadores importados, que são maioria no país.<br />
58 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 59
No Brasil, o sistema mais utilizado<br />
para colocar o planador em voo é<br />
o reboque por avião. Ligados por<br />
um cabo, o avião rebocador puxa<br />
o planador até a altura adequada<br />
para o voo. Depois, o piloto do<br />
planador comanda o desligamento<br />
e passa a buscar as correntes<br />
de ar ascendentes, chamadas de<br />
térmicas, para manter se em voo.<br />
Outra forma de reboque, esta<br />
muito comum na Europa, é a<br />
utilização de um guincho motorizado<br />
instalado na extremidade<br />
oposta da pista de decolagem,<br />
que rapidamente recolhe o cabo<br />
de reboque, imprimindo velocidade<br />
ao planador que logo ganha<br />
altura para iniciar seu voo.<br />
Planador Horsa sendo rebocado<br />
Térmicas: são colunas de ar ascendentes formadas pelo aquecimento da superfície da Terra. Como o ar próximo ao<br />
solo é aquecido pelo sol, ele se expande e sobe. Os pilotos ficam atentos para os terrenos que absorvem o sol da<br />
manhã mais rapidamente do que as áreas ao redor. Essas áreas, como pátios de estacionamento asfaltados,<br />
campos arados e terrenos rochosos, são uma ótima maneira de encontrar térmicas. Os pilotos também procuram<br />
atentamente formações novas de nuvens e até mesmo grandes aves planando alto sem bater as asas, que indicam<br />
sinais de atividade térmica. No momento em que uma térmica é localizada, os pilotos fazem uma curva e ficam<br />
circulando dentro da coluna até atingirem a altitude desejada, quando então, saem e retomam seu voo. Para<br />
evitar confusão, todos os planadores circulam no mesmo sentido dentro das térmicas. O primeiro planador na<br />
térmica decide o sentido, e todos os outros planadores que pegarem a térmica devem circular no mesmo sentido.<br />
As correntes de colina são criadas por ventos que sopram contra montanhas, colinas ou outras elevações.<br />
Zogling - Primary - Glider<br />
Há, no entanto, alguns planadores que possuem um<br />
motor próprio, podendo esse ser retrátil ou não, que<br />
lhes permite decolar sozinhos. Depois da decolagem, o<br />
motor é recolhido e ele passa a voar como um<br />
planador convencional. Esses são mais um tipo de<br />
planador e são denominados motoplanadores, pois<br />
possuem características de avião e planador. “Alguns<br />
têm capacidade para decolar com o próprio motor, são<br />
chamados de self-launching, como por exemplo, o<br />
Schemp-Hirth Arcus. Já alguns modelos têm o motor<br />
somente para salvar o equipamento em casos de<br />
pousar fora, são os ‘sustainer’, estes precisam ser<br />
rebocados por outra aeronave”, explica o instrutor de<br />
planador Murilo Garcia, do Aero clube de Itápolis-SP.<br />
Spalinger - PT - PBR AEROCLUBE BAURU-SP<br />
Pousar um planador é bem parecido com pousar um ultraleve, exceto pelo fato de que há, normalmente, o trem<br />
de pouso em um planador, que geralmente consiste de uma única roda localizada abaixo do cockpit. As asas dos<br />
planadores são muito fortes, e as pontas são reforçadas para evitar danos, no caso de rasparem no solo durante<br />
um pouso. Planadores normalmente têm uma pequena roda na cauda para evitar que ela raspe no solo. Quando<br />
for pousar, o piloto precisa ser capaz de controlar a rampa de descida, a razão de descida relativa à distância<br />
percorrida, a fim de tocar o solo no ponto certo.<br />
Os planadores usam as mesmas superfícies de comando (seções móveis das asas e da cauda) que os aviões para<br />
controlar a direção do voo. Os ailerons, inventados por Santos Dumont em 1906, usados no famoso 14Bis e<br />
usados até hoje nos aviões, são as seções móveis recortadas no bordo de fuga das asas. Eles são usados como<br />
controles direcionais primários e fazem isso controlando o giro do avião, inclinando as pontas das asas para cima<br />
e para baixo. Profundores é a estrutura horizontal móvel semelhante a uma asa, localizada na cauda. Eles são<br />
