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C<br />
onforme vimos no último número, foi no intuito de bem servir a causa<br />
da Santa Igreja que <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, jovem congregado mariano, aceitara sua<br />
indicação para candidato da Liga Eleitoral Católica (LEC) à Assembléia Nacional<br />
Constituinte, em 1932. Continuamos aqui a transcrição de seu relato,<br />
no qual ele conta episódios da preparação para o pleito.<br />
Dois acontecimentos pareciam-me<br />
propícios para<br />
modificar a política laicista<br />
imperante no Brasil nas primeiras<br />
décadas de nosso século.<br />
Até aquela época, quase só as mulheres<br />
freqüentavam os sacramentos.<br />
Contudo, a partir mais ou menos<br />
de 1928, o afastamento dos homens<br />
da religião começou a sofrer<br />
profunda mudança, em virtude do<br />
enorme desenvolvimento do Movimento<br />
Católico no País inteiro, marcado<br />
sobretudo pela expansão das<br />
Congregações Marianas.<br />
De outro lado, o governo revolucionário<br />
baixara um decreto estendendo<br />
o direito de voto às mulheres.<br />
Como até então apenas os homens<br />
votavam, a mentalidade a-religiosa<br />
reinante entre eles fazia com que o<br />
laicismo saísse sempre vitorioso em<br />
todos os graus da hierarquia política.<br />
Quando sugeri a criação da Liga,<br />
eu notava que, dessas transformações,<br />
podíamos tirar imensa vantagem<br />
em favor da Igreja.<br />
“Agora ponha a LEC em<br />
movimento”<br />
Tive grande regozijo no dia em<br />
que o Arcebispo D. Duarte mandou<br />
me chamar e disse: “Bem, agora ponha<br />
a LEC em movimento”.<br />
Entreguei-me com entusiasmo à<br />
instalação e organização da Liga,<br />
trabalhando de manhã à noite nisto.<br />
Dei início a uma série de conferências<br />
pelo Interior, o que representava<br />
um sacrifício para mim, pois detesto<br />
viajar, ainda mais em trens no-<br />
turnos, como era na maior parte dos<br />
casos. E foram muitíssimas viagens<br />
em todas as direções.<br />
No meio dessa propaganda eleitoral<br />
é que se deram os episódios de<br />
minha indicação para candidato a<br />
deputado, conforme já contei.<br />
Primeira reunião com os<br />
candidatos da Chapa Única<br />
Pouco após tornar-se público ser<br />
eu um dos candidatos, recebi, em<br />
meu escritório, um telefonema. Uma<br />
voz pomposa perguntou:<br />
— De onde fala?<br />
— Escritório do <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> Corrêa<br />
de Oliveira.<br />
— Ele está?<br />
— Sim, senhor, é ele quem está<br />
falando.<br />
— Fala aqui Alcântara Machado.<br />
Político famoso e experiente, havia<br />
ele sido indicado para líder da<br />
Chapa Única por São Paulo Unido,<br />
da qual faziam parte os candidatos<br />
da LEC. Certamente julgava que<br />
saía das nuvens para falar com este<br />
pobre rapazola de 23 anos. Não devia<br />
se lembrar de que eu fora seu<br />
aluno na Faculdade de Direito, tanto<br />
mais que ele lecionava Medicina<br />
Legal, matéria na qual eu não sobressaía,<br />
pois nunca havia me interessado<br />
por ela.<br />
— Oh! <strong>Dr</strong>. Alcântara, como vai o<br />
senhor? Está passando bem? O senhor<br />
foi meu professor há alguns<br />
anos na Faculdade de Direito.<br />
— Eu queria lhe avisar que vai<br />
haver uma reunião da Chapa Única,<br />
na sala da Ordem dos Advogados,<br />
na Rua São Bento, para discutirmos<br />
o programa. O senhor, como nosso<br />
mais jovem colega, está convidado.<br />
Não me perguntou se eu podia ir.<br />
Era a hora marcada para o benjamin,<br />
que tinha de acertar o passo<br />
com os outros.<br />
— Pois não. O senhor esteja certo<br />
de que estarei lá.<br />
Compareci à reunião, no prédio<br />
da Ordem dos Advogados, onde nunca<br />
tinha ido. Era uma construção<br />
antiga, onde residira outrora o Conselheiro<br />
Antônio Prado. A reunião<br />
se realizava na antiga sala de jantar,<br />
com papel de parede bonito, móveis<br />
de duvidosa beleza, uma mesa enorme,<br />
e todos conversando em um ambiente<br />
de politicagem, antes de começar<br />
a reunião.<br />
Entrei, e alguns já me conheciam;<br />
outros fingiam que me conheciam.<br />
Mas, sendo eu de longe o mais moço,<br />
não era difícil distinguir o <strong>Plinio</strong><br />
entre eles:<br />
— Ô, <strong>Plinio</strong>, como vai você?!<br />
— O senhor me conhece?...<br />
— Ora! Você mora lá perto de<br />
casa; eu vejo você desde pequeno!<br />
— Ah, está muito bem!<br />
Eu, de fato, nunca tinha visto<br />
aquele homem.<br />
Veio conversar comigo o Prof.<br />
Cardoso de Melo, grande amigo do<br />
Alcântara Machado, e que fora meu<br />
professor de Economia Política. Sua<br />
família se dava muito com a minha,<br />
de maneira que ele me tratou como<br />
quem fala com um sobrinho.<br />
— <strong>Plinio</strong>, vem cá, eu quero te<br />
apresentar para este, para aquele,<br />
para aquele outro, etc.<br />
Era hora de se iniciar a reunião, e<br />
nos sentamos.<br />
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