Práticas de Educacao-Fisica-na-Educacao-Infantil
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Práticas de Educação Física
na Educação Infantil
Palavra do
Secretário
Prof. Edison d’Ávila
Secretário Municipal de Educação
A escola de Educação Infantil é entendida pela
Secretaria Municipal de Educação como um lugar
de descobertas e de ampliação das experiências
individuais, culturais, sociais e educativas,
através da inserção da criança em ambientes
distintos dos da família. Um espaço e um tempo
que necessitam contribuir para o desenvolvimento
da criança, seu mundo de vida e sua subjetividade.
É um contexto social e cultural que envolve,
através das inúmeras experiências, a oportunidade
de promover vivências num espaço de formação
integral.
Acreditando nesta concepção é que criamos
uma política que integrou profissionais da área da
Educação Física nas escolas de Educação Infantil
da Rede. Compreendemos que a Educação Física
tem um papel fundamental na Educação Infantil,
pela possibilidade de proporcionar às crianças
uma diversidade de experiências, através de situações
nas quais elas possam criar, inventar, descobrir
movimentos novos, reelaborar conceitos e
ideias sobre o movimento e suas ações.
Além disso, é um espaço para que, através de
situações de experiências – com o corpo, com
materiais e de interação social – as crianças
descubram os próprios limites, enfrentem desafios,
conheçam e valorizem o próprio corpo,
relacionem-se com outras pessoas, percebam a
origem do movimento, expressem sentimentos,
utilizando a linguagem corporal, localizem-se no
espaço, entre outras situações voltadas ao desenvolvimento
de suas capacidades intelectuais
e afetivas, numa atuação consciente e crítica.
As práticas publicadas nesta edição, demonstram
a seriedade e o compromisso destes profissionais
com a concepção de ensino proposta
pela Secretaria. Observamos nos relatos descritos,
como esta área do conhecimento contribui
para a efetivação de um programa de Educação
Infantil, comprometido com os processos de desenvolvimento
da criança e com a formação de
sujeitos emancipados.
Sumário
Prefácio ................................................................................................................................... 6
Educação Física e suas contribuições para Educação Infantil ................................. 8
O encontro da Educação Física com os pequenos .................................................. 10
Luz na passarela que la vem eles!
Camila de Oliveira ............................................................................................................... 12
Relaxamento na educação infantil
Ricardo da Costa Pereira ................................................................................................... 16
Gincana do Movimento
Leandro Aguiar ................................................................................................................... 20
Baldes dançantes
Eliton Clayton Rufino Seára............................................................................................ 26
Corpo, campo e movimento
Solange Maria Nunes........................................................................................................ 32
Movimentos de interações e brincadeiras com bebês
Solange Maria Nunes ....................................................................................................... 40
O eu, o outro e o nós:
jogos cooperativos como possibilidade pedagógica na Educação Infantil
Heitor Luiz Furtado ............................................................................................................ 44
Projeto Shantala Toque de amor
Camila da Silva Gomes das Neves .............................................................................. 50
Me encaixa nessa caixa
Lourdes Helena Bravo Gautério .................................................................................... 54
Meu corpinho vou cuidar chuá, chuá, o banho vai começar
Marcia Eliane Lorenzoni .................................................................................................. 60
Interagindo com a Diversidade
Rodrigo Zapparoli ............................................................................................................. 66
O corpo fala
Morgana Lorenceti Brasil ................................................................................................ 72
Aprendendo as diferenças por meio do esporte
Fayola Daiane Bueno da Silva ....................................................................................... 78
Brincando de Lanchonete!
Jorge Luís da Silva ........................................................................................................... 84
Quem quer pedalar põe o dedo aqui!
Telmo Vieira de Souza ..................................................................................................... 88
A magia das cores sobre o corpo
Leticia Granado .................................................................................................................. 94
6
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
Prefácio
Marynelma Camargo Garanhani
Universidade Federal do Paraná
Seja qual for o sonho comece... ousadia tem
genealidade e poder!
Empresto estes dizeres de Goethe para iniciar
o prefácio desta revista a qual mostra o protagonismo
de uma rede municipal de ensino que
ousou oferecer para suas crianças pequenas um
novo projeto de educação. Uma educação em
que o corpo em movimento ganhou destaque
nas orientações pedagógicas e práticas docentes,
como uma linguagem da infância.
Neste cenário, a genealidade de professores fez
com que as crianças pudessem vivenciar, nos
Centros de Educação Infantil de Itajaí, experiências
de movimento fascinantes, divertidas e criativas.
Enfim, experiências brincantes, nas quais o
corpo pula e se movimenta com alegria, o corpo
dança e constrói coreografias, o corpo se desafia
e explora o mundo, o corpo se expressa e no
seu movimentar se comunica.
Para isto, foi necessário a ousadia da gestão municipal
inserir, neste contexto de educação institucional,
professores licenciados em Educação
Física, os quais são especialistas em educação
do corpo em movimento. E, por meio de práticas
corporais infantis, integradas aos saberes da
Educação Infantil e de seus professores, realizam
um trabalho educativo do movimento como
uma linguagem da criança.
A leitura dos primeiros textos da revista possibilita
a compreensão do processo da inserção de
professores da Educação Física na Educação
Infantil de Itajaí. E, a ousadia de integrar saberes
de diferentes profissionais responsáveis pela
educação da criança pequena, mostrou a construção
de parcerias, não hierarquizadas, entre
diferentes profissionais da educação que atuam
na Educação Infantil. Mostrou, também, a genealidade
de poder pensar não mais em professores
generalistas ou especialistas, mas em professores
de Educação Infantil (Ayoub, 2001)
Os relatos das experiências de movimento que
a revista nos oferece à leitura, nos mostram o
quanto este projeto de educação deu certo!!! E
parabenizo a gestão municipal responsável por
este feito!!!
Para finalizar empresto novamente os dizeres de
Goethe para considerar que ousadia é uma palavra
mágica, ouse e o poder lhe será dado... ou
seja, a Secretaria da Educação de Itajaí ousou e
nesta revista apresenta resultados de muito trabalho.
Não poderia deixar de agradecer a oportunidade
de participar da formação continuada
dos professores de Educação Física que passaram
a integrar a Educação Infantil do município
e convido os leitores a conhecer relatos de experiências
desses professores com as crianças.
Vamos à leitura!!!
8
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
Educação
Física e suas
contribuições
para Educação
Infantil
Prof.ª Dr.ª Sandra Cristina
Vanzuita da Silva
Coordenadora Técnica
Prof.ª Cristiane de Cássia Heusi
Álvares Silva
Ao ingressar na escola, a criança sofre considerável
impacto físico-emocional, pois até então sua vida
era exclusivamente dedicada aos brinquedos e ao
ambiente familiar. Nesta fase, a Educação Física
detém séria responsabilidade e deve proporcionar à
criança oportunidades de desenvolver a confiança
em si mesma, a compreensão do ambiente e a capacidade
de comunicação.
Cada criança possui inúmeras maneiras de pensar,
jogar, brincar, falar, escutar e se movimentar. Por
meio destas diferentes linguagens é que se comunicam
no seu cotidiano, no convívio familiar e social,
construindo sua cultura e identidade infantil. Através
do movimento, utiliza seu corpo como forma de
interagir com outras crianças e com o meio, produzindo
culturas. Estas culturas estão embasadas em
valores como a ludicidade, a criatividade e também
nas experiências vividas por meio da expressão corporal
(SAYÃO, 1997).
É preciso ter o entendimento de que a linguagem
corporal deve ultrapassar o dualismo cartesiano entre
o corpo e mente. O ser humano é uno, portanto
a expressão corporal também é sentimento e pensamento.
Devemos pensar o ser humano, de forma
integrada, cada qual desenvolvendo o ensino com
ênfase na formação adquirida, contudo sem dicotomizá-lo.
Faz-se necessário, levar em conta também
a importância do movimento, inclusive para o
desenvolvimento do pensamento e a manutenção
da atenção. Assim propõe-se que sejam propiciadas
situações especialmente planejadas para trabalhar
as várias dimensões do movimento com as crianças.
Conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional - LDB 9.394/1996 art.26 inciso 3, “a educação
física, integrada à proposta pedagógica da escola,
é componente curricular obrigatório da educação
básica.” Sendo assim, o papel da Educação Física no
processo educativo, é auxiliar no desenvolvimento
da personalidade do indivíduo como um ser social,
contribuir para a saúde e fazê-lo reconhecer as suas
potencialidades físicas (BRASIL, 1997).
Além do que define a Lei de Diretrizes e Bases, é preciso
também considerar o que sinalizam as Diretrizes
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação
Básica que definem em seu Cap. I Seção I que, “A
Educação Infantil tem por objetivo o desenvolvimento
integral da criança em seus aspectos físico,
afetivo, psicológico, intelectual, social, complementando
a ação da família e da comunidade.” (BRASIL,
2010).
Considerando as prerrogativas legais e as disposições
teóricas que embasam a área, o município de
Itajaí incorpora ao quadro de profissionais dos Centros
de Educação Infantil, o professor (a) de Educação
Física. A proposta tem como objetivo principal o
atendimento das crianças de 0 a 5 anos, entendendo
a infância como um tempo de necessidades específicas,
onde as formas de ver e explicar o mundo
são traduzidas em movimentos, nas diferentes formas
de expressão e na comunicação das crianças.
A contratação dos Profissionais:
o início de uma história
A integração do Professor de Educação Física na
Educação Infantil é uma política pública da Secretaria
Municipal de Educação que atende alunos de 0 a
6 anos. Através do concurso público 004/2011, a administração
pública efetivou no ano de implantação
do trabalho, 38 (trinta e oito) professores, além da
efetivação ocorreu ainda a contratação em caráter
temporário de 26 (vinte e seis) profissionais.
Concluído os processos de contratação e efetivação,
os profissionais apresentaram-se nas unidades para
reconhecimento dos espaços, materiais disponíveis
e rotinas das crianças. Neste momento, a Coordenadoria
Técnica elaborou um instrumento de coleta
para identificar o perfil do Professor de Educação
Física que atuará na Educação Infantil.
Alguns indicadores foram priorizados: gênero, formação
acadêmica, atuação na área. Os dados apontaram
que a composição etária destes professores
é formada na sua maioria entre 25 e 35 anos. Onze
por cento são acima de 50 anos. Quanto ao gênero
a composição do grupo é equilibrada. Em relação
à formação inicial, constatou-se que a maioria tem
sua formação inicial pela Universidade do Vale do
Itajaí (UNIVALI), porém aparecem outras instituições
como UNIFEBE e FURB. Noventa e sete por cento
possuem formação inicial, com curso superior completo,
ou seja, temos um número significativo de
profissionais habilitados. Destes setenta e oito por
cento dos profissionais possuem especialização,
sessenta e sete por cento com uma pós-graduação
e vinte e sete com duas.
Ao serem questionados sobre as leituras a respeito
da infância, na formação especialmente na faixa
etária de 0 a 5 anos, setenta e um por cento afirmam
ter realizado leituras sobre a infância. Em relação
a experiência na área, sessenta e três por cento
já realizou trabalhos com crianças nesta faixa etária.
E trinta e cinco por cento não desenvolveu nenhuma
atividade com crianças de 0 a 5 anos.
Além do perfil os professores responderam sobre
suas expectativas em relação a este trabalho. As respostas
foram: realizar um ótimo trabalho, contribuir
para o desenvolvimento cognitivo e aprendizagem
das crianças, experimentar novas vivências. Apesar
das respostas mostrarem expectativas boas em relação
ao trabalho, grande parte dizia não possuir conhecimento
desta faixa etária e precisar de suporte
de materiais, bem como de formação continuada.
Os professores também foram indagados sobre suas
principais dúvidas em relação a este trabalho. Uma
pequena parcela respondeu como planejar, falta
de experiência, material e espaço físico e, a grande
maioria respondeu, conseguir planejar dentro da rotina
ou não respondeu. Neste item observa-se que
o planejamento ainda é um instrumento de rotina
e não é utilizado como guia para a organização do
trabalho pedagógico. Isto se confirma novamente
ao serem perguntado sobre a concepção de planejamento,
a grande maioria respondeu que serve
para Organização dos conteúdos em cada turma e
50%não responderam.
A partir do conhecimento do perfil traçamos um planejamento
da formação continuada que superasse
o modelo histórico reprodutivista e de atualização
de conteúdos exclusivamente teóricos, mas que tomasse
como eixo formador o desenvolvimento das
competências necessárias ao bom desenvolvimento
do trabalho.
Nessa perspectiva, valorizamos um modelo mais indagativo
e de desenvolvimento de projetos, de modo
a levar ao exercício do protagonismo de quem planeja,
executa e avalia sua própria formação. Ou seja,
superar a visão individualista de que basta fornecer
mais informações; recompor o equilíbrio entre os esquemas
práticos predominantes e os esquemas teóricos
inovadores; refletir sobre situações práticas e
gerar mudanças na cultura escolar tradicional, bem
como incentivar a mudança e a inovação.
Como resultado da formação continuada os professores
e professoras de Educação Física têm desenvolvido
práticas na Educação Infantil que proporcionam
espaços em que a criança aprende, brinca, se
desenvolve, se relaciona com outras crianças, dialoga,
desenvolve seus aspectos cognitivos, sociais,
afetivos. E isso é essencial, já que é a primeira experiência
educacional da criança fora do ambiente familiar,
longe dos pais, que são os meios de proteção.
Entendemos que todo o processo de implantação
da Educação Física na Educação Infantil é um momento
oportuno para os educadores físicos reivindicarem
seu espaço nesta etapa da Educação Básica,
para realização de práticas que instiguem discussões
e uma reflexão mais profunda sobre o papel
deste profissional e sua valiosa contribuição para o
desenvolvimento da criança.
A presença de um professor de Educação Física na
Educação Infantil é a comunicação, a compreensão,
a leitura, a interação e o envolvimento, a promoção
da evolução da criança por intermédio das manifestações
corporais, do movimento, do jogo e das atividades
lúdicas. Essas capacidades são exercitadas
pelos profissionais que, conscientes da importância
das primeiras comunicações não verbais entram em
comunicação corporal com as crianças e promovem
seu desenvolvimento integral. (ROCHA, s/d)
10
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
O encontro da
educação física
com os pequenos:
A inserção do Professor de
Educação Física
na Educação Infantil
Respeitar e ampliar o direito do livre movimento
do corpo infantil é o objetivo principal da inserção
do profissional da Educação Física na
Educação Infantil da Rede Municipal de Ensino
de Itajaí. A presença deste profissional na primeira
etapa da educação básica permite que,
as crianças pequenas e os adultos vivenciem
novas experiências, aprendizagens e ampliem
de forma significativa as linguagens e as diferentes
formas de expressão.
Desde que o trabalho iniciou nos Centros de
Educação Infantil, a linguagem do movimento
é resgatada e aperfeiçoada cotidianamente
pelo profissional de Educação Física em parceria
com os profissionais da Pedagogia. Para
que o trabalho se efetive e atinja seus objetivos,
a Diretoria de Educação Infantil procura
estabelecer um diálogo constante entre estes
profissionais, no sentido de alinhar as práticas
cotidianas às publicações curriculares que estruturam
o currículo.
O eixo do trabalho desenvolvido pelo do profissional
de Educação Física que atua na Educação
Infantil da rede pública municipal de ensino
de Itajaí é compreender a linguagem do
movimento como uma referência para práticas
que permitam a livre expressão, a multiplicidade
de experiências corporais e transmitam
a ideia da dimensão corporal, a partir das rotinas
intencionalmente planejadas pelos profissionais.
Para tanto, o currículo é estruturado a
partir das premissas das Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL,
2009), Diretrizes Curriculares Municipais para
Educação Infantil do Município de Itajaí (ITAJAÍ,
2015), além do acompanhamento de pesquisas
e publicações da área que enriquecem nossas
reflexões cotidianas.
Vários estudos da área da Pedagogia, Filosofia
e Sociologia têm também se debruçado a
(re) afirmar a importância do movimento para
a aprendizagem e o desenvolvimento da primeira
infância. E, a escola da primeira infância
deve ser o espaço intencionalmente planejado
e preparado para que a criança possa manifestar
seus movimentos de forma leve e natural,
vivendo cotidianamente experiências que favoreçam
o brincar e suas relações com seus pares
para a ampliação de seus significados.
É no brincar que a criança aprende e se apropria
do mundo ao seu redor. Por meio do brincar, a
criança manifesta e se apropria de linguagens.
Ela dá significados à sua realidade por meio da
imaginação e da fantasia. Desse modo, estabelece
relações e aprende sobre os papéis sociais
do mundo em que está inserida. Além disso,
desenvolve a capacidade de realizar ações conjuntas
com outras crianças, de expressar ideias
e opiniões, controlar e ajustar o próprio comportamento
com o das demais crianças. Partindo
dessas considerações, percebe-se que no
fazer pedagógico da Educação Infantil, devem
ser contempladas as diferentes linguagens que
a criança utiliza para a apropriação e construção
de conhecimentos, por meio da ação de
brincar. (GARANHANI; NADOLNY, 2015).
O brincar possibilita que as crianças com seus
pares e com o seu próprio corpo descubra seu
limite, valorize sua imagem, compreenda suas
possibilidades e perceba a origem de cada
movimento. Diante disto, é necessário que os
profissionais da primeira infância se comprometam
com esta educação integradora e que
seja efetivamente garantido no cotidiano dos
Centros de Educação Infantil, momentos de interação
e brincadeira.
Para acompanhar, assessorar, observar e orientar
o professor de Educação Física nas instituições
que atendem crianças pequenas, a
Diretoria de Educação Infantil procura articular
os saberes da formação inicial dos professores
de Educação Física com os saberes que
vem se constituindo nas práticas dos Centros
de Educação Infantil. Esta articulação vem se
constituindo por meio do programa de formação
continuada. Os professores participam de
encontros presenciais mensais, com o objetivo
de garantir uma aproximação contínua com os
profissionais e um acompanhamento sistemático
das práticas. Além de encontros presenciais,
há também um Ambiente Virtual de Aprendizagem
onde ocorre o armazenamento e troca
de informações dos profissionais, garantindo
total interação entre eles. As formações são
pautadas numa concepção de que a teoria e a
prática devem caminhar juntas num processo
de reflexão sobre a ação. Além do programa
de formação continuada, as Supervisoras de
Gestão da Diretoria de Educação Infantil, em
suas visitas de assessoramento às unidades de
ensino, acompanham as práticas pedagógicas,
o planejamento e registro, as reflexões da sua
prática e as sugestões de novas experiências.
Após três anos de implantação da Educação
Física nos Centros de Educação Infantil é possível
observar que a cada ano se constrói novas
formas de pensar a atuação deste profissional
na rede, sobretudo no sentido de qualificar o
atendimento das crianças pequenas e ampliar o
campo de atuação do Profissional de Educação
Física. As observações dos momentos de atividades
com as crianças e o Profissional de Educação
Física nos espaços de Educação Infantil
tem representado um momento de descontração,
alegria, mas principalmente de ampliação
de movimentos para a primeira infância.
Referências:
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil. Brasília: 2009.
GARANHANI, Marynelma Camargo, NA-
DOLNY, Lorena de F. Movimento do corpo
Infantil: uma linguagem da criança. Universidade
Federal do Paraná/Curitiba, 2015. Disponível
em http://www.acervodigital.unesp.br/
handle/123456789/447?locale=pt_BR. Acesso
em: 20 de setembro de 2016.
ITAJAÍ, Secretaria Municipal de Educação. Diretrizes
Municipais para a Educação Infantil.
Itajaí, 2015.
12
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
Luz na
passarela
que la
vem eles!
Camila de Oliveira
Ao iniciar o ano letivo, anseios relacionados
ao trabalho da Educação Física com a turma
do Berçário I estiveram presentes em meu
dia a dia, pela nova experiência ao se trabalhar
com bebês e, também, pela preocupação
constante em como atingir positivamente o
desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo
dos bebês.
