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O Super ano de Peter Sagan por Nuno Sabido
Os Truques e os segredos dos ciclistas profissionais do world tour num total de 24pág.
Desporto&Esport
Edição 11• 2017
www.desportoeesport.com
Jorge
Silvério
Psicologia
“O estudo
científico do comportamento
das pessoas envolvidas no
desporto e no exercício ou
actividade física”
Lionel
Messi
Corpo
& Cérebro
do génio
Argentino
#Bourne
Treine como
um Super
Espião
Moneyball no Futebol
Corrida
24 páginas de
perguntas e respostas
sobre tudo o que sempre quis
saber sobre corrida!
Liderança
António
Fidalgo
Congruente
Paris 2016 começou em
Atenas 2014
Alexandre
Monteiro
analisa
José
Peseiro
Futsal
Andebol
Champions
que futuro?
Scouting
Golfe
desportivo
Universalidade
do futebol
e dicas de fitness
Nós conhecemos a ciência da vitória
no futebol e contamos-lha num
especial de 34 páginas
Está a ler a versão
gratuita da 11 edição da
Revista Desporto&Esport
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páginas para consultar e ler quando quiser! E lembre-se:
Juntos caminhamos mais longe!
“É inacreditável o quanto você não
sabe do jogo que tem jogado a vida
toda”, Billy Beane
M essi
O “segredo” do sucesso do argentino está no cérebro
Pag. 56
António Fidalgo
Liderança Congruente
A vitória de Portugal (e de Fernando Santos) em
Paris 2016 começou em Atenas 2014. Coaching
e PNL nas palavras de um dos maiores
especialistas nacionais.
A diferença
entre a vitória
e a derrota
está na
Liderança
pág.28
A l e x a n d r e
Monteiro
A derrota na linguagem
do corpo
A análise à linguagem corporal do treinador José
Peseiro; e como esta influencia a sua performance
como treinador.
A importância da
psicologia no
desporto
A ligação entre o corpo e a mente: otimizar
o “espirito” é otimizar o
rendimento desportivo
pág. 39
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Jorge Silvério
Www.desportoeesport.com
www.facebook.com/DesportoeEsport/
PeterSagan
“O Incomparável” Campeão Mundial de 2016
www.twitter.com/DesportoeEsport
136
20
Comer, pedalar,
treinar e recuperar
como os profissionais
Ganhe velocidade e Sprint como
um Pro
10 formas de melhorar a
pedalada
Treino para subidas curtas e
longas
O Atleta do Ano pelas palavras
de
Nuno Sabido
A recuperação pós provas
Treino para ciclistas fora de
bicicleta
Melhorar o aproveitamento do
Oxigénio
Potência nos Sprints
Ricardo Dantas, professor e especialista em
fisiologia desportiva, analisa ao detalhe a
velocidade no ciclismo
pág. 130
As razões da
universalidade do
futebol
Ricardo Serrado atual diretor do Museu do
Sporting explica-nos porque o futebol
vingou no Mundo como nenhum
outro
pág. 42
A biomecânica aplicada ao
paraciclismo
O Homem e a Maquina
pág. 134
Bourne
Os truques e os
segredos do treino
de Matt Damon
Musculação e Fitness
pág. 160
Desporto&Esport • www.desportoeesport.com • 7
Es+ecial de
24 páginas!
Corrida
TODAS AS PERGUNTAS, TODAS AS RESPOSTAS
Pág.172
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FUTEBOL
Fitness
Dicas,
Saúde
e Curiosidades
12
Pág.
164
Golfe desportivo vs Golfe Turístico
O golfe entre os milhões do turismo e a beleza do desporto; texto de Júlio Coelho
Futsal
Futebol
Andebol/
98 Vs Futebol: As
características
fisicas dos atletas
A fisiologia comparada dos atletas e as
exigências físicas do jogo
104Antologia
do golo de Futsal
Como, de Onde e de que forma tática se
marcam os golos no Futsal? E, quais as
diferenças entre as melhores e as médias
equipas mundiais?
108 Lesões a
importância da
prevenção
Morfologia dos atletas e como evitar
lesões
113 O que
motiva as mulheres
a Jogarem o Futsal
Amador
O futsal para lá do profissionalismo
117 Os
pilares de uma gestão
de sucesso
A gestão de um clube de futsal moderno
46 Qual o futuro da
Liga dos Campeões a
Médio e Longo prazo?
A mudança chegou! Quem ganha?
Quem Perde? Como ficam os clubes
Portugueses?
49 A
especialização do
Treinador de Futebol
Comandar equipas de futebol não há
mais lugar para “achismos” ou para amadores
52 Scouting como
perspetiva
evolucionista do
futebol
Alguns princípios para a rentabilização da
observação
166 Melhores
e-commerce de
clubes de futebol no
mundo
Avaliação dos melhores clubes europeus
170 Tirty years
of hurt
Porque o país da Premier League não
ganha nada de jeito faz 50 anos?
118 Qual a
importância do factor
casa?
Quais as percentagens e quais as
razões?
122 Qual o
impacto de um bom
início de época?
Preparar equipas ou garantir vitórias
Devo trabalhar taticamente as equipas
com jogos de elevada dificuldade ou devo
dar confiança à equipa?
124 Nascer em
Janeiro ou Fevereiro
tem mais hipóteses
de sucesso de quem
nasce em dezembro?
A idade relativa no andebol
121 Melhore
o passe e o remate
Melhore o seu jogo
126 As
características
fisiológicas dos
andebolistas de elite
Conheça como são fisiologicamente os
andebolistas profissionais
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Money
Ball
Quer
vencer?
Saiba quando
marcar… e o que
não pode fazer
em modo algum
no
Posse de
bola
É reflexo de
processos ofensivos
eficazes? Que tática
cria mais golos?
E se os
adeptos
escolhessem
o 11
O erro começa
antes dos jogos
Fu
te
bol
Pág.66
O fator
casa?
E nos clubes com o
mesmo estádio? Como
explicar o que
ninguém explica?
Treinadores:
Decisões baseadas
em mentiras
Pouca realidade e
muito enredo
durante
os jogos
Moneyball: a
ciência da vitória
Como a matemática
ganha os jogos e ajuda
a montar um
plantel de 23
Nós temos a resposta
para a vitória no
futebol e oferecemo-la
num especial de
34 páginas!
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í
n
dice
V
ersão
G
ra
t
uita
24
A linguagem da derrora A. Monteiro
30
António Fidalgo: Liderança Congruente
36
60
Ciclismo: Sprint e Paraciclismo
Futebol: Treinador, Universalidade, Scouting
66
Golfe desportivo
69
Gestão
digital
dos clubes
52
Futsal: Lesões e futsal feminino
14
O incomparável Peter Sagan por Nuno Sabido
33
Psicologia por Jorge Silvério
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Ciclismo
Como funcionam as bicicletas a
motor?
http://www.desportoeesport.com/ciclismo-como-funcionam-as-bicicletas-a-motor/
A grande polémica estourou há um ano: é possível
bicicletas a motor? A resposta parece ser afirmativa e a
ciência apoia essa possibilidade. Entenda os mecanismos
pode detrás dos “motores nas biclicletas”…
Cristiano Ronaldo
Os segredos de CR7 revelados
www.desportoeesport.com/ronaldo-os-segredos-do-treino-do-melhor-do-mundo/
Cristiano Ronaldo é um Mix perfeito de diversas disciplinas
físicas e de diversas modalidades calibradas ao milímetro para o
futebol. Tão rápido quanto um velocistas de 100 metros ou forte
como um levantador de pesos, para CR7 tudo parece simples e
fácil. as nada está mais longe da realidade: o seu sucesso é fruto
de uma forte ética e filosofia de treino praticada 365 dias por ano,
com uma compreensão e consciência exata da importância do
trabalho e do seu papel decisivo para o êxito. O treino da mente é
igualmente importante, aliás, assume um papel tão fundamental
quanto o físico para o sucesso.
Fernando Santos
Porque o selecionador português
acertou com CR7 onde Mourinho
e Benitez falharam?
http://www.desportoeesport.com/lideranca-porque-fernando-santos-acertou-com-cr7-onde-mourinho-e-benitez-falharam/
Usar o corpo, e a sua linguagem corporal, com inteligência
pode ser a diferença entre
o sucesso ou o fracasso na liderança com
jogadores como Ronaldo. Liderar é
muito mais que usar as palavras…
ensine o seu corpo e aprenda a ser líder como Fernando
Santos.
Andebol/Handebol
Os atributos dos jogadores de
andebol que o levam ao êxito
http://www.desportoeesport.com/os-atributos-morfologicos-do-jogador-de-andebol-para-o-sucesso/
O debate é longo e complexo: quais os atributos morfológicos
para o êxito de um atleta no andebol. Como
podemos saber se aquele atleta tem o que é preciso
para se tornar em um profissional, Para saber os
mais recentes conclusões sobre o tema, leia o artigo do
Professor Luís da Cunha Massuça,
101+2 Perguntas e
respostas
sobre Fitness e Musculação
http://www.desportoeesport.com/1012-perguntas-respostas-corrida-fitness-musculacao-saude/
Pep Guardiola
As táticas de
Barcelona a Munich
www.desportoeesport.com/pep-guardiola-taticas-de-barcelona-munique/
Pep Guardiola é técnico principal há menos de uma década mas o fascínio
que exerce faz com que muitos não o apontem somente como o melhor
treinador do mundo hoje, mas como o principal candidato ainda no ativo a
melhor treinador de futebol de sempre. O seu sucesso não é, nem pode ser
por mero acaso. As suas vitórias não se originam na sorte. Pep ganha mais,
porque é melhor. Muito Melhor! Mas, primeiro, é preciso desmistificar a
figura, para que possamos compreender o homem e as suas ideias...
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Nuno
Sabido
Ex-ciclista profissional durante 16 anos, e conta no seu historial
com cinco títulos nacionais. Atualmente desempenha o cargo de
comentador desportivo na área do ciclismo na TVI. Possui ainda uma
licenciatura em Educação Física, com especialização nas áreas de avaliação
física e treino de alta competição, para além de formação em
Biomecânica, musculação, Ergometria com análise de gases expirados,
entre outras. No seu curriculum contam ainda o cargo de técnico
nacional e formador na UVP/FCC, entre outros.
nuno.odibas@gmail.com
Twitter: @nunoodibas Facebook: Nuno Sabido
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Incomparável
Super campeão
Mundial de
2016
PE
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N
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O Campeão do Mundo
Peter
Sagan
é sinónimo de prodígio mundial,
atleta fenomenal.
Desde muito cedo se destacou por
um estilo diferente, oposto ao convencional,
numa modalidade tradicionalista
e com fortes raízes centenárias.
Educado, divertido, modesto no seu
discurso, mas realista nas suas intenções
e com uma vontade que vai muito para
além do Ciclismo.
É assim Peter Sagan, a quem pelas
suas acções e convicções, ouso apelidar
de “*Peter the Great”.
Facilmente reconhecido pelo seu talento,
mas também pelas suas habilidades
técnicas, com manobras arrojadas sobre
as bicicletas, caraterística que o levou
desde muito cedo, a ser apelidado de
*Terminator, pelos mecânicos e
outras estrelas do desporto mundial, mas
também das artes e da cultura.
Com 9 anos de idade, influenciado
pelo irmão mais velho Juraj Sagan, iniciou
a sua aventura como ciclista, num
clube local, Cyklisticky Spolok Zilinus -
Associação de Ciclismo de Zilinus.
Com um estilo descontraído e casual,
atributos que herdou (principalmente) da
sua mãe e que caracterizam a sua presença
e a sua forma de estar.
As suas entrevistas e conferências
de imprensa são esperadas e observadas
por toda a comunidade velocipédica,
mas não só, com extrema ansiedade e
atenção.
A sua forma agradável e serena,
assim como a distinta capacidade de
descrever as suas experiências e ao
mesmo tempo sensibilizar e emocionar.
Esta é a forma natural de Peter
Sagan, que em miúdo preferia usar
T-Shirts, Sweatshirts e Ténis, dotado
O “maillot vert”
“Porque tenho que mudar algo que já é bom?
Seria estúpido se o fizesse.” - Peter Sagan
companheiros na equipa Liquigas, dado
a sua capacidade em levar as bicicletas
para além dos seus limites.
O desenvolvimento da sua técnica
muitas vezes arrojada é também resultante
de muitas horas a observar o seu
ídolo, *”Il Doctore” Valentino Rossi.
Peter Sagan tem nas motos, em particular
nas motos fora de estrada, outro
dos seus passatempos preferidos.
Peter Sagan nasceu a 26 de janeiro
de 1990, na cidade de Zilina, a ~200
kms de Bratislava, cidade capital da
Eslováquia (Europa Central).
Tem actualmente 26 anos, é casado
e habita no principado do Mónaco,
cruzando-se diariamente com muitas
de um prematuro esplendor físico e de
uma capacidade táctica, que desde muito
cedo o distinguiram dos demais, tornando-o
na actualidade como o ciclista mais
marcado no pelotão internacional.
*Peter the Great – Czar Russo do século XVII,
reconhecido pela sua vontade em ajudar.
Contribuindo também para a mudança dos
valores sociais existentes. Levando-o á implementação
de reformas sociais inovadoras e vanguardistas.
*Terminator – Personagem de ficção científica
cinematográfica.
*Piloto de motos, italiano, multivencedor de
campeonatos Moto GP. Considerado um dos
melhores pilotos de de moto da história do motociclismo.
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"Peter Sagan
é um ídolo
mundial e o seu
mediatismo não
tem fronteiras."
Desporto&Esport • www.desportoeesport.com • 17
A sua infância responsável foi
passada entre a escola, a mercearia
dos seus pais e as bicicletas. Os
valores familiares e sociais mais
importantes foram insistentemente
transmitidos pelos seus progenitores,
mas também pela sua irmã
Daniela Gardianová, com quem
Peter Sagan passou muito tempo.
Para Peter Sagan a bicicleta era
principalmente um objecto lúdico,
com o qual ele se identificava.
Os anos passavam e Peter
Sagan prosseguia a sua actividade
desportiva, alternando entre a bicicleta
de Btt (a sua primeira opção
e aquela que ainda hoje, mais o
diverte) e a bicicleta de Estrada.
Com um estilo muito próprio,
cada vez mais dominante, mas
que ainda assim não evitaram que
ingenuamente vendesse a sua bicicleta
Btt na véspera do campeonato
nacional de XCO.
A única solução foi pedir
emprestada a rudimentar bicicleta á
sua irmã, retirar o cesto situado na
frente do guiador e aguardar, com
a ansia natural de um adolescente,
que a noite passasse.
Na manhã seguinte, Peter Sagan
capta definitivamente a atenção de
todos os presentes, vencendo a corrida,
tornando-se pela primeira vez
Campeão Nacional no ano 2006.
Não demorou muito, para que o
mundo velocipédico ouvisse entoar
o nome de Peter Sagan.
Na primavera de 2008, com 18
anos, na categoria de juniores, concluí
a Edição júnior
do Paris-Roubaix na 2.a posição
(competição que na próxima temporada
- 2017, será um dos seus
principais objectivos).
Meses mais tarde, vence o
Campeonato do Mundo XCO em
Val di Sole - Itália. Finalizando a
sua temporada pouco depois, também
em Itália - Treviso, tornandose
Vice-Campeão do Mundo na
especialidade de Ciclocross.
Com os bons resultados, Peter
Sagan rapidamente assegurou o
seu primeiro contrato profissional
(2009). Passando fenomenalmente
da categoria de Júnior, diretamente
para a categoria Elite (profissional),
com uma equipa do escalão
Continental do seu país, a
Dukla Trencin - Merida.
