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DIAS<br />
DE<br />
SANGUE<br />
GUERRA e<br />
PAZ<br />
SVNLITTIERE<br />
1
DIAS<br />
DE<br />
SANGUE<br />
GUERRA<br />
SVNLITTIERE<br />
2
INDICE:<br />
DIAS DE SANGUE<br />
GUERRA<br />
01. APRESENTAÇÃO Pg 05<br />
01 . INTRODUÇÃO Pg 08<br />
1ª PARTE<br />
1º ATO<br />
02 . O DESPERTAR Pg 18<br />
03. O PRIMEIRO CONTATO Pg 20<br />
04. THE EAGLE HAS LANDED Pg 24<br />
05. SEUS HEROIS Pg 27<br />
06. A APARIÇÃO Pg 52<br />
07. UMA ROSA COM AMOR Pg 58<br />
2º ATO<br />
08. O SISTEMA<br />
09. HOJE Pg 64<br />
10. UM ANO ANTES Pg 75<br />
11. AGORA Pg 87<br />
12. UMA SEITA SATÂNICA Pg 90<br />
13. A PROFISSIONAL Pg 99<br />
2ª PARTE<br />
3º ATO<br />
14. RESSURRECTION Pg 107<br />
3
15. GUERRA Pg 121<br />
16. UMA ESTAÇÃO NO MEIO DO NADA Pg 125<br />
17. CRISE NA CAPITAL Pg 128<br />
18. CADA SUSPIRO QUE VOCÊ DER Pg 137<br />
19. EPÍLOGO Pg 148<br />
20. AGRADECIMENTOS Pg 150<br />
21. NOTAS Pg 151<br />
22. SOBRE O AUTOR Pg 152<br />
4
1. APRESENTAÇÃO<br />
Quando <strong>de</strong>cidi escrever este livro, foi por observar que<br />
no mercado editorial havia muitos livros sobre vampiros,<br />
lobisomens, espíritos bons ou maus e, sobretudo, zumbis, muitos<br />
zumbis.<br />
Perguntei-me então o porquê <strong>de</strong> não falarmos <strong>de</strong> forças<br />
também sobrenaturais magníficas, incompreendidas e misteriosas,<br />
os anjos.<br />
Já vimos alguns poucos filmes, como “Cida<strong>de</strong> dos<br />
Anjos” ou “Legião”, que expõem este mundo misterioso e<br />
fantástico.<br />
Po<strong>de</strong>mos ver também a série “Supernatural”, on<strong>de</strong><br />
aparecem Anjos na sua luta eterna contra os <strong>de</strong>mônios.<br />
Temos uma <strong>de</strong>monstração também na Revista em<br />
quadrinhos Spawn, o soldado do inferno que também ganhou as<br />
telas do cinema.<br />
Nesta aventura, o <strong>de</strong>mônio convoca (é claro com<br />
chantagens e enganações), os melhores soldados, para comporem<br />
suas forças infernais visando dominarem o mundo e há uma<br />
guerra particular contra os anjos, que neste caso, são belda<strong>de</strong>s<br />
estonteantes, que fazem questão <strong>de</strong> mostrarem suas curvas.<br />
Algumas culturas também os cultuam, como<br />
mensageiros, ou guerreiros, ou mesmo “os nossos Anjos da<br />
Guarda”.<br />
Mas <strong>de</strong> qualquer forma, é um mundo misterioso.<br />
anjo.<br />
Alguns incrédulos dizem que eles nem existem<br />
Então, comecei a me perguntar, porque não?<br />
Porque não termos um herói, meta<strong>de</strong> homem, meta<strong>de</strong><br />
Qual seria sua missão, suas fraquezas e virtu<strong>de</strong>s.<br />
5
Quis também misturar um pouco <strong>de</strong> música e<br />
romantismo, fazendo uma mescla com o mundo espiritual e o<br />
material.<br />
Aproveitei a música, principalmente o rock, para expor<br />
um mundo um tanto marginalizado, mas que tem suas virtu<strong>de</strong>s<br />
também.<br />
Convido você leitor a <strong>de</strong>liciar-se ou irritar-se com esta<br />
aventura.<br />
Tomei a liberda<strong>de</strong> aqui, <strong>de</strong> colocar letras <strong>de</strong> algumas<br />
músicas, pesadas ou românticas.<br />
Desta forma, o leitor po<strong>de</strong>rá buscar estar músicas,<br />
comprar os CDs, ou não, mas principalmente, ler os capítulos e<br />
ouvir a música ao mesmo tempo, compondo assim, uma trilha<br />
sonora.<br />
Aproveito também, além <strong>de</strong> enriquecer o livro,<br />
apresentar ao público algumas bandas e canções, enriquecendo<br />
assim, o conhecimento e gosto <strong>de</strong> cada leitor.<br />
Ou não.<br />
Mas a intenção é a melhor possível, para que o leitor saia<br />
da mesmice e curta da melhor forma este livro.<br />
No mais, <strong>de</strong>sejo a você uma boa leitura.<br />
6
7
2. INTRODUÇÃO<br />
Ao nosso redor há um mundo invisível e po<strong>de</strong>roso.<br />
Populoso e com recursos superiores ao que existe em<br />
nosso mundo visível.<br />
Seres espirituais bons e maus vivem em nosso meio, e<br />
passam <strong>de</strong> um lugar para o outro com gran<strong>de</strong> facilida<strong>de</strong>, rapi<strong>de</strong>z e<br />
na maioria das vezes, imperceptíveis.<br />
Alguns <strong>de</strong>sses seres espirituais se interessam pelo nosso<br />
bem estar.<br />
Outros, porém, estão empenhados em fazer-nos o mal.<br />
Muitas pessoas questionam se existem realmente tais<br />
espíritos ou seres.<br />
Quem são, on<strong>de</strong> se encontram e o que fazem?<br />
Não há dúvidas que há outra classe <strong>de</strong> seres superiores ao<br />
homem.<br />
Quem pensa o contrário, ou ainda não se apercebeu dos<br />
acontecimentos ao seu redor, está cego, tão arraigado à matéria<br />
que não percebe o obvio, ou já foram tão iludidos que <strong>de</strong>cidiram<br />
não acreditar em mais nada que não seja palpável.<br />
Alguns milhares ou milhões <strong>de</strong>stes seres habitam nos<br />
céus e formam os exércitos celestiais, a inumerável companhia<br />
dos servos invisíveis <strong>de</strong> Deus ou Força Criadora do Universo.<br />
Esses são os Anjos <strong>de</strong> Deus, os quais estão sujeitos ao<br />
Governo Divino, e o importante papel que têm <strong>de</strong>sempenhado na<br />
história da humanida<strong>de</strong> torna-os merecedores <strong>de</strong> referência<br />
especial.<br />
Existem também aqueles, pertencentes à mesma classe <strong>de</strong><br />
seres, que anteriormente foram servos <strong>de</strong> Deus, mas que agora se<br />
encontram em atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> rebelião contra Seu Governo e habitam<br />
os reinos <strong>de</strong> trevas.<br />
Os anjos são fundamentalmente os ministros da<br />
providência <strong>de</strong> Deus.<br />
São agentes especiais <strong>de</strong> Deus.<br />
8
Des<strong>de</strong> o princípio do Cristianismo, os gnósticos<br />
prestavam adoração aos anjos, <strong>de</strong>pois então, na Ida<strong>de</strong> Média, com<br />
as crenças absurdas dos rituais <strong>de</strong> bruxarias envolvendo culto aos<br />
anjos, e agora em nossos dias, os estudos cabalísticos<br />
personalizados no meio esotérico e místico, ensinam novamente o<br />
culto aos anjos, por meio <strong>de</strong> bruxos sofisticados e mo<strong>de</strong>rnos.<br />
Nos últimos dias também está aumentando a evidência <strong>de</strong><br />
possessão <strong>de</strong>moníaca e adoração a <strong>de</strong>mônios <strong>de</strong> forma veemente.<br />
Nas tradições pagãs, os anjos eram, às vezes,<br />
consi<strong>de</strong>rados divinos, e outras vezes, fenômenos naturais.<br />
Eram seres que faziam boas ações em favor das pessoas,<br />
ou eram as próprias pessoas que praticavam o bem.<br />
Tal confusão está refletida no fato <strong>de</strong> que tanto a palavra<br />
hebraica “mal'ãkh”, quanto a grega “angelos” têm dois sentidos.<br />
O significado básico <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las é “mensageiro”.<br />
Mas este mensageiro, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do contexto po<strong>de</strong> ser um<br />
mensageiro humano comum, ou um mensageiro celestial, um<br />
anjo.<br />
Alguns, com base na teoria da evolução, fazem a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
anjos remontarem ao início da civilização.<br />
“O conceito <strong>de</strong> anjos po<strong>de</strong> ter evoluído dos tempos préhistóricos<br />
quando, então, os seres humanos primitivos emergiram<br />
das cavernas e começaram a erguer os olhos aos céus... A voz <strong>de</strong><br />
Deus já não era a rosnada da floresta, mas o estrondo do céu”.<br />
Segundo essa teoria, <strong>de</strong>senvolveu-se um conceito <strong>de</strong><br />
anjos que servissem à humanida<strong>de</strong> como mediadores <strong>de</strong> Deus.<br />
O conhecimento genuíno dos anjos, no entanto, veio<br />
somente através da Revelação Divina.<br />
Na visão da mitologia, posteriormente, os assírios e os<br />
gregos <strong>de</strong>ram asas a alguns <strong>de</strong>sses seres semidivinos.<br />
Hermes tinha asas nos calcanhares.<br />
Eros, “o espírito voador do amor apaixonado”, tinha asas<br />
afixadas aos ombros.<br />
9
Num tom bastante divertido, os romanos inventaram<br />
Cupido, “o <strong>de</strong>us do amor erótico”, retratado como um garoto<br />
brincalhão que atirava flechas invisíveis para encorajar romances.<br />
Platão (cerca <strong>de</strong> 427- 347 A.C.) também falava <strong>de</strong> “anjos<br />
da guarda”.<br />
As Escrituras Hebraicas atribuem nomes a somente dois<br />
anjos: Gabriel, que iluminou o entendimento <strong>de</strong> Daniel e o único<br />
Arcanjo existente, Miguel, o protetor <strong>de</strong> Israel<br />
Mais tar<strong>de</strong>, Filo (20 A.C. à 42 D.C.), o filósofo judaico<br />
<strong>de</strong> Alexandria, no Egito, retratou os anjos como mediadores entre<br />
Deus e a raça humana.<br />
Os anjos, criaturas subordinadas, habitavam nos ares<br />
como “os servos dos po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> Deus. Eram almas incorpóreas<br />
sendo totalmente inteligentes em tudo e possuindo pensamentos<br />
puros”.<br />
Nos primeiros séculos do cristianismo, durante o período<br />
do Novo Testamento, os fariseus acreditavam que os anjos fossem<br />
seres sobrenaturais que, frequentemente, comunicavam a vonta<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Deus.<br />
Os saduceus, todavia, influenciados pela filosofia grega,<br />
diziam: “não há ressurreição, nem anjo, nem espírito”. Para eles,<br />
os anjos não passavam <strong>de</strong> “bons pensamentos e intenções” do<br />
coração humano.<br />
Nos primeiros séculos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Cristo, os pais da igreja<br />
pouco disseram a respeito dos anjos. A maior parte <strong>de</strong> sua atenção<br />
era <strong>de</strong>dicada a outros assuntos referente à natureza <strong>de</strong> Cristo.<br />
Mesmo assim, todos eles acreditavam na existência dos anjos.<br />
- Inácio <strong>de</strong> Antioquia, um dos primeiros pais da igreja,<br />
acreditava que a salvação dos anjos <strong>de</strong>pendia do sangue <strong>de</strong> Cristo;<br />
- Orígenes (182 - 251 D.C.) <strong>de</strong>clarou a impecabilida<strong>de</strong><br />
dos anjos, afirmando que, se foi possível a queda <strong>de</strong> um anjo,<br />
talvez seja possível a salvação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>mônio. Semelhante<br />
posicionamento acabou por ser rejeitado pelos concílios<br />
eclesiásticos;<br />
10
- Já em 400 D.C., Jerônimo (347 - 420 D.C.) acreditava<br />
que anjos da guarda eram dados aos seres humanos quando do<br />
nascimento <strong>de</strong>stes;<br />
- Posteriormente, Pedro Lombardo (100 - 160 D.C.)<br />
acrescentou que um único anjo podia guardar muitas pessoas <strong>de</strong><br />
uma só vez;<br />
- Dionísio, o Areopagita, (500 D.C.) contribuiu<br />
notavelmente para o estudo dos anjos. Ele retratou o anjo como<br />
“uma imagem <strong>de</strong> Deus, uma manifestação da luz oculta, um<br />
espelho puro, brilhante, sem <strong>de</strong>feito, nem impureza, ou mancha”;<br />
- Semelhantemente Irineu, quatro séculos antes (130 -<br />
195 D.C.), também construiu hipóteses a respeito <strong>de</strong> uma<br />
hierarquia angelical;<br />
- Depois, Gregório Magno (540-604 D.C.) atribuiu aos<br />
anjos corpos celestiais.<br />
Ao raiar do século XIII, os anjos passaram a ser assunto<br />
<strong>de</strong> muita especulação.<br />
O teólogo italiano Tomás <strong>de</strong> Aquino (1.225 - 1.274 D.C.)<br />
formulou perguntas mui relevantes a respeito. Sete das suas 118<br />
conjeturas sondavam as seguintes áreas:<br />
a. De que se compõe o corpo <strong>de</strong> um anjo?<br />
b. Há mais <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> anjo?<br />
c. Quando os anjos assumem a forma humana, exercem<br />
funções vitais do corpo?<br />
d. Os anjos sabem quando é manhã e quando é<br />
entar<strong>de</strong>cer?<br />
e. Os anjos conseguem enten<strong>de</strong>r muitos pensamentos ao<br />
mesmo tempo?<br />
f. Os anjos conhecem nossas intenções secretas?<br />
g. Os anjos têm capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar uns com os outros?<br />
Os termos genéricos usados para anjos, geralmente<br />
indicam sua atribuição ou função.<br />
Relacionamos abaixo alguns <strong>de</strong>stes termos:<br />
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a. Leitourgos (grego) e Mishrathim (hebraico). Algumas<br />
vezes usadas com o significado <strong>de</strong> “anjos”, são palavras para<br />
“servo” ou “ministro”.<br />
b. Hoste: É a palavra hebraica “sava”. Essa palavra se<br />
esten<strong>de</strong> a toda formação do exército celestial <strong>de</strong> Deus. Uma força<br />
militar que luta as batalhas e cumprem a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. (Lc<br />
2.13; Ef 6.12; Hb 12.22).<br />
c. Espíritos (Hb 1.14).<br />
d. Vigias: Como em Dn 4.13,17, <strong>de</strong>fine anjos como<br />
supervisores e agentes <strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> Deus nos assuntos do mundo.<br />
Talvez nessa classe <strong>de</strong> anjos estejam os que tomam <strong>de</strong>cisões e<br />
executam os mandamentos <strong>de</strong> Deus na Terra.<br />
e. Bene Elim: Ou “filhos po<strong>de</strong>rosos”, é traduzido por<br />
“po<strong>de</strong>rosos” no SI 29.1. Essa é a <strong>de</strong>scrição do gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r dos<br />
anjos.<br />
f. Bene Elohim: Ou “filhos <strong>de</strong> Deus”, <strong>de</strong>fine os anjos<br />
como uma <strong>de</strong>terminada classe <strong>de</strong> seres. Este termo inclui Satanás.<br />
(Jó 16; 2.1; Sl 29.1; 89.6).<br />
g. Elohim: separadamente é algumas vezes aplicada aos<br />
anjos. Ela retrata os anjos como uma classe <strong>de</strong> seres sobrenaturais,<br />
<strong>de</strong> força mais elevada que a do homem. Quando os anjos<br />
apareceram a Jacó em Betel, o termo usado é Elohim (Gn 35.7).<br />
h. Estrelas: É o termo simbólico usado para os anjos,<br />
sugerindo que sua habitação é os céus (Ap 12.4). Jesus Cristo diz<br />
que tem na Sua mão as sete estrelas (Ap 1.20b). “... As sete<br />
estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste,<br />
são as sete igrejas.”<br />
i. Um sacerdote (Ml 2.7). O sacerdote é chamado <strong>de</strong><br />
mensageiro, “anjo” do Senhor.<br />
j. Santos (Sl 89.5-7).<br />
k. Os seres celestiais (Sl 29.1; 89.6) têm esse título.<br />
l. Outras <strong>de</strong>nominações.<br />
12
13
Alguma vez, você já se sentiu sendo observado,<br />
mesmo estando sozinho em um lugar isolado?<br />
Alguma vez você já sentiu um frio na espinha sem<br />
explicação?<br />
Alguma vez você já sentiu um medo crescente, uma<br />
amargura inexplicável ou mesmo uma sensação boa <strong>de</strong><br />
felicida<strong>de</strong>?<br />
Não foi só impressão.<br />
Não foi apenas uma sensação.<br />
Você não estava sozinho.<br />
Po<strong>de</strong> ter certeza disso, não era apenas impressão.<br />
14
07:30h<br />
Noticiário local:<br />
- Polícia encontra carro com corpos mutilados e<br />
queimados numa área afastada do centro da cida<strong>de</strong>.<br />
- A van estava com o capô aberto, parecendo ter sido<br />
aberto com algum tipo <strong>de</strong> lâmina.<br />
- A polícia está investigando o crime, mas até agora a<br />
única testemunha está em estado <strong>de</strong> choque e não diz nada<br />
claramente.<br />
- A mulher não i<strong>de</strong>ntificada pra sua segurança diz que foi<br />
atacada pelos marginais quando estava em um ponto <strong>de</strong> ônibus,<br />
foi arrastada para o interior do veículo.<br />
Foi levada para esta região afastada, on<strong>de</strong> com certeza<br />
seria estuprada e é bem possível que seria executada<br />
posteriormente ao estupro.<br />
Contou que <strong>de</strong> repente surgiu uma luz.<br />
- Um ser alado surgiu abrindo o capô do veículo com o<br />
que parecia ser uma espada <strong>de</strong> fogo e que <strong>de</strong>pois não se lembra <strong>de</strong><br />
mais nada.<br />
A vitima encontra-se sob proteção policial e aos cuidados<br />
<strong>de</strong> um psiquiatra.<br />
Psiquiatras dizem, que às vezes, as vítimas quando<br />
sofrem um choque emocional violento, têm visões e e alucinações,<br />
o que parece ser o caso.<br />
- Tudo indica, foi algum acerto <strong>de</strong> gangue rival, ou<br />
justiçamento por parte <strong>de</strong> algum morador local.<br />
Voltaremos mais tar<strong>de</strong> com outras notícias.<br />
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1ª PARTE<br />
1º ATO<br />
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2. O DESPERTAR<br />
Dor.<br />
A cabeça latejava.<br />
Que lugar era aquele?<br />
Dor.<br />
Parecia triturado em uma máquina <strong>de</strong> moer carne.<br />
Todo o seu corpo doía e sua cabeça estava<br />
ensanguentada.<br />
Seus olhos estavam cobertos <strong>de</strong> uma massa <strong>de</strong> terra e<br />
sangue.<br />
On<strong>de</strong> estava?<br />
Luz.<br />
Que luz era aquela?<br />
A última coisa da qual se que lembrava era <strong>de</strong> que<br />
tentava ajudar uma pessoa.<br />
Estava fazendo seu serviço quando foi atingido.<br />
Nada mais.<br />
A luz quase o segava e podia ver um ser alado se<br />
aproximando.<br />
Um acordo... salvação...<br />
Desmaiou.<br />
Quem o havia salvado? Por quê?<br />
Parecia ser um anjo, mas seria uma ilusão?<br />
Fez um acordo do qual não se lembrava.<br />
18
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2. O PRIMEIRO CONTATO.<br />
Era para ser um dia tranquilo.<br />
Hector tinha <strong>de</strong>ixado seu carro em casa e seguia para o<br />
trabalho <strong>de</strong> ônibus.<br />
Como sempre, ia com trajes civis e sem portar<br />
documentos militares, pois caso houvesse um assalto, seria<br />
fuzilado se fosse i<strong>de</strong>ntificado como policial.<br />
A rotina não seria a mesma da semana anterior. Serviços<br />
internos e caso fosse necessário, aten<strong>de</strong>ria a alguma ocorrência.<br />
Questionou seu superior algumas vezes sobre o fato <strong>de</strong><br />
que sempre ficava no serviço interno e não era <strong>de</strong>slocado para as<br />
patrulhas externas.<br />
Em uma <strong>de</strong>ssas vezes, o seu superior abriu a gaveta da<br />
mesa <strong>de</strong> trabalho e lhe disse que ali, cada um escolhia qual serviço<br />
e on<strong>de</strong> iria patrulhar, se é que ele entendia o recado.<br />
Como estava concluindo a faculda<strong>de</strong>, geralmente não<br />
tinha dinheiro e também não concordava com a tal “escolha”.<br />
Sempre ficava <strong>de</strong> fora das patrulhas até aquele dia.<br />
Ao que tudo indicava, um dos policiais teve um<br />
problema familiar e foi dispensado. Seu substituto também não<br />
po<strong>de</strong> ir e acabou sobrando a vaga.<br />
Neste dia a patrulha iria se esten<strong>de</strong>r pelo centro da cida<strong>de</strong><br />
até as favelas da Zona Sul.<br />
Quando o chefe da patrulha disse:<br />
- Vamos subir o morro e conversar com o nosso amigo,<br />
Ferrugem.<br />
Ferrugem era o traficante local e até aquele momento não<br />
era incomodado por ninguém, ficando livre para fazer o que<br />
quisesse na favela e cercanias.<br />
Chegando ao local, Hector não compreendia o tom<br />
amigável e ao mesmo tempo <strong>de</strong>bochado com que os policiais se<br />
dirigiam aos elementos ali postados com seus fuzis.<br />
Foram entrando, cumprimentando e tudo normal.<br />
20
Veio um sujeito <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um barraco, magro, meio<br />
enferrujado era o que parecia, cabelo vermelho e pele sar<strong>de</strong>nta.<br />
- E aí meu velho! Como vai esta força?<br />
- Tudo bem, e aí?<br />
Referindo-se ao jovem policial perguntou: - Tem gente<br />
nova na área?<br />
- O novato está substituindo o Pereira que está <strong>de</strong> folga<br />
hoje.<br />
- Sei.<br />
- E o nosso negócio, como está?<br />
- Tá tudo aqui. Po<strong>de</strong> contar. Entregou o envelope ao<br />
policial.<br />
- Pra que contar? A gente confia nos “amigos”.<br />
Dividindo a grana, o chefe da patrulha passou uma parte<br />
menor para Hector.<br />
- Não posso aceitar!<br />
- Pega!<br />
- Não quero, po<strong>de</strong> ficar para vocês.<br />
- Pega! É uma or<strong>de</strong>m!<br />
Então o jeito foi pegar o dinheiro, pois caso não<br />
aceitasse, seria visto como traíra e no dia seguinte nos noticiários<br />
teria a noticia <strong>de</strong> que “certo policial teria sido morto em tiroteio<br />
com bandidos”.<br />
Hector aceitou o dinheiro e não falou mais nada.<br />
E assim, outras visitas foram feitas.<br />
Ao voltar para o quartel ao fim do turno, todos pareciam<br />
felizes. Somente Hector estava em silêncio, que foi notado por<br />
seus companheiros.<br />
O chefe da patrulha foi claro.<br />
- Soldado, você não viu nada! Foi um dia tranquilo. Não<br />
aconteceu nada. Sem alteração.<br />
Hector ficou com aquelas palavras na cabeça pelo resto<br />
da semana.<br />
O dinheiro ele doou para um asilo sem dizer <strong>de</strong> on<strong>de</strong> era.<br />
21
Neste período não fez patrulhas externas nem questionou<br />
mais nada.<br />
Cursava com muito sacrifício a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> direito e<br />
estava no último período, queria se formar.<br />
Na primeira oportunida<strong>de</strong> tiraria férias, <strong>de</strong>scansaria e<br />
aproveitaria para repensar sua profissão.<br />
Não estava satisfeito e nem confortável.<br />
Queria uma mudança e teria que ser logo.<br />
22
23
4. THE EAGLE HAS LANDED.<br />
Em seu carro, ouvia a canção “The Eagle has<br />
Lan<strong>de</strong>d” da banda Saxon, uma <strong>de</strong> suas preferidas:<br />
The Eagle has Lan<strong>de</strong>d (1)<br />
Saxon<br />
“O homem <strong>de</strong>u um passo para a humanida<strong>de</strong>”<br />
Em uma lua distante, um mar<br />
Como você viajar pelo universo<br />
Ou você dá um passo<br />
Dê um passo para mim<br />
Você vai dar um passo para mim<br />
Eu sou uma águia<br />
Explodindo para as estrelas<br />
Você toma as esperanças e sonhos <strong>de</strong> homens<br />
Para encontrar-se<br />
Para encontrar a tranquilida<strong>de</strong><br />
Para encontrar a tranquilida<strong>de</strong><br />
Acelerar todo o universo<br />
E colocou uma ban<strong>de</strong>ira solitária<br />
Lá fora, no isolamento<br />
No final<br />
Fronteira final<br />
Na fronteira final<br />
Celebração<br />
Enquanto esperamos por seu retorno<br />
Você <strong>de</strong>u um salto gigante para a humanida<strong>de</strong><br />
Em outro<br />
24
Em outro mundo<br />
Em outro mundo<br />
Acalme-se<br />
Vá <strong>de</strong>vagar<br />
Não vá rápido<br />
