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<strong>Coleção</strong> <strong>IME</strong>-<strong>ITA</strong><br />
Frente A<br />
Módulo A01 - Gramática<br />
O Ato da comunicação<br />
O homem precisa se comunicar. A comunicação é a base da vida em sociedade. Dessa necessidade humana<br />
nasceu a linguagem.<br />
Aprimorar sua capacidade comunicativa é uma forma de ampliar seu relacionamento com o mundo, tornando-se<br />
apto a compreender melhor a realidade a fim de poder transformá-la. Para se comunicar, o homem elaborou formas de<br />
representação da realidade, recriou-a por meio de sinais ou signos. Criou signos não verbais, como o desenho, a dança,<br />
a pintura, e criou o signo verbal, a palavra.<br />
Os signos são organizados em códigos, e todo o código criado para estabelecer comunicação entre as pessoas é a<br />
linguagem.<br />
LINGUAGEM, LÍNGUA, DISCURSO OU FALA E LINGUÍSTICA.<br />
LINGUAGEM: é a faculdade que possui o homem de poder expressar seus pensamentos, sentimentos, experiências; é<br />
todo sistema de sinais convencionais que nos permite realizar atos de comunicação. Pode ser verbal e não verbal.<br />
a) verbal: aquela cujos sinais são as palavras<br />
b) não verbal: aquela que utiliza outros sinais que não as palavras. O conjunto dos sinais de trânsito, mímica etc.<br />
constituem tipos de linguagem não verbal.<br />
LÍNGUA: é o instrumento social à disposição do falante; é um tipo de linguagem; é a única modalidade de linguagem<br />
baseado em palavras. O alemão e o português são línguas diferentes.<br />
Língua é a linguagem verbal utilizada por um grupo de indivíduos que constitui uma comunidade.<br />
FALA: é a ação comunicativa. É a realização concreta da língua, feita por um indivíduo da comunidade num determinado<br />
momento. É um ato individual que cada membro pode efetuar com o uso da linguagem.<br />
LINGUÍSITICA: é a ciência que estuda a linguagem. Pode ser diacrônica (estuda os fatos de uma língua em épocas<br />
diferentes ou sincrônica ( estuda os fatos de uma língua em determinada época.<br />
A função principal da linguagem é a comunicação.<br />
O ATO DE COMUNICAÇÃO<br />
Comunicação é o processo de que o homem dispõe para transmitir suas ideias, sentimentos, experiências, informações,<br />
etc. São seis os elementos da comunicação: o emissor, o receptor, a mensagem, o código, o canal e o referente.<br />
1. o emissor (ou codificador, fonte, remetente): é o indivíduo ou grupo de indivíduos que formula e envia a mensagem,<br />
mediante a palavra oral ou escrita, gestos, desenhos, etc. Ex.: a TV, uma pessoa – um político falando em um<br />
comício; ou um grupo de pessoas – um abaixo-assinado; ou, ainda, um jornal – o editorial. No caso específico de<br />
um texto publicitário, o emissor sempre será o anunciante.<br />
2. o receptor (ou decodificador, destinatário): é o que interpreta a mensagem transmitida pelo emissor. É o indivíduo<br />
ou grupo de indivíduos a quem a mensagem é endereçada; é o alvo da mensagem. Nos meios de comunicação, o<br />
destinatário recebe a denominação de público-alvo. Ex.: auditório<br />
3. a mensagem: é tudo aquilo que o emissor leva ao receptor. É o conteúdo das informações transmitidas. No caso da<br />
publicidade, a peça veiculada é a mensagem e corresponde tanto àquilo que o emissor diz quanto ao modo como<br />
ele diz. Ou seja, ela engloba o conteúdo e a forma.<br />
4. o canal de comunicação ou contato: é o meio pelo qual a mensagem se propaga; é a via de circulação da<br />
mensagem. Definido o público-alvo, é preciso, então, determinar o canal a ser utilizado para a veiculação da<br />
mensagem. É o suporte, o veículo que conduzirá a mensagem até o seu destinatário. Por exemplo, quando falamos,<br />
o ar (ondas sonoras) é o suporte da mensagem.
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
5. o código: é o sistema de signos e regras que permite formular e compreender a mensagem. É, no caso das<br />
mensagens verbais, uma língua, na qual o emissor codifica a mensagem que o receptor irá decodificar. Além das<br />
línguas, existem outros códigos, organizados a partir de cores, formas, movimentos, etc.. Para que a transmissão da<br />
mensagem seja eficiente, emissor e receptor devem dominar o mesmo código.<br />
6. o referente ou contexto: é a entidade (objeto, fato, estado de coisas) ou a situação do mundo externo a que um<br />
termo símbolo se refere.<br />
O conhecimento de todos esses elementos da comunicação é que assegura a plena eficácia da mensagem.<br />
A linguagem pode ser<br />
1. verbal: código que utiliza a língua falada ou escrita.<br />
2. não verbal: qualquer código que não utiliza palavra.<br />
(
Material <strong>ITA</strong><br />
Existem dois principais níveis ou registros de linguagem:<br />
1. a linguagem culta ou variante-padrão: é utilizada pelas classes intelectuais da sociedade. É a variante de maior<br />
prestígio. Caracteriza-se pela obediência às normas gramaticais. Está diretamente ligada à língua escrita. É a<br />
modalidade linguística tomada como padrão de ensino.<br />
2. a linguagem coloquial ou popular: é a manifestação espontânea da língua. Está presente nas conversas com<br />
amigos, familiares, pessoas com quem temos intimidade. Não segue estritamente a norma culta, é usada no<br />
cotidiano, com a finalidade de comunicação e interação, apresenta gírias, regionalismos, formas contraídas.<br />
Exemplos:<br />
a) Gíria<br />
De acordo com a gramática da língua portuguesa, as gírias são palavras restritas no tempo e limitadas em um<br />
espaço social. Se elas permanecem, deixam de ser gírias e viram neologismos. Por fim, essa palavra é dicionarizada e é<br />
incorporada ao léxico da língua.<br />
b) Regionalismo<br />
3
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
c) Coloquialismo<br />
DENOTAÇAO E CONOTAÇÃO<br />
Denotação é o significado estrito de uma unidade linguística, comum a todos os falantes, não sujeito aos matizes do<br />
contexto, nem às valorizações subjetivas dos falantes, por isso admite apenas uma interpretação. Assim a palavra mar,<br />
por exemplo, em seu sentido conotativo, é apenas uma grande massa de água salgada.<br />
Conotação é o uso do signo em sentido mais rico, mais amplo; é o conjunto de valores afetivos ou evocadores que<br />
se associam a uma palavra ou expressão. Assim a palavra mar, no sentido conotativo, que pode ser empregada em<br />
muitas outras situações: Estou vivendo um mar de rosas (feliz). Eu te darei o céu e o mar. (todo o conforto e felicidade)<br />
FUNÇÕES DA LINGUAGEM<br />
Para que serve a linguagem?<br />
Sabe-se que a linguagem é uma das formas de apreensão e de comunicação das coisas do mundo. O ser humano,<br />
ao viver em conjunto, utiliza vários códigos para representar o que pensa, o que sente, o que quer, o que faz.<br />
Sendo assim, o que conseguimos expressar e comunicar através da linguagem? Para que ela funciona?<br />
A cada mensagem que enviamos ou recebemos, seja esta de natureza verbal ou não verbal, estamos<br />
compartilhando com um discurso que se pauta por finalidades distintas, ou seja, entreter, informar, persuadir, emocionar,<br />
instruir, aconselhar, entre outros propósitos.<br />
Segundo o linguista Roman Jacokson, para cada elemento da comunicação, há uma função da linguagem<br />
correspondente. O gráfico subsequente permite a visualização da proposta de Jakobson (1995, p.123).<br />
1. FUNÇÃO EMOTIVA (OU EXPRESSIVA): por meio dessa função, o emissor imprime, no texto, as marcas de sua<br />
atitude pessoal: emoções, avaliações, opiniões. Por esse motivo, ela normalmente vem escrita em primeira pessoa e de<br />
forma bem subjetiva. Em textos que utilizam a função emotiva há uma presença marcante de figuras de linguagem,<br />
mensagens subentendidas, elementos nas entrelinhas, etc.<br />
Os textos que mais comumente se utilizam desse tipo de linguagem são as cartas, as poesias líricas, as memórias,<br />
as biografias, entre outros:<br />
4<br />
Como o próprio nome já diz, tem o papel de exprimir emoções, impressões pessoais a respeito de determinado assunto.<br />
Sinto que viver é inevitável. Posso na primavera ficar horas sentada fumando, apenas sendo. Ser às vezes sangra.<br />
Mas não há como não sangrar, pois é no sangue que sinto a primavera. Dói. A primavera me dá coisas. Dá do<br />
que viver. E sinto que um dia na primavera é que vou morrer. De amor pungente e coração enfraquecido.<br />
(Clarice Lispector)
Material <strong>ITA</strong><br />
2. FUNÇÃO REFERENCIAL / INFORMATIVA OU DENOTATIVA<br />
É a comunicação pura e simples; esse tipo de linguagem é centrada no referente; por isso, a maior preocupação é<br />
a mensagem; o emissor se limita a informar. Caracteriza-se pelo uso da terceira pessoa do discurso e pela denotação.<br />
Os textos que normalmente fazem uso dessa função são os textos jornalísticos e os científicos:<br />
Ganhador de Nobel de Química/ 2014 recebe notícia de prêmio em Recife.<br />
'Isso é mesmo verdade?', duvidou William Moerner ao saber da premiação.<br />
Além de Moerner, o Prêmio Nobel de Química foi oferecido ao também americano Eric Betzig e ao romeno naturalizado<br />
alemão Stefan Hell. O trio foi laureado por contribuir com trabalhos que levaram a capacidade dos microscópios a um<br />
novo patamar.<br />
Eles desenvolveram técnicas que aumentaram a capacidade de observação de processos em seres vivos enquanto<br />
eles acontecem -- em nível molecular. Assim, se hoje os pesquisadores são capazes, por exemplo, de enxergar como um<br />
neurônio faz a sinapse (comunicação) com outra célula neural, isso se deve ao trabalho dos premiados.<br />
Fonte: http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2014/10/ganhador-de-nobel-de-quimica-2014-recebe-noticia-do-premio-no-recife.html<br />
3. FUNÇÃO FÁTICA<br />
O objetivo do emissor é estabelecer o contato, verificar se o receptor está recebendo a mensagem de forma<br />
autêntica, ou ainda visando prolongar o contato. Há o predomínio de expressões usadas nos cumprimentos como: bom<br />
dia, Oi!. Ao telefone (Pronto! Alô!) e em outras situações em que se testa o canal de comunicação (Está me ouvindo?).<br />
– Ei, qual é mesmo o seu maior sonho? Hem?<br />
– Alô, alô, não desligue preciso falar uma coisa importante, ouviu?<br />
4. FUNÇÃO APELATIVA / CONATIVA<br />
Como sugere a nomenclatura, essa função serve para fazer apelos, pedidos, para comover ou convencer alguém a<br />
respeito do que se diz. Centralizada no receptor, procura influenciá-lo em seus pensamentos ou ações, persuadindo-o,<br />
seduzindo-o. É bastante frequente o uso da segunda pessoa, dos vocativos e dos imperativos.<br />
Essa função é aplicada particularmente nas propagandas ou outros textos publicitários, e também em campanhas<br />
sociais, com o objetivo de comover o leitor:<br />
5. FUNÇÃO METALINGUÍSTICA<br />
A linguagem tem função metalinguística quando o uso do código, usando a linguagem para falar dela mesma.O<br />
professor, na sala de aula que se utilize uma dada língua está fazendo uso da função metalinguística. Um autorretrato é<br />
um bom exemplo.<br />
5
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
6. FUNÇÃO POÉTICA: nesta modalidade, a ênfase encontra-se centrada na própria elaboração da mensagem,<br />
valoriza a informação pela forma como ela é veiculada. A mensagem é elaborada de forma inovadora e imprevista,<br />
utilizando combinações sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou de ideias. Encontra-se permeada nos poemas e, em<br />
alguns casos, na prosa e em anúncios publicitários ou nas letras de música.<br />
[...]<br />
Conhecer as manhas<br />
E as manhãs<br />
O sabor das massas<br />
E das maçãs<br />
É preciso amor<br />
Pra poder pulsar<br />
É preciso paz pra poder sorrir<br />
É preciso a chuva para florir...<br />
[...]<br />
Composição: Almir Sater / Renato Teixeira<br />
EXERCÍCIOS PROPOSTOS<br />
01. (Insper 2014)<br />
A expressividade da charge decorre da(o)<br />
a) sua capacidade de provocar a reflexão do leitor.<br />
b) riqueza de detalhes apresentados com a técnica do pontilhado.<br />
c) concretização do tema por meio da relação entre diferentes planos de linguagem.<br />
d) humor gerado pelo fato de uma criança refletir sobre questões profundas.<br />
e) tom poético da fala enriquecida pelo tracejado artístico do desenho.<br />
6
Material <strong>ITA</strong><br />
02. (ENEM 2013) A diva<br />
Vamos ao teatro, Maria José?<br />
Quem me dera,<br />
desmanchei em rosca quinze kilos de farinha,<br />
tou podre. Outro dia a gente vamos.<br />
Falou meio triste, culpada,<br />
e um pouco alegre por recusar com orgulho.<br />
TEATRO! Disse no espelho.<br />
TEATRO! Mais alto, desgrenhada.<br />
TEATRO! E os cacos voaram<br />
sem nenhum aplauso.<br />
Perfeita.<br />
PRADO, A. Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999.<br />
Os diferentes gêneros textuais desempenham funções sociais diversas, reconhecidas pelo leitor com base em suas<br />
características específicas, bem como na situação comunicativa em que ele é produzido. Assim, o texto “A diva”<br />
a) narra um fato real vivido por Maria José.<br />
b) surpreende o leitor pelo seu efeito poético.<br />
c) relata uma experiência teatral profissional.<br />
d) descreve uma ação típica de uma mulher sonhadora.<br />
e) defende um ponto de vista relativo ao exercício teatral.<br />
03. (ENEM 013)<br />
Os objetivos que motivam os seres humanos a estabelecer comunicação determinam, em uma situação de<br />
interlocução, o predomínio de uma ou de outra função de linguagem. Nesse texto, predomina a função que se<br />
caracteriza por<br />
a) tentar persuadir o leitor acerca da necessidade de se tomarem certas medidas para a elaboração de um livro.<br />
b) enfatizar a percepção subjetiva do autor, que projeta para sua obra seus sonhos e histórias.<br />
c) apontar para o estabelecimento de interlocução de modo superficial e automático, entre o leitor e o livro.<br />
d) fazer um exercício de reflexão a respeito dos princípios que estruturam a forma e o conteúdo de um livro.<br />
e) retratar as etapas do processo de produção de um livro, as quais antecedem o contato entre leitor e obra.<br />
7
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
04. (ENEM PPL 2013) Pesquisa da Faculdade de Educação da USP mostrou que quase metade dos alunos que<br />
ingressam nos cursos de licenciatura em Física e Matemática da universidade não estão dispostos a tornar-se<br />
professores. O detalhe inquietante é que licenciaturas foram criadas exatamente para formar docentes.<br />
A dificuldade é que, se os estudantes não querem virar professores, fica difícil conseguir bons profissionais.<br />
Resolver essa encrenca é o desafio. Salários são por certo uma parte importante do problema, mas outros<br />
elementos, como estabilidade na carreira e prestígio social, também influem.<br />
SCHWARTSMAN, H. Folha de S. Paulo, 13 out. 2012.<br />
Identificar o gênero do texto é um passo importante na caminhada interpretativa do leitor. Para isso, é preciso<br />
observar elementos ligados à sua produção e recepção.<br />
Reconhece-se que esse texto pertence ao gênero artigo de opinião devido ao(à)<br />
a) suporte do texto: um jornal de grande circulação.<br />
b) lugar atribuído ao leitor: interessados no magistério.<br />
c) tema tratado: o problema da escassez de professores.<br />
d) função do gênero: refletir sobre a falta de professores.<br />
e) linguagem empregada pelo autor: formal e denotativa.<br />
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />
05. (Uea 2014) No primeiro e terceiro quadrinhos, as expressões licencinha, tô passando e lascou exemplificam o<br />
emprego de<br />
a) uma modalidade agramatical.<br />
b) uma variante considerada padrão.<br />
c) uma linguagem vulgar e ofensiva.<br />
d) um discurso neutro e formal.<br />
e) um registro coloquial e informal.<br />
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />
Liberdade, onde estás? Quem te demora?<br />
Quem faz que o teu influxo em nós não caia?<br />
Porque (triste de mim!), porque não raia<br />
Já na esfera de Lísia* a tua aurora?<br />
Da santa redenção é vinda a hora<br />
A esta parte do mundo, que desmaia.<br />
Oh!,venha... Oh!,venha, e trêmulo descaia<br />
Despotismo feroz, que nos devora!<br />
Lísia = Portugal<br />
8<br />
Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo,<br />
Oculta o pátrio amor, torce a vontade,<br />
E em fingir, por temor, empenha estudo.<br />
Movam nossos grilhões tua piedade;<br />
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,<br />
Mãe do gênio e prazer, ó Liberdade!<br />
(Bocage)<br />
MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa Através dos Textos. São Paulo: Cultrix, 2006, p.239.
Material <strong>ITA</strong><br />
06. (Uepa 2014) O poema de Bocage organiza uma situação comunicativa interna em que se verificam os seguintes<br />
elementos fundamentais da comunicação: emissor, receptor (contido no próprio texto) e mensagem. No poema<br />
estes elementos são:<br />
a) eu lírico, liberdade e crítica ao despotismo.<br />
b) poema, liberdade e crítica ao despotismo.<br />
c) eu lírico, povo português e crítica ao despotismo.<br />
d) eu lírico, liberdade e língua portuguesa.<br />
e) eu lírico, leitor e crítica ao despotismo.<br />
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />
A jabuticaba só nasce mesmo no Brasil?<br />
Em seu discurso de agradecimento pelo prêmio de Economista do ano em 2003, Pérsio Arida, um dos idealizadores<br />
do Plano Real, utilizou um argumento inusitado para justificar a taxa de juros de equilíbrio de 8% ao ano no Brasil.<br />
“Certas coisas são iguais à jabuticaba, só ocorrem no Brasil”, explicou ele na época. Rapidamente, jornalistas e<br />
intelectuais passaram a citar a frase como parte da chamada “Teoria da Jabuticaba”, com o objetivo de explicar em seus<br />
textos o porquê de alguns fenômenos só acontecerem no Brasil.<br />
Se nas Ciências Humanas a tal teoria parece fazer sucesso, do ponto de vista biológico ela está equivocada. Quem<br />
garante isso é o pesquisador da APT (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios) Eduardo Suguino que tratou de<br />
derrubar alguns mitos sobre a ocorrência do famoso fruto. “A jabuticaba pode até ser nativa do Brasil, mas não ocorre só<br />
aqui”, explicou. “Ela já apareceu em países como Argentina e México em sua forma natural”.<br />
Ainda de acordo com Suguino, a jabuticabeira pode ser cultivada em qualquer canto do planeta. Como se trata de<br />
uma planta propagada por semente, são necessárias apenas três condições para que ela se desenvolva: água, oxigênio e<br />
calor. Mesmo assim, ele faz questão de ponderar sobre a suposta universalidade do tradicional vegetal. “Apesar de<br />
possuir essa capacidade de ser cultivada em qualquer lugar, a jabuticabeira pode ser prejudicada por alguns fatores<br />
ambientais”, afirma. Depois, o pesquisador ainda forneceu exemplos de casos em que o vegetal pode sofrer danos. “Se<br />
levar um exemplar para a Europa durante o inverno, ele dificilmente sobreviverá fora de um vaso ou de ambiente<br />
protegido”.<br />
(Disponível em http:// www.blogdoscuriosos.com.br . Acesso em 19.10.2013. Adaptado)<br />
07. (G1 ifsp 2014) De acordo com o texto, pode-se afirmar que a função da linguagem utilizada predominantemente<br />
pelo autor é<br />
a) a emotiva, pois está centrada em depoimentos subjetivos de pesquisadores que desejam demonstrar seus<br />
sentimentos em relação às jabuticabeiras.<br />
b) a apelativa, já que seu objetivo é o de convencer o leitor a plantar uma jabuticabeira, porque é necessário<br />
água, oxigênio e calor para que se desenvolva.<br />
c) a referencial, pois faz uso da impessoalidade, marcada pelos verbos na terceira pessoa tais como “utilizou”,<br />
“explicou” e “passaram”.<br />
d) a metalinguística, já que se trata de um texto de caráter científico cujo principal assunto é a ciência do plantio<br />
de jabuticaba por toda parte.<br />
e) a poética, uma vez que a ênfase está na construção da mensagem a partir da sonoridade e do ritmo<br />
explorados nas palavras “jabuticabas” e “jabuticabeiras”.<br />
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<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />
08. (G1 cps 2014) Nesse texto publicitário, predomina a função da linguagem<br />
a) referencial, pois a pretensão é informar o leitor sobre a região do Pantanal.<br />
b) poética, pois se exige que a narrativa vencedora relate uma situação verídica.<br />
c) fática, pois a linguagem utilizada nas instruções é característica do público infantil.<br />
d) emotiva, pois se espera que a mensagem seja clara e não dê margem a subjetividades.<br />
e) apelativa, pois se busca interação com o leitor, como comprova o emprego de verbos no imperativo.<br />
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />
O pobre é pop. A periferia é o centro do mundo. E a música popular brasileira nunca mereceu tanto ser chamada<br />
assim — embora esteja cada vez mais distante 1 de um certo totem conhecido como MPB.<br />
A expansão da classe média tem impacto evidente sobre os padrões de consumo no Brasil, inclusive cultural. Mas o<br />
protagonismo das classes C, D e E nos novos fluxos de produção e circulação de música não é efeito colateral de um<br />
aumento da renda familiar, simplesmente.<br />
A periferia (cultural, social ou econômica) do Brasil cansou 2 de esperar o seu lugar ao sol. E tomou pra si o direito<br />
de dizer e fazer o que quer, do jeito que pode, sabe e gosta.<br />
É uma mudança de paradigmas. Um processo cumulativo, iniciado ainda nos idos dos anos 90 [do século<br />
passado], que se acentua e ganha relevo, sobretudo na última década. Uma força irrefreável, que arde em fogo brando.<br />
Ainda que só deixe a sombra da invisibilidade 3 (para ocupar espaços de validação pública, como já foi a dita grande<br />
mídia) quando o caldo já ferve há tanto, 6 que só lhe resta entrar em erupção. Por seus próprios méritos. E, não raro, seus<br />
próprios meios.<br />
Foi o que se deu, em boa medida, com fenômenos da “periferia do bom gosto” como o sertanejo (no Brasil<br />
Central), o axé (na Bahia), o rap (em São Paulo), o funk carioca (no Rio de Janeiro), o pagode (em São Paulo), o forró (no<br />
Ceará) e, mais recentemente, o tecnobrega (no Pará).<br />
Em comum, uma música de “gosto duvidoso”, 4 que geralmente destoa da chamada “linha evolutiva da MPB”. E<br />
que, na sua incontinência habitual, se alastra pelo país — com ou sem o suporte das grandes corporações da indústria<br />
fonográfica e da mídia.<br />
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Material <strong>ITA</strong><br />
5 É a emergência do pobre-star. Que viceja pelos grotões, nos quatro cantos do país, como sintoma de que as<br />
coisas (há tempos...) já não estão mais tão “sob controle”, como se supõe que um dia estiveram, do ponto de vista da<br />
agenda estética da elite cultural.<br />
O espanto com que o tecnobrega foi recebido no Sudeste, há pouco mais de um ano, como algo “esquisito”, que<br />
“brotou do nada”, ilustra bem a crônica da vida na bolha de um mundo globalizado que, em certos segmentos da<br />
sociedade brasileira, ainda não voltou o olhar (e a escuta) para além do próprio umbigo.<br />
VALE, Israel do.Tecnobrega, ditadura da felicidade e a erupção do pobre-star. CULT, São Paulo: Bregantini, n. 183, p. 35, set. 2013.<br />
09. (Unb 2014) Na linguagem cotidiana, não é raro o uso de expressões consideradas clichês. Já no texto formal, tal<br />
recurso é de uso restrito.<br />
No texto em foco, de linguagem predominantemente formal, a utilização do clichê encontra-se em<br />
a) “de um certo totem conhecido como MPB” (ref. 1).<br />
b) “de esperar o seu lugar ao sol” (ref. 2).<br />
c) “para ocupar espaços de validação pública” (ref. 3).<br />
d) “que geralmente destoa da chamada linha evolutiva da MPB.” (ref. 4).<br />
e) “É a emergência do pobre-star.” (ref. 5).<br />
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:<br />
Os textos 1 (manchete de capa da revista Época de 26/08/2013), 2 (manchete de capa da revista Veja de<br />
28/08/2013) e 3 serão analisados em conjunto, na perspectiva da polifonia, do dialogismo e da intertextualidade, isto é,<br />
das relações mantidas entre eles.<br />
Texto 1<br />
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<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
Texto 2<br />
Texto 3<br />
Cair das nuvens (expressão popular)<br />
1. Espantar-se, surpreender-se (com algo que é muito diferente do que se pensava ou se desejava); perceber o próprio<br />
equívoco ou engano.<br />
2. Restr. Decepcionar-se intensamente; desiludir-se.<br />
3. Chegar de modo imprevisto; aparecer repentinamente; cair do céu.<br />
Dicionário Caldas Aulete. http://aulete.uol.com.br/nuvem#ixzz2ggk52qoh<br />
10. (Uece 2014) Assinale com V ou F, conforme seja verdadeiro ou falso o que é dito sobre o texto 3.<br />
( ) O aviãozinho de papel despencando do alto é um recurso para dar mais força de persuasão à manchete,<br />
cujos termos estão dispostos um abaixo do outro, o que sugere uma queda.<br />
( ) É correto afirmar que a capa da revista Época emprega um recurso da poesia concreta.<br />
( ) O processo de construção da manchete de capa da revista Época inclui substituição e acréscimo de elementos<br />
linguísticos, em relação ao texto fonte.<br />
( ) O criador da manchete de Época fez um jogo com dois sentidos do termo real, jogo que foi possível graças à<br />
mudança de gênero desse vocábulo.<br />
( ) Na manchete de Época, apresenta-se apenas uma das funções da linguagem: a função informativa.<br />
Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequência:<br />
a) F – F – V – V – F.<br />
b) V – V – V – V – F.<br />
c) V – F – F – F – V.<br />
d) F – F – F – V – V.<br />
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Material <strong>ITA</strong><br />
11. (Uece 2014) Reflita sobre as seguintes afirmações acerca do texto 2.<br />
I. Na manchete de Veja, a intertextualidade com o dito popular “Cair das nuvens” está mais explícita do que na<br />
manchete de Época.<br />
II. A manchete de Veja apresenta mais recursos gráficos e linguísticos do que a de Época.<br />
É correto afirmar que<br />
a) I é falsa e II é verdadeira.<br />
b) I é verdadeira e II é falsa.<br />
c) ambas são falsas.<br />
d) ambas são verdadeiras.<br />
12. (Uece 2014) Assinale a afirmação que expressa uma ideia INCORRETA sobre os textos 1, 2 e 3.<br />
a) O dito popular “Cair das nuvens” é fonte dos textos 1 e 2.<br />
b) Os textos 1, 2 e 3 dialogam entre si.<br />
c) Nos textos 1 e 2, ouve-se a voz do texto 3, do mesmo modo que, no texto 3, ouvem-se as vozes dos textos 1 e 2.<br />
d) Há, entre os textos 1 e 3, e a expressão popular “Cair das nuvens” no texto 3, um plágio.<br />
13. Descubra, nos textos a seguir, as funções de linguagem:<br />
a) "O homem letrado e a criança eletrônica não mais têm linguagem comum." (Rose-Marie Muraro)<br />
b) "O discurso comporta duas partes, pois necessariamente importa indicar o assunto de que se trata, e em<br />
seguida a demonstração. (...) A primeira destas operações é a exposição; a segunda, a prova." (Aristóteles)<br />
c) "Amigo Americano é um filme que conta a história de um casal que vive feliz com o seu filho até o dia em que<br />
o marido suspeita estar sofrendo de câncer."<br />
d) "Se um dia você for embora<br />
Ria se teu coração pedir<br />
Chore se teu coração mandar." (Danilo Caymmi & Ana Terra)<br />
e) "Olá, como vai?<br />
Eu vou indo e você, tudo bem?<br />
Tudo bem, eu vou indo em pegar um lugar no futuro e você?<br />
Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono tranqüilo..." (Paulinho da Viola)<br />
14. Historinha I<br />
Historinha II<br />
Qual a função da linguagem comum às duas historinhas?<br />
13
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />
O tempo em que o mundo tinha a nossa idade<br />
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
5 Nesse entretempo, ele nos chamava para escutarmos seus imprevistos improvisos. 1 As estórias dele faziam o nosso<br />
lugarzinho crescer até ficar maior que o mundo. Nenhuma narração tinha fim, o sono lhe apagava a boca antes do<br />
desfecho. 9 Éramos nós que recolhíamos seu corpo dorminhoso. 6 Não lhe deitávamos dentro da casa: ele sempre recusara<br />
cama feita. 10 Seu conceito era que a morte nos apanha deitados sobre a moleza de uma esteira. Leito dele era o puro<br />
chão, lugar onde a chuva também gosta de deitar. Nós simplesmente lhe encostávamos na parede da casa. Ali ficava até<br />
de manhã. Lhe encontrávamos coberto de formigas. Parece que os insectos gostavam do suor docicado do velho Taímo.<br />
7 Ele nem sentia o corrupio do formigueiro em sua pele.<br />
– Chiças: transpiro mais que palmeira!<br />
Proferia tontices enquanto ia acordando. 8 Nós lhe sacudíamos os infatigáveis bichos. Taímo nos sacudia a nós,<br />
incomodado por lhe dedicarmos cuidados.<br />
2 Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de olhos transabertos. Como dormia fora, nem dávamos conta. Minha<br />
mãe, manhã seguinte, é que nos convocava:<br />
− Venham: papá teve um sonho!<br />
3 E nos juntávamos, todos completos, para escutar as verdades que lhe tinham sido reveladas. Taímo recebia notícia<br />
do futuro por via dos antepassados. Dizia tantas previsões que nem havia tempo de provar nenhuma. Eu me perguntava<br />
sobre a verdade daquelas visões do velho, estorinhador como ele era.<br />
− Nem duvidem, avisava mamã, suspeitando-nos.<br />
E assim seguia nossa criancice, tempos afora. 4 Nesses anos ainda tudo tinha sentido: a razão deste mundo estava num<br />
outro mundo inexplicável. 11 Os mais velhos faziam a ponte entre esses dois mundos. (...)<br />
Mia Couto<br />
Terra sonâmbula. São Paulo, Cia das Letras, 2007.<br />
15. (Uerj 2014) Este texto é uma narrativa ficcional que se refere à própria ficção, o que caracteriza uma espécie de<br />
metalinguagem.<br />
A metalinguagem está melhor explicitada no seguinte trecho:<br />
a) As estórias dele faziam o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que o mundo. (ref. 1)<br />
b) Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de olhos transabertos. (ref. 2)<br />
c) E nos juntávamos, todos completos, para escutar as verdades que lhe tinham sido reveladas. (ref. 3)<br />
d) Nesses anos ainda tudo tinha sentido: (ref. 4)<br />
16. Leia a tirinha<br />
14<br />
Na tira acima, o elemento que não está permitindo a comunicação é<br />
a) o canal fechado.<br />
b) a falta de referencial.<br />
c) a ausência de emissor.<br />
d) a ausência de receptor.<br />
e) o código desconhecido.<br />
Copyright1999 Mauricio de Sousa Produções Ltda. Todos os direitos reservados.
Material <strong>ITA</strong><br />
17. Convencionalmente, considera-se como “correta” a língua utilizada pelo grupo de maior prestígio social. Essa é a<br />
chamada língua culta, falada, escrita, em situações formais, pelas pessoas de maior instrução. A língua culta é<br />
nivelada, padronizada, principalmente pela escola e obedece à gramática da língua culta padrão.<br />
A língua coloquial, por outro lado, é uma variante espontânea, utilizada nas relações informais entre dois ou mais<br />
falantes. É a língua do cotidiano, sem muita preocupação com as normas. Ela é empregada em propagandas,<br />
como recurso, por vezes, para atrair o consumidor, estabelecendo, com ele, uma empatia que objetiva o consumo<br />
dos produtos anunciados, como no anúncio ao lado:<br />
(Anunciante: São Paulo Alpargatas. Disponível em: . Acesso em: 16 fev. 2011.)<br />
Uma das marcas linguísticas que configuram a linguagem coloquial empregada pelo anunciante, como forma de<br />
identificação com o público consumidor é<br />
a) a apócope da preposição e o paradoxo dos grupos sintáticos paralelos.<br />
b) o verbo DAR, que foi empregado, inicialmente, no imperativo afirmativo.<br />
c) a síncopeda preposição e a metáfora do segundo substantivo da oração.<br />
d) o oximoro que é observável no contraste entre a vida na cidade e na praia.<br />
e) o quiasmo no cruzamento de grupos sintáticos paralelos: cidade versus praia.<br />
18. Diga qual é o nível de linguagem predominante nos textos abaixo.<br />
Coloque:<br />
( 1 ) para língua culta<br />
( 2 ) para gíria<br />
( 3 ) para linguagem coloquial<br />
( 4 ) para linguagem regional<br />
a) ( )<br />
“Vem chuchuca linda,<br />
vem aqui com seu pretinho,<br />
vou te pegar no colo e fazer muito carinho...”<br />
(Bonde do Tigrão.)<br />
b) ( )<br />
Tertúlia<br />
Serranos<br />
Uma chamarra, uma fogueira,<br />
Uma chinoca, uma chaleira<br />
Uma saudade, uma mate amargo,<br />
E a peonada repassando o trago<br />
Noite cheirando a querência<br />
Nas tertúlias do meu pago.<br />
c) ( )<br />
“O pensamento científico é levado para “construções” mais metafóricas que reais, para “espaços de<br />
configuração”, dos quais o espaço sensível não passa, no fundo, de um pobre exemplo. (...) A ciência da<br />
realidade já não se contenta com o como fenomenológico; ela procura o porquê matemático.”<br />
(A formação do espírito científico. Gaston Bachelard)<br />
d) ( ) “Num trupica na tálbua pra num machucáusjueio.”<br />
e) ( ) Mãe, eu tô ligando pra avisá que eu vô chegá mais tarde hoje.<br />
15
Texto para as questões 19 e 20<br />
Poética<br />
Que é poesia?<br />
uma ilha<br />
cercada<br />
de palavras<br />
por todos os lados<br />
Que é um poeta?<br />
um homem<br />
que trabalha um poema<br />
com o suor do seu rosto<br />
Um homem<br />
que tem fome<br />
como qualquer outro<br />
homem.<br />
(Cassiano Ricardo)<br />
19. Quais as funções da linguagem predominantes no poema anterior?<br />
20. Aponte os elementos que integram o processo de comunicação em Poética, de Cassiano Ricardo.<br />
16<br />
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
21. (PUC SP) "Com esta história eu vou me sensibilizar, e bem sei que cada dia é um dia roubado da morte. Eu não sou<br />
um intelectual, escrevo com o corpo. E o que escrevo é uma névoa úmida. As palavras são sons transfundidos de<br />
sombras que se entrecruzam desiguais, estalactites, renda, música transfigurada de órgão. Mal ouso clamar<br />
palavras a essa rede vibrante e rica, mórbida e obscura tendo como contrato o baixo grosso da dor. Alegro com<br />
brio. Tentarei tirar ouro do carvão. Sei que estou adiando a história e que brinco de bola sem bola. O fato é um<br />
ato? Juro que este livro é feito sem palavras. É uma fotografia muda. Este livro é um silêncio. Este livro é uma<br />
pergunta." (Clarice Lispector)<br />
A obra de Clarice Lispector, além de se apresentar introspectiva, marcada pela sondagem de fluxo de consciência<br />
(monólogo interior), reflete, também, uma preocupação com a escritura do texto literário.<br />
Observe o trecho em questão e aponte os elementos que comprovam tal preocupação.<br />
22. Reconheça nos textos a seguir, as funções da linguagem:<br />
a) "O risco maior que as instituições republicanas hoje correm não é o de se romperem, ou serem rompidas, mas<br />
o de não funcionarem e de desmoralizarem de vez, paralisadas pela sem-vergonhice, pelo hábito covarde de<br />
acomodação e da complacência. Diante do povo, diante do mundo e diante de nós mesmos, o que é preciso<br />
agora é fazer funcionar corajosamente as instituições para lhes devolver a credibilidade desgastada. O que é<br />
preciso (e já não há como voltar atrás sem avacalhar e emporcalhar ainda mais o conceito que o Brasil faz de<br />
si mesmo) é apurar tudo o que houver a ser apurado, doa a quem doer." (O Estado de São Paulo)<br />
b) O verbo infinitivo<br />
Ser criado, gerar-se, transformar<br />
O amor em carne e a carne em amor; nascer<br />
Respirar, e chorar, e adormecer<br />
E se nutrir para poder chorar<br />
Para poder nutrir-se; e despertar<br />
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir<br />
E começar a amar e então ouvir<br />
E então sorrir para poder chorar.<br />
E crescer, e saber, e ser, e haver<br />
E perder, e sofrer, e ter horror<br />
De ser e amar, e se sentir maldito<br />
E esquecer tudo ao vir um novo amor<br />
E viver esse amor até morrer<br />
E ir conjugar o verbo no infinito... (Vinícius de Morais)
Material <strong>ITA</strong><br />
c) "Para fins de linguagem a humanidade se serve, desde os tempos pré-históricos, de sons a que se dá o nome<br />
enérico de voz, determinados pela corrente de ar expelida dos pulmões no fenômeno vital da respiração,<br />
quando, de uma ou outra maneira, é modificada no seu trajeto até a parte exterior da boca." (Matoso<br />
Câmara Jr.)<br />
d) "- Que coisa, né?<br />
- É. Puxa vida!<br />
- Ora, droga!<br />
- Bolas!<br />
- Que troço!<br />
- Coisa de louco!<br />
- É!"<br />
e) "Fique afinado com seu tempo. Mude para Col. Ultra Lights."<br />
f) "Sentia um medo horrível e ao mesmo tempo desejava que um grito me anunciasse qualquer acontecimento<br />
extraordinário. Aquele silêncio, aqueles rumores comuns, espantavam-me. Seria tudo ilusão? Findei a tarefa,<br />
ergui-me, desci os degraus e fui espalhar no quintal os fios da gravata. Seria tudo ilusão?... Estava doente, ia<br />
piorar, e isto me alegrava. Deitar-me, dormir, o pensamento embaralhar-se longe daquelas porcarias. Senti<br />
uma sede horrível... Quis ver-me no espelho. Tive preguiça, fiquei pregado à janela, olhando as pernas dos<br />
transeuntes." (Graciliano Ramos)<br />
g) "- Que quer dizer pitosga?<br />
- Pitosga significa míope.<br />
- E o que é míope?<br />
- Míope é o que vê pouco."<br />
23. (CESUPA - CESAM - COPERVES) Segundo o linguista Roman Jakobson, "dificilmente lograríamos (...) encontrar<br />
mensagens verbais que preenchem uma única função... A estrutura verbal de uma mensagem depende basicamente<br />
da função predominante".<br />
"Meu canto de morte<br />
Guerreiros, ouvi.<br />
Sou filho das selvas<br />
Nas selvas cresci.<br />
Guerreiros, descendo<br />
Da tribo tupi.<br />
Da tribo pujante,<br />
Que agora anda errante<br />
Por fado inconstante.<br />
Guerreiros, nasci:<br />
Sou bravo, forte,<br />
Sou filho do Norte<br />
Meu canto de morte,<br />
Guerreiros, ouvi."<br />
(Gonçalves Dias)<br />
Indique a função predominante no fragmento acima transcrito, justificando a indicação.<br />
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:<br />
O texto a seguir foi extraído do livro de memórias do escritor e jornalista carioca, que nasceu em 1926, Carlos<br />
Heitor Cony.<br />
Um livro de memórias é “relato que alguém faz, frequentemente, na forma de obra literária, a partir de<br />
acontecimentos históricos dos quais participou ou foi testemunha, ou que estão fundamentados em sua vida particular”.<br />
Não deve ser confundido com autobiografia.<br />
17
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
O suor e a lágrima<br />
Fazia calor no Rio, quarenta graus e qualquer coisa, quase quarenta e um. No dia seguinte, os jornais diriam que<br />
fora o dia mais quente deste verão que inaugura o século e o milênio. 2 Cheguei ao Santos Dumont, o voo estava<br />
atrasado, decidi engraxar os sapatos. Pelo menos aqui no Rio são raros 3 esses engraxates, só existem nos aeroportos e em<br />
poucos lugares avulsos.<br />
Sentei-me 4 naquela espécie de cadeira canônica, de coro de abadia pobre, que também pode parecer o trono de<br />
um rei desolado de um reino desolante.<br />
O engraxate era gordo e estava com calor — o que me pareceu óbvio. Elogiou 7 meu sapato, cromo italiano, fabricante<br />
ilustre, os Rossetti. 6 Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em parte porque quando posso estou sempre de tênis.<br />
Ofereceu-me o jornal que eu já havia lido e começou seu ofício. Meio careca, o suor encharcou-lhe a testa e a<br />
calva. 5 Pegou aquele paninho que dá brilho final nos sapatos e com ele enxugou o próprio suor, que era abundante.<br />
Com o mesmo pano, executou com maestria aqueles movimentos rápidos em torno da biqueira, mas a todo o<br />
instante o usava para enxugar-se — caso contrário, o suor inundaria o meu cromo italiano.<br />
E foi assim que a testa e a calva do valente filho do povo ficaram manchadas de graxa e o meu sapato adquiriu um<br />
brilho de espelho, à custa do suor alheio. Nunca tive sapatos tão brilhantes, tão dignamente suados.<br />
Na hora de pagar, alegando não ter nota menor, deixei-lhe um troco generoso. Ele me olhou espantado, retribuiu a<br />
gorjeta me desejando em dobro tudo o que eu viesse a precisar no resto dos meus dias.<br />
Saí daquela cadeira com um baita sentimento de culpa. Que diabo, meus sapatos não estavam tão sujos assim, por<br />
45 míseros tostões fizera um filho do povo suar para ganhar seu pão. 1 Olhei meus sapatos e tive vergonha daquele brilho<br />
humano salgado como lágrimas.<br />
CONY, Carlos Heitor. In: Eu aos pedaços: memórias. São Paulo: Leya, 2010. p. 114-115.<br />
24. (Uece 2014) Atente à caracterização do engraxate.<br />
18<br />
Segundo o cronista, ele era gordo e calvo. Essa caracterização<br />
I. está, de algum modo, relacionada com as ideias principais do texto.<br />
II. tem uma função textual.<br />
III. atende a uma necessidade de coerência interna do texto.<br />
Estão corretas as complementações contidas em<br />
a) I, II e III.<br />
b) I e II apenas.<br />
c) II e III apenas.<br />
d) I e III apenas.<br />
25. (Uece 2014) Escreva V ou F, conforme seja verdadeiro ou falso o que se afirma sobre referenciação e relações<br />
sintático-semânticas.<br />
( ) O trecho “No dia seguinte, os jornais diriam que fora o dia mais quente deste verão que inaugura o século e<br />
o milênio” constitui, na narrativa, uma digressão cuja função discursiva é comprovar o que se afirma em<br />
“Fazia calor no Rio, quarenta graus e qualquer coisa, quase quarenta e um.”<br />
( ) A expressão “esses engraxates” (ref. 3) justifica-se, no texto, pela relação indireta com o verbo “engraxar”: o<br />
ato de engraxar pressupõe um agente, no caso, um profissional — um engraxate — “esses engraxates”.<br />
( ) Nas expressões “(n)aquela espécie de cadeira canônica [...]” (ref. 4) e “Pegou aquele paninho que dá brilho [...]” (ref.<br />
5), ao usar o pronome aquele(a), o enunciador não aponta para nenhum elemento da superfície textual, mas aposta<br />
no conhecimento de mundo do enunciatário; em algo que acredita estar na memória dele.<br />
( ) Nas palavras do cronista, “Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em parte porque quando posso estou<br />
sempre de tênis.” (ref. 6), o pronome o(lo) substitui a expressão o meu sapato, (ref. 7), funcionando como<br />
elemento de coesão entre o enunciado em pauta e o enunciado anterior.<br />
Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequência:<br />
a) V – V – V – V.<br />
b) F – V – F – F.<br />
c) F – F – V – F.<br />
d) V – F – F – V.
