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Coleção IME-ITA - Português - Livro 1

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<strong>Coleção</strong> <strong>IME</strong>-<strong>ITA</strong><br />

Frente A<br />

Módulo A01 - Gramática<br />

O Ato da comunicação<br />

O homem precisa se comunicar. A comunicação é a base da vida em sociedade. Dessa necessidade humana<br />

nasceu a linguagem.<br />

Aprimorar sua capacidade comunicativa é uma forma de ampliar seu relacionamento com o mundo, tornando-se<br />

apto a compreender melhor a realidade a fim de poder transformá-la. Para se comunicar, o homem elaborou formas de<br />

representação da realidade, recriou-a por meio de sinais ou signos. Criou signos não verbais, como o desenho, a dança,<br />

a pintura, e criou o signo verbal, a palavra.<br />

Os signos são organizados em códigos, e todo o código criado para estabelecer comunicação entre as pessoas é a<br />

linguagem.<br />

LINGUAGEM, LÍNGUA, DISCURSO OU FALA E LINGUÍSTICA.<br />

LINGUAGEM: é a faculdade que possui o homem de poder expressar seus pensamentos, sentimentos, experiências; é<br />

todo sistema de sinais convencionais que nos permite realizar atos de comunicação. Pode ser verbal e não verbal.<br />

a) verbal: aquela cujos sinais são as palavras<br />

b) não verbal: aquela que utiliza outros sinais que não as palavras. O conjunto dos sinais de trânsito, mímica etc.<br />

constituem tipos de linguagem não verbal.<br />

LÍNGUA: é o instrumento social à disposição do falante; é um tipo de linguagem; é a única modalidade de linguagem<br />

baseado em palavras. O alemão e o português são línguas diferentes.<br />

Língua é a linguagem verbal utilizada por um grupo de indivíduos que constitui uma comunidade.<br />

FALA: é a ação comunicativa. É a realização concreta da língua, feita por um indivíduo da comunidade num determinado<br />

momento. É um ato individual que cada membro pode efetuar com o uso da linguagem.<br />

LINGUÍSITICA: é a ciência que estuda a linguagem. Pode ser diacrônica (estuda os fatos de uma língua em épocas<br />

diferentes ou sincrônica ( estuda os fatos de uma língua em determinada época.<br />

A função principal da linguagem é a comunicação.<br />

O ATO DE COMUNICAÇÃO<br />

Comunicação é o processo de que o homem dispõe para transmitir suas ideias, sentimentos, experiências, informações,<br />

etc. São seis os elementos da comunicação: o emissor, o receptor, a mensagem, o código, o canal e o referente.<br />

1. o emissor (ou codificador, fonte, remetente): é o indivíduo ou grupo de indivíduos que formula e envia a mensagem,<br />

mediante a palavra oral ou escrita, gestos, desenhos, etc. Ex.: a TV, uma pessoa – um político falando em um<br />

comício; ou um grupo de pessoas – um abaixo-assinado; ou, ainda, um jornal – o editorial. No caso específico de<br />

um texto publicitário, o emissor sempre será o anunciante.<br />

2. o receptor (ou decodificador, destinatário): é o que interpreta a mensagem transmitida pelo emissor. É o indivíduo<br />

ou grupo de indivíduos a quem a mensagem é endereçada; é o alvo da mensagem. Nos meios de comunicação, o<br />

destinatário recebe a denominação de público-alvo. Ex.: auditório<br />

3. a mensagem: é tudo aquilo que o emissor leva ao receptor. É o conteúdo das informações transmitidas. No caso da<br />

publicidade, a peça veiculada é a mensagem e corresponde tanto àquilo que o emissor diz quanto ao modo como<br />

ele diz. Ou seja, ela engloba o conteúdo e a forma.<br />

4. o canal de comunicação ou contato: é o meio pelo qual a mensagem se propaga; é a via de circulação da<br />

mensagem. Definido o público-alvo, é preciso, então, determinar o canal a ser utilizado para a veiculação da<br />

mensagem. É o suporte, o veículo que conduzirá a mensagem até o seu destinatário. Por exemplo, quando falamos,<br />

o ar (ondas sonoras) é o suporte da mensagem.


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

5. o código: é o sistema de signos e regras que permite formular e compreender a mensagem. É, no caso das<br />

mensagens verbais, uma língua, na qual o emissor codifica a mensagem que o receptor irá decodificar. Além das<br />

línguas, existem outros códigos, organizados a partir de cores, formas, movimentos, etc.. Para que a transmissão da<br />

mensagem seja eficiente, emissor e receptor devem dominar o mesmo código.<br />

6. o referente ou contexto: é a entidade (objeto, fato, estado de coisas) ou a situação do mundo externo a que um<br />

termo símbolo se refere.<br />

O conhecimento de todos esses elementos da comunicação é que assegura a plena eficácia da mensagem.<br />

A linguagem pode ser<br />

1. verbal: código que utiliza a língua falada ou escrita.<br />

2. não verbal: qualquer código que não utiliza palavra.<br />

(


Material <strong>ITA</strong><br />

Existem dois principais níveis ou registros de linguagem:<br />

1. a linguagem culta ou variante-padrão: é utilizada pelas classes intelectuais da sociedade. É a variante de maior<br />

prestígio. Caracteriza-se pela obediência às normas gramaticais. Está diretamente ligada à língua escrita. É a<br />

modalidade linguística tomada como padrão de ensino.<br />

2. a linguagem coloquial ou popular: é a manifestação espontânea da língua. Está presente nas conversas com<br />

amigos, familiares, pessoas com quem temos intimidade. Não segue estritamente a norma culta, é usada no<br />

cotidiano, com a finalidade de comunicação e interação, apresenta gírias, regionalismos, formas contraídas.<br />

Exemplos:<br />

a) Gíria<br />

De acordo com a gramática da língua portuguesa, as gírias são palavras restritas no tempo e limitadas em um<br />

espaço social. Se elas permanecem, deixam de ser gírias e viram neologismos. Por fim, essa palavra é dicionarizada e é<br />

incorporada ao léxico da língua.<br />

b) Regionalismo<br />

3


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

c) Coloquialismo<br />

DENOTAÇAO E CONOTAÇÃO<br />

Denotação é o significado estrito de uma unidade linguística, comum a todos os falantes, não sujeito aos matizes do<br />

contexto, nem às valorizações subjetivas dos falantes, por isso admite apenas uma interpretação. Assim a palavra mar,<br />

por exemplo, em seu sentido conotativo, é apenas uma grande massa de água salgada.<br />

Conotação é o uso do signo em sentido mais rico, mais amplo; é o conjunto de valores afetivos ou evocadores que<br />

se associam a uma palavra ou expressão. Assim a palavra mar, no sentido conotativo, que pode ser empregada em<br />

muitas outras situações: Estou vivendo um mar de rosas (feliz). Eu te darei o céu e o mar. (todo o conforto e felicidade)<br />

FUNÇÕES DA LINGUAGEM<br />

Para que serve a linguagem?<br />

Sabe-se que a linguagem é uma das formas de apreensão e de comunicação das coisas do mundo. O ser humano,<br />

ao viver em conjunto, utiliza vários códigos para representar o que pensa, o que sente, o que quer, o que faz.<br />

Sendo assim, o que conseguimos expressar e comunicar através da linguagem? Para que ela funciona?<br />

A cada mensagem que enviamos ou recebemos, seja esta de natureza verbal ou não verbal, estamos<br />

compartilhando com um discurso que se pauta por finalidades distintas, ou seja, entreter, informar, persuadir, emocionar,<br />

instruir, aconselhar, entre outros propósitos.<br />

Segundo o linguista Roman Jacokson, para cada elemento da comunicação, há uma função da linguagem<br />

correspondente. O gráfico subsequente permite a visualização da proposta de Jakobson (1995, p.123).<br />

1. FUNÇÃO EMOTIVA (OU EXPRESSIVA): por meio dessa função, o emissor imprime, no texto, as marcas de sua<br />

atitude pessoal: emoções, avaliações, opiniões. Por esse motivo, ela normalmente vem escrita em primeira pessoa e de<br />

forma bem subjetiva. Em textos que utilizam a função emotiva há uma presença marcante de figuras de linguagem,<br />

mensagens subentendidas, elementos nas entrelinhas, etc.<br />

Os textos que mais comumente se utilizam desse tipo de linguagem são as cartas, as poesias líricas, as memórias,<br />

as biografias, entre outros:<br />

4<br />

Como o próprio nome já diz, tem o papel de exprimir emoções, impressões pessoais a respeito de determinado assunto.<br />

Sinto que viver é inevitável. Posso na primavera ficar horas sentada fumando, apenas sendo. Ser às vezes sangra.<br />

Mas não há como não sangrar, pois é no sangue que sinto a primavera. Dói. A primavera me dá coisas. Dá do<br />

que viver. E sinto que um dia na primavera é que vou morrer. De amor pungente e coração enfraquecido.<br />

(Clarice Lispector)


Material <strong>ITA</strong><br />

2. FUNÇÃO REFERENCIAL / INFORMATIVA OU DENOTATIVA<br />

É a comunicação pura e simples; esse tipo de linguagem é centrada no referente; por isso, a maior preocupação é<br />

a mensagem; o emissor se limita a informar. Caracteriza-se pelo uso da terceira pessoa do discurso e pela denotação.<br />

Os textos que normalmente fazem uso dessa função são os textos jornalísticos e os científicos:<br />

Ganhador de Nobel de Química/ 2014 recebe notícia de prêmio em Recife.<br />

'Isso é mesmo verdade?', duvidou William Moerner ao saber da premiação.<br />

Além de Moerner, o Prêmio Nobel de Química foi oferecido ao também americano Eric Betzig e ao romeno naturalizado<br />

alemão Stefan Hell. O trio foi laureado por contribuir com trabalhos que levaram a capacidade dos microscópios a um<br />

novo patamar.<br />

Eles desenvolveram técnicas que aumentaram a capacidade de observação de processos em seres vivos enquanto<br />

eles acontecem -- em nível molecular. Assim, se hoje os pesquisadores são capazes, por exemplo, de enxergar como um<br />

neurônio faz a sinapse (comunicação) com outra célula neural, isso se deve ao trabalho dos premiados.<br />

Fonte: http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2014/10/ganhador-de-nobel-de-quimica-2014-recebe-noticia-do-premio-no-recife.html<br />

3. FUNÇÃO FÁTICA<br />

O objetivo do emissor é estabelecer o contato, verificar se o receptor está recebendo a mensagem de forma<br />

autêntica, ou ainda visando prolongar o contato. Há o predomínio de expressões usadas nos cumprimentos como: bom<br />

dia, Oi!. Ao telefone (Pronto! Alô!) e em outras situações em que se testa o canal de comunicação (Está me ouvindo?).<br />

– Ei, qual é mesmo o seu maior sonho? Hem?<br />

– Alô, alô, não desligue preciso falar uma coisa importante, ouviu?<br />

4. FUNÇÃO APELATIVA / CONATIVA<br />

Como sugere a nomenclatura, essa função serve para fazer apelos, pedidos, para comover ou convencer alguém a<br />

respeito do que se diz. Centralizada no receptor, procura influenciá-lo em seus pensamentos ou ações, persuadindo-o,<br />

seduzindo-o. É bastante frequente o uso da segunda pessoa, dos vocativos e dos imperativos.<br />

Essa função é aplicada particularmente nas propagandas ou outros textos publicitários, e também em campanhas<br />

sociais, com o objetivo de comover o leitor:<br />

5. FUNÇÃO METALINGUÍSTICA<br />

A linguagem tem função metalinguística quando o uso do código, usando a linguagem para falar dela mesma.O<br />

professor, na sala de aula que se utilize uma dada língua está fazendo uso da função metalinguística. Um autorretrato é<br />

um bom exemplo.<br />

5


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

6. FUNÇÃO POÉTICA: nesta modalidade, a ênfase encontra-se centrada na própria elaboração da mensagem,<br />

valoriza a informação pela forma como ela é veiculada. A mensagem é elaborada de forma inovadora e imprevista,<br />

utilizando combinações sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou de ideias. Encontra-se permeada nos poemas e, em<br />

alguns casos, na prosa e em anúncios publicitários ou nas letras de música.<br />

[...]<br />

Conhecer as manhas<br />

E as manhãs<br />

O sabor das massas<br />

E das maçãs<br />

É preciso amor<br />

Pra poder pulsar<br />

É preciso paz pra poder sorrir<br />

É preciso a chuva para florir...<br />

[...]<br />

Composição: Almir Sater / Renato Teixeira<br />

EXERCÍCIOS PROPOSTOS<br />

01. (Insper 2014)<br />

A expressividade da charge decorre da(o)<br />

a) sua capacidade de provocar a reflexão do leitor.<br />

b) riqueza de detalhes apresentados com a técnica do pontilhado.<br />

c) concretização do tema por meio da relação entre diferentes planos de linguagem.<br />

d) humor gerado pelo fato de uma criança refletir sobre questões profundas.<br />

e) tom poético da fala enriquecida pelo tracejado artístico do desenho.<br />

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Material <strong>ITA</strong><br />

02. (ENEM 2013) A diva<br />

Vamos ao teatro, Maria José?<br />

Quem me dera,<br />

desmanchei em rosca quinze kilos de farinha,<br />

tou podre. Outro dia a gente vamos.<br />

Falou meio triste, culpada,<br />

e um pouco alegre por recusar com orgulho.<br />

TEATRO! Disse no espelho.<br />

TEATRO! Mais alto, desgrenhada.<br />

TEATRO! E os cacos voaram<br />

sem nenhum aplauso.<br />

Perfeita.<br />

PRADO, A. Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999.<br />

Os diferentes gêneros textuais desempenham funções sociais diversas, reconhecidas pelo leitor com base em suas<br />

características específicas, bem como na situação comunicativa em que ele é produzido. Assim, o texto “A diva”<br />

a) narra um fato real vivido por Maria José.<br />

b) surpreende o leitor pelo seu efeito poético.<br />

c) relata uma experiência teatral profissional.<br />

d) descreve uma ação típica de uma mulher sonhadora.<br />

e) defende um ponto de vista relativo ao exercício teatral.<br />

03. (ENEM 013)<br />

Os objetivos que motivam os seres humanos a estabelecer comunicação determinam, em uma situação de<br />

interlocução, o predomínio de uma ou de outra função de linguagem. Nesse texto, predomina a função que se<br />

caracteriza por<br />

a) tentar persuadir o leitor acerca da necessidade de se tomarem certas medidas para a elaboração de um livro.<br />

b) enfatizar a percepção subjetiva do autor, que projeta para sua obra seus sonhos e histórias.<br />

c) apontar para o estabelecimento de interlocução de modo superficial e automático, entre o leitor e o livro.<br />

d) fazer um exercício de reflexão a respeito dos princípios que estruturam a forma e o conteúdo de um livro.<br />

e) retratar as etapas do processo de produção de um livro, as quais antecedem o contato entre leitor e obra.<br />

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<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

04. (ENEM PPL 2013) Pesquisa da Faculdade de Educação da USP mostrou que quase metade dos alunos que<br />

ingressam nos cursos de licenciatura em Física e Matemática da universidade não estão dispostos a tornar-se<br />

professores. O detalhe inquietante é que licenciaturas foram criadas exatamente para formar docentes.<br />

A dificuldade é que, se os estudantes não querem virar professores, fica difícil conseguir bons profissionais.<br />

Resolver essa encrenca é o desafio. Salários são por certo uma parte importante do problema, mas outros<br />

elementos, como estabilidade na carreira e prestígio social, também influem.<br />

SCHWARTSMAN, H. Folha de S. Paulo, 13 out. 2012.<br />

Identificar o gênero do texto é um passo importante na caminhada interpretativa do leitor. Para isso, é preciso<br />

observar elementos ligados à sua produção e recepção.<br />

Reconhece-se que esse texto pertence ao gênero artigo de opinião devido ao(à)<br />

a) suporte do texto: um jornal de grande circulação.<br />

b) lugar atribuído ao leitor: interessados no magistério.<br />

c) tema tratado: o problema da escassez de professores.<br />

d) função do gênero: refletir sobre a falta de professores.<br />

e) linguagem empregada pelo autor: formal e denotativa.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

05. (Uea 2014) No primeiro e terceiro quadrinhos, as expressões licencinha, tô passando e lascou exemplificam o<br />

emprego de<br />

a) uma modalidade agramatical.<br />

b) uma variante considerada padrão.<br />

c) uma linguagem vulgar e ofensiva.<br />

d) um discurso neutro e formal.<br />

e) um registro coloquial e informal.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

Liberdade, onde estás? Quem te demora?<br />

Quem faz que o teu influxo em nós não caia?<br />

Porque (triste de mim!), porque não raia<br />

Já na esfera de Lísia* a tua aurora?<br />

Da santa redenção é vinda a hora<br />

A esta parte do mundo, que desmaia.<br />

Oh!,venha... Oh!,venha, e trêmulo descaia<br />

Despotismo feroz, que nos devora!<br />

Lísia = Portugal<br />

8<br />

Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo,<br />

Oculta o pátrio amor, torce a vontade,<br />

E em fingir, por temor, empenha estudo.<br />

Movam nossos grilhões tua piedade;<br />

Nosso númen tu és, e glória, e tudo,<br />

Mãe do gênio e prazer, ó Liberdade!<br />

(Bocage)<br />

MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa Através dos Textos. São Paulo: Cultrix, 2006, p.239.


Material <strong>ITA</strong><br />

06. (Uepa 2014) O poema de Bocage organiza uma situação comunicativa interna em que se verificam os seguintes<br />

elementos fundamentais da comunicação: emissor, receptor (contido no próprio texto) e mensagem. No poema<br />

estes elementos são:<br />

a) eu lírico, liberdade e crítica ao despotismo.<br />

b) poema, liberdade e crítica ao despotismo.<br />

c) eu lírico, povo português e crítica ao despotismo.<br />

d) eu lírico, liberdade e língua portuguesa.<br />

e) eu lírico, leitor e crítica ao despotismo.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

A jabuticaba só nasce mesmo no Brasil?<br />

Em seu discurso de agradecimento pelo prêmio de Economista do ano em 2003, Pérsio Arida, um dos idealizadores<br />

do Plano Real, utilizou um argumento inusitado para justificar a taxa de juros de equilíbrio de 8% ao ano no Brasil.<br />

“Certas coisas são iguais à jabuticaba, só ocorrem no Brasil”, explicou ele na época. Rapidamente, jornalistas e<br />

intelectuais passaram a citar a frase como parte da chamada “Teoria da Jabuticaba”, com o objetivo de explicar em seus<br />

textos o porquê de alguns fenômenos só acontecerem no Brasil.<br />

Se nas Ciências Humanas a tal teoria parece fazer sucesso, do ponto de vista biológico ela está equivocada. Quem<br />

garante isso é o pesquisador da APT (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios) Eduardo Suguino que tratou de<br />

derrubar alguns mitos sobre a ocorrência do famoso fruto. “A jabuticaba pode até ser nativa do Brasil, mas não ocorre só<br />

aqui”, explicou. “Ela já apareceu em países como Argentina e México em sua forma natural”.<br />

Ainda de acordo com Suguino, a jabuticabeira pode ser cultivada em qualquer canto do planeta. Como se trata de<br />

uma planta propagada por semente, são necessárias apenas três condições para que ela se desenvolva: água, oxigênio e<br />

calor. Mesmo assim, ele faz questão de ponderar sobre a suposta universalidade do tradicional vegetal. “Apesar de<br />

possuir essa capacidade de ser cultivada em qualquer lugar, a jabuticabeira pode ser prejudicada por alguns fatores<br />

ambientais”, afirma. Depois, o pesquisador ainda forneceu exemplos de casos em que o vegetal pode sofrer danos. “Se<br />

levar um exemplar para a Europa durante o inverno, ele dificilmente sobreviverá fora de um vaso ou de ambiente<br />

protegido”.<br />

(Disponível em http:// www.blogdoscuriosos.com.br . Acesso em 19.10.2013. Adaptado)<br />

07. (G1 ifsp 2014) De acordo com o texto, pode-se afirmar que a função da linguagem utilizada predominantemente<br />

pelo autor é<br />

a) a emotiva, pois está centrada em depoimentos subjetivos de pesquisadores que desejam demonstrar seus<br />

sentimentos em relação às jabuticabeiras.<br />

b) a apelativa, já que seu objetivo é o de convencer o leitor a plantar uma jabuticabeira, porque é necessário<br />

água, oxigênio e calor para que se desenvolva.<br />

c) a referencial, pois faz uso da impessoalidade, marcada pelos verbos na terceira pessoa tais como “utilizou”,<br />

“explicou” e “passaram”.<br />

d) a metalinguística, já que se trata de um texto de caráter científico cujo principal assunto é a ciência do plantio<br />

de jabuticaba por toda parte.<br />

e) a poética, uma vez que a ênfase está na construção da mensagem a partir da sonoridade e do ritmo<br />

explorados nas palavras “jabuticabas” e “jabuticabeiras”.<br />

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<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

08. (G1 cps 2014) Nesse texto publicitário, predomina a função da linguagem<br />

a) referencial, pois a pretensão é informar o leitor sobre a região do Pantanal.<br />

b) poética, pois se exige que a narrativa vencedora relate uma situação verídica.<br />

c) fática, pois a linguagem utilizada nas instruções é característica do público infantil.<br />

d) emotiva, pois se espera que a mensagem seja clara e não dê margem a subjetividades.<br />

e) apelativa, pois se busca interação com o leitor, como comprova o emprego de verbos no imperativo.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

O pobre é pop. A periferia é o centro do mundo. E a música popular brasileira nunca mereceu tanto ser chamada<br />

assim — embora esteja cada vez mais distante 1 de um certo totem conhecido como MPB.<br />

A expansão da classe média tem impacto evidente sobre os padrões de consumo no Brasil, inclusive cultural. Mas o<br />

protagonismo das classes C, D e E nos novos fluxos de produção e circulação de música não é efeito colateral de um<br />

aumento da renda familiar, simplesmente.<br />

A periferia (cultural, social ou econômica) do Brasil cansou 2 de esperar o seu lugar ao sol. E tomou pra si o direito<br />

de dizer e fazer o que quer, do jeito que pode, sabe e gosta.<br />

É uma mudança de paradigmas. Um processo cumulativo, iniciado ainda nos idos dos anos 90 [do século<br />

passado], que se acentua e ganha relevo, sobretudo na última década. Uma força irrefreável, que arde em fogo brando.<br />

Ainda que só deixe a sombra da invisibilidade 3 (para ocupar espaços de validação pública, como já foi a dita grande<br />

mídia) quando o caldo já ferve há tanto, 6 que só lhe resta entrar em erupção. Por seus próprios méritos. E, não raro, seus<br />

próprios meios.<br />

Foi o que se deu, em boa medida, com fenômenos da “periferia do bom gosto” como o sertanejo (no Brasil<br />

Central), o axé (na Bahia), o rap (em São Paulo), o funk carioca (no Rio de Janeiro), o pagode (em São Paulo), o forró (no<br />

Ceará) e, mais recentemente, o tecnobrega (no Pará).<br />

Em comum, uma música de “gosto duvidoso”, 4 que geralmente destoa da chamada “linha evolutiva da MPB”. E<br />

que, na sua incontinência habitual, se alastra pelo país — com ou sem o suporte das grandes corporações da indústria<br />

fonográfica e da mídia.<br />

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Material <strong>ITA</strong><br />

5 É a emergência do pobre-star. Que viceja pelos grotões, nos quatro cantos do país, como sintoma de que as<br />

coisas (há tempos...) já não estão mais tão “sob controle”, como se supõe que um dia estiveram, do ponto de vista da<br />

agenda estética da elite cultural.<br />

O espanto com que o tecnobrega foi recebido no Sudeste, há pouco mais de um ano, como algo “esquisito”, que<br />

“brotou do nada”, ilustra bem a crônica da vida na bolha de um mundo globalizado que, em certos segmentos da<br />

sociedade brasileira, ainda não voltou o olhar (e a escuta) para além do próprio umbigo.<br />

VALE, Israel do.Tecnobrega, ditadura da felicidade e a erupção do pobre-star. CULT, São Paulo: Bregantini, n. 183, p. 35, set. 2013.<br />

09. (Unb 2014) Na linguagem cotidiana, não é raro o uso de expressões consideradas clichês. Já no texto formal, tal<br />

recurso é de uso restrito.<br />

No texto em foco, de linguagem predominantemente formal, a utilização do clichê encontra-se em<br />

a) “de um certo totem conhecido como MPB” (ref. 1).<br />

b) “de esperar o seu lugar ao sol” (ref. 2).<br />

c) “para ocupar espaços de validação pública” (ref. 3).<br />

d) “que geralmente destoa da chamada linha evolutiva da MPB.” (ref. 4).<br />

e) “É a emergência do pobre-star.” (ref. 5).<br />

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:<br />

Os textos 1 (manchete de capa da revista Época de 26/08/2013), 2 (manchete de capa da revista Veja de<br />

28/08/2013) e 3 serão analisados em conjunto, na perspectiva da polifonia, do dialogismo e da intertextualidade, isto é,<br />

das relações mantidas entre eles.<br />

Texto 1<br />

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<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

Texto 2<br />

Texto 3<br />

Cair das nuvens (expressão popular)<br />

1. Espantar-se, surpreender-se (com algo que é muito diferente do que se pensava ou se desejava); perceber o próprio<br />

equívoco ou engano.<br />

2. Restr. Decepcionar-se intensamente; desiludir-se.<br />

3. Chegar de modo imprevisto; aparecer repentinamente; cair do céu.<br />

Dicionário Caldas Aulete. http://aulete.uol.com.br/nuvem#ixzz2ggk52qoh<br />

10. (Uece 2014) Assinale com V ou F, conforme seja verdadeiro ou falso o que é dito sobre o texto 3.<br />

( ) O aviãozinho de papel despencando do alto é um recurso para dar mais força de persuasão à manchete,<br />

cujos termos estão dispostos um abaixo do outro, o que sugere uma queda.<br />

( ) É correto afirmar que a capa da revista Época emprega um recurso da poesia concreta.<br />

( ) O processo de construção da manchete de capa da revista Época inclui substituição e acréscimo de elementos<br />

linguísticos, em relação ao texto fonte.<br />

( ) O criador da manchete de Época fez um jogo com dois sentidos do termo real, jogo que foi possível graças à<br />

mudança de gênero desse vocábulo.<br />

( ) Na manchete de Época, apresenta-se apenas uma das funções da linguagem: a função informativa.<br />

Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequência:<br />

a) F – F – V – V – F.<br />

b) V – V – V – V – F.<br />

c) V – F – F – F – V.<br />

d) F – F – F – V – V.<br />

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Material <strong>ITA</strong><br />

11. (Uece 2014) Reflita sobre as seguintes afirmações acerca do texto 2.<br />

I. Na manchete de Veja, a intertextualidade com o dito popular “Cair das nuvens” está mais explícita do que na<br />

manchete de Época.<br />

II. A manchete de Veja apresenta mais recursos gráficos e linguísticos do que a de Época.<br />

É correto afirmar que<br />

a) I é falsa e II é verdadeira.<br />

b) I é verdadeira e II é falsa.<br />

c) ambas são falsas.<br />

d) ambas são verdadeiras.<br />

12. (Uece 2014) Assinale a afirmação que expressa uma ideia INCORRETA sobre os textos 1, 2 e 3.<br />

a) O dito popular “Cair das nuvens” é fonte dos textos 1 e 2.<br />

b) Os textos 1, 2 e 3 dialogam entre si.<br />

c) Nos textos 1 e 2, ouve-se a voz do texto 3, do mesmo modo que, no texto 3, ouvem-se as vozes dos textos 1 e 2.<br />

d) Há, entre os textos 1 e 3, e a expressão popular “Cair das nuvens” no texto 3, um plágio.<br />

13. Descubra, nos textos a seguir, as funções de linguagem:<br />

a) "O homem letrado e a criança eletrônica não mais têm linguagem comum." (Rose-Marie Muraro)<br />

b) "O discurso comporta duas partes, pois necessariamente importa indicar o assunto de que se trata, e em<br />

seguida a demonstração. (...) A primeira destas operações é a exposição; a segunda, a prova." (Aristóteles)<br />

c) "Amigo Americano é um filme que conta a história de um casal que vive feliz com o seu filho até o dia em que<br />

o marido suspeita estar sofrendo de câncer."<br />

d) "Se um dia você for embora<br />

Ria se teu coração pedir<br />

Chore se teu coração mandar." (Danilo Caymmi & Ana Terra)<br />

e) "Olá, como vai?<br />

Eu vou indo e você, tudo bem?<br />

Tudo bem, eu vou indo em pegar um lugar no futuro e você?<br />

Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono tranqüilo..." (Paulinho da Viola)<br />

14. Historinha I<br />

Historinha II<br />

Qual a função da linguagem comum às duas historinhas?<br />

13


TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

O tempo em que o mundo tinha a nossa idade<br />

<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

5 Nesse entretempo, ele nos chamava para escutarmos seus imprevistos improvisos. 1 As estórias dele faziam o nosso<br />

lugarzinho crescer até ficar maior que o mundo. Nenhuma narração tinha fim, o sono lhe apagava a boca antes do<br />

desfecho. 9 Éramos nós que recolhíamos seu corpo dorminhoso. 6 Não lhe deitávamos dentro da casa: ele sempre recusara<br />

cama feita. 10 Seu conceito era que a morte nos apanha deitados sobre a moleza de uma esteira. Leito dele era o puro<br />

chão, lugar onde a chuva também gosta de deitar. Nós simplesmente lhe encostávamos na parede da casa. Ali ficava até<br />

de manhã. Lhe encontrávamos coberto de formigas. Parece que os insectos gostavam do suor docicado do velho Taímo.<br />

7 Ele nem sentia o corrupio do formigueiro em sua pele.<br />

– Chiças: transpiro mais que palmeira!<br />

Proferia tontices enquanto ia acordando. 8 Nós lhe sacudíamos os infatigáveis bichos. Taímo nos sacudia a nós,<br />

incomodado por lhe dedicarmos cuidados.<br />

2 Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de olhos transabertos. Como dormia fora, nem dávamos conta. Minha<br />

mãe, manhã seguinte, é que nos convocava:<br />

− Venham: papá teve um sonho!<br />

3 E nos juntávamos, todos completos, para escutar as verdades que lhe tinham sido reveladas. Taímo recebia notícia<br />

do futuro por via dos antepassados. Dizia tantas previsões que nem havia tempo de provar nenhuma. Eu me perguntava<br />

sobre a verdade daquelas visões do velho, estorinhador como ele era.<br />

− Nem duvidem, avisava mamã, suspeitando-nos.<br />

E assim seguia nossa criancice, tempos afora. 4 Nesses anos ainda tudo tinha sentido: a razão deste mundo estava num<br />

outro mundo inexplicável. 11 Os mais velhos faziam a ponte entre esses dois mundos. (...)<br />

Mia Couto<br />

Terra sonâmbula. São Paulo, Cia das Letras, 2007.<br />

15. (Uerj 2014) Este texto é uma narrativa ficcional que se refere à própria ficção, o que caracteriza uma espécie de<br />

metalinguagem.<br />

A metalinguagem está melhor explicitada no seguinte trecho:<br />

a) As estórias dele faziam o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que o mundo. (ref. 1)<br />

b) Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de olhos transabertos. (ref. 2)<br />

c) E nos juntávamos, todos completos, para escutar as verdades que lhe tinham sido reveladas. (ref. 3)<br />

d) Nesses anos ainda tudo tinha sentido: (ref. 4)<br />

16. Leia a tirinha<br />

14<br />

Na tira acima, o elemento que não está permitindo a comunicação é<br />

a) o canal fechado.<br />

b) a falta de referencial.<br />

c) a ausência de emissor.<br />

d) a ausência de receptor.<br />

e) o código desconhecido.<br />

Copyright1999 Mauricio de Sousa Produções Ltda. Todos os direitos reservados.


Material <strong>ITA</strong><br />

17. Convencionalmente, considera-se como “correta” a língua utilizada pelo grupo de maior prestígio social. Essa é a<br />

chamada língua culta, falada, escrita, em situações formais, pelas pessoas de maior instrução. A língua culta é<br />

nivelada, padronizada, principalmente pela escola e obedece à gramática da língua culta padrão.<br />

A língua coloquial, por outro lado, é uma variante espontânea, utilizada nas relações informais entre dois ou mais<br />

falantes. É a língua do cotidiano, sem muita preocupação com as normas. Ela é empregada em propagandas,<br />

como recurso, por vezes, para atrair o consumidor, estabelecendo, com ele, uma empatia que objetiva o consumo<br />

dos produtos anunciados, como no anúncio ao lado:<br />

(Anunciante: São Paulo Alpargatas. Disponível em: . Acesso em: 16 fev. 2011.)<br />

Uma das marcas linguísticas que configuram a linguagem coloquial empregada pelo anunciante, como forma de<br />

identificação com o público consumidor é<br />

a) a apócope da preposição e o paradoxo dos grupos sintáticos paralelos.<br />

b) o verbo DAR, que foi empregado, inicialmente, no imperativo afirmativo.<br />

c) a síncopeda preposição e a metáfora do segundo substantivo da oração.<br />

d) o oximoro que é observável no contraste entre a vida na cidade e na praia.<br />

e) o quiasmo no cruzamento de grupos sintáticos paralelos: cidade versus praia.<br />

18. Diga qual é o nível de linguagem predominante nos textos abaixo.<br />

Coloque:<br />

( 1 ) para língua culta<br />

( 2 ) para gíria<br />

( 3 ) para linguagem coloquial<br />

( 4 ) para linguagem regional<br />

a) ( )<br />

“Vem chuchuca linda,<br />

vem aqui com seu pretinho,<br />

vou te pegar no colo e fazer muito carinho...”<br />

(Bonde do Tigrão.)<br />

b) ( )<br />

Tertúlia<br />

Serranos<br />

Uma chamarra, uma fogueira,<br />

Uma chinoca, uma chaleira<br />

Uma saudade, uma mate amargo,<br />

E a peonada repassando o trago<br />

Noite cheirando a querência<br />

Nas tertúlias do meu pago.<br />

c) ( )<br />

“O pensamento científico é levado para “construções” mais metafóricas que reais, para “espaços de<br />

configuração”, dos quais o espaço sensível não passa, no fundo, de um pobre exemplo. (...) A ciência da<br />

realidade já não se contenta com o como fenomenológico; ela procura o porquê matemático.”<br />

(A formação do espírito científico. Gaston Bachelard)<br />

d) ( ) “Num trupica na tálbua pra num machucáusjueio.”<br />

e) ( ) Mãe, eu tô ligando pra avisá que eu vô chegá mais tarde hoje.<br />

15


Texto para as questões 19 e 20<br />

Poética<br />

Que é poesia?<br />

uma ilha<br />

cercada<br />

de palavras<br />

por todos os lados<br />

Que é um poeta?<br />

um homem<br />

que trabalha um poema<br />

com o suor do seu rosto<br />

Um homem<br />

que tem fome<br />

como qualquer outro<br />

homem.<br />

(Cassiano Ricardo)<br />

19. Quais as funções da linguagem predominantes no poema anterior?<br />

20. Aponte os elementos que integram o processo de comunicação em Poética, de Cassiano Ricardo.<br />

16<br />

<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

21. (PUC SP) "Com esta história eu vou me sensibilizar, e bem sei que cada dia é um dia roubado da morte. Eu não sou<br />

um intelectual, escrevo com o corpo. E o que escrevo é uma névoa úmida. As palavras são sons transfundidos de<br />

sombras que se entrecruzam desiguais, estalactites, renda, música transfigurada de órgão. Mal ouso clamar<br />

palavras a essa rede vibrante e rica, mórbida e obscura tendo como contrato o baixo grosso da dor. Alegro com<br />

brio. Tentarei tirar ouro do carvão. Sei que estou adiando a história e que brinco de bola sem bola. O fato é um<br />

ato? Juro que este livro é feito sem palavras. É uma fotografia muda. Este livro é um silêncio. Este livro é uma<br />

pergunta." (Clarice Lispector)<br />

A obra de Clarice Lispector, além de se apresentar introspectiva, marcada pela sondagem de fluxo de consciência<br />

(monólogo interior), reflete, também, uma preocupação com a escritura do texto literário.<br />

Observe o trecho em questão e aponte os elementos que comprovam tal preocupação.<br />

22. Reconheça nos textos a seguir, as funções da linguagem:<br />

a) "O risco maior que as instituições republicanas hoje correm não é o de se romperem, ou serem rompidas, mas<br />

o de não funcionarem e de desmoralizarem de vez, paralisadas pela sem-vergonhice, pelo hábito covarde de<br />

acomodação e da complacência. Diante do povo, diante do mundo e diante de nós mesmos, o que é preciso<br />

agora é fazer funcionar corajosamente as instituições para lhes devolver a credibilidade desgastada. O que é<br />

preciso (e já não há como voltar atrás sem avacalhar e emporcalhar ainda mais o conceito que o Brasil faz de<br />

si mesmo) é apurar tudo o que houver a ser apurado, doa a quem doer." (O Estado de São Paulo)<br />

b) O verbo infinitivo<br />

Ser criado, gerar-se, transformar<br />

O amor em carne e a carne em amor; nascer<br />

Respirar, e chorar, e adormecer<br />

E se nutrir para poder chorar<br />

Para poder nutrir-se; e despertar<br />

Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir<br />

E começar a amar e então ouvir<br />

E então sorrir para poder chorar.<br />

E crescer, e saber, e ser, e haver<br />

E perder, e sofrer, e ter horror<br />

De ser e amar, e se sentir maldito<br />

E esquecer tudo ao vir um novo amor<br />

E viver esse amor até morrer<br />

E ir conjugar o verbo no infinito... (Vinícius de Morais)


Material <strong>ITA</strong><br />

c) "Para fins de linguagem a humanidade se serve, desde os tempos pré-históricos, de sons a que se dá o nome<br />

enérico de voz, determinados pela corrente de ar expelida dos pulmões no fenômeno vital da respiração,<br />

quando, de uma ou outra maneira, é modificada no seu trajeto até a parte exterior da boca." (Matoso<br />

Câmara Jr.)<br />

d) "- Que coisa, né?<br />

- É. Puxa vida!<br />

- Ora, droga!<br />

- Bolas!<br />

- Que troço!<br />

- Coisa de louco!<br />

- É!"<br />

e) "Fique afinado com seu tempo. Mude para Col. Ultra Lights."<br />

f) "Sentia um medo horrível e ao mesmo tempo desejava que um grito me anunciasse qualquer acontecimento<br />

extraordinário. Aquele silêncio, aqueles rumores comuns, espantavam-me. Seria tudo ilusão? Findei a tarefa,<br />

ergui-me, desci os degraus e fui espalhar no quintal os fios da gravata. Seria tudo ilusão?... Estava doente, ia<br />

piorar, e isto me alegrava. Deitar-me, dormir, o pensamento embaralhar-se longe daquelas porcarias. Senti<br />

uma sede horrível... Quis ver-me no espelho. Tive preguiça, fiquei pregado à janela, olhando as pernas dos<br />

transeuntes." (Graciliano Ramos)<br />

g) "- Que quer dizer pitosga?<br />

- Pitosga significa míope.<br />

- E o que é míope?<br />

- Míope é o que vê pouco."<br />

23. (CESUPA - CESAM - COPERVES) Segundo o linguista Roman Jakobson, "dificilmente lograríamos (...) encontrar<br />

mensagens verbais que preenchem uma única função... A estrutura verbal de uma mensagem depende basicamente<br />

da função predominante".<br />

"Meu canto de morte<br />

Guerreiros, ouvi.<br />

Sou filho das selvas<br />

Nas selvas cresci.<br />

Guerreiros, descendo<br />

Da tribo tupi.<br />

Da tribo pujante,<br />

Que agora anda errante<br />

Por fado inconstante.<br />

Guerreiros, nasci:<br />

Sou bravo, forte,<br />

Sou filho do Norte<br />

Meu canto de morte,<br />

Guerreiros, ouvi."<br />

(Gonçalves Dias)<br />

Indique a função predominante no fragmento acima transcrito, justificando a indicação.<br />

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:<br />

O texto a seguir foi extraído do livro de memórias do escritor e jornalista carioca, que nasceu em 1926, Carlos<br />

Heitor Cony.<br />

Um livro de memórias é “relato que alguém faz, frequentemente, na forma de obra literária, a partir de<br />

acontecimentos históricos dos quais participou ou foi testemunha, ou que estão fundamentados em sua vida particular”.<br />

Não deve ser confundido com autobiografia.<br />

17


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

O suor e a lágrima<br />

Fazia calor no Rio, quarenta graus e qualquer coisa, quase quarenta e um. No dia seguinte, os jornais diriam que<br />

fora o dia mais quente deste verão que inaugura o século e o milênio. 2 Cheguei ao Santos Dumont, o voo estava<br />

atrasado, decidi engraxar os sapatos. Pelo menos aqui no Rio são raros 3 esses engraxates, só existem nos aeroportos e em<br />

poucos lugares avulsos.<br />

Sentei-me 4 naquela espécie de cadeira canônica, de coro de abadia pobre, que também pode parecer o trono de<br />

um rei desolado de um reino desolante.<br />

O engraxate era gordo e estava com calor — o que me pareceu óbvio. Elogiou 7 meu sapato, cromo italiano, fabricante<br />

ilustre, os Rossetti. 6 Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em parte porque quando posso estou sempre de tênis.<br />

Ofereceu-me o jornal que eu já havia lido e começou seu ofício. Meio careca, o suor encharcou-lhe a testa e a<br />

calva. 5 Pegou aquele paninho que dá brilho final nos sapatos e com ele enxugou o próprio suor, que era abundante.<br />

Com o mesmo pano, executou com maestria aqueles movimentos rápidos em torno da biqueira, mas a todo o<br />

instante o usava para enxugar-se — caso contrário, o suor inundaria o meu cromo italiano.<br />

E foi assim que a testa e a calva do valente filho do povo ficaram manchadas de graxa e o meu sapato adquiriu um<br />

brilho de espelho, à custa do suor alheio. Nunca tive sapatos tão brilhantes, tão dignamente suados.<br />

Na hora de pagar, alegando não ter nota menor, deixei-lhe um troco generoso. Ele me olhou espantado, retribuiu a<br />

gorjeta me desejando em dobro tudo o que eu viesse a precisar no resto dos meus dias.<br />

Saí daquela cadeira com um baita sentimento de culpa. Que diabo, meus sapatos não estavam tão sujos assim, por<br />

45 míseros tostões fizera um filho do povo suar para ganhar seu pão. 1 Olhei meus sapatos e tive vergonha daquele brilho<br />

humano salgado como lágrimas.<br />

CONY, Carlos Heitor. In: Eu aos pedaços: memórias. São Paulo: Leya, 2010. p. 114-115.<br />

24. (Uece 2014) Atente à caracterização do engraxate.<br />

18<br />

Segundo o cronista, ele era gordo e calvo. Essa caracterização<br />

I. está, de algum modo, relacionada com as ideias principais do texto.<br />

II. tem uma função textual.<br />

III. atende a uma necessidade de coerência interna do texto.<br />

Estão corretas as complementações contidas em<br />

a) I, II e III.<br />

b) I e II apenas.<br />

c) II e III apenas.<br />

d) I e III apenas.<br />

25. (Uece 2014) Escreva V ou F, conforme seja verdadeiro ou falso o que se afirma sobre referenciação e relações<br />

sintático-semânticas.<br />

( ) O trecho “No dia seguinte, os jornais diriam que fora o dia mais quente deste verão que inaugura o século e<br />

o milênio” constitui, na narrativa, uma digressão cuja função discursiva é comprovar o que se afirma em<br />

“Fazia calor no Rio, quarenta graus e qualquer coisa, quase quarenta e um.”<br />

( ) A expressão “esses engraxates” (ref. 3) justifica-se, no texto, pela relação indireta com o verbo “engraxar”: o<br />

ato de engraxar pressupõe um agente, no caso, um profissional — um engraxate — “esses engraxates”.<br />

( ) Nas expressões “(n)aquela espécie de cadeira canônica [...]” (ref. 4) e “Pegou aquele paninho que dá brilho [...]” (ref.<br />

5), ao usar o pronome aquele(a), o enunciador não aponta para nenhum elemento da superfície textual, mas aposta<br />

no conhecimento de mundo do enunciatário; em algo que acredita estar na memória dele.<br />

( ) Nas palavras do cronista, “Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em parte porque quando posso estou<br />

sempre de tênis.” (ref. 6), o pronome o(lo) substitui a expressão o meu sapato, (ref. 7), funcionando como<br />

elemento de coesão entre o enunciado em pauta e o enunciado anterior.<br />

Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequência:<br />

a) V – V – V – V.<br />

b) F – V – F – F.<br />

c) F – F – V – F.<br />

d) V – F – F – V.


