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01 - Eden

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Equipe Pégasus<br />

Lançamentos:<br />

Tradução: Cris<br />

1- Revisão Inicial: Simone T., Natalia C,<br />

Jessica M.,Tay Campos<br />

2- Revisão Inicial: Naty Pantoja<br />

Revisão Final: Monikita<br />

Leitura Final: Lola<br />

Formatação: Lola<br />

Verificação: Anna Azulzinha


Sinopse<br />

Assombrada pelas memórias da morte de seu irmão e<br />

a procura de respostas, Lily Hart embarca em um<br />

trabalho, que a levará a um submundo no qual estará<br />

exposta a riqueza, ganância, luxúria e ao reinado de<br />

homens deslumbrantes, poderosos e perigosos —um<br />

homem em particular causa estragos em suas emoções.<br />

Aos trinta anos Jake Éden tem tudo: beleza,<br />

dinheiro, poder e uma quantidade infinita de mulheres<br />

dispostas a fazer qualquer coisa para tê-lo. Amor? O amor<br />

era para maricas ... até que uma mulher com o nome<br />

artístico de “Jewel” aparece. Ela é diferente de todas as<br />

outras.<br />

Esbanjando sensualidade, forte, inteligente e<br />

independente é tudo o que ele deveria ficar longe, mas faz<br />

com que deseje domá-la e mantê-la para si.<br />

Sua atração é viciante e inegável, e logo está<br />

apaixonado.<br />

Mas quando a linha entre traição e lealdade é posta à<br />

prova ...<br />

Será que o amor será mais forte que a vingança?


Prólogo<br />

Louco<br />

—NÃOOOOOOO! —berro,<br />

minha garganta arde e sinto um gosto ruim na minha boca.<br />

Balanço minha cabeça para trás e para frente como um<br />

brinquedo de corda sem sentido. Meu corpo nega o horror<br />

diante dos meus olhos e caio ajoelhada na porta de seu<br />

apartamento. Desesperadamente, rastejo em sua direção,<br />

gritando, soluçando.<br />

—Não posso perdê-lo! Não ele! Oh, Deus, não ele. Por<br />

Favor, não ele.<br />

A meio metro de seu corpo penso: isso é apenas um<br />

pesadelo. Claro que é, tem que ser. A qualquer momento<br />

acordarei e a primeira coisa que farei? Telefonar e lhe dizer o<br />

quanto sinto sua falta, o quanto o amo.<br />

Raspo meus joelhos nus no chão e percebo que não é<br />

um pesadelo. É real.<br />

Não nos falamos por duas semanas. Eu tinha provas e<br />

quando liguei para seu celular, foi direto para a caixa<br />

postal... Droga de desculpa. Deveria tê-lo chamado<br />

novamente, enviado um e-mail. Por que não fiz? Eu deveria<br />

saber.


Ajoelho perto dele, a minha postura deselegante,<br />

pesada, como um animal sofrendo. Sento nos meus<br />

calcanhares, pressiono meus dedos em minha boca aberta e<br />

olho. Seus lábios e dedos estão azuis e o resto dele está<br />

pálido e quieto. Ele não pode estar morto.<br />

Não pode ser verdade!<br />

O silêncio de um corpo morto é impossível de descrever<br />

e, no entanto, quando você vê se recusa a acreditar. Sempre<br />

acha que é um engano, um erro, um truque... Mas uma<br />

agulha está em seu braço enegrecido, com a pele esticada,<br />

irreal como se fosse de outra pessoa. Isso não é o braço do<br />

meu irmão, conheço-o tão intimamente quanto o meu.<br />

Minha respiração é superficial e tremo. Inspiro e arranco<br />

a agulha agressora. Meu estômago revira. Ela nunca deveria<br />

ter entrado em seu corpo. Jogo fora a seringa que atinge algo<br />

e rola no chão de madeira. Também deixa um buraco<br />

minúsculo na carne de meu irmão, que não sangra. Engulo<br />

em seco e minhas mãos tremem muito.<br />

Isso significa que não sofreu, uma voz sussurra em<br />

minha cabeça. Nem sequer teve tempo para retirá-la antes de<br />

partir.<br />

Oh, Deus! Ele tem dezenove anos. Não pode ter ido.<br />

RCR 1 . Deveria fazer RCR. Deve haver algo que eu ainda<br />

possa fazer. Pego seus ombros e tento arrastá-lo para minhas<br />

coxas, mas seu corpo é tão pesado, tão frio, tão rígido e<br />

1<br />

RCR: Reanimação cardiorrespiratória é um conjunto de manobras destinadas a garantir a<br />

oxigenação dos órgãos quando a circulação do sangue de uma pessoa para (parada cardiorrespiratória).


estranho que tiro minhas mãos depressa. Observo como se<br />

encontra imóvel. O sangue, que corria sem descanso durante<br />

sua curta vida, se acalmou dentro de suas veias. Está frio e<br />

endurecido, como se fosse um pedaço de madeira.<br />

Soluçando de dor e angústia seguro-o e com toda minha<br />

força puxo o seu corpo para mim, levantando-o para meu<br />

colo. Toco seu cabelo castanho suave, que falha na testa e<br />

sinto a diferença: seu couro cabeludo endureceu. Acaricio seu<br />

cabelo, seu rosto, suas mãos. Segurando sua cabeça contra o<br />

meu estômago, fecho os olhos e começo a balançá-lo da<br />

maneira que uma mãe conforta seu bebê angustiado.<br />

Mas não há conforto —sua cabeça está pesada, sua mão<br />

dura batendo repetidamente no chão faz um barulho<br />

estranho. Paro. Atordoada, olho seu rosto.<br />

Sua boca está aberta, a língua estranha e opaca está<br />

empurrada contra os dentes. Sem o brilho saudável da saliva<br />

parece bruta. Tento fechá-la, mas está travada. Seus olhos<br />

não estão totalmente fechados e através das fendas vejo os<br />

brancos. Tento levantar uma pálpebra para ver mais uma vez<br />

os belos olhos azuis que conheci toda a minha vida.<br />

Se eu pudesse pelo menos ver isso.<br />

Mas suas pálpebras fechadas estão coladas, não<br />

abrirão. Minha mão treme quando ainda tenho esse desejo<br />

macabro de abri-las. Quando éramos jovens costumávamos<br />

lamber o sal da pele do outro. De repente sinto a estranha<br />

vontade de lamber sua pele.


Ponho uma das mãos sob seu pescoço, a outra sob sua<br />

cabeça e o coloco no chão. Então corro para trás até que<br />

estou em minhas mãos e joelhos, e meu rosto está pairando a<br />

centímetros do seu. Abaixo minha cabeça, ponho minha<br />

língua para fora. Ao longe uma voz na minha cabeça<br />

urgentemente grita: "Não"!<br />

Paro e ouço o silêncio peculiar ao nosso redor. É mais<br />

quieto do que a neve caindo. Na mesa noto suas impressões<br />

digitais na camada leve de pó, e, em seguida, algo estranho<br />

acontece. Por um segundo claramente me percebo não de<br />

dentro do meu corpo, mas do lado de fora, agacho sobre meu<br />

irmão morto, mais animal do que humano. Então o momento<br />

se vai enquanto abaixo minha cabeça lambendo a último sal<br />

na pele do cadáver.<br />

É o começo de minha descida em território<br />

desconhecido. Um lugar que você pode chamar de loucura.<br />

Tenho medo que minha estadia seja muito dolorosa e<br />

longa.<br />

“Não consegue ler minha, não consegue ler minha,<br />

Não, ele não consegue ler minha cara de pôquer”<br />

— “Poker Face”, Lady Gaga 2 .<br />

2 Stefani Joanne Angelina Germanotta, mais conhecida pelo nome artístico Lady Gaga, é uma<br />

cantora, atriz, compositora, produtora musical, modelo, ativista e dançarina estadunidense


Um<br />

Lily<br />

—Primeira parada, Éden —diz Patrick, com um rápido<br />

olhar para trás, conforme dirige o micro-ônibus de oito<br />

lugares no trânsito da hora do almoço. —Basta dar-lhes seus<br />

melhores movimentos e não se preocupem se não ficarem,<br />

porque ainda temos Spearmint Rhino e Diamonds depois<br />

daqui —acrescenta alegremente.<br />

Tem um rosto de menino, cheio de charme e astúcia,<br />

mas basta olhá-lo e você sabe que é traiçoeiro. E dirige como<br />

um louco. Somos cinco concorrentes sorrindo umas para as<br />

outras, que foram reunidas na estação do metrô de South<br />

Kensington 3 , e estamos a caminho de uma audição.<br />

Discretamente, eu as observo.<br />

Viajando comigo estão uma ruiva alta, uma garota negra<br />

magra, uma Barbie humana com o cabelo loiro volumoso,<br />

além de uma incrível cintura fina e seios enormes, e uma<br />

menina de bonita pele morena. Cada uma de nós tem uma<br />

grande bolsa no ombro. Sem dúvida, suas bolsas contêm as<br />

3 A estação de South Kensington do metrô localiza-se em Kensington, região oeste de Londres.<br />

É servido pelas linhas District, Circle e Piccadilly.


mesmas coisas que a minha: um traje sexy, sapatos<br />

assassinos e uma nécessaire com maquiagem forte.<br />

Olho para fora e vejo que o Clube Éden é nossa primeira<br />

parada. Pena. Eu tinha a esperança de praticar e poder me<br />

acostumar em um palco real, em um dos outros clubes, ver o<br />

desempenho das outras meninas antes de irmos ao Éden,<br />

mas ainda assim, é interessante saber que deve ter pago a<br />

Patrick a maior comissão para ter a preferência. Não<br />

surpreende que superou todos os outros clubes de striptease<br />

4 e tornou-se aquele a ser visto, mesmo que não ofereça<br />

nudez completa.<br />

Em silêncio nos dirigimos para o norte para a infame<br />

região King’s Cross 5 de Londres. Antes era uma área suja<br />

com prostitutas e festas raves em armazéns abandonados,<br />

mas repaginou-se e rapidamente se tornou um centro de<br />

ponta para a moda e as artes, atraindo até mesmo o Google<br />

para criar a sua sede europeia lá.<br />

alto.<br />

Clube Éden fica entre duas torres de escritórios de vidro<br />

Patrick dirige além do logotipo da grande e iluminada<br />

maçã vermelha mordida em néon, virando na próxima rua<br />

lateral, entra no parque de estacionamento traseiro.<br />

Estaciona perto da porta dos fundos, onde um cara com<br />

4<br />

Strip-tease é um ato, geralmente envolvendo dança, no qual uma pessoa se despe<br />

completamente para outras pessoas de forma a excitá-las sexualmente. É um termo da língua<br />

inglesa que significa, literalmente, "provocação ao se despir" (strip, despir + tease, brincar, provocar).<br />

5 A estação de trem London King’s Cross é uma das estações ferroviárias mais importantes<br />

localizada ao norte da cidade de Londres, na Inglaterra.


oupa branca de chef de cozinha está sentado nos degraus<br />

fumando. Ele nos observa através da fumaça, indiferente.<br />

—Aqui estamos nós —Patrick anuncia e desliga o motor.<br />

Nós saímos, arrumamos nossas roupas e o seguimos<br />

pela lateral do edifício para a entrada principal. Assim que<br />

entramos pelas brilhantes portas duplas pretas, meus saltos<br />

agulha deixam uma fissura no tapete e sinto um<br />

formigamento subir pela minha espinha. É tão forte como se<br />

uma aranha realmente estivesse andando na minha pele.<br />

Incapaz de me deter viro minha cabeça.<br />

Jesus!<br />

Profundamente bronzeado, cabelo preto e olhando<br />

diretamente para mim é ele, a lenda! Porra Jake Éden. Meu<br />

coração palpita. Porra! Suas fotografias não lhe fizeram<br />

justiça. Vestido todo de preto, exceto por um par de botas de<br />

pele de cobra branca, desce uma escadaria larga e magnífica,<br />

poderoso como um tigre.<br />

Ele está muito longe para eu ver a expressão de seus<br />

olhos, mas a intensa tensão mal controlada ao seu redor tem<br />

o efeito de uma tempestade elétrica. Isso faz o ar entre nós<br />

vibrar e estalar, perco o fôlego e meus sentidos entram em<br />

alerta. Minha coluna fica rígida e todos os minúsculos pelos<br />

da minha nuca se levantam, como um gato que fica cara a<br />

cara com o perigo mortal.<br />

Por alguns segundos nós olhamos fixamente,<br />

adversários sexuais momentâneos.


Então olho para Patrick, que segura aberta outra porta<br />

atrás de mim. Respirando fundo passo por ela, que nos leva a<br />

um corredor mal iluminado, com ar mais fresco. Minhas<br />

mãos estão fechadas com a energia reprimida. Isso nunca me<br />

aconteceu antes. Nunca simplesmente olhei para um homem<br />

e desejei tê-lo dentro de mim. A sensação é bruta.<br />

—Os vestiários estão ali - diz Patrick indicando outra<br />

porta mais longe no corredor. —Encontrem-me no andar de<br />

cima em quinze minutos que irei apresentá-las ao gerente.<br />

Em seguida, desaparece por onde viemos e nosso grupo<br />

vai aos vestiários, noto que são limpíssimos e semelhantes<br />

aos de um spa luxuoso. As outras meninas imediatamente<br />

abrem suas bolsas, mas o encontro com Jake Éden me<br />

deixou nervosa e perturbada demais, preciso fechar meus<br />

olhos e ter um minuto para me acalmar, ainda estou muito<br />

excitada. Quando abro, eles não estão brilhando, nem estou<br />

corada. Tenho uma missão pela frente. Eu pareço fresca e<br />

composta.<br />

Enquanto abro minha bolsa e pego minha encomenda<br />

especial, o vestido vermelho fácil de tirar, observo as outras.<br />

Já exuberante em um longo roupão transparente com bordas<br />

de lantejoulas, a ruiva usa sapatos dourados brilhantes. De<br />

repente, ela é uma deusa em seus 1,83 m de altura. É<br />

impressionante. A menina negra tirou sua jaqueta, ela é<br />

musculosa como um cavalo de corrida e veste um macacão<br />

preto com padrões geométricos verde e rosa fluorescentes.<br />

Rapidamente ponho meu vestido e pego meus sapatos<br />

plataforma vermelhos de plástico. Enquanto fecho as fivelas


noto que a Barbie humana veste um uniforme de colegial. Ela<br />

vê meus olhos e boca no espelho<br />

—Olá —diz.<br />

Marco-a como minha maior concorrente. A bela menina<br />

morena tem as pernas mais longas que já vi em um ser<br />

humano. Para aumentar a ilusão ainda calça sapatos com<br />

efeito de vidro. Como que por um acordo tácito todas estamos<br />

prontas ao mesmo tempo.<br />

Juntas subimos a escadaria que Jack Éden desceu e<br />

entramos por portas pretas e douradas.<br />

Estive em casas noturnas quando a luz do dia começa a<br />

penetrar e sempre parecem ser sujas e sórdidas, mas não<br />

este lugar. Aqui é como se tivéssemos retrocedido a um<br />

tempo decadente em Paris ou Viena, quando os homens<br />

usavam perucas e saltos altos. Das centenas de espelhos<br />

dourados, poltronas e sofás bordados, os ricos papéis de<br />

parede, as pesadas cortinas de veludo aos enormes lustres,<br />

tudo é magnífico. A rica mistura de cores lembra-me uma<br />

pintura de Gustav Klimt 6 . Patrick está em pé na beira do<br />

palco falando com um homem careca. Ele nos chama com um<br />

aceno.<br />

—Este é Mark, o gerente. É bom serem gentis com ele.<br />

6 Gustav Klimt foi um pintor simbolista austríaco.


—Ei —Mark nos cumprimenta com um sorriso que<br />

abrange todas. Nós respondemos com efusivos “Olá” e “Ei”.<br />

Mark não perde tempo e se concentra na beleza de pele<br />

morena.<br />

—Não vi você antes, querida?<br />

Ela balança a cabeça decisivamente.<br />

—Não. Esta é a minha primeira vez.<br />

—Tem certeza? Você não esteve aqui cerca de seis meses<br />

atrás?<br />

Sem dizer nada, ela se afasta.<br />

Mark olha para Patrick.<br />

—Andarilha.<br />

terá.<br />

Patrick dá de ombros. Essa é uma comissão que não<br />

Vejo-a ir embora, faltam três. Mais tarde eu ficaria<br />

sabendo que “andarilhas” são prostitutas, que trabalham<br />

algumas sessões em clubes de strip por poucos meses,<br />

procurando potenciais clientes particulares.<br />

—Estarei no bar —diz Patrick afastando-se de nós.<br />

—Primeira vez para alguém aqui? —Mark pergunta.<br />

Levanto minha mão.<br />

—Certo. Somos um clube completamente limpo:<br />

nenhuma droga, sem prostituição, tolerância zero. Entendeu?<br />

—Entendi —digo depressa.


Ele balança a cabeça.<br />

—Você trouxe sua música?<br />

Aceno.<br />

—Ótimo. Estabelecemos que você tem duas músicas.<br />

Mantenha suas roupas na primeira, comece a se despir na<br />

segunda e na metade dela tire o sutiã. Seu único objetivo: até<br />

o final das músicas faça com que todo cara no lugar queira<br />

esvaziar a carteira em cima de você.<br />

Concordo com a cabeça lentamente.<br />

Ele se vira para a ruiva.<br />

—Quer ir primeiro, querida?<br />

—Claro —diz com um sorriso doce e dá-lhe o seu CD.<br />

Ele o coloca em uma pequena máquina sob o palco. —<br />

Quando quiser.<br />

Ela lentamente contorna o poste 7 .<br />

—Pronto —diz uma vez em que está na posição.<br />

Mark clica no play e o clube se enche com o som de<br />

Pussycat Dolls 8 cantando, “Don’t You Wish Your Girlfriend<br />

Was Hot Like Me?”. A ruiva é boa, mas nada de especial, e<br />

minha confiança aumenta. À medida em que os segundos vão<br />

passando percebo que sou muito melhor. Na verdade, ela<br />

nem sequer tem a chance de terminar seu primeiro número<br />

antes de Mark desligar a música.<br />

7 Pole dance (dança do cano ou dança do poste) é uma dança sensual que usa um poste ou<br />

barra vertical sobre o qual a dançarina faz sua performance.<br />

8 Pussycat Dolls (2003-2<strong>01</strong>0) foi um grupo musical feminino fundado pela coreógrafa Robin<br />

Antin. Inicialmente criado como uma trupe burlesca, em 1995, na cidade de Los Angeles, cantavam<br />

dance, pop e hip-hop.


—Obrigado, querida, mas você precisa de mais<br />

movimentos. Tenha algumas aulas de dança e depois volte<br />

para outra audição —descarta-a. É um não, mas deixou a<br />

porta aberta. Vira-se para a garota negra.<br />

—Posso ter apenas as luzes ultravioletas sobre mim, por<br />

favor? —ela pede.<br />

Mark grita para o barman, que vai para a parte de trás<br />

do bar. Segundos mais tarde, quando o palco é iluminado por<br />

um brilho incandescente ela entra, e de repente sua pele<br />

escura faz com que desapareça, tornando-se uma coleção de<br />

padrões cor de rosa e verde. “Sexy Back” de Justin<br />

Timberlake 9 toca, ela se lança com energia surpreendente<br />

para o poste, executando movimentos mais complicados. Mas<br />

a verdadeira beleza é que ela parece uma forma geométrica<br />

movendo para cima e para baixo. O jeito que fica quando tira<br />

seu macacão é pura classe. Ela é muito boa e tão<br />

impressionante de se ver que fico apreensiva. Se este é o nível<br />

com o qual estou competindo não há nenhuma chance que<br />

eu tenha este emprego. Quando a música termina tenho<br />

certeza que ela conseguiu o trabalho.<br />

—Show fantástico. Volte esta noite às seis horas —Mark<br />

lhe diz e se volta para mim. Seus olhos viajam casualmente<br />

pelo meu corpo, demorando no vestido vermelho, que eu<br />

poderia tirar em dois segundos. —Quer manter as luzes<br />

ultravioletas?<br />

9 Justin Randall Timberlake é um músico, cantor, compositor, ator, dublador, produtor musical,<br />

dançarino, multi-instrumentista e empresário norte-americano.


Balanço minha cabeça. Meu coração bate tão forte, que<br />

sinto meu sangue fervendo pelo meu corpo. É isso aí, está na<br />

hora.<br />

Ele grita para o barman e as luzes se modificam.<br />

—Certo. Pode ir em seguida.<br />

Sinto meu estômago embrulhado, engulo em seco e<br />

aceno a cabeça.<br />

—Basta ser você mesma e divirta-se —aconselha com<br />

um sorriso amigável.<br />

Dou-lhe o meu CD e caminho até o palco devagar,<br />

propositalmente balançando meus quadris, mas estou tão<br />

nervosa, que meus joelhos oscilam. Subo as escadas com<br />

cuidado. Não tem sentido cair sentada antes de começar a<br />

apresentação. Há grandes espelhos no palco e consigo me ver<br />

caminhando. Um metro e cinquenta de altura em cima de<br />

quase 15 cm de saltos, quadris finos, estômago plano, nada<br />

especial no peito, cabelo chocolate escuro com tons de cobre<br />

e uma grande boca vermelha com o sorriso de uma dançarina<br />

profissional. Minha aparência não é tão ruim e posso fazer<br />

isso. Tenho praticado por horas. Certo, não sou tão boa<br />

quanto a garota que pode fazer mágica em formas<br />

geométricas, mas com certeza posso fazer isso. Tenho uma<br />

prática boa e ágil. Mesmo Ann diz isso e ela ensinou centenas<br />

de meninas. Tudo o que tenho a fazer é chegar ao poste e<br />

seguir o plano.<br />

Chego a ele.<br />

—Pronta? —Mark pergunta.


—Sim.<br />

Mark aperta o play e a voz rastejante de Marilyn<br />

Manson 10 ecoa ao meu redor, “Sometimes I feel I got to run<br />

away”.<br />

Segurando e circulando o poste me esfrego<br />

sinuosamente contra ele. Enrolo minhas mãos sobre minha<br />

cabeça, agarro-o e empino minha bunda, balançando-a de<br />

um lado para o outro. Percebo que Mark está inclinado para<br />

frente, aprovando.<br />

Sim, posso definitivamente fazer isso.<br />

Agarro o poste e com toda a minha força me atiro para o<br />

ar. Deveria ser um balanço enérgico e impressionante, mas<br />

em vez disso a minha mão suada escorrega do metal. Em<br />

pânico tento me endireitar travando no cano com a outra<br />

mão, mas é tarde demais —voo no ar e caio de joelhos no<br />

chão duro do palco. Fico tão atordoada, que sento assim<br />

mesmo. Minha adrenalina bombeia tão forte, que não sinto<br />

nenhuma dor. Então penso. Porra. Porra. Porra. Ainda<br />

sentada toda torta me viro para Mark.<br />

Ele sai da mesa e salta até o palco.<br />

—Deixe-me tentar novamente —imploro, e colocando as<br />

palmas das mãos no chão faço força para me levantar, mas<br />

uma dor aguda atinge minhas pernas. Estremecendo,<br />

persisto e fico em pé.<br />

Mark está na minha frente, olhando-me preocupado.<br />

10 Marilyn Manson é uma banda estadunidense de rock formada em 1989, em Fort Lauderdale,<br />

Florida por Brian Hugh Warner, que adotou o mesmo nome artístico.


—Você está bem?<br />

Ouço os gritos na voz rouca de Marilyn, “amor infectado,<br />

amor estragado”.<br />

—Eu realmente preciso deste emprego —suplico,<br />

humilhada pela minha queda sem graça e irritada comigo<br />

mesma por ser tão descuidada.<br />

Ele olha meus joelhos e esfrega o queixo, pensativo, e sei<br />

só de olhar que me dirá para ter mais aulas ou algo nesse<br />

sentido.<br />

—Por favor —insisto —essa foi a minha primeira vez. Eu<br />

estava apenas nervosa, posso fazer isso.<br />

—Olhe —começa com mais firmeza, mas é interrompido<br />

pelo toque do celular. Tira-o do bolso e olha surpreso para a<br />

tela. Levanta um dedo em um gesto que me diz para esperar e<br />

atende. Ouve por alguns segundos, responde —Sim —e<br />

termina a chamada.<br />

Volta sua atenção para mim, mas agora me avalia<br />

curioso.<br />

—Boas notícias, conseguiu o emprego. Pode começar<br />

quando o inchaço —acena com a cabeça em direção aos meus<br />

joelhos —estiver melhor. Chegue às cinco e meia da tarde,<br />

com uma foto de identificação, comprovante de endereço, seu<br />

número de Seguro Nacional e informe à “Mãe da Casa”. Seu<br />

nome é Brianna.<br />

Por um instante encaro-o sem fala. Meus joelhos estão<br />

latejando agora.


—Consegui o emprego —repito estupidamente.<br />

—Parece que sim —diz sorrindo.<br />

—Obrigada, Mark. Você não vai se arrepender.<br />

—Sem problema —responde e se volta para a loira<br />

Barbie. —Quer nos mostrar o que você tem?<br />

Mancando me afasto do palco e percebo um ligeiro<br />

movimento nas sombras distantes. Viro-me e vejo o brilho da<br />

pele de cobra branca quando Jack Éden sai silenciosamente<br />

pelas portas pretas e douradas. E eu sei, sem sombra de<br />

dúvida, que o gângster mais ilusório do norte de Londres<br />

acaba de me contratar.


