Zine Zona da Mata
Experiências de um Laboratório Ambiental Permanente
Experiências de um Laboratório Ambiental Permanente
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1
A LANXESS possui o compromisso<br />
de desenvolver soluções<br />
sustentáveis, que ajudem a<br />
enfrentar os desafios globais<br />
relacionados à urbanização,<br />
mobili<strong>da</strong>de, agricultura e<br />
água. Nossas iniciativas estão<br />
basea<strong>da</strong>s nos pilares: “Educação,<br />
Cultura e Socie<strong>da</strong>de” e<br />
“Proteção ambiental e Sustentabili<strong>da</strong>de”<br />
e todos os nossos<br />
projetos tem por objetivo<br />
integrar aspectos econômicos,<br />
ecológicos e sociais.<br />
Atuamos de maneira sustentável<br />
em nossos processos<br />
produtivos, estabelecemos<br />
relacionamento ético com<br />
clientes e fornecedores, cui<strong>da</strong>mos<br />
<strong>da</strong> relação com nossos<br />
colaboradores e apoiamos o<br />
desenvolvimento socioambiental<br />
<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des onde<br />
atuamos.<br />
Como CEO <strong>da</strong> LANXESS no<br />
Brasil, tenho proprie<strong>da</strong>de para<br />
dizer que nossa companhia vem<br />
fazendo sua parte. Apoiamos<br />
projetos que concretizam a<br />
preocupação socioambiental<br />
que a LANXESS tem com o nosso<br />
planeta, e o compromisso de<br />
estimular o desenvolvimento de<br />
soluções sustentáveis, que ajude<br />
as comuni<strong>da</strong>des onde atuamos<br />
a enfrentarem os desafios<br />
cotidianos que encontram.<br />
Acreditamos que realizando<br />
iniciativas como esta, do<br />
<strong>Zona</strong> <strong>da</strong> <strong>Mata</strong>, podemos juntos<br />
construir um ambiente melhor<br />
para todos nós.<br />
Marcelo Lacer<strong>da</strong><br />
Presidente <strong>da</strong> LANXESS no Brasil<br />
Se você tem uma casa com jardim,<br />
é evidente que você deseja<br />
utilizá-lo. O Goethe-Institut São<br />
Paulo tem um jardim - admirável,<br />
no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, como um<br />
oásis em meio a uma selva de<br />
pedra, no entanto nunca alguém<br />
o havia aproveitado.<br />
Por mais de 30 anos permaneceu<br />
abandonado, invisível aos<br />
visitantes do Instituto e ignorado<br />
pelos colegas que aqui trabalham.<br />
Surge, assim, a ideia de revitalizar<br />
o jardim e torná-lo utilizável para<br />
todos que têm interesse em participar<br />
de sua criação, de seu uso<br />
e de seu “crescimento”.<br />
Rodrigo Bueno teve essa<br />
percepção quando viu o “Quintal”<br />
do Goethe-Institut e criou o projeto<br />
“<strong>Zona</strong> <strong>da</strong> <strong>Mata</strong>” - um jardim<br />
público e urbano, manifestado a<br />
partir <strong>da</strong>s criações, ideias e sonhos<br />
dos envolvidos para se tornar<br />
um lugar de arte, encontro,<br />
compartilhamento: um espaço de<br />
aprendizado e crescimento.<br />
O Goethe-Institut tem o<br />
prazer de disponibilizar um lugar<br />
para esta finali<strong>da</strong>de e para realizar<br />
esse projeto em conjunto<br />
com parceiros apoiadores,<br />
como Lanchonete.org e Lanxess.<br />
Uma atribuição primordial do<br />
Instituto é o diálogo intercultural<br />
- o intercâmbio entre pessoas<br />
criativas. E onde, se não em um<br />
jardim <strong>da</strong> arte - em uma “<strong>Zona</strong><br />
<strong>da</strong> <strong>Mata</strong>” - poderiam esses diálogos<br />
frutíferos desenvolver-se<br />
com tanta beleza?<br />
Katharina von Ruckteschell-Katte<br />
Diretora Executiva do Goethe-<br />
-Institut São Paulo<br />
2
SOBRE ZONA D A M A T A<br />
Laboratório Ambiental no<br />
quintal do Goethe-Institut<br />
São Paulo<br />
Em meio a crescente on<strong>da</strong> de<br />
agricultura urbana e ocupações<br />
de espaços públicos em São<br />
Paulo, a deman<strong>da</strong> de áreas<br />
cultiva<strong>da</strong>s ain<strong>da</strong> é imensa. O<br />
laboratório <strong>Zona</strong> <strong>da</strong> <strong>Mata</strong> nasce<br />
<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de experimentações<br />
e colaborações coletivas<br />
em torno do retoma<strong>da</strong> verde<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Um espaço de troca,<br />
onde as dinâmicas possam<br />
mapear e inspirar interações<br />
dentro e fora do Instituto.<br />
Qual a memória do solo, <strong>da</strong>s<br />
árvores? O que podemos imaginar<br />
e fazer juntos? Pode ser um<br />
jardim-horta, uma horta-floresta,<br />
um viveiro-cozinha-ateliê,<br />
um refúgio de contemplação?<br />
Certamente um lugar de encontro<br />
e fluxo de informação,<br />
inspiração e cultivo.<br />
Com a impossibili<strong>da</strong>de de<br />
grandes investimentos imediatos,<br />
a saí<strong>da</strong> foi germinar o<br />
projeto e deixá-lo crescer gradualmente.<br />
Como uma escultura<br />
viva, o laboratório iniciou um<br />
programa de investigações de<br />
práticas ambientais e artísticas,<br />
como ro<strong>da</strong>s de conversa e mutirões<br />
preparando o terreno e a<br />
fertilização de narrativas de integração<br />
entre o meio ambiente<br />