Por meio de pesquisas e leituras, percebi
que, na Educação Infantil, é de grande valia
disponibilizar o maior número possível de experiências,
propiciando novos conhecimentos
aos envolvidos no processo de ensino e
aprendizagem. Durante essa importante fase,
a criança começa a relacionar-se com o meio
físico e social, e a Educação Física com sua
abrangência de conteúdos e possibilidades
metodológicas consegue propiciar esses momentos
de forma prazerosa e significativa.
De acordo com Gallahue e Ozmun (2005),
as crianças que frequentam a Educação Infantil
expandem seus horizontes com muita
facilidade, enfatizando suas próprias personalidades,
aprimorando e desenvolvendo habilidades,
além de testar seus limites e os do
que fazem parte de seu convívio.
Um dos principais objetivos da Educação
Física na Educação Infantil é enfatizar o
desenvolvimento das habilidades motoras
auxiliando as crianças a tornarem-se conscientes
do seu potencial de movimentos,
conseguindo realizá-los com confiança e
destreza pelos ambientes do Centro de
Educação Infantil. Dessa maneira, meu objetivo
principal foi estimular a aquisição e o
aperfeiçoamento das habilidades motoras
básicas (andar, engatinhar, rolar, manter-se
em pé, dentre outros) dos bebês da turma
do Berçário I do Centro de Educação Infantil
Nilton de Andrade, localizado no bairro
Itaipava. E os objetivos específicos foram os
seguintes: explorar os desafios oferecidos
pela atividade; deslocar-se com autonomia e
destreza pelos espaços; adquirir e aperfeiçoar
gradativamente movimentos de locomoção
(engatinhar, sentar, andar, subir, descer,
etc.); adquirir e aperfeiçoar movimentos corporais
(levantar a cabeça, girar o pescoço,
sustentar o tronco, manter-se em pé, etc.);
adquirir e aperfeiçoar gradativamente movimentos
de estabilização (deitar, rolar, rastejar,
apoiar, girar, etc.).
Passarela de apoio:
locomoção e estabilização
Percebendo que a turma do Berçário I apresentava
uma faixa etária entre quatro (4) meses a
um (1) ano de idade, resolvi criar algo que facilitasse
meu trabalho e auxiliasse de maneira
positiva no aperfeiçoamento e na aquisição de
habilidades motoras básicas necessárias aos
bebês. Como destaca Piaget (1971), as crianças
de zero até dois anos de idade encontram-se
no Estágio sensório-motor, quando se inicia o
desenvolvimento das coordenações motoras.
Nesse período, a criança tende a aprender a
diferenciar os objetos do próprio corpo ligando
seus pensamentos ao concreto.
Ao analisar o repertório já apresentado pelos
bebês, tanto das habilidades quanto das dificuldades,
criei um objeto intitulado “Passarela
de apoio” para que os bebês conseguissem
aperfeiçoar e adquirir com mais facilidade as
habilidades motoras básicas de locomoção e
14 Luz na passarelaque la vem eles!
estabilização. Essa “Passarela de apoio” foi confeccionada
com tábuas de madeiras, cabos de
vassoura (utilizado para que os bebês se apoiassem),
espuma para proteger as laterais, evitando
possíveis acidentes. Para finalizar essa confecção,
foi colocado um tapete parecido com
grama sintética para possibilitar a utilização
sem calçado e o contato com uma textura diferenciada.
Com os cabos de vassoura nas laterais, os bebês
podiam se segurar ficando em pé, como também
tentar alguns passinhos com e sem auxílio
das educadoras envolvidas naquele momento.
Meu trabalho com essa “Passarela de apoio” foi
realizado por alguns meses, buscando em cada
aula atingir meus objetivos específicos. Alguns
já se locomoviam até o objeto. Nosso incentivo,
então, era para que se agarrassem e se levantassem.
Para outros, o incentivo era direcionado
para a locomoção até o objetivo, e, assim, foi
possível observar a firmeza que os bebês apresentavam
- alguns ao se firmarem arriscavam
passos. Assim, nossa observação efetivava-se
em estímulos de superar dificuldades e auxiliar
nas habilidades apresentadas.
A locomoção é um aspecto fundamental no
aprendizado do movimentar-se, envolve a projeção
do corpo no espaço externo, alterando
sua localização, atividades como caminhar, correr,
pular e saltar obstáculos são movimentos
locomotores fundamentais. (GALLAHUE; OZ-
MUN, 2005, p. 252).
O primeiro contato com esse objeto foi enriquecedor
tanto para mim, como educadora, quanto
para os bebês envolvidos naquele momento.
Quando entrei na sala de aula, todos ficaram
atentos olhando para o objeto. Nesse dia, meu
objetivo era permitir a vivência perante o objeto
construído, ou seja, o foco era observar como
os bebês utilizariam a passarela. E assim cada
bebê utilizou da sua interpretação diante do
objeto novo, explorando-o com detalhes, uns
sentaram, deitaram, rolaram, brincaram com o
tapete, morderam o espaço macio, se seguraram
nos cabos de vassoura para ficarem em pé,
e outros nem se aproximaram do objeto.
Nas aulas posteriores que a “Passarela de
apoio” foi utilizada, meus objetivos específicos
começaram a ser colocados em ação. Procurei
realizar as atividades estimulando cada um individualmente,
podendo, assim, potencializar as
habilidades e também auxiliar nas dificuldades
de cada bebê, respeitando sempre os limites
individuais de cada um. Percebi que a aquisição
de novas habilidades motoras por parte dos
bebês aconteceu de maneira mais prazerosa e
significativa. Não relato aqui que começaram a
caminhar, ou a realizar outros movimentos de
locomoção e de estabilização devido ao objeto,
mas afirmo que este teve grande importância
nesse processo, pois auxiliou de maneira positiva
na aquisição e no aperfeiçoamento das
habilidades necessárias ao dia a dia dos bebês.
Foram algumas aulas para que todos os bebês
estabelecessem uma relação de segurança
com a “Passarela de apoio”. No entanto, com o
passar do tempo, conquistas foram sendo feitas
e todos eles a utilizaram sem medo, dando
cada dia uma função diferente ao objeto.
Além das expectativas
Meus objetivos com esse instrumento foram alcançados,
mas não me permito diagnosticar o
êxito totalmente ao meu objeto criado, pois a
criança desenvolve-se naturalmente, mas afirmo
que a estimulação auxilia com muito mais
propriedade o desenvolvimento dos bebês. Assim,
posso categorizar que meu objeto de trabalho
auxiliou e muito no desenvolvimento das
habilidades de autonomia nos desafios, no deslocamento
com destreza e no aperfeiçoamento
de movimentos de locomoção.
Com esse trabalho e objeto de apoio, obtive
satisfação ao ver o desenvolvimento das
crianças, pois se me propus a criar um objeto,
imaginei algo que me facilitasse o trabalho,
mas este foi além das minhas expectativas,
pois ofereceu estímulo aos pequenos. Para
nós educadoras, criar um objeto digno de outra
profissão (marceneiro) como instrumento
para desenvolver habilidades na educação é
como se escrevêssemos um livro de palavras
técnicas para teorizar as práticas pedagógicas.
Referências
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo
o desenvolvimento motor: bebês, crianças,
adolescentes e adultos. 3. ed. São Paulo: Phorte,
2005.
PIAGET, J. A epistemologia genética. Tradução
Nathanael C. Caixeira. Petrópolis: Vozes, 1971.
Camila de Oliveira
15
16
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
Relaxamento na
educação infantil
Ricardo da Costa Pereira
Desde que nascem, as crianças vivenciam
experiências corporais e, progressivamente,
apropriam-se de movimentos para a integração
com o mundo. Por meio do movimento,
aprendem sobre si mesmas, relacionam-se
com o outro e com os objetos, desenvolvem
suas capacidades e aprendem habilidades. O
movimento, portanto, é um recurso utilizado
pela criança para o seu conhecimento e do
meio em que se insere, para expressar seu
pensamento e também experimentar relações
com pessoas e objetos. O movimento,
para a criança, significa muito mais do que
mexer partes do corpo ou deslocar-se no espaço,
o movimento é linguagem (CURITIBA,
2009).
Conforme o artigo 29 da Lei nº 9.394 - Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
a finalidade da Educação Infantil é proporcionar
o desenvolvimento integral da criança
em todos os aspectos, físico, intelectual,
linguístico, afetivo e social, visando complementar
a educação recebida na família e em
toda a comunidade em que a criança vive
(BRASIL, 1996). Dessa forma, um dos compromissos
da Educação Infantil é oferecer
as crianças diferentes formas de manifestar
seu conhecimento, estimulando todas as
possibilidades de elas expressarem sua criatividade
- inclui-se, aqui, os movimentos.
Partindo do pressuposto de que a prática
pedagógica com o movimento deverá proporcionar
à criança o conhecimento de seu
corpo e das suas possibilidades de movimentação,
o domínio de formas de expressão e
comunicação e, como consequência, a apropriação
/ ampliação de saberes das práticas
de movimento da cultura infantil, justifica-se
a realização do presente projeto, por atender
três eixos recomendados por Garanhani:
• Autonomia e identidade corporal: referem-se
às aprendizagens que envolvem
o corpo em movimento para o desenvolvimento
físico-motor, proporcionando
assim o domínio e a consciência do
corpo, condições estas necessárias para
a autonomia e a formação da identidade
corporal infantil.
• Socialização: implica na compreensão
de movimentos do corpo como uma forma
de linguagem, utilizada na e pela interação
com meio social.
• Ampliação do conhecimento das práticas
corporais infantis: envolver aprendizagens
das práticas de movimentos que
constituem e ampliam a cultura infantil,
na qual a criança se encontra inserida.
(GARANHANI, 2002 apud CURITIBA,
2009, p. 11).
Quando as crianças pequenas trabalham em
pequenos grupos com atividades adequadas
ao seu nível de desenvolvimento e a seus interesses
(jogos, experimentações, brincadeiras),
passam a construir sequências de trabalho
em que se mostram capazes de inventar e desenvolver
iniciativas. Estudos também têm demonstrado
que, em ambientes de convivência
coletiva, as crianças desde muito cedo adquirem
a capacidade de relacionar-se com parceiros
diversos. Esses momentos podem ajudar as
crianças a compreender sentimentos e conflitos
e alcançar também sua satisfação emocional.
As interações criança/criança são ricas em
conteúdos e variam nos diferentes contextos,
em consequência de elementos como o tamanho
do grupo, os objetos disponíveis, o tipo de
atividade e podem auxiliar na construção da
ética e do respeito pelo outro (SILVA, 2013).
Entendemos que a Educação Física é uma
disciplina que tem grande relevância na Educação
Infantil, pois pode proporcionar às
crianças momentos de novas experiências,
contatos com outras pessoas que não sejam
as do seu ambiente familiar, descobertas, percepções
sobre seu próprio corpo a partir da
realização de uma diversidade de movimentos.
Dentro desse contexto, a Educação Física
atrelada à Educação Infantil contribui para
o desenvolvimento integral das crianças.
Diante dessa perspectiva, objetivamos com
este trabalho relatar a experiência vivida
com crianças de três a seis anos que frequentavam
o Centro de Educação Infantil
Padre Jacob, localizado no bairro São Vicente,
Itajaí. A atividade a ser apresentada
buscou conduzir uma reflexão sobre a valorização
e o planejamento de práticas pedagógicas
que contemplem o movimento como
uma linguagem da criança.
O objetivo geral deste projeto foi proporcionar
nas aulas de Educação Física técnicas
de relaxamento para crianças da Educação
Infantil, com o intuito de acalmá-las para
as atividades seguintes da rotina escolar,
oportunizar momentos de bem estar e descanso,
além de estimular sua percepção e
conscientização corporal e promover a sua
socialização.
Baseado em Nista-Picocolo e Moreira (2012),
a atividade proposta de relaxamento foi a
massagem com bolinhas. Foi necessário
os materiais de apoio: colchonetes, músicas
calmas e bolinhas (firmes e macias). A
aula de Educação Física teve como objetivo
despertar o sentir, perceber e identificar as
partes do corpo, compreender os efeitos da
massagem. O conteúdo atitudinal visou despertar
a empatia, cuidado com o colega, estímulo,
percepção e a conscientização corporal.
O espaço para sua realização ocorreu
tanto dentro da sala de aula, quanto na área
externa da escola.
Desenvolvimento da atividade
O desenvolvimento da atividade contou inicialmente
com a disposição das crianças
sentadas em roda para dialogar sobre o significado
da massagem. O professor conduziu
a plenária perguntando se já realizaram
18 Relaxamento na educação infantil
em alguém ou já receberam a massagem -
nesse caso, poderiam demonstrar a técnica
em alguém.
Após, com a música de fundo, foi solicitado
aos alunos que fechassem seus olhos e respirassem
tranquilamente, buscando silenciar
os pensamentos. Nessa etapa da aula,
pode-se dedicar mais tempo, para os alunos
conseguirem silenciar por mais tempo. Em
alguns momentos, ainda mais no primeiro
contato com essa experiência, muitos apresentaram
dificuldades em concentrar-se.
Na sequência, foi oferecido para duplas uma
bolinha e solicitado que cada integrante da
dupla massagiasse alguma parte do próprio
corpo e depois experimentasse massagear o
colega. A ideia é que as crianças conseguissem
identificar as partes do corpo que estão
sendo massageadas. Então, o professor foi
dinamizando a proposta para que passassem
pelas partes do corpo e conseguissem
memorizá-las. Caso algumas partes do corpo
não fossem identificadas, o professor sugeriu
que fossem massageadas, complementando
as informações nomeando-as. Assim sendo,
a sequência didática da aula contou com as
seguintes etapas: 1) Conceito de massagem;
2) Técnicas de respiração, 3) Massagem individual
e coletiva, 4) Conhecimento das diferentes
partes do corpo humano.
Benefícios da atividade na fase infantil
Dado o exposto, verificou-se a necessária articulação
entre Educação Física e Educação
Infantil, prevendo projetos pedagógicos que
fomentem o conhecimento corporal e técnicas
de relaxamento. Sua prática no cotidiano
escolar pode auxiliar a amenizar a hiperatividade,
o estresse, a insônia e ansiedade
dos educandos.
No nível bioquímico, ocorreu um aumento
da liberação de endorfinas – os hormônios
do bem-estar – e a criança sentiu-se feliz. A
circulação sanguínea também foi favorecida
e toxinas removidas – o que é ótimo para o
sistema nervoso em pleno desenvolvimento.
O padrão respiratório também melhorou,
pois a respiração deixou de ser mais curta
e as inspirações tornaram-se mais lentas e
profundas.
Foi por meio da coleta de depoimentos das
crianças que participaram do projeto e observação
de suas condutas dentro do espaço
escolar que verificamos os impactos que
o projeto trouxe para a vida diária delas. A
princípio, as crianças ficaram bem tímidas,
apresentaram dificuldades para se concentrar.
Ao longo do processo, essa barreira inicial
foi sendo transposta. As crianças passaram
a demonstrar maior interesse durante
as atividades e mostraram-se bem mais participativas.
No que diz respeito à execução
das atividades pelas crianças, algumas dificuldades
foram diagnosticadas, problemas
relacionados à movimentação, ao equilíbrio
e à socialização.
Em síntese, verificamos uma melhora significativa
na concentração de suas atividades
diárias, bem como maior conhecimento do
seu corpo e a socialização/fortalecimento
de vínculos com os colegas. O relaxamento
oportunizou momentos de descanso e bem
-estar para as crianças.
As práticas de atividades físicas, lúdicas e
recreativas representam não apenas uma
questão de benefício físico na fase infantil,
mas uma necessidade para o adequado desenvolvimento
cognitivo, psicológico e relacional
das crianças.
Referências
BRASIL. Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro
de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 23 dez. 1996. Seção 1, n. 248, p.
27833-27841.
CURITIBA. Prefeitura Municipal. Secretaria
Municipal da Educação. Caderno pedagógico:
movimento. Curitiba: SME, 2009.
NISTA-PICOCOLO, V. L.; MOREIRA, W. W. Corpo
em movimento na Educação Infantil. São
Paulo: Telos, 2012. (Coleção educação física
escolar).
SILVA, S. C. V. da. Jogos e Brincadeiras na
infância: curso de pedagogia. Itajaí: Universidade
do Vale do Itajaí: Biguaçu UNIVALI
Virtual, 2013.
Ricardo da Costa Pereira
19
20
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
Gincana do
Movimento
Leandro Aguiar
O movimento é uma importante dimensão
do desenvolvimento e da cultura humana. As
crianças movimentam-se desde que nascem
adquirindo cada vez maior controle sobre seu
próprio corpo e se apropriando cada vez mais
das possibilidades de interação com o mundo.
Pensando na continuidade das aulas de Educação
Física, o Centro de Educação Infantil
Professora Diva Vieira Abrantes, a partir de um
planejamento, criou a 1ª Gincana do Movimento
para os alunos, professores, agentes, pais e
funcionários para que eles pudessem socializar
todos os valores de uma forma sistematizada e
pedagógica. A ideia veio a partir de um pedido
da diretora. Pensou-se em todos os segmentos,
para uma execução adequada principalmente
para as crianças.
Foi planejado e buscado durante o evento promover
a integração, a união, a diversão, o entretenimento,
o companheirismo e o espírito esportivo
entre os participantes do evento. Integrando
toda a comunidade escolar de forma pedagógica,
despertando o espírito de competição sadia,
aprendendo a ser, a conviver e a fazer.
A 1ª Gincana do Movimento do Centro de Educação
Infantil Prof.a Diva Vieira Abrantes aconteceu
em cinco dias. A comunidade escolar envolvida
foi dividida em quatro equipes: vermelha,
verde, azul e amarela. Os grupos enfrentaram-
se respeitando suas faixas etárias em atividades
diferenciadas, com propósito de troca de
experiências e socialização de todos os participantes.
Dessa forma, criou-se um ambiente
de respeito e aprendizagem com foco na importância
dos valores no dia a dia do ambiente
escolar e na formação do indivíduo.
Durante o primeiro dia já se observou o envolvimento
e a interação entre todos, que foi muito
grande, desde a participação nas provas e atividades
como no cuidar das crianças, já que professores
estavam diariamente em contato com
os alunos das outras turmas, criando vínculos
e amizades muito fortes. Eles influenciaram diretamente
na confiança e na autonomia dos
pequenos. Os pais e os funcionários também
participaram diretamente e também entraram
no contexto, conhecendo o dia-dia vivido pelos
profissionais, os seus trabalhos, as suas metodologias
e os seus desafios, além das conquistas
das crianças que, durante cada momento,
apareciam de forma muito interessante.
A Gincana do Movimento teve um cronograma
diário pré-estabelecido para que todas as
pessoas envolvidas pudessem se direcionar
para as ações propostas para cada período e
dia, além das brincadeiras envolverem uma faixa
etária igual para a realização da atividade.
No cronograma, estava estabelecido o local de
realização; o horário; qual turmas iriam realizar
as brincadeiras; onde os alunos dos berçários
I e II, maternal I e II, Jardim I e II e Pré-escolar
brincavam entre si dentro da sua faixa etária;
as ações e as brincadeiras propostas, além dos
confrontos das equipes e suas respectivas cores.
Por exemplo, na equipe amarela havia 5
alunos do Pré, do Jardim, do Maternal, do Berçário
para que, no momento das atividades,
eles respeitassem suas individualidades e também
a integração em forma de grande grupo.
Cronograma das provas,
das brincadeiras e das tarefas
DIA 10-11-2014 | segunda-feira
Provas, brincadeiras e tarefas
Local Horário Alunos das Turmas
2 Pontos para os participantes
+ 1 ponto para o vencedor,
Confrontos
2 pontos para tarefa cumprida.
