Matéria sobre Impressão 3D na Revista Amplitude
A impressão 3D chegou para ficar, e a empresa dOne 3D de Ribeirão Preto, SP é especializada no assunto. Através dessa tecnologia ela já produziu desde um bico para tucano até miniaturas de pessoas.
A impressão 3D chegou para ficar, e a empresa dOne 3D de Ribeirão Preto, SP é especializada no assunto. Através dessa tecnologia ela já produziu desde um bico para tucano até miniaturas de pessoas.
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Kimura com cérebro desmontável<br />
todo impresso em <strong>3D</strong>: ele i<strong>na</strong>ugurou<br />
loja há pouco mais de um ano<br />
Boa impressão<br />
Apesar de ainda pouco conhecida, a impressora em <strong>3D</strong><br />
já chama a atenção pela versatilidade: com ela, é possível<br />
produzir de bico de tucano a miniaturas huma<strong>na</strong>s<br />
Texto: Igor Savenhago • Fotos: Rafael Cautela<br />
Na tela do computador, o trabalho<br />
está pronto. É só mandar imprimir.<br />
Mas quem espera um documento<br />
ou um desenho se surpreende com<br />
o resultado. Da impressora, sai uma peça<br />
moldada em plástico, no formato de um<br />
bico de ave. A encomenda é do Bosque<br />
Municipal Fábio Barreto, de Ribeirão Preto.<br />
Quem coorde<strong>na</strong> a produção é Ricardo<br />
Kimura. Em dezembro de 2015, ele abriu,<br />
em Ribeirão, uma loja para oferecer serviços<br />
de impressão em <strong>3D</strong> – três dimensões.<br />
Pouco depois, fechou uma parceria com<br />
profissio<strong>na</strong>is do bosque. Primeiro, foi feito<br />
o bico para um gavião carcará. E, desde<br />
outubro, o projeto, que é filantrópico, tem<br />
como objetivo ajudar um tucano, que caiu<br />
do ninho e foi resgatado ali mesmo no Fábio<br />
Barreto.<br />
Quando foi encontrada, a ave era filhote.<br />
Uma infecção por fungos fez com<br />
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que o bico dela crescesse torto, o que<br />
dificulta a alimentação. Consultado pelo<br />
zootecnista Alexandre Gouvêa, diretor<br />
do bosque, e pelo veterinário César Branco,<br />
Kimura deu o diagnóstico: era perfeitamente<br />
possível imprimir um bico em<br />
plástico para garantir qualidade de vida<br />
à ave. Já são quatro meses de testes, até<br />
que seja encontrado o design ideal.<br />
Para fazer a impressão, Kimura usou,<br />
primeiro, um scanner <strong>3D</strong>, que capturou a<br />
imagem do bico torto, cuja parte de cima<br />
tem um desvio para o lado esquerdo e é<br />
menor em relação a outros tucanos. No<br />
computador, usando como base um bico<br />
saudável, foi moldada uma prótese, que<br />
não vai substituir o bico doente, mas será<br />
<strong>sobre</strong>posta. Na parte em que há o desvio,<br />
deverá ser feito um desbastamento, que<br />
consiste <strong>na</strong> retirada de excessos com um<br />
tipo de lixa, para que a peça de plástico se<br />
encaixe por cima.<br />
Tucano tem o bico torto para<br />
a esquerda; no detalhe, em branco,<br />
como vai ficar a prótese<br />
O engenheiro Salvador Noboa quer entrar<br />
no mercado de miniaturas huma<strong>na</strong>s<br />
Benefícios como este não começaram<br />
a ser pensados agora, já que a impressão<br />
em <strong>3D</strong> existe desde 1984. Mas estão<br />
ficando mais conhecidos. Isso porque<br />
a quebra de patente da tecnologia, antes<br />
restrita a duas empresas, permitiu uma<br />
redução nos preços. Os equipamentos,<br />
que eram importados, já têm exemplares<br />
fabricados em território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />
Por isso, já podem ser encontradas<br />
impressoras em <strong>3D</strong> por R$ 2 mil. As mais<br />
avançadas, porém, chegam a 4<br />
milhões de dólares. Um leque de<br />
opções para quem busca desde<br />
praticidade até sofisticação.<br />
Além do plástico que compõe o<br />
bico do tucano, esse tipo de impressão<br />
