E&Negocios_02
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Moçambique posiciona-se<br />
na geopolítica<br />
da energia<br />
Semestral • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
Cimeira da CPLP Imobiliário atrai investimento Janela Única Electrónica
Aluguer de máquinAs<br />
de construção<br />
CoNStruCtioN PlaNt hirE<br />
Estamos sempre consigo!<br />
EStalEiroS EM MaPuto, BEira,<br />
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nos chamam, ajudando na construção de edificios, estradas, pontes, minas,<br />
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o nosso pequeno contributo para o desenvolvimento do país.<br />
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Fazer crescer<br />
ainda mais a ponte<br />
Editorial<br />
A Câmara de Comércio Moçambique-<br />
-Portugal celebra, este mês, dois anos da<br />
sua criação. É um pequeno pedaço de<br />
tempo no tamanho, mas considerável na<br />
caminhada feita rumo ao objectivo de<br />
apoiar e promover o desenvolvimento<br />
das relações empresariais mutuamente<br />
vantajosas entre os dois países.<br />
Ao olharmos para o nosso percurso<br />
nestes dois anos, regozijamo-nos de<br />
termos alcançado alguns dos objectivos<br />
estratégicos a que nos propusemos:<br />
aumentámos significativamente o número<br />
dos nossos associados, promovemos<br />
diversas acções de aproximação<br />
entre empresários moçambicanos e<br />
portugueses, através de conferências e<br />
seminários, visando promover as relações<br />
comerciais e de investimento entre os<br />
fazedores de negócios de ambos os países.<br />
Igualmente participámos em várias feiras<br />
de negócios, visitámos outras associações<br />
empresariais, assinámos protocolos<br />
de cooperação com várias instituições<br />
nacionais e estrangeiras com o objectivo<br />
de estreitar relações empresariais. Neste<br />
aspecto, destaque para a parceria que<br />
acordámos com a Fundação Malonda,<br />
para apoiar a captação de novos<br />
investimentos para a província do Niassa,<br />
e para o protocolo que firmámos com<br />
a Câmara de Comércio e Indústria<br />
Portugal-Angola.<br />
Um momento singular, nestes dois<br />
anos, foi a homenagem ao Presidente<br />
da República, Armando Guebuza. O<br />
gesto da Câmara pretendeu sublinhar<br />
o incansável papel do estadista<br />
moçambicano na promoção da<br />
cooperação entre Moçambique e Portugal<br />
e no estreitamento da ponte entre Lisboa<br />
e Maputo, ao longo dos últimos anos.<br />
Neste momento que iniciamos o terceiro<br />
ano do nosso mandato, queremos<br />
reiterar o compromisso de continuar<br />
a crescer, a congregar mais membros<br />
e promover mais iniciativas de âmbito<br />
empresarial, que contribuam para apoiar<br />
ou facilitar negócios entre os empresários<br />
“Queremos reiterar o compromisso de continuar a<br />
crescer, a congregar mais membros e promover mais<br />
iniciativas de âmbito empresarial, que contribuam<br />
para apoiar ou facilitar negócios entre os empresários<br />
moçambicanos e portugueses.”<br />
moçambicanos e portugueses, criando,<br />
assim, a prosperidade necessária para os<br />
cidadãos dos dois países.<br />
Nesta edição da Empresas&Negócios<br />
damos destaque à crescente importância<br />
que Moçambique está a adquirir na<br />
geopolítica da energia. Os recursos<br />
energéticos do país são substanciais<br />
e diversificados, desde os fósseis,<br />
como as reservas de gás natural e de<br />
carvão, às fontes renováveis (como a<br />
hidroelectricidade, a eólica, a solar e<br />
geotérmica) e estão a atrair os maiores<br />
operadores mundiais do sector.<br />
E não é apenas uma questão de<br />
investimento estrangeiro e de impacto<br />
das exportações de carvão e gás no<br />
crescimento da economia que está em<br />
causa ou mesmo de melhoria da rede de<br />
produção e distribuição de electricidade<br />
no país. Moçambique poderá vir a<br />
beneficiar muito mais com as receitas<br />
fiscais oriundas destes megaprojectos,<br />
assim as autoridades prossigam a revisão<br />
dos sistemas fiscais e de benefícios que<br />
lhes são aplicáveis. A taxa fiscal aplicada<br />
às mais-valias resultantes da venda da<br />
Cove Energy à Shell é disso exemplo.<br />
Nesta edição, destacamos igualmente a<br />
pujança que o sector imobiliário está a<br />
ter, em especial na cidade de Maputo,<br />
em consonância com o dinamismo<br />
e incremento da nossa economia,<br />
assim como a nova estratégia de<br />
desenvolvimento do sector do turismo,<br />
considerado a indústria do século XXI,<br />
e, ainda, os investimentos que estão a ser<br />
realizados em infra-estruturas rodo-<br />
-ferroviárias nos principais corredores<br />
de desenvolvimento.<br />
O lançamento da segunda edição desta<br />
revista Empresas&Negócios é mais uma<br />
prova do que queremos ser e fazer pelos<br />
empresários e pelo país.<br />
Daniel David<br />
Presidente de Direcção da CCM-P<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
1
Sumário<br />
01 Editorial<br />
04 espaço ccmp<br />
Tema de capa<br />
08 Moçambique posiciona-se<br />
na geopolítica da energia<br />
entrevista<br />
14 Domingos Simão Pereira,<br />
Secretário Executivo da CPLP<br />
14<br />
Entrevista a Domingos Simão pEreira<br />
Cimeira da CPLP<br />
aguardada com expectativa<br />
A capital moçambicana recebe em Julho a IX Cimeira de Chefes de<br />
Estado da Comunidade de Países de Língua Portuguesa<br />
Economia<br />
18 Imobiliário atrai investimento<br />
20 Potencial agrícola do país<br />
ganha novo fôlego<br />
22 Moçambique, um destino turístico<br />
de excelência<br />
24 APIT serão pontos focais<br />
para alocação de recursos<br />
26 Transportes são factor crítico<br />
para aposta energética<br />
Bilateral<br />
28 Entrevista ao Embaixador<br />
de Moçambique em Portugal<br />
31 “Um sinal muito bom de Portugal”<br />
33 Sector alimentar tem<br />
potencialidades por explorar<br />
35 Moçambique já não<br />
é um mercado improvável<br />
Empresas & Negócios<br />
38 Sumol+Compal<br />
40 Ernst & Young Moçambique<br />
42 Janela Única Electrónica<br />
46 Foi Notícia<br />
18<br />
Imobiliário atrai<br />
investimento<br />
A dinâmica económica do país está a atrair novos<br />
investimentos à capital e o sector imobiliário é um<br />
dos principais beneficiários<br />
33<br />
Sector alimentar<br />
tem potencialidades<br />
por explorar<br />
A caracterização do sector alimentar em<br />
Moçambique é o objecto do estudo elaborado<br />
pela CESO CI<br />
Revista Empresas & Negócios #<strong>02</strong> || Maio 2012<br />
Propriedade Câmara de Comércio Moçambique Portugal<br />
Director Daniel David Edição Editando – Edição e Comunicação, Lda. Editora Cristina<br />
Casaleiro Redacção e compilação de dados Andreia Seguro Sanches, Fátima<br />
Azevedo, Manuela Sousa Guerreiro e Paula Girão Design Filipa Andersen produção<br />
Filipa Andersen e Vasco Costa Publicidade Maria do Carmo Santos, Cristina Lopes e Isabel<br />
do Carmo Fotografia Arquivo Editando, arquivo CFM (cortesia) e DR Impressão IDG<br />
– Imagem Digital Gráfica Distribuição Gratuita aos sócios da CCMP, entidades oficiais e<br />
empresariais em Moçambique e Portugal | É interdita a reprodução total ou parcial por quaisquer<br />
meios de textos, fotos e ilustrações sem a expressa autorização do editor | Tiragem 3000<br />
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Moçambique<br />
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mcarmo@editando.pt • www.editando.pt<br />
2<br />
a revista que promove Moçambique
espaço CCMP<br />
Balanço da actividade<br />
Ao longo do ano anterior e já em 2012, a Câmara de Comércio Moçambique-Portugal promoveu<br />
e esteve presente em várias iniciativas empresariais. Estas acções visam o desenvolvimento e<br />
estreitamento de relações comerciais e de investimento entre os diversos actores que trabalham em<br />
prol do crescimento das economias de Moçambique e Portugal. Com os objectivos traçados no Plano<br />
de Actividades para 2011, a CCMP propunha-se atingir, através da sua actividade, o reconhecimento<br />
nacional e internacional como organismo de referência no âmbito das relações entre os dois países.<br />
Da esq. para a dir.: Secretário Geral da Frelimo,<br />
Filipe Paunde, Primeiro-Ministro, Aires Ali,<br />
Governadora da Cidade de Maputo, Lucilia<br />
Hama e Presidente do Conselho Constitucional,<br />
Hermenegildo Gamito<br />
13 Setembro 2011 Gala Empresarial Moçambique Portugal em<br />
homenagem ao Presidente da República de Moçambique, Armando<br />
Emílio Guebuza, na qualidade de Presidente Fundador Honorífico<br />
da CCMP. Esta condecoração surge em reconhecimento ao<br />
impulso que Sua Excelência o Sr. Presidente da República de<br />
Moçambique deu através do convite formulado aos empresários<br />
moçambicanos e a orientação no sentido de criar sinergias entre<br />
a classe empresarial moçambicana e portuguesa.<br />
Neste evento a CCMP contou com cerca de 400 convidados,<br />
entre os quais membros do Governo moçambicano, Diplomacia<br />
moçambicana e portuguesa, membros associados e outros<br />
convidados.<br />
Entrega da salva de prata a S. Exa. o Presidente da República<br />
Momento de confraternização durante a actuação da Banda Kakana<br />
4<br />
a revista que promove Moçambique
espaço ccmp<br />
13 Outubro 2011<br />
Participação na iniciativa<br />
conjunta da AIP, AICEP e<br />
BES ‘Portugal Exportador<br />
2011’, no Centro de<br />
Congressos da FIL, em<br />
Lisboa. O espaço da<br />
CCMP contou com mais<br />
de 150 visitantes, que<br />
procuravam informação<br />
sobre as oportunidades<br />
de investimento no<br />
mercado moçambicano<br />
nas diferentes áreas de<br />
actuação e o papel da<br />
Câmara como promotor<br />
de investimentos.<br />
29 Novembro 2011 A Câmara de Comércio Moçambique-Portugal e a<br />
Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola (CCIPA) assinaram em<br />
Lisboa um memorando de entendimento que visa a realização de acções<br />
conjuntas que fomentem a cooperação tripartida entre empresas e<br />
empresários dos três países lusófonos: Angola, Moçambique e Portugal.<br />
2 Dezembro 2011 Jantar<br />
de gala para troca de<br />
experiências entre a Câmara<br />
de Comércio Moçambique-<br />
-Portugal (CCMP), Câmara<br />
de Comércio Moçambique-<br />
-Brasil (CCMOBRA), Câmara<br />
de Comércio e Indústria<br />
Moçambique-África do Sul<br />
(CCIMOSA) e a Câmara de<br />
Comércio Moçambique-<br />
-Estados Unidos da América,<br />
que teve lugar no Serena<br />
Polana Hotel.<br />
13 Janeiro 2012 Participação da CCMP na reunião anual das Câmaras de Comércio Portuguesas<br />
e a Confederação Internacional de Empresários Portugueses (CIEP), na presença do Ministro dos<br />
Negócios Estrangeiros português, Paulo Portas. A reunião foi consagrada com uma audiência com o<br />
Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva.<br />
13 Janeiro 2012 CCMP assina protocolo<br />
com a Associação Comercial de Lisboa<br />
– Câmara de Comércio e Indústria<br />
Portuguesa (ACL-CCIP). O acordo visa<br />
desenvolver as acções de capacitação<br />
empresarial tendentes à promoção de<br />
oportunidades de investimento e projectos<br />
de parceria em Moçambique.<br />
12 a 17 Fevereiro 2012 CCMP apoiou, a par com a CTA, a Feira Tektonica<br />
Moçambique, organizada pela AIP – Associação Industrial Portuguesa. O evento teve<br />
lugar no Centro de Congressos Joaquim Chissano, em Maputo, e teve como objectivo<br />
mostrar produtos e serviços no ramo da Construção, Imobliliária e Segurança. Destaque<br />
para a visita do Vice-Ministro das Obras Públicas e Habitação, Francisco Pereira, no dia<br />
da inauguração.<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
5
espaço CCMP<br />
Da esq. para a dir.: Aiuba Cuereneia, Ministro da Planificação e do<br />
Desenvolvimento de Moçambique, Carlos Morais, Presidente do SISAB<br />
e Álvaro Santos Pereira, Ministro da Economia de Portugal<br />
27 a 29 de Fevereiro 2012 Participação na maior plataforma<br />
de negócios para o exportação do sector alimentar e bebidas<br />
de Portugal – SISAB 2012. A CCMP mobilizou cerca de<br />
25 empresários moçambicanos, liderados pelo Ministro<br />
da Planificação e Desenvolvimento de Moçambique, Aiuba<br />
Cuereneia, para o evento, que teve lugar no Pavilhão Atlântico,<br />
em Lisboa. O evento contou com a participação de 400<br />
empresas produtoras portuguesas e cerca de 1200 importadores<br />
oriundos de 83 países.<br />
15 Março 2012<br />
Jantar empresarial<br />
subordinado ao<br />
tema ‘Do consumidor<br />
ao agricultor’,<br />
realizado 2 dias<br />
após a assinatura da<br />
escritura do Projecto<br />
Sumol+Compal<br />
em Moçambique<br />
e contou com<br />
o Presidente da<br />
Comissão Executiva<br />
do Grupo, Duarte<br />
Pinto, como orador.<br />
6<br />
a revista que promove Moçambique
espaço ccmp<br />
16 Março 2012 Assinatura do protocolo<br />
de cooperação com a Fundação<br />
Malonda. A Câmara de Comércio<br />
Moçambique-Portugal (CCMP) vai apoiar<br />
a captação de novos investimentos<br />
para a província de Niassa, à luz do<br />
acordo assinado com a entidade criada<br />
pelos governos de Moçambique e da<br />
Suécia para promover o desenvolvimento<br />
empresarial nesta província do Norte do<br />
país.<br />
19 Abril 2012 Assinatura de memorando de entendimento entre a Câmara de Comércio<br />
Moçambique Portugal, a Couto, Graça & Associados – Sociedade de Advogados, o<br />
grupo SOICO e o Banco Português de Investimento (BPI), com o objectivo de mapear,<br />
em coordenação com o Ministério da Planificação e Desenvolvimento, projectos de<br />
investimento para pequenas e médias empresas em todo o país.<br />
04 Maio 2012 A Câmara de Comércio Moçambique Portugal reuniu-se em<br />
Assembleia Geral para avaliar o desempenho durante o exercício de 2011<br />
e perspectivar as acções a desenvolver durante o corrente ano.<br />
1 a 6 Maio 2012 Participação no evento<br />
‘Parceiros para a Energia’, promovido<br />
pela ADENE (Agência para a Energia),<br />
onde estiveram presentes o secretário<br />
de Estado da Energia de Portugal, Artur<br />
Trindade, o Ministro da Energia de<br />
Moçambique, Salvador Namburete, a<br />
presidente do Fundo de Energia, Miquelina<br />
Menezes e o presidente CCMP, Daniel<br />
David, entre outros participantes.<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
7
Tema de capa<br />
Moçambique posiciona-se<br />
na geopolítica da energia<br />
As sucessivas descobertas de<br />
gás natural aguçam o apetite dos<br />
principais actores internacionais,<br />
num contexto em que o gás ganha<br />
espaço no mercado mundial<br />
de energia. Na idade de ouro<br />
do gás, as potencialidades<br />
de Moçambique na área das<br />
renováveis sugerem mais ambição<br />
na estratégia de diversificação<br />
da estrutura produtiva e de um<br />
desenvolvimento mais inclusivo.<br />
T Fátima Azevedo<br />
O investimento no sector da<br />
energia, recursos minerais e<br />
infra-estruturas associadas<br />
representa 2/3 do investimento privado<br />
em Moçambique, 3/4 do produto<br />
industrial e 2/3 das exportações de bens<br />
e serviços. Uma tendência que se vem<br />
reforçando ao longo dos últimos dez<br />
anos e que deverá intensificar-se com<br />
o aumento da produção e exportação.<br />
Mas esta dependência amplifica o<br />
desafio de diversificar a base produtiva e<br />
garantir uma articulação com as restantes<br />
actividades económicas e, sobretudo, uma<br />
distribuição equitativa do acréscimo de<br />
receitas.<br />
Os recursos são substanciais, desde<br />
os fósseis (gás natural e carvão) às<br />
renováveis (hidroelectricidade, solar,<br />
eólica, geotérmica), mas a distribuição é<br />
desigual e o acesso é consideravelmente<br />
fraco. Apenas 17% da população tem<br />
acesso a electricidade e 90% da produção<br />
eléctrica depende de Cahora Bassa, o<br />
que abre oportunidades para o reforço<br />
das energias renováveis, mormente a<br />
hidroelectricidade, na matriz energética.<br />
Assim, o governo moçambicano enfrenta,<br />
acima de tudo, três desafios: aumentar<br />
o acesso à electricidade, enquanto<br />
procura mitigar os impactos ambientais<br />
associados aos fósseis; aumentar a<br />
produção e consumo de electricidade; e<br />
promover projectos de energia orientados<br />
para a exportação.<br />
BHP Billiton, Vale do Rio Doce,<br />
8<br />
a revista que promove Moçambique
tema de capa<br />
Riversdale, Kenmare, Sasol e Anadarko<br />
estão entre os maiores investidores<br />
internacionais dos chamados<br />
megaprojectos, que superam os 87,5<br />
biliões de dólares.<br />
As potencialidades energéticas localizadas<br />
em Moçambique e o dinamismo<br />
subjacente à exploração de recursos estão<br />
a aguçar o apetite dos grandes operadores<br />
internacionais, sobretudo depois das<br />
recentes descobertas de gás natural e<br />
carvão.<br />
Dois gigantes no carvão<br />
No cluster energético, a extracção,<br />
produção e exportação de carvão são<br />
pilares da estratégia de crescimento<br />
de Moçambique. A brasileira Vale<br />
Para lá de Tete?<br />
Se Tete é a província-rainha da exploração<br />
de carvão para exportação,<br />
estudos recentes, como o da Economist<br />
Intelligence Unit, sinalizam o potencial<br />
das reservas da província de Niassa numa<br />
escala semelhante à de Tete. Actualmente,<br />
o epicentro da prospecção é o distrito de<br />
Maniamba, onde actuam sete empresas,<br />
entre as quais a Vale e a Rio Tinto. Os<br />
brasileiros têm já em curso um estudo de<br />
viabilidade de uma mina de fosfatos, em<br />
Monapo, na província de Nampula, com<br />
vista à apresentação de uma proposta de<br />
investimento às autoridades moçambicanas.<br />
Ainda em Tete, no final de 2011, foram<br />
descobertos depósitos com dois biliões de<br />
toneladas de carvão mineral pela Eta Star<br />
Moçambique, uma joint-venture da Eta Star,<br />
sediada no Dubai, e as empresas moçambicanas<br />
Minas do Zambeze e Índico Investments.<br />
De acordo com Mohamed Sathak,<br />
director-geral da concessionária, a maioria<br />
dos recursos estará a uma profundidade até<br />
300 metros, o que torna mais acessível a<br />