Dois<br />

Lily<br />

Por dois dias manquei em<br />

meu apartamento, comendo fast food e relembrando várias<br />

vezes minha reação desastrosa a Jake Éden. Teria sido algum<br />

tipo de atitude louca causada pelo nervosismo por conta da<br />

minha audição? No terceiro dia me convenci de que esse deve<br />

ter sido o motivo, passei um pouco de corretivo nos joelhos e<br />

voltei ao clube.<br />

Para minha surpresa, a “Mãe da Casa” é uma versão<br />

feminina do meu gerente de banco: quarentona, um brilhante<br />

cabelo loiro avermelhado, em um terno azul escuro com um<br />

top fino elegante debaixo dele. Então faz o que o meu gerente<br />

de banco nunca fez: abre um sorriso verdadeiramente<br />

caloroso e sei que nós daremos bem.<br />

—Oi, sou Brianna —ela estende a mão —Patrick me<br />

disse para esperar por você.<br />

Seu aperto é quente e macio.<br />

—Somos conhecidas por nossos nomes artísticos aqui.<br />

Graças a Deus. Ficaria maluca se tivesse que lembrar de dois<br />

nomes para todas as minhas meninas. Você tem um?<br />

—Jewel.


—Jewel. Faz muito tempo que ouvi esse nome.<br />

—Verdade?<br />

—Sim, estou neste negócio há vinte anos, você sabe.<br />

Dancei nos dez primeiros.<br />

Ela era tão respeitável e séria que era difícil imaginá-la<br />

em um poste.<br />

—Você dançou?<br />

—Com toda certeza. Uma parte de mim ainda sente falta<br />

da atenção e do dinheiro, mas sou casada, tenho filhos agora<br />

e não trocaria isso por nada no mundo. Além disso, adoro ser<br />

a “Mãe da Casa” aqui. —Sorri encantadoramente, mas suas<br />

palavras seguintes tem um tom profissional. —Cerca de cento<br />

e vinte meninas trabalham em turnos e é minha função<br />

garantir que apenas a quantidade certa de ruivas, loiras e<br />

morenas estejam presentes, de modo que todas ganhem um<br />

bom dinheiro. —Ela me olha com curiosidade —Você tem<br />

uma aparência muito exótica. Incomum. Seus olhos são<br />

puxados, mas tão azuis.<br />

—Minha avó é da China e meu avô era nórdico —<br />

respondo relutantemente. Não quero jamais falar sobre<br />

minha vida pessoal com ninguém aqui.<br />

—Ah! Isso explica as maçãs do rosto incríveis também.<br />

—Obrigada —aceito educadamente, mas minha cara<br />

séria termina o assunto.<br />

—Certo. Espero que todas façam pelo menos três turnos<br />

por semana. Se, por qualquer razão não puder, se estiver


doente, menstruada ou com a mãe com ressaca, apenas me<br />

avise para que me organize. Seja honesta comigo. Espero<br />

uma comunicação direta de todas as minhas meninas e farei<br />

o mesmo com você. Entendeu?<br />

Concordo com a cabeça rapidamente.<br />

—É também meu trabalho atuar como amortecedor<br />

entre os clientes e as dançarinas, então não importa em que<br />

problema se encontrar sempre pode vir a mim.<br />

—Ok.<br />

—Bom. Vamos começar com as regras para seguirmos<br />

em frente. O mais importante é: os clientes não estão<br />

autorizados a tocá-la e você não tem permissão para tocá-los<br />

abaixo da cintura. Quebre essa regra e está fora. Se as<br />

câmeras de segurança pegarem uma garota tocando a virilha<br />

de um homem com qualquer parte de seu corpo, essa garota<br />

nunca mais dançará aqui. Entendido?<br />

—Entendido.<br />

—Agora, é bastante normal que enquanto você está<br />

dançando para um cara ele tenha algo acontecendo em suas<br />

calças. Isso é exatamente o que acontece com todos os<br />

homens. Eles olharão para sua virilha significativamente e<br />

pedirão para tocá-los.<br />

Meu estômago embrulha, mas luto muito para manter<br />

meu rosto neutro e devo ter tido sucesso, pois ela continua<br />

sem pestanejar.


—Argumentarão com você, oferecerão dinheiro, alguns<br />

dirão que são amigos da gerência e que estará tudo bem se<br />

ajudá-los, mas se tocá-los e forem oficiais disfarçados do<br />

departamento de licenciamento ou a polícia, o clube será<br />

fechado dentro de uma hora.<br />

—Então o que todo mundo faz nessa hora?<br />

—Diga-lhes que adoraria, mas que poderia ser visto<br />

como uma violação e que seria um desrespeito ao<br />

licenciamento do clube. Aponte timidamente para as câmeras<br />

de segurança.<br />

—E se insistirem?<br />

—Se alguém se comportar de maneira pervertida, rude<br />

ou agressiva com você, basta sinalizar para um dos meninos<br />

da segurança e o oportunista será escoltado ou arrastado<br />

para fora, dependendo da situação, para a parte traseira,<br />

onde não há câmeras.<br />

É difícil imaginar que apenas a visão de um par de seios<br />

fará com que homens adultos de bom grado liberem muito<br />

dinheiro de suas carteiras, mas começava a me sentir melhor<br />

sobre o trabalho.<br />

Em seguida, ela explica a organização financeira:<br />

durante os três primeiros dias não pagarei as taxas da casa,<br />

mas depois todos os bailarinos dão noventa e cinco libras -<br />

sessenta e cinco no início da noite e trinta por volta da meianoite.<br />

A utilização das salas VIP 11 custa trinta libras por hora,<br />

11 VIP é a sigla em inglês de “Very Important Person”, uma expressão utilizada para se referir a<br />

uma pessoa muito importante e ilustre.


mas os homens pagam duzentos assim o meu lucro é cento e<br />

setenta para aquela hora.<br />

Então ela fala a parte mais interessante: o dinheiro não<br />

muda de mãos entre clientes e dançarinos, em vez disso,<br />

usam-se fichas plásticas chamadas de “Moedas de Eva” ou<br />

“MEs”. Ao valor que o cliente converte em fichas, o clube<br />

acrescenta vinte por cento, no final da noite os dançarinos<br />

trocam-nas por dinheiro, descontando vinte por cento de<br />

comissão para a casa. Parece incrível que os bailarinos ainda<br />

ganhem dinheiro com todas essas taxas. Meus pensamentos<br />

devem ter aparecido em meu rosto.<br />

—A maioria dos homens que vêm aqui conhecem o<br />

negócio. Entendem que as meninas não estão aqui de graça e<br />

eles mantêm as coisas fluindo adoravelmente. Não se<br />

preocupe, uma menina com sua aparência ganhará dinheiro,<br />

muito dinheiro. Lembre-se sempre de mostrar sua gratidão<br />

aos boatos invisíveis de informações que circulam no clube.<br />

—Boatos invisíveis de informações? Pensei que fosse um<br />

clube de strip para cavalheiros!<br />

—Digamos que um cliente estaciona um Lamborghini 12 .<br />

O porteiro avisa via rádio à recepção que alguém que precisa<br />

de cuidados entrou. A recepção pode não cobrar a taxa de<br />

entrada, o que fará com que ele se sinta especial e bem<br />

humorado. Enquanto instalamos o cliente de prestígio a<br />

12 Lamborghini: é uma fábrica italiana de automóveis desportivos de luxo e de alto desempenho<br />

criada originalmente para competir com a Ferrari.


garçonete irá pergunta-lhe o que deseja ou se tem algum<br />

pedido especial.<br />

Brianna para e sorri descaradamente. —Se ele disser:<br />

"Hoje à noite sinto-me exótico", ela passará essa informação<br />

para o DJ que te chamará imediatamente ou a outra exótica,<br />

até o palco. Nesse momento, você irá até o esbanjador e<br />

perguntará se quer uma dança, assim ele pensará que o Éden<br />

é o lugar mais brilhante do mundo. Tudo o que tem a fazer é<br />

pensar no tipo da garota que quer e eis que, por uma bela<br />

coincidência, ela aparece. O cliente nunca saberá que está em<br />

uma bem afinada cooperação de trabalho.<br />

Ela olhou para o relógio.<br />

—Vou te mostrar o lugar, seu armário, apresentá-la a<br />

Josh, que é chefe de segurança, e em seguida, levá-la até<br />

Terry, nossa maquiadora residente. Como esta é a sua<br />

primeira vez pagará vinte e cinco libras por uma sessão<br />

completa e obrigatória com ela, que te ensinará como mostrar<br />

o seu melhor. Se aprender a recriar esse visual amanhã, não<br />

precisará mais dela, caso contrário, terá que pagar<br />

novamente. Concorda com isso?<br />

Aceno.<br />

—Depois de Terry vou apresentá-la à nossa costureira,<br />

Donna. Ela pode fazer uma roupa para atender a fantasia de<br />

qualquer homem e é um gênio absoluto com velcro. Os<br />

vestidos foram projetados para destacar bem os seios ou a<br />

bunda.<br />

Deus!


Brianna ri.<br />

—Acho que receberá boas gorjetas. Os apostadores<br />

geralmente ficam tão impressionados e entretidos que darão<br />

novas gorjetas apenas para que repita a apresentação. E se<br />

encontrar uma roupa de "sorte" que te faça ganhar um monte<br />

de dinheiro, poderá pedi-la para fazer uma cópia.<br />

—Ok —concordo, então ela abre a porta e começamos o<br />

passeio. O lugar é enorme. O restaurante e o salão ficam lá<br />

embaixo e o clube na parte de cima. Ao final sou apresentada<br />

a Josh, que tem pelo menos 1,98 m de altura, olhos<br />

pequenos, a cabeça raspada e um pescoço mais grosso do<br />

que a minha cintura. Ele acena a cabeça em saudação.<br />

Depois de conhecê-lo sou levada a uma pequena sala<br />

onde encontro com Terry. Após as apresentações Brianna se<br />

vai dizendo que enviará Donna aqui para me ver.<br />

—Sente-se —Terry convida alegremente. Está na casa<br />

dos trinta anos e é bem tagarela. Fala que tenho um olhar<br />

muito diferente e que eu deveria brincar com isso. Primeiro<br />

faz o meu cabelo, um penteando para trás a partir do topo da<br />

minha cabeça endurecendo-o com spray, antes de pentear a<br />

parte da frente para trás, tornando-o alto e grande. Ela é<br />

muito precisa e certeira no que faz.<br />

Eu a assisto no espelho enquanto rápida e habilmente<br />

aplica uma camada de base, usando um tom mais escuro<br />

para enfatizar minhas bochechas, e dá ao meu queixo um<br />

visual mais pontudo. Em seguida, realça meus olhos com<br />

delineador azul salientando sua inclinação e destacando sua


cor, e cola cílios postiços. É uma surpresa como os sinto<br />

estranhos e pesados. Com um bastão, ela passa o pó de<br />

glitter das pontas.<br />

—Estamos quase lá —diz, pintando meus lábios de rosa.<br />

Como toque final, põe uma pinta de beleza em uma<br />

bochecha.<br />

—Agora o toque mágico. Temos aqui uma menina<br />

chinesa chamada Jade, que tem um ar misterioso, mas você<br />

pode se tornar conhecida como... —pega uma flor de plástico<br />

de sua caixa e prende atrás da minha orelha —A menina com<br />

a flor.<br />

Vejo minha transformação. A ideia é sedutora e<br />

concordo que a imagem de “a menina com a flor" é pura e<br />

poética, mas...<br />

—Olha, Terry, não quero te insultar ou qualquer coisa,<br />

mas você não acha que é tudo um pouco demais? Pareço um<br />

travesti.<br />

Terry cobre a boca e gargalhada.<br />

—Não se preocupe. As luzes no palco são muito<br />

brilhantes e depois é muito fraca nas sombras. Você será a<br />

fantasia perfeita em ambos os tipos de iluminação —diz,<br />

desligando as luzes brilhantes que circundam o espelho. E de<br />

repente no escuro há esta criatura da fantasia. Olho-a<br />

admirada quase sem acreditar. Aquela sou eu mesma?<br />

Alguns glitter caem dos meus cílios deslumbrantes em<br />

minhas bochechas e elas brilham com o pó mágico.<br />

—Vê? —diz alegremente.


—Sim, entendo agora —concordo com um sorriso.<br />

Ela muda as luzes novamente.<br />

Enquanto Terry arruma meu cabelo em volta dos meus<br />

ombros, Donna entra. Seu cabelo estava puxado para trás em<br />

um coque bagunçado e parece uma dona de casa apressada,<br />

mas sua voz é baixa e melodiosa.<br />

—Bem, querida, que tipo de roupa você gostaria de<br />

vestir? Poderia te dar um belo vestido longo com um decote<br />

mandarim 13 . Algumas das outras meninas usam e funciona<br />

muito bem se você tiver a fenda indo da direita até a virilha.<br />

Lembro dos belos cheongsams 14 de seda da minha avó<br />

com suas fendas laterais recatadas, de repente sinto tanto<br />

sua falta que fico sem fala e apenas aceno.<br />

—Que cor?<br />

—A que você achar melhor.<br />

—Ou azul para combinar com seus olhos ou vermelho<br />

escuro para chamar a atenção.<br />

—Vermelho escuro então.<br />

Já fantasiada vou aos vestiários. É como se tivesse<br />

acidentalmente pisado nos bastidores de um concurso de<br />

Miss Universo. Incrivelmente lindas garotas de todas as raças<br />

falando ao mesmo tempo e em diferentes estágios de nudez.<br />

13<br />

“vestido longo”.<br />

14 O cheongsam (ou qipao) é um vestido clássico da China, o nome significa literalmente


Com toda a loucura de cremes de barbear, absorventes<br />

internos, lantejoulas, paetês e casacos de penas, localizo a<br />

menina negra que se tornou padrões geométricos no escuro.<br />

Imediatamente sinto-me solidária, há algo sobre ela que<br />

realmente gosto. Mesmo na nossa audição a reconheci como<br />

uma daquelas pessoas diretas, que mostra quem é. Vou até<br />

ela, que está sentada na frente de um espelho aplicando sua<br />

maquiagem.<br />

—Ei, lembra de mim?<br />

Olha-me com frieza através do espelho.<br />

—Claro que lembro. Como estão os joelhos?<br />

—Bem. Eu sou Jewel. Qual o seu nome?<br />

diz:<br />

Ela cola cuidadosamente uma tira de cílios postiços e<br />

—Melanie.<br />

—Em grego antigo significa "a menina negra".<br />

Olha-me pelo espelho, um olho extravagantemente<br />

maquiado, o outro estranhamente nu. A frieza desaparece, já<br />

que ficou tão impressionada quanto eu queria que estivesse.<br />

—Onde você aprendeu isso?<br />

Não direi. —Quando era mais jovem me interessei por<br />

mitologia grega.


—E então se tornou uma stripper 15 —sua voz é um<br />

desafio.<br />

—Sim. Problemas acontecem.<br />

—Hmmm...<br />

—Olha, estou prestes a ser expulsa do apartamento que<br />

divido, sabe de qualquer lugar onde eu possa morar mesmo<br />

que temporariamente?<br />

Ela balança a cabeça.<br />

—Não.<br />

—Ok. Tenho certeza que encontrarei alguma coisa —<br />

digo encolhendo os ombros.<br />

Quando estou saindo Melanie fala:<br />

—Minha colega de apartamento se mudará em duas<br />

semanas, mas se quiser pode ficar no sofá até lá e por<br />

enquanto, contribui apenas com as contas.<br />

Sorrio. Muito melhor do que qualquer coisa que poderia<br />

ter esperado. Viro-me para trás lentamente.<br />

—Isso seria fantástico. Obrigada.<br />

—Duzentas libras por semana, além das contas depois<br />

que ela for.<br />

—Parece perfeito.<br />

15 Stripper ou dançarina exótica é uma pessoa cuja ocupação envolve a execução de striptease.


Três<br />

Jake<br />

A flor atrás da orelha é uma surpresa. Uma grande<br />

orquídea de plástico. É ao mesmo tempo ousado e inocente.<br />

Algo que uma criança ou uma menina da ilha faria. Ela usa<br />

um vestido vermelho sem mangas, com um corte baixo com<br />

decote em V e sem sutiã. Observo como o tecido contorna<br />

seus seios flexíveis. Sinto um comichão nas mãos ao pensar<br />

em moldá-los, sentir seu peso, espremê-los, brincar com eles,<br />

arrastar a minha língua descontroladamente pelos bicos ....<br />

Mordê-los.<br />

A luxúria sacode o meu sangue, endurecendo e<br />

engrossando meu pau com o desejo insatisfeito. Porra! Eu a<br />

quero como nunca quis outra. Desejo-a intensamente. A<br />

partir do momento em que nós vimos fui consumido por uma<br />

espécie de loucura. Continuo pensando em meus dedos<br />

apertando seus cabelos, lambendo a barriga lisa e plana, os


vincos perfumados entre suas coxas, passando os lábios em<br />

torno de sua boceta e sentindo seu gozo em minha boca.<br />

É uma loucura.<br />

Mesmo agora, percebo que a persigo. Assistindo das<br />

sombras como se eu fosse algum animal atrás da presa, mas<br />

não consigo parar. O desejo de possuí-la é mais forte, maior<br />

do que o de simplesmente ganhar um monte de dinheiro e<br />

terminar meus dias entre as pernas de mulheres que não são<br />

minhas. Pensava que não teria da vida nada mais doce do<br />

que isso.<br />

Despejo na garganta o resto do meu uísque, o líquido<br />

frio passa queimando.<br />

Com ela é diferente. Não quero fazer sexo escondido,<br />

quero me casar, lutar com ela no chão e comê-la tão<br />

selvagemente que revidará arranhando minhas costas. Quero<br />

forçá-la a abrir suas coxas e possuí-la, querendo ou não.<br />

Minha boca seca e a luxúria maldita me corrói. O efeito<br />

que esta mulher tem sobre mim é indescritível. Devo tê-la ou<br />

ficarei louco com tanta vontade, com o desejo de sentir o<br />

aroma e o sabor de sua pele.<br />

Nunca paguei por uma dança antes, mas estou prestes<br />

a isso, porra.<br />

Levanto minha mão para sinalizar a uma garçonete.<br />

Duas notam e ansiosamente correm em minha direção,<br />

cientes uma da outra, mas determinadas a chegar a mim em<br />

primeiro lugar. Uma vez já me senti lisonjeado com as<br />

pessoas se jogando para me agradar, mas agora me tornei


cínico. Eu os desprezo por serem tão fracos e apegados. Uma<br />

delas quase me alcança e sorri amplamente, triunfante. O<br />

prazer de servir Jake Éden. Ela sabe que a sua gorjeta será<br />

astronômica.<br />

Atrás dela vejo a mulher tranquila, mas que me deixa<br />

louco. Está de pé no bar, tão delicada, quase etérea e ainda<br />

assim sei que é cheia de segredos e fogo. Há um tumulto ao<br />

seu redor, mas ela parece distante, totalmente perdida em<br />

seus próprios pensamentos. Por um tempo parece segura,<br />

trancada em uma torre de marfim, à espera de seu príncipe<br />

para resgatá-la.<br />

A garçonete está a dois passos de mim quando o meu<br />

sangue começa a ferver de raiva.<br />

Oh! Porra, você não é um cara ciumento!<br />

Lily<br />

—Ei, Lily.<br />

Viro-me cautelosamente, assustada com o uso do meu<br />

nome neste lugar. Um homem está encostado no bar, com<br />

um pequeno sorriso em seus lábios. Olho automaticamente


para o seu rosto e corpo. Deus! Estes homens Éden! Porra,<br />

eles são magníficos!<br />

Relaxo, descansando as costas contra a barra e sorrio.<br />

Ele tem belos olhos. Impossível dizer qual a cor nestas luzes,<br />

mas, provavelmente, verde ou azul.<br />

—Olá, Sr. Éden.<br />

—Shane —corrige suavemente.<br />

Sorrio misteriosamente. Shane é o irmão mais novo de<br />

Jake e proprietário do clube, mas ao contrário de seu irmão,<br />

que é distante e evasivo, ele é querido por todos. É tudo o que<br />

você desejaria em um homem. Parece uma estrela de cinema,<br />

encantador, com boas maneiras, dá a impressão de ser<br />

verdadeiramente agradável. Não é exatamente o tipo de<br />

homem que você se orgulharia em apresentar aos seus pais,<br />

mas deixará todas as suas amigas verdes de inveja. O tipo<br />

que te convenceria facilmente a fazer tudo o que ele quisesse.<br />

Já o vi por aí, mas esta é a primeira vez que se dignou a falar<br />

comigo.<br />

—Quer ir a uma festa? —pergunta com um sorriso<br />

brincalhão e preguiçoso em seus lábios. Uau! Realmente<br />

aperfeiçoou sua técnica.<br />

—Claro. Se eu não estiver trabalhando.<br />

Ele se inclina para perto.<br />

—Você não está.<br />

Sorrio.<br />

—Gosto de um homem esperto.


Ele ri.<br />

—Tenho muitas virtudes que não estou usando,<br />

querida.<br />

Eu rio de volta. É fácil falar com ele.<br />

—Onde será a festa?<br />

—Meus irmãos.<br />

O DJ está tocando “Dangerous” de Sam Martin 16 . Inclino<br />

minha cabeça para cima e faço uma careta, um desobediente<br />

beicinho de “vem me pegar”. Sei que estou flertando<br />

escandalosamente, mas me sinto segura.<br />

—Qual irmão?<br />

—Jake.<br />

Meu coração palpita. Agora este definitivamente não é o<br />

tipo de homem que você quer apresentar aos seus pais ou<br />

que você pode flertar com segurança.<br />

—Ótimo —digo com um sorriso demorado.<br />

—Pego você em sua casa às sete amanhã?<br />

—Ok.<br />

—Tem alguma coisa bonita para vestir?<br />

—O que você acha? —digo, batendo meus cílios postiços<br />

flertando exageradamente. Juro que ele faz com que seja<br />

muito fácil.<br />

Pega sua carteira, tira um maço grosso de notas e coloca<br />

no bar.<br />

16 Samuel Denison “Sam” Martin é um cantor, compositor, músico e produtor americano.


—Compre algo impressionante.<br />

Olho para o dinheiro, para suas mãos, e depois de volta<br />

para ele, que me observa, hipnotizado. Droga, ele realmente<br />

gosta de mim.<br />

—Obrigada —digo em voz baixa.<br />

—Certo, vou tomar uma chuveirada. De água fria.<br />

—Eu ... humm ... estou ansiosa para amanhã.<br />

—Boa noite, Lily —diz saindo do bar com um sorriso<br />

iluminando seus olhos, e então se foi, deixando seu perfume<br />

caro no ar.<br />

Vejo-o partir antes de pegar o dinheiro e colocar na<br />

bolsa de cetim da minha roupa.<br />

A primeira coisa que penso quando acordo na manhã<br />

seguinte é em Jake. Ouço seu chamado como um eco em<br />

uma vasta sala. Rolo para um local fresco no lençol e me<br />

lembro do jeito que me encarou, naquela manhã da audição.<br />

A atração foi imediata, selvagem e elétrica. A promessa, a<br />

tentação do prazer e o orgasmo que só Jake Éden pode dar<br />

na luz difusa da manhã.<br />

Eu o encontrarei novamente hoje à noite, mas não<br />

deixarei esse desejo louco me distrair. Ele usa as mulheres


como outras pessoas usam lenços de papel e quando as<br />

descarta dá a mesma atenção que as outras dão aos lenços<br />

sujos. Não serei uma das suas conquistas.<br />

Quando cheguei em casa ontem à noite contei o dinheiro<br />

que Shane colocou no bar. Duas mil libras! Se irei a uma<br />

festa dada por um senhor do submundo do crime, então irei<br />

com alguma roupa realmente fabulosa.<br />

Depois do almoço, tomo um táxi em Londres e vou à<br />

Pandora, uma loja de designer de segunda mão em<br />

Knightsbridge 17 . Estou em pé na frente de um espelho<br />

experimentando um vestido de cocktail 18 com um decote de<br />

tule transparente. Seu preço é um absurdo, custa 1.800<br />

libras. Muito mais do que já paguei por um vestido, mas é<br />

maravilhoso com miçangas e cristais azuis que embelezam o<br />

tecido. A assistente, uma simpática menina sul americana,<br />

vai à seção de sapatos e volta com um par azul de salto alto.<br />

Calço-o.<br />

—Uau! —ela exclama dramaticamente.<br />

—É muito caro —falo preocupada.<br />

—É um terço do preço de quando era novo e<br />

provavelmente foi usado apenas uma vez.<br />

Viro para olhar o meu perfil. É um vestido<br />

verdadeiramente deslumbrante.<br />

17 Knightsbridge é um distrito residencial e de lojas exclusivas no oeste de Londres, Inglaterra<br />

18 Um cocktail é um vestido elegante, de material sofisticado cuja barra geralmente vai até os<br />

joelhos, usado por mulheres em festas e ocasiões formais que não exijam vestido de gala.


—Espere —diz, vai à uma vitrine, pega um par de<br />

brincos longos, entrega-me e eu ponho. São tão perfeitos que<br />

não há mais nada a fazer senão comprar todo o conjunto.<br />

—Você irá atordoá-lo —afirma sabiamente enquanto<br />

contava o dinheiro de Shane.<br />

Naquele momento, eu sabia. Não iria a esta festa para<br />

ficar com Shane, mas sim com Jake. Mesmo sendo um<br />

criminoso perigoso e um predador sexual, ele é o único para<br />

mim.<br />

Shane chega às sete em ponto vestindo um terno preto<br />

com uma camisa branca com babados. Está maravilhoso. À<br />

luz do dia, percebo que seus olhos são esplendidamente<br />

azuis. Ele me olha genuinamente admirado, franze os lábios e<br />

assobia.<br />

Rodopio.<br />

—Uau —diz apreciando.<br />

Noto o enorme ramo de flores e a caixa de chocolates<br />

artesanais cara que abraça.<br />

—São para mim? —pergunto.<br />

Ele me entrega.<br />

—Obrigada —agradeço. A verdade é que eu tinha<br />

quatorze anos na última vez em que um cara me trouxe<br />

alguma coisa. Andrew Manning comprou uma barra de Aero,<br />

meu chocolate favorito naquela época, e colocou em seu bolso<br />

de trás. Ainda me lembro de seu rosto vermelho enquanto<br />

tirava a coisa disforme derretida.