Material <strong>ITA</strong><br />
26. No texto abaixo, identifique as funções da linguagem:<br />
"Gastei trinta dias para ir do Rossio Grande ao coração de Marcela, não já cavalgando o corcel do cego<br />
desejo, mas o asno da paciência, a um tempo manhoso e teimoso. Que, em verdade, há dois meios de granjear a<br />
vontade das mulheres: o violento, como o touro da Europa, e o insinuativo, como o cisne de Leda e a chuva de<br />
ouro de Dânae, três inventos do padre Zeus, que, por estarem fora de moda, aí ficam trocados no cavalo e no<br />
asno." (Machado de Assis)<br />
Fonologia - Fonemas, letras<br />
Módulo A02 - Fonologia – Fonemas e letras<br />
Fonologia é “a ciência que estuda os sons da língua do ponto de vista de sua função no sistema de comunicação<br />
linguística. Ela estuda os elementos fônicos que distinguem, numa mesma língua, duas mensagens de sentido diferente (<br />
a diferença fônica no início das palavras do português bala e mala, a diferença de posição do acento, no português,<br />
entre sábia, sabia e sabiá, etc.)e aqueles que permitem reconhecer uma mensagem igual através de realizações<br />
individuais diferentes( voz diferente, pronúncia diferente, etc.)Nisto se diferencia da fonética, que estuda os elementos<br />
fônicos independentemente de sua função na comunicação”.<br />
DUBOIS, Jean Etalii. Dicionário de linguística. São Paulo: Cutrix.<br />
Observe:<br />
“Vamos recorrer em liberdade!” = frase é composto de 26 letras.<br />
“Vamos” / “recorrer” / “em” / “liberdade” = palavras<br />
“Re / cor / rer” = sílabas<br />
“R / e / c / o / r / r / e / r” (considerando a grafia) = letras<br />
“R / E / K / O / R / E / R” (considerando os sons) = fonemas<br />
LETRA: é cada um dos caracteres do alfabeto. O alfabeto da língua portuguesa<br />
FONEMA: é menor unidade que participa da constituição sonora da palavra .<br />
Observe, nos exemplos a seguir, os fonemas que marcam a distinção entre os pares de palavras:<br />
morta – porta<br />
morro - corro<br />
lua - tua<br />
CLASSIFICAÇÃO DOS FONEMAS<br />
Os fonemas da língua portuguesa são classificados em:<br />
1) Vogais<br />
São sons que se formam quando a corrente de ar vinda dos pulmões não sofre nenhum tipo de interrupção. As<br />
vogais são, portanto, sons que chegam livremente ao meio exterior. Em nossa língua, desempenham o papel de núcleo<br />
das sílabas. Assim, isso significa que em toda sílaba há necessariamente uma única vogal.<br />
Na produção de vogais, a boca fica aberta ou entreaberta.<br />
As vogais podem ser:<br />
a) Orais: quando o ar sai apenas pela boca. Por Exemplo:<br />
/a/, /e/, /i/, /o/, /u/.<br />
b) Nasais: quando o ar sai pela boca e pelas fossas nasais. Por Exemplo:<br />
/ã/: fã, canto, tampa<br />
/ế/: dente, tempero<br />
/ĩ/: lindo, mim<br />
/õ/ bonde, tombo<br />
/ũ/ nunca, algum<br />
19
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
c) Átonas: pronunciadas com menor intensidade.<br />
Por Exemplo: até, bola<br />
d) Tônicas: pronunciadas com maior intensidade.<br />
Por Exemplo: até, bola<br />
Quanto ao timbre, as vogais podem ser:<br />
Abertas<br />
Exemplos: pé, lata, pó<br />
Fechadas<br />
Exemplos: mês, luta, amor<br />
Reduzidas - Aparecem quase sempre no final das palavras.<br />
Exemplos: dedo, ave, gente<br />
Quanto à zona de articulação:<br />
Anteriores ou Palatais - A língua eleva-se em direção ao palato duro (céu da boca).<br />
Exemplos: é, ê, i<br />
Posteriores ou Velares - A língua eleva-se em direção ao palato mole (véu palatino).<br />
Exemplos: ó, ô, u<br />
Médias - A língua fica baixa, quase em repouso.<br />
Por Exemplo: a<br />
2) Semivogais<br />
Os fonemas /i/ e /u/, algumas vezes, não são vogais. Aparecem apoiados em uma vogal, formando com ela uma<br />
só emissão de voz (uma sílaba). Nesse caso, esses fonemas são chamados de semivogais. A diferença fundamental entre<br />
vogais e semivogais está no fato de que estas últimas não desempenham o papel de núcleo silábico.<br />
Observe a palavra papai. Ela é formada de duas sílabas: pa-pai. Na última sílaba, o fonema vocálico que se<br />
destaca é o a. Ele é a vogal. O outro fonema vocálico i não é tão forte quanto ele. É a semivogal.<br />
Outros exemplos:<br />
saudade, história, série.<br />
os fonemas /i/ e /u/ podem aparecer representados na escrita por” e”, “o” ou “m”.<br />
Veja:<br />
pães / pãis mão / mãu/ cem /cếi/<br />
3) Consoantes<br />
Para a produção das consoantes, a corrente de ar expirada pelos pulmões encontra obstáculos ao passar pela<br />
cavidade bucal. Isso faz com que as consoantes sejam verdadeiros “ruídos”, incapazes de atuar como núcleos silábicos.<br />
Seu nome provém justamente desse fato, pois, em português, sempre consoam (“soam com”) as vogais.<br />
Exemplos: /b/, /t/, /d/, /v/, /l/, /m/, etc.<br />
DÍGRAFOS<br />
Consonantais: CH (CHave), LH (gaLHo), NH (niNHo), RR (caRRo), SS (aSSim), QU (QUilo), GU (GUerra), SC (naSCer), S<br />
Ç (deSÇa), XC (eXCeção), XS (eXSudar).<br />
Vocálicos: AM/NA (cAMpo, sANgue), EM/EM (sEMpre, tENto), IM/IN (lIMpo, tINgir), OM/ON (rOMbo, tONto), UM/UM<br />
(nenhUM, sUNga).<br />
20
Material <strong>ITA</strong><br />
DÍFONO - É uma letra que reproduz dois fonemas .a ortografia portuguesa apresenta apenas um dífono. Trata-se da<br />
letrax ,quando empregada com valor de /ks/.<br />
Ex.: táxi, fixa, anexo<br />
ENCONTROS CONSONANTAIS<br />
É o encontro de duas consoantes na mesma sílaba que emitem dois sons distintos. (Consoante + l ou r):<br />
atleta, placa, blusa, crise, franco, preto.<br />
O encontro das consoantes pode ser:<br />
Perfeito ou inseparável: consoantes ficam na mesma sílaba<br />
a) Blu-as b)cri-se c)pra-ta<br />
Imperfeito, separável, disjunto ou aparente : as consoantes ficam em sílabas distintas:<br />
b) Ab-di-car b)sub-so-lo c) ad-vo-ga-do<br />
ENCONTROS VOCÁLICOS<br />
1. HIATO: encontro de duas vogais em sílabas diferentes: sa-í-da, pa-ís, vo-o.<br />
2. DITONGO: encontro, na mesma sílaba, de VOGAL e SEMIVOGAL — ditongo decrescente (moi-ta, cai, mói) — ou<br />
de SEMIVOGAL e VOGAL — ditongo crescente (qual, pá-tria, sé-rio). Podem ser ORAIS (nos exemplos anteriores)<br />
ou NASAIS (mãe ou pão).<br />
3. TRITONGO: SEMIVOGAL + VOGAL + SEMIVOGAL na mesma sílaba :Paraguai,Uruguai(orais), quão (nasal).<br />
Observação: Ninguém, também e cantaram, amaram — são exemplos de ditongos nasais decrescentes (-EM, -AM).<br />
4. IODE - É o agrupamento de uma semivogal / i / entre duas vogais. Foneticamente, ocorre duplo ditongo. A<br />
semivogal /i/ será representada com duplo Y.<br />
a) meia = iode, cuja representação fonética é → [´mey. yɐ].<br />
b) joia = iode, cuja representação fonética é → [´Ʒɔy. yɐ].<br />
c) ideia = iode, cuja representação fonética é → [i.´dɛy. yɐ].<br />
5. VAU<br />
O mesmo que a Iode, porém com a semivogal /u/ cuja representação fonética é um duplo W.<br />
a) Piauí = Vau, cuja representação fonética é → [pi. aw.´wi].<br />
b) Mauá = Vau, cuja representação fonética é → [maw.´wa].<br />
Exercícios propostos<br />
Texto comum à questão 27.<br />
Leia o poema de Carlos Drummond de Andrade.<br />
LAGOA<br />
Eu não vi o mar.<br />
Não sei se o mar é bonito,<br />
não sei se ele é bravo.<br />
O mar não me importa.<br />
Eu vi a lagoa.<br />
A lagoa, sim.<br />
A lagoa é grande<br />
e calma também.<br />
Na chuva de cores<br />
da tarde que explode<br />
a lagoa brilha<br />
a lagoa se pinta<br />
de todas as cores.<br />
Eu não vi o mar.<br />
Eu vi a lagoa...<br />
21
27. (FGV) Observe as frases:<br />
"Eu não vi o mar".<br />
"Eu não vi Omar".<br />
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
Evidentemente, a segunda frase não caberia no poema pela construção semântica "mar × lagoa". No entanto,<br />
tomado o verso fora do contexto do poema, o seu entendimento poderia ser prejudicado. Isso decorre do fato de:<br />
a) a construção frasal ser semelhante, apesar de haver diferenciação na pronúncia das palavras.<br />
b) haver uma coincidência na seleção de fonemas entre as duas frases, o que leva à idêntica pronúncia.<br />
c) não haver equivalência entre os fonemas de ambas as frases, o que as torna bastante ambíguas.<br />
d) haver duas unidades linguísticas (o mar) sendo retomadas por uma (Omar) de pronúncia diferente.<br />
e) haver diferença na quantidade de letras nas duas frases, mas equivalência de fonemas entre elas.<br />
28. (UFSM) A palavra SANGUESSUGA possui 11 letras, 8 fonemas e 3 dígrafos; DEMOCRACIA tem 10 letras, 1<br />
encontro consonantal e 1 hiato. Relacione as duas colunas a seguir e depois assinale a alternativa com a sequência<br />
correta.<br />
1. república<br />
2. hábito<br />
3. reeleição<br />
4. candidatos<br />
5. corrupção<br />
6. excessivo<br />
( ) 9 fonemas, 1 dígrafo<br />
( ) 7 fonemas, 2 dígrafos<br />
( ) 8 fonemas, 1 dígrafo, 1 encontro consonantal<br />
( ) 9 fonemas, 1 encontro consonantal<br />
( ) 9 fonemas, 2 ditongos, 1 hiato<br />
( ) 5 fonemas<br />
a) 6 - 4 - 1 - 5 - 3 - 2<br />
b) 2 - 4 - 5 - 6 - 3 - 1<br />
c) 5 - 1 - 6 - 4 - 2 - 3<br />
d) 4 - 6 - 5 - 1 - 3 - 2<br />
e) 3 - 5 - 2 - 6 - 4 - 1<br />
Texto comum à questão 29<br />
INSTRUÇÃO: As questões seguintes são relacionadas a uma passagem bíblica e a um trecho da canção Cálice,<br />
realizada em 1973, por Chico Buarque (1944 -) e Gilberto Gil (1942 -).<br />
TEXTO BÍBLICO<br />
Pai, se queres, afasta de mim este cálice! Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita! (Lucas, 22)<br />
(In: Bíblia de Jerusalém. 7ª impressão. São Paulo: Paulus, 1995)<br />
TRECHO DE CANÇÃO<br />
Pai, afasta de mim esse cálice!<br />
Pai, afasta de mim esse cálice!<br />
Pai, afasta de mim esse cálice<br />
De vinho tinto de sangue.<br />
22<br />
Como beber dessa bebida amarga,<br />
Tragar a dor, engolir a labuta,<br />
Mesmo calada a boca, resta o peito,<br />
Silêncio na cidade não se escuta.<br />
De que me vale ser filho da santa,<br />
Melhor seria ser filho da outra,<br />
Outra realidade menos morta,<br />
Tanta mentira, tanta força bruta.<br />
(In: www.uol.com.br/chicobuarque/)
Material <strong>ITA</strong><br />
29. (Unifesp 2003) Na língua portuguesa escrita, quando duas letras são empregadas para representar um único<br />
fonema (ou som, na fala), tem-se um "dígrafo". O dígrafo só está presente em todos os vocábulos de<br />
a) Pai, minha, tua, esse, tragar.<br />
b) afasta, vinho, dessa, dor, seria.<br />
c) queres, vinho, sangue, dessa, filho.<br />
d) esse, amarga, Silêncio, escuta, filho.<br />
e) queres, feita, tinto, Melhor, bruta.<br />
30. (FGV) Os dois hiatos das formas verbais devem ser acentuados apenas na alternativa:<br />
a) refluir, intuindo.<br />
b) construindo, destruido.<br />
c) caida, saiste.<br />
d) instruido, intuir.<br />
e) refluira, destruindo.<br />
31. (FGV) Cada uma das palavras a seguir apresenta separação silábica em um ponto. Assinale a alternativa em que<br />
não haja erro de separação.<br />
a) Transatlân-tico, in-terestadual, refei-tório, inex-cedível<br />
b) Trans-atlântico, o-pinião, inter-estadual, refeitó-rio<br />
c) Trans-atlântico, opi-nião, interestadu-al, in-excedível<br />
d) Transa-tlântico, opini-ão, interestadu-al, in-excedível<br />
e) Transatlânti-co, inter-estadual, re-feitório, inexce-dível<br />
32. (Fuvest ) Leia o seguinte texto, que trata das diferenças entre fala e escrita:<br />
Talvez ainda mais digno de atenção seja o desaparecimento [na escrita] da mímica e das inflexões ou variações do<br />
tom da voz. A sua falta tem de ser suprida por outros recursos.<br />
É, neste sentido, que se torna altamente instrutiva a velha anedota, que nos conta a indignação de um rico<br />
fazendeiro ao receber de seu filho um telegrama com a frase singela – “mande-me dinheiro”, que ele lia e relia<br />
emprestando-lhe um tom rude e imperativo. O bom homem não era tão néscio quanto a anedota dá a entender:<br />
estava no direito de exigir da formulação verbal uma qualidade que lhe fizesse sentir a atitude filial de carinho e<br />
respeito e de refugar uma frase que, sem a ajuda de gestos e entoação adequada, soa à leitura espontaneamente<br />
como ríspida e seca.<br />
J. Mattoso Câmara Jr., Manual de expressão oral e escrita. Adaptado.<br />
a) Considerando-se que o verbo da frase do telegrama está no imperativo, se essa mesma frase fosse dita em<br />
uma conversa telefônica, haveria possibilidade de o pai entendê-la de modo diferente? Explique.<br />
b) Reescreva a frase do telegrama, acrescentando-lhe, no máximo, três palavras e a pontuação adequada, de<br />
modo a atender a exigência do pai, mencionada no texto.<br />
33. (ENEM) Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou ao mercado, apuro o ouvido; não espero só o sotaque geral dos<br />
nordestinos, onipresentes, mas para conferir a pronúncia de cada um; os paulistas pensam que todo nordestino fala igual;<br />
contudo as variações são mais numerosas que as notas de uma escala musical. Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do<br />
Norte, Ceará, Piauí têm no falar de seus nativos muito mais variantes do que se imagina. E a gente se goza uns dos outros,<br />
imita o vizinho, e todo mundo ri, porque parece impossível que um praiano de beira-mar não chegue sequer perto de um<br />
sertanejo de Quixeramobim. O pessoal do Cariri, então, até se orgulha do falar deles. Têm uns tês doces, quase um the; já<br />
nós, ásperos sertanejos, fazemos um duro auoueu de todos os terminais em alou el– carnavau, Raqueu... Já os paraibanos<br />
trocam o l pelo r. José Américo só me chamava, afetuosamente, de Raquer.<br />
Queiroz, R. O Estado de São Paulo. 09 maio 1998 (fragmento adaptado).<br />
Raquel de Queiroz comenta, em seu texto, um tipo de variação linguística que se percebe no falar de pessoas de<br />
diferentes regiões. As características regionais exploradas no texto manifestam-se<br />
a) na fonologia.<br />
b) no uso do léxico.<br />
c) no grau de formalidade.<br />
d) na organização sintática.<br />
e) na estruturação morfológica.<br />
23
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
34. (ENEM) Para o Mano Caetano<br />
O que fazer do ouro de tolo<br />
Quando um doce bardo brada a toda brida,<br />
Em velas pandas, suas esquisitas rimas?<br />
Geografia de verdades, Guanabaraspostiças<br />
Saudades banguelas, tropicais preguiças?<br />
A boca cheia de dentes<br />
De um implacável sorriso<br />
Morre a cada instante<br />
Que devora a voz do morto, e com isso,<br />
Ressuscita vampira, sem o menor aviso<br />
[...]<br />
E eu soylobo-bolo? lobo-bolo<br />
Tipo pra rimar com ouro de tolo?<br />
Oh, Narciso Peixe Ornamental!<br />
Tease me, tease me outra vez 1<br />
Ou em banto baiano<br />
Ou em português de Portugal<br />
De Natal<br />
[...]<br />
1 Tease me (caçoe de mim, importune-me).<br />
LOBÃO. Disponível em: http://vagalume.uol.com.br. Acesso em:<br />
14 ago. 2009 (adaptado).<br />
Na letra da canção apresentada, o compositor Lobão explora vários recursos da língua portuguesa, a fim de<br />
conseguir efeitos estéticos ou de sentido. Nessa letra, o autor explora o extrato sonoro do idioma e o uso de termos<br />
coloquiais na seguinte passagem:<br />
a) “Quando um doce bardo brada a toda brida” (v. 2)<br />
b) “Em velas pandas, suas esquisitas rimas?” (v. 3)<br />
c) “Que devora a voz do morto” (v. 9)<br />
d) “lobo-bolo//Tipo pra rimar com ouro de tolo? (v. 11-12)<br />
e) “Tease me, tease me outra vez” (v. 14)<br />
35. (UFRR) Assinale a alternativa em que as palavras: “resumiu”, “rodeios” e “meias” estão corretamente divididas em<br />
sílabas.<br />
a) re-su-miu, ro-dei-os, me-i-as.<br />
b) re-su-mi-u, ro-de-i-os, mei-as.<br />
c) re-su-mi-u, ro-de-ios, me-ias.<br />
d) re-su-miu, ro-dei-os, mei-as.<br />
e) re-su-mil, ro-de-ios, me-i-as.<br />
36. (UNIFOR CE)<br />
Conforme o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, a partir de janeiro de 2013, a ortografia portuguesa<br />
passa por algumas mudanças. Algumas dessas mudanças estão relacionadas à (ao):<br />
a) Crase. Acentuação. Hífen.<br />
b) Alfabeto. Acentuação. Trema.<br />
c) Trema. Pronúncia. Hífen.<br />
d) Alfabeto. Hífen. Crase.<br />
e) Trema. Acentuação. Pronúncia.<br />
24
Material <strong>ITA</strong><br />
37. (UFAM) Assinale a opção constante de vocábulos que apresentem ditongo decrescente nasal (o primeiro), encontro<br />
consonantal (o segundo) e dígrafo (o terceiro):<br />
a) puniu – exclamar – enxágue<br />
b) quatro – samba – escala<br />
c) tênue – excitar – aquoso<br />
d) fortuito – descida – leque<br />
e) muito – obtuso – mundo<br />
38. (FGV) Segundo o dicionário Houaiss, dígrafo corresponde a um “grupo de duas letras usadas para representar um<br />
único fonema”. Essa definição é exemplificada com as seguintes palavras do texto:<br />
a) administrador, designação, vergonha.<br />
b) trabalhava, comissão, maluquice.<br />
c) roupa, supérfluas, contentou.<br />
d) aflito, desgraça, fechado.<br />
e) público, gratificação, desgraçado.<br />
39. (Pucmg 2004) QUESTÃO RELACIONADA À OBRA BEIRA-MAR, DE PEDRO NAVA.<br />
Todos os trechos a seguir revelam a sensibilidade de Pedro Nava em explorar fonemas, dos quais obtém resultados<br />
significativos, como se vê nos trechos que se seguem, EXCETO:<br />
a) "O Deolindo conferiu, teve nada para dizer mas surripiou-me a oportunidade de ver o diretor - ele mesmo<br />
levando-os à assinatura sempre traçada num cursivo inglês com finos e grossos preciosos."<br />
b) "Chamavamo-laFarfalla, Farfalleta, inspirados naquela semelhança e na do seu jeito esquivo de borboleta."<br />
c) "Matei uma de minhas fomes e agradeci chamando-a de minha Irmã Borboleta - dizendo na sua língua -<br />
Schwester, Schmetterling. À palavra movediça e adejante, suas maçãs pegaram fogo."<br />
d) "E precisa? descrever o voo das andorinhas se seu desenho sinuoso já está no nome do passarinho, nome<br />
inspirado nas qualidades do adejo - como acontece em todas as línguas - não vê? Olha hirondelle,<br />
golondrina, rondinela, swallow, Schwalbe..."<br />
40. (Fgv 2001) Assinale a alternativa verdadeira.<br />
a) Nas palavras HISTÓRIA, ENQUANTO e TRANQUILO, encontramos ditongos crescentes.<br />
b) É correta a separação silábica de BA-LEI-A, EX-CUR-SÃO, TRANS-A-MA-ZÔ-NI-CA.<br />
c) As palavras PSEUDÔNIMO e FOTOGRAFIA têm, respectivamente dígrafo e encontro consonantal.<br />
d) As palavras ENIGMA e SUBLINGUAL são polissílabas.<br />
e) As palavras CHAPEUZINHO e CRISTÃMENTE são proparoxítonas.<br />
41. (U.F.Maranhão) Foneticamente, o vocábulo passo contém:<br />
a) um dígrafo.<br />
b) um ditongo.<br />
c) uma vogal e uma semivogal.<br />
d) um encontro consonantal.<br />
e) um hiato.<br />
42. (PUC-SP) Assinale a alternativa que apresenta tritongo, hiato, ditongo crescente e dígrafo:<br />
a) quais, saúde, perdoe, álcool<br />
b) cruéis, mauzinho, quais, psique<br />
c) quão, mais, mandiú, quieto<br />
d) aguei, caos, mágoa, chato<br />
e) n.d.a.<br />
43. (<strong>ITA</strong>-SP) Dadas as palavras:<br />
1) tung-stê-nio<br />
2) bis-a-vô<br />
3) du-e-lo<br />
25
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
26<br />
Constatamos que a separação silábica está correta:<br />
a) apenas em I<br />
b) apenas em 2<br />
c) apenas em 3<br />
d) em todas as palavras<br />
e) n.d.a.<br />
44. (UnB DF) Marque a opção em que todas as palavras apresentam um dígrafo:<br />
a) fixo, auxilio, tóxico, exame<br />
b) enxergar, luxo, bucho, olho<br />
c) bicho, passo, carro, banho<br />
d) choque, sintaxe, unha, coxa<br />
45. (PUC PR) Assinale a alternativa em que o x nunca é pronunciado como /ks/:<br />
a) tóxico, máximo, prolixo<br />
b) êxtase, exímio, léxico<br />
c) exportar, nexo, tóxico<br />
d) máximo, êxodo, exportar<br />
e) exímio, prolixo, êxodo<br />
46. (Fuvest SP) Assinale a alternativa em que todas as palavras estejam corretamente grafadas.<br />
a) tecer, vazar, aborígene, tecitura, maisena<br />
b) rigidez, garage, dissenção, rigeza, cafuzo<br />
c) minissaia, paralisar, extravasar, abscissa, co-seno<br />
d) abcesso, rechaçar, indu, soçobrar, coalizão<br />
e) lambujem, advinhar, atarraxar, bússola, usofruto<br />
47. (<strong>ITA</strong> SP) Dadas as afirmações:<br />
1) O acento grave ( ` ), atualmente, só é usado para indicar a crase do a. Por exemplo: Dei uma pulseira de<br />
ouro àquela moça.<br />
2) O u no grupo gua-guo-qua-quo recebe trema quando for pronunciadoatonamente. Ex.: longínqüo.<br />
3) O u do grupo gue-gui-que-qui recebe trema quando for pronunciado tonicamente. Ex.: freqüente.<br />
Deduzimos que:<br />
a) apenas a afirmação nª 1 está correta.<br />
b) apenas a afirmação nª 2 está correta.<br />
c) apenas a afirmação nª 3 está correta.<br />
d) todas estão corretas.<br />
e) n.d.a.<br />
48. (<strong>ITA</strong> SP) Em qual alternativa as palavras estão grafadas corretamente?<br />
a) receoso, reveses, discrição, umedecer<br />
b) antidiluviano, sanguissedento, aguarraz, atribue<br />
c) ineludível, engolimos, sobressaem, explendoroso<br />
d) encoragem, rijeza, tecitura, turbo-hélice<br />
e) dissensão, excurcionar, enxugar, asimétrico<br />
49. (Fuvest SP) “Meditemos na regular beleza que a natureza nos oferece”.<br />
Assinale a alternativa em que o homônimo tem o mesmo significado do empregado na oração acima:<br />
a) Não conseguia regular a marcha do carro.<br />
b) É bom aluno, mas obteve nota regular.<br />
c) Aquilo não era regular, devia ser corrigido.<br />
d) Admirava-se, ali, a disposição regular dos canteiros.<br />
e) Daqui até sua casa há uma distância regular.
Material <strong>ITA</strong><br />
50. (<strong>ITA</strong> SP) O acento gráfico das palavras pudico, interim, aerolito, aerodromo, foi, aqui, caso ocorra, propositalmente<br />
eliminado. Quanto ao acento tônico, sua respectiva classificação é:<br />
a) paroxítona – paroxítona – paroxítona – paroxítona.<br />
b) paroxítona – proparoxítona – proparoxítona – proparoxítona.<br />
c) proparoxítona – proparoxítona – proparoxítona – proparoxítona.<br />
d) paroxítona – proparoxítona – proparoxítona – paroxítona.<br />
e) paroxítona – oxítona – paroxítona – paroxítona.<br />
Texto comum à questão 51.<br />
O poeta é um fingidor<br />
Finge tão completamente<br />
Que chega a fingir que é dor<br />
A dor que deveras sente.”<br />
(Fernando Pessoa)<br />
51. Julgue as assertivas a seguir e assinale a sequência obtida:<br />
I. Há, no texto, um hiato.<br />
II. Há dois exemplos de encontro consonantal.<br />
III. Há, no texto, sete dígrafos vocálicos.<br />
IV. Há, no texto, exemplo de dígrafo consonantal.<br />
a) V-V-V-V<br />
b) F-V-V-V<br />
c) V-F-F-V<br />
d) F-F-V-V<br />
e) V-F-V-V<br />
52. (GPRSF) Assinalar a alternativa incorreta quanto ao número de fonemas e letras, respectivamente:<br />
a) cochichar (7,9)<br />
b) frequentemente (12,14)<br />
c) horrível (6,8)<br />
d) passarinheiro (11,13)<br />
e) joia (4,5)<br />
53. Assinale verdadeiro (V) ou falso (F) em cada uma das afirmações relacionadas à análise fonológica e gráfica do<br />
segmento a seguir:<br />
“Ele é especialmente sensível sobre o seu excesso de peso”.<br />
( ) O fonema /s/ está representado pelas letras (s), (c) e dois dígrafos, ao passo que o fonema /z/ está<br />
representado apenas pela letra (s).<br />
( ) A letra (n) junta-se ao (e) formando um dígrafo para representar a vogal nasal.<br />
( ) As palavras “sobre” e “seu” apresentam, respectivamente, um encontro consonantal e um ditongo decrescente.<br />
A sequência correta é:<br />
a) V-F-F<br />
b) F-V-V<br />
c) F-F-F<br />
d) V-V-V<br />
e) V-F-V<br />
54. Não há ditongo em<br />
a) circuito<br />
b) pães.<br />
c) hífen<br />
d) continuou<br />
e) secretaria<br />
27
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
Leia a tira para responder à questão 55.<br />
28<br />
Copyright 1997 Mauricio de Sousa Produções Ltda. Redistribution in wholeor in partprohibited.<br />
55. Considerando a classificação dos encontros vocálicos e consonantais, pode-se afirmar que<br />
a) na forma verbal TEM, o m está empregado como consoante.<br />
b) há quatro encontros consonantais no balãozinho.<br />
c) há ocorrência de dígrafo vocálico e consonantal, respectivamente, em: QUE e ERRADA.<br />
d) A palavra HISTÓRIA está acentuada por tratar-se de uma paroxítona terminada em ditongo.<br />
e) O ditongo da palavra NÃO é crescente nasal.<br />
56. (<strong>ITA</strong> SP) Dadas as palavras:<br />
1) des-a-ten-to<br />
2) sub-es-ti-mar<br />
3) trans-tor-no<br />
Constatamos que a separação silábica está correta:<br />
a) apenas a palavra nº1.<br />
b) todas as palavras.<br />
c) apenas a palavra nº2.<br />
d) n.d.a.<br />
e) apenas a palavra nº3.<br />
57. (UnB DF) Marque a opção em que todas as palavras apresentam um dígrafo:<br />
a) fixo, auxílio, tóxico, exame<br />
b) enxergar, luxo, bucho, olho<br />
c) bicho, passo, carro, banho<br />
d) choque, sintaxe, unha, coxa<br />
e) n.d.a.<br />
Módulo A03 - ACENTUAÇÃO GRÁFICA<br />
ACENTUAÇÃO GRÁFICA<br />
As regras orientam a acentuação gráfica das palavras foram estabelecidas em 1943 e passaram por algumas<br />
pequenas alterações em 1971. Depois, em 1990, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa introduziu mais algumas<br />
modificações, fixando, assim, as regras atualmente em vigor. Nesta parte, dedicaremos espaço à questão das Novas<br />
Regras Ortográficas da Língua Portuguesa, as quais entraram em vigor desde o dia 1º de janeiro de 2009.<br />
Regras básicas – Acentuação tônica<br />
A acentuação tônica implica a intensidade com que são pronunciadas as sílabas das palavras. Aquela que se dá de<br />
forma mais acentuada, conceitua-se como sílaba tônica.
Material <strong>ITA</strong><br />
As demais, como são pronunciadas com menos intensidade, são denominadas de átonas.<br />
De acordo com a tonicidade, as palavras são classificadas.<br />
Veja a nova tabela de acentuação:<br />
Tipo de palavra<br />
ou sílaba<br />
Proparoxítonas<br />
Paroxítonas<br />
Oxítonas<br />
Monossílabos<br />
tônicos<br />
Í e Ú em palavras<br />
oxítonas e<br />
paroxítonas<br />
Ditongos abertos<br />
em palavras<br />
paroxítonas<br />
Ditongos abertos<br />
em palavras<br />
oxítonas e<br />
monossílabos<br />
tônicos<br />
Verbos arguir e<br />
redarguir (agora<br />
sem trema)<br />
Quando<br />
acentuar<br />
sempre<br />
Se terminadas em: R, X,<br />
N, L, I, IS, UM, UNS,<br />
US, PS, Ã, ÃS, ÃO,<br />
ÃOS; ditongo oral,<br />
seguido ou não de S<br />
Se terminadas em: A,<br />
AS, E, ES, O, OS, EM,<br />
ENS<br />
terminados em A, AS, E,<br />
ES, O,OS<br />
Í e Ú levam acento se<br />
estiverem sozinhos na<br />
sílaba (hiato)<br />
EI, OI<br />
ÉIS, ÉU(S), ÓI(S)<br />
arguir e redarguir<br />
usavam acento agudo<br />
em algumas pessoas do<br />
indicativo, do subjuntivo<br />
e do imperativo<br />
afirmativo.<br />
Exemplos<br />
(como eram)<br />
simpática, lúcido,<br />
sólido, cômodo<br />
fácil, táxi, tênis,<br />
hífen, próton,<br />
álbum(ns), vírus,<br />
caráter, látex,<br />
bíceps, ímã, órfãs,<br />
bênção, órfãos,<br />
cárie, árduos,<br />
pólen, éden.<br />
vatapá, igarapé,<br />
avô, avós, refém,<br />
parabéns,<br />
adorá-lo, revê-lo,<br />
transpô-las.<br />
vá, pás, pé, mês,<br />
pó, pôs, dá-lo, vêlo,<br />
pô-las.<br />
saída, saúde,<br />
miúdo, aí, Araújo,<br />
Esaú, Luís, Itaú,<br />
baús, Piauí<br />
idéia, colméia, bóia<br />
papéis, herói,<br />
heróis, troféu, céu,<br />
mói (moer)<br />
Observações<br />
(como ficaram)<br />
Continua tudo igual ao que era antes da nova<br />
ortografia. Observe: Pode-se usar acento agudo ou<br />
circunflexo de acordo com a pronúncia da região:<br />
acadêmico, fenômeno (Brasil) académico, fenómeno<br />
(Portugal).<br />
Continua tudo igual. Observe: 1) Terminadas em ENS<br />
não levam acento: hifens, polens. 2) Usa-se<br />
indiferentemente agudo ou circunflexo se houver<br />
variação de pronúncia: sêmen, fêmur (Brasil) ou sémen,<br />
fémur (Portugal). 3) Não ponha acento nos prefixos<br />
paroxítonos que terminam em R nem nos que terminam<br />
em I: inter-helênico, super-homem, anti-herói, semiinternato.<br />
Continua tudo igual. Observe: 1. terminadas em I, IS, U,<br />
US não levam acento: tatu, Morumbi, abacaxi. 2. Usa-se<br />
indiferentemente agudo ou circunflexo se houver<br />
variação de pronúncia: bebê, purê (Brasil); bebé, puré<br />
(Portugal).<br />
Continua tudo igual.<br />
1. Se o i e u forem seguidos de s, a regra se mantém:<br />
balaústre, egoísmo, baús, jacuís. 2. Não se acentuam i e<br />
u se depois vier ‘nh’: rainha, tainha, moinho. 3. Esta<br />
regra é nova: nas paroxítonas, o i e u não serão mais<br />
acentuados se vierem depois de um ditongo: baiuca,<br />
bocaiuva, feiura, saiinha (saia pequena), cheiinho<br />
(cheio). 4. Mas, se, nas oxítonas, mesmo com ditongo, o<br />
i e u estiverem no final, haverá acento: tuiuiú, Piauí, teiú.<br />
Esta regra desapareceu (para palavras paroxítonas).<br />
Escreve-se agora: ideia, colmeia, celuloide, boia.<br />
Observe: há casos em que a palavra se enquadrará em<br />
outra regra de acentuação. Por exemplo: contêiner,<br />
Méier, destróier serão acentuados porque terminam em<br />
R.<br />
Continua tudo igual (mas, cuidado: somente para<br />
palavras oxítonas ou monossílabas tônicas).<br />
Esta regra desapareceu. Os verbos arguir e redarguir<br />
perderam o acento agudo em várias formas (rizotônicas):<br />
eu arguo (fale: ar-gú-o, mas não acentue); ele argui<br />
(fale: ar-gúi), mas não acentue.<br />
29
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
Verbos terminados<br />
em guar, quar e<br />
quir<br />
ôo, êe<br />
Verbos ter e vir<br />
Derivados de ter e<br />
vir (obter, manter,<br />
intervir)<br />
aguar enxaguar,<br />
averiguar, apaziguar,<br />
delinquir, obliquar<br />
usavam acento agudo<br />
em algumas pessoas do<br />
indicativo, do subjuntivo<br />
e do imperativo<br />
afirmativo.<br />
vôo, zôo, enjôo, vêem<br />
na terceira pessoa do<br />
plural do presente do<br />
indicativo<br />
na terceira pessoa do<br />
singular leva acento<br />
agudo; na terceira<br />
pessoa do plural do<br />
presente levam<br />
circunflexo<br />
eles têm, eles vêm<br />
ele obtém, detém,<br />
mantém; eles<br />
obtêm, detêm,<br />
mantêm<br />
Esta regra sofreu alteração. Observe:. Quando o verbo<br />
admitir duas pronúncias diferentes, usando a ou i<br />
tônicos, aí acentuamos estas vogais: eu águo, eles<br />
águam e enxáguam a roupa (a tônico); eu delínquo, eles<br />
delínquem (í tônico). Se a tônica, na pronúncia, cair<br />
sobre o u, ele não será acentuado: Eu averiguo (diga<br />
averi-gú-o, mas não acentue) o caso.<br />
Esta regra desapareceu. Agora se escreve: zoo, perdoo<br />
veem, magoo, voo.<br />
Continua tudo igual. Ele vem aqui; eles vêm aqui. Eles<br />
têm sede; ela tem sede.<br />
Continua tudo igual.<br />
Acento<br />
diferencial<br />
Esta regra desapareceu, exceto para os verbos: PODER<br />
(diferença entre passado e presente. Ele não pôde ir<br />
ontem, mas pode ir hoje. PÔR (diferença com a<br />
preposição por): Vamos por um caminho novo, então<br />
vamos pôr casacos; TER e VIR e seus compostos (ver<br />
acima). Observe: 1) Perdem o acento as palavras<br />
compostas com o verbo PARAR: Para-raios, parachoque.<br />
2) FÔRMA (de bolo): O acento será opcional;<br />
se possível, deve-se evitá-lo: Eis aqui a forma para<br />
pudim, cuja forma de pagamento é parcelada.<br />
EXERCÍCIOS PROPOSTOS<br />
Texto comum às questões: 58 e 59.<br />
O administrador da repartição em que Pádua trabalhava teve de ir ao Norte, em comissão. Pádua, ou por ordem<br />
regulamentar, ou por especial designação, ficou substituindo o administrador com os respectivos honorários. Não se<br />
contentou de reformar a roupa e a copa, atirou-se às despesas supérfluas, deu joias à mulher, nos dias de festa matava<br />
um leitão, era visto em teatros, chegou aos sapatos de verniz. Viveu assim vinte e dois meses na suposição de uma eterna<br />
interinidade. Uma tarde entrou em nossa casa, aflito e esvairado, ia perder o lugar, porque chegara o efetivo naquela<br />
manhã. Pediu à minha mãe que velasse pelas infelizes que deixava; não podia sofrer a desgraça, matava-se. Minha mãe<br />
falou-lhe com bondade, mas ele não atendia a coisa nenhuma.<br />
– Não, minha senhora, não consentirei em tal vergonha! Fazer descer a família, tornar atrás... Já disse, mato-me!<br />
Não hei de confessar à minha gente esta miséria. E os outros? Que dirão os vizinhos? E os amigos? E o público?<br />
– Que público, Sr. Pádua? Deixe-se disso; seja homem.<br />
Lembre-se que sua mulher não tem outra pessoa... e que há de fazer? Pois um homem... Seja homem, ande.<br />
Pádua enxugou os olhos e foi para casa, onde viveu prostrado alguns dias, mudo, fechado na alcova, – ou então no<br />
quintal, ao pé do poço, como se a ideia da morte teimasse nele. D. Fortunata ralhava:<br />
30<br />
– Joãozinho, você é criança?
