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Beach Show - edição 63

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BEACH SHOW - COLUNA<br />

Foto: Sean Rowland / WSL<br />

Precisando de um 8,34 para virar o confronto, Medina achou<br />

uma longa direita da série e aplicou diversas batidas de backside.<br />

Comparada com a primeira onda de Medina na bateria (8,83) e com a<br />

última onda de Tanner (8,40), era visível que a onda do brasileiro havia<br />

sido melhor. A virada era dada como certa, mas os juízes pensaram<br />

diferente e deram apenas nota 8,30. Trestles/Califónia<br />

TIRO NO PÉ<br />

POR<br />

Sérgio Cavalcante<br />

Tem gente que nunca estaciona em Pipeline,<br />

ou melhor, tem havaiano que sequer passa por<br />

Pipeline. E você deve estar se perguntando o<br />

porquê? Eu te digo: Trauma! As vezes pode ser<br />

por puro bullying mesmo, por exemplo, o cara<br />

sabe que não tem condições físicas nem mentais<br />

para desbravar aquele mar, e se ele for lá conferir,<br />

sempre vai ter um surfista pra perguntar “vai cair<br />

não?”. Então, para evitar transtorno, o sujeito<br />

evita a todo custo se traumatizar. Quando estou<br />

surfando com meu filho de 4 aninhos, também<br />

não o levo em maré errada ou pra surfar uma onda<br />

que vai fechar, exatamente para não traumatizalo<br />

e ele poder continuar o aprendizado sem<br />

interrupções.<br />

O caso ocorrido recentemente com nosso<br />

campeão mundial, Gabriel Medina, foi mais um<br />

exemplo de um episódio que pode traumatizar<br />

o atleta ao ponto dele não querer mais saber<br />

do mundo competitivo, pois esse não valoriza<br />

o competidor quando uma injustiça como essa<br />

acontece repentinamente.<br />

A partir do momento que conseguimos aquele<br />

primeiro caneco mundial em 2014, tudo mudou.<br />

O surf ganhou espaço e status em toda a mídia<br />

nacional, todos os meios de comunicação<br />

noticiaram o feito inédito; o surf tinha finalmente<br />

crescido! Escolinhas de surf começaram a surgir<br />

em várias praias, a sociedade passou a respeitar<br />

e se interessar muito mais por esse envolvente<br />

esporte. Mas quando um erro gravíssimo, como o<br />

de Trestles (Califórnia) acontece, toda a evolução<br />

esportiva cai por água abaixo, prejudicando não<br />

apenas o atleta, mas toda a credibilidade no<br />

esporte em si, incluindo aí, uma inteira geração de<br />

talentos, que se vê perdida, porque o maior órgão<br />

e entidade do surf não é confiável.<br />

O WSL deu um tiro no próprio pé, pois um episódio<br />

como esse pode se tornar um trauma para os<br />

envolvidos, sobretudo atletas e patrocinadores,<br />

afinal, o investimento é alto, e se não valer a<br />

pena estar ali competindo, o interesse e o foco<br />

diminuem. Esse tipo de acontecimento tira toda<br />

a credibilidade na história da ASP (WSL), e tudo<br />

isso pode vir a acabar por falta de confiança na<br />

competição e no sonho de viver do esporte, pois<br />

toda a energia, o alto astral e o brilho se perdem<br />

quando resultados passam a ser manipulados,<br />

como foi nesse caso. Cadê a tradição e o respeito?<br />

Somos todos seres humanos buscando somente<br />

a felicidade, mas quando substâncias que não<br />

se misturam são colocadas à prova, nunca irá<br />

funcionar.<br />

Surf não combina com desonestidade! Surfamos<br />

por diversão e prazer, e isso que aconteceu<br />

com Gabriel Medina, pode ser só um exemplo<br />

do que ainda está por vir: interesses externos<br />

e politicagem. Tudo isso pode acabar com<br />

nosso esporte competição mais rápido do que<br />

imaginamos. Isso sem falar no sonho de várias<br />

crianças e adolescentes, que vêm nossos ídolos<br />

internacionais sucumbirem diante de um sistema<br />

falido.<br />

O que será que a geração futura vai encontrar<br />

pela frente? Uma “Brazilian Storm” transformada<br />

em chuvisco? Se conseguimos nos livrar daquele<br />

estereótipo de vagabundagem e nos tornamos<br />

atletas da elite, não podemos andar pra trás e<br />

sermos conhecidos como algo sem muito valor,<br />

temos que tomar cuidado pois resultados de<br />

competições são manipulados e fraudados com<br />

muita frequência.<br />

É por essas e outras que os mais céticos ainda<br />

insistem em dizer que o esporte não vale a pena<br />

e que é só para alguns escolhidos e blá, blá, blá...<br />

O mais grave é que machucaram um dos recentes<br />

escolhidos dessa geração, e também toda uma<br />

nação chamada Brasil. Alguém pensa que é fácil<br />

ser surfista?<br />

Para estar ali, naquele momento, Gabriel Medina<br />

batalhou toda uma vida, desde criança, e aliado<br />

a ele existem cerca de 14 patrocinadores que<br />

investem alto no jovem. Se algum deles parar de<br />

acreditar na credibilidade do circuito mundial<br />

WSL e pensar que a imagem da empresa pode<br />

estar comprometida, esse rapaz pode perder<br />

um ou mais patrocinadores. Então é isso que o<br />

atleta ganha quando chega no auge ou será que<br />

ainda existe preconceito? Esse tema é polêmico, a<br />

discussão pode ser longa, mas uma coisa é certa,<br />

eles vão ter que nos engolir!<br />

Afinal de contas de onde vem a evolução? A partir<br />

do momento em que o novo é aceito, ele não mais<br />

pode ser rejeitado, rotulado ou controlado, pois<br />

se assim for, a própria evolução do esporte estaria<br />

sendo comprometida; e tem mais, tudo isso pode<br />

refletir no surfista brasileiro, que já tem dificuldade<br />

em conseguir patrocínio.<br />

O que não pode acontecer é perdermos a essência<br />

e o motivo pelo qual dedicamos diariamente nossa<br />

vidas à essa atividade esportiva, que antes de mais<br />

nada, nos foi premiada para o total e completo<br />

desprendimento de qualquer paradigma ou<br />

preconceito. No surf só tem espaço para muita<br />

liberdade e paz de espírito, que é o que toda “surf<br />

session” nos traz.<br />

Aloha<br />

God Bless<br />

Sergio Cavalcante<br />

SÉRGIO CAVALCANTE<br />

LOCAL DA PRAIA DO FUTURO<br />

33 ANOS DE SURF / GRANDE CAMPEÃO NAS<br />

DÉCADAS DE 80 E 90<br />

26 / BS

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