—Você parece bastante elegante —murmuro, admirando<br />

suas roupas finas.<br />

—Aposto que diz isso para todos os meninos —brinca,<br />

em voz baixa, gutural.<br />

Pode ser bobagem, mas cresci com meu pai ouvindo<br />

Meatloaf 19 no último volume. Por isso, é como se o<br />

conhecesse há anos. Sei que será meu aliado. Um amigo com<br />

o qual posso contar. Ele espera, enquanto coloco as flores em<br />

um vaso e, em seguida, deixamos o apartamento juntos.<br />

O clima é excepcionalmente quente então não levo um<br />

casaco. Há um reluzente Maserati Ghibli 20 preto estacionado.<br />

Shane destrava-o e me senta no banco do passageiro antes de<br />

ir para seu lado. Nunca estive em um carro tão caro antes. É<br />

o exemplo perfeito de luxo e tem um cheiro delicioso.<br />

—Onde fica a casa do seu irmão?<br />

—A festa é em Essex 21 , cerca de uma hora e meia de<br />

distância.<br />

A conversa é fácil e divertida.<br />

Nós deixamos a autoestrada e seguimos por estradas<br />

estreitas cercadas por florestas exuberantes e, finalmente,<br />

19 Meat Loaf é o nome artístico de Michael Lee Aday, cantor e ator que lidera uma banda de<br />

música, também com o nome de Meat Loaf, na qual é vocalista.<br />

20<br />

21 Essex é um condado da Inglaterra situado no sudeste do Reino Unido.


chegamos. Há paparazzi 22 do lado de fora, que imediatamente<br />

pegam suas câmeras na esperança de que sejamos famosos.<br />

—Por que os paparazzi estão aqui?<br />

—Esperam algumas celebridades hollywoodianas.<br />

—Quem?<br />

—Leonardo DiCaprio.<br />

—Sério?<br />

Os portões se abrem e nós entramos. A estrada leva à<br />

uma fabulosa mansão roxo-claro com seis colunas altas em<br />

estilo romano na entrada.<br />

—Uau! —exclamo —Isto pertence a seu irmão!<br />

—Legal, hein?<br />

—O que se tem que fazer para conseguir algo assim?<br />

—Isso e aquilo —diz facilmente, mas evasivo.<br />

Viro-me. —É um segredo?<br />

Ele me dá um breve olhar. —Não, mas algumas coisas<br />

são melhores ignorar.<br />

Bem, isso é alguma advertência. Limpo minha garganta.<br />

—Desculpe, não quero me intrometer.<br />

Ele sorri e o brilho volta aos seus olhos.<br />

—Está tudo bem, querida. Não sei o que você ouviu,<br />

mas Jake não é a pior coisa na cidade —diz. Dirigindo até um<br />

22 Paparazzo (no plural, paparazzi) é uma palavra derivada da língua italiana utilizada para<br />

designar os repórteres que fotografam famosos sem a sua autorização, expondo em público as suas<br />

atividades no seu cotidiano.


grande pátio, encontramos um lugar para estacionar entre<br />

todos os brinquedos do outro garoto muito nervoso. Shane<br />

para, abre a minha porta e saio do assento rebaixado tão<br />

elegantemente quanto o meu vestido curto permite.<br />

Contemplo a magnífica casa e fico nervosa.<br />

—Você está linda —Shane sussurra em meu ouvido.<br />

Olho-o com gratidão. Nós caminhamos até a casa,<br />

subimos a escadaria de pedra e dois sósias de Josh em trajes<br />

pretos estão nas portas altas.<br />

No interior, a festa acontece. Tem gente bonita em todos<br />

os lugares. Atravessamos o piso de mármore brilhante e<br />

entramos em uma grande sala cheia de belos móveis, música<br />

alta e pessoas glamorosas.<br />

Uma mulher loura muito bronzeada e escultural se<br />

aproxima de nós com uma bandeja de prata com taças de<br />

champanhe.<br />

—Boa noite —cumprimenta. —Gostariam de uma<br />

bebida?<br />

Shane pega duas taças, me dá uma e diz —Venha,<br />

deixe-me apresentá-la a Leo.<br />

Então conheço o tão charmoso e cortês Leo assim como<br />

ele estava no Grande Gatsby 23 , um pouco mais arredondado<br />

do que esperava, com sua acompanhante, uma bela sul<br />

americana muito alta. Várias pessoas parecem saber quem<br />

23 O Grande Gatsby é um romance escrito pelo autor americano F. Scott Fitzgerald. Publicado<br />

pela primeira vez em 10 de abril de 1925, teve várias adaptações para o cinema, sendo a última em<br />

2<strong>01</strong>3 estrelado por Leonardo DiCaprio e Carey Mulligan.


Shane é. Comprimento várias personalidades —uma<br />

celebridade da televisão, uma apresentadora de telejornal,<br />

um casal de primos de Shane, alguns decididamente<br />

sombrios, mas nem Dominic nem Jake parecem estar por<br />

aqui. Discretamente olho para meu relógio. São apenas dez<br />

horas.<br />

É somente quando Shane pede licença para ir ao<br />

banheiro e ando até as portas francesas para observar o<br />

grande gramado, cercado por jardins, que ouço, acima da<br />

música, a voz intensa e rouca do homem que faz meu sangue<br />

correr direto para meu clitóris.<br />

—Olá, Jewel.


Quatro<br />

Lily<br />

Por alguns segundos não faço<br />

nada. Fico parada saboreando a sensação que sua voz me<br />

causou, uma suave brisa levanta o cabelo do meu pescoço.<br />

Sei que quando me virar o mundo será diferente.<br />

Preparo-me e o enfrento lentamente, mesmo assim, não<br />

consigo respirar. Pisco e o encaro.<br />

Ele paira sobre mim em um terno esmeralda, emanando<br />

energia sexual. Seus olhos verdes, com nuances violeta e<br />

preto, lindos, brilham de desejo. Cada fibra do meu corpo<br />

vibra como se ele fosse um grande gerador e eu algum<br />

equipamento bobo que está absorvendo muita energia. E a<br />

pior parte: ele sabe disso.<br />

—Ou é Lily? —Seus lábios pecaminosos acariciam meu<br />

nome como um beijo.<br />

Meus braços ficam arrepiados.<br />

—É o que você quiser que seja.<br />

Percorre meu corpo com um olhar fascinado, ardente,<br />

perverso.<br />

—Eu quero que seja Lily.<br />

Dou de ombros.


—Ok —digo despreocupada.<br />

Pega uma bebida de uma bandeja que passava e me<br />

entrega. Nossos dedos se encostam e eu tremo visivelmente.<br />

Suas sobrancelhas levantam, mas seus olhos permanecem<br />

impenetráveis. Meu rosto esquenta com a tensão sexual.<br />

Aperto o copo com força. Droga. O que é isso? Cristo do céu.<br />

Porra, controle-se Lily. Não acredito como estou afetada por<br />

este homem. Preciso de um tempo para me equilibrar.<br />

Forço um sorriso em meus lábios.<br />

—Obrigada —digo educadamente e tento me afastar.<br />

Sua mão toca meu braço, eu reajo e a empurro.<br />

—Não temos uma política de “não toque” nesta casa —<br />

observa calmamente.<br />

—Não acredito que fomos apresentados. Quem é você?<br />

Sua expressão é divertida, sabe que sei exatamente<br />

quem ele é.<br />

—Quem você quer que eu seja Lily? —Sua voz é<br />

preguiçosa como uma cobra mortal enrolada no sol. Um<br />

movimento errado...<br />

Um estranho calor e calafrios percorrem minhas veias.<br />

—O irmão de meu amante.<br />

A diversão desaparece de seus olhos substituída por um<br />

raio de fúria ardente. O réptil foi acordado abruptamente.<br />

Meu coração para, mas resisto à reação instintiva de<br />

recuar. Por alguns momentos, ou poderia ter sido milhares de


anos, nós nos olhamos fixamente, em seguida ele se vira e se<br />

vai rapidamente.<br />

Aperto a taça de champanhe com força e assisto a sua<br />

figura alta atravessar a multidão. Jack se destaca assim<br />

como um falcão em um bando de canários. Uma mulher em<br />

um sofisticado vestido de veludo marfim coloca a mão bem<br />

cuidada em sua manga. Ele para e inclina a cabeça para ela,<br />

que diz algo. Sua risada é emocionante. Fico extremamente<br />

irritada, com inveja, doente de ciúmes da puta com tesão.<br />

—Sentiu minha falta? —Shane pergunta no meu ouvido.<br />

Sinto-me aliviada ao ouvir sua voz. É como ter uma<br />

bebida forte em um dia frio. Sentindo-me protegida viro para<br />

ele.<br />

—Desesperadamente.<br />

—Quão desesperadamente? —dá um grande sorriso.<br />

—Você não quer saber.<br />

Ele ri.<br />

—Vamos. Quero que conheça o meu irmão. —Antes que<br />

eu possa protestar, segura meu cotovelo e me leva em direção<br />

ao seu irmão e à beleza no vestido marfim. Ela tem cabelo cor<br />

de café e vazios olhos prateados.<br />

—Jake, quero que conheça Lily.<br />

Ele se vira rigidamente para mim<br />

—Nós já nos conhecemos —diz secamente.<br />

—Oh! Quando?


—Momentos atrás. —Parece frio e indiferente.<br />

Shane me olha interrogativamente.<br />

—Você não me deu a chance de lhe dizer —digo<br />

debilmente.<br />

—Você não vai me apresentar, querido? —a mulher diz<br />

adoravelmente, enquanto desliza sua mão pela camisa preta<br />

dele, movendo o paletó. Ciúme queima em meu sangue. Olho<br />

para cima e seus olhos estão escuros e cuidadosamente<br />

sigilosos.<br />

—Andrea Mornington, Lily Hart —diz secamente,<br />

abraçando-a pela cintura.<br />

—Olá, Lily —Andrea diz, seus olhos precisos e diretos,<br />

como uma chave girando na fechadura, compreendem<br />

perfeitamente o que não foi falado.<br />

Forço um sorriso.<br />

—Por favor, desculpe-me, preciso encontrar um lavabo.<br />

—Enquanto me afasto a mão de Shane segura meu pulso. —<br />

Você está bem?<br />

Olho em seus olhos e percebo que está preocupado. Isso<br />

me aquece e me entristece.<br />

—Sim. Volto logo.<br />

Não tenho que olhar para seu irmão para saber que está<br />

me observando. Sinto isso como um punhal nas minhas<br />

costas ou um ato do destino.<br />

Não encontro o lavabo. Em vez disso desvio<br />

discretamente para uma sala próxima, que parece algum tipo


de salão. Tal como tudo na casa, é bonito. Não há ninguém,<br />

fecho a porta e inclino-me contra ela.<br />

A atração é tão inconveniente, tão absurda que nunca<br />

sequer considerei a possibilidade, mas ainda sinto. Eu o<br />

quero tanto que dói. Afasto-me da porta, coloco a minha taça<br />

de champanhe em uma mesa e vou até uma janela alta. Olho<br />

para a escuridão e só vejo meu reflexo fantasmagórico.<br />

Uma dúzia de pensamentos vêm e vão. Sei que deveria<br />

voltar para Shane, mas a parte de mim que odeia vê-los<br />

juntos é mais forte. Sou interrompida por um som na porta e<br />

me viro surpresa.<br />

Pelo amor de Deus! Uma roupa verde esmeralda e um<br />

anel de diamante em seu dedo mindinho! Deveria parecer<br />

ridículo, mas não é. Ele vem em minha direção —seguro,<br />

confiante, majestoso. Deslumbrante.<br />

Não me agrada muito sua expressão arrogante e<br />

autoritária. Seu olhar é agressivamente corajoso e viril, e<br />

percorre meu corpo.<br />

—Perdida?<br />

—Não, eu tentava ficar sozinha.<br />

Olha para baixo, parando sugestiva e intencionalmente<br />

nos meus seios, deixando-me mais confusa.<br />

—Positivamente de tirar o fôlego —murmura baixinho,<br />

mas com uma pitada de diversão sarcástica.<br />

—Insuportavelmente arrogante, não é?<br />

—Já me falaram isso —admite com um sorriso irônico.


—O que você quer? —pergunto. Percebo pânico na<br />

minha voz, que ressoa como um sino na grande sala, e<br />

descubro que não confio em mim mesma.<br />

Ele está na minha frente, suas maçãs do rosto coradas<br />

de desejo<br />

—Não é perfeitamente óbvio o que quero?<br />

—Não para mim.<br />

—Quero que fique longe do meu irmão.<br />

Coro, então rio ironicamente.<br />

—Você é um gângster. Não aja de modo superior e<br />

poderoso comigo.<br />

Ele sorri lentamente, seus olhos franzem com diversão.<br />

—Diga a palavra de novo.<br />

Eu pisco.<br />

—Que palavra?<br />

—Gângster.<br />

—Por quê?<br />

—Porque faz parecer tão sexy que quero me tornar um.<br />

—Devo acreditar que não é?<br />

Encolhe os ombros desinteressadamente, mas seus<br />

olhos tem um novo brilho.<br />

—Posso ser se você quiser que eu seja.<br />

De repente, me sinto tão nervosa que não consigo nem<br />

vê-lo. Olho para baixo.


—É isso o que você realmente quer... Lily? Um gângster?<br />

—É a última coisa...<br />

Ele se move, rápido.<br />

—Então, o que está fazendo brincando com meu irmão?<br />

—reclama e segurando meus braços me empurra rudemente<br />

contra a parede perto da janela.<br />

Faço o que fiz quando tinha nove anos e abri a porta da<br />

frente da casa da minha avó, e havia dois skinheads 24 que<br />

não estavam sorrindo. Um deles segurava um martelo. Não<br />

parei ou considerei. Simplesmente reagi.<br />

—Solte os dois alsacianos 25 , vovó —gritei.<br />

Por um segundo, as duas cabeças pesadamente<br />

tatuadas se entreolharam e então eles fugiram tão rápido que<br />

não houve tempo suficiente para dizer “pele”. Minha avó não<br />

tinha um cachorro.<br />

Mais uma vez deixo meu instinto me guiar.<br />

Surpreendo Jack agarrando seu rosto e beijando com<br />

força, mas ao contrário dos skinheads, o problema não<br />

fugirá.<br />

Sua boca se abre para a minha e o beijo queima meus<br />

lábios. Cambaleio e pego um punhado de seus cabelos<br />

escuros. Suas mãos seguram minha cintura como tiras de<br />

aço quente, forçando-me contra seu corpo duro, derreto,<br />

24 Chamados desta forma devido ao corte de cabelo, Skinhead (cabeça rapada) é uma<br />

expressão que descreve um grupo social, usada quase exclusivamente para se referir a indivíduos<br />

fascistas ou que pertencem a grupos neonazistas, apesar de nem todos os skinheads seguirem essas<br />

doutrinas.<br />

25 Relativo à Alsácia, região do Nordeste da França. Seus habitantes são de descendência alemã.


somos uma coisa só. Meu corpo se torna uma porra de um<br />

mingau, meus dedos dos pés se enrolam nos meus sapatos e<br />

minha calcinha encharca. Por aqueles poucos segundos paro<br />

de respirar!<br />

Então, sem aviso, afasta sua boca, segura meus braços<br />

com suas mãos fortes e me empurra de volta contra a parede<br />

fria. Seus olhos estão animalescos e selvagens, as pupilas tão<br />

grandes como estivesse correndo ou tivesse saído de um<br />

quarto escuro. Hipnotizada, observo-o. Nunca vi nada<br />

parecido, algo tão feroz e bonito. Ele respira profundamente.<br />

—Que porra é essa? —ele diz severamente.<br />

—Desculpe —falo tão friamente quanto posso. —Quando<br />

um homem empurra uma mulher contra uma parede<br />

normalmente quer violentá-la.<br />

Ele respira com dificuldade, ofegante exige<br />

—Fique para caralho longe do meu irmão.<br />

Sua voz é fria e ameaçadora, seu olhar assassino, mas<br />

sei que se eu tocar em suas calças caras seu pau estará<br />

grosso e duro.<br />

—Então, eu sou boa o suficiente para você, mas não<br />

para o seu irmão.<br />

Ele ri amargamente.<br />

—Não, você é boa o bastante para a cama de qualquer<br />

homem. O problema é que Shane irá querer se casar, e nós<br />

dois sabemos que você não é esse tipo.<br />

—O que o faz pensar que não me casaria com Shane?


Furioso ele reage e me puxa tão forte e rápido que<br />

suspiro chocada quando bato no seu corpo. Seu pênis<br />

pressiona a minha barriga.<br />

—Não brinque comigo, Jewel.<br />

Encaro-o desafiadoramente. Seus olhos brilham e um<br />

desejo violento endurece sua mandíbula.<br />

—Se Shane me quiser, ele me terá.<br />

Seus olhos brilham com raiva, mas fala lentamente<br />

—Oh, baby. Você não tem nem ideia, não é?<br />

—Está me ameaçando?<br />

—É um aviso.<br />

—O que fará, hmmm? —desafio.<br />

—Para começar, isso. —inclina sua cabeça e esmaga sua<br />

boca na minha. O beijo é possessivo e exigente, não é nada<br />

como o outro. Este é punição pura, está me marcando,<br />

colocando o selo de propriedade em mim. Viro minha cabeça<br />

e tento me afastar, preparando-me para dar uma forte<br />

joelhada em sua virilha, mas de repente o beijo muda e sou<br />

incapaz de resistir. Nunca experimentei algo assim. É<br />

perfeito. É quente, molhado e selvagem.<br />

Minha boca se abre e sua língua empurra,<br />

corajosamente, da mesma maneira que seu pênis entraria na<br />

minha boceta. Chupo-o e fico excitada, a parte de trás do<br />

meu pescoço se arrepia como se tivesse recebido um choque.<br />

Ele me levanta e me abaixa afastando minhas pernas, puxa<br />

meu vestido acima da minha bunda. Ouço o pequeno pedaço


de renda e cetim rasgando e então seu dedo desliza em meu<br />

núcleo. Lamento impotente em sua boca.<br />

—O que está acontecendo aqui? —Uma voz exige.<br />

Seus largos ombros bloqueiam minha visão de Shane,<br />

mas congelo horrorizada. Minha calcinha rasgada está caída<br />

no chão, e os dedos duros de Jake ainda estão dentro da<br />

minha boceta nua.<br />

Muito casualmente, Jake levanta a cabeça, tira os dedos<br />

de mim, e alisando o vestido sobre meus quadris vira-se para<br />

encarar o irmão, mantendo sua mão firme ao redor da minha<br />

cintura.<br />

—O que você acha, Shane? —pergunta friamente.<br />

Shane olha para mim, ferido.<br />

Tento sair do aperto de Jake, mas ele segura firme.<br />

—Sinto muito —sussurro.<br />

Ele sorri torcendo os lábios, e sei o que pensa. “Ele só<br />

vai te usar e te descartar”. Incapaz de olhar nos meus olhos,<br />

age dignamente. Nesse momento, vejo o homem incrível que é<br />

e o quanto deve ter gostado de mim antes disso. Queria sentir<br />

por ele o que sinto por Jake.<br />

Ele balança a cabeça e olha para fora pela janela.<br />

—Você a levará a salvo para casa.<br />

—Claro —responde.<br />

—Boa noite, então —diz e sai fechando a porta.


Jake me solta, mas continua me olhando. Sentindo-me<br />

estranhamente desamparada, me abraço.<br />

—Você sabia que ele estaria aqui, não é?<br />

—Pedi que viesse —diz com olhar agitado.<br />

Concordo com a cabeça lentamente. Caí em sua<br />

armadilha.<br />

—Foi uma coisa muito cruel que você fez.<br />

Sua voz é estranhamente suave, quase arrependido.<br />

—Eu avisei.<br />

—Ao seu irmão.<br />

—Ele vai sobreviver. Sabe que tenho as melhores<br />

intenções no coração. —Ignora insensivelmente, mas vejo o<br />

brilho de uma lealdade feroz para com seu irmão, sua família.<br />

Seu bando.<br />

—Por que acha que eu seria tão ruim?<br />

—Creio que provei o porquê alguns minutos atrás.<br />

—Você não me conhece.<br />

—Discordo, sei exatamente o que é.<br />

—Gostaria de ir para casa agora.<br />

—Ficará essa noite e pedirei ao meu motorista que a leve<br />

para casa amanhã.<br />

Fico boquiaberta.


—Acha que dormirei com você depois do que fez? Nem<br />

que fosse o último homem na Terra —declaro sem grande<br />

originalidade.<br />

Um sorriso lento e masculino divide seu rosto. Se era<br />

bonito antes agora está devastador. Observo-o. Jesus! Estou<br />

louca por ele.<br />

Ele estende a mão e toca meu rosto com as costas dos<br />

dedos. Estremeço e me afasto. Ele deixa cair à mão para o<br />

lado do seu corpo.<br />

— Não se iluda. Tenho um encontro esta noite.<br />

Claro, Andrea Mornington do vestido de veludo.<br />

Bastardo do caralho. Naquele momento, acho que o odeio.<br />

— Minha empregada Maria irá levá-la a um dos quartos<br />

de hóspedes. — Afasta-se de mim e anda para a porta, onde<br />

para. — Aproveitou a festa, não é? — Em seguida ele se foi.<br />

Toco a minha boca com espanto. Porra! Era um<br />

pesadelo em forma de sonho.


Cinco<br />

Lily<br />

Eu me mexo e me viro sem<br />

parar nos lençóis de seda da cama king-size, procurando um<br />

local fresco. O ar é agradável ainda, mas é o pensamento dele<br />

com ela que me deixa doente de ciúmes. Continuo pensando<br />

nos dois transando, nas estocadas lentas e firmes que dava.<br />

De repente, ouço o som de passos no corredor e ele para<br />

em frente à minha porta. Fico imóvel, só meu coração bate<br />

em meu peito e meus olhos estão fixos na maçaneta da porta.<br />

Ele não ousaria, não se atreveria, porra, a me procurar<br />

depois de ter estado com ela. Silêncio e então ele se vai.<br />

Sento, sentindo-me quente e corada.<br />

Ele não entrou!<br />

Enlouqueci por pensar em sua audácia, mas agora<br />

estou devastada pela decepção. É como uma dor física. Danese.<br />

Dane-se, Jake Éden. Levanto-me e corro para a porta<br />

grande de carvalho. Seguro a maçaneta e paro. Que porra<br />

você está fazendo? Cerro os punhos e aperto contra a minha<br />

boca.<br />

O que acontece comigo? Estou inquieta, sexualmente<br />

frustrada. O que ele tem que me deixa desesperada para


senti-lo dentro de mim? Encosto o ouvido na porta e ouço-o<br />

descer as escadas.<br />

Tiro minha mão da boca e tranco a porta. O metal dá<br />

um clique alto e fino. Sinto-me feliz por isso, controlei-me. Eu<br />

me afasto da porta, minhas mãos tremem de emoção. Uma<br />

luz do lado de fora me surpreende. É ele, acendeu as luzes de<br />

segurança. Corro para a janela e fico nas sombras, por trás<br />

das cortinas.<br />

Vejo-o andar pelo terraço em direção à beira da piscina,<br />

inquieto, com a graça mortal de um puma à espreita.<br />

Banhado pela luz branca, arranca seus sapatos, tira sua<br />

camiseta, seu jeans e com os polegares empurra sua cueca<br />

até o chão. Deveria parar de observá-lo e voltar para a cama,<br />

mas não posso. Estou fascinada por sua bunda musculosa<br />

iluminada pelo azul de néon da iluminação submersa.<br />

Ele sai de sua cueca e fica por um momento ali parado.<br />

Vejo os pelos de suas panturrilhas, em seguida, gloriosa e<br />

fabulosamente nu, vira um pouco em direção a minha janela<br />

e vejo seu pau longo e grosso. Ele olha para cima me<br />

procurando.<br />

Nós nos olhamos e é como um soco no estômago,<br />

doloroso. Não há nada que eu possa fazer a não ser ficar no<br />

meu esconderijo, sinto-me culpada, sem vergonha. Nós<br />

olhamos fixamente. Em seguida, ele se vira e mergulha. Por<br />

mais um tempo vejo-o nadar poderosamente pela água azul,<br />

então me afasto da janela.


