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1.5 - Sweet Filthy Morning After

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Pequeno conto sob o ponto de vista de Ansel.<br />

Copyright © 2014 Christina Hobbs e Lauren Billings (trad. por Luma)<br />

Quando finalmente gozo, todo o meu corpo fica mole e pegajoso. O sono queima por trás das minhas pálpebras e o esforço que é<br />

preciso para me virar de barriga para cima seria cômico se eu estivesse assistindo isso acontecer com outra pessoa. Talvez o teto<br />

não estivesse girando em cima de mim.<br />

O quarto de hotel é fresco e escuro, mas é um tipo artificial de escuridão, onde o sol está sufocado por pesadas cortinas isolantes,<br />

e é impossível dizer que horas são. Mesmo sem olhar em volta, eu posso dizer que a cama em que estou não é de solteiro, é<br />

enorme. Passei a maior parte da minha vida adulta desejando que todas as camas em que dormi fossem duas vezes maior do que<br />

elas eram de fato. Durante a Bike and Built, eu compartilhei uma tenda com outras três pessoas, e todas as noites, durante um<br />

ano dormi em uma tenda onde meus pés ficavam pendurados sobre a borda. Aqui, minhas pernas estão totalmente estendidas e<br />

ainda assim eu não consigo sentir o estribo, e há muito espaço em ambos os lados. Provavelmente poderia me esticar como uma<br />

estrela do mar em todo o colchão, se eu quisesse. Mas, com o teto ainda se movendo e fora de foco, a ideia de me movimentar,<br />

mesmo que apenas um centímetro me faz querer costurar minha boca para que eu nunca, nunca, nunca mais possa beber de<br />

novo.


O barulho do ar condicionado em algum lugar próximo, inunda o espaço com ar industrial. Há um toque de fumaça de cigarro, o<br />

traço inconfundível de perfume. O odor de uma grande quantidade de álcool. Enrugo o nariz; estou bastante certo de que esse<br />

último é comigo mesmo. Parece que alguém está tentando tirar o couro cabeludo do meu crânio, e quando eu consigo chegar<br />

para baixo e puxar alguma coisa – uma meia, que encontro debaixo da minha perna – percebo que também estou muito, muito nu.<br />

Pequenos sons de tosse surgem de um lugar a minha esquerda… Então eu também não estou sozinho.<br />

É surpreendente, como uma pessoa consegue ficar sóbria, tão rápido.<br />

Eu fico em pé e me arrependo quase que imediatamente. Gemo, meus joelhos tremem. Eu aperto meus olhos, fechando – os, me<br />

pressionando contra o colchão até que o mundo volte ao seu lugar novamente. O outro lado da cama, havia sido claramente…<br />

utilizado. Os lençóis estão puxados soltos, o cobertor estava perdido, e outro som – um murmuro baixinho – próximo ao chão me<br />

chama atenção.<br />

Espreito por cima da borda e da forma da mulher nua dormindo na minha frente.<br />

Ela está enrolada em seu lado da cama de frente para mim e eu estou imediatamente dominado por quilômetros de pele e pernas<br />

macios e Deus, a sombra do que parece ser o peito mais perfeito que eu já vi. Eu cubro minha boca com a mão e consigo conter<br />

uma outra onda de náusea. A leve pressão é suficiente para me fazer querer vomitar em todo o lençol branco que está<br />

emaranhado na menina que, de alguma forma, conseguiu não acordar durante tudo isso.<br />

Os músculos do meu abdômen, pernas e ombros estão doloridos por causa do esforço e a forma como cada centímetro da minha<br />

pele dói, especialmente em alguns lugares bastante delicados, sei que um monte de sexo aconteceu ontem à noite. Sinto que corri<br />

uma maratona.<br />

Me esforço para inclinar-me sobre a cama de novo e me concentrar, olho o cabelo e os brilhantes lábios vermelhos escuros , o<br />

pescoço longo e gracioso coberto de uma trilha do que eu só posso imaginar ser chupões que lhe dei. Ela se desloca em seu<br />

sono, traz um braço para cima e sobre a cabeça e eu congelo, vendo o simples reflexo de ouro em seu dedo.<br />

