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Dias de Sangue - Guerra e Paz - Parte 1 - Guerra

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DIAS<br />

DE<br />

SANGUE<br />

GUERRA e<br />

PAZ<br />

SVNLITTIERE<br />

1


DIAS<br />

DE<br />

SANGUE<br />

GUERRA<br />

SVNLITTIERE<br />

2


INDICE:<br />

DIAS DE SANGUE<br />

GUERRA<br />

01. APRESENTAÇÃO Pg 05<br />

01 . INTRODUÇÃO Pg 08<br />

1ª PARTE<br />

1º ATO<br />

02 . O DESPERTAR Pg 18<br />

03. O PRIMEIRO CONTATO Pg 20<br />

04. THE EAGLE HAS LANDED Pg 24<br />

05. SEUS HEROIS Pg 27<br />

06. A APARIÇÃO Pg 52<br />

07. UMA ROSA COM AMOR Pg 58<br />

2º ATO<br />

08. O SISTEMA<br />

09. HOJE Pg 64<br />

10. UM ANO ANTES Pg 75<br />

11. AGORA Pg 87<br />

12. UMA SEITA SATÂNICA Pg 90<br />

13. A PROFISSIONAL Pg 99<br />

2ª PARTE<br />

3º ATO<br />

14. RESSURRECTION Pg 107<br />

3


15. GUERRA Pg 121<br />

16. UMA ESTAÇÃO NO MEIO DO NADA Pg 125<br />

17. CRISE NA CAPITAL Pg 128<br />

18. CADA SUSPIRO QUE VOCÊ DER Pg 137<br />

19. EPÍLOGO Pg 148<br />

20. AGRADECIMENTOS Pg 150<br />

21. NOTAS Pg 151<br />

22. SOBRE O AUTOR Pg 152<br />

4


1. APRESENTAÇÃO<br />

Quando <strong>de</strong>cidi escrever este livro, foi por observar que<br />

no mercado editorial havia muitos livros sobre vampiros,<br />

lobisomens, espíritos bons ou maus e, sobretudo, zumbis, muitos<br />

zumbis.<br />

Perguntei-me então o porquê <strong>de</strong> não falarmos <strong>de</strong> forças<br />

também sobrenaturais magníficas, incompreendidas e misteriosas,<br />

os anjos.<br />

Já vimos alguns poucos filmes, como “Cida<strong>de</strong> dos<br />

Anjos” ou “Legião”, que expõem este mundo misterioso e<br />

fantástico.<br />

Po<strong>de</strong>mos ver também a série “Supernatural”, on<strong>de</strong><br />

aparecem Anjos na sua luta eterna contra os <strong>de</strong>mônios.<br />

Temos uma <strong>de</strong>monstração também na Revista em<br />

quadrinhos Spawn, o soldado do inferno que também ganhou as<br />

telas do cinema.<br />

Nesta aventura, o <strong>de</strong>mônio convoca (é claro com<br />

chantagens e enganações), os melhores soldados, para comporem<br />

suas forças infernais visando dominarem o mundo e há uma<br />

guerra particular contra os anjos, que neste caso, são belda<strong>de</strong>s<br />

estonteantes, que fazem questão <strong>de</strong> mostrarem suas curvas.<br />

Algumas culturas também os cultuam, como<br />

mensageiros, ou guerreiros, ou mesmo “os nossos Anjos da<br />

Guarda”.<br />

Mas <strong>de</strong> qualquer forma, é um mundo misterioso.<br />

anjo.<br />

Alguns incrédulos dizem que eles nem existem<br />

Então, comecei a me perguntar, porque não?<br />

Porque não termos um herói, meta<strong>de</strong> homem, meta<strong>de</strong><br />

Qual seria sua missão, suas fraquezas e virtu<strong>de</strong>s.<br />

5


Quis também misturar um pouco <strong>de</strong> música e<br />

romantismo, fazendo uma mescla com o mundo espiritual e o<br />

material.<br />

Aproveitei a música, principalmente o rock, para expor<br />

um mundo um tanto marginalizado, mas que tem suas virtu<strong>de</strong>s<br />

também.<br />

Convido você leitor a <strong>de</strong>liciar-se ou irritar-se com esta<br />

aventura.<br />

Tomei a liberda<strong>de</strong> aqui, <strong>de</strong> colocar letras <strong>de</strong> algumas<br />

músicas, pesadas ou românticas.<br />

Desta forma, o leitor po<strong>de</strong>rá buscar estar músicas,<br />

comprar os CDs, ou não, mas principalmente, ler os capítulos e<br />

ouvir a música ao mesmo tempo, compondo assim, uma trilha<br />

sonora.<br />

Aproveito também, além <strong>de</strong> enriquecer o livro,<br />

apresentar ao público algumas bandas e canções, enriquecendo<br />

assim, o conhecimento e gosto <strong>de</strong> cada leitor.<br />

Ou não.<br />

Mas a intenção é a melhor possível, para que o leitor saia<br />

da mesmice e curta da melhor forma este livro.<br />

No mais, <strong>de</strong>sejo a você uma boa leitura.<br />

6


7


2. INTRODUÇÃO<br />

Ao nosso redor há um mundo invisível e po<strong>de</strong>roso.<br />

Populoso e com recursos superiores ao que existe em<br />

nosso mundo visível.<br />

Seres espirituais bons e maus vivem em nosso meio, e<br />

passam <strong>de</strong> um lugar para o outro com gran<strong>de</strong> facilida<strong>de</strong>, rapi<strong>de</strong>z e<br />

na maioria das vezes, imperceptíveis.<br />

Alguns <strong>de</strong>sses seres espirituais se interessam pelo nosso<br />

bem estar.<br />

Outros, porém, estão empenhados em fazer-nos o mal.<br />

Muitas pessoas questionam se existem realmente tais<br />

espíritos ou seres.<br />

Quem são, on<strong>de</strong> se encontram e o que fazem?<br />

Não há dúvidas que há outra classe <strong>de</strong> seres superiores ao<br />

homem.<br />

Quem pensa o contrário, ou ainda não se apercebeu dos<br />

acontecimentos ao seu redor, está cego, tão arraigado à matéria<br />

que não percebe o obvio, ou já foram tão iludidos que <strong>de</strong>cidiram<br />

não acreditar em mais nada que não seja palpável.<br />

Alguns milhares ou milhões <strong>de</strong>stes seres habitam nos<br />

céus e formam os exércitos celestiais, a inumerável companhia<br />

dos servos invisíveis <strong>de</strong> Deus ou Força Criadora do Universo.<br />

Esses são os Anjos <strong>de</strong> Deus, os quais estão sujeitos ao<br />

Governo Divino, e o importante papel que têm <strong>de</strong>sempenhado na<br />

história da humanida<strong>de</strong> torna-os merecedores <strong>de</strong> referência<br />

especial.<br />

Existem também aqueles, pertencentes à mesma classe <strong>de</strong><br />

seres, que anteriormente foram servos <strong>de</strong> Deus, mas que agora se<br />

encontram em atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> rebelião contra Seu Governo e habitam<br />

os reinos <strong>de</strong> trevas.<br />

Os anjos são fundamentalmente os ministros da<br />

providência <strong>de</strong> Deus.<br />

São agentes especiais <strong>de</strong> Deus.<br />

8


Des<strong>de</strong> o princípio do Cristianismo, os gnósticos<br />

prestavam adoração aos anjos, <strong>de</strong>pois então, na Ida<strong>de</strong> Média, com<br />

as crenças absurdas dos rituais <strong>de</strong> bruxarias envolvendo culto aos<br />

anjos, e agora em nossos dias, os estudos cabalísticos<br />

personalizados no meio esotérico e místico, ensinam novamente o<br />

culto aos anjos, por meio <strong>de</strong> bruxos sofisticados e mo<strong>de</strong>rnos.<br />

Nos últimos dias também está aumentando a evidência <strong>de</strong><br />

possessão <strong>de</strong>moníaca e adoração a <strong>de</strong>mônios <strong>de</strong> forma veemente.<br />

Nas tradições pagãs, os anjos eram, às vezes,<br />

consi<strong>de</strong>rados divinos, e outras vezes, fenômenos naturais.<br />

Eram seres que faziam boas ações em favor das pessoas,<br />

ou eram as próprias pessoas que praticavam o bem.<br />

Tal confusão está refletida no fato <strong>de</strong> que tanto a palavra<br />

hebraica “mal'ãkh”, quanto a grega “angelos” têm dois sentidos.<br />

O significado básico <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las é “mensageiro”.<br />

Mas este mensageiro, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do contexto po<strong>de</strong> ser um<br />

mensageiro humano comum, ou um mensageiro celestial, um<br />

anjo.<br />

Alguns, com base na teoria da evolução, fazem a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

anjos remontarem ao início da civilização.<br />

“O conceito <strong>de</strong> anjos po<strong>de</strong> ter evoluído dos tempos préhistóricos<br />

quando, então, os seres humanos primitivos emergiram<br />

das cavernas e começaram a erguer os olhos aos céus... A voz <strong>de</strong><br />

Deus já não era a rosnada da floresta, mas o estrondo do céu”.<br />

Segundo essa teoria, <strong>de</strong>senvolveu-se um conceito <strong>de</strong><br />

anjos que servissem à humanida<strong>de</strong> como mediadores <strong>de</strong> Deus.<br />

O conhecimento genuíno dos anjos, no entanto, veio<br />

somente através da Revelação Divina.<br />

Na visão da mitologia, posteriormente, os assírios e os<br />

gregos <strong>de</strong>ram asas a alguns <strong>de</strong>sses seres semidivinos.<br />

Hermes tinha asas nos calcanhares.<br />

Eros, “o espírito voador do amor apaixonado”, tinha asas<br />

afixadas aos ombros.<br />

9


Num tom bastante divertido, os romanos inventaram<br />

Cupido, “o <strong>de</strong>us do amor erótico”, retratado como um garoto<br />

brincalhão que atirava flechas invisíveis para encorajar romances.<br />

Platão (cerca <strong>de</strong> 427- 347 A.C.) também falava <strong>de</strong> “anjos<br />

da guarda”.<br />

As Escrituras Hebraicas atribuem nomes a somente dois<br />

anjos: Gabriel, que iluminou o entendimento <strong>de</strong> Daniel e o único<br />

Arcanjo existente, Miguel, o protetor <strong>de</strong> Israel<br />

Mais tar<strong>de</strong>, Filo (20 A.C. à 42 D.C.), o filósofo judaico<br />

<strong>de</strong> Alexandria, no Egito, retratou os anjos como mediadores entre<br />

Deus e a raça humana.<br />

Os anjos, criaturas subordinadas, habitavam nos ares<br />

como “os servos dos po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> Deus. Eram almas incorpóreas<br />

sendo totalmente inteligentes em tudo e possuindo pensamentos<br />

puros”.<br />

Nos primeiros séculos do cristianismo, durante o período<br />

do Novo Testamento, os fariseus acreditavam que os anjos fossem<br />

seres sobrenaturais que, frequentemente, comunicavam a vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Deus.<br />

Os saduceus, todavia, influenciados pela filosofia grega,<br />

diziam: “não há ressurreição, nem anjo, nem espírito”. Para eles,<br />

os anjos não passavam <strong>de</strong> “bons pensamentos e intenções” do<br />

coração humano.<br />

Nos primeiros séculos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Cristo, os pais da igreja<br />

pouco disseram a respeito dos anjos. A maior parte <strong>de</strong> sua atenção<br />

era <strong>de</strong>dicada a outros assuntos referente à natureza <strong>de</strong> Cristo.<br />

Mesmo assim, todos eles acreditavam na existência dos anjos.<br />

- Inácio <strong>de</strong> Antioquia, um dos primeiros pais da igreja,<br />

acreditava que a salvação dos anjos <strong>de</strong>pendia do sangue <strong>de</strong> Cristo;<br />

- Orígenes (182 - 251 D.C.) <strong>de</strong>clarou a impecabilida<strong>de</strong><br />

dos anjos, afirmando que, se foi possível a queda <strong>de</strong> um anjo,<br />

talvez seja possível a salvação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>mônio. Semelhante<br />

posicionamento acabou por ser rejeitado pelos concílios<br />

eclesiásticos;<br />

10


- Já em 400 D.C., Jerônimo (347 - 420 D.C.) acreditava<br />

que anjos da guarda eram dados aos seres humanos quando do<br />

nascimento <strong>de</strong>stes;<br />

- Posteriormente, Pedro Lombardo (100 - 160 D.C.)<br />

acrescentou que um único anjo podia guardar muitas pessoas <strong>de</strong><br />

uma só vez;<br />

- Dionísio, o Areopagita, (500 D.C.) contribuiu<br />

notavelmente para o estudo dos anjos. Ele retratou o anjo como<br />

“uma imagem <strong>de</strong> Deus, uma manifestação da luz oculta, um<br />

espelho puro, brilhante, sem <strong>de</strong>feito, nem impureza, ou mancha”;<br />

- Semelhantemente Irineu, quatro séculos antes (130 -<br />

195 D.C.), também construiu hipóteses a respeito <strong>de</strong> uma<br />

hierarquia angelical;<br />

- Depois, Gregório Magno (540-604 D.C.) atribuiu aos<br />

anjos corpos celestiais.<br />

Ao raiar do século XIII, os anjos passaram a ser assunto<br />

<strong>de</strong> muita especulação.<br />

O teólogo italiano Tomás <strong>de</strong> Aquino (1.225 - 1.274 D.C.)<br />

formulou perguntas mui relevantes a respeito. Sete das suas 118<br />

conjeturas sondavam as seguintes áreas:<br />

a. De que se compõe o corpo <strong>de</strong> um anjo?<br />

b. Há mais <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> anjo?<br />

c. Quando os anjos assumem a forma humana, exercem<br />

funções vitais do corpo?<br />

d. Os anjos sabem quando é manhã e quando é<br />

entar<strong>de</strong>cer?<br />

e. Os anjos conseguem enten<strong>de</strong>r muitos pensamentos ao<br />

mesmo tempo?<br />

f. Os anjos conhecem nossas intenções secretas?<br />

g. Os anjos têm capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar uns com os outros?<br />

Os termos genéricos usados para anjos, geralmente<br />

indicam sua atribuição ou função.<br />

Relacionamos abaixo alguns <strong>de</strong>stes termos:<br />

11


a. Leitourgos (grego) e Mishrathim (hebraico). Algumas<br />

vezes usadas com o significado <strong>de</strong> “anjos”, são palavras para<br />

“servo” ou “ministro”.<br />

b. Hoste: É a palavra hebraica “sava”. Essa palavra se<br />

esten<strong>de</strong> a toda formação do exército celestial <strong>de</strong> Deus. Uma força<br />

militar que luta as batalhas e cumprem a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. (Lc<br />

2.13; Ef 6.12; Hb 12.22).<br />

c. Espíritos (Hb 1.14).<br />

d. Vigias: Como em Dn 4.13,17, <strong>de</strong>fine anjos como<br />

supervisores e agentes <strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> Deus nos assuntos do mundo.<br />

Talvez nessa classe <strong>de</strong> anjos estejam os que tomam <strong>de</strong>cisões e<br />

executam os mandamentos <strong>de</strong> Deus na Terra.<br />

e. Bene Elim: Ou “filhos po<strong>de</strong>rosos”, é traduzido por<br />

“po<strong>de</strong>rosos” no SI 29.1. Essa é a <strong>de</strong>scrição do gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r dos<br />

anjos.<br />

f. Bene Elohim: Ou “filhos <strong>de</strong> Deus”, <strong>de</strong>fine os anjos<br />

como uma <strong>de</strong>terminada classe <strong>de</strong> seres. Este termo inclui Satanás.<br />

(Jó 16; 2.1; Sl 29.1; 89.6).<br />

g. Elohim: separadamente é algumas vezes aplicada aos<br />

anjos. Ela retrata os anjos como uma classe <strong>de</strong> seres sobrenaturais,<br />

<strong>de</strong> força mais elevada que a do homem. Quando os anjos<br />

apareceram a Jacó em Betel, o termo usado é Elohim (Gn 35.7).<br />

h. Estrelas: É o termo simbólico usado para os anjos,<br />

sugerindo que sua habitação é os céus (Ap 12.4). Jesus Cristo diz<br />

que tem na Sua mão as sete estrelas (Ap 1.20b). “... As sete<br />

estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste,<br />

são as sete igrejas.”<br />

i. Um sacerdote (Ml 2.7). O sacerdote é chamado <strong>de</strong><br />

mensageiro, “anjo” do Senhor.<br />

j. Santos (Sl 89.5-7).<br />

k. Os seres celestiais (Sl 29.1; 89.6) têm esse título.<br />

l. Outras <strong>de</strong>nominações.<br />

12


13


Alguma vez, você já se sentiu sendo observado,<br />

mesmo estando sozinho em um lugar isolado?<br />

Alguma vez você já sentiu um frio na espinha sem<br />

explicação?<br />

Alguma vez você já sentiu um medo crescente, uma<br />

amargura inexplicável ou mesmo uma sensação boa <strong>de</strong><br />

felicida<strong>de</strong>?<br />

Não foi só impressão.<br />

Não foi apenas uma sensação.<br />

Você não estava sozinho.<br />

Po<strong>de</strong> ter certeza disso, não era apenas impressão.<br />

14


07:30h<br />

Noticiário local:<br />

- Polícia encontra carro com corpos mutilados e<br />

queimados numa área afastada do centro da cida<strong>de</strong>.<br />

- A van estava com o capô aberto, parecendo ter sido<br />

aberto com algum tipo <strong>de</strong> lâmina.<br />

- A polícia está investigando o crime, mas até agora a<br />

única testemunha está em estado <strong>de</strong> choque e não diz nada<br />

claramente.<br />

- A mulher não i<strong>de</strong>ntificada pra sua segurança diz que foi<br />

atacada pelos marginais quando estava em um ponto <strong>de</strong> ônibus,<br />

foi arrastada para o interior do veículo.<br />

Foi levada para esta região afastada, on<strong>de</strong> com certeza<br />

seria estuprada e é bem possível que seria executada<br />

posteriormente ao estupro.<br />

Contou que <strong>de</strong> repente surgiu uma luz.<br />

- Um ser alado surgiu abrindo o capô do veículo com o<br />

que parecia ser uma espada <strong>de</strong> fogo e que <strong>de</strong>pois não se lembra <strong>de</strong><br />

mais nada.<br />

A vitima encontra-se sob proteção policial e aos cuidados<br />

<strong>de</strong> um psiquiatra.<br />

Psiquiatras dizem, que às vezes, as vítimas quando<br />

sofrem um choque emocional violento, têm visões e e alucinações,<br />

o que parece ser o caso.<br />

- Tudo indica, foi algum acerto <strong>de</strong> gangue rival, ou<br />

justiçamento por parte <strong>de</strong> algum morador local.<br />

Voltaremos mais tar<strong>de</strong> com outras notícias.<br />

15


16


1ª PARTE<br />

1º ATO<br />

17


2. O DESPERTAR<br />

Dor.<br />

A cabeça latejava.<br />

Que lugar era aquele?<br />

Dor.<br />

Parecia triturado em uma máquina <strong>de</strong> moer carne.<br />

Todo o seu corpo doía e sua cabeça estava<br />

ensanguentada.<br />

Seus olhos estavam cobertos <strong>de</strong> uma massa <strong>de</strong> terra e<br />

sangue.<br />

On<strong>de</strong> estava?<br />

Luz.<br />

Que luz era aquela?<br />

A última coisa da qual se que lembrava era <strong>de</strong> que<br />

tentava ajudar uma pessoa.<br />

Estava fazendo seu serviço quando foi atingido.<br />

Nada mais.<br />

A luz quase o segava e podia ver um ser alado se<br />

aproximando.<br />

Um acordo... salvação...<br />

Desmaiou.<br />

Quem o havia salvado? Por quê?<br />

Parecia ser um anjo, mas seria uma ilusão?<br />

Fez um acordo do qual não se lembrava.<br />

18


19


2. O PRIMEIRO CONTATO.<br />

Era para ser um dia tranquilo.<br />

Hector tinha <strong>de</strong>ixado seu carro em casa e seguia para o<br />

trabalho <strong>de</strong> ônibus.<br />

Como sempre, ia com trajes civis e sem portar<br />

documentos militares, pois caso houvesse um assalto, seria<br />

fuzilado se fosse i<strong>de</strong>ntificado como policial.<br />

A rotina não seria a mesma da semana anterior. Serviços<br />

internos e caso fosse necessário, aten<strong>de</strong>ria a alguma ocorrência.<br />

Questionou seu superior algumas vezes sobre o fato <strong>de</strong><br />

que sempre ficava no serviço interno e não era <strong>de</strong>slocado para as<br />

patrulhas externas.<br />

Em uma <strong>de</strong>ssas vezes, o seu superior abriu a gaveta da<br />

mesa <strong>de</strong> trabalho e lhe disse que ali, cada um escolhia qual serviço<br />

e on<strong>de</strong> iria patrulhar, se é que ele entendia o recado.<br />

Como estava concluindo a faculda<strong>de</strong>, geralmente não<br />

tinha dinheiro e também não concordava com a tal “escolha”.<br />

Sempre ficava <strong>de</strong> fora das patrulhas até aquele dia.<br />

Ao que tudo indicava, um dos policiais teve um<br />

problema familiar e foi dispensado. Seu substituto também não<br />

po<strong>de</strong> ir e acabou sobrando a vaga.<br />

Neste dia a patrulha iria se esten<strong>de</strong>r pelo centro da cida<strong>de</strong><br />

até as favelas da Zona Sul.<br />

Quando o chefe da patrulha disse:<br />

- Vamos subir o morro e conversar com o nosso amigo,<br />

Ferrugem.<br />

Ferrugem era o traficante local e até aquele momento não<br />

era incomodado por ninguém, ficando livre para fazer o que<br />

quisesse na favela e cercanias.<br />

Chegando ao local, Hector não compreendia o tom<br />

amigável e ao mesmo tempo <strong>de</strong>bochado com que os policiais se<br />

dirigiam aos elementos ali postados com seus fuzis.<br />

Foram entrando, cumprimentando e tudo normal.<br />

20


Veio um sujeito <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um barraco, magro, meio<br />

enferrujado era o que parecia, cabelo vermelho e pele sar<strong>de</strong>nta.<br />

- E aí meu velho! Como vai esta força?<br />

- Tudo bem, e aí?<br />

Referindo-se ao jovem policial perguntou: - Tem gente<br />

nova na área?<br />

- O novato está substituindo o Pereira que está <strong>de</strong> folga<br />

hoje.<br />

- Sei.<br />

- E o nosso negócio, como está?<br />

- Tá tudo aqui. Po<strong>de</strong> contar. Entregou o envelope ao<br />

policial.<br />

- Pra que contar? A gente confia nos “amigos”.<br />

Dividindo a grana, o chefe da patrulha passou uma parte<br />

menor para Hector.<br />

- Não posso aceitar!<br />

- Pega!<br />

- Não quero, po<strong>de</strong> ficar para vocês.<br />

- Pega! É uma or<strong>de</strong>m!<br />

Então o jeito foi pegar o dinheiro, pois caso não<br />

aceitasse, seria visto como traíra e no dia seguinte nos noticiários<br />

teria a noticia <strong>de</strong> que “certo policial teria sido morto em tiroteio<br />

com bandidos”.<br />

Hector aceitou o dinheiro e não falou mais nada.<br />

E assim, outras visitas foram feitas.<br />

Ao voltar para o quartel ao fim do turno, todos pareciam<br />

felizes. Somente Hector estava em silêncio, que foi notado por<br />

seus companheiros.<br />

O chefe da patrulha foi claro.<br />

- Soldado, você não viu nada! Foi um dia tranquilo. Não<br />

aconteceu nada. Sem alteração.<br />

Hector ficou com aquelas palavras na cabeça pelo resto<br />

da semana.<br />

O dinheiro ele doou para um asilo sem dizer <strong>de</strong> on<strong>de</strong> era.<br />

21


Neste período não fez patrulhas externas nem questionou<br />

mais nada.<br />

Cursava com muito sacrifício a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> direito e<br />

estava no último período, queria se formar.<br />

Na primeira oportunida<strong>de</strong> tiraria férias, <strong>de</strong>scansaria e<br />

aproveitaria para repensar sua profissão.<br />

Não estava satisfeito e nem confortável.<br />

Queria uma mudança e teria que ser logo.<br />

22


23


4. THE EAGLE HAS LANDED.<br />

Em seu carro, ouvia a canção “The Eagle has<br />

Lan<strong>de</strong>d” da banda Saxon, uma <strong>de</strong> suas preferidas:<br />

The Eagle has Lan<strong>de</strong>d (1)<br />

Saxon<br />

“O homem <strong>de</strong>u um passo para a humanida<strong>de</strong>”<br />

Em uma lua distante, um mar<br />

Como você viajar pelo universo<br />

Ou você dá um passo<br />

Dê um passo para mim<br />

Você vai dar um passo para mim<br />

Eu sou uma águia<br />

Explodindo para as estrelas<br />

Você toma as esperanças e sonhos <strong>de</strong> homens<br />

Para encontrar-se<br />

Para encontrar a tranquilida<strong>de</strong><br />

Para encontrar a tranquilida<strong>de</strong><br />

Acelerar todo o universo<br />

E colocou uma ban<strong>de</strong>ira solitária<br />

Lá fora, no isolamento<br />

No final<br />

Fronteira final<br />

Na fronteira final<br />

Celebração<br />

Enquanto esperamos por seu retorno<br />

Você <strong>de</strong>u um salto gigante para a humanida<strong>de</strong><br />