Material <strong>ITA</strong><br />
Mas, tanto lhe ouviu falar em morte que teve medo, e um dia correu a pedir à minha mãe que lhe fizesse o favor de<br />
ver se lhe salvava o marido que se queria matar. Minha mãe foi achá-lo à beira do poço, e intimou-lhe que vivesse. Que<br />
maluquice era aquela de parecer que ia ficar desgraçado, por causa de uma gratificação menos, e perder um emprego<br />
interino? Não, senhor, devia ser homem, pai de família, imitar a mulher e a filha... Pádua obedeceu; confessou que<br />
acharia forças para cumprir a vontade de minha mãe.<br />
– Vontade minha, não; é obrigação sua.<br />
– Pois seja obrigação; não desconheço que é assim mesmo.<br />
(Machado de Assis, Dom Casmurro)<br />
58. (FGV ) As regras que justificam a acentuação das palavras “honorários”, “atrás” e “público” também justificam,<br />
respectivamente, a acentuação das seguintes palavras, cujos acentos gráficos foram omitidos:<br />
a) frequencia, ananas, ritmico.<br />
b) heroi, tenaz, frenesi.<br />
c) sumaria, guaranas, serio.<br />
d) perfumaria, perspicaz, etico.<br />
e) agraria, caibras, veneto.<br />
59. (FGV) Segundo o dicionário Houaiss, dígrafo corresponde a um “grupo de duas letras usadas para representar um<br />
único fonema”. Essa definição é exemplificada com as seguintes palavras do texto:<br />
a) administrador, designação, vergonha.<br />
b) trabalhava, comissão, maluquice.<br />
c) roupa, supérfluas, contentou.<br />
d) aflito, desgraça, fechado.<br />
e) público, gratificação, desgraçado.<br />
60. (<strong>ITA</strong> SP) Dadas as afirmações:<br />
l. O acento grave (`), atualmente, só é usado para indicar a crase do A. Por exemplo: Dei uma pulseira de ouro<br />
àquela moça.<br />
ll. O u no grupo gua, guo, qua, quo recebe trema quando for pronunciado atonamente. Exemplo: longínqüo.<br />
lll. O u do grupo gue, gui, que, qui recebe trema quando for pronunciado tonicamente. Exemplo: freqüente.<br />
Deduzimos que:<br />
a) apenas a l está correta<br />
b) apenas a ll está correta<br />
c) apenas a lll está correta<br />
d) todas estão corretas<br />
e) N.D.A<br />
61. (<strong>ITA</strong> SP) Dadas as palavras<br />
l. apóiam ll. Baínha lll. abençoo<br />
Constatamos que está (estão) corretamente grafada(s):<br />
a) apenas a palavra l<br />
b) apenas a palavra ll<br />
c) apenas a palavra lll<br />
d) todas as palavras<br />
e) N.D.A<br />
62. (FUVEST SP) Copie as palavras que devem ser acentuadas graficamente, colocando os respectivos acentos.<br />
Boia boa doce substitui-lo reúne heroico benção parti- lo<br />
31
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
63. (FUVEST SP) Assinale a alternativa em que todas as palavras estejam corretamente acentuadas:<br />
a) Tietê, órgão, chapéuzinho, estrêla, advérbio<br />
b) herói, geleia, Tatuí, armazém, caráter<br />
c) Saúde, melância, gratuíto, amendoím, fluído<br />
d) Inglês, cipó, cafèzinho, útil, Itú<br />
e) Canôa, heroismo, crêem, Sergípe, bambú<br />
64. (UFMG) Marque a alternativa em que nenhuma palavra tem acento gráfico:<br />
a) orgão, revolver, fossil, prejuizo<br />
b) item, polens , mister, dores, meses ,<br />
c) balaustre, garoa, vovos, colibri<br />
d) juri, cafezinho, vezes, album<br />
e) cadaveres, tatu, hifen, interim<br />
65. (Mackenzie) Indique a única alternativa em que nenhuma palavra é acentuada graficamente:<br />
a) lapis, canoa, abacaxi, jovens<br />
b) ruim, sozinho, aquele, atraiu<br />
c) saudade, onix, grau, orquidea<br />
d) voo, legua, assim, tenis<br />
e) flores, açucar, algum, virus<br />
66. (Cergranrio RJ) As palavras que se acentuam de acordo com as mesmas regras por que são acentuadas “difícil” e<br />
“através” são, respectivamente:<br />
a) análise e também<br />
b) família e diagnóstico<br />
c) satélite e líder<br />
d) crítico e convés<br />
e) fácil e transformá-lo<br />
67. (UFRGS RS) Assinale a alternativa em que as três palavras são acentuadas graficamente pela mesma razão.<br />
a) célebre – terrível – biólogo<br />
b) delícia – sabiá – diários<br />
c) sós – é – trás<br />
d) porém – país – até<br />
e) terríveis – espécimes – experiência<br />
68. (UFSM RS)<br />
Capa da Revista Veja. São Paulo: Abril, n. 2074, 20 ago. 2008.<br />
32
Material <strong>ITA</strong><br />
Analise as afirmativas a seguir, relacionadas com o que está escrito no quadro-negro.<br />
I. A primeira letra empregada na palavra ensino reproduz a fala popular, que transforma o e em posição átona<br />
em i.<br />
II. As duas últimas letras usadas na palavra Brasil retratam a pronúncia quotidiana em forma de ditongo<br />
decrescente.<br />
III. O monossílabo tônico apresenta o acento grave no lugar do agudo, e a palavra proparoxítona está sem<br />
acento.<br />
Está(ão) correta(s):<br />
a) apenas I<br />
b) apenas II<br />
c) apenas III<br />
d) apenas I e II<br />
e) I, II e III<br />
69. Na tira humorística abaixo, há sete palavras acentuadas. Transcreva-as e justifique seus acentos gráficos.<br />
70. (Academia da Força Aérea SP) Assinale com V (verdadeiras) ou F (falsas) as afirmativas abaixo e, a seguir, marque a<br />
alternativa correta.<br />
• Os vocábulos arquipélago, Atlântico e sinônimo são acentuados pela mesma razão.<br />
• A presença de encontros vocálicos é observada nas palavras lagoa, exceção e praia.<br />
• Estão corretas as seguintes divisões silábicas: ve-lha, pros-se-guir, I-tha-ca-ia.<br />
• Os vocábulos três, canhões e Niterói recebem a mesma classificação quanto à posição da sílaba tônica.<br />
a) F – V – F –V<br />
b) V – V – F – F<br />
c) V – V – V – F<br />
d) F – F – V – V<br />
71. Considere estas palavras já adequadamente acentuadas: intuito, gratuito, fortuito. Como é possível concluir que,<br />
nas três, a vogal tônica é o u, e não o i?<br />
72. Considere as palavras a seguir, já adequadas quanto à acentuação gráfica.<br />
1. misantropo (pessoa que tem aversão à convivência social)<br />
2. tipiti ((tipo de cesto feito de palha)<br />
3. dossel (armação de tecido que se coloca acima de tronos, camas etc.)<br />
Tomando como referência a regra de acentuação aplicável a cada uma, podemos dizer que elas são, pela ordem:<br />
a) proparoxítona – paroxítona – oxítona<br />
b) paroxítona – paroxítona – oxítona<br />
c) oxítona - oxítona – proparoxítona<br />
d) paroxítona – oxítona – oxítona<br />
e) paroxítona – oxítona – paroxítona<br />
33
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
73. As palavras a seguir foram transcritas sem os eventuais acentos gráficos. Orientando-se pela indicação entre<br />
parênteses, transcreva as que exigem acento e acentue-as.<br />
a) guilhoche (oxítona, com e fechado) – tipo de bordado<br />
b) aimara (paroxítona) – tipo de planta<br />
c) aimara (oxítona) – túnica de algodão<br />
d) feretro(proparoxítona com e aberto) – caixão de defunto<br />
e) aljofar (paroxítona com o fechado) – tipo de pérola<br />
f) bacupari (oxítona) – nome de uma árvore e de seu fruto<br />
g) Polux (paroxítona com o aberto) – nome de uma estrela<br />
h) hipocraz (oxítona) – tipo de chá de canela<br />
74. Nas palavras escritas, tanto a presença quanto a ausência do acento gráfico orientam o leitor quanto à pronúncia<br />
correta das palavras. Considere, então, a palavra abaixo, já adequadamente escrita quanto à acentuação gráfica:<br />
masseter (nome de um músculo da face)<br />
A respeito da pronúncia dessa palavra, assinale a afirmação incorreta:<br />
a) Ela não é proparoxítona, pois, se fosse, teria acento no ma, já que toda palavra desse tipo é acentuada<br />
graficamente.<br />
b) Ela não é paroxítona, pois, se fosse, teria acento na sílaba se, já que é paroxítona terminada em r recebe<br />
acento gráfico.<br />
c) Ela é oxítona e, como termina em r, não é acentuada, pois oxítonas com essa terminação não recebem<br />
acento gráfico.<br />
d) Ela é oxítona, mas, pela grafia, não é possível saber se a vogal da sílaba ter tem pronúncia aberta (/é/) ou<br />
fechada (/ê/). Para obter essa informação, é necessário consultar um dicionário.<br />
e) Ela é paroxítona, mas, pela grafia, não é possível saber se a vogal da sílaba se tem pronúncia aberta (/é/) ou<br />
fechada (/ê/). Para obter essa informação, é necessário consultar um dicionário.<br />
75. Observe estas palavras, já adequadamente escritas quanto à acentuação gráfica, e assinale a afirmação incorreta.<br />
1. ibero 2. boêmia 3. condor 4. rubrica 5.Mister<br />
a) Se a palavra 1 fosse proparoxítona, teria acento no i; se fosse oxítona, teria acento no o. A sílaba tônica,<br />
portanto, é o be e a palavra é proparoxítona.<br />
b) Raciocínio semelhante ao aplicado à palavra 1 vale para a palavra 4.<br />
c) Para que a palavra 3 tivesse a tônica no com, essa sílaba deveria ter acento circunflexo no o, pois paroxítona<br />
terminada em r é acentuada. Trata-se, portanto, de uma palavra oxítona.<br />
d) Na palavra 5, que significa “profissão ou intuito; necessidade”, a vogal tônica é o i, ou seja, é paroxítona.<br />
e) Na variedade coloquial do idioma, a palavra 2 é pronunciada com a tônica no mi (boemia); na variedade culta, no<br />
entanto, ela é paroxítona terminada em ditongo, daí a necessidade do circunflexo no e.<br />
76. (<strong>ITA</strong> 2002) Assinale a sequência de palavras acentuadas pela mesma regra gramatical:<br />
a) Cenário, circunstância, hífen, águia.<br />
b) Está, já, café, jacá.<br />
c) Eletrônica, gênero, bônus, ônibus.<br />
d) Cenário, águia, referência, série.<br />
e) Referência, para, líder, série.<br />
TEXTO PARA QUESTÃO 77<br />
É terminantemente proibido animais circulando nas área comuns a todos, principalmente para fazerem suas<br />
necessidades fisiológicas no jardim do condomínio, onde pode por em risco a saúde das crianças que ali brincam descalças.<br />
(Extraído de um RELATÓRIO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS da administração de um prédio.)<br />
34
Material <strong>ITA</strong><br />
77. (<strong>ITA</strong> 1999) Assinale a opção em que os dois itens apresentam impropriedades com relação às normas gramaticais:<br />
a) (1) – Flexão de “circular” e “fazer”; (2) – emprego de “onde”.<br />
b) (1) – Acentuação de “ali”; (2) – regência de “circular”.<br />
c) (1) – Flexão de “comum”; (2) – emprego de “onde”.<br />
d) (1) – Acentuação de “por” e “ali”; (2) – flexão de “comum”.<br />
e) (1) – Acentuação de “por” e “ali”; (2) – emprego de “onde”.<br />
78. (Fuvest) Assinale a alternativa em que todas as palavras estão corretamente grafadas:<br />
a) ( ) Tietê, órgão, chapeuzinho, estrêla, advérbio<br />
b) ( ) fluido, assembleia, Tatuí, armazém, caráter<br />
c) ( ) saúde, melância, gratuito, amendoím, fluído<br />
d) ( ) inglês, cipó, cafezinho, útil, Itú<br />
e) ( ) canôa, heroismo, creem, Sergipe, bambú<br />
79. (<strong>ITA</strong> SP) Assinale a palavra que, no singular, tem acento gráfico, mas se for colocada no plural, deixará de receber o<br />
acento:<br />
a) ( ) bebê c) ( ) hífen e) ( ) aríete<br />
b) ( ) útil d) ( ) revólver<br />
80. (<strong>ITA</strong> SP) Assinalar a alternativa em que todas as palavras estejam com acentuação correta:<br />
a) ( ) bênção, caráter, climax, ambíguo<br />
b) ( ) bênção, caráter, clímax, ambíguo<br />
c) ( ) bênção, caráter, clímax, ambígüo<br />
d) ( ) bênção, carater, climax, ambíguo<br />
e) ( ) bênção, carater, clímax, ambígüo<br />
81. (Mackenzie SP) Assinale a alternativa que contém vocábulos que obedecem à mesma regra de acentuação da<br />
palavra tênue.<br />
a) ( ) agrônomo, índex, fóssil, díspar<br />
b) ( ) boêmia, herói, amáveis, imundície<br />
c) ( ) amêndoa, mágoa, supérfluo, bilíngue<br />
d) ( ) míope, ímã, médiuns, volúvel<br />
e) ( ) argênteo, viúvo, baía, esferóide<br />
82. (<strong>ITA</strong> SP) Dadas as palavras:<br />
1. tung-stê-nio<br />
2. bis-a-vô<br />
3. du-e-lo<br />
Constatamos que a separação silábica está correta:<br />
a) apenas na palavra nº 1<br />
b) apenas na palavra nº 2<br />
c) apenas na palavra nº 3<br />
d) em todas as palavras<br />
e) n.d.a.<br />
83. (OSEC) O plural de tem, dê, vê; é, respectivamente:<br />
a) têm, deem, vêm c) têm, deem, veem<br />
b) tem, deem, vêem d) têem, deem, vêm<br />
84. Nenhum vocábulo deve receber acento gráfico, exceto:<br />
a) abacaxi c) assembleia e) voo<br />
b) ideia d) heroi<br />
35
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
85. (<strong>ITA</strong> SP) Assinale a sequência de palavras acentuadas pela mesma regra gramatical:<br />
a) Cenário, circunstância, hífen, água.<br />
b) Está, já, café, jacá.<br />
c) Eletrônica, gênero, bônus, ônibus.<br />
d) Cenário, águia, referência, série.<br />
TEXTO COMUM À QUESTÃO 86<br />
Sua excelência<br />
[O ministro] vinha absorvido e tangido por uma chusma de sentimentos atinentes a si mesmo que quase lhe falavam<br />
a um tempo na consciência: orgulho, força, valor, satisfação própria etc. etc.<br />
Não havia um negativo, não havia nele uma dúvida; todo ele estava embriagado de certeza de seu valor intrínseco,<br />
das suas qualidades extraordinárias e excepcionais de condutor dos povos. A respeitosa atitude de todos e a deferência<br />
universal que o cercavam, reafirmadas tão eloquentemente naquele banquete, eram nada mais, nada menos que o sinal<br />
da convicção dos povos de ser ele o resumo do país, vendo nele o solucionador das suas dificuldades presentes e o<br />
agente eficaz do seu futuro e constante progresso.<br />
Na sua ação repousavam as pequenas esperanças dos humildes e as desmarcadas ambições dos ricos.<br />
Era tal o seu inebriamento que chegou a esquecer as coisas feias do seu ofício... Ele se julgava, e só o que lhe<br />
parecia grande entrava nesse julgamento.<br />
As obscuras determinações das coisas, acertadamente, haviam-no erguido até ali, e mais alto levá-lo-iam, visto que,<br />
só ele, ele só e unicamente, seria capaz de fazer o país chegar ao destino que os antecedentes dele impunham.<br />
(Lima Barreto. Os bruzundangas. Porto Alegre: L&PM, 1998, pp. 15-6)<br />
86. (FGV ) Assinale a alternativa contendo as palavras acentuadas segundo a regra que determina a acentuação,<br />
respectivamente, de consciência, intrínseco e levá-lo-iam.<br />
a) Extraordinárias; própria; país.<br />
b) Parágrafo; porém; até.<br />
c) Ofício; dúvida; atrás.<br />
d) Vivência; tórax; virá.<br />
e) Cenógrafo; bíceps; contê-las.<br />
87. (Mackenzie) Em: “Sei de uma que está fazendo serviço de escritório, proibida de voar por motivo de saúde, e me<br />
pergunto que podem significar para ela esses papéis, esses telefonemas, esses recados que circulam num plano de<br />
cimento invariável, enquanto, sobre a plataforma das nuvens, suas irmãs caminham, ao mesmo tempo singelas e<br />
majestáticas”.<br />
I. ”escritório” e “invariável” recebem acento por idêntica razão.<br />
II. “papéis” recebe acento gráfico porque é oxítona terminada em ditongo.<br />
III. “está” é acentuada graficamente porque todas as oxítonas devem ser acentuadas.<br />
a) Estão corretas as afirmações I e II.<br />
b) Estão corretas as afirmações II e III.<br />
c) Estão corretas as afirmações I e III.<br />
d) Todas as afirmativas estão corretas.<br />
e) Todas as afirmativas estão incorretas.<br />
88. (FGV) Os dois hiatos das formas verbais devem ser acentuados apenas na alternativa:<br />
a) refluir, intuindo<br />
b) construindo, destruindo<br />
c) caida, saiste<br />
d) instruido, intuir<br />
e) refluira, destruindo<br />
36
Material <strong>ITA</strong><br />
89. (CESGRANRIO) Assinale a opção em que os vocábulos obedecem à mesma regra de acentuação gráfica.<br />
a) terás / límpida<br />
b) necessário / verás<br />
c) dá-lhes / necessário<br />
d) incêndio / também<br />
e) extraordinário / incêndio<br />
90. (<strong>ITA</strong> SP) Dados os vocábulos:<br />
1. puni-los 2. instruí-los 3. fosse<br />
Constatamos que está(estão) devidamente acentuado(s):<br />
a) apenas o vocábulo nº 1<br />
b) apenas o vocábulo nº 2<br />
c) apenas o vocábulo nº 3<br />
d) todos os vocábulos<br />
e) n.d.a.<br />
91. (IFSC) Assinale a alternativa CORRETA quanto à acentuação gráfica.<br />
a) No rítmo em que andavamos, levaríamos toda a manhã para percorrer duas léguas.<br />
b) Para mantê-los saudáveis é melhor alimentá-los com legumes crus.<br />
c) Aquí dá muito cajú de maio a setembro.<br />
d) Joel tinha os biceps mal definidos e o tórax exagerado para alguem tão baixo.<br />
e) O juíz condenou-o a devolver com juros aos cófrespublicos todo o dinheiro desviado.<br />
92. (UFTM MG)<br />
(Gazeta do Povo, 06.11.2012.)<br />
Na charge, para efeito de humor, faz-se um jogo de palavras<br />
a) parônimas, com isso a personagem reclama do assento da poltrona na qual está sentada.<br />
b) homônimas, porém a personagem erra ao afirmar que a forma verbal não leva acento.<br />
c) sinônimas, e a personagem está de fato dizendo que a grafia correta é doie não dói.<br />
d) ambíguas, pois é difícil saber se a personagem reclama da poltrona e da escrita ou as enaltece.<br />
e) antônimas, pois cada uma das grafias (assento/acento) remete a um sentido da oposição dói/doi.<br />
Módulo A04 - Ortografia – As dificuldades da Língua I<br />
Dominar as convenções ortográficas do idioma é habilidade indispensável a quem, em situações formais de<br />
comunicação, precisa escrever utilizando a variedade padrão da língua.<br />
37
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
A possibilidade de um determinado fonema se representado por diferentes letras costuma gerar dúvidas e confusões<br />
quanto à grafia de muitas palavras.<br />
MAL<br />
É antônimo de bem. Pode ser empregado como advérbio, substantivo ou conjunção.<br />
Exemplos:<br />
O candidato foi mal recebido na cidade onde nasceu. (advérbio)<br />
Fizeram mal em dizer tais coisas. (advérbio)<br />
O mal nem sempre vence o bem. (substantivo)<br />
Há males que vêm para o bem. (substantivo)<br />
Mal você saiu, ele chegou. (conjunção adverbial temporal)<br />
MAU<br />
É antônimo de bom. Emprega-se como adjetivo.<br />
Exemplos:<br />
Não era mau rapaz, apenas um pouco preguiçoso.<br />
Não estavam maus os trabalhos do alunos.<br />
Teve má criação, mas tornou-se um excelente homem.<br />
PORQUE/PORQUÊ/POR QUE/POR QUÊ<br />
PORQUE<br />
Tem essa grafia quando é empregado como conjunção explicativa ou conjunção causal.<br />
Exemplos:<br />
Não reclames, porque é pior.<br />
Faltou à aula porque estava doente.<br />
PORQUÊ<br />
É assim escrito quando empregado como substantivo. Significa motivo, razão, causa, e normalmente aparece<br />
acompanhado de determinantes (artigo, pronome etc.).<br />
Exemplos:<br />
Não entendi o porquê de sua atitude.<br />
Seus porquês não me convenceram.<br />
POR QUE<br />
Com essa grafia, é empregado:<br />
Quando equivale a pelo qual, pelos quais, pela qual, pelas quais.<br />
Exemplos:<br />
São muitos os lugares por que passamos. (pelos quais)<br />
Essa é a razão por que eu vim aqui. (pela qual)<br />
Nas frases interrogativas diretas, quando as inicia, e nas interrogativas indiretas.<br />
Exemplos:<br />
Por que você fez isso? (inicia interrogativa direta)<br />
Não sei por que fez isso. (interrogativa indireta)<br />
POR QUÊ<br />
É acentuado quando aprece no final das interrogativas; nessa posição, o que passa a ser monossílabo tônico.<br />
Exemplo:<br />
Você fez isso por quê?<br />
38
Material <strong>ITA</strong><br />
SENÃO/ SE NÃO<br />
SENÃO<br />
Assim se escreve:<br />
Quando equivale a caso contrário.<br />
Exemplo:<br />
Saia daí, senão vai se molhar.<br />
Quando equivale a a não ser.<br />
Exemplo:<br />
Não faz outra coisa senão reclamar.<br />
SE NÃO<br />
Tem essa forma quando equivale a caso não, introduzindo orações subordinadas condicionais.<br />
Exemplos:<br />
Esperarei mais um pouco; se não vier, irei embora.<br />
Se não quiser, não faça.<br />
HÁ<br />
Com essa forma, equivale ao verbo fazer, indicando tempo já transcorrido.<br />
Exemplo:<br />
Não se encontram há (faz) tempos.<br />
Saiu daqui há (faz) duas horas.<br />
Não o vejo há (faz) quinze dias.<br />
A<br />
Essa forma, que é comum se confundir com a anterior, é preposição: a substituição por faz é impossível.<br />
Exemplos:<br />
Sairei de cada aqui a duas horas.<br />
Daqui a pouco, os convidados chegarão.<br />
Estava a um passo de mim e eu não percebi.<br />
Moro a dois quilômetros da escola.<br />
AONDE<br />
(Preposição a + advérbio onde = aque lugar) é usado com verbos que exprimem movimento e que regem a preposição<br />
a.<br />
Ir a<br />
Exemplos:<br />
Aonde você vai?<br />
Você vai aonde?<br />
Você sabe aonde ir com isso?<br />
Chegar a<br />
Exemplos:<br />
Sei bem aonde você quer chegar com essas insinuações...<br />
Você quer chegar aonde com suas perguntas?<br />
Dirigir-se a<br />
Exemplo:<br />
Não sei aonde dirigir-me para obter o documento.<br />
ONDE<br />
(= em que lugar) é usado com verbos que não regem a preposição a.<br />
Exemplos:<br />
Onde você está?<br />
39
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
Encontraram o menino onde?<br />
Onde fica a sua escola?<br />
Não sei ainda onde vou comprar o material.<br />
AO ENCONTRO DE/DE ENCONTRO A<br />
Tem dois significados:<br />
-aproximar-se de<br />
Exemplo:<br />
Assim que chegou, fui ao encontro dele. (ao seu encontro)<br />
-se favorável a<br />
Exemplo:<br />
Somos parecidos: suas ideias vêm sempre ao encontro das minhas.<br />
DE ENCONTRO A<br />
Também tem dois significados:<br />
-colisão, choque<br />
Exemplo:<br />
A criança foi de encontro à porta de vidro e machucou a cabeça.<br />
-ser contrário a<br />
Exemplo:<br />
Somos muito diferentes: suas ideias vêm sempre de encontro ás minhas.<br />
DEMAIS/ DE MAIS<br />
DEMAIS<br />
Classifica-se como advérbio ou pronome.<br />
-advérbio de intensidade (=muito)<br />
Exemplo:<br />
Não se deve comer demais.<br />
-pronome indefinido (=outros)<br />
Exemplo:<br />
Votei e saí da reunião antes que os demais membros tivessem votado.<br />
DE MAIS<br />
é o contrário de menos.<br />
Exemplos:<br />
Não percebi nada de mais nas suas perguntas.<br />
Venderam ingressos de mais para o jogo.<br />
A FIM DE/AFIM<br />
A FIM DE<br />
Indica uma finalidade.<br />
Exemplo:<br />
Vive reclamando a fim de me irritar.<br />
AFIM<br />
significasemelhante.<br />
Exemplo:<br />
Temos objetivos afins.<br />
40
Material <strong>ITA</strong><br />
ACERCA DE/HÁ CERCA DE<br />
ACERCA DE<br />
significaa respeito de.<br />
Exemplo:<br />
Nada disse acerca de seus problemas emocionais.<br />
HÁ CERCA DE<br />
indica um tempo já transcorrido.<br />
Exemplo:<br />
Estivemos aqui há cerca de uns dez anos.<br />
A PRINCÍPIO/EM PRINCÍPIO<br />
A PRINCÍPIO<br />
significano começo, inicialmente.<br />
Exemplo:<br />
A princípio, sua sugestão pareceu-me boa, mas depois percebi que não era daquilo que precisávamos.<br />
EM PRINCÍPIO<br />
significa em tese, teoricamente.<br />
Exemplo:<br />
Em princípio, sua sugestão é muito boa, vamos vê-la na prática.<br />
MAS/MAIS<br />
Mas é uma conjunção coordenativa adversativa; equivale, portanto, acontudo, todavia, entretanto:<br />
Ela estudou muito, mas não conseguiu boa nota.<br />
O time terminou o campeonato sem derrota, mas não foi o campeão.<br />
Mais é pronome ou advérbio de intensidade. Tem por antônimo menos:<br />
Ele leu mais livros este ano que no ano anterior. (pronome indefinido)<br />
Ela era a alguma mais simpática da classe. (advérbio de intensidade)<br />
Existe também a forma más. Trata-se do plural do adjetivo má:<br />
Eram pessoas extremamente más.<br />
Cessão/sessão/secção/seção<br />
Cessão é o ato de ceder, o ato de dar:<br />
Ele fez a cessão dos seus direitos autorais.<br />
A cessão do terreno para a construção da creche agradou a todos os moradores.<br />
Sessão é o intervalo de tempo que dura uma reunião, uma assembleia:<br />
Assistimos a uma sessão de cinema.<br />
Os deputados reuniram-se em sessão extraordinária.<br />
Secção (ou seção) significa parte de um todo, segmento, subdivisão:<br />
Lemos a notícia na secção (ou seção) de esportes.<br />
Compramos os presentes na secção (ou seção) de brinquedos.<br />
Ao invés de / em vez de<br />
Ao invés de significa “ao contrário de”;<br />
Ao invés do que previu a meteorologia, choveu muito ontem.<br />
Em vez de significa “no lugar de”;<br />
Em vez de jogar tênis, preferimos ir ao cinema.<br />
41
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
À-toa/à toa<br />
À-toa é um adjetivo (refere-se, pois, a um substantivo), significa “impensado”, “inútil”, “desprezível”;<br />
Ninguém lhe dava valor: era uma pessoa à-toa.<br />
À toa é um advérbio de modo, significa “a esmo”, “sem razão”, “inutilmente”.<br />
Andavam à toa pelas ruas.<br />
Exercícios propostos<br />
93. Complete corretamente as lacunas:<br />
42<br />
“O _______ de veículos de grande porte, em vias urbanas, provoca ________ no trânsito; forçando a que os<br />
motoristas os carros menores ________,muitas delas, completamente sem _________ ;<br />
a) tráfico – infrações – inflijam – concerto;<br />
b) tráfego – infrações – inflijam – conserto;<br />
c) tráfego – inflações – infrinjam – conserto;<br />
d) tráfego – infrações – infrações – conserto;<br />
e) tráfico – infrações – infrações – concerto.<br />
94. Complete as lacunas usando adequadamente (mas / mais / mal / mau):<br />
“Pedro e João ____ entraram em casa, perceberam que as coisas não iam bem,pois sua irmã caçula escolhera um<br />
____ momento para comunicar aos pais que iria viajar nas férias; _____ seus, dois irmãos deixaram os pais _____<br />
sossegados quando disseram que a jovem iria com os primos e a tia.”<br />
a) mau - mal - mais - mas;<br />
b) mal - mal - mais - mais;<br />
c) mal - mau - mas - mais;<br />
d) mal - mau -mas - mas;<br />
e) mau - mau - mas - mais.<br />
95. Marque a frase que se completa com o segundo elemento do parênteses:<br />
a) A recessão econômica do país faz com que muitos _________ (emigrem - imigrem);<br />
b) Antes de ser promulgada, a Constituição já pedia muitos ________ (consertos - concertos);<br />
c) A ditadura _________ muitos políticos de oposição; (caçou - cassou);<br />
d) Ao sair do barco, o assaltante foi preso em___________ (flagrante - fragrante);<br />
e) O juiz _________ expulsou o atleta violento (incontinenti- incontinente).<br />
96. (G1 ifce 2014) Considerando a tirinha acima, na frase “Entendi o porquê da mão”, o termo destacado assume<br />
várias grafias na língua. Preencha as lacunas com o mesmo vocábulo, levando em conta as variações gráficas e, a<br />
seguir, opte por um item que preencha corretamente as lacunas.<br />
I. Os jovens foram às ruas .............. pretendiam reivindicar seus direitos.<br />
II. ............., muitas vezes, não assumimos nossos próprios erros?<br />
III. Não sabemos ............. há tanta impunidade no país.<br />
a) porque, por que, por que<br />
b) por que, porque, por quê<br />
c) porquê, porque, por que<br />
d) porque, porque, por quê<br />
e) porque, por quê, porque<br />
97. O parlamentar mensaleiro, que teve o seu _____ de deputado ______, retornou nos braços do povo.<br />
a) mandado / caçado.<br />
b) mandado / cassado.<br />
c) mandato / cassado.<br />
d) mandato / caçado.<br />
e) mandato / cascado.
Material <strong>ITA</strong><br />
98. (Fuvest SP) “Meditemos na regular beleza que a natureza nos oferece.”<br />
Assinale a alternativa em que o homônimo tem o mesmo significado do empregado na oração acima:<br />
a) Não conseguia regular a marcha do carro.<br />
b) É bom aluno, mas obteve nota regular.<br />
c) Aquilo não era regular; devia ser corrigido.<br />
d) Admirava-se, ali, a disposição regular dos canteiros.<br />
e) Daqui até sua casa há uma distância regular.<br />
99. (<strong>ITA</strong> SP) Dadas as palavras:<br />
1. disenteria<br />
2. diferimento<br />
3. esplendor<br />
Verificamos que está (estão) corretamente grafada(s):<br />
a) apenas a palavra nº 1.<br />
b) apenas a palavra nº 2.<br />
c) apenas a palavra nº 3.<br />
d) apenas as palavras nº 1 e 2.<br />
e) todas as palavras.<br />
100. (<strong>ITA</strong> SP) Assinale a alternativa em que ocorre erro.<br />
a) Sei por que razões ele se indispõe comigo.<br />
b) Ele saiu porque estava aqui há muito tempo.<br />
c) Não aguenta mais isso porquê... porque é demais?<br />
d) Foi a mais de dois quilômetros que o avisei.<br />
e) Além de ser mau sujeito, é mal-humorado.<br />
101. Complete as lacunas com (estada / estadia /onde / aonde):<br />
“_______ quer que eu me hospede, procuro logo saber o preço da _______, quanto custa a _______de um carro<br />
alugado, bem como _______ se possa ir à noite.”<br />
a) aonde – estadia – estada – onde;<br />
b) onde – estada – estadia – aonde;<br />
c) onde – estadia – estada – aonde;<br />
d) aonde – estada – estadia – onde;<br />
e) onde – estadia – estadia – aonde.<br />
102. Leia a tirinha<br />
a) Escreva a oração do primeiro quadrinho acrescentando-lhe senão ou se não. Faça as mudanças necessárias.<br />
b) você não me avisou que estava quente? Substitua o por que que ou porque.<br />
c) Justifique o uso do porquê no terceiro quadrinho.<br />
d) É mais fácil cuidar da vida dos outros, da nossa dá muito trabalho! Substitua o por porque, por que ou<br />
porquê.<br />
43
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
103. Substitua os __ por há ou a.<br />
a) O filho entra acanhado na sala; não vê o tio ___doze anos.<br />
b) não imaginamos que os técnicos do laboratório só chegariam às onze horas para o início do trabalho; afinal<br />
eles estavam apenas ___dois quilômetros do local.<br />
c) Nancy e Neiva saíram do apartamento ___três horas e ainda não chegaram à loja onde combinamos nosso<br />
encontro.<br />
d) Daqui ___ a pouco começam as propagandas políticas na TV. Espero que nos discursos dos candidatos haja<br />
propostas interessantes.<br />
e) Interessante o título deste filme: ___ um passo da felicidade.<br />
104. Justifique, nas frases a seguir, o emprego das palavras destacadas.<br />
a) “Eu sabia bem que espécie de conversa seria; e aproveitando a vantagem da doença, mal ele caminhou para a<br />
cama eu comecei novamente a chorar e gritar, esperando atrair a simpatia de minha mãe e, se possível, também<br />
a de algum vizinho para reforçar.” (José J. Veiga).<br />
b) “Mamãe comeu tanto peru que um momento imaginei, aquilo podia lhe fazer mal. Mas logo pensei: ah, que faça!<br />
mesmo que ela morra, mas pelo menos que uma vez na vida coma peru de verdade!” (Mário de Andrade)<br />
c) Ainda há pouco, quando entrara no camarim dos homens, os que lá se encontravam tinham respondido<br />
friamente à saudação dele, como se fizessem um favor.” (Osman Lins)<br />
d) “E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? Teria esquecido<br />
de que havia cegos? (Clarice Lispector)<br />
e) Nossa revolta contra os fiscais pode ser entendida, pois os empecilhos por que passamos impossibilitou a<br />
continuidade de nossos trabalhos. Foi realmente muita injustiça!<br />
105. Assinale a alternativa correta:<br />
“Pedro e João ____ entraram em casa perceberam que as coisas não iam bem, pois sua irmã caçula escolhera um<br />
____ momento para comunicar aos pais que iria viajar nas férias; _____ seusdois irmãos deixaram os pais _____<br />
sossegados quando disseram que a jovem iria com os primos e a tia.”<br />
a) mau - mal - mais - mas;<br />
b) mal - mal - mais - mais;<br />
c) mal - mau - mas - mais;<br />
d) mal - mau -mas - mas;<br />
e) mau - mau - mas - mais.<br />
106. Complete as lacunas com (estada / estadia /onde / aonde):<br />
“_______ quer que eu me hospede, procuro logo saber o preço da _______, quanto custa a _______de um carro<br />
alugado, bem como _______ se possa ir à noite.”<br />
a) aonde – estadia – estada – onde;<br />
b) onde – estada – estadia – aonde;<br />
c) onde – estadia – estada – aonde;<br />
d) aonde – estada – estadia – onde;<br />
e) onde – estadia – estadia – aonde.<br />
107. Assisti ao ________ do balé Bolshoi;<br />
Daqui ______ pouco vão dizer que ______ vida em Marte.<br />
As _________ da câmara são programas de humor.<br />
___________ dias que não falo com Alfredo.<br />
44<br />
Escolha a alternativa que oferece a sequência correta de vocábulos para as lacunas existentes:<br />
a) concerto – há – a – cessões – há;<br />
b) conserto – a – há – sessões – há;<br />
c) concerto – a – há – seções – a;<br />
d) concerto – a – há – sessões – há;<br />
e) conserto – há – a – sessões – a .
Material <strong>ITA</strong><br />
108. “O _______ de veículos de grande porte, em vias urbanas, provoca ________ no trânsito; forçando a que os<br />
motoristas dos carros menores ________,muitas delas, completamente sem _________ ;<br />
a) tráfico – infrações – inflijam – concerto;<br />
b) tráfego – infrações – inflijam – conserto;<br />
c) tráfego – inflações – infrinjam – conserto;<br />
d) tráfego – infrações – infrinjam – conserto;<br />
e) tráfico – inflações – inflijam – concerto.<br />
109. Preencha as lacunas com um dos termos entre parênteses:<br />
a) O..........................dos senadores é de oito anos. (mandado - mandato)<br />
b) Todos os...........................haviam sido ocupados. (acentos - assentos)<br />
c) A próxima..............................começará atrasada. (seção - sessão)<br />
d) O marido entrou vagarosamente e passou......(despercebido - desapercebido)<br />
e) Após o bombardeio, o navio atingido........................ (emergiu-imergiu)<br />
110. Observe as frases abaixo:<br />
1. O perigo de desabamento está próximo.<br />
2. No levantamento da população de São Paulo houve distorções.<br />
3. Na repartição das armas, a presença do furriel é importante.<br />
4. Toda espécie de contrabando de drogas deve ser repreendido.<br />
Os vocábulos grifados equivalem respectivamente a:<br />
a) iminente, censo, seção e tráfego.<br />
b) iminente, censo, seção e tráfico.<br />
c) eminente, senso, cessão e tráfico.<br />
d) eminente, senso, sessão e tráfego.<br />
111. Em: O Prefeito ratificou o Decreto e O Prefeito retificou o Decreto, as palavras sublinhadas podem ser substituídas,<br />
sem que haja perda de sentido, por, respectivamente:<br />
a) modificou / publicou<br />
b) escolheu / saudou<br />
c) anunciou / arquivou<br />
d) apresentou / incorporou<br />
e) confirmou / corrigiu<br />
112. Assinale o item em que ocorre, ou não, erro no emprego das homófonas há, a e à:<br />
a) Já estou em Brasília há 25 anos.<br />
b) Ainda há dúvidas quanto e este assunto?.<br />
c) Já iniciamos a sessão a quinze minutos.<br />
d) parece que ele voltou à infância.<br />
e) O resultado sairá daqui a pouco.<br />
113. Assinale a alternativa em que as formas completam corretamente as lacunas das frases, pela ordem:<br />
1. Ele foi logo embora e ninguém sabe o ..............<br />
2. Nomearam-no ................?<br />
3 .......................vos entristeceis?<br />
4. Muita maldade acontece .......... o dinheiro é o grande envenenador da alma.<br />
a) por que, por quê, porquê, porque.<br />
b) por quê, por que, porquê, porque.<br />
c) porque, porquê, por quê, por que.<br />
d) porquê, porquê, por que, por quê.<br />
e) porquê, por quê, por que, porque.<br />
45
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
114. Assinale a alternativa em que HÁ ERRO na palavra ou expressão que exprime causa:<br />
a) Por que você não se cala?<br />
b) Eu sei o motivo por que você está rindo.<br />
c) Essa é a razão porque não me calo.<br />
d) Você vai ser castigado, por quê?<br />
e) Quem sabe o porquê de tudo?<br />
115. Indique a letra na qual as palavras completam, corretamente, os espaços das frases abaixo.<br />
- Quem possui deficiência auditiva não consegue ______ os sons com nitidez.<br />
- Hoje são muitos os governos que passaram a combater o ______ de entorpecentes com rigor.<br />
- O diretor do presídio ______ pesado castigo aos prisioneiros revoltosos.<br />
46<br />
a) discriminar - tráfico - infligiu<br />
b) discriminar - tráfico - infringiu<br />
c) descriminar - tráfego - infringiu<br />
d) descriminar - tráfego - infligiu<br />
e) descriminar - tráfico - infringiu<br />
Gabarito<br />
01. c<br />
[a] A ideia é fazer humor através do duplo sentido produzido pela palavra indefinido e o pontilhismo tal qual<br />
indefinido. É divertido ao invés de profundo.<br />
[b] Não há riqueza nos detalhes do desenho, aliás, isso é que torna o cartum interessante.<br />
[c] Correta. A ideia é fazer humor através do duplo sentido produzido pela palavra indefinido e o pontilhismo tal<br />
qual indefinido. Para que houvesse humor, utilizou-se a linguagem verbal e visual concomitantemente.<br />
[d] Não há nenhuma questão profunda ou filosófica no cartum.<br />
[e] Não há tom poético.<br />
02. b<br />
É correta a opção [b], pois, ao narrar uma ação do cotidiano em linguagem coloquial (“tou podre”, “a gente<br />
vamos”), o autor demonstra paralelamente a preocupação em elaborar um texto em que o ritmo, a sonoridade e a<br />
escolha do léxico estão presentes. Essa preocupação com o fazer literário configura a função poética da linguagem.<br />
03. d<br />
É correta a opção [d], pois, metalinguisticamente, o texto convida a um exercício de reflexão a respeito dos<br />
princípios que estruturam a forma e o conteúdo de um livro, que só se completa no ato da leitura.<br />
04. d<br />
A natureza de um artigo de opinião é divulgar a reflexão sobre um determinado tema – neste caso, a falta de<br />
professores. Tal gênero textual não depende da quantidade de leitores, não pretende atingir setores restritos da<br />
sociedade ou meramente expor um problema. De semelhante forma, não é apenas o emprego de linguagem formal<br />
e denotativa que caracteriza um artigo de opinião.<br />
05. e<br />
É correta a alternativa [e], pois as expressões licencinha, tô passando e lascou são típicas da linguagem coloquial<br />
e informal, uma linguagem utilizada no cotidiano que não exige observação total às regras da gramática normativa<br />
(“tô”), admite o uso de gírias (“lascou”) e palavras pouco habituais na linguagem formal (“licencinha”).<br />
06. [a] É correta a alternativa [a], pois, no soneto “Liberdade, onde estás? Quem te demora?”, o emissor é o eu lírico, o<br />
receptor, a liberdade, e o objetivo da mensagem é criticar o sistema político opressor do país, o despotismo.<br />
07. [c] [a] Não se trata de função emotiva, por se tratar de uma referência a um discurso de agradecimento de um<br />
economista brasileiro.<br />
[b] Não é apelativa, por não se tratar de um texto persuasivo.<br />
[c] Correta. É um texto referencial, por refutar a ideia contida em um discurso de agradecimento de um conhecido<br />
economista brasileiro. Sendo assim, trata-se de um texto impessoal e informativo, característico desta função<br />
comunicativa.<br />
[d] Não é uma função metalinguística por ser um texto meramente informativo.<br />
[e] Por tratar-se de um texto informativo, há utilização da palavra jabuticaba e jabuticabeira somente para designar<br />
o fruto e sua árvore literalmente, nada mais.
Material <strong>ITA</strong><br />
08. [e] É correta a alternativa [e], pois a função apelativa ocorre em construções sintáticas orientadas para o interlocutor<br />
diretamente interessado pelo conteúdo, como no texto publicitário da imagem em que predomina o uso de verbos<br />
no imperativo (“participe”, “crie”, “preencha”,”consulte”).<br />
09. [b] O “clichê” configura-se através da repetição excessiva de uma ideia ou expressão. Esse lugar comum está<br />
presente na frase da alternativa [b], em que a expressão “lugar ao sol” sugere uma situação na qual se usufruem<br />
condições de vida favoráveis.<br />
10. b<br />
[I]<br />
Verdadeira, pois a linguagem não-verbal, relacionada ao aviãozinho feito a partir de uma nota de 100 Reais,<br />
corrobora o sentido da linguagem verbal. Esta, de certa forma, também reforça a ideia de “queda”, uma vez<br />
que as manchetes normalmente vêm dispostas nas capas de modo que a leitura flua de acordo com o<br />
convencional, na direção horizontal;<br />
[II] Verdadeira, uma vez que a poesia concreta leva o autor a se apropriar do espaço disponível, no caso a folha de<br />
papel, reunindo elementos frasísticos, visuais e sonoros para expor sua obra: respectivamente, há referência ao<br />
ditado popular; o aviãozinho feito a partir de uma nota de 100 Reais reforça a ideia principal, forçando, inclusive o<br />
leitor a fazer com os olhos o mesmo movimento de queda informado pela manchete; finalmente, a questão sonora<br />
está relacionada ao trocadilho entre o real (moeda brasileira) e a real (sinônimo de “realidade”).<br />
[III] Verdadeira, pois, ao considerar o texto 3 como fonte (“Cair nas nuvens”), percebe-se a substituição de elementos<br />
linguísticos (o predicado da frase, “cai na real”), assim como a inclusão (o sujeito da frase, “o real”);<br />
[IV] Verdadeira, pois, nas duas ocorrências, “real” continua sendo um substantivo, porém seu significado muda<br />
[V]<br />
11. b<br />
[I]<br />
[II]<br />
conforme altera-se o gênero: o real (moeda brasileira) e a real (sinônimo de “realidade”);<br />
Falsa, uma vez que o já citado trocadilho entre o real (moeda brasileira) e a real (sinônimo de “realidade”)<br />
indica a presença da função poética, reforçada pela disposição da frase na direção vertical.<br />
Verdadeiro, pois a revista Veja usa nitidamente o provérbio (“Cai das nuvens”), e a revista Época sugere tal<br />
situação por, principalmente, elementos gráficos.<br />
Falso, pois os recursos gráficos são mais explorados pela revista Época, ao utilizar um aviãozinho feito a partir<br />
de uma nota de 100 Reais sofrendo a queda, tema de tal semana.<br />
12. [d] Uma vez que o enunciado explicita as relações entre os textos “na perspectiva da polifonia, do dialogismo e da<br />
intertextualidade”, percebe-se que não há plágio entre os excertos apresentados, inclusive porque o texto 3 é um<br />
verbete de dicionário, fonte de referência na busca de significados; tal fato descarta a ideia de ser uma fonte que se<br />
apropria indevidamente de um determinado conteúdo<br />
13. a) função referencial<br />
b) função referencial<br />
c) funções referencial e metalinguística<br />
d) função poética<br />
e) função fática<br />
14. Código, emissor e mensagem.<br />
15.[a]-A metalinguagem acontece quando o texto usa a narrativa para falar sobre as “estórias”, ou seja, a narrativa deste<br />
texto conta as narrativas do velho Taímo: “As estórias dele faziam o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que o<br />
mundo”. Assim, é correta a alternativa [A].<br />
16. d<br />
17. c<br />
18. 2,4,1,4,3<br />
19. Funções poética e metalinguística.<br />
20. Código, emissor e mensagem.<br />
21. Nesse fragmento de Clarice Lispector, além da preocupação introspectiva em fisgar elementos interiores, profundos,<br />
beirando uma revelação epifânica transcendental, há também a preocupação constante com a própria escritura do<br />
texto literário, usando-se a função metalinguística.<br />
A discussão ou abordagem da tessitura narrativa aparece em passagens como: "As palavras são sons transfundidos<br />
de sombras que se entrecruzam desiguais, estalactites, renda, música transfigurada de órgão. Mal ouso clamar<br />
palavras a essa rede vibrante e rica (...)", "Sei que estou adiando a história e que brinco de bola sem bola. O fato é<br />
um ato? Juro que este livro é feito sem palavras (...)" e "Eu não sou um intelectual, escrevo com o corpo. E o que<br />
escrevo é uma névoa úmida".<br />
47
22. a) função referencial<br />
b) função poética<br />
c) funções referencial e metalingüística<br />
d) função fática<br />
e) função conativa<br />
f) função emotiva<br />
g) função metalinguística<br />
23. Função emotiva - predominância de 1ª pessoa.<br />
24. a<br />
[I]<br />
48<br />
[II]<br />
[III]<br />
25. a<br />
[I]<br />
[II]<br />
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
Verdadeira, pois é a calvície do engraxate que chama a atenção do cronista, levando-o à reflexão sobre a<br />
exploração pelo trabalho: ao passar o pano no sapato e enxugar a própria testa, a cabeça do trabalhador<br />
ficou marcada pela graxa.<br />
Verdadeira, pois “função textual” é todo elemento empregado para formar um texto coeso e coerente. A<br />
caracterização do engraxate é essencial para que o leitor reconheça a coesão e a coerência da crônica<br />
reflexiva.<br />
Verdadeira, pois, reforçando o conceito de “função textual”, a caracterização do engraxate é uma exigência<br />
para que o leitor reconheça a crônica como um texto coerente.<br />
Verdadeira, pois digressão é um comentário paralelo ao discurso, uma divagação relacionada ao tema. Há,<br />
no texto, um comentário paralelo (“os jornais diriam que fora o dia mais quente deste verão...”) que reforça o<br />
discurso (“Fazia calor no Rio...”)<br />
Verdadeira, pois o cronista já havia mencionado a decisão de engraxar os sapatos e a referência ao agente<br />
dessa ação se dá pelo pronome demonstrativo “esses”, anafórico.<br />
[III] Verdadeira, apontando outro emprego do pronome demonstrativo. Neste caso, o cronista pretende fazer<br />
referência ao conhecimento de mundo do leitor, seu enunciatário, ou seja, o destinatário do discurso.<br />
[IV] Verdadeiro, pois o pronome pessoal do caso reto faz referência a um elemento já mencionado, o sapato. Ao<br />
empregar o pronome de modo anafórico, mantém o texto coeso sem repetir os termos.<br />
26. Função emotiva<br />
27. b<br />
28. d<br />
29. c<br />
30. c<br />
31. a<br />
32.<br />
a) Sim, caso a conversa entre pai e filho se desse por telefone, a entonação utilizada haveria de desfazer o tom<br />
imperativo que a frase escrita possui.<br />
b) “Papai, mande-me dinheiro, por favor?”.<br />
33. ana Fonologia<br />
34. [d] O efeito sonoro se faz com uma combinação linguística explorando os fonemas /l/, /b/, /t/. A linguagem<br />
coloquial é representada pela expressão “tipo pra rimar”.<br />
35. d 36. b 37. e 38. b 39. a<br />
40. a 41. a 42. d 43. c 44. c<br />
45. d 46. c 47. a 48. a 49. d<br />
50. a 51. e 52. e 53. d 54. e<br />
55. d 56. d 57. c 58. a 59. b<br />
60. a 61. c<br />
62. substituí-lo, bênção, reúne,<br />
63. b 64. b 65. b 66. e 67. c<br />
68. e<br />
69. Está – oxítona terminada em a; óleo – paroxítona em ditongo; é – monossílaba tônica em e; inglês/você – oxítonas<br />
em e(s); têm – 3ª pessoa plural do verbo “ter”; sensível – paroxítona terminada em I.<br />
70. b
Material <strong>ITA</strong><br />
71. Se a tônica fosse o i, essa vogal ficaria na segunda vogal do hiato, sozinha na sílaba em sem nh depois e, nessas<br />
condições, teria acento gráfico. Como essas palavras não são acentuadas, o i não é tônica.<br />
72. d<br />
73. a) guilhochê;<br />
c) aimará;<br />
d) féretro;<br />
e) aljôfar;<br />
g) Pólux<br />
74. e 75. d 76. d 77. e 78. b<br />
79. c 80. c 81. c 82. c 83. c<br />
84. d 85. d 86. c 87. a 88. c<br />
89. e 90. d 91. b 92. b 93. d<br />
94. c 95. a<br />
96. a<br />
[I] Porque. O termo porque tem sentido de conjunção explicativa nesta oração.<br />
[II] Por que. Para perguntas, usa-se apenas o por que separado e sem acento.<br />
[III] Usa-se também o por que separado quando o sentido de causa ou de motivo estiver implícito.<br />
97. c<br />
98. d<br />
99. e<br />
100. c<br />
101. b<br />
102. a) cuidado com o degrau, senão você cai./Se não tomar cuidado com o degrau, você pode cair.<br />
b) por que<br />
c) Por tratar-se de uma frase interrogativa direta, foi usada a forma por que<br />
d) porque<br />
103. a) há<br />
b) a<br />
c) há<br />
d) a<br />
e) a<br />
104. a) conjunção adverbial temporal<br />
b)advérbio<br />
c) verbo haver, equivale a fazer.<br />
d) substantivo/aparece no final da frase interrogativa.<br />
e) Pronome, equivale a pelos quais<br />
105 c) mal - mau - mas - mais;<br />
106. b) onde – estada – estadia – aonde;<br />
107. d) concerto – a – há – sessões – há;<br />
108. d) tráfego – infrações – infrinjam – conserto;<br />
109. a) (mandato)<br />
b) (assentos)<br />
c) (sessão)<br />
d) (despercebido)<br />
e) (imergiu)<br />
110. b) iminente, censo, seção e tráfico.<br />
111. e) confirmou / corrigiu<br />
112. c) Já iniciamos a sessão a quinze minutos.<br />
113. e) porquê, por quê, por que, porque.<br />
114. c) Essa é a razão porque não me calo.<br />
115. a) discriminar - tráfico - infligiu<br />
49
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
50<br />
Frente B<br />
Módulo B01 – LITERATURA BRASILEIRA<br />
A HISTÓRIA DA LITERATURA<br />
“De tudo que dissemos se conclui que a literatura se distingue da não-literatura pelo conteúdo e pela forma, e que<br />
as características essenciais da ora literária são duas: um conteúdo intuitivo e individual e uma forma produto da<br />
criatividade expressiva do artista.” (Antônio Soares Amora)<br />
“Literatura é a linguagem carregada de significado. Grande literatura é simplesmente linguagem carregada de<br />
significado até o máximo grau possível.” (Ezra Pound)<br />
As duas conceituações de literatura acima refletem, cada uma delas, uma visão: na primeira, enfatiza-se o papel do<br />
artista na palavra; na segunda, põe-se em destaque como a literatura resulta do manuseio da linguagem.<br />
Os estudos de história da literatura procuram investigar as transformações pelas quais passou o conceito de criação<br />
literária no decorrer do desenvolvimento da sociedade humana. Para isso, analisam tanto os textos literários produzidos em cada<br />
uma das etapas históricas da humanidade como os sistemas de ideias e as relações sociais que coexistiram com esses textos. Esse<br />
trabalho procura detectar as influências mútuas entre a produção literária e o ambiente histórico em que ela se deu.<br />
No estudo histórico da literatura, você vai lidar com conceitos como período literário, movimento literário, escola<br />
literária, estética literária ou fase literária. Há uma ideia básica por trás deles: a de que é possível agrupar obras e autores<br />
a partir de elementos similares. Dessa forma, a observação de recursos estilísticos e preferências temáticas comuns a um<br />
grupo de autores e livros mais ou menos contemporâneos entre si permite traçar os limites de um período literário.<br />
O conceito de período literário está vinculado ao de estilo de época. O estilo de época advém de um conjunto de<br />
normas que orienta e caracteriza as manifestações culturais de um momento histórico. Esse conjunto de normas costuma<br />
atender aos padrões de gosto e às exigências ideológicas da classe social dominante, que seleciona as manifestações<br />
artísticas que terão maior projeção e muitas vezes condena ao esquecimento formas artísticas de outras camadas sociais.<br />
Observe, pois, que em qualquer período artístico coexistem diversos sistemas de normas estéticas, dentre os quais um se<br />
destaca por motivos sociais e econômicos. Esse sistema acaba por ser registrado historicamente e tomado como sinônimo<br />
artístico de determinada época.<br />
Além desses problemas de origem social, o estudo da história da literatura enfrenta outros. A questão do estilo individual é<br />
um deles. Como já vimos, um período literário pode ser definido porque traços estilísticos comuns nos permitem agrupar autores<br />
e obras que apresentam similaridades. Entretanto, cada autor, quando escreve, faz suas próprias opções, ultrapassando muitas<br />
vezes os limites que o estilo de época determina.<br />
Podemos até mesmo identificar uma tendência nos melhores artistas da palavra: a de transgredir os limites impostos pelo<br />
estilo de época, impregnando suas obras de novidade e personalidade. Essa característica traz muitos problemas à divisão da<br />
literatura em períodos, uma vez que existem autores e obras "inclassificáveis".<br />
Infelizmente, o conceito de período literário pode criar alguns equívocos, como, por exemplo, sugerir a falsa impressão de<br />
que os limites cronológicos de um período são rigorosos, e que a morte de um estilo de época e o nascimento de outro são<br />
definitivos e instantâneos. Lembre-se sempre de que cada período se insere num processo e que as datas apontadas como limite<br />
constituem mera indicação de fatos significativos das transformações literárias. O surgimento de novas ideias e ideais na arte<br />
literária tem sempre alguma relação com ideias e ideais anteriores: os estilos de época interpenetram-se. Esse processo em que<br />
um texto se alimenta de outro ou outros chama-se intertextualidade e evidencia como a literatura se vale frequentemente da<br />
própria literatura para, por meio de reinterpretações, descobrir novos caminhos. O mesmo processo ocorre também nas artes<br />
plásticas, como se percebe nas figuras que abrem esse capitulo.<br />
OS PRIMÓRDIOS DA ARTE<br />
É virtualmente impossível determinar quais seriam as primeiras manifestações artísticas. Quem teria sido o primeiro<br />
hominídeo consciente a fazer um conjunto de sons, provavelmente percussivos, com ritmos? Quem teria feito movimentos<br />
corporais em consonância com esse ritmo? São dados perdidos na história da humanidade. Entretanto, existem registros<br />
pictóricos nas paredes das cavernas: as pinturas rupestres. As primeiras pinturas rupestres, encontradas em 1879, foram<br />
as da caverna de Altamira, situada na Cantábria, Espanha. O segundo grupo de pinturas foi descoberto em 1922, na<br />
caverna de PechMerle, em Lot,França. A datação em carbono 14 indica que estas foram feitas há 25 mil anos, sendo 10<br />
mil anos mais antigas que as de Altamira.