Não <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ir.<br />
A águia pousou.<br />
A águia pousou.”<br />
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26
5. SEUS HEROIS<br />
Pensava sempre em seu pai e seu padrinho.<br />
Antigos Policiais, mortos nas ruas, na função.<br />
Seu padrinho, o policial Pedro que também foi morto em<br />
um tiroteio, quando bandidos estavam no interior <strong>de</strong> um armazém,<br />
disparando lá <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro.<br />
A polícia chegou e os bandidos não tiveram como sair,<br />
ficaram encurralados.<br />
Os tiros eram disparados <strong>de</strong> ambos os lados.<br />
De repente, Pedro foi alvejado na cabeça e caiu sem vida,<br />
bem aos pés <strong>de</strong> Antônio. Quando este viu seu melhor amigo e<br />
parceiro cair aos seus pés, entrou em <strong>de</strong>sespero.<br />
Só que no mesmo instante, a munição dos bandidos<br />
acabou e a situação inverteu-se.<br />
No exato momento, um dos bandidos veio correndo em<br />
direção à patrulha para ren<strong>de</strong>r-se.<br />
Antônio nem pestanejou, olhou para seu amigo sem vida,<br />
levantou-se e <strong>de</strong>u um tiro certeiro no peito do bandido que caiu <strong>de</strong><br />
lado.<br />
Morreu ali mesmo.<br />
A imprensa filmou tudo e <strong>de</strong>u a noticia.<br />
A opinião pública caiu matando e os direitos humanos<br />
logo apareceram.<br />
- O “rapaz” já estava se ren<strong>de</strong>ndo, foi covardia.<br />
O público, como é sempre manipulável, crucificou o<br />
policial.<br />
Ninguém quis saber <strong>de</strong> seu estado naquele momento, em<br />
choque. Tinha acabado <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r seu compadre.<br />
Não, nada disso importa.<br />
O lado do bandido foi o escolhido.<br />
27
Antônio foi afastado, respon<strong>de</strong>u a processo e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
muito tempo, foi absolvido, mas sua carreira nunca mais foi a<br />
mesma, tinha <strong>de</strong>smoronado, foi abandonado.<br />
Entrou em um estado profundo <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão, começou a<br />
beber.<br />
Sua farda não mais foi passada e sua saú<strong>de</strong> começou a<br />
<strong>de</strong>smoronar.<br />
Em um dia normal <strong>de</strong> trabalho, aconteceu o pior.<br />
Ao voltar para casa, presenciou um assalto com reféns.<br />
Como a patrulha não chegou, ele <strong>de</strong>u voz <strong>de</strong> prisão aos<br />
bandidos e i<strong>de</strong>ntificou-se como policial.<br />
Os bandidos disseram que iriam matar um dos reféns se<br />
Antônio não colocasse sua arma no chão.<br />
Como o bom policial que era, cumprindo o que o<br />
regulamento e as normas mandam, para que seja preservado o<br />
refém.<br />
Colocou sua arma no chão.<br />
Gran<strong>de</strong> erro.<br />
Os bandidos nem pestanejaram.<br />
Trataram logo <strong>de</strong> fuzilá-lo ali mesmo, sem nem piscar.<br />
Depois <strong>de</strong> vários disparos, fugiram, largando-o ali<br />
agonizando.<br />
Quando a patrulha chegou, já era tar<strong>de</strong>. Já estava morto.<br />
Para a viúva, o seguro <strong>de</strong> vida, uma pensão minguada e<br />
uma ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> presente.<br />
Para o filho, a perda <strong>de</strong> seu herói.<br />
A vida seguiu em frente.<br />
Nenhuma nota no jornal local, nenhuma visita dos<br />
Direitos Humanos, nenhuma compaixão.<br />
O menino só fez abraçar-se à mãe.<br />
Chorou em seu peito e por semanas a fio, lembrando-se<br />
da figura paterna.<br />
Agora eram somente os dois e alguns parentes.<br />
Tinha que seguir a vida.<br />
28
Não adiantaria rebelar-se.<br />
Então, <strong>de</strong>cidiu em homenagem ao pai, e o padrinho,<br />
seguir também a carreira militar.<br />
Queria ajudar <strong>de</strong> alguma forma e fazer a diferença.<br />
A mãe foi contra, mas a <strong>de</strong>cisão já estava tomada.<br />
Seria policial.<br />
Ana.<br />
Pensava também em Ana, seu amor.<br />
A garota mais linda do bairro com a qual iria se casar,<br />
constituir família e se <strong>de</strong>sse sorte, envelhecer ao seu lado.<br />
Aquela garota morena, da boca carnuda, seios fartos,<br />
cabelo dourado em cachos <strong>de</strong> mel. Sua Ana.<br />
Minha vida, meu amor<br />
Meu chão, meu céu, minha luz<br />
Minha razão <strong>de</strong> existir<br />
Eu hoje vim aqui só pra te ver passar<br />
Precisaria nem olhar<br />
Para este pobre coração<br />
Basta sua sombra, e po<strong>de</strong>rei me abraçar<br />
Já seria o suficiente para mim<br />
Nada aqui merece atenção<br />
Mas se um dia você não regressar<br />
Deixe umas pegadas<br />
E alguém irá correr<br />
Não há nada<br />
Não há nada igual<br />
Nada po<strong>de</strong>ria me afastar <strong>de</strong> Ti<br />
Não, não há alguém<br />
29
Que me faça tão bem como você faz<br />
E nunca haverá<br />
Me transforme no melhor que posso ser<br />
Não há fim, não há volta<br />
Porque só quem po<strong>de</strong> preencher o meu vazio é você<br />
Você, ninguém mais<br />
Exalam por aqui, aromas <strong>de</strong> jasmins<br />
Em uma carta que escreveu<br />
E agora guardo bem aqui<br />
Cada simples pensamento meu é uma medida<br />
Que há tempos <strong>de</strong>cidiu te amar sem reservas<br />
Tudo o que tenho <strong>de</strong> valor, são as minhas memórias<br />
Se elas partissem, eu partiria em dois<br />
Não há nada<br />
Não há nada igual<br />
Nada po<strong>de</strong>ria me afastar <strong>de</strong> Ti<br />
Não, não há alguém<br />
Que me faça tão bem como você faz<br />
E nunca haverá<br />
Me transforme no melhor que posso ser<br />
Não há fim, não há volta<br />
Porque só quem po<strong>de</strong> preencher o meu vazio é você<br />
Você, ninguém mais<br />
A sauda<strong>de</strong> aqui, é um verso carregado <strong>de</strong> ventania<br />
Que um dia resolveu partir<br />
Nunca mais faltou ar<br />
Cada simples pensamento meu é uma medida<br />
Que há tempos <strong>de</strong>cidiu te amar sem reservas<br />
30
Não há nada igual<br />
Nada po<strong>de</strong>ria me afastar <strong>de</strong> Ti<br />
Não, não há alguém<br />
Que me faça tão bem como você faz<br />
E nunca haverá<br />
Me transforme no melhor que posso ser<br />
Não há fim, não há volta<br />
Porque só quem po<strong>de</strong> preencher o meu vazio é você<br />
Você, ninguém mais.<br />
Ninguém Mais<br />
Rosa <strong>de</strong> Saron (2)<br />
Hector dividia seu tempo entre o trabalho, estudos e<br />
aulas <strong>de</strong> violão e guitarra.<br />
Adorava Rock <strong>de</strong> todos os tipos. De bandas da New<br />
Wave of British Heavy Metal (N.W.O.B.H.M.) movimento <strong>de</strong><br />
on<strong>de</strong> saíram bandas como Saxon, Iron Mai<strong>de</strong>n, Def Leppard,<br />
<strong>de</strong>ntre outras.<br />
Gostava <strong>de</strong> rock nacional e agora, apaixonara-se por uma<br />
banda chamada Rosa <strong>de</strong> Saron.<br />
As músicas da banda mexiam com o seu interior e ele<br />
sempre as colocava para tocar quando entrava no seu carro.<br />
Adorava o som.<br />
De formação católica, seus pais eram <strong>de</strong>votos, tinha<br />
adoração por São Francisco, mas não conseguia conciliar religião<br />
e seu gosto musical.<br />
Sempre houve quem dissesse que aquilo era coisa <strong>de</strong><br />
diabo e coisa assim.<br />
Por um momento pensou em <strong>de</strong>ixar tudo e seguir um<br />
outro caminho, mas não conseguia enten<strong>de</strong>r como Deus, um ser<br />
Maravilhoso, Criador <strong>de</strong> Tudo, Regente <strong>de</strong> Todo o Universo iria<br />
se preocupar com um ser tão pequeno e <strong>de</strong>sprezível.<br />
31
Por muito tempo irou-se contra Jesus sem conhecê-lo.<br />
Como po<strong>de</strong>ria um ser tão iluminado, preocupar-se com<br />
que música, ele um inseto estaria ouvindo. Não fazia sentido.<br />
Além do mais, aquilo lhe dava prazer e era o que<br />
realmente gostava.<br />
Nos fins <strong>de</strong> semana, pegava o carro, saia sem <strong>de</strong>stino e<br />
ligava o som...<br />
“ É estranho e difícil me dizer que está tudo bem<br />
Se há alguma coisa, então venha enten<strong>de</strong>r<br />
O quanto só você po<strong>de</strong> dar um simples passo <strong>de</strong> cada vez<br />
O sol da meia-noite aqui existe<br />
Você pense, pare<br />
Veja que o amor resiste<br />
Olhe, prova, sente, toca<br />
É Deus que te faz enten<strong>de</strong>r toda poesia<br />
Que torna mais valiosa a vida<br />
E prova que ainda dá pra ser feliz<br />
Apenas atenda quem chama<br />
E perceba<br />
Que só Ele po<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o seu interior<br />
As suas dores afastar<br />
O seu sonho realizar<br />
A sua vida transformar<br />
Basta que você entenda<br />
Que é Deus, que te faz enten<strong>de</strong>r toda poesia<br />
Que torna mais valiosa a vida<br />
E prova que ainda dá pra ser feliz<br />
Apenas atenda quem chama<br />
E peça que nesta noite Ele te toque<br />
E cure todas suas feridas<br />
E vele o sono e espere acordar<br />
Amanhã será um novo dia<br />
Amanhã, amanhã<br />
32
Amanhã, amanhã<br />
Amanhã, amanhã<br />
Amanhã, amanhã...<br />
...amanha será um novo dia.”<br />
O sol da meia noite<br />
Rosa <strong>de</strong> Saron (3)<br />
33
34
Hector questionava todo momento a Deus. .<br />
On<strong>de</strong> Ele estava?<br />
Porque permitia tanto mal na terra?<br />
E qual era a sua missão?<br />
Não tinha respostas, mas também não queria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />
acreditar.<br />
Seu coração o mantinha preso aos ensinamentos <strong>de</strong> Jesus.<br />
Mas on<strong>de</strong> Ele estava?<br />
Parecia tão distante da realida<strong>de</strong>...<br />
...O fim <strong>de</strong> semana chegou, estava <strong>de</strong> férias.<br />
35
Finalmente!<br />
Só pensava em jogar as tralhas no carro e ir para uma<br />
pousada, <strong>de</strong>scansar, ficar com Ana e repensar sua vida até ali.<br />
Agora já estava tudo combinado. Local marcado, tudo<br />
certo.<br />
Despediu-se <strong>de</strong> sua mãe beijando-a no rosto e dando-lhe<br />
um abraço apertado.<br />
Tinha convidado a mãe para irem juntos, mas ela preferiu<br />
ficar em casa.<br />
- Vá com sua namorada, meu filho.<br />
- Tome cuidado. Dizia sua mãe com carinho.<br />
- Po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar, daqui a alguns dias nos reencontramos.<br />
- Quando eu chegar lá eu ligo.<br />
Era noitinha quando chegaram à pousada.<br />
Hector <strong>de</strong>ixou Ana aguardando no carro e foi verificar a<br />
reserva com o aten<strong>de</strong>nte.<br />
Quarto 6, tudo certo.<br />
Buscou Ana, pegou as bagagens e foram para o quarto.<br />
A noite começava quente, mas soprava uma brisa do<br />
mar.<br />
Naquela altura eles só queriam um banho relaxante.<br />
Entraram os dois para o chuveiro e entre beijos e<br />
carícias, começaram a se ensaboar.<br />
Suas bocas se encontravam em uma volúpia apaixonada.<br />
Suas mãos corriam pelas costas <strong>de</strong> Ana e os dois se<br />
apertavam quase como um só corpo.<br />
Nem bem se enxugaram e foram para a cama.<br />
- Eu te amo, dizia Hector, no que era também respondido<br />
por Ana.<br />
Sua boca veio <strong>de</strong>scendo pelo pescoço <strong>de</strong> Ana, passando<br />
por seus seios morenos.<br />
Percorria com a língua em um vai e vem alucinante e a<br />
cada beijo, ia <strong>de</strong>scendo cada vez mais.<br />
36
Neste momento ela estava totalmente in<strong>de</strong>fesa e gemia<br />
<strong>de</strong> prazer.<br />
Fizeram amor.<br />
Os dois não se aguentaram e se entregaram a um gozo<br />
sem prece<strong>de</strong>ntes e sem culpa.<br />
Aquela era sua musa, sua mulher, a garota com a qual ele<br />
queria passar o resto da vida.<br />
Todos os momentos com ela eram poucos diante <strong>de</strong> seu<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> jamais ficar longe.<br />
Acalmaram-se e foram novamente para o chuveiro.<br />
Depois <strong>de</strong> um banho revigorante, os dois se vestiram e<br />
foram caminhar na praia.<br />
Hector colocou uma bermuda azul, uma camiseta sem<br />
estampa e um tênis leve.<br />
Ana estava com um vestidinho estampado, com um laço<br />
simples na cintura e usava uma sandália rasteirinha <strong>de</strong> couro.<br />
Era o paraíso. Por um momento, parece que Deus fizera<br />
o tempo parar e <strong>de</strong>ixou um momento perfeito para os dois<br />
amantes.<br />
Eles sentaram-se em um banco que dava para o mar,<br />
on<strong>de</strong> se via o brilho da lua refletindo na água.<br />
Ela se sentou em seu colo e ficaram ali por longos<br />
momentos contemplando aquela paisagem.<br />
Era tudo muito perfeito.<br />
Tudo estava como <strong>de</strong>veria estar.<br />
Os dois juntos, longe <strong>de</strong> tudo.<br />
- Eu te amo.<br />
- Eu te amo primeiro.<br />
- Te amo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro momento em que te vi.<br />
- Eu te vi primeiro, então te amo a mais tempo.<br />
Beijaram-se e ficaram ali juntinhos por um tempo que<br />
parecia parar.<br />
Foram até um quiosque ali perto, pediram água <strong>de</strong> coco e<br />
um sanduíche natural.<br />
37
Após comerem o lanche, Hector pagou a conta e foram<br />
caminhar mais um pouco pela orla.<br />
Mais tar<strong>de</strong>, já era quase meia noite, voltaram para a<br />
pousada.<br />
- Nossa, nem vi o tempo passar.<br />
- Quando estou com você o tempo para.<br />
Abriram a porta do quarto e logo começaram a beijar-se<br />
apaixonadamente.<br />
Hector foi caminhando <strong>de</strong> costas para a cama,<br />
conduzindo Ana como um dançarino e sua dama.<br />
Retirou seu vestido, no que foi correspondido por Ana,<br />
que já abria o zíper <strong>de</strong> sua bermuda.<br />
Começou a beijar seu pescoço e acariciando seus seios,<br />
sentou-se na cama e a conduziu para o seu colo.<br />
Ela veio e se encaixou por sobre Hector e começou um<br />
movimento frenético.<br />
Depois <strong>de</strong> tanto amor, ambos caíram na cama logo<br />
adormecendo.<br />
Tudo estava perfeito.<br />
Na manhã seguinte, seguiram o mesmo ritual, <strong>de</strong>pois<br />
tomaram um banho e foram tomar café.<br />
- Hector, eu te amo <strong>de</strong>mais e nunca mais quero me<br />
afastar <strong>de</strong> você.<br />
- Eu também te amo.<br />
Após o café, foram dar mais um passeio pela orla da<br />
praia.<br />
A areia era fofa e quente.<br />
Neste momento Hector falou com Ana sobre seus planos<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar a polícia.<br />
Não estava mais conseguindo lidar com a situação,<br />
salário baixo, perigo constante, mais a aquela corrupção.<br />
Existia nas corporações uma gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong> policiais<br />
bons e honestos, mas eram massacrados pelo sistema e pelos<br />
maus.<br />
38
Direitos humanos somente para o lado dos bandidos.<br />
Uma socieda<strong>de</strong> que o tempo todo tentava transformá-lo<br />
em bandido.<br />
Não queria e não podia mais ficar ali.<br />
Tinha algumas economias que dariam para se virar por<br />
algum tempo.<br />
Iria fazer um curso técnico <strong>de</strong> solda da companhia<br />
petrolífera e já iria ser contratado.<br />
Sua faculda<strong>de</strong> também já estava no último período e logo<br />
po<strong>de</strong>ria prestar outro concurso, ou mesmo, após prova da OAB,<br />
começar a advogar.<br />
Ana concordou e disse que o ajudaria no que fosse<br />
preciso. Ela também trabalhava em um escritório, trabalhava <strong>de</strong><br />
cabeleireira nas horas vagas e também conhecia algumas pessoas,<br />
<strong>de</strong>ntre elas, uma amiga da faculda<strong>de</strong> que casou-se com um juiz e<br />
agora estava em outra cida<strong>de</strong>.<br />
Ambos iriam começar uma nova vida juntos.<br />
Estavam resolvidos e fortalecidos.<br />
Só pensavam na vida juntos.<br />
39
Os dias foram passando, e logo já estaria na hora <strong>de</strong> irem<br />
embora, voltarem para a realida<strong>de</strong>, mas a <strong>de</strong>cisão já estava<br />
tomada.<br />
Enquanto isso na cida<strong>de</strong>, a coisa estava pegando.<br />
Alguém <strong>de</strong>latou o grupo <strong>de</strong> policiais corruptos.<br />
Na verda<strong>de</strong> foi um aviãozinho que entregou a turma<br />
quando foi <strong>de</strong>tido, mas eles não quiseram saber. Elegeram um<br />
traidor.<br />
Hector os havia <strong>de</strong>latado.<br />
Quem mais po<strong>de</strong>ria saber?<br />
Era ele.<br />
O processo foi aberto e como sempre, havia muita gente<br />
envolvida.<br />
Alguns criminosos foram presos, outros <strong>de</strong>sapareceram<br />
sem <strong>de</strong>ixar vestígios.<br />
A arapuca estava armada.<br />
O último dia chegou. Hector e Ana acordaram, se<br />
olharam nos olhos e mais uma vez repetiram as juras <strong>de</strong> amor.<br />
Colocaram a bagagem no carro, estavam felizes com os<br />
dias passados ali, juntos.<br />
Hector pagou a conta, saiu pela porta, entrou no carro,<br />
afivelou o cinto <strong>de</strong> segurança, beijou Ana e ligou o som.<br />
“What's the use in trying<br />
I'm tired of all the crying<br />
If I had a choice<br />
I'd choose a different voice<br />
So what's the use in lying<br />
What's the use in trying<br />
When you've done your best, it's high time<br />
That you hit the road<br />
Don't look back anymore<br />
What's the use in trying<br />
40
Hands in the air<br />
Your hand's on my heart<br />
When I look in your eyes<br />
I forget for a while<br />
There's a world spinning round<br />
Life in motion<br />
And I just want to stay<br />
In your arms for the day<br />
And we'll live out loud<br />
This is the time of our lives<br />
I think you need some time<br />
To help unwind<br />
Cause the way to live<br />
Is to free yourself then you'll give up<br />
All the crying<br />
Hands in the air<br />
My hand's on your heart<br />
When I look in your eyes<br />
I forget for a while<br />
There's a world spinning round<br />
Life in motion<br />
And I just want to stay<br />
In your arms for the day<br />
And we'll live out loud<br />
This is the time of our lives<br />
You will always be<br />
The song in my heart<br />
And I'll sing your melody<br />
41
And at the end of the day<br />
You can't take that away<br />
Oh no no<br />
Hands in the air<br />
Your hand's on my heart<br />
When I look in your eyes<br />
I forget for a while<br />
There's a world spinning round<br />
Life in motion<br />
And I just want to stay<br />
In your arms for the day<br />
And we'll live out loud<br />
This is the time of our lives”<br />
“Qual é a utilida<strong>de</strong> em tentar<br />
Estou cansado <strong>de</strong> todo o choro<br />
Se eu tivesse uma escolha<br />
Eu escolheria uma voz diferente<br />
Então, qual é o uso da mentira<br />
Qual é a utilida<strong>de</strong> em tentar<br />
Quando você fez o seu melhor, é a hora<br />
Que você pegar a estrada<br />
Não olhe mais para trás<br />
Qual é a utilida<strong>de</strong> em tentar<br />
Mãos no ar<br />
Sua mão está no meu coração<br />
Quando eu olho nos seus olhos<br />
Eu esqueço por um tempo<br />
Há um mundo girando<br />
42
A vida em movimento<br />
E eu só quero ficar<br />
Em seus braços para o dia<br />
E nós vamos viver em voz alta<br />
Este é o momento <strong>de</strong> nossas vidas<br />
Eu acho que você precisa <strong>de</strong> algum tempo<br />
Para ajudar a <strong>de</strong>scontrair<br />
Porque a maneira <strong>de</strong> viver<br />
É libertar-se, então você vai <strong>de</strong>sistir<br />
O choro<br />
Mãos no ar<br />
Minha mão está em seu coração<br />
Quando eu olho nos seus olhos<br />
Eu esquecer por um tempo<br />
Há um mundo girando<br />
A vida em movimento<br />
E eu só quero ficar<br />
Em seus braços para o dia<br />
E nós vamos viver em voz alta<br />
Este é o momento <strong>de</strong> nossas vidas<br />
Você sempre será<br />
A canção em meu coração<br />
E eu vou cantar a sua melodia<br />
E no fim do dia,<br />
Você não po<strong>de</strong> tirar isso<br />
Oh, não, não<br />
Mãos no ar<br />
Sua mão está no meu coração<br />
Quando eu olho nos seus olhos<br />
43
Eu esquecer por um tempo<br />
Há um mundo girando<br />
A vida em movimento<br />
E eu só quero ficar<br />
Em seus braços para o dia<br />
E nós vamos viver em voz alta<br />
Este é o momento <strong>de</strong> nossas vidas<br />
Night Ranger<br />
Time of our lives<br />
Tempo <strong>de</strong> nossas vidas (4)<br />
44
Era fim <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> quando os dois chegaram.<br />
Hector levou Ana até sua casa.<br />
Despediram-se com um <strong>de</strong>morado beijo e mais juras <strong>de</strong><br />
amor.<br />
Não queria ir embora, mas por hora era assim.<br />
Na manhã seguinte, se apresentaria no serviço por<br />
término <strong>de</strong> férias e resolveria as suas últimas pendências para se<br />
<strong>de</strong>mitir e seguir seus planos.<br />
Porém, quando se apresentou, o sargento veio com a<br />
prancheta na mão e chamou:<br />
- Soldado Hector! Você está escalado para a patrulha<br />
externa noturna <strong>de</strong> amanhã.<br />
- Faltou um soldado e você está com as baterias<br />
renovadas das férias, então, se prepare, ajuste o seu equipamento e<br />
se apresente ao chefe da patrulha hoje às <strong>de</strong>zoito horas.<br />
Hector geralmente não participava <strong>de</strong> rondas noturnas.<br />
Quando seu serviço era noturno, ficava com a segurança<br />
interna, mas como estava voltando <strong>de</strong> férias e eram suas últimas<br />
semanas ali, acatou as or<strong>de</strong>ns recebidas.<br />
Tudo estava armado, mas Hector não enten<strong>de</strong>u quando o<br />
chefe da patrulha <strong>de</strong>u uma piscada para o seu parceiro e ambos<br />
riram.<br />
Não tinha sacado a jogada.<br />
Era um bom homem e nem <strong>de</strong>sconfiava o que viria a<br />
seguir.<br />
Só pensava em terminar mais um dia e correr para a sua<br />
Ana.<br />
Estava tudo armado.<br />
Um suposto assalto com refém.<br />
Um chamado pelo rádio e a patrulha seguiu para o local.<br />
Quando chegaram às proximida<strong>de</strong>s, uma localida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
alta periculosida<strong>de</strong>, Hector questionou o porquê <strong>de</strong> não chamarem<br />
mais reforços.<br />
- Não temos tempo.<br />
45
Até os reforços chegarem, a vítima já po<strong>de</strong> ter levado<br />
chumbo.<br />
- Vamos.<br />
- Eu vou com o Alberto pelo beco da esquerda e você vai<br />
pelo outro lado para pegar o bandido pelas costas.<br />
Ao dar a volta, Hector <strong>de</strong>u <strong>de</strong> cara com um local mal<br />
iluminado, barracos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e alguns <strong>de</strong> tijolos sem reboco.<br />
Um <strong>de</strong>grau, <strong>de</strong>pois outro, passa por um vão sob uma<br />
