30.03.2017 Views

Relatório regional sobre o exame e avaliação da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim e do documento final do vigésimo terceiro período extraordinário de sessões da Assembleia Geral (2000) em países da América Latina e do Caribe

Um dos debates mais intensos e desafiantes que tiveram lugar durante a Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher foi o referente ao conceito de igualdade. O movimento feminista e de mulheres, por meio de sua mobilização política, possibilitou que na agenda internacional se conjugasse o direito à igualdade com o direito à diferença e obteve uma vitória conceitual frente aos que, de diversas posições, rejeitavam o princípio de igualdade assimilando-o com a negação da liberdade, como uma expressão de negação da identidade feminina ou simplesmente como incompatível com as necessidades das mulheres, a quem então se reconhecia como diferentes, mas não equivalentes em dignidade e direitos. A Plataforma de Ação pôs nas mãos das mulheres uma agenda que, impulsionada pela Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, serviu para impulsionar transformações constitucionais, legislativas.

Um dos debates mais intensos e desafiantes que tiveram lugar durante a Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher foi o referente ao conceito de igualdade. O movimento feminista e de mulheres, por meio de sua mobilização política, possibilitou que na agenda internacional se conjugasse o direito à igualdade com o direito à diferença e obteve uma vitória conceitual frente aos que, de diversas posições, rejeitavam o princípio de igualdade assimilando-o com a negação da liberdade, como uma expressão de negação da identidade feminina ou simplesmente como incompatível com as necessidades das mulheres, a quem então se reconhecia como diferentes, mas não equivalentes em dignidade e direitos. A Plataforma de Ação pôs nas mãos das mulheres uma agenda que, impulsionada pela Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, serviu para impulsionar transformações constitucionais, legislativas.

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong><br />

o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> e<br />

<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento <strong>final</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>vigésimo</strong> <strong>terceiro</strong> perío<strong>do</strong><br />

<strong>extraordinário</strong> <strong>de</strong> <strong>sessões</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Ass<strong>em</strong>bleia</strong> <strong>Geral</strong> (<strong>2000</strong>)<br />

<strong>em</strong> <strong>países</strong> <strong>da</strong> <strong>América</strong><br />

<strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>


<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> e <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento <strong>final</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>vigésimo</strong> <strong>terceiro</strong> perío<strong>do</strong> <strong>extraordinário</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>sessões</strong> <strong>da</strong> <strong>Ass<strong>em</strong>bleia</strong> <strong>Geral</strong> (<strong>2000</strong>)<br />

<strong>em</strong> <strong>países</strong> <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong><br />

Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL)


Alicia Bárcena<br />

Secretária Executiva<br />

Antonio Pra<strong>do</strong><br />

Secretário Executivo Adjunto<br />

Pamela Villalobos<br />

Oficial a Cargo <strong>da</strong> Divisão <strong>de</strong> Assuntos <strong>de</strong> Gênero<br />

Ricar<strong>do</strong> Pérez<br />

Diretor <strong>da</strong> Divisão <strong>de</strong> Publicações e Serviços Web<br />

Este relatório foi prepara<strong>do</strong> por Sonia Montaño Virreira, Diretora <strong>da</strong> Divisão <strong>de</strong> Assuntos <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> Comissão<br />

Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), com base nos relatórios apresenta<strong>do</strong>s pelos <strong>países</strong> <strong>da</strong> <strong>América</strong><br />

<strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> <strong>sobre</strong> a aplicação <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> (1995) e os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>vigésimo</strong><br />

<strong>terceiro</strong> perío<strong>do</strong> <strong>extraordinário</strong> <strong>de</strong> <strong>sessões</strong> <strong>da</strong> <strong>Ass<strong>em</strong>bleia</strong> <strong>Geral</strong> (<strong>2000</strong>) no contexto <strong>do</strong> <strong>vigésimo</strong> aniversário <strong>da</strong> Quarta<br />

Conferência Mundial <strong>sobre</strong> a Mulher e a aprovação <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> 2015.<br />

Agra<strong>de</strong>c<strong>em</strong>os especialmente as contribuições <strong>de</strong> Coral Cal<strong>de</strong>rón, Maria Ángeles Durán (que realizou um estu<strong>do</strong><br />

específico <strong>sobre</strong> o perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>), Pablo Tapia e Iliana Vaca-Trigo. Agra<strong>de</strong>c<strong>em</strong>os também as contribuições <strong>de</strong><br />

Jimena Arias, Cristina Benavente, Néstor Bercovich, Macarena Bola<strong>do</strong>s, Cristina Carrasco, Marina Casas, Inés Reca,<br />

Lucia Scuro, Alejandra Valdés e Pamela Villalobos, b<strong>em</strong> como a leitura <strong>de</strong> Irma Arriaga<strong>da</strong> e Virginia Guzmán.<br />

LC/L.3951<br />

ORIGINAL: ESPANHOL<br />

Copyright © Nações Uni<strong>da</strong>s, fevereiro <strong>de</strong> 2015. To<strong>do</strong>s os direitos reserva<strong>do</strong>s<br />

Impresso nas Nações Uni<strong>da</strong>s, Santiago <strong>do</strong> Chile


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Índice<br />

Apresentação...................................................................................................................................7<br />

I. Um contexto <strong>em</strong> transformação..............................................................................................11<br />

A. Vinte anos <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças..................................................................................................11<br />

B. A Déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990............................................................................................................16<br />

C. A <strong>de</strong>mocracia...................................................................................................................18<br />

D. O movimento f<strong>em</strong>inista e <strong>de</strong> mulheres.............................................................................19<br />

II.<br />

Principais avanços na aplicação <strong>da</strong> <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong><br />

na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e no <strong>Caribe</strong>................................................................................................23<br />

A. Avanços na autonomia na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões..............................................................24<br />

1. Marco jurídico e institucional.....................................................................................24<br />

2. As políticas e o orçamento........................................................................................26<br />

B. Avanços na autonomia econômica..................................................................................31<br />

1. Ren<strong>da</strong> e t<strong>em</strong>po: duas carências básicas..................................................................31<br />

2. As políticas públicas: neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong>, ação positiva e curto prazo...............................46<br />

C. Avanços na autonomia física...........................................................................................50<br />

1. A gravi<strong>de</strong>z a<strong>do</strong>lescente.............................................................................................51<br />

2. A mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna..............................................................................................53<br />

3. A violência contra as mulheres.................................................................................55<br />

III. Novas priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>de</strong>safios <strong>da</strong> agen<strong>da</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 2015...............61<br />

A. Desafios estratégicos <strong>da</strong> região.......................................................................................62<br />

B. Desafios na autonomia na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões..............................................................66<br />

C. Desafios na autonomia física...........................................................................................67<br />

D. Desafios na autonomia econômica..................................................................................67<br />

IV. Da<strong>do</strong>s e estatísticas................................................................................................................71<br />

Conclusões.....................................................................................................................................75<br />

Bibliografia......................................................................................................................................79<br />

3


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Quadros<br />

Quadro II.1<br />

Quadro II.2<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (<strong>países</strong> seleciona<strong>do</strong>s): tipificação penal <strong>do</strong> f<strong>em</strong>icídio<br />

(ou f<strong>em</strong>inicídio) nos códigos penais.........................................................................56<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>Caribe</strong>: fontes <strong>de</strong> informação para o registro<br />

<strong>da</strong> morte <strong>de</strong> mulheres provoca<strong>da</strong> pelo companheiro<br />

ou ex-companheiro..................................................................................................58<br />

Quadro IV.1 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: tarefas <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res para o monitoramento<br />

<strong>do</strong> progresso <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero..................................................72<br />

Quadro IV.2 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>Caribe</strong>: <strong>países</strong> que realizaram pesquisas<br />

ou nelas incluíram módulos ou perguntas regulares<br />

<strong>sobre</strong> uso <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po e trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>.....................................................73<br />

Gráficos<br />

Gráfico II.1 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: nível hierárquico <strong>do</strong>s mecanismos para o avanço<br />

<strong>da</strong> mulher, déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 e 2013.........................................................................25<br />

Gráfico II.2 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>Caribe</strong>: evolução <strong>da</strong> pobreza, índice <strong>de</strong> f<strong>em</strong>ini<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>da</strong> pobreza e PIB.....................................................................................................32<br />

Gráfico II.3 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (18 <strong>países</strong>): índice <strong>de</strong> f<strong>em</strong>ini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> pobreza,<br />

<strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 1994 e 2012.........................................................................................33<br />

Gráfico II.4 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (17 <strong>países</strong>): população <strong>de</strong> 15 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> ou mais<br />

s<strong>em</strong> ren<strong>da</strong> própria, segun<strong>do</strong> o sexo........................................................................34<br />

Gráfico II.5 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (17 <strong>países</strong>): população s<strong>em</strong> ren<strong>da</strong> própria por sexo<br />

e brecha entre sexos, 1994-2012............................................................................35<br />

Gráfico II.6 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (média simples <strong>de</strong> 18 <strong>países</strong>): evolução <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong><br />

participação econômica <strong>da</strong> população urbana por sexo, 1990-2012......................36<br />

Gráfico II.7 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (8 <strong>países</strong>): t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> ao trabalho total, r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong><br />

e não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> <strong>da</strong> população economicamente ativa com 15 anos<br />

<strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> ou mais, por sexo, último ano disponível..................................................37<br />

Gráfico II.8 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (18 <strong>países</strong>): população ocupa<strong>da</strong> por categoria<br />

ocupacional e sexo, áreas urbanas, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 2012...........................................38<br />

Gráfico II.9 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (média pon<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>): ocupa<strong>do</strong>s urbanos <strong>em</strong> setores<br />

<strong>de</strong> baixa produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> (setor informal) por sexo, <strong>em</strong> torno<br />

<strong>de</strong> 1994 (16 <strong>países</strong>) e 2012 (18 <strong>países</strong>)..................................................................39<br />

Gráfico II.10 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (média pon<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> <strong>de</strong> 18 <strong>países</strong>): população ocupa<strong>da</strong><br />

por ramo <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e sexo, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 2012....................................................41<br />

Gráfico II.11 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (média simples <strong>de</strong> 18 <strong>países</strong>): proporção <strong>do</strong> salário médio<br />

<strong>da</strong>s mulheres assalaria<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 20 a 49 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> que trabalham<br />

35 horas ou mais por s<strong>em</strong>ana <strong>em</strong> relação ao salário <strong>do</strong>s homens<br />

<strong>de</strong> iguais características, por anos <strong>de</strong> escolari<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

áreas urbanas, 1994 e 2012....................................................................................42<br />

Gráfico II.12 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (17 <strong>países</strong>): brechas entre homens e mulheres<br />

<strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> ocupação e r<strong>em</strong>unerações, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 2012................................43<br />

Gráfico II.13 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (18 <strong>países</strong>): média <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> população<br />

economicamente ativa <strong>de</strong> 15 anos ou mais, por sexo.............................................45<br />

Gráfico II.14 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (11 <strong>países</strong>): mulheres <strong>de</strong> 15 a 19 anos que são mães,<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong> inicial e último <strong>da</strong><strong>do</strong> disponível.......................................................................52<br />

Gráfico II.15 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (20 <strong>países</strong>): razão <strong>de</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna, 1990 e 2013..............54<br />

Gráfico II.16 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: legislação <strong>sobre</strong> aborto e interrupção voluntária<br />

<strong>da</strong> gravi<strong>de</strong>z..............................................................................................................55<br />

4


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Gráfico II.17 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (7 <strong>países</strong>): f<strong>em</strong>icídio ou homicídio <strong>de</strong> mulheres por razão<br />

<strong>de</strong> gênero e mortes <strong>de</strong> mulheres provoca<strong>da</strong>s pelo companheiro<br />

ou ex-companheiro, último <strong>da</strong><strong>do</strong> disponível............................................................57<br />

Gráfico II.18 <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (12 <strong>países</strong>), Espanha e Portugal: morte <strong>de</strong> mulheres<br />

provoca<strong>da</strong> pelo companheiro ou ex-companheiro, 2013.........................................57<br />

Gráfico II.19 <strong>Caribe</strong> (8 <strong>países</strong>): morte <strong>de</strong> mulheres provoca<strong>da</strong> pelo companheiro<br />

ou ex-companheiro, último perío<strong>do</strong> disponível........................................................58<br />

Boxes<br />

Boxe II.1<br />

Boxe II.2<br />

Boxe III.1<br />

O <strong>em</strong>prego informal.................................................................................................40<br />

A contribuição <strong>da</strong>s mulheres no âmbito rural...........................................................42<br />

Colômbia e Guiana: a cultura e a lei a favor <strong>do</strong>s direitos........................................64<br />

5


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Apresentação<br />

Um <strong>do</strong>s <strong>de</strong>bates mais intensos e <strong>de</strong>safiantes que tiveram lugar durante a Quarta Conferência Mundial<br />

<strong>sobre</strong> a Mulher foi o referente ao conceito <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong>. O movimento f<strong>em</strong>inista e <strong>de</strong> mulheres, por meio<br />

<strong>de</strong> sua mobilização política, possibilitou que na agen<strong>da</strong> internacional se conjugasse o direito à igual<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

com o direito à diferença e obteve uma vitória conceitual frente aos que, <strong>de</strong> diversas posições, rejeitavam<br />

o princípio <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> assimilan<strong>do</strong>-o com a negação <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, como uma expressão <strong>de</strong> negação<br />

<strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina ou simplesmente como incompatível com as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s mulheres, a qu<strong>em</strong><br />

então se reconhecia como diferentes, mas não equivalentes <strong>em</strong> digni<strong>da</strong><strong>de</strong> e direitos.<br />

A <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> pôs nas mãos <strong>da</strong>s mulheres uma agen<strong>da</strong> que, impulsiona<strong>da</strong> pela<br />

Convenção <strong>sobre</strong> a Eliminação <strong>de</strong> To<strong>da</strong>s as Formas <strong>de</strong> Discriminação contra a Mulher, serviu para<br />

impulsionar transformações constitucionais, legislativas, políticas e culturais que modificaram velhas<br />

estruturas institucionais abertamente discriminatórias.<br />

Uma conclusão inicial <strong>da</strong> revisão <strong>do</strong>s relatórios assinala<strong>do</strong>s é a constatação <strong>da</strong> crescente<br />

articulação e interconexão entre a agen<strong>da</strong> <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990, especialmente a <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>, os consensos<br />

regionais a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong><br />

e o conjunto <strong>do</strong>s compromissos internacionais nas esferas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e direitos humanos.<br />

Particularmente importante é a relevância e compl<strong>em</strong>entari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s avanços com relação<br />

aos compromissos assumi<strong>do</strong>s no Programa <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>da</strong> Conferência Internacional <strong>sobre</strong> População e<br />

Desenvolvimento (Cairo, 1994) 1 , refleti<strong>do</strong>s no <strong>do</strong>cumento <strong>final</strong> aprova<strong>do</strong> na Conferência <strong>da</strong>s Nações<br />

Uni<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong> Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), O futuro que quer<strong>em</strong>os 2 , e no Consenso <strong>de</strong><br />

Montevidéu <strong>sobre</strong> População e Desenvolvimento 3 .<br />

As mu<strong>da</strong>nças jurídicas e institucionais a favor <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero são o principal e mais<br />

generaliza<strong>do</strong> avanço registra<strong>do</strong> na região. Por sua vez, muitos e importantes avanços na luta contra a<br />

violência <strong>de</strong> gênero, participação política, li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> mulheres <strong>em</strong> diversos âmbitos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pública<br />

e redução <strong>da</strong>s brechas entre homens e mulheres no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho indicam os <strong>de</strong>safios e tarefas<br />

pen<strong>de</strong>ntes reconheci<strong>da</strong>s pelos governos nos relatórios analisa<strong>do</strong>s adiante. Esses avanços significam<br />

também modificações culturais profun<strong>da</strong>s, que marcam o senti<strong>do</strong> transforma<strong>do</strong>r <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero.<br />

1<br />

Veja [on-line] https://www.unfpa.org/web<strong>da</strong>v/site/global/shared/<strong>do</strong>cuments/publications/2004/icpd_spa.pdf.<br />

2<br />

Veja a resolução 66/288 <strong>da</strong> <strong>Ass<strong>em</strong>bleia</strong> <strong>Geral</strong> <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s.<br />

3<br />

Veja o Consenso <strong>de</strong> Montevidéu [on-line] http://www.cepal.org/cela<strong>de</strong>/noticias/<strong>do</strong>cumentos<strong>de</strong>trabajo/8/50708/2013-<br />

595-consenso_montevi<strong>de</strong>o_pyd.pdf.<br />

7


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Vinte anos <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> Quarta Conferência Mundial <strong>sobre</strong> a Mulher, o balanço produz resulta<strong>do</strong>s<br />

heterogêneos, <strong>em</strong>bora <strong>em</strong> geral insuficientes. Sob a perspectiva <strong>do</strong>s <strong>de</strong>safios globais, po<strong>de</strong>-se afirmar<br />

que o ritmo <strong>do</strong>s avanços rumo à igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero foi mais lento que o <strong>da</strong>s transformações ambientais,<br />

econômicas e sociais ocorri<strong>da</strong>s, que <strong>de</strong>terioraram o cenário mundial agregan<strong>do</strong> aos <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong><br />

novos e importantes <strong>de</strong>safios para construir socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s mais igualitárias e justas.<br />

Este relatório assinala também os principais avanços <strong>do</strong>s últimos 20 anos a partir <strong>da</strong> informação<br />

forneci<strong>da</strong> pelos <strong>países</strong> <strong>da</strong> região <strong>sobre</strong> a aplicação <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>,<br />

respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> às recomen<strong>da</strong>ções <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento <strong>final</strong> <strong>do</strong> <strong>vigésimo</strong> <strong>terceiro</strong> perío<strong>do</strong> <strong>extraordinário</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>sessões</strong> <strong>da</strong> <strong>Ass<strong>em</strong>bleia</strong> <strong>Geral</strong> (<strong>2000</strong>) para os <strong>exame</strong>s regionais e mundiais que terão lugar <strong>em</strong> 2015, por<br />

ocasião <strong>da</strong> com<strong>em</strong>oração <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>+20 4 . Também foram leva<strong>do</strong>s <strong>em</strong> conta o relatório sub-<strong>regional</strong> <strong>sobre</strong><br />

o <strong>Caribe</strong> (CEPAL, 2014e), que inclui <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong>s relatórios nacionais <strong>sobre</strong> <strong>avaliação</strong> <strong>de</strong> gênero (Country<br />

Gen<strong>de</strong>r Assessment) a cargo <strong>do</strong> Banco <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>, os relatórios nacionais <strong>sobre</strong><br />

<strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> pobreza (Country Poverty Assessment) e a informação proporciona<strong>da</strong> pela Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Caribe</strong> (CARICOM).<br />

Em geral, os relatórios nacionais revelam um gran<strong>de</strong> esforço informativo e analítico e contêm<br />

<strong>do</strong>cumentação <strong>de</strong> apoio relevante que se resume no anexo Resumo <strong>do</strong>s relatórios nacionais <strong>sobre</strong><br />

<strong>Pequim</strong>+20, que se encontra on-line 5 . Na re<strong>da</strong>ção <strong>de</strong>ste relatório, procurou-se manter as formulações<br />

utiliza<strong>da</strong>s nos relatórios <strong>do</strong>s <strong>países</strong>, que coinci<strong>de</strong>m também com as <strong>em</strong>prega<strong>da</strong>s nas instâncias<br />

intergovernamentais, como a Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>.<br />

Como se recor<strong>da</strong> na nota <strong>de</strong> orientação que acompanhou o questionário envia<strong>do</strong> aos governos, <strong>em</strong><br />

virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> resolução 2013/18 o Conselho Econômico e Social <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s <strong>de</strong>cidiu que <strong>em</strong> seu<br />

59º perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>sessões</strong>, <strong>em</strong> 2015, a Comissão <strong>da</strong> Condição Jurídica e Social <strong>da</strong> Mulher examinaria<br />

e avaliaria a aplicação <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> e os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>vigésimo</strong><br />

<strong>terceiro</strong> perío<strong>do</strong> <strong>extraordinário</strong> <strong>de</strong> <strong>sessões</strong> <strong>da</strong> <strong>Ass<strong>em</strong>bleia</strong> <strong>Geral</strong>, incluin<strong>do</strong> as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que afetam<br />

a aplicação <strong>da</strong> <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> e a obtenção <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre os gêneros e o <strong>em</strong>po<strong>de</strong>ramento <strong>da</strong><br />

mulher, assim como as oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s para fortalecer a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre os gêneros e o <strong>em</strong>po<strong>de</strong>ramento<br />

<strong>da</strong> mulher na agen<strong>da</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 2015 mediante a incorporação <strong>da</strong> perspectiva<br />

<strong>de</strong> gênero 6 .<br />

Nestes 20 anos <strong>de</strong> transformações, os <strong>países</strong> avançaram com diversos ritmos <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s<br />

12 esferas <strong>de</strong> especial preocupação <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>. Na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong><br />

e no <strong>Caribe</strong>, ao processo mundial se somaram as reuniões <strong>da</strong> Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong><br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> e seus consensos, que foram orientan<strong>do</strong> também o avanço <strong>do</strong>s <strong>países</strong> <strong>em</strong><br />

matéria <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> 7 .<br />

Em seus relatórios, os <strong>países</strong> apresentam as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, os avanços, os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s e<br />

as tarefas leva<strong>da</strong>s a cabo nas 12 esferas <strong>de</strong> especial preocupação. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, a região conta<br />

com o Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> (OIG), solicita<strong>do</strong> pelos<br />

governos durante a Décima Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>,<br />

que me<strong>de</strong>, mediante múltiplos indica<strong>do</strong>res, os avanços <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> autonomia física,<br />

autonomia na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e autonomia econômica. Os indica<strong>do</strong>res são produzi<strong>do</strong>s a partir <strong>da</strong><br />

informação oficial entregue pelos <strong>países</strong>, proveniente <strong>em</strong> geral <strong>do</strong>s institutos <strong>de</strong> estatísticas e outros<br />

organismos públicos.<br />

4<br />

O relatório <strong>regional</strong> esteve a cargo <strong>da</strong> CEPAL, enquanto o relatório mundial foi responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ONU-Mulheres.<br />

5<br />

Veja [on-line] http://www.cepal.org/cgi-bin/getprod.asp?xml=/mujer/noticias/paginas/3/51823/P51823.xml&xsl=/<br />

mujer/tpl/p18f.xsl&base=/mujer/tpl/top-bottom.xsl.<br />

6<br />

O questionário envia<strong>do</strong> aos governos e os relatórios prepara<strong>do</strong>s pelos governos <strong>da</strong> região estão disponíveis no site <strong>da</strong><br />

Divisão <strong>de</strong> Assuntos <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> CEPAL [on-line] http://www.cepal.org/cgi-bin/getprod.asp?xml=/mujer/noticias/<br />

paginas/3/51823/P51823.xml&xsl=/mujer/tpl/p18f.xsl&base=/mujer/tpl/top-bottom.xsl.<br />

7<br />

Veja a informação <strong>da</strong> Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> [on-line] http://www.cepal.org/<br />

cgi-bin/getProd.asp?xml=/mujer/noticias/paginas/1/28701/P28701.xml&xsl=/mujer/tpl/p18f-st.xsl&base=/mujer/<br />

tpl/top-bottom.xslt.<br />

8


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

A autonomia é analisa<strong>da</strong> <strong>em</strong> três esferas: a autonomia física, entendi<strong>da</strong> como o controle <strong>sobre</strong><br />

o próprio corpo; a autonomia econômica, referente à capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gerar ren<strong>da</strong> e recursos próprios; e<br />

a autonomia na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, que compreen<strong>de</strong> a plena participação na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões que<br />

afetam a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres e sua coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> 8 . Este relatório apresenta os avanços com base numa<br />

análise cruza<strong>da</strong> entre os relatórios apresenta<strong>do</strong>s pelos <strong>países</strong> e os <strong>da</strong><strong>do</strong>s e indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong> OIG.<br />

Os relatórios <strong>do</strong>s <strong>países</strong> estão disponíveis no site <strong>da</strong> Divisão <strong>de</strong> Assuntos <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> CEPAL<br />

e no site <strong>de</strong> ONU-Mulheres 9 . No total, 31 <strong>países</strong>, entre eles 11 <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>, apresentaram relatórios.<br />

Os <strong>de</strong>talhes <strong>da</strong>s numerosas leis, políticas, programas e estratégias apresenta<strong>da</strong>s, que <strong>em</strong> si mesmas<br />

são um indica<strong>do</strong>r <strong>da</strong> importância que a <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> teve para as políticas <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre<br />

mulheres e homens, estão disponíveis no anexo Resumo <strong>do</strong>s relatórios nacionais <strong>sobre</strong> <strong>Pequim</strong>+20<br />

<strong>de</strong>ste <strong>do</strong>cumento 10 .<br />

A análise apresenta<strong>da</strong> enfatiza os processos significativos e os resulta<strong>do</strong>s mais importantes<br />

que explicam as transformações sociais, políticas, institucionais e culturais. Estas transformações são<br />

o produto <strong>da</strong> <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> como agen<strong>da</strong> pública; esta, por sua vez, é resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> processos <strong>de</strong><br />

acumulação anteriores li<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s pelo movimento f<strong>em</strong>inista e social <strong>de</strong> mulheres. Igualmente, <strong>de</strong>stacam-se<br />

os <strong>de</strong>safios <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s não só <strong>da</strong>s insuficiências <strong>da</strong>s políticas aplica<strong>da</strong>s, mas também <strong>da</strong>s acelera<strong>da</strong>s<br />

mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s no planeta. Este relatório sublinha a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vincular as 12 esferas <strong>de</strong><br />

ação com o conjunto <strong>da</strong>s políticas públicas para avançar na autonomia <strong>da</strong>s mulheres, <strong>em</strong> particular a<br />

autonomia econômica, autonomia na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e autonomia física.<br />

Este relatório divi<strong>de</strong>-se <strong>em</strong> quatro capítulos e as conclusões. O primeiro capítulo apresenta<br />

um contexto <strong>em</strong> transformação, os 20 anos <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças experimenta<strong>da</strong>s na região, assinala as<br />

mu<strong>da</strong>nças econômicas, políticas e ambientais e <strong>de</strong>screve a déca<strong>da</strong> <strong>da</strong> Conferência <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> e o<br />

papel <strong>do</strong> movimento f<strong>em</strong>inista e <strong>de</strong> mulheres. O segun<strong>do</strong> capítulo menciona os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s na<br />

impl<strong>em</strong>entação <strong>da</strong> <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> durante estas duas déca<strong>da</strong>s <strong>em</strong> função <strong>da</strong> autonomia<br />

<strong>da</strong>s mulheres. Também apresenta os avanços na autonomia na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>da</strong>s mulheres, na<br />

autonomia física e na autonomia econômica. O capítulo III <strong>de</strong>talha as novas priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>de</strong>safios na<br />

aplicação <strong>da</strong> <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e no <strong>Caribe</strong>. O último capítulo apresenta<br />

os <strong>da</strong><strong>do</strong>s e estatísticas elabora<strong>do</strong>s pelos <strong>países</strong> com relação ao avanço <strong>da</strong> autonomia <strong>da</strong>s mulheres na<br />

região. Por último, apresentam-se as conclusões <strong>do</strong> relatório.<br />

Alicia Bárcena<br />

Secretária Executiva<br />

Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong><br />

e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL)<br />

8<br />

Veja mais informações [on-line] http://www.cepal.org/oig/.<br />

9<br />

Veja [on-line] http://beijing20.unwomen.org/es.<br />

10<br />

Veja o anexo <strong>de</strong>ste relatório [on-line] http://www.cepal.org/cgi-bin/getprod.asp?xml=/mujer/noticias/paginas/3/51823/<br />

P51823.xml&xsl=/mujer/tpl/p18f.xsl&base=/mujer/tpl/top-bottom.xsl. Veja <strong>de</strong>talhes <strong>da</strong>s leis aprova<strong>da</strong>s, planos <strong>de</strong><br />

igual<strong>da</strong><strong>de</strong> e programas setoriais <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> violência, <strong>em</strong>prego e outros no Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero<br />

<strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> [on-line] http://www.cepal.org/oig/.<br />

9


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

I. Um contexto <strong>em</strong> transformação<br />

A. Vinte anos <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças<br />

As meninas que viram suas mães participar <strong>do</strong> processo <strong>da</strong> Quarta Conferência Mundial <strong>sobre</strong> a Mulher<br />

hoje são ci<strong>da</strong>dãs her<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> direitos imagina<strong>do</strong>s e sonha<strong>do</strong>s por suas avós, e também<br />

<strong>do</strong>nas <strong>da</strong> voz <strong>de</strong> uma diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> que interroga, interpela e lança novas luzes <strong>sobre</strong> os <strong>de</strong>safios. Elas<br />

são test<strong>em</strong>unhas <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças produzi<strong>da</strong>s graças à ação coletiva e às li<strong>de</strong>ranças <strong>de</strong> uma geração <strong>de</strong><br />

mulheres (e <strong>de</strong> homens) que colocaram o t<strong>em</strong>a <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> na agen<strong>da</strong> política internacional. As mu<strong>da</strong>nças<br />

produzi<strong>da</strong>s durante os últimos 20 anos expressam-se <strong>em</strong> várias dimensões. S<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong> —to<strong>do</strong>s os <strong>países</strong><br />

assinalam isso— hoje contamos com um novo quadro jurídico <strong>de</strong> direitos, necessário para o avanço <strong>da</strong>s<br />

mulheres. Não são poucas —ain<strong>da</strong> que não sejam suficientes— as mu<strong>da</strong>nças <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> gozo efetivo<br />

<strong>do</strong>s direitos por parte <strong>da</strong>s mulheres e meninas. As políticas públicas também <strong>de</strong>ram vira<strong>da</strong>s importantes,<br />

especialmente com respeito à violência, participação política e transversalização <strong>da</strong> perspectiva <strong>de</strong> gênero.<br />

Mu<strong>da</strong>nças profun<strong>da</strong>s e velhas estruturas que resist<strong>em</strong> e persist<strong>em</strong> compõ<strong>em</strong> o novo cenário <strong>da</strong> economia,<br />

estrutura <strong>de</strong>mográfica, tecnologia e mu<strong>da</strong>nça climática <strong>em</strong> que se disputam os direitos.<br />

Os avanços tiveram lugar num contexto <strong>de</strong> profun<strong>da</strong>s modificações econômicas, sociais,<br />

<strong>de</strong>mográficas e ambientais que <strong>de</strong>ve ser leva<strong>do</strong> <strong>em</strong> conta para enten<strong>de</strong>r sua magnitu<strong>de</strong> e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> transformações estruturais que ger<strong>em</strong> as condições para a obtenção <strong>de</strong> uma igual<strong>da</strong><strong>de</strong> substantiva.<br />

A região chega a <strong>Pequim</strong>+20 <strong>em</strong> uma situação muito distinta <strong>da</strong> que imperava na déca<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> 1990. Naquele momento, estava sain<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma “déca<strong>da</strong> perdi<strong>da</strong>” <strong>de</strong> baixo crescimento, alta inflação<br />

e restrições no balanço <strong>de</strong> pagamentos relaciona<strong>da</strong>s com o endivi<strong>da</strong>mento externo.<br />

É muito mais que uma ane<strong>do</strong>ta recor<strong>da</strong>r que a China, que foi o país anfitrião <strong>da</strong> Conferência<br />

Mundial, t<strong>em</strong> na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> uma economia que equivale à meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> PIB <strong>do</strong>s quatro <strong>países</strong> <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s<br />

BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). O tamanho <strong>da</strong> economia chinesa, com mais <strong>de</strong> 5 bilhões <strong>de</strong><br />

dólares, já supera o PIB combina<strong>do</strong> <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as economias <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> (Rosales e<br />

Kuwayama, 2012).<br />

As brechas <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> não mu<strong>da</strong>ram estruturalmente durante os últimos 20 anos<br />

e constitu<strong>em</strong> um núcleo sóli<strong>do</strong> a partir o qual se expan<strong>de</strong> a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>, exacerban<strong>do</strong> brechas <strong>em</strong><br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s que afetam as mulheres <strong>de</strong> maneira particular.<br />

11


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Nas últimas duas déca<strong>da</strong>s, a estrutura <strong>da</strong> população mu<strong>do</strong>u, aumentou a esperança <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e as<br />

taxas <strong>de</strong> fecundi<strong>da</strong><strong>de</strong> experimentaram uma que<strong>da</strong>, <strong>em</strong>bora persistam acentua<strong>da</strong>s diferenças entre <strong>países</strong>.<br />

Em meio ao processo <strong>de</strong> impl<strong>em</strong>entação <strong>da</strong> <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong>, ocorreu a transição <strong>de</strong>mográfica<br />

e o início <strong>do</strong> envelhecimento no âmbito <strong>regional</strong>, <strong>em</strong>bora com forte heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> territorial;<br />

o irrefreável processo <strong>de</strong> urbanização e <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> pobreza nas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a<br />

insegurança pública, a mu<strong>da</strong>nça climática e a consciência <strong>da</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> ante os <strong>de</strong>sastres naturais,<br />

a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> externa <strong>em</strong> alguns <strong>países</strong> <strong>da</strong> região <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à sua inclusão na categoria <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> média<br />

e, muito <strong>em</strong> breve, as principais consequências <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça climática, como a falta <strong>de</strong> água, incidirão<br />

na saú<strong>de</strong> e na segurança alimentar.<br />

As mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong>mográficas têm efeitos <strong>sobre</strong> a composição <strong>da</strong> população por i<strong>da</strong><strong>de</strong>, a incorporação<br />

<strong>da</strong> população <strong>em</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>s centrais <strong>em</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho que absorv<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> ao cui<strong>da</strong><strong>do</strong> que a população <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> país ou região específica necessita<br />

consumir ou é capaz <strong>de</strong> produzir. Este aspecto <strong>de</strong> enorme impacto <strong>sobre</strong> os direitos <strong>da</strong>s mulheres adquiriu<br />

dimensões globais e se expressa com clareza na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e no <strong>Caribe</strong> (Durán, 2015).<br />

A mu<strong>da</strong>nça climática aparece na <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> quan<strong>do</strong> se sublinha a importância <strong>da</strong><br />

função <strong>da</strong>s mulheres na criação <strong>de</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> consumo e produção sustentáveis e ecologicamente<br />

racionais e <strong>de</strong> méto<strong>do</strong>s para a or<strong>de</strong>nação <strong>do</strong>s recursos naturais. Hoje, com a evidência disponível, po<strong>de</strong>-se<br />

estabelecer que as causas <strong>do</strong> aquecimento global encontram-se nos padrões <strong>de</strong> produção e consumo,<br />

assim como na noção <strong>de</strong> progresso e no sist<strong>em</strong>a econômico cria<strong>do</strong> 11 . Das 12 esferas <strong>de</strong> especial<br />

preocupação acor<strong>da</strong><strong>da</strong>s, esta é a que menos resulta<strong>do</strong>s registra nos relatórios.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s tecnologias <strong>da</strong> informação e comunicação (TIC) mediante sist<strong>em</strong>as<br />

digitais está conduzin<strong>do</strong> a novas formas <strong>de</strong> organização social e produção, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> orig<strong>em</strong> gradualmente<br />

a um metaparadigma conheci<strong>do</strong> como “socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> informação” (Katz e Hilbert, 2003), fenômeno que<br />

não fazia parte <strong>da</strong> agen<strong>da</strong> global <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>.<br />

A respeito <strong>da</strong> tecnologia, a <strong>Plataforma</strong> propõe, por um la<strong>do</strong>, o acesso <strong>da</strong>s mulheres a to<strong>do</strong> tipo<br />

<strong>de</strong> tecnologia, o que facilitaria seu acesso ao <strong>em</strong>prego e a uma maior capacitação e, por outro la<strong>do</strong>, a<br />

promoção <strong>de</strong> tecnologias que facilit<strong>em</strong> a realização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s majoritariamente <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha<strong>da</strong>s<br />

por mulheres, <strong>sobre</strong>tu<strong>do</strong> no âmbito <strong>do</strong>méstico (it<strong>em</strong> 179.e). À luz <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s nas últimas<br />

déca<strong>da</strong>s, esta preocupação foi objeto <strong>de</strong> novos enfoques (Scuro e Bercovich, 2014) e maior evidência, e<br />

faz parte <strong>do</strong>s <strong>de</strong>safios <strong>em</strong>ergentes assinala<strong>do</strong>s no Consenso <strong>de</strong> Santo Domingo.<br />

Apesar <strong>do</strong>s avanços, persist<strong>em</strong> características estruturais, como a heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva<br />

e múltiplas <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s, resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que privilegiaram a exploração<br />

<strong>de</strong> recursos naturais e o consumo. As evidências apresenta<strong>da</strong>s pelo Grupo Intergovernamental <strong>de</strong><br />

Especialistas <strong>sobre</strong> a Mu<strong>da</strong>nça Climática (IPCC) <strong>em</strong> seu quinto relatório <strong>de</strong> <strong>avaliação</strong> <strong>de</strong>monstram que<br />

os padrões <strong>de</strong> produção e consumo, a noção <strong>de</strong> progresso, as leis e o sist<strong>em</strong>a econômico (fatores que<br />

resultam <strong>da</strong> ação <strong>da</strong>s pessoas) estão por trás <strong>da</strong> ameaça <strong>do</strong> aquecimento global 12 .<br />

Está ca<strong>da</strong> vez mais evi<strong>de</strong>nte que a <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção ambiental (tanto local como mundial) afeta com<br />

maior severi<strong>da</strong><strong>de</strong> os grupos <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong>, mais vulneráveis a <strong>do</strong>enças relaciona<strong>da</strong>s com<br />

este fenômeno (produzi<strong>da</strong>s pela contaminação atmosférica e hídrica, mu<strong>da</strong>nças nos padrões <strong>da</strong>s <strong>do</strong>enças<br />

transmiti<strong>da</strong>s por vetores e outras causas), aos <strong>de</strong>sastres relaciona<strong>do</strong>s com eventos climáticos extr<strong>em</strong>os e<br />

à per<strong>da</strong> <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> subsistência <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> ecossist<strong>em</strong>as e recursos naturais, entre outros<br />

fatores. Os <strong>de</strong>safios que a região enfrenta para se <strong>de</strong>senvolver com igual<strong>da</strong><strong>de</strong> e avançar efetivamente<br />

para a erradicação <strong>da</strong> pobreza serão exacerba<strong>do</strong>s pela mu<strong>da</strong>nça climática, que impõe novos probl<strong>em</strong>as<br />

ou agrava os já existentes, exigin<strong>do</strong> mais esforço <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> políticas e orçamentos públicos,<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil e <strong>do</strong> setor priva<strong>do</strong>. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, a mu<strong>da</strong>nça climática torna mais urgente a<br />

eliminação <strong>do</strong>s fatores <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, como a pobreza e a falta <strong>de</strong> acesso aos serviços básicos.<br />

11<br />

Veja [on-line] http://www.ipcc.ch/report/ar5/syr/.<br />

12<br />

Veja [on-line] http://www.ipcc.ch/report/ar5/wg2/.<br />

12


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

A crise <strong>de</strong> 2008, consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a pior crise financeira <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão <strong>do</strong>s anos 30<br />

(Ocampo, 2009), apesar <strong>do</strong>s impactos negativos nos avanços obti<strong>do</strong>s na igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre mulheres e<br />

homens, favoreceu o <strong>de</strong>bate <strong>sobre</strong> o rompimento <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que prevalece na<br />

economia mundial. A crítica ao quadro analítico <strong>da</strong>s visões <strong>da</strong> economia orto<strong>do</strong>xa, que se concentra<br />

no merca<strong>do</strong> como o melhor distribui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> recursos e prescin<strong>de</strong> <strong>do</strong> papel <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> como regula<strong>do</strong>r<br />

e garanti<strong>do</strong>r <strong>de</strong> direitos, se reanimou com o argumento <strong>da</strong> impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> construir socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

igualitárias se o Esta<strong>do</strong> não assumir um papel renova<strong>do</strong> como ator central <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. A crise<br />

estimulou também o <strong>de</strong>bate <strong>sobre</strong> os vínculos entre o trabalho r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>, o trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong><br />

e as políticas econômicas (Montaño, 2011).<br />

Na <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>, a economia é entendi<strong>da</strong> como um processo social no qual<br />

o fator econômico representa simultaneamente o papel <strong>de</strong> causa e consequência: “O grau <strong>de</strong> acesso <strong>da</strong><br />

mulher e <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> às estruturas econômicas <strong>de</strong> suas socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s e suas respectivas oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

exercer po<strong>de</strong>r nelas são consi<strong>de</strong>ravelmente diferentes. Na maior parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> é escassa ou nula a<br />

presença <strong>de</strong> mulheres na a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões econômicas, incluin<strong>do</strong> a formulação <strong>de</strong> políticas financeiras,<br />

monetárias, comerciais e <strong>de</strong> outra ín<strong>do</strong>le, assim como os sist<strong>em</strong>as fiscais e os regimes salariais. Da<strong>do</strong><br />

que frequent<strong>em</strong>ente essas políticas <strong>de</strong>terminam a forma <strong>em</strong> que as mulheres e os homens <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m, entre<br />

outras coisas, como dividirão seu t<strong>em</strong>po entre o trabalho r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> e o não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> no âmbito<br />

<strong>de</strong>ssas políticas, a evolução real <strong>de</strong>ssas estruturas e políticas econômicas inci<strong>de</strong> diretamente no acesso<br />

<strong>da</strong> mulher e <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> aos recursos econômicos, <strong>em</strong> seu po<strong>de</strong>r econômico e, portanto, <strong>em</strong> sua situação<br />

recíproca no plano individual e familiar, assim como na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> seu conjunto” (Durán, 2015).<br />

Em consonância com o espírito <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>, os estu<strong>do</strong>s e análises <strong>sobre</strong> o quadro analítico<br />

<strong>da</strong>s políticas impl<strong>em</strong>enta<strong>da</strong>s durante os últimos 20 anos 13 <strong>de</strong>stacaram que a análise <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

gênero <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar uma perspectiva amplia<strong>da</strong> <strong>da</strong> macroeconomia. Isso significa <strong>de</strong>slocar para<br />

além <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> o que habitualmente se consi<strong>de</strong>ram as fronteiras <strong>da</strong> economia. Os diversos enfoques<br />

econômicos —sejam mais keynesianos ou mais neoliberais—, ain<strong>da</strong> que com diferenças entre si,<br />

mantêm suas análises concentra<strong>da</strong>s exclusivamente na produção, no consumo e na distribuição<br />

mercantil, s<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rar o trabalho e as diversas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s fora <strong>da</strong>s margens <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>. Como<br />

resulta<strong>do</strong>, essas análises não só são parciais, mas po<strong>de</strong>m ser errôneas. Se só se leva <strong>em</strong> conta e<br />

se analisa uma parte <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, com o pressuposto <strong>de</strong> que é a totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, na<strong>da</strong> assegura que os<br />

resulta<strong>do</strong>s —estatísticos ou <strong>de</strong> políticas a ser<strong>em</strong> impl<strong>em</strong>enta<strong>da</strong>s— sejam os a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s (CEPAL, 2010a).<br />

Apesar <strong>de</strong> contar com um maior reconhecimento, o trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> e <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> se<br />

encontra atualmente invisibiliza<strong>do</strong> na economia <strong>do</strong>s <strong>países</strong>. O cui<strong>da</strong><strong>do</strong> é entendi<strong>do</strong> como uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>stina<strong>da</strong> a cui<strong>da</strong>r <strong>do</strong>s m<strong>em</strong>bros <strong>da</strong> família ao longo <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o ciclo vital, que requer uma enorme<br />

quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e energia. Esta ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> compreen<strong>de</strong> os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s indiretos —produção <strong>de</strong> bens e<br />

serviços—, mas também os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s diretos pessoais. Seja por motivos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> (nos extr<strong>em</strong>os <strong>do</strong> ciclo<br />

vital) ou <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, por alguma incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> ou por necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>em</strong>ocionais e afetivas, to<strong>da</strong>s as pessoas<br />

requer<strong>em</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, inclusive as pessoas sãs.<br />

O espaço <strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> e o espaço <strong>da</strong> produção e <strong>do</strong> intercâmbio mercantil não são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,<br />

mas mantêm fortes vínculos. O trabalho <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> permite receber o dinheiro (basicamente, salário)<br />

necessário para adquirir bens e serviços no merca<strong>do</strong>, e o trabalho <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> —junto com o dinheiro obti<strong>do</strong><br />

no merca<strong>do</strong>— assegura não só a existência <strong>da</strong>s pessoas, mas também seus processos <strong>de</strong> socialização, <strong>de</strong><br />

segurança afetiva e <strong>de</strong> equilíbrio <strong>em</strong>ocional; ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>las é uma quali<strong>da</strong><strong>de</strong> necessária para se relacionar<br />

posteriormente com o mun<strong>do</strong> e também para se integrar ao merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho. Em termos puramente<br />

econômicos, o trabalho <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> participa <strong>de</strong> maneira importante na reprodução <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho,<br />

s<strong>em</strong> a qual esta reprodução seria impossível. Basta se perguntar quanto <strong>de</strong>veriam ganhar to<strong>da</strong>s as pessoas<br />

para que a população pu<strong>de</strong>sse subsistir e se reproduzir somente com a ren<strong>da</strong>, s<strong>em</strong> realizar nenhum trabalho<br />

<strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>. Portanto, a economia mercantil <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> que se <strong>de</strong>senvolva a economia <strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, s<strong>em</strong> a<br />

qual o merca<strong>do</strong> não po<strong>de</strong>ria existir (CEPAL, 2010a; Rodríguez e Giosa, 2010 e Durán, 2015).<br />

13<br />

Somente na CEPAL, foram elabora<strong>da</strong>s mais <strong>de</strong> 40 publicações nesses últimos t<strong>em</strong>pos.<br />

13


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Ao somar o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> trabalho total —r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> e não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>— nos <strong>países</strong> que contam<br />

com informação, evi<strong>de</strong>ncia-se que as mulheres trabalham mais t<strong>em</strong>po que os homens. Elas arcam com<br />

uma dupla jorna<strong>da</strong>: além <strong>de</strong> suas responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho (que aumentaram nas últimas déca<strong>da</strong>s),<br />

se encarregam <strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>de</strong> outras pessoas (crianças, i<strong>do</strong>sos, enfermos e <strong>de</strong>ficientes), <strong>da</strong> manutenção<br />

<strong>da</strong> casa e <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s associa<strong>da</strong>s à reprodução <strong>da</strong>s pessoas que viv<strong>em</strong> no <strong>do</strong>micílio. O t<strong>em</strong>po que as<br />

mulheres <strong>de</strong>dicam ao trabalho realiza<strong>do</strong> nos <strong>do</strong>micílios representa, <strong>em</strong> média, 40% <strong>do</strong> trabalho total, o<br />

que contradiz a tese <strong>de</strong> um trabalho marginal e s<strong>em</strong> importância; por outro la<strong>do</strong>, as mulheres realizam<br />

entre 70% e 82% <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> <strong>de</strong> que os <strong>do</strong>micílios necessitam, inclusive o<br />

trabalho <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>. Finalmente, se consi<strong>de</strong>rarmos o trabalho total, isto é, a soma <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> a<br />

ambos os trabalhos, as mulheres trabalham diariamente ao menos uma hora a mais que os homens nos<br />

<strong>países</strong> com <strong>da</strong><strong>do</strong>s disponíveis, com exceção <strong>da</strong> Costa Rica, on<strong>de</strong> o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> trabalho total <strong>de</strong> homens e<br />

mulheres é muito similar.<br />

Com um enfoque macroeconômico amplia<strong>do</strong>, observa-se que o caminho para a igual<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

requer uma mu<strong>da</strong>nça estrutural profun<strong>da</strong> e uma transformação <strong>da</strong>s relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre mulheres<br />

e homens. Não se trata <strong>de</strong> adicionar o trabalho <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> ao espaço <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> como algo menor,<br />

mas <strong>de</strong> assumir a existência <strong>de</strong> uma estrutura complexa que compreen<strong>de</strong> ambos os trabalhos, sen<strong>do</strong><br />

os <strong>do</strong>is absolutamente necessários para o sustento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana, ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> assumi<strong>da</strong> principalmente<br />

pelas mulheres. Daí que a mu<strong>da</strong>nça estrutural implica mu<strong>da</strong>r a estrutura global, modifican<strong>do</strong> a forma<br />

<strong>de</strong> produzir e consumir, redistribuin<strong>do</strong> t<strong>em</strong>pos, trabalhos e ren<strong>da</strong> entre homens e mulheres e atribuin<strong>do</strong><br />

especial relevância ao trabalho <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, e não será possível enquanto este trabalho permanecer<br />

s<strong>em</strong> reconhecimento e valor social. Da mesma maneira, não será possível o reconhecimento recíproco<br />

entre mulheres e homens enquanto não for<strong>em</strong> igualmente reconheci<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s socialmente<br />

necessárias para a subsistência e a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

A <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> não incluiu entre suas consi<strong>de</strong>rações que, com o crescimento econômico<br />

e a que<strong>da</strong> <strong>da</strong> natali<strong>da</strong><strong>de</strong>, ocorre uma per<strong>da</strong> <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> no cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que, nos<br />

<strong>do</strong>micílios <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong> muitas crianças, uma mesma pessoa po<strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r simultaneamente a várias, e<br />

os filhos mais velhos costumam compartilhar com os pais as tarefas <strong>de</strong> vigilância, enquanto nas famílias<br />

nucleares o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>de</strong> um filho único não po<strong>de</strong> ser compartilha<strong>do</strong> n<strong>em</strong> <strong>sobre</strong>posto facilmente a outras<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s simultâneas <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>. A respeito <strong>da</strong>s pessoas <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> avança<strong>da</strong>, acontece o mesmo:<br />

com sua permanência <strong>em</strong> <strong>do</strong>micílios <strong>de</strong> tamanho reduzi<strong>do</strong> ou unipessoais, <strong>de</strong>saparece a melhora <strong>de</strong><br />

produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> por prestação <strong>de</strong> diversos serviços simultaneamente (por ex<strong>em</strong>plo, limpeza, atenção<br />

passiva, preparação <strong>de</strong> alimentos, compras para várias pessoas) (Durán, 2015).<br />

Passan<strong>do</strong> ao âmbito <strong>da</strong> impl<strong>em</strong>entação, durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> revisão foram <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s<br />

novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão para a redução <strong>da</strong> pobreza, o fomento <strong>do</strong> <strong>em</strong>prego, a educação e a saú<strong>de</strong>, e para<br />

ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s 12 esferas <strong>de</strong> especial preocupação <strong>da</strong> <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong>. 14 A eleição <strong>de</strong> mulheres para<br />

a presidência ou a máxima chefatura <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>, junto com o aumento significativo <strong>da</strong> participação <strong>de</strong><br />

mulheres nos parlamentos, produziu mu<strong>da</strong>nças nas esferas <strong>de</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, incluin<strong>do</strong> as Forças<br />

Arma<strong>da</strong>s <strong>de</strong> alguns <strong>países</strong>, que abriram suas portas para as mulheres nos últimos anos. Em geral, isso<br />

contribuiu para a formulação <strong>de</strong> políticas e uma melhor impl<strong>em</strong>entação.<br />

No perío<strong>do</strong> criaram-se novas instituições e diversos mecanismos nacionais e territoriais.<br />

Questionaram-se as hipóteses <strong>da</strong> economia orto<strong>do</strong>xa e <strong>de</strong>senvolveram-se as estatísticas <strong>de</strong> gênero<br />

visibilizan<strong>do</strong> as dimensões críticas <strong>da</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>, particularmente por meio <strong>da</strong>s pesquisas <strong>de</strong> uso <strong>do</strong><br />

t<strong>em</strong>po e <strong>de</strong> violência. Revisaram-se os conteú<strong>do</strong>s e a linguag<strong>em</strong> nos meios <strong>de</strong> comunicação, amplian<strong>do</strong><br />

as liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s mulheres e, <strong>sobre</strong>tu<strong>do</strong>, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> à noção <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> um senti<strong>do</strong> realmente universal.<br />

As alianças —não isentas <strong>de</strong> discrepâncias e tensões— entre ativistas f<strong>em</strong>inistas, mulheres políticas e<br />

tecnocratas fizeram com que outros atores sociais se integrass<strong>em</strong> neste processo <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça e assumiss<strong>em</strong><br />

junto ao movimento <strong>de</strong> mulheres os <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> um mun<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> dia mais complexo. O trânsito <strong>da</strong>s margens<br />

14<br />

Veja o anexo Resumo <strong>do</strong>s relatórios nacionais <strong>sobre</strong> <strong>Pequim</strong>+20 [on-line] http://www.cepal.org/cgi-bin/getprod.asp?xml=/<br />

mujer/noticias/paginas/3/51823/P51823.xml&xsl=/mujer/tpl/p18f.xsl&base=/mujer/tpl/top-bottom.xsl.<br />

14


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

para a corrente principal contribuiu para melhorar o tratamento <strong>da</strong>s <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s mulheres e inspirou<br />

outros movimentos sociais.<br />

A consoli<strong>da</strong>ção <strong>de</strong>mocrática <strong>da</strong>s últimas duas déca<strong>da</strong>s faz parte <strong>do</strong> contexto <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças. No<br />

plano econômico, apesar <strong>da</strong> recente crise econômica mundial e s<strong>em</strong> <strong>de</strong>sconhecer seu grave impacto,<br />

