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GESTA MARIAL DE UM VARÃO CATÓLICO<br />
gas, mas a Faculdade ainda estava<br />
quente da minha presença. Esses fatores<br />
podiam facilmente despertar<br />
naqueles rapazes a idéia de serem<br />
indisciplinados comigo.<br />
O primeiro problema era imporme<br />
ao respeito de todos. Segundo,<br />
fazer com que prestassem atenção<br />
na aula e gostassem dela. Terceiro,<br />
tornar-lhes manifesto a que ponto<br />
eu era católico, de um lado. De outro,<br />
incutir-lhes a certeza de que eu,<br />
como ex-aluno da Faculdade, estava<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> em traje de professor catedrático<br />
ciente da existência de uma forte,<br />
radical e declarada corrente anticatólica<br />
ali dentro, da qual muitos deles<br />
faziam parte. Corrente esta contra<br />
a qual eu mesmo lutara, peito a<br />
peito.<br />
Não podendo fazer o papel do<br />
mocinho que se aventurou a ensinar<br />
e não logrou obter o respeito de<br />
seus alunos, estabeleci meu plano<br />
de ação: seria um professor-torpedo,<br />
impondo-me ao acatamento deles<br />
e tratando da questão católica<br />
de modo rombudo. Essa era a única<br />
forma segura de agir, para que<br />
os indisciplinados curvassem a cabeça.<br />
Professor-torpedo<br />
Naquele tempo, as cátedras da Faculdade<br />
de Direito se erguiam sobre<br />
um elevado estrado, ao qual se tinha<br />
acesso por uma escada lateral.<br />
Em cima havia um banco — aliás,<br />
muito incômodo — dentro de um<br />
cercado de madeira. Para entrar,<br />
uma pequena porta. No minúsculo<br />
recinto, uma tábua inclinada para se<br />
colocar livros e apontamentos.<br />
Cada classe dispunha de um bedel,<br />
teoricamente encarregado de<br />
manter a disciplina. Os alunos, porém,<br />
não davam a menor importância<br />
a esses funcionários que, no decorrer<br />
das aulas, prestavam pequenos<br />
serviços aos professores, como<br />
pegar giz, trazer um livro, ou um<br />
copo de água, etc.<br />
Pondo em prática o plano que<br />
traçara, no meu primeiro dia de<br />
aula subi na cátedra sem olhar para<br />
os alunos. Sentei-me com segurança.<br />
Eles, como tinham entrado havia<br />
pouco na sala, estavam entregues à<br />
sua costumeira baderna. Eu permanecia<br />
quieto, com uma fisionomia<br />
de pouca amizade. Não demorou<br />
muito, e notaram que algo diferente<br />
vinha entrando em cena...<br />
Então, eu disse:<br />
— O primeiro ponto de meu programa<br />
é tal; passarei a discorrer sobre<br />
esse assunto. — E dei início à<br />
exposição.<br />
Passada a primeira surpresa, noto<br />
cochichos percorrerem a sala. Bati<br />
com força a mão na mesa, dizendo<br />
firme:<br />
— Silêncio!<br />
Outros cochichos e outras vigorosas<br />
intervenções, até que eles ficaram<br />
quietos e silenciosos. Prossegui<br />
a la torpedo, dando minha<br />
aula sem nenhuma outra consideração.<br />
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