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E&Negocios_02

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Moçambique posiciona-se<br />

na geopolítica<br />

da energia<br />

Semestral • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

Cimeira da CPLP Imobiliário atrai investimento Janela Única Electrónica


Aluguer de máquinAs<br />

de construção<br />

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nos chamam, ajudando na construção de edificios, estradas, pontes, minas,<br />

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o nosso pequeno contributo para o desenvolvimento do país.<br />

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Fazer crescer<br />

ainda mais a ponte<br />

Editorial<br />

A Câmara de Comércio Moçambique-<br />

-Portugal celebra, este mês, dois anos da<br />

sua criação. É um pequeno pedaço de<br />

tempo no tamanho, mas considerável na<br />

caminhada feita rumo ao objectivo de<br />

apoiar e promover o desenvolvimento<br />

das relações empresariais mutuamente<br />

vantajosas entre os dois países.<br />

Ao olharmos para o nosso percurso<br />

nestes dois anos, regozijamo-nos de<br />

termos alcançado alguns dos objectivos<br />

estratégicos a que nos propusemos:<br />

aumentámos significativamente o número<br />

dos nossos associados, promovemos<br />

diversas acções de aproximação<br />

entre empresários moçambicanos e<br />

portugueses, através de conferências e<br />

seminários, visando promover as relações<br />

comerciais e de investimento entre os<br />

fazedores de negócios de ambos os países.<br />

Igualmente participámos em várias feiras<br />

de negócios, visitámos outras associações<br />

empresariais, assinámos protocolos<br />

de cooperação com várias instituições<br />

nacionais e estrangeiras com o objectivo<br />

de estreitar relações empresariais. Neste<br />

aspecto, destaque para a parceria que<br />

acordámos com a Fundação Malonda,<br />

para apoiar a captação de novos<br />

investimentos para a província do Niassa,<br />

e para o protocolo que firmámos com<br />

a Câmara de Comércio e Indústria<br />

Portugal-Angola.<br />

Um momento singular, nestes dois<br />

anos, foi a homenagem ao Presidente<br />

da República, Armando Guebuza. O<br />

gesto da Câmara pretendeu sublinhar<br />

o incansável papel do estadista<br />

moçambicano na promoção da<br />

cooperação entre Moçambique e Portugal<br />

e no estreitamento da ponte entre Lisboa<br />

e Maputo, ao longo dos últimos anos.<br />

Neste momento que iniciamos o terceiro<br />

ano do nosso mandato, queremos<br />

reiterar o compromisso de continuar<br />

a crescer, a congregar mais membros<br />

e promover mais iniciativas de âmbito<br />

empresarial, que contribuam para apoiar<br />

ou facilitar negócios entre os empresários<br />

“Queremos reiterar o compromisso de continuar a<br />

crescer, a congregar mais membros e promover mais<br />

iniciativas de âmbito empresarial, que contribuam<br />

para apoiar ou facilitar negócios entre os empresários<br />

moçambicanos e portugueses.”<br />

moçambicanos e portugueses, criando,<br />

assim, a prosperidade necessária para os<br />

cidadãos dos dois países.<br />

Nesta edição da Empresas&Negócios<br />

damos destaque à crescente importância<br />

que Moçambique está a adquirir na<br />

geopolítica da energia. Os recursos<br />

energéticos do país são substanciais<br />

e diversificados, desde os fósseis,<br />

como as reservas de gás natural e de<br />

carvão, às fontes renováveis (como a<br />

hidroelectricidade, a eólica, a solar e<br />

geotérmica) e estão a atrair os maiores<br />

operadores mundiais do sector.<br />

E não é apenas uma questão de<br />

investimento estrangeiro e de impacto<br />

das exportações de carvão e gás no<br />

crescimento da economia que está em<br />

causa ou mesmo de melhoria da rede de<br />

produção e distribuição de electricidade<br />

no país. Moçambique poderá vir a<br />

beneficiar muito mais com as receitas<br />

fiscais oriundas destes megaprojectos,<br />

assim as autoridades prossigam a revisão<br />

dos sistemas fiscais e de benefícios que<br />

lhes são aplicáveis. A taxa fiscal aplicada<br />

às mais-valias resultantes da venda da<br />

Cove Energy à Shell é disso exemplo.<br />

Nesta edição, destacamos igualmente a<br />

pujança que o sector imobiliário está a<br />

ter, em especial na cidade de Maputo,<br />

em consonância com o dinamismo<br />

e incremento da nossa economia,<br />

assim como a nova estratégia de<br />

desenvolvimento do sector do turismo,<br />

considerado a indústria do século XXI,<br />

e, ainda, os investimentos que estão a ser<br />

realizados em infra-estruturas rodo-<br />

-ferroviárias nos principais corredores<br />

de desenvolvimento.<br />

O lançamento da segunda edição desta<br />

revista Empresas&Negócios é mais uma<br />

prova do que queremos ser e fazer pelos<br />

empresários e pelo país.<br />

Daniel David<br />

Presidente de Direcção da CCM-P<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

1


Sumário<br />

01 Editorial<br />

04 espaço ccmp<br />

Tema de capa<br />

08 Moçambique posiciona-se<br />

na geopolítica da energia<br />

entrevista<br />

14 Domingos Simão Pereira,<br />

Secretário Executivo da CPLP<br />

14<br />

Entrevista a Domingos Simão pEreira<br />

Cimeira da CPLP<br />

aguardada com expectativa<br />

A capital moçambicana recebe em Julho a IX Cimeira de Chefes de<br />

Estado da Comunidade de Países de Língua Portuguesa<br />

Economia<br />

18 Imobiliário atrai investimento<br />

20 Potencial agrícola do país<br />

ganha novo fôlego<br />

22 Moçambique, um destino turístico<br />

de excelência<br />

24 APIT serão pontos focais<br />

para alocação de recursos<br />

26 Transportes são factor crítico<br />

para aposta energética<br />

Bilateral<br />

28 Entrevista ao Embaixador<br />

de Moçambique em Portugal<br />

31 “Um sinal muito bom de Portugal”<br />

33 Sector alimentar tem<br />

potencialidades por explorar<br />

35 Moçambique já não<br />

é um mercado improvável<br />

Empresas & Negócios<br />

38 Sumol+Compal<br />

40 Ernst & Young Moçambique<br />

42 Janela Única Electrónica<br />

46 Foi Notícia<br />

18<br />

Imobiliário atrai<br />

investimento<br />

A dinâmica económica do país está a atrair novos<br />

investimentos à capital e o sector imobiliário é um<br />

dos principais beneficiários<br />

33<br />

Sector alimentar<br />

tem potencialidades<br />

por explorar<br />

A caracterização do sector alimentar em<br />

Moçambique é o objecto do estudo elaborado<br />

pela CESO CI<br />

Revista Empresas & Negócios #<strong>02</strong> || Maio 2012<br />

Propriedade Câmara de Comércio Moçambique Portugal<br />

Director Daniel David Edição Editando – Edição e Comunicação, Lda. Editora Cristina<br />

Casaleiro Redacção e compilação de dados Andreia Seguro Sanches, Fátima<br />

Azevedo, Manuela Sousa Guerreiro e Paula Girão Design Filipa Andersen produção<br />

Filipa Andersen e Vasco Costa Publicidade Maria do Carmo Santos, Cristina Lopes e Isabel<br />

do Carmo Fotografia Arquivo Editando, arquivo CFM (cortesia) e DR Impressão IDG<br />

– Imagem Digital Gráfica Distribuição Gratuita aos sócios da CCMP, entidades oficiais e<br />

empresariais em Moçambique e Portugal | É interdita a reprodução total ou parcial por quaisquer<br />

meios de textos, fotos e ilustrações sem a expressa autorização do editor | Tiragem 3000<br />

| Depósito Legal 344205/12<br />

Moçambique<br />

Av. 25 de Setembro, 1123, Prédio Cardoso, 4º Andar, Flat C<br />

Maputo, Moçambique<br />

Tel. +258 21 304580 • Tm. +258 84 3009291<br />

ccmp@ccmp.org.mz • ema.soares@ccmp.org.mz<br />

Portugal<br />

Av. D. João II, Lote 1.13.03 F, escritório 6, Parque das Nações<br />

1990-079 Lisboa, Portugal<br />

Tel. +351 218 937 000 • Fax. +351 218 937 009<br />

nuno.tavares@ccmp.org.mz<br />

Editando - Edição e Comunicação, Lda<br />

Rua Joaquim Bonifácio, 21 - 5º, 1150-195 Lisboa, Portugal<br />

T: +351 21 358 44 60 • F. +351 21 358 44 61<br />

mcarmo@editando.pt • www.editando.pt<br />

2<br />

a revista que promove Moçambique


espaço CCMP<br />

Balanço da actividade<br />

Ao longo do ano anterior e já em 2012, a Câmara de Comércio Moçambique-Portugal promoveu<br />

e esteve presente em várias iniciativas empresariais. Estas acções visam o desenvolvimento e<br />

estreitamento de relações comerciais e de investimento entre os diversos actores que trabalham em<br />

prol do crescimento das economias de Moçambique e Portugal. Com os objectivos traçados no Plano<br />

de Actividades para 2011, a CCMP propunha-se atingir, através da sua actividade, o reconhecimento<br />

nacional e internacional como organismo de referência no âmbito das relações entre os dois países.<br />

Da esq. para a dir.: Secretário Geral da Frelimo,<br />

Filipe Paunde, Primeiro-Ministro, Aires Ali,<br />

Governadora da Cidade de Maputo, Lucilia<br />

Hama e Presidente do Conselho Constitucional,<br />

Hermenegildo Gamito<br />

13 Setembro 2011 Gala Empresarial Moçambique Portugal em<br />

homenagem ao Presidente da República de Moçambique, Armando<br />

Emílio Guebuza, na qualidade de Presidente Fundador Honorífico<br />

da CCMP. Esta condecoração surge em reconhecimento ao<br />

impulso que Sua Excelência o Sr. Presidente da República de<br />

Moçambique deu através do convite formulado aos empresários<br />

moçambicanos e a orientação no sentido de criar sinergias entre<br />

a classe empresarial moçambicana e portuguesa.<br />

Neste evento a CCMP contou com cerca de 400 convidados,<br />

entre os quais membros do Governo moçambicano, Diplomacia<br />

moçambicana e portuguesa, membros associados e outros<br />

convidados.<br />

Entrega da salva de prata a S. Exa. o Presidente da República<br />

Momento de confraternização durante a actuação da Banda Kakana<br />

4<br />

a revista que promove Moçambique


espaço ccmp<br />

13 Outubro 2011<br />

Participação na iniciativa<br />

conjunta da AIP, AICEP e<br />

BES ‘Portugal Exportador<br />

2011’, no Centro de<br />

Congressos da FIL, em<br />

Lisboa. O espaço da<br />

CCMP contou com mais<br />

de 150 visitantes, que<br />

procuravam informação<br />

sobre as oportunidades<br />

de investimento no<br />

mercado moçambicano<br />

nas diferentes áreas de<br />

actuação e o papel da<br />

Câmara como promotor<br />

de investimentos.<br />

29 Novembro 2011 A Câmara de Comércio Moçambique-Portugal e a<br />

Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola (CCIPA) assinaram em<br />

Lisboa um memorando de entendimento que visa a realização de acções<br />

conjuntas que fomentem a cooperação tripartida entre empresas e<br />

empresários dos três países lusófonos: Angola, Moçambique e Portugal.<br />

2 Dezembro 2011 Jantar<br />

de gala para troca de<br />

experiências entre a Câmara<br />

de Comércio Moçambique-<br />

-Portugal (CCMP), Câmara<br />

de Comércio Moçambique-<br />

-Brasil (CCMOBRA), Câmara<br />

de Comércio e Indústria<br />

Moçambique-África do Sul<br />

(CCIMOSA) e a Câmara de<br />

Comércio Moçambique-<br />

-Estados Unidos da América,<br />

que teve lugar no Serena<br />

Polana Hotel.<br />

13 Janeiro 2012 Participação da CCMP na reunião anual das Câmaras de Comércio Portuguesas<br />

e a Confederação Internacional de Empresários Portugueses (CIEP), na presença do Ministro dos<br />

Negócios Estrangeiros português, Paulo Portas. A reunião foi consagrada com uma audiência com o<br />

Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva.<br />

13 Janeiro 2012 CCMP assina protocolo<br />

com a Associação Comercial de Lisboa<br />

– Câmara de Comércio e Indústria<br />

Portuguesa (ACL-CCIP). O acordo visa<br />

desenvolver as acções de capacitação<br />

empresarial tendentes à promoção de<br />

oportunidades de investimento e projectos<br />

de parceria em Moçambique.<br />

12 a 17 Fevereiro 2012 CCMP apoiou, a par com a CTA, a Feira Tektonica<br />

Moçambique, organizada pela AIP – Associação Industrial Portuguesa. O evento teve<br />

lugar no Centro de Congressos Joaquim Chissano, em Maputo, e teve como objectivo<br />

mostrar produtos e serviços no ramo da Construção, Imobliliária e Segurança. Destaque<br />

para a visita do Vice-Ministro das Obras Públicas e Habitação, Francisco Pereira, no dia<br />

da inauguração.<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

5


espaço CCMP<br />

Da esq. para a dir.: Aiuba Cuereneia, Ministro da Planificação e do<br />

Desenvolvimento de Moçambique, Carlos Morais, Presidente do SISAB<br />

e Álvaro Santos Pereira, Ministro da Economia de Portugal<br />

27 a 29 de Fevereiro 2012 Participação na maior plataforma<br />

de negócios para o exportação do sector alimentar e bebidas<br />

de Portugal – SISAB 2012. A CCMP mobilizou cerca de<br />

25 empresários moçambicanos, liderados pelo Ministro<br />

da Planificação e Desenvolvimento de Moçambique, Aiuba<br />

Cuereneia, para o evento, que teve lugar no Pavilhão Atlântico,<br />

em Lisboa. O evento contou com a participação de 400<br />

empresas produtoras portuguesas e cerca de 1200 importadores<br />

oriundos de 83 países.<br />

15 Março 2012<br />

Jantar empresarial<br />

subordinado ao<br />

tema ‘Do consumidor<br />

ao agricultor’,<br />

realizado 2 dias<br />

após a assinatura da<br />

escritura do Projecto<br />

Sumol+Compal<br />

em Moçambique<br />

e contou com<br />

o Presidente da<br />

Comissão Executiva<br />

do Grupo, Duarte<br />

Pinto, como orador.<br />

6<br />

a revista que promove Moçambique


espaço ccmp<br />

16 Março 2012 Assinatura do protocolo<br />

de cooperação com a Fundação<br />

Malonda. A Câmara de Comércio<br />

Moçambique-Portugal (CCMP) vai apoiar<br />

a captação de novos investimentos<br />

para a província de Niassa, à luz do<br />

acordo assinado com a entidade criada<br />

pelos governos de Moçambique e da<br />

Suécia para promover o desenvolvimento<br />

empresarial nesta província do Norte do<br />

país.<br />

19 Abril 2012 Assinatura de memorando de entendimento entre a Câmara de Comércio<br />

Moçambique Portugal, a Couto, Graça & Associados – Sociedade de Advogados, o<br />

grupo SOICO e o Banco Português de Investimento (BPI), com o objectivo de mapear,<br />

em coordenação com o Ministério da Planificação e Desenvolvimento, projectos de<br />

investimento para pequenas e médias empresas em todo o país.<br />

04 Maio 2012 A Câmara de Comércio Moçambique Portugal reuniu-se em<br />

Assembleia Geral para avaliar o desempenho durante o exercício de 2011<br />

e perspectivar as acções a desenvolver durante o corrente ano.<br />

1 a 6 Maio 2012 Participação no evento<br />

‘Parceiros para a Energia’, promovido<br />

pela ADENE (Agência para a Energia),<br />

onde estiveram presentes o secretário<br />

de Estado da Energia de Portugal, Artur<br />

Trindade, o Ministro da Energia de<br />

Moçambique, Salvador Namburete, a<br />

presidente do Fundo de Energia, Miquelina<br />

Menezes e o presidente CCMP, Daniel<br />

David, entre outros participantes.<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