Naquele momento percebo duas coisas. Primeira: o<br />

primitivismo absoluto do homem, e segunda: o fato de que<br />

não estou no comando, nunca estive. Minha cabeça se enche<br />

de fantasias sexuais. Suas mãos, sua língua, seu pênis,<br />

montando-me até eu gritar. Aperto firme minhas coxas.<br />

Durmo mal e acordo às cinco e meia da manhã. Está<br />

claro lá fora, mas abençoadamente fresco. Saio da cama,<br />

tomo um banho rápido e visto as roupas e sapatos que Maria<br />

me trouxe ontem à noite: uma lingerie pêssego, um agasalho<br />

azul e tênis branco, todos ainda com suas etiquetas. Fico<br />

espantada por ficarem perfeitos em mim. Ele deve ter<br />

mulheres aleatórias ficando inesperadamente o tempo todo,<br />

reflito amarga.<br />

A casa está silenciosa.<br />

Desço a grande escadaria e saio. Há muita neblina.<br />

Tudo parece muito Sherlock Holmes 26 , sorrio para mim<br />

mesma, atravesso o gramado e sigo em direção ao bosque.<br />

Um som como o de um trovão quebra o silêncio pacífico<br />

da manhã. Olho ao redor, assustada. Um homem sai da<br />

névoa montando sem sela um garanhão preto brilhante. Seu<br />

26 Sherlock Holmes é um personagem de ficção da literatura britânica criado pelo médico e<br />

escritor Sir Arthur Conan Doyle, onde Holmes é um investigador do final do século XIX.


cavalo é como ele — uma presença assustadora, olhar<br />

maligno. Um grande brutamontes, duro e inflexível. Estou<br />

impressionada pela forma como o animal e o homem estão<br />

tão misturados, tão em sintonia.<br />

Ele para ao meu lado. O garanhão bufa inquieto e seus<br />

olhos estão selvagens. Fico admirada com a visão do homem<br />

sobre esse grande garanhão negro. Na luz suave da manhã<br />

seu rosto é severo e vigilante.<br />

—Venha para um passeio comigo —ordena,<br />

completamente imóvel, sua expressão intensa observando<br />

cada detalhe em mim. Apesar do silêncio não há nenhuma<br />

dúvida sobre sua intenção. Naquele momento, parece que<br />

nada pode lhe atrapalhar.<br />

Abro minha boca, mas não falo. Balanço minha cabeça.<br />

Nunca andei a cavalo, muito menos num monstro negro<br />

brilhante como este.<br />

—Você não fala muito —observa e oferece sua mão,<br />

sabendo que interiormente clamo por ele.<br />

Fico atordoada por sua aparência e pelo que me faz<br />

sentir. Seguro seu braço. Sua mão enorme se fecha sobre a<br />

minha com força e me puxa tão de repente, que grito. Estou<br />

perigosamente desequilibrada atrás dele. O cavalo relincha<br />

com meu pânico. Com calma, Jake coloca a mão em seu<br />

pescoço, mantendo-a firme até que o animal se aquieta, e me<br />

equilibra sobre ele.<br />

—Coloque seus braços em volta de mim —diz.


Faço isso com prazer. Seu calor e cheiro me envolvem.<br />

Ouço as batidas do meu coração, alto, forte, rápido. Tento<br />

resistir ao desejo de colocar minha cabeça em suas costas<br />

rígidas.<br />

—Tudo bem? —pergunta, virando a cabeça para me<br />

olhar.<br />

—Sim.<br />

Ele estala sua língua e o cavalo galopa pelos campos.<br />

Não há sons, só o que fazemos: a respiração resfolegante do<br />

cavalo, os galhos estalando embaixo de nós. Nenhum dos<br />

dois fala. Há algo mágico sobre o nosso passeio.<br />

Jake faz com que o cavalo caminhe ao entrar no bosque.<br />

Aqui o ar é mais frio, denso, com aroma de verão, flores<br />

silvestres e trevo. Esquilos e pequenos animais correm na<br />

vegetação rasteira das árvores. Saindo do bosque chegamos<br />

em uma praia.<br />

—Uau —sussurro.<br />

—Segure-se firme —diz e faz o cavalo galopar ao longo<br />

da costa. Por alguns segundos estou chocada e com um<br />

pouco de medo, e então rio. As lágrimas provocadas pelo<br />

vento escorrem em meu rosto e meu cabelo voa. Abaixo de<br />

mim posso sentir o garanhão flexionando graciosamente<br />

enquanto corre com uma velocidade incrível.<br />

O homem difícil na minha frente, o cavalo debaixo de<br />

mim, a sensação fantástica de total liberdade: é magica<br />

antiga. Magia que só pode ser evocada quando todas as<br />

armadilhas da civilização foram arrancadas. O cavalo para.


Jake joga uma perna por cima dele e habilmente pula para o<br />

chão. Segura minha cintura, puxa-me para baixo e dá um<br />

tapinha no pescoço lustroso do cavalo, que foge de nós.<br />

Olho-o. —O cavalo...<br />

—Ficará bem.<br />

Percebo que ele está descalço. Ao contrário de todas as<br />

outras vezes em que o vi, veste uma camiseta velha rasgada e<br />

uma calça de veludo marrom desbotada. Pego meus sapatos.<br />

—Vamos lá —diz e caminhamos juntos, nossas mãos<br />

quase se tocando, mas não completamente. Não<br />

conversamos. Não há uma alma à vista. O mar molha nossos<br />

pés descalços. Acima de nossas cabeças uma gaivota solitária<br />

circunda o céu. Não posso explicar a sensação de paz do<br />

momento. Como se não existisse outra vida para mim,<br />

apenas essa, na qual não sou uma dançarina em um clube<br />

de cavalheiros e ele não é um gângster.<br />

Quero perguntar porque está compartilhando seu<br />

paraíso comigo, mas não consigo, talvez porque saiba que é<br />

temporário e palavras só irão estragar isso. Viro-me para<br />

olhá-lo e o encontro me observando. Seu cabelo está<br />

despenteado, as maçãs do rosto rígidas coradas e seus olhos<br />

brilhantes no sol da manhã.<br />

—O quê? —questiono.<br />

Ele balança a cabeça e assobia. O cavalo galopa em<br />

nossa direção, com a crina voando, parando em frente a<br />

Jake, que cuidadosamente passa a mão em sua cara e fala


em uma língua que não consigo entender. Talvez seja<br />

gaélico 27 .<br />

—O que você disse?<br />

—Estou te apresentando a ele. Nós, ciganos, sempre<br />

conversamos com nossos animais.<br />

—O que falou sobre mim?<br />

—Esse é o nosso segredo.<br />

Ele pega a minha mão, aproxima do cavalo, e sinto sua<br />

respiração quente e úmida na minha palma. Toco sua cara e<br />

vejo um surto de pânico em seus olhos. Ele raspa o casco no<br />

chão. Jake põe a mão nele, acalmando-o.<br />

—Qual o seu nome?<br />

—Thor.<br />

—Ele te ama —sussurro.<br />

—Eu o amo —diz simplesmente e beija o cavalo entre os<br />

olhos.<br />

Com um salto perfeito ele monta novamente, pega a<br />

minha mão e comigo firmemente sentada atrás dele<br />

retornamos. A viagem de volta parece muito rápida, e cedo<br />

demais estamos na entrada da casa. Ele desmonta e me<br />

ajuda a descer.<br />

Olho para seu rosto que já se transformou, tornando-se<br />

distante. Atentamente me recomenda.<br />

27 Línguas gaélicas são um grupo de línguas originadas pelos celtas que povoaram as Ilhas<br />

Britânicas; é um subgrupo das línguas célticas


—Tenho outros assuntos a tratar e não vou acompanhála<br />

no café da manhã. Depois Ian a levará de volta a Londres.<br />

Outros assuntos a tratar. De repente, me lembro da<br />

mulher que ele passou a noite e fico com ciúme. Dane-se ela.<br />

Danem-se os dois.<br />

—Obrigada —digo casualmente.<br />

Morro de vontade de olhar, mas não vou vê-lo galopar<br />

para longe.<br />

Dentro da casa, encontro Maria pairando pela sala de<br />

estar. Ela finge afofar algumas almofadas, mas devia estar na<br />

janela nos observando chegar.<br />

—Bom dia —diz animada —Bem, mocinha, o que<br />

gostaria para o café da manhã? Waffles, cereais, Inglês<br />

completo, continental ou algo diferente?<br />

—Continental soa bem.<br />

—Excelente. Servirei na sala de jantar em dez minutos.<br />

Ela se vai e ando até a janela. Que estranho é tudo isso.<br />

Eu nesta casa e em um cavalo com Jake Éden. Minutos<br />

depois vou para a sala de jantar, que é exatamente como o<br />

resto da casa: rica, esplêndida e sem vida.<br />

Como o meu croissant quente delicioso com montes de<br />

manteiga e geleia e bebo uma xícara de café fresco sozinha.<br />

Quando estou terminando Jake aparece na porta.<br />

Seu cabelo ainda está molhado do banho, veste camisa e<br />

calças pretas, uma gravata de seda branca e sapatos<br />

marrons. Lembro-me de novo do jeito que me olhou vindo


pela névoa, com seu animal. Selvagem e absolutamente lindo.<br />

Ele está segurando uma caixa.<br />

Eu fico olhando para ele, surpresa. Não esperava vê-lo<br />

novamente esta manhã. Tiro as migalhas de croissant de<br />

meus dedos e limpo no guardanapo no colo.<br />

—Tenho uma coisa. —Parece desajeitado, totalmente em<br />

desacordo com sua aparência habitual de macho arrogante.<br />

Fico em pé, a cadeira raspa no tapete. —Você me trouxe<br />

um presente —digo estupidamente.<br />

Ele vem e me entrega. Pego com cuidado, é uma caixa<br />

quadrada, 12 cm por 12 cm, embrulhada em papel cinza<br />

escuro com uma larga fita vermelha e parece cara.<br />

Desfaço a fita e rasgo o papel. Dentro de uma caixa de<br />

plástico transparente está um arranjo de orquídeas brancas.<br />

O caule está imerso em um pequeno tubo de plástico de água<br />

e preso a um pente-grampo.<br />

—Para o seu cabelo —diz em voz baixa. —Use-o amanhã<br />

à noite... para mim.<br />

Flores brancas. Lembro-me do poema: “Em algum lugar<br />

há beleza. Em algum lugar há liberdade”. Eu aceno devagar,<br />

meus olhos fixos nos dele, hipnotizada pelo que vejo. —Vai ao<br />

clube amanhã?<br />

—Sim. Espera por mim?<br />

Fico extremamente feliz e sorrio sonhadora.<br />

—Mais uma coisa. A senhorita Mornington não passou a<br />

noite aqui.


Seis<br />

Lily<br />

É uma noite tranquila no<br />

clube e me preocupo como será estranho ver Shane, mas ele<br />

não vem. Às duas da manhã, Melanie e eu pegamos um táxi e<br />

voltamos ao apartamento.<br />

—Estou com fome —digo indo até a geladeira. —Quer<br />

alguma coisa?<br />

—Pegue o sorvete —diz, jogando-se no sofá.<br />

—Chocolate ou baunilha?<br />

—Ambos.<br />

Levo duas taças de sorvete para a sala de estar e vejo<br />

Melanie retirar notas amassadas e úmidas de seu sutiã.<br />

—Uau! —chuto os sapatos e me enrolo no sofá em sua<br />

frente. —Pensei que tivéssemos que usar as fichas.<br />

—Temos, mas alguns caras querem que eu fique com<br />

todo o dinheiro. Sabem que perco vinte por cento e preferem<br />

que eu fique com tudo.<br />

—Brianna sabe disso?<br />

—Claro.


—Então, quanto dinheiro você ganha em uma noite? —<br />

pergunto, curiosa.<br />

—Cerca de mil libras em uma noite ruim e de três mil e<br />

quinhentas em uma boa.<br />

Arregalo meus olhos. —Três mil e quinhentas?<br />

—Por quê? Quanto faz? —ela me avalia com olhos<br />

entreabertos.<br />

—Depois de pagar a taxa da casa e outros custos, que<br />

foi cerca de trezentas libras, uma vez fiz setecentas.<br />

—De jeito nenhum —ela grita, claramente tão chocada<br />

quanto eu quando me disse quanto tirava em uma noite.<br />

—Por que é tão chocante?<br />

Ela balança a cabeça.<br />

—Droga, garota, se eu me parecesse com você faria<br />

cinco mil por turno. Isso é o que aquelas louras burras levam<br />

para casa a cada noite do caralho.<br />

—Sério?<br />

—Sim, realmente, e sabe o que mais? Se não começar a<br />

ganhar, pelo menos, umas quatro mil, em breve Brianna te<br />

chamará para uma conversa, e se o seu rendimento não<br />

melhorar após esse papo, será educadamente convidada a se<br />

retirar.<br />

—Porra —amaldiçoo. Não posso permitir que isso<br />

aconteça.


—O que acha? Você está tomando o lugar de uma<br />

menina que poderia ganhar milhares de libras para o clube.<br />

Somos os doces numa loja de guloseimas.<br />

Encaro-a estupidamente.<br />

—Olha, não é difícil. Invista em si mesma. Sabe quanto<br />

Jolene leva para casa?<br />

—Jolene? —Enrugo a testa e abano a cabeça. É a garota<br />

de pior aparência no clube, a que tem dentes salientes.<br />

Quando a conheci nos vestiários me surpreendi que Brianna<br />

a tivesse contratado.<br />

—Essa menina leva de seis a sete mil. Já ouvi dizer que<br />

fez dez mil com um dos seus frequentadores.<br />

Fico boquiaberta. —Dez mil libras?<br />

—Sim.<br />

—Em uma noite?<br />

—Sim. Deveria ver quando ela desconta no final do seu<br />

turno. É como se alguém batesse jackpot 28 na máquina de<br />

frutas num cassino em Vegas 29 .<br />

dinheiro?<br />

você.<br />

—Mas o que faz para levá-los a gastar todo esse<br />

—Para começar, não age toda altiva e poderosa como<br />

Abro minha boca para negar, mas Melanie estende a<br />

mão em aviso.<br />

28 Um jackpot é um prémio acumulado em máquinas de cassinos ou em sorteios de loterias.<br />

29 Las Vegas, em Nevada, Estados Unidos, é uma cidade muito conhecida em todo o mundo,<br />

principalmente pelos seus luxuosos cassinos, hotéis, feiras, eventos e convenções.


—Eu vi. Você senta com um cara e sua linguagem<br />

corporal está gritando: não quero estar aqui. Pergunto: que<br />

homem pagará uma garota que lhe diz claramente que não o<br />

quer?<br />

—Mas eles não são atraentes.<br />

—É verdade, mas… —Ela lambe a colher —Por que se<br />

tornou uma dançarina?<br />

—Para ganhar dinheiro.<br />

—Não ganhará nenhum com a sua atitude. Sabe o que<br />

Jolene faz? Ela senta ao lado deles e sussurra em seus<br />

ouvidos: “Estou aqui para ser qualquer coisa que queira que<br />

eu seja. Posso ser a mais suja, a mais proibida prostituta de<br />

suas fantasias. Diga-me, o que quer que eu seja? Fale<br />

sacanagem comigo”, e adivinha? Nunca a tocam, ela fala sujo,<br />

eles esvaziam suas carteiras e voltam para mais. Agora, isso é<br />

uma dançarina inteligente. Até convida outras garotas para a<br />

sala VIP para dançarem para seu cliente e paga-lhes por isso.<br />

A ideia me deixa tonta, muito triste.<br />

—Não entendo por que simplesmente não vão a um<br />

clube de prostituição.<br />

—Aha! —grita triunfante. —Por isso que a simples<br />

Jolene leva para casa dez mil e você traz trezentos. Porque<br />

você não entende o trabalho. A regra de “não tocar” significa<br />

que não há pressão para que o homem faça qualquer coisa<br />

sexual. É tudo sobre suas fantasias. Por algumas centenas de<br />

libras ele pode ser o cara dos seus sonhos, com lindas


garotas interessadas em tudo o que diz, rindo de suas piadas<br />

mais tolas.<br />

Ela se inclina para trás e tira suas botas, há mais notas<br />

suadas coladas em seus tornozelos. Quando descola e estica<br />

sobre a mesa vejo que algumas têm números de telefones<br />

rabiscados.<br />

—E há algo mais que deve entender. Dançar pode ser<br />

incrivelmente excitante e um ótimo afrodisíaco. Por que acha<br />

que as meninas usam absorventes internos, mesmo quando<br />

não estão em seu período?<br />

Arregalo os olhos.<br />

Ela apenas balança a cabeça sabiamente.<br />

—Quando a sua cinta liga começa a ficar recheada com<br />

notas de vinte e cinquenta, você sabe que não é apenas<br />

quente, mas é muito boa no que faz. Sempre os faço se<br />

sentarem com as pernas bem abertas para que possa vê-los<br />

tendo uma ereção. Isso me dá total controle da situação.<br />

Então, rolo meu corpo a milímetros de seus rostos para que<br />

sintam o calor que vem de mim.<br />

Ela coloca os pés sobre a mesa de café e contorce os<br />

dedos.<br />

—De propósito passo meu cabelo por seus rostos ou<br />

deixo escapar um longo suspiro perto de seus ouvidos.<br />

Normalmente eles respirarão pesadamente, o que significa<br />

que fiz um bom trabalho, mas às vezes eles se tornarão tão<br />

obcecados, tão paralisados que esquecerão de respirar e é<br />

quando sei. Estão prontos para a sala VIP.


Melanie me olha como se seduzir homens estranhos<br />

fosse a coisa mais simples do mundo.<br />

—Se conhecer um cara que esteja realmente satisfeito<br />

com seu serviço poderá até mesmo pedir uma gorjeta.<br />

—Uau! —Não pensei numa coisa dessas. —Não se<br />

sentirão roubados depois de pagarem todo esse dinheiro por<br />

uma dança?<br />

—Não pergunte, não continue. —Ela sorri. —Estes<br />

homens conhecem o jogo. Sabem onde estão e o que faço, e<br />

isso significa que se gasto o meu tempo tem que ser em troca<br />

de dinheiro. Exatamente como pagariam seu advogado, por<br />

hora. Não estou lá para me divertir, mas para ganhar<br />

dinheiro.<br />

—De fato —acrescenta - quanto mais rico e poderoso o<br />

homem for, mais atrevida e direta deve ser com ele. Eles a<br />

acharão divertida e é outra dica pra você. É ilegal somente se<br />

acharem que foram enganados. Eu me orgulho por nunca<br />

deixá-los sentir que jogaram dinheiro fora.<br />

Penso nela pendurada no topo do poste dançando ao<br />

som da música eletrônica de David Guetta 30 e uma voz<br />

gritando: "Deixe-me ver suas mãos porra", enquanto<br />

escorrega por ele. E quando a voz masculina pergunta<br />

novamente: "Uma festa sem mim?", as luzes acendem e o<br />

clube soa com linhas da canção, "Pode ser de qualquer um",<br />

30 Pierre David Guetta, conhecido profissionalmente como David Guetta é um músico francês,<br />

atuando no gênero de música eletrônica, sendo produtor musical e DJ.


mas não é de ninguém. Ela é tão bonita quanto Lupita Ny 31<br />

no anúncio da Lancôme 32 e é sempre muito aplaudida após<br />

seu show.<br />

—Sei que é muito boa no que faz —digo sinceramente.<br />

—Isso mesmo. Não mostro apenas um par de peitos,<br />

dou um show que vai enlouquecê-los. E se um cliente me<br />

trata com desprezo, e alguns deles entram lá só para fazer<br />

isso, desprezar uma stripper negra, achando que devo me<br />

sentir desprezível, no dia seguinte uso o dinheiro para<br />

comprar algo que vai fazer me sentir bem, e está será a<br />

minha vingança.<br />

Melanie boceja.<br />

—Obrigada pelos conselhos —agradeço. Ela está<br />

absolutamente certa. É melhor eu descer do meu pedestal ou<br />

esquecer a dança completamente, e desde que deixar o Éden<br />

não é uma opção, tenho que fazer as coisas de maneira muito<br />

diferente a partir de agora.<br />

31 Lupita Amondi Nyong'o é uma atriz e cineasta mexicano-queniana. Ela nasceu no México e foi<br />

criada no Quênia (seus pais são quenianos). Foi a primeira atriz do seu país a ser indicada e a vencer um<br />

Óscar de melhor atriz coadjuvante.<br />

32 Lancôme ou Lancôme Paris é uma marca Francesa de cosméticos de propriedade da L'Oréal,<br />

tendo perfumes, cuidados com a pele e maquiagem como seus principais produtos.


Sete<br />

Lily<br />

O clube tem um ar de carnaval hoje. Homens jogando<br />

dinheiro para o ar como se fosse confete, champanhe fluindo<br />

como se fosse de graça, meninas usando lindos vestidos para<br />

a hora do show, em seguida, o cabaré começa e os travestis<br />

da Tailândia animam o palco. Eles são ousados e talentosos.<br />

Fico nos bastidores e ouço o DJ anunciar o meu nome.<br />

Ando até a porta lembrando-me de Ann, minha instrutora,<br />

dizendo-me: “Quando você está no palco uma varinha, o<br />

poste, te torna uma tigresa. Faça contato visual com os<br />

apostadores, mantenha seus olhares por um longo tempo.<br />

Faça-os pensar que você os quer, faça-os se contorcer em<br />

seus assentos. Faça-os sentir o seu poder, assim, quando sua<br />

cena terminar e andar em direção a eles, saberão que é hora<br />

de abrir suas carteiras.”


Na entrada do palco, faço uma pose enquanto observo<br />

na escuridão a plateia masculina. As luzes estão quentes e<br />

brilhantes nos meus olhos, mas o vejo imediatamente. Ele se<br />

destaca, o único homem que não parece estar à procura de<br />

uma experiência excitante. Sua pose é descontraída, com os<br />

joelhos afastados, uma mão em uma coxa e outra segurando<br />

um copo de líquido âmbar, mas me olha direta e<br />

intensamente, sem sorrir, furioso.<br />

Com que porra ele está irritado?<br />

Congelo e quase perco minha autoconfiança. O palco se<br />

enche com uma doce fumaça branca e uma luz<br />

estroboscópica azul me corta ao meio. Então a música<br />

começa, sinto a energia sexual da batida, do tipo que Melanie<br />

usa em suas apresentações, e penso: dane-se Jake Éden. Não<br />

fiz nada de errado.<br />

Ignoro totalmente que está apoiado no palco. Ouço<br />

assobios e vaias de uma turma de despedida de solteiro<br />

sentada à direita, são doze rapazes e fico feliz por eles.<br />

Endireito minha coluna. Vou fazer a melhor apresentação da<br />

minha vida e levar seu dinheiro. Meu tempo tem que ser<br />

pago.<br />

Concentro-me na música, deixo-a encher cada célula do<br />

meu corpo e danço em torno do poste me esfregando<br />

sinuosamente. Balanço o meu cabelo para trás, aperto forte o<br />

pole e voo perfeitamente ao seu redor parando de joelhos na<br />

frente do público. Os homens da despedida de solteiro<br />

assobiam muito, impressionados.


Procuro o noivo: trinta anos, ruivo, rosto agradável e<br />

tem um sinal de “L” em sua camisa. Dançarei para ele. É<br />

difícil explicar, mas é muito mais fácil dançar para alguém<br />

que você não gosta, é olhar em seus olhos e fingir. Então faço<br />

isso. Quanto mais o encaro, mais barulhentos e arruaceiros<br />

seus companheiros se tornam. Sou claramente um sucesso.<br />

É quase hora de tirar meu sutiã. Escalo o poste lenta e<br />

sedutoramente e eles gritam me encorajando. Concentro-me<br />

totalmente no noivo, seus olhos estão arregalados. Agarro o<br />

pole com minhas coxas, inclinando-me à direita para que<br />

possa ver à multidão enquanto estou de cabeça para baixo.<br />

Pendurada nesta posição expiro bem forte, meu sutiã se abre<br />

e voa. Os garotos ficam loucos.<br />

Distante nas sombras outro homem está assistindo.<br />

Meus olhos estão desprotegidos e a luz forte me faz piscar. Na<br />

sala cheia os clientes trombam com ele. Sinto como se todos<br />

os sons, os cheiros e o caos diminuíssem. Ele está imóvel<br />

como uma estátua. Por um momento estou suspensa no<br />

poste e presa em seu mundo e nele estou em apuros, fiz algo<br />

muito errado. De alguma forma traí Jake Éden.<br />

Em seguida, a gravidade age, me levanto e desço do<br />

poste. Abaixo para pegar meu sutiã no chão do palco e o<br />

noivo está de pé na beirada segurando uma nota de<br />

cinquenta. Nós nos olhamos, há fome nele, do tipo que<br />

Melanie falou. Sinto muito por sua noiva. Puxo minha meia e<br />

ele desliza minha primeira gorjeta. Encaro-o novamente, nos<br />

encontramos ao acaso e seguiremos nossos caminhos.


—Obrigada —digo soprando-lhe um beijo quando saio<br />

do palco. Vou aos bastidores e visto o cheongsam vermelho<br />

escuro com a fenda que vai até a minha virilha. Toco a<br />

orquídea que Jake me deu e é aí que entendo. Respiro fundo<br />

e saio sabendo exatamente o que lhe direi.<br />

Uma garçonete vem a mim.<br />

—Mesa vinte e três deixou um Amex 33 preto atrás do bar<br />

e disse que você é quente —sussurra.<br />

Leio a etiqueta com seu nome e digo:<br />

—Obrigada, Toni. Lembrarei de você mais tarde.<br />

—Sem problemas —pisca e segue em frente.<br />

Por um segundo penso em não ir... Não, estou<br />

trabalhando, preciso deste emprego. Toni teve o cuidado de<br />

me enviar um cliente e esperará sua parte. Farei isso rápido.<br />

Ando até lá. O cliente tem um sorriso que poderia<br />

iluminar uma árvore de natal.<br />

—Oi.<br />

—Estava ótima no palco —diz.<br />

—Obrigada. Gostaria de uma dança?<br />

—Claro, comprarei uma particular com você —sorri<br />

ainda mais.<br />

Droga, péssima hora! Meu primeiro grande esbanjador<br />

e estou com muita pressa. Do outro lado do clube posso<br />

sentir a raiva de Jake queimando minhas costas. Percebo<br />

33 Amex Black Card - O cartão American Express Black ou Centurion Card, é realmente preto,<br />

feito de titânio, estando disponível apenas por convite para uma seleta clientela.


agora que não deveria ter vindo, e sim passado a mesa a<br />

outra dançarina.<br />

Jake<br />

Que porra é essa! Não posso acreditar nisso. Além de<br />

ter que me sentar em uma sala cheia de homens com tesão<br />

olhando para seu corpo quase nu, agora o bastardo gordo<br />

está seguindo-a. Ela entrará em uma dessas salas VIPs e lhe<br />

dará uma dança privada. Cerro os dentes de tão frustrado<br />

que estou. Nunca quis me prender a mulher alguma, não<br />

importa quão sedutora fosse, mas dane-se. Não suporto nem<br />

pensar em qualquer outro homem em uma sala com ela,<br />

olhando-a.<br />

Ela é minha, só minha.<br />

De canto de olho vejo Brianna vindo em minha direção,<br />

sorrindo. Não sorrio de volta. Estou tão furioso que perco o<br />

controle. Levanto e vou até Lily e seu cliente. Brianna avalia a<br />

situação, para sorrindo e se apressa.<br />

Pego a mão de Lily. Sua primeira reação é interessante,<br />

é de pura repulsa, em seguida, nos encaramos e vejo um<br />

misto de alegria, luxúria e ira.<br />

O homem se vira para mim.