Material <strong>ITA</strong><br />

26. No texto abaixo, identifique as funções da linguagem:<br />

"Gastei trinta dias para ir do Rossio Grande ao coração de Marcela, não já cavalgando o corcel do cego<br />

desejo, mas o asno da paciência, a um tempo manhoso e teimoso. Que, em verdade, há dois meios de granjear a<br />

vontade das mulheres: o violento, como o touro da Europa, e o insinuativo, como o cisne de Leda e a chuva de<br />

ouro de Dânae, três inventos do padre Zeus, que, por estarem fora de moda, aí ficam trocados no cavalo e no<br />

asno." (Machado de Assis)<br />

Fonologia - Fonemas, letras<br />

Módulo A02 - Fonologia – Fonemas e letras<br />

Fonologia é “a ciência que estuda os sons da língua do ponto de vista de sua função no sistema de comunicação<br />

linguística. Ela estuda os elementos fônicos que distinguem, numa mesma língua, duas mensagens de sentido diferente (<br />

a diferença fônica no início das palavras do português bala e mala, a diferença de posição do acento, no português,<br />

entre sábia, sabia e sabiá, etc.)e aqueles que permitem reconhecer uma mensagem igual através de realizações<br />

individuais diferentes( voz diferente, pronúncia diferente, etc.)Nisto se diferencia da fonética, que estuda os elementos<br />

fônicos independentemente de sua função na comunicação”.<br />

DUBOIS, Jean Etalii. Dicionário de linguística. São Paulo: Cutrix.<br />

Observe:<br />

“Vamos recorrer em liberdade!” = frase é composto de 26 letras.<br />

“Vamos” / “recorrer” / “em” / “liberdade” = palavras<br />

“Re / cor / rer” = sílabas<br />

“R / e / c / o / r / r / e / r” (considerando a grafia) = letras<br />

“R / E / K / O / R / E / R” (considerando os sons) = fonemas<br />

LETRA: é cada um dos caracteres do alfabeto. O alfabeto da língua portuguesa<br />

FONEMA: é menor unidade que participa da constituição sonora da palavra .<br />

Observe, nos exemplos a seguir, os fonemas que marcam a distinção entre os pares de palavras:<br />

morta – porta<br />

morro - corro<br />

lua - tua<br />

CLASSIFICAÇÃO DOS FONEMAS<br />

Os fonemas da língua portuguesa são classificados em:<br />

1) Vogais<br />

São sons que se formam quando a corrente de ar vinda dos pulmões não sofre nenhum tipo de interrupção. As<br />

vogais são, portanto, sons que chegam livremente ao meio exterior. Em nossa língua, desempenham o papel de núcleo<br />

das sílabas. Assim, isso significa que em toda sílaba há necessariamente uma única vogal.<br />

Na produção de vogais, a boca fica aberta ou entreaberta.<br />

As vogais podem ser:<br />

a) Orais: quando o ar sai apenas pela boca. Por Exemplo:<br />

/a/, /e/, /i/, /o/, /u/.<br />

b) Nasais: quando o ar sai pela boca e pelas fossas nasais. Por Exemplo:<br />

/ã/: fã, canto, tampa<br />

/ế/: dente, tempero<br />

/ĩ/: lindo, mim<br />

/õ/ bonde, tombo<br />

/ũ/ nunca, algum<br />

19


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

c) Átonas: pronunciadas com menor intensidade.<br />

Por Exemplo: até, bola<br />

d) Tônicas: pronunciadas com maior intensidade.<br />

Por Exemplo: até, bola<br />

Quanto ao timbre, as vogais podem ser:<br />

Abertas<br />

Exemplos: pé, lata, pó<br />

Fechadas<br />

Exemplos: mês, luta, amor<br />

Reduzidas - Aparecem quase sempre no final das palavras.<br />

Exemplos: dedo, ave, gente<br />

Quanto à zona de articulação:<br />

Anteriores ou Palatais - A língua eleva-se em direção ao palato duro (céu da boca).<br />

Exemplos: é, ê, i<br />

Posteriores ou Velares - A língua eleva-se em direção ao palato mole (véu palatino).<br />

Exemplos: ó, ô, u<br />

Médias - A língua fica baixa, quase em repouso.<br />

Por Exemplo: a<br />

2) Semivogais<br />

Os fonemas /i/ e /u/, algumas vezes, não são vogais. Aparecem apoiados em uma vogal, formando com ela uma<br />

só emissão de voz (uma sílaba). Nesse caso, esses fonemas são chamados de semivogais. A diferença fundamental entre<br />

vogais e semivogais está no fato de que estas últimas não desempenham o papel de núcleo silábico.<br />

Observe a palavra papai. Ela é formada de duas sílabas: pa-pai. Na última sílaba, o fonema vocálico que se<br />

destaca é o a. Ele é a vogal. O outro fonema vocálico i não é tão forte quanto ele. É a semivogal.<br />

Outros exemplos:<br />

saudade, história, série.<br />

os fonemas /i/ e /u/ podem aparecer representados na escrita por” e”, “o” ou “m”.<br />

Veja:<br />

pães / pãis mão / mãu/ cem /cếi/<br />

3) Consoantes<br />

Para a produção das consoantes, a corrente de ar expirada pelos pulmões encontra obstáculos ao passar pela<br />

cavidade bucal. Isso faz com que as consoantes sejam verdadeiros “ruídos”, incapazes de atuar como núcleos silábicos.<br />

Seu nome provém justamente desse fato, pois, em português, sempre consoam (“soam com”) as vogais.<br />

Exemplos: /b/, /t/, /d/, /v/, /l/, /m/, etc.<br />

DÍGRAFOS<br />

Consonantais: CH (CHave), LH (gaLHo), NH (niNHo), RR (caRRo), SS (aSSim), QU (QUilo), GU (GUerra), SC (naSCer), S<br />

Ç (deSÇa), XC (eXCeção), XS (eXSudar).<br />

Vocálicos: AM/NA (cAMpo, sANgue), EM/EM (sEMpre, tENto), IM/IN (lIMpo, tINgir), OM/ON (rOMbo, tONto), UM/UM<br />

(nenhUM, sUNga).<br />

20


Material <strong>ITA</strong><br />

DÍFONO - É uma letra que reproduz dois fonemas .a ortografia portuguesa apresenta apenas um dífono. Trata-se da<br />

letrax ,quando empregada com valor de /ks/.<br />

Ex.: táxi, fixa, anexo<br />

ENCONTROS CONSONANTAIS<br />

É o encontro de duas consoantes na mesma sílaba que emitem dois sons distintos. (Consoante + l ou r):<br />

atleta, placa, blusa, crise, franco, preto.<br />

O encontro das consoantes pode ser:<br />

Perfeito ou inseparável: consoantes ficam na mesma sílaba<br />

a) Blu-as b)cri-se c)pra-ta<br />

Imperfeito, separável, disjunto ou aparente : as consoantes ficam em sílabas distintas:<br />

b) Ab-di-car b)sub-so-lo c) ad-vo-ga-do<br />

ENCONTROS VOCÁLICOS<br />

1. HIATO: encontro de duas vogais em sílabas diferentes: sa-í-da, pa-ís, vo-o.<br />

2. DITONGO: encontro, na mesma sílaba, de VOGAL e SEMIVOGAL — ditongo decrescente (moi-ta, cai, mói) — ou<br />

de SEMIVOGAL e VOGAL — ditongo crescente (qual, pá-tria, sé-rio). Podem ser ORAIS (nos exemplos anteriores)<br />

ou NASAIS (mãe ou pão).<br />

3. TRITONGO: SEMIVOGAL + VOGAL + SEMIVOGAL na mesma sílaba :Paraguai,Uruguai(orais), quão (nasal).<br />

Observação: Ninguém, também e cantaram, amaram — são exemplos de ditongos nasais decrescentes (-EM, -AM).<br />

4. IODE - É o agrupamento de uma semivogal / i / entre duas vogais. Foneticamente, ocorre duplo ditongo. A<br />

semivogal /i/ será representada com duplo Y.<br />

a) meia = iode, cuja representação fonética é → [´mey. yɐ].<br />

b) joia = iode, cuja representação fonética é → [´Ʒɔy. yɐ].<br />

c) ideia = iode, cuja representação fonética é → [i.´dɛy. yɐ].<br />

5. VAU<br />

O mesmo que a Iode, porém com a semivogal /u/ cuja representação fonética é um duplo W.<br />

a) Piauí = Vau, cuja representação fonética é → [pi. aw.´wi].<br />

b) Mauá = Vau, cuja representação fonética é → [maw.´wa].<br />

Exercícios propostos<br />

Texto comum à questão 27.<br />

Leia o poema de Carlos Drummond de Andrade.<br />

LAGOA<br />

Eu não vi o mar.<br />

Não sei se o mar é bonito,<br />

não sei se ele é bravo.<br />

O mar não me importa.<br />

Eu vi a lagoa.<br />

A lagoa, sim.<br />

A lagoa é grande<br />

e calma também.<br />

Na chuva de cores<br />

da tarde que explode<br />

a lagoa brilha<br />

a lagoa se pinta<br />

de todas as cores.<br />

Eu não vi o mar.<br />

Eu vi a lagoa...<br />

21


27. (FGV) Observe as frases:<br />

"Eu não vi o mar".<br />

"Eu não vi Omar".<br />

<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

Evidentemente, a segunda frase não caberia no poema pela construção semântica "mar × lagoa". No entanto,<br />

tomado o verso fora do contexto do poema, o seu entendimento poderia ser prejudicado. Isso decorre do fato de:<br />

a) a construção frasal ser semelhante, apesar de haver diferenciação na pronúncia das palavras.<br />

b) haver uma coincidência na seleção de fonemas entre as duas frases, o que leva à idêntica pronúncia.<br />

c) não haver equivalência entre os fonemas de ambas as frases, o que as torna bastante ambíguas.<br />

d) haver duas unidades linguísticas (o mar) sendo retomadas por uma (Omar) de pronúncia diferente.<br />

e) haver diferença na quantidade de letras nas duas frases, mas equivalência de fonemas entre elas.<br />

28. (UFSM) A palavra SANGUESSUGA possui 11 letras, 8 fonemas e 3 dígrafos; DEMOCRACIA tem 10 letras, 1<br />

encontro consonantal e 1 hiato. Relacione as duas colunas a seguir e depois assinale a alternativa com a sequência<br />

correta.<br />

1. república<br />

2. hábito<br />

3. reeleição<br />

4. candidatos<br />

5. corrupção<br />

6. excessivo<br />

( ) 9 fonemas, 1 dígrafo<br />

( ) 7 fonemas, 2 dígrafos<br />

( ) 8 fonemas, 1 dígrafo, 1 encontro consonantal<br />

( ) 9 fonemas, 1 encontro consonantal<br />

( ) 9 fonemas, 2 ditongos, 1 hiato<br />

( ) 5 fonemas<br />

a) 6 - 4 - 1 - 5 - 3 - 2<br />

b) 2 - 4 - 5 - 6 - 3 - 1<br />

c) 5 - 1 - 6 - 4 - 2 - 3<br />

d) 4 - 6 - 5 - 1 - 3 - 2<br />

e) 3 - 5 - 2 - 6 - 4 - 1<br />

Texto comum à questão 29<br />

INSTRUÇÃO: As questões seguintes são relacionadas a uma passagem bíblica e a um trecho da canção Cálice,<br />

realizada em 1973, por Chico Buarque (1944 -) e Gilberto Gil (1942 -).<br />

TEXTO BÍBLICO<br />

Pai, se queres, afasta de mim este cálice! Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita! (Lucas, 22)<br />

(In: Bíblia de Jerusalém. 7ª impressão. São Paulo: Paulus, 1995)<br />

TRECHO DE CANÇÃO<br />

Pai, afasta de mim esse cálice!<br />

Pai, afasta de mim esse cálice!<br />

Pai, afasta de mim esse cálice<br />

De vinho tinto de sangue.<br />

22<br />

Como beber dessa bebida amarga,<br />

Tragar a dor, engolir a labuta,<br />

Mesmo calada a boca, resta o peito,<br />

Silêncio na cidade não se escuta.<br />

De que me vale ser filho da santa,<br />

Melhor seria ser filho da outra,<br />

Outra realidade menos morta,<br />

Tanta mentira, tanta força bruta.<br />

(In: www.uol.com.br/chicobuarque/)


Material <strong>ITA</strong><br />

29. (Unifesp 2003) Na língua portuguesa escrita, quando duas letras são empregadas para representar um único<br />

fonema (ou som, na fala), tem-se um "dígrafo". O dígrafo só está presente em todos os vocábulos de<br />

a) Pai, minha, tua, esse, tragar.<br />

b) afasta, vinho, dessa, dor, seria.<br />

c) queres, vinho, sangue, dessa, filho.<br />

d) esse, amarga, Silêncio, escuta, filho.<br />

e) queres, feita, tinto, Melhor, bruta.<br />

30. (FGV) Os dois hiatos das formas verbais devem ser acentuados apenas na alternativa:<br />

a) refluir, intuindo.<br />

b) construindo, destruido.<br />

c) caida, saiste.<br />

d) instruido, intuir.<br />

e) refluira, destruindo.<br />

31. (FGV) Cada uma das palavras a seguir apresenta separação silábica em um ponto. Assinale a alternativa em que<br />

não haja erro de separação.<br />

a) Transatlân-tico, in-terestadual, refei-tório, inex-cedível<br />

b) Trans-atlântico, o-pinião, inter-estadual, refeitó-rio<br />

c) Trans-atlântico, opi-nião, interestadu-al, in-excedível<br />

d) Transa-tlântico, opini-ão, interestadu-al, in-excedível<br />

e) Transatlânti-co, inter-estadual, re-feitório, inexce-dível<br />

32. (Fuvest ) Leia o seguinte texto, que trata das diferenças entre fala e escrita:<br />

Talvez ainda mais digno de atenção seja o desaparecimento [na escrita] da mímica e das inflexões ou variações do<br />

tom da voz. A sua falta tem de ser suprida por outros recursos.<br />

É, neste sentido, que se torna altamente instrutiva a velha anedota, que nos conta a indignação de um rico<br />

fazendeiro ao receber de seu filho um telegrama com a frase singela – “mande-me dinheiro”, que ele lia e relia<br />

emprestando-lhe um tom rude e imperativo. O bom homem não era tão néscio quanto a anedota dá a entender:<br />

estava no direito de exigir da formulação verbal uma qualidade que lhe fizesse sentir a atitude filial de carinho e<br />

respeito e de refugar uma frase que, sem a ajuda de gestos e entoação adequada, soa à leitura espontaneamente<br />

como ríspida e seca.<br />

J. Mattoso Câmara Jr., Manual de expressão oral e escrita. Adaptado.<br />

a) Considerando-se que o verbo da frase do telegrama está no imperativo, se essa mesma frase fosse dita em<br />

uma conversa telefônica, haveria possibilidade de o pai entendê-la de modo diferente? Explique.<br />

b) Reescreva a frase do telegrama, acrescentando-lhe, no máximo, três palavras e a pontuação adequada, de<br />

modo a atender a exigência do pai, mencionada no texto.<br />

33. (ENEM) Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou ao mercado, apuro o ouvido; não espero só o sotaque geral dos<br />

nordestinos, onipresentes, mas para conferir a pronúncia de cada um; os paulistas pensam que todo nordestino fala igual;<br />

contudo as variações são mais numerosas que as notas de uma escala musical. Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do<br />

Norte, Ceará, Piauí têm no falar de seus nativos muito mais variantes do que se imagina. E a gente se goza uns dos outros,<br />

imita o vizinho, e todo mundo ri, porque parece impossível que um praiano de beira-mar não chegue sequer perto de um<br />

sertanejo de Quixeramobim. O pessoal do Cariri, então, até se orgulha do falar deles. Têm uns tês doces, quase um the; já<br />

nós, ásperos sertanejos, fazemos um duro auoueu de todos os terminais em alou el– carnavau, Raqueu... Já os paraibanos<br />

trocam o l pelo r. José Américo só me chamava, afetuosamente, de Raquer.<br />

Queiroz, R. O Estado de São Paulo. 09 maio 1998 (fragmento adaptado).<br />

Raquel de Queiroz comenta, em seu texto, um tipo de variação linguística que se percebe no falar de pessoas de<br />

diferentes regiões. As características regionais exploradas no texto manifestam-se<br />

a) na fonologia.<br />

b) no uso do léxico.<br />

c) no grau de formalidade.<br />

d) na organização sintática.<br />

e) na estruturação morfológica.<br />

23


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

34. (ENEM) Para o Mano Caetano<br />

O que fazer do ouro de tolo<br />

Quando um doce bardo brada a toda brida,<br />

Em velas pandas, suas esquisitas rimas?<br />

Geografia de verdades, Guanabaraspostiças<br />

Saudades banguelas, tropicais preguiças?<br />

A boca cheia de dentes<br />

De um implacável sorriso<br />

Morre a cada instante<br />

Que devora a voz do morto, e com isso,<br />

Ressuscita vampira, sem o menor aviso<br />

[...]<br />

E eu soylobo-bolo? lobo-bolo<br />

Tipo pra rimar com ouro de tolo?<br />

Oh, Narciso Peixe Ornamental!<br />

Tease me, tease me outra vez 1<br />

Ou em banto baiano<br />

Ou em português de Portugal<br />

De Natal<br />

[...]<br />

1 Tease me (caçoe de mim, importune-me).<br />

LOBÃO. Disponível em: http://vagalume.uol.com.br. Acesso em:<br />

14 ago. 2009 (adaptado).<br />

Na letra da canção apresentada, o compositor Lobão explora vários recursos da língua portuguesa, a fim de<br />

conseguir efeitos estéticos ou de sentido. Nessa letra, o autor explora o extrato sonoro do idioma e o uso de termos<br />

coloquiais na seguinte passagem:<br />

a) “Quando um doce bardo brada a toda brida” (v. 2)<br />

b) “Em velas pandas, suas esquisitas rimas?” (v. 3)<br />

c) “Que devora a voz do morto” (v. 9)<br />

d) “lobo-bolo//Tipo pra rimar com ouro de tolo? (v. 11-12)<br />

e) “Tease me, tease me outra vez” (v. 14)<br />

35. (UFRR) Assinale a alternativa em que as palavras: “resumiu”, “rodeios” e “meias” estão corretamente divididas em<br />

sílabas.<br />

a) re-su-miu, ro-dei-os, me-i-as.<br />

b) re-su-mi-u, ro-de-i-os, mei-as.<br />

c) re-su-mi-u, ro-de-ios, me-ias.<br />

d) re-su-miu, ro-dei-os, mei-as.<br />

e) re-su-mil, ro-de-ios, me-i-as.<br />

36. (UNIFOR CE)<br />

Conforme o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, a partir de janeiro de 2013, a ortografia portuguesa<br />

passa por algumas mudanças. Algumas dessas mudanças estão relacionadas à (ao):<br />

a) Crase. Acentuação. Hífen.<br />

b) Alfabeto. Acentuação. Trema.<br />

c) Trema. Pronúncia. Hífen.<br />

d) Alfabeto. Hífen. Crase.<br />

e) Trema. Acentuação. Pronúncia.<br />

24


Material <strong>ITA</strong><br />

37. (UFAM) Assinale a opção constante de vocábulos que apresentem ditongo decrescente nasal (o primeiro), encontro<br />

consonantal (o segundo) e dígrafo (o terceiro):<br />

a) puniu – exclamar – enxágue<br />

b) quatro – samba – escala<br />

c) tênue – excitar – aquoso<br />

d) fortuito – descida – leque<br />

e) muito – obtuso – mundo<br />

38. (FGV) Segundo o dicionário Houaiss, dígrafo corresponde a um “grupo de duas letras usadas para representar um<br />

único fonema”. Essa definição é exemplificada com as seguintes palavras do texto:<br />

a) administrador, designação, vergonha.<br />

b) trabalhava, comissão, maluquice.<br />

c) roupa, supérfluas, contentou.<br />

d) aflito, desgraça, fechado.<br />

e) público, gratificação, desgraçado.<br />

39. (Pucmg 2004) QUESTÃO RELACIONADA À OBRA BEIRA-MAR, DE PEDRO NAVA.<br />

Todos os trechos a seguir revelam a sensibilidade de Pedro Nava em explorar fonemas, dos quais obtém resultados<br />

significativos, como se vê nos trechos que se seguem, EXCETO:<br />

a) "O Deolindo conferiu, teve nada para dizer mas surripiou-me a oportunidade de ver o diretor - ele mesmo<br />

levando-os à assinatura sempre traçada num cursivo inglês com finos e grossos preciosos."<br />

b) "Chamavamo-laFarfalla, Farfalleta, inspirados naquela semelhança e na do seu jeito esquivo de borboleta."<br />

c) "Matei uma de minhas fomes e agradeci chamando-a de minha Irmã Borboleta - dizendo na sua língua -<br />

Schwester, Schmetterling. À palavra movediça e adejante, suas maçãs pegaram fogo."<br />

d) "E precisa? descrever o voo das andorinhas se seu desenho sinuoso já está no nome do passarinho, nome<br />

inspirado nas qualidades do adejo - como acontece em todas as línguas - não vê? Olha hirondelle,<br />

golondrina, rondinela, swallow, Schwalbe..."<br />

40. (Fgv 2001) Assinale a alternativa verdadeira.<br />

a) Nas palavras HISTÓRIA, ENQUANTO e TRANQUILO, encontramos ditongos crescentes.<br />

b) É correta a separação silábica de BA-LEI-A, EX-CUR-SÃO, TRANS-A-MA-ZÔ-NI-CA.<br />

c) As palavras PSEUDÔNIMO e FOTOGRAFIA têm, respectivamente dígrafo e encontro consonantal.<br />

d) As palavras ENIGMA e SUBLINGUAL são polissílabas.<br />

e) As palavras CHAPEUZINHO e CRISTÃMENTE são proparoxítonas.<br />

41. (U.F.Maranhão) Foneticamente, o vocábulo passo contém:<br />

a) um dígrafo.<br />

b) um ditongo.<br />

c) uma vogal e uma semivogal.<br />

d) um encontro consonantal.<br />

e) um hiato.<br />

42. (PUC-SP) Assinale a alternativa que apresenta tritongo, hiato, ditongo crescente e dígrafo:<br />

a) quais, saúde, perdoe, álcool<br />

b) cruéis, mauzinho, quais, psique<br />

c) quão, mais, mandiú, quieto<br />

d) aguei, caos, mágoa, chato<br />

e) n.d.a.<br />

43. (<strong>ITA</strong>-SP) Dadas as palavras:<br />

1) tung-stê-nio<br />

2) bis-a-vô<br />

3) du-e-lo<br />

25


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

26<br />

Constatamos que a separação silábica está correta:<br />

a) apenas em I<br />

b) apenas em 2<br />

c) apenas em 3<br />

d) em todas as palavras<br />

e) n.d.a.<br />

44. (UnB DF) Marque a opção em que todas as palavras apresentam um dígrafo:<br />

a) fixo, auxilio, tóxico, exame<br />

b) enxergar, luxo, bucho, olho<br />

c) bicho, passo, carro, banho<br />

d) choque, sintaxe, unha, coxa<br />

45. (PUC PR) Assinale a alternativa em que o x nunca é pronunciado como /ks/:<br />

a) tóxico, máximo, prolixo<br />

b) êxtase, exímio, léxico<br />

c) exportar, nexo, tóxico<br />

d) máximo, êxodo, exportar<br />

e) exímio, prolixo, êxodo<br />

46. (Fuvest SP) Assinale a alternativa em que todas as palavras estejam corretamente grafadas.<br />

a) tecer, vazar, aborígene, tecitura, maisena<br />

b) rigidez, garage, dissenção, rigeza, cafuzo<br />

c) minissaia, paralisar, extravasar, abscissa, co-seno<br />

d) abcesso, rechaçar, indu, soçobrar, coalizão<br />

e) lambujem, advinhar, atarraxar, bússola, usofruto<br />

47. (<strong>ITA</strong> SP) Dadas as afirmações:<br />

1) O acento grave ( ` ), atualmente, só é usado para indicar a crase do a. Por exemplo: Dei uma pulseira de<br />

ouro àquela moça.<br />

2) O u no grupo gua-guo-qua-quo recebe trema quando for pronunciadoatonamente. Ex.: longínqüo.<br />

3) O u do grupo gue-gui-que-qui recebe trema quando for pronunciado tonicamente. Ex.: freqüente.<br />

Deduzimos que:<br />

a) apenas a afirmação nª 1 está correta.<br />

b) apenas a afirmação nª 2 está correta.<br />

c) apenas a afirmação nª 3 está correta.<br />

d) todas estão corretas.<br />

e) n.d.a.<br />

48. (<strong>ITA</strong> SP) Em qual alternativa as palavras estão grafadas corretamente?<br />

a) receoso, reveses, discrição, umedecer<br />

b) antidiluviano, sanguissedento, aguarraz, atribue<br />

c) ineludível, engolimos, sobressaem, explendoroso<br />

d) encoragem, rijeza, tecitura, turbo-hélice<br />

e) dissensão, excurcionar, enxugar, asimétrico<br />

49. (Fuvest SP) “Meditemos na regular beleza que a natureza nos oferece”.<br />

Assinale a alternativa em que o homônimo tem o mesmo significado do empregado na oração acima:<br />

a) Não conseguia regular a marcha do carro.<br />

b) É bom aluno, mas obteve nota regular.<br />

c) Aquilo não era regular, devia ser corrigido.<br />

d) Admirava-se, ali, a disposição regular dos canteiros.<br />

e) Daqui até sua casa há uma distância regular.


Material <strong>ITA</strong><br />

50. (<strong>ITA</strong> SP) O acento gráfico das palavras pudico, interim, aerolito, aerodromo, foi, aqui, caso ocorra, propositalmente<br />

eliminado. Quanto ao acento tônico, sua respectiva classificação é:<br />

a) paroxítona – paroxítona – paroxítona – paroxítona.<br />

b) paroxítona – proparoxítona – proparoxítona – proparoxítona.<br />

c) proparoxítona – proparoxítona – proparoxítona – proparoxítona.<br />

d) paroxítona – proparoxítona – proparoxítona – paroxítona.<br />

e) paroxítona – oxítona – paroxítona – paroxítona.<br />

Texto comum à questão 51.<br />

O poeta é um fingidor<br />

Finge tão completamente<br />

Que chega a fingir que é dor<br />

A dor que deveras sente.”<br />

(Fernando Pessoa)<br />

51. Julgue as assertivas a seguir e assinale a sequência obtida:<br />

I. Há, no texto, um hiato.<br />

II. Há dois exemplos de encontro consonantal.<br />

III. Há, no texto, sete dígrafos vocálicos.<br />

IV. Há, no texto, exemplo de dígrafo consonantal.<br />

a) V-V-V-V<br />

b) F-V-V-V<br />

c) V-F-F-V<br />

d) F-F-V-V<br />

e) V-F-V-V<br />

52. (GPRSF) Assinalar a alternativa incorreta quanto ao número de fonemas e letras, respectivamente:<br />

a) cochichar (7,9)<br />

b) frequentemente (12,14)<br />

c) horrível (6,8)<br />

d) passarinheiro (11,13)<br />

e) joia (4,5)<br />

53. Assinale verdadeiro (V) ou falso (F) em cada uma das afirmações relacionadas à análise fonológica e gráfica do<br />

segmento a seguir:<br />

“Ele é especialmente sensível sobre o seu excesso de peso”.<br />

( ) O fonema /s/ está representado pelas letras (s), (c) e dois dígrafos, ao passo que o fonema /z/ está<br />

representado apenas pela letra (s).<br />

( ) A letra (n) junta-se ao (e) formando um dígrafo para representar a vogal nasal.<br />

( ) As palavras “sobre” e “seu” apresentam, respectivamente, um encontro consonantal e um ditongo decrescente.<br />

A sequência correta é:<br />

a) V-F-F<br />

b) F-V-V<br />

c) F-F-F<br />

d) V-V-V<br />

e) V-F-V<br />

54. Não há ditongo em<br />

a) circuito<br />

b) pães.<br />

c) hífen<br />

d) continuou<br />

e) secretaria<br />

27


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

Leia a tira para responder à questão 55.<br />

28<br />

Copyright 1997 Mauricio de Sousa Produções Ltda. Redistribution in wholeor in partprohibited.<br />

55. Considerando a classificação dos encontros vocálicos e consonantais, pode-se afirmar que<br />

a) na forma verbal TEM, o m está empregado como consoante.<br />

b) há quatro encontros consonantais no balãozinho.<br />

c) há ocorrência de dígrafo vocálico e consonantal, respectivamente, em: QUE e ERRADA.<br />

d) A palavra HISTÓRIA está acentuada por tratar-se de uma paroxítona terminada em ditongo.<br />

e) O ditongo da palavra NÃO é crescente nasal.<br />

56. (<strong>ITA</strong> SP) Dadas as palavras:<br />

1) des-a-ten-to<br />

2) sub-es-ti-mar<br />

3) trans-tor-no<br />

Constatamos que a separação silábica está correta:<br />

a) apenas a palavra nº1.<br />

b) todas as palavras.<br />

c) apenas a palavra nº2.<br />

d) n.d.a.<br />

e) apenas a palavra nº3.<br />

57. (UnB DF) Marque a opção em que todas as palavras apresentam um dígrafo:<br />

a) fixo, auxílio, tóxico, exame<br />

b) enxergar, luxo, bucho, olho<br />

c) bicho, passo, carro, banho<br />

d) choque, sintaxe, unha, coxa<br />

e) n.d.a.<br />

Módulo A03 - ACENTUAÇÃO GRÁFICA<br />

ACENTUAÇÃO GRÁFICA<br />

As regras orientam a acentuação gráfica das palavras foram estabelecidas em 1943 e passaram por algumas<br />

pequenas alterações em 1971. Depois, em 1990, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa introduziu mais algumas<br />

modificações, fixando, assim, as regras atualmente em vigor. Nesta parte, dedicaremos espaço à questão das Novas<br />

Regras Ortográficas da Língua Portuguesa, as quais entraram em vigor desde o dia 1º de janeiro de 2009.<br />

Regras básicas – Acentuação tônica<br />

A acentuação tônica implica a intensidade com que são pronunciadas as sílabas das palavras. Aquela que se dá de<br />

forma mais acentuada, conceitua-se como sílaba tônica.


Material <strong>ITA</strong><br />

As demais, como são pronunciadas com menos intensidade, são denominadas de átonas.<br />

De acordo com a tonicidade, as palavras são classificadas.<br />

Veja a nova tabela de acentuação:<br />

Tipo de palavra<br />

ou sílaba<br />

Proparoxítonas<br />

Paroxítonas<br />

Oxítonas<br />

Monossílabos<br />

tônicos<br />

Í e Ú em palavras<br />

oxítonas e<br />

paroxítonas<br />

Ditongos abertos<br />

em palavras<br />

paroxítonas<br />

Ditongos abertos<br />

em palavras<br />

oxítonas e<br />

monossílabos<br />

tônicos<br />

Verbos arguir e<br />

redarguir (agora<br />

sem trema)<br />

Quando<br />

acentuar<br />

sempre<br />

Se terminadas em: R, X,<br />

N, L, I, IS, UM, UNS,<br />

US, PS, Ã, ÃS, ÃO,<br />

ÃOS; ditongo oral,<br />

seguido ou não de S<br />

Se terminadas em: A,<br />

AS, E, ES, O, OS, EM,<br />

ENS<br />

terminados em A, AS, E,<br />

ES, O,OS<br />

Í e Ú levam acento se<br />

estiverem sozinhos na<br />

sílaba (hiato)<br />

EI, OI<br />

ÉIS, ÉU(S), ÓI(S)<br />

arguir e redarguir<br />

usavam acento agudo<br />

em algumas pessoas do<br />

indicativo, do subjuntivo<br />

e do imperativo<br />

afirmativo.<br />

Exemplos<br />

(como eram)<br />

simpática, lúcido,<br />

sólido, cômodo<br />

fácil, táxi, tênis,<br />

hífen, próton,<br />

álbum(ns), vírus,<br />

caráter, látex,<br />

bíceps, ímã, órfãs,<br />

bênção, órfãos,<br />

cárie, árduos,<br />

pólen, éden.<br />

vatapá, igarapé,<br />

avô, avós, refém,<br />

parabéns,<br />

adorá-lo, revê-lo,<br />

transpô-las.<br />

vá, pás, pé, mês,<br />

pó, pôs, dá-lo, vêlo,<br />

pô-las.<br />

saída, saúde,<br />

miúdo, aí, Araújo,<br />

Esaú, Luís, Itaú,<br />

baús, Piauí<br />

idéia, colméia, bóia<br />

papéis, herói,<br />

heróis, troféu, céu,<br />

mói (moer)<br />

Observações<br />

(como ficaram)<br />

Continua tudo igual ao que era antes da nova<br />

ortografia. Observe: Pode-se usar acento agudo ou<br />

circunflexo de acordo com a pronúncia da região:<br />

acadêmico, fenômeno (Brasil) académico, fenómeno<br />

(Portugal).<br />

Continua tudo igual. Observe: 1) Terminadas em ENS<br />

não levam acento: hifens, polens. 2) Usa-se<br />

indiferentemente agudo ou circunflexo se houver<br />

variação de pronúncia: sêmen, fêmur (Brasil) ou sémen,<br />

fémur (Portugal). 3) Não ponha acento nos prefixos<br />

paroxítonos que terminam em R nem nos que terminam<br />

em I: inter-helênico, super-homem, anti-herói, semiinternato.<br />

Continua tudo igual. Observe: 1. terminadas em I, IS, U,<br />

US não levam acento: tatu, Morumbi, abacaxi. 2. Usa-se<br />

indiferentemente agudo ou circunflexo se houver<br />

variação de pronúncia: bebê, purê (Brasil); bebé, puré<br />

(Portugal).<br />

Continua tudo igual.<br />

1. Se o i e u forem seguidos de s, a regra se mantém:<br />

balaústre, egoísmo, baús, jacuís. 2. Não se acentuam i e<br />

u se depois vier ‘nh’: rainha, tainha, moinho. 3. Esta<br />

regra é nova: nas paroxítonas, o i e u não serão mais<br />

acentuados se vierem depois de um ditongo: baiuca,<br />

bocaiuva, feiura, saiinha (saia pequena), cheiinho<br />

(cheio). 4. Mas, se, nas oxítonas, mesmo com ditongo, o<br />

i e u estiverem no final, haverá acento: tuiuiú, Piauí, teiú.<br />

Esta regra desapareceu (para palavras paroxítonas).<br />

Escreve-se agora: ideia, colmeia, celuloide, boia.<br />

Observe: há casos em que a palavra se enquadrará em<br />

outra regra de acentuação. Por exemplo: contêiner,<br />

Méier, destróier serão acentuados porque terminam em<br />

R.<br />

Continua tudo igual (mas, cuidado: somente para<br />

palavras oxítonas ou monossílabas tônicas).<br />

Esta regra desapareceu. Os verbos arguir e redarguir<br />

perderam o acento agudo em várias formas (rizotônicas):<br />

eu arguo (fale: ar-gú-o, mas não acentue); ele argui<br />

(fale: ar-gúi), mas não acentue.<br />

29


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

Verbos terminados<br />

em guar, quar e<br />

quir<br />

ôo, êe<br />

Verbos ter e vir<br />

Derivados de ter e<br />

vir (obter, manter,<br />

intervir)<br />

aguar enxaguar,<br />

averiguar, apaziguar,<br />

delinquir, obliquar<br />

usavam acento agudo<br />

em algumas pessoas do<br />

indicativo, do subjuntivo<br />

e do imperativo<br />

afirmativo.<br />

vôo, zôo, enjôo, vêem<br />

na terceira pessoa do<br />

plural do presente do<br />

indicativo<br />

na terceira pessoa do<br />

singular leva acento<br />

agudo; na terceira<br />

pessoa do plural do<br />

presente levam<br />

circunflexo<br />

eles têm, eles vêm<br />

ele obtém, detém,<br />

mantém; eles<br />

obtêm, detêm,<br />

mantêm<br />

Esta regra sofreu alteração. Observe:. Quando o verbo<br />

admitir duas pronúncias diferentes, usando a ou i<br />

tônicos, aí acentuamos estas vogais: eu águo, eles<br />

águam e enxáguam a roupa (a tônico); eu delínquo, eles<br />

delínquem (í tônico). Se a tônica, na pronúncia, cair<br />

sobre o u, ele não será acentuado: Eu averiguo (diga<br />

averi-gú-o, mas não acentue) o caso.<br />

Esta regra desapareceu. Agora se escreve: zoo, perdoo<br />

veem, magoo, voo.<br />

Continua tudo igual. Ele vem aqui; eles vêm aqui. Eles<br />

têm sede; ela tem sede.<br />

Continua tudo igual.<br />

Acento<br />

diferencial<br />

Esta regra desapareceu, exceto para os verbos: PODER<br />

(diferença entre passado e presente. Ele não pôde ir<br />

ontem, mas pode ir hoje. PÔR (diferença com a<br />

preposição por): Vamos por um caminho novo, então<br />

vamos pôr casacos; TER e VIR e seus compostos (ver<br />

acima). Observe: 1) Perdem o acento as palavras<br />

compostas com o verbo PARAR: Para-raios, parachoque.<br />

2) FÔRMA (de bolo): O acento será opcional;<br />

se possível, deve-se evitá-lo: Eis aqui a forma para<br />

pudim, cuja forma de pagamento é parcelada.<br />

EXERCÍCIOS PROPOSTOS<br />

Texto comum às questões: 58 e 59.<br />

O administrador da repartição em que Pádua trabalhava teve de ir ao Norte, em comissão. Pádua, ou por ordem<br />

regulamentar, ou por especial designação, ficou substituindo o administrador com os respectivos honorários. Não se<br />

contentou de reformar a roupa e a copa, atirou-se às despesas supérfluas, deu joias à mulher, nos dias de festa matava<br />

um leitão, era visto em teatros, chegou aos sapatos de verniz. Viveu assim vinte e dois meses na suposição de uma eterna<br />

interinidade. Uma tarde entrou em nossa casa, aflito e esvairado, ia perder o lugar, porque chegara o efetivo naquela<br />

manhã. Pediu à minha mãe que velasse pelas infelizes que deixava; não podia sofrer a desgraça, matava-se. Minha mãe<br />

falou-lhe com bondade, mas ele não atendia a coisa nenhuma.<br />

– Não, minha senhora, não consentirei em tal vergonha! Fazer descer a família, tornar atrás... Já disse, mato-me!<br />

Não hei de confessar à minha gente esta miséria. E os outros? Que dirão os vizinhos? E os amigos? E o público?<br />

– Que público, Sr. Pádua? Deixe-se disso; seja homem.<br />

Lembre-se que sua mulher não tem outra pessoa... e que há de fazer? Pois um homem... Seja homem, ande.<br />

Pádua enxugou os olhos e foi para casa, onde viveu prostrado alguns dias, mudo, fechado na alcova, – ou então no<br />

quintal, ao pé do poço, como se a ideia da morte teimasse nele. D. Fortunata ralhava:<br />

30<br />

– Joãozinho, você é criança?