mineração a céu aberto. A empresa visa<br />
uma produção mineira de cinco milhões<br />
de toneladas, 2/3 das quais em carvão<br />
térmico e 1,5 milhões de carvão de coque<br />
metalúrgico, e está em conversações com<br />
entidades ferroviárias e portuárias no sentido<br />
de assegurar o escoamento da produção.<br />
Gás atrai ‘Tio Sam’<br />
Os blocos de prospecção de hidrocarbonetos<br />
na parte sul da bacia do Rovuma<br />
deverão ser alvo de leilão, depois das<br />
descobertas de elevadas quantidades de<br />
gás pelos norte-americanos da Anadarko Petroleum<br />
(30 triliões de pés cúbicos) e pelos<br />
italianos da ENI (40 biliões de pés cúbicos).<br />
De acordo com o Instituto Nacional do<br />
Petróleo de Moçambique, várias empresas<br />
– como a ENI, Exxon Mobil, BP, Petronas,<br />
da Malásia, Shell, Tullow Oil, Vitol e Noble<br />
Energy – já manifestaram interesse em participar<br />
no leilão. O know-how e o ‘músculo’<br />
financeiro de grandes operadores mundiais<br />
é um atractivo para os moçambicanos<br />
prevendo-se que venha a ser assinado um<br />
contrato para a realização de estudos de<br />
engenharia pela Anadarko Petroleum para<br />
o projecto de liquefacção do gás natural,<br />
descoberto na Área 1 da bacia do Rovuma.<br />
Para o responsável pela exploração global<br />
da Anadarko, Robert Daniels, as reservas<br />
identificadas justificam a instalação de seis<br />
unidades de processamento de gás natural.<br />
Numa primeira fase, poderão ser construídas<br />
duas unidades, cada uma a processar cinco<br />
milhões de toneladas de gás, que podem<br />
contribuir para abastecer o mercado interno<br />
e intensificar a exportação para os países<br />
da região e para os continentes asiático<br />
e americano. A Anadarko deverá investir<br />
14 mil milhões de dólares até 2018, a<br />
adicionar aos mais de 800 milhões já<br />
investidos pela multinacional americana em<br />
Moçambique.<br />
Se atentarmos no prémio de 30% oferecido<br />
pela major Royal Dutch Shell para comprar<br />
a irlandesa Cove Energy, que tem uma<br />
participação de 8,5% no consórcio de prospecção<br />
liderado pela Andarko, percebemos<br />
que o subsolo moçambicano está a agitar<br />
os mercados internacionais e os operadores<br />
associados ao cluster de exploração, como<br />
é o caso da Halliburton e Schlumberger, que<br />
têm em curso processos para a aquisição<br />
de terrenos na área de Pemba. Aliás, o presidente<br />
da Cove já elogiou, em comunicado,<br />
que a Shell “representa um excelente parceiro<br />
para todos os accionistas do projecto de<br />
gás natural liquefeito do Rovuma”.<br />
Para o outro consórcio que detém a<br />
prospecção na Área 4, liderado pela ENI,<br />
com 70% do capital, e participado pelos<br />
portugueses da Galp Energia, pela Kogas<br />
e ENH, com 10% cada, “os resultados são<br />
de especial importância” já que aumentam<br />
os recursos dos reservatórios em, “pelo<br />
menos 10 biliões de pés cúbicos”. Destes,<br />
80% estão localizados exclusivamente em<br />
reservatórios na Área 4, o que aumenta,<br />
assim, o potencial estimado de gás para 40<br />
biliões de pés cúbicos. A ascensão ao topo<br />
dos produtores mundiais de gás permitirá a<br />
Moçambique outra capacidade de financiamento,<br />
sobretudo porque o crescimento<br />
deverá manter-se a um ritmo elevado, na<br />
ordem dos 8%, suportado pela expansão da<br />
exploração de recursos minerais.<br />
A sucessão de boas notícias relativamente<br />
às reservas de gás natural parece ganhar<br />
fluidez. A Rio Tinto anunciou a descoberta<br />
nas reservas de gás de Moatize, prevendo-<br />
-se, agora, operações de prospecção para<br />
determinar o volume das reservas e respectivo<br />
valor económico.<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
9
Tema de capa<br />
energia nas exportações e investimento<br />
Alumínio, gás e energia eléctrica representam mais de 60% das exportações de bens e<br />
serviços de Moçambique. Esta concentração acaba por evidenciar um défice comercial<br />
crónico e a constatação de que, sem os megaprojectos, a taxa de cobertura das<br />
importações se mantém quase inalterada desde 1992. Em termos de IDE, o quadro é semelhante,<br />
porque os grandes projectos extractivos determinam o padrão do investimento<br />
privado.<br />
Maputo (por causa da Mozal, Motraco e projecto de ferro e aço, MISP), Nampula (refinaria<br />
petroquímica e areias pesadas), Tete (carvão), Gaza (areias pesadas e açucareiras)<br />
e Inhambane (gás natural e turismo) acabam por ser as províncias mais beneficiadas<br />
pelo IDE aprovado desde 1990, concentrando mais de 80% do total das intenções de<br />
investimento privado.<br />
Sector<br />
Investidores<br />
Montante<br />
(biliões USD)<br />
Gás Anadarko, ENI, Sasol (incluindo gás liquefeito) 66<br />
Carvão Vale; Rio Tinto, Jindal, Coal India 4,5<br />
Infra-estruturas e logística<br />
associadas a projectos<br />
energia-minerais<br />
Corredor Nacala (Vale); Centrais térmicas (Rio Tinto,<br />
Vale, Jindal), hidroelectrica Mphanda-Nkuwa; Cesul<br />
12,8<br />
Alumínio Mozal 3 – BHP Billiton 3<br />
Areias pesadas Kenmare; Pathfinder Minerals 1,2<br />
TOTAL 87,5<br />
%PIB (estimativa) 9,50%<br />
Fonte: IESE<br />
RECEITAS DE EXPORTAÇÕES<br />
3500<br />
Mil milhões de USD<br />
Proj.<br />
tem a maior concessão de carvão em<br />
Tete, prevendo alcançar a capacidade<br />
máxima de produção em 2014, ou seja,<br />
11 milhões de toneladas de carvão, fruto<br />
de um investimento adicional de 6,4<br />
mil milhões de dólares na expansão da<br />
produção e logística da mina, depois de<br />
1,9 mil milhões de dólares já investidos<br />
em Moatize.<br />
A concorrente Rio Tinto, que opera em<br />
mais de 40 países, projecta uma produção<br />
de 10 milhões de toneladas de carvão<br />
por ano na mina de Benga, onde o<br />
investimento estimado é de 8 biliões de<br />
dólares, esperando produzir 25 milhões<br />
de toneladas numa segunda concessão<br />
que explora também na província de Tete.<br />
A Índia é actualmente o maior<br />
consumidor do carvão produzido em<br />
Moçambique, pelo que a Rio Tinto,<br />
a terceira maior empresa mineira<br />
do mundo, está a posicionar-se em<br />
Moçambique com intenção de se tornar<br />
no maior exportador de carvão na bacia<br />
de Moatize.<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
2001 20<strong>02</strong> 2003<br />
Megaprojectos<br />
2004<br />
2005 2006 2007<br />
Outros sectores<br />
2008 2009 2010 2011 2012<br />
Vale e Rio Tinto disputam liderança na extracção<br />
de carvão em Moçambique. A Rio Tinto está a<br />
posicionar-se com intenção de se tornar no maior<br />
exportador de carvão na bacia de Moatize<br />
10<br />
a revista que promove Moçambique
Tema de capa<br />
Energia para<br />
o Tesouro<br />
As receitas fiscais associadas à produção do carvão de Moatize totalizaram<br />
5,2 milhões de dólares em 2011. As tarifas e o regime fiscal são determinantes<br />
para calcular o custo real da electricidade e relevantes para conferir benefícios<br />
em termos de electrificação rural e exploração de energias renováveis.<br />
Como havia anunciado, o Governo<br />
decidiu taxar em 12,8% as mais-valias<br />
resultantes da venda da Cove Energy<br />
à anglo-holandesa Shell. O negócio,<br />
no valor de 1,37 mil milhões de<br />
Euros, foi autorizado pelo Governo<br />
de Moçambique no início de Maio.<br />
Recorde-se que a Cove Energy, através<br />
da sua participada Cove Mozambique,<br />
controlava 8,5% de um projecto<br />
de prospecção de gás na bacia do<br />
Rovuma que é liderado pela subsidiária<br />
moçambicana da norte-americana<br />
Anadarko Petroleum. Este é um<br />
bom exemplo das novas medidas que<br />
as autoridades moçambicanas estão<br />
a implementar com o objectivo de<br />
aumentar a colecta.<br />
A economia moçambicana terá crescido<br />
7,4% em 2011, impulsionada por “boas<br />
campanhas agrícolas e por um sector<br />
mineiro em franca expansão”, reconhece<br />
o FMI no relatório resultante da última<br />
missão, que prevê o mesmo ritmo de<br />
crescimento para 2012, apesar dos<br />
riscos de degradação da conjuntura<br />
internacional.<br />
O Banco Mundial é mais contido nas<br />
previsões de crescimento mas destaca<br />
Moçambique como um dos casos de<br />
sucesso da economia africana em 2011.<br />
A instituição multilateral refere que<br />
“entre as economias que cresceram<br />
mais rapidamente em 2011, estão os<br />
países ricos em recursos, como o Gana,<br />
Moçambique e a Nigéria, tendo todos<br />
atingido taxas de crescimento superiores<br />
a 7%”, mas “os países exportadores de<br />
metais e de minerais, como a Zâmbia<br />
e Moçambique, foram dos que mais<br />
sofreram com o abrandamento da<br />
produção global industrial durante os<br />
últimos meses de 2011”. Este dinamismo,<br />
associado aos recursos naturais e às<br />
alterações no capital na Hidroeléctrica<br />
de Cahora Bassa (HCB), justificam<br />
a decisão das autoridades em rever a<br />
Agenda 2<strong>02</strong>5, formalizada em 2003,<br />
altura em que não se equacionava o<br />
potencial das reservas de gás e carvão e a<br />
gestão da HCB não era responsabilidade<br />
de Moçambique.<br />
As tarifas e o regime fiscal são<br />
determinantes para calcular o custo real<br />
da electricidade e relevantes para conferir<br />
benefícios em termos de electrificação<br />
rural e exploração de energias renováveis.<br />
Incentivos às renováveis<br />
O reforço do investimento privado<br />
em projectos de energias renováveis<br />
e a criação de incentivos claros para<br />
os stakeholders podem encorajar<br />
investimentos noutros sectores, como<br />
o turismo e as telecomunicações, num<br />
contexto de aumento das famílias com<br />
rendimentos médios.<br />
Depois da recente alienação, pelo Estado<br />
português, da participação de 15%<br />
na HCB, os brasileiros da Eletrobras<br />
anunciaram a construção de uma<br />
hidroeléctrica, no norte de Moçambique,<br />
com uma capacidade de 1,5 mil MW, e<br />
duas linhas de transmissão de energia,<br />
de 600 kilovolts (kV) e cerca de 1,5 mil<br />
quilómetros de extensão cada, a partir<br />
de 2013. O investimento, estimado<br />
em 6 mil milhões de dólares, dos quais<br />
2,3 mil milhões para a construção da<br />
hidroeléctrica, permitirá duplicar a oferta<br />
de energia nacional.<br />
A venda de 15% da HCB marcou a<br />
visita oficial de Pedro Passos Coelho,<br />
Primeiro-Ministro de Portugal, a<br />
Moçambique. O acordo, assinado com<br />
o presidente de Moçambique, Armando<br />
Guebuza, estabelece a venda de 7,5%,<br />
por 38,4 milhões de euros, à portuguesa<br />
REN, que terá assento no conselho de<br />
administração e participará no projecto<br />
Cesul.<br />
O Cesul, que está avaliado em<br />
cerca de dois mil milhões de euros, é<br />
um dos projectos mais ambiciosos de<br />
electrificação no continente africano,<br />
desde o Vale do Zambeze, no centro de<br />
Moçambique, para Maputo/Matola do<br />
Sul. Refira-se que a REN está numa fase<br />
de alteração dos accionistas de referência,<br />
com a entrada de actores como a State<br />
Grid e a Oman Oil.<br />
O acordo entre os governantes<br />
portugueses e moçambicanos surge numa<br />
altura em que, pela primeira vez, a HCB<br />
distribuiu dividendos aos accionistas e<br />
alcançou “a segunda maior produção de<br />
energia eléctrica de sempre, ao realizar<br />
16 290 Gigawatt-hora (GWh), energia<br />
suficiente para suprir os compromissos<br />
comerciais e dar resposta às necessidades<br />
de aumento da potência para servir o<br />
desenvolvimento de Moçambique”, de<br />
acordo com o relatório de desempenho<br />
de 2011.<br />
12<br />
a revista que promove Moçambique
entrevista<br />
Domingos Simão Pereira<br />
Cimeira da CPLP<br />
aguardada com expectativa<br />
A capital moçambicana recebe em Julho a IX Cimeira de Chefes de Estado da Comunidade<br />
de Países de Língua Portuguesa. Este será um momento crucial para definir o futuro e traçar<br />
aquelas que serão as próximas metas do processo de construção da Comunidade. A<br />
instabilidade da Guiné-Bissau, a construção do pilar económico e o alargamento são alguns<br />
dos temas que vão estar em discussão.<br />
T Manuela Sousa Guerreiro<br />
A CPLP está à beira de completar<br />
os 16 anos. Este tem sido um longo<br />
percurso de formação da própria<br />
organização?<br />
Essa é uma questão discutível. A meu<br />
ver era necessário dar algum tempo<br />
aos próprios Estados para que estes<br />
amadurecessem. A CPLP surge como<br />
um projecto político diplomático,<br />
numa altura em que alguns dos seus<br />
Estados membros estavam ainda num<br />
processo de consolidação das suas<br />
estruturas democráticas e de governação.<br />
Esperar que esses países se sentissem à<br />
vontade para acompanhar Portugal e o<br />
Brasil em todas as agendas dos fóruns<br />
internacionais não era ser realista. Era<br />
preciso esperar que em Angola a guerra<br />
civil terminasse, que Moçambique<br />
consolidasse a paz e que Timor<br />
conquistasse a independência. Agora, não<br />
posso deixar de pensar que talvez fosse<br />
possível encurtar alguns prazos, mas foi<br />
o caminho escolhido e era necessário<br />
percorrê-lo.<br />
Os Estados Membros estão hoje mais<br />
activos e empenhados na construção<br />
desta comunidade?<br />
Sem dúvida! Os Estados colocam menos<br />
restrições às fixações das agendas ao nível<br />
das várias instâncias da CPLP. Não há<br />
restrições nos debates sobre democracia,<br />
direitos humanos ou mesmo no que diz<br />
respeito à intervenção da sociedade civil<br />
na discussão dos assuntos da CPLP,<br />
temas que antes eram reclamados como<br />
sendo ‘assuntos da exclusiva competência<br />
dos Estados’. Hoje são estes mesmos<br />
Estados que sublinham a necessidade de<br />
uma maior presença da sociedade civil.<br />
Isso é reflexo também de um maior à<br />
vontade nas suas políticas internas.<br />
O que podemos esperar desta<br />
Cimeira de Chefes de Estado que irá<br />
decorrer em Maputo?<br />
É preciso fazer aqui uma ressalva.<br />
Apesar de existir um grupo de trabalho<br />
para preparar a agenda desta Cimeira,<br />
temos que aguardar o posicionamento<br />
de Moçambique. A mudança de<br />
presidência é também uma oportunidade<br />
“A mudança de<br />
presidência é também<br />
uma oportunidade<br />
para se projectar uma<br />
nova visão para<br />
a organização.”<br />
para se projectar uma nova visão para a<br />
organização. Agora, há a preocupação<br />
de não se perder o que é positivo. Assim,<br />
dividiria os objectivos desta Cimeira<br />
em duas componentes. Por um lado, há<br />
os temas que são recorrentes daquela<br />
que tem sido a nossa programação nos<br />
últimos anos, designadamente a livre<br />
circulação, a questão da cidadania,<br />
alguns projectos culturais, o novo acordo<br />
ortográfico, a adesão da Guiné Equatorial<br />
e, claro, a estabilidade na Guiné-Bissau.<br />
Todos estes assuntos serão abordados na<br />
Cimeira. Mas também serão lançados<br />
novos desafios, e tenho a expectativa<br />
de ver temas como o da erradicação do<br />
analfabetismo e o da segurança alimentar<br />
merecerem uma atenção muito especial.<br />
Alargamento em discussão<br />
Estes últimos dois anos foram<br />
importantes para a afirmação e<br />
projecção da CPLP no contexto<br />
africano?<br />
Quero acreditar que sim! Tenho<br />
acompanhado várias dinâmicas, mas não<br />
sei se a percepção que tenho, estando por<br />
dentro, é igual à de quem está por fora.<br />
Assinámos um protocolo com a SADC<br />
que determina que alguns documentos da<br />
organização sejam traduzidos para língua<br />
portuguesa. Participámos numa iniciativa<br />
da ONU relacionada com a consolidação<br />
dos processos democráticos no continente<br />
africano. Curiosamente, esta iniciativa<br />
tem sede em Bissau e os países da CPLP<br />
14<br />
a revista que promove Moçambique
entrevista<br />
têm tido uma participação bastante<br />
substantiva. Hoje, o nosso diálogo com a<br />
CEDEAO deixou de lado as meras boas<br />
intenções e tem uma agenda concreta.<br />
Temos desenvolvido uma acção proactiva<br />
e de proximidade entre três espaços<br />
linguísticos – lusofonia, francofonia e<br />
união latina.<br />
É importante sublinhar também a recente<br />
nomeação do director-geral da FAO, José<br />
Graciano da Silva, e a recente nomeação<br />
do sub-secretário geral da ONU e<br />
secretário executivo para o Conselho<br />
Económico de África, Carlos Lopes.<br />
São estes momentos que confirmam a<br />
importância da concertação política entre<br />
os nossos países.<br />
Ainda que aos olhos do público essas<br />
acções sejam invisíveis...<br />
Isso é verdade, mas neste momento há<br />
um princípio de reconhecimento da<br />
Organização e o sentimento de que se<br />
pode fazer mais. Pelo que, não podemos,<br />
nem devemos, parar por aqui.<br />
Estão reunidas as condições para a<br />
adesão da Guiné Equatorial à CPLP?<br />
Essa é uma decisão política, não é da<br />
competência do corpo técnico. Compete<br />
aos oito Estados Membros tomar a<br />
decisão. Mas creio que o processo de<br />
adesão da Guiné Equatorial tem sido<br />
“A agenda económica começa a estar presente e,<br />
em certa medida, a dominar os debates e a análise<br />
na CPLP, não por imposição mas, sobretudo, por<br />
necessidade objectiva dos homens de negócio, da<br />
sociedade civil.”<br />
muito importante para a CPLP, na<br />
medida em que lhe tem permitido<br />
revisitar os seus princípios, avaliar a<br />
aplicação dos seus estatutos e manter-se<br />
atenta à progressão do relacionamento<br />
internacional. Há oito anos a Guiné<br />
Equatorial manifestou a sua intenção<br />
em aderir à CPLP e os Oito têm<br />
demonstrado uma grande sensibilidade<br />
na análise deste pedido, pelo facto de ser<br />
o único país africano que não tem um<br />
bloco linguístico próprio, o espanhol é<br />
língua oficial, mas tem laços históricos e<br />
culturais fortes com a Comunidade, na<br />
medida em que foi uma colónia da coroa<br />
portuguesa. São laços que justificam<br />
uma atenção especial a este pedido,<br />