<strong>sobre</strong>tu<strong>do</strong> para os <strong>países</strong> <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>, a região completou quase uma déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> crescimento relativamente<br />

eleva<strong>do</strong>, a inflação está controla<strong>da</strong> <strong>em</strong> quase to<strong>do</strong>s os <strong>países</strong> e, <strong>em</strong> geral, há estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> macroeconômica,<br />

significativa redução <strong>da</strong> pobreza e mo<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> redução <strong>da</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Em gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong> região, ain<strong>da</strong> existe a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aproveitar o bônus <strong>de</strong>mográfico e<br />

fazer as mu<strong>da</strong>nças necessárias para estabelecer as bases <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça rumo à igual<strong>da</strong><strong>de</strong> e sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

O crescimento <strong>de</strong>mográfico e econômico fará com que nas próximas déca<strong>da</strong>s se expan<strong>da</strong> velozmente a<br />

<strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> energia, água, minerais e alimentos. As mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong>mográficas alterarão o po<strong>de</strong>r econômico<br />

<strong>do</strong>s <strong>países</strong> e o equilíbrio mundial <strong>de</strong> forças e influirão na <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> bens e serviços e nos movimentos<br />

migratórios. As principais consequências <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça climática estariam relaciona<strong>da</strong>s com a falta <strong>de</strong><br />

água, que incidiria na saú<strong>de</strong> e na segurança alimentar.<br />

Aos <strong>de</strong>safios <strong>da</strong> macroeconomia, proteção social, educação, acesso aos serviços básicos,<br />

políticas trabalhistas, <strong>de</strong>senvolvimento produtivo e políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento territorial se soma <strong>de</strong><br />

maneira urgente e transversal o duplo <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> assegurar que o <strong>de</strong>senvolvimento seja leva<strong>do</strong> a cabo<br />

<strong>de</strong> maneira ambientalmente sustentável e <strong>de</strong> construir resiliência, tanto física como econômica, aos<br />

efeitos <strong>da</strong> <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção ambiental e, <strong>em</strong> particular, à mu<strong>da</strong>nça climática. É fun<strong>da</strong>mental evitar a per<strong>da</strong><br />

<strong>do</strong> patrimônio e <strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> sustento e impedir que as ameaças ambientais ponham <strong>em</strong> risco os<br />

avanços obti<strong>do</strong>s.<br />

Três processos e suas conexões <strong>de</strong>veriam ser leva<strong>do</strong>s <strong>em</strong> conta para analisar a aplicação <strong>da</strong><br />

<strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>. Em primeiro lugar, os processos internacionais auspicia<strong>do</strong>s pelas<br />

Nações Uni<strong>da</strong>s na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990; <strong>em</strong> segun<strong>do</strong> lugar, as mu<strong>da</strong>nças nos cenários político-institucionais<br />

surgi<strong>da</strong>s no <strong>final</strong> <strong>da</strong>s ditaduras, os processos <strong>de</strong> paz e a vigência <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia. Em <strong>terceiro</strong> lugar, a ação<br />

permanente <strong>do</strong> movimento <strong>de</strong> mulheres na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> 15 .<br />

Nesse contexto, chama a atenção o fato <strong>de</strong> que tanto os <strong>países</strong> <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> média como os <strong>de</strong><br />

menor <strong>de</strong>senvolvimento relativo experiment<strong>em</strong> <strong>de</strong>safios s<strong>em</strong>elhantes que não <strong>de</strong>rivam somente <strong>da</strong><br />

disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos econômicos ou técnicos, mas também <strong>da</strong> força <strong>da</strong> cultura conserva<strong>do</strong>ra, <strong>da</strong><br />

inércia <strong>da</strong>s instituições, <strong>do</strong> peso <strong>da</strong>s crenças religiosas nos processos legislativos, <strong>da</strong> ação <strong>da</strong> justiça e <strong>da</strong><br />

educação que, na opinião <strong>de</strong> alguns <strong>países</strong>, se expressam na negativa <strong>de</strong> aprovar leis 16 e programas 17 . A<br />

julgar pelos resulta<strong>do</strong>s, e s<strong>em</strong> <strong>de</strong>smerecer a importância <strong>do</strong>s avanços, persiste a discriminação entendi<strong>da</strong><br />

como “qualquer distinção, exclusão ou restrição com base na diferença sexual que tenha como efeito ou<br />

objetivo anular o reconhecimento <strong>do</strong>s direitos humanos <strong>da</strong>s mulheres” 18 .<br />

15<br />

A maioria <strong>do</strong>s relatórios faz referência à importância <strong>da</strong>s organizações <strong>de</strong> mulheres. Dez <strong>países</strong> e territórios indicam<br />

que o relatório <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>+20 foi elabora<strong>do</strong> <strong>em</strong> consulta com organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil: Antígua e Barbu<strong>da</strong>,<br />

Brasil, Cuba, Dominica, Grana<strong>da</strong>, Guiana, Ilhas Cayman, México, Panamá e Suriname.<br />

16<br />

O Paraguai indica dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> para introduzir a educação sexual nas escolas; a República Dominicana informa<br />

rejeição a leis que <strong>de</strong>spenaliz<strong>em</strong> a interrupção <strong>da</strong> gravi<strong>de</strong>z; o Chile apresenta como primeiro <strong>de</strong>safio a <strong>de</strong>spenalização<br />

<strong>da</strong> interrupção voluntária <strong>da</strong> gravi<strong>de</strong>z. Assinala-se que “este regime legal proibitivo implica a negação <strong>de</strong> numerosos<br />

direitos humanos <strong>da</strong>s mulheres e infringe as recomen<strong>da</strong>ções realiza<strong>da</strong>s a esse respeito por numerosos organismos<br />

internacionais <strong>de</strong> proteção <strong>do</strong>s direitos humanos” (pág. 17).<br />

17<br />

O relatório apresenta<strong>do</strong> pelo Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia <strong>de</strong>staca a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> criar um plano<br />

integral <strong>de</strong> prevenção <strong>da</strong> gravi<strong>de</strong>z a<strong>do</strong>lescente e afirma que “um obstáculo a estas políticas são as concepções <strong>da</strong><br />

igreja católica que limitam a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> exercer os direitos sexuais e reprodutivos, sen<strong>do</strong> a Bolívia um Esta<strong>do</strong><br />

laico” (pág. 13).<br />

18<br />

Veja o art. 1º <strong>da</strong> Convenção <strong>sobre</strong> a Eliminação <strong>de</strong> To<strong>da</strong>s as Formas <strong>de</strong> Discriminação contra a Mulher.<br />

15


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

B. A Déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990<br />

Cabe recor<strong>da</strong>r que a agen<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s anos 90 surge <strong>da</strong>s <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s sociais e <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s movimentos sociais, <strong>em</strong> particular <strong>da</strong>s f<strong>em</strong>inistas, <strong>de</strong> levar ao âmbito internacional as <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

igual<strong>da</strong><strong>de</strong> e não discriminação. Nessa déca<strong>da</strong>, na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e no <strong>Caribe</strong> as f<strong>em</strong>inistas já haviam<br />

organiza<strong>do</strong> quatro encontros que contribuíram significativamente para a agen<strong>da</strong> global 19 . Em 1992,<br />

durante a Conferência <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong> Meio Ambiente e Desenvolvimento, realiza<strong>da</strong> no<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro (Brasil), o f<strong>em</strong>inismo se fez visível tanto na agen<strong>da</strong> aprova<strong>da</strong> como <strong>em</strong> sua presença<br />

organiza<strong>da</strong> <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> “ten<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres” que proclamou que “a Terra é mulher”, abrin<strong>do</strong> a porta<br />

para um imaginário coletivo <strong>do</strong> qual faziam parte também os povos indígenas e outros atores sociais que<br />

coincidiam na necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> repensar o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. As <strong>de</strong>clarações e programas <strong>de</strong><br />

ação <strong>do</strong> movimento <strong>de</strong> mulheres na região <strong>de</strong>ixam claro sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> integrar <strong>em</strong> suas agen<strong>da</strong>s a luta<br />

contra to<strong>da</strong> forma <strong>de</strong> discriminação, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que sua ativa participação política o distingue<br />

<strong>de</strong> outros movimentos <strong>de</strong> mulheres <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Embora já tivesse si<strong>do</strong> aprova<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s acor<strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentais (a Convenção <strong>sobre</strong> a Eliminação<br />

<strong>de</strong> To<strong>da</strong>s as Formas <strong>de</strong> Discriminação contra a Mulher), foi igualmente importante a Conferência<br />

Mundial <strong>de</strong> Direitos Humanos (Viena, 1993), que pôs fim a uma visão masculina <strong>sobre</strong> esta t<strong>em</strong>ática 20 .<br />

O reconhecimento <strong>de</strong> que as maiores violações aos direitos <strong>da</strong>s mulheres ocorr<strong>em</strong> no âmbito priva<strong>do</strong>,<br />

que é obrigação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> proteger seus direitos e que a violência contra as mulheres é uma violação<br />

<strong>do</strong>s direitos humanos é, s<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong>, outro <strong>do</strong>s avanços incorpora<strong>do</strong>s à <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong>. Foi<br />

a Conferência Internacional <strong>sobre</strong> População e Desenvolvimento, realiza<strong>da</strong> no Cairo <strong>em</strong> 1994, que<br />

consoli<strong>do</strong>u a mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> paradigma no âmbito internacional 21 . A mu<strong>da</strong>nça <strong>do</strong> enfoque <strong>de</strong>mográfico para<br />

o <strong>do</strong>s direitos humanos <strong>em</strong> t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> população significou um gran<strong>de</strong> salto rumo ao reconhecimento <strong>do</strong><br />

direito <strong>da</strong>s mulheres a controlar sua reprodução e sua sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong>. A Conferência <strong>do</strong> Cairo permitiu que<br />

a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> internacional legitimasse os direitos reprodutivos <strong>da</strong>s mulheres, como parte <strong>do</strong>s direitos<br />

humanos e como dimensão <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

A déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 caracterizou-se pelo reconhecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s históricas <strong>do</strong><br />

movimento <strong>de</strong> mulheres que implicavam mu<strong>da</strong>nças econômicas, sociais, ambientais e culturais, com<br />

a consequente modificação <strong>da</strong>s instituições e <strong>do</strong> marco jurídico que regia a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s. Este<br />

relatório constata —como se fez há cinco anos (<strong>Pequim</strong>+15)— uma transformação importante <strong>do</strong><br />

marco jurídico nacional, o surgimento <strong>de</strong> novas instituições para as políticas públicas e mu<strong>da</strong>nças<br />

lentas e heterogêneas <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res sociais e econômicos.<br />

A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> “modificar os padrões socioculturais <strong>de</strong> conduta <strong>de</strong> homens e mulheres, com<br />

vistas a alcançar a eliminação <strong>de</strong> preconceitos e práticas consuetudinárias e <strong>de</strong> qualquer outra ín<strong>do</strong>le<br />

que estejam basea<strong>do</strong>s na idéia <strong>da</strong> inferiori<strong>da</strong><strong>de</strong> ou superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer <strong>do</strong>s sexos ou <strong>em</strong> funções<br />

estereotipa<strong>da</strong>s <strong>de</strong> homens e mulheres” (artigo 5º <strong>da</strong> Convenção <strong>sobre</strong> a Eliminação <strong>de</strong> To<strong>da</strong>s as Formas<br />

<strong>de</strong> Discriminação contra a Mulher) aparece <strong>de</strong> maneira reitera<strong>da</strong> 20 anos <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> Conferência Mundial<br />

<strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> como um <strong>do</strong>s obstáculos mais importantes para a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> real <strong>da</strong>s mulheres.<br />

Por isso, adquire especial relevância que os avanços e <strong>de</strong>safios relaciona<strong>do</strong>s com a <strong>de</strong>mocratização<br />

<strong>da</strong>s relações familiares, os direitos sexuais e reprodutivos e a eliminação <strong>de</strong> estereótipos culturais estejam<br />

presentes na maioria <strong>do</strong>s relatórios. Além disso, cinco <strong>países</strong> reconhec<strong>em</strong> como um <strong>da</strong>s maiores avanços a<br />

incorporação <strong>em</strong> suas legislações <strong>do</strong> matrimônio igualitário e a união civil entre pessoas <strong>do</strong> mesmo sexo.<br />

Vários <strong>países</strong> assinalam avanços e <strong>de</strong>safios relaciona<strong>do</strong>s com a modificação <strong>da</strong>s leis <strong>de</strong><br />

matrimônio e com os direitos sexuais e reprodutivos. A esse respeito, aos direitos reprodutivos se agrega<br />

a legislação a favor <strong>de</strong>stes direitos, expressa<strong>da</strong> <strong>em</strong> parte no crescente acesso a serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, na maior<br />

19<br />

Veja mais informações [on-line] http://www.rednacional<strong>de</strong>mujeres.org/in<strong>de</strong>x.php/84-articulos-principales/163-<br />

manifiesto-politico-encuentro-f<strong>em</strong>inista-<strong>de</strong>-america-latina-y-el-caribe.<br />

20<br />

Veja [on-line] http://www.un.org/es/<strong>de</strong>velopment/<strong>de</strong>vagen<strong>da</strong>/humanrights.shtml.<br />

21<br />

Veja [on-line] https://www.unfpa.org/web<strong>da</strong>v/site/global/shared/<strong>do</strong>cuments/publications/2004/icpd_spa.pdf.<br />

16


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> méto<strong>do</strong>s contraceptivos e na legislação <strong>sobre</strong> a interrupção voluntária <strong>da</strong> gravi<strong>de</strong>z,<br />

<strong>em</strong>bora <strong>em</strong> cinco <strong>países</strong> <strong>da</strong> região (Chile, El Salva<strong>do</strong>r, Honduras, Nicarágua e República Dominicana)<br />

o aborto ain<strong>da</strong> esteja penaliza<strong>do</strong> <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as circunstâncias. Se consi<strong>de</strong>rarmos que há 20 anos alguns<br />

<strong>países</strong> expressavam suas reservas a respeito <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> família e <strong>do</strong>s direitos <strong>de</strong> família, as mu<strong>da</strong>nças<br />

assinala<strong>da</strong>s mostram um processo <strong>de</strong> ampla transformação cultural acerca <strong>de</strong> conceitos que, como<br />

assinala a Convenção e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>, estão na orig<strong>em</strong> <strong>da</strong> discriminação.<br />

A integração <strong>da</strong> perspectiva <strong>de</strong> gênero nas políticas públicas reflete-se nas normas <strong>sobre</strong><br />

igual<strong>da</strong><strong>de</strong> e nas importantes contribuições ao próprio conceito <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> que inspirou a <strong>Plataforma</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> e a Convenção. O Esta<strong>do</strong> fun<strong>da</strong><strong>do</strong> numa incisiva separação <strong>da</strong>s esferas pública e<br />

priva<strong>da</strong> e numa or<strong>de</strong>m hierárquica <strong>de</strong> gêneros t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> permeável às mu<strong>da</strong>nças.<br />

No âmbito <strong>regional</strong>, as conferências regionais <strong>sobre</strong> a mulher <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong><br />

(realiza<strong>da</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1977) 22 abor<strong>da</strong>ram <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s que interpelam o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>sigual <strong>de</strong> gênero, exigin<strong>do</strong><br />

a incorporação <strong>da</strong>s mulheres à vi<strong>da</strong> política, econômica e social, realizan<strong>do</strong> uma crítica aos estereótipos<br />

e ten<strong>de</strong>nciosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> gênero na cultura e nos meios <strong>de</strong> comunicação e exigin<strong>do</strong> o reconhecimento e o<br />

respeito aos direitos reprodutivos, assim como o acesso igualitário <strong>da</strong>s mulheres aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

à justiça, à educação, aos recursos, ao merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho e a <strong>em</strong>pregos <strong>de</strong>centes. Nas conferências,<br />

os <strong>países</strong> afirmam também seu compromisso com as mulheres migrantes ou refugia<strong>da</strong>s, a preservação<br />

<strong>da</strong> paz, a eliminação <strong>da</strong> violência e <strong>da</strong> discriminação. Do ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> autonomia econômica,<br />

pronunciam-se a favor <strong>da</strong> superação <strong>da</strong> pobreza, que afeta majoritariamente as mulheres, <strong>do</strong> fim <strong>do</strong><br />

trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> ou mal r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> <strong>da</strong>s mulheres, <strong>da</strong> diminuição <strong>da</strong> brecha <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> segun<strong>do</strong><br />

o sexo e <strong>da</strong> discriminação salarial <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os âmbitos <strong>de</strong> trabalho. Por outro la<strong>do</strong>, <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong><br />

autonomia física, reconhec<strong>em</strong> o direito à opção sexual, entre outros 23 .<br />

Já <strong>em</strong> <strong>2000</strong> o balanço era irregular 24 . Por um la<strong>do</strong>, constatavam-se evi<strong>de</strong>ntes progressos quanto<br />

à consagração <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> no âmbito constitucional, a eliminação <strong>de</strong> formas diretas <strong>de</strong> discriminação,<br />

a a<strong>de</strong>quação <strong>do</strong>s marcos jurídicos e o surgimento <strong>de</strong> leis inova<strong>do</strong>ras, como as referentes a cotas<br />

eleitorais, à violência <strong>do</strong>méstica e, <strong>em</strong> menor medi<strong>da</strong>, à proteção <strong>do</strong>s direitos reprodutivos; também<br />

se mencionavam a maior participação no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, as conquistas educativas e a criação<br />

<strong>de</strong> mecanismos institucionais para impulsionar a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero no âmbito setorial, nacional,<br />

provincial e municipal. Finalmente, reconhecia-se como um fato positivo a a<strong>do</strong>ção generaliza<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

planos nacionais cujo objetivo era a igual<strong>da</strong><strong>de</strong>. Não obstante, <strong>de</strong>mostrava-se que “os avanços registra<strong>do</strong>s<br />

são limita<strong>do</strong>s pelos sintomas <strong>de</strong> retrocesso e estagnação observa<strong>do</strong>s na região” (CEPAL, 2004).<br />

A revisão <strong>do</strong>s últimos 20 anos mostra mu<strong>da</strong>nças consi<strong>de</strong>ráveis. A agen<strong>da</strong> <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero<br />

e o enfoque <strong>de</strong> direitos foram integra<strong>do</strong>s <strong>em</strong> significativos <strong>do</strong>cumentos, como O futuro que quer<strong>em</strong>os,<br />

aprova<strong>do</strong> durante a Conferência Rio+20, o <strong>do</strong>cumento Pactos para a igual<strong>da</strong><strong>de</strong>: rumo a um futuro<br />

sustentável (CEPAL, 2014a) e o Consenso <strong>de</strong> Montevidéu <strong>sobre</strong> População e Desenvolvimento (2013).<br />

Por outro la<strong>do</strong>, a presença crescente <strong>de</strong> mulheres jovens, indígenas, afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, lésbicas, gays,<br />

bissexuais e transexuais, entre outras, nas <strong>de</strong>legações oficiais e nos fóruns <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil é outro<br />

el<strong>em</strong>ento positivo. A importância <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil reflete-se também nos relatórios <strong>do</strong>s governos que,<br />

<strong>em</strong> vários casos, informam a impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> programas relativos às mulheres rurais, indígenas,<br />

trabalha<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> lar e jovens como avanços ou <strong>de</strong>safios.<br />

22<br />

Veja mais informações [on-line] http://www.cepal.org/cgi-bin/getprod.asp?xml=/mujer/noticias/paginas/8/28478/<br />

P28478.xml&xsl=/mujer/tpl/p18f-st.xsl&base=/mujer/tpl/top-bottom.xsl.<br />

23<br />

Veja os consensos regionais <strong>da</strong> Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> [on-line]<br />

http://www.cepal.org/cgi-bin/getProd.asp?xml=/mujer/noticias/paginas/1/28701/P28701.xml&xsl=/mujer/tpl/p18fst.xsl&base=/mujer/tpl/top-bottom.xslt<br />

e o Programa <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> Regional [on-line] http://www.cepal.org/cgi-bin/<br />

getProd.asp?xml=/publicaciones/xml/2/4332/P4332.xml&xsl=/mujer/tpl/p9f.xsl&base=/mujer/tpl/top-bottom.xsl.<br />

24<br />

Veja o <strong>Relatório</strong> <strong>da</strong> Oitava Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> (Lima, 8 a 10 <strong>de</strong><br />

fevereiro <strong>de</strong> <strong>2000</strong>) [on-line] http://www.cepal.org/mujer/noticias/noticias/4/5144/lcg2087e.pdf, e a <strong>do</strong>cumentação<br />

ali apresenta<strong>da</strong>.<br />

17


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

C. A <strong>de</strong>mocracia<br />

O fim <strong>da</strong>s ditaduras e os processos <strong>de</strong> paz na região, assim como a estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

processos <strong>de</strong>mocráticos, criaram condições favoráveis para a impl<strong>em</strong>entação <strong>da</strong> <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Pequim</strong>. As mu<strong>da</strong>nças políticas têm si<strong>do</strong> <strong>em</strong> geral momentos críticos que oferec<strong>em</strong> tanto oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

como riscos. Vários relatórios assinalam que a recuperação <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia, os processos <strong>de</strong> paz, as<br />

ass<strong>em</strong>bleias constituintes e as reformas <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo econômico foram oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s para o avanço <strong>do</strong>s<br />

direitos <strong>da</strong>s mulheres.<br />

Como se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns relatórios, o <strong>de</strong>senvolvimento econômico e <strong>de</strong>mocrático, a<br />

estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> política, a geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos e a promulgação <strong>de</strong> leis são condições para a igual<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que esses processos incorpor<strong>em</strong> a perspectiva <strong>de</strong> gênero. Embora <strong>em</strong> contextos <strong>de</strong> conflito, pobreza<br />

e escassez <strong>de</strong> recursos as mulheres sejam as mais prejudica<strong>da</strong>s, os <strong>da</strong><strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s na segun<strong>da</strong> parte<br />

<strong>de</strong>ste <strong>do</strong>cumento mostram que não é evi<strong>de</strong>nte que a prosperi<strong>da</strong><strong>de</strong> se distribua equitativamente, a menos<br />

que os <strong>países</strong> a<strong>do</strong>t<strong>em</strong> políticas claras orienta<strong>da</strong>s a eliminar as ten<strong>de</strong>nciosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> gênero.<br />

A <strong>de</strong>mocracia favoreceu a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> novos quadros normativos e o estabelecimento <strong>de</strong> políticas<br />

públicas, especialmente no âmbito <strong>da</strong> luta contra a violência contra as mulheres. Como parte <strong>de</strong>ste<br />

avanço, t<strong>em</strong>os o quadro internacional <strong>de</strong> compromisso com os direitos humanos e a Convenção <strong>de</strong><br />

Belém <strong>do</strong> Pará no âmbito h<strong>em</strong>isférico.<br />

A aprovação <strong>de</strong> leis que tipificam a violência <strong>de</strong> gênero e a violência contra as mulheres tensiona<br />

a dicotomia entre o público e o priva<strong>do</strong> e gera reformas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m legislativa, jurídica e cultural cuja<br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>veria ter repercussões no longo prazo. A criação <strong>de</strong> novos quadros normativos não<br />

<strong>de</strong>rivou numa diminuição <strong>da</strong> violência contra as mulheres, e a evidência assinala que, uma vez a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong><br />

a nova legislação, o principal <strong>de</strong>safio se vincula com o acesso à justiça, com a formulação <strong>de</strong> políticas<br />

públicas e com a criação <strong>de</strong> instituições capazes <strong>de</strong> assegurar sua efetiva aplicação. A violência contra as<br />

mulheres se enquadra num contexto <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong> políticas sociais que impe<strong>de</strong>m<br />

que elas saiam <strong>de</strong>ssa situação. O recurso ao direito penal e a criminalização <strong>de</strong> condutas que constitu<strong>em</strong><br />

formas <strong>de</strong> violência contra as mulheres como estratégia prioritária não substitu<strong>em</strong> as políticas sociais<br />

integrais necessárias para enfrentar este probl<strong>em</strong>a. A violência não po<strong>de</strong> ser analisa<strong>da</strong> ou trata<strong>da</strong> s<strong>em</strong><br />

vinculá-la à <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica, social e cultural que caracteriza as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre homens<br />

e mulheres e é o resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>sigual distribuição <strong>do</strong> trabalho, especialmente <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong>méstico<br />

não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> (CEPAL, 2014b).<br />

No contexto <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia, durante estes 20 anos a eleição <strong>de</strong> mulheres para a presidência<br />

e a chefia <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>em</strong> seis <strong>países</strong> —quatro na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong>is no <strong>Caribe</strong>— revela mu<strong>da</strong>nças<br />

positivas no comportamento eleitoral <strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos. No entanto, a presença <strong>de</strong> mulheres <strong>em</strong> outros<br />

espaços <strong>de</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões é heterogênea e só ocorreu quan<strong>do</strong> as leis <strong>de</strong> cotas foram aplica<strong>da</strong>s s<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>ixar espaço para seu não cumprimento.<br />

Como assinala o relatório <strong>regional</strong> interinstitucional <strong>sobre</strong> os Objetivos <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

<strong>do</strong> Milênio <strong>de</strong> 2010 (CEPAL, 2010b), para obter a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero é preciso não só cumprir os<br />

direitos consagra<strong>do</strong>s <strong>em</strong> múltiplos trata<strong>do</strong>s internacionais, mas também <strong>de</strong>senvolver políticas públicas.<br />

Um fator menciona<strong>do</strong> nos relatórios que aju<strong>da</strong> a enten<strong>de</strong>r os resulta<strong>do</strong>s é a <strong>de</strong>ficiência institucional para<br />

impl<strong>em</strong>entar as políticas.<br />

A coexistência <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> diversas lógicas e direções <strong>de</strong>monstra a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s<br />

transformações <strong>da</strong>s relações <strong>de</strong> gênero: por ex<strong>em</strong>plo, o pre<strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> lógica <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, a inércia<br />

institucional, a difusão <strong>do</strong> enfoque <strong>de</strong> direitos, a focalização como estratégia <strong>de</strong> política social e o novo<br />

papel atribuí<strong>do</strong> ao Esta<strong>do</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Estas transformações são o produto não<br />

só <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong> e <strong>da</strong> ação <strong>do</strong>s atores (movimento f<strong>em</strong>inista ou mecanismos para o avanço <strong>da</strong> mulher no<br />

Esta<strong>do</strong>), mas também <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e restrições ofereci<strong>da</strong>s pelas instituições e <strong>da</strong>s normas que as<br />

reg<strong>em</strong> <strong>em</strong> contextos <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, são os sujeitos e atores sociais que com suas ações<br />

18


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

reproduz<strong>em</strong> e dão senti<strong>do</strong> às instituições. Assim, os programas assistenciais contribuíram para a autonomia<br />

<strong>da</strong>s mulheres <strong>em</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s circunstâncias, mas também as leis contra a violência <strong>de</strong>rivaram <strong>em</strong><br />

acor<strong>do</strong>s e conciliações <strong>de</strong>svantajosas para as mulheres. Isto ocorre porque as regras não são apenas rotinas,<br />

procedimentos, convenções e papéis <strong>em</strong> torno <strong>do</strong>s quais se constrói a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> política, mas também<br />

crenças, paradigmas, códigos culturais, saberes mobiliza<strong>do</strong>s pelos atores que sustentam, elaboram ou<br />

contradiz<strong>em</strong> estas regras (Muller e Surel, 1998; cita<strong>do</strong> por Guzmán e Montaño, 2012).<br />

D. O movimento f<strong>em</strong>inista e <strong>de</strong> mulheres<br />

As mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s não po<strong>de</strong>m ser entendi<strong>da</strong>s s<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rar o papel <strong>do</strong> movimento f<strong>em</strong>inista e<br />

<strong>de</strong> mulheres, cuja evolução é parte indissolúvel <strong>de</strong> um balanço <strong>do</strong>s avanços alcança<strong>do</strong>s pela região <strong>em</strong><br />

matéria <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong>. Os 30 encontros f<strong>em</strong>inistas realiza<strong>do</strong>s na região indicam que o movimento <strong>de</strong><br />

mulheres esteve na orig<strong>em</strong> <strong>da</strong> <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong>, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ntro e fora <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, inspiran<strong>do</strong>, fazen<strong>do</strong><br />

o acompanhamento e critican<strong>do</strong> <strong>de</strong> maneira transversal os avanços ocorri<strong>do</strong>s nas políticas nacionais.<br />

O f<strong>em</strong>inismo facilitou a existência e a impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> uma agen<strong>da</strong> compartilha<strong>da</strong> entre a socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

e o Esta<strong>do</strong>, processo que não esteve livre <strong>de</strong> conflitos e tensões com os parti<strong>do</strong>s políticos e o Esta<strong>do</strong>,<br />

assim como <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> próprio movimento. Apesar <strong>da</strong>s discrepâncias, estabeleceram-se alianças que<br />

favoreceram a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> políticas públicas e a criação <strong>de</strong> mecanismos institucionais para o progresso<br />

<strong>da</strong>s mulheres.<br />

O f<strong>em</strong>inismo apresentou <strong>de</strong>safios para a <strong>de</strong>mocracia e os parti<strong>do</strong>s políticos, para os quais a<br />

<strong>de</strong>mocracia é um sist<strong>em</strong>a que rege a vi<strong>da</strong> pública, enquanto para o f<strong>em</strong>inismo é necessário ampliar a<br />

<strong>de</strong>mocracia <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> família, promoven<strong>do</strong> políticas <strong>de</strong> direitos para to<strong>do</strong>s os seus m<strong>em</strong>bros, incluin<strong>do</strong> a<br />

política <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> sexual. Não foi no terreno <strong>do</strong> “outro” que as mulheres conquistaram liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s, mas<br />

<strong>em</strong> seu próprio território, começan<strong>do</strong> por seus corpos, visualiza<strong>do</strong>s como um terreno <strong>de</strong> disputa entre o<br />

Esta<strong>do</strong> e a família, as leis, os usos e costumes e os direitos individuais e coletivos. Foi ante a rejeição<br />

sist<strong>em</strong>ática às mu<strong>da</strong>nças na esfera familiar (leis contra a violência, saú<strong>de</strong> reprodutiva, distribuição <strong>do</strong><br />

t<strong>em</strong>po) que as militantes f<strong>em</strong>inistas buscaram alianças transversais e amplas <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s, através<br />

<strong>de</strong> diversas re<strong>de</strong>s (Montaño, 2007).<br />

Com o retorno à <strong>de</strong>mocracia e os processos <strong>de</strong> paz na <strong>América</strong> Central, reaparece o f<strong>em</strong>inismo<br />

como projeto político <strong>em</strong> diversos <strong>países</strong> <strong>da</strong> região. Nessa etapa, os avanços foram escassos, mas<br />

significativos. O Conselho Nacional <strong>da</strong>s Mulheres foi cria<strong>do</strong> no Brasil com a Constituição <strong>de</strong> 1988;<br />

no Chile, <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> luta contra a ditadura, foi cria<strong>do</strong> o Serviço Nacional <strong>da</strong>s Mulheres (SERNAM);<br />

na Argentina abr<strong>em</strong>-se as portas para aprovar as leis <strong>de</strong> participação f<strong>em</strong>inina nas listas <strong>de</strong> candi<strong>da</strong>tos.<br />

Estes avanços transcen<strong>de</strong>ram as fronteiras e se converteram <strong>em</strong> mo<strong>de</strong>los para outros <strong>países</strong> (Montaño<br />

e Sanz, 2009).<br />

Ao longo <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> coberto por esta <strong>avaliação</strong>, o movimento f<strong>em</strong>inista e <strong>de</strong> mulheres,<br />

assim como os próprios mecanismos para o progresso <strong>da</strong> mulher, foram <strong>em</strong> certo senti<strong>do</strong> a contracorrente<br />

<strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los econômicos, políticos e institucionais <strong>do</strong>minantes e abriram espaços, assentaram bases<br />

e construíram novas instituições <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s (Guzmán e Montaño, 2012; CEPAL, 2011).<br />

Estes avanços expressaram-se na ratificação <strong>da</strong> Convenção <strong>sobre</strong> a Eliminação <strong>de</strong> To<strong>da</strong>s as Formas<br />

<strong>de</strong> Discriminação contra a Mulher, a eliminação <strong>da</strong> legislação abertamente discriminatória contra as<br />

mulheres 25 , a constitucionalização <strong>de</strong> convenções internacionais <strong>de</strong> direitos humanos, a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> leis<br />

<strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong>, a aprovação <strong>de</strong> leis <strong>sobre</strong> violência e um conjunto <strong>de</strong> normas e regulamentos inspira<strong>do</strong>s<br />

tanto na <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> como nas recomen<strong>da</strong>ções <strong>da</strong> Convenção.<br />

A consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> paz exige a participação <strong>da</strong>s mulheres. Em 2015 terá lugar o décimo quinto<br />

aniversário <strong>da</strong> resolução 1325 (<strong>2000</strong>) <strong>do</strong> Conselho <strong>de</strong> Segurança <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s, relativa à mulher,<br />

25<br />

Veja a compilação <strong>de</strong> observações finais <strong>do</strong> Comitê para a Eliminação <strong>da</strong> Discriminação contra a Mulher, <strong>em</strong> que se<br />

insta os Esta<strong>do</strong>s a cumprir a legislação vigente (CEPAL/ACNUDH, 2005).<br />

19


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

à paz e à segurança. Esta resolução reconheceu o efeito diferencia<strong>do</strong> por sexo <strong>do</strong>s conflitos arma<strong>do</strong>s<br />

e situações <strong>de</strong> pós-conflito e insegurança e estabeleceu a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> incorporar as mulheres na<br />

prevenção e resolução <strong>de</strong> conflitos e nos processos <strong>de</strong> construção <strong>da</strong> paz. Se as mulheres sofr<strong>em</strong> violência<br />

e insegurança, não há paz ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira, que por sua vez constitui uma pr<strong>em</strong>issa para o <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Com o fim <strong>de</strong> promover o compromisso com o t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> gênero, paz e segurança no âmbito nacional,<br />

o Secretário-<strong>Geral</strong> <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s convi<strong>do</strong>u os <strong>países</strong> a elaborar planos nacionais <strong>de</strong> ação para a<br />

impl<strong>em</strong>entação <strong>da</strong> resolução 1325 (<strong>2000</strong>) <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a contar com compromissos exigíveis, com objetivos<br />

que estabeleçam ações específicas, <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong> recursos e responsáveis num prazo <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>. Na<br />

região <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>, <strong>do</strong>is <strong>países</strong> elaboraram planos: Chile (2009) e Paraguai (2013);<br />

El Salva<strong>do</strong>r está <strong>em</strong> processo <strong>de</strong> elaboração. Além disso, a Argentina conta com um plano setorial <strong>do</strong><br />

Ministério <strong>de</strong> Defesa. Estes planos constitu<strong>em</strong> um esforço intersetorial que se enquadra nos processos <strong>de</strong><br />

transversalização <strong>da</strong> perspectiva <strong>de</strong> gênero nas políticas públicas, particularmente no âmbito <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa.<br />

O movimento f<strong>em</strong>inista atuou a partir <strong>de</strong> organizações não governamentais, re<strong>de</strong>s e espaços<br />

próprios e contribuiu para a criação <strong>de</strong> um novo tipo <strong>de</strong> instituição pública e para a circulação <strong>de</strong><br />

novas i<strong>de</strong>ias e <strong>de</strong> um discurso <strong>de</strong>mocrático, cujos efeitos transforma<strong>do</strong>res <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m institucional foram<br />

resulta<strong>do</strong> não só <strong>de</strong> alianças com forças políticas e sociais, mas também <strong>de</strong> sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> alterar as<br />

rotinas <strong>da</strong> cultura patriarcal e <strong>de</strong> pressionar para mu<strong>da</strong>r as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que a igual<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

entre os sexos vá se transforman<strong>do</strong> <strong>em</strong> um objetivo <strong>de</strong> política pública (Guzmán e Montaño, 2012).<br />

Apesar <strong>da</strong>s críticas e discrepâncias, estabeleceram-se alianças que favoreceram a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> políticas<br />

públicas e a criação <strong>de</strong> mecanismos institucionais. Em alguns <strong>países</strong>, a aliança <strong>do</strong>s governos com as<br />

organizações <strong>de</strong> mulheres mostrou uma evolução muito importante, como no caso <strong>do</strong> Brasil, on<strong>de</strong> a<br />

Secretaria <strong>de</strong> Políticas para as Mulheres institucionalizou os encontros <strong>de</strong> mulheres como parte <strong>do</strong><br />

processo <strong>de</strong> formulação <strong>da</strong>s políticas públicas 26 .<br />

A associação <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero com as políticas sociais permite que a maioria <strong>do</strong>s<br />

mecanismos para o progresso <strong>da</strong> mulher encontre janelas <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> para operar <strong>sobre</strong> essas<br />

políticas. Na maioria <strong>do</strong>s casos, isso foi possível graças a uma ação <strong>de</strong> promoção (advocacy) prévia, que<br />

evi<strong>de</strong>ncia a importância <strong>da</strong> ação conjunta <strong>da</strong>s f<strong>em</strong>inistas <strong>de</strong>ntro e fora <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

O universal, historicamente restringi<strong>do</strong> a grupos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r majoritariamente masculinos e<br />

m<strong>em</strong>bros <strong>da</strong>s elites governantes e coloniais, se alterou e ampliou com a presença <strong>da</strong>s mulheres, que,<br />

proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as culturas, ganharam espaços <strong>de</strong> interlocução e representação. As mulheres<br />

indígenas são o ex<strong>em</strong>plo mais recente <strong>de</strong> <strong>em</strong>ancipação <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>s caciques e um <strong>do</strong>s principais<br />

<strong>de</strong>safios na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nos últimos anos, surgiram correntes antimachistas <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s movimentos<br />

indigenistas no Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, Equa<strong>do</strong>r e Guat<strong>em</strong>ala. As mulheres indígenas, <strong>da</strong><br />

mesma forma que as afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, impulsionaram a articulação <strong>da</strong> luta pela igual<strong>da</strong><strong>de</strong> com suas<br />

<strong>de</strong>man<strong>da</strong>s a favor <strong>do</strong>s direitos coletivos.<br />

A partir <strong>de</strong> diversos âmbitos, as mulheres construíram agen<strong>da</strong>s <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> nos povos indígenas<br />

e afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes e também entre mulheres <strong>de</strong> diversas origens e i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Em vários <strong>países</strong> surgiu<br />

uma li<strong>de</strong>rança f<strong>em</strong>inista e afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, como no Brasil, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolve um diálogo <strong>de</strong>mocrático<br />

<strong>sobre</strong> o reconhecimento e a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> para as <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s específicas <strong>da</strong>s mulheres negras, cuja<br />

exclusão foi amplamente <strong>do</strong>cumenta<strong>da</strong>. As mulheres indígenas também apresentaram sua <strong>de</strong>man<strong>da</strong> por<br />

representação (Nações Uni<strong>da</strong>s, 2004). Como resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>bate, o Brasil li<strong>de</strong>ra a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

articular as reivindicações <strong>da</strong>s mulheres afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes com as <strong>da</strong>s outras mulheres <strong>em</strong> sua luta pela<br />

igual<strong>da</strong><strong>de</strong>. O f<strong>em</strong>inismo latino-americano foi pioneiro na <strong>de</strong>núncia <strong>da</strong> discriminação racial e étnica para<br />

construir relações horizontais entre mulheres.<br />

26<br />

Antígua e Barbu<strong>da</strong>, Argentina, Brasil, Cuba, El Salva<strong>do</strong>r, Grana<strong>da</strong>, Guiana, México, Suriname e Uruguai informam<br />

diversas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> alianças com distinto grau <strong>de</strong> institucionalização, que abrang<strong>em</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a participação<br />

<strong>de</strong> organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil <strong>em</strong> encontros maciços <strong>de</strong> consulta (Brasil e Cuba), conselhos consultivos ou<br />

assessores (Brasil, Argentina, México e Uruguai) até a realização <strong>de</strong> consultas <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> leis <strong>sobre</strong> violência,<br />

participação política e outros t<strong>em</strong>as específicos que implicam incidência <strong>em</strong> outros po<strong>de</strong>res <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

20


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

As mu<strong>da</strong>nças sociopolíticas ocorri<strong>da</strong>s nas últimas déca<strong>da</strong>s, nas quais os povos e as mulheres<br />

indígenas conseguiram se posicionar como sujeitos <strong>de</strong> direito reformulan<strong>do</strong> sua relação com o Esta<strong>do</strong>,<br />

se traduziram na criação <strong>de</strong> novas instâncias institucionais encarrega<strong>da</strong>s <strong>de</strong> promover e formular<br />

políticas e programas específicos para garantir o cumprimento <strong>de</strong> seus direitos. Em ambas as agen<strong>da</strong>s<br />

—isto é, a <strong>do</strong>s povos e a <strong>da</strong>s mulheres—, os avanços ocorreram com fluxos e refluxos, avanços,<br />

contradições e ambigui<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> contexto sociopolítico, quadros constitucionais e grau<br />

<strong>de</strong> compromisso <strong>do</strong>s <strong>países</strong> com os acor<strong>do</strong>s internacionais. A institucionalização <strong>do</strong>s t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> gênero e<br />

<strong>do</strong>s povos indígenas é heterogênea, já que a forma <strong>em</strong> que estes assuntos são incorpora<strong>do</strong>s e apropria<strong>do</strong>s<br />

respon<strong>de</strong> às especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s nacionais e regionais (CEPAL, 2007; Guzmán e Montaño, 2012). Os povos<br />

indígenas irromp<strong>em</strong> como novos atores sociais a partir <strong>da</strong>s lutas <strong>de</strong> reconhecimento <strong>de</strong> seus direitos,<br />

inicia<strong>da</strong>s com a com<strong>em</strong>oração <strong>do</strong>s 500 anos <strong>da</strong> conquista <strong>da</strong> <strong>América</strong>, que provocou mobilizações e<br />

<strong>de</strong>bates <strong>em</strong> diversos <strong>países</strong> <strong>da</strong> região.<br />

A incorporação <strong>do</strong>s aspectos <strong>de</strong> gênero e <strong>do</strong>s povos indígenas nas políticas públicas posicionou<br />

novos t<strong>em</strong>as e enfoques <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. No caso <strong>do</strong>s povos indígenas, foram incorpora<strong>da</strong>s nas agen<strong>da</strong>s<br />

públicas dimensões como os direitos coletivos e territoriais, a auto<strong>de</strong>terminação, a participação plena<br />

e o consenso pleno, livre e informa<strong>do</strong>, a preservação <strong>da</strong> natureza e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, assim como o<br />

multiculturalismo, a plurietnici<strong>da</strong><strong>de</strong> e a interculturali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Entretanto, os tópicos <strong>da</strong> discriminação, <strong>do</strong><br />

racismo e <strong>da</strong> intolerância são transversais a ambos os enfoques. Além disso, ultimamente ambas as<br />

agen<strong>da</strong>s incorporaram novos conceitos <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia: no caso <strong>do</strong> gênero, o <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia <strong>em</strong>ergente,<br />

que vincula este enfoque com as políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e o meio ambiente; no caso<br />

<strong>do</strong>s povos indígenas, a noção <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia diversa e inclusiva, que também inclui as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes e outros grupos étnicos (CEPAL, 2013c).<br />

Embora na institucionalização <strong>do</strong>s t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> gênero e étnicos na região só possamos i<strong>de</strong>ntificar<br />

<strong>do</strong>is mecanismos (instâncias específicas e impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> instâncias <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação intersetorial),<br />

no campo <strong>do</strong>s direitos as ações se orientam a promover a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e a participação <strong>da</strong>s mulheres<br />

indígenas nos espaços <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão no âmbito local e nacional para transformar as condições <strong>de</strong> opressão,<br />

exclusão e discriminação que as afetam. No entanto, na maioria <strong>do</strong>s <strong>países</strong> <strong>da</strong> região ain<strong>da</strong> persist<strong>em</strong><br />

lacunas consi<strong>de</strong>ráveis na disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>sobre</strong> as condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres indígenas,<br />

situação que <strong>de</strong>ve ser reverti<strong>da</strong> à luz <strong>da</strong>s novas obrigações estatais. As mulheres indígenas sofr<strong>em</strong> <strong>do</strong><br />

racismo estrutural e <strong>do</strong> patriarca<strong>do</strong> e estabeleceram canais <strong>de</strong> comunicação com outros movimentos<br />

sociais, compartilhan<strong>do</strong> lutas e certas <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, o novo milênio <strong>de</strong>u lugar a um ressurgimento <strong>da</strong> mobilização <strong>da</strong>s associações<br />

f<strong>em</strong>inistas <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> globalização, mu<strong>da</strong>nça climática e socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> informação. Nesses âmbitos,<br />

parece se reproduzir a lógica <strong>de</strong> subordinação e per<strong>da</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, acompanha<strong>da</strong> <strong>do</strong> reconhecimento,<br />

motivo pelo qual a legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> com subordinação ou <strong>em</strong>po<strong>de</strong>ramento e autonomia pareceria ser o<br />

dil<strong>em</strong>a <strong>do</strong> movimento f<strong>em</strong>inista, que só governa quan<strong>do</strong> ingressa na corrente principal <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia<br />

por meio <strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s e <strong>da</strong>s políticas públicas, ou se mantém no âmbito <strong>da</strong> interpelação e revolta,<br />

favorecen<strong>do</strong> exagera<strong>da</strong>mente a autonomia organizacional.<br />

Paralelamente ao movimento f<strong>em</strong>inista, o movimento ecologista impulsionou a toma<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> consciência ambientalista. Ao longo <strong>do</strong>s últimos anos, aperfeiçoaram-se as leis e instituições<br />

<strong>de</strong>dica<strong>da</strong>s ao t<strong>em</strong>a ambiental e o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável se instalou como conceito no<br />

contexto <strong>da</strong>s políticas públicas, <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>s três pilares <strong>da</strong>s políticas: sociais, econômicas<br />

e ambientais. Na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, os direitos e <strong>de</strong>veres <strong>sobre</strong> o meio ambiente estão consagra<strong>do</strong>s na<br />

maioria <strong>da</strong>s constituições políticas <strong>do</strong>s <strong>países</strong> <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>. Além disso, <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s<br />

os <strong>países</strong> <strong>da</strong> região foram aprova<strong>da</strong>s leis gerais <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a, algumas <strong>da</strong>s quais já passaram por<br />

processos <strong>de</strong> reforma, às quais se somou legislação compl<strong>em</strong>entar que incorpora instrumentos e<br />

princípios conti<strong>do</strong>s na <strong>Declaração</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>sobre</strong> Meio Ambiente e Desenvolvimento. Além disso,<br />

to<strong>do</strong>s os <strong>países</strong> <strong>da</strong> região têm atualmente um ministério, secretaria ou órgão equivalente <strong>de</strong>dica<strong>do</strong><br />

ao meio ambiente.<br />

21


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Quanto às realizações <strong>do</strong> movimento f<strong>em</strong>inista latino-americano, po<strong>de</strong>mos citar a representação<br />

política paritária (muitas vezes graças às cotas); a inserção nas políticas públicas <strong>da</strong> contabilização<br />

<strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong>méstico não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>; a luta contra a violência contra as mulheres, que conseguiu<br />

<strong>de</strong>rrubar <strong>em</strong> vários <strong>países</strong> a fronteira entre o público e o priva<strong>do</strong>, pon<strong>do</strong> fim à impuni<strong>da</strong><strong>de</strong>; no âmbito<br />

<strong>da</strong>s políticas públicas, a transversalização <strong>da</strong> perspectiva <strong>de</strong> gênero; o enriquecimento <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong><br />

direitos humanos; a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> uma noção <strong>de</strong> discriminação, ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e <strong>de</strong>mocracia, que supera as<br />

ten<strong>de</strong>nciosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> gênero; o direito à representação e voz pública frente às vozes confessionais que<br />

pugnam por colocar a mulher como ator reconheci<strong>do</strong>, mas s<strong>em</strong> autonomia; quanto ao reconhecimento<br />

<strong>do</strong>s direitos reprodutivos e <strong>de</strong>spenalização <strong>do</strong> aborto, foram <strong>da</strong><strong>do</strong>s passos significativos e abriu-se um<br />

caminho para a reflexão <strong>sobre</strong> a separação entre o Esta<strong>do</strong> e a Igreja.<br />

Apesar <strong>do</strong>s avanços, exist<strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios que implicam confrontações entre correntes<br />

políticas e sociais <strong>sobre</strong> a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>seja<strong>da</strong>. A <strong>de</strong>ficiência <strong>do</strong> multilateralismo implica que a agen<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

direitos humanos está ameaça<strong>da</strong> pela agen<strong>da</strong> <strong>de</strong> segurança, o que questiona a legali<strong>da</strong><strong>de</strong> internacional<br />

e ero<strong>de</strong> o princípio <strong>de</strong> presunção <strong>de</strong> inocência como conquista <strong>da</strong> civilização. A <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> tolera<strong>da</strong><br />

e a segurança converti<strong>da</strong> no valor supr<strong>em</strong>o <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s faz com que as leis e normas jurídicas a<strong>do</strong>t<strong>em</strong><br />

um enfoque punitivo, isto é: “castigar antes que comprovar”. Houve um retrocesso na região e um<br />

ressurgimento na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> <strong>do</strong>s discursos conserva<strong>do</strong>res que propõ<strong>em</strong> a oposição à pílula <strong>do</strong> dia<br />

seguinte, a rejeição ao aborto e a exaltação <strong>da</strong> família única como espaço <strong>de</strong> proteção questionan<strong>do</strong><br />

os direitos conquista<strong>do</strong>s há várias déca<strong>da</strong>s, como o divórcio ou o aborto terapêutico. A i<strong>de</strong>ologia <strong>da</strong><br />

família como valor, como instituição, como forma e conteú<strong>do</strong>s únicos e intransformáveis, favoreceu<br />

o ressurgimento <strong>da</strong> aliança entre os setores conserva<strong>do</strong>res. Em consequência, apagam-se os traços<br />

<strong>de</strong>ficientes <strong>de</strong> laici<strong>da</strong><strong>de</strong> e tolerância à liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> culto e ressurge com êxito a oposição ao aborto, a<br />

principal causa <strong>de</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna. Frente à insegurança ambiental e política, a agen<strong>da</strong> <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

per<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e os governos se concentram na diminuição <strong>da</strong> pobreza adian<strong>do</strong> a igual<strong>da</strong><strong>de</strong>. O <strong>de</strong>safio <strong>de</strong>ste<br />

século consiste <strong>em</strong> fortalecer os avanços obti<strong>do</strong>s e também recuperar, reconstruir e priorizar a agen<strong>da</strong><br />

f<strong>em</strong>inista, articulan<strong>do</strong>-a com a <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s direitos humanos e a sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> planeta.<br />

22


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

II. Principais avanços na aplicação<br />

<strong>da</strong> <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong><br />

na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e no <strong>Caribe</strong><br />

Em geral, a situação <strong>da</strong>s mulheres na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e no <strong>Caribe</strong> melhorou a um ritmo lento, mas<br />

sustenta<strong>do</strong>, durante estes 20 anos. To<strong>da</strong>via, os avanços foram <strong>de</strong>siguais e n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre nas mesmas<br />

áreas, motivo pelo qual o progresso apresenta um quadro muito heterogêneo. Observam-se diferenças<br />

importantes entre <strong>países</strong> e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>les, especialmente <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento <strong>do</strong>s habitantes <strong>de</strong> zonas rurais e<br />

mulheres indígenas e afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, as quais experimentam múltiplas discriminações que agravam<br />

as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s estruturais que caracterizam a região 27 . A maioria <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s melhora<br />

as condições para o exercício <strong>da</strong> autonomia por parte <strong>da</strong>s mulheres, enquanto os <strong>de</strong>safios consist<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> consoli<strong>da</strong>r os avanços ante os riscos reais <strong>de</strong> retrocesso, seja por causas econômicas, políticas ou<br />

culturais, indica<strong>da</strong>s com muita clareza nos relatórios apresenta<strong>do</strong>s pelos governos 28 .<br />

A autonomia <strong>da</strong>s mulheres —tanto na vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong> como na esfera pública— é fun<strong>da</strong>mental<br />

para garantir o respeito, exercício e gozo <strong>de</strong> seus direitos humanos e para obter a igual<strong>da</strong><strong>de</strong>. O<br />

<strong>em</strong>po<strong>de</strong>ramento e a autonomia <strong>da</strong>s mulheres são processos individuais e políticos que é importante<br />

diferenciar. O <strong>em</strong>po<strong>de</strong>ramento refere-se ao processo <strong>de</strong> <strong>em</strong>ancipação e alu<strong>de</strong> à subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> individual<br />

e coletiva <strong>da</strong>s mulheres que tentam atuar como sujeitos sociais na vi<strong>da</strong> pública. A autonomia alu<strong>de</strong> à<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> que as pessoas têm para atuar <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com sua própria escolha e não com a <strong>de</strong> outros;<br />

é resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>em</strong>po<strong>de</strong>ramento e, por sua vez, o reforça; a autonomia é relativa ao contexto e ao<br />

grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. O <strong>em</strong>po<strong>de</strong>ramento amplifica as vozes <strong>da</strong>s mulheres e<br />

se expressa na capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> incidência política, enquanto a autonomia é resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças<br />

produzi<strong>da</strong>s na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> tanto na ampliação <strong>de</strong> seus espaços <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> como na redução <strong>da</strong>s<br />

brechas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>. Por razões analíticas, distingu<strong>em</strong>-se três pilares: a autonomia econômica<br />