e a produção de arte, educação<br />
e cultura.<br />
Em um momento de grande<br />
questionamento <strong>da</strong> representativi<strong>da</strong>de<br />
política, brotam<br />
pelas rachaduras do cotidiano<br />
a necessi<strong>da</strong>de de pertencimento<br />
à ci<strong>da</strong>de, apropriação<br />
dos saberes <strong>da</strong> terra, acesso<br />
ao alimento e plantio do que<br />
podemos chamar de ecologia<br />
sistêmica liga<strong>da</strong> a outras eficácias<br />
mais permeáveis e criativas.<br />
O laboratório <strong>Zona</strong> <strong>da</strong> <strong>Mata</strong><br />
espelha-se na busca de um ambiente<br />
integrado entre a ci<strong>da</strong>de<br />
e o campo, como um banco de<br />
ideias e experiências autônomas<br />
e em rede, próximas de uma<br />
sensibili<strong>da</strong>de descoloniza<strong>da</strong>, e<br />
que promovam o encontro, o<br />
intercâmbio, a criativi<strong>da</strong>de e a<br />
consciência <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de.<br />
O processo de renovação<br />
tem sido um chamado para<br />
aulas e vivências participativas<br />
3
com o intuito de estreitar laços<br />
com a comuni<strong>da</strong>de e o entorno,<br />
apresentando métodos e lei-<br />
turas <strong>da</strong> paisagem. Onde o ser<br />
humano possa ser visto como<br />
força integra<strong>da</strong> ao que chama-<br />
mos de natureza, parte de uma<br />
engrenagem, literalmente um<br />
jardim dentro de outro jardim.<br />
A inspiração vem <strong>da</strong> visão inte-<br />
gra<strong>da</strong> <strong>da</strong> flor <strong>da</strong> Permacultura,<br />
uma cultura holística de pla-<br />
nejamento e cultivo sistêmico,<br />
cujo ritmo que direciona as<br />
decisões é o passo a passo.<br />
Inserido no círculo al-<br />
químico <strong>da</strong> transmutação, o<br />
diagrama ao lado surge como<br />
uma sequência interliga<strong>da</strong> de<br />
pétalas que se abrem sucessivamente.<br />
É um convite à sensi-<br />
bilização criativa a favor de uma<br />
visão do todo, pela observação<br />
dos princípios como o manejo<br />
e o cui<strong>da</strong>do <strong>da</strong> terra, seguidos<br />
pelas questões de auto-gestão<br />
e governabili<strong>da</strong>de, economia<br />
justa, saúde e bem estar físico<br />
e espiritual, ao lado <strong>da</strong> educa-<br />
ção e cultura alternativa, sob os<br />
legados tradicionais dos povos<br />
originários. Um sistema circular<br />
em espiral difundindo fun<strong>da</strong>-<br />
mento, consciência, memória,<br />
ferramentas e tecnologias que<br />
alimentam estruturas físicas e<br />
metafísicas de cultivo, cui<strong>da</strong>do,<br />
construção e abrigo.<br />
A programação que segue<br />
até o final do ano traz o diálogo<br />
e a prática de vários artistas,<br />
ambientalistas, permaculto-<br />
res, ativistas e coletivos que<br />
têm deixado um legado físico,<br />
simbólico e político para a<br />
ci<strong>da</strong>de. As investigações dessa<br />
primeira fase no quintal do<br />
Goethe já tiveram dias intensos<br />
com dinâmicas territoriais com<br />
mestre Peter Webb regado<br />
pelas delícias <strong>da</strong> escola de<br />
ecogastronomia Como Como,<br />
o arquiteto Tomaz Lotufo,<br />
seguidos de uma introdução<br />
ao processo criativo do atelier<br />
<strong>Mata</strong> Adentro e a pesquisa<br />
sobre Jardinagem como prática<br />
artística de Gabriela Leirias e<br />
Faetusa Tezelli.<br />
Carol Ramos e Rodrigo Bueno<br />
<strong>Zona</strong> <strong>da</strong> <strong>Mata</strong> is a laboratory for<br />
experimentation on collaborative<br />
action around taking back green<br />
spaces that resist in the city. It’s a<br />
sharing space, where dynamics can<br />
inspire interactions inside Goethe<br />
-Institut’s backyard and also outside,<br />
throughout the city.<br />
Leia mais / read more:<br />
www.zdm2016.lanchonete.org/sobre<br />
4
5
E N T R E V I S T A C O M L O U I S B A G U E N A U L T<br />
Permacultura e arte<br />
contemporânea são conceitos<br />
modernos<br />
Louis é jardineiro e Antonio é<br />
agricultor. Além de trabalhar<br />
com agroecologia, Louis e<br />
Antonio também são artistas.<br />
Louis participou <strong>da</strong> terceira<br />
edição do Programa de Residências<br />
São João, organiza<strong>da</strong><br />
em 2013 por Flora Rebolo,<br />
Ruli Moretti, Daniel Jablonski<br />
e Antonio Sobral na fazen<strong>da</strong><br />
São João em São José do Vale<br />
do Rio Preto, RJ.<br />
“Parecia frágil, mas mexia na<br />
terra, o que lhe concedia uma<br />
força primórdia, ancestral. Não<br />
parecia ter medo dos bichos –<br />
e talvez fosse um bicho.”<br />
poema-retrato de Louis,<br />
Paloma Mecozzi<br />
Antonio: Seu campo de atuação como jardineiro é a<br />
permacultura, que pode ser resumi<strong>da</strong>mente defini<strong>da</strong><br />
como a cultura <strong>da</strong> permanência, pela qual tudo é<br />
pensado sistemicamente, seguindo ciclos e padrões<br />
<strong>da</strong> natureza. Mas a arte contemporânea é essencialmente<br />
vincula<strong>da</strong> a um star system, uma grande farsa<br />