independentemente da decisão que<br />
vier a ser tomada. Agora, não podemos<br />
pretender uma posição pura e imaculada<br />
de que, quem não tem o português bem<br />
estruturado na sua sociedade não pode<br />
ser membro da CPLP. Isso seria uma<br />
contradição, já que alguns países da<br />
CPLP são membros de outros espaços<br />
linguísticos.<br />
A adesão da Guiné Equatorial irá<br />
representar uma mudança profunda<br />
na CPLP?<br />
Se os princípios forem acautelados,<br />
os estatutos respeitados e se todos os<br />
pressupostos forem observados, não.<br />
Penso, aliás, que o que está a acontecer<br />
demonstra a maturidade da Organização<br />
e que esta só terá a ganhar.<br />
Reforçar os laços económicos<br />
A construção do pilar económico da<br />
CPLP poderá sair reforçada nesta<br />
Cimeira?<br />
A agenda económica começa a estar<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
15
entrevista<br />
presente e, em certa medida, a dominar<br />
os debates e a análise na CPLP, não<br />
por imposição mas, sobretudo, por<br />
necessidade objectiva dos homens de<br />
negócio, da sociedade civil. E é assim que<br />
deve ser. A actual conjuntura económica<br />
e financeira é um forte impulsionador<br />
para a procura de novos horizontes num<br />
ambiente diferente de relacionamento.<br />
Há o sentimento de que, anos decorridos,<br />
já existem bases suficientes para que os<br />
países estejam à vontade para discutir<br />
mecanismos de melhoria dos fluxos<br />
económicos e comerciais entre eles.<br />
No início deste ano, convocámos uma<br />
reunião de peritos para reflectir sobre<br />
este tema. Recebemos várias propostas e<br />
submetemos recomendações ao Conselho<br />
de Ministros extraordinário que decorreu<br />
em Fevereiro. Em Maputo, os Chefes de<br />
Estado terão elementos concretos para<br />
poderem tomar decisões.<br />
Que propostas saíram da reunião<br />
de peritos?<br />
A análise identificou a necessidade de se<br />
criar um ordenamento jurídico favorável<br />
à promoção de negócios no espaço CPLP,<br />
de se fomentar o aparecimento de clusters<br />
e de aumentar o fluxo de investimento<br />
estruturante. A falta de infra-estruturas<br />
é hoje um dos principais obstáculos à<br />
cooperação económica entre os nossos<br />
países. Não falo dos fluxos entre Portugal<br />
e Angola ou entre o Brasil e Angola, mas<br />
sim nos fluxos entre os países africanos,<br />
que ainda são quase inexistentes. Falou-se<br />
também na necessidade de se criarem<br />
mecanismos facilitadores do acesso<br />
ao investimento. Há organismos e<br />
instituições que têm fundos disponíveis<br />
e o que temos de fazer é criar incentivos<br />
para atrair esse investimento.<br />
Neste domínio, que papel pode<br />
desempenhar a Confederação de<br />
Empresários de Língua Portuguesa?<br />
São os empresários que põem à prova<br />
dispositivos legais que são assumidos<br />
a nível político. Os políticos podem<br />
acordar a vontade de abrir o espaço da<br />
CPLP às trocas comerciais e criar um<br />
quadro legal favorável ao investimento,<br />
mas não é o político que vai explorar<br />
esse espaço económico. É importante<br />
que a Confederação possa mobilizar a<br />
classe empresarial para fazer uso desses<br />
“Há o sentimento de que, anos decorridos, já existem<br />
bases suficientes para que os países estejam à vontade<br />
para discutir mecanismos de melhoria dos fluxos<br />
económicos e comerciais entre eles.”<br />
dispositivos. A ideia de transformar<br />
o Conselho em Confederação visa<br />
exactamente flexibilizar a participação<br />
dos associados na instituição.<br />
É o reconhecimento do valor<br />
económico da língua portuguesa?<br />
Espero que sim! Aquilo que constato<br />
é que, durante muito tempo, estivemos<br />
preocupados em que a CPLP reflectisse a<br />
realidade dos quatro continentes, dos oito<br />
Estados que a compõem, sem esquecer<br />
a sua presença nos respectivos espaços<br />
económicos. Agora terá que existir um<br />
movimento em sentido contrário, terá de<br />
se verificar se as políticas públicas de cada<br />
um dos Estados reflecte a sua presença na<br />
CPLP. É isso que tem faltado.<br />
Instabilidade na Guiné-Bissau altera<br />
agenda política<br />
A instabilidade política na Guiné-Bissau não ficou à margem da entrevista com o Secretário<br />
Executivo da CPLP, ainda que a mesma se tenha realizado cerca de duas semanas<br />
antes do golpe militar de 12 de Abril.<br />
“Não estamos perante erupções, estamos num processo de construção de uma sociedade,<br />
cuja estrutura política foi fortemente abalada com a crise de 1998, a tal ponto que<br />
foi necessário revisitar as bases para se começar a construir uma estrutura política com<br />
alguma solidez. Não podíamos esperar que o processo de reconstrução do Estado acontecesse<br />
de forma completamente pacífica. Estamos a tentar repor a normalidade num<br />
ambiente em que muita agente se habituou a viver com a anormalidade, num país onde<br />
os recursos não abundam e onde há dificuldades de toda a ordem, inclusive no aparelho<br />
do próprio Estado. Logo aí, dá para perceber o quão frágil é este processo”, explicou<br />
Domingos Simão Pereira durante a entrevista.<br />
Mas, para a CPLP, há limites à compreensão e esses limites foram ultrapassados a 12 de<br />
Abril último. O golpe militar no Guiné-Bissau, ocorrido na véspera do início da campanha<br />
eleitoral para a segunda volta das eleições presidenciais, foi duramente condenado pela<br />
CPLP, organização que volta a assumir um papel de destaque na procura de uma solução<br />
para a instabilidade na Guiné Bissau.<br />
16<br />
a revista que promove Moçambique
Economia<br />
Imobiliário<br />
atrai investimento<br />
T Manuela Sousa Guerreiro<br />
18<br />
A dinâmica económica do país<br />
está a atrair novos investimentos<br />
à capital e o sector imobiliário é<br />
um dos principais beneficiários.<br />
Maputo é hoje o centro das<br />
atenções dos investidores.<br />
Ao longo dos últimos anos o<br />
mercado imobiliário moçambicano,<br />
e em particular o da cidade de Maputo,<br />
tem atraído a atenção de um número<br />
crescente de investidores. Uma atracção<br />
que não é alheia ao dinamismo e às<br />
projecções de crescimento económico do<br />
país (em 2011 o PIB terá crescido 7,2%,<br />
e as previsões para este ano apontam<br />
para 7,5%), e que é impulsionada por<br />
um conjunto diversificado de factores,<br />
como o aumento do poder de compra<br />
da classe média; a chegada de um<br />
número cada vez maior de expatriados/<br />
investidores a Moçambique; a procura de<br />
produtos imobiliários para instalação de<br />
empresas e, ainda, pelo défice imobiliário,<br />
que garante margens de rentabilidade<br />
significativas aos promotores.<br />
"Estas variáveis demonstram o potencial<br />
e o forte crescimento que se prevê no<br />
No que à Habitação diz respeito, Maputo regista<br />
um claro desequilíbrio entre a crescente procura<br />
e a oferta, que durante anos esteve estagnada<br />
mercado imobiliário para os próximos<br />
anos", sustenta o estudo ‘Imobiliário<br />
Moçambique 2012’, realizado pela Prime<br />
Yield MZ, uma empresa de direito<br />
moçambicano dedicada à consultadoria,<br />
avaliações e gestão de imobilizado,<br />
participada da portuguesa Prime Yield.<br />
A análise ao mercado imobiliário centra-<br />
-se na cidade de Maputo e divide a<br />
capital em dez zonas - Bairro Central<br />
A, B e C, Polana Cimento A e B,<br />
Sommerchield, Malhangalene A e<br />
B, Coop e Costa do Sol – e em três<br />
segmentos – Habitação, Escritórios e<br />
Turismo.<br />
No que à Habitação diz respeito,<br />
Maputo regista um claro desequilíbrio<br />
entre a crescente procura e a oferta, que<br />
durante anos esteve estagnada. A venda<br />
de imóveis que se tem "verificado nos<br />
últimos dois anos" é um indicador claro<br />
do défice habitacional. Actualmente,<br />
há vários empreendimentos em<br />
construção, em particular nas zonas<br />
Polana Cimento A, Sommerchield e<br />
Costa do Sol. De acordo com a análise<br />
da Prime Yield MZ a avenida Julius<br />
Nyerere destaca-se como a que tem os<br />
a revista que promove Moçambique
Economia<br />
“valores prime no segmento residencial".<br />
“A oferta imobiliária actual é ainda<br />
maioritariamente dirigida ao segmento<br />
médio/alto. Outra característica é que<br />
os projectos habitacionais concentram<br />
a mesma oferta de tipologias (T3 e<br />
T4), o que origina lacunas na oferta de<br />
outras tipologias". Em termos médios, o<br />
valor unitário da habitação em Maputo<br />
regista-se em 2.500 USD/m 2 . Na zona<br />
de Sommerchield, os valores médios dos<br />
apartamentos podem atingir os 3.300<br />
USD/m 2 .<br />
A Avenida 25 de Setembro, toda a<br />
zona da Baixa e a Avenida 24 de Julho<br />
são os principais eixos no segmento de<br />
Escritórios, o qual, graças ao crescimento<br />
económico do país, tem registado uma<br />
grande procura e taxas de desocupação<br />
muito baixas. Mas não é só o sector<br />
privado que está a influenciar o aumento<br />
da procura, também o sector público tem<br />
angariado novos espaços.<br />
Turismo também mexe<br />
Para além da análise dos segmentos<br />
residencial e de escritórios, o estudo<br />
da Prime Yield MZ reflecte também<br />
sobre o movimento de turistas e preço<br />
das unidades hoteleiras da cidade.<br />
Afinal, este é um sector vital para o<br />
desenvolvimento do país. “Apesar do<br />
ainda diminuto peso no PIB (menos de<br />
2%) este está a recuperar o seu potencial,<br />
quer pela atracção de investimento quer<br />
pela melhoria das infra-estruturas e<br />
acessibilidades”, refere o documento.<br />
De acordo com a Prime Yield MZ,<br />
o número de turistas que visitam a<br />
capital Maputo está a crescer. Em<br />
2011 estima-se que cerca de 382 mil<br />
turistas tenham visitado a cidade, o<br />
que representa um crescimento de 7%<br />
face a 2010. As ‘viagens de negócio’ são<br />
o principal motivo da deslocação dos<br />
turistas estrangeiros a Maputo, o que<br />
vai ao encontro do crescente dinamismo<br />
e melhoria do ambiente de negócios<br />
registado em Moçambique. “A nível<br />
da oferta, Maputo conta com quatro<br />
hotéis classificados com 5 estrelas. Estão<br />
previstos novos investimentos nas várias<br />
zonas em análise”, afirma o estudo. Os<br />
preços médios vão de 74 USD/noite,<br />
numa unidade de três estrelas, aos 257<br />
USD/noite, numa unidade de cinco<br />
estrelas.<br />
Maputo: Uma cidade a crescer<br />
Maputo está a crescer e a desenvolver-se muito rapidamente. Nos últimos dois anos<br />
aumentou o número de projectos imobiliários que, pela sua dimensão, terão um forte<br />
impacto no mercado imobiliário uma vez concluídos.<br />
Maputo Bay Waterfront<br />
Promotores: Sociedade Constellation<br />
Investimento: 1.162 milhões de USD.<br />
Descrição: De uso misto – combina as<br />
valências de habitação, comércio, serviços,<br />
escritórios e lazer – este é um dos mais<br />
importantes projectos imobiliários em desenvolvimento<br />
na capital. O projecto estende-<br />
-se por uma área de 83.000 m 2 , onde antes<br />
se erguia a FACIM – Feira Internacional de<br />
Maputo, e contempla a construção de dois<br />
hotéis, edifícios de escritórios, habitação,<br />
galerias comerciais e parques de estacionamento,<br />
enquadrados por uma zona verde<br />
formada por diferentes espaços ajardinados.<br />
O prazo de construção é de dez anos,<br />
dividido em cinco fases.<br />
Maputo Business Tower<br />
Promotores: Green Point Investment<br />
e Correios de Moçambique<br />
Investimento: 110 milhões de USD<br />
Descrição: Com 47 andares, será o<br />
edifício mais alto do país. Irá ter 32 pisos<br />
de escritórios, cinco para estacionamento e<br />
os restantes para galerias comerciais e serviços.<br />
O empreendimento inclui também um<br />
heliporto, entre outras facilidades. A Soares<br />
da Costa é a empresa construtora. A conclusão<br />
da obra está prevista para 2013.<br />
Cidadela da Matola<br />
Promotores: Public Investment Corporation,<br />
MaCormick Property Development e SIF<br />
Investimento: 200 milhões de USD<br />
Descrição: Projecto misto, que inclui a<br />
construção de centro comercial, numa área<br />
de 46.000 m 2 , com lojas, restaurantes<br />
e serviços, centro de saúde, hotel e SPA,<br />
centro de conferências, escritórios e um<br />
complexo governamental de quatro edifícios,<br />
que irá albergar vários departamentos do<br />
governo provincial de Maputo e concelho<br />
municipal da Matola. O edifício da Rádio<br />
Moçambique será transformado no Museu<br />
de Cultura e História da Comunicação<br />
Social.<br />
Polana Twin Towers<br />
Promotores: FEMA - Ferreira & Machado<br />
Descrição: Localizado na zona alta da<br />
marginal de Maputo, terá uma altura de<br />
140 metros, com 34 andares. Projecto misto,<br />
irá combinar as componentes residencial<br />
e de serviços.<br />
Fonte: Vida Imobiliária, edição Moçambique, nº1<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
19
Economia<br />
Potencial<br />
agrícola do país<br />
ganha novo fôlego<br />
T Manuela Sousa Guerreiro<br />
O sector agrícola está a crescer<br />
e a ganhar um novo dinamismo.<br />
Nos últimos dez anos a área<br />
total cultivada aumentou 47%,<br />
mas o país utiliza apenas 15,6%<br />
dos terrenos potencialmente<br />
cultiváveis.<br />
A agricultura tem sido um dos<br />
sectores de capital intensivo que<br />
menos investimento directo estrangeiro<br />
tem recebido. Contudo, o sector está<br />
em expansão e o forte potencial agrícola<br />
do país está a atrair um número cada<br />
vez maior de interessados. O último<br />
relatório da Economist Intelligence Unit<br />
(EIU) sublinha o crescente dinamismo<br />
da "agricultura comercial" e dá como<br />
sinal da expansão da actividade no país<br />
a presença da multinacional Agriterra,<br />
cotada na Bolsa de Valores de Londres.<br />
Em Moçambique, o grupo actua no<br />
sector agro-pecuário, com a Mozbife,<br />
empresa dedicada à criação, abate e<br />
comercialização de gado bovino. Até ao<br />
final de 2012, a Mozbife deverá ter mais<br />
de cinco mil cabeças de gado distribuídas<br />
pelas fazendas de Mavonde (mil hectares)<br />
e do Dombe (15 mil hectares), mas<br />
o objectivo é chegar rapidamente às<br />
dez mil cabeças de gado. A par com o<br />
mercado nacional, parte da produção<br />
será destinada à exportação. Esta<br />
multinacional está também envolvida no<br />
cultivo do milho, através das empresas<br />
Desenvolvimento e Comercialização<br />
Agrícola (DECA) e Compagri.<br />
Para além da Agriterra, também<br />
grandes empresas brasileiras, como<br />
a SLC Agrícola e o Grupo Pinesso,<br />
têm manifestado interesse em<br />
adquirir grandes extensões de terra<br />
em Moçambique. Aliás, o Brasil é um<br />
dos países envolvidos no ‘ProSavana’,<br />
um projecto tripartido – que inclui<br />
Moçambique e o Japão –, e visa<br />
promover uma agricultura empresarial<br />
mais produtiva. O projecto está a ser<br />
implementado desde o início do ano nas<br />
províncias de Nampula, Cabo Delgado e<br />
Zambézia.<br />
Prioridade absoluta ao<br />
desenvolvimento agrícola<br />
O sector agrícola é hoje uma das<br />
prioridades do Governo. "É nossa<br />
intenção aumentar a actividade para<br />
poder atender não só às necessidades<br />
internas mas também à exportação",<br />
sublinhou Aiuba Cuereneia, Ministro<br />
moçambicano da Planificação<br />
e do Desenvolvimento à revista<br />
Empresas&Negócios.<br />
O Orçamento Geral do Estado para este<br />
ano canaliza 11,6% do total da despesa<br />
para a Agricultura e estão em curso<br />
vários investimentos públicos destinados<br />
a promover a auto-suficiência agrícola<br />
do país. “Delineámos um plano de acção<br />
para a produção de alimentos que inclui<br />
metas concretas para a produção de<br />
algumas culturas; temos alguns fundos<br />
destinados a apoiar os pequenos/médios<br />
agricultores e estamos a desenvolver um<br />
programa de reabilitação dos regadios,<br />
o que irá impulsionar a produção e a<br />
produtividade agrícolas no país”, adiantou<br />
Aiuba Cuereneia. Através do programa<br />
20<br />
a revista que promove Moçambique
Economia<br />
de irrigação, o Governo moçambicano irá<br />
investir, durante os próximos dez anos,<br />
cerca de 540 milhões de USD.<br />
Ao longo da última década, de acordo<br />
com o censo agrícola realizado pelo<br />
Instituto Nacional de Estatística de<br />
Moçambique, a área cultivada cresceu<br />
47%, um ritmo de crescimento quase<br />
duas vezes superior ao da população. Ao<br />
passo que o número total de explorações<br />
agrícolas cresceu apenas 25%. Não<br />
obstante o crescimento, Moçambique<br />
mantém um grande excedente de<br />
terras, já que apenas 15,6% dos terrenos<br />
potencialmente cultiváveis estão a ser<br />
utilizados.<br />
A falta de infra-estruturas associadas ao<br />
sector, sobretudo ao nível das estradas<br />
e acessos mas também de irrigação e de<br />
armazenagem, são alguns dos obstáculos<br />
que enfrenta, mas que terão, segundo o<br />
Ministro, um fim à vista.<br />
Aiuba Cuereneia esteve em Portugal, no<br />
final de Fevereiro, com uma delegação<br />
de 25 empresas moçambicanas para<br />
participar no SISAB, a maior plataforma<br />
“Há um plano de<br />
acção para fomentar a<br />
produção alimentar;<br />
há fundos para apoiar<br />
os pequenos e médios<br />
agricultores e está em<br />
curso um programa de<br />
reabilitação de regadios,<br />
o que irá impulsionar<br />
a produção no país”,<br />
avança o Ministro Aiuba<br />
Cuereneia<br />
de negócios para a exportação dos<br />
sectores alimentar e bebidas de Portugal<br />
e que nesta última edição reuniu cerca de<br />
400 dos maiores produtores portugueses<br />
e 1200 importadores, oriundos de 83<br />
países. “Esperamos com a nossa presença<br />
impulsionar os negócios bilaterais nesta<br />
área e chamar a atenção dos investidores<br />
portugueses para as potencialidades que<br />
Moçambique oferece, em particular no<br />
sector agro-industrial", referiu o Ministro<br />
na ocasião.<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