(a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> para gerar ren<strong>da</strong> própria e controlar ativos e recursos), a autonomia física (o controle<br />

<strong>sobre</strong> seu próprio corpo) e a autonomia na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões (o fortalecimento <strong>da</strong> voz pública <strong>da</strong>s<br />

mulheres e a plena participação nas <strong>de</strong>cisões que afetam suas vi<strong>da</strong>s e sua coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong>).<br />

27<br />

Veja CEPAL (2010d) e os Consensos <strong>de</strong> Quito (2007), Brasília (2010) e Santo Domingo (2013), b<strong>em</strong> como o<br />

Consenso <strong>de</strong> Montevidéu <strong>sobre</strong> População e Desenvolvimento (2013).<br />

28<br />

Veja a seção <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s e estatísticas.<br />

23


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Os relatórios oferec<strong>em</strong> evidências <strong>sobre</strong> avanços importantes no âmbito jurídico e institucional:<br />

a transversalização <strong>da</strong> perspectiva <strong>de</strong> gênero nas políticas e participação política, dimensões com peso<br />

distinto <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> país e, portanto, com resulta<strong>do</strong>s diferencia<strong>do</strong>s a respeito <strong>de</strong> sua autonomia política. A<br />

impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> políticas e programas para enfrentar a violência contra as mulheres é um âmbito <strong>de</strong><br />

avanços importantes, <strong>em</strong>bora as cifras <strong>da</strong> violência sejam motivo <strong>de</strong> enorme preocupação. Os direitos<br />

sexuais e reprodutivos ain<strong>da</strong> são uma tarefa pen<strong>de</strong>nte que limita fort<strong>em</strong>ente a autonomia física <strong>da</strong>s<br />

mulheres. A redução <strong>da</strong> pobreza, o aumento <strong>da</strong> participação <strong>da</strong>s mulheres no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho,<br />

a educação e a proteção social mostram cifras positivas, <strong>em</strong>bora marca<strong>da</strong>s por um viés <strong>de</strong> gênero<br />

muito notório e pela aplicação <strong>de</strong> políticas econômicas que não consi<strong>de</strong>ram seus efeitos diferencia<strong>do</strong>s<br />

nos resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s, como se verá nas seções respectivas. De maneira geral, po<strong>de</strong>-se afirmar que,<br />

se compararmos a situação <strong>da</strong>s mulheres com a <strong>do</strong>s homens <strong>da</strong> mesma categoria socioeconômica,<br />

populacional e cultural, elas aparec<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong>, <strong>em</strong>bora certamente sejam as mulheres<br />

pobres que concentram os efeitos negativos <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as discriminações. Um ponto à parte é o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estatísticas <strong>de</strong> gênero, imprescindíveis para a análise diferencia<strong>da</strong> entre homens e<br />

mulheres (veja a seção <strong>sobre</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s e estatísticas).<br />

A. Avanços na autonomia na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões<br />

1. Marco jurídico e institucional<br />

O quase <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> leis abertamente discriminatórias é um <strong>do</strong>s avanços mais generaliza<strong>do</strong>s e<br />

abrange to<strong>do</strong>s os <strong>países</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> seu nível <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>. Em alguns casos, o reconhecimento<br />

explícito <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre homens e mulheres é recente 29 , enquanto <strong>em</strong> outros se <strong>de</strong>stacam<br />

avanços impensáveis há 20 anos, como a a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> gênero nas normas institucionais, o<br />

reconhecimento <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> famílias e as reformas <strong>do</strong> matrimônio 30 , que, além <strong>de</strong> sua importância<br />

jurídica, <strong>de</strong>monstram que ocorreram mu<strong>da</strong>nças culturais significativas. A lei argentina <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> gênero (número 26.743, promulga<strong>da</strong> <strong>em</strong> 2012), que reconhece o direito <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> pessoa à i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

autopercebi<strong>da</strong> <strong>de</strong> gênero, e a lei <strong>de</strong> matrimônio igualitário 31 , pela qual se equiparam por completo os<br />

direitos <strong>do</strong>s matrimônios forma<strong>do</strong>s por casais heterossexuais e homossexuais 32 , são ex<strong>em</strong>plos disso. A<br />

lei <strong>de</strong> matrimônio igualitário <strong>do</strong> Uruguai 33 , que habilita o matrimônio entre pessoas <strong>do</strong> mesmo sexo, e a<br />

lei 18.987 <strong>de</strong> interrupção voluntária <strong>da</strong> gravi<strong>de</strong>z, aprova<strong>da</strong> recent<strong>em</strong>ente nesse país, também constitu<strong>em</strong><br />

outros ex<strong>em</strong>plos. O Brasil reconhece também a família homoafetiva, que implica o matrimônio <strong>de</strong> duas<br />

pessoas <strong>do</strong> mesmo sexo 34 .<br />

Praticamente to<strong>do</strong>s os relatórios indicam que as novas normas e leis facilitaram a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong><br />

políticas, mas também assinalam que muitas vezes encontram resistência na persistência <strong>de</strong> estereótipos,<br />

tolerância social à discriminação e ausência <strong>de</strong> leis antidiscriminação que possam ser cumpri<strong>da</strong>s. Em<br />

vários <strong>países</strong> <strong>da</strong> região, a escala<strong>da</strong> <strong>de</strong> discussão impulsiona<strong>da</strong> por grupos conserva<strong>do</strong>res po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> um retrocesso, particularmente no caso <strong>de</strong> leis que favorec<strong>em</strong> o avanço <strong>do</strong>s direitos <strong>da</strong>s<br />

mulheres no âmbito eleitoral, educativo e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

29<br />

A Constituição <strong>da</strong> República Dominicana <strong>de</strong> 2010 incorpora pela primeira vez, após 166 anos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> republicana<br />

e 37 versões constitucionais, o princípio <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre homens e mulheres e con<strong>de</strong>na to<strong>da</strong>s as formas <strong>de</strong><br />

discriminação.<br />

30<br />

A Argentina, o Uruguai, a Colômbia e o Brasil têm algum tipo <strong>de</strong> norma <strong>sobre</strong> matrimônio igualitário.<br />

31<br />

Lei 26.618 <strong>de</strong> 2010.<br />

32<br />

Durante a Quarta Conferência Mundial <strong>sobre</strong> a Mulher, alguns <strong>países</strong> <strong>da</strong> região, como Argentina, Costa Rica,<br />

Guat<strong>em</strong>ala, Honduras e República Dominicana, manifestaram objeções aos conceitos <strong>de</strong> gênero, família e matrimônio.<br />

Veja o relatório <strong>da</strong> Quarta Conferência Mundial <strong>sobre</strong> a Mulher (Nações Uni<strong>da</strong>s, 1995).<br />

33<br />

Lei 19.075 <strong>de</strong> 2013.<br />

34<br />

Resolução 175, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2013, <strong>do</strong> Brasil.<br />

24


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Vários <strong>países</strong> <strong>de</strong>stacam a importância <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças quan<strong>do</strong> faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong> reformas<br />

constitucionais, ass<strong>em</strong>bleias constituintes, reformas econômicas e políticas ou processos <strong>de</strong> paz. Por<br />

outro la<strong>do</strong>, a falta <strong>de</strong> sincronia entre as políticas <strong>de</strong> gênero e a direção geral <strong>do</strong>s processos políticos é um<br />

fator que afeta negativamente os esforços inegáveis realiza<strong>do</strong>s pelos <strong>países</strong> e explica <strong>em</strong> boa medi<strong>da</strong> o<br />

atraso no cumprimento <strong>de</strong> metas, a reaparição permanente <strong>de</strong> ameaças à continui<strong>da</strong><strong>de</strong> e a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> para<br />

consoli<strong>da</strong>r as mu<strong>da</strong>nças, seja nos mecanismos nacionais ou no âmbito municipal, judicial e legislativo.<br />

Os avanços na autonomia na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões ocorreram graças a reformas institucionais<br />

no po<strong>de</strong>r executivo, po<strong>de</strong>r legislativo, sist<strong>em</strong>a eleitoral e justiça. Estas reformas permitiram mais<br />

representação e participação e, <strong>sobre</strong>tu<strong>do</strong>, a impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> agen<strong>da</strong>s <strong>de</strong> gênero explícitas por<br />

meio <strong>de</strong> planos, políticas e orçamentos 35 . Estas políticas são possíveis, na maioria <strong>do</strong>s casos, quan<strong>do</strong><br />

o movimento <strong>de</strong> mulheres, os parti<strong>do</strong>s políticos e os governos se alinham para obtê-las. No âmbito<br />

institucional, quase to<strong>do</strong>s os <strong>países</strong> indicam que a criação <strong>de</strong> ministérios, conselhos e outras enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

é um passo importante, e alguns informam avanços nos processos <strong>de</strong> transversalização <strong>da</strong> perspectiva<br />

<strong>de</strong> gênero nos planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, nos processos <strong>de</strong> planejamento, na <strong>de</strong>scentralização e nos<br />

orçamentos (CARICOM, 2014).<br />

Apesar <strong>de</strong> alguns retrocessos, os mecanismos para o avanço <strong>da</strong> mulher (MAM) ten<strong>de</strong>m a subir<br />

na hierarquia <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r executivo, b<strong>em</strong> como a assumir crescent<strong>em</strong>ente funções orienta<strong>do</strong>ras, normativas<br />

e <strong>de</strong> formulação <strong>de</strong> políticas, o que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como um indica<strong>do</strong>r <strong>do</strong> cumprimento <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s<br />

compromissos assumi<strong>do</strong>s <strong>em</strong> <strong>Pequim</strong> (veja o gráfico II.1) A criação <strong>do</strong>s MAM por lei <strong>em</strong> vários <strong>países</strong><br />

mostra o reconhecimento público e político que favorece a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> —com alguma frequência<br />

suscetível <strong>de</strong> interrupção— ante mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> governo e reestruturações <strong>de</strong> gabinete 36 .<br />

Gráfico II.1<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: nível hierárquico <strong>do</strong>s mecanismos para o avanço <strong>da</strong> mulher,<br />

déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 e 2013<br />

(Em percentagens)<br />

Chile<br />

Costa Rica<br />

Paraguai<br />

Brasil<br />

Colômbia<br />

Honduras<br />

Rep. Dominicana<br />

Venezuela (Rep. Bol. <strong>da</strong>)<br />

Argentina<br />

Bolívia (Est. Plur. <strong>da</strong>)<br />

Cuba<br />

Equa<strong>do</strong>r<br />

El Salva<strong>do</strong>r<br />

Guat<strong>em</strong>ala<br />

México<br />

Nicarágua<br />

Panamá<br />

Peru<br />

Porto Rico<br />

Uruguai<br />

15<br />

25<br />

60<br />

60<br />

15<br />

25<br />

Brasil<br />

Chile<br />

Costa Rica<br />

Cuba<br />

Guat<strong>em</strong>ala<br />

Honduras<br />

México<br />

Nicarágua<br />

Paraguai<br />

Peru<br />

Rep. Dominicana<br />

Venezuela (Rep. Bol. <strong>da</strong>)<br />

Colômbia<br />

Equa<strong>do</strong>r<br />

Porto Rico<br />

Argentina<br />

Bolívia (Est. Plur. <strong>da</strong>)<br />

El Salva<strong>do</strong>r<br />

Panamá<br />

Uruguai<br />

Déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 2013<br />

Baixo Médio Alto<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong><br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>.<br />

35<br />

Veja Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> [on-line] http://www.cepal.org/cgi-bin/<br />

getProd.asp?xml=/oig/agrupa<strong>do</strong>res_xml/aes854.xml&xsl=/oig/agrupa<strong>do</strong>res_xml/agrupa_lista<strong>do</strong>.xsl&base=/oig/tpl/<br />

top-bottom.xsl.<br />

36<br />

O Chile, por ex<strong>em</strong>plo, está discutin<strong>do</strong> um projeto <strong>de</strong> lei para converter o Serviço Nacional <strong>da</strong> Mulher <strong>em</strong> Ministério<br />

<strong>da</strong> Mulher e Equi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero.<br />

25


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

O reconhecimento legislativo <strong>do</strong>s MAM aumenta as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> acessar recursos e contar<br />

com uma <strong>do</strong>tação orçamentária própria e, o que é ain<strong>da</strong> mais importante, fornece o quadro necessário<br />

para frear as tendências <strong>de</strong> atribuir-lhes o papel <strong>de</strong> opera<strong>do</strong>res políticos, executores <strong>de</strong> projetos ou<br />

sucedâneos <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> família. Essa é uma razão pela qual, nos últimos anos, a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> novos<br />

marcos jurídicos contribuiu para romper costumes arraiga<strong>do</strong>s, como os que aceitavam que os programas<br />

para mulheres fizess<strong>em</strong> parte <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s primeiras-<strong>da</strong>mas ou <strong>de</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s assistenciais 37 . No<br />

<strong>Caribe</strong>, os MAM foram estabeleci<strong>do</strong>s <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> Primeira Conferência Mundial <strong>sobre</strong> a Mulher; como<br />

assinala a CARICOM, a maioria <strong>de</strong>sses mecanismos não conta com um man<strong>da</strong>to claro, t<strong>em</strong> poucos<br />

funcionários (ain<strong>da</strong> menos que tenham si<strong>do</strong> capacita<strong>do</strong>s ou que estejam qualifica<strong>do</strong>s para o t<strong>em</strong>a), t<strong>em</strong><br />

pouco acesso a outras instituições <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e carece <strong>de</strong> informação <strong>de</strong>sagrega<strong>da</strong> por sexo que po<strong>de</strong>ria<br />

ser utiliza<strong>da</strong> na formulação <strong>de</strong> políticas públicas e programas.<br />

As políticas <strong>de</strong> gênero na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e no <strong>Caribe</strong> são <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s, <strong>em</strong> primeiro lugar, pela<br />

legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>. Em sua maioria, são fruto <strong>da</strong> mobilização <strong>da</strong>s organizações f<strong>em</strong>inistas e <strong>de</strong><br />

mulheres, aliança que <strong>em</strong> vários <strong>países</strong> persiste e <strong>em</strong> outros se enfraqueceu, mas que <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os casos é<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> <strong>de</strong>sejável e necessária. Em segun<strong>do</strong> lugar, trata-se <strong>de</strong> políticas disruptivas <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista<br />

cultural e político, o que obriga muitas vezes a realizar negociações e ações <strong>de</strong> incidência e pe<strong>da</strong>gogia<br />

social para ampliar vonta<strong>de</strong>s. Estas políticas põ<strong>em</strong> <strong>em</strong> evidência algo que, mesmo óbvio, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser<br />

importante: a falta <strong>de</strong> recursos, soma<strong>da</strong> a resistências culturais <strong>do</strong>s encarrega<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s <strong>de</strong>cisões e opera<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> programas, frequent<strong>em</strong>ente produz ameaças à estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> institucional e, portanto, enfraquece o avanço<br />

<strong>do</strong>s direitos <strong>da</strong>s mulheres. Durante 20 anos, <strong>em</strong> mais <strong>de</strong> 10 ocasiões procurou-se dissolver ou limitar o<br />

alcance <strong>do</strong>s mecanismos tentan<strong>do</strong> fundi-los com políticas <strong>de</strong> família, limitá-los a grupos vulneráveis ou<br />

consi<strong>de</strong>rá-los como políticas assistenciais. Na maioria <strong>do</strong>s casos, a mobilização ativa <strong>da</strong>s organizações <strong>de</strong><br />

mulheres e <strong>da</strong> Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> impediu a ocorrência<br />

<strong>de</strong> retrocessos institucionais. É nesse contexto que se <strong>de</strong>ve enten<strong>de</strong>r a importância atribuí<strong>da</strong> à hierarquia<br />

institucional e ao reconhecimento <strong>da</strong> especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> gênero.<br />

2. As políticas e o orçamento<br />

Com a constatação, a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990, <strong>de</strong> que o acompanhamento <strong>de</strong> políticas e programas <strong>de</strong><br />

igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s requeria analisar o impacto diferencial <strong>da</strong>s políticas fiscais entre homens e<br />

mulheres, assim como observar o comportamento <strong>do</strong>s orçamentos públicos nas diversas etapas <strong>do</strong> ciclo<br />

orçamentário, os <strong>países</strong> <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> realizaram avanços <strong>em</strong> visibilizar as políticas <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> gênero no orçamento público. Não obstante, poucos <strong>países</strong> <strong>da</strong> região mostram na lei <strong>de</strong> orçamento<br />

<strong>do</strong>tações significativas para as políticas <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s a melhorar ou garantir os direitos <strong>da</strong>s mulheres.<br />

Em geral, po<strong>de</strong>-se afirmar com precisão que 28 <strong>países</strong> <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> que<br />

enviaram relatórios <strong>em</strong> resposta ao questionário <strong>sobre</strong> a aplicação <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> inclu<strong>em</strong> informação <strong>sobre</strong> o respectivo gasto público <strong>em</strong> assuntos <strong>de</strong> gênero, <strong>em</strong> resposta<br />

à pergunta correspon<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> questionário. No entanto, as respostas são heterogêneas e n<strong>em</strong> to<strong>da</strong>s<br />

inclu<strong>em</strong> informação completa.<br />

Conforme informa<strong>do</strong> pelos <strong>países</strong> <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>, os recursos <strong>do</strong> orçamento público<br />

investi<strong>do</strong>s <strong>em</strong> políticas <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero são <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s principalmente à institucionalização <strong>do</strong>s<br />

mecanismos para a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero, às políticas <strong>sobre</strong> violência e à impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong><br />

gênero <strong>em</strong> níveis setoriais, que neste último caso t<strong>em</strong> menos visibili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Isto concor<strong>da</strong> com a análise<br />

37<br />

O compromisso <strong>de</strong> estabelecer enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s no mais alto nível foi objeto <strong>de</strong> vários estu<strong>do</strong>s (Fernós, 2010; CEPAL, 2011;<br />

Montaño e Sanz, 2009; e Guzmán e Montaño, 2012). Dos mecanismos para o avanço <strong>da</strong> mulher, 35% são enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> um ministério e têm a forma <strong>de</strong> vice-ministério, secretaria, instituto ou conselho; 20% são enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

subordina<strong>da</strong>s à presidência ou um mecanismo cujo titular é diretamente responsável perante esta, com figuras como<br />

secretaria, instituto nacional ou outro órgão; 45% são ministérios ou enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> nível ministerial. Veja mais informação<br />

<strong>sobre</strong> o nível hierárquico <strong>do</strong>s mecanismos para o avanço <strong>da</strong> mulher no Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> <strong>América</strong><br />

<strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> [on-line] http://www.cepal.org/oig/ws/getRegionalIndicator.asp?page=11&language=spanish.<br />

26


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

<strong>da</strong>s leis <strong>de</strong> orçamento <strong>do</strong>s <strong>países</strong> <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> realiza<strong>da</strong> pelo Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero<br />

<strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>, segun<strong>do</strong> a qual <strong>em</strong> <strong>países</strong> como Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru<br />

é possível i<strong>de</strong>ntificar as verbas <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s ao gasto <strong>em</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero no orçamento <strong>do</strong> governo<br />

central com precisão, o <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> aos MAM, às políticas <strong>sobre</strong> violência e aos programas impl<strong>em</strong>enta<strong>do</strong>s<br />

pelos MAM. A<strong>de</strong>mais, a aplicação <strong>da</strong>s leis orçamentárias <strong>de</strong>stes <strong>países</strong> permite fazer uma análise <strong>da</strong><br />

evolução <strong>do</strong> gasto <strong>em</strong> função <strong>do</strong>s anos disponíveis. O México conta com verbas carimba<strong>da</strong>s para as<br />

mulheres e a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero, medi<strong>da</strong> afirmativa que visa a corrigir as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> gênero.<br />

Os <strong>países</strong> avançaram na formulação <strong>de</strong> orçamentos diferencia<strong>do</strong>s no entendimento <strong>de</strong> que não exist<strong>em</strong><br />

orçamentos públicos neutros <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> gênero. Isso implica incorporar a perspectiva <strong>de</strong> gênero no<br />

gasto público e trabalhar numa alocação orçamentária a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>, <strong>de</strong>finir sua especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> e garantir<br />

o acompanhamento <strong>do</strong> orçamento com o objetivo <strong>de</strong> assegurar que os recursos sejam utiliza<strong>do</strong>s <strong>em</strong><br />

benefício <strong>da</strong>s mulheres, tenham um impacto na <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> e aju<strong>de</strong>m a diminuir as brechas <strong>de</strong> gênero<br />

(CEPAL, 2013f). Esta estratégia consiste <strong>em</strong> i<strong>de</strong>ntificar e tornar visíveis os recursos <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a aten<strong>de</strong>r<br />

as <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s mulheres <strong>em</strong> diversos contextos, para transparecer e ao mesmo t<strong>em</strong>po dimensionar os<br />

esforços e recursos que os governos compromet<strong>em</strong> <strong>em</strong> benefício <strong>de</strong>las. Neste senti<strong>do</strong>, também permite<br />

a auditoria <strong>da</strong>s ações governamentais <strong>em</strong> prol <strong>da</strong> superação <strong>da</strong>s <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Esta política pública<br />

representa, s<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong>, um avanço quanto à transparência e o compromisso a respeito <strong>do</strong> gasto público<br />

<strong>em</strong> gênero.<br />

O Brasil apresenta um <strong>do</strong>s avanços mais importantes na matéria, já que, apesar <strong>de</strong> haver<br />

aumenta<strong>do</strong> <strong>de</strong> maneira substancial o investimento <strong>em</strong> medi<strong>da</strong>s para <strong>de</strong>ter a violência contra as mulheres,<br />

no it<strong>em</strong> 2016 <strong>do</strong> Plano Mais Brasil, Mais Desenvolvimento, Mais Igual<strong>da</strong><strong>de</strong>, Mais Participação (PPA)<br />

indica a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> incorporar a perspectiva <strong>de</strong> gênero nos códigos orçamentários, especifican<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> maneira muito direta o gasto <strong>em</strong> violência <strong>de</strong> gênero e impl<strong>em</strong>entan<strong>do</strong> uma meto<strong>do</strong>logia a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong><br />

que permita, a partir <strong>da</strong> rotulag<strong>em</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os gastos <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s às mulheres, comparar os custos <strong>do</strong>s<br />

programas e os valores efetivamente investi<strong>do</strong>s. Esse país realizou recent<strong>em</strong>ente o esforço <strong>de</strong> localizar<br />

ca<strong>da</strong> ação <strong>do</strong> Plano Nacional <strong>de</strong> Políticas para as Mulheres (<strong>do</strong> qual só uma parte é impl<strong>em</strong>enta<strong>da</strong><br />

pelo MAM) <strong>em</strong> um plano plurianual, o que possibilitou monitorá-las <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> Sist<strong>em</strong>a Integra<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Monitoramento <strong>do</strong> Governo Fe<strong>de</strong>ral (SIOP), mediante a organização <strong>da</strong> Agen<strong>da</strong> Transversal <strong>de</strong> Políticas<br />

para a Mulher, que permite até i<strong>de</strong>ntificar gastos setoriais <strong>em</strong> violência <strong>de</strong> gênero.<br />

Em geral, os orçamentos para a gestão <strong>do</strong> MAM têm caráter inercial e, quan<strong>do</strong> aumentam, se<br />

<strong>de</strong>ve a aumento no orçamento para impl<strong>em</strong>entação <strong>da</strong> lei <strong>sobre</strong> violência. Este fenômeno é observa<strong>do</strong><br />

no Brasil e também no Chile, on<strong>de</strong> se reflete que a violência <strong>de</strong> gênero é um t<strong>em</strong>a prioritário no relatório<br />

e nos orçamentos.<br />

Por sua vez, a Colômbia informa, no <strong>do</strong>cumento 161 <strong>do</strong> Conselho Nacional <strong>de</strong> Política<br />

Econômica e Social (CONPES) elabora<strong>do</strong> sob a li<strong>de</strong>rança <strong>da</strong> Alta Assessoria Presi<strong>de</strong>ncial para a<br />

Equi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Mulher (ACPEM), que é possível i<strong>de</strong>ntificar claramente as ações e investimentos que o<br />

Esta<strong>do</strong> realiza no nível nacional para a equi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero, assim como os montantes <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s aos<br />

planos específicos contra a violência e sua evolução (CONPES, 2013). Finalmente, no caso <strong>do</strong> Peru,<br />

a partir <strong>da</strong> análise <strong>da</strong> lei <strong>de</strong> orçamentos, constata-se um comportamento similar ao <strong>da</strong> Colômbia, já<br />

que suas leis <strong>de</strong> orçamentos oferec<strong>em</strong> informação <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> disponível <strong>sobre</strong> a eficiência <strong>do</strong> gasto e<br />

comparativos <strong>de</strong> execução orçamentária por trimestre <strong>em</strong> programas <strong>sobre</strong> violência familiar e sexual.<br />

Conforme informa<strong>do</strong> pelos <strong>países</strong> <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> nos relatórios nacionais para <strong>Pequim</strong>+20, percebe-se<br />

que os recursos <strong>do</strong> orçamento público investi<strong>do</strong>s <strong>em</strong> políticas <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero são menores e<br />

menos visíveis que no resto <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se somente alguns <strong>países</strong> com incipientes<br />

iniciativas. Entre estes últimos, po<strong>de</strong>mos listar a República Dominicana, Trini<strong>da</strong>d e Tobago, Jamaica e,<br />

<strong>em</strong> menor medi<strong>da</strong>, São Vicente e Granadinas e as Ilhas Cayman. O exposto nos relatórios <strong>de</strong>stes <strong>países</strong><br />

nos oferece mais clareza quanto ao aumento orçamentário para a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> país, assim<br />

como sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver estratégias e meto<strong>do</strong>logias para informar o gasto público <strong>em</strong> gênero<br />

<strong>de</strong> maneira mais transparente, sist<strong>em</strong>ática e eficiente, o que supõe, junto à alavancag<strong>em</strong> <strong>de</strong> recursos, um<br />

<strong>do</strong>s principais <strong>de</strong>safios para os <strong>países</strong> <strong>de</strong>sta região. A República Dominicana, no âmbito <strong>da</strong> Estratégia<br />

27


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento, expõe <strong>em</strong> seu relatório o avanço <strong>do</strong> gasto <strong>em</strong> gênero (incluin<strong>do</strong> os<br />

fun<strong>do</strong>s que receb<strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os organismos especializa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> gênero cria<strong>do</strong>s <strong>em</strong> diferentes instituições <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>) <strong>em</strong> relação ao orçamento nacional <strong>de</strong> 2008 até 2014. Por sua vez, Trini<strong>da</strong>d e Tobago e Jamaica<br />

são os <strong>países</strong> que informam <strong>de</strong> maneira fi<strong>de</strong>digna haver aumenta<strong>do</strong> seus orçamentos para a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

gênero e asseguram estar consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> iniciativas para a formulação <strong>de</strong> planos nacionais <strong>de</strong> orçamentos<br />

sensíveis ao gênero para os próximos anos. No caso específico <strong>de</strong> Trini<strong>da</strong>d e Tobago, estabeleceu-se<br />

um Plano <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> para os próximos três anos para a institucionalização <strong>do</strong>s orçamentos sensíveis ao<br />

gênero (gen<strong>de</strong>r-responsive budgeting). A Jamaica, por sua vez, t<strong>em</strong> a intenção <strong>de</strong> formular planos que<br />

estabeleçam um mecanismo para fazer o acompanhamento <strong>do</strong> planejamento nacional e <strong>da</strong>s <strong>do</strong>tações<br />

orçamentárias (National Policy for Gen<strong>de</strong>r Equality).<br />

Além disso, São Vicente e Granadinas assegura <strong>em</strong> seu relatório que se estabeleceu um acor<strong>do</strong><br />

interministerial (entre o MAM e o Ministério <strong>de</strong> Finanças, junto com outras instâncias governamentais)<br />

para <strong>de</strong>senhar ferramentas concretas <strong>de</strong> capacitação para a formulação <strong>de</strong> um orçamento nacional sensível<br />

ao gênero. Do mesmo mo<strong>do</strong>, as Ilhas Cayman anunciam que pela primeira vez dispõ<strong>em</strong> <strong>de</strong> um novo<br />

orçamento separa<strong>do</strong> <strong>de</strong> gênero para 2013-2014. Assim, especificam a percentag<strong>em</strong> <strong>em</strong> função <strong>da</strong> verba<br />

orçamentária total <strong>do</strong> governo para esse perío<strong>do</strong>. No entanto, indicam a cifra como uma estimativa pouco<br />

representativa, pois, como ocorre também <strong>em</strong> outros <strong>países</strong>, se localizam outras verbas orçamentárias<br />

<strong>de</strong> outras instâncias <strong>de</strong> planejamento governamental e <strong>da</strong>s ONG para promover a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero<br />

que não estão necessariamente alinha<strong>da</strong>s com a promoção <strong>do</strong>s objetivos <strong>do</strong> MAM <strong>em</strong> questão. Para o<br />

perío<strong>do</strong> 2014-2015, propõe-se revisar mais <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>mente o componente <strong>do</strong> gasto <strong>em</strong> gênero; <strong>em</strong>bora<br />

se preveja que será menor, aspira-se a formalizar a <strong>de</strong>terminação mais precisa e rigorosa <strong>da</strong>s quantias <strong>do</strong><br />

orçamento nacional <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s à promoção <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre homens e mulheres.<br />

No que diz respeito às políticas <strong>sobre</strong> violência, as leis <strong>de</strong> orçamentos <strong>da</strong> maioria <strong>do</strong>s <strong>países</strong><br />

evi<strong>de</strong>nciam uma lacuna <strong>de</strong> informação <strong>sobre</strong> a percentag<strong>em</strong> nacional <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> por ano às ações<br />

planeja<strong>da</strong>s para prevenção, atenção, punição ou reparação. Embora <strong>em</strong> alguns casos se inform<strong>em</strong> os<br />

planos específicos, é muito difícil conhecer a percentag<strong>em</strong> <strong>do</strong> orçamento nacional <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> a programas<br />

<strong>sobre</strong> violência contra as mulheres executa<strong>do</strong> pelas instituições, já que nas leis <strong>de</strong> orçamentos —neutras<br />

<strong>em</strong> t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> gênero— não se oferece <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os casos informação <strong>sobre</strong> as verbas por tipo <strong>de</strong> gasto.<br />

Em geral, <strong>de</strong>staca-se como um el<strong>em</strong>ento positivo que nos últimos 20 anos os orçamentos se<br />

tornaram ca<strong>da</strong> vez mais legíveis e que, apesar <strong>da</strong>s claras limitações <strong>de</strong> recursos para a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

gênero na região, existe a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns <strong>países</strong> <strong>de</strong> incorporar uma meto<strong>do</strong>logia<br />

específica para informar <strong>de</strong> maneira sist<strong>em</strong>ática o gasto público <strong>em</strong> gênero, assim como para melhor<br />

assegurar sua eficácia, como assinalam os relatórios <strong>do</strong> Brasil, Costa Rica, Paraguai, Porto Rico e<br />

República Dominicana.<br />

No entanto, apesar <strong>de</strong> um número tão eleva<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>países</strong> ter informa<strong>do</strong> (<strong>em</strong> maior ou menor<br />

medi<strong>da</strong>) o gasto público <strong>em</strong> gênero, é importante <strong>de</strong>stacar o <strong>de</strong>safio <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> juntar esforços para<br />

<strong>de</strong>senvolver meto<strong>do</strong>logias simples, compartilha<strong>da</strong>s e homogêneas. Estas meto<strong>do</strong>logias <strong>de</strong>v<strong>em</strong> permitir<br />

o acompanhamento <strong>da</strong>s <strong>do</strong>tações orçamentárias para a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre homens e mulheres por parte <strong>de</strong><br />

to<strong>do</strong>s, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>do</strong> nível <strong>de</strong> relatório e análise orçamentária <strong>em</strong> que se encontr<strong>em</strong> os <strong>países</strong>,<br />

para ir avançan<strong>do</strong> na mesma direção.<br />

Um <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s instituições cria<strong>da</strong>s na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> é que na maioria <strong>do</strong>s casos os<br />

planos <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> têm apoio legal 38 , coisa que não ocorre no <strong>Caribe</strong>; como assinala o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

referência (CARICOM, 2014), <strong>em</strong>bora não tenha impedi<strong>do</strong> avanços, trata-se <strong>de</strong> um <strong>de</strong>safio importante.<br />

A participação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil, particularmente <strong>do</strong> movimento <strong>de</strong> mulheres, é outra característica<br />

distintiva que se compl<strong>em</strong>enta com processos participativos <strong>de</strong>scentraliza<strong>do</strong>s que, <strong>em</strong> seu conjunto,<br />

colocaram <strong>em</strong> marcha uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> inova<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> gestão <strong>da</strong>s políticas públicas que po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> uma contribuição para as novas formas <strong>de</strong> gestão pública. Os ministérios, institutos,<br />

38<br />

Veja o anexo Resumo <strong>do</strong>s relatórios nacionais [on-line] http://www.cepal.org/cgi-bin/getprod.asp?xml=/mujer/<br />

noticias/paginas/3/51823/P51823.xml&xsl=/mujer/tpl/p18f.xsl&base=/mujer/tpl/top-bottom.xsl.<br />

28


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

conselhos e outras enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s cria<strong>da</strong>s ao longo <strong>de</strong> 20 anos, incluin<strong>do</strong> os âmbitos locais e municipais,<br />

não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser concebi<strong>do</strong>s somente como entes normativos ou operacionais <strong>de</strong> políticas nacionais;<br />

<strong>em</strong> muitos casos, são também consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s espaços <strong>de</strong> representação <strong>da</strong>s <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s mulheres <strong>em</strong><br />

contextos governamentais às vezes resistentes à mu<strong>da</strong>nça. Nesse contexto, a participação social <strong>da</strong>s<br />

mulheres é muito importante, como informam Antígua e Barbu<strong>da</strong>, Argentina, Brasil, Cuba, El Salva<strong>do</strong>r,<br />

México, Grana<strong>da</strong>, Guiana, Suriname e Uruguai; estes <strong>países</strong> informam várias mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s com diversos<br />

graus <strong>de</strong> institucionalização nas quais participam organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil <strong>em</strong> encontros maciços<br />

<strong>de</strong> consulta (como Brasil e Cuba), conselhos consultivos ou assessores (Argentina, Brasil, México e<br />

Uruguai) e consultas <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> t<strong>em</strong>as específicos, como leis <strong>sobre</strong> violência, participação política e<br />

outras que implicam incidência <strong>em</strong> outros po<strong>de</strong>res <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

Embora a maioria <strong>do</strong>s planos existentes reconheça que a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero, como assinala<br />

a <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong>, não é somente um t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> política social, mas transversal a to<strong>da</strong>s as áreas <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento, ain<strong>da</strong> se observa na impl<strong>em</strong>entação uma forte associação entre igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero,<br />

mulheres vulneráveis e políticas sociais. No caso <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>, 10 <strong>de</strong> 14 <strong>países</strong> consulta<strong>do</strong>s não têm<br />

políticas <strong>de</strong> gênero (cinco <strong>do</strong>s 10 estão <strong>em</strong> processo <strong>de</strong> formulação). Nesta sub-região, o man<strong>da</strong>to <strong>do</strong>s<br />

mecanismos não faz parte <strong>de</strong> um marco jurídico e está integra<strong>do</strong> nos planos <strong>de</strong> ação; no entanto, isto não<br />

impediu a realização <strong>de</strong> ações a favor <strong>da</strong>s mulheres.<br />

a) Transversalização <strong>da</strong> perspectiva <strong>de</strong> gênero<br />

Embora a criação <strong>de</strong> instituições com man<strong>da</strong>to normativo signifique um avanço, muitos<br />

MAM ain<strong>da</strong> assum<strong>em</strong> a execução <strong>de</strong> programas, <strong>em</strong> particular a luta contra a violência, que absorv<strong>em</strong><br />

seus recursos e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e impe<strong>de</strong>m que assumam com eficácia a coor<strong>de</strong>nação na formulação e<br />

monitoramento <strong>de</strong> políticas. Mais <strong>de</strong> 30% <strong>do</strong>s <strong>países</strong> consulta<strong>do</strong>s no <strong>Caribe</strong> <strong>de</strong>stinavam mais <strong>da</strong> meta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po para operacionalizar os programas ministeriais <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> formular políticas, segun<strong>do</strong><br />

o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> CARICOM (2014). De acor<strong>do</strong> com o mesmo estu<strong>do</strong>, os MAM no <strong>Caribe</strong> têm man<strong>da</strong>tos<br />

que oscilam entre <strong>de</strong>stinar recursos a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para mulheres até a impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> políticas, a<br />

transversalização <strong>da</strong> perspectiva <strong>de</strong> gênero, a luta contra a violência e o apoio às mulheres <strong>em</strong> situação<br />

<strong>de</strong> pobreza.<br />

A transversalização <strong>da</strong> perspectiva <strong>de</strong> gênero, conforme <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> pelo Conselho Econômico<br />

e Social <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s, «é o processo <strong>de</strong> avaliar as implicações que t<strong>em</strong> para os homens e para<br />

as mulheres qualquer ação planeja<strong>da</strong>, trate-se <strong>de</strong> legislação, política ou programa, <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as áreas e<br />

<strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os níveis. É uma estratégia para fazer com que as preocupações e experiências <strong>da</strong>s mulheres,<br />

<strong>da</strong> mesma forma que as <strong>do</strong>s homens, sejam parte integrante <strong>da</strong> elaboração, impl<strong>em</strong>entação, controle e<br />

<strong>avaliação</strong> <strong>da</strong>s políticas e <strong>do</strong>s programas <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as esferas políticas, econômicas e sociais, <strong>de</strong> maneira<br />

que as mulheres e os homens possam se beneficiar <strong>de</strong>les igualmente e não se perpetue a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>. O<br />

objetivo <strong>final</strong> <strong>da</strong> integração é obter a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero” (Nações Uni<strong>da</strong>s 1997, págs. 27-34).<br />

Na maioria <strong>do</strong>s <strong>países</strong>, a intersetoriali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> transversalização <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong><br />

gênero que a promove supõ<strong>em</strong> <strong>de</strong>safios para a estrutura e a gestão <strong>da</strong>s instituições. Durante estes 20 anos<br />

o processo não foi linear e esteve condiciona<strong>do</strong> por restrições externas liga<strong>da</strong>s às políticas econômicas,<br />

às reformas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, às mu<strong>da</strong>nças produzi<strong>da</strong>s pela globalização, à heg<strong>em</strong>onia <strong>de</strong> enfoques assistenciais<br />

<strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> gênero e às <strong>de</strong>ficiências próprias <strong>da</strong>s políticas públicas (CEPAL, 2004). Apesar disso, as<br />

formas <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação, a noção <strong>de</strong> transversali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a compreensão <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>senvolvimento exige<br />

políticas articula<strong>da</strong>s têm nas políticas <strong>de</strong> gênero um laboratório importante <strong>de</strong> experiências, realizações<br />

e <strong>de</strong>safios que é observa<strong>do</strong> e utiliza<strong>do</strong> por ativistas e executores <strong>de</strong> políticas ambientais, <strong>de</strong> superação <strong>da</strong><br />

pobreza e <strong>de</strong> direitos indígenas, entre outros.<br />

Este processo, como já se assinalou, teve avanços jurídico-institucionais importantes, incluin<strong>do</strong><br />

reformas constitucionais <strong>em</strong> vários <strong>países</strong>, como Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, Equa<strong>do</strong>r, República<br />

Dominicana e República Bolivariana <strong>da</strong> Venezuela (CEPAL, 2012). Outro ex<strong>em</strong>plo é a inclusão <strong>da</strong><br />

igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero nos planos nacionais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. O Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia é um<br />

29


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

<strong>do</strong>s <strong>países</strong> que integrou a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> estabeleci<strong>da</strong> na Constituição no Plano Nacional para o Bom Viver<br />

(Suma Qamaña) 39 , por meio <strong>de</strong> uma estratégia com cinco campos <strong>de</strong> ação para transformar as condições<br />

materiais <strong>de</strong> subordinação e exploração <strong>da</strong>s mulheres e <strong>de</strong>smontar o patriarca<strong>do</strong>, o colonialismo e o<br />

neoliberalismo; por sua vez, o Plano Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento 2013-2018 incorpora a perspectiva<br />

<strong>de</strong> gênero como estratégia transversal.<br />

O Brasil mostra avanços importantes na institucionalização para a impl<strong>em</strong>entação <strong>da</strong>s políticas<br />

públicas. Além <strong>do</strong> marco jurídico e constitucional aprova<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o <strong>final</strong> <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, nos últimos<br />

<strong>de</strong>z anos <strong>de</strong>senvolveu uma estrutura institucional e participativa pela qual as <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong> a t<strong>em</strong>ática<br />

<strong>da</strong> mulher percebi<strong>da</strong>s <strong>em</strong> conferências nacionais <strong>de</strong>s<strong>em</strong>bocam no plano plurianual <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

com orçamento <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> a ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s ações previstas. Também mostra avanços na incorporação<br />

<strong>do</strong>s princípios <strong>de</strong> gênero à lógica governamental, institucionali<strong>da</strong><strong>de</strong> e transversali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s políticas<br />

públicas e <strong>do</strong>s planos plurianuais 40 . Na Colômbia menciona-se o plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento com seis<br />

eixos interconecta<strong>do</strong>s que reflet<strong>em</strong> as principais áreas <strong>em</strong> que as mulheres se ve<strong>em</strong> afeta<strong>da</strong>s por diversas<br />

formas <strong>de</strong> discriminação e que requer<strong>em</strong> uma intervenção sustenta<strong>da</strong>. Este país também conta com uma<br />

comissão intersetorial e um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> monitoramento 41 . O Chile conta com o Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Programação<br />

Governamental <strong>do</strong> Ministério Secretaria-<strong>Geral</strong> <strong>da</strong> Presidência (SEGPRES), que examina o cumprimento<br />

<strong>do</strong> programa <strong>de</strong> governo e t<strong>em</strong> contribuí<strong>do</strong> para a transversalização <strong>da</strong> perspectiva <strong>de</strong> gênero, já que<br />

orienta ca<strong>da</strong> intendência e governa<strong>do</strong>ria, ca<strong>da</strong> ministério e mesmo ca<strong>da</strong> serviço 42 .<br />

Em Cuba a perspectiva <strong>de</strong> gênero foi transversaliza<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> criação <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> <strong>Ação</strong><br />

Nacional <strong>de</strong> Seguimento à Conferência <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> (PAN) <strong>em</strong> 1997, que recolhe 90 medi<strong>da</strong>s que os<br />

organismos <strong>da</strong> administração central <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> cumprir para assegurar o avanço social <strong>da</strong>s<br />

mulheres cubanas, e é avalia<strong>do</strong> periodicamente por convocatória <strong>do</strong> Conselho <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

No Uruguai, <strong>em</strong> 2013 foi inicia<strong>da</strong> uma experiência piloto com cinco órgãos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

—Ministério <strong>do</strong> Interior (MI), Ministério <strong>de</strong> Desenvolvimento Social (MIDES), Ministério <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> Pública (MSP), Ministério <strong>de</strong> Transporte e Obras Públicas (MTSS) e Administração Nacional<br />

<strong>de</strong> Educação Pública (ANEP)— com o propósito <strong>de</strong> promover a incorporação <strong>da</strong> perspectiva <strong>de</strong> gênero<br />

na <strong>de</strong>finição <strong>do</strong>s objetivos estratégicos e indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> planejamento orçamentário. Isto implicou o<br />

trabalho conjunto com a Área <strong>de</strong> Gestão e Avaliação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> (AGEV) <strong>do</strong> Escritório <strong>de</strong> Planejamento<br />

e Orçamento (OPP) e com pessoal <strong>da</strong>s áreas <strong>de</strong> planejamento e orçamento <strong>do</strong>s organismos seleciona<strong>do</strong>s,<br />

assim como <strong>do</strong>s mecanismos <strong>de</strong> gênero.<br />

Entre os progressos mais relevantes <strong>do</strong> México encontram-se: o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um marco<br />

jurídico e institucional para a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre mulheres e homens e para prevenir e combater a violência<br />

e a discriminação; a criação e o fortalecimento <strong>de</strong> instituições e mecanismos <strong>de</strong> proteção <strong>do</strong>s direitos<br />

humanos <strong>da</strong>s mulheres e crianças; a <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong> recursos orçamentários para ações que benefici<strong>em</strong> as<br />

mulheres; e a construção e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ferramentas estatísticas para visibilizar as brechas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre mulheres e homens.<br />

39<br />

As dimensões estabeleci<strong>da</strong>s nas políticas são o corpo, o espaço, o t<strong>em</strong>po, a m<strong>em</strong>ória e os movimentos. Veja o relatório<br />

apresenta<strong>do</strong> pelo Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia [on-line] http://www.cepal.org/cgi-bin/getprod.asp?xml=/mujer/<br />

noticias/paginas/3/51823/P51823.xml&xsl=/mujer/tpl/p18f.xsl&base=/mujer/tpl/top-bottom.xsl.<br />

40<br />

Os organismos governamentais <strong>de</strong> políticas para a mulher (OPM) nos esta<strong>do</strong>s e municípios <strong>de</strong>ram bons resulta<strong>do</strong>s.<br />

Em 2004, 13 locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s contavam com OPM; <strong>em</strong> 2006, essa cifra aumentou para 125; <strong>em</strong> 2013 chegou a 603 e <strong>em</strong><br />

2014 a 670, sen<strong>do</strong> 25 OPM estaduais e 645 municipais.<br />

41<br />

O primeiro eixo está orienta<strong>do</strong> à construção <strong>da</strong> paz e à transformação cultural; o segun<strong>do</strong>, a garantir a autonomia<br />

econômica <strong>da</strong>s mulheres e potencializar a conciliação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> profissional e <strong>do</strong>méstica; o <strong>terceiro</strong> eixo se refere ao<br />

fomento à participação <strong>da</strong>s mulheres <strong>em</strong> instâncias <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões; o quarto e o quinto se ocupam <strong>do</strong><br />

enfoque diferencial <strong>de</strong> direitos no sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e educação, respectivamente, e o sexto eixo consiste <strong>em</strong> um plano<br />

integral para garantir às mulheres uma vi<strong>da</strong> livre <strong>de</strong> violência.<br />

42<br />

Outro ex<strong>em</strong>plo é o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> equi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Melhoramento <strong>da</strong> Gestão, <strong>do</strong> Chile, que teve como<br />

objetivo <strong>de</strong> 2001 a 2013 melhorar os níveis <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e a equi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero na provisão <strong>de</strong> bens<br />

e serviços públicos e promover a integração sist<strong>em</strong>ática <strong>da</strong> perspectiva <strong>de</strong> gênero <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os sist<strong>em</strong>as e estruturas <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> (políticas, programas, processos, pessoal, projetos, organização e cultura), incorporan<strong>do</strong> critérios <strong>de</strong> equi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

30


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Outro grupo <strong>de</strong> <strong>países</strong> procurou impulsionar a coor<strong>de</strong>nação interinstitucional como uma<br />

forma <strong>de</strong> compensar a ausência <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> planejamento ou <strong>de</strong> integração nos sist<strong>em</strong>as nacionais<br />

<strong>de</strong> planejamento ou a integração nos planos nacionais <strong>da</strong> transversalização <strong>de</strong> gênero. Vários <strong>países</strong><br />

<strong>de</strong>stacam iniciativas <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação e incidência <strong>em</strong> diferentes áreas <strong>da</strong> política pública, mediante<br />

sua integração <strong>em</strong> vários espaços interinstitucionais. Um indica<strong>do</strong>r <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> institucionalização é a<br />

existência <strong>de</strong> recursos orçamentários, financeiros, técnicos e institucionais para os mecanismos; isto<br />

se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> <strong>da</strong> análise <strong>do</strong>s relatórios, salvo <strong>em</strong> alguns casos <strong>em</strong> que se ressalta que os recursos são<br />

insuficientes até o ponto <strong>em</strong> que vários <strong>países</strong> inclu<strong>em</strong> este aspecto entre seus <strong>de</strong>safios e alguns ain<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>da</strong> cooperação internacional para seu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho (veja o anexo) 43 .<br />

b) A participação política <strong>da</strong>s mulheres<br />

Uma dimensão muito importante para a eficácia <strong>da</strong>s políticas é a presença <strong>de</strong> mulheres <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s<br />

as esferas <strong>de</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões. Os avanços rumo ao fortalecimento <strong>da</strong> voz e participação <strong>da</strong>s mulheres<br />

exigiram reformas institucionais no po<strong>de</strong>r executivo, no po<strong>de</strong>r legislativo, no sist<strong>em</strong>a eleitoral e na justiça.<br />

A Argentina marcou a pauta <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> ação positiva com a lei <strong>de</strong> cotas (1991) no âmbito<br />

eleitoral, obten<strong>do</strong> um importante avanço na representação legislativa, fato que coinci<strong>de</strong> com os<br />

avanços obti<strong>do</strong>s pelos <strong>países</strong> que aumentaram a participação <strong>da</strong>s mulheres 44 . Ao longo <strong>de</strong>stes 20 anos,<br />

seis mulheres eleitas <strong>de</strong>mocraticamente exerceram a presidência e quatro <strong>de</strong>las foram reeleitas, o que<br />

indica outra mu<strong>da</strong>nça cultural positiva que mostra uma ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia distante <strong>do</strong>s estereótipos associa<strong>do</strong>s<br />

à participação política <strong>da</strong>s mulheres, seja com correntes conserva<strong>do</strong>ras ou com li<strong>de</strong>ranças fortes. Em<br />

Cuba, 48% <strong>da</strong>s representantes <strong>da</strong> <strong>Ass<strong>em</strong>bleia</strong> Nacional <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Popular são mulheres. Depois <strong>de</strong><br />

20 anos, no Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia foram estabeleci<strong>do</strong>s os princípios <strong>de</strong> pari<strong>da</strong><strong>de</strong> e alternância<br />

na lei eleitoral, o que se reflete <strong>em</strong> um aumento importante <strong>da</strong> participação <strong>da</strong>s mulheres no po<strong>de</strong>r<br />

legislativo, no po<strong>de</strong>r executivo e <strong>em</strong> outros órgãos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Costa Rica, México, Equa<strong>do</strong>r e Peru<br />

mostram avanços substantivos <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> participação política <strong>da</strong>s mulheres: uma cota <strong>de</strong> 40%,<br />

corrigi<strong>da</strong> e regula<strong>da</strong> periodicamente para evitar ten<strong>de</strong>nciosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

Na região 14 <strong>países</strong> contam com legislação que <strong>de</strong>termina cotas para a inscrição <strong>de</strong> candi<strong>da</strong>tas<br />

aos parlamentos nacionais. No entanto, somente seis <strong>países</strong> tipificam o man<strong>da</strong>to <strong>de</strong> posição nas listas e<br />

<strong>de</strong>z explicitam a punição, ain<strong>da</strong> que as atribuições <strong>do</strong>s organismos eleitorais n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre fiqu<strong>em</strong> claras<br />

para po<strong>de</strong>r aplicá-la.<br />

Embora muitos <strong>países</strong> <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> tenham impl<strong>em</strong>enta<strong>do</strong> leis <strong>de</strong> cotas para promover a<br />

participação <strong>da</strong> mulher na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões (especialmente no âmbito político), não ocorre o mesmo no<br />

<strong>Caribe</strong>. A Guiana é o único país <strong>de</strong>sta região que conta com uma lei <strong>de</strong> cotas para promover ao menos um<br />

terço <strong>de</strong> participação <strong>da</strong>s mulheres nas listas <strong>de</strong> candi<strong>da</strong>tos apresenta<strong>do</strong>s à Comissão Nacional Eleitoral.<br />

B. Avanços na autonomia econômica<br />

1. Ren<strong>da</strong> e t<strong>em</strong>po: duas carências básicas<br />

A autonomia econômica <strong>da</strong>s mulheres, condição necessária para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, é<br />

resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> obter ren<strong>da</strong> própria e dispor <strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po, pois permite que elas —<strong>em</strong><br />

muitos <strong>países</strong>, com nível <strong>de</strong> educação superior ao <strong>do</strong>s homens— possam participar eficazmente <strong>da</strong>s<br />

necessárias tarefas <strong>de</strong> transformação <strong>da</strong> matriz produtiva, <strong>da</strong> inovação, <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> conhecimento e<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as suas dimensões.<br />

43<br />

Veja o anexo Resumo <strong>do</strong>s relatórios nacionais <strong>sobre</strong> <strong>Pequim</strong>+20 [on-line] http://www.cepal.org/cgi-bin/getprod.<br />

asp?xml=/mujer/noticias/paginas/3/51823/P51823.xml&xsl=/mujer/tpl/p18f.xsl&base=/mujer/tpl/top-bottom.xsl.<br />

44<br />

Veja o Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>.<br />

31


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

A região está sain<strong>do</strong> <strong>de</strong> quase uma déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> crescimento econômico, uma significativa redução <strong>da</strong><br />

pobreza e uma média <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> 10 pontos percentuais na participação econômica <strong>da</strong>s mulheres, distante<br />

ain<strong>da</strong> <strong>da</strong> plena participação econômica <strong>do</strong>s homens. A maioria <strong>do</strong>s <strong>países</strong> mostra avanços incipientes para<br />

uma menor concentração <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>. Des<strong>de</strong> 2002, a brecha entre quintis extr<strong>em</strong>os <strong>da</strong> distribuição <strong>de</strong> ren<strong>da</strong><br />

diminuiu <strong>em</strong> 14 <strong>países</strong> <strong>de</strong> um total <strong>de</strong> 18, enquanto o índice <strong>de</strong> Gini baixou pelo menos 5% <strong>em</strong> 11 <strong>países</strong>.<br />