usados para controlar a arfagem do avião, permitindo ao piloto levantar ou baixar o nariz do avião quando<br />
necessário; são controlados por uma única alavanca (manche). O leme, como nos aviões, é controlado nos pedais.<br />
O leme é a superfície móvel na estrutura vertical da cauda. Ele é usado para controlar a guinada do avião,<br />
permitindo ao piloto apontar o nariz da aeronave para a esquerda ou direita.<br />
Três forças básicas atuam sobre os planadores: sustentação, gravidade e arrasto. Aviões têm uma quarta força, a<br />
tração. Além disso, existem três tipos principais de correntes de ar ascendentes usadas por pilotos de planadores<br />
para aumentar o tempo de voo sendo:<br />
Quando o ar atinge a montanha, ele é redirecionado<br />
para cima e forma uma faixa de sustentação ao<br />
longo da inclinação.<br />
As ondas estacionárias são semelhantes aos ventos<br />
de colina, no que se refere à formação, quando o<br />
vento bate em uma montanha. Entretanto, elas<br />
formam-se por ventos que passam sobre a montanha<br />
em vez de soprarem do lado. As ondas<br />
estacionárias podem ser identificadas pelas<br />
formações de nuvens bastante singulares; elas<br />
podem atingir milhares de metros de altura, e<br />
planadores podem chegar a altitudes de mais de<br />
10.500 metros.<br />
Colunas e faixas de ar ascendente obviamente<br />
beneficiam qualquer piloto de planador, mas como<br />
saber se você está voando em uma? A resposta é o<br />
variômetro, um aparelho que indica a razão de<br />
subida ou descida. O variômetro usa pressão<br />
estática para detectar mudanças de altitude. Se o<br />
planador estiver subindo, a pressão estática cai,<br />
porque a pressão do ar diminui quanto mais alta for<br />
a subida. Se o planador estiver descendo, a pressão<br />
estática aumenta. A agulha do variômetro indica a<br />
razão da mudança de altitude, baseada na razão de<br />
mudança da pressão estática. Ao entrar em uma<br />
massa de ar ascendente (como uma térmica), a<br />
agulha do variômetro dará um salto (e o variômetro<br />
normalmente emitirá um bip para alertar o piloto).<br />
Mas, a história dos planadores é bastante antiga.<br />
Leonardo da Vinci, italiano, um gênio excepcional<br />
das ciências e das artes do seu tempo, pintor, poeta,<br />
matemático, arquiteto, físico e mecânico habilidoso,<br />
além de místico respeitado por seus conhecimentos<br />
e poderes ocultos, foi um grande entusiasta da arte<br />
de voar; estudou muito seriamente o voo dos<br />
pássaros, a partir dos quais deixou projetos e<br />
desenhos, visando colocar o homem no espaço. Seu<br />
projeto foi o de um aparelho voador que, afinal, era<br />
bastante sensato. Infelizmente, não viveu o bastante<br />
para tentar a execução da sua máquina. Mas assim<br />
mesmo, foi Leonardo da Vinci que encerrou as<br />
atividades aéreas do século XV, dando passos<br />
gigantescos na direção do velho sonho humano de<br />
voar.<br />
No século XVIII, sobressaíram as experiências do<br />
Marquês de Bacqueville, em 1742 e de Blanchard,<br />
em 1783 e 1784. Na Alemanha, Driedberger<br />
construiu, em 1845, um monoplano de 17 metros<br />
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Planador waco embarcando jeep<br />
quadrados de área de sustentação,<br />
acionado pelo piloto. Até o fim do<br />
século XIX, outros tentaram o voo<br />
com e sem motor. Uma tentativa da<br />
real utilidade para a aviação de<br />
nossos dias surgiu em 1871,<br />
apresentada por Charles Renard,<br />
um francês que fez experiências<br />
científicas sobre o voo planado.<br />
Depois de muitos estudos e<br />
experiências científicas objetivando<br />
a solução econômica e metódica<br />
do voo, o engenheiro alemão,<br />
Otto Lilienthal, conseguiu em 1889,<br />
construir e colocar no ar a primeira<br />
aeronave sem motor. Ele realizou,<br />
posteriormente, mais de 7000 voos<br />
em planadores, que projetou,<br />