Em outro<br />

24


Em outro mundo<br />

Em outro mundo<br />

Acalme-se<br />

Vá <strong>de</strong>vagar<br />

Não vá rápido<br />

Não <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ir.<br />

A águia pousou.<br />

A águia pousou.”<br />

25


26


5. SEUS HEROIS<br />

Pensava sempre em seu pai e seu padrinho.<br />

Antigos Policiais, mortos nas ruas, na função.<br />

Seu padrinho, o policial Pedro que também foi morto em<br />

um tiroteio, quando bandidos estavam no interior <strong>de</strong> um armazém,<br />

disparando lá <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro.<br />

A polícia chegou e os bandidos não tiveram como sair,<br />

ficaram encurralados.<br />

Os tiros eram disparados <strong>de</strong> ambos os lados.<br />

De repente, Pedro foi alvejado na cabeça e caiu sem vida,<br />

bem aos pés <strong>de</strong> Antônio. Quando este viu seu melhor amigo e<br />

parceiro cair aos seus pés, entrou em <strong>de</strong>sespero.<br />

Só que no mesmo instante, a munição dos bandidos<br />

acabou e a situação inverteu-se.<br />

No exato momento, um dos bandidos veio correndo em<br />

direção à patrulha para ren<strong>de</strong>r-se.<br />

Antônio nem pestanejou, olhou para seu amigo sem vida,<br />

levantou-se e <strong>de</strong>u um tiro certeiro no peito do bandido que caiu <strong>de</strong><br />

lado.<br />

Morreu ali mesmo.<br />

A imprensa filmou tudo e <strong>de</strong>u a noticia.<br />

A opinião pública caiu matando e os direitos humanos<br />

logo apareceram.<br />

- O “rapaz” já estava se ren<strong>de</strong>ndo, foi covardia.<br />

O público, como é sempre manipulável, crucificou o<br />

policial.<br />

Ninguém quis saber <strong>de</strong> seu estado naquele momento, em<br />

choque. Tinha acabado <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r seu compadre.<br />

Não, nada disso importa.<br />

O lado do bandido foi o escolhido.<br />

27


Antônio foi afastado, respon<strong>de</strong>u a processo e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

muito tempo, foi absolvido, mas sua carreira nunca mais foi a<br />

mesma, tinha <strong>de</strong>smoronado, foi abandonado.<br />

Entrou em um estado profundo <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão, começou a<br />

beber.<br />

Sua farda não mais foi passada e sua saú<strong>de</strong> começou a<br />

<strong>de</strong>smoronar.<br />

Em um dia normal <strong>de</strong> trabalho, aconteceu o pior.<br />

Ao voltar para casa, presenciou um assalto com reféns.<br />

Como a patrulha não chegou, ele <strong>de</strong>u voz <strong>de</strong> prisão aos<br />

bandidos e i<strong>de</strong>ntificou-se como policial.<br />

Os bandidos disseram que iriam matar um dos reféns se<br />

Antônio não colocasse sua arma no chão.<br />

Como o bom policial que era, cumprindo o que o<br />

regulamento e as normas mandam, para que seja preservado o<br />

refém.<br />

Colocou sua arma no chão.<br />

Gran<strong>de</strong> erro.<br />

Os bandidos nem pestanejaram.<br />

Trataram logo <strong>de</strong> fuzilá-lo ali mesmo, sem nem piscar.<br />

Depois <strong>de</strong> vários disparos, fugiram, largando-o ali<br />

agonizando.<br />

Quando a patrulha chegou, já era tar<strong>de</strong>. Já estava morto.<br />

Para a viúva, o seguro <strong>de</strong> vida, uma pensão minguada e<br />

uma ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> presente.<br />

Para o filho, a perda <strong>de</strong> seu herói.<br />

A vida seguiu em frente.<br />

Nenhuma nota no jornal local, nenhuma visita dos<br />

Direitos Humanos, nenhuma compaixão.<br />

O menino só fez abraçar-se à mãe.<br />

Chorou em seu peito e por semanas a fio, lembrando-se<br />

da figura paterna.<br />

Agora eram somente os dois e alguns parentes.<br />

Tinha que seguir a vida.<br />

28


Não adiantaria rebelar-se.<br />

Então, <strong>de</strong>cidiu em homenagem ao pai, e o padrinho,<br />

seguir também a carreira militar.<br />

Queria ajudar <strong>de</strong> alguma forma e fazer a diferença.<br />

A mãe foi contra, mas a <strong>de</strong>cisão já estava tomada.<br />

Seria policial.<br />

Ana.<br />

Pensava também em Ana, seu amor.<br />

A garota mais linda do bairro com a qual iria se casar,<br />

constituir família e se <strong>de</strong>sse sorte, envelhecer ao seu lado.<br />

Aquela garota morena, da boca carnuda, seios fartos,<br />

cabelo dourado em cachos <strong>de</strong> mel. Sua Ana.<br />

Minha vida, meu amor<br />

Meu chão, meu céu, minha luz<br />

Minha razão <strong>de</strong> existir<br />

Eu hoje vim aqui só pra te ver passar<br />

Precisaria nem olhar<br />

Para este pobre coração<br />

Basta sua sombra, e po<strong>de</strong>rei me abraçar<br />

Já seria o suficiente para mim<br />

Nada aqui merece atenção<br />

Mas se um dia você não regressar<br />

Deixe umas pegadas<br />

E alguém irá correr<br />

Não há nada<br />

Não há nada igual<br />

Nada po<strong>de</strong>ria me afastar <strong>de</strong> Ti<br />

Não, não há alguém<br />

29


Que me faça tão bem como você faz<br />

E nunca haverá<br />

Me transforme no melhor que posso ser<br />

Não há fim, não há volta<br />

Porque só quem po<strong>de</strong> preencher o meu vazio é você<br />

Você, ninguém mais<br />

Exalam por aqui, aromas <strong>de</strong> jasmins<br />

Em uma carta que escreveu<br />

E agora guardo bem aqui<br />

Cada simples pensamento meu é uma medida<br />

Que há tempos <strong>de</strong>cidiu te amar sem reservas<br />

Tudo o que tenho <strong>de</strong> valor, são as minhas memórias<br />

Se elas partissem, eu partiria em dois<br />

Não há nada<br />

Não há nada igual<br />

Nada po<strong>de</strong>ria me afastar <strong>de</strong> Ti<br />

Não, não há alguém<br />

Que me faça tão bem como você faz<br />

E nunca haverá<br />

Me transforme no melhor que posso ser<br />

Não há fim, não há volta<br />

Porque só quem po<strong>de</strong> preencher o meu vazio é você<br />

Você, ninguém mais<br />

A sauda<strong>de</strong> aqui, é um verso carregado <strong>de</strong> ventania<br />

Que um dia resolveu partir<br />

Nunca mais faltou ar<br />

Cada simples pensamento meu é uma medida<br />

Que há tempos <strong>de</strong>cidiu te amar sem reservas<br />

30


Não há nada igual<br />

Nada po<strong>de</strong>ria me afastar <strong>de</strong> Ti<br />

Não, não há alguém<br />

Que me faça tão bem como você faz<br />

E nunca haverá<br />

Me transforme no melhor que posso ser<br />

Não há fim, não há volta<br />

Porque só quem po<strong>de</strong> preencher o meu vazio é você<br />

Você, ninguém mais.<br />

Ninguém Mais<br />

Rosa <strong>de</strong> Saron (2)<br />

Hector dividia seu tempo entre o trabalho, estudos e<br />

aulas <strong>de</strong> violão e guitarra.<br />

Adorava Rock <strong>de</strong> todos os tipos. De bandas da New<br />

Wave of British Heavy Metal (N.W.O.B.H.M.) movimento <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> saíram bandas como Saxon, Iron Mai<strong>de</strong>n, Def Leppard,<br />

<strong>de</strong>ntre outras.<br />

Gostava <strong>de</strong> rock nacional e agora, apaixonara-se por uma<br />

banda chamada Rosa <strong>de</strong> Saron.<br />

As músicas da banda mexiam com o seu interior e ele<br />

sempre as colocava para tocar quando entrava no seu carro.<br />

Adorava o som.<br />

De formação católica, seus pais eram <strong>de</strong>votos, tinha<br />

adoração por São Francisco, mas não conseguia conciliar religião<br />

e seu gosto musical.<br />

Sempre houve quem dissesse que aquilo era coisa <strong>de</strong><br />

diabo e coisa assim.<br />

Por um momento pensou em <strong>de</strong>ixar tudo e seguir um<br />

outro caminho, mas não conseguia enten<strong>de</strong>r como Deus, um ser<br />

Maravilhoso, Criador <strong>de</strong> Tudo, Regente <strong>de</strong> Todo o Universo iria<br />

se preocupar com um ser tão pequeno e <strong>de</strong>sprezível.<br />

31


Por muito tempo irou-se contra Jesus sem conhecê-lo.<br />

Como po<strong>de</strong>ria um ser tão iluminado, preocupar-se com<br />

que música, ele um inseto estaria ouvindo. Não fazia sentido.<br />

Além do mais, aquilo lhe dava prazer e era o que<br />

realmente gostava.<br />

Nos fins <strong>de</strong> semana, pegava o carro, saia sem <strong>de</strong>stino e<br />

ligava o som...<br />

“ É estranho e difícil me dizer que está tudo bem<br />

Se há alguma coisa, então venha enten<strong>de</strong>r<br />

O quanto só você po<strong>de</strong> dar um simples passo <strong>de</strong> cada vez<br />

O sol da meia-noite aqui existe<br />

Você pense, pare<br />

Veja que o amor resiste<br />

Olhe, prova, sente, toca<br />

É Deus que te faz enten<strong>de</strong>r toda poesia<br />

Que torna mais valiosa a vida<br />

E prova que ainda dá pra ser feliz<br />

Apenas atenda quem chama<br />

E perceba<br />

Que só Ele po<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o seu interior<br />

As suas dores afastar<br />

O seu sonho realizar<br />

A sua vida transformar<br />

Basta que você entenda<br />

Que é Deus, que te faz enten<strong>de</strong>r toda poesia<br />

Que torna mais valiosa a vida<br />

E prova que ainda dá pra ser feliz<br />

Apenas atenda quem chama<br />

E peça que nesta noite Ele te toque<br />

E cure todas suas feridas<br />

E vele o sono e espere acordar<br />

Amanhã será um novo dia<br />

Amanhã, amanhã<br />

32


Amanhã, amanhã<br />

Amanhã, amanhã<br />

Amanhã, amanhã...<br />

...amanha será um novo dia.”<br />

O sol da meia noite<br />

Rosa <strong>de</strong> Saron (3)<br />

33


34


Hector questionava todo momento a Deus. .<br />

On<strong>de</strong> Ele estava?<br />

Porque permitia tanto mal na terra?<br />

E qual era a sua missão?<br />

Não tinha respostas, mas também não queria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

acreditar.<br />

Seu coração o mantinha preso aos ensinamentos <strong>de</strong> Jesus.<br />

Mas on<strong>de</strong> Ele estava?<br />

Parecia tão distante da realida<strong>de</strong>...<br />

...O fim <strong>de</strong> semana chegou, estava <strong>de</strong> férias.<br />

35


Finalmente!<br />

Só pensava em jogar as tralhas no carro e ir para uma<br />

pousada, <strong>de</strong>scansar, ficar com Ana e repensar sua vida até ali.<br />

Agora já estava tudo combinado. Local marcado, tudo<br />

certo.<br />

Despediu-se <strong>de</strong> sua mãe beijando-a no rosto e dando-lhe<br />

um abraço apertado.<br />

Tinha convidado a mãe para irem juntos, mas ela preferiu<br />

ficar em casa.<br />

- Vá com sua namorada, meu filho.<br />

- Tome cuidado. Dizia sua mãe com carinho.<br />

- Po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar, daqui a alguns dias nos reencontramos.<br />

- Quando eu chegar lá eu ligo.<br />

Era noitinha quando chegaram à pousada.<br />

Hector <strong>de</strong>ixou Ana aguardando no carro e foi verificar a<br />

reserva com o aten<strong>de</strong>nte.<br />

Quarto 6, tudo certo.<br />

Buscou Ana, pegou as bagagens e foram para o quarto.<br />

A noite começava quente, mas soprava uma brisa do<br />

mar.<br />

Naquela altura eles só queriam um banho relaxante.<br />

Entraram os dois para o chuveiro e entre beijos e<br />

carícias, começaram a se ensaboar.<br />

Suas bocas se encontravam em uma volúpia apaixonada.<br />

Suas mãos corriam pelas costas <strong>de</strong> Ana e os dois se<br />

apertavam quase como um só corpo.<br />

Nem bem se enxugaram e foram para a cama.<br />

- Eu te amo, dizia Hector, no que era também respondido<br />

por Ana.<br />

Sua boca veio <strong>de</strong>scendo pelo pescoço <strong>de</strong> Ana, passando<br />

por seus seios morenos.<br />

Percorria com a língua em um vai e vem alucinante e a<br />

cada beijo, ia <strong>de</strong>scendo cada vez mais.<br />

36


Neste momento ela estava totalmente in<strong>de</strong>fesa e gemia<br />

<strong>de</strong> prazer.<br />

Fizeram amor.<br />

Os dois não se aguentaram e se entregaram a um gozo<br />

sem prece<strong>de</strong>ntes e sem culpa.<br />

Aquela era sua musa, sua mulher, a garota com a qual ele<br />

queria passar o resto da vida.<br />

Todos os momentos com ela eram poucos diante <strong>de</strong> seu<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> jamais ficar longe.<br />

Acalmaram-se e foram novamente para o chuveiro.<br />

Depois <strong>de</strong> um banho revigorante, os dois se vestiram e<br />

foram caminhar na praia.<br />

Hector colocou uma bermuda azul, uma camiseta sem<br />

estampa e um tênis leve.<br />

Ana estava com um vestidinho estampado, com um laço<br />

simples na cintura e usava uma sandália rasteirinha <strong>de</strong> couro.<br />

Era o paraíso. Por um momento, parece que Deus fizera<br />

o tempo parar e <strong>de</strong>ixou um momento perfeito para os dois<br />

amantes.<br />

Eles sentaram-se em um banco que dava para o mar,<br />

on<strong>de</strong> se via o brilho da lua refletindo na água.<br />

Ela se sentou em seu colo e ficaram ali por longos<br />

momentos contemplando aquela paisagem.<br />

Era tudo muito perfeito.<br />

Tudo estava como <strong>de</strong>veria estar.<br />

Os dois juntos, longe <strong>de</strong> tudo.<br />

- Eu te amo.<br />

- Eu te amo primeiro.<br />

- Te amo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro momento em que te vi.<br />

- Eu te vi primeiro, então te amo a mais tempo.<br />

Beijaram-se e ficaram ali juntinhos por um tempo que<br />

parecia parar.<br />

Foram até um quiosque ali perto, pediram água <strong>de</strong> coco e<br />

um sanduíche natural.<br />

37


Após comerem o lanche, Hector pagou a conta e foram<br />

caminhar mais um pouco pela orla.<br />

Mais tar<strong>de</strong>, já era quase meia noite, voltaram para a<br />

pousada.<br />

- Nossa, nem vi o tempo passar.<br />

- Quando estou com você o tempo para.<br />

Abriram a porta do quarto e logo começaram a beijar-se<br />

apaixonadamente.<br />

Hector foi caminhando <strong>de</strong> costas para a cama,<br />

conduzindo Ana como um dançarino e sua dama.<br />

Retirou seu vestido, no que foi correspondido por Ana,<br />

que já abria o zíper <strong>de</strong> sua bermuda.<br />

Começou a beijar seu pescoço e acariciando seus seios,<br />

sentou-se na cama e a conduziu para o seu colo.<br />

Ela veio e se encaixou por sobre Hector e começou um<br />

movimento frenético.<br />

Depois <strong>de</strong> tanto amor, ambos caíram na cama logo<br />

adormecendo.<br />

Tudo estava perfeito.<br />

Na manhã seguinte, seguiram o mesmo ritual, <strong>de</strong>pois<br />

tomaram um banho e foram tomar café.<br />

- Hector, eu te amo <strong>de</strong>mais e nunca mais quero me<br />

afastar <strong>de</strong> você.<br />

- Eu também te amo.<br />

Após o café, foram dar mais um passeio pela orla da<br />

praia.<br />

A areia era fofa e quente.<br />

Neste momento Hector falou com Ana sobre seus planos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar a polícia.<br />

Não estava mais conseguindo lidar com a situação,<br />

salário baixo, perigo constante, mais a aquela corrupção.<br />

Existia nas corporações uma gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong> policiais<br />

bons e honestos, mas eram massacrados pelo sistema e pelos<br />

maus.<br />

38


Direitos humanos somente para o lado dos bandidos.<br />

Uma socieda<strong>de</strong> que o tempo todo tentava transformá-lo<br />

em bandido.<br />

Não queria e não podia mais ficar ali.<br />

Tinha algumas economias que dariam para se virar por<br />

algum tempo.<br />

Iria fazer um curso técnico <strong>de</strong> solda da companhia<br />

petrolífera e já iria ser contratado.<br />

Sua faculda<strong>de</strong> também já estava no último período e logo<br />

po<strong>de</strong>ria prestar outro concurso, ou mesmo, após prova da OAB,<br />

começar a advogar.<br />

Ana concordou e disse que o ajudaria no que fosse<br />

preciso. Ela também trabalhava em um escritório, trabalhava <strong>de</strong><br />

cabeleireira nas horas vagas e também conhecia algumas pessoas,<br />

<strong>de</strong>ntre elas, uma amiga da faculda<strong>de</strong> que casou-se com um juiz e<br />

agora estava em outra cida<strong>de</strong>.<br />

Ambos iriam começar uma nova vida juntos.<br />

Estavam resolvidos e fortalecidos.<br />

Só pensavam na vida juntos.<br />

39


Os dias foram passando, e logo já estaria na hora <strong>de</strong> irem<br />

embora, voltarem para a realida<strong>de</strong>, mas a <strong>de</strong>cisão já estava<br />

tomada.<br />

Enquanto isso na cida<strong>de</strong>, a coisa estava pegando.<br />

Alguém <strong>de</strong>latou o grupo <strong>de</strong> policiais corruptos.<br />

Na verda<strong>de</strong> foi um aviãozinho que entregou a turma<br />

quando foi <strong>de</strong>tido, mas eles não quiseram saber. Elegeram um<br />

traidor.<br />

Hector os havia <strong>de</strong>latado.<br />

Quem mais po<strong>de</strong>ria saber?<br />

Era ele.<br />

O processo foi aberto e como sempre, havia muita gente<br />

envolvida.<br />

Alguns criminosos foram presos, outros <strong>de</strong>sapareceram<br />

sem <strong>de</strong>ixar vestígios.<br />

A arapuca estava armada.<br />

O último dia chegou. Hector e Ana acordaram, se<br />

olharam nos olhos e mais uma vez repetiram as juras <strong>de</strong> amor.<br />

Colocaram a bagagem no carro, estavam felizes com os<br />

dias passados ali, juntos.<br />

Hector pagou a conta, saiu pela porta, entrou no carro,<br />

afivelou o cinto <strong>de</strong> segurança, beijou Ana e ligou o som.<br />

“What's the use in trying<br />

I'm tired of all the crying<br />

If I had a choice<br />

I'd choose a different voice<br />

So what's the use in lying<br />

What's the use in trying<br />

When you've done your best, it's high time<br />

That you hit the road<br />

Don't look back anymore<br />

What's the use in trying<br />

40


Hands in the air<br />

Your hand's on my heart<br />

When I look in your eyes<br />

I forget for a while<br />

There's a world spinning round<br />

Life in motion<br />

And I just want to stay<br />

In your arms for the day<br />

And we'll live out loud<br />

This is the time of our lives<br />

I think you need some time<br />

To help unwind<br />

Cause the way to live<br />

Is to free yourself then you'll give up<br />

All the crying<br />

Hands in the air<br />

My hand's on your heart<br />

When I look in your eyes<br />

I forget for a while<br />

There's a world spinning round<br />

Life in motion<br />

And I just want to stay<br />

In your arms for the day<br />

And we'll live out loud<br />

This is the time of our lives<br />

You will always be<br />

The song in my heart<br />

And I'll sing your melody<br />

41


And at the end of the day<br />

You can't take that away<br />

Oh no no<br />

Hands in the air<br />

Your hand's on my heart<br />

When I look in your eyes<br />

I forget for a while<br />

There's a world spinning round<br />

Life in motion<br />

And I just want to stay<br />

In your arms for the day<br />

And we'll live out loud<br />

This is the time of our lives”<br />

“Qual é a utilida<strong>de</strong> em tentar<br />

Estou cansado <strong>de</strong> todo o choro<br />

Se eu tivesse uma escolha<br />

Eu escolheria uma voz diferente<br />

Então, qual é o uso da mentira<br />

Qual é a utilida<strong>de</strong> em tentar<br />

Quando você fez o seu melhor, é a hora<br />

Que você pegar a estrada<br />

Não olhe mais para trás<br />

Qual é a utilida<strong>de</strong> em tentar<br />

Mãos no ar<br />

Sua mão está no meu coração<br />

Quando eu olho nos seus olhos<br />

Eu esqueço por um tempo<br />

Há um mundo girando<br />

42


A vida em movimento<br />

E eu só quero ficar<br />

Em seus braços para o dia<br />

E nós vamos viver em voz alta<br />

Este é o momento <strong>de</strong> nossas vidas<br />

Eu acho que você precisa <strong>de</strong> algum tempo<br />

Para ajudar a <strong>de</strong>scontrair<br />

Porque a maneira <strong>de</strong> viver<br />

É libertar-se, então você vai <strong>de</strong>sistir<br />

O choro<br />

Mãos no ar<br />

Minha mão está em seu coração<br />

Quando eu olho nos seus olhos<br />

Eu esquecer por um tempo<br />

Há um mundo girando<br />

A vida em movimento<br />

E eu só quero ficar<br />

Em seus braços para o dia<br />

E nós vamos viver em voz alta<br />

Este é o momento <strong>de</strong> nossas vidas<br />

Você sempre será<br />

A canção em meu coração<br />

E eu vou cantar a sua melodia<br />

E no fim do dia,<br />

Você não po<strong>de</strong> tirar isso<br />

Oh, não, não<br />

Mãos no ar<br />

Sua mão está no meu coração<br />

Quando eu olho nos seus olhos<br />

43


Eu esquecer por um tempo<br />

Há um mundo girando<br />

A vida em movimento<br />

E eu só quero ficar<br />

Em seus braços para o dia<br />

E nós vamos viver em voz alta<br />

Este é o momento <strong>de</strong> nossas vidas<br />

Night Ranger<br />

Time of our lives<br />

Tempo <strong>de</strong> nossas vidas (4)<br />

44


Era fim <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> quando os dois chegaram.<br />

Hector levou Ana até sua casa.<br />

Despediram-se com um <strong>de</strong>morado beijo e mais juras <strong>de</strong><br />

amor.<br />

Não queria ir embora, mas por hora era assim.<br />

Na manhã seguinte, se apresentaria no serviço por<br />

término <strong>de</strong> férias e resolveria as suas últimas pendências para se<br />

<strong>de</strong>mitir e seguir seus planos.<br />

Porém, quando se apresentou, o sargento veio com a<br />

prancheta na mão e chamou:<br />

- Soldado Hector! Você está escalado para a patrulha<br />

externa noturna <strong>de</strong> amanhã.<br />

- Faltou um soldado e você está com as baterias<br />

renovadas das férias, então, se prepare, ajuste o seu equipamento e<br />

se apresente ao chefe da patrulha hoje às <strong>de</strong>zoito horas.<br />

Hector geralmente não participava <strong>de</strong> rondas noturnas.<br />

Quando seu serviço era noturno, ficava com a segurança<br />

interna, mas como estava voltando <strong>de</strong> férias e eram suas últimas<br />

semanas ali, acatou as or<strong>de</strong>ns recebidas.<br />

Tudo estava armado, mas Hector não enten<strong>de</strong>u quando o<br />

chefe da patrulha <strong>de</strong>u uma piscada para o seu parceiro e ambos<br />

riram.<br />

Não tinha sacado a jogada.<br />

Era um bom homem e nem <strong>de</strong>sconfiava o que viria a<br />

seguir.<br />

Só pensava em terminar mais um dia e correr para a sua<br />

Ana.<br />

Estava tudo armado.<br />

Um suposto assalto com refém.<br />

Um chamado pelo rádio e a patrulha seguiu para o local.<br />

Quando chegaram às proximida<strong>de</strong>s, uma localida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

alta periculosida<strong>de</strong>, Hector questionou o porquê <strong>de</strong> não chamarem<br />

mais reforços.<br />

- Não temos tempo.<br />

45


Até os reforços chegarem, a vítima já po<strong>de</strong> ter levado<br />

chumbo.<br />

- Vamos.<br />

- Eu vou com o Alberto pelo beco da esquerda e você vai<br />

pelo outro lado para pegar o bandido pelas costas.<br />

Ao dar a volta, Hector <strong>de</strong>u <strong>de</strong> cara com um local mal<br />

iluminado, barracos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e alguns <strong>de</strong> tijolos sem reboco.<br />

