Revista Penha | outubro 2016

entrevista
Mário Ribeiro
Comandante
dos Bombeiros
Voluntários do Beato
‘A nossa prioridade é
o quartel’
Mário Ribeiro, 43 anos,
é bombeiro há 28 anos e
Comandante dos Bombeiros
Voluntários do Beato
(BVB) há 7. A sua missão
como “soldado da paz”
teve apenas uma breve
interrupção, em que
experimentou a vida de
empresário. Em jeito de
introdução, conta-nos que a
vinda para o Beato foi uma
surpresa com a qual não
estava a contar. Chegando
em 2009, encontrou
uma “realidade difícil de
descrever”. Encetou uma
restruturação muito grande,
com o objetivo de “fazer
um corpo de bombeiros
praticamente novo”. Depois
de o número de elementos
ter baixado até aos 12,
os BVB contam hoje com
49 elementos, sem contar
com a Escola de Infantes e
Cadetes, onde os mais novos
dão os primeiros passos
nesta nobre carreira. Neste
momento, a prioridade é a
construção do novo quartel
na Avenida Gualdim Pais,
aqui na Penha de França.
Começamos pelo ponto
de situação das vossas
dificuldades: em que
situação atuam diariamente
os Bombeiros Voluntários
do Beato?
A maneira mais simples de
apresentar a questão é repetir uma
frase que já vai sendo habitual, que
repetimos ao Sr. Vereador Carlos
Manuel Castro e ao Sr. Secretário
de Estado da Administração
Interna: somos a corporação de
bombeiros com as piores condições
do País. Os bombeiros que estão de
serviço são obrigados a dormir no
chão. Antes de resolvermos alguns
problemas, chegavam a acordar a
meio da noite com ratos e baratas
por cima deles. No inverno, a água
entra pelo quartel adentro, com
um cheiro a esgoto indescritível…
As temperaturas atingem 1 ou 2
graus; no verão dá-se o inverso,
com 45 graus aqui dentro.
À noite, o edifício torna-se
muito quente, de tal forma que
é insuportável dormir.
Alguns dormem nos próprios
carros, outros dormem por cima
dos nossos veículos, nem sequer
cabemos aqui todos, até porque
durante os alertas reforçamos
o nosso piquete com mais 10
elementos no mínimo, ficando com
pelo menos 20 pessoas.
Costumo dizer que, também
por isso, estes são os melhores
bombeiros do mundo. Estão
sempre presentes!
Este edifício é já muito
antigo e não terá sido
pensado com certeza
para servir de quartel de
bombeiros…
Os BVB estão aqui sediados há
84 anos, num edifício que foi
construído para servir como
cavalariças. Pagamos renda,
porque é um imóvel privado, não
são instalações que pertençam
à Câmara de Lisboa… Neste
momento, por todas as razões,
a nossa prioridade é o quartel.
A Câmara cedeu-nos um terreno
situado na Rua Gualdim Pais /
Estrada de Chelas, onde vamos
construir o novo quartel, já no
território da Penha de França.
Como quem vai assumir a
despesa somos nós, estamos em
negociações com as duas juntas
de freguesia e com o banco. É de
realçar que a Junta de Freguesia
do Beato nos tem apoiado ao
máximo, incluindo na parte
burocrática, mesmo sabendo que
vamos sair do seu território. A Junta
de Freguesia da Penha de França já
nos confidenciou que também quer
apoiar-nos, e toda a ajuda será
muito bem-vinda nesta fase.
Como têm sobrevivido
os BVB do ponto de vista
financeiro? Com que
verbas?
Temos um PPC [Programa
Permanente de Corporação], que é
dado a todos os Bombeiros do País.
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