A sua permanência nesta equipa
foi tão rápida como o seu melhor
sprint, mas suficiente para obter
as primeiras vitórias como atleta
profissional, que á velocidade da
luz ecoaram.
Não tardou para que os mais
experientes directores desportivos
e managers das equipas, denominadas
WorldTour (actualmente
ProTour), manifestassem interesse
Da direita para a esquerda: na
primeira imagem um “jovem Peter”
no início da carreira; nas imagens
seguintes, os momentos em que
Sagan se sagra campeão do mundo.
no “menino-prodígio”.
Patrick Lefévere CEO da
equipa Quick Step seria o mais
eficiente, garantido assim a preferência
de Peter Sagan.
O sonho de integrar e representar
uma equipa de elite mundial iria
concretizar-se.
A integração de Peter Sagan na
equipa Quick Step teve efeito imediato
e fora formalizada dois meses
antes da 96.ª Edição da Volta a
França, edição esta que teria como
vencedor o espanhol Alberto
Contador.
O sonho que não passou de
uma aventura…
Cinco meses mais tarde Peter
Sagan seria dispensado pela equipa
Belga.
Aparentemente os “atributos
técnicos” do jovem ciclista
(os mesmos que iam encantando
os adeptos) e a sua vontade em
prosseguir em simultâneo com a
prática do Btt, não convenceram os
líderes da formação WoldTour.
Para Peter Sagan o desapontamento
foi absoluto e a sua decisão
fora imediata. O Btt seria o seu
futuro e a sua única modalidade.
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Oportunamente e muito
perspicaz surge Giovanni
Lombardi, reconhecido agente/
representante de alguns dos
melhores ciclistas de classe
mundial.
Ex ciclista profissional, ex
Campeão Olímpico em ciclismo de
Pista, ex sprinter e ex “lançador”
de *Mário Cipollini.
Giovanni Lombardi propõe um
acordo a Peter Sagan, o qual prevê
a assinatura de um contracto válido
por dois anos (2010/2011) com a
equipa italiana de Stefano Zanatta,
a Liquigas, permitindo e garantindo
que Peter Sagan possa continuar
também a competir na vertente de
Btt.
Os atributos técnicos de Peter
Sagan eram já reconhecidos, mas
fisiologicamente permanecia
“o suspense”. Os primeiros testes
fisiológicos realizados pela equipa
médica da Liquigas reforçaram a
evidência e revelaram um atleta
fenomenal (uno, su un milione -
um, num milhão).
Aliada á sua capacidade em
produzir Watts de potência e a
capacidade do seu organismo em
metabolizar Ácido Láctico, sobressaem
ainda, as suas extraordinárias
capacidades de recuperação, bem
como o seu Consumo Máximo de
Oxigénio (Vo2máx).
O seu corpo é notável.
Em janeiro de 2010, com 20
anos, Peter Sagan inicia a sua
época, fazendo a sua estreia numa
competição WorldTour, o Tour
Down Under fora o destino.
A sua 1.ª vitória ocorre dois meses
"Com 26 anos de idade, 1.84m de
altura, 73 kg de peso, Peter Sagan
representa o actual esplendor do
ciclismo mundial."
mais tarde, a 10 de março, em
França.
Nesta edição da Paris-Nice, Peter
Sagan (ainda sem credenciais
entre os melhores do mundo) surpreende,
vencendo duas etapas e
em consequência, vence também a
classificação geral final dos pontos
(camisola verde). As suas conquistas
vão-se acumulando e no Tour
de 2012, obtém uma muito particular.
Resultante de uma aposta com
os seus diretores de equipa, Peter
Sagan vence duas etapas e a classificação
geral dos pontos, simbolizada
pela camisola verde.
As suas conquistas foram o motivo
da aposta e como resultado, a equipa
Liquigas oferece um Porsche ao
ciclista esloveno.
*Mário Cipollini – Considerado o melhor
sprinter da história do ciclismo.
Desporto&Esport • www.desportoeesport.com • 19
Sobre a sua bicicleta, Peter Sagan é muito expressivo, para além
dos seus famosos “cavalinhos”, também as suas imitações invocam
alguns heróis do público em geral;
- “Forrest Gump”, “Wolf of Wall Street”, “Hulk”,
“Terminator”..., são apenas algumas das suas personificações, usadas
para expressar e celebrar as suas vitórias.
Peter Sagan é um ídolo mundial e o seu mediatismo não tem fronteiras.
Em 2013, um “gesto irrefletido” causou elevada controvérsia.
No final do Tour de Flandres, em plena cerimónia protocolar,
beliscou o glúteo de uma das hospedeiras presentes no pódio. O
momento foi aproveitado e promovido mundialmente pela imprensa,
sempre sequiosa por episódios deste género.
No dia seguinte ao seu estilo, Peter Sagan antes do início da
corrida Brabantse Pijl, procurou Maja Leye (a hospedeira presente
no pódio no dia anterior) e como um cavalheiro que é, pediu publicamente
desculpa e ofereceu á pessoa ofendida, um belo “Bouquet”
de flores.
Curiosamente, umas horas depois Peter Sagan viria a sagrar-se
vencedor da corrida.
2013 Foi para Peter Sagan
o último ano ao serviço da
equipa italiana Liquigas.
Novas cores invocam
novos objectivos.
A Tinkoff - Saxo de Oleg
Tinkoff e Bjarn Riis, surgem
como o novo desafio e Peter
Sagan pretende justificar e
compensar até ao último cêntimo
o seu novo contrato de
três anos e o seu novo salário,
4.5 milhões de euros por temporada.
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Juraj Sagan acompanha naturalmente o
seu irmão Peter Sagan na nova e memorável
aventura.
2015 Foi curiosamente uma temporada
marcada por menos vitórias, as quais pareciam
ter-se convertido em segundos lugares e que a
imprensa ridiculamente ansiosa e voraz parecia
apontar o dedo a Peter Sagan, como se este
fosse o principal culpado, parecendo ignorar o
mérito do adversário.
O melhor estava contudo guardado para o
fim…
No dia 27 de setembro em Richmond nos
Estados Unidos, com uma exibição de força e
qualidade superlativas, Peter Sagan conquista
de uma forma espectacular, o título máximo
ao converter-se no novo Campeão Mundial de
ciclismo.
Definitivamente Peter Sagan é o novo herói,
mas a “saga” Peter Sagan está ainda no seu início.
Com o passar do tempo vem a experiência,
a qual aliada ao seu elevado potencial, poderão
permitir a Peter Sagan ficar na longínqua
*história do ciclismo mundial, como a maior
personalidade de sempre.
"O desenvolvimento da sua técnica muitas vezes
arrojada é também resultante de muitas horas
a observar o seu ídolo, ”Il Doctore” Valentino
Rossi."
O mundo ansiava ver o novo
Campeão mundial e não demorou
muito para que Peter Sagan não só
fizesse questão de confirmar o seu
estatuto, como o reforçou de uma
forma como há muito não era vista.
A denominada “Maldição do
Arco-íris” nunca fez menos sentido,
colocando (espero eu) em desuso
esta expressão “ancestral”, que os
mais cépticos teimam em utilizar,
talvez crentes pela existência de
uma força superior, que determina
quem deve perder e quem pode
vencer.
2016 Foi um ano repleto de sucessos
e pródigo em vitórias, o melhor
ano da sua carreira, que apenas
veio confirmar a sua evolução e
consequente maior domínio e superioridade.
As Vitórias; Gent-Wevelgem,
Tour de Flandres, três vitórias em
etapas no Tour de France, conquistando
o direito de envergar a camisola
amarela (líder da classificação
geral individual) durante três dias.
A classificação dos pontos
(camisola verde) fora outra das conquistas
nesta edição do Tour e ainda
o prémio final para o ciclista mais
combativo (dorsal vermelho).
*A 1.ª Competição velocipédica data de 20
de abril de 1829.
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22 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
Peter Sagan O incomparável
Seguiram-se o título de Campeão da
Europa (1.ª edição desta competição),
Campeão do Mundo e vencedor final
do Ranking UCI (União Ciclista
Internacional) premiando o atleta mais
pontuado na temporada.
Peter Sagan foi ainda distinguido com
o galardão de atleta do ano, atribuído pelo
governo do seu país (Eslováquia) e premiado
com o troféu Vélo D’or, nomeação
atribuída pela conceituada revista francesa,
Vélo.
Com 26 anos Peter Sagan, pedala vertiginosamente
para um sucesso arrebatador.
Da sua epopeia contam já, 91 vitórias
individuais e 23 conquistas na classificação
por pontos.
“Se perder a camisola amarela tenho a
verde, se perder a camisola verde tenho a
de Campeão do Mundo…”.
Foi assim que Peter Sagan respondeu
á preocupação dos jornalistas, no dia em
que pela primeira vez se tornou líder na
Volta a França.
Este é o seu espírito, descontraído e
que o torna “intocável”.
Para Peter Sagan o importante é viver
o momento e não perder energia, pensando
no dia (etapa) seguinte.
Reconhecido adepto e utilizador
assíduo (desde os nove anos de idade) da
bicicleta de montanha, Peter Sagan esteve
novamente em destaque ao anunciar a sua
presença nos
Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro
no Brasil, na vertente de XCO, deixando
assim livre, o seu lugar na corrida de
Estrada.
Com um início de corrida arrebatador
e absolutamente extraordinário, sobre
um dos circuitos com o percurso mais
espectacular, da ainda curta história do Btt
como modalidade olímpica, Peter Sagan
não teve a sorte necessária (se é que a
mesma existe) para terminar a corrida.
Vitimado por um furo, foi obrigado a
abandonar e viu o atleta suiço Nino
Schurter, coroar-se Campeão Olímpico.
Com o anúncio da extinção da sua
atual equipa, a Tinkoff do milionário russo
Oleg Tinkoff,
Peter Sagan assumiu um novo compromisso,
válido por três anos, com a equipa
alemã, Bora-Hansgrohe.
O seu novo contrato prevê um vencimento
anual de 6 milhões de euros.
Na sua nova equipa, Peter Sagan
irá contar com a presença do Campeão
Nacional, José Mendes.
Peter Sagan é um atleta e uma pessoa
invulgar (no melhor sentido da palavra) e
talvez por isso, assume que por vezes se
aborrece quando os jornalistas fazem perguntas
acerca de si, das suas façanhas e do
seu futuro.
Um atleta que prefere a Bicicleta de
montanha á Bicicleta de estrada, porque
a primeira lhe permite um divertimento
superior, e passo a citar;
“No Btt, 2h a 3h parecem 30 minutos,
na Estrada porém, 5h parecem
intermináveis. É essa a diferença e é por
isso que por vezes me aborreço.” - Peter
Sagan.
O Tour de Flandres e o Paris-Roubaix
são por isso, as suas corridas preferidas e
os seus principais objectivos para 2017.
A versatilidade de Peter Sagan são
impressionantes, tão impressionantes
quanto a sua potência e a sua capacidade
de recuperação, mas o que impressiona
ainda mais, é o facto de Peter Sagan não
realizar treinos específicos na preparação
dos seus objectivos competitivos.
Apesar do êxito que lhe reconhecemos,
Peter Sagan considera-se (á sua maneira)
pouco ambicioso.
Embora queira vencer corridas, se
por vezes isso não acontecer, diz que terá
sempre outras oportunidades...
Talvez seja este o segredo principal para o
seu sucesso…
Com 26 anos de idade, 1.84m de altura,
73 kg de peso, Peter Sagan representa
o actual esplendor do ciclismo mundial.
Para o futuro, creio que ninguém duvida
do que pode esperar a comunidade velocipédica
mundial de Peter Sagan.
“Porque tenho que mudar algo que já é
bom? Seria estúpido se o fizesse.” - Peter
Sagan
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n
L
24 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
A derrota
a
O Caso de
José Peseiro
inguagem
do Corpo
Existe uma necessidade inata de seguir ou
ouvir as pessoas percebidas como lideres
e afastarmo-nos das pessoas percebidas
como submissas. Entre o êxito e o fracasso
há esta diferença!
Alexandre
Monteiro
Especialista em Decifrar Pessoas
sou@pessoab.pt
linguagemcorporal.blogs.sapo.pt
Nº1 Nacional a partilhar a Linguagem
Corporal para todos.
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“Parecer frágil torna-o
um alvo”
A
Lideranç
começa
no
Corpo
Durante os meus treinos “Treinador + Poderoso”, insisto sempre na questão de interpretar
e contornar os sinais de domínio, não por uma questão de EGO mas sim por questão de
liderança e domínio da interação. Dominar é a manifestação do sistema límbico “resposta de
luta”, mesmo que raramente estejamos em situações que exigem uma luta real, usar a nosso
domínio é como usarmos o nosso corpo para demonstrar liderança, confiança, profissionalismo,
credibilidade, para intimidar alguém e até quando queremos ser percebidos como mais
interessantes e competentes.
Dominar evita que nos percebam como “alvos“ fáceis para manipular ou como fáceis de
controlar, protege-nos dos “predadores” (maus chefes; maus vendedores, maus amigos, …)
e mais importante ainda é a característica mais importante para transmitir carisma, competência
e liderança.
Existe uma necessidade inata de seguir ou ouvir as pessoas percebidas como lideres e
afastarmo-nos das pessoas percebidas como submissas. Muitas pessoas acreditam de que não
confrontar o dominante é a melhor maneira de agradar, o que acontece é que nós gostamos
de pessoas iguais as nós e ser submisso tem efeito contrário. Para agradar os dominantes
devemos exibir também comportamentos de domínio e como treinador terá obrigatoriamente
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1
O Submisso
a
Submissão é exatamente o
oposto de domínio mostra a ausência
da resposta “luta”. Existem
duas formas de uma pessoa submissa
se revelar, uma através da
não confrontação, decide que a
melhor hipótese de sobrevivência
é a de não gerar luta concordando
com o domínio exercido de forma
a não irritar a pessoa que se afirmou
como dominante e a outra
através de comportamentos de
compensação definidos por “exageros
comportamentais”, como
agressividade excessiva, gritar,
confrontar, emoções extremas ou
culpabilizar. .
2
O espaço do "chefe"
Já pensou porque é que os chefes
são aqueles que têm os escritórios
maiores? Uma das manifestações dos
dominantes é exigir mais espaço.
Esta é uma forma de territorialidade,
requerer mais espaço para eles é uma
questão territorial, uma das formas
de o demonstrar é o afastamento dos
pés. Os submissos, para não desafiar
o dominante ocupam menos espaço,
juntam os pés e demonstram muitos
mais sinais de tensão e desconforto
como cabeça baixa, toques repetidos
no pescoço, balancear e falam mais
com as palmas das mãos para cima.
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3
Domínar é...
A relação domínio e submissão
é a responsável por definir
como irão decorrer as interacções
entre duas ou mais pessoas, e não
ser percebido como dominante
vai dificultar em muito a sua
imagem de liderança, associamos
os comportamentos de domínio à
capacidade de liderança. Dominar,
não é ser autoritário ou ditador tal
como submisso não é ser escravo
ou fraco, é somente a posição que
ocupa numa determinada situação
ou contexto, esta posição irá determinar
o grau de influência que
exerce é qual o poder decisão.
Poderá ser dominante na sua equipa,
no sentido de liderar, orientar
e controlar os recursos humanos
e ser mais submisso em contexto
social junto dos amigos.
4
O domínio subliminar é o melhor...