escada e já <strong>de</strong>u <strong>de</strong> cara com o bandido que tinha uma moça como<br />
refém.<br />
Recebeu um tiro como cartão <strong>de</strong> visitas.<br />
Esperou um pouco <strong>de</strong>u voz <strong>de</strong> prisão para o bandido,<br />
mas não po<strong>de</strong> fazer mais nada, já que ele estava com uma refém.<br />
Tentou negociar, mas o homem estava irredutível.<br />
- Coloque a arma no chão.<br />
- Não, coloque você, senão mato esta “vadia”.<br />
- Você está cercado, não tem o que fazer.<br />
- Vou matar esta vadia se você não me obe<strong>de</strong>cer.<br />
- Calma, vamos conversar.<br />
- Não tem conversa “ô filho da puta <strong>de</strong> merda”.<br />
- Vou atirar.<br />
- Não! Respon<strong>de</strong>u Hector.<br />
- Eu coloco a arma no chão, mas não faça mal para a<br />
moça.<br />
- Isso “Mané”. Coloca aí e chuta pra cá.<br />
Hector colocou a arma no chão e chutou para o lado do<br />
bandido.<br />
Foi quando sentiu um tiro que passou <strong>de</strong> raspão em sua<br />
nuca.<br />
Rolou para a direita, tentando se escon<strong>de</strong>r, mas recebeu<br />
outro tiro, este agora atingindo seu braço.<br />
Pensou que seus colegas iriam chegar e gritou pelos<br />
nomes, mas não obteve resposta, a não ser xingamentos e<br />
gargalhadas.<br />
46
Rastejou para um bueiro aberto mais embaixo e ouviu<br />
alguém correndo.<br />
Notou que havia outros bandidos chegando e ouviu uma<br />
voz conhecida.<br />
- Este “<strong>de</strong>do duro” vai se fo<strong>de</strong>r é agora, pra parar <strong>de</strong> ser<br />
otário.<br />
- Vai virar comida <strong>de</strong> rato, há, há, há.<br />
Tentou correr e caiu novamente.<br />
Ouvia vozes vindas do outro lado.<br />
Chutou uma porta e pulou pra <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um barraco.<br />
Pulou pela janela e subiu num barranco.<br />
Ouviu vários tiros atrás <strong>de</strong> si.<br />
- Se tá ferrado FDP.<br />
Hector só pensava em sair dali. Mas como? Estava<br />
cercado por todos os lados.<br />
Correu por um beco e saiu em um <strong>de</strong>spenha<strong>de</strong>iro sem<br />
saída.<br />
Viu-se encurralado e sem opção.<br />
Iria morrer ali.<br />
Podia se atirar ou ser fuzilado.<br />
Também tinha a opção <strong>de</strong> ser capturado, o que seria pior<br />
caso caísse nas mãos dos bandidos.<br />
Já imaginava todos os tipos <strong>de</strong> tortura pelas quais<br />
passaria.<br />
Suava frio e sangrava no braço atingido.<br />
Se tivesse sorte, morreria rápido.<br />
Quando Sentiu uma ferroada no peito antes do estampido<br />
seco do revolver.<br />
Cambaleou e tomou mais um tiro. Depois outro.<br />
A cada tiro, uma nova gargalhada.<br />
Era melhor acabar logo, morrer ali do que ser queimado<br />
vivo.<br />
Caiu na escuridão do precipício banhado em sangue.<br />
47
O que restou <strong>de</strong> vida em seu corpo, foi apenas para<br />
lamentar-se pela ausência <strong>de</strong> Ana.<br />
Foi tudo muito rápido.<br />
Quando seu corpo caiu na escuridão, já estava<br />
praticamente sem vida.<br />
Não restava mais nada.<br />
A notícia chegou ao quartel, no noticiário local e logo<br />
chegaria até sua mãe e Ana.<br />
O <strong>de</strong>sespero tomou conta <strong>de</strong> todos.<br />
Porque Hector foi mandado para a missão noturna em<br />
seu segundo dia <strong>de</strong> trabalho?<br />
Ana <strong>de</strong>smaiou.<br />
Seu castelo foi <strong>de</strong>struído.<br />
48
20:30h - Noticiário local<br />
- Policial é morto ao tentar impedir assalto com refém no<br />
morro do Centro.<br />
- Ao que tudo indica, tentou atirar no bandido e foi<br />
atingido por um comparsa.<br />
- O Comandante <strong>de</strong> sua patrulha informou que<br />
<strong>de</strong>terminou ao soldado que esperasse por reforços e aguardasse<br />
por or<strong>de</strong>ns, o que foi <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>cido pelo soldado Hector, que<br />
acabou encurralado pelos bandidos.<br />
- Informou ainda que quando ouviu os tiros, correu para<br />
o local, mas já era tar<strong>de</strong>, foi tudo muito rápido.<br />
- Não houve prisões, já que os bandidos fugiram do local.<br />
- A refém, única testemunha confirmou a versão dos<br />
policiais.<br />
Não dava pra recuperar o corpo naquela escuridão e local<br />
<strong>de</strong> acesso difícil.<br />
As buscas continuariam ao amanhecer do outro dia<br />
Foram tomadas as medidas para o sepultamento, caso<br />
houvesse um corpo.<br />
Ana estava inconsolável.<br />
- Meu amor, minha vida. Como vou viver sem você?<br />
- Nossos sonhos...<br />
Acabou, mas ela não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ter uma esperança <strong>de</strong><br />
que ele ainda estivesse vivo. Muito ferido, mas vivo.<br />
Sem imprensa, sem direitos humanos.<br />
No dia seguinte, claro, com a permissão dos bandidos,<br />
seu corpo foi procurado, mas não foi encontrado, talvez tenha<br />
caído em algum bueiro, ou algum animal silvestre o tivesse<br />
encontrado.<br />
Só havia marcas <strong>de</strong> sangue, mas nada do corpo <strong>de</strong> Hector<br />
Ana chorava e foi consolada por seus pais e pela quase<br />
sogra.<br />
49
O pessoal do quartel foi prestar suas condolências.<br />
As buscas iam continuar.<br />
É claro que os integrantes da patrulha, principalmente o<br />
Sargento Alves, só olhavam para Ana.<br />
Aquele mulherão agora estava sozinho dando sopa.<br />
Precisava <strong>de</strong> “um ombro amigo” para consolá-la. Estaria<br />
carente, pronta para o abate.<br />
Era só questão <strong>de</strong> tempo.<br />
É claro que ninguém notou os olhares maldosos do<br />
Sargento Alves.<br />
Aquele mulherão cairia em suas mãos...<br />
50
51
6. A APARIÇÃO<br />
Luz!<br />
- Quem é você?<br />
- Não interessa quem eu sou.<br />
- Meu Pai <strong>de</strong>u-me o nome <strong>de</strong> Miguel.<br />
- Preciso <strong>de</strong> você. Está disposto a me ajudar?<br />
- O que eu po<strong>de</strong>ria fazer para te ajudar?<br />
- Eu é que preciso <strong>de</strong> ajuda, não está vendo?<br />
- Além do mais quem é você?<br />
- Você é um anjo?<br />
- Eu não disse que sou anjo, mas não interessa.<br />
- Você quer ser salvo?<br />
- Sim.<br />
- Quer fazer um acordo?<br />
52
- Não sei.<br />
- Preciso <strong>de</strong> um soldado e Nós estamos monitorando<br />
alguns filhos <strong>de</strong> Adão.<br />
- Você é um dos que vem sendo observados.<br />
- Suas crenças, suas dúvidas, sua vonta<strong>de</strong>.<br />
- Tudo sobre você é sabido por Nós.<br />
- Nós quem?<br />
- Não interessa.<br />
- Você tem apenas que aceitar e servir à Legião.<br />
- O momento já é <strong>de</strong> urgência e o que aconteceu com<br />
você também foi monitorado por Nós.<br />
- Vocês arranjaram tudo isso?<br />
- Você faz muitas perguntas, mas não. Não fomos nós<br />
que arquitetamos o que aconteceu.<br />
- Lembre-se <strong>de</strong> que Meu Pai, Nosso Pai dotou vocês com<br />
o livre arbítrio.<br />
- Tudo que acontece com sua raça, é <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> suas<br />
vonta<strong>de</strong>s, para o bem ou para o mal. Nós apenas observamos,<br />
tentamos guiar e proteger, mas não po<strong>de</strong>mos interferir, até agora e<br />
você foi uma das oportunida<strong>de</strong>s.<br />
- Existem outros?<br />
- Talvez sim, talvez não.<br />
- Aceita?<br />
- Sim! Preciso voltar para casa, encontrar minha mãe,<br />
encontrar Ana, dizer que estou vivo.<br />
- Isso não será permitido, por enquanto.<br />
- Como não, elas <strong>de</strong>vem estar sofrendo.<br />
- Acredite. É melhor assim.<br />
- O que farei então?<br />
- Para a sua segurança e principalmente, para a segurança<br />
<strong>de</strong> todos os seus entes queridos, é melhor que você continue morto<br />
ou <strong>de</strong>saparecido.<br />
- Mas não po<strong>de</strong>mos per<strong>de</strong>r tempo.<br />
53
- Você receberá po<strong>de</strong>res que não compreen<strong>de</strong><br />
treinamento e responsabilida<strong>de</strong>s maiores do que jamais sonhou.<br />
- Mas você não terá forças ilimitadas.<br />
- Não será dotado <strong>de</strong> onisciência e onipresença.<br />
- Estes são po<strong>de</strong>res divinos e somente o Pai e o Filho e<br />
uma plêia<strong>de</strong> <strong>de</strong> seres evoluídos os possuem.<br />
- Existe um mundo à parte que vocês terrenos nem<br />
imaginam.<br />
- Alguns poucos conhecem uma ínfima parte e até têm<br />
uma pequena i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> como ele funciona.<br />
- Outros acham que conhecem e brincam com o que não<br />
conhecem.<br />
- Uns compartilham das forças do bem, outros das forças<br />
do mal, mas nenhuma das partes sabe tudo, ou sabem quase nada.<br />
- Existem cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> anjos e seres <strong>de</strong> luz, mas também<br />
existem as cida<strong>de</strong>s das trevas.<br />
- Existem forças antagônicas e neste momento, a guerra<br />
está <strong>de</strong>clarada e para o bem da humanida<strong>de</strong> é melhor que o Nosso<br />
lado vença.<br />
- Meu Pai <strong>de</strong>cidiu dar mais uma chance a vocês.<br />
- Ele os ama mais do que tudo e quer que vocês vençam,<br />
evoluam e sigam em frente com sua evolução, mas existem<br />
soldados do nosso lado que estão pen<strong>de</strong>ndo a balança para o lado<br />
negro, da mesma forma que do outro lado passando para o nosso.<br />
Estamos em guerra...<br />
54
A busca pelo corpo continuou por vários dias, sem<br />
nenhuma pista.<br />
Equipes <strong>de</strong> busca, bombeiros e cães farejadores. Nada.<br />
Todas as pistas terminavam no mesmo ponto, uma<br />
pare<strong>de</strong> chamuscada com cheiro forte <strong>de</strong> coisa queimada.<br />
Também existia a hipótese <strong>de</strong> que os bandidos tivessem<br />
terminado o serviço.<br />
Teriam <strong>de</strong>scido o barranco, recuperado o corpo e o<br />
levassem para o “micro-ondas”. Ou o queimaram ali mesmo.<br />
Caso isso tivesse acontecido, não existiria nenhuma<br />
chance <strong>de</strong> se encontrar nada do corpo.<br />
Esta era uma forma que os bandidos usavam para além<br />
<strong>de</strong> amedrontar os rivais e vítimas, eliminar qualquer rastro.<br />
Depois <strong>de</strong> queimado o corpo em meio a pneus, não<br />
sobrava quase nada, ou nada além <strong>de</strong> cinzas.<br />
Esta era uma hipótese.<br />
Alguns policiais corruptos também começaram a<br />
espalhar boatos <strong>de</strong> que o policial ferido teria se acovardado e<br />
fugido <strong>de</strong> medo. Estaria escondido em algum canto.<br />
Grupos <strong>de</strong> operações especiais começaram a fazer<br />
revistas e perguntas.<br />
Invadiram barracos, ruelas, interrogaram informantes e<br />
suspeitos.<br />
Sequestraram criminosos menores e usaram todo tipo <strong>de</strong><br />
tortura para arrancar informações que os pu<strong>de</strong>sse levar ao soldado<br />
<strong>de</strong>saparecido, mas nada foi encontrado.<br />
Então, após vários dias <strong>de</strong> busca sem resposta ou<br />
qualquer pista, <strong>de</strong>sistiram <strong>de</strong> procurar.<br />
O Soldado Hector <strong>de</strong>veria ter sido queimado e só<br />
restavam cinzas agora, se houvessem cinzas.<br />
Ana e a família já tinham perdido as esperanças e só<br />
restava conformar-se com a situação e tocar a vida.<br />
55
Duas Semanas se passaram e houve uma homenagem no<br />
quartel da polícia.<br />
Ana estava linda vestida <strong>de</strong> preto, mas chorava muito<br />
consolada pelos pais e pela ex futura sogra.<br />
Receberam a ban<strong>de</strong>ira da corporação e uma salva <strong>de</strong><br />
tiros.<br />
Agora era voltar para casa, para a vida.<br />
Apesar da distância, Ana mantinha um certo contato via<br />
e-mail e FACEBOOK com sua amiga <strong>de</strong> longa data, Marta que<br />
era casada com Roberto, um juiz <strong>de</strong> direito e fora morar em outra<br />
capital.<br />
As amigas conversavam nos fins <strong>de</strong> semana e recebiam<br />
notícias por parte dos familiares também.<br />
Ela e Tiago seriam padrinhos da filha do casal Taís, mas<br />
Roberto preferiu um irmão seu.<br />
Mesmo assim, Ana consi<strong>de</strong>rava a menina como afilhada<br />
e a tratava com todo o carinho.<br />
Apesar <strong>de</strong> sua tristeza, ficou sabendo do sumiço <strong>de</strong> Taís<br />
e logo procurou ligar para Marta, para as amigas dividirem um<br />
pouco a dor.<br />
Era muita coincidência, as amigas estarem passando por<br />
momentos tão difíceis ao mesmo tempo.<br />
Mas a amiga estava em uma cida<strong>de</strong> distante, longe da<br />
família e para ela seria mais difícil, caso algo mais sério<br />
acontecesse.<br />
E Ana estaria ali para ajudar também, no que fosse<br />
preciso.<br />
56
57
7. UMA ROSA COM AMOR<br />
No primeiro sábado pela manhã, a campainha tocou.<br />
Depois <strong>de</strong> alguma relutância, Ana aten<strong>de</strong>u ao chamado e<br />
encontrou uma rosa vermelha com um bilhete no alpendre.<br />
Seria estranho se não fosse uma coisa comum até ali.<br />
Como prova <strong>de</strong> seu amor, alguns meses antes, Hector<br />
comprou uma rosa <strong>de</strong> um florista na rua e a entregou a Ana.<br />
Fez uma jura <strong>de</strong> amor.<br />
Era uma sexta feira a noite e a partir dali, ele jurou que<br />
todo sábado pela manhã, ela encontraria uma rosa em sua porta.<br />
Os meses se passaram e a promessa se cumpria.<br />
Hector foi até a floricultura do bairro e encomendou as<br />
rosas, tratando com o proprietário, que a cada sábado<br />
religiosamente, entregaria as rosas.<br />
Já <strong>de</strong>ixou pago adiantado por seis meses.<br />
O problema é que agora ele tinha partido e o contrato<br />
permanecia.<br />
A cada sábado uma rosa mais linda que a outra.<br />
A cada sábado uma mensagem <strong>de</strong> amor e uma lembrança<br />
dolorosa.<br />
58
A cada sábado a ferida era reaberta e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> alguns<br />
fins <strong>de</strong> semana, Ana <strong>de</strong>cidiu procurar a floricultura e encerrar<br />
aquele contrato.<br />
Não po<strong>de</strong>ria continuar com aquilo.<br />
A dor era gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais.<br />
O dono da floricultura enten<strong>de</strong>u e fez menção <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>volver o dinheiro pago pelo restante das rosas.<br />
Ana disse que não precisava.<br />
Que <strong>de</strong>ixasse assim, e se o dono da floricultura quisesse,<br />
que oferecesse uma rosa gratuitamente a cada casal apaixonado<br />
que entrasse na sua loja.<br />
O florista enten<strong>de</strong>u e concordou com a proposta.<br />
A semana passou e o sábado chegou novamente.<br />
Quando Ana abriu a porta por volta das oito da manha, lá<br />
estava ela. Outra rosa vermelha, só que sem cartão.<br />
Apenas uma rosa.<br />
Ana ficou <strong>de</strong>sconcertada.<br />
Abaixou-se, pegou a flor com todo carinho e as lágrimas<br />
começaram a rolar por seu rosto.<br />
Com todo cuidado, levou a rosa até o nariz, sentiu seu<br />
perfume, apertou-a contra o peito com cuidado para não se<br />
machucar nos espinhos.<br />
Voltou a chorar copiosamente.<br />
A primeira coisa que fez naquela manhã, foi procurar a<br />
floricultura para reafirmar que as entregas <strong>de</strong>veriam terminar,<br />
como o combinado.<br />
O aten<strong>de</strong>nte não enten<strong>de</strong>u nada, pois não havia feito<br />
nenhuma entrega naquela manhã.<br />
Chamou o dono da floricultura, que confirmou a<br />
situação. Não fora dali que a flor saiu.<br />
Quem teria entregado a rosa?<br />
Ana começou uma verda<strong>de</strong>ira peregrinação pelas<br />
floriculturas locais e as mais distantes. E em todas elas, a resposta<br />
era a mesma. Não fora aquela floricultura que entregou a rosa.<br />
59
Seria alguma brinca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> mau gosto?<br />
Quem seria tão mal assim e po<strong>de</strong>ria brincar com o seu<br />
sentimento?<br />
A situação continuou e a cada sábado uma rosa mais<br />
linda que a da semana anterior, e a cada uma, mais sofrimento.<br />
Ana passou a não abrir mais a porta e pediu que sua mãe<br />
saísse primeiro e se encontrasse a rosa, a jogasse fora e nem<br />
falasse nada.<br />
Até que um dia, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> alguns meses, finalmente elas<br />
pararam <strong>de</strong> aparecer.<br />
60
61
2º ATO<br />
62
8. O SISTEMA<br />
63
9. HOJE<br />
Marta terminou seus exercícios na aca<strong>de</strong>mia. Pegou sua<br />
toalha, secou o corpo, tomou um gole <strong>de</strong> água em sua garrafinha e<br />
<strong>de</strong>spediu-se do professor <strong>de</strong> ginástica, bem como <strong>de</strong> suas colegas<br />
<strong>de</strong> aca<strong>de</strong>mia.<br />
Passou pelo vestiário, pegou a chave no bolso escondido<br />
do short, abriu o armário e pegou documentos, a carteirinha do<br />
clube e as chaves <strong>de</strong> casa.<br />
Passou pela recepção, <strong>de</strong>spediu-se da aten<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong>sceu<br />
as escadas que davam pra rua.<br />
Saiu pela calçada, <strong>de</strong>u uma boa olhada para o céu, que<br />
estava com um azul <strong>de</strong> briga<strong>de</strong>iro, sol brilhante e sem nuvens.<br />
Pensou consigo mesma: “hoje vai ser um dia quente”.<br />
Eram <strong>de</strong>z e meia da manha. Passaria em casa, tomaria<br />
uma ducha, comeria alguma coisa e buscaria Taís no colégio.<br />
Aproveitaria a tar<strong>de</strong> para passear no shopping e comprar<br />
um vestido novo para a filha, pois haveria um aniversário no fim<br />
<strong>de</strong> semana <strong>de</strong> uma coleguinha <strong>de</strong> Taís.<br />
Atravessou a rua, seguiu pela calçada, passou em frente a<br />
uma farmácia, pensou em comprar um remédio para dor muscular,<br />
mas concluiu que uma boa ducha resolveria.<br />
Dobrou a esquina e não prestou atenção no automóvel<br />
que quase a atropelou.<br />
Subiu rapidamente na calçada e pensou cosigo mesma,<br />
“como esta gente anda apressada hoje em dia”, esquecendo-se que<br />
quando está ao volante, ela também age assim.<br />
Chegou à portaria do prédio número 35, digitou a senha e<br />
entrou pelo portão.<br />
Havia um muro <strong>de</strong> vidro reforçado e uma cancela on<strong>de</strong><br />
ficava um segurança.<br />
Aquele prédio possuía boa segurança, pois ali moravam<br />
algumas autorida<strong>de</strong>s e alguns empresários também.<br />
64
Deu uma boa olhada no jardim à frente. Agora era<br />
obrigatório pelo plano diretor da cida<strong>de</strong>, que todos os<br />
condomínios tivessem uma área gramada ou ajardinada na frente,<br />
visando a infiltração da água das chuvas, evitando assim as<br />
gran<strong>de</strong>s enxurradas.<br />
Seu marido Roberto, Juiz <strong>de</strong> uma das Varas <strong>de</strong> Justiça<br />
locais e estava trabalhando naquela hora.<br />
Ele teria uma audiência naquela manhã, sobre qual<br />
assunto ela não sabia, pois Roberto não costumava tratar <strong>de</strong><br />
assuntos do trabalho em casa.<br />
Sempre dizia que a casa era local <strong>de</strong> repouso.<br />
Havia flores ao redor da passarela.<br />
Logo ela entrou pelo saguão do prédio.<br />
Cumprimentou o porteiro, apertou o botão do elevador e<br />
entrou apressada.<br />
Chegou ao décimo andar, saiu do elevador, caminhou<br />
pelo corredor atapetado e ia em direção ao seu apartamento,<br />
quando a porta do apartamento 19 abriu-se.<br />
Dela saiu o seu vizinho Tiago, um rapaz bem jovem que<br />
era casado com Letícia, ambos advogados e donos <strong>de</strong> um<br />
escritório no centro da cida<strong>de</strong>.<br />
O casal morava ali há alguns meses e já compartilhavam<br />
uma pequena amiza<strong>de</strong>. Inclusive, Letícia às vezes brincava com<br />
Taís no parquinho do condomínio. Dizia que também queria<br />
engravidar em breve e adorava crianças.<br />
Marta cumprimentou-o cordialmente e abriu a porta do<br />
apartamento 20.<br />
Era uma porta <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira nobre, bem rústica com<br />
almofadas entalhadas. Muito grossa e pesada, talvez a prova d<br />
balas.<br />
Abriu-a e entrou no apartamento amplo e confortável.<br />
Nem tirou a roupa e foi para o banheiro, tirando-a lá<br />
<strong>de</strong>ntro.<br />
65
Estava sozinha em casa, pois a faxineira só viria no outro<br />
dia.<br />
Ligou o chuveiro, pren<strong>de</strong>u o cabelo, acabando <strong>de</strong> tirar a<br />
roupa, entrou sob a água.<br />
Um banho relaxante <strong>de</strong>pois da malhação era a melhor<br />
coisa do mundo.<br />
Acabou o banho, enxugou-se e foi para o quarto enrolada<br />
na toalha.<br />
Abriu o guarda roupas, escolheu uma roupa leve para um<br />
dia <strong>de</strong> calor.<br />
Pegou um tênis leve e <strong>de</strong>ixou-o <strong>de</strong> lado, calçando uma<br />
sandália até que seu pé relaxasse.<br />
Foi até a gela<strong>de</strong>ira na cozinha, abriu a porta, pegou uma<br />
maça e começou a <strong>de</strong>vorá-la.<br />
Era uma cozinha planejada, bem montada, com seus<br />
paneleiros, bancadas, um fogão <strong>de</strong>stes <strong>de</strong> bancada e uma pia no<br />
centro.<br />
Toda branca, com alguns <strong>de</strong>talhes em amarelo e cinza,<br />
toda completa.<br />
Era uma parte bem aconchegante do apartamento.<br />
Acabou <strong>de</strong> comer a maçã, voltou ao quarto e calçou o<br />
tênis.<br />
Pegou a bolsa, verificou se as chaves estavam no interior,<br />
bem como a carteira, batom e os documentos do carro.<br />
Tudo certo, já estava na hora <strong>de</strong> buscar Taís.<br />
Confirmou as horas, verificou as luzes, saiu pela porta,<br />
confirmando se estava trancada.<br />
Entrou no elevador e <strong>de</strong>sceu para a garagem.<br />
Seu apartamento dava direito a três vagas.<br />
Tinha seu carro próprio, um carro era do marido e<br />
possuíam uma terceira vaga para o caso <strong>de</strong> algum parente os<br />
visitar.<br />
Entrou no seu automóvel, um Kia Soul prateado, ligou o<br />
som antes <strong>de</strong> ligar o carro.<br />
66
Apertou o dispositivo do portão automático, saiu para a<br />
rua e seguiu seu <strong>de</strong>stino.<br />
Eram onze horas e trinta minutos quando chegou ao<br />
colégio.<br />
Era um colégio particular bem caro, do tipo Jardim <strong>de</strong><br />
Infância, com professores <strong>de</strong> informática, inglês, balé e tudo o que<br />
uma criança precisa, ou não, para ter uma excelente formação.<br />
Estacionou o carro, <strong>de</strong>u uma olhada no retrovisor,<br />
verificou se não havia algum automóvel vindo ao sentido<br />
contrário, abriu a porta e saiu.<br />
Neste instante, Taís veio correndo, puxando a sua pasta<br />
com rodinhas.<br />