Pré e Pré / Jardim II
Cabo de Guerra
Verde X Amarelo
Azul X Vermelho
Gramado ou
Refeitório
8:45
Jardim e Jardim II
Maternal e Maternal III
Cabo de Guerra
Cabo de Guerra
Vermelho X Amarelo
Azul X Verde
Verde X Amarelo
Azul X Vermelho
Professores, funcionários e pais
Cabo de Guerra
Amarelo X Azul
Verde X Vermelho
Solarium ou
Refeitório
8:45
Berçario I, Berçario II e B III / M I
Torre de Latas
Todas as equipes
22 Gincana do Movimento
Durante a Gincana, as atividades foram sempre
em locais distintos para as crianças de 0
a 3 anos e 4 a 6 anos. No solarium, foi feita a
brincadeira de Guarda brinquedos a qual as
crianças conheciam muito bem, já que era
uma atividade feita no cotidiano. A participação
e o envolvimento era evidente. Algumas
disputas instauravam-se, mas o anseio
pela organização era aparente. Os bebês, já
nesse período, criam uma intenção de organização
muito importante.
Outra proposta foi o Empilhamento de latas.
As latas foram encapadas com várias cores.
Além da visualização do primeiro conceito
de cores, tinham as questões da lateralidade
e visão periférica para ser mais fácil identificar
onde e como estavam as latas durante
a brincadeira. Os bebês tiveram noção de
equilíbrio e coordenação motora fina com o
cuidado para empilhar as latas. Alguns iam
falando com os outros como deveriam colocar
as latas, tomando muito cuidado para
não deixá-las cair, e, ao final do empilhamento,
eles tinham também que retirar uma lata
de cada vez com cuidado para não derrubar
a sua pilha. Os professores e os agentes
sempre estavam juntos orientando e colaborando
para que as crianças desenvolvessem
a ação da forma mais prazerosa possível,
dando confiança a eles. No Pisa balão,
os pequenos puderam bagunçar muito indo
atrás dos balões. Alguns se assustaram, mas
depois já se apresentavam ambientados, falando
“heeeee” e batendo palmas.
No Circuito de forma mais integrada, trabalharam-se
as capacidades físicas usando
vários segmentos corporais. Em se tratando
do escorregador, após ganhar confiança
nas aulas de Educação Física, as crianças
queriam descer até de frente, sendo sempre
orientados a descer de forma segura. No
túnel havia um certo receio, mais logo iam
com o incentivo dos professores e agentes.
Eles se sentiram à vontade e passaram por
ele com velocidade e naturalidade, além de
pedir para ir outras vezes. O final do circuito
foi o trem. Os alunos receberam maior ajuda
para utilizarem mãos e pernas juntos e deixá
-los mais seguros.
No Andar sobre o banco, as crianças puderam
potencializar seu equilíbrio. Ao final,
com ajuda, elas ganhavam confiança para
pular do banco. No caminho de latas, elas
Leandro Aguiar
23
passavam bem devagar para não pisar fora
das latas, comemorando muito quando conseguiam.
Os professores colocaram como uma proposta
interessante encher o galão de água. Com
uma garrafa pet pequena, as crianças iam
até um balde e enchiam a garrafa. Foi muito
interessante ver o cuidado que as crianças
tinham para não derrubar água e a destreza
que colocavam a garrafa no funil para não
desperdiçar nada. Fizeram muitas vezes e
com ajuda de todas as crianças.
Para as crianças foram feitas brincadeiras
no gramado e área coberta. Na abertura da
gincana, elas brincaram com o famoso Cabo
de guerra. A força mostrou-se determinante,
mas a brincadeira é o que realmente fazia
a alegria da criançada. Contudo, não foram
só as crianças que brincavam, ali também
brincaram os pais, funcionários. Todos juntos
promoveram cooperação e companheirismo
durante e ao final da prova. Teve gente
que puxou forte o cabo e teve gente que
caiu dando muita risada de tudo. Brincaram
também da corrida do saco. Eles correram
da forma que conseguiam, mas todos colaboram
em equipe.
A Corrida de pé de lata foi muito divertida
com destaques para a prova dos adultos.
Eles tiveram muito equilíbrio em conjunto
com a velocidade. O Pega fita foi um grande
sucesso. As crianças além de brincarem individualmente
também criaram estratégias
em grupo. Também participaram da Corrida
da bolinha na colher. Não foi usado um ovo,
mas sim uma bolinha. Houve muito cuidado
e equilíbrio para não deixar a bolinha cair, as
crianças em sua maioria conseguiam levar
a bolinha a seu destino sem deixá-la cair. A
brincadeira de Derruba cones também fez
muito sucesso, todos tentavam derrubar os
cones da forma mais rápida possível. Tanto
as crianças quanto os adultos usavam estratégias
se dividindo em direções diferentes
para alcançar mais rápido todos os cones.
Na Prova dos bambolês, eles tiveram de
correr saltando dentro dos bambolês até o
outro lado e voltar para a fila onde estava o
próximo amigo.
Na Prova do futebol, eles bateram pênaltis em
traves pequenas. Ao final, eles faziam a contagem
para ver quantos cada equipe acertou.
A prova foi no gramado dando um contexto
maior de futebol. Alguns pais se destacaram
acertando, dando dicas e apoio aos que acertavam
e aos que não acertavam. Na brincadeira
da Caneta na garrafa, as crianças tinham que
ter paciência e uma grande noção de tempo e
espaço para colocar a caneta pendurada por
um cordão dentro do galão de cinco litros. Alguns
queriam botar a mão que não era permitido,
principalmente quando não conseguiam;
outros queriam direcionar a garrafa com as
mãos, o que também não era permitido. Ao final
todos conseguiram realizar a brincadeira.
Na brincadeira do Cadê o sapato?, eles tinham
de achar seu calçado dentro de uma pilha e
calçá-lo e amarrá-lo ao final. Alguns ajudavam
os outros mostrando muita solidariedade com
os amigos. A ação que terminou as brincadeiras
foi o Caça ao tesouro. Os grupos procuravam
as pistas pelo CEI para tentar encontrar
um prêmio ao final. A procura foi grande, mas
alguns desistiram porque não achavam algumas
pistas. A equipe verde acabou achando e
comemorando muito ao final.
Além das brincadeiras, os grupos também tinham
que realizar tarefas, trazer uma pessoa
com mais de 90 anos, fazer brinquedos recicláveis
e apresentar uma atividade durante
sessenta segundos (Se vira nos 60).
A GINCANA também teve uma proposta solidária
com a prova da cesta básica. Os grupos
tinham de trazer um quilo de alimento não
perecível para a formação de cestas básicas.
Foram feitas 6 cestas básicas e os alunos as
entregaram para famílias carentes da comunidade.
Os talentos da comunidade também
foram evidenciados, os quais apareceram na
tarefa da canção. Os pais tinham de cantar
uma música - um dos destaques foi a mãe
que contou um hino e a filha acompanhou
no violão.
Na sexta-feira, foi feita a culminância do projeto.
As crianças trouxeram muitas frutas e
foi feito, com ajuda de todos, um suculento
piquenique de frutas. Todos os envolvidos
puderam confraternizar, contar histórias, falar
das brincadeiras e experiências vividas,
momento em que os pais vivenciaram o cotidiano
da unidade escolar.
A entrega de medalhas foi de forma igual
para todos. Cada equipe recebeu a medalha
da sua cor em pódio, mostrando ao final que
24 Gincana do Movimento
todos foram vencedores em participação e
integração. De forma misturada, as turmas
desfilavam alegria em receber suas medalhas.
Eles foram para casa com uma lembrança
pendurada no pescoço, não de vitória ou
derrota, mas de uma competição sadia, com
muita orientação e foco nas brincadeiras.
Ao final, percebeu-se grande participação de
todos. Além de mais de duzentas e vinte seis
crianças, também participaram os quarenta
e dois funcionários, professoras, agentes em
educação, secretárias, supervisora, diretora,
cozinheiras, vigia e pessoal da área da limpeza.
Os pais e os familiares também participaram
significativamente - mais de cem familiares
envolveram-se no evento, brincando e
ajudando de várias formas.
A integração entre família e escola foi a principal
observação. As famílias, participaram,
brincaram, ajudaram a cuidar, deixando as
crianças muito felizes. Os pais, assim, envolveram-se
com o trabalho dos profissionais
no dia-dia da creche.
A organização com cronograma diário dos
locais das atividades e horários ajudou para
que o evento saísse de forma muito organizada,
já que aconteceram mais de sessenta atividades,
tarefas e brincadeiras que proporcionaram
as crianças um ambiente educacional
e familiar, mostrando o que fazem durante o
ano nas aulas de Educação Física, dando visibilidade
e ênfase na importância da disciplina
de forma organizada e com o profissional específico.
As crianças conseguiram, de forma
mais integrada, melhorar suas habilidades
motoras, cognitivas e sociais, oportunizando
a autonomia e a confiança com seu corpo,
conhecendo seus limites e possibilidades por
meio das oportunidades que a Gincana do
movimento pode proporcionar a todos que
estiveram envolvidos.
Leandro Aguiar
25
26
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
Baldes
dançantes
A CRIATIVIDADE
COMO PROCESSO
DE ENSINO-
APRENDIZAGEM
NAS AULAS DE
EDUCAÇÃO FÍSICA
DA PRÉ-ESCOLA
1
Eliton Clayton
Rufino Seára
Trilhando o(s) caminho(s)...
É preciso, inicialmente, ao dialogar
com o leitor, observar algumas questões
que entoam pulsantemente na
Educação Física como componente
curricular no ensino escolar: a ênfase
na disciplina, nos modelos engessados,
na mecanização do movimento
e, progressivamente, no tradicionalismo
que nós, professores, ainda mantemos
quanto ao seu ensino.
Nesse contexto, ao pensarmos especificamente
na Educação Infantil,
precisamos (des)construir, ainda
mais, os modelos arraigados em uma
objetividade racional e na comparação
2 objetiva entre os educandos.
1 Professor de Educação Física da Rede Municipal de Educação. Licenciado em Educação
Física, Mestre em Educação e Doutorando em Ciências Humanas (UFSC).
2 Entendo por comparação objetiva uma relação de sempre buscar estar acima,
ganhando do outro e, para isso, usando um movimento, uma técnica em específico que
faz com que se busque o único objetivo de sobrepujar o outro.
Com isso, este relato expõe o desenvolvimento
de uma atividade que buscou essa
desconstrução por meio do ato criativo nas
aulas de Educação Física e, com ela, uma
possibilidade dos educandos agirem com
criticidade e autonomia.
Dessa forma, buscou-se atingir esses
preceitos por meio da atividade intitulada
Baldes Dançantes. Ela foi desenvolvida com
a turma do Pré-vespertino que é composta
por 25 educandos; assim, pelo menos 25 novas
maneiras de manusear ou brincar com o
balde poderiam e, como se esperava, foram
criadas.
Construindo (teoricamente) as ideias
Pensar no objetivo de aprendizagem é relevar
aquilo que o professor busca possibilitar
para que seus educandos alcancem novos
saberes. Por isso, este relato buscou desenvolver
habilidades cognitivo-motoras de forma
a buscar a coparticipação criativa dos
educandos na resolução de desafios com o
objeto balde.
Não é só um balde,
é um mundo de criações
para as aulas de EF. Lá, estavam dispostos,
perto da parede, 26 baldes de lenço umedecido
(do berçário, obviamente) um do lado
do outro. Fiz a primeira pergunta: Para que
serve o balde? Um dos educandos respondeu
que servia para colocar água dentro.
Outro disse que era para guardar uma coisa
para limpar o bumbum dos bebês (risos e risos
nessa hora). Então, diante daquele ocorrido,
indaguei de novo: Dá para fazer mais alguma
coisa com os baldes? Dá para inventar
outras formas de usá-lo? Prontamente a resposta
foi um FORTE simmmmmmmmmmm!!!
A partir disso, em virtude de questões
de segurança, estabeleci, juntamente a eles,
duas regras: que o balde não poderia ser
usado para machucar de nenhuma maneira
os colegas, e que não poderia ser arremessado
muito alto, haja vista a queda brusca
sobre algum colega.
Partindo desse pressuposto, fiz um
primeiro pedido: “Todos devem andar com o
balde nas mãos até a parede e voltar, Ok?”;
“Sim”. E aí, o que tem de criativo nisso? Ora,
nada! Mas a ideia era mostrar justamente
isso, que nós estamos acostumados a fazer o
O processo do desenvolvimento da aprendizagem
torna-se mais eficaz quando o educando
recebe alguns desafios em que ele
necessita refletir antes de dar uma resposta
(CUNHA, 1977). Nesse contexto, o educando
deve ser atuante como propõe o processo
do ato criativo, no qual serão lançados a
ele desafios para que ele busque soluções.
É nesse momento que o processo de aprendizado
acontece de forma criativa, lúdica e
autônoma. Para esse processo, segundo Seára
(2014, p. 1), chamaremos de “diálogo em
movimento”.
Diante disso, a atividade baldes dançantes
foi realizada da seguinte maneira: Inicialmente,
cheguei à sala de aula para começar
a aula de Educação Física (EF). Ao realizar
minha fala (dimensão conceitual), deixei os
educandos curiosos, pois disse que naquela
intervenção baldes dançariam. Posteriormente,
levei os alunos em um grande trem
até o ‘’famoso areião’’, local muito utilizado
28 Baldes Dançantes
que é padrão, o que já é o modelo que nos é
estabelecido. Então, na volta, pedi a eles que
levassem o balde de uma maneira diferente
da que tinha sido feita. Foi então que o processo
de aprendizagem criativo se iniciou.
Era possível ver os baldes sendo levados na
cabeça (um chapéu de pirata), na cabeça
(um chapéu de cozinheiro), na cabeça (um
ninho de passarinho). Também nas costas
(um camelo), nas costas (um cavalo levando
uma pessoa), nas costas (um avião). Ainda,
colocaram nos joelhos, nas nadegas (bunda
como disse um deles), no cotovelo (um braço
espacial), na testa, na barriga (imitando
um caranguejo), nos pés (saci Pererê e perna
de pirata), no meio das pernas (andar de pinguim),
entre a panturrilha (pulo de canguru
ou sapo), com as duas mãos enfiadas juntas
no balde, em cima do ombro e foi o que eu
pude ver no momento - Ufaaaaa!!!!
Andando com os baldes
Depois dessa primeira parte, fiz uma roda e
pedi que eles colocassem os baldes em frente
a suas pernas com a boca (do balde) virada
para si. Diante disso, pedi que eles ‘‘pegassem’’
os baldes, porém sem usar as mãos.
Todos, prontamente, tentaram pegar com
os pés e, ao notar as dificuldades, de imediato,
queriam usar as mãos para ajudar. Só
que, como já lembrado, não poderiam usar
as mãos e, então, falavam: “É muito difícil,
sorr”, “o profi, não dá pra se equilibrar”. Dessa
maneira, perguntei a eles como poderiam se
ajudar a equilibrarem-se e um deles já foi dizendo:
segura no amigo do lado, segura. Com
isso, eles se apoiavam nos amigos e conseguiam
com mais facilidade elevar os baldes
com os pés até que, em um dado momento,
eles viram que podiam tentar sozinhos e que
aquela dificuldade/desafio tornava a brincadeira
mais atrativa, pois não era algo que
estavam acostumados a fazer (desenvolvimento
cognitivo-motor/equilíbrio dinâmico,
tônus muscular, habilidade óculo-pedal).
Por fim, nos últimos 10 minutos de aula, deixei-os
fazer o que quisessem (com exceção
das regras estabelecidas) com os baldes. Um
grupo criou um castelo, outros batucaram o
balde como se fosse um tambor, outros continuavam
a brincar de equilibrar e alguns jogaram
o balde como se estivessem fazendo
malabarismo. Ao observar que eles estavam
respeitando certo limite de segurança, tudo
ocorreu com tranquilidade. Tudo isso, ocorreu
ao som de uma música na qual toquei
no violão:
Sou um baldinho dançante,
um baldinho dançante, sou baldinho
dançante. E esse baldinho dança
agora, agora, agora, agora!!!!!!!!
O que aprendemos hoje?
No processo avaliativo, que neste escrito vou
chamar de formativo, encontrei a relação de
coparticipação nas atividades propostas.
Esse processo deu-se diretamente no diálogo
com os educandos perante a atividade.
Assim, foi possível observar de um pedido
para (re)significar o uso do balde um grande
potencial criativo e, mais que isso, uma
troca por meio da observação já que, quando
os educandos olhavam outros colegas,
eles também queriam fazer parecido com
eles.
Eliton Clayton Rufino Seára
29
30 Baldes Dançantes
Ainda, em um processo dialógico, ao retornarmos
à sala de aula, conversamos
sobre a aula e ressaltamos os pontos
principais dela, tais como: que todos
têm muita inteligência e podem criar
coisas novas, que aprendemos com
nossos colegas ao observá-los, que
precisamos usar os objetos pensando
na segurança do outro e na nossa própria,
e que a linguagem figurativa do
balde dançar era realmente para mostrar
que um balde pode ser muito mais
divertido do que imaginamos.
Concluí, nesse contexto, que a CRI(A-
ÇÃO)/CRI(ATIVIDADE) é a possibilidade
de ser desafiado, de sair da caixa do igual,
de fazer pensar além dos quadrados fechados
e inertes, de dançar de um novo jeito, de
imitar outra voz, de respeitar o outro, porque
se é e se faz diferente e, principalmente, que
ensinar e aprender é um ato de liberdade intelectual.
Referências
CUNHA, R. M. M. da. Criatividade e processos
cognitivos. Petrópolis: Vozes, 1977.
SEÁRA, E. C. R. A capoeira como conteúdo escolar:
uma proposta didática para as aulas de
Educação Física. EF Deportes.com, Revista
Digital, Buenos Aires, ano 19, n. 193, jun. 2014.
Eliton Clayton Rufino Seára
31
32
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
Corpo, campo
e movimento:
uMA EXPERIÊNCIA
DE EQUOTERAPIA
EQUITAÇÃO EDUCATIVA
COM JARDIM MISTO
Solange Maria Nunes
Desde 2015, as instituições localizadas na
zona rural, Escola Básica Professor Martinho
Gervási e Rancho La Cautiva (entidade que
atende crianças com deficiência no trabalho
de equoterapia e equitação educativa, pela
proprietária Maria de Lourdes Garcia), desenvolvem
atividades em parceira com o projeto
Educação Integral da Secretaria Municipal
de Educação de Itajaí, sob a responsabilidade
da professora de Educação Física Solange
Nunes, no período vespertino. A perspectiva
de desenvolver uma atividade periódica
com o Jardim Misto Parcial da escola surgiu
a partir de um projeto colaborativo entre essas
instituições.
Nas reuniões pedagógicas e conselhos de
classe, discutia-se que muitas crianças tinham
dificuldade para aprender, devido à
falta de concentração e atenção, bem como
dificuldades motoras. A psicomotricidade
oportuniza desenvolver integrações sociais,
educacionais, ambientais, econômicas e culturais,
para que o educando possa atingir a
maturidade de modo processual, consciente
e integrado. Sendo a escola localizada
na área rural e ter turmas desde o berçário
ao 9º ano, percebeu-se o quanto se poderia
contribuir com a superação de algumas dessas
problemáticas, explorando a localização
geográfica.
A vida no campo oferece possibilidades de
uma infância mais plena na relação com a
natureza e com os espaços, porém, na escola,
os espaços são poucos e têm regras, há
uma sistemática peculiar. Criando interações
com o conhecimento local, o campo,
desde cedo, pude auxiliar no desenvolvimento
dos alunos, tanto na parte motora quanto
na aprendizagem, tendo também a equoterapia
educativa uma participação significativa
nesse processo de interação.
Levitt (1997, p.18) afirma que, “[...] mesmo
quando uma criança apresenta limitações, alguma
habilidade ainda resta”. Essa foi uma das
grandes motivações deste processo de aprendizagem
e/ou estimulação, fortalecer e acreditar
no potencial e receptividade de cada educando,
resgatando o trabalho da equoterapia
educativa, e que essa dinâmica entrasse nas
atividades oferecidas pela escola.