7


Tema de capa<br />

Moçambique posiciona-se<br />

na geopolítica da energia<br />

As sucessivas descobertas de<br />

gás natural aguçam o apetite dos<br />

principais actores internacionais,<br />

num contexto em que o gás ganha<br />

espaço no mercado mundial<br />

de energia. Na idade de ouro<br />

do gás, as potencialidades<br />

de Moçambique na área das<br />

renováveis sugerem mais ambição<br />

na estratégia de diversificação<br />

da estrutura produtiva e de um<br />

desenvolvimento mais inclusivo.<br />

T Fátima Azevedo<br />

O investimento no sector da<br />

energia, recursos minerais e<br />

infra-estruturas associadas<br />

representa 2/3 do investimento privado<br />

em Moçambique, 3/4 do produto<br />

industrial e 2/3 das exportações de bens<br />

e serviços. Uma tendência que se vem<br />

reforçando ao longo dos últimos dez<br />

anos e que deverá intensificar-se com<br />

o aumento da produção e exportação.<br />

Mas esta dependência amplifica o<br />

desafio de diversificar a base produtiva e<br />

garantir uma articulação com as restantes<br />

actividades económicas e, sobretudo, uma<br />

distribuição equitativa do acréscimo de<br />

receitas.<br />

Os recursos são substanciais, desde<br />

os fósseis (gás natural e carvão) às<br />

renováveis (hidroelectricidade, solar,<br />

eólica, geotérmica), mas a distribuição é<br />

desigual e o acesso é consideravelmente<br />

fraco. Apenas 17% da população tem<br />

acesso a electricidade e 90% da produção<br />

eléctrica depende de Cahora Bassa, o<br />

que abre oportunidades para o reforço<br />

das energias renováveis, mormente a<br />

hidroelectricidade, na matriz energética.<br />

Assim, o governo moçambicano enfrenta,<br />

acima de tudo, três desafios: aumentar<br />

o acesso à electricidade, enquanto<br />

procura mitigar os impactos ambientais<br />

associados aos fósseis; aumentar a<br />

produção e consumo de electricidade; e<br />

promover projectos de energia orientados<br />

para a exportação.<br />

BHP Billiton, Vale do Rio Doce,<br />

8<br />

a revista que promove Moçambique


tema de capa<br />

Riversdale, Kenmare, Sasol e Anadarko<br />

estão entre os maiores investidores<br />

internacionais dos chamados<br />

megaprojectos, que superam os 87,5<br />

biliões de dólares.<br />

As potencialidades energéticas localizadas<br />

em Moçambique e o dinamismo<br />

subjacente à exploração de recursos estão<br />

a aguçar o apetite dos grandes operadores<br />

internacionais, sobretudo depois das<br />

recentes descobertas de gás natural e<br />

carvão.<br />

Dois gigantes no carvão<br />

No cluster energético, a extracção,<br />

produção e exportação de carvão são<br />

pilares da estratégia de crescimento<br />

de Moçambique. A brasileira Vale<br />

Para lá de Tete?<br />

Se Tete é a província-rainha da exploração<br />

de carvão para exportação,<br />

estudos recentes, como o da Economist<br />

Intelligence Unit, sinalizam o potencial<br />

das reservas da província de Niassa numa<br />

escala semelhante à de Tete. Actualmente,<br />

o epicentro da prospecção é o distrito de<br />

Maniamba, onde actuam sete empresas,<br />

entre as quais a Vale e a Rio Tinto. Os<br />

brasileiros têm já em curso um estudo de<br />

viabilidade de uma mina de fosfatos, em<br />

Monapo, na província de Nampula, com<br />

vista à apresentação de uma proposta de<br />

investimento às autoridades moçambicanas.<br />

Ainda em Tete, no final de 2011, foram<br />

descobertos depósitos com dois biliões de<br />

toneladas de carvão mineral pela Eta Star<br />

Moçambique, uma joint-venture da Eta Star,<br />

sediada no Dubai, e as empresas moçambicanas<br />

Minas do Zambeze e Índico Investments.<br />

De acordo com Mohamed Sathak,<br />

director-geral da concessionária, a maioria<br />

dos recursos estará a uma profundidade até<br />

300 metros, o que torna mais acessível a<br />

mineração a céu aberto. A empresa visa<br />

uma produção mineira de cinco milhões<br />

de toneladas, 2/3 das quais em carvão<br />

térmico e 1,5 milhões de carvão de coque<br />

metalúrgico, e está em conversações com<br />

entidades ferroviárias e portuárias no sentido<br />

de assegurar o escoamento da produção.<br />

Gás atrai ‘Tio Sam’<br />

Os blocos de prospecção de hidrocarbonetos<br />

na parte sul da bacia do Rovuma<br />

deverão ser alvo de leilão, depois das<br />

descobertas de elevadas quantidades de<br />

gás pelos norte-americanos da Anadarko Petroleum<br />

(30 triliões de pés cúbicos) e pelos<br />

italianos da ENI (40 biliões de pés cúbicos).<br />

De acordo com o Instituto Nacional do<br />

Petróleo de Moçambique, várias empresas<br />

– como a ENI, Exxon Mobil, BP, Petronas,<br />

da Malásia, Shell, Tullow Oil, Vitol e Noble<br />

Energy – já manifestaram interesse em participar<br />

no leilão. O know-how e o ‘músculo’<br />

financeiro de grandes operadores mundiais<br />

é um atractivo para os moçambicanos<br />

prevendo-se que venha a ser assinado um<br />

contrato para a realização de estudos de<br />

engenharia pela Anadarko Petroleum para<br />

o projecto de liquefacção do gás natural,<br />

descoberto na Área 1 da bacia do Rovuma.<br />

Para o responsável pela exploração global<br />

da Anadarko, Robert Daniels, as reservas<br />

identificadas justificam a instalação de seis<br />

unidades de processamento de gás natural.<br />

Numa primeira fase, poderão ser construídas<br />

duas unidades, cada uma a processar cinco<br />

milhões de toneladas de gás, que podem<br />

contribuir para abastecer o mercado interno<br />

e intensificar a exportação para os países<br />

da região e para os continentes asiático<br />

e americano. A Anadarko deverá investir<br />

14 mil milhões de dólares até 2018, a<br />

adicionar aos mais de 800 milhões já<br />

investidos pela multinacional americana em<br />

Moçambique.<br />

Se atentarmos no prémio de 30% oferecido<br />

pela major Royal Dutch Shell para comprar<br />

a irlandesa Cove Energy, que tem uma<br />

participação de 8,5% no consórcio de prospecção<br />

liderado pela Andarko, percebemos<br />

que o subsolo moçambicano está a agitar<br />

os mercados internacionais e os operadores<br />

associados ao cluster de exploração, como<br />

é o caso da Halliburton e Schlumberger, que<br />

têm em curso processos para a aquisição<br />

de terrenos na área de Pemba. Aliás, o presidente<br />

da Cove já elogiou, em comunicado,<br />

que a Shell “representa um excelente parceiro<br />

para todos os accionistas do projecto de<br />

gás natural liquefeito do Rovuma”.<br />

Para o outro consórcio que detém a<br />

prospecção na Área 4, liderado pela ENI,<br />

com 70% do capital, e participado pelos<br />

portugueses da Galp Energia, pela Kogas<br />

e ENH, com 10% cada, “os resultados são<br />

de especial importância” já que aumentam<br />

os recursos dos reservatórios em, “pelo<br />

menos 10 biliões de pés cúbicos”. Destes,<br />

80% estão localizados exclusivamente em<br />

reservatórios na Área 4, o que aumenta,<br />

assim, o potencial estimado de gás para 40<br />

biliões de pés cúbicos. A ascensão ao topo<br />

dos produtores mundiais de gás permitirá a<br />

Moçambique outra capacidade de financiamento,<br />

sobretudo porque o crescimento<br />

deverá manter-se a um ritmo elevado, na<br />

ordem dos 8%, suportado pela expansão da<br />

exploração de recursos minerais.<br />

A sucessão de boas notícias relativamente<br />

às reservas de gás natural parece ganhar<br />

fluidez. A Rio Tinto anunciou a descoberta<br />

nas reservas de gás de Moatize, prevendo-<br />

-se, agora, operações de prospecção para<br />

determinar o volume das reservas e respectivo<br />

valor económico.<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

9


Tema de capa<br />

energia nas exportações e investimento<br />

Alumínio, gás e energia eléctrica representam mais de 60% das exportações de bens e<br />

serviços de Moçambique. Esta concentração acaba por evidenciar um défice comercial<br />

crónico e a constatação de que, sem os megaprojectos, a taxa de cobertura das<br />

importações se mantém quase inalterada desde 1992. Em termos de IDE, o quadro é semelhante,<br />

porque os grandes projectos extractivos determinam o padrão do investimento<br />

privado.<br />

Maputo (por causa da Mozal, Motraco e projecto de ferro e aço, MISP), Nampula (refinaria<br />

petroquímica e areias pesadas), Tete (carvão), Gaza (areias pesadas e açucareiras)<br />

e Inhambane (gás natural e turismo) acabam por ser as províncias mais beneficiadas<br />

pelo IDE aprovado desde 1990, concentrando mais de 80% do total das intenções de<br />

investimento privado.<br />

Sector<br />

Investidores<br />

Montante<br />

(biliões USD)<br />

Gás Anadarko, ENI, Sasol (incluindo gás liquefeito) 66<br />

Carvão Vale; Rio Tinto, Jindal, Coal India 4,5<br />

Infra-estruturas e logística<br />

associadas a projectos<br />

energia-minerais<br />

Corredor Nacala (Vale); Centrais térmicas (Rio Tinto,<br />

Vale, Jindal), hidroelectrica Mphanda-Nkuwa; Cesul<br />

12,8<br />

Alumínio Mozal 3 – BHP Billiton 3<br />

Areias pesadas Kenmare; Pathfinder Minerals 1,2<br />

TOTAL 87,5<br />

%PIB (estimativa) 9,50%<br />

Fonte: IESE<br />

RECEITAS DE EXPORTAÇÕES<br />

3500<br />

Mil milhões de USD<br />

Proj.<br />

tem a maior concessão de carvão em<br />

Tete, prevendo alcançar a capacidade<br />

máxima de produção em 2014, ou seja,<br />

11 milhões de toneladas de carvão, fruto<br />

de um investimento adicional de 6,4<br />

mil milhões de dólares na expansão da<br />

produção e logística da mina, depois de<br />

1,9 mil milhões de dólares já investidos<br />

em Moatize.<br />

A concorrente Rio Tinto, que opera em<br />

mais de 40 países, projecta uma produção<br />

de 10 milhões de toneladas de carvão<br />

por ano na mina de Benga, onde o<br />

investimento estimado é de 8 biliões de<br />

dólares, esperando produzir 25 milhões<br />

de toneladas numa segunda concessão<br />

que explora também na província de Tete.<br />

A Índia é actualmente o maior<br />

consumidor do carvão produzido em<br />

Moçambique, pelo que a Rio Tinto,<br />

a terceira maior empresa mineira<br />

do mundo, está a posicionar-se em<br />

Moçambique com intenção de se tornar<br />

no maior exportador de carvão na bacia<br />

de Moatize.<br />

3000<br />

2500<br />

2000<br />

1500<br />

1000<br />

500<br />

0<br />

2001 20<strong>02</strong> 2003<br />

Megaprojectos<br />

2004<br />

2005 2006 2007<br />

Outros sectores<br />

2008 2009 2010 2011 2012<br />

Vale e Rio Tinto disputam liderança na extracção<br />

de carvão em Moçambique. A Rio Tinto está a<br />

posicionar-se com intenção de se tornar no maior<br />

exportador de carvão na bacia de Moatize<br />

10<br />

a revista que promove Moçambique


Tema de capa<br />

Energia para<br />

o Tesouro<br />

As receitas fiscais associadas à produção do carvão de Moatize totalizaram<br />

5,2 milhões de dólares em 2011. As tarifas e o regime fiscal são determinantes<br />

para calcular o custo real da electricidade e relevantes para conferir benefícios<br />

em termos de electrificação rural e exploração de energias renováveis.<br />

Como havia anunciado, o Governo<br />

decidiu taxar em 12,8% as mais-valias<br />

resultantes da venda da Cove Energy<br />

à anglo-holandesa Shell. O negócio,<br />

no valor de 1,37 mil milhões de<br />

Euros, foi autorizado pelo Governo<br />

de Moçambique no início de Maio.<br />

Recorde-se que a Cove Energy, através<br />

da sua participada Cove Mozambique,<br />

controlava 8,5% de um projecto<br />

de prospecção de gás na bacia do<br />

Rovuma que é liderado pela subsidiária<br />

moçambicana da norte-americana<br />

Anadarko Petroleum. Este é um<br />

bom exemplo das novas medidas que<br />

as autoridades moçambicanas estão<br />

a implementar com o objectivo de<br />

aumentar a colecta.<br />

A economia moçambicana terá crescido<br />

7,4% em 2011, impulsionada por “boas<br />

campanhas agrícolas e por um sector<br />

mineiro em franca expansão”, reconhece<br />

o FMI no relatório resultante da última<br />

missão, que prevê o mesmo ritmo de<br />

crescimento para 2012, apesar dos<br />

riscos de degradação da conjuntura<br />

internacional.<br />

O Banco Mundial é mais contido nas<br />

previsões de crescimento mas destaca<br />

Moçambique como um dos casos de<br />

sucesso da economia africana em 2011.<br />

A instituição multilateral refere que<br />

“entre as economias que cresceram<br />

mais rapidamente em 2011, estão os<br />

países ricos em recursos, como o Gana,<br />

Moçambique e a Nigéria, tendo todos<br />

atingido taxas de crescimento superiores<br />

a 7%”, mas “os países exportadores de<br />

metais e de minerais, como a Zâmbia<br />

e Moçambique, foram dos que mais<br />

sofreram com o abrandamento da<br />

produção global industrial durante os<br />

últimos meses de 2011”. Este dinamismo,<br />

associado aos recursos naturais e às<br />

alterações no capital na Hidroeléctrica<br />

de Cahora Bassa (HCB), justificam<br />

a decisão das autoridades em rever a<br />

Agenda 2<strong>02</strong>5, formalizada em 2003,<br />

altura em que não se equacionava o<br />

potencial das reservas de gás e carvão e a<br />

gestão da HCB não era responsabilidade<br />

de Moçambique.<br />

As tarifas e o regime fiscal são<br />

determinantes para calcular o custo real<br />

da electricidade e relevantes para conferir<br />

benefícios em termos de electrificação<br />

rural e exploração de energias renováveis.<br />

Incentivos às renováveis<br />

O reforço do investimento privado<br />

em projectos de energias renováveis<br />

e a criação de incentivos claros para<br />

os stakeholders podem encorajar<br />

investimentos noutros sectores, como<br />

o turismo e as telecomunicações, num<br />

contexto de aumento das famílias com<br />

rendimentos médios.<br />

Depois da recente alienação, pelo Estado<br />

português, da participação de 15%<br />

na HCB, os brasileiros da Eletrobras<br />

anunciaram a construção de uma<br />

hidroeléctrica, no norte de Moçambique,<br />

com uma capacidade de 1,5 mil MW, e<br />

duas linhas de transmissão de energia,<br />

de 600 kilovolts (kV) e cerca de 1,5 mil<br />

quilómetros de extensão cada, a partir<br />

de 2013. O investimento, estimado<br />

em 6 mil milhões de dólares, dos quais<br />

2,3 mil milhões para a construção da<br />

hidroeléctrica, permitirá duplicar a oferta<br />

de energia nacional.<br />

A venda de 15% da HCB marcou a<br />

visita oficial de Pedro Passos Coelho,<br />

Primeiro-Ministro de Portugal, a<br />

Moçambique. O acordo, assinado com<br />

o presidente de Moçambique, Armando<br />

Guebuza, estabelece a venda de 7,5%,<br />

por 38,4 milhões de euros, à portuguesa<br />

REN, que terá assento no conselho de<br />

administração e participará no projecto<br />

Cesul.<br />

O Cesul, que está avaliado em<br />

cerca de dois mil milhões de euros, é<br />

um dos projectos mais ambiciosos de<br />

electrificação no continente africano,<br />

desde o Vale do Zambeze, no centro de<br />

Moçambique, para Maputo/Matola do<br />

Sul. Refira-se que a REN está numa fase<br />

de alteração dos accionistas de referência,<br />

com a entrada de actores como a State<br />

Grid e a Oman Oil.<br />

O acordo entre os governantes<br />

portugueses e moçambicanos surge numa<br />

altura em que, pela primeira vez, a HCB<br />

distribuiu dividendos aos accionistas e<br />

alcançou “a segunda maior produção de<br />

energia eléctrica de sempre, ao realizar<br />

16 290 Gigawatt-hora (GWh), energia<br />

suficiente para suprir os compromissos<br />

comerciais e dar resposta às necessidades<br />

de aumento da potência para servir o<br />

desenvolvimento de Moçambique”, de<br />

acordo com o relatório de desempenho<br />

de 2011.<br />

12<br />

a revista que promove Moçambique


entrevista<br />

Domingos Simão Pereira<br />

Cimeira da CPLP<br />

aguardada com expectativa<br />

A capital moçambicana recebe em Julho a IX Cimeira de Chefes de Estado da Comunidade<br />

de Países de Língua Portuguesa. Este será um momento crucial para definir o futuro e traçar<br />

aquelas que serão as próximas metas do processo de construção da Comunidade. A<br />

instabilidade da Guiné-Bissau, a construção do pilar económico e o alargamento são alguns<br />

dos temas que vão estar em discussão.<br />

T Manuela Sousa Guerreiro<br />

A CPLP está à beira de completar<br />

os 16 anos. Este tem sido um longo<br />

percurso de formação da própria<br />

organização?<br />

Essa é uma questão discutível. A meu<br />

ver era necessário dar algum tempo<br />

aos próprios Estados para que estes<br />

amadurecessem. A CPLP surge como<br />

um projecto político diplomático,<br />

numa altura em que alguns dos seus<br />

Estados membros estavam ainda num<br />

processo de consolidação das suas<br />

estruturas democráticas e de governação.<br />

Esperar que esses países se sentissem à<br />

vontade para acompanhar Portugal e o<br />

Brasil em todas as agendas dos fóruns<br />

internacionais não era ser realista. Era<br />

preciso esperar que em Angola a guerra<br />

civil terminasse, que Moçambique<br />

consolidasse a paz e que Timor<br />

conquistasse a independência. Agora, não<br />

posso deixar de pensar que talvez fosse<br />

possível encurtar alguns prazos, mas foi<br />

o caminho escolhido e era necessário<br />

percorrê-lo.<br />

Os Estados Membros estão hoje mais<br />

activos e empenhados na construção<br />

desta comunidade?<br />

Sem dúvida! Os Estados colocam menos<br />

restrições às fixações das agendas ao nível<br />

das várias instâncias da CPLP. Não há<br />

restrições nos debates sobre democracia,<br />

direitos humanos ou mesmo no que diz<br />

respeito à intervenção da sociedade civil<br />

na discussão dos assuntos da CPLP,<br />

temas que antes eram reclamados como<br />

sendo ‘assuntos da exclusiva competência<br />

dos Estados’. Hoje são estes mesmos<br />

Estados que sublinham a necessidade de<br />

uma maior presença da sociedade civil.<br />

Isso é reflexo também de um maior à<br />

vontade nas suas políticas internas.<br />

O que podemos esperar desta<br />

Cimeira de Chefes de Estado que irá<br />

decorrer em Maputo?<br />

É preciso fazer aqui uma ressalva.<br />

Apesar de existir um grupo de trabalho<br />

para preparar a agenda desta Cimeira,<br />

temos que aguardar o posicionamento<br />

de Moçambique. A mudança de<br />

presidência é também uma oportunidade<br />

“A mudança de<br />

presidência é também<br />

uma oportunidade<br />

para se projectar uma<br />

nova visão para<br />

a organização.”<br />

para se projectar uma nova visão para a<br />

organização. Agora, há a preocupação<br />

de não se perder o que é positivo. Assim,<br />

dividiria os objectivos desta Cimeira<br />

em duas componentes. Por um lado, há<br />

os temas que são recorrentes daquela<br />

que tem sido a nossa programação nos<br />

últimos anos, designadamente a livre<br />

circulação, a questão da cidadania,<br />

alguns projectos culturais, o novo acordo<br />

ortográfico, a adesão da Guiné Equatorial<br />

e, claro, a estabilidade na Guiné-Bissau.<br />

Todos estes assuntos serão abordados na<br />

Cimeira. Mas também serão lançados<br />

novos desafios, e tenho a expectativa<br />

de ver temas como o da erradicação do<br />

analfabetismo e o da segurança alimentar<br />

merecerem uma atenção muito especial.<br />

Alargamento em discussão<br />

Estes últimos dois anos foram<br />

importantes para a afirmação e<br />

projecção da CPLP no contexto<br />

africano?<br />

Quero acreditar que sim! Tenho<br />

acompanhado várias dinâmicas, mas não<br />

sei se a percepção que tenho, estando por<br />

dentro, é igual à de quem está por fora.<br />

Assinámos um protocolo com a SADC<br />

que determina que alguns documentos da<br />

organização sejam traduzidos para língua<br />

portuguesa. Participámos numa iniciativa<br />

da ONU relacionada com a consolidação<br />

dos processos democráticos no continente<br />

africano. Curiosamente, esta iniciativa<br />

tem sede em Bissau e os países da CPLP<br />

14<br />

a revista que promove Moçambique


entrevista<br />

têm tido uma participação bastante<br />

substantiva. Hoje, o nosso diálogo com a<br />

CEDEAO deixou de lado as meras boas<br />

intenções e tem uma agenda concreta.<br />

Temos desenvolvido uma acção proactiva<br />

e de proximidade entre três espaços<br />

linguísticos – lusofonia, francofonia e<br />

união latina.<br />

É importante sublinhar também a recente<br />

nomeação do director-geral da FAO, José<br />

Graciano da Silva, e a recente nomeação<br />

do sub-secretário geral da ONU e<br />

secretário executivo para o Conselho<br />

Económico de África, Carlos Lopes.<br />

São estes momentos que confirmam a<br />

importância da concertação política entre<br />

os nossos países.<br />

Ainda que aos olhos do público essas<br />

acções sejam invisíveis...<br />

Isso é verdade, mas neste momento há<br />

um princípio de reconhecimento da<br />

Organização e o sentimento de que se<br />

pode fazer mais. Pelo que, não podemos,<br />

nem devemos, parar por aqui.<br />

Estão reunidas as condições para a<br />

adesão da Guiné Equatorial à CPLP?<br />

Essa é uma decisão política, não é da<br />

competência do corpo técnico. Compete<br />

aos oito Estados Membros tomar a<br />

decisão. Mas creio que o processo de<br />

adesão da Guiné Equatorial tem sido<br />

“A agenda económica começa a estar presente e,<br />

em certa medida, a dominar os debates e a análise<br />

na CPLP, não por imposição mas, sobretudo, por<br />

necessidade objectiva dos homens de negócio, da<br />

sociedade civil.”<br />

muito importante para a CPLP, na<br />

medida em que lhe tem permitido<br />

revisitar os seus princípios, avaliar a<br />

aplicação dos seus estatutos e manter-se<br />

atenta à progressão do relacionamento<br />

internacional. Há oito anos a Guiné<br />

Equatorial manifestou a sua intenção<br />

em aderir à CPLP e os Oito têm<br />

demonstrado uma grande sensibilidade<br />

na análise deste pedido, pelo facto de ser<br />

o único país africano que não tem um<br />

bloco linguístico próprio, o espanhol é<br />

língua oficial, mas tem laços históricos e<br />

culturais fortes com a Comunidade, na<br />

medida em que foi uma colónia da coroa<br />

portuguesa. São laços que justificam<br />

uma atenção especial a este pedido,<br />

independentemente da decisão que<br />

vier a ser tomada. Agora, não podemos<br />

pretender uma posição pura e imaculada<br />

de que, quem não tem o português bem<br />

estruturado na sua sociedade não pode<br />

ser membro da CPLP. Isso seria uma<br />

contradição, já que alguns países da<br />

CPLP são membros de outros espaços<br />

linguísticos.<br />

A adesão da Guiné Equatorial irá<br />

representar uma mudança profunda<br />

na CPLP?<br />

Se os princípios forem acautelados,<br />

os estatutos respeitados e se todos os<br />

pressupostos forem observados, não.<br />

Penso, aliás, que o que está a acontecer<br />

demonstra a maturidade da Organização<br />

e que esta só terá a ganhar.<br />

Reforçar os laços económicos<br />

A construção do pilar económico da<br />

CPLP poderá sair reforçada nesta<br />

Cimeira?<br />

A agenda económica começa a estar<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