Material <strong>ITA</strong><br />
Pintura rupestre de Altamira<br />
Difícil também é precisar o nível de consciência do homem primitivo. É de supor que ele estivesse restrito ao primeiro<br />
instinto animal: o de autopreservação. Portanto, sua luta cotidiana era pela busca de alimentos e disputa de território.<br />
Com o decorrer do tempo, cada vez mais uma parte da natureza humana que não se alimenta apenas da interação<br />
com o mundo concreto foi se sofisticando e a manifestando. Há caminhos mais abstratos a percorrer, sentimentos e<br />
necessidades que nem sempre são objetivos ou equacionáveis. A arte procura expressar essas necessidades e sentimentos.<br />
A ESCR<strong>ITA</strong><br />
A escrita procura representar o pensamento por meio de caracteres convencionais. Até que esses caracteres fossem<br />
estabelecidos, um longo caminho foi percorrido. Os seres humanos começaram por desenhar objetos que poderiam ser<br />
associados aos fatos que desejavam registrar de modo duradouro. Essa foi a fase da pictografia.<br />
Passaram, então, a representar ideias abstratas por meio de objetos que tinham maior poder de analogia, de<br />
comparação, com a ideia que pretendiam expressar. Foi a fase do simbolismo, ou ideografismo, cujos sinais podem ser<br />
encontrados nos idiomas japonês, chinês e nos hieróglifos egípcios.<br />
https://www.google.com.br/search?q=hieroglifos&biw<br />
Os ideogramas, sinais gráficos que representam ideias ou coisas, quando combinados, expandem-se emnovos<br />
sentidos. O processo de composição por ideogramas, além de caracterizar uma forma de registro, ensina uma filosofia de<br />
vida. Daí surgiu a ideia de convencionar sinais para representar os sons da fala, cujos símbolos escritos constituem as<br />
silabas das palavras. Configurou-se então a escrita silábica. Em seguida, veio o alfabetismo, caracterizado por um<br />
inventario de letras que representam os fonemas da língua falada.<br />
51
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
https://www.google.com.br/search?q=alfabeto+grego&biw=<br />
Alfabeto hebraico e seus significados<br />
(Detalhe de Madona do Magnificat, de Sandro Botticelli, pintada entre 1482 e 1498.)<br />
52<br />
(Trovador da lírica medieval.)<br />
A fundação de Portugal se dá com a vitória lusitana sobre os árabes na batalha de Ouriques, em 1139. Esse<br />
confronto militar tornou-se lendário. Segundo a crença popular, os mouros foram arrasados por cristãos e o feito é<br />
atribuído não somente ao comando enérgico de D. Afonso I (acima), mas também a São Tiago. Conta-se que o santo<br />
surge inesperadamente em um cavalo branco e, com sua espada, corta centenas de cabeças de muçulmanos. Essa<br />
intervenção do poder celestial sobre os acontecimentos terrenos é reveladora da mentalidade do homem medieval.
Material <strong>ITA</strong><br />
As manifestações Artísticas<br />
Chega mais perto e contempla as palavras.<br />
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra<br />
(Carlos Drummond de Andrade)<br />
A língua já foi comparada a “um dicionário, cujos exemplares, idênticos, são distribuídos entre os indivíduos” e<br />
cada indivíduo pode fazer uso desse “dicionário” de forma particular, desde que obedeça a algumas regras gerais da<br />
língua. Desta forma ao realizar um ato de comunicação verbal, o indivíduo escolhe, seleciona as palavras, para depois<br />
organizá-las, combiná-las, conforme a sua vontade. E todo esse trabalho de seleção e combinação não é aleatório, não<br />
é realizado por acaso (afinal, seleção significa “escolha fundamentada”), mas está intimamente ligado á intenção de<br />
quem fala ou escreve.<br />
Quando essa intenção está voltada para o próprio texto, quere na sua estrutura, quer na seleção e combinação das<br />
palavras, ocorre afunção poética da linguagem. Como afirma Roman Jakobson, a função poética “coloca em evidência o<br />
lado palpável, material dos signos”.<br />
Ao selecionar e combinar de maneira particular e especial as palavras, o poeta procura obter alguns elementos<br />
fundamentais da linguagem poética:<br />
O ritmo;<br />
A sonoridade;<br />
O belo e o inusitado das imagens.<br />
Importante é perceber que a função poética não é exclusiva da poesia; você poderá encontrá-la em textos escritos<br />
em prosa, em anúncios publicitários e mesmo na linguagem cotidiana. Observe como nossa tendência é sempre falar<br />
“amizade luso-brasileira” e nunca “amizade brasileiro-lusa”. Da mesma forma, ao enunciarmos uma sequência aleatória<br />
de nomes, a tendência será pronunciar os nomes mais curtos antes dos mais longos; como nos ensina Jakobson,<br />
tendemos a dizer “Joana e Margarida”, e não “Margarida e Joana”. E qual a explicação? Simplesmente porque “soa<br />
melhor”.<br />
A seguir, alguns exemplos da função poética da linguagem:<br />
A PALAVRA<br />
“Diante dele, as pessoas, as coisas, perdiam o peso de ser. Os lugares, o Mutúm – se<br />
esvaziavam, numa ligeireza, vagarosos. E Muguilim mesmo se achava diferente de todos. Ao<br />
vago, dava a mesma ideia de uma vez, em que, muito pequeno, tinha dormido de dia, fora<br />
de seu costume – quando acordou, sentiu o existir do mundo em hora estranha, e perguntou<br />
assustado: – ‘Uai, Mãe, hoje já e amanhã?!”<br />
(Guimarães Rosa)<br />
João não quero dicionários<br />
consultados em vão,<br />
Quero só a palavra<br />
que nunca estará neles<br />
nem se pode inventar.<br />
Que resumirá o mundo<br />
e o substituirá.<br />
Mais sol do que o sol,<br />
dentro da qual vivêssemos<br />
todos em comunhão,<br />
mudos,<br />
saboreando-a<br />
(Carlos Drummond de<br />
Andrade)<br />
53
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
O texto de Guimarães Rosa, escrito em prosa, é um brilhante exemplo da função poética da linguagem. Nele<br />
predomina a linguagem figurada, resultante da seleção e da combinação especial de palavras. Dessa forma, mesmo<br />
isoladas do contexto, as frases tem um valor, porque o foco está na própria arrumação da mensagem. É o que ocorre em<br />
“Os lugares se esvaziavam, numa ligeireza, vagarosos” ou “sentiu o existir do mundo em hora estranha” ou ainda “hoje<br />
já é amanhã?!”.<br />
Exercícios Propostos<br />
01. (<strong>ITA</strong>) O poema a seguir faz parte do livro "Rosácea" (1986), da escritora Orides Fontela. Leia-o atentamente.<br />
Lembretes<br />
É importante acordar<br />
a tempo<br />
é importante penetrar<br />
o tempo<br />
é importante vigiar<br />
o desabrochar do destino.<br />
(FONTELA, Orides. "Trevo" (1969-1988). São Paulo: Duas Cidades, 1988.)<br />
a) Em cada estrofe, a escritora nos lembra de algo importante acerca da vida humana. Explique, a que atitudes,<br />
comportamentos ou momentos da existência a escritora se refere em cada uma das três estrofes do poema.<br />
b) A sequência dos "lembretes" torna-se complexa ao longo do poema por meio de metáforas cada vez mais<br />
abstratas. Aponte qual o possível significado metafórico da expressão "vigiar / o desabrochar do destino", na<br />
última estrofe.<br />
02. (<strong>ITA</strong>) Analise as seguintes proposições e marque a soma da(s) CORRETA(S).<br />
01) O <strong>Português</strong> é falado por mais de 280 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo a língua oficial de<br />
diversos países.<br />
02) Linguagem é o conjunto de palavras faladas ou escritas, não abrangendo gestos e imagens, uma vez que<br />
estes últimos permitem múltiplas interpretações.<br />
04) Um mesmo suporte textual pode apresentar linguagem verbal e linguagem não verbal, ambas contribuindo<br />
para a veiculação de ideias, mesmo que, aparentemente, não apresentem relação direta entre si.<br />
08) A linguagem pode ser verbal ou não verbal. Assim, enunciados desprovidos de ao menos um verbo são<br />
considerados não-verbais.<br />
16) A definição da “Norma Culta” de uma língua considera aspectos históricos, principalmente os primeiros<br />
registros escritos desta língua. A Norma Culta, então, é permanente e não dependente de contextos sociais,<br />
políticos ou econômicos.<br />
32) Impedem que uma língua morra: seu registro em documentos, o trabalho dos estudiosos e a existência de<br />
gramáticas. O uso constante e descuidado por parte dos falantes, no entanto, contribui para o surgimento de<br />
“Línguas Mortas”.<br />
03. (ENEM)<br />
TEXTO I<br />
A característica da oralidade radiofônica, então, seria aquela que propõe o diálogo com o ouvinte: a simplicidade,<br />
no sentido da escolha lexical; a concisão e coerência, que se traduzem em um texto curto, em linguagem coloquial<br />
e com organização direta; e o ritmo, marcado pelo locutor, que deve ser o mais natural (do diálogo). É esta<br />
organização que vai “reger” a veiculação da mensagem, seja ela interpretada ou de improviso, com objetivo de dar<br />
melodia à transmissão oral, dar emoção, personalidade ao relato do fato.<br />
VELHO, A. P. M. A linguagem do rádio multimídia. Disponível em: www.bocc.ubi.pt. Acesso em: 27 fev. 2012.<br />
54
Material <strong>ITA</strong><br />
TEXTO II<br />
A dois passos do paraíso<br />
A Rádio Atividade leva até vocês<br />
Mais um programa da séria série<br />
“Dedique uma canção a quem você ama”<br />
Eu tenho aqui em minhas mãos uma carta<br />
Uma carta d'uma ouvinte que nos escreve<br />
E assina com o singelo pseudônimo de<br />
“Mariposa Apaixonada de Guadalupe”<br />
Ela nos conta que no dia que seria<br />
o dia mais feliz de sua vida<br />
Arlindo Orlando, seu noivo<br />
Um caminhoneiro conhecido da pequena e<br />
Pacata cidade de Miracema do Norte<br />
Fugiu, desapareceu, escafedeu-se<br />
Oh! Arlindo Orlando volte<br />
Onde quer que você se encontre<br />
Volte para o seio de sua amada<br />
Ela espera ver aquele caminhão voltando<br />
De faróis baixos epara-choque duro...<br />
BLITZ. Disponível em: http://letras.terra.com.br. Acesso em: 28 fev. 2012 (fragmento).<br />
Em relação ao Texto I, que analisa a linguagem do rádio, o Texto II apresenta, em uma letra de canção,<br />
a) estilo simples e marcado pela interlocução com o receptor, típico da comunicação radiofônica.<br />
b) lirismo na abordagem do problema, o que o afasta de uma possível situação real de comunicação<br />
radiofônica.<br />
c) marcação rítmica dos versos, o que evidencia o fato de o texto pertencer a uma modalidade de comunicação<br />
diferente da radiofônica.<br />
d) direcionamento do texto a um ouvinte específico divergindo da finalidade de comunicação do rádio, que é<br />
atingir as massas.<br />
e) objetividade na linguagem caracterizada pela ocorrência rara de adjetivos, de modo a diminuir as marcas de<br />
subjetividade do locutor.<br />
04. (<strong>ITA</strong>) O texto abaixo é a estrofe inicial do poema "Meus oito anos", de Casimiro de Abreu:<br />
(...)<br />
Oh! Que saudades que tenho<br />
Da aurora da minha vida,<br />
Da minha infância querida<br />
Que os anos não trazem mais!<br />
Que amor, que sonhos, que flores,<br />
Naquelas tardes fagueiras<br />
À sombra das bananeiras,<br />
Debaixo dos laranjais!<br />
(...)<br />
(In CANDIDO, A.; CASTELLO, J. "A. Presença da literatura brasileira, v. 2. São Paulo: Ditei, 1979.)<br />
Sobre o poema, NÃO se pode afirmar que<br />
a) se trata de um dos poemas mais populares da Literatura Brasileira.<br />
b) o poeta se vale do texto para manifestar a sua saudade da infância.<br />
c) a linguagem não é erudita, pois se aproxima da simplicidade da fala popular, o que é uma marca da poesia<br />
romântica.<br />
d) a memória da infância do poeta está intimamente ligada à natureza brasileira.<br />
e) o poeta é racional e contido ao mostrar a sua emoção no poema.<br />
55
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
05. (Fuvest SP)<br />
“A tua saudade corta<br />
como aço de navaia...<br />
O coração fica aflito<br />
Bate uma, a outra faia...<br />
E os óio se enche d'água<br />
Que até a vista se atrapaia, ai, ai...”<br />
Fragmento de Cutelinho, canção folclórica.<br />
a) Nos dois primeiros versos há uma comparação. Reconstrua esses versos numa frase iniciada por “Assim como<br />
(...)”, preservando os elementos comparados e o sentido da comparação.<br />
b) Se a forma do verbo atrapalhar estivesse flexionada de acordo com a norma padrão, haveria prejuízo para o<br />
efeito de sonoridade explorado no final do último verso? Por quê?<br />
06. O livro de contos "A Guerra Conjugal", de Dalton Trevisan, publicado em 1969, reatualiza alguns temas da ficção<br />
realista-naturalista do século XIX, e registra de forma crua a vida nos grandes centros urbanos. Nesse sentido, é<br />
correto afirmar que nessa obra<br />
a) os casais protagonistas, da média e alta burguesia, como nos romances de Machado de Assis, vivem sempre<br />
conflitos ligados ao adultério.<br />
b) os protagonistas dos contos estão quase sempre envolvidos em conflitos conjugais e familiares, que levam à<br />
violência e à perversão.<br />
c) a maior parte dos contos retrata dramas de casais massacrados por um cotidiano miserável e por uma vida<br />
sem perspectivas.<br />
d) quase todos os casais (denominados sempre de João e Maria) vivem dramas naturalistas, gerados por taras e<br />
perversões sexuais.<br />
e) as personagens são de classe média; vivem na periferia de grandes cidades, mergulhadas numa grande<br />
miséria existencial e cultural.<br />
07. (<strong>ITA</strong>) Leia os textos abaixo, de Oswald de Andrade, extraídos de "Poesias reunidas" (Rio de Janeiro: Civilização<br />
Brasileira, 1978).<br />
VÍCIO NA FALA<br />
Para dizerem milho dizem mio<br />
Para melhor dizem mio<br />
Para pior pio<br />
Para telha dizem teia<br />
Para telhado dizem teiado<br />
E vão fazendo telhados<br />
PRONOMINAIS<br />
Dê-me um cigarro<br />
Diz a gramática<br />
Do professor e do aluno<br />
E do mulato sabido<br />
Mas o bom negro e o bom branco<br />
Da Nação brasileira<br />
Dizem todos os dias<br />
Deixa disso camarada<br />
Me dá um cigarro<br />
Esses poemas<br />
I. mostram claramente a preocupação dos modernistas com a construção de uma literatura que levasse em<br />
conta o português brasileiro.<br />
II. mostram que as variantes linguísticas, ligadas a diferenças socioeconômicas, são todas válidas.<br />
III. expõem a maneira cômica com que os modernistas, por vezes, tratavam de assuntos sérios.<br />
IV. possuem uma preocupação nacionalista, ainda que não propriamente romântica.<br />
56<br />
Estão corretas<br />
a) I e IV. b) I, II e III.<br />
c) I, II e IV. d) I, III e IV.<br />
e) todas.
Material <strong>ITA</strong><br />
08. (ENEM 2013)<br />
TEXTO I<br />
Eles se beijavam no elevador, nos corredores do prédio. Se amavam tanto, que o vizinho solteirão da esquerda<br />
guardava por eles uma vermelha inveja. Uma tarde, sem que ninguém soubesse por que, eles se enforcaram no<br />
banheiro. Houve muito tumulto, carros da polícia parados em frente ao edifício, as equipes de TV.<br />
O sol caía sobre as marquises e a cabeça dos curiosos na rua. Um senhor dizia para uma mulher passando ali:<br />
– Eles se suicidaram.<br />
Uma comerciária acrescentava:<br />
– Dizem que eles se gostavam muito.<br />
– Que coisa!<br />
Enquanto isso, o solteirão, na janela do seu apartamento, vendo todos lá embaixo, mordia com sabor a carne<br />
acesa de uma enorme goiaba.<br />
FERNANDES, R. O caçador. João Pessoa: UFPB, 1997 (fragmento).<br />
TEXTO II<br />
Invejoso<br />
O carro do vizinho é muito mais possante<br />
E aquela mulher dele é tão interessante<br />
Por isso ele parece muito mais potente<br />
Sua casa foi pintada recentemente<br />
E quando encontra o seu colega de trabalho<br />
Só pensa em quanto deve ser o seu salário<br />
Queria ter a secretária do patrão<br />
Mas sua conta bancária já chegou ao chão<br />
[...]<br />
Invejoso<br />
Querer o que é dos outros é o seu gozo<br />
E fica remoendo até o osso<br />
Mas sua fruta só lhe dá o caroço<br />
Invejoso<br />
O bem alheio é o seu desgosto<br />
Queria um palácio suntuoso<br />
Mas acabou no fundo desse poço...<br />
ANTUNES, A. IêIêIê. São Paulo: Rosa Celeste, 2009<br />
(fragmento).<br />
O conto e a letra de canção abordam o mesmo tema, a inveja. Embora empreguem recursos linguísticos diferentes,<br />
ambos lançam mão de um mecanismo em comum, que consiste em<br />
a) referir-se, em terceira pessoa, a um indivíduo qualificado como invejoso.<br />
b) conferir à inveja aspectos humanos ao fazer dela personagem de narrativa.<br />
c) expressar o ponto de vista do invejoso por meio da fala de uma personagem.<br />
d) dissertar sobre a inveja, apresentando argumentos contrários e favoráveis.<br />
e) fazer uma descrição do perfil psicológico de alguém caracterizado como invejoso.<br />
09 (UFRG 2004) Considere as seguintes afirmações, relacionadas ao episódio do embarque do fidalgo, da obra Auto<br />
da Barca do Inferno, de Gil de Vicente.<br />
I. A acusação de tirania e presunção dirigida ao fidalgo configura uma crítica não ao indivíduo, mas a classe a<br />
que pertence.<br />
II. Gil Vicente critica as desigualdades sociais ao apontar o desprezo do fidalgo aos pequenos, aos<br />
desfavorecidos.<br />
III. No momento em que o fidalgo pensar ser alvo por haver deixado, em terra, alguém orando por ele,<br />
evidencia-se a crítica vicentina à fé religiosa.<br />
Quais estão corretas?<br />
a) Apenas I.<br />
b) Apenas II.<br />
c) Apenas I e II.<br />
d) Apenas II e III.<br />
e) I, II e III.<br />
57
58<br />
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
10. (UFRGS 2002) Assinale a alternativa incorreta sobre a obra de Gil Vicente<br />
a) Gil Vicente tem suas raízes na Idade Média, mas volta-se para o Renascimento, aliando o humanismo<br />
religioso à atitude crítica diante dos problemas sociais.<br />
b) Variada na forma, a obra vicentina desvenda os costumes do século XVI, satirizando a sociedade feudal sem perder o<br />
caráter moralista e resguardando o sentido de intervenção social.<br />
c) Embora critique o clero, a nobreza e seu séquito ocioso, o teatro vicentino faz a exaltação heroica dos reis,<br />
atitude comum na Idade Média.<br />
d) Ao mesmo tempo que desenvolve a sátira social, a produção vicentina aponta para necessidade de reforma<br />
da Igreja, devido aos abusos do clero.<br />
e) Trabalhando com uma verdadeira galeria de tipos. Gil Vicente adapta o uso da linguagem coloquial ao estilo<br />
e à condição social de cada um deles.<br />
11. (UFRGS 2000) Em relação ao Auto da Barra do Inferno de Gil Vicente, considere as seguintes afirmações.<br />
I. Trata-se de um grande painel que satiriza a sociedade portuguesa do seu tempo.<br />
II. Representa a transição da Idade Média para o Renascimento, guardando traços dos dois períodos.<br />
III. Sugere que o diabo, ao julgar justos e pecadores, tem poderes maiores que Deus.<br />
Quais estão corretas?<br />
a) Apenas I.<br />
b) Apenas I e II.<br />
c) Apenas I e III.<br />
d) Apenas II e III.<br />
e) I, II e III.<br />
12. (Fuvest) Indique a afirmação correta sobre o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente:<br />
a) É intricada a estruturação de suas cenas, que surpreendem o público com a inesperado de cada situação.<br />
b) O moralismo vicentino localiza os vícios, não nas instituições, mas nos indivíduos que as fazem viciosas.<br />
c) É complexa a crítica aos costumes da época, já que o autor primeiro a relativizar a distinção entre Bem e o Mal.<br />
d) A ênfase desta sátira recai sobre as personagens populares mais ridicularizadas e as mais severamente punidas.<br />
e) A sátira é aqui demolidora e indiscriminada, não fazendo referência a qualquer exemplo de valor positivo.<br />
13. (Fuvest) Diabo, Companheiro do Diabo, Anjo, Fidalgo, Onzeneiro, Parvo, Sapateiro, Frade, Florença, Brígida Vaz,<br />
Judeu, Corregedor, Procurador, Enforcado e Quatro Cavaleiros são personagens do Auto da Barca do Inferno, de<br />
Gil Vicente.<br />
Analise as informações abaixo e selecione a alternativa incorreta cujas características não descrevam<br />
adequadamente a personagem.<br />
a) O Onzeneiro idolatra o dinheiro, é agiota e usuário, de tudo que juntara, nada leva para a morte, ou melhor,<br />
leva a bolsa vazia.<br />
b) O Frade representa o clero decadente e é subjugado por suas fraquezas: mulher e esporte; leva a amante e<br />
as armas de esgrima.<br />
c) O Diabo, capitão da barca do inferno, é quem apressa o embarque dos condenados; é dissimulado o<br />
irônico.<br />
d) O Anjo, capitão da barca do céu, é quem elogia a morte pela fé; o austero e inflexível.<br />
e) O Corregedor representa a justiça e luta pela aplicação íntegra e exata das leis; leva papéis e processos.<br />
14. O argumento da pela “A Farsa de Inês Pereira”, de Gil Vicente, consiste na demonstração do refrão popular “Mais<br />
quero asno que me carregue que cavalo que me derrube”. Identifique a alternativa que NÃO corresponde ao<br />
provérbio, na construção da farsa.<br />
a) A segunda parte dos provérbios ilustra a experiência desastrosa do primeiro casamento.<br />
b) O escudeiro Brás da Mata corresponde ao cavalo, animal nobre, que a derruba.<br />
c) O segundo casamento exemplifica o primeiro termo, asno que a carrega.<br />
d) O asno corresponde a Pero Marques, primeiro pretendente e segundo marido de Inês.<br />
e) Cavalo e asno identificam a mesma personagem em diferentes momentos de sua vida conjugal.
Material <strong>ITA</strong><br />
15. Leia as proposições abaixo e assinale a alternativa correta sobre o Auto da Barca do Inferno.<br />
I. O Frade é condenado ao inferno somente porque é brincalhão e excelente dançarino.<br />
II. O Judeu aceitou pagar propina aos membros do judiciário e do clero e por isso terá sua alma condenada.<br />
III. Os quatro cavaleiros são salvos, pois representam os verdadeiros valores da fé cristã.<br />
a) Estão corretas a I e III.<br />
b) Estão corretas a II e III.<br />
c) Apenas a III está correta.<br />
d) Apenas a II está correta.<br />
e) Estão corretas a I e a II.<br />
16. Autor que levava o palco a sociedade portuguesa da primeira metade do século XVI, vivenciando, na expressão de<br />
Antônio José Saraiva, o reflexo da crise.<br />
II. Atuou na linha do teatro de costumes, associou o burlesco e o cômico em dramas e comédias ao retratar<br />
flagrantes da vida brasileira, do campo à cidade.<br />
Os enunciados referem-se, respectivamente, aos teatrólogos:<br />
a) Camilo Castelo Branco e José de Alencar.<br />
b) Machado de Assis e Miguel Torga.<br />
c) Gil Vicente e Nélson Rodrigues.<br />
d) Gil Vicente e Martins Pena.<br />
e) Camilo Castelo Branco e Nélson Rodrigues.<br />
OS GÊNEROS LITERÁRIOS<br />
Módulo B02 – Literatura Brasileira<br />
Todos os gêneros são bons, afora o gênero tedioso.<br />
(Voltaire, escritor e filósofo francês do século XVIII)<br />
Gêneros literários são as diversas modalidades de expressão literária, agrupadas emfunção das diferentes maneiras<br />
de o escritor ver, sentir o mundo. A escolha de dado gênero literário permite ao escritor passar certa visão de mundo<br />
(trágica, cômica, exaltativa, sentimental, satírica) a partir de uma forma específica (tragédia, comédia, epopeia, poema,<br />
paródia, etc.).<br />
Sabemos que a literatura é a arte que se manifesta pela palavra, seja ela falada ou escrita. Quanto à forma, o texto<br />
pode apresentar-se em prosa ou verso. Quanto ao conteúdo, estrutura e, segundo os clássicos, conforme a "maneira da<br />
imitação", podemos enquadrar as obras literárias em três gêneros:<br />
• Lírico - quando um "eu" nos passa uma emoção, um estado; centra-se no mundo interior do poeta,<br />
apresentando forte carga subjetiva. A subjetividade surge, assim, como característica marcante do lírico. O<br />
poeta posiciona-se em face dos "mistérios da vida". A lírica já foi definida como a expressão da "primeira<br />
pessoa do singular do tempo presente".<br />
59
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
• Dramático - quando os "atores, num espaço especial, apresentam, por meio de palavras e gestos, um<br />
acontecimento". Retrata, fundamentalmente, os conflitos das relações humanas.<br />
• Épico - quando temos uma narrativa de fundo histórico; são os feitos heroicos e os grandes ideais de um povo<br />
o tema das epopeias. O narrador mantém distanciamento em relação aos acontecimentos (esse<br />
distanciamento é reforçado, naturalmente, pelo aspecto temporal: os fatos narrados situam-se no passado).<br />
Temos, portanto, um poeta-observador voltado para o mundo exterior, tornando a narrativa objetiva. A<br />
objetividade é característica marcante do gênero épico. A épica já foi definida como a poesia da "terceira<br />
pessoa do tempo passado".<br />
As características apresentadas acima revelam as atitudes fundamentais de cada gênero. No entanto, é comum<br />
encontrarmos passagens ou mesmo textos inteiros em que os gêneros se misturam; por exemplo, são vários os casos de<br />
passagens líricas em poemas épicos (como o episódio de Inês de Castro no poema épico Os Lusíadas, de Camões). A<br />
literatura moderna, produzida no século XX, tornou muito tênues as fronteiras entre um gênero e outro.<br />
A divisão tradicional em três gêneros literários originou-se na Grécia clássica, com Aristóteles, quando a poesia era<br />
a forma predominante de literatura. Por nos parecer mais didática, adotamos uma divisão em quatro gêneros literários,<br />
desmembrando do épico o gêneronarrativo (ou, como querem alguns, a ficção), para enquadrar as narrativas em prosa.<br />
Gênero lírico<br />
Seu nome vem de lira, instrumento musical usado para acompanhar os cantos dos gregos. Por muito tempo, até o<br />
Final da Idade Média, os poemas eram cantados. Ao separar-se o texto do acompanhamento musical, a poesia passou a<br />
apresentar uma estrutura mais rica. A partir daí, a métrica (a medida de um verso, definida pelo número de sílabas<br />
poéticas), o ritmo das palavras, a divisão em estrofes, a rima. A combinação das palavras passaram a ser mais<br />
intensamente cultivados pelos poetas.<br />
Orfeu, personagem da mitologia grega, tocava lira tão habilmente e tinha voz tão<br />
maravilhosa, que era seguido pelos animais e conseguia acalmar as pessoas mais<br />
profundamente tomadas pela ira. Assim, a palavra lira deu origem a lírico, termo<br />
que caracteriza o gênero dedicado à poesia de caráter subjetivo.<br />
Leia, em voz alta, a belíssima estrofe de Carlos Drummond de Andrade na abertura da poesia intitulada<br />
"Consideração do poema". Observe a plasticidade do texto; é como se as palavras executassem um balé mágico:<br />
"Não rimarei a palavra sono<br />
com a incorrespondente palavra outono.<br />
Rimarei com a palavra carne<br />
ou qualquer outra, que todas me convêm.<br />
As palavras não nascem amarradas,<br />
elas saltam, se beijam, se dissolvem.<br />
no céu livre por vezes um desenho,<br />
são puras, largas, autênticas, indevassáveis.”<br />
Você percebeu o ritmo dessa estrofe? Pois é esse ritmo o chamado ritmo poético - a grande marca da poesia. Uma<br />
poesia pode abrir mão de tudo - rima, estrofe, métrica, menos do ritmo.<br />
Quanto ao aspecto formal, dentre as poesias de forma fixa, a que resistiu ao tempo, chegando até nossos dias, foi o<br />
soneto, composição poética de 14 versos distribuídos em dois quartetos e dois tercetos. Apresenta sempre métrica - mais<br />
usualmente, versos decassílabos (dez sílabas poéticas) e versos alexandrinos (doze sílabas poéticas) - e rima. A palavra soneto<br />
significava originalmente "pequeno som" (observe: sempre o som, sempre o ritmo!) e teria sido usada pela primeira vez por<br />
Jacopo de Lentini, da Escola Siciliana (século XIII), tendo sido mais tarde difundida por Petrarca (século XIV).<br />
60
Material <strong>ITA</strong><br />
Dentre os melhores sonetistas de Portugal, destacam-se Camões, Bocage, Antero de Quental. No Brasil, cultivaram<br />
o soneto, entre outros, Gregório de Matos, Cláudio Manuel da Costa, Olavo Bilac, Vinícius de Moraes.<br />
A poesia lírica apresenta várias formas poéticas fixas. Veja as principais.<br />
• Soneto - A palavra provém do italiano sonetto, literalmente "pequeno som". É um poema constituído por<br />
quatorze versos; na poesia em língua portuguesa, esses versos estão geralmente distribuídos em dois quartetos<br />
(estrofes de quatro versos) e dois tercetos (estrofes de três versos). Vários esquemas de rimas foram praticados<br />
ao longo do desenvolvimento da literatura.<br />
• Canção - A palavra evoca evidentemente as relações entre a poesia e a música e é utilizada para designar<br />
vários tipos de composições líricas. Mais frequentemente, refere-se a um texto de temática amorosa, formado<br />
por estrofes de número regular de versos e encerrado por uma estrofe menor, o ofertório, em que o poeta<br />
dedica o poema à amada ou condensa o conteúdo das estrofes anteriores.<br />
• Elegia - Palavra de origem obscura, normalmente indica poemas em que se expõem sentimentos dolorosos e<br />
digressões moralizantes destinadas a ajudar ouvintes ou leitores a suportar momentos difíceis (como, por<br />
exemplo, a morte de um amigo ou da pessoa amada).<br />
• Ode - Palavra de origem grega, significa "canto". Denomina composições líricas de tom normalmente solene e<br />
entusiasta, que podem falar de temas extremamente variados, desde os prazeres da mesa até celebrações de<br />
vitórias em jogos ou batalhas.<br />
• Écloga ou égloga – Palavra de origem grega, significa “seleção”. Nomeia poemas de tema pastoril,<br />
normalmente dialogados.<br />
Gênero dramático<br />
Drama, em grego, significa “ação”. Ao gênero dramático pertencem os textos, em poesia ou prosa, feitos para<br />
serem representados. Isso significa que entre autor e público desempenha papel fundamental todo o elenco que participa<br />
da encenação.<br />
O gênero dramático compreende as seguintes modalidades:<br />
Mosaico romano originário de Pompeia, mostrando preparativos para uma representação cênica.<br />
• Tragédia – representação de um fato trágico, suscetível de provocar compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a<br />
tragédia era “uma representação duma ação grave, de alguma extensão e completa, em linguagem figurada, com<br />
atores agindo, não narrando, inspirando dó e terror”.<br />
• Comédia – representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fácil, em geral<br />
criticando os costumes. Sua origem está ligada às festas populares gregas de celebração à fecundidade da<br />
natureza.<br />
61
62<br />
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
• Tragicomédia – modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômicos. Originalmente, significava a<br />
mistura do real com o imaginário.<br />
• Farsa – pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural, que critica a sociedade e seus costumes;<br />
baseia-se no lema latino Ridendo castigat mores (“Rindo, catigam-se os costumes”).<br />
• Drama - Forma surgida no século XVIII, resulta da fusão de elementos trágicos e cômicos, procurando<br />
apresentar ações heroicas e de índole elevada ao lado de atitudes risíveis. Atualmente, a palavra também<br />
designa a peça teatral que expõe tensões sociais e individuais submetidas a processos de interpretação e<br />
análise.<br />
Gênero épico<br />
A palavra epopeia vem do grego épos, "verso", + poieô, "faço", e se refere à narrativa, em forma de versos, de um<br />
fato grandioso e maravilhoso que interessa a um povo. É uma poesia objetiva, impessoal, cuja característica maior é a<br />
presença de um narrador falando do passado (os verbos aparecem no pretérito). O tema é, normalmente, um episódio<br />
heroico da história de um povo.<br />
Dentre as principais epopeias (ou poemas épicos), destacamos:<br />
• Ilíada e Odisseia (Homero, Grécia; narrativas sobre a guerra entre Grécia e Troia)<br />
• Eneida (Virgílio, Roma; narrativa dos feitos romanos)<br />
• Paraíso perdido (Milton, Inglaterra)<br />
• Orlando Furioso (Ludovico Ariosto, Itália)<br />
• Os Lusíadas (Camões, Portugal)<br />
Na literatura brasileira, as principais epopeias foram escritas no século XVIII:<br />
• Caramuru (Santa Rita Durão)<br />
• O Uraguai (Basílio da Gama)<br />
Gênero narrativo<br />
Como já afirmamos, o gênero narrativo é visto como uma variante do gênero épico, enquadrando, neste caso, as<br />
narrativas em prosa. Dependendo da estrutura, da forma e da extensão, as principais manifestações narrativas são o<br />
romance, a novela e o conto.<br />
Em qualquer das três modalidades acima, temos representações da vida comum, de um mundo mais<br />
individualizado e particularizado, ao contrário da universalidade das grandiosas narrativas épicas, marcadas pela<br />
representação de um mundo maravilhoso, povoado de heróis e deuses.<br />
A prosa de ficção<br />
Na origem da palavra ficção, estão os conceitos de invenção, criação, imaginação, fingimento. A ficção é, portanto, o<br />
próprio cerne da literatura, que nada mais é do que a criação feita com palavras. O uso consagrado desse termo, no entanto,<br />
designa normalmente a prosa de ficção, da qual fazem parte, entre outros subgêneros, o romance, a novela e o conto.<br />
• Romance - É a forma narrativa em que ocorre um desenvolvimento minucioso da ação e dos personagens,<br />
proporcionando ao leitor uma visão da totalidade do universo representado. Dessa maneira, obtém-se uma<br />
trama complexa, capaz de incorporar análises detalhadas dos elementos narrativos. Na estrutura de um romance,<br />
o acúmulo de detalhes e pormenores tem sempre a finalidade de construir um universo narrativo<br />
coerente e organizado; isso significa que não há como dispensar qualquer elemento formador do texto sob<br />
pena de destruir-lhe a unidade.<br />
• Novela - Diferencia-se do romance por apresentar um predomínio da ação sobre as análises; o que importa<br />
numa novela é o encadeamento de episódios rumo a um final, que coincide com o clímax da história. Não há a<br />
análise pormenorizada do comportamento de personagens e do desenvolvimento da ação que caracteriza o<br />
romance. Lembre-se de que a palavra novela é usada no dia a dia para denominar um certo tipo de programa<br />
de televisão que encadeia incontáveis capítulos diários. Também chamamos de "novelas" as situações que se<br />
prolongam por muito tempo, com muitos episódios, numa sequência que parece interminável (a "novela" da<br />
reforma administrativa do Estado, por exemplo). Nesses casos, leva-se em conta a característica básica da<br />
novela, que é o predomínio da ação sobre a análise.<br />
• Conto - E a forma narrativa tradicionalmente mais breve, caracterizando-se pela ênfase ao essencial, o que<br />
acaba concentrando o desenvolvimento da ação e dos personagens, limitando-os no tempo e no espaço. É<br />
um verdadeiro instantâneo narrativo.
Material <strong>ITA</strong><br />
A LÍRICA TROVADORESCA<br />
O Trovadorismo, ou Primeira Época Medieval, é o período que<br />
se estende de 1189 (ou 1198) – data provável da Canção da<br />
Ribeirinha, cantiga de amor de Paio Soares de Taveirós, considerada o<br />
mais antigo texto escrito em galego-português – até 1434, com a<br />
nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista-mor da Torre do<br />
Tombo.<br />
A cultura trovadoresca, surgida entre os séculos XI e XII, reflete<br />
bem o momento histórico que caracteriza o período: na Europa cristã,<br />
a organização das Cruzadas em direção ao Oriente; na Península<br />
Ibérica, a luta contra os mouros; o poder descentralizado e as relações<br />
entre os nobres determinadas pelo feudalismo; o poder espiritual em<br />
mãos do clero católico, detentor da cultura e responsável pelo<br />
pensamento teocêntrico (Deus como centro de todas as coisas). Mais adiante, analisaremos o contrato feudo-vassálico de<br />
dois nobres e sua relação com a vassalagem amorosa do trovador junto à mulher amada.<br />
Nesta miniatura do século XV, o rei de Portugal, no centro, e o duque de Lancaster, à direita do rei, comem juntos na<br />
fronteira entre Portugal e Galícia. Dois nobres, um arcebispo e três bispos completam o grupo de comensais. No alto, à direita,<br />
veem-se dois músicos. Embaixo, à esquerda, os serventes pegam os pratos que chegam da cozinha através de uma janela.<br />
AS CANTIGAS<br />
Todos os textos poéticos dessa primeira época medieval eram acompanhadas de música e normalmente cantados<br />
em coro, daí chamados de cantigas. Podemos reconhecer dois grandes grupos de cantigas: as cantigas líricas e as<br />
cantigas satíricas. As cantigas líricas se subdividem em cantigas de amor e cantigas de amigo; as cantigas satíricas, em<br />
cantigas de escárnio e cantigas de maldizer.<br />
CANTIGAS DE AMOR<br />
As cantigas de amor têm origem provençal. Na Provença, região do sul da França, no período compreendido entre<br />
os séculos XI e XIII, desenvolveu-se a arte dos trovadores e o “amor cortês”, que tanto influenciou as cantigas de amor em<br />
Portugal. Dom Dinis, o mais famoso trovador de Portugal, assim escreveu:<br />
“Quer’ eu em maneira de provençal fazer agora um cantar d’amor”<br />
Cancioneiro do século XV em forma de coração.<br />
Comprovando as palavras do crítico, assim escreveu um trovador a sua “senhor”, como se fosse um vassalo feudal<br />
dirigindo-se a seu suserano:<br />
“E que queria eu melhor<br />
De ser seu vassalo<br />
E ela minha senhor?”<br />
Cantigas de amigo<br />
As cantigas de amigo originam-se na própria Península Ibérica, tendo surgido do sentimento popular.<br />
Cronologicamente, são mais antigas que as cantigas de amor, porém não eram escrita. Só com a entrada das cantigas<br />
provençais e o desenvolvimento da arte poética é que se concretizaram em textos.<br />
As cantigas de amigo apresentam um trabalho formal mais apurado em relação às cantigas de amor. É comum a<br />
utilização do paralelismo e do refrão ou estribilho – nome dado ao(s) verso(s) que se repete(m) no final de cada estrofe. O<br />
paralelismo perfeito ocorre quando a poesia obedece à seguinte estrutura:<br />
63
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
As cantigas de escárnio e maldizer<br />
Cantiga de escárnio<br />
64<br />
Os vossos meus maravedis 1 , senhor,<br />
Que eu non ouv’i 2 , que servi melhor<br />
Ou tan bem come outr’a que os dan,<br />
ei-os d’aver 3 enquant’eu vivo for,<br />
ou a mia mort 4 , ou quando mi os daran?<br />
"Vaiamos, irmã,vaiamos dormir verso A<br />
<br />
<br />
nas ribas do lago, u eu andar vi verso B<br />
a las aves meu amigo refrão<br />
<br />
1º par <br />
<br />
Vaiamos, irmã, vaiamos folgar verso A'<br />
<br />
nas ribas do lago, eu vi andar verso B'<br />
<br />
a las aves meu amigo. refrão<br />
A vossa miz soldada 5 , senhor Rei,<br />
que eu servi e serv’ e servirei,<br />
com’ outro quen quer 6 a que a dan bem,<br />
ei-a d’aver enquant’a viver ei,<br />
ou a mia mort’, ou que mi faran em?<br />
[...]<br />
Esse texto tem evidente cunho satírico: o sujeito lírico dirige-se ao senhor Rei, protestando contra o nãopagamento<br />
dos serviços prestados. Ao referir-se ao dinheiro que tem a receber, lança mão de um notável recurso<br />
irônico, usando simultaneamente os possessivos vossos/meus: “meus” porque, prestado o serviço, o sujeito lírico<br />
considera-se dono deles; “vossos” porque, apesar de ter sido servido, o Rei não os pagou. Esse artifício é<br />
completado pelas afirmações constantes de que qualquer outro que tivesse prestado os mesmos serviços já teria<br />
sido devidamente recompensado. A ironia se estende quando o sujeito lírico pergunta se só vai receber a paga<br />
após a própria morte, sugerindo que, morto, irá pedir seu dinheiro a quem encontrar no Além. O texto é<br />
arrematado por uma estrofe curta em que fica claro o atraso no pagamento e a intenção de pôr um fim à questão<br />
Exercícios Propostos<br />
17. (Mack) Assinale a afirmativa correta com relação ao Trovadorismo.<br />
Texto I<br />
Ondas do mar de Vigo,<br />
se vistes meu amigo!<br />
E ai Deus, se verrá cedo!<br />
Ondas do mar levado,<br />
se vistes meu amado!<br />
E ai Deus, se verrá cedo!<br />
Martim Codax<br />
Obs.: verrá = virá<br />
levado = agitado<br />
Texto II<br />
Me sinto com a cara no chão, mas a verdade precisa ser dita ao<br />
menos uma vez: aos 52 anos eu ignorava a admirável forma lírica da<br />
canção paralelística (...).<br />
O “Cantar de amor” foi fruto de meses de leitura dos cancioneiros.<br />
Li tanto e tão seguidamente aquelas deliciosas cantigas, que fiquei<br />
com a cabeça cheia de “velidas” e “mha senhor” e “nula ren”;<br />
sonhava com as ondas do mar de Vigo e com romarias a San Servando.<br />
O único jeito de me livrar da obsessão era fazer uma cantiga.<br />
Manuel Bandeira<br />
a) Um dos temas mais explorados por esse estilo de época é a exaltação do amor sensual entre nobres e<br />
mulheres camponesas.<br />
b) Desenvolveu-se especialmente no século XV e refletiu a transição da cultura teocêntrica para a cultura<br />
antropocêntrica.<br />
c) Devido ao grande prestígio que teve durante toda a Idade Média, foi recuperado pelos poetas da<br />
Renascença, época em que alcançou níveis estéticos insuperáveis.