Um <strong>de</strong>grau, <strong>de</strong>pois outro, passa por um vão sob uma<br />

escada e já <strong>de</strong>u <strong>de</strong> cara com o bandido que tinha uma moça como<br />

refém.<br />

Recebeu um tiro como cartão <strong>de</strong> visitas.<br />

Esperou um pouco <strong>de</strong>u voz <strong>de</strong> prisão para o bandido,<br />

mas não po<strong>de</strong> fazer mais nada, já que ele estava com uma refém.<br />

Tentou negociar, mas o homem estava irredutível.<br />

- Coloque a arma no chão.<br />

- Não, coloque você, senão mato esta “vadia”.<br />

- Você está cercado, não tem o que fazer.<br />

- Vou matar esta vadia se você não me obe<strong>de</strong>cer.<br />

- Calma, vamos conversar.<br />

- Não tem conversa “ô filho da puta <strong>de</strong> merda”.<br />

- Vou atirar.<br />

- Não! Respon<strong>de</strong>u Hector.<br />

- Eu coloco a arma no chão, mas não faça mal para a<br />

moça.<br />

- Isso “Mané”. Coloca aí e chuta pra cá.<br />

Hector colocou a arma no chão e chutou para o lado do<br />

bandido.<br />

Foi quando sentiu um tiro que passou <strong>de</strong> raspão em sua<br />

nuca.<br />

Rolou para a direita, tentando se escon<strong>de</strong>r, mas recebeu<br />

outro tiro, este agora atingindo seu braço.<br />

Pensou que seus colegas iriam chegar e gritou pelos<br />

nomes, mas não obteve resposta, a não ser xingamentos e<br />

gargalhadas.<br />

46


Rastejou para um bueiro aberto mais embaixo e ouviu<br />

alguém correndo.<br />

Notou que havia outros bandidos chegando e ouviu uma<br />

voz conhecida.<br />

- Este “<strong>de</strong>do duro” vai se fo<strong>de</strong>r é agora, pra parar <strong>de</strong> ser<br />

otário.<br />

- Vai virar comida <strong>de</strong> rato, há, há, há.<br />

Tentou correr e caiu novamente.<br />

Ouvia vozes vindas do outro lado.<br />

Chutou uma porta e pulou pra <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um barraco.<br />

Pulou pela janela e subiu num barranco.<br />

Ouviu vários tiros atrás <strong>de</strong> si.<br />

- Se tá ferrado FDP.<br />

Hector só pensava em sair dali. Mas como? Estava<br />

cercado por todos os lados.<br />

Correu por um beco e saiu em um <strong>de</strong>spenha<strong>de</strong>iro sem<br />

saída.<br />

Viu-se encurralado e sem opção.<br />

Iria morrer ali.<br />

Podia se atirar ou ser fuzilado.<br />

Também tinha a opção <strong>de</strong> ser capturado, o que seria pior<br />

caso caísse nas mãos dos bandidos.<br />

Já imaginava todos os tipos <strong>de</strong> tortura pelas quais<br />

passaria.<br />

Suava frio e sangrava no braço atingido.<br />

Se tivesse sorte, morreria rápido.<br />

Quando Sentiu uma ferroada no peito antes do estampido<br />

seco do revolver.<br />

Cambaleou e tomou mais um tiro. Depois outro.<br />

A cada tiro, uma nova gargalhada.<br />

Era melhor acabar logo, morrer ali do que ser queimado<br />

vivo.<br />

Caiu na escuridão do precipício banhado em sangue.<br />

47


O que restou <strong>de</strong> vida em seu corpo, foi apenas para<br />

lamentar-se pela ausência <strong>de</strong> Ana.<br />

Foi tudo muito rápido.<br />

Quando seu corpo caiu na escuridão, já estava<br />

praticamente sem vida.<br />

Não restava mais nada.<br />

A notícia chegou ao quartel, no noticiário local e logo<br />

chegaria até sua mãe e Ana.<br />

O <strong>de</strong>sespero tomou conta <strong>de</strong> todos.<br />

Porque Hector foi mandado para a missão noturna em<br />

seu segundo dia <strong>de</strong> trabalho?<br />

Ana <strong>de</strong>smaiou.<br />

Seu castelo foi <strong>de</strong>struído.<br />

48


20:30h - Noticiário local<br />

- Policial é morto ao tentar impedir assalto com refém no<br />

morro do Centro.<br />

- Ao que tudo indica, tentou atirar no bandido e foi<br />

atingido por um comparsa.<br />

- O Comandante <strong>de</strong> sua patrulha informou que<br />

<strong>de</strong>terminou ao soldado que esperasse por reforços e aguardasse<br />

por or<strong>de</strong>ns, o que foi <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>cido pelo soldado Hector, que<br />

acabou encurralado pelos bandidos.<br />

- Informou ainda que quando ouviu os tiros, correu para<br />

o local, mas já era tar<strong>de</strong>, foi tudo muito rápido.<br />

- Não houve prisões, já que os bandidos fugiram do local.<br />

- A refém, única testemunha confirmou a versão dos<br />

policiais.<br />

Não dava pra recuperar o corpo naquela escuridão e local<br />

<strong>de</strong> acesso difícil.<br />

As buscas continuariam ao amanhecer do outro dia<br />

Foram tomadas as medidas para o sepultamento, caso<br />

houvesse um corpo.<br />

Ana estava inconsolável.<br />

- Meu amor, minha vida. Como vou viver sem você?<br />

- Nossos sonhos...<br />

Acabou, mas ela não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ter uma esperança <strong>de</strong><br />

que ele ainda estivesse vivo. Muito ferido, mas vivo.<br />

Sem imprensa, sem direitos humanos.<br />

No dia seguinte, claro, com a permissão dos bandidos,<br />

seu corpo foi procurado, mas não foi encontrado, talvez tenha<br />

caído em algum bueiro, ou algum animal silvestre o tivesse<br />

encontrado.<br />

Só havia marcas <strong>de</strong> sangue, mas nada do corpo <strong>de</strong> Hector<br />

Ana chorava e foi consolada por seus pais e pela quase<br />

sogra.<br />

49


O pessoal do quartel foi prestar suas condolências.<br />

As buscas iam continuar.<br />

É claro que os integrantes da patrulha, principalmente o<br />

Sargento Alves, só olhavam para Ana.<br />

Aquele mulherão agora estava sozinho dando sopa.<br />

Precisava <strong>de</strong> “um ombro amigo” para consolá-la. Estaria<br />

carente, pronta para o abate.<br />

Era só questão <strong>de</strong> tempo.<br />

É claro que ninguém notou os olhares maldosos do<br />

Sargento Alves.<br />

Aquele mulherão cairia em suas mãos...<br />

50


51


6. A APARIÇÃO<br />

Luz!<br />

- Quem é você?<br />

- Não interessa quem eu sou.<br />

- Meu Pai <strong>de</strong>u-me o nome <strong>de</strong> Miguel.<br />

- Preciso <strong>de</strong> você. Está disposto a me ajudar?<br />

- O que eu po<strong>de</strong>ria fazer para te ajudar?<br />

- Eu é que preciso <strong>de</strong> ajuda, não está vendo?<br />

- Além do mais quem é você?<br />

- Você é um anjo?<br />

- Eu não disse que sou anjo, mas não interessa.<br />

- Você quer ser salvo?<br />

- Sim.<br />

- Quer fazer um acordo?<br />

52


- Não sei.<br />

- Preciso <strong>de</strong> um soldado e Nós estamos monitorando<br />

alguns filhos <strong>de</strong> Adão.<br />

- Você é um dos que vem sendo observados.<br />

- Suas crenças, suas dúvidas, sua vonta<strong>de</strong>.<br />

- Tudo sobre você é sabido por Nós.<br />

- Nós quem?<br />

- Não interessa.<br />

- Você tem apenas que aceitar e servir à Legião.<br />

- O momento já é <strong>de</strong> urgência e o que aconteceu com<br />

você também foi monitorado por Nós.<br />

- Vocês arranjaram tudo isso?<br />

- Você faz muitas perguntas, mas não. Não fomos nós<br />

que arquitetamos o que aconteceu.<br />

- Lembre-se <strong>de</strong> que Meu Pai, Nosso Pai dotou vocês com<br />

o livre arbítrio.<br />

- Tudo que acontece com sua raça, é <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> suas<br />

vonta<strong>de</strong>s, para o bem ou para o mal. Nós apenas observamos,<br />

tentamos guiar e proteger, mas não po<strong>de</strong>mos interferir, até agora e<br />

você foi uma das oportunida<strong>de</strong>s.<br />

- Existem outros?<br />

- Talvez sim, talvez não.<br />

- Aceita?<br />

- Sim! Preciso voltar para casa, encontrar minha mãe,<br />

encontrar Ana, dizer que estou vivo.<br />

- Isso não será permitido, por enquanto.<br />

- Como não, elas <strong>de</strong>vem estar sofrendo.<br />

- Acredite. É melhor assim.<br />

- O que farei então?<br />

- Para a sua segurança e principalmente, para a segurança<br />

<strong>de</strong> todos os seus entes queridos, é melhor que você continue morto<br />

ou <strong>de</strong>saparecido.<br />

- Mas não po<strong>de</strong>mos per<strong>de</strong>r tempo.<br />

53


- Você receberá po<strong>de</strong>res que não compreen<strong>de</strong><br />

treinamento e responsabilida<strong>de</strong>s maiores do que jamais sonhou.<br />

- Mas você não terá forças ilimitadas.<br />

- Não será dotado <strong>de</strong> onisciência e onipresença.<br />

- Estes são po<strong>de</strong>res divinos e somente o Pai e o Filho e<br />

uma plêia<strong>de</strong> <strong>de</strong> seres evoluídos os possuem.<br />

- Existe um mundo à parte que vocês terrenos nem<br />

imaginam.<br />

- Alguns poucos conhecem uma ínfima parte e até têm<br />

uma pequena i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> como ele funciona.<br />

- Outros acham que conhecem e brincam com o que não<br />

conhecem.<br />

- Uns compartilham das forças do bem, outros das forças<br />

do mal, mas nenhuma das partes sabe tudo, ou sabem quase nada.<br />

- Existem cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> anjos e seres <strong>de</strong> luz, mas também<br />

existem as cida<strong>de</strong>s das trevas.<br />

- Existem forças antagônicas e neste momento, a guerra<br />

está <strong>de</strong>clarada e para o bem da humanida<strong>de</strong> é melhor que o Nosso<br />

lado vença.<br />

- Meu Pai <strong>de</strong>cidiu dar mais uma chance a vocês.<br />

- Ele os ama mais do que tudo e quer que vocês vençam,<br />

evoluam e sigam em frente com sua evolução, mas existem<br />

soldados do nosso lado que estão pen<strong>de</strong>ndo a balança para o lado<br />

negro, da mesma forma que do outro lado passando para o nosso.<br />

Estamos em guerra...<br />

54


A busca pelo corpo continuou por vários dias, sem<br />

nenhuma pista.<br />

Equipes <strong>de</strong> busca, bombeiros e cães farejadores. Nada.<br />

Todas as pistas terminavam no mesmo ponto, uma<br />

pare<strong>de</strong> chamuscada com cheiro forte <strong>de</strong> coisa queimada.<br />

Também existia a hipótese <strong>de</strong> que os bandidos tivessem<br />

terminado o serviço.<br />

Teriam <strong>de</strong>scido o barranco, recuperado o corpo e o<br />

levassem para o “micro-ondas”. Ou o queimaram ali mesmo.<br />

Caso isso tivesse acontecido, não existiria nenhuma<br />

chance <strong>de</strong> se encontrar nada do corpo.<br />

Esta era uma forma que os bandidos usavam para além<br />

<strong>de</strong> amedrontar os rivais e vítimas, eliminar qualquer rastro.<br />

Depois <strong>de</strong> queimado o corpo em meio a pneus, não<br />

sobrava quase nada, ou nada além <strong>de</strong> cinzas.<br />

Esta era uma hipótese.<br />

Alguns policiais corruptos também começaram a<br />

espalhar boatos <strong>de</strong> que o policial ferido teria se acovardado e<br />

fugido <strong>de</strong> medo. Estaria escondido em algum canto.<br />

Grupos <strong>de</strong> operações especiais começaram a fazer<br />

revistas e perguntas.<br />

Invadiram barracos, ruelas, interrogaram informantes e<br />

suspeitos.<br />

Sequestraram criminosos menores e usaram todo tipo <strong>de</strong><br />

tortura para arrancar informações que os pu<strong>de</strong>sse levar ao soldado<br />

<strong>de</strong>saparecido, mas nada foi encontrado.<br />

Então, após vários dias <strong>de</strong> busca sem resposta ou<br />

qualquer pista, <strong>de</strong>sistiram <strong>de</strong> procurar.<br />

O Soldado Hector <strong>de</strong>veria ter sido queimado e só<br />

restavam cinzas agora, se houvessem cinzas.<br />

Ana e a família já tinham perdido as esperanças e só<br />

restava conformar-se com a situação e tocar a vida.<br />

55


Duas Semanas se passaram e houve uma homenagem no<br />

quartel da polícia.<br />

Ana estava linda vestida <strong>de</strong> preto, mas chorava muito<br />

consolada pelos pais e pela ex futura sogra.<br />

Receberam a ban<strong>de</strong>ira da corporação e uma salva <strong>de</strong><br />

tiros.<br />

Agora era voltar para casa, para a vida.<br />

Apesar da distância, Ana mantinha um certo contato via<br />

e-mail e FACEBOOK com sua amiga <strong>de</strong> longa data, Marta que<br />

era casada com Roberto, um juiz <strong>de</strong> direito e fora morar em outra<br />

capital.<br />

As amigas conversavam nos fins <strong>de</strong> semana e recebiam<br />

notícias por parte dos familiares também.<br />

Ela e Tiago seriam padrinhos da filha do casal Taís, mas<br />

Roberto preferiu um irmão seu.<br />

Mesmo assim, Ana consi<strong>de</strong>rava a menina como afilhada<br />

e a tratava com todo o carinho.<br />

Apesar <strong>de</strong> sua tristeza, ficou sabendo do sumiço <strong>de</strong> Taís<br />

e logo procurou ligar para Marta, para as amigas dividirem um<br />

pouco a dor.<br />

Era muita coincidência, as amigas estarem passando por<br />

momentos tão difíceis ao mesmo tempo.<br />

Mas a amiga estava em uma cida<strong>de</strong> distante, longe da<br />

família e para ela seria mais difícil, caso algo mais sério<br />

acontecesse.<br />

E Ana estaria ali para ajudar também, no que fosse<br />

preciso.<br />

56


57


7. UMA ROSA COM AMOR<br />

No primeiro sábado pela manhã, a campainha tocou.<br />

Depois <strong>de</strong> alguma relutância, Ana aten<strong>de</strong>u ao chamado e<br />

encontrou uma rosa vermelha com um bilhete no alpendre.<br />

Seria estranho se não fosse uma coisa comum até ali.<br />

Como prova <strong>de</strong> seu amor, alguns meses antes, Hector<br />

comprou uma rosa <strong>de</strong> um florista na rua e a entregou a Ana.<br />

Fez uma jura <strong>de</strong> amor.<br />

Era uma sexta feira a noite e a partir dali, ele jurou que<br />

todo sábado pela manhã, ela encontraria uma rosa em sua porta.<br />

Os meses se passaram e a promessa se cumpria.<br />

Hector foi até a floricultura do bairro e encomendou as<br />

rosas, tratando com o proprietário, que a cada sábado<br />

religiosamente, entregaria as rosas.<br />

Já <strong>de</strong>ixou pago adiantado por seis meses.<br />

O problema é que agora ele tinha partido e o contrato<br />

permanecia.<br />

A cada sábado uma rosa mais linda que a outra.<br />

A cada sábado uma mensagem <strong>de</strong> amor e uma lembrança<br />

dolorosa.<br />

58


A cada sábado a ferida era reaberta e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> alguns<br />

fins <strong>de</strong> semana, Ana <strong>de</strong>cidiu procurar a floricultura e encerrar<br />

aquele contrato.<br />

Não po<strong>de</strong>ria continuar com aquilo.<br />

A dor era gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais.<br />

O dono da floricultura enten<strong>de</strong>u e fez menção <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>volver o dinheiro pago pelo restante das rosas.<br />

Ana disse que não precisava.<br />

Que <strong>de</strong>ixasse assim, e se o dono da floricultura quisesse,<br />

que oferecesse uma rosa gratuitamente a cada casal apaixonado<br />

que entrasse na sua loja.<br />

O florista enten<strong>de</strong>u e concordou com a proposta.<br />

A semana passou e o sábado chegou novamente.<br />

Quando Ana abriu a porta por volta das oito da manha, lá<br />

estava ela. Outra rosa vermelha, só que sem cartão.<br />

Apenas uma rosa.<br />

Ana ficou <strong>de</strong>sconcertada.<br />

Abaixou-se, pegou a flor com todo carinho e as lágrimas<br />

começaram a rolar por seu rosto.<br />

Com todo cuidado, levou a rosa até o nariz, sentiu seu<br />

perfume, apertou-a contra o peito com cuidado para não se<br />

machucar nos espinhos.<br />

Voltou a chorar copiosamente.<br />

A primeira coisa que fez naquela manhã, foi procurar a<br />

floricultura para reafirmar que as entregas <strong>de</strong>veriam terminar,<br />

como o combinado.<br />

O aten<strong>de</strong>nte não enten<strong>de</strong>u nada, pois não havia feito<br />

nenhuma entrega naquela manhã.<br />

Chamou o dono da floricultura, que confirmou a<br />

situação. Não fora dali que a flor saiu.<br />

Quem teria entregado a rosa?<br />

Ana começou uma verda<strong>de</strong>ira peregrinação pelas<br />

floriculturas locais e as mais distantes. E em todas elas, a resposta<br />

era a mesma. Não fora aquela floricultura que entregou a rosa.<br />

59


Seria alguma brinca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> mau gosto?<br />

Quem seria tão mal assim e po<strong>de</strong>ria brincar com o seu<br />

sentimento?<br />

A situação continuou e a cada sábado uma rosa mais<br />

linda que a da semana anterior, e a cada uma, mais sofrimento.<br />

Ana passou a não abrir mais a porta e pediu que sua mãe<br />

saísse primeiro e se encontrasse a rosa, a jogasse fora e nem<br />

falasse nada.<br />

Até que um dia, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> alguns meses, finalmente elas<br />

pararam <strong>de</strong> aparecer.<br />

60


61


2º ATO<br />

62


8. O SISTEMA<br />

63


9. HOJE<br />

Marta terminou seus exercícios na aca<strong>de</strong>mia. Pegou sua<br />

toalha, secou o corpo, tomou um gole <strong>de</strong> água em sua garrafinha e<br />

<strong>de</strong>spediu-se do professor <strong>de</strong> ginástica, bem como <strong>de</strong> suas colegas<br />

<strong>de</strong> aca<strong>de</strong>mia.<br />

Passou pelo vestiário, pegou a chave no bolso escondido<br />

do short, abriu o armário e pegou documentos, a carteirinha do<br />

clube e as chaves <strong>de</strong> casa.<br />

Passou pela recepção, <strong>de</strong>spediu-se da aten<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong>sceu<br />

as escadas que davam pra rua.<br />

Saiu pela calçada, <strong>de</strong>u uma boa olhada para o céu, que<br />

estava com um azul <strong>de</strong> briga<strong>de</strong>iro, sol brilhante e sem nuvens.<br />

Pensou consigo mesma: “hoje vai ser um dia quente”.<br />

Eram <strong>de</strong>z e meia da manha. Passaria em casa, tomaria<br />

uma ducha, comeria alguma coisa e buscaria Taís no colégio.<br />

Aproveitaria a tar<strong>de</strong> para passear no shopping e comprar<br />

um vestido novo para a filha, pois haveria um aniversário no fim<br />

<strong>de</strong> semana <strong>de</strong> uma coleguinha <strong>de</strong> Taís.<br />

Atravessou a rua, seguiu pela calçada, passou em frente a<br />

uma farmácia, pensou em comprar um remédio para dor muscular,<br />

mas concluiu que uma boa ducha resolveria.<br />

Dobrou a esquina e não prestou atenção no automóvel<br />

que quase a atropelou.<br />

Subiu rapidamente na calçada e pensou cosigo mesma,<br />

“como esta gente anda apressada hoje em dia”, esquecendo-se que<br />

quando está ao volante, ela também age assim.<br />

Chegou à portaria do prédio número 35, digitou a senha e<br />

entrou pelo portão.<br />

Havia um muro <strong>de</strong> vidro reforçado e uma cancela on<strong>de</strong><br />

ficava um segurança.<br />

Aquele prédio possuía boa segurança, pois ali moravam<br />

algumas autorida<strong>de</strong>s e alguns empresários também.<br />

64


Deu uma boa olhada no jardim à frente. Agora era<br />

obrigatório pelo plano diretor da cida<strong>de</strong>, que todos os<br />

condomínios tivessem uma área gramada ou ajardinada na frente,<br />

visando a infiltração da água das chuvas, evitando assim as<br />

gran<strong>de</strong>s enxurradas.<br />

Seu marido Roberto, Juiz <strong>de</strong> uma das Varas <strong>de</strong> Justiça<br />

locais e estava trabalhando naquela hora.<br />

Ele teria uma audiência naquela manhã, sobre qual<br />

assunto ela não sabia, pois Roberto não costumava tratar <strong>de</strong><br />

assuntos do trabalho em casa.<br />

Sempre dizia que a casa era local <strong>de</strong> repouso.<br />

Havia flores ao redor da passarela.<br />

Logo ela entrou pelo saguão do prédio.<br />

Cumprimentou o porteiro, apertou o botão do elevador e<br />

entrou apressada.<br />

Chegou ao décimo andar, saiu do elevador, caminhou<br />

pelo corredor atapetado e ia em direção ao seu apartamento,<br />

quando a porta do apartamento 19 abriu-se.<br />

Dela saiu o seu vizinho Tiago, um rapaz bem jovem que<br />

era casado com Letícia, ambos advogados e donos <strong>de</strong> um<br />

escritório no centro da cida<strong>de</strong>.<br />

O casal morava ali há alguns meses e já compartilhavam<br />

uma pequena amiza<strong>de</strong>. Inclusive, Letícia às vezes brincava com<br />

Taís no parquinho do condomínio. Dizia que também queria<br />

engravidar em breve e adorava crianças.<br />

Marta cumprimentou-o cordialmente e abriu a porta do<br />

apartamento 20.<br />

Era uma porta <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira nobre, bem rústica com<br />

almofadas entalhadas. Muito grossa e pesada, talvez a prova d<br />

balas.<br />

Abriu-a e entrou no apartamento amplo e confortável.<br />

Nem tirou a roupa e foi para o banheiro, tirando-a lá<br />

<strong>de</strong>ntro.<br />

65


Estava sozinha em casa, pois a faxineira só viria no outro<br />

dia.<br />

Ligou o chuveiro, pren<strong>de</strong>u o cabelo, acabando <strong>de</strong> tirar a<br />

roupa, entrou sob a água.<br />

Um banho relaxante <strong>de</strong>pois da malhação era a melhor<br />

coisa do mundo.<br />

Acabou o banho, enxugou-se e foi para o quarto enrolada<br />

na toalha.<br />

Abriu o guarda roupas, escolheu uma roupa leve para um<br />

dia <strong>de</strong> calor.<br />

Pegou um tênis leve e <strong>de</strong>ixou-o <strong>de</strong> lado, calçando uma<br />

sandália até que seu pé relaxasse.<br />

Foi até a gela<strong>de</strong>ira na cozinha, abriu a porta, pegou uma<br />

maça e começou a <strong>de</strong>vorá-la.<br />

Era uma cozinha planejada, bem montada, com seus<br />

paneleiros, bancadas, um fogão <strong>de</strong>stes <strong>de</strong> bancada e uma pia no<br />

centro.<br />

Toda branca, com alguns <strong>de</strong>talhes em amarelo e cinza,<br />

toda completa.<br />

Era uma parte bem aconchegante do apartamento.<br />

Acabou <strong>de</strong> comer a maçã, voltou ao quarto e calçou o<br />

tênis.<br />

Pegou a bolsa, verificou se as chaves estavam no interior,<br />

bem como a carteira, batom e os documentos do carro.<br />

Tudo certo, já estava na hora <strong>de</strong> buscar Taís.<br />

Confirmou as horas, verificou as luzes, saiu pela porta,<br />

confirmando se estava trancada.<br />

Entrou no elevador e <strong>de</strong>sceu para a garagem.<br />

Seu apartamento dava direito a três vagas.<br />

Tinha seu carro próprio, um carro era do marido e<br />

possuíam uma terceira vaga para o caso <strong>de</strong> algum parente os<br />

visitar.<br />

Entrou no seu automóvel, um Kia Soul prateado, ligou o<br />

som antes <strong>de</strong> ligar o carro.<br />

66


Apertou o dispositivo do portão automático, saiu para a<br />

rua e seguiu seu <strong>de</strong>stino.<br />

Eram onze horas e trinta minutos quando chegou ao<br />

colégio.<br />

Era um colégio particular bem caro, do tipo Jardim <strong>de</strong><br />

Infância, com professores <strong>de</strong> informática, inglês, balé e tudo o que<br />

uma criança precisa, ou não, para ter uma excelente formação.<br />

Estacionou o carro, <strong>de</strong>u uma olhada no retrovisor,<br />

verificou se não havia algum automóvel vindo ao sentido<br />

contrário, abriu a porta e saiu.<br />

Neste instante, Taís veio correndo, puxando a sua pasta<br />

com rodinhas.<br />

Deu um forte abraço, um beijinho na boca, pegou a<br />

mochila da filha, colocou-a no banco <strong>de</strong> trás e a filha na<br />

ca<strong>de</strong>irinha também no banco <strong>de</strong> trás.<br />

Entrou no carro, <strong>de</strong>u a partida e foi para o restaurante na<br />

esquina da Avenida Sete <strong>de</strong> Setembro com Rua Pasteur.<br />

O restaurante servia um Buffet por quilo. A comida era<br />

<strong>de</strong> excelente qualida<strong>de</strong> e tinha um espaço para crianças.<br />

