You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
BEACH SHOW - COLUNA<br />
Foto: Sean Rowland / WSL<br />
Precisando de um 8,34 para virar o confronto, Medina achou<br />
uma longa direita da série e aplicou diversas batidas de backside.<br />
Comparada com a primeira onda de Medina na bateria (8,83) e com a<br />
última onda de Tanner (8,40), era visível que a onda do brasileiro havia<br />
sido melhor. A virada era dada como certa, mas os juízes pensaram<br />
diferente e deram apenas nota 8,30. Trestles/Califónia<br />
TIRO NO PÉ<br />
POR<br />
Sérgio Cavalcante<br />
Tem gente que nunca estaciona em Pipeline,<br />
ou melhor, tem havaiano que sequer passa por<br />
Pipeline. E você deve estar se perguntando o<br />
porquê? Eu te digo: Trauma! As vezes pode ser<br />
por puro bullying mesmo, por exemplo, o cara<br />
sabe que não tem condições físicas nem mentais<br />
para desbravar aquele mar, e se ele for lá conferir,<br />
sempre vai ter um surfista pra perguntar “vai cair<br />
não?”. Então, para evitar transtorno, o sujeito<br />
evita a todo custo se traumatizar. Quando estou<br />
surfando com meu filho de 4 aninhos, também<br />
não o levo em maré errada ou pra surfar uma onda<br />
que vai fechar, exatamente para não traumatizalo<br />
e ele poder continuar o aprendizado sem<br />
interrupções.<br />
O caso ocorrido recentemente com nosso<br />
campeão mundial, Gabriel Medina, foi mais um<br />
exemplo de um episódio que pode traumatizar<br />
o atleta ao ponto dele não querer mais saber<br />
do mundo competitivo, pois esse não valoriza<br />
o competidor quando uma injustiça como essa<br />
acontece repentinamente.<br />
A partir do momento que conseguimos aquele<br />
primeiro caneco mundial em 2014, tudo mudou.<br />
O surf ganhou espaço e status em toda a mídia<br />
nacional, todos os meios de comunicação<br />
noticiaram o feito inédito; o surf tinha finalmente<br />
crescido! Escolinhas de surf começaram a surgir<br />
em várias praias, a sociedade passou a respeitar<br />
e se interessar muito mais por esse envolvente<br />
esporte. Mas quando um erro gravíssimo, como o<br />
de Trestles (Califórnia) acontece, toda a evolução<br />
esportiva cai por água abaixo, prejudicando não<br />
apenas o atleta, mas toda a credibilidade no<br />
esporte em si, incluindo aí, uma inteira geração de<br />
talentos, que se vê perdida, porque o maior órgão<br />
e entidade do surf não é confiável.<br />
O WSL deu um tiro no próprio pé, pois um episódio<br />
como esse pode se tornar um trauma para os<br />
envolvidos, sobretudo atletas e patrocinadores,<br />
afinal, o investimento é alto, e se não valer a<br />
pena estar ali competindo, o interesse e o foco<br />
diminuem. Esse tipo de acontecimento tira toda<br />
a credibilidade na história da ASP (WSL), e tudo<br />
isso pode vir a acabar por falta de confiança na<br />
competição e no sonho de viver do esporte, pois<br />
toda a energia, o alto astral e o brilho se perdem<br />
quando resultados passam a ser manipulados,<br />
como foi nesse caso. Cadê a tradição e o respeito?<br />
Somos todos seres humanos buscando somente<br />
a felicidade, mas quando substâncias que não<br />
se misturam são colocadas à prova, nunca irá<br />
funcionar.<br />
Surf não combina com desonestidade! Surfamos<br />
por diversão e prazer, e isso que aconteceu<br />
com Gabriel Medina, pode ser só um exemplo<br />
do que ainda está por vir: interesses externos<br />
e politicagem. Tudo isso pode acabar com<br />
nosso esporte competição mais rápido do que<br />
imaginamos. Isso sem falar no sonho de várias<br />
crianças e adolescentes, que vêm nossos ídolos<br />
internacionais sucumbirem diante de um sistema<br />
falido.<br />
O que será que a geração futura vai encontrar<br />
pela frente? Uma “Brazilian Storm” transformada<br />
em chuvisco? Se conseguimos nos livrar daquele<br />
estereótipo de vagabundagem e nos tornamos<br />
atletas da elite, não podemos andar pra trás e<br />
sermos conhecidos como algo sem muito valor,<br />
temos que tomar cuidado pois resultados de<br />
competições são manipulados e fraudados com<br />
muita frequência.<br />
É por essas e outras que os mais céticos ainda<br />
insistem em dizer que o esporte não vale a pena<br />
e que é só para alguns escolhidos e blá, blá, blá...<br />
O mais grave é que machucaram um dos recentes<br />
escolhidos dessa geração, e também toda uma<br />
nação chamada Brasil. Alguém pensa que é fácil<br />
ser surfista?<br />
Para estar ali, naquele momento, Gabriel Medina<br />
batalhou toda uma vida, desde criança, e aliado<br />
a ele existem cerca de 14 patrocinadores que<br />
investem alto no jovem. Se algum deles parar de<br />
acreditar na credibilidade do circuito mundial<br />
WSL e pensar que a imagem da empresa pode<br />
estar comprometida, esse rapaz pode perder<br />
um ou mais patrocinadores. Então é isso que o<br />
atleta ganha quando chega no auge ou será que<br />
ainda existe preconceito? Esse tema é polêmico, a<br />
discussão pode ser longa, mas uma coisa é certa,<br />
eles vão ter que nos engolir!<br />
Afinal de contas de onde vem a evolução? A partir<br />
do momento em que o novo é aceito, ele não mais<br />
pode ser rejeitado, rotulado ou controlado, pois<br />
se assim for, a própria evolução do esporte estaria<br />
sendo comprometida; e tem mais, tudo isso pode<br />
refletir no surfista brasileiro, que já tem dificuldade<br />
em conseguir patrocínio.<br />
O que não pode acontecer é perdermos a essência<br />
e o motivo pelo qual dedicamos diariamente nossa<br />
vidas à essa atividade esportiva, que antes de mais<br />
nada, nos foi premiada para o total e completo<br />
desprendimento de qualquer paradigma ou<br />
preconceito. No surf só tem espaço para muita<br />
liberdade e paz de espírito, que é o que toda “surf<br />
session” nos traz.<br />
Aloha<br />
God Bless<br />
Sergio Cavalcante<br />
SÉRGIO CAVALCANTE<br />
LOCAL DA PRAIA DO FUTURO<br />
33 ANOS DE SURF / GRANDE CAMPEÃO NAS<br />
DÉCADAS DE 80 E 90<br />
26 / BS