Deu um forte abraço, um beijinho na boca, pegou a<br />
mochila da filha, colocou-a no banco <strong>de</strong> trás e a filha na<br />
ca<strong>de</strong>irinha também no banco <strong>de</strong> trás.<br />
Entrou no carro, <strong>de</strong>u a partida e foi para o restaurante na<br />
esquina da Avenida Sete <strong>de</strong> Setembro com Rua Pasteur.<br />
O restaurante servia um Buffet por quilo. A comida era<br />
<strong>de</strong> excelente qualida<strong>de</strong> e tinha um espaço para crianças.<br />
O restaurante era <strong>de</strong> dois andares, uma casa estilo antigo,<br />
com pare<strong>de</strong>s nas cores bege, com tons alaranjados em contraste<br />
com o fundo. Janelas <strong>de</strong> vidro na parte <strong>de</strong> cima, on<strong>de</strong> havia um<br />
gran<strong>de</strong> salão.<br />
Na parte <strong>de</strong> baixo, portas gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong> metal brancas, on<strong>de</strong><br />
ficava o bar e a linha <strong>de</strong> servir com vários tipos <strong>de</strong> pratos.<br />
No fim do corredor ficavam as sobremesas.<br />
Do lado <strong>de</strong> fora, havia uma gran<strong>de</strong> araucária, árvore<br />
comum na região.<br />
Uma calçada branca ro<strong>de</strong>ava o ambiente.<br />
Possuía gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ferro baixas, que <strong>de</strong>ixavam ver no<br />
pátio interno, um brinquedo <strong>de</strong>sses <strong>de</strong> escorregar em plástico<br />
colorido que a criançada adora.<br />
Marta <strong>de</strong>ixou o carro no estacionamento na Rua Pasteur.<br />
67
Primeiro tentou <strong>de</strong>ixar o carro na Sete <strong>de</strong> Setembro, mas<br />
todas as vagas <strong>de</strong> “Cartão Estar” estavam ocupadas, então não<br />
teve jeito, dobrou o quarteirão, pegou a Avenida Silva Jardim,<br />
voltou novamente pela Sete <strong>de</strong> Setembro e entrou no primeiro<br />
estacionamento que encontrou.<br />
Tirou Taís da ca<strong>de</strong>irinha, <strong>de</strong>ixou a mochila da escola no<br />
carro, entregou as chaves ao manobrista, pegou o vale com o<br />
gerente do estacionamento.<br />
Saiu <strong>de</strong> mãos dadas com a filha, dobrou a esquina e<br />
entrou no restaurante. Naquele horário ele estava lotado.<br />
Havia no bairro, vários escritórios, aca<strong>de</strong>mias, clínicas,<br />
bem como um variado comércio.<br />
Escolheu uma mesa perto da janela, e notou que seus<br />
vizinhos Tiago e Letícia estavam ali almoçando também, só que já<br />
estavam terminando.<br />
Cumprimentou-os, pediu ao garçom uma ca<strong>de</strong>irinha alta<br />
<strong>de</strong>stas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira própria para crianças.<br />
Pediu dois sucos <strong>de</strong> laranja, colocou Taís na ca<strong>de</strong>irinha,<br />
certificou-se que ela estaria confortável e segura, <strong>de</strong>ixou a bolsa<br />
na ca<strong>de</strong>ira abaixo da mesa, pediu aos amigos que <strong>de</strong>ssem uma<br />
olhada em Taís e foi para a fila preparar sua refeição e a da filha,<br />
sempre <strong>de</strong> olho.<br />
Escolheu cuidadosamente alimentos leves e saborosos.<br />
Precisava cuidar da saú<strong>de</strong> própria e da filha.<br />
Acabou <strong>de</strong> arrumar os pratos, pesou-os e seguiu para a<br />
mesa.<br />
Taís, a esta altura, já sabia comer sozinha.<br />
Mãe e filha brincaram com a comida e alimentaram-se<br />
tranquilamente.<br />
A tar<strong>de</strong> seria quente e um passeio no shopping faria<br />
muito bem.<br />
À noite, po<strong>de</strong>ria jantar com o marido e tomar um vinho.<br />
Os jovens amigos na mesa ao lado, terminaram suas<br />
refeições, levantaram-se, passaram na mesa <strong>de</strong> Marta, brincaram<br />
68
com Taís, <strong>de</strong>ram ambos um beijo no rosto <strong>de</strong> Marta e <strong>de</strong>spediramse.<br />
Marta sorriu e seguiu-os com os olhos quando se<br />
dirigiram ao caixa, pagaram a conta e saíram pela porta <strong>de</strong> vidro.<br />
Marta e Taís acabaram suas refeições e tomaram o resto<br />
do suco.<br />
Marta <strong>de</strong>u uma olhada no celular para verificar se havia<br />
alguma mensagem e constou que havia uma <strong>de</strong> Roberto, avisando<br />
que iria ter uma audiência na parte da tar<strong>de</strong>. Não tinha horário<br />
para regressar ao lar naquele dia.<br />
Era um processo difícil.<br />
Marta pediu uma sobremesa que dividiu-a com a filha.<br />
Levantou-se, tirou a filha da ca<strong>de</strong>irinha pegou a bolsa e<br />
foi ao caixa pagar a conta, sempre <strong>de</strong> mãos dadas com Taís.<br />
Ao saírem, a menina viu o brinquedo na parte <strong>de</strong> fora e<br />
pediu pra brincar um pouco. Como havia tempo, marta não se<br />
importou e foi com a menina para o brinquedo.<br />
O sol estava forte e marta procurou os óculos escuros.<br />
Não estavam na blusa, revirou a bolsa e não os<br />
encontrou.<br />
Lembrou-se <strong>de</strong> que os havia <strong>de</strong>ixado junto da bolsa na<br />
ca<strong>de</strong>ira sob a mesa.<br />
Como havia outras pessoas no pátio e Taís estava no<br />
brinquedo, não haveria problemas <strong>de</strong>ixá-la por um pequeno<br />
instante.<br />
Beijou-a e pediu pra ficar sozinha só um pouquinho.<br />
Voltou ao restaurante, entrou pela porta, avisou à moça<br />
da recepção.<br />
A recepcionista disse que uma aten<strong>de</strong>nte quando foi<br />
limpar a mesa, encontrou os óculos e entregou-os ao gerente.<br />
Pediu que Marta esperasse um pouco e foi buscá-los.<br />
Marta pegou-os, agra<strong>de</strong>ceu à moça e saiu na porta, indo<br />
para a direita na direção do brinquedo.<br />
Haviam se passado apenas alguns minutos, cinco talvez.<br />
69
Chegou ao brinquedo e não viu Taís.<br />
Seu coração <strong>de</strong>u um salto, mas logo foi tranquilizada.<br />
Ouviu um chamado <strong>de</strong> “mamãe”, olhou <strong>de</strong> lado e<br />
encontrou-a Junto a Letícia.<br />
Letícia estava brincando com Taís e logo informou a<br />
marta que Tiago foi buscar um documento ali perto e ela ficou<br />
esperando na calçada, quando viu Taís brincando, então <strong>de</strong>cidiu<br />
brincar com ela.<br />
Pediu <strong>de</strong>sculpas a Marta, que enten<strong>de</strong>u e não se<br />
importou.<br />
Logo em seguida, Tiago veio do outro lado da rua com<br />
um envelope nas mãos.<br />
Letícia <strong>de</strong>spediu-se <strong>de</strong> marta e seguiu com o marido para<br />
pegarem o carro também em um estacionamento ali perto.<br />
Marta saiu <strong>de</strong> mãos dadas com Tais e foram ao<br />
estacionamento.<br />
Pegou o ticket na bolsa, pagou ao aten<strong>de</strong>nte do<br />
estacionamento, que pediu a um rapaz que buscasse o carro.<br />
O rapaz chegou, elas entraram no veículo e seguiram<br />
para o shopping.<br />
Passearam pelo shopping, entraram em várias lojas.<br />
Marta experimentou vários vestidos e sapatos e no fim<br />
acabou escolhendo um belo vestido rendado. Sapato combinando<br />
Pararam em um café, on<strong>de</strong> Marta pediu um cappuccino,<br />
uma massa folhada para si, um bolo e um suco para Taís.<br />
Comeram e após, Marta pediu a conta, pagou e foram<br />
embora.<br />
Marta pagou o estacionamento, dirigiu-se ao<br />
estacionamento, ligou o carro e saiu.<br />
Teve uma leve impressão que estaria sendo observada,<br />
mas nestes pátios <strong>de</strong> estacionamento, sempre há muitas pessoas,<br />
indo e vindo.<br />
Po<strong>de</strong>ria ser apenas uma impressão.<br />
Devia ser.<br />
70
Ao sair do shopping, reparou que a tar<strong>de</strong> já estava no<br />
fim.<br />
Nem percebeu o quanto <strong>de</strong>morou no shopping.<br />
Taís estava cansada e logo adormeceu na ca<strong>de</strong>irinha.<br />
Marta seguia para casa, parou em um sinal, <strong>de</strong>pois outro.<br />
Seguia tranquilamente, pensando em dar um banho em<br />
Taís, preparar um lanche caso ela quisesse, a colocar para dormir.<br />
Se ela quisesse brincar um pouco, iria aproveitar a<br />
situação.<br />
Nem reparou num veículo que a acompanhava <strong>de</strong> perto.<br />
Quando dobrou uma esquina entrando em uma rua mais<br />
isolada, já próximo <strong>de</strong> casa, foi abalroada por trás e fechada por<br />
outro veículo.<br />
Tomou um susto e logo saltaram do veículo dois homens<br />
encapuzados empunhando armas.<br />
Mandaram que ela abrisse o vidro saltasse para o banco<br />
do lado e um <strong>de</strong>les assumiu a direção do carro.<br />
O outro entrou no banco <strong>de</strong> trás e acordando Taís, logo a<br />
tirou da ca<strong>de</strong>irinha.<br />
O outro carro seguiu na frente e o homem seguiu-o até<br />
uma rua afastada.<br />
Neste local, ambos os carros pararam, o homem do<br />
banco <strong>de</strong> trás pegou Taís e o segundo homem mandou que Marta<br />
colocasse uma venda.<br />
Marta chorava e gritava e o homem disse que se ela<br />
continuasse a gritar, atiraria em Taís.<br />
O homem colocou um pano embebido com alguma<br />
substância que faria Marta <strong>de</strong>smaiar.<br />
Taís chorava e esperneava.<br />
Quando Marta acordou alguns minutos <strong>de</strong>pois, estava<br />
ro<strong>de</strong>ada <strong>de</strong> pessoas curiosas e já havia no local uma patrulha da<br />
polícia.<br />
Tentou ligar para o marido Roberto, que <strong>de</strong>morou a<br />
aten<strong>de</strong>r.<br />
71
Chegaram ao local, mais duas patrulhas que logo fizeram<br />
muitas perguntas sobre a situação, o horário, e a profissão <strong>de</strong><br />
Marta e o Marido.<br />
Foi feita uma ronda no quarteirão, as lojas e casas foram<br />
consultadas sobre alguma situação estranha e câmeras <strong>de</strong><br />
vigilância foram verificadas.<br />
Finalmente conseguiu falar com Roberto.<br />
Alguns minutos <strong>de</strong>pois, um carro oficial chegou até o<br />
local.<br />
Dele saltou um homem alto, <strong>de</strong> terno bem cortado,<br />
cabelo engomado.<br />
Marta saiu correndo e jogou-se nos braços do marido.<br />
O sargento comandante <strong>de</strong> uma das patrulhas apresentouse<br />
e disse que já havia registrado o Boletim <strong>de</strong> Ocorrência.<br />
Também contatou a Central e todas as viaturas nas<br />
redon<strong>de</strong>zas e pela cida<strong>de</strong>.<br />
Até aquele momento era o que se podia fazer.<br />
A dor e o <strong>de</strong>sespero tomaram conta do casal que tentava<br />
enten<strong>de</strong>r o ocorrido.<br />
Foram até a <strong>de</strong>legacia no carro do juiz.<br />
Roberto não ficou surpreso.<br />
Estava em um caso complicado e sabia que algo po<strong>de</strong>ria<br />
acontecer, mas porque não se precavera?<br />
Até ali, eram apenas suposições.<br />
Nenhum telefonema, nem uma mensagem, nada.<br />
Depois <strong>de</strong> muito choro e lamentações da parte <strong>de</strong> Marta,<br />
foram para casa.<br />
A polícia estava fazendo as buscas.<br />
Marta lembrou-se dos vizinhos no restaurante, talvez<br />
tivessem visto alguma coisa.<br />
Tocou a campainha e não foi atendida, eles ainda não<br />
haviam chegado.<br />
Por volta das 21 horas, o telefone <strong>de</strong> Roberto tocou.<br />
72
Uma voz metálica do outro lado <strong>de</strong>u boa noite e foi logo<br />
dizendo:<br />
- Estamos com sua filha. Ela está bem, por enquanto.<br />
- Não queremos dinheiro. Não se preocupe com isso.<br />
- Entraremos em contato pela manhã.<br />
- A menina chorou bastante, mas agora está dormindo.<br />
- O que vocês querem? Perguntou Roberto <strong>de</strong>sesperado.<br />
Marta correu, pegou o telefone nas mãos <strong>de</strong> Roberto e<br />
começou a falar com a pessoa do outro lado da ligação.<br />
A voz disse apenas que <strong>de</strong>sligaria e na manhã seguinte<br />
voltaria com novas informações.<br />
Só isso e <strong>de</strong>sligou o telefone.<br />
A campainha soou, Roberto foi aten<strong>de</strong>r, mas primeiro<br />
olhou pelo olho mágico. Viu que eram os vizinhos.<br />
Abriu a porta, cumprimentou-os e convidou-os a entrar.<br />
Eles disseram que ao chegar foram avisados pelo porteiro<br />
que houvera algo com Taís, então foram verificar, para saber se<br />
po<strong>de</strong>riam ajudar <strong>de</strong> alguma forma.<br />
Roberto e Marta conversaram com os dois, explicaram a<br />
situação e que só po<strong>de</strong>riam esperar, apesar do <strong>de</strong>sespero.<br />
Os amigos colocaram-se a disposição para ajudar em<br />
tudo o que precisasse e foram para seu apartamento.<br />
Marta estava arrasada e ficou chorando sentada no sofá.<br />
Roberto acompanhou-os até a porta, agra<strong>de</strong>ceu à<br />
preocupação e <strong>de</strong>spediu-se.<br />
Disse que qualquer coisa, ou necessida<strong>de</strong>, entraria em<br />
contato.<br />
Naquele momento, não havia muito que fazer, a não ser<br />
esperar e avisar aos parentes.<br />
73
74
10. UM ANO ANTES<br />
Roberto e Marta chegaram à cida<strong>de</strong>, vindos <strong>de</strong> São<br />
Paulo.<br />
Ele acabara <strong>de</strong> ser transferido para esta cida<strong>de</strong>, ocupando<br />
cargo na Vara <strong>de</strong> Justiça local.<br />
Hospedaram-se no Hotel Executive, bem no centro da<br />
cida<strong>de</strong>.<br />
Um hotel <strong>de</strong> excelente qualida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> fácil localização.<br />
Vieram <strong>de</strong> avião e seu automóvel viria posteriormente<br />
pela transportadora.<br />
Fizeram a reserva e chegaram no fim <strong>de</strong> semana.<br />
Ao chegarem ao aeroporto, tomaram um táxi e dirigiramse<br />
ao hotel.<br />
Roberto ligou para seus pais <strong>de</strong>ixando-os tranquilizados.<br />
Tudo correra bem na viagem.<br />
Marta também ligou para seus pais.<br />
Roberto ligou também para um amigo avisando <strong>de</strong> sua<br />
chegada.<br />
Marcou <strong>de</strong> almoçarem no dia seguinte, que seria um<br />
domingo.<br />
Chegaram ao hotel e i<strong>de</strong>ntificaram-se.<br />
Um aten<strong>de</strong>nte pegou as suas malas e dirigiram-se ao<br />
elevador que os levaria à suíte reservada.<br />
Queriam apenas tomar um banho e <strong>de</strong>scansar.<br />
Era uma noite agradável <strong>de</strong> verão e o céu estava bem<br />
estrelado.<br />
No dia seguinte, acordaram cedo, fizeram sua higiene e<br />
<strong>de</strong>sceram ao restaurante para tomarem o café.<br />
Seu amigo iria chegar por volta das <strong>de</strong>z horas.<br />
Paulo Sérgio, seu amigo, chegou às <strong>de</strong>z horas em ponto.<br />
Ele também era Juiz <strong>de</strong> direito e iria apresentar a cida<strong>de</strong><br />
ao casal recém-chegado.<br />
Junto com ele estava Evelin, sua esposa.<br />
75
Decidiram que dariam uma volta em um parque da<br />
cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pois almoçariam.<br />
No outro dia começaria a busca por uma residência.<br />
Já tinham feito uma busca prévia em diversas<br />
imobiliárias pela internet e tinham já uma i<strong>de</strong>ia.<br />
Entraram no automóvel e seguiram para o parque.<br />
Deram uma boa volta, <strong>de</strong>pois passaram por alguns<br />
pontos da cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>cidiram ir a uma churrascaria.<br />
Escolheram a Canteiros Grill, ali perto mesmo.<br />
Conversaram animadamente sobre as possibilida<strong>de</strong>s e<br />
como era a nova cida<strong>de</strong>, uma cida<strong>de</strong> muito próspera.<br />
A tranquilida<strong>de</strong> e facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong>, bem<br />
diferente <strong>de</strong> São Paulo.<br />
Ali era uma cida<strong>de</strong> muito promissora, com muitas<br />
ativida<strong>de</strong>s culturais e com um povo muito educado.<br />
Roberto e Marta ficaram muito otimistas com todas as<br />
informações.<br />
Já haviam reservado alguns imóveis para verificarem.<br />
No outro dia sairiam para escolherem qual a melhor<br />
opção.<br />
Paulo Sérgio ofereceu-se para guiá-los na cida<strong>de</strong> nestes<br />
dias.<br />
Estava <strong>de</strong> licença naquela semana e estaria a disposição.<br />
Almoçaram animadamente e os novos amigos brincaram<br />
com Taís, que agora estava com quatro anos.<br />
Não tinham filhos e estavam planejando o primeiro para<br />
daqui a um ano.<br />
Após o almoço, <strong>de</strong>ram mais uma volta pela cida<strong>de</strong> e<br />
<strong>de</strong>pois voltaram ao hotel, marcando o encontro para o outro dia às<br />
nove horas.<br />
Roberto e Marta estavam muito felizes com a escolha da<br />
cida<strong>de</strong>.<br />
Agora era ligar novamente para os pais e irmãos que<br />
ficaram em São Paulo e contarem as novida<strong>de</strong>s.<br />
76
Naquele dia, esperaram Taís adormecer e felizes, foram<br />
tomar um banho juntos.<br />
Fizeram amor ali no chuveiro mesmo.<br />
Após, vieram para a cama.<br />
Marta ainda enxugava os cabelos.<br />
Verificaram que Taís estava dormindo, beijaram-se e<br />
<strong>de</strong>itaram na cama confortável.<br />
Ligaram a TV e assistiram a programação do final da<br />
tar<strong>de</strong>.<br />
Antes <strong>de</strong> dormirem, comeram uma fruta e conversaram<br />
um pouco sobre o dia seguinte.<br />
Marta acomodou-se nos braços <strong>de</strong> Roberto e<br />
adormeceram os dois.<br />
De manhã, os dois após fazerem sua higiene <strong>de</strong>sceram ao<br />
restaurante para tomarem café.<br />
Após sairiam para visitarem imóveis a alugar.<br />
O dia seria longo.<br />
Visitaram a primeira casa, mas era gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais.<br />
Um apartamento, <strong>de</strong>pois outro e no fim, ficaram <strong>de</strong> olhar<br />
o último que seria no outro dia, ma já tinham uma preferência.<br />
O dia passou muito rápido e lembraram-se que não<br />
tinham almoçado.<br />
Decidiram jantar então.<br />
Escolheram um restaurante <strong>de</strong> comida italiana.<br />
Pediram um bom vinho, trocaram algumas informações e<br />
pediram os pratos.<br />
Cada qual tinha uma escolha.<br />
Capeletti para um, ron<strong>de</strong>lli para outro e mais um cálice<br />
<strong>de</strong> vinho.<br />
Roberto gostava <strong>de</strong> vinho seco, já Marta, adorava vinho<br />
rosé.<br />
Por estes dias seriam tomadas as medidas administrativas<br />
para a instalação do casal na cida<strong>de</strong>.<br />
77
No outro dia, Roberto <strong>de</strong>veria ir ao banco, transferir a<br />
conta, ligar para a transportadora e combinar a entrega da<br />
mudança e dos automóveis, mas antes <strong>de</strong>veriam ver o último<br />
apartamento.<br />
Se não escolhessem nenhum daqueles, po<strong>de</strong>riam<br />
verificar outros, mas o tempo estava passando rápido e já tinham<br />
uma opinião mais ou menos formada.<br />
Paulo convidou o casal recém-chegado para jantarem em<br />
sua residência no dia seguinte.<br />
Depois os apresentaria a socieda<strong>de</strong> local.<br />
Também os apresentaria ao clube on<strong>de</strong> os magistrados<br />
eram sócios.<br />
Haveria um gran<strong>de</strong> jantar no fim <strong>de</strong> semana e seria uma<br />
honra contar com o novo casal <strong>de</strong> amigos.<br />
Na manha seguinte, seguiram a mesma rotina.<br />
Roberto tinha optado por alugar um carro e também um<br />
GPS, o que facilitou nos <strong>de</strong>slocamentos até os imóveis.<br />
Ligou para o corretor e marcou <strong>de</strong> encontrarem-se no<br />
local.<br />
Fizeram a visita, mas a escolha já estava feita por um<br />
apartamento no dia anterior.<br />
Roberto ligou para Paulo Sérgio confirmando a escolha.<br />
Aquele apartamento era o que melhor lhes servia.<br />
Era em um bairro classe média.<br />
Ali moravam outras autorida<strong>de</strong>s e alguns empresários.<br />
Era um bairro bem servido <strong>de</strong> bancos, lojas, padarias,<br />
farmácias, bons colégios e uma ótima re<strong>de</strong> <strong>de</strong> supermercados.<br />
Havia boas aca<strong>de</strong>mias também, boa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> transportes,<br />
boa localização e acima <strong>de</strong> tudo, boa vizinhança.<br />
A proximida<strong>de</strong> com o centro comercial, com alguns<br />
shoppings Center e nem tão longe assim do trabalho <strong>de</strong> Roberto<br />
também ajudava.<br />
Roberto ligou para a firma <strong>de</strong> mudança e passou o<br />
en<strong>de</strong>reço.<br />
78
Marcaram <strong>de</strong> entregar a mudança no sábado seguinte.<br />
Roberto procurou o síndico, pegou todas as informações<br />
a respeito <strong>de</strong> horários e combinou com o síndico que era um juiz<br />
aposentado, o horário da mudança.<br />
Conheceu as diversas instalações, piscina, aca<strong>de</strong>mia,<br />
lavan<strong>de</strong>ria e outras menos importantes.<br />
Também conheceu suas vagas na garagem e o parquinho<br />
do prédio.<br />
Agra<strong>de</strong>ceu ao síndico, <strong>de</strong>spediu-se e ligou para a<br />
imobiliária, marcando o horário para assinar o contrato, pegar<br />
todas as chaves e pagar alguma taxa prevista.<br />
A família aproveitou o horário, passaram em um<br />
restaurante ali no bairro mesmo e almoçaram.<br />
Às treze horas em ponto, estavam na imobiliária<br />
assinando o contrato e resolvendo todas as pendências.<br />
Neste primeiro ano na cida<strong>de</strong>, a opção era alugar um<br />
imóvel.<br />
Depois, quem sabe, caso gostassem da cida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>riam<br />
fazer planos <strong>de</strong> estabelecerem-se e comprar um bom imóvel, mas<br />
agora era hora <strong>de</strong> primeiro adaptarem-se.<br />
A tar<strong>de</strong> passou rápido e logo chegou a noite.<br />
Paulo Sérgio ligou, confirmando o horário do jantar, que<br />
ficou combinado para as vinte horas.<br />
Vinte minutos antes, a campainha tocou no apartamento<br />
<strong>de</strong> Paulo Sérgio.<br />
O porteiro anunciou os visitantes, que foram autorizados<br />
a subir.<br />
Deixaram o automóvel na rua em frente.<br />
A porta se abriu e Paulo Sérgio aten<strong>de</strong>u-os alegremente.<br />
Evelin também veio recepcionar os visitantes.<br />
Roberto entregou uma garrafa <strong>de</strong> vinho ao anfitrião que<br />
os convidou a entrarem em sua mo<strong>de</strong>sta morada.<br />
Um apartamento bem montado e confortável.<br />
Com mobília nova e muito bem escolhida.<br />
79
Marta elogiou Evelin pelo bom gosto na <strong>de</strong>coração,<br />
<strong>de</strong>ixando a anfitriã muito feliz.<br />
Quadros e tapetes muito lindos, e “caros”, como Marta<br />
teria notado.<br />
Paulo Sérgio ofereceu whisky ao novo amigo, que<br />
aceitou.<br />
Depois serviu a si e os dois blindaram a uma nova vida.<br />
Evelin anunciou que o jantar estava servido.<br />
Sentaram-se à mesa.<br />
Evelin arrumou uma ca<strong>de</strong>irinha para Taís e todos se<br />