Microexpressão de DE
lado do lábio e revela
Logo que começa uma interacção, os sinais começam a
ser emitidos por todos os intervenientes de forma a dominarem
ou a reconhecerem a submissão, é aqui que tem de
estar muito atento aos sinais que cada um emite, aprender
a interpretá-los e usá-los de forma a influenciar melhor o
outro ou adaptar a estratégia. O melhor domínio e o mais
eficaz é o domínio subliminar, não gera confronto e pode
facilmente exercê-lo sem que o outro se sinta intimidado ou
desafiado e em alguns casos deve emitir sinais de submissão
e digo só em alguns, para dar uma percepção de domínio ao
outro e evitar ser percebido como ameaça.
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5
Ser Submisso é…
Para comportar-se e ser percebido
de uma forma poderosa, não perder
o charme e transmitir uma imagem
não ameaçadora, de competência e
ligação não deve colocar as mãos
atrás da cabeça, braços sobre a cadeira
ao lado, gritar ou colocar os
pés em cima da mesa ou exibir a micro
expressão de desprezo, estas não
serão as melhores posturas de poder,
irá sim transmitir arrogância.
Um treinador tem de demonstrar
domínio e ligação inconsciente e não
gera desafio ou confronto e para isso
existem inúmeras técnicas subconscientes
e com resultados excelentes.
SPREZO, demostrada pelo elevar de um só
o sentimento de “Superioridade Moral”.
6
Como
reconhecer se é um líder?
Pensar que é o líder ou ser o líder é muito diferente, para um líder é
importante confirmar se a liderança é reconhecida ou desafiada pelos
outros, seja pelos colaboradores, amigos ou filhos. Para confirmar ou
identificar o líder do grupo o melhor é observar os sinais não-verbais,
caso contrário a sua liderança poderá a estar em risco e perder o respeito
do grupo o que normalmente implica maus resultados, a possível
demissão ou despedimento.
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C
Coaching
e PNL
Liderança
ongruente
E
m Maio de 2014,
pouco antes do
mundial do Brasil,
Criar
tive a oportunidade
de, em Atenas
e a convite da
Federação Grega
de Futebol, ministrar
com as equipas técnicas dos
vários escalões, desde sub 16 a
AA, uma formação específica direcionada
para as Equipas de Alto
Rendimento – Coaching e PNL
(programação neuro linguística)
aplicados ao desporto.
- Na altura, a equipa técnica da
seleção principal (A) da Grécia,
era constituída por muitos dos
elementos que transitaram para
a homóloga portuguesa, nomeadamente
Fernando Santos, e que
tão brilhantemente conquistou o
Europeu de França Alguns dos
módulos dessa formação, aplicados
num certo contexto (alinhamento),
potenciam níveis de congruência
elevados tanto no relacionamento
intrapessoal como no interpessoal.
“Os Líderes existem para personificar
os valores pelos quais os
seguidores anseiam e os seguidores
existem para alimentar a visão de
líder que têm dentro de si”
Liderança pelo exemplo - A
congruência do(s) líder(es), é o
factor mais relevante para a eficácia
de qualquer tipo de liderança,
principalmente pelo exemplo que,
de forma transversal, constitui um
forte estímulo inspirador e motivador
para toda a estrutura;
um modelo de alinhamento
que permita aglutinar
todas as partes, do “SER” do
“FAZER” e do “TER” concede
consistência a qualquer processo
de liderança, elevando
simultaneamente os patamares
de congruência.
“Quem sou eu?” – É a
primeira pergunta que deve
fazer a si próprio e para a
qual deve encontrar uma
resposta que lhe permita
construir, a partir daí, um
poderoso processo congruente
de alinhamento. minha
vida?”; “De que forma me
distingo das outras pessoas?”
António
Fidalgo
Ex-Futebolista profissional em históricos portuguese (S.L. Benfica; S.C.
Braga; Sporting C .P); Ex-Técnico principal do Estoril Praia foi anda Director
desportivo no SC Campomaiorense CS Marítimo; exerce há vários anos
funções de jornalista e comentador/analista de futebol na RTP e RR e é
formador em Couching e PNL
antoniofidalgo.winow@gmail.com:
http://coachepnl.blogspot.pt/
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Coaching
e PNL
Imagens da
formação
na Grécia em
2014
Trabalhado o nível da identidade,
outro patamar extremamente
relevante, que tem como
base as suas crenças e os seus
valores, deve merecer a sua
maior atenção. O que é realmente
importante para si? Qual
a sua hierarquia de valores neste
contexto? O que quer respeitar?
Acredita, congruentemente, que
pode promover algo com significado?
Os VALORES (aquilo qua
mais valoriza) têm um poder
extremamente significativo,
como alicerces poderosos e
imprescindíveis, na capacidade e
no fortalecimento da liderança.
Com a sua identidade e os seus
valores bem definidos, pode
começar a questionar-se sobre as
mais característicos em mim?”
“Como organizo de facto a
minha vida?”
As nossas ações, os nossos
comportamentos são potenciados
pelos nossos estados emocionais,
que por sua vez têm uma relação
direta com os nossos pensamentos
os nossos sentimentos e pela
nossa fisiologia (a forma como
usamos o corpo)
As respostas que encontrar
neste patamar, permitem-lhe, não
só aceder ao conhecimento de
como está a desenvolver as suas
ações, como, mais importante
por vezes, saber como pode fazer
diferente…se necessário.
Aferir do que está e como
está a acontecer, a situação em
que está inserido, que tipo de
"Liderança pelo exemplo - A congruência do líder, é o
factor mais relevante para a eficácia de qualquer tipo de
liderança, principalmente pelo exemplo que, de forma
transversal, constitui um forte estímulo inspirador e
motivador para toda a estrutura"
suas intenções e os seus
objectivos. “O que quero?”;
“Que resultados quero gerar?”
Que OBJECTIVOS quero
definir?”; “O que é, para mim,
mais importante e fundamental?”
Que ESTRATÉGIAS e que
PLANOS desenvolve para alcançar
as suas metas? “Será esta a
direção certa, o melhor caminho?”;
“Como estou a viver esta
situação?”; “ Que ações estou a
promover?”; “Quem tem o maior
poder de decisão?”
“Como faço o que faço?”; “
Que COMPORTAMENTOS são
relacionamentos estabelece com
as outras pessoas e consigo
próprio…, permite avaliar o
CONTEXTO em que está inserido,
um dos patamares do correto
“alinhamento”
Todos estes degraus (patamares),
facilitam o acesso ao topo
desta pirâmide de congruência e
alinhamento, onde lhe será entregue
um RESULTADO.
“O que estou a alcançar com
o desenvolvimento deste processo?”;
“Que resultados estou
a alcançar?”; “Como consigo
medir os resultados que estou a
alcançar?”; “Como me sinto com
estes resultados?”
Nas imagens: António Fidalgo,
Fernando Santos e restante equipa
técnica da seleção grega
O processo de Coaching, assenta na sua
génese, em perguntas. Perguntas que quanto
mais poderosas são, melhores e mais profícuas
respostas despoletam.
A grande maioria das respostas que encontra,
ouso dizer, que já as tem dentro de si, só
que por uma razão ou outra, podem não estar
disponíveis em certas situações, contextos ou
momentos.
Acreditar no sucesso é o primeiro passo
para o sucesso.
Algo a ter presente no exercício de qualquer
tipo liderança:
“As pessoas pouco querem saber o quanto
sabe, até saberem o quanto se preocupa”
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PSICOLOGIA
A importância
da psicologia
do Desporto
a
ligação entre
o corpo
e a mente
Jorge
Silvério
Psicólogo da Selecção Nacional de Futsal.
Coordenador da Psicologia Desportiva da
Clínica do Dragão FIFA Medical Centre of
Excellence.
Consultor de vários atletas e equipas
silverioj@gmail.com
Corpo e
Mente
Otimizar a
mente é otimizar
o rendimento
desportivo
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Cor po
e Mente
Um campeão é a soma
do seu corpo com
a sua mente!
Aqui há uns tempos esteve muito na voga um anúncio em que nos
era perguntado se para ensinar não confiamos o nosso filho a um professor,
se quando ele está doente não o levamos ao médico e termina
referindo que quando queremos investir devemos também fazê-lo no
Banco X. Ora, é partindo deste princípio que me interrogo ao longo
deste artigo porque é que quando precisamos da ajuda de um psicólogo,
no Desporto, ainda há resistências em recorrer a ele.
Gostaria de começar por definir aquilo que entendo como
Psicologia do Desporto e para o fazer vou recorrer a uma definição
do meu amigo americano Dan Gould: “Psicologia do Desporto e da
Actividade Física consiste no estudo científico do comportamento das
pessoas envolvidas no desporto e no exercício ou actividade física”.
É minha firme convicção que, apesar de hoje em dia, todos os intervenientes
no Desporto luso (atletas, treinadores, dirigentes, árbitros,
etc.) recorrerem a aspectos psicológicos quase até à exaustão, quer
para justificarem os sucessos, quer os insucessos (basta lermos os
jornais desportivos ou ouvirmos as declarações televisivas) a psicologia
enquanto ciência e os psicólogos ainda não foram totalmente
aceites no mundo do Desporto. Se para praticar a medicina desportiva
se foram buscar os médicos, se quando se começou a falar
em cuidados diferenciados com a alimentação se foram buscar
nutricionistas, se quando há lesões se recorre a fisioterapeutas e
massagistas, porque razão falando-se tanto em Psicologia e reconhecendo
a sua importância não se recorre aos psicólogos e dentro
destes a uma área que começa a desenvolver-se em Portugal que é a
Psicologia do desporto?
Talvez porque alguns treinadores insistem que também são psicólogos
sendo unanimemente reconhecido que, apesar do seu papel importante
como líderes, muito dificilmente dominam as técnicas psicológicas
que modificam e potenciam o rendimento desportivo (também
todos nós somos treinadores de bancada e não é por isso que passamos
automaticamente a treinadores de campo), talvez porque ainda haja
muitos “habilidosos” a intitularem-se psicólogos e a serem reconhecidos
como tal por dirigentes que comandam o nosso Desporto em
detrimento de psicólogos com formação sólida e reconhecida. Talvez
porque ainda se partilhe da ideia ultrapassada de que o psicólogo
serve apenas para curar patologias quando aquilo de que se trata é de
adquirir, treinar e melhorar as competências psicológicas necessárias
a rendimentos desportivos de grande qualidade. Talvez porque antes
não havia psicólogos, mas se recuarmos mais também não havia preparadores
físicos nem médicos desportivos e se recuarmos ainda mais
nem treinadores havia... Finalmente talvez porque, como dizem alguns
dirigentes, os psicólogos não marquem golos e a sua intervenção não
tenha efeitos “milagrosos” a curto-prazo.
Felizmente alguns dos nossos mais conceituados
treinadores (talvez este seja um
dos factores explicativos deste seu estatuto)
já reconhecem a importância que o treino
mental pode ter.
Em países onde a Psicologia do
Desporto está mais disseminada fala-se
cada vez com mais intensidade da preparação
psicológica à qual se atribui uma
importância ao nível das preparações técnica,
táctica e física. Se pensarmos, apenas
um pouco, chegamos à conclusão que é
uma loucura gastar milhares de horas e
consequentemente milhões de euros com
a preparação técnica, táctica e física e
descurar a preparação emocional e mental
que podem deitar todo esse esforço “por
água abaixo” em instantes.
Assim, a Psicologia do Desporto permite
fazer a ligação entre o corpo e a mente
proporcionando técnicas para aumentar o
rendimento desportivo.
Felizmente alguns dos nossos mais conceituados
treinadores já reconhecem a importância que o
treino mental pode ter.
Outra tarefa secundária em relação a
esta é uma intervenção de carácter mais
clínico ajudando os atletas com problemas
do foro psicológico.
Gostaria de deixar bem claro que perspectivo
a intervenção do psicólogo como
mais um membro da equipa técnica ao
dispôr do treinador no mesmo plano de um
massagista ou nutricionista.
34 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
" Os objectivos gerais da
intervenção psicológica são
a optimização do rendimento
desportivo do atleta e
consequentemente os reflexos
positivos que esta terá na própria
equipa e a melhoria do bem-estar
geral do atleta que também tem
reflexos no seu próprio rendimento."
Os objectivos gerais da intervenção psicológica
são a optimização do rendimento desportivo do atleta
e consequentemente os reflexos positivos que esta terá
na própria equipa e a melhoria do bem-estar geral do
atleta que também tem reflexos no seu próprio rendimento.
O psicólogo neste contexto deve ter uma actuação
discreta: não pode “prometer a lua”, só contribuir para
que a equipa tenha hipóteses reforçadas de render o
máximo das suas possibilidades.
Existem muitas áreas onde a Psicologia do
Desporto pode ser útil: diminuição da ansiedade,
aumento da auto-confiança, atenção e concentração,
motivação, liderança, relação treinador-atleta,
coesão (espírito de equipa), esgotamento (burnout),
sobre-treino, recuperação de lesões, jet-lag (que
surge após a travessia rápida de fusos horários),
imaginação e visualização mental, controlo da dôr,
apoio na transição de carreira.
Os grupos alvo da Psicologia do Desporto e da
Actividade Física são: atletas, treinadores, árbitros,
dirigentes, familiares e “outros significativos” (namoradas,
amigos, etc.), clubes, federações e outras organizações
desportivas.
Poderemos definir, assim, dois tipos de estratégias
a utilizar para a intervenção psicológica:
- Educativas: têm como objectivo o treino de competências,
em grupo ou individualmente, segundo
estratégias e planos concebidos anteriormente (deve
ser esta a utilizada, por exemplo, com os árbitros de
maneira a que estes estejam preparados para as situações
que vão encontrar);
- Clínicas: têm como objectivo responder às necessidades
e pedidos individuais.
Em suma parece-me claro que, apesar de alguns
“Velhos do Restelo”, a Psicologia do Desporto se vai
progressivamente afirmando para benefício do nosso
Desporto.
A Psicologia do Desporto permite
fazer a ligação entre o corpo e a mente
proporcionando técnicas para aumentar o
rendimento desportivo
"... Psicologia do Desporto e da
Actividade Física consiste no estudo
científico do comportamento das
pessoas envolvidas no desporto e no
exercício ou actividade física".
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Especial
As razões da
universalidade
do futebol
Ricardo
Serrado
Doutorando em história e teoria das ideias
pela Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas e Director do Museu
Sporting. Desenvolve estudos sobre a história
do futebol, tendo já publicado 8 livros e
inúmeros artigos sobre a tematica
ricardoserrado@gmail.com
Fute
36 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
O futebol é uma arte
que não conhece
rascunho, ao
contrário do cinema,
do teatro ou da
literatura, que pode
ser repetido até à
“perfeição”. O futebol
é uma arte real,
vivida em tempo real
com consequências
reais.
bol
Desporto&Esport • www.desportoeesport.com • 37
é a modalidade desportiva
mais jogada e com maior
popularidade na maior
parte dos países do
Planeta. Não será, necessariamente,
o desporto predilecto de todas as
sociedades do mundo, mas é, indiscutivelmente,
a modalidade de maior
expressão mundial, ou seja, aquela
que é mais popular na maior parte
dos países do Planeta. O futebol é o
“desporto rei” na América do Sul e na
América Central, na Europa do Sul,
na Europa Central e na Europa de
Leste, um pouco por toda a África e
mesmo nos países asiáticos a modalidade
já se estabelece como jogo
preferido, como no caso do Japão, em
que a modalidade superou já os jogos
tradicionais mais populares, como o
sumo.
Apenas na América do Norte, na
Austrália e em alguns países asiáticos
podemos ainda encontrar, claramente,
modalidades mais populares e mais
praticadas que o futebol, embora os
Estados Unidos tenham uma percentagem
média de espectadores nos
Futebol
estádios muito superior a muitos países
onde o futebol é o “desporto rei”
(com uma média de 20 mil espectadores
por jogo o futebol nos Estados
Unidos é a 3.ª modalidade mais vista
no país, sendo mais vista que em
Portugal, que possui uma média de
10 mil espectadores por jogo).