Material <strong>ITA</strong><br />

Mas, tanto lhe ouviu falar em morte que teve medo, e um dia correu a pedir à minha mãe que lhe fizesse o favor de<br />

ver se lhe salvava o marido que se queria matar. Minha mãe foi achá-lo à beira do poço, e intimou-lhe que vivesse. Que<br />

maluquice era aquela de parecer que ia ficar desgraçado, por causa de uma gratificação menos, e perder um emprego<br />

interino? Não, senhor, devia ser homem, pai de família, imitar a mulher e a filha... Pádua obedeceu; confessou que<br />

acharia forças para cumprir a vontade de minha mãe.<br />

– Vontade minha, não; é obrigação sua.<br />

– Pois seja obrigação; não desconheço que é assim mesmo.<br />

(Machado de Assis, Dom Casmurro)<br />

58. (FGV ) As regras que justificam a acentuação das palavras “honorários”, “atrás” e “público” também justificam,<br />

respectivamente, a acentuação das seguintes palavras, cujos acentos gráficos foram omitidos:<br />

a) frequencia, ananas, ritmico.<br />

b) heroi, tenaz, frenesi.<br />

c) sumaria, guaranas, serio.<br />

d) perfumaria, perspicaz, etico.<br />

e) agraria, caibras, veneto.<br />

59. (FGV) Segundo o dicionário Houaiss, dígrafo corresponde a um “grupo de duas letras usadas para representar um<br />

único fonema”. Essa definição é exemplificada com as seguintes palavras do texto:<br />

a) administrador, designação, vergonha.<br />

b) trabalhava, comissão, maluquice.<br />

c) roupa, supérfluas, contentou.<br />

d) aflito, desgraça, fechado.<br />

e) público, gratificação, desgraçado.<br />

60. (<strong>ITA</strong> SP) Dadas as afirmações:<br />

l. O acento grave (`), atualmente, só é usado para indicar a crase do A. Por exemplo: Dei uma pulseira de ouro<br />

àquela moça.<br />

ll. O u no grupo gua, guo, qua, quo recebe trema quando for pronunciado atonamente. Exemplo: longínqüo.<br />

lll. O u do grupo gue, gui, que, qui recebe trema quando for pronunciado tonicamente. Exemplo: freqüente.<br />

Deduzimos que:<br />

a) apenas a l está correta<br />

b) apenas a ll está correta<br />

c) apenas a lll está correta<br />

d) todas estão corretas<br />

e) N.D.A<br />

61. (<strong>ITA</strong> SP) Dadas as palavras<br />

l. apóiam ll. Baínha lll. abençoo<br />

Constatamos que está (estão) corretamente grafada(s):<br />

a) apenas a palavra l<br />

b) apenas a palavra ll<br />

c) apenas a palavra lll<br />

d) todas as palavras<br />

e) N.D.A<br />

62. (FUVEST SP) Copie as palavras que devem ser acentuadas graficamente, colocando os respectivos acentos.<br />

Boia boa doce substitui-lo reúne heroico benção parti- lo<br />

31


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

63. (FUVEST SP) Assinale a alternativa em que todas as palavras estejam corretamente acentuadas:<br />

a) Tietê, órgão, chapéuzinho, estrêla, advérbio<br />

b) herói, geleia, Tatuí, armazém, caráter<br />

c) Saúde, melância, gratuíto, amendoím, fluído<br />

d) Inglês, cipó, cafèzinho, útil, Itú<br />

e) Canôa, heroismo, crêem, Sergípe, bambú<br />

64. (UFMG) Marque a alternativa em que nenhuma palavra tem acento gráfico:<br />

a) orgão, revolver, fossil, prejuizo<br />

b) item, polens , mister, dores, meses ,<br />

c) balaustre, garoa, vovos, colibri<br />

d) juri, cafezinho, vezes, album<br />

e) cadaveres, tatu, hifen, interim<br />

65. (Mackenzie) Indique a única alternativa em que nenhuma palavra é acentuada graficamente:<br />

a) lapis, canoa, abacaxi, jovens<br />

b) ruim, sozinho, aquele, atraiu<br />

c) saudade, onix, grau, orquidea<br />

d) voo, legua, assim, tenis<br />

e) flores, açucar, algum, virus<br />

66. (Cergranrio RJ) As palavras que se acentuam de acordo com as mesmas regras por que são acentuadas “difícil” e<br />

“através” são, respectivamente:<br />

a) análise e também<br />

b) família e diagnóstico<br />

c) satélite e líder<br />

d) crítico e convés<br />

e) fácil e transformá-lo<br />

67. (UFRGS RS) Assinale a alternativa em que as três palavras são acentuadas graficamente pela mesma razão.<br />

a) célebre – terrível – biólogo<br />

b) delícia – sabiá – diários<br />

c) sós – é – trás<br />

d) porém – país – até<br />

e) terríveis – espécimes – experiência<br />

68. (UFSM RS)<br />

Capa da Revista Veja. São Paulo: Abril, n. 2074, 20 ago. 2008.<br />

32


Material <strong>ITA</strong><br />

Analise as afirmativas a seguir, relacionadas com o que está escrito no quadro-negro.<br />

I. A primeira letra empregada na palavra ensino reproduz a fala popular, que transforma o e em posição átona<br />

em i.<br />

II. As duas últimas letras usadas na palavra Brasil retratam a pronúncia quotidiana em forma de ditongo<br />

decrescente.<br />

III. O monossílabo tônico apresenta o acento grave no lugar do agudo, e a palavra proparoxítona está sem<br />

acento.<br />

Está(ão) correta(s):<br />

a) apenas I<br />

b) apenas II<br />

c) apenas III<br />

d) apenas I e II<br />

e) I, II e III<br />

69. Na tira humorística abaixo, há sete palavras acentuadas. Transcreva-as e justifique seus acentos gráficos.<br />

70. (Academia da Força Aérea SP) Assinale com V (verdadeiras) ou F (falsas) as afirmativas abaixo e, a seguir, marque a<br />

alternativa correta.<br />

• Os vocábulos arquipélago, Atlântico e sinônimo são acentuados pela mesma razão.<br />

• A presença de encontros vocálicos é observada nas palavras lagoa, exceção e praia.<br />

• Estão corretas as seguintes divisões silábicas: ve-lha, pros-se-guir, I-tha-ca-ia.<br />

• Os vocábulos três, canhões e Niterói recebem a mesma classificação quanto à posição da sílaba tônica.<br />

a) F – V – F –V<br />

b) V – V – F – F<br />

c) V – V – V – F<br />

d) F – F – V – V<br />

71. Considere estas palavras já adequadamente acentuadas: intuito, gratuito, fortuito. Como é possível concluir que,<br />

nas três, a vogal tônica é o u, e não o i?<br />

72. Considere as palavras a seguir, já adequadas quanto à acentuação gráfica.<br />

1. misantropo (pessoa que tem aversão à convivência social)<br />

2. tipiti ((tipo de cesto feito de palha)<br />

3. dossel (armação de tecido que se coloca acima de tronos, camas etc.)<br />

Tomando como referência a regra de acentuação aplicável a cada uma, podemos dizer que elas são, pela ordem:<br />

a) proparoxítona – paroxítona – oxítona<br />

b) paroxítona – paroxítona – oxítona<br />

c) oxítona - oxítona – proparoxítona<br />

d) paroxítona – oxítona – oxítona<br />

e) paroxítona – oxítona – paroxítona<br />

33


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

73. As palavras a seguir foram transcritas sem os eventuais acentos gráficos. Orientando-se pela indicação entre<br />

parênteses, transcreva as que exigem acento e acentue-as.<br />

a) guilhoche (oxítona, com e fechado) – tipo de bordado<br />

b) aimara (paroxítona) – tipo de planta<br />

c) aimara (oxítona) – túnica de algodão<br />

d) feretro(proparoxítona com e aberto) – caixão de defunto<br />

e) aljofar (paroxítona com o fechado) – tipo de pérola<br />

f) bacupari (oxítona) – nome de uma árvore e de seu fruto<br />

g) Polux (paroxítona com o aberto) – nome de uma estrela<br />

h) hipocraz (oxítona) – tipo de chá de canela<br />

74. Nas palavras escritas, tanto a presença quanto a ausência do acento gráfico orientam o leitor quanto à pronúncia<br />

correta das palavras. Considere, então, a palavra abaixo, já adequadamente escrita quanto à acentuação gráfica:<br />

masseter (nome de um músculo da face)<br />

A respeito da pronúncia dessa palavra, assinale a afirmação incorreta:<br />

a) Ela não é proparoxítona, pois, se fosse, teria acento no ma, já que toda palavra desse tipo é acentuada<br />

graficamente.<br />

b) Ela não é paroxítona, pois, se fosse, teria acento na sílaba se, já que é paroxítona terminada em r recebe<br />

acento gráfico.<br />

c) Ela é oxítona e, como termina em r, não é acentuada, pois oxítonas com essa terminação não recebem<br />

acento gráfico.<br />

d) Ela é oxítona, mas, pela grafia, não é possível saber se a vogal da sílaba ter tem pronúncia aberta (/é/) ou<br />

fechada (/ê/). Para obter essa informação, é necessário consultar um dicionário.<br />

e) Ela é paroxítona, mas, pela grafia, não é possível saber se a vogal da sílaba se tem pronúncia aberta (/é/) ou<br />

fechada (/ê/). Para obter essa informação, é necessário consultar um dicionário.<br />

75. Observe estas palavras, já adequadamente escritas quanto à acentuação gráfica, e assinale a afirmação incorreta.<br />

1. ibero 2. boêmia 3. condor 4. rubrica 5.Mister<br />

a) Se a palavra 1 fosse proparoxítona, teria acento no i; se fosse oxítona, teria acento no o. A sílaba tônica,<br />

portanto, é o be e a palavra é proparoxítona.<br />

b) Raciocínio semelhante ao aplicado à palavra 1 vale para a palavra 4.<br />

c) Para que a palavra 3 tivesse a tônica no com, essa sílaba deveria ter acento circunflexo no o, pois paroxítona<br />

terminada em r é acentuada. Trata-se, portanto, de uma palavra oxítona.<br />

d) Na palavra 5, que significa “profissão ou intuito; necessidade”, a vogal tônica é o i, ou seja, é paroxítona.<br />

e) Na variedade coloquial do idioma, a palavra 2 é pronunciada com a tônica no mi (boemia); na variedade culta, no<br />

entanto, ela é paroxítona terminada em ditongo, daí a necessidade do circunflexo no e.<br />

76. (<strong>ITA</strong> 2002) Assinale a sequência de palavras acentuadas pela mesma regra gramatical:<br />

a) Cenário, circunstância, hífen, águia.<br />

b) Está, já, café, jacá.<br />

c) Eletrônica, gênero, bônus, ônibus.<br />

d) Cenário, águia, referência, série.<br />

e) Referência, para, líder, série.<br />

TEXTO PARA QUESTÃO 77<br />

É terminantemente proibido animais circulando nas área comuns a todos, principalmente para fazerem suas<br />

necessidades fisiológicas no jardim do condomínio, onde pode por em risco a saúde das crianças que ali brincam descalças.<br />

(Extraído de um RELATÓRIO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS da administração de um prédio.)<br />

34


Material <strong>ITA</strong><br />

77. (<strong>ITA</strong> 1999) Assinale a opção em que os dois itens apresentam impropriedades com relação às normas gramaticais:<br />

a) (1) – Flexão de “circular” e “fazer”; (2) – emprego de “onde”.<br />

b) (1) – Acentuação de “ali”; (2) – regência de “circular”.<br />

c) (1) – Flexão de “comum”; (2) – emprego de “onde”.<br />

d) (1) – Acentuação de “por” e “ali”; (2) – flexão de “comum”.<br />

e) (1) – Acentuação de “por” e “ali”; (2) – emprego de “onde”.<br />

78. (Fuvest) Assinale a alternativa em que todas as palavras estão corretamente grafadas:<br />

a) ( ) Tietê, órgão, chapeuzinho, estrêla, advérbio<br />

b) ( ) fluido, assembleia, Tatuí, armazém, caráter<br />

c) ( ) saúde, melância, gratuito, amendoím, fluído<br />

d) ( ) inglês, cipó, cafezinho, útil, Itú<br />

e) ( ) canôa, heroismo, creem, Sergipe, bambú<br />

79. (<strong>ITA</strong> SP) Assinale a palavra que, no singular, tem acento gráfico, mas se for colocada no plural, deixará de receber o<br />

acento:<br />

a) ( ) bebê c) ( ) hífen e) ( ) aríete<br />

b) ( ) útil d) ( ) revólver<br />

80. (<strong>ITA</strong> SP) Assinalar a alternativa em que todas as palavras estejam com acentuação correta:<br />

a) ( ) bênção, caráter, climax, ambíguo<br />

b) ( ) bênção, caráter, clímax, ambíguo<br />

c) ( ) bênção, caráter, clímax, ambígüo<br />

d) ( ) bênção, carater, climax, ambíguo<br />

e) ( ) bênção, carater, clímax, ambígüo<br />

81. (Mackenzie SP) Assinale a alternativa que contém vocábulos que obedecem à mesma regra de acentuação da<br />

palavra tênue.<br />

a) ( ) agrônomo, índex, fóssil, díspar<br />

b) ( ) boêmia, herói, amáveis, imundície<br />

c) ( ) amêndoa, mágoa, supérfluo, bilíngue<br />

d) ( ) míope, ímã, médiuns, volúvel<br />

e) ( ) argênteo, viúvo, baía, esferóide<br />

82. (<strong>ITA</strong> SP) Dadas as palavras:<br />

1. tung-stê-nio<br />

2. bis-a-vô<br />

3. du-e-lo<br />

Constatamos que a separação silábica está correta:<br />

a) apenas na palavra nº 1<br />

b) apenas na palavra nº 2<br />

c) apenas na palavra nº 3<br />

d) em todas as palavras<br />

e) n.d.a.<br />

83. (OSEC) O plural de tem, dê, vê; é, respectivamente:<br />

a) têm, deem, vêm c) têm, deem, veem<br />

b) tem, deem, vêem d) têem, deem, vêm<br />

84. Nenhum vocábulo deve receber acento gráfico, exceto:<br />

a) abacaxi c) assembleia e) voo<br />

b) ideia d) heroi<br />

35


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

85. (<strong>ITA</strong> SP) Assinale a sequência de palavras acentuadas pela mesma regra gramatical:<br />

a) Cenário, circunstância, hífen, água.<br />

b) Está, já, café, jacá.<br />

c) Eletrônica, gênero, bônus, ônibus.<br />

d) Cenário, águia, referência, série.<br />

TEXTO COMUM À QUESTÃO 86<br />

Sua excelência<br />

[O ministro] vinha absorvido e tangido por uma chusma de sentimentos atinentes a si mesmo que quase lhe falavam<br />

a um tempo na consciência: orgulho, força, valor, satisfação própria etc. etc.<br />

Não havia um negativo, não havia nele uma dúvida; todo ele estava embriagado de certeza de seu valor intrínseco,<br />

das suas qualidades extraordinárias e excepcionais de condutor dos povos. A respeitosa atitude de todos e a deferência<br />

universal que o cercavam, reafirmadas tão eloquentemente naquele banquete, eram nada mais, nada menos que o sinal<br />

da convicção dos povos de ser ele o resumo do país, vendo nele o solucionador das suas dificuldades presentes e o<br />

agente eficaz do seu futuro e constante progresso.<br />

Na sua ação repousavam as pequenas esperanças dos humildes e as desmarcadas ambições dos ricos.<br />

Era tal o seu inebriamento que chegou a esquecer as coisas feias do seu ofício... Ele se julgava, e só o que lhe<br />

parecia grande entrava nesse julgamento.<br />

As obscuras determinações das coisas, acertadamente, haviam-no erguido até ali, e mais alto levá-lo-iam, visto que,<br />

só ele, ele só e unicamente, seria capaz de fazer o país chegar ao destino que os antecedentes dele impunham.<br />

(Lima Barreto. Os bruzundangas. Porto Alegre: L&PM, 1998, pp. 15-6)<br />

86. (FGV ) Assinale a alternativa contendo as palavras acentuadas segundo a regra que determina a acentuação,<br />

respectivamente, de consciência, intrínseco e levá-lo-iam.<br />

a) Extraordinárias; própria; país.<br />

b) Parágrafo; porém; até.<br />

c) Ofício; dúvida; atrás.<br />

d) Vivência; tórax; virá.<br />

e) Cenógrafo; bíceps; contê-las.<br />

87. (Mackenzie) Em: “Sei de uma que está fazendo serviço de escritório, proibida de voar por motivo de saúde, e me<br />

pergunto que podem significar para ela esses papéis, esses telefonemas, esses recados que circulam num plano de<br />

cimento invariável, enquanto, sobre a plataforma das nuvens, suas irmãs caminham, ao mesmo tempo singelas e<br />

majestáticas”.<br />

I. ”escritório” e “invariável” recebem acento por idêntica razão.<br />

II. “papéis” recebe acento gráfico porque é oxítona terminada em ditongo.<br />

III. “está” é acentuada graficamente porque todas as oxítonas devem ser acentuadas.<br />

a) Estão corretas as afirmações I e II.<br />

b) Estão corretas as afirmações II e III.<br />

c) Estão corretas as afirmações I e III.<br />

d) Todas as afirmativas estão corretas.<br />

e) Todas as afirmativas estão incorretas.<br />

88. (FGV) Os dois hiatos das formas verbais devem ser acentuados apenas na alternativa:<br />

a) refluir, intuindo<br />

b) construindo, destruindo<br />

c) caida, saiste<br />

d) instruido, intuir<br />

e) refluira, destruindo<br />

36


Material <strong>ITA</strong><br />

89. (CESGRANRIO) Assinale a opção em que os vocábulos obedecem à mesma regra de acentuação gráfica.<br />

a) terás / límpida<br />

b) necessário / verás<br />

c) dá-lhes / necessário<br />

d) incêndio / também<br />

e) extraordinário / incêndio<br />

90. (<strong>ITA</strong> SP) Dados os vocábulos:<br />

1. puni-los 2. instruí-los 3. fosse<br />

Constatamos que está(estão) devidamente acentuado(s):<br />

a) apenas o vocábulo nº 1<br />

b) apenas o vocábulo nº 2<br />

c) apenas o vocábulo nº 3<br />

d) todos os vocábulos<br />

e) n.d.a.<br />

91. (IFSC) Assinale a alternativa CORRETA quanto à acentuação gráfica.<br />

a) No rítmo em que andavamos, levaríamos toda a manhã para percorrer duas léguas.<br />

b) Para mantê-los saudáveis é melhor alimentá-los com legumes crus.<br />

c) Aquí dá muito cajú de maio a setembro.<br />

d) Joel tinha os biceps mal definidos e o tórax exagerado para alguem tão baixo.<br />

e) O juíz condenou-o a devolver com juros aos cófrespublicos todo o dinheiro desviado.<br />

92. (UFTM MG)<br />

(Gazeta do Povo, 06.11.2012.)<br />

Na charge, para efeito de humor, faz-se um jogo de palavras<br />

a) parônimas, com isso a personagem reclama do assento da poltrona na qual está sentada.<br />

b) homônimas, porém a personagem erra ao afirmar que a forma verbal não leva acento.<br />

c) sinônimas, e a personagem está de fato dizendo que a grafia correta é doie não dói.<br />

d) ambíguas, pois é difícil saber se a personagem reclama da poltrona e da escrita ou as enaltece.<br />

e) antônimas, pois cada uma das grafias (assento/acento) remete a um sentido da oposição dói/doi.<br />

Módulo A04 - Ortografia – As dificuldades da Língua I<br />

Dominar as convenções ortográficas do idioma é habilidade indispensável a quem, em situações formais de<br />

comunicação, precisa escrever utilizando a variedade padrão da língua.<br />

37


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

A possibilidade de um determinado fonema se representado por diferentes letras costuma gerar dúvidas e confusões<br />

quanto à grafia de muitas palavras.<br />

MAL<br />

É antônimo de bem. Pode ser empregado como advérbio, substantivo ou conjunção.<br />

Exemplos:<br />

O candidato foi mal recebido na cidade onde nasceu. (advérbio)<br />

Fizeram mal em dizer tais coisas. (advérbio)<br />

O mal nem sempre vence o bem. (substantivo)<br />

Há males que vêm para o bem. (substantivo)<br />

Mal você saiu, ele chegou. (conjunção adverbial temporal)<br />

MAU<br />

É antônimo de bom. Emprega-se como adjetivo.<br />

Exemplos:<br />

Não era mau rapaz, apenas um pouco preguiçoso.<br />

Não estavam maus os trabalhos do alunos.<br />

Teve má criação, mas tornou-se um excelente homem.<br />

PORQUE/PORQUÊ/POR QUE/POR QUÊ<br />

PORQUE<br />

Tem essa grafia quando é empregado como conjunção explicativa ou conjunção causal.<br />

Exemplos:<br />

Não reclames, porque é pior.<br />

Faltou à aula porque estava doente.<br />

PORQUÊ<br />

É assim escrito quando empregado como substantivo. Significa motivo, razão, causa, e normalmente aparece<br />

acompanhado de determinantes (artigo, pronome etc.).<br />

Exemplos:<br />

Não entendi o porquê de sua atitude.<br />

Seus porquês não me convenceram.<br />

POR QUE<br />

Com essa grafia, é empregado:<br />

Quando equivale a pelo qual, pelos quais, pela qual, pelas quais.<br />

Exemplos:<br />

São muitos os lugares por que passamos. (pelos quais)<br />

Essa é a razão por que eu vim aqui. (pela qual)<br />

Nas frases interrogativas diretas, quando as inicia, e nas interrogativas indiretas.<br />

Exemplos:<br />

Por que você fez isso? (inicia interrogativa direta)<br />

Não sei por que fez isso. (interrogativa indireta)<br />

POR QUÊ<br />

É acentuado quando aprece no final das interrogativas; nessa posição, o que passa a ser monossílabo tônico.<br />

Exemplo:<br />

Você fez isso por quê?<br />

38


Material <strong>ITA</strong><br />

SENÃO/ SE NÃO<br />

SENÃO<br />

Assim se escreve:<br />

Quando equivale a caso contrário.<br />

Exemplo:<br />

Saia daí, senão vai se molhar.<br />

Quando equivale a a não ser.<br />

Exemplo:<br />

Não faz outra coisa senão reclamar.<br />

SE NÃO<br />

Tem essa forma quando equivale a caso não, introduzindo orações subordinadas condicionais.<br />

Exemplos:<br />

Esperarei mais um pouco; se não vier, irei embora.<br />

Se não quiser, não faça.<br />

HÁ<br />

Com essa forma, equivale ao verbo fazer, indicando tempo já transcorrido.<br />

Exemplo:<br />

Não se encontram há (faz) tempos.<br />

Saiu daqui há (faz) duas horas.<br />

Não o vejo há (faz) quinze dias.<br />

A<br />

Essa forma, que é comum se confundir com a anterior, é preposição: a substituição por faz é impossível.<br />

Exemplos:<br />

Sairei de cada aqui a duas horas.<br />

Daqui a pouco, os convidados chegarão.<br />

Estava a um passo de mim e eu não percebi.<br />

Moro a dois quilômetros da escola.<br />

AONDE<br />

(Preposição a + advérbio onde = aque lugar) é usado com verbos que exprimem movimento e que regem a preposição<br />

a.<br />

Ir a<br />

Exemplos:<br />

Aonde você vai?<br />

Você vai aonde?<br />

Você sabe aonde ir com isso?<br />

Chegar a<br />

Exemplos:<br />

Sei bem aonde você quer chegar com essas insinuações...<br />

Você quer chegar aonde com suas perguntas?<br />

Dirigir-se a<br />

Exemplo:<br />

Não sei aonde dirigir-me para obter o documento.<br />

ONDE<br />

(= em que lugar) é usado com verbos que não regem a preposição a.<br />

Exemplos:<br />

Onde você está?<br />

39


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

Encontraram o menino onde?<br />

Onde fica a sua escola?<br />

Não sei ainda onde vou comprar o material.<br />

AO ENCONTRO DE/DE ENCONTRO A<br />

Tem dois significados:<br />

-aproximar-se de<br />

Exemplo:<br />

Assim que chegou, fui ao encontro dele. (ao seu encontro)<br />

-se favorável a<br />

Exemplo:<br />

Somos parecidos: suas ideias vêm sempre ao encontro das minhas.<br />

DE ENCONTRO A<br />

Também tem dois significados:<br />

-colisão, choque<br />

Exemplo:<br />

A criança foi de encontro à porta de vidro e machucou a cabeça.<br />

-ser contrário a<br />

Exemplo:<br />

Somos muito diferentes: suas ideias vêm sempre de encontro ás minhas.<br />

DEMAIS/ DE MAIS<br />

DEMAIS<br />

Classifica-se como advérbio ou pronome.<br />

-advérbio de intensidade (=muito)<br />

Exemplo:<br />

Não se deve comer demais.<br />

-pronome indefinido (=outros)<br />

Exemplo:<br />

Votei e saí da reunião antes que os demais membros tivessem votado.<br />

DE MAIS<br />

é o contrário de menos.<br />

Exemplos:<br />

Não percebi nada de mais nas suas perguntas.<br />

Venderam ingressos de mais para o jogo.<br />

A FIM DE/AFIM<br />

A FIM DE<br />

Indica uma finalidade.<br />

Exemplo:<br />

Vive reclamando a fim de me irritar.<br />

AFIM<br />

significasemelhante.<br />

Exemplo:<br />

Temos objetivos afins.<br />

40


Material <strong>ITA</strong><br />

ACERCA DE/HÁ CERCA DE<br />

ACERCA DE<br />

significaa respeito de.<br />

Exemplo:<br />

Nada disse acerca de seus problemas emocionais.<br />

HÁ CERCA DE<br />

indica um tempo já transcorrido.<br />

Exemplo:<br />

Estivemos aqui há cerca de uns dez anos.<br />

A PRINCÍPIO/EM PRINCÍPIO<br />

A PRINCÍPIO<br />

significano começo, inicialmente.<br />

Exemplo:<br />

A princípio, sua sugestão pareceu-me boa, mas depois percebi que não era daquilo que precisávamos.<br />

EM PRINCÍPIO<br />

significa em tese, teoricamente.<br />

Exemplo:<br />

Em princípio, sua sugestão é muito boa, vamos vê-la na prática.<br />

MAS/MAIS<br />

Mas é uma conjunção coordenativa adversativa; equivale, portanto, acontudo, todavia, entretanto:<br />

Ela estudou muito, mas não conseguiu boa nota.<br />

O time terminou o campeonato sem derrota, mas não foi o campeão.<br />

Mais é pronome ou advérbio de intensidade. Tem por antônimo menos:<br />

Ele leu mais livros este ano que no ano anterior. (pronome indefinido)<br />

Ela era a alguma mais simpática da classe. (advérbio de intensidade)<br />

Existe também a forma más. Trata-se do plural do adjetivo má:<br />

Eram pessoas extremamente más.<br />

Cessão/sessão/secção/seção<br />

Cessão é o ato de ceder, o ato de dar:<br />

Ele fez a cessão dos seus direitos autorais.<br />

A cessão do terreno para a construção da creche agradou a todos os moradores.<br />

Sessão é o intervalo de tempo que dura uma reunião, uma assembleia:<br />

Assistimos a uma sessão de cinema.<br />

Os deputados reuniram-se em sessão extraordinária.<br />

Secção (ou seção) significa parte de um todo, segmento, subdivisão:<br />

Lemos a notícia na secção (ou seção) de esportes.<br />

Compramos os presentes na secção (ou seção) de brinquedos.<br />

Ao invés de / em vez de<br />

Ao invés de significa “ao contrário de”;<br />

Ao invés do que previu a meteorologia, choveu muito ontem.<br />

Em vez de significa “no lugar de”;<br />

Em vez de jogar tênis, preferimos ir ao cinema.<br />

41


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

À-toa/à toa<br />

À-toa é um adjetivo (refere-se, pois, a um substantivo), significa “impensado”, “inútil”, “desprezível”;<br />

Ninguém lhe dava valor: era uma pessoa à-toa.<br />

À toa é um advérbio de modo, significa “a esmo”, “sem razão”, “inutilmente”.<br />

Andavam à toa pelas ruas.<br />

Exercícios propostos<br />

93. Complete corretamente as lacunas:<br />

42<br />

“O _______ de veículos de grande porte, em vias urbanas, provoca ________ no trânsito; forçando a que os<br />

motoristas os carros menores ________,muitas delas, completamente sem _________ ;<br />

a) tráfico – infrações – inflijam – concerto;<br />

b) tráfego – infrações – inflijam – conserto;<br />

c) tráfego – inflações – infrinjam – conserto;<br />

d) tráfego – infrações – infrações – conserto;<br />

e) tráfico – infrações – infrações – concerto.<br />

94. Complete as lacunas usando adequadamente (mas / mais / mal / mau):<br />

“Pedro e João ____ entraram em casa, perceberam que as coisas não iam bem,pois sua irmã caçula escolhera um<br />

____ momento para comunicar aos pais que iria viajar nas férias; _____ seus, dois irmãos deixaram os pais _____<br />

sossegados quando disseram que a jovem iria com os primos e a tia.”<br />

a) mau - mal - mais - mas;<br />

b) mal - mal - mais - mais;<br />

c) mal - mau - mas - mais;<br />

d) mal - mau -mas - mas;<br />

e) mau - mau - mas - mais.<br />

95. Marque a frase que se completa com o segundo elemento do parênteses:<br />

a) A recessão econômica do país faz com que muitos _________ (emigrem - imigrem);<br />

b) Antes de ser promulgada, a Constituição já pedia muitos ________ (consertos - concertos);<br />

c) A ditadura _________ muitos políticos de oposição; (caçou - cassou);<br />

d) Ao sair do barco, o assaltante foi preso em___________ (flagrante - fragrante);<br />

e) O juiz _________ expulsou o atleta violento (incontinenti- incontinente).<br />

96. (G1 ifce 2014) Considerando a tirinha acima, na frase “Entendi o porquê da mão”, o termo destacado assume<br />

várias grafias na língua. Preencha as lacunas com o mesmo vocábulo, levando em conta as variações gráficas e, a<br />

seguir, opte por um item que preencha corretamente as lacunas.<br />

I. Os jovens foram às ruas .............. pretendiam reivindicar seus direitos.<br />

II. ............., muitas vezes, não assumimos nossos próprios erros?<br />

III. Não sabemos ............. há tanta impunidade no país.<br />

a) porque, por que, por que<br />

b) por que, porque, por quê<br />

c) porquê, porque, por que<br />

d) porque, porque, por quê<br />

e) porque, por quê, porque<br />

97. O parlamentar mensaleiro, que teve o seu _____ de deputado ______, retornou nos braços do povo.<br />

a) mandado / caçado.<br />

b) mandado / cassado.<br />

c) mandato / cassado.<br />

d) mandato / caçado.<br />

e) mandato / cascado.


Material <strong>ITA</strong><br />

98. (Fuvest SP) “Meditemos na regular beleza que a natureza nos oferece.”<br />

Assinale a alternativa em que o homônimo tem o mesmo significado do empregado na oração acima:<br />

a) Não conseguia regular a marcha do carro.<br />

b) É bom aluno, mas obteve nota regular.<br />

c) Aquilo não era regular; devia ser corrigido.<br />

d) Admirava-se, ali, a disposição regular dos canteiros.<br />

e) Daqui até sua casa há uma distância regular.<br />

99. (<strong>ITA</strong> SP) Dadas as palavras:<br />

1. disenteria<br />

2. diferimento<br />

3. esplendor<br />

Verificamos que está (estão) corretamente grafada(s):<br />

a) apenas a palavra nº 1.<br />

b) apenas a palavra nº 2.<br />

c) apenas a palavra nº 3.<br />

d) apenas as palavras nº 1 e 2.<br />

e) todas as palavras.<br />

100. (<strong>ITA</strong> SP) Assinale a alternativa em que ocorre erro.<br />

a) Sei por que razões ele se indispõe comigo.<br />

b) Ele saiu porque estava aqui há muito tempo.<br />

c) Não aguenta mais isso porquê... porque é demais?<br />

d) Foi a mais de dois quilômetros que o avisei.<br />

e) Além de ser mau sujeito, é mal-humorado.<br />

101. Complete as lacunas com (estada / estadia /onde / aonde):<br />

“_______ quer que eu me hospede, procuro logo saber o preço da _______, quanto custa a _______de um carro<br />

alugado, bem como _______ se possa ir à noite.”<br />

a) aonde – estadia – estada – onde;<br />

b) onde – estada – estadia – aonde;<br />

c) onde – estadia – estada – aonde;<br />

d) aonde – estada – estadia – onde;<br />

e) onde – estadia – estadia – aonde.<br />

102. Leia a tirinha<br />

a) Escreva a oração do primeiro quadrinho acrescentando-lhe senão ou se não. Faça as mudanças necessárias.<br />

b) você não me avisou que estava quente? Substitua o por que que ou porque.<br />

c) Justifique o uso do porquê no terceiro quadrinho.<br />

d) É mais fácil cuidar da vida dos outros, da nossa dá muito trabalho! Substitua o por porque, por que ou<br />

porquê.<br />

43


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

103. Substitua os __ por há ou a.<br />

a) O filho entra acanhado na sala; não vê o tio ___doze anos.<br />

b) não imaginamos que os técnicos do laboratório só chegariam às onze horas para o início do trabalho; afinal<br />

eles estavam apenas ___dois quilômetros do local.<br />

c) Nancy e Neiva saíram do apartamento ___três horas e ainda não chegaram à loja onde combinamos nosso<br />

encontro.<br />

d) Daqui ___ a pouco começam as propagandas políticas na TV. Espero que nos discursos dos candidatos haja<br />

propostas interessantes.<br />

e) Interessante o título deste filme: ___ um passo da felicidade.<br />

104. Justifique, nas frases a seguir, o emprego das palavras destacadas.<br />

a) “Eu sabia bem que espécie de conversa seria; e aproveitando a vantagem da doença, mal ele caminhou para a<br />

cama eu comecei novamente a chorar e gritar, esperando atrair a simpatia de minha mãe e, se possível, também<br />

a de algum vizinho para reforçar.” (José J. Veiga).<br />

b) “Mamãe comeu tanto peru que um momento imaginei, aquilo podia lhe fazer mal. Mas logo pensei: ah, que faça!<br />

mesmo que ela morra, mas pelo menos que uma vez na vida coma peru de verdade!” (Mário de Andrade)<br />

c) Ainda há pouco, quando entrara no camarim dos homens, os que lá se encontravam tinham respondido<br />

friamente à saudação dele, como se fizessem um favor.” (Osman Lins)<br />

d) “E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? Teria esquecido<br />

de que havia cegos? (Clarice Lispector)<br />

e) Nossa revolta contra os fiscais pode ser entendida, pois os empecilhos por que passamos impossibilitou a<br />

continuidade de nossos trabalhos. Foi realmente muita injustiça!<br />

105. Assinale a alternativa correta:<br />

“Pedro e João ____ entraram em casa perceberam que as coisas não iam bem, pois sua irmã caçula escolhera um<br />

____ momento para comunicar aos pais que iria viajar nas férias; _____ seusdois irmãos deixaram os pais _____<br />

sossegados quando disseram que a jovem iria com os primos e a tia.”<br />

a) mau - mal - mais - mas;<br />

b) mal - mal - mais - mais;<br />

c) mal - mau - mas - mais;<br />

d) mal - mau -mas - mas;<br />

e) mau - mau - mas - mais.<br />

106. Complete as lacunas com (estada / estadia /onde / aonde):<br />

“_______ quer que eu me hospede, procuro logo saber o preço da _______, quanto custa a _______de um carro<br />

alugado, bem como _______ se possa ir à noite.”<br />

a) aonde – estadia – estada – onde;<br />

b) onde – estada – estadia – aonde;<br />

c) onde – estadia – estada – aonde;<br />

d) aonde – estada – estadia – onde;<br />

e) onde – estadia – estadia – aonde.<br />

107. Assisti ao ________ do balé Bolshoi;<br />

Daqui ______ pouco vão dizer que ______ vida em Marte.<br />

As _________ da câmara são programas de humor.<br />

___________ dias que não falo com Alfredo.<br />

44<br />

Escolha a alternativa que oferece a sequência correta de vocábulos para as lacunas existentes:<br />

a) concerto – há – a – cessões – há;<br />

b) conserto – a – há – sessões – há;<br />

c) concerto – a – há – seções – a;<br />

d) concerto – a – há – sessões – há;<br />

e) conserto – há – a – sessões – a .


Material <strong>ITA</strong><br />

108. “O _______ de veículos de grande porte, em vias urbanas, provoca ________ no trânsito; forçando a que os<br />

motoristas dos carros menores ________,muitas delas, completamente sem _________ ;<br />

a) tráfico – infrações – inflijam – concerto;<br />

b) tráfego – infrações – inflijam – conserto;<br />

c) tráfego – inflações – infrinjam – conserto;<br />

d) tráfego – infrações – infrinjam – conserto;<br />

e) tráfico – inflações – inflijam – concerto.<br />

109. Preencha as lacunas com um dos termos entre parênteses:<br />

a) O..........................dos senadores é de oito anos. (mandado - mandato)<br />

b) Todos os...........................haviam sido ocupados. (acentos - assentos)<br />

c) A próxima..............................começará atrasada. (seção - sessão)<br />

d) O marido entrou vagarosamente e passou......(despercebido - desapercebido)<br />

e) Após o bombardeio, o navio atingido........................ (emergiu-imergiu)<br />

110. Observe as frases abaixo:<br />

1. O perigo de desabamento está próximo.<br />

2. No levantamento da população de São Paulo houve distorções.<br />

3. Na repartição das armas, a presença do furriel é importante.<br />

4. Toda espécie de contrabando de drogas deve ser repreendido.<br />

Os vocábulos grifados equivalem respectivamente a:<br />

a) iminente, censo, seção e tráfego.<br />

b) iminente, censo, seção e tráfico.<br />

c) eminente, senso, cessão e tráfico.<br />

d) eminente, senso, sessão e tráfego.<br />

111. Em: O Prefeito ratificou o Decreto e O Prefeito retificou o Decreto, as palavras sublinhadas podem ser substituídas,<br />

sem que haja perda de sentido, por, respectivamente:<br />

a) modificou / publicou<br />

b) escolheu / saudou<br />

c) anunciou / arquivou<br />

d) apresentou / incorporou<br />

e) confirmou / corrigiu<br />

112. Assinale o item em que ocorre, ou não, erro no emprego das homófonas há, a e à:<br />

a) Já estou em Brasília há 25 anos.<br />

b) Ainda há dúvidas quanto e este assunto?.<br />

c) Já iniciamos a sessão a quinze minutos.<br />

d) parece que ele voltou à infância.<br />

e) O resultado sairá daqui a pouco.<br />

113. Assinale a alternativa em que as formas completam corretamente as lacunas das frases, pela ordem:<br />

1. Ele foi logo embora e ninguém sabe o ..............<br />

2. Nomearam-no ................?<br />

3 .......................vos entristeceis?<br />

4. Muita maldade acontece .......... o dinheiro é o grande envenenador da alma.<br />

a) por que, por quê, porquê, porque.<br />

b) por quê, por que, porquê, porque.<br />

c) porque, porquê, por quê, por que.<br />

d) porquê, porquê, por que, por quê.<br />

e) porquê, por quê, por que, porque.<br />

45


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

114. Assinale a alternativa em que HÁ ERRO na palavra ou expressão que exprime causa:<br />

a) Por que você não se cala?<br />

b) Eu sei o motivo por que você está rindo.<br />

c) Essa é a razão porque não me calo.<br />

d) Você vai ser castigado, por quê?<br />

e) Quem sabe o porquê de tudo?<br />

115. Indique a letra na qual as palavras completam, corretamente, os espaços das frases abaixo.<br />

- Quem possui deficiência auditiva não consegue ______ os sons com nitidez.<br />

- Hoje são muitos os governos que passaram a combater o ______ de entorpecentes com rigor.<br />

- O diretor do presídio ______ pesado castigo aos prisioneiros revoltosos.<br />

46<br />

a) discriminar - tráfico - infligiu<br />

b) discriminar - tráfico - infringiu<br />

c) descriminar - tráfego - infringiu<br />

d) descriminar - tráfego - infligiu<br />

e) descriminar - tráfico - infringiu<br />

Gabarito<br />

01. c<br />

[a] A ideia é fazer humor através do duplo sentido produzido pela palavra indefinido e o pontilhismo tal qual<br />

indefinido. É divertido ao invés de profundo.<br />

[b] Não há riqueza nos detalhes do desenho, aliás, isso é que torna o cartum interessante.<br />

[c] Correta. A ideia é fazer humor através do duplo sentido produzido pela palavra indefinido e o pontilhismo tal<br />

qual indefinido. Para que houvesse humor, utilizou-se a linguagem verbal e visual concomitantemente.<br />

[d] Não há nenhuma questão profunda ou filosófica no cartum.<br />

[e] Não há tom poético.<br />

02. b<br />

É correta a opção [b], pois, ao narrar uma ação do cotidiano em linguagem coloquial (“tou podre”, “a gente<br />

vamos”), o autor demonstra paralelamente a preocupação em elaborar um texto em que o ritmo, a sonoridade e a<br />

escolha do léxico estão presentes. Essa preocupação com o fazer literário configura a função poética da linguagem.<br />

03. d<br />

É correta a opção [d], pois, metalinguisticamente, o texto convida a um exercício de reflexão a respeito dos<br />

princípios que estruturam a forma e o conteúdo de um livro, que só se completa no ato da leitura.<br />

04. d<br />

A natureza de um artigo de opinião é divulgar a reflexão sobre um determinado tema – neste caso, a falta de<br />

professores. Tal gênero textual não depende da quantidade de leitores, não pretende atingir setores restritos da<br />

sociedade ou meramente expor um problema. De semelhante forma, não é apenas o emprego de linguagem formal<br />

e denotativa que caracteriza um artigo de opinião.<br />

05. e<br />

É correta a alternativa [e], pois as expressões licencinha, tô passando e lascou são típicas da linguagem coloquial<br />

e informal, uma linguagem utilizada no cotidiano que não exige observação total às regras da gramática normativa<br />

(“tô”), admite o uso de gírias (“lascou”) e palavras pouco habituais na linguagem formal (“licencinha”).<br />

06. [a] É correta a alternativa [a], pois, no soneto “Liberdade, onde estás? Quem te demora?”, o emissor é o eu lírico, o<br />

receptor, a liberdade, e o objetivo da mensagem é criticar o sistema político opressor do país, o despotismo.<br />

07. [c] [a] Não se trata de função emotiva, por se tratar de uma referência a um discurso de agradecimento de um<br />

economista brasileiro.<br />

[b] Não é apelativa, por não se tratar de um texto persuasivo.<br />

[c] Correta. É um texto referencial, por refutar a ideia contida em um discurso de agradecimento de um conhecido<br />

economista brasileiro. Sendo assim, trata-se de um texto impessoal e informativo, característico desta função<br />

comunicativa.<br />

[d] Não é uma função metalinguística por ser um texto meramente informativo.<br />

[e] Por tratar-se de um texto informativo, há utilização da palavra jabuticaba e jabuticabeira somente para designar<br />

o fruto e sua árvore literalmente, nada mais.


