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A Etica Protestante E o Espirit - Max Weber

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minimamente plausível do próprio conceito que estiver em jogo ou em causa,<br />

com seus pleitos de clareza, congruência e sistematicidade. A avaliação da<br />

trajetória de um pensamento clássico em qualquer ponto importante de seu<br />

sistema categorial só será fidedigna se considerar seriamente que afinal ele<br />

resulta de um trabalho de elaboração conceitual que é sistemático, sim, mas<br />

nem por isso deixa de ter suas próprias vicissitudes: avanços e recuos, hesitações<br />

vocabulares e escolhas terminológicas. Guenther Roth, um dos mais ativos<br />

weberólogos anglófonos da atualidade, tradutor de Economia e sociedade para o<br />

inglês, referindo-se tempos atrás ao conceito de carisma em <strong>Weber</strong>, saiu-se com<br />

a ideia de que o próprio carisma tinha lá sua “história desenvolvimental”. Com<br />

muito mais razão, o mesmo vale para A ética protestante e o espírito do<br />

capitalismo sem aspas no espírito. O retorno ao original que a presente edição<br />

faculta pode ser um atalho ao encontro da “história desenvolvimental” deste<br />

clássico. Muitos dos conceitos e termos que surgem naturalmente no novo<br />

fraseado inserido em 1920 já haviam sido formados e devidamente testados em<br />

outros estudos (tanto os de natureza sociológica substantiva como os de cunho<br />

teórico-reflexivo) e, por conseguinte, rigorosamente consolidados como<br />

vocabulário caracteristicamente weberiano.<br />

Juntemos agora as duas versões — a original e a final — num único texto<br />

corrido mas devidamente assinalado nas dobras de sua existência dobrada. Dois<br />

textos num. As duas versões pacientemente imbricadas mas não confundidas;<br />

pelo contrário, pois que os contornos de cada qual saltam à vista graficamente<br />

demarcados por colchetes em negrito, o que aumenta ainda mais a atração deste<br />

texto clássico que agora desliza desimpedido sobre uma tradução cuidadosa e<br />

tecnicamente padronizada: eis a edição comemorativa dos cem anos d’A ética<br />

protestante e o “espírito” do capitalismo que agora temos a satisfação intelectual<br />

de apresentar ao público de língua portuguesa.<br />

Foi em 1904 que <strong>Weber</strong> tornou pública a primeira parte deste estudo<br />

assumidamente sociológico sobre a gênese da cultura capitalista moderna, que o<br />

tornaria ainda mais respeitado no meio daquela “galáxia de intelectuais<br />

brilhantes” que constituía o mandarinato acadêmico da Alemanha de seu tempo<br />

e, ainda por cima, famoso, falado, discutido.<br />

Marianne <strong>Weber</strong>, née Schnitger, sua mulher desde 1893, além de companheira<br />

fiel e eternamente orgulhosa de ser sua esposa até que a morte os separasse,<br />

aquela que ao ficar viúva jurou “viver pela imortalidade dele”, na biografia que<br />

escreveu do marido deixou assim registrado o momento em que veio à luz o<br />

tratado que o projetaria na celebridade extra-acadêmica:

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