Congelo, entrando em pânico. Será que eu brinquei com uma mulher casada? Corro minha mão pelo rosto, gemendo de horror e<br />

nesse momento sinto o metal frio na minha bochecha. Meu coração quase para quando vejo um aro de ouro brilhando na minha<br />

mão.<br />

Oh.<br />

Oh.<br />

Eu não posso acreditar que, mesmo que por um batimento cardíaco, eu esqueci o que aconteceu com Mia.<br />

*******<br />

A primeira coisa que eu notei foi sua boca. Cheia e redonda, lábios cor de cerejas e tão vermelhos que era quase obsceno.<br />

Parece clichê que minha primeira reação fosse pensar em sexo, mas, Jesus, é tudo que me veio à mente, olhando para aqueles<br />

lábios. Claro, eu tinha imaginando-os na mais previsíveis maneirais visuais possíveis para um homem, em torno do meu pau,<br />

arrastando-se em todos os outros centímetro do meu corpo, mas eu também queria saber se eles tinham gosto de cerejas.<br />

Havia três mulheres sentadas no balcão do outro lado da pista de dança. A ruiva alta estava contando alguma história, claramente<br />

tentando gritar por cima da música e gesticulando freneticamente com as mãos. A morena ao lado dela estava rindo como se<br />

fosse a coisa mais engraçada que já tinha visto, mas aquela com o cabelo e a boca mais escura estava apenas sentada ali,<br />

sorrindo, sorrindo como se assistir sua amiga rir fosse o destaque de toda a sua noite. E isso era contagiante.<br />

Je n’ai jamais vu quelque chose d’aussi beau.<br />

Percebi que estava olhando e tentei desviar o olhar. Várias vezes. Finn e Oliver estavam apontando uma garota dançando sobre<br />

uma mesa em frente ao bar, mas eu eu deixei de olhar há muito tempo, incapaz de ouvir uma palavra do que eles estavam


dizendo de qualquer maneira. A música soava através do clube com uma batida que engoliu todas as conversas até que a única<br />

maneira de se comunicar fosse com os quadris e as mãos e os olhares furtivos ou francamente evidentes. Que era exatamente o<br />

que eu estava fazendo, meus olhos atravessando o salão para encará-la.<br />

Até então, ela não tinha notado. Aceitei sem palavras a oferta de outra bebida de Oliver e a procurei através do mar de corpos<br />

ondulantes, debatendo se eu deveria atravessar a pista de dança para conseguir o seu nome. Ela ergueu o queixo, assim como a<br />

multidão se moveu, e sua mesa entrou em exibição novamente.<br />

Os olhos verdes encontraram os meus e não havia uma chance em todo o inferno de que eu iria ser capaz de puxar os meus pés<br />

de onde eles pareciam estar aparafusado ao chão, muito menos lembrar do meu próprio nome. Eu tinha visto uma centena de<br />

meninas olharem para mim do outro lado do salão, mas nunca me senti assim, como se o ar tivesse acendido no espaço entre nós<br />

e a respiração tivesse sido arrancada de meus pulmões. Eu não piscava, não respirava, não ouvi um decibel do baixo batendo ou<br />

os gritos bêbados das pessoas ao meu redor. Eu tinha sido reduzido a um friozinho na barriga e o crescente peso do meu próprio<br />

sorriso que se estendia pelo meu rosto.<br />

Ela não desviou o olhar, apenas continuou a sustentar o meu olhar até a língua aparecer e lamber seu lábio inferior e ela<br />

pronunciar a palavra “Oi”.<br />

Eu estava obliterado por uma única sílaba.<br />

Retornei o cumprimento e não podia deixar de olhar para longe, engolindo o resto da minha bebida em um único tiro.<br />