Segundo Freitas, em tempos de educação
inclusiva, estudos sobre o corpo, esquema
corporal e a imagem corporal são particularmente
importantes para quem trabalha com
cognição, ensino e aprendizagem. Espera-se
do professor a compreensão mais abrangente
da criança, da sua diversidade, das diferenças
e dos processos que integram a cognição
humana (FREITAS, 2008).
Na equoterapia, os benefícios são adquiridos
por motivação, o que impulsiona o indivíduo
pelo desejo e prazer, conseguindo atrair
a atenção, a concentração e o autocontrole,
favorecendo a aprendizagem (MARCELINO;
MELO, 2006).
Para os alunos do Jardim Parcial, as experiências
obtidas no Rancho La Cautiva trazem
o contato com os animais, em um espaço diversificado,
buscando uma relação diferente
34 Corpo, campo e movimento
FOTO: ANDRÉ SCHIMIDT
Solange Maria Nunes
35
36 Corpo, campo e movimento
Solange Maria Nunes
37
com o corpo, atenção, concentração e autoestima.
Aprendem também a viver e conviver
de forma harmoniosa com os animais e a
natureza. O objetivo consiste em aproximar
as crianças da natureza, com o intuito de desenvolver
as interações sociais e ambientais
para perceber que o contato com os animais
favorece no seu processo de desenvolvimento
motor e no ensino e na aprendizagem.
O atendimento atualmente ocorre uma vez
ao mês, no período vespertino, no Rancho
La Cautiva. As crianças aprendem atividades
de montaria e cuidados no manejo com os
animais, tais como escová-los e alimentá-los.
Também aprendem sobre a morfologia do
animal.
O Rancho La Cautiva dispõe de um ambiente
espaçoso no qual as crianças, além de se envolverem
com os animais, podem se divertir
no parque, correr na grama e fazer trilhas. O
espaço físico dispõe de:
• cavalos, ovelhas, aves, coelhos e cães;
• piscina com churrasqueira;
• sanitários masculino e feminino com
chuveiros;
• salão multiuso;
• cozinha;
• horta e pastagem.
Os alunos do 6° ano que frequentam o projeto
Educação Integral foram capacitados e
hoje auxiliam na montaria das crianças, com
a supervisão da proprietária do Rancho La
Cautiva, a Senhora Maria de Lourdes Garcia.
Contribuições e construções
Considerando que a psicomotricidade, antes
de tudo, passa pelo desenvolvimento humano e
ambiental e deve ser aproveitada a todo instante
no que diz respeito à construção do conhecimento,
observou-se que aquelas crianças que
tinham dificuldades em se comunicar e eram
introvertidas, após o contato com os animais e
o campo, estão interagindo nas atividades de
sala de aula, demonstrando iniciativa e desenvolvendo
sua capacidade de comunicação. As
aulas que propiciam o contato com os animais,
principalmente com os cavalos, estão contribuindo
para seu desenvolvimento motor, socialização,
harmonia, autonomia e autoconfiança.
38 Corpo, campo e movimento
É visível a evolução no desenvolvimento
de algumas crianças, além de uma postura
adequada e um melhor equilíbrio de sua
coordenação motora. A questão do relacionamento
com o outro e com o meio tiveram
um grande avanço, o que faz com que consideremos
atingidos os objetivos a que nos
propusemos.
O registro das atividades é realizado por
meio de fotos que são anexadas na avaliação
semestral das crianças e do vídeo das
aulas que está no blog da Escola, neste endereço
eletrônico: http://blog.educacao.itajai.sc,gov.br/ebpmg,
para que os pais acompanhem
o desenvolvimento de seus filhos no
projeto.
Referências
FREITAS, N. K. Esquema corporal, imagem
visual e representação do próprio corpo:
questões teórico-conceituais. Ciências &
Cognição, Rio de Janeiro, v. 13, n. 3, p. 318-
324, 2008.
LEVITT, S. Habilidades básicas: guia para desenvolvimento
de crianças com deficiência.
Campinas, SP: Papirus, 1997.
MARCELINO, J. F. Q.; MELO, Z. M. Equoterapia:
suas repercussões nas relações familiares
da criança com atraso de desenvolvimento
por prematuridade. Estudos de
Psicologia, Campinas, v. 23, n. 3, p. 279-287,
jul./set. 2006.
Solange Maria Nunes
39
40
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
Movimentos
de interações
e brincadeiras
com bebês:
UMA EXPERIÊNCIA COM
LUZES
Solange Maria Nunes
A Educação Física é uma disciplina nova no
currículo da Educação Infantil da Rede Municipal
de Itajaí. O que trabalhar, como trabalhar,
quais experiências podem ser significativas
com o corpo? Movimento e criatividade
são temas recorrentes em nossas formações
e debates.
Nosso saber-fazer emerge na articulação
teórico-prática, no desenvolvimento de atividades
significativas, especialmente para
os pequenos de zero a três anos que estão
conhecendo e construindo as diferentes linguagens.
Assim, a Educação Física para os
bebês perpassa o conhecimento sinestésico
com percepção, interação e expressão,
no qual a criança se comunica por meio da
linguagem corporal, bem como acontece o
despertar intencional do “olhar”. As intera-
ções e as brincadeiras na Educação Infantil,
nos processos de desenvolvimento e aprendizagem
dentro do ambiente educacional,
são fundamentais no início da vida escolar.
Considerando a teoria sociointeracionista
de Vygotsky, e com as orientações do Ministério
da Educação para a Educação infantil,
defende-se a ideia da necessidade de as
crianças interagirem com o brincar para se
desenvolver. Assim sendo, a promoção de
atividades que favoreçam o envolvimento
da criança em brincadeiras, principalmente
aquelas que promovem a criação de situações
imaginárias, tem uma clara função pedagógica.
A escola, particularmente a pré
-escola, poderia utilizar-se deliberadamente
desse tipo de situações para atuar no processo
de desenvolvimento das crianças (VY-
GOTSKY, 1998).
As interações e as brincadeiras têm uma função
específica na infância, na qual a criança
recria a realidade usando os sistemas
simbólicos. Nessa fase, a criança começa
a distanciar-se de seu primeiro meio social,
representado pela mãe. Diante disso, cabe à
instituição de ensino o papel de estabelecer
o desenvolvimento da aprendizagem com a
interação social com o professor e com as
outras crianças.
A experiência aqui relatada foi realizada com
o Berçário Misto e teve como objetivo proporcionar
o desenvolvimento integral das crianças
em situações que envolvessem a curiosidade,
a exploração e o manuseio de materiais
como processo de experimentação.
Luz, ação!
O Berçário misto envolve crianças de zero a
dois anos, fase em que o desenvolvimento da
percepção é alimentado pela curiosidade. Assim,
a montagem da experiência faz parte do
processo de aprendizagem.
Para iniciar o projeto, ao entrar na sala do Berçário
Misto, cumprimentei-os com a alegria
habitual e fui fixando malhas brancas e narrando
o que ia fazendo. Com as luzes de uma
luminária móvel (abajur), com uma lâmpada
com gomos tridimensional coloridos, busquei
com que explorassem o espaço físico, o movimento,
o corpo, o imaginário e as sensações.
As crianças aproximaram-se aos poucos,
apontando e balbuciando. Os menores
acompanhavam a movimentação com o
olhar. A atividade foi se desenvolvendo: primeiro
exploramos as luzes, suas cores e formas,
iluminando as diversas partes da sala
(chão, parede, teto). As crianças acompanhavam
olhando ou tocando.
Em seguida, com a luz, fui explorando o corpo
de cada um em frente ao espelho (mãos,
boca, barriga, pés, cabeça). As crianças reagiram,
apontando, acompanhando as luzes,
falando, expondo sua curiosidade e seu saber
e indicando possibilidades de aprendizagem
sinestésica.
A aprendizagem sinestésica, de acordo com
Santos et al. (2009), indica que o trabalho
com as partes do corpo possa permitir o autoconhecimento
pelo sentido, no qual o bebê
toca a parte do corpo solicitada, respeitando
a lei “céfalo – caudal” e “próximo distal”. Após
esse momento inicial, exploramos as luzes
por meio do tecido. As crianças entraram em
contato com o tecido apalpando-o, e, em seguida,
uma nova descoberta: a luz corre.
Elas queriam tocar, brincar de pegar a luz,
descobrir o que tinha atrás do tecido e de
onde vinha a luz. A curiosidade delas, seus
sorrisos, suas ansiedades, indicou um aspecto
interessante que corroborou com o objetivo
proposto para uma experiência que articula
percepções e estética do movimento,
dos aprenderes, da beleza e da exploração
dos gestos, que registra significados também
pelos brilhos nos olhares.
Os bebês desenvolvem-se e aprendem perceptivamente
praticando exercícios motores,
desenvolvendo o pensamento e o conhecimento
com criatividade, na busca de
solução de problemas: as crianças usaram
diferentes estratégias na descoberta de
onde vinha e para onde ia, seguindo as luzes.
Verbalmente, adquiriram comunicação receptiva
e expressiva; aprenderam a conviver
com amigos e incentivá-los a experimentar,
brincando de esconde-esconde, falando ou
indicando para o colega olhar as formas.
O registro dessa experiência foi feito por
meio de fotos e organizado em uma exposição
para que os pais pudessem acompanhar
42 Movimentos de interações e brincadeiras com bebês
o trabalho realizado nas aulas de Educação
Física da professora Solange Maria Nunes.
Para Friedmann (2012), as brincadeiras constituem
linguagens infantis, considerando
a linguagem qualquer meio sistemático de
comunicar ideias ou sentimentos por meio
de signos. Um dos grandes desafios que as
linguagens lúdicas nos propõem é a leitura e
a tradução dessas “falas” infantis.
Essa experiência proporcionou conhecer o
prazer da descoberta na interação com as
crianças, sobre os seus sentires, surpreendendo
com suas iniciativas, envolvimento
e autonomia, na vivência da exploração da
multiplicidade de linguagens.
Referências
FRIEDMANN, A. O brincar na educação infantil:
observação, adequação e inclusão.
São Paulo: Moderna, 2012.
SANTOS, A. S. et al. Psicomotricidade - Educação
do Movimento. 2009. Disponível
em: .
Acesso em: 3 jul. 2016.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente.
6. ed. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1998.
Solange Maria Nunes
43
44
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
O eu, o outro
e o nós: jogos
cooperativos
como
possibilidade
pedagógica na
Educação Infantil
Heitor Luiz Furtado
A compreensão da importância da Educação
Física nos Centros de Educação Infantil
perpassa inicialmente pela necessidade de
ser trabalhado o movimento, incorporando
então a expressividade e a mobilidade natural
das crianças pequenas, oportunizando o
desenvolvimento do pensamento e a manutenção
da atenção. Nesse sentido, o objetivo
da Educação Física é disponibilizar o maior
número de experiências possíveis, para apresentar
um novo mundo, relacionar com um
meio social e físico, ajudar no desenvolvimento
motor, cognitivo e sócio afetivo, buscar
a autonomia, a socialização e a ampliação
do conhecimento das práticas corporais.
Nas crianças pequenas, o corpo em movi-
mento, por menor que seja, constitui a matriz
básica em que se desenvolve as significações
do aprender, devido ao fato de que
a criança transforma em símbolo aquilo que
pode experimentar corporalmente. Seu pensamento
se constrói, primeiramente, sob a
forma de ação (GARANHANI, 2002). Além
disso, na pequena infância, os movimentos
do corpo são os primeiros recursos de expressão
e comunicação.
Compreender o conceito de criança é relevante
na medida em que fornecerá maiores
indícios da compreensão de quais crianças
estamos falando. Principalmente, para qual
caminho devemos direcionar nossas práticas
pedagógicas e ações de intervenção. A
criança é um ser histórico e de direitos que,
nas interações, relações e práticas cotidianas
que vivencia, constrói sua identidade
pessoal e coletiva; brinca, imagina, fantasia,
deseja, aprende, observa, experimenta,
narra, questiona e constrói sentidos sobre a
natureza e a sociedade, produzindo cultura
(BRASIL, 2010).
Os momentos de Educação Física nos centros
de Educação Infantil são importantes
para a formação cognitiva, afetiva e motora
das crianças, pois tematiza algo bastante
presente no universo infantil que é o brincar,
propiciando ações pedagógicas que
respeitem as características das crianças e
da pequena infância, entendendo-os como
sujeitos produtores de cultura. Os jogos, as
brincadeiras, os brinquedos, os esportes, as
danças, as manifestações rítmicas são objetos
de intervenção pelo qual os professores
organizam suas práticas diárias. Nesse
sentido, o presente relato de experiência
tem como objetivo apresentar uma vivência
desenvolvida com a turma de Jardim I, na
qual buscou tematizar os jogos cooperativos
como possibilidades pedagógicas nos momentos
de Educação Física.
O presente projeto esteve alicerçado nas
Matrizes de Habilidades da Educação Infantil
do município de Itajaí, bem como
referendado pela Base Nacional Comum
Curricular, possuindo como objetivo desenvolver
nas crianças as seguintes competências,
habilidades e objetivos de aprendizagem:
controlar gradualmente o movimento;
aprender a conviver com pessoas entre si;
brincar de diversas formas e com diferentes
parceiros; explorar materiais, brinquedos,
objetos, ambientes e entorno físico e
social, identificando suas potencialidades,
limites, interesses e desenvolver sua sensibilidade
em relação aos sentimentos, às necessidades
dos outros com quem interage.
Por que jogos cooperativos?
O interesse pelos jogos cooperativos surgiu
devido à necessidade que observei em
desenvolver com as crianças o conceito de
que: preciso do meu amigo para brincar e
que para uma brincadeira dar certo, precisamos
juntos trabalhar para o mesmo objetivo.
Os jogos cooperativos são ferramentas
importantes para o professor, pois cria um
clima de relação social, estabelece um contexto
pelo qual há algo a contribuir, promove
um maior auxílio às pessoas menos hábeis e
propicia trabalhar valores como solidariedade
e apoio.
Os jogos cooperativos são aqueles cujos objetivos
dos indivíduos estão tão unidos que
ele promove uma correlação positiva entre
as conquistas; um indivíduo alcança seus
objetivos se e somente todos os outros participantes
também atingem os seus. O sucesso
de cada um dependerá do sucesso
dos demais. Além disso, proporciona uma
responsabilidade individual dentro do trabalho
coletivo, a interação entre os participantes
buscando resolver os conflitos e os desafios
da atividade proposta, o processamento
em grupo e, principalmente, a habilidade
interpessoal.
Buscou-se desenvolver a diferenciação com
as crianças entre jogar com os amigos e
jogar contra os amigos, isto é, para que as
atividades dessem certo, precisava-se que
todos os integrantes buscassem o mesmo
objetivo, estabelecendo a interdependência
positiva entre os integrantes do grupo, articulando,
assim, o Eu, o Outro e o Nós.
Desenvolvimento das intervenções
O projeto foi desenvolvimento ao longo de
um mês, com um total de 15 intervenções
com as crianças. Os encontros eram sempre
três vezes por semana com duração de uma
hora. Buscou-se utilizar diferentes espaços
46 O eu, o outro e o nós: jogos cooperativos como possibilidade pedagógica na Educação Infantil
da instituição como a própria sala de aula
da turma, como o parque externo e demais
espaços disponíveis da unidade. Foram utilizados,
nos momentos de intervenção, bolas
de diferentes tamanhos, cordas, bambolês,
barbantes, cones e fitas.
Os desafios iniciais foram desenvolver a compreensão
nas crianças que as brincadeiras
não tinham vencedores e perdedores, mas
que se todos contribuíssem e refletissem sobre
o real objetivo da atividade, todos seriam
vencedores. As experiências vivenciadas nos
primeiros momentos foram difíceis, pois havia
crianças que não conseguiam lidar com
as ações dos demais amigos, não contribuindo
com o objetivo geral assumido pelo grupo.
Conflitos, discussões e diálogos fizeram
parte dos momentos e propiciaram aprendizagens
significativas para as crianças, bem
como para o professor.
A Turma do Jardim II, do Grupo Água, adaptou-se
de forma bastante rápida às atividades
propostas e conseguiram compreender
a diferenciação dos tipos de jogos, mais precisamente
os jogos cooperativos, e os objetivos
das brincadeiras. Notou-se o desenvolvimento
de uma afetividade bastante significa
entre a turma e o professor. Os pequenos
conflitos existentes foram logo resolvidos e
esclarecidos por meio do diálogo.
Destaca-se a atividade desenvolvida a qual
consistia em conduzir um amigo de olhos
vendados pelo parque desviando dos obstáculos.
Essa atividade foi bastante significativa,
pois materializava a necessidade de
confiar no amigo, estabelecendo relações
de cooperação, respeito e socialização. Notou-se
a dificuldade de algumas crianças em
serem conduzidas por outras crianças, e, em
alguns colegas, a dificuldade de conduzir
de forma adequada o colega pelo parque.
Várias crianças no início não confiavam na
condução e buscavam abrir os olhos durante
a atividade. Após conversa e diálogo com o
grupo, tais condutas puderam ser transformadas.
Em todas as atividades propostas,
buscou-se ao final dialogar com as crianças
para apontar os principais problemas, desafios
e pontos que eles achavam interessantes
e que necessitavam serem resolvidos.
Outra atividade que se destacou foi a desenvolvida
com o lençol e as bolinhas de tênis,
que tinha como objetivo manter todos as
bolinhas sem deixá-las cair para fora do lençol.
No início, o grupo demonstrou dificuldade,
pois havia crianças que balançavam
muito forte o lençol, o que fazia com que as
bolinhas saíssem. A partir das vivências, as
próprias crianças começaram a conversar e
a chamar a atenção dos amigos para explicar
que se cada um puxasse para um lado ou
balançasse com força não conseguiríamos
atingir o objetivo da proposta.
Relações e vivências
O principal objetivo do projeto era vivenciar
os jogos cooperativos com o intuito de desenvolver
a ideia do jogar com o outro e não contra
o outro. Ao final do processo, foi possível
observar que as crianças demonstraram por
meio das brincadeiras a capacidade de agir
de forma mais coletiva. Em um mundo tão individualista
e egocêntrico, parece ser importante
desenvolver tais habilidades que contribuam
para a construção de crianças mais
participativas, respeitosas e que respeitem as
individualidades de cada um.
O processo avaliativo deu-se por meio da observação
das atividades, em que se buscou
identificar como as crianças agiam dentro
do grande grupo e quais características individuais
eram mais marcantes no desenvolvimento
das atividades. Observar, dialogar e
identificar foram e são ferramentas importantes
para o trabalho diário do professor de
Educação Física.
É possível perceber a necessidade de construir
nos momentos de Educação Física vivências
que oportunizem a relação entre o Eu, de forma
a resgatar as características, os desejos
e as preferências individuais; e o Outro, para
respeitar as individualidades de cada ser, construindo
assim o Nós, o coletivo, o social e o
integrador. A construção da legitimidade do
campo da Educação Física, principalmente
nos centros de Educação Infantil, perpassa
entre práticas intencionais que respeitam os
desejos, as características das crianças, bem
como os da infância. Questionamentos como:
Que crianças queremos formar? Que professor
desejamos ser? Qual papel da Educação Física
na Educação Infantil?, são questões importantes
para refletir continuadamente nos processos
de constituição dos professores.
Heitor Luiz Furtado
47
48 O eu, o outro e o nós: jogos cooperativos como possibilidade pedagógica na Educação Infantil
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria
da Educação Básica. Orientações Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil.
2010. Disponível em: .
Acesso em: 23 jul. 2016.
GARANHANI, M. C. A Educação Física na
escolarização da pequena infância. Pensar
a prática, Goiânia, n. 5, p. 106-122, jul./jun.
2002.
Heitor Luiz Furtado
49
50
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
Projeto Shantala
Toque de amor
Camila da Silva
Gomes das Neves
Ao iniciar o ano letivo, nós professores
sabemos que temos muitos desafios, uma
responsabilidade assumida em grande parte
do dia com cada criança confiada a nós.
Em meio a essa realidade, um dos processos
mais evidentes na Educação Infantil é a
adaptação.