15


entrevista<br />

presente e, em certa medida, a dominar<br />

os debates e a análise na CPLP, não<br />

por imposição mas, sobretudo, por<br />

necessidade objectiva dos homens de<br />

negócio, da sociedade civil. E é assim que<br />

deve ser. A actual conjuntura económica<br />

e financeira é um forte impulsionador<br />

para a procura de novos horizontes num<br />

ambiente diferente de relacionamento.<br />

Há o sentimento de que, anos decorridos,<br />

já existem bases suficientes para que os<br />

países estejam à vontade para discutir<br />

mecanismos de melhoria dos fluxos<br />

económicos e comerciais entre eles.<br />

No início deste ano, convocámos uma<br />

reunião de peritos para reflectir sobre<br />

este tema. Recebemos várias propostas e<br />

submetemos recomendações ao Conselho<br />

de Ministros extraordinário que decorreu<br />

em Fevereiro. Em Maputo, os Chefes de<br />

Estado terão elementos concretos para<br />

poderem tomar decisões.<br />

Que propostas saíram da reunião<br />

de peritos?<br />

A análise identificou a necessidade de se<br />

criar um ordenamento jurídico favorável<br />

à promoção de negócios no espaço CPLP,<br />

de se fomentar o aparecimento de clusters<br />

e de aumentar o fluxo de investimento<br />

estruturante. A falta de infra-estruturas<br />

é hoje um dos principais obstáculos à<br />

cooperação económica entre os nossos<br />

países. Não falo dos fluxos entre Portugal<br />

e Angola ou entre o Brasil e Angola, mas<br />

sim nos fluxos entre os países africanos,<br />

que ainda são quase inexistentes. Falou-se<br />

também na necessidade de se criarem<br />

mecanismos facilitadores do acesso<br />

ao investimento. Há organismos e<br />

instituições que têm fundos disponíveis<br />

e o que temos de fazer é criar incentivos<br />

para atrair esse investimento.<br />

Neste domínio, que papel pode<br />

desempenhar a Confederação de<br />

Empresários de Língua Portuguesa?<br />

São os empresários que põem à prova<br />

dispositivos legais que são assumidos<br />

a nível político. Os políticos podem<br />

acordar a vontade de abrir o espaço da<br />

CPLP às trocas comerciais e criar um<br />

quadro legal favorável ao investimento,<br />

mas não é o político que vai explorar<br />

esse espaço económico. É importante<br />

que a Confederação possa mobilizar a<br />

classe empresarial para fazer uso desses<br />

“Há o sentimento de que, anos decorridos, já existem<br />

bases suficientes para que os países estejam à vontade<br />

para discutir mecanismos de melhoria dos fluxos<br />

económicos e comerciais entre eles.”<br />

dispositivos. A ideia de transformar<br />

o Conselho em Confederação visa<br />

exactamente flexibilizar a participação<br />

dos associados na instituição.<br />

É o reconhecimento do valor<br />

económico da língua portuguesa?<br />

Espero que sim! Aquilo que constato<br />

é que, durante muito tempo, estivemos<br />

preocupados em que a CPLP reflectisse a<br />

realidade dos quatro continentes, dos oito<br />

Estados que a compõem, sem esquecer<br />

a sua presença nos respectivos espaços<br />

económicos. Agora terá que existir um<br />

movimento em sentido contrário, terá de<br />

se verificar se as políticas públicas de cada<br />

um dos Estados reflecte a sua presença na<br />

CPLP. É isso que tem faltado.<br />

Instabilidade na Guiné-Bissau altera<br />

agenda política<br />

A instabilidade política na Guiné-Bissau não ficou à margem da entrevista com o Secretário<br />

Executivo da CPLP, ainda que a mesma se tenha realizado cerca de duas semanas<br />

antes do golpe militar de 12 de Abril.<br />

“Não estamos perante erupções, estamos num processo de construção de uma sociedade,<br />

cuja estrutura política foi fortemente abalada com a crise de 1998, a tal ponto que<br />

foi necessário revisitar as bases para se começar a construir uma estrutura política com<br />

alguma solidez. Não podíamos esperar que o processo de reconstrução do Estado acontecesse<br />

de forma completamente pacífica. Estamos a tentar repor a normalidade num<br />

ambiente em que muita agente se habituou a viver com a anormalidade, num país onde<br />

os recursos não abundam e onde há dificuldades de toda a ordem, inclusive no aparelho<br />

do próprio Estado. Logo aí, dá para perceber o quão frágil é este processo”, explicou<br />

Domingos Simão Pereira durante a entrevista.<br />

Mas, para a CPLP, há limites à compreensão e esses limites foram ultrapassados a 12 de<br />

Abril último. O golpe militar no Guiné-Bissau, ocorrido na véspera do início da campanha<br />

eleitoral para a segunda volta das eleições presidenciais, foi duramente condenado pela<br />

CPLP, organização que volta a assumir um papel de destaque na procura de uma solução<br />

para a instabilidade na Guiné Bissau.<br />

16<br />

a revista que promove Moçambique


Economia<br />

Imobiliário<br />

atrai investimento<br />

T Manuela Sousa Guerreiro<br />

18<br />

A dinâmica económica do país<br />

está a atrair novos investimentos<br />

à capital e o sector imobiliário é<br />

um dos principais beneficiários.<br />

Maputo é hoje o centro das<br />

atenções dos investidores.<br />

Ao longo dos últimos anos o<br />

mercado imobiliário moçambicano,<br />

e em particular o da cidade de Maputo,<br />

tem atraído a atenção de um número<br />

crescente de investidores. Uma atracção<br />

que não é alheia ao dinamismo e às<br />

projecções de crescimento económico do<br />

país (em 2011 o PIB terá crescido 7,2%,<br />

e as previsões para este ano apontam<br />

para 7,5%), e que é impulsionada por<br />

um conjunto diversificado de factores,<br />

como o aumento do poder de compra<br />

da classe média; a chegada de um<br />

número cada vez maior de expatriados/<br />

investidores a Moçambique; a procura de<br />

produtos imobiliários para instalação de<br />

empresas e, ainda, pelo défice imobiliário,<br />

que garante margens de rentabilidade<br />

significativas aos promotores.<br />

"Estas variáveis demonstram o potencial<br />

e o forte crescimento que se prevê no<br />

No que à Habitação diz respeito, Maputo regista<br />

um claro desequilíbrio entre a crescente procura<br />

e a oferta, que durante anos esteve estagnada<br />

mercado imobiliário para os próximos<br />

anos", sustenta o estudo ‘Imobiliário<br />

Moçambique 2012’, realizado pela Prime<br />

Yield MZ, uma empresa de direito<br />

moçambicano dedicada à consultadoria,<br />

avaliações e gestão de imobilizado,<br />

participada da portuguesa Prime Yield.<br />

A análise ao mercado imobiliário centra-<br />

-se na cidade de Maputo e divide a<br />

capital em dez zonas - Bairro Central<br />

A, B e C, Polana Cimento A e B,<br />

Sommerchield, Malhangalene A e<br />

B, Coop e Costa do Sol – e em três<br />

segmentos – Habitação, Escritórios e<br />

Turismo.<br />

No que à Habitação diz respeito,<br />

Maputo regista um claro desequilíbrio<br />

entre a crescente procura e a oferta, que<br />

durante anos esteve estagnada. A venda<br />

de imóveis que se tem "verificado nos<br />

últimos dois anos" é um indicador claro<br />

do défice habitacional. Actualmente,<br />

há vários empreendimentos em<br />

construção, em particular nas zonas<br />

Polana Cimento A, Sommerchield e<br />

Costa do Sol. De acordo com a análise<br />

da Prime Yield MZ a avenida Julius<br />

Nyerere destaca-se como a que tem os<br />

a revista que promove Moçambique


Economia<br />

“valores prime no segmento residencial".<br />

“A oferta imobiliária actual é ainda<br />

maioritariamente dirigida ao segmento<br />

médio/alto. Outra característica é que<br />

os projectos habitacionais concentram<br />

a mesma oferta de tipologias (T3 e<br />

T4), o que origina lacunas na oferta de<br />

outras tipologias". Em termos médios, o<br />

valor unitário da habitação em Maputo<br />

regista-se em 2.500 USD/m 2 . Na zona<br />

de Sommerchield, os valores médios dos<br />

apartamentos podem atingir os 3.300<br />

USD/m 2 .<br />

A Avenida 25 de Setembro, toda a<br />

zona da Baixa e a Avenida 24 de Julho<br />

são os principais eixos no segmento de<br />

Escritórios, o qual, graças ao crescimento<br />

económico do país, tem registado uma<br />

grande procura e taxas de desocupação<br />

muito baixas. Mas não é só o sector<br />

privado que está a influenciar o aumento<br />

da procura, também o sector público tem<br />

angariado novos espaços.<br />

Turismo também mexe<br />

Para além da análise dos segmentos<br />

residencial e de escritórios, o estudo<br />

da Prime Yield MZ reflecte também<br />

sobre o movimento de turistas e preço<br />

das unidades hoteleiras da cidade.<br />

Afinal, este é um sector vital para o<br />

desenvolvimento do país. “Apesar do<br />

ainda diminuto peso no PIB (menos de<br />

2%) este está a recuperar o seu potencial,<br />

quer pela atracção de investimento quer<br />

pela melhoria das infra-estruturas e<br />

acessibilidades”, refere o documento.<br />

De acordo com a Prime Yield MZ,<br />

o número de turistas que visitam a<br />

capital Maputo está a crescer. Em<br />

2011 estima-se que cerca de 382 mil<br />

turistas tenham visitado a cidade, o<br />

que representa um crescimento de 7%<br />

face a 2010. As ‘viagens de negócio’ são<br />

o principal motivo da deslocação dos<br />

turistas estrangeiros a Maputo, o que<br />

vai ao encontro do crescente dinamismo<br />

e melhoria do ambiente de negócios<br />

registado em Moçambique. “A nível<br />

da oferta, Maputo conta com quatro<br />

hotéis classificados com 5 estrelas. Estão<br />

previstos novos investimentos nas várias<br />

zonas em análise”, afirma o estudo. Os<br />

preços médios vão de 74 USD/noite,<br />

numa unidade de três estrelas, aos 257<br />

USD/noite, numa unidade de cinco<br />

estrelas.<br />

Maputo: Uma cidade a crescer<br />

Maputo está a crescer e a desenvolver-se muito rapidamente. Nos últimos dois anos<br />

aumentou o número de projectos imobiliários que, pela sua dimensão, terão um forte<br />

impacto no mercado imobiliário uma vez concluídos.<br />

Maputo Bay Waterfront<br />

Promotores: Sociedade Constellation<br />

Investimento: 1.162 milhões de USD.<br />

Descrição: De uso misto – combina as<br />

valências de habitação, comércio, serviços,<br />

escritórios e lazer – este é um dos mais<br />

importantes projectos imobiliários em desenvolvimento<br />

na capital. O projecto estende-<br />

-se por uma área de 83.000 m 2 , onde antes<br />

se erguia a FACIM – Feira Internacional de<br />

Maputo, e contempla a construção de dois<br />

hotéis, edifícios de escritórios, habitação,<br />

galerias comerciais e parques de estacionamento,<br />

enquadrados por uma zona verde<br />

formada por diferentes espaços ajardinados.<br />

O prazo de construção é de dez anos,<br />

dividido em cinco fases.<br />

Maputo Business Tower<br />

Promotores: Green Point Investment<br />

e Correios de Moçambique<br />

Investimento: 110 milhões de USD<br />

Descrição: Com 47 andares, será o<br />

edifício mais alto do país. Irá ter 32 pisos<br />

de escritórios, cinco para estacionamento e<br />

os restantes para galerias comerciais e serviços.<br />

O empreendimento inclui também um<br />

heliporto, entre outras facilidades. A Soares<br />

da Costa é a empresa construtora. A conclusão<br />

da obra está prevista para 2013.<br />

Cidadela da Matola<br />

Promotores: Public Investment Corporation,<br />

MaCormick Property Development e SIF<br />

Investimento: 200 milhões de USD<br />

Descrição: Projecto misto, que inclui a<br />

construção de centro comercial, numa área<br />

de 46.000 m 2 , com lojas, restaurantes<br />

e serviços, centro de saúde, hotel e SPA,<br />

centro de conferências, escritórios e um<br />

complexo governamental de quatro edifícios,<br />

que irá albergar vários departamentos do<br />

governo provincial de Maputo e concelho<br />

municipal da Matola. O edifício da Rádio<br />

Moçambique será transformado no Museu<br />

de Cultura e História da Comunicação<br />

Social.<br />

Polana Twin Towers<br />

Promotores: FEMA - Ferreira & Machado<br />

Descrição: Localizado na zona alta da<br />

marginal de Maputo, terá uma altura de<br />

140 metros, com 34 andares. Projecto misto,<br />

irá combinar as componentes residencial<br />

e de serviços.<br />

Fonte: Vida Imobiliária, edição Moçambique, nº1<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