pode ser feito com mais<br />
de 40 materiais, como pó de<br />
gesso, ferro, resi<strong>na</strong>s e até<br />
chocolate. Para todos os<br />
casos, a técnica é parecida.<br />
Um sistema de aquecimento<br />
derrete a matéria-<br />
-prima, que novamente<br />
se solidifica conforme o<br />
objeto é impresso.<br />
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Caíque com a própria miniatura;<br />
ao lado, imagens escaneadas<br />
que serviram de base<br />
para a impressão<br />
Kimura explica que, <strong>na</strong> loja, apesar de<br />
o intuito maior ser o comércio, tem espaço<br />
para o trabalho social. Nas prateleiras,<br />
além dos protótipos de bicos, há cadeirinhas<br />
com rodas para cães que perderam<br />
o movimento das patas. A capacidade é<br />
para produzir até quatro por mês, de graça.<br />
Para as vendas, o estoque é diversificado:<br />
super-heróis dos quadrinhos; partes<br />
do organismo humano, como ossos, cérebros<br />
e outros órgãos; talheres; miniaturas<br />
de móveis e monumentos conhecidos inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lmente,<br />
como a Torre Eiffel, em<br />
Paris; uma réplica de 38 centímetros da famosa<br />
escultura da Vênus de Milo, a deusa<br />
do amor, que pertence ao acervo do Museu<br />
do Louvre, também <strong>na</strong> capital francesa. E<br />
mais uma infinidade de artigos, produzidos<br />
conforme chegam os pedidos. Antes<br />
de fechar negócio, o cliente pode tomar<br />
um cafezinho num balcão que tem, como<br />
adorno, luminárias impressas <strong>na</strong> própria<br />
loja. “Estamos só no começo. Há muitas<br />
possibilidades ainda a serem exploradas<br />
com a impressão em <strong>3D</strong>”, diz Kimura.<br />
Em humanos<br />
Uma dessas possibilidades foi implantada<br />
por Hugo Rosin. Dentista, ele é<br />
diretor executivo de uma rede de 16 clínicas<br />
de diagnóstico por imagem para<br />
odontologia, espalhadas pelo interior de<br />
São Paulo e do Mato Grosso do Sul. Em<br />
Ribeirão Preto, são duas unidades. Numa<br />
delas, Rosin, que participou, em 2008, do<br />
Programa “O Aprendiz 5 – O Sócio”, comandado<br />
por Roberto Justus, <strong>na</strong> TV Record,<br />
passou a oferecer, há quatro meses,<br />
a impressão em <strong>3D</strong>. Na época, o dentista<br />
chegou à semifi<strong>na</strong>l do programa, mas saiu<br />
após preferir apostar no próprio negócio,<br />
em vez de ser sócio do apresentador.<br />
Deu certo. Hoje, além da imagem<br />
em papel, a rede fornece a arcada dentária,<br />
ou parte dela, impressa em plástico,<br />
exatamente como aparece no exame,<br />
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para que o dentista simule, <strong>na</strong> peça, o<br />
procedimento a ser tomado, como uma<br />
cirurgia. “A nossa profissão é muito tátil.<br />
Somos trei<strong>na</strong>dos a pôr a mão. Quando há<br />
ape<strong>na</strong>s a imagem no papel, ficamos muito<br />
no campo da imagi<strong>na</strong>ção”.<br />
O desafio, agora, é derrubar uma<br />
barreira cultural, já que, segundo ele, a<br />
maioria dos dentistas e pacientes ainda<br />
desconhece os avanços que a impressão<br />
em <strong>3D</strong> pode representar no dia a dia dos<br />
consultórios. Uma das ações nesse sentido<br />
será expandir, em breve, a oferta do<br />
serviço para as demais unidades da rede.<br />
Ainda <strong>na</strong> área da odontologia, a impressão<br />
em <strong>3D</strong> promete agilidade e até<br />
um toque de emoção. Em algumas clínicas,<br />
não é preciso mais esperar sema<strong>na</strong>s<br />
por um novo dente ou uma dentadura.<br />
Eles podem ser impressos no consultório,<br />
no dia da consulta.<br />
Nas dependências da USP-Ribeirão,<br />
a terapeuta ocupacio<strong>na</strong>l Valéria Meirelles<br />
Carril Elui também estuda meios para<br />
melhorar, com a impressão em três dimensões,<br />