No início do ano com o “Grupo Cachorro –
Berçário II”, não poderia ser diferente. Os
bebês inseridos nesta realidade, em que
muitos pela primeira vez iriam frequentar
o CEI, sofreram, choraram pela ausência
de seus familiares. Estando diretamente
envolvida nesse processo, percebi que
minhas aulas se resumiam, muitas vezes, em
promover vínculo de afetividade com os bebês:
colos, abraços, beijos, acalentos, faziam
parte do desenvolver das aulas de Educação
Física.
Como esperado, com o passar das semanas,
a maioria da turma foi apresentando-se mais
adaptada e familiarizada com o ambiente e
as rotinas. Contudo, alguns bebês apresentavam
ainda muita fragilidade e dificuldade
em permanecer no ambiente escolar, pois
cada criança é única e corresponde a situações
semelhantes de forma diferente. Existiam
momentos que eu percebia que a turma
equalizava a calma, momentos em que eu
oferecia mais gestos de acolhimento. Essas
demonstrações de carinho supriam de certa
forma a ausência dos familiares.
Em uma conversa com a agente do período
matutino, Juliana, percebemos a importância
e a diferença que faz o tocar com amor
em nossos bebês, surgindo, assim, a necessidade
de realizar algo que evidenciasse essa
ação. Logo surgiu a sugestão de realizarmos
massagens nos bebês. Escolhemos, dessa
forma, a Shantala. Ao selecionar essa prática,
não tínhamos consciência do respaldo
positivo que as massagens fariam nos bebês
e nas famílias.
Descoberta na Índia em 1970, a Shantala foi
vista pela primeira vez pelo médico obstetra
Frédérick Leboyer, que, andando pelas ruas,
avistou uma mulher sentada na calçada com
seu bebê entre as pernas a massageá-lo.
Frédérick ficou encantado com a expressão
singela do bebê, e a concentração da mãe
no desenvolver da massagem, e, principalmente,
com o intenso vínculo afetivo entre
mãe e filho que aquela prática apresentava.
Ao ler o livro Shantala – Arte tradicional de
massagem para bebês, que o próprio Frédérick
Leboyer escreveu, percebi quantos benefícios
essa prática ofereceria para os bebês,
certificando-me que contribuiria para
os nossos também.
Com a realidade que nos cerca, em que a
maior parte do dia os bebês encontram-se no
CEI, longe de seus familiares, sabendo que
essa ausência diminui diretamente os laços
afetivos e pode interferir diretamente na
construção bio-psico-social deles, tivemos
como objetivo aumentar o vínculo afetivo
com os bebês, proporcionando os benefícios
que a área sinestésica atribui, acompanhando
em casa as reações que eles tinham com
suas famílias após receber a massagem. Segundo
Leboyer:
Ser levados, embalados, acariciados, pegos,
massageados constitui para os bebês, alimentos
tão indispensáveis, senão mais, do
que vitaminas, sais minerais e proteínas. Se
for privada disso tudo, e do cheiro, do calor,
e da voz que ela conhece bem, mesmo cheia
de leite, a criança vai-se deixar morrer de
fome. (LEBOYER, 1995, p. 18).
Nossas práticas: a Shantala
Iniciamos nossas práticas realizando, em
cada intervenção, massagens de 30 minutos
em cada bebê. Em cada intervenção, quatro
bebês - a professora e a agente realizavam
a massagem em dois bebês cada uma. Percebemos
que alguns bebês ficavam com a
musculatura contraída e até dispensavam a
prática, por não terem vivenciado nada parecido,
e por ser algo tão íntimo. Assim, alguns
não tiveram boa aceitação na primeira
tentativa. Seguimos, no entanto, com cada
bebê até que todos (inclusive os bebês que
de imediato não aceitaram) tivessem vivenciado
a Shantala.
Ao perguntar para os familiares sobre a massagem,
tivemos uma explosão de informações.
Alguns pais apresentavam colocações
bastante positivas para o nosso projeto. Separamos
algumas colocações apresentadas
por eles:
“As noites seguintes após a massagem, J. G.
dormiu super bem, antes era comum levantar
às quatro e meia da manhã e não dormir
mais. No dia em que ganhou a massagem,
dormiu bem e parecia mais calmo. Gostaria
de aprender para fazer com frequência nele
em casa” (Mãe do aluno J. G.).
“Ao chegar em casa com P.H., percebi que
ele estava mais relaxado e na hora de dormir,
foi bastante fácil, percebi também que seu
sono estava melhor, pois há tempo não dormia
a noite inteira, e após a massagem ele
dormiu sem intervalos a noite” (Mãe de P.H.).
“Ela dormiu super bem, percebi que não chegou
tão acelerada como sempre chega em
casa, além da facilidade que tive em fazê-la
dormir” (Mãe de A. S.).
Com os relatos, percebemos que a massagem,
além de relaxar os bebês, contribuiu
diretamente em seu comportamento e bem
-estar, facilitando, assim, o contato entre
mãe e filho, que, muitas vezes, os pais, após
um dia inteiro de trabalho, não conseguem
doar a atenção necessária a seus filhos. O
52 Projeto Shantala Toque de amor
stress do cotidiano muitas vezes nos rouba
dos nossos mais próximos.
[...] a rotina das mães é particularmente organizada
em razão deles, principalmente
quando são pequenos: o dia começa muito
cedo, com a arrumação da mochila, vestimenta,
alimentação e banho para que as
crianças possam ser deixadas na creche ou
escolinha. Também envolve, no fim do dia,
tarefas como lavar, passar e cozinhar, especialmente
a tarefa do jantar, uma vez que
muitas mães passam o dia inteiro fora de
casa, sendo o almoço providenciado por terceiros.
Além das tarefas, o cuidado também
inclui educar/orientar, acompanhar o desenvolvimento
escolar (ver cadernos, lição de
casa, participar de reuniões, conversar com
professores), dar atenção, conversar, enfim,
passar algum tempo com os filhos (o que
poderia ser interpretado também como uma
prestação de atenção psicológica). (BRUS-
CHINI; RICOLDI, 2009, p. 99).
Percebemos que a massagem proporcionou,
além de vínculos extremamente importantes,
facilidades para os familiares. As mães
que, muitas vezes, acabavam se desgastando
para realizar o terceiro turno de seu dia,
em que não há mais muita energia em estoque,
puderam observar seus filhos e se fazer
mais próximas, pois percebiam em seus filhos
mais serenidade e tranquilidade, tornando
os cuidados que vão até pegar no sono mais
leves e agradáveis. Evidenciamos que essa
prática vai além do tocar, do sentir ou do relaxar.
Ela esta diretamente ligada em estar
próximo, ser confiável, propor mais de si para
o outro e amar incondicionalmente.
Contribuições: da porta para dentro
Ficamos muito realizadas com a proporção
que tomou nosso projeto e mais felizes por
poder fazer algo que efetivamente e de forma
palpável contribuiu diretamente para
formação integral de nossos bebês. Aprendemos
que o que realizamos da porta para
dentro forma seu caráter, descreve suas vivências,
amplia seus horizontes e os tornam
seres imprescindíveis para a existência do
professor, O SER CRIANÇA. Acredito que
isso é ser Educador.
Referências
BRUSCHINI, M. C.; RICOLDI, A. M. Família e
trabalho: difícil conciliação para mães trabalhadoras
de baixa renda. Cadernos de Pesquisa,
São Paulo, v. 39, n. 136, p. 93-123, jan./
abr. 2009.
LEBOYER, F. Shantala – Arte tradicional de
massagem para bebês. Tradução de Luiz Roberto
Benati e Maria Silvia Cintra Martins.
São Paulo: Ground, 1995
Com todas essas importâncias em nossas
mãos, realizamos a culminância deste projeto
com um convite a ensinar às mães a prática
de massagem Shantala. Tivemos a presença
de sete mães. Passamos um vídeo da
prática, explicamos os benefícios e realizamos
a massagem, cada mãe com seus filhos.
Foi muito gratificante perceber o empenho
das mães em sair do trabalho, pegar uma folga,
ou até repor a hora depois para estarem
ali aprendendo esse método tão benéfico.
Assim, realizamos as massagens, e junto à
prática, entregamos um livro ilustrado com
o passo-a-passo da prática de massagem
Shantala.
Camila da Silva Gomes das Neves
53
54
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
Me encaixa
nessa caixa
Lourdes Helena Bravo Gautério
Educação Física na Educação Infantil, a linguagem
do movimento na infância ...brincar
de aprender, aprender a brincar ... aprender
a ser, a fazer, a aprender, a conviver... tratar
a criança exatamente como deve ser... atender
seus interesses e necessidades, usando
as diferentes linguagens (oral, corporal, artística,
estética, plástica), estimular as percepções
(auditiva, visual, tátil...espaço temporal),
por meio das sensações. Palavras que
hoje fazem parte do meu cotidiano: leituras,
pesquisas, trocas de ideias...planejamento,
execução, observação...constatação...Buscar
atender as necessidades e os interesses
das crianças, fazer com que se sintam felizes,
que desenvolvam habilidades, valores...
Quem são essas crianças e como se reconhecem?
Como reconhecem seus amigos?
Venho constantemente pensando e repensando
atividades que possibilitem a descoberta
de si mesmas e do outro... brincadeiras
e interações ...brincadeiras ou interações?
Imitar, repetir, recriar, ter iniciativa, saber fazer
escolhas, interagir.
Se pudesse definir nossa intencionalidade
como educadores, ousaria dizer que temos
obrigação de permitir que a criança seja ela
mesma, que possa fazer o que tem direito,
ser apenas e só uma criança, brincar e brincar.
Estou aprendendo a aprender com eles,
continuo procurando inovar. Algumas palavras
ouvidas durante um curso ressoam nos
meus ouvidos: “Quando você for comprar um
brinquedo para uma criança, deixe o brinquedo,
leve a caixa”. Configuração cerebral...
as ideias unem-se e tudo se encaixa. Sempre
gostei de caixas. Observo que elas carregam
consigo a sensação de aconchego, a oportunidade
de ser descoberto, de descobrir, do
encontro, do desencontro, entusiasmo, alegria.
Constatação: eles realmente adoram
brincar com caixas (sempre que disponibilizo
caixas para brincadeiras há disputa... tem
de ter muitas caixas... carrego bolas, bolinhas,
cordas, potinhos, garrafas em caixas, e,
quando planejo alguma atividade com esses
objetos, brincam um pouco e, normalmente,
acabam... na caixa) ... e mais uma vez....
tudo se encaixa...e a ideia de criar um espaço
mais amplo, produzido com a participação
das crianças, concretiza-se … a construção
do túnel de caixas...
Desenvolver habilidades e competências
como: ampliar o conhecimento do mundo,
manipular diferentes materiais, explorar
suas características, propriedades e possibilidades
de manuseio, entrar em contato
com formas diversas de expressão artística,
corporal, oral, estética, plástica; desenvolver
posturas adequadas para o dia a dia, bem
como expressão e comunicação dos movimentos;
manipular diferentes materiais para
o fazer artístico; desenvolver o gosto, o cuidado
e o respeito pelo processo de produção
e de criação; interessar-se pelas próprias
produções e pela dos colegas; perceber e
explorar formas, cores e texturas, expressarse
por meio da pintura; demonstrar sensibilidade
e criatividade em diversas situações;
respeitar a própria integridade física e a do
colega; desenvolver noção espaço temporal;
desenvolver o senso de cooperação e colaboração,
assim como o cuidado consigo,
com o outro e com o material; expressar-se
com desenvoltura na sessão de fotos e apreciá-las;
brincar e interagir no túnel; desenvolver
noções matemáticas (dentro, fora; em
cima, em baixo; atrás, na frente; deste lado,
do outro lado; grande, pequeno; pesado,
leve) são objetivos a serem conquistados na
exploração do túnel.
Túnel de caixas: trabalho coletivo
Ao retornar das férias, ao entrar em contato
com as crianças, procurei unir o útil ao agradável:
consegui diversas caixas e planejava
usá-las nas aulas, mas sabia que precisava de
tempo para forrá-las ou pintá-las, e aí surgiu
a ideia da participação das crianças na pintura
das caixas, deixando-as à vontade para
vivenciar essa experiência, brincando (onde
naturalmente sujariam o corpo de tinta) e,
em um clima bastante quente, participariam
de um prazeroso banho de mangueira (já
que durante os dias de aula normal não teria
tempo de realizar as atividades, realizei-as
durante duas manhãs, uma com o Maternal
II e outra com o Jardim I, pois queria fazer
a atividade sem pressa). Planejei e organizei
a atividade de maneira que pudessem perceber
como surge um túnel: abri as caixas,
distribui as tintas em potinhos (cada um escolhia
a cor que queria pintar, identificando-a).
Sentados no chão ao redor das caixas
abertas, dei um pincel para cada criança,
organizei os espaços onde cada um pintaria,
mostrei a maneira correta de segurar o
pincel, sem apertar, e a quantidade de tinta
que mais ou menos deveriam pegar do pote,
56 Me encaixa nessa caixa
espalhando-a, preenchendo os espaços vazios.
Deixei-os à vontade, sugerindo que
pedissem ajuda quando necessário; fiquei
observando e repondo as tintas nos potes.
Acabando a pintura, pedi para que olhassem
se tinha algum lugar que não houvesse tinta
para dar os “retoques”, que ficaria mais bonito.
Eles concordaram. Acabado, recolhi os
pincéis e os potes. Pedi para que levantassem
e observassem a beleza da arte produzida,
elogiei-os e agradeci pela ajuda. Ficaram
sorridentes, alegres, e fomos para a sessão
de fotos... amaram ver sua produção e ficaram
orgulhosos com os elogios...bom demais
ser valorizado e reconhecido… se sentir útil.
Em seguida, banho de mangueira (com direito
a chafariz e tudo). Participaram também
do processo de secar o corpo e colocar a
roupa. Repeti todo o processo com o Jardim
I no outro dia. Todos se envolveram com a
atividade, demonstrando bastante atenção e
capricho na pintura. Conversei com o grupo
e falei que montaria as caixas e faria um túnel
com elas; comentei também que os grupos
Maternal I e berçários amariam brincar
com o túnel que eles pintaram. Adoraram a
ideia. Montei o túnel (feriados, greve.... ufa...
consegui), abri porta, fiz furos circulares no
teto e nas laterais, e reforcei com fitas adesivas,
colei as fotos e …finalmente, nas aulas
de cada grupo, apresentei o tão esperado
túnel de caixas. Ficaram eufóricos, impetuosos,
curiosos... adoraram. Estabeleci regras
de convivência a todos: um de cada vez, sem
empurrar... enquanto uns entravam, outros
espiavam por fora, olhavam as fotos....fomos
revezando, um entra e sai ansioso, uns querendo
ficar, mas precisando liberar... e pouco
a pouco, desenvolvendo noção de tempo e
espaço; encolhendo ou estendendo o corpo;
enfiando a cabeça ou braços no buraco; entrando
ou saindo dele, dizendo “Oi”; abanando,
expressando seu contentamento quando
reconhecido, ou, ao reconhecer o amigo,
respeitá-lo (senão ficava fora da brincadeira);
e, também, cuidando para não estragar o
túnel que ajudaram a construir (fazer parte
do processo, ajudar a cuidar).
O túnel é leve e prático de carregar, o que
permite ser usado em diferentes espaços
(na sala, na área externa, em busca de um
sol quando muito frio). Era visível a satisfação
ao ver suas fotos no túnel e eu reforçava
que estava lindo e o quanto foi importante
sua colaboração na pintura. No decorrer
das aulas, disponibilizei o túnel com outros
materiais (outras caixas, bolas, túnel de cadeiras)
e organizei circuito, bola ao túnel,
adivinhe quem está no túnel. Dividi o grupo
em subgrupos, no qual iam se organizando
e criando novas brincadeiras, desde que respeitassem
regras de convivência já estipuladas.
Mostrei também ao Maternal I e Jardim I
os bebês brincando no túnel que ajudaram a
construir...ficavam “bobos”, sorridentes.
A experiência: brincando
de aprender, aprendendo a brincar
Foi uma experiência incrível, e ainda é...parece
incrível, mas o túnel de papelão ainda resiste
(com alguns reparos a cada uso, é claro
- após pegar chuva, ele encolheu – foi, assim,
necessariamente reduzido). Resiste porque foi
construído pelas mesmas mãos de quem está
usufruindo. O túnel está sendo cuidado, valorizado
por esse grupo de crianças que, nesse
processo, desenvolveram, acima de tudo, valores
como cooperação, respeito, colaboração,
responsabilidade. Enquanto brincam de
aprender, aprendem a brincar, exercendo seu
direito de ser apenas uma criança.
Enquanto as crianças brincavam e interagiam,
sentindo-as crianças felizes a sorrir, escrevi:
Lourdes Helena Bravo Gautério
57
58 Me encaixa nessa caixa
Me encaixa nessa caixa
Gosto que me enrosco
da caixa que entra, da caixa que sai
da caixa que acolhe, que encanta, que aquece
Num só instante,
o encontro … eu e você, acontece...
Gosto e me enrosco
no amigo que entra, no amigo que sai
na caixa que encolhe, encanta e aquece
Não fosse o bastante
te encontro... e você não me esquece
Enroscar, aquecer, encantar, num só instante...
não fosse o bastante...adorei me encaixar
As ideias fluem a cada encontro, no qual me
encanto com a vibração das crianças. Em
uma constante procura de inovação, surge
a “Caixa do palhaço”, satisfazendo a simples
necessidade de parar e brincar.
Lourdes Helena Bravo Gautério
59
60
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
Meu corpinho
vou cuidar chuá,
chuá, o banho
vai começar
Marcia Eliane Lorenzoni
A rotina na Educação Infantil é a base do cotidiano.
Planejada pelo adulto e pelas crianças
é merecedora de grande importância.
Suas vivências devem contemplar estratégias
diferenciadas: música, dança, expressão
corporal e brincadeiras devem fazer parte
desse contexto para que as crianças envolvidas
nessas diferentes linguagens possam,
de forma prazerosa, se desenvolver.
Promover uma rotina planejada e diferenciada
é de forma tranquila interagir com os pequenos
nesse momento, é preciso dialogar
para ensinar e aprender. As interações da
criança com seus parceiros sociais provocam
confrontos de significações e incentivam os
parceiros a considerar as intenções dos outros
e superar contradições que surjam entre
eles. Com isso, ela constitui formas mais elaboradas
de perceber, memorizar, solucionar
problemas, lembrar-se de algo, emocionar-se
com alguma coisa, formas essas historicamente
construídas. (OLIVEIRA, 2002, p. 138).
Como profissional de Educação Física, uma
das rotinas que vivencio na instituição é o
momento da higiene. Essa rotina me deixa
inquieta na hora de elaborar o planejamento,
de buscar atividades diferenciadas que envolvam
o grupo de crianças. Ao pesquisar as
Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação
Infantil, observei que, quando se refere
ao atendimento de bebês e de crianças
pequenas, o documento enfatiza formas de
trabalhos pedagógicos que “[...] possibilitem
situações de aprendizagem mediadas para a
elaboração da autonomia das crianças nas
ações de cuidado pessoal, auto-organização,
saúde e bem-estar” (BRASIL, 2009, p. 26).
Assim, é preciso organizar momentos individuais
e coletivos, na rotina em que as crianças
possam sentir-se motivadas, construir sua autoimagem
de forma positiva e vivenciar experiências
que possibilitem um aprendizado, “[...]
organizar um cotidiano de situações agradáveis,
estimulantes, que desafiem o que cada
criança e seu grupo de crianças já sabem sem
ameaçar sua autoestima nem promover competitividade”
(OLIVEIRA, 2012, p. 34).