19


Economia<br />

Potencial<br />

agrícola do país<br />

ganha novo fôlego<br />

T Manuela Sousa Guerreiro<br />

O sector agrícola está a crescer<br />

e a ganhar um novo dinamismo.<br />

Nos últimos dez anos a área<br />

total cultivada aumentou 47%,<br />

mas o país utiliza apenas 15,6%<br />

dos terrenos potencialmente<br />

cultiváveis.<br />

A agricultura tem sido um dos<br />

sectores de capital intensivo que<br />

menos investimento directo estrangeiro<br />

tem recebido. Contudo, o sector está<br />

em expansão e o forte potencial agrícola<br />

do país está a atrair um número cada<br />

vez maior de interessados. O último<br />

relatório da Economist Intelligence Unit<br />

(EIU) sublinha o crescente dinamismo<br />

da "agricultura comercial" e dá como<br />

sinal da expansão da actividade no país<br />

a presença da multinacional Agriterra,<br />

cotada na Bolsa de Valores de Londres.<br />

Em Moçambique, o grupo actua no<br />

sector agro-pecuário, com a Mozbife,<br />

empresa dedicada à criação, abate e<br />

comercialização de gado bovino. Até ao<br />

final de 2012, a Mozbife deverá ter mais<br />

de cinco mil cabeças de gado distribuídas<br />

pelas fazendas de Mavonde (mil hectares)<br />

e do Dombe (15 mil hectares), mas<br />

o objectivo é chegar rapidamente às<br />

dez mil cabeças de gado. A par com o<br />

mercado nacional, parte da produção<br />

será destinada à exportação. Esta<br />

multinacional está também envolvida no<br />

cultivo do milho, através das empresas<br />

Desenvolvimento e Comercialização<br />

Agrícola (DECA) e Compagri.<br />

Para além da Agriterra, também<br />

grandes empresas brasileiras, como<br />

a SLC Agrícola e o Grupo Pinesso,<br />

têm manifestado interesse em<br />

adquirir grandes extensões de terra<br />

em Moçambique. Aliás, o Brasil é um<br />

dos países envolvidos no ‘ProSavana’,<br />

um projecto tripartido – que inclui<br />

Moçambique e o Japão –, e visa<br />

promover uma agricultura empresarial<br />

mais produtiva. O projecto está a ser<br />

implementado desde o início do ano nas<br />

províncias de Nampula, Cabo Delgado e<br />

Zambézia.<br />

Prioridade absoluta ao<br />

desenvolvimento agrícola<br />

O sector agrícola é hoje uma das<br />

prioridades do Governo. "É nossa<br />

intenção aumentar a actividade para<br />

poder atender não só às necessidades<br />

internas mas também à exportação",<br />

sublinhou Aiuba Cuereneia, Ministro<br />

moçambicano da Planificação<br />

e do Desenvolvimento à revista<br />

Empresas&Negócios.<br />

O Orçamento Geral do Estado para este<br />

ano canaliza 11,6% do total da despesa<br />

para a Agricultura e estão em curso<br />

vários investimentos públicos destinados<br />

a promover a auto-suficiência agrícola<br />

do país. “Delineámos um plano de acção<br />

para a produção de alimentos que inclui<br />

metas concretas para a produção de<br />

algumas culturas; temos alguns fundos<br />

destinados a apoiar os pequenos/médios<br />

agricultores e estamos a desenvolver um<br />

programa de reabilitação dos regadios,<br />

o que irá impulsionar a produção e a<br />

produtividade agrícolas no país”, adiantou<br />

Aiuba Cuereneia. Através do programa<br />

20<br />

a revista que promove Moçambique


Economia<br />

de irrigação, o Governo moçambicano irá<br />

investir, durante os próximos dez anos,<br />

cerca de 540 milhões de USD.<br />

Ao longo da última década, de acordo<br />

com o censo agrícola realizado pelo<br />

Instituto Nacional de Estatística de<br />

Moçambique, a área cultivada cresceu<br />

47%, um ritmo de crescimento quase<br />

duas vezes superior ao da população. Ao<br />

passo que o número total de explorações<br />

agrícolas cresceu apenas 25%. Não<br />

obstante o crescimento, Moçambique<br />

mantém um grande excedente de<br />

terras, já que apenas 15,6% dos terrenos<br />

potencialmente cultiváveis estão a ser<br />

utilizados.<br />

A falta de infra-estruturas associadas ao<br />

sector, sobretudo ao nível das estradas<br />

e acessos mas também de irrigação e de<br />

armazenagem, são alguns dos obstáculos<br />

que enfrenta, mas que terão, segundo o<br />

Ministro, um fim à vista.<br />

Aiuba Cuereneia esteve em Portugal, no<br />

final de Fevereiro, com uma delegação<br />

de 25 empresas moçambicanas para<br />

participar no SISAB, a maior plataforma<br />

“Há um plano de<br />

acção para fomentar a<br />

produção alimentar;<br />

há fundos para apoiar<br />

os pequenos e médios<br />

agricultores e está em<br />

curso um programa de<br />

reabilitação de regadios,<br />

o que irá impulsionar<br />

a produção no país”,<br />

avança o Ministro Aiuba<br />

Cuereneia<br />

de negócios para a exportação dos<br />

sectores alimentar e bebidas de Portugal<br />

e que nesta última edição reuniu cerca de<br />

400 dos maiores produtores portugueses<br />

e 1200 importadores, oriundos de 83<br />

países. “Esperamos com a nossa presença<br />

impulsionar os negócios bilaterais nesta<br />

área e chamar a atenção dos investidores<br />

portugueses para as potencialidades que<br />

Moçambique oferece, em particular no<br />

sector agro-industrial", referiu o Ministro<br />

na ocasião.<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

21


Economia<br />

Moçambique<br />

um destino turístico<br />

de excelência<br />

T Manuela Sousa Guerreiro<br />

Tornar Moçambique um destino<br />

turístico de excelência é a<br />

meta proposta pelo Governo. E<br />

argumentos não faltam. Mas antes<br />

de convencer os turistas, o país<br />

precisa de atrair os investidores.<br />

Paisagens de tirar o fôlego,<br />

uma extensa costa oceânica, abundância<br />

de fauna e flora e uma cultura rica,<br />

alimentada pelos contactos centenários<br />

com europeus, árabes, asiáticos e<br />

indianos. Estes são alguns dos recursos de<br />

que Moçambique dispõe e que servem de<br />

argumento para justificar a sua pretensão<br />

a “destino turístico de excelência”. Mas<br />

ainda que os recursos naturais abundem,<br />

escasseiam as infra-estruturas, hoteleiras<br />

e não só, e os recursos humanos<br />

qualificados para receber os turistas.<br />

“O sector do turismo tem crescido<br />

bastante nos últimos anos, quer no<br />

número de infra-estruturas hoteleiras<br />

quer no número de visitantes/turistas.<br />

Em cinco anos, o número de camas<br />

disponíveis no país evoluiu de 10 mil<br />

para 38 mil, enquanto que o número<br />

de visitantes anual ultrapassa os três<br />

milhões, contra um milhão há menos de<br />

cinco anos”, sublinha Jeremias Manussa,<br />

director de marketing do Instituto<br />

Nacional do Turismo (INATUR),<br />

instituição ligada ao Ministério do<br />

Turismo de Moçambique, responsável<br />

pela promoção do país como destino<br />

turístico e como destino de investimento.<br />

“Grande parte deste crescimento tem<br />

sido impulsionado pelo investimento<br />

estrangeiro. Nos últimos anos, o<br />

investimento no sector subiu de 200<br />

milhões de USD/ano para mais de<br />

um bilião de USD/ano e a nossa<br />

perspectiva é que este número continue<br />

a crescer”, adianta Jeremias Manussa.<br />

Um crescimento influenciado pela<br />

melhoria do ambiente de negócios e pelo<br />

dinamismo económico de Moçambique<br />

e que beneficia, também, do esforço<br />

de reconstrução de infra-estruturas<br />

rodoviárias, e não só, que o país tem<br />

conhecido nos últimos anos.<br />

A estratégia do Governo para o sector<br />

também mudou está mais dinâmica,<br />

incisiva e apostada em atrair o<br />

investimento estrangeiro. “O ano passado,<br />

o Governo aprovou uma série de medidas<br />

destinadas a aliviar a regulamentação e a<br />

incentivar investimentos de maior vulto,<br />

tanto no turismo como nas áreas de apoio<br />

ao turismo. O ambiente de negócios no<br />

sector é hoje muito salutar”, sublinha<br />

Jeremias Manussa.<br />

Grandes investimentos aprovados<br />

A estratégia do Governo está a dar os<br />

seus frutos. No final do ano passado,<br />

os responsáveis pelo turismo de<br />

Moçambique assinaram um acordo com o<br />

grupo britânico BW visando a construção<br />

22<br />

a revista que promove Moçambique


Economia<br />

de um projecto de turismo integrado<br />

nas ilhas de Jamal e Crusse, na província<br />

de Nampula, no valor de 1,5 biliões de<br />

USD. As duas ilhas estão situadas em<br />

águas cristalinas e rodeadas por extensos<br />

recifes de corais, que proporcionam<br />

condições ideais para o mergulho e pesca<br />

desportiva. O investimento enquadra-se<br />

no âmbito do ‘Projecto Arco Norte’, que<br />

prevê a construção de empreendimentos<br />

turísticos nas províncias Cabo Delgado<br />

(cidade de Pemba, Costa Leste e Baía de<br />

Pemba), Niassa (Chuianga, Metangula e<br />

Lichinga) e Nampula (Crusse e Jamali,<br />

Lumbo, Sancul e Ilha de Moçambique).<br />

O projecto de desenvolvimento turístico<br />

“O número de entradas no país tem vindo a crescer. A<br />

Europa é o principal mercado emissor, em particular<br />

Portugal. Cerca de 25% dos turistas que nos visitam<br />

são portugueses”, afirma Jeremias Manussa<br />

destas regiões conta com o apoio da<br />

USAID e prevê atrair, nos próximos<br />

três anos, um volume de investimento<br />

superior a dois biliões de USD para o<br />

turismo e infra-estruturas relacionadas,<br />

estando prevista a construção de 10.600<br />

quartos e a criação de 35 mil postos de<br />

trabalho directos.<br />

Para além das províncias do Arco-<br />

Norte, outros projectos de investimento<br />

foram desenhados para atrair a<br />

atenção de investidores estrangeiros,<br />

designadamente em Inhassoro, na<br />

província de Inhambane. As autoridades<br />

moçambicanas aprovaram um projecto<br />

integrado de turismo avaliado em mais<br />

de 800 milhões de USD, para o qual<br />

procuram agora investidores. O projecto<br />

inclui a construção de duas unidades<br />

hoteleiras de cinco e de quatro estrelas,<br />

com capacidade para 120 e 250 quartos,<br />

respectivamente, dois campos de golfe,<br />

1850 residências e deverá abranger uma<br />

área de 2,500 hectares (com 5,7 km de<br />

praia e 5 km para o interior). “O objectivo<br />

é o de desenvolver um resort integrado,<br />

de baixa a média densidade, com uma<br />

mistura de usos capazes de atrair vários<br />

segmentos de mercado, incluindo o<br />

turismo internacional, o regional e o<br />

nacional. O conceito subjacente é o de<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

Jeremias Manussa, INATUR<br />

se aproveitar a topografia natural e o<br />

meio ambiente como pano de fundo para<br />

a construção sustentável e ecológica”,<br />

explica Jeremias Manussa.<br />

Portugal visitante e investidor<br />

Alguns destes projectos estiveram em<br />

destaque, em Portugal, durante a Bolsa<br />

de Turismo de Lisboa, um evento que<br />

reuniu mais de um milhar de empresas<br />

e delegações de 27 países e que fez de<br />

Portugal, durante os 4 dias do evento, a<br />

plataforma para a promoção do turismo<br />

nos países da comunidade lusófona.<br />

Portugal, Alemanha, Espanha, Inglaterra<br />

e Itália, são hoje os principais emissores<br />

de turistas. “O número de entradas no<br />

país tem vindo a crescer. A Europa é o<br />

principal mercado emissor, em particular<br />

Portugal. Cerca de 25% dos turistas que<br />

nos visitam são portugueses”, afirma o<br />

responsável do INATUR.<br />

Mas os portugueses não são apenas<br />

turistas, muitos são investidores. E<br />

o turismo é um dos sectores onde os<br />

empresários portugueses mais apostam,<br />

muito antes de Moçambique se ter<br />

tornado um destino ‘da moda’. Os grupos<br />

Pestana e Visabeira ou o Grupo VIP são<br />

alguns dos que estão há mais tempo no<br />

país - embora outros tenham abandonado<br />

o mercado - mas, indiscutivelmente, o<br />

momento actual apela ao investimento.<br />

A Visabeira inaugurou recentemente o<br />

Girassol Gorongosa Lodge & Safari, a<br />

sua quinta unidade Girassol. O grupo<br />

tem já presença em Maputo (com duas<br />

unidades, o Girassol Bahia Hotel e o<br />

Girassol Indy Congress Hotel & SPA),<br />

em Nampula e em Linchinga, e promete<br />

não ficar por aqui. Também o grupo<br />

VIP Hotels está em expansão no país.<br />

Depois da abertura de duas unidades em<br />

Maputo e outra na Beira, o grupo está a<br />

construir a sua quarta unidade, desta feita<br />

na província de Tete, seguindo a rota do<br />

investimento estrangeiro no país.<br />

23


Economia<br />

Bens e serviços para a hotelaria<br />

APIT serão pontos focais<br />

para alocação de recursos<br />

No estudo de mercado<br />

desenvolvido pela CESO CI<br />

Portugal para a AIP – Feiras,<br />

Congressos, são analisadas<br />

as potencialidades dos bens e<br />

serviços para a hotelaria, uma<br />

área que o Governo pretende<br />

tornar prioritária para o<br />

desenvolvimento do país.<br />

T Paula Girão<br />

Com a Resolução nº 14, de 4 de<br />

Abril 200,3 o Governo aprovou a<br />

“Política do Turismo e Estratégia da<br />

sua Implementação”, que estabelece a<br />

perspectiva orientadora do crescimento<br />

e desenvolvimento do turismo no futuro.<br />

A Política do Turismo identifica os<br />

princípios gerais, os objectivos do turismo<br />

e as áreas prioritárias de intervenção e<br />

actuação.<br />

Tendo em consideração os elementos<br />

competitivos em presença e os<br />

constrangimentos que ainda condicionam<br />

a plena afirmação do potencial do<br />

turismo no país, o Governo definiu uma<br />

visão do turismo para Moçambique:<br />

“Até ao ano 2<strong>02</strong>5, Moçambique será o<br />

destino turístico mais vibrante, dinâmico<br />

e exótico de África, famoso pelas suas<br />

praias e atracções litorais tropicais,<br />

produtos de eco-turismo excelentes, e<br />

pela sua cultura intrigante, acolhendo<br />

mais de 4 milhões de turistas por ano.<br />

As áreas de conservação constituem<br />

parte integrante do produto turístico e<br />

os seus benefícios darão um contributo<br />

significativo para o PIB, trazendo riqueza<br />

e prosperidade para as comunidades do<br />

país.”<br />

É esta visão genérica que orienta o<br />

desenvolvimento do sector do turismo<br />

e que, naturalmente, condicionará a<br />

procura potencial de bens e serviços para<br />

a hotelaria. Um aspecto fundamental<br />

da política é a abordagem orientada<br />

para o envolvimento das estruturas<br />

distritais e das comunidades locais.<br />

Outras orientações fundamentais desta<br />

nova política são o reconhecimento do<br />

valor real das Áreas de Conservação no<br />

desenvolvimento do sector; o contributo<br />

que o turismo pode ter no alívio da<br />

pobreza e, finalmente, o desenvolvimento<br />

de novas linhas de produto na perspectiva<br />

dos vários segmentos de mercado.<br />

Todavia, o desenvolvimento do sector<br />

debate-se, ainda, com constrangimentos,<br />

de entre os quais se destacam a falta de<br />

recursos financeiros, humanos e materiais<br />

no sector público, bem como de dados<br />

estatísticos e o estabelecimento de um<br />

sistema de ‘Satellite Accounting’.<br />

Para além destas questões, o sector<br />

privado continua a manifestar<br />

preocupação face à excessiva burocracia<br />

e fraca capacidade de planificação<br />

no sector, às quais se juntam a falta<br />

de quadros qualificados, o acesso ao<br />

Número de hotéis da amostra do sector utilizada pelo INE<br />

Província Unidade Nº pessoas ao serviço Volume Negócios (10 3 MT)<br />

TOTAL 109 4679 2 196 772,30<br />

Niassa 2 37 2 796,95<br />

Cabo Delgado 6 306 125 195,25<br />

Nampula 8 191 37 375,20<br />

Zambézia 7 147 34 706,36<br />

Tete 4 113 27 865,45<br />

Manica 10 150 32 101,84<br />

Sofala 8 204 159 061,64<br />

Ihambane 18 754 85 971,47<br />

Gaza 17 526 64 442,82<br />

Maputo Província 5 86 24 041,80<br />

Maputo Cidade 24 2165 1 603 213,52<br />

Fonte: Instituto Nacional de Estatística<br />

24<br />

a revista que promove Moçambique


Economia<br />

PROJECÇÃO VOLUME DE NEGÓCIOS<br />

HOTELARIA POR PROVÍNCIA<br />

Outras 9%<br />

Inhambane 4%<br />

Cabo<br />

Delgado 6%<br />

Sofala 7%<br />

Fonte: Estudo CESO CI<br />

Maputo<br />

74%<br />

crédito e a necessidade de incentivo do<br />

Investimento Directo Estrangeiro (IDE).<br />

Planeamento e procura<br />

Segundo o estudo, a procura potencial<br />

será determinada, em primeira instância,<br />

pelas opções assumidas em matéria<br />

de ordenamento turístico. Neste<br />

sentido, o plano estratégico do sector<br />

contempla uma definição das áreas de<br />

desenvolvimento do turismo assente num<br />

conjunto de critérios: distância, máximo<br />

potencial do produto e marketing,<br />

densidade populacional, infra-estruturas<br />

e acesso, acomodação, agrupamento,<br />

ligação com iniciativas económicas<br />

nacionais, áreas estratégicas.<br />

As APIT (Áreas Prioritárias para<br />

Investimento no Turismo) foram<br />

organizadas em torno de três tipos. A<br />

APIT do tipo ‘A’ é aquela que possui já<br />

um certo nível de desenvolvimento e<br />

infra-estruturas de turismo. Estas áreas<br />

já atraíram investimento turístico ou<br />

têm merecido grande interesse por parte<br />

dos investidores, havendo uma grande<br />

variedade de opções de acomodação e de<br />

produtos existentes.<br />

Prioridades nestas áreas apontam para<br />

um desenvolvimento controlado, para a<br />

integração de planos de desenvolvimento<br />

entre sectores, o desenvolvimento de<br />

recursos humanos e a necessidade de<br />

marketing dos produtos existentes.<br />

As APIT tipo ‘B’ foram seleccionadas<br />

por causa do seu elevado potencial<br />

de turismo ou da sua localização<br />

estratégica, mas que ainda não têm um<br />

nível significativo de desenvolvimento<br />

do turismo. Muitas destas áreas são de<br />

acesso difícil, com fracas provisões de<br />

infra-estruturas e serviços e com níveis<br />

de desenvolvimento sócio-económico, em<br />

geral, modestos.<br />

As prioridades para estas áreas apontam<br />

para a melhoria de infra-estruturas,<br />

planificação integrada e promoção de<br />

investimento.<br />

As APIT identificadas constituirão<br />

os pontos focais para planificação e<br />

alocação dos recursos do turismo. O<br />

objectivo é criar centros de excelência e<br />

modelos de planificação, investimento<br />

e sustentabilidade do turismo que serão<br />

reaplicados no resto do país.<br />

A procura actual e futura de bens e<br />

serviços para a indústria hoteleira<br />

estará geograficamente condicionada<br />

pela localização destas APIT. É em<br />

torno destas áreas que se localizam<br />

(e localizarão no futuro) as principais<br />

unidades hoteleiras do país, ou seja, os<br />

potenciais compradores de bens e serviços<br />

para a indústria hoteleira.<br />

5<br />

4<br />

10<br />

11<br />

2 3<br />

1<br />

Fonte: Estudo CESO CI<br />

9<br />

17<br />

8<br />

7<br />

6<br />

18<br />

12<br />

Esta amostra permite desenhar uma<br />

projecção da localização da procura<br />

potencial do sector hoteleiro em<br />

Moçambique, tomando por base o<br />

volume de negócios gerado pelos<br />

respectivos estabelecimentos.<br />

Conforme esperado, dois terços da<br />

procura situa-se em Maputo (província<br />

e cidade), sendo ponto de partida<br />

obrigatório para a montagem de uma<br />

operação de exportação. As províncias de<br />

Cabo Delgado, Inhambane e Sofala, com<br />

elevado potencial turístico, congregam<br />

entre si 15% do volume de negócios do<br />

sector e são mercados que merecem uma<br />

análise.<br />

Destaca-se, no entanto, a presença de<br />

cadeias hoteleiras de origem portuguesa<br />

(Pestana, Teixeira Duarte com Tivoli,<br />

Visabeira com Girassol) e internacionais,<br />

de que são exemplo os Ibis, Serena,<br />

entre outros que se afirmam,<br />

naturalmente, como agentes<br />

dinamizadores da procura<br />

16 de bens e serviços para a<br />

hotelaria. De salientar, ainda,<br />

os resorts de luxo situados,<br />

15 nomeadamente, nas províncias<br />

de Inhambane e Cabo Delgado<br />

e orientados para uma clientela<br />

mais exigente e que procura<br />

14<br />

produtos exclusivos.<br />

APIT<br />

Tipo ‘A’<br />

2 Zona de “Grande” Maputo<br />

6 Zona Costeira de Inhambane<br />

7 Zona de Vilankulos/Bazaruto<br />

Tipo ‘A/B’<br />

1 Zona Costeira de Elefantes<br />

3 Zona Costeira de Xai-Xai<br />

8 Zona de Turismo de Sofala<br />

14 Zona de Ilha de Moçambique/Nacala<br />

15 Zona de Pemba /Quirimbas<br />

Tipo ‘B’<br />

4 Zona do Limpopo – Massingir<br />

5 Zona do Limpopo – Mapai<br />

9 Zona de Turismo de Gorongosa<br />

10 Zona de Turismo de Manica<br />

11 Zona de Turismo de Cahora Bassa<br />

12 Zona de Gilé/Pebane<br />

13 Zona de Turismo de Gurué<br />

16 Zona de Norte de Cabo Delgado<br />

17 Zona de Lago de Niassa<br />

18 Zona de Reserva de Niassa<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

25


Economia<br />

Transportes são factor crítico<br />

para aposta energética<br />

A capacidade de exportação da produção gerada pelos grandes investimentos no<br />

sector extractivo está dependente da eficácia das acessibilidades rodo-ferroviárias<br />

e portuárias e das redes de transporte. Daí que grande parte das intenções de<br />

investimento total nos transportes e comunicações esteja associada à grande<br />

indústria extractiva, nomeadamente por causa dos corredores do centro e norte de<br />

Moçambique, e às comunicações de banda móvel.<br />

T Fátima Azevedo<br />

De acordo com um estudo sobre<br />

a evolução do sector, elaborado<br />

por Nuno Castel-Branco, investigador<br />

do IESE, “após o fim da guerra civil<br />

e até meados de 2000, objectivos<br />

político-administrativos ligados ao<br />

controlo territorial e à expansão<br />

do acesso à terra predominaram na<br />

definição das estratégias de construção<br />

das colunas vertebrais das vias e meios<br />

de comunicação (estradas e sistemas de<br />

telecomunicações) e das redes de energia”.<br />

No entanto, desde meados desta década,<br />

“voltaram a predominar os interesses dos<br />

megaprojectos minero-energéticos, o<br />

que se manifesta na implementação das<br />

prioridades na construção de infra-<br />

-estruturas e redes de energia associadas<br />

com estes projectos”, cujos investimentos<br />

ascendem a cerca de 13 biliões de USD,<br />

cerca de 15% do total de investimento<br />

associado aos megaprojectos. Mas, para o<br />

investigador do IESE, foi esse contexto<br />

que determinou que “as necessidades<br />

da diversificação e articulação da base<br />

produtiva e comercial não tenham sido<br />

prioritárias”.<br />

Um exemplo deste trade-off de<br />

prioridades é a gestão de uma grande<br />

barragem, dado que é mais facilmente<br />

adaptada à produção de energia eléctrica<br />

do que à irrigação de pequenas e médias<br />

empresas agrícolas, protecção contra<br />

cheias e abastecimento de água. Os baixos<br />

índices de industrialização e a subjacente<br />

fraca intensidade energética, tornam,<br />

segundo Castel-Branco, mais provável<br />

a utilização da barragem para exportar<br />

energia “ou para alimentar megaprojectos<br />

minero-energéticos nacionais do que<br />

para ajudar a diversificar e articular a base<br />

produtiva”, concluindo que “um grande<br />

parque industrial sofisticado ou uma zona<br />

económica especial, gerados em torno<br />

de um megaprojecto de alta tecnologia,<br />

numa economia com desenvolvimento e<br />

ligações industriais débeis e de natureza<br />

extractiva, dificilmente funcionarão<br />

como trampolim para a emergência<br />

de pequenas e médias empresas locais<br />

intensivas em trabalho e de tecnologia<br />

adequada”.<br />

Corredores ferroviários<br />

são prioridade<br />

Por sua vez, Casimiro Francisco,<br />

presidente da Associação Moçambicana<br />

para o Desenvolvimento do Carvão<br />

Mineral (AMDCM), sublinha como<br />

os atrasos na reabilitação do corredor<br />

ferroviário que liga Moatize, em Tete,<br />

onde se localiza a exploração liderada<br />

pelos brasileiros da Vale, e o porto da<br />

Beira, poderão ter acarretado perdas<br />

acima dos 500 milhões de dólares em<br />

2011. No final do terceiro trimestre de<br />

26<br />

a revista que promove Moçambique


Economia<br />

As redes de ligação<br />

O sistema ferroviário de Moçambique é compostos por três redes, sem ligação entre si, localizadas no norte, centro e sul do país, estruturadas<br />

e geridas em torno de três grandes corredores de desenvolvimento, num total de 3.130 km:<br />