21
Economia<br />
Moçambique<br />
um destino turístico<br />
de excelência<br />
T Manuela Sousa Guerreiro<br />
Tornar Moçambique um destino<br />
turístico de excelência é a<br />
meta proposta pelo Governo. E<br />
argumentos não faltam. Mas antes<br />
de convencer os turistas, o país<br />
precisa de atrair os investidores.<br />
Paisagens de tirar o fôlego,<br />
uma extensa costa oceânica, abundância<br />
de fauna e flora e uma cultura rica,<br />
alimentada pelos contactos centenários<br />
com europeus, árabes, asiáticos e<br />
indianos. Estes são alguns dos recursos de<br />
que Moçambique dispõe e que servem de<br />
argumento para justificar a sua pretensão<br />
a “destino turístico de excelência”. Mas<br />
ainda que os recursos naturais abundem,<br />
escasseiam as infra-estruturas, hoteleiras<br />
e não só, e os recursos humanos<br />
qualificados para receber os turistas.<br />
“O sector do turismo tem crescido<br />
bastante nos últimos anos, quer no<br />
número de infra-estruturas hoteleiras<br />
quer no número de visitantes/turistas.<br />
Em cinco anos, o número de camas<br />
disponíveis no país evoluiu de 10 mil<br />
para 38 mil, enquanto que o número<br />
de visitantes anual ultrapassa os três<br />
milhões, contra um milhão há menos de<br />
cinco anos”, sublinha Jeremias Manussa,<br />
director de marketing do Instituto<br />
Nacional do Turismo (INATUR),<br />
instituição ligada ao Ministério do<br />
Turismo de Moçambique, responsável<br />
pela promoção do país como destino<br />
turístico e como destino de investimento.<br />
“Grande parte deste crescimento tem<br />
sido impulsionado pelo investimento<br />
estrangeiro. Nos últimos anos, o<br />
investimento no sector subiu de 200<br />
milhões de USD/ano para mais de<br />
um bilião de USD/ano e a nossa<br />
perspectiva é que este número continue<br />
a crescer”, adianta Jeremias Manussa.<br />
Um crescimento influenciado pela<br />
melhoria do ambiente de negócios e pelo<br />
dinamismo económico de Moçambique<br />
e que beneficia, também, do esforço<br />
de reconstrução de infra-estruturas<br />
rodoviárias, e não só, que o país tem<br />
conhecido nos últimos anos.<br />
A estratégia do Governo para o sector<br />
também mudou está mais dinâmica,<br />
incisiva e apostada em atrair o<br />
investimento estrangeiro. “O ano passado,<br />
o Governo aprovou uma série de medidas<br />
destinadas a aliviar a regulamentação e a<br />
incentivar investimentos de maior vulto,<br />
tanto no turismo como nas áreas de apoio<br />
ao turismo. O ambiente de negócios no<br />
sector é hoje muito salutar”, sublinha<br />
Jeremias Manussa.<br />
Grandes investimentos aprovados<br />
A estratégia do Governo está a dar os<br />
seus frutos. No final do ano passado,<br />
os responsáveis pelo turismo de<br />
Moçambique assinaram um acordo com o<br />
grupo britânico BW visando a construção<br />
22<br />
a revista que promove Moçambique
Economia<br />
de um projecto de turismo integrado<br />
nas ilhas de Jamal e Crusse, na província<br />
de Nampula, no valor de 1,5 biliões de<br />
USD. As duas ilhas estão situadas em<br />
águas cristalinas e rodeadas por extensos<br />
recifes de corais, que proporcionam<br />
condições ideais para o mergulho e pesca<br />
desportiva. O investimento enquadra-se<br />
no âmbito do ‘Projecto Arco Norte’, que<br />
prevê a construção de empreendimentos<br />
turísticos nas províncias Cabo Delgado<br />
(cidade de Pemba, Costa Leste e Baía de<br />
Pemba), Niassa (Chuianga, Metangula e<br />
Lichinga) e Nampula (Crusse e Jamali,<br />
Lumbo, Sancul e Ilha de Moçambique).<br />
O projecto de desenvolvimento turístico<br />
“O número de entradas no país tem vindo a crescer. A<br />
Europa é o principal mercado emissor, em particular<br />
Portugal. Cerca de 25% dos turistas que nos visitam<br />
são portugueses”, afirma Jeremias Manussa<br />
destas regiões conta com o apoio da<br />
USAID e prevê atrair, nos próximos<br />
três anos, um volume de investimento<br />
superior a dois biliões de USD para o<br />
turismo e infra-estruturas relacionadas,<br />
estando prevista a construção de 10.600<br />
quartos e a criação de 35 mil postos de<br />
trabalho directos.<br />
Para além das províncias do Arco-<br />
Norte, outros projectos de investimento<br />
foram desenhados para atrair a<br />
atenção de investidores estrangeiros,<br />
designadamente em Inhassoro, na<br />
província de Inhambane. As autoridades<br />
moçambicanas aprovaram um projecto<br />
integrado de turismo avaliado em mais<br />
de 800 milhões de USD, para o qual<br />
procuram agora investidores. O projecto<br />
inclui a construção de duas unidades<br />
hoteleiras de cinco e de quatro estrelas,<br />
com capacidade para 120 e 250 quartos,<br />
respectivamente, dois campos de golfe,<br />
1850 residências e deverá abranger uma<br />
área de 2,500 hectares (com 5,7 km de<br />
praia e 5 km para o interior). “O objectivo<br />
é o de desenvolver um resort integrado,<br />
de baixa a média densidade, com uma<br />
mistura de usos capazes de atrair vários<br />
segmentos de mercado, incluindo o<br />
turismo internacional, o regional e o<br />
nacional. O conceito subjacente é o de<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
Jeremias Manussa, INATUR<br />
se aproveitar a topografia natural e o<br />
meio ambiente como pano de fundo para<br />
a construção sustentável e ecológica”,<br />
explica Jeremias Manussa.<br />
Portugal visitante e investidor<br />
Alguns destes projectos estiveram em<br />
destaque, em Portugal, durante a Bolsa<br />
de Turismo de Lisboa, um evento que<br />
reuniu mais de um milhar de empresas<br />
e delegações de 27 países e que fez de<br />
Portugal, durante os 4 dias do evento, a<br />
plataforma para a promoção do turismo<br />
nos países da comunidade lusófona.<br />
Portugal, Alemanha, Espanha, Inglaterra<br />
e Itália, são hoje os principais emissores<br />
de turistas. “O número de entradas no<br />
país tem vindo a crescer. A Europa é o<br />
principal mercado emissor, em particular<br />
Portugal. Cerca de 25% dos turistas que<br />
nos visitam são portugueses”, afirma o<br />
responsável do INATUR.<br />
Mas os portugueses não são apenas<br />
turistas, muitos são investidores. E<br />
o turismo é um dos sectores onde os<br />
empresários portugueses mais apostam,<br />
muito antes de Moçambique se ter<br />
tornado um destino ‘da moda’. Os grupos<br />
Pestana e Visabeira ou o Grupo VIP são<br />
alguns dos que estão há mais tempo no<br />
país - embora outros tenham abandonado<br />
o mercado - mas, indiscutivelmente, o<br />
momento actual apela ao investimento.<br />
A Visabeira inaugurou recentemente o<br />
Girassol Gorongosa Lodge & Safari, a<br />
sua quinta unidade Girassol. O grupo<br />
tem já presença em Maputo (com duas<br />
unidades, o Girassol Bahia Hotel e o<br />
Girassol Indy Congress Hotel & SPA),<br />
em Nampula e em Linchinga, e promete<br />
não ficar por aqui. Também o grupo<br />
VIP Hotels está em expansão no país.<br />
Depois da abertura de duas unidades em<br />
Maputo e outra na Beira, o grupo está a<br />
construir a sua quarta unidade, desta feita<br />
na província de Tete, seguindo a rota do<br />
investimento estrangeiro no país.<br />
23
Economia<br />
Bens e serviços para a hotelaria<br />
APIT serão pontos focais<br />
para alocação de recursos<br />
No estudo de mercado<br />
desenvolvido pela CESO CI<br />
Portugal para a AIP – Feiras,<br />
Congressos, são analisadas<br />
as potencialidades dos bens e<br />
serviços para a hotelaria, uma<br />
área que o Governo pretende<br />
tornar prioritária para o<br />
desenvolvimento do país.<br />
T Paula Girão<br />
Com a Resolução nº 14, de 4 de<br />
Abril 200,3 o Governo aprovou a<br />
“Política do Turismo e Estratégia da<br />
sua Implementação”, que estabelece a<br />
perspectiva orientadora do crescimento<br />
e desenvolvimento do turismo no futuro.<br />
A Política do Turismo identifica os<br />
princípios gerais, os objectivos do turismo<br />
e as áreas prioritárias de intervenção e<br />
actuação.<br />
Tendo em consideração os elementos<br />
competitivos em presença e os<br />
constrangimentos que ainda condicionam<br />
a plena afirmação do potencial do<br />
turismo no país, o Governo definiu uma<br />
visão do turismo para Moçambique:<br />
“Até ao ano 2<strong>02</strong>5, Moçambique será o<br />
destino turístico mais vibrante, dinâmico<br />
e exótico de África, famoso pelas suas<br />
praias e atracções litorais tropicais,<br />
produtos de eco-turismo excelentes, e<br />
pela sua cultura intrigante, acolhendo<br />
mais de 4 milhões de turistas por ano.<br />
As áreas de conservação constituem<br />
parte integrante do produto turístico e<br />
os seus benefícios darão um contributo<br />
significativo para o PIB, trazendo riqueza<br />
e prosperidade para as comunidades do<br />
país.”<br />
É esta visão genérica que orienta o<br />
desenvolvimento do sector do turismo<br />
e que, naturalmente, condicionará a<br />
procura potencial de bens e serviços para<br />
a hotelaria. Um aspecto fundamental<br />
da política é a abordagem orientada<br />
para o envolvimento das estruturas<br />
distritais e das comunidades locais.<br />
Outras orientações fundamentais desta<br />
nova política são o reconhecimento do<br />
valor real das Áreas de Conservação no<br />
desenvolvimento do sector; o contributo<br />
que o turismo pode ter no alívio da<br />
pobreza e, finalmente, o desenvolvimento<br />
de novas linhas de produto na perspectiva<br />
dos vários segmentos de mercado.<br />
Todavia, o desenvolvimento do sector<br />
debate-se, ainda, com constrangimentos,<br />
de entre os quais se destacam a falta de<br />
recursos financeiros, humanos e materiais<br />
no sector público, bem como de dados<br />
estatísticos e o estabelecimento de um<br />
sistema de ‘Satellite Accounting’.<br />
Para além destas questões, o sector<br />
privado continua a manifestar<br />
preocupação face à excessiva burocracia<br />
e fraca capacidade de planificação<br />
no sector, às quais se juntam a falta<br />
de quadros qualificados, o acesso ao<br />
Número de hotéis da amostra do sector utilizada pelo INE<br />
Província Unidade Nº pessoas ao serviço Volume Negócios (10 3 MT)<br />
TOTAL 109 4679 2 196 772,30<br />
Niassa 2 37 2 796,95<br />
Cabo Delgado 6 306 125 195,25<br />
Nampula 8 191 37 375,20<br />
Zambézia 7 147 34 706,36<br />
Tete 4 113 27 865,45<br />
Manica 10 150 32 101,84<br />
Sofala 8 204 159 061,64<br />
Ihambane 18 754 85 971,47<br />
Gaza 17 526 64 442,82<br />
Maputo Província 5 86 24 041,80<br />
Maputo Cidade 24 2165 1 603 213,52<br />
Fonte: Instituto Nacional de Estatística<br />
24<br />
a revista que promove Moçambique
Economia<br />
PROJECÇÃO VOLUME DE NEGÓCIOS<br />
HOTELARIA POR PROVÍNCIA<br />
Outras 9%<br />
Inhambane 4%<br />
Cabo<br />
Delgado 6%<br />
Sofala 7%<br />
Fonte: Estudo CESO CI<br />
Maputo<br />
74%<br />
crédito e a necessidade de incentivo do<br />
Investimento Directo Estrangeiro (IDE).<br />
Planeamento e procura<br />
Segundo o estudo, a procura potencial<br />
será determinada, em primeira instância,<br />
pelas opções assumidas em matéria<br />
de ordenamento turístico. Neste<br />
sentido, o plano estratégico do sector<br />
contempla uma definição das áreas de<br />
desenvolvimento do turismo assente num<br />
conjunto de critérios: distância, máximo<br />
potencial do produto e marketing,<br />
densidade populacional, infra-estruturas<br />
e acesso, acomodação, agrupamento,<br />
ligação com iniciativas económicas<br />
nacionais, áreas estratégicas.<br />
As APIT (Áreas Prioritárias para<br />
Investimento no Turismo) foram<br />
organizadas em torno de três tipos. A<br />
APIT do tipo ‘A’ é aquela que possui já<br />
um certo nível de desenvolvimento e<br />
infra-estruturas de turismo. Estas áreas<br />
já atraíram investimento turístico ou<br />
têm merecido grande interesse por parte<br />
dos investidores, havendo uma grande<br />
variedade de opções de acomodação e de<br />
produtos existentes.<br />
Prioridades nestas áreas apontam para<br />
um desenvolvimento controlado, para a<br />
integração de planos de desenvolvimento<br />
entre sectores, o desenvolvimento de<br />
recursos humanos e a necessidade de<br />
marketing dos produtos existentes.<br />
As APIT tipo ‘B’ foram seleccionadas<br />
por causa do seu elevado potencial<br />
de turismo ou da sua localização<br />
estratégica, mas que ainda não têm um<br />
nível significativo de desenvolvimento<br />
do turismo. Muitas destas áreas são de<br />
acesso difícil, com fracas provisões de<br />
infra-estruturas e serviços e com níveis<br />
de desenvolvimento sócio-económico, em<br />
geral, modestos.<br />
As prioridades para estas áreas apontam<br />
para a melhoria de infra-estruturas,<br />
planificação integrada e promoção de<br />
investimento.<br />
As APIT identificadas constituirão<br />
os pontos focais para planificação e<br />
alocação dos recursos do turismo. O<br />
objectivo é criar centros de excelência e<br />
modelos de planificação, investimento<br />
e sustentabilidade do turismo que serão<br />
reaplicados no resto do país.<br />
A procura actual e futura de bens e<br />
serviços para a indústria hoteleira<br />
estará geograficamente condicionada<br />
pela localização destas APIT. É em<br />
torno destas áreas que se localizam<br />
(e localizarão no futuro) as principais<br />
unidades hoteleiras do país, ou seja, os<br />
potenciais compradores de bens e serviços<br />
para a indústria hoteleira.<br />
5<br />
4<br />
10<br />
11<br />
2 3<br />
1<br />
Fonte: Estudo CESO CI<br />
9<br />
17<br />
8<br />
7<br />
6<br />
18<br />
12<br />
Esta amostra permite desenhar uma<br />
projecção da localização da procura<br />
potencial do sector hoteleiro em<br />
Moçambique, tomando por base o<br />
volume de negócios gerado pelos<br />
respectivos estabelecimentos.<br />
Conforme esperado, dois terços da<br />
procura situa-se em Maputo (província<br />
e cidade), sendo ponto de partida<br />
obrigatório para a montagem de uma<br />
operação de exportação. As províncias de<br />
Cabo Delgado, Inhambane e Sofala, com<br />
elevado potencial turístico, congregam<br />
entre si 15% do volume de negócios do<br />
sector e são mercados que merecem uma<br />
análise.<br />
Destaca-se, no entanto, a presença de<br />
cadeias hoteleiras de origem portuguesa<br />
(Pestana, Teixeira Duarte com Tivoli,<br />
Visabeira com Girassol) e internacionais,<br />
de que são exemplo os Ibis, Serena,<br />
entre outros que se afirmam,<br />
naturalmente, como agentes<br />
dinamizadores da procura<br />
16 de bens e serviços para a<br />
hotelaria. De salientar, ainda,<br />
os resorts de luxo situados,<br />
15 nomeadamente, nas províncias<br />
de Inhambane e Cabo Delgado<br />
e orientados para uma clientela<br />
mais exigente e que procura<br />
14<br />
produtos exclusivos.<br />
APIT<br />
Tipo ‘A’<br />
2 Zona de “Grande” Maputo<br />
6 Zona Costeira de Inhambane<br />
7 Zona de Vilankulos/Bazaruto<br />
Tipo ‘A/B’<br />
1 Zona Costeira de Elefantes<br />
3 Zona Costeira de Xai-Xai<br />
8 Zona de Turismo de Sofala<br />
14 Zona de Ilha de Moçambique/Nacala<br />
15 Zona de Pemba /Quirimbas<br />
Tipo ‘B’<br />
4 Zona do Limpopo – Massingir<br />
5 Zona do Limpopo – Mapai<br />
9 Zona de Turismo de Gorongosa<br />
10 Zona de Turismo de Manica<br />
11 Zona de Turismo de Cahora Bassa<br />
12 Zona de Gilé/Pebane<br />
13 Zona de Turismo de Gurué<br />
16 Zona de Norte de Cabo Delgado<br />
17 Zona de Lago de Niassa<br />
18 Zona de Reserva de Niassa<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
25
Economia<br />
Transportes são factor crítico<br />
para aposta energética<br />
A capacidade de exportação da produção gerada pelos grandes investimentos no<br />
sector extractivo está dependente da eficácia das acessibilidades rodo-ferroviárias<br />
e portuárias e das redes de transporte. Daí que grande parte das intenções de<br />
investimento total nos transportes e comunicações esteja associada à grande<br />
indústria extractiva, nomeadamente por causa dos corredores do centro e norte de<br />
Moçambique, e às comunicações de banda móvel.<br />
T Fátima Azevedo<br />
De acordo com um estudo sobre<br />
a evolução do sector, elaborado<br />
por Nuno Castel-Branco, investigador<br />
do IESE, “após o fim da guerra civil<br />
e até meados de 2000, objectivos<br />
político-administrativos ligados ao<br />
controlo territorial e à expansão<br />
do acesso à terra predominaram na<br />
definição das estratégias de construção<br />
das colunas vertebrais das vias e meios<br />
de comunicação (estradas e sistemas de<br />
telecomunicações) e das redes de energia”.<br />
No entanto, desde meados desta década,<br />
“voltaram a predominar os interesses dos<br />
megaprojectos minero-energéticos, o<br />
que se manifesta na implementação das<br />
prioridades na construção de infra-<br />
-estruturas e redes de energia associadas<br />
com estes projectos”, cujos investimentos<br />
ascendem a cerca de 13 biliões de USD,<br />
cerca de 15% do total de investimento<br />
associado aos megaprojectos. Mas, para o<br />
investigador do IESE, foi esse contexto<br />
que determinou que “as necessidades<br />
da diversificação e articulação da base<br />
produtiva e comercial não tenham sido<br />
prioritárias”.<br />
Um exemplo deste trade-off de<br />
prioridades é a gestão de uma grande<br />
barragem, dado que é mais facilmente<br />
adaptada à produção de energia eléctrica<br />
do que à irrigação de pequenas e médias<br />
empresas agrícolas, protecção contra<br />
cheias e abastecimento de água. Os baixos<br />
índices de industrialização e a subjacente<br />
fraca intensidade energética, tornam,<br />
segundo Castel-Branco, mais provável<br />
a utilização da barragem para exportar<br />
energia “ou para alimentar megaprojectos<br />
minero-energéticos nacionais do que<br />
para ajudar a diversificar e articular a base<br />
produtiva”, concluindo que “um grande<br />
parque industrial sofisticado ou uma zona<br />
económica especial, gerados em torno<br />
de um megaprojecto de alta tecnologia,<br />
numa economia com desenvolvimento e<br />
ligações industriais débeis e de natureza<br />
extractiva, dificilmente funcionarão<br />