Na minha prática de Educação Física, na rotina
de higiene, exploro muito com os pequenos
aspectos corporais, pois os bebês são
extremamente sensitivos ao toque, aprendem
muito com o corpo. Assim, envolvi o
grupo de crianças, a turma do berçário II, em
uma vivência sobre a questão da identidade
corporal e todas as premissas que envolvem
a cultura do corpo, o conhecimento dele, a
capacidade de nomear, identificar e reconhecer
suas partes e explorar semelhanças
e diferenças do próprio corpo e do corpo do
outro. Assim sendo, as crianças participaram
de um momento lúdico que oportunizou
a curiosidade e a valorização dos cuidados
com o corpo, um importante aspecto na
construção da identidade.
Os momentos de higiene foram sempre motivo
de inquietação ao planejar, afinal conseguir
a atenção dos pequenos e sua participação
não é tarefa fácil. Assim, busquei alternativas
que desenvolvessem habilidades referentes à
higiene na rotina da faixa etária de 1 a 2 anos,
para que as crianças se envolvessem e juntos
conquistassem aprendizagens.
Minha observação inicial foi durante uma
aula na qual parei para observar a interação
62 Meu corpinho vou cuidar chuá, chuá, o banho vai começar
das crianças com o espelho. Percebi que alguns
dos bebês brincavam, se apreciavam.
Aproveitei, então, para entrar na brincadeira
e mostrar o rosto deles refletido no espelho,
para que se reconhecessem. Fui naturalmente
nomeando e apontando a boca, o
nariz, a língua, os olhos e, posteriormente, os
dentes, dando ênfase na valorização da autoestima
das crianças, fazendo-as perceber
semelhanças e diferenças destacando as belezas
de cada uma e do grupo.
[...] os educadores podem estimular, motivar
e facilitar o brincar, encorajando as crianças
a funcionarem em um nível mais profundo do
que aquele em que funcionariam se fossem
entregues a si mesmas. O adulto que está
desempenhando um papel não só oferece
as crianças um modelo de comportamento,
como também pode alterar esse papel para
introduzir no brincar uma infinidade de “pessoas”,
problemas, desafios e assim por diante.
(MÓYLES, 2006, p. 120).
Para valorizar momentos de movimentação
dos pequenos, dançamos ao som do grupo
Palavra Cantada (lavar as mãos) e Xuxa (hora
do banho e escovar os dentes). Acompanhando
a letra da música, fui fazendo os gestos
e a maioria os repetia. Foi um momento de
alegria, de descontração e de aprendizagem.
Sabendo que a turma do Berçário II demonstra
grande interesse por literatura, fiz a leitura
do livro Saúde dos dentes (Heloísa Bertane
e Roberto Belli). Recontei a história com
o auxílio de fantoches. Para os pequenos
foram momentos de interação. As crianças
dentro de suas possibilidades dialogavam
por gestos e balbucios com os fantoches.
No brincar, a criança assume a posição de sujeito
falante, o que possibilita ao professor escutar
e conhecer a criança com mais propriedade.
Em razão disto, o brincar não deve ser compreendido
na educação infantil nem tampouco no
ensino fundamental como um conhecimento
pronto e por isso reproduzido em manuais que
apresentam centenas de brincadeiras acompanhadas
de procedimentos a serem executados
pelo professor junto às crianças. (SOM-
MERHALDER; ALVES, 2011, p. 62).
A troca de fraldas deu continuidade aos objetivos
trabalhados. A cada troca foi valorizado
o toque nas diferentes partes do corpo. Foram
Marcia Eliane Lorenzoni
63
momentos de brincadeira para nomeá-las e
tateá-las. Na oportunidade, os bebês manusearam
objetos relacionados à higiene corporal,
elas os exploraram e brincaram com eles.
Ampliar as possibilidades da criança cuidar
e ser cuidada, de se expressar, comunicar e
criar, de organizar pensamentos e ideias, de
conviver, brincar e trabalhar em grupo, de ter
iniciativa e buscar soluções para os problemas
e conflitos que se apresentam nas mais
diferentes idades” (OLIVEIRA, 2012, p. 34).
Pela motivação observada na participação
das crianças em sala, resolvi planejar um
momento na área externa com atividades
concretas, para que os bebês pudessem explorar
vários materiais de higiene. Segundo
Ostetto (2000), é preciso oferecer espaços
com propostas diferenciadas, situações diversificadas,
que ampliem as possibilidades
de exploração e “pesquisa” infantis. As crianças
realmente ampliam suas possibilidades
de exercitar a autonomia, a liberdade, a iniciativa,
a livre escolha, quando o espaço está
adequadamente organizado.
Para a vivência, organizei um espaço com
vários bonecos desnudos, bacias coloridas
com a água, mini sabonetes e xampus, toalhas
e escova corporal. A princípio, eles posaram
para foto e escutaram atentamente as
orientações dadas pela professora. Depois,
gradativamente, o grupo de crianças foi manipulando
os materiais, uns com menos interesses,
outros com mais.
molhassem muito, afinal estamos iniciando
o inverno, foram confeccionados aventais
de napa ilustrativos com desenhos relacionados
à higiene, bem como touca de banho.
“Assegurar às crianças a manifestação de
seus interesses, desejos, e curiosidades ao
participar das práticas educativas; apoiar a
conquista pelas crianças de autonomia na
escolha de brincadeiras e de atividades e
para a realização de cuidados pessoais diários”
(OLIVEIRA, 2012, p. 34).
Dando continuidade à essa vivência, com auxílio
de uma arcada dentária feita com garrafa
pet e isopor em tamanho gigante, com
a escova de dentes, fui fazendo demonstração
sobre os movimentos corretos utilizados
para escovar os dentes. Em seguida, cada
criança recebeu uma escova com creme
dental para escovar os dentes dos bonecos.
Foi um momento de encantamento, pois alguns
escovaram os seus próprios dentes, outros
seguiram as orientações e escovaram os
dentes do boneco. O interessante foi perceber
que, em ambas as situações, as crianças
já souberam relacionar objeto e função. Foi
gratificante observar a interação dos bebês
nas atividades propostas e perceber a riqueza
de estar e pertencer ao universo da Educação
Infantil.
As atividades realizadas foram motivo de
grande satisfação profissional ao perceber o
envolvimento e o aprendizado das crianças.
Todo o tempo participamos, orientando e ensinando
para que servia cada material utilizado
e também nomeando as partes do corpo.
Ramos (apud FORTUNA, 2003) diz que a
brincadeira não deve ser uma atividade tão
“largada” que dispense o educador, nem tão
dirigida que deixe de ser brincadeira. Entendemos
que a ação do educador é fundamental
no processo denominado brincadeira,
pois a sua intermediação poderá ser requisitada
a qualquer momento, seja para incentivar
ou para moderar as atividades. Houve
crianças que superaram nossas expectativas,
pois pareciam já saber que o xampu era
para colocar na cabeça e, antes mesmo da
orientação, passavam o sabonete no corpo
do boneco. Após o banho, elas receberam
a toalha e, com auxílio, o secaram. Pensando
no cuidado para que as crianças não se
64 Meu corpinho vou cuidar chuá, chuá, o banho vai começar
Muitas foram as situações de aprendizagem
observadas durante a realização do presente
trabalho. Entre elas, podemos destacar
que muitas crianças já identificam as partes
do corpo, sabem até apontá-las e alguns até
balbuciam o nome. A participação no momento
da literatura e a compreensão dos
bebês na interação com os fantoches foram
pontos muito positivos, pois eles interagiam
com os fantoches apontando com os dedos
as partes do corpo. O envolvimento no momento
da música fez com que as crianças
a acompanhassem dançando no ritmo dela
e fazendo movimentos harmoniosos relacionados
à letra da canção e ao meu movimento,
visto que, nesse momento, me permiti
dançar com eles. Percebemos o entusiasmo
dos pequenos em participar da atividade
do banho dos bonecos, pois somente uma
criança se dispersou e foi brincar no parque.
Eles adoraram mexer na água e sabiam que
ao balançar a mão espuma se formava. Foi
uma festa só, um borbulhar constante. Aqui
reforçamos o que as diretrizes nacionais e
municipais e outros estudos referentes ao
aprendizado de crianças já vem apontando,
pois atividades diferentes realmente prendem
a atenção e de forma envolvente e lúdica
beneficiam a aprendizagem.
Enfim, a higiene corporal é essencial. Destacamos,
assim, por meio deste trabalho, a necessidade
de as crianças serem beneficiadas
e orientadas desde cedo sobre a importância
do cuidado com o corpo como um todo
para que percebam que seu corpo é feito de
“vida” e que ele merece carinho e cuidados
especiais.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria
de Educação Básica. Diretrizes curriculares
nacionais para a educação infantil. Brasília:
MEC, SEB, 2009.
FORTUNA, T. R. O brincar na educação infantil.
Revista Pátio – Educação Infantil, ano
1, n. 3, dez. 2003.
MÓYLES, J. R. A excelência do brincar. Porto
Alegre: Artmed, 2006.
OLIVEIRA, Z. R. de. Educação Infantil: fundamentos
e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.
OLIVEIRA, Z. R. de. O trabalho do professor
na Educação Infantil. São Paulo: Biruta,
2012.
OSTETTO, L. E. Encontros e encantamento
na educação infantil. São Paulo: Papirus,
2000.
SOMMERHALDER, A.; ALVES, F. D. Jogo e
a educação da infância: muito prazer em
aprender. Paraná: CRV, 2011.
Marcia Eliane Lorenzoni
65
66
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
Interagindo
com a
Diversidade
O Maracatu dentro
de uma unidade de
educação infantil
Rodrigo Zapparoli
Trabalhar a temática da diversidade na educação
infantil através do profissional de
educação física é uma rica possibilidade de
construir novos saberes.
Existe por parte do profissional a preocupação
com a questão do respeito a diversidade
cultural, haja vista que as crianças estão
se constituindo enquanto cidadãos. BASEI
(2008) enfatiza:
A escola infantil e, portanto, conforme nossa
compreensão, um lugar de descobertas e
de ampliação das experiências individuais,
culturais, sociais e educativas, através da
inserção da criança em ambientes distintos
dos da família. Um espaço e um tempo em
que sejam integrados o desenvolvimento da
criança, seu mundo de vida, sua subjetividade,
com os contextos sociais e culturais que
a envolvem através das inúmeras experiências
que ela deve ter a oportunidade estimulo
de vivências nesse espaço de formação.
Concebi o momento da Kizomba como uma
rica oportunidade para desenvolver um trabalho
que abarcasse tanto o desenvolvimento
infantil, como suas questões sociais e
também legais.
Um dos objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil: “Promover o bem
de todos, sem preconceito de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação” (CRFB/88. Art. 3º inciso
IV). Vê-se que a exploração do tema da
igualdade envolve questões éticas, respeito
ao próximo e atenção aos direitos humanos.
Através da Lei nº 10.639 de 09 de janeiro
de 2003 e da Lei nº 11.654 de 10 de março
de 2008, as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei nº 9.394/96), foi acrescida da
obrigatoriedade da inclusão da temática
“História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”
no currículo oficial das redes de ensino,
como destacado no Plano Municipal de Promoção
da Igualdade Racial de Itajaí. Diante
do exposto acima e também de um grupo
formado por várias crianças, familiares e
também profissionais, ascendentes da cultura
afro-brasileira como é o caso do nosso
CEI, se torna fundamental trabalharmos essa
temática por todos os profissionais.
A preocupação dos educadores no intuito
de promover a igualdade de oportunidades,
bem como a valorização das semelhanças e
diferenças, permite que as crianças se sintam
bem, inseridas no ambiente escolar. A
felicidade e o bem-estar da criança favorecem
o seu desenvolvimento integral de forma
saudável.
Tivemos como objetivos a serem atingidos
nesse projeto, sensibilizar as crianças, bem
como a comunidade escolar sobre a importância
da promoção da igualdade racial, em
conformidade à Lei 12.288/2010, artigo 11 e
seguintes que asseguram o direito a igualdade
racial de condições de vida e cidadania,
assim como, garante igual direito às histórias
e cultura que compõem a nação brasileira,
além do direito de acesso de diferentes
fontes da cultura nacional. De forma a vivenciar
a diversidade cultural através dos grupos
oriundos de uma comunidade quilombola,
estimular o desenvolvimento das crianças
por intermédio de brincadeiras de origem
africana; estimular o desenvolvimento motor
da criança por intermédio da música e da
dança, Sociabilizar as diferentes faixas etárias
durante as atividades culturais.
Ao receber da gestora da unidade em reunião
com os demais professores, as orientações
sobre a Kizomba (Projeto Institucional)
para constituirmos nosso Plano de Ação,
percebi uma oportunidade de planejar algo
diferente e proveitoso para todo o grupo que
fosse além as atividades envolvendo movimentos.
Foram realizadas durante todo mês de agosto,
brincadeiras de origens africanas com a
turma do Jardim I, dentre elas: TERRA-MAR
de Moçambique, esta é uma variação da
brincadeira morto-vivo. Brincadeiras de correr:
PEGUE A CAUDA, da Nigéria, uma variação
da brincadeira pega rabinho, mas esse
feito em equipes e as crianças devem ser
colocadas em fileira segurando pelo ombro
ou cintura e apenas o último da fila que possui
a cauda. Brincadeiras de saltar: SALTAN-
DO O FEIJÃO, da Nigéria, um círculo é realizado
com as crianças e o professor fica no
meio, rodando uma corda rente ao chão e as
crianças devem saltar sobre a corda, quem
for atingido sai da roda; Brincadeiras de lançamentos:
KUDODA, do Zimbábue, nesta é
realizado um círculo com corda, colocamos
diversas bolas pequenas dentro e as crianças
deveriam utilizar uma bola maior com o
objetivo de tirar as menores de dentro do círculo;
GUTERA URIZIGA, da Angola tem como
objetivo jogar lanças dentro de um círculo,
bambolê. Para esta atividade fizemos uma
oficina de lanças feitas de jornal e depois
fomos aumentando a dificuldade ao fazer o
lançamento, rolando o bambolê pelo chão e
as crianças tendo que acertar o bambolê em
movimento. Todas estas brincadeiras foram
realizadas pelas crianças do Jardim I, que de
forma gradativa compreendeu suas regras.
Brincadeiras cantadas também foram realizadas,
dentre elas: SI MAMMA KAA, da Tan-
68 Interagindo com a Diversidade
zânia, que é cantada em roda seguindo as
instruções da música, SI MAMMA que significa
ficar parado em pé e KAA significa abaixar;
RUKA significa pular; TEMBEA significa
andar e KIMBIA significa correr. Essa atividade
em si, a professora da turma do Jardim
I comentou que as crianças continuaram
brincando em sala de aula e também no parque.
Foram momentos de ricos estímulos entre
as crianças.
O professor de Educação Física em parceria
com a professora do Jardim I confeccionaram
juntamente com os familiares pipas,
petecas, chocalhos (caxixis) utilizando materiais
reciclados. Foi uma atividade muito
rica que favoreceu o resgate cultural na Noite
da Família que aconteceu no CEI dia 25
de agosto. As crianças gostaram de ter seus
pais/mães junto a elas realizando atividades.
Em culminância a temática: Interagindo com
a diversidade, foram também convidados os
dois grupos para realizar apresentação cultural
para as crianças. Como eu já conhecia
o grupo Maracatu do Quilombo do Morro do
Boi, busquei contato com os integrantes do
grupo. Em uma breve conversa, expliquei o
motivo do contato e a proposta do trabalho
com a visita do grupo de Maracatu em nosso
CEI. A apresentação destes favorecerá o
resgate folclórico, cultural e étnico, devido
à origem do grupo ser de uma comunidade
ascendente de escravos.
Definimos nós do CEI, professores e gestores,
em parceria com os representantes dos grupos
que a atividade, seria uma apresentação,
primeiramente dos integrantes dos grupos,
para uma familiarização das crianças com
eles, após isso seria feito uma apresentação
dos instrumentos musicais utilizados, falando
seus devidos nomes e demonstrando os
sons reproduzidos por eles, bem como qual
era o som base de cada instrumento especificamente
para o Maracatu e por fim eles
fariam uma apresentação das musicas populares
do maracatu com sua dança típica.
Os integrantes do grupo Encantos do Sul e
Quilombo Morro do Boi chegaram, as crianças
já os aguardavam ansiosas e curiosas.
Foi somente o tempo de organizar os instrumentos
musicais, as vestimentas das dançarinas
para iniciar a apresentação. Eu também
estava ansioso e até certo ponto receoso,
pois o Maracatu é um ritmo contagiante,
mas com uma percussão bastante forte. Fiquei
com medo das crianças se assustarem
com o barulho dos tambores, principalmente
os menores do berçário.
Tudo pronto, iniciou-se conforme o combinado.
Logo de início, ao apresentarem os instrumentos
musicais, as crianças já começaram
a ficar mais agitadas e empolgadas, algumas
ficaram realmente um pouco assustadas,
principalmente com o timbre dos tambores,
chamados por eles de alfaias. Este possui um
timbre grave de volume alto, mas aos poucos
as crianças foram se acostumando.
O integrante foi bastante didático nessa
hora de ensinar as canções, cantou os refrões
das músicas com as crianças e elas
adoraram participar e interagir. A festa realmente
ficou divertida quando se iniciou a
música, que foi tocada e cantada com toda
a sua energia. O ritmo contagiante, a dança
e a alegria envolveram a todos, crianças, professores,
agentes, gestora e supervisora.
As crianças tinham um sorriso fácil no rosto,
a batida da música fazia com que nossos
corpos se mexessem mesmo sem querer, era
impossível ficarmos parados, foi visível a felicidade
de todos durante a apresentação,
nem mesmos os bebes choraram, prestavam
muita atenção. Tudo isso registrado pelas
lentes da RIS Record que ainda entrevistou
a mim, a gestora da Unidade, os integrantes
do grupo Encantos do Sul e da Comunidade
Quilombola Morro do boi. Fomos notícia no
Jornal do Meio-dia da Record no sábado dia
29 de agosto, o que deixou a todos do CEI
muito contentes.
Finalizamos esta experiência com chave de
ouro, já que o mesmo foi um sucesso entre
os profissionais do CEI, com a colaboração
de todos. Deixo aqui minha gratidão a todos
os envolvidos que dispuseram um pouco da
sua dedicação e tempo para que pudéssemos
tornar realidade esta vivência positiva e
enriquecedora para nossas crianças. As exposições
acima, demonstraram que o profissional
de Educação Física pode enriquecer
e muito o aprendizado das crianças no que
tange aos valores morais, éticos e culturais,
bem como seus aspectos motores.
Rodrigo Zapparoli
69
Referências
BASEI, Andreia Paula. A Educação Física na
Educação Infantil: a importância do movimentar-se
e suas contribuições no desenvolvimento
da criança. Revista Iberoamericana
de Educacion n°47/3 outubro de 2008.
BRASIL. Constituição da República Federativa
do Brasil, 1988.
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais
Gerais da Educação Básica, MEC, SEB, DICEI,
2013.
BRASIL. Plano nacional de implementação
das diretrizes curriculares nacionais para
educação das relações étnico-raciais e para
o ensino de história e cultura afro-brasileira
e africana. MEC, SECADI, 2013.
Brasil. Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros curriculares nacionais: Educação
física / Secretaria de Educação Fundamental
– Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível
em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/
pdf/livro07.pdf> Acessado em: 18/09/2015.
70 Interagindo com a Diversidade
Rodrigo Zapparoli
71
72
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
O corpo fala:
bRINCADEIRAS
COM TECIDOS
Morgana Lorenceti Brasil
A Educação Física tem um papel fundamental
no processo de desenvolvimento e de
aprendizagem da criança. Por meio de jogos,
brincadeiras, atividades lúdicas e interações,
a Educação Física é responsável pelo desenvolvimento
da criança em todos os aspectos:
motor, cognitivo, social-afetivo, proporcionando
um aprendizado integral de forma
lúdica e significativa. Dessa forma, a Educação
Física é importante nessa etapa da Educação
Infantil, pois, por meio da linguagem
corporal, a criança descobre possibilidades,
experimenta e explora o mundo.
Com a formação continuada, eu, professora
de Educação Física da Rede Municipal de
Educação de Itajaí, tive a oportunidade de
conhecer sobre Psicomotricidade Relacional,
método de mediação corporal criado pelos
professores André Lapierre e Anne Lapierre.