elitista fruto do enlace entre o mercado (galerias,<br />
feiras) e o universo institucional (museus, academias),<br />
que são seus legitimadores e financiadores.<br />
O “grande” circuito artístico priva a humani<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> experiência artística. Quando me convi<strong>da</strong>ram a<br />
escrever para este zine, não conhecia as pessoas e<br />
ações incríveis que estão por trás do projeto. Fiquei<br />
com um pé atrás. Pensei: querem juntar arte e<br />
permacultura porque acham que são fofos, mas são<br />
universos alienígenas.<br />
Louis: Não vejo porquê você acha que são contrários.<br />
Por quê? Talvez o sejam para você. Arte<br />
contemporânea e permacultura são conceitos<br />
guar<strong>da</strong>-chuva, onde tudo é reciclado, na<strong>da</strong> se perde.<br />
Onde se busca não fazer muita questão de uma boa<br />
ideia, já que ela se transforma em sistema e no fim o<br />
sistema não funciona.<br />
É bastante lógico. Os princípios <strong>da</strong> permacultura,<br />
ditados por Bill Mollison e David Holmgren nos anos<br />
1970 são geniais. É um conceito ocidental moderno<br />
cujos princípios existem desde os primórdios. O<br />
princípio <strong>da</strong> lógica seja o que talvez te irrite. A lógica<br />
é o bom senso. A permacultura é a lógica do bom<br />
6
senso, é quase demasiado para<br />
o absurdo <strong>da</strong> arte. Mas não vejo<br />
problema entre arte contemporânea<br />
e permacultura. Justamente<br />
porque a permacultura é<br />
um conceito. A palavra “permacultura”<br />
está liga<strong>da</strong> ao conceito<br />
moderno criado pelo ocidente<br />
em relação aos seus problemas<br />
que encontram-se exacerbados<br />
neste momento.<br />
Quando falamos de arte,<br />
geralmente nos referimos à<br />
arte contemporânea, que é<br />
um tipo de arte: a arte de<br />
hoje, “oficial”, etc. O que não<br />
necessariamente se refere à<br />
arte em sua essência ou à arte<br />
primitiva. Mas arte e permacultura<br />
são realmente ligados, são<br />
duas palavras/conceitos ligados<br />
à mesma coisa.<br />
A: Todos deviam desenhar, por<br />
exemplo, é uma expressão natural<br />
do homem, diretamente liga<strong>da</strong> ao seu rastro na terra. Penso<br />
na castração <strong>da</strong> vontade de desenhar.<br />
L: Perdão, eu não quis dizer arte e permacultura, mas arte contemporânea<br />
e permacultura, estas duas palavras que podemos<br />
ligar ao ocidente. Se a palavra “ocidente” te incomo<strong>da</strong> podemos<br />
dizer “mundo moderno”. A permacultura, assim como a arte contemporânea,<br />
são termos <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de. Se quiser falar de arte<br />
num sentindo geral, precisamos encontrar um substituto à palavra<br />
permacultura, para falar do que diz a permacultura.<br />
A: Seu único trabalho artístico que presenciei foi uma performance<br />
onde você apresentava seu trabalho através de um slideshow<br />
comentado, que era ao mesmo tempo uma busca do que poderia ser<br />
este trabalho sendo apresentado e um registro do processo criativo.<br />
Para isto você usava uma série de anedotas, fotografias, registros de<br />
esculturas, instalações e outros. Lembro <strong>da</strong> imagem do “zen garden”<br />
que você construiu com madeira e sal, e que no dia seguinte foi<br />
comido por vacas que invadiram o teu espaço de trabalho. Era engraçado<br />
porque a gente se perdia na história <strong>da</strong> apresentação deste<br />
7
trabalho, que ficava ca<strong>da</strong> vez mais incompreensível.<br />
Em função <strong>da</strong> interação<br />
com o público, a apresentação podia<br />
retornar a uma imagem já projeta<strong>da</strong>,<br />
e a experiência ia se tornando um<br />
labirinto imaginativo.<br />
É interessante que o seu trabalho<br />
artístico se concentre na efemeri<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> experiência sensível, enquanto<br />
o seu trabalho de jardineiro se<br />
concentra na permanência <strong>da</strong>s coisas<br />
no tempo, coisas que são bastante<br />
concretas. Que relação você vê entre<br />
a experiência efêmera <strong>da</strong> arte e a<br />
temporali<strong>da</strong>de alarga<strong>da</strong> do jardim?<br />
Afinal, sua arte acontece ao vivo.<br />
L: Nos dois casos há uma prática<br />
que deve ser instaura<strong>da</strong>, até que se<br />
encontre o gesto a ser feito. Nos<br />
dois casos há um tempo curto e um<br />
tempo longo. Jardinagem é exaustivo,<br />
o corpo inteiro se mexe muito, você<br />
não para de gesticular. Visto de fora<br />
parece incoerente, você mexendo pra<br />
tudo que é lado pra desplantar uma<br />
planta. Há muita per<strong>da</strong> de energia também, como na prática artística.<br />
O jardineiro tem um trabalho físico com os elementos, com a<br />
terra, que é muito efêmero, e ao mesmo tempo há um tempo longo<br />
com as plantas que crescem, com os dias que passam.<br />
Jardim agro-florestal<br />
planejado por<br />
Alan Berenstein,<br />
construído por Alan<br />
e Louis com a aju<strong>da</strong><br />
dos residentes <strong>da</strong> #3<br />
RSJ: preparação do<br />