A questão que se impõe é: qual a
razão para a universalidade do futebol
em detrimento de outras modalidades
que nunca se conseguiram impor
como predilectas das sociedades
humanas?
Existem várias teses para explicar
a universalidade do futebol, algumas
delas com pouca ou nula sustentabilidade,
como a que defende que
essa popularidade está dependente da
comunicação social e dos media, que
o exalta particularmente em detrimento
de outras modalidades; ou a teoria
marxista, praticamente sem força nos
dias que correm, que defende que o
futebol ganhou força devido a uma
intensa instrumentalização política
com propósitos sociais perversos.
" Em certa medida, o futebol é o jogo que mais
desnuda o ser humano, que mais lhe retira consciência
a civilidade, capacidade de análise e consciência,
colocado a nu uma boa parte da natureza humana, seja
ele o praticante seja o espectador".
Não me pretendo alongar muito
sobre estas teses, até porque as
mesmas parecem-me facilmente
refutáveis à luz das evidências, mas
podemos apontar, rapidamente, um
argumento suficiente forte sobre cada
uma delas que facilmente as contradiz.
No que concerne aos media, é
facilmente verificável a força e a
popularidade do futebol antes da
existência da comunicação social
moderna.
No final do século XIX, ou seja,
numa altura em que nem sequer existia
imprensa desportiva especializada,
o futebol era já, o desporto predilecto
da população, nomeadamente na
Europa e na América do Sul, numa
altura em que vários desportos modernos
iam sendo implementados um
pouco por todo o mundo civilizado.
A imprensa começa, isso sim,
posteriormente, a dar destaque àquilo
que socialmente estava a ter maior
expressão e mais impacto, e o futebol
surge com maior predominância na
38 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
"...o jogo de futebol, ao não ser jogado com as mãos, transporta o ser humano
para um estado primitivo no qual o instinto se sobrepõe à razão. Não perfilho
totalmente desta tese pois não considero que haja uma divisão tão saliente entre
o ser instintivo e o ser consciente (a consciência poderá ser um instinto mais
evoluído), mas julgo que a ideia transmite o que pretendo realçar: o futebol é
um jogo no qual a consciência tem pouco poder de decisão na acção devido à não
utilização das mãos."
do país, o que nunca acabou por acontecer,
simplesmente, porque a ginástica nunca
conseguiu, por razões diversas, cativar suficientemente
a sociedade portuguesa para se
tornar no seu desporto predilecto. Em sentido
inverso, o salazarismo proibiu a prática
do futebol durante vários anos nas escolas
e nas ruas, o que não impediu, todavia, que
esta modalidade se impusesse fortemente
como a mais popular.
Um determinado regime político apenas
pode instrumentalizar um determinado
desporto se este tiver a capacidade, de
forma isolada e espontânea, ganhar a simpatia
do povo, como de facto sucedeu com
o futebol em Portugal desde os fins do
século XIX, sem que, contudo, a ditadura o
tivesse instrumentalizado por razões
diversas que não temos oportunidade de
discutir aqui.
De forma sumária, no entanto, podemos
dizer que o futebol nunca foi o desporto
predilecto do salazarismo porque, devido
à sua essência violenta e massificada ia
contra os ideais que o regime defendia
para o desporto – este deveria ser amador,
racional, capaz de fortalecer e disciplinar o
corpo da nação.
No meu entender, as razões para a popularidade
do futebol são muito mais complexas
e muito mais profundas do que as explicações
acima referidas.
" Apenas na
América do Norte,
na Austrália e
em alguns países
asiáticos podemos
ainda encontrar,
clar amen t e ,
modalidades mais
populares e mais
praticadas que o
fu t e bol."
comunicação social devido
à sua proeminência natural
perante as outras modalidades
que estavam a surgir
no contexto da implementação
dos desportos modernos.
No que concerne à tese
marxista, é facilmente verificável
que não foi o poder
político que exaltou o futebol
como desporto predilecto
da sociedade. O regime de
Salazar, por exemplo, implementou
a ginástica como
desporto obrigatório nas
escolas e liceus e, segundo
a ideologia desta ditadura,
a ginástica deveria ser a
modalidade mais praticada
A génese da Civilização, ou seja, a
altura em que o ser humano se distancia
das restantes espécies e começa a fabricar
instrumentos, situa-se no Homo habilis. É
este antepassado do ser humano que liberta
as mãos para as utilizar a fabricar instrumentos,
rudimentares é certo, mas já com
um propósito funcional. Este passo evolutivo
veio exponenciar a inteligência cognitiva
da espécie dado que o ser humano ficou
dotado de um poderoso instrumento de
fabrico de objectos: as mãos. As mãos são,
aliás, uma ferramenta natural que apenas o
ser humano possui.
A partir de então, foi nas mãos que o ser
humano assentou a sua superioridade e foi a
partir delas que se construíram, desde simples
objetos para caçar, até às naves espaciais
que levam o Homem para fora do seu
planeta natural. É com as mãos que o ser
humano agarra, observa, analisa e constrói.
É com as mãos que o ser humano
controla o mundo que o rodeia. É, em
suma, com as mãos que o Homem se
torna Homem. É nas mãos que o homem
construiu a sua inteligência cognitiva; edificou
a cultura e a civilização que todos
nós descendemos. As mãos são, por isso,
o instrumento capital da análise e da consciência.
Consciência e mãos terão, designadamente,
uma relação mais ubíqua do
que poderemos imaginar pois é possível
que a consciência tenha crescido exponencialmente
devido à utilização persistente
das mãos na construção do mundo. Em
poucas palavras, é nas mãos que assenta a
nossa cultura, a nossa civilização e a nossa
racionalidade – a nossa capacidade de
manipularmos e controlarmos o mundo.
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Ora, o futebol é precisamente o
único desporto que não permite a utilização
das mãos, isto é, que proíbe a
utilização do instrumento da consciência,
da cultura, da civilização – da
análise e do controlo. Por conseguinte,
o futebol, ao amputar o uso das mãos
vai negligenciar subsequentemente a
consciência e abdicar da análise cognitiva.
O futebol é um jogo cujo objecto
e objectivo não está dependente do
controlo consciente do ser humano.
O futebol, em bom rigor, é jogado
com o corpo, sem os membros superiores.
Ao abdicar das mãos, o jogador
do futebol fica diminuído ao nível da
sua consciência e da sua capacidade
de análise cognitiva, bem como da
sua capacidade de controlar o que o
rodeia. Não é que o futebolista esteja
inconsciente quando está dentro de
campo (claro que não está), mas a
capacidade da consciência para operar
num jogo que amputa as mãos é
reduzida, pois a acção é rápida demais
para a lentidão da consciência – a
consciência actua, no mínimo, em 0,5
segundos, um tempo muito demorado
em relação à automatização que um
futebolista necessita para actuar.
A consciência é lenta e incapaz de
dar resposta à acção num jogo que não
permite análise cognitiva. Neste sentido,
o futebol é um jogo de instinto, de
reacção e expressão corporal, no qual
a consciência tem um poder residual
na acção, não obstante a consciência
poder ser muito útil no treino e na
tomada de conhecimento. Contudo, na
acção, o futebolista não pensa – reage.
Se pensar, falha. O futebol tem muito
mais que ver com a inteligência do
corpo do que com a inteligência cognitiva.
Alguns autores acreditam, inclusivamente,
que o jogo de futebol, ao não
ser jogado com as mãos, transporta o
ser humano para um estado primitivo
no qual o instinto se sobrepõe à razão.
Não perfilho totalmente desta tese pois
não considero que haja uma divisão
tão saliente entre o ser instintivo e o
ser consciente (a consciência poderá
ser um instinto mais evoluído), mas
julgo que a ideia transmite o que pretendo
realçar: o futebol é um jogo no
qual a consciência tem pouco poder
de decisão na acção devido à não utilização
das mãos.
Ora, a não utilização das mãos é,
no meu entender, a principal razão
para a universalidade do futebol pois
dá-lhe características únicas no panorama
desportivo mundial – desde
logo é o único desporto no qual o
poder do pensamento na tomada de
decisão é diminuído ao limite. Por
outro lado, o jogo torna-se mais
rápido pois o objecto do mesmo
nunca está verdadeiramente na posse
de nenhum dos jogadores. Aliás, nenhum
dos jogadores, com excepção
dos guarda-redes, tem hipótese de
segurar e, consequentemente, analisar
o objecto de jogo. Esta característica,
a incapacidade de analisar a
bola, dota o jogo de maior dinâmica,
velocidade, imprevisibilidade e virilidade
que qualquer outra actividade
desportiva. Ora, no meu entender,
é na imprevisibilidade do jogo que
reside uma das razões mais fortes
para a universalidade do futebol. A
imprevisibilidade do futebol, que não
raras vezes permite a equipa teoricamente
mais fraca ganhar jogo, muitas
vezes até vencer títulos nacionais (as
provas nacionais de todo o mundo
estão cheias de exemplos destes –
basta lembrar o Boavista no caso
português, ou, bem recentemente, o
Leicester no inglês) é uma das suas
principais especificidades.
" Um determinado regime político apenas pode instrumentalizar um
determinado desporto se este tiver a capacidade, de forma isolada e
espontânea, ganhar a simpatia do povo, como de facto sucedeu com o futebol
em Portugal desde os fins do século XIX, sem que, contudo, a ditadura o
tivesse instrumentalizado por razões diversas que não temos oportunidade
de discutir aqui."
"... o futebol surge com maior predominância na
comunicação social devido à sua proeminência
natural perante as outras modalidades que estavam a
surgir no contexto da implementação dos desportos
modernose".
40 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
O acaso, que muitos treinadores
chamam sorte, faz parte do jogo
devido à sua imprevisibilidade. O
acaso – ou sorte - não é mais do que
a imprevisibilidade de um jogo que é
jogado sem o instrumento natural do
ser humano que melhor permite controlar
os objectos do mundo. Tal como
na vida, o acaso faz parte de um jogo
de futebol, e isso dá-lhe um carácter
de imprevisibilidade e de surpresa, que
de certa maneira aproxima a realidade
de um jogo de futebol da vida real.
Em certa medida, o futebol é o
jogo que mais desnuda o ser humano,
que mais lhe retira consciência a
civilidade, capacidade de análise e
consciência, colocado a nu uma boa
parte da natureza humana, seja ele o
praticante seja o espectador.
Todos os desportos espelham a
natureza humana – são uma extensão
sociocultural da biologia humana -
mas nenhum outro jogo expõe com
tanta intensidade um elemento que
está extremamente presente na vida e
no futebol: a imprevisibilidade.
" Ora, no meu entender, é na imprevisibilidade do jogo que reside uma das
razões mais fortes para a universalidade do futebol. A imprevisibilidade
do futebol, que não raras vezes permite a equipa teoricamente mais
fraca ganhar jogo, muitas vezes até vencer títulos nacionais..."
"Não é que o
futebolista esteja
inconsciente
quando está
dentro de campo
(claro que não
está), mas a
capacidade da
consciência para
operar num jogo
que amputa as
mãos é reduzida,"
O futebol é uma arte que não
conhece rascunho, ao contrário do
cinema, do teatro ou da literatura, que
pode ser repetido até à “perfeição”.
O futebol é uma arte real – vivida em
tempo real com consequências reais.
Embora os outros jogos e desportos
também tenham a acção no imediato
nenhum outro é tão imprevisível.
Nenhum outro depende tanto do
acaso. Ora a imprevisibilidade incute
medo, alegria, excitação e grandes
doses de emoção – tudo características
inatas que são exaltadas num jogo
de futebol.
Embora não seja a única razão
para a sua popularidade, a imprevisibilidade
é, no meu entender, provavelmente,
o factor mais decisivo para
a universalidade do futebol. Podemos
apontar razões culturais e históricos
para esta universalidade, mas o facto
do futebol ser jogado com o corpo,
proibindo o uso das mãos, dota-o de
especificidades muito próprias e uma
grande dose de imprevisibilidade que
remetem, por um lado, o futebolista
para um estado de alguma primitividade
cognitiva no qual ele tem de
realizar um conjunto de acções sem o
instrumento de controlo do mundo, o
que por si só o obriga a realizar tarefas
que em certa medida são contranatura,
e por outro, o espectador para
um jogo que lhe oferece um carrossel
de emoções inatas, fruto dessa
mesma imprevisibilidade do jogo.
Desporto&Esport • www.desportoeesport.com • 41
Futebol Europeu
A Mudança chegou! Quem ganha? Quem
perde? Como ficam os clubes nacionais
no meio de tantas alterações?
Qual o futuro
da Liga dos
Campeões
a
medio
e longo prazo?
Filipe Revez Neves,
Treinador de futebol | Autor do livro “Futebol Europeu: Que Futuro?”
42 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
Formato da Liga dos Campeões da
UEFA, conforme conhecemos hoje
poderá estar com os dias contados.
Desde a sua criação na temporada
1992/93, a Liga dos Campeões, que
substituiu a Taça dos Clubes Campeões
Europeus, tem vindo a sofrer alterações,
sobretudo para gerar maior lucro para a
UEFA, clubes e principais patrocinadores.
A competição atualmente consiste em
três fases: a primeira com a qualificação
para a fase de grupos (pré-eliminatórias
ou play-off´s), a segunda com a disputa
em grupos (fase de grupos) e, depois,
quatro eliminatórias (oitavos de final,
quartos de final, meias final e a final).
Todos os jogos realizados na fase de grupos
e eliminatórias consistem em dois
jogos, exceto o da final, que é jogada
numa única partida, em local predefinido.
Todos os clubes têm de se qualificar
para a Liga dos Campeões por via da sua
classificação na temporada anterior nas
ligas nacionais que disputem.
No entanto, a alteração que agora está
em cima da mesa pode ser a maior desde
a criação da Liga dos Campeões.
A Associação das Ligas Europeias
de Futebol Profissional, que substituiu o
G-14 em 2008, representa 220 clubes, de
53 federações europeias, encontra-se a
discutir com a UEFA a revisão profunda
do formato da principal competição europeia
de clubes.
Os grandes clubes europeus pretendem
ter uma entrada direta na Liga
dos Campeões, de modo a estarem presentes
todas as épocas desportivas no
maior evento de clubes do mundo.
A necessidade de estarem presentes
todos os anos na Liga dos Campeões
justifica-se pela exposição mediática e
interesse desportivo, mas, acima de tudo
pelo elevado retorno financeiro que gera
esta competição.
A entrada nesta competição
significa para os
principais clubes europeus a
continuidade de gerar mais
receitas, melhores patrocinadores
e a contratação de
jogadores mais valiosos.
Os clubes participantes na
Liga dos Campeões, na presente
temporada de 2016/17,
vão receber mais de 1,3 mil
milhões.
O clube vencedor da
prova poderá, no máximo,
receber o total de 57,2 milhões
de euros.
A proposta inicial da
Associação das Ligas
Europeias de Futebol
Profissional é a de alterar
profundamente do
formato da competição,
estando em cima da mesa
a possibilidade de criação
de uma “Liga Europeia”,
na qual os principais
clubes dos campeonatos
nacionais mais relevantes
têm entrada direta, como
será o caso da Inglaterra,
Espanha, Alemanha,
Itália e França.
A UEFA pretende uma
alteração menos profunda
e fraturante, estando a ponderar
aumentar o número
de vagas das principais três
ligas europeias em mais
um clube. Desta forma,
Inglaterra, Alemanha e
Espanha, que têm três equipas
com acesso direto à fase
de grupos, podem ver este
número aumentar para quatro.