“Você está bem, cara?” Oliver gritou, preocupado. O sangue bombeava através das minhas veias e minhas bochechas estavam<br />

quentes. Eu me senti um pouco como no início de um passeio de bicicleta, aquela rápida explosão de adrenalina enquanto você<br />

olhar para baixo da estrada e não tem ideia do que está no final.<br />

“Je. . . j’ai vu. . . ”<br />

Ele riu. “Em Inglês, Ansel.”<br />

Eu balancei a cabeça atordoado, traçando a borda do meu copo vazio e dizendo: “Eu vi. . . “Antes de voltar para ela.<br />

Elas tinham ido embora.<br />

******<br />

Tenho vinte e oito anos e acabo de acordar em um hotel em Las Vegas, casado. O fato de não estar completamente em pânico ou<br />

procurando a saída mais fácil e acessível, não faz absolutamente nenhum sentido. Em vez disso estou apenas… calmo.<br />

Ignorando minha dor de cabeça, caio em uma cadeira e assisto Mia dormindo. Eu acharia meu próprio comportamento assustador<br />

em qualquer outra situação, mas através da névoa de minha ressaca e sono, percebo que ainda estou bêbado demais para<br />

qualquer introspecção real… Por outro lado, sei que quero ela.<br />

O quarto parece ter sido atingido por um tornado. Um conjunto de malas rosa está apoiado no canto com o conteúdo derramandose<br />

pelo chão. A mochila escura está jogada ao lado de um armário e uma mala marrom cara, mas simples descansa ao lado dele.<br />

Há sapatos alinhados sob uma janela e me pergunto quantas pessoas exatamente estão ficando aqui. Conto dezessete pares,<br />

que vão desde saltos de cores vivas para os saltos que eu tenho certeza que dariam até mesmo a stripper mais experiente um<br />

momento de pausa.<br />

Lembro-me da primeira vez em que vi Mia e suas amigas na noite de sábado na Haze. Nós sorrimos, flertamos calmamente a<br />

distancia e, em seguida, ela se foi. Lembro-me de vê-la no corredor, querendo que ela entrasse comigo. Eu não tinha um plano,<br />

eu não sabia o que vinha a seguir na nossa história. Eu só sabia que se eu não a visse de novo, sentiria como se tivesse deixado<br />

um precioso fio dourado solto quando voltasse para a França.


Mas eu a encontrei novamente, conversamos, e de uma forma que não posso explicar, sinto que a tinha feito minha. Como se<br />

tudo tivesse se voltado para mim – em gagueira, flashes de palavras, rangidos e lábios e pele e risadas, os sons de seus gemidos<br />

e implorando para serem sufocados, a sensação de suas mãos sobre mim e seus olhos segurando os meus enquanto eu me<br />

movia sobre ela, eu sei completamente que sou dela.<br />

Isso, e sua insistência, me fizeram prometer não anular o nosso casamento.<br />

Ela me disse coisas ontem à noite, coisas que eu sei que ela nunca disse pra mais ninguém.<br />

Disse que ia começar a escola no outono, e uma lesão horrível arruinou sua carreira de dançarina, que nunca vai adorar fazer<br />

qualquer coisa tanto quanto ela gostava de dançar, mas é quase como se ela tivesse desistido de tentar.<br />

Há uma força sob sua vulnerabilidade que é esculpido por algo desconhecido, em um lugar fundo dentro de mim, não tenho<br />

nenhum desejo de tirar este anel do meu dedo.<br />

E mesmo que só agora eu esteja começando a lembrar de cada palavra que ela me disse ontem à noite, eu quero que ela acorde<br />

e me diga novamente. Também percebo que as chances de isso acontecer são pequenas; eu a conheço, sim. É mais provável<br />

que Mia vá acordar e se lembrar do que fizemos, pirar, e eu nunca mais vou vê-la novamente. Ou pior, talvez ela não vá se<br />

lembrar de tudo. Nós dois bebemos bastante – é perfeitamente possível de que ela vá ter nenhuma lembrança do que aconteceu<br />

e assumir que eu aproveitei dela de alguma maneira. O pensamento por si só é suficiente para fazer o meu estômago cair em<br />