Material <strong>ITA</strong><br />
d) Valorizou recursos formais que tiveram não apenas a função de produzir efeito musical, como também a<br />
função de facilitar a memorização, já que as composições eram transmitidas oralmente.<br />
e) Tanto no plano temático como no plano expressivo, esse estilo de época absorveu a influência dos padrões<br />
estéticos greco-romanos.<br />
18. (Mack) Ainda sobre o texto I, assinale a afirmativa correta.<br />
a) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino manifesta a Deus seu sofrimento amoroso.<br />
b) Nessa cantiga de amor, o eu lírico feminino dirige-se a Deus para lamentar a morte do ser amado.<br />
c) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino manifesta às ondas do mar sua angústia pela perda do amigo<br />
em trágico naufrágio.<br />
d) Nessa cantiga de amor, o eu lírico masculino dirige-se às ondas do mar para expressar sua solidão.<br />
e) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico feminino dirige-se às ondas do mar para expressar sua ansiedade com<br />
relação à volta do amado.<br />
19. (Mack 2005) Leia o texto novamente e assinale a alternativa correta.<br />
Texto I<br />
Ondas do mar de Vigo,<br />
se vistes meu amigo!<br />
E ai Deus, se verrá cedo!<br />
Ondas do mar levado,<br />
se vistes meu amado!<br />
E ai Deus, se verrá cedo!<br />
Martim Codax<br />
Obs.: verrá = virá<br />
levado = agitado<br />
20. (ENEM 2012)<br />
Logia e mitologia<br />
a) A estrutura paralelística é, neste poema, particularmente expressiva, pois<br />
reflete, no plano formal, o movimento de vai-e-vem das ondas.<br />
b) Nesse texto, os versos livres e brancos são indispensáveis para assegurar<br />
o efeito musical da canção.<br />
c) As repetições que marcam o desenvolvimento do texto opõem-se ao tom<br />
emotivo do poema.<br />
d) No refrão, a voz das ondas do mar faz-se presente como contraponto<br />
irônico ao desejo do eu lírico.<br />
e) É um típico vilancete de tradição popular, com versos em redondilha<br />
maior e estrofação irregular.<br />
Meu coração<br />
de mil e novecentos e setenta e dois<br />
já não palpita fagueiro<br />
sabe que há morcegos de pesadas olheiras<br />
que há cabras malignas que há<br />
cardumes de hienas infiltradas<br />
no vão da unha na alma<br />
um porco belicoso de radar<br />
e que sangra e ri<br />
e que sangra e ri<br />
a vida anoitece provisória<br />
centuriões sentinelas<br />
do Oiapoque ao Chuí.<br />
CACASO. Lero-lero. Rio de Janeiro: 7Letras; São Paulo: Cosac &Naify, 2002.<br />
O título do poema explora a expressividade de termos que representam o conflito do momento histórico vivido pelo<br />
poeta na década de 1970. Nesse contexto, é correto afirmar que<br />
a) o poeta utiliza uma série de metáforas zoológicas com significado impreciso.<br />
b) “morcegos”, “cabras” e “hienas” metaforizam as vítimas do regime militar vigente.<br />
c) o “porco”, animal difícil de domesticar, representa os movimentos de resistência.<br />
d) o poeta caracteriza o momento de opressão através de alegorias de forte poder de impacto.<br />
e) “centuriões” e “sentinelas” simbolizam os agentes que garantem a paz social experimentada.<br />
21. As questões que seguem referem-se aos gêneros literários. Numere os textos de acordo com o gênero mais evidente.<br />
1. epopeia 2. poesia<br />
3. narrativa em prosa 4. texto dramático<br />
65
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
a) "Oh! Bendito o que semeia <strong>Livro</strong>s... livros à mão cheia...<br />
E manda o povo pensar!<br />
O livro caindo n'alma<br />
É germe - que faz a palma,<br />
É chuva - que faz o mar."<br />
Gênero [ ]<br />
c) "BISPO - testamento de cachorro?<br />
PADRE - (animando-se) sim, o cachorro<br />
tinha um testamento. Maluquice de sua<br />
dona. Deixou três contos de réis para o<br />
sacristão, quatro para a paróquia e seis<br />
para a diocese.<br />
BISPO - é por isso que eu vivo dizendo<br />
que os animais também são criaturas de<br />
Deus. Que animal interessante! Que<br />
sentimento nobre!"<br />
Gênero [ ]<br />
b) "Não acabava, quando uma figura<br />
Se nos mostra no ar, robusta e válida,<br />
De disforme e grandíssima estatura,<br />
O rosto carregado, a barba esquálida,<br />
Os olhos encovados, e a postura<br />
Medonha e má, e a cor terrena e pálida,<br />
Cheios de terra e crespos os cabelos,<br />
A boca negra, os dentes amarelos"<br />
Gênero[ ]<br />
22. (UFRGS RS) O soneto é uma das formas poéticas mais tradicionais e difundidas nas literaturas ocidentais e expressa,<br />
quase sempre, conteúdo:<br />
a) dramático<br />
b) satírico<br />
c) lírico<br />
d) épico<br />
e) cronístico<br />
23. Leia o trecho abaixo de "Morte e vida severina", de João Cabral de Melo Neto, e responda:<br />
"Severino retirante,<br />
deixa agora que lhe diga:<br />
eu não sei bem a resposta<br />
da pergunta que fazia,<br />
se não vale mais saltar<br />
fora da ponte e da vida:<br />
(...)<br />
Enão há melhor resposta<br />
que o espetáculo da vida:<br />
vê-la desfiar seu fio,<br />
que também se chama vida,<br />
ver a fábrica que ela mesma,<br />
teimosamente, se fabrica"<br />
66<br />
Quanto ao gênero literário, é correto afirmar que o fragmento lido é:<br />
a) narrativo, que conta, em prosa, histórias do sertão nordestino.<br />
b) uma peça teatral, desprovido de lirismo c com linguagem rústica.<br />
c) bastante poético e marcado por rimas, sem metrificação.<br />
d) uma epopeia, que traduz o desencanto pela vida dura do sertão.<br />
e) dramático, que encena conflitos internos do ser humano.
Material <strong>ITA</strong><br />
24. O gênero dramático, entre outros aspectos, apresenta como característica essencial:<br />
a) presença do narrador<br />
b) estrutura dialógica<br />
c) sentimentalismo<br />
d) musicalidade<br />
e) descritivismo<br />
25. (ENEM 2012)<br />
Pote Cru é meu Pastor. Ele me guiará.<br />
Ele está comprometido de monge.<br />
De tarde deambula no azedal entre torsos de<br />
cachorro, trampas, trapos, panos de regra, couros,<br />
de rato ao podre, vísceras de piranhas, baratas<br />
albinas, dálias secas, vergalhos de lagartos,<br />
linguetas de sapatos, aranhas dependuradas em<br />
gotas de orvalho etc. etc.<br />
Pote Cru, ele dormia nas ruínas de um convento<br />
Foi encontrado em osso.<br />
Ele tinha uma voz de oratórios perdidos.<br />
BARROS, M. Retrato do artista quando coisa. Rio de Janeiro: Record, 2002.<br />
Ao estabelecer uma relação com o texto bíblico nesse poema, o eu lírico identifica-se com Pote Cru porque<br />
a) entende a necessidade de todo poeta ter voz de ora tórios perdidos.<br />
b) elege-o como pastor a fim de ser guiado para a salvação divina.<br />
c) valoriza nos percursos do pastor a conexão entre as ruínas e a tradição<br />
d) necessita de um guia para a descoberta das coisas da natureza.<br />
e) acompanha-o na opção pela insignificância das coisas.<br />
26. Associe os gêneros literários às suas respectivas características.<br />
1 - Gênero lírico<br />
2 - Gênero épico<br />
3 - Gênero dramático<br />
A sequência correta, de cima para baixo, é<br />
( )Exteriorização dos valores e sentimentos coletivos.<br />
( )Representação de fatos com presença física de atores.<br />
( )Manifestação de sentimentos pessoais predominando, assim, a função emotiva.<br />
a) 3,2,1 b) 2.3,1 c) 2.1,3<br />
d) 1,3,2 e) 1.2.3<br />
27. Observe o trecho:<br />
"Ah se já perdemos a noção da hora<br />
Se juntos já jogamos tudo fora,<br />
Me conta agora como hei de partir.<br />
Ah se ao te conhecer, dei pra sonhar<br />
Fiz tantos desvarios,<br />
Rompi com o mundo, queimei meus navios,<br />
Me diz pra onde é que 'inda posso ir (...)"<br />
Como, se nos amamos feito dois pagãos,<br />
Teus seios 'inda estão nas minhas mãos<br />
Me explica com que cara eu vou sair (...)"<br />
Chico Buarque de Hollanda<br />
67
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
Afirma-se:<br />
a) o trecho é lírico, pois há a expressão dos sentimentos e da subjetividade.<br />
b) o trecho é lírico, pois há a representação da realidade por meio da linguagem conotativa.<br />
c) o trecho é narrativo, pois o poeta expressa a história de dois amantes que se separam.<br />
d) o trecho é dramático, por representar a dor da separação e sua irreversibilidade.<br />
e) o trecho é lírico e narrativo por narrar a história dos amantes de forma subjetiva.<br />
28. (ENEM) O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e<br />
de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo,<br />
acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da “vida quotidiana”.<br />
HUIZINGA, J. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2004.<br />
Segundo o texto, o jogo comporta a possibilidade de fruição. Do ponto de vista das práticas corporais, essa fruição<br />
se estabelece por meio do(a)<br />
a) fixação de táticas, que define a padronização para maior alcance popular.<br />
b) competitividade, que impulsiona o interesse pelo sucesso.<br />
c) refinamento técnico, que gera resultados satisfatórios<br />
d) caráter lúdico, que permite experiências inusitadas.<br />
e) uso tecnológico, que amplia as opções de lazer.<br />
29. (Fuvest SP) O Trovadorismo, quanto ao tempo em que se instala:<br />
a) tem concepções clássicas do fazer poético.<br />
b) é rígido quanto ao uso da linguagem que, geralmente, é erudita.<br />
c) estabeleceu-se num longo período que dura 10 séculos.<br />
d) tinha como concepção poética e epopéia, a louvação dos heróis.<br />
e) reflete as relações de vassalagem nas cantigas de amor.<br />
30. (Fuvest SP) Interpretando historicamente a relação de vassalagem entre homem amante/mulher amada, ou mulher<br />
amante/homem amado, pode-se afirmar que:<br />
a) o Trovadorismo corresponde ao Renascimento.<br />
b) o Trovadorismo corresponde ao movimento humanista.<br />
c) o Trovadorismo corresponde ao Feudalismo.<br />
d) o Trovadorismo e o Medievalismo só poderiam ser provençais.<br />
e) tanto o Trovadorismo como o Humanismo são expressões da decadência medieval.<br />
31. (ENEM)<br />
LXXVIII (Camões, 1525?-1580)<br />
Leda serenidade deleitosa,<br />
Que representa em terra um paraíso;<br />
Entre rubis e perlas doce riso<br />
68<br />
Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa;<br />
Presença moderada e graciosa,<br />
Onde ensinando estão despejo e siso<br />
Que se pode por arte e por aviso,<br />
Como por natureza, ser fermosa;<br />
Fala de quem a morte e a vida pende,<br />
Rara, suave; enfim, Senhora, vossa;<br />
Repouso nela alegre e comedido:<br />
Estas as armas são com que me rende<br />
E me cativa Amor; mas não que possa<br />
Despojar-me da glória de rendido.<br />
CAMÕES, L. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008.<br />
SANZIO, R. (1483-1520). A mulher com o unicórnio. Roma,<br />
GalleriaBorghese Disponível em: www.arquipelagos.pt. Acesso<br />
em: 29 fev. 2012.
Material <strong>ITA</strong><br />
A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas linguagens artísticas diferentes, participaram do mesmo<br />
contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos<br />
a) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos usados no<br />
poema.<br />
b) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação pessoal e na variação de atitudes da mulher, evidenciadas<br />
pelos adjetivos do poema.<br />
c) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela postura,<br />
expressão e vestimenta da moça e os adjetivos usados no poema.<br />
d) desprezarem o conceito medieval da idealização da mulher como base da produção artística, evidenciado<br />
pelos adjetivos usados no poema<br />
e) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela emotividade e o conflito interior, evidenciados pela<br />
expressão da moça e pelos adjetivos do poema.<br />
32. Faça a correspondência da segunda coluna com a primeira e marque a opção que preenche corretamente as<br />
colunas, no que diz respeito às formas líricas.<br />
(1) Elegia<br />
(2) Écloga<br />
(3) Ode<br />
(4) Soneto<br />
( ) mais conhecida das formas líricas. Poema em 14 versos, organizados em dois quartetos e dois tercetos.<br />
( ) Poema originado na Grécia Antiga que exalta os valores nobres, caracterizando-se pelo tom de louvação.<br />
( ) Poema pastoril que retrata a vida bucólica dos pastores, em um ambiente campestre.<br />
( ) Trata de acontecimentos tristes, muitas vezes enfocando a morte de um ente querido.<br />
a) 4,3,2,1 b) 3,2,1,4 c) 2,1,3,4<br />
d) 1,2,4,3e) 4,3,1,2<br />
33. (ENEM) Gênero dramático é aquele em que o artista usa como intermediária entre si e o público a representação. A<br />
palavra vem do grego drao (fazer) e quer dizer ação. A peça teatral é, pois, uma composição literária destinada à<br />
apresentação por atores em um palco, atuando e dialogando entre si. O texto dramático é complementado pela<br />
atuação dos atores no espetáculo teatral e possui uma estrutura específica, caracterizada: 1) pela presença de<br />
personagens que devem estar ligados com lógica uns aos outros e à ação; 2) pela ação dramática (trama, enredo),<br />
que é o conjunto de atos dramáticos, maneiras de ser e de agir das personagens encadeadas à unidade do efeito e<br />
segundo uma ordem composta de exposição, conflito, complicação, clímax e desfecho; 3) pela situação ou<br />
ambiente, que é o conjunto de circunstâncias físicas, sociais, espirituais em que se situa a ação; 4) pelo tema, ou<br />
seja, a ideia que o autor (dramaturgo) deseja expor, ou sua interpretação real por meio da representação.<br />
COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973. (Adaptado.)<br />
Considerando o texto e analisando os elementos que constituem um espetáculo teatral, conclui-se que:<br />
a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um fenômeno de ordem individual, pois não é possível sua<br />
concepção de forma coletiva.<br />
b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebido e construído pelo cenógrafo de modo autônomo e<br />
independente do tema da peça e do trabalho interpretativo dos atores.<br />
c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados gêneros textuais, como contos, lendas, romances, poesias,<br />
crônicas, notícias, imagens e fragmentos textuais, entre outros.<br />
d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na comunicação teatral, visto que o mais importante é a<br />
expressão verbal, base da comunicação cênica em toda a trajetória do teatro até os dias atuais.<br />
e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico independem do processo de produção/recepção do<br />
espetáculo teatral, já que se trata de linguagens artísticas diferentes, agregadas posteriormente à cena teatral.<br />
69
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
Módulo B03 – Literatura Brasileira<br />
O Quinhentismo Brasileiro - A Literatura de Informação sobre o Brasil<br />
Introdução<br />
O Quinhentismo é fase da literatura brasileira do século XVI que registra as manifestações literárias iniciadas no ano<br />
de 1.500, época da colonização portuguesa no Brasil. É uma denominação genérica de todas as manifestações,<br />
correspondendo à introdução da cultura europeia em terras brasileiras. Ainda não podemos falar em literatura do Brasil,<br />
aquela que reflete a cosmovisão do homem brasileiro, e sim numa literatura no Brasil, ou seja, uma literatura ligada ao<br />
Brasil, mas que denota a cosmovisão, as ambições e as intenções do homem europeu.<br />
A literatura brasileira ainda não tinha sua identidade. Ela foi sendo formada sob a influência da literatura<br />
portuguesa e europeia. Nessa época ainda não havia produção literária ligada diretamente ao povo brasileiro, mas sim<br />
obras no Brasil que davam significação aos europeus. Com o passar dos anos, as literaturas informativa e dos jesuítas, foi<br />
dando lugar a denotações da visão dos artistas brasileiros.<br />
Na época da colonização brasileira, a Europa vivia seu apogeu no Renascimento, o comércio se despontava,<br />
enquanto o êxodo rural provocava um surto de urbanização. Enquanto o homem europeu se dividia entre a conquista<br />
material e a espiritual (Contrarreforma), o cidadão brasileiro encontrava no quinhentismo semelhante dicotomia: a<br />
literatura informativa, que se voltava para assuntos de natureza material (ouro, prata, ferro, madeira) feita através de<br />
cartas dos viajantes ou dos cronistas e a literatura dos jesuítas, que tentavam inserir a catequese.<br />
A carta de Pero Vaz de Caminha traz a referida dicotomia claramente expressa, pois valoriza as conquistas e<br />
aventuras marítimas (literatura informativa) ao mesmo tempo que a expansão do cristianismo (literatura jesuíta).<br />
70<br />
Momento histórico<br />
A Europa do século XVI vive o auge do Renascimento, com a cultura humanística desmantelando os quadros rígidos<br />
da cultura medieval; o capitalismo mercantil avança com o desenvolvimento da manufatura e do comércio internacional;<br />
o êxodo rural provoca um surto de urbanização.<br />
Em consequência dessa nova realidade econômica e social, o século XVI também marca uma crise na Igreja: de um<br />
lado, as novas forças burguesas rompendo com o medievalismo católico no movimento da Reforma Protestante; de outro,<br />
as forças tradicionais ligadas à cultura medieval e aos dogmas católicos - reafirmados no Concílio de Trento (1545), nos<br />
tribunais da Inquisição e em seu índex (relação de livros proibidos) - no movimento conhecido como Contrarreforma.<br />
Assim é que o homem europeu, especificamente o ibérico, apresenta em pleno século XVI duas preocupações<br />
distintas: a conquista material, resultante da política das Grandes Navegações, e a conquista espiritual, resultante, no<br />
caso português, do movimento de Contrarreforma. Essas preocupações determinaram as duas manifestações literárias do<br />
Quinhentismo brasileiro: a literatura informativa, com os olhos voltados para as riquezas materiais (ouro, prata, ferro,<br />
madeira, etc), e a literatura dos jesuítas, voltada para o trabalho de catequese.
Material <strong>ITA</strong><br />
Periodização da literatura brasileira<br />
As eras e as escolas<br />
“Na escola literária não há discípulos: só há mestres.”<br />
(Carlos Drummond de Andrade)<br />
A literatura brasileira tem sua história dividida em duas grandes eras, que acompanham a evolução política e<br />
econômica do país: a Era Colonial e a Era Nacional, separadas por um período de transição, que corresponde à<br />
emancipação política do Brasil. As eras apresentam subdivisões chamadas de escolas literárias ou estilos de época. Dessa<br />
forma, temos:<br />
Era Colonial<br />
(de 1500 a 1808)<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Período de transição (de 1808 a 1836)<br />
Quinhentismo (de 1500 a 1601)<br />
Seiscentismo ou Barroco (de 1601a 1768)<br />
Setecentismo ou Arcadismo (de 1768 a 1808)<br />
Era Nacional<br />
(de 1836 até<br />
nossos dias)<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Romantismo (de 1836 a 1881)<br />
Realismo (de 1881a 1893)<br />
Simbolismo (de 1893 a 1922)<br />
Modernismo (de 1922 a 1945)<br />
Pós - Modernismo (de 1945 até nossos dias)<br />
As datas que indicam o início e o fim de cada época têm de ser entendidas apenas como marcos. Toda época apresenta<br />
um período de ascensão, um ponto máximo e um período de decadência (que coincide com o período de ascensão da próxima<br />
época). Dessa forma podemos perceber, ao final do Arcadismo, um período de Pré-Romantismo; ao final do Romantismo um<br />
Pré-Realismo, e assim por diante. De todos esses momentos de transição, caracterizados pela quebra das velhas estruturas<br />
(apesar de "o novo sempre pagar tributo ao velho"), o mais significativo para a literatura brasileira foi o Pré-Modernismo (entre<br />
1902 e 1922), em que se destacaram Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Augusto dos Anjos e Lima Barreto.<br />
A colonização do Brasil<br />
Os três séculos de colonização vividos pelo Brasil (1500-1822) podem ser divididos em três momentos<br />
significativos:<br />
o século XVI: em que a metrópole procurou garantir o domínio sobre a terra descoberta, organizando-a em<br />
capitanias hereditárias e enviando jesuítas da Europa e negros da África para povoá-la;<br />
o século XVII: em que Salvador, na Bahia, povoada de aventureiros portugueses, índios, negros e mulatos, tornou-se<br />
o centro das decisões políticas e do comércio do açúcar.<br />
o século XVIII: em que a região de Minas Gerias transformou-se no centro da exploração do ouro e das primeiras<br />
revoltas políticas contra a colonização portuguesa, entre as quais se destacou o movimento da Inconfidência Mineira (1789).<br />
A produção cultura do Brasil-Colônia<br />
É difícil precisar o momento exato em que surgiu uma literatura brasileira, de fato, porque a vida cultural no período<br />
colonial estava diretamente ligada à cultura portuguesa. Além disso, não estavam solidificadas as condições necessárias<br />
para a literatura florescer e se expandir, tais como existência de um público leitor ativo e influente, grupo de escritores<br />
atuantes, vida cultural rica e abundante, sentimento de nacionalidade, imprensa, gráficas e liberdade de expressão, e até<br />
mesmo a impressão de livros era proibida.<br />
Por isso, alguns historiadores da literatura preferem chamar a essa produção literária do Brasil-Colônia de<br />
"manifestações literárias" ou "ecos da literatura no Brasil". Somente na segunda metade do século XVIII, com a fundação<br />
de cidades e de centros comerciais ligados à extração do ouro, em Minas Gerais, e com o surgimento de escritores<br />
comprometidos com as causas políticas de independência, é que se criaram algumas das condições necessárias para a<br />
formação da literatura brasileira. Entretanto, isso só se deu de forma efetiva no século XIX, após a independência política<br />
de 1822 e a dinamização da vida cultural do país.<br />
71
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
A produção literária<br />
A produção artística e cultural do Quinhentismo no Brasil não pode ser considerada brasileira, de fato. Isso porque<br />
quem a produzia - cronistas, viajantes, jesuítas - eram portugueses que aqui se encontravam por um período curto e com<br />
uma finalidade específica. Não havia, ainda, nenhuma identificação com a terra, considerada uma espécie de "Portugal<br />
nos trópicos". Além disso, os modelos literários que cultivavam - na poesia, na prosa ou no teatro - eram totalmente<br />
lusitanos.<br />
Apesar dessas condições, a produção literária do período abre a nós, brasileiros, um rico filão literário, que será<br />
mais tarde fartamente explorado por nossos escritores: o interesse pelos índios, pelas belezas naturais da terra e pelas<br />
nossas origens históricas.<br />
No Brasil-Colônia do século XVI, as principais produções são:<br />
• Crônicas de viagens, cartas e tratados, chamados de literatura de informação, escritos em prosa, cuja finalidade era<br />
narrar e descrever as viagens e os primeiros contatos com a terra brasileira e seus nativos, informando tudo o que<br />
pudesse interessar aos governantes portugueses.<br />
Dessa literatura informativa sobre o Brasil merecem destaque:<br />
- a Carta, de Pero Vaz de Caminha;<br />
- o Diário de navegação, de Pero Lopes de Sousa (1530);<br />
- o Tratado da terra do Brasil e a História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil, de<br />
Pero de Magalhães Gândavo (1576);<br />
- o Tratado descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa (1587);<br />
- os Diálogos das grandezas do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa (1587);<br />
- as cartas dos missionários jesuítas escritas nos dois primeiros séculos de catequese;<br />
- a História do Brasil, de Frei Vicente do Salvador (1627);<br />
- as Duas viagens ao Brasil, de Hans Staden (1557);<br />
- a Viagem à terra do Brasil, de Jean de Léry (1578).<br />
A poesia e o teatro, cultivados pelos jesuítas, notadamente por José de Anchieta, cuja finalidade central era a<br />
catequese dos índios.<br />
A literatura dos jesuítas tinha como objetivo principal o da catequese. Este trabalho de catequizar norteou as<br />
produções literárias na poesia de devoção e no teatro inspirado nas passagens bíblicas.<br />
José de Anchieta é o principal autor jesuíta da época do Quinhentismo, viveu entre os índios, pelos quais era<br />
chamado de piahy, que significa “supremo pajé branco”. Foi o autor da primeira gramática do tupi-guarani e também de<br />
várias poesias de devoção.<br />
Primeira página e transcrição da Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal sobre a descoberta do Brasil.<br />
72
Material <strong>ITA</strong><br />
A Carta a El-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada de Pedro<br />
Álvares Cabral, pode ser considerada o marco inicial da história da literatura brasileira (ou da literatura no Brasil).<br />
É indiscutível o fato de a Carta refletir uma visão de mundo do homem português, o que bastaria para colocá-la<br />
como mais um texto-documento da literatura portuguesa ligada à expansão ultramarina. E é justamente essa visão de<br />
mundo do homem europeu que vai dominar, com maior ou menor intensidade, os três primeiros séculos de nossa<br />
literatura, em que o Brasil é colocado na condição de “objeto de uma cultura, o outro em relação à Metrópole”, como<br />
salienta Alfredo Bosi. Só a partir do século XIX, com o Romantismo, encontraremos manifestações literárias genuinamente<br />
nacionais.<br />
O Quinhentismo brasileiro, isto é, o conjunto de manifestações dos anos de 1500 (século XVI), retrata, mais do que<br />
qualquer outro período, a condição colonial no Brasil com sua terra e população vistas como objetos a serem<br />
conquistados.<br />
A literatura é feita no Brasil, fala do Brasil, mas reflete a visão de mundo, as ambições, as intenções do homem<br />
europeu, particularmente do ibérico, que manifesta duas preocupações distintas e, apesar do aparente antagonismo,<br />
complementares: de um lado, a preocupação com a conquista material resultante da política das Grandes Navegações;<br />
de outro a preocupação com a conquista espiritual, a necessidade de ampliar a fé cristã, resultante do movimento<br />
religioso da Contrarreforma. Contam que os navegadores portugueses afirmavam, ao desembarcar em terras recémdescobertas:<br />
“Viemos buscar cristão e especiarias”.<br />
Observe como, na Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel, coexistem essas intenções:<br />
“Nela até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma cousa de metal, nem de ferro; nem<br />
lho vimos. A terra, porém, em si, é de muito bons ares. [...]<br />
Mas o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar essa gente. E esta deve ser a principal<br />
semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que aí não houvesse mais que ter aqui esta pousada para esta<br />
navegação de Calecute, bastaria, quanto mais disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a<br />
saber, acrescentamento de nossa santa fé.”<br />
CORTESÃO,Jaime.ACartadePêroVazdeCaminha.Lisboa:ImprensaNacional-CasadaMoeda,1994.<br />
Essas preocupações determinaram as duas manifestações literárias do Quinhentismo brasileiro:<br />
• a literatura informativa, com os olhos voltados à conquista material (ouro, prata, ferro, madeira, etc.);<br />
• a literatura dos jesuítas, voltada à catequese.<br />
A Carta de Caminha, de 1500 ao século XX<br />
Oswald de Andrade, modernista brasileiro, escreveu um livro de poesias intitulado Pau-Brasil (1924). Nas primeiras<br />
poesias, sob o título geral de “História do Brasil”, o poeta recria alguns textos do século XVI, dando-lhes “forma poética”.<br />
A descoberta<br />
“Seguimos nosso caminho por este mar de longo<br />
Até a oitava da Páscoa<br />
Topamos aves<br />
E houvemos vista de terra”<br />
Os selvagens<br />
“Mostraram-lhes uma galinha<br />
Quase haviam medo dela<br />
E não queriam pôr a mão<br />
E depois a tomaram como espantados”<br />
Meninas da gare*<br />
“Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis<br />
Com cabelos mui pretos pelas espáduas<br />
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas<br />
Que de nós as muito bem olharmos<br />
Não tínhamos nenhuma vergonha”<br />
73
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
É importante notar que Oswald de Andrade seleciona exatamente trechos em que Caminha descreve nossos índios; dessa<br />
forma, o poeta modernista resgata a pureza e inocência dos nativos, presas fáceis da exploração econômica, do proselitismo<br />
religioso e do abuso sexual (as doenças sexualmente transmissíveis trazidas pelos europeus, foram importante causa de<br />
mortalidade entre os índios).<br />
Outros autores do século XX, como Murilo Mendes e José Paulo Paes, reescreveram a Carta de Caminha, seguindo<br />
a trilha e o tom de Oswald de Andrade.<br />
A Carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, escrita a el-rei D. Manuel informando<br />
sobre o “achamento” do Brasil e as suas primeiras impressões sobre a natureza e os índios, constitui para a nossa história<br />
uma autêntica certidão de nascimento.<br />
Os textos que seguem são fragmentos da Carta.<br />
Texto I<br />
Dali houvemos vista de homens que andavam pela praia, cerca de sete ou oito, segundo "os navios pequenos<br />
disseram, porque chegaram primeiro. Ali lançamos os batéis e esquifes à água e vieram logo todos os capitães das naves a<br />
esta nau do Capitão-mor e ali conversaram. E o Capitão mandou no batel, a terra, Nicolau Coelho para ver aquele rio; e<br />
quando começou a ir para lá acudiram, à praia, homens, aos dois e aos três. Assim, quando o batel chegou à foz do rio<br />
estavam ali dezoito ou vinte homens, pardos, todos nus, sem nenhuma roupa que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam<br />
arcos nas mãos e suas setas. Vinham todos rijos para o batel e Nicolau Coelho fez-lhes sinal para que deixassem os arcos e<br />
eles os pousaram. Mas não pôde ter deles fala nem entendimento que aproveitasse porque o mar quebrava na costa.<br />
Texto II<br />
Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, com uma alcatifa aos pés, por estrado, e bem<br />
vestido com um colar de ouro muito grande ao pescoço [...] Acenderam-se tochas e entraram; e não fizeram nenhuma<br />
menção de cortesia nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Mas um deles viu o colar do Capitão e começou a acenar<br />
com a mão para a terra e depois para o colar, como a dizer-nos que havia ouro em terra; e também viu um castiçal de<br />
prata e da mesma forma acenava para terra e para o castiçal como que havia, também, prata. Mostraram-lhe um<br />
papagaio pardo que o Capitão aqui traz; tomaram-no logo na mão e acenaram para terra, como que os havia ali;<br />
mostraram-lhe um carneiro e não fizeram caso dele; mostraram-lhe uma galinha e quase tiveram medo dela e não lhe<br />
queriam pôr a mão; e depois a pegaram como que espantados.<br />
Texto III<br />
De ponta a ponta é toda praia rasa, muito plana e bem formosa. Pelo sertão, pareceu-nos do mar muito grande,<br />
porque a estender a vistan ao poíamos ver senão terra e arvoredos, parecendo-nos terra muito longa. Nela, até agora, não<br />
pudemos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de ferro; nem as vimos. Mas, a terra em si é<br />
muito boa de ares, tão frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho, porque, neste tempo de agora, assim os<br />
achávamos como os de lá. Águas são muitas e indefinidas. De tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la dar-se-á<br />
nela tudo por bem das águas que tem. Mas o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente; e<br />
esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.<br />
74<br />
(Em Cronistas e viajantes. São Paulo, Abril Educação, 1982, p.12-23. Literatura Comentada.)