Esta alteração não alterará
o figurino atual da competição,
mantendo-se a fase
de grupos com 32 equipas,
mas com menos lugares em
aberto.
Desporto&Esport • www.desportoeesport.com • 43
Atlético de Madrid (finalista em
2013/14 e 2015/16), FC Porto
(vencedor em 2003/04) são
exceções à normalidade
Ao todo, este novo modelo prevê
a existência de play-off’s de acesso à
fase de grupos, mas com menos vagas.
Ou seja, mais de 40 clubes vão lutar
por seis vagas na fase de grupos da
Liga do Campeões. O objetivo principal
passa por garantir que os clubes
melhores classificados nestas três ligas
estão sempre presentes na competição
e, desta forma, aumentar o mérito
desportivo da competição.
A situação de Portugal não iria
ser alterada com o novo modelo
proposto. As duas melhores
equipas portuguesas na Liga
Portuguesa continuariam a ter
apuramento direto para a fase de
grupos, enquanto o terceiro classificado
passaria para os play-off’s
de apuramento.
A principal crítica que se aponta
a esta proposta da UEFA é o facto de
poder ser desequilibrada para as outras
ligas europeias que não os “big three”,
fazendo do play-off’s de acesso à Liga
dos Campeões uma verdadeira batalha
pela caça aos milhões.
Quer a UEFA seja mais radical e
aceite a alteração do modelo competitivo,
quer seja menos fraturante são
previstas mudanças nos próximos anos
na principal competição de clubes do
Velho Continente.
Qualquer alteração mais profunda
ao atual modelo competitivo da Liga
dos Campeões levanta resistências
diversas, especialmente porque existem
interesses instalados que podem ser
colocados em causa.
Contudo, o histórico diz-nos que
as alterações mais profundas nas competições
europeias são, tendencialmente,
benéficas para a generalidade
dos clubes europeus.
Em 1992/93 muitos foram aqueles
que se opuseram a uma reestruturação
profunda do modelo competitivo,
especialmente com a introdução de
participação de clubes não campeões
dos respetivos países. Foram várias
as vozes de discórdia, fundamentando
que não seria um sistema justo para
os campeões de países menos cotados
no ranking da UEFA, que iriam ver o
acesso restringido à prova.
A verdade é que desde a primeira
grande alteração ao formato inicial da
competição, a competitividade aumentou
exponencialmente, com todos os
benefícios conhecidos associados.
É certo que os principais clubes
europeus ficaram mais fortes, mas os
clubes menos cotados conseguiram
gerar mais receitas e contratar mais e
melhores jogadores, muito fruto dos
prémios monetários de participações na
liga milionária.
Foram vários clubes que beneficiaram
diretamente com esta alteração:
alguns clubes surgiram pela primeira
vez no panorama europeu (caso do
Rosenborg dos anos 90, do Zenit de
São Petersburgo, ou do Chelsea), outros
“renasceram” com participações sucessivas
na prova (exemplo do Valencia
no início do Milénio, ou do Atlético de
Madrid, mais recentemente).
Por outro lado, há quem
questione o facto de os
vencedores e finalistas serem
repetidamente os mesmos,
mas, a verdade, é que existem
exceções que contrariaram
esta tese: Atlético de
Madrid (finalista em 2013/14
e 2015/16), FC Porto (vencedor
em 2003/04), Mónaco
(finalista em 2003/04), Bayer
Leverkusen (finalista em
2001/02), Valencia (finalista
em 1999/00 e 2000/01),
Ajax (vencedor em 1994/95)
e Olympique de Marselha
(vencedor em 1992/93).
A alteração do figurino da
Liga dos Campeões será uma
inevitabilidade nos próximos
anos.
Resta saber se a UEFA
vai chegar a acordo com
a Associação das Ligas
Europeias de Futebol
Profissional, e, aí, as alterações
podem ser menos
profundas, ou, por outro
lado, se a Associação das
Ligas Europeias de Futebol
Profissional decide enveredar
por um caminho mais radical
e criar uma Liga Europeia.
Pela análise do passado
recente, a UEFA tem conseguido
gerir a situação de
acordo com os seus interesses,
mas, nos últimos anos, a
pressão dos clubes europeus,
especialmente os mais
poderosos, tem-se agudizado
e poderá fazer com que existam
alterações mais significativas.
Possivelmente não
será nos próximos anos
que existirá uma reformulação
profunda do
modelo competitivo da
Liga dos Campeões -
com a criação de uma
“Superliga Europeia”,
mas, a longo prazo, essa
possibilidade será, certamente,
uma realidade, de
modo a serem aumentados
os lucros do negócio
que é o futebol.
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TREINADOR
A especialização do
treinador de
futebol
A
Vitória
do
Profissionalismo
A era do
amadorismo
terminou
Rafael
Martins Cotta
Graduado em educação física; Pós-graduado em treinamento desportivo e fisiologia do
exercício; Auxiliar técnico do c.a.bragantino;
Diretor do www.cienciadoesporte.com.br e autor do livro: “treino é jogo, jogo é treino”
cde@cienciadoesporte.com.br
Desporto&Esport • www.desportoeesport.com • 45
Especialização
do treinador
F
utebol é uma modalidade esportiva que vem passando por constante evolução. A
cada dia, atletas mais preparados e inteligentes taticamente ganham espaço nesse
meio. Com esses e outros pontos importantes, o treinador deve estar cada vez
mais bem preparado, embasado e principalmente atualizado em relação ao que o jogo
pede e para resolução dos problemas cotidianos, no que se diz respeito à treinamento e
principalmente à liderança positiva perante sua equipe.
Muito se discute, principalmente no brasil, sobre a preparação do treinador de
futebol. Atualmente, alguns profissionais vem perdendo espaço, principalmente por
desatualização. Em outros países, as confederações exigem uma carteira profissional
ao treinador, podendo esta ser ou não aceita e consequentemente podendo o impedir de
trabalhar à beira do campo.
Vamos partir do princípio e pontuar algumas situações que ocorrem quando tratamos
do assunto “especialização do treinador”:
1. A graduação em educação física ou algum curso superior relacionado ao
esporte é necessária?
A graduação, principalmente em educação física, pode não ter muito envolvimento
com a modalidade futebol, até pela grade desta matéria não ser suficiente para preparação
de um treinador, porém, o assunto não é o futebol em si, e sim, o conhecimento
de diversas áreas que podem e devem auxiliar no processo. Conhecer o corpo
humano, bases fisiológicas, formas de avaliação, metodologias, entender outras modalidades
e onde seu aprendizado pode auxiliar no desporto em questão e principalmente
ter uma maior organização em relação à planejamento são itens primordiais para um
para um comandante, que não precisa
ser especialista em todas as áreas,
mais deve conhecer um pouco de cada
assunto para poder coordenar e supervisionar
um projeto, principalmente
sua comissão técnica. Com base nisso,
a graduação tem grande importância,
pois conhecimento e uma boa formação
podem fazer a diferença.
2. O ex-jogador sai na frente
quando se torna um treinador?
Se ele souber usar as coisas boas
que vivenciou ao longo dos anos e a
unir com conhecimento e embasamento,
com certeza encurtará seu caminho,
pois a chance de cometer erros comuns
em relação a quem nunca vivenciou
o meio é bem menor. Um ex-jogador
preparado bem preparado é infinitamente
diferente de um despreparado,
principalmente em relação à cultura,
conhecimento de diversas áreas, liderança,
organização, entre outros itens.
46 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
" Comandar uma equipe
é bem diferente de ser
comandado, principalmente
se a pessoa não tiver o perfil,
a tendência é buscar a
especialização ou abandonar
a carreira por uma eventual
perda de espaço."
Comandar uma equipe é bem
diferente de ser comandado,
principalmente se a pessoa
não tiver o perfil, a tendência
é buscar a especialização ou
abandonar a carreira por uma
eventual perda de espaço.
3. A realização de cursos
específicos, pode ajudar no
processo de formação do
treinador?
As formas de aperfeiçoamento
devem ser bem
escolhidas. Verificar os palestrantes,
as procedências e
histórico dos cursos, os temas
a serem abordados e não o fazerem
simplesmente para ter a
carteira ou o certificado. Sair
do curso melhor do que entrou
passa a ser um grande passo no
que se diz respeito ao crescimento
profissional.
4. O estudo diário é
necessário ao treinador?
Sabemos que treinadores
empregados não dispõe de
tanto tempo para isso, porém,
trinta minutos ao dia podem
fazer uma grande diferença,
sendo ao ler um livro ou artigo,
seja assistindo algum vídeo, ou
analisando um jogo ou movimentos
individuais. Sabemos
que informação e conhecimento
nunca são demais, não
somos os donos da verdade e
ao meu modo de pensar, quanto
mais assumirmos nossa burrice,
mais estaremos buscando por
conhecimento e consequentemente
evoluindo
5. Passar pelas categorias
de base pode ajudar na
formação do treinador de
equipes profissionais?
Assim como os atletas em
formação, o treinador também
deve ter seu período de formação.
Alguns países obrigam
que seus treinadores passem
pelas categorias de base, principalmente
por estarem preocupados
com a sua formação,
não queimando etapas e possibilitando
a ocorrência de erros
comuns, porém nos momentos
certos. Não dependerá somente
do treinador e sim da escola
onde está se formando, considerando
seguir um planejamento
e garantir um alto nível de
preparação quando chegar à
equipe profissional.
Os itens acima pontuados são
alguns pontos muito discutidos
atualmente em relação à
formação e especialização do
treinador. Acredito que muitos
possam discordar, porém,
são assuntos importantes para
nossa reflexão. Estamos num
país onde a formação do treinador,
se tratando de uma licença
que o autorize a atuar a beira
dos gramados é algo um pouco
recente, onde saímos atrás de
outros países que já tem essa
cobrança e cultura a mais
tempo.
Falar sobre a grande
Duas gerações de treinadores
de sucesso e com diversas
competências
importância da especialização do treinador é algo
lógico, pois sabemos que quanto mais bem preparado
for o treinador, mais elevado será o nível
do jogador e consequentemente das partidas de
futebol. Para concluir este texto, gostaria de propor
uma tarefa a vocês leitores:
Faça uma análise do ranking mundial de treinadores
de futebol, verificando entre os 50 primeiros
colocados, quantos brasileiros fazem parte. Busque
também, informações de como é feita a preparação
dos treinadores, em relação ao curso capacitador,
nos países que ocupam as melhores colocações no
ranking. Com certeza irão concordar com o texto,
ou pelo menos refletir sobre as idéias expostas
acima.
Em relação ao brasil, aos poucos, os mais bem
preparados ganharão seu espaço, pois a necessidade
de profissionais altamente capacitados será
uma das soluções para o processo de evolução do
futebol brasileiro.
Desporto&Esport • www.desportoeesport.com • 47
Alguns princípios
para a
rentabilização
da observação
Scouting
Como perspetiva
evolucionista
do futebol
Muito se fala de scouting, mas afinal o
que é isto do scouting? Tal como muitas
outras, seja em vertente de treino, jogo, ou
qualquer outra, o scouting é uma ferramenta
de trabalho que permite dar respostas a algumas
questões que vão surgindo. Os indicadores que se
vão recolhendo ao longo deste processo são decisivos,
pois são eles que permitem que se façam
ajustes de forma a maximizar o tão desejado rendimento
desportivo.
O scouting, como processo de observação,
deve colocar desde logo algumas questões que no
nosso entender são essenciais, “observar o quê e
com que intuito”? Antes de se começar a observar
é essencial que se saiba o que se quer observar
e para quê. Se isso não acontecer é provável que
fiquemos perdidos mesmo antes de começar. Hoje
existem muitos dados disponíveis, nomeadamente
acerca de jogadores, equipas, clubes, entre tantas
outras, nessa lógica por vezes isso acaba por se
tornar num problema, quando na realidade deveria
antes ser o caminho para encontrar soluções.
48 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
André
Mendes
Scout e Treinador de futebol
UEFA B. Autor do livro
“Scouting – O futebol
(re)nasce aqui ”
https://www.facebook.com/scoutingfutebol/
Olhar
vs. Ver
O Scouting
também é uma
ciência e em
evolução
Desporto&Esport • www.desportoeesport.com • 49
Se o scouting permite atuar em áreas distintas
então o que podemos explorar dentro de cada uma
delas? A figura que agora apresentamos tem como
objetivo vocês realizarem um exercício de análise
sobre a forma como estes fatores se inter-relacionam e
influenciam mutuamente, independentemente da área
de atuação, em todo este processo.
Apesar da extrema importância dos processos
apresentados anteriormente iremos focar-nos essencialmente
na observação e análise para que possamos
aprofundar um pouco mais a temática. Assim, no que
concerne à observação e análise estas podem focar-se
em aspetos mais individuais ou coletivos, são esses
aspetos que iremos desenvolver em seguida, porque
acreditamos que são dois dos mais importantes a
considerar no scouting, independentemente da área
de intervenção ser a nossa equipa ou uma equipa
adversária.
" O conhecimento da equipa em vários
níveis (psicológico, físico, tático, técnico e
humano), é decisivo para que seja possível
queimar etapas relativamente à observação
adversária".
Observação e Análise (relativa aos jogadores)
Considerando a observação individual esta pode
ser relativa aos jogadores da própria equipa ou a jogadores
que eventualmente possam interessar ao clube.
Relativamente à observação coletiva a lógica de pensamento
é a mesma. Agora se nos questionam – “E
começamos por onde?” É sempre difícil responder a
essa questão porque depende dos objetivos e do que se
pretende analisar, assim é conveniente saber o que pretende
e onde se quer chegar para que o processo seja
facilitado e coerente. No entanto, algumas análises que
temos vindo a observar “ … permitem-nos constatar
que as mesmas tem grandes preocupações coletivas e
muito pouco individuais…”, perante isto parece-nos
que só é possível conhecer e analisar os coletivos se
em primeira instância se conhecerem as individualidades..
50 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
Isto poderá parecer um pouco contraditório,
e causar alguma estranheza,
mas reparem que um coletivo existe
pelas individualidades também, cada
jogador é diferente em si mesmo e tem
especificidades próprias (físicas, comportamentais,
sociais, etc.). Não é por
acaso que muitos jogadores ao mudarem
de clube perdem também um pouco
da sua essência, isso acontece porque
existiam fatores no anterior clube que se
coadunavam melhor com a sua própria
essência. Por isso, referimos que “a
análise individual permite consolidar
com maior eficiência a análise coletiva…”,
talvez por isso achemos que a
análise individual é um ponto de partida
para a análise coletiva.
Este tipo de conhecimentos permitem
que as avaliações sejam muito
mais profícuas, evitando assim equívocos
que muitas vezes poderiam ser
evitados e não são. No entanto, muitos
outros aspetos têm de ser tidos em consideração,
este (conhecimento(s) do(s)
outro(s)) parece-nos um ponto de partida
crucial para evitar erros que se tornam
demasiado dispendiosos e não nos
referimos apenas ao nível financeiro.
Poderíamos citar inúmeros exemplos
para explicar melhor o que dissemos
anteriormente, é simples basta pensarmos
em um ou dois exemplos para
que perceba a influência individual
de alguns jogadores no coletivo do
qual fazem ou fizeram
parte - ex. Iniesta no
Barcelona, Ibrahimovic
no PSG, Hamsik no
Nápoles, entre tantos
outros.
No que concerne à
observação, é bastante
importante que o scout
esteja totalmente identificado
com as ideias
do treinador ou com a
estrutura do clube, só
assim o seu trabalho
será coerente e convenientemente
valorizado.