Corredor de<br />

Nacala<br />

Compreende o porto de Nacala<br />

e a linha ferroviária de Nacala,<br />

que liga o Porto de Nacala aos<br />

Caminhos-de-Ferro do Malawi.<br />

Corredor da Beira<br />

Inclui o Porto da Beira, a linha de<br />

Machipanda, desde a Beira até Harare,<br />

o Zimbabué, e a Linha do Sena, ligando<br />

o porto com os campos de carvão de<br />

Moatize (estas duas constituem a Linha<br />

Ferroviária da Beira). O corredor foi<br />

dado em concessão ao consórcio formado<br />

pela Rail India Technical and Economic<br />

Services (RITES) Ltd. e pela IRCON International,<br />

em Dezembro de 2004.<br />

Corredor de<br />

Maputo<br />

Compreende o Porto de Maputo,<br />

a linha Ressano Garcia, ligando<br />

Maputo à África do Sul, a Linha de<br />

Limpopo, desde o Porto de Maputo<br />

até ao Zimbabué, e a Linha de Goba,<br />

que liga Maputo à Linha Ferroviária<br />

suazilandesa. Estas três linhas são<br />

actualmente geridas pelos Caminhos-<br />

-de-Ferro de Moçambique (CFM).<br />

2011, a Vale concretizou o primeiro<br />

transporte de carvão para o porto da<br />

Beira, com destino ao Dubai. Mas a<br />

verdade é que, com uma capacidade<br />

de escoamento limitada a dois milhões<br />

de toneladas por ano, apesar de ser<br />

projectada para transportar seis milhões<br />

de toneladas, a linha de Sena fica aquém<br />

das necessidades da multinacional<br />

brasileira, cuja produção estimada ronda<br />

os 12 milhões de toneladas/ano e os 100<br />

milhões até 2<strong>02</strong>0.<br />

A modernização dos troços ferroviários<br />

que ligam o sul ao norte, a partir dos<br />

portos do país, é um desafio. Está já<br />

em curso a reconstrução das linhas<br />

Quelimane-Mocuba, no centro, e Xai-<br />

Xai-Chicomo, no sul de Moçambique,<br />

depois de concluída a reabilitação da<br />

linha de Ressano Garcia, com uma<br />

capacidade para suportar o transporte de<br />

14 milhões de toneladas por ano para a<br />

África do Sul, via porto de Maputo.<br />

A alternativa é a rodovia, mas a<br />

morosidade e o maior custo dificultam<br />

os timings e a rendibilidade dos<br />

investimentos. Por isso mesmo, a<br />

Vale não perdeu tempo e anunciou a<br />

construção de uma nova linha ferroviária<br />

para o transporte de carvão, a iniciar em<br />

2013. Será a ligação entre Moatize e o<br />

Porto de Nacala - uma infra-estrutura<br />

que irá atravessar o sul do Malawi numa<br />

extensão de aproximadamente 140 km<br />

de um total de 201 km - cuja construção<br />

estará a cargo da portuguesa Mota-Engil.<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

INFRA-ESTRUTURAS ASSOCIADAS<br />

A MEGAPROJECTOS<br />

TRADUZEM<br />

13 BILIÕES DE DÓLARES<br />

DE INVESTIMENTOS<br />

22%<br />

13%<br />

31%<br />

34%<br />

Valores em biliões de dólares<br />

% do investimento total em infraestruturas<br />

Fonte: IESE<br />

A viabilização do projecto, orçado em 1,7<br />

biliões de dólares, envolveu a celebração<br />

de um acordo de concessão entre a Vale<br />

e o Governo malawiano, que sossega os<br />

responsáveis brasileiros pela possibilidade<br />

de utilizar o porto de Nacala, que é o<br />

maior porto de águas profundas da África<br />

oriental e pode acolher todos os tipos de<br />

navios, ao contrário do porto da Beira,<br />

em que são necessárias dragagens.<br />

Por sua vez, a Riversdale, hoje controlada<br />

pela Rio Tinto, já tinha avançado com<br />

uma proposta de utilização do rio<br />

Zambeze, para complementar os meios<br />

de transporte do carvão em elevada escala,<br />

mas o Governo, para já, rejeitou a ideia.<br />

Próximos anos são decisivos<br />

Os próximos anos serão cruciais<br />

para avaliar o retorno dos avultados<br />

investimentos nas bacias carboníferas<br />

moçambicanas. As expectativas apontam<br />

para a duplicação do peso no PIB, o que<br />

irá contribiuir para uma aceleração do<br />

ritmo de crescimento superior a 10% em<br />

meados da década.<br />

Esta é a razão porque a capacidade<br />

de escoamento será determinante.<br />

A produção esperada para 2012 é de<br />

oito milhões de toneladas, mas deverá<br />

quintuplicar em três anos, precisamente<br />

quando deverá arrancar a linha férrea que<br />

partirá de Moatize até ao porto de Nacala<br />

via Malawi, recentemente anunciada pela<br />

Vale. Já a Rio Tinto deverá uitilizar o<br />

porto da Beira para exportar para a Índia<br />

o carvão extraído em Tete, sendo decisiva<br />

a conclusão das obras do terminal<br />

provisório no complexo ferro-portuário<br />

da Beira.<br />

Os últimos meses têm sido férteis<br />

em negociações para a construção de<br />

novas linhas ferroviárias, sobretudo no<br />

centro e norte de Moçambique. Para<br />

além da ligação de Moatize ao Malawi<br />

e à costa da Zambézia, os eixos Tete-<br />

Nampula e Tete-Nacala são centrais<br />

no plano de expansão moçambicano,<br />

cuja concretização carece ainda de um<br />

investimento significativo em material<br />

circulante.<br />

27


Bilateral<br />

Novo embaixador de Moçambique<br />

“Temos preferência<br />

pelos investidores<br />

portugueses”<br />

T Andreia Seguro Sanches e Manuela Sousa Guerreiro<br />

Jacob Jeremias Nyambir é,<br />

desde Outubro de 2011, o novo<br />

representante de Moçambique<br />

em Portugal, sucedendo a<br />

Miguel da Costa Mkaima, que<br />

cumpriu uma missão de seis anos<br />

em Lisboa. Nesta entrevista<br />

exclusiva à Empresas&Negócios,<br />

o embaixador fala das relações<br />

entre Portugal e Moçambique<br />

e do importante papel da CPLP<br />

no fortalecimento de laços de<br />

cooperação entre os Estados-<br />

-membros.<br />

Como vê o evoluir das relações entre<br />

Portugal e Moçambique?<br />

Há uma grande harmonia na relação<br />

entre os dois Estados, o que faz com que<br />

as relações económicas tenham evoluído<br />

satisfatoriamente, encontrando-se num<br />

período de grande expansão. Existe uma<br />

apreciação positiva do nosso mercado<br />

por parte dos empresários portugueses.<br />

Portugal é, actualmente, um dos maiores<br />

investidores em Moçambique e esse é<br />

claramente um sinal de que as relações<br />

económicas entre os dois países estão<br />

a atravessar um bom momento. Assim<br />

sendo, a cooperação é excelente.<br />

Portugal e Moçambique organizaram<br />

uma Cimeira Bilateral no ano<br />

passado. Que dossiês ficaram por<br />

discutir?<br />

É necessário que existam Cimeiras<br />

anuais, porque isso demonstra, de facto,<br />

que o nível de entendimento entre os dois<br />

países é elevado. As Cimeiras existem<br />

para que os dois chefes de Estado se<br />

encontrem e troquem opiniões sobre o<br />

que está a acontecer, não necessariamente<br />

para discutir dossiês. Fala-se dos acordos<br />

firmados nesse ano ou de outros que<br />

estejam em curso, de forma a alargar<br />

laços políticos e comerciais e a aproximar<br />

os dois países. Acredito que estamos em<br />

sintonia para elaborar mais contratos<br />

e acordos noutras áreas. A questão de<br />

Cahora Bassa era um assunto paralelo<br />

que já está a ser resolvido.<br />

Vê com bons olhos, nesse caso, a<br />

compra dos 7,5% da hidroeléctrica<br />

pela REN?<br />

Neste mundo global não temos opções.<br />

O nosso parceiro é aquele que nos paga,<br />

seja ele quem for! Moçambique é um país<br />

em construção, que tem atraído cada vez<br />

mais empresários portugueses. O que é<br />

que eles procuram?<br />

O que os portugueses mais procuram<br />

é uma parceria com empresários<br />

moçambicanos, para se sentirem à<br />

vontade e poderem impulsionar o seu<br />

negócio no nosso país. É bom que<br />

os empresários não estejam sós, mas<br />

sim com parceiros, porque mostram<br />

que estão a lutar lado a lado contra o<br />

subdesenvolvimento e a criar postos<br />

de trabalho. O que se verifica é que<br />

nem sempre existem empresários<br />

moçambicanos à altura para efectivar<br />

estas sociedades. No entanto, penso<br />

que os empresários portugueses têm,<br />

igualmente, de ter como objectivo formar<br />

moçambicanos, para que estes percebam<br />

o que é uma cultura empresarial.<br />

Os empresários portugueses<br />

procuram a Embaixada moçambicana<br />

28<br />

a revista que promove Moçambique


Bilateral<br />

para apresentar os seus negócios?<br />

Tem recebido muitas solicitações?<br />

Sim, temos sido muito solicitados e<br />

de forma muito positiva. A grande<br />

maioria quer saber qual a melhor forma<br />

de ir para o nosso país e, sem dúvida,<br />

é encontrando um parceiro local, que<br />

conheça bem a realidade moçambicana.<br />

Queremos empresários portugueses que<br />

sejam empreendedores e que vão para<br />

o nosso país criar emprego. Precisamos<br />

também de quadros superiores que<br />

tenham um bom know-how em sectores<br />

em que há uma exigência de saberes<br />

mais especializados. Penso que o nosso<br />

objectivo, mais do que promover, é<br />

facilitar, dar o apoio de que necessitam<br />

em termos de planificação, legislação,<br />

clarificação do modo de funcionamento<br />

da economia moçambicana e quais os<br />

principais agentes económicos.<br />

Como vê o papel de actores como a<br />

Câmara do Comércio Moçambique<br />

Portugal (CCMP)?<br />

Enquanto Embaixada privilegiamos<br />

e promovemos os contactos entre os<br />

Estados, os ministros e os grandes<br />

investidores. Mas, chega uma altura em<br />

que em vez de sermos nós a fazê-lo são<br />

os próprios portugueses e moçambicanos<br />

a fortalecer essas relações, criando,<br />

por exemplo, uma CCMP que é uma<br />

iniciativa de um grupo de empresários<br />

moçambicanos. Louvamos e encorajamos<br />

este tipo de iniciativas, que acabam por<br />

promover e facilitar os negócios entre<br />

os dois países. No entanto, aqui o nosso<br />

papel é diminuto ou quase inexistente.<br />

A nossa preocupação centra-se na<br />

Comunidade dos Países de Língua<br />

Portuguesa (CPLP), uma comunidade<br />

que reúne países que falam a mesma<br />

língua, que têm uma história comum<br />

e um pensamento comum, apesar das<br />

distâncias e das barreiras físicas. O facto<br />

de estarmos inseridos nesta comunidade é<br />

vital para a nossa economia.<br />

CPLP o desafio do futuro<br />

CPLP e SADC - Comunidade para o<br />

Desenvolvimento da África Austral -<br />

são duas realidades compatíveis?<br />

O que pretendemos é que Moçambique,<br />

enquanto membro também da CPLP,<br />

promova a nossa cultura na geopolítica<br />

onde se encontra a SADC. Portanto, há<br />

Jacob Jeremias Nyanbir com Nuno Tavares e Daniel David, delegado em Lisboa e presidente da CCMP,<br />

respectivamente<br />

“É preciso que as pessoas sintam a CPLP como algo<br />

que lhes pertence, com a qual se identificam e que<br />

representa uma mais-valia nas suas vidas”, sustenta<br />

o embaixador de Moçambique em Portugal<br />

compatibilidade. O nosso interesse é que<br />

os cerca de 250 milhões de falantes de<br />

língua portuguesa sejam o dobro daqui a<br />

50 anos, onde se incluem naturalmente<br />

povos da SADC. A recomendação que<br />

temos dado aos empresários que nos<br />

procuram é que em vez de olharem<br />

apenas para os cerca de vinte milhões de<br />

moçambicanos, tracem uma estratégia<br />

com o objectivo de entrarem num<br />

mercado muito mais vasto - à volta de<br />

250 milhões de pessoas. Acreditamos que<br />

Moçambique pode servir de trampolim<br />

para os empresários portugueses entrarem<br />

na SADC.<br />

Moçambique vai receber a Cimeira<br />

da CPLP em Julho. Fomentar as<br />

relações dentro da CPLP é uma das<br />

grandes prioridades do Governo<br />

moçambicano?<br />

Sim, sem dúvida. Mas antes temos de<br />

evoluir também internamente. Temos<br />

de cultivar a noção de país, porque nem<br />

todos os moçambicanos sabem falar do<br />

seu país. Alguns quando dizem a minha<br />

terra referem-se à sua povoação, ou ao seu<br />

distrito, ou à sua província. Nós queremos<br />

mudar isso. Queremos que as pessoas se<br />

sintam numa esfera global, que cresçam<br />

sabendo que Moçambique está integrado<br />

na SADC e na CPLP, que saibam tirar<br />

partido e que tenham orgulho. É preciso<br />

que as pessoas sintam a CPLP como algo<br />

que lhes pertence, com que se identificam<br />

e que representa uma mais-valia nas suas<br />

vidas.<br />

A CPLP comemorou já15 anos.<br />

Acha que já se construiu esse espaço<br />

de união?<br />

Ainda não. Ainda estamos numa fase<br />

embrionária mas temos dado passos<br />

firmes no reforço das relações entre os<br />

oito Estados-membros. Temos de ter em<br />

conta que, por exemplo, Moçambique<br />

tem apenas 35 anos, o que é muito pouco<br />

tempo para uma nação se consolidar.<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong> 29


Bilateral<br />

Por isso, ainda irá demorar a colher<br />

os seus frutos. Estamos a tratar em<br />

primeiro lugar do aspecto social, do<br />

factor humano, da solidariedade entre os<br />

povos, da amizade; queremos muito que<br />

os portugueses sejam solidários com o<br />

povo moçambicano. Pouco a pouco, com<br />

esse espírito de solidariedade, é possível<br />

pôr em prática o plano económico, fazer<br />

com que as pessoas prefiram e consumam<br />

produtos que vêm dos países membros.<br />

Isso não acontece de um dia para o outro,<br />

leva tempo. Mas posso garantir que a<br />

concertação política neste espaço tem<br />

tido progressos importantes.<br />

O investimento da Sumol+Compal<br />

é um bom exemplo daquilo que é<br />

possível fazer dentro da Comunidade<br />

no plano empresarial?<br />

Trata-se de um excelente exemplo, tendo<br />

em conta que Moçambique é um país<br />

em desenvolvimento e Portugal pode<br />

contribuir para esse desenvolvimento. A<br />

CPLP, feliz ou infelizmente, tem essas<br />

componentes, países desenvolvidos e<br />

países menos desenvolvidos. Os primeiros<br />

são um modelo a seguir e devem ajudar<br />

os outros a desenvolverem-se em várias<br />

vertentes.<br />

Que conselhos é que dá aos<br />

empresários que vão para<br />

Moçambique?<br />

O conselho que dou é o de que façam<br />

o esforço de nos compreender e que<br />

sigam a lógica do namoro. Ninguém<br />

vai confiar em quem não conhece, não<br />

há amores à primeira vista. Há sempre<br />

uma fase de namoro, de aprendizagem<br />

mútua. Portanto, é necessário um maior<br />

conhecimento por parte dos investidores<br />

portugueses da realidade moçambicana,<br />

bem como do mercado português<br />

por parte dos potenciais investidores<br />

moçambicanos. Temos preferência pelos<br />

portugueses, devido à língua e à nossa<br />

cultura, porque nos sentimos irmãos.<br />

Portugal é o terceiro maior<br />

investidor em Moçambique<br />

Apesar da grave crise económica e financeira, Portugal continua a ser um dos maiores<br />

investidores em Moçambique, como revelam os dados do Centro de Promoção de<br />

Investimentos (CPI). Em 2011, o volume de investimento português em Moçambique<br />

atingiu os 200 milhões de USD. Embora bastante diversificado, o investimento português tem<br />

incidido em sectores estruturantes para o desenvolvimento moçambicano, com destaque para<br />

a construção, a agricultura, a agro-indústria, a energia, o turismo e os transportes e comunicações,<br />

de que são exemplo os projectos do grupo Visabeira ou da Galp Energia. Portugal é<br />

neste momento o terceiro maior investidor no país, atrás da República Popular da China, que<br />

investiu acima dos 300 milhões de USD, e da África do Sul, com investimentos superiores a<br />

200 milhões de USD. De realçar que, em 2010, Portugal tinha-se afirmado como o maior<br />

investidor estrangeiro do país, mas as riquezas naturais de Moçambique e a sua localização<br />

privilegiada têm despertado o interesse de grandes potências económicas, com as quais<br />

Portugal tem dificuldade em competir, devido às dificuldades económicas que atravessa.<br />

