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2 <strong>Folha</strong><br />
povoitauna.com<br />
opinião<br />
Itaúna | Sábado, 28 de janeiro de 2017 | Edição 1225<br />
Sérgio Tarefa<br />
Causus<br />
Função aceita,<br />
e lá vai o<br />
Zezé para o<br />
dia a dia de<br />
abrir e fechar<br />
a igreja,<br />
badalar<br />
os sinos, varrer<br />
a capela,<br />
recolher as<br />
esmolas,<br />
repor os<br />
potinhos de<br />
água benta<br />
e ajudar nas<br />
celebrações.<br />
...<br />
...<br />
- “olha os<br />
pintinhos!<br />
Olha os pintinhos!<br />
Preço<br />
de ocasião!”<br />
Num piscar<br />
de olhos,<br />
com parte<br />
do dinheiro<br />
do seu acerto,<br />
comprou<br />
todos, mais<br />
de cem, e os<br />
levou para a<br />
casa da sua<br />
mãe<br />
...<br />
ChargE<br />
o Sacristão<br />
A notícia da morte do Sacristão em pouco<br />
tempo varreu a pequena cidade de ponta a<br />
ponta naquela friorenta manhã de quinta<br />
feira.<br />
- “O Tonho do Jó morreu” - era o zum, zum,<br />
zum nas portas das vendas e na pracinha em<br />
frente à igreja Matriz.<br />
- “É vai ser difícil arranjar um Sacristão<br />
tão bão e dedicado como ele, ah, se vai” - era<br />
o comentário geral. Realmente o Sr. Antônio,<br />
mais conhecido como Tonho do Jó, com<br />
seus setenta e cinco anos, cinquenta dos<br />
quais dedicados à profissão de Sacristão, ia<br />
deixar saudades em função da sua dedicação<br />
às coisas da igreja. Fizesse sol ou chuva, lá<br />
estava o Tonho abrindo e fechando a igreja,<br />
repicando os sinos, chamando os fiéis para<br />
missas dominicais ou para as novenas de fim<br />
de mês. Durante o seu velório, onde os comes<br />
e bebes entraram noite à dentro acirraram<br />
os comentários sobre o disputado cargo. No<br />
canto da sala o chefe político da cidade era<br />
visto cochichando nos ouvidos do padre e<br />
vice-versa. Dali sairia, com certeza, o nome<br />
do felizardo, exclamavam as pessoas esparramadas<br />
pela ampla sala do velório.<br />
- “O Zezé, meu afilhado, é um bom moço<br />
padre” - exclamava o chefe político para o<br />
atencioso sacerdote postado a sua frente.<br />
- “É filho da Dona Ambrósia, cozinheira lá<br />
de casa e vai ser um bão Sacristão!”<br />
- “Com ele lá fica mais fácil consertar o<br />
telhado e providenciar<br />
a nova pintura<br />
da Igreja, antes da<br />
Semana Santa, né?!”<br />
- Tornava a exclamar<br />
o chefe político, para<br />
o cada vez mais atencioso<br />
e sorridente<br />
sacerdote.<br />
- “Só vou consultar<br />
o Bispo Coronel!<br />
- Mas se o Senhor<br />
falou que o menino<br />
é bom, ele há de concordar.”<br />
O tapinha<br />
nas costas e o forte<br />
aperto de mão selou<br />
o acordo ali mesmo, próximo ao falecido<br />
estirado no caixão de madeira e coberto por<br />
flores silvestres. Para os presentes que a tudo<br />
assistiam, não tinha mais dúvidas: a vaga já<br />
estava preenchida. O novo Sacristão já havia<br />
sido escolhido.<br />
- “Mas Sacristão minha mãe?” - Argumentava<br />
o José Eduardo, mais conhecido como<br />
Zezé da Ambrósia.<br />
- “Agora que tirei o 1º grau e pretendia<br />
cursar o segundo!? - A senhora sabe que nesta<br />
função não dá para conciliar estudo com<br />
serviço” - tornava a exclamar o jovem Zezé,<br />
ainda meio assustado com a notícia que fora<br />
o escolhido para substituir o falecido Tonho<br />
do Jó.<br />
- “É emprego garantido para o resto da<br />
vida meu filho. Veja o Sr. Tonho, que trabalhou<br />