solo e resultado dos<br />
plantios 5 semanas<br />
depois.<br />
A: A realização de seu trabalho de jardineiro, independente dos<br />
tempos que se adicionam até se chegar a um resultado, está talvez<br />
na contemplação de um sistema vivo do qual fazemos parte. Poderíamos<br />
comparar essa sensação ao comer uma fruta. Mas uma fruta<br />
que você vai comer o ano todo, seu trabalho artístico não pode nem<br />
ser gravado. Você não acha?<br />
L: Eu nem sei se quero continuar a ser jardineiro, me cansa muito.<br />
Na ver<strong>da</strong>de é tão exaustivo quanto a arte. As frutas demoram a vir.<br />
E depende dos anos. Não é sempre que tem, precisa-se de uma<br />
série de frutas. Realmente vejo um paralelo com a arte, onde a<br />
prática demora a instaurar-se e a obra não é previsível: no fim do<br />
processo você não está onde achou que chegaria. Ou não era esta<br />
fruta que você esperava.<br />
8
A: É ver<strong>da</strong>de. O jardim é completamente louco e difícil.<br />
L: Difícil? Não, se você se deixar levar acho que é<br />
bem fácil. É uma questão de prática. É claro que no<br />
começo é caótico.<br />
A: Até você encontrar um ritmo.<br />
L: Que você encontre o seu lugar ou não. Que você<br />
evolua ou não, que encontre o que realmente te<br />
interessa neste pandemônio.<br />
A: É ver<strong>da</strong>de. Isto que você disse me faz lembrar de<br />
uma frase que escrevi para esta entrevista: a ambigui<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> essência <strong>da</strong> arte é também a ambigui<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> natureza, jamais tocamos os seus limites. Não se<br />
pode entendê-las sistemicamente pois ambas estão<br />
em constante reação. Podemos também afirmar que<br />
as duas brincam com as aparências para alcançar<br />
seus objetivos, encontra-se em ambas a apatia, a<br />
sensuali<strong>da</strong>de, a morbidez…<br />
Para esta performance de “apresentação”<br />
menciona<strong>da</strong> acima, que você mostrou na Residência<br />
São João e depois num festival em Marselha, você<br />
incorporou materiais e situações espontâneas que<br />
viveu durante a residência. Conte-nos um pouco<br />
sobre como você abordou a matéria, os materiais,<br />
durante a residência.<br />
“Post-horror movie”<br />
sendo ro<strong>da</strong>do por<br />
Louis, Dacio Pinheiro<br />
e Flora Rebollo<br />
durante a #3 RSJ<br />
L: Que pergunta simples! Entendo-a e me sinto<br />
valorizado. Risos.<br />
A gente sempre traz consigo uma relação pré<br />
-estabeleci<strong>da</strong> com a matéria. Eu tinha uma relação<br />
com o sal e o café por exemplo. Eu tinha tido uma<br />
experiência, <strong>da</strong> qual tirei conclusões e estabeleci<br />
crenças. Tinha uma ideia pré-concebi<strong>da</strong>. Digamos<br />
que eu tinha três elementos na cabeça e na mala<br />
quando cheguei à residência. E que lá houve o<br />
encontro com as vacas e o cafezal. Fiz um vídeo com<br />
a Flora Rebolo e o Dacio Pinheiro a respeito. Relacionei<br />
este vídeo com o café cru pois eu também tinha<br />
uma experiência do cru, tinha to<strong>da</strong> uma teoria sobre<br />
a relação <strong>da</strong> cozinha crudista com a energia. Houve<br />
matérias que encontraram ecos nos lugares e mesmo<br />
nas pessoas: Flora e o café an<strong>da</strong>vam juntas.<br />
Antonio Sobral is an artist but also a<br />
farmer. Louis Baguenault is a gardener<br />
as well as an artist. In 2013, Louis<br />
was part of the residency program<br />
Antonio organizes with partners<br />
called Programa de Residências<br />
São João, at a colonial farm in São<br />
José do Vale do Rio Preto, on the<br />
mountains of Rio de Janeiro state.<br />
Throughout this interview they talk<br />
about how contemporary art and<br />
permaculture are modern concepts<br />
that can intersect.<br />
Leia mais / read more:<br />
www.goo.gl/aFz2hS<br />
9
I N T E R V E N Ç Ã O P E T E R W E B B<br />
Acender as luzes, criar reali<strong>da</strong>des<br />
Quais são os recursos naturais<br />
que mantém o jardim do Goethe<br />
vivo? O que está em desequilíbrio?<br />
Como planejamos o acesso<br />
à água? Esta seria a forma<br />
mais cartesiana de descrever a<br />
ativi<strong>da</strong>de “Leitura <strong>da</strong> Paisagem”,<br />
que inaugurou a programação<br />
do <strong>Zona</strong> <strong>da</strong> <strong>Mata</strong> no Goethe-Institut<br />
São Paulo. Mas quando a<br />
pessoa que vai conduzir este<br />
diagnóstico é o permacultor<br />
Peter Webb, carece de um<br />
parágrafo mais generoso.<br />
Nome forte entre coletivos<br />
de agricultura urbana e permacultores,<br />
o australiano radicado<br />
no Brasil sempre conduz<br />
vivências filosóficas, em que<br />
prioriza acender nas pessoas<br />
as luzinhas <strong>da</strong> auto-observação<br />
e <strong>da</strong> percepção para a relação<br />
mútua entre ser humano e<br />
território. Segundo Peter, interagir<br />
com um espaço não é só<br />
entrar nele, mas deixá-lo entrar<br />
também, pois a sensação de<br />
pertencimento e de mu<strong>da</strong>nça<br />
de reali<strong>da</strong>de são mais saudáveis<br />