acomodaram.<br />
Paulo Sérgio abriu a garrafa <strong>de</strong> vinho, sentiu o aroma,<br />
elogiou a escolha e serviu primeiro às visitas.<br />
O jantar transcorreu da melhor forma.<br />
Os dois casais conversaram alegremente.<br />
Roberto e marta falaram <strong>de</strong> suas escolhas, seus sonhos e<br />
perspectivas sobre o futuro.<br />
Os anfitriões elogiaram a cida<strong>de</strong>.<br />
Também não eram dali, tinham vindo <strong>de</strong> Porto Alegre e<br />
estavam já a três anos na cida<strong>de</strong>, perfeitamente adaptados.<br />
Tinham comprado o apartamento e iriam fixar-se.<br />
Marta notou que Evelin usava joias caras, “muito caras”,<br />
o que foi percebido pela anfitriã.<br />
Ela logo começou a elogiar o marido, que adorava dar<br />
joias para ela em todas as situações e datas especiais.<br />
Tinha uma coleção das joias mais caras, ouro, diamantes,<br />
esmeraldas e pérolas.<br />
Marta notou o brilho no olhar da nova amiga e como o<br />
semblante <strong>de</strong> Paulo Sérgio mudava quando falava das joias.<br />
Talvez ficasse constrangido em falar sobre estes assuntos<br />
com pessoas <strong>de</strong> fora.<br />
Mas mostrou levar tudo numa boa e achou normal,<br />
apenas algum rompante <strong>de</strong> extravagância <strong>de</strong> Evelin.<br />
Após o jantar, ainda conversaram por alguns instantes.<br />
80
Evelin ofereceu-se para apresentar Marta às senhoras da<br />
socieda<strong>de</strong>.<br />
Paulo Sérgio disse a Roberto que haveria um jantar no<br />
clube on<strong>de</strong> era sócio e o apresentaria aos sócios.<br />
Neste sábado haveria um gran<strong>de</strong> jantar <strong>de</strong> boas vindas e<br />
muitas autorida<strong>de</strong>s estariam lá, além <strong>de</strong> empresários locais.<br />
Boa parte da alta socieda<strong>de</strong> estaria presente e seria uma<br />
gran<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> para conhecer as pessoas.<br />
Roberto não gostava <strong>de</strong> nada disso.<br />
Era um homem simples, mas agora, <strong>de</strong>veria esforçar-se<br />
para fazer parte <strong>de</strong> outro grupo.<br />
Suas raízes simples <strong>de</strong>veriam dar lugar a outro modo <strong>de</strong><br />
portar-se? A dúvida aumentava e o sufocava.<br />
Marta também estava um pouco apavorada com a<br />
situação, mas tinha que enfrentar isso.<br />
No dia marcado, a mudança chegou.<br />
Na manhã <strong>de</strong> sábado, bem cedo, o casal estava no<br />
apartamento aguardando o caminhão que chegou cedo.<br />
A empresa contratada tinha toda uma estrutura <strong>de</strong><br />
transporte, então não precisariam botar as mãos em nada, apenas<br />
assistir.<br />
O telefone e a internet já estavam instalados também,<br />
assim como a eletricida<strong>de</strong> e o gás <strong>de</strong> cozinha.<br />
Agora era só esperar a montagem dos móveis e<br />
esvaziarem as malas.<br />
Arrumar as roupas a<strong>de</strong>quadamente ficaria para o outro<br />
dia.<br />
Saíram para almoçar e <strong>de</strong>ixaram os rapazes acabando <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scarregar e montar os móveis.<br />
Após o almoço, <strong>de</strong>ixaram Tais numa cama que já estava<br />
montada no quarto <strong>de</strong> visitas.<br />
Marta verificou se a janela estava bem trancada e se não<br />
oferecia perigo para Taís.<br />
81
Tudo bem, agora era aguardar o término da montagem<br />
dos móveis.<br />
Os carros também haviam chegado e Roberto po<strong>de</strong><br />
entregar o outro alugado.<br />
O sindico indicou uma moça conhecida que já prestava<br />
serviços <strong>de</strong> cuidadora no prédio.<br />
Marta ligou para a moça que se chamava Sílvia.<br />
Marcaram o horário e preço.<br />
Taís era bem tranquila e não iria estranhar a nova amiga.<br />
O horário foi chegando.<br />
O casal <strong>de</strong>spachou os rapazes da mudança.<br />
Roberto <strong>de</strong>u uma boa gorjeta aos mesmos e Marta entrou<br />
no banho.<br />
Depois, Roberto fez o mesmo.<br />
As roupas já estavam alinhadas.<br />
Tinham <strong>de</strong>ixado numa lavan<strong>de</strong>ria próxima, que as<br />
entregou no domicílio, bem limpas e passadas.<br />
Marta vestiu um vestido <strong>de</strong> tecido leve, até os tornozelos<br />
na cor bege ou salmão.<br />
Arrumou algumas joias e se pintou.<br />
O cabelo, não <strong>de</strong>u tempo <strong>de</strong> ir a um salão, mas estava<br />
bem cuidado.<br />
Uma sandália <strong>de</strong> salto bem alta. Estava linda.<br />
Roberto vestiu um terno bem cortado.<br />
Tudo certo. Despediram-se <strong>de</strong> Taís. Orientações a Sílvia<br />
e saíram.<br />
Entraram no elevador e beijaram-se.<br />
Logo estavam na garagem e entraram no carro.<br />
Roberto verificou o GPS, colocou o en<strong>de</strong>reço e saíram.<br />
Deveriam levar uns <strong>de</strong>z minutos para chegarem ao clube.<br />
Seria uma noite longa, regada a champanhe e muita, mas<br />
muita <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> status.<br />
Os dois iam no carro divagando sobre o que<br />
encontrariam, um monte <strong>de</strong> gente esnobe, com o nariz em pé, e<br />
82
assuntos sem sentido, apenas querendo cada um mostrar-se mais<br />
que o outro.<br />
É assim que funciona na alta socieda<strong>de</strong>.<br />
A cada comentário sobre o que encontrariam, davam<br />
risadas, pensando na situação.<br />
A recepção foi ótima pelo lado social, mas foi a pior<br />
possível pelo lado moral.<br />
Muito glamour, muita ostentação, muita seda, muito<br />
esnobismo e todo tipo <strong>de</strong> situações que <strong>de</strong>ixavam Marta enjoada.<br />
Paulo Sérgio e Evelin foram os mais cordiais e<br />
simpáticos possíveis.<br />
Apresentaram os novos amigos a todos os anfitriões.<br />
Juízes, empresários, médicos, políticos <strong>de</strong> todos os<br />
naipes e suas esposas.<br />
Também estavam presentes, os comandantes <strong>de</strong> forças<br />
policiais e <strong>de</strong>mais autorida<strong>de</strong>s.<br />
Vários membros da alta roda estavam ali, pelo menos as<br />
autorida<strong>de</strong>s.<br />
Roberto se perguntava on<strong>de</strong> é que estava se metendo.<br />
Não prestou um concurso para isso.<br />
Não era o seu objetivo misturar-se com toda aquela<br />
gente.<br />
Sabia que ali estava o que <strong>de</strong> pior podia existir na<br />
socieda<strong>de</strong>.<br />
Todo tipo <strong>de</strong> ratos e salafrários que se po<strong>de</strong> confinar no<br />
mesmo ambiente.<br />
Ali as coisas eram movidas a conchavos e acordos<br />
benéficos aos dois lados.<br />
Como sair daquilo elegantemente?<br />
Teria que fazer o jogo?<br />
Conseguiria conviver com aquela socieda<strong>de</strong> que<br />
<strong>de</strong>sprezava?<br />
Teria que esperar e ver até on<strong>de</strong> aquilo iria, mas como<br />
estava se sentindo mal.<br />
83
Uma taça <strong>de</strong> champanhe aqui, outra taça ali, um canapé,<br />
mais um.<br />
Marta já não aguentava mais tanta melação.<br />
Estava cansada <strong>de</strong> tanta falsida<strong>de</strong>.<br />
Beijinhos e mais beijinhos.<br />
Cada senhora tentava ostentar mais que a outra.<br />
Um único anel ali, talvez <strong>de</strong>sse para pagar o salário <strong>de</strong><br />
alguns funcionários no mês.<br />
Cada relógio valia mais que o investimento em uma<br />
creche.<br />
Cada carro seria uma condição melhor para os<br />
funcionários ou mesmo uma escola nova no bairro, ou um posto<br />
médico na periferia.<br />
Mas quem se importa?<br />
Isso é problema dos outros.<br />
Ali, a ganância era sentida no ar.<br />
Impregnava as narinas e o ambiente era sufocante.<br />
Finalmente, chegara a hora <strong>de</strong> ir embora.<br />
A <strong>de</strong>sculpa <strong>de</strong> que tinham uma filha <strong>de</strong> 4 anos que os<br />
aguardava e precisavam acabar os ajustes da mudança.<br />
Uma boa <strong>de</strong>sculpa para fugirem do local.<br />
Despedidas, uma promessa <strong>de</strong> novos jantares, trocas <strong>de</strong><br />
bajulações e os dois conseguiram escapar.<br />
Marta estava até borrada <strong>de</strong> tanto abraço e beijo.<br />
Roberto fedia a charutos caros e whisky escocês.<br />
Só queriam chegar em casa, já passava das vinte e três<br />
horas.<br />
Seu refúgio, porto seguro.<br />
Chegaram finalmente. Roberto abriu o portão com o<br />
controle remoto, i<strong>de</strong>ntificou-se ao porteiro, <strong>de</strong>sceram do carro.<br />
Roberto ligou o alarme e os dois dirigiram-se ao<br />
elevador.<br />
Ao entrar, conversavam sobre as novas experiências.<br />
Chegaram ao seu andar e entraram no apartamento.<br />
84
Sílvia estava no quarto com Taís.<br />
Cumprimentaram-na, verificaram que a filha estava<br />
dormindo.<br />
Perguntaram se a moça alimentou-se, se queria alguma<br />
coisa e ofereceram a ela que dormisse ali e fosse embora somente<br />
no dia seguinte. Já era tar<strong>de</strong> e ela teria que sair na noite.<br />
Sílvia agra<strong>de</strong>ceu e disse que aceitaria, mas teria que ligar<br />
para sua casa antes e avisar sua mãe que passaria a noite ali.<br />
Pegou o telefone e a mãe <strong>de</strong>sconfiou, até que Marta<br />
pediu para falar com ela e a tranquilizou.<br />
A filha estava numa casa <strong>de</strong> família e estaria bem ali.<br />
A mãe ficou confortada, tranquila e <strong>de</strong>u boa noite a<br />
Marta.<br />
Voltou a falar com a filha, <strong>de</strong>u boa noite e disse que a<br />
aguardaria no dia seguinte.<br />
Todos se <strong>de</strong>spediram e foram dormir.<br />
No outro dia seria domingo e não precisariam acordar<br />
cedo.<br />
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86
11. AGORA<br />
A noite foi longa. Ninguém conseguiu pregar os olhos.<br />
Marta não tinha mais lágrimas para chorar e estava<br />
pálida.<br />
Naquele momento, o telefone tocava sem parar.<br />
Os parentes querendo saber <strong>de</strong> alguma informação.<br />
Cada vez que o telefone tocava, era um novo sofrimento.<br />
Finalmente, a voz metálica falou do outro lado da linha<br />
i<strong>de</strong>ntificando-se apenas como uma pessoa <strong>de</strong> boa índole que não<br />
faria mal a Taís.<br />
Mas exigiria algumas condições.<br />
A polícia tentava rastrear as ligações, mas a cada vez elas<br />
vinham <strong>de</strong> locais diferentes e <strong>de</strong> telefones diferentes.<br />
Algumas vezes elas vinham <strong>de</strong> telefones públicos que<br />
eram logo checados, mas geralmente eram em pontos sem<br />
câmeras por perto e a pessoa tomava todos os cuidados para não<br />
<strong>de</strong>ixar impressões digitais.<br />
Uma das condições exigidas era <strong>de</strong> que o Juiz se<br />
afastasse <strong>de</strong> um caso em particular.<br />
Este era exatamente um processo que estava sob a<br />
jurisdição do Juiz Roberto.<br />
Envolvia muita gente graúda na cida<strong>de</strong>.<br />
Desvios <strong>de</strong> verbas <strong>de</strong> toda forma, pagamentos <strong>de</strong> propina<br />
por empresas e lavagem <strong>de</strong> dinheiro por escritórios <strong>de</strong> toda forma.<br />
Muitos dos investigados eram personalida<strong>de</strong>s que se<br />
encontravam no jantar <strong>de</strong> recepção ao juiz, um ano antes.<br />
Sem falar nas obras <strong>de</strong> infraestrutura planejadas para a<br />
Copa do mundo que seria realizada no País.<br />
Muitas in<strong>de</strong>nizações suspeitas por <strong>de</strong>sapropriações que<br />
nunca aconteceram.<br />
Avenidas, <strong>de</strong>svios e pontes que nunca terminavam.<br />
Obras inúteis, projetos que nunca saíram do papel.<br />
87
Sem falar em <strong>de</strong>svios da saú<strong>de</strong>, das escolas <strong>de</strong> tudo que<br />
fosse possível.<br />
Roberto sabia que muitos daqueles carrões, vestidos e<br />
joias que estavam naquela maldita festa, vieram <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>svios.<br />
Muita gente po<strong>de</strong>rosa envolvida.<br />
E ele era a pedra no sapato <strong>de</strong>ssa gente agora.<br />
Havia a polícia tentando fazer seu trabalho, mas também<br />
havia algumas autorida<strong>de</strong>s bem influentes no meio da coisa.<br />
Não dava para saber quem era amigo e quem era o<br />
inimigo.<br />
A coisa estava tomando um rumo inesperado e até gente<br />
próxima estaria envolvida.<br />
88
89
12. UMA SEITA SATÂNICA<br />
Uma lembrança que fez Roberto enrijecer os cabelos da<br />
nuca e ficar mais <strong>de</strong>sesperado foi a respeito <strong>de</strong> uma investigação<br />
policial que levou a um assassino local.<br />
Um rapaz que fora preso em fragrante relatou o que era<br />
uma série <strong>de</strong> assassinatos direcionados a um <strong>de</strong>terminado grupo.<br />
Ao todo, este assassino já tinha matado oito pessoas, e<br />
foi preso quando tinha acabado <strong>de</strong> matar um sitiante local.<br />
O relato <strong>de</strong>ste assassino é o que chocou as autorida<strong>de</strong>s.<br />
Este rapaz não matava pessoas inocentes e seria morto<br />
por isso.<br />
Ele sabia que ou seria morto na <strong>de</strong>legacia, a qualquer<br />
momento, ou assim que entrasse num presídio qualquer. Já estava<br />
encomendado.<br />
Seus crimes começaram quando um sobrinho seu sumiu<br />
e só foram encontradas algumas partes queimadas.<br />
No início foi constatado que o menino seria vítima <strong>de</strong> um<br />
maníaco estuprador, mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> buscas particulares, sem a<br />
polícia envolvida, ele chegou aos verda<strong>de</strong>iros responsáveis.<br />
As suas buscas apuraram que havia ali na cida<strong>de</strong>, assim<br />
como em outras localida<strong>de</strong>s, um culto macabro que sacrificava<br />
crianças ao <strong>de</strong>mônio em troca <strong>de</strong> favores e po<strong>de</strong>r.<br />
Muita gente graúda envolvida, inclusive autorida<strong>de</strong>s da<br />
justiça.<br />
As crianças que muitos pais procuram, são tidas como<br />
<strong>de</strong>saparecidas e seus rostos estampam cartazes, outdoors e murais<br />
pelo País afora, ou vão parar nas mãos <strong>de</strong>stes cultos, ou nas mãos<br />
<strong>de</strong> traficantes <strong>de</strong> órgãos.<br />
Neste caso em particular, haviam os dois grupos<br />
envolvidos.<br />
Algumas crianças eram e são sacrificadas conforme a<br />
ocasião e outras são <strong>de</strong>smembradas e seus órgãos mandados para<br />
diversas partes, <strong>de</strong> acordo com a necessida<strong>de</strong> dos clientes.<br />
90
Nesta seita, existia inclusive a esposa <strong>de</strong> um exgovernador<br />
do estado.<br />
Juízes, <strong>de</strong>sembargadores, <strong>de</strong>legados, empresários,<br />
industriais, médicos, muita gente envolvida, e advogados, muitos<br />
advogados. É impressionante como eles estão sempre no meio <strong>de</strong><br />
alguma coisa suja, seja <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo bandidos ou po<strong>de</strong>rosos<br />
corruptos, então fica muito difícil <strong>de</strong>stes integrantes dos grupos<br />
serem apanhados, sejam eles <strong>de</strong> que grupo sejam.<br />
Neste caso dos <strong>de</strong>saparecimentos <strong>de</strong> crianças, isso<br />
acontece mais do que os incrédulos po<strong>de</strong>m acreditar.<br />
O pior, é que quando vaza uma informação assim,<br />
sempre tem aqueles que não acreditam e tentam <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhar da<br />
informação, alegando que o povo tem a mente muito fértil, mas a<br />
coisa está acontecendo a todo o momento, e em todas as partes do<br />
mundo, inclusive aqui no Brasil.<br />
Profissionais pegam as crianças em qualquer lugar, seja<br />
na saída do colégio, nas praças, nas ruas ou em qualquer lugar e as<br />
entregam a algum membro do grupo em <strong>de</strong>terminados lugares.<br />
As crianças são levadas aos abatedouros e lá, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
marcada a reunião e a chegada dos integrantes, a cerimônia é<br />
iniciada, sendo as crianças mortas e suas partes, principalmente o<br />
coração oferecido ao <strong>de</strong>mônio tutor do grupo.<br />
As famílias continuam procurando e com esperanças <strong>de</strong><br />
encontrar uma criança que não existe mais.<br />
Então, este matador <strong>de</strong>cidiu fazer a justiça com as<br />
próprias mãos e estava fazendo o serviço até ser capturado pela<br />
polícia.<br />
Agora seu <strong>de</strong>stino já estava traçado e a matança iria<br />
continuar.<br />
Roberto ficou mais angustiado ainda, com o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong><br />
Taís.<br />
Roberto não comentaria este fato com Marta, pois isso só<br />
faria aumentar o <strong>de</strong>sespero da esposa.<br />
91
O melhor a fazer naquele momento, era continuar<br />
esperando e rezando para que Taís fosse libertada.<br />
Mas a manhã chegou e Roberto não teve escolha.<br />
Dirigiu-se ao seu superior, o <strong>de</strong>sembargador local e<br />
pediu o afastamento da causa.<br />
Pediu uma licença, pois naquele momento não tinha<br />
condições psicológicas <strong>de</strong> continuar julgando o caso.<br />
Era a condição que o sequestrador exigia.<br />
Foi afastado e pediu a licença médica.<br />
Passou-se mais um dia e nada <strong>de</strong> Taís ser entregue, o que<br />
aumentava a angústia <strong>de</strong> Roberto.<br />
Uma semana já tinha se passado.<br />
Havia a promessa <strong>de</strong> que Taís fosse entregue, mas<br />
somente <strong>de</strong>pois que o processo tomasse o caminho que o grupo<br />
<strong>de</strong>sejava.<br />
Marta já estava sob acompanhamento médico e a base <strong>de</strong><br />
tranquilizantes.<br />
Não se alimentava já ha alguns dias.<br />
Entrou em estado <strong>de</strong> choque e precisou ser hospitalizada.<br />
Tiago e Letícia estavam juntos e sempre prontos pra<br />
ajudar.<br />
Letícia ofereceu-se para ficar no hospital junto a Marta e<br />
Tiago ficou junto a Roberto acompanhando inclusive nas buscas.<br />
Mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> alguns dias, eles avisaram que precisariam<br />
viajar a serviço, infelizmente numa hora daquelas.<br />
Tentaram mudar o compromisso, mas sem sucesso.<br />
Teriam que ausentar-se por alguns dias.<br />
Como nada mais havia a fazer, Roberto só po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejar<br />
aos amigos que tudo <strong>de</strong>sse certo.<br />
Paulo Sérgio e Evelin também estavam juntos nestas<br />
horas difíceis.<br />
Depois <strong>de</strong> mais uma noite no hospital acompanhando a<br />
esposa, Roberto veio até o apartamento pegar roupas limpas e um<br />
milagre aconteceu.<br />
92
Taís estava na entrada do apartamento sentada sobre o<br />
tapete.<br />
Estava meio que dormindo.<br />
Roberto <strong>de</strong>u um grito, saltou e agarrou a filha chorando.<br />
Abriu a porta do apartamento com a filha no colo.<br />
Não entendia nada.<br />
Chorava e sorria ao mesmo tempo.<br />
Abraçava e beijava a filha.<br />
Deu uma bela verificada se não havia marcas e<br />
perguntou se ele estava com fome.<br />
Taís disse: - Um anjo me trouxe aqui.<br />
Roberto imaginou que fosse alguma alma bondosa, mas<br />
quem?<br />
Taís repetiu: - Um anjo com asas brancas e brilhantes me<br />
trouxe até aqui.<br />
Roberto nem queria saber.<br />
Pegou o telefone e ligou para o hospital.<br />
A enfermeira aten<strong>de</strong>u e ele pediu para falar com a<br />
esposa.<br />
- Você não vai acreditar, mas Taís está aqui, agora,<br />
comigo.<br />
- Como?<br />
- Você está brincando?<br />
- Não, Meu Amor.<br />
- Taís está aqui agora.<br />
- Vou aí te buscar e a levarei comigo.<br />
Passou pela portaria antes <strong>de</strong> ir à garagem e perguntou ao<br />
porteiro quem havia entrado no prédio?<br />
O Porteiro disse que ninguém entrou.<br />
Roberto perguntou quem havia trazido Taís?<br />
A resposta foi a mesma.<br />
Roberto pediu para ver a gravação no circuito interno <strong>de</strong><br />
TV.<br />
Não havia nada concreto.<br />
93
Na gravação em tela, <strong>de</strong>u pra ver uma luz muito forte<br />
com Taís.<br />
Este ser <strong>de</strong> luz <strong>de</strong>ixou Taís por uma fração <strong>de</strong> segundo<br />
antes <strong>de</strong> Roberto chegar e logo se dissipou, como se tivesse<br />
atravessado a pare<strong>de</strong>.<br />
Naquele momento não era hora para conjecturas.<br />
Roberto voltou à garagem, pegou o seu veículo, colocou<br />
Taís na ca<strong>de</strong>irinha atrás e foi á clínica buscar Marta.<br />
Entrou na portaria com Taís no colo e após a<br />
i<strong>de</strong>ntificação, foi ao quarto pegar Marta.<br />
Quando a porta se abriu, Marta já estava pronta.<br />
De um salto, agarrou Taís nos braços e apertou a filha<br />
beijando-a e chorando muito.<br />
Meu Amor, meu amor.<br />
Ainda bem que você está aqui.<br />
O casou abraçou-se e ficou ali por alguns instantes.<br />
Logo, após a burocracia normal, foram para casa.<br />
Taís estava cansada.<br />
Marta faminta, pois não conseguia comer nada até ali.<br />
Roberto foi até a cozinha, pegou algumas frutas, leite e<br />
trouxe para Marta e Taís.<br />
Eles comeram e <strong>de</strong>itaram-se ali na sala mesmo.<br />
A noite foi mais tranquila.<br />
Antes, porem, ligaram para a família e amigos, dando a<br />
informação.<br />
Roberto ligou também para a polícia e informou aos<br />
<strong>de</strong>tetives do caso sobre o aparecimento <strong>de</strong> Taís.<br />
Marcaram <strong>de</strong> ir à residência no outro dia cedo.<br />
Logo adormeceram...<br />
Ao amanhecer, logo às <strong>de</strong>z horas, dois <strong>de</strong>tetives vieram<br />
até a residência.<br />
94
O porteiro avisou pelo interfone a chegada dos mesmos,<br />
que foram autorizados a subir ao apartamento.<br />
Eles precisavam fazer um registro do aparecimento.<br />
Taís teria que ser examinada também por um médico<br />
perito, a respeito <strong>de</strong> danos físicos por ventura sofridos.<br />
Teria que ser colhido também seu <strong>de</strong>poimento, mas<br />
como uma menininha iria <strong>de</strong>por.<br />
Teria que ser algo bem sutil e neste ponto, Marta foi<br />
incumbida <strong>de</strong> fazer as perguntas para a filha.<br />
- Minha querida, o que aconteceu?<br />
A resposta recebida chocou a todos.<br />
- Eu estava com titia Letícia num lugar bonito.<br />
- Ela disse que mamãe estava doente e pediu pra ela<br />
cuidar <strong>de</strong> mim.<br />
- Titio Tiago também estava lá.<br />
Tinham outros homens também, mas eu estava com a<br />
titia.<br />
- Ela cuidou bem <strong>de</strong> mim, até que ontem, ela saiu, eu<br />
fiquei dormindo.<br />
Acor<strong>de</strong>i no colo do anjo que me trouxe aqui.<br />
- On<strong>de</strong> está titia e titio?<br />
Roberto olhou para os <strong>de</strong>tetives que nem piscaram.<br />
