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Revista Dr Plinio 014

Maio de 1999

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C<br />

onforme vimos no último número, foi no intuito de bem servir a causa<br />

da Santa Igreja que <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, jovem congregado mariano, aceitara sua<br />

indicação para candidato da Liga Eleitoral Católica (LEC) à Assembléia Nacional<br />

Constituinte, em 1932. Continuamos aqui a transcrição de seu relato,<br />

no qual ele conta episódios da preparação para o pleito.<br />

Dois acontecimentos pareciam-me<br />

propícios para<br />

modificar a política laicista<br />

imperante no Brasil nas primeiras<br />

décadas de nosso século.<br />

Até aquela época, quase só as mulheres<br />

freqüentavam os sacramentos.<br />

Contudo, a partir mais ou menos<br />

de 1928, o afastamento dos homens<br />

da religião começou a sofrer<br />

profunda mudança, em virtude do<br />

enorme desenvolvimento do Movimento<br />

Católico no País inteiro, marcado<br />

sobretudo pela expansão das<br />

Congregações Marianas.<br />

De outro lado, o governo revolucionário<br />

baixara um decreto estendendo<br />

o direito de voto às mulheres.<br />

Como até então apenas os homens<br />

votavam, a mentalidade a-religiosa<br />

reinante entre eles fazia com que o<br />

laicismo saísse sempre vitorioso em<br />

todos os graus da hierarquia política.<br />

Quando sugeri a criação da Liga,<br />

eu notava que, dessas transformações,<br />

podíamos tirar imensa vantagem<br />

em favor da Igreja.<br />

“Agora ponha a LEC em<br />

movimento”<br />

Tive grande regozijo no dia em<br />

que o Arcebispo D. Duarte mandou<br />

me chamar e disse: “Bem, agora ponha<br />

a LEC em movimento”.<br />

Entreguei-me com entusiasmo à<br />

instalação e organização da Liga,<br />

trabalhando de manhã à noite nisto.<br />

Dei início a uma série de conferências<br />

pelo Interior, o que representava<br />

um sacrifício para mim, pois detesto<br />

viajar, ainda mais em trens no-<br />

turnos, como era na maior parte dos<br />

casos. E foram muitíssimas viagens<br />

em todas as direções.<br />

No meio dessa propaganda eleitoral<br />

é que se deram os episódios de<br />

minha indicação para candidato a<br />

deputado, conforme já contei.<br />

Primeira reunião com os<br />

candidatos da Chapa Única<br />

Pouco após tornar-se público ser<br />

eu um dos candidatos, recebi, em<br />

meu escritório, um telefonema. Uma<br />

voz pomposa perguntou:<br />

— De onde fala?<br />

— Escritório do <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> Corrêa<br />

de Oliveira.<br />

— Ele está?<br />

— Sim, senhor, é ele quem está<br />

falando.<br />

— Fala aqui Alcântara Machado.<br />

Político famoso e experiente, havia<br />

ele sido indicado para líder da<br />

Chapa Única por São Paulo Unido,<br />

da qual faziam parte os candidatos<br />

da LEC. Certamente julgava que<br />

saía das nuvens para falar com este<br />

pobre rapazola de 23 anos. Não devia<br />

se lembrar de que eu fora seu<br />

aluno na Faculdade de Direito, tanto<br />

mais que ele lecionava Medicina<br />

Legal, matéria na qual eu não sobressaía,<br />

pois nunca havia me interessado<br />

por ela.<br />

— Oh! <strong>Dr</strong>. Alcântara, como vai o<br />

senhor? Está passando bem? O senhor<br />

foi meu professor há alguns<br />

anos na Faculdade de Direito.<br />

— Eu queria lhe avisar que vai<br />

haver uma reunião da Chapa Única,<br />

na sala da Ordem dos Advogados,<br />

na Rua São Bento, para discutirmos<br />

o programa. O senhor, como nosso<br />

mais jovem colega, está convidado.<br />

Não me perguntou se eu podia ir.<br />

Era a hora marcada para o benjamin,<br />

que tinha de acertar o passo<br />

com os outros.<br />

— Pois não. O senhor esteja certo<br />

de que estarei lá.<br />

Compareci à reunião, no prédio<br />

da Ordem dos Advogados, onde nunca<br />

tinha ido. Era uma construção<br />

antiga, onde residira outrora o Conselheiro<br />

Antônio Prado. A reunião<br />

se realizava na antiga sala de jantar,<br />

com papel de parede bonito, móveis<br />

de duvidosa beleza, uma mesa enorme,<br />

e todos conversando em um ambiente<br />

de politicagem, antes de começar<br />

a reunião.<br />

Entrei, e alguns já me conheciam;<br />

outros fingiam que me conheciam.<br />

Mas, sendo eu de longe o mais moço,<br />

não era difícil distinguir o <strong>Plinio</strong><br />

entre eles:<br />

— Ô, <strong>Plinio</strong>, como vai você?!<br />

— O senhor me conhece?...<br />

— Ora! Você mora lá perto de<br />

casa; eu vejo você desde pequeno!<br />

— Ah, está muito bem!<br />

Eu, de fato, nunca tinha visto<br />

aquele homem.<br />

Veio conversar comigo o Prof.<br />

Cardoso de Melo, grande amigo do<br />

Alcântara Machado, e que fora meu<br />

professor de Economia Política. Sua<br />

família se dava muito com a minha,<br />

de maneira que ele me tratou como<br />

quem fala com um sobrinho.<br />

— <strong>Plinio</strong>, vem cá, eu quero te<br />

apresentar para este, para aquele,<br />

para aquele outro, etc.<br />

Era hora de se iniciar a reunião, e<br />

nos sentamos.<br />

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