do que o fazer em si. “Desenvolvo<br />
este trabalho a muitos<br />
anos e vejo pessoas querendo<br />
aprender fórmulas que estão na<br />
internet. O grande barato é usar<br />
a criativi<strong>da</strong>de e o repertório de<br />
ca<strong>da</strong> um como matéria-prima.<br />
São elas que fazem você<br />
crescer e mu<strong>da</strong>r o seu lugar no<br />
mundo”, reflete.<br />
<strong>Zona</strong> <strong>da</strong> <strong>Mata</strong> é transformação<br />
do espaço, mão na massa.<br />
Cisternas que alimentam lagos<br />
e hortas, composteiras, ateliê<br />
para práticas artísticas, cozinha<br />
<strong>da</strong> roça e comi<strong>da</strong> com afeto.<br />
Sensibilização, reencantamento,<br />
troca de saberes, conexões<br />
entre pessoas de diferentes esquinas<br />
e comuni<strong>da</strong>des. O resultado<br />
<strong>da</strong> intervenção no quintal<br />
não precisa ser imediato, muito<br />
pelo contrário. O processo é<br />
Imagem dos<br />
participantes <strong>da</strong><br />
intervenção captura<strong>da</strong><br />
pelo vizinho<br />
Antonio Faleiros<br />
10
Participante abre<br />
caminhos conectando<br />
os dois<br />
taludes principais<br />
do Quintal<br />
gradual, lento, coletivo, com<br />
janelas para derivas. Acolhe<br />
gente que participa de to<strong>da</strong> a<br />
programação, gente que chega,<br />
joga uma semente e não volta<br />
mais, gente que vem colher e<br />
replanta em outra praça.<br />
No contexto atual do país,<br />
a ca<strong>da</strong> dia <strong>da</strong>mos um passo em<br />
direção ao amadurecimento<br />
de uma cultura política, mas<br />
ain<strong>da</strong> somos cerebrais demais.<br />
“A socie<strong>da</strong>de está meio órfã de<br />
governo neste momento e o país<br />
não vai funcionar, não podemos<br />
esperar na<strong>da</strong> deles. É uma hora<br />
muito preciosa para descobrir<br />
e treinar nossa força”, incentiva<br />
Peter, “Vamos criar novas<br />
reali<strong>da</strong>des, ativar os mutirões,<br />
chamar a galera, ver o que precisa.<br />
Catar pneu na rua, madeira<br />
na caçamba, pedir ferramentas<br />
empresta<strong>da</strong>s. Tem um monte de<br />
gente desemprega<strong>da</strong> nas favelas<br />
que tem braço e criativi<strong>da</strong>de,<br />
vamos ativar isso lá também,<br />
para as pessoas se encontrarem<br />
e trabalharem juntas.”<br />
Durante a aula, caminhamos<br />
pelo quintal observando<br />
a varie<strong>da</strong>de e a função dos<br />
elementos <strong>da</strong>quele sistema,<br />
como a cama de heras, planta<br />
trepadeira que, se ingeri<strong>da</strong> em<br />
sua forma natural, é tóxica.<br />
Com uma po<strong>da</strong> básica, ela virou<br />
cobertura para alguns canteiros<br />
criados naquele dia, reproduzindo<br />
o solo sempre coberto de<br />
folhas característico <strong>da</strong> <strong>Mata</strong><br />
Atlântica. Também exercitamos<br />
a percepção sobre a capaci<strong>da</strong>de<br />
competitiva ou cooperativa<br />
entre espécies na batalha por<br />
luz, água e nutrientes através<br />
de suas folhas, raízes e troncos.<br />
“A Natureza é feita de parcerias<br />
e não tem a menor pressa, está<br />
sendo o tempo todo”, ensinou.<br />
Em dez minutos de escavação<br />
na terra, resgatamos algumas<br />
pedras, cacos e pe<strong>da</strong>ços de<br />
telha cheios de memória, que<br />
foram colocados como contenção<br />
e linha guia para futuros<br />
canteiros. “Há um paralelo<br />
entre as coisas que são joga<strong>da</strong>s<br />
fora e as pessoas menospreza<strong>da</strong>s<br />
pela socie<strong>da</strong>de. Ao incluirmos,<br />
valorizamos o que são e<br />
devolvemos sua autoestima”,<br />
refletiu.<br />
Um abacateiro cujo tronco<br />
estava ferido foi o ponto mais<br />
energético <strong>da</strong> deriva <strong>da</strong>quele<br />
dia, juntando muitas pessoas<br />
a sua volta. Peter mostrou<br />
como fazer uma cirurgia nele,<br />
cavando e retirando suas partes<br />
podres e aplicando um emplastro<br />
cicatrizante preparado ali<br />
na hora com esterco, cinzas e<br />
argila, para evitar futuras infecções.<br />
“Os espaços com natureza<br />
têm energias ocultas, cabe<br />
a nós descobrir onde estão e<br />
11
participar delas. O abacateiro<br />
puxou as pessoas porque estava<br />
precisando <strong>da</strong>quilo”, diz Peter,<br />
“Aquela gente ao redor <strong>da</strong><br />
árvore conseguiu se expressar<br />
fisicamente naquele dia. Existe<br />
um mapeamento energético<br />
que não é obvio de início. No<br />
espaço público você não tem<br />
essa energia que está saindo <strong>da</strong><br />
terra, é preciso criá-la”. Bora?<br />
Equipe <strong>Zona</strong> <strong>da</strong> <strong>Mata</strong> e<br />
participantes começam os<br />
trabalhos no Quintal<br />
“Peter nos leva a enxergar e entrar em contato<br />
com elementos <strong>da</strong> paisagem que não estamos<br />
acostumados - especialmente nós, pessoas<br />
urbanas e afasta<strong>da</strong>s do convívio com a terra. (...)”<br />
— BERTA MELO<br />
Preparação<br />
<strong>da</strong> terra para<br />
intervenções<br />