—Desculpe-me —diz solene, como se eu é que pisasse<br />

em sua propriedade. Recebi dinheiro de homens como ele<br />

antes. Sem os seus advogados extravagantes são uns<br />

chorões, patéticos, que desistem até de suas mães para evitar<br />

um arranhão.<br />

Felizmente para ele, Brianna chega naquele instante.<br />

Ela é tão suave que tenho que admirá-la.<br />

—Senhor Walsh —murmura. —Jewel tem uma<br />

emergência pessoal da qual precisa cuidar, mas encontrei<br />

duas beldades para dançarem para você. Obviamente, o<br />

champanhe é por conta da casa.<br />

O Sr. Walsh aceita com má vontade sem ter ideia do<br />

quão perto estava de apanhar. Brianna leva-o embora<br />

rapidamente.<br />

Escondendo meu ciúme olho para a pequena atrevida<br />

com frieza.<br />

—Acredito que esta dança é minha.<br />

—Sim, meu senhor —diz sarcástica.<br />

Ainda estou furioso, mas o cheiro dela paira sobre mim<br />

como uma nuvem doce de luxúria, estremecendo meu sangue<br />

quente, endurecendo rápido e dolorosamente meu pau.


Lily<br />

As paredes e o teto da sala VIP são espelhados. Está<br />

quase vazia: tem uma pequena e redonda mesa baixa, uma<br />

grande cadeira vermelha e dourada estofada, e outra preta<br />

muito menor que os dançarinos usam como apoio. Ele chuta<br />

a porta fechada, o calcanhar batendo na madeira, e fica ali,<br />

alto, orgulhoso. Alfa puro. Grande! Estou sozinha na sala VIP<br />

com um furioso gângster.<br />

Em uma voz perigosamente sedosa diz:<br />

—Será que você aproveitou isso?<br />

—O quê? —pergunto nervosa.<br />

—Provocando-me.<br />

—Não estava.<br />

—Você olhou bem nos meus olhos. Sabia que te<br />

esperava.<br />

Lambo meus lábios.<br />

—Este é o meu trabalho.<br />

Ele vai até a cadeira vermelha, senta, tira duas fichas<br />

azuis de sua jaqueta e coloca na mesa. São cem libras cada.<br />

Então me olha.<br />

Com uma voz que parece com o estalo de um chicote,<br />

exige:


—Agora tira.<br />

Sinto meu rosto queimar. Dançar para alguém que você<br />

gosta loucamente é totalmente diferente. A adrenalina é<br />

inegável, explode dentro de mim. Finalmente entendi porque<br />

as outras meninas usam absorventes internos o tempo todo.<br />

Encarando-o solto o meu vestido e deixo escorregar pelo<br />

meu corpo até os tornozelos. Ele olha meu corpo inteiro com<br />

desejo. Dos autofalantes ouço Snoop Dogg 34 : "Diga-me, baby,<br />

você está molhada? Eu só quero que você fique molhada”.<br />

Simplesmente perfeito.<br />

Jake<br />

Ela gira sua cabeça sedutoramente como um animal no<br />

cio e de propósito me mostra sua bunda. Vejo seu sexo pelo<br />

vestido de cetim, está inchado entre suas coxas abertas. Sei<br />

exatamente o que faz, mostrando o calor úmido e doce de seu<br />

centro. A vontade de chegar e tocar é alucinante. Porra!<br />

Ela move os quadris de um lado para o outro,<br />

lentamente, provocando, então empurra para trás até que<br />

34 Calvin Cordozar Broadus, Jr., conhecido pelos nomes artísticos Snoop Doggy Dogg, Snoop<br />

Dogg, Snoop Lion e Snoopzilla é um rapper, compositor, produtor musical e ator norte-americano.


está a centímetros do meu rosto. Posso sentir o cheiro de sua<br />

excitação, que antes estava misturado aos do ambiente, mas<br />

agora está bem na minha cara.<br />

Como um lobo farejando o ar, inspiro rápido, várias<br />

vezes. Ela vai para trás e meu nariz vai para frente, seguindo<br />

o intoxicante rastro de seu aroma. Suas mãos roçam<br />

levemente em suas costelas, passam pela pele acetinada<br />

acima dos seios e os segura arrebitados. Coloca uma perna<br />

sobre o encosto da cadeira e, em um hábil movimento, sentase<br />

na beirada do assento.<br />

Mantendo seu corpo arqueado e as pernas retas, ela<br />

abre suas coxas, fazendo um fabuloso V. A posição é obscena<br />

e fascinante. Ela é boa o suficiente para comer.<br />

Vejo a renda encharcada.<br />

Ela mantém a pose, encaro-a.<br />

—Quanto para empurrar a calcinha para o lado?<br />

Vejo algo em seus olhos, mas ela os fecha rapidamente.<br />

—Mil. —Sua voz é plana e fria.<br />

Naquele momento, ninguém mais no mundo existe. Só<br />

ela, eu e algo bruto e quente demais para tocar. Enfio a mão<br />

no bolso e tiro um punhado de fichas. Pode ter dois, talvez<br />

três mil lá. Ponho na mesa e deixo-as cair. Algumas atingem<br />

a superfície e rolam pelo chão.<br />

Lentamente, pega sua calcinha e puxa para um lado.<br />

Olho para baixo. Só Deus sabe quantas bocetas já vi em<br />

minha vida, mas desta vez perco o fôlego. Olho fixamente


para sua carne cor de rosa molhada e nessa posição parece<br />

que implora para ser preenchida, tomada, comida.<br />

Sedutoramente gotas de néctar pingam dela.<br />

Olho em seus olhos e ela desvia o olhar para minha<br />

virilha, para meu pau duro de tesão. Eu entendo que ela está<br />

zangada, pois mesmo nesta posição humilhante não pode<br />

lutar contra o convite sensual de seu próprio corpo.<br />

Sorri.<br />

—Quer mais alguma coisa?<br />

—O que mais está à venda? —Minha voz soa fria e<br />

distante, mas meu coração bate forte no meu peito, com<br />

medo de sua resposta, de que se transforme em nada mais do<br />

que apenas uma provocação para o meu pau. Aterrorizado de<br />

que se torne outra garota que eu uso e descarto.<br />

Vejo claramente um lampejo de ódio em seus olhos,<br />

muito mais forte que sua excitação. A violência disso me<br />

choca. Ela não fecha as pernas, não puxa o tecido sobre sua<br />

fenda aberta.<br />

—Já comprou tudo o que está à venda —diz<br />

calmamente.<br />

Meu coração dispara, animado, selvagem.<br />

—Cubra-se —ordeno bruscamente para esconder minha<br />

alegria.<br />

Ajeita sua calcinha e fica em pé.<br />

Tiro uma ficha preta do bolso do paletó. Não sabia que a<br />

usaria esta noite, mas estou imensamente aliviado e feliz com


isso. Ponho em cima da mesa e<br />

vejo seus olhos se arregalarem<br />

espantados.<br />

—Isto é para você se vestir e<br />

ir para casa agora.<br />

Oito<br />

Lily<br />

A porta se fecha suavemente atrás dele. Vou até a mesa<br />

e pego a ficha preta, que pesa o mesmo que todas as outras,<br />

mas, uau! Nunca pensei que veria uma destas. Doces dez mil<br />

libras! Pego todas as fichas da mesa, ponho na minha bolsa<br />

de cetim e recolho as que caíram no chão.<br />

Ponho meu vestido e vou à procura de Melanie para<br />

dizer que estou saindo cedo. Troco de roupa, vou ao caixa<br />

onde desconto tudo, exceto a ficha preta, e peço que o<br />

dinheiro seja colocado na minha conta bancária. Surpresa,<br />

vejo que há quase três mil libras.


Vou à recepção e peço a Toni para chamar um táxi, que<br />

chega em menos de cinco minutos. Steve, o porteiro, me<br />

acompanha. Isso é uma coisa que eles fazem, mas à medida<br />

que saímos, vemos o carro indo embora.<br />

—Ei! —Steve grita, logo fica em silêncio quando vê Jake<br />

vindo em nossa direção.<br />

—Boa noite, Sr. Éden —cumprimenta educadamente.<br />

Jake acena com a cabeça, mas não olha para ele.<br />

—Pensei que poderia muito bem te dar uma carona.<br />

Suspiro com a sua audácia.<br />

Steve recua.<br />

—Vou embora, então —diz, saindo muito rápido.<br />

—Como se atreve a dar a impressão de que voltarei com<br />

você? —esbravejo.<br />

—Não vai?<br />

—Não.<br />

—Você pode gozar na minha boca.<br />

Eu suspiro enojada.<br />

—Pelo amor de Deus!<br />

Ele dá de ombros.<br />

—Melhor, certamente, do que ter de ouvir todos aqueles<br />

homens dizendo que querem gozar na sua.<br />

Olho para o chão e vejo suas botas caras e polidas com<br />

um brilho espelhado. Lamento antes mesmo de dizer.


—Não vou lhe incomodar, obrigada.<br />

—Por que não, Lily?<br />

—A verdade?<br />

—Claro. —diz com aqueles olhos ardentes.<br />

Fico excitada. Jesus! Nunca senti isso por homem<br />

algum.<br />

—Não faço uma noite só.<br />

—O que lhe deu a impressão de que seria um caso de<br />

uma noite? —Seu olhar é curioso, interrogativo, fascinado.<br />

Meu coração acelera, com certeza sabe como me<br />

pressionar. Dá mais um passo para perto de mim, mas<br />

preciso que se esforce mais.<br />

—Quero ir a um encontro.<br />

Ele sorri, um olhar de felicidade genuína em seu rosto.<br />

—Um encontro? Comigo?<br />

Aceno. —Poderia ser divertido.<br />

—Sabia que ia gostar de você.<br />

Sorrio, sentindo-me protegida e preciosa.<br />

—Vamos lá —diz e me leva a um Porsche 918 Spyder 35<br />

branco.<br />

Não sei para onde iremos. Distante meu cérebro avisa<br />

que pode ser perigoso, mas a razão parece longe e sem<br />

35


importância, e me afasto dela. Digo a mim mesma para ser<br />

espontânea apenas uma vez. Por que não deveria ter esta<br />

noite? Sem pensar, sem consequências. Abrace, beije, sem<br />

regras, sem culpa, é só pegar e dar prazer. Só hoje à noite.<br />

Nunca irá além disso, não com um homem como ele, para<br />

quem as mulheres vêm e vão. Então, só farei isso uma vez.<br />

Entro e ele fecha a porta atrás de mim.<br />

—Carro legal.<br />

—Sim, eu gosto.<br />

Ele não dirige muito, logo para na frente de um bar<br />

deserto, com todas as janelas fechadas. Um jovem sai de uma<br />

porta escura, Jake joga-lhe as chaves do carro e coloca a mão<br />

na parte inferior das minhas costas.<br />

Olho para ele.<br />

—O lugar parece fechado.<br />

—É fechado para alguns e aberto a outros.<br />

A porta é aberta por dentro. Há um porteiro que acena<br />

respeitosamente para Jake e duas recepcionistas muito<br />

excitadas em cima dele. Passamos por uma abertura lateral e<br />

entramos em uma sala, que se parece com o interior de um<br />

bar. Tem cheiro de cerveja e chulé. Os bancos foram virados<br />

nas mesas prontos para a limpeza do chão na parte da<br />

manhã.<br />

—Que lugar é esse?<br />

—É uma casa de apostas.<br />

—O quê?


—Sim. Quando o bar fecha, as atividades reais começam<br />

nas salas dos fundos.<br />

—Uma operação de jogo ilegal?<br />

—Algo parecido. Sente-se —ele convida e sento em um<br />

dos bancos altos acolchoados.<br />

Ele vai atrás do bar.<br />

—Quer champanhe?<br />

Balanço minha cabeça.<br />

—Estou um pouco enjoada do cheiro dela.<br />

—O que prefere? —pergunta suavemente.<br />

—Uísque.<br />

Ele balança a cabeça, pega dois copos, colocando-os no<br />

bar, e uma garrafa em um movimento fácil.<br />

—Já trabalhei em um bar antes —conta movimentando<br />

a garrafa de uísque do jeito que barmen de boates famosas<br />

fazem, grandiosa e continuamente. Com um baque põe a<br />

garrafa no balcão.<br />

Levantamos nossos copos e bebemos sem brindar. Ele<br />

abaixa o seu, pega a garrafa enchendo-o novamente. Sua<br />

garganta pulsa, ele parece inquieto e nervoso.<br />

—Então, esta é a sua ideia de um encontro? —pergunto.<br />

Ele toma um grande gole.<br />

—Neste momento da noite? Sim.<br />

Realmente, tenho que parar de olhá-lo mesmo sendo<br />

lindo.


—Se não fosse tão tarde?<br />

Jake me olha com aqueles incríveis olhos verdes<br />

insondáveis e engole o resto do uísque.<br />

—Tentaria te impressionar te levando a um restaurante<br />

elegante —diz servindo-se de outra dose.<br />

Olho para o copo, vejo seu reflexo e tento me lembrar de<br />

como ele estava na praia, do calor do seu sorriso, mas não<br />

posso porque o homem na minha frente parece muito<br />

distante daquele outro. Esse aqui tem um ar de perigo e<br />

expectativa, que me arrepia. Sei exatamente que sob nossa<br />

conversa, aparentemente sem sentido, há um intenso desejo<br />

sexual.<br />

—Deve beber tanto? Ainda tem que me levar para casa<br />

—digo disfarçando minha consciência.<br />

—Não estou te deixando, Lily. Se te levar em algum<br />

lugar vou te comer. —Sorri, mas o sorriso não alcança seus<br />

olhos predatórios. Naquele momento, ele parece<br />

absurdamente sexy.<br />

Olho depressa para a minha bebida, enquanto aperto<br />

minhas coxas.<br />

Ele apoia seus cotovelos no balcão e se inclina para<br />

frente.<br />

—Então, me fale sobre você. —Olho para cima e lambo<br />

meus lábios. Ele olha minha boca. —Não há muito a dizer,<br />

realmente. Minha vida foi desperdiçada. —Pego meu copo e o<br />

esvazio. O álcool vai direto para minha cabeça.


Franzindo a testa, pega a garrafa e recarrega nossos<br />

copos.<br />

—De onde você é, Lily?<br />

—Sou uma garota fugitiva que não fez algo bom, ok?<br />

Ele não parecia nem um pouco afetado por todo o álcool<br />

que consumiu.<br />

—Fez isso muito bem.<br />

—Muitas pessoas não concordam com você.<br />

—Não importa o que qualquer um pensa. Fez bem.<br />

Termino minha bebida e coloco o copo na mesa com um<br />

baque.<br />

—Sou uma stripper, Jake.<br />

Ele bebe em um só gole, reabastece nossos copos e me<br />

empurra o meu.<br />

—Está tudo bem. Gângsteres e strippers combinam<br />

como torradas e geleia. Mantemos as mesmas horas, o<br />

homem dos impostos não ouve falar muito de nós ...<br />

Sorrio.<br />

—Está tentando me embebedar?<br />

—O que acha?<br />

—Sim.<br />

Ele balança a cabeça.<br />

—Então, o que há com todo esse uísque?


—Não tem que me acompanhar, estou tentando aliviar a<br />

vontade.<br />

Mantenho minha respiração estável.<br />

—Vontade de que?<br />

—Correndo o risco de parecer um compulsivo obsessivo<br />

idiota possessivo, a vontade de transar com você, é claro.<br />

Sinto o calor subindo em minhas bochechas.<br />

—Você é o tipo de cara sobre o qual toda mãe avisa a<br />

filha.<br />

—Será que a sua te avisou?<br />

De repente estou em areia movediça.<br />

—Não teve a chance.<br />

—Nunca quis voltar?<br />

—Não.<br />

—Tem irmãos ou irmãs?<br />

Aqui está a prova na qual Lily passa com louvor. Olho-o<br />

fixamente.<br />

—Era filha única. Podemos parar com as perguntas<br />

agora?<br />

Ele me olha com uma expressão ilegível, seus cílios<br />

longos e escuros.<br />

—Não sou realmente uma pessoa falante, só pensei que<br />

quisesse conversar.<br />

Desço do banco.


—Vamos voltar para a sua<br />

casa.<br />

Meu peito sobe e desce com a<br />

excitação que vejo em seus olhos.<br />

Ele contorna o bar, pega a minha<br />

mão e saímos. Como por magia o<br />

carro já está esperando lá fora, nós<br />

entramos e seguimos pelas ruas vazias.<br />

Nove<br />

Lily<br />

Paramos em uma casa, em Bloomsbury 36 . Ele desliga o<br />

carro, me olha e sinto desejo correr por meu corpo. Abro a<br />

porta do passageiro e saio. O ar da noite é deliciosamente<br />

36 Bloomsbury é uma área do centro de Londres, no sul do distrito de Camden. Foi<br />

transformado pela família Russell, nos séculos XVII e XVIII, numa elegante área residencial.


fresco. Ele vem ao meu lado, pega a minha mão e me puxa<br />

até um pequeno lance de degraus de pedra.<br />

Abre a porta, poderia até mesmo ter desligado algum<br />

alarme, mas a luxúria é tanta que a única coisa que percebo<br />

é seu abraço forte e seus lábios batendo nos meus. A<br />

sensação de ser dominada e tomada é tão grande que tremo<br />

violentamente.<br />

Ele se afasta.<br />

—Você está bem? —Seus olhos brilham como um<br />

homem possuído que mal consegue se controlar.<br />

Meu corpo esquenta, abro a boca, mas as palavras não<br />

saem. Concordo com a cabeça sem dizer nada.<br />

Por um segundo, ele me olha estranhamente, seu rosto<br />

iluminado pela luz da rua, e logo beija minha boca. Tenho<br />

uma vaga consciência das suas mãos duras deslizando pelas<br />

minhas costas e soltando meu sutiã. Lamento impotente,<br />

com um desejo imenso como se nunca tivesse feito sexo na<br />

vida. O ar frio toca minha pele e suas mãos quentes meus<br />

seios, endurecendo meus mamilos. Minha boca se agarra a<br />

sua, estou encharcada, quero seu pau dentro de mim. De<br />

repente, ele para de me beijar.<br />

—Mais —imploro com a voz rouca, como um viciado.<br />

Ele fica de joelhos e suas mãos quentes levantam<br />

rudemente a minha saia. Engancha seus dedos na minha<br />

calcinha, puxa para baixo, separa minhas coxas, com os<br />

dedos me abre e olha com fome minha boceta nua,<br />

escorregadia.


—Linda —ele respira. Sua voz é grossa com a luxúria.<br />

—Tão linda.<br />

Mergulha a cabeça e arrasta sua língua sobre minha<br />

fenda, dando voltas até meus sucos derramarem em sua<br />

boca. Seu intenso desejo de me possuir é muito mais erótico<br />

do que sexo. Ele reivindicou meu corpo como nenhum outro<br />

homem fez, bebe minha excitação como se fosse néctar, olha<br />

nos meus olhos vidrados, não precisamos de palavras. Inclina<br />

a cabeça e me devora esfomeado.<br />

Não há tempo para dizer que o quero dentro de mim.<br />

Sua língua dura lambe minhas dobras encharcadas e<br />

me leva ao limite rapidamente. Gozo com violência, gritando,<br />

meus dedos agarrando sua cabeça e esfregando sua boca em<br />

mim. Não é bonito, nem feminino, é animalesco, básico. É<br />

Jake me comendo com a língua e eu perdendo o controle por<br />

um homem pela primeira vez na minha vida.<br />

Outra primeira vez: não apenas gozo, eu apago. Sinto<br />

meu corpo caindo para trás e suas mãos fortes me pegando.<br />

—É seguro, Lily. Entregue-se.<br />

Gozo em sua boca como ele planejou e vou para um<br />

lugar onde não existimos, ninguém vive lá, só a felicidade.<br />

Quando volto ele está de pé me segurando firme. Sinto-me<br />

muito exposta para encará-lo, tento me afastar, mas ele me<br />

agarra apertado.<br />

—É a minha vez —exige com urgência, os lábios<br />

brilhando de comer a minha boceta.


De repente, me sinto excitada, não como se fosse uma<br />

obrigação, como se precisasse retribuir. Nem me sinto<br />

ressentida que a deliciosa calmaria após o meu orgasmo será<br />

interrompida. E certamente não senti o que sempre sinto, que<br />

tome um banho primeiro. Na verdade, o quero, cada<br />

pedacinho seu, totalmente sujo e bruto. Que ele tenha gosto<br />

de vinho envelhecido, amargo e sedutor. Sombrio como o<br />

gosto do perigo.<br />

Não vou dizer para não gozar na minha boca, como<br />

sempre fiz, quero que ele goze na minha garganta. Pela<br />

primeira vez não finjo que quero dar a um homem um<br />

boquete, quero lhe dar prazer. Fico de joelhos e abro a minha<br />

boca, que está molhada e faminta.<br />

Ouço sua respiração rápida quando alcanço seu cinto,<br />

atrapalhada com ele, tiro-o, abro o zíper e vejo seu pênis<br />

empurrando contra sua cueca. Seguro, sua pele é quente e<br />

sedosa, ponho seu pau grosso latejante para fora e ofego.<br />

Ele é fabulosamente tatuado.<br />

Fascinada puxo seus quadris e olho a obra de arte. A<br />

pele ao redor da cabeça maciça foi tatuada para se parecer<br />

com uma maçã, uma serpente preta e amarela abocanha a<br />

fruta, seu corpo contorna todo o pau carnudo até onde a<br />

cauda desaparece no ninho dos pelos pubianos.<br />

—É lindo para caralho!<br />

Com um tremor de expectativa o agarro pela base e abro<br />

bem minha boca, pronta para levar o homem, a cobra e a<br />

maçã vermelha entre meus lábios. Ele fecha os olhos e joga a


cabeça para trás em puro êxtase. Seu pênis incha ainda mais<br />

na minha boca, engasgo, deslizo para fora e passo minha<br />

língua ao redor da cabeça da cobra.<br />

Saboreio seu gosto e sinto meus próprios sucos<br />

escorrendo. De joelhos, chupo-o lentamente, uma estranha<br />

sensação de poder e orgulho me enche por lhe dar prazer.<br />

Mexo minha cabeça cada vez mais rápido até que ele não<br />

aguenta, agarra meu cabelo e come minha boca.<br />

Quando olha para baixo nossos olhos se prendem, algo<br />

antigo passa entre nós. Segura minha cabeça apertado contra<br />

sua virilha, dá um grito áspero e goza, líquido quente jorra na<br />

minha garganta. Ele empurra e mais sêmen salgado vem para<br />

mim. Segura minha cabeça no lugar e me observa sugá-lo até<br />

ficar limpo. Então, me puxa em pé e desliza a mão entre<br />

minhas pernas. Estou tão pronta e molhada, que gemo. Seu<br />

olhar é atento e inquieto. Estamos insatisfeitos, famintos.<br />

Jake pega a minha mão e vamos rápido para o andar de<br />

cima. Ele abre uma porta e vejo um quarto branco com um<br />

candelabro vermelho enorme e uma grande cama preta com<br />

roupa de cama branca. É fascinante e estranhamente sem<br />

alma.<br />

Quando tira sua camisa vejo duas coisas que eu não<br />

esperava: uma tatuagem de uma cruz sobre seu coração, que<br />

ao contrário daquela em seu pênis esta é mais íntima, e uma<br />

corrente feita de belos cortes de cristal vermelho em seu<br />

pescoço. É um acessório para uma mulher, mas não parece


estranho ou feminino em um<br />

homem que é todo musculoso e<br />

bronzeado, parece mais misterioso<br />

e masculino.<br />

Toco as suaves e brilhantes<br />

facetas.<br />

—pergunto admirada.<br />

—Por que está usando isso?<br />

—Porque eu gosto.<br />

De repente me assusto ao ver em seus olhos algo que o<br />

torna diferente, mais especial do que qualquer outro que me<br />

despiu ou pressionou seu corpo no meu. Este homem fez<br />

coisas ruins, mas decidiu que sou sua e só sua. Que serei<br />

sempre sua. Desistirá voluntariamente de sua vida por mim.<br />

Ele rasga minha blusa em um puxão cruel e arremessa<br />

em um canto da sala, minha saia desce para minhas coxas e<br />

perco o fôlego.<br />

O sexo fica furioso, incansável, brilhante. Nós<br />

transamos duro, rápido e obsceno, suor escorrendo de seus<br />

músculos e curvas, pingando na minha pele nua.<br />

Dez<br />

Lily


Sonhei com Luke essa noite. Ele está de costas para<br />

mim de pé em uma ponte em um país estrangeiro, talvez a<br />

China ou o Japão.<br />

—Venha! —Chamo.<br />

Ele se vira, me olha, mas não se move, então piso na<br />

ponte para ir até lá, mas instantaneamente seu rosto muda,<br />

parece aterrorizado e sacode sua cabeça. No meu sonho<br />

ignoro seu aviso e ponho o outro pé na ponte, para minha<br />

surpresa ele começa a se desintegrar, como uma estátua<br />

desabando em pedaços. Suas mãos caem. Dou mais um<br />

passo e seus quadris se partem, ficando só o toco de sua<br />

cintura. Quanto mais perto chego, mais ele se desintegra,<br />

mas mesmo horrorizada com a sua destruição sou incapaz de<br />

parar de me mover.<br />

Lágrimas escorrem pelo meu rosto, ainda assim eu<br />

ando. Sua cabeça tomba sobre seu peito, seu rosto se<br />

transforma em poeira e voa. Continuo andando. Quando<br />

finalmente o alcanço ele já virou um punhado de pó, que eu<br />

pego e como.<br />

Acordo nua, corada e agarrada a Jake. Ainda sinto o<br />

cheiro inebriante de nosso sexo selvagem. De repente, lembro<br />

do tempo em que eu fugia de pura raiva. Raiva contra o<br />

mundo que levou Luke para longe. Por alguns segundos não<br />

faço nada. Simplesmente fico deitada ouvindo as batidas do<br />

meu coração e sentindo o suor escorrendo pela minha pele.<br />

A janela está aberta soprando uma brisa suave.