como trampolim para a emergência<br />
de pequenas e médias empresas locais<br />
intensivas em trabalho e de tecnologia<br />
adequada”.<br />
Corredores ferroviários<br />
são prioridade<br />
Por sua vez, Casimiro Francisco,<br />
presidente da Associação Moçambicana<br />
para o Desenvolvimento do Carvão<br />
Mineral (AMDCM), sublinha como<br />
os atrasos na reabilitação do corredor<br />
ferroviário que liga Moatize, em Tete,<br />
onde se localiza a exploração liderada<br />
pelos brasileiros da Vale, e o porto da<br />
Beira, poderão ter acarretado perdas<br />
acima dos 500 milhões de dólares em<br />
2011. No final do terceiro trimestre de<br />
26<br />
a revista que promove Moçambique
Economia<br />
As redes de ligação<br />
O sistema ferroviário de Moçambique é compostos por três redes, sem ligação entre si, localizadas no norte, centro e sul do país, estruturadas<br />
e geridas em torno de três grandes corredores de desenvolvimento, num total de 3.130 km:<br />
Corredor de<br />
Nacala<br />
Compreende o porto de Nacala<br />
e a linha ferroviária de Nacala,<br />
que liga o Porto de Nacala aos<br />
Caminhos-de-Ferro do Malawi.<br />
Corredor da Beira<br />
Inclui o Porto da Beira, a linha de<br />
Machipanda, desde a Beira até Harare,<br />
o Zimbabué, e a Linha do Sena, ligando<br />
o porto com os campos de carvão de<br />
Moatize (estas duas constituem a Linha<br />
Ferroviária da Beira). O corredor foi<br />
dado em concessão ao consórcio formado<br />
pela Rail India Technical and Economic<br />
Services (RITES) Ltd. e pela IRCON International,<br />
em Dezembro de 2004.<br />
Corredor de<br />
Maputo<br />
Compreende o Porto de Maputo,<br />
a linha Ressano Garcia, ligando<br />
Maputo à África do Sul, a Linha de<br />
Limpopo, desde o Porto de Maputo<br />
até ao Zimbabué, e a Linha de Goba,<br />
que liga Maputo à Linha Ferroviária<br />
suazilandesa. Estas três linhas são<br />
actualmente geridas pelos Caminhos-<br />
-de-Ferro de Moçambique (CFM).<br />
2011, a Vale concretizou o primeiro<br />
transporte de carvão para o porto da<br />
Beira, com destino ao Dubai. Mas a<br />
verdade é que, com uma capacidade<br />
de escoamento limitada a dois milhões<br />
de toneladas por ano, apesar de ser<br />
projectada para transportar seis milhões<br />
de toneladas, a linha de Sena fica aquém<br />
das necessidades da multinacional<br />
brasileira, cuja produção estimada ronda<br />
os 12 milhões de toneladas/ano e os 100<br />
milhões até 2<strong>02</strong>0.<br />
A modernização dos troços ferroviários<br />
que ligam o sul ao norte, a partir dos<br />
portos do país, é um desafio. Está já<br />
em curso a reconstrução das linhas<br />
Quelimane-Mocuba, no centro, e Xai-<br />
Xai-Chicomo, no sul de Moçambique,<br />
depois de concluída a reabilitação da<br />
linha de Ressano Garcia, com uma<br />
capacidade para suportar o transporte de<br />
14 milhões de toneladas por ano para a<br />
África do Sul, via porto de Maputo.<br />
A alternativa é a rodovia, mas a<br />
morosidade e o maior custo dificultam<br />
os timings e a rendibilidade dos<br />
investimentos. Por isso mesmo, a<br />
Vale não perdeu tempo e anunciou a<br />
construção de uma nova linha ferroviária<br />
para o transporte de carvão, a iniciar em<br />
2013. Será a ligação entre Moatize e o<br />
Porto de Nacala - uma infra-estrutura<br />
que irá atravessar o sul do Malawi numa<br />
extensão de aproximadamente 140 km<br />
de um total de 201 km - cuja construção<br />
estará a cargo da portuguesa Mota-Engil.<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
INFRA-ESTRUTURAS ASSOCIADAS<br />
A MEGAPROJECTOS<br />
TRADUZEM<br />
13 BILIÕES DE DÓLARES<br />
DE INVESTIMENTOS<br />
22%<br />
13%<br />
31%<br />
34%<br />
Valores em biliões de dólares<br />
% do investimento total em infraestruturas<br />
Fonte: IESE<br />
A viabilização do projecto, orçado em 1,7<br />
biliões de dólares, envolveu a celebração<br />
de um acordo de concessão entre a Vale<br />
e o Governo malawiano, que sossega os<br />
responsáveis brasileiros pela possibilidade<br />
de utilizar o porto de Nacala, que é o<br />
maior porto de águas profundas da África<br />
oriental e pode acolher todos os tipos de<br />
navios, ao contrário do porto da Beira,<br />
em que são necessárias dragagens.<br />
Por sua vez, a Riversdale, hoje controlada<br />
pela Rio Tinto, já tinha avançado com<br />
uma proposta de utilização do rio<br />
Zambeze, para complementar os meios<br />
de transporte do carvão em elevada escala,<br />
mas o Governo, para já, rejeitou a ideia.<br />
Próximos anos são decisivos<br />
Os próximos anos serão cruciais<br />
para avaliar o retorno dos avultados<br />
investimentos nas bacias carboníferas<br />
moçambicanas. As expectativas apontam<br />
para a duplicação do peso no PIB, o que<br />
irá contribiuir para uma aceleração do<br />
ritmo de crescimento superior a 10% em<br />
meados da década.<br />
Esta é a razão porque a capacidade<br />
de escoamento será determinante.<br />
A produção esperada para 2012 é de<br />
oito milhões de toneladas, mas deverá<br />
quintuplicar em três anos, precisamente<br />
quando deverá arrancar a linha férrea que<br />
partirá de Moatize até ao porto de Nacala<br />
via Malawi, recentemente anunciada pela<br />
Vale. Já a Rio Tinto deverá uitilizar o<br />
porto da Beira para exportar para a Índia<br />
o carvão extraído em Tete, sendo decisiva<br />
a conclusão das obras do terminal<br />
provisório no complexo ferro-portuário<br />
da Beira.<br />
Os últimos meses têm sido férteis<br />
em negociações para a construção de<br />
novas linhas ferroviárias, sobretudo no<br />
centro e norte de Moçambique. Para<br />
além da ligação de Moatize ao Malawi<br />
e à costa da Zambézia, os eixos Tete-<br />
Nampula e Tete-Nacala são centrais<br />
no plano de expansão moçambicano,<br />
cuja concretização carece ainda de um<br />
investimento significativo em material<br />
circulante.<br />
27
Bilateral<br />
Novo embaixador de Moçambique<br />
“Temos preferência<br />
pelos investidores<br />
portugueses”<br />
T Andreia Seguro Sanches e Manuela Sousa Guerreiro<br />
Jacob Jeremias Nyambir é,<br />
desde Outubro de 2011, o novo<br />
representante de Moçambique<br />
em Portugal, sucedendo a<br />
Miguel da Costa Mkaima, que<br />
cumpriu uma missão de seis anos<br />
em Lisboa. Nesta entrevista<br />
exclusiva à Empresas&Negócios,<br />
o embaixador fala das relações<br />
entre Portugal e Moçambique<br />
e do importante papel da CPLP<br />
no fortalecimento de laços de<br />
cooperação entre os Estados-<br />
-membros.<br />
Como vê o evoluir das relações entre<br />
Portugal e Moçambique?<br />
Há uma grande harmonia na relação<br />
entre os dois Estados, o que faz com que<br />
as relações económicas tenham evoluído<br />
satisfatoriamente, encontrando-se num<br />
período de grande expansão. Existe uma<br />
apreciação positiva do nosso mercado<br />
por parte dos empresários portugueses.<br />
Portugal é, actualmente, um dos maiores<br />
investidores em Moçambique e esse é<br />
claramente um sinal de que as relações<br />
económicas entre os dois países estão<br />
a atravessar um bom momento. Assim<br />
sendo, a cooperação é excelente.<br />
Portugal e Moçambique organizaram<br />
uma Cimeira Bilateral no ano<br />
passado. Que dossiês ficaram por<br />
discutir?<br />
É necessário que existam Cimeiras<br />
anuais, porque isso demonstra, de facto,<br />
que o nível de entendimento entre os dois<br />
países é elevado. As Cimeiras existem<br />
para que os dois chefes de Estado se<br />
encontrem e troquem opiniões sobre o<br />
que está a acontecer, não necessariamente<br />
para discutir dossiês. Fala-se dos acordos<br />
firmados nesse ano ou de outros que<br />
estejam em curso, de forma a alargar<br />
laços políticos e comerciais e a aproximar<br />
os dois países. Acredito que estamos em<br />
sintonia para elaborar mais contratos<br />
e acordos noutras áreas. A questão de<br />
Cahora Bassa era um assunto paralelo<br />
que já está a ser resolvido.<br />
Vê com bons olhos, nesse caso, a<br />
compra dos 7,5% da hidroeléctrica<br />
pela REN?<br />
Neste mundo global não temos opções.<br />
O nosso parceiro é aquele que nos paga,<br />
seja ele quem for! Moçambique é um país<br />
em construção, que tem atraído cada vez<br />
mais empresários portugueses. O que é<br />
que eles procuram?<br />
O que os portugueses mais procuram<br />
é uma parceria com empresários<br />
moçambicanos, para se sentirem à<br />
vontade e poderem impulsionar o seu<br />
negócio no nosso país. É bom que<br />
os empresários não estejam sós, mas<br />
sim com parceiros, porque mostram<br />
que estão a lutar lado a lado contra o<br />
subdesenvolvimento e a criar postos<br />
de trabalho. O que se verifica é que<br />
nem sempre existem empresários<br />
moçambicanos à altura para efectivar<br />
estas sociedades. No entanto, penso<br />
que os empresários portugueses têm,<br />
igualmente, de ter como objectivo formar<br />
moçambicanos, para que estes percebam<br />
o que é uma cultura empresarial.<br />
Os empresários portugueses<br />
procuram a Embaixada moçambicana<br />
28<br />
a revista que promove Moçambique
Bilateral<br />
para apresentar os seus negócios?<br />
Tem recebido muitas solicitações?<br />
Sim, temos sido muito solicitados e<br />
de forma muito positiva. A grande<br />
maioria quer saber qual a melhor forma<br />
de ir para o nosso país e, sem dúvida,<br />
é encontrando um parceiro local, que<br />
conheça bem a realidade moçambicana.<br />
Queremos empresários portugueses que<br />
sejam empreendedores e que vão para<br />
o nosso país criar emprego. Precisamos<br />
também de quadros superiores que<br />
tenham um bom know-how em sectores<br />
em que há uma exigência de saberes<br />
mais especializados. Penso que o nosso<br />
objectivo, mais do que promover, é<br />
facilitar, dar o apoio de que necessitam<br />
em termos de planificação, legislação,<br />
clarificação do modo de funcionamento<br />
da economia moçambicana e quais os<br />
principais agentes económicos.<br />
Como vê o papel de actores como a<br />
Câmara do Comércio Moçambique<br />
Portugal (CCMP)?<br />
Enquanto Embaixada privilegiamos<br />
e promovemos os contactos entre os<br />
Estados, os ministros e os grandes<br />
investidores. Mas, chega uma altura em<br />
que em vez de sermos nós a fazê-lo são<br />
os próprios portugueses e moçambicanos<br />
a fortalecer essas relações, criando,<br />
por exemplo, uma CCMP que é uma<br />
iniciativa de um grupo de empresários<br />
moçambicanos. Louvamos e encorajamos<br />
este tipo de iniciativas, que acabam por<br />
promover e facilitar os negócios entre<br />
os dois países. No entanto, aqui o nosso<br />
papel é diminuto ou quase inexistente.<br />
A nossa preocupação centra-se na<br />
Comunidade dos Países de Língua<br />
Portuguesa (CPLP), uma comunidade<br />
que reúne países que falam a mesma<br />
língua, que têm uma história comum<br />
e um pensamento comum, apesar das<br />
distâncias e das barreiras físicas. O facto<br />
de estarmos inseridos nesta comunidade é<br />
vital para a nossa economia.<br />
CPLP o desafio do futuro<br />
CPLP e SADC - Comunidade para o<br />
Desenvolvimento da África Austral -<br />
são duas realidades compatíveis?<br />
O que pretendemos é que Moçambique,<br />
enquanto membro também da CPLP,<br />
promova a nossa cultura na geopolítica<br />
onde se encontra a SADC. Portanto, há<br />
Jacob Jeremias Nyanbir com Nuno Tavares e Daniel David, delegado em Lisboa e presidente da CCMP,<br />
respectivamente<br />
“É preciso que as pessoas sintam a CPLP como algo<br />
que lhes pertence, com a qual se identificam e que<br />
representa uma mais-valia nas suas vidas”, sustenta<br />
o embaixador de Moçambique em Portugal<br />
compatibilidade. O nosso interesse é que<br />
os cerca de 250 milhões de falantes de<br />
língua portuguesa sejam o dobro daqui a<br />
50 anos, onde se incluem naturalmente<br />
povos da SADC. A recomendação que<br />
temos dado aos empresários que nos<br />
procuram é que em vez de olharem<br />
apenas para os cerca de vinte milhões de<br />
moçambicanos, tracem uma estratégia<br />
com o objectivo de entrarem num<br />
mercado muito mais vasto - à volta de<br />
250 milhões de pessoas. Acreditamos que<br />
Moçambique pode servir de trampolim<br />
para os empresários portugueses entrarem<br />
na SADC.<br />
Moçambique vai receber a Cimeira<br />
da CPLP em Julho. Fomentar as<br />
relações dentro da CPLP é uma das<br />
grandes prioridades do Governo<br />
moçambicano?<br />
Sim, sem dúvida. Mas antes temos de<br />
evoluir também internamente. Temos<br />
de cultivar a noção de país, porque nem<br />
todos os moçambicanos sabem falar do<br />
seu país. Alguns quando dizem a minha<br />
terra referem-se à sua povoação, ou ao seu<br />
distrito, ou à sua província. Nós queremos<br />
mudar isso. Queremos que as pessoas se<br />
sintam numa esfera global, que cresçam<br />
sabendo que Moçambique está integrado<br />
na SADC e na CPLP, que saibam tirar<br />
partido e que tenham orgulho. É preciso<br />
que as pessoas sintam a CPLP como algo<br />
que lhes pertence, com que se identificam<br />
e que representa uma mais-valia nas suas<br />
vidas.<br />
A CPLP comemorou já15 anos.<br />
Acha que já se construiu esse espaço<br />
de união?<br />
Ainda não. Ainda estamos numa fase<br />
embrionária mas temos dado passos<br />
firmes no reforço das relações entre os<br />
oito Estados-membros. Temos de ter em<br />
conta que, por exemplo, Moçambique<br />
tem apenas 35 anos, o que é muito pouco<br />
tempo para uma nação se consolidar.<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong> 29
Bilateral<br />
Por isso, ainda irá demorar a colher<br />
os seus frutos. Estamos a tratar em<br />
primeiro lugar do aspecto social, do<br />
factor humano, da solidariedade entre os<br />
povos, da amizade; queremos muito que<br />
os portugueses sejam solidários com o<br />
povo moçambicano. Pouco a pouco, com<br />
esse espírito de solidariedade, é possível<br />
pôr em prática o plano económico, fazer<br />
com que as pessoas prefiram e consumam<br />
produtos que vêm dos países membros.<br />
Isso não acontece de um dia para o outro,<br />
leva tempo. Mas posso garantir que a<br />
concertação política neste espaço tem<br />
tido progressos importantes.<br />
O investimento da Sumol+Compal<br />
é um bom exemplo daquilo que é<br />
possível fazer dentro da Comunidade<br />
no plano empresarial?<br />
Trata-se de um excelente exemplo, tendo<br />
em conta que Moçambique é um país<br />
em desenvolvimento e Portugal pode<br />
contribuir para esse desenvolvimento. A<br />
CPLP, feliz ou infelizmente, tem essas<br />
componentes, países desenvolvidos e<br />
países menos desenvolvidos. Os primeiros<br />
são um modelo a seguir e devem ajudar<br />
os outros a desenvolverem-se em várias<br />
vertentes.<br />
Que conselhos é que dá aos<br />
empresários que vão para<br />
Moçambique?<br />
O conselho que dou é o de que façam<br />
o esforço de nos compreender e que<br />
sigam a lógica do namoro. Ninguém<br />
vai confiar em quem não conhece, não<br />
há amores à primeira vista. Há sempre<br />
uma fase de namoro, de aprendizagem<br />
mútua. Portanto, é necessário um maior<br />
conhecimento por parte dos investidores<br />
portugueses da realidade moçambicana,<br />
bem como do mercado português<br />
por parte dos potenciais investidores<br />
moçambicanos. Temos preferência pelos<br />
portugueses, devido à língua e à nossa<br />
cultura, porque nos sentimos irmãos.<br />
Portugal é o terceiro maior<br />
investidor em Moçambique<br />
Apesar da grave crise económica e financeira, Portugal continua a ser um dos maiores<br />
investidores em Moçambique, como revelam os dados do Centro de Promoção de<br />
Investimentos (CPI). Em 2011, o volume de investimento português em Moçambique<br />
atingiu os 200 milhões de USD. Embora bastante diversificado, o investimento português tem<br />
incidido em sectores estruturantes para o desenvolvimento moçambicano, com destaque para<br />
a construção, a agricultura, a agro-indústria, a energia, o turismo e os transportes e comunicações,<br />
de que são exemplo os projectos do grupo Visabeira ou da Galp Energia. Portugal é<br />
neste momento o terceiro maior investidor no país, atrás da República Popular da China, que<br />
investiu acima dos 300 milhões de USD, e da África do Sul, com investimentos superiores a<br />
200 milhões de USD. De realçar que, em 2010, Portugal tinha-se afirmado como o maior<br />
investidor estrangeiro do país, mas as riquezas naturais de Moçambique e a sua localização<br />
privilegiada têm despertado o interesse de grandes potências económicas, com as quais<br />
Portugal tem dificuldade em competir, devido às dificuldades económicas que atravessa.<br />
O potencial de Moçambique está longe de esgotar e são diversos os sectores em expansão,<br />
desde a agricultura às minas, passando pelas infra-estruturas e a energia. Segundo os dados<br />
do CPI, o investimento directo estrangeiro em Moçambique atingiu os 5 mil milhões de USD,<br />
em 2011.<br />
30<br />
a revista que promove Moçambique
“Um sinal muito bom<br />
de Portugal”<br />
Bilateral<br />
Programa Indicativo e Cooperação Portugal-Moçambique<br />
T Andreia Seguro Sanches<br />
O documento, que rege a<br />
cooperação portuguesa para<br />
o quadriénio 2011-2014, foi<br />
firmado em Maputo pelos dois<br />
países. As prioridades centram-se<br />
no combate à pobreza e na boa<br />
governação.<br />
A cooperação entre os portugal<br />
e moçambique ganhou um novo<br />
impulso nos últimos anos, com o reforço<br />
das parcerias estratégicas nos planos,<br />
político, diplomático, económico e<br />
cultural.<br />
Moçambique é um país em<br />
desenvolvimento e pode ser uma<br />
plataforma importante para a projecção<br />
dos interesses portugueses na sua<br />
relação com as economias africanas. Já<br />
Portugal, vive uma crise económica que<br />
se traduz na retracção do investimento<br />
português no mundo. No entanto, é<br />
convicção do Governo português que<br />
essa condicionante não deve afectar os<br />
compromissos assumidos no contexto<br />
bilateral. O objectivo tem sido o de<br />
consolidar as várias esferas de cooperação<br />