Material <strong>ITA</strong><br />

08. [e] É correta a alternativa [e], pois a função apelativa ocorre em construções sintáticas orientadas para o interlocutor<br />

diretamente interessado pelo conteúdo, como no texto publicitário da imagem em que predomina o uso de verbos<br />

no imperativo (“participe”, “crie”, “preencha”,”consulte”).<br />

09. [b] O “clichê” configura-se através da repetição excessiva de uma ideia ou expressão. Esse lugar comum está<br />

presente na frase da alternativa [b], em que a expressão “lugar ao sol” sugere uma situação na qual se usufruem<br />

condições de vida favoráveis.<br />

10. b<br />

[I]<br />

Verdadeira, pois a linguagem não-verbal, relacionada ao aviãozinho feito a partir de uma nota de 100 Reais,<br />

corrobora o sentido da linguagem verbal. Esta, de certa forma, também reforça a ideia de “queda”, uma vez<br />

que as manchetes normalmente vêm dispostas nas capas de modo que a leitura flua de acordo com o<br />

convencional, na direção horizontal;<br />

[II] Verdadeira, uma vez que a poesia concreta leva o autor a se apropriar do espaço disponível, no caso a folha de<br />

papel, reunindo elementos frasísticos, visuais e sonoros para expor sua obra: respectivamente, há referência ao<br />

ditado popular; o aviãozinho feito a partir de uma nota de 100 Reais reforça a ideia principal, forçando, inclusive o<br />

leitor a fazer com os olhos o mesmo movimento de queda informado pela manchete; finalmente, a questão sonora<br />

está relacionada ao trocadilho entre o real (moeda brasileira) e a real (sinônimo de “realidade”).<br />

[III] Verdadeira, pois, ao considerar o texto 3 como fonte (“Cair nas nuvens”), percebe-se a substituição de elementos<br />

linguísticos (o predicado da frase, “cai na real”), assim como a inclusão (o sujeito da frase, “o real”);<br />

[IV] Verdadeira, pois, nas duas ocorrências, “real” continua sendo um substantivo, porém seu significado muda<br />

[V]<br />

11. b<br />

[I]<br />

[II]<br />

conforme altera-se o gênero: o real (moeda brasileira) e a real (sinônimo de “realidade”);<br />

Falsa, uma vez que o já citado trocadilho entre o real (moeda brasileira) e a real (sinônimo de “realidade”)<br />

indica a presença da função poética, reforçada pela disposição da frase na direção vertical.<br />

Verdadeiro, pois a revista Veja usa nitidamente o provérbio (“Cai das nuvens”), e a revista Época sugere tal<br />

situação por, principalmente, elementos gráficos.<br />

Falso, pois os recursos gráficos são mais explorados pela revista Época, ao utilizar um aviãozinho feito a partir<br />

de uma nota de 100 Reais sofrendo a queda, tema de tal semana.<br />

12. [d] Uma vez que o enunciado explicita as relações entre os textos “na perspectiva da polifonia, do dialogismo e da<br />

intertextualidade”, percebe-se que não há plágio entre os excertos apresentados, inclusive porque o texto 3 é um<br />

verbete de dicionário, fonte de referência na busca de significados; tal fato descarta a ideia de ser uma fonte que se<br />

apropria indevidamente de um determinado conteúdo<br />

13. a) função referencial<br />

b) função referencial<br />

c) funções referencial e metalinguística<br />

d) função poética<br />

e) função fática<br />

14. Código, emissor e mensagem.<br />

15.[a]-A metalinguagem acontece quando o texto usa a narrativa para falar sobre as “estórias”, ou seja, a narrativa deste<br />

texto conta as narrativas do velho Taímo: “As estórias dele faziam o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que o<br />

mundo”. Assim, é correta a alternativa [A].<br />

16. d<br />

17. c<br />

18. 2,4,1,4,3<br />

19. Funções poética e metalinguística.<br />

20. Código, emissor e mensagem.<br />

21. Nesse fragmento de Clarice Lispector, além da preocupação introspectiva em fisgar elementos interiores, profundos,<br />

beirando uma revelação epifânica transcendental, há também a preocupação constante com a própria escritura do<br />

texto literário, usando-se a função metalinguística.<br />

A discussão ou abordagem da tessitura narrativa aparece em passagens como: "As palavras são sons transfundidos<br />

de sombras que se entrecruzam desiguais, estalactites, renda, música transfigurada de órgão. Mal ouso clamar<br />

palavras a essa rede vibrante e rica (...)", "Sei que estou adiando a história e que brinco de bola sem bola. O fato é<br />

um ato? Juro que este livro é feito sem palavras (...)" e "Eu não sou um intelectual, escrevo com o corpo. E o que<br />

escrevo é uma névoa úmida".<br />

47


22. a) função referencial<br />

b) função poética<br />

c) funções referencial e metalingüística<br />

d) função fática<br />

e) função conativa<br />

f) função emotiva<br />

g) função metalinguística<br />

23. Função emotiva - predominância de 1ª pessoa.<br />

24. a<br />

[I]<br />

48<br />

[II]<br />

[III]<br />

25. a<br />

[I]<br />

[II]<br />

<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

Verdadeira, pois é a calvície do engraxate que chama a atenção do cronista, levando-o à reflexão sobre a<br />

exploração pelo trabalho: ao passar o pano no sapato e enxugar a própria testa, a cabeça do trabalhador<br />

ficou marcada pela graxa.<br />

Verdadeira, pois “função textual” é todo elemento empregado para formar um texto coeso e coerente. A<br />

caracterização do engraxate é essencial para que o leitor reconheça a coesão e a coerência da crônica<br />

reflexiva.<br />

Verdadeira, pois, reforçando o conceito de “função textual”, a caracterização do engraxate é uma exigência<br />

para que o leitor reconheça a crônica como um texto coerente.<br />

Verdadeira, pois digressão é um comentário paralelo ao discurso, uma divagação relacionada ao tema. Há,<br />

no texto, um comentário paralelo (“os jornais diriam que fora o dia mais quente deste verão...”) que reforça o<br />

discurso (“Fazia calor no Rio...”)<br />

Verdadeira, pois o cronista já havia mencionado a decisão de engraxar os sapatos e a referência ao agente<br />

dessa ação se dá pelo pronome demonstrativo “esses”, anafórico.<br />

[III] Verdadeira, apontando outro emprego do pronome demonstrativo. Neste caso, o cronista pretende fazer<br />

referência ao conhecimento de mundo do leitor, seu enunciatário, ou seja, o destinatário do discurso.<br />

[IV] Verdadeiro, pois o pronome pessoal do caso reto faz referência a um elemento já mencionado, o sapato. Ao<br />

empregar o pronome de modo anafórico, mantém o texto coeso sem repetir os termos.<br />

26. Função emotiva<br />

27. b<br />

28. d<br />

29. c<br />

30. c<br />

31. a<br />

32.<br />

a) Sim, caso a conversa entre pai e filho se desse por telefone, a entonação utilizada haveria de desfazer o tom<br />

imperativo que a frase escrita possui.<br />

b) “Papai, mande-me dinheiro, por favor?”.<br />

33. ana Fonologia<br />

34. [d] O efeito sonoro se faz com uma combinação linguística explorando os fonemas /l/, /b/, /t/. A linguagem<br />

coloquial é representada pela expressão “tipo pra rimar”.<br />

35. d 36. b 37. e 38. b 39. a<br />

40. a 41. a 42. d 43. c 44. c<br />

45. d 46. c 47. a 48. a 49. d<br />

50. a 51. e 52. e 53. d 54. e<br />

55. d 56. d 57. c 58. a 59. b<br />

60. a 61. c<br />

62. substituí-lo, bênção, reúne,<br />

63. b 64. b 65. b 66. e 67. c<br />

68. e<br />

69. Está – oxítona terminada em a; óleo – paroxítona em ditongo; é – monossílaba tônica em e; inglês/você – oxítonas<br />

em e(s); têm – 3ª pessoa plural do verbo “ter”; sensível – paroxítona terminada em I.<br />

70. b


Material <strong>ITA</strong><br />

71. Se a tônica fosse o i, essa vogal ficaria na segunda vogal do hiato, sozinha na sílaba em sem nh depois e, nessas<br />

condições, teria acento gráfico. Como essas palavras não são acentuadas, o i não é tônica.<br />

72. d<br />

73. a) guilhochê;<br />

c) aimará;<br />

d) féretro;<br />

e) aljôfar;<br />

g) Pólux<br />

74. e 75. d 76. d 77. e 78. b<br />

79. c 80. c 81. c 82. c 83. c<br />

84. d 85. d 86. c 87. a 88. c<br />

89. e 90. d 91. b 92. b 93. d<br />

94. c 95. a<br />

96. a<br />

[I] Porque. O termo porque tem sentido de conjunção explicativa nesta oração.<br />

[II] Por que. Para perguntas, usa-se apenas o por que separado e sem acento.<br />

[III] Usa-se também o por que separado quando o sentido de causa ou de motivo estiver implícito.<br />

97. c<br />

98. d<br />

99. e<br />

100. c<br />

101. b<br />

102. a) cuidado com o degrau, senão você cai./Se não tomar cuidado com o degrau, você pode cair.<br />

b) por que<br />

c) Por tratar-se de uma frase interrogativa direta, foi usada a forma por que<br />

d) porque<br />

103. a) há<br />

b) a<br />

c) há<br />

d) a<br />

e) a<br />

104. a) conjunção adverbial temporal<br />

b)advérbio<br />

c) verbo haver, equivale a fazer.<br />

d) substantivo/aparece no final da frase interrogativa.<br />

e) Pronome, equivale a pelos quais<br />

105 c) mal - mau - mas - mais;<br />

106. b) onde – estada – estadia – aonde;<br />

107. d) concerto – a – há – sessões – há;<br />

108. d) tráfego – infrações – infrinjam – conserto;<br />

109. a) (mandato)<br />

b) (assentos)<br />

c) (sessão)<br />

d) (despercebido)<br />

e) (imergiu)<br />

110. b) iminente, censo, seção e tráfico.<br />

111. e) confirmou / corrigiu<br />

112. c) Já iniciamos a sessão a quinze minutos.<br />

113. e) porquê, por quê, por que, porque.<br />

114. c) Essa é a razão porque não me calo.<br />

115. a) discriminar - tráfico - infligiu<br />

49


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

50<br />

Frente B<br />

Módulo B01 – LITERATURA BRASILEIRA<br />

A HISTÓRIA DA LITERATURA<br />

“De tudo que dissemos se conclui que a literatura se distingue da não-literatura pelo conteúdo e pela forma, e que<br />

as características essenciais da ora literária são duas: um conteúdo intuitivo e individual e uma forma produto da<br />

criatividade expressiva do artista.” (Antônio Soares Amora)<br />

“Literatura é a linguagem carregada de significado. Grande literatura é simplesmente linguagem carregada de<br />

significado até o máximo grau possível.” (Ezra Pound)<br />

As duas conceituações de literatura acima refletem, cada uma delas, uma visão: na primeira, enfatiza-se o papel do<br />

artista na palavra; na segunda, põe-se em destaque como a literatura resulta do manuseio da linguagem.<br />

Os estudos de história da literatura procuram investigar as transformações pelas quais passou o conceito de criação<br />

literária no decorrer do desenvolvimento da sociedade humana. Para isso, analisam tanto os textos literários produzidos em cada<br />

uma das etapas históricas da humanidade como os sistemas de ideias e as relações sociais que coexistiram com esses textos. Esse<br />

trabalho procura detectar as influências mútuas entre a produção literária e o ambiente histórico em que ela se deu.<br />

No estudo histórico da literatura, você vai lidar com conceitos como período literário, movimento literário, escola<br />

literária, estética literária ou fase literária. Há uma ideia básica por trás deles: a de que é possível agrupar obras e autores<br />

a partir de elementos similares. Dessa forma, a observação de recursos estilísticos e preferências temáticas comuns a um<br />

grupo de autores e livros mais ou menos contemporâneos entre si permite traçar os limites de um período literário.<br />

O conceito de período literário está vinculado ao de estilo de época. O estilo de época advém de um conjunto de<br />

normas que orienta e caracteriza as manifestações culturais de um momento histórico. Esse conjunto de normas costuma<br />

atender aos padrões de gosto e às exigências ideológicas da classe social dominante, que seleciona as manifestações<br />

artísticas que terão maior projeção e muitas vezes condena ao esquecimento formas artísticas de outras camadas sociais.<br />

Observe, pois, que em qualquer período artístico coexistem diversos sistemas de normas estéticas, dentre os quais um se<br />

destaca por motivos sociais e econômicos. Esse sistema acaba por ser registrado historicamente e tomado como sinônimo<br />

artístico de determinada época.<br />

Além desses problemas de origem social, o estudo da história da literatura enfrenta outros. A questão do estilo individual é<br />

um deles. Como já vimos, um período literário pode ser definido porque traços estilísticos comuns nos permitem agrupar autores<br />

e obras que apresentam similaridades. Entretanto, cada autor, quando escreve, faz suas próprias opções, ultrapassando muitas<br />

vezes os limites que o estilo de época determina.<br />

Podemos até mesmo identificar uma tendência nos melhores artistas da palavra: a de transgredir os limites impostos pelo<br />

estilo de época, impregnando suas obras de novidade e personalidade. Essa característica traz muitos problemas à divisão da<br />

literatura em períodos, uma vez que existem autores e obras "inclassificáveis".<br />

Infelizmente, o conceito de período literário pode criar alguns equívocos, como, por exemplo, sugerir a falsa impressão de<br />

que os limites cronológicos de um período são rigorosos, e que a morte de um estilo de época e o nascimento de outro são<br />

definitivos e instantâneos. Lembre-se sempre de que cada período se insere num processo e que as datas apontadas como limite<br />

constituem mera indicação de fatos significativos das transformações literárias. O surgimento de novas ideias e ideais na arte<br />

literária tem sempre alguma relação com ideias e ideais anteriores: os estilos de época interpenetram-se. Esse processo em que<br />

um texto se alimenta de outro ou outros chama-se intertextualidade e evidencia como a literatura se vale frequentemente da<br />

própria literatura para, por meio de reinterpretações, descobrir novos caminhos. O mesmo processo ocorre também nas artes<br />

plásticas, como se percebe nas figuras que abrem esse capitulo.<br />

OS PRIMÓRDIOS DA ARTE<br />

É virtualmente impossível determinar quais seriam as primeiras manifestações artísticas. Quem teria sido o primeiro<br />

hominídeo consciente a fazer um conjunto de sons, provavelmente percussivos, com ritmos? Quem teria feito movimentos<br />

corporais em consonância com esse ritmo? São dados perdidos na história da humanidade. Entretanto, existem registros<br />

pictóricos nas paredes das cavernas: as pinturas rupestres. As primeiras pinturas rupestres, encontradas em 1879, foram<br />

as da caverna de Altamira, situada na Cantábria, Espanha. O segundo grupo de pinturas foi descoberto em 1922, na<br />

caverna de PechMerle, em Lot,França. A datação em carbono 14 indica que estas foram feitas há 25 mil anos, sendo 10<br />

mil anos mais antigas que as de Altamira.


Material <strong>ITA</strong><br />

Pintura rupestre de Altamira<br />

Difícil também é precisar o nível de consciência do homem primitivo. É de supor que ele estivesse restrito ao primeiro<br />

instinto animal: o de autopreservação. Portanto, sua luta cotidiana era pela busca de alimentos e disputa de território.<br />

Com o decorrer do tempo, cada vez mais uma parte da natureza humana que não se alimenta apenas da interação<br />

com o mundo concreto foi se sofisticando e a manifestando. Há caminhos mais abstratos a percorrer, sentimentos e<br />

necessidades que nem sempre são objetivos ou equacionáveis. A arte procura expressar essas necessidades e sentimentos.<br />

A ESCR<strong>ITA</strong><br />

A escrita procura representar o pensamento por meio de caracteres convencionais. Até que esses caracteres fossem<br />

estabelecidos, um longo caminho foi percorrido. Os seres humanos começaram por desenhar objetos que poderiam ser<br />

associados aos fatos que desejavam registrar de modo duradouro. Essa foi a fase da pictografia.<br />

Passaram, então, a representar ideias abstratas por meio de objetos que tinham maior poder de analogia, de<br />

comparação, com a ideia que pretendiam expressar. Foi a fase do simbolismo, ou ideografismo, cujos sinais podem ser<br />

encontrados nos idiomas japonês, chinês e nos hieróglifos egípcios.<br />

https://www.google.com.br/search?q=hieroglifos&biw<br />

Os ideogramas, sinais gráficos que representam ideias ou coisas, quando combinados, expandem-se emnovos<br />

sentidos. O processo de composição por ideogramas, além de caracterizar uma forma de registro, ensina uma filosofia de<br />

vida. Daí surgiu a ideia de convencionar sinais para representar os sons da fala, cujos símbolos escritos constituem as<br />

silabas das palavras. Configurou-se então a escrita silábica. Em seguida, veio o alfabetismo, caracterizado por um<br />

inventario de letras que representam os fonemas da língua falada.<br />

51


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

https://www.google.com.br/search?q=alfabeto+grego&biw=<br />

Alfabeto hebraico e seus significados<br />

(Detalhe de Madona do Magnificat, de Sandro Botticelli, pintada entre 1482 e 1498.)<br />

52<br />

(Trovador da lírica medieval.)<br />

A fundação de Portugal se dá com a vitória lusitana sobre os árabes na batalha de Ouriques, em 1139. Esse<br />

confronto militar tornou-se lendário. Segundo a crença popular, os mouros foram arrasados por cristãos e o feito é<br />

atribuído não somente ao comando enérgico de D. Afonso I (acima), mas também a São Tiago. Conta-se que o santo<br />

surge inesperadamente em um cavalo branco e, com sua espada, corta centenas de cabeças de muçulmanos. Essa<br />

intervenção do poder celestial sobre os acontecimentos terrenos é reveladora da mentalidade do homem medieval.


Material <strong>ITA</strong><br />

As manifestações Artísticas<br />

Chega mais perto e contempla as palavras.<br />

Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra<br />

(Carlos Drummond de Andrade)<br />

A língua já foi comparada a “um dicionário, cujos exemplares, idênticos, são distribuídos entre os indivíduos” e<br />

cada indivíduo pode fazer uso desse “dicionário” de forma particular, desde que obedeça a algumas regras gerais da<br />

língua. Desta forma ao realizar um ato de comunicação verbal, o indivíduo escolhe, seleciona as palavras, para depois<br />

organizá-las, combiná-las, conforme a sua vontade. E todo esse trabalho de seleção e combinação não é aleatório, não<br />

é realizado por acaso (afinal, seleção significa “escolha fundamentada”), mas está intimamente ligado á intenção de<br />

quem fala ou escreve.<br />

Quando essa intenção está voltada para o próprio texto, quere na sua estrutura, quer na seleção e combinação das<br />

palavras, ocorre afunção poética da linguagem. Como afirma Roman Jakobson, a função poética “coloca em evidência o<br />

lado palpável, material dos signos”.<br />

Ao selecionar e combinar de maneira particular e especial as palavras, o poeta procura obter alguns elementos<br />

fundamentais da linguagem poética:<br />

O ritmo;<br />

A sonoridade;<br />

O belo e o inusitado das imagens.<br />

Importante é perceber que a função poética não é exclusiva da poesia; você poderá encontrá-la em textos escritos<br />

em prosa, em anúncios publicitários e mesmo na linguagem cotidiana. Observe como nossa tendência é sempre falar<br />

“amizade luso-brasileira” e nunca “amizade brasileiro-lusa”. Da mesma forma, ao enunciarmos uma sequência aleatória<br />

de nomes, a tendência será pronunciar os nomes mais curtos antes dos mais longos; como nos ensina Jakobson,<br />

tendemos a dizer “Joana e Margarida”, e não “Margarida e Joana”. E qual a explicação? Simplesmente porque “soa<br />

melhor”.<br />

A seguir, alguns exemplos da função poética da linguagem:<br />

A PALAVRA<br />

“Diante dele, as pessoas, as coisas, perdiam o peso de ser. Os lugares, o Mutúm – se<br />

esvaziavam, numa ligeireza, vagarosos. E Muguilim mesmo se achava diferente de todos. Ao<br />

vago, dava a mesma ideia de uma vez, em que, muito pequeno, tinha dormido de dia, fora<br />

de seu costume – quando acordou, sentiu o existir do mundo em hora estranha, e perguntou<br />

assustado: – ‘Uai, Mãe, hoje já e amanhã?!”<br />

(Guimarães Rosa)<br />

João não quero dicionários<br />

consultados em vão,<br />

Quero só a palavra<br />

que nunca estará neles<br />

nem se pode inventar.<br />

Que resumirá o mundo<br />

e o substituirá.<br />

Mais sol do que o sol,<br />

dentro da qual vivêssemos<br />

todos em comunhão,<br />

mudos,<br />

saboreando-a<br />

(Carlos Drummond de<br />

Andrade)<br />

53


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

O texto de Guimarães Rosa, escrito em prosa, é um brilhante exemplo da função poética da linguagem. Nele<br />

predomina a linguagem figurada, resultante da seleção e da combinação especial de palavras. Dessa forma, mesmo<br />

isoladas do contexto, as frases tem um valor, porque o foco está na própria arrumação da mensagem. É o que ocorre em<br />

“Os lugares se esvaziavam, numa ligeireza, vagarosos” ou “sentiu o existir do mundo em hora estranha” ou ainda “hoje<br />

já é amanhã?!”.<br />

Exercícios Propostos<br />

01. (<strong>ITA</strong>) O poema a seguir faz parte do livro "Rosácea" (1986), da escritora Orides Fontela. Leia-o atentamente.<br />

Lembretes<br />

É importante acordar<br />

a tempo<br />

é importante penetrar<br />

o tempo<br />

é importante vigiar<br />

o desabrochar do destino.<br />

(FONTELA, Orides. "Trevo" (1969-1988). São Paulo: Duas Cidades, 1988.)<br />

a) Em cada estrofe, a escritora nos lembra de algo importante acerca da vida humana. Explique, a que atitudes,<br />

comportamentos ou momentos da existência a escritora se refere em cada uma das três estrofes do poema.<br />

b) A sequência dos "lembretes" torna-se complexa ao longo do poema por meio de metáforas cada vez mais<br />

abstratas. Aponte qual o possível significado metafórico da expressão "vigiar / o desabrochar do destino", na<br />

última estrofe.<br />

02. (<strong>ITA</strong>) Analise as seguintes proposições e marque a soma da(s) CORRETA(S).<br />

01) O <strong>Português</strong> é falado por mais de 280 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo a língua oficial de<br />

diversos países.<br />

02) Linguagem é o conjunto de palavras faladas ou escritas, não abrangendo gestos e imagens, uma vez que<br />

estes últimos permitem múltiplas interpretações.<br />

04) Um mesmo suporte textual pode apresentar linguagem verbal e linguagem não verbal, ambas contribuindo<br />

para a veiculação de ideias, mesmo que, aparentemente, não apresentem relação direta entre si.<br />

08) A linguagem pode ser verbal ou não verbal. Assim, enunciados desprovidos de ao menos um verbo são<br />

considerados não-verbais.<br />

16) A definição da “Norma Culta” de uma língua considera aspectos históricos, principalmente os primeiros<br />

registros escritos desta língua. A Norma Culta, então, é permanente e não dependente de contextos sociais,<br />

políticos ou econômicos.<br />

32) Impedem que uma língua morra: seu registro em documentos, o trabalho dos estudiosos e a existência de<br />

gramáticas. O uso constante e descuidado por parte dos falantes, no entanto, contribui para o surgimento de<br />

“Línguas Mortas”.<br />

03. (ENEM)<br />

TEXTO I<br />

A característica da oralidade radiofônica, então, seria aquela que propõe o diálogo com o ouvinte: a simplicidade,<br />

no sentido da escolha lexical; a concisão e coerência, que se traduzem em um texto curto, em linguagem coloquial<br />

e com organização direta; e o ritmo, marcado pelo locutor, que deve ser o mais natural (do diálogo). É esta<br />

organização que vai “reger” a veiculação da mensagem, seja ela interpretada ou de improviso, com objetivo de dar<br />

melodia à transmissão oral, dar emoção, personalidade ao relato do fato.<br />

VELHO, A. P. M. A linguagem do rádio multimídia. Disponível em: www.bocc.ubi.pt. Acesso em: 27 fev. 2012.<br />

54


Material <strong>ITA</strong><br />

TEXTO II<br />

A dois passos do paraíso<br />

A Rádio Atividade leva até vocês<br />

Mais um programa da séria série<br />

“Dedique uma canção a quem você ama”<br />

Eu tenho aqui em minhas mãos uma carta<br />

Uma carta d'uma ouvinte que nos escreve<br />

E assina com o singelo pseudônimo de<br />

“Mariposa Apaixonada de Guadalupe”<br />

Ela nos conta que no dia que seria<br />

o dia mais feliz de sua vida<br />

Arlindo Orlando, seu noivo<br />

Um caminhoneiro conhecido da pequena e<br />

Pacata cidade de Miracema do Norte<br />

Fugiu, desapareceu, escafedeu-se<br />

Oh! Arlindo Orlando volte<br />

Onde quer que você se encontre<br />

Volte para o seio de sua amada<br />

Ela espera ver aquele caminhão voltando<br />

De faróis baixos epara-choque duro...<br />

BLITZ. Disponível em: http://letras.terra.com.br. Acesso em: 28 fev. 2012 (fragmento).<br />

Em relação ao Texto I, que analisa a linguagem do rádio, o Texto II apresenta, em uma letra de canção,<br />

a) estilo simples e marcado pela interlocução com o receptor, típico da comunicação radiofônica.<br />

b) lirismo na abordagem do problema, o que o afasta de uma possível situação real de comunicação<br />

radiofônica.<br />

c) marcação rítmica dos versos, o que evidencia o fato de o texto pertencer a uma modalidade de comunicação<br />

diferente da radiofônica.<br />

d) direcionamento do texto a um ouvinte específico divergindo da finalidade de comunicação do rádio, que é<br />

atingir as massas.<br />

e) objetividade na linguagem caracterizada pela ocorrência rara de adjetivos, de modo a diminuir as marcas de<br />

subjetividade do locutor.<br />

04. (<strong>ITA</strong>) O texto abaixo é a estrofe inicial do poema "Meus oito anos", de Casimiro de Abreu:<br />

(...)<br />

Oh! Que saudades que tenho<br />

Da aurora da minha vida,<br />

Da minha infância querida<br />

Que os anos não trazem mais!<br />

Que amor, que sonhos, que flores,<br />

Naquelas tardes fagueiras<br />

À sombra das bananeiras,<br />

Debaixo dos laranjais!<br />

(...)<br />

(In CANDIDO, A.; CASTELLO, J. "A. Presença da literatura brasileira, v. 2. São Paulo: Ditei, 1979.)<br />

Sobre o poema, NÃO se pode afirmar que<br />

a) se trata de um dos poemas mais populares da Literatura Brasileira.<br />

b) o poeta se vale do texto para manifestar a sua saudade da infância.<br />

c) a linguagem não é erudita, pois se aproxima da simplicidade da fala popular, o que é uma marca da poesia<br />

romântica.<br />

d) a memória da infância do poeta está intimamente ligada à natureza brasileira.<br />

e) o poeta é racional e contido ao mostrar a sua emoção no poema.<br />

55


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

05. (Fuvest SP)<br />

“A tua saudade corta<br />

como aço de navaia...<br />

O coração fica aflito<br />

Bate uma, a outra faia...<br />

E os óio se enche d'água<br />

Que até a vista se atrapaia, ai, ai...”<br />

Fragmento de Cutelinho, canção folclórica.<br />

a) Nos dois primeiros versos há uma comparação. Reconstrua esses versos numa frase iniciada por “Assim como<br />

(...)”, preservando os elementos comparados e o sentido da comparação.<br />

b) Se a forma do verbo atrapalhar estivesse flexionada de acordo com a norma padrão, haveria prejuízo para o<br />

efeito de sonoridade explorado no final do último verso? Por quê?<br />

06. O livro de contos "A Guerra Conjugal", de Dalton Trevisan, publicado em 1969, reatualiza alguns temas da ficção<br />

realista-naturalista do século XIX, e registra de forma crua a vida nos grandes centros urbanos. Nesse sentido, é<br />

correto afirmar que nessa obra<br />

a) os casais protagonistas, da média e alta burguesia, como nos romances de Machado de Assis, vivem sempre<br />

conflitos ligados ao adultério.<br />

b) os protagonistas dos contos estão quase sempre envolvidos em conflitos conjugais e familiares, que levam à<br />

violência e à perversão.<br />

c) a maior parte dos contos retrata dramas de casais massacrados por um cotidiano miserável e por uma vida<br />

sem perspectivas.<br />

d) quase todos os casais (denominados sempre de João e Maria) vivem dramas naturalistas, gerados por taras e<br />

perversões sexuais.<br />

e) as personagens são de classe média; vivem na periferia de grandes cidades, mergulhadas numa grande<br />

miséria existencial e cultural.<br />

07. (<strong>ITA</strong>) Leia os textos abaixo, de Oswald de Andrade, extraídos de "Poesias reunidas" (Rio de Janeiro: Civilização<br />

Brasileira, 1978).<br />

VÍCIO NA FALA<br />

Para dizerem milho dizem mio<br />

Para melhor dizem mio<br />

Para pior pio<br />

Para telha dizem teia<br />

Para telhado dizem teiado<br />

E vão fazendo telhados<br />

PRONOMINAIS<br />

Dê-me um cigarro<br />

Diz a gramática<br />

Do professor e do aluno<br />

E do mulato sabido<br />

Mas o bom negro e o bom branco<br />

Da Nação brasileira<br />

Dizem todos os dias<br />

Deixa disso camarada<br />

Me dá um cigarro<br />

Esses poemas<br />

I. mostram claramente a preocupação dos modernistas com a construção de uma literatura que levasse em<br />

conta o português brasileiro.<br />

II. mostram que as variantes linguísticas, ligadas a diferenças socioeconômicas, são todas válidas.<br />

III. expõem a maneira cômica com que os modernistas, por vezes, tratavam de assuntos sérios.<br />

IV. possuem uma preocupação nacionalista, ainda que não propriamente romântica.<br />

56<br />

Estão corretas<br />

a) I e IV. b) I, II e III.<br />

c) I, II e IV. d) I, III e IV.<br />

e) todas.


Material <strong>ITA</strong><br />

08. (ENEM 2013)<br />

TEXTO I<br />

Eles se beijavam no elevador, nos corredores do prédio. Se amavam tanto, que o vizinho solteirão da esquerda<br />

guardava por eles uma vermelha inveja. Uma tarde, sem que ninguém soubesse por que, eles se enforcaram no<br />

banheiro. Houve muito tumulto, carros da polícia parados em frente ao edifício, as equipes de TV.<br />

O sol caía sobre as marquises e a cabeça dos curiosos na rua. Um senhor dizia para uma mulher passando ali:<br />

– Eles se suicidaram.<br />

Uma comerciária acrescentava:<br />

– Dizem que eles se gostavam muito.<br />

– Que coisa!<br />

Enquanto isso, o solteirão, na janela do seu apartamento, vendo todos lá embaixo, mordia com sabor a carne<br />

acesa de uma enorme goiaba.<br />

FERNANDES, R. O caçador. João Pessoa: UFPB, 1997 (fragmento).<br />

TEXTO II<br />

Invejoso<br />

O carro do vizinho é muito mais possante<br />

E aquela mulher dele é tão interessante<br />

Por isso ele parece muito mais potente<br />

Sua casa foi pintada recentemente<br />

E quando encontra o seu colega de trabalho<br />

Só pensa em quanto deve ser o seu salário<br />

Queria ter a secretária do patrão<br />

Mas sua conta bancária já chegou ao chão<br />

[...]<br />

Invejoso<br />

Querer o que é dos outros é o seu gozo<br />

E fica remoendo até o osso<br />

Mas sua fruta só lhe dá o caroço<br />

Invejoso<br />

O bem alheio é o seu desgosto<br />

Queria um palácio suntuoso<br />

Mas acabou no fundo desse poço...<br />

ANTUNES, A. IêIêIê. São Paulo: Rosa Celeste, 2009<br />

(fragmento).<br />

O conto e a letra de canção abordam o mesmo tema, a inveja. Embora empreguem recursos linguísticos diferentes,<br />

ambos lançam mão de um mecanismo em comum, que consiste em<br />

a) referir-se, em terceira pessoa, a um indivíduo qualificado como invejoso.<br />

b) conferir à inveja aspectos humanos ao fazer dela personagem de narrativa.<br />

c) expressar o ponto de vista do invejoso por meio da fala de uma personagem.<br />

d) dissertar sobre a inveja, apresentando argumentos contrários e favoráveis.<br />

e) fazer uma descrição do perfil psicológico de alguém caracterizado como invejoso.<br />

09 (UFRG 2004) Considere as seguintes afirmações, relacionadas ao episódio do embarque do fidalgo, da obra Auto<br />

da Barca do Inferno, de Gil de Vicente.<br />

I. A acusação de tirania e presunção dirigida ao fidalgo configura uma crítica não ao indivíduo, mas a classe a<br />

que pertence.<br />

II. Gil Vicente critica as desigualdades sociais ao apontar o desprezo do fidalgo aos pequenos, aos<br />

desfavorecidos.<br />

III. No momento em que o fidalgo pensar ser alvo por haver deixado, em terra, alguém orando por ele,<br />

evidencia-se a crítica vicentina à fé religiosa.<br />

Quais estão corretas?<br />

a) Apenas I.<br />

b) Apenas II.<br />

c) Apenas I e II.<br />

d) Apenas II e III.<br />

e) I, II e III.<br />

57


58<br />

<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

10. (UFRGS 2002) Assinale a alternativa incorreta sobre a obra de Gil Vicente<br />

a) Gil Vicente tem suas raízes na Idade Média, mas volta-se para o Renascimento, aliando o humanismo<br />

religioso à atitude crítica diante dos problemas sociais.<br />

b) Variada na forma, a obra vicentina desvenda os costumes do século XVI, satirizando a sociedade feudal sem perder o<br />

caráter moralista e resguardando o sentido de intervenção social.<br />

c) Embora critique o clero, a nobreza e seu séquito ocioso, o teatro vicentino faz a exaltação heroica dos reis,<br />

atitude comum na Idade Média.<br />

d) Ao mesmo tempo que desenvolve a sátira social, a produção vicentina aponta para necessidade de reforma<br />

da Igreja, devido aos abusos do clero.<br />

e) Trabalhando com uma verdadeira galeria de tipos. Gil Vicente adapta o uso da linguagem coloquial ao estilo<br />

e à condição social de cada um deles.<br />

11. (UFRGS 2000) Em relação ao Auto da Barra do Inferno de Gil Vicente, considere as seguintes afirmações.<br />

I. Trata-se de um grande painel que satiriza a sociedade portuguesa do seu tempo.<br />

II. Representa a transição da Idade Média para o Renascimento, guardando traços dos dois períodos.<br />

III. Sugere que o diabo, ao julgar justos e pecadores, tem poderes maiores que Deus.<br />

Quais estão corretas?<br />

a) Apenas I.<br />

b) Apenas I e II.<br />

c) Apenas I e III.<br />

d) Apenas II e III.<br />

e) I, II e III.<br />

12. (Fuvest) Indique a afirmação correta sobre o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente:<br />

a) É intricada a estruturação de suas cenas, que surpreendem o público com a inesperado de cada situação.<br />

b) O moralismo vicentino localiza os vícios, não nas instituições, mas nos indivíduos que as fazem viciosas.<br />

c) É complexa a crítica aos costumes da época, já que o autor primeiro a relativizar a distinção entre Bem e o Mal.<br />

d) A ênfase desta sátira recai sobre as personagens populares mais ridicularizadas e as mais severamente punidas.<br />

e) A sátira é aqui demolidora e indiscriminada, não fazendo referência a qualquer exemplo de valor positivo.<br />

13. (Fuvest) Diabo, Companheiro do Diabo, Anjo, Fidalgo, Onzeneiro, Parvo, Sapateiro, Frade, Florença, Brígida Vaz,<br />

Judeu, Corregedor, Procurador, Enforcado e Quatro Cavaleiros são personagens do Auto da Barca do Inferno, de<br />

Gil Vicente.<br />

Analise as informações abaixo e selecione a alternativa incorreta cujas características não descrevam<br />

adequadamente a personagem.<br />

a) O Onzeneiro idolatra o dinheiro, é agiota e usuário, de tudo que juntara, nada leva para a morte, ou melhor,<br />

leva a bolsa vazia.<br />

b) O Frade representa o clero decadente e é subjugado por suas fraquezas: mulher e esporte; leva a amante e<br />

as armas de esgrima.<br />

c) O Diabo, capitão da barca do inferno, é quem apressa o embarque dos condenados; é dissimulado o<br />

irônico.<br />

d) O Anjo, capitão da barca do céu, é quem elogia a morte pela fé; o austero e inflexível.<br />

e) O Corregedor representa a justiça e luta pela aplicação íntegra e exata das leis; leva papéis e processos.<br />

14. O argumento da pela “A Farsa de Inês Pereira”, de Gil Vicente, consiste na demonstração do refrão popular “Mais<br />

quero asno que me carregue que cavalo que me derrube”. Identifique a alternativa que NÃO corresponde ao<br />

provérbio, na construção da farsa.<br />

a) A segunda parte dos provérbios ilustra a experiência desastrosa do primeiro casamento.<br />

b) O escudeiro Brás da Mata corresponde ao cavalo, animal nobre, que a derruba.<br />

c) O segundo casamento exemplifica o primeiro termo, asno que a carrega.<br />

d) O asno corresponde a Pero Marques, primeiro pretendente e segundo marido de Inês.<br />

e) Cavalo e asno identificam a mesma personagem em diferentes momentos de sua vida conjugal.


Material <strong>ITA</strong><br />

15. Leia as proposições abaixo e assinale a alternativa correta sobre o Auto da Barca do Inferno.<br />

I. O Frade é condenado ao inferno somente porque é brincalhão e excelente dançarino.<br />

II. O Judeu aceitou pagar propina aos membros do judiciário e do clero e por isso terá sua alma condenada.<br />

III. Os quatro cavaleiros são salvos, pois representam os verdadeiros valores da fé cristã.<br />

a) Estão corretas a I e III.<br />

b) Estão corretas a II e III.<br />

c) Apenas a III está correta.<br />

d) Apenas a II está correta.<br />

e) Estão corretas a I e a II.<br />

16. Autor que levava o palco a sociedade portuguesa da primeira metade do século XVI, vivenciando, na expressão de<br />

Antônio José Saraiva, o reflexo da crise.<br />

II. Atuou na linha do teatro de costumes, associou o burlesco e o cômico em dramas e comédias ao retratar<br />

flagrantes da vida brasileira, do campo à cidade.<br />

Os enunciados referem-se, respectivamente, aos teatrólogos:<br />

a) Camilo Castelo Branco e José de Alencar.<br />

b) Machado de Assis e Miguel Torga.<br />

c) Gil Vicente e Nélson Rodrigues.<br />

d) Gil Vicente e Martins Pena.<br />

e) Camilo Castelo Branco e Nélson Rodrigues.<br />

OS GÊNEROS LITERÁRIOS<br />

Módulo B02 – Literatura Brasileira<br />

Todos os gêneros são bons, afora o gênero tedioso.<br />

(Voltaire, escritor e filósofo francês do século XVIII)<br />

Gêneros literários são as diversas modalidades de expressão literária, agrupadas emfunção das diferentes maneiras<br />

de o escritor ver, sentir o mundo. A escolha de dado gênero literário permite ao escritor passar certa visão de mundo<br />

(trágica, cômica, exaltativa, sentimental, satírica) a partir de uma forma específica (tragédia, comédia, epopeia, poema,<br />

paródia, etc.).<br />

Sabemos que a literatura é a arte que se manifesta pela palavra, seja ela falada ou escrita. Quanto à forma, o texto<br />

pode apresentar-se em prosa ou verso. Quanto ao conteúdo, estrutura e, segundo os clássicos, conforme a "maneira da<br />

imitação", podemos enquadrar as obras literárias em três gêneros:<br />

• Lírico - quando um "eu" nos passa uma emoção, um estado; centra-se no mundo interior do poeta,<br />

apresentando forte carga subjetiva. A subjetividade surge, assim, como característica marcante do lírico. O<br />

poeta posiciona-se em face dos "mistérios da vida". A lírica já foi definida como a expressão da "primeira<br />

pessoa do singular do tempo presente".<br />

59


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

• Dramático - quando os "atores, num espaço especial, apresentam, por meio de palavras e gestos, um<br />

acontecimento". Retrata, fundamentalmente, os conflitos das relações humanas.<br />

• Épico - quando temos uma narrativa de fundo histórico; são os feitos heroicos e os grandes ideais de um povo<br />

o tema das epopeias. O narrador mantém distanciamento em relação aos acontecimentos (esse<br />

distanciamento é reforçado, naturalmente, pelo aspecto temporal: os fatos narrados situam-se no passado).<br />

Temos, portanto, um poeta-observador voltado para o mundo exterior, tornando a narrativa objetiva. A<br />

objetividade é característica marcante do gênero épico. A épica já foi definida como a poesia da "terceira<br />

pessoa do tempo passado".<br />

As características apresentadas acima revelam as atitudes fundamentais de cada gênero. No entanto, é comum<br />

encontrarmos passagens ou mesmo textos inteiros em que os gêneros se misturam; por exemplo, são vários os casos de<br />

passagens líricas em poemas épicos (como o episódio de Inês de Castro no poema épico Os Lusíadas, de Camões). A<br />

literatura moderna, produzida no século XX, tornou muito tênues as fronteiras entre um gênero e outro.<br />

A divisão tradicional em três gêneros literários originou-se na Grécia clássica, com Aristóteles, quando a poesia era<br />

a forma predominante de literatura. Por nos parecer mais didática, adotamos uma divisão em quatro gêneros literários,<br />

desmembrando do épico o gêneronarrativo (ou, como querem alguns, a ficção), para enquadrar as narrativas em prosa.<br />

Gênero lírico<br />

Seu nome vem de lira, instrumento musical usado para acompanhar os cantos dos gregos. Por muito tempo, até o<br />

Final da Idade Média, os poemas eram cantados. Ao separar-se o texto do acompanhamento musical, a poesia passou a<br />

apresentar uma estrutura mais rica. A partir daí, a métrica (a medida de um verso, definida pelo número de sílabas<br />

poéticas), o ritmo das palavras, a divisão em estrofes, a rima. A combinação das palavras passaram a ser mais<br />

intensamente cultivados pelos poetas.<br />

Orfeu, personagem da mitologia grega, tocava lira tão habilmente e tinha voz tão<br />

maravilhosa, que era seguido pelos animais e conseguia acalmar as pessoas mais<br />

profundamente tomadas pela ira. Assim, a palavra lira deu origem a lírico, termo<br />

que caracteriza o gênero dedicado à poesia de caráter subjetivo.<br />

Leia, em voz alta, a belíssima estrofe de Carlos Drummond de Andrade na abertura da poesia intitulada<br />

"Consideração do poema". Observe a plasticidade do texto; é como se as palavras executassem um balé mágico:<br />

"Não rimarei a palavra sono<br />

com a incorrespondente palavra outono.<br />

Rimarei com a palavra carne<br />

ou qualquer outra, que todas me convêm.<br />

As palavras não nascem amarradas,<br />

elas saltam, se beijam, se dissolvem.<br />

no céu livre por vezes um desenho,<br />

são puras, largas, autênticas, indevassáveis.”<br />

Você percebeu o ritmo dessa estrofe? Pois é esse ritmo o chamado ritmo poético - a grande marca da poesia. Uma<br />

poesia pode abrir mão de tudo - rima, estrofe, métrica, menos do ritmo.<br />

Quanto ao aspecto formal, dentre as poesias de forma fixa, a que resistiu ao tempo, chegando até nossos dias, foi o<br />

soneto, composição poética de 14 versos distribuídos em dois quartetos e dois tercetos. Apresenta sempre métrica - mais<br />

usualmente, versos decassílabos (dez sílabas poéticas) e versos alexandrinos (doze sílabas poéticas) - e rima. A palavra soneto<br />

significava originalmente "pequeno som" (observe: sempre o som, sempre o ritmo!) e teria sido usada pela primeira vez por<br />

Jacopo de Lentini, da Escola Siciliana (século XIII), tendo sido mais tarde difundida por Petrarca (século XIV).<br />

60


Material <strong>ITA</strong><br />

Dentre os melhores sonetistas de Portugal, destacam-se Camões, Bocage, Antero de Quental. No Brasil, cultivaram<br />

o soneto, entre outros, Gregório de Matos, Cláudio Manuel da Costa, Olavo Bilac, Vinícius de Moraes.<br />

A poesia lírica apresenta várias formas poéticas fixas. Veja as principais.<br />

• Soneto - A palavra provém do italiano sonetto, literalmente "pequeno som". É um poema constituído por<br />

quatorze versos; na poesia em língua portuguesa, esses versos estão geralmente distribuídos em dois quartetos<br />

(estrofes de quatro versos) e dois tercetos (estrofes de três versos). Vários esquemas de rimas foram praticados<br />

ao longo do desenvolvimento da literatura.<br />

• Canção - A palavra evoca evidentemente as relações entre a poesia e a música e é utilizada para designar<br />

vários tipos de composições líricas. Mais frequentemente, refere-se a um texto de temática amorosa, formado<br />

por estrofes de número regular de versos e encerrado por uma estrofe menor, o ofertório, em que o poeta<br />

dedica o poema à amada ou condensa o conteúdo das estrofes anteriores.<br />

• Elegia - Palavra de origem obscura, normalmente indica poemas em que se expõem sentimentos dolorosos e<br />

digressões moralizantes destinadas a ajudar ouvintes ou leitores a suportar momentos difíceis (como, por<br />

exemplo, a morte de um amigo ou da pessoa amada).<br />

• Ode - Palavra de origem grega, significa "canto". Denomina composições líricas de tom normalmente solene e<br />

entusiasta, que podem falar de temas extremamente variados, desde os prazeres da mesa até celebrações de<br />

vitórias em jogos ou batalhas.<br />

• Écloga ou égloga – Palavra de origem grega, significa “seleção”. Nomeia poemas de tema pastoril,<br />

normalmente dialogados.<br />

Gênero dramático<br />

Drama, em grego, significa “ação”. Ao gênero dramático pertencem os textos, em poesia ou prosa, feitos para<br />

serem representados. Isso significa que entre autor e público desempenha papel fundamental todo o elenco que participa<br />

da encenação.<br />

O gênero dramático compreende as seguintes modalidades:<br />

Mosaico romano originário de Pompeia, mostrando preparativos para uma representação cênica.<br />

• Tragédia – representação de um fato trágico, suscetível de provocar compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a<br />

tragédia era “uma representação duma ação grave, de alguma extensão e completa, em linguagem figurada, com<br />

atores agindo, não narrando, inspirando dó e terror”.<br />

• Comédia – representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fácil, em geral<br />

criticando os costumes. Sua origem está ligada às festas populares gregas de celebração à fecundidade da<br />

natureza.<br />

61


62<br />

<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

• Tragicomédia – modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômicos. Originalmente, significava a<br />

mistura do real com o imaginário.<br />

• Farsa – pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural, que critica a sociedade e seus costumes;<br />

baseia-se no lema latino Ridendo castigat mores (“Rindo, catigam-se os costumes”).<br />

• Drama - Forma surgida no século XVIII, resulta da fusão de elementos trágicos e cômicos, procurando<br />

apresentar ações heroicas e de índole elevada ao lado de atitudes risíveis. Atualmente, a palavra também<br />

designa a peça teatral que expõe tensões sociais e individuais submetidas a processos de interpretação e<br />

análise.<br />

Gênero épico<br />

A palavra epopeia vem do grego épos, "verso", + poieô, "faço", e se refere à narrativa, em forma de versos, de um<br />

fato grandioso e maravilhoso que interessa a um povo. É uma poesia objetiva, impessoal, cuja característica maior é a<br />

presença de um narrador falando do passado (os verbos aparecem no pretérito). O tema é, normalmente, um episódio<br />

heroico da história de um povo.<br />

Dentre as principais epopeias (ou poemas épicos), destacamos:<br />

• Ilíada e Odisseia (Homero, Grécia; narrativas sobre a guerra entre Grécia e Troia)<br />

• Eneida (Virgílio, Roma; narrativa dos feitos romanos)<br />

• Paraíso perdido (Milton, Inglaterra)<br />

• Orlando Furioso (Ludovico Ariosto, Itália)<br />

• Os Lusíadas (Camões, Portugal)<br />

Na literatura brasileira, as principais epopeias foram escritas no século XVIII:<br />

• Caramuru (Santa Rita Durão)<br />

• O Uraguai (Basílio da Gama)<br />

Gênero narrativo<br />

Como já afirmamos, o gênero narrativo é visto como uma variante do gênero épico, enquadrando, neste caso, as<br />

narrativas em prosa. Dependendo da estrutura, da forma e da extensão, as principais manifestações narrativas são o<br />

romance, a novela e o conto.<br />

Em qualquer das três modalidades acima, temos representações da vida comum, de um mundo mais<br />

individualizado e particularizado, ao contrário da universalidade das grandiosas narrativas épicas, marcadas pela<br />

representação de um mundo maravilhoso, povoado de heróis e deuses.<br />

A prosa de ficção<br />

Na origem da palavra ficção, estão os conceitos de invenção, criação, imaginação, fingimento. A ficção é, portanto, o<br />

próprio cerne da literatura, que nada mais é do que a criação feita com palavras. O uso consagrado desse termo, no entanto,<br />

designa normalmente a prosa de ficção, da qual fazem parte, entre outros subgêneros, o romance, a novela e o conto.<br />

• Romance - É a forma narrativa em que ocorre um desenvolvimento minucioso da ação e dos personagens,<br />

proporcionando ao leitor uma visão da totalidade do universo representado. Dessa maneira, obtém-se uma<br />

trama complexa, capaz de incorporar análises detalhadas dos elementos narrativos. Na estrutura de um romance,<br />

o acúmulo de detalhes e pormenores tem sempre a finalidade de construir um universo narrativo<br />

coerente e organizado; isso significa que não há como dispensar qualquer elemento formador do texto sob<br />

pena de destruir-lhe a unidade.<br />

• Novela - Diferencia-se do romance por apresentar um predomínio da ação sobre as análises; o que importa<br />

numa novela é o encadeamento de episódios rumo a um final, que coincide com o clímax da história. Não há a<br />

análise pormenorizada do comportamento de personagens e do desenvolvimento da ação que caracteriza o<br />

romance. Lembre-se de que a palavra novela é usada no dia a dia para denominar um certo tipo de programa<br />

de televisão que encadeia incontáveis capítulos diários. Também chamamos de "novelas" as situações que se<br />

prolongam por muito tempo, com muitos episódios, numa sequência que parece interminável (a "novela" da<br />

reforma administrativa do Estado, por exemplo). Nesses casos, leva-se em conta a característica básica da<br />

novela, que é o predomínio da ação sobre a análise.<br />

• Conto - E a forma narrativa tradicionalmente mais breve, caracterizando-se pela ênfase ao essencial, o que<br />

acaba concentrando o desenvolvimento da ação e dos personagens, limitando-os no tempo e no espaço. É<br />

um verdadeiro instantâneo narrativo.