Lentamente, viro meu rosto e olho para Jake dormindo o<br />

sono dos inocentes. Toco o lençol e ele desliza, deixando<br />

descoberto seu enorme ombro, mostrando a cruz<br />

grosseiramente tatuada em seu peito. Muito gentilmente, me<br />

viro e chego perto de seu rosto, sinto seu perfume em sua<br />

garganta.<br />

O desejo irradia em mim como o calor de uma noite de<br />

verão. Meus seios doem. Nunca pensei que sentiria essa doce<br />

dor por homem algum, muito menos por Jake Éden, o<br />

criminoso. Sobre o seu peito deslizo meus mamilos<br />

suavemente, estão tão duros que dói. Olho a sensual e<br />

relaxada curva de sua boca. Ele é delicioso. Inclino a cabeça<br />

para o homem adormecido e cruelmente mordo seu lábio<br />

inferior.<br />

Sua reação é chocante, precisa e imediata. Como um<br />

soldado treinado das forças especiais sob ataque, levanta as<br />

mãos, agarra meu pescoço e aperta. Abro minha boca<br />

suspirando assustada e solto seu lábio. Nós olhamos,<br />

respirando com dificuldade. Não há condenação, só desejo<br />

brilhando em seus olhos. Seu polegar acaricia minha<br />

garganta de uma forma sedosa e sexual. Excitação sussurra<br />

entre nós.<br />

Sem regras e sem culpa nos movemos um para o outro<br />

no mesmo instante. Ele enfia seus dois dedos profundamente<br />

em meu sexo latejante. Olho para sua mão desaparecendo em<br />

minha boceta e abro minhas coxas descaradamente.


—Farei isso ainda melhor para você —diz, girando seu<br />

polegar ao redor do meu clitóris e gemo de prazer. Dobro<br />

meus dedos enterrando-os no colchão, me segurando. É como<br />

se estivesse prestes a cair de uma grande altura.<br />

Seu polegar pressiona meu clitóris e meu sexo se contrai<br />

de desejo. De repente, ele acelera o toque. Tão incrivelmente<br />

rápido todo o meu corpo vibra como uma britadeira. O clímax<br />

chega sem aviso, fazendo meu corpo convulsionar.<br />

Ele me levanta pela cintura, me segura sobre seu pênis<br />

ereto e me puxa com força para baixo, esticando minha<br />

boceta inchada sobre seu eixo.<br />

—Me cavalgue —ordena.<br />

Empalada em seu grosso e duro pau coloco minhas<br />

mãos sobre os músculos tensos de seu estômago, as palmas<br />

queimam, e monto nele. Ele agarra minha bunda e separa as<br />

bochechas, estou ainda mais aberta quando levanta o quadril<br />

e mergulha dentro de mim.<br />

É um impulso de posse pura. Ele está me reivindicando<br />

como sua e apagando a lembrança de qualquer outro homem<br />

que esteve comigo. Deixo que me coma mais e mais forte,<br />

achatando as minhas coxas e empurrando meu sexo para ele<br />

até que é demais para suportar. Nossa luta é brutal, selvagem<br />

e antiga. Esta boceta encharcada é minha, o corpo dele me<br />

diz, e vou comê-la da maneira que eu quiser.<br />

Luto, me retorço, mas ele é muito mais forte, não há<br />

competição. Seu osso púbico continua a bater no meu clitóris<br />

e sinto-me começando a abrir. Minha descida sobre ele não é


mais lenta, mas frenética. Meus seios saltam<br />

descontroladamente.<br />

O clímax vem enquanto estou bem aberta e tomando<br />

cada centímetro de seu enorme pau. Enquanto ele libera seu<br />

gozo quente dentro de mim aperto descontroladamente em<br />

torno de sua carne. Estamos ofegantes. Descanso minha<br />

testa contra seu peito. Lentamente, ele levanta meu corpo e<br />

olhamos um para o outro.<br />

—Lily, por que você está tão assustada? —Sua voz é<br />

suave.<br />

—Não estou assustada.<br />

—Não?<br />

—Não. —Passo levemente minha unha sobre os cristais<br />

vermelhos. Ele pega meus dedos, que parecem tão pequenos<br />

dentro de sua grande mão.<br />

—Sou apenas imprudente —digo.<br />

sou.<br />

—Hmm ... Isso é o que eu seria, se eu não fosse o que eu<br />

—O que você é?<br />

—Sortudo. Tenho muita sorte, Lily —diz sonolento.<br />

Suas pálpebras vibram para baixo e vejo-o cair no sono<br />

enquanto ainda está dentro de mim. Levanto me afastando de<br />

seu corpo suavemente, para não acordá-lo. Deito-me ao seu<br />

lado, nossas peles não se tocam, mas ainda assim sinto o<br />

calor que vem em ondas de seu corpo. Não compreendo a<br />

ligação que tenho com este homem. Não entendo o jeito como


transamos, feito animais selvagens. Nunca agi assim com<br />

ninguém. Simplesmente não posso compreender o sentimento<br />

profundo que tenho por ele.<br />

Olho para a janela até que ela se ilumina.<br />

Levanto com muito cuidado, meu corpo está dolorido e<br />

meu sexo inchado, vou ao banheiro. Quando faço xixi arde<br />

como um louco. Ele deve ter me rasgado na noite passada.<br />

Fecho meus olhos e encosto minha testa contra os azulejos<br />

frios. Ele não usou proteção e também não pedi. Nunca fiz<br />

isso com ninguém, nem mesmo quando eu era adolescente.<br />

Sempre fui tão cuidadosa, tão cautelosa.<br />

Jogo água no meu rosto e volto para o quarto. Ele<br />

cheira a sexo. Muito calmamente pego minhas roupas do<br />

chão. Meu top está destruído, minha saia rasgada e faltando<br />

colchetes, mas ainda dá para usar. Pego uma camisa dele<br />

emprestada e enrolo as mangas, é muito grande, claro, mas<br />

terá que servir.<br />

Por alguns minutos paro perto dele e o observo dormir.<br />

Ele é deliciosamente musculoso. O desejo de acordá-lo e fazer<br />

sexo é tão forte que me obrigo a virar e sair. Andando na<br />

ponta dos pés desço as escadas e saio pela porta da frente.<br />

Do lado de fora o ar está fresco. Não tem ninguém na<br />

rua. Olho para o meu celular, são cinco e meia da manhã.<br />

Ando pelas ruas cegamente. Esta é uma parte boa de Londres<br />

e não há mendigos. Na verdade, não encontro com ninguém<br />

por uns bons dez minutos até que um homem de bicicleta<br />

passa por mim, mas não me vê. Olho a hora e são quase seis.


Finalmente acho uma cabine telefônica. Vejo se o<br />

telefone funciona, vou a uma pequena loja de esquina,<br />

compro uma barra de chocolate, consigo algumas moedas de<br />

troco e volto à cabine. São seis e quinze, ela já deve estar<br />

acordada. Coloco algumas moedas e disco.<br />

Uma mulher atende, e solto a respiração que estava<br />

segurando. Sua voz é afetuosa e familiar. Sinto as lágrimas<br />

caindo e pisco para secá-las.<br />

—Olá —ela diz novamente.<br />

—Oi, mãe —digo. Minha voz soa baixa e frágil. Não<br />

deveria ter negado sua existência. Não importa o motivo, não<br />

deveria ter feito isso.


Onze<br />

Jake<br />

Estaciono meu carro e fico lá<br />

sentado por um tempo. Meu coração está acelerado, sinto-me<br />

muito confuso e agitado. Preciso me acalmar. Saio do carro,<br />

tranco a porta e atravesso a rua. É um prédio velho no<br />

quarteirão em uma área de merda. Ela não deveria viver aqui.<br />

Faço uma nota mental para mudá-la para um lugar melhor<br />

nas próximas duas semanas. Vou até a porta e toco a<br />

campainha. Ela responde quase que imediatamente.<br />

—Sim?<br />

—Sou eu.<br />

Há uma pausa e, em seguida, o alarme soa. Empurro a<br />

porta e entro. As paredes são brancas, o piso é de concreto<br />

liso. É básico, mas limpo o suficiente. Seu apartamento fica<br />

no primeiro andar. Subo dois degraus de cada vez. Ela abre a<br />

porta antes que eu possa tocar a campainha. Seu rosto está<br />

sem maquiagem e sua boca parece inchada e vermelha. Ela<br />

está usando um velho roupão de flanela. Tem uma leve<br />

contusão em sua garganta e sinto um mal-estar, porque fui<br />

eu que fiz isso.<br />

—Melanie está dormindo —explica em voz baixa.


Estendo a mão para tocar a marca azulada em sua<br />

garganta e ela se afasta.<br />

—Entre —diz e vai para a sala de estar para disfarçar<br />

seu movimento involuntário de se afastar de mim.<br />

Sigo-a silenciosamente. A sala tem dois sofás e uma<br />

mesa de café com tampo de vidro, com uma lata de biscoitos<br />

em cima. Ela se senta na beirada de um deles. Não me sento.<br />

Muito nervoso, eu paro perto dela.<br />

—Você está bem?<br />

Ela balança a cabeça.<br />

—Por que não respondeu minhas ligações?<br />

Apenas dá de ombros, sem me olhar. Eu me agacho e<br />

olho diretamente em seus olhos.<br />

—Qual o problema?<br />

Vejo-a olhar para o meu lábio, que ainda está vermelho<br />

e inchado.<br />

—Acho que não devemos nos ver mais —sussurra com<br />

voz rouca.<br />

Cada célula do meu corpo rejeita esta afirmação, mas<br />

meu rosto permanece calmo, minha voz fria.<br />

—Por que não?<br />

—Porque me comporto como um animal quando<br />

estamos juntos.<br />

Pego suas mãos, ela tenta se afastar, mas não deixo.


—Nós vamos nos comportar como animais até não<br />

precisarmos mais —digo-lhe calmamente. É também a minha<br />

voz mais persuasiva.<br />

Ela me olha com aqueles olhos estranhamente belos.<br />

Deus! Só quero rasgar suas roupas desleixadas e tomá-la<br />

aqui mesmo neste sofá barato. Essa é a verdade. Não quero<br />

falar nem tranquilizá-la que tudo ficará bem. Quero transar<br />

com ela sem precisar de explicações ou motivos, porque<br />

quando estamos juntos perto perco todo o controle. Eu me<br />

torno um animal.<br />

—O amor não deve ser assim. Deve ser bonito.<br />

Não respondo, não a deixo perceber que<br />

inconscientemente chamou o que temos de amor, mas fico<br />

eufórico.<br />

—Vamos devagar então, passo a passo, nos conhecendo.<br />

Vamos sair para jantar hoje à noite —murmuro.<br />

—Não posso hoje à noite. Estou trabalhando. —Sua voz<br />

é tediosa e sem emoção.<br />

Sinto a bola quente de ciúme bater em meu estômago.<br />

Tento me controlar, mas não posso. Levanto e me afasto dela,<br />

irritado.<br />

—Não, você não vai para o trabalho hoje à noite.<br />

—Tenho que ir. Não posso deixar Brianna na mão hoje à<br />

noite nem amanhã. Podemos sair no dia seguinte.<br />

Ela não entendeu ainda.<br />

—Você não vai trabalhar no Éden novamente, Lily.


Ergue rápido a cabeça e se levanta.<br />

—O quê? Preciso desse trabalho.<br />

—Não posso deixar você tirar suas roupas para outros<br />

homens. Só o pensamento me mata.<br />

—Isso não é justo. Tenho dívidas para pagar.<br />

Vou até ela.<br />

—Que dívidas?<br />

Ela olha para mim.<br />

—Não quero que você pague minhas dívidas.<br />

—Que dívidas, Lily?<br />

—Isso é problema meu.<br />

—Tudo sobre você é meu problema também.<br />

—Não estou pronta para falar sobre isso. Deixe assim,<br />

por favor. É pessoal.<br />

Franzo minha testa para esta nova complicação. Em que<br />

porra ela estava envolvida? Não quero mostrar meu medo ou<br />

os pensamentos horríveis que passam pela minha cabeça.<br />

—Não quero minha mulher perseguida por cobradores<br />

—eu me oponho razoavelmente.<br />

—Por favor, Jake. Não insista. Tudo isso é muito cedo.<br />

Apenas me dê algum espaço, por favor.<br />

—Espaço? É isso que você quer de mim?<br />

Vejo o brilho de algo feroz em seus olhos. Não, ela não<br />

quer espaço. Ela quer rasgar minhas roupas também. Eu a


agarro pelos antebraços e a beijo. Seu lábio é doce, macio. O<br />

gosto dela me deixa louco. É como se a noite passada nunca<br />

tivesse acontecido, como se eu ainda não a tivesse possuído.<br />

O desejo ardente por ela me enfurece.<br />

Forço-a a abrir a boca, ela enrola a língua suave ao<br />

redor da minha e suga com força como se estivesse se<br />

alimentando de mim. Ela aperta a barriga no meu pau<br />

totalmente duro, querendo-o. Eu me perco nela.<br />

Há um som nas proximidades e com um suspiro ela se<br />

afasta violentamente de mim. Sinto como se uma parte<br />

minha fosse arrancada. Sua companheira de casa coloca uma<br />

mão para cima.<br />

—Não se preocupem comigo, vou para a cozinha.<br />

Olho de relance para ela antes voltar minha atenção<br />

para Lily, que segura a mão trêmula contra sua boca.<br />

—É melhor você ir —diz parecendo pálida, solitária e tão<br />

perturbada que tudo o que quero fazer é segurá-la em meus<br />

braços, mas sei que será a coisa errada a ser feita.<br />

—Pego você às sete hoje à noite.<br />

Ela concorda balançando a cabeça, saio de seu<br />

apartamento e ligo para Brianna.


Doze<br />

Lily<br />

Saio do chuveiro e escolho minha lingerie com cuidado:<br />

cara, com renda e tule. A onda de calor não dá trégua, está<br />

tão quente e úmido que prendo meu cabelo em um coque e<br />

coloco um vestido branco, que deixa minhas costas nuas.<br />

Calço minhas sandálias com salto e por alguma razão,<br />

possivelmente porque eu nunca vi meus lábios parecerem tão<br />

cheios e inchados, passo batom carmim. Eles dominam o<br />

meu rosto, e penso nas macacas cujas bundas ficam<br />

vermelho brilhante quando estão no cio e prontas para<br />

acasalar.<br />

A campainha toca às 6:55h.<br />

Abro a porta e vejo o brilho de desejo em seus olhos<br />

esmeralda.<br />

—Jesus —exclama em voz baixa e acaricia minha<br />

bochecha com os nós dos dedos. Ele está vestindo uma<br />

camisa vermelha escura, dois botões abertos, que brilham<br />

como cristal vermelho enquanto ele se move, e calças pretas<br />

com vincos. Seus sapatos são da cor do mogno.


Ele parece um gângster e me leva a um ridiculamente<br />

envenenado Range Rover com enormes rodas e uma fileira de<br />

faróis no topo. Levanto minhas sobrancelhas, ele sorri, sem<br />

malícia como uma criança.<br />

—As pessoas esperam que os ciganos tenham essas<br />

coisas. Entre, será divertido.<br />

Tenho sérias dúvidas sobre isso, mas descubro que é<br />

mesmo e rio bem alto.<br />

Ele me leva a um sofisticado restaurante, com painéis<br />

de carvalho, com estrelas Michelin chamado Hibiscus 37 .<br />

Garrafas de vinho brilham em seus baldes de prata. O lugar<br />

não cheira a comida, mas ao aroma corpulento de Mayfair 38 .<br />

A equipe é discreta e impecável em seu excelente<br />

atendimento. Há coquetéis de cortesia, pequenas iguarias e<br />

grandes quantidades de pão azedo. O menu é intrigante.<br />

—O que você vai pedir? —pergunto.<br />

—Um leitão assado fatiado com ouriços-do-mar da<br />

Irlanda.<br />

—Nunca provei ouriços antes. São bons?<br />

—Eles são um gosto adquirido. Tem um sabor sujo, sexy<br />

—ele murmura, olhando para minha boca.<br />

Ali está ela novamente, a doce dor por ele. Evito seu<br />

olhar.<br />

37 O Hibiscus, um restaurante com estrelas Michelin, é a casa do premiado chef Claude Bosi e<br />

aparece regularmente nas listas dos melhores restaurantes do mundo. Mistura de cozinha clássica e<br />

moderna feita com os melhores produtos britânicos.<br />

38 Mayfair é uma das áreas mais sofisticadas de Londres.


—Pedirei o atum com alcachofras assadas e espuma de<br />

pinheiro de Herefordshire 39 .<br />

Ele faz uma cara...<br />

—Ugh ... Não posso comer espuma. Isso me lembra um<br />

gato doente.<br />

Não é a espuma, mas os ouriços-do-mar crus na batatadoce<br />

que estão me enjoando. Quase cuspo essa mistura que<br />

Jake coloca em minha boca. Ele ri com a expressão no meu<br />

rosto.<br />

Quando Jake ri torna-se uma pessoa diferente, não<br />

mais um criminoso autoritário de olhos frios, torna-se<br />

impressionante. Observo-o surpresa com o quão<br />

despreocupado, bonito e jovem, de repente, ele parece. Uma<br />

voz inquieta sussurra e me dá arrepios: “Você vai se<br />

apaixonar por ele ... você vai ... você vai.”<br />

Eu me mexo na cadeira perdendo o apetite. Um malestar<br />

como uma gota de óleo de rícino desliza para baixo em<br />

minha garganta.<br />

—Qual é o problema? —ele pergunta.<br />

—Nada.<br />

Nenhum de nós tem muito apetite depois de tudo. Não<br />

quisemos a sobremesa, o café e nem comemos os pequenos<br />

petit fours de chocolate. Jake paga e voltamos ao carro. O ar<br />

da noite está fresco e desarruma seu cabelo. A música é alta,<br />

39 Emulsão infundida com essência do pinheiro Herefordshire.


a batida insistente. Eu me mexo inquieta no assento de couro<br />

macio, sinto meu estômago quente e tenso.<br />

Quando entramos no hall e em sua elegante sala de<br />

estar, Jake acende velas. Sento-me em um tapete branco no<br />

chão.<br />

—Quer um drinque?<br />

—Não.<br />

Ele vai até o bar e se serve de uma boa dose de uísque.<br />

Toma e senta em um sofá baixo branco. Por um tempo, se<br />

recosta me olhando. Olho-o imóvel. Seus olhos estão<br />

brilhantes com as chamas das velas. Sua pele é escura e<br />

parece muito bonita, quase como se ele fosse esculpido em<br />

madeira. Penso no aroma picante de seu pênis, de tomá-lo<br />

em minha boca. Minhas coxas se separam.<br />

—Venha aqui —ordena suavemente.<br />

Coloco as minhas mãos e joelhos no chão e rastejo em<br />

sua direção, para sua ereção, desejando-o. Apoio meu queixo<br />

no sofá entre as suas pernas abertas. Ele solta o meu cabelo<br />

com seus dedos suaves e passa suas mãos por ele. Elas se<br />

movem para baixo das minhas costas nuas e ele abre o<br />

pequeno zíper. Meu vestido desliza.<br />

—Nós ciganos acreditamos em fadas e em sua magia. Os<br />

seres humanos são uma presa fácil. Uma vez que elas lancem<br />

sua magia neles, tornam-se enfeitiçados, nunca vendo o que<br />

está bem na sua frente. Eles vagueiam pelo mundo<br />

atordoados em um emaranhado de luxúria. Como viciados. —


Ele traça o meu queixo com o polegar. —Você se parece com<br />

uma. Seus olhos. Você é uma fada, Lily?<br />

Balanço minha cabeça lentamente, com peso no meu<br />

coração.<br />

—Foi uma longa noite —ele murmura, enquanto inclina<br />

a cabeça para me beijar. Nossos lábios se tocam, sua boca<br />

exige a rendição total. Aceito a dureza de sua pele aveludada<br />

com um suspiro de satisfação. Ele está certo, foi uma longa<br />

noite, muito longa.<br />

Como se eu fosse um peixe escorregadio, ele me pega<br />

pela cintura e me puxa para seu colo. Com seus lábios ainda<br />

ligados aos meus, com fascínio, calor e promessa, me coloca<br />

no sofá e tira meu último pedaço de roupa.<br />

Ele levanta a cabeça, sua boca está carmesim com o<br />

meu batom.<br />

—Nós não usamos nenhuma proteção na noite passada<br />

—observa.<br />

—Cuidei disso esta manhã —sussurro, olhando<br />

profundamente em seus olhos, que parecem como um oceano<br />

durante uma tempestade.<br />

—Não gozo sem proteção dentro de uma mulher desde<br />

que eu tinha dezessete anos —ele admite.<br />

—Jake?<br />

Uma elegante sobrancelha escura se levanta.<br />

—Nenhum homem jamais gozou dentro de mim sem<br />

proteção —digo.


Sua pele enrubesce e olha meu corpo como um dono<br />

satisfeito. Suas gloriosas mãos fortes seguram meus seios<br />

possessivamente, sentindo prazer que meu corpo lhe<br />

pertence. Meus mamilos endurecem e minhas costas<br />

arqueiam. Observo-o fascinada.<br />

Ele respira com dificuldade, sua mandíbula se aperta,<br />

seu pênis está tão duro que luta contra sua calça. A<br />

lembrança de seus músculos lisos, nus contra a minha pele<br />

volta assim como o cheiro de sua excitação forte, densa.<br />

Minha boceta está molhada e quente. Alcanço seu zíper,<br />

minhas mãos estão firmes, rápidas e seu pau está fora em<br />

um instante. Ele se levanta e tira sua camisa, a calça e a<br />

cueca. Sua pele brilha à luz das velas.<br />

Ele se inclina e pega sua calça, procurando o bolso. Sei<br />

o que ele quer. Ouço o barulho da embalagem do<br />

preservativo, cubro sua mão e ele me olha.<br />

—Tem certeza?<br />

Eu aceno.<br />

Sua calça escorrega de seus dedos. Sua grande mão<br />

repousa um momento em meu estômago. Observo seu pênis<br />

lindamente tatuado, que está orgulhoso e grosso. Ele coloca<br />

seus joelhos entre as minhas pernas. Lentamente, tenta<br />

empurrar a cabeça do seu pau em mim, mas estou tão<br />

dolorida e inchada da noite anterior que sinto como se<br />

estivesse sendo dividida em pedaços. Engulo meu grito de<br />

dor, mas os meus olhos se arregalam e minha boca abre em<br />

um chocado “O”.


Ele congela.<br />

Sinto minha carne esfolada e rasgada, mas agarro seu<br />

ombro.<br />

—Não. Não pare —insisto.<br />

Ele recua suavemente, mas ainda assim queima.<br />

—Doce Lily —Não posso machucá-la, mesmo me<br />

pedindo. —Ele respira. A ardência diminui, é um alívio, mas<br />

fico sem ele.<br />

Jake vai para baixo e coloca sua boca quente, molhada<br />

no meu inchado e machucado sexo. Suspiro de prazer. Ele<br />

lambe delicadamente, com grande dedicação me acalmando.<br />

Eu me sinto radiante e maravilhosa novamente. Enterro<br />

meus dedos em seus cabelos pretos brilhantes e puxo sua<br />

boca com mais força para mim.<br />

Gozo rápido, duro e ofegante, minhas coxas abertas<br />

tremem incontrolavelmente. O prazer é tão intenso que é<br />

angustiante.<br />

Tento levantar, mas ele coloca um dedo no meu peito.<br />

—Fique. Você fica linda quando está aberta e pronta<br />

para ser tomada.<br />

—Coma minha bunda.<br />

Assim, centímetro por centímetro, devagar, com<br />

cuidado, dolorosamente, ele vai onde nenhum outro homem<br />

jamais esteve. Não importa o que acontecer depois disso, este<br />

é o meu presente para ele.


Depois, descanso sobre seu peito e ouço seu coração<br />

batendo lento, preciso. Um som acolhedor. Ele merece mais<br />

do que posso dar. Algo se rompe em meu peito. Ele é digno de<br />

muito mais.<br />

Será que Jake sente a batida do meu coração traiçoeiro?<br />

Não deveria ter começado isso, agora é tarde demais. Nunca<br />

sonhei que alguém como ele iria me querer. De repente, me<br />

sinto tão só que dói. Lágrimas doloridas enchem minhas<br />

pálpebras. Reprimo-as. Ele acaricia o meu cabelo, enrolandoo<br />

em torno de seus dedos. Abro meus olhos, as lágrimas<br />

escorrem e molham a nossa pele. Ele para, pega meu queixo<br />

e levanta meu rosto.<br />

—Por quê?<br />

Percebo que quero que ele se sinta bem, quero fingir um<br />

pouco mais.<br />

—Estou muito feliz.<br />

Ele me olha por um longo momento e quando vai falar<br />

novamente, eu sorrio. Tão fácil de fazer, de tranquilizá-lo.<br />

Que mentira.<br />

Traço com o dedo a cruz sobre seu coração.<br />

—Quando foi que você fez isso?<br />

—Eu tinha quinze anos. Fiz ao longo do tempo. Tem<br />

setenta e sete arranhões.<br />

Ergo minha cabeça mais alto e olho para ele com<br />

curiosidade. —O que isso significa?