meus pés.<br />

Eu olho para ver que ela ainda está definitivamente dormindo, e rolou para o lado dela, colocando o edredom até o queixo. Eu<br />

esfrego minhas mãos sobre rosto e estou muito consciente do quão repugnante estou. Eu cheiro a bebida e ao clube e há algo<br />

pegajoso que cheira a canela pinicando minhas costelas. Balanço, olho para baixo e percebo uma embalagem<br />

de camisinha preso ao meu braço. Classy, mon ami.<br />

Com as cortinas ainda cobrindo a sala está sombreada e fresca. Eu levanto e caminho para o espelho do banheiro, fazendo uma<br />

careta quando acendo a luz. Meus olhos estão inchados, meu cabelo em pé de um lado e, há um rastro de batom vermelho que<br />

começa no pescoço e se move para baixo, em meu peito. Não há nenhuma maneira que eu possa falar com ela assim. Isso vai<br />

assustá-la.<br />

Acho minhas calças jogadas em uma cadeira na sala de estar; minhas boxers estão cobrindo uma lâmpada vermelha, presa no<br />

canto do quarto. Encontro um sapato entre a mesa e a parede, e não tenho nenhuma ideia de onde o outro está. Foda-se, minhas<br />

roupas cheiram pior do que eu. Com outra olhada em Mia, eu decido me vestir e correr para o meu quarto para tomar banho. Com<br />

alguma sorte eu posso encontrar os rapazes, me limpar e voltar antes que ela esteja acordada.<br />

Estou quase fora do quarto quando me ocorre deixar um bilhete. Depois que eu sair da sala não vou ter um jeito de voltar, por isso<br />

vamos ter de nos encontrar no restaurante do casino lá embaixo. Eu sei seu primeiro e último nome, onde vive e praticamente<br />

todos os detalhes sobre sua família, mas eu não consigo acabar com o pânico de que ela vai acordar e fugir. Nós somos casados,<br />

eu me lembro. Não há nenhuma maneira de ela sair sem simplesmente falar comigo primeiro… Eu acho.<br />

Verifico meus bolsos de trás e, em seguida os da frente, franzindo a testa quando encontro um pedaço de papel já dobrado. Eu<br />

puxo o envelope, viro-o e passo o dedo ao longo das palavras rabiscadas apressadamente.<br />

Ansel: entregue-me pela manhã. Não leia. – Mia<br />

Lembro-me de ela me entregando isso. Nós tínhamos ido até o quarto e ela pediu licença para ir até o banheiro, ficou lá por pelo<br />

menos 15 minutos. Eu não sabia que tipo de conclusão ela havia chegado enquanto estava lá dentro, mas quando saiu, tinha um<br />

olhar recém resolvido sobre ela. A confiança na linha dos ombros, o ângulo de seu queixo. Ela se aproximou de mim, colocou o<br />

envelope na minha mão com as suas instruções. Então me atacou.<br />

Corro meu polegar ao longo da vedação, sinto o peso do papel e de tudo o que está escondido. Com um profundo suspiro, eu o<br />

coloco de volta no bolso.


Um pequeno bloco de notas jaz na mesa e eu atravesso a sala, desejando que minha mão se firme enquanto escrevo um<br />

bilhete e coloco sobre o travesseiro na cama. Eu me endireito; levando um momento para olhar para o chão onde ela se encontra,<br />

para estudar cada linha do rosto, eu cresci ao conhecê-la tão bem a noite passada.<br />