O restaurante era <strong>de</strong> dois andares, uma casa estilo antigo,<br />

com pare<strong>de</strong>s nas cores bege, com tons alaranjados em contraste<br />

com o fundo. Janelas <strong>de</strong> vidro na parte <strong>de</strong> cima, on<strong>de</strong> havia um<br />

gran<strong>de</strong> salão.<br />

Na parte <strong>de</strong> baixo, portas gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong> metal brancas, on<strong>de</strong><br />

ficava o bar e a linha <strong>de</strong> servir com vários tipos <strong>de</strong> pratos.<br />

No fim do corredor ficavam as sobremesas.<br />

Do lado <strong>de</strong> fora, havia uma gran<strong>de</strong> araucária, árvore<br />

comum na região.<br />

Uma calçada branca ro<strong>de</strong>ava o ambiente.<br />

Possuía gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ferro baixas, que <strong>de</strong>ixavam ver no<br />

pátio interno, um brinquedo <strong>de</strong>sses <strong>de</strong> escorregar em plástico<br />

colorido que a criançada adora.<br />

Marta <strong>de</strong>ixou o carro no estacionamento na Rua Pasteur.<br />

67


Primeiro tentou <strong>de</strong>ixar o carro na Sete <strong>de</strong> Setembro, mas<br />

todas as vagas <strong>de</strong> “Cartão Estar” estavam ocupadas, então não<br />

teve jeito, dobrou o quarteirão, pegou a Avenida Silva Jardim,<br />

voltou novamente pela Sete <strong>de</strong> Setembro e entrou no primeiro<br />

estacionamento que encontrou.<br />

Tirou Taís da ca<strong>de</strong>irinha, <strong>de</strong>ixou a mochila da escola no<br />

carro, entregou as chaves ao manobrista, pegou o vale com o<br />

gerente do estacionamento.<br />

Saiu <strong>de</strong> mãos dadas com a filha, dobrou a esquina e<br />

entrou no restaurante. Naquele horário ele estava lotado.<br />

Havia no bairro, vários escritórios, aca<strong>de</strong>mias, clínicas,<br />

bem como um variado comércio.<br />

Escolheu uma mesa perto da janela, e notou que seus<br />

vizinhos Tiago e Letícia estavam ali almoçando também, só que já<br />

estavam terminando.<br />

Cumprimentou-os, pediu ao garçom uma ca<strong>de</strong>irinha alta<br />

<strong>de</strong>stas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira própria para crianças.<br />

Pediu dois sucos <strong>de</strong> laranja, colocou Taís na ca<strong>de</strong>irinha,<br />

certificou-se que ela estaria confortável e segura, <strong>de</strong>ixou a bolsa<br />

na ca<strong>de</strong>ira abaixo da mesa, pediu aos amigos que <strong>de</strong>ssem uma<br />

olhada em Taís e foi para a fila preparar sua refeição e a da filha,<br />

sempre <strong>de</strong> olho.<br />

Escolheu cuidadosamente alimentos leves e saborosos.<br />

Precisava cuidar da saú<strong>de</strong> própria e da filha.<br />

Acabou <strong>de</strong> arrumar os pratos, pesou-os e seguiu para a<br />

mesa.<br />

Taís, a esta altura, já sabia comer sozinha.<br />

Mãe e filha brincaram com a comida e alimentaram-se<br />

tranquilamente.<br />

A tar<strong>de</strong> seria quente e um passeio no shopping faria<br />

muito bem.<br />

À noite, po<strong>de</strong>ria jantar com o marido e tomar um vinho.<br />

Os jovens amigos na mesa ao lado, terminaram suas<br />

refeições, levantaram-se, passaram na mesa <strong>de</strong> Marta, brincaram<br />

68


com Taís, <strong>de</strong>ram ambos um beijo no rosto <strong>de</strong> Marta e <strong>de</strong>spediramse.<br />

Marta sorriu e seguiu-os com os olhos quando se<br />

dirigiram ao caixa, pagaram a conta e saíram pela porta <strong>de</strong> vidro.<br />

Marta e Taís acabaram suas refeições e tomaram o resto<br />

do suco.<br />

Marta <strong>de</strong>u uma olhada no celular para verificar se havia<br />

alguma mensagem e constou que havia uma <strong>de</strong> Roberto, avisando<br />

que iria ter uma audiência na parte da tar<strong>de</strong>. Não tinha horário<br />

para regressar ao lar naquele dia.<br />

Era um processo difícil.<br />

Marta pediu uma sobremesa que dividiu-a com a filha.<br />

Levantou-se, tirou a filha da ca<strong>de</strong>irinha pegou a bolsa e<br />

foi ao caixa pagar a conta, sempre <strong>de</strong> mãos dadas com Taís.<br />

Ao saírem, a menina viu o brinquedo na parte <strong>de</strong> fora e<br />

pediu pra brincar um pouco. Como havia tempo, marta não se<br />

importou e foi com a menina para o brinquedo.<br />

O sol estava forte e marta procurou os óculos escuros.<br />

Não estavam na blusa, revirou a bolsa e não os<br />

encontrou.<br />

Lembrou-se <strong>de</strong> que os havia <strong>de</strong>ixado junto da bolsa na<br />

ca<strong>de</strong>ira sob a mesa.<br />

Como havia outras pessoas no pátio e Taís estava no<br />

brinquedo, não haveria problemas <strong>de</strong>ixá-la por um pequeno<br />

instante.<br />

Beijou-a e pediu pra ficar sozinha só um pouquinho.<br />

Voltou ao restaurante, entrou pela porta, avisou à moça<br />

da recepção.<br />

A recepcionista disse que uma aten<strong>de</strong>nte quando foi<br />

limpar a mesa, encontrou os óculos e entregou-os ao gerente.<br />

Pediu que Marta esperasse um pouco e foi buscá-los.<br />

Marta pegou-os, agra<strong>de</strong>ceu à moça e saiu na porta, indo<br />

para a direita na direção do brinquedo.<br />

Haviam se passado apenas alguns minutos, cinco talvez.<br />

69


Chegou ao brinquedo e não viu Taís.<br />

Seu coração <strong>de</strong>u um salto, mas logo foi tranquilizada.<br />

Ouviu um chamado <strong>de</strong> “mamãe”, olhou <strong>de</strong> lado e<br />

encontrou-a Junto a Letícia.<br />

Letícia estava brincando com Taís e logo informou a<br />

marta que Tiago foi buscar um documento ali perto e ela ficou<br />

esperando na calçada, quando viu Taís brincando, então <strong>de</strong>cidiu<br />

brincar com ela.<br />

Pediu <strong>de</strong>sculpas a Marta, que enten<strong>de</strong>u e não se<br />

importou.<br />

Logo em seguida, Tiago veio do outro lado da rua com<br />

um envelope nas mãos.<br />

Letícia <strong>de</strong>spediu-se <strong>de</strong> marta e seguiu com o marido para<br />

pegarem o carro também em um estacionamento ali perto.<br />

Marta saiu <strong>de</strong> mãos dadas com Tais e foram ao<br />

estacionamento.<br />

Pegou o ticket na bolsa, pagou ao aten<strong>de</strong>nte do<br />

estacionamento, que pediu a um rapaz que buscasse o carro.<br />

O rapaz chegou, elas entraram no veículo e seguiram<br />

para o shopping.<br />

Passearam pelo shopping, entraram em várias lojas.<br />

Marta experimentou vários vestidos e sapatos e no fim<br />

acabou escolhendo um belo vestido rendado. Sapato combinando<br />

Pararam em um café, on<strong>de</strong> Marta pediu um cappuccino,<br />

uma massa folhada para si, um bolo e um suco para Taís.<br />

Comeram e após, Marta pediu a conta, pagou e foram<br />

embora.<br />

Marta pagou o estacionamento, dirigiu-se ao<br />

estacionamento, ligou o carro e saiu.<br />

Teve uma leve impressão que estaria sendo observada,<br />

mas nestes pátios <strong>de</strong> estacionamento, sempre há muitas pessoas,<br />

indo e vindo.<br />

Po<strong>de</strong>ria ser apenas uma impressão.<br />

Devia ser.<br />

70


Ao sair do shopping, reparou que a tar<strong>de</strong> já estava no<br />

fim.<br />

Nem percebeu o quanto <strong>de</strong>morou no shopping.<br />

Taís estava cansada e logo adormeceu na ca<strong>de</strong>irinha.<br />

Marta seguia para casa, parou em um sinal, <strong>de</strong>pois outro.<br />

Seguia tranquilamente, pensando em dar um banho em<br />

Taís, preparar um lanche caso ela quisesse, a colocar para dormir.<br />

Se ela quisesse brincar um pouco, iria aproveitar a<br />

situação.<br />

Nem reparou num veículo que a acompanhava <strong>de</strong> perto.<br />

Quando dobrou uma esquina entrando em uma rua mais<br />

isolada, já próximo <strong>de</strong> casa, foi abalroada por trás e fechada por<br />

outro veículo.<br />

Tomou um susto e logo saltaram do veículo dois homens<br />

encapuzados empunhando armas.<br />

Mandaram que ela abrisse o vidro saltasse para o banco<br />

do lado e um <strong>de</strong>les assumiu a direção do carro.<br />

O outro entrou no banco <strong>de</strong> trás e acordando Taís, logo a<br />

tirou da ca<strong>de</strong>irinha.<br />

O outro carro seguiu na frente e o homem seguiu-o até<br />

uma rua afastada.<br />

Neste local, ambos os carros pararam, o homem do<br />

banco <strong>de</strong> trás pegou Taís e o segundo homem mandou que Marta<br />

colocasse uma venda.<br />

Marta chorava e gritava e o homem disse que se ela<br />

continuasse a gritar, atiraria em Taís.<br />

O homem colocou um pano embebido com alguma<br />

substância que faria Marta <strong>de</strong>smaiar.<br />

Taís chorava e esperneava.<br />

Quando Marta acordou alguns minutos <strong>de</strong>pois, estava<br />

ro<strong>de</strong>ada <strong>de</strong> pessoas curiosas e já havia no local uma patrulha da<br />

polícia.<br />

Tentou ligar para o marido Roberto, que <strong>de</strong>morou a<br />

aten<strong>de</strong>r.<br />

71


Chegaram ao local, mais duas patrulhas que logo fizeram<br />

muitas perguntas sobre a situação, o horário, e a profissão <strong>de</strong><br />

Marta e o Marido.<br />

Foi feita uma ronda no quarteirão, as lojas e casas foram<br />

consultadas sobre alguma situação estranha e câmeras <strong>de</strong><br />

vigilância foram verificadas.<br />

Finalmente conseguiu falar com Roberto.<br />

Alguns minutos <strong>de</strong>pois, um carro oficial chegou até o<br />

local.<br />

Dele saltou um homem alto, <strong>de</strong> terno bem cortado,<br />

cabelo engomado.<br />

Marta saiu correndo e jogou-se nos braços do marido.<br />

O sargento comandante <strong>de</strong> uma das patrulhas apresentouse<br />

e disse que já havia registrado o Boletim <strong>de</strong> Ocorrência.<br />

Também contatou a Central e todas as viaturas nas<br />

redon<strong>de</strong>zas e pela cida<strong>de</strong>.<br />

Até aquele momento era o que se podia fazer.<br />

A dor e o <strong>de</strong>sespero tomaram conta do casal que tentava<br />

enten<strong>de</strong>r o ocorrido.<br />

Foram até a <strong>de</strong>legacia no carro do juiz.<br />

Roberto não ficou surpreso.<br />

Estava em um caso complicado e sabia que algo po<strong>de</strong>ria<br />

acontecer, mas porque não se precavera?<br />

Até ali, eram apenas suposições.<br />

Nenhum telefonema, nem uma mensagem, nada.<br />

Depois <strong>de</strong> muito choro e lamentações da parte <strong>de</strong> Marta,<br />

foram para casa.<br />

A polícia estava fazendo as buscas.<br />

Marta lembrou-se dos vizinhos no restaurante, talvez<br />

tivessem visto alguma coisa.<br />

Tocou a campainha e não foi atendida, eles ainda não<br />

haviam chegado.<br />

Por volta das 21 horas, o telefone <strong>de</strong> Roberto tocou.<br />

72


Uma voz metálica do outro lado <strong>de</strong>u boa noite e foi logo<br />

dizendo:<br />

- Estamos com sua filha. Ela está bem, por enquanto.<br />

- Não queremos dinheiro. Não se preocupe com isso.<br />

- Entraremos em contato pela manhã.<br />

- A menina chorou bastante, mas agora está dormindo.<br />

- O que vocês querem? Perguntou Roberto <strong>de</strong>sesperado.<br />

Marta correu, pegou o telefone nas mãos <strong>de</strong> Roberto e<br />

começou a falar com a pessoa do outro lado da ligação.<br />

A voz disse apenas que <strong>de</strong>sligaria e na manhã seguinte<br />

voltaria com novas informações.<br />

Só isso e <strong>de</strong>sligou o telefone.<br />

A campainha soou, Roberto foi aten<strong>de</strong>r, mas primeiro<br />

olhou pelo olho mágico. Viu que eram os vizinhos.<br />

Abriu a porta, cumprimentou-os e convidou-os a entrar.<br />

Eles disseram que ao chegar foram avisados pelo porteiro<br />

que houvera algo com Taís, então foram verificar, para saber se<br />

po<strong>de</strong>riam ajudar <strong>de</strong> alguma forma.<br />

Roberto e Marta conversaram com os dois, explicaram a<br />

situação e que só po<strong>de</strong>riam esperar, apesar do <strong>de</strong>sespero.<br />

Os amigos colocaram-se a disposição para ajudar em<br />

tudo o que precisasse e foram para seu apartamento.<br />

Marta estava arrasada e ficou chorando sentada no sofá.<br />

Roberto acompanhou-os até a porta, agra<strong>de</strong>ceu à<br />

preocupação e <strong>de</strong>spediu-se.<br />

Disse que qualquer coisa, ou necessida<strong>de</strong>, entraria em<br />

contato.<br />

Naquele momento, não havia muito que fazer, a não ser<br />

esperar e avisar aos parentes.<br />

73


74


10. UM ANO ANTES<br />

Roberto e Marta chegaram à cida<strong>de</strong>, vindos <strong>de</strong> São<br />

Paulo.<br />

Ele acabara <strong>de</strong> ser transferido para esta cida<strong>de</strong>, ocupando<br />

cargo na Vara <strong>de</strong> Justiça local.<br />

Hospedaram-se no Hotel Executive, bem no centro da<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

Um hotel <strong>de</strong> excelente qualida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> fácil localização.<br />

Vieram <strong>de</strong> avião e seu automóvel viria posteriormente<br />

pela transportadora.<br />

Fizeram a reserva e chegaram no fim <strong>de</strong> semana.<br />

Ao chegarem ao aeroporto, tomaram um táxi e dirigiramse<br />

ao hotel.<br />

Roberto ligou para seus pais <strong>de</strong>ixando-os tranquilizados.<br />

Tudo correra bem na viagem.<br />

Marta também ligou para seus pais.<br />

Roberto ligou também para um amigo avisando <strong>de</strong> sua<br />

chegada.<br />

Marcou <strong>de</strong> almoçarem no dia seguinte, que seria um<br />

domingo.<br />

Chegaram ao hotel e i<strong>de</strong>ntificaram-se.<br />

Um aten<strong>de</strong>nte pegou as suas malas e dirigiram-se ao<br />

elevador que os levaria à suíte reservada.<br />

Queriam apenas tomar um banho e <strong>de</strong>scansar.<br />

Era uma noite agradável <strong>de</strong> verão e o céu estava bem<br />

estrelado.<br />

No dia seguinte, acordaram cedo, fizeram sua higiene e<br />

<strong>de</strong>sceram ao restaurante para tomarem o café.<br />

Seu amigo iria chegar por volta das <strong>de</strong>z horas.<br />

Paulo Sérgio, seu amigo, chegou às <strong>de</strong>z horas em ponto.<br />

Ele também era Juiz <strong>de</strong> direito e iria apresentar a cida<strong>de</strong><br />

ao casal recém-chegado.<br />

Junto com ele estava Evelin, sua esposa.<br />

75


Decidiram que dariam uma volta em um parque da<br />

cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pois almoçariam.<br />

No outro dia começaria a busca por uma residência.<br />

Já tinham feito uma busca prévia em diversas<br />

imobiliárias pela internet e tinham já uma i<strong>de</strong>ia.<br />

Entraram no automóvel e seguiram para o parque.<br />

Deram uma boa volta, <strong>de</strong>pois passaram por alguns<br />

pontos da cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>cidiram ir a uma churrascaria.<br />

Escolheram a Canteiros Grill, ali perto mesmo.<br />

Conversaram animadamente sobre as possibilida<strong>de</strong>s e<br />

como era a nova cida<strong>de</strong>, uma cida<strong>de</strong> muito próspera.<br />

A tranquilida<strong>de</strong> e facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong>, bem<br />

diferente <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Ali era uma cida<strong>de</strong> muito promissora, com muitas<br />

ativida<strong>de</strong>s culturais e com um povo muito educado.<br />

Roberto e Marta ficaram muito otimistas com todas as<br />

informações.<br />

Já haviam reservado alguns imóveis para verificarem.<br />

No outro dia sairiam para escolherem qual a melhor<br />

opção.<br />

Paulo Sérgio ofereceu-se para guiá-los na cida<strong>de</strong> nestes<br />

dias.<br />

Estava <strong>de</strong> licença naquela semana e estaria a disposição.<br />

Almoçaram animadamente e os novos amigos brincaram<br />

com Taís, que agora estava com quatro anos.<br />

Não tinham filhos e estavam planejando o primeiro para<br />

daqui a um ano.<br />

Após o almoço, <strong>de</strong>ram mais uma volta pela cida<strong>de</strong> e<br />

<strong>de</strong>pois voltaram ao hotel, marcando o encontro para o outro dia às<br />

nove horas.<br />

Roberto e Marta estavam muito felizes com a escolha da<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

Agora era ligar novamente para os pais e irmãos que<br />

ficaram em São Paulo e contarem as novida<strong>de</strong>s.<br />

76


Naquele dia, esperaram Taís adormecer e felizes, foram<br />

tomar um banho juntos.<br />

Fizeram amor ali no chuveiro mesmo.<br />

Após, vieram para a cama.<br />

Marta ainda enxugava os cabelos.<br />

Verificaram que Taís estava dormindo, beijaram-se e<br />

<strong>de</strong>itaram na cama confortável.<br />

Ligaram a TV e assistiram a programação do final da<br />

tar<strong>de</strong>.<br />

Antes <strong>de</strong> dormirem, comeram uma fruta e conversaram<br />

um pouco sobre o dia seguinte.<br />

Marta acomodou-se nos braços <strong>de</strong> Roberto e<br />

adormeceram os dois.<br />

De manhã, os dois após fazerem sua higiene <strong>de</strong>sceram ao<br />

restaurante para tomarem café.<br />

Após sairiam para visitarem imóveis a alugar.<br />

O dia seria longo.<br />

Visitaram a primeira casa, mas era gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais.<br />

Um apartamento, <strong>de</strong>pois outro e no fim, ficaram <strong>de</strong> olhar<br />

o último que seria no outro dia, ma já tinham uma preferência.<br />

O dia passou muito rápido e lembraram-se que não<br />

tinham almoçado.<br />

Decidiram jantar então.<br />

Escolheram um restaurante <strong>de</strong> comida italiana.<br />

Pediram um bom vinho, trocaram algumas informações e<br />

pediram os pratos.<br />

Cada qual tinha uma escolha.<br />

Capeletti para um, ron<strong>de</strong>lli para outro e mais um cálice<br />

<strong>de</strong> vinho.<br />

Roberto gostava <strong>de</strong> vinho seco, já Marta, adorava vinho<br />

rosé.<br />

Por estes dias seriam tomadas as medidas administrativas<br />

para a instalação do casal na cida<strong>de</strong>.<br />

77


No outro dia, Roberto <strong>de</strong>veria ir ao banco, transferir a<br />

conta, ligar para a transportadora e combinar a entrega da<br />

mudança e dos automóveis, mas antes <strong>de</strong>veriam ver o último<br />

apartamento.<br />

Se não escolhessem nenhum daqueles, po<strong>de</strong>riam<br />

verificar outros, mas o tempo estava passando rápido e já tinham<br />

uma opinião mais ou menos formada.<br />

Paulo convidou o casal recém-chegado para jantarem em<br />

sua residência no dia seguinte.<br />

Depois os apresentaria a socieda<strong>de</strong> local.<br />

Também os apresentaria ao clube on<strong>de</strong> os magistrados<br />

eram sócios.<br />

Haveria um gran<strong>de</strong> jantar no fim <strong>de</strong> semana e seria uma<br />

honra contar com o novo casal <strong>de</strong> amigos.<br />

Na manha seguinte, seguiram a mesma rotina.<br />

Roberto tinha optado por alugar um carro e também um<br />

GPS, o que facilitou nos <strong>de</strong>slocamentos até os imóveis.<br />

Ligou para o corretor e marcou <strong>de</strong> encontrarem-se no<br />

local.<br />

Fizeram a visita, mas a escolha já estava feita por um<br />

apartamento no dia anterior.<br />

Roberto ligou para Paulo Sérgio confirmando a escolha.<br />

Aquele apartamento era o que melhor lhes servia.<br />

Era em um bairro classe média.<br />

Ali moravam outras autorida<strong>de</strong>s e alguns empresários.<br />

Era um bairro bem servido <strong>de</strong> bancos, lojas, padarias,<br />

farmácias, bons colégios e uma ótima re<strong>de</strong> <strong>de</strong> supermercados.<br />

Havia boas aca<strong>de</strong>mias também, boa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> transportes,<br />

boa localização e acima <strong>de</strong> tudo, boa vizinhança.<br />

A proximida<strong>de</strong> com o centro comercial, com alguns<br />

shoppings Center e nem tão longe assim do trabalho <strong>de</strong> Roberto<br />

também ajudava.<br />

Roberto ligou para a firma <strong>de</strong> mudança e passou o<br />

en<strong>de</strong>reço.<br />

78


Marcaram <strong>de</strong> entregar a mudança no sábado seguinte.<br />

Roberto procurou o síndico, pegou todas as informações<br />

a respeito <strong>de</strong> horários e combinou com o síndico que era um juiz<br />

aposentado, o horário da mudança.<br />

Conheceu as diversas instalações, piscina, aca<strong>de</strong>mia,<br />

lavan<strong>de</strong>ria e outras menos importantes.<br />

Também conheceu suas vagas na garagem e o parquinho<br />

do prédio.<br />

Agra<strong>de</strong>ceu ao síndico, <strong>de</strong>spediu-se e ligou para a<br />

imobiliária, marcando o horário para assinar o contrato, pegar<br />

todas as chaves e pagar alguma taxa prevista.<br />

A família aproveitou o horário, passaram em um<br />

restaurante ali no bairro mesmo e almoçaram.<br />

Às treze horas em ponto, estavam na imobiliária<br />

assinando o contrato e resolvendo todas as pendências.<br />

Neste primeiro ano na cida<strong>de</strong>, a opção era alugar um<br />

imóvel.<br />

Depois, quem sabe, caso gostassem da cida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>riam<br />

fazer planos <strong>de</strong> estabelecerem-se e comprar um bom imóvel, mas<br />

agora era hora <strong>de</strong> primeiro adaptarem-se.<br />

A tar<strong>de</strong> passou rápido e logo chegou a noite.<br />

Paulo Sérgio ligou, confirmando o horário do jantar, que<br />

ficou combinado para as vinte horas.<br />

Vinte minutos antes, a campainha tocou no apartamento<br />

<strong>de</strong> Paulo Sérgio.<br />

O porteiro anunciou os visitantes, que foram autorizados<br />

a subir.<br />

Deixaram o automóvel na rua em frente.<br />

A porta se abriu e Paulo Sérgio aten<strong>de</strong>u-os alegremente.<br />

Evelin também veio recepcionar os visitantes.<br />

Roberto entregou uma garrafa <strong>de</strong> vinho ao anfitrião que<br />

os convidou a entrarem em sua mo<strong>de</strong>sta morada.<br />

Um apartamento bem montado e confortável.<br />

Com mobília nova e muito bem escolhida.<br />

79


Marta elogiou Evelin pelo bom gosto na <strong>de</strong>coração,<br />

<strong>de</strong>ixando a anfitriã muito feliz.<br />

Quadros e tapetes muito lindos, e “caros”, como Marta<br />

teria notado.<br />

Paulo Sérgio ofereceu whisky ao novo amigo, que<br />

aceitou.<br />

Depois serviu a si e os dois blindaram a uma nova vida.<br />

Evelin anunciou que o jantar estava servido.<br />

Sentaram-se à mesa.<br />

Evelin arrumou uma ca<strong>de</strong>irinha para Taís e todos se<br />

acomodaram.<br />

Paulo Sérgio abriu a garrafa <strong>de</strong> vinho, sentiu o aroma,<br />

elogiou a escolha e serviu primeiro às visitas.<br />

O jantar transcorreu da melhor forma.<br />

Os dois casais conversaram alegremente.<br />

Roberto e marta falaram <strong>de</strong> suas escolhas, seus sonhos e<br />

perspectivas sobre o futuro.<br />

Os anfitriões elogiaram a cida<strong>de</strong>.<br />

Também não eram dali, tinham vindo <strong>de</strong> Porto Alegre e<br />

estavam já a três anos na cida<strong>de</strong>, perfeitamente adaptados.<br />