Contu<strong>do</strong>, a relação <strong>de</strong> iniqui<strong>da</strong><strong>de</strong> continua sen<strong>do</strong> tal que a ren<strong>da</strong> média <strong>do</strong>s 20% mais ricos <strong>da</strong> população é<br />

20 vezes superior à <strong>do</strong>s 20% mais pobres, segun<strong>do</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> CEPAL (veja o gráfico II.2).<br />

Gráfico II.2<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>Caribe</strong>: evolução <strong>da</strong> pobreza, índice <strong>de</strong> f<strong>em</strong>ini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> pobreza e PIB<br />

(Em bilhões <strong>de</strong> dólares a preços constantes e percentagens)<br />

4,0<br />

125<br />

Trilhões <strong>de</strong> dólares constantes<br />

3,5<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

105<br />

85<br />

65<br />

45<br />

25<br />

5<br />

Percentagens<br />

0,0<br />

1997<br />

1998<br />

1999<br />

<strong>2000</strong><br />

2001<br />

2002<br />

2003<br />

2004<br />

2005<br />

2006<br />

2007<br />

2008<br />

2009<br />

2010<br />

2011<br />

2012<br />

-15<br />

Produto interno bruto (PIB) total anual a preços constantes<br />

<strong>em</strong> dólares (a preços <strong>de</strong> 2005)<br />

Percentag<strong>em</strong> <strong>do</strong> total <strong>da</strong> população <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> pobreza<br />

Índice <strong>de</strong> f<strong>em</strong>ini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> pobreza<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), com base <strong>em</strong> tabulações especiais <strong>da</strong>s<br />

pesquisas <strong>do</strong>miciliares.<br />

Observam-se importantes avanços na redução <strong>da</strong> pobreza e aumento <strong>da</strong> cobertura educativa,<br />

mas os avanços são escassos tanto <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> instituições e políticas <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego como na<br />

impl<strong>em</strong>entação ou fortalecimento <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as públicos <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego estrutura<strong>do</strong>s e coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s com<br />

as políticas econômicas (OIT, 2013a). Contu<strong>do</strong>, o maior <strong>de</strong>safio é a redistribuição <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

entre o Esta<strong>do</strong>, o merca<strong>do</strong> e os homens <strong>da</strong>s famílias com respeito ao cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>da</strong> população <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />

O parágrafo 155 <strong>da</strong> <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> assinala: “A atenção insuficiente que se t<strong>em</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong> às análises <strong>de</strong><br />

gênero t<strong>em</strong> ti<strong>do</strong> como resulta<strong>do</strong> ser<strong>em</strong> ignora<strong>do</strong>s, muito frequent<strong>em</strong>ente, os interesses e a contribuição<br />

<strong>da</strong>s mulheres nas estruturas econômicas, como os merca<strong>do</strong>s e as instituições financeiras, os merca<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> trabalho, a economia como disciplina acadêmica, a infraestrutura econômica e social, os sist<strong>em</strong>as<br />

tributário e <strong>de</strong> seguri<strong>da</strong><strong>de</strong> social, assim como na família e no lar. Em consequência, é possível que<br />

muitas políticas e programas continu<strong>em</strong> contribuin<strong>do</strong> para a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> existente entre a mulher e o<br />

hom<strong>em</strong>. Nos casos <strong>em</strong> que se t<strong>em</strong> registra<strong>do</strong> progresso na integração <strong>de</strong> uma perspectiva <strong>de</strong> gênero, t<strong>em</strong><br />

ocorri<strong>do</strong> uma melhoria <strong>da</strong> eficácia <strong>do</strong>s programas e políticas.”<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista <strong>do</strong> conhecimento, <strong>em</strong> 1995, ano <strong>da</strong> Conferência <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>, estava disponível<br />

o conhecimento suficiente para melhorar as análises e práticas econômicas, inclusive o valor explicativo<br />

<strong>do</strong> trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> (Durán, 2015) configuran<strong>do</strong> uma visão <strong>da</strong> economia muito mais ampla.<br />

Além <strong>do</strong>s acor<strong>do</strong>s globais, os consensos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s nas Conferências Regionais <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong><br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> foram amplian<strong>do</strong> a análise e contribuin<strong>do</strong> a posicionar os novos enfoques<br />

<strong>sobre</strong> o trabalho e o <strong>de</strong>senvolvimento. Os aspectos <strong>de</strong>ficientes <strong>da</strong>s políticas aplica<strong>da</strong>s durante estes<br />

32


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

20 anos na região não po<strong>de</strong>m ser atribuí<strong>do</strong>s à falta <strong>de</strong> conhecimentos, mas estão relaciona<strong>do</strong>s com a<br />

<strong>de</strong>ficiência <strong>do</strong> quadro social e institucional e certamente com a <strong>de</strong>bili<strong>da</strong><strong>de</strong> relativa <strong>da</strong>s mulheres como<br />

protagonistas e sujeitos ativos na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e responsáveis pelas políticas públicas.<br />

a) A mulher e a pobreza 45<br />

Como se po<strong>de</strong> observar no gráfico II.3, to<strong>do</strong>s os <strong>países</strong> <strong>da</strong> região reduziram a proporção <strong>de</strong><br />

mulheres que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> pobreza. Contu<strong>do</strong>, esses avanços foram heterogêneos. Países como<br />

a Argentina, o Chile e o Uruguai, que <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 1995 tinham níveis <strong>de</strong> pobreza muito inferiores à<br />

média <strong>regional</strong> e realizaram notáveis avanços na redução geral <strong>da</strong> pobreza nesses 20 anos, são os que<br />

registram maior aumento <strong>do</strong> índice <strong>de</strong> f<strong>em</strong>ini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> pobreza e são também aqueles on<strong>de</strong> a pobreza<br />

afeta mais a população <strong>em</strong> zonas urbanas. O Panamá, que também tinha níveis <strong>de</strong> pobreza mais baixos<br />

que a média <strong>regional</strong>, apesar <strong>de</strong> não ter reduzi<strong>do</strong> notavelmente os níveis gerais <strong>de</strong> pobreza, conseguiu<br />

reduzir o índice <strong>de</strong> f<strong>em</strong>ini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> pobreza. Contu<strong>do</strong>, a situação <strong>da</strong>s pessoas que viv<strong>em</strong> nas zonas rurais<br />

é muito diferente, já que as taxas <strong>de</strong> pobreza rural no Panamá são 218% mais altas que as relativas a<br />

setores urbanos, brecha que aumentou nos últimos 20 anos.<br />

Gráfico II.3<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (18 <strong>países</strong>): índice <strong>de</strong> f<strong>em</strong>ini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> pobreza, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 1994 e 2012<br />

(Em percentagens)<br />

160<br />

140<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

Argentina<br />

Bolívia<br />

(Est. Plur. <strong>da</strong>)<br />

Brasil<br />

Chile<br />

Colômbia<br />

Costa Rica<br />

Equa<strong>do</strong>r<br />

El Salva<strong>do</strong>r<br />

Guat<strong>em</strong>ala<br />

Honduras<br />

México<br />

Nicarágua<br />

1994 2012<br />

Panamá<br />

Paraguai<br />

Peru<br />

Rep.<br />

Dominicana<br />

Uruguai<br />

Venezuela<br />

(Rep. Bol. <strong>da</strong>)<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong><br />

(média simples)<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), com base <strong>em</strong> tabulações especiais <strong>da</strong>s<br />

pesquisas <strong>do</strong>miciliares.<br />

O Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia conseguiu reduzir <strong>em</strong> 40% a proporção <strong>de</strong> mulheres que<br />

viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> pobreza nos últimos 20 anos; contu<strong>do</strong>, este progresso não foi uniforme no âmbito<br />

nacional, já que as taxas <strong>de</strong> pobreza f<strong>em</strong>inina nas zonas rurais, que <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 1995 eram 50% mais altas<br />

que nas áreas urbanas, atualmente são mais <strong>de</strong> 100% superiores. Outro país com uma situação similar é<br />

o Peru, on<strong>de</strong>, <strong>em</strong>bora a taxa <strong>de</strong> pobreza f<strong>em</strong>inina tenha baixa<strong>do</strong> <strong>de</strong> 47% para 24%, a brecha urbano-rural<br />

cresceu e <strong>em</strong> 2012 a taxa <strong>de</strong> pobreza urbana f<strong>em</strong>inina alcançou 15%, enquanto a correspon<strong>de</strong>nte à zona<br />

rural chegou a 51,8%, ou seja, 248% superior (veja o gráfico II.3).<br />

45<br />

O anexo indica os <strong>países</strong> que inclu<strong>em</strong> no diagnóstico indica<strong>do</strong>res como a percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> mulheres <strong>em</strong> situação <strong>de</strong><br />

pobreza e indigência ou a percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> mulheres chefes <strong>de</strong> família, entre eles Antígua e Barbu<strong>da</strong>, Barba<strong>do</strong>s, Chile,<br />

Colômbia, Costa Rica, Dominica, Equa<strong>do</strong>r, Grana<strong>da</strong>, Ilhas Cayman e Uruguai.<br />

33


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

No outro extr<strong>em</strong>o, encontram-se <strong>países</strong> como Guat<strong>em</strong>ala, Nicarágua e Honduras, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1995 apresentam os níveis <strong>de</strong> pobreza mais altos <strong>da</strong> região e cujo progresso t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> muito lento.<br />

A República Dominicana também t<strong>em</strong> uma proporção eleva<strong>da</strong> <strong>de</strong> pessoas que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> situação <strong>de</strong><br />

pobreza; seu progresso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1995 t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> lento e esta situação afeta <strong>em</strong> maior proporção as mulheres<br />

(a taxa <strong>de</strong> pobreza f<strong>em</strong>inina é 28% mais alta que a masculina).<br />

Embora <strong>de</strong>tecte essas diferenças por gênero, a medição <strong>da</strong> pobreza <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> não constitui um<br />

bom indica<strong>do</strong>r <strong>da</strong> situação diferencial <strong>de</strong> homens e mulheres, já que se baseia no pressuposto <strong>de</strong> que<br />

a ren<strong>da</strong> total <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio é distribuí<strong>da</strong> <strong>de</strong> forma equitativa entre seus integrantes. Portanto, é mais<br />

ilustrativo medir a proporção <strong>de</strong> mulheres s<strong>em</strong> ren<strong>da</strong> própria na região (Scuro e Bercovich, 2014).<br />

Na maioria <strong>do</strong>s <strong>países</strong> latino-americanos, as mulheres constitu<strong>em</strong> uma parte importante <strong>do</strong>s grupos<br />

com menor ren<strong>da</strong> (veja o gráfico II.4). Na região, uma <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> três mulheres não possui ren<strong>da</strong> própria,<br />

enquanto um <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>de</strong>z homens se encontra nessa condição. Dimensões como a i<strong>da</strong><strong>de</strong> e o esta<strong>do</strong> civil<br />

também têm implicações <strong>sobre</strong> a pobreza, como indica o relatório <strong>do</strong> Suriname, on<strong>de</strong> se mostra que<br />

as mulheres i<strong>do</strong>sas com trajetórias <strong>de</strong> trabalho no setor informal são mais vulneráveis. Nesse mesmo<br />

país também se assinalam os efeitos negativos <strong>do</strong>s usos e costumes que restring<strong>em</strong> o acesso a direitos.<br />

Em Antígua e Barbu<strong>da</strong> <strong>de</strong>stacam-se o tamanho <strong>do</strong>s <strong>do</strong>micílios, a migração, a educação e a localização<br />

geográfica como fatores que agravam a pobreza.<br />

Gráfico II.4<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (17 <strong>países</strong>): população <strong>de</strong> 15 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> ou mais<br />

s<strong>em</strong> ren<strong>da</strong> própria, segun<strong>do</strong> o sexo<br />

(Em percentagens)<br />

Argentina<br />

Bolívia (Est. Plur. <strong>da</strong>)<br />

Brasil<br />

Chile<br />

Colômbia<br />

Costa Rica<br />

Equa<strong>do</strong>r<br />

El Salva<strong>do</strong>r<br />

Guat<strong>em</strong>ala<br />

Honduras<br />

México<br />

Panamá<br />

Paraguai<br />

Peru<br />

Rep. Dominicana<br />

Uruguai<br />

Venezuela (Rep. Bol. <strong>da</strong>)<br />

9,7<br />

10,7<br />

16,0<br />

11,1<br />

11,2<br />

10,2<br />

10,4<br />

14,3<br />

8,9<br />

16,1<br />

8,5<br />

8,6<br />

16,1<br />

14,7<br />

14,3<br />

5,4<br />

10,9<br />

14,8<br />

22,8<br />

28,1<br />

27,3<br />

29,7<br />

34,5<br />

31,2<br />

33,9<br />

29,2<br />

31,5<br />

29,8<br />

30,9<br />

34,0<br />

38,9<br />

41,2<br />

40,8<br />

38,3<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong><br />

11,6<br />

31,6<br />

45 30 15 0 15 30 45<br />

Homens Mulheres<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), com base <strong>em</strong> tabulações especiais <strong>da</strong>s pesquisas<br />

<strong>do</strong>miciliares <strong>do</strong>s respectivos <strong>países</strong>. Da<strong>do</strong>s nacionais, exceto os <strong>da</strong> Argentina, que correspon<strong>de</strong>m a áreas urbanas. Os<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s correspon<strong>de</strong>m a 2012, exceto para o Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia (2011), Chile (2011), Guat<strong>em</strong>ala (2006),<br />

Honduras (2010) e Paraguai (2011).<br />

A situação agrava-se nas zonas rurais, on<strong>de</strong> as percentagens <strong>de</strong> mulheres s<strong>em</strong> ren<strong>da</strong> própria<br />

são muito mais altas. O Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Guat<strong>em</strong>ala e Honduras<br />

apresentam as maiores brechas entre zonas urbanas e rurais na proporção <strong>de</strong> mulheres s<strong>em</strong> ren<strong>da</strong> própria.<br />

Equa<strong>do</strong>r e México são os únicos <strong>países</strong> <strong>da</strong> região <strong>em</strong> que a proporção <strong>de</strong> mulheres s<strong>em</strong> ren<strong>da</strong> própria na<br />

zona urbana é maior que na zona rural.<br />

O gráfico II.5 mostra a evolução <strong>de</strong>ste indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a conferência <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>; novamente<br />

po<strong>de</strong>-se observar que o avanço foi heterogêneo. Argentina, Brasil, Colômbia e Chile reduziram<br />

notavelmente a proporção <strong>de</strong> mulheres s<strong>em</strong> ren<strong>da</strong> própria e também a brecha <strong>de</strong> gênero entre homens e<br />

34


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

mulheres s<strong>em</strong> ren<strong>da</strong> própria. O Peru, apesar <strong>de</strong> ter reduzi<strong>do</strong> o número <strong>de</strong> mulheres s<strong>em</strong> ren<strong>da</strong> própria,<br />

manteve constante a brecha <strong>de</strong> gênero. No outro extr<strong>em</strong>o encontram-se o Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong><br />

Bolívia, Guat<strong>em</strong>ala e Paraguai, <strong>países</strong> que realizaram menos progresso <strong>em</strong> ambos os senti<strong>do</strong>s.<br />

Gráfico II.5<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (17 <strong>países</strong>): população s<strong>em</strong> ren<strong>da</strong> própria por sexo<br />

e brecha entre sexos, 1994-2012<br />

(Em percentagens)<br />

60<br />

A. Países com proporção <strong>de</strong> mulheres s<strong>em</strong> ren<strong>da</strong> própria<br />

inferior à média <strong>regional</strong><br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

1994<br />

<strong>2000</strong><br />

2005<br />

2011<br />

1995<br />

2001<br />

2006<br />

2012<br />

1994<br />

1999<br />

2008<br />

2012<br />

1994<br />

<strong>2000</strong><br />

2006<br />

2011<br />

Argentina<br />

Brasil<br />

Colômbia<br />

1994<br />

2001<br />

2007<br />

2012<br />

1994<br />

<strong>2000</strong><br />

2006<br />

2012<br />

1994<br />

2001<br />

2006<br />

2012<br />

1997<br />

2001<br />

2007<br />

2012<br />

2002<br />

2007<br />

2012<br />

1994<br />

2001<br />

2007<br />

2012<br />

1997<br />

2002<br />

2005<br />

2010<br />

Chile<br />

Equa<strong>do</strong>r<br />

México<br />

Panamá<br />

Peru<br />

Rep.<br />

Dominicana<br />

Uruguai<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong><br />

(média simples)<br />

60<br />

B. Países com proporção <strong>de</strong> mulheres s<strong>em</strong> ren<strong>da</strong> própria<br />

superior à média <strong>regional</strong><br />

50<br />

40<br />

1993<br />

<strong>2000</strong><br />

2007<br />

2011<br />

30<br />

20<br />

1994<br />

2002<br />

2007<br />

2012<br />

1995<br />

2001<br />

2009<br />

2012<br />

1998<br />

2002<br />

2006<br />

1994<br />

2001<br />

2006<br />

2010<br />

1996<br />

2001<br />

2005<br />

2011<br />

1994<br />

2001<br />

2006<br />

2012<br />

1997<br />

2002<br />

2005<br />

2010<br />

Bolívia<br />

(Est. Plur. <strong>da</strong>)<br />

Costa Rica<br />

El Salva<strong>do</strong>r<br />

Guat<strong>em</strong>ala<br />

Honduras<br />

Paraguai<br />

10<br />

0<br />

Brecha Mulheres Homens<br />

Venezuela<br />

(Rep. Bol. <strong>da</strong>)<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong><br />

(média simples)<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), com base <strong>em</strong> tabulações especiais <strong>da</strong>s pesquisas<br />

<strong>do</strong>miciliares <strong>do</strong>s respectivos <strong>países</strong>.<br />

b) A mulher e a economia<br />

A incorporação <strong>da</strong>s mulheres ao merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho ocorreu <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os <strong>países</strong> com<br />

diferentes veloci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>s nas últimas déca<strong>da</strong>s. A participação f<strong>em</strong>inina na força <strong>de</strong><br />

trabalho manteve suas principais características: as mulheres com maior nível educativo, menores<br />

cargas familiares e mais recursos para adquirir serviços <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> apresentam as taxas <strong>de</strong><br />

participação econômica mais eleva<strong>da</strong>s (veja o gráfico II.6) (Scuro e Bercovich, 2014). Ao analisar<br />

a evolução <strong>da</strong> participação <strong>da</strong>s mulheres <strong>em</strong> comparação com a <strong>do</strong>s homens, observa-se que nos<br />

últimos 20 anos não se modificou a estrutura <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho e que, à luz <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>sobre</strong><br />

35


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

distribuição <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po entre mulheres e homens, os custos <strong>da</strong> participação no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho<br />

têm si<strong>do</strong> assumi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> maneira individual pelas mulheres. Como se verá na seção correspon<strong>de</strong>nte,<br />

as políticas públicas foram insuficientes para melhorar as condições <strong>de</strong> acesso e permanência <strong>da</strong>s<br />

mulheres no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>.<br />

Gráfico II.6<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (média simples <strong>de</strong> 18 <strong>países</strong>): evolução <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> participação econômica<br />

<strong>da</strong> população urbana por sexo, 1990-2012<br />

(Em percentagens)<br />

80<br />

77,5 78,4 79,1 78,5 78,0 77,8 78,0 77,0 76,9<br />

60<br />

40<br />

42,9<br />

44,9<br />

48,3<br />

50,3 51,2 51,9 52,0 52,4 52,9<br />

20<br />

0<br />

1990 1994 1997 1999 2002 2005 2008 2010 2012<br />

Homens<br />

Mulheres<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), com base <strong>em</strong> cifras oficiais.<br />

Na <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong>, assumiu-se o compromisso <strong>de</strong> ampliar o conhecimento <strong>do</strong> setor informal<br />

ou não estrutura<strong>do</strong> (parágrafo 206.e) e <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as formas <strong>de</strong> trabalho e <strong>em</strong>prego (parágrafos 206.f e<br />

g) mediante a melhora <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s e méto<strong>do</strong>s. Tanto neste <strong>do</strong>cumento como nos consensos regionais<br />

(Durán, 2015), o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> adquire uma dimensão explicativa recolhi<strong>da</strong> <strong>em</strong> uma ampla literatura a respeito.<br />

A oferta <strong>de</strong> trabalho r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> é regula<strong>da</strong>, entre outras coisas, por meio <strong>da</strong> negociação nos<br />

<strong>do</strong>micílios <strong>da</strong> distribuição <strong>do</strong> trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> para a reprodução entre os m<strong>em</strong>bros <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio<br />

segun<strong>do</strong> o sexo e a i<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esta regulação é feita mediante a atribuição <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po ao trabalho r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong><br />

e não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>. As pessoas, principalmente as mulheres, que assum<strong>em</strong> o trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong><br />

liberam os trabalha<strong>do</strong>res potenciais <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>. A medição e a comparação <strong>do</strong><br />

t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> ao cui<strong>da</strong><strong>do</strong> por mulheres e homens geraram evidências inéditas <strong>sobre</strong> as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

arraiga<strong>da</strong>s nas famílias. A análise <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po permite também um cálculo aproxima<strong>do</strong> <strong>do</strong> valor<br />

econômico <strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> e sua contribuição à riqueza <strong>do</strong>s <strong>países</strong> e questiona seriamente a lacuna analítica<br />

<strong>da</strong> economia tradicional neste campo. Embora a participação econômica <strong>da</strong>s mulheres no <strong>em</strong>prego tenha<br />

aumenta<strong>do</strong> nas últimas déca<strong>da</strong>s, estagnou-se a partir <strong>do</strong>s primeiros anos <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>2000</strong> e ain<strong>da</strong> hoje<br />

meta<strong>de</strong> <strong>da</strong>s mulheres latino-americanas e caribenhas não t<strong>em</strong> vínculo com o merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho. Em<br />

média, a taxa <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica f<strong>em</strong>inina na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> ascen<strong>de</strong> a 49,8%, o que quer dizer<br />

que uma <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> duas mulheres <strong>em</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar trabalha ou busca um trabalho r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

maneira ativa (CEPAL, 2013b).<br />

Se consi<strong>de</strong>rarmos as horas <strong>de</strong> trabalho r<strong>em</strong>unera<strong>da</strong>s, <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os <strong>países</strong> a média s<strong>em</strong>anal<br />

que correspon<strong>de</strong> às mulheres é inferior à masculina. Em 2011, as mulheres <strong>de</strong>dicavam <strong>em</strong> média<br />

38,2 horas s<strong>em</strong>anais ao merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho e os homens 44,8 (Scuro e Bercovich, 2014). A<br />

36


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

incorporação <strong>da</strong> perspectiva <strong>de</strong> gênero na economia permitiu, entre outras coisas, mostrar que<br />

o trabalho não po<strong>de</strong> ser reduzi<strong>do</strong> ao <strong>em</strong>prego r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> (Durán, 2015). Sob esta perspectiva,<br />

surgiram diversos estu<strong>do</strong>s que analisam formas <strong>de</strong> trabalho distintas <strong>do</strong> <strong>em</strong>prego, como o trabalho<br />

não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> <strong>do</strong>s <strong>do</strong>micílios e o trabalho voluntário, e enfatizam sua importância para o<br />

funcionamento <strong>da</strong>s economias e socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s. O trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> é <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como aquele<br />

realiza<strong>do</strong> pelos m<strong>em</strong>bros <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio que permite produzir bens e serviços para o consumo<br />

familiar, como o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>de</strong> pessoas e o trabalho <strong>do</strong>méstico.<br />

Em to<strong>do</strong>s os <strong>países</strong> <strong>da</strong> região com informação disponível, o t<strong>em</strong>po que as mulheres <strong>de</strong>dicam ao<br />

trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> é ao menos o <strong>do</strong>bro <strong>do</strong> <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> pelos homens a este tipo <strong>de</strong> tarefas e po<strong>de</strong><br />

chegar a ser até quatro vezes superior, como no Brasil, Costa Rica e Equa<strong>do</strong>r (veja o gráfico II.7). A<br />

<strong>sobre</strong>carga <strong>de</strong> trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> prejudica a participação <strong>da</strong>s mulheres na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões,<br />

o avanço <strong>de</strong> suas carreiras e suas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s ocupacionais, o que por sua vez reduz sua ren<strong>da</strong> e suas<br />

perspectivas <strong>de</strong> acesso à proteção social.<br />

Gráfico II.7<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (8 <strong>países</strong>): t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> ao trabalho total, r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong><br />

e não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> <strong>da</strong> população economicamente ativa com 15 anos<br />

<strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> ou mais, por sexo, último ano disponível<br />

(Em horas s<strong>em</strong>anais)<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

53,8<br />

33,8<br />

46,8<br />

41,8<br />

68,2<br />

47,3<br />

58,5<br />

51,5<br />

55,0 56,0 40,0<br />

73,7<br />

52,0<br />

37,0<br />

69,6<br />

39,7<br />

53,2<br />

45,2<br />

61,1 65,0<br />

48,1 37,0<br />

43,8<br />

69,0<br />

33,0<br />

62,0<br />

47,0<br />

72,9<br />

34,4<br />

59,4<br />

44,5<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

20,1<br />

Mulheres<br />

5,0 20,9 7,0 18,0 4,0 33,7 8,0 29,9 13,0 28,0 12,6 36,0 15,0 38,5 14,9<br />

Homens<br />

Mulheres<br />

Homens<br />

Mulheres<br />

Homens<br />

Mulheres<br />

Homens<br />

Brasil Colômbia Costa Rica Equa<strong>do</strong>r México Panamá Peru Uruguai<br />

T<strong>em</strong>po <strong>de</strong> trabalho <strong>do</strong>méstico não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong><br />

T<strong>em</strong>po <strong>de</strong> trabalho r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong><br />

T<strong>em</strong>po <strong>de</strong> trabalho total<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), com base <strong>em</strong> tabulações especiais <strong>da</strong>s pesquisas<br />

<strong>de</strong> uso <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po.<br />

Mulheres<br />

Homens<br />

Mulheres<br />

Homens<br />

Mulheres<br />

Homens<br />

Mulheres<br />

Homens<br />

Entre as pessoas ocupa<strong>da</strong>s, as diferenças <strong>de</strong> gênero expressam-se na segregação <strong>em</strong> certos<br />

setores <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, distribuição <strong>da</strong>s mulheres por categorias ocupacionais e diferenças salariais.<br />

Analisan<strong>do</strong> as categorias ocupacionais, observa-se que as mulheres ocupam lugares mais precários<br />

e com menores r<strong>em</strong>unerações. As mulheres constitu<strong>em</strong> uma menor proporção no trabalho assalaria<strong>do</strong> e<br />

mais <strong>de</strong> uma <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> <strong>de</strong>z (11,6%) trabalha no serviço <strong>do</strong>méstico, que na região continua sen<strong>do</strong> precário<br />

e pouco regula<strong>do</strong> (CEPAL, 2013a), enquanto para os homens esta percentag<strong>em</strong> é mínima (0,5%) (veja<br />

o gráfico II.8). Em termos <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong> proteção social, o Panorama Laboral 2013 (OIT, 2013b)<br />

assinala a enorme <strong>de</strong>fasag<strong>em</strong> na afiliação a sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> pensões e saú<strong>de</strong> entre as pessoas ocupa<strong>da</strong>s<br />

assalaria<strong>da</strong>s e não assalaria<strong>da</strong>s, e que nos <strong>países</strong> com baixo nível <strong>de</strong> afiliação global as pessoas mais<br />

afeta<strong>da</strong>s são aquelas que trabalham <strong>em</strong> micro<strong>em</strong>presas e no serviço <strong>do</strong>méstico.<br />

37


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Gráfico II.8<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (18 <strong>países</strong>): população ocupa<strong>da</strong> por categoria ocupacional e sexo,<br />

áreas urbanas, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 2012<br />

(Em percentagens)<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong><br />

(média simples)<br />

Venezuela (Rep. Bol. <strong>da</strong>)<br />

Uruguai<br />

Rep. Dominicana<br />

Peru<br />

Paraguai<br />

Panamá<br />

Nicarágua<br />

México<br />

Honduras<br />

Guat<strong>em</strong>ala<br />

El Salva<strong>do</strong>r<br />

Equa<strong>do</strong>r<br />

Costa Rica<br />

Colômbia<br />

Chile<br />

Brasil<br />

Bolívia (Est. Plur. <strong>da</strong>)<br />

Argentina<br />

Homens<br />

38<br />

Mulheres<br />

0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100<br />

Emprega<strong>do</strong>res Assalaria<strong>do</strong>s Conta própria<br />

Familiares ou não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>s Serviço <strong>do</strong>méstico<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), com base <strong>em</strong> cifras oficiais.<br />

Nos últimos 20 anos, diminuiu na região a proporção <strong>de</strong> mulheres <strong>em</strong>prega<strong>da</strong>s no serviço<br />

<strong>do</strong>méstico, passan<strong>do</strong> <strong>de</strong> 15% para 11,6%. São ex<strong>em</strong>plos interessantes o Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia<br />

e o Equa<strong>do</strong>r, que reduziram esta proporção <strong>em</strong> mais <strong>de</strong> 40%, situan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> <strong>países</strong><br />

latino-americanos com menor proporção <strong>de</strong> mulheres <strong>em</strong>prega<strong>da</strong>s nesta categoria ocupacional. No<br />

outro extr<strong>em</strong>o encontra-se a Costa Rica, que apresenta a maior cifra <strong>da</strong> região, já que a proporção <strong>de</strong><br />

mulheres <strong>em</strong>prega<strong>da</strong>s como trabalha<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>mésticas r<strong>em</strong>unera<strong>da</strong>s cresceu 60% nos últimos 20 anos.<br />

Uma <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> cinco mulheres trabalha por conta própria, <strong>em</strong> sua maioria no setor <strong>de</strong> comércio<br />

ou <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às menores exigências <strong>de</strong> capital inicial. Embora a categoria <strong>de</strong> conta própria<br />

possa referir-se a <strong>em</strong>preendimentos formais, na região geralmente se relaciona com o merca<strong>do</strong><br />

informal. No caso <strong>da</strong>s mulheres, particularmente <strong>da</strong>quelas <strong>de</strong> <strong>do</strong>micílios pobres, é uma alternativa que<br />

lhes permite gerar ren<strong>da</strong> e conciliar o acesso a bens monetários e tarefas <strong>do</strong>mésticas, já que usualmente<br />

esses <strong>em</strong>preendimentos são uma extensão <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> bens e serviços <strong>de</strong> seus <strong>do</strong>micílios. Na<br />

categoria <strong>de</strong> conta própria, t<strong>em</strong>os também as mulheres a cargo <strong>de</strong> micro<strong>em</strong>presas que encontram neste<br />

setor poucas barreiras <strong>de</strong> ingresso (CEPAL, 2013a). Muitas iniciaram micro<strong>em</strong>presas ante a falta <strong>de</strong><br />

oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> obter ren<strong>da</strong> própria. Também pesam aspectos<br />

<strong>de</strong> gênero na acumulação <strong>de</strong> ativos e <strong>de</strong> capital humano e na distribuição intrafamiliar <strong>do</strong>s recursos e<br />

responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> criação <strong>do</strong>s filhos. Muitas vezes, esses <strong>em</strong>preendimentos escon<strong>de</strong>m situações <strong>de</strong><br />

precarie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>, duração <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> produtiva <strong>do</strong>s <strong>em</strong>preendimentos, jorna<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

trabalho, regulação e seguri<strong>da</strong><strong>de</strong> social. As mulheres pobres e com menor nível educativo geralmente<br />

trabalham <strong>em</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conta própria concentra<strong>da</strong>s no merca<strong>do</strong> interno e com muito pouca<br />

participação na ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> exporta<strong>do</strong>ra. Apesar <strong>de</strong> existir<strong>em</strong> muitas mulheres no setor <strong>de</strong> serviços,<br />

geralmente o apoio <strong>do</strong>s órgãos <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> exportações se concentra <strong>em</strong> produtos e não <strong>em</strong><br />

serviços, o que coloca as <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> mulheres <strong>em</strong> <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início. As micro<strong>em</strong>presas<br />

dirigi<strong>da</strong>s por mulheres são consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s particularmente importantes para o teci<strong>do</strong> social <strong>do</strong>s <strong>países</strong><br />

<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, já que as mulheres ten<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>stinar sua ren<strong>da</strong> à educação, saú<strong>de</strong> e b<strong>em</strong>-estar<br />

<strong>de</strong> suas famílias e suas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Apesar <strong>de</strong> sua crescente participação econômica, não gozam<br />

<strong>de</strong> uma participação igualitária <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> conjunto <strong>do</strong> <strong>em</strong>presaria<strong>do</strong> e suas <strong>em</strong>presas ten<strong>de</strong>m a ser<br />

menores e a crescer a um ritmo mais lento que as <strong>do</strong>s homens.<br />

Um estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> pelo Sist<strong>em</strong>a Econômico Latino-Americano e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> (SELA) <strong>em</strong> 2010<br />

concluiu: “As <strong>em</strong>presárias são atores econômicos que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> fazer parte <strong>de</strong> uma agen<strong>da</strong> econômica, <strong>da</strong><br />

qual ain<strong>da</strong> não participam <strong>de</strong> maneira integral nos <strong>países</strong> <strong>da</strong> região. É equivoca<strong>do</strong> aplicar o mesmo tipo <strong>de</strong>


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

políticas públicas para impulsionar as PME <strong>de</strong> homens e mulheres, mas também é equivoca<strong>do</strong> que as agências<br />

responsáveis pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> PME <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> país não sejam responsáveis por <strong>de</strong>senvolver<br />

as políticas para elas”. O relatório <strong>do</strong> SELA (2010) conclui que as políticas a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s pelos governos <strong>da</strong> região<br />

para promover a equi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero na ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica, <strong>de</strong> maneira específica no setor <strong>em</strong>presarial e<br />

no <strong>da</strong>s PME, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> surgir <strong>de</strong> uma perspectiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico para realmente promover<br />

seu potencial <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> riqueza. Entre as conclusões mais <strong>de</strong>staca<strong>da</strong>s, encontram-se as seguintes: i) as<br />

políticas e programas para <strong>em</strong>presárias foram <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s por instituições ou ministérios para mulheres,<br />

o que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre permite uma vinculação ao setor produtivo; ii) as medi<strong>da</strong>s menos generaliza<strong>da</strong>s na região<br />

para tratar o t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> equi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero e PME têm si<strong>do</strong> as vincula<strong>da</strong>s às políticas <strong>do</strong>s ministérios <strong>de</strong><br />

produção ou economia; iii) as PME <strong>de</strong> mulheres <strong>de</strong>v<strong>em</strong> fazer parte <strong>de</strong> uma política integral <strong>de</strong> PME <strong>do</strong>s<br />

<strong>países</strong> que, por meio <strong>de</strong> ferramentas e projetos diferencia<strong>do</strong>s, impulsion<strong>em</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento; iv) as<br />

ferramentas públicas e priva<strong>da</strong>s mais utiliza<strong>da</strong>s na região para promover a equi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero vincula<strong>da</strong><br />

às PME estão relaciona<strong>da</strong>s com o acesso a microcréditos, capacitação para a administração <strong>de</strong> pequenas<br />

e micro<strong>em</strong>presas, apoio à comercialização mediante participação <strong>em</strong> feiras e exposições <strong>de</strong> <strong>em</strong>presárias,<br />

criação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>em</strong>presárias e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos para mulheres <strong>de</strong> menor ren<strong>da</strong>, <strong>sobre</strong>tu<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

zonas rurais; contu<strong>do</strong>, não estão claramente articula<strong>da</strong>s e na maioria <strong>do</strong>s casos trata-se <strong>de</strong> projetos isola<strong>do</strong>s.<br />

Além disso, <strong>da</strong><strong>do</strong> que a maioria <strong>da</strong>s <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> mulheres está no setor <strong>de</strong> serviços, é preciso<br />

impulsionar políticas específicas para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, b<strong>em</strong> como fazer com<br />

que esses serviços incorpor<strong>em</strong> maior valor agrega<strong>do</strong>; isso somente será obti<strong>do</strong> mediante a educação e<br />

a capacitação.<br />

Existe uma gran<strong>de</strong> lacuna no acesso a créditos, pois as autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s bancárias e os bancos<br />

comerciais ain<strong>da</strong> têm que estabelecer condições e instrumentos financeiros que proporcion<strong>em</strong> acesso a<br />

créditos substantivos, <strong>de</strong> longo prazo e a taxas <strong>de</strong> juros acessíveis para as <strong>em</strong>presárias. As microfinanças<br />

são um bom início, mas não po<strong>de</strong>m ser o instrumento financeiro para promover o <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

o crescimento; limitar-se às microfinanças é limitar o potencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssas <strong>em</strong>presas.<br />

Um <strong>exame</strong> sob o enfoque <strong>em</strong>presarial, que categoriza como setor <strong>de</strong> baixa produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> os<br />

indivíduos que são <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>res ou assalaria<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas com até cinco <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s, que trabalham<br />

no <strong>em</strong>prego <strong>do</strong>méstico ou que são trabalha<strong>do</strong>res in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes não qualifica<strong>do</strong>s, mostra que 47,7% <strong>da</strong>s<br />

mulheres <strong>da</strong> região trabalham <strong>em</strong> <strong>em</strong>pregos precários <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>do</strong>s salários, duração, seguri<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

social e outros fatores (veja o gráfico II.9).<br />

Gráfico II.9<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (média pon<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>): ocupa<strong>do</strong>s urbanos <strong>em</strong> setores <strong>de</strong> baixa produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

(setor informal) por sexo, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 1994 (16 <strong>países</strong>) e 2012 (18 <strong>países</strong>)<br />

(Em percentagens)<br />

50<br />

49,1<br />

47,7<br />

45<br />

40<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

39,1<br />

23,6<br />

0,5<br />

25,0<br />

15,1<br />

41,2<br />

22,5<br />

23,1<br />

0,5 11,6<br />

11,5<br />

14,2<br />

10,5<br />

7,6<br />

3,5 1,4<br />

4,0 2,5<br />

Homens Mulheres Homens Mulheres<br />

1994 2012<br />

Emprega<strong>do</strong>res <strong>de</strong> micro<strong>em</strong>presas<br />

Total <strong>de</strong> assalaria<strong>do</strong>s <strong>de</strong> micro<strong>em</strong>presas<br />

Emprego <strong>do</strong>méstico<br />

Trabalha<strong>do</strong>res in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes não qualifica<strong>do</strong>s<br />

Total <strong>de</strong> pessoas ocupa<strong>da</strong>s <strong>de</strong> baixa produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), com base <strong>em</strong> cifras oficiais.<br />

39


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Boxe II.1<br />

O <strong>em</strong>prego informal<br />

A informali<strong>da</strong><strong>de</strong> ain<strong>da</strong> é <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> importante na região; muitas são as pessoas que se encontram nessa situação,<br />

seja que trabalh<strong>em</strong> no setor informal ou no setor formal. Enquanto para os homens a maior parte <strong>do</strong> <strong>em</strong>prego informal<br />

se concentra no setor informal, para as mulheres a informali<strong>da</strong><strong>de</strong> está presente seja que trabalh<strong>em</strong> no setor formal<br />

ou no informal. Dito <strong>de</strong> outra maneira, a maioria <strong>do</strong>s homens que se encontram na informali<strong>da</strong><strong>de</strong> trabalha no setor<br />

informal, pois na maioria <strong>do</strong>s casos a composição <strong>do</strong> setor informal <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas é heterogênea e na prática correspon<strong>de</strong><br />

majoritariamente a micro<strong>em</strong>presas <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res por conta própria e a micro<strong>em</strong>presários informais que não estão<br />

registra<strong>do</strong>s. Seus principais obstáculos são a pouca <strong>do</strong>tação <strong>de</strong> capital e a pequena escala <strong>em</strong> que operam, o que<br />

dificulta alcançar níveis <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> suficientes para cobrir os custos <strong>da</strong> formalização. No caso <strong>da</strong>s mulheres,<br />

a informali<strong>da</strong><strong>de</strong> no setor formal se <strong>de</strong>ve ao <strong>de</strong>scumprimento <strong>da</strong>s normas (seja por <strong>de</strong>sconhecimento <strong>da</strong> lei ou por<br />

incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pagar o custo <strong>da</strong> formali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>em</strong>prego).<br />

Nos 16 <strong>países</strong> <strong>da</strong> região <strong>sobre</strong> os quais se possui informação, o <strong>em</strong>prego informal é uma fonte <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego<br />

mais importante para as mulheres que para os homens, salvo nos casos <strong>da</strong> Argentina e República Bolivariana<br />

<strong>da</strong> Venezuela. Esta diferença <strong>de</strong>ve-se a que gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> serviço <strong>do</strong>méstico, ocupa<strong>do</strong> majoritariamente pelas<br />

mulheres, correspon<strong>de</strong> a <strong>em</strong>prego informal. Por ex<strong>em</strong>plo, no Brasil, <strong>do</strong>s 15,9 milhões <strong>de</strong> mulheres no setor<br />

informal, quase 5 milhões trabalham <strong>de</strong> maneira informal nos <strong>do</strong>micílios (OIT, 2011). Contu<strong>do</strong>, no <strong>em</strong>prego <strong>do</strong><br />

setor informal a maioria <strong>do</strong>s <strong>países</strong> <strong>da</strong> região (12 <strong>de</strong> 16) registra uma maior percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> homens <strong>em</strong> comparação<br />

com as mulheres.<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (16 <strong>países</strong>): composição <strong>do</strong> <strong>em</strong>prego informal, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 2010<br />

(Em percentagens <strong>do</strong> <strong>em</strong>prego não agrícola)<br />

60<br />

50<br />

53,7<br />

47,8 50,4<br />

40<br />

30<br />

34,4<br />

32,7<br />

30,3<br />

20<br />

11,9 12,7 12,3 11,5<br />

10<br />

0<br />

Emprego informal<br />

Emprego no<br />

setor informal<br />

Emprego informal no<br />

setor formal<br />

5,4<br />

0,6<br />

Serviço <strong>do</strong>méstico<br />

Mulheres Homens Total<br />

Fonte: Organização Internacional <strong>do</strong> Trabalho (OIT), com base nas pesquisas <strong>do</strong>miciliares <strong>do</strong>s <strong>países</strong>.<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), com base <strong>em</strong> Organização Internacional <strong>do</strong><br />

Trabalho (OIT), Women and men in the informal economy. A statistical picture, Genebra, 2002.<br />

Também é interessante consi<strong>de</strong>rar a segregação <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> setores <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> que, junto<br />

com a distribuição <strong>da</strong>s mulheres por categorias ocupacionais, <strong>de</strong>monstra a inserção diferencial <strong>da</strong>s<br />

mulheres na força <strong>de</strong> trabalho. Em termos <strong>de</strong> setores <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a concentração <strong>da</strong>s mulheres<br />

é muito mais acentua<strong>da</strong> que a <strong>do</strong>s homens, e quase 70% se situam <strong>em</strong> <strong>do</strong>is ramos <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>:<br />

administração pública, ensino, saú<strong>de</strong> e serviços sociais (41%) e comércio (27,5%). Por outro la<strong>do</strong>, os<br />

<strong>do</strong>is principais ramos <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> para os homens são a agricultura e o comércio, ca<strong>da</strong> um com 20%<br />

(veja o gráfico II.10).<br />

40


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Gráfico II.10<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (média pon<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> <strong>de</strong> 18 <strong>países</strong>): população ocupa<strong>da</strong> por ramo<br />

<strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e sexo, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 2012<br />

(Em percentagens)<br />

0,2 0,3<br />

1,9<br />

0,1<br />

Homens Mulheres<br />

10,3<br />

20,1<br />

11,9<br />

27,5<br />

6,2<br />

41,0<br />

0,6<br />

0,8 0,9<br />

0,2<br />

13,7 12,9 20,0 8,7 6,2 16,5<br />

0 25 50 75 100<br />

Agricultura<br />

Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, gás e água<br />

Transporte<br />

Não especifica<strong>do</strong><br />

Mineração<br />

Construção<br />

Serviços financeiros<br />

Indústria manufatureira<br />

Comércio<br />

Administração pública, ensino,<br />

saú<strong>de</strong> e serviços sociais<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), com base <strong>em</strong> cifras oficiais.<br />

Conforme menciona<strong>do</strong> num trabalho <strong>da</strong> CEPAL (2014a), a região mantém brechas estruturais<br />

<strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego que são difíceis <strong>de</strong> superar. A heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> estrutural <strong>de</strong>termina uma forte<br />

segmentação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho e <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> medi<strong>da</strong> isto se traduz <strong>em</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> nos<br />

<strong>do</strong>micílios. Utilizan<strong>do</strong> o enfoque setorial <strong>da</strong> CEPAL para <strong>de</strong>stacar as diferenças no <strong>em</strong>prego f<strong>em</strong>inino<br />

entre os setores ou ramos <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica, foram i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s três grupos consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> sua<br />

produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> média (<strong>em</strong> dólares, pari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r aquisitivo - PPA):<br />

i) o setor <strong>de</strong> baixa produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, que agrupa a agricultura, o comércio e os serviços sociais<br />

comunais e pessoais;<br />

ii) o setor <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> média, que abrange a construção, a manufatura e o transporte;<br />

iii) o setor <strong>de</strong> alta produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, que inclui os serviços financeiros, a eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e a mineração.<br />

Nos últimos 20 anos, as mulheres <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> se inseriram, <strong>em</strong>bora muito lentamente,<br />

<strong>em</strong> setores <strong>de</strong> alta produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, passan<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2,4% <strong>de</strong> participação <strong>em</strong> 1994 a 6,8% <strong>em</strong> 2012. Em<br />

gran<strong>de</strong> medi<strong>da</strong>, este aumento se <strong>de</strong>ve à inserção <strong>de</strong> mulheres no setor financeiro <strong>em</strong> <strong>países</strong> como Brasil,<br />

Chile, Colômbia, Costa Rica e Uruguai.<br />

Em El Salva<strong>do</strong>r, Guat<strong>em</strong>ala e Honduras, a participação f<strong>em</strong>inina nos setores <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

média é maior, já que nestes <strong>países</strong> mais <strong>de</strong> 15% <strong>da</strong>s mulheres trabalham na indústria manufatureira.<br />

Entre as mulheres <strong>em</strong>prega<strong>da</strong>s <strong>em</strong> setores <strong>de</strong> baixa produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, encontram-se as que<br />

trabalham na agricultura, que na região são uma <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>de</strong>z mulheres ocupa<strong>da</strong>s. No Equa<strong>do</strong>r, Paraguai<br />

e Peru chegam a ser uma <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> cinco; no caso <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, uma <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> três<br />

mulheres trabalha neste setor. Segun<strong>do</strong> o relatório <strong>regional</strong> <strong>da</strong> OIT (2013a), <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> proporção 46 as<br />

mulheres trabalham como familiares não r<strong>em</strong>unera<strong>da</strong>s, o que as coloca <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong> ao<br />

não receber um salário por suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e gera uma situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência <strong>do</strong>s homens.<br />

46<br />

Segun<strong>do</strong> cálculos <strong>da</strong> CEPAL, basea<strong>do</strong>s <strong>em</strong> processamentos especiais <strong>de</strong> pesquisas <strong>do</strong>miciliares, esta proporção chegaria<br />

a 33% <strong>da</strong>s mulheres <strong>em</strong>prega<strong>da</strong>s no setor <strong>da</strong> agricultura, com circunstâncias extr<strong>em</strong>as no Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia,<br />

Guat<strong>em</strong>ala, Panamá e Peru, on<strong>de</strong> mais <strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>da</strong>s ocupa<strong>da</strong>s no setor agrícola são familiares não r<strong>em</strong>unera<strong>da</strong>s.<br />

41


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Boxe II.2<br />

A contribuição <strong>da</strong>s mulheres no âmbito rural<br />

As mulheres rurais <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> cumpr<strong>em</strong> um papel muito importante na produção <strong>de</strong> alimentos<br />

na agricultura familiar, mas muitas trabalham <strong>em</strong> condições precárias e s<strong>em</strong> os direitos trabalhistas básicos. Segun<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> Organização <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a população rural <strong>da</strong> <strong>América</strong><br />

<strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> gira <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 121 milhões <strong>de</strong> pessoas, o que equivale aproxima<strong>da</strong>mente a 20% <strong>da</strong> população<br />

total, sen<strong>do</strong> que 48% são mulheres e cerca <strong>de</strong> 20% pertenc<strong>em</strong> a povos indígenas.<br />

O aspecto negativo <strong>do</strong>s avanços é que as mulheres rurais viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> social, que se<br />

expressa na dimensão econômica e se traduz <strong>em</strong> menor acesso à terra: possu<strong>em</strong> apenas 30% <strong>do</strong>s títulos individuais<br />

<strong>sobre</strong> a terra e 10% <strong>do</strong>s créditos e receb<strong>em</strong> somente 5% <strong>da</strong> assistência técnica.<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), com base nos relatórios <strong>do</strong>s <strong>países</strong> <strong>sobre</strong> a<br />

aplicação <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> e o <strong>do</strong>cumento <strong>final</strong> <strong>do</strong> <strong>vigésimo</strong> <strong>terceiro</strong> perío<strong>do</strong> <strong>extraordinário</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>sessões</strong> <strong>da</strong> <strong>Ass<strong>em</strong>bleia</strong> <strong>Geral</strong> (<strong>2000</strong>) para a preparação <strong>da</strong>s avaliações e <strong>exame</strong>s regionais que terão lugar <strong>em</strong> 2015 para<br />

a com<strong>em</strong>oração <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>+20, 2014.<br />

Um <strong>do</strong>s fatos mais <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>s nos estu<strong>do</strong>s <strong>sobre</strong> diferenças <strong>de</strong> gênero no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

trabalho é a existência <strong>de</strong> uma penalização salarial para as mulheres. Esta po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> a diversos<br />

fatores: a divisão sexual <strong>da</strong>s tarefas <strong>do</strong>mésticas no <strong>do</strong>micílio, a discriminação <strong>do</strong>s <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>res, a<br />

segregação educativa antes <strong>de</strong> ingressar no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho e outros fatores associa<strong>do</strong>s a pautas<br />

sociais ou culturais (Scuro e Bercovich, 2014).<br />

Apesar <strong>de</strong> a ren<strong>da</strong> <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong> ambos os sexos aumentar proporcionalmente ao número<br />

<strong>de</strong> anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> a brecha <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> entre homens e mulheres ter diminuí<strong>do</strong> graças à<br />

maior ren<strong>da</strong> <strong>da</strong>s ocupa<strong>da</strong>s com maiores cre<strong>de</strong>nciais educativas (OIT, 2013a), a brecha salarial <strong>de</strong> gênero<br />

entre os que têm estu<strong>do</strong>s pós-secundários (mais <strong>de</strong> 13 anos no sist<strong>em</strong>a formal <strong>de</strong> educação), <strong>em</strong> que<br />

os salários médios <strong>da</strong>s mulheres equival<strong>em</strong> apenas a 78,7% <strong>do</strong> que receb<strong>em</strong> os homens com iguais<br />

características educativas, é uma <strong>da</strong>s mais pronuncia<strong>da</strong>s (veja o gráfico II.11) 47 .<br />

Gráfico II.11<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (média simples <strong>de</strong> 18 <strong>países</strong>): proporção <strong>do</strong> salário médio <strong>da</strong>s mulheres assalaria<strong>da</strong>s<br />

<strong>de</strong> 20 a 49 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> que trabalham 35 horas ou mais por s<strong>em</strong>ana <strong>em</strong> relação ao salário<br />

<strong>do</strong>s homens <strong>de</strong> iguais características, por anos <strong>de</strong> escolari<strong>da</strong><strong>de</strong>, áreas urbanas, 1994 e 2012<br />

(Em percentagens)<br />

100<br />

75<br />

76,6<br />

87,7<br />

68,5<br />

82,3<br />

75,9<br />

71,2<br />

77,4 78,5 78,7<br />

67,6<br />

50<br />

25<br />

0<br />

Total 0 a 5 anos 6 a 9 anos 10 a 12 anos 13 anos ou mais<br />

1994 2012<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), com base <strong>em</strong> cifras oficiais.<br />

47<br />

Isto está relaciona<strong>do</strong> com a segmentação ocupacional por gênero <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho: as mulheres com estu<strong>do</strong>s<br />

pós-secundários se concentram principalmente <strong>em</strong> grupos ocupacionais com salários mais baixos e com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> ascensão e promoção.<br />

42


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Nos últimos 20 anos observou-se um progresso muito diferencia<strong>do</strong> nos <strong>países</strong> rumo a uma<br />

maior igual<strong>da</strong><strong>de</strong> salarial; os casos extr<strong>em</strong>os são o Peru e a República Dominicana, on<strong>de</strong>, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong><br />

diminuir, a brecha <strong>de</strong> gênero aumentou. Contu<strong>do</strong>, este último país <strong>de</strong>u um salto importante <strong>em</strong> equiparar<br />

os salários <strong>de</strong> homens e mulheres no grupo <strong>de</strong> menor educação. No outro extr<strong>em</strong>o, encontram-se Costa<br />