mútua. Assim, e na continuidade dos<br />
programas anteriormente assumidos,<br />
Portugal e Moçambique assinaram, em<br />
Fevereiro último, o Programa Indicativo<br />
e Cooperação 2011-2014 (PIC),<br />
que contempla um apoio do Estado<br />
português no montante de 62 milhões de<br />
euros.<br />
Portugal mostra assim que conta com<br />
Moçambique como parceiro estratégico<br />
na sua política de internacionalização<br />
económica, tal como explicou o secretário<br />
de Estado dos Negócios Estrangeiros<br />
e Cooperação português, Luís Brites<br />
Pereira, após a assinatura dos acordos,<br />
em Maputo. “Há quem pense que, no<br />
momento difícil e exigente que Portugal<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
atravessa, a cooperação não devia ser a<br />
prioridade. Discordamos. Entendemos<br />
que é precisamente nestes momentos<br />
que temos de saber ser fiéis aos nossos<br />
amigos. Porque com o crescimento que<br />
Moçambique tem evidenciado, de certeza<br />
que é um país que vai atrair e acolher<br />
empresas portuguesas”.<br />
Luta contra a pobreza é fulcral<br />
O PIC assenta em duas áreas importantes<br />
para o desenvolvimento de Moçambique:<br />
a boa governação, participação e<br />
democracia; e o desenvolvimento<br />
sustentável e a luta contra a pobreza,<br />
para onde serão canalizados 80% dos<br />
fundos totais. A boa governação será<br />
contemplada com 18% e o designado<br />
‘cluster’ da Ilha de Moçambique, com<br />
uma intervenção complementar, receberá<br />
os 2% restantes do fundo.<br />
De acordo com o documento<br />
assinado, o PIC “introduzirá duas<br />
temáticas inovadoras, designadamente<br />
´Capacitação Científica e Tecnológica` e<br />
´Empreendedorismo e Desenvolvimento<br />
Empresarial`, que apresentam não apenas<br />
um elevado grau de complementaridade<br />
e potenciais sinergias com áreas<br />
tradicionais, de que são exemplos a<br />
Educação e a Capacitação Institucional,<br />
como promovem ainda alargados<br />
benefícios sociais e económicos”.<br />
Hoje a partilha de conhecimentos e<br />
experiências em diferentes domínios<br />
científicos e tecnológicos é fundamental<br />
na sociedade global em que vivemos,<br />
em que o acesso à informação e ao<br />
conhecimento são pedras-chave.<br />
A segunda temática procurará<br />
impulsionar e consolidar a área<br />
empresarial moçambicana para a criação<br />
de novos produtos e serviços, gerando<br />
riqueza e novos postos de trabalho,<br />
além de estimular a competitividade dos<br />
mercados e a economia local.<br />
Para além do PIC, durante os próximos três anos<br />
Portugal compromete-se ainda a apoiar o Orçamento<br />
de Estado de Moçambique com 1,5 milhões de euros<br />
anuais.<br />
Do ponto de vista geográfico, a<br />
cooperação portuguesa irá centrar-se nas<br />
províncias de Maputo, Sofala e Nampula.<br />
Para além do PIC, durante os próximos<br />
três anos, Portugal compromete-se ainda<br />
a apoiar o Orçamento de Estado de<br />
Moçambique com 1,5 milhões de euros<br />
anuais.<br />
Um esforço que foi reconhecido pelo<br />
Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros<br />
de Moçambique, Henrique Banze, que<br />
agradeceu este apoio directo: “achamos<br />
que é um sinal muito bom de Portugal”.<br />
31
Bilateral<br />
Estudo de oportunidades de negócio<br />
Sector alimentar tem<br />
potencialidades por explorar<br />
A caracterização do sector alimentar em Moçambique é objecto do estudo elaborado pela<br />
CESO CI para a Associação Industrial Portuguesa (AIP). Numa análise inédita, o documento<br />
identifica uma série de produtos que podem constituir oportunidades de negócio no mercado<br />
moçambicano, mas também os constrangimentos de um sector com muito para evoluir.<br />
T Paula Girão<br />
A caracterização do país levada<br />
a cabo pela CESO CI, mostra que<br />
as zonas privilegiadas de produção<br />
alimentar se situam no Norte e Centro<br />
(Províncias de Cabo Delgado, Niassa,<br />
Nampula, Zambézia, Tete, Sofala e<br />
Manica), por oposição às províncias do<br />
Sul (Inhambane, Gaza e Maputo), que<br />
representam as zonas de défice/ consumo.<br />
Já no que se refere aos produtos de<br />
consumo básico, que estruturam a dieta<br />
dos moçambicanos, estes são a mandioca<br />
(de produção nacional); o milho (de<br />
produção nacional); o arroz (produção<br />
nacional e importado); e o trigo<br />
(importado).<br />
A rede comercial dos produtos agrícolas<br />
é constituída maioritariamente por lojas<br />
rurais, comerciantes licenciados e não<br />
licenciados (barracas, tendas e vendedores<br />
ambulantes), armazenistas, importadores<br />
e exportadores. Muitas vezes, o mesmo<br />
comerciante realiza diversos tipos de<br />
comércio (a grosso e a retalho) no<br />
mesmo estabelecimento. No campo, a<br />
comercialização agrícola é principalmente<br />
assegurada pelos vendedores ambulantes<br />
e, nos produtos em que existe o sistema<br />
de concessionários ou de exclusividade<br />
IMPORTÂNCIA DOS ALIMENTOS<br />
BÁSICOS NA DIETA<br />
Arroz 7%<br />
Trigo 7%<br />
Milho<br />
22%<br />
Fonte: Estudo CESO CI<br />
Outros<br />
28%<br />
Mandioca<br />
36%<br />
zonal, estes utilizam a sua rede comercial.<br />
Em termos de mercado final,<br />
independentemente de serem ou não<br />
transformados ao nível nacional, os<br />
produtos agrícolas podem ser agrupados<br />
por mercadorias produzidas quase<br />
exclusivamente para o mercado externo,<br />
como o tabaco e o algodão; mercadorias<br />
produzidas quase em exclusivo para<br />
o mercado interno (arroz, mapira);<br />
e mercadorias produzidas para os<br />
mercados interno e externo (milho, caju,<br />
amendoim, feijões, entre outras).<br />
O mercado interno caracteriza-se por<br />
baixo poder de compra geral, devido à<br />
grande incidência de pobreza e ao facto<br />
de a maior parte da população viver no<br />
campo e produzir o básico para a sua<br />
alimentação. A baixa utilização da moeda<br />
reflecte, ainda, o uso do sistema de trocas<br />
como meio privilegiado para o acesso aos<br />
produtos.<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
33
Bilateral<br />
A população das vilas e cidades com<br />
emprego formal, em geral, detém maior<br />
poder de compra e, embora mantenha,<br />
por vezes, uma ligação com o campo<br />
através de familiares que produzem<br />
e ajudam na alimentação, apresenta<br />
maior propensão de compra de produtos<br />
agrícolas.<br />
As zonas urbanas são também abastecidas<br />
por importações que, em geral,<br />
concorrem com a produção nacional.<br />
As dificuldades nas vias de acesso e<br />
a baixa produtividade da agricultura<br />
tornam os produtos agrícolas nacionais<br />
pouco competitivos relativamente às<br />
importações.<br />
Aumentar a produtividade<br />
Não obstante os progressos registados<br />
em matéria de produção alimentar, a<br />
produtividade agrária mantém-se aquém<br />
de níveis satisfatórios, ao registar um<br />
défice em produtos alimentares básicos<br />
como o arroz, na ordem de 316 mil<br />
toneladas ,e no trigo, com um défice de<br />
470 mil toneladas.<br />
De acordo com o Estudo, o Balanço<br />
Alimentar Nacional aponta para a<br />
existência de défice de outros produtos<br />
alimentares básicos, tais como a batatareno<br />
(170 mil toneladas), frango (24<br />
mil toneladas), óleo alimentar (50 mil<br />
toneladas) e peixe (54 mil toneladas).<br />
Com o objectivo de mitigar os efeitos<br />
das situações deficitárias registadas<br />
em produtos básicos, o Governo está a<br />
implementar, desde 2008, programas<br />
específicos que visam o aumento<br />
sustentado da produção de milho, arroz,<br />
trigo, mandioca, batata-reno, oleaginosas,<br />
frango e peixe.<br />
A análise ao sector agro-industrial do país<br />
revela a existência de algumas fábricas de<br />
média ou grande capacidade em grande<br />
parte dos produtos agrícolas (moagens<br />
de milho, fábricas de descasque de<br />
arroz, fábricas de óleos e sabões, fábricas<br />
de algodão, entre outras) nos centros<br />
urbanos; a existência de fabriquetas rurais<br />
(moinhos de martelo, equipamento de<br />
descasque de arroz, prensas de óleo)<br />
espalhadas, principalmente, pelas zonas<br />
de maior produção; e a existência de<br />
matérias-primas ou condições básicas<br />
para a sua produção.<br />
A generalidade da rede de distribuição<br />
alimentar em Moçambique é ainda<br />
Défice de produção de principais alimentos que compõem a dieta dos moçambicanos<br />
Produtos Consumo Nacional Oferta Nacional Deficit/Exced (ton)<br />
Arroz 539 000 223 000 -316 000<br />
Trigo 472 500 3 000 -469 500<br />
Milho 1 656 000 1 732 000 76 000<br />
Mandioca 6 000 000 9 576 292 3 576 292<br />
Batata Reno 252 000 82 700 -169 300<br />
Frango 54 000 30 000 -24 000<br />
Peixe 54 000 0 -54 000<br />
Óleo Alimentar 50 400 0 -50 400<br />
Fonte:Estudo CESO CI<br />
incipiente, em virtude da ausência<br />
de poder de compra da maioria da<br />
população, quer seja nas zonas rurais quer<br />
nas zonas urbanas.<br />
Porém, a análise feita pela CESO CI<br />
avança que a economia moçambicana,<br />
impulsionada pelos megaprojectos e<br />
por um ciclo de exploração de recursos<br />
naturais que se abre, irá gerar, nas<br />
próximas décadas, um crescimento da<br />
classe média urbana, dotada de maior<br />
poder de compra e com hábitos de<br />
consumo que mudarão, sensivelmente, a<br />
procura por produtos alimentares.<br />
De acordo com o estudo “as<br />
oportunidades do futuro justificam,<br />
em nosso entender, um investimento<br />
no presente. Este investimento poderá<br />
iniciar-se com a exportação mas, a médio<br />
e longo-prazo, a presença das marcas e<br />
empresas portuguesas no mercado exigirá,<br />
inevitavelmente, localização industrial<br />
para fazer face à feroz concorrência<br />
nacional e regional que se avizinha.”<br />
Identificação das<br />
oportunidades de negócios<br />
O estudo CESO CI identificou mais de<br />
duas dezenas de produtos que configuram<br />
oportunidades por explorar. Mas há que<br />
ter em linha de conta aspectos como a<br />
competitividade e qualidade, bem como a<br />
concorrência regional.<br />
No segmento dos cereais, o documento<br />
destaca o arroz, o trigo e o milho; no<br />
leite e lacticínios, sobressaiem o leite e<br />
nata concentrados; no peixe a atenção<br />
vai para os congelados; na indústria de<br />
moagem para o malte e malte torrado;<br />
no segmento dos óleos animais e vegetais<br />
para o óleo de palma e suas fracções; e, na<br />
carne e miudezas estão contempladas as<br />
frescas, as refrigeradas ou congeladas das<br />
aves da posição 0105.<br />
Estes são segmentos em que a indústria<br />
portuguesa está tradicionalmente, com<br />
níveis satisfatórios de competitividade,<br />
pelo que, de acordo com o estudo,<br />
“o investimento na exploração destas<br />
oportunidades se afigura justificado”.<br />
A economia moçambicana, impulsionada pelos<br />
megaprojectos e por um novo ciclo de exploração<br />
de recursos naturais, irá gerar um crescimento<br />
da classe média urbana, com maior poder de<br />
compra e diferentes hábitos de consumo de produtos<br />
alimentares.<br />
34<br />
a revista que promove Moçambique
Moçambique<br />
já não é um mercado improvável<br />
Bilateral<br />
São empresas da área alimentar, vendem cada vez mais para Moçambique e este é<br />
hoje um dos seus mercados prioritários. O crescimento económico do país, aliado<br />
ao aumento do poder de compra da população e à melhoria das infra-estruturas,<br />
está a criar novas oportunidades de negócio num segmento em que os laços<br />
culturais e gastronómicos sãos aliados preciosos.<br />
T Manuela Sousa Guerreiro<br />
Imperial Chocolates<br />
“Moçambique é um mercado estratégico”<br />
O maior fabricante português de chocolate, detentor das principais marcas portuguesas,<br />
entrou em Moçambique há menos de um ano. Em pouco tempo conquistou uma<br />
posição importante nos diferentes segmentos. “Moçambique é para nós um mercado<br />
estratégico e de grande relevância, tem uma economia que está a crescer e uma classe<br />
média emergente. Fizemos um acordo com um importador local, a Tropigália, que<br />
tem desenvolvido um trabalho extraordinário, quer em termos de comunicação quer<br />
logístico, o que é um aspecto determinante do negócio. Estamos em todas as grandes<br />
cadeias de distribuição, em todo o canal de impulso e por todo o país”,<br />
sublinha Manuela Tavares de Sousa, administradora da Imperial.<br />
As principais marcas da Imperial, como a Jubileu, a Regina,<br />
Pintarolas ou Pantagruel são comercializadas no país e<br />
a receptividade do mercado não podia ter sido melhor.<br />
“Comercializamos em Moçambique uma gama muito<br />
diversificada e todos os produtos encontrarão espaço para crescer<br />
e desenvolver-se”,<br />
refere a responsável da<br />
Imperial.<br />
Por o negócio estar ainda<br />
numa fase inicial, Manuela Tavares<br />
de Sousa prefere não falar nos valores<br />
das exportações para Moçambique,<br />
sublinhando, contudo, que a breve trecho<br />
este será um mercado muito relevante<br />
para a empresa, a par de Angola, África<br />
do Sul, Brasil ou Venezuela, os principais<br />
mercados da Imperial.<br />
Ramirez<br />
Uma presença<br />
centenária<br />
É, provavelmente,<br />
a empresa<br />
conserveira mais<br />
antiga do mundo. A<br />
Ramirez iniciou a sua<br />
actividade em 1853 e há mais<br />
de 100 anos que tem ligações ao mercado<br />
moçambicano. “Temos uma presença<br />
muito forte em Moçambique, embora<br />
este não seja um dos nossos principais<br />
mercados em volume de vendas. Temos<br />
um importador que distribui as conservas<br />
por todo o país e também nos países<br />
limítrofes, incluindo a África do Sul”,<br />
refere Manuel Ramirez. Segundo<br />
o presidente executivo da Ramirez,<br />
Moçambique mudou muito nos últimos<br />
anos, sobretudo ao nível do poder de<br />
compra da sua população e também<br />
da apetência de certos segmentos por<br />
produtos inovadores. “Temos uma gama<br />
bastante vasta de 48 produtos e notamos<br />
um apetite do mercado pelas novidades.<br />
A qualidade do produto é também outro<br />
factor sobreavaliado pelo mercado”,<br />
sublinha Manuel Ramirez.<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
35
Tudo o que fazemos é Seguro<br />
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Sovena<br />
Presença local<br />
é meta a médio prazo<br />
“Estamos há alguns anos em<br />
Moçambique com a marca de azeite<br />
“Andorinha”, uma marca que o<br />
grupo adquiriu em 2004 e que já é<br />
comercializada há várias décadas no<br />
país. Estamos também presente com a<br />
marca Oliveira da Serra, azeite<br />
e azeitonas, e com a marca<br />
Fula, nos óleos alimentares.<br />
Ao longo dos anos temos<br />
feito um caminho de<br />
desenvolvimento que tem<br />
acompanhado a própria<br />
evolução do mercado”, conta<br />
Rute Parreira, da direcção<br />
de marketing. Assim, para além<br />
da típica lata de azeite, um produto<br />
tradicional deste tipo de mercado, hoje<br />
Moçambique consome toda a variedade<br />
da gama, “não só a que é destinada para<br />
cozinhar, mas também para temperar ou<br />
degustar”.<br />
O crescimento do volume de vendas<br />
anuais reflecte esta evolução. “Todos os<br />
anos, praticamente, temos duplicado<br />
as vendas em Moçambique. Este é um<br />
mercado que se está<br />
a transformar muito<br />
rapidamente num<br />
dos nossos principais<br />
mercados de exportação”,<br />
refere Rute Parreira.<br />
A par da evolução do<br />
país, dos laços históricos e do<br />
crescimento, quer em dimensão quer em<br />
número, das superfícies de retalho, Rute<br />
Parreira sublinha ainda a importância<br />
do estabelecimento da parceria com<br />
um importador local, Tropigália, com<br />
conhecimento do mercado e com<br />
dimensão nacional.<br />
O próximo passo poderá passar pelo<br />
reforço de uma presença local, não<br />
Bilateral<br />
estando afastada a possibilidade de um<br />
investimento numa unidade industrial<br />
para embalamento do produto. “Nos<br />
últimos anos o Grupo Sovena tem<br />
crescido muito através de aquisições<br />
e estabelecimento de parcerias no<br />
estrangeiro e Moçambique pode ser o<br />
próximo mercado. Um investimento<br />
local justifica-se quando há um<br />
crescimento do mercado, mas quem<br />
investe em Moçambique tem que olhar<br />
obrigatoriamente também para os países<br />
da SADC”, reflecte Rute Parreira.<br />
Uma presença industrial local não seria<br />
uma novidade para a Sovena, que já teve<br />
uma primeira experiência com a Fasol em<br />
Moçambique.<br />
PROBAR<br />
Herança cultural é uma mais-valia<br />
Há oito anos que a Probar comercializa os<br />
seus produtos em Moçambique, no âmbito<br />
de uma parceria com um importador local,<br />
a Tropigália.<br />
Enlatados (salchichas, chouriço e refeições<br />
tipicamente portuguesas) ou produtos<br />
de charcutaria refrigerada têm hoje uma<br />
grande procura neste mercado.<br />
“Moçambique é o nosso segundo mercado,<br />
no seio dos grupos dos países africanos<br />
de língua portuguesa, o primeiro é<br />
Angola. No conjunto, estes mercados<br />
são já responsáveis por 10% das nossas<br />
vendas e a tendência é para aumentar. A<br />
internacionalização é estratégica para a<br />
Probar”, sublinha Cecílio Baptista, director<br />
comercial. No total a empresa exporta para quase duas dezenas de países. Depois de Angola e de Moçambique, a Probar quer crescer<br />
no Brasil e em Timor. Em comum estes países têm a herança portuguesa, que se reflecte nos hábitos de consumo e de alimentação.<br />
“Este é um factor que não podemos descurar. Existe uma preferência clara pelo produto português, em detrimento do de outras<br />
nacionalidades, e pelo que é tipicamente português. Estes factores são uma clara mais-valia num mercado que se está a expandir<br />
e a atrair outros players”, reflecte Cecílio Baptista. Segundo o mesmo responsável, a empresa está também atenta à evolução e ao<br />
crescimento da distribuição moderna e às oportunidades de negócio que ela potencia.<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