iniciais<br />
Through a “Landscape reading”<br />
practice, Peter Webb lauched<br />
<strong>Zona</strong> <strong>da</strong> <strong>Mata</strong>. As one of the leading<br />
permaculturists in Brazil, Peter<br />
guided the group on a philosophical<br />
experience highlighting how nature,<br />
territory and the human body are<br />
interconnected: “Interacting with a<br />
space is not only entering it, but also<br />
letting it enter you.”<br />
Leia mais/ read more:<br />
www.goo.gl/keUjiq<br />
12
O F I C I N A T O M A Z L O T U F O<br />
Organismo vivo<br />
Quando alguém entra em<br />
contato com os fun<strong>da</strong>mentos<br />
<strong>da</strong> Permacultura, é comum que<br />
se interesse por novas práticas<br />
para a vi<strong>da</strong> cotidiana. Do cultivo<br />
do próprio alimento, evitando<br />
embalagens, i<strong>da</strong>s ao mercado<br />
e consumo de agrotóxicos,<br />
passando pela compostagem<br />
de resíduos e produção de<br />
adubo ou mesmo a criação de<br />
sistemas para gerar eletrici<strong>da</strong>de<br />
e não pagar mais a conta de<br />
luz. Ou descartar os serviços<br />
<strong>da</strong> ineficiente rede de esgoto<br />
e tratar a água que produz em<br />
casa com sistemas de canos e<br />
plantas filtradoras, alimentando<br />
lagos com peixes e plantações<br />
de bananeiras.<br />
A lista de possibili<strong>da</strong>des é<br />
imensa e revela uma perspectiva<br />
abun<strong>da</strong>nte e libertadora<br />
sobre como habitar o planeta.<br />
“É uma mu<strong>da</strong>nça cultural<br />
necessária, já que um dos<br />
maiores problemas do mundo<br />
contemporâneo é a coisificação<br />
<strong>da</strong>s relações e <strong>da</strong> terra. É preciso<br />
criar uma nova ótica, uma<br />
nova ética e uma nova estética.<br />
Isso é fazer política”, declara<br />
o arquiteto e permacultor<br />
Tomaz Lotufo, que realizou a<br />
intervenção “Arquitetura para<br />
um sistema sustentável” como<br />
parte <strong>da</strong> programação do <strong>Zona</strong><br />
<strong>da</strong> <strong>Mata</strong> no Goethe-Institut São<br />
Paulo. A ativi<strong>da</strong>de aconteceu<br />
em dois dias, um teórico e<br />
outro prático, e gerou debates<br />
interessantes entre o público,<br />
que compreendeu como esta<br />
filosofia, que ao pé <strong>da</strong> letra<br />
quer dizer cultura <strong>da</strong> permanência,<br />
pode solucionar a<br />
crise socioambiental que<br />
assola o planeta.<br />
Para Lotufo casas, escolas,<br />
empresas, equipamentos públicos<br />
ou qualquer outra intervenção<br />
arquitetônica tem um<br />
papel ecossistêmico primordial<br />
que nasce antes mesmo de<br />
ficarem prontas. Para que<br />
isso aconteça, ele destaca a<br />
importância de construções<br />
cria<strong>da</strong>s por meio de processos<br />
coerentes com seu contexto<br />
climático, social e geográfico<br />
em detrimento à escolha de um<br />
corpo-coisa que não dialoga<br />
com seu entorno, contrapondo<br />
conceitos <strong>da</strong> construção civil<br />
tradicional com a noção de<br />
pensamento sistêmico. “To<strong>da</strong><br />
construção é um organismo<br />
vivo que se relaciona por meio<br />
de órgãos consigo mesmo, com<br />
a vizinhança e com o planeta”,<br />
defende. Os rins, por exemplo,<br />
são a filtragem de água através<br />
13
de telhados vivos, pisos permeáveis,<br />
cisternas e jardins de<br />
chuva. O cérebro é um órgão<br />
que não opera por meio de regras,<br />
mas sim de princípios, e é<br />
responsável pela toma<strong>da</strong> de decisões,<br />
como o destino do lixo.<br />
Elemento que, segundo ele, é<br />
peça chave para o crescimento<br />
<strong>da</strong> cultura capitalista.<br />
Na ativi<strong>da</strong>de do dia<br />
seguinte, que aconteceu no<br />
quintal do Goethe, Lotufo levou<br />
cal, areia, argila e pigmentos<br />
naturais como o açafrão para<br />
mostrar algumas varie<strong>da</strong>des<br />
de materiais de construção<br />
simples e de baixo impacto<br />
ambiental. “Quando a técnica<br />
e o material são acessíveis<br />
e hackeáveis, a comuni<strong>da</strong>de<br />
pode acumular poder através<br />
do conhecimento, pois vai se<br />
apropriar e melhorar aquilo,<br />
criar sua própria estética, que é<br />
a linguagem do fazer junto, do<br />
mutirão”, ensinou. Dali seguimos<br />
para um reconhecimento<br />
<strong>da</strong>s características do terreno e<br />
foi necessário desviar de alguns<br />
abacates que caiam com força<br />
no chão. Depois, a turma foi<br />
dividi<strong>da</strong> em grupos e ca<strong>da</strong> um<br />
começou a criar seu projeto<br />
para uma área de convivência<br />
no quintal. Nesse exercício<br />
de ecologia <strong>da</strong> imaginação, o<br />
processo importou mais do que<br />
o resultado, até porque uma<br />
manhã é muito pouco tempo<br />
para uma tarefa imersiva e lenta<br />
como essa. A percepção de<br />
ca<strong>da</strong> um, com suas experiências<br />
e conhecimento adquirido,<br />
enriqueceu o resultado. “Todos<br />
têm energia para aflorar e é em<br />
comuni<strong>da</strong>de que ela nasce”,<br />