construiu e testou. Em 1889, veio a<br />
falecer durante uma experiência de<br />
voo com planador. Ele deixou para a posteridade os seus estudos<br />
e conclusões científicas em um livro publicado no ano de sua<br />
morte: Der Vogelflugals Krunlage der Fluegelunst. A partir dessa<br />
obra, espalhou-se e evoluiu o conhecimento atual da técnica e da<br />
arte de voar. A partir de 1895, Octave Chanute, cumpriu, nos<br />
Estados Unidos, mais de 7.000 voos de planador. Ele foi um<br />
grande incentivador do voo à vela. Em 1900, os irmãos Wright<br />
conseguiram voar em um planador biplano, o primeiro desse<br />
tipo que realmente voou.<br />
Mas estes graciosos brinquedos, utilizados no esporte, no lazer e<br />
no turismo, já foram à guerra e eram bem maiores do que os são<br />
atualmente. As origens do uso de tropas aerotransportadas por<br />
planadores datam de 1917, ainda durante a Primeira Guerra<br />
Mundial, nas teorizações do general americano Wild Bill Mitchell.<br />
A cruzada em favor do Poder Aéreo de Billy Mitchell levou ao que<br />
pode ser considerado o primeiro salto operacional de combate,<br />
efetuado em Brooks Army Airfield, em 28 de setembro de 1929.<br />
Os militares americanos, porém, descartaram a ideia como<br />
“maluquice”. Outras nações, no entanto, não pensaram da<br />
mesma forma.<br />
C-47 rebocando Waco<br />
Planadores de assalto foram desenvolvidos para solucionar dois dos problemas cruciais das operações aerotransportadas:<br />
a dispersão das tropas durante o salto e a carência de equipamento pesado. As ações alemãs na<br />
tomada da fortaleza de Eben-Emael na Bélgica e na ocupação da Dinamarca e Noruega assombraram o mundo<br />
por sua velocidade e precisão cirúrgica com o uso dos planadores DFS-230.<br />
Subitamente acordados de seu sonho de isolamento, em 1940, os EUA iniciaram uma frenética corrida de preparação<br />
para a guerra. Em abril desse ano, o Pentágono aprova a criação da infantaria aerotransportada e, em 10 de<br />
outubro de 1941, o primeiro batalhão de infantaria aerotransportada por planadores foi declarada operacional.<br />
A Rússia abraçou o desenvolvimento<br />
dessa nova forma<br />
de guerra. Em agosto de<br />
1930, paraquedistas participaram<br />
pela primeira vez em<br />
manobras de combate em<br />
Veronezh. Seu uso foi tão<br />
efetivo que uma apresentação<br />
foi feita diante de autoridades<br />
russas, em Moscou, um mês<br />
depois. O Corpo Aerotransportado<br />
Russo tornou-se uma<br />
grande sensação entre os<br />
militares do país, com campanhas<br />
de recrutamento<br />
patriótico sendo levadas a<br />
cabo por todo o país.<br />
Entre os planadores de sucesso na<br />
guerra foi Waco CG-4ª, o mais<br />
produzido planador de assalto da<br />
Segunda Guerra Mundial. Desenvolvido<br />
em 1942, um total de<br />
14.000 unidades foi produzido<br />
durante a guerra, em 16 diferentes<br />
fábricas americanas, e teve mais<br />
de uma versão, como o Waco<br />
CG15. Transportava um total de 15<br />
homens, inclusos piloto e copiloto.<br />
Entre as cargas alternativas<br />
incluíam um jipee e motorista,<br />
radio-operador e um soldado;<br />
jipee, com dois soldados, e um<br />
trailer de provisões; um obuseiro<br />
de 75 m com 25 tiros e dois<br />
artilheiros; um pequeno trator e<br />
seu operador; um caminhão ¼ de<br />
tonelada ou qualquer outra<br />
configuração até o peso-limite de<br />
decolagem de 4.080kg. Toda a<br />
seção do nariz (incluindo a cabine<br />
do piloto) abria para cima,<br />
Waco CG-4A Gliders e avião no reboque C-47s<br />
permitindo a descarga e o desembarque<br />
de veículos diretamente.<br />
Normalmente rebocado por um<br />
cargueiro Dakota C-47, o CG-4<br />
atingia a velocidade máxima de<br />
240 km/h, sendo sua velocidade<br />
normal de planeio de cerca de<br />
190 km/h. Com 25,5m de envergadura,<br />
14,8m de comprimento e<br />
3,8m de largura, foi usado pelos<br />
britânicos com o nome de Hadrian,<br />