Encontro-me observando como absolutamente linda ela é. Ela era um borrão de lábios vermelhos e mãos inquietas, dedos que se<br />

moviam constantemente para roubar o cabelo escuro de sua testa. Foi um movimento praticado, que eu não tinha certeza de que<br />

ela estava consciente: um pequeno aceno de cabeça, o mais leve toque para alisar a franja para o lado. Seus olhos eram<br />

castanhos e a franja com chicotes longos, do tipo que você não poderia deixar de ser hipnotizado a cada piscar de olhos. Alguns<br />

podem descrever Mia como pálida, mas leitosa é muito mais preciso. Sua pele é clara e perfeita, quase de porcelana, e eu me<br />

encontro querendo puxá-la para mais perto, empurrar a camisa de seus ombros e procurar até mesmo uma única sarda. Ela era<br />

vários centímetros mais baixa do que eu, com membros longos e esbeltos e um tipo de graça que você só encontraria em alguém<br />

que tinha passado toda a sua vida contando estórias com o seu corpo.<br />

Cuidadosamente, deslizo um braço por baixo e ao redor dos joelhos e outro sob seus ombros, suavemente levanto-a do caos no<br />

chão. Sua pele é tão macia, e apesar da selvageria da nossa noite, ela cheira exatamente como eu me lembro: um pouco como<br />

uma flor, um pouco como uma mulher. Por baixo de tudo, é o cheiro de sexo que faz meu sangue se agitar, meus lábios quentes<br />

no pensamento de pressionar um beijo em seu pescoço, apenas um único beijo. Como faço isso, prendo a respiração, querendo<br />

que ela acorde para que eu possa ver algum reconhecimento em seus olhos, mas também desejando que ela<br />

continuasse dormindo até que eu possa estar mais apresentável.<br />

A realização me balança: Eu quero a melhor imagem que tenho com ela. Eu não quero que ela me veja assim: sujo, pegajoso, de<br />

ressaca e cru. Tão lentamente quanto eu posso, eu a coloco no meio do colchão, e mudo meu bilhete de posição para que ele se<br />

sente bem ao lado dela.<br />

Ela não se mexe.<br />

Uma boa olhada ao redor me mostra que o quarto está realmente um desastre. Encontro-me a tentando reposicionar os móveis,<br />

arrumando os cobertores e travesseiros e endireitando a mesinha que de alguma forma acabou jogada para o lado. Há algumas<br />

manchas bastante impressionantes sobre o espelho que está pendurado na porta, como se o corpo nu de alguém tivesse sido<br />

pressionado contra ele, um conjunto de marcas de mãos estão visíveis em ambos os lados de sua cabeça. Hesito por um<br />

momento antes de levantar o meu braço, deixando a palma da mão pairar sobre a marca. É o mesmo tamanho. Eu gasto mais do<br />

que alguns minutos tentando ligar as peças, lembrando-me da maneira em que eu a levantei, e a apertei contra a parede<br />

enquanto deslizava para dentro dela, cego para tudo que não fossem seus sons suaves e palavras de necessidade.<br />

Meu dedo traça as linhas cruzadas sobre a faixa de ouro em volta do meu dedo e minha respiração está irregular; nós realmente<br />

precisamos conversar. Mas, primeiro, um chuveiro, um pouco de água e, se há um Deus no céu, alguns ibuprofenos.<br />

Com um último olhar sobre o meu ombro eu abro a porta e a deixo fechar suavemente atrás de mim.<br />

Um banho quente e dois Motrins depois, me sinto mais perto de ser um humano que suspeito que chegarei a ser hoje. Fico<br />

olhando para meu reflexo deformado nas portas do elevador. As portas de bronze estão manchadas nas bordas, onde as duas<br />

partes se encontram no centro, o acabamento entorpecido por centenas de minúsculas mãos sujas das crianças, que eu sei,<br />

sentem a necessidade de tocar em tudo. Eu resisto ao impulso de limpá-las com minha manga porque as palavras de minha mãe<br />

tocam nos meus ouvidos, como sempre: Não toque nas coisas que outras pessoas têm de limpar.<br />

Esta é uma das coisas favoritas de Oliver para me zoar. Minha necessidade constante de limpar imediatamente qualquer<br />

superfície que eu tenha deixado minha impressão digital, uma marca d’água. O fato de eu sempre limpar meu apartamento antes<br />

de a empregada chegar. Minha tendência de arrumar meu apartamento, mesmo depois de trabalhar 14 horas. Minha mãe<br />

ganhava a vida como governanta quando ela chegou pela primeira vez na França, e ela iria me esfolar vivo se achasse a bagunça<br />

que deixei na minha cama esse fim de semana. Ela iria cair morta se visse o quarto de hotel de Mia.<br />

O elevador para no décimo sexto andar e o único passageiro além de mim sai. Quando as portas se fecham novamente eu assisto<br />

os pisos deslizarem para baixo.<br />

De acordo com o SMS, Oliver e Finn estão no restaurante do hotel tomando café da manhã e aparentemente estão tão fodidos<br />

quanto eu.