Saíram apressadamente e enquanto um ficava na porta do<br />
apartamento dos vizinhos, o outro solicitava uma or<strong>de</strong>m judicial<br />
ao juiz local.<br />
Logo já <strong>de</strong> posse do mandato, e com escolta <strong>de</strong> outros<br />
policiais, um chaveiro foi chamado e conseguiram entrar no<br />
apartamento.<br />
Estava vazio.<br />
Apenas no local a mobília que já existia, e fazia parte dos<br />
utensílios para locação.<br />
Nenhum sinal.<br />
Não havia dúvidas, os vizinhos estavam envolvidos.<br />
E mais quem estaria?<br />
95
O certo é que alguma coisa <strong>de</strong>ra errado e eles foram<br />
embora, fugiram. Mas pra on<strong>de</strong>?<br />
E qual seriam os planos <strong>de</strong>les.<br />
Mas seguindo as conclusões, não era a intenção entregar<br />
Taís, pois se fosse Letícia não se <strong>de</strong>ixaria reconhecer, nem Tiago.<br />
Como seria a volta <strong>de</strong> Taís se ela conhecia os<br />
sequestradores.<br />
A história não fechava, mas alguma coisa não saiu<br />
conforme o planejado.<br />
Roberto ainda teve lembranças <strong>de</strong> Letícia, que por<br />
algumas vezes tentou seduzi-lo <strong>de</strong> alguma forma, sendo solícita<br />
<strong>de</strong>mais, cortês e amável <strong>de</strong>mais.<br />
Tiago também sempre era cordial e amigo, mas um<br />
pouco mais reservado.<br />
Já Letícia por duas vezes foi bem convincente, inclusive<br />
em uma das vezes em que Marta não estava, tinha ido para São<br />
Paulo e Letícia apareceu na porta com <strong>de</strong>sculpas <strong>de</strong> que precisava<br />
<strong>de</strong> uma ajuda no apartamento, para arrumar uma torneira do<br />
chuveiro.<br />
Estava somente enrolada em uma toalha, que sem<br />
pestanejar, <strong>de</strong>ixou cair no chão do apartamento.<br />
Disse-lhe que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o conheceu, tinha uma queda<br />
por ele.<br />
Tiago estava viajando também e só voltaria no fim <strong>de</strong><br />
semana.<br />
Roberto lembra e se arrepen<strong>de</strong> <strong>de</strong> tê-la beijado<br />
ardorosamente e ter se <strong>de</strong>ixado enlaçar naquela trama.<br />
Desejou-a e fez amor com aquela linda mulher ali<br />
mesmo.<br />
Dormiu com Letícia mais uma noite e manteve este<br />
segredo para si.<br />
Ainda <strong>de</strong>u mais uma escapada aqui e ali, mas mal ele<br />
sabia que tudo já fazia parte <strong>de</strong> um enredo para dominá-lo.<br />
E ele caiu como um patinho.<br />
96
Deixou-se levar pela luxuria e pela volúpia.<br />
Agora não podia sequer falar a respeito com a esposa e<br />
teria que guardar consigo o segredo.<br />
O pior é que pensava e <strong>de</strong>sejava Letícia.<br />
On<strong>de</strong> ela estaria agora?<br />
E por que fez aquilo?<br />
Será que se arrepen<strong>de</strong>u <strong>de</strong> ter sequestrado Taís que já se<br />
sentia como se fosse uma segunda mãe para ela?<br />
Ou será que não, que Letícia seria tão fria a ponto <strong>de</strong> se<br />
enveredar nesta aventura, infiltrar-se na família, ganhar sua<br />
confiança, somente para por em prática o seu plano, ou da<br />
quadrilha?<br />
Seriam perguntas sem respostas.<br />
Pelo menos naquele momento.<br />
As investigações continuariam.<br />
E o anjo?<br />
O que seria, ou quem seria?<br />
Seriam alucinações da mente <strong>de</strong> uma criança, ou seria<br />
real?<br />
Mais perguntas sem respostas.<br />
97
98
13. A PROFISSIONAL<br />
Quando Letícia acordou naquela sala, <strong>de</strong>morou a se dar<br />
conta <strong>de</strong> on<strong>de</strong> estaria.<br />
Notou o que seria uma mesa <strong>de</strong> cirurgia, com suas<br />
lâmpadas e aparatos.<br />
Pare<strong>de</strong>s brancas, limpas. Era realmente um centro<br />
cirúrgico, mas on<strong>de</strong>.<br />
A visão começou a clarear e notou que Tiago estava<br />
amarado no outro canto da sala, <strong>de</strong>pendurado pelos braços e<br />
amordaçado.<br />
Também estava <strong>de</strong>sacordado.<br />
Na sua frente, havia uma ban<strong>de</strong>ja com vários<br />
instrumentos cirúrgicos, como bisturis, serras brocas e vários<br />
frascos <strong>de</strong> drogas ou medicamentos.<br />
Alguém abriu a porta. Deu bom dia e i<strong>de</strong>ntificou-se<br />
como a “Coletora”.<br />
Um dia antes, o telefone tocou em um luxuoso edifício<br />
<strong>de</strong> clínicas e consultórios no centro da cida<strong>de</strong>.<br />
- Temos um serviço para você, dizia a voz do outro lado.<br />
- Preciso que você viaje agora e nos encontre na clínica.<br />
- OK. Estou indo.<br />
- Desmarcarei todos os compromissos entre hoje e<br />
amanhã.<br />
- Estou saindo agora e chego após o meio dia.<br />
- Estamos combinados então.<br />
- Os “hospe<strong>de</strong>s” não po<strong>de</strong>m esperar...<br />
Andreia Alves, uma linda jovem na casa dos vinte e seis<br />
anos a vinte e sete anos.<br />
Cirurgia formada na melhor universida<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong>.<br />
Pai empresário do ramo dos medicamentos e mãe<br />
farmacêutica.<br />
99
Formou-se com louvor e conseguiu fazer residência no<br />
hospital das clínicas.<br />
Moça fina, educada, loira, cabelos bem tratados.<br />
Corpo malhado em aca<strong>de</strong>mia. Circulava pela cida<strong>de</strong><br />
cheia <strong>de</strong> joias caríssimas em sua BMW.<br />
Adorava o que fazia e era comum ser encontrada nas<br />
baladas da cida<strong>de</strong>.<br />
Não consumia álcool e jurava que estava livre <strong>de</strong> drogas<br />
ou qualquer coisa do tipo.<br />
Gostava do que fazia.<br />
Era cobiçada por vários homens, mas apesar <strong>de</strong> sair com<br />
um ou outro, nunca se permitiu ter um relacionamento sério com<br />
algum sortudo.<br />
Preferia as aventuras, apesar dos conselhos <strong>de</strong> sua mãe.<br />
Suas consultas e cirurgias eram caríssimas e tinha uma<br />
clientela seleta.<br />
Especializou-se em cirurgia plástica.<br />
Era também muito doce e educada com seus clientes<br />
particulares, o que não se podia dizer o mesmo do tratamento na<br />
re<strong>de</strong> pública ou com pessoas mais simples.<br />
Andreia após a i<strong>de</strong>ntificação, tratou logo <strong>de</strong> explicar o<br />
que aconteceria aos dois <strong>de</strong>safortunados.<br />
- Meus queridos, vocês querem saber o porquê do nome<br />
“Coletora”? E porque estão aqui?<br />
- Bom, eu tenho a missão <strong>de</strong> colher informações para os<br />
meus empregadores.<br />
- Eu emprego os meios necessários para que os meus<br />
clientes recebam as informações que eles precisam.<br />
- É claro que isso causa problemas que logo são<br />
resolvidos.<br />
- Não se preocupem com a dor, pois no meu ramo, isso<br />
não é necessário.<br />
- Existem drogas que são ótimas, mas quanto ao sangue,<br />
isso não tem como impedir que jorre, mas é claro que em minhas<br />
100
cirurgias, eu evito o contato com vasos capilares que causam<br />
gran<strong>de</strong>s hemorragias e morte antes <strong>de</strong> que eu colha as informações<br />
que preciso.<br />
- Eu procuro manter os meus “pacientes” <strong>de</strong>spertos o<br />
maior tempo possível.<br />
- E é claro, eu sempre consigo as informações, nem<br />
sempre, mas isso também não é importante.<br />
A Coletora virou-se para Tiago que estava <strong>de</strong>sperto e<br />
tentando dizer algo.<br />
Estavam os dois amarrados e amordaçados. A única<br />
coisa que conseguiam era emitir sons.<br />
Chamando-o <strong>de</strong> querido, completou:<br />
- Calma, eu tenho tempo pra você também. Não precisa<br />
ficar com ciúmes.<br />
Foi ao armário <strong>de</strong> vidro on<strong>de</strong> haviam algumas peças, que<br />
pareciam souvenires.<br />
Mostrou uma peça envernizada que parecia <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira<br />
aos dois e disse sorrindo:<br />
- Sempre procuro escolher uma peça como lembrança <strong>de</strong><br />
cada cliente meu.<br />
- Depois <strong>de</strong> escolhida com cuidado, é higienizada,<br />
isolada <strong>de</strong> bactérias, totalmente <strong>de</strong>sinfetada e envernizada.<br />
- Aqui eu tenho uma omoplata. Vejam só que lindo.<br />
Voltou ao armário, colocou a peça e pegou outra.<br />
- Isto aqui é uma tíbia <strong>de</strong> outro “cliente”, tenho fêmur,<br />
mandíbula, mas a peça que eu mais gosto é esta aqui.<br />
Virou-se e pegou uma estranha peça, que mais parecia<br />
uma coluna vertebral envernizada.<br />
- Este aqui <strong>de</strong>morou pra falar, mas no fim, isso também<br />
não fez nenhuma diferença. Vejam só o acabamento.<br />
A peça estava limpa e macabramente envernizada.<br />
- Uma verda<strong>de</strong>ira obra <strong>de</strong> arte.<br />
- Olhando para cada um <strong>de</strong> vocês, eu estou pensando<br />
qual parte eu escolho <strong>de</strong> cada um.<br />
101
- Vocês são sortudos mesmo, serão eternizados nas<br />
partes guardadas.<br />
- Virarão obras <strong>de</strong> arte. Bem, não tudo, mas as partes que<br />
eu escolher.<br />
- O resto, o incinerador dará fim e os órgãos po<strong>de</strong>rão ir<br />
para o corpo <strong>de</strong> quem estiver disposto a pagar.<br />
- Num mundo assim tão difícil e <strong>de</strong>sumano, seria um<br />
<strong>de</strong>sperdício e um pecado <strong>de</strong>sperdiçar um coração, uma córnea.<br />
- Que absurdo.<br />
- Mas vamos ao que interessa.<br />
- Meus clientes tem pressa.<br />
- Eles querem saber quem foi que libertou a menina.<br />
- Qual <strong>de</strong> vocês ou os dois entregou a garota aos pais e<br />
quem é o cúmplice.<br />
- Tem que ter sido alguém que conhecesse o prédio e<br />
tivesse as chaves.<br />
Tiago e Letícia murmuravam e Andreia retirou a<br />
mordaça <strong>de</strong> Letícia.<br />
- Você quer me dizer alguma coisa?<br />
- Não fomos nós, murmurou Letícia.<br />
- Eu juro.<br />
- Jurar aqui não vale nada.<br />
- Eu quero respostas.<br />
- Não fomos nós, insistiu.<br />
- Eu acabei me afeiçoando à menina e não queria lhe<br />
fazer mal, mas sabia que não po<strong>de</strong>ria ir contra os interesses do<br />
grupo, então <strong>de</strong>cidimos ir embora.<br />
- Não fomos nós.<br />
- Isso é o que iremos ver, respon<strong>de</strong>u a Coletora.<br />
Virou-se para Tiago e disse:<br />
- Não se preocupe querido, quando eu começar a<br />
“operar” sua parceira, você me dirá o que quero saber.<br />
- Corte por corte, pedaço por pedaço. Temos muito<br />
tempo.<br />
102
- Eu gosto <strong>de</strong> cortar primeiro as partes com carne e que<br />
sangram menos sempre na frente dos heróis que não vão querer<br />
ver outra pessoa ser cortada e acabam contando tudo.<br />
- Caso não digam, eu continuo o meu serviço até o fim.<br />
- Vamos começar.<br />
- Já conversamos <strong>de</strong>mais.<br />
Virou-se para a ban<strong>de</strong>ja e pego o que parecia um bisturi.<br />
Primeiro foi até um lavatório, pegou o sabão e lavou bem<br />
as mãos.<br />
Veio outra moça auxiliar e enxugou as suas mãos.<br />
Andreia calçou luvas cirúrgicas e pegou uma seringa<br />
<strong>de</strong>scartável.<br />
Colocou alguma substância dizendo que aquilo seria<br />
necessário para anestesiar a dor e ao mesmo tempo, manter Letícia<br />
<strong>de</strong>sperta.<br />
Com a ajuda da auxiliar, que segurava os braços <strong>de</strong><br />
Letícia, encontrou a veia e injetou a substancia.<br />
Só precisamos <strong>de</strong> um instante para fazer efeito.<br />
Pediu à auxiliar que ligasse o som.<br />
O que tocava era um som pesado, gritado e horripilante.<br />
Alguma coisa <strong>de</strong> “<strong>de</strong>ath metal”.<br />
Um som macabro, pra combinar com a situação.<br />
Tiago se contorcia e chorava.<br />
Andreia pegou o braço <strong>de</strong> Letícia e começou a cortar<br />
bem <strong>de</strong>vagar.<br />
Era como se estivesse retirando um bife.<br />
Cantarolava a música que tocava no som.<br />
Mas algo aconteceu.<br />
Uma luz preencheu a sala e surgiu uma entida<strong>de</strong>.<br />
Foi como se o tempo parasse.<br />
Era um anjo <strong>de</strong> asas brilhantes como fogo.<br />
Portava uma espada <strong>de</strong> fogo e <strong>de</strong>sferiu um golpe certeiro<br />
na Coletora, que caiu com o ventre aberto.<br />
103
A auxiliar também recebeu um golpe e caiu ao lado.<br />
O cheiro <strong>de</strong> sangue queimado impregnou o ambiente.<br />
- Eu e o Pai <strong>de</strong>cidimos dar uma nova chance a vocês<br />
dois.<br />
- Vocês cometeram erros, mas mostraram-se dignos do<br />
perdão divino quando arrepen<strong>de</strong>ram-se do que faziam.<br />
- Mas vocês <strong>de</strong>veriam ter procurado as autorida<strong>de</strong>s ao<br />
invés <strong>de</strong> fugir.<br />
- Des<strong>de</strong> grupo não há escapatória, não pelos meios<br />
normais, mas agora eu estou aqui. Eu e outros como eu.<br />
- Vou libertá-los e vocês terão uma segunda chance <strong>de</strong><br />
corrigir o erro e se entregarem à justiça.<br />
- Não se preocupem, eu lhes darei cobertura.<br />
- Procurem a Polícia Fe<strong>de</strong>ral no 5º distrito.<br />
- Existe lá um juiz que não está comprado.<br />
- Ele po<strong>de</strong>rá ajudar.<br />
- Tem que ser agora.<br />
Dirigiu-se a Letícia, tocou o corte em seu braço, emitiu<br />
uma pequena faísca <strong>de</strong> luz e o corte logo cicatrizou.<br />
Com outro gesto, as amarras dos dois não existiam mais.<br />
Da mesma forma que apareceu, o anjo sumiu, <strong>de</strong>ixando<br />
apenas um rastro <strong>de</strong> luz.<br />
O casal encontrou a saída, antes encontraram seus<br />
pertences e saíram à rua.<br />
Uma outra forma ocupou o ambiente.<br />
Um outro ser, só que agora macabro, dirigiu-se á medica<br />
quase morta no chão, dizendo:<br />
- Filha, sua missão ainda não acabou.<br />
- Tenho outras tarefas pra você.<br />
E sumiu levando consigo o corpo <strong>de</strong> Andreia, da mesma<br />
forma que apareceu.<br />
104
105
2ª PARTE<br />
3º ATO<br />
106
14. RESSURRECTION<br />
Consumed with memories that prece<strong>de</strong>d today<br />
Given a chance to bereave life that’s slipping away<br />
Suffered through tragedy of my slow <strong>de</strong>cay<br />
Deceptive ten<strong>de</strong>ncies dragged my soul away<br />
All that I know there was no God for me<br />
Force that shatters all, absence of mortality<br />
Revive all my fears<br />
Revive wasted tears<br />
Revive void within<br />
Revive once again…<br />
Forsaken by <strong>de</strong>stiny, forsaken by my own mind<br />
I must remove my skin to see belief in your eyes<br />
All that I know there was no God for me<br />
Force that shatters all, absence of humanity<br />
Revive all my fears<br />
Revive wasted tears<br />
Revive void within<br />
Revive once again…<br />
Reach for the sky<br />
Touch the sky<br />
Revive a hope<br />
For mankind<br />
Ressurreição<br />
107
Consumida com memórias que prece<strong>de</strong>u hoje<br />
Dada a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> privarei vida que está <strong>de</strong>saparecendo<br />
Sofreram com a tragédia da minha lenta <strong>de</strong>cadência<br />
Tendências <strong>de</strong>sonestas arrastando minha alma<br />
Tudo que eu sei que Deus não existia para mim<br />
Força que quebra tudo, ausência <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong><br />
Revive todos os meus medos<br />
Revive <strong>de</strong>sperdiçando lágrimas<br />
Revive vazio interior<br />
Revive, mais uma vez ...<br />
Abandonado pelo <strong>de</strong>stino, abandonado por minha própria mente<br />
Eu <strong>de</strong>vo retirar minha pele para ver a crença em seus olhos<br />
Tudo que eu sei que Deus não existia para mim<br />
Força que quebra tudo, falta <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong><br />
Revive todos os meus medos<br />
Revive <strong>de</strong>sperdiçando lágrimas<br />
Revive o vazio interior<br />
Revive, mais uma vez ...<br />
Alcance para o céu<br />
Toque o céu<br />
Revive a esperança<br />
Para a humanida<strong>de</strong><br />
Ressurrection<br />
Fear Factory – CD Obsolete 1998 (5)<br />
108
109
- Me leve ao seu chefe.<br />
O rapaz olhou para o lado e viu seus companheiros ali<br />
trucidados e ficou quase em estado <strong>de</strong> choque.<br />
- Você foi poupado.<br />
- Aproveite a oportunida<strong>de</strong> que está tendo.<br />
- Só te <strong>de</strong>ixei vivo porque quero que você seja uma<br />
testemunha <strong>de</strong> que as coisas <strong>de</strong>vem e vão mudar por aqui.<br />
- Agora cumpra sua missão.<br />
- Eu posso ir on<strong>de</strong> quiser e fazer o que quiser, então não<br />
perca sua chance.<br />
Ferrugem foi chamado por um capanga.<br />
Disse que não iria sair e mandou que o rapaz fosse<br />
levado até ele.<br />
- O que você quer?<br />
O jovem contou tudo o que viu e o que foi mandado<br />
fazer.<br />
Contou sobre a morte dos companheiros e sobre o anjo.<br />
Ferrugem <strong>de</strong>u uma gran<strong>de</strong> gargalhada, juntamente com<br />
os outros bandidos.<br />
- Você cheirou pó, seu filho da puta?<br />
- Você sabe o que acontece com os “soldados” que se<br />
viciam.<br />
- Que história é essa que você inventou?<br />
- Que porra é essa <strong>de</strong> anjo?<br />
- Tu cheirou um monte, fuzilou os colegas e me vem com<br />
esta historinha tentando se safar.<br />
O rapaz chorava e tentava falar, mas com o cano <strong>de</strong> uma<br />
pistola na boca, ficou difícil.<br />
- Eu juro!<br />
- Tu vai jurar é com o “capeta”, seu safado.<br />
- Tirem este merda daqui.<br />
- Vocês já sabem o que fazer com ele.<br />
- Não quero mais saber <strong>de</strong>sse papo <strong>de</strong> anjo.<br />
110
- Quero que outros soldados ocupem o local.<br />
Outra semana se passou e mais uma vez, outras mortes<br />
sem resposta.<br />
Só que <strong>de</strong>ssa vez, tinha sido em um barrado on<strong>de</strong> o<br />
pessoal “batizava” o pó.<br />
Além das mortes, toda a droga foi queimada junto.<br />
Ferrugem ficou louco e contatou o Sargento Alves que<br />
logo apareceu no morro.<br />
A situação foi explicada.<br />
O militar disse que ouviu alguma coisa relacionada a um<br />
anjo em outras localida<strong>de</strong>s, mas pensou que seria coisa <strong>de</strong> algum<br />
brincante.<br />
Po<strong>de</strong>ria ser coisa <strong>de</strong> algum metidinho a herói fantasiado.<br />
Iria averiguar.<br />
Mas antes precisava fazer uma ronda num certo lugar<br />
para ver uma mulher que cobiçava.<br />
Pegou a viatura, chamou sua patrulha e foi fazer uma<br />
ronda.<br />
Passou por uma rua no bairro e parou em frente ao<br />
escritório on<strong>de</strong> Ana trabalhava.<br />
Às vezes passava pelo bairro on<strong>de</strong> ela morava, sempre<br />
em busca <strong>de</strong> manter contato.<br />
Na padaria, na farmácia, no mercado, sempre que Ana<br />
estava em um lugar, logo ele aparecia com a <strong>de</strong>sculpa <strong>de</strong> que<br />
estava morando por perto, ou passando e era uma coincidência<br />
encontrá-la.<br />
Também sempre perguntava se ela precisaria <strong>de</strong> algo,<br />
pois na ausência do noivo, ele po<strong>de</strong>ria ajudar no que fosse preciso.<br />
Ana estava linda, com os cabelos compridos e aparentava<br />
estar mais mulher, mais formosa.<br />
Apesar <strong>de</strong> não falar com ninguém, Ana começou a ter<br />
enjoos frequentes e algumas tonturas, sintomas <strong>de</strong> fraqueza<br />
111
aparente. Sua mãe e algumas amigas logo notaram e perguntaram<br />
o que estava acontecendo?<br />
A mãe logo suspeitou que talvez fosse gravi<strong>de</strong>z, o que<br />
foi confirmado por Ana.<br />
Só que o Sargento Alves não sabia disso. Além do mais,<br />
isso não o impediria <strong>de</strong> “possuí-la”.<br />
Neste dia em particular, ele <strong>de</strong>sceu da viatura e resolveu<br />
esperar por ela.<br />
Já estava quase na hora <strong>de</strong> sua saída.<br />
Quando Ana saiu, o militar a chamou pelo nome.<br />
Ana sem virar-se, reconheceu a voz e sentiu náuseas.<br />
Ela odiava aquele sujeito, tinha asco <strong>de</strong> sua pessoa e já a<br />
muito tempo não suportava nem a sua presença.<br />
Tentou esquivar-se daquela pessoa em todas as<br />
oportunida<strong>de</strong>s. Sujeito nojento e mal caráter.<br />
Mas Ana estava in<strong>de</strong>fesa.<br />
Educadamente, virou-se e cumprimentou-o.<br />
Ele veio em sua direção e tentou beijá-la no rosto, no que<br />
ela retraiu-se e o evitou.<br />
- Está com medo <strong>de</strong> mim Ana?<br />
- Eu não sou seu inimigo. Apenas quero ser seu amigo e<br />
protegê-la.<br />
- Porque você não <strong>de</strong>ixa eu cuidar <strong>de</strong> você?<br />
- Confie em mim.<br />
Ana respon<strong>de</strong>u que não era nada disso, mas ela era muito<br />
tímida e não pensava mal do militar, mas preferia ficar nesta<br />
situação.<br />
E não precisava <strong>de</strong> ajuda nem proteção.<br />
O Sargento começou a ficar irritado e impaciente com as<br />
esquivas <strong>de</strong> Ana.<br />
Ele não iria aceitar isso tão fácil.<br />
Mas não naquele dia.<br />
A luta continuaria.<br />
Ele teria outras oportunida<strong>de</strong>s.<br />
112
Ana já começava a mostrar as curvas <strong>de</strong> uma gravi<strong>de</strong>z,<br />
mas isso seria um assunto para outra época, mais à frente.<br />
Agora era tocar a vida e preparar-se para o filho que<br />
vinha.<br />
Fruto <strong>de</strong> seu amor.<br />
O sargento continuava a sua ronda, entrando em vilas,<br />
ruas, becos, apertando um informante aqui, outro ali.<br />
Colhendo todas as informações que pu<strong>de</strong>sse.<br />
Precisava <strong>de</strong>scobrir que história <strong>de</strong> anjo era essa.<br />
Mas não conseguia informações condizentes.<br />
Colocou em seu relatório que havia um maníaco<br />
assassino rondando as noites da cida<strong>de</strong>, espalhando o terror,<br />
assassinando inocentes.<br />
Toda a polícia entrou em estado <strong>de</strong> alerta.<br />
As buscas se intensificaram.<br />
Enquanto isso, em outra cida<strong>de</strong> distante, sua amiga<br />
marta, preparava-se para vir passar um tempo em São Paulo.<br />
Viria ficar com a família e <strong>de</strong>sta forma, ficaria mais<br />
protegida e confortável com Taís, entre os seus.<br />
Enquanto isso, Roberto ficaria na cida<strong>de</strong>, até que pu<strong>de</strong>sse<br />
tirar uma licença, ou conseguir uma transferência para São Paulo.<br />
Isso po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>morar um pouco.<br />
Ficaria sozinho, mas com a certeza <strong>de</strong> que sua mulher e<br />
filha estavam mais seguras.<br />
No fim <strong>de</strong> semana, pegou o carro, arrumou a bagagem<br />
necessária e pegou a estrada em direção a São Paulo.<br />
Tirou a segunda feira <strong>de</strong> folga.<br />
Logo ao meio dia, já estava entrando na cida<strong>de</strong> e<br />