até os 75 anos. Onde você vai arranjar<br />
uma oportunidade igual, onde, diga, diga...?”<br />
- instigava a velha mãe ante a relutância do<br />
filho, temerosa de uma grande desfeita com os<br />
patrões que o haviam indicado. Função aceita,<br />
e lá vai o Zezé para o dia a dia de abrir e fechar<br />
a igreja, badalar os sinos, varrer a capela, recolher<br />
as esmolas, repor os potinhos de água<br />
benta e ajudar nas celebrações. Dedicado e<br />
organizado em pouco tempo fez esquecer<br />
o antigo Sacristão. Astuto e bom negociador<br />
evitou um certo dia que um colecionador<br />
espertalhão empurrasse no padre uma belíssima<br />
estátua de gesso de São Jorge com<br />
dragão e tudo mais, em troca de uma pequena<br />
imagem de madeira cuja origem ninguém<br />
sabia dizer. Meses depois fechou negócio<br />
com um colecionador da capital e o dinheiro<br />
arrecadado proporcionou uma reforma geral<br />
na sacristia e no altar e ainda sobrou uma<br />
boa quantia para aplicar nas obras sociais.<br />
Os anos foram passando e o Zezé sem tempo<br />
para prosseguir nos estudos se dedicava de<br />
corpo e alma aos seus afazeres. Noivo e com o<br />
casamento marcado para o final do ano, com o<br />
pouco que sobrava do seu salário, estava terminado<br />
de construir um barracão de parede<br />
e meia nos fundos do quintal da velha mãe.<br />
Aliás, o namoro com a Das Dores, sua noiva,<br />
surgiu no interior da igreja. Foi nos preparativos<br />
da missa das sete que ele avistou pela<br />
primeira vez a morena de lábios carnudos e<br />
seios fartos, ajoelhada no banco da primeira<br />
fila. A partir daí, a troca de olhares aproximou<br />
o casal e do namoro ao noivado foi um pulo<br />
só. A vida apertada, mas com planos para o<br />
futuro corria normalmente, quando numa<br />
determinada manhã o Padre o chamou para<br />
uma conversa particular.<br />
- “Olha Zezé” - exclamou o sacerdote”. Nós<br />
gostamos muito de você e não temos nada a<br />
reclamar do seu trabalho, mas ocorre que<br />
recebi uma correspondência do Bispo, que<br />
a partir desta data, por ordem do vaticano,<br />
todo Sacristão tem de ter o 2º grau completo<br />
e como você só tem o 1º grau sou obrigado a<br />
dispensá-lo. Apreensivo e assustado recorreu<br />
ao seu padrinho e nada. Ordem do Papa não<br />
se discute, cumpre-se. Com o dinheiro do<br />
acerto no bolso saiu sem rumo pois já estava<br />
com trinta anos, doze dos quais dedicados a<br />
sua antiga profissão, que era a única coisa que<br />
sabia fazer. E o casamento no final do ano! E o<br />
término do barracão que ainda esperava pelo<br />
reboque e pela pintura! Estava desesperado<br />
e com a cabeça a mil, quando ouviu uma voz<br />
estridente, próximo ao local onde estava -<br />
“olha os pintinhos! Olha os pintinhos! Preço<br />
de ocasião!” Num<br />
piscar de olhos, com<br />
parte do dinheiro<br />
do seu acerto, comprou<br />
todos, mais<br />
de cem, e os levou<br />
para a casa da sua<br />
mãe. Quarenta e<br />
cinco dias depois<br />
negociou os frangos<br />
e com o dinheiro<br />
comprou quinze leitões<br />
e os engordou.<br />
Com a venda dos<br />
mesmos comprou<br />
uma partida de novilhas<br />
e de negócios<br />
em negócios foi comprando e vendendo,<br />
comprando e vendendo e vinte anos depois<br />
era considerado o homem mais rico da região,<br />
com fazendas de gado, hotéis, postos de<br />
gasolina, supermercados e revendedoras de<br />
automóveis. Naquele dia estava inaugurando<br />