37
empresas & Negócios<br />
Sumol+Compal<br />
investe em unidade<br />
industrial em Boane<br />
O grupo nascido da fusão entre a Sumol e a Compal escolheu Moçambique para<br />
implementar a sua primeira unidade fabril fora de Portugal, num investimento de<br />
oito milhões de euros. Está aberta a porta para o mercado da SADC.<br />
T Andreia Seguro Sanches<br />
Desde Março que a<br />
Sumol+Compal, empresa portuguesa<br />
a actuar no sector das bebidas não<br />
alcoólicas, é detentora de uma unidade<br />
industrial nos arredores de Maputo. Este<br />
é o primeiro investimento, de um total<br />
de cerca de oito milhões de euros (10,4<br />
milhões de USD), que a empresa espera<br />
realizar para desenvolver a sua actividade<br />
em Moçambique, com o objectivo de<br />
assegurar a produção local de alguns<br />
produtos da marca. “A primeira fase é a<br />
de aquisição de uma unidade industrial<br />
nos arredores de Maputo e que servirá<br />
de ponto de partida para produzirmos<br />
as nossas marcas de sumos, sobretudo<br />
da marca Compal, em Moçambique”,<br />
referiu Duarte Pinto, Presidente<br />
da Comissão Executiva da empresa<br />
portuguesa. Duarte Pinto explicou à<br />
Empresas&Negócios que a curto e médio<br />
prazos não há intenção de criar uma<br />
marca própria. Vamos utilizar a marca<br />
Compal, assegurando o mesmo padrão<br />
de qualidade e os mesmos requisitos que<br />
exigimos à marca em Portugal ou em<br />
qualquer outro ponto do globo”, reiterou.<br />
Trata-se da primeira unidade industrial<br />
do grupo empresarial fora de Portugal,<br />
o que representa um importante passo<br />
na internacionalização da empresa,<br />
que espera conquistar assim novos<br />
mercados no continente africano.<br />
Como salientou Duarte Pinto, “este é<br />
um projecto desafiante. Queremos ser<br />
uma referência na produção de bebidas<br />
de fruta no mercado da Comunidade<br />
de Desenvolvimento da África Austral<br />
(SADC), tendo por base a nossa<br />
plataforma de Moçambique”.<br />
A empresa espera com este investimento<br />
entrar num mercado que está claramente<br />
em crescimento e que representa cerca de<br />
170 milhões de consumidores.<br />
Localizada em Boane, a operação<br />
ficará integrada na subsidiária da<br />
Sumol+Compal Moçambique SA,<br />
constituída para o efeito. Na fase<br />
de arranque, esta contará com “uma<br />
participação de 100% da Sumol+Compal,<br />
estando prevista a venda de participações<br />
que, conjuntamente, representem até 25%<br />
do capital daquela sociedade a sócios<br />
locais”, adiantou.<br />
A fábrica, que deverá começar a laborar<br />
no final do segundo semestre deste ano,<br />
vai criar cerca de 80 postos de trabalho<br />
nesta primeira fase.<br />
Produção pode vir a ser local<br />
Com uma capacidade de produção de 30<br />
milhões de litros de sumo por ano (70%<br />
dos quais serão exportados para os países<br />
limítrofes à luz do protocolo comercial<br />
da SADC, que isenta as mercadorias<br />
de direitos aduaneiros), a fábrica irá<br />
“Queremos ser uma referência na produção de<br />
bebidas de fruta no mercado da Comunidade de<br />
Desenvolvimento da África Austral (SADC), tendo<br />
por base a nossa plataforma de Moçambique”,<br />
sustenta Duarte Pinto, CEO da Sumol+Compal<br />
38<br />
a revista que promove Moçambique
empresas & Negócios<br />
produzir apenas sumos de fruta durante<br />
os primeiros tempos de actividade.<br />
“Este é um projecto de raiz, por isso<br />
não sabemos como exactamente é que o<br />
mercado vai reagir. No entanto, os testes<br />
piloto dão-nos a garantia de que vamos<br />
merecer a confiança do consumidor<br />
moçambicano, de uma série de outros<br />
países que compõem a SADC”, salientou.<br />
O director sublinhou que irá ser<br />
incorporada a mais moderna tecnologia<br />
nesta fábrica, com linhas semelhantes às<br />
utilizadas em Portugal, e sempre tendo<br />
em conta os altos padrões de qualidade.<br />
“Acreditamos que podemos fazer em<br />
Moçambique produtos com o mesmo<br />
nível” sustenta.<br />
Questionado sobre as potencialidades<br />
de Moçambique no sector frutícola e<br />
sobre a possibilidade de a totalidade da<br />
exploração ser feita no país, o director<br />
referiu que, inicialmente, a integração<br />
da fileira da fruta não faz parte das<br />
intenções, mas, assim que a produção<br />
local e mesmo regional consiga assegurar<br />
a quantidade e qualidade exigidas, a<br />
matéria-prima será adquirida localmente.<br />
“Este negócio precisa de escala, fruta<br />
num determinado nível de quantidade<br />
que necessita ser processada. Só depois<br />
de nos certificarmos que existe essa<br />
quantidade de fruta disponível no<br />
mercado, e que esta cumpre os requisitos<br />
de qualidade a que estamos habituados, é<br />
que podemos avançar para esse cenário.<br />
Mas posso afirmar que estamos a<br />
estudar soluções que possam potenciar<br />
a incorporação de fruta moçambicana<br />
neste projecto”, sublinhou o responsável,<br />
que admitiu a possibilidade de alguma<br />
fruta tropical, como é o caso da manga<br />
ou do maracujá, actualmente importada<br />
pelas fábricas em Portugal, poder vir a ser<br />
adquirida em Moçambique.<br />
Internacionalização<br />
como pedra de toque<br />
Em Portugal, a Sumol+Compal é<br />
líder do mercado nacional de bebidas<br />
não alcoólicas. A produção é feita<br />
exclusivamente no país, nas fábricas<br />
localizadas em Almeirim, Pombal,<br />
Gouveia e Vila Flor, as quais concentram<br />
a produção de bebidas - sumos, néctares,<br />
refrigerantes sem gás e produção de<br />
vegetais enlatados, derivados de tomate,<br />
concentrado de tomate e polpas de<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
Ministro moçambicano<br />
satisfeito com o que viu<br />
A<br />
convite da Sumol+Compal, uma delegação liderada<br />
pelo Ministro moçambicano da Planificação<br />
e Desenvolvimento, Aiuba Cuereneia, e pela<br />
CCMP, visitou, em Fevereiro último, a fábrica de Almeirim.<br />
Aiuba Cuereneia ficou extremamente agradado com todo o<br />
processo de controlo de qualidade da empresa, a qual será<br />
igualmente garantida em Moçambique, como explicou Duarte<br />
Pinto. O Ministro está convicto de que a actividade da Sumol+Compal<br />
poderá impulsionar, ainda mais, o desenvolvimento da agricultura no país. “Este projecto<br />
é uma mais-valia para Moçambique, porque coloca-nos um grande desafio no que diz<br />
respeito à organização da nossa agricultura, já que os produtores de fruta estão dispersos,<br />
o que irá obrigar a uma melhor organização e comunicação entre todos, tanto na<br />
produção como no processo de transporte”, salientou.<br />
fruta. Entre as marcas detidas pela<br />
Sumol+Compal contam-se a Sumol,<br />
Compal, B!, Um Bongo, Frize, Água<br />
Serra da Estrela e Tagus.<br />
Presente em 68 países, entre os quais<br />
Moçambique e Angola, a Sumol+Compal<br />
acredita que o motor do seu crescimento<br />
económico cada vez mais se centra<br />
nos mercados internacionais, face à<br />
conjuntura adversa que se vive em<br />
Portugal. O ano passado as vendas para<br />
os mercados internacionais atingiram<br />
os 80 milhões de euros, mais 30% que<br />
os 61,6 milhões de euros registados em<br />
2010. “Este desempenho vem premiar<br />
a continuada aposta da Sumol+Compal<br />
em levar produtos inovadores, que<br />
incorporam matéria-prima portuguesa,<br />
a um número crescente de mercados<br />
internacionais”, rematou Duarte Pinto.<br />
39
empresas & Negócios<br />
Ernst & Young Moçambique<br />
Líder na prestação de serviços<br />
de auditoria no país<br />
O forte investimento realizado na formação e qualificação dos<br />
quadros é o ‘segredo’ mais bem guardado do sucesso da Ernst&Young<br />
Moçambique e a fonte de sustentação da sua liderança em todos as<br />
áreas de negócio.<br />
T Cristina Casaleiro<br />
Constituída há 20 anos, a<br />
Ernst &Young Moçambique é líder<br />
incontestada do mercado no domínio<br />
da prestação de serviços de auditoria<br />
e consultoria no país, onde já estão<br />
presentes todas as ‘Big 4’ – como<br />
são conhecidas as quatro maiores<br />
multinacionais de consultoria e auditoria<br />
a nível mundial –, e emprega 130 pessoas,<br />
121 das quais nacionais.<br />
Há quatro anos consecutivos reconhecida<br />
como a ‘Melhor Empresa de Auditoria’<br />
em Moçambique pela PMR África com<br />
a categoria ‘Diamante’, a mais elevada<br />
das distinções atribuídas pela consultora<br />
de origem sul africana, a empresa está<br />
bem posicionada “em todos os sectores<br />
de actividade em que actua, desde a<br />
indústria açucareira, aos megaprojectos<br />
mineiros e petrolíferos, à hotelaria e<br />
turismo, passando pela construção civil<br />
e por empresas públicas”, avança Ismael<br />
Faquir, Country Managing Partner.<br />
A par dos serviços de Auditoria<br />
(incluídos na divisão Assurance), que<br />
contribuem para perto de 65% do volume<br />
de negócios total, a Ernst & Young<br />
Moçambique presta também serviços<br />
em mais três grandes áreas de negócio:<br />
Tax, Advisory e Transactions, áreas<br />
estas em que predominam clientes do<br />
sector financeiro ou as grandes empresas<br />
multinacionais da indústria mineira e do<br />
petróleo e gás que estão a operar no país.<br />
A área de negócio Assurance abarca<br />
ainda a assessoria em contabilidade e<br />
relato financeiro, bem como a análise<br />
de riscos de fraude (financeira), entre<br />
outros. Os serviços do Tax, por sua vez,<br />
incluem a consultoria fiscal tanto na<br />
vertente de apoio no planeamento de<br />
estratégias fiscais sustentáveis e alinhadas<br />
com o negócio, como na perspectiva de<br />
assegurar o cumprimento da legislação e<br />
quadros normativos do país e de normas<br />
internacionais aplicáveis.<br />
A consultoria em gestão, em especial<br />
em gestão organizacional e viabilização<br />
financeira de projectos, é o ponto forte da<br />
área de negócio Advisory.<br />
“Melhorar o desempenho dos negócios<br />
e reduzir os custos são os grandes<br />
objectivos das empresas nos dias de<br />
hoje em qualquer país do mundo e<br />
Moçambique não é excepção. Aqui<br />
também a Ernst & Young pode ajudar<br />
as empresas com a seu know-how e<br />
a sua capacidade de aproveitamente<br />
da experiência dos mais de 152 mil<br />
profissionais espalhados pela rede a nível<br />
global. Temos a capacidade de criar<br />
equipas multi-disciplinares experientes<br />
que trabalham em conjunto com o<br />
cliente e estão focadas em transformar e<br />
melhorar o desempenho do seu negócio<br />
com resultados tangíveis”, acrescenta<br />
o responsável máximo da Ernst &<br />
Young em Moçambique. E reitera,<br />
“sendo uma firma global, temos sempre<br />
a possibilidade de recorrer a equipas<br />
em todo o mundo e transferir para cá o<br />
know-how necessário para concretizar<br />
qualquer projecto em função das<br />
necessidades dos clientes”. No entanto,<br />
o apoio de colegas de outros escritórios<br />
é cada vez mais pontual e incide sobre<br />
projectos de carácter multidisciplinar e<br />
multinacional.<br />
40<br />
a revista que promove Moçambique
empresas & Negócios<br />
Qualificação de<br />
quadros é prioritária<br />
Aliás, é sem hesitação que Ismael Faquir<br />
mostra como está verdadeiramente<br />
orgulhoso da aposta que a empresa tem<br />
feito na formação e qualificação dos<br />
recursos humanos nacionais ao longo<br />
dos vinte anos que já leva de existência.<br />
“Eu próprio represento bem o resultado<br />
dessa aposta, pois entrei para a firma há<br />
13 anos como consultor júnior e neste<br />
momento sou o Country Managing<br />
Partner. Em 1991, quando a empresa<br />
foi constituída, havia uma grande<br />
dependência de escritórios estrangeiros,<br />
em especial do de Lisboa; hoje em dia<br />
temos o suporte de técnicos estrangeiros<br />
somente em algumas áreas, como a de<br />
auditoria e certificação de contas, que é<br />
a maior área de negócio da firma, pelos<br />
requisitos que exige e por não termos<br />
a quantidade de técnicos oficiais de<br />
contas, com a qualificação necessária<br />
para responder à procura. São os quadros<br />
locais que melhor conhecem a realidade<br />
do mercado e os que estão melhor<br />
posicionados estão para apoiar os clientes<br />
locais. Complementarmente contamos<br />
também com o apoio de colaboradores<br />
expatriados, que apoiam não só na<br />
formação de quadros locais mas também<br />
na disseminação de políticas globais<br />
da firma de acordo com os padrões<br />
internacionais. O processo de selecção<br />
dos quadros expatriados pressupõe<br />
também que estes se identifiquem com a<br />
realidade do país.”<br />
O crescimento da actividade,<br />
impulsionado pelo crescimento do<br />
país e, em especial, pelas actividades<br />
de mineração e do petróleo e gás,<br />
traz novos desafios à Ernst & Young<br />
Moçambique. Mais uma vez, avança<br />
o Country Managing Partner, “há que<br />
investir nas pessoas, em ter pessoas<br />
qualificadas e capazes para trabalhar<br />
nas áreas que são significativas para o<br />
desenvolvimento do país. E, sobretudo,<br />
temos de ter capacidade para responder<br />
qualitativamente à cada vez maior<br />
exigência de qualidade por parte dos<br />
clientes. A formação de colaboradores<br />
em escritórios parceiros noutros países,<br />
designadamente na África do Sul e em<br />
Inglaterra, a participação em programas<br />
de mobilidade ou o investimento<br />
na formação académica (cursos de<br />
O crescimento da actividade, impulsionado pelo<br />
crescimento do país e, em especial, das actividades de<br />
mineração e do petróleo e gás, traz novos desafios à<br />
Ernst &Young Moçambique.<br />
contabilidade e auditoria) são exemplos<br />
de acções que temos vindo a concretizar<br />
e em que vamos continuar a apostar<br />
fortemente no futuro. Além disso,<br />
mantemos critérios muito rigorosos<br />
de selecção e uma política activa de<br />
retenção de talentos. Por norma,<br />
contratamos juniores e investimos na<br />
sua formação, tanto na vertente de<br />
aquisição de competências técnicas como<br />
organizacionais e comportamentais.<br />
E note-se que os níveis de exigência<br />
são claramente superiores hoje em<br />
dia. Há planos individuais de carreira,<br />
planos anuais de desempenho que são<br />
comunicados no início de cada ano e<br />
que são avaliados no final desse período.<br />
A progressão na carreira depende da<br />
avaliação do desempenho individual<br />
de cada um e essa avaliação é apoiada<br />
por métricas que ajudam a reduzir o<br />
grau de subjectividade, tornando o<br />
processo transparante, na medida em<br />
que as pessoas têm a oportunidade de<br />
ser avaliadas e de discutir a sua avaliação.<br />
Inclusive, acreditamos que é por isso<br />
que a firma tem um nível de retenção de<br />
talentos que chega até a ser ‘anormal’, se<br />
compararmos com outras organizações.<br />
No Tax, a taxa de retenção é de 100% e<br />
no Advisory é de 90%. Na Auditoria, a<br />
equipa de managers é a mesma desde há<br />
cinco anos”, conclui Ismael Faquir.<br />
A par do profissionalismo e da exigência<br />
com a qualidade dos serviços prestados,<br />
a Ernst & Young rege-se por outros<br />
dois princípios fundamentais: o da<br />
integridade e ética, que fazem parte<br />
do ADN da firma a título mundial e<br />
implicam, inclusive, a análise prévia de<br />
clientes e projectos para averiguação de<br />
eventual conflito de interesses. A regra é<br />
a de que não podem existir conflitos de<br />
interesses e nada pode pôr em causa a<br />
independência da firma.<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
41
empresas & Negócios<br />
Modernização do desalfandegamento<br />
Janela Única Electrónica<br />
agiliza processos<br />
A Janela Única é um instrumento que permite uma melhoria substancial do desempenho,<br />
o aumento das receitas e o combate à fraude nas alfândegas de Moçambique. Para<br />
além destas valias, esta aplicação electrónica desburocratiza os processos relativos ao<br />
desalfandegamento das mercadorias e reduz o tempo de espera.<br />
T Paula Girão<br />
Através da Janela Única<br />
Electrónica ( JUE) os importadores<br />
passam a ter a possibilidade de submeter<br />
a declaração aduaneira e pagar todas<br />
as imposições via banca comercial,<br />
mesmo antes do desembarque efectivo<br />
das mercadorias, o que irá contribuir<br />
para a redução substancial do tempo de<br />
desalfandegamento.<br />
Além de permitir a submissão de<br />
informação uniformizada através de<br />
um único ponto de contacto entre a<br />
Autoridade Tributária (AT) e os utentes<br />
aduaneiros, a Janela Única vai igualmente<br />
eliminar a múltipla digitação de dados<br />
em diferentes sistemas; reduzir erros,<br />
manipulação de dados e a necessidade<br />
de produção de cópias, carimbos e selos,<br />
bem como a quantidade de passos dados<br />
em toda a cadeia de desembaraço de<br />
mercadorias.<br />
De igual modo, a nova facilidade vai<br />
permitir a centralização de dados,<br />
melhorando a qualidade das estatísticas<br />
económicas, além de introduzir modelos<br />
de trabalho mais eficientes e acelerar a<br />
produção e tratamento da documentação<br />
comercial. Em última instância, os novos<br />
procedimentos vão conduzir à redução<br />
drástica do tempo de desembaraço<br />
aduaneiro das mercadoriais e aumentar<br />
substancialmente as receitas do Estado.<br />
Com esta solução, Moçambique tornou-<br />
-se no primeiro país da África Austral a<br />
implementar um sistema informático de<br />
desembaraço de mercadorias nos portos<br />
do país.<br />
O projecto da Janela Única prevê a<br />
implementação de duas componentes<br />
informáticas, nomeadamente, o sistema<br />
integrado de gestão aduaneira, através<br />
“A instalação do sistema da Janela Única<br />
Electrónica já está a decorrer no Porto da Beira”<br />
Arrecadação fiscal<br />
Para um universo de mais de 95 milhões de meticais de arrecadação fiscal prevista para<br />
o Orçamento do Estado, este ano, as Alfândegas de Moçambique representam 36%,<br />