conseguiu almoçar com a família.<br />
Aproveitou o fim <strong>de</strong> semana para acertar os <strong>de</strong>talhes e<br />
também <strong>de</strong>scansar um pouco.<br />
113
Os familiares logo enten<strong>de</strong>ram a situação e se<br />
prontificaram a dar todo o suporte a Marta e Taís, no tempo que<br />
fosse necessário.<br />
Ali elas estariam protegidas.<br />
O fim <strong>de</strong> semana passou rápido e na segunda feira à<br />
tar<strong>de</strong>, Roberto estava na estrada novamente e no início da noite, já<br />
estava em casa.<br />
Chegou à portaria do prédio, apertou o botão automático<br />
e entrou na garagem.<br />
Desceu do carro, entrou no elevador e chegou ao seu<br />
apartamento.<br />
Abriu a porta e entrou.<br />
Só queria cair na cama e dormir, mas antes, entrou no<br />
banheiro e foi tomar uma ducha.<br />
Após alguns minutos, fechou a torneira, enxugou-se e<br />
pegou a escova para escovar os <strong>de</strong>ntes.<br />
Lembrou que tinha que ligar para Marta, avisar que<br />
chegou e falar com Tais.<br />
Dar boa noite para seus amores.<br />
Quando terminou a ligação, virou-se para a janela do<br />
quarto e tomou um susto.<br />
Um vulto vinha das sombras.<br />
Parou na sua frente e começou a falar.<br />
Neste instante, o juiz estava petrificado.<br />
Não sabia o que fazer e nem tinha ação.<br />
O ser i<strong>de</strong>ntificou-se como um soldado, ou se quisesse um<br />
“soldado <strong>de</strong> Deus”.<br />
Roberto ficou com medo e pensou em correr, chamar a<br />
polícia, qualquer coisa, mas estava encurralado.<br />
- Fique tranquilo. Eu venho do lado do “bem”.<br />
- Estamos em guerra. Uma guerra que vocês da terra não<br />
tem i<strong>de</strong>ia.<br />
- Vocês não, nós.<br />
- Eu também sou um <strong>de</strong> vocês, ou qualquer outro.<br />
114
- Só estou um pouco diferente.<br />
- Preste atenção no que vou dizer.<br />
- Você foi abençoado, quando muitos não têm a mesma<br />
sorte, mas o “Criador” tem alguma missão pra você que eu ainda<br />
não sei e nos colocou no mesmo caminho.<br />
- “Ele” precisa <strong>de</strong> pessoas como você, como nós.<br />
- Você também é um bom soldado e a seu modo, está<br />
lutando o bom combate.<br />
- É claro que o preço é muito alto, mas é você quem vai<br />
escolher o caminho.<br />
- Eu sei o que está acontecendo aqui e apesar das suas<br />
dúvidas, fui eu que libertei Taís.<br />
- Tiago e Letícia estavam envolvidos, mas arrepen<strong>de</strong>ramse<br />
e eu os poupei.<br />
- É claro que são culpados <strong>de</strong> alguma forma, mas<br />
também foram engendrados e precisam <strong>de</strong> ajuda.<br />
- Preste atenção no que vou te dizer.<br />
- Na guerra, nós temos que usar as armas que temos e na<br />
situação atual, o “Criador” <strong>de</strong>cidiu que não é ora <strong>de</strong> ser bonzinho.<br />
A guerra precisa ser vencida, ou o mundo virará um verda<strong>de</strong>iro<br />
caos.<br />
- Eu sei que você tem uma arma, uma pistola automática.<br />
- Como você sabe disso?<br />
- Eu tenho alguns dons e tem coisas que não po<strong>de</strong>m ser<br />
escondidas <strong>de</strong> mim e <strong>de</strong> meus irmãos.<br />
- A partir <strong>de</strong> agora, você não <strong>de</strong>sgrudará mais <strong>de</strong>la.<br />
- On<strong>de</strong> for, esteja com ela e carregada. Você vai precisar.<br />
- Esteja atento, não confie em ninguém em momento<br />
algum.<br />
- Nem naqueles mais próximos.<br />
- O mal está muito organizado e infiltrado em todas as<br />
corporações, inclusive na igreja.<br />
- Em todos os centros <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />
- Esteja sempre atento e pronto.<br />
115
- Não se preocupe em usar a sua arma e não tenha pena<br />
<strong>de</strong> ninguém. Se for para atirar atire, não pisque.<br />
- Um anjo falando isso?<br />
- Estamos em guerra. Precisamos <strong>de</strong> soldados e não <strong>de</strong><br />
coelhinhos.<br />
- Se for pra matar, mate.<br />
- Minha família?<br />
- Não se preocupe. Continue fazendo o seu trabalho que<br />
“nós” te protegeremos e protegeremos sua família.<br />
- Temos interesses em comum.<br />
- Outra coisa, ore sempre. Peça ajuda.<br />
- Orar, eu?<br />
- Sim. Orar.<br />
- Conversar com Deus da forma que você escolher.<br />
- Não precisa <strong>de</strong>corar “Pai Nossos ou Ave Marias”.<br />
- Converse com suas palavras, <strong>de</strong> seu coração.<br />
- Mas converse, ore, peça diretamente ao “Pai”, sem<br />
ro<strong>de</strong>ios, Ele escutará.<br />
- Mas se Deus tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mudar tudo, porque não<br />
faz?<br />
- Livre arbítrio.<br />
- O Pai respeita a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um e <strong>de</strong> tempos em<br />
tempos, quando a coisa foge ao controle, Ele permite<br />
intervenções.<br />
- Já tivemos intervenções com água, fogo, cataclismos <strong>de</strong><br />
toda forma, mas nós homens não tomamos jeito.<br />
- Estamos sempre nos viciando em todos os tipos <strong>de</strong><br />
coisas erradas. Sexo, drogas, po<strong>de</strong>r.<br />
- Às vezes Ele permite intervenções mais diretas. É o que<br />
estamos fazendo agora.<br />
- Existem muitos soldados dos dois lados.<br />
- Qual o seu nome? Eu nem sei o seu nome.<br />
- Po<strong>de</strong> me chamar <strong>de</strong> “Roque”.<br />
E sumiu na escuridão.<br />
116
No dia seguinte, após barbear-se, Roberto recebeu uma<br />
ligação <strong>de</strong> Paulo Sérgio.<br />
Ele queria saber do amigo se estava tudo bem, se a<br />
família estava em segurança e disse que conversariam melhor no<br />
trabalho.<br />
Roberto chegou, foi até sua sala, mas antes foi tomar café<br />
na cantina.<br />
Lá, pediu um sanduiche, um café com leite e sentou-se.<br />
Logo em seguida, Paulo Sergio chegou, cumprimentou-o<br />
e perguntou-se po<strong>de</strong>ria sentar-se com ele.<br />
- É claro que sim, você po<strong>de</strong> me fazer companhia e<br />
enquanto tomamos café, conversamos.<br />
Paulo Sergio perguntava sobre a segurança <strong>de</strong> Marta e<br />
Taís.<br />
Disse que Evelin mandava lembranças.<br />
Aproveitou também para pedir uma carona a Roberto,<br />
alegando que seu carro estava na oficina e como não podia <strong>de</strong>ixar<br />
a esposa sem o outro carro, perguntou se o amigo podia ajudar.<br />
Roberto concordou e avisou que sairia às cinco.<br />
Po<strong>de</strong>riam tomar um café.<br />
Paulo Sergio perguntou se Roberto não queria jantar em<br />
seu apartamento.<br />
Ligaria para Evelin e ela prepararia um jantar.<br />
Roberto concordou.<br />
O dia passou vagarosamente e por fim chegou a tar<strong>de</strong>.<br />
Para Roberto, foi terrível. O tempo não passava.<br />
Mas chegou a hora.<br />
Quando chegou á garagem do tribunal, Paulo Sérgio não<br />
estava.<br />
O celular tocou e o amigo disse que estava numa banca<br />
<strong>de</strong> jornal perto e perguntou se Roberto po<strong>de</strong>ria passar por lá e<br />
pegá-lo.<br />
Roberto concordou, passou pelo local. Paulo Sérgio o<br />
aguardava, cumprimentaram-se e ele entrou no carro.<br />
117
Paulo Sérgio pediu se Roberto po<strong>de</strong>ria passar pela rua<br />
das Tropas, pois precisava pegar algo no local.<br />
O amigo concordou e foram para o local.<br />
Disse que não sabia chegar lá e por isso, pediu o<br />
en<strong>de</strong>reço e calibrou o GPS.<br />
Paulo Sergio também disse que guiaria o caminho.<br />
Era uma rua mais afastada do centro.<br />
Pouco movimento, poucas casas e quase nenhum<br />
comércio.<br />
- Mas que lugar longe esse, heim, meu amigo?<br />
- Que nada, já estamos chegando.<br />
Em uma esquina, ao reduzir para entrar na rua, dois<br />
elementos entraram na frente do carro com armas em punho,<br />
anunciando um assalto.<br />
Roberto logo percebeu tudo e nem <strong>de</strong>u tempo pra pensar.<br />
A arma já estava ao seu lado o tempo todo, e Paulo<br />
Sérgio não sabia.<br />
Roberto disparou a arma contra os elementos que não<br />
esperavam e sentiu que houve um disparo do outro lado, que<br />
acabou atingindo gravemente Paulo Sergio.<br />
Ele <strong>de</strong>sceu do carro e foi verificar os assaltantes.<br />
Um estava morto, e o outro ainda respirava com<br />
dificulda<strong>de</strong>.<br />
- Doutor Paulo...<br />
Logo <strong>de</strong>smaiou.<br />
Roberto enten<strong>de</strong>u tudo rapidamente.<br />
Des<strong>de</strong> o início ele já <strong>de</strong>sconfiava da vida nababesca <strong>de</strong><br />
seu amigo e com o passar do tempo verificava algumas condutas<br />
suspeitas <strong>de</strong> seu anfitrião.<br />
Agora, confirmava-se o que Roque revelou.<br />
Era um covil <strong>de</strong> víboras.<br />
Roberto foi ao carro e Paulo Sergio dava os últimos<br />
suspiros.<br />
Pegou o telefone e ligou para a emergência.<br />
118
Logo uma ambulância chegou juntamente com duas<br />
patrulhas da PM.<br />
Os aten<strong>de</strong>ntes foram verificar as vítimas e confirmaram<br />
que não havia mais o que fazer, estavam mortos.<br />
A polícia fez a checagem da situação, preencheu o<br />
Boletim <strong>de</strong> Ocorrência e chamou a perícia que nunca chegava.<br />
Demorou muito.<br />
Neste meio tempo, Roberto ligou para Evelin e <strong>de</strong>u a<br />
notícia.<br />
É claro que foram emboscados e o amigo morreu.<br />
Evelin <strong>de</strong>u um grito do outro lado.<br />
- Eu sabia que um dia isso ia acontecer, mas ele não me<br />
<strong>de</strong>u ouvidos. Desligou o telefone chorando.<br />
A trama estava armada e haviam muitos elementos<br />
envolvidos.<br />
Mas ele fora avisado a tempo.<br />
Se não fosse o amigo celestial, seria assassinado e no<br />
jornal diário viria a notícia <strong>de</strong> que um juiz foi parar em local ermo<br />
e surpreendido por assaltantes...<br />
Agora era voltar pra casa após toda a burocracia.<br />
Teria que dar apoio à esposa do “amigo”.<br />
A noite seria difícil.<br />
Mas estava no jogo e não podia sair <strong>de</strong>le agora.<br />
Teria que ir até o fim e <strong>de</strong>cidiu continuar a luta.<br />
No outro dia, ajudou a tomar as medidas do enterro do<br />
amigo.<br />
No dia seguinte, procurou seu superior e disse estar<br />
pronto para reassumir o caso que havia se afastado, se este ainda<br />
estivesse disponível.<br />
Estava.<br />
Mas agora tomaria outras atitu<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>cisões também.<br />
O anjo disse que sua família estava em segurança.<br />
Era hora <strong>de</strong> ser um bom soldado.<br />
Deixar <strong>de</strong> ser caça e ser caçador.<br />
119
Pediu investigações sobre a tal seita e reabriu o caso do<br />
assassino.<br />
Ele tinha informações valiosas, é claro, se estivesse vivo<br />
ainda.<br />
Ele teria que entrar para o programa <strong>de</strong> proteção às<br />
testemunhas. Um novo nome, uma nova i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>...<br />
E o caso foi reaberto. Por sorte ele ainda estava vivo.<br />
120
15. GUERRA<br />
Em uma fazenda, bem na divisa do Brasil com a Bolívia,<br />
um grupo fazia a travessia <strong>de</strong> algumas toneladas <strong>de</strong> cocaína, bem<br />
tranquilamente.<br />
Passavam a droga <strong>de</strong> uma viatura com placa do outro<br />
país para uma com placa do Brasil.<br />
Esta fronteira seca enorme facilita a entrada <strong>de</strong> armas e<br />
drogas para o território nacional.<br />
As terras em questão pertencem a um <strong>de</strong>terminado<br />
<strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral.<br />
Ninguém vai suspeitar.<br />
Existem outros pontos <strong>de</strong> passagem e muita gente<br />
envolvida.<br />
O maior problema é a clientela insaciável.<br />
Enquanto houver um jovenzinho metido a esperto,<br />
disposto a “dar um tapa”, ao lado vai ter sempre um traficante<br />
disposto a ajudá-lo.<br />
E isso é o suficiente para alimentar a bandidagem.<br />
Um carro oficial, ou uma carreta com um documento<br />
oficial dificilmente será parada numa estrada, seja ela qual seja.<br />
Todos tem um salvo conduto.<br />
Às vezes, quando a polícia está “apertando” o cerco, ou<br />
algum <strong>de</strong>legado quer fazer propaganda, um pobre coitado ou<br />
idiota qualquer recebe uma carga “pequena” para os padrões dos<br />
gran<strong>de</strong>s traficantes e leva uma ou duas toneladas.<br />
Às vezes um simples pacote. Uma quantida<strong>de</strong> ínfima<br />
para o grosso que ira em outras viaturas, mas o suficiente para ser<br />
usado como isca e <strong>de</strong>sviar o foco da polícia.<br />
Alguém informa à polícia e este imbecil é pego no ato.<br />
Os jornais noticiam o feito e os policiais posam <strong>de</strong><br />
heróis, enquanto isso, a verda<strong>de</strong>ira carga passa incólume e chega<br />
aos “clientes”.<br />
121
Da mesma forma, quem vai parar uma viatura com<br />
documentos oficiais <strong>de</strong> um governador, senador ou <strong>de</strong>putado?<br />
Já está tudo arranjado e a carga sai pelas estradas sem<br />
perigo <strong>de</strong> ser interceptada.<br />
Só que hoje não foi assim.<br />
Quando o primeiro caminhão ganhou a estrada, na saída<br />
da fazenda, era por volta das vinte e três horas.<br />
Chegaria à cida<strong>de</strong> pela manhã.<br />
Mas no meio da estrada, logo na primeira curva, um<br />
clarão ofuscou o motorista que parou a carreta carregada <strong>de</strong> grãos.<br />
Quando o veículo parou, logo uma viatura que vinha<br />
atrás parou também.<br />
Dela <strong>de</strong>sceram quatro homens armados.<br />
Roque que agora era um ser <strong>de</strong> luz, que mais parecia ma<br />
bola <strong>de</strong> fogo, <strong>de</strong>sembainhou sua espada e direcionou-a para a<br />
carreta.<br />
O motorista saltou da cabine e se jogou na mata ao lado.<br />
Com um golpe, a carga explodiu e pegou fogo.<br />
Os homens que vinham atrás, sacaram <strong>de</strong> seus fuzis e<br />
começaram a disparar.<br />
Foi uma saraivada <strong>de</strong> balas.<br />
Roque recebeu todo o impacto calado.<br />
Quando a munição acabou, perguntou:<br />
- Acabaram?<br />
- Agora é minha vez.<br />
Nem precisou <strong>de</strong> muito esforço e logo todos os quatro<br />
estavam <strong>de</strong>struídos.<br />
Roque dirigiu-se ao motorista que estava encolhido no<br />
meio do mato e disse-lhe:<br />
- Você tem mulher e filhos.<br />
- Honre-os.<br />
- Procure o seu chefe e diga o que presenciou aqui.<br />
- Estamos em guerra.<br />
122
Outras interceptações foram feitas e a cada uma, os<br />
“gran<strong>de</strong>s” ficavam mais e mais furiosos.<br />
É claro que houve retaliações nas comunida<strong>de</strong>s.<br />
Muita gente foi sequestrada.<br />
Perguntas foram feitas.<br />
Mortes ocorreram.<br />
Eles queriam respostas.<br />
123
124
16. UMA ESTAÇÃO NO MEIO DO NADA.<br />
Durante o dia naquela estação, passavam apenas trens<br />
transportando minério <strong>de</strong> ferro, que iriam abastecer os portos no<br />
litoral e dali, o <strong>de</strong>stino seria China, Japão ou Estados Unidos.<br />
Mas um trem em especial chamava a atenção da<br />
população local.<br />
Um trem que sempre chegava por volta das duas horas da<br />
manhã.<br />
Algumas pessoas <strong>de</strong>sciam, muito poucas embarcavam e<br />
algumas malas e caixas eram <strong>de</strong>sembarcadas.<br />
Qual seria a resposta para aquele trem, naquele horário.<br />
A estação permanecia em silencio durante todo o dia.<br />
Algumas barraquinhas fechadas, um ven<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> água,<br />
um ven<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> salgadinhos e aqueles biscoitos suspeitos.<br />
Quase ninguém.<br />
Quase nenhum movimento, a não ser, as locomotivas<br />
pesadas e gigantescas que transportavam diariamente uma centena<br />
<strong>de</strong> vagões abarrotados <strong>de</strong> minério <strong>de</strong> ferro.<br />
Algum cachorro vadio dormindo no canto, ou<br />
perambulando aqui e ali, fuçando uma lata <strong>de</strong> lixo a procura <strong>de</strong><br />
qualquer coisa para aplacar a fome.<br />
O movimento mesmo era durante a madrugada.<br />
Alguns diziam: - Um trem <strong>de</strong> lugar algum para lugar<br />
nenhum.<br />
Mas ele tinha uma utilida<strong>de</strong>.<br />
A estação fica bem no meio do estado do Pará, numa<br />
região conhecida pela extração do minério <strong>de</strong> ferro e muito, mas<br />
muito ouro, apesar <strong>de</strong> não haver uma informação oficial quanto a<br />
isso.<br />
Mas as notícias mesmo são que a região é abastecida por<br />
uma gran<strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> pistas clan<strong>de</strong>stinas.<br />
A droga chega no trem, que vem do estado do Maranhão<br />
(será porquê?) e dali é distribuída para outros centros.<br />
125
Da região saem estradas que cruzam os estados do Para,<br />
inundam o Mato Grosso e chegam aos mercados consumidores,<br />
bem por baixo do nariz das autorida<strong>de</strong>s coniventes.<br />
Só que numa <strong>de</strong>terminada noite, alguém viu um ser alado<br />
<strong>de</strong>scer sobre a locomotiva.<br />
Este ser entrou no vagão <strong>de</strong> cargas e um brilho saiu lá <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ntro.<br />
Depois, silêncio.<br />
Quando o trem chegou na estação, os poucos passageiros<br />
não enten<strong>de</strong>ram o porquê da confusão e correria <strong>de</strong> alguns homens<br />
que ali estavam.<br />
A confusão estava armada.<br />
Alguns telefonemas foram dados.<br />
O que teria acontecido.<br />
O prejuízo fora enorme e algum homem po<strong>de</strong>roso estaria<br />
enfurecido.<br />
No outro dia, este senhor iria dirigir-se à tribuna do<br />
senado fe<strong>de</strong>ral e proferir um discurso enfurecido à Nação.<br />
Iria falar <strong>de</strong> leis, <strong>de</strong> corrupção e cobrar das autorida<strong>de</strong>s<br />
policiais respostas aos crimes ocorridos em <strong>de</strong>terminadas regiões<br />
do Brasil.<br />
Algo precisava ser feito pelo bem do progresso da<br />
Nação.<br />
Os “empresários” estavam sofrendo gran<strong>de</strong>s prejuízos e<br />
ninguém conseguia resolver o problema.<br />
126
127
17. CRISE NA CAPITAL.<br />
There is just enough Christ in me<br />
To make me feel almost guilty<br />
Is that why God ma<strong>de</strong> us breed<br />
To make us see we're Humans Being<br />
You break this, I'll break all that<br />
You break my balls with all your crap<br />
Spread your disease like lemmings breeding<br />
That's what makes us Humans Being<br />
Shine on, Shine on<br />
Shine on, Shine on<br />
Some low life flat head scum infects<br />
The sickness in his eyes reflects<br />
You won<strong>de</strong>r why your life is screaming<br />
Won<strong>de</strong>r why your Humans Being<br />
Shine on, Shine on<br />
Shine on, Shine on<br />
Humans , Humans Being<br />
We're just Humans (That's what makes us)<br />
Humans Being (That's what makes us)<br />
We're just Humans (That's what makes us)<br />
Humans Being (That's what makes us)<br />
Humans Being (That's what makes us)<br />
Humans Being!<br />
We're just Humans (That's what makes us)<br />
Humans Being (That's what makes us)<br />
Humans Being!<br />
128
Seres Humanos<br />
Há Cristo o suficiente em mim<br />
Para me fazer sentir quase culpado<br />
É por isso que Deus manda nos reproduzirmos<br />
Para nos fazer ver que somos seres humanos?<br />
Você acaba com isso, eu acabo com tudo aquilo.<br />
Você enche meu saco com todas as suas besteiras<br />
Espalhem suas doenças como vermes se reproduzindo<br />
Isso é o que nos torna seres humanos<br />
Brilhe, brilhe. Brilhe, brilhe<br />
Pessoas sem vida com as cabeças <strong>de</strong>sinteressadas da<br />
escoria infectam<br />
A moléstia reflete em seus olhos<br />
Você se pergunta por que sua vida grita<br />
Você se pergunta por que você é um Ser humano<br />
Brilhe, brilhe. Brilhe, brilhe<br />
Humanos, Seres humanos<br />
Nós somos apenas humanos (Isso é o que nos torna)<br />
Seres humanos (Isso é o que nos torna)<br />
Nós somos apenas humanos (Isso é o que nos torna)<br />
Seres humanos (Isso é o que nos torna)<br />
Seres humanos<br />
Nós somos apenas humanos (Isso é o que nos torna)<br />
Seres humanos (Isso é o que nos torna)<br />
Seres humanos!<br />
Humans Being<br />
Van Halen – Trilha sonora do filme Twister – 1996 (6)<br />
129
Tudo que ocorria nas fronteiras refletia diretamente na<br />
capital.<br />
A carga não chegava, os negócio não lucrava.<br />
Armas e munição não estavam chegando.<br />
Muitos pontos <strong>de</strong> droga estavam sendo fechados<br />
abruptamente.<br />
Uma facção culpando a outra e os tiroteios e sequestros<br />
tomaram corpo.<br />
Um bandido sequestrava um elemento qualquer <strong>de</strong> outra<br />
comunida<strong>de</strong> e o esquartejava.<br />
O outro grupo retaliava.<br />
<strong>Sangue</strong> pra todo lado.<br />
Ninguém era inocente.<br />
Até que a polícia começou a intervir viando a segurança<br />
dos cidadãos.<br />
O comércio não podia abrir.<br />
Escolas fechadas, o caos instalado.<br />
O impacto nas bocas <strong>de</strong> fumo foi enorme.<br />
Muita gente doente, sem o “remédio” que com a escassez<br />
triplicou <strong>de</strong> preço.<br />
Mesmo assim, era preciso tomar muito cuidado.<br />
O Batalhão <strong>de</strong> Operações Especiais entrava nas<br />
comunida<strong>de</strong>s e o tiroteio começava.<br />
Mortes dos dois lados.<br />
O maior problema, é que quando não há lucro com o<br />
tráfico, o crime busca outras fontes, que po<strong>de</strong>m ser sequestros,<br />
assaltos, arrombamentos <strong>de</strong> caixas.<br />
Eles precisam ser <strong>de</strong>tidos.<br />
As cracolândias entraram em crise.<br />
Sem o abastecimento aos usuários, esses começaram a<br />
entrar em crise <strong>de</strong> abstinência e lotar os hospitais.<br />
Durante muito tempo, as ambulâncias recusaram o<br />
atendimento a moradores <strong>de</strong> rua.<br />
130
Inventavam outros atendimentos e <strong>de</strong>ixavam o pobre<br />
miserável agonizando às vezes até a morte.<br />
Os hospitais também se recusavam a recebê-los.<br />
Eles traziam muita sujeira, doenças e em muitas vezes o<br />
que queriam era uma cama quente e uma refeição, algo que os<br />
prontos-socorros e hospitais não tinham ou não queriam fornecer.<br />
Então, os aten<strong>de</strong>ntes das ambulâncias ficavam também<br />
impossibilitados <strong>de</strong> ajudar.<br />
Quem nunca se perguntou como os viciados conseguem<br />
a droga?<br />
Quando eles estão no início do vício, pe<strong>de</strong>m emprego,<br />
família e tudo o mais.<br />
Ven<strong>de</strong>m o que em para conseguir a pedra.<br />
Depois partem para os pequenos crimes.<br />
Mas chegam a um ponto que não tem mais o que<br />
oferecer.<br />
Seus corpos já estão tão alquebrados que não tem mais<br />