—Mateus 18:21. “Então, Pedro veio a Jesus e<br />

perguntou: —Senhor, quantas vezes devo perdoar o meu<br />

irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? —Jesus<br />

respondeu: —Eu lhe digo, não sete vezes, mas até setenta<br />

vezes sete". Minhas setenta vezes sete acabaram, Lily. Não há<br />

mais perdão para mim, apenas o inferno me espera.<br />

Ele não sabe, mas eu sei a sua história. Penso nele<br />

como um menino de quinze anos de idade, magricelo com<br />

músculos longos, arrogante do lado de fora, mas frágil e<br />

destruído por dentro. Marcando sua própria pele,<br />

preenchendo-a com tinta, contando os seus pecados, e, de<br />

repente, me sinto tão triste que quero chorar.<br />

A vida é tão estranha, tão injusta. O que uma criança<br />

faminta na África fez para merecer o seu destino? Ou uma<br />

criança cigana que tem de assumir uma empresa criminosa<br />

com quinze anos? Lembro-me do meu irmão me trazendo um<br />

ninho abandonado de um pássaro, com as cascas quebradas<br />

ainda dentro. Plantando bananeiras em Brighton Pier. Doce<br />

inocente Luke. Fazendo panquecas irregulares em uma<br />

manhã de domingo. Um nó se forma em minha garganta,<br />

engulo e ela dói. Não vou chorar na frente dele.<br />

—Por que não parou em setenta e sete?<br />

—Porque não podia.<br />

—Por quê?<br />

—Quanto mais dinheiro ganhava, mais arrogante me<br />

sentia.


A criança foi agora, esse homem é impenetrável. Ele faz<br />

sexo, goza, não sente e sai. Ainda assim ele é diferente<br />

comigo, como sou diferente com ele. Eu concordo. Sim, o<br />

dinheiro faz o mundo girar. Todos nós, pequenas marionetes<br />

em suas cordas.<br />

—Encontrei um emprego para você —diz em voz baixa.<br />

Eu me sinto cansada.<br />

—Sério? Onde?<br />

—Trabalhará na minha organização.<br />

—Como uma mula de droga?<br />

Seu rosto fica sério.<br />

—Tenho empreendimentos comerciais legítimos.<br />

—O que farei?<br />

Ele dá de ombros.<br />

—Alicia, minha assistente pessoal, irá te dizer.<br />

—Quer dizer que criou um trabalho para mim.<br />

—Lily, Lily —ele sussurra.


Treze<br />

Lily<br />

—Amigos, temos um novo membro entre nós esta noite.<br />

Vamos dar boas-vindas a Lily —anuncia William, o líder do<br />

grupo de GAPSS (Grupo de Apoio a Parentes Sobreviventes do<br />

Suicídio).<br />

Ele me apresenta, sou a única nova no grupo e todos me<br />

olham, mas sou incapaz de reagir, meu corpo e minha mente,<br />

de repente, ficam inexpressivos. Fico olhando para frente,<br />

incapaz de virar para os rostos me encarando, incapaz até de<br />

falar.<br />

Minha dor, uma cicatriz profunda cobrindo meu<br />

coração, começa a sangrar novamente. Talvez isso tenha<br />

acontecido muito rápido ou talvez eu simplesmente não esteja<br />

pronta ainda para vir aqui.<br />

Basta agir naturalmente.


O que quer que isso signifique em um lugar como este.<br />

Respiro fundo e, me forçando a agir, aceno uma saudação<br />

geral. Uma menina se levanta e pega uma cadeira de uma<br />

pilha no canto da sala. O ruído estridente é alto no espaço<br />

vazio e sem carpetes, tento me acalmar. Outros participantes<br />

movem suas cadeiras, alargando o círculo para me receber. A<br />

menina desliza minha cadeira para o espaço recém criado.<br />

—Sente-se, Lily. —A voz de William é firme, hipnótica,<br />

mas de um jeito reconfortante. Isso me afeta. Ando para o<br />

lugar vago e com cuidado me sento na beirada. A mulher ao<br />

meu lado se vira para mim e sorri calorosamente.<br />

—Relaxe, somos todos amigos aqui —diz ela,<br />

pressionando sua mão na minha.<br />

—Oi —digo, resistindo ao impulso de puxar minha mão.<br />

Ouvi pela primeira vez sobre este centro quando uma<br />

amiga sugeriu há quatro anos. Ela disse que isso a mantinha<br />

sã quando seu pai se matou, mas eu nunca quis vir, até<br />

poucos dias atrás. Só vou observar, digo a mim mesma uma e<br />

outra vez. Agora que estou aqui, não sei porque vim, afinal de<br />

contas.<br />

—Então, quem quer começar a sessão?<br />

É essa a hora, quando alguém se levanta e expõe sua<br />

alma!<br />

William olha diretamente para mim. Ah, não. Estou aqui<br />

apenas para observar, não estou pronta para revelar nada<br />

ainda e, com certeza, não para uma sala cheia de estranhos.<br />

Percebo, então, que demorou muito tempo para eu parar de


colocar flores no túmulo de minhas memórias. Não quero<br />

falar sobre ele agora. Talvez nunca. Curvo a cabeça e espero<br />

que ele entenda a dica flagrante e não fale meu nome.<br />

—E você, Lily? Gostaria de compartilhar algo com a<br />

gente?<br />

Cabeças giram para mim e olho para ele com<br />

reprovação.<br />

—Conte-nos um pouco sobre porque você está aqui? —<br />

ele insiste.<br />

—Prefiro não falar nada. Ainda não, de qualquer<br />

maneira.<br />

Ele sorri suavemente.<br />

—Está tudo bem, você não tem que participar ainda,<br />

apenas quando se sentir pronta.<br />

Um peso de repente escapa do meu corpo e me recosto<br />

na cadeira. Este homem tem uma maneira que consola e me<br />

acalma. Outra pessoa começa a falar. Sua voz é como um<br />

ruído e torna-se um zumbido que não escuto. Perco a noção<br />

do tempo.<br />

A próxima coisa que percebo, é que sou acordada por<br />

um toque suave, porém insistente. Meu corpo<br />

involuntariamente recua. William está pairando acima de<br />

mim. Minha reação violenta faz com que se afaste com as<br />

mãos levantadas.<br />

—Sinto muito. —Peço desculpas e seu rosto se abre em<br />

um sorriso amável.


—Gostaria de falar por alguns momentos, Lily?<br />

—Todo mundo se foi —observo.<br />

—Sim, a sessão terminou. Você dormiu muito rápido,<br />

mas parecia tão exausta e já que estava relutante em<br />

participar, eu te deixei descansar.<br />

Eu me sinto horrível, quero dizer, quem vem à terapia e<br />

adormece na primeira sessão?<br />

—Obrigada —digo envergonhada.<br />

—Ei, é para isso que nós estamos aqui, Lily. Ombro para<br />

chorar. Ninguém vai julgá-la. É óbvio que você está muito<br />

perturbada e se há alguma coisa que eu possa ...<br />

—Não —nego, entrando imediatamente em modo<br />

defensivo, fechando a porta a qualquer indício de piedade.<br />

Levanto-me. —Realmente, estou bem —acrescento evitando o<br />

contato visual.<br />

—Isso não vai te fazer nenhum bem, trancando tudo.<br />

—Sim, bem talvez não, mas foi um erro vir aqui —<br />

respondo bruscamente e tento passar por seu grande corpo,<br />

mas ele se move ficando diretamente na minha frente.<br />

—Nunca é um erro procurar ajuda, Lily. Você precisa<br />

encontrar uma maneira de lidar com sua dor ou raiva ou<br />

talvez sua culpa. Guardar tudo para você, só tornará as<br />

coisas muito piores, e acredite em mim, está ouvindo isso de<br />

alguém que já passou por essa situação.


Mesmo que eu tente resistir à sabedoria de suas<br />

palavras, seus olhos cinzentos têm uma profundidade e<br />

compreensão que comanda a minha atenção relutante.<br />

—As pessoas vêm aqui porque perderam o controle de<br />

suas vidas e querem se curar, estão cansadas da dor, das<br />

lágrimas, da apatia. Prometa-me, mesmo que você nunca<br />

mais volte, que se concentrará em algo positivo. Recupere o<br />

controle que perdeu, Lily.<br />

Estranhamente, quando o encaro, sinto-me calma. Não<br />

disse nada dos meus problemas ainda, mas existe alguma<br />

linha de conexão entre nós. Ele sofreu, é claro que ele não é<br />

falso.<br />

—Eu vou.<br />

Ele dá um passo para o lado e acena com aprovação.<br />

Ando em direção à saída.<br />

—Cuide-se. —Suas palavras pontuam o silêncio vazio.<br />

Deixo o estranho, ecoante e triste prédio, voltando para<br />

a agitação do mundo real, mas me sinto diferente agora.<br />

Estou realmente feliz por ter vindo, porque agora entendo.<br />

Não voltarei. A dor não irá embora com conversas, tem<br />

que ser exorcizada. As emoções destrutivas enterradas dentro<br />

de mim rasgam livres, como uma mão saindo de um túmulo.<br />

Começo a correr, o sangue flui para os poderosos<br />

músculos em minhas coxas, meus movimentos longos e<br />

precisos. Meus passos aceleram até que ressoam na calçada.<br />

O vento assobia em meus ouvidos. Gotas de suor na minha


pele fazem minhas roupas se<br />

agarrarem nas minhas costas.<br />

Meus músculos doem, meu peito<br />

arfa como se fosse rasgar. Mas não<br />

paro de correr.<br />

Talvez nunca pare.<br />

Quatorze<br />

Lily<br />

Meu novo emprego é no setor administrativo da empresa<br />

Jake’s Importação e Exportação. O trabalho é terrivelmente<br />

legítimo e chato, mas fico com minhas roupas e ganho muito<br />

mais do que poderia ter esperado. Todos são muito bons para<br />

mim e Ann, minha colega de trabalho, me dá carona para ir e<br />

vir. Não posso reclamar.<br />

Hoje trabalhei até tarde. Quando saio do carro o ar da<br />

noite é quente e espesso com uma tempestade quase caindo.


—Eu te vejo amanhã —grito e aceno enquanto Ann vai<br />

embora.<br />

Ando para minha porta da frente procurando minhas<br />

chaves na bolsa e tenho um pressentimento. Quando as<br />

mãos do homem me apertam sou totalmente pega de<br />

surpresa, meu coração gela, mas o meu cérebro funciona<br />

perfeitamente. Ele é caucasiano, pálido, cheira a fumaça de<br />

cigarro, seus pulsos cheios de pelos escuros, olhos claros sem<br />

expressão e vazios como um réptil. Camisa preta, calça jeans<br />

azul escuro, 1,80m de altura e 86 kg.<br />

Eu o conheço. Desde o clube queria me tocar, eu disse<br />

que não e ele foi embora, com os olhos brilhando de ódio.<br />

Penso em correr, mas ele tem o elemento surpresa, me<br />

puxa e me arrasta na vegetação. Tento levantar os braços e<br />

lutar, mas ele me empurra com força para o chão. Cambaleio<br />

e caio de costas no meio dos arbustos, que arranham meu<br />

rosto e pescoço.<br />

Ele cai em cima de mim, seus dedos apertando meus<br />

ombros. Fico embaixo dele, sem fôlego, incapaz de me mover.<br />

—Você ainda vai me recusar? Sua vadia, pedra fria,<br />

prostituta barata —ele fala, com o queixo tremendo de fúria.<br />

Imóvel o encaro, ele é perverso. Apavorada, meu coração<br />

dispara, sei que não posso correr.<br />

Ele sorri com ódio.<br />

—Ainda acha que é boa demais para mim, vagabunda?


—Não —digo, balançando a cabeça, e ele me dá um soco<br />

na cara.<br />

O golpe me atordoa, não enxergo e fico zonza, antes que<br />

tenha consciência da dor absurda. Meu nariz sangra,<br />

respinga em sua mão e escorre pelo meu rosto. Em pânico,<br />

quero vomitar ou fazer xixi.<br />

Ele apoia o joelho no meu peito, pega o celular do bolso<br />

e tira fotos minhas sangrando, presa sob ele! Estou<br />

aterrorizada, esse cara pode me matar, mas isso é bom,<br />

funciona, porque permite que me recupere um pouco. Penso:<br />

ele é muito grande para eu empurrar e nessa posição não<br />

posso nem dar uma joelhada ou bater nele.<br />

Minha única opção é fingir que estou inconsciente e<br />

descobrir como abrir minha bolsa, que ainda está comigo.<br />

Deixo minha cabeça cair para o lado. Se eu conseguir apenas<br />

mexer dentro dela...<br />

Ele tira o joelho do meu peito e começa a abrir suas<br />

calças. Não faço nada. Mantenho minha respiração, movo<br />

meus dedos lentamente para a aba da minha bolsa. De<br />

repente, ele cai em cima de mim e como um animal raivoso<br />

morde forte o meu pescoço, tão forte, que já não consigo<br />

fingir que estou inconsciente.<br />

Eu grito. Minha mão procurando rapidamente dentro da<br />

minha bolsa. Ele me bate com força. Sinto uma faca na<br />

minha garganta e fecho a minha boca. Encontro meu spray<br />

de pimenta, disfarçadamente pego e num instante espirro em<br />

sua cara. Ele cai para trás, com as mãos arranhando seu


osto. Aproveito o momento, levanto e corro gritando em<br />

direção ao meu prédio. Um homem, que eu já vi antes e deve<br />

viver aqui, corre para mim. Ele quer chamar a polícia, mas<br />

não quero e digo que estou com muito medo. Definitivamente<br />

não quero que ele chame a polícia.<br />

—Você foi atacada, deve informar a polícia.<br />

Olho para ele.<br />

—É alguém que conheço, um ex. Não quero chamar a<br />

polícia, tudo bem?<br />

Ele balança a cabeça com cara de desgosto. Voltamos<br />

juntos e pego minha bolsa. Agradeço a ele, encontro as<br />

chaves e entro em meu apartamento.<br />

Melanie está ao telefone encomendando comida chinesa.<br />

—Porra! O que aconteceu com você?<br />

—Um dos clientes do clube. Lembra-se daquele<br />

deformado que te falei?<br />

—Simon, o pervertido?<br />

Aceno.<br />

—Ele tirou fotos minhas com sua câmera do celular.<br />

—Que trabalho desagradável?<br />

Vou para o espelho. Meu nariz sangra demais e um lado<br />

do meu rosto está muito inchado.<br />

Mantenho minha cabeça inclinada para cima enquanto<br />

Melanie aplica no meu rosto compressas de gelo, que estavam<br />

em seus pés.


—Está um pouco fedido, mas você vai sobreviver. —Pega<br />

seu telefone. —Tenho que dizer a Brianna. Proibi-lo de ir ao<br />

clube e avisar as outras meninas. Você precisa fazer um<br />

relatório para a polícia.<br />

—Polícia não, mas pode avisar Brianna.<br />

Ela se senta ao meu lado, com a testa franzida de<br />

preocupação.<br />

—Por que não avisar a polícia, Jewel?<br />

—Tenho um histórico. Pequenas coisas, mas não posso<br />

ir à polícia.<br />

—Ok. Sem problemas, sem polícia.<br />

—Obrigada, Mel.<br />

Exatamente um minuto depois que Melanie desliga, meu<br />

celular toca.<br />

—Jake —digo, com uma careta.<br />

—Uau! Brianna foi rápida —comenta Melanie.<br />

—Você está bem? —ele vocifera em meu ouvido.<br />

—Sim, pequenas contusões.<br />

—Tem certeza que era ele?<br />

—Sim, olhei bem.<br />

—Certo. Estarei aí em breve. Tenho algo para cuidar<br />

primeiro. E, Lily...<br />

—Sim?<br />

—Não vá a lugar nenhum até eu chegar aí, Ok?


—Ok.


Quinze<br />

Jake<br />

Toco a campainha do filho da<br />

puta e espero, estou enjoado. Ele colocou as mãos sujas na<br />

minha mulher.<br />

Sua voz vem através do intercomunicador.<br />

—Sim?<br />

—Você feriu um dos meus funcionários esta noite.<br />

Gostaria que aparecesse para falarmos sobre isso, discutir<br />

alguma reparação. —Jesus, soo até calmo.<br />

—O quê? Você tem o cara errado, companheiro. Estive<br />

aqui todo o dia. —diz ofendido e muito indignado.<br />

—Se você preferir posso ir à polícia e deixá-la resolver o<br />

problema. Você decide —digo bem racional e ameaçador.<br />

Por um momento, há um silêncio e acho que o covarde<br />

prefere enfrentar a polícia, mas, em seguida, o alarme soa.<br />

Primeiro erro, filho da puta. Abro a porta e corro os dois<br />

lances de escada até a entrada. Apoio o taco de beisebol na<br />

parede ao lado de sua porta, toco a campainha e finjo<br />

descontração. Ele me olha pelo olho mágico, demora para<br />

abrir a porta, mas abre.


—Eu te contei, você pegou o cara errado —diz ele<br />

vigorosamente.<br />

Empurro-o com força, ele voa para trás e cai<br />

esparramado no corredor. Seus olhos se arregalam de terror<br />

quando ele me vê, casualmente, pegar o taco de beisebol.<br />

Entro e fecho a porta, chutando-a. Pena, seus tapetes são<br />

creme.<br />

Ele se move para trás.<br />

—Não fui eu. Você está cometendo um grande erro —<br />

choraminga como um maldito gatinho.<br />

Atiro-lhe uma mordaça de bola. Ele não pega, ela pula e<br />

cai no chão.<br />

—Coloque isto.<br />

—Não, sou inocente. Quero a polícia aqui, agora —fala,<br />

tremendo de medo.<br />

Levanto o bastão e o golpeio na barriga. Ele se dobra em<br />

agonia, cambaleia dois passos para trás e cai de joelhos<br />

segurando o estômago. Em seguida, resmunga como um<br />

moleque de dois anos de idade.<br />

Porra!<br />

—Não tão grande e forte agora, hein?<br />

—Você pegou o cara errado —ele soluça.<br />

—Será? Coloque a mordaça ou vou esmagar seu crânio<br />

com um só golpe. É a surra ou uma morte rápida. Você<br />

escolhe.


Por causa da dor se esforça e respira ruidosamente,<br />

como se estivesse morrendo, mas ele não está. Não sem<br />

sofrimento, como por um tiro no escuro. Ah, não. Morrer<br />

assim seria fácil demais. Ele coloca a mordaça com as mãos<br />

trêmulas. Os covardes sempre me fascinam. Idiota do<br />

caralho! Por que você iria colocar algo para te silenciar?<br />

Dou um gemido gutural, a raiva no som me surpreende,<br />

pensei que eu tivesse superado tudo anos atrás. Há dez anos<br />

não bato em alguém com um taco de beisebol e aqui estou<br />

eu, por ela.<br />

Empurro-o para o chão com meu pé, levanto o bastão<br />

alto sobre a minha cabeça e arrebento seu joelho. Ele<br />

arregala os olhos e os rola para cima de dor. Poderia até<br />

desmaiar, mas felizmente não. Suando frio segura o osso<br />

esmagado. Pego o bastão, destruo o outro joelho e ele<br />

convulsiona com o choque.<br />

Em seguida dou vários golpes bem precisos por seu<br />

corpo, não para matar, mas para mutilar para sempre.<br />

Pronto! Logo estou em cima dele, que está deitado de lado,<br />

vivo. Sua respiração é superficial e seus olhos estão<br />

semicerrados. Viro seu corpo inerte de costas com a ponta do<br />

meu sapato, ele geme, sua boca sangra e dois de seus dentes<br />

estão no tapete.<br />

—Este é apenas um pequeno aviso. Abra a boca do<br />

caralho e algo bem pior vai te acontecer —digo suavemente.<br />

Pego um lenço do bolso e enxugo o sangue do bastão.<br />

Que estranho! Tantos anos desde que fiz algo assim e ainda


carrego um lenço branco imaculado comigo e um taco de<br />

beisebol na mala do meu carro.<br />

Calmamente, saio de seu apartamento. Tem uma cabine<br />

telefônica na esquina, entro e ligo para a polícia. Mudo meu<br />

sotaque para um dialeto londrino e digo que um homem está<br />

morrendo em seu apartamento.<br />

—Parece que ele foi espancado. Chame uma<br />

ambulância, homem.<br />

Desligo e olho minhas mãos. Dormentes. Estou<br />

congelando. Entro no carro e dirijo até o apartamento de Lily.<br />

Melanie abre a porta.<br />

Entro e paro completamente. Minhas mãos tremem e<br />

lágrimas ardem meus olhos. Droga. Não chorava desde os<br />

meus 15 anos quando vi meu pai cair morto aos meus pés.<br />

Droga! Isso dói tanto que quero berrar.<br />

Ela para também e nós nos olhamos fixamente, ambos<br />

chocados. Ela pela minha reação e eu pela sua aparência.<br />

Pequenas contusões! Porra. Seu rosto está tão inchado e<br />

roxo, que mal posso reconhecê-la. Então, avanço sobre ela<br />

como um urso irritado. Quero ser normal, mas não consigo,<br />

estou tão furioso que tremo.<br />

Alcanço-a, ela toca os respingos de sangue em minha<br />

roupa e olha em meus olhos com medo, estranhando-me. Em<br />

seu mundo agradável de algodão doce o que fiz para seu<br />

agressor é errado.<br />

—O que você fez?


—Regras de gângster —respondo severamente.<br />

—Ele está morto?<br />

—Não, mas ele deseja que estivesse. —As lágrimas caem<br />

pelo meu rosto, não posso pará-las. Minha mulher foi<br />

gravemente ferida.<br />

—O que é isso? —ela sussurra.<br />

—Você precisa ir para um hospital.<br />

Ela balança a cabeça.<br />

—Estou bem, parece pior do que é.<br />

Nunca experimentei essa necessidade feroz de proteger<br />

alguém. Jamais. Estou chocado pela maneira como me sinto.<br />

Isso não é comigo, sou difícil, não me envolvo, não confio em<br />

ninguém. Neste negócio você não pode. Um rei nunca é morto<br />

por seu inimigo, mas por seus cortesãos. Eles são os únicos<br />

que chegam perto o suficiente para envenenar o vinho, fincar<br />

a lâmina. Não digo, “Até tu, Brutus,” a ninguém. O jeito mais<br />

fácil —nunca deixo que alguém se aproxime. Exceto ela.<br />

Ela abre os braços. Seu rosto está muito inchado para<br />

sorrir, mas vejo isso em seus olhos, um sorriso de conforto<br />

como se eu é que tivesse sido atacado e estivesse com dor.<br />

Chorando ainda mais, puxo-a para mim e seguro com força.<br />

Ela ainda está aqui, ainda é minha. Fecho meus olhos e a<br />

pego no colo.<br />

—Posso andar —ela sussurra.