um grande frigorífico para industrializar e<br />
exportar a carne de suas fazendas. Como se<br />
tratava de um grande acontecimento, estavam<br />
presentes na pequena cidade não só as autoridades<br />
locais e das cidades vizinhas, como<br />
toda a imprensa falada e escrita. Durante a<br />
festa de inauguração, convidado por uma<br />
emissora da capital para uma entrevista, o<br />
industrial e fazendeiro com o seu jeito simples<br />
colocou-se imediatamente à disposição<br />
da jovem repórter.<br />
-“Estamos aqui nesta progressiva cidade<br />
para documentar um fato de grande relevância<br />
em uma época de crise e desemprego.<br />
Trata-se da inauguração de um grande frigorífico<br />
que proporcionará mais de duzentos<br />
empregos diretos para a população e o<br />
responsável por tudo isto está aqui ao meu<br />
lado. O Dr. José Eduardo, o mais importante<br />
industrial e fazendeiro da região”.<br />
- “Inicialmente gostaria de reafirmar que<br />
o meu empreendimento vai mesmo proporcionar<br />
muitos empregos para a população,<br />
mas que eu não sou doutor não” - explicou de<br />
modo simples o grande empresário.<br />
- “Não?”- Exclamou um pouco apreensiva<br />
e decepcionada a jovem repórter!<br />
- “Só tenho o 1º grau, minha filha” - reafirmou<br />
com simplicidade o industrial fazendeiro.<br />
- “Nossa! Só com 1º grau o senhor construiu<br />
este império, já imaginou se o senhor<br />
tivesse pelo menos o 2º grau?” – Voltou a<br />
exclamar a jovem repórter, já um pouco desconsertada.<br />
Com um leve sorriso nos lábios,<br />
o bem sucedido industrial e fazendeiro, respondeu:<br />
se eu tivesse o 2º grau minha filha<br />
hoje eu seria um sacristão.......<br />
Ponta da Caneta<br />
discutindo o<br />
“sexo dos anjos”<br />
(...)<br />
O governo recém-formado<br />
é<br />
um verdadeiro<br />
“balaio de gato”,<br />
as coisas não<br />
se encaixam,<br />
há divergências<br />
internas em várias<br />
secretarias<br />
e muitas arestas<br />
precisam ser<br />
aparadas.<br />
Renilton<br />
Gonçalves Pacheco<br />
Gostaria de iniciar esse editorial pedindo desculpas ao procurador-geral<br />
do Município, Jardel Araújo, que teve seu nome<br />
citado na última “Ponta da Caneta” injustamente. Recebemos informações<br />
equivocadas de que seu irmão poderia assumir cargo<br />
no SAAE, na Gestão de Resíduos Sólidos, o que não é verdade.<br />
Checamos e houve um engano em relação aos nomes e parentescos.<br />
Justificativa feita, vamos ao que interessa.<br />
Fiquei surpreso com o projeto do prefeito revogando a Lei<br />
3.551, de 27 de junho de 2000, que instituiu como símbolo de<br />
Itaúna a orquídea Catleya Walkeriana. Na justificativa o prefeito<br />
argumenta que a Lei Orgânica de Itaúna dispõe sobre os símbolos<br />
pétreos do Município, que são a Bandeira, o Hino e o Brasão.<br />
Na quinta-feira, a assessoria do prefeito comunicou que o Brasão,<br />
criado em 1969, está definido como o símbolo da cidade, e<br />
que, como bem define o release confeccionado pela assessoria<br />
de comunicação da Administração Municipal, define a Identidade<br />
histórica e cultural do município, explicando: o Brasão foi instituído<br />
pela Lei n.º 955, de 14 de outubro de 1969, e tem as cores,<br />
vermelho, branco e verde, também escolhidas em um certame,<br />
devidamente referendado por comissão julgadora e que indicam<br />
os campos de minério. Esse símbolo pétreo também remete a<br />
aspectos da história, cultura e economia<br />