Rica, Equa<strong>do</strong>r e República Bolivariana <strong>da</strong> Venezuela, on<strong>de</strong> a diferença salarial entre homens e mulheres<br />

é inferior a 5% (veja o gráfico II.12).<br />

Gráfico II.12<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (17 <strong>países</strong>): brechas entre homens e mulheres <strong>em</strong> matéria<br />

<strong>de</strong> ocupação e r<strong>em</strong>unerações, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 2012<br />

(Em proporções)<br />

Ren<strong>da</strong> masculina/ren<strong>da</strong> f<strong>em</strong>inina<br />

1,6<br />

1,5<br />

1,4<br />

1,3<br />

1,2<br />

1,1<br />

Peru<br />

Paraguai<br />

Bolívia<br />

México<br />

(Est. Plur. <strong>da</strong>) Brasil<br />

Chile<br />

Uruguai<br />

Equa<strong>do</strong>r<br />

Argentina<br />

Colômbia Nicarágua<br />

Costa Rica<br />

Venezuela<br />

(Rep. Bol. <strong>da</strong>)<br />

Panamá<br />

El Salva<strong>do</strong>r<br />

Rep. Dominicana<br />

Honduras<br />

1,0<br />

1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,8 1,9 2,0<br />

Taxa <strong>de</strong> ocupação masculina/taxa <strong>de</strong> ocupação f<strong>em</strong>inina<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL).<br />

Um <strong>exame</strong> <strong>da</strong> correlação negativa entre a brecha <strong>de</strong> ocupação por gênero e a brecha <strong>de</strong> ren<strong>da</strong><br />

reforça a suposição <strong>de</strong> que existe um importante processo <strong>de</strong> seleção para os <strong>em</strong>pregos <strong>de</strong> mulheres na<br />

região (Scuro e Bercovich, 2014). Devi<strong>do</strong> aos estereótipos <strong>de</strong> gênero, carência <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e acessíveis, culturas <strong>em</strong>presariais hostis e falta <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> capacitação no trabalho,<br />

as mulheres ocupam <strong>em</strong>pregos precários com escassos direitos sociotrabalhistas ou sindicais e baixas<br />

perspectivas <strong>de</strong> melhorar sua situação salarial. Portanto, é inútil limitar os esforços econométricos e <strong>de</strong><br />

políticas unicamente a fechar as brechas, s<strong>em</strong> vinculá-los com outras discriminações que as mulheres<br />

experimentam ao tentar inserir-se e competir no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho. É necessário olhar o panorama<br />

completo e concentrar os esforços <strong>em</strong> políticas que favoreçam o trabalho <strong>de</strong>cente e permitam às mulheres<br />

exercer plenamente sua autonomia econômica, <strong>de</strong>senvolver e aproveitar suas capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e acessar a<br />

proteção social, o crédito, os investimentos e as novas tecnologias.<br />

Como indica o <strong>do</strong>cumento Pactos para a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> (CEPAL, 2014a), a afiliação aos sist<strong>em</strong>as<br />

<strong>de</strong> pensões aumentou na última déca<strong>da</strong> e <strong>em</strong> média na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> a percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> contribuintes<br />

à seguri<strong>da</strong><strong>de</strong> social é similar entre homens e mulheres. Apesar disso po<strong>de</strong>mos observar diferenças entre<br />

<strong>países</strong>, com probabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s muito mais altas <strong>de</strong> contribuição entre os homens na Argentina, Esta<strong>do</strong><br />

Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia e Peru. Por outro la<strong>do</strong>, na Guat<strong>em</strong>ala, Honduras, México e Nicarágua a situação<br />

é inversa, pois as mulheres têm maior probabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> contribuir à seguri<strong>da</strong><strong>de</strong> social, <strong>em</strong> contextos <strong>de</strong><br />

muito baixa contribuição.<br />

Nos <strong>países</strong> <strong>em</strong> que as mulheres têm diferenças menores nas taxas <strong>de</strong> contribuição ou mesmo<br />

maior contribuição que os homens, as diferenças nas taxas <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego entre homens e mulheres<br />

43


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

são maiores. Isto indica que as mulheres que consegu<strong>em</strong> inserir-se no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, <strong>em</strong> um<br />

contexto <strong>de</strong> baixas taxas <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego f<strong>em</strong>ininas, têm probabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ser contribuintes, indican<strong>do</strong> que<br />

as mulheres com maior educação participam mais no <strong>em</strong>prego e, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a isso, têm mais possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> contribuir.<br />

c) Principais avanços na educação relativos às mulheres<br />

na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e no <strong>Caribe</strong><br />

Nos relatórios nacionais <strong>do</strong>s governos <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>, vários <strong>países</strong> ressaltam<br />

o t<strong>em</strong>a <strong>da</strong> educação <strong>da</strong>s mulheres como uma <strong>de</strong> suas principais conquistas. Em proporção, os <strong>países</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> são os que mais mencionam este resulta<strong>do</strong>. Antígua e Barbu<strong>da</strong>, Grana<strong>da</strong>, Guiana, Jamaica,<br />

São Vicente e Granadinas, Suriname e Trini<strong>da</strong>d e Tobago <strong>de</strong>stacam a universali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> educação<br />

—principalmente a primária— como avanço nesta matéria. A<strong>de</strong>mais, Jamaica, São Vicente e<br />

Granadinas e Suriname mencionam que a participação f<strong>em</strong>inina na educação superior ultrapassa<br />

amplamente a <strong>de</strong> seus pares masculinos. Chile, Grana<strong>da</strong> e Panamá refer<strong>em</strong>-se a programas <strong>de</strong><br />

proteção ou assistência às a<strong>do</strong>lescentes grávi<strong>da</strong>s para a educação contínua. A educação <strong>em</strong> t<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />

educação sexual (Chile) e a sensibilização às relações e perspectiva <strong>de</strong> gênero (Cuba) também foram<br />

promovi<strong>da</strong>s. De particular interesse é a impl<strong>em</strong>entação <strong>da</strong> Lei 6 <strong>de</strong> <strong>2000</strong> no Panamá, que estabelece<br />

o uso obrigatório <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, conteú<strong>do</strong> e ilustrações com perspectiva <strong>de</strong> gênero nas obras e<br />

textos escolares como uma intervenção proativa para a eliminação <strong>de</strong> práticas discriminatórias por<br />

razão <strong>de</strong> gênero e a promoção <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre os homens e as mulheres no material escolar.<br />

A falta <strong>de</strong> acesso e as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> educação têm um efeito multiplica<strong>do</strong>r<br />

negativo, já que reproduz<strong>em</strong> dispari<strong>da</strong><strong>de</strong>s ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> profissional por diferenças nas taxas<br />

<strong>de</strong> retorno <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s educacionais e pela quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>em</strong>prego, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>em</strong> boa medi<strong>da</strong><br />

também <strong>do</strong> nível educativo. Além disso, reproduz<strong>em</strong> diferenças nas capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s para exercer a<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, o que inclui dispari<strong>da</strong><strong>de</strong>s no acesso a re<strong>de</strong>s sociais e ao pleno exercício <strong>de</strong> direitos (Scuro<br />

e Bercovich, 2014). A região cumpriu o segun<strong>do</strong> Objetivo <strong>do</strong> Milênio <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> educação, que<br />

se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar mo<strong>de</strong>sto e beneficiou especialmente as mulheres <strong>da</strong>s zonas rurais. Contu<strong>do</strong>, falta<br />

um caminho a percorrer tanto para aproveitar a educação <strong>da</strong>s mulheres para sua participação no<br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho como para enfrentar os <strong>de</strong>safios <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. É significativo<br />

o baixo número <strong>de</strong> <strong>países</strong> que faz<strong>em</strong> referência a mu<strong>da</strong>nças curriculares e políticas <strong>de</strong> promoção <strong>da</strong><br />

educação tecnológica e científica <strong>da</strong>s jovens, mas são menos os que indicam ações setoriais <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s<br />

a construir uma cultura <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em sua maioria as campanhas educativas são iniciativas <strong>do</strong>s<br />

ministérios <strong>de</strong> educação, e não se informam resulta<strong>do</strong>s no setor educativo, <strong>de</strong> formação <strong>do</strong>cente <strong>em</strong><br />

to<strong>do</strong>s os níveis.<br />

Os níveis <strong>de</strong> analfabetismo <strong>da</strong> população com mais <strong>de</strong> 15 anos na região são bastante baixos,<br />

com exceção <strong>de</strong> alguns <strong>países</strong>, como Equa<strong>do</strong>r, Guat<strong>em</strong>ala, Honduras e Nicarágua. Apesar <strong>do</strong> progresso,<br />

exist<strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Também po<strong>de</strong>mos constatar que na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> as mulheres <strong>de</strong> zonas rurais<br />

têm menor acesso à educação <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os <strong>países</strong> <strong>da</strong> região; assim, a taxa <strong>de</strong> analfabetismo <strong>da</strong>s mulheres<br />

rurais é <strong>em</strong> média 66% superior à taxa <strong>de</strong> analfabetismo <strong>da</strong>s mulheres urbanas. Estas <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s são<br />

mais pronuncia<strong>da</strong>s no Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, México e Peru. Se analisarmos a brecha digital<br />

<strong>de</strong> gênero no contexto <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças produzi<strong>da</strong>s na era digital, po<strong>de</strong>mos observar que são muitos os<br />

<strong>de</strong>safios relativos à educação que contribuiriam para fechar as brechas entre <strong>países</strong> e, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>les, evitar<br />

que se agregue um novo obstáculo à participação <strong>da</strong>s mulheres na economia.<br />

Durante as últimas déca<strong>da</strong>s, <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os <strong>países</strong> <strong>da</strong> região aumentou a média <strong>de</strong> anos <strong>de</strong><br />

educação <strong>da</strong> população economicamente ativa f<strong>em</strong>inina. Contu<strong>do</strong>, as diferenças entre <strong>países</strong><br />

continuam sen<strong>do</strong> muito acentua<strong>da</strong>s: a média <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> educação <strong>de</strong>sta população varia entre 12,7<br />

na Argentina e 5,3 na Guat<strong>em</strong>ala (veja o gráfico II.13). Os <strong>países</strong> que conseguiram avançar mais são<br />

a Argentina (on<strong>de</strong> os anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta população eram 9,6 <strong>em</strong> média e agora alcançam 12,7), o<br />

Brasil (que passou <strong>de</strong> 6,3 anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> a 9,4 <strong>em</strong> 2012) e o Peru (que também alcançou 9,4 anos<br />

44


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

<strong>de</strong> estu<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2012, enquanto <strong>em</strong> 1994 esta cifra era <strong>de</strong> apenas 6,3 anos). Mais alarmante que as<br />

diferenças entre <strong>países</strong> são as diferenças <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>les; por ex<strong>em</strong>plo, na Guat<strong>em</strong>ala, a média <strong>de</strong> anos<br />

<strong>de</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma mulher na zona urbana é <strong>de</strong> 6,8 (primária completa), enquanto nas zonas rurais não<br />

chega a três anos. Situações similares po<strong>de</strong>m ser observa<strong>da</strong>s no Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia e<br />

Peru, on<strong>de</strong> as mulheres <strong>de</strong> zonas urbanas estu<strong>da</strong>m <strong>em</strong> média <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 10 anos, enquanto nas zonas<br />

rurais não chegam a cinco anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>.<br />

Gráfico II.13<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (18 <strong>países</strong>): média <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> população<br />

economicamente ativa <strong>de</strong> 15 anos ou mais, por sexo<br />

(Em anos)<br />

14<br />

12,7<br />

11,7<br />

11,6<br />

12<br />

11,4<br />

11,1<br />

9,5<br />

9,8 10,2<br />

10,3 10,9 11,0<br />

10<br />

9,4 9,5 10,1 9,9<br />

9,5 9,6<br />

9,5<br />

8,2 8,4 8,8 9,2 9,0<br />

9,2<br />

9,4<br />

8,9<br />

9,2<br />

8,4<br />

8,7<br />

7,6 8,0<br />

7,6<br />

8,3<br />

8<br />

7,2<br />

5,4 5,9 6,2<br />

6<br />

5,3<br />

4<br />

2<br />

0<br />

Argentina<br />

Bolívia<br />

(Est. Plur. <strong>da</strong>)<br />

Brasil<br />

Chile<br />

Colômbia<br />

Costa Rica<br />

Equa<strong>do</strong>r<br />

El Salva<strong>do</strong>r<br />

Guat<strong>em</strong>ala<br />

Honduras<br />

Homens<br />

México<br />

Nicarágua<br />

Panamá<br />

Paraguai<br />

Mulheres<br />

Peru<br />

Rep. Dominicana<br />

Uruguai<br />

Venezuela<br />

(Rep. Bol. <strong>da</strong>)<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong><br />

(média simples)<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), com base <strong>em</strong> tabulações especiais <strong>da</strong>s pesquisas<br />

<strong>do</strong>miciliares <strong>do</strong>s respectivos <strong>países</strong>.<br />

a<br />

Da<strong>do</strong>s nacionais, exceto os <strong>da</strong> Argentina, que correspon<strong>de</strong>m a zonas urbanas. Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s correspon<strong>de</strong>m a 2012,<br />

exceto para o Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, Chile e Paraguai (2011), Honduras (2010), Nicarágua (2009)<br />

e Guat<strong>em</strong>ala (2006).<br />

Em 20 anos não se modificou a estrutura <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego, mas as brechas começaram a ser fecha<strong>da</strong>s.<br />

As explicações tradicionais relaciona<strong>da</strong>s com a falta <strong>de</strong> instrução <strong>da</strong>s mulheres ou as horas trabalha<strong>da</strong>s<br />

por r<strong>em</strong>uneração não bastam para esclarecer por que 20 anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>, ten<strong>do</strong> as mulheres um<br />

nível educativo maior, continuam ocupan<strong>do</strong> os <strong>em</strong>pregos mais precários e no cômputo total trabalham<br />

mais que os homens, s<strong>em</strong> reconhecimento social ou econômico. Por isso, adquir<strong>em</strong> relevância os<br />

esforços realiza<strong>do</strong>s pela Colômbia, Costa Rica, Guat<strong>em</strong>ala, Equa<strong>do</strong>r, México e Uruguai para visibilizar<br />

e quantificar o trabalho total <strong>da</strong>s mulheres e <strong>do</strong>s homens com a <strong>final</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> formular políticas integrais<br />

<strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> e <strong>em</strong>prego. No Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, Colômbia, Equa<strong>do</strong>r e República Bolivariana<br />

<strong>da</strong> Venezuela, a medição <strong>do</strong> valor econômico <strong>do</strong> trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> é resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma norma<br />

constitucional ou jurídica. El Salva<strong>do</strong>r conta com um projeto <strong>de</strong> aferição <strong>do</strong> trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>.<br />

A maioria <strong>do</strong>s <strong>países</strong> apresenta avanços educativos, mas as mulheres continuam encontran<strong>do</strong><br />

barreiras discriminatórias, já que, apesar <strong>do</strong> maior nível <strong>de</strong> instrução, não encontram passag<strong>em</strong> para o<br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho formal. Este dil<strong>em</strong>a faz parte <strong>do</strong>s probl<strong>em</strong>as estruturais que a região enfrenta. As<br />

políticas dirigi<strong>da</strong>s às mulheres têm si<strong>do</strong> neutras <strong>em</strong> matéria econômica, se concentra<strong>do</strong> na aplicação<br />

<strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s sociais para as mulheres mais vulneráveis e se manifesta<strong>do</strong> <strong>em</strong> ações positivas no âmbito<br />

eleitoral e, <strong>em</strong> geral, <strong>em</strong> respostas <strong>de</strong> curto prazo e pouca duração.<br />

45


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

2. As políticas públicas: neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong>, ação positiva e curto prazo<br />

Em 1995 a região estava viven<strong>do</strong> as sequelas <strong>da</strong> crise financeira, a que<strong>da</strong> <strong>do</strong> investimento priva<strong>do</strong> e o baixo<br />

crescimento <strong>da</strong>s economias. Os indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> inflação estavam <strong>em</strong> baixa após a aplicação <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

ajuste <strong>em</strong> vários <strong>países</strong>, observan<strong>do</strong>-se a <strong>de</strong>terioração <strong>da</strong> situação trabalhista, aumento <strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego e<br />

que<strong>da</strong> <strong>do</strong>s salários reais. Na <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong>, <strong>de</strong>stacou-se que os programas <strong>de</strong> ajuste estrutural haviam<br />

si<strong>do</strong> mal <strong>de</strong>senha<strong>do</strong>s e executa<strong>do</strong>s, o que teve efeitos prejudiciais no <strong>de</strong>senvolvimento social.<br />

Nesse contexto, a CEPAL já reconhecia a importante contribuição <strong>da</strong>s mulheres para a ren<strong>da</strong><br />

familiar como consequência <strong>de</strong> sua crescente participação <strong>em</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s econômicas: nos <strong>do</strong>micílios<br />

<strong>em</strong> que os <strong>do</strong>is cônjuges têm trabalho r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>, 30% <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> familiar são contribuí<strong>do</strong>s pela mulher.<br />

Nesse momento, já se chamava a atenção para a segregação ocupacional, a persistência <strong>da</strong>s <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> ren<strong>da</strong> entre homens e mulheres e a existência <strong>de</strong> discriminação salarial contra elas (CEPAL, 1995).<br />

Esta visão conti<strong>da</strong> nas análises <strong>da</strong> época, <strong>em</strong>bora valorize o <strong>em</strong>prego f<strong>em</strong>inino, o consi<strong>de</strong>ra como ren<strong>da</strong><br />

secundária <strong>da</strong>s famílias.<br />

Embora se constate um importante <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> análise e <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s f<strong>em</strong>inistas<br />

na região durante estes 20 anos, inclusive no que diz respeito à macroeconomia, não se po<strong>de</strong> dizer<br />

que anteriormente se carecia <strong>de</strong> visão e propostas dirigi<strong>da</strong>s à realização <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong>. A <strong>Plataforma</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Ação</strong> contém um conjunto <strong>de</strong> propostas <strong>de</strong> política muito claras; por isso, ao revisar os avanços<br />

<strong>de</strong>stes 20 anos, é necessário olhar tanto o contexto internacional como outras dimensões <strong>da</strong>s políticas<br />

nacionais que aju<strong>da</strong>m a compreen<strong>de</strong>r o motivo <strong>da</strong> lentidão e <strong>da</strong>s <strong>de</strong>ficiências na impl<strong>em</strong>entação <strong>do</strong>s<br />

acor<strong>do</strong>s. O objetivo estratégico F.1 <strong>da</strong> <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> assinala que os governos <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />

a<strong>do</strong>tar medi<strong>da</strong>s para garantir r<strong>em</strong>unerações iguais; aplicar leis e eliminar práticas contra a discriminação<br />

por motivo <strong>de</strong> sexo; <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r reformas que outorgu<strong>em</strong> à mulher os mesmos direitos <strong>do</strong>s homens<br />

aos recursos econômicos; revisar possíveis ten<strong>de</strong>nciosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s políticas tributárias; aumentar o<br />

conhecimento para medir e compreen<strong>de</strong>r melhor o alcance e a distribuição <strong>do</strong> trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>,<br />

incluin<strong>do</strong> a formulação <strong>de</strong> méto<strong>do</strong>s para <strong>de</strong>terminar seu valor; e revisar e reformar as leis que regulam<br />

o funcionamento <strong>da</strong>s instituições financeiras a fim <strong>de</strong> que estas prest<strong>em</strong> serviços para as mulheres nas<br />

mesmas condições que se aplicam aos homens; estas são algumas <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s acor<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelos <strong>países</strong>m<strong>em</strong>bros<br />

para promover a in<strong>de</strong>pendência e os direitos econômicos <strong>da</strong> mulher, inclusive o acesso ao<br />

<strong>em</strong>prego, condições <strong>de</strong> trabalho apropria<strong>da</strong>s e o controle <strong>do</strong>s recursos econômicos. Além disso, se<br />

comprometeram a fazer cumprir as leis <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> salarial e eliminar práticas discriminatórias no<br />

<strong>em</strong>prego, especialmente as que penalizam a materni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Com relação ao <strong>em</strong>prego, propõe-se modificar as políticas a fim <strong>de</strong> facilitar a reestruturação <strong>do</strong>s<br />

regimes trabalhistas <strong>de</strong> maneira que promovam a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> compartilhar as responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

familiares, <strong>em</strong>bora nesse momento estivess<strong>em</strong> sen<strong>do</strong> impl<strong>em</strong>enta<strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sregulação <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho (Weller, 2007) contrárias ao que propunha a <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> 48 .<br />

As reformas <strong>do</strong>s regimes previ<strong>de</strong>nciários inicia<strong>da</strong>s no Chile na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980 tiveram na<br />

maioria <strong>do</strong>s casos efeitos negativos <strong>sobre</strong> a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero porque, além <strong>de</strong> reproduzir a situação<br />

<strong>de</strong>svantajosa <strong>da</strong>s mulheres no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, contêm disposições explicitamente <strong>de</strong>sfavoráveis<br />

para elas (março <strong>de</strong> 2004), já que suas contribuições para os sist<strong>em</strong>as priva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pensões se caracterizam<br />

pela baixa <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong>, brecha salarial e maior longevi<strong>da</strong><strong>de</strong>, o que as coloca numa situação particularmente<br />

<strong>de</strong>svantajosa. Só vamos observar esforços importantes para recuperar o enfoque universalista <strong>de</strong> direito<br />

nos anos mais recentes <strong>do</strong> presente século.<br />

A <strong>Plataforma</strong> contém também recomen<strong>da</strong>ções orienta<strong>da</strong>s a mitigar os efeitos <strong>do</strong>s acor<strong>do</strong>s<br />

comerciais <strong>sobre</strong> as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s econômicas novas e tradicionais <strong>da</strong> mulher 49 . Em <strong>Pequim</strong> <strong>de</strong>cidiu-se<br />

48<br />

As reformas <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 ampliaram a gama <strong>de</strong> contratos disponíveis adicionan<strong>do</strong> ao contrato “típico” uma série<br />

<strong>de</strong> contratos <strong>de</strong> duração fixa, amplian<strong>do</strong> o uso <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> experiência, facilitan<strong>do</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> subcontratação<br />

e tornan<strong>do</strong> mais barata a dispensa, entre outras coisas.<br />

49<br />

Os trata<strong>do</strong>s <strong>de</strong> livre comércio tiveram um gran<strong>de</strong> apogeu nas mesmas déca<strong>da</strong>s <strong>em</strong> que entrava <strong>em</strong> vigência a<br />

<strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong>.<br />

46


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

utilizar a análise <strong>de</strong> gênero na formulação <strong>da</strong>s políticas macroeconômicas, microeconômicas e sociais, a<br />

fim <strong>de</strong> vigiar as repercussões neste senti<strong>do</strong> e modificar as políticas nos casos <strong>em</strong> que essas repercussões<br />

sejam prejudiciais, b<strong>em</strong> como enfrentar a pobreza por meio <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e acesso a ativos.<br />

No anexo figuram as iniciativas informa<strong>da</strong>s pelos <strong>países</strong> que contribuíram para reduzir a<br />

pobreza <strong>da</strong>s mulheres, abrir oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho e ampliar a proteção social. Se consi<strong>de</strong>rarmos o<br />

conteú<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong> nos programas, po<strong>de</strong>-se concluir que prevalece uma associação entre a noção <strong>de</strong><br />

vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s mulheres como coletivo, os programas contra a pobreza e pequenos <strong>em</strong>preendimentos<br />

produtivos que algumas vezes são informa<strong>do</strong>s como políticas <strong>de</strong> acesso ao merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho.<br />

São 13 os <strong>países</strong> <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> que informam <strong>sobre</strong> programas para solucionar a situação <strong>da</strong>s<br />

mulheres como grupo vulnerável e ressaltam a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> apoiar grupos específicos diferencia<strong>do</strong>s<br />

por i<strong>da</strong><strong>de</strong> (mulheres i<strong>do</strong>sas e meninas), localização geográfica (mulheres rurais) e raça (mulheres<br />

afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, indígenas ou ciganas). A associação entre as mulheres pobres e a vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> se faz<br />

visível ante a ausência <strong>de</strong> políticas dirigi<strong>da</strong>s a to<strong>da</strong>s as mulheres, tal como estabelece a Convenção para<br />

a Eliminação <strong>de</strong> To<strong>da</strong>s as Formas <strong>de</strong> Discriminação contra a Mulher e outros convênios internacionais,<br />

e pre<strong>do</strong>mina <strong>em</strong> vários <strong>países</strong>, diferencian<strong>do</strong>-se aqueles que têm programas focaliza<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> curto prazo<br />

que integram as mulheres como beneficiárias ou receptoras diretas <strong>da</strong>s transferências monetárias 50 . De<br />

fato, nos relatórios e acor<strong>do</strong>s internacionais é frequente as mulheres aparecer<strong>em</strong> como parte <strong>de</strong> um<br />

conjunto heterogêneo que engloba “mulheres, crianças, jovens, <strong>de</strong>ficientes, pequenos agricultores e<br />

agricultores <strong>de</strong> subsistência, pesca<strong>do</strong>res e trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas pequenas e médias...” (parágrafo<br />

58.k <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento <strong>final</strong> <strong>da</strong> Rio+20), sugerin<strong>do</strong> que necessitam <strong>de</strong> aju<strong>da</strong> especial para superar sua<br />

vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Tanto o texto como o discurso contribu<strong>em</strong> po<strong>de</strong>rosamente para criar a imag<strong>em</strong> <strong>da</strong><br />

mulher como um “outro” vulnerável (Durán, 2015).<br />

Dos relatórios apresenta<strong>do</strong>s, três <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> quatro <strong>países</strong> <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (12) enfrentam<br />

<strong>de</strong> alguma maneira a pobreza <strong>da</strong>s mulheres mediante a concessão <strong>de</strong> pequenos <strong>em</strong>preendimentos ou<br />

microcréditos, seja para moradia, agricultura ou ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s comerciais e produtivas. Os <strong>países</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Caribe</strong> (8) caracterizam-se por um enfoque indiferencia<strong>do</strong> <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> gênero e com certo<br />

enfoque na família. Nesta sub-região, são generaliza<strong>da</strong>s a cooperação e a participação <strong>da</strong>s organizações<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil no <strong>de</strong>senvolvimento e impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> planos e programas para abor<strong>da</strong>r a pobreza.<br />

Além disso, as políticas <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego <strong>em</strong> geral não abor<strong>da</strong>m —ou não o faz<strong>em</strong> <strong>de</strong> forma<br />

sist<strong>em</strong>ática e mensurável— os principais assuntos relaciona<strong>do</strong>s com o trabalho <strong>da</strong>s mulheres: o<br />

acesso ao merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho e à ocupação; a segmentação ocupacional, que mantém as mulheres<br />

majoritariamente nos setores <strong>de</strong> serviços e cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s; a brecha <strong>de</strong> r<strong>em</strong>uneração e as barreiras ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> carreira e <strong>de</strong> ascensão profissional; a discriminação étnica e racial, que se agrega<br />

às <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> gênero; e a ausência <strong>de</strong> proteção social e <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s. Existe também<br />

um conjunto <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as associa<strong>do</strong>s que inci<strong>de</strong> nas menores oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> autonomia econômica<br />

<strong>da</strong>s mulheres, como seu acesso à terra, aos insumos produtivos, ao crédito e à tecnologia, entre outros<br />

fatores produtivos (OIT, 2013a).<br />

Alguns <strong>países</strong>, como Costa Rica, Dominica, Equa<strong>do</strong>r, México e Portugal, informam mu<strong>da</strong>nças<br />

legislativas relaciona<strong>da</strong>s com os direitos <strong>da</strong>s trabalha<strong>do</strong>ras, inclusive leis setoriais, leis <strong>de</strong> reconhecimento<br />

<strong>da</strong>s trabalha<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>mésticas 51 (Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba e Equa<strong>do</strong>r), leis <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> salarial<br />

(Chile), licenças para os pais (Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, Cuba, Espanha, México e Uruguai),<br />

proteção <strong>da</strong> materni<strong>da</strong><strong>de</strong> (México e Uruguai) e normas contra o assédio sexual e <strong>de</strong> trabalho (Chile,<br />

Colômbia, Costa Rica e Espanha, entre outros).<br />

Menção especial merece a a<strong>do</strong>ção <strong>da</strong>s leis a favor <strong>da</strong>s trabalha<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>mésticas. Destacam-se<br />

a inclusão na Lei Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Trabalho <strong>do</strong> México <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>cente com perspectiva<br />

<strong>de</strong> gênero e a proibição <strong>do</strong>s patrões (ou seus representantes) <strong>de</strong> discriminar por gênero ou esta<strong>do</strong><br />

civil, realizar, permitir ou tolerar o assédio sexual, exigir certifica<strong>do</strong>s médicos <strong>de</strong> não gravi<strong>de</strong>z para<br />

50<br />

A esse respeito, veja CEPAL (2011).<br />

51<br />

Veja no anexo os <strong>países</strong> cujas leis equiparam as trabalha<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>mésticas aos <strong>de</strong>mais trabalha<strong>do</strong>res.<br />

47


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

o ingresso, a permanência ou a ascensão no <strong>em</strong>prego e <strong>de</strong>spedir uma trabalha<strong>do</strong>ra ou coagi-la direta<br />

ou indiretamente para que renuncie por estar grávi<strong>da</strong>, mu<strong>da</strong>r <strong>de</strong> esta<strong>do</strong> civil ou ter o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>de</strong> filhos<br />

menores <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Outro conjunto <strong>de</strong> avanços informa<strong>do</strong>s está relaciona<strong>do</strong> com projetos socioprodutivos,<br />

incuba<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> projetos e o apoio ao <strong>em</strong>preendimento com múltiplas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s dirigi<strong>da</strong>s a facilitar o<br />

acesso a merca<strong>do</strong>s, crédito e educação técnica 52 . Estes programas têm <strong>em</strong> comum o apoio a mulheres <strong>de</strong><br />

escassos recursos, chefes <strong>de</strong> família e <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, como as vítimas <strong>de</strong> violência e as<br />

a<strong>do</strong>lescentes grávi<strong>da</strong>s. Em alguns casos, os <strong>países</strong> indicam que os serviços financeiros e não financeiros<br />

ofereci<strong>do</strong>s faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong> uma estratégia para reduzir a informali<strong>da</strong><strong>de</strong> e se articulam com políticas <strong>de</strong><br />

acesso ao merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho e o <strong>de</strong>senvolvimento produtivo. Alguns <strong>países</strong>, como Colômbia, Costa<br />

Rica e Peru, informam <strong>sobre</strong> programas diretamente orienta<strong>do</strong>s a favorecer a inserção no merca<strong>do</strong> formal<br />

<strong>de</strong> trabalho minimizan<strong>do</strong> a informali<strong>da</strong><strong>de</strong>, enquanto na maioria pre<strong>do</strong>minam projetos e programas <strong>de</strong><br />

pequenos <strong>em</strong>preendimentos, associa<strong>do</strong>s com a redução <strong>da</strong> pobreza, pequenos créditos com altos juros<br />

e enormes dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso aos merca<strong>do</strong>s (OIT, 2013a). O certo é que esses programas e políticas<br />

ocupam um lugar secundário nos planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e se inscrev<strong>em</strong> principalmente entre as<br />

políticas <strong>de</strong> erradicação <strong>da</strong> pobreza, o que coloca a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> re<strong>do</strong>brar os esforços para integrar a<br />

perspectiva <strong>de</strong> gênero na análise econômica, social e ambiental.<br />

Chama a atenção o fato <strong>de</strong> que muitos <strong>países</strong> informam como avanço a impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong><br />

programas <strong>de</strong> microcrédito especialmente dirigi<strong>do</strong>s a mulheres. Com relação ao sist<strong>em</strong>a financeiro,<br />

somente o Chile conta com informação <strong>de</strong>sagrega<strong>da</strong> por sexo, indican<strong>do</strong> a existência <strong>de</strong> uma nova<br />

forma <strong>de</strong> segmentação que coloca as mulheres não só como maioria nos <strong>em</strong>pregos precários e nos<br />

pequenos <strong>em</strong>preendimentos, mas também no microcrédito, cuja característica é a <strong>de</strong> cobrar taxas <strong>de</strong><br />

juros superiores às <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a financeiro, penalizan<strong>do</strong> as mulheres pobres por carecer <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

para oferecer <strong>em</strong> garantia e, <strong>de</strong>sta maneira, fortalecer o círculo <strong>da</strong> exclusão (CEPAL, 2013b).<br />

São os casos <strong>do</strong>s programas S<strong>em</strong>ente <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, Mulher Chefe <strong>de</strong><br />

Família Micro<strong>em</strong>presária <strong>do</strong> Chile, Mo<strong>de</strong>lo Integral <strong>de</strong> Fortalecimento ao Empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>rismo e<br />

a Empresarie<strong>da</strong><strong>de</strong> para a Autonomia Econômica <strong>da</strong>s Mulheres <strong>da</strong> Costa Rica, o projeto Mulheres<br />

Empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>ras Rurais <strong>da</strong> Guat<strong>em</strong>ala, os projetos Greenville Market Development, Agricultural<br />

Fee<strong>de</strong>r Project, Market Access and Rural Enterprise Project <strong>de</strong> Grana<strong>da</strong>, Sister-to-Sister Programme<br />

<strong>da</strong>s Ilhas Turcas e Caicos, Women in Harmony Programme <strong>de</strong> Trini<strong>da</strong>d e Tobago e Women of<br />

Worth (WOW) Project <strong>da</strong> Guiana.<br />

Com relação à diminuição <strong>da</strong> pobreza, <strong>de</strong>stacam-se como avanços os programas <strong>de</strong> transferência<br />

<strong>de</strong> ren<strong>da</strong> nos relatórios <strong>da</strong> Argentina, Barba<strong>do</strong>s, Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, Brasil, El Salva<strong>do</strong>r,<br />

México, Paraguai, São Vicente e Granadinas, Suriname e Uruguai 53 . Estes programas tiveram uma<br />

rápi<strong>da</strong> expansão na região, razão pela qual já <strong>em</strong> 2012 um estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> eles (CEPAL, 2012)<br />

concluía que tinham uma gran<strong>de</strong> importância para as mulheres, <strong>sobre</strong>tu<strong>do</strong> para as que se encontram<br />

<strong>em</strong> situação <strong>de</strong> pobreza. As razões indica<strong>da</strong>s no estu<strong>do</strong> são: as mulheres são as receptoras diretas <strong>do</strong><br />

benefício; para receber esse benefício impõ<strong>em</strong>-se certas condições a seu comportamento (por ex<strong>em</strong>plo,<br />

no que se refere ao consumo, responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>da</strong>s crianças e a<strong>do</strong>lescentes e <strong>de</strong>cisões<br />

relativas à participação no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho); os bônus se convert<strong>em</strong> <strong>em</strong> um componente importante<br />

<strong>da</strong>s estratégias <strong>de</strong> <strong>sobre</strong>vivência <strong>da</strong>s famílias, <strong>em</strong> particular <strong>da</strong>s mulheres pobres; po<strong>de</strong>m repercutir nas<br />

relações <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s famílias e na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>sobre</strong> a utilização <strong>do</strong>s recursos econômicos; afetam<br />

(ou po<strong>de</strong>m afetar) outros aspectos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres, relativos à sua autonomia física e política. Por<br />

outro la<strong>do</strong>, esses programas <strong>de</strong>terminam certos tipos <strong>de</strong> relações entre as mulheres e o Esta<strong>do</strong>, entre as<br />

mulheres e as políticas públicas e entre as mulheres e os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> proteção social. Por último, afirmase<br />

que esses programas influ<strong>em</strong> na autonomia econômica <strong>da</strong>s mulheres, <strong>em</strong> seus direitos e na quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> sua ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

52<br />

Veja mais informações no anexo.<br />

53<br />

No anexo encontram-se <strong>de</strong>talhes <strong>do</strong>s programas menciona<strong>do</strong>s nos relatórios.<br />

48


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

S<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong>, os programas <strong>de</strong> transferência condiciona<strong>da</strong> (PTC) representam um marco na<br />

política social <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>. Constitu<strong>em</strong> a primeira experiência sóli<strong>da</strong> e estendi<strong>da</strong> <strong>de</strong> assistência<br />

monetária a uma gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong> população <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> pobreza. As mulheres converteram-se <strong>em</strong><br />

atores essenciais <strong>de</strong>sses programas, ao ser<strong>em</strong> as principais beneficiárias e corresponsáveis pelas metas<br />

propostas nos PTC: aten<strong>de</strong>r as carências presentes e romper a transferência intergeracional <strong>da</strong> pobreza no<br />

médio e longo prazo. Em muitos casos, os programas favoreceram o acesso <strong>da</strong>s mulheres a instituições,<br />

<strong>do</strong>cumentos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> e escolarização <strong>do</strong>s filhos. No entanto, estes programas apresentam duas<br />

<strong>de</strong>ficiências importantes: i) faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> proteção social segmenta<strong>do</strong>s; ii) no panorama<br />

atual, acessam os benefícios as pessoas que se incorporam plenamente ao merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho <strong>em</strong><br />

ocupações formais e no resto <strong>do</strong>s casos receb<strong>em</strong> benefícios mais mo<strong>de</strong>stos.<br />

Em sua dimensão <strong>de</strong> gênero, os PTC apresentam características que, <strong>de</strong> fato, constitu<strong>em</strong><br />

obstáculos para eliminar as causas fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero. Esta ina<strong>de</strong>quação obe<strong>de</strong>ce<br />

a uma visão maternalista, já que se consoli<strong>da</strong> o papel <strong>da</strong>s mulheres (<strong>sobre</strong>tu<strong>do</strong> as <strong>de</strong> menor ren<strong>da</strong>)<br />

como cui<strong>da</strong><strong>do</strong>ras e como media<strong>do</strong>ras entre o Esta<strong>do</strong>, a família e a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mulheres (Provoste<br />

e Valdés, <strong>2000</strong>), s<strong>em</strong> que se promovam mecanismos que lhes permitam uma participação econômica<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> assistência.<br />

A informação proce<strong>de</strong>nte <strong>da</strong>s pesquisas <strong>de</strong> uso <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po permite confirmar a hipótese <strong>de</strong> que<br />

a participação nos PTC aumenta o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> <strong>da</strong>s mulheres. Os ex<strong>em</strong>plos <strong>do</strong><br />

México e <strong>do</strong> Equa<strong>do</strong>r assim o <strong>de</strong>monstram. O t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> trabalho total <strong>da</strong>s mulheres que receb<strong>em</strong> PTC<br />

difere lev<strong>em</strong>ente <strong>da</strong>s que não os receb<strong>em</strong>, sen<strong>do</strong> maior no México no caso <strong>da</strong>s mulheres não receptoras,<br />

ao contrário <strong>do</strong> Equa<strong>do</strong>r.<br />

Os relatórios mostram que, <strong>em</strong>bora os PTC sejam a forma mais generaliza<strong>da</strong> <strong>de</strong> atenção às<br />

famílias pobres, <strong>em</strong> alguns casos se articulam com programas compl<strong>em</strong>entares, como os <strong>de</strong> apoio à<br />

lactância e à escolari<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> capacitação, <strong>de</strong> microcrédito e <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego. Esses programas <strong>de</strong> alta<br />

cobertura e baixo custo foram ajustan<strong>do</strong> sua arquitetura institucional, levan<strong>do</strong> a cabo avaliações e<br />

buscan<strong>do</strong> novos rumos para a proteção social. É possível afirmar que a maioria <strong>do</strong>s programas se orienta<br />

mais a reduzir a vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica <strong>da</strong>s mulheres que a aumentar sua autonomia econômica;<br />

os bônus são um ex<strong>em</strong>plo disso. Os programas po<strong>de</strong>m também se orientar principalmente a melhorar a<br />

oferta <strong>da</strong> mão <strong>de</strong> obra f<strong>em</strong>inina que a trabalhar com a <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra (merca<strong>do</strong>s, <strong>em</strong>presários)<br />

para que contrat<strong>em</strong> mais mulheres. Com efeito, poucos programas e políticas se orientam a modificar a<br />

divisão sexual <strong>do</strong> trabalho no merca<strong>do</strong>.<br />

No âmbito <strong>da</strong> proteção social, a Argentina impl<strong>em</strong>entou benefícios universais por filho e por<br />

gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a mulheres <strong>de</strong>socupa<strong>da</strong>s ou trabalha<strong>do</strong>ras <strong>da</strong> economia informal ou <strong>do</strong> serviço<br />

<strong>do</strong>méstico. É um benefício universal para a mãe, salvo que o pai <strong>de</strong>monstre que ele t<strong>em</strong> a posse. Trata-se<br />

<strong>de</strong> uma política inova<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> tipo universal que teve impacto importante na diminuição <strong>de</strong> mulheres s<strong>em</strong><br />

ren<strong>da</strong> própria 54 . Por sua vez, o Chile levou a cabo uma reforma <strong>da</strong> previdência <strong>em</strong> 1999 que apresenta<br />

uma injusta redistribuição, a qual se traduz numa menor acumulação <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> previdência para as<br />

mulheres que têm um trabalho r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> e na ausência <strong>de</strong> proteção na velhice para aquelas que se<br />

<strong>de</strong>dicaram ao trabalho <strong>do</strong>méstico não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>. A atuação <strong>em</strong> ambos os aspectos levaria a paliar<br />

também a injustiça no âmbito <strong>do</strong> reconhecimento: ao valorizar a contribuição <strong>da</strong>s mulheres no trabalho<br />

reprodutivo, se ampliaria a cobertura <strong>de</strong> pensões (CEPAL, 2013a).<br />

A Constituição <strong>da</strong> República <strong>de</strong> Cuba, <strong>em</strong> seus artigos 47 e 48, estabelece a garantia que o<br />

Esta<strong>do</strong>, mediante o Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Seguri<strong>da</strong><strong>de</strong> Social, oferece à população <strong>em</strong> geral. De igual forma, a<br />

<strong>Ass<strong>em</strong>bleia</strong> Nacional <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Popular aprovou a Lei 105 <strong>de</strong> Seguri<strong>da</strong><strong>de</strong> Social, que aperfeiçoa<br />

e amplia os direitos cont<strong>em</strong>pla<strong>do</strong>s na anterior Lei 24, na qual se estipula que, <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração aos<br />

princípios constitucionais, a mulher e o hom<strong>em</strong> gozam <strong>de</strong> iguais direitos, <strong>de</strong>veres e garantias e <strong>da</strong>s<br />

mesmas oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

54<br />

Veja “Asignación Universal por hijo” [on-line] http://www.anses.gob.ar/asignacion-universal-68.<br />

49


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Conforme já assinala<strong>do</strong>, ain<strong>da</strong> que recentes e escassas, não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser relevantes as iniciativas<br />

orienta<strong>da</strong>s a enfrentar o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> maneira integral a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> leis que mitigam os efeitos <strong>da</strong><br />

divisão sexual <strong>do</strong> trabalho, como as licenças para os pais ou a ampliação <strong>da</strong> licença-materni<strong>da</strong><strong>de</strong>. No<br />

entanto, as creches ain<strong>da</strong> são insuficientes num cenário <strong>de</strong>mográfico <strong>em</strong> que aumentam as <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>de</strong> crianças, anciãos e <strong>do</strong>entes a um ritmo superior à criação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>.<br />

Po<strong>de</strong>-se concluir que o progresso registra<strong>do</strong> foi lento e insuficiente. Isto se <strong>de</strong>ve, <strong>em</strong> primeiro<br />

lugar, a que os primeiros anos após a Conferência <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> se caracterizaram pelo pre<strong>do</strong>mínio <strong>de</strong><br />

políticas abertas e <strong>de</strong>sregula<strong>da</strong>s nas quais o papel <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> foi limita<strong>do</strong> e se concentrou <strong>em</strong> reforçar a<br />

competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s e a redução <strong>da</strong> pobreza s<strong>em</strong> fazer frente às mu<strong>da</strong>nças estruturais <strong>da</strong> matriz<br />

produtiva ou à agen<strong>da</strong> <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> social. Em segun<strong>do</strong> lugar, esta situação obe<strong>de</strong>ce à escassa força política<br />

<strong>do</strong> movimento <strong>de</strong> mulheres e à <strong>de</strong>ficiência institucional <strong>do</strong>s mecanismos estatais para o avanço <strong>da</strong> mulher,<br />

<strong>em</strong> particular para incidir <strong>sobre</strong> as políticas econômicas. Por último, <strong>de</strong>ve-se às resistências culturais <strong>do</strong><br />

sist<strong>em</strong>a político, judicial e sindical, que foram mu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> com a presença <strong>de</strong> novas li<strong>de</strong>ranças f<strong>em</strong>ininas<br />

surgi<strong>da</strong>s graças à estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática que caracterizou a região durante os últimos 20 anos.<br />

C. Avanços na autonomia física<br />

Nestes 20 anos, progrediu-se <strong>em</strong> vários aspectos. Os <strong>países</strong> informam avanços e <strong>de</strong>safios pen<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong><br />

<strong>do</strong>is âmbitos principais: a saú<strong>de</strong> <strong>da</strong>s mulheres e a violência contra as mulheres. Com relação à autonomia<br />

física, nos relatórios apresenta<strong>do</strong>s alguns <strong>países</strong> assinalam avanços na formulação <strong>de</strong> políticas integrais<br />

(são os casos <strong>da</strong> Argentina, Chile, Colômbia, Cuba e Uruguai) e outros <strong>de</strong>stacam os esforços para ampliar<br />

a cobertura e atenção humaniza<strong>da</strong> <strong>do</strong> parto institucional (como ocorre no Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia,<br />

Brasil, Chile, Cuba, El Salva<strong>do</strong>r, Guat<strong>em</strong>ala, México e Paraguai). No âmbito legislativo, foram aprova<strong>da</strong>s<br />

leis <strong>sobre</strong> violência contra a mulher, <strong>de</strong>spenalização <strong>do</strong> aborto e contracepção <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência, ain<strong>da</strong> que<br />

com certas restrições, como a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentar uma receita médica. Vários <strong>países</strong> informam a<br />

aprovação <strong>de</strong> leis para o aborto seguro, como a lei 18.987 <strong>de</strong> interrupção voluntária <strong>da</strong> gravi<strong>de</strong>z sanciona<strong>da</strong><br />

no Uruguai <strong>em</strong> 2012, ou a Sentença T-841 <strong>do</strong> Tribunal Constitucional <strong>da</strong> Colômbia, que indica que o<br />

risco <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental <strong>da</strong> mulher é suficiente para realizar um aborto. Em geral, este é um t<strong>em</strong>a <strong>sobre</strong> o<br />

qual ca<strong>da</strong> país realizou reflexões e <strong>de</strong>bates que levaram a reconhecer os direitos humanos <strong>da</strong>s mulheres<br />

<strong>em</strong> sua integri<strong>da</strong><strong>de</strong>. No relatório <strong>do</strong> Chile <strong>de</strong>staca-se: “um t<strong>em</strong>a especialmente complexo <strong>em</strong> nosso país<br />

é a penalização absoluta <strong>do</strong> aborto, <strong>em</strong> to<strong>da</strong> circunstância. Este regime legal proibitivo implica a negação<br />

<strong>de</strong> numerosos direitos humanos <strong>da</strong>s mulheres e contraria as recomen<strong>da</strong>ções a esse respeito <strong>de</strong> vários<br />

organismos internacionais <strong>de</strong> proteção <strong>do</strong>s direitos humanos (o Comitê para a Eliminação <strong>da</strong> Discriminação<br />

contra as Mulheres e o Comitê <strong>de</strong> Direitos <strong>da</strong> Criança, entre outros)”.<br />

O relatório <strong>da</strong> Argentina assegura que a Constituição Argentina e os trata<strong>do</strong>s <strong>de</strong> direitos humanos<br />

impe<strong>de</strong>m castigar a realização <strong>de</strong> abortos por parte <strong>de</strong> qualquer mulher vítima <strong>de</strong> violação e não só <strong>da</strong>s<br />

mulheres viola<strong>da</strong>s que sofress<strong>em</strong> <strong>de</strong> alguma <strong>de</strong>ficiência mental, <strong>em</strong> atenção aos princípios <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

digni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s pessoas e legali<strong>da</strong><strong>de</strong>; que os médicos <strong>em</strong> nenhum caso <strong>de</strong>v<strong>em</strong> requerer autorização<br />

judicial para realizar este tipo <strong>de</strong> abortos, sen<strong>do</strong> suficiente a <strong>de</strong>claração juramenta<strong>da</strong> <strong>da</strong> vítima, ou seu<br />

representante legal; e que os juízes <strong>de</strong>v<strong>em</strong> se abster <strong>de</strong> judicializar o acesso a estas intervenções.<br />

No caso <strong>do</strong> Brasil, o aborto como causa <strong>de</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna diminuiu <strong>de</strong> 16,6 mortes<br />

por 100.000 crianças nasci<strong>da</strong>s vivas <strong>em</strong> 1990 para 3,1 mortes por 100.000 nasci<strong>do</strong>s vivos <strong>em</strong> 2011.<br />

Nos anos 90, o aborto era a principal causa <strong>de</strong> morte materna e figura hoje na quinta posição,<br />

correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a 5% <strong>do</strong>s casos, <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> hipertensão arterial (20%), h<strong>em</strong>orragia (11%), <strong>do</strong>enças<br />

cardiovasculares —hipertensão crônica complica<strong>da</strong> pela gravi<strong>de</strong>z— (9%) e infecções pós-parto (6%).<br />

Em 2013, registraram-se 1.521 casos <strong>de</strong> abortos legais <strong>em</strong> to<strong>do</strong> o país, <strong>em</strong> 2012 foram 1.613 e <strong>em</strong><br />

2011 foram 1.495 casos. Estes procedimentos foram realiza<strong>do</strong>s <strong>em</strong> estabelecimentos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> com<br />

serviço <strong>de</strong> obstetrícia e somaram 219 <strong>em</strong> 2013, 210 <strong>em</strong> 2012 e 223 <strong>em</strong> 2011.<br />

50


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Além <strong>da</strong> impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> serviços, os <strong>países</strong> elaboraram protocolos e guias para a atenção pósaborto<br />

que <strong>de</strong>monstram a relevância que estas práticas estão adquirin<strong>do</strong> para combater a morte <strong>de</strong> mulheres.<br />

Na Argentina, por ex<strong>em</strong>plo, encontra-se vigente o “Guia para o melhoramento <strong>da</strong> atenção pós-aborto”,<br />

elabora<strong>do</strong> pelo Ministério <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> Nação <strong>em</strong> 2005 e aprova<strong>da</strong> pela Resolução 989/2005. Em 2010, o<br />

Programa Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Sexual e Procriação Responsável <strong>do</strong> Ministério <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> Nação atualizou<br />

e difundiu nas províncias <strong>do</strong> país o “Guia técnico para a atenção <strong>do</strong>s abortos não puníveis”, elabora<strong>do</strong><br />

<strong>em</strong> 2007. Em 2013, a coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> Programa Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Sexual e Procriação Responsável<br />

priorizou o trabalho <strong>em</strong> três linhas estratégicas <strong>de</strong> intervenção: prevenção <strong>da</strong> gravi<strong>de</strong>z não planeja<strong>da</strong>;<br />

diminuição <strong>da</strong>s internações hospitalares por aborto, especialmente na população a<strong>do</strong>lescente, e redução<br />

<strong>da</strong> morbimortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna por aborto. No Paraguai, as normas <strong>de</strong> atenção humaniza<strong>da</strong> pós-aborto<br />

entraram <strong>em</strong> vigência <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2012, <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> Resolução SG 146 <strong>do</strong> Ministério <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e B<strong>em</strong>-Estar<br />

Social. No Chile, a Resolução Isenta 264 <strong>do</strong> Ministério <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> (2011) estabeleceu orientações técnicas<br />

para a atenção integral às mulheres que apresent<strong>em</strong> um aborto e outras per<strong>da</strong>s reprodutivas.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, os esforços para incorporar a perspectiva <strong>de</strong> gênero nos programas e ministérios<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ram importantes resulta<strong>do</strong>s na Argentina, México, Paraguai e República Dominicana.<br />

Houve também avanços <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> registros estatísticos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e formação <strong>de</strong> comitês<br />

interinstitucionais <strong>de</strong> atenção integra<strong>da</strong> às vítimas <strong>de</strong> violência, como no caso <strong>de</strong> El Salva<strong>do</strong>r e<br />

Guat<strong>em</strong>ala. Entre outros progressos, inclu<strong>em</strong>-se medições <strong>sobre</strong> saú<strong>de</strong>, como a pesquisa nacional <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> sexual e reprodutiva <strong>da</strong> Costa Rica e o sist<strong>em</strong>a nacional <strong>de</strong> informação <strong>sobre</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> México. Este<br />