O potencial de Moçambique está longe de esgotar e são diversos os sectores em expansão,<br />

desde a agricultura às minas, passando pelas infra-estruturas e a energia. Segundo os dados<br />

do CPI, o investimento directo estrangeiro em Moçambique atingiu os 5 mil milhões de USD,<br />

em 2011.<br />

30<br />

a revista que promove Moçambique


“Um sinal muito bom<br />

de Portugal”<br />

Bilateral<br />

Programa Indicativo e Cooperação Portugal-Moçambique<br />

T Andreia Seguro Sanches<br />

O documento, que rege a<br />

cooperação portuguesa para<br />

o quadriénio 2011-2014, foi<br />

firmado em Maputo pelos dois<br />

países. As prioridades centram-se<br />

no combate à pobreza e na boa<br />

governação.<br />

A cooperação entre os portugal<br />

e moçambique ganhou um novo<br />

impulso nos últimos anos, com o reforço<br />

das parcerias estratégicas nos planos,<br />

político, diplomático, económico e<br />

cultural.<br />

Moçambique é um país em<br />

desenvolvimento e pode ser uma<br />

plataforma importante para a projecção<br />

dos interesses portugueses na sua<br />

relação com as economias africanas. Já<br />

Portugal, vive uma crise económica que<br />

se traduz na retracção do investimento<br />

português no mundo. No entanto, é<br />

convicção do Governo português que<br />

essa condicionante não deve afectar os<br />

compromissos assumidos no contexto<br />

bilateral. O objectivo tem sido o de<br />

consolidar as várias esferas de cooperação<br />

mútua. Assim, e na continuidade dos<br />

programas anteriormente assumidos,<br />

Portugal e Moçambique assinaram, em<br />

Fevereiro último, o Programa Indicativo<br />

e Cooperação 2011-2014 (PIC),<br />

que contempla um apoio do Estado<br />

português no montante de 62 milhões de<br />

euros.<br />

Portugal mostra assim que conta com<br />

Moçambique como parceiro estratégico<br />

na sua política de internacionalização<br />

económica, tal como explicou o secretário<br />

de Estado dos Negócios Estrangeiros<br />

e Cooperação português, Luís Brites<br />

Pereira, após a assinatura dos acordos,<br />

em Maputo. “Há quem pense que, no<br />

momento difícil e exigente que Portugal<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

atravessa, a cooperação não devia ser a<br />

prioridade. Discordamos. Entendemos<br />

que é precisamente nestes momentos<br />

que temos de saber ser fiéis aos nossos<br />

amigos. Porque com o crescimento que<br />

Moçambique tem evidenciado, de certeza<br />

que é um país que vai atrair e acolher<br />

empresas portuguesas”.<br />

Luta contra a pobreza é fulcral<br />

O PIC assenta em duas áreas importantes<br />

para o desenvolvimento de Moçambique:<br />

a boa governação, participação e<br />

democracia; e o desenvolvimento<br />

sustentável e a luta contra a pobreza,<br />

para onde serão canalizados 80% dos<br />

fundos totais. A boa governação será<br />

contemplada com 18% e o designado<br />

‘cluster’ da Ilha de Moçambique, com<br />

uma intervenção complementar, receberá<br />

os 2% restantes do fundo.<br />

De acordo com o documento<br />

assinado, o PIC “introduzirá duas<br />

temáticas inovadoras, designadamente<br />

´Capacitação Científica e Tecnológica` e<br />

´Empreendedorismo e Desenvolvimento<br />

Empresarial`, que apresentam não apenas<br />

um elevado grau de complementaridade<br />

e potenciais sinergias com áreas<br />

tradicionais, de que são exemplos a<br />

Educação e a Capacitação Institucional,<br />

como promovem ainda alargados<br />

benefícios sociais e económicos”.<br />

Hoje a partilha de conhecimentos e<br />

experiências em diferentes domínios<br />

científicos e tecnológicos é fundamental<br />

na sociedade global em que vivemos,<br />

em que o acesso à informação e ao<br />

conhecimento são pedras-chave.<br />

A segunda temática procurará<br />

impulsionar e consolidar a área<br />

empresarial moçambicana para a criação<br />

de novos produtos e serviços, gerando<br />

riqueza e novos postos de trabalho,<br />

além de estimular a competitividade dos<br />

mercados e a economia local.<br />

Para além do PIC, durante os próximos três anos<br />

Portugal compromete-se ainda a apoiar o Orçamento<br />

de Estado de Moçambique com 1,5 milhões de euros<br />

anuais.<br />

Do ponto de vista geográfico, a<br />

cooperação portuguesa irá centrar-se nas<br />

províncias de Maputo, Sofala e Nampula.<br />

Para além do PIC, durante os próximos<br />

três anos, Portugal compromete-se ainda<br />

a apoiar o Orçamento de Estado de<br />

Moçambique com 1,5 milhões de euros<br />

anuais.<br />

Um esforço que foi reconhecido pelo<br />

Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros<br />

de Moçambique, Henrique Banze, que<br />

agradeceu este apoio directo: “achamos<br />

que é um sinal muito bom de Portugal”.<br />

31


Bilateral<br />

Estudo de oportunidades de negócio<br />

Sector alimentar tem<br />

potencialidades por explorar<br />

A caracterização do sector alimentar em Moçambique é objecto do estudo elaborado pela<br />

CESO CI para a Associação Industrial Portuguesa (AIP). Numa análise inédita, o documento<br />

identifica uma série de produtos que podem constituir oportunidades de negócio no mercado<br />

moçambicano, mas também os constrangimentos de um sector com muito para evoluir.<br />

T Paula Girão<br />

A caracterização do país levada<br />

a cabo pela CESO CI, mostra que<br />

as zonas privilegiadas de produção<br />

alimentar se situam no Norte e Centro<br />

(Províncias de Cabo Delgado, Niassa,<br />

Nampula, Zambézia, Tete, Sofala e<br />

Manica), por oposição às províncias do<br />

Sul (Inhambane, Gaza e Maputo), que<br />

representam as zonas de défice/ consumo.<br />

Já no que se refere aos produtos de<br />

consumo básico, que estruturam a dieta<br />

dos moçambicanos, estes são a mandioca<br />

(de produção nacional); o milho (de<br />

produção nacional); o arroz (produção<br />

nacional e importado); e o trigo<br />

(importado).<br />

A rede comercial dos produtos agrícolas<br />

é constituída maioritariamente por lojas<br />

rurais, comerciantes licenciados e não<br />

licenciados (barracas, tendas e vendedores<br />

ambulantes), armazenistas, importadores<br />

e exportadores. Muitas vezes, o mesmo<br />

comerciante realiza diversos tipos de<br />

comércio (a grosso e a retalho) no<br />

mesmo estabelecimento. No campo, a<br />

comercialização agrícola é principalmente<br />

assegurada pelos vendedores ambulantes<br />

e, nos produtos em que existe o sistema<br />

de concessionários ou de exclusividade<br />

IMPORTÂNCIA DOS ALIMENTOS<br />

BÁSICOS NA DIETA<br />

Arroz 7%<br />

Trigo 7%<br />

Milho<br />

22%<br />

Fonte: Estudo CESO CI<br />

Outros<br />

28%<br />

Mandioca<br />

36%<br />

zonal, estes utilizam a sua rede comercial.<br />

Em termos de mercado final,<br />

independentemente de serem ou não<br />

transformados ao nível nacional, os<br />

produtos agrícolas podem ser agrupados<br />

por mercadorias produzidas quase<br />

exclusivamente para o mercado externo,<br />

como o tabaco e o algodão; mercadorias<br />

produzidas quase em exclusivo para<br />

o mercado interno (arroz, mapira);<br />

e mercadorias produzidas para os<br />

mercados interno e externo (milho, caju,<br />

amendoim, feijões, entre outras).<br />

O mercado interno caracteriza-se por<br />

baixo poder de compra geral, devido à<br />

grande incidência de pobreza e ao facto<br />

de a maior parte da população viver no<br />

campo e produzir o básico para a sua<br />

alimentação. A baixa utilização da moeda<br />

reflecte, ainda, o uso do sistema de trocas<br />

como meio privilegiado para o acesso aos<br />

produtos.<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

33


Bilateral<br />

A população das vilas e cidades com<br />

emprego formal, em geral, detém maior<br />

poder de compra e, embora mantenha,<br />

por vezes, uma ligação com o campo<br />

através de familiares que produzem<br />

e ajudam na alimentação, apresenta<br />

maior propensão de compra de produtos<br />

agrícolas.<br />

As zonas urbanas são também abastecidas<br />

por importações que, em geral,<br />

concorrem com a produção nacional.<br />

As dificuldades nas vias de acesso e<br />

a baixa produtividade da agricultura<br />

tornam os produtos agrícolas nacionais<br />

pouco competitivos relativamente às<br />

importações.<br />

Aumentar a produtividade<br />

Não obstante os progressos registados<br />

em matéria de produção alimentar, a<br />

produtividade agrária mantém-se aquém<br />

de níveis satisfatórios, ao registar um<br />

défice em produtos alimentares básicos<br />

como o arroz, na ordem de 316 mil<br />

toneladas ,e no trigo, com um défice de<br />

470 mil toneladas.<br />

De acordo com o Estudo, o Balanço<br />

Alimentar Nacional aponta para a<br />

existência de défice de outros produtos<br />

alimentares básicos, tais como a batatareno<br />

(170 mil toneladas), frango (24<br />

mil toneladas), óleo alimentar (50 mil<br />

toneladas) e peixe (54 mil toneladas).<br />

Com o objectivo de mitigar os efeitos<br />

das situações deficitárias registadas<br />

em produtos básicos, o Governo está a<br />

implementar, desde 2008, programas<br />

específicos que visam o aumento<br />

sustentado da produção de milho, arroz,<br />

trigo, mandioca, batata-reno, oleaginosas,<br />

frango e peixe.<br />

A análise ao sector agro-industrial do país<br />

revela a existência de algumas fábricas de<br />

média ou grande capacidade em grande<br />

parte dos produtos agrícolas (moagens<br />

de milho, fábricas de descasque de<br />

arroz, fábricas de óleos e sabões, fábricas<br />

de algodão, entre outras) nos centros<br />

urbanos; a existência de fabriquetas rurais<br />

(moinhos de martelo, equipamento de<br />

descasque de arroz, prensas de óleo)<br />

espalhadas, principalmente, pelas zonas<br />

de maior produção; e a existência de<br />

matérias-primas ou condições básicas<br />

para a sua produção.<br />

A generalidade da rede de distribuição<br />

alimentar em Moçambique é ainda<br />

Défice de produção de principais alimentos que compõem a dieta dos moçambicanos<br />

Produtos Consumo Nacional Oferta Nacional Deficit/Exced (ton)<br />

Arroz 539 000 223 000 -316 000<br />

Trigo 472 500 3 000 -469 500<br />

Milho 1 656 000 1 732 000 76 000<br />

Mandioca 6 000 000 9 576 292 3 576 292<br />

Batata Reno 252 000 82 700 -169 300<br />

Frango 54 000 30 000 -24 000<br />

Peixe 54 000 0 -54 000<br />

Óleo Alimentar 50 400 0 -50 400<br />

Fonte:Estudo CESO CI<br />

incipiente, em virtude da ausência<br />

de poder de compra da maioria da<br />

população, quer seja nas zonas rurais quer<br />

nas zonas urbanas.<br />

Porém, a análise feita pela CESO CI<br />

avança que a economia moçambicana,<br />

impulsionada pelos megaprojectos e<br />

por um ciclo de exploração de recursos<br />

naturais que se abre, irá gerar, nas<br />

próximas décadas, um crescimento da<br />

classe média urbana, dotada de maior<br />

poder de compra e com hábitos de<br />

consumo que mudarão, sensivelmente, a<br />

procura por produtos alimentares.<br />

De acordo com o estudo “as<br />

oportunidades do futuro justificam,<br />

em nosso entender, um investimento<br />

no presente. Este investimento poderá<br />

iniciar-se com a exportação mas, a médio<br />

e longo-prazo, a presença das marcas e<br />

empresas portuguesas no mercado exigirá,<br />

inevitavelmente, localização industrial<br />

para fazer face à feroz concorrência<br />

nacional e regional que se avizinha.”<br />

Identificação das<br />

oportunidades de negócios<br />

O estudo CESO CI identificou mais de<br />

duas dezenas de produtos que configuram<br />

oportunidades por explorar. Mas há que<br />

ter em linha de conta aspectos como a<br />

competitividade e qualidade, bem como a<br />

concorrência regional.<br />

No segmento dos cereais, o documento<br />

destaca o arroz, o trigo e o milho; no<br />

leite e lacticínios, sobressaiem o leite e<br />

nata concentrados; no peixe a atenção<br />

vai para os congelados; na indústria de<br />

moagem para o malte e malte torrado;<br />

no segmento dos óleos animais e vegetais<br />

para o óleo de palma e suas fracções; e, na<br />

carne e miudezas estão contempladas as<br />

frescas, as refrigeradas ou congeladas das<br />

aves da posição 0105.<br />

Estes são segmentos em que a indústria<br />

portuguesa está tradicionalmente, com<br />

níveis satisfatórios de competitividade,<br />

pelo que, de acordo com o estudo,<br />

“o investimento na exploração destas<br />

oportunidades se afigura justificado”.<br />

A economia moçambicana, impulsionada pelos<br />

megaprojectos e por um novo ciclo de exploração<br />

de recursos naturais, irá gerar um crescimento<br />

da classe média urbana, com maior poder de<br />

compra e diferentes hábitos de consumo de produtos<br />

alimentares.<br />

34<br />

a revista que promove Moçambique


Moçambique<br />

já não é um mercado improvável<br />

Bilateral<br />

São empresas da área alimentar, vendem cada vez mais para Moçambique e este é<br />

hoje um dos seus mercados prioritários. O crescimento económico do país, aliado<br />

ao aumento do poder de compra da população e à melhoria das infra-estruturas,<br />

está a criar novas oportunidades de negócio num segmento em que os laços<br />

culturais e gastronómicos sãos aliados preciosos.<br />

T Manuela Sousa Guerreiro<br />

Imperial Chocolates<br />

“Moçambique é um mercado estratégico”<br />

O maior fabricante português de chocolate, detentor das principais marcas portuguesas,<br />

entrou em Moçambique há menos de um ano. Em pouco tempo conquistou uma<br />

posição importante nos diferentes segmentos. “Moçambique é para nós um mercado<br />

estratégico e de grande relevância, tem uma economia que está a crescer e uma classe<br />

média emergente. Fizemos um acordo com um importador local, a Tropigália, que<br />

tem desenvolvido um trabalho extraordinário, quer em termos de comunicação quer<br />

logístico, o que é um aspecto determinante do negócio. Estamos em todas as grandes<br />

cadeias de distribuição, em todo o canal de impulso e por todo o país”,<br />

sublinha Manuela Tavares de Sousa, administradora da Imperial.<br />

As principais marcas da Imperial, como a Jubileu, a Regina,<br />

Pintarolas ou Pantagruel são comercializadas no país e<br />

a receptividade do mercado não podia ter sido melhor.<br />

“Comercializamos em Moçambique uma gama muito<br />

diversificada e todos os produtos encontrarão espaço para crescer<br />

e desenvolver-se”,<br />

refere a responsável da<br />

Imperial.<br />

Por o negócio estar ainda<br />

numa fase inicial, Manuela Tavares<br />

de Sousa prefere não falar nos valores<br />

das exportações para Moçambique,<br />

sublinhando, contudo, que a breve trecho<br />

este será um mercado muito relevante<br />

para a empresa, a par de Angola, África<br />

do Sul, Brasil ou Venezuela, os principais<br />

mercados da Imperial.<br />

Ramirez<br />

Uma presença<br />

centenária<br />

É, provavelmente,<br />

a empresa<br />

conserveira mais<br />

antiga do mundo. A<br />

Ramirez iniciou a sua<br />

actividade em 1853 e há mais<br />

de 100 anos que tem ligações ao mercado<br />

moçambicano. “Temos uma presença<br />

muito forte em Moçambique, embora<br />

este não seja um dos nossos principais<br />

mercados em volume de vendas. Temos<br />

um importador que distribui as conservas<br />

por todo o país e também nos países<br />

limítrofes, incluindo a África do Sul”,<br />

refere Manuel Ramirez. Segundo<br />

o presidente executivo da Ramirez,<br />

Moçambique mudou muito nos últimos<br />

anos, sobretudo ao nível do poder de<br />

compra da sua população e também<br />

da apetência de certos segmentos por<br />

produtos inovadores. “Temos uma gama<br />

bastante vasta de 48 produtos e notamos<br />

um apetite do mercado pelas novidades.<br />

A qualidade do produto é também outro<br />

factor sobreavaliado pelo mercado”,<br />

sublinha Manuel Ramirez.<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

35


Tudo o que fazemos é Seguro<br />

Sede: Av. Kenneth Kaunda, 518<br />

Tel. : + 258 21 485 <strong>02</strong>0 /2<br />

Fax: + 258 21 488 760<br />

Cel.: + 258 84 324 2570<br />

+ 258 82 305 5141<br />

mcs@mcs.co.mz<br />

Maputo: Av. Julius Nyerere, 768 r/c<br />

Tel. : + 258 21 492 045<br />

Fax: + 258 21 492 053<br />

Cel.: + 258 84 398 9316<br />

balcaojnyerere@mcs.co.mz<br />

Beira: Centro Bulha, Loja 3 r/c<br />

Rua Major Serpa Pinto<br />

Tel. : + 258 23 326 805<br />

Fax: + 258 23 326 823<br />

Cel.: + 258 82 386 5010<br />

balcaobeira@mcs.co.mz


Sovena<br />

Presença local<br />

é meta a médio prazo<br />

“Estamos há alguns anos em<br />

Moçambique com a marca de azeite<br />

“Andorinha”, uma marca que o<br />

grupo adquiriu em 2004 e que já é<br />

comercializada há várias décadas no<br />

país. Estamos também presente com a<br />

marca Oliveira da Serra, azeite<br />

e azeitonas, e com a marca<br />

Fula, nos óleos alimentares.<br />

Ao longo dos anos temos<br />

feito um caminho de<br />

desenvolvimento que tem<br />

acompanhado a própria<br />

evolução do mercado”, conta<br />

Rute Parreira, da direcção<br />

de marketing. Assim, para além<br />

da típica lata de azeite, um produto<br />

tradicional deste tipo de mercado, hoje<br />

Moçambique consome toda a variedade<br />

da gama, “não só a que é destinada para<br />

cozinhar, mas também para temperar ou<br />

degustar”.<br />

O crescimento do volume de vendas<br />

anuais reflecte esta evolução. “Todos os<br />

anos, praticamente, temos duplicado<br />

as vendas em Moçambique. Este é um<br />

mercado que se está<br />

a transformar muito<br />

rapidamente num<br />

dos nossos principais<br />

mercados de exportação”,<br />

refere Rute Parreira.<br />

A par da evolução do<br />

país, dos laços históricos e do<br />

crescimento, quer em dimensão quer em<br />

número, das superfícies de retalho, Rute<br />

Parreira sublinha ainda a importância<br />

do estabelecimento da parceria com<br />

um importador local, Tropigália, com<br />

conhecimento do mercado e com<br />

dimensão nacional.<br />

O próximo passo poderá passar pelo<br />

reforço de uma presença local, não<br />

Bilateral<br />

estando afastada a possibilidade de um<br />

investimento numa unidade industrial<br />

para embalamento do produto. “Nos<br />

últimos anos o Grupo Sovena tem<br />

crescido muito através de aquisições<br />

e estabelecimento de parcerias no<br />

estrangeiro e Moçambique pode ser o<br />

próximo mercado. Um investimento<br />

local justifica-se quando há um<br />

crescimento do mercado, mas quem<br />

investe em Moçambique tem que olhar<br />

obrigatoriamente também para os países<br />

da SADC”, reflecte Rute Parreira.<br />

Uma presença industrial local não seria<br />

uma novidade para a Sovena, que já teve<br />

uma primeira experiência com a Fasol em<br />

Moçambique.<br />

PROBAR<br />

Herança cultural é uma mais-valia<br />

Há oito anos que a Probar comercializa os<br />

seus produtos em Moçambique, no âmbito<br />

de uma parceria com um importador local,<br />

a Tropigália.<br />

Enlatados (salchichas, chouriço e refeições<br />

tipicamente portuguesas) ou produtos<br />

de charcutaria refrigerada têm hoje uma<br />

grande procura neste mercado.<br />

“Moçambique é o nosso segundo mercado,<br />

no seio dos grupos dos países africanos<br />

de língua portuguesa, o primeiro é<br />

Angola. No conjunto, estes mercados<br />

são já responsáveis por 10% das nossas<br />

vendas e a tendência é para aumentar. A<br />

internacionalização é estratégica para a<br />

Probar”, sublinha Cecílio Baptista, director<br />

comercial. No total a empresa exporta para quase duas dezenas de países. Depois de Angola e de Moçambique, a Probar quer crescer<br />

no Brasil e em Timor. Em comum estes países têm a herança portuguesa, que se reflecte nos hábitos de consumo e de alimentação.<br />