Não a ponho no chão. Viro-me, Melanie silenciosamente<br />

abre a porta, e saio com meu amor em meus braços. Poderia<br />

tê-la perdido. Nunca mais serei tão descuidado com ela.<br />

Coloco-a em minha cama e ela me olha sonolenta,<br />

esgotada pelo estresse. Parece tão pequena e indefesa. Suas<br />

mãos estão fechadas. Círculo seu pulso, chocado com a<br />

fragilidade dos ossos de sua mão. Gentilmente esfrego meu<br />

polegar pelo seu pulso. Sua vulnerabilidade me aterroriza, me<br />

assusta, faz com que me sinta fraco.<br />

—Sonolenta?<br />

—Hmmm... —ela geme.<br />

Sinto-a indo embora, flutuando em sonhos nos quais<br />

não posso entrar. Puxo-a para mais perto de mim. Quando<br />

ela está acordada, existe uma parte que permanece reservada<br />

e vigilante. Ela é como uma floresta. Intensa e sombria. Você<br />

pode enfrentar e se aventurar. Ela murmura algo que não<br />

entendo e se aconchega, acidentalmente raspa o rosto no<br />

meu antebraço e estremece.<br />

Paro de respirar, não suporto vê-la sofrendo.<br />

Ela veste um pijama de algodão, não é sedutor, é tão<br />

recatado que a faz parecer uma criança. Acho que é isso que


os pais sentem quando veem suas filhas dormindo,<br />

absurdamente protetores. Olho horrorizado seu pescoço e<br />

meu coração para.<br />

—Merda! O bastardo a mordeu, porra!<br />

É difícil engolir que ele machucou sua pele. Aquele<br />

pedaço de merda marcou a minha mulher! Saio da cama<br />

cuidadosamente e vou para sala de estar. A raiva é<br />

nauseante, revira meu estômago. É tão profunda, que não<br />

posso nem pensar direito. Quero voltar para a porra do<br />

pequeno apartamento e terminar o trabalho, mas ele não<br />

estará lá. Agora deve estar em uma unidade de terapia<br />

intensiva. Vou para o bar e sirvo uma grande quantidade de<br />

Jack Daniel's 40 . Bebo em um gole e bato tão forte o copo na<br />

superfície do bar que o ruído repercute como um tiro.<br />

Pressiono as palmas das mãos nas minhas têmporas.<br />

—Pare. Basta parar —digo a mim mesmo.<br />

Mas o desejo de sair e esmagar a cabeça do doente é tão<br />

forte, que tenho que lutar comigo mesmo. Vou à varanda,<br />

pode chover a qualquer momento. Jogo minha cabeça para<br />

trás e respiro profundamente. Pareço um vulcão prestes a<br />

entrar em erupção. Adoraria sair correndo. Alguns<br />

quilômetros e parte dessa energia reprimida iria embora, mas<br />

não posso deixá-la sozinha.<br />

Não vale a pena ir para a prisão por ele. Já quebrei as<br />

pernas e as mãos em alguns lugares e esmaguei os joelhos.<br />

40 Jack Daniel's é a marca de um uísque americano.


Para não mencionar as costelas e mandíbula do saco de<br />

merda.<br />

Coloco a mão no bolso e pego seu telefone celular. Antes<br />

que eu clique em seu arquivo de fotos, inspiro<br />

profundamente, então, pressiono o botão. O choque de vê-la<br />

presa ao chão, com os olhos cheios de medo e horror, é pior<br />

do que previ. Olho rígido para a tela. Ainda assim ela não<br />

queria chamar a polícia!<br />

Aperto firme meus punhos enquanto me obrigo a me<br />

acalmar.<br />

—Deixe estar. Deixe estar.<br />

Finalmente me acalmo, mas me sinto culpado. Não<br />

deveria tê-la deixado sozinha e desprotegida, era meu<br />

trabalho tê-la defendido melhor.<br />

Tiro a bateria do telefone e guardo ambos em meu cofre.<br />

Eu duvido muito, ele é um pouco covarde, mas ainda pode<br />

ser útil. A sorte favorece a mente preparada.<br />

Volto para o quarto e fico em cima dela. Seu cabelo está<br />

espalhado no travesseiro, o lábio partido, seu rosto inchado e<br />

machucado. É estranho, mas o corte, o inchaço e o<br />

hematoma só a tornam mais preciosa e intrigante. Ela se<br />

mexe, o lençol escorrega, vejo uma pequena faixa da pele de<br />

sua cintura, branca leitosa e sem falhas, e isso me dá<br />

vontade de reivindicá-la.<br />

Observo-a respirando. É estranhamente sedutor e fico<br />

olhando por um longo tempo. Parte de mim está chocada com<br />

a força da minha emoção, outra parte tem receio deste


sentimento. Nunca pensei que me<br />

sentiria assim em relação a uma<br />

mulher, mas os sinais estão todos<br />

ai.<br />

Eu a amo.<br />

Com cada fibra do meu ser eu<br />

a amo. Seu sono é inquieto, ela se<br />

vira e se agita. Ponho meu dedo na sua mão quase fechada,<br />

ela faz um som esquisito e aperta. E, então, enquanto está<br />

num sono profundo diz a coisa mais estranha, algo que<br />

nunca, nem em meus sonhos mais loucos, pensei que ouviria<br />

de seus lábios.<br />

Dezesseis<br />

Lily<br />

Acordo com a cabeça latejando e meu corpo todo<br />

dolorido. Estico-me e estremeço, em seguida, percebo que<br />

estou na cama de Jake. Ele está sentado ao pé da cama me<br />

olhando.<br />

—Bom dia —diz ele em voz baixa.<br />

Gemo uma resposta.


—Como está se sentindo?<br />

—Pior do que ontem.<br />

Ele se levanta e fica ao meu lado.<br />

—Precisa de ajuda para sair da cama?<br />

—Acho que não —respondo, mas ele se abaixa e me<br />

levanta suavemente, colocando travesseiros nas minhas<br />

costas.<br />

—Obrigada.<br />

—De nada —diz tão perto do meu ouvido, que seu<br />

perfume fica em mim.<br />

—Acordou há muito tempo?<br />

—Cerca de uma hora. Em instantes terei que sair, mas<br />

antes queria que comesse um pouco. Mais tarde Alicia trará<br />

algumas revistas, e se houver algum livro que você queira ela<br />

o comprará. Basta lhe telefonar.<br />

—Ficarei aqui esta noite?<br />

Sua mandíbula se aperta. Eu o conheço. Ele está<br />

prestes a impor sua vontade novamente.<br />

—Trouxe todas as suas coisas, você ficará aqui a partir<br />

de agora.<br />

—O quê?<br />

—Não está aberto à discussão, Lily. Você ficará aqui.<br />

Ergo minhas mãos em descrença.<br />

—É impossível.


—Impossível é um desafio.<br />

—Jake, você não pode agir assim. Não pode, de repente,<br />

trazer minhas coisas para cá e simplesmente dizer que vou<br />

morar aqui de agora em diante. Você tem que me perguntar e<br />

tenho que concordar.<br />

—Perguntar implicaria uma escolha.<br />

Dou um suspiro risonho.<br />

—Sim isso é certo. Pelo menos dar a uma menina a<br />

ilusão de escolha.<br />

Ele cruza os braços sobre o peito largo.<br />

—Você gostaria de morar aqui?<br />

—Ficarei por alguns dias e depois falaremos sobre isso.<br />

—Entende porque é estúpido perguntar?<br />

—Não sou uma criança, Jake. Você não pode decidir por<br />

mim.<br />

Ele vem até mim.<br />

—Não entendeu? Não serei capaz de dormir se não<br />

souber que está segura.<br />

Olho para seu rosto e sei que ele fala a verdade.<br />

—Poderia ter acontecido com qualquer um —digo em voz<br />

baixa.<br />

—Mas não foi com qualquer um. Foi com você.<br />

—Não acho que ele estará em condições de voltar depois<br />

de ontem à noite, concorda?


—Protejo o que é meu, Lily —diz sem remorso, seu rosto<br />

é calmo e frio.<br />

Suspiro. Minha cabeça está latejando e simplesmente<br />

não tenho energia suficiente para lutar com ele.<br />

—Ok, falaremos sobre isso quando eu estiver melhor.<br />

—Quer café da manhã?<br />

—Sim. Quero um pouco de sorvete.<br />

—No café da manhã?<br />

—Sempre pude comer sorvete quando estava me<br />

sentindo mal —digo sem pensar e percebo o que falei.<br />

Na luz da manhã seus olhos verdes brilham, de repente,<br />

impenetráveis, mas o que diz é suave e amigável.<br />

—Que sabor?<br />

—Gosto de pistache e baunilha, mas aceito o que tiver<br />

na sua geladeira.<br />

Ganho uma taça de biscoito e creme, que é o que tem.<br />

Jake me observa comer e, em seguida, tem que sair.<br />

—Estarei de volta na hora do almoço —diz e me beija de<br />

leve no rosto, na parte em que não está inchado e latejando.<br />

Quando ouço a porta fechar, lentamente saio da cama e<br />

manco para o quarto de hóspedes, no qual minhas coisas<br />

foram colocadas temporariamente. Vejo o meu violão<br />

encostado em um armário. Eu o pego, sento na cama e<br />

começo a dedilhá-lo. Estou emocionalmente desequilibrada,<br />

talvez ainda em choque com o que aconteceu ontem, mas me


sinto totalmente anestesiada. Tudo o que posso lembrar é<br />

Jake, com sangue salpicado, com lágrimas indefesas<br />

escorrendo pelo seu rosto. Acho que foi uma das poucas<br />

vezes em que chorei muito e não conseguia parar. Meus<br />

dedos se movem sobre as cordas, minha boca se abre e canto.<br />

Toco minha dor com meus dedos.<br />

Sempre a mesma canção. Sempre a mesma tristeza me<br />

matando gentilmente. Matando-me suavemente.<br />

Esqueço o que me cerca e volto a um lugar onde tudo no<br />

mundo está certo. Meus pais foram ao cinema. Posso ouvir o<br />

meu irmão lá embaixo comendo sanduíches de geleia e<br />

fazendo uma bagunça na cozinha. Chove lá fora e estou<br />

deitada na minha cama, minhas mãos embaixo da minha<br />

cabeça, olhando os relâmpagos no céu.<br />

Termino a canção, ouço um barulho na porta, viro-me<br />

rapidamente e meu peito dói. Jake está lá me olhando, pálido<br />

sob sua pele bronzeada.<br />

—Por que você está em casa? —não queria, mas minha<br />

voz soa acusatória.<br />

—Não sei porque voltei —fala, vindo até mim e se<br />

ajoelhando na minha frente. —Não sabia que você tocava<br />

violão tão bem.<br />

Dou de ombros. Dói.<br />

—Agora você sabe.<br />

Ele desliza o dedo na minha bochecha ilesa seguindo o<br />

caminho da minha lágrima.


—Por quem você estava chorando, Lily?<br />

Congelo.<br />

—Ninguém, não estava chorando por ninguém.<br />

—Você vem com instruções, Lily Hart? —Pergunta<br />

suavemente, mas seus olhos estão preocupados e à procura<br />

de algo. Quem sabe por quanto tempo ele será tão paciente<br />

comigo?<br />

Depois de três dias, sento-me na tampa do vaso<br />

sanitário e o vejo mergulhar nas bolhas. Quando ele aparece<br />

está com um chapéu de espuma, e limpa a suas pálpebras.<br />

Tão cativante que faz meu coração bater mais rápido. Assim<br />

que abre os olhos fico admirada por serem tão lindos. Tento<br />

não olhar para os músculos firmes de seus ombros.<br />

—Minha mãe quer conhecê-la.<br />

Meus olhos se arregalam.<br />

—Você gostará dela.<br />

—É um pouco cedo.<br />

Ele fica chateado.<br />

—Não é muito cedo, Lily. Somos uma família muito<br />

próxima.


—Não estou pronta, Jake. De qualquer forma, olha o<br />

meu estado. Não posso conhecer sua mãe assim.<br />

—Tudo bem, vou levá-la quando todos os seus<br />

hematomas tiverem desaparecido.<br />

Respiro aliviada.<br />

—Obrigada, Jake.


Dezessete<br />

Mara Éden<br />

Meu primogênito vem me<br />

visitar, e no instante em que ele caminha pela minha porta<br />

eu sei: há uma nova mulher em sua vida. Está lá para todos<br />

verem o brilho em seus olhos e o leve rubor em suas<br />

bochechas. Estou extremamente feliz. Tenho quarenta e nove<br />

anos e quero poder ver o meu primeiro neto.<br />

Nunca contei a ninguém, mas meu Jake é a minha<br />

tristeza secreta. Quando tinha quinze anos conheceu a<br />

responsabilidade e a brutalidade. Foi obrigado a ver seu pai<br />

ter as duas orelhas cortadas por causa de empréstimos e<br />

dívidas de jogo, assim Jake tinha apenas uma escolha: ou<br />

pagava a conta dele ou assistia toda a sua família morrer da<br />

mesma maneira.<br />

Quando chegou em casa naquele dia, eu sabia que meu<br />

marido já estava morto. Não houve lágrimas, nem luto. Então<br />

ele começou a trabalhar imediata e implacavelmente, dia e<br />

noite, dormia por três horas e logo voltava ao trabalho. Levou<br />

dois anos para pagar as dívidas do pai. Sei que teve que fazer<br />

um monte de coisas ruins, mas fez isso por nós: por mim,<br />

Dominic, Shane e por nossa pequena Layla.


Na época, ele ganhou muito dinheiro, comprou esta bela<br />

casa para mim, meu carro, paga as minhas férias e me dá<br />

uma mesada, que não consigo gastar toda. Ele mesmo vive<br />

em uma mansão com piscina, veste roupas elegantes, possui<br />

carros de luxo e tem muitas mulheres extravagantes, mas até<br />

ontem nunca o vi tão feliz.<br />

—Ela é uma de nós? —pergunto.<br />

—Não, mas ela é linda —responde. Há tanto orgulho em<br />

sua voz, que fico maravilhada.<br />

—Então, traga-a para me conhecer —peço.<br />

Depois de separar uma cesta com geleias caseiras e uma<br />

Tupperware 41 com seus bolos favoritos, entrego-os para<br />

Madeleine, que está no banco do passageiro, e aceno. Fecho a<br />

porta e corro para o meu altar. Vou dar graças à Nossa<br />

Senhora Negra, que é a padroeira da minha família. Durante<br />

várias gerações, a veneramos por ela ter dado visões para<br />

minha avó, para minha mãe e até mesmo para mim. Ela me<br />

mostrou quando meu marido seria assassinado. Estava de pé<br />

em oração quando tive uma visão. Eu o vi levantar a mão e<br />

me pedir desculpas.<br />

—Sinto muito, Mara, mas tenho que sair.<br />

No dia seguinte, ele estava morto.<br />

Com um sorriso acendo uma vela vermelha e fico de<br />

frente à imagem de Nossa Senhora, mas quando começo a<br />

rezar tenho um pressentimento tão horrível, que meus<br />

41 Recipiente plástico utilizados na conservação e preparação de alimento, produzido pela<br />

multinacional norte-americana Tupperware Brands Corporation.


joelhos estremecem e caio no chão. Enquanto estou<br />

esparramada vem a visão: uma bala indo em direção ao meu<br />

Jake e sangue infiltrando-se rapidamente em suas roupas.<br />

Deito no chão atordoada e mordo o punho que empurrei em<br />

minha boca.<br />

Veja, desde que a inocência de Jake foi roubada, nunca<br />

tive paz. Nem mesmo durante o sono. O terror é como uma<br />

cobra no poço profundo e escuro de minha barriga pronta<br />

para atacar a qualquer momento. O dia chegou. E me encara<br />

com olhos malignos.<br />

Com um grito corro e ligo para Queenie, uma amiga da<br />

minha avó que tem um dom: os espíritos falam com ela<br />

através das cartas. Eu a chamo desesperada.<br />

—Venha agora —fala.<br />

Ela vive em uma área de trailers. Entro no meu carro e<br />

dirijo 32km até lá. Estaciono à beira do campo e caminho<br />

rapidamente para sua casa. Ela abre a porta em seu roupão e<br />

me convida para entrar. Seu rosto é redondo, as<br />

sobrancelhas tiradas impecavelmente e desenhadas com<br />

delineador marrom. Debaixo delas estão um par de grandes<br />

olhos negros com uma borda branca na parte inferior, que dá<br />

ao rosto a aparência de uma santa. Sua boca é pequena e os<br />

lábios murchos. Em Brighton Pier, 42 ela é conhecida como<br />

Madame Q, uma charlatã louca.<br />

Londres.<br />

42 Brighton é uma cidade localizada no litoral sul da Inglaterra, a pouco menos de 100 km de


Subo os degraus e entro em sua casa. É impecavelmente<br />

limpa e o sol brilha através das cortinas, mas é cheio de<br />

sombras misteriosas. Isso me lembra da caravana da minha<br />

avó, com a mesma cortina e o mesmo amor por cristais,<br />

estatuetas de porcelana pouco pintadas e vasos de plantas no<br />

peitoril da janela.<br />

—Farei um chá ou você gostaria de algo mais forte? —<br />

ela pergunta.<br />

—Chá —digo rapidamente.<br />

Ela balança a cabeça e coloca uma chaleira no fogo para<br />

ferver.<br />

—Sente-se, Mara, ou você irá desgastar meu tapete —ela<br />

fala, derramando as folhas de chá no bule.<br />

Paro de andar, sento-me em um sofá delicado com<br />

bordados e almofadas com franjas. Minha perna treme, isso<br />

sempre acontece quando estou nervosa ou assustada. Ela<br />

balançou quando a minha mãe estava doente, e ela tremia<br />

incontrolavelmente quando Jake saía à noite para cuidar de<br />

“algo”.<br />

Queenie derrama água fervente no bule, colocando-o em<br />

uma bandeja com xícaras de pires delicados, um jarro de leite<br />

e uma tigela com açúcar, trazendo-a para mim. Coloca a<br />

bandeja sobre a mesa pequena na minha frente, senta-se<br />

para trás e me olha com seus grandes olhos expressivos.<br />

—Vamos nos sentar por um instante, pode ser?<br />

Aceno agradecida.


—Tenho medo pelo meu filho.<br />

—Veremos o que as cartas dizem.<br />

—Sim, por favor.<br />

Ela alcança debaixo da mesa e pega uma velha caixa de<br />

madeira esculpida com padrões intrincados. Coloca-a no<br />

chão ao lado de suas pernas e tira as cartas. Elas têm<br />

estranhas marcas na parte de trás, que são quase apagadas<br />

pelo uso, e bordas amareladas e sujas. Embaralha-as<br />

cuidadosamente em suas mãos muito brancas, deformadas<br />

pela artrite. Ela me entrega o baralho.<br />

Seguro-o assustada. Muitas vezes na minha vida as<br />

cartas revelaram coisas verdadeiras, algumas pequenas,<br />

algumas de vital importância e outras dolorosas.<br />

—Pense nele —ela instrui.<br />

Embaralho as cartas e penso em Jake. De propósito<br />

lembro dele me olhando feliz, imagino-o forte e saudável. Não<br />

as contamino com o meu próprio medo e preocupação.<br />

—Devolva-me quando estiver preparada. —Sua voz é<br />

plana e impiedosa como a de um oficial da imigração.<br />

Embaralho as cartas mais uma vez e lhe entrego.<br />

Ela segura espalhando-as em um semicírculo sobre a<br />

mesa.<br />

—Nossa Senhora Negra protege. Deixe que seu clamor<br />

chegue até ela —diz baixinho.<br />

Faço o sinal da cruz sobre o peito.


—Escolha apenas uma.<br />

Ignoro a sensação de mau agouro e escolho uma carta.<br />

Os Amantes.<br />

Ela olha com uma expressão cuidadosamente neutra.<br />

—Escolha outra.<br />

Pego a que está por último em sua mão esquerda e lhe<br />

entrego em silêncio. Meu coração acelera, minhas mãos se<br />

abrindo e fechando sem parar no meu colo. A “diabhal”. O<br />

demônio.<br />

Ela vê a imagem e me analisa.<br />

—Uma última carta.<br />

Fecho meus olhos e deixo minha mão trêmula pairar<br />

sobre o semicírculo. Com uma oração em meu coração<br />

escolho uma, entrego sem olhar, mas eu sei que algo está<br />

errado, muito errado.<br />

Queenie franze o cenho para as cartas. É um dia<br />

quente, mas sinto um arrepio que faz o meu cabelo ficar em<br />

pé. Ela coloca as três cartas na mesa, lentamente acaricia a<br />

do meio com o dedo indicador, sua unha é espessa e amarela.<br />

—A torre —diz sem me olhar. Por fim, com expressão<br />

solene fala —Cuidado com a mulher que está ferida, é bonita<br />

e cruel. Tem fuligem e morte em sua boca.<br />

Minha boca se abre com horror diante suas terríveis<br />

palavras.<br />

Seus olhos estão negros, sua voz é fraca.


—Você ainda pode rezar a Nossa Senhora por um<br />

milagre. O abismo pode não acontecer. —Ela reúne as cartas<br />

com um estalo. —Possivelmente.<br />

Há uma placa na porta que não pode ser esquecida.<br />

Nela lê-se:<br />

“Entre, porém é de sua responsabilidade e risco.” -<br />

Whodini


Dezoito<br />

Lily<br />

Nessa manhã, Jake se<br />

levanta cedo. Há alguma coisa que tem que fazer no<br />

escritório.<br />

—Sem importância, mas necessária —disse quando lhe<br />

perguntei o que era.<br />

É muito cedo para o café, mas sento-me e o observo<br />

devorar três fatias de torradas grossas com manteiga e geleias<br />

caseiras que sua mãe faz. Eu o levo até a porta da frente, com<br />

meus braços em volta do seu pescoço e fico na ponta dos pés<br />

para beijá-lo enquanto ele me levanta.<br />

—Vou amassar seu terno —sussurro em seu ouvido.<br />

—Mantenha suas pernas em volta de mim, mulher —<br />

manda.<br />

Acho graça e coloco minhas pernas ao redor de sua<br />

cintura.<br />

—Já falei hoje como está linda?<br />

Inclino minha cabeça e finjo pensar.<br />

—Deixe-me ver. Sim, sim falou.<br />

Ele me olha seriamente.


—Você é linda, Lily. Verdadeiramente linda.<br />

—Está tudo bem? —pergunto.<br />

—Sim, tudo se encaminha para como deve ser —sorri.<br />

Nós nos beijamos suavemente e então ele me deixa.<br />

Por um momento fico olhando para a porta e me<br />

preocupo. Ele está fazendo algo perigoso hoje? Volto para a<br />

cama e me deito por um tempo, pensando. Por que não me<br />

falou para onde ia?<br />

Por volta das nove e meia da manhã tomo um banho,<br />

visto-me e saio. Ando até o final da estrada para o ponto de<br />

ônibus, sento-me em uma das cadeiras de plástico vermelhas<br />

e espero. Ele chega às nove e cinquenta e dois.<br />

Subo a bordo, pago o motorista e sento no andar de<br />

cima. O ônibus me leva até a Leicester Square 43 . Desço e<br />

caminho até Piccadilly Circus 44 . Está cheia de turistas, sentome<br />

nos degraus de pedra sob a estátua e os observo, com<br />

seus mapas e câmeras, entusiasmados.<br />

Depois, vou até a rua Regent onde as pessoas entram e<br />

saem das lojas. Procuro um chapéu. Quando eu olho no<br />

espelho vejo meus olhos enormes e assustados e me afasto<br />

rapidamente. Mexo nos cabides sem interesse algum e meu<br />

comportamento chama a atenção de um guarda de<br />

segurança, que começa a me seguir e saio depressa.<br />

43 A Leicester Square é uma das mais belas e charmosas praças de diversão com várias atrações<br />

turísticas, no centro do West End, em Londres<br />

44 Piccadilly Circus é uma famosa praça de Londres, onde se encontra a famosa estátua de Eros


Entro em uma loja de sapatos e depois de experimentar<br />

cerca de dez pares finalmente compro um, saindo percebo<br />

que nem sei de que cor eles são. É uma e quarenta e cinco da<br />

tarde, entro em um pequeno café e peço um sanduíche de<br />

salmão com pepino, mas sou incapaz de terminá-lo. Pago a<br />

conta e vou em direção ao Pier Embankment 45 .<br />

Quando eu atravesso a ponte sinto o primeiro sinal de<br />

nervosismo, algo como chumbo na boca do meu estômago.<br />

Ignorei-o todo esse tempo, mas não consigo mais. Olho não<br />

para o Tate Modern 46 , mas para a St Paul's Cathedral 47 que<br />

está em segundo plano.<br />

Entro no museu e subo as escadas. No fim do corredor<br />

há uma exposição de Marlene Dumas que gostaria de ver,<br />

mas não irei. Em vez disso vou a uma das salas menores,<br />

onde um homem sentado em um banco contempla uma<br />

colagem chamada 'Pandora' de um artista novo, Miranda<br />

Johnson.<br />

As cores são brilhantes e ousadas, mas não há<br />

nenhuma diferença entre esta e a pintura “Weeping Woman “,<br />

de Picasso. Ambas são fortes e repletas de sofrimento.<br />

Observar a pintura é sentir a dor. Meus olhos vagueiam sobre<br />

ela. Tem um olho na colagem, um par cheio de lábios cor de<br />

rosa brilhantes e uma flor. Tem também palavras como<br />

cadela, chupar, mentiroso, babaca, abuso, e no topo uma<br />

letra cursiva que diz: você é convidado …<br />

45 Embankment Pier é um cais localizado na margem norte do rio Tamisa, em Londres.<br />

46 A Tate Modern é um museu britânico de arte moderna.<br />

47 Catedral de São Paulo, é uma catedral anglicana considerada uma das principais igrejas<br />

de Londres, onde eventos religiosos importantes são realizados.


Ando até a pintura com a alma dolorida.<br />

O homem no banco fala.<br />

—Ela não deveria ter aberto a caixa.<br />

Não olho para ele. Simplesmente me sento ao seu lado,<br />

mas não perto o suficiente para tocar. Sinto-me congelada<br />

por dentro. Penso em meu irmão deitado no chão com a<br />

agulha saindo de seu braço. De repente, sinto a sua dor, a<br />

dor da pintura, a minha dor. Posso fazer isso, é claro que<br />

posso fazer isso.<br />

Olho o quadro e tudo o que posso ver é a palavra<br />

"cadela".<br />

—Você me chamou para uma reunião —o homem diz,<br />

sem me olhar.<br />

—Sim.<br />

Ele vira a cabeça para me olhar e rapidamente encontro<br />

o seu olhar. Quero olhar em seus olhos, quero me sentir<br />

segura novamente. Seus olhos estão escuros e inexpressivos.<br />

Exatamente como me lembro deles. Olho-o e ele desvia o<br />

olhar primeiro.<br />

—Bem?<br />

—Há algo grande acontecendo no décimo sexto —digo.<br />

—O quê?<br />

—Não sei ainda, mas algo está chegando por Dover 48 .<br />

da Mancha.<br />

48 Dover é uma cidade localizada no Sudeste da Inglaterra. É o maior porto britânico do Canal


—Bom trabalho, mas não vamos agir ainda, se não irá<br />

comprometê-la. Deixaremos isso passar. Você tem algo muito<br />

mais importante a fazer.<br />

Engulo em seco.<br />

Ele se vira me olhando.<br />

fria.<br />

—Você está se apaixonando por ele? —Sua voz é dura e<br />

Penso na pele de Jake pressionada na minha, sua<br />

língua traçando uma trilha erótica para o meu ouvido, seus<br />

lábios sussurrando: "Eu amo você, Lily. Eu nunca acreditei<br />

que alguém poderia ser tão bonita quanto você."<br />

—Não, claro que não. Este é apenas um trabalho —digo<br />

angustiada.<br />

Ele me analisa.<br />

—Bom. Porque você é uma agente da coroa e nossa<br />

melhor esperança para acabar com Jake e sua empresa<br />

criminosa.<br />

—Sim, senhor. —concordo já saindo.<br />

—Tenha juízo, Hart —ele adverte.<br />

Não volto e também não me permito pensar em Jake.<br />

Afasto-me com o som dos meus pés ecoando no piso duro, e o<br />

belo rosto de Luke desamparado vem em minha mente.<br />

Continua…

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