Material <strong>ITA</strong><br />

A LÍRICA TROVADORESCA<br />

O Trovadorismo, ou Primeira Época Medieval, é o período que<br />

se estende de 1189 (ou 1198) – data provável da Canção da<br />

Ribeirinha, cantiga de amor de Paio Soares de Taveirós, considerada o<br />

mais antigo texto escrito em galego-português – até 1434, com a<br />

nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista-mor da Torre do<br />

Tombo.<br />

A cultura trovadoresca, surgida entre os séculos XI e XII, reflete<br />

bem o momento histórico que caracteriza o período: na Europa cristã,<br />

a organização das Cruzadas em direção ao Oriente; na Península<br />

Ibérica, a luta contra os mouros; o poder descentralizado e as relações<br />

entre os nobres determinadas pelo feudalismo; o poder espiritual em<br />

mãos do clero católico, detentor da cultura e responsável pelo<br />

pensamento teocêntrico (Deus como centro de todas as coisas). Mais adiante, analisaremos o contrato feudo-vassálico de<br />

dois nobres e sua relação com a vassalagem amorosa do trovador junto à mulher amada.<br />

Nesta miniatura do século XV, o rei de Portugal, no centro, e o duque de Lancaster, à direita do rei, comem juntos na<br />

fronteira entre Portugal e Galícia. Dois nobres, um arcebispo e três bispos completam o grupo de comensais. No alto, à direita,<br />

veem-se dois músicos. Embaixo, à esquerda, os serventes pegam os pratos que chegam da cozinha através de uma janela.<br />

AS CANTIGAS<br />

Todos os textos poéticos dessa primeira época medieval eram acompanhadas de música e normalmente cantados<br />

em coro, daí chamados de cantigas. Podemos reconhecer dois grandes grupos de cantigas: as cantigas líricas e as<br />

cantigas satíricas. As cantigas líricas se subdividem em cantigas de amor e cantigas de amigo; as cantigas satíricas, em<br />

cantigas de escárnio e cantigas de maldizer.<br />

CANTIGAS DE AMOR<br />

As cantigas de amor têm origem provençal. Na Provença, região do sul da França, no período compreendido entre<br />

os séculos XI e XIII, desenvolveu-se a arte dos trovadores e o “amor cortês”, que tanto influenciou as cantigas de amor em<br />

Portugal. Dom Dinis, o mais famoso trovador de Portugal, assim escreveu:<br />

“Quer’ eu em maneira de provençal fazer agora um cantar d’amor”<br />

Cancioneiro do século XV em forma de coração.<br />

Comprovando as palavras do crítico, assim escreveu um trovador a sua “senhor”, como se fosse um vassalo feudal<br />

dirigindo-se a seu suserano:<br />

“E que queria eu melhor<br />

De ser seu vassalo<br />

E ela minha senhor?”<br />

Cantigas de amigo<br />

As cantigas de amigo originam-se na própria Península Ibérica, tendo surgido do sentimento popular.<br />

Cronologicamente, são mais antigas que as cantigas de amor, porém não eram escrita. Só com a entrada das cantigas<br />

provençais e o desenvolvimento da arte poética é que se concretizaram em textos.<br />

As cantigas de amigo apresentam um trabalho formal mais apurado em relação às cantigas de amor. É comum a<br />

utilização do paralelismo e do refrão ou estribilho – nome dado ao(s) verso(s) que se repete(m) no final de cada estrofe. O<br />

paralelismo perfeito ocorre quando a poesia obedece à seguinte estrutura:<br />

63


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

As cantigas de escárnio e maldizer<br />

Cantiga de escárnio<br />

64<br />

Os vossos meus maravedis 1 , senhor,<br />

Que eu non ouv’i 2 , que servi melhor<br />

Ou tan bem come outr’a que os dan,<br />

ei-os d’aver 3 enquant’eu vivo for,<br />

ou a mia mort 4 , ou quando mi os daran?<br />

"Vaiamos, irmã,vaiamos dormir verso A<br />

<br />

<br />

nas ribas do lago, u eu andar vi verso B<br />

a las aves meu amigo refrão<br />

<br />

1º par <br />

<br />

Vaiamos, irmã, vaiamos folgar verso A'<br />

<br />

nas ribas do lago, eu vi andar verso B'<br />

<br />

a las aves meu amigo. refrão<br />

A vossa miz soldada 5 , senhor Rei,<br />

que eu servi e serv’ e servirei,<br />

com’ outro quen quer 6 a que a dan bem,<br />

ei-a d’aver enquant’a viver ei,<br />

ou a mia mort’, ou que mi faran em?<br />

[...]<br />

Esse texto tem evidente cunho satírico: o sujeito lírico dirige-se ao senhor Rei, protestando contra o nãopagamento<br />

dos serviços prestados. Ao referir-se ao dinheiro que tem a receber, lança mão de um notável recurso<br />

irônico, usando simultaneamente os possessivos vossos/meus: “meus” porque, prestado o serviço, o sujeito lírico<br />

considera-se dono deles; “vossos” porque, apesar de ter sido servido, o Rei não os pagou. Esse artifício é<br />

completado pelas afirmações constantes de que qualquer outro que tivesse prestado os mesmos serviços já teria<br />

sido devidamente recompensado. A ironia se estende quando o sujeito lírico pergunta se só vai receber a paga<br />

após a própria morte, sugerindo que, morto, irá pedir seu dinheiro a quem encontrar no Além. O texto é<br />

arrematado por uma estrofe curta em que fica claro o atraso no pagamento e a intenção de pôr um fim à questão<br />

Exercícios Propostos<br />

17. (Mack) Assinale a afirmativa correta com relação ao Trovadorismo.<br />

Texto I<br />

Ondas do mar de Vigo,<br />

se vistes meu amigo!<br />

E ai Deus, se verrá cedo!<br />

Ondas do mar levado,<br />

se vistes meu amado!<br />

E ai Deus, se verrá cedo!<br />

Martim Codax<br />

Obs.: verrá = virá<br />

levado = agitado<br />

Texto II<br />

Me sinto com a cara no chão, mas a verdade precisa ser dita ao<br />

menos uma vez: aos 52 anos eu ignorava a admirável forma lírica da<br />

canção paralelística (...).<br />

O “Cantar de amor” foi fruto de meses de leitura dos cancioneiros.<br />

Li tanto e tão seguidamente aquelas deliciosas cantigas, que fiquei<br />

com a cabeça cheia de “velidas” e “mha senhor” e “nula ren”;<br />

sonhava com as ondas do mar de Vigo e com romarias a San Servando.<br />

O único jeito de me livrar da obsessão era fazer uma cantiga.<br />

Manuel Bandeira<br />

a) Um dos temas mais explorados por esse estilo de época é a exaltação do amor sensual entre nobres e<br />

mulheres camponesas.<br />

b) Desenvolveu-se especialmente no século XV e refletiu a transição da cultura teocêntrica para a cultura<br />

antropocêntrica.<br />

c) Devido ao grande prestígio que teve durante toda a Idade Média, foi recuperado pelos poetas da<br />

Renascença, época em que alcançou níveis estéticos insuperáveis.


Material <strong>ITA</strong><br />

d) Valorizou recursos formais que tiveram não apenas a função de produzir efeito musical, como também a<br />

função de facilitar a memorização, já que as composições eram transmitidas oralmente.<br />

e) Tanto no plano temático como no plano expressivo, esse estilo de época absorveu a influência dos padrões<br />

estéticos greco-romanos.<br />

18. (Mack) Ainda sobre o texto I, assinale a afirmativa correta.<br />

a) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino manifesta a Deus seu sofrimento amoroso.<br />

b) Nessa cantiga de amor, o eu lírico feminino dirige-se a Deus para lamentar a morte do ser amado.<br />

c) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino manifesta às ondas do mar sua angústia pela perda do amigo<br />

em trágico naufrágio.<br />

d) Nessa cantiga de amor, o eu lírico masculino dirige-se às ondas do mar para expressar sua solidão.<br />

e) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico feminino dirige-se às ondas do mar para expressar sua ansiedade com<br />

relação à volta do amado.<br />

19. (Mack 2005) Leia o texto novamente e assinale a alternativa correta.<br />

Texto I<br />

Ondas do mar de Vigo,<br />

se vistes meu amigo!<br />

E ai Deus, se verrá cedo!<br />

Ondas do mar levado,<br />

se vistes meu amado!<br />

E ai Deus, se verrá cedo!<br />

Martim Codax<br />

Obs.: verrá = virá<br />

levado = agitado<br />

20. (ENEM 2012)<br />

Logia e mitologia<br />

a) A estrutura paralelística é, neste poema, particularmente expressiva, pois<br />

reflete, no plano formal, o movimento de vai-e-vem das ondas.<br />

b) Nesse texto, os versos livres e brancos são indispensáveis para assegurar<br />

o efeito musical da canção.<br />

c) As repetições que marcam o desenvolvimento do texto opõem-se ao tom<br />

emotivo do poema.<br />

d) No refrão, a voz das ondas do mar faz-se presente como contraponto<br />

irônico ao desejo do eu lírico.<br />

e) É um típico vilancete de tradição popular, com versos em redondilha<br />

maior e estrofação irregular.<br />

Meu coração<br />

de mil e novecentos e setenta e dois<br />

já não palpita fagueiro<br />

sabe que há morcegos de pesadas olheiras<br />

que há cabras malignas que há<br />

cardumes de hienas infiltradas<br />

no vão da unha na alma<br />

um porco belicoso de radar<br />

e que sangra e ri<br />

e que sangra e ri<br />

a vida anoitece provisória<br />

centuriões sentinelas<br />

do Oiapoque ao Chuí.<br />

CACASO. Lero-lero. Rio de Janeiro: 7Letras; São Paulo: Cosac &Naify, 2002.<br />

O título do poema explora a expressividade de termos que representam o conflito do momento histórico vivido pelo<br />

poeta na década de 1970. Nesse contexto, é correto afirmar que<br />

a) o poeta utiliza uma série de metáforas zoológicas com significado impreciso.<br />

b) “morcegos”, “cabras” e “hienas” metaforizam as vítimas do regime militar vigente.<br />

c) o “porco”, animal difícil de domesticar, representa os movimentos de resistência.<br />

d) o poeta caracteriza o momento de opressão através de alegorias de forte poder de impacto.<br />

e) “centuriões” e “sentinelas” simbolizam os agentes que garantem a paz social experimentada.<br />

21. As questões que seguem referem-se aos gêneros literários. Numere os textos de acordo com o gênero mais evidente.<br />

1. epopeia 2. poesia<br />

3. narrativa em prosa 4. texto dramático<br />

65


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

a) "Oh! Bendito o que semeia <strong>Livro</strong>s... livros à mão cheia...<br />

E manda o povo pensar!<br />

O livro caindo n'alma<br />

É germe - que faz a palma,<br />

É chuva - que faz o mar."<br />

Gênero [ ]<br />

c) "BISPO - testamento de cachorro?<br />

PADRE - (animando-se) sim, o cachorro<br />

tinha um testamento. Maluquice de sua<br />

dona. Deixou três contos de réis para o<br />

sacristão, quatro para a paróquia e seis<br />

para a diocese.<br />

BISPO - é por isso que eu vivo dizendo<br />

que os animais também são criaturas de<br />

Deus. Que animal interessante! Que<br />

sentimento nobre!"<br />

Gênero [ ]<br />

b) "Não acabava, quando uma figura<br />

Se nos mostra no ar, robusta e válida,<br />

De disforme e grandíssima estatura,<br />

O rosto carregado, a barba esquálida,<br />

Os olhos encovados, e a postura<br />

Medonha e má, e a cor terrena e pálida,<br />

Cheios de terra e crespos os cabelos,<br />

A boca negra, os dentes amarelos"<br />

Gênero[ ]<br />

22. (UFRGS RS) O soneto é uma das formas poéticas mais tradicionais e difundidas nas literaturas ocidentais e expressa,<br />

quase sempre, conteúdo:<br />

a) dramático<br />

b) satírico<br />

c) lírico<br />

d) épico<br />

e) cronístico<br />

23. Leia o trecho abaixo de "Morte e vida severina", de João Cabral de Melo Neto, e responda:<br />

"Severino retirante,<br />

deixa agora que lhe diga:<br />

eu não sei bem a resposta<br />

da pergunta que fazia,<br />

se não vale mais saltar<br />

fora da ponte e da vida:<br />

(...)<br />

Enão há melhor resposta<br />

que o espetáculo da vida:<br />

vê-la desfiar seu fio,<br />

que também se chama vida,<br />

ver a fábrica que ela mesma,<br />

teimosamente, se fabrica"<br />

66<br />

Quanto ao gênero literário, é correto afirmar que o fragmento lido é:<br />

a) narrativo, que conta, em prosa, histórias do sertão nordestino.<br />

b) uma peça teatral, desprovido de lirismo c com linguagem rústica.<br />

c) bastante poético e marcado por rimas, sem metrificação.<br />

d) uma epopeia, que traduz o desencanto pela vida dura do sertão.<br />

e) dramático, que encena conflitos internos do ser humano.


Material <strong>ITA</strong><br />

24. O gênero dramático, entre outros aspectos, apresenta como característica essencial:<br />

a) presença do narrador<br />

b) estrutura dialógica<br />

c) sentimentalismo<br />

d) musicalidade<br />

e) descritivismo<br />

25. (ENEM 2012)<br />

Pote Cru é meu Pastor. Ele me guiará.<br />

Ele está comprometido de monge.<br />

De tarde deambula no azedal entre torsos de<br />

cachorro, trampas, trapos, panos de regra, couros,<br />

de rato ao podre, vísceras de piranhas, baratas<br />

albinas, dálias secas, vergalhos de lagartos,<br />

linguetas de sapatos, aranhas dependuradas em<br />

gotas de orvalho etc. etc.<br />

Pote Cru, ele dormia nas ruínas de um convento<br />

Foi encontrado em osso.<br />

Ele tinha uma voz de oratórios perdidos.<br />

BARROS, M. Retrato do artista quando coisa. Rio de Janeiro: Record, 2002.<br />

Ao estabelecer uma relação com o texto bíblico nesse poema, o eu lírico identifica-se com Pote Cru porque<br />

a) entende a necessidade de todo poeta ter voz de ora tórios perdidos.<br />

b) elege-o como pastor a fim de ser guiado para a salvação divina.<br />

c) valoriza nos percursos do pastor a conexão entre as ruínas e a tradição<br />

d) necessita de um guia para a descoberta das coisas da natureza.<br />

e) acompanha-o na opção pela insignificância das coisas.<br />

26. Associe os gêneros literários às suas respectivas características.<br />

1 - Gênero lírico<br />

2 - Gênero épico<br />

3 - Gênero dramático<br />

A sequência correta, de cima para baixo, é<br />

( )Exteriorização dos valores e sentimentos coletivos.<br />

( )Representação de fatos com presença física de atores.<br />

( )Manifestação de sentimentos pessoais predominando, assim, a função emotiva.<br />

a) 3,2,1 b) 2.3,1 c) 2.1,3<br />

d) 1,3,2 e) 1.2.3<br />

27. Observe o trecho:<br />

"Ah se já perdemos a noção da hora<br />

Se juntos já jogamos tudo fora,<br />

Me conta agora como hei de partir.<br />

Ah se ao te conhecer, dei pra sonhar<br />

Fiz tantos desvarios,<br />

Rompi com o mundo, queimei meus navios,<br />

Me diz pra onde é que 'inda posso ir (...)"<br />

Como, se nos amamos feito dois pagãos,<br />

Teus seios 'inda estão nas minhas mãos<br />

Me explica com que cara eu vou sair (...)"<br />

Chico Buarque de Hollanda<br />

67


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

Afirma-se:<br />

a) o trecho é lírico, pois há a expressão dos sentimentos e da subjetividade.<br />

b) o trecho é lírico, pois há a representação da realidade por meio da linguagem conotativa.<br />

c) o trecho é narrativo, pois o poeta expressa a história de dois amantes que se separam.<br />

d) o trecho é dramático, por representar a dor da separação e sua irreversibilidade.<br />

e) o trecho é lírico e narrativo por narrar a história dos amantes de forma subjetiva.<br />

28. (ENEM) O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e<br />

de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo,<br />

acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da “vida quotidiana”.<br />

HUIZINGA, J. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2004.<br />

Segundo o texto, o jogo comporta a possibilidade de fruição. Do ponto de vista das práticas corporais, essa fruição<br />

se estabelece por meio do(a)<br />

a) fixação de táticas, que define a padronização para maior alcance popular.<br />

b) competitividade, que impulsiona o interesse pelo sucesso.<br />

c) refinamento técnico, que gera resultados satisfatórios<br />

d) caráter lúdico, que permite experiências inusitadas.<br />

e) uso tecnológico, que amplia as opções de lazer.<br />

29. (Fuvest SP) O Trovadorismo, quanto ao tempo em que se instala:<br />

a) tem concepções clássicas do fazer poético.<br />

b) é rígido quanto ao uso da linguagem que, geralmente, é erudita.<br />

c) estabeleceu-se num longo período que dura 10 séculos.<br />

d) tinha como concepção poética e epopéia, a louvação dos heróis.<br />

e) reflete as relações de vassalagem nas cantigas de amor.<br />

30. (Fuvest SP) Interpretando historicamente a relação de vassalagem entre homem amante/mulher amada, ou mulher<br />

amante/homem amado, pode-se afirmar que:<br />

a) o Trovadorismo corresponde ao Renascimento.<br />

b) o Trovadorismo corresponde ao movimento humanista.<br />

c) o Trovadorismo corresponde ao Feudalismo.<br />

d) o Trovadorismo e o Medievalismo só poderiam ser provençais.<br />

e) tanto o Trovadorismo como o Humanismo são expressões da decadência medieval.<br />

31. (ENEM)<br />

LXXVIII (Camões, 1525?-1580)<br />

Leda serenidade deleitosa,<br />

Que representa em terra um paraíso;<br />

Entre rubis e perlas doce riso<br />

68<br />

Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa;<br />

Presença moderada e graciosa,<br />

Onde ensinando estão despejo e siso<br />

Que se pode por arte e por aviso,<br />

Como por natureza, ser fermosa;<br />

Fala de quem a morte e a vida pende,<br />

Rara, suave; enfim, Senhora, vossa;<br />

Repouso nela alegre e comedido:<br />

Estas as armas são com que me rende<br />

E me cativa Amor; mas não que possa<br />

Despojar-me da glória de rendido.<br />

CAMÕES, L. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008.<br />

SANZIO, R. (1483-1520). A mulher com o unicórnio. Roma,<br />

GalleriaBorghese Disponível em: www.arquipelagos.pt. Acesso<br />

em: 29 fev. 2012.


Material <strong>ITA</strong><br />

A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas linguagens artísticas diferentes, participaram do mesmo<br />

contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos<br />

a) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos usados no<br />

poema.<br />

b) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação pessoal e na variação de atitudes da mulher, evidenciadas<br />

pelos adjetivos do poema.<br />

c) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela postura,<br />

expressão e vestimenta da moça e os adjetivos usados no poema.<br />

d) desprezarem o conceito medieval da idealização da mulher como base da produção artística, evidenciado<br />

pelos adjetivos usados no poema<br />

e) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela emotividade e o conflito interior, evidenciados pela<br />

expressão da moça e pelos adjetivos do poema.<br />

32. Faça a correspondência da segunda coluna com a primeira e marque a opção que preenche corretamente as<br />

colunas, no que diz respeito às formas líricas.<br />

(1) Elegia<br />

(2) Écloga<br />

(3) Ode<br />

(4) Soneto<br />

( ) mais conhecida das formas líricas. Poema em 14 versos, organizados em dois quartetos e dois tercetos.<br />

( ) Poema originado na Grécia Antiga que exalta os valores nobres, caracterizando-se pelo tom de louvação.<br />

( ) Poema pastoril que retrata a vida bucólica dos pastores, em um ambiente campestre.<br />

( ) Trata de acontecimentos tristes, muitas vezes enfocando a morte de um ente querido.<br />

a) 4,3,2,1 b) 3,2,1,4 c) 2,1,3,4<br />

d) 1,2,4,3e) 4,3,1,2<br />

33. (ENEM) Gênero dramático é aquele em que o artista usa como intermediária entre si e o público a representação. A<br />

palavra vem do grego drao (fazer) e quer dizer ação. A peça teatral é, pois, uma composição literária destinada à<br />

apresentação por atores em um palco, atuando e dialogando entre si. O texto dramático é complementado pela<br />

atuação dos atores no espetáculo teatral e possui uma estrutura específica, caracterizada: 1) pela presença de<br />

personagens que devem estar ligados com lógica uns aos outros e à ação; 2) pela ação dramática (trama, enredo),<br />

que é o conjunto de atos dramáticos, maneiras de ser e de agir das personagens encadeadas à unidade do efeito e<br />

segundo uma ordem composta de exposição, conflito, complicação, clímax e desfecho; 3) pela situação ou<br />

ambiente, que é o conjunto de circunstâncias físicas, sociais, espirituais em que se situa a ação; 4) pelo tema, ou<br />

seja, a ideia que o autor (dramaturgo) deseja expor, ou sua interpretação real por meio da representação.<br />

COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973. (Adaptado.)<br />

Considerando o texto e analisando os elementos que constituem um espetáculo teatral, conclui-se que:<br />

a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um fenômeno de ordem individual, pois não é possível sua<br />

concepção de forma coletiva.<br />

b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebido e construído pelo cenógrafo de modo autônomo e<br />

independente do tema da peça e do trabalho interpretativo dos atores.<br />

c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados gêneros textuais, como contos, lendas, romances, poesias,<br />

crônicas, notícias, imagens e fragmentos textuais, entre outros.<br />

d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na comunicação teatral, visto que o mais importante é a<br />

expressão verbal, base da comunicação cênica em toda a trajetória do teatro até os dias atuais.<br />

e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico independem do processo de produção/recepção do<br />

espetáculo teatral, já que se trata de linguagens artísticas diferentes, agregadas posteriormente à cena teatral.<br />

69


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

Módulo B03 – Literatura Brasileira<br />

O Quinhentismo Brasileiro - A Literatura de Informação sobre o Brasil<br />

Introdução<br />

O Quinhentismo é fase da literatura brasileira do século XVI que registra as manifestações literárias iniciadas no ano<br />

de 1.500, época da colonização portuguesa no Brasil. É uma denominação genérica de todas as manifestações,<br />

correspondendo à introdução da cultura europeia em terras brasileiras. Ainda não podemos falar em literatura do Brasil,<br />

aquela que reflete a cosmovisão do homem brasileiro, e sim numa literatura no Brasil, ou seja, uma literatura ligada ao<br />

Brasil, mas que denota a cosmovisão, as ambições e as intenções do homem europeu.<br />

A literatura brasileira ainda não tinha sua identidade. Ela foi sendo formada sob a influência da literatura<br />

portuguesa e europeia. Nessa época ainda não havia produção literária ligada diretamente ao povo brasileiro, mas sim<br />

obras no Brasil que davam significação aos europeus. Com o passar dos anos, as literaturas informativa e dos jesuítas, foi<br />

dando lugar a denotações da visão dos artistas brasileiros.<br />

Na época da colonização brasileira, a Europa vivia seu apogeu no Renascimento, o comércio se despontava,<br />

enquanto o êxodo rural provocava um surto de urbanização. Enquanto o homem europeu se dividia entre a conquista<br />

material e a espiritual (Contrarreforma), o cidadão brasileiro encontrava no quinhentismo semelhante dicotomia: a<br />

literatura informativa, que se voltava para assuntos de natureza material (ouro, prata, ferro, madeira) feita através de<br />

cartas dos viajantes ou dos cronistas e a literatura dos jesuítas, que tentavam inserir a catequese.<br />

A carta de Pero Vaz de Caminha traz a referida dicotomia claramente expressa, pois valoriza as conquistas e<br />

aventuras marítimas (literatura informativa) ao mesmo tempo que a expansão do cristianismo (literatura jesuíta).<br />

70<br />

Momento histórico<br />

A Europa do século XVI vive o auge do Renascimento, com a cultura humanística desmantelando os quadros rígidos<br />

da cultura medieval; o capitalismo mercantil avança com o desenvolvimento da manufatura e do comércio internacional;<br />

o êxodo rural provoca um surto de urbanização.<br />

Em consequência dessa nova realidade econômica e social, o século XVI também marca uma crise na Igreja: de um<br />

lado, as novas forças burguesas rompendo com o medievalismo católico no movimento da Reforma Protestante; de outro,<br />

as forças tradicionais ligadas à cultura medieval e aos dogmas católicos - reafirmados no Concílio de Trento (1545), nos<br />

tribunais da Inquisição e em seu índex (relação de livros proibidos) - no movimento conhecido como Contrarreforma.<br />

Assim é que o homem europeu, especificamente o ibérico, apresenta em pleno século XVI duas preocupações<br />

distintas: a conquista material, resultante da política das Grandes Navegações, e a conquista espiritual, resultante, no<br />

caso português, do movimento de Contrarreforma. Essas preocupações determinaram as duas manifestações literárias do<br />

Quinhentismo brasileiro: a literatura informativa, com os olhos voltados para as riquezas materiais (ouro, prata, ferro,<br />

madeira, etc), e a literatura dos jesuítas, voltada para o trabalho de catequese.


Material <strong>ITA</strong><br />

Periodização da literatura brasileira<br />

As eras e as escolas<br />

“Na escola literária não há discípulos: só há mestres.”<br />

(Carlos Drummond de Andrade)<br />

A literatura brasileira tem sua história dividida em duas grandes eras, que acompanham a evolução política e<br />

econômica do país: a Era Colonial e a Era Nacional, separadas por um período de transição, que corresponde à<br />

emancipação política do Brasil. As eras apresentam subdivisões chamadas de escolas literárias ou estilos de época. Dessa<br />

forma, temos:<br />

Era Colonial<br />

(de 1500 a 1808)<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Período de transição (de 1808 a 1836)<br />

Quinhentismo (de 1500 a 1601)<br />

Seiscentismo ou Barroco (de 1601a 1768)<br />

Setecentismo ou Arcadismo (de 1768 a 1808)<br />

Era Nacional<br />

(de 1836 até<br />

nossos dias)<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Romantismo (de 1836 a 1881)<br />

Realismo (de 1881a 1893)<br />

Simbolismo (de 1893 a 1922)<br />

Modernismo (de 1922 a 1945)<br />

Pós - Modernismo (de 1945 até nossos dias)<br />

As datas que indicam o início e o fim de cada época têm de ser entendidas apenas como marcos. Toda época apresenta<br />

um período de ascensão, um ponto máximo e um período de decadência (que coincide com o período de ascensão da próxima<br />

época). Dessa forma podemos perceber, ao final do Arcadismo, um período de Pré-Romantismo; ao final do Romantismo um<br />

Pré-Realismo, e assim por diante. De todos esses momentos de transição, caracterizados pela quebra das velhas estruturas<br />

(apesar de "o novo sempre pagar tributo ao velho"), o mais significativo para a literatura brasileira foi o Pré-Modernismo (entre<br />

1902 e 1922), em que se destacaram Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Augusto dos Anjos e Lima Barreto.<br />

A colonização do Brasil<br />

Os três séculos de colonização vividos pelo Brasil (1500-1822) podem ser divididos em três momentos<br />

significativos:<br />

o século XVI: em que a metrópole procurou garantir o domínio sobre a terra descoberta, organizando-a em<br />

capitanias hereditárias e enviando jesuítas da Europa e negros da África para povoá-la;<br />

o século XVII: em que Salvador, na Bahia, povoada de aventureiros portugueses, índios, negros e mulatos, tornou-se<br />

o centro das decisões políticas e do comércio do açúcar.<br />

o século XVIII: em que a região de Minas Gerias transformou-se no centro da exploração do ouro e das primeiras<br />

revoltas políticas contra a colonização portuguesa, entre as quais se destacou o movimento da Inconfidência Mineira (1789).<br />

A produção cultura do Brasil-Colônia<br />

É difícil precisar o momento exato em que surgiu uma literatura brasileira, de fato, porque a vida cultural no período<br />

colonial estava diretamente ligada à cultura portuguesa. Além disso, não estavam solidificadas as condições necessárias<br />

para a literatura florescer e se expandir, tais como existência de um público leitor ativo e influente, grupo de escritores<br />

atuantes, vida cultural rica e abundante, sentimento de nacionalidade, imprensa, gráficas e liberdade de expressão, e até<br />

mesmo a impressão de livros era proibida.<br />

Por isso, alguns historiadores da literatura preferem chamar a essa produção literária do Brasil-Colônia de<br />

"manifestações literárias" ou "ecos da literatura no Brasil". Somente na segunda metade do século XVIII, com a fundação<br />

de cidades e de centros comerciais ligados à extração do ouro, em Minas Gerais, e com o surgimento de escritores<br />

comprometidos com as causas políticas de independência, é que se criaram algumas das condições necessárias para a<br />

formação da literatura brasileira. Entretanto, isso só se deu de forma efetiva no século XIX, após a independência política<br />

de 1822 e a dinamização da vida cultural do país.<br />

71


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

A produção literária<br />

A produção artística e cultural do Quinhentismo no Brasil não pode ser considerada brasileira, de fato. Isso porque<br />

quem a produzia - cronistas, viajantes, jesuítas - eram portugueses que aqui se encontravam por um período curto e com<br />

uma finalidade específica. Não havia, ainda, nenhuma identificação com a terra, considerada uma espécie de "Portugal<br />

nos trópicos". Além disso, os modelos literários que cultivavam - na poesia, na prosa ou no teatro - eram totalmente<br />

lusitanos.<br />

Apesar dessas condições, a produção literária do período abre a nós, brasileiros, um rico filão literário, que será<br />

mais tarde fartamente explorado por nossos escritores: o interesse pelos índios, pelas belezas naturais da terra e pelas<br />

nossas origens históricas.<br />

No Brasil-Colônia do século XVI, as principais produções são:<br />

• Crônicas de viagens, cartas e tratados, chamados de literatura de informação, escritos em prosa, cuja finalidade era<br />

narrar e descrever as viagens e os primeiros contatos com a terra brasileira e seus nativos, informando tudo o que<br />

pudesse interessar aos governantes portugueses.<br />

Dessa literatura informativa sobre o Brasil merecem destaque:<br />

- a Carta, de Pero Vaz de Caminha;<br />

- o Diário de navegação, de Pero Lopes de Sousa (1530);<br />

- o Tratado da terra do Brasil e a História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil, de<br />

Pero de Magalhães Gândavo (1576);<br />

- o Tratado descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa (1587);<br />

- os Diálogos das grandezas do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa (1587);<br />

- as cartas dos missionários jesuítas escritas nos dois primeiros séculos de catequese;<br />

- a História do Brasil, de Frei Vicente do Salvador (1627);<br />

- as Duas viagens ao Brasil, de Hans Staden (1557);<br />

- a Viagem à terra do Brasil, de Jean de Léry (1578).<br />

A poesia e o teatro, cultivados pelos jesuítas, notadamente por José de Anchieta, cuja finalidade central era a<br />

catequese dos índios.<br />

A literatura dos jesuítas tinha como objetivo principal o da catequese. Este trabalho de catequizar norteou as<br />

produções literárias na poesia de devoção e no teatro inspirado nas passagens bíblicas.<br />

José de Anchieta é o principal autor jesuíta da época do Quinhentismo, viveu entre os índios, pelos quais era<br />

chamado de piahy, que significa “supremo pajé branco”. Foi o autor da primeira gramática do tupi-guarani e também de<br />

várias poesias de devoção.<br />

Primeira página e transcrição da Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal sobre a descoberta do Brasil.<br />

72


Material <strong>ITA</strong><br />

A Carta a El-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada de Pedro<br />

Álvares Cabral, pode ser considerada o marco inicial da história da literatura brasileira (ou da literatura no Brasil).<br />

É indiscutível o fato de a Carta refletir uma visão de mundo do homem português, o que bastaria para colocá-la<br />

como mais um texto-documento da literatura portuguesa ligada à expansão ultramarina. E é justamente essa visão de<br />

mundo do homem europeu que vai dominar, com maior ou menor intensidade, os três primeiros séculos de nossa<br />

literatura, em que o Brasil é colocado na condição de “objeto de uma cultura, o outro em relação à Metrópole”, como<br />

salienta Alfredo Bosi. Só a partir do século XIX, com o Romantismo, encontraremos manifestações literárias genuinamente<br />

nacionais.<br />

O Quinhentismo brasileiro, isto é, o conjunto de manifestações dos anos de 1500 (século XVI), retrata, mais do que<br />

qualquer outro período, a condição colonial no Brasil com sua terra e população vistas como objetos a serem<br />

conquistados.<br />

A literatura é feita no Brasil, fala do Brasil, mas reflete a visão de mundo, as ambições, as intenções do homem<br />

europeu, particularmente do ibérico, que manifesta duas preocupações distintas e, apesar do aparente antagonismo,<br />

complementares: de um lado, a preocupação com a conquista material resultante da política das Grandes Navegações;<br />

de outro a preocupação com a conquista espiritual, a necessidade de ampliar a fé cristã, resultante do movimento<br />

religioso da Contrarreforma. Contam que os navegadores portugueses afirmavam, ao desembarcar em terras recémdescobertas:<br />

“Viemos buscar cristão e especiarias”.<br />

Observe como, na Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel, coexistem essas intenções:<br />

“Nela até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma cousa de metal, nem de ferro; nem<br />

lho vimos. A terra, porém, em si, é de muito bons ares. [...]<br />

Mas o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar essa gente. E esta deve ser a principal<br />

semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que aí não houvesse mais que ter aqui esta pousada para esta<br />

navegação de Calecute, bastaria, quanto mais disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a<br />

saber, acrescentamento de nossa santa fé.”<br />

CORTESÃO,Jaime.ACartadePêroVazdeCaminha.Lisboa:ImprensaNacional-CasadaMoeda,1994.<br />

Essas preocupações determinaram as duas manifestações literárias do Quinhentismo brasileiro:<br />

• a literatura informativa, com os olhos voltados à conquista material (ouro, prata, ferro, madeira, etc.);<br />

• a literatura dos jesuítas, voltada à catequese.<br />

A Carta de Caminha, de 1500 ao século XX<br />

Oswald de Andrade, modernista brasileiro, escreveu um livro de poesias intitulado Pau-Brasil (1924). Nas primeiras<br />

poesias, sob o título geral de “História do Brasil”, o poeta recria alguns textos do século XVI, dando-lhes “forma poética”.<br />

A descoberta<br />

“Seguimos nosso caminho por este mar de longo<br />

Até a oitava da Páscoa<br />

Topamos aves<br />

E houvemos vista de terra”<br />

Os selvagens<br />

“Mostraram-lhes uma galinha<br />

Quase haviam medo dela<br />

E não queriam pôr a mão<br />

E depois a tomaram como espantados”<br />

Meninas da gare*<br />

“Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis<br />

Com cabelos mui pretos pelas espáduas<br />

E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas<br />

Que de nós as muito bem olharmos<br />

Não tínhamos nenhuma vergonha”<br />

73


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

É importante notar que Oswald de Andrade seleciona exatamente trechos em que Caminha descreve nossos índios; dessa<br />

forma, o poeta modernista resgata a pureza e inocência dos nativos, presas fáceis da exploração econômica, do proselitismo<br />

religioso e do abuso sexual (as doenças sexualmente transmissíveis trazidas pelos europeus, foram importante causa de<br />

mortalidade entre os índios).<br />

Outros autores do século XX, como Murilo Mendes e José Paulo Paes, reescreveram a Carta de Caminha, seguindo<br />

a trilha e o tom de Oswald de Andrade.<br />

A Carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, escrita a el-rei D. Manuel informando<br />

sobre o “achamento” do Brasil e as suas primeiras impressões sobre a natureza e os índios, constitui para a nossa história<br />

uma autêntica certidão de nascimento.<br />

Os textos que seguem são fragmentos da Carta.<br />

Texto I<br />

Dali houvemos vista de homens que andavam pela praia, cerca de sete ou oito, segundo "os navios pequenos<br />

disseram, porque chegaram primeiro. Ali lançamos os batéis e esquifes à água e vieram logo todos os capitães das naves a<br />

esta nau do Capitão-mor e ali conversaram. E o Capitão mandou no batel, a terra, Nicolau Coelho para ver aquele rio; e<br />

quando começou a ir para lá acudiram, à praia, homens, aos dois e aos três. Assim, quando o batel chegou à foz do rio<br />

estavam ali dezoito ou vinte homens, pardos, todos nus, sem nenhuma roupa que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam<br />

arcos nas mãos e suas setas. Vinham todos rijos para o batel e Nicolau Coelho fez-lhes sinal para que deixassem os arcos e<br />

eles os pousaram. Mas não pôde ter deles fala nem entendimento que aproveitasse porque o mar quebrava na costa.<br />

Texto II<br />

Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, com uma alcatifa aos pés, por estrado, e bem<br />

vestido com um colar de ouro muito grande ao pescoço [...] Acenderam-se tochas e entraram; e não fizeram nenhuma<br />

menção de cortesia nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Mas um deles viu o colar do Capitão e começou a acenar<br />

com a mão para a terra e depois para o colar, como a dizer-nos que havia ouro em terra; e também viu um castiçal de<br />

prata e da mesma forma acenava para terra e para o castiçal como que havia, também, prata. Mostraram-lhe um<br />

papagaio pardo que o Capitão aqui traz; tomaram-no logo na mão e acenaram para terra, como que os havia ali;<br />

mostraram-lhe um carneiro e não fizeram caso dele; mostraram-lhe uma galinha e quase tiveram medo dela e não lhe<br />

queriam pôr a mão; e depois a pegaram como que espantados.<br />

Texto III<br />

De ponta a ponta é toda praia rasa, muito plana e bem formosa. Pelo sertão, pareceu-nos do mar muito grande,<br />

porque a estender a vistan ao poíamos ver senão terra e arvoredos, parecendo-nos terra muito longa. Nela, até agora, não<br />

pudemos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de ferro; nem as vimos. Mas, a terra em si é<br />

muito boa de ares, tão frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho, porque, neste tempo de agora, assim os<br />

achávamos como os de lá. Águas são muitas e indefinidas. De tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la dar-se-á<br />

nela tudo por bem das águas que tem. Mas o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente; e<br />

esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.<br />

74<br />

(Em Cronistas e viajantes. São Paulo, Abril Educação, 1982, p.12-23. Literatura Comentada.)


