O artista que quer tudo ou um pouco mais VICTOR HUGO PONTES É ator, bailarino, coreógrafo, encenador, realizador, cenógrafo, assistente de encenação e tudo. Uma espécie de artista renascentista que, em permanente frenesim criativo, reparte o seu talento por várias disciplinas performativas, tendo como matriz as belas-artes. Victor Hugo Pontes não tem parança. O seu génio é sublimado (e suado) pela vertigem do trabalho. Muito trabalho. Tal como Cristiano Ronaldo, que pôs a dançar num anúncio publicitário e com cujo perfecionismo se identifica. Para muitos será difícil conceber que Victor Hugo Pontes, cujo trabalho artístico facilmente associamos a sofisticação e cosmopolitismo, tenha tido a sua primeira experiência na dança num rancho folclórico, quando era ainda criança. Mas, preconceitos à parte, a verdade é que, como diz aquele que é um dos mais importantes corégrafos portugueses da atualidade, o rancho “era uma das formas possíveis de fazer dança”. Designadamente em Guimarães, onde nasceu em 1978, e que, na década de 1980, era ainda uma cidade longe de ambicionar ser capital europeia da cultura. “Eu gostava de dançar e fazer ballet era praticamente impossível. Financeiramente não era de todo possível. E também não me sentia capaz de fazer ballet numa cidade um bocadinho fechada, em que seria o único rapaz no meio das raparigas”. Mas foi nessa Guimarães ainda conservadora e sem o viço cultural de hoje que Victor Hugo Pontes descobriu o teatro. E logo pela mão experiente de Moncho Rodriguez, encenador galego que cresceu no Brasil mas tem desenvolvido a sua carreira em Portugal, dirigindo várias companhias importantes, como o TEP. O pai de Victor Hugo Pontes teve, na altura, um gesto verdadeiramente providencial, ao entregar ao filho adolescente um folheto anunciando um curso de teatro orientado por Moncho Rodriguez. “’Isto é para ti’, disse-me ele. E sem dúvida que aquilo era para mim. Ele nem sabia o que me estava a dar! E hoje já não se lembra desta história”, recorda, divertido, Victor Hugo Pontes. O curso era ministrado na recém-criada ODIT – Oficina de Dramaturgia e Interpretação Teatral, atual Teatro Oficina, e consumiu os tempos livres de Victor Hugo Pontes, então estudante de Arte no ensino secundário. “A certa altura, eu já anda lá das seis da tarde à meia-noite e também aos sábados e domingos. O curso era muito exigente e funcionava como uma espécie de companhia”. Os primeiros espetáculos em que Victor Hugo Pontes participou tiveram lugar em espaços alternativos, como antigas fábricas, seguindo o conceito site-specific. Tratava-se de performances que fugiam aos cânones do teatro, ao ponto de deixarem o imberbe Victor Hugo Pontes um pouco confuso. “Era dos mais novos, e quando nos punham a improvisar, confesso que, na maior parte das vezes, não sabia o que estava a fazer. Fazia igual ao que os outros estavam a fazer, para que ninguém percebesse”. Victor Hugo Pontes colaborou com o ODIT até sair de Guimarães e chegou a andar em digressão com a companhia durante três meses, no Brasil. alumni Texto Ricardo Miguel Gomes Fotos Egídio Santos campus 000 <strong>Campus</strong> <strong>UP</strong> 0.indd 8 06/01/17 16:01
“PORQUE QUERO TUDO, OU UM POUCO MAIS, SE PUDER SER, OU ATÉ SE NÃO PUDER SER” Álvaro de Campos <strong>Campus</strong> <strong>UP</strong> 0.indd 9 06/01/17 16:01