Princípios a considerar
para um scouting eficiente
na relação scout/treinador
Observação e análise individual
(jogadores da nossa
equipa/ adversários/ contratações):
•É pertinente o scout
conhecer os jogadores
da equipa para ajudar a
restante equipa técnica nas
análises a realizar;
•O scout deve conhecer
as relações existentes entre
os jogadores da própria
equipa para entender as
dinâmicas desenvolvidas no
treino e no jogo;
• Este pode ter uma palavra a dizer
em situações onde o treinador tenha
dúvidas relativamente às suas opções;
•O scout para procurar novos jogadores
tem de conhecer bem as ideias
de jogo, do treinador e de tudo o que
ele pretende para a equipa;
Observação e análise coletiva
(Equipa/Adversário):
•À imagem do que sucede na
observação e análise individual, o conhecimento
real da equipa (como um
todo), para o qual se faz o scouting é
essencial;
•A análise à própria equipa, com
dados concretos e bem trabalhados,
permite ao treinador explorar alguns
aspetos com a equipa na análise pósjogo
e explorar a forma como estes
podem influenciar a preparação da
sessão de treino/micro ciclo seguinte;
•O conhecimento da equipa em
vários níveis (psicológico, físico,
tático, técnico e humano), é decisivo
para que seja possível queimar etapas
relativamente à observação adversária,
pois sabendo o que se procura e o
que realmente interessa permite que
se simplifique um pouco todo este
processo, o que por si só é já muito
moroso e complexo;
•O conhecimento das equipas
adversárias permite que o trabalho da
própria equipa seja consolidado da
melhor forma exponenciando o rendimento,
explorando os pontos fracos e
anulando os pontos fortes.
Acreditamos que o scouting é
uma ferramenta de trabalho que
tem ainda muito para evoluir, por
tudo o que referimos e não só, independentemente
dos quadrantes de
ação, sejam eles mais ou menos tecnológicos.
Todas as variáveis essenciais ao
“jogo” têm de ser convenientemente
exploradas para que seja possível
obter um rendimento elevado, pois o
futebol é como um “puzzle” e para
que todo ele esteja completo temos
de ter todas as peças no seu devido
lugar.
.
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Futsal *
Lesões: a
Morfol
dos a
importância
da prevenção
O principal interesse nos estudos
relacionados com as lesões
prende-se com a possibilidade de
entender a sua origem, incidência
e mecanismos associados e
procurar estabelecer programas
que minimizem os fatores de
risco da sua ocorrência. Em face
da precocidade com que os atletas
iniciam a prática desportiva,
é fundamental a prevenção e a
orientação da prática desportiva
através da adequação da metodologia
de treino às especificidades
dos atletas.
A análise dos trabalhos de
investigação atuais na área das
lesões desportivas mostra uma
grande atenção para as questões
das alterações posturais nos
atletas, como fatores de risco,
nomeadamente, do equilíbrio
postural, ou da morfologia do
pé e das pressões plantares, para
deteção de fontes de instabilidade
e, especialmente, de lesões do
tornozelo ou do pé. As principais
razões que são normalmente
apontadas para a incidência de
lesões no Futsal são: a deficiente
preparação física, alterações posturais
significativas, reduzidos
índices de flexibilidade, erros na
execução de gestos desportivos,
equipamentos
inadequados,
para além de
lesões de origem
traumática
durante a competição.
Características
específicas do Futsal
As características
específicas
do Futsal, onde
sobressaem a
intermitência no
ritmo dos deslocamentos
(aceleração/desaceleração),
com
mudanças bruscas
de direção,
envolvendo contacto com a bola
e com adversários, praticado em
espaços relativamente reduzidos
e em pisos muitas vezes com
deficientes condições, com níveis
de exigência competitiva muito
elevada e períodos de sobrecarga
de treino e competição, propiciam
o aparecimento de lesões.
Esta modalidade tem sofrido
uma evolução muito significativa
na última década, principalmente
Maria F.
Serrano
Mestre em Jornalismo Desportivo
pela Universidade Europeia (Madrid),
Estagiária na Real Madrid TV, Madrid,
Espanha;
João P. R.
Serrano
Doutorado com Agregação; Mestre em
Treino Desportivo; Treinador de Futsal
de Grau III; Seleccionador de Futsal
da Associação de Futebol de Évora;
Escola de Ciências e Tecnologia,
Universidade de Évora, Portugal;
jmrs@uevora.pt
em função das crescentes exigências
físicas, tácticas, técnicas e
psicológicas, levando os jogadores
a trabalharem perto dos seus limites,
o que pode aumentar a predisposição
para lesões.
52 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
ogia
tletas
Desporto&Esport • www.desportoeesport.com • 53
Futsal *
Breve reflexão sobre um
estudo retrospetivo
Um estudo retrospetivo realizado
por Serrano et al. (2013)
procurou identificar potenciais
causas de lesões nesta modalidade
desportiva, referência
necessária para o desenvolvimento
de protocolos específicos de
prevenção de lesões. A amostra
foi constituída por 411 jogadores
federados a praticar Futsal em
Portugal, 284 do género masculino
e 127 do género feminino.
Incidência de lesões
Dos 411 jogadores que
responderam ao questionário,
98 não apresentaram lesões que
tenham considerado relevantes
no seu percurso na prática do
Futsal, tendo sido registadas 512
lesões no conjunto dos restantes
313 jogadores. Destas, o tipo de
lesão mais referida foi a entorse
com 250 registos (correspondente
a 48,8% do total), seguiu-se a
rotura muscular com 76 registos
(14,8%), a fratura com 43 registos
(8,4%), o estiramento de ligamentos
com 34 registos (6,6%),
a contratura muscular com 25
registos (4,9%) e a pubalgia com
9 registos (1,8%). As restantes
lesões, com uma ocorrência
muito reduzida, representaram,
no seu conjunto, os restantes
14,6% do total.
Região anatómica da lesão
Quanto à região anatómica
de maior incidência de lesões,
a articulação tíbio-társica apresentou
259 registos (50,6%),
seguida da perna com 94 registos
(18,3%), da articulação do joelho
com 68 registos (13,3%) e da
mão com 32 registos (6,2%). As
restantes regiões anatómicas,
no seu conjunto, representaram
11,5% do total.
Gravidade da lesão
Relativamente à gravidade,
270 lesões (52,7%) tiveram um
período de impedimento entre 8
e 28 dias (gravidade moderada),
160 lesões (31,3%) tiveram um
período de impedimento superior
a 28 dias (gravidade severa),
54 lesões (10,5%) tiveram um
período de impedimento entre 4
e 7 dias (gravidade reduzida) e
apenas 28 lesões (5,5%) tiveram
um período de impedimento
igual ou inferior a 3 dias (gravidade
leve ou mínima). Tratandose
de um estudo retrospetivo,
que apela, portanto, à memória
dos inquiridos, é normal que as
lesões de menor gravidade sejam
subvalorizadas e apresentem
menor registo de incidência.
A influência da posição do
jogador no campo
Este trabalho não revelou
diferenças significativas entre
posições no campo ao nível da
incidência, do tipo e da gravidade
das lesões. O rácio lesões/jogador
oscilou entre 1,15 nos “alas”,
1,17 nos “guarda-redes”, 1,27
nos “universais”, 1,33 nos “pivots”
e 1,40 nos “fixos”. O Futsal
atual permite-nos compreender
que a não existência de diferenças
significativas entre posições
se deve ao facto dos sistemas
e métodos de jogo exigirem a
movimentação dos jogadores por
todas as posições do campo e
com a participação crescente do
guarda-redes em todas as fases
do jogo, no processo defensivo,
ofensivo e nas transições.
Treino versus jogo
Os resultados deste estudo
também não revelaram diferenças
significativas no que respeita à
incidência de lesões nas situações
de treino ou de jogo. Este facto
pode encontrar sustentação na
metodologia de treino atual, com preponderância
do treino integral, aproximando
o mais possível o treino da
competição. No entanto, foram encontradas
diferenças significativas entre as
situações de treino e de jogo no que se
refere ao tipo de lesão e à sua gravidade.
Verificou-se maior incidência de entorses
e contraturas em situação de treino e
maior incidência de roturas musculares e
fraturas em jogo.
54 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
A conjugação destas variáveis é justificada
uma vez que fraturas e roturas
musculares são situações a que normalmente
se associam períodos de
recuperação mais demorados do que
entorses e, especialmente, contraturas
musculares.
Mecanismo da lesão (com ou sem
contacto)
Os resultados deste trabalho revelaram
diferenças significativas quanto
ao tipo e à região anatómica da lesão.
Verificou-se uma maior incidência de
lesões articulares ou ósseas (entorses
e fraturas) em resultado do contacto
com adversários e maior incidência
de lesões musculares ou ligamentares
(roturas, estiramentos e contraturas)
sem contacto com adversários, o que
está de acordo com a generalidade
dos estudos realizados nesta área
O pé dominante e a lesão
Os resultados não evidenciaram diferenças
significativas na lateralidade
das lesões, independentemente do pé
dominante dos jogadores. Contudo,
importa referir que Baroni et al.
(2008) determinaram uma maior
incidência da entorse do tornozelo
do membro dominante, apesar de
esperarem exatamente o inverso uma
vez que o membro dominante tem
Desporto&Esport • www.desportoeesport.com • 55
Futsal *
coordenação motora mais desenvolvida
do que o membro não
dominante e o deficit propriocetivo
aumenta o risco de ocorrência
desta lesão. Baroni et al.
(2008) justificaram os resultados
obtidos com base no facto do
membro dominante ser o mais
utilizado no remate, assumindo o
membro não dominante a função
de apoio. A repetição sistemática
desta ação, em treinos e jogos,
cria segundo estes autores, um
padrão de “especialização”
destes membros nas funções de
remate e apoio, respetivamente,
o que torna o membro dominante
menos eficaz do que o membro
não dominante quando o apoio
é necessário, que corresponde,
precisamente, ao mecanismo da
grande maioria das entorses do
tornozelo. Esta é uma razão suficientemente
interessante para justificar
a insistência que se deve
ter com os jovens jogadores para
utilização bilateral nos contactos
com a bola, nos processos específicos
de treino/aprendizagem,
como forma de prevenção deste
tipo de lesões.
A prevenção das lesões
A contribuição para o conhecimento
do quadro de lesões
desportivas associadas ao Futsal
é um aspeto chave para o desenvolvimento
de programas e
estratégias que visem diminuir a
sua incidência, para os quais os
treinadores, os professores e os
formadores em geral têm reservado
um papel fundamental, justificando-se
uma maior preocupação
para esta questão ao nível
das entidades responsáveis pelo
planeamento dos conteúdos programáticos
dos cursos de formadores/treinadores.
A este respeito,
Steffen et al. (2010) referem três
estratégias a utilizar na prevenção
de lesões desportivas: (1) utilizar
equipamento adequado, (2)
adaptar as regras do jogo e (3)
desenvolver programas de exercícios
específicos para redução do
risco de lesões. Por exemplo, referem
a importância de realização
de programas de treino preventivo
neuromuscular que incorporem
trabalho pliométrico para
reduzir o risco de incidência de
lesões a nível do joelho, tal como
sugerem a utilização de ligaduras
funcionais na articulação tíbiotársica
de jogadores que tenham
tido entorses nesta articulação
como forma de reduzir o risco de
incidência de recidiva.
Para estes autores o sucesso
na implementação de programas
de treino para prevenção de
lesões deve estar associado a uma
estratégia de base consistente,
aplicada especialmente a crianças
e jovens, e devem, por exemplo,
incluir exercícios específicos até
20 minutos de duração, preferencialmente
no início das sessões
de pré-época.
Outro aspeto importante na
prevenção das lesões e que não
é normalmente considerado tem
a ver com a avaliação da fadiga.
Será importante que os treinadores,
professores ou formadores
tenham sensibilidade para esta
área. O registo do tempo de
jogo (ou de treino) decorrido no
momento da lesão é um indicador
que pode facilitar a interpretação
deste fenómeno em estudos
mais complexos, relacionados
com os fatores gerais de risco de
lesões.
Referências bibliográficas
Baroni, B., Generosi, R., Junior, E.
(2008). Incidence and factors related to
ankle sprains in athletes of futsal national
teams. Fisioterapia em Movimento, 21(4):
79-88.
Serrano, J., Shahidian, S., Voser, R., leite,
N. (2013). Incidence and injury risk factors
in portuguese futsal players. Revista
Brasileira de Medicina do Esporte, 19(2):
123-129.
Steffen, K., Andersen, T., Krosshaug,
T., Van Mechelen, W., Myklebust, G.,
Verhagen, E., Bahr, R. (2010). Prevention
of acute sports injuries. European Journal
of Sport Science, 10(4): 223-36.
56 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
O QUE MOTIVA
MULHERES A JOGAREM O
FUTSAL AMADOR?
Marinês M.
de Souza
Licenciada em Educação Física/UFRGS
Mestranda em Ciência do Movimento
Humano/UFRGS
Futsal no
feminino
O desporto não
é nem nunca foi
só um mundo de
homens, nem de
profissionais
Desporto&Esport • www.desportoeesport.com • 57
Futsal *
Sexta no final do dia saio
do trabalho e vou direto
para a quadra, levo na
bolsa um calção, uma
regata e um par de tênis,
e não vejo a hora de encontrar
as amigas para “bater aquela
bola”. Esse episódio faz parte das
rotinas semanais de muitas mulheres
que ao menos uma vez na
semana se reúnem para praticar
o futsal.
Há mulheres praticantes com
diversificados objetivos neste
esporte. Mas minhas inquietações
não ocorrem sobre as que buscam
através do Futsal o profissionalismo
no esporte, e sim,
sobre as que ultrapassam esses
limites, realizam a prática por
outros diferentes sentidos e que
são conhecidas como jogadoras
amadoras.
O Futsal feminino até o
século XXI não era uma prática
muito comum. Antes desse período,
as mulheres encontraram
muitas dificuldades para se inserirem
não somente no futsal, mas
em outras modalidades esportivas
por diferentes razões. Razões
estas ligadas ao preconceito e
à falta de incentivo, visto que
eram práticas predominantemente
realizadas pelos homens.
A prática do futsal amador
feminino vem alcançando
modificações recentes, crescendo
constantemente, e se tornando
comum em diferentes espaços,
como em praças, clubes e também
em quadras particulares
que muitas vezes são utilizadas
exclusivamente para realizar esse
esporte. Para confirmar esse fato,
se formos observar esses locais,
por exemplo, onde ocorrem os
jogos e que antes eram frequentados
apenas por homens, hoje
é possível verificar a presença
de equipes femininas. Por que
isso aconteceu? Qual motivo
surgiu influenciando esse crescimento
esportivo por parte desse
público?
Para Weinberg e Gould
(2001), as pessoas podem participar
de uma determinada
atividade por diversos motivos
ao mesmo tempo. Ou elas realizam
não somente por se sentirem
bem, mas também devido às
amizades. Além disso, destacam
que a motivação pode influenciar
na permanência, na intensidade
com que se dedicam, e um dos
motivos da realização do esporte
é a competição.
Sabe-se que há dois tipos
de motivação, a extrínseca e a
intrínseca. A primeira é quando
os fatores externos, o ambiente
estimula o indivíduo a praticar
determinados esporte, assim
como o incentivo de familiares,
ou as próprias companheiras da
equipe, entre outros. Já a segunda,
o estímulo advém de fatores
internos do indivíduo, como o
prazer, o bem-estar que o esporte
proporciona. Portanto, esses
estímulos podem ser influenciados
pela própria praticante ou por
motivos externos.
As transformações no cenário
esportivo para as mulheres
revelam que hoje, elas, ao se
deslocarem para as suas práticas,
geralmente não vão sozinhas,
estão acompanhadas de amigos
ou de algum familiar. Ou seja,
essas companhias, provavelmente
de alguma maneira, vêm estimulando-as
e as incentivando para
continuarem se envolvendo com
o esporte.