Material <strong>ITA</strong><br />
Exercícios Propostos<br />
34. (Mackenzie) Assinale a alternativa INCORRETA.<br />
a) Na obra de José de Anchieta, encontram-se poesias seguindo a tradição medieval e textos para teatro com<br />
clara intenção catequista.<br />
b) A literatura informativa do Quinhentismo brasileiro empenha-se em fazer um levantamento da terra, daí ser<br />
predominantemente descritiva.<br />
c) A literatura seiscentista reflete um dualismo: o ser humano dividido entre a matéria e o espírito, o pecado e o<br />
perdão.<br />
d) O Barroco apresenta estados de alma expressos através de antíteses, paradoxos, interrogações.<br />
e) O Conceptismo caracteriza-se pela linguagem rebuscada, culta, extravagante, enquanto o Cultismo é<br />
marcado pelo jogo de ideias, seguindo um raciocínio lógico, racionalista.<br />
35. (UEL) À curiosidade geográfica e humana e ao desejo de conquista e domínio corresponde, inicialmente, o<br />
deslumbramento diante da paisagem exótica e exuberante da terra recém-descoberta, testemunhado pelos cronistas<br />
portugueses.<br />
a) Gonçalves de Magalhães e José de Anchieta.<br />
b) Pero de Magalhães Gândavo e Gabriel Soares de Sousa.<br />
c) Botelho de Oliveira e José de Anchieta.<br />
d) Gabriel Soares de Sousa e Gonçalves de Magalhães.<br />
e) Botelho de Oliveira e Pero Magalhães Gândavo.<br />
36. (UDESC 2012) O movimento literário que retrata as manifestações literárias produzidas no Brasil à época de seu<br />
descobrimento, e durante o século XVI, é conhecido como Quinhentismo ou Literatura de Informação.<br />
Assinale as proposições em relação a este período.<br />
I. A produção literária no Brasil, no século XVI,era restrita às literaturas de viagens e jesuíticas de caráter<br />
religioso.<br />
II. A obra literária jesuítica, relacionada às atividades catequéticas e pedagógicas, raramente assume um caráter<br />
apenas artístico. O nome mais destacado é o do padre José de Anchieta.<br />
III. O nome Quinhentismo está ligado a um referencial cronológico. As manifestações literárias no Brasil tiveram início em<br />
IV.<br />
1500, época da colonização portuguesa e não a um referencial estético.<br />
As produções literárias neste período prendem-se à literatura portuguesa, integrando o conjunto das chamadas<br />
literaturas de viagens ultramarinas, e aos valores da cultura greco-latina.<br />
V. As produções literárias deste período constituem um painel da vida dos anos iniciais do Brasil colônia, retratando os<br />
primeiros contatos entre os europeus e a realidade da nova terra.<br />
Assinale a alternativa correta:<br />
a) Somente as afirmativas I,IV e V são verdadeiras.<br />
b) Somente a afirmativa II é verdadeira.<br />
c) somente as afirmativas I, II, III e V são verdadeiras.<br />
d) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras.<br />
e) Todas as afirmativas são verdadeiras.<br />
75
37. (FUVEST SP) Entende-se por literatura informativa no Brasil:<br />
a) o conjunto de relatos de viajantes e missionários europeus, sobre a natureza e o homem brasileiro.<br />
b) a história dos jesuítas que aqui estiveram no século XVI.<br />
c) as obras escritas com a finalidade de catequese do indígena.<br />
d) os poemas do Padre de Anchieta.<br />
e) os sonetos de Gregório de Matos.<br />
76<br />
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
38. (Mackenzie 2009) Assinale a alternativa CORRETA acerca do texto.<br />
a) No contexto em que se inserem, as expressões “topamos alguns sinais de terra” (ref. 1) “e houvemos vista de<br />
terra” (ref. 2) têm o mesmo sentido: “enxergamos o continente americano”.<br />
b) As nomeações referidas na carta – “O Monte Pascoal” e “A Terra de Vera Cruz” (ref. 3) – refletem valores<br />
ideológicos da cultura portuguesa.<br />
c) “Os mareantes” (ref. 4), por influência da cultura indígena, apelidaram as “ervas compridas” (ref. 5) “de<br />
Botelho” (ref. 6) e as aves de “fura-buxos” (ref. 7).<br />
d) A expressão “dita ilha” (ref. 8) indica que os navegantes portugueses confundiram a Ilha de S. Nicolau com o<br />
Brasil.<br />
e) Embora se apresente em linguagem objetiva, o trecho da carta revela, devido ao excesso de adjetivações (ref.<br />
9, por exemplo), a euforia dos portugueses ao descobrirem o tão sonhado “Eldorado”.<br />
39. (Mackenzie 2009)Assinale a alternativa CORRETA acerca do texto.<br />
a) Trata-se de documento histórico que inaugura, em Portugal, um novo gênero literário: a literatura epistolar.<br />
b) Exemplifique a literatura produzida pelos jesuítas brasileiros na colônia e que teve como objetivo principal a<br />
catequese do silvícola.<br />
c) Apesar de não ter natureza especificamente artística, interessa à história da literatura brasileira na medida em<br />
que espelha a linguagem e a respectiva visão de mundo que nos legaram aos primeiros colonizadores.<br />
40. (Mackenzie) Na passagem da Idade Média para o Renascimento, dois escritores portugueses se destacaram, por<br />
apresentar características que já previam uma nova tendência filosófica e artística.<br />
Trata-se de:<br />
a) Fernão Lopes e Gil Vicente.<br />
b) Camões e Bocage.<br />
c) D. Dinis e Paio Soares de Taveirós.<br />
d) Pe. Vieira e Gregório de Matos.<br />
e) Garcia de Resende e Aires Teles.<br />
41. (<strong>ITA</strong> 2002)<br />
A terra<br />
Esta terra, Senhor, me parece que, da ponta que mais contra o sul vimos até outra ponta que contra o norte vem,<br />
de que nós deste ponto temos vista, será tamanha que haverá nelabem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem,<br />
ao longo do mar, em algumas partes, grandes barreiras, algumas vermelhas, outras brancas; e a terra por cima<br />
toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é tudo praia redonda, muito chã e muito formosa.<br />
[...]Nelas até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho<br />
vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados como os de Entre-Douro e Minho. [...]<br />
Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-a nela tudo, por bem<br />
das águas que tem.<br />
(CAMINHA, Pero Vaz de. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Rio de Janeiro: <strong>Livro</strong>s de Portugal, 1943, p. 204.)<br />
Carta de Pero Vaz<br />
A terra é mui graciosa,<br />
Tão fértil eu nunca vi.<br />
A gente vai passear,<br />
No chão espeta um caniço,<br />
No dia seguinte nasce
Material <strong>ITA</strong><br />
Bengala de castão de oiro.<br />
Tem goiabas, melancias.<br />
Banana que nem chuchu.<br />
Quanto aos bichos, tem-nos muitos.<br />
De plumagens mui vistosas.<br />
Tem macaco até demais.<br />
Diamantes tem à vontade,<br />
Esmeralda é para os trouxas.<br />
Reforçai, Senhor, a arca.<br />
Cruzados não faltarão,<br />
Vossa perna encanareis,<br />
Salvo o devido respeito.<br />
Ficarei muito saudoso<br />
Se for embora d'aqui.<br />
(MENDES, Murilo. História do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991, p. 13.)<br />
No texto de Murilo Mendes, os versos “Banana que nem chuchu”, “Tem macaco até demais” e “Esmeralda é para<br />
os trouxas” exprimem a representação literária da visão do colonizador de maneira:<br />
a) séria. b) irônica. c) ingênua.<br />
d) leal. e) revoltada<br />
42. Os dois textos anteriores, representantes de dois períodos literários distantes, revelam duas perspectivas diferentes.<br />
Indique:<br />
a) A diferença entre o texto original e o segundo, em função da descrição da terra;<br />
b) O período literário a que corresponde cada texto.<br />
43. (Mack 2007) Quando morre algum dos seus põem-lhe sobre a sepultura pratos, cheios de viandas, e uma rede (...)<br />
mui bem lavada. Isto, porque crêem, segundo dizem, que depois que morrem tornam a comer e descansar sobre a<br />
sepultura. Deitam-nos em covas redondas, e, se são principais, fazem-lhes uma choça de palma. Não têm<br />
conhecimento de glória nem inferno, somente dizem que depois de morrer vão descansar a um bom lugar. (...)<br />
Qualquer cristão, que entre em suas casas, dão lhe a comer do que têm, e uma rede lavada em que durma. São<br />
castas as mulheres a seus maridos.<br />
Padre Manuel da Nóbrega<br />
O texto, escrito no Brasil colonial,<br />
a) pertence a um conjunto de documentos da tradição históricoliterária brasileira, cujo objetivo principal era<br />
apresentar à metrópole as características da colônia recémdescoberta.<br />
b) já antecipa, pelo tom grandiloqüente de sua linguagem, a concepção idealizadora que os românticos<br />
brasileiros tiveram do indígena.<br />
c) é exemplo de produção tipicamente literária, em que o imaginário renascentista transfigura os dados de uma<br />
realidade objetiva.<br />
d) é exemplo característico do estilo árcade, na medida em que valoriza poeticamente o “bom selvagem”, motivo<br />
recorrente na literatura brasileira do século XVIII.<br />
e) insere-se num gênero literário específico, introduzido nas terras americanas por padres jesuítas com o objetivo<br />
de catequizar os indígenas brasileiros.<br />
44. O texto tematiza aspecto sociocultural do Brasil, reaproveitado por Oswald de Andrade na conhecida frase Tupy or<br />
not tupy, that is the question, presente no “Manifesto antropófago”. Considerado o contexto da vanguarda brasileira<br />
do início do século XX, pode-se dizer, corretamente, que o trocadilho feito pelo escritor modernista<br />
a) propõe, sumariamente, a substituição dos valores da cultura européia por valores indígenas autênticos.<br />
b) sintetiza, de modo irreverente, uma questão polêmica acerca da construção da identidade nacional.<br />
c) idealiza poeticamente as origens, marcadamente indígenas, da cultura brasileira.<br />
d) critica, de forma irônica, a valorização da cultura indígena presente em obras de muitos intelectuais da época.<br />
e) contesta, com humor, a miscigenação que caracteriza a etnia do brasileiro.<br />
77
45. (G1 ifsp 2014) Leia um trecho do poema Ilha da Maré, do escritor brasileiro Manuel Botelho de Oliveira.<br />
E, tratando das próprias, os coqueiros,<br />
galhardos e frondosos<br />
criam cocos gostosos;<br />
e andou tão liberal a natureza<br />
que lhes deu por grandeza,<br />
não só para bebida, mas sustento,<br />
o néctar doce, o cândido alimento.<br />
De várias cores são os cajus belos,<br />
uns são vermelhos, outros amarelos,<br />
e como vários são nas várias cores,<br />
também se mostram vários nos sabores;<br />
e criam a castanha,<br />
que é melhor que a de França, Itália, Espanha.<br />
(COHN, Sergio. Poesia.br Rio de Janeiro: Azougue, 2012.)<br />
Podemos relacionar os versos desse poema ao Quinhentismo Nacional, pois<br />
a) o eu lírico repudia a presença de colonizadores portugueses em nossa terra.<br />
b) a fauna e a flora tropicais são descritas de maneira minuciosa e idealizada.<br />
c) o poeta enriqueceu devido à exportação de produtos brasileiros para a metrópole.<br />
d) a exuberância e a diversidade da natureza tropical são exaltadas pelo poeta.<br />
e) a natureza farta e bela é o cenário onde ocorrem os encontros amorosos do eu lírico.<br />
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
46. (ENEM 2013)<br />
TEXTO I<br />
Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí a pouco começaram a vir mais. E parece-me que<br />
viriam, este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos e cinquenta. Alguns deles traziam arcos e flechas, que todos<br />
trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. […] Andavam todos tão bem-dispostos, tão bem<br />
feitos e galantes com suas tinturas que muito agradavam.<br />
TEXTO II<br />
CASTRO, S. “A carta de Pero Vaz de Caminha”. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).<br />
78
Material <strong>ITA</strong><br />
Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de Portinari retratam a<br />
chegada dos portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que<br />
a) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras manifestações artísticas dos portugueses em<br />
terras brasileiras e preocupa-se apenas com a estética literária.<br />
b) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, cuja grande significação é a afirmação da arte<br />
acadêmica brasileira e a contestação de uma linguagem moderna.<br />
c) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar do colonizador sobre a gente da terra, e a pintura<br />
destaca, em primeiro plano, a inquietação dos nativos.<br />
d) as duas produções, embora usem linguagens diferentes — verbal e não verbal —, cumprem a mesma função<br />
social e artística.<br />
e) a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos étnicos diferentes, produzidas em um mesmo<br />
momentos histórico, retratando a colonização.<br />
47. (G1 ifsp 2013) A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos.<br />
Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que<br />
de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um<br />
osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta<br />
como um furador.<br />
(Carta de Pero Vaz de Caminha. www.dominiopublico.com.br. Acesso em: 04.12. 2012.)<br />
O trecho acima pertence a um dos primeiros escritos considerados como pertencentes à literatura brasileira. Do<br />
ponto de vista da evolução histórica, trata-se de literatura<br />
a) de informação.<br />
b) de cordel.<br />
c) naturalista.<br />
d) ambientalista.<br />
e) árcade.<br />
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES:<br />
Esse texto do século XVI reflete um momento de expansão portuguesa por vias marítimas, o que demandava a<br />
apropriação de alguns gêneros discursivos, dentre os quais a carta. Um exemplo dessa produção é a Carta de Caminha a<br />
D. Manuel. Considere a seguinte parte dessa carta:<br />
Nela [na terra] até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata... porém a terra em si é de muito bons ares<br />
assim frios e temperados como os de Entre-Doiro-e-Minho. Águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que<br />
querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem, porém o melhor fruto que nela se pode fazer me<br />
parece que será salvar esta gente e esta deve ser a principal semente que vossa alteza em ela deve lançar.<br />
48. (G1 ifsp 2013) O trecho apresentado é preponderantemente descritivo. A classe de palavras que aparece associada<br />
a esse tipo textual é o adjetivo. São exemplos de palavras dessa classe, no texto, as seguintes:<br />
a) ...porém a terra em si é de muito bons ares...<br />
b) Águas são muitas e infindas.<br />
c) ...dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem...<br />
d) ...o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente...<br />
e) ...esta deve ser a principal semente que vossa alteza em ela deve lançar.<br />
49. (G1 ifsp 2013) Assinale a alternativa em que as palavras grifadas estão empregadas em sentido conotativo.<br />
a) ...porém a terra em si é de muito bons ares...<br />
b) Águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que querendo-a aproveitar...<br />
c) ...querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem...<br />
d) ...o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente...<br />
e) ...esta deve ser a principal semente que vossa alteza em ela deve lançar.<br />
79
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
50. (G1 ifsp 2013) Considere os dois trechos a seguir:<br />
...não pudemos saber que haja ouro nem prata...<br />
...me parece que será salvar esta gente...<br />
Substituindo os trechos grifados por um pronome oblíquo correspondente, tem-se um resultado correto<br />
gramaticalmente em:<br />
a) ...não pudemos saber isso... / ...me parece que será salvar eles...<br />
b) ...não pudemos saber-lhes... / ...me parece que será salvar-lhes...<br />
c) ...não pudemos sabê-lo... / ...me parece que será salvá-la...<br />
d) ...não pudemos saber-no... / ...me parece que será salvar-lhes...<br />
e) ...não pudemos sabê-lo... / ...me parece que será salvá-los...<br />
51. (G1 ifsp 2013) O verbo sob destaque no trecho – ...até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata... –<br />
sinaliza a seguinte intenção do escrevente:<br />
a) por meio do modo subjuntivo, evidenciar uma constatação.<br />
b) por meio do modo subjuntivo, evidenciar uma insatisfação.<br />
c) por meio do modo subjuntivo, evidenciar uma incerteza.<br />
d) por meio do modo indicativo, evidenciar uma convicção.<br />
e) por meio do modo indicativo, evidenciar uma hipótese.<br />
52. (Ufsm 2014) A Carta de Pero Vaz de Caminha é o primeiro relato sobre a terra que viria a ser chamada de Brasil. Ali,<br />
percebe-se não apenas a curiosidade do europeu pelo nativo, mas também seu pasmo diante da exuberância da natureza<br />
da nova terra, que, hoje em dia, já se encontra degradada em muitos dos locais avistados por Caminha.<br />
Tendo isso em vista, leia o fragmento a seguir.<br />
Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos, até outra ponta que contra o norte<br />
vem, de que nós deste ponto temos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por<br />
costa. Tem, ao longo do mar, em algumas partes, grandes barreiras, algumas vermelhas, outras brancas; e a terra<br />
por cima é toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é tudo praia redonda, muito chã e<br />
muito formosa.<br />
Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque a estender d’olhos não podíamos ver senão terra<br />
com arvoredos, que nos parecia muito longa.<br />
Nela até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem o<br />
vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados como os de Entre-Douro e Minho,<br />
porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá.<br />
As águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la, tudo dará nela, por<br />
causa das águas que tem.<br />
CASTRO, Sílvio (org.). A Carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 2003, p. 115-6.<br />
Esse fragmento apresenta-se como um texto<br />
a) descritivo, uma vez que Caminha ocupa-se em dar um retrato objetivo da terra descoberta, abordando suas<br />
características físicas e potencialidades de exploração.<br />
b) narrativo, pois a “Carta” é, basicamente, uma narração da viagem de Pedro Álvares Cabral e sua frota até o Brasil,<br />
relatando, numa sucessão de eventos, tudo o que ocorreu desde a chegada dos portugueses até sua partida.<br />
c) argumentativo, pois Caminha está preocupado em apresentar elementos que justifiquem a exploração da<br />
terra descoberta, os quais se pautam pela confiabilidade e abrangência de suas observações.<br />
d) lírico, uma vez que a apresentação hiperbólica da terra por Caminha mostra a subjetividade de seu relato,<br />
carregado de emotividade, o que confere à “Carta” seu caráter especificamente literário.<br />
e) narrativo-argumentativo, pois a apresentação sequencial dos elementos físicos da terra descoberta serve para<br />
dar suporte à ideia defendida por Caminha de exploração do novo território.<br />
80
Material <strong>ITA</strong><br />
Módulo B04 – O Barroco Literatura Brasileira<br />
O BARROCO<br />
Senhora Dona Bahia<br />
Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,<br />
e é que, quem o dinheiro nos arranca,<br />
nos arranca as mãos, a língua, os olhos."<br />
“Esta mãe universal,<br />
esta célebre Bahia,<br />
que a seus peitos toma, e cria,<br />
os que enjeita Portugal"<br />
"Cansado de vos pregar<br />
cultíssimas profecias,<br />
quero das culteranias<br />
hoje o hábito enforcar:<br />
de que serve arrebentar<br />
por quem de mim não tem mágoa?<br />
verdades direi como água<br />
porque todos entendais,<br />
os ladinos e os boçais,<br />
a Musa praguejadora.<br />
Entendeis-me agora?"<br />
Gregório de Matos<br />
Contudo, o melhor de sua sátira não é esse tipo de zombaria, engraçada, maldosa e galhofeira, masa crítica de<br />
cunho geral aos vícios da sociedade e suas instituições. Sua vasta galeria de tipos humanos contribui para construir<br />
sua maior e principal personagem - a cidade da Bahia:<br />
Triste Bahia<br />
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante<br />
Estás e estou do nosso antigo estado!<br />
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,<br />
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.<br />
A ti trocou-te a máquina mercante,<br />
Que em tua larga barra tem entrado,<br />
A mim foi-me trocando, e tem trocado,<br />
Tanto negócio e tanto negociante.<br />
[...]<br />
Gregório de Mattos<br />
Do livro "História concisa da Literatura Brasileira", de Alfredo Bosi, Editora Cultrix, 1994, SP. Enviado por: Leninha<br />
Para entendermos o Barroco, devemos lembrar o Renascimentoe o Maneirismo, pois ambos fornecem as bases<br />
ideológicas do Barroco.<br />
O Renascimento ocupou todo o século XVI, um extraordinário movimento artístico, de vivências antropocêntricas e<br />
racionalistas. Conflitos militares, políticos e religiosos de repercussões mundiais atingiram o antropocentrismo e o<br />
racionalismo do Classicismo. A essa crise, chamamos de Maneirismo, que prenuncia o Barroco. O Barroco está ligado ao<br />
movimento da Contrarreforma.<br />
Que atinge seu ponto de intolerância na passagem do século XVI para oséculo XVII, quando do surgimento da arte<br />
barroca. A arte barroca vigora por todo o século XVII e parte do século XVIII e registra o espírito contraditório de uma<br />
época que se divide entre as influências do Renascimento – antropocentrismo, sensualismo, materialismo – e da<br />
81
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
intolerância religiosa trazida pela Contrarreforma. Portanto, o Barroco é um reflexo ideológico da Contrarreforma. É uma<br />
arte essencial- de natureza religiosa e conflitante. O conflito da arte barroca reside nessa crise espiritual da cultura<br />
ocidental. É o homem dividido entre duas mentalidades, entre duas formas de ver e sentir o mundo: o gosto do<br />
Renascimento, em declínio, e a presença da religiosidade que lembra o teocentrismo medieval. O século XVII da colônia<br />
brasileira apresenta algumas peculiaridades das primeiras manifestações do sentimento nativista, isto é, destaca-se já<br />
certa “tropicalidade” (sentimento brasileiro):<br />
“Minha rica mulatinha,<br />
desvelo e cuidado meu,<br />
eu já fora todo teu,<br />
e tu foras toda minha;<br />
A realidade brasileira estava ocupada com o comércio da cana-de-açúcar, com a escravização dos negros e com a<br />
perseguição e extermínio dos índios. O centro dessas atividades. A colônia passara por dois momentos de exploração<br />
com as cortes portuguesa e espanhola.<br />
A obra que separa o Barroco do Quinhentismo é PROSOPOPEIA (1601), de Bento Teixeira Pinto. Contudo,<br />
entendemos que o Barroco é introduzido pelos jesuítas, que são os agentes da Contrarreforma.<br />
Sua obra foi reunida pela ABL entre 1923 e 1933, com a seguinte divisão:<br />
• LÍRICA-AMOROSA<br />
• ENCOMIÁSTICA (bajulatória/circunstancial)<br />
• SACRA (religiosa)<br />
• FESCENINA (pornográfica/erótica)<br />
• GRACIOSA<br />
• SATÍRICA(social/irônica/política<br />
A sedução pelos sentidos<br />
Sob os ventos da Contrarreforma, os prazeres proporcionados pelos sentidos só se justificam caso estejam a serviço<br />
de Deus.<br />
Bom exemplo disso ocorre na música que, no período barroco, destinava-se sobretudo à difusão religiosa. Johann<br />
Sebastian Bach (1685-1750), um dos mais importantes compositores dessa época, explica que a música “deve formar<br />
uma harmonia agradável para a glória de Deus e o descanso do espírito”.<br />
Quando os prazeres não estão vinculados à exaltação religiosa, são considerados excessos a serem controlados. A<br />
advertência de que os sentidos podem excitar os desejos carnais e conduzir o seu humano ao pecado é mais um dos<br />
ensinamentos que não se podiam questionar durante a Contrarreforma. O resultado é a sensação de que não há como<br />
aproveitar os encantos terrenos sem alguma dose de pecado.<br />
Gregório de Matos tratou com certa frequência da angústia entre atração física e sentimento de culpa, como se<br />
pode observar no poema seguinte.<br />
Anjo no nome, Angélica na cara!<br />
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:<br />
Ser Angélica flor, e Anjo florente,<br />
Em quem, senão em vós, se uniformara:<br />
Quem vira uma tal flor, que a não cortara,<br />
De verde pé,, de rama florescente;<br />
E quem um Anjo vira tão luzente,<br />
Que por seu Deus o não idolatrara?<br />
82<br />
Se pois como Anjo sois dos meus altares,<br />
Fôreis o meu Custódio, e minha guarda,<br />
Livrara eu de diabólicos azares<br />
Mas vejo, que por bela, e por galharda,<br />
Posto que os Anjos nunca dão pesares,<br />
Sois Anjo, que me tenta e não me guarda<br />
Gregório de Matos. Poemas escolhidos (seleção, introdução e notas José Miguel Wisnik). São Paulo: Cultrix, 1981, p. 202.<br />
_____________________________________________________________________________<br />
Angélica: flor branca extremamente perfumada<br />
florente: florido<br />
luzente: brilhante, fulgurante<br />
custódio: que tem função de guardar, proteger<br />
guarda: proteção<br />
pesares: sofrimentos, tristezas
Material <strong>ITA</strong><br />
A mulher, por seus encantos, é frequentemente retratada como um ser contraditório: a delicadeza e a beleza a fazem um<br />
anjo, mas a força da sedução, a tentação da carne a tornam diabólica.<br />
Os amantes, obra criada em 1952 pelo pintor russo Marc Chagall (1887-1985).<br />
No poema, a dualidade da figura menina é expressa também pelo trocadilho entre os termos Anjo e Angélica,<br />
palavras que vêm da mesma raiz e que se aproximam pelo sentido e pelo som.<br />
Observe que os verbos no pretérito mais que perfeito do indicativo assumem no poema valores de outros tempos<br />
verbais:<br />
uniformara = uniformaria<br />
vira = veria<br />
cortara = cortasse<br />
idolatrara = idolatrasse<br />
fôreis = fôsseis<br />
livrara = livraria<br />
A Poesia barroca no Brasil<br />
Em 1601, foi publicado o poema épico Prosopopeia, de Bento Teixeira (1561?-1600). Por muito tempo, acreditouse<br />
que Bento Teixeira fosse brasileiro; pesquisas mais recentes, porém, mostraram que havia nascido em Portugual. De<br />
qualquer maneira, o autor passou boa parte de sua vida em Pernambuco, onde compôs o poema. A Prosopopeia foi,<br />
dessa forma, o primeiro poema escrito publicado no Brasil. Em 1705, foi publicado o livro Música do Parnaso, de Manuel<br />
Botelho de Oliveira (1636-1711), efetivamente o primeiro poeta brasileiro a ver seu trabalho publicado. Seus poemas<br />
refletem forte apego aos procedimentos poéticos cultistas.<br />
O barroco flagra o Brasil no ciclo da cana-de-açúcar, período em que ocorreram as invasões holandesas. O centro<br />
comercial do país era a Bahia, cuja sociedade era patriarcal, isto é, baseava-se no poder do senhor de engenho, ao<br />
redor do qual gritavam não apenas o núcleo familiar, mas também agregados, criados e escravos.<br />
Gregório de Matos e Guerra (c. 1633-1696)<br />
Saiu a sátira má,<br />
Eempurraram-ma os perversos<br />
que nisto de fazer versos<br />
eu só tenho jeito cá:<br />
noutras obras de talento<br />
eu sou só o asneirão,<br />
em sendo sátira, então<br />
eu só tenho entendimento.<br />
[...]<br />
Gregório de Matos e Guerra<br />
Gregório de Matos foi o terceiro filho de uma família abastada, dona de dois engenhos de cana-de-açúcar e de<br />
130 escravos. Recebeu uma Recebeu uma educação rigorosa em cada e no colégio jesuíta em que estudou.<br />
Em 1652, partiu para Portugal, onde se formou em Direito pela Universidade de Coimbra. Lá exerceu sua profissão,<br />
chegando a ser durante muitos anos juiz de órfãos; casou-se, ficou viúvo; caiu nas graças do reio D. Pedro II e ganhou<br />
fama pela sua inteligência rápida, pelo seu humor vivo e contundente, pelo seu implacável espírito crítico. Era conhecido<br />
como o “Boca do Inferno”. Para alguns, o retorno ao Brasil, ocorrido em 1681, teria sido manobra de algum desafeto<br />
seu que, vitimado pela sua sátira mordaz, o teria indisposto com o rei.<br />
O fato é que, de volta ao Brasil, recebeu as “ordens menores” da Igreja, um sacramento que lhe permitia exercer<br />
algumas funções eclesiásticas, sem ser uma consagração definitiva. Aceitou os cargos de vigário-geral e de tesoureiromor<br />
que lhe foram oferecidos pelo arcebispo da Bahia, mas fez questão de não usar batina; denunciou as iniquidades<br />
que presenciava na ordem em que servia e não suavizou o tom de sua sátira. Foi então desligado de suas funções e<br />
mando de um bispo.<br />
83
84<br />
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
Montou banca de advocacia e, posteriormente, casou-se com Maria dos Povos, mas a abandonou para seguir<br />
como cantor e repentista no Recôncavo Baiano, vivendo à custa da simpatia popular, que lhe fornecia pouso e comida.<br />
Perseguido pela fúria do filho do governador Antônio da Câmara Coutinho, foi exilado em Angola, de onde escreveu<br />
constantemente a autoridades pedindo permissão para regressar. Retornou ao Brasil com a condição de não voltar à<br />
Bahia, e estabeleceu-se em Pernambuco, onde faleceu em 1969.<br />
A poesia-pólvora da Boca do Inferno<br />
Apesar de Gregório de Matos ter criado uma vasta obra, ela só foi publicada cerca de 230 anos depois de sua<br />
morte, pela Academia Brasileira de Letras, entre 1923 e 1933. De sua produção não se conservou nenhum original<br />
escrito pelo próprio autor; a maior parte de sua poesia foi reunida em quatro grossos códices manuscritos por anônimos,<br />
que o fizeram de memória.<br />
A obra de Gregório de Matos manifesta influências de Camões e do poeta espanhol Luís de Góngora. Popular por<br />
sua sátira, é, no entanto, na lírica que encontramos o melhor de sua poesia.<br />
Sua produção poética pode ser dividida em: lírica, satírica, erótica e encomiástica (poesia feita com a finalidade de<br />
elogiar personalidades proeminentes).<br />
A sátira<br />
Gregório de Matos tinha extraordinário talento satírico, que amalgamava agudo senso crítico e de ridículo, humor<br />
violento e corrosivo, além de uma capacidade genial de manipular a palavra. Políticos, clérigos, o português colonizador,<br />
negros e mulatos, gente do povo, nada nem ninguém escapou a sua pena. Claro está, como já vimos, que isso lhe trouxe<br />
muitos inimigos, mas também fez com que caísse no gosto popular.<br />
A poesia satírica de Gregório busca retratar com muito humor e crítica várias situações sociais, tanto de caráter<br />
popular quanto relacionadas às elites ou governantes, além de apresentar um rico panorama. Você verá que, como<br />
ocorre com os sermões de Vieira, os textos do poema também apresentam uma inacreditável atualidade.<br />
A cada canto um grande conselheiro,<br />
Que nos quer governar a cabana e vinha,<br />
Não sabem governar sua cozinha,<br />
E querem governar o mundo inteiro.<br />
Em cada porta um frequentado olheiro,<br />
Que a vida do vizinho e da vizinha<br />
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,<br />
Para o levar à Praça, e ao Terreiro.<br />
Muitos Mulatos desavergonhados,<br />
Trazidos pelos pés os homens nobres,<br />
Pasta nas palmas toda a picardia.<br />
Descreve o que era realmente naquele tempo<br />
a cidade da Bahia de mais enredada por menos confusa<br />
Estupendas usuras nos mercados,<br />
Todos, os que não furtam, muito pobres,<br />
E eis aqui a cidade da Bahia.<br />
Gregório de Matos. Obra poética. 3. Ed. Rio de Janeiro. Record, 1992. V. 1. p. 33.<br />
Poesia lírica<br />
A poesia lírica de Gregório de Matos, segundo sua temática, divide-se em três tipos: lírico-amorosa, lírico-religiosa e<br />
lírico-filosófica.<br />
a) Poesia lírico-amorosa<br />
Os encantos da mulher amada, sua indiferença ou paixão, o duelo entre o desejo e o neoplatonismo estão presentes<br />
nesse tipo de poesia. Como vemos, a herança camoniana é bastante acentuada.
Material <strong>ITA</strong><br />
Texto 1<br />
Anjo no nome, Angélica na cara,<br />
Isso é ser flor, e anjo juntamente,<br />
Ser Angélica flor, e Anjo florente,<br />
Em quem, senão em vós se uniformara?<br />
Quem veria uma flor, que a não cortara<br />
De verde pé, de rama florescente?<br />
E quem um Anjo vira tão luzente,<br />
Que por seu Deus, o não idolatrara?<br />
Se como Anjo sois dos meus altares,<br />
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,<br />
Livrara eu de diabólicos azares.<br />
Rompe o poeta com a primeira impaciência<br />
querendo declarar-se e temendo perder por ousado<br />
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,<br />
Posto que os Anjos nunca dão pesares,<br />
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.<br />
Gregório de Matos, op. Cit. P. 406.<br />
Vocabulário<br />
Anjo do nome, Angélica na cara: o poeta faz um trocadilho: o nome da moça a quem ele dedica o poema é Ângela, do<br />
latim angelus, ou seja, “anjo”, “Angélica é um diminutivo de Ângela e é também o nome de uma flor que remete à<br />
sensualidade<br />
uniformara: uniformara, tornara uniforme, com uma só forma<br />
galharda: Elegante, bem-apessoada<br />
Texto 2<br />
Discreta, e formosíssima Maria,<br />
Enquanto estamos vendo a qualquer hora<br />
Em tuas faces a rosa Aurora,<br />
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:<br />
Enquanto com gentil descortesia<br />
O ar, que fresco Adônis te namora,<br />
Te espalha a rica trança voadora,<br />
Quando vem passear-te pela fria:<br />
Goza, goza da flor da mocidade,<br />
Que o tempo trota a toda ligeireza,<br />
E imprime em toda flor sua pisada.<br />
Lisonjeia outra vez impaciente a retenção de sua mesma desgraça,<br />
aconselhando a esposa neste regalado soneto<br />
Oh não aguardes, que a madura idade<br />
Te converta em flor, essa beleza<br />
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.<br />
Gregório de Matos, op. cit. p. 507.<br />
Vocabulário<br />
Adônis: personagem da mitologia Greco-roma, símbolo da beleza masculina. Filho do incesto entre o rei Cíniras, de<br />
Chipre, e sua filha Mirra, era tão belo que gerou uma disputa entre Afrodite (ou Vênus) e Perséfone (ou Proserpina).<br />
Fria: madrugada<br />
85
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
b) Lírico-religiosa (ou lírico-sacra)<br />
Nesse tipo de poema, Gregório decanta a angústia entre a culpa pelo pecado e a esperança de salvação. Entretanto, a<br />
postura do poeta diante de Deus nem sempre é de submissão, já que muitas vezes ele se comporta como um advogado<br />
que faz a própria defesa diante de um grande juiz, formulando paradoxos com base em premissas cristãs e bíblicas.<br />
Texto 3<br />
Ao mesmo assunto e na mesma ocasião<br />
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,<br />
Da vossa alta piedade me despido,<br />
Porque quanto mais tenho delinquido,<br />
Vos tenho a perdoar mais empenhado.<br />
Se basta a vos irar tanto pecado,<br />
A abrandar-vos sobeja um só gemido,<br />
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,<br />
Vos tem para o perdão lisonjeado.<br />
Se uma ovelha perdida, e já cobrada<br />
Glória tal, e prazer tão repentino<br />
vos deu, como afirmais na Sacra História:<br />
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada<br />
Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino,<br />
Perder na vossa ovelha a vossa glória.<br />
Texto 4<br />
Meu Deus, que estais pendente de um madeiro,<br />
Em cuja lei protesto de viver,<br />
Em cuja Santa lei hei de morrer<br />
Animoso, constante, firme e inteiro.<br />
Neste lance, por ser o derradeiro,<br />
Pois vejo a minha vida anoitecer,<br />
É, meu Jesus, a hora de se ver<br />
A brandura de um Pai manso Cordeiro.<br />
Mui grande é vosso amor, e meu delito,<br />
Porém pode ter fim todo o pecar,<br />
E não o vosso amor, que é infinito.<br />
Esta razão me obriga a confiar,<br />
Que por mais que pequei, neste conflito<br />
Espero em vosso amor de me salvar.<br />
Gregório de Matos, op. cit. p. 69.<br />
Vocabulário<br />
protesto: prometo<br />
animoso: corajoso<br />
Gregório de Matos. Obra poética. 3. Ed. Rio de Janeiro: Record, 1992. v. 1. p. 70.<br />
A Cristo S. N. crucificado estando o poeta na última hora de sua vida<br />
86
Material <strong>ITA</strong><br />
c) Lírico-filosófica (ou lírico-reflexiva)<br />
Nesta lírica, o poeta faz considerações sobre a condição humana diante da instabilidade do mundo e das incertezas da vida.<br />
A ameaça do fim<br />
O homem do Barroco sabia que havia outra terrível força contra ele: a passagem inevitável do tempo, que arrasta todos<br />
para a morte e, portanto, para o Juízo Final. Mais uma vez, era urgente aproximar-se de Deus ou sofrer para sempre.<br />
Essa clara percepção de que tudo no mundo é transitório motivou visões desalentadas, pessimistas, como ressaltam os<br />
versos de Gregório de Matos, eu você lerá a seguir.<br />
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,<br />
Depois da Luz se segue a noite escura,<br />
Em tristes sombras morre a formosura,<br />
Em contínuas tristezas a alegria.<br />
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?<br />
Se tão formosa a Luz; por que não dura?<br />
Como a beleza assim se transfigura?<br />
E na alegria sinta-se tristeza.<br />
Começa o mundo enfim pela ignorância,<br />
E tem qualquer dos bens por natureza<br />
A firmeza somente na inconstância.<br />
Moraliza o poeta nos ocidentes do sol a<br />
inconstância dos bens do mundo<br />
Gregório de Matos. Poemas escolhidos (seleção, introdução e notas José Miguel Wisnik). São Paulo: Cultrix, 1981, p. 317.<br />
Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711)<br />
Foi o primeiro poeta brasileiro a ter uma obra impressa: Música do Parnaso, de 1705, livro que reuniu poemas em<br />
português, espanhol, latim e italiano e duas comédias.<br />
Se teve algum talento, foi a habilidade gongórica de versejar. Excetuando essa capacidade formal, seus conteúdos não<br />
foram notáveis.<br />
Jaz oblíqua forma, e prolongada<br />
A terra de Maré toda cercada<br />
De Netuno, que tendo o amor constante,<br />
Lhe dá muitos abraços por amante,<br />
E botando-lhe os braços dentro dela<br />
A pretende gozar, por ser muito bela.<br />
Nesta assistência tanto a senhoreia,<br />
E tanto a galanteia,<br />
Que do mar de Maré tem o apelido,<br />
Como quem preza o amor de seu querido<br />
[...]<br />
A ilha de maré termo desta cidade da Bahia Silva<br />
Disponível em:www.dominiopublico.gov.br./download/texto/bn000082.pdf.Acesso em: 8 jun. 2012.<br />
87
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
Bento Teixeira (1561 – 1600)<br />
Ele fará meu verso tão sincero<br />
Quanto fora sem ele tosco e rudo<br />
Nascido na cidade do Porto, em Portugal, Bento Teixeira passou grande parte de sua vida no<br />
Brasil, onde produziu, em Pernambuco, a obra Prosopopeia, publicada em 1601.<br />
De escasso valor literário, Prosopopeia apresenta 94 oitavas em versos decassílabos nos moldes<br />
camonianos. Nesse poema Épico, o poeta teve a intenção de exaltar Jorge de Albuquerque<br />
Coelho, governador de Pernambuco, e seu irmão Duarte, aos quais atribuiu feitos heroicos.<br />
I<br />
Contém poetas o Poder Romano,<br />
Submetendo Nações ao jugo duro;<br />
O Mantuano pinte o Rei Troiano,<br />
Descendo à confusão do Reino escuro;<br />
Que eu canto um Albuquerque soberano,<br />
Da Fé, da cara Pátria firme muro,<br />
Cujo valor e ser, que o Céu lhe inspira,<br />
Pode estancar a Lácia e Grega lira.<br />
[...]<br />
88<br />
Disponível em:<br />
www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co=2117.Acesso em: 8 jun. 2012.<br />
A prosa barroca: Padre Antônio Vieira<br />
O grande nome de prosa barroca – portuguesa e brasileira – é o Padre Antônio Vieira (1608-1697).<br />
... o melhor comentador das profecias é o tempo.<br />
Filho de família humilde, Vieira nasceu em Lisboa, em 1608, e veio para<br />
o Brasil com 6 anos de idade. Teve uma bisavó negra, e talvez isso o tenha<br />
predisposto a defender a liberdade de negros e indígenas. Estudou num colégio<br />
jesuíta baiano; aos 15 anos, ouviu um sermão sobre os horrores do inferno que<br />
o impressionou tanto que resolveu se tornar padre. Ingressou na Companhia de<br />
Jesus, destacando-se nos estudos. Aos 19 anos, ministrava aulas de retórica.<br />
Ordenou-se jesuíta no final de 1634 e rapidamente tornou-se notável pela<br />
excepcional qualidade de seus sermões.<br />
No Brasil<br />
A prosa barroca brasileira produziu pouca coisa além de sermões e<br />
historiografia. Merece destaque o Compêndio narrativo do peregrino da<br />
América, escrito por Nuno Marques Pereira (1652? – depois de 1733),<br />
obra em forma de diálogo, travado entre um peregrino inexperiente e um<br />
ancião. O livro tem intenções moralizantes, fazendo um retrato crítico da<br />
sociedade da época.<br />
A extensa obra do Padre Antônio Vieira reflete sua intensa<br />
participação nos debates sociais e políticos de Portugal e do Brasil no<br />
século XVII. Dessa forma, seus sermões e cartas abrangem, além de temas<br />
mais especificamente religiosos, questões polêmicas da época, como a<br />
luta de independência portuguesa, o confronto com os holandeses no<br />
Nordeste, a escravidão índia e negra, a defesa dos judeus e cristãos-novos<br />
Padre Antônio Vieira<br />
contra a intolerância da Inquisição. Vieira, além disso, escreveu obras de<br />
caráter profético, expondo sua crença de fundo sebastianista num reino universal católico organizado sob a Coroa<br />
Portuguesa (o “Quinto Império”): dentre essas obras merece destaque a História do futuro.
Material <strong>ITA</strong><br />
Sermão da sexagésima<br />
Do corpo extenso dessa obra, é possível destacar alguns sermões que, por seu acabamento formal e profundidade<br />
temática, consistem em momentos privilegiados do barroco literário e da literatura de língua portuguesa. Um deles é, sem<br />
dúvida, o Sermão da sexagésima.<br />
Colocado pelo próprio Vieira como a apresentação de sua obra, esse sermão, pregado em Lisboa em 1655,<br />
notabiliza-se por expor sistematicamente as ideias do autor sobre a prática oratória. Além disso, critica veementemente os<br />
sermonistas que praticavam o cultismo, transformando seus textos em motivo de exaltação literária e não de reflexão<br />
existencial e religiosa. Procurando descobrir por que a pregação evangélica vinha obtendo poucos resultados, Vieira<br />
tomou como ponto de partida o versículo bíblico Semen est verbum Dei (“A semente é a palavra de Deus”), analisando<br />
cuidadosamente seu conteúdo e as relações entre as palavras que o transmitiam. Vamos à leitura de um trecho.<br />
Sermão da sexagésima<br />
(fragmento)<br />
Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para que se distinga,<br />
há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de amplificá-la com<br />
as causas, com os defeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se há de seguir, com os inconvenientes que<br />
se devem evitar; há de responder às dúvidas, há de satisfazer as dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força<br />
de eloquência os argumentos contrários, e depois disto há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há<br />
de acabar. Isto é sermão, isto é pregar, e o que não é isto, é falar de mais alto. Não nego nem quero dizer que o sermão<br />
não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria e continuar a acabar nela.<br />
Quereis ver tudo isto com os olhos? Ora vede: uma árvore tem raízes, tem troncos, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem<br />
flores, tem frutos. Assim Há de ser o sermão: há de ter raízes fortes e sólidas, porque há de ser fundado no Evangelho; há<br />
de ter um tronco, porque há de ter um só assunto e tratar uma só matéria. Deste tronco hão de nascer diversos ramos,<br />
que são diversos discursos, mas nascidos da mesma matéria, e continuados nela. Estes ramos não há de ser secos, senão<br />
cobertos de folhas, porque os discursos hão de ser vestidos e ornados de palavras. Há de ter esta árvore varas, que são a<br />
repreensão dos vícios; há de ter flores, que são as sentenças; e por remate de tudo isso há de ter frutos, que é o fruto e o<br />
fim a que se há de ordenar o sermão. De maneira que há de haver frutos, há de haver flores, há de haver varas, há de<br />
haver folhas, há de haver ramos, mas tudo nascido e fundado em um só tronco, que é uma só matéria. Se tudo são<br />
troncos, não é um serão, é madeira. Se tudo são ramos, não é sermão, são maravalhas. Se tudo são folhas, não é<br />
sermão, são verças. Se tudo são varas, não é um serão, é feixe. Se tudo são flores, não é sermão, é ramalhete. Serem<br />
tudo frutos,não pode ser; porque não há frutos sem árvore. Assim que nesta árvore, a que podemos chamar árvore da<br />
vida, há de haver o proveitoso do fruto, o formoso das flores, o rigoroso das varas, o vestido das folhas, o estendido dos<br />
ramos, mas tudo isto nascido e formado de um só tronco, e esse não levantado no ar, senão fundado nas raízes do<br />
Evangelho:Seminare sêmen. Eis aqui como hão de ser os sermões, eis aqui como não são. E assim não é muito que se<br />
não faça fruto com eles.<br />
VIEIRA, Pe. Antônio. Sermões – problemas sociais e políticos do Brasil. 2ª edi. São Paulo: Cultrix, 1981. p. 37-8.<br />
A leitura atenta desse parágrafo permite-nos chegar a diversas conclusões sobre a prática e o estilo de Vieira.<br />
Primeiramente, devemos notar como o texto propõe a construção do sermão dentro das regras da parenética – a prática<br />
da oratória sagrada. Observe como Vieira estabelece rigorosamente os passos que devem ser seguidos por quem deseja<br />
construir um sermão: é necessário escolher um só tema, defini-lo, dividi-lo e buscar sustentação nos textos sagrados<br />
(“Escritura”): esses passos iniciais constituem o exórdio ou intróito do sermão. Depois, deve-se passar ao desenvolvimento<br />
ou argumentação, corpo central do texto em que se esclarece (“declara”) o tema, confirmando-o com exemplos,<br />
amplificando-o com causas, com efeitos, com circunstâncias; deve-se, principalmente, prever os argumentos contrários e<br />
refutá-los. Enfim, deve-se encaminhar o texto para a peroração ou epílogo, passagem em que, a partir das conclusões<br />
alcançadas, procura-se persuadir a plateia. Perceba como Vieira propõe um plano bastante didático para o<br />
desenvolvimento dos sermões: toma-se um tema e define-se como se vai tratá-lo; desenvolve-se esse tema, preocupandose<br />
com as provas e prevendo a argumentação contrária; finalmente, utilizam-se as conclusões alcançadas para persuadir<br />
os ouvintes, levando-os a agir.<br />
Podemos encontrar no trecho lido uma notável metáfora endereçada explicitamente à visão dos ouvintes e leitores:<br />
comparando a estrutura do serão à estrutura de uma árvore – “a árvore da vida” -, o texto nos oferece um exemplo nítido da<br />
89
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
opulência verbal de Vieira. Observe como as partes constituintes da árvore, todas relacionadas às partes constituintes do sermão,<br />
são minuciosamente apontadas, tecendo-se ao redor de cada uma delas considerações sempre relacionáveis, metaforicamente,<br />
com o desenvolvimento da prática parenética. Note, como num jogo de construção tipicamente barroco, Vieira enumera esses<br />
elementos numa determinada ordem (troncos, ramos, folhas, varas, flores, frutos), que é simetricamente invertida a seguir (frutos,<br />
flores, varas, folhas, ramos, troncos). Leia cuidadosamente, em voz alta, todo o parágrafo, prestando bastante atenção ao ritmo<br />
das frases no trecho que relaciona árvore e sermão: você irá notar a preocupação do autor com a cadência do texto – que,<br />
afinal, era uma peça para ser exposta oralmente.<br />
Dessa forma, percebemos como Vieira concebia a prática oratória: o sermão devia resultar de um trabalho disciplinado de<br />
estruturação do texto, objetivando sempre persuadir o ouvinte. Além disso, perceba que Vieira não condena o “ornato” do<br />
discurso com as palavras; o que é condenável, como veremos adiante, é transformar isso no fim último do sermão. Vieira é<br />
ironicamente intolerante acerca dessas ideias: afinal, se não se seguirem as regras propostas, não se estará fazendo sermão;<br />
apenas se estará falando “de mais alto” (que é como se encontra o púlpito nas igrejas).<br />
Pelo que acabamos de concluir, não é difícil perceber que o trabalho de Vieira identifica-se com a vertente<br />
conceptista da poética barroca, pois há uma evidente intenção de perseguir as conclusões por meio de um exaustivo<br />
trabalho de relacionamento de conceitos e de desenvolvimento de raciocínios. Vieira, efetivamente, criticava de forma<br />
cáustica os procedimentos cultistas, ainda que acabasse muitas vezes empregando-os em seus sermões.<br />
A conclusão a que chega o Sermão da sexagésima é que a palavra de Deus vinha obtendo poucos resultados<br />
porque os pregadores estavam mais aplicados em obter efeitos literários do que moralizantes, o que transformava os<br />
sermões em vazios exercícios estéticos.<br />
A preocupação de Vieira com a estruturação de seu texto é a prova maior de que o manuseio artístico da palavra<br />
era uma das finalidades do autor. A agilidade mental para estabelecer relações sutis entre referências bíblicas e ideias por<br />
ele definidas, a fecunda capacidade de criar imagens carregadas de poesia, a harmonia melódica de suas frases e a<br />
fartura verbal de seu discurso são alguns elementos que, presentes no próprio Sermão da sexagésima, denunciam um<br />
artista consciente de seu domínio verbal. A esse virtuosismo no trabalho com a linguagem, tão ambicionado pelos artistas<br />
barrocos, Vieira alia uma constante preocupação com a finalidade social de seu discurso, visto como forma de propagar<br />
a fé católica, moralizar os costumes e iniciar à ação social numa época em que o púlpito ocupava papel importantíssimo<br />
na divulgação de ideias e condução de condutas.<br />
Exercícios<br />
53. (Fuvest SP) “Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os<br />
que saem a semear são os que vão pregar àÍndia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair. Os que saem a<br />
semear são os que se contentam com pregar na pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que<br />
têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a<br />
semeadura, e hão-lhes de contar os passos. Ah! dia do juízo! Ah! pregadores! Os de cá, achar-vos-ei com mais<br />
paço; os de lá, com mais passos...”<br />
Essa passagem é representativa de uma das tendências estéticas típicas da prosa seiscentista, a saber:<br />
a) o Sebastianismo, isto é, a celebração do mito da volta de D. Sebastião, rei de Portugal, morto na batalha de<br />
Alcácer-Quibir.<br />
b) a busca do exotismo e da aventura ultramarina, presentes nas crônicas e narrativas de viagem.<br />
c) a exaltação do heroico e do épico, por meio das metáforas grandiloquentes da epopeia.<br />
d) o lirismo trovadoresco, caracterizado por figuras de estilo passionais e místicas.<br />
e) o Conceptismo, caracterizado pela utilização constante dos recursos da dialética.<br />
54. (Uepa 2014) Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,<br />
Depois da luz se segue a noite escura,<br />
Em tristes sombras morre a formosura,<br />
Em contínuas tristezas a alegria.<br />
Gregório de Matos Guerra<br />
90<br />
Assinale a alternativa que contém uma característica da comunicação poética, típica do estilo Barroco, existente no<br />
quarteto acima.<br />
a) Reflexão sobre o caráter humano da divindade.<br />
b) Associação da natureza com a permanência da realidade espiritual.<br />
c) Presença da irreverência satírica do poeta com base no paradoxo.<br />
d) Utilização do pleonasmo para reforçar a superioridade do cristianismo sobre o protestantismo.<br />
e) Uso de ideias contrastantes com base no recurso da antítese.