força para nada.<br />
Alguns roubam panelas velhas, tênis e até chinelos e<br />
conseguem trocar pela pedra.<br />
Alguém já se perguntou o que um traficante faz com uma<br />
panela velha, um tênis velho? Ou mesmo um aparelho celular que<br />
não po<strong>de</strong>rá ser usado, pois há o rastreamento.<br />
No fim do dia, isso tudo fica espalhado pelo chão.<br />
São duas as respostas.<br />
A primeira é que os grupos po<strong>de</strong>rosos usam estes doentes<br />
para <strong>de</strong>sestabilizar as o Estado, as corporações e <strong>de</strong>struir a família,<br />
<strong>de</strong>ntre outros fatores.<br />
On<strong>de</strong> há caos, os mais fortes imperam.<br />
A segunda, é que como os viciados ocupam<br />
<strong>de</strong>mograficamente uma <strong>de</strong>terminada área, eles acabam <strong>de</strong> certa<br />
forma oferecendo segurança aos traficantes.<br />
Mas sem a droga chegando, estes viciados estavam<br />
perambulando por toda parte e entravam em convulsão aqui e ali.<br />
131
A violência aumentou e o <strong>de</strong>scontrole foi total.<br />
Muita gente sendo agredida e agredindo.<br />
O centro da cida<strong>de</strong> fervilhada e a polícia foi chamada a<br />
intervir.<br />
No meio da turba, na calada da noite, alguns doentes<br />
foram curados.<br />
Não sabiam como.<br />
Somente sentiam uma luz sobre eles e quando<br />
acordavam, na manhã seguinte, não tinham nenhuma vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
usar droga alguma. Estavam renovados e com vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir para<br />
casa.<br />
Olhavam-se a si mesmos e sentiam-se imundos e<br />
enojados com sua situação.<br />
Estavam com a energia interior renovada e nem sabiam<br />
porque.<br />
Um ou outro relatava que recebeu a visita <strong>de</strong> um anjo,<br />
que foi curado.<br />
Alguns pastores <strong>de</strong> igrejas evangélicas apareciam e<br />
queriam as glórias para si.<br />
Sua igreja alcançara o milagre.<br />
Uns iam dar o testemunho.<br />
Outros não. Afirmavam que não foi a igreja e sim um<br />
anjo.<br />
Os po<strong>de</strong>rosos ficaram enfurecidos.<br />
Em um <strong>de</strong>sses casos.<br />
Um morador <strong>de</strong> rua que fazia uma pregação na praça<br />
local, foi interceptado por um homem que saiu <strong>de</strong> uma van e<br />
jogou-o no interior do veículo.<br />
Foi levado a um beco imundo e entregue a um bandido.<br />
O homem jurava que fora curado por um anjo.<br />
O bandido <strong>de</strong>u-lhe uma bofetada e mandou que ele<br />
parasse <strong>de</strong> mentir.<br />
O homem chorava e continuava a dizer, que “Jesus”<br />
estava voltando, que era hora dos homens arrepen<strong>de</strong>rem-se.<br />
132
O bandido <strong>de</strong>u uma risada e apontou a rama para a<br />
cabeça do infeliz.<br />
Apertou o gatilho uma, duas vezes e nada saiu do cano.<br />
Jogou a arma no chão e pediu outra arma.<br />
O mesmo aconteceu.<br />
Carregou a arma, <strong>de</strong>stravou a trava <strong>de</strong> segurança e puxou<br />
o gatilho.<br />
Nada.<br />
- O que está acontecendo aqui?<br />
Apontou para cima e a arma disparou.<br />
- Deve ter sido a sua sorte, vagabundo, mais isso acabou.<br />
Novamente, apontou a arma e puxou o gatilho.<br />
No instante, um ser alado apareceu entre a arma e o<br />
mendigo.<br />
O tiro foi dado e a munição foi queimada<br />
instantaneamente.<br />
O anjo envolveu o homem em suas asas.<br />
Os bandidos começaram a atirar na entida<strong>de</strong> que não<br />
fazia nada.<br />
Quando a munição acabou, o ser disse:<br />
- Ainda bem que a munição acabou.<br />
- Agora vou embora e pouparei vocês, por enquanto.<br />
- Estou levando meu amigo embora.<br />
- Não ousem incomodá-lo novamente.<br />
Sumiu em meio a um clarão.<br />
No quartel <strong>de</strong> polícia local, a notícia chegou.<br />
Alguns militares comemoraram a situação <strong>de</strong> que a<br />
guerra começava a pen<strong>de</strong>r para o seu lado.<br />
Outros nem tanto.<br />
O Sargento Alves estava preocupado e queria respostas.<br />
O comandante da corporação chamou-o pessoalmente ao<br />
PC.<br />
Quando ele entrou, notou que todo o Estado-Maior<br />
estava reunido com o comandante.<br />
133
Este mandou que ele fechasse as portas, or<strong>de</strong>nou que ele<br />
investigasse o caso e lhe trouxesse respostas.<br />
Todos ali estavam apreensivos e o sargento seria o bo<strong>de</strong><br />
expiatório.<br />
Os “chefes” estavam pressionando e cabeças iam rolar.<br />
Ele per<strong>de</strong>ria seu cargo, mas não iria sozinho.<br />
O sargento enten<strong>de</strong>u o recado.<br />
Logo reuniu sua patrulha e começaram a bolar uma<br />
estratégia.<br />
Muitas questões seriam levantadas.<br />
Quem seria o intruso?<br />
Qual era o objetivo?<br />
Saíram pras ruas e começaram a fazer diligências.<br />
As viaturas entravam e saiam <strong>de</strong> becos e vielas.<br />
Pegavam um trombadinha, um aviãozinho, um<br />
informante.<br />
Queriam respostas.<br />
Visitavam “amigos”, bocas <strong>de</strong> fumo e todo tipo <strong>de</strong> covil.<br />
Sabia que precisava <strong>de</strong>scobrir logo o que se passava.<br />
Tinha mulher e filhos também e sabia que havia muito<br />
em jogo.<br />
Até que um integrante da patrulha levantou uma questão.<br />
Quem po<strong>de</strong>ria ser o novo herói?<br />
Tudo começou <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> alguns dias após a morte do<br />
soldado Hector que nunca foi encontrado.<br />
Alguém teria respostas e estava mais próximo do que<br />
eles imaginavam.<br />
Alves lembrou-se <strong>de</strong> Ana que agora já estava pelo oitavo<br />
mês <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z.<br />
Ele estava irado.<br />
- Aquele maldito <strong>de</strong>ve estar escondido com aquela vadia.<br />
- Mas ela vai ver.<br />
- Não consegui possuí-la. Perdi a oportunida<strong>de</strong>. A coisa<br />
não saiu como eu queria, mas não tem problema.<br />
134
- Ela iria falar.<br />
- Vou estuprá-la e <strong>de</strong>pois boto cada integrante da<br />
patrulha para estuprá-la também.<br />
- Ou ela diz, ou a entrego para cada membro da facção<br />
fazer o que quiser.<br />
- No fim, ela vai estar toda arrombada que ou vai dizer o<br />
que quero saber, ou vai botar aquele moleque que está esperando<br />
pra fora na marra.<br />
- Hê, He, He. Ela me paga.<br />
Alves soube também que uma amiga <strong>de</strong> Ana, que casouse<br />
e fora embora para outra cida<strong>de</strong>. Teve uma experiência estranha<br />
também agora voltou pra cida<strong>de</strong>.<br />
Ela também seria pega e estuprada.<br />
O plano fora armado.<br />
135
136
18. CADA SUSPIRO QUE VOCÊ DER<br />
Every breath you take<br />
Every move you make<br />
Every bond you break<br />
Every step you take<br />
I'll be watching you<br />
Every single day<br />
Every word you say<br />
Every game you play<br />
Every night you stay<br />
I'll be watching you<br />
Oh can't you see<br />
You belong to me<br />
How my poor heart aches with every step you take<br />
Every move you make<br />
Every vow you break<br />
Every smile you fake<br />
Every claim you stake<br />
I'll be watching you<br />
Since you've gone I've been lost without a trace<br />
I dream at night I can only see your face<br />
I look around but it's you I can't replace<br />
I feel so cold and I long for your embrace<br />
I keep crying baby, baby please<br />
Oh can't you see<br />
137
You belong to me<br />
How my poor heart aches with every step you take<br />
Every move you make<br />
Every vow you break<br />
Every smile you fake<br />
Every claim you stake<br />
I'll be watching you<br />
Every move you make<br />
Every step you take<br />
I'll be watching you<br />
Cada Suspiro Que Você Der<br />
Cada suspiro que você <strong>de</strong>r,<br />
Cada movimento que você fizer,<br />
Cada vínculo que você romper,<br />
Cada passo que você <strong>de</strong>r,<br />
Eu estarei te observando...<br />
A cada dia,<br />
Cada palavra que você disser,<br />
Cada jogo que você jogar,<br />
Cada noite que você ficar,<br />
Eu estarei te observando...<br />
Você não consegue perceber?<br />
Você pertence a mim.<br />
Como meu pobre coração dói<br />
A cada passo que você dá...<br />
138
Cada movimento que você fizer,<br />
Cada promessa que você quebrar,<br />
Cada sorriso que você fingir,<br />
Cada alegação que você arriscar,<br />
Eu estarei te observando...<br />
Des<strong>de</strong> que você partiu tenho estado perdido sem uma pista.<br />
Eu sonho à noite, só consigo ver seu rosto,<br />
Eu olho ao redor, mas é você que não consigo substituir.<br />
Eu sinto tanto frio e eu <strong>de</strong>sejo muito que você me abrace,<br />
Eu continuo implorando "baby, baby, por favor."<br />
Você não consegue perceber?<br />
Você pertence a mim.<br />
Como meu pobre coração dói,<br />
A cada suspiro que você dá.<br />
Cada movimento que você fizer,<br />
Cada promessa que você quebrar,<br />
Cada sorriso que você fingir,<br />
Cada alegação que você arriscar...<br />
Cada movimento que você fizer,<br />
Cada passo que você <strong>de</strong>r,<br />
Eu estarei te observando...<br />
Every Breath you Take<br />
The Police – CD Synchronicity – 1983 (7)<br />
139
Ana estava já pelo oitavo mês <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z.<br />
Continuava trabalhando no escritório apesar das<br />
orientações <strong>de</strong> seu médico e os conselhos da mãe.<br />
Ela precisava continuar a vida.<br />
O trabalho ajudava a esquecer um pouco <strong>de</strong> seu amor.<br />
Os amigos a acalentavam e ajudavam no que fosse<br />
preciso.<br />
Sabia que tinha uma batalha pela frente, quanto à pensão<br />
para o filho que estava por nascer.<br />
Pelo fato <strong>de</strong> Hector ter sido dado como <strong>de</strong>saparecido, ela<br />
teria que brigar na justiça pelo direito à pensão.<br />
Também tinha o <strong>de</strong>sgaste para provar a paternida<strong>de</strong> e isso<br />
seria muito <strong>de</strong>sgastante.<br />
Agora também tinha sua amiga Marta dando um certo<br />
apoio.<br />
Mas a vida era difícil.<br />
Primeiro foram as noites <strong>de</strong> lágrimas, <strong>de</strong>pois o enjoo.<br />
Vieram as rosas e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> tudo isso, a sauda<strong>de</strong>.<br />
Fazia visitas e recebia também da mãe <strong>de</strong> Hector.<br />
Os parentes estavam juntos, mas o vazio permanecia.<br />
Conseguiu esquivar-se <strong>de</strong> todas as investidas do sargento<br />
Alves e <strong>de</strong> outros engraçadinhos que apareciam.<br />
Quando a barriga começou a aparecer, estas investidas<br />
diminuíram.<br />
Às vezes ela sentia como se estivesse sendo seguida.<br />
Comentou com os pais, que logo começaram a escalar<br />
entre si, algum membro da família que a buscasse no trabalho e<br />
lhe fizesse companhia.<br />
Mas nas noites sentia a presença <strong>de</strong> alguém, ou algo.<br />
A melancolia ocupava seu coração e seu quarto.<br />
Algumas vezes se encontrava num <strong>de</strong>terminado lugar e<br />
logo começava a ouvir uma música que a lembrasse <strong>de</strong> seu amor.<br />
Chegou a ouvir solos <strong>de</strong> guitarra, que lembravam os<br />
acor<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Hector em seus ensaios durante a noite.<br />
140
Seus solos, suas batidas, seus rocks no meio da noite.<br />
Seus sonhos.<br />
Me vi sair, trancado estava o porão<br />
Já posso ouvir uma trilha sem dor<br />
As paixões enfim nos seus átrios <strong>de</strong>ixei<br />
E sorri pois senti um amor sem igual<br />
Como uma canção, composta em meu coração<br />
Po<strong>de</strong> te transmitir toda verda<strong>de</strong> do que sinto por Você<br />
Alma veja, perceba, sinta-se<br />
Imortal<br />
Yeah, yeah, yeah... yeah!<br />
Imortal em Ti<br />
Imortal em Ti<br />
Um acor<strong>de</strong> ouvi enquanto abria o portão<br />
Campos corri em busca <strong>de</strong> uma flor<br />
Como um anjo que habita o jardim<br />
Eu sorri pois senti um amor sem igual<br />
E com essa canção composta em meu coração<br />
Quero te transmitir toda verda<strong>de</strong><br />
Do que sinto por Você<br />
Alma veja, perceba, sinta-se<br />
Imortal,<br />
Imortal em Ti<br />
Uma trilha sem dor<br />
Rosa <strong>de</strong> Saron – CD Casa dos Espelhos – 2005 (8)<br />
141
Os discos e CDs ficaram com a mãe, que <strong>de</strong>cidiu guardálos<br />
até <strong>de</strong>cidir o que fazer.<br />
Ana não quis, pois isso manteria as feridas abertas.<br />
Mas a guitarra foi lhe dada.<br />
Algumas vezes a encontrava fora do lugar, como se<br />
tivesse sido mexida.<br />
Pensava que po<strong>de</strong>ria ser o irmão, ou sua mãe ao limpar o<br />
quarto.<br />
Teve a impressão que um dia ela estaria sendo tocada<br />
durante a noite.<br />
Acordou pensando ser um sonho.<br />
Mas ele fora muito nítido.<br />
Estaria ficando louca?<br />
Decidiu procurar um psicólogo que a orientou doar a<br />
guitarra e foi o que fez.<br />
Mas em algumas vezes ainda a ouvia.<br />
Devia ser algum vizinho ensaiando na noite.<br />
Dormia ouvindo a música e sonhava com seu amado.<br />
Não sabia o porquê, mas vinha sentindo sensações<br />
estranhas.<br />
Às vezes se sentia bem, parecia uma boa companhia, mas<br />
às vezes sentia como se alguma coisa ruim estivesse pra<br />
acontecer.<br />
O bairro e a cida<strong>de</strong> estavam ficando muito violentos.<br />
A criminalida<strong>de</strong> estava ficando fora do controle.<br />
Assaltos em todos os locais, ônibus, taxis, bares, bancos.<br />
Não havia mais segurança.<br />
Havia guerras <strong>de</strong> quadrilhas em todos os locais, enquanto<br />
os gran<strong>de</strong>s empresários e políticos andavam em carros blindados,<br />
isso quando andavam. Geralmente eles tinham helicópteros.<br />
E os mortais ficavam ali no meio do fogo cruzado.<br />
142
Já tinha a atingido, mas num dia ao sair do trabalho, fora<br />
abordada por um policial à paisana.<br />
I<strong>de</strong>ntificou-se como soldado Marcio, do 3º pelotão,<br />
subordinado ao sargento Alves.<br />
Disse-lhe que o sargento queria conversar com ela no<br />
carro que aguardava na esquina.<br />
Seu irmão chegou às pressas e conversou com o policial.<br />
Disse-lhe que Ana não tinha nada pra falar com o policial<br />
e que se ele quisesse que a procurasse em sua casa, na presença<br />
dos parentes e seria bem recebido, mas não daquela forma, não na<br />
rua.<br />
O policial meio que contrariado aceitou e foi em direção<br />
à viatura.<br />
De repen<strong>de</strong> Ana ouviu uma voz conhecida a chamando<br />
pelo nome.<br />
Era o sargento Alves.<br />
Queria conversar e exigia que fosse naquela hora.<br />
O irmão interviu e o policial mandou que ele calasse a<br />
boca.<br />
A sorte é que havia testemunhas, vários conhecidos que<br />
vieram ao socorro <strong>de</strong> Ana e começaram a protestar.<br />
O policial afastou-se.<br />
Não era a hora.<br />
Mas não <strong>de</strong>sistiria.<br />
Ana agra<strong>de</strong>ceu aos amigos e foi embora com o irmão.<br />
Chegou em casa e conversou com os pais, que logo<br />
ligaram para um advogado, marcaram hora e <strong>de</strong>cidiram fazer uma<br />
queixa na <strong>de</strong>legacia <strong>de</strong> polícia.<br />
Mas as investidas não pararam ali.<br />
Continuaram durante a semana, até que numa noite, o<br />
policial foi até a porta <strong>de</strong> Ana.<br />
Tocou a campainha e disse que precisava conversar<br />
naquela hora.<br />
143
O pai apareceu e disse que não era hora da polícia ir na<br />
casa <strong>de</strong> alguém, que os procurasse durante o dia.<br />
O policial estava transtornado e fez ameaças.<br />
Dizia que não tinha medo da justiça e que não adiantava<br />
<strong>de</strong>nunciá-lo, pois tinha as costas quentes.<br />
Numa noite, Ana começou a passar mal e foi levada às<br />
pressas para a maternida<strong>de</strong>.<br />
Deu à luz a um lindo menino que chamaria <strong>de</strong> Hector em<br />
homenagem ao pai.<br />
A família reuniu-se no hospital e o irmão foi até sua casa<br />
buscar algumas roupas limpas.<br />
Foi abordado no caminho por homens que o jogaram<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um veículo.<br />
Foi levado a um local afastado e logo o celular do pai <strong>de</strong><br />
Ana tocava anunciando a situação.<br />
De repente, no outro lado da linha, ouviu-se muito<br />
barulho até que a ligação caiu.<br />
Flávio iria ser executado, no que seria noticiado como<br />
sequestro relâmpago.<br />
Mas Roque chegou na hora.<br />
O tiroteio começou. Era uma emboscada.<br />
Mas uma emboscada contra ele era um erro.<br />
Primeiro pegou o irmão <strong>de</strong> Ana e levou-o a um local<br />
seguro.<br />
Depois voltou ao local.<br />
Seus olhos pareciam bolas <strong>de</strong> fogo.<br />
Estava injetado <strong>de</strong> ódio e não poupou ninguém.<br />
Os fuzis disparavam em sua direção e ele fez questão <strong>de</strong><br />
pegar um a um.<br />
Os policiais que estavam na patrulha ficaram por último.<br />
Pegou bandido por bandido e em um momento, <strong>de</strong>ixou<br />
sua espada <strong>de</strong> lado e apanhou dois fuzis dos bandidos abatidos.<br />
Estava no meio do fogo cruzado, mas as balas não o<br />
atingiam.<br />
144
Fuzilou todos os bandidos.<br />
Fazia questão <strong>de</strong> pegar um a um e sentia prazer nisso.<br />
Dizia que a paciência havia se esgotado.<br />
Por último, quando a viatura policial <strong>de</strong>u meia volta e<br />
fugiu, teve a fuga interceptada.<br />
O anjo estava no meio da estrada e parou-a com uma<br />
saraivada <strong>de</strong> balas.<br />
Metralhou a viatura.<br />
Os soldados foram mortos.<br />
Por último, o sargento Alves saiu rastejando pelo chão,<br />
sangrando muito.<br />
O anjo puxou-o pelo pé e virou-o.<br />
Iluminou seu rosto e por um momento <strong>de</strong>ixou ver seu<br />
rosto também.<br />
- Lembra-se <strong>de</strong> mim sargento?<br />
- O Hector.<br />
- Eu voltei, e melhor que antes.<br />
- Agora é hora <strong>de</strong> acertarmos nossa conta.<br />
- O sargento pediu perdão.<br />
- Perdão?<br />
- Eu po<strong>de</strong>ria te perdoar, mas você tentou machucar as<br />
pessoas que amo.<br />
Disparou o fuzil mais uma vez e <strong>de</strong>ixou o corpo do<br />
argento Alves fumegando na estrada.<br />
Atrás <strong>de</strong> si, ficava uma trilha <strong>de</strong> sangue.<br />
Buscou o irmão <strong>de</strong> Ana e <strong>de</strong>ixou-o em casa.<br />
A essa altura, Ana já sabia do acontecido e estava<br />
aliviada.<br />
Seu filhinho mamava em seu peito.<br />
Quando <strong>de</strong> repente, sem que a janela se abrisse, uma luz<br />
invadiu o quarto do hospital.<br />
Uma entida<strong>de</strong> parou ao lado <strong>de</strong> Ana e foi <strong>de</strong>ixando<br />
reduzir <strong>de</strong>u brilho.<br />
Ana pensou que fosse um sonho.<br />
145
O bebê estava calmo e agora dormia nos braços da mãe.<br />
- Quem é você? Hector?<br />
- Sou eu. Eu voltei pra você, por você.<br />
Beijou-a na boca e <strong>de</strong>ixou a cabeça <strong>de</strong>scansar no colo <strong>de</strong><br />
Ana.<br />
Eu te amo e faria qualquer coisa por você, inclusive<br />
driblar a morte.<br />
E ficaram ali os dois juntos.<br />
146
147
19. EPÍLOGO<br />
Uma reunião com fins escusos acontecia numa chácara<br />
nos arredores da cida<strong>de</strong>.<br />
Era uma noite <strong>de</strong> lua nova, ou sem lua como alguns<br />
preferem.<br />
Alguns homens e mulheres po<strong>de</strong>rosos encontravam-se<br />
ali. Políticos, empresários, autorida<strong>de</strong>s policiais, doutores da lei,<br />
até médicos.<br />
Haviam acabado <strong>de</strong> oferecer sangue ao Deus do Mal.<br />
Quando surge no meio da roda, um ser alado com um<br />
brilho maligno nos olhos e uma espada <strong>de</strong> fogo.<br />
Suas asas também eram <strong>de</strong> fogo e tinha a pele escura.<br />
- Meu nome é “Coletora”.<br />
- E eu <strong>de</strong>sejo sangue.<br />
148
149
AGRADECIMENTOS<br />
Agra<strong>de</strong>ço primeiramente à Banda Rosa <strong>de</strong> Saron, pois<br />
quando comecei a ter a i<strong>de</strong>ia para este livro, quando comecei a<br />
compor os personagens, pensei nas suas músicas. Elas se<br />
encaixariam perfeitamente a i<strong>de</strong>ia.<br />
Fiz contato com a banda via internet, solicitando<br />
autorização para incluir as letras <strong>de</strong> algumas músicas no livro e<br />
tive uma resposta positiva.<br />
Estas músicas vão enriquecer e muito a este pequeno<br />
trabalho.<br />
- Obrigado. Vocês moram no meu coração.<br />
As outras bandas, também fazem parte do meu repertório<br />
e eu sinceramente, gostaria <strong>de</strong> apresentar para aqueles que não<br />
conhecem e <strong>de</strong>liciar aqueles que já curtem.<br />
Agra<strong>de</strong>ço a todos os músicos e bandas por terem<br />
composto as gran<strong>de</strong>s canções que abrilhantam este livro.<br />
Muito obrigado a todos vocês, que fazem parte da minha<br />
vida.<br />
Eu queria ter usado mais canções, mas quem sabe na<br />
sequencia ou em outra oportunida<strong>de</strong>.<br />
De certa forma, vocês também são coautores <strong>de</strong>ste livro.<br />
Agra<strong>de</strong>ço também a minha esposa Roberta, pela<br />
paciência que teve comigo nos momentos em que estive absorto<br />
nesta obra e pela inspiração e ajuda nos momentos <strong>de</strong> dúvidas.<br />
Obrigado a todos os amigos que também me ajudaram e<br />
inspiraram esta obra.<br />
Agra<strong>de</strong>ço a todos vocês.<br />
150
NOTAS<br />
(1) The Eagle has Lan<strong>de</strong>d – Saxon – do disco “Power &<br />
the Glory”, o quinto álbum <strong>de</strong> estúdio da banda, lançado em 1983.<br />
(2) Ninguém mais – Rosa <strong>de</strong> Saron – do CD “O Agora e<br />
o Eterno”, sétimo álbum da banda, lançado em 2012.<br />
(3) O sol da meia noite – Rosa <strong>de</strong> Saron – do CD<br />
“Horizonte Distante”, quinto álbum <strong>de</strong> estúdio da banda, lançado<br />
em 2009.<br />
(4) Time of our lives – Night Ranger – do CD<br />
“Somewhere in California”, lançado em 2011.<br />
(5) Ressurrection – Fear Factory – do CD “Obsolete”,<br />
lançado em 1998.<br />
(6) Humans Being – Van Halen – da trilha sonora do<br />
filme “Twister”, lançado em 1996.<br />
(7) Every breaty you take – The Police – do álbum<br />
“Synchronicity”, lançado em 1983.<br />
(8) Uma trilha sem dor – Rosa <strong>de</strong> Saron – do CD “Casa<br />
dos Espelhos”, lançado em 2005.<br />
151
SOBRE O AUTOR<br />
SVNLITTIERE<br />
Natural <strong>de</strong> Além Paraíba, MG, servidor público (militar),<br />
teórico em teologia.<br />
Outras obras:<br />
- Um estabelecimento chamado Brasil<br />
- Deus não se discute. Deus se sente.<br />
- A morte como recompensa. (Ou a morte <strong>de</strong> um<br />
soldado).<br />
152