“Este é um factor que não podemos descurar. Existe uma preferência clara pelo produto português, em detrimento do de outras<br />

nacionalidades, e pelo que é tipicamente português. Estes factores são uma clara mais-valia num mercado que se está a expandir<br />

e a atrair outros players”, reflecte Cecílio Baptista. Segundo o mesmo responsável, a empresa está também atenta à evolução e ao<br />

crescimento da distribuição moderna e às oportunidades de negócio que ela potencia.<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

37


empresas & Negócios<br />

Sumol+Compal<br />

investe em unidade<br />

industrial em Boane<br />

O grupo nascido da fusão entre a Sumol e a Compal escolheu Moçambique para<br />

implementar a sua primeira unidade fabril fora de Portugal, num investimento de<br />

oito milhões de euros. Está aberta a porta para o mercado da SADC.<br />

T Andreia Seguro Sanches<br />

Desde Março que a<br />

Sumol+Compal, empresa portuguesa<br />

a actuar no sector das bebidas não<br />

alcoólicas, é detentora de uma unidade<br />

industrial nos arredores de Maputo. Este<br />

é o primeiro investimento, de um total<br />

de cerca de oito milhões de euros (10,4<br />

milhões de USD), que a empresa espera<br />

realizar para desenvolver a sua actividade<br />

em Moçambique, com o objectivo de<br />

assegurar a produção local de alguns<br />

produtos da marca. “A primeira fase é a<br />

de aquisição de uma unidade industrial<br />

nos arredores de Maputo e que servirá<br />

de ponto de partida para produzirmos<br />

as nossas marcas de sumos, sobretudo<br />

da marca Compal, em Moçambique”,<br />

referiu Duarte Pinto, Presidente<br />

da Comissão Executiva da empresa<br />

portuguesa. Duarte Pinto explicou à<br />

Empresas&Negócios que a curto e médio<br />

prazos não há intenção de criar uma<br />

marca própria. Vamos utilizar a marca<br />

Compal, assegurando o mesmo padrão<br />

de qualidade e os mesmos requisitos que<br />

exigimos à marca em Portugal ou em<br />

qualquer outro ponto do globo”, reiterou.<br />

Trata-se da primeira unidade industrial<br />

do grupo empresarial fora de Portugal,<br />

o que representa um importante passo<br />

na internacionalização da empresa,<br />

que espera conquistar assim novos<br />

mercados no continente africano.<br />

Como salientou Duarte Pinto, “este é<br />

um projecto desafiante. Queremos ser<br />

uma referência na produção de bebidas<br />

de fruta no mercado da Comunidade<br />

de Desenvolvimento da África Austral<br />

(SADC), tendo por base a nossa<br />

plataforma de Moçambique”.<br />

A empresa espera com este investimento<br />

entrar num mercado que está claramente<br />

em crescimento e que representa cerca de<br />

170 milhões de consumidores.<br />

Localizada em Boane, a operação<br />

ficará integrada na subsidiária da<br />

Sumol+Compal Moçambique SA,<br />

constituída para o efeito. Na fase<br />

de arranque, esta contará com “uma<br />

participação de 100% da Sumol+Compal,<br />

estando prevista a venda de participações<br />

que, conjuntamente, representem até 25%<br />

do capital daquela sociedade a sócios<br />

locais”, adiantou.<br />

A fábrica, que deverá começar a laborar<br />

no final do segundo semestre deste ano,<br />

vai criar cerca de 80 postos de trabalho<br />

nesta primeira fase.<br />

Produção pode vir a ser local<br />

Com uma capacidade de produção de 30<br />

milhões de litros de sumo por ano (70%<br />

dos quais serão exportados para os países<br />

limítrofes à luz do protocolo comercial<br />

da SADC, que isenta as mercadorias<br />

de direitos aduaneiros), a fábrica irá<br />

“Queremos ser uma referência na produção de<br />

bebidas de fruta no mercado da Comunidade de<br />

Desenvolvimento da África Austral (SADC), tendo<br />

por base a nossa plataforma de Moçambique”,<br />

sustenta Duarte Pinto, CEO da Sumol+Compal<br />

38<br />

a revista que promove Moçambique


empresas & Negócios<br />

produzir apenas sumos de fruta durante<br />

os primeiros tempos de actividade.<br />

“Este é um projecto de raiz, por isso<br />

não sabemos como exactamente é que o<br />

mercado vai reagir. No entanto, os testes<br />

piloto dão-nos a garantia de que vamos<br />

merecer a confiança do consumidor<br />

moçambicano, de uma série de outros<br />

países que compõem a SADC”, salientou.<br />

O director sublinhou que irá ser<br />

incorporada a mais moderna tecnologia<br />

nesta fábrica, com linhas semelhantes às<br />

utilizadas em Portugal, e sempre tendo<br />

em conta os altos padrões de qualidade.<br />

“Acreditamos que podemos fazer em<br />

Moçambique produtos com o mesmo<br />

nível” sustenta.<br />

Questionado sobre as potencialidades<br />

de Moçambique no sector frutícola e<br />

sobre a possibilidade de a totalidade da<br />

exploração ser feita no país, o director<br />

referiu que, inicialmente, a integração<br />

da fileira da fruta não faz parte das<br />

intenções, mas, assim que a produção<br />

local e mesmo regional consiga assegurar<br />

a quantidade e qualidade exigidas, a<br />

matéria-prima será adquirida localmente.<br />

“Este negócio precisa de escala, fruta<br />

num determinado nível de quantidade<br />

que necessita ser processada. Só depois<br />

de nos certificarmos que existe essa<br />

quantidade de fruta disponível no<br />

mercado, e que esta cumpre os requisitos<br />

de qualidade a que estamos habituados, é<br />

que podemos avançar para esse cenário.<br />

Mas posso afirmar que estamos a<br />

estudar soluções que possam potenciar<br />

a incorporação de fruta moçambicana<br />

neste projecto”, sublinhou o responsável,<br />

que admitiu a possibilidade de alguma<br />

fruta tropical, como é o caso da manga<br />

ou do maracujá, actualmente importada<br />

pelas fábricas em Portugal, poder vir a ser<br />

adquirida em Moçambique.<br />

Internacionalização<br />

como pedra de toque<br />

Em Portugal, a Sumol+Compal é<br />

líder do mercado nacional de bebidas<br />

não alcoólicas. A produção é feita<br />

exclusivamente no país, nas fábricas<br />

localizadas em Almeirim, Pombal,<br />

Gouveia e Vila Flor, as quais concentram<br />

a produção de bebidas - sumos, néctares,<br />

refrigerantes sem gás e produção de<br />

vegetais enlatados, derivados de tomate,<br />

concentrado de tomate e polpas de<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

Ministro moçambicano<br />

satisfeito com o que viu<br />

A<br />

convite da Sumol+Compal, uma delegação liderada<br />

pelo Ministro moçambicano da Planificação<br />

e Desenvolvimento, Aiuba Cuereneia, e pela<br />

CCMP, visitou, em Fevereiro último, a fábrica de Almeirim.<br />

Aiuba Cuereneia ficou extremamente agradado com todo o<br />

processo de controlo de qualidade da empresa, a qual será<br />

igualmente garantida em Moçambique, como explicou Duarte<br />

Pinto. O Ministro está convicto de que a actividade da Sumol+Compal<br />

poderá impulsionar, ainda mais, o desenvolvimento da agricultura no país. “Este projecto<br />

é uma mais-valia para Moçambique, porque coloca-nos um grande desafio no que diz<br />

respeito à organização da nossa agricultura, já que os produtores de fruta estão dispersos,<br />

o que irá obrigar a uma melhor organização e comunicação entre todos, tanto na<br />

produção como no processo de transporte”, salientou.<br />

fruta. Entre as marcas detidas pela<br />

Sumol+Compal contam-se a Sumol,<br />

Compal, B!, Um Bongo, Frize, Água<br />

Serra da Estrela e Tagus.<br />

Presente em 68 países, entre os quais<br />

Moçambique e Angola, a Sumol+Compal<br />

acredita que o motor do seu crescimento<br />

económico cada vez mais se centra<br />

nos mercados internacionais, face à<br />

conjuntura adversa que se vive em<br />

Portugal. O ano passado as vendas para<br />

os mercados internacionais atingiram<br />

os 80 milhões de euros, mais 30% que<br />

os 61,6 milhões de euros registados em<br />

2010. “Este desempenho vem premiar<br />

a continuada aposta da Sumol+Compal<br />

em levar produtos inovadores, que<br />

incorporam matéria-prima portuguesa,<br />

a um número crescente de mercados<br />

internacionais”, rematou Duarte Pinto.<br />

39


empresas & Negócios<br />

Ernst & Young Moçambique<br />

Líder na prestação de serviços<br />

de auditoria no país<br />

O forte investimento realizado na formação e qualificação dos<br />

quadros é o ‘segredo’ mais bem guardado do sucesso da Ernst&Young<br />

Moçambique e a fonte de sustentação da sua liderança em todos as<br />

áreas de negócio.<br />

T Cristina Casaleiro<br />

Constituída há 20 anos, a<br />

Ernst &Young Moçambique é líder<br />

incontestada do mercado no domínio<br />

da prestação de serviços de auditoria<br />

e consultoria no país, onde já estão<br />

presentes todas as ‘Big 4’ – como<br />

são conhecidas as quatro maiores<br />

multinacionais de consultoria e auditoria<br />

a nível mundial –, e emprega 130 pessoas,<br />

121 das quais nacionais.<br />

Há quatro anos consecutivos reconhecida<br />

como a ‘Melhor Empresa de Auditoria’<br />

em Moçambique pela PMR África com<br />

a categoria ‘Diamante’, a mais elevada<br />

das distinções atribuídas pela consultora<br />

de origem sul africana, a empresa está<br />

bem posicionada “em todos os sectores<br />

de actividade em que actua, desde a<br />

indústria açucareira, aos megaprojectos<br />

mineiros e petrolíferos, à hotelaria e<br />

turismo, passando pela construção civil<br />

e por empresas públicas”, avança Ismael<br />

Faquir, Country Managing Partner.<br />

A par dos serviços de Auditoria<br />

(incluídos na divisão Assurance), que<br />

contribuem para perto de 65% do volume<br />

de negócios total, a Ernst & Young<br />

Moçambique presta também serviços<br />

em mais três grandes áreas de negócio:<br />

Tax, Advisory e Transactions, áreas<br />

estas em que predominam clientes do<br />

sector financeiro ou as grandes empresas<br />

multinacionais da indústria mineira e do<br />

petróleo e gás que estão a operar no país.<br />

A área de negócio Assurance abarca<br />

ainda a assessoria em contabilidade e<br />

relato financeiro, bem como a análise<br />

de riscos de fraude (financeira), entre<br />

outros. Os serviços do Tax, por sua vez,<br />

incluem a consultoria fiscal tanto na<br />

vertente de apoio no planeamento de<br />

estratégias fiscais sustentáveis e alinhadas<br />

com o negócio, como na perspectiva de<br />

assegurar o cumprimento da legislação e<br />

quadros normativos do país e de normas<br />

internacionais aplicáveis.<br />

A consultoria em gestão, em especial<br />

em gestão organizacional e viabilização<br />

financeira de projectos, é o ponto forte da<br />

área de negócio Advisory.<br />

“Melhorar o desempenho dos negócios<br />

e reduzir os custos são os grandes<br />

objectivos das empresas nos dias de<br />

hoje em qualquer país do mundo e<br />

Moçambique não é excepção. Aqui<br />

também a Ernst & Young pode ajudar<br />

as empresas com a seu know-how e<br />

a sua capacidade de aproveitamente<br />

da experiência dos mais de 152 mil<br />

profissionais espalhados pela rede a nível<br />

global. Temos a capacidade de criar<br />

equipas multi-disciplinares experientes<br />

que trabalham em conjunto com o<br />

cliente e estão focadas em transformar e<br />

melhorar o desempenho do seu negócio<br />

com resultados tangíveis”, acrescenta<br />

o responsável máximo da Ernst &<br />

Young em Moçambique. E reitera,<br />

“sendo uma firma global, temos sempre<br />

a possibilidade de recorrer a equipas<br />

em todo o mundo e transferir para cá o<br />

know-how necessário para concretizar<br />

qualquer projecto em função das<br />

necessidades dos clientes”. No entanto,<br />

o apoio de colegas de outros escritórios<br />

é cada vez mais pontual e incide sobre<br />

projectos de carácter multidisciplinar e<br />

multinacional.<br />

40<br />

a revista que promove Moçambique


empresas & Negócios<br />

Qualificação de<br />

quadros é prioritária<br />

Aliás, é sem hesitação que Ismael Faquir<br />

mostra como está verdadeiramente<br />

orgulhoso da aposta que a empresa tem<br />

feito na formação e qualificação dos<br />

recursos humanos nacionais ao longo<br />

dos vinte anos que já leva de existência.<br />

“Eu próprio represento bem o resultado<br />

dessa aposta, pois entrei para a firma há<br />

13 anos como consultor júnior e neste<br />

momento sou o Country Managing<br />

Partner. Em 1991, quando a empresa<br />

foi constituída, havia uma grande<br />

dependência de escritórios estrangeiros,<br />

em especial do de Lisboa; hoje em dia<br />

temos o suporte de técnicos estrangeiros<br />

somente em algumas áreas, como a de<br />

auditoria e certificação de contas, que é<br />

a maior área de negócio da firma, pelos<br />

requisitos que exige e por não termos<br />

a quantidade de técnicos oficiais de<br />

contas, com a qualificação necessária<br />

para responder à procura. São os quadros<br />

locais que melhor conhecem a realidade<br />

do mercado e os que estão melhor<br />

posicionados estão para apoiar os clientes<br />

locais. Complementarmente contamos<br />

também com o apoio de colaboradores<br />

expatriados, que apoiam não só na<br />

formação de quadros locais mas também<br />

na disseminação de políticas globais<br />

da firma de acordo com os padrões<br />

internacionais. O processo de selecção<br />

dos quadros expatriados pressupõe<br />

também que estes se identifiquem com a<br />

realidade do país.”<br />

O crescimento da actividade,<br />

impulsionado pelo crescimento do<br />

país e, em especial, pelas actividades<br />

de mineração e do petróleo e gás,<br />

traz novos desafios à Ernst & Young<br />

Moçambique. Mais uma vez, avança<br />

o Country Managing Partner, “há que<br />

investir nas pessoas, em ter pessoas<br />

qualificadas e capazes para trabalhar<br />

nas áreas que são significativas para o<br />

desenvolvimento do país. E, sobretudo,<br />

temos de ter capacidade para responder<br />

qualitativamente à cada vez maior<br />

exigência de qualidade por parte dos<br />

clientes. A formação de colaboradores<br />

em escritórios parceiros noutros países,<br />

designadamente na África do Sul e em<br />

Inglaterra, a participação em programas<br />

de mobilidade ou o investimento<br />

na formação académica (cursos de<br />

O crescimento da actividade, impulsionado pelo<br />

crescimento do país e, em especial, das actividades de<br />

mineração e do petróleo e gás, traz novos desafios à<br />

Ernst &Young Moçambique.<br />

contabilidade e auditoria) são exemplos<br />

de acções que temos vindo a concretizar<br />

e em que vamos continuar a apostar<br />

fortemente no futuro. Além disso,<br />

mantemos critérios muito rigorosos<br />

de selecção e uma política activa de<br />

retenção de talentos. Por norma,<br />

contratamos juniores e investimos na<br />

sua formação, tanto na vertente de<br />

aquisição de competências técnicas como<br />

organizacionais e comportamentais.<br />

E note-se que os níveis de exigência<br />

são claramente superiores hoje em<br />

dia. Há planos individuais de carreira,<br />

planos anuais de desempenho que são<br />

comunicados no início de cada ano e<br />

que são avaliados no final desse período.<br />

A progressão na carreira depende da<br />

avaliação do desempenho individual<br />

de cada um e essa avaliação é apoiada<br />

por métricas que ajudam a reduzir o<br />

grau de subjectividade, tornando o<br />

processo transparante, na medida em<br />

que as pessoas têm a oportunidade de<br />

ser avaliadas e de discutir a sua avaliação.<br />

Inclusive, acreditamos que é por isso<br />

que a firma tem um nível de retenção de<br />

talentos que chega até a ser ‘anormal’, se<br />

compararmos com outras organizações.<br />

No Tax, a taxa de retenção é de 100% e<br />

no Advisory é de 90%. Na Auditoria, a<br />

equipa de managers é a mesma desde há<br />

cinco anos”, conclui Ismael Faquir.<br />

A par do profissionalismo e da exigência<br />

com a qualidade dos serviços prestados,<br />

a Ernst & Young rege-se por outros<br />

dois princípios fundamentais: o da<br />

integridade e ética, que fazem parte<br />

do ADN da firma a título mundial e<br />

implicam, inclusive, a análise prévia de<br />

clientes e projectos para averiguação de<br />

eventual conflito de interesses. A regra é<br />

a de que não podem existir conflitos de<br />

interesses e nada pode pôr em causa a<br />

independência da firma.<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

41


empresas & Negócios<br />

Modernização do desalfandegamento<br />

Janela Única Electrónica<br />

agiliza processos<br />

A Janela Única é um instrumento que permite uma melhoria substancial do desempenho,<br />

o aumento das receitas e o combate à fraude nas alfândegas de Moçambique. Para<br />

além destas valias, esta aplicação electrónica desburocratiza os processos relativos ao<br />

desalfandegamento das mercadorias e reduz o tempo de espera.<br />

T Paula Girão<br />

Através da Janela Única<br />

Electrónica ( JUE) os importadores<br />

passam a ter a possibilidade de submeter<br />

a declaração aduaneira e pagar todas<br />

as imposições via banca comercial,<br />

mesmo antes do desembarque efectivo<br />

das mercadorias, o que irá contribuir<br />

para a redução substancial do tempo de<br />

desalfandegamento.<br />

Além de permitir a submissão de<br />

informação uniformizada através de<br />

um único ponto de contacto entre a<br />

Autoridade Tributária (AT) e os utentes<br />

aduaneiros, a Janela Única vai igualmente<br />

eliminar a múltipla digitação de dados<br />

em diferentes sistemas; reduzir erros,<br />

manipulação de dados e a necessidade<br />

de produção de cópias, carimbos e selos,<br />

bem como a quantidade de passos dados<br />

em toda a cadeia de desembaraço de<br />

mercadorias.<br />

De igual modo, a nova facilidade vai<br />

permitir a centralização de dados,<br />

melhorando a qualidade das estatísticas<br />

económicas, além de introduzir modelos<br />

de trabalho mais eficientes e acelerar a<br />

produção e tratamento da documentação<br />

comercial. Em última instância, os novos<br />

procedimentos vão conduzir à redução<br />

drástica do tempo de desembaraço<br />

aduaneiro das mercadoriais e aumentar<br />

substancialmente as receitas do Estado.<br />

Com esta solução, Moçambique tornou-<br />

-se no primeiro país da África Austral a<br />

implementar um sistema informático de<br />

desembaraço de mercadorias nos portos<br />

do país.<br />

O projecto da Janela Única prevê a<br />

implementação de duas componentes<br />

informáticas, nomeadamente, o sistema<br />

integrado de gestão aduaneira, através<br />

“A instalação do sistema da Janela Única<br />

Electrónica já está a decorrer no Porto da Beira”<br />

Arrecadação fiscal<br />

Para um universo de mais de 95 milhões de meticais de arrecadação fiscal prevista para<br />

o Orçamento do Estado, este ano, as Alfândegas de Moçambique representam 36%,<br />

equivalendo à previsão de colecta anual de mais de 35 milhões de meticais, ou seja<br />

mais de um terço da carteira global de arrecadação do país, segundo anunciou, em Maputo,<br />

a presidente da Autoridade Tributária de Moçambique.<br />

Rosário Fernandes fez este pronunciamento no decurso do segundo encontro do Fórum da<br />