Material <strong>ITA</strong><br />

Exercícios Propostos<br />

34. (Mackenzie) Assinale a alternativa INCORRETA.<br />

a) Na obra de José de Anchieta, encontram-se poesias seguindo a tradição medieval e textos para teatro com<br />

clara intenção catequista.<br />

b) A literatura informativa do Quinhentismo brasileiro empenha-se em fazer um levantamento da terra, daí ser<br />

predominantemente descritiva.<br />

c) A literatura seiscentista reflete um dualismo: o ser humano dividido entre a matéria e o espírito, o pecado e o<br />

perdão.<br />

d) O Barroco apresenta estados de alma expressos através de antíteses, paradoxos, interrogações.<br />

e) O Conceptismo caracteriza-se pela linguagem rebuscada, culta, extravagante, enquanto o Cultismo é<br />

marcado pelo jogo de ideias, seguindo um raciocínio lógico, racionalista.<br />

35. (UEL) À curiosidade geográfica e humana e ao desejo de conquista e domínio corresponde, inicialmente, o<br />

deslumbramento diante da paisagem exótica e exuberante da terra recém-descoberta, testemunhado pelos cronistas<br />

portugueses.<br />

a) Gonçalves de Magalhães e José de Anchieta.<br />

b) Pero de Magalhães Gândavo e Gabriel Soares de Sousa.<br />

c) Botelho de Oliveira e José de Anchieta.<br />

d) Gabriel Soares de Sousa e Gonçalves de Magalhães.<br />

e) Botelho de Oliveira e Pero Magalhães Gândavo.<br />

36. (UDESC 2012) O movimento literário que retrata as manifestações literárias produzidas no Brasil à época de seu<br />

descobrimento, e durante o século XVI, é conhecido como Quinhentismo ou Literatura de Informação.<br />

Assinale as proposições em relação a este período.<br />

I. A produção literária no Brasil, no século XVI,era restrita às literaturas de viagens e jesuíticas de caráter<br />

religioso.<br />

II. A obra literária jesuítica, relacionada às atividades catequéticas e pedagógicas, raramente assume um caráter<br />

apenas artístico. O nome mais destacado é o do padre José de Anchieta.<br />

III. O nome Quinhentismo está ligado a um referencial cronológico. As manifestações literárias no Brasil tiveram início em<br />

IV.<br />

1500, época da colonização portuguesa e não a um referencial estético.<br />

As produções literárias neste período prendem-se à literatura portuguesa, integrando o conjunto das chamadas<br />

literaturas de viagens ultramarinas, e aos valores da cultura greco-latina.<br />

V. As produções literárias deste período constituem um painel da vida dos anos iniciais do Brasil colônia, retratando os<br />

primeiros contatos entre os europeus e a realidade da nova terra.<br />

Assinale a alternativa correta:<br />

a) Somente as afirmativas I,IV e V são verdadeiras.<br />

b) Somente a afirmativa II é verdadeira.<br />

c) somente as afirmativas I, II, III e V são verdadeiras.<br />

d) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras.<br />

e) Todas as afirmativas são verdadeiras.<br />

75


37. (FUVEST SP) Entende-se por literatura informativa no Brasil:<br />

a) o conjunto de relatos de viajantes e missionários europeus, sobre a natureza e o homem brasileiro.<br />

b) a história dos jesuítas que aqui estiveram no século XVI.<br />

c) as obras escritas com a finalidade de catequese do indígena.<br />

d) os poemas do Padre de Anchieta.<br />

e) os sonetos de Gregório de Matos.<br />

76<br />

<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

38. (Mackenzie 2009) Assinale a alternativa CORRETA acerca do texto.<br />

a) No contexto em que se inserem, as expressões “topamos alguns sinais de terra” (ref. 1) “e houvemos vista de<br />

terra” (ref. 2) têm o mesmo sentido: “enxergamos o continente americano”.<br />

b) As nomeações referidas na carta – “O Monte Pascoal” e “A Terra de Vera Cruz” (ref. 3) – refletem valores<br />

ideológicos da cultura portuguesa.<br />

c) “Os mareantes” (ref. 4), por influência da cultura indígena, apelidaram as “ervas compridas” (ref. 5) “de<br />

Botelho” (ref. 6) e as aves de “fura-buxos” (ref. 7).<br />

d) A expressão “dita ilha” (ref. 8) indica que os navegantes portugueses confundiram a Ilha de S. Nicolau com o<br />

Brasil.<br />

e) Embora se apresente em linguagem objetiva, o trecho da carta revela, devido ao excesso de adjetivações (ref.<br />

9, por exemplo), a euforia dos portugueses ao descobrirem o tão sonhado “Eldorado”.<br />

39. (Mackenzie 2009)Assinale a alternativa CORRETA acerca do texto.<br />

a) Trata-se de documento histórico que inaugura, em Portugal, um novo gênero literário: a literatura epistolar.<br />

b) Exemplifique a literatura produzida pelos jesuítas brasileiros na colônia e que teve como objetivo principal a<br />

catequese do silvícola.<br />

c) Apesar de não ter natureza especificamente artística, interessa à história da literatura brasileira na medida em<br />

que espelha a linguagem e a respectiva visão de mundo que nos legaram aos primeiros colonizadores.<br />

40. (Mackenzie) Na passagem da Idade Média para o Renascimento, dois escritores portugueses se destacaram, por<br />

apresentar características que já previam uma nova tendência filosófica e artística.<br />

Trata-se de:<br />

a) Fernão Lopes e Gil Vicente.<br />

b) Camões e Bocage.<br />

c) D. Dinis e Paio Soares de Taveirós.<br />

d) Pe. Vieira e Gregório de Matos.<br />

e) Garcia de Resende e Aires Teles.<br />

41. (<strong>ITA</strong> 2002)<br />

A terra<br />

Esta terra, Senhor, me parece que, da ponta que mais contra o sul vimos até outra ponta que contra o norte vem,<br />

de que nós deste ponto temos vista, será tamanha que haverá nelabem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem,<br />

ao longo do mar, em algumas partes, grandes barreiras, algumas vermelhas, outras brancas; e a terra por cima<br />

toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é tudo praia redonda, muito chã e muito formosa.<br />

[...]Nelas até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho<br />

vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados como os de Entre-Douro e Minho. [...]<br />

Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-a nela tudo, por bem<br />

das águas que tem.<br />

(CAMINHA, Pero Vaz de. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Rio de Janeiro: <strong>Livro</strong>s de Portugal, 1943, p. 204.)<br />

Carta de Pero Vaz<br />

A terra é mui graciosa,<br />

Tão fértil eu nunca vi.<br />

A gente vai passear,<br />

No chão espeta um caniço,<br />

No dia seguinte nasce


Material <strong>ITA</strong><br />

Bengala de castão de oiro.<br />

Tem goiabas, melancias.<br />

Banana que nem chuchu.<br />

Quanto aos bichos, tem-nos muitos.<br />

De plumagens mui vistosas.<br />

Tem macaco até demais.<br />

Diamantes tem à vontade,<br />

Esmeralda é para os trouxas.<br />

Reforçai, Senhor, a arca.<br />

Cruzados não faltarão,<br />

Vossa perna encanareis,<br />

Salvo o devido respeito.<br />

Ficarei muito saudoso<br />

Se for embora d'aqui.<br />

(MENDES, Murilo. História do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991, p. 13.)<br />

No texto de Murilo Mendes, os versos “Banana que nem chuchu”, “Tem macaco até demais” e “Esmeralda é para<br />

os trouxas” exprimem a representação literária da visão do colonizador de maneira:<br />

a) séria. b) irônica. c) ingênua.<br />

d) leal. e) revoltada<br />

42. Os dois textos anteriores, representantes de dois períodos literários distantes, revelam duas perspectivas diferentes.<br />

Indique:<br />

a) A diferença entre o texto original e o segundo, em função da descrição da terra;<br />

b) O período literário a que corresponde cada texto.<br />

43. (Mack 2007) Quando morre algum dos seus põem-lhe sobre a sepultura pratos, cheios de viandas, e uma rede (...)<br />

mui bem lavada. Isto, porque crêem, segundo dizem, que depois que morrem tornam a comer e descansar sobre a<br />

sepultura. Deitam-nos em covas redondas, e, se são principais, fazem-lhes uma choça de palma. Não têm<br />

conhecimento de glória nem inferno, somente dizem que depois de morrer vão descansar a um bom lugar. (...)<br />

Qualquer cristão, que entre em suas casas, dão lhe a comer do que têm, e uma rede lavada em que durma. São<br />

castas as mulheres a seus maridos.<br />

Padre Manuel da Nóbrega<br />

O texto, escrito no Brasil colonial,<br />

a) pertence a um conjunto de documentos da tradição históricoliterária brasileira, cujo objetivo principal era<br />

apresentar à metrópole as características da colônia recémdescoberta.<br />

b) já antecipa, pelo tom grandiloqüente de sua linguagem, a concepção idealizadora que os românticos<br />

brasileiros tiveram do indígena.<br />

c) é exemplo de produção tipicamente literária, em que o imaginário renascentista transfigura os dados de uma<br />

realidade objetiva.<br />

d) é exemplo característico do estilo árcade, na medida em que valoriza poeticamente o “bom selvagem”, motivo<br />

recorrente na literatura brasileira do século XVIII.<br />

e) insere-se num gênero literário específico, introduzido nas terras americanas por padres jesuítas com o objetivo<br />

de catequizar os indígenas brasileiros.<br />

44. O texto tematiza aspecto sociocultural do Brasil, reaproveitado por Oswald de Andrade na conhecida frase Tupy or<br />

not tupy, that is the question, presente no “Manifesto antropófago”. Considerado o contexto da vanguarda brasileira<br />

do início do século XX, pode-se dizer, corretamente, que o trocadilho feito pelo escritor modernista<br />

a) propõe, sumariamente, a substituição dos valores da cultura européia por valores indígenas autênticos.<br />

b) sintetiza, de modo irreverente, uma questão polêmica acerca da construção da identidade nacional.<br />

c) idealiza poeticamente as origens, marcadamente indígenas, da cultura brasileira.<br />

d) critica, de forma irônica, a valorização da cultura indígena presente em obras de muitos intelectuais da época.<br />

e) contesta, com humor, a miscigenação que caracteriza a etnia do brasileiro.<br />

77


45. (G1 ifsp 2014) Leia um trecho do poema Ilha da Maré, do escritor brasileiro Manuel Botelho de Oliveira.<br />

E, tratando das próprias, os coqueiros,<br />

galhardos e frondosos<br />

criam cocos gostosos;<br />

e andou tão liberal a natureza<br />

que lhes deu por grandeza,<br />

não só para bebida, mas sustento,<br />

o néctar doce, o cândido alimento.<br />

De várias cores são os cajus belos,<br />

uns são vermelhos, outros amarelos,<br />

e como vários são nas várias cores,<br />

também se mostram vários nos sabores;<br />

e criam a castanha,<br />

que é melhor que a de França, Itália, Espanha.<br />

(COHN, Sergio. Poesia.br Rio de Janeiro: Azougue, 2012.)<br />

Podemos relacionar os versos desse poema ao Quinhentismo Nacional, pois<br />

a) o eu lírico repudia a presença de colonizadores portugueses em nossa terra.<br />

b) a fauna e a flora tropicais são descritas de maneira minuciosa e idealizada.<br />

c) o poeta enriqueceu devido à exportação de produtos brasileiros para a metrópole.<br />

d) a exuberância e a diversidade da natureza tropical são exaltadas pelo poeta.<br />

e) a natureza farta e bela é o cenário onde ocorrem os encontros amorosos do eu lírico.<br />

<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

46. (ENEM 2013)<br />

TEXTO I<br />

Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí a pouco começaram a vir mais. E parece-me que<br />

viriam, este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos e cinquenta. Alguns deles traziam arcos e flechas, que todos<br />

trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. […] Andavam todos tão bem-dispostos, tão bem<br />

feitos e galantes com suas tinturas que muito agradavam.<br />

TEXTO II<br />

CASTRO, S. “A carta de Pero Vaz de Caminha”. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).<br />

78


Material <strong>ITA</strong><br />

Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de Portinari retratam a<br />

chegada dos portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que<br />

a) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras manifestações artísticas dos portugueses em<br />

terras brasileiras e preocupa-se apenas com a estética literária.<br />

b) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, cuja grande significação é a afirmação da arte<br />

acadêmica brasileira e a contestação de uma linguagem moderna.<br />

c) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar do colonizador sobre a gente da terra, e a pintura<br />

destaca, em primeiro plano, a inquietação dos nativos.<br />

d) as duas produções, embora usem linguagens diferentes — verbal e não verbal —, cumprem a mesma função<br />

social e artística.<br />

e) a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos étnicos diferentes, produzidas em um mesmo<br />

momentos histórico, retratando a colonização.<br />

47. (G1 ifsp 2013) A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos.<br />

Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que<br />

de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um<br />

osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta<br />

como um furador.<br />

(Carta de Pero Vaz de Caminha. www.dominiopublico.com.br. Acesso em: 04.12. 2012.)<br />

O trecho acima pertence a um dos primeiros escritos considerados como pertencentes à literatura brasileira. Do<br />

ponto de vista da evolução histórica, trata-se de literatura<br />

a) de informação.<br />

b) de cordel.<br />

c) naturalista.<br />

d) ambientalista.<br />

e) árcade.<br />

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES:<br />

Esse texto do século XVI reflete um momento de expansão portuguesa por vias marítimas, o que demandava a<br />

apropriação de alguns gêneros discursivos, dentre os quais a carta. Um exemplo dessa produção é a Carta de Caminha a<br />

D. Manuel. Considere a seguinte parte dessa carta:<br />

Nela [na terra] até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata... porém a terra em si é de muito bons ares<br />

assim frios e temperados como os de Entre-Doiro-e-Minho. Águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que<br />

querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem, porém o melhor fruto que nela se pode fazer me<br />

parece que será salvar esta gente e esta deve ser a principal semente que vossa alteza em ela deve lançar.<br />

48. (G1 ifsp 2013) O trecho apresentado é preponderantemente descritivo. A classe de palavras que aparece associada<br />

a esse tipo textual é o adjetivo. São exemplos de palavras dessa classe, no texto, as seguintes:<br />

a) ...porém a terra em si é de muito bons ares...<br />

b) Águas são muitas e infindas.<br />

c) ...dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem...<br />

d) ...o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente...<br />

e) ...esta deve ser a principal semente que vossa alteza em ela deve lançar.<br />

49. (G1 ifsp 2013) Assinale a alternativa em que as palavras grifadas estão empregadas em sentido conotativo.<br />

a) ...porém a terra em si é de muito bons ares...<br />

b) Águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que querendo-a aproveitar...<br />

c) ...querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem...<br />

d) ...o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente...<br />

e) ...esta deve ser a principal semente que vossa alteza em ela deve lançar.<br />

79


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

50. (G1 ifsp 2013) Considere os dois trechos a seguir:<br />

...não pudemos saber que haja ouro nem prata...<br />

...me parece que será salvar esta gente...<br />

Substituindo os trechos grifados por um pronome oblíquo correspondente, tem-se um resultado correto<br />

gramaticalmente em:<br />

a) ...não pudemos saber isso... / ...me parece que será salvar eles...<br />

b) ...não pudemos saber-lhes... / ...me parece que será salvar-lhes...<br />

c) ...não pudemos sabê-lo... / ...me parece que será salvá-la...<br />

d) ...não pudemos saber-no... / ...me parece que será salvar-lhes...<br />

e) ...não pudemos sabê-lo... / ...me parece que será salvá-los...<br />

51. (G1 ifsp 2013) O verbo sob destaque no trecho – ...até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata... –<br />

sinaliza a seguinte intenção do escrevente:<br />

a) por meio do modo subjuntivo, evidenciar uma constatação.<br />

b) por meio do modo subjuntivo, evidenciar uma insatisfação.<br />

c) por meio do modo subjuntivo, evidenciar uma incerteza.<br />

d) por meio do modo indicativo, evidenciar uma convicção.<br />

e) por meio do modo indicativo, evidenciar uma hipótese.<br />

52. (Ufsm 2014) A Carta de Pero Vaz de Caminha é o primeiro relato sobre a terra que viria a ser chamada de Brasil. Ali,<br />

percebe-se não apenas a curiosidade do europeu pelo nativo, mas também seu pasmo diante da exuberância da natureza<br />

da nova terra, que, hoje em dia, já se encontra degradada em muitos dos locais avistados por Caminha.<br />

Tendo isso em vista, leia o fragmento a seguir.<br />

Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos, até outra ponta que contra o norte<br />

vem, de que nós deste ponto temos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por<br />

costa. Tem, ao longo do mar, em algumas partes, grandes barreiras, algumas vermelhas, outras brancas; e a terra<br />

por cima é toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é tudo praia redonda, muito chã e<br />

muito formosa.<br />

Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque a estender d’olhos não podíamos ver senão terra<br />

com arvoredos, que nos parecia muito longa.<br />

Nela até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem o<br />

vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados como os de Entre-Douro e Minho,<br />

porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá.<br />

As águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la, tudo dará nela, por<br />

causa das águas que tem.<br />

CASTRO, Sílvio (org.). A Carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 2003, p. 115-6.<br />

Esse fragmento apresenta-se como um texto<br />

a) descritivo, uma vez que Caminha ocupa-se em dar um retrato objetivo da terra descoberta, abordando suas<br />

características físicas e potencialidades de exploração.<br />

b) narrativo, pois a “Carta” é, basicamente, uma narração da viagem de Pedro Álvares Cabral e sua frota até o Brasil,<br />

relatando, numa sucessão de eventos, tudo o que ocorreu desde a chegada dos portugueses até sua partida.<br />

c) argumentativo, pois Caminha está preocupado em apresentar elementos que justifiquem a exploração da<br />

terra descoberta, os quais se pautam pela confiabilidade e abrangência de suas observações.<br />

d) lírico, uma vez que a apresentação hiperbólica da terra por Caminha mostra a subjetividade de seu relato,<br />

carregado de emotividade, o que confere à “Carta” seu caráter especificamente literário.<br />

e) narrativo-argumentativo, pois a apresentação sequencial dos elementos físicos da terra descoberta serve para<br />

dar suporte à ideia defendida por Caminha de exploração do novo território.<br />

80


Material <strong>ITA</strong><br />

Módulo B04 – O Barroco Literatura Brasileira<br />

O BARROCO<br />

Senhora Dona Bahia<br />

Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,<br />

e é que, quem o dinheiro nos arranca,<br />

nos arranca as mãos, a língua, os olhos."<br />

“Esta mãe universal,<br />

esta célebre Bahia,<br />

que a seus peitos toma, e cria,<br />

os que enjeita Portugal"<br />

"Cansado de vos pregar<br />

cultíssimas profecias,<br />

quero das culteranias<br />

hoje o hábito enforcar:<br />

de que serve arrebentar<br />

por quem de mim não tem mágoa?<br />

verdades direi como água<br />

porque todos entendais,<br />

os ladinos e os boçais,<br />

a Musa praguejadora.<br />

Entendeis-me agora?"<br />

Gregório de Matos<br />

Contudo, o melhor de sua sátira não é esse tipo de zombaria, engraçada, maldosa e galhofeira, masa crítica de<br />

cunho geral aos vícios da sociedade e suas instituições. Sua vasta galeria de tipos humanos contribui para construir<br />

sua maior e principal personagem - a cidade da Bahia:<br />

Triste Bahia<br />

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante<br />

Estás e estou do nosso antigo estado!<br />

Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,<br />

Rica te vi eu já, tu a mi abundante.<br />

A ti trocou-te a máquina mercante,<br />

Que em tua larga barra tem entrado,<br />

A mim foi-me trocando, e tem trocado,<br />

Tanto negócio e tanto negociante.<br />

[...]<br />

Gregório de Mattos<br />

Do livro "História concisa da Literatura Brasileira", de Alfredo Bosi, Editora Cultrix, 1994, SP. Enviado por: Leninha<br />

Para entendermos o Barroco, devemos lembrar o Renascimentoe o Maneirismo, pois ambos fornecem as bases<br />

ideológicas do Barroco.<br />

O Renascimento ocupou todo o século XVI, um extraordinário movimento artístico, de vivências antropocêntricas e<br />

racionalistas. Conflitos militares, políticos e religiosos de repercussões mundiais atingiram o antropocentrismo e o<br />

racionalismo do Classicismo. A essa crise, chamamos de Maneirismo, que prenuncia o Barroco. O Barroco está ligado ao<br />

movimento da Contrarreforma.<br />

Que atinge seu ponto de intolerância na passagem do século XVI para oséculo XVII, quando do surgimento da arte<br />

barroca. A arte barroca vigora por todo o século XVII e parte do século XVIII e registra o espírito contraditório de uma<br />

época que se divide entre as influências do Renascimento – antropocentrismo, sensualismo, materialismo – e da<br />

81


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

intolerância religiosa trazida pela Contrarreforma. Portanto, o Barroco é um reflexo ideológico da Contrarreforma. É uma<br />

arte essencial- de natureza religiosa e conflitante. O conflito da arte barroca reside nessa crise espiritual da cultura<br />

ocidental. É o homem dividido entre duas mentalidades, entre duas formas de ver e sentir o mundo: o gosto do<br />

Renascimento, em declínio, e a presença da religiosidade que lembra o teocentrismo medieval. O século XVII da colônia<br />

brasileira apresenta algumas peculiaridades das primeiras manifestações do sentimento nativista, isto é, destaca-se já<br />

certa “tropicalidade” (sentimento brasileiro):<br />

“Minha rica mulatinha,<br />

desvelo e cuidado meu,<br />

eu já fora todo teu,<br />

e tu foras toda minha;<br />

A realidade brasileira estava ocupada com o comércio da cana-de-açúcar, com a escravização dos negros e com a<br />

perseguição e extermínio dos índios. O centro dessas atividades. A colônia passara por dois momentos de exploração<br />

com as cortes portuguesa e espanhola.<br />

A obra que separa o Barroco do Quinhentismo é PROSOPOPEIA (1601), de Bento Teixeira Pinto. Contudo,<br />

entendemos que o Barroco é introduzido pelos jesuítas, que são os agentes da Contrarreforma.<br />

Sua obra foi reunida pela ABL entre 1923 e 1933, com a seguinte divisão:<br />

• LÍRICA-AMOROSA<br />

• ENCOMIÁSTICA (bajulatória/circunstancial)<br />

• SACRA (religiosa)<br />

• FESCENINA (pornográfica/erótica)<br />

• GRACIOSA<br />

• SATÍRICA(social/irônica/política<br />

A sedução pelos sentidos<br />

Sob os ventos da Contrarreforma, os prazeres proporcionados pelos sentidos só se justificam caso estejam a serviço<br />

de Deus.<br />

Bom exemplo disso ocorre na música que, no período barroco, destinava-se sobretudo à difusão religiosa. Johann<br />

Sebastian Bach (1685-1750), um dos mais importantes compositores dessa época, explica que a música “deve formar<br />

uma harmonia agradável para a glória de Deus e o descanso do espírito”.<br />

Quando os prazeres não estão vinculados à exaltação religiosa, são considerados excessos a serem controlados. A<br />

advertência de que os sentidos podem excitar os desejos carnais e conduzir o seu humano ao pecado é mais um dos<br />

ensinamentos que não se podiam questionar durante a Contrarreforma. O resultado é a sensação de que não há como<br />

aproveitar os encantos terrenos sem alguma dose de pecado.<br />

Gregório de Matos tratou com certa frequência da angústia entre atração física e sentimento de culpa, como se<br />

pode observar no poema seguinte.<br />

Anjo no nome, Angélica na cara!<br />

Isso é ser flor, e Anjo juntamente:<br />

Ser Angélica flor, e Anjo florente,<br />

Em quem, senão em vós, se uniformara:<br />

Quem vira uma tal flor, que a não cortara,<br />

De verde pé,, de rama florescente;<br />

E quem um Anjo vira tão luzente,<br />

Que por seu Deus o não idolatrara?<br />

82<br />

Se pois como Anjo sois dos meus altares,<br />

Fôreis o meu Custódio, e minha guarda,<br />

Livrara eu de diabólicos azares<br />

Mas vejo, que por bela, e por galharda,<br />

Posto que os Anjos nunca dão pesares,<br />

Sois Anjo, que me tenta e não me guarda<br />

Gregório de Matos. Poemas escolhidos (seleção, introdução e notas José Miguel Wisnik). São Paulo: Cultrix, 1981, p. 202.<br />

_____________________________________________________________________________<br />

Angélica: flor branca extremamente perfumada<br />

florente: florido<br />

luzente: brilhante, fulgurante<br />

custódio: que tem função de guardar, proteger<br />

guarda: proteção<br />

pesares: sofrimentos, tristezas


Material <strong>ITA</strong><br />

A mulher, por seus encantos, é frequentemente retratada como um ser contraditório: a delicadeza e a beleza a fazem um<br />

anjo, mas a força da sedução, a tentação da carne a tornam diabólica.<br />

Os amantes, obra criada em 1952 pelo pintor russo Marc Chagall (1887-1985).<br />

No poema, a dualidade da figura menina é expressa também pelo trocadilho entre os termos Anjo e Angélica,<br />

palavras que vêm da mesma raiz e que se aproximam pelo sentido e pelo som.<br />

Observe que os verbos no pretérito mais que perfeito do indicativo assumem no poema valores de outros tempos<br />

verbais:<br />

uniformara = uniformaria<br />

vira = veria<br />

cortara = cortasse<br />

idolatrara = idolatrasse<br />

fôreis = fôsseis<br />

livrara = livraria<br />

A Poesia barroca no Brasil<br />

Em 1601, foi publicado o poema épico Prosopopeia, de Bento Teixeira (1561?-1600). Por muito tempo, acreditouse<br />

que Bento Teixeira fosse brasileiro; pesquisas mais recentes, porém, mostraram que havia nascido em Portugual. De<br />

qualquer maneira, o autor passou boa parte de sua vida em Pernambuco, onde compôs o poema. A Prosopopeia foi,<br />

dessa forma, o primeiro poema escrito publicado no Brasil. Em 1705, foi publicado o livro Música do Parnaso, de Manuel<br />

Botelho de Oliveira (1636-1711), efetivamente o primeiro poeta brasileiro a ver seu trabalho publicado. Seus poemas<br />

refletem forte apego aos procedimentos poéticos cultistas.<br />

O barroco flagra o Brasil no ciclo da cana-de-açúcar, período em que ocorreram as invasões holandesas. O centro<br />

comercial do país era a Bahia, cuja sociedade era patriarcal, isto é, baseava-se no poder do senhor de engenho, ao<br />

redor do qual gritavam não apenas o núcleo familiar, mas também agregados, criados e escravos.<br />

Gregório de Matos e Guerra (c. 1633-1696)<br />

Saiu a sátira má,<br />

Eempurraram-ma os perversos<br />

que nisto de fazer versos<br />

eu só tenho jeito cá:<br />

noutras obras de talento<br />

eu sou só o asneirão,<br />

em sendo sátira, então<br />

eu só tenho entendimento.<br />

[...]<br />

Gregório de Matos e Guerra<br />

Gregório de Matos foi o terceiro filho de uma família abastada, dona de dois engenhos de cana-de-açúcar e de<br />

130 escravos. Recebeu uma Recebeu uma educação rigorosa em cada e no colégio jesuíta em que estudou.<br />

Em 1652, partiu para Portugal, onde se formou em Direito pela Universidade de Coimbra. Lá exerceu sua profissão,<br />

chegando a ser durante muitos anos juiz de órfãos; casou-se, ficou viúvo; caiu nas graças do reio D. Pedro II e ganhou<br />

fama pela sua inteligência rápida, pelo seu humor vivo e contundente, pelo seu implacável espírito crítico. Era conhecido<br />

como o “Boca do Inferno”. Para alguns, o retorno ao Brasil, ocorrido em 1681, teria sido manobra de algum desafeto<br />

seu que, vitimado pela sua sátira mordaz, o teria indisposto com o rei.<br />

O fato é que, de volta ao Brasil, recebeu as “ordens menores” da Igreja, um sacramento que lhe permitia exercer<br />

algumas funções eclesiásticas, sem ser uma consagração definitiva. Aceitou os cargos de vigário-geral e de tesoureiromor<br />

que lhe foram oferecidos pelo arcebispo da Bahia, mas fez questão de não usar batina; denunciou as iniquidades<br />

que presenciava na ordem em que servia e não suavizou o tom de sua sátira. Foi então desligado de suas funções e<br />

mando de um bispo.<br />

83


84<br />

<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

Montou banca de advocacia e, posteriormente, casou-se com Maria dos Povos, mas a abandonou para seguir<br />

como cantor e repentista no Recôncavo Baiano, vivendo à custa da simpatia popular, que lhe fornecia pouso e comida.<br />

Perseguido pela fúria do filho do governador Antônio da Câmara Coutinho, foi exilado em Angola, de onde escreveu<br />

constantemente a autoridades pedindo permissão para regressar. Retornou ao Brasil com a condição de não voltar à<br />

Bahia, e estabeleceu-se em Pernambuco, onde faleceu em 1969.<br />

A poesia-pólvora da Boca do Inferno<br />

Apesar de Gregório de Matos ter criado uma vasta obra, ela só foi publicada cerca de 230 anos depois de sua<br />

morte, pela Academia Brasileira de Letras, entre 1923 e 1933. De sua produção não se conservou nenhum original<br />

escrito pelo próprio autor; a maior parte de sua poesia foi reunida em quatro grossos códices manuscritos por anônimos,<br />

que o fizeram de memória.<br />

A obra de Gregório de Matos manifesta influências de Camões e do poeta espanhol Luís de Góngora. Popular por<br />

sua sátira, é, no entanto, na lírica que encontramos o melhor de sua poesia.<br />

Sua produção poética pode ser dividida em: lírica, satírica, erótica e encomiástica (poesia feita com a finalidade de<br />

elogiar personalidades proeminentes).<br />

A sátira<br />

Gregório de Matos tinha extraordinário talento satírico, que amalgamava agudo senso crítico e de ridículo, humor<br />

violento e corrosivo, além de uma capacidade genial de manipular a palavra. Políticos, clérigos, o português colonizador,<br />

negros e mulatos, gente do povo, nada nem ninguém escapou a sua pena. Claro está, como já vimos, que isso lhe trouxe<br />

muitos inimigos, mas também fez com que caísse no gosto popular.<br />

A poesia satírica de Gregório busca retratar com muito humor e crítica várias situações sociais, tanto de caráter<br />

popular quanto relacionadas às elites ou governantes, além de apresentar um rico panorama. Você verá que, como<br />

ocorre com os sermões de Vieira, os textos do poema também apresentam uma inacreditável atualidade.<br />

A cada canto um grande conselheiro,<br />

Que nos quer governar a cabana e vinha,<br />

Não sabem governar sua cozinha,<br />

E querem governar o mundo inteiro.<br />

Em cada porta um frequentado olheiro,<br />

Que a vida do vizinho e da vizinha<br />

Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,<br />

Para o levar à Praça, e ao Terreiro.<br />

Muitos Mulatos desavergonhados,<br />

Trazidos pelos pés os homens nobres,<br />

Pasta nas palmas toda a picardia.<br />

Descreve o que era realmente naquele tempo<br />

a cidade da Bahia de mais enredada por menos confusa<br />

Estupendas usuras nos mercados,<br />

Todos, os que não furtam, muito pobres,<br />

E eis aqui a cidade da Bahia.<br />

Gregório de Matos. Obra poética. 3. Ed. Rio de Janeiro. Record, 1992. V. 1. p. 33.<br />

Poesia lírica<br />

A poesia lírica de Gregório de Matos, segundo sua temática, divide-se em três tipos: lírico-amorosa, lírico-religiosa e<br />

lírico-filosófica.<br />

a) Poesia lírico-amorosa<br />

Os encantos da mulher amada, sua indiferença ou paixão, o duelo entre o desejo e o neoplatonismo estão presentes<br />

nesse tipo de poesia. Como vemos, a herança camoniana é bastante acentuada.


Material <strong>ITA</strong><br />

Texto 1<br />

Anjo no nome, Angélica na cara,<br />

Isso é ser flor, e anjo juntamente,<br />

Ser Angélica flor, e Anjo florente,<br />

Em quem, senão em vós se uniformara?<br />

Quem veria uma flor, que a não cortara<br />

De verde pé, de rama florescente?<br />

E quem um Anjo vira tão luzente,<br />

Que por seu Deus, o não idolatrara?<br />

Se como Anjo sois dos meus altares,<br />

Fôreis o meu custódio, e minha guarda,<br />

Livrara eu de diabólicos azares.<br />

Rompe o poeta com a primeira impaciência<br />

querendo declarar-se e temendo perder por ousado<br />

Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,<br />

Posto que os Anjos nunca dão pesares,<br />

Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.<br />

Gregório de Matos, op. Cit. P. 406.<br />

Vocabulário<br />

Anjo do nome, Angélica na cara: o poeta faz um trocadilho: o nome da moça a quem ele dedica o poema é Ângela, do<br />

latim angelus, ou seja, “anjo”, “Angélica é um diminutivo de Ângela e é também o nome de uma flor que remete à<br />

sensualidade<br />

uniformara: uniformara, tornara uniforme, com uma só forma<br />

galharda: Elegante, bem-apessoada<br />

Texto 2<br />

Discreta, e formosíssima Maria,<br />

Enquanto estamos vendo a qualquer hora<br />

Em tuas faces a rosa Aurora,<br />

Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:<br />

Enquanto com gentil descortesia<br />

O ar, que fresco Adônis te namora,<br />

Te espalha a rica trança voadora,<br />

Quando vem passear-te pela fria:<br />

Goza, goza da flor da mocidade,<br />

Que o tempo trota a toda ligeireza,<br />

E imprime em toda flor sua pisada.<br />

Lisonjeia outra vez impaciente a retenção de sua mesma desgraça,<br />

aconselhando a esposa neste regalado soneto<br />

Oh não aguardes, que a madura idade<br />

Te converta em flor, essa beleza<br />

Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.<br />

Gregório de Matos, op. cit. p. 507.<br />

Vocabulário<br />

Adônis: personagem da mitologia Greco-roma, símbolo da beleza masculina. Filho do incesto entre o rei Cíniras, de<br />

Chipre, e sua filha Mirra, era tão belo que gerou uma disputa entre Afrodite (ou Vênus) e Perséfone (ou Proserpina).<br />

Fria: madrugada<br />

85


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

b) Lírico-religiosa (ou lírico-sacra)<br />

Nesse tipo de poema, Gregório decanta a angústia entre a culpa pelo pecado e a esperança de salvação. Entretanto, a<br />

postura do poeta diante de Deus nem sempre é de submissão, já que muitas vezes ele se comporta como um advogado<br />

que faz a própria defesa diante de um grande juiz, formulando paradoxos com base em premissas cristãs e bíblicas.<br />

Texto 3<br />

Ao mesmo assunto e na mesma ocasião<br />

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,<br />

Da vossa alta piedade me despido,<br />

Porque quanto mais tenho delinquido,<br />

Vos tenho a perdoar mais empenhado.<br />

Se basta a vos irar tanto pecado,<br />

A abrandar-vos sobeja um só gemido,<br />

Que a mesma culpa, que vos há ofendido,<br />

Vos tem para o perdão lisonjeado.<br />

Se uma ovelha perdida, e já cobrada<br />

Glória tal, e prazer tão repentino<br />

vos deu, como afirmais na Sacra História:<br />

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada<br />

Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino,<br />

Perder na vossa ovelha a vossa glória.<br />

Texto 4<br />

Meu Deus, que estais pendente de um madeiro,<br />

Em cuja lei protesto de viver,<br />

Em cuja Santa lei hei de morrer<br />

Animoso, constante, firme e inteiro.<br />

Neste lance, por ser o derradeiro,<br />

Pois vejo a minha vida anoitecer,<br />

É, meu Jesus, a hora de se ver<br />

A brandura de um Pai manso Cordeiro.<br />

Mui grande é vosso amor, e meu delito,<br />

Porém pode ter fim todo o pecar,<br />

E não o vosso amor, que é infinito.<br />

Esta razão me obriga a confiar,<br />

Que por mais que pequei, neste conflito<br />

Espero em vosso amor de me salvar.<br />

Gregório de Matos, op. cit. p. 69.<br />

Vocabulário<br />

protesto: prometo<br />

animoso: corajoso<br />

Gregório de Matos. Obra poética. 3. Ed. Rio de Janeiro: Record, 1992. v. 1. p. 70.<br />

A Cristo S. N. crucificado estando o poeta na última hora de sua vida<br />

86


Material <strong>ITA</strong><br />

c) Lírico-filosófica (ou lírico-reflexiva)<br />

Nesta lírica, o poeta faz considerações sobre a condição humana diante da instabilidade do mundo e das incertezas da vida.<br />

A ameaça do fim<br />

O homem do Barroco sabia que havia outra terrível força contra ele: a passagem inevitável do tempo, que arrasta todos<br />

para a morte e, portanto, para o Juízo Final. Mais uma vez, era urgente aproximar-se de Deus ou sofrer para sempre.<br />

Essa clara percepção de que tudo no mundo é transitório motivou visões desalentadas, pessimistas, como ressaltam os<br />

versos de Gregório de Matos, eu você lerá a seguir.<br />

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,<br />

Depois da Luz se segue a noite escura,<br />

Em tristes sombras morre a formosura,<br />

Em contínuas tristezas a alegria.<br />

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?<br />

Se tão formosa a Luz; por que não dura?<br />

Como a beleza assim se transfigura?<br />

E na alegria sinta-se tristeza.<br />

Começa o mundo enfim pela ignorância,<br />

E tem qualquer dos bens por natureza<br />

A firmeza somente na inconstância.<br />

Moraliza o poeta nos ocidentes do sol a<br />

inconstância dos bens do mundo<br />

Gregório de Matos. Poemas escolhidos (seleção, introdução e notas José Miguel Wisnik). São Paulo: Cultrix, 1981, p. 317.<br />

Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711)<br />

Foi o primeiro poeta brasileiro a ter uma obra impressa: Música do Parnaso, de 1705, livro que reuniu poemas em<br />

português, espanhol, latim e italiano e duas comédias.<br />

Se teve algum talento, foi a habilidade gongórica de versejar. Excetuando essa capacidade formal, seus conteúdos não<br />

foram notáveis.<br />

Jaz oblíqua forma, e prolongada<br />

A terra de Maré toda cercada<br />

De Netuno, que tendo o amor constante,<br />

Lhe dá muitos abraços por amante,<br />

E botando-lhe os braços dentro dela<br />

A pretende gozar, por ser muito bela.<br />

Nesta assistência tanto a senhoreia,<br />

E tanto a galanteia,<br />

Que do mar de Maré tem o apelido,<br />

Como quem preza o amor de seu querido<br />

[...]<br />

A ilha de maré termo desta cidade da Bahia Silva<br />

Disponível em:www.dominiopublico.gov.br./download/texto/bn000082.pdf.Acesso em: 8 jun. 2012.<br />

87


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

Bento Teixeira (1561 – 1600)<br />

Ele fará meu verso tão sincero<br />

Quanto fora sem ele tosco e rudo<br />

Nascido na cidade do Porto, em Portugal, Bento Teixeira passou grande parte de sua vida no<br />

Brasil, onde produziu, em Pernambuco, a obra Prosopopeia, publicada em 1601.<br />

De escasso valor literário, Prosopopeia apresenta 94 oitavas em versos decassílabos nos moldes<br />

camonianos. Nesse poema Épico, o poeta teve a intenção de exaltar Jorge de Albuquerque<br />

Coelho, governador de Pernambuco, e seu irmão Duarte, aos quais atribuiu feitos heroicos.<br />

I<br />

Contém poetas o Poder Romano,<br />

Submetendo Nações ao jugo duro;<br />

O Mantuano pinte o Rei Troiano,<br />

Descendo à confusão do Reino escuro;<br />

Que eu canto um Albuquerque soberano,<br />

Da Fé, da cara Pátria firme muro,<br />

Cujo valor e ser, que o Céu lhe inspira,<br />

Pode estancar a Lácia e Grega lira.<br />

[...]<br />

88<br />

Disponível em:<br />

www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co=2117.Acesso em: 8 jun. 2012.<br />

A prosa barroca: Padre Antônio Vieira<br />

O grande nome de prosa barroca – portuguesa e brasileira – é o Padre Antônio Vieira (1608-1697).<br />

... o melhor comentador das profecias é o tempo.<br />

Filho de família humilde, Vieira nasceu em Lisboa, em 1608, e veio para<br />

o Brasil com 6 anos de idade. Teve uma bisavó negra, e talvez isso o tenha<br />

predisposto a defender a liberdade de negros e indígenas. Estudou num colégio<br />

jesuíta baiano; aos 15 anos, ouviu um sermão sobre os horrores do inferno que<br />

o impressionou tanto que resolveu se tornar padre. Ingressou na Companhia de<br />

Jesus, destacando-se nos estudos. Aos 19 anos, ministrava aulas de retórica.<br />

Ordenou-se jesuíta no final de 1634 e rapidamente tornou-se notável pela<br />

excepcional qualidade de seus sermões.<br />

No Brasil<br />

A prosa barroca brasileira produziu pouca coisa além de sermões e<br />

historiografia. Merece destaque o Compêndio narrativo do peregrino da<br />

América, escrito por Nuno Marques Pereira (1652? – depois de 1733),<br />

obra em forma de diálogo, travado entre um peregrino inexperiente e um<br />

ancião. O livro tem intenções moralizantes, fazendo um retrato crítico da<br />

sociedade da época.<br />

A extensa obra do Padre Antônio Vieira reflete sua intensa<br />

participação nos debates sociais e políticos de Portugal e do Brasil no<br />

século XVII. Dessa forma, seus sermões e cartas abrangem, além de temas<br />

mais especificamente religiosos, questões polêmicas da época, como a<br />

luta de independência portuguesa, o confronto com os holandeses no<br />

Nordeste, a escravidão índia e negra, a defesa dos judeus e cristãos-novos<br />

Padre Antônio Vieira<br />

contra a intolerância da Inquisição. Vieira, além disso, escreveu obras de<br />

caráter profético, expondo sua crença de fundo sebastianista num reino universal católico organizado sob a Coroa<br />

Portuguesa (o “Quinto Império”): dentre essas obras merece destaque a História do futuro.


Material <strong>ITA</strong><br />

Sermão da sexagésima<br />

Do corpo extenso dessa obra, é possível destacar alguns sermões que, por seu acabamento formal e profundidade<br />

temática, consistem em momentos privilegiados do barroco literário e da literatura de língua portuguesa. Um deles é, sem<br />

dúvida, o Sermão da sexagésima.<br />

Colocado pelo próprio Vieira como a apresentação de sua obra, esse sermão, pregado em Lisboa em 1655,<br />

notabiliza-se por expor sistematicamente as ideias do autor sobre a prática oratória. Além disso, critica veementemente os<br />

sermonistas que praticavam o cultismo, transformando seus textos em motivo de exaltação literária e não de reflexão<br />

existencial e religiosa. Procurando descobrir por que a pregação evangélica vinha obtendo poucos resultados, Vieira<br />

tomou como ponto de partida o versículo bíblico Semen est verbum Dei (“A semente é a palavra de Deus”), analisando<br />

cuidadosamente seu conteúdo e as relações entre as palavras que o transmitiam. Vamos à leitura de um trecho.<br />

Sermão da sexagésima<br />

(fragmento)<br />

Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para que se distinga,<br />

há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de amplificá-la com<br />

as causas, com os defeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se há de seguir, com os inconvenientes que<br />

se devem evitar; há de responder às dúvidas, há de satisfazer as dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força<br />

de eloquência os argumentos contrários, e depois disto há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há<br />

de acabar. Isto é sermão, isto é pregar, e o que não é isto, é falar de mais alto. Não nego nem quero dizer que o sermão<br />

não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria e continuar a acabar nela.<br />

Quereis ver tudo isto com os olhos? Ora vede: uma árvore tem raízes, tem troncos, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem<br />

flores, tem frutos. Assim Há de ser o sermão: há de ter raízes fortes e sólidas, porque há de ser fundado no Evangelho; há<br />

de ter um tronco, porque há de ter um só assunto e tratar uma só matéria. Deste tronco hão de nascer diversos ramos,<br />

que são diversos discursos, mas nascidos da mesma matéria, e continuados nela. Estes ramos não há de ser secos, senão<br />

cobertos de folhas, porque os discursos hão de ser vestidos e ornados de palavras. Há de ter esta árvore varas, que são a<br />

repreensão dos vícios; há de ter flores, que são as sentenças; e por remate de tudo isso há de ter frutos, que é o fruto e o<br />

fim a que se há de ordenar o sermão. De maneira que há de haver frutos, há de haver flores, há de haver varas, há de<br />

haver folhas, há de haver ramos, mas tudo nascido e fundado em um só tronco, que é uma só matéria. Se tudo são<br />

troncos, não é um serão, é madeira. Se tudo são ramos, não é sermão, são maravalhas. Se tudo são folhas, não é<br />

sermão, são verças. Se tudo são varas, não é um serão, é feixe. Se tudo são flores, não é sermão, é ramalhete. Serem<br />

tudo frutos,não pode ser; porque não há frutos sem árvore. Assim que nesta árvore, a que podemos chamar árvore da<br />

vida, há de haver o proveitoso do fruto, o formoso das flores, o rigoroso das varas, o vestido das folhas, o estendido dos<br />

ramos, mas tudo isto nascido e formado de um só tronco, e esse não levantado no ar, senão fundado nas raízes do<br />

Evangelho:Seminare sêmen. Eis aqui como hão de ser os sermões, eis aqui como não são. E assim não é muito que se<br />

não faça fruto com eles.<br />

VIEIRA, Pe. Antônio. Sermões – problemas sociais e políticos do Brasil. 2ª edi. São Paulo: Cultrix, 1981. p. 37-8.<br />

A leitura atenta desse parágrafo permite-nos chegar a diversas conclusões sobre a prática e o estilo de Vieira.<br />

Primeiramente, devemos notar como o texto propõe a construção do sermão dentro das regras da parenética – a prática<br />

da oratória sagrada. Observe como Vieira estabelece rigorosamente os passos que devem ser seguidos por quem deseja<br />

construir um sermão: é necessário escolher um só tema, defini-lo, dividi-lo e buscar sustentação nos textos sagrados<br />

(“Escritura”): esses passos iniciais constituem o exórdio ou intróito do sermão. Depois, deve-se passar ao desenvolvimento<br />

ou argumentação, corpo central do texto em que se esclarece (“declara”) o tema, confirmando-o com exemplos,<br />

amplificando-o com causas, com efeitos, com circunstâncias; deve-se, principalmente, prever os argumentos contrários e<br />

refutá-los. Enfim, deve-se encaminhar o texto para a peroração ou epílogo, passagem em que, a partir das conclusões<br />

alcançadas, procura-se persuadir a plateia. Perceba como Vieira propõe um plano bastante didático para o<br />

desenvolvimento dos sermões: toma-se um tema e define-se como se vai tratá-lo; desenvolve-se esse tema, preocupandose<br />

com as provas e prevendo a argumentação contrária; finalmente, utilizam-se as conclusões alcançadas para persuadir<br />

os ouvintes, levando-os a agir.<br />

Podemos encontrar no trecho lido uma notável metáfora endereçada explicitamente à visão dos ouvintes e leitores:<br />

comparando a estrutura do serão à estrutura de uma árvore – “a árvore da vida” -, o texto nos oferece um exemplo nítido da<br />

89


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

opulência verbal de Vieira. Observe como as partes constituintes da árvore, todas relacionadas às partes constituintes do sermão,<br />

são minuciosamente apontadas, tecendo-se ao redor de cada uma delas considerações sempre relacionáveis, metaforicamente,<br />

com o desenvolvimento da prática parenética. Note, como num jogo de construção tipicamente barroco, Vieira enumera esses<br />

elementos numa determinada ordem (troncos, ramos, folhas, varas, flores, frutos), que é simetricamente invertida a seguir (frutos,<br />

flores, varas, folhas, ramos, troncos). Leia cuidadosamente, em voz alta, todo o parágrafo, prestando bastante atenção ao ritmo<br />

das frases no trecho que relaciona árvore e sermão: você irá notar a preocupação do autor com a cadência do texto – que,<br />

afinal, era uma peça para ser exposta oralmente.<br />

Dessa forma, percebemos como Vieira concebia a prática oratória: o sermão devia resultar de um trabalho disciplinado de<br />

estruturação do texto, objetivando sempre persuadir o ouvinte. Além disso, perceba que Vieira não condena o “ornato” do<br />

discurso com as palavras; o que é condenável, como veremos adiante, é transformar isso no fim último do sermão. Vieira é<br />

ironicamente intolerante acerca dessas ideias: afinal, se não se seguirem as regras propostas, não se estará fazendo sermão;<br />

apenas se estará falando “de mais alto” (que é como se encontra o púlpito nas igrejas).<br />

Pelo que acabamos de concluir, não é difícil perceber que o trabalho de Vieira identifica-se com a vertente<br />

conceptista da poética barroca, pois há uma evidente intenção de perseguir as conclusões por meio de um exaustivo<br />

trabalho de relacionamento de conceitos e de desenvolvimento de raciocínios. Vieira, efetivamente, criticava de forma<br />

cáustica os procedimentos cultistas, ainda que acabasse muitas vezes empregando-os em seus sermões.<br />

A conclusão a que chega o Sermão da sexagésima é que a palavra de Deus vinha obtendo poucos resultados<br />

porque os pregadores estavam mais aplicados em obter efeitos literários do que moralizantes, o que transformava os<br />

sermões em vazios exercícios estéticos.<br />

A preocupação de Vieira com a estruturação de seu texto é a prova maior de que o manuseio artístico da palavra<br />

era uma das finalidades do autor. A agilidade mental para estabelecer relações sutis entre referências bíblicas e ideias por<br />

ele definidas, a fecunda capacidade de criar imagens carregadas de poesia, a harmonia melódica de suas frases e a<br />

fartura verbal de seu discurso são alguns elementos que, presentes no próprio Sermão da sexagésima, denunciam um<br />

artista consciente de seu domínio verbal. A esse virtuosismo no trabalho com a linguagem, tão ambicionado pelos artistas<br />

barrocos, Vieira alia uma constante preocupação com a finalidade social de seu discurso, visto como forma de propagar<br />

a fé católica, moralizar os costumes e iniciar à ação social numa época em que o púlpito ocupava papel importantíssimo<br />

na divulgação de ideias e condução de condutas.<br />

Exercícios<br />

53. (Fuvest SP) “Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os<br />

que saem a semear são os que vão pregar àÍndia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair. Os que saem a<br />

semear são os que se contentam com pregar na pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que<br />

têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a<br />

semeadura, e hão-lhes de contar os passos. Ah! dia do juízo! Ah! pregadores! Os de cá, achar-vos-ei com mais<br />

paço; os de lá, com mais passos...”<br />

Essa passagem é representativa de uma das tendências estéticas típicas da prosa seiscentista, a saber:<br />

a) o Sebastianismo, isto é, a celebração do mito da volta de D. Sebastião, rei de Portugal, morto na batalha de<br />

Alcácer-Quibir.<br />

b) a busca do exotismo e da aventura ultramarina, presentes nas crônicas e narrativas de viagem.<br />

c) a exaltação do heroico e do épico, por meio das metáforas grandiloquentes da epopeia.<br />

d) o lirismo trovadoresco, caracterizado por figuras de estilo passionais e místicas.<br />

e) o Conceptismo, caracterizado pela utilização constante dos recursos da dialética.<br />

54. (Uepa 2014) Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,<br />

Depois da luz se segue a noite escura,<br />

Em tristes sombras morre a formosura,<br />

Em contínuas tristezas a alegria.<br />

Gregório de Matos Guerra<br />

90<br />

Assinale a alternativa que contém uma característica da comunicação poética, típica do estilo Barroco, existente no<br />

quarteto acima.<br />

a) Reflexão sobre o caráter humano da divindade.<br />

b) Associação da natureza com a permanência da realidade espiritual.<br />

c) Presença da irreverência satírica do poeta com base no paradoxo.<br />

d) Utilização do pleonasmo para reforçar a superioridade do cristianismo sobre o protestantismo.<br />

e) Uso de ideias contrastantes com base no recurso da antítese.