Nosso objetivo em psicomotricidade relacional
é o de detectar, na medida do possível,
os sentimentos conflituais reprimidos no
inconsciente que provocam perturbações
na vida afetiva e relacional da criança. Esses
sentimentos se expressam espontaneamente
no jogo, e de maneira mais autêntica se o
adulto o favorece, entrando ele também no
jogo não-verbal. Desse modo, dirige-se diretamente
ao inconsciente da criança. As verbalizações
do adulto constituiriam, neste caso,
uma ruptura nesse nível de comunicação.
(LAPIERRE; LAPIERRE, 2002, p. 107-108).
A Psicomotricidade Relacional tem colaborado
para a minha prática do dia-dia, pois,
mesmo não tendo olhar técnico e não sendo
profissional da Psicomotricidade Relacional,
observei que alguns materiais já eram explorados
pelas crianças nas minhas aulas de
forma lúdica e com outros objetivos. Assim,
fui percebendo que o valor simbólico dessas
vivências é muito importante para o desenvolvimento
global das crianças.
Resolvi, dessa forma, realizar uma atividade
com meus grupos do Maternal Misto e Maternal
I: brincadeiras com tecidos. Essa atividade
eu ainda não havia vivenciado em minhas
aulas. Após muita observação durante
as aulas, o grupo Maternal Misto foi escolhido.
A maioria desse grupo, além de ingressar
pela primeira vez no Centro de Educação Infantil,
apresentava dificuldade no período de
adaptação, pois ele passou, também, por troca
de professoras da sala. Decorrente dessas
situações, eu resolvi fazer essa atividade
com o intuito de conhecer um pouco mais
de cada criança e de como elas estavam se
sentindo naquele momento. Por meio das
brincadeiras, estimulei a criatividade, a afetividade
e as interações. Após realizar a atividade
com o grupo Maternal Misto, percebi o
sucesso da aula e suas múltiplas vivências, e
então apliquei a proposta com o Maternal I.
As brincadeiras livres com algum tipo de material,
no caso aqui os tecidos, possibilitam
expressividades que podem ser observadas
pelo professor, proporcionam a interação e
um brincar que estimula o desenvolvimento
global das crianças.
O objetivo geral desse projeto foi desenvolver
a criança em todos os aspectos: cognitivo,
motor social e afetivo, por meio da linguagem
corporal, possibilitando momentos
de interações e brincadeiras em um mundo
de faz de conta.
74 O corpo fala
Brincadeiras livres com tecidos
Para colocar em ação meu planejamento,
procurei ter mais proximidade com as crianças
e, assim, realizei uma brincadeira “adaptada”:
brincadeiras livres com tecidos. Como
eu não tinha tecidos grandes e nem lençóis,
como sugere os livros, utilizei TNT de diversas
cores e tamanhos. Essa ação foi realizada
com os grupos Maternal Misto e Maternal
I, idade entre dois e três anos.
Tive de conseguir o TNT. Com a parceria do
CEI, consegui alguns que já tínhamos na creche
e outros eu comprei, pois, como se trata
de um material muito acessível e rico para
novas criações, é interessante tê-lo como
material pedagógico. Em seguida, cortei o
TNT em diversos tamanhos e diferentes formas
para estimular a criatividade e a fantasia.
Organizei um espaço que conseguiria
realizar a atividade com segurança e sucesso.
O primeiro momento foi realizado com
o grupo Maternal Misto, composto por 25
crianças. O espaço organizado foi no corredor,
em frente à sala do grupo. Criei um espaço
muito legal para desenvolver a atividade,
colocando tapetes, amarrando as pontas de
um dos TNTs nos pilares, deixando o espaço
organizado e acolhedor. Eu tinha 30 minutos
para realizar essa aula.
Iniciei a aula conversando com o grupo sobre
a atividade que iria acontecer. Expliquei
que a brincadeira era livre, que eles iriam utilizar
a imaginação e que eles poderiam criar
as brincadeiras que quisessem. Mencionei,
ainda, que eu e a Agente de atividade em
educação também brincaríamos com eles,
e, aos poucos, fomos colocando os TNTs em
volta do grupo. Eles ficaram encantados
com aquele material colorido e diferente em
volta deles. Seus olhos brilhavam e foi interessante
observar a reação de cada um que,
aos poucos, foram se levantado e pegando o
material. A princípio fiquei ansiosa, pois não
sabia qual seria a reação deles e nem se a
atividade funcionaria como planejado.
Então, as crianças foram interagindo com o
material com muita calma e paciência, o que
chamou muita a minha atenção. Elas interagiram
umas com as outras, criaram, imaginaram,
cada uma do seu jeito. Umas preferiram
brincar sozinhas, outras interagiram com o
grupo, e outras com a Agente de atividade
Morgana Lorenceti Brasil
75
em educação e comigo também. Ainda assim,
tiveram algumas crianças que preferiram
só observar e não tiveram contato com
o material. Foram poucas, pois a maioria se
envolveu na brincadeira. Durante a ação,
observei e registrei os momentos, depois
troquei com a agente, e fui brincar com as
crianças, e a agente observou e registrou.
Os gestos de uma criança podem refletir seu
estado emocional. Quando os movimentos
são acanhados, transmitem inibição; e quando
seus movimentos se mostram expansivos,
podem ser traduzidos como euforia, conquista
e satisfação. Assim, podemos dizer
que o corpo é a via de acesso ao emocional.
(NISTA-PICCOLO; MOREIRA, 2012, p. 37).
Com o sucesso das ações nesse grupo, resolvi
realizar a mesma atividade com o grupo
do Maternal I composto por 20 crianças, pois
fiquei ansiosa para observar a reação de outro
grupo. Essa aula foi realizada dentro de
sala. Realizei o mesmo processo com esse
grupo. Conversei sobre a atividade e eles ficaram
bem interessados e ansiosos. Entreguei
o material e tudo pareceu mágico. Com
muita calma, as crianças foram pegando os
tecidos coloridos, cada um escolhendo a cor
e os tamanhos diferentes. De início, comecei
a observar a afetividade de alguns que
promoveu um momento muito agradável de
cuidado um com o outro, desde fazer dormir,
estender a coberta sobre o outro, pois estava
frio, fazer vestidos, roupas, deitar-se sobre
a cama, até rolavam sobre os tecidos. Alguns
preferiram observar e não quiseram se
envolver. “Colocar à disposição das crianças
ou dos adultos diferentes tipos de objetos e
observar a forma que eles os utilizam, como
eles investem progressivamente, é, com efeito,
muito rico em ensinamentos”. (LAPIER-
RE; AUCOUTURIER, 1986, p. 16).
Momentos de afetividade e interações
Uma brincadeira simples e de grande valor
simbólico. Os bebês se envolveram e apresentaram
vários comportamentos, expressões
e criaram brincadeiras onde o mundo
do faz de conta parecia ser real diante de
76 O corpo fala
tantas emoções e interações. Uma brincadeira
muito interessante que proporcionou
um momento agradável para os bebês, o qual
o corpo é quem fala e se expressa. A brincadeira
durou cerca de 30 minutos, até mesmo
porque teríamos de dar continuidade às
rotinas de aprendizagens, mas acredito que
poderia ter se estendido, pois as crianças estavam
muitos envolvidas.
O brincar espontâneo abre a possibilidade de
observar e escutar as crianças nas suas linguagens
expressivas mais autênticas. Esse
brincar incentiva a criatividade e constitui
um dos meios essenciais de estimular o desenvolvimento
Infantil e as diversas aprendizagens.
(FRIEDMANN, 2012, p. 47).
Não tenho conhecimento técnico para avaliar
cada comportamento, porém, de acordo
com a minha experiência de professora
de Educação Física, pude observar a grandiosidade
de uma simples brincadeira, as
expressividades do grupo e até mesmo as
individuais. Perceber o quanto os bebês se
envolveram na atividade que abriu espaço
para jogos, fantasias, aniversários, rei, rainha,
entre outros. O valor simbólico nessas
brincadeiras desenvolveu a criança num
todo, pois todos os aspectos estavam envolvidos,
estimulou a criatividade e possibilitou
momentos de afetividade e interações.
Referências
FRIEDMANN, A. O brincar na Educação Infantil:
observação, adequação e inclusão.
São Paulo, Moderna, 2012.
LAPIERRE, A.; LAPIERRE, A. O Adulto diante
da criança de 0 a 3 anos: psicomotricidade
relacional e formação da personalidade. 2.
ed. Curitiba: UFPR, 2002.
LAPIERRE, A.; AUCOUTURIER, B. A simbologia
do movimento: psicomotricidade e educação.
Porto Alegre: Artes médicas, 1986.
NISTA-PICCOLO, V.; MOREIRA, W. W. Corpo
em movimento na Educação Infantil. Rio de
Janeiro: Telos, 2012.
Morgana Lorenceti Brasil
77
78
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
Aprendendo
as diferenças
por meio
do esporte
Fayola Daiane Bueno da Silva
Ao educar a criança por meio da prática esportiva,
na Educação Infantil, almeja-se difundir
e reforçar a construção dos valores de
cidadania. Esse valor está intrinsecamente
ligado à construção de um mundo melhor e
mais pacífico, livre de qualquer tipo de discriminação.
O entendimento da diversidade
humana possibilita dentro do espírito de
compreensão mútua: fraternidade, solidariedade,
cultura de paz e fair-play (jogo limpo).
Por intermédio das atividades desportivas,
crianças constroem seus valores, seus conceitos,
socializam-se e, principalmente, vivem
a realidade (BRASIL, 1997).
O esporte como um direito de todos está
comprometido em promover as novas gerações
um caminho estratégico para conciliar
a transformação produtiva e a justiça social
como pré-condição para desenvolvimento
humano pleno. Assim, apropriando-se do esporte
como um importante instrumento de
educação, vindo ao encontro das atividades
da XII Semana da Pessoa com Deficiência do
Município de Itajaí, o Projeto: Aprendendo as
diferenças por meio do esporte, apresentou
para as crianças as modalidades paradesportivas,
acreditando que é, desde pequeno,
que se ensina e se aprende a respeitar as diferenças.
O objetivo do projeto foi oportunizar e apresentar
às crianças pequenas o esporte paralímpico
em sua totalidade, as diferentes modalidades,
as deficiências dos atletas (físicas, visuais, intelectuais,
auditivas e síndromes), e suas especificidades.
Além de contribuir para o desenvolvimento
da criança como ser social, autônomo,
democrático e participante, estimulando o pleno
exercício da cidadania por intermédio do esporte,
despertando o senso crítico de respeito e
igualdade perante as diferenças, desenvolvendo
valores, promovendo o respeito, sentimento
de acesso de igualdade na prática do desporto
e a percepção das diferenças.
Quando a criança brinca, ela descobre e (re)
significa o mundo, experimenta novos papéis
sociais, sensações, coopera, cria, imagina e se
expressa. Baseado nessa premissa, Kishimoto
aponta que:
O brincar é uma atividade principal do dia a dia.
É importante porque dá o poder à criança para
tomar decisões, expressar sentimentos e valores,
conhecer a si, os outros e o mundo, repetir
ações prazerosas partilhar brincadeiras com o
outro, expressar sua individualidade e identidade,
explorar o mundo dos objetos, das pessoas,
da natureza e da cultura para compreendê-lo,
usar o corpo, os sentidos, os movimentos, as
várias linguagens para experimentar situações
que lhe chamam a atenção, solucionar problema
e criar. (KISHIMOTO, 2010, p. 1).
Primeiro passo
A metodologia aplicada para o desenvolvimento
deste projeto foi pensada de maneira
que realmente as crianças pudessem aprender
de forma clara e simples, apropriando-se
em todos os momentos da ludicidade e do
brincar.
No início da primeira semana, organizamos
uma roda de conversa relatando sobre as
deficiências: o que é, por que a pessoa tem
80 Aprendendo as diferenças por meio do esporte
deficiência, quais os tipos, quais as diferenças.
Observei que a grande maioria desconhecia
completamente o tema. Escutaram com atenção
as explicações e as exemplificações dadas.
A surpresa
Logo após, as crianças souberam que, mesmo
com deficiências, algumas dessas pessoas
praticavam esportes em diversas modalidades
que elas já conheciam como: atletismo,
futebol, vôlei, natação, basquete, mas com
adaptações, ou seja, atletismo (corridas com
olhos vendados, saltos com uma perna), futebol
para cegos (com os olhos vendados),
voleibol sentado (pessoas saindo das cadeiras
de rodas e sentando no chão para jogar),
natação (sem os braços), basquetebol em
cadeira de rodas. E também esportes que
elas nunca viram como o bocha paralímpica
(crianças jogando sentadas na cadeira de
rodas com os movimentos comprometidos),
paraciclismo. Após essa conversa, as crianças
puderam visualizar tudo por meio de vídeos
e imagens institucionais de paratletas
praticando as diversas modalidades paradesportivas.
Praticando no CEI
Na segunda semana, por meio de jogos e
brincadeiras, os alunos vivenciaram na prática
alguns esportes adaptados como:
Atletismo: Corrida às cegas – nessa atividade,
as crianças experimentaram a corrida
para cegos. Individualmente, as crianças foram
vendadas e em três etapas realizaram
a atividade: 1) ao sinal da Agente de Educação,
elas corriam conduzidas pela professora
um percurso de quinze metros; 2) sozinhos
tinham que correr até o som (palmas) realizado
pela professora; 3) uma criança sem a
venda conduzia o amigo vendado.
Futebol de 5 (para pessoas com deficiência
visual): Futebolzinho – com os olhos vendados,
a criança conduzia a bola até o gol (uma
vez com os pés e outra com as mãos), elas
eram direcionadas pelo som emitido pela
professora ou pela agente, posicionada atrás
do gol.
Fayola Daiane Bueno da Silva
81
Voleibol sentado: Sem Cair – sentadas no
chão, divididas em duas turmas, as crianças
tinham de, sem levantar o bumbum do chão,
passar a bola por cima da rede, para o outro
lado, porém, antes, a bola tinha que passar
na mão de todos os amigos.
Vivenciando com paratletas
A primeira vivência foi realizada com paratletas
da Associação de Deficientes Visuais de
Itajaí e Região (ADVIR). Na modalidade atletismo,
um paratleta juntamente ao seu cão-guia
(este que foi a maior atração para as crianças),
falou das provas em que participava e da ajuda
de seu cão no seu dia-a-dia. As crianças fizeram
muitas perguntas, como, por exemplo:
“Como você toma banho”, “Como o seu cão
te auxilia nos treinamentos?”. Na sequência,
um atleta do paraciclismo foi apresentado,
que levou sua bicicleta de competição. Após
contar sua história, ele deu uma volta com sua
bicicleta, sendo observado atentamente pelas
crianças. Também tiveram a oportunidade de
conhecer o tabuleiro de xadrez adaptado e a
bola com guizo onde jogamos o gooalbol.
A segunda vivência foi com um paratleta do
Bocha Paralímpica, da Associação de Pais e
Amigos das Pessoas com Deficiência (AFADE-
FI) de Balneário Camboriú e com um funcionário
cadeirante da prefeitura municipal de
Itajaí. Em uma quadra de bocha, feita com fitas
adesivas brancas, o paratleta, mesmo com
a fala e os movimentos comprometidos pela
paralisia cerebral, usuário de cadeira de rodas,
interagiu com as crianças, contando sua história
de vida, sua trajetória no esporte e os benefícios
que este trouxe para sua vida. Ele ainda
jogou com as crianças. Mais uma vez foi muito
prazeroso ver as crianças envolverem-se e
sensibilizarem-se com o paratleta, curiosas e
atentas, divertindo-se e aprendendo.
Chegando ao fim
Na última semana, levei alguns filmes e desenhos
infantis que apresentavam crianças com
82 Aprendendo as diferenças por meio do esporte
deficiência na escola. As crianças assistiram e
identificaram os tipos de deficiências e perceberam
que na sua instituição também há crianças
com deficiência.
Ao avaliar cada etapa realizada deste projeto,
constatei, por meio dos olhares curiosos
e interessados, das atitudes, das falas,
as formas como os alunos se portavam e se
expressavam diante desse novo assunto.
Desde o início, compreendi que, por serem
tão pequenos, não iriam entender completamente
o que é ter uma deficiência, mas o
maior objetivo foi disseminar este sentimento
de compreensão e solidariedade pela diferença
dos outros, e que levassem por toda
a vida esse sentimento de amor e respeito
ao próximo.
O término do projeto foi prazeroso, porque
aprendi a não subestimar a inteligência das
crianças, observando o reflexo da aprendizagem
em seu desenvolvimento e nas suas
atitudes. Com o Projeto “Aprendendo as diferenças
por meio do esporte”, conclui que
o professor deve contribuir para a formação
integral das crianças, possibilitando mudanças
e reflexões para que sejam críticos e autônomos,
capazes de viver em sociedade livres
de preconceitos e capazes de respeitar
a todos sem diferença.
Referências
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros curriculares nacionais: introdução
aos parâmetros curriculares nacionais.
Brasília: MEC/SEF, 1997.
KISHIMOTO, T. M. Brinquedo e brincadeiras
na educação infantil. SEMINÁRIO NACIO-
NAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO, Perspectivas
Atuais, 1., Belo Horizonte, 2010. Anais
eletrônicos...Belo Horizonte: CENPEC, 2010.
Disponível em: .
Acesso em: 8 jul. 2016.
Fayola Daiane Bueno da Silva
83
84
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
Brincando de
Lanchonete!
Jorge Luís da Silva
A Educação Infantil evoluiu muito nos últimos
anos. Assim sendo, é preciso repensar
práticas e ações para garantir experiências
que valorizem a aprendizagem no espaço
coletivo. Momentos importantes da rotina,
que na minha prática de professor de Educação
Física vem me desafiando, são o planejamento
e a prática no momento da alimentação.
“A alimentação é o momento importante
para a nutrição da criança e aprendizagens
relacionadas ao desenvolvimento da motricidade
fina no manuseio dos utensílios nas
refeições” (ITAJAÍ, 2015, p. 48.)
Com um olhar atento e observando as especificidades
da rotina da alimentação, constatei
que as crianças deixavam cair seus
pratos com frequência, muitas vezes por
falta de atenção, pela coordenação motora
precoce ou pela falta de percepção espacial.
Para algumas turmas, era uma novidade; no
entanto, as crianças apresentavam uma certa
insegurança. Objetivando avanços nesse
aspecto, desenvolvi atividades de equilíbrio,
de lateralidade e de noção espacial. Estas
possibilitaram que as crianças percebessem
o espaço a sua volta e começassem a executar
seus trajetos com mais segurança e
destreza.
As atividades: simular para estimular
Tendo como base a percepção espacial, o
equilíbrio e a coordenação motora ampla,
executamos brincadeiras simulando lanchonetes
e restaurantes, em que as crianças se
serviram e levaram os pratos à sua mesa.
Pelo seu trajeto, passaram por alguns obstáculos
como cones ou arcos (bambolês). As
atividades foram dinâmicas e estimuladoras,
instigando os alunos a não deixarem as bolinhas
caírem do seu prato e percorrerem caminhos
que simulavam portas de restaurante
e obstáculos, como mesas apresentando
graus diferentes de complexidade.
Com essa proposta, diversas áreas do conhecimento
foram estimuladas, como o trabalho
com quantidades, texturas, tamanhos, pesos
e cores. Os diferentes modos de manuseio de
uma criança para outra foram observados:
segurar o prato por baixo nas laterais, com
uma das mãos, com o auxílio dos braços...
A aprendizagem depende em grande parte
da motivação: as necessidades e os interesses
das crianças são mais importantes que
qualquer outra razão para que elas se dediquem
a uma atividade. Ser esperta, independente,
curiosa, ter iniciativa e confiança em
sua capacidade de construir uma ideia própria
sobre as coisas, assim como expressar
seu pensamento e sentimentos com convicção,
são características inerentes à personalidade
integral da criança. (FRIEDMANN,
1996, p. 45).