equivalendo à previsão de colecta anual de mais de 35 milhões de meticais, ou seja<br />
mais de um terço da carteira global de arrecadação do país, segundo anunciou, em Maputo,<br />
a presidente da Autoridade Tributária de Moçambique.<br />
Rosário Fernandes fez este pronunciamento no decurso do segundo encontro do Fórum da<br />
Janela Única Electrónica (JUE), que reuniu, em Março, diversos operadores do comércio internacional<br />
envolvidos no desembaraço aduaneiro.<br />
42<br />
a revista que promove Moçambique
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empresas & Negócios<br />
1 2<br />
Objectivos<br />
Janela Única<br />
1. Aires Ali, Primeiro-Ministro inaugura oficialmente o sistema da Janela Única Electrónica (JUE)<br />
2. Da esq. p dir.: Gestor da Equipa de Implementação da JUE presta explicações ao Primeiro-Ministro,<br />
ao Ministro das Finanças e à governadora da Cidade de Maputo, Lucília Hama, durante a cerimónia de<br />
inauguração da JUE<br />
do qual as alfândegas irão administrar<br />
de forma exclusiva todas as operações<br />
aduaneiras, e o sistema electrónico<br />
de interligação dos operadores,<br />
TRADENET, que vai estabelecer a<br />
ligação com todos os intervenientes no<br />
processo de desembaraço de mercadorias<br />
e as entidades utilizadoras da informação<br />
estatística resultante da tramitação<br />
aduaneira.<br />
De acordo com Rosário Fernandes,<br />
presidente da Autoridade Tributária de<br />
Moçambique (AT) “a rede de transmissão<br />
da Janela Única, gerida pela empresa<br />
MCNet (Mozambique Community<br />
Network), parte da submissão<br />
electrónica do manifesto de carga e<br />
respectiva declaração às alfândegas<br />
pelos despachantes ou donos da<br />
mercadoria, processamento, pagamentos,<br />
inspecção até à gestão da saída dos bens<br />
importados.”<br />
A MCNet é detida em 60% pelo<br />
consórcio Escopil, Lda. e SGS, pelo<br />
Estado e pela Confederação das<br />
Associações Económicas (CTA) com<br />
20% cada.<br />
O projecto, cujos trabalhos preparatórios<br />
se iniciaram em 2006, deverá estar a<br />
funcionar em pleno até ao final de 2012,<br />
no Terminal Internacional Marítima<br />
(TIMAR) de Maputo, que serviu de teste<br />
piloto à Janela Única.<br />
JUE chega à Beira, Tete e Nacala<br />
Nos primeiros dois meses deste ano, as<br />
Alfândegas de Moçambique colectaram<br />
cerca de 103 milhões de meticais na<br />
TIMAR-Terminal Internacional<br />
Marítima no Porto de Maputo, um<br />
montante que resulta da submissão de<br />
234 despachos através da Janela Única<br />
Electrónica ( JUE).<br />
Empresas& Negócios • Maio 2012 • #<strong>02</strong><br />
Este montante corresponde a 13,36%<br />
por cento da receita colectada pela<br />
TIMAR, local onde decorre a fase<br />
piloto do sistema de desembaraço<br />
célere de mercadorias, segundo revelou<br />
Romano Manhique, chefe da equipa<br />
de implementação da Janela Única<br />
Electrónica, no decurso do VI Seminário<br />
Nacional Sobre a Execução da Política<br />
Fiscal e Aduaneira, recentemente<br />
realizado em Maputo.<br />
Na altura, Romano Manhique salientou<br />
que “o sistema da Janela Única<br />
Electrónica na TIMAR está pronto para<br />
entrar na fase de utilização obrigatória”.<br />
“Agora estamos a avançar para as regiões<br />
centro e norte do país, onde já decorre o<br />
processo de instalação de equipamentos<br />
no Porto da Beira”.<br />
Neste porto, operadores de diversas<br />
áreas de actividade de comércio externo<br />
baseados na província de Sofala, no<br />
centro de Moçambique, estiveram a ser<br />
formados no âmbito da implementação<br />
e operacionalização da Janela Única<br />
Electrónica, de modo a utilizarem em<br />
pleno a nova tecnologia.<br />
Para além da instalação no porto da<br />
Beira, foram efectuados os levantamentos<br />
das necessidades infra-estruturais quer<br />
em Nacala quer em Tete, incluindo<br />
as respectivas fronteiras, uma vez<br />
que estes são locais onde se situam<br />
grandes empresas, para as quais é vital<br />
a utilização deste sistema electrónico<br />
de desalfandegamento de mercadorias,<br />
devido à acumulação de grandes<br />
volumes de despachos de importação<br />
de equipamentos. A implementação do<br />
sistema em Tete e Nacala está prevista<br />
para o início de Maio.<br />
Romano Manhique referiu-se,<br />
igualmente, aos encontros da equipa<br />
• Criar uma plataforma electrónica<br />
centralizada de desalfandegamento;<br />
• Eliminar a múltipla digitação de<br />
dados em diferentes sistemas;<br />
• Reduzir erros e manipulação de<br />
dados;<br />
• Reduzir a necessidade de produção<br />
de cópias, carimbos e selos;<br />
• Reduzir o número de passos em toda<br />
a cadeia de desembaraço;<br />
• Centralizar os dados, melhorando a<br />
qualidade das estatísticas económicas;<br />
• Introduzir modelos de trabalho mais<br />
eficientes;<br />
• Introduzir a normalização e harmonização<br />
de processos;<br />
• Acelerar a produção e tratamento da<br />
documentação comercial;<br />
• Reduzir drasticamente o tempo de<br />
desembaraço nos portos, aeroportos,<br />
fronteiras;<br />
• Aumentar a receita do Estado;<br />
• Reduzir o custo de fazer negócios<br />
em Moçambique.<br />
de implementação da Janela Única<br />
Electrónica, em curso, com os diversos<br />
sectores das Alfândegas e outras<br />
instituições, incluindo Ministérios, para<br />
a recolha de informações destinadas ao<br />
desenho e configuração de módulos da<br />
segunda fase do sistema.<br />
“As funcionalidades e módulos desta<br />
fase do projecto incluem os de gestão<br />
de importação de produtos petrolíferos,<br />
módulos de gestão de armazém de leilões,<br />
módulos de gestão de ofensas, módulos<br />
de ministérios e agências de controlo,<br />
destinados à gestão de emissão de<br />
autorizações e licenças de importação e<br />
exportação por estas entidades”, indicou.<br />
De referir que vários Bancos comerciais<br />
nacionais, designadamente o BCI e o<br />
Millennium bim, efectuaram já testes<br />
de sincronização dos seus sistemas<br />
informáticos com a Janela Única<br />
Electrónica para o registo e validação dos<br />
pagamentos de imposições aduaneiras<br />
efectuados nas suas agências.<br />
45
Foi notícia<br />
Assinados acordos bilaterais<br />
no sector da Energia<br />
Portugal e Moçambique assinaram, em<br />
Maputo, um Plano de Acção no domínio<br />
de energias novas e renováveis, que estabelece<br />
os parâmetros da cooperação<br />
entre os dois países durante o triénio<br />
2012-2014, designado por Projecto<br />
de Desenvolvimento Regional de Transporte<br />
de Energia entre o Centro e o Sul<br />
(CESUL).<br />
O acordo foi assinado pelo Ministro<br />
moçambicano da Energia, Salvador<br />
Namburete, e pelo do secretário de<br />
Estado português da Energia, Artur Trindade,<br />
no âmbito do evento organizado<br />
pela ADENE – Agência para Energia de<br />
Portugal, Energyn, AICEP e pela Câmara<br />
de Comércio Moçambique-Portugal<br />
(CCMP). Este programa de cooperação,<br />
que surge em sequência do recente<br />
acordo de venda do remanescente do<br />
capital que Portugal detinha na Hidroeléctrica<br />
de Cahora Bassa (HCB), visa<br />
escoar, para o sul de Moçambique, a<br />
energia gerada no vale do Zambeze.<br />
O projecto deverá estar operacional a<br />
partir de 2017.<br />
Portugal vai também levar a cabo a<br />
implementação de vários projectos<br />
ao nível das infra-estruturas, como é<br />
o caso do projecto da espinha dorsal<br />
(que envolve maioritariamente capitais<br />
portugueses); da instalação duma grande<br />
rede de transportes, que vai ligar os<br />
centros electrocutores aos centros de<br />
consumo e a outros países da região<br />
austral de África; do fornecimento e distribuição<br />
de 1600 lâmpadas de baixo<br />
consumo e, ainda, a iluminação de 50<br />
aldeias através de energia solar.<br />
O evento contou também com a presença<br />
do presidente da CCMP, Daniel<br />
David, que na sua intervenção salientou<br />
que ‘‘o crescimento de qualquer economia<br />
deve ser sustentável e, para que<br />
isso aconteça, é necessário que haja<br />
políticas que apoiem o desenvolvimento,<br />
quer sejam políticas a nível de investimento<br />
quer sejam a nível de políticas<br />
sectoriais do Governo’’.<br />
46<br />
Moçambique é pilar<br />
de crescimento da Galp<br />
A afirmação foi proferida pelo CEO da petrolífera portuguesa, Manuel Ferreira de<br />
Oliveira, durante a visita que fez a Moçambique no início de Maio.<br />
O CEO destacou que as recentes descobertas de gás natural na bacia de Rovuma<br />
contribuíram para reforçar o potencial do país e colocá-lo atrás do Brasil como pilar<br />
de crescimento da Galp Energia. “As novas descobertas mostraram-se determinantes,<br />
tendo aumentado o potencial estimado de gás natural”, disse o presidente executivo<br />
da petrolífera, reforçando: “Moçambique será o nosso segundo pilar de crescimento,<br />
pois temos um projecto gigantesco na bacia de Rovuma”.<br />
No decorrer deste ano, o consórcio que integra a Galp Energia pretende perfurar<br />
quatro poços adicionais na bacia de Rovuma, de modo o inferir o potencial de recursos<br />
no complexo Mamba. “A localização é ideal para levar o gás para os mercados<br />
mais competitivos, que, neste momento, estão no Extremo Oriente”, sublinhou.<br />
Galp-Búzi exporta biodiesel<br />
Moçambique vai começar a exportar biodiesel para a Europa através da multinacional<br />
portuguesa Galp-Búzi. O envio do primeiro lote de 100 toneladas deste óleo<br />
está previsto na após a campanha agrícola de 2013-2014.<br />
Segundo a imprensa local, os campos experimentais situam-se nas regiões de Búzi,<br />
em Sofala, em Chimoio, na província de Manica, e em Mocuba, na Zambézia.<br />
Até 2<strong>02</strong>0, o país espera exportar uma média de 400 toneladas/ano, existindo,<br />
actualmente, um trabalho de campo intenso no fomento desta cultura de rendimento<br />
junto dos operadores do sector familiar.<br />
SIC e STV<br />
estabelecem<br />
parceria<br />
Francisco Pinto Balsemão, presidente<br />
da Impresa, dona do canal de televisão<br />
português SIC, e Daniel David, presidente<br />
do grupo SOICO, do qual faz parte<br />
a STV, assinaram em Abril um protocolo<br />
de cooperação entre as duas televisões.<br />
O acordo terá uma vigência de<br />
dois anos e abrange as áreas editorial,<br />
comercial e técnica. Na área editorial,<br />
a cooperação entre as duas estações<br />
televisivas poderá traduzir-se na<br />
produção de conteúdos. “[Este acordo]<br />
insere-se na nossa estratégia de internacionalização.<br />
É uma empresa que tem<br />
tido um bom percurso em Moçambique<br />
e tem uma boa postura em termos de<br />
independência editorial. Em matéria de<br />
programas acredito que possam surgir<br />
projectos em comum”, afirmou à imprensa<br />
Francisco Pinto Balsemão.<br />
Por sua vez, Daniel David, salientou o<br />
reforço da cooperação nas áreas de<br />
formação e técnica. “Espero que esta<br />
parceria se revele ganhadora para as<br />
duas instituições, que possa haver transferência<br />
de know-how mas que seja<br />
também uma oportunidade para o grupo<br />
Impresa expandir os seus negócios para<br />
Moçambique”, reforçou o presidente do<br />
grupo SOICO.<br />
a revista que promove Moçambique
GLobo DiSTRibuiDoRA, LDA.<br />
A Globo Distribuidora, Lda., sedeada em Maputo,<br />
Moçambique, é uma empresa fornecedora de<br />
serviços de transporte, logística e distribuição<br />
internacional. Transporta e agencia carga de e para<br />
Moçambique e em trânsito no país, assegurando<br />
o seu transporte de forma rápida e segura desde<br />
o ponto de origem até ao destino de entrega.<br />
A Globo Distribuidora, Lda. é membro da ‘Iniciativa<br />
Logística do Corredor de Maputo’ (MCLI) e da ACIS<br />
desde 2009 e da CCMP desde 2011.<br />
Trabalha com agentes e sub agentes<br />
internacionais, em regime de não exclusividade,<br />
na Europa (Dinamarca, Noruega, Suécia,<br />
Alemanha, Bélgica, Holanda, Reino Unido, França,<br />
Portugal, Espanha, Suíça e Itália); América do<br />
Norte (EUA e Canadá) ; América do Sul (Brasil,<br />
Argentina e Chile), Ásia (Japão, China, Coreia<br />
do Sul, Singapura, Tailândia, Indonésia, Malásia<br />
e Vietname), Médio Oriente (Emirados Árabes<br />
Unidos, Arábia Saudita e Índia), Austrália e África<br />
(RSA, Angola, Zimbabwe, Zâmbia, Malawi, Quénia,<br />
Tanzânia, Camarões, Maurícias e Madagáscar.<br />
Em Janeiro de 2012, a Globo Distribuidora, Lda.<br />
foi selecionada por um novo agente da Dinamarca<br />
para organizar, a partir do Porto da Beira, a<br />
logística referente ao transporte de equipamentos<br />
solares e dispositivos médicos para abastecer<br />
o Malawi, o Zimbabwe e a Zâmbia. A empresa<br />
venceu também o contrato para o transporte<br />
e gestão logística das mercadorias em trânsito<br />
entre Maputo, a República da África do Sul<br />
e a Suazilândia.<br />
Em Julho de 2011 a Movitel adjudicou à Globo<br />
Distribuidora o contrato de gestão logística global<br />
de um dos seus principais projectos a nível<br />
nacional.<br />
Email: gdl.geral@tdm.co.mz.com<br />
LoGíSTiCA, TRAnSpoRTES E FRETES inTERnACionAiS<br />
A Globo Distribuidora, Lda. assegura que qualquer carga é transportada desde<br />
o seu ponto de origem até ao destino final, de forma segura e no mais curto<br />
espaço de tempo.<br />
A empresa fornece diversos serviços:<br />
• Logística, despacho internacional<br />
• Coordenação do transporte por vias marítima, aérea e terrestre para qualquer<br />
tipo de bens não proíbidos<br />
• Coordenação de importação/exportação regular de carga seca e animais vivos<br />
• Coordenação de grandes e pequenos projectos de manuseamento de carga<br />
• Distribuição em todo o território moçambicano<br />
• Transporte de carga para e de países vizinhos por estrada<br />
e caminho-de-ferro<br />
Globo Distribuidora, Lda.<br />
Sede: Av. do Trabalho, 94-r/c – Maputo – Moçambique<br />
Tel: +258 214 <strong>02</strong>13 / Fax: +258 214 <strong>02</strong>137<br />
Contactos: jchiboleca@globodistribuidora.co.mz<br />
achiboleca@globodistribuidora.co.mz<br />
rlambo@globodistribuidora.co.mz<br />
ctchamo@glodistribuidora.co.mz<br />
jmanhique@globodistribuidora.co.mz<br />
Representada por: João Chiboleca – Director Geral • Contacto. +258 823 153 230
Foi notícia<br />
REN concorre a<br />
megaprojecto de energia<br />
A portuguesa Rede Eléctrica Nacional (REN) entrou na corrida, a par<br />
com a brasileira Electrobras, a sul-africana Eskom e a francesa EDF,<br />
pelo megaprojecto de energia em Moçambique (CESUL), que compreende<br />
o transporte de energia do centro para o sul do país.<br />
Avaliado em 2,5 mil milhões de USD (cerca de 1,9 mil milhões de euros),<br />
o projecto vai ser desenvolvido pela futura Sociedade Nacional<br />
de Transporte de Energia Eléctrica, na qual o Estado moçambicano<br />
deterá 51%, ficando os outros 49% à mercê das outras empresas.<br />
A REN pretende garantir a maior parcela, de forma a ser a segunda<br />
maior accionista do projecto.<br />
Segundo informou o presidente da Electricidade de Moçambique<br />
(EDM), Augusto Fernando, à imprensa, “o Governo está neste momento<br />
a tentar harmonizar as propostas de modo a apurar a empresa que irá<br />
ficar com a maior fatia dos 49%, para depois passar então à fase de<br />
implementação, tendo em conta que esta linha deve estar associada<br />
aos projectos de Mphanda Nkuwa e Cahora Bassa norte”.<br />
200 mil<br />
toneladas<br />
anuais de<br />
algodão<br />
O Governo de Moçambique definiu<br />
como meta, para 2<strong>02</strong>0, a produção de<br />
200 mil toneladas de algodão. O anúncio<br />
foi feito pela Ministro da Agricultura,<br />
José Pacheco, no final da reunião<br />
que teve com produtores e compradores<br />
para negociar o preço do algodão a<br />
vigorar na campanha de 2012-2013.<br />
Actualmente, o volume de produção<br />
situa-se nas 77 mil toneladas, mas as<br />
expectativas são as de que atinja as<br />
85 mil toneladas de algodão caroço<br />
nessa campanha, o que representará um<br />
crescimento de 20%.<br />
Moçambique exporta para mercados<br />
como a China, a Índia, Singapura, Tailândia<br />
e outros países asiáticos cerca<br />
de 40 milhões de USD anuais.<br />
Amorim cria empresa<br />
de exploração agrícola<br />
Américo Amorim, um dos homens que mais tem investido em Moçambique<br />
nos últimos anos, vai constituir uma nova empresa de exploração<br />
agrícola no país, para a produção e comercialização de<br />
produtos agrícolas, importação de máquinas e outras actividades.<br />
Para isso, o também accionista da Galp e do Banco Único (onde<br />
entrou, em 2010, com 43 milhões de euros, em parceria com a Visabeira),<br />
acelerou o investimento na concessão de vários terrenos<br />
destinados à actividade.<br />
COTUR vence<br />
prémio<br />
A agência de viagens COTUR foi<br />
premiada pelas Linhas Aéreas de Moçambique,<br />
em Maputo, como a melhor<br />
agência de viagens do país e aquela<br />
que mais passagens LAM vendeu em<br />
2011.<br />
48<br />
a revista que promove Moçambique
Olhar para Moçambique como um país<br />
de oportunidades e dinamizar<br />
a sua actividade comercial e indústria através de<br />
captação de investimentos estruturantes para a<br />
economia nacional; olhar Moçambique como um<br />
país com esperança, com vontade de fazer bem<br />
e capaz de se internacionalizar.<br />
Estratégia<br />
Missão<br />
Implementar e desenvolver iniciativas que<br />
contribuam para a dinamização<br />
e promoção das relações sócioeconomicas<br />
entre Moçambique e Portugal, que garanta a<br />
dinâmica dos empresários moçambicanos através<br />
da associação e parcerias com empresários<br />
portugueses em Moçambique, em Portugal e no<br />
resto da Europa<br />
Visão<br />
Ser uma associação de referência no<br />
estabelecimento de relações comerciais<br />
entre Moçambique e Portugal.<br />
Uma câmara de comércio ao serviço<br />
de dois países e dos seUs empresários<br />
Moçambique<br />
Av. 25 de Setembro, 1123,<br />
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Maputo, Moçambique<br />
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