desvendou Lotufo, enquanto<br />
o pessoal se preparava para<br />
mostrar seus projetos.<br />
Durante as apresentações<br />
dos projetos, que em sua maioria<br />
tinham cisternas e curvas de<br />
nível para armazenar e direcionar<br />
as águas <strong>da</strong> chuva e evitar<br />
o desgaste do solo, hortas,<br />
composteiras e um local mais<br />
central para palestras e conversas,<br />
ouviu-se uma gritaria <strong>da</strong><br />
rua. Era alguém atravessando o<br />
viaduto <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Sumaré, que<br />
dá vista para o quintal, pedindo<br />
abacates. “Achei isso muito<br />
curioso, pois revelou o desenho<br />
do território e que o terreno<br />
dialoga de formas diferentes<br />
com quem está dentro e fora<br />
do quintal”, contou Tomaz.<br />
Pensei nos abacates e lembrei<br />
de uma de suas máximas ditas<br />
na noite anterior: “Energia e<br />
abundâcia em excesso podem<br />
ser problema e virar poluição”.<br />
Parece que chegou a hora de<br />
distribuir os abacates.<br />
Participantes <strong>da</strong><br />
oficina apresentam<br />
propostas<br />
ao Quintal<br />
Lotufo demonstra<br />
sobre bioconstrução<br />
14
Tomaz Lotufo<br />
apresenta pigmentos<br />
naturais para a manufatura<br />
de tintas<br />
“A possibili<strong>da</strong>de de desenhar esse novo espaço<br />
comunitário está sendo incrível, é tirar os conceitos<br />
que temos de só trabalhar com o concreto e colocar<br />
a mão na terra (...)” — HENNY FREITAS<br />
Tomaz Lotufo’s intervention called<br />
“Architecture of a sustainable<br />
system” was a proposition to think<br />
of the backyard space of Goethe-Institut<br />
through the lens of<br />
permaculture. He affirms that you<br />
can also apply systemic thinking<br />
towards construction for a better<br />
environment if you take into account<br />
the social, climate and geographic<br />
context in which it will be built.<br />
Leia mais/ read more:<br />
www.goo.gl/L0147P<br />
15
INTERAÇÃO TECNOXAMANI S M O<br />
Sobre encontros e<br />
Tecnoxamanismos<br />
Fernando Gregório e Tamara Gigliotti<br />
acesso ao texto na íntegra: www.goo.gl/uIRxYS<br />
16
I N T E R A Ç Ã O C O M A R T I S T A G U A T E M A L T E C O<br />
Edgar Calel<br />
El 11 de septiembre de 2014 mi abuela María Luisa<br />
López Cujcuy a sus 92 años falleció<br />
De ella here<strong>da</strong>mos nuestro idioma materno<br />
(kaqchikel)<br />
En la casa de mi abuela hay muchos árboles y aves y<br />
kit kit kit kit kit kit kit kit kit kit kit kit kit kit kit<br />
kit kit kit kit kit kit kit kit kit kit es un cantos que<br />
mi abuela hacía para invocar el espíritu de las aves<br />
para alimentarlos con semillas de Maíz, Como un<br />
homenaje a mi abuelita, Pinte sobre la pared de su<br />
casa, su canto, la pinte con barro con la intención de<br />
<strong>da</strong>rle la palabra al espíritu de la tierra.<br />
Edgar Calel<br />
Kit kit kit kit kit<br />
kit kit, Canto<br />
para chamar aves<br />
escrito com barro<br />
sobre muro caiado.<br />
Dimensões variáveis,<br />
documentado em<br />
fotografia. 2015.
INTERVENÇÃO JERÁ GUARANI<br />
Uma pita<strong>da</strong> do nhadereko<br />
Jera é uma <strong>da</strong>s líderes mais<br />
atuantes do povo Guarani<br />
Mbya do território Tenondé<br />
Porã, que abriga cerca de 1000<br />
famílias em seis aldeias em<br />
Parelheiros, no extremo sul de<br />
São Paulo. Sua presença no<br />
<strong>Zona</strong> <strong>da</strong> <strong>Mata</strong> deu aos juruas<br />
(brancos) presentes um gostinho<br />
do nhadereko, o modo<br />
de vi<strong>da</strong> tradicional guarani. Na<br />
ocasião, ela compartilhou seu<br />
cachimbo e conduziu um ritual<br />
de plantio do tabaco guarani<br />
no quintal do Goethe, falou<br />
sobre a recém conquista<strong>da</strong><br />
demarcação oficial de 15 mil<br />
hectares (antes eram 26) <strong>da</strong>s<br />
terras guarani em Parelheiros<br />
e de seu desejo de viajar pelos<br />
territórios guaranis no Paraguai<br />
e na Argentina.<br />
18
O F I C I N A F A E T U S A T E Z E L L I E G A B R I E L A L E I R I A S<br />
Jardinali<strong>da</strong>des<br />
www.jardinali<strong>da</strong>des.wix.com/jardinali<strong>da</strong>des<br />
Com o <strong>Zona</strong> <strong>da</strong> <strong>Mata</strong> compartilhou-se<br />
a respeito <strong>da</strong> jardinagem<br />
como prática artística<br />
e criação de territoriali<strong>da</strong>des<br />
em 3 etapas: cartografia,<br />
experimentos sensoriais e<br />
investigações individuais.<br />
A cartografia elaborou coletiva<br />
e horizontalmente uma rede<br />
de conceitos, trabalhos, projetos,<br />
histórias, desejos e afetos,<br />
a partir do mapeamento de<br />
trabalhos que relacionam jardinagem,<br />
arte e ativismo no Brasil<br />
realizado pelas artistas-pesquisadoras<br />
entre 2015 e 2016.<br />
Em segui<strong>da</strong>, foram propostos<br />
experimentos sensoriais<br />
com o grupo criando uma<br />
aproximação aos procedimentos<br />
do trabalho Jardinagem baldia.<br />
Tal trabalho investiga relações<br />
poéticas e políticas improváveis<br />
entre corpo-terra-território nas<br />