Minha mão se move para o bolso de trás da minha calça jeans e encontra o bilhete que coloquei lá depois de me vestir. Há uma<br />

parte de mim que diz que eu poderia lê-lo e Mia nunca saberia, mas há uma grande parte que quer ganhar a confiança dela.<br />

Eu sei o jeito que ela estava na noite passada, me lembro das coisas que ela disse, das coisas que fizemos. Será que ela vai<br />

aparecer? Estamos casados, parece que existem apenas dois caminhos que podemos tomar a partir daqui: ficar juntos,<br />

ou terminar. Na verdade, é um pouco desorientador o quão azedo o segundo pensamento se parece.<br />

O elevador para e eu saio para o casino e vejo os caras imediatamente. Nossos olhos se encontram e eles me cumprimentam<br />

com um aceno de queixo. Nenhum deles parece melhor do que eu. Tomo a cadeira em frente a Finn e bem em frente aos<br />

elevadores, intencionalmente. Se Mia acordar e vier me encontrar, eu quero que seja fácil. Eu não quero qualquer medo ou<br />

hesitação no meio do caminho.<br />

Finn está com a cabeça entre as mãos, os polegares se movendo em círculos lentos sobre as têmporas. Oliver está apenas<br />

olhando para seu prato de bacon e ovos, como se olhasse para eles por tempo suficiente iria fazer com que eles<br />

desaparecessem. Há dois aros de ouro sobre a mesa entre nós.<br />

Eu estendo a mão, para pegar um deles. “Que noite, hein?”<br />

Finn endireita-se na cadeira e respira fundo. “Parece que sim.”<br />

Concordo com a cabeça e nos sentamos em silêncio por um momento. “Você não se lembra de muita coisa, né?” Oliver pergunta.<br />

“Bebi demais,” eu digo. Quase uma hora depois de acordar confuso, agora me lembro de tudo. Cada palavra. Cada toque. Cada<br />

uma das pequenas inquietações, sorrisos e sons tranquilos de Mia. “E então vocês quatro se separaram enquanto Mia e eu<br />

conversamos. Eu acho que em torno de uma ou duas horas depois nós dissemos que iriamos nos casar e vocês todos se<br />

decidiram, que o inferno, iriam juntos, também. ”<br />

“Eu me lembro de muita bebida, e muito mais das transas”, brinca Finn e todos rimos e depois gememos em uníssono. “Eu<br />

conversei com Harlow esta manhã”, ele continua. “Nós vamos nos encontrar no saguão do hotel, assim todo mundo se resolve.<br />

Vamos desfazer tudo isso. ”<br />

Oliver acena em concordância com bastante força. Sento-me lá tranquilamente porque mais uma vez, a ideia de acabar com as<br />

coisas com Mia soa cada vez pior de se imaginar. Eles continuam a conversar entre si enquanto eu estou completamente fora de<br />

zona, perdido em meus pensamentos.<br />

“E se,” Eu começo, girando lentamente a bebida na minha frente “eu não quisesse fazer isso?”.<br />

Como previsto, eles piscaram como zumbis para mim. Eles me consideram por um momento, aquele silêncio estranho enquanto<br />

as pessoas continuavam a rir e falar tudo ao redor, até que Finn pigarreia.<br />

Mas é Oliver quem fala primeiro. “Não quisesse fazer o que?”<br />

Uma gota de condensação desliza ao longo do copo. Eu observo piscina antes de encontrar seus olhos novamente. “Anular o<br />

casamento.”<br />

Quando Oliver balança a cabeça e ri, eu sei exatamente onde esta conversa está indo. Ele senta-se novamente na cabine e joga o<br />

guardanapo na mesa. “Aqui vamos nós.”<br />

“O quê?”, Pergunto.<br />

“Você sempre faz isso, Ansel”, diz Finn.<br />

“Eu sempre me caso em Vegas e decido não anular?”


