FalaTI-7

RAFAEL:
planilhas para manter
o foco e lápis para desestressar

RAFAEL DE SOUZA
RODRIGUES
Antes de tudo, é que, para ser
entrevistado para o Fala, TI!, li todas as outras
edições para saber se existia algum padrão
de perguntas. E não, não foi o caso. Já deu
para perceber que timidez faz parte do meu
perfil. Também gosto de tudo organizado.
E tenho, sim, um lado bem humorado.
Bom, sou funcionário da área de Escritório
de Projetos. Sou fissurado por planilhas,
e esse caminho começou a partir de um
sonho que eu tive. Prato feito para eu
conquistar meu maior desafio até hoje:
comprar minha casa. Planilhas e números
em doses cavalares me acompanharam dia
e noite durante exatos um ano, três meses e
quatorze dias.
Moro em Mesquita, sou carioca e casado,
com dois filhos. Sou deficiente físico, nasci
com problemas motores nos pés. Mas
sempre digo: eu não rebolo, apenas manco.
(risos) Quero dar aos meus filhos tudo o
que eu não tive quando criança em termos
materiais. A educação e a simplicidade que
meus pais me deram foram necessárias
para eu dar valor ao que tenho hoje.

FALA, TI!
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Conte para a gente um pouco de seu trabalho na Seguradora e como foi
sua trajetória.
Trabalho na Bradesco Seguros há sete anos. Atualmente, em Escritório de
Projetos, atuo com requisição e entregas. Meu trabalho é fornecer visibilidade
dos processos de consolidação e divulgação realizados pela área. O
resultado oferece uma visão estratégica das demandas de TI aos Executivos.
Eu entrei na Bradesco Seguros para cobrir uma vaga de Portador de Necessidades
Especiais (PNE). A princípio, meu papel era ficar responsável pela copiadora
e pela conferência de documentos de
O resultado (do meu
trabalho) oferece
uma visão estratégica
das demandas de TI
aos Executivos.
rotina. Algo mais operacional. Depois, fui
convidado a participar de uma nova célula
– Atendimento, Controle e Qualidade – e
fiz curso de Excel avançado e VBA (Visual
Basic for Applications). Por meio de
entrevistas, cheguei à área em que estou.
E atualmente faço faculdade de Análise e
Desenvolvimento de Sistemas.
E como começou essa fissura por planilhas, algo tão marcante seu?
Foi quando eu entrei na Bradesco. Na época, tive um sonho em que eu, de
terno, estudava Excel e finanças. A partir daí todo dia eu chegava um pouco
mais cedo para fazer curso pelo Treinet, o que praticamente me trouxe aqui
para a TI. Antes daqui, passei por uma multinacional, onde tive meu primeiro
contato com computador, e sempre fui autodidata. Quando trabalhei em um
hotel, vi que eu poderia ser mais ambicioso, poderia realmente querer mais.
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E as planilhas ultrapassaram os muros
corporativos para ajudá-lo a alcançar um
sonho, não é?
Sim, passei a me organizar não só no trabalho
mas também na vida pessoal, aprendendo a lidar
com dinheiro. Para o meu desejo de comprar a
casa que eu e minha família alugávamos, fui
radical em tudo. Minha mulher chegou a ir a
Salvador com meus dois filhos para a casa de sua
FALA, TI!
Meu desejo era
comprar a casa que
eu e minha família
alugávamos.
Fui radical em tudo.
família a fim de minimizar as despesas. Foram dois longos meses ruins longe
deles. Quando eu estava sozinho, usava R$ 15 para a compra de alimentos do
mês. O foco era o sacolão para comprar frutas. Cheguei a ter alopecia devido
ao estresse, perdendo parte do cabelo, mas sem perder o foco no meu trabalho
e na minha futura casa.
Como dizem, creio que teremos que “zerar” todos os nossos conceitos de
“radical”. Isso é realmente um feito fora da curva.
Sim, fui radical em tudo para alcançar o que eu queria e poder sempre me
desenvolver mais. Minha esposa até ficou durante um tempo com raiva das
planilhas, mas hoje aprova e vai até ao mercado com elas. (risos) Hoje em casa
temos em construção três quartos, dois banheiros, e ainda pretendo fazer um