Material <strong>ITA</strong><br />
55. (F. Objetivo SP) Sobre cultismo e conceptismo, os dois aspectos construtivos do Barroco, assinale a única alternativa<br />
incorreta.<br />
a) O cultismo opera através de analogias sensoriais, valorizando a identificação dos seres por metáforas. O<br />
conceptismo valoriza a atitude intelectual, a argumentação.<br />
b) Cultismo e conceptismo são partes construtivas do Barroco que não se excluem. É possível localizar no mesmo<br />
autor e até no mesmo texto os dois elementos.<br />
c) O cultismo é perceptível no rebuscamento da linguagem, pelo abuso no emprego de figuras semânticas,<br />
sintáticas e sonoras. O conceptismo valoriza a atitude intelectual, o que se concretiza no discurso pelo<br />
emprego de sofismas, silogismos, paradoxos.<br />
d) cultismo na Espanha, Portugal e Brasil é também conhecido como Gongorismo e seu mais ardente defensor, entre<br />
nós, foi o Pe. Antônio Vieira, que, no Sermão da sexagésima, propõe a primazia da palavra sobre a ideia.<br />
e) Os métodos cultistas mais seguidos por nossos poetas foram os de Gôngora e Marini, e o conceptismo de<br />
Quevedo foi o que maiores influências deixou em Gregório de Matos.<br />
56. (UFV MG) Leia atentamente o fragmento do sermão do Padre Antônio Vieira:<br />
A primeira causa que me desedifica, peixes, de vós, é que comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a<br />
circunstância o fez ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se<br />
fora pelo contrário era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos<br />
pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mim, para um só grande<br />
[...]. Os homens, com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes que se comem uns aos outros. Tão<br />
alheia causa é não só da razão, mas da mesma natureza, que, sendo criados no mesmo elemento, todos cidadãos<br />
da mesma pátria, e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer.<br />
VIEIRA, Antônio. Obras completas do padre Antônio Vieira: sermões. Prefaciados e revistos pelo Pe. Gonçalo Alves. Porto: Leilo e<br />
Irmão Editores, 1993. v. III, p. 264-265.<br />
O texto de Vieira contém algumas características do Barroco. Dentre as alternativas a seguir, assinale aquela em<br />
que NÃO se confirmam essas tendências estéticas:<br />
a) A utilização da alegoria, da comparação, como recursos oratórios, visando à persuasão do ouvinte.<br />
b) A tentativa de convencer o homem do século XVII, imbuído de práticas e sentimentos comuns ao semipaganismo<br />
renascentista, a retomar o caminho do espiritualismo medieval, privilegiando os valores cristãos.<br />
c) A presença do discurso dramático, recorrendo ao princípio moralizante, comum à Contrarreforma.<br />
d) O tratamento do tema principal – a denúncia à cobiça humana – através do conceptismo, ou jogo de ideias.<br />
e) O culto do contraste, sugerindo a oposição bem x mal, tem linguagem simples, concisa, direta e expressiva da<br />
intenção barroca de resgatar os valores Greco-latinos.<br />
57. (Fuvest SP) A respeito do Padre Antônio Vieira, pode-se afirmar:<br />
a) Embora vivesse no Brasil, por sua formação lusitana não se ocupou de problemas locais.<br />
b) Procurava adequar os textos bíblicos às realidades de que tratava.<br />
c) Dada sua espiritualidade, demonstrava desinteresse por assuntos mundanos.<br />
d) Em função de seu zelo para com Deus, utilizava-o para justificar todos os acontecimentos políticos e sociais.<br />
e) Mostrou-se tímido diante dos interesses dos poderosos.<br />
58. Assinale a alternativa incorreta:<br />
O Barroco surgiu como reação aos ideais de Idade Média e à valorização demasiada da Antiguidade clássica,<br />
apresentando:<br />
a) a fusão do teocentrismo com o antropocentrismo.<br />
b) predomínio do equilíbrio em todas as formas artísticas.<br />
c) estilo rebuscado como manifestação de angústia.<br />
d) predomínio de forma, cor e riqueza, em detrimento do conteúdo.<br />
e) a fusão do pecado com o perdão.<br />
91
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
59. (Fuvest SP)<br />
“Nasce o Sol, e não dura mais que um dia.<br />
Depois da luz, se segue a noite escura.<br />
Em tristes sombras morre a formosura.<br />
Em contínuas tristezas a alegria.”<br />
Na estrofe acima, de um soneto de Gregório de Matos Guerra, a principal característica do Barroco é:<br />
a) o culto da Natureza<br />
b) a utilização de rimas alternadas<br />
c) a forte presença de antíteses<br />
d) o culto do amor cortês<br />
e) o uso de aliterações<br />
60. (Ufsm 2014) Padre Antônio Vieira, em seu Sermão de Santo Antônio ou dos Peixes, vale-se da fauna aquática,<br />
especialmente a da costa brasileira, para dar força e vida às suas palavras, como se vê no fragmento a seguir.<br />
Outra coisa muito geral, que não tanto me desedifica, quanto me lastima, em muitos de vós, é aquela tão notável<br />
ignorância e cegueira que em todas as viagens experimentam os que navegam para estas partes. Tome um homem<br />
do mar um anzol, ata-lhe um pedaço de pano cortado e aberto em duas ou três pontas, lança-o por um cabo<br />
delgado até tocar na água, e em o vendo o peixe, arremete cego a ele e fica preso e boqueando até que, assim<br />
suspenso no ar, ou lançado no convés, acaba de morrer. Pode haver maior ignorância e mais rematada cegueira<br />
que esta? Enganados por um retalho de pano, perder a vida?<br />
Dir-me-eis que o mesmo fazem os homens. Não vô-lo nego. Dá um exército batalha contra outro exército, metemse<br />
os homens pelas pontas dos piques, dos chuços e das espadas, e por quê? Porque houve quem os engodou e<br />
lhes fez isca com dois retalhos de pano. A vaidade entre os vícios é o pescador mais astuto e que mais facilmente<br />
engana os homens. E que faz a vaidade? Põe por isca nas pontas desses piques, desses chuços e dessas espadas<br />
dois retalhos de pano, ou branco, que se chama hábito de Malta; ou verde, que se chama de Aviz; ou vermelho,<br />
que se chama de Crista e de Santiago; e os homens por chegarem a passar esse retalho de pano ao peito, não<br />
reparam em tragar e engolir o ferro.<br />
A partir da leitura do fragmento, assinale verdadeira (V) ou falsa (F) em cada afirmativa a seguir.<br />
( ) A referência aos peixes, no fragmento e no sermão como um todo, deve-se ao “milagre da multiplicação dos<br />
peixes’, realizado por Jesus Cristo, o que serve de ponto de partida para o texto de Vieira.<br />
( ) Por meio da analogia, Vieira compara como os peixes são pescados e como os homens perdem-se, ambos<br />
vítimas de um engano.<br />
( ) Os fatos narrados no fragmento apresentam semelhanças com o enredo de uma fábula, no sentido de que<br />
seu conteúdo é utilizado para ilustrar um princípio moral.<br />
A sequência correta é<br />
a) V – F – F.<br />
b) F – V – F.<br />
c) F – V – V.<br />
d) F – F – V.<br />
e) V – V – V.<br />
61. (UFRGS) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo sobre os dois grandes nomes do barroco<br />
brasileiro.<br />
( ) A obra poética de Gregório de Matos oscila entre os valores transcendentais e os valores mundanos,<br />
exemplificando as tensões do seu tempo.<br />
( ) Os sermões do Padre Vieira caracterizam-se por uma construção de imagens desdobradas em numerosos<br />
exemplos que visam a enfatizar o conteúdo da pregação.<br />
( ) Gregório de Matos e o Padre Vieira, em seus poemas e sermões, mostram exacerbados sentimentos<br />
patrióticos expressos em linguagem barroca.<br />
92
Material <strong>ITA</strong><br />
( ) A produção satírica de Gregório de Matos e o tom dos sermões do Padre Vieira representam duas faces da<br />
alma barroca no Brasil.<br />
( ) O poeta e o pregador alertam os contemporâneos para o desvio operado pela retórica retumbante e vazia.<br />
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo é:<br />
a) V-F-F-F-F<br />
b) V-V-V-V-F<br />
c) V-V-F-V-F<br />
d) F-F-V-V-V<br />
e) F-F-F-V-V<br />
62. (Fuvest 1993) A poesia lírica de Gregório de Matos subdivide-se em amorosa e religiosa.<br />
a) Quais são os dois modos contrastantes de ver a mulher, em sua lírica amorosa?<br />
b) Como aparece em sua lírica religiosa a ideia de Deus e do pecado?<br />
63. (Fuvest 1989) Dê argumentos que permitam considerar o Padre Antônio Vieira como um expoente tanto da<br />
Literatura Portuguesa quanto da Literatura Brasileira.<br />
64. (Fuvest SP) O bifrontismo do homem, santo e pecador; o impulso pessoal prevalecendo sobre normas ditadas por<br />
modelos; o culto do contraste; a riqueza de pormenores – são traços constantes da:<br />
a) composição poética parnasiana<br />
b) poesia simbolista<br />
c) produção poética arcádica de inspiração bucólica<br />
d) poesia barroca<br />
e) poesia condoreirista<br />
65. (ifsp 2013) O culto exagerado da forma, o rebuscamento, a riqueza de pormenores, o conflito entre o profano e o<br />
sagrado são características<br />
a) do Renascimento.<br />
b) da Ilustração.<br />
c) do Realismo.<br />
d) do Barroco.<br />
e) do Simbolismo.<br />
66. (<strong>ITA</strong> SP) As opções a seguir referem-se aos textos A, B, C e D.<br />
Texto "A"<br />
"Ah! enquanto os destinos impiedosos<br />
não voltam contra nós a face irada,<br />
façamos, sim, façamos, doce amada,<br />
os nossos breves dias mais ditosos."<br />
Texto "B"<br />
"Ó não aguardes, que a madura idade<br />
te converte essa flor, essa beleza,<br />
em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada",<br />
Texto "C"<br />
"Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,<br />
E rompe em profundíssimos suspiros,<br />
Lendo na testa da fronteira gruta<br />
De sua mão já trêmula gravado<br />
O alheio crime e a voluntária morte".<br />
93
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
Texto "D"<br />
"O todo sem a parte não é todo;<br />
A parte sem o todo não é parte;<br />
Mas se a parte faz o todo, sendo parte,<br />
Não se diga que é parte, sendo todo.<br />
Preencha os parênteses anteriores dos textos dados, obedecendo à seguinte convenção:<br />
I. Gregório de Matos<br />
II. Tomás Antônio Gonzaga<br />
III. Basílio da Gama<br />
IV. Cláudio Manuel da Costa<br />
Preenchidos os parênteses, a sequência correta é:<br />
a) II - I - III - I<br />
b) IV - I - II - II<br />
c) I - II - II - I<br />
d) I - IV - III - I<br />
e) II - IV - III - IV<br />
Texto comum às questões: 67, 68<br />
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,<br />
Da vossa alta piedade me despido,<br />
Porque, quanto mais tenho delinquido,<br />
Vos tenho a perdoar mais empenhado.<br />
Gregório de Matos, “A Jesus Cristo Nosso Senhor”<br />
Observação:<br />
hei pecado = tenho pecado<br />
delinquido= agido de modo errado<br />
67. (MACK SP) Na estrofe, o poeta<br />
a) dirige-se ao Senhor para confessar os pecados e submete-se à penitência para obter a redenção espiritual.<br />
b) invoca Deus para manifestar, com muito respeito e humildade, a intenção de não mais pecar.<br />
c) estabelece um diálogo de igual para igual com a divindade, sugerindo sua pretensão de livrar-se do castigo e<br />
da piedade de Deus.<br />
d) confessa-se pecador e expressa a convicção de que será abençoado com a graça divina.<br />
e) arrepende-se dos pecados cometidos, acreditando que, assim, terá assegurada a salvação da alma.<br />
68. (MACK SP) É traço relevante na caracterização do estilo de época a que pertence o texto:<br />
a) a progressão temática que constrói forças de tensão entre pecado e salvação.<br />
b) a linguagem musical que sugere os enigmas do mundo onírico do poeta.<br />
c) os aspectos formais, como métrica, cadência e esquema rímico, que refletem o desequilíbrio emocional do eu lírico.<br />
d) a fé incondicional nos desígnios de Deus, única via para o conhecimento verdadeiro e redentor.<br />
e) a força argumentativa de uma poesia com marcas exclusivas de ideais antropocêntricos.<br />
94
Material <strong>ITA</strong><br />
Texto comum às questões: 69, 70<br />
É a vaidade, Fábio, nesta vida,<br />
Rosa, que da manhã lisonjeada,<br />
Púrpuras mil, com ambição dourada,<br />
Airosa rompe, arrasta presumida.<br />
Gregório de Matos<br />
Observação:<br />
1. lisonjeada: envaidecida<br />
2. airosa: elegante<br />
3. presumida: convencida<br />
69. (MACK SP) Todas as alternativas trazem aspectos temático-expressivos relevantes no texto, EXCETO:<br />
a) discurso em estilo elevado, com foco no sentido da vida.<br />
b) inversões sintáticas.<br />
c) progressão textual apoiada em desdobramentos metafóricos.<br />
d) identificação do poeta com um pastor.<br />
e) linguagem culta, com marcas de preciosismo formal.<br />
70. (MACK SP) O tema da efemeridade da vida é um dos traços que caracterizam o estilo de época a que pertence<br />
Gregório de Matos. Recorrente não só no século XVII, mas de um modo geral em toda a história da literatura, esse<br />
tema está presente nos seguintes versos:<br />
a) Senhor Deus dos desgraçados! / Dizei-me vós, Senhor Deus! / Se é loucura... se é verdade / Tanto horror<br />
perante os céus... (Castro Alves)<br />
b) Sabeis, cristãos, por que não faz fruto a palavra de Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, por<br />
que não faz fruto a palavra de Deus? Por culpa nossa. (Pe. Antônio Vieira)<br />
c) Já o verme – este operário das ruínas – [...] / Anda a espreitar meus olhos para roê-los, / E há de deixar-me<br />
apenas os cabelos, / Na frialdade inorgânica da terra! (Augusto dos Anjos)<br />
d) Quero morrer! Este mundo / Com seu sarcasmo profundo / Manchoume de lodo e fel! ( Fagundes Varela)<br />
e) Infinitos espíritos dispersos [...] fecundai o Mistério destes versos / com a chama ideal de todos os mistérios.<br />
(Cruz e Sousa)<br />
Texto para à questão 71.<br />
Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade,<br />
É verdade, Senhor, que hei delinquido,<br />
Delinquido vos tenho, e ofendido<br />
Ofendido vos tem minha maldade.<br />
MATOS, Gregório de. Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade. In: Poemas escolhidos. Seleção, introdução e notas de José<br />
Miguel Wisnik. São Paulo: Cultrix, s.d. p. 299.<br />
95
96<br />
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
71. (Ueg 2012) A profusão dos elementos que compõem as imagens corresponde, nos versos de Gregório de Matos, a<br />
uma linguagem<br />
a) neologista.<br />
b) racionalista.<br />
c) rebuscada.<br />
d) sarcástica.<br />
Texto comum às questões 72, 73<br />
Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão empeçado¹, um estilo tão dificultoso, um estilo<br />
tão afetado, um estilo tão encontrado toda a arte e a toda a natureza? Boa razão é também essa. O estilo há de ser<br />
muito fácil e muito natural. Por isso Cristo comparou o pregar ao semear, porque o semear é uma arte que tem mais de<br />
natureza que de arte (...) Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de<br />
palavras. Se uma parte está branco, da outra há de estar negro (...) Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As<br />
estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo da pregação, muito distinto e muito claro.<br />
¹empeçado: com obstáculo, com empecilho.<br />
72. (Espm 2014) A expressão que traduz a ideia de rebuscamento no estilo é:<br />
a) “púlpitos”<br />
b) “semear”<br />
c) “céu”<br />
d) “xadrez de palavras”<br />
e) “estrelas”<br />
(Sermão da Sexagésima, Pe. Antonio Vieira)<br />
73. (Espm 2014) Assinale a incorreta sobre o texto de Padre Vieira:<br />
a) vale-se do estilo conceptista do Barroco, voltando-se para a argumentação e raciocínio lógicos.<br />
b) ataca duramente os pregadores cultistas, devido ao estilo pomposo, de difícil acesso, e aos exageros da<br />
ornamentação.<br />
c) critica o sermão que está preocupado com a suntuosidade linguística e estilística.<br />
d) defende a pregação que tenha naturalidade, clareza e distinção.<br />
e) mostra que, seguindo o exemplo de Cristo, pregar e semear afetam o estilo, porque ambas são práticas da<br />
natureza.<br />
Texto comum à questão 74<br />
[...] Vai o navio navegando e o marinheiro dormindo, e o voador toca na vela, ou na corda, e cai palpitando. Aos<br />
outros peixes mata-os a fome e engana-os a isca, ao voador mata-o a vaidade de voar, e a sua isca é o vento. Quanto<br />
melhor lhe fora mergulhar por baixo da quilha e viver, que voar por cima das antenas e cair morto! [...]<br />
O voador fê-lo Deus peixe, e ele quis ser ave, e permite o mesmo Deus que tenha os perigos de ave e mais os de<br />
peixe. Todas as velas para ele são redes, como peixe, e todas as cordas laços, como ave. Vê, voador, como correu pela<br />
posta o teu castigo. Pouco há, nadavas vivo no mar com as barbatanas, e agora jazes em um convés, amortalhado nas<br />
asas. Não contente com ser peixe, quiseste ser ave, e já não és ave nem peixe: nem voar poderás já,nem nadar.[...]<br />
VIEIRA, Pe. Antônio. Os voadores. Vieira: trechos escolhidos (por Eugênio Gomes). Rio de Janeiro: Agir, 1971. p. 64.<br />
(<strong>Coleção</strong> Nossos Clássicos).<br />
74. (UEFS BA) Pe. Antônio Vieira, por meio de uma linguagem metafórica, faz uma reflexão crítica acerca<br />
a) da imortalidade.<br />
b) da hipocrisia.<br />
c) do egoísmo.<br />
d) da ambição.<br />
e) da injustiça.
Material <strong>ITA</strong><br />
75. (UFPA) Gregório de Matos, poeta barroco brasileiro, foi apelidado de “Boca do Inferno” por causa de sua “lira<br />
maldizente”, de suas sátiras poéticas, das quais ninguém escapava. A estrofe, retirada de um de seus poemas, que<br />
apresenta tom satírico é<br />
a) Ó não aguardes, que a madura idade<br />
Te converta essa flor, essa beleza,<br />
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.<br />
b) Se basta a vos irar tanto pecado,<br />
A abrandar-vos sobeja um só gemido:<br />
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,<br />
Vos tem para o perdão lisonjeado.<br />
c) Meu Deus, que estais pendente em um madeiro,<br />
Em cuja lei protesto de viver,<br />
Em cuja santa lei de morrer<br />
Animoso, constante, firme e inteiro.<br />
d) Que falta nesta cidade? _______ Verdade<br />
Que mais por sua desonra? ________ Honra<br />
Falta mais que se lhe ponha ________ Vergonha.<br />
O demo a viver se exponha,<br />
Por mais que a fama a exalta,<br />
Numa cidade, onde falta<br />
Verdade, Honra, Vergonha.<br />
e) Numa manhã tão serena<br />
como entre tanto arrebol<br />
pode caber tanto sol<br />
em esfera tão pequena?<br />
Quem aos pasmos me condena<br />
da dúvida há de tirar-me,<br />
e há de mais declarar-me,<br />
como pode ser ao certo<br />
estar eu hoje tão perto<br />
de três sóis, e não queimar-me.<br />
76. (Unifor CE)É muito comum que os temas de um poeta satírico sejam os problemas sociais de sua época. Assim é<br />
que, em suas implacáveis sátiras, o poeta barroco Gregório de Matos:<br />
a) louvava os mandatários portugueses, admirando sua nobreza de caráter.<br />
b) investia contra a ganância dos exploradores de ouro das províncias mineiras.<br />
c) ridicularizava os nobres portugueses, enquanto louvava os negros e os índios.<br />
d) Condenava os republicanos, pois era um defensor da monarquia portuguesa.<br />
e) condenava a cobiça dos que enriqueciam com práticas comerciais ilícitas.<br />
77. (Unifesp SP)<br />
Neste mundo é mais rico, o que mais rapa:<br />
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa:<br />
Com sua língua ao nobre o vil decepa:<br />
O Velhaco maior sempre tem capa.<br />
Levando em consideração que, em sua produção literária, Gregório de Matos dedicou-se também à sátira<br />
irreverente, pode-se afirmar que os versos se marcam<br />
a) pelo sentimentalismo, fruto da sintonia do sue lírico com a sociedade.<br />
b) pela indiferença, decorrente da omissão do seu lírico com a sociedade.<br />
c) pelo negativismo, pois o eu lírico condena a sociedade pelo viés da religião.<br />
d) pela indignação, advinda de um ideal moralizante expresso pelo eu lírico.<br />
e) pela ironia, já que o eu lírico supõe que todas as pessoas são desonestas.<br />
97
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
78. (G1 - ifsp 2014) Leia o soneto do escritor barroco Gregório de Matos.<br />
98<br />
Descrição da Cidade de Sergipe d’El-Rei<br />
Três dúzias de casebres remendados,<br />
Seis becos, de 1 mentrastos entupidos,<br />
Quinze soldados, rotos e despidos,<br />
Doze porcos na praça bem criados.<br />
Dois conventos, seis frades, três letrados,<br />
Um juiz, com bigodes, sem ouvidos,<br />
Três presos de piolhos carcomidos,<br />
Por comer dois meirinhos esfaimados.<br />
As damas com sapatos de 2 baeta,<br />
Palmilha de tamanca como frade,<br />
Saia de 3 chita, cinta de raqueta.<br />
O feijão, que só faz 4 ventosidade<br />
Farinha de pipoca, pão que greta,<br />
De Sergipe d’El-Rei esta é a cidade.<br />
1<br />
mentrasto: tipo de erva<br />
2<br />
baeta: tecido felpudo<br />
3<br />
chita: tecido de algodão de pouco valor<br />
4<br />
ventosidade: que provoca flatulência<br />
(DIMAS, Antônio. Gregório de Matos. São Paulo: Nova Cultural, 1988.)<br />
Pela leitura do soneto, é correto afirmar que o poeta<br />
a) critica veladamente o governo português por ter escolhido essa cidade para ser a sede administrativa da colônia.<br />
b) escreve esse poema para expor as angústias vividas durante o período em que cumpria a primeira ordem de<br />
desterro.<br />
c) comenta a elegância e a sensualidade das damas, visto que sempre apreciou as mulheres brasileiras.<br />
d) lamenta a inexistência de instituições religiosas, pois elas organizariam moralmente a cidade.<br />
e) descreve as condições do local, mostrando que os habitantes vivem rusticamente e com poucos recursos.<br />
79. (Fatec SP) No colégio dos padres Gregório de Matos escreveu: “Quando desembarcaste da fragata, meu dom<br />
Braço de Prata, cuidei, que a esta cidade tanta, e fátua*, mandava a Inquisição alguma estátua, vendo tão<br />
espremida salvajola* visão de palha sobre um mariola*”.<br />
Sorriu, e entregou o escrito a Gonçalo Ravasco. Gonçalo leu-o, gracejou, entregou-o ao vereador.<br />
O papel passou de mão em mão.<br />
“A difamação é o teu deus”, disseram, sorrindo.<br />
Ana Miranda, Boda do Inferno. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 1990, p. 37, (*Fátua: tola; *salvajola: variante de *selvagem*;<br />
mariola: velhaco)<br />
O trecho ilustra<br />
a) a poesia erótica de Gregório de Matos, inspirada na vida nos prostíbulos da cidade da Bahia e que deu<br />
origem à alcunha do poeta, “Boca do Inferno”.<br />
b) a poesia lírica de Gregório de Matos, voltada para a temática filosófica, em linguagem marcada pelos<br />
recursos da estética barroca.<br />
c) a poesia satírica de Gregório de Matos, dedicada à descrição fiel da sociedade da época, utilizando recursos<br />
expressivos característicos do barroco português.<br />
d) a poesia erótica de Gregório de Matos, caracterizada pelo crítica aos comportamentos e às autoridades<br />
baianas da época colonial.<br />
e) a poesia satírica de Gregório de Matos, que representa, no conjunto de sua obra, uma fuga aos moldes<br />
barrocos e ataca, no linguajar baiano da época, costumes e personalidades.
Material <strong>ITA</strong><br />
Gabarito<br />
01.<br />
a) 1 estrofe: representa a juventude, a 2ª estrofe: representa a idade adulta, e a última estrofe: representa a<br />
velhice.<br />
b) A expressão "vigiar o desabrochar do destino" equivale a "acompanhar consciente o seu próprio fim", ou seja,<br />
a expectativa da morte<br />
02. (01 + 04 = 05)<br />
03. a<br />
04. e<br />
05.<br />
a) Ao se estabelecer a comparação introduzida por "Assim como (...)", há pelo menos duas possibilidades para<br />
os versos:<br />
• Assim como a tua saudade,/o aço da navalha também corta...<br />
• Assim como a tua saudade corta,/também o aço da navalha…<br />
b) Se o verbo “atrapalhar” estivesse flexionado em acordo com a norma padrão, a sonoridade da quadra de<br />
sete sílabas estaria comprometida, pois estaria desfeita a rima com a palavra “faia”. Além disso, a troca<br />
implicaria uma incoerência linguística, uma vez que o restante do texto apresenta traços da variante falada<br />
popular e informal da língua caipira.<br />
06. c<br />
07. e<br />
08. [a] O conto é uma breve narrativa com foco narrativo em terceira pessoa, onisciente, uma vez que o narrador não é<br />
personagem da trama, porém conhece os sentimentos das personagens, afinal sabe que o solteirão sente “uma<br />
vermelha inveja” do casal de amantes; de modo semelhante, na música, o eu lírico tece observações sobre o<br />
comportamento do indivíduo invejoso. Assim, ambos referem-se ao invejoso em terceira pessoa.<br />
09. c 10. c 11. b 12. b 13. e<br />
14. e 15. c 16. d 17. d 18. e<br />
19. a 20. d<br />
21. (a . 2) (b . 1)( c. 3)( d. 4 )<br />
22. d 23. e 24. b 25. e 26. c<br />
27. a 28. d 29. e 30. c 31. c<br />
32. a 33. d 34. e 35. b 36. c<br />
37. a 38. b 39. c 40. a 41. b<br />
42.<br />
a) Pero Vaz de Caminha descreve a terra em função de suas propriedades geográficas, tais como clima, tipo de<br />
plantas, extensão territorial, etc. Nessa descrição, percebese certo deslumbramento diante da terra<br />
desconhecida. Na paródia de Murilo Mendes à Carta de Caminha, há uma descrição marcada pela ironia e<br />
pelo espírito crítico, evidente na crítica que faz aos colonizadores preocupados apenas com a obtenção de<br />
riquezas fáceis.<br />
b) O texto de Pero Vaz de Caminha pertence ao período conhecido como Literatura de Informação. O poema<br />
de Murilo Mendes é um típico exemplo do Modernismo<br />
43. a<br />
44. b<br />
45. [d][a] Nos versos acima, não há menção a respeito da colonização portuguesa no Brasil.<br />
[b] O poema descreve as qualidades do coco e do caju brasileiros.<br />
[c] Trata-se de um poema, não de um anúncio, portanto, é impossível saber do enriquecimento do poeta.<br />
[d] Correta. As qualidades de dois frutos tropicais tão brasileiros são exaltadas através dos versos, aproximando o<br />
poema das descrições locais típicas dos poemas Quinhentistas.<br />
[e] Não há menção de nenhum encontro amoroso.<br />
46. [c] A Carta de Pero Vaz de Caminha revela a perspectiva otimista do colonizador (“Andavam todos tão bemdispostos,<br />
tão bem feitos e galantes”), enquanto que a obra de Portinari revela a surpresa e a preocupação dos<br />
nativos ao apontar para o horizonte. Assim, é correta a opção [c], pois a carta é testemunho histórico-político do<br />
encontro do colonizador com as novas terras e a pintura destaca, em primeiro plano, a inquietação dos nativos.<br />
99
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
47. [a] A Carta de Pero Vaz de Caminha é o primeiro documento escrito da história do Brasil. Nela, o autor registrou as suas<br />
impressões sobre a nova terra, com a intenção de informar ao rei o “achamento” e apresentar-lhe o que encontrou, em<br />
linguagem objetiva e com grande quantidade de detalhes sobre fauna, flora e habitantes. Por isso, está vinculada à<br />
literatura dos viajantes ou dos cronistas, também chamada de informação, como mencionado em [a].<br />
48. [b] Nas opções [a], [c], [d] e [e], existem termos que não pertencem à classe dos adjetivos, pois em<br />
[a] “muito” é advérbio de intensidade;<br />
[c] “tudo” é pronome indefinido, e “bem”, substantivo incorporado à locução prepositiva “por bem d(as)”;<br />
[d] “gente” é substantivo;<br />
[e] “semente” é substantivo.<br />
Assim, é correta apenas a opção [b].<br />
49. [e] Na frase da opção [e], a palavra “semente” foi usada em sentido figurado, sugerindo algo embrionário que<br />
pode originar resultados positivos.<br />
50. [c] Os trechos grifados exercem função de objeto direto na oração a que pertencem, por isso devem ser substituídos<br />
por pronomes oblíquos átonos correspondentes: o, a. Como se encontram em situação de ênclise relativamente aos<br />
verbos transitivos diretos a que estão ligados e estes terminam em “r” (saber, salvar), essa terminação desaparece e<br />
os pronomes transformam-se em “lo” e “la”, concordando em gênero e número com os termos a que se referem.<br />
Assim, é correta a opção [c], pois ”lo” substituiria corretamente a oração subordinada substantiva objetiva direta<br />
(“que haja ouro nem prata”) e “la”, o objeto direto “esta gente”.<br />
51. [c] É correta a opção [a], pois, na frase “até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata”, o presente do<br />
subjuntivo do verbo haver sugere incerteza ou dúvida.<br />
52. [a]Trata-se de um texto descritivo, pois sua intenção é transmitir ao interlocutor as impressões e as qualidades da<br />
terra a que os portugueses haviam chegado: “grandes barreiras, algumas vermelhas, outras brancas; e a terra por<br />
cima é toda chã e muito cheia de grandes arvoredos”, “praia redonda, muito chã e muito formosa”, “águas são<br />
muitas e infindas”. É correta a alternativa [a].<br />
53. d<br />
54. [e] A antítese é uma figura de estilo que apresenta exposição de ideias opostas e que foi amplamente utilizada pelos<br />
autores do período Barroco. No quarteto do enunciado, o contraste que se estabelece entre vida/morte,<br />
claro/escuro e tristeza/alegria enfatiza os conceitos dualísticos típicos daquele momento histórico:<br />
antropocentrismo (homem) opondo-se ao teocentrismo (Deus). Assim, é correta a alternativa [e].<br />
55. d 56. e 57. b 58. b 59. c<br />
60. [c] É correta a alternativa [c], pois apenas a primeira proposição é falsa. Não existe nenhuma relação entre o<br />
“milagre da multiplicação dos peixes” e a fauna aquática da costa do Brasil, que serve de ponto de partida para o<br />
texto de Vieira.<br />
61. c<br />
62. a) A mulher divinizada e a mulher mais terrena e sensual.<br />
b) Como homem, Gregório reconhece-se pecador e Deus representa a possibilidade de redenção dos pecados.<br />
63. Vieira passou a maior parte de sua vida entre Portugal, onde nasceu, e Brasil. Tanto lá como aqui compôs textos de<br />
fina retórica, tratando de temas que interessavam à colônia e à metrópole.<br />
64. d<br />
65. [d] É correta a opção [d], pois o Barroco é a arte do conflito, do contraste de imagens, palavras e conceitos: fé vs.<br />
razão, corpo vs. alma, religião vs. ciência. A linguagem rebuscada e o uso exagerado de recursos estilísticos, como<br />
hipérboles, metáforas, antíteses e paradoxos caracterizam a vertente cultista do Barroco, estilo também chamado de<br />
Gongorismo.<br />
66. a<br />
67. d<br />
68. a<br />
69. d<br />
70. c<br />
71. [c] Gregório de Matos é fiel representante da estética do Barroco, no Brasil, estilo em que muitas vezes o tema é<br />
utilizado como simples pretexto para o exercício poético, desenvolvendo engenhosos jogos de conceitos, valorização<br />
do pormenor mediante jogos de palavras e linguagem rebuscada, culta, extravagante.<br />
100
Material <strong>ITA</strong><br />
72. [d]<br />
“Xadrez de palavras” está relacionado à ideia de “rebuscamento no estilo” ao se estabelecer uma relação<br />
metafórica entre “xadrez”, jogo de tabuleiro conhecido por sua dificuldade ao impor o uso da lógica, e<br />
“rebuscamento”, associado à ideia de “requinte”.<br />
73. [e] Padre Antônio Vieira é um autor barroco em cujos textos predomina o estilo conceptista, uma vez que defende<br />
pontos de vista; neste caso, defende que o pregar e o semear são ações que se assemelham tendo em vista seu<br />
caráter “fácil e natural”.<br />
74. d<br />
75. O texto satírico é o D. A e Eintegram alíricafilosófica(ou reflexiva) B e C, a lírica sacra ou religiosa.<br />
76. e<br />
77. d<br />
78. e<br />
[A] Nunca Sergipe foi sede administrativa da colônia, mas por inferência, pode-se presumir que o rei tivesse<br />
cogitado tal mudança. Por outro lado, os versos fazem uma dura crítica à região ao descrever sua miséria.<br />
[B] O desterro é o castigo de viver fora de seu país de origem, contudo os versos falam de uma região daqui<br />
mesmo do Brasil.<br />
[C] Ao contrário, os versos criticam as roupas feias usadas por pessoas muito simples.<br />
[D] Há uma descrição de uma cidade erma e atrasada, com dois conventos e seis frades.<br />
[E] Correta. Os versos mostram que os habitantes vivem rusticamente, porém com a ironia característica do Boca do<br />
Inferno, apelido do poeta barroco.<br />
79. e<br />
101
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
Frente C<br />
Módulo C01 – Interpretação de texto<br />
Texto comum às questões de 1 a 6:<br />
A(s) questão(ões) a seguir refere(m)-se ao seguinte texto, de Manuel Bandeira, publicado em 1937.<br />
15<br />
Não há hoje no mundo, em qualquer domínio de atividade artística, um artista cuja arte contenha maior<br />
universalidade que a de Charles Chaplin. A razão vem de que o tipo de Carlito é uma dessas criações que, salvo<br />
1<br />
idiossincrasias muito raras, interessam e agradam a toda a gente. Como os heróis das lendas populares ou as<br />
personagens das velhas farsas de 2 mamulengo.<br />
8<br />
Carlito é popular no sentido mais alto da palavra. 9 Não saiu completo e definitivo da cabeça de Chaplin: foi uma<br />
criação em que o artista procedeu por uma sucessão de tentativas e erradas.<br />
20<br />
Chaplin observava sobre o público o efeito de cada detalhe.<br />
Um dos traços mais característicos da pessoa física de Carlito foi achado casual. Chaplin certa vez lembrou-se de<br />
arremedar a marcha desgovernada de um 3 tabético. 10 O público riu: estava fixado o andar habitual de Carlito.<br />
O vestuário da personagem – fraquezinho humorístico, calças lambazonas, botinas escarrapachadas, cartolinha –<br />
também se fixou pelo consenso do público.<br />
Certa vez que Carlito trocou por outras as botinas escarrapachadas e a clássica cartolinha, 11 o público não achou<br />
graça: estava desapontado. 14 Chaplin eliminou imediatamente a variante. Sentiu com o público que ela destruía a<br />
unidade física do tipo. 21 Podia ser jocosa também, mas não era mais Carlito.<br />
Note-se que essa indumentária, que vem dos primeiros filmes do artista, não contém nada de especialmente<br />
extravagante. 16 Agrada por não sei quê de elegante que há no seu ridículo de miséria. Pode-se dizer que Carlito possui o<br />
4<br />
dandismo do grotesco.<br />
Não será exagero afirmar que toda a humanidade viva colaborou nas salas de cinema para a realização da<br />
personagem de Carlito, como ela aparece nessas estupendas obras-primas de humour que são O Garoto, Ombro Arma,<br />
Em Busca do Ouro e O Circo.<br />
22<br />
Isto por si só atestaria em Chaplin um extraordinário dom de discernimento psicológico. Não obstante, se não<br />
houvesse nele profundidade de pensamento, lirismo, ternura, seria levado por esse processo de criação à vulgaridade dos<br />
artistas medíocres que condescendem com o fácil gosto do público.<br />
23<br />
Aqui é que começa a genialidade de Chaplin. Descendo até o público, não só não se vulgarizou, mas ao<br />
contrário ganhou maior força de emoção e de poesia. A sua originalidade extremou-se. Ele soube isolar em seus dados<br />
pessoais, em sua inteligência e em sua sensibilidade de exceção, os elementos de irredutível humanidade. Como se diz<br />
em linguagem matemática, pôs em evidência o fator comum de todas as expressões humanas. O olhar de Carlito, no<br />
filme O Circo, para a brioche do menino faz rir a criançada como um gesto de gulodice engraçada. Para um adulto pode<br />
sugerir da maneira mais dramática todas as categorias do desejo. A sua arte simplificou-se ao mesmo tempo que se<br />
aprofundou e alargou. 12 Cada espectador pode encontrar nela o que procura: o riso, a crítica, o lirismo ou ainda o<br />
contrário de tudo isso.<br />
Essas reflexões me acudiram ao espírito ao ler umas linhas da entrevista fornecida a Florent Fels pelo pintor Pascin,<br />
búlgaro naturalizado americano. Pascin não gosta de Carlito e explicou que 17 uma fita de Carlito nos Estados Unidos tem<br />
uma significação muito diversa da que lhe dão fora de lá. Nos Estados Unidos Carlito é o sujeito que não sabe fazer as<br />
coisas como todo mundo, que não sabe viver como os outros, não se acomoda em meio algum, – em suma um<br />
inadaptável. O espectador americano ri satisfeito de se sentir tão diferente daquele sonhador ridículo. É isto que faz o<br />
sucesso de Chaplin nos Estados Unidos. Carlito com as suas lamentáveis aventuras constitui ali 19 uma lição de moral para<br />
educação da mocidade no sentido de preparar uma geração de homens hábeis, práticos e bem quaisquer!<br />
Por mais ao par que se esteja do caráter prático do americano, do seu critério de sucesso para julgamento das ações<br />
humanas, do seu gosto pela estandardização, não deixa de surpreender aquela interpretação moralista dos filmes de<br />
Chaplin. Bem examinadas as coisas, não havia motivo para surpresa. 13 A interpretação cabe perfeitamente dentro do tipo e<br />
mais: o americano bem verdadeiramente americano, o que veda a entrada do seu território a doentes e estropiados, o que<br />
propõe o pacto contra a guerra e ao mesmo tempo assalta a Nicarágua, não poderia sentir de outro modo.<br />
102
Material <strong>ITA</strong><br />
Não importa, não será menos legítima a concepção contrária, tanto é verdade que tudo cabe na humanidade vasta<br />
de Carlito. Em vez de um fraco, de um pulha, de um inadaptável, posso eu interpretar Carlito como um herói. Carlito<br />
passa por todas as misérias sem lágrimas nem queixas. Não é força isto? Não perde a bondade apesar de todas as<br />
experiências, e no meio das maiores privações acha um jeito de amparar a outras criaturas em aperto. Isso é 5 pulhice?<br />
Aceita com 6 estoicismo as piores situações, dorme onde é possível ou não dorme, come sola de sapato cozida<br />
como se se tratasse de alguma língua do Rio Grande. É um inadaptável?<br />
Sem dúvida não sabe se adaptar às condições de sucesso na vida. Mas haverá sucesso que valha a força de ânimo<br />
do sujeito sem nada neste mundo, sem dinheiro, sem amores, sem teto, quando ele pode agitar a bengalinha como<br />
Carlito com um gesto de quem vai tirar a felicidade do nada? Quando um ajuntamento se forma nos filmes, os<br />
transeuntes vão parando e acercando-se do grupo com um ar de curiosidade interesseira. Todos têm uma fisionomia<br />
preocupada. Carlito é o único que está certo do prazer ingênuo de olhar.<br />
Neste sentido Carlito é um verdadeiro professor de heroísmo. Quem vive na solidão das grandes cidades não pode<br />
deixar de sentir intensamente o influxo da sua lição, e uma simpatia enorme nos prende ao boêmio nos seus gestos de<br />
aceitação tão simples.<br />
Nada mais heroico, mais comovente do que a saída de Carlito no fim de O Circo. Partida a companhia, em cuja<br />
troupe seguia a menina que ele ajudara a casar com outro, Carlito por alguns momentos se senta no círculo que ficou<br />
como último vestígio do picadeiro, refletindo sobre os dias de barriga cheia e relativa felicidade sentimental que acabava<br />
de desfrutar. Agora está de novo sem nada e inteiramente só. Mas os minutos de fraqueza duram pouco. Carlito levantase,<br />
dá um puxão na casaquinha para recuperar a linha, faz um 7 molinete com a bengalinha e sai campo afora sem olhar<br />
para trás. Não tem um vintém, não tem uma afeição, não tem onde dormir nem o que comer. No entanto vai como um<br />
conquistador pisando em terra nova. Parece que o Universo é dele. E não tenham dúvida: o Universo é dele.<br />
Com efeito, Carlito é poeta.<br />
(Em: Crônicas da Província do Brasil. 1937.)<br />
1<br />
idiossincrasia: maneira de ser e de agir própria de cada pessoa.<br />
2<br />
mamulengo: fantoche, boneco usado à mão em peças de teatro popular ou infantil.<br />
3<br />
tabético: que tem andar desgovernado, sem muita firmeza.<br />
4<br />
dandismo: relativo ao indivíduo que se veste e se comporta com elegância.<br />
5<br />
pulhice: safadeza, canalhice.<br />
6<br />
estoicismo: resignação com dignidade diante do sofrimento, da adversidade, do infortúnio.<br />
7<br />
molinete: movimento giratório que se faz com a espada ou outro objeto semelhante.<br />
01. (<strong>ITA</strong> 2014) Sobre Charles Chaplin, o texto nos permite dizer que<br />
a) sua arte desperta diversas emoções e extrapola os limites geográficos.<br />
b) seu personagem Carlito originou-se das reações do público.<br />
c) seu personagem Carlito é apresentado como um tipo astuto e inteligente.<br />
d) seu personagem Carlito satiriza a miséria material e emocional do ser humano.<br />
e) sua arte desfaz no público sentimentos antagônicos.<br />
02. (<strong>ITA</strong> 2014) Considere os enunciados abaixo, atentando para as palavras em negrito.<br />
I. Não há hoje no mundo, em qualquer domínio de atividade artística, um artista cuja arte contenha maior<br />
universalidade que a de Charles Chaplin. (ref. 15)<br />
II. Agrada por não sei quê de elegante que há no seu ridículo de miséria. (ref. 16)<br />
III. [...] uma fita de Carlito nos Estados Unidos tem uma significação muito diversa da que lhe dão fora de lá. (ref. 17)<br />
IV. A interpretação cabe perfeitamente dentro do tipo e mais: o americano bem verdadeiramente americano, o<br />
que veda a entrada do seu território a doentes e estropiados, [...] (ref. 18)<br />
As palavras em negrito têm valor de adjetivo<br />
a) apenas em I, II e IV.<br />
b) apenas em I, III e IV.<br />
c) apenas em II e IV.<br />
d) apenas em III e IV.<br />
e) em todas.<br />
103
03. (<strong>ITA</strong> 2014) Segundo o texto, herói é aquele que<br />
a) comove as pessoas que o rodeiam.<br />
b) faz as pessoas levarem a vida de maneira leve.<br />
c) age de maneira corajosa e previsível.<br />
d) enfrenta as adversidades, ainda que tenha momentos de fraqueza.<br />
e) despreza o sucesso, embora o considere importante.<br />
104<br />
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
04. (<strong>ITA</strong> 2014) Considere o enunciado “Carlito é popular no sentido mais alto da palavra” (ref. 8) e as informações de<br />
todo o texto. Na visão de Bandeira, a popularidade pode ser explicada pelo fato de Carlito<br />
I. ser apresentado com indumentária elegante.<br />
II. ser responsável por atrair grande público para os cinemas.<br />
III. retratar o tipo heroico americano, que não quer ser considerado malsucedido.<br />
IV. ter sido ajustado a partir das reações do público.<br />
Está(ão) correta(s):<br />
a) apenas I e II.<br />
b) apenas I e III.<br />
c) apenas II e IV.<br />
d) apenas III e IV.<br />
e) todas.<br />
05. (<strong>ITA</strong> 2014) De acordo com Bandeira,<br />
a) Carlito é essencialmente triste, apesar de não demonstrar.<br />
b) o público se identifica com Carlito, porque ele representa um tipo universal de simplicidade.<br />
c) Carlito faz sucesso nos Estados Unidos, porque é sonhador como os americanos.<br />
d) Carlito representa o lado heroico do ser humano, embora isso não seja explicitado em seus filmes.<br />
e) Carlito representa o lado debochado e despojado do ser humano, daí seu grande sucesso.<br />
06. (<strong>ITA</strong> 2014) Assinale a opção em que NÃO há avaliação do autor.<br />
a) Não há hoje no mundo, em qualquer domínio de atividade artística, um artista cuja arte contenha maior<br />
universalidade que a de Charles Chaplin. (ref. 15).<br />
b) Chaplin observava sobre o público o efeito de cada detalhe. (ref. 20)<br />
c) Podia ser jocosa também, mas não era mais Carlito. (ref. 21)<br />
d) Isso por si só atestaria em Chaplin um extraordinário dom de discernimento psicológico. (ref. 22)<br />
e) Aqui é que começa a genialidade de Chaplin. (ref. 23)<br />
07. (<strong>ITA</strong> 2013) O conto Missa do galo, de Machado de Assis, relata uma conversa do narrador, Sr. Nogueira, um jovem de 17<br />
anos, com Conceição, de 30 anos, mulher do escrivão Meneses, um distante parente seu. O narrador, de Mangaratiba<br />
(RJ), hospedou-se durante alguns meses na casa de Meneses e Conceição, no Rio de Janeiro, a fim de estudar na capital.<br />
O foco do conto é a incompreensão do narrador sobre tal conversa com Conceição, momentos antes da missa do galo.<br />
O fragmento abaixo expressa um dos aspectos que contribuiu para a incompreensão do narrador.<br />
De costume tinha os gestos demorados e as atitudes tranquilas; agora, porém, ergueu-se rapidamente, passou para<br />
o outro lado da sala e deu alguns passos, entre a janela da rua e a porta do gabinete do marido. Assim, com o<br />
desalinho honesto que trazia, dava-me uma impressão singular. Magra embora, tinha não sei que balanço no andar,<br />
como quem lhe custa levar o corpo; essa feição nunca me pareceu tão distinta como naquela noite. Parava algumas<br />
vezes, examinando um trecho da cortina ou consertando a posição de algum objeto no aparador; afinal deteve-se,<br />
ante mim, com a mesa de permeio. Estreito era o círculo das suas ideias; tornou ao espanto de me ver esperar<br />
acordado; eu repeti-lhe o que ela sabia, isto é, que nunca ouvira missa do galo na Corte, e não queria perdê-la.<br />
Esse aspecto, recorrente no conto, refere-se<br />
a) à movimentação de Conceição na sala.<br />
b) às razões da insônia de Conceição.<br />
c) ao acanhamento de Conceição.<br />
d) à conversa repetitiva de Conceição.<br />
e) aos sobressaltos de Conceição.