Tinham comprado o apartamento e iriam fixar-se.<br />

Marta notou que Evelin usava joias caras, “muito caras”,<br />

o que foi percebido pela anfitriã.<br />

Ela logo começou a elogiar o marido, que adorava dar<br />

joias para ela em todas as situações e datas especiais.<br />

Tinha uma coleção das joias mais caras, ouro, diamantes,<br />

esmeraldas e pérolas.<br />

Marta notou o brilho no olhar da nova amiga e como o<br />

semblante <strong>de</strong> Paulo Sérgio mudava quando falava das joias.<br />

Talvez ficasse constrangido em falar sobre estes assuntos<br />

com pessoas <strong>de</strong> fora.<br />

Mas mostrou levar tudo numa boa e achou normal,<br />

apenas algum rompante <strong>de</strong> extravagância <strong>de</strong> Evelin.<br />

Após o jantar, ainda conversaram por alguns instantes.<br />

80


Evelin ofereceu-se para apresentar Marta às senhoras da<br />

socieda<strong>de</strong>.<br />

Paulo Sérgio disse a Roberto que haveria um jantar no<br />

clube on<strong>de</strong> era sócio e o apresentaria aos sócios.<br />

Neste sábado haveria um gran<strong>de</strong> jantar <strong>de</strong> boas vindas e<br />

muitas autorida<strong>de</strong>s estariam lá, além <strong>de</strong> empresários locais.<br />

Boa parte da alta socieda<strong>de</strong> estaria presente e seria uma<br />

gran<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> para conhecer as pessoas.<br />

Roberto não gostava <strong>de</strong> nada disso.<br />

Era um homem simples, mas agora, <strong>de</strong>veria esforçar-se<br />

para fazer parte <strong>de</strong> outro grupo.<br />

Suas raízes simples <strong>de</strong>veriam dar lugar a outro modo <strong>de</strong><br />

portar-se? A dúvida aumentava e o sufocava.<br />

Marta também estava um pouco apavorada com a<br />

situação, mas tinha que enfrentar isso.<br />

No dia marcado, a mudança chegou.<br />

Na manhã <strong>de</strong> sábado, bem cedo, o casal estava no<br />

apartamento aguardando o caminhão que chegou cedo.<br />

A empresa contratada tinha toda uma estrutura <strong>de</strong><br />

transporte, então não precisariam botar as mãos em nada, apenas<br />

assistir.<br />

O telefone e a internet já estavam instalados também,<br />

assim como a eletricida<strong>de</strong> e o gás <strong>de</strong> cozinha.<br />

Agora era só esperar a montagem dos móveis e<br />

esvaziarem as malas.<br />

Arrumar as roupas a<strong>de</strong>quadamente ficaria para o outro<br />

dia.<br />

Saíram para almoçar e <strong>de</strong>ixaram os rapazes acabando <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scarregar e montar os móveis.<br />

Após o almoço, <strong>de</strong>ixaram Tais numa cama que já estava<br />

montada no quarto <strong>de</strong> visitas.<br />

Marta verificou se a janela estava bem trancada e se não<br />

oferecia perigo para Taís.<br />

81


Tudo bem, agora era aguardar o término da montagem<br />

dos móveis.<br />

Os carros também haviam chegado e Roberto po<strong>de</strong><br />

entregar o outro alugado.<br />

O sindico indicou uma moça conhecida que já prestava<br />

serviços <strong>de</strong> cuidadora no prédio.<br />

Marta ligou para a moça que se chamava Sílvia.<br />

Marcaram o horário e preço.<br />

Taís era bem tranquila e não iria estranhar a nova amiga.<br />

O horário foi chegando.<br />

O casal <strong>de</strong>spachou os rapazes da mudança.<br />

Roberto <strong>de</strong>u uma boa gorjeta aos mesmos e Marta entrou<br />

no banho.<br />

Depois, Roberto fez o mesmo.<br />

As roupas já estavam alinhadas.<br />

Tinham <strong>de</strong>ixado numa lavan<strong>de</strong>ria próxima, que as<br />

entregou no domicílio, bem limpas e passadas.<br />

Marta vestiu um vestido <strong>de</strong> tecido leve, até os tornozelos<br />

na cor bege ou salmão.<br />

Arrumou algumas joias e se pintou.<br />

O cabelo, não <strong>de</strong>u tempo <strong>de</strong> ir a um salão, mas estava<br />

bem cuidado.<br />

Uma sandália <strong>de</strong> salto bem alta. Estava linda.<br />

Roberto vestiu um terno bem cortado.<br />

Tudo certo. Despediram-se <strong>de</strong> Taís. Orientações a Sílvia<br />

e saíram.<br />

Entraram no elevador e beijaram-se.<br />

Logo estavam na garagem e entraram no carro.<br />

Roberto verificou o GPS, colocou o en<strong>de</strong>reço e saíram.<br />

Deveriam levar uns <strong>de</strong>z minutos para chegarem ao clube.<br />

Seria uma noite longa, regada a champanhe e muita, mas<br />

muita <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> status.<br />

Os dois iam no carro divagando sobre o que<br />

encontrariam, um monte <strong>de</strong> gente esnobe, com o nariz em pé, e<br />

82


assuntos sem sentido, apenas querendo cada um mostrar-se mais<br />

que o outro.<br />

É assim que funciona na alta socieda<strong>de</strong>.<br />

A cada comentário sobre o que encontrariam, davam<br />

risadas, pensando na situação.<br />

A recepção foi ótima pelo lado social, mas foi a pior<br />

possível pelo lado moral.<br />

Muito glamour, muita ostentação, muita seda, muito<br />

esnobismo e todo tipo <strong>de</strong> situações que <strong>de</strong>ixavam Marta enjoada.<br />

Paulo Sérgio e Evelin foram os mais cordiais e<br />

simpáticos possíveis.<br />

Apresentaram os novos amigos a todos os anfitriões.<br />

Juízes, empresários, médicos, políticos <strong>de</strong> todos os<br />

naipes e suas esposas.<br />

Também estavam presentes, os comandantes <strong>de</strong> forças<br />

policiais e <strong>de</strong>mais autorida<strong>de</strong>s.<br />

Vários membros da alta roda estavam ali, pelo menos as<br />

autorida<strong>de</strong>s.<br />

Roberto se perguntava on<strong>de</strong> é que estava se metendo.<br />

Não prestou um concurso para isso.<br />

Não era o seu objetivo misturar-se com toda aquela<br />

gente.<br />

Sabia que ali estava o que <strong>de</strong> pior podia existir na<br />

socieda<strong>de</strong>.<br />

Todo tipo <strong>de</strong> ratos e salafrários que se po<strong>de</strong> confinar no<br />

mesmo ambiente.<br />

Ali as coisas eram movidas a conchavos e acordos<br />

benéficos aos dois lados.<br />

Como sair daquilo elegantemente?<br />

Teria que fazer o jogo?<br />

Conseguiria conviver com aquela socieda<strong>de</strong> que<br />

<strong>de</strong>sprezava?<br />

Teria que esperar e ver até on<strong>de</strong> aquilo iria, mas como<br />

estava se sentindo mal.<br />

83


Uma taça <strong>de</strong> champanhe aqui, outra taça ali, um canapé,<br />

mais um.<br />

Marta já não aguentava mais tanta melação.<br />

Estava cansada <strong>de</strong> tanta falsida<strong>de</strong>.<br />

Beijinhos e mais beijinhos.<br />

Cada senhora tentava ostentar mais que a outra.<br />

Um único anel ali, talvez <strong>de</strong>sse para pagar o salário <strong>de</strong><br />

alguns funcionários no mês.<br />

Cada relógio valia mais que o investimento em uma<br />

creche.<br />

Cada carro seria uma condição melhor para os<br />

funcionários ou mesmo uma escola nova no bairro, ou um posto<br />

médico na periferia.<br />

Mas quem se importa?<br />

Isso é problema dos outros.<br />

Ali, a ganância era sentida no ar.<br />

Impregnava as narinas e o ambiente era sufocante.<br />

Finalmente, chegara a hora <strong>de</strong> ir embora.<br />

A <strong>de</strong>sculpa <strong>de</strong> que tinham uma filha <strong>de</strong> 4 anos que os<br />

aguardava e precisavam acabar os ajustes da mudança.<br />

Uma boa <strong>de</strong>sculpa para fugirem do local.<br />

Despedidas, uma promessa <strong>de</strong> novos jantares, trocas <strong>de</strong><br />

bajulações e os dois conseguiram escapar.<br />

Marta estava até borrada <strong>de</strong> tanto abraço e beijo.<br />

Roberto fedia a charutos caros e whisky escocês.<br />

Só queriam chegar em casa, já passava das vinte e três<br />

horas.<br />

Seu refúgio, porto seguro.<br />

Chegaram finalmente. Roberto abriu o portão com o<br />

controle remoto, i<strong>de</strong>ntificou-se ao porteiro, <strong>de</strong>sceram do carro.<br />

Roberto ligou o alarme e os dois dirigiram-se ao<br />

elevador.<br />

Ao entrar, conversavam sobre as novas experiências.<br />

Chegaram ao seu andar e entraram no apartamento.<br />

84


Sílvia estava no quarto com Taís.<br />

Cumprimentaram-na, verificaram que a filha estava<br />

dormindo.<br />

Perguntaram se a moça alimentou-se, se queria alguma<br />

coisa e ofereceram a ela que dormisse ali e fosse embora somente<br />

no dia seguinte. Já era tar<strong>de</strong> e ela teria que sair na noite.<br />

Sílvia agra<strong>de</strong>ceu e disse que aceitaria, mas teria que ligar<br />

para sua casa antes e avisar sua mãe que passaria a noite ali.<br />

Pegou o telefone e a mãe <strong>de</strong>sconfiou, até que Marta<br />

pediu para falar com ela e a tranquilizou.<br />

A filha estava numa casa <strong>de</strong> família e estaria bem ali.<br />

A mãe ficou confortada, tranquila e <strong>de</strong>u boa noite a<br />

Marta.<br />

Voltou a falar com a filha, <strong>de</strong>u boa noite e disse que a<br />

aguardaria no dia seguinte.<br />

Todos se <strong>de</strong>spediram e foram dormir.<br />

No outro dia seria domingo e não precisariam acordar<br />

cedo.<br />

85


86


11. AGORA<br />

A noite foi longa. Ninguém conseguiu pregar os olhos.<br />

Marta não tinha mais lágrimas para chorar e estava<br />

pálida.<br />

Naquele momento, o telefone tocava sem parar.<br />

Os parentes querendo saber <strong>de</strong> alguma informação.<br />

Cada vez que o telefone tocava, era um novo sofrimento.<br />

Finalmente, a voz metálica falou do outro lado da linha<br />

i<strong>de</strong>ntificando-se apenas como uma pessoa <strong>de</strong> boa índole que não<br />

faria mal a Taís.<br />

Mas exigiria algumas condições.<br />

A polícia tentava rastrear as ligações, mas a cada vez elas<br />

vinham <strong>de</strong> locais diferentes e <strong>de</strong> telefones diferentes.<br />

Algumas vezes elas vinham <strong>de</strong> telefones públicos que<br />

eram logo checados, mas geralmente eram em pontos sem<br />

câmeras por perto e a pessoa tomava todos os cuidados para não<br />

<strong>de</strong>ixar impressões digitais.<br />

Uma das condições exigidas era <strong>de</strong> que o Juiz se<br />

afastasse <strong>de</strong> um caso em particular.<br />

Este era exatamente um processo que estava sob a<br />

jurisdição do Juiz Roberto.<br />

Envolvia muita gente graúda na cida<strong>de</strong>.<br />

Desvios <strong>de</strong> verbas <strong>de</strong> toda forma, pagamentos <strong>de</strong> propina<br />

por empresas e lavagem <strong>de</strong> dinheiro por escritórios <strong>de</strong> toda forma.<br />

Muitos dos investigados eram personalida<strong>de</strong>s que se<br />

encontravam no jantar <strong>de</strong> recepção ao juiz, um ano antes.<br />

Sem falar nas obras <strong>de</strong> infraestrutura planejadas para a<br />

Copa do mundo que seria realizada no País.<br />

Muitas in<strong>de</strong>nizações suspeitas por <strong>de</strong>sapropriações que<br />

nunca aconteceram.<br />

Avenidas, <strong>de</strong>svios e pontes que nunca terminavam.<br />

Obras inúteis, projetos que nunca saíram do papel.<br />

87


Sem falar em <strong>de</strong>svios da saú<strong>de</strong>, das escolas <strong>de</strong> tudo que<br />

fosse possível.<br />

Roberto sabia que muitos daqueles carrões, vestidos e<br />

joias que estavam naquela maldita festa, vieram <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>svios.<br />

Muita gente po<strong>de</strong>rosa envolvida.<br />

E ele era a pedra no sapato <strong>de</strong>ssa gente agora.<br />

Havia a polícia tentando fazer seu trabalho, mas também<br />

havia algumas autorida<strong>de</strong>s bem influentes no meio da coisa.<br />

Não dava para saber quem era amigo e quem era o<br />

inimigo.<br />

A coisa estava tomando um rumo inesperado e até gente<br />

próxima estaria envolvida.<br />

88


89


12. UMA SEITA SATÂNICA<br />

Uma lembrança que fez Roberto enrijecer os cabelos da<br />

nuca e ficar mais <strong>de</strong>sesperado foi a respeito <strong>de</strong> uma investigação<br />

policial que levou a um assassino local.<br />

Um rapaz que fora preso em fragrante relatou o que era<br />

uma série <strong>de</strong> assassinatos direcionados a um <strong>de</strong>terminado grupo.<br />

Ao todo, este assassino já tinha matado oito pessoas, e<br />

foi preso quando tinha acabado <strong>de</strong> matar um sitiante local.<br />

O relato <strong>de</strong>ste assassino é o que chocou as autorida<strong>de</strong>s.<br />

Este rapaz não matava pessoas inocentes e seria morto<br />

por isso.<br />

Ele sabia que ou seria morto na <strong>de</strong>legacia, a qualquer<br />

momento, ou assim que entrasse num presídio qualquer. Já estava<br />

encomendado.<br />

Seus crimes começaram quando um sobrinho seu sumiu<br />

e só foram encontradas algumas partes queimadas.<br />

No início foi constatado que o menino seria vítima <strong>de</strong> um<br />

maníaco estuprador, mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> buscas particulares, sem a<br />

polícia envolvida, ele chegou aos verda<strong>de</strong>iros responsáveis.<br />

As suas buscas apuraram que havia ali na cida<strong>de</strong>, assim<br />

como em outras localida<strong>de</strong>s, um culto macabro que sacrificava<br />

crianças ao <strong>de</strong>mônio em troca <strong>de</strong> favores e po<strong>de</strong>r.<br />

Muita gente graúda envolvida, inclusive autorida<strong>de</strong>s da<br />

justiça.<br />

As crianças que muitos pais procuram, são tidas como<br />

<strong>de</strong>saparecidas e seus rostos estampam cartazes, outdoors e murais<br />

pelo País afora, ou vão parar nas mãos <strong>de</strong>stes cultos, ou nas mãos<br />

<strong>de</strong> traficantes <strong>de</strong> órgãos.<br />

Neste caso em particular, haviam os dois grupos<br />

envolvidos.<br />

Algumas crianças eram e são sacrificadas conforme a<br />

ocasião e outras são <strong>de</strong>smembradas e seus órgãos mandados para<br />

diversas partes, <strong>de</strong> acordo com a necessida<strong>de</strong> dos clientes.<br />

90


Nesta seita, existia inclusive a esposa <strong>de</strong> um exgovernador<br />

do estado.<br />

Juízes, <strong>de</strong>sembargadores, <strong>de</strong>legados, empresários,<br />

industriais, médicos, muita gente envolvida, e advogados, muitos<br />

advogados. É impressionante como eles estão sempre no meio <strong>de</strong><br />

alguma coisa suja, seja <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo bandidos ou po<strong>de</strong>rosos<br />

corruptos, então fica muito difícil <strong>de</strong>stes integrantes dos grupos<br />

serem apanhados, sejam eles <strong>de</strong> que grupo sejam.<br />

Neste caso dos <strong>de</strong>saparecimentos <strong>de</strong> crianças, isso<br />

acontece mais do que os incrédulos po<strong>de</strong>m acreditar.<br />

O pior, é que quando vaza uma informação assim,<br />

sempre tem aqueles que não acreditam e tentam <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhar da<br />

informação, alegando que o povo tem a mente muito fértil, mas a<br />

coisa está acontecendo a todo o momento, e em todas as partes do<br />

mundo, inclusive aqui no Brasil.<br />

Profissionais pegam as crianças em qualquer lugar, seja<br />

na saída do colégio, nas praças, nas ruas ou em qualquer lugar e as<br />

entregam a algum membro do grupo em <strong>de</strong>terminados lugares.<br />

As crianças são levadas aos abatedouros e lá, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

marcada a reunião e a chegada dos integrantes, a cerimônia é<br />

iniciada, sendo as crianças mortas e suas partes, principalmente o<br />

coração oferecido ao <strong>de</strong>mônio tutor do grupo.<br />

As famílias continuam procurando e com esperanças <strong>de</strong><br />

encontrar uma criança que não existe mais.<br />

Então, este matador <strong>de</strong>cidiu fazer a justiça com as<br />

próprias mãos e estava fazendo o serviço até ser capturado pela<br />

polícia.<br />

Agora seu <strong>de</strong>stino já estava traçado e a matança iria<br />

continuar.<br />

Roberto ficou mais angustiado ainda, com o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong><br />

Taís.<br />

Roberto não comentaria este fato com Marta, pois isso só<br />

faria aumentar o <strong>de</strong>sespero da esposa.<br />

91


O melhor a fazer naquele momento, era continuar<br />

esperando e rezando para que Taís fosse libertada.<br />

Mas a manhã chegou e Roberto não teve escolha.<br />

Dirigiu-se ao seu superior, o <strong>de</strong>sembargador local e<br />

pediu o afastamento da causa.<br />

Pediu uma licença, pois naquele momento não tinha<br />

condições psicológicas <strong>de</strong> continuar julgando o caso.<br />

Era a condição que o sequestrador exigia.<br />

Foi afastado e pediu a licença médica.<br />

Passou-se mais um dia e nada <strong>de</strong> Taís ser entregue, o que<br />

aumentava a angústia <strong>de</strong> Roberto.<br />

Uma semana já tinha se passado.<br />

Havia a promessa <strong>de</strong> que Taís fosse entregue, mas<br />

somente <strong>de</strong>pois que o processo tomasse o caminho que o grupo<br />

<strong>de</strong>sejava.<br />

Marta já estava sob acompanhamento médico e a base <strong>de</strong><br />

tranquilizantes.<br />

Não se alimentava já ha alguns dias.<br />

Entrou em estado <strong>de</strong> choque e precisou ser hospitalizada.<br />

Tiago e Letícia estavam juntos e sempre prontos pra<br />

ajudar.<br />

Letícia ofereceu-se para ficar no hospital junto a Marta e<br />

Tiago ficou junto a Roberto acompanhando inclusive nas buscas.<br />

Mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> alguns dias, eles avisaram que precisariam<br />

viajar a serviço, infelizmente numa hora daquelas.<br />

Tentaram mudar o compromisso, mas sem sucesso.<br />

Teriam que ausentar-se por alguns dias.<br />

Como nada mais havia a fazer, Roberto só po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejar<br />

aos amigos que tudo <strong>de</strong>sse certo.<br />

Paulo Sérgio e Evelin também estavam juntos nestas<br />

horas difíceis.<br />

Depois <strong>de</strong> mais uma noite no hospital acompanhando a<br />

esposa, Roberto veio até o apartamento pegar roupas limpas e um<br />

milagre aconteceu.<br />

92


Taís estava na entrada do apartamento sentada sobre o<br />

tapete.<br />

Estava meio que dormindo.<br />

Roberto <strong>de</strong>u um grito, saltou e agarrou a filha chorando.<br />

Abriu a porta do apartamento com a filha no colo.<br />

Não entendia nada.<br />

Chorava e sorria ao mesmo tempo.<br />

Abraçava e beijava a filha.<br />

Deu uma bela verificada se não havia marcas e<br />

perguntou se ele estava com fome.<br />

Taís disse: - Um anjo me trouxe aqui.<br />

Roberto imaginou que fosse alguma alma bondosa, mas<br />

quem?<br />

Taís repetiu: - Um anjo com asas brancas e brilhantes me<br />

trouxe até aqui.<br />

Roberto nem queria saber.<br />

Pegou o telefone e ligou para o hospital.<br />

A enfermeira aten<strong>de</strong>u e ele pediu para falar com a<br />

esposa.<br />

- Você não vai acreditar, mas Taís está aqui, agora,<br />

comigo.<br />

- Como?<br />

- Você está brincando?<br />

- Não, Meu Amor.<br />

- Taís está aqui agora.<br />

- Vou aí te buscar e a levarei comigo.<br />

Passou pela portaria antes <strong>de</strong> ir à garagem e perguntou ao<br />

porteiro quem havia entrado no prédio?<br />

O Porteiro disse que ninguém entrou.<br />

Roberto perguntou quem havia trazido Taís?<br />

A resposta foi a mesma.<br />

Roberto pediu para ver a gravação no circuito interno <strong>de</strong><br />

TV.<br />

Não havia nada concreto.<br />

93


Na gravação em tela, <strong>de</strong>u pra ver uma luz muito forte<br />

com Taís.<br />

Este ser <strong>de</strong> luz <strong>de</strong>ixou Taís por uma fração <strong>de</strong> segundo<br />

antes <strong>de</strong> Roberto chegar e logo se dissipou, como se tivesse<br />

atravessado a pare<strong>de</strong>.<br />

Naquele momento não era hora para conjecturas.<br />

Roberto voltou à garagem, pegou o seu veículo, colocou<br />

Taís na ca<strong>de</strong>irinha atrás e foi á clínica buscar Marta.<br />

Entrou na portaria com Taís no colo e após a<br />

i<strong>de</strong>ntificação, foi ao quarto pegar Marta.<br />

Quando a porta se abriu, Marta já estava pronta.<br />

De um salto, agarrou Taís nos braços e apertou a filha<br />

beijando-a e chorando muito.<br />

Meu Amor, meu amor.<br />

Ainda bem que você está aqui.<br />

O casou abraçou-se e ficou ali por alguns instantes.<br />

Logo, após a burocracia normal, foram para casa.<br />

Taís estava cansada.<br />

Marta faminta, pois não conseguia comer nada até ali.<br />

Roberto foi até a cozinha, pegou algumas frutas, leite e<br />

trouxe para Marta e Taís.<br />

Eles comeram e <strong>de</strong>itaram-se ali na sala mesmo.<br />

A noite foi mais tranquila.<br />

Antes, porem, ligaram para a família e amigos, dando a<br />

informação.<br />

Roberto ligou também para a polícia e informou aos<br />

<strong>de</strong>tetives do caso sobre o aparecimento <strong>de</strong> Taís.<br />

Marcaram <strong>de</strong> ir à residência no outro dia cedo.<br />

Logo adormeceram...<br />

Ao amanhecer, logo às <strong>de</strong>z horas, dois <strong>de</strong>tetives vieram<br />

até a residência.<br />

94


O porteiro avisou pelo interfone a chegada dos mesmos,<br />

que foram autorizados a subir ao apartamento.<br />

Eles precisavam fazer um registro do aparecimento.<br />

Taís teria que ser examinada também por um médico<br />

perito, a respeito <strong>de</strong> danos físicos por ventura sofridos.<br />

Teria que ser colhido também seu <strong>de</strong>poimento, mas<br />

como uma menininha iria <strong>de</strong>por.<br />

Teria que ser algo bem sutil e neste ponto, Marta foi<br />

incumbida <strong>de</strong> fazer as perguntas para a filha.<br />

- Minha querida, o que aconteceu?<br />

A resposta recebida chocou a todos.<br />

- Eu estava com titia Letícia num lugar bonito.<br />

- Ela disse que mamãe estava doente e pediu pra ela<br />

cuidar <strong>de</strong> mim.<br />

- Titio Tiago também estava lá.<br />

Tinham outros homens também, mas eu estava com a<br />

titia.<br />

- Ela cuidou bem <strong>de</strong> mim, até que ontem, ela saiu, eu<br />

fiquei dormindo.<br />

Acor<strong>de</strong>i no colo do anjo que me trouxe aqui.<br />

- On<strong>de</strong> está titia e titio?<br />

Roberto olhou para os <strong>de</strong>tetives que nem piscaram.<br />

Saíram apressadamente e enquanto um ficava na porta do<br />

apartamento dos vizinhos, o outro solicitava uma or<strong>de</strong>m judicial<br />

ao juiz local.<br />

Logo já <strong>de</strong> posse do mandato, e com escolta <strong>de</strong> outros<br />

policiais, um chaveiro foi chamado e conseguiram entrar no<br />

apartamento.<br />

Estava vazio.<br />

Apenas no local a mobília que já existia, e fazia parte dos<br />

utensílios para locação.<br />

Nenhum sinal.<br />

Não havia dúvidas, os vizinhos estavam envolvidos.<br />

E mais quem estaria?<br />

95


O certo é que alguma coisa <strong>de</strong>ra errado e eles foram<br />

embora, fugiram. Mas pra on<strong>de</strong>?<br />

E qual seriam os planos <strong>de</strong>les.<br />

Mas seguindo as conclusões, não era a intenção entregar<br />

Taís, pois se fosse Letícia não se <strong>de</strong>ixaria reconhecer, nem Tiago.<br />