terraço para estudar e desenhar.
Como lida com sua deficiência?
Por favor, sinta-se à vontade caso
não queira falar sobre isso.
Não, sem problema algum. Hoje
lido muito bem, brinco comigo
mesmo. Não pago inteira no cinema, no teatro
nem no zoológico. (risos) Agradeço muito à minha mãe, que
me carregou muito, e a todo o carinho da família, que sempre
me apoiou. A chegada do meu irmão me ajudou muito em
meu desenvolvimento, já que comecei a fazer as coisas que
ele fazia, e daí vieram os primeiros passos. Tive uma situação
parecida com a do paratleta Clodoaldo Silva. Tive preguiça de
nascer (risos) e acabei ficando com falta de oxigênio, o que
afetou os meus pés. Eles ficavam virados para cima, como
se eu pisasse com o peito do pé. Fiz três operações quando
pequeno. Na escola, cheguei a sofrer com brincadeiras de
mau gosto. E eu ainda gostava de estudar, então imagina.
Passei a ter critério na formação de amizades,
passando a me importar com quem realmente
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FALA, TI!
se importava comigo e me respeitava. Era muito estranho, as pessoas não me
olhavam nos olhos, me olhavam pelas pernas.
Não seria surpresa caso seu sobrenome fosse superação. No começo da
conversa, você chegou a dizer que não tinha muita história para contar, e já
aprendemos muito até aqui. Acho que você estava errado...
Não, não sou nada disso. Mas acho que tudo estava muito entrelaçado e abençoado
para eu chegar até aqui. Teve até uma questão que me auxiliou durante o período
radical de planilhas: um colega pagou meu combo de internet durante um ano.
Eu quis pagar depois, mas ele falou para eu fazer isso com outra pessoa, já que
alguém já tinha feito isso com ele no passado. Sou eternamente grato, isso teve
um impacto muito grande na minha vida. E em troca de nada. Sei que há muitas
outras pessoas esperando uma oportunidade dessa.
Hoje já acumulo cerca
de 300 desenhos
guardados, e tenho
muito ciúme de
minha pasta. (risos)
E, então, o que gosta de fazer nas horas
livres?
Gosto de jogar videogame, assistir a filmes,
ouvir música. Para desestressar, desenho.
É uma terapia. Tira o estresse que é uma
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FALA, TI!
beleza! Torço pelo Botafogo, mas gosto mais de luta, como UFC. Gosto de ler,
especialmente ficção científica. Gosto de Dan Brown, por exemplo.
Como começou essa paixão por desenhar? São de boa qualidade, inclusive o
trabalho com a luminosidade.
Comecei em 1994 com os desenhos, eu gostava muito de animes japoneses.
Eu acompanhava muito e tentava imitar, surgiu daí o gosto. Depois abandonei
essa veia de mangá e parti para o retrato de pessoas, tentando seguir o realismo.
Nunca tive intenção de tornar isso um trabalho, gosto de fazer, pois relaxa.
Hoje já acumulo cerca de 300 desenhos guardados, e tenho muito ciúme de
minha pasta. (risos)
Rafael, conte-nos o que o deixa feliz. E, nesse ínterim, algo o abala?
A felicidade da minha família me basta. O que me deixa triste? Não poder
estar presente em muitos momentos da vida dos meus filhos.
E, depois de tanta superação, ainda há sonhos?
A curto, médio ou longo prazos? Primeiro quero crescer profissionalmente,
para influenciar o meu segundo desejo, de médio prazo: dar uma qualidade
melhor para minha família. E, finalmente, meu terceiro desejo, de longo prazo,
aproveitar momentos com meus filhos, do que precisei abrir mão em muitas
horas. Nunca viajei, devido a tempo e dinheiro. Para minha primeira viagem,
quero levar meus filhos ao Beto Carrero. E depois à Disney.
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FALA, TI!
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Mande sua sugestão para o e-mail de Gestão de Informações
(gestaodeinformacoes.ti@bradescoseguros.com.br).
Este é um espaço de todos nós da TI. Colabore!
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