Material <strong>ITA</strong><br />

55. (F. Objetivo SP) Sobre cultismo e conceptismo, os dois aspectos construtivos do Barroco, assinale a única alternativa<br />

incorreta.<br />

a) O cultismo opera através de analogias sensoriais, valorizando a identificação dos seres por metáforas. O<br />

conceptismo valoriza a atitude intelectual, a argumentação.<br />

b) Cultismo e conceptismo são partes construtivas do Barroco que não se excluem. É possível localizar no mesmo<br />

autor e até no mesmo texto os dois elementos.<br />

c) O cultismo é perceptível no rebuscamento da linguagem, pelo abuso no emprego de figuras semânticas,<br />

sintáticas e sonoras. O conceptismo valoriza a atitude intelectual, o que se concretiza no discurso pelo<br />

emprego de sofismas, silogismos, paradoxos.<br />

d) cultismo na Espanha, Portugal e Brasil é também conhecido como Gongorismo e seu mais ardente defensor, entre<br />

nós, foi o Pe. Antônio Vieira, que, no Sermão da sexagésima, propõe a primazia da palavra sobre a ideia.<br />

e) Os métodos cultistas mais seguidos por nossos poetas foram os de Gôngora e Marini, e o conceptismo de<br />

Quevedo foi o que maiores influências deixou em Gregório de Matos.<br />

56. (UFV MG) Leia atentamente o fragmento do sermão do Padre Antônio Vieira:<br />

A primeira causa que me desedifica, peixes, de vós, é que comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a<br />

circunstância o fez ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se<br />

fora pelo contrário era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos<br />

pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mim, para um só grande<br />

[...]. Os homens, com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes que se comem uns aos outros. Tão<br />

alheia causa é não só da razão, mas da mesma natureza, que, sendo criados no mesmo elemento, todos cidadãos<br />

da mesma pátria, e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer.<br />

VIEIRA, Antônio. Obras completas do padre Antônio Vieira: sermões. Prefaciados e revistos pelo Pe. Gonçalo Alves. Porto: Leilo e<br />

Irmão Editores, 1993. v. III, p. 264-265.<br />

O texto de Vieira contém algumas características do Barroco. Dentre as alternativas a seguir, assinale aquela em<br />

que NÃO se confirmam essas tendências estéticas:<br />

a) A utilização da alegoria, da comparação, como recursos oratórios, visando à persuasão do ouvinte.<br />

b) A tentativa de convencer o homem do século XVII, imbuído de práticas e sentimentos comuns ao semipaganismo<br />

renascentista, a retomar o caminho do espiritualismo medieval, privilegiando os valores cristãos.<br />

c) A presença do discurso dramático, recorrendo ao princípio moralizante, comum à Contrarreforma.<br />

d) O tratamento do tema principal – a denúncia à cobiça humana – através do conceptismo, ou jogo de ideias.<br />

e) O culto do contraste, sugerindo a oposição bem x mal, tem linguagem simples, concisa, direta e expressiva da<br />

intenção barroca de resgatar os valores Greco-latinos.<br />

57. (Fuvest SP) A respeito do Padre Antônio Vieira, pode-se afirmar:<br />

a) Embora vivesse no Brasil, por sua formação lusitana não se ocupou de problemas locais.<br />

b) Procurava adequar os textos bíblicos às realidades de que tratava.<br />

c) Dada sua espiritualidade, demonstrava desinteresse por assuntos mundanos.<br />

d) Em função de seu zelo para com Deus, utilizava-o para justificar todos os acontecimentos políticos e sociais.<br />

e) Mostrou-se tímido diante dos interesses dos poderosos.<br />

58. Assinale a alternativa incorreta:<br />

O Barroco surgiu como reação aos ideais de Idade Média e à valorização demasiada da Antiguidade clássica,<br />

apresentando:<br />

a) a fusão do teocentrismo com o antropocentrismo.<br />

b) predomínio do equilíbrio em todas as formas artísticas.<br />

c) estilo rebuscado como manifestação de angústia.<br />

d) predomínio de forma, cor e riqueza, em detrimento do conteúdo.<br />

e) a fusão do pecado com o perdão.<br />

91


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

59. (Fuvest SP)<br />

“Nasce o Sol, e não dura mais que um dia.<br />

Depois da luz, se segue a noite escura.<br />

Em tristes sombras morre a formosura.<br />

Em contínuas tristezas a alegria.”<br />

Na estrofe acima, de um soneto de Gregório de Matos Guerra, a principal característica do Barroco é:<br />

a) o culto da Natureza<br />

b) a utilização de rimas alternadas<br />

c) a forte presença de antíteses<br />

d) o culto do amor cortês<br />

e) o uso de aliterações<br />

60. (Ufsm 2014) Padre Antônio Vieira, em seu Sermão de Santo Antônio ou dos Peixes, vale-se da fauna aquática,<br />

especialmente a da costa brasileira, para dar força e vida às suas palavras, como se vê no fragmento a seguir.<br />

Outra coisa muito geral, que não tanto me desedifica, quanto me lastima, em muitos de vós, é aquela tão notável<br />

ignorância e cegueira que em todas as viagens experimentam os que navegam para estas partes. Tome um homem<br />

do mar um anzol, ata-lhe um pedaço de pano cortado e aberto em duas ou três pontas, lança-o por um cabo<br />

delgado até tocar na água, e em o vendo o peixe, arremete cego a ele e fica preso e boqueando até que, assim<br />

suspenso no ar, ou lançado no convés, acaba de morrer. Pode haver maior ignorância e mais rematada cegueira<br />

que esta? Enganados por um retalho de pano, perder a vida?<br />

Dir-me-eis que o mesmo fazem os homens. Não vô-lo nego. Dá um exército batalha contra outro exército, metemse<br />

os homens pelas pontas dos piques, dos chuços e das espadas, e por quê? Porque houve quem os engodou e<br />

lhes fez isca com dois retalhos de pano. A vaidade entre os vícios é o pescador mais astuto e que mais facilmente<br />

engana os homens. E que faz a vaidade? Põe por isca nas pontas desses piques, desses chuços e dessas espadas<br />

dois retalhos de pano, ou branco, que se chama hábito de Malta; ou verde, que se chama de Aviz; ou vermelho,<br />

que se chama de Crista e de Santiago; e os homens por chegarem a passar esse retalho de pano ao peito, não<br />

reparam em tragar e engolir o ferro.<br />

A partir da leitura do fragmento, assinale verdadeira (V) ou falsa (F) em cada afirmativa a seguir.<br />

( ) A referência aos peixes, no fragmento e no sermão como um todo, deve-se ao “milagre da multiplicação dos<br />

peixes’, realizado por Jesus Cristo, o que serve de ponto de partida para o texto de Vieira.<br />

( ) Por meio da analogia, Vieira compara como os peixes são pescados e como os homens perdem-se, ambos<br />

vítimas de um engano.<br />

( ) Os fatos narrados no fragmento apresentam semelhanças com o enredo de uma fábula, no sentido de que<br />

seu conteúdo é utilizado para ilustrar um princípio moral.<br />

A sequência correta é<br />

a) V – F – F.<br />

b) F – V – F.<br />

c) F – V – V.<br />

d) F – F – V.<br />

e) V – V – V.<br />

61. (UFRGS) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo sobre os dois grandes nomes do barroco<br />

brasileiro.<br />

( ) A obra poética de Gregório de Matos oscila entre os valores transcendentais e os valores mundanos,<br />

exemplificando as tensões do seu tempo.<br />

( ) Os sermões do Padre Vieira caracterizam-se por uma construção de imagens desdobradas em numerosos<br />

exemplos que visam a enfatizar o conteúdo da pregação.<br />

( ) Gregório de Matos e o Padre Vieira, em seus poemas e sermões, mostram exacerbados sentimentos<br />

patrióticos expressos em linguagem barroca.<br />

92


Material <strong>ITA</strong><br />

( ) A produção satírica de Gregório de Matos e o tom dos sermões do Padre Vieira representam duas faces da<br />

alma barroca no Brasil.<br />

( ) O poeta e o pregador alertam os contemporâneos para o desvio operado pela retórica retumbante e vazia.<br />

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo é:<br />

a) V-F-F-F-F<br />

b) V-V-V-V-F<br />

c) V-V-F-V-F<br />

d) F-F-V-V-V<br />

e) F-F-F-V-V<br />

62. (Fuvest 1993) A poesia lírica de Gregório de Matos subdivide-se em amorosa e religiosa.<br />

a) Quais são os dois modos contrastantes de ver a mulher, em sua lírica amorosa?<br />

b) Como aparece em sua lírica religiosa a ideia de Deus e do pecado?<br />

63. (Fuvest 1989) Dê argumentos que permitam considerar o Padre Antônio Vieira como um expoente tanto da<br />

Literatura Portuguesa quanto da Literatura Brasileira.<br />

64. (Fuvest SP) O bifrontismo do homem, santo e pecador; o impulso pessoal prevalecendo sobre normas ditadas por<br />

modelos; o culto do contraste; a riqueza de pormenores – são traços constantes da:<br />

a) composição poética parnasiana<br />

b) poesia simbolista<br />

c) produção poética arcádica de inspiração bucólica<br />

d) poesia barroca<br />

e) poesia condoreirista<br />

65. (ifsp 2013) O culto exagerado da forma, o rebuscamento, a riqueza de pormenores, o conflito entre o profano e o<br />

sagrado são características<br />

a) do Renascimento.<br />

b) da Ilustração.<br />

c) do Realismo.<br />

d) do Barroco.<br />

e) do Simbolismo.<br />

66. (<strong>ITA</strong> SP) As opções a seguir referem-se aos textos A, B, C e D.<br />

Texto "A"<br />

"Ah! enquanto os destinos impiedosos<br />

não voltam contra nós a face irada,<br />

façamos, sim, façamos, doce amada,<br />

os nossos breves dias mais ditosos."<br />

Texto "B"<br />

"Ó não aguardes, que a madura idade<br />

te converte essa flor, essa beleza,<br />

em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada",<br />

Texto "C"<br />

"Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,<br />

E rompe em profundíssimos suspiros,<br />

Lendo na testa da fronteira gruta<br />

De sua mão já trêmula gravado<br />

O alheio crime e a voluntária morte".<br />

93


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

Texto "D"<br />

"O todo sem a parte não é todo;<br />

A parte sem o todo não é parte;<br />

Mas se a parte faz o todo, sendo parte,<br />

Não se diga que é parte, sendo todo.<br />

Preencha os parênteses anteriores dos textos dados, obedecendo à seguinte convenção:<br />

I. Gregório de Matos<br />

II. Tomás Antônio Gonzaga<br />

III. Basílio da Gama<br />

IV. Cláudio Manuel da Costa<br />

Preenchidos os parênteses, a sequência correta é:<br />

a) II - I - III - I<br />

b) IV - I - II - II<br />

c) I - II - II - I<br />

d) I - IV - III - I<br />

e) II - IV - III - IV<br />

Texto comum às questões: 67, 68<br />

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,<br />

Da vossa alta piedade me despido,<br />

Porque, quanto mais tenho delinquido,<br />

Vos tenho a perdoar mais empenhado.<br />

Gregório de Matos, “A Jesus Cristo Nosso Senhor”<br />

Observação:<br />

hei pecado = tenho pecado<br />

delinquido= agido de modo errado<br />

67. (MACK SP) Na estrofe, o poeta<br />

a) dirige-se ao Senhor para confessar os pecados e submete-se à penitência para obter a redenção espiritual.<br />

b) invoca Deus para manifestar, com muito respeito e humildade, a intenção de não mais pecar.<br />

c) estabelece um diálogo de igual para igual com a divindade, sugerindo sua pretensão de livrar-se do castigo e<br />

da piedade de Deus.<br />

d) confessa-se pecador e expressa a convicção de que será abençoado com a graça divina.<br />

e) arrepende-se dos pecados cometidos, acreditando que, assim, terá assegurada a salvação da alma.<br />

68. (MACK SP) É traço relevante na caracterização do estilo de época a que pertence o texto:<br />

a) a progressão temática que constrói forças de tensão entre pecado e salvação.<br />

b) a linguagem musical que sugere os enigmas do mundo onírico do poeta.<br />

c) os aspectos formais, como métrica, cadência e esquema rímico, que refletem o desequilíbrio emocional do eu lírico.<br />

d) a fé incondicional nos desígnios de Deus, única via para o conhecimento verdadeiro e redentor.<br />

e) a força argumentativa de uma poesia com marcas exclusivas de ideais antropocêntricos.<br />

94


Material <strong>ITA</strong><br />

Texto comum às questões: 69, 70<br />

É a vaidade, Fábio, nesta vida,<br />

Rosa, que da manhã lisonjeada,<br />

Púrpuras mil, com ambição dourada,<br />

Airosa rompe, arrasta presumida.<br />

Gregório de Matos<br />

Observação:<br />

1. lisonjeada: envaidecida<br />

2. airosa: elegante<br />

3. presumida: convencida<br />

69. (MACK SP) Todas as alternativas trazem aspectos temático-expressivos relevantes no texto, EXCETO:<br />

a) discurso em estilo elevado, com foco no sentido da vida.<br />

b) inversões sintáticas.<br />

c) progressão textual apoiada em desdobramentos metafóricos.<br />

d) identificação do poeta com um pastor.<br />

e) linguagem culta, com marcas de preciosismo formal.<br />

70. (MACK SP) O tema da efemeridade da vida é um dos traços que caracterizam o estilo de época a que pertence<br />

Gregório de Matos. Recorrente não só no século XVII, mas de um modo geral em toda a história da literatura, esse<br />

tema está presente nos seguintes versos:<br />

a) Senhor Deus dos desgraçados! / Dizei-me vós, Senhor Deus! / Se é loucura... se é verdade / Tanto horror<br />

perante os céus... (Castro Alves)<br />

b) Sabeis, cristãos, por que não faz fruto a palavra de Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, por<br />

que não faz fruto a palavra de Deus? Por culpa nossa. (Pe. Antônio Vieira)<br />

c) Já o verme – este operário das ruínas – [...] / Anda a espreitar meus olhos para roê-los, / E há de deixar-me<br />

apenas os cabelos, / Na frialdade inorgânica da terra! (Augusto dos Anjos)<br />

d) Quero morrer! Este mundo / Com seu sarcasmo profundo / Manchoume de lodo e fel! ( Fagundes Varela)<br />

e) Infinitos espíritos dispersos [...] fecundai o Mistério destes versos / com a chama ideal de todos os mistérios.<br />

(Cruz e Sousa)<br />

Texto para à questão 71.<br />

Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade,<br />

É verdade, Senhor, que hei delinquido,<br />

Delinquido vos tenho, e ofendido<br />

Ofendido vos tem minha maldade.<br />

MATOS, Gregório de. Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade. In: Poemas escolhidos. Seleção, introdução e notas de José<br />

Miguel Wisnik. São Paulo: Cultrix, s.d. p. 299.<br />

95


96<br />

<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

71. (Ueg 2012) A profusão dos elementos que compõem as imagens corresponde, nos versos de Gregório de Matos, a<br />

uma linguagem<br />

a) neologista.<br />

b) racionalista.<br />

c) rebuscada.<br />

d) sarcástica.<br />

Texto comum às questões 72, 73<br />

Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão empeçado¹, um estilo tão dificultoso, um estilo<br />

tão afetado, um estilo tão encontrado toda a arte e a toda a natureza? Boa razão é também essa. O estilo há de ser<br />

muito fácil e muito natural. Por isso Cristo comparou o pregar ao semear, porque o semear é uma arte que tem mais de<br />

natureza que de arte (...) Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de<br />

palavras. Se uma parte está branco, da outra há de estar negro (...) Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As<br />

estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo da pregação, muito distinto e muito claro.<br />

¹empeçado: com obstáculo, com empecilho.<br />

72. (Espm 2014) A expressão que traduz a ideia de rebuscamento no estilo é:<br />

a) “púlpitos”<br />

b) “semear”<br />

c) “céu”<br />

d) “xadrez de palavras”<br />

e) “estrelas”<br />

(Sermão da Sexagésima, Pe. Antonio Vieira)<br />

73. (Espm 2014) Assinale a incorreta sobre o texto de Padre Vieira:<br />

a) vale-se do estilo conceptista do Barroco, voltando-se para a argumentação e raciocínio lógicos.<br />

b) ataca duramente os pregadores cultistas, devido ao estilo pomposo, de difícil acesso, e aos exageros da<br />

ornamentação.<br />

c) critica o sermão que está preocupado com a suntuosidade linguística e estilística.<br />

d) defende a pregação que tenha naturalidade, clareza e distinção.<br />

e) mostra que, seguindo o exemplo de Cristo, pregar e semear afetam o estilo, porque ambas são práticas da<br />

natureza.<br />

Texto comum à questão 74<br />

[...] Vai o navio navegando e o marinheiro dormindo, e o voador toca na vela, ou na corda, e cai palpitando. Aos<br />

outros peixes mata-os a fome e engana-os a isca, ao voador mata-o a vaidade de voar, e a sua isca é o vento. Quanto<br />

melhor lhe fora mergulhar por baixo da quilha e viver, que voar por cima das antenas e cair morto! [...]<br />

O voador fê-lo Deus peixe, e ele quis ser ave, e permite o mesmo Deus que tenha os perigos de ave e mais os de<br />

peixe. Todas as velas para ele são redes, como peixe, e todas as cordas laços, como ave. Vê, voador, como correu pela<br />

posta o teu castigo. Pouco há, nadavas vivo no mar com as barbatanas, e agora jazes em um convés, amortalhado nas<br />

asas. Não contente com ser peixe, quiseste ser ave, e já não és ave nem peixe: nem voar poderás já,nem nadar.[...]<br />

VIEIRA, Pe. Antônio. Os voadores. Vieira: trechos escolhidos (por Eugênio Gomes). Rio de Janeiro: Agir, 1971. p. 64.<br />

(<strong>Coleção</strong> Nossos Clássicos).<br />

74. (UEFS BA) Pe. Antônio Vieira, por meio de uma linguagem metafórica, faz uma reflexão crítica acerca<br />

a) da imortalidade.<br />

b) da hipocrisia.<br />

c) do egoísmo.<br />

d) da ambição.<br />

e) da injustiça.


Material <strong>ITA</strong><br />

75. (UFPA) Gregório de Matos, poeta barroco brasileiro, foi apelidado de “Boca do Inferno” por causa de sua “lira<br />

maldizente”, de suas sátiras poéticas, das quais ninguém escapava. A estrofe, retirada de um de seus poemas, que<br />

apresenta tom satírico é<br />

a) Ó não aguardes, que a madura idade<br />

Te converta essa flor, essa beleza,<br />

Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.<br />

b) Se basta a vos irar tanto pecado,<br />

A abrandar-vos sobeja um só gemido:<br />

Que a mesma culpa, que vos há ofendido,<br />

Vos tem para o perdão lisonjeado.<br />

c) Meu Deus, que estais pendente em um madeiro,<br />

Em cuja lei protesto de viver,<br />

Em cuja santa lei de morrer<br />

Animoso, constante, firme e inteiro.<br />

d) Que falta nesta cidade? _______ Verdade<br />

Que mais por sua desonra? ________ Honra<br />

Falta mais que se lhe ponha ________ Vergonha.<br />

O demo a viver se exponha,<br />

Por mais que a fama a exalta,<br />

Numa cidade, onde falta<br />

Verdade, Honra, Vergonha.<br />

e) Numa manhã tão serena<br />

como entre tanto arrebol<br />

pode caber tanto sol<br />

em esfera tão pequena?<br />

Quem aos pasmos me condena<br />

da dúvida há de tirar-me,<br />

e há de mais declarar-me,<br />

como pode ser ao certo<br />

estar eu hoje tão perto<br />

de três sóis, e não queimar-me.<br />

76. (Unifor CE)É muito comum que os temas de um poeta satírico sejam os problemas sociais de sua época. Assim é<br />

que, em suas implacáveis sátiras, o poeta barroco Gregório de Matos:<br />

a) louvava os mandatários portugueses, admirando sua nobreza de caráter.<br />

b) investia contra a ganância dos exploradores de ouro das províncias mineiras.<br />

c) ridicularizava os nobres portugueses, enquanto louvava os negros e os índios.<br />

d) Condenava os republicanos, pois era um defensor da monarquia portuguesa.<br />

e) condenava a cobiça dos que enriqueciam com práticas comerciais ilícitas.<br />

77. (Unifesp SP)<br />

Neste mundo é mais rico, o que mais rapa:<br />

Quem mais limpo se faz, tem mais carepa:<br />

Com sua língua ao nobre o vil decepa:<br />

O Velhaco maior sempre tem capa.<br />

Levando em consideração que, em sua produção literária, Gregório de Matos dedicou-se também à sátira<br />

irreverente, pode-se afirmar que os versos se marcam<br />

a) pelo sentimentalismo, fruto da sintonia do sue lírico com a sociedade.<br />

b) pela indiferença, decorrente da omissão do seu lírico com a sociedade.<br />

c) pelo negativismo, pois o eu lírico condena a sociedade pelo viés da religião.<br />

d) pela indignação, advinda de um ideal moralizante expresso pelo eu lírico.<br />

e) pela ironia, já que o eu lírico supõe que todas as pessoas são desonestas.<br />

97


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

78. (G1 - ifsp 2014) Leia o soneto do escritor barroco Gregório de Matos.<br />

98<br />

Descrição da Cidade de Sergipe d’El-Rei<br />

Três dúzias de casebres remendados,<br />

Seis becos, de 1 mentrastos entupidos,<br />

Quinze soldados, rotos e despidos,<br />

Doze porcos na praça bem criados.<br />

Dois conventos, seis frades, três letrados,<br />

Um juiz, com bigodes, sem ouvidos,<br />

Três presos de piolhos carcomidos,<br />

Por comer dois meirinhos esfaimados.<br />

As damas com sapatos de 2 baeta,<br />

Palmilha de tamanca como frade,<br />

Saia de 3 chita, cinta de raqueta.<br />

O feijão, que só faz 4 ventosidade<br />

Farinha de pipoca, pão que greta,<br />

De Sergipe d’El-Rei esta é a cidade.<br />

1<br />

mentrasto: tipo de erva<br />

2<br />

baeta: tecido felpudo<br />

3<br />

chita: tecido de algodão de pouco valor<br />

4<br />

ventosidade: que provoca flatulência<br />

(DIMAS, Antônio. Gregório de Matos. São Paulo: Nova Cultural, 1988.)<br />

Pela leitura do soneto, é correto afirmar que o poeta<br />

a) critica veladamente o governo português por ter escolhido essa cidade para ser a sede administrativa da colônia.<br />

b) escreve esse poema para expor as angústias vividas durante o período em que cumpria a primeira ordem de<br />

desterro.<br />

c) comenta a elegância e a sensualidade das damas, visto que sempre apreciou as mulheres brasileiras.<br />

d) lamenta a inexistência de instituições religiosas, pois elas organizariam moralmente a cidade.<br />

e) descreve as condições do local, mostrando que os habitantes vivem rusticamente e com poucos recursos.<br />

79. (Fatec SP) No colégio dos padres Gregório de Matos escreveu: “Quando desembarcaste da fragata, meu dom<br />

Braço de Prata, cuidei, que a esta cidade tanta, e fátua*, mandava a Inquisição alguma estátua, vendo tão<br />

espremida salvajola* visão de palha sobre um mariola*”.<br />

Sorriu, e entregou o escrito a Gonçalo Ravasco. Gonçalo leu-o, gracejou, entregou-o ao vereador.<br />

O papel passou de mão em mão.<br />

“A difamação é o teu deus”, disseram, sorrindo.<br />

Ana Miranda, Boda do Inferno. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 1990, p. 37, (*Fátua: tola; *salvajola: variante de *selvagem*;<br />

mariola: velhaco)<br />

O trecho ilustra<br />

a) a poesia erótica de Gregório de Matos, inspirada na vida nos prostíbulos da cidade da Bahia e que deu<br />

origem à alcunha do poeta, “Boca do Inferno”.<br />

b) a poesia lírica de Gregório de Matos, voltada para a temática filosófica, em linguagem marcada pelos<br />

recursos da estética barroca.<br />

c) a poesia satírica de Gregório de Matos, dedicada à descrição fiel da sociedade da época, utilizando recursos<br />

expressivos característicos do barroco português.<br />

d) a poesia erótica de Gregório de Matos, caracterizada pelo crítica aos comportamentos e às autoridades<br />

baianas da época colonial.<br />

e) a poesia satírica de Gregório de Matos, que representa, no conjunto de sua obra, uma fuga aos moldes<br />

barrocos e ataca, no linguajar baiano da época, costumes e personalidades.


Material <strong>ITA</strong><br />

Gabarito<br />

01.<br />

a) 1 estrofe: representa a juventude, a 2ª estrofe: representa a idade adulta, e a última estrofe: representa a<br />

velhice.<br />

b) A expressão "vigiar o desabrochar do destino" equivale a "acompanhar consciente o seu próprio fim", ou seja,<br />

a expectativa da morte<br />

02. (01 + 04 = 05)<br />

03. a<br />

04. e<br />

05.<br />

a) Ao se estabelecer a comparação introduzida por "Assim como (...)", há pelo menos duas possibilidades para<br />

os versos:<br />

• Assim como a tua saudade,/o aço da navalha também corta...<br />

• Assim como a tua saudade corta,/também o aço da navalha…<br />

b) Se o verbo “atrapalhar” estivesse flexionado em acordo com a norma padrão, a sonoridade da quadra de<br />

sete sílabas estaria comprometida, pois estaria desfeita a rima com a palavra “faia”. Além disso, a troca<br />

implicaria uma incoerência linguística, uma vez que o restante do texto apresenta traços da variante falada<br />

popular e informal da língua caipira.<br />

06. c<br />

07. e<br />

08. [a] O conto é uma breve narrativa com foco narrativo em terceira pessoa, onisciente, uma vez que o narrador não é<br />

personagem da trama, porém conhece os sentimentos das personagens, afinal sabe que o solteirão sente “uma<br />

vermelha inveja” do casal de amantes; de modo semelhante, na música, o eu lírico tece observações sobre o<br />

comportamento do indivíduo invejoso. Assim, ambos referem-se ao invejoso em terceira pessoa.<br />

09. c 10. c 11. b 12. b 13. e<br />

14. e 15. c 16. d 17. d 18. e<br />

19. a 20. d<br />

21. (a . 2) (b . 1)( c. 3)( d. 4 )<br />

22. d 23. e 24. b 25. e 26. c<br />

27. a 28. d 29. e 30. c 31. c<br />

32. a 33. d 34. e 35. b 36. c<br />

37. a 38. b 39. c 40. a 41. b<br />

42.<br />

a) Pero Vaz de Caminha descreve a terra em função de suas propriedades geográficas, tais como clima, tipo de<br />

plantas, extensão territorial, etc. Nessa descrição, percebese certo deslumbramento diante da terra<br />

desconhecida. Na paródia de Murilo Mendes à Carta de Caminha, há uma descrição marcada pela ironia e<br />

pelo espírito crítico, evidente na crítica que faz aos colonizadores preocupados apenas com a obtenção de<br />

riquezas fáceis.<br />

b) O texto de Pero Vaz de Caminha pertence ao período conhecido como Literatura de Informação. O poema<br />

de Murilo Mendes é um típico exemplo do Modernismo<br />

43. a<br />

44. b<br />

45. [d][a] Nos versos acima, não há menção a respeito da colonização portuguesa no Brasil.<br />

[b] O poema descreve as qualidades do coco e do caju brasileiros.<br />

[c] Trata-se de um poema, não de um anúncio, portanto, é impossível saber do enriquecimento do poeta.<br />

[d] Correta. As qualidades de dois frutos tropicais tão brasileiros são exaltadas através dos versos, aproximando o<br />

poema das descrições locais típicas dos poemas Quinhentistas.<br />

[e] Não há menção de nenhum encontro amoroso.<br />

46. [c] A Carta de Pero Vaz de Caminha revela a perspectiva otimista do colonizador (“Andavam todos tão bemdispostos,<br />

tão bem feitos e galantes”), enquanto que a obra de Portinari revela a surpresa e a preocupação dos<br />

nativos ao apontar para o horizonte. Assim, é correta a opção [c], pois a carta é testemunho histórico-político do<br />

encontro do colonizador com as novas terras e a pintura destaca, em primeiro plano, a inquietação dos nativos.<br />

99


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

47. [a] A Carta de Pero Vaz de Caminha é o primeiro documento escrito da história do Brasil. Nela, o autor registrou as suas<br />

impressões sobre a nova terra, com a intenção de informar ao rei o “achamento” e apresentar-lhe o que encontrou, em<br />

linguagem objetiva e com grande quantidade de detalhes sobre fauna, flora e habitantes. Por isso, está vinculada à<br />

literatura dos viajantes ou dos cronistas, também chamada de informação, como mencionado em [a].<br />

48. [b] Nas opções [a], [c], [d] e [e], existem termos que não pertencem à classe dos adjetivos, pois em<br />

[a] “muito” é advérbio de intensidade;<br />

[c] “tudo” é pronome indefinido, e “bem”, substantivo incorporado à locução prepositiva “por bem d(as)”;<br />

[d] “gente” é substantivo;<br />

[e] “semente” é substantivo.<br />

Assim, é correta apenas a opção [b].<br />

49. [e] Na frase da opção [e], a palavra “semente” foi usada em sentido figurado, sugerindo algo embrionário que<br />

pode originar resultados positivos.<br />

50. [c] Os trechos grifados exercem função de objeto direto na oração a que pertencem, por isso devem ser substituídos<br />

por pronomes oblíquos átonos correspondentes: o, a. Como se encontram em situação de ênclise relativamente aos<br />

verbos transitivos diretos a que estão ligados e estes terminam em “r” (saber, salvar), essa terminação desaparece e<br />

os pronomes transformam-se em “lo” e “la”, concordando em gênero e número com os termos a que se referem.<br />

Assim, é correta a opção [c], pois ”lo” substituiria corretamente a oração subordinada substantiva objetiva direta<br />

(“que haja ouro nem prata”) e “la”, o objeto direto “esta gente”.<br />

51. [c] É correta a opção [a], pois, na frase “até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata”, o presente do<br />

subjuntivo do verbo haver sugere incerteza ou dúvida.<br />

52. [a]Trata-se de um texto descritivo, pois sua intenção é transmitir ao interlocutor as impressões e as qualidades da<br />

terra a que os portugueses haviam chegado: “grandes barreiras, algumas vermelhas, outras brancas; e a terra por<br />

cima é toda chã e muito cheia de grandes arvoredos”, “praia redonda, muito chã e muito formosa”, “águas são<br />

muitas e infindas”. É correta a alternativa [a].<br />

53. d<br />

54. [e] A antítese é uma figura de estilo que apresenta exposição de ideias opostas e que foi amplamente utilizada pelos<br />

autores do período Barroco. No quarteto do enunciado, o contraste que se estabelece entre vida/morte,<br />

claro/escuro e tristeza/alegria enfatiza os conceitos dualísticos típicos daquele momento histórico:<br />

antropocentrismo (homem) opondo-se ao teocentrismo (Deus). Assim, é correta a alternativa [e].<br />

55. d 56. e 57. b 58. b 59. c<br />

60. [c] É correta a alternativa [c], pois apenas a primeira proposição é falsa. Não existe nenhuma relação entre o<br />

“milagre da multiplicação dos peixes” e a fauna aquática da costa do Brasil, que serve de ponto de partida para o<br />

texto de Vieira.<br />

61. c<br />

62. a) A mulher divinizada e a mulher mais terrena e sensual.<br />

b) Como homem, Gregório reconhece-se pecador e Deus representa a possibilidade de redenção dos pecados.<br />

63. Vieira passou a maior parte de sua vida entre Portugal, onde nasceu, e Brasil. Tanto lá como aqui compôs textos de<br />

fina retórica, tratando de temas que interessavam à colônia e à metrópole.<br />

64. d<br />

65. [d] É correta a opção [d], pois o Barroco é a arte do conflito, do contraste de imagens, palavras e conceitos: fé vs.<br />

razão, corpo vs. alma, religião vs. ciência. A linguagem rebuscada e o uso exagerado de recursos estilísticos, como<br />

hipérboles, metáforas, antíteses e paradoxos caracterizam a vertente cultista do Barroco, estilo também chamado de<br />

Gongorismo.<br />

66. a<br />

67. d<br />

68. a<br />

69. d<br />

70. c<br />

71. [c] Gregório de Matos é fiel representante da estética do Barroco, no Brasil, estilo em que muitas vezes o tema é<br />

utilizado como simples pretexto para o exercício poético, desenvolvendo engenhosos jogos de conceitos, valorização<br />

do pormenor mediante jogos de palavras e linguagem rebuscada, culta, extravagante.<br />

100


Material <strong>ITA</strong><br />

72. [d]<br />

“Xadrez de palavras” está relacionado à ideia de “rebuscamento no estilo” ao se estabelecer uma relação<br />

metafórica entre “xadrez”, jogo de tabuleiro conhecido por sua dificuldade ao impor o uso da lógica, e<br />

“rebuscamento”, associado à ideia de “requinte”.<br />

73. [e] Padre Antônio Vieira é um autor barroco em cujos textos predomina o estilo conceptista, uma vez que defende<br />

pontos de vista; neste caso, defende que o pregar e o semear são ações que se assemelham tendo em vista seu<br />

caráter “fácil e natural”.<br />

74. d<br />

75. O texto satírico é o D. A e Eintegram alíricafilosófica(ou reflexiva) B e C, a lírica sacra ou religiosa.<br />

76. e<br />

77. d<br />

78. e<br />

[A] Nunca Sergipe foi sede administrativa da colônia, mas por inferência, pode-se presumir que o rei tivesse<br />

cogitado tal mudança. Por outro lado, os versos fazem uma dura crítica à região ao descrever sua miséria.<br />

[B] O desterro é o castigo de viver fora de seu país de origem, contudo os versos falam de uma região daqui<br />

mesmo do Brasil.<br />

[C] Ao contrário, os versos criticam as roupas feias usadas por pessoas muito simples.<br />

[D] Há uma descrição de uma cidade erma e atrasada, com dois conventos e seis frades.<br />

[E] Correta. Os versos mostram que os habitantes vivem rusticamente, porém com a ironia característica do Boca do<br />

Inferno, apelido do poeta barroco.<br />

79. e<br />

101


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

Frente C<br />

Módulo C01 – Interpretação de texto<br />

Texto comum às questões de 1 a 6:<br />

A(s) questão(ões) a seguir refere(m)-se ao seguinte texto, de Manuel Bandeira, publicado em 1937.<br />

15<br />

Não há hoje no mundo, em qualquer domínio de atividade artística, um artista cuja arte contenha maior<br />

universalidade que a de Charles Chaplin. A razão vem de que o tipo de Carlito é uma dessas criações que, salvo<br />

1<br />

idiossincrasias muito raras, interessam e agradam a toda a gente. Como os heróis das lendas populares ou as<br />

personagens das velhas farsas de 2 mamulengo.<br />

8<br />

Carlito é popular no sentido mais alto da palavra. 9 Não saiu completo e definitivo da cabeça de Chaplin: foi uma<br />

criação em que o artista procedeu por uma sucessão de tentativas e erradas.<br />

20<br />

Chaplin observava sobre o público o efeito de cada detalhe.<br />

Um dos traços mais característicos da pessoa física de Carlito foi achado casual. Chaplin certa vez lembrou-se de<br />

arremedar a marcha desgovernada de um 3 tabético. 10 O público riu: estava fixado o andar habitual de Carlito.<br />

O vestuário da personagem – fraquezinho humorístico, calças lambazonas, botinas escarrapachadas, cartolinha –<br />

também se fixou pelo consenso do público.<br />

Certa vez que Carlito trocou por outras as botinas escarrapachadas e a clássica cartolinha, 11 o público não achou<br />

graça: estava desapontado. 14 Chaplin eliminou imediatamente a variante. Sentiu com o público que ela destruía a<br />

unidade física do tipo. 21 Podia ser jocosa também, mas não era mais Carlito.<br />

Note-se que essa indumentária, que vem dos primeiros filmes do artista, não contém nada de especialmente<br />

extravagante. 16 Agrada por não sei quê de elegante que há no seu ridículo de miséria. Pode-se dizer que Carlito possui o<br />

4<br />

dandismo do grotesco.<br />

Não será exagero afirmar que toda a humanidade viva colaborou nas salas de cinema para a realização da<br />

personagem de Carlito, como ela aparece nessas estupendas obras-primas de humour que são O Garoto, Ombro Arma,<br />

Em Busca do Ouro e O Circo.<br />

22<br />

Isto por si só atestaria em Chaplin um extraordinário dom de discernimento psicológico. Não obstante, se não<br />

houvesse nele profundidade de pensamento, lirismo, ternura, seria levado por esse processo de criação à vulgaridade dos<br />

artistas medíocres que condescendem com o fácil gosto do público.<br />

23<br />

Aqui é que começa a genialidade de Chaplin. Descendo até o público, não só não se vulgarizou, mas ao<br />

contrário ganhou maior força de emoção e de poesia. A sua originalidade extremou-se. Ele soube isolar em seus dados<br />

pessoais, em sua inteligência e em sua sensibilidade de exceção, os elementos de irredutível humanidade. Como se diz<br />

em linguagem matemática, pôs em evidência o fator comum de todas as expressões humanas. O olhar de Carlito, no<br />

filme O Circo, para a brioche do menino faz rir a criançada como um gesto de gulodice engraçada. Para um adulto pode<br />

sugerir da maneira mais dramática todas as categorias do desejo. A sua arte simplificou-se ao mesmo tempo que se<br />

aprofundou e alargou. 12 Cada espectador pode encontrar nela o que procura: o riso, a crítica, o lirismo ou ainda o<br />

contrário de tudo isso.<br />

Essas reflexões me acudiram ao espírito ao ler umas linhas da entrevista fornecida a Florent Fels pelo pintor Pascin,<br />

búlgaro naturalizado americano. Pascin não gosta de Carlito e explicou que 17 uma fita de Carlito nos Estados Unidos tem<br />

uma significação muito diversa da que lhe dão fora de lá. Nos Estados Unidos Carlito é o sujeito que não sabe fazer as<br />

coisas como todo mundo, que não sabe viver como os outros, não se acomoda em meio algum, – em suma um<br />

inadaptável. O espectador americano ri satisfeito de se sentir tão diferente daquele sonhador ridículo. É isto que faz o<br />

sucesso de Chaplin nos Estados Unidos. Carlito com as suas lamentáveis aventuras constitui ali 19 uma lição de moral para<br />

educação da mocidade no sentido de preparar uma geração de homens hábeis, práticos e bem quaisquer!<br />

Por mais ao par que se esteja do caráter prático do americano, do seu critério de sucesso para julgamento das ações<br />

humanas, do seu gosto pela estandardização, não deixa de surpreender aquela interpretação moralista dos filmes de<br />

Chaplin. Bem examinadas as coisas, não havia motivo para surpresa. 13 A interpretação cabe perfeitamente dentro do tipo e<br />

mais: o americano bem verdadeiramente americano, o que veda a entrada do seu território a doentes e estropiados, o que<br />

propõe o pacto contra a guerra e ao mesmo tempo assalta a Nicarágua, não poderia sentir de outro modo.<br />

102


Material <strong>ITA</strong><br />

Não importa, não será menos legítima a concepção contrária, tanto é verdade que tudo cabe na humanidade vasta<br />

de Carlito. Em vez de um fraco, de um pulha, de um inadaptável, posso eu interpretar Carlito como um herói. Carlito<br />

passa por todas as misérias sem lágrimas nem queixas. Não é força isto? Não perde a bondade apesar de todas as<br />

experiências, e no meio das maiores privações acha um jeito de amparar a outras criaturas em aperto. Isso é 5 pulhice?<br />

Aceita com 6 estoicismo as piores situações, dorme onde é possível ou não dorme, come sola de sapato cozida<br />

como se se tratasse de alguma língua do Rio Grande. É um inadaptável?<br />

Sem dúvida não sabe se adaptar às condições de sucesso na vida. Mas haverá sucesso que valha a força de ânimo<br />

do sujeito sem nada neste mundo, sem dinheiro, sem amores, sem teto, quando ele pode agitar a bengalinha como<br />

Carlito com um gesto de quem vai tirar a felicidade do nada? Quando um ajuntamento se forma nos filmes, os<br />

transeuntes vão parando e acercando-se do grupo com um ar de curiosidade interesseira. Todos têm uma fisionomia<br />

preocupada. Carlito é o único que está certo do prazer ingênuo de olhar.<br />

Neste sentido Carlito é um verdadeiro professor de heroísmo. Quem vive na solidão das grandes cidades não pode<br />

deixar de sentir intensamente o influxo da sua lição, e uma simpatia enorme nos prende ao boêmio nos seus gestos de<br />

aceitação tão simples.<br />

Nada mais heroico, mais comovente do que a saída de Carlito no fim de O Circo. Partida a companhia, em cuja<br />

troupe seguia a menina que ele ajudara a casar com outro, Carlito por alguns momentos se senta no círculo que ficou<br />

como último vestígio do picadeiro, refletindo sobre os dias de barriga cheia e relativa felicidade sentimental que acabava<br />

de desfrutar. Agora está de novo sem nada e inteiramente só. Mas os minutos de fraqueza duram pouco. Carlito levantase,<br />

dá um puxão na casaquinha para recuperar a linha, faz um 7 molinete com a bengalinha e sai campo afora sem olhar<br />

para trás. Não tem um vintém, não tem uma afeição, não tem onde dormir nem o que comer. No entanto vai como um<br />

conquistador pisando em terra nova. Parece que o Universo é dele. E não tenham dúvida: o Universo é dele.<br />

Com efeito, Carlito é poeta.<br />

(Em: Crônicas da Província do Brasil. 1937.)<br />

1<br />

idiossincrasia: maneira de ser e de agir própria de cada pessoa.<br />

2<br />

mamulengo: fantoche, boneco usado à mão em peças de teatro popular ou infantil.<br />

3<br />

tabético: que tem andar desgovernado, sem muita firmeza.<br />

4<br />

dandismo: relativo ao indivíduo que se veste e se comporta com elegância.<br />

5<br />

pulhice: safadeza, canalhice.<br />

6<br />

estoicismo: resignação com dignidade diante do sofrimento, da adversidade, do infortúnio.<br />

7<br />

molinete: movimento giratório que se faz com a espada ou outro objeto semelhante.<br />

01. (<strong>ITA</strong> 2014) Sobre Charles Chaplin, o texto nos permite dizer que<br />

a) sua arte desperta diversas emoções e extrapola os limites geográficos.<br />

b) seu personagem Carlito originou-se das reações do público.<br />

c) seu personagem Carlito é apresentado como um tipo astuto e inteligente.<br />

d) seu personagem Carlito satiriza a miséria material e emocional do ser humano.<br />

e) sua arte desfaz no público sentimentos antagônicos.<br />

02. (<strong>ITA</strong> 2014) Considere os enunciados abaixo, atentando para as palavras em negrito.<br />

I. Não há hoje no mundo, em qualquer domínio de atividade artística, um artista cuja arte contenha maior<br />

universalidade que a de Charles Chaplin. (ref. 15)<br />

II. Agrada por não sei quê de elegante que há no seu ridículo de miséria. (ref. 16)<br />

III. [...] uma fita de Carlito nos Estados Unidos tem uma significação muito diversa da que lhe dão fora de lá. (ref. 17)<br />

IV. A interpretação cabe perfeitamente dentro do tipo e mais: o americano bem verdadeiramente americano, o<br />

que veda a entrada do seu território a doentes e estropiados, [...] (ref. 18)<br />

As palavras em negrito têm valor de adjetivo<br />

a) apenas em I, II e IV.<br />

b) apenas em I, III e IV.<br />

c) apenas em II e IV.<br />

d) apenas em III e IV.<br />

e) em todas.<br />

103


03. (<strong>ITA</strong> 2014) Segundo o texto, herói é aquele que<br />

a) comove as pessoas que o rodeiam.<br />

b) faz as pessoas levarem a vida de maneira leve.<br />

c) age de maneira corajosa e previsível.<br />

d) enfrenta as adversidades, ainda que tenha momentos de fraqueza.<br />

e) despreza o sucesso, embora o considere importante.<br />

104<br />

<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

04. (<strong>ITA</strong> 2014) Considere o enunciado “Carlito é popular no sentido mais alto da palavra” (ref. 8) e as informações de<br />

todo o texto. Na visão de Bandeira, a popularidade pode ser explicada pelo fato de Carlito<br />

I. ser apresentado com indumentária elegante.<br />

II. ser responsável por atrair grande público para os cinemas.<br />

III. retratar o tipo heroico americano, que não quer ser considerado malsucedido.<br />

IV. ter sido ajustado a partir das reações do público.<br />

Está(ão) correta(s):<br />

a) apenas I e II.<br />

b) apenas I e III.<br />

c) apenas II e IV.<br />

d) apenas III e IV.<br />

e) todas.<br />

05. (<strong>ITA</strong> 2014) De acordo com Bandeira,<br />

a) Carlito é essencialmente triste, apesar de não demonstrar.<br />

b) o público se identifica com Carlito, porque ele representa um tipo universal de simplicidade.<br />

c) Carlito faz sucesso nos Estados Unidos, porque é sonhador como os americanos.<br />

d) Carlito representa o lado heroico do ser humano, embora isso não seja explicitado em seus filmes.<br />

e) Carlito representa o lado debochado e despojado do ser humano, daí seu grande sucesso.<br />

06. (<strong>ITA</strong> 2014) Assinale a opção em que NÃO há avaliação do autor.<br />

a) Não há hoje no mundo, em qualquer domínio de atividade artística, um artista cuja arte contenha maior<br />

universalidade que a de Charles Chaplin. (ref. 15).<br />

b) Chaplin observava sobre o público o efeito de cada detalhe. (ref. 20)<br />

c) Podia ser jocosa também, mas não era mais Carlito. (ref. 21)<br />

d) Isso por si só atestaria em Chaplin um extraordinário dom de discernimento psicológico. (ref. 22)<br />

e) Aqui é que começa a genialidade de Chaplin. (ref. 23)<br />

07. (<strong>ITA</strong> 2013) O conto Missa do galo, de Machado de Assis, relata uma conversa do narrador, Sr. Nogueira, um jovem de 17<br />

anos, com Conceição, de 30 anos, mulher do escrivão Meneses, um distante parente seu. O narrador, de Mangaratiba<br />

(RJ), hospedou-se durante alguns meses na casa de Meneses e Conceição, no Rio de Janeiro, a fim de estudar na capital.<br />

O foco do conto é a incompreensão do narrador sobre tal conversa com Conceição, momentos antes da missa do galo.<br />

O fragmento abaixo expressa um dos aspectos que contribuiu para a incompreensão do narrador.<br />

De costume tinha os gestos demorados e as atitudes tranquilas; agora, porém, ergueu-se rapidamente, passou para<br />

o outro lado da sala e deu alguns passos, entre a janela da rua e a porta do gabinete do marido. Assim, com o<br />

desalinho honesto que trazia, dava-me uma impressão singular. Magra embora, tinha não sei que balanço no andar,<br />

como quem lhe custa levar o corpo; essa feição nunca me pareceu tão distinta como naquela noite. Parava algumas<br />

vezes, examinando um trecho da cortina ou consertando a posição de algum objeto no aparador; afinal deteve-se,<br />

ante mim, com a mesa de permeio. Estreito era o círculo das suas ideias; tornou ao espanto de me ver esperar<br />

acordado; eu repeti-lhe o que ela sabia, isto é, que nunca ouvira missa do galo na Corte, e não queria perdê-la.<br />

Esse aspecto, recorrente no conto, refere-se<br />

a) à movimentação de Conceição na sala.<br />

b) às razões da insônia de Conceição.<br />

c) ao acanhamento de Conceição.<br />

d) à conversa repetitiva de Conceição.<br />

e) aos sobressaltos de Conceição.