É importante destacar que
apesar das jogadoras amadoras
geralmente não estarem visando
o profissionalismo, elas realizam
o futsal não só a prática pela
prática, visto que geralmente há
outras atividades planejadas pós
jogo, como o churrasco, a bebida,
o ajuntamento do grupo, entre
outros. E mesmo sendo amadoras,
elas podem ou não visar a
competição, a busca de resultados,
ou até mesmo, almejar uma
melhora na performance.
58 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
Enquanto que, para algumas, o
competir não é o mais importante,
ou seja, o objetivo principal está
centrado na prática para promoção
da diversão e de um bem-estar;
para outras, mesmo não treinando
a parte técnica e tática, buscam
participar de competições, ou seja,
visam obter resultados assim como
as equipes profissionais.
Pesquisas já realizadas com
esse público indicam que além
dos motivos já citados, elas também
procuram participar regularmente
em uma atividade física por
motivos que podem estar relacionados
com a saúde, assim como
por indicação de médicos, visando
controlar doenças e manter controle
ou redução de peso, etc. Também
participam com a intenção de
benefícios psicológicos, como na
diminuição do
estresse. Mas há
aquelas que realizam simplesmente
por prazer, pela diversão.
Portanto, os motivos que
levam mulheres à prática do futsal
feminino, sejam amadoras ou não,
podem ser diversos. Mas é importante
ressaltar que a maioria das
equipes amadoras realizam o futsal
com objetivos diferentes das profissionais,
onde geralmente priorizam
muito mais a diversão, o prazer de
estarem reunidas, do que propriamente
o resultado, a performance.
Diante disso, as investigações com
esse público são imprescindíveis,
porque buscam entender com
mais profundidade a respeito da
jogadora, ou da equipe, e com isso
podem ajudar para o próprio crescimento
da modalidade e do ganho
de inclusão de praticantes. Mas,
infelizmente ainda há poucos estudos
sobre motivação com jogadoras
amadoras, diferentemente das equipes
profissionais femininas, que já
possuem mais pesquisas preocupadas
a entender o porquê elas praticam,
e o porquê muitas vezes acabam
abandonando o esporte. Sendo
assim, espera-se que mais estudos
sejam realizados com as jogadoras
amadoras.
Enfim, o jogo encerrou-se, foi uma
sexta-feira maravilhosa, teve muitos
chutes, muitas defesas e muitos
dribles e muitas risadas, mas agora
é hora de ir para casa, descansar
e torcer para que a semana passe
rápida a fim de que possamos
novamente jogar na próxima sexta-
Desporto&Esport • www.desportoeesport.com • 59
Potência
nos
sprints
Ciência da
pedalada
Ricardo
Dantas de Lucas
Professor e Pesquisador da Universidade Federal
de Santa Catarina, Brasil. Doutor em
Educação Física, com ênfase em avaliação
fisiológica e treinamento de atletas. Atua como
treinador de atletas de endurance
desde 1995.
ricardo.dantas@ufsc.br
60 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
Desporto&Esport • www.desportoeesport.com • 61
Ciclismo é um dos únicos esportes de endurance em que
a capacidade de realizar sprints pode ser determinante
ao desempenho final. Nas provas clássicas, por exemplo,
as corridas têm duração de aproximadamente 6-8 horas
e os vencedores com muita frequência são os ciclistas que apresentam
maior aptidão de gerar potência anaeróbia, realizando
sprints com potência acima de 1500W nos últimos 200m. A
capacidade máxima do músculo humano gerar força e/ou potência
de curta duração vêm sendo bastante estudada nas ciências
do esporte, desde a década de 1930, com especial enfoque no
ciclismo nos últimos 40 anos.
A produção de potência durante os sprints de ciclismo tem
uma complexa relação com a cadência de pedalada e também
com as marchas utilizadas nas engrenagens.
Nas provas de pista, este é um dos fatores decisivos já que
as bicicletas não tem combinações de marchas, sendo necessária
uma perfeita combinação entre as características do ciclista e da
marcha escolhida.
Potência máxima de curta duração
Para medir a
potência máxima
de curta duração
gerada por um
individuo é
necessário avaliar
a relação entre a
força e a velocidade
de contração,
resultando assim
na produção de
diferentes potências
mecânicas.
Desta forma
pode-se construir
a curva
denominada como
força-velocidade
ou ainda potência-velocidade
(SARGEANT
et al., 1981;
ZOLADZ et al.
2000).
" ciclistas que pretendem aumentar sua potência máxima de
pedalada em sprints devem investigar a cadência ótima para
selecionar bem as marchas utlizadas, e consequentemente
optimizar o desempenho de velocidade. "
62 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
Figura 1.: Modelo esquemático da relação força-velocidade e potência-velocidade (Painel
A). O painel B representa as diferentes curvas potência-velocidade para cada tipo de fibra
muscular (linhas tracejadas) e para o músculo todo (linha contínua) com igual proporção
de fibras tipo I e II. Vopt= é a velocidade ótima para atingir a potência pico.
A curva força-velocidade, tal como
o nome indica, é resultante da relação
entre a força (ou torque) produzida
pelo músculo e a velocidade em que
uma dada carga pode ser deslocada por
esta força.
Assim, quanto maior for a velocidade
de execução de uma contração
muscular, menor será a força produzida,
ou que quanto maior a força
aplicada, mais lenta será a realização
do movimento. Esta relação entre a
força e a velocidade pode ser explicada
pela teoria das pontes cruzadas
de Huxley, segundo a qual, a velocidade
necessária para o acoplamento
da fibras musculares está diretamente
relacionado à capacidade de produção
de força pelo músculo durante uma
contração estática (isométrica), ou seja
a força máxima absoluta produzida
ocorre quando não há movimento
(velocidade igual a zero). Conforme
iniciamos uma contração dinâmica,
vamos reduzindo exponencialmente a
capacidade de produzir força (ou tensão)
muscular conforme se aumenta a
velocidade do movimento (ver Figura
1A). Por outro lado, a potência muscular
aumenta com o aumento da velocidade
de contração, atingindo um ápice
e decaindo se continuarmos aumentando
a velocidade.
No ciclismo, a capacidade máxima
de gerar potência começou a ser
melhor entendida com o desenvolvimento
de ciclo-ergômetros isocinéticos
(ZOLADZ et al., 2000). Neste equipamento,
o ciclista realiza sprint com
uma cadência pré-estabelecida, sendo
que o ergometro regula a resistência
para não permitir que o ciclista ultrapasse
a cadência estipulada.
Atualmente é amplamente conhecida
que a relação potência-cadência de
pedalada apresenta um comportamento
de parábola (Figura 1), com o ápice da
curva correspondendo à potência pico
e a cadência ótima.
De uma forma geral, uma cadência
entre 115 e 130 rpm parece ser a
ótima velocidade para gerar a maior
potência possível, para a maioria das
pessoas. Um aspeto interessante é
que tanto a cadência ótima quanto
a potência pico dependem da distribuição
de fibras musculares lentas
e rápidas (ver Figura 1B), sendo que
as fibras rápidas apresentam melhor
desempenho em maiores velocidades
(~ 140 rpm), enquanto as lentas em
menores (< 100 rpm).
Desta forma, a soma dos dois
tipos de fibras, ou seja a musculatura
composta por proporções similares de
fibras rápidas e lentas produz a cadência
ótima em torno de 120 rpm.
Assim, as diferentes distribuições
de fibras rápidas e lentas nos seres
humanos, explica a variação individual
da cadência ótima relatada na
literatura (i.e. 100-140 rpm).
Com a possibilidade de medir potência no ciclismo em campo, vem-se questionando se as medidas obtidas no laboratório
podem ser comparadas à aquelas obtidas em situação real de sprint. Gardner et al. (2007) realizaram um estudo com objetivo
de comparar tais condições em sete ciclistas de velocidade de elite, da Australia. Os ciclistas realizaram sprints máximos (allout)
de 6 s no laboratório, e de 65m em velódromo. Neste estudo não foram encontradas diferenças na potência pico (1791
vs. 1792 W), na cadência ótima (128 vs. 129 rpm) e no torque máximo produzido (266 vs. 266 Nm), ampliando a possibilidade
de obter medidas de desempenho em sprints utilizando medidores de potência na bicicleta, tal como o SRM.
Assim, ciclistas que pretendem aumentar sua potência máxima de pedalada em sprints devem investigar estes parâmetros
(especialmente a cadência ótima) para selecionar bem as marchas utlizadas, e consequentemente optimizar o desempenho de
velocidade.
Referências
Gardner, A. S., Martin, J. C., Martin, D. T., Barras, M., & Jenkins, D. G. (2007). Maximal torque-and power-pedaling rate relationships for elite sprint cyclists in laboratory and field tests. European Journal Of Applied Physiology,
101(3), 287-292.; Sargeant, A.J., Greig, C.A., Vollestad, N.K. (1981) Maximum leg force and power output during short-term dynamic exercise. Journal of Applied Physiology. 51, 1175-1182.; Zoladz, J. A., Rademaker, A.C.H.J.,
Sargeant, A.J. (2000) Human muscle power generating capability during cycling at different pedalling rates. Experimental Physiology 85(1), 117-124.
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A biomecânica
aplicada ao
paraciclismo
Mateus
Rossato
Professor assistente na Faculdade de Educação Física e
Fisioterapia da Universidade Federal do Amazonas (FEFF/UFAM) e membro do Laboratório de Estudos do Desempenho Humano (LEDEHU). Atualmente é
doutorando no Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGEF/UFSC) e vinculado ao Laboratório de
Biomecânica do Centro de Desportos (BIOMEC).
rossato.mateus@gmail.com
O Homem e a Máquina
C
iclismo pode se dizer que é a perfeita interação
entre o homem e a máquina (bicicleta), onde
mudanças na sua ergonomia, como alturas de
selim, guidon e comprimento do pedivela afetam
diretamente as demandas físicas e consequentemente o
desempenho do ciclista.
No paraciclismo isso se torna ainda mais importante,
uma vez que nesta interação precisa ser levada em consideração
as deficiências de seus praticantes.
A biomecânica dos esportes, com suas técnicas de
avaliação (eletromiografia, cinemetria, dinamometria,
antropometria e a termografia), tem se mostrado muito
importante para a melhoria no desempenho em treinamentos
e competições e também na prevenção de
lesões, visto que os níveis de assimetrias entre membros
na geração de forças e cargas articulares são bastante
elevadas nas modalidades do ciclismo paralímpico.
Porém quando se trata de paratletas, dificilmente
serão encontrados dois ou mais que apresentem uma
deficiência semelhante. Isso demanda por parte da
biomecânica dos esportes, uma constante adaptação dos
conhecimentos adquiridos a partir de ciclistas sem deficiência.
Outro ponto que desafia os biomecânicos do esporte,
é que ao contrário do ciclismo tradicional, onde a propulsão
é dada com os membros inferiores de maneira
alternada, no paraciclismo, em algumas classes ocorre
dessa forma, mas a bicicleta possui três rodas (T1 e T2),
ou é realizado em duplas com bicicletas Tandem no
caso dos atletas cegos, ou com a presença de próteses
acima ou abaixo do joelho ou mesmo sem (Classes C1
a C5).
Ainda existem as handbikes, onde a propulsão é
gerada pelos membros superiores (Classes H1 a H5) de
maneira sincronizada. Essa gama de variações é muito
desafiador para os cientistas do esporte. Existem poucos
estudos na literatura que abordam aspectos biomecânicos
no paraciclismo.
Acredita-se que parte se deve a forma como a
biomecânica é estudada, pois normalmente os parâmetros
apresentados são decorrentes da média de grupos
homogêneos que apresentam determinados padrões de
movimento. No entanto, quando se trata de paraciclismo
isso se torna muito difícil. Uma das formas encontradas
é a apresentação de estudos na forma de estudos de
caso, mas ainda temos muito a evoluir. Dentre os estudos
que tem sido desenvolvidos, o principal foco tem
sido a caracterização dos movimentos do ponto de vista
cinemático (movimentos articulares realizados durante
a execução da tarefa), e/ou eletromiográfico (refere-se
a forma como os músculos se contraem) e/ou dinamométricos
(diz respeito a aplicação as forças nos pedais e
manivelas).
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Outros estudos abordam o paraciclismo
de forma mais global, incorporando
medidas fisiológicas e
psicológicas, como medidas de consumo
de oxigênio, concentrações de lactato
e percepção subjetiva do esforço.
Esta abordagem deverá crescer
muito nos próximos anos, e deve ser
encorajada. Atualmente no Laboratório
de Biomecânica da Universidade
Federal de Santa Catarina (BIOMEC/
UFSC), são realizadas avaliações
gratuitas para paraciclistas, mediante
contato prévio. Já avaliamos duas paratriatletas,
um ciclista com amputação
do membro superior direito e um atleta
de handbike, mas o laboratório tem
capacidade para realizar muito mais
avaliações. Dentre as paratriatletas,
uma apresentava encurtamento de
membro inferior e outra deficiência
intelectual e auditiva. Com exceção
do atleta de handbike todos demais
tiveram avaliados os níveis de assimetrias
entre os membros na produção
de torque, técnica de pedalada, monitoramento
da frequência cardíaca e
avaliação das concentrações de lactato
sanguíneo durante teste progressivo
máximo.
Na paratriatleta com encurtamentos
de membro, onde após identificação
de grandes assimetrias na
geração de torque, foi sugerido a elevação
em 2cm do local de fixação do
pedal na lado afetado. Essa pequena
mudança reduziu a assimetria em mais
de 10%, além de aumentar o conforto.
Para os demais era explicado qual
seria a melhor técnica de pedalada,
bem como intensidades para a realização
dos treinamentos com base dos
limiares de transição fisiológica. No
paraatleta de handbike o objetivo foi
avaliar os efeitos da mudança para
uma postura menos danosa para a
articulação do cotovelo e do ombro
sobre a atividade eletromiográfica dos
músculos do tronco e dos membros.
Para finalizar, a biomecânica dos
esportes tem se aproximado do paraciclismo,
mas muita coisa ainda precisa
ser feita. Pouco se conhece sobre os
efeitos de mudanças na aerodinâmica
da handbike sobre os parâmetros
biomecânicos, como torque, ativação
eletromiográfica e padrões cinemáticos.
Também não são encontrados na
literatura estudos que enfoquem aspectos
biomecânicos da utilização das
bicicletas tandem (dois ciclistas, sendo
o de traz deficiente visual).
Quando o foco são ciclistas
amputados, mais estudos devem ser
realizados para melhor entender como
o nível da amputação afeta a segurança
e a transmissão de forças para
os pedais. Por fim, como em outros
esportes a tecnologia dos equipamentos
esportivos evolui rapidamente e
seria muito interessante a aproximação
entre empresas desenvolvedoras dessas
tecnologias e os laboratórios de
biomecânica.
Isso seria bom para as empresas
que teriam seus produtos testados
cientificamente, para os laboratórios
que formariam recursos humanos e
pesquisas sobre o tema e também para
os paraatletas que poderiam melhorar
seus desempenhos.
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Golfe
como
desporto
Júlio
Coelho
Professor do Ensino Superior na área da
Gestão, ex-capitão de Clube de Golfe , Autor do
livro “Formar Jovens Futebolistas: um projeto
formativo dos 6 aos 18 anos”
jcoelho@ipleiria.pt
Golfe Desportivo
versus
Golfe Turístico
O Golfe surge frequentemente como um dos desportos que mais receita cria em termos de “turismo”,
em Portugal (cerca de 1,8 mil milhões de euros; e 110 milhões de euros considerando só as voltas de
campo).