a vida de pacientes. Professora<br />
da Faculdade de Medici<strong>na</strong>, ela mantém<br />
um projeto com a participação de mais<br />
de 20 portadores de artrite reumatoide,<br />
doença crônica que afeta as articulações.<br />
Durante três anos, a terapeuta desenvolveu,<br />
em parceria com um pesquisador<br />
da USP-São Carlos, uma órtese<br />
para auxiliar no movimento das mãos.<br />
Até então, não existia, <strong>na</strong> literatura médica,<br />
um aparelho com essa fi<strong>na</strong>lidade<br />
impresso em <strong>3D</strong>. Com o invento patenteado,<br />
Valéria busca a aprovação de um<br />
projeto que visa levantar recursos para<br />
fazer as correções necessárias e aprimorar<br />
o formato, permitindo a adequação<br />
às necessidades de cada paciente. Após<br />
essa fase, o produto já poderá chegar ao<br />
mercado.<br />
Outra meta é ampliar a divulgação<br />
da ideia, capacitando gente para fabricar<br />
as órteses a partir desta tecnologia.<br />
Arcadas dentárias, brinquedos<br />
e protótipos de peças industriais<br />
são alguns dos artigos impressos<br />
em <strong>3D</strong>
Vênus de Milo com 38 cm<br />
tem medidas proporcio<strong>na</strong>is<br />
à escultura origi<strong>na</strong>l<br />
Novos negócios<br />
Para gestantes, o ultrassom,<br />
com o rosto do bebê ainda no útero,<br />
já pode alimentar os sonhos de mãe<br />
e se transformar em objeto de decoração<br />
ou num item para o baú de recordações<br />
da família. E, para quem deseja começar<br />
uma produção caseira, escolas da região<br />
oferecem cursos para preparação do desenho<br />
das peças no computador, processo<br />
chamado de modelagem. “Essa etapa<br />
é um pouco complexa. Já a impressão é<br />
mais tranquila”, conta Kimura.<br />
O engenheiro civil Salvador Noboa<br />
Filho, de Ribeirão Preto, resolveu apostar.<br />
Investiu R$ 10 mil numa impressora em<br />
<strong>3D</strong> básica, um scanner e um tablet. Ele<br />
não só agregou valor ao negócio, apresentando<br />
aos clientes maquetes impressas<br />
em plástico, como planeja entrar num<br />
novo mercado: o de miniaturas huma<strong>na</strong>s.<br />
Elas são impressas em pó de gesso<br />
e ficam idênticas à pessoa que serve de<br />
modelo. O filho de Noboa, Caíque, foi a<br />
primeira “cobaia”. Por enquanto, as miniaturas<br />
prontas vêm da capital paulista,<br />
até que o engenheiro conquiste um número<br />
de clientes suficiente para produzir<br />
em escala.<br />
Noboa fazia um curso em Fortaleza,<br />
Ceará, em outubro, quando conheceu os<br />
“milagres” da impressão em <strong>3D</strong>. Ele já<br />
utilizava um software capaz de gerar modelos<br />
de residências em três dimensões,<br />
mas não via muita utilidade. “No fi<strong>na</strong>l,<br />
tudo ia para o papel. O modelo era em três<br />
dimensões, mas a impressão em duas”.<br />
Na visão dele, a tecnologia muda a forma<br />
como o trabalho é apresentado e, consequentemente,<br />
a relação com o cliente.<br />
“Ele pode entender mais facilmente e até<br />
pegar o projeto da futura casa”.<br />
Já para Edmilson Assalve Júnior,<br />
dono de uma empresa de equipamentos<br />
de irrigação agrícola em Dobrada, a 90<br />
quilômetros de Ribeirão, a vantagem imediata<br />
da impressão em <strong>3D</strong> é a redução de<br />
custos. A empresa, presente em 23 estados<br />
brasileiros, atende, principalmente,<br />
os setores de ca<strong>na</strong>-de-açúcar e laranja.<br />
Por ano, importa da Itália cerca de 400<br />
kits para aspersores. Cada um sai por R$<br />
380,00 em média.<br />
A compra recente de uma impressora,<br />
por R$ 6 mil, vai permitir a fabricação<br />
própria. E sabe por quanto? “R$ 12 cada<br />
kit”. Uma economia de quase 97%. Com<br />
isso, o montante gasto passa de R$ 152<br />
mil para R$ 4.800, menor que o preço da<br />
impressora.<br />
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