grandes ci<strong>da</strong>des, a percepção<br />
de diferentes temporali<strong>da</strong>des,<br />
os tensionamentos entre<br />
intervencionismo, produtivi<strong>da</strong>de<br />
e vagabun<strong>da</strong>gem e os terrenos<br />
baldios como espaço de fruição.<br />
Envolve o exercício do silêncio e<br />
<strong>da</strong> escuta, micro-intervenções,<br />
pequenos ritos e catalogação<br />
poética de plantas, desenvolvido<br />
no Quintal do Goethe.<br />
Leia mais /<br />
read more:<br />
www.goo.gl/7z6tYL<br />
R E D E<br />
N O V O S<br />
PARQUES<br />
confira poster anexo<br />
Facebook.com/<br />
redenovosparquessp<br />
No início de 2014 fecundou-se<br />
o embrião de uma rede de<br />
articulação para fomentar o<br />
processo de resignificação e<br />
preservação de novos parques<br />
em São Paulo.<br />
Já foram identificados 61<br />
possíveis parques na capital<br />
paulista – uma resposta direta<br />
ao Direito à Ci<strong>da</strong>de, por um<br />
meio ambiente ecologicamente<br />
equilibrado. A rede busca criar<br />
raízes através de metodologias<br />
capazes de transformar espaços<br />
ameaçados em espaços de convívio<br />
com a natureza. Os encontros<br />
são rotativos e acontecem<br />
todo 2º domingo do mês.<br />
19
Lanchonete.org é uma plataforma<br />
cultural facilita<strong>da</strong> por artistas<br />
que foca em como pessoas<br />
vivem, trabalham e compartilham<br />
a ci<strong>da</strong>de contemporânea,<br />
tendo o centro de São Paulo<br />
como nosso foco. O nome surge<br />
<strong>da</strong>s inúmeras lanchonetes,<br />
pa<strong>da</strong>rias e botecos e seus balcões<br />
presentes em quase to<strong>da</strong><br />
esquina <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. A plataforma<br />
é relacionável à ideia do filósofo<br />
francês Henri Lefebvre do<br />
“direito à ci<strong>da</strong>de” que, em suas<br />
palavras, reivindica “um acesso<br />
transformador e novo à vi<strong>da</strong><br />
urbana”. Quando começamos<br />
a construí-la há três anos, não<br />
sabíamos ain<strong>da</strong> quais ideias<br />
ou projetos se utilizariam dela<br />
enquanto trampolim.<br />
<strong>Zona</strong> <strong>da</strong> <strong>Mata</strong> – e a colaboração<br />
com Goethe-Institut,<br />
<strong>Mata</strong> Adentro e Lanxess – reafirmaram<br />
nosso comprometimento<br />
em amplificar as tão<br />
plurais e não-ouvi<strong>da</strong>s vozes<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Vozes e práticas de<br />
pessoas de diferentes experiências<br />
econômicas <strong>da</strong>s quais<br />
devemos aprender inovadoras<br />
abor<strong>da</strong>gens relaciona<strong>da</strong>s à<br />
permacultura e com quem<br />
devemos fortalecer nossa<br />
cultura urbana coletiva. <strong>Zona</strong><br />
<strong>da</strong> <strong>Mata</strong> se apresenta como um<br />
laboratório de experimentação<br />
no quintal do Goethe-Institut –<br />
um estágio inicial para um processo<br />
de aprendizado e troca.<br />
Pretende-se, em sua próxima<br />
fase, conectar o espaço – e<br />
seu processo transformatório<br />
– com outros espaços (assim<br />
como com pessoas, projetos,<br />
redes e diferentes comuni<strong>da</strong>des)<br />
por to<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de São<br />
Paulo. Nossa abor<strong>da</strong>gem atua e<br />
reconhece suas prerrogativas<br />
estéticas e sociais dentro<br />
de um crescente movimento<br />
de permacultura. <strong>Zona</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Mata</strong> é tanto um laboratório<br />
site specific quanto um ideal<br />
comum de compartilhamento<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.<br />
Demétrio Portugal, Gian Spina,<br />
Joel Borges, Lorena Vicini,<br />
Raphael Daibert e Todd Lester<br />
www.zdm2016.lanchonete.org<br />
1º ZI NE Z ONA DA M A T A<br />
ARTISTAS E COLABORADORES DO ZINE: Antonio Sobral,<br />
Carol Ramos, Edgar Calel, Faetusa Tezelli, Fernando Gregório,<br />
Gabriela Leirias, Rede Novos Parques, Rodrigo Bueno,<br />
Tamara Gigliotti e Todd Lester<br />
EQUIPE ZONA DA MATA: Rodrigo Bueno, Todd Lester,<br />
Joel Borges, Carol Ramos, Tatjana Lorenz, Raphael Daibert,<br />
Gian Spina e Demétrio Portugal<br />
EDIÇÃO: Raphael Daibert<br />
PROJETO GRÁFICO: Laura Daviña<br />
FOTOGRAFIA: Antonio Faleiros, Marina Rago e Mayra Azzi<br />
TRADUÇÃO E PREPARAÇÃO: Raphael Daibert<br />
REVISÃO: Demétrio Portugal e<br />
Raphael Daibert<br />
PRODUÇÃO: Demétrio Portugal<br />
PRODUÇÃO EXECUTIVA: Joel Borges<br />
IMPRESSÃO: Cinelândia<br />
TIRAGEM: 500 exemplares<br />
PROJETO ZONA DA MATA :<br />
www.zona<strong>da</strong>mata.org<br />
patrocínio:<br />
realização:
FACEBOOK.COM/REDENOVOSPARQUESSP<br />
REDENOVOSPARQUES@GMAIL.COM<br />
*PARQUE IBIRAPUERA = 1,58KM²<br />
* FONTE DOS DADOS: SVMA (DEPARTAMENTOS DE PLANEJAMENTO AMBIENTAL E PARQUES E ÁREAS VERDES), DA SECRETARIA ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE E SECRETARIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO (PROJEÇÃO DA POPULAÇÃO, A PARTIR DO CENSO/IBGE).<br />
Material integrante <strong>da</strong> publicação zona <strong>da</strong> mata Julho/2016