último cobre estatísticas <strong>de</strong> natali<strong>da</strong><strong>de</strong>, mortali<strong>da</strong><strong>de</strong>, morbi<strong>da</strong><strong>de</strong> (incluin<strong>do</strong> lesões e violência familiar) e<br />

invali<strong>de</strong>z <strong>de</strong>sagrega<strong>da</strong>s por sexo, os fatores <strong>de</strong>mográficos, econômicos, sociais e ambientais vincula<strong>do</strong>s<br />

e os recursos físicos, humanos e financeiros disponíveis para a proteção <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> população e sua<br />

utilização. A disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> informação e <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s que permit<strong>em</strong> medir a violência contra as<br />

mulheres <strong>em</strong> um número crescente <strong>de</strong> <strong>países</strong> é resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> um esforço que t<strong>em</strong> entre seus <strong>de</strong>safios<br />

a superação <strong>da</strong>s <strong>de</strong>ficiências atuais. No caso <strong>da</strong> violência contra as mulheres, ain<strong>da</strong> é difícil contar<br />

com um panorama <strong>regional</strong> que permita i<strong>de</strong>ntificar a magnitu<strong>de</strong> <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as dimensões, principalmente<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a uma coleta <strong>de</strong> informação estatística escassa e heterogênea, b<strong>em</strong> como ao fato <strong>de</strong> que os<br />

registros administrativos <strong>em</strong> geral contribu<strong>em</strong> com <strong>da</strong><strong>do</strong>s isola<strong>do</strong>s <strong>sobre</strong> certos serviços, s<strong>em</strong> permitir<br />

um diagnóstico completo.<br />

Outro avanço refere-se à incorporação <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> intercultural, levan<strong>do</strong> <strong>em</strong> conta<br />

os saberes milenares <strong>de</strong> medicina não tradicional no Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, Chile, Equa<strong>do</strong>r,<br />

Guat<strong>em</strong>ala e México.<br />

O Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, o Chile, a Colômbia, a Costa Rica, o Equa<strong>do</strong>r, a República<br />

Dominicana e a República Bolivariana <strong>da</strong> Venezuela assinalam sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> reduzir a gravi<strong>de</strong>z<br />

a<strong>do</strong>lescente e a importância <strong>de</strong> <strong>da</strong>r priori<strong>da</strong><strong>de</strong> à sua prevenção, mediante a educação integral para a<br />

sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong> e o acesso oportuno e confi<strong>de</strong>ncial à informação, ao assessoramento, às tecnologias<br />

e serviços <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, incluin<strong>do</strong> a contracepção oral <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência s<strong>em</strong> receita e as camisinhas<br />

f<strong>em</strong>ininas e masculinas.<br />

Como probl<strong>em</strong>as prioritários, os relatórios <strong>do</strong>s <strong>países</strong> ressaltaram a mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna, as<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s no acesso à saú<strong>de</strong> sexual e à procriação responsável, assim como o câncer <strong>do</strong> colo <strong>do</strong> útero.<br />

1. A gravi<strong>de</strong>z a<strong>do</strong>lescente<br />

A autonomia física <strong>da</strong>s mulheres continua enfrentan<strong>do</strong> questionamentos que, <strong>em</strong> vários <strong>países</strong>, se<br />

traduz<strong>em</strong>, entre outras coisas, <strong>em</strong> restrições a seus direitos reprodutivos: por ex<strong>em</strong>plo, acesso ao<br />

controle <strong>da</strong> fecundi<strong>da</strong><strong>de</strong>, seja <strong>da</strong> população <strong>em</strong> seu conjunto (como no caso <strong>da</strong> proibição <strong>de</strong> distribuir a<br />

anticoncepção <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência) ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s segmentos <strong>da</strong> população (falta <strong>de</strong> políticas e ações<br />

a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s pertinentes e oportunas orienta<strong>da</strong>s às a<strong>do</strong>lescentes), na ausência <strong>de</strong> educação nesta matéria<br />

ou na imposição <strong>de</strong> uma materni<strong>da</strong><strong>de</strong> não <strong>de</strong>seja<strong>da</strong>.<br />

51


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Uma consequência grave <strong>de</strong>ssa lacuna é a gravi<strong>de</strong>z na a<strong>do</strong>lescência, um probl<strong>em</strong>a que permanece<br />

como um nó não <strong>de</strong>sfeito e contribui para perpetuar o ciclo <strong>da</strong> pobreza na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que se vincula<br />

com a <strong>de</strong>serção escolar e as consequentes dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para enfrentar a vi<strong>da</strong> profissional. A taxa <strong>de</strong><br />

fecundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>do</strong>lescentes na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e no <strong>Caribe</strong> é uma <strong>da</strong>s mais altas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, somente<br />

supera<strong>da</strong> pelos <strong>países</strong> <strong>da</strong> África Subsaariana. Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong> Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong><br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> mostram que, <strong>em</strong>bora a fecundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s mulheres <strong>em</strong> geral ten<strong>da</strong> a cair, a<br />

fecundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s a<strong>do</strong>lescentes não só não registrou gran<strong>de</strong>s diminuições, mas <strong>em</strong> alguns <strong>países</strong> aumentou<br />

no grupo <strong>de</strong> a<strong>do</strong>lescentes <strong>de</strong> menor ren<strong>da</strong> e menor nível educativo.<br />

Segun<strong>do</strong> os indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>,<br />

a materni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> a<strong>do</strong>lescentes alcança 19,9% <strong>da</strong>s mulheres entre 15 e 19 anos na Nicarágua, 19,7% na<br />

República Dominicana, 18,3% <strong>em</strong> Honduras e 17% no Equa<strong>do</strong>r (veja o gráfico II.14).<br />

Gráfico II.14<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (11 <strong>países</strong>): mulheres <strong>de</strong> 15 a 19 anos que são mães, <strong>da</strong><strong>do</strong> inicial<br />

e último <strong>da</strong><strong>do</strong> disponível<br />

(Em percentagens)<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

19,7<br />

16,7 17,0<br />

16,3<br />

17,4<br />

15,4 14,415,4<br />

15,0 14,6<br />

14,8<br />

13,1<br />

13,2<br />

12,4 12,112,4 11,8 12,0 11,7<br />

11,1<br />

13,9<br />

9,5<br />

5<br />

0<br />

Rep. Dominicana<br />

2002-2010<br />

Equa<strong>do</strong>r<br />

2001-2010<br />

Panamá<br />

2001-2010<br />

El Salva<strong>do</strong>r<br />

1992-2007<br />

Venezuela<br />

(Rep. Bol. <strong>da</strong>)<br />

2001-2011<br />

Da<strong>do</strong> inicial<br />

Argentina<br />

2001-2010<br />

México<br />

<strong>2000</strong>-2010<br />

Brasil<br />

<strong>2000</strong>-2010<br />

Peru<br />

1993-2007<br />

Último <strong>da</strong><strong>do</strong> disponível<br />

Costa Rica<br />

<strong>2000</strong>-2011<br />

Uruguai<br />

1995-2011<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong><br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>, com base <strong>em</strong> cifras oficiais.<br />

A gravi<strong>de</strong>z e a materni<strong>da</strong><strong>de</strong> na a<strong>do</strong>lescência, expressão <strong>da</strong>s profun<strong>da</strong>s iniqui<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais,<br />

culturais, <strong>de</strong> gênero e <strong>de</strong> etnia ou raça presentes na região, além <strong>de</strong> ser um obstáculo importante para<br />

a superação <strong>da</strong> pobreza e a incorporação <strong>da</strong>s mulheres jovens ao mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho, expõe meninas e<br />

jovens a um maior risco <strong>de</strong> violência física ou sexual por parte <strong>de</strong> seus companheiros. Assim indicam<br />

as taxas <strong>de</strong> prevalência duas a três vezes superiores no caso <strong>da</strong>s mulheres que tiveram seu primeiro<br />

filho antes <strong>do</strong>s 17 anos <strong>em</strong> comparação com as que foram mães <strong>de</strong>pois <strong>do</strong>s 25 anos, segun<strong>do</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong><br />

Organização Pan-Americana <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> (OPAS, 2014).<br />

Com respeito à gravi<strong>de</strong>z a<strong>do</strong>lescente, alguns <strong>países</strong> (entre eles, Argentina, Esta<strong>do</strong> Plurinacional<br />

<strong>da</strong> Bolívia, Brasil e Chile) têm programas <strong>de</strong> prevenção, atenção e acolhi<strong>da</strong>, inclusive normas para<br />

fomentar sua escolari<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Os relatórios apresenta<strong>do</strong>s pelo Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, Brasil, Chile, Cuba, Equa<strong>do</strong>r,<br />

El Salva<strong>do</strong>r, Guat<strong>em</strong>ala, Panamá, Paraguai e República Bolivariana <strong>da</strong> Venezuela assinalam a<br />

importância <strong>da</strong> atenção a mulheres afeta<strong>da</strong>s pelo HIV; para tanto, aplicaram diversas medi<strong>da</strong>s, como<br />

52


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

o estabelecimento <strong>de</strong> metas 55 <strong>de</strong> redução na Argentina, enfoques inova<strong>do</strong>res como “a perspectiva<br />

<strong>da</strong> diferença” no Brasil e outros. Outro t<strong>em</strong>a recorrente na maioria <strong>do</strong>s relatórios (por ex<strong>em</strong>plo, nos<br />

apresenta<strong>do</strong>s pelo Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, Chile, Colômbia, Equa<strong>do</strong>r, México, Panamá e<br />

Paraguai) é a atenção e prevenção <strong>do</strong> câncer.<br />

2. A mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna<br />

A mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna é um probl<strong>em</strong>a mundial e, apesar <strong>do</strong>s esforços realiza<strong>do</strong>s, quase <strong>de</strong>z anos<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> lança<strong>do</strong>s os Objetivos <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>do</strong> Milênio (ODM), que inclu<strong>em</strong> a razão <strong>de</strong><br />

mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna como um indica<strong>do</strong>r para avaliar o progresso <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> reprodutiva,<br />

sua medição continua sen<strong>do</strong> um sério <strong>de</strong>safio, pois, mesmo valen<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong>mográficas,<br />

as <strong>de</strong>cisões aleatórias são inevitáveis, fazen<strong>do</strong> com que as estimativas tenham um grau importante<br />

<strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A violência <strong>de</strong> gênero é uma <strong>da</strong>s causas indiretas <strong>da</strong>s mortes <strong>de</strong> mulheres ocorri<strong>da</strong>s durante<br />

a gravi<strong>de</strong>z, parto ou puerpério <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero, consequência <strong>de</strong> fatores históricos,<br />

sociais e culturais. Das 529.000 mortes maternas que ocorr<strong>em</strong> por ano no mun<strong>do</strong>, 99% são <strong>em</strong> <strong>países</strong><br />

pobres que sofr<strong>em</strong> complicações sérias e <strong>de</strong> longo prazo. As complicações associa<strong>da</strong>s com a gravi<strong>de</strong>z<br />

e o parto estão entre as principais causas <strong>de</strong> morte nos <strong>países</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, motivo pelo qual é<br />

importante melhorar o acesso à atenção obstétrica <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência. Cabe <strong>de</strong>stacar também que tanto a<br />

violência intrafamiliar como as eleva<strong>da</strong>s cifras <strong>de</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna nos <strong>países</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

são probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública e <strong>de</strong> justiça social reconheci<strong>do</strong>s mundialmente.<br />

Na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e no <strong>Caribe</strong>, a informação disponível atualmente indica que as causas <strong>da</strong>s<br />

mortes maternas estão associa<strong>da</strong>s com as complicações <strong>da</strong> gravi<strong>de</strong>z, parto e puerpério. A mortali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

materna na região é motivo <strong>de</strong> preocupação (veja o gráfico II.15), sen<strong>do</strong> provavelmente um <strong>do</strong>s melhores<br />

indica<strong>do</strong>res <strong>da</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> e discriminação que afeta as mulheres. Não só indica a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mortes por causas preveníveis, mas <strong>de</strong>monstra as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais, territoriais e étnicas, já que<br />

afeta mais as mulheres pobres rurais e indígenas (CEPAL, 2013c). O acesso <strong>de</strong>sigual aos serviços <strong>de</strong><br />

anticoncepção, interrupção <strong>da</strong> gravi<strong>de</strong>z e outras necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s relaciona<strong>da</strong>s com o exercício <strong>da</strong> autonomia<br />

física <strong>da</strong>s mulheres t<strong>em</strong> consequências mortais para qu<strong>em</strong> não po<strong>de</strong> recorrer à atenção priva<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong><br />

mais se <strong>de</strong>v<strong>em</strong> fazê-lo <strong>em</strong> um contexto <strong>de</strong> penalização.<br />

Outros <strong>países</strong> consi<strong>de</strong>ram que os avanços são insuficientes, como assinala a Argentina: “um<br />

recém-nasci<strong>do</strong> ou uma mulher grávi<strong>da</strong> t<strong>em</strong> mais probabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> morrer nas regiões <strong>do</strong> Noroeste <strong>da</strong><br />

Argentina” que <strong>em</strong> outras regiões <strong>do</strong> mesmo país. Em outros <strong>países</strong>, <strong>em</strong>bora as cifras tenham baixa<strong>do</strong><br />

significativamente, ain<strong>da</strong> estão <strong>em</strong> níveis extr<strong>em</strong>amente altos. É o caso <strong>do</strong> Haiti, que apresentava uma<br />

mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna <strong>de</strong> 380 mulheres por 100.000 nasci<strong>do</strong>s vivos <strong>em</strong> 2013 (670 <strong>em</strong> 1995), e <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, cuja taxa ascendia a 200 mulheres por 100.000 nasci<strong>do</strong>s vivos <strong>em</strong> 2013, o que<br />

representa menos <strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> que ocorria <strong>em</strong> 1995, quan<strong>do</strong> a taxa era <strong>de</strong> 510 mortes maternas por<br />

100.000 nasci<strong>do</strong>s vivos.<br />

Por isso, o Consenso <strong>de</strong> Montevidéu <strong>sobre</strong> População e Desenvolvimento, acor<strong>da</strong><strong>do</strong> pelos<br />

governos <strong>da</strong> região na primeira reunião <strong>da</strong> Conferência Regional <strong>sobre</strong> População e Desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> (2013), reafirmou que a mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna é uma afronta aos direitos<br />

humanos e reconheceu que as mortes maternas, <strong>em</strong> sua esmaga<strong>do</strong>ra maioria, são preveníveis. Os<br />

governos ali reuni<strong>do</strong>s <strong>de</strong>bateram amplamente a mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna e reconheceram que as eleva<strong>da</strong>s<br />

taxas <strong>de</strong> mortes maternas se <strong>de</strong>v<strong>em</strong>, <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> medi<strong>da</strong>, à dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> para acessar serviços a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> sexual e saú<strong>de</strong> reprodutiva e à realização <strong>de</strong> abortos inseguros.<br />

55<br />

A Argentina fixou como meta reduzir <strong>em</strong> 10% a prevalência <strong>de</strong> HIV <strong>em</strong> mulheres grávi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 15 a 24 anos entre 2005<br />

e 2015. O último <strong>da</strong><strong>do</strong> disponível a respeito foi <strong>de</strong> 0,36% <strong>em</strong> 2006, valor próximo <strong>da</strong> meta <strong>de</strong> 0,32% fixa<strong>da</strong> para 2015.<br />

A transmissão vertical passou <strong>de</strong> 329 crianças infecta<strong>da</strong>s <strong>em</strong> 1995 a menos <strong>de</strong> 100 durante 2009.<br />

53


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Gráfico II.15<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (21 <strong>países</strong>): razão <strong>de</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna, 1990 e 2013<br />

(Taxa por 100.000 nasci<strong>do</strong>s vivos)<br />

A. Da<strong>do</strong>s informa<strong>do</strong>s pelos <strong>países</strong> a<br />

B. Da<strong>do</strong>s estima<strong>do</strong>s pelo Grupo Interinstitucional<br />

para a Estimação <strong>da</strong> Mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> Materna b<br />

700<br />

700<br />

670<br />

600<br />

600<br />

500<br />

457<br />

500<br />

510<br />

400<br />

390<br />

400<br />

380<br />

300<br />

200<br />

100<br />

0<br />

52<br />

34,9<br />

Argentina<br />

229<br />

Bolívia<br />

(Est. Plur. <strong>da</strong>)<br />

116,1<br />

61,6<br />

Brasil<br />

40<br />

17,2<br />

Chile<br />

100,4<br />

69,7<br />

Colômbia<br />

14,6<br />

17<br />

26,5<br />

38,9<br />

59,6<br />

60<br />

Costa Rica<br />

Cuba<br />

Equa<strong>do</strong>r<br />

120<br />

38<br />

El Salva<strong>do</strong>r<br />

153<br />

116<br />

Guat<strong>em</strong>ala<br />

157<br />

Haiti<br />

108<br />

74<br />

Honduras<br />

89<br />

42,3<br />

México<br />

87<br />

50,8<br />

53,4<br />

64,9<br />

Nicarágua<br />

Panamá<br />

150,1<br />

84,9<br />

Paraguai<br />

185<br />

93<br />

Peru<br />

12,2<br />

Porto Rico<br />

121,6<br />

108,7<br />

Rep. Dominicana<br />

29,3<br />

16<br />

Uruguai<br />

59,6<br />

73,3<br />

Venezuela<br />

(Rep. Bol. <strong>da</strong>)<br />

300<br />

200<br />

100<br />

0<br />

71<br />

69<br />

Argentina<br />

200<br />

Bolívia<br />

(Est. Plur. <strong>da</strong>)<br />

120<br />

69<br />

Brasil<br />

55<br />

22<br />

Chile<br />

100<br />

83<br />

Colômbia<br />

38<br />

38<br />

Costa Rica<br />

63<br />

80<br />

Cuba<br />

160<br />

87<br />

Equa<strong>do</strong>r<br />

110<br />

69<br />

El Salva<strong>do</strong>r<br />

270<br />

140<br />

Guat<strong>em</strong>ala<br />

Haiti<br />

290<br />

120<br />

Honduras<br />

88<br />

49<br />

México<br />

170<br />

100<br />

98<br />

Nicarágua<br />

85<br />

Panamá<br />

130<br />

110<br />

Paraguai<br />

250<br />

89<br />

Peru<br />

29<br />

20<br />

Porto Rico<br />

240<br />

100<br />

Rep. Dominicana<br />

42<br />

14<br />

Uruguai<br />

93<br />

110<br />

Venezuela<br />

(Rep. Bol. <strong>da</strong>)<br />

140<br />

85<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong><br />

e <strong>Caribe</strong><br />

1990 2013<br />

1990 2013<br />

Fonte: Organização Pan-Americana <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> (OPAS), “Core Health Indicator Database” [on-line] http://www.paho.org; e<br />

Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), Base <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s CEPALSTAT, com base <strong>em</strong> Fun<strong>do</strong> <strong>da</strong>s<br />

Nações Uni<strong>da</strong>s para a Infância (UNICEF), Monitoran<strong>do</strong> a Situação <strong>de</strong> Crianças e Mulheres [on-line] http://www.childinfo.org/.<br />

a<br />

Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s disponíveis compreen<strong>de</strong>m as mortes registra<strong>da</strong>s nos sist<strong>em</strong>as nacionais <strong>de</strong> estatísticas e notifica<strong>da</strong>s à OPAS<br />

pelas autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s nacionais.<br />

b<br />

A estimação <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna (tal como figura no quinto Objetivo <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>do</strong> Milênio, meta 5.A,<br />

indica<strong>do</strong>r 5.1) é realiza<strong>da</strong> pelo Grupo Interinstitucional para a Estimação <strong>da</strong> Mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> Materna, constituí<strong>do</strong> pela<br />

Organização Mundial <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS), o Banco Mundial, o Fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> População <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (UNFPA), a<br />

Divisão <strong>de</strong> População <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s e o Fun<strong>do</strong> <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para a Infância (UNICEF), <strong>em</strong> colaboração com<br />

um grupo técnico assessor. As estimativas foram calcula<strong>da</strong>s <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a assegurar a comparabili<strong>da</strong><strong>de</strong> entre <strong>países</strong>, motivo<br />

pelo qual não são necessariamente equivalentes às estatísticas nacionais oficiais, que po<strong>de</strong>m utilizar outros méto<strong>do</strong>s<br />

mais rigorosos.<br />

O Consenso afirma: “Preocupa<strong>do</strong>s com as eleva<strong>da</strong>s taxas <strong>de</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna, <strong>em</strong> gran<strong>de</strong><br />

medi<strong>da</strong> <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>s à dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> para acessar serviços a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> sexual e saú<strong>de</strong> reprodutiva<br />

e à realização <strong>de</strong> abortos inseguros, e saben<strong>do</strong> que algumas experiências na região mostram que a<br />

penalização <strong>do</strong> aborto provoca o aumento <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> e morbi<strong>da</strong><strong>de</strong> maternas e não diminui o número<br />

<strong>de</strong> abortos, afastan<strong>do</strong> os Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> cumprimento <strong>do</strong>s Objetivos <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>do</strong> Milênio”. Por<br />

tal motivo, os <strong>países</strong> <strong>de</strong>cidiram promover políticas que contribuam a assegurar que as pessoas exerçam<br />

seus direitos sexuais, que abrang<strong>em</strong> o direito a uma sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong> plena <strong>em</strong> condições seguras, b<strong>em</strong> como<br />

o direito a tomar <strong>de</strong>cisões livres b<strong>em</strong> informa<strong>da</strong>s, voluntárias e responsáveis <strong>sobre</strong> sua sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

com respeito <strong>de</strong> sua orientação sexual e i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero, s<strong>em</strong> coerção, discriminação ou violência,<br />

e garantir o direito à informação e aos meios necessários para sua saú<strong>de</strong> sexual e saú<strong>de</strong> reprodutiva.<br />

Decidiram também: “Eliminar as causas preveníveis <strong>de</strong> morbi<strong>da</strong><strong>de</strong> e mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna, incorporan<strong>do</strong><br />

no conjunto <strong>de</strong> prestações integrais <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> sexual e saú<strong>de</strong> reprodutiva medi<strong>da</strong>s para<br />

prevenir e evitar o aborto inseguro, que incluam a educação <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> sexual e saú<strong>de</strong> reprodutiva, o<br />

acesso a méto<strong>do</strong>s contraceptivos mo<strong>de</strong>rnos e eficazes e o assessoramento e atenção integral frente à<br />

gravi<strong>de</strong>z não <strong>de</strong>seja<strong>da</strong> e não aceita, b<strong>em</strong> como a atenção integral <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> aborto, quan<strong>do</strong> necessário,<br />

com base <strong>da</strong> estratégia <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> risco e <strong>da</strong>nos”.<br />

Quanto à mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna, as cifras disponíveis n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre mostram a magnitu<strong>de</strong> real<br />

<strong>do</strong> probl<strong>em</strong>a; apesar <strong>da</strong>s <strong>de</strong>ficiências, as brechas entre <strong>países</strong> e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>les ilustram a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

54


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

<strong>de</strong> acesso a uma correta atenção à saú<strong>de</strong>. De acor<strong>do</strong> com a CEPAL, a mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna continua<br />

sen<strong>do</strong> a gran<strong>de</strong> feri<strong>da</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento na região, e um <strong>do</strong>s maiores probl<strong>em</strong>as para abordá-la<br />

é o fato <strong>de</strong> não existir<strong>em</strong> méto<strong>do</strong>s confiáveis para sua medição (pesquisas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou pesquisas<br />

específicas <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a, com o evi<strong>de</strong>nte probl<strong>em</strong>a <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> cobertura correta). Alguns <strong>países</strong><br />

mostraram interesse <strong>em</strong> integrar a medição <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna nos censos <strong>de</strong> população, mas,<br />

por ser uma medição complexa, somente alguns <strong>países</strong> o fizeram e com resulta<strong>do</strong>s ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>ficientes.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, apesar <strong>do</strong>s esforços, 20 anos <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> e 15 anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

lança<strong>do</strong>s os Objetivos <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>do</strong> Milênio, que inclu<strong>em</strong> a razão <strong>de</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna<br />

como indica<strong>do</strong>r para avaliar os avanços <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> reprodutiva, sua medição continua sen<strong>do</strong><br />

um sério <strong>de</strong>safio.<br />

3. A violência contra as mulheres<br />

De mo<strong>do</strong> paulatino, mas constante, a partir <strong>da</strong> Conferência Mundial <strong>de</strong> Direitos Humanos, realiza<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> Viena <strong>em</strong> 1993, e <strong>da</strong> Quarta Conferência Mundial <strong>sobre</strong> a Mulher, realiza<strong>da</strong> <strong>em</strong> <strong>Pequim</strong> <strong>em</strong> 1995, a<br />

violência contra as mulheres foi marcan<strong>do</strong> a agen<strong>da</strong> internacional <strong>do</strong>s direitos humanos. Os avanços mais<br />

notórios tiveram lugar nas normas <strong>do</strong>s <strong>países</strong>, particularmente no t<strong>em</strong>a <strong>da</strong> violência contra as mulheres.<br />

Isto provocou uma tensão entre o público e o priva<strong>do</strong>, produzin<strong>do</strong> mu<strong>da</strong>nças lentas, mas seguras, no<br />

âmbito sociocultural. O <strong>de</strong>safio que se apresenta hoje na maioria <strong>do</strong>s <strong>países</strong> é o acesso à justiça para<br />

uma efetiva aplicação <strong>da</strong>s leis e normas e uma correta interpretação. Os avanços na incorporação <strong>do</strong>s<br />

objetivos <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero na agen<strong>da</strong> política <strong>do</strong>s governos significam o reconhecimento <strong>da</strong><br />

ameaça que representa para a autonomia <strong>da</strong>s mulheres a violência exerci<strong>da</strong> contra elas e a aceitação<br />

<strong>da</strong> intervenção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, o que implica uma transformação na noção que a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> tinha <strong>de</strong> um<br />

probl<strong>em</strong>a consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> priva<strong>do</strong>.<br />

Nesta matéria os <strong>países</strong> estão <strong>de</strong>dica<strong>do</strong>s a criar ou melhorar o acesso a serviços <strong>de</strong> interrupção<br />

voluntária <strong>da</strong> gravi<strong>de</strong>z (nos <strong>países</strong> <strong>em</strong> que isso é permiti<strong>do</strong>). Esta tarefa implica <strong>de</strong>senvolver<br />

regulamentos, normas e protocolos <strong>de</strong> atenção <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o estipula<strong>do</strong> pela lei. Os <strong>países</strong> reconhec<strong>em</strong><br />

a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> avançar <strong>em</strong> políticas que reduzam os efeitos <strong>do</strong> aborto inseguro nos <strong>países</strong> que ain<strong>da</strong><br />

mantêm restrições parciais ou totais (veja o gráfico II.16).<br />

Gráfico II.16<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: legislação <strong>sobre</strong> aborto e interrupção voluntária <strong>da</strong> gravi<strong>de</strong>z<br />

(Em números absolutos)<br />

Cuba<br />

Uruguay<br />

México, D.F.<br />

Porto Rico<br />

4<br />

5<br />

Chile<br />

Honduras<br />

El Salva<strong>do</strong>r<br />

Nicarágua<br />

Rep. Dominicana<br />

Argentina<br />

Bolívia (Est. Plur. <strong>da</strong>)<br />

Brasil<br />

Colômbia<br />

Costa Rica<br />

Equa<strong>do</strong>r<br />

Guat<strong>em</strong>ala<br />

Panamá<br />

Paraguai<br />

Peru<br />

Venezuela (Rep. Bol. <strong>da</strong>)<br />

11<br />

S<strong>em</strong> restrição <strong>de</strong> causa Penaliza<strong>do</strong> <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as circunstâncias<br />

Por razões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> mulher, inviabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> feto ou violação<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong><br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>.<br />

55


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Outro probl<strong>em</strong>a que afeta as mulheres latino-americanas e caribenhas no tocante a seus direitos<br />

sexuais e reprodutivos é a persistência <strong>em</strong> vários <strong>países</strong> <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s que pun<strong>em</strong> as mulheres que se<br />

submeteram a abortos, o que constitui uma violação <strong>de</strong> seus direitos humanos, apesar <strong>do</strong> compromisso<br />

assumi<strong>do</strong> pelos Esta<strong>do</strong>s no Consenso <strong>de</strong> Brasília (2010) <strong>de</strong> “revisar as leis que preve<strong>em</strong> medi<strong>da</strong>s<br />

punitivas às mulheres que se tenham submeti<strong>do</strong> a abortos […] e garantir a realização <strong>do</strong> aborto <strong>em</strong><br />

condições seguras nos casos autoriza<strong>do</strong>s pela lei”.<br />

De acor<strong>do</strong> com um relatório <strong>do</strong> Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong><br />

<strong>Caribe</strong> (CEPAL, 2014b): “a crescente invocação <strong>do</strong> direito a uma vi<strong>da</strong> livre <strong>de</strong> violência no âmbito<br />

<strong>da</strong> revisão <strong>da</strong> vigência <strong>de</strong> outros direitos <strong>em</strong> contextos varia<strong>do</strong>s é indicativa <strong>da</strong> aplicação prática <strong>do</strong>s<br />

princípios <strong>de</strong> universali<strong>da</strong><strong>de</strong>, indivisibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, inter<strong>de</strong>pendência e não regressivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s direitos<br />

humanos. Na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que o princípio <strong>de</strong> não discriminação cruza transversalmente to<strong>do</strong> o sist<strong>em</strong>a, a<br />

indivisibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e inter<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong>s direitos <strong>de</strong>termina que to<strong>do</strong>s têm a mesma hierarquia e <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />

respeita<strong>do</strong>s com a mesma ênfase, já que to<strong>do</strong>s são essenciais para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana. A<br />

violação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>les afeta a vigência <strong>do</strong>s outros. A<strong>de</strong>mais, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o princípio <strong>de</strong> progressivi<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

tanto a interpretação <strong>do</strong>s direitos humanos como os mecanismos para sua realização <strong>de</strong>v<strong>em</strong> evoluir<br />

constant<strong>em</strong>ente, s<strong>em</strong> retroce<strong>de</strong>r frente aos avanços alcança<strong>do</strong>s”. Outro probl<strong>em</strong>a assinala<strong>do</strong> refere-se,<br />

principalmente no <strong>Caribe</strong>, aos casos <strong>de</strong> violação e impuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s autores. Três <strong>países</strong> <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> estão<br />

entre os <strong>de</strong>z <strong>países</strong> com mais casos <strong>de</strong> violação. A legislação é insuficiente, as penas são muito leves e<br />

existe uma cultura <strong>da</strong> impuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

a) O f<strong>em</strong>icídio<br />

A violência contra as mulheres po<strong>de</strong> provocar a morte; este é um flagelo que persiste<br />

apesar <strong>da</strong>s iniciativas realiza<strong>da</strong>s pelos <strong>países</strong>. Segun<strong>do</strong> os <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong> relatório <strong>sobre</strong> violência <strong>do</strong><br />

Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> (CEPAL, 2014b), durante<br />

2012 ocorreram 496 mortes <strong>de</strong> mulheres provoca<strong>da</strong>s por seu companheiro ou ex-companheiro <strong>em</strong><br />

nove <strong>países</strong> <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>. No mesmo ano, foram registra<strong>do</strong>s 545 homicídios por razões <strong>de</strong><br />

gênero ou f<strong>em</strong>icídios <strong>em</strong> sete <strong>países</strong> <strong>da</strong> região, <strong>do</strong>s quais quase <strong>do</strong>is terços tiveram como autores o<br />

companheiro ou ex-companheiro.<br />

Apesar <strong>de</strong> a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> ser<strong>em</strong> a única região <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que t<strong>em</strong> uma convenção<br />

<strong>regional</strong> para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher —a Convenção <strong>de</strong> Belém <strong>do</strong> Pará—<br />

e <strong>de</strong> as leis contra a violência ter<strong>em</strong> produzi<strong>do</strong> importantes avanços nos <strong>países</strong> que as promulgaram, <strong>em</strong><br />

muitos <strong>países</strong> ain<strong>da</strong> não se tipifica o f<strong>em</strong>icídio. O quadro II.1 enumera os <strong>países</strong> <strong>em</strong> que o f<strong>em</strong>icídio já<br />

foi tipifica<strong>do</strong>.<br />

Argentina (2012)<br />

Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia (2013)<br />

Chile (2010) e Costa Rica (2007)<br />

Colômbia (2008) e Equa<strong>do</strong>r (2014)<br />

El Salva<strong>do</strong>r (2012), Honduras (2013)<br />

e México (2007)<br />

Guat<strong>em</strong>ala (2008), Nicarágua (2010)<br />

e Panamá (2013)<br />

Peru (2011) e República Bolivariana<br />

<strong>da</strong> Venezuela (2007)<br />

Quadro II.1<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (<strong>países</strong> seleciona<strong>do</strong>s): tipificação penal <strong>do</strong> f<strong>em</strong>icídio<br />

(ou f<strong>em</strong>inicídio) nos códigos penais<br />

Assassinato <strong>de</strong> uma mulher cometi<strong>do</strong> por um ascen<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, cônjuge, ex-cônjuge<br />

ou pessoa com qu<strong>em</strong> mantém ou manteve uma relação íntima, com ou s<strong>em</strong> convivência.<br />

<strong>Ação</strong> <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a violência que viola o direito fun<strong>da</strong>mental à vi<strong>da</strong> e causa a morte <strong>da</strong><br />

mulher pelo fato <strong>de</strong> ser mulher.<br />

Morte violenta <strong>de</strong> uma mulher <strong>em</strong> mãos <strong>de</strong> seu cônjuge, companheiro ou ex-companheiro.<br />

Morte <strong>de</strong> uma mulher pelo fato <strong>de</strong> ser mulher ou por sua condição <strong>de</strong> gênero.<br />

Forma extr<strong>em</strong>a <strong>de</strong> violência <strong>de</strong> gênero contra as mulheres <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência <strong>da</strong> violação <strong>de</strong><br />

seus direitos humanos, tanto no âmbito público como no priva<strong>do</strong>.<br />

To<strong>da</strong>s as mortes violentas <strong>de</strong> mulheres no âmbito <strong>de</strong> relações <strong>de</strong>siguais <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, que<br />

inclu<strong>em</strong> o matrimônio e a convivência.<br />

Morte <strong>de</strong> uma mulher causa<strong>da</strong> por seu ascen<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte natural ou a<strong>do</strong>tivo,<br />

alguém que seja ou tenha si<strong>do</strong> seu cônjuge ou convivente ou pessoa com qu<strong>em</strong> mantém<br />

ou tenha manti<strong>do</strong> uma relação íntima.<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong><br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>. <strong>Relatório</strong> anual 2013-2014: o enfrentamento <strong>da</strong> violência contra as mulheres na <strong>América</strong><br />

<strong>Latina</strong> e no <strong>Caribe</strong> (LC/G.2626), Santiago <strong>do</strong> Chile, 2014.<br />

56


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Na região 14 <strong>países</strong> criaram o tipo penal <strong>de</strong> f<strong>em</strong>icídio, o que permite realizar uma comparação<br />

<strong>regional</strong> <strong>de</strong> registros oficiais. Com esta informação o Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong><br />

e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> construiu o indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> morte <strong>de</strong> mulheres provoca<strong>da</strong> por seu companheiro ou ex-companheiro;<br />

porém, <strong>da</strong><strong>do</strong> que vários <strong>países</strong> não processam a informação <strong>de</strong> f<strong>em</strong>icídios, a construção <strong>do</strong> indica<strong>do</strong>r é<br />

complexa e só cobre alguns <strong>países</strong>, como se observa no gráfico II.17 (veja também os gráficos II.18 e II.19).<br />

Gráfico II.17<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (7 <strong>países</strong>): f<strong>em</strong>icídio ou homicídio <strong>de</strong> mulheres por razão <strong>de</strong> gênero<br />

e mortes <strong>de</strong> mulheres provoca<strong>da</strong>s pelo companheiro ou ex-companheiro,<br />

último <strong>da</strong><strong>do</strong> disponível<br />

(Em números absolutos)<br />

200<br />

160<br />

160<br />

120<br />

98 98<br />

80<br />

71<br />

83<br />

54<br />

40<br />

0<br />

Rep.<br />

Dominicana<br />

46<br />

El Salva<strong>do</strong>r<br />

Peru<br />

17<br />

Porto Rico<br />

27 25<br />

25 20<br />

Uruguai<br />

Paraguai<br />

18<br />

11<br />

Costa Rica<br />

Morte <strong>de</strong> mulheres provoca<strong>da</strong> por seu companheiro ou ex-companheiro<br />

Total <strong>de</strong> homicídios <strong>de</strong> mulheres por violência <strong>de</strong> gênero ou f<strong>em</strong>icídio<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong><br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>. <strong>Relatório</strong> anual 2013-2014: o enfrentamento <strong>da</strong> violência contra as mulheres na <strong>América</strong><br />

<strong>Latina</strong> e no <strong>Caribe</strong> (LC/G.2626), Santiago <strong>do</strong> Chile, 2014.<br />

Gráfico II.18<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> (12 <strong>países</strong>), Espanha e Portugal: morte <strong>de</strong> mulheres provoca<strong>da</strong><br />

pelo companheiro ou ex-companheiro, 2013<br />

(Em números absolutos e taxas)<br />

Números absolutos<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

0,23<br />

20<br />

0<br />

0,11<br />

0,46<br />

0,29<br />

0,73<br />

0,28<br />

0,45<br />

0,23<br />

0,73<br />

0,67<br />

0,12<br />

0,69<br />

0,27<br />

11 17 17 20 25 30 34 40 40 46 54 71 83 88<br />

Costa Rica<br />

Guat<strong>em</strong>ala<br />

Porto Rico<br />

Paraguai<br />

Uruguai<br />

Portugal<br />

Honduras<br />

Chile<br />

Nicarágua<br />

El Salva<strong>do</strong>r<br />

Espanha<br />

Rep.<br />

Dominicana<br />

Peru<br />

0,18<br />

Colômbia<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0,0<br />

Taxa (por 100.000 habitantes)<br />

Número absoluto<br />

Taxa (por 100.000 habitantes)<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong><br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>. <strong>Relatório</strong> anual 2013-2014: o enfrentamento <strong>da</strong> violência contra as mulheres na <strong>América</strong><br />

<strong>Latina</strong> e no <strong>Caribe</strong> (LC/G.2626), Santiago <strong>do</strong> Chile, 2014.<br />

57


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Gráfico II.19<br />

<strong>Caribe</strong> (8 <strong>países</strong>): morte <strong>de</strong> mulheres provoca<strong>da</strong> pelo companheiro ou ex-companheiro,<br />

último perío<strong>do</strong> disponível<br />

(Em números absolutos e taxas)<br />

Números absolutos<br />

20<br />

0<br />

1,39<br />

0,94 0,91<br />

0,56<br />

2,11<br />

0,30<br />

0,29<br />

0,00<br />

0 1 1 1 3 4 6 8<br />

Santa Lúcia<br />

Dominica<br />

Grana<strong>da</strong><br />

Número absoluto<br />

São Vicente<br />

e Granadinas<br />

Suriname<br />

Trini<strong>da</strong>d e Tobago<br />

Barba<strong>do</strong>s<br />

Taxa (por 100.000 habitantes)<br />

Jamaica<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

Taxa (por 100.000 habitantes)<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong><br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>. <strong>Relatório</strong> anual 2013-2014: o enfrentamento <strong>da</strong> violência contra as mulheres na <strong>América</strong><br />

<strong>Latina</strong> e no <strong>Caribe</strong> (LC/G.2626), Santiago <strong>do</strong> Chile, 2014.<br />

Apesar <strong>de</strong> contar com informação para o cálculo <strong>do</strong> indica<strong>do</strong>r, um <strong>do</strong>s obstáculos meto<strong>do</strong>lógicos<br />

mais importantes é a dispersão <strong>da</strong> orig<strong>em</strong> <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s, que provêm tanto <strong>de</strong> registros policiais, investigações<br />

<strong>da</strong>s promotorias e informação forense como <strong>de</strong> estatísticas vitais vincula<strong>da</strong>s ao sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong><br />

registro civil, como indica o quadro II.2.<br />

Quadro II.2<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>Caribe</strong>: fontes <strong>de</strong> informação para o registro <strong>da</strong> morte<br />

<strong>de</strong> mulheres provoca<strong>da</strong> pelo companheiro ou ex-companheiro<br />

País Fonte (instituição) Âmbito <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

Chile<br />

Promotoria Nacional, Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> Especializa<strong>da</strong> <strong>em</strong> Delitos Sexuais e Violência<br />

Intrafamiliar<br />

Promotoria/<br />

procura<strong>do</strong>ria<br />

El Salva<strong>do</strong>r Promotoria <strong>Geral</strong> <strong>da</strong> República<br />

Peru<br />

Ministério Público, Observatório <strong>de</strong> Criminali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

República Dominicana Procura<strong>do</strong>ria <strong>Geral</strong> <strong>da</strong> República<br />

Espanha Ministério <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, Serviços Sociais e Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> Ministérios <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r<br />

Grana<strong>da</strong><br />

Ministério <strong>do</strong> Desenvolvimento Social, Habitação e Desenvolvimento<br />

Comunitário, Divisão <strong>de</strong> Gênero e Família, Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> GBV<br />

executivo<br />

Guat<strong>em</strong>ala<br />

Organismo Judicial e Ministério Público<br />

Portugal<br />

<strong>Relatório</strong> Anual <strong>de</strong> Segurança Interna/ Observatório <strong>da</strong>s Mulheres Assassina<strong>da</strong>s<br />

(OMA) <strong>da</strong> União <strong>de</strong> Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR)<br />

São Vicente e<br />

Granadinas<br />

Uruguai<br />

Costa Rica<br />

Paraguai<br />

Trini<strong>da</strong>d e Tobago<br />

Ministério <strong>de</strong> Mobilização Nacional, Desenvolvimento Social, Família, Assuntos<br />

<strong>de</strong> Gênero, Pessoas com Deficiência e Juventu<strong>de</strong><br />

Observatório Nacional <strong>sobre</strong> Violência e Criminali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Interior<br />

Secretaria-<strong>Geral</strong> <strong>da</strong> Corte Supr<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Justiça, Instituto Nacional <strong>da</strong>s Mulheres<br />

(INAMU)<br />

Direção <strong>de</strong> Comunicação e Cultura D<strong>em</strong>ocrática <strong>do</strong> Ministério <strong>da</strong> Mulher/Polícia<br />

Nacional<br />

Ministério <strong>de</strong> Informação, Divisão <strong>de</strong> Assuntos <strong>de</strong> Gênero<br />

Organismo para o<br />

avanço <strong>da</strong> mulher (<strong>de</strong><br />

forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte ou<br />

<strong>em</strong> coor<strong>de</strong>nação com<br />

outras instituições)<br />

58


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Quadro II.2 (conclusão)<br />

País Fonte (instituição) Âmbito <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

Colômbia Instituto Nacional <strong>de</strong> Medicina Legal e Ciências Forenses Corpos forenses<br />

Honduras<br />

Instituto Universitário <strong>em</strong> D<strong>em</strong>ocracia, Paz e Segurança (IUDPAS) <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Nacional Autônoma <strong>de</strong> Honduras (UNAH) - Observatório <strong>de</strong><br />

Mortes Violentas <strong>de</strong> Mulheres e F<strong>em</strong>icídios<br />

Barba<strong>do</strong>s Real Força Policial <strong>de</strong> Barba<strong>do</strong>s Forças policiais<br />

Jamaica<br />

Planejamento <strong>de</strong> Pesquisa e Serviços Jurídicos, Corpo <strong>de</strong> Polícia <strong>da</strong> Jamaica<br />

Nicarágua<br />

Delegacia <strong>da</strong> Mulher <strong>da</strong> Polícia Nacional <strong>da</strong> Nicarágua<br />

Porto Rico<br />

Polícia <strong>de</strong> Porto Rico, <strong>Relatório</strong>s estatísticos<br />

Santa Lúcia Real Força <strong>de</strong> Polícia <strong>de</strong> Santa Lúcia<br />

Suriname<br />

Serviço <strong>de</strong> Informação Criminal <strong>da</strong> Polícia<br />

Trini<strong>da</strong>d e Tobago Análise <strong>de</strong> Crimes e Probl<strong>em</strong>as, Serviço <strong>de</strong> Polícia <strong>de</strong> Trini<strong>da</strong>d e Tobago<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong><br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>. <strong>Relatório</strong> anual 2013-2014: o enfrentamento <strong>da</strong> violência contra as mulheres na <strong>América</strong><br />

<strong>Latina</strong> e no <strong>Caribe</strong> (LC/G.2626), Santiago <strong>do</strong> Chile, 2014.<br />

b) As leis integrais <strong>sobre</strong> violência<br />

Quase 20 anos <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> Quarta Conferência Mundial <strong>sobre</strong> a Mulher (<strong>Pequim</strong>, 1995), to<strong>do</strong>s os<br />

<strong>países</strong> <strong>da</strong> região contam com leis <strong>sobre</strong> violência, a maioria dispõe <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> ação para enfrentar<br />

e eliminar a violência contra as mulheres e <strong>de</strong>z <strong>países</strong> promulgaram leis integrais contra a violência.<br />

Os planos nacionais baseiam-se na Convenção <strong>de</strong> Belém <strong>do</strong> Pará, instrumento internacional vinculante<br />

fun<strong>da</strong>mental na elaboração <strong>da</strong>s normas legislativas regionais.<br />

A instauração <strong>de</strong> leis integrais que abor<strong>da</strong>m a violência contra as mulheres além <strong>do</strong> âmbito<br />

<strong>da</strong> família e que oferec<strong>em</strong> uma visão ampla <strong>sobre</strong> a forma <strong>de</strong> encarar as diversas manifestações <strong>da</strong><br />

violência contra as mulheres se iniciou <strong>em</strong> 2007 no México e na República Bolivariana <strong>da</strong> Venezuela.<br />

Posteriormente, Colômbia e Guat<strong>em</strong>ala (2008), Argentina e Costa Rica (2009), El Salva<strong>do</strong>r (2010),<br />

Nicarágua (2012) e o Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia e a República Dominicana (2013) sancionaram<br />

normas similares.<br />

Segun<strong>do</strong> o relatório <strong>sobre</strong> violência <strong>do</strong> Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong><br />

e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> (CEPAL, 2014b), exist<strong>em</strong> duas propostas relevantes para avançar no acesso à justiça: a<br />

iniciativa <strong>do</strong> Alto Comissaria<strong>do</strong> <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para os Direitos Humanos e a Enti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s Nações<br />

Uni<strong>da</strong>s para a Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero e o Empo<strong>de</strong>ramento <strong>da</strong>s Mulheres (ONU-Mulheres) <strong>de</strong> um Mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> protocolo latino-americano <strong>de</strong> investigação <strong>da</strong>s mortes violentas <strong>de</strong> mulheres por razões <strong>de</strong> gênero<br />

(f<strong>em</strong>icídio/f<strong>em</strong>inicídio) e a iniciativa <strong>da</strong> Cúpula Judicial Ibero-Americana (CJI) <strong>da</strong>s 100 Regras <strong>de</strong><br />

Brasília <strong>sobre</strong> acesso à justiça <strong>da</strong>s pessoas <strong>em</strong> condição <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> 56 .<br />

A CEPAL (2014b) consi<strong>de</strong>ra que a violência contra as mulheres não po<strong>de</strong> ser analisa<strong>da</strong> e<br />

enfrenta<strong>da</strong> <strong>de</strong> maneira isola<strong>da</strong>, mas vincula<strong>da</strong> aos fatores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica, social e cultural<br />

que operam nas relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre homens e mulheres, que têm seu correlato na <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

recursos no âmbito priva<strong>do</strong> e na esfera pública e estão <strong>em</strong> direta relação com a <strong>de</strong>sigual distribuição <strong>do</strong><br />

trabalho, especialmente <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong>méstico não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>.<br />

Resta como <strong>de</strong>safio pen<strong>de</strong>nte contar com mais e melhores ferramentas para avaliar os avanços<br />

e resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> gestão <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s a eliminar a violência contra as mulheres, a fim <strong>de</strong><br />

conhecer os efeitos <strong>de</strong>stas políticas na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres e o acesso à justiça, b<strong>em</strong> como a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s opera<strong>do</strong>res <strong>de</strong> justiça <strong>de</strong> incorporar <strong>em</strong> suas práticas uma agen<strong>da</strong> <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero e não<br />

discriminação <strong>da</strong>s mulheres.<br />

56<br />

Os <strong>países</strong>-m<strong>em</strong>bros <strong>da</strong> CJI são: An<strong>do</strong>rra, Argentina, Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa<br />

Rica, Cuba, El Salva<strong>do</strong>r, Equa<strong>do</strong>r, Espanha, Guat<strong>em</strong>ala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru,<br />

Porto Rico, Portugal, República Dominicana, Uruguai e República Bolivariana <strong>da</strong> Venezuela. Veja [on-line] http://<br />

www.cumbrejudicial.org.<br />

59


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

c) O tráfico<br />

O tráfico envolve numerosos atores, incluin<strong>do</strong> família, intermediários locais, re<strong>de</strong>s internacionais<br />

criminosas e autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigração. Po<strong>de</strong> ter fins <strong>de</strong> exploração sexual ou trabalho escravo. A<br />

<strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> insta os <strong>países</strong> a estabelecer medi<strong>da</strong>s preventivas e punitivas para acabar com o<br />

tráfico <strong>de</strong> mulheres e a exploração sexual. No âmbito internacional, a maioria <strong>do</strong>s <strong>países</strong> <strong>da</strong> região<br />

aprovou a Convenção Internacional contra a Criminali<strong>da</strong><strong>de</strong> Organiza<strong>da</strong> Transnacional e o Protocolo<br />

para Prevenir, Reprimir e Punir o Tráfico <strong>de</strong> Pessoas, Especialmente Mulheres e Crianças, que a<br />

compl<strong>em</strong>enta (Protocolo <strong>de</strong> Palermo). O certo é que nenhum país está isento <strong>de</strong>ste fenômeno.<br />

O Protocolo para Prevenir, Reprimir e Punir o Tráfico <strong>de</strong> Pessoas, Especialmente Mulheres<br />

e Crianças, que compl<strong>em</strong>enta a Convenção <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s contra a Criminali<strong>da</strong><strong>de</strong> Organiza<strong>da</strong><br />

Transnacional, <strong>de</strong>fine o tráfico <strong>de</strong> pessoas como “a captação, o transporte, o trasla<strong>do</strong>, a acolhi<strong>da</strong><br />

ou a recepção <strong>de</strong> pessoas, recorren<strong>do</strong> à ameaça ou ao uso <strong>da</strong> força ou outras formas <strong>de</strong> coação, ao<br />

rapto, à frau<strong>de</strong>, ao engano, ao abuso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ou <strong>de</strong> uma situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> ou à concessão<br />

ou recebimento <strong>de</strong> pagamentos ou benefícios para obter o consentimento <strong>de</strong> uma pessoa que tenha<br />

autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>sobre</strong> outra, com fins <strong>de</strong> exploração. Essa exploração inclui, no mínimo, a exploração <strong>da</strong><br />

prostituição alheia ou outras formas <strong>de</strong> exploração sexual, trabalhos ou serviços força<strong>do</strong>s, a escravidão<br />

ou práticas análogas à escravidão, a servidão ou a extração <strong>de</strong> órgãos”.<br />

Com efeito, as vítimas <strong>do</strong> tráfico, engana<strong>da</strong>s ou obriga<strong>da</strong>s pelos traficantes, se encontram expostas<br />

à exploração sexual ou trabalho escravo. Um estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> Organização Internacional para as Migrações<br />

(OIM, 2006) estima que a ca<strong>da</strong> ano cerca <strong>de</strong> 100.000 mulheres e a<strong>do</strong>lescentes viajam engana<strong>da</strong>s com<br />

promessas <strong>de</strong> trabalho para a Al<strong>em</strong>anha, Bélgica, Espanha, Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, Israel, Japão, Países Baixos<br />

e outros <strong>países</strong> asiáticos. Muitas <strong>de</strong>stas mulheres se converterão <strong>em</strong> vítimas <strong>de</strong> trabalho força<strong>do</strong>, mas<br />

especialmente serão vítimas <strong>de</strong> exploração sexual. Neste âmbito, e numa tentativa <strong>de</strong> fortalecer a luta<br />

contra este crime, os <strong>países</strong> <strong>da</strong> região incorporaram novas normas e leis, além <strong>de</strong> planos <strong>de</strong> ação para<br />

acabar com esta forma <strong>de</strong> violência (CEPAL, 2014b).<br />

Onze <strong>países</strong> <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e quatro <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> contam com leis específicas para combater o<br />

tráfico <strong>de</strong> pessoas e vários <strong>países</strong> <strong>de</strong>senvolveram planos <strong>de</strong> ação na matéria. Tal é o caso <strong>do</strong> Brasil, que<br />

impl<strong>em</strong>entou a Estratégia Nacional <strong>de</strong> Fronteiras, a cargo <strong>da</strong> Secretaria <strong>de</strong> Enfrentamento à Violência<br />

<strong>da</strong> Secretaria <strong>de</strong> Políticas para as Mulheres. Com um trabalho intersetorial, o Brasil também conseguiu<br />

<strong>de</strong>sbaratar quadrilhas criminosas que têm sua orig<strong>em</strong> na Espanha, graças a <strong>de</strong>núncias feitas pelo<br />

Ligue 180 e à ação <strong>da</strong> Polícia Fe<strong>de</strong>ral. Alguns <strong>países</strong> dispõ<strong>em</strong> <strong>de</strong> linhas telefônicas para atenção e<br />

<strong>de</strong>núncia, b<strong>em</strong> como lugares <strong>de</strong> acolhi<strong>da</strong> para receber vítimas <strong>de</strong>sse crime.<br />

No México funciona o Refúgio Especializa<strong>do</strong> <strong>de</strong> Atenção Integral e Proteção <strong>de</strong> Vítimas <strong>de</strong> Tráfico<br />

e Violência Extr<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Gênero, coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pela Diretoria Nacional <strong>de</strong> Centros <strong>de</strong> Atenção a Vítimas <strong>de</strong><br />