A atividade foi executada de forma lúdica,
sendo repetida algumas vezes em um período
de dois meses. Almejou-se que a criança
conseguisse assimilar as habilidades e os
conteúdos propostos pelo professor e, assim,
conseguir adquiri-las, pois são necessárias
para seu desenvolvimento na rotina da
alimentação.
Com muita alegria e entusiasmo, as crianças
manuseavam seus pratos e equilibravam
dentro deles diversas bolas de variados tamanhos.
As crianças incorporaram as personagens
e se sentiram os garçons mais importantes
do momento. De acordo com as Diretrizes
Curriculares Nacionais, a criança é:
86 Brincando de Lanchonete!
[...] o centro do planejamento curricular, é
sujeito histórico e de direitos que, nas interações,
relações e práticas cotidianas que
vivência, constrói sua identidade pessoal e
coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja,
aprende, observa, experimenta, narra, questiona
e constrói sentidos sobre a natureza
e a sociedade, produzindo cultura. (BRASIL,
2009, p. 97).
As contribuições
Foi notável a evolução das crianças em relação
às habilidades motoras, principalmente
nos aspectos de noção espacial e coordenação
motora ampla. Notável também a aceitação
e a alegria nos momentos da execução
das atividades. Para o momento de alimentação,
a atividade contribuiu na questão da
segurança ao caminhar e manusear o prato.
Esse é o reflexo de um trabalho desenvolvido
tendo sempre como objetivo a aprendizagem
e o bem-estar das crianças nas rotinas
com evolução nos aspectos psicomotor, social
e afetivo.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria
de Educação Básica. Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil. Brasília:
MEC, SEB, 2009.
FRIEDMAN, A. Brincar, crescer e aprender: o
resgate do jogo infantil. São Paulo: Moderna,
1996.
ITAJAÍ. Centro de Educação Infantil Augusto
Bento de Oliveira. Projeto Político Pedagógico.
Itajaí, 2015.
Jorge Luís da Silva
87
88
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
Quem quer
pedalar põe o
dedo aqui!
Telmo Vieira de Souza
No Centro de Educação Infantil (CEI) é muito
importante a participação da família nos
processos educativos. Cabe ao CEI também
oportunizar, em seu planejamento, momentos
em que a família possa participar diretamente
em suas ações. A Educação Física, na
Educação Infantil, pode ser uma ferramenta
de grande valia para os planejamentos que
envolvam a comunidade escolar. A área tem
plena capacidade de articular ações e processos
que envolvam o corpo, o movimento
e a socialização.
Enfim, temos uma ferramenta que contribui
para o desenvolvimento integral da criança,
permitindo a ela o contato com novas formas
de interações, sem perder o caráter lúdico e
expressivo (GONÇALVES, 2010 p. 313). É preciso,
assim, recuperar esse “tesouro corporal”,
próprio da criança, e auxiliá-la em suas
aprendizagens, oportunizando a aquisição
de algumas competências necessárias ao
seu aprendizado escolar e da vida.
A criança e a sua família devem ser incentivadas
para ter uma melhor qualidade de
90 Quem quer pedalar põe o dedo aqui!
vida, tendo uma vida ativa, saudável, prazerosa
e harmoniosa. A saúde, prazer e equilíbrio
são fundamentais para que as pessoas
vivam bem. Depende fundamentalmente da
prática de hábitos saudáveis ou práticas básicas
de saúde (GUISSELINI, 2004, p. 70).
A prática da atividade física contribui para
que as pessoas tenham uma melhor qualidade
de vida. O andar de bicicleta pode ser
comparado à caminhada ou até mesmo à
corrida. Em um passeio de cerca de 40 minutos,
três vezes por semana, já é possível
dar adeus a diversos problemas decorrentes
do sedentarismo (TAVARES, 2016).
Oportunizar às famílias a participação de atividades
corporais, estabelecendo relações
equilibradas e construtivas com os outros
é um momento privilegiado em um passeio
ciclístico. Reconhecer-se como elemento
integrante do ambiente, adotando hábitos
saudáveis de higiene, de alimentação e de
atividades corporais, relacionando-os com
os efeitos sobre a própria saúde e de melhoria
da saúde coletiva.
Dessa forma, este trabalho tornou público
o passeio ciclístico, tendo como principal
objetivo promover a prática da atividade física
com o uso da bicicleta, atividade esta
que envolve o corpo em movimento para o
desenvolvimento físico-motor, visando uma
melhor qualidade de vida e socialização das
famílias.
O corpo em movimento:
o passeio ciclístico
O desenvolvimento da ação inicial deu-se
com os alunos e seus familiares em frente à
unidade de ensino, recebendo adesivos que
os identificavam, frutas e água. Em seguida,
foi realizado o alongamento com um fundo
musical e solicitado às famílias e seus filhos
que o fizessem juntos. Nessa atividade foi
possível perceber o envolvimento, o entusiasmo
e a alegria de eles participarem de
uma atividade com um grupo tão grande e
muito acolhedor.
Após o alongamento, foram realizadas duas
dinâmicas com o objetivo de socialização.
Foi formado um círculo em frente ao CEI e
todos os participantes de mãos dadas ob-
Telmo Vieira de Souza
91
servaram quem estava ao seu lado direito e
esquerdo. Foi frisado que eles não poderiam
esquecer e nem trocar. Foi pedido a diretora
que se encaminhasse para o centro da roda;
então, ela “puxou” os demais em um trajeto
de caracol, até que ela ficasse no centro e
os demais em seu entorno. Enquanto estava
enrolada, os componentes da fila tinham
de passar por baixo dos demais até que saíssem
totalmente do centro. Todos tinham
que seguir, pois ela estava de mão dada com
o segundo, e assim por diante até passar o
último integrante da fila. Algo interessante
aconteceu, pois o círculo ficou de costas
para o centro. Então, eles tiveram de encontrar
uma forma de voltar para a posição inicial,
em que todos ficassem de frente para o
centro da roda. As famílias tiveram que resolver
esse desafio, que foi conseguido com
as sugestões e/ou orientações dos próprios
componentes da equipe. Foi enfatizado,
nesse momento, a responsabilidade de cada
um dos componentes para que a atividade
obtivesse êxito.
“Massageando o Amigo” foi a segunda dinâmica
realizada. Ao som de uma música
suave, foi solicitado que o grupo formasse
duplas e, depois, cada amigo tinha de fazer
uma massagem no outro. Na sequência, os
agentes de trânsito posicionaram-se em locais
estratégicos, dando total apoio e segurança
aos participantes do passeio ciclístico
e conduzindo os participantes pelas ruas do
bairro.
Os resultados: incentivo,
socialização, bem-estar
Foi muito expressiva a participação das famílias
que estavam muito felizes no evento.
Proporcionar momentos prazerosos e que
possam servir para a adoção de atitudes que
visam o bem-estar e a saúde é um dos objetivos
da equipe do CEI. A ideia do passeio foi
incentivar a prática da atividade física, pois,
na criança, o movimento é o que impulsiona
as significações do aprender. Isso ocorre
porque a criança se apropria daquilo que
pode experimentar corporalmente e o seu
pensamento é construído, inicialmente, por
meio da ação.
Servir como referência para a mudança de
postura na adoção de hábitos saudáveis e
92 Quem quer pedalar põe o dedo aqui!
usufruir da presença das famílias é um dos
eixos que se baseia a Educação Física, que
vê na socialização um modo de utilizar a linguagem
do movimento para o desenvolvimento
da autonomia e identidade corporal,
por meio da ampliação do conhecimento das
práticas corporais.
A atividade do passeio ciclístico oportunizou,
também, um estreitamento nas relações
entre os profissionais do CEI e as famílias, visando
sempre o bem-estar das crianças. Participar
com os seus amigos e suas famílias
de um passeio ciclístico, além de ampliar o
círculo social das crianças, oportuniza o seu
desenvolvimento biopsicossocial.
Referências
GONÇALVES, F. Psicomotricidade & Educação
Física. São Paulo: Cultura RBL, 2010.
GUISELINI, M. Aptidão física, saúde e bem
-estar: fundamentos teóricos e exercícios
práticos. São Paulo: Phorte, 2004.
TAVARES, L. Conheça sete benefícios de andar
de bicicleta. Minha Vida. Catraca livre.
2016. Disponível em: .
Acesso em: 2 jun. 2016.
Telmo Vieira de Souza
93
94
Práticas de Educação
Física na Educação Infantil
A magia
das cores
sobre o corpo
Leticia Granado
Como principal instrumento de trabalho das
aulas de Educação Física, o corpo passa a
ser visto de outra forma dentro do Centro de
Educação Infantil Nossa Senhora das Graças.
Com o início das aulas dentro da unidade,
no ano de 2014, iniciou-se um novo movimento,
com novas possibilidades - o corpo
passa a ser visto de outras formas, passa a
executar novos movimentos. Quanto maior o
desafio, maior o interesse e satisfação.
Após familiarizarmo-nos e exercitarmo-nos
durante todo o ano, fez-se necessária uma
atividade especial para o encerramento das
aulas de Educação Física, momento que
crianças de 3 a 5 anos participariam, de uma
forma inesquecível, do sentir e do reconhecer
cada parte de seu corpo e exercitariam
suas capacidades de criação. Por meio da
atividade A magia das cores sobre o corpo,
as crianças puderam deixar a imaginação
fluir, transformando-se em tudo o que desejassem.
A magia
Com tinta guache e um espaço na área externa,
desenvolvemos a atividade. Com quatro
cores dispostas para cada aluno, iniciamos
um processo de novas sensações, deslizando
as mãos com tinta pelo corpo, possibilitando
uma experiência diferenciada. Conforme o
Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil:
A aquisição da consciência dos limites do
próprio corpo é um aspecto importante do
processo de diferenciação do eu e do outro
e da construção da identidade. Por meio das
explorações que faz, do contato físico com
outras pessoas, da observação daqueles
com quem convive, a criança aprende sobre
o mundo, sobre si mesma e comunica-se pela
linguagem corporal. (BRASIL, 1998, p. 5).
A sensação da tinta em contato com o corpo,
a cada movimento das mãos ou dos dedos
pintando, se pintando, descobria-se uma
nova sensação, uma descoberta sobre seu
próprio corpo. Aos poucos as crianças foram
se apropriando e tomando consciência das
dimensões do seu corpo.
Durante a atividade, os alunos puderam fazer
suas escolhas em relação às cores que
gostariam de usar, como e onde pintar seu
próprio corpo. Elas vivenciaram uma prática
diferenciada, ampliaram suas possibilidades
de movimento e controle motor, estimularam
e aprimoraram, assim, o sistema sensório
motor.
Durante o ano de 2014, o foco das aulas de
Educação Física foi o corpo. Tendo como
objetivo principal conhecer esse corpo, aos
poucos os alunos foram se percebendo e as
possíveis possibilidades e formas de utilizar
o próprio corpo para brincar com prazer. A
práxis humana é essa unidade indissolúvel
entre conhecimento e ações sobre o mundo,
o que nos tornam sujeitos com capacidade
de transformação e criação. Transformar o
mundo, expressá-lo e expressar-se são condições
próprias dos seres humanos (FREIRE,
1983).
Foram desenvolvidos vários trabalhos importantes
para que as crianças compreendessem
o corpo como um todo e suas sensações.
Na primeira etapa, confeccionamos
um cartaz com as medidas de todos os colegas,
para que visualizassem a altura de
cada um. Na segunda etapa, desenvolvemos
atividades com foco em movimentos do corpo
com o corpo. Ginástica, massagem, atividades
corporais em grupo. Carregar um
colega e rolar por cima do corpo dos colegas
foram algumas das atividades preferidas
dos grupos. Na terceira etapa, os desafios
só aumentaram. Pilhas de colchões, mesas,
bancos, redes e cordas penduradas e escada
tornaram-se grandes desafios, e cada um
passou a reconhecer e/ou a vencer seus limites.
No entanto, o sorriso e a euforia sempre
estavam presentes durante as aulas.
Durante o ano, pude perceber que o “material
mais mágico” para as crianças, em atividades
de coordenação motora fina, era a tinta
guache. Sempre que trabalhávamos com
ela, em alguma atividade, parecia hipnotizá
-los - a felicidade tomava conta do momento.
Dessa forma, baseada em experiências da
Psicomotricidade Relacional, resolvi aplicar
a atividade do banho de tinta, voltada ao desenvolvimento
de uma consciência corporal.
No início do mês de dezembro de 2014, utilizando
o maior espaço da creche, desenvolvemos
a atividade com duas turmas por vez.
Com uma lona estendida no chão, os alunos
foram colocados sentados, espalhados pelo
espaço. Todos os alunos estavam apenas de
trajes de banho para que pudessem aproveitar
a atividade ao máximo sem se preocupar
com o fato de sujarem-se. Com todos os alunos
acomodados, cada aluno recebeu quatro
cores diferentes de tinta guache dispostas
em copinhos descartáveis. A professora de
Educação Física participou junto aos alunos,
servindo de referência e fazendo o fechamento
dos vínculos já estabelecidos durante
o ano. A curiosidade e a euforia diante dos
copinhos de tinta tomaram conta de todos.
A atividade teve início com a escolha da cor
preferida de cada um, a qual deveria ser passada
na testa, utilizando os dedos. Durante
toda a atividade, utilizamos apenas o corpo
e as tintas. Inicialmente, as perguntas começaram
a aparecer: “Professora, e agora?
Pode passar na perna? E no braço?”.
Começaram assim as obras de arte por todo
o corpo; vários desenhos; várias cores. Alguns
mais tímidos, outros com medo: “Será
96 A magia das cores sobre o corpo
que posso mesmo me sujar?”. Uma colega
precisou da ajuda da professora para entrar
na brincadeira - aos poucos ela se esqueceu
de seus medos e se envolveu com o grupo.
A sensação da tinta em contato com o corpo,
a cada movimento das mãos deslizando,
era uma nova descoberta sobre seu próprio
eu. Aos poucos as crianças foram se apropriando
e tomando consciência das dimensões
do seu corpo.
Os sentidos sensoriais são a porta de entrada
para aprendizagem no corpo humano.
Explorar técnicas que privilegiam o uso dos
sentidos auxilia a captação dos mais diversos
conteúdos. “Maria Montessori defendia
que o caminho do intelecto passa pelas
mãos, porque é por meio do movimento e do
toque que as crianças exploram e decodificam
o mundo ao seu redor. ‘A criança ama
tocar os objetos para depois poder reconhecê-los’,
disse certa vez”. (GOLDSCHMIDT et
al., 2008, s/p).
A todo momento, eles perguntavam se poderia
pintar esta ou aquela parte do corpo.
Cada um se pintou com as cores preferidas,
alguns coloriram cada parte do corpo com
uma cor, outros misturaram todas as cores
e passaram pelo corpo. Cada um com o seu
jeito e preferência. Após colorirem todo o
corpo onde alcançavam, as crianças começaram
a pedir ajuda aos colegas para colorir
as costas. Surgiram, então, vários desenhos.
A criatividade e a imaginação tomaram conta
de todos.
No primeiro momento, cada um desenhou e
coloriu o seu corpo. No segundo momento,
era a hora de estabelecer as parcerias, reforçar
a confiança. Foi o momento de desenhar
no corpo do amigo e disponibilizar-se para o
outro. De acordo com Lapierre e Aucouturier
(2004), o prazer estabelecido com o outro
e o entendimento envolvem, muitas vezes, a
compreensão, a aceitação e o respeito, resultando
na socialização dos indivíduos. Nessa
relação, o outro pode ser encarado como um
instrumento de ajuda nas demais relações.
Após a maioria estar com quase todo o corpo
pintado, as meninas afirmaram para os meninos:
“Não pode pintar o cabelo!”. Eles olharam
para a professora com carinhas cheias
de dúvidas. “Será que não pode? O corpo
não está todo colorido? Então, o cabelo também
faz parte do corpo!”.
Dessa forma, eu escolhi uma das cores e disse:
“O meu cabelo faz parte do meu corpo,
não é?”. Assim, passei a cor azul por algumas
mechas do meu cabelo. Eles ficaram
surpreendidos e tornaram a entrar na brincadeira
novamente, pintando seus cabelos
com uma ou mais cores. As meninas inventaram
maquiagens, penteados e máscaras
exuberantes.
As cores, a alegria e as parcerias estavam
estabelecidas no grande grupo. Era motivo
de festa. Após todas as cores estarem misturadas,
tornando-se apenas uma, comecei
o processo de volta à calma. Aos poucos, comecei
o banho de mangueira para remover
toda a tinta, proporcionando, assim, vários
momentos de prazer.
Nesse momento, a professora de Educação
Física deu o banho de mangueira e as agentes
de educação auxiliaram no processo de
secar e vestir as crianças para retornarem
aos momentos de rotina da creche. De fato,
conforme o Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil:
Propiciar a interação quer dizer, portanto,
considerar que as diferentes formas de sentir,
expressar e comunicar a realidade pelas
crianças resultam em respostas diversas
que são trocadas entre elas e que garantem
parte significativa de suas aprendizagens.
Uma das formas de propiciar essa troca é a
socialização de suas descobertas, quando o
professor organiza as situações para que as
crianças compartilhem seus percursos individuais
na elaboração dos diferentes trabalhos
realizados. (BRASIL, 1998, p. 31).
Cuidados e vínculos reforçados
Foi uma experiência inovadora. O recurso
utilizado possibilitou a exploração de movimentos
corporais e a utilização de todos os
sentidos sensoriais. 99% dos alunos participaram
da atividade com prazer. Apenas uma
criança não quis se envolver na atividade, já
de início. Dessa forma, ela ficou a observar
de longe como preferiu.
Durante a atividade, pude perceber que as
Leticia Granado
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98 A magia das cores sobre o corpo
Leticia Granado
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noções de esquema corporal já estavam integradas,
as descobertas foram as sensações
causadas pela tinta nas diferentes partes do
corpo, estimulando, assim, os sistemas sensoriais.
A prática, por meio de atividade lúdica,
fornece subsídio para a criança observar,
interagir, experimentar, investigar e formar
vínculos, facilitando os processos de ensino
aprendizagem, auxiliando nos processos de
descoberta de seus próprios limites e do seu
próprio “Eu”.
O cuidado com o corpo e os vínculos afetivos
foram reforçados no grupo. Assim sendo,
os objetivos da atividade foram amplamente
alcançados. Enfatizo, dessa forma, a importância
de inovar e arriscar mais atividades
diferenciadas para proporcionar o prazer a
todos os envolvidos.
Referências
BRASIL. Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil: Introdução, volume
1. Brasília: MEC/SEF, 1998.
FREIRE, P. Educação como prática de mudanças.
15. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1983.
GOLDSCHMIDT, A. I. et al. A importância do
lúdico e dos sentidos sensoriais humanos na
aprendizagem do meio ambiente. 2008. Disponível
em: . Acesso em: 15 set.
2015.
LAPIERRE, A.; AUCOUTURIER, B. A simbologia
do movimento: psicomotricidade e educação.
3 ed. Curitiba, PR: Filosofart, 2004.
100 A magia das cores sobre o corpo
Leticia Granado
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Práticas de Educação Física
na Educação Infantil
Créditos
Secretário de Educação
Edison D’Ávila
Direção Geral
Coordenadora Técnica
Prof.ª Dra. Sandra Cristina Vanzuita da Silva
Diretora da Diretoria de Educação Infantil
Prof.ª Sueli da Costa
Organização:
Prof.ª Ana Paula Rudolf Dagnoni
Prof.ª Débora Adami Domingos
Prof.ª Fernanda Seara Cera
Prof.ª Lidiane de Souza Candido
Prof.ª Meri Margareth Rodrigues
Prof.ª Nazedir de Amorim de Menezes
Prof.ª Uiara Bertholdi Vargas
Apoio:
Prof.ª Daniela Christiane da Silva dos Santos
Diagramação
Bresciani Design | Lucas Bresciani
Revisão
Janete Bridon