Material <strong>ITA</strong><br />
08. (<strong>IME</strong> 1996) Nas frases a seguir há erros ou impropriedades. Reescreva-as e justifique a correção.<br />
a) "Enviamos anexo os dados solicitados por V. Sa. e nos colocamos à vossa inteira disposição para qualquer<br />
outros pedidos."<br />
b) "O diretor havia aceito a tarefa de reformar a escola."<br />
09. (<strong>ITA</strong> 2011) Os trechos a seguir, que estão fora de ordem, fazem parte de um texto coeso e coerente.<br />
I. Estudos feitos com várias profissões que trabalham em turnos mostram que ficar acordado por mais de 19<br />
horas ou ter uma jornada de trabalho superior a 12 horas provoca sintomas semelhantes ao de um porre.<br />
II. Se essas duas condições se sobrepõem numa madrugada, as consequências negativas se potencializam ao<br />
extremo.<br />
III.<br />
IV.<br />
As reações ficam mais lentas e o julgamento da realidade é comprometido.<br />
Um piloto dormir no manche do avião é uma cena muito mais rara do que um motorista de ônibus ou<br />
caminhão cochilar no volante. Mas pode acontecer.<br />
V. No caso da aviação, há ainda o agravante de que os pilotos trabalham a 10 mil metros do solo, no comando<br />
de aeronaves complexas e delicadas, às vezes com mais de uma centena de passageiros a bordo.<br />
Assinale a opção que apresenta a melhor sequência.<br />
a) I – II – IV – III – V.<br />
b) IV – I – II – V – III.<br />
c) IV – I – III – II – V.<br />
d) I – V – IV – III – II.<br />
e) IV – I – II – III – V.<br />
(Em: Pesquisa Fapesp, agosto/2009. Adaptado)<br />
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:<br />
Módulo C02 - Iterpretação de texto<br />
Os enunciados de uma obra científica e, na maioria dos casos, de notícias, reportagens, cartas, diários etc.,<br />
constituem juízos, isto é, as objectualidades puramente intencionais pretendem corresponder, adequar-se exatamente aos<br />
seres reais (ou ideias, quando se trata de objetos matemáticos, valores, essências, leis etc.) referidos. Fala-se então de<br />
“adequatio orationis ad rem”*. Há nestes enunciados a intenção séria de verdade. Precisamente por isso pode-se falar,<br />
nestes casos, de enunciados errados ou falsos e mesmo de mentira e fraude, quando se trata de uma notícia ou<br />
reportagem em que se pressupõe intenção séria.<br />
O termo “verdade”, quando usado com referência a obras de arte ou de ficção, tem significado diverso. Designa com<br />
frequência qualquer coisa como a genuinidade, sinceridade ou autenticidade (termos que, em geral, visam à atitude subjetiva<br />
do autor); ou a verossimilhança, isto é, na expressão de Aristóteles, não a adequação àquilo que aconteceu, mas àquilo que<br />
poderia ter acontecido; ou a coerência interna no que tange ao mundo imaginário das personagens e situações miméticas;<br />
ou mesmo a visão profunda - de ordem filosófica, psicológica ou sociológica - da realidade. Até neste último caso, porém,<br />
não se pode falar de juízos no sentido preciso. Seria incorreto aplicar aos enunciados fictícios critérios de veracidade<br />
cognoscitiva. [...] Os mesmos padrões que funcionam muito bem no mundo mágico-demoníaco do conto de fadas revelamse<br />
falsos e caricatos quando aplicados à representação do universo profano da nossa sociedade atual [...]. “Falso” seria<br />
também um prédio com portal e átrio de mármore que encobrissem apartamentos miseráveis. É esta incoerência que é<br />
“falsa”. Mas ninguém pensaria em chamar de falso um autêntico conto de fadas, apesar de o seu mundo imaginário<br />
corresponder muito menos à realidade empírica do que o de qualquer romance de entretenimento.<br />
Anatol Rosenfeld, literatura e personagem. In: A. Candido et. al. A personagem de ficção.<br />
* adequatio orationis ad rem: adequação da linguagem ao assunto.<br />
105
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
10. (Fgv 2014) Para responder essa questão, leia também os seguintes textos:<br />
I<br />
Velha palmeira solitária, testemunha sobrevivente do drama da conquista, que de majestade e de tristura não<br />
exprimes, venerável epônimo* dos campos! No meio da campina verde, de um verde esmaiado e merencório, onde<br />
tremeluzem às vezes as farinhas douradas do alecrim do campo, tu te ergues altaneira, levantando ao céu as<br />
palmas tesas - velho guerreiro petrificado em meio da peleja!<br />
Afonso Arinos, Buriti perdido. Pelo sertão.<br />
*epônimo”: palavra de origem grega; designa uma personalidade histórica ou lendária que dá ou empresta seu<br />
nome a qualquer coisa, lugar, época etc.<br />
II<br />
E o destaque é a palmeira buriti, abundante no cerrado e indicativo infalível da existência de água. Uma espécie<br />
majestosa, com mil e uma utilidades: da polpa do seu fruto são feitos doce, suco, geleia e licor; do caroço, sai um<br />
óleo com propriedades medicinais, também usado para cozinhar e fazer sabão; o tronco e a palha servem para<br />
construir casas; e o talo das folhas é usado na construção de móveis e brinquedos.<br />
Lugar. Revista da Folha. Folha de S. Paulo, junho de 2009.<br />
a) Algum conceito presente no texto de Anatol Rosenfeld pode ser utilizado para distinguir o texto l do texto II<br />
acima? Justifique.<br />
b) Além do vocabulário, que outro aspecto da linguagem pode servir para classificar o texto I como literário e o<br />
texto II como jornalístico?<br />
11. (Fgv 2014) Atenda ao que se pede:<br />
a) A natureza do texto justifica a citação da frase latina, tendo em vista que ela é corrente em textos de Retórica?<br />
Justifique sua resposta.<br />
b) No contexto, o que se entende por “situações miméticas” (2º. parágrafo)?<br />
12. (<strong>IME</strong>) Nas frases a seguir há erros ou impropriedades. Reescreva-as e justifique a correção.<br />
a) "Remeteremos, em seguida, os pedidos que encomendaram-nos."<br />
b) "Ela veio, de modos que você agora está dispensado."<br />
13. (<strong>ITA</strong>) O poema abaixo, "Gioconda (Da Vinci)", de Carlos Drummond de Andrade, refere-se a uma célebre tela<br />
renascentista:<br />
O ardiloso sorriso<br />
alonga-se em silêncio<br />
para contemporâneos e pósteros<br />
ansiosos, em vão, por decifrá-lo.<br />
Não há decifração. Há o sorriso.<br />
(Em: Farewell. Rio de Janeiro: Record, 1996.)<br />
Não se pode afirmar que o poema<br />
a) faz uso de metalinguagen num sentido amplo, pois é uma obra de arte que fala de outra.<br />
b) procura se inserir no debate que a tela Gioconda provoca desde a Renascença.<br />
c) mostra que são inúmeros os significados do sorriso da Gioconda.<br />
d) garante não haver razão alguma para a polêmica, como diz o último verso.<br />
e) ilustra a polissemia de obras de arte, inclusive do próprio poema.<br />
106
Material <strong>ITA</strong><br />
14. (<strong>ITA</strong>) Considere o poema abaixo, de Ronaldo Azeredo:<br />
Esse texto<br />
I. explora a organização visual das palavras sobre a página.<br />
II. põe ênfase apenas na forma e não no conteúdo da mensagem.<br />
III. pode ser lido não apenas na sequência horizontal das linhas.<br />
IV. não apresenta preocupação social.<br />
Estão corretas<br />
a) I e II.<br />
b) I, II e III.<br />
c) I e III.<br />
d) II e IV.<br />
e) todas.<br />
15. (Fuvest 2014) Considere o seguinte texto, para atender ao que se pede:<br />
O orgulho é a consciência (certa ou errada) do nosso próprio mérito; a vaidade, a consciência (certa ou errada) da<br />
evidência do nosso próprio mérito para os outros. Um homem pode ser orgulhoso sem ser vaidoso, pode ser ambas<br />
as coisas, vaidoso e orgulhoso, pode ser — pois tal é a natureza humana — vaidoso sem ser orgulhoso. É difícil à<br />
primeira vista compreender como podemos ter consciência da evidência do nosso mérito para os outros, sem a<br />
consciência do nosso próprio mérito. Se a natureza humana fosse racional, não haveria explicação alguma.<br />
Contudo, o homem vive a princípio uma vida exterior, e mais tarde uma interior; a noção de efeito precede, na<br />
evolução da mente, a noção de causa interior desse mesmo efeito. O homem prefere ser exaltado por aquilo que<br />
não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é. É a vaidade em ação.<br />
Fernando Pessoa, Da literatura europeia.<br />
a) Considerando-a no contexto em que ocorre, explique a frase “o homem vive a princípio uma vida exterior, e<br />
mais tarde uma interior”.<br />
b) Reescreva a frase “O homem prefere ser exaltado por aquilo que não é, a ser tido em menor conta por aquilo<br />
que é”, substituindo por sinônimos as expressões sublinhadas.<br />
107
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
16. (<strong>ITA</strong>) Considere o poema abaixo, "A cantiga", de Adélia Prado:<br />
108<br />
“Ai cigana, ciganinha,<br />
ciganinha, meu amor”.<br />
Quando escutei essa cantiga<br />
era hora do almoço, há muitos anos.<br />
A voz da mulher cantando vinha de uma cozinha,<br />
ai ciganinha, a voz de bambu rachado<br />
continua tinindo, esganiçada, linda,<br />
viaja pra dentro de mim, o meu ouvido cada vez melhor.<br />
Canta, canta, mulher, vai polindo o cristal,<br />
canta mais, canta que eu acho minha mãe,<br />
meu vestido estampado, meu pai tirando boia da panela,<br />
canta que eu acho minha vida.<br />
(Em: Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.)<br />
Acerca desse poema, é incorreto afirmar que<br />
a) a poeta tem consciência de que seu passado é irremediavelmente perdido.<br />
b) existe um tom nostálgico, é um saudosismo de raiz romântica.<br />
c) cantiga faz com que a poeta reviva uma série de lembranças afetivas.<br />
d) predomina o tom confessional e o caráter autobiográfico.<br />
e) valoriza os elementos da cultura popular, também uma herança romântica.<br />
Módulo C03 – Iterpretação de texto<br />
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:<br />
Nove em cada dez usuários de Internet recebem spams em seus e-mails corporativos, segundo estudo realizado pela<br />
empresa alemã Antisspameurope, especializada em lixo eletrônico virtual. Cada trabalhador perde, em média, sete<br />
minutos por dia limpando a caixa de mensagens, e essa quebra na produtividade custa €828 – pouco mais de R$2,3 mil<br />
– anuais às empresas.<br />
Tomando-se como base os números apontados pela pesquisa, uma corporação de médio porte, com mil<br />
funcionários, perde, portanto, €828 mil por ano – ou R$2,3 milhões – com esta prática que é considerada, apesar de<br />
simplória, uma verdadeira praga da modernidade.<br />
O spam remete às mensagens não-solicitadas enviadas em massa, geralmente utilizadas para fins comerciais, e<br />
pode de fato prejudicar consideravelmente a produtividade no ambiente de trabalho.<br />
Um relatório da Symantec, empresa de segurança virtual, mostra que o Brasil é o segundo maior emissor de spam<br />
do mundo, com geração de 10% de todo o fluxo de mensagens indesejadas na rede mundial de computadores. Os<br />
campeões são os norte-americanos, com 26%. [...]<br />
(Rodrigo Capelo. http://www.vocecommaistempo.com.br. Acesso em: 23/09/2012. Texto adaptado.)<br />
17. (<strong>ITA</strong>) Um título que contempla o conteúdo abordado no texto é:<br />
a) Spam: Estados Unidos e Brasil lideram o ranking.<br />
b) Spam: preocupação de empresas europeias.<br />
c) Spam: perda de tempo e prejuízos financeiros.<br />
d) Spam: praga da modernidade.<br />
e) Spam: nova forma de propaganda.<br />
18. (<strong>ITA</strong> 2013) A expressão “apesar de simplória” no segundo parágrafo pode ser substituída por<br />
a) embora efêmera.<br />
b) no entanto fácil.<br />
c) não obstante comum.<br />
d) ainda que pouco complexa.<br />
e) todavia rápida.
Material <strong>ITA</strong><br />
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />
Preste atenção por favor<br />
na história que vou contar<br />
ela explica o que é cordel<br />
grande manifestação popular.<br />
Paulo Araújo. Internet: .<br />
Manifestação popular caracterizada por poesias escritas em folhetos, a literatura de cordel originou-se na Europa<br />
em meados do século XII. Em Portugal, escritores amadores usavam cordões para pendurarem e divulgarem suas<br />
produções em lugares públicos. Com a vinda dos portugueses ao Brasil, a tradição de contar histórias disseminou-se pela<br />
região Nordeste, tornando-se um dos símbolos da cultura e memória nordestina.<br />
No início, como a maioria das pessoas não sabia ler e escrever, as poesias eram apenas decoradas e recitadas em<br />
feiras e praças. Mais tarde, passaram a ser impressas em folhetos, cujas capas eram ilustradas em xilogravura, e<br />
afirmaram-se como manifestação artística e popular nas décadas 60 e 70 do século passado.<br />
A importância do cordel não se limita à literatura. O cordel se expande como registro histórico da cultura<br />
nordestina, reverberando nas manifestações artísticas, tais como teatro, dança, cinema, música e artes visuais.<br />
19. (UnB 2012) Tendo como referências iniciais o texto e as figuras acima, julgue os itens a seguir.<br />
a) A arte de contar histórias é uma das formas mais antigas de transmissão de conhecimento. Nas histórias,<br />
estão presentes crenças, fantasias, bem como aspectos éticos, estéticos e morais de uma cultura. O contador<br />
de histórias pode desenvolver, para cada performance, formas singulares de narrativa, utilizando objetos,<br />
músicas, sons e movimentos, de modo que suas ações se organizem cenicamente.<br />
b) Forma poética rica em situações dramatúrgicas e linguagem imagética, a literatura de cordel, além de<br />
influenciar outras manifestações artísticas, presta-se facilmente a adaptações para teatro, cinema e televisão.<br />
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />
1<br />
Quando ficou claro que a designação de Homo sapiens 2 não era tão adequada à nossa espécie como se havia<br />
acreditado — porque, afinal, 3 não somos tão razoáveis como se acreditava no século XVIII, em seu otimismo ingênuo —,<br />
acrescentaram-lhe a de Homo faber (homem que fabrica). Entretanto, a expressão Homo ludens (homem que joga) evoca<br />
uma função tão essencial quanto a de fabricar e merece, portanto, ocupar seu lugar junto à de Homo faber.<br />
Johan Huizinga. Homo ludens. Madri: Alianza, 2001, p. 7 (com adaptações).<br />
109
110<br />
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
20. (UnB 2012) Tendo como referência essas informações e aspectos a elas relacionados, julgue os itens a seguir.<br />
a) No primeiro período do texto, encontra-se formulada sintaticamente a causa da relativa adequação da<br />
designação Homo sapiens à espécie humana, mas não, a referência ao valor temporal do elemento<br />
“Quando” (ref. 1).<br />
b) Nos trechos “não era tão adequada à nossa espécie como” (ref. 2) e “não somos tão razoáveis como” (ref.<br />
3), o emprego de adjetivos em estruturas comparativas atenua o valor das propriedades negativas atribuídas à<br />
humanidade.<br />
c) Levando-se em consideração que o léxico da língua portuguesa passou por transformações ao longo dos<br />
processos históricos, pode-se justificar a coexistência de itens lexicais do mesmo campo semântico, como<br />
“sapiência” e “sabedoria”, do latim, e “filosofia” e “sofista”, do grego.<br />
21. (Fuvest 2014) Leia o seguinte texto, para atender ao que se pede:<br />
Conversa de abril<br />
É abril, me perdoareis. Estou completamente cansado. Retorno à aldeia depois de três dias de galope de jipe pelas<br />
estradas confusas de caminhões e poeira e explosões. Tenho no bolso um caderno de notas. Quereis que vos<br />
descreva essas montanhas e vales, e o que fazem os seres humanos neste tempo de primavera? Deixai-me estirar o<br />
corpo na cama; depois tiro as botas. Ouvi-me. As montanhas, já vos descreverei as montanhas.<br />
Rubem Braga*<br />
*Rubem Braga foi correspondente de guerra junto à FEB, Força Expedicionária Brasileira, durante a Segunda Guerra<br />
Mundial. O fragmento acima pertence a uma de suas crônicas desse período.<br />
a) Reescreva o seguinte trecho, dando-lhe características narrativas e empregando a terceira pessoa do plural,<br />
em lugar da segunda:<br />
“Tenho no bolso um caderno de notas. Quereis que vos descreva essas montanhas e vales, e o que fazem os<br />
seres humanos neste tempo de primavera?”<br />
b) Tendo em vista as informações contidas no excerto, o início do texto – “É abril” – é coerente com o emprego<br />
do pronome este, em “neste tempo de primavera”? Explique.<br />
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 5 QUESTÕES:<br />
O leão e a raposa<br />
Um 11 leão envelhecido, 1 não podendo mais procurar alimento por sua própria conta, julgou que devia arranjar um<br />
jeito de fazer isso. E, então, foi a uma caverna, deitou-se e se fingiu de doente. Dessa forma, quando 8 recebia a visita de<br />
outros 13 animais, ele 4 os pegava e 5 os comia. Depois que muitas 14 feras 6 já tinham morrido, uma 12 raposa, ciente da<br />
armadilha, parou a 9 certa distância da caverna e perguntou ao leão como ele estava. Como ele 2 respondesse: “Mal!” e<br />
lhe 3 perguntasse 10 por que ela não entrava, disse a raposa: “Ora, eu entraria 7 se não visse marcas de muitos entrando,<br />
mas de ninguém saindo”.<br />
Esopo - escritor grego do século VI a.C.<br />
22. (Mackenzie 2012) Assinale a melhor paráfrase do trecho abaixo, considerando a manutenção dos sentidos, a<br />
clareza, a concisão e o uso da norma culta.<br />
Depois que muitas feras já tinham morrido, uma raposa, ciente da armadilha, parou a certa distância da caverna e<br />
perguntou ao leão como ele estava.<br />
a) Consciente da armadilha, uma raposa depois que muitas feras morrerão parou de perto da caverna para ver<br />
como o leão estava e o perguntou sobre a saúde.<br />
b) Uma raposa, após a morte de muitos outros animais, atenta às artimanhas do leão, aproximou-se um pouco<br />
do local em que a fera estava, indagando a respeito de seu estado.<br />
c) Após a morte de feras, uma raposa medrosa, das artimanhas do leão, se deparou com uma caverna que<br />
ficava a uma certa distância do leão para ver como ele estava.<br />
d) Uma raposa perguntou ao leão como ele estava, pois ela sabia que haviam armadilhas que ficava a uma<br />
certa distância da caverna aonde muitas feras já tinham morrido.<br />
e) Uma raposa que viu a morte de muitas feras na armadilha que ficava à uma distância da caverna perguntou<br />
para o leão como ele estava e era ciente da armadilha.
Material <strong>ITA</strong><br />
23. (Mackenzie 2012) Assinale a alternativa que melhor expressa a moral depreendida pela leitura do texto.<br />
a) Os homens sensatos, tendo prova dos perigos, podem prevê-los e evitá-los.<br />
b) São insensatos os homens que, na esperança de bens maiores, deixam escapar o que têm na mão.<br />
c) Alguns homens, não conseguindo realizar seus negócios por incapacidade, acusam as circunstâncias.<br />
d) Entre os homens, os mentirosos se vangloriam apenas quando não há ninguém para contestá-los.<br />
e) É preciso reconhecer aquele que fez o bem e a esse dar o reconhecimento.<br />
24. (Mackenzie 2012) Assinale a alternativa correta.<br />
a) É indiferente o emprego das grafias se não (ref. 7) ou “senão” para a formação dos sentidos textuais.<br />
b) A forma verbal recebia (ref. 8) exprime um fato passado já concluído, anterior a outro fato também passado.<br />
c) A troca da posição da palavra certa (ref. 9) altera os sentidos: a uma certa distância / “a uma distância certa”.<br />
d) O uso de por que (ref. 10) está de acordo com a norma culta, como em “Ele explicou novamente todos os<br />
exercícios por que os alunos pediram”.<br />
e) As palavras leão (ref. 11) e raposa (ref. 12) apresentam sentido generalizado, enquanto animais (ref. 13) e<br />
feras (ref. 14) têm sentido mais específico.<br />
25. (Mackenzie 2012) Considere as seguintes afirmações:<br />
I. O texto é uma fábula, pois, a partir de uma pequena história envolvendo animais, há uma lição a ser tirada<br />
dos fatos relatados.<br />
II. No texto há a representação de estereótipos do comportamento humano: o leão, representando a velhice e o<br />
poder; e a raposa, representando a esperteza.<br />
III. O texto apresenta na breve narrativa um conflito que evidencia uma oposição de interesses, levando a história<br />
para sua conclusão.<br />
Assinale:<br />
a) se apenas as alternativas I e II estiverem corretas.<br />
b) se apenas as alternativas I e III estiverem corretas.<br />
c) se apenas as alternativas II e III estiverem corretas.<br />
d) se todas as alternativas estiverem corretas.<br />
e) se nenhuma das alternativas estiver correta.<br />
26. (Mackenzie 2012) Assinale a alternativa correta.<br />
a) O fragmento não podendo mais procurar alimento por sua própria conta (ref. 1) apresenta a causa da decisão<br />
assumida pelo leão.<br />
b) A narrativa contém apenas discurso indireto, aquele em que o narrador faz uma paráfrase da fala dos<br />
personagens.<br />
c) O uso do subjuntivo em respondesse (ref. 2) e perguntasse (ref. 3) denota a mesma ideia de hipótese presente<br />
em “O que você faria se ganhasse na loteria?”.<br />
d) O pronome os (ref. 4 e 5), nas duas ocorrências, evidencia que a relação de coesão é estabelecida com<br />
elemento que será apresentado no texto apenas após os pronomes.<br />
e) A partícula já (ref. 5) denota temporalidade relacionada exatamente a um momento presente, como em “Faça<br />
isso já, agora mesmo!”.<br />
111
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
112<br />
Módulo C04 – Iterpretação de texto<br />
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:<br />
Edison não conseguia se concentrar de jeito nenhum. Tinha sempre dois ou três empregos e passava o dia indo de<br />
um para outro. Adorava trocar mensagens, e se acostumou a escrever recados curtos e constantes, às vezes para mais de<br />
uma pessoa ao mesmo tempo. Apesar de ser um cara mais inteligente do que a média, sofria quando precisava ler um<br />
livro inteiro. Para completar, comia rápido e dormia pouco – e não conseguia se dedicar ao casamento conturbado, por<br />
falta de tempo. Se identificou? Claro, quem não tem esses problemas? Passar horas no twitter ou no celular, correr de um<br />
lado para o outro e ter pouco tempo disponível para tantas coisas que você tem que fazer são dramas que todo mundo<br />
enfrenta. Mas esse não é um mal do nosso tempo. O rapaz da história aí em cima era ninguém menos que Thomas<br />
Edison, o inventor da lâmpada. A década era a de 1870 e o aparelho que ele usava para mandar e receber mensagens,<br />
um telégrafo. O relato, que está em uma edição de 1910 do jornal New York Times, conta que quando Edison finalmente<br />
percebeu que seu problema era falta de concentração, parou tudo. Se fechou em seu escritório e se focou em um<br />
problema de cada vez. A partir daí, produziu e patenteou mais de 2 mil invenções. [...]<br />
27. (<strong>ITA</strong> 2013) O tema desse texto é:<br />
a) o modo de viver de um cientista durante parte de sua vida.<br />
b) a dispersão de um cientista.<br />
c) a criatividade de um grande gênio da ciência.<br />
d) a falta de tempo das pessoas.<br />
e) a dificuldade de concentração de pessoas ao longo dos tempos.<br />
(Gisela Blanco. Superinteressante, julho/2012)<br />
28. (<strong>ITA</strong> 2013) O emprego da vírgula no trecho, “A década era a de 1870 e o aparelho que ele usava para mandar e<br />
receber mensagens, um telégrafo.”, é semelhante em:<br />
a) Para quem busca uma diversão na tarde de domingo, este filme é o mais recomendado.<br />
b) Ainda que não sejam os de menor custo, os alimentos orgânicos são os mais indicados pelos nutricionistas.<br />
c) O professor de desenho prefere os alunos criativos e o de lógica, os ousados na teoria.<br />
d) Os testes de QI (Quociente de Inteligência), atualmente, são desacreditados por diversas correntes teóricas da<br />
Psicologia.<br />
e) Pôr circuitos eletrônicos em envoltórios é uma prática comum, conhecida como encapsulamento.<br />
29. (<strong>IME</strong>) Nas frases a seguir há erros ou impropriedades. Reescreva-as e justifique a correção.<br />
a) Quantos sonhos haviam naquela ingenua cabecinha...<br />
b) Cheguei a dois dias e voltarei daqui há quatro meses.<br />
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />
A crise da Europa é hoje o maior risco para a economia mundial, disse o secretário do Tesouro dos Estados Unidos<br />
da América, referindo-se à tensão entre os bancos e os governos endividados. Disse, ainda, que a China e outros 1 países<br />
emergentes com superavit nas contas têm espaço 5 bastante para 2 estimular o consumo interno, 3 aumentar as importações<br />
e 4 compensar a fraca demanda nas economias desenvolvidas. Para isso, os governos desses países deveriam deixar suas<br />
moedas valorizar-se. Em outras palavras, o câmbio subvalorizado da China resulta em valorização real das moedas de<br />
outros países emergentes, torna seus produtos mais caros e diminui seu poder de competição no comércio internacional.<br />
Rolf Kuntz. O Estado de S.Paulo, 25/9/2011.<br />
30. (UnB) Com referência às ideias do texto acima, aos temas a ele associados e às estruturas nele empregadas, julgue<br />
os itens a seguir.<br />
a) No segundo período do texto, as estruturas oracionais com as formas infinitivas “estimular”, (ref. 2)<br />
“aumentar” (ref. 3) e “compensar” (ref. 4) estão associadas à possibilidade de não se realizar foneticamente o<br />
sujeito das respectivas orações, o que assegura, portanto, interpretação ligada à referência indeterminada do<br />
sujeito das orações que têm como núcleo do predicado essas formas verbais.<br />
b) No que se refere a aspectos semânticos e morfossintáticos, “bastante” (ref. 5) equivale ao adjetivo suficiente e<br />
concorda com o substantivo que o antecede, ainda que apenas em número.
Material <strong>ITA</strong><br />
31. (Fuvest 2013) No excerto abaixo, narra-se parte do encontro de Brás Cubas com Quincas Borba, quando este,<br />
reduzido à miséria, mendigava nas ruas do Rio de Janeiro:<br />
Tirei a carteira, escolhi uma nota de cinco mil-réis, – a menos limpa, – e dei-lha [a Quincas Borba]. Ele recebeu-ma<br />
com os olhos cintilantes de cobiça. Levantou a nota ao ar, e agitou-a entusiasmado.<br />
– In hoc signo vinces!* bradou.<br />
E depois beijou-a, com muitos ademanes de ternura, e tão ruidosa expansão, que me produziu um sentimento misto<br />
de nojo e lástima. Ele, que era arguto, entendeu-me; ficou sério, grotescamente sério, e pediu-me desculpa da<br />
alegria, dizendo que era alegria de pobre que não via, desde muitos anos, uma nota de cinco mil-réis.<br />
– Pois está em suas mãos ver outras muitas, disse eu.<br />
– Sim? acudiu ele, dando um bote para mim.<br />
–Trabalhando, concluí eu.<br />
* “In hoc signo vinces!”: citação em latim que significa “Com este sinal vencerás” (frase que teria aparecido no céu,<br />
junto de uma cruz, ao imperador Constantino, antes de uma batalha).<br />
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.<br />
a) Tendo em vista a autobiografia de Brás Cubas e as considerações que, ao longo de suas Memórias póstumas,<br />
ele tece a respeito do tema do trabalho, comente o conselho que, no excerto, ele dá a Quincas Borba: “—<br />
Trabalhando, concluí eu”.<br />
b) Tendo, agora, como referência, a história de D. Plácida, contada no livro, discuta sucintamente o mencionado<br />
conselho de Brás Cubas.<br />
32. (UEG 2013)<br />
Acudiro. Nhola tinha ânsia, tonteira, celeração, corpo largado, não via nada, nem a lampa da candeia. Dei chá de<br />
goiabeira. Esperei clareá o dia, bandiei o corgo, fui na casa da Delíria. Aí falei:<br />
— Delíria, me prouve um insonso de sal, Nhola tá ruim...<br />
Delíria me pruveu o sal.<br />
Eu fiz um engrossado de farinha de milho, Nhola comeu, descansou, miorou e falou:<br />
— Nunca comi comesinho tão bão. Louvado seja Deus.<br />
Nóis demos gaitada... Aí correu mundo que Nhola teve vertige de fraqueza, falta de cumê... A casa se encheu de<br />
vizinho. Cada um trazendo uma coisa pra nóis. Até pedaço de capado e cuia de sal; café pilado e açúcar branco.<br />
Nóis fiquemo tão contente... Nhola dava gaitada... virou uma infância.<br />
CORALINA, Cora. Quadrinhos da vida. In: Estórias da casa velha da ponte. 13. ed. São Paulo: Global, 2006. p. 39-40.<br />
113
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
A temática da pobreza<br />
a) é abordada de maneira análoga nos dois textos, pois o primeiro sugere ajuda humanitária entre as classes<br />
sociais, e o segundo explicita um drama de ordem moral.<br />
b) é tratada de modo igual em ambos os textos, uma vez que os problemas aos quais aludem não são<br />
minimizados por quaisquer ações governamentais.<br />
c) surge associada a um problema de impossível solução nos quadrinhos e a uma questão político-religiosa no<br />
excerto literário.<br />
d) surge associada a uma questão político-social nos quadrinhos e a um entrave social suavizado pela caridade<br />
no texto de Cora Coralina.<br />
33. (UFG 2014) Leia o poema a seguir.<br />
MEU SONHO<br />
Eu<br />
Cavaleiro das armas escuras,<br />
Onde vais pelas trevas impuras<br />
Com a espada sanguenta na mão?<br />
Por que brilham teus olhos ardentes<br />
E gemidos nos lábios frementes<br />
Vertem fogo do teu coração?<br />
Cavaleiro, quem és? o remorso?<br />
Do corcel te debruças no dorso...<br />
E galopas do vale através...<br />
Oh! da estrada acordando as poeiras<br />
Não escutas gritar as caveiras<br />
E morder-te o fantasma nos pés?<br />
Onde vais pelas trevas impuras,<br />
Cavaleiro das armas escuras,<br />
Macilento qual morto na tumba?...<br />
Tu escutas... Na longa montanha<br />
Um tropel teu galope acompanha?<br />
E um clamor de vingança retumba?<br />
Cavaleiro, quem és? – que mistério,<br />
Quem te força da morte no império<br />
Pela noite assombrada a vagar?<br />
O FANTASMA<br />
Sou o sonho de tua esperança,<br />
Tua febre que nunca descansa,<br />
O delírio que te há de matar!...<br />
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: FTD, 1994. p. 209.<br />
O poema transcrito emprega um recurso estrutural típico do gênero dramático e é representativo dos<br />
questionamentos ultrarromânticos recorrentes nas faces Ariel/Caliban da poesia de Álvares de Azevedo.<br />
Considerando essa afirmação e a análise do poema, responda:<br />
a) que recurso estrutural típico do gênero dramático é utilizado no poema?<br />
b) Que tema recorrente na obra de Álvares de Azevedo é abordado no poema?<br />
34. (UFG 2014) Leia o poema e o trecho a seguir.<br />
EU POSSO TRANSFORMAR O MUNDO<br />
Tudo que está fora de mim é mais, muito mais do que eu.<br />
Eu vi tudo, sem poder, eu vi sem alcançar seu vigor simples,<br />
sua despojada beleza terrena.<br />
Passaram por mim o dia, a luz, o tédio, a dignidade.<br />
Eu estive sempre aquém de toda a beleza que cerca a vida.<br />
Mas eu sou um homem, algo feito pelo que está aí fora<br />
e por minha ideia e minhas mãos.<br />
E posso transformar o mundo.<br />
114<br />
GARCIA, José Godoy. Poesias. Brasília: Thesaurus, 1999. p. 36.
Material <strong>ITA</strong><br />
[…] Em 1935, quatro anos depois de nossa chegada a Porto Alegre, eclodiu o fracassado levante que depois ficaria<br />
conhecido como Intentona Comunista, dirigido contra o governo de Getúlio e chefiado por Luís Carlos Prestes. […]<br />
Quatro anos depois, em 1939, era assinado, pela União Soviética e pela Alemanha nazista, o pacto de não<br />
agressão que deixou perplexos e confusos, quando não revoltados, os comunistas no mundo todo. E depois veio a<br />
denúncia dos crimes de Stálin por Kruschev, a queda do muro de Berlim...<br />
Muita gente nunca perdoou as mentiras, os enganos, a perda de seus sonhos. Não é meu caso. Na verdade, tenho<br />
mais saudades do que rancores. Tenho saudades não do comunismo, que nunca cheguei a viver na prática, mas da<br />
visão do comunismo que me animava, a visão de um mundo justo, igualitário.<br />
SCLIAR, Moacyr. Eu vos abraço, milhões. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 246.<br />
O eu lírico do poema e o protagonista do romance, nas obras citadas, distinguem-se tanto pela expectativa sobre o<br />
futuro quanto pela forma de recomposição de suas memórias. Considerando o exposto, responda:<br />
a) em relação à expectativa de futuro, em que se diferem os posicionamentos do eu lírico e do protagonista do<br />
romance?<br />
b) Em relação às formas de recomposição da memória, em que se diferem as escolhas do eu lírico e do<br />
protagonista do romance?<br />
c) No poema, o eu lírico ressalta a fé no coletivo, no social, dando mais ênfase a isso do que a seus sonhos<br />
individuais: Tudo que está fora de mim é mais, muito mais do que eu. Enquanto na narrativa, o protagonista<br />
analisa a realidade através de sua história pessoal, através da própria subjetividade.<br />
35. (UFMG 2012) Leia estes poemas:<br />
Poema 1<br />
Poema 2<br />
Lar doce lar<br />
Minha pátria é minha infância<br />
Por isso vivo no exílio.<br />
CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 63.<br />
Recuperação da adolescência<br />
é sempre mais difícil<br />
ancorar um navio no espaço<br />
CESAR, Ana Cristina. A teus pés. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 57.<br />
Relacione os dois poemas, analisando a concepção, expressa em cada um, sobre diferentes fases da vida.<br />
115
Gabarito<br />
116<br />
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
01. a<br />
[a] Correta. Seus filmes faziam sucesso em várias partes do mundo.<br />
[b] Incorreta. O personagem Carlito foi lapidado pelas reações do público, não originado.<br />
[c] Incorreta. Não, ele é ingênuo e atrapalhado.<br />
[d] Incorreta. O personagem criado por Chaplin mostra a miséria de forma bem humorada, mas jamais perdendo o<br />
teor crítico.[E] Incorreta. São sentimentos às vezes diferentes, mas jamais antagônicos.<br />
02. b<br />
[I] Correta. É só inverter a ordem das palavras para perceber a função adjetiva (qualificadora) da palavra: domínio<br />
de atividade física qualquer.<br />
[II] Incorreta. Em seu ridículo de miséria, a palavra ridículo adquiriu função substantiva por estar qualificada pela<br />
locução adjetiva de miséria.<br />
[III] Correta. A palavra diversa tem o sentido de diferente (qualificador), logo, função adjetiva.<br />
[IV] Correta. O vocábulo americano tem nítida função adjetiva.<br />
03. d<br />
[a] Incorreta. Apesar de comover o público, não é isso que faz do personagem de Chaplin um herói.<br />
[b] Incorreta. Carlito mostra as angústias e os desejos humanos, é profundo, não leve.<br />
[c] Incorreta. Age de maneira corajosa, mas não previsível, por tratar de um personagem complexo.<br />
[d] Correta. Aliás, esta é a definição clássica de herói, aplicada por Bandeira a Carlito.<br />
[e] Incorreta. Não há menção de desprezo ao sucesso.<br />
04.c<br />
[I] Incorreta. Pelo contrário, ao apresentar-se elegantemente vestido, Carlito não gerou a mesma empatia no<br />
público. [II] Correta, pois Carlito falava ao coração de muita gente, atraindo multidões ao cinema.<br />
[III] Incorreta. Carlito ganhou o público americano sendo o que sempre foi.<br />
[IV] Correta, pois Bandeira elogia a inteligência e a sagacidade de Chaplin que, para criar Carlitos, observava a<br />
reação do público e assim poder lapidá-lo à forma que o consagrou.<br />
05. d<br />
[A] Incorreta. Em nenhum momento o autor menciona a tristeza disfarçada em Carlito.<br />
[B] Incorreta. O autor menciona como os americanos interpretam de maneira diferente o personagem de Chaplin,<br />
ou seja, não há universalidade.<br />
[C] Incorreta. Não, porque eles o achavam tão atrapalhado, tão inepto, que viam nele alguém a não ser copiado.<br />
[D] Correta. Ele passa por uma série de percalços, como a miséria, a solidão e, ainda assim, mantém a coragem e<br />
a esperança.<br />
[E] Incorreta. Carlito toca nas feridas mais profundas, com humor, mas não com deboche.<br />
06. b<br />
[A] Nesta alternativa o autor expressa claramente uma opinião quando diz Não há hoje no mundo (...) um artista<br />
cuja arte contenha maior universalidade (...).<br />
[B] CORRETA. Este excerto é uma referência a um fato que o próprio Chaplin declarou.<br />
[C] Podia ser jocosa, mas não era Carlito expressa uma interpretação do autor frente à personagem de Chaplin.<br />
[D] Esta alternativa mostra um ponto de vista apresentado por Bandeira, que Carlito, mesmo diante das agruras,<br />
mantinha o discernimento, faz um contraponto com a visão dos americanos que consideram o personagem um tolo,<br />
logo, trata-se de uma opinião subjetiva do autor.<br />
[E] Segundo a avaliação do autor, é naquele determinado momento que o personagem nasce inteiro para<br />
posteriormente ganhar o mundo, exceto para os americanos que viam nele um fracassado sonhador.<br />
07. a<br />
A incompreensão do narrador sobre a conversa com Conceição, no fragmento, diz respeito à movimentação da<br />
personagem na sala, pois “de costume tinha os gestos demorados e as atitudes tranquilas”.<br />
08.<br />
a) Enviamos EM ANEXO os dados solicitados por V. Sa. e COLOCAMO-NOS à SUA inteira disposição para
Material <strong>ITA</strong><br />
QUAISQUER outros pedidos.<br />
b) O diretor havia ACE<strong>ITA</strong>DO a tarefa de reformar a escola.<br />
09. e<br />
O trecho IV apresenta um fato que vai ser comentado posteriormente. Com base em estudos mencionados em I e<br />
retomados em II, o autor aponta o resultado que justifica a conclusão apresentada em V.<br />
10.<br />
11.<br />
12.<br />
a) O conceito de “verdade”, analisado por Anatol Rosenfeld, permite distinguir o primeiro texto como literário e<br />
o segundo, jornalístico. Afonso Arinos explora a percepção da realidade através da linguagem conotativa,<br />
criando uma “verdade subjetiva” sobre a palmeira. O segundo, jornalístico, pois mostra preocupação em<br />
descrever o objeto através do uso da linguagem denotativa.<br />
b) O conjunto de termos metafóricos e a adjetivação subjetiva (“Velha palmeira solitária, testemunha<br />
sobrevivente do drama da conquista“, “tu te ergues altaneira, levantando ao céu as palmas tesas”) permitem<br />
classificar o texto I como literário, enquanto que a linguagem denotativa usada no II o caracteriza como<br />
jornalístico.<br />
a) Sim, pois a expressão latina comum a textos relativos aos assuntos da retórica, “adequatio orationis ad rem,”<br />
refere-se aos aspectos linguísticos de produções de diversas naturezas textuais, como ocorre no texto de Anatol<br />
Rosenfeld.<br />
b) A expressão “situações miméticas” sugere a reprodução de situações de forma verossímil, ou seja, a recriação<br />
harmônica entre os elementos fantasiosos ou imaginários que são determinantes no texto.<br />
a) Remeteremos, em seguida, os pedidos que NOS encomendaram. (Que é partícula atrativa).<br />
b) Ela veio, de MODO que você agora está dispensado.<br />
13. d<br />
A palavra “sorriso” consta no primeiro e último versos como a enfatizar o mistério, o enigma subjacente de quem o<br />
expressa e cuja decifração se torna impossível (“ansiosos, em vão, por decifrá-lo”), ou polêmica ao longo do tempo<br />
(“alonga-se em silêncio para contemporâneos e pósteros”). Assim, a opção d) está incorreta.<br />
14. c<br />
As características gerais do concretismo na literatura são: a abolição do conceito tradicional de verso na construção<br />
poética, a sua substituição por um signo verbivocovisual, ou seja, a exploração semântica da palavra com<br />
diversidade de interpretações, resultantes de leituras através de diferentes ângulos, a valorização do conteúdo<br />
sonoro e o aproveitamento do espaço do papel para emissão da mensagem. Estas características estão presentes<br />
no poema de Ronaldo Azeredo: a aliteração de “v” reproduz a sensação de velocidade e sua disposição no papel<br />
sugere o movimento vertical ou horizontal, dependendo da perspectiva de quem o interpreta. Desta forma, as<br />
afirmações contidas em I, III e IV são válidas. Na ausência de opção que contemplasse TODAS as corretas, restaria<br />
a c) que apresenta pelo menos duas.<br />
15.<br />
a) Na frase, o autor considera que, em primeiro lugar, o ser humano busca reconhecimento de seus feitos pelo<br />
outro, evidenciando sua vaidade. Posteriormente, ele se volta para si e reconhece seus atos, gerando, ou não,<br />
o orgulho, preocupando-se então consigo.<br />
b) O homem prefere ser elogiado, valorizado, enaltecido etc. por aquilo que não é a ser menosprezado,<br />
desvalorizado, desestimado etc. por aquilo que é.<br />
16. a<br />
O eu lírico desenvolve nostalgicamente o tema do saudosismo de raiz romântica ao evocar sensações do passado<br />
117
<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
(“Quando escutei essa cantiga/ era hora do almoço, há muitos anos”). A ambientação reproduz a cultura popular<br />
de onde emergem as lembranças (“A voz da mulher cantando vinha de uma cozinha,/ai ciganinha, a voz de bambu<br />
rachado/continua tinindo, esganiçada, linda”), característica frequentre na estética romântica. O tom confessional<br />
advém sobretudo dos verbos e pronomes em 1ª. pessoa do singular (“escutei”, “acho”, “meu”, “mim”, “minha”)<br />
que denotam a subjetividade da descrição do passado. Assim, é inválida a opção a).<br />
17. c<br />
O título que contempla o conteúdo abordado é “Spam: perda de tempo e prejuízos financeiros”, pois, de acordo<br />
com o texto, “Cada trabalhador perde, em média, sete minutos por dia limpando a caixa de mensagens, e essa<br />
quebra na produtividade custa €828 – pouco mais de R$ 2,3 mil – anuais às empresas”.<br />
18. d<br />
Uma das definições de “simplório” ou “simples” é de aquilo que não apresenta complexidade ou dificuldade. Assim,<br />
é correta a alternativa [d].<br />
19.<br />
20.<br />
21.<br />
a) Correto.<br />
b) Correto. Ambas as alíneas apresentam informações corretas, de acordo com o que é mencionado no texto e<br />
na representação das figuras. O contador de histórias tem a preocupação de trabalhar a afetividade, a<br />
emoção e o imaginário do ouvinte, desenvolvendo a narrativa com imagens, movimentos e sons, muitas vezes<br />
através da improvisação. A literatura de cordel, gênero literário originado em relatos orais e depois impresso<br />
em folhetos, constitui um rico registro histórico da cultura nordestina, repercutindo-se nas mais diversas<br />
manifestações artísticas.<br />
a) Correto.<br />
b) Incorreto.<br />
c) Correto. Apenas é incorreto o que se afirma em [b], pois o emprego de adjetivos em estruturas comparativas<br />
repetidas acentua o valor das propriedades negativas atribuídas à humanidade.<br />
a) Uma das possibilidades de reescrita é:<br />
“Ele disse que tinha no bolso um caderno de notas e perguntou se queriam que lhes descrevesse aquelas<br />
montanhas e vales, e o que faziam os seres humanos naquele tempo de primavera”.<br />
b) Por estar o autor no Hemisfério Norte, local onde se encontrava como correspondente da Segunda Guerra<br />
Mundial, o mês de abril corresponde à estação da Primavera. Dessa forma, o uso do pronome “neste” está<br />
correto, uma vez que se refere ao tempo presente em relação à anunciação.<br />
22. b<br />
A opção [b] é a única que conserva o sentido da frase original e apresenta coesão, correta estrutura sintática e<br />
pontuação adequada.<br />
23. a<br />
O fato de a raposa se recusar a entrar depois de perceber que os rastros de vários animais se dirigiam apenas para<br />
o interior da gruta permitiu-lhe inferir que algo devia ter impedido o seu retorno, o que evitou que o leão a<br />
devorasse. Assim, a opção [a] expressa a moral depreendida pela leitura do texto: os homens sensatos, tendo prova<br />
dos perigos, podem prevê-los e evitá-los, como se afirma em [a].<br />
24. c<br />
As opções [a], [b], [d] e [e] são incorretas, pois: [a] a conjunção “se” seguida do advérbio de negação “não”<br />
introduz uma oração subordinada condicional com verbo na negativa, enquanto que “senão” é elemento coesivo<br />
com significado equivalente a “de outro modo”, “de contrário”;<br />
[b] o pretérito imperfeito do indicativo, no contexto, exprime um fato passado contínuo e habitual;<br />
118
Material <strong>ITA</strong><br />
[d] o uso de “por que” é correto na frase da fábula de Esopo, pois trata-se de uma expressão formada por<br />
preposição e pronome relativo, diferente do que acontece na frase “Ele explicou novamente todos os exercícios por<br />
que os alunos pediram”, em que seria correto o emprego da conjunção subordinativa porque para exprimir noção<br />
de causa;<br />
[e] os termos “leão” e “raposa” são hipônimos, portanto têm sentido mais restrito que os hiperônimos “animais” e<br />
“feras” (com sentido mais abrangente).<br />
Assim, é correta apenas [c], pois a troca de posição da palavra “certa” alteraria o sentido para alguma e exata,<br />
respectivamente.<br />
25. [d] Trata-se de uma fábula, narrativa em que os personagens são animais que apresentam características humanas.<br />
O leão e a raposa representam o poder e a esperteza, e protagonizam uma curta trama que conduz a uma<br />
conclusão de onde se extrai um ensinamento moral de caráter instrutivo. Assim, todas são corretas, como se afirma<br />
em [d].<br />
26. [a] São incorretas as opções [b], [c], [d] e [e], pois: [b] a narrativa apresenta também discurso direto, assinalado com<br />
aspas o diálogo entre a raposa e o leão;[c] no excerto, os termos verbais “respondesse” e “perguntasse” remetem a<br />
um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido, diferente de “ganhasse” que sugere hipótese;<br />
[d] o pronome pessoal oblíquo “os” remete ao termo “animais” citado anteriormente, constituindo, assim, coesão<br />
textual anafórica; [e] o advérbio “já” denota temporalidade relacionada a um momento no passado.<br />
Assim, é correta apenas [a].<br />
27. [e] A autora vale-se de um fato relacionado com uma personalidade do mundo científico do século XIX para<br />
comprovar que a dificuldade de concentração de pessoas é comum e não é derivada da falta de tempo da<br />
sociedade atual. Assim, é correta a opção [e].<br />
28. [c] Na frase “A década era a de 1870 e o aparelho que ele usava para mandar e receber mensagens, um<br />
telégrafo”, a vírgula é utilizada para indicar a elipse do verbo. O mesmo acontece na alternativa [c].<br />
29. a) Quantos sonhos HAVIA naquela INGÊNUA cabecinha...<br />
b) Cheguei HÁ dois dias e voltarei daqui A quatro meses.<br />
30. a) Incorreto.<br />
b) Correto. É incorreto o que se afirma em [A], pois o sujeito não expresso das orações adverbiais finais<br />
reduzidas de infinitivo (passíveis de serem desenvolvidas e substituídas por para que estimulem, para que<br />
aumentem, para que compensem) não é indeterminado e sim, desinencial, estabelecendo relação anafórica<br />
com “China e outros países emergentes”.<br />
31.<br />
a) O conselho de Brás Cubas a Quincas Borba revela a hipocrisia do personagem-narrador que, nascido em<br />
família abastada e amparado pelos privilégios concedidos à elite burguesa do Segundo Reinado, nunca tivera<br />
de trabalhar para garantir a sua sobrevivência.<br />
b) Brás Cubas assume comportamentos diferentes relativamente a Quincas Borba e a D. Plácida. Enquanto que<br />
ao primeiro, num gesto vaidoso e paternalista, lhe dava uma pequena esmola e aconselhava a trabalhar para<br />
conseguir mais dinheiro, à segunda, movido pelo interesse em manter uma aliada para os seus encontros<br />
clandestinos com Virgília, oferecia quantias generosas sem nenhum sentimento de culpa.<br />
32. [d] Os dois quadros que compõem a charge mostram personagens que pertencem a duas classes distintas: os do<br />
primeiro celebram euforicamente o bom desempenho da economia brasileira com a abertura de uma garrafa de<br />
champanhe, enquanto que os do segundo ostentam a miséria extrema de quem sobrevive dos resíduos<br />
considerados descartáveis e inúteis pela sociedade de consumo. No texto de Cora Coralina, assiste-se à ação das<br />
pessoas que acorrem em auxílio de Nhola, a qual só se recupera de um quadro clínico de desnutrição (“vertige de<br />
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<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />
fraqueza, falta de cumê”) pela intervenção generosa dos vizinhos. Assim, é correta a opção [D], pois a temática da<br />
pobreza surge associada a uma questão político-social nos quadrinhos e a um entrave social suavizado pela<br />
caridade no texto de Cora Coralina.<br />
33.<br />
34.<br />
a) Dentre as características do gênero dramático a que se encontra no poema é a reprodução da história em<br />
forma de diálogos, divididos em atos e cenas. No poema há o diálogo entre o EU e o FANTASMA dividido em<br />
estrofes, dando assim uma dinâmica dialógica típica da dramaturgia clássica.<br />
b) Do sonho e da morte como forma de evasão de uma realidade adversa em que o eu lírico não encontrava<br />
consonância.<br />
a) Analisando os dois textos, pode-se observar que, no poema, o eu lírico acredita ainda na possibilidade de<br />
transformar o mundo apesar das idiossincrasias inerentes à realidade. Enquanto no romance, o protagonista<br />
se mostra conformado com as mudanças sonhadas que não aconteceram historicamente, entretanto, mostrase<br />
saudoso com o fato de um dia, ao menos, ter sonhado com a possibilidade de um mundo mais justo.<br />
35. Ambos os poemas abordam temática existencial através de um eu lírico fragmentado, expressando inadequação<br />
com o momento presente. Enquanto Cacaso escapa para a infância em busca da paz e da felicidade, Ana Cristina<br />
Cesar vê a adolescência como uma etapa plena de desafios que incitam à aventura.<br />
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