e, embora estes preferissem<br />
seus planadores Horsa, com<br />
praticamente o dobro de capacidade<br />
de carga, a capacidade de<br />
“pouso curto” em locais íngremes<br />
fez do Waco o preferido para<br />
muitas missões, como as que<br />
abasteceram a resistência iugoslava<br />
a partir da Itália, de 1944 em<br />
diante. Foi justamente na invasão<br />
da Sicília que o CG-4 fez sua<br />
62 Aviação & <strong>Mercado</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> 63
estreia em combate, porém, foi nas<br />
operações em Burma contra os<br />
japoneses, em março de 1944, que<br />
o Waco viveu suas maiores glórias.<br />
No Dia D, 14 planadores foram<br />
designados para as operações<br />
aerotransportadas de junho de<br />
1944 em apoio ao desembarque na<br />
Normandia: 292 Wacos e 222<br />
Horsas. Na confusão reinante<br />
naqueles dias, muitas vezes<br />
pilotos treinados em um tipo de<br />
planador eram obrigados a voar o<br />
outro, às vezes sem copiloto.<br />
Descarregando tropas, armas e<br />
suprimentos, os homens dos<br />
planadores viveram aí sua<br />
pior hora.<br />
Os “alvos rebocados”, como<br />
eram chamados pelos pilotos<br />
dos aviões rebocadores, foram<br />
vítimas de pesado fogo vindo<br />
de terra em muitas ocasiões, e<br />
as aterrissagens com cargas<br />
E apesar de pouquíssimas presenças, a história dos planadores tem pelo menos uma mulher de destaque.<br />
Hanna Reitsch, que começou como piloto de planador, voou quase todos os aviões militares alemães na Segunda<br />
Guerra Mundial. Mulheres pilotos eram raras na década de 1930, principalmente na Alemanha, sob o domínio<br />
de Hiltler, onde as mulheres foram fortemente forçadas a permanecer em casa junto a suas famílias. Porém,<br />
Hanna Reitsch, começou humildemente e acabou por tornar-se uma Fuhrer's top; piloto de teste, voou precocemente<br />
em um helicóptero, na frente de multidões e acabou por ser premiada com a prestigiada "Cruz de Ferro”.<br />
Hanna começou a estudar medicina, mas seu verdadeiro amor sempre foi aviação. Apesar das desconfianças dos<br />
seus pais, ela conseguiu convencê-los de que, para ter uma promissora carreira como médica na África, seria<br />
necessário saber voar; para isso necessitava de uma licença de piloto, e assim ela começou a ter aulas de voo.<br />
Mas ela desistiu de ser médica para se tornar piloto. Ganhou muitas competições como piloto de planador.<br />
Piloto de teste na Segunda Guerra, a partir de 1935, Hanna se envolveu em testes de planadores. Em 1937, ela foi<br />
um dos primeiros pilotos a atravessar os Alpes em um planador. Hanna voou uma grande variedade de aviões<br />
militares, incluindo o Junkers Ju 87 Stuka e Dornier Do 17.<br />
pesadas frequentemente terminavam com danos parciais ou totais. No final de junho de 1944, todos os planadores<br />
que participaram da invasão haviam sido perdidos. Depois disso, os Wacos seguiram participando de operações no<br />
sul da França, Holanda, Bélgica, Nova Guiné, Grécia e Alemanha, até o final da guerra em 1945. Um histórico exemplo<br />
do espetacular uso dos planadores alemães foi o resgate de Mussolini, de seus captores italianos no Hotel Campo<br />
Imperatore, cerca de 6.000 pés acima Monte Corno, o pico mais alto dos Apeninos. Todos os acessos por terra<br />
estavam bloqueados, e a altitude impedia um ataque com paraquedistas.<br />
Os pilotos de planadores capturados eram tratados como aviadores. Mas nem sempre receberam a mesma<br />
consideração e reconhecimento por parte de seus pares. Nenhuma medalha aeronáutica foi concedida aos pilotos<br />
dos Wacos durante a guerra, nem mesmo as de participação em guerra. Insolitamente eles eram considerados<br />
infantaria comum. E para piorar, nem tropas, nem pilotos de planadores usavam paraquedas, por questão de<br />
economia de espaço. Porém, com as pesadas perdas operacionais com planadores, logo fizeram ver que voar em<br />
um dos “caixões de lona” não era menos perigoso que pular de um avião.<br />