Violência contra as Mulheres e Tráfico <strong>de</strong> Pessoas. Neste país, a Procura<strong>do</strong>ria <strong>Geral</strong> <strong>da</strong> República conta<br />

com o Centro <strong>de</strong> Denúncia e Atenção Ci<strong>da</strong>dã (CEDAC), que opera <strong>em</strong> diversas áreas. Além disso, criou-se<br />

uma Promotoria Especial para a atenção <strong>da</strong> violência contra as mulheres e o tráfico <strong>de</strong> pessoas, que recebe<br />

<strong>de</strong>núncias vincula<strong>da</strong>s aos crimes <strong>de</strong> sua competência e aten<strong>de</strong> <strong>de</strong> maneira integral às vítimas.<br />

A existência <strong>de</strong> centros e casas <strong>de</strong> acolhi<strong>da</strong> é útil para contarmos com alguns <strong>da</strong><strong>do</strong>s. No<br />

único refúgio transitório para mulheres <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> tráfico <strong>de</strong> pessoas <strong>do</strong> Paraguai, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

entre 2009 e 2013 foram atendi<strong>da</strong>s 199 mulheres afeta<strong>da</strong>s pelo tráfico <strong>de</strong> pessoas. Também exist<strong>em</strong><br />

algumas iniciativas sub-regionais, como a <strong>do</strong> Mercosul, que, no âmbito <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> Fortalecimento<br />

<strong>da</strong> Institucionali<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> Perspectiva <strong>de</strong> Gênero no Mercosul, realizou diagnósticos <strong>do</strong> fenômeno <strong>do</strong><br />

tráfico e campanhas <strong>de</strong> sensibilização. Outro projeto <strong>de</strong>staca<strong>do</strong> é o <strong>de</strong> “Prevenção <strong>de</strong> To<strong>da</strong>s as Formas <strong>de</strong><br />

Violência contra as Mulheres, Tráfico e F<strong>em</strong>icídio”, impulsiona<strong>do</strong> pelo Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Integração Centro-<br />

Americana (SICA) e o Conselho <strong>de</strong> Ministras <strong>da</strong> Mulher <strong>da</strong> <strong>América</strong> Central (COMMCA). Dos 15 <strong>países</strong><br />

que ratificaram leis <strong>sobre</strong> tráfico, nove o fizeram <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 2010 e sua vinculação à violência contra as<br />

mulheres serve para aproveitar os avanços obti<strong>do</strong>s, <strong>sobre</strong>tu<strong>do</strong> com relação ao trabalho intersetorial para<br />

enfrentar <strong>de</strong> maneira mais efetiva este probl<strong>em</strong>a (CEPAL, 2014b).<br />

60


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

III. Novas priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>de</strong>safios <strong>da</strong> agen<strong>da</strong><br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 2015<br />

“A realização <strong>do</strong>s <strong>de</strong>safios marca<strong>do</strong>s pelos governos <strong>de</strong>ve situar-se no contexto <strong>de</strong> uma mu<strong>da</strong>nça<br />

paradigmática nos padrões <strong>de</strong> produção e consumo coerente com a magnitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> fenômeno. Dessa<br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> é o <strong>de</strong>safio para a sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento inclusivo, sustentável, com<br />

eixo na igual<strong>da</strong><strong>de</strong>” sustentou a Secretaria Executiva <strong>da</strong> CEPAL durante o S<strong>em</strong>inário <strong>sobre</strong> Perspectivas<br />

<strong>da</strong> Mu<strong>da</strong>nça Climática na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e no <strong>Caribe</strong> 57 .<br />

As mu<strong>da</strong>nças no cenário mundial colocam os <strong>de</strong>safios surgi<strong>do</strong>s <strong>da</strong> aplicação <strong>do</strong>s compromissos<br />

internacionais num contexto <strong>de</strong> urgente necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, não <strong>de</strong> uma mu<strong>da</strong>nça marginal, mas <strong>de</strong> um acor<strong>do</strong><br />

global, muito mais próximo <strong>do</strong> enfoque inspira<strong>do</strong> pelos acor<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> que <strong>do</strong>s enfoques que<br />

pre<strong>do</strong>minaram durante sua impl<strong>em</strong>entação. A transição <strong>de</strong>mográfica e o início <strong>do</strong> envelhecimento na<br />

região, o processo <strong>de</strong> urbanização e concentração <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> pobreza nas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a insegurança<br />

pública, a mu<strong>da</strong>nça climática e a vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> aos <strong>de</strong>sastres naturais, ao que se soma a per<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

aju<strong>da</strong> externa (como a assistência oficial para o <strong>de</strong>senvolvimento), a redução <strong>do</strong> crescimento <strong>da</strong>s<br />

economias e a que<strong>da</strong> <strong>do</strong>s preços <strong>da</strong>s matérias-primas convert<strong>em</strong> a agen<strong>da</strong> <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> numa proposta<br />

<strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça estrutural. Como assinala o <strong>do</strong>cumento interinstitucional coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pela CEPAL <strong>sobre</strong><br />

o acompanhamento <strong>da</strong> agen<strong>da</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento pós-2015 e Rio+20 (Nações Uni<strong>da</strong>s, 2013), a<br />

perspectiva <strong>de</strong> gênero <strong>de</strong>ve permear a medição <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, a formulação <strong>de</strong> estratégias e os<br />

objetivos <strong>da</strong>s políticas. Para isso, é necessário mu<strong>da</strong>r a maneira <strong>de</strong> contabilizar os custos <strong>da</strong> reprodução<br />

social e o valor real <strong>do</strong> trabalho e <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po, assim como o funcionamento concreto <strong>da</strong>s economias e <strong>da</strong>s<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Como dimensão transversal <strong>da</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>, as brechas <strong>de</strong> gênero <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser incorpora<strong>da</strong>s<br />

à análise <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os âmbitos para obter maior igual<strong>da</strong><strong>de</strong> e sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e alcançar o cumprimento<br />

efetivo <strong>do</strong>s direitos. Portanto, o eixo <strong>da</strong> nova agen<strong>da</strong> <strong>de</strong>ve girar <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> garantir a autonomia<br />

econômica e física <strong>da</strong>s mulheres, assim como seu acesso à toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os níveis. Este<br />

processo <strong>de</strong> transversalização passa por superar as ambigui<strong>da</strong><strong>de</strong>s que associam “as mulheres, as crianças,<br />

os jovens, as pessoas com <strong>de</strong>ficiência, os pequenos agricultores e os agricultores <strong>de</strong> subsistência, os<br />

pesca<strong>do</strong>res e trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas pequenas e médias” (ponto 58.k <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento <strong>final</strong> <strong>do</strong> Rio+20),<br />

que necessitam <strong>de</strong> especial aju<strong>da</strong> para superar sua vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

57<br />

Veja as palavras <strong>de</strong> boas-vin<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Alicia Bárcena, Secretária Executiva <strong>da</strong> CEPAL, por ocasião <strong>da</strong> abertura <strong>do</strong><br />

S<strong>em</strong>inário <strong>sobre</strong> Perspectivas <strong>da</strong> Mu<strong>da</strong>nça Climática na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e no <strong>Caribe</strong>, 8 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2014<br />

[online] http://www.cepal.org/prensa/noticias/discursossecretaria/2/54032/Taller_perspectivas_cambio_Climatico_<br />

CEPAL_8octubre2014.pdf.<br />

61


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

A. Desafios estratégicos <strong>da</strong> região<br />

Como vimos, as reformas institucionais e jurídicas com enfoque <strong>de</strong> direitos favoráveis às mulheres<br />

conviv<strong>em</strong> com políticas econômicas neutras <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> gênero, orienta<strong>da</strong>s principalmente<br />

à exportação <strong>de</strong> matérias-primas, setor no qual as mulheres ocupam <strong>de</strong> maneira pre<strong>do</strong>minant<strong>em</strong>ente<br />

<strong>em</strong>pregos precários e mal r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>s e são beneficiárias <strong>de</strong> bônus, transferências ou pequenos<br />

programas <strong>de</strong> promoção <strong>da</strong> pequena <strong>em</strong>presa (CEPAL, 2013a).<br />

A aplicação <strong>do</strong>s compromissos <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s <strong>da</strong> a<strong>do</strong>ção <strong>da</strong> <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> transcorre no<br />

âmbito <strong>de</strong> políticas sociais focaliza<strong>da</strong>s, apesar <strong>de</strong> a <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> postular políticas universais.<br />

Os relatórios mostram que, <strong>em</strong> muitos casos, as políticas aplica<strong>da</strong>s durante estes 20 anos se ren<strong>de</strong>ram<br />

ao paradigma <strong>do</strong>minante e coexistiram avanços jurídicos tributários <strong>de</strong> direitos universais com políticas<br />

econômicas extrativistas, <strong>de</strong>sregulação <strong>do</strong> trabalho, políticas sociais focaliza<strong>da</strong>s e uma tolerância social<br />

ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> alta à cultura <strong>da</strong> discriminação. Embora, por um la<strong>do</strong>, ocorram importantes avanços<br />

legislativos e <strong>de</strong> participação nas políticas, por outro la<strong>do</strong> pre<strong>do</strong>minam os programas antipobreza<br />

ou o fomento à pequena <strong>em</strong>presa; por isso, é difícil imaginar como estas po<strong>de</strong>m contribuir para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento nacional, a superação <strong>da</strong>s barreiras <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e o acesso à inovação se,<br />

<strong>de</strong>finitivamente, a força <strong>de</strong> trabalho potencial que se po<strong>de</strong> incorporar ao <strong>de</strong>senvolvimento produtivo está<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> programas assistencialistas e <strong>de</strong> baixa produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. No anexo po<strong>de</strong>-se observar que, <strong>do</strong> total<br />

<strong>de</strong> programas informa<strong>do</strong>s para reduzir a pobreza e para melhorar a posição <strong>da</strong>s mulheres na economia e<br />

nos merca<strong>do</strong>s, a imensa maioria consiste <strong>em</strong> programas <strong>de</strong> transferências, capacitação para pequenas e<br />

micro<strong>em</strong>presárias e programas <strong>de</strong> microcrédito; <strong>de</strong> maneira muito excepcional, mencionam-se políticas<br />

para fortalecer a competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s <strong>em</strong>preen<strong>de</strong><strong>do</strong>ras, o acesso ao crédito formal e a capacitação <strong>em</strong><br />

áreas inova<strong>do</strong>ras, algumas <strong>da</strong>s quais po<strong>de</strong>m ser encontra<strong>da</strong>s no <strong>do</strong>cumento <strong>sobre</strong> mulheres na economia<br />

digital (CEPAL, 2013b).<br />

O dil<strong>em</strong>a é que, enquanto as normas aprova<strong>da</strong>s promov<strong>em</strong> o <strong>em</strong>po<strong>de</strong>ramento <strong>da</strong>s mulheres, as<br />

políticas se caracterizam por uma associação entre as mulheres e a pobreza, as mulheres e os pequenos<br />

<strong>em</strong>preendimentos ou as mulheres e o pequeno crédito, o que as situa principalmente na esfera <strong>da</strong>s<br />

políticas sociais e assistência social, s<strong>em</strong> que se relat<strong>em</strong> experiências significativas <strong>de</strong> saí<strong>da</strong> para o<br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho e o <strong>em</strong>preendimento produtivo.<br />

Ao encerrar-se a Quarta Conferência Mundial <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>em</strong> <strong>Pequim</strong>, a coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra<br />

<strong>regional</strong> <strong>do</strong> Movimento Amplo <strong>de</strong> Mulheres sintetizou a mensag<strong>em</strong> <strong>da</strong>s participantes: “Recursos, não<br />

palavras” 58 . As palavras tiveram seu lugar e, ain<strong>da</strong> que continuass<strong>em</strong> sen<strong>do</strong> a forma <strong>de</strong> expressão <strong>da</strong>s<br />

vozes <strong>da</strong>s mulheres, nesse momento havia que iluminar o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> <strong>do</strong>tar <strong>de</strong> recursos a impl<strong>em</strong>entação<br />

<strong>da</strong> <strong>Plataforma</strong>. As palavras foram os meios <strong>de</strong> visibilização <strong>da</strong>s <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> novos<br />

direitos, <strong>de</strong> transformação <strong>da</strong>s leis. No entanto, para que estas palavras tivess<strong>em</strong> senti<strong>do</strong> na vi<strong>da</strong> cotidiana<br />

<strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as mulheres, havia que disponibilizar recursos financeiros, técnicos e institucionais. Em última<br />

instância, os recursos po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s como a medi<strong>da</strong> <strong>do</strong> compromisso <strong>do</strong>s governos, ain<strong>da</strong> que<br />

certamente, para obter resulta<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>vam fazer parte <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>s, processos, alianças e circunstâncias<br />

que, quan<strong>do</strong> se relacionam <strong>de</strong> uma maneira virtuosa, permit<strong>em</strong> mu<strong>da</strong>nças substantivas.<br />

A <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> foi a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong> num momento <strong>em</strong> que a gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s <strong>países</strong> saía <strong>da</strong> crise<br />

<strong>da</strong> dívi<strong>da</strong>, iniciava programas <strong>de</strong> ajuste estrutural e, no campo social, a<strong>do</strong>tava políticas focaliza<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

redução <strong>da</strong> pobreza que consi<strong>de</strong>ravam as mulheres como um coletivo vulnerável, perspectiva distinta <strong>do</strong><br />

enfoque <strong>de</strong> direitos e <strong>de</strong> reconhecimento <strong>de</strong>las como ci<strong>da</strong>dãs e sujeitos sociais postula<strong>do</strong> pela <strong>Plataforma</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Ação</strong>. Os relatórios mostram que durante os últimos cinco anos os <strong>países</strong> a<strong>do</strong>taram políticas marca<strong>da</strong>s<br />

por um novo papel <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, caracteriza<strong>do</strong> <strong>de</strong> maneira crescente por novas formas <strong>de</strong> planejamento<br />

<strong>da</strong>s políticas, incluin<strong>do</strong> a <strong>de</strong>scentralização e reformas <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão orçamentária (como no<br />

58<br />

Continuam ressoan<strong>do</strong> os aplausos ao silêncio <strong>de</strong> Gina Vargas (coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>regional</strong> <strong>do</strong> Movimento Amplo <strong>de</strong><br />

Mulheres) na sessão plenária <strong>da</strong> Conferência, que, exercen<strong>do</strong> seu direito <strong>de</strong> ci<strong>da</strong>dã <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, mostrou um cartaz no<br />

qual se exigia “Justiça, mecanismos, recursos”.<br />

62


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Brasil, Chile, Colômbia, Equa<strong>do</strong>r, México e República Dominicana), mas ain<strong>da</strong> persist<strong>em</strong> enfoques que<br />

privilegiam a perspectiva <strong>da</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Incorporar a perspectiva <strong>de</strong> gênero aos sist<strong>em</strong>as nacionais<br />

<strong>de</strong> planejamento nacional é um <strong>de</strong>safio expressa<strong>do</strong> <strong>em</strong> vários relatórios que permitirá vincular o curto<br />

prazo com o longo prazo.<br />

Em geral, os <strong>de</strong>safios i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s nos relatórios nacionais são o resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> processos <strong>de</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong>, <strong>em</strong> alguns casos basea<strong>do</strong>s na experiência nacional e <strong>em</strong> outros apoia<strong>do</strong>s pela evidência<br />

internacional compara<strong>da</strong>. O processo <strong>de</strong> revisão é uma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> para refletir <strong>sobre</strong> os avanços <strong>do</strong>s<br />

<strong>países</strong> e para i<strong>de</strong>ntificar o que falta fazer para que o exercício pleno <strong>do</strong>s direitos <strong>da</strong>s mulheres e <strong>da</strong>s crianças<br />

seja uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em geral, os <strong>países</strong> reiteram seu compromisso com o processo <strong>de</strong> fortalecimento<br />

<strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre os gêneros e o <strong>em</strong>po<strong>de</strong>ramento <strong>da</strong>s mulheres, <strong>em</strong> concordância com os acor<strong>do</strong>s<br />

internacionais <strong>do</strong>s últimos anos <strong>sobre</strong> os objetivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e a agen<strong>da</strong> para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 2015. Acelerar seu cumprimento é um <strong>de</strong>safio fun<strong>da</strong>mental. A magnitu<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>safios i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s po<strong>de</strong> ser li<strong>da</strong> como uma mostra <strong>de</strong> atrasos e limitações reconheci<strong>do</strong>s pelos governos,<br />

mas também <strong>de</strong>ve ser interpreta<strong>da</strong> como fruto <strong>de</strong> uma acumulação <strong>de</strong> experiência, conhecimento e força<br />

política que, 20 anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>, mostra a crescente visibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, reconhecimento e contribuição<br />

<strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero para o <strong>de</strong>senvolvimento e a autonomia <strong>da</strong>s mulheres.<br />

Os recursos continuam sen<strong>do</strong> a chave porque, <strong>em</strong>bora vários <strong>países</strong> inform<strong>em</strong> <strong>sobre</strong> a orig<strong>em</strong><br />

e <strong>em</strong> alguns casos o aumento <strong>do</strong>s recursos, estes são principalmente <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s à institucionalização<br />

<strong>do</strong>s mecanismos para a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero, as políticas <strong>sobre</strong> violência e a impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> políticas<br />

<strong>de</strong> gênero no nível setorial. São poucos os <strong>países</strong> <strong>da</strong> região que mostram <strong>do</strong>tações significativas na lei<br />

<strong>de</strong> orçamento. Um el<strong>em</strong>ento positivo é que, apesar <strong>da</strong>s claras limitações <strong>de</strong> recursos para a igual<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> gênero na região, existe a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns <strong>países</strong> <strong>de</strong> incorporar uma meto<strong>do</strong>logia<br />

específica para informar <strong>de</strong> maneira sist<strong>em</strong>ática o gasto público <strong>em</strong> gênero, assim como para assegurar<br />

sua eficácia, como assinalam os relatórios <strong>do</strong> Brasil, Costa Rica, México, Paraguai e Porto Rico.<br />

Os relatórios <strong>do</strong>s <strong>países</strong> <strong>de</strong>stacaram também a importância <strong>de</strong> revisar o papel <strong>da</strong> cooperação<br />

internacional <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero e instar os <strong>países</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s a cumprir os<br />

compromissos assumi<strong>do</strong>s com relação à assistência para o <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>em</strong> particular nessa matéria.<br />

A <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> é uma agen<strong>da</strong> basea<strong>da</strong> no enfoque <strong>de</strong> direitos; por isso, vários <strong>países</strong><br />

(como Argentina, Colômbia e Equa<strong>do</strong>r) consi<strong>de</strong>ram que a região enfrenta <strong>de</strong>safios importantes para<br />

assegurar a sustentação ativa <strong>da</strong> promoção <strong>do</strong>s direitos. O progresso no reconhecimento <strong>do</strong>s direitos <strong>de</strong>u<br />

lugar a uma reflexão coletiva que propõe impulsionar políticas para eliminar o racismo, o machismo<br />

e o sexismo ou obter a <strong>de</strong>spatriarcalização (isto é indica<strong>do</strong> particularmente nos relatórios <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, Brasil, Guiana e República Dominicana). Neste senti<strong>do</strong>, o relatório <strong>da</strong> Costa<br />

Rica assinala que uma mu<strong>da</strong>nça na cultura política <strong>da</strong>s elites será particularmente relevante. Não são<br />

poucos os casos <strong>em</strong> que os parti<strong>do</strong>s políticos <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s por homens ten<strong>de</strong>m a buscar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> resquícios<br />

legais até a prática <strong>do</strong> assédio e ameaças para manter a maioria nas listas eleitorais. O relatório <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia assinala que o posicionamento social e cultural <strong>de</strong> uma concepção ampla <strong>de</strong><br />

pari<strong>da</strong><strong>de</strong>, que abarque to<strong>da</strong>s as esferas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e aponte para o exercício pleno <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia <strong>da</strong>s mulheres,<br />

faz parte <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>safio. A re<strong>de</strong> <strong>de</strong> crenças sociais e religiosas que alimenta o machismo faz parte <strong>da</strong>s<br />

barreiras socioculturais <strong>de</strong> discriminação contra as mulheres que se encontram presentes <strong>em</strong> maior<br />

ou menor medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os <strong>países</strong>. Alguns <strong>países</strong> (como o Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, Costa<br />

Rica, Guiana e República Dominicana) mencionam a influência <strong>de</strong> forças conserva<strong>do</strong>ras, religiosas e<br />

políticas que limitam o exercício <strong>do</strong>s direitos humanos <strong>da</strong>s mulheres, <strong>em</strong> particular os direitos sexuais<br />

e reprodutivos.<br />

Já que a obtenção <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero implica acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> uma mu<strong>da</strong>nça cultural,<br />

os relatórios <strong>do</strong>s <strong>países</strong> <strong>de</strong>stacaram o t<strong>em</strong>a <strong>do</strong>s obstáculos e as barreiras culturais como freio ao<br />

avanço efetivo <strong>do</strong>s direitos <strong>da</strong>s mulheres e a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre os gêneros. Esta complexa re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

crenças sociais, naturais e religiosas que atribu<strong>em</strong> o papel pre<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> <strong>de</strong> mães às mulheres na<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> fez com que a discriminação contra as mulheres se encontrasse presente <strong>em</strong> maior ou<br />

63


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

menor medi<strong>da</strong>. A esse respeito, o relatório <strong>da</strong> Costa Rica menciona a importância <strong>da</strong> impl<strong>em</strong>entação<br />

<strong>de</strong> estratégias para enfraquecer a influência <strong>de</strong> forças sociais conserva<strong>do</strong>ras que impe<strong>de</strong>m o avanço<br />

<strong>do</strong>s direitos humanos <strong>da</strong>s mulheres. O relatório <strong>da</strong> Guiana <strong>de</strong>staca esta probl<strong>em</strong>ática <strong>em</strong> uma seção<br />

intitula<strong>da</strong> “Negative Socio-Cultural Norms”; o relatório <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia introduz<br />

o conceito <strong>de</strong> “<strong>de</strong>spatriarcalização” <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>; Antígua e Barbu<strong>da</strong>, Brasil, Chile, Cuba,<br />

Dominica, Equa<strong>do</strong>r, Grana<strong>da</strong>, Guat<strong>em</strong>ala, Ilhas Cayman, Paraguai, Republica Dominicana, Suriname<br />

e Uruguai enfatizam a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> superar a primazia cultural <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> <strong>sobre</strong> a mulher e a<br />

impl<strong>em</strong>entação tradicional <strong>da</strong>s políticas públicas com o enfoque <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> como chefe <strong>de</strong> família,<br />

e mu<strong>da</strong>r os padrões culturais misóginos que prejudicam as mulheres e permit<strong>em</strong> a aceitação cultural<br />

<strong>da</strong> violência contra elas.<br />

Boxe III.1<br />

Colômbia e Guiana: a cultura e a lei a favor <strong>do</strong>s direitos<br />

A Colômbia i<strong>de</strong>ntificou que <strong>em</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s indígenas <strong>da</strong> nação <strong>em</strong>berá estava sen<strong>do</strong> pratica<strong>da</strong> a ablação<br />

f<strong>em</strong>inina, basea<strong>da</strong> <strong>em</strong> pautas culturais que fun<strong>da</strong>mentam tanto esta prática como a mutilação genital f<strong>em</strong>inina.<br />

Para impedir o <strong>de</strong>scumprimento <strong>do</strong>s direitos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2009 procura-se promover e garantir o exercício <strong>de</strong> direitos<br />

<strong>da</strong>s meninas e mulheres indígenas na política nacional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> sexual e reprodutiva, b<strong>em</strong> como a prevenção <strong>de</strong> outras<br />

formas <strong>de</strong> violência <strong>de</strong> gênero. É muito importante a colaboração com as autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s indígenas e as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

para gerar acor<strong>do</strong>s nos t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> direitos, saú<strong>de</strong> e violência que se ajust<strong>em</strong> a seu enfoque cultural e que valoriz<strong>em</strong> as<br />

práticas medicinais tradicionais <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s indígenas. Cabe mencionar especialmente a Cúpula <strong>de</strong> Autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

Indígenas e Oci<strong>de</strong>ntais, que teve lugar <strong>em</strong> 2012, com o objetivo <strong>de</strong> abrir um canal <strong>de</strong> diálogo para <strong>de</strong>finir estratégias<br />

<strong>de</strong> erradicação <strong>da</strong>s práticas nocivas para a saú<strong>de</strong> e a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres indígenas.<br />

A Guiana apresenta <strong>em</strong> seu relatório as ações que o governo realiza para enfrentar a prática culturalmente aceita<br />

<strong>do</strong> castigo corporal, aplica<strong>da</strong> <strong>em</strong> crianças tanto na escola como <strong>em</strong> casa. Des<strong>de</strong> 2009, quan<strong>do</strong> se aprovou a Lei <strong>de</strong><br />

Proteção <strong>da</strong> Infância, está proibi<strong>da</strong> a prática <strong>do</strong> castigo corporal <strong>em</strong> centros <strong>de</strong> atenção à primeira infância; porém, essa<br />

prática ain<strong>da</strong> é permiti<strong>da</strong> nas escolas sob as disposições <strong>da</strong> Lei <strong>de</strong> Educação.<br />

O Governo <strong>da</strong> Guiana, <strong>em</strong> cumprimento <strong>do</strong>s compromissos assumi<strong>do</strong>s com o Alto Comissaria<strong>do</strong> <strong>da</strong>s Nações<br />

Uni<strong>da</strong>s para os Direitos Humanos <strong>em</strong> 2010, realizou uma consulta nacional no perío<strong>do</strong> 2012-2013 com to<strong>do</strong>s os atores<br />

<strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a educativo para avaliar a eliminação <strong>de</strong>sta prática nos estabelecimentos educativos. Resulta<strong>do</strong>s preliminares<br />

indicam que a opinião pública está dividi<strong>da</strong> a respeito <strong>da</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> eliminar os castigos corporais.<br />

O Comitê para a Eliminação <strong>da</strong> Discriminação contra a Mulher instou o governo a impl<strong>em</strong>entar mu<strong>da</strong>nças e<br />

medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> difusão e campanhas educativas ten<strong>de</strong>ntes a visibilizar o <strong>da</strong>no que este tipo <strong>de</strong> prática provoca <strong>em</strong> crianças,<br />

e a buscar a disciplina por outras vias que não afet<strong>em</strong> seus direitos e sua integri<strong>da</strong><strong>de</strong> tanto física como psíquica.<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), com base nos relatórios <strong>do</strong>s <strong>países</strong> <strong>sobre</strong><br />

a aplicação <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> e o <strong>do</strong>cumento <strong>final</strong> <strong>do</strong> <strong>vigésimo</strong> <strong>terceiro</strong> perío<strong>do</strong><br />

<strong>extraordinário</strong> <strong>de</strong> <strong>sessões</strong> <strong>da</strong> <strong>Ass<strong>em</strong>bleia</strong> <strong>Geral</strong> (<strong>2000</strong>) para a preparação <strong>da</strong>s avaliações e <strong>exame</strong>s regionais que terão<br />

lugar <strong>em</strong> 2015 para a com<strong>em</strong>oração <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>+ 20, 2014.<br />

Neste âmbito, apresenta-se o dil<strong>em</strong>a entre assegurar o cumprimento <strong>da</strong> lei ou tolerar práticas<br />

nocivas <strong>em</strong> nome <strong>da</strong> tradição. Vários <strong>países</strong> informam <strong>sobre</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s na interpretação e aplicação<br />

<strong>da</strong>s leis. Isto t<strong>em</strong> ocorri<strong>do</strong> <strong>em</strong> casos relativos ao man<strong>da</strong>to <strong>do</strong>s mecanismos para o avanço <strong>da</strong> mulher, as<br />

leis <strong>de</strong> cotas, a educação sexual e outros <strong>em</strong> que, apesar <strong>de</strong> haver um quadro legislativo alinha<strong>do</strong> com<br />

as convenções internacionais <strong>de</strong> direitos humanos e constituições abertamente favoráveis à igual<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> gênero, não se consegue aprovar políticas, programas ou recursos para o cumprimento <strong>do</strong>s objetivos.<br />

Uma <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s manifestações <strong>de</strong> resistência à a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> compromissos a favor <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> se<br />

mostrou na invisibilização <strong>da</strong>s diferentes probl<strong>em</strong>áticas que afetam as mulheres <strong>em</strong> seus diferentes<br />

ciclos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. A invisibilização se exterioriza ao supor que não se requer a incorporação e integração<br />

<strong>de</strong> um enfoque transversal <strong>de</strong> gênero nas políticas e programas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se que estes<br />

possam beneficiar (<strong>de</strong> forma neutra) to<strong>da</strong> a população. Nesta lógica, muitos <strong>de</strong>sses serviços geram<br />

discriminação direta ou indireta para as mulheres.<br />

A harmonização legislativa posterior às reformas constitucionais aprova<strong>da</strong>s no perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>,<br />

como as leis <strong>de</strong> matrimônio igualitário (aprova<strong>da</strong>s na Argentina, Brasil, Colômbia e Uruguai) e o aborto<br />

(como a lei recent<strong>em</strong>ente aprova<strong>da</strong> no Uruguai), inclusive no nível subnacional (como no Equa<strong>do</strong>r), as<br />

64


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

leis a favor <strong>do</strong>s direitos sexuais, o respeito à orientação sexual e i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero, como no caso<br />

<strong>do</strong> Brasil, são alguns ex<strong>em</strong>plos <strong>do</strong>s avanços <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> no âmbito legislativo. Um <strong>do</strong>s<br />

âmbitos <strong>de</strong> reforma é a <strong>de</strong>spenalização <strong>do</strong> aborto e outras medi<strong>da</strong>s conti<strong>da</strong>s nos códigos penais, que <strong>em</strong><br />

alguns casos revitimizam as mulheres que interromp<strong>em</strong> a gravi<strong>de</strong>z ou sofr<strong>em</strong> violência. Alguns <strong>países</strong>,<br />

como o Brasil e a República Dominicana, mencionam a importância <strong>de</strong> evitar o aborto inseguro por<br />

motivos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública para proteger efetivamente os direitos <strong>da</strong>s mulheres.<br />

Também se fala <strong>de</strong> reformar os códigos civis e a legislação <strong>sobre</strong> família e a<strong>do</strong>ção para<br />

harmonizá-los com as novas formas <strong>de</strong> família reconheci<strong>da</strong>s graças às leis <strong>de</strong> matrimônio igualitário.<br />

Outras modificações (assinala<strong>da</strong>s, por ex<strong>em</strong>plo, nos relatórios <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia,<br />

Colômbia e Guat<strong>em</strong>ala) estão relaciona<strong>da</strong>s com a diferença que existe entre jovens <strong>do</strong> sexo masculino e<br />

f<strong>em</strong>inino com respeito à i<strong>da</strong><strong>de</strong> mínima para contrair matrimônio.<br />

Um fenômeno muito significativo que <strong>de</strong>ve ser leva<strong>do</strong> <strong>em</strong> conta ao comparar a situação<br />

atual <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> informação ambiental com a <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s anos 90 é a evolução <strong>da</strong> tecnologia.<br />

As tecnologias <strong>da</strong> informação e comunicação (TIC) são ferramentas importantes para <strong>da</strong>r acesso<br />

à informação existente e também para gerar e analisar <strong>da</strong><strong>do</strong>s. Em termos gerais, a situação <strong>da</strong>s<br />

mulheres na economia digital é regi<strong>da</strong> por uma série <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos que reflet<strong>em</strong> as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

sociais <strong>de</strong> gênero imperantes também <strong>em</strong> outros âmbitos. Isto se agrava se consi<strong>de</strong>rarmos que a ca<strong>da</strong><br />

dia é mais importante a total integração à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> informação e <strong>do</strong> conhecimento para o pleno<br />

<strong>de</strong>senvolvimento pessoal e profissional. Ca<strong>da</strong> vez mais mulheres e homens estão expostos às novas<br />

ferramentas <strong>da</strong> economia digital, e as exigências <strong>de</strong> capacitação, atualização e treinamento tornamse<br />

mais presentes no âmbito <strong>do</strong> trabalho. Por este motivo, se não for<strong>em</strong> abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

que hoje estruturam os vínculos com o merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, e mais concretamente com os postos <strong>da</strong><br />

economia digital, as mulheres aprofun<strong>da</strong>rão as brechas e somente algumas receberão os benefícios<br />

<strong>do</strong> novo paradigma. Contu<strong>do</strong>, são poucos os <strong>países</strong> que assinalam avanços neste âmbito, s<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong><br />

porque ain<strong>da</strong> estão li<strong>da</strong>n<strong>do</strong> com <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> base que invisibilizam a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> preocupar-se<br />

também com estes t<strong>em</strong>as e compreen<strong>de</strong>r os benefícios 59 .<br />

Vários <strong>países</strong> não faz<strong>em</strong> nenhuma menção específica <strong>sobre</strong> as conquistas a respeito <strong>da</strong>s meninas,<br />

mas <strong>de</strong>stacam as leis aprova<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong> o tratamento <strong>do</strong> abuso sexual no âmbito educativo, o assédio<br />

cibernético e a intimi<strong>da</strong>ção (bullying), <strong>em</strong>bora isso se faça no contexto <strong>da</strong> legislação vigente que protege<br />

a infância (meninos e meninas). Da mesma maneira, os planos nacionais para pôr fim à violência sexual<br />

ou o tráfico se refer<strong>em</strong> a crianças e a<strong>do</strong>lescentes. O mesmo ocorre a respeito <strong>da</strong>s políticas educativas<br />

<strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s à primeira infância ou à a<strong>do</strong>lescência, as <strong>de</strong> erradicação <strong>do</strong> trabalho infantil, as políticas<br />

<strong>de</strong> família e as políticas <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>. A focalização nas meninas aparece nos programas <strong>de</strong> atenção a<br />

populações específicas, como as meninas vítimas <strong>de</strong> violência. Poucos são os <strong>países</strong> que informam<br />

<strong>sobre</strong> a formulação <strong>de</strong> políticas e ações que contribuam para eliminar o tratamento <strong>de</strong>sigual que po<strong>de</strong><br />

recair <strong>sobre</strong> as meninas e a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Observam-se ausências importantes quanto<br />

aos avanços alcança<strong>do</strong>s nos meios <strong>de</strong> comunicação: salvo algumas exceções, como a Argentina, Esta<strong>do</strong><br />

Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, Equa<strong>do</strong>r e México, não existe legislação vigente para erradicar os estereótipos<br />

<strong>de</strong> gênero e a violência midiática contra as mulheres.<br />

A <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> afirma que, tanto nas zonas urbanas como nas rurais, a<br />

<strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> meio ambiente repercute negativamente na saú<strong>de</strong>, b<strong>em</strong>-estar e quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

população <strong>em</strong> geral, <strong>sobre</strong>tu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s meninas e mulheres <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong><strong>de</strong>s. É fun<strong>da</strong>mental conce<strong>de</strong>r<br />

uma atenção e um reconhecimento particulares à função e situação especial <strong>da</strong>s mulheres que viv<strong>em</strong><br />

nas zonas rurais, para as quais o acesso a capacitação, terra, recursos naturais e produtivos, crédito,<br />

programas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e estruturas <strong>de</strong> cooperativas po<strong>de</strong> aju<strong>da</strong>r a participar <strong>em</strong> maior medi<strong>da</strong><br />

59<br />

Contu<strong>do</strong>, os <strong>países</strong> escolheram como t<strong>em</strong>a a ser trata<strong>do</strong> durante a XII Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong><br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> a situação <strong>da</strong>s mulheres na economia digital. Os relatórios <strong>do</strong>s <strong>países</strong>, as mesas-re<strong>do</strong>n<strong>da</strong>s<br />

e o <strong>do</strong>cumento prepara<strong>do</strong> pela CEPAL (2013b) estão disponíveis no site <strong>da</strong> XII Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher<br />

<strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> [on-line] http://www.cepal.org/12conferenciamujer/<strong>de</strong>fault.asp.<br />

65


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

no <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Nos relatórios, os <strong>países</strong> assinalam que incorporaram a perspectiva<br />

<strong>de</strong> gênero <strong>em</strong> certas campanhas ambientais ou impl<strong>em</strong>entaram <strong>em</strong> alguns casos uma área <strong>de</strong> gênero<br />

no mecanismo <strong>de</strong> meio ambiente. Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar o caso <strong>do</strong> México, que elaborou a <strong>Declaração</strong><br />

Mexicana <strong>sobre</strong> Gênero e Mu<strong>da</strong>nça Climática, com 13 propostas concretas <strong>sobre</strong> mitigação, quatro<br />

<strong>sobre</strong> a<strong>da</strong>ptação e oito <strong>sobre</strong> financiamento. Em geral, esta é uma <strong>da</strong>s áreas menos <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s nos<br />

relatórios, sugerin<strong>do</strong> que ain<strong>da</strong> é preciso trabalhar <strong>em</strong> um enfoque comum entre os <strong>países</strong> para incorporar<br />

a perspectiva <strong>de</strong> gênero no meio ambiente, t<strong>em</strong>a que <strong>de</strong>veria ser analisa<strong>do</strong> pelos mecanismos <strong>de</strong> gênero<br />

e os <strong>de</strong> meio ambiente <strong>em</strong> conjunto. Incorporar o enfoque <strong>de</strong> gênero nas políticas ambientais continua<br />

sen<strong>do</strong> um <strong>de</strong>safio para a maioria <strong>do</strong>s <strong>países</strong>.<br />

B. Desafios na autonomia na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões<br />

O ponto G <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>, “A mulher no exercício <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r e a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisões”, orienta os <strong>países</strong> neste senti<strong>do</strong>. Este t<strong>em</strong>a surge com força como uma <strong>da</strong>s novas priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

para fortalecer a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre os gêneros e o <strong>em</strong>po<strong>de</strong>ramento <strong>da</strong>s mulheres nos <strong>de</strong>bates <strong>sobre</strong> os<br />

objetivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e a agen<strong>da</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 2015. No<br />

âmbito <strong>da</strong> autonomia na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões 60 , os <strong>países</strong> concor<strong>da</strong>m <strong>em</strong> <strong>de</strong>stacar, <strong>em</strong> primeiro lugar, a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fortalecer as instituições <strong>de</strong> gênero (assim assinalam, entre outros, Antígua e Barbu<strong>da</strong>,<br />

Barba<strong>do</strong>s, Brasil, Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, Chile, Costa Rica, Dominica, Guat<strong>em</strong>ala, El Salva<strong>do</strong>r<br />

e México). O fortalecimento institucional aparece como uma <strong>da</strong>s principais priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s no futuro. Em<br />

alguns casos, consi<strong>de</strong>ra-se importante <strong>do</strong>tar <strong>de</strong> recursos o mecanismo para o avanço <strong>da</strong> mulher, b<strong>em</strong><br />

como incorporar a perspectiva <strong>de</strong> gênero no Esta<strong>do</strong>. Continuar avançan<strong>do</strong> nesta direção é a tônica <strong>da</strong><br />

maioria <strong>do</strong>s relatórios. O segun<strong>do</strong> t<strong>em</strong>a que se <strong>de</strong>staca é a participação política <strong>da</strong>s mulheres e seu acesso<br />

a espaços <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, não só no âmbito estatal, mas também no mun<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>em</strong>presa priva<strong>da</strong>, priori<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

que acompanha uma <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> pari<strong>da</strong><strong>de</strong> política nos <strong>países</strong>, tanto no nível governamental como na<br />

representação local. O aprofun<strong>da</strong>mento e ampliação <strong>da</strong> participação política <strong>da</strong>s mulheres, o t<strong>em</strong>a <strong>da</strong><br />

pari<strong>da</strong><strong>de</strong>, o financiamento <strong>da</strong>s candi<strong>da</strong>turas f<strong>em</strong>ininas e os estímulos à sua participação são alguns <strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>safios que faz<strong>em</strong> parte <strong>do</strong> aperfeiçoamento <strong>da</strong>s leis eleitorais. Chile, Costa Rica e Guat<strong>em</strong>ala ressaltam<br />

a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> impl<strong>em</strong>entar ou fortalecer leis <strong>de</strong> cotas como único mecanismo <strong>de</strong> real participação<br />

igualitária <strong>da</strong>s mulheres no âmbito político.<br />

A maior presença <strong>de</strong> mulheres na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>em</strong>presarial e sindical e uma<br />

melhor representação nos níveis subnacionais e locais aparec<strong>em</strong> como objetivos a ser<strong>em</strong> atingi<strong>do</strong>s. A<br />

autonomia na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões implica enfrentar muitos <strong>de</strong>safios, especialmente para os governos <strong>do</strong><br />

<strong>Caribe</strong>. Existe um gran<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> entre alguns <strong>países</strong> (Antígua e Barbu<strong>da</strong>, Barba<strong>do</strong>s, Dominica, Suriname,<br />

Trini<strong>da</strong>d e Tobago) acerca <strong>de</strong> que a pouca transversalização <strong>do</strong> enfoque <strong>de</strong> gênero nas instituições <strong>de</strong><br />

governo é o maior <strong>de</strong>safio a ser supera<strong>do</strong>. Muitos <strong>países</strong> (Barba<strong>do</strong>s, Dominica, Ilhas Cayman, Jamaica,<br />

Trini<strong>da</strong>d e Tobago) também ressaltaram a falta <strong>de</strong> informação e estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sagrega<strong>do</strong>s por sexo. Em<br />

segui<strong>da</strong>, aparece a preocupação com o baixo nível <strong>de</strong> pessoal, recursos e capacitação para os mecanismos<br />

<strong>de</strong> avanço <strong>da</strong> mulher (Dominica, Ilhas Turcas e Caicos, Jamaica, Trini<strong>da</strong>d e Tobago) e o necessário<br />

fortalecimento institucional (Colômbia e Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia). A baixa representação <strong>de</strong><br />

mulheres <strong>em</strong> posições <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança também gera bastante preocupação nos <strong>países</strong> (Dominica, Grana<strong>da</strong>,<br />

Jamaica e Suriname). Grana<strong>da</strong> menciona que existe uma cultura passiva <strong>de</strong> informar <strong>sobre</strong> aspectos <strong>de</strong><br />

gênero nas instituições <strong>de</strong> governo, que não se conta com um mecanismo nacional <strong>de</strong> acompanhamento<br />

<strong>de</strong> trata<strong>do</strong>s e que exist<strong>em</strong> barreiras estruturais para a participação <strong>da</strong>s mulheres na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões.<br />

Barba<strong>do</strong>s <strong>de</strong>staca a preocupação com o baixo número <strong>de</strong> candi<strong>da</strong>tas no processo político. Neste âmbito,<br />

propõe-se introduzir modificações nas leis eleitorais e <strong>de</strong> parti<strong>do</strong>s.<br />

60<br />

Veja mais informações a respeito <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> gênero <strong>sobre</strong> a autonomia na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões no Observatório<br />

<strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> [on-line] http://www.cepal.org/oig/a<strong>de</strong>cisiones/.<br />

66


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

C. Desafios na autonomia física<br />

Vários relatórios assinalam a importância <strong>de</strong> diminuir a fecundi<strong>da</strong><strong>de</strong> a<strong>do</strong>lescente e <strong>de</strong>spenalizar o aborto<br />

(nos <strong>países</strong> <strong>em</strong> que ain<strong>da</strong> subsiste a falta <strong>de</strong> legislação a respeito) 61 .<br />

No âmbito <strong>da</strong> autonomia física, os <strong>países</strong> <strong>da</strong> região instam a garantir às mulheres uma vi<strong>da</strong><br />

livre <strong>de</strong> violência, a eliminar a violência contra as mulheres na região. Este é um <strong>do</strong>s t<strong>em</strong>as que vêm<br />

sen<strong>do</strong> trata<strong>do</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>da</strong>s ações internacionais para o melhoramento <strong>da</strong> situação <strong>da</strong>s mulheres<br />

no mun<strong>do</strong>. No ponto 29 <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>, os <strong>países</strong> participantes <strong>da</strong> Quarta Conferência<br />

Mundial <strong>sobre</strong> a Mulher reafirmaram seu compromisso <strong>de</strong> “Prevenir e eliminar to<strong>da</strong>s as formas <strong>de</strong><br />

violência contra as mulheres e as meninas”. Igualmente, o ponto D, “A violência contra a mulher”,<br />

<strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> abor<strong>da</strong> amplamente essa questão. A esse respeito, os<br />

<strong>países</strong> apresentaram seus avanços na matéria e os <strong>de</strong>safios a ser<strong>em</strong> supera<strong>do</strong>s <strong>em</strong> diversas instâncias<br />

<strong>de</strong> <strong>exame</strong> <strong>da</strong> aplicação <strong>da</strong> <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> 62 . As cifras <strong>sobre</strong> violência são o melhor test<strong>em</strong>unho<br />

<strong>da</strong> insuficiência <strong>do</strong>s esforços realiza<strong>do</strong>s pelos <strong>países</strong>. Conforme assinala<strong>do</strong>, este fenômeno é a síntese<br />

<strong>de</strong> múltiplas discriminações que permit<strong>em</strong> afirmar a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> formular políticas intersetoriais,<br />

transversais e com forte base territorial.<br />

No t<strong>em</strong>a <strong>da</strong> violência contra as mulheres, <strong>de</strong>stacam-se os esforços para aplicar aspectos <strong>da</strong>s<br />

leis orienta<strong>do</strong>s à punição e à atenção às vítimas, mas chama a atenção a escassa importância atribuí<strong>da</strong> a<br />

prevenção, educação e acesso à justiça (CEPAL, 2014b). Os <strong>de</strong>safios relaciona<strong>do</strong>s com a violência são<br />

diversos; <strong>em</strong> alguns <strong>países</strong> on<strong>de</strong> as leis foram aprova<strong>da</strong>s ou modifica<strong>da</strong>s recent<strong>em</strong>ente, menciona-se a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicá-las, como no caso <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia e São Vicente e Granadinas,<br />

enquanto <strong>em</strong> outros <strong>países</strong>, como o Brasil, a impl<strong>em</strong>entação <strong>da</strong>s leis t<strong>em</strong> processos mais longos aos<br />

quais se <strong>de</strong>dicam importantes recursos, resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> aprendizagens que mostram a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ste<br />

fenômeno. O uso efetivo <strong>de</strong> recursos policiais (como na Guiana), a coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>sobre</strong> o abuso (como<br />

<strong>em</strong> Barba<strong>do</strong>s) e a impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> legislação contra o abuso por razão <strong>de</strong> gênero (<strong>em</strong> São Vicente e<br />

Granadinas) são alguns ex<strong>em</strong>plos. O relatório <strong>de</strong> Antígua e Barbu<strong>da</strong> refere-se à imag<strong>em</strong> negativa <strong>da</strong>s<br />

mulheres na mídia e ao pouco apoio entre as mulheres como fatores a ser<strong>em</strong> supera<strong>do</strong>s. Dois <strong>países</strong><br />

(Antígua e Barbu<strong>da</strong> e Suriname) mencionam que o acesso <strong>de</strong>sigual à saú<strong>de</strong> continua sen<strong>do</strong> um <strong>de</strong>safio.<br />

A gravi<strong>de</strong>z a<strong>do</strong>lescente é reconheci<strong>da</strong> como um <strong>do</strong>s <strong>de</strong>safios pen<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e direitos<br />

<strong>em</strong> vários relatórios <strong>do</strong>s <strong>países</strong>.<br />

D. Desafios na autonomia econômica<br />

No âmbito <strong>da</strong> autonomia econômica, os <strong>países</strong> insist<strong>em</strong> na necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer corresponsabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

nas tarefas <strong>do</strong>mésticas e <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> 63 , o que foi ressalta<strong>do</strong> na <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Pequim</strong>, no ponto 15 (“A igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> direitos, <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>de</strong> acesso aos recursos, a distribuição<br />

equitativa entre homens e mulheres <strong>da</strong>s responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> família e uma associação harmoniosa<br />

entre eles são indispensáveis para seu b<strong>em</strong>-estar e o <strong>de</strong> sua família, b<strong>em</strong> como para a consoli<strong>da</strong>ção<br />

<strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia”) e no objetivo estratégico F.6 (“Fomentar a harmonização <strong>da</strong>s responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s<br />

mulheres e homens no que se refere ao trabalho e à família”), incluí<strong>do</strong> no ponto “A mulher e a economia”.<br />

61<br />

Para mais informações a respeito <strong>da</strong> legislação <strong>sobre</strong> aborto e interrupção voluntária <strong>da</strong> gravi<strong>de</strong>z na região, veja<br />

Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> [on-line] http://www.cepal.org/cgi-bin/getprod.<br />

asp?xml=/oig/noticias/paginas/8/50478/P50478.xml&xsl=/oig/tpl/p18f.xsl&base=/oig/tpl/top-bottom-fisica.xsl.<br />

62<br />

Veja mais <strong>de</strong>talhes nos relatórios <strong>do</strong>s <strong>países</strong> e relatórios regionais <strong>sobre</strong> a Aplicação <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong> (1995) nas diversas instâncias <strong>de</strong> <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> (<strong>Pequim</strong>+5, <strong>Pequim</strong>+10 e <strong>Pequim</strong>+15) [online]<br />

http://www.cepal.org/cgi-bin/getprod.asp?xml=/mujer/noticias/paginas/3/51823/P51823.xml&xsl=/mujer/tpl/<br />

p18f.xsl&base=/mujer/tpl/top-bottom.xsl.<br />

63<br />

A esse respeito, po<strong>de</strong>-se consultar a base <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong> Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e<br />

<strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> <strong>sobre</strong> as leis <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> na região [on-line] http://www.cepal.org/cgi-bin/getprod.asp?xml=/oig/noticias/<br />

paginas/2/46652/P46652.xml&xsl=/oig/tpl/p18f.xsl&base=/oig/tpl/top-bottom-economica.xsl.<br />

67


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Este t<strong>em</strong>a foi recolhi<strong>do</strong> também pelos consensos <strong>da</strong> Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong> <strong>América</strong><br />

<strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>, <strong>em</strong> particular no Consenso <strong>de</strong> Quito (2007), no Consenso <strong>de</strong> Brasília (2010) 64 e<br />

no Consenso <strong>de</strong> Montevidéu <strong>sobre</strong> População e Desenvolvimento, aprova<strong>do</strong> na primeira reunião <strong>da</strong><br />

Conferência Regional <strong>sobre</strong> População e Desenvolvimento <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> (2013) 65 . Os<br />

<strong>países</strong> envi<strong>da</strong>ram esforços importantes na impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> pesquisas <strong>de</strong> uso <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po que serviram<br />

<strong>de</strong> base para o cálculo <strong>do</strong> indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po total <strong>de</strong> trabalho 66 . Insta-se também a re<strong>do</strong>brar os esforços<br />

<strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> acesso <strong>da</strong>s mulheres ao merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho <strong>em</strong> condições iguais às <strong>do</strong>s homens.<br />

Justamente com relação à impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> pesquisas <strong>de</strong> uso <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po, os relatórios assinalam,<br />

como t<strong>em</strong>a transversal às três autonomias, a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fortalecer o sist<strong>em</strong>a estatístico nacional <strong>de</strong><br />

ca<strong>da</strong> país a fim <strong>de</strong> obter informações confiáveis e públicas que permitam <strong>de</strong>stacar a posição <strong>de</strong> homens<br />

e mulheres nos diferentes t<strong>em</strong>as. Alguns <strong>países</strong> (como Barba<strong>do</strong>s, Dominica, Guiana, Ilhas Cayman,<br />

Jamaica e Trini<strong>da</strong>d e Tobago) <strong>de</strong>stacam a importância <strong>de</strong> produzir informação estatística <strong>de</strong>sagrega<strong>da</strong><br />

por sexo; outros, <strong>de</strong> aprofun<strong>da</strong>r o enfoque <strong>de</strong> gênero na produção estatística (t<strong>em</strong>a que vai além <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sagregar a informação por sexo); é precisamente aqui que se observam os distintos avanços <strong>de</strong> ca<strong>da</strong><br />

país com relação a este t<strong>em</strong>a, que to<strong>do</strong>s concor<strong>da</strong>m <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rar prioritário. Esta priori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>staca-se<br />

como resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> avanços anteriores relaciona<strong>do</strong>s com as <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s e as lutas <strong>da</strong>s mulheres, tanto na<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil como no Esta<strong>do</strong>, por visibilizar a situação diferente <strong>em</strong> que se encontram as mulheres<br />

na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os âmbitos possíveis, com relação aos homens. A partir <strong>da</strong> geração <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

oficiais <strong>de</strong>sagrega<strong>do</strong>s por sexo e <strong>da</strong> análise <strong>de</strong> gênero, po<strong>de</strong>-se pensar <strong>em</strong> realizar avanços importantes<br />

a respeito <strong>da</strong> formulação <strong>de</strong> políticas públicas. A análise <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> pobreza, trabalho, inovação e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento produtivo sob a perspectiva <strong>de</strong> gênero não é reconheci<strong>da</strong> explicitamente nos relatórios,<br />

mas é indispensável.<br />

O segun<strong>do</strong> t<strong>em</strong>a transversal às autonomias t<strong>em</strong> a ver com a aplicação <strong>de</strong> planos e leis <strong>de</strong><br />

igual<strong>da</strong><strong>de</strong> nos <strong>países</strong>, <strong>de</strong> maneira a insistir na geração <strong>de</strong> uma cultura <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong>. Vários <strong>países</strong> <strong>de</strong>ram<br />

passos importantes <strong>em</strong> matéria legislativa e <strong>de</strong>sejam continuar nesse caminho. Outros, como Grana<strong>da</strong>,<br />

projetam promover planos <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> para melhorar a situação <strong>da</strong>s mulheres. Os <strong>países</strong> que fizeram<br />

avanços <strong>em</strong> matéria constitucional ou <strong>de</strong> leis <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> assinalam a importância <strong>de</strong> continuar no<br />

caminho <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s direitos <strong>da</strong>s pessoas.<br />

