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Jornal Cerrado

Jornal Cerrado, Terça-feira, dia 18/04/2017

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2<br />

GOIÂNIA,<br />

TERÇA-FEIRA<br />

18 DE ABRIL DE 2017<br />

CERRADO<br />

Revista Bula .com<br />

POR LARISSA BITTAR<br />

Mergulhadores sabem mais sobre o mar<br />

do que aqueles que só molham os pés<br />

Eu acredito. Acredito em uma<br />

força que rege o mundo e preenche<br />

com esperança vazios<br />

incômodos. Alguns chamam de<br />

Pai, outros de Alá, Mentor, Criador.<br />

Há quem o veja como energia<br />

e os que o enxergam com<br />

barba e manto celestial. Os que<br />

rezam curvados diante de altares<br />

e os que transformam gestos<br />

cotidianos em oração. Não<br />

considero tolice nenhuma das<br />

opções. Aprecio os que buscam<br />

coragem na fé se desvencilhando<br />

do racionalismo sufocante<br />

por meio de crenças que tornam<br />

a vida suportável. O título foi só<br />

para chamar atenção. Eu gostaria<br />

de falar sobre outra coisa: o<br />

insuportável mimimi feminista<br />

que tem me tirado do sério.<br />

Na verdade não vejo como<br />

mimimi. Acho a luta justa. Reconheço<br />

o esforço de todas que<br />

batalham para equilibrar direitos<br />

e abrir espaços blindados pelo<br />

preconceito. Finalizei o parágrafo<br />

anterior chamando de mimimi<br />

só pela polêmica mesmo. Uma<br />

tentativa de manter vocês um<br />

pouco mais comigo antes de desistirem<br />

do texto. Geralmente<br />

não dá certo. É provável que a<br />

maioria tenha dado adeus ao tomar<br />

conhecimento do meu suposto<br />

ateísmo exposto no título.<br />

Alguns podem ter me xingado<br />

pela blasfêmia. Mal sabem, ao<br />

contrário dos que se dispuseram<br />

a ir além do enunciado, que sou<br />

adepta de velas, novenas e sinal<br />

da cruz ao acordar.<br />

Para os que foram um pouco<br />

adiante do título mas deram<br />

no pé antes da vigésima linha<br />

eu sou uma carola machista. A<br />

vocês, guerreiros, que permanecem<br />

aqui e já me conhecem melhor<br />

que os leitores desistentes,<br />

falo um pouco mais sobre mim:<br />

adoro uva passa no arroz, sou<br />

canhota, tenho medo de palhaço<br />

e procuro não julgar o livro pela<br />

capa, a paisagem pela foto e os<br />

textos pelas três primeiras linhas.<br />

Depois de um certo tempo<br />

a gente aprende que essa história<br />

de que a primeira impressão é<br />

a que fica é bobagem das grandes.<br />

É preciso esmiuçar (pessoas,<br />

ideias, lugares) para então dizer<br />

algo a respeito. Mergulhadores<br />

sabem mais sobre o mar do que<br />

aqueles que só molham os pés.<br />

Mas sejamos francos: esse<br />

negócio de se aprofundar não<br />

combina com o tom imediatista<br />

que rege os tempos vigentes.<br />

A gente tem pressa. Sobretudo<br />

para opinar. Deixa eu falar logo,<br />

reclamar logo, expor logo minha<br />

perplexidade. No mundo das impressões<br />

apressadas, a crônica<br />

que falava sobre amor, escolhas<br />

e vontades ganha contornos de<br />

apologia ao aborto. O relato sobre<br />

a importância de valorizarmos<br />

a juventude e o tempo que<br />

escorre pelas mãos, é visto como<br />

desprezo à terceira idade. A ideia<br />

central estava ali, a dois minutinhos<br />

do título, ansiosa por ser<br />

notada. Com um pouco de disposição<br />

e paciência o indignado<br />

poderia perceber-se equivocado.<br />

Mas há prazer na indignação<br />

precipitada. É ela que faz o peito<br />

palpitar, entusiasmado pela<br />

oportunidade de ser combativo.<br />

Lembro-me bem quando<br />

criança, sentada sob a janela da<br />

vizinha rabugenta, sentir pedrinhas<br />

caindo sobre minha cabeça.<br />

“Louca, bruxa, ridícula”, gritei antes<br />

de enxergar as balas embrulhadas<br />

em celofane espalhadas<br />

pelo chão. Ela queria bandeira<br />

branca. Meu ímpeto raivoso não<br />

me deixou perceber isso a tempo<br />

de frear a ofensa. Faz parte. É<br />

assim no dia-a-dia, é assim nas<br />

redes sociais. Julgamentos impulsivos<br />

aliados a interpretações<br />

preguiçosas. E com que moral<br />

eu, que vejo filmes pela metade<br />

e falo mal de comidas que não<br />

provei, posso reivindicar que<br />

acompanhem as crônicas até os<br />

últimos caracteres para que então<br />

seja feito um juízo de valor?<br />

Fidelidade, parceria e apreço não<br />

se cobra — nem no amor nem em<br />

sites populares. Aos que chegaram<br />

até o fim (beijo mãe) meu<br />

profundo agradecimento.<br />

CERRADO<br />

Informativo diário do gabinete do senador Wilder<br />

Brasília<br />

Senado Federal – Ala Sen. Afonso Arinos – Anexo II<br />

Gabinete nº 13 – CEP 70165-900.<br />

Telefone: (61) 3303-2092/Fax (61) 3303-2964<br />

Goiânia<br />

Rua 88, nº 613, Qd. F-36, Setor Sul —<br />

CEP 74-085-115.<br />

Telefone: (62) 3638-0080/(62) 3945-0041<br />

Editor<br />

Thiago Queiroz<br />

Supervisão gráfica<br />

Valdinon de Freitas<br />

Reportagem<br />

Sinésio Dioliveira, Welliton Carlos,<br />

João Carvalho, Wandell Seixas e<br />

Rafaela Feijó<br />

Capa<br />

Andorinha-domésticagrande<br />

e cipó-pau

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