Como seria a volta <strong>de</strong> Taís se ela conhecia os<br />

sequestradores.<br />

A história não fechava, mas alguma coisa não saiu<br />

conforme o planejado.<br />

Roberto ainda teve lembranças <strong>de</strong> Letícia, que por<br />

algumas vezes tentou seduzi-lo <strong>de</strong> alguma forma, sendo solícita<br />

<strong>de</strong>mais, cortês e amável <strong>de</strong>mais.<br />

Tiago também sempre era cordial e amigo, mas um<br />

pouco mais reservado.<br />

Já Letícia por duas vezes foi bem convincente, inclusive<br />

em uma das vezes em que Marta não estava, tinha ido para São<br />

Paulo e Letícia apareceu na porta com <strong>de</strong>sculpas <strong>de</strong> que precisava<br />

<strong>de</strong> uma ajuda no apartamento, para arrumar uma torneira do<br />

chuveiro.<br />

Estava somente enrolada em uma toalha, que sem<br />

pestanejar, <strong>de</strong>ixou cair no chão do apartamento.<br />

Disse-lhe que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o conheceu, tinha uma queda<br />

por ele.<br />

Tiago estava viajando também e só voltaria no fim <strong>de</strong><br />

semana.<br />

Roberto lembra e se arrepen<strong>de</strong> <strong>de</strong> tê-la beijado<br />

ardorosamente e ter se <strong>de</strong>ixado enlaçar naquela trama.<br />

Desejou-a e fez amor com aquela linda mulher ali<br />

mesmo.<br />

Dormiu com Letícia mais uma noite e manteve este<br />

segredo para si.<br />

Ainda <strong>de</strong>u mais uma escapada aqui e ali, mas mal ele<br />

sabia que tudo já fazia parte <strong>de</strong> um enredo para dominá-lo.<br />

E ele caiu como um patinho.<br />

96


Deixou-se levar pela luxuria e pela volúpia.<br />

Agora não podia sequer falar a respeito com a esposa e<br />

teria que guardar consigo o segredo.<br />

O pior é que pensava e <strong>de</strong>sejava Letícia.<br />

On<strong>de</strong> ela estaria agora?<br />

E por que fez aquilo?<br />

Será que se arrepen<strong>de</strong>u <strong>de</strong> ter sequestrado Taís que já se<br />

sentia como se fosse uma segunda mãe para ela?<br />

Ou será que não, que Letícia seria tão fria a ponto <strong>de</strong> se<br />

enveredar nesta aventura, infiltrar-se na família, ganhar sua<br />

confiança, somente para por em prática o seu plano, ou da<br />

quadrilha?<br />

Seriam perguntas sem respostas.<br />

Pelo menos naquele momento.<br />

As investigações continuariam.<br />

E o anjo?<br />

O que seria, ou quem seria?<br />

Seriam alucinações da mente <strong>de</strong> uma criança, ou seria<br />

real?<br />

Mais perguntas sem respostas.<br />

97


98


13. A PROFISSIONAL<br />

Quando Letícia acordou naquela sala, <strong>de</strong>morou a se dar<br />

conta <strong>de</strong> on<strong>de</strong> estaria.<br />

Notou o que seria uma mesa <strong>de</strong> cirurgia, com suas<br />

lâmpadas e aparatos.<br />

Pare<strong>de</strong>s brancas, limpas. Era realmente um centro<br />

cirúrgico, mas on<strong>de</strong>.<br />

A visão começou a clarear e notou que Tiago estava<br />

amarado no outro canto da sala, <strong>de</strong>pendurado pelos braços e<br />

amordaçado.<br />

Também estava <strong>de</strong>sacordado.<br />

Na sua frente, havia uma ban<strong>de</strong>ja com vários<br />

instrumentos cirúrgicos, como bisturis, serras brocas e vários<br />

frascos <strong>de</strong> drogas ou medicamentos.<br />

Alguém abriu a porta. Deu bom dia e i<strong>de</strong>ntificou-se<br />

como a “Coletora”.<br />

Um dia antes, o telefone tocou em um luxuoso edifício<br />

<strong>de</strong> clínicas e consultórios no centro da cida<strong>de</strong>.<br />

- Temos um serviço para você, dizia a voz do outro lado.<br />

- Preciso que você viaje agora e nos encontre na clínica.<br />

- OK. Estou indo.<br />

- Desmarcarei todos os compromissos entre hoje e<br />

amanhã.<br />

- Estou saindo agora e chego após o meio dia.<br />

- Estamos combinados então.<br />

- Os “hospe<strong>de</strong>s” não po<strong>de</strong>m esperar...<br />

Andreia Alves, uma linda jovem na casa dos vinte e seis<br />

anos a vinte e sete anos.<br />

Cirurgia formada na melhor universida<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong>.<br />

Pai empresário do ramo dos medicamentos e mãe<br />

farmacêutica.<br />

99


Formou-se com louvor e conseguiu fazer residência no<br />

hospital das clínicas.<br />

Moça fina, educada, loira, cabelos bem tratados.<br />

Corpo malhado em aca<strong>de</strong>mia. Circulava pela cida<strong>de</strong><br />

cheia <strong>de</strong> joias caríssimas em sua BMW.<br />

Adorava o que fazia e era comum ser encontrada nas<br />

baladas da cida<strong>de</strong>.<br />

Não consumia álcool e jurava que estava livre <strong>de</strong> drogas<br />

ou qualquer coisa do tipo.<br />

Gostava do que fazia.<br />

Era cobiçada por vários homens, mas apesar <strong>de</strong> sair com<br />

um ou outro, nunca se permitiu ter um relacionamento sério com<br />

algum sortudo.<br />

Preferia as aventuras, apesar dos conselhos <strong>de</strong> sua mãe.<br />

Suas consultas e cirurgias eram caríssimas e tinha uma<br />

clientela seleta.<br />

Especializou-se em cirurgia plástica.<br />

Era também muito doce e educada com seus clientes<br />

particulares, o que não se podia dizer o mesmo do tratamento na<br />

re<strong>de</strong> pública ou com pessoas mais simples.<br />

Andreia após a i<strong>de</strong>ntificação, tratou logo <strong>de</strong> explicar o<br />

que aconteceria aos dois <strong>de</strong>safortunados.<br />

- Meus queridos, vocês querem saber o porquê do nome<br />

“Coletora”? E porque estão aqui?<br />

- Bom, eu tenho a missão <strong>de</strong> colher informações para os<br />

meus empregadores.<br />

- Eu emprego os meios necessários para que os meus<br />

clientes recebam as informações que eles precisam.<br />

- É claro que isso causa problemas que logo são<br />

resolvidos.<br />

- Não se preocupem com a dor, pois no meu ramo, isso<br />

não é necessário.<br />

- Existem drogas que são ótimas, mas quanto ao sangue,<br />

isso não tem como impedir que jorre, mas é claro que em minhas<br />

100


cirurgias, eu evito o contato com vasos capilares que causam<br />

gran<strong>de</strong>s hemorragias e morte antes <strong>de</strong> que eu colha as informações<br />

que preciso.<br />

- Eu procuro manter os meus “pacientes” <strong>de</strong>spertos o<br />

maior tempo possível.<br />

- E é claro, eu sempre consigo as informações, nem<br />

sempre, mas isso também não é importante.<br />

A Coletora virou-se para Tiago que estava <strong>de</strong>sperto e<br />

tentando dizer algo.<br />

Estavam os dois amarrados e amordaçados. A única<br />

coisa que conseguiam era emitir sons.<br />

Chamando-o <strong>de</strong> querido, completou:<br />

- Calma, eu tenho tempo pra você também. Não precisa<br />

ficar com ciúmes.<br />

Foi ao armário <strong>de</strong> vidro on<strong>de</strong> haviam algumas peças, que<br />

pareciam souvenires.<br />

Mostrou uma peça envernizada que parecia <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira<br />

aos dois e disse sorrindo:<br />

- Sempre procuro escolher uma peça como lembrança <strong>de</strong><br />

cada cliente meu.<br />

- Depois <strong>de</strong> escolhida com cuidado, é higienizada,<br />

isolada <strong>de</strong> bactérias, totalmente <strong>de</strong>sinfetada e envernizada.<br />

- Aqui eu tenho uma omoplata. Vejam só que lindo.<br />

Voltou ao armário, colocou a peça e pegou outra.<br />

- Isto aqui é uma tíbia <strong>de</strong> outro “cliente”, tenho fêmur,<br />

mandíbula, mas a peça que eu mais gosto é esta aqui.<br />

Virou-se e pegou uma estranha peça, que mais parecia<br />

uma coluna vertebral envernizada.<br />

- Este aqui <strong>de</strong>morou pra falar, mas no fim, isso também<br />

não fez nenhuma diferença. Vejam só o acabamento.<br />

A peça estava limpa e macabramente envernizada.<br />

- Uma verda<strong>de</strong>ira obra <strong>de</strong> arte.<br />

- Olhando para cada um <strong>de</strong> vocês, eu estou pensando<br />

qual parte eu escolho <strong>de</strong> cada um.<br />

101


- Vocês são sortudos mesmo, serão eternizados nas<br />

partes guardadas.<br />

- Virarão obras <strong>de</strong> arte. Bem, não tudo, mas as partes que<br />

eu escolher.<br />

- O resto, o incinerador dará fim e os órgãos po<strong>de</strong>rão ir<br />

para o corpo <strong>de</strong> quem estiver disposto a pagar.<br />

- Num mundo assim tão difícil e <strong>de</strong>sumano, seria um<br />

<strong>de</strong>sperdício e um pecado <strong>de</strong>sperdiçar um coração, uma córnea.<br />

- Que absurdo.<br />

- Mas vamos ao que interessa.<br />

- Meus clientes tem pressa.<br />

- Eles querem saber quem foi que libertou a menina.<br />

- Qual <strong>de</strong> vocês ou os dois entregou a garota aos pais e<br />

quem é o cúmplice.<br />

- Tem que ter sido alguém que conhecesse o prédio e<br />

tivesse as chaves.<br />

Tiago e Letícia murmuravam e Andreia retirou a<br />

mordaça <strong>de</strong> Letícia.<br />

- Você quer me dizer alguma coisa?<br />

- Não fomos nós, murmurou Letícia.<br />

- Eu juro.<br />

- Jurar aqui não vale nada.<br />

- Eu quero respostas.<br />

- Não fomos nós, insistiu.<br />

- Eu acabei me afeiçoando à menina e não queria lhe<br />

fazer mal, mas sabia que não po<strong>de</strong>ria ir contra os interesses do<br />

grupo, então <strong>de</strong>cidimos ir embora.<br />

- Não fomos nós.<br />

- Isso é o que iremos ver, respon<strong>de</strong>u a Coletora.<br />

Virou-se para Tiago e disse:<br />

- Não se preocupe querido, quando eu começar a<br />

“operar” sua parceira, você me dirá o que quero saber.<br />

- Corte por corte, pedaço por pedaço. Temos muito<br />

tempo.<br />

102


- Eu gosto <strong>de</strong> cortar primeiro as partes com carne e que<br />

sangram menos sempre na frente dos heróis que não vão querer<br />

ver outra pessoa ser cortada e acabam contando tudo.<br />

- Caso não digam, eu continuo o meu serviço até o fim.<br />

- Vamos começar.<br />

- Já conversamos <strong>de</strong>mais.<br />

Virou-se para a ban<strong>de</strong>ja e pego o que parecia um bisturi.<br />

Primeiro foi até um lavatório, pegou o sabão e lavou bem<br />

as mãos.<br />

Veio outra moça auxiliar e enxugou as suas mãos.<br />

Andreia calçou luvas cirúrgicas e pegou uma seringa<br />

<strong>de</strong>scartável.<br />

Colocou alguma substância dizendo que aquilo seria<br />

necessário para anestesiar a dor e ao mesmo tempo, manter Letícia<br />

<strong>de</strong>sperta.<br />

Com a ajuda da auxiliar, que segurava os braços <strong>de</strong><br />

Letícia, encontrou a veia e injetou a substancia.<br />

Só precisamos <strong>de</strong> um instante para fazer efeito.<br />

Pediu à auxiliar que ligasse o som.<br />

O que tocava era um som pesado, gritado e horripilante.<br />

Alguma coisa <strong>de</strong> “<strong>de</strong>ath metal”.<br />

Um som macabro, pra combinar com a situação.<br />

Tiago se contorcia e chorava.<br />

Andreia pegou o braço <strong>de</strong> Letícia e começou a cortar<br />

bem <strong>de</strong>vagar.<br />

Era como se estivesse retirando um bife.<br />

Cantarolava a música que tocava no som.<br />

Mas algo aconteceu.<br />

Uma luz preencheu a sala e surgiu uma entida<strong>de</strong>.<br />

Foi como se o tempo parasse.<br />

Era um anjo <strong>de</strong> asas brilhantes como fogo.<br />

Portava uma espada <strong>de</strong> fogo e <strong>de</strong>sferiu um golpe certeiro<br />

na Coletora, que caiu com o ventre aberto.<br />

103


A auxiliar também recebeu um golpe e caiu ao lado.<br />

O cheiro <strong>de</strong> sangue queimado impregnou o ambiente.<br />

- Eu e o Pai <strong>de</strong>cidimos dar uma nova chance a vocês<br />

dois.<br />

- Vocês cometeram erros, mas mostraram-se dignos do<br />

perdão divino quando arrepen<strong>de</strong>ram-se do que faziam.<br />

- Mas vocês <strong>de</strong>veriam ter procurado as autorida<strong>de</strong>s ao<br />

invés <strong>de</strong> fugir.<br />

- Des<strong>de</strong> grupo não há escapatória, não pelos meios<br />

normais, mas agora eu estou aqui. Eu e outros como eu.<br />

- Vou libertá-los e vocês terão uma segunda chance <strong>de</strong><br />

corrigir o erro e se entregarem à justiça.<br />

- Não se preocupem, eu lhes darei cobertura.<br />

- Procurem a Polícia Fe<strong>de</strong>ral no 5º distrito.<br />

- Existe lá um juiz que não está comprado.<br />

- Ele po<strong>de</strong>rá ajudar.<br />

- Tem que ser agora.<br />

Dirigiu-se a Letícia, tocou o corte em seu braço, emitiu<br />

uma pequena faísca <strong>de</strong> luz e o corte logo cicatrizou.<br />

Com outro gesto, as amarras dos dois não existiam mais.<br />

Da mesma forma que apareceu, o anjo sumiu, <strong>de</strong>ixando<br />

apenas um rastro <strong>de</strong> luz.<br />

O casal encontrou a saída, antes encontraram seus<br />

pertences e saíram à rua.<br />

Uma outra forma ocupou o ambiente.<br />

Um outro ser, só que agora macabro, dirigiu-se á medica<br />

quase morta no chão, dizendo:<br />

- Filha, sua missão ainda não acabou.<br />

- Tenho outras tarefas pra você.<br />

E sumiu levando consigo o corpo <strong>de</strong> Andreia, da mesma<br />

forma que apareceu.<br />

104


105


2ª PARTE<br />

3º ATO<br />

106


14. RESSURRECTION<br />

Consumed with memories that prece<strong>de</strong>d today<br />

Given a chance to bereave life that’s slipping away<br />

Suffered through tragedy of my slow <strong>de</strong>cay<br />

Deceptive ten<strong>de</strong>ncies dragged my soul away<br />

All that I know there was no God for me<br />

Force that shatters all, absence of mortality<br />

Revive all my fears<br />

Revive wasted tears<br />

Revive void within<br />

Revive once again…<br />

Forsaken by <strong>de</strong>stiny, forsaken by my own mind<br />

I must remove my skin to see belief in your eyes<br />

All that I know there was no God for me<br />

Force that shatters all, absence of humanity<br />

Revive all my fears<br />

Revive wasted tears<br />

Revive void within<br />

Revive once again…<br />

Reach for the sky<br />

Touch the sky<br />

Revive a hope<br />

For mankind<br />

Ressurreição<br />

107


Consumida com memórias que prece<strong>de</strong>u hoje<br />

Dada a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> privarei vida que está <strong>de</strong>saparecendo<br />

Sofreram com a tragédia da minha lenta <strong>de</strong>cadência<br />

Tendências <strong>de</strong>sonestas arrastando minha alma<br />

Tudo que eu sei que Deus não existia para mim<br />

Força que quebra tudo, ausência <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong><br />

Revive todos os meus medos<br />

Revive <strong>de</strong>sperdiçando lágrimas<br />

Revive vazio interior<br />

Revive, mais uma vez ...<br />

Abandonado pelo <strong>de</strong>stino, abandonado por minha própria mente<br />

Eu <strong>de</strong>vo retirar minha pele para ver a crença em seus olhos<br />

Tudo que eu sei que Deus não existia para mim<br />

Força que quebra tudo, falta <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong><br />

Revive todos os meus medos<br />

Revive <strong>de</strong>sperdiçando lágrimas<br />

Revive o vazio interior<br />

Revive, mais uma vez ...<br />

Alcance para o céu<br />

Toque o céu<br />

Revive a esperança<br />

Para a humanida<strong>de</strong><br />

Ressurrection<br />

Fear Factory – CD Obsolete 1998 (5)<br />

108


109


- Me leve ao seu chefe.<br />

O rapaz olhou para o lado e viu seus companheiros ali<br />

trucidados e ficou quase em estado <strong>de</strong> choque.<br />

- Você foi poupado.<br />

- Aproveite a oportunida<strong>de</strong> que está tendo.<br />

- Só te <strong>de</strong>ixei vivo porque quero que você seja uma<br />

testemunha <strong>de</strong> que as coisas <strong>de</strong>vem e vão mudar por aqui.<br />

- Agora cumpra sua missão.<br />

- Eu posso ir on<strong>de</strong> quiser e fazer o que quiser, então não<br />

perca sua chance.<br />

Ferrugem foi chamado por um capanga.<br />

Disse que não iria sair e mandou que o rapaz fosse<br />

levado até ele.<br />

- O que você quer?<br />

O jovem contou tudo o que viu e o que foi mandado<br />

fazer.<br />

Contou sobre a morte dos companheiros e sobre o anjo.<br />

Ferrugem <strong>de</strong>u uma gran<strong>de</strong> gargalhada, juntamente com<br />

os outros bandidos.<br />

- Você cheirou pó, seu filho da puta?<br />

- Você sabe o que acontece com os “soldados” que se<br />

viciam.<br />

- Que história é essa que você inventou?<br />

- Que porra é essa <strong>de</strong> anjo?<br />

- Tu cheirou um monte, fuzilou os colegas e me vem com<br />

esta historinha tentando se safar.<br />

O rapaz chorava e tentava falar, mas com o cano <strong>de</strong> uma<br />

pistola na boca, ficou difícil.<br />

- Eu juro!<br />

- Tu vai jurar é com o “capeta”, seu safado.<br />

- Tirem este merda daqui.<br />

- Vocês já sabem o que fazer com ele.<br />

- Não quero mais saber <strong>de</strong>sse papo <strong>de</strong> anjo.<br />

110


- Quero que outros soldados ocupem o local.<br />

Outra semana se passou e mais uma vez, outras mortes<br />

sem resposta.<br />

Só que <strong>de</strong>ssa vez, tinha sido em um barrado on<strong>de</strong> o<br />

pessoal “batizava” o pó.<br />

Além das mortes, toda a droga foi queimada junto.<br />

Ferrugem ficou louco e contatou o Sargento Alves que<br />

logo apareceu no morro.<br />

A situação foi explicada.<br />

O militar disse que ouviu alguma coisa relacionada a um<br />

anjo em outras localida<strong>de</strong>s, mas pensou que seria coisa <strong>de</strong> algum<br />

brincante.<br />

Po<strong>de</strong>ria ser coisa <strong>de</strong> algum metidinho a herói fantasiado.<br />

Iria averiguar.<br />

Mas antes precisava fazer uma ronda num certo lugar<br />

para ver uma mulher que cobiçava.<br />

Pegou a viatura, chamou sua patrulha e foi fazer uma<br />

ronda.<br />

Passou por uma rua no bairro e parou em frente ao<br />

escritório on<strong>de</strong> Ana trabalhava.<br />

Às vezes passava pelo bairro on<strong>de</strong> ela morava, sempre<br />

em busca <strong>de</strong> manter contato.<br />

Na padaria, na farmácia, no mercado, sempre que Ana<br />

estava em um lugar, logo ele aparecia com a <strong>de</strong>sculpa <strong>de</strong> que<br />

estava morando por perto, ou passando e era uma coincidência<br />

encontrá-la.<br />

Também sempre perguntava se ela precisaria <strong>de</strong> algo,<br />

pois na ausência do noivo, ele po<strong>de</strong>ria ajudar no que fosse preciso.<br />

Ana estava linda, com os cabelos compridos e aparentava<br />

estar mais mulher, mais formosa.<br />

Apesar <strong>de</strong> não falar com ninguém, Ana começou a ter<br />

enjoos frequentes e algumas tonturas, sintomas <strong>de</strong> fraqueza<br />

111


aparente. Sua mãe e algumas amigas logo notaram e perguntaram<br />

o que estava acontecendo?<br />

A mãe logo suspeitou que talvez fosse gravi<strong>de</strong>z, o que<br />

foi confirmado por Ana.<br />

Só que o Sargento Alves não sabia disso. Além do mais,<br />

isso não o impediria <strong>de</strong> “possuí-la”.<br />

Neste dia em particular, ele <strong>de</strong>sceu da viatura e resolveu<br />

esperar por ela.<br />

Já estava quase na hora <strong>de</strong> sua saída.<br />

Quando Ana saiu, o militar a chamou pelo nome.<br />

Ana sem virar-se, reconheceu a voz e sentiu náuseas.<br />

Ela odiava aquele sujeito, tinha asco <strong>de</strong> sua pessoa e já a<br />

muito tempo não suportava nem a sua presença.<br />

Tentou esquivar-se daquela pessoa em todas as<br />

oportunida<strong>de</strong>s. Sujeito nojento e mal caráter.<br />

Mas Ana estava in<strong>de</strong>fesa.<br />

Educadamente, virou-se e cumprimentou-o.<br />

Ele veio em sua direção e tentou beijá-la no rosto, no que<br />

ela retraiu-se e o evitou.<br />

- Está com medo <strong>de</strong> mim Ana?<br />

- Eu não sou seu inimigo. Apenas quero ser seu amigo e<br />

protegê-la.<br />

- Porque você não <strong>de</strong>ixa eu cuidar <strong>de</strong> você?<br />

- Confie em mim.<br />

Ana respon<strong>de</strong>u que não era nada disso, mas ela era muito<br />

tímida e não pensava mal do militar, mas preferia ficar nesta<br />

situação.<br />

E não precisava <strong>de</strong> ajuda nem proteção.<br />

O Sargento começou a ficar irritado e impaciente com as<br />

esquivas <strong>de</strong> Ana.<br />

Ele não iria aceitar isso tão fácil.<br />

Mas não naquele dia.<br />

A luta continuaria.<br />

Ele teria outras oportunida<strong>de</strong>s.<br />

112


Ana já começava a mostrar as curvas <strong>de</strong> uma gravi<strong>de</strong>z,<br />

mas isso seria um assunto para outra época, mais à frente.<br />

Agora era tocar a vida e preparar-se para o filho que<br />

vinha.<br />

Fruto <strong>de</strong> seu amor.<br />

O sargento continuava a sua ronda, entrando em vilas,<br />

ruas, becos, apertando um informante aqui, outro ali.<br />

Colhendo todas as informações que pu<strong>de</strong>sse.<br />

Precisava <strong>de</strong>scobrir que história <strong>de</strong> anjo era essa.<br />

Mas não conseguia informações condizentes.<br />

Colocou em seu relatório que havia um maníaco<br />

assassino rondando as noites da cida<strong>de</strong>, espalhando o terror,<br />

assassinando inocentes.<br />

Toda a polícia entrou em estado <strong>de</strong> alerta.<br />

As buscas se intensificaram.<br />

Enquanto isso, em outra cida<strong>de</strong> distante, sua amiga<br />

marta, preparava-se para vir passar um tempo em São Paulo.<br />

Viria ficar com a família e <strong>de</strong>sta forma, ficaria mais<br />

protegida e confortável com Taís, entre os seus.<br />

Enquanto isso, Roberto ficaria na cida<strong>de</strong>, até que pu<strong>de</strong>sse<br />

tirar uma licença, ou conseguir uma transferência para São Paulo.<br />

Isso po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>morar um pouco.<br />

