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A ESCRAVA ISAURA - BERNARDO GUIMARAES

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entre si os três cavalheiros como impressionados por uma aparição celeste.<br />

— E não reparaste, — acrescentou o Dr. Geraldo, — naquele feiticeiro<br />

sinalzinho, que tem na face direita?... Álvaro tem razão; a sua fada vai eclipsar todas<br />

as belezas do salão. E tem de mais a mais a vantagem da novidade, e esse<br />

prestígio do mistério, que a envolve. Estou ardendo de impaciência por lhe ser<br />

apresentado; desejo admirá-la mais de espaço.<br />

Neste tom continuaram a conversar, até que, passados alguns minutos,<br />

Álvaro, tendo cumprido a grata comissão de apresentador daquela nova pérola dos<br />

salões, estava de novo entre eles.<br />

— Meus amigos, — disse-lhes ele com ar triunfante. — convido-os para o<br />

salão. Quero já apresentar-lhes D. Elvira para desvanecer de uma vez para sempre<br />

as injuriosas apreensões, que ainda há pouco nutriam a respeito do ente o mais belo<br />

e mais puro, que existe debaixo do Sol, se bem que estou certo que só com a<br />

simples vista ficaram penetrados de assombro até a medula dos ossos.<br />

Os quatro cavalheiros se retiraram e desapareceram no meio do turbilhão<br />

das salas interiores. Foram, porém, imediatamente substituídos por um grupo de<br />

lindas e elegantes moças, que cintilantes de sedas e pedrarias como um bando de<br />

aves-do-paraíso, passeavam conversando.<br />

O assunto da palestra era também D. Elvira; mas o diapasão era totalmente<br />

diverso, e em nada se harmonizava com o da conversação dos rapazes. Nenhum<br />

mal nos fará escutá-las por alguns instantes.<br />

— Você não saberá dizer-nos, D. Adelaide, quem é aquela moça, que ainda<br />

há pouco entrou na sala pelo braço do senhor Álvaro?<br />

— Não, D. Laura; é a primeira vez que a vejo, parece-me que não é desta<br />

terra.<br />

— Decerto; que ar espantado tem ela!... parece uma matuta, que nunca<br />

pisou em um salão de baile; não acha, D. Rosalina?<br />

— Sem dúvida!.., e você não reparou na toilette dela?... meu Deus!... que<br />

pobreza! a minha mucama tem melhor gosto para se trajar.<br />

— Aqui a D. Emília é que talvez saiba quem ela é.<br />

— Eu? por quê? é a primeira vez que a vejo, mas o senhor Álvaro já me<br />

tinha dado notícias dela, dizendo que era um assombro de beleza.<br />

— Não vejo nada disso; é bonita, mas não tanto, que assombre.<br />

— Aquele senhor Álvaro sempre é um excêntrico, um esquisito; tudo quanto<br />

é novidade o seduz. E onde iria ele escavar aquela pérola, que tanto o traz<br />

embasbacado?...<br />

— Veio de arribação lá dos mares do Sul, minha amiga, e a julgar pelas<br />

aparências não é de todo má.<br />

— Se não fosse aquela pinta negra, que tem na face, seria mais suportável.<br />

— Pelo contrário, D. Laura; aquele sinal é que ainda lhe dá certa graça<br />

particular...<br />

— Ah! Perdão, minha amiga; não me lembrava que você também tem na<br />

face um sinalzinho semelhante; esse deveras fica-te muito bem, e dá-te, muita<br />

graça; mas o dela, se bem reparei, é grande demais; não parece uma mosca, mas<br />

sim um besouro, que lhe pousou na face.<br />

— A dizer-te a verdade, não reparei bem. Vamos, vamos para o salão; é<br />

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