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Revista Dr Plinio 012

Março de 1999

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GESTA MARIAL DE UM VARÃO CATÓLICO<br />

gas, mas a Faculdade ainda estava<br />

quente da minha presença. Esses fatores<br />

podiam facilmente despertar<br />

naqueles rapazes a idéia de serem<br />

indisciplinados comigo.<br />

O primeiro problema era imporme<br />

ao respeito de todos. Segundo,<br />

fazer com que prestassem atenção<br />

na aula e gostassem dela. Terceiro,<br />

tornar-lhes manifesto a que ponto<br />

eu era católico, de um lado. De outro,<br />

incutir-lhes a certeza de que eu,<br />

como ex-aluno da Faculdade, estava<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> em traje de professor catedrático<br />

ciente da existência de uma forte,<br />

radical e declarada corrente anticatólica<br />

ali dentro, da qual muitos deles<br />

faziam parte. Corrente esta contra<br />

a qual eu mesmo lutara, peito a<br />

peito.<br />

Não podendo fazer o papel do<br />

mocinho que se aventurou a ensinar<br />

e não logrou obter o respeito de<br />

seus alunos, estabeleci meu plano<br />

de ação: seria um professor-torpedo,<br />

impondo-me ao acatamento deles<br />

e tratando da questão católica<br />

de modo rombudo. Essa era a única<br />

forma segura de agir, para que<br />

os indisciplinados curvassem a cabeça.<br />

Professor-torpedo<br />

Naquele tempo, as cátedras da Faculdade<br />

de Direito se erguiam sobre<br />

um elevado estrado, ao qual se tinha<br />

acesso por uma escada lateral.<br />

Em cima havia um banco — aliás,<br />

muito incômodo — dentro de um<br />

cercado de madeira. Para entrar,<br />

uma pequena porta. No minúsculo<br />

recinto, uma tábua inclinada para se<br />

colocar livros e apontamentos.<br />

Cada classe dispunha de um bedel,<br />

teoricamente encarregado de<br />

manter a disciplina. Os alunos, porém,<br />

não davam a menor importância<br />

a esses funcionários que, no decorrer<br />

das aulas, prestavam pequenos<br />

serviços aos professores, como<br />

pegar giz, trazer um livro, ou um<br />

copo de água, etc.<br />

Pondo em prática o plano que<br />

traçara, no meu primeiro dia de<br />

aula subi na cátedra sem olhar para<br />

os alunos. Sentei-me com segurança.<br />

Eles, como tinham entrado havia<br />

pouco na sala, estavam entregues à<br />

sua costumeira baderna. Eu permanecia<br />

quieto, com uma fisionomia<br />

de pouca amizade. Não demorou<br />

muito, e notaram que algo diferente<br />

vinha entrando em cena...<br />

Então, eu disse:<br />

— O primeiro ponto de meu programa<br />

é tal; passarei a discorrer sobre<br />

esse assunto. — E dei início à<br />

exposição.<br />

Passada a primeira surpresa, noto<br />

cochichos percorrerem a sala. Bati<br />

com força a mão na mesa, dizendo<br />

firme:<br />

— Silêncio!<br />

Outros cochichos e outras vigorosas<br />

intervenções, até que eles ficaram<br />

quietos e silenciosos. Prossegui<br />

a la torpedo, dando minha<br />

aula sem nenhuma outra consideração.<br />

8

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