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“Na mitologia <strong>do</strong>s iorubás, um <strong>do</strong>s povos africanos <strong>do</strong>s quais<br />
traficantes roubaram homens, mulheres e crianças para<br />
trazer para o Brasil como escravos, deuses e humanos um dia<br />
viveram juntos. Até que <strong>do</strong>is desses deuses brigaram e criaram<br />
a separação entre o Orum (que chamamos de Céu) e o Aiê<br />
(Terra). Ao construir Deuses de <strong>do</strong>is mun<strong>do</strong>s – o livro <strong>do</strong> silêncio,<br />
PJ Pereira põe a mitologia de cabeça para baixo, juntan<strong>do</strong> de<br />
novo humanos e deuses num mesmo cotidiano, fundin<strong>do</strong> mito<br />
e ficção, recrian<strong>do</strong> um universo em que os ciclos da repetição<br />
são rompi<strong>do</strong>s e substituí<strong>do</strong>s pelo produto da imaginação <strong>do</strong><br />
autor, que, no entanto, os faz voltar em seguida ao movimento<br />
original. Em termos mitológicos esse jogo poderia resultar<br />
numa catástrofe como a que dividiu o mun<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is, mas para<br />
nossa sorte o que a inversão operada por PJ Pereira pretende<br />
e consegue é produzir um livro delicioso de se ler, um ‘livro <strong>do</strong><br />
silêncio’, que é capaz, contraditoriamente, de nos falar bem alto,<br />
como gosta a boa mitologia.”<br />
Reginal<strong>do</strong> Prandi