Ficaria sozinho, mas com a certeza <strong>de</strong> que sua mulher e<br />

filha estavam mais seguras.<br />

No fim <strong>de</strong> semana, pegou o carro, arrumou a bagagem<br />

necessária e pegou a estrada em direção a São Paulo.<br />

Tirou a segunda feira <strong>de</strong> folga.<br />

Logo ao meio dia, já estava entrando na cida<strong>de</strong> e<br />

conseguiu almoçar com a família.<br />

Aproveitou o fim <strong>de</strong> semana para acertar os <strong>de</strong>talhes e<br />

também <strong>de</strong>scansar um pouco.<br />

113


Os familiares logo enten<strong>de</strong>ram a situação e se<br />

prontificaram a dar todo o suporte a Marta e Taís, no tempo que<br />

fosse necessário.<br />

Ali elas estariam protegidas.<br />

O fim <strong>de</strong> semana passou rápido e na segunda feira à<br />

tar<strong>de</strong>, Roberto estava na estrada novamente e no início da noite, já<br />

estava em casa.<br />

Chegou à portaria do prédio, apertou o botão automático<br />

e entrou na garagem.<br />

Desceu do carro, entrou no elevador e chegou ao seu<br />

apartamento.<br />

Abriu a porta e entrou.<br />

Só queria cair na cama e dormir, mas antes, entrou no<br />

banheiro e foi tomar uma ducha.<br />

Após alguns minutos, fechou a torneira, enxugou-se e<br />

pegou a escova para escovar os <strong>de</strong>ntes.<br />

Lembrou que tinha que ligar para Marta, avisar que<br />

chegou e falar com Tais.<br />

Dar boa noite para seus amores.<br />

Quando terminou a ligação, virou-se para a janela do<br />

quarto e tomou um susto.<br />

Um vulto vinha das sombras.<br />

Parou na sua frente e começou a falar.<br />

Neste instante, o juiz estava petrificado.<br />

Não sabia o que fazer e nem tinha ação.<br />

O ser i<strong>de</strong>ntificou-se como um soldado, ou se quisesse um<br />

“soldado <strong>de</strong> Deus”.<br />

Roberto ficou com medo e pensou em correr, chamar a<br />

polícia, qualquer coisa, mas estava encurralado.<br />

- Fique tranquilo. Eu venho do lado do “bem”.<br />

- Estamos em guerra. Uma guerra que vocês da terra não<br />

tem i<strong>de</strong>ia.<br />

- Vocês não, nós.<br />

- Eu também sou um <strong>de</strong> vocês, ou qualquer outro.<br />

114


- Só estou um pouco diferente.<br />

- Preste atenção no que vou dizer.<br />

- Você foi abençoado, quando muitos não têm a mesma<br />

sorte, mas o “Criador” tem alguma missão pra você que eu ainda<br />

não sei e nos colocou no mesmo caminho.<br />

- “Ele” precisa <strong>de</strong> pessoas como você, como nós.<br />

- Você também é um bom soldado e a seu modo, está<br />

lutando o bom combate.<br />

- É claro que o preço é muito alto, mas é você quem vai<br />

escolher o caminho.<br />

- Eu sei o que está acontecendo aqui e apesar das suas<br />

dúvidas, fui eu que libertei Taís.<br />

- Tiago e Letícia estavam envolvidos, mas arrepen<strong>de</strong>ramse<br />

e eu os poupei.<br />

- É claro que são culpados <strong>de</strong> alguma forma, mas<br />

também foram engendrados e precisam <strong>de</strong> ajuda.<br />

- Preste atenção no que vou te dizer.<br />

- Na guerra, nós temos que usar as armas que temos e na<br />

situação atual, o “Criador” <strong>de</strong>cidiu que não é ora <strong>de</strong> ser bonzinho.<br />

A guerra precisa ser vencida, ou o mundo virará um verda<strong>de</strong>iro<br />

caos.<br />

- Eu sei que você tem uma arma, uma pistola automática.<br />

- Como você sabe disso?<br />

- Eu tenho alguns dons e tem coisas que não po<strong>de</strong>m ser<br />

escondidas <strong>de</strong> mim e <strong>de</strong> meus irmãos.<br />

- A partir <strong>de</strong> agora, você não <strong>de</strong>sgrudará mais <strong>de</strong>la.<br />

- On<strong>de</strong> for, esteja com ela e carregada. Você vai precisar.<br />

- Esteja atento, não confie em ninguém em momento<br />

algum.<br />

- Nem naqueles mais próximos.<br />

- O mal está muito organizado e infiltrado em todas as<br />

corporações, inclusive na igreja.<br />

- Em todos os centros <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

- Esteja sempre atento e pronto.<br />

115


- Não se preocupe em usar a sua arma e não tenha pena<br />

<strong>de</strong> ninguém. Se for para atirar atire, não pisque.<br />

- Um anjo falando isso?<br />

- Estamos em guerra. Precisamos <strong>de</strong> soldados e não <strong>de</strong><br />

coelhinhos.<br />

- Se for pra matar, mate.<br />

- Minha família?<br />

- Não se preocupe. Continue fazendo o seu trabalho que<br />

“nós” te protegeremos e protegeremos sua família.<br />

- Temos interesses em comum.<br />

- Outra coisa, ore sempre. Peça ajuda.<br />

- Orar, eu?<br />

- Sim. Orar.<br />

- Conversar com Deus da forma que você escolher.<br />

- Não precisa <strong>de</strong>corar “Pai Nossos ou Ave Marias”.<br />

- Converse com suas palavras, <strong>de</strong> seu coração.<br />

- Mas converse, ore, peça diretamente ao “Pai”, sem<br />

ro<strong>de</strong>ios, Ele escutará.<br />

- Mas se Deus tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mudar tudo, porque não<br />

faz?<br />

- Livre arbítrio.<br />

- O Pai respeita a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um e <strong>de</strong> tempos em<br />

tempos, quando a coisa foge ao controle, Ele permite<br />

intervenções.<br />

- Já tivemos intervenções com água, fogo, cataclismos <strong>de</strong><br />

toda forma, mas nós homens não tomamos jeito.<br />

- Estamos sempre nos viciando em todos os tipos <strong>de</strong><br />

coisas erradas. Sexo, drogas, po<strong>de</strong>r.<br />

- Às vezes Ele permite intervenções mais diretas. É o que<br />

estamos fazendo agora.<br />

- Existem muitos soldados dos dois lados.<br />

- Qual o seu nome? Eu nem sei o seu nome.<br />

- Po<strong>de</strong> me chamar <strong>de</strong> “Roque”.<br />

E sumiu na escuridão.<br />

116


No dia seguinte, após barbear-se, Roberto recebeu uma<br />

ligação <strong>de</strong> Paulo Sérgio.<br />

Ele queria saber do amigo se estava tudo bem, se a<br />

família estava em segurança e disse que conversariam melhor no<br />

trabalho.<br />

Roberto chegou, foi até sua sala, mas antes foi tomar café<br />

na cantina.<br />

Lá, pediu um sanduiche, um café com leite e sentou-se.<br />

Logo em seguida, Paulo Sergio chegou, cumprimentou-o<br />

e perguntou-se po<strong>de</strong>ria sentar-se com ele.<br />

- É claro que sim, você po<strong>de</strong> me fazer companhia e<br />

enquanto tomamos café, conversamos.<br />

Paulo Sergio perguntava sobre a segurança <strong>de</strong> Marta e<br />

Taís.<br />

Disse que Evelin mandava lembranças.<br />

Aproveitou também para pedir uma carona a Roberto,<br />

alegando que seu carro estava na oficina e como não podia <strong>de</strong>ixar<br />

a esposa sem o outro carro, perguntou se o amigo podia ajudar.<br />

Roberto concordou e avisou que sairia às cinco.<br />

Po<strong>de</strong>riam tomar um café.<br />

Paulo Sergio perguntou se Roberto não queria jantar em<br />

seu apartamento.<br />

Ligaria para Evelin e ela prepararia um jantar.<br />

Roberto concordou.<br />

O dia passou vagarosamente e por fim chegou a tar<strong>de</strong>.<br />

Para Roberto, foi terrível. O tempo não passava.<br />

Mas chegou a hora.<br />

Quando chegou á garagem do tribunal, Paulo Sérgio não<br />

estava.<br />

O celular tocou e o amigo disse que estava numa banca<br />

<strong>de</strong> jornal perto e perguntou se Roberto po<strong>de</strong>ria passar por lá e<br />

pegá-lo.<br />

Roberto concordou, passou pelo local. Paulo Sérgio o<br />

aguardava, cumprimentaram-se e ele entrou no carro.<br />

117


Paulo Sérgio pediu se Roberto po<strong>de</strong>ria passar pela rua<br />

das Tropas, pois precisava pegar algo no local.<br />

O amigo concordou e foram para o local.<br />

Disse que não sabia chegar lá e por isso, pediu o<br />

en<strong>de</strong>reço e calibrou o GPS.<br />

Paulo Sergio também disse que guiaria o caminho.<br />

Era uma rua mais afastada do centro.<br />

Pouco movimento, poucas casas e quase nenhum<br />

comércio.<br />

- Mas que lugar longe esse, heim, meu amigo?<br />

- Que nada, já estamos chegando.<br />

Em uma esquina, ao reduzir para entrar na rua, dois<br />

elementos entraram na frente do carro com armas em punho,<br />

anunciando um assalto.<br />

Roberto logo percebeu tudo e nem <strong>de</strong>u tempo pra pensar.<br />

A arma já estava ao seu lado o tempo todo, e Paulo<br />

Sérgio não sabia.<br />

Roberto disparou a arma contra os elementos que não<br />

esperavam e sentiu que houve um disparo do outro lado, que<br />

acabou atingindo gravemente Paulo Sergio.<br />

Ele <strong>de</strong>sceu do carro e foi verificar os assaltantes.<br />

Um estava morto, e o outro ainda respirava com<br />

dificulda<strong>de</strong>.<br />

- Doutor Paulo...<br />

Logo <strong>de</strong>smaiou.<br />

Roberto enten<strong>de</strong>u tudo rapidamente.<br />

Des<strong>de</strong> o início ele já <strong>de</strong>sconfiava da vida nababesca <strong>de</strong><br />

seu amigo e com o passar do tempo verificava algumas condutas<br />

suspeitas <strong>de</strong> seu anfitrião.<br />

Agora, confirmava-se o que Roque revelou.<br />

Era um covil <strong>de</strong> víboras.<br />

Roberto foi ao carro e Paulo Sergio dava os últimos<br />

suspiros.<br />

Pegou o telefone e ligou para a emergência.<br />

118


Logo uma ambulância chegou juntamente com duas<br />

patrulhas da PM.<br />

Os aten<strong>de</strong>ntes foram verificar as vítimas e confirmaram<br />

que não havia mais o que fazer, estavam mortos.<br />

A polícia fez a checagem da situação, preencheu o<br />

Boletim <strong>de</strong> Ocorrência e chamou a perícia que nunca chegava.<br />

Demorou muito.<br />

Neste meio tempo, Roberto ligou para Evelin e <strong>de</strong>u a<br />

notícia.<br />

É claro que foram emboscados e o amigo morreu.<br />

Evelin <strong>de</strong>u um grito do outro lado.<br />

- Eu sabia que um dia isso ia acontecer, mas ele não me<br />

<strong>de</strong>u ouvidos. Desligou o telefone chorando.<br />

A trama estava armada e haviam muitos elementos<br />

envolvidos.<br />

Mas ele fora avisado a tempo.<br />

Se não fosse o amigo celestial, seria assassinado e no<br />

jornal diário viria a notícia <strong>de</strong> que um juiz foi parar em local ermo<br />

e surpreendido por assaltantes...<br />

Agora era voltar pra casa após toda a burocracia.<br />

Teria que dar apoio à esposa do “amigo”.<br />

A noite seria difícil.<br />

Mas estava no jogo e não podia sair <strong>de</strong>le agora.<br />

Teria que ir até o fim e <strong>de</strong>cidiu continuar a luta.<br />

No outro dia, ajudou a tomar as medidas do enterro do<br />

amigo.<br />

No dia seguinte, procurou seu superior e disse estar<br />

pronto para reassumir o caso que havia se afastado, se este ainda<br />

estivesse disponível.<br />

Estava.<br />

Mas agora tomaria outras atitu<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>cisões também.<br />

O anjo disse que sua família estava em segurança.<br />

Era hora <strong>de</strong> ser um bom soldado.<br />

Deixar <strong>de</strong> ser caça e ser caçador.<br />

119


Pediu investigações sobre a tal seita e reabriu o caso do<br />

assassino.<br />

Ele tinha informações valiosas, é claro, se estivesse vivo<br />

ainda.<br />

Ele teria que entrar para o programa <strong>de</strong> proteção às<br />

testemunhas. Um novo nome, uma nova i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>...<br />

E o caso foi reaberto. Por sorte ele ainda estava vivo.<br />

120


15. GUERRA<br />

Em uma fazenda, bem na divisa do Brasil com a Bolívia,<br />

um grupo fazia a travessia <strong>de</strong> algumas toneladas <strong>de</strong> cocaína, bem<br />

tranquilamente.<br />

Passavam a droga <strong>de</strong> uma viatura com placa do outro<br />

país para uma com placa do Brasil.<br />

Esta fronteira seca enorme facilita a entrada <strong>de</strong> armas e<br />

drogas para o território nacional.<br />

As terras em questão pertencem a um <strong>de</strong>terminado<br />

<strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral.<br />

Ninguém vai suspeitar.<br />

Existem outros pontos <strong>de</strong> passagem e muita gente<br />

envolvida.<br />

O maior problema é a clientela insaciável.<br />

Enquanto houver um jovenzinho metido a esperto,<br />

disposto a “dar um tapa”, ao lado vai ter sempre um traficante<br />

disposto a ajudá-lo.<br />

E isso é o suficiente para alimentar a bandidagem.<br />

Um carro oficial, ou uma carreta com um documento<br />

oficial dificilmente será parada numa estrada, seja ela qual seja.<br />

Todos tem um salvo conduto.<br />

Às vezes, quando a polícia está “apertando” o cerco, ou<br />

algum <strong>de</strong>legado quer fazer propaganda, um pobre coitado ou<br />

idiota qualquer recebe uma carga “pequena” para os padrões dos<br />

gran<strong>de</strong>s traficantes e leva uma ou duas toneladas.<br />

Às vezes um simples pacote. Uma quantida<strong>de</strong> ínfima<br />

para o grosso que ira em outras viaturas, mas o suficiente para ser<br />

usado como isca e <strong>de</strong>sviar o foco da polícia.<br />

Alguém informa à polícia e este imbecil é pego no ato.<br />

Os jornais noticiam o feito e os policiais posam <strong>de</strong><br />

heróis, enquanto isso, a verda<strong>de</strong>ira carga passa incólume e chega<br />

aos “clientes”.<br />

121


Da mesma forma, quem vai parar uma viatura com<br />

documentos oficiais <strong>de</strong> um governador, senador ou <strong>de</strong>putado?<br />

Já está tudo arranjado e a carga sai pelas estradas sem<br />

perigo <strong>de</strong> ser interceptada.<br />

Só que hoje não foi assim.<br />

Quando o primeiro caminhão ganhou a estrada, na saída<br />

da fazenda, era por volta das vinte e três horas.<br />

Chegaria à cida<strong>de</strong> pela manhã.<br />

Mas no meio da estrada, logo na primeira curva, um<br />

clarão ofuscou o motorista que parou a carreta carregada <strong>de</strong> grãos.<br />

Quando o veículo parou, logo uma viatura que vinha<br />

atrás parou também.<br />

Dela <strong>de</strong>sceram quatro homens armados.<br />

Roque que agora era um ser <strong>de</strong> luz, que mais parecia ma<br />

bola <strong>de</strong> fogo, <strong>de</strong>sembainhou sua espada e direcionou-a para a<br />

carreta.<br />

O motorista saltou da cabine e se jogou na mata ao lado.<br />

Com um golpe, a carga explodiu e pegou fogo.<br />

Os homens que vinham atrás, sacaram <strong>de</strong> seus fuzis e<br />

começaram a disparar.<br />

Foi uma saraivada <strong>de</strong> balas.<br />

Roque recebeu todo o impacto calado.<br />

Quando a munição acabou, perguntou:<br />

- Acabaram?<br />

- Agora é minha vez.<br />

Nem precisou <strong>de</strong> muito esforço e logo todos os quatro<br />

estavam <strong>de</strong>struídos.<br />

Roque dirigiu-se ao motorista que estava encolhido no<br />

meio do mato e disse-lhe:<br />

- Você tem mulher e filhos.<br />

- Honre-os.<br />

- Procure o seu chefe e diga o que presenciou aqui.<br />

- Estamos em guerra.<br />

122


Outras interceptações foram feitas e a cada uma, os<br />

“gran<strong>de</strong>s” ficavam mais e mais furiosos.<br />

É claro que houve retaliações nas comunida<strong>de</strong>s.<br />

Muita gente foi sequestrada.<br />

Perguntas foram feitas.<br />

Mortes ocorreram.<br />

Eles queriam respostas.<br />

123


124


16. UMA ESTAÇÃO NO MEIO DO NADA.<br />

Durante o dia naquela estação, passavam apenas trens<br />

transportando minério <strong>de</strong> ferro, que iriam abastecer os portos no<br />

litoral e dali, o <strong>de</strong>stino seria China, Japão ou Estados Unidos.<br />

Mas um trem em especial chamava a atenção da<br />

população local.<br />

Um trem que sempre chegava por volta das duas horas da<br />

manhã.<br />

Algumas pessoas <strong>de</strong>sciam, muito poucas embarcavam e<br />

algumas malas e caixas eram <strong>de</strong>sembarcadas.<br />

Qual seria a resposta para aquele trem, naquele horário.<br />

A estação permanecia em silencio durante todo o dia.<br />

Algumas barraquinhas fechadas, um ven<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> água,<br />

um ven<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> salgadinhos e aqueles biscoitos suspeitos.<br />

Quase ninguém.<br />

Quase nenhum movimento, a não ser, as locomotivas<br />

pesadas e gigantescas que transportavam diariamente uma centena<br />

<strong>de</strong> vagões abarrotados <strong>de</strong> minério <strong>de</strong> ferro.<br />

Algum cachorro vadio dormindo no canto, ou<br />

perambulando aqui e ali, fuçando uma lata <strong>de</strong> lixo a procura <strong>de</strong><br />

qualquer coisa para aplacar a fome.<br />

O movimento mesmo era durante a madrugada.<br />

Alguns diziam: - Um trem <strong>de</strong> lugar algum para lugar<br />

nenhum.<br />

Mas ele tinha uma utilida<strong>de</strong>.<br />

A estação fica bem no meio do estado do Pará, numa<br />

região conhecida pela extração do minério <strong>de</strong> ferro e muito, mas<br />

muito ouro, apesar <strong>de</strong> não haver uma informação oficial quanto a<br />

isso.<br />

Mas as notícias mesmo são que a região é abastecida por<br />

uma gran<strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> pistas clan<strong>de</strong>stinas.<br />

A droga chega no trem, que vem do estado do Maranhão<br />

(será porquê?) e dali é distribuída para outros centros.<br />

125


Da região saem estradas que cruzam os estados do Para,<br />

inundam o Mato Grosso e chegam aos mercados consumidores,<br />

bem por baixo do nariz das autorida<strong>de</strong>s coniventes.<br />

Só que numa <strong>de</strong>terminada noite, alguém viu um ser alado<br />

<strong>de</strong>scer sobre a locomotiva.<br />

Este ser entrou no vagão <strong>de</strong> cargas e um brilho saiu lá <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro.<br />

Depois, silêncio.<br />

Quando o trem chegou na estação, os poucos passageiros<br />

não enten<strong>de</strong>ram o porquê da confusão e correria <strong>de</strong> alguns homens<br />

que ali estavam.<br />

A confusão estava armada.<br />

Alguns telefonemas foram dados.<br />

O que teria acontecido.<br />

O prejuízo fora enorme e algum homem po<strong>de</strong>roso estaria<br />

enfurecido.<br />

No outro dia, este senhor iria dirigir-se à tribuna do<br />

senado fe<strong>de</strong>ral e proferir um discurso enfurecido à Nação.<br />

Iria falar <strong>de</strong> leis, <strong>de</strong> corrupção e cobrar das autorida<strong>de</strong>s<br />

policiais respostas aos crimes ocorridos em <strong>de</strong>terminadas regiões<br />

do Brasil.<br />

Algo precisava ser feito pelo bem do progresso da<br />

Nação.<br />

Os “empresários” estavam sofrendo gran<strong>de</strong>s prejuízos e<br />

ninguém conseguia resolver o problema.<br />

126


127


17. CRISE NA CAPITAL.<br />

There is just enough Christ in me<br />

To make me feel almost guilty<br />

Is that why God ma<strong>de</strong> us breed<br />

To make us see we're Humans Being<br />

You break this, I'll break all that<br />

You break my balls with all your crap<br />

Spread your disease like lemmings breeding<br />

That's what makes us Humans Being<br />

Shine on, Shine on<br />

Shine on, Shine on<br />

Some low life flat head scum infects<br />

The sickness in his eyes reflects<br />

You won<strong>de</strong>r why your life is screaming<br />

Won<strong>de</strong>r why your Humans Being<br />

Shine on, Shine on<br />

Shine on, Shine on<br />

Humans , Humans Being<br />

We're just Humans (That's what makes us)<br />

Humans Being (That's what makes us)<br />

We're just Humans (That's what makes us)<br />

Humans Being (That's what makes us)<br />

Humans Being (That's what makes us)<br />

Humans Being!<br />

We're just Humans (That's what makes us)<br />

Humans Being (That's what makes us)<br />

Humans Being!<br />

128


Seres Humanos<br />

Há Cristo o suficiente em mim<br />

Para me fazer sentir quase culpado<br />

É por isso que Deus manda nos reproduzirmos<br />

Para nos fazer ver que somos seres humanos?<br />

Você acaba com isso, eu acabo com tudo aquilo.<br />

Você enche meu saco com todas as suas besteiras<br />

Espalhem suas doenças como vermes se reproduzindo<br />

Isso é o que nos torna seres humanos<br />

Brilhe, brilhe. Brilhe, brilhe<br />

Pessoas sem vida com as cabeças <strong>de</strong>sinteressadas da<br />

escoria infectam<br />

A moléstia reflete em seus olhos<br />

Você se pergunta por que sua vida grita<br />

Você se pergunta por que você é um Ser humano<br />

Brilhe, brilhe. Brilhe, brilhe<br />

Humanos, Seres humanos<br />

Nós somos apenas humanos (Isso é o que nos torna)<br />

Seres humanos (Isso é o que nos torna)<br />

Nós somos apenas humanos (Isso é o que nos torna)<br />

Seres humanos (Isso é o que nos torna)<br />

Seres humanos<br />

Nós somos apenas humanos (Isso é o que nos torna)<br />

Seres humanos (Isso é o que nos torna)<br />

Seres humanos!<br />

Humans Being<br />

Van Halen – Trilha sonora do filme Twister – 1996 (6)<br />

129


Tudo que ocorria nas fronteiras refletia diretamente na<br />

capital.<br />

A carga não chegava, os negócio não lucrava.<br />

Armas e munição não estavam chegando.<br />

Muitos pontos <strong>de</strong> droga estavam sendo fechados<br />

abruptamente.<br />

Uma facção culpando a outra e os tiroteios e sequestros<br />

tomaram corpo.<br />

Um bandido sequestrava um elemento qualquer <strong>de</strong> outra<br />

comunida<strong>de</strong> e o esquartejava.<br />

O outro grupo retaliava.<br />

<strong>Sangue</strong> pra todo lado.<br />

Ninguém era inocente.<br />

Até que a polícia começou a intervir viando a segurança<br />

dos cidadãos.<br />

O comércio não podia abrir.<br />

Escolas fechadas, o caos instalado.<br />

O impacto nas bocas <strong>de</strong> fumo foi enorme.<br />

Muita gente doente, sem o “remédio” que com a escassez<br />

triplicou <strong>de</strong> preço.<br />

Mesmo assim, era preciso tomar muito cuidado.<br />

O Batalhão <strong>de</strong> Operações Especiais entrava nas<br />

comunida<strong>de</strong>s e o tiroteio começava.<br />

Mortes dos dois lados.<br />

O maior problema, é que quando não há lucro com o<br />

tráfico, o crime busca outras fontes, que po<strong>de</strong>m ser sequestros,<br />

assaltos, arrombamentos <strong>de</strong> caixas.<br />

Eles precisam ser <strong>de</strong>tidos.<br />

As cracolândias entraram em crise.<br />

Sem o abastecimento aos usuários, esses começaram a<br />

entrar em crise <strong>de</strong> abstinência e lotar os hospitais.<br />

Durante muito tempo, as ambulâncias recusaram o<br />

atendimento a moradores <strong>de</strong> rua.<br />

130


Inventavam outros atendimentos e <strong>de</strong>ixavam o pobre<br />

miserável agonizando às vezes até a morte.<br />

Os hospitais também se recusavam a recebê-los.<br />

Eles traziam muita sujeira, doenças e em muitas vezes o<br />

que queriam era uma cama quente e uma refeição, algo que os<br />

prontos-socorros e hospitais não tinham ou não queriam fornecer.<br />

Então, os aten<strong>de</strong>ntes das ambulâncias ficavam também<br />

impossibilitados <strong>de</strong> ajudar.<br />

Quem nunca se perguntou como os viciados conseguem<br />

a droga?<br />

Quando eles estão no início do vício, pe<strong>de</strong>m emprego,<br />

família e tudo o mais.<br />

Ven<strong>de</strong>m o que em para conseguir a pedra.<br />

Depois partem para os pequenos crimes.<br />

Mas chegam a um ponto que não tem mais o que<br />

oferecer.<br />

Seus corpos já estão tão alquebrados que não tem mais<br />

força para nada.<br />

Alguns roubam panelas velhas, tênis e até chinelos e<br />

conseguem trocar pela pedra.<br />

Alguém já se perguntou o que um traficante faz com uma<br />

panela velha, um tênis velho? Ou mesmo um aparelho celular que<br />

não po<strong>de</strong>rá ser usado, pois há o rastreamento.<br />

No fim do dia, isso tudo fica espalhado pelo chão.<br />

São duas as respostas.<br />

A primeira é que os grupos po<strong>de</strong>rosos usam estes doentes<br />

para <strong>de</strong>sestabilizar as o Estado, as corporações e <strong>de</strong>struir a família,<br />