O Golfe surgiu em Portugal em
1890 (Oporto Niblicks Club, em
Espinho), pouco depois do futebol
(1875, na ilha da Madeira). Foi
neste período de final de século
XIX que os ingleses disseminaram
muitas modalidades pelo mundo,
na sequência da sua própria
expansão imperial. Desde então,
em Portugal, o futebol foi ganhando
espaço e foi crescendo, chegando
hoje aos cerca de 160 mil
atletas federados, enquanto o golfe
está nos modestos 14 mil atletas
federados.
Globalmente, em termos de registos
federativos, mesmo este
número de 14 mil atletas nem
sequer é dos mais baixos em termos
nacionais, o que revela bem a
nossa cultura desportiva, enquanto
nação. Fortemente concentrada,
em termos de praticantes e espetadores,
no futebol.
66 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
Para quem gosta de Golfe,
questiona as razões que levam a
quem esta modalidade não ganhe
mais espaço no espetro do desporto
nacional, pois, em geral, os mídia
não lhe dispensa tempo nem espaço
digno de registo (salvo honrosas
exceções de algumas revistas especializadas
e um canal de emissão
por cabo). Ou seja, a população,
em geral, por outras palavras, ou
potenciais interessados, não são
confrontados com a sua existência e
espetacularidade.
Depois, estranhamos quando
nos propomos a organizar eventos
à escala mundial (tipo Ryder Cup)
e estes acabam por ir para outros
destinos. Mesmo assim, achamos
que somos os melhores “organizadores”,
temos dos melhores campos
e possuímos o melhor clima para a
prática da modalidade. Parece que
temos tudo, mas depois não conseguimos
mobilizar os interesses
dos grandes patrocinadores. Porque
será?
Talvez tenhamos que começar a
olhar para a modalidade não apenas
como uma atração turística (onde
de facto, conseguimos atrair consumidores
de paragens com climas
mais adversos para a sua prática),
mas também como uma “verdadeira
modalidade desportiva”.
Temos que deixar de olhar
para o Golfe de “soslaio”, com
um forte estigma social, como se
tratasse de uma modalidade para
alguns, pois, trata-se de uma
modalidade para todos.
" O repetido discurso do custo elevado para a sua
prática, não o é mais do que para outras modalidades
tão acarinhadas pela população em geral (atualmente é
possível jogar golfe a cerca de 2,5€ por hora..."
O repetido discurso do custo
elevado para a sua prática, não
o é mais do que para outras
modalidades tão acarinhadas pela
população em geral (atualmente
é possível jogar golfe a cerca de
2,5€ por hora, excluindo os equipamento,
que por sua vez não
são mais caros do que o de outras
modalidades). Mas se assim é, o
que devemos fazer para que se traduza
numa modalidade para todos.
Mais uma vez olhemos para
o caso do futebol. Até aos finais
dos anos 90 do século passado, a
grande maioria dos campos para
a sua prática eram “pelados”, levando
a que a sua prática lúdica,
muitas vezes fosse efetuada, nas
ruas (e nesta fase, mesmo assim,
já com pouca expressão). Os nossos
resultados internacionais,
particularmente em termos de
seleção (aqui sim, só com atletas
portugueses), não tinham qualquer
expressão (por isso, o feito do
Mundial de 1966). Contudo,
depois dos primeiros investimentos
em infraestruturas, associada
às novas práticas de treino, os
resultados começaram a surgir,
primeiro nas camadas mais jovens
e depois, ainda hoje, nos chamados
seniores (para sempre ficará
o título de Campeão Europeu
de 2016). Hoje, o Futebol é um
dos melhores “embaixadores” de
Portugal.
Então, e no Golfe, será que
a mesma metodologia não pode
ser aplicada? Claro que sim.
Comecemos por criar Driving
Range e Putting Greens (campos
práticos de bolas longas e curtas),
indoors e outdoors, porque
não, aproveitando terrenos públicos
devolutos e, seguramente,
começaremos a ter mais jovens
interessados em “brincar” ao
Golfe. Com isto, estaremos a criar
uma nova geração de praticantes
que irá a médio prazo conquistar
títulos internacionais e assim,
mobilizar maior interesse nos
mídia, nos patrocinadores e,
dessa forma poderemos, então
sim, conquistar a organização dos
grandes eventos desportivos de
Golfe, em termos internacionais. E
desta forma a vertente desportiva
arrastará a vertente turística para
uma escala, onde as características
de atração, referidas anteriormente,
aí sim, terão um papel
diferenciador relativamente a
outros destinos. Podemos estender
esta apreciação à variante de Pitch
& Putt (variante de 9 buracos, com
buracos de 3 pancadas – par 3).
O Reino Unido, segundo
alguns, berço da modalidade, apresenta
hoje cerca de 1,4 milhões de
jogadores registados na federação
e cerca de 2,8 milhões de jogadores
“nómadas” (não registados
na federação). Possuem cerca de
1.200 Driving Range, dos quais
840 são independentes dos clubes
(talvez isto ajude a explicar os 2,8
milhões de praticantes “nómadas”!).
Desporto&Esport • www.desportoeesport.com • 67
Golfe
como
desporto
Estes Driving Range independentes
criam uma receita de cerca de 216 milhões
de euros ano, dando uma média
de cerca de 180 mil por cada campo.
A diferença entre estes e os campos de
18 buracos é que a construção destes
últimos, custam cerca de 2,55 milhões
de euros cada, enquanto os campos de
prática podem ficar por poucas dezenas
de milhares de euros.
Para termos uma ideia geral de como o
Golfe necessita urgentemente de uma alteração
de metodologia de implementação
basta olhar para os seguintes números: em
1996 estavam registados nas federações
desportivas portuguesas cerca de 265.588
atletas dos quais 4.520 eram golfistas e.
95.746 futebolistas; e em
2014 estavam registados
546.348 atletas federados, dos
quais 14.094 eram golfistas e
158.738 eram futebolistas.
Contudo, nos últimos 10 anos,
o número de atletas registados
na Federação Portuguesa de
Golfe estabilizou nos 14 mil,
enquanto no futebol eram cerca
de 133 mil em 2004, e hoje são
cerca de 160 mil. Ou seja, o
número de praticantes de Golfe
cresceu cerca de 17% ao ano,
em 8 anos e depois estabilizou,
mas no futebol cresceu cerca
de 4%, de 1996 a 2004, mas
continua a crescer a uma taxa
média anual de cerca de 1,7%.
Não terão sido os resultados
desportivos internacionais, no
futebol, em termos de seleção
(pós década de 90), que catalisaram
este movimento mobilizador
geral nos jovens? Com
maior facilidade poderemos
organizar um Campeonato do
Mundo em Futebol do que
acrescentar mais um torneio
ao Circuito Europeu do Golfe
Profissional (Portugal Master -
European Tour). Olhemos para
o Golfe como um Desporto e
o seu efeito no Turismo será
ainda maior.
68 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
nos
Clubes
e-commerce
Melhores e-commerce
de
Gestão
clubes de
no mundo
futebol
Otimizar
o digital é
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a marca como
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Rafael
Leitão
Formado em Design Digital com Pós Graduação em
Marketing e Comunicação pela
Universidade Mackenzie, fundador da agência
Sportt, reponsável por ações de marketing
esportivo com
marcas como: SCA, Sanofi e Itaú
Saiba mais em: rafaleitao.com
Desporto&Esport • www.desportoeesport.com • 69
Gestão
e tecnologia
Fizemos uma avaliação sobre os
e-commerce de clubes em diversos
países na Europa, clubes que dominam
o mercado do futebol.
Levou-se em consideração diversas
características relevantes para o sucesso
de um e-commerce, com números de
acesso ao site baseado no Similar web.
• User Experience:
• Brand Experience;
• Acesso ao Portfólio de Produtos;
• Linguagens disponíveis;
• Número de Acesso e Bounce Rate;
Destaque-se para os Italianos, que seguem
um modelo de negocio impressionante:
Benefícios de ter o próprio E-commerce:
• Maior proximidade do público final.
• Agilidade na avaliação e mensuração de vendas e
KPIs em Real Time.
• Promoções ligadas a outras estratégia Offline do
Clube, sócios torcedores, tickets, estadio entre outros.
• Navegação e design diferenciado de outros clubes
de futebol, não segue um template.
• Possibilidade de explorar público de outros países.
• Tem versão mobile ou responsivo do e-commerce.
• Obtém o banco de dados de cada comprador do
produto, com maior possibilidade de trabalho de CRM.
• Desenvolve estratégia de investimento de mídia
com conversão direta para o próprio e-commerce.
Ter o próprio e-commerce, não significa ser concorrente
de seus clientes no canal de e-retail, toda estratégia
de preço, portfólio, promoção e distribuição podem ser
planejados para não criar conflito. Sem dúvida, esse é
um novo canal de vendas que pode acrescentar vendas e
valor a sua empresa ou clube.
P
lanejamento e a estratégia de
e-business se tornou crucial
para o faturamento de uma
empresa, a participação das
vendas de produtos no ambiente
online já representam mais do
que 30% em muitas das categorias.
Claro que tudo depende do amadurecimento
do mercado e estrutura de
e-commerce do país, afinal, muitos
países ainda dependem muito do
canal de E-Retail, principalmente
países da America Latina.
Quando analisamos o mercado
brasileiro de e-commerce, falamos
de um país em extremo crescimento
em diversas categoria, incluso a de
materiais esportivos. Mas o Brasil
ainda tem muito o que amadurecer
com a exploração das vendas nessa
categoria, principalmente no que se
refere a clubes de futebol, com próprio
e-commerce.
Hoje, quase 90% dos e-commerce
no Brasil são terceirizados, grande
parte dentro da estrutura da Netshoes.
Na Europa os clubes de futebol,
quase que 100% tem seu próprio
e-commerce, sua própria loja virtual.
Ter seu próprio e-commerce, reflete
em diversos benefícios, que estão
detalhados na avaliação feita a seguir.
Fizemos uma avaliação sobre
os e-commerce de clubes em diversos
países na Europa, clubes que
dominam o mercado do futebol (ver
página ao lado).
70 • Desporto&Esport • www.desportoeesport.com
1º Inter de Milan Store 2º PSG Store 3º Benfica Store
O e-commerce com design muito focado na apresentação
do produto, com identidade visual do clube e brand experience
bem aplicado. Usabilidade e navegação iniciando por
categorias, com menor foco em sku, apresenta diversos tipos de
categorias de produtos. Não apresenta promoções de frete grátis
e outros benefícios. Navegação bem objetiva e acompanhada
por uma ótima usabilidade de tamanho de fonte. A plataforma
é proprietária do time. Teve um alto crescimento de brasileiros
com intenção de compra na loja, com 3% de todo acesso. Trabalha
nas linguagens: Italiano e Inglês (falta Português). Como
elemento básico de um site, ele é responsivo e mobile.
O e-commerce com design focado no brand experience, utiliza
bem da identidade do clube, com cores vibrantes e imagens impecáveis.
BEST DESIGN. Usabilidade e navegação iniciando
por categorias, com menor foco em sku camisa. A plataforma
é proprietária do time. Apresenta promoção de desconto para
os usuários. Trabalha nas linguagens: Frances e Inglês. Como
elemento básico de um site, ele é responsivo e mobile.
O e-commerce com design focado em brand experience, utiliza
a identidade do clube. Tem uma estrutura de navegação muito
parecida com grandes e-commerce do varejo. Usabilidade
e navegação iniciando por categorias, com menor foco em
sku, apresenta diversos tipos de categorias de produtos. A
plataforma é proprietária do time. Não tem beneficio de frete
grátis, somente promoções de preço. Trabalha nas linguagens:
Português, Espanhol, Inglês. Como elemento básico de um site,
ele é responsivo e mobile.
Média de acesso: 119K | Bounce Rate
32% | Nota: 9
Média de acesso: 272K | Bounce Rate
36% | Nota: 9
Média de acesso: 34K | Bounce Rate 16%
| Nota: 9
4º Napoli Store 5º PSV Store 6º Manchester United Store
O e-commerce com design focado no brand experience, utiliza
bem da identidade do clube, com cores vibrantes e imagens impecáveis.
BEST DESIGN. Usabilidade e navegação iniciando
por categorias, com foco em sku camisa. A plataforma é proprietária
do time. Trabalha nas linguagens: Italiano e Inglês. Como
elemento básico de um site, ele é responsivo e mobile.
O e-commerce com design muito focado na apresentação do
produto, com muita simplicidade e objetividade de design e
navegação. Tem uma estrutura de navegação muito parecida
com grandes e-commerce do varejo. Apresenta diversos tipos
de categorias de produtos. A plataforma é proprietária do time.
Tem benefícios de frete grátis, entrega até em 23 horas na Holanda.
Trabalha somente na língua Holandesa. Como elemento
básico de um site, ele é responsivo e mobile.
O e-commerce com design focado em brand experience, utiliza
a identidade do clube. Tem uma estrutura de navegação muito
parecida com grandes e-commerce do varejo. Usabilidade e
navegação iniciando por categorias, com menor foco em sku,
apresenta diversos tipos de categorias de produtos, incluso
games. A plataforma é proprietária do time. Tem benefícios
de frete grátis, entrega até em 8 horas na Inglaterra. Trabalha
nas linguagens: Espanhol, Alemão, Chinês, Japonês, Francês,
Italiano, Coreano e Inglês. Grande falha pelo site não ser
responsivo ou mobile.
Média de acesso: 36K | Bounce Rate 34%
| Nota: 8
Média de acesso: 35K | Bounce Rate 36%
| Nota: 8
Média de acesso: 603K | Bounce Rate
29% | Nota: 8
7º Juventus Store 8º Roma Store 9º Bayer de Munich Store
O e-commerce com design focado em brand experience, utiliza
a identidade do clube. Usabilidade e navegação iniciando por
categorias, com menor foco em sku, apresenta diversos tipos
de categorias de produtos. Bem objetivo com a navegação e
design. A plataforma é proprietária do time. Não apresenta benefícios
de frete grátis ou promoções. Trabalha com linguagens:
Italiano, Inglês, Chines, Japonês e Coreano. Como elemento
básico de um site, ele é responsivo e mobile.
O e-commerce com design focado em brand experience, utiliza
a identidade do clube. Usabilidade e navegação iniciando por
categorias, com menor foco em sku, apresenta diversos tipos
de categorias de produtos. Bem objetivo com a navegação e
design. A plataforma é proprietária do time. Apresenta beneficio
de desconto para primeira compra. Trabalha com linguagens:
Italiano e Inglês. Como elemento básico de um site, ele é
responsivo e mobile.
O e-commerce com design focado em brand experience, utiliza
a identidade do clube. Sua usabilidade e navegação é objetiva,
com número de skus de produtos limitados. A plataforma é
proprietária do time, mas utiliza a mesma URL do website
institucional do clube, para vendas de produto. Tem foco total
na venda de camisas, impulsionados por promoção vinculado
a brinde. Tem benefícios de frete grátis e desconto para quem é
associado ao clube.
Trabalha nas linguagens: Alemão, Chinês e Inglês. Como
elemento básico de um site, ele é responsivo e mobile.
Média de acesso: 203K | Bounce Rate
22% | Nota: 8
Média de acesso: 43K | Bounce Rate 15%
| Nota: 8
Média de acesso: — | Bounce Rate — |
Nota: 7
10º Real Madrid Store
Média de acesso: 474K | Bounce Rate
36% | Nota: 7
11º Manchester City Store
Média de acesso: 258K | Bounce Rate
30% | Nota: 7
12º Dynamo Kyiv Store
Média de acesso: 18K | Bounce Rate 30%
| Nota: 7
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