Janela Única Electrónica (JUE), que reuniu, em Março, diversos operadores do comércio internacional<br />

envolvidos no desembaraço aduaneiro.<br />

42<br />

a revista que promove Moçambique


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(sul), Dondo (Centro) e Nacala (norte)<br />

produzimos cimento portland<br />

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de conteúdos, presta consultoria em comunicação a<br />

empresas e/ou organizações e concebe, desenvolve<br />

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Trabalhamos com Moçambique há mais de 20 anos.<br />

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empresas & Negócios<br />

1 2<br />

Objectivos<br />

Janela Única<br />

1. Aires Ali, Primeiro-Ministro inaugura oficialmente o sistema da Janela Única Electrónica (JUE)<br />

2. Da esq. p dir.: Gestor da Equipa de Implementação da JUE presta explicações ao Primeiro-Ministro,<br />

ao Ministro das Finanças e à governadora da Cidade de Maputo, Lucília Hama, durante a cerimónia de<br />

inauguração da JUE<br />

do qual as alfândegas irão administrar<br />

de forma exclusiva todas as operações<br />

aduaneiras, e o sistema electrónico<br />

de interligação dos operadores,<br />

TRADENET, que vai estabelecer a<br />

ligação com todos os intervenientes no<br />

processo de desembaraço de mercadorias<br />

e as entidades utilizadoras da informação<br />

estatística resultante da tramitação<br />

aduaneira.<br />

De acordo com Rosário Fernandes,<br />

presidente da Autoridade Tributária de<br />

Moçambique (AT) “a rede de transmissão<br />

da Janela Única, gerida pela empresa<br />

MCNet (Mozambique Community<br />

Network), parte da submissão<br />

electrónica do manifesto de carga e<br />

respectiva declaração às alfândegas<br />

pelos despachantes ou donos da<br />

mercadoria, processamento, pagamentos,<br />

inspecção até à gestão da saída dos bens<br />

importados.”<br />

A MCNet é detida em 60% pelo<br />

consórcio Escopil, Lda. e SGS, pelo<br />

Estado e pela Confederação das<br />

Associações Económicas (CTA) com<br />

20% cada.<br />

O projecto, cujos trabalhos preparatórios<br />

se iniciaram em 2006, deverá estar a<br />

funcionar em pleno até ao final de 2012,<br />

no Terminal Internacional Marítima<br />

(TIMAR) de Maputo, que serviu de teste<br />

piloto à Janela Única.<br />

JUE chega à Beira, Tete e Nacala<br />

Nos primeiros dois meses deste ano, as<br />

Alfândegas de Moçambique colectaram<br />

cerca de 103 milhões de meticais na<br />

TIMAR-Terminal Internacional<br />

Marítima no Porto de Maputo, um<br />

montante que resulta da submissão de<br />

234 despachos através da Janela Única<br />

Electrónica ( JUE).<br />

Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />

Este montante corresponde a 13,36%<br />

por cento da receita colectada pela<br />

TIMAR, local onde decorre a fase<br />

piloto do sistema de desembaraço<br />

célere de mercadorias, segundo revelou<br />

Romano Manhique, chefe da equipa<br />

de implementação da Janela Única<br />

Electrónica, no decurso do VI Seminário<br />

Nacional Sobre a Execução da Política<br />

Fiscal e Aduaneira, recentemente<br />

realizado em Maputo.<br />

Na altura, Romano Manhique salientou<br />

que “o sistema da Janela Única<br />

Electrónica na TIMAR está pronto para<br />

entrar na fase de utilização obrigatória”.<br />

“Agora estamos a avançar para as regiões<br />

centro e norte do país, onde já decorre o<br />

processo de instalação de equipamentos<br />

no Porto da Beira”.<br />

Neste porto, operadores de diversas<br />

áreas de actividade de comércio externo<br />

baseados na província de Sofala, no<br />

centro de Moçambique, estiveram a ser<br />

formados no âmbito da implementação<br />

e operacionalização da Janela Única<br />

Electrónica, de modo a utilizarem em<br />

pleno a nova tecnologia.<br />

Para além da instalação no porto da<br />

Beira, foram efectuados os levantamentos<br />

das necessidades infra-estruturais quer<br />

em Nacala quer em Tete, incluindo<br />

as respectivas fronteiras, uma vez<br />

que estes são locais onde se situam<br />

grandes empresas, para as quais é vital<br />

a utilização deste sistema electrónico<br />

de desalfandegamento de mercadorias,<br />

devido à acumulação de grandes<br />

volumes de despachos de importação<br />

de equipamentos. A implementação do<br />

sistema em Tete e Nacala está prevista<br />

para o início de Maio.<br />

Romano Manhique referiu-se,<br />

igualmente, aos encontros da equipa<br />

• Criar uma plataforma electrónica<br />

centralizada de desalfandegamento;<br />

• Eliminar a múltipla digitação de<br />

dados em diferentes sistemas;<br />

• Reduzir erros e manipulação de<br />

dados;<br />

• Reduzir a necessidade de produção<br />

de cópias, carimbos e selos;<br />

• Reduzir o número de passos em toda<br />

a cadeia de desembaraço;<br />

• Centralizar os dados, melhorando a<br />

qualidade das estatísticas económicas;<br />

• Introduzir modelos de trabalho mais<br />

eficientes;<br />

• Introduzir a normalização e harmonização<br />

de processos;<br />

• Acelerar a produção e tratamento da<br />

documentação comercial;<br />

• Reduzir drasticamente o tempo de<br />

desembaraço nos portos, aeroportos,<br />

fronteiras;<br />

• Aumentar a receita do Estado;<br />

• Reduzir o custo de fazer negócios<br />

em Moçambique.<br />

de implementação da Janela Única<br />

Electrónica, em curso, com os diversos<br />

sectores das Alfândegas e outras<br />

instituições, incluindo Ministérios, para<br />

a recolha de informações destinadas ao<br />

desenho e configuração de módulos da<br />

segunda fase do sistema.<br />

“As funcionalidades e módulos desta<br />

fase do projecto incluem os de gestão<br />

de importação de produtos petrolíferos,<br />

módulos de gestão de armazém de leilões,<br />

módulos de gestão de ofensas, módulos<br />

de ministérios e agências de controlo,<br />

destinados à gestão de emissão de<br />

autorizações e licenças de importação e<br />

exportação por estas entidades”, indicou.<br />

De referir que vários Bancos comerciais<br />

nacionais, designadamente o BCI e o<br />

Millennium bim, efectuaram já testes<br />

de sincronização dos seus sistemas<br />

informáticos com a Janela Única<br />

Electrónica para o registo e validação dos<br />

pagamentos de imposições aduaneiras<br />

efectuados nas suas agências.<br />

45


Foi notícia<br />

Assinados acordos bilaterais<br />

no sector da Energia<br />

Portugal e Moçambique assinaram, em<br />

Maputo, um Plano de Acção no domínio<br />

de energias novas e renováveis, que estabelece<br />

os parâmetros da cooperação<br />

entre os dois países durante o triénio<br />

2012-2014, designado por Projecto<br />

de Desenvolvimento Regional de Transporte<br />

de Energia entre o Centro e o Sul<br />

(CESUL).<br />

O acordo foi assinado pelo Ministro<br />

moçambicano da Energia, Salvador<br />

Namburete, e pelo do secretário de<br />

Estado português da Energia, Artur Trindade,<br />

no âmbito do evento organizado<br />

pela ADENE – Agência para Energia de<br />

Portugal, Energyn, AICEP e pela Câmara<br />

de Comércio Moçambique-Portugal<br />

(CCMP). Este programa de cooperação,<br />

que surge em sequência do recente<br />

acordo de venda do remanescente do<br />

capital que Portugal detinha na Hidroeléctrica<br />

de Cahora Bassa (HCB), visa<br />

escoar, para o sul de Moçambique, a<br />

energia gerada no vale do Zambeze.<br />

O projecto deverá estar operacional a<br />

partir de 2017.<br />

Portugal vai também levar a cabo a<br />

implementação de vários projectos<br />

ao nível das infra-estruturas, como é<br />

o caso do projecto da espinha dorsal<br />

(que envolve maioritariamente capitais<br />

portugueses); da instalação duma grande<br />

rede de transportes, que vai ligar os<br />

centros electrocutores aos centros de<br />

consumo e a outros países da região<br />

austral de África; do fornecimento e distribuição<br />

de 1600 lâmpadas de baixo<br />

consumo e, ainda, a iluminação de 50<br />

aldeias através de energia solar.<br />

O evento contou também com a presença<br />

do presidente da CCMP, Daniel<br />

David, que na sua intervenção salientou<br />

que ‘‘o crescimento de qualquer economia<br />

deve ser sustentável e, para que<br />

isso aconteça, é necessário que haja<br />

políticas que apoiem o desenvolvimento,<br />

quer sejam políticas a nível de investimento<br />

quer sejam a nível de políticas<br />

sectoriais do Governo’’.<br />

46<br />

Moçambique é pilar<br />

de crescimento da Galp<br />

A afirmação foi proferida pelo CEO da petrolífera portuguesa, Manuel Ferreira de<br />

Oliveira, durante a visita que fez a Moçambique no início de Maio.<br />

O CEO destacou que as recentes descobertas de gás natural na bacia de Rovuma<br />

contribuíram para reforçar o potencial do país e colocá-lo atrás do Brasil como pilar<br />

de crescimento da Galp Energia. “As novas descobertas mostraram-se determinantes,<br />

tendo aumentado o potencial estimado de gás natural”, disse o presidente executivo<br />

da petrolífera, reforçando: “Moçambique será o nosso segundo pilar de crescimento,<br />

pois temos um projecto gigantesco na bacia de Rovuma”.<br />

No decorrer deste ano, o consórcio que integra a Galp Energia pretende perfurar<br />

quatro poços adicionais na bacia de Rovuma, de modo o inferir o potencial de recursos<br />

no complexo Mamba. “A localização é ideal para levar o gás para os mercados<br />

mais competitivos, que, neste momento, estão no Extremo Oriente”, sublinhou.<br />

Galp-Búzi exporta biodiesel<br />

Moçambique vai começar a exportar biodiesel para a Europa através da multinacional<br />

portuguesa Galp-Búzi. O envio do primeiro lote de 100 toneladas deste óleo<br />

está previsto na após a campanha agrícola de 2013-2014.<br />

Segundo a imprensa local, os campos experimentais situam-se nas regiões de Búzi,<br />

em Sofala, em Chimoio, na província de Manica, e em Mocuba, na Zambézia.<br />

Até 2<strong>02</strong>0, o país espera exportar uma média de 400 toneladas/ano, existindo,<br />

actualmente, um trabalho de campo intenso no fomento desta cultura de rendimento<br />

junto dos operadores do sector familiar.<br />

SIC e STV<br />

estabelecem<br />

parceria<br />

Francisco Pinto Balsemão, presidente<br />

da Impresa, dona do canal de televisão<br />

português SIC, e Daniel David, presidente<br />

do grupo SOICO, do qual faz parte<br />

a STV, assinaram em Abril um protocolo<br />

de cooperação entre as duas televisões.<br />

O acordo terá uma vigência de<br />

dois anos e abrange as áreas editorial,<br />

comercial e técnica. Na área editorial,<br />

a cooperação entre as duas estações<br />

televisivas poderá traduzir-se na<br />

produção de conteúdos. “[Este acordo]<br />

insere-se na nossa estratégia de internacionalização.<br />

É uma empresa que tem<br />

tido um bom percurso em Moçambique<br />

e tem uma boa postura em termos de<br />

independência editorial. Em matéria de<br />

programas acredito que possam surgir<br />

projectos em comum”, afirmou à imprensa<br />

Francisco Pinto Balsemão.<br />

Por sua vez, Daniel David, salientou o<br />

reforço da cooperação nas áreas de<br />

formação e técnica. “Espero que esta<br />

parceria se revele ganhadora para as<br />

duas instituições, que possa haver transferência<br />

de know-how mas que seja<br />

também uma oportunidade para o grupo<br />

Impresa expandir os seus negócios para<br />

Moçambique”, reforçou o presidente do<br />

grupo SOICO.<br />

a revista que promove Moçambique


GLobo DiSTRibuiDoRA, LDA.<br />

A Globo Distribuidora, Lda., sedeada em Maputo,<br />

Moçambique, é uma empresa fornecedora de<br />

serviços de transporte, logística e distribuição<br />

internacional. Transporta e agencia carga de e para<br />

Moçambique e em trânsito no país, assegurando<br />

o seu transporte de forma rápida e segura desde<br />

o ponto de origem até ao destino de entrega.<br />

A Globo Distribuidora, Lda. é membro da ‘Iniciativa<br />

Logística do Corredor de Maputo’ (MCLI) e da ACIS<br />

desde 2009 e da CCMP desde 2011.<br />

Trabalha com agentes e sub agentes<br />

internacionais, em regime de não exclusividade,<br />

na Europa (Dinamarca, Noruega, Suécia,<br />

Alemanha, Bélgica, Holanda, Reino Unido, França,<br />

Portugal, Espanha, Suíça e Itália); América do<br />

Norte (EUA e Canadá) ; América do Sul (Brasil,<br />

Argentina e Chile), Ásia (Japão, China, Coreia<br />

do Sul, Singapura, Tailândia, Indonésia, Malásia<br />

e Vietname), Médio Oriente (Emirados Árabes<br />

Unidos, Arábia Saudita e Índia), Austrália e África<br />

(RSA, Angola, Zimbabwe, Zâmbia, Malawi, Quénia,<br />

Tanzânia, Camarões, Maurícias e Madagáscar.<br />

Em Janeiro de 2012, a Globo Distribuidora, Lda.<br />

foi selecionada por um novo agente da Dinamarca<br />

para organizar, a partir do Porto da Beira, a<br />

logística referente ao transporte de equipamentos<br />

solares e dispositivos médicos para abastecer<br />

o Malawi, o Zimbabwe e a Zâmbia. A empresa<br />

venceu também o contrato para o transporte<br />

e gestão logística das mercadorias em trânsito<br />

entre Maputo, a República da África do Sul<br />

e a Suazilândia.<br />

Em Julho de 2011 a Movitel adjudicou à Globo<br />

Distribuidora o contrato de gestão logística global<br />

de um dos seus principais projectos a nível<br />

nacional.<br />

Email: gdl.geral@tdm.co.mz.com<br />

LoGíSTiCA, TRAnSpoRTES E FRETES inTERnACionAiS<br />

A Globo Distribuidora, Lda. assegura que qualquer carga é transportada desde<br />

o seu ponto de origem até ao destino final, de forma segura e no mais curto<br />

espaço de tempo.<br />

A empresa fornece diversos serviços:<br />

• Logística, despacho internacional<br />

• Coordenação do transporte por vias marítima, aérea e terrestre para qualquer<br />

tipo de bens não proíbidos<br />

• Coordenação de importação/exportação regular de carga seca e animais vivos<br />

• Coordenação de grandes e pequenos projectos de manuseamento de carga<br />

• Distribuição em todo o território moçambicano<br />

• Transporte de carga para e de países vizinhos por estrada<br />

e caminho-de-ferro<br />

Globo Distribuidora, Lda.<br />

Sede: Av. do Trabalho, 94-r/c – Maputo – Moçambique<br />

Tel: +258 214 <strong>02</strong>13 / Fax: +258 214 <strong>02</strong>137<br />

Contactos: jchiboleca@globodistribuidora.co.mz<br />

achiboleca@globodistribuidora.co.mz<br />

rlambo@globodistribuidora.co.mz<br />

ctchamo@glodistribuidora.co.mz<br />

jmanhique@globodistribuidora.co.mz<br />

Representada por: João Chiboleca – Director Geral • Contacto. +258 823 153 230


Foi notícia<br />

REN concorre a<br />

megaprojecto de energia<br />

A portuguesa Rede Eléctrica Nacional (REN) entrou na corrida, a par<br />

com a brasileira Electrobras, a sul-africana Eskom e a francesa EDF,<br />

pelo megaprojecto de energia em Moçambique (CESUL), que compreende<br />

o transporte de energia do centro para o sul do país.<br />

Avaliado em 2,5 mil milhões de USD (cerca de 1,9 mil milhões de euros),<br />

o projecto vai ser desenvolvido pela futura Sociedade Nacional<br />

de Transporte de Energia Eléctrica, na qual o Estado moçambicano<br />

deterá 51%, ficando os outros 49% à mercê das outras empresas.<br />

A REN pretende garantir a maior parcela, de forma a ser a segunda<br />

maior accionista do projecto.<br />

Segundo informou o presidente da Electricidade de Moçambique<br />

(EDM), Augusto Fernando, à imprensa, “o Governo está neste momento<br />

a tentar harmonizar as propostas de modo a apurar a empresa que irá<br />

ficar com a maior fatia dos 49%, para depois passar então à fase de<br />

implementação, tendo em conta que esta linha deve estar associada<br />

aos projectos de Mphanda Nkuwa e Cahora Bassa norte”.<br />

200 mil<br />

toneladas<br />

anuais de<br />

algodão<br />

O Governo de Moçambique definiu<br />

como meta, para 2<strong>02</strong>0, a produção de<br />

200 mil toneladas de algodão. O anúncio<br />

foi feito pela Ministro da Agricultura,<br />

José Pacheco, no final da reunião<br />

que teve com produtores e compradores<br />

para negociar o preço do algodão a<br />

vigorar na campanha de 2012-2013.<br />

Actualmente, o volume de produção<br />

situa-se nas 77 mil toneladas, mas as<br />

expectativas são as de que atinja as<br />

85 mil toneladas de algodão caroço<br />

nessa campanha, o que representará um<br />

crescimento de 20%.<br />

Moçambique exporta para mercados<br />

como a China, a Índia, Singapura, Tailândia<br />

e outros países asiáticos cerca<br />

de 40 milhões de USD anuais.<br />

Amorim cria empresa<br />

de exploração agrícola<br />

Américo Amorim, um dos homens que mais tem investido em Moçambique<br />

nos últimos anos, vai constituir uma nova empresa de exploração<br />

agrícola no país, para a produção e comercialização de<br />

produtos agrícolas, importação de máquinas e outras actividades.<br />

Para isso, o também accionista da Galp e do Banco Único (onde<br />

entrou, em 2010, com 43 milhões de euros, em parceria com a Visabeira),<br />

acelerou o investimento na concessão de vários terrenos<br />

destinados à actividade.<br />

COTUR vence<br />

prémio<br />

A agência de viagens COTUR foi<br />

premiada pelas Linhas Aéreas de Moçambique,<br />

em Maputo, como a melhor<br />

agência de viagens do país e aquela<br />

que mais passagens LAM vendeu em<br />

2011.<br />

48<br />

a revista que promove Moçambique


Olhar para Moçambique como um país<br />

de oportunidades e dinamizar<br />

a sua actividade comercial e indústria através de<br />

captação de investimentos estruturantes para a<br />

economia nacional; olhar Moçambique como um<br />

país com esperança, com vontade de fazer bem<br />

e capaz de se internacionalizar.<br />

Estratégia<br />

Missão<br />

Implementar e desenvolver iniciativas que<br />

contribuam para a dinamização<br />

e promoção das relações sócioeconomicas<br />

entre Moçambique e Portugal, que garanta a<br />

dinâmica dos empresários moçambicanos através<br />

da associação e parcerias com empresários<br />

portugueses em Moçambique, em Portugal e no<br />

resto da Europa<br />

Visão<br />

Ser uma associação de referência no<br />

estabelecimento de relações comerciais<br />

entre Moçambique e Portugal.<br />

Uma câmara de comércio ao serviço<br />

de dois países e dos seUs empresários<br />

Moçambique<br />

Av. 25 de Setembro, 1123,<br />

Prédio Cardoso, 4º Andar, Flat C<br />

Maputo, Moçambique<br />

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