"Cada aterrissagem era uma situação de vida ou morte para os pilotos de planador. Era sua responsabilidade arriscar<br />
a vida, aterrissando aeronaves pesadamente carregadas com soldados e equipamentos de combate, em campos<br />
desconhecidos, no interior de território inimigo, muitas vezes em meio ás trevas,” piloto desconhecido. Eles foram os<br />
únicos aviadores da Segunda Guerra Mundial a voar sem motor, sem paraquedas e sem uma segunda chance. Heróis<br />
pouco reconhecidos pela história. Atualmente a Alemanha produz alguns dos melhores planadores existentes. Mas<br />
os planadores grandes, ao que parece, não são mais fabricados. Os atuais são para no máximo três pessoas.<br />
Seu sucesso foi maior por ser a<br />
estrela do partido nazista, embora<br />
ela não se interessasse por política<br />
– ela sempre dizia que simplesmente<br />
amava voar. Com a<br />
explosão da guerra em 1939,<br />
Hanna foi convidada a voar muitos<br />
dos mais recentes modelos da<br />
Alemanha. Entre esses foram os<br />
foguetes de propulsão Me-163<br />
Komet Komet e diversos grandes<br />
bombardeiros. Ela tornou-se a<br />
piloto preferida de Adolf Hitler,<br />
que a condecorou com a "Cruz de<br />
Ferro" durante a Segunda Guerra<br />
Mundial. Em 1937, Hanna fez seu<br />
primeiro voo de helicóptero, voou<br />
com o instrutor Focke de Bremen,<br />
entre vários outros aviões. Ao<br />
longo da década de 1970, ela<br />
continuou a voar e quebrando<br />
recordes em muitas categorias. Ela<br />
disse a um repórter americano, em<br />
1952, que estava abalada e revoltada<br />
com as ações do Terceiro Reich<br />
no mundo. Fundou uma escola de<br />
voo livre na Índia. Também passou<br />
quatro anos com uma escola de<br />
voo livre nacional em Gana, onde<br />
seus alunos a chamavam de mãe.<br />
Foi homenageada piloto do ano<br />
nos Estados Unidos em 1972.<br />
Hanna era polonesa, nascida em<br />
1912; morreu em Frankfurt aos<br />
67anos, em 24 de agosto de 1979,<br />
de infarto. Hanna Reitsch escreveu<br />
no final de sua autobiografia: "Voar<br />
- é a minha vida".<br />
Voar é um estilo de vida, que tem a<br />
mesma intensidade em qualquer<br />
época, em qualquer continente, país ou pessoa. O prazer de voar é indescritível,<br />
seja em qual estilo for. Só as aeronaves mudam ao longo da<br />
história, e a cada ano ficam melhores. Em nossos tempos elas estão<br />
infinitamente mais seguras e mais confortáveis; têm maior autonomia<br />
de voo e permitem uma melhor precisão na definição de rotas. Quem<br />
“curte” aviação está sempre buscando um jeito mais divertido e seguro<br />
de ficar mais tempo livre nos céus. O planador é uma lenda viva da<br />
aviação desportiva e continua evoluindo e atualizando sua história<br />
com a humanidade, só, que com voos em céus de paz e harmonia.<br />
Felizmente essas belas aeronaves, símbolos da liberdade, não vão mais<br />
a guerras, diferente dos humanos, seus inventores.<br />
Estas aeronaves estão muito avançadas tecnologicamente e tão seguras<br />
quanto prazer é sempre viver uma poesia de liberdade nos céus, e voar de<br />
planador é encontrar-se em um universo de paz e emoção com o poder<br />
das térmicas se elevando qualquer pequena aeronave motorizada. Voar de<br />
planador é estar em sintonia com a natureza, pois o ritmo do voo se<br />
harmoniza com as boas condições meteorológicas. Voar por aos céus.<br />
Como disse um dos melhores pilotos do Brasil, Henrique Navarro, do<br />
aeroclube de Bauru-SP, “o voo à vela ti mantém jovem por muito mais<br />
tempo, nem que seja de espírito”. Mas o espírito entusiasta é o que importa;<br />
se você esta feliz por dentro, essa alegria reflete no seu exterior, e o voar<br />
é sempre fonte de infinitas alegrias.<br />
Na próxima edição da <strong>Revista</strong> Aviação & <strong>Mercado</strong> confira mais um<br />
pouco do universo dos fabulosos planadores.<br />
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