<strong>de</strong>ntre outros fatores.<br />

On<strong>de</strong> há caos, os mais fortes imperam.<br />

A segunda, é que como os viciados ocupam<br />

<strong>de</strong>mograficamente uma <strong>de</strong>terminada área, eles acabam <strong>de</strong> certa<br />

forma oferecendo segurança aos traficantes.<br />

Mas sem a droga chegando, estes viciados estavam<br />

perambulando por toda parte e entravam em convulsão aqui e ali.<br />

131


A violência aumentou e o <strong>de</strong>scontrole foi total.<br />

Muita gente sendo agredida e agredindo.<br />

O centro da cida<strong>de</strong> fervilhada e a polícia foi chamada a<br />

intervir.<br />

No meio da turba, na calada da noite, alguns doentes<br />

foram curados.<br />

Não sabiam como.<br />

Somente sentiam uma luz sobre eles e quando<br />

acordavam, na manhã seguinte, não tinham nenhuma vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

usar droga alguma. Estavam renovados e com vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir para<br />

casa.<br />

Olhavam-se a si mesmos e sentiam-se imundos e<br />

enojados com sua situação.<br />

Estavam com a energia interior renovada e nem sabiam<br />

porque.<br />

Um ou outro relatava que recebeu a visita <strong>de</strong> um anjo,<br />

que foi curado.<br />

Alguns pastores <strong>de</strong> igrejas evangélicas apareciam e<br />

queriam as glórias para si.<br />

Sua igreja alcançara o milagre.<br />

Uns iam dar o testemunho.<br />

Outros não. Afirmavam que não foi a igreja e sim um<br />

anjo.<br />

Os po<strong>de</strong>rosos ficaram enfurecidos.<br />

Em um <strong>de</strong>sses casos.<br />

Um morador <strong>de</strong> rua que fazia uma pregação na praça<br />

local, foi interceptado por um homem que saiu <strong>de</strong> uma van e<br />

jogou-o no interior do veículo.<br />

Foi levado a um beco imundo e entregue a um bandido.<br />

O homem jurava que fora curado por um anjo.<br />

O bandido <strong>de</strong>u-lhe uma bofetada e mandou que ele<br />

parasse <strong>de</strong> mentir.<br />

O homem chorava e continuava a dizer, que “Jesus”<br />

estava voltando, que era hora dos homens arrepen<strong>de</strong>rem-se.<br />

132


O bandido <strong>de</strong>u uma risada e apontou a rama para a<br />

cabeça do infeliz.<br />

Apertou o gatilho uma, duas vezes e nada saiu do cano.<br />

Jogou a arma no chão e pediu outra arma.<br />

O mesmo aconteceu.<br />

Carregou a arma, <strong>de</strong>stravou a trava <strong>de</strong> segurança e puxou<br />

o gatilho.<br />

Nada.<br />

- O que está acontecendo aqui?<br />

Apontou para cima e a arma disparou.<br />

- Deve ter sido a sua sorte, vagabundo, mais isso acabou.<br />

Novamente, apontou a arma e puxou o gatilho.<br />

No instante, um ser alado apareceu entre a arma e o<br />

mendigo.<br />

O tiro foi dado e a munição foi queimada<br />

instantaneamente.<br />

O anjo envolveu o homem em suas asas.<br />

Os bandidos começaram a atirar na entida<strong>de</strong> que não<br />

fazia nada.<br />

Quando a munição acabou, o ser disse:<br />

- Ainda bem que a munição acabou.<br />

- Agora vou embora e pouparei vocês, por enquanto.<br />

- Estou levando meu amigo embora.<br />

- Não ousem incomodá-lo novamente.<br />

Sumiu em meio a um clarão.<br />

No quartel <strong>de</strong> polícia local, a notícia chegou.<br />

Alguns militares comemoraram a situação <strong>de</strong> que a<br />

guerra começava a pen<strong>de</strong>r para o seu lado.<br />

Outros nem tanto.<br />

O Sargento Alves estava preocupado e queria respostas.<br />

O comandante da corporação chamou-o pessoalmente ao<br />

PC.<br />

Quando ele entrou, notou que todo o Estado-Maior<br />

estava reunido com o comandante.<br />

133


Este mandou que ele fechasse as portas, or<strong>de</strong>nou que ele<br />

investigasse o caso e lhe trouxesse respostas.<br />

Todos ali estavam apreensivos e o sargento seria o bo<strong>de</strong><br />

expiatório.<br />

Os “chefes” estavam pressionando e cabeças iam rolar.<br />

Ele per<strong>de</strong>ria seu cargo, mas não iria sozinho.<br />

O sargento enten<strong>de</strong>u o recado.<br />

Logo reuniu sua patrulha e começaram a bolar uma<br />

estratégia.<br />

Muitas questões seriam levantadas.<br />

Quem seria o intruso?<br />

Qual era o objetivo?<br />

Saíram pras ruas e começaram a fazer diligências.<br />

As viaturas entravam e saiam <strong>de</strong> becos e vielas.<br />

Pegavam um trombadinha, um aviãozinho, um<br />

informante.<br />

Queriam respostas.<br />

Visitavam “amigos”, bocas <strong>de</strong> fumo e todo tipo <strong>de</strong> covil.<br />

Sabia que precisava <strong>de</strong>scobrir logo o que se passava.<br />

Tinha mulher e filhos também e sabia que havia muito<br />

em jogo.<br />

Até que um integrante da patrulha levantou uma questão.<br />

Quem po<strong>de</strong>ria ser o novo herói?<br />

Tudo começou <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> alguns dias após a morte do<br />

soldado Hector que nunca foi encontrado.<br />

Alguém teria respostas e estava mais próximo do que<br />

eles imaginavam.<br />

Alves lembrou-se <strong>de</strong> Ana que agora já estava pelo oitavo<br />

mês <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z.<br />

Ele estava irado.<br />

- Aquele maldito <strong>de</strong>ve estar escondido com aquela vadia.<br />

- Mas ela vai ver.<br />

- Não consegui possuí-la. Perdi a oportunida<strong>de</strong>. A coisa<br />

não saiu como eu queria, mas não tem problema.<br />

134


- Ela iria falar.<br />

- Vou estuprá-la e <strong>de</strong>pois boto cada integrante da<br />

patrulha para estuprá-la também.<br />

- Ou ela diz, ou a entrego para cada membro da facção<br />

fazer o que quiser.<br />

- No fim, ela vai estar toda arrombada que ou vai dizer o<br />

que quero saber, ou vai botar aquele moleque que está esperando<br />

pra fora na marra.<br />

- Hê, He, He. Ela me paga.<br />

Alves soube também que uma amiga <strong>de</strong> Ana, que casouse<br />

e fora embora para outra cida<strong>de</strong>. Teve uma experiência estranha<br />

também agora voltou pra cida<strong>de</strong>.<br />

Ela também seria pega e estuprada.<br />

O plano fora armado.<br />

135


136


18. CADA SUSPIRO QUE VOCÊ DER<br />

Every breath you take<br />

Every move you make<br />

Every bond you break<br />

Every step you take<br />

I'll be watching you<br />

Every single day<br />

Every word you say<br />

Every game you play<br />

Every night you stay<br />

I'll be watching you<br />

Oh can't you see<br />

You belong to me<br />

How my poor heart aches with every step you take<br />

Every move you make<br />

Every vow you break<br />

Every smile you fake<br />

Every claim you stake<br />

I'll be watching you<br />

Since you've gone I've been lost without a trace<br />

I dream at night I can only see your face<br />

I look around but it's you I can't replace<br />

I feel so cold and I long for your embrace<br />

I keep crying baby, baby please<br />

Oh can't you see<br />

137


You belong to me<br />

How my poor heart aches with every step you take<br />

Every move you make<br />

Every vow you break<br />

Every smile you fake<br />

Every claim you stake<br />

I'll be watching you<br />

Every move you make<br />

Every step you take<br />

I'll be watching you<br />

Cada Suspiro Que Você Der<br />

Cada suspiro que você <strong>de</strong>r,<br />

Cada movimento que você fizer,<br />

Cada vínculo que você romper,<br />

Cada passo que você <strong>de</strong>r,<br />

Eu estarei te observando...<br />

A cada dia,<br />

Cada palavra que você disser,<br />

Cada jogo que você jogar,<br />

Cada noite que você ficar,<br />

Eu estarei te observando...<br />

Você não consegue perceber?<br />

Você pertence a mim.<br />

Como meu pobre coração dói<br />

A cada passo que você dá...<br />

138


Cada movimento que você fizer,<br />

Cada promessa que você quebrar,<br />

Cada sorriso que você fingir,<br />

Cada alegação que você arriscar,<br />

Eu estarei te observando...<br />

Des<strong>de</strong> que você partiu tenho estado perdido sem uma pista.<br />

Eu sonho à noite, só consigo ver seu rosto,<br />

Eu olho ao redor, mas é você que não consigo substituir.<br />

Eu sinto tanto frio e eu <strong>de</strong>sejo muito que você me abrace,<br />

Eu continuo implorando "baby, baby, por favor."<br />

Você não consegue perceber?<br />

Você pertence a mim.<br />

Como meu pobre coração dói,<br />

A cada suspiro que você dá.<br />

Cada movimento que você fizer,<br />

Cada promessa que você quebrar,<br />

Cada sorriso que você fingir,<br />

Cada alegação que você arriscar...<br />

Cada movimento que você fizer,<br />

Cada passo que você <strong>de</strong>r,<br />

Eu estarei te observando...<br />

Every Breath you Take<br />

The Police – CD Synchronicity – 1983 (7)<br />

139


Ana estava já pelo oitavo mês <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z.<br />

Continuava trabalhando no escritório apesar das<br />

orientações <strong>de</strong> seu médico e os conselhos da mãe.<br />

Ela precisava continuar a vida.<br />

O trabalho ajudava a esquecer um pouco <strong>de</strong> seu amor.<br />

Os amigos a acalentavam e ajudavam no que fosse<br />

preciso.<br />

Sabia que tinha uma batalha pela frente, quanto à pensão<br />

para o filho que estava por nascer.<br />

Pelo fato <strong>de</strong> Hector ter sido dado como <strong>de</strong>saparecido, ela<br />

teria que brigar na justiça pelo direito à pensão.<br />

Também tinha o <strong>de</strong>sgaste para provar a paternida<strong>de</strong> e isso<br />

seria muito <strong>de</strong>sgastante.<br />

Agora também tinha sua amiga Marta dando um certo<br />

apoio.<br />

Mas a vida era difícil.<br />

Primeiro foram as noites <strong>de</strong> lágrimas, <strong>de</strong>pois o enjoo.<br />

Vieram as rosas e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> tudo isso, a sauda<strong>de</strong>.<br />

Fazia visitas e recebia também da mãe <strong>de</strong> Hector.<br />

Os parentes estavam juntos, mas o vazio permanecia.<br />

Conseguiu esquivar-se <strong>de</strong> todas as investidas do sargento<br />

Alves e <strong>de</strong> outros engraçadinhos que apareciam.<br />

Quando a barriga começou a aparecer, estas investidas<br />

diminuíram.<br />

Às vezes ela sentia como se estivesse sendo seguida.<br />

Comentou com os pais, que logo começaram a escalar<br />

entre si, algum membro da família que a buscasse no trabalho e<br />

lhe fizesse companhia.<br />

Mas nas noites sentia a presença <strong>de</strong> alguém, ou algo.<br />

A melancolia ocupava seu coração e seu quarto.<br />

Algumas vezes se encontrava num <strong>de</strong>terminado lugar e<br />

logo começava a ouvir uma música que a lembrasse <strong>de</strong> seu amor.<br />

Chegou a ouvir solos <strong>de</strong> guitarra, que lembravam os<br />

acor<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Hector em seus ensaios durante a noite.<br />

140


Seus solos, suas batidas, seus rocks no meio da noite.<br />

Seus sonhos.<br />

Me vi sair, trancado estava o porão<br />

Já posso ouvir uma trilha sem dor<br />

As paixões enfim nos seus átrios <strong>de</strong>ixei<br />

E sorri pois senti um amor sem igual<br />

Como uma canção, composta em meu coração<br />

Po<strong>de</strong> te transmitir toda verda<strong>de</strong> do que sinto por Você<br />

Alma veja, perceba, sinta-se<br />

Imortal<br />

Yeah, yeah, yeah... yeah!<br />

Imortal em Ti<br />

Imortal em Ti<br />

Um acor<strong>de</strong> ouvi enquanto abria o portão<br />

Campos corri em busca <strong>de</strong> uma flor<br />

Como um anjo que habita o jardim<br />

Eu sorri pois senti um amor sem igual<br />

E com essa canção composta em meu coração<br />

Quero te transmitir toda verda<strong>de</strong><br />

Do que sinto por Você<br />

Alma veja, perceba, sinta-se<br />

Imortal,<br />

Imortal em Ti<br />

Uma trilha sem dor<br />

Rosa <strong>de</strong> Saron – CD Casa dos Espelhos – 2005 (8)<br />

141


Os discos e CDs ficaram com a mãe, que <strong>de</strong>cidiu guardálos<br />

até <strong>de</strong>cidir o que fazer.<br />

Ana não quis, pois isso manteria as feridas abertas.<br />

Mas a guitarra foi lhe dada.<br />

Algumas vezes a encontrava fora do lugar, como se<br />

tivesse sido mexida.<br />

Pensava que po<strong>de</strong>ria ser o irmão, ou sua mãe ao limpar o<br />

quarto.<br />

Teve a impressão que um dia ela estaria sendo tocada<br />

durante a noite.<br />

Acordou pensando ser um sonho.<br />

Mas ele fora muito nítido.<br />

Estaria ficando louca?<br />

Decidiu procurar um psicólogo que a orientou doar a<br />

guitarra e foi o que fez.<br />

Mas em algumas vezes ainda a ouvia.<br />

Devia ser algum vizinho ensaiando na noite.<br />

Dormia ouvindo a música e sonhava com seu amado.<br />

Não sabia o porquê, mas vinha sentindo sensações<br />

estranhas.<br />

Às vezes se sentia bem, parecia uma boa companhia, mas<br />

às vezes sentia como se alguma coisa ruim estivesse pra<br />

acontecer.<br />

O bairro e a cida<strong>de</strong> estavam ficando muito violentos.<br />

A criminalida<strong>de</strong> estava ficando fora do controle.<br />

Assaltos em todos os locais, ônibus, taxis, bares, bancos.<br />

Não havia mais segurança.<br />

Havia guerras <strong>de</strong> quadrilhas em todos os locais, enquanto<br />

os gran<strong>de</strong>s empresários e políticos andavam em carros blindados,<br />

isso quando andavam. Geralmente eles tinham helicópteros.<br />

E os mortais ficavam ali no meio do fogo cruzado.<br />

142


Já tinha a atingido, mas num dia ao sair do trabalho, fora<br />

abordada por um policial à paisana.<br />

I<strong>de</strong>ntificou-se como soldado Marcio, do 3º pelotão,<br />

subordinado ao sargento Alves.<br />

Disse-lhe que o sargento queria conversar com ela no<br />

carro que aguardava na esquina.<br />

Seu irmão chegou às pressas e conversou com o policial.<br />

Disse-lhe que Ana não tinha nada pra falar com o policial<br />

e que se ele quisesse que a procurasse em sua casa, na presença<br />

dos parentes e seria bem recebido, mas não daquela forma, não na<br />

rua.<br />

O policial meio que contrariado aceitou e foi em direção<br />

à viatura.<br />

De repen<strong>de</strong> Ana ouviu uma voz conhecida a chamando<br />

pelo nome.<br />

Era o sargento Alves.<br />

Queria conversar e exigia que fosse naquela hora.<br />

O irmão interviu e o policial mandou que ele calasse a<br />

boca.<br />

A sorte é que havia testemunhas, vários conhecidos que<br />

vieram ao socorro <strong>de</strong> Ana e começaram a protestar.<br />

O policial afastou-se.<br />

Não era a hora.<br />

Mas não <strong>de</strong>sistiria.<br />

Ana agra<strong>de</strong>ceu aos amigos e foi embora com o irmão.<br />

Chegou em casa e conversou com os pais, que logo<br />

ligaram para um advogado, marcaram hora e <strong>de</strong>cidiram fazer uma<br />

queixa na <strong>de</strong>legacia <strong>de</strong> polícia.<br />

Mas as investidas não pararam ali.<br />

Continuaram durante a semana, até que numa noite, o<br />

policial foi até a porta <strong>de</strong> Ana.<br />

Tocou a campainha e disse que precisava conversar<br />

naquela hora.<br />

143


O pai apareceu e disse que não era hora da polícia ir na<br />

casa <strong>de</strong> alguém, que os procurasse durante o dia.<br />

O policial estava transtornado e fez ameaças.<br />

Dizia que não tinha medo da justiça e que não adiantava<br />

<strong>de</strong>nunciá-lo, pois tinha as costas quentes.<br />

Numa noite, Ana começou a passar mal e foi levada às<br />

pressas para a maternida<strong>de</strong>.<br />

Deu à luz a um lindo menino que chamaria <strong>de</strong> Hector em<br />

homenagem ao pai.<br />

A família reuniu-se no hospital e o irmão foi até sua casa<br />

buscar algumas roupas limpas.<br />

Foi abordado no caminho por homens que o jogaram<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um veículo.<br />

Foi levado a um local afastado e logo o celular do pai <strong>de</strong><br />

Ana tocava anunciando a situação.<br />

De repente, no outro lado da linha, ouviu-se muito<br />

barulho até que a ligação caiu.<br />

Flávio iria ser executado, no que seria noticiado como<br />

sequestro relâmpago.<br />

Mas Roque chegou na hora.<br />

O tiroteio começou. Era uma emboscada.<br />

Mas uma emboscada contra ele era um erro.<br />

Primeiro pegou o irmão <strong>de</strong> Ana e levou-o a um local<br />

seguro.<br />

Depois voltou ao local.<br />

Seus olhos pareciam bolas <strong>de</strong> fogo.<br />

Estava injetado <strong>de</strong> ódio e não poupou ninguém.<br />

Os fuzis disparavam em sua direção e ele fez questão <strong>de</strong><br />

pegar um a um.<br />

Os policiais que estavam na patrulha ficaram por último.<br />

Pegou bandido por bandido e em um momento, <strong>de</strong>ixou<br />

sua espada <strong>de</strong> lado e apanhou dois fuzis dos bandidos abatidos.<br />

Estava no meio do fogo cruzado, mas as balas não o<br />

atingiam.<br />

144


Fuzilou todos os bandidos.<br />

Fazia questão <strong>de</strong> pegar um a um e sentia prazer nisso.<br />

Dizia que a paciência havia se esgotado.<br />

Por último, quando a viatura policial <strong>de</strong>u meia volta e<br />

fugiu, teve a fuga interceptada.<br />

O anjo estava no meio da estrada e parou-a com uma<br />

saraivada <strong>de</strong> balas.<br />

Metralhou a viatura.<br />

Os soldados foram mortos.<br />

Por último, o sargento Alves saiu rastejando pelo chão,<br />

sangrando muito.<br />

O anjo puxou-o pelo pé e virou-o.<br />

Iluminou seu rosto e por um momento <strong>de</strong>ixou ver seu<br />

rosto também.<br />

- Lembra-se <strong>de</strong> mim sargento?<br />

- O Hector.<br />

- Eu voltei, e melhor que antes.<br />

- Agora é hora <strong>de</strong> acertarmos nossa conta.<br />

- O sargento pediu perdão.<br />

- Perdão?<br />

- Eu po<strong>de</strong>ria te perdoar, mas você tentou machucar as<br />

pessoas que amo.<br />

Disparou o fuzil mais uma vez e <strong>de</strong>ixou o corpo do<br />

argento Alves fumegando na estrada.<br />

Atrás <strong>de</strong> si, ficava uma trilha <strong>de</strong> sangue.<br />

Buscou o irmão <strong>de</strong> Ana e <strong>de</strong>ixou-o em casa.<br />

A essa altura, Ana já sabia do acontecido e estava<br />

aliviada.<br />

Seu filhinho mamava em seu peito.<br />

Quando <strong>de</strong> repente, sem que a janela se abrisse, uma luz<br />

invadiu o quarto do hospital.<br />

Uma entida<strong>de</strong> parou ao lado <strong>de</strong> Ana e foi <strong>de</strong>ixando<br />

reduzir <strong>de</strong>u brilho.<br />

Ana pensou que fosse um sonho.<br />

145


O bebê estava calmo e agora dormia nos braços da mãe.<br />

- Quem é você? Hector?<br />

- Sou eu. Eu voltei pra você, por você.<br />

Beijou-a na boca e <strong>de</strong>ixou a cabeça <strong>de</strong>scansar no colo <strong>de</strong><br />

Ana.<br />

Eu te amo e faria qualquer coisa por você, inclusive<br />

driblar a morte.<br />

E ficaram ali os dois juntos.<br />

146


147


19. EPÍLOGO<br />

Uma reunião com fins escusos acontecia numa chácara<br />

nos arredores da cida<strong>de</strong>.<br />

Era uma noite <strong>de</strong> lua nova, ou sem lua como alguns<br />

preferem.<br />

Alguns homens e mulheres po<strong>de</strong>rosos encontravam-se<br />

ali. Políticos, empresários, autorida<strong>de</strong>s policiais, doutores da lei,<br />

até médicos.<br />

Haviam acabado <strong>de</strong> oferecer sangue ao Deus do Mal.<br />

Quando surge no meio da roda, um ser alado com um<br />

brilho maligno nos olhos e uma espada <strong>de</strong> fogo.<br />

Suas asas também eram <strong>de</strong> fogo e tinha a pele escura.<br />

- Meu nome é “Coletora”.<br />

- E eu <strong>de</strong>sejo sangue.<br />

148


149


AGRADECIMENTOS<br />

Agra<strong>de</strong>ço primeiramente à Banda Rosa <strong>de</strong> Saron, pois<br />

quando comecei a ter a i<strong>de</strong>ia para este livro, quando comecei a<br />

compor os personagens, pensei nas suas músicas. Elas se<br />

encaixariam perfeitamente a i<strong>de</strong>ia.<br />

Fiz contato com a banda via internet, solicitando<br />

autorização para incluir as letras <strong>de</strong> algumas músicas no livro e<br />

tive uma resposta positiva.<br />

Estas músicas vão enriquecer e muito a este pequeno<br />

trabalho.<br />

- Obrigado. Vocês moram no meu coração.<br />

As outras bandas, também fazem parte do meu repertório<br />

e eu sinceramente, gostaria <strong>de</strong> apresentar para aqueles que não<br />

conhecem e <strong>de</strong>liciar aqueles que já curtem.<br />

Agra<strong>de</strong>ço a todos os músicos e bandas por terem<br />

composto as gran<strong>de</strong>s canções que abrilhantam este livro.<br />

Muito obrigado a todos vocês, que fazem parte da minha<br />

vida.<br />

Eu queria ter usado mais canções, mas quem sabe na<br />

sequencia ou em outra oportunida<strong>de</strong>.<br />

De certa forma, vocês também são coautores <strong>de</strong>ste livro.<br />

Agra<strong>de</strong>ço também a minha esposa Roberta, pela<br />

paciência que teve comigo nos momentos em que estive absorto<br />

nesta obra e pela inspiração e ajuda nos momentos <strong>de</strong> dúvidas.<br />

Obrigado a todos os amigos que também me ajudaram e<br />

inspiraram esta obra.<br />

Agra<strong>de</strong>ço a todos vocês.<br />

150


NOTAS<br />

(1) The Eagle has Lan<strong>de</strong>d – Saxon – do disco “Power &<br />

the Glory”, o quinto álbum <strong>de</strong> estúdio da banda, lançado em 1983.<br />

(2) Ninguém mais – Rosa <strong>de</strong> Saron – do CD “O Agora e<br />

o Eterno”, sétimo álbum da banda, lançado em 2012.<br />

(3) O sol da meia noite – Rosa <strong>de</strong> Saron – do CD<br />

“Horizonte Distante”, quinto álbum <strong>de</strong> estúdio da banda, lançado<br />

em 2009.<br />

(4) Time of our lives – Night Ranger – do CD<br />

“Somewhere in California”, lançado em 2011.<br />

(5) Ressurrection – Fear Factory – do CD “Obsolete”,<br />

lançado em 1998.<br />

(6) Humans Being – Van Halen – da trilha sonora do<br />

filme “Twister”, lançado em 1996.<br />

(7) Every breaty you take – The Police – do álbum<br />

“Synchronicity”, lançado em 1983.<br />

(8) Uma trilha sem dor – Rosa <strong>de</strong> Saron – do CD “Casa<br />

dos Espelhos”, lançado em 2005.<br />

151


SOBRE O AUTOR<br />

SVNLITTIERE<br />

Natural <strong>de</strong> Além Paraíba, MG, servidor público (militar),<br />

teórico em teologia.<br />

Outras obras:<br />

- Um estabelecimento chamado Brasil<br />

- Deus não se discute. Deus se sente.<br />

- A morte como recompensa. (Ou a morte <strong>de</strong> um<br />

soldado).<br />

152

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