A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> continuar e fortalecer a formação e capacitação para funcionários públicos<br />

<strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre os gêneros e indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> gênero é recorrente 67 . Os relatórios <strong>de</strong>stacam<br />

também a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> transversalizar o enfoque <strong>de</strong> gênero no setor educativo. Por último, a maioria<br />

<strong>do</strong>s <strong>países</strong> insiste <strong>em</strong> melhorar o acesso a habitação, terra e crédito, b<strong>em</strong> como <strong>em</strong> prestar particular<br />

atenção aos direitos <strong>da</strong>s mulheres indígenas e afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, <strong>da</strong><strong>da</strong> as múltiplas discriminações <strong>de</strong><br />

classe, etnia e raça que elas sofr<strong>em</strong>.<br />

Os relatórios mencionam o aumento <strong>da</strong> participação <strong>da</strong>s mulheres no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho<br />

(por ex<strong>em</strong>plo, no caso <strong>de</strong> Dominica, Jamaica e Suriname), <strong>em</strong>bora com uma segmentação persistente<br />

(preocupação, entre outros <strong>países</strong>, <strong>de</strong> Antígua e Barbu<strong>da</strong>, Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia, São Vicente<br />

e Granadinas, Suriname e Uruguai). Contu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>stacam também as mu<strong>da</strong>nças nas leis trabalhistas<br />

e proteção social (como assinala particularmente o Chile) e as melhoras na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s serviços<br />

64<br />

Veja mais <strong>de</strong>talhes no site <strong>da</strong> Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> [on-line]<br />

http://www.cepal.org/cgi-bin/getProd.asp?xml=/mujer/noticias/paginas/1/28701/P28701.xml&xsl=/mujer/tpl/p18fst.xsl&base=/mujer/tpl/top-bottom.xslt.<br />

65<br />

Veja o Consenso <strong>de</strong> Montevidéu [on-line] http://www.cepal.org/cela<strong>de</strong>/noticias/<strong>do</strong>cumentos<strong>de</strong>trabajo/8/50708/2013-<br />

595-consenso_montevi<strong>de</strong>o_pyd.pdf.<br />

66<br />

Este indica<strong>do</strong>r po<strong>de</strong> ser revisa<strong>do</strong> no Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> [on-line]<br />

http://www.cepal.org/oig/aeconomica/.<br />

67<br />

A esse respeito, a Divisão <strong>de</strong> Assuntos <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> CEPAL <strong>de</strong>senvolveu uma série <strong>de</strong> cursos à distância<br />

<strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a funcionários públicos <strong>sobre</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero e <strong>sobre</strong> indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> gênero. Veja mais <strong>de</strong>talhes <strong>em</strong><br />

http://www.cepal.org/cgi-bin/getprod.asp?xml=/mujer/noticias/paginas/1/47501/P47501.xml&xsl=/mujer/tpl/p18f.<br />

xsl&base=/mujer/tpl/top-bottom.xsl.<br />

68


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

(como assinala a Argentina). Quanto aos direitos econômicos, é preciso ampliar a proteção <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong><br />

mulheres <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> discriminação, especialmente as trabalha<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>mésticas, as mulheres com<br />

<strong>de</strong>ficiência e as trabalha<strong>do</strong>ras in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, b<strong>em</strong> como uma r<strong>em</strong>uneração igualitária para homens e<br />

mulheres (como <strong>de</strong>stacam o Esta<strong>do</strong> Plurinacional <strong>da</strong> Bolívia e o Brasil).<br />

Entre os <strong>de</strong>safios estratégicos, encontram-se a impl<strong>em</strong>entação <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a nacional <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong><br />

para o Uruguai, a proteção social e as melhoras na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s serviços para a Argentina, a alta carga<br />

<strong>de</strong> trabalho total para São Vicente e Granadinas e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> creches. Essas iniciativas implicam<br />

o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> trabalhar para <strong>de</strong>senvolver um enfoque diferencial <strong>de</strong> direitos, como assinala a Colômbia.<br />

Salvo o Uruguai, nenhum país fala <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios vincula<strong>do</strong>s à educação e à exclusão digital.<br />

Os <strong>países</strong> <strong>de</strong>stacam <strong>final</strong>mente seu apoio e renovam seu compromisso com as instâncias<br />

internacionais para melhorar a situação <strong>da</strong>s mulheres na região e respeitar seus direitos humanos; a<br />

esse respeito, as Ilhas Cayman e as Ilhas Turcas e Caicos consi<strong>de</strong>ram central a Convenção <strong>sobre</strong> a<br />

Eliminação <strong>de</strong> To<strong>da</strong>s as Formas <strong>de</strong> Discriminação contra a Mulher. Outros instrumentos que os <strong>países</strong><br />

<strong>de</strong>stacam como relevantes são a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência<br />

contra a Mulher (Convenção <strong>de</strong> Belém <strong>do</strong> Pará), o Programa <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>da</strong> Conferência Internacional<br />

<strong>sobre</strong> População e Desenvolvimento (Cairo, 1994), a Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong> <strong>América</strong><br />

<strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> e to<strong>do</strong>s os consensos <strong>de</strong>la <strong>em</strong>ana<strong>do</strong>s e o Consenso <strong>de</strong> Montevidéu <strong>sobre</strong> População<br />

e Desenvolvimento.<br />

Embora a maior hierarquia <strong>do</strong>s mecanismos dirigentes, a transversalização e o avanço <strong>da</strong> pari<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

na representação política sejam resulta<strong>do</strong>s importantes, reconhece-se que a <strong>de</strong>bili<strong>da</strong><strong>de</strong> institucional, a<br />

transversalização incipiente e as resistências políticas e culturais à igual<strong>da</strong><strong>de</strong> são os principais <strong>de</strong>safios.<br />

69


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

IV. Da<strong>do</strong>s e estatísticas<br />

Na <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>, <strong>países</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, reconhecen<strong>do</strong> a falta <strong>de</strong> estatísticas e <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

que permitiss<strong>em</strong> a elaboração <strong>de</strong> planos e políticas informa<strong>da</strong>s para promover objetivos <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e paz para to<strong>da</strong>s as mulheres <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, se comprometeram a a<strong>do</strong>tar medi<strong>da</strong>s para<br />

coletar e difundir informação estatística com perspectiva <strong>de</strong> gênero, além <strong>de</strong> formular indica<strong>do</strong>res que<br />

mostr<strong>em</strong> a situação econômica <strong>da</strong>s mulheres, visibiliz<strong>em</strong> a extensão <strong>de</strong> seu trabalho e permitam medir<br />

o alcance <strong>da</strong> violência contra as mulheres no âmbito público e priva<strong>do</strong>.<br />

O Consenso <strong>de</strong> Santo Domingo e outros acor<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong><br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> reconhec<strong>em</strong> a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que a informação estatística coleta<strong>da</strong> (tanto<br />

<strong>em</strong> censos como <strong>em</strong> pesquisas e registros administrativos) seja <strong>de</strong>sagrega<strong>da</strong> por sexo para <strong>da</strong>r lugar<br />

ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> medição periódica que permitam visibilizar as diferenças e<br />

iniqui<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> situação <strong>de</strong> homens e mulheres <strong>em</strong> t<strong>em</strong>as como o uso <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po, a pobreza, o trabalho<br />

r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> e o não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>; a<strong>de</strong>mais, <strong>de</strong>staca-se a importância <strong>da</strong> coleta, análise e difusão <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

<strong>sobre</strong> a violência <strong>de</strong> gênero.<br />

O grupo <strong>de</strong> trabalho <strong>sobre</strong> estatísticas <strong>de</strong> gênero <strong>da</strong> Conferência Estatística <strong>da</strong>s <strong>América</strong>s<br />

<strong>da</strong> CEPAL foi cria<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2006 com o objetivo <strong>de</strong> promover a produção, o <strong>de</strong>senvolvimento, a<br />

sist<strong>em</strong>atização e a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> geração <strong>de</strong> informação estatística e <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> gênero para a<br />

formulação, monitoramento e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong>s políticas públicas. Este grupo propiciou o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s técnicas e meto<strong>do</strong>lógicas para produzir e difundir estatísticas <strong>de</strong> gênero <strong>em</strong> t<strong>em</strong>as<br />

relaciona<strong>do</strong>s com o uso <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po e o trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>, a medição <strong>da</strong> pobreza com enfoque<br />

<strong>de</strong> gênero e a violência contra as mulheres; a<strong>de</strong>mais, promove a cooperação internacional para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e a difusão <strong>da</strong>s estatísticas <strong>de</strong> gênero e o fortalecimento <strong>do</strong> vínculo entre os produtores<br />

(institutos nacionais <strong>de</strong> estatística) e os usuários <strong>da</strong> informação (mecanismos para o avanço <strong>da</strong> mulher).<br />

Entre os avanços <strong>do</strong>s <strong>países</strong> <strong>da</strong> região <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> estatísticas <strong>de</strong> gênero durante os últimos<br />

20 anos, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar a integração <strong>da</strong>s estatísticas <strong>de</strong> gênero nos sist<strong>em</strong>as estatísticos nacionais,<br />

a criação e manutenção <strong>de</strong> observatórios governamentais <strong>de</strong> gênero e a apropriação <strong>de</strong>sta t<strong>em</strong>ática<br />

pelos Esta<strong>do</strong>s m<strong>em</strong>bros por meio <strong>de</strong> sua participação no grupo <strong>de</strong> trabalho <strong>sobre</strong> estatísticas <strong>de</strong> gênero<br />

<strong>da</strong> Conferência Estatística <strong>da</strong>s <strong>América</strong>s. Do ponto <strong>de</strong> vista <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s estatísticos disponíveis para<br />

monitorar o progresso, a região registrou avanços significativos, como <strong>de</strong>monstram os <strong>países</strong> <strong>em</strong> seus<br />

relatórios <strong>sobre</strong> <strong>Pequim</strong>+20 e os resulta<strong>do</strong>s informa<strong>do</strong>s pela Conferência. Como mostra o quadro IV.1,<br />

a maioria <strong>do</strong>s <strong>países</strong> <strong>da</strong> região envi<strong>do</strong>u esforços para compilar um conjunto básico <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res<br />

71


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

nacionais <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a fazer um acompanhamento <strong>do</strong>s avanços na igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero e estão sen<strong>do</strong><br />

envi<strong>da</strong><strong>do</strong>s ca<strong>da</strong> vez mais esforços para harmonizá-los com o conjunto mínimo <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> gênero<br />

acor<strong>da</strong><strong>do</strong>s pela Comissão <strong>de</strong> Estatística <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s <strong>em</strong> 2013. A maioria <strong>do</strong>s <strong>países</strong> também<br />

monitora a violência contra as mulheres; porém, é preciso realizar mais esforços nesta área para a<br />

compilação <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res comparáveis no âmbito internacional. A coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>sobre</strong> a situação <strong>de</strong><br />

grupos prioritários <strong>de</strong> mulheres foi realiza<strong>da</strong> com menos frequência.<br />

País<br />

Quadro IV.1<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: tarefas <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res para o monitoramento<br />

<strong>do</strong> progresso <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero<br />

Conjunto básico <strong>de</strong><br />

indica<strong>do</strong>res nacionais<br />

para monitorar o<br />

progresso <strong>em</strong> matéria<br />

<strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre os<br />

gêneros<br />

Indica<strong>do</strong>res aprova<strong>do</strong>s pela Comissão <strong>de</strong> Estatística <strong>da</strong>s<br />

Nações Uni<strong>da</strong>s <strong>em</strong> 2013<br />

Conjunto mínimo <strong>de</strong><br />

indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> gênero<br />

Argentina Sim Não Utiliza seu próprio<br />

conjunto <strong>de</strong><br />

indica<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> gênero<br />

Bolívia<br />

(Est. Plur. <strong>da</strong>)<br />

Nove indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong> uso <strong>de</strong><br />

violência contra a mulher<br />

Não<br />

Planeja <strong>de</strong>senhar e<br />

produzir indica<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> uso <strong>de</strong> violência<br />

contra a mulher<br />

Coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>sobre</strong><br />

a situação <strong>de</strong> grupos<br />

concretos <strong>de</strong> mulheres<br />

Sim Sim 36 <strong>de</strong> 52 Sim 7 <strong>de</strong> 9 Sim<br />

Brasil Sim Sim Não Utiliza registros<br />

Sim<br />

administrativos para<br />

monitorar a violência<br />

contra a mulher<br />

Chile Não Não Não Não<br />

Colômbia Sim Sim Sim Sim<br />

Costa Rica Sim Sim 16 <strong>de</strong> 52, informação<br />

disponível para o<br />

cálculo <strong>de</strong> 47<br />

Não<br />

Utiliza registros<br />

administrativos para<br />

monitorar a violência<br />

contra a mulher<br />

Cuba Não Não Não Não<br />

Equa<strong>do</strong>r Sim Sim Sim Sim<br />

El Salva<strong>do</strong>r Sim Sim 34 <strong>de</strong> 52 Não Utiliza registros<br />

Sim<br />

administrativos para<br />

monitorar a violência<br />

contra a mulher<br />

Guat<strong>em</strong>ala Sim Sim Em torno <strong>de</strong> 70% <strong>do</strong>s Sim 2 <strong>de</strong> 9 Sim<br />

indica<strong>do</strong>res propostos<br />

México Sim Sim Sim Sim<br />

Panamá Sim Não Não Tomou medi<strong>da</strong>s<br />

para preparar uma<br />

pesquisa <strong>sobre</strong><br />

a percepção <strong>da</strong><br />

violência<br />

Sim<br />

Paraguai Não Sim Em torno <strong>de</strong> 70% <strong>do</strong>s<br />

indica<strong>do</strong>res propostos<br />

Não<br />

Utiliza registros<br />

administrativos para<br />

monitorar a violência<br />

contra a mulher<br />

República<br />

Sim Sim Sim Sim<br />

Dominicana<br />

Uruguai Sim Sim Sim Sim<br />

Venezuela<br />

(Rep. Bol. <strong>da</strong>)<br />

Sim Sim Não Sim<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL).<br />

Sim<br />

Sim<br />

Sim<br />

São notáveis os avanços <strong>do</strong>s <strong>países</strong> <strong>da</strong> região na medição <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> homens e mulheres (veja o quadro IV.2). Des<strong>de</strong> 2003, realizam-se anualmente reuniões internacionais<br />

72


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

<strong>de</strong> peritos <strong>em</strong> pesquisas <strong>sobre</strong> uso <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po, nas quais se apresentam experiências <strong>de</strong> trabalho <strong>sobre</strong> os<br />

levantamentos <strong>de</strong> pesquisas <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, as meto<strong>do</strong>logias e o uso <strong>da</strong><strong>do</strong> à informação para a análise<br />

e a formulação <strong>de</strong> políticas públicas <strong>sobre</strong> o trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> e a economia <strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>. Também<br />

se evi<strong>de</strong>nciam importantes esforços para posicionar na agen<strong>da</strong> pública <strong>de</strong> alguns <strong>países</strong> a elaboração <strong>de</strong><br />

contas satélite <strong>de</strong> trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> <strong>do</strong>s <strong>do</strong>micílios como parte <strong>do</strong> Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Contas Nacionais.<br />

Na região, o México foi pioneiro na elaboração <strong>de</strong> uma conta satélite <strong>de</strong> trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> e, com<br />

base na Pesquisa Nacional <strong>sobre</strong> Uso <strong>do</strong> T<strong>em</strong>po (ENUT) <strong>de</strong> 2009, revelou que o trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong><br />

representou 19,7% <strong>do</strong> PIB nacional a preços <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2012 e que 76,1% <strong>de</strong>ste trabalho era feito<br />

por mulheres. Atualmente, vários <strong>países</strong> <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>, como Colômbia, Equa<strong>do</strong>r, Guat<strong>em</strong>ala e<br />

Peru, estão elaboran<strong>do</strong> contas satélite <strong>de</strong> trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>. Assim, a partir <strong>da</strong> ENUT 2012-2013<br />

foi possível <strong>de</strong>terminar que o trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> na Colômbia representou 19,3% <strong>do</strong> PIB nacional<br />

<strong>de</strong> 2012, enquanto o trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> na Guat<strong>em</strong>ala representou 18,9% <strong>do</strong> PIB <strong>de</strong> 2011.<br />

País<br />

Argentina<br />

Bolívia<br />

(Est. Plur. <strong>da</strong>)<br />

Quadro IV.2<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>Caribe</strong>: <strong>países</strong> que realizaram pesquisas ou nelas incluíram módulos<br />

ou perguntas regulares <strong>sobre</strong> uso <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po e trabalho não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong><br />

Levantamentos<br />

antes <strong>de</strong> 2006ª<br />

2005 (Ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Autônoma <strong>de</strong><br />

Buenos Aires)<br />

Pesquisa/módulo/perguntas<br />

Levantamentos<br />

<strong>em</strong> 2006 a ou<br />

posteriormente<br />

Pesquisa/módulo/perguntas<br />

Diário <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s 2010-2011 Módulo na Pesquisa<br />

Permanente <strong>de</strong> Domicílios<br />

2001 Módulo <strong>em</strong> Pesquisa Contínua<br />

<strong>de</strong> Domicílios<br />

Brasil Des<strong>de</strong> 1992 Perguntas na Pesquisa Nacional<br />

por Amostra <strong>de</strong> Domicílios<br />

(PNAD)<br />

2013 Módulo na Pesquisa Anual <strong>de</strong><br />

Domicílios Urbanos (EAHU)<br />

2010 e 2011 Pesquisa <strong>de</strong> Uso <strong>de</strong> T<strong>em</strong>po <strong>em</strong><br />

Domicílios<br />

2009-2010 Perguntas na PNAD<br />

Pesquisa piloto <strong>em</strong> cinco<br />

esta<strong>do</strong>s<br />

Chile 2008-2009 Pesquisa Experimental <strong>sobre</strong><br />

Uso <strong>do</strong> T<strong>em</strong>po na Gran<strong>de</strong><br />

Santiago<br />

Colômbia 2007, 2008, 2009<br />

e 2010<br />

Costa Rica 2004 Módulo na Pesquisa <strong>de</strong><br />

Domicílios <strong>de</strong> Propósitos<br />

Múltiplos (EHPM)<br />

Cuba 1997 Perguntas<br />

2001 Pesquisa realiza<strong>da</strong> <strong>em</strong> cinco<br />

municípios<br />

Equa<strong>do</strong>r 2004<br />

2005<br />

Módulo <strong>em</strong> Pesquisa <strong>de</strong><br />

Domicílios<br />

Pesquisa <strong>de</strong> Uso <strong>do</strong> T<strong>em</strong>po<br />

Perguntas na Gran<strong>de</strong> Pesquisa<br />

Integra<strong>da</strong> <strong>de</strong> Domicílios<br />

2012 Pesquisa Nacional <strong>de</strong> Uso <strong>do</strong><br />

T<strong>em</strong>po<br />

2011 Pesquisa <strong>sobre</strong> Uso <strong>do</strong> T<strong>em</strong>po<br />

na Gran<strong>de</strong> Área Metropolitana<br />

2007, 2010 e 2012 Pesquisas Nacionais <strong>do</strong> Uso <strong>do</strong><br />

T<strong>em</strong>po<br />

El Salva<strong>do</strong>r 2005 Lista curta <strong>de</strong> perguntas na 2010-2011 Módulo na EHPM<br />

Pesquisa <strong>de</strong> Domicílios <strong>de</strong><br />

Propósitos Múltiplos (EHPM)<br />

Guat<strong>em</strong>ala <strong>2000</strong> Módulo na Pesquisa Nacional 2006 e 2011 Módulo na ENCOVI<br />

<strong>de</strong> Condições <strong>de</strong> Vi<strong>da</strong><br />

(ENCOVI)<br />

Honduras 2009 e 2011 Módulo na Pesquisa<br />

Permanente <strong>de</strong> Domicílios<br />

México 1996 Módulo na Pesquisa Nacional<br />

<strong>sobre</strong> Trabalho, Contribuições<br />

e Uso <strong>do</strong> T<strong>em</strong>po (ENTAUT)<br />

2009 ENUT<br />

1998 e 2002 Pesquisa Nacional <strong>sobre</strong> Uso<br />

<strong>do</strong> T<strong>em</strong>po (ENUT)<br />

2010 Módulo na Pesquisa Nacional<br />

<strong>de</strong> Ren<strong>da</strong> e Gastos <strong>do</strong>s<br />

Domicílios<br />

73


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Quadro IV.2 (conclusão)<br />

País<br />

Levantamentos<br />

antes <strong>de</strong> 2006ª<br />

Pesquisa/módulo/perguntas<br />

Levantamentos<br />

<strong>em</strong> 2006 a ou<br />

posteriormente<br />

Pesquisa/módulo/perguntas<br />

Nicarágua 1998 Módulo na Pesquisa Nacional<br />

<strong>de</strong> Domicílios <strong>sobre</strong> Medição<br />

<strong>do</strong> Nível <strong>de</strong> Vi<strong>da</strong> (ENHMNV)<br />

Panamá 2006 Módulo <strong>em</strong> Pesquisa <strong>de</strong><br />

Propósitos Múltiplos<br />

2011 Pesquisa Nacional <strong>de</strong> Uso <strong>do</strong><br />

T<strong>em</strong>po<br />

Paraguai 2001 Perguntas na Pesquisa <strong>de</strong><br />

Domicílios<br />

Peru 2006<br />

2010<br />

República<br />

Dominicana<br />

Uruguai 2003 Pesquisa <strong>em</strong> Zona<br />

Metropolitana (Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>da</strong> República)<br />

Venezuela<br />

(Rep. Bol. <strong>da</strong>)<br />

Perguntas integra<strong>da</strong>s à Pesquisa<br />

Contínua <strong>de</strong> Domicílios<br />

Pesquisa Nacional <strong>de</strong> Uso <strong>do</strong><br />

T<strong>em</strong>po<br />

2006-2007 Pergunta na Pesquisa<br />

D<strong>em</strong>ográfica e <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

2007, 2011 e 2013 Módulo na Pesquisa Contínua<br />

<strong>de</strong> Domicílios<br />

2008-2011 Pesquisa <strong>de</strong> Uso <strong>do</strong> T<strong>em</strong>po<br />

Fonte: Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL).<br />

a<br />

Ano <strong>de</strong> criação <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> trabalho <strong>sobre</strong> estatísticas <strong>de</strong> gênero <strong>da</strong> Conferência Estatística <strong>da</strong>s <strong>América</strong>s <strong>da</strong> CEPAL.<br />

74


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Conclusões<br />

A situação <strong>da</strong>s mulheres na região melhorou <strong>de</strong> maneira lenta, mas sustenta<strong>da</strong>, durante estes 20 anos.<br />

Apesar disso, os avanços foram <strong>de</strong>siguais e n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre nas mesmas áreas, resultan<strong>do</strong> num panorama<br />

<strong>de</strong> progresso muito heterogêneo. Observam-se diferenças importantes entre <strong>países</strong> e também <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong>les, especialmente no caso <strong>do</strong>s habitantes <strong>da</strong>s zonas rurais, mulheres indígenas e afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes,<br />

que experimentam múltiplas discriminações, agravan<strong>do</strong> as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s estruturais características<br />

<strong>da</strong> região. Embora as condições para que as mulheres exerçam sua autonomia tenham melhora<strong>do</strong><br />

notavelmente, persist<strong>em</strong> importantes <strong>de</strong>safios; um <strong>do</strong>s principais se refere a consoli<strong>da</strong>r os avanços já<br />

alcança<strong>do</strong>s ante o risco <strong>de</strong> reais retrocessos marca<strong>do</strong>s pelo peso <strong>da</strong> cultura política e social <strong>do</strong>s <strong>países</strong>.<br />

Este é, s<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong>, o maior risco que os <strong>países</strong> assinalaram.<br />

As mu<strong>da</strong>nças jurídicas, <strong>sobre</strong>tu<strong>do</strong> o quase <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> leis abertamente discriminatórias,<br />

são um <strong>do</strong>s avanços mais generaliza<strong>do</strong>s e que abrang<strong>em</strong> quase to<strong>do</strong>s os <strong>países</strong> <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong><br />

<strong>Caribe</strong>. O reconhecimento <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre homens e mulheres foi se consoli<strong>da</strong>n<strong>do</strong> <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> um<br />

<strong>do</strong>s <strong>países</strong> <strong>da</strong> região e t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> reconheci<strong>do</strong> tanto no âmbito constitucional <strong>em</strong> vários casos como <strong>em</strong><br />

leis específicas <strong>sobre</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong>, planos nacionais, projetos e programas. Entre os avanços impensáveis<br />

há 20 anos, t<strong>em</strong>os o reconhecimento <strong>em</strong> vários <strong>países</strong> <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> famílias e as reformas <strong>do</strong><br />

matrimônio, que, além <strong>de</strong> sua importância jurídica, <strong>de</strong>monstram mu<strong>da</strong>nças culturais significativas.<br />

Os avanços na autonomia na toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões ocorreram graças às reformas institucionais<br />

no po<strong>de</strong>r executivo, po<strong>de</strong>r legislativo, sist<strong>em</strong>a eleitoral e justiça, mas a região também <strong>de</strong>monstrou uma<br />

mu<strong>da</strong>nça na cultura <strong>de</strong>mocrática e, na última déca<strong>da</strong>, elegeu mulheres no máximo nível representativo.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Jamaica e Trini<strong>da</strong>d e Tobago tiveram uma presi<strong>de</strong>nta.<br />

Estes avanços permitiram mais representação e participação e a impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> agen<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

gênero explícitas mediante planos, políticas e orçamentos. Vários <strong>países</strong> iniciaram a “etiquetag<strong>em</strong>” <strong>de</strong><br />

seus orçamentos para po<strong>de</strong>r calcular os recursos <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s à igual<strong>da</strong><strong>de</strong>. A falta <strong>de</strong> recursos, soma<strong>da</strong> às<br />

resistências culturais <strong>do</strong>s encarrega<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s <strong>de</strong>cisões e opera<strong>do</strong>res <strong>de</strong> programas, frequent<strong>em</strong>ente gera<br />

ameaças à estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> institucional <strong>do</strong>s mecanismos para o avanço <strong>da</strong> mulher e, <strong>em</strong> consequência, o<br />

<strong>de</strong>bilitamento <strong>do</strong> avanço <strong>do</strong>s direitos <strong>da</strong>s mulheres. Nestes anos, <strong>em</strong> várias ocasiões tentou-se dissolver<br />

ou limitar o alcance <strong>do</strong>s mecanismos tratan<strong>do</strong> <strong>de</strong> fundi-los com políticas <strong>de</strong> família, limitá-los a grupos<br />

vulneráveis ou consi<strong>de</strong>rar as políticas <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> como políticas assistenciais. Na maioria <strong>do</strong>s casos,<br />

a mobilização ativa <strong>da</strong>s organizações <strong>de</strong> mulheres e o apoio <strong>da</strong> Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong><br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> impediram retrocessos institucionais. É nesse contexto que se <strong>de</strong>ve enten<strong>de</strong>r<br />

75


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

o significa<strong>do</strong> <strong>da</strong> importância atribuí<strong>da</strong> à hierarquia institucional e ao reconhecimento <strong>da</strong> especifici<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> gênero. No caso <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>, cabe assinalar que 10 <strong>de</strong> 14 <strong>países</strong> não informam políticas <strong>de</strong><br />

gênero (cinco <strong>do</strong>s 10 estão <strong>em</strong> processo <strong>de</strong> formulação). Nesta sub-região, o man<strong>da</strong>to <strong>do</strong>s mecanismos<br />

para o avanço <strong>da</strong> mulher n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre é apoia<strong>do</strong> por um marco jurídico, mas se integra <strong>em</strong> planos <strong>de</strong><br />

ação, o que permitiu a realização <strong>de</strong> ações <strong>em</strong> favor <strong>da</strong>s mulheres.<br />

O crescimento <strong>de</strong>mográfico e econômico fará com que nas próximas déca<strong>da</strong>s se expan<strong>da</strong><br />

velozmente a <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> energia, água, minerais e alimentos. O acesso a ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>sses recursos e seu<br />

consumo já é um reflexo <strong>da</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> e marca os <strong>de</strong>safios futuros, posto que <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s eles <strong>de</strong>ve-se<br />

levar <strong>em</strong> conta o impacto diferencia<strong>do</strong> na vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> homens e mulheres. As mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong>mográficas alterarão<br />

o po<strong>de</strong>r econômico <strong>do</strong>s <strong>países</strong> e o equilíbrio mundial <strong>de</strong> forças e influirão na <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> bens e serviços<br />

e nos movimentos migratórios (Howe e Jackson, 2011).<br />

Uma dimensão muito importante para a eficácia <strong>da</strong>s políticas é a presença <strong>de</strong> mulheres <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s<br />

as esferas <strong>de</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões. Os avanços no fortalecimento <strong>da</strong> voz e participação <strong>da</strong>s mulheres<br />

exigiram reformas institucionais no po<strong>de</strong>r executivo, po<strong>de</strong>r legislativo, sist<strong>em</strong>a eleitoral e justiça. Neste<br />

senti<strong>do</strong>, as leis <strong>de</strong> cotas impl<strong>em</strong>enta<strong>da</strong>s pelos <strong>países</strong> foram cruciais, <strong>em</strong>bora, conforme já assinala<strong>do</strong>,<br />

falte impor a <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> punição <strong>em</strong> caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>scumprimento. Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar outras duas reflexões<br />

recorrentes nos relatórios: a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fortalecer os sist<strong>em</strong>as estatísticos com enfoque <strong>de</strong> gênero<br />

(matéria obrigatória para a formulação <strong>de</strong> políticas públicas <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong>) e as leis e planos nacionais<br />

<strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

No âmbito <strong>da</strong> autonomia econômica, a incorporação <strong>da</strong>s mulheres ao merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho ocorreu<br />

<strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os <strong>países</strong> com diferentes veloci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. A participação <strong>da</strong>s mulheres no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

trabalho manteve suas principais características: as que possu<strong>em</strong> um nível educativo mais alto, menores<br />

cargas familiares e mais recursos para adquirir serviços <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> têm uma maior participação econômica.<br />

A estrutura <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho não se modificou; se a isto somarmos os <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>sobre</strong> distribuição <strong>do</strong><br />

t<strong>em</strong>po entre mulheres e homens, observamos que os custos <strong>da</strong> participação no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho foram<br />

assumi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> maneira individual e priva<strong>da</strong> pelas mulheres. As políticas públicas não foram capazes <strong>de</strong><br />

melhorar as condições <strong>de</strong> acesso <strong>da</strong>s mulheres ao merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho n<strong>em</strong> <strong>de</strong> garantir sua permanência<br />

ao longo <strong>de</strong> seu ciclo vital, o que se traduz <strong>em</strong> uma clara <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong> com respeito aos homens na hora<br />

<strong>de</strong> ter uma trajetória profissional e receber r<strong>em</strong>unerações equivalentes às <strong>do</strong>s homens, b<strong>em</strong> como o direito<br />

a uma pensão para enfrentar a velhice com digni<strong>da</strong><strong>de</strong> e s<strong>em</strong> <strong>de</strong>pendência.<br />

Como <strong>de</strong>safio futuro, os <strong>países</strong> <strong>de</strong>verão formular políticas que não só melhor<strong>em</strong> o acesso <strong>da</strong>s<br />

mulheres ao merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho e apoi<strong>em</strong> sua permanência nele, mas também integr<strong>em</strong> o trabalho não<br />

r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> e o trabalho r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>. Terão que <strong>de</strong>dicar-se a <strong>de</strong>sarticular as barreiras <strong>da</strong> segmentação<br />

ocupacional que mantêm as mulheres majoritariamente nos setores <strong>de</strong> serviços e cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s. Deverão<br />

também superar a brecha <strong>de</strong> r<strong>em</strong>uneração e os obstáculos ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> carreira e ascensão<br />

profissional, a discriminação étnica e racial que se agrega às <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> gênero e a ausência<br />

<strong>de</strong> proteção social e <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s. Enquanto as políticas não conseguir<strong>em</strong> redistribuir o<br />

t<strong>em</strong>po e o trabalho (r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong> e não r<strong>em</strong>unera<strong>do</strong>) entre homens e mulheres, além <strong>de</strong> impl<strong>em</strong>entar<br />

a corresponsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> no cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>da</strong>s pessoas não só entre homens e mulheres, mas entre a família, o<br />

Esta<strong>do</strong> e o merca<strong>do</strong>, não será possível reduzir a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

No âmbito <strong>da</strong> autonomia física e <strong>do</strong>s direitos sexuais e reprodutivos, avançou-se <strong>em</strong> vários<br />

aspectos. Foram aprova<strong>da</strong>s leis <strong>sobre</strong> violência contra a mulher, <strong>de</strong> <strong>de</strong>spenalização <strong>do</strong> aborto e <strong>de</strong><br />

anticoncepção <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência, <strong>em</strong>bora com certas restrições, como a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentar uma<br />

receita médica.<br />

A mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> materna, <strong>em</strong>bora tenha diminuí<strong>do</strong>, continua sen<strong>do</strong> um <strong>de</strong>safio para os <strong>países</strong> <strong>da</strong><br />

região, tanto <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> medição como <strong>de</strong> sua total superação. Por outro la<strong>do</strong>, os avanços no t<strong>em</strong>a<br />

<strong>da</strong> violência contra as mulheres se concentraram no terreno legislativo e <strong>de</strong> atenção a vítimas. O <strong>de</strong>safio<br />

que se apresenta hoje na maioria <strong>do</strong>s <strong>países</strong> é o acesso à justiça para obter uma efetiva aplicação <strong>da</strong>s<br />

leis e normas.<br />

76


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Os governos <strong>da</strong> região coincidiram <strong>em</strong> assinalar que é preciso superar os obstáculos e as<br />

barreiras culturais que freiam o avanço efetivo <strong>do</strong>s direitos <strong>da</strong>s mulheres e a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> entre os gêneros<br />

e mu<strong>da</strong>r os padrões culturais misóginos que prejudicam as mulheres e permit<strong>em</strong> a aceitação cultural <strong>da</strong><br />

violência contra elas.<br />

Os avanços trouxeram também dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s na aplicação <strong>da</strong>s novas normas, porque <strong>em</strong> muitos<br />

<strong>países</strong> o peso <strong>do</strong>s costumes influi <strong>de</strong> maneira negativa na interpretação e aplicação <strong>da</strong>s leis. Isto ocorreu<br />

<strong>em</strong> casos relativos ao man<strong>da</strong>to <strong>do</strong>s mecanismos para o avanço <strong>da</strong> mulher, as leis <strong>de</strong> cotas, a educação<br />

sexual e outros nos quais, apesar <strong>de</strong> contar com um quadro legislativo alinha<strong>do</strong> com as convenções<br />

internacionais <strong>sobre</strong> direitos humanos e constituições abertamente favoráveis à igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero,<br />

não foram aprova<strong>do</strong>s políticas, programas ou recursos para o cumprimento <strong>do</strong>s objetivos.<br />

O certo é que, para continuar avançan<strong>do</strong> na impl<strong>em</strong>entação <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> na região, é<br />

necessário contar com um enfoque transversal <strong>de</strong> gênero na formulação, aplicação e acompanhamento<br />

tanto <strong>da</strong>s políticas públicas <strong>do</strong>s <strong>países</strong> como <strong>do</strong>s acor<strong>do</strong>s celebra<strong>do</strong>s na construção <strong>da</strong> agen<strong>da</strong> para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 2015.<br />

Em conclusão, o progresso registra<strong>do</strong> foi lento e insuficiente <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à combinação <strong>de</strong> pelo<br />

menos três fatores. Em primeiro lugar, o peso <strong>da</strong> crise <strong>do</strong>s anos 80 e a posterior aplicação <strong>de</strong> programas<br />

<strong>de</strong> ajuste estrutural caracteriza<strong>do</strong>s por um papel limita<strong>do</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, as medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>sregulação <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho e a focalização <strong>da</strong>s políticas sociais, to<strong>do</strong>s impl<strong>em</strong>enta<strong>do</strong>s s<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rar os efeitos<br />

diferencia<strong>do</strong>s <strong>em</strong> mulheres e homens. Em segun<strong>do</strong> lugar, a força política <strong>do</strong>s atores interessa<strong>do</strong>s <strong>em</strong><br />

impl<strong>em</strong>entar políticas <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong>, especialmente econômicas, não foi suficiente para acessar recursos<br />

político-institucionais e orçamentários suficientes. Em <strong>terceiro</strong> lugar, a resistência à mu<strong>da</strong>nça, junto<br />

com uma alta tolerância à discriminação nas instituições, especialmente no sist<strong>em</strong>a político, judicial,<br />

<strong>em</strong>presarial e sindical. Nesse contexto, as transformações ocorri<strong>da</strong>s durante 20 anos, <strong>em</strong>bora <strong>de</strong>siguais,<br />

são profun<strong>da</strong>s, e é <strong>de</strong> esperar que, ao articular-se com a agen<strong>da</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 2015,<br />

recebam o impulso necessário para obter igual<strong>da</strong><strong>de</strong> real e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

77


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

Bibliografia<br />

CARICOM (Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>) (2014), “Institutional strengthening of national gen<strong>de</strong>r/women´s<br />

machineries (NWMS)”.<br />

CEPAL (Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong>) (2014a), Pactos para a igual<strong>da</strong><strong>de</strong>: rumo a<br />

um futuro sustentável (LC/G.2586(SES.35/3)), Santiago <strong>do</strong> Chile.<br />

(2014b), Observatorio <strong>de</strong> Igual<strong>da</strong>d <strong>de</strong> Género <strong>de</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> y el <strong>Caribe</strong>. Informe anual<br />

2013-2014: el enfrentamiento <strong>de</strong> la violencia contra las mujeres en <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> y el <strong>Caribe</strong><br />

(LC/G.2626), Santiago <strong>do</strong> Chile.<br />

(2014c) “Caribbean Synthesis Review and Appraisal Report On the Impl<strong>em</strong>entation of the Beijing<br />

Declaration and Platform for Action”. Alicia Mon<strong>de</strong>sire (ed.), Port of Spain, se<strong>de</strong> sub-<strong>regional</strong> <strong>da</strong><br />

CEPAL para o <strong>Caribe</strong>.<br />

(2013a), Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>. <strong>Relatório</strong> anual<br />

2012. Os bônus na mira: aporte e carga para as mulheres (LC/G.2561/Rev.1), Santiago <strong>do</strong> Chile.<br />

(2013b), Mulheres na economia digital: superar o limiar <strong>da</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> (LC/L.3666(CRM.12/3)),<br />

Santiago <strong>do</strong> Chile.<br />

(2013c), “Mujeres indígenas en <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: Dinámicas <strong>de</strong>mográficas y sociales en el marco <strong>de</strong><br />

los <strong>de</strong>rechos humanos”, Documentos <strong>de</strong> Proyecto (LC/W.558), Santiago <strong>do</strong> Chile.<br />

(2013d), “Consenso <strong>de</strong> Montevidéu <strong>sobre</strong> População e Desenvolvimento”, <strong>Relatório</strong> <strong>da</strong> primeira<br />

Reunião <strong>da</strong> Conferência Regional <strong>sobre</strong> População e Desenvolvimento <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong><br />

<strong>Caribe</strong> (LC/L.3774), Santiago <strong>do</strong> Chile.<br />

(2013e), “Consenso <strong>de</strong> Santo Domingo”, <strong>Relatório</strong> <strong>da</strong> XII Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong><br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> (LC/L.3789), Santiago <strong>do</strong> Chile.<br />

(2013f), “El gasto etiqueta<strong>do</strong> para las mujeres y la igual<strong>da</strong>d <strong>de</strong> género (GEMIG) en México:<br />

Un avance para garantizar la autonomía <strong>de</strong> las mujeres”, Santiago <strong>do</strong> Chile, inédito [on-line]<br />

http://www.cepal.org/oig/noticias/noticias/7/50627/El_Gasto_Etiqueta<strong>do</strong>_para_las_Mujeres_en_<br />

Mexico_ESP.pdf.<br />

(2012), El Esta<strong>do</strong> frente a la autonomía <strong>de</strong> las mujeres (LC/G.2540), Santiago <strong>do</strong> Chile.<br />

(2011), Observatório <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênero <strong>da</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>. Informe Anual 2011:<br />

O salto <strong>da</strong> autonomia, <strong>da</strong>s margens ao centro (LC/W.436), Santiago <strong>do</strong> Chile.<br />

(2010a), ¿Qué Esta<strong>do</strong> para qué igual<strong>da</strong>d? (LC/G.2450/Rev.1), Santiago <strong>do</strong> Chile.<br />

(2010b), El progreso <strong>de</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> y el <strong>Caribe</strong> hacia los Objetivos <strong>de</strong> Desarrollo <strong>de</strong>l Milenio.<br />

Desafíos para lograrlos con igual<strong>da</strong>d (LC/G.2460), Santiago, Chile, Nações Uni<strong>da</strong>s.<br />

(2010c), “Consenso <strong>de</strong> Brasília”, <strong>Relatório</strong> <strong>da</strong> XI Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong> <strong>América</strong><br />

<strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> (LC/L.3309), Santiago <strong>do</strong> Chile.<br />

79


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

(2010d), A hora <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong>: brechas por fechar, caminhos por abrir (LC/G.2432(SES.33/3)),<br />

Santiago <strong>do</strong> Chile.<br />

(2007), “Consenso <strong>de</strong> Quito”, <strong>Relatório</strong> <strong>da</strong> décima Conferência Regional <strong>sobre</strong> a Mulher <strong>da</strong><br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong> (LC/G.2361(CRM.10/8)), Santiago <strong>do</strong> Chile.<br />

2004), Caminos hacia la equi<strong>da</strong>d <strong>de</strong> género en <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> y el <strong>Caribe</strong> (LC/L.2114(CRM.9/3),<br />

Santiago <strong>do</strong> Chile.<br />

(1995), Panorama Social <strong>de</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>, 1995 (LC/G.1886-P), Santiago <strong>do</strong> Chile.<br />

CEPAL/ACNUDH (Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> / Alto Comissaria<strong>do</strong> <strong>da</strong>s Nações<br />

Uni<strong>da</strong>s para os Direitos Humanos) (2005), Compilación <strong>de</strong> observaciones <strong>final</strong>es <strong>de</strong>l Comité para<br />

la Eliminación <strong>de</strong> la Discriminación contra la Mujer <strong>sobre</strong> <strong>países</strong> <strong>de</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> y el <strong>Caribe</strong><br />

(1982-2005), Santiago <strong>do</strong> Chile [on-line] http://www.cepal.org/es/publicaciones/compilacion-<strong>de</strong>observaciones-<strong>final</strong>es-<strong>de</strong>l-comite-para-la-eliminacion-<strong>de</strong>-la.<br />

CONPES (Consejo Nacional <strong>de</strong> Política Económica y Social <strong>de</strong> Colombia) (2013), “Equi<strong>da</strong>d <strong>de</strong> género para<br />

las mujeres”, Documento CONPES SOCIAL, Nº 161, Bogotá.<br />

Durán, María Ángeles (2015), “Género y <strong>de</strong>sarrollo: la igual<strong>da</strong>d <strong>de</strong> género frente a la agen<strong>da</strong> para el<br />

<strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong>spués <strong>de</strong> 2015”, serie Asuntos <strong>de</strong> Género, Santiago <strong>do</strong> Chile, Comissão Econômica<br />

para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL), no prelo.<br />

Fernós, María Dolores (2010), “National mechanism for gen<strong>de</strong>r equality and <strong>em</strong>powerment of women<br />

in Latin America and the Caribbean region”, serie Mujer y Desarrollo, Nº 102 (LC/L.3203-P),<br />

Santiago <strong>do</strong> Chile, Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL).<br />

Guzmán, Virginia e Sonia Montaño (2012), “Políticas públicas e institucionali<strong>da</strong>d <strong>de</strong> género en <strong>América</strong><br />

<strong>Latina</strong> (1985-2010)”, serie Asuntos <strong>de</strong> Género, Nº 118 (LC/L.3531), Santiago <strong>do</strong> Chile, Comissão<br />

Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL).<br />

Howe, Neil e Richard Jackson (2011), Global Aging and the Crisis of the 2020s [on-line] http://csis.org/<br />

publication/global-aging-and-crisis-2020s.<br />

Katz, Jorge e Martin Hilbert (2003), Building an Information Society: a Latin American and Caribbean<br />

Perspective (LC/L.1845), Santiago <strong>do</strong> Chile, Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong><br />

(CEPAL) [on-line] http://www.cepal.org/publicaciones/xml/2/11672/Contents_Overview.pdf.<br />

Marco, Flavia (coord.) (2004), “Los sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> pensiones en <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: un análisis <strong>de</strong> género”,<br />

Cua<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> la CEPAL, Nº 90 (LC/G.2262-P), Santiago <strong>do</strong> Chile, Comissão Econômica para a<br />

<strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL).<br />

Montaño, Sonia (coord.) (2011), “Una mira<strong>da</strong> a la crisis <strong>de</strong>s<strong>de</strong> los márgenes”, Cua<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> la CEPAL, Nº 96<br />

(LC/G.2504-P), Santiago <strong>do</strong> Chile, Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL).<br />

(2007), Manual <strong>de</strong> capacitación. Gobernabili<strong>da</strong>d <strong>de</strong>mocrática e igual<strong>da</strong>d <strong>de</strong> género en <strong>América</strong><br />

<strong>Latina</strong> y el <strong>Caribe</strong> (LC/L.2726), Santiago <strong>do</strong> Chile, Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e<br />

o <strong>Caribe</strong> (CEPAL).<br />

Montaño, Sonia e Mariana Sanz Ar<strong>da</strong>ya (2009), “Movimientos sociales <strong>de</strong> mujeres. El f<strong>em</strong>inismo”,<br />

Movimientos socioculturales en <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>. Ambientalismo, f<strong>em</strong>inismo, pueblos originarios y<br />

po<strong>de</strong>r <strong>em</strong>presarial, Cua<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Gobernabili<strong>da</strong>d D<strong>em</strong>ocrática, Nº 4, Fernan<strong>do</strong> Cal<strong>de</strong>rón (coord.),<br />

Programa <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para o Desenvolvimento (PNUD).<br />

Nações Uni<strong>da</strong>s (2013), Desarrollo sostenible en <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> y el <strong>Caribe</strong>: seguimiento <strong>de</strong> la agen<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

las Naciones Uni<strong>da</strong>s para el <strong>de</strong>sarrollo post-2015 y Río+20 (LC/L.3590/Rev.1), Santiago <strong>do</strong> Chile,<br />

Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL).<br />

(2004), Foro Permanente para las Cuestiones Indígenas. Informe <strong>sobre</strong> el tercer perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> sesiones<br />

(10 a 21 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2004) (E/2004/43; E/C.19/2004/23), Nova York.<br />

(1997), Informe <strong>de</strong>l Consejo Económico y Social, 1997 (A/52/3), Nova York, set<strong>em</strong>bro.<br />

(1995), Informe <strong>de</strong> la Cuarta Conferencia Mundial <strong>sobre</strong> la Mujer, Beijing, 4 a 15 <strong>de</strong> septi<strong>em</strong>bre <strong>de</strong><br />

1995 (A/CONF.177/20/Rev.1), Nova York.<br />

Ocampo, José Antonio (2009), “Impactos <strong>de</strong> la crisis financiera mundial <strong>sobre</strong> <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>”, Revista<br />

CEPAL, Nº 97 (LC/G.2400-P), Santiago <strong>do</strong> Chile, Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o<br />

<strong>Caribe</strong> (CEPAL), abril.<br />

OIM (Organização Internacional para as Migrações) (2006), Trata <strong>de</strong> personas: aspectos básicos, México,<br />

D.F., Comissão Interamericana <strong>de</strong> Mulheres (CIM)/ Instituto Nacional <strong>de</strong> Migración.<br />

80


CEPAL<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>regional</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>exame</strong> e <strong>avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Declaração</strong> e <strong>Plataforma</strong> <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>de</strong> <strong>Pequim</strong>...<br />

OIT (Organização Internacional <strong>do</strong> Trabalho) (2013a), Trabajo <strong>de</strong>cente e igual<strong>da</strong>d <strong>de</strong> género. Políticas<br />

para mejorar el acceso y la cali<strong>da</strong>d <strong>de</strong>l <strong>em</strong>pleo <strong>de</strong> las mujeres en <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> y el <strong>Caribe</strong>,<br />

Santiago <strong>do</strong> Chile, Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL)/Organização<br />

<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para a Alimentação e a Agricultura (FAO)/Programa <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para o<br />

Desenvolvimento (PNUD)/ONU-Mulheres.<br />

(2013b), Panorama Laboral 2013. <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> y el <strong>Caribe</strong>, Lima.<br />

(2011), Panorama Laboral 2011. <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> y el <strong>Caribe</strong>, Lima.<br />

OMS (Organização Mundial <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>) (2010), Vision 2030: the resilience of water supply and sanitation<br />

in the face of climate change, Genebra [on-line] http://www.who.int/water_sanitation_health/<br />

vision_2030_9789241598422.pdf?ua=1.<br />

OPAS (Organização Pan-Americana <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>) (2014), Resumen <strong>de</strong>l informe Violencia contra la Mujer<br />

en <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> y el <strong>Caribe</strong>. Análisis comparativo <strong>de</strong> <strong>da</strong>tos poblacionales <strong>de</strong> 12 <strong>países</strong>, Sarah<br />

Bott e outros [on-line] http://www.paho.org/hq/in<strong>de</strong>x.php?option=com_<strong>do</strong>cman&task=<strong>do</strong>c_<br />

view&gid=21425&It<strong>em</strong>id.<br />

Provoste, Patricia e Alejandra Valdés (<strong>2000</strong>), “D<strong>em</strong>ocratización <strong>de</strong> la gestión municipal y ciu<strong>da</strong><strong>da</strong>nía <strong>de</strong> las<br />

mujeres: sist<strong>em</strong>atización <strong>de</strong> experiencias innova<strong>do</strong>ras”, Documento <strong>de</strong> Trabajo, Nº 3, Santiago <strong>do</strong><br />

Chile, Centro <strong>de</strong> Análisis <strong>de</strong> Políticas Públicas.<br />

Rodríguez, Corina e No<strong>em</strong>í Giosa (2010), “Estrategias <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarrollo y equi<strong>da</strong>d <strong>de</strong> género: una propuesta<br />

<strong>de</strong> abor<strong>da</strong>je y su aplicación al caso <strong>de</strong> la IMANE en México y Centroamérica”, serie Mujer y<br />

Desarrollo, Nº 97 (LC/L.3154-P), Santiago <strong>do</strong> Chile, Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong><br />

e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL).<br />

Rodríguez Wong, Laura e Ignez Helena Oliva Perpétuo (2011), “El estudio <strong>de</strong> la salud reproductiva y los<br />

censos <strong>de</strong> 2010: la fecundi<strong>da</strong>d a<strong>do</strong>lescente y la mortali<strong>da</strong>d materna”, Notas <strong>de</strong> Población, Nº 92<br />

(LC/G.2496-P), Santiago <strong>do</strong> Chile, Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL).<br />

Rosales, Osval<strong>do</strong> e Mikio Kuwayama (2012), China y <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> y el <strong>Caribe</strong>. Hacia una relación<br />

económica y comercial estratégica, Libros <strong>de</strong> la CEPAL, Nº 114 (LC/G.2519-P), Santiago <strong>do</strong> Chile,<br />

Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL). Publicação <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s,<br />

Nº <strong>de</strong> ven<strong>da</strong>: S.12.II.G.12.<br />

Ruiz, Mag<strong>da</strong>lena (2011), “La mortali<strong>da</strong>d materna en los censos. Recomen<strong>da</strong>ciones CELADE” [on-line]<br />

http://apuntes<strong>de</strong><strong>de</strong>mografia.com/2011/11/08/la-mortali<strong>da</strong>d-materna-en-los-censosrecomen<strong>da</strong>ciones-cela<strong>de</strong>/.<br />

Scuro, Lucía e Néstor Bercovich (eds.) (2014), El nuevo paradigma productivo y tecnológico. La necesi<strong>da</strong>d <strong>de</strong><br />

políticas para la autonomía económica <strong>de</strong> las mujeres, Libros <strong>de</strong> la CEPAL, Nº 131 (LC/G.2621-P),<br />

Santiago <strong>do</strong> Chile, Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL).<br />

SELA (Sist<strong>em</strong>a Econômico Latino-Americano e <strong>do</strong> <strong>Caribe</strong>) (2010), Desarrollan<strong>do</strong> mujeres <strong>em</strong>presarias: la<br />

necesi<strong>da</strong>d <strong>de</strong> replantear políticas y programas <strong>de</strong> género en el <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> PYMES, Caracas.<br />

Weller, Jürgen (2007), “La flexibili<strong>da</strong>d <strong>de</strong>l merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabajo en <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> y el <strong>Caribe</strong>. Aspectos <strong>de</strong>l<br />

<strong>de</strong>bate, alguna evi<strong>de</strong>ncia y políticas”, serie Macroeconomía <strong>de</strong>l Desarrollo, Nº 61 (LC/L.2848-P),<br />

Santiago <strong>do</strong> Chile, Comissão Econômica para a <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e o <strong>Caribe</strong> (CEPAL).<br />

81

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!