“Não”, diz Finn. “Você tem essa maneira de ficar ligado a cada pessoa que conhece. Eu não estou dizendo que é uma coisa ruim,<br />

mas, porra, este não é o momento para ser romântico. Você é casado. Com alguém que você acabou de conhecer. Você vai para<br />

casa para a França em dois dias. Você percebe as complicações aqui? ”<br />

Bordel de merde!<br />

Eu suspiro, sentando-me para trás e empurrando o cabelo da minha testa. É a mesma coisa que eu ouvi toda a minha vida, quase<br />

a conversa exata que minha mãe teve comigo quando meu último relacionamento terminou. E não é que eles estão totalmente<br />

errados, mas as minhas afeições soam fugazes e superficiais quando colocadas dessa forma. Nunca foi minha intenção.<br />

Putain. Je suis sur le point de rendre les choses fois mille mais compliquées.<br />

“O que você disse?” Finn pede, inclinando-se para a frente.<br />

Eu não sabia que eu tinha falado em voz alta. “Nada. Só que eu sei que estou tornando as coisas um milhão de vezes mais<br />

complicadas, mas… ”<br />

Mia e eu não nos encontramos, nós colidimos. Pelo menos, é assim que me sinto quando me lembro, a mudança instantânea no<br />

ar, a maneira como ela mudou a minha vida, no montante de 12 horas.<br />

Quando eu não respondi de imediato, Finn se inclinou para frente, apoiando os cotovelos sobre a mesa. “Então você está dizendo<br />

que tem sentimentos por ela? Era apenas sexo, Ans ”<br />

“Não”, eu digo. Eu não estou apaixonado por Mia, nós acabamos de nos conhecer e eu não sou tolo o suficiente para pensar que<br />

algo tão forte assim poderia acontecer durante uma noite. Mas há uma conexão entre nós, algo que eu não estou pronto para<br />

desistir ainda. “Eu… gosto dela. ”<br />

“Ansel,” Finn diz, exasperado. Ele rasga em um pacote de açúcar, jogando-o em seu café antes de adicionar outro. “Você tem que<br />

parar de pensar com o seu pau, cara. É compreensível que você já tenha pro… ”<br />

Eu ergo minha mão, interrompendo-o quando vejo as portas do elevador se abrindo, e Mia sair. Ambos se viram e seguem meu<br />

olhar, gemendo quando a veem.<br />

“Só não seja um idiota”, diz Finn, antes de empurrar a cadeira para trás.<br />

Ela tomou uma ducha e se trocou, e está tão bonita, quanto a primeira vez que a vi. Seu cabelo escuro é cortado em um ângulo<br />

apenas até seu queixo, é brilhoso e em linha reta, e por um momento eu estou lembrado de como ele deslizou por entre meus<br />

dedos, ajuntados em meu punho. A forma como os fios caiam ao longo da pele do meu estômago e das minhas coxas. Ela está<br />

usando uma blusa cinza, o pescoço livre deixando o ombro direito descoberto. As mangas são muito longos e eu sorrio quando<br />

ela afasta o cabelo do rosto.<br />

Ela não nos viu ainda, e continua a olhar para fora além do casino. Estou cansado e enjoado, mais nervoso do que eu lembrava<br />

estar. Ela está cansada, olheiras surgem na pele sob seus olhos e ela parece pálida. Definitivamente ressaca. Seu rosto está livre<br />

de maquiagem, lábios mordidos e vermelhos e ainda mais perfeito do que eu me lembrava.<br />

Nossos olhos se encontram e meu coração para.<br />

Fim.

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