de Itaúna. Um escudo com base<br />
sólida aponta para o crescimento e<br />
cinco torres formam a curva mural,<br />
simbolizando uma cidade. No centro,<br />
uma roda de fiar, antiga, representa<br />
a indústria têxtil, base do progresso<br />
do município; as engrenagens, a indústria<br />
mecânica. A representação<br />
do ensino está do lado direito e do<br />
esquerdo, a da agricultura e pecuária.<br />
A data, 1748, se refere ao início do<br />
povoamento, enquanto 1901 é o ano<br />
da emancipação político-administrativa.<br />
Parabéns, muito bem!!! Está tudo<br />
certo. Entendo que o Brasão deve<br />
mesmo ser o símbolo oficial da administração,<br />
melhor, das administrações<br />
do município. Nunca concordei<br />
com a escolha da orquídea e critiquei<br />
isso à época, nesse mesmo espaço.<br />
Mas, venhamos e convenhamos, isso<br />
não é momento para discutir símbolos.<br />
São 30 dias de governo prestes a serem completados, com<br />
uma cidade repleta de problemas e com muita coisa para colocar<br />
em ordem. O governo recém-formado é um verdadeiro “balaio<br />
de gato”, as coisas não se encaixam, há divergências internas em<br />
várias secretarias e muitas arestas precisam ser aparadas.<br />
Além dos aspectos internos, há muitos ajustes a serem colocados<br />
em prática e a afirmativa do prefeito em entrevista de que<br />
é preciso adotar um novo formato de gestão precisa ser o foco<br />
principal. E aí começam outros problemas que terão que ser debatidos<br />
a partir de agora, e no meu entendimento de forma ampla,<br />
pública e minuciosamente com todos os setores da sociedade.<br />
Mais uma vez, concordamos com o prefeito de que é preciso<br />
formatar um novo projeto de gestão, mas também é preciso atentar<br />
se é o momento. Como apuramos, o diagnóstico vai custar em<br />
números redondos R$ 1,2 milhões, que serão pagos em 12 meses.<br />
Ok. Mas é a partir do diagnóstico que os gastos vão se multiplicar.<br />
Como bem nos explicou pessoa ligada à Fundação Dom Cabral.<br />
Mais caro que o diagnóstico, o planejamento, é a implantação do<br />
novo formato, pois isso envolve espaço adequado (o que teremos<br />
em curto e médio prazo), tecnologia, preparo de pessoal e, principalmente,<br />
recursos para fazer com que tudo isso funcione.<br />
Volto a perguntar: é o momento? Acho que não. Antes de se<br />
preocupar com um novo modelo de gestão, entendo que as questões<br />
pontuais devem ser atacadas imediatamente e de forma<br />
eficaz. Temos problemas de escoamento na Jove Soares, o que<br />
envolve intervenção em várias ruas do seu entorno; temos problemas<br />
de mobilidade urbana; temos transporte coletivo ineficiente;<br />
temos excesso de funcionários na administração pública,<br />
direta e indireta; dentre muitos outros. Formatar uma nova<br />
gestão vai demorar, custa caro e não temos recursos para tal. É<br />
sonho, palpável é verdade, mas não é hora disso.<br />
P.S. - Recebi telefonema de uma Itaunense ilustre que reside<br />
há alguns anos na Europa e a mesma fez uma cobrança em relação<br />
à administração de Neider que é pertinente. Dizendo-se<br />
indignada, afirmou em tom de questionamento: que governo machista<br />
é esse? Não tem uma mulher sequer no primeiro escalão!?<br />
Isso é um absurdo. Pois é, nossos governantes podem até achar<br />
que não, mas estão sendo observados além mar. É só mais um<br />
registro pertinente.<br />
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