Material <strong>ITA</strong><br />

08. (<strong>IME</strong> 1996) Nas frases a seguir há erros ou impropriedades. Reescreva-as e justifique a correção.<br />

a) "Enviamos anexo os dados solicitados por V. Sa. e nos colocamos à vossa inteira disposição para qualquer<br />

outros pedidos."<br />

b) "O diretor havia aceito a tarefa de reformar a escola."<br />

09. (<strong>ITA</strong> 2011) Os trechos a seguir, que estão fora de ordem, fazem parte de um texto coeso e coerente.<br />

I. Estudos feitos com várias profissões que trabalham em turnos mostram que ficar acordado por mais de 19<br />

horas ou ter uma jornada de trabalho superior a 12 horas provoca sintomas semelhantes ao de um porre.<br />

II. Se essas duas condições se sobrepõem numa madrugada, as consequências negativas se potencializam ao<br />

extremo.<br />

III.<br />

IV.<br />

As reações ficam mais lentas e o julgamento da realidade é comprometido.<br />

Um piloto dormir no manche do avião é uma cena muito mais rara do que um motorista de ônibus ou<br />

caminhão cochilar no volante. Mas pode acontecer.<br />

V. No caso da aviação, há ainda o agravante de que os pilotos trabalham a 10 mil metros do solo, no comando<br />

de aeronaves complexas e delicadas, às vezes com mais de uma centena de passageiros a bordo.<br />

Assinale a opção que apresenta a melhor sequência.<br />

a) I – II – IV – III – V.<br />

b) IV – I – II – V – III.<br />

c) IV – I – III – II – V.<br />

d) I – V – IV – III – II.<br />

e) IV – I – II – III – V.<br />

(Em: Pesquisa Fapesp, agosto/2009. Adaptado)<br />

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:<br />

Módulo C02 - Iterpretação de texto<br />

Os enunciados de uma obra científica e, na maioria dos casos, de notícias, reportagens, cartas, diários etc.,<br />

constituem juízos, isto é, as objectualidades puramente intencionais pretendem corresponder, adequar-se exatamente aos<br />

seres reais (ou ideias, quando se trata de objetos matemáticos, valores, essências, leis etc.) referidos. Fala-se então de<br />

“adequatio orationis ad rem”*. Há nestes enunciados a intenção séria de verdade. Precisamente por isso pode-se falar,<br />

nestes casos, de enunciados errados ou falsos e mesmo de mentira e fraude, quando se trata de uma notícia ou<br />

reportagem em que se pressupõe intenção séria.<br />

O termo “verdade”, quando usado com referência a obras de arte ou de ficção, tem significado diverso. Designa com<br />

frequência qualquer coisa como a genuinidade, sinceridade ou autenticidade (termos que, em geral, visam à atitude subjetiva<br />

do autor); ou a verossimilhança, isto é, na expressão de Aristóteles, não a adequação àquilo que aconteceu, mas àquilo que<br />

poderia ter acontecido; ou a coerência interna no que tange ao mundo imaginário das personagens e situações miméticas;<br />

ou mesmo a visão profunda - de ordem filosófica, psicológica ou sociológica - da realidade. Até neste último caso, porém,<br />

não se pode falar de juízos no sentido preciso. Seria incorreto aplicar aos enunciados fictícios critérios de veracidade<br />

cognoscitiva. [...] Os mesmos padrões que funcionam muito bem no mundo mágico-demoníaco do conto de fadas revelamse<br />

falsos e caricatos quando aplicados à representação do universo profano da nossa sociedade atual [...]. “Falso” seria<br />

também um prédio com portal e átrio de mármore que encobrissem apartamentos miseráveis. É esta incoerência que é<br />

“falsa”. Mas ninguém pensaria em chamar de falso um autêntico conto de fadas, apesar de o seu mundo imaginário<br />

corresponder muito menos à realidade empírica do que o de qualquer romance de entretenimento.<br />

Anatol Rosenfeld, literatura e personagem. In: A. Candido et. al. A personagem de ficção.<br />

* adequatio orationis ad rem: adequação da linguagem ao assunto.<br />

105


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

10. (Fgv 2014) Para responder essa questão, leia também os seguintes textos:<br />

I<br />

Velha palmeira solitária, testemunha sobrevivente do drama da conquista, que de majestade e de tristura não<br />

exprimes, venerável epônimo* dos campos! No meio da campina verde, de um verde esmaiado e merencório, onde<br />

tremeluzem às vezes as farinhas douradas do alecrim do campo, tu te ergues altaneira, levantando ao céu as<br />

palmas tesas - velho guerreiro petrificado em meio da peleja!<br />

Afonso Arinos, Buriti perdido. Pelo sertão.<br />

*epônimo”: palavra de origem grega; designa uma personalidade histórica ou lendária que dá ou empresta seu<br />

nome a qualquer coisa, lugar, época etc.<br />

II<br />

E o destaque é a palmeira buriti, abundante no cerrado e indicativo infalível da existência de água. Uma espécie<br />

majestosa, com mil e uma utilidades: da polpa do seu fruto são feitos doce, suco, geleia e licor; do caroço, sai um<br />

óleo com propriedades medicinais, também usado para cozinhar e fazer sabão; o tronco e a palha servem para<br />

construir casas; e o talo das folhas é usado na construção de móveis e brinquedos.<br />

Lugar. Revista da Folha. Folha de S. Paulo, junho de 2009.<br />

a) Algum conceito presente no texto de Anatol Rosenfeld pode ser utilizado para distinguir o texto l do texto II<br />

acima? Justifique.<br />

b) Além do vocabulário, que outro aspecto da linguagem pode servir para classificar o texto I como literário e o<br />

texto II como jornalístico?<br />

11. (Fgv 2014) Atenda ao que se pede:<br />

a) A natureza do texto justifica a citação da frase latina, tendo em vista que ela é corrente em textos de Retórica?<br />

Justifique sua resposta.<br />

b) No contexto, o que se entende por “situações miméticas” (2º. parágrafo)?<br />

12. (<strong>IME</strong>) Nas frases a seguir há erros ou impropriedades. Reescreva-as e justifique a correção.<br />

a) "Remeteremos, em seguida, os pedidos que encomendaram-nos."<br />

b) "Ela veio, de modos que você agora está dispensado."<br />

13. (<strong>ITA</strong>) O poema abaixo, "Gioconda (Da Vinci)", de Carlos Drummond de Andrade, refere-se a uma célebre tela<br />

renascentista:<br />

O ardiloso sorriso<br />

alonga-se em silêncio<br />

para contemporâneos e pósteros<br />

ansiosos, em vão, por decifrá-lo.<br />

Não há decifração. Há o sorriso.<br />

(Em: Farewell. Rio de Janeiro: Record, 1996.)<br />

Não se pode afirmar que o poema<br />

a) faz uso de metalinguagen num sentido amplo, pois é uma obra de arte que fala de outra.<br />

b) procura se inserir no debate que a tela Gioconda provoca desde a Renascença.<br />

c) mostra que são inúmeros os significados do sorriso da Gioconda.<br />

d) garante não haver razão alguma para a polêmica, como diz o último verso.<br />

e) ilustra a polissemia de obras de arte, inclusive do próprio poema.<br />

106


Material <strong>ITA</strong><br />

14. (<strong>ITA</strong>) Considere o poema abaixo, de Ronaldo Azeredo:<br />

Esse texto<br />

I. explora a organização visual das palavras sobre a página.<br />

II. põe ênfase apenas na forma e não no conteúdo da mensagem.<br />

III. pode ser lido não apenas na sequência horizontal das linhas.<br />

IV. não apresenta preocupação social.<br />

Estão corretas<br />

a) I e II.<br />

b) I, II e III.<br />

c) I e III.<br />

d) II e IV.<br />

e) todas.<br />

15. (Fuvest 2014) Considere o seguinte texto, para atender ao que se pede:<br />

O orgulho é a consciência (certa ou errada) do nosso próprio mérito; a vaidade, a consciência (certa ou errada) da<br />

evidência do nosso próprio mérito para os outros. Um homem pode ser orgulhoso sem ser vaidoso, pode ser ambas<br />

as coisas, vaidoso e orgulhoso, pode ser — pois tal é a natureza humana — vaidoso sem ser orgulhoso. É difícil à<br />

primeira vista compreender como podemos ter consciência da evidência do nosso mérito para os outros, sem a<br />

consciência do nosso próprio mérito. Se a natureza humana fosse racional, não haveria explicação alguma.<br />

Contudo, o homem vive a princípio uma vida exterior, e mais tarde uma interior; a noção de efeito precede, na<br />

evolução da mente, a noção de causa interior desse mesmo efeito. O homem prefere ser exaltado por aquilo que<br />

não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é. É a vaidade em ação.<br />

Fernando Pessoa, Da literatura europeia.<br />

a) Considerando-a no contexto em que ocorre, explique a frase “o homem vive a princípio uma vida exterior, e<br />

mais tarde uma interior”.<br />

b) Reescreva a frase “O homem prefere ser exaltado por aquilo que não é, a ser tido em menor conta por aquilo<br />

que é”, substituindo por sinônimos as expressões sublinhadas.<br />

107


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

16. (<strong>ITA</strong>) Considere o poema abaixo, "A cantiga", de Adélia Prado:<br />

108<br />

“Ai cigana, ciganinha,<br />

ciganinha, meu amor”.<br />

Quando escutei essa cantiga<br />

era hora do almoço, há muitos anos.<br />

A voz da mulher cantando vinha de uma cozinha,<br />

ai ciganinha, a voz de bambu rachado<br />

continua tinindo, esganiçada, linda,<br />

viaja pra dentro de mim, o meu ouvido cada vez melhor.<br />

Canta, canta, mulher, vai polindo o cristal,<br />

canta mais, canta que eu acho minha mãe,<br />

meu vestido estampado, meu pai tirando boia da panela,<br />

canta que eu acho minha vida.<br />

(Em: Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.)<br />

Acerca desse poema, é incorreto afirmar que<br />

a) a poeta tem consciência de que seu passado é irremediavelmente perdido.<br />

b) existe um tom nostálgico, é um saudosismo de raiz romântica.<br />

c) cantiga faz com que a poeta reviva uma série de lembranças afetivas.<br />

d) predomina o tom confessional e o caráter autobiográfico.<br />

e) valoriza os elementos da cultura popular, também uma herança romântica.<br />

Módulo C03 – Iterpretação de texto<br />

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:<br />

Nove em cada dez usuários de Internet recebem spams em seus e-mails corporativos, segundo estudo realizado pela<br />

empresa alemã Antisspameurope, especializada em lixo eletrônico virtual. Cada trabalhador perde, em média, sete<br />

minutos por dia limpando a caixa de mensagens, e essa quebra na produtividade custa €828 – pouco mais de R$2,3 mil<br />

– anuais às empresas.<br />

Tomando-se como base os números apontados pela pesquisa, uma corporação de médio porte, com mil<br />

funcionários, perde, portanto, €828 mil por ano – ou R$2,3 milhões – com esta prática que é considerada, apesar de<br />

simplória, uma verdadeira praga da modernidade.<br />

O spam remete às mensagens não-solicitadas enviadas em massa, geralmente utilizadas para fins comerciais, e<br />

pode de fato prejudicar consideravelmente a produtividade no ambiente de trabalho.<br />

Um relatório da Symantec, empresa de segurança virtual, mostra que o Brasil é o segundo maior emissor de spam<br />

do mundo, com geração de 10% de todo o fluxo de mensagens indesejadas na rede mundial de computadores. Os<br />

campeões são os norte-americanos, com 26%. [...]<br />

(Rodrigo Capelo. http://www.vocecommaistempo.com.br. Acesso em: 23/09/2012. Texto adaptado.)<br />

17. (<strong>ITA</strong>) Um título que contempla o conteúdo abordado no texto é:<br />

a) Spam: Estados Unidos e Brasil lideram o ranking.<br />

b) Spam: preocupação de empresas europeias.<br />

c) Spam: perda de tempo e prejuízos financeiros.<br />

d) Spam: praga da modernidade.<br />

e) Spam: nova forma de propaganda.<br />

18. (<strong>ITA</strong> 2013) A expressão “apesar de simplória” no segundo parágrafo pode ser substituída por<br />

a) embora efêmera.<br />

b) no entanto fácil.<br />

c) não obstante comum.<br />

d) ainda que pouco complexa.<br />

e) todavia rápida.


Material <strong>ITA</strong><br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

Preste atenção por favor<br />

na história que vou contar<br />

ela explica o que é cordel<br />

grande manifestação popular.<br />

Paulo Araújo. Internet: .<br />

Manifestação popular caracterizada por poesias escritas em folhetos, a literatura de cordel originou-se na Europa<br />

em meados do século XII. Em Portugal, escritores amadores usavam cordões para pendurarem e divulgarem suas<br />

produções em lugares públicos. Com a vinda dos portugueses ao Brasil, a tradição de contar histórias disseminou-se pela<br />

região Nordeste, tornando-se um dos símbolos da cultura e memória nordestina.<br />

No início, como a maioria das pessoas não sabia ler e escrever, as poesias eram apenas decoradas e recitadas em<br />

feiras e praças. Mais tarde, passaram a ser impressas em folhetos, cujas capas eram ilustradas em xilogravura, e<br />

afirmaram-se como manifestação artística e popular nas décadas 60 e 70 do século passado.<br />

A importância do cordel não se limita à literatura. O cordel se expande como registro histórico da cultura<br />

nordestina, reverberando nas manifestações artísticas, tais como teatro, dança, cinema, música e artes visuais.<br />

19. (UnB 2012) Tendo como referências iniciais o texto e as figuras acima, julgue os itens a seguir.<br />

a) A arte de contar histórias é uma das formas mais antigas de transmissão de conhecimento. Nas histórias,<br />

estão presentes crenças, fantasias, bem como aspectos éticos, estéticos e morais de uma cultura. O contador<br />

de histórias pode desenvolver, para cada performance, formas singulares de narrativa, utilizando objetos,<br />

músicas, sons e movimentos, de modo que suas ações se organizem cenicamente.<br />

b) Forma poética rica em situações dramatúrgicas e linguagem imagética, a literatura de cordel, além de<br />

influenciar outras manifestações artísticas, presta-se facilmente a adaptações para teatro, cinema e televisão.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

1<br />

Quando ficou claro que a designação de Homo sapiens 2 não era tão adequada à nossa espécie como se havia<br />

acreditado — porque, afinal, 3 não somos tão razoáveis como se acreditava no século XVIII, em seu otimismo ingênuo —,<br />

acrescentaram-lhe a de Homo faber (homem que fabrica). Entretanto, a expressão Homo ludens (homem que joga) evoca<br />

uma função tão essencial quanto a de fabricar e merece, portanto, ocupar seu lugar junto à de Homo faber.<br />

Johan Huizinga. Homo ludens. Madri: Alianza, 2001, p. 7 (com adaptações).<br />

109


110<br />

<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

20. (UnB 2012) Tendo como referência essas informações e aspectos a elas relacionados, julgue os itens a seguir.<br />

a) No primeiro período do texto, encontra-se formulada sintaticamente a causa da relativa adequação da<br />

designação Homo sapiens à espécie humana, mas não, a referência ao valor temporal do elemento<br />

“Quando” (ref. 1).<br />

b) Nos trechos “não era tão adequada à nossa espécie como” (ref. 2) e “não somos tão razoáveis como” (ref.<br />

3), o emprego de adjetivos em estruturas comparativas atenua o valor das propriedades negativas atribuídas à<br />

humanidade.<br />

c) Levando-se em consideração que o léxico da língua portuguesa passou por transformações ao longo dos<br />

processos históricos, pode-se justificar a coexistência de itens lexicais do mesmo campo semântico, como<br />

“sapiência” e “sabedoria”, do latim, e “filosofia” e “sofista”, do grego.<br />

21. (Fuvest 2014) Leia o seguinte texto, para atender ao que se pede:<br />

Conversa de abril<br />

É abril, me perdoareis. Estou completamente cansado. Retorno à aldeia depois de três dias de galope de jipe pelas<br />

estradas confusas de caminhões e poeira e explosões. Tenho no bolso um caderno de notas. Quereis que vos<br />

descreva essas montanhas e vales, e o que fazem os seres humanos neste tempo de primavera? Deixai-me estirar o<br />

corpo na cama; depois tiro as botas. Ouvi-me. As montanhas, já vos descreverei as montanhas.<br />

Rubem Braga*<br />

*Rubem Braga foi correspondente de guerra junto à FEB, Força Expedicionária Brasileira, durante a Segunda Guerra<br />

Mundial. O fragmento acima pertence a uma de suas crônicas desse período.<br />

a) Reescreva o seguinte trecho, dando-lhe características narrativas e empregando a terceira pessoa do plural,<br />

em lugar da segunda:<br />

“Tenho no bolso um caderno de notas. Quereis que vos descreva essas montanhas e vales, e o que fazem os<br />

seres humanos neste tempo de primavera?”<br />

b) Tendo em vista as informações contidas no excerto, o início do texto – “É abril” – é coerente com o emprego<br />

do pronome este, em “neste tempo de primavera”? Explique.<br />

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 5 QUESTÕES:<br />

O leão e a raposa<br />

Um 11 leão envelhecido, 1 não podendo mais procurar alimento por sua própria conta, julgou que devia arranjar um<br />

jeito de fazer isso. E, então, foi a uma caverna, deitou-se e se fingiu de doente. Dessa forma, quando 8 recebia a visita de<br />

outros 13 animais, ele 4 os pegava e 5 os comia. Depois que muitas 14 feras 6 já tinham morrido, uma 12 raposa, ciente da<br />

armadilha, parou a 9 certa distância da caverna e perguntou ao leão como ele estava. Como ele 2 respondesse: “Mal!” e<br />

lhe 3 perguntasse 10 por que ela não entrava, disse a raposa: “Ora, eu entraria 7 se não visse marcas de muitos entrando,<br />

mas de ninguém saindo”.<br />

Esopo - escritor grego do século VI a.C.<br />

22. (Mackenzie 2012) Assinale a melhor paráfrase do trecho abaixo, considerando a manutenção dos sentidos, a<br />

clareza, a concisão e o uso da norma culta.<br />

Depois que muitas feras já tinham morrido, uma raposa, ciente da armadilha, parou a certa distância da caverna e<br />

perguntou ao leão como ele estava.<br />

a) Consciente da armadilha, uma raposa depois que muitas feras morrerão parou de perto da caverna para ver<br />

como o leão estava e o perguntou sobre a saúde.<br />

b) Uma raposa, após a morte de muitos outros animais, atenta às artimanhas do leão, aproximou-se um pouco<br />

do local em que a fera estava, indagando a respeito de seu estado.<br />

c) Após a morte de feras, uma raposa medrosa, das artimanhas do leão, se deparou com uma caverna que<br />

ficava a uma certa distância do leão para ver como ele estava.<br />

d) Uma raposa perguntou ao leão como ele estava, pois ela sabia que haviam armadilhas que ficava a uma<br />

certa distância da caverna aonde muitas feras já tinham morrido.<br />

e) Uma raposa que viu a morte de muitas feras na armadilha que ficava à uma distância da caverna perguntou<br />

para o leão como ele estava e era ciente da armadilha.


Material <strong>ITA</strong><br />

23. (Mackenzie 2012) Assinale a alternativa que melhor expressa a moral depreendida pela leitura do texto.<br />

a) Os homens sensatos, tendo prova dos perigos, podem prevê-los e evitá-los.<br />

b) São insensatos os homens que, na esperança de bens maiores, deixam escapar o que têm na mão.<br />

c) Alguns homens, não conseguindo realizar seus negócios por incapacidade, acusam as circunstâncias.<br />

d) Entre os homens, os mentirosos se vangloriam apenas quando não há ninguém para contestá-los.<br />

e) É preciso reconhecer aquele que fez o bem e a esse dar o reconhecimento.<br />

24. (Mackenzie 2012) Assinale a alternativa correta.<br />

a) É indiferente o emprego das grafias se não (ref. 7) ou “senão” para a formação dos sentidos textuais.<br />

b) A forma verbal recebia (ref. 8) exprime um fato passado já concluído, anterior a outro fato também passado.<br />

c) A troca da posição da palavra certa (ref. 9) altera os sentidos: a uma certa distância / “a uma distância certa”.<br />

d) O uso de por que (ref. 10) está de acordo com a norma culta, como em “Ele explicou novamente todos os<br />

exercícios por que os alunos pediram”.<br />

e) As palavras leão (ref. 11) e raposa (ref. 12) apresentam sentido generalizado, enquanto animais (ref. 13) e<br />

feras (ref. 14) têm sentido mais específico.<br />

25. (Mackenzie 2012) Considere as seguintes afirmações:<br />

I. O texto é uma fábula, pois, a partir de uma pequena história envolvendo animais, há uma lição a ser tirada<br />

dos fatos relatados.<br />

II. No texto há a representação de estereótipos do comportamento humano: o leão, representando a velhice e o<br />

poder; e a raposa, representando a esperteza.<br />

III. O texto apresenta na breve narrativa um conflito que evidencia uma oposição de interesses, levando a história<br />

para sua conclusão.<br />

Assinale:<br />

a) se apenas as alternativas I e II estiverem corretas.<br />

b) se apenas as alternativas I e III estiverem corretas.<br />

c) se apenas as alternativas II e III estiverem corretas.<br />

d) se todas as alternativas estiverem corretas.<br />

e) se nenhuma das alternativas estiver correta.<br />

26. (Mackenzie 2012) Assinale a alternativa correta.<br />

a) O fragmento não podendo mais procurar alimento por sua própria conta (ref. 1) apresenta a causa da decisão<br />

assumida pelo leão.<br />

b) A narrativa contém apenas discurso indireto, aquele em que o narrador faz uma paráfrase da fala dos<br />

personagens.<br />

c) O uso do subjuntivo em respondesse (ref. 2) e perguntasse (ref. 3) denota a mesma ideia de hipótese presente<br />

em “O que você faria se ganhasse na loteria?”.<br />

d) O pronome os (ref. 4 e 5), nas duas ocorrências, evidencia que a relação de coesão é estabelecida com<br />

elemento que será apresentado no texto apenas após os pronomes.<br />

e) A partícula já (ref. 5) denota temporalidade relacionada exatamente a um momento presente, como em “Faça<br />

isso já, agora mesmo!”.<br />

111


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

112<br />

Módulo C04 – Iterpretação de texto<br />

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:<br />

Edison não conseguia se concentrar de jeito nenhum. Tinha sempre dois ou três empregos e passava o dia indo de<br />

um para outro. Adorava trocar mensagens, e se acostumou a escrever recados curtos e constantes, às vezes para mais de<br />

uma pessoa ao mesmo tempo. Apesar de ser um cara mais inteligente do que a média, sofria quando precisava ler um<br />

livro inteiro. Para completar, comia rápido e dormia pouco – e não conseguia se dedicar ao casamento conturbado, por<br />

falta de tempo. Se identificou? Claro, quem não tem esses problemas? Passar horas no twitter ou no celular, correr de um<br />

lado para o outro e ter pouco tempo disponível para tantas coisas que você tem que fazer são dramas que todo mundo<br />

enfrenta. Mas esse não é um mal do nosso tempo. O rapaz da história aí em cima era ninguém menos que Thomas<br />

Edison, o inventor da lâmpada. A década era a de 1870 e o aparelho que ele usava para mandar e receber mensagens,<br />

um telégrafo. O relato, que está em uma edição de 1910 do jornal New York Times, conta que quando Edison finalmente<br />

percebeu que seu problema era falta de concentração, parou tudo. Se fechou em seu escritório e se focou em um<br />

problema de cada vez. A partir daí, produziu e patenteou mais de 2 mil invenções. [...]<br />

27. (<strong>ITA</strong> 2013) O tema desse texto é:<br />

a) o modo de viver de um cientista durante parte de sua vida.<br />

b) a dispersão de um cientista.<br />

c) a criatividade de um grande gênio da ciência.<br />

d) a falta de tempo das pessoas.<br />

e) a dificuldade de concentração de pessoas ao longo dos tempos.<br />

(Gisela Blanco. Superinteressante, julho/2012)<br />

28. (<strong>ITA</strong> 2013) O emprego da vírgula no trecho, “A década era a de 1870 e o aparelho que ele usava para mandar e<br />

receber mensagens, um telégrafo.”, é semelhante em:<br />

a) Para quem busca uma diversão na tarde de domingo, este filme é o mais recomendado.<br />

b) Ainda que não sejam os de menor custo, os alimentos orgânicos são os mais indicados pelos nutricionistas.<br />

c) O professor de desenho prefere os alunos criativos e o de lógica, os ousados na teoria.<br />

d) Os testes de QI (Quociente de Inteligência), atualmente, são desacreditados por diversas correntes teóricas da<br />

Psicologia.<br />

e) Pôr circuitos eletrônicos em envoltórios é uma prática comum, conhecida como encapsulamento.<br />

29. (<strong>IME</strong>) Nas frases a seguir há erros ou impropriedades. Reescreva-as e justifique a correção.<br />

a) Quantos sonhos haviam naquela ingenua cabecinha...<br />

b) Cheguei a dois dias e voltarei daqui há quatro meses.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

A crise da Europa é hoje o maior risco para a economia mundial, disse o secretário do Tesouro dos Estados Unidos<br />

da América, referindo-se à tensão entre os bancos e os governos endividados. Disse, ainda, que a China e outros 1 países<br />

emergentes com superavit nas contas têm espaço 5 bastante para 2 estimular o consumo interno, 3 aumentar as importações<br />

e 4 compensar a fraca demanda nas economias desenvolvidas. Para isso, os governos desses países deveriam deixar suas<br />

moedas valorizar-se. Em outras palavras, o câmbio subvalorizado da China resulta em valorização real das moedas de<br />

outros países emergentes, torna seus produtos mais caros e diminui seu poder de competição no comércio internacional.<br />

Rolf Kuntz. O Estado de S.Paulo, 25/9/2011.<br />

30. (UnB) Com referência às ideias do texto acima, aos temas a ele associados e às estruturas nele empregadas, julgue<br />

os itens a seguir.<br />

a) No segundo período do texto, as estruturas oracionais com as formas infinitivas “estimular”, (ref. 2)<br />

“aumentar” (ref. 3) e “compensar” (ref. 4) estão associadas à possibilidade de não se realizar foneticamente o<br />

sujeito das respectivas orações, o que assegura, portanto, interpretação ligada à referência indeterminada do<br />

sujeito das orações que têm como núcleo do predicado essas formas verbais.<br />

b) No que se refere a aspectos semânticos e morfossintáticos, “bastante” (ref. 5) equivale ao adjetivo suficiente e<br />

concorda com o substantivo que o antecede, ainda que apenas em número.


Material <strong>ITA</strong><br />

31. (Fuvest 2013) No excerto abaixo, narra-se parte do encontro de Brás Cubas com Quincas Borba, quando este,<br />

reduzido à miséria, mendigava nas ruas do Rio de Janeiro:<br />

Tirei a carteira, escolhi uma nota de cinco mil-réis, – a menos limpa, – e dei-lha [a Quincas Borba]. Ele recebeu-ma<br />

com os olhos cintilantes de cobiça. Levantou a nota ao ar, e agitou-a entusiasmado.<br />

– In hoc signo vinces!* bradou.<br />

E depois beijou-a, com muitos ademanes de ternura, e tão ruidosa expansão, que me produziu um sentimento misto<br />

de nojo e lástima. Ele, que era arguto, entendeu-me; ficou sério, grotescamente sério, e pediu-me desculpa da<br />

alegria, dizendo que era alegria de pobre que não via, desde muitos anos, uma nota de cinco mil-réis.<br />

– Pois está em suas mãos ver outras muitas, disse eu.<br />

– Sim? acudiu ele, dando um bote para mim.<br />

–Trabalhando, concluí eu.<br />

* “In hoc signo vinces!”: citação em latim que significa “Com este sinal vencerás” (frase que teria aparecido no céu,<br />

junto de uma cruz, ao imperador Constantino, antes de uma batalha).<br />

Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.<br />

a) Tendo em vista a autobiografia de Brás Cubas e as considerações que, ao longo de suas Memórias póstumas,<br />

ele tece a respeito do tema do trabalho, comente o conselho que, no excerto, ele dá a Quincas Borba: “—<br />

Trabalhando, concluí eu”.<br />

b) Tendo, agora, como referência, a história de D. Plácida, contada no livro, discuta sucintamente o mencionado<br />

conselho de Brás Cubas.<br />

32. (UEG 2013)<br />

Acudiro. Nhola tinha ânsia, tonteira, celeração, corpo largado, não via nada, nem a lampa da candeia. Dei chá de<br />

goiabeira. Esperei clareá o dia, bandiei o corgo, fui na casa da Delíria. Aí falei:<br />

— Delíria, me prouve um insonso de sal, Nhola tá ruim...<br />

Delíria me pruveu o sal.<br />

Eu fiz um engrossado de farinha de milho, Nhola comeu, descansou, miorou e falou:<br />

— Nunca comi comesinho tão bão. Louvado seja Deus.<br />

Nóis demos gaitada... Aí correu mundo que Nhola teve vertige de fraqueza, falta de cumê... A casa se encheu de<br />

vizinho. Cada um trazendo uma coisa pra nóis. Até pedaço de capado e cuia de sal; café pilado e açúcar branco.<br />

Nóis fiquemo tão contente... Nhola dava gaitada... virou uma infância.<br />

CORALINA, Cora. Quadrinhos da vida. In: Estórias da casa velha da ponte. 13. ed. São Paulo: Global, 2006. p. 39-40.<br />

113


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

A temática da pobreza<br />

a) é abordada de maneira análoga nos dois textos, pois o primeiro sugere ajuda humanitária entre as classes<br />

sociais, e o segundo explicita um drama de ordem moral.<br />

b) é tratada de modo igual em ambos os textos, uma vez que os problemas aos quais aludem não são<br />

minimizados por quaisquer ações governamentais.<br />

c) surge associada a um problema de impossível solução nos quadrinhos e a uma questão político-religiosa no<br />

excerto literário.<br />

d) surge associada a uma questão político-social nos quadrinhos e a um entrave social suavizado pela caridade<br />

no texto de Cora Coralina.<br />

33. (UFG 2014) Leia o poema a seguir.<br />

MEU SONHO<br />

Eu<br />

Cavaleiro das armas escuras,<br />

Onde vais pelas trevas impuras<br />

Com a espada sanguenta na mão?<br />

Por que brilham teus olhos ardentes<br />

E gemidos nos lábios frementes<br />

Vertem fogo do teu coração?<br />

Cavaleiro, quem és? o remorso?<br />

Do corcel te debruças no dorso...<br />

E galopas do vale através...<br />

Oh! da estrada acordando as poeiras<br />

Não escutas gritar as caveiras<br />

E morder-te o fantasma nos pés?<br />

Onde vais pelas trevas impuras,<br />

Cavaleiro das armas escuras,<br />

Macilento qual morto na tumba?...<br />

Tu escutas... Na longa montanha<br />

Um tropel teu galope acompanha?<br />

E um clamor de vingança retumba?<br />

Cavaleiro, quem és? – que mistério,<br />

Quem te força da morte no império<br />

Pela noite assombrada a vagar?<br />

O FANTASMA<br />

Sou o sonho de tua esperança,<br />

Tua febre que nunca descansa,<br />

O delírio que te há de matar!...<br />

AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: FTD, 1994. p. 209.<br />

O poema transcrito emprega um recurso estrutural típico do gênero dramático e é representativo dos<br />

questionamentos ultrarromânticos recorrentes nas faces Ariel/Caliban da poesia de Álvares de Azevedo.<br />

Considerando essa afirmação e a análise do poema, responda:<br />

a) que recurso estrutural típico do gênero dramático é utilizado no poema?<br />

b) Que tema recorrente na obra de Álvares de Azevedo é abordado no poema?<br />

34. (UFG 2014) Leia o poema e o trecho a seguir.<br />

EU POSSO TRANSFORMAR O MUNDO<br />

Tudo que está fora de mim é mais, muito mais do que eu.<br />

Eu vi tudo, sem poder, eu vi sem alcançar seu vigor simples,<br />

sua despojada beleza terrena.<br />

Passaram por mim o dia, a luz, o tédio, a dignidade.<br />

Eu estive sempre aquém de toda a beleza que cerca a vida.<br />

Mas eu sou um homem, algo feito pelo que está aí fora<br />

e por minha ideia e minhas mãos.<br />

E posso transformar o mundo.<br />

114<br />

GARCIA, José Godoy. Poesias. Brasília: Thesaurus, 1999. p. 36.


Material <strong>ITA</strong><br />

[…] Em 1935, quatro anos depois de nossa chegada a Porto Alegre, eclodiu o fracassado levante que depois ficaria<br />

conhecido como Intentona Comunista, dirigido contra o governo de Getúlio e chefiado por Luís Carlos Prestes. […]<br />

Quatro anos depois, em 1939, era assinado, pela União Soviética e pela Alemanha nazista, o pacto de não<br />

agressão que deixou perplexos e confusos, quando não revoltados, os comunistas no mundo todo. E depois veio a<br />

denúncia dos crimes de Stálin por Kruschev, a queda do muro de Berlim...<br />

Muita gente nunca perdoou as mentiras, os enganos, a perda de seus sonhos. Não é meu caso. Na verdade, tenho<br />

mais saudades do que rancores. Tenho saudades não do comunismo, que nunca cheguei a viver na prática, mas da<br />

visão do comunismo que me animava, a visão de um mundo justo, igualitário.<br />

SCLIAR, Moacyr. Eu vos abraço, milhões. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 246.<br />

O eu lírico do poema e o protagonista do romance, nas obras citadas, distinguem-se tanto pela expectativa sobre o<br />

futuro quanto pela forma de recomposição de suas memórias. Considerando o exposto, responda:<br />

a) em relação à expectativa de futuro, em que se diferem os posicionamentos do eu lírico e do protagonista do<br />

romance?<br />

b) Em relação às formas de recomposição da memória, em que se diferem as escolhas do eu lírico e do<br />

protagonista do romance?<br />

c) No poema, o eu lírico ressalta a fé no coletivo, no social, dando mais ênfase a isso do que a seus sonhos<br />

individuais: Tudo que está fora de mim é mais, muito mais do que eu. Enquanto na narrativa, o protagonista<br />

analisa a realidade através de sua história pessoal, através da própria subjetividade.<br />

35. (UFMG 2012) Leia estes poemas:<br />

Poema 1<br />

Poema 2<br />

Lar doce lar<br />

Minha pátria é minha infância<br />

Por isso vivo no exílio.<br />

CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 63.<br />

Recuperação da adolescência<br />

é sempre mais difícil<br />

ancorar um navio no espaço<br />

CESAR, Ana Cristina. A teus pés. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 57.<br />

Relacione os dois poemas, analisando a concepção, expressa em cada um, sobre diferentes fases da vida.<br />

115


Gabarito<br />

116<br />

<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

01. a<br />

[a] Correta. Seus filmes faziam sucesso em várias partes do mundo.<br />

[b] Incorreta. O personagem Carlito foi lapidado pelas reações do público, não originado.<br />

[c] Incorreta. Não, ele é ingênuo e atrapalhado.<br />

[d] Incorreta. O personagem criado por Chaplin mostra a miséria de forma bem humorada, mas jamais perdendo o<br />

teor crítico.[E] Incorreta. São sentimentos às vezes diferentes, mas jamais antagônicos.<br />

02. b<br />

[I] Correta. É só inverter a ordem das palavras para perceber a função adjetiva (qualificadora) da palavra: domínio<br />

de atividade física qualquer.<br />

[II] Incorreta. Em seu ridículo de miséria, a palavra ridículo adquiriu função substantiva por estar qualificada pela<br />

locução adjetiva de miséria.<br />

[III] Correta. A palavra diversa tem o sentido de diferente (qualificador), logo, função adjetiva.<br />

[IV] Correta. O vocábulo americano tem nítida função adjetiva.<br />

03. d<br />

[a] Incorreta. Apesar de comover o público, não é isso que faz do personagem de Chaplin um herói.<br />

[b] Incorreta. Carlito mostra as angústias e os desejos humanos, é profundo, não leve.<br />

[c] Incorreta. Age de maneira corajosa, mas não previsível, por tratar de um personagem complexo.<br />

[d] Correta. Aliás, esta é a definição clássica de herói, aplicada por Bandeira a Carlito.<br />

[e] Incorreta. Não há menção de desprezo ao sucesso.<br />

04.c<br />

[I] Incorreta. Pelo contrário, ao apresentar-se elegantemente vestido, Carlito não gerou a mesma empatia no<br />

público. [II] Correta, pois Carlito falava ao coração de muita gente, atraindo multidões ao cinema.<br />

[III] Incorreta. Carlito ganhou o público americano sendo o que sempre foi.<br />

[IV] Correta, pois Bandeira elogia a inteligência e a sagacidade de Chaplin que, para criar Carlitos, observava a<br />

reação do público e assim poder lapidá-lo à forma que o consagrou.<br />

05. d<br />

[A] Incorreta. Em nenhum momento o autor menciona a tristeza disfarçada em Carlito.<br />

[B] Incorreta. O autor menciona como os americanos interpretam de maneira diferente o personagem de Chaplin,<br />

ou seja, não há universalidade.<br />

[C] Incorreta. Não, porque eles o achavam tão atrapalhado, tão inepto, que viam nele alguém a não ser copiado.<br />

[D] Correta. Ele passa por uma série de percalços, como a miséria, a solidão e, ainda assim, mantém a coragem e<br />

a esperança.<br />

[E] Incorreta. Carlito toca nas feridas mais profundas, com humor, mas não com deboche.<br />

06. b<br />

[A] Nesta alternativa o autor expressa claramente uma opinião quando diz Não há hoje no mundo (...) um artista<br />

cuja arte contenha maior universalidade (...).<br />

[B] CORRETA. Este excerto é uma referência a um fato que o próprio Chaplin declarou.<br />

[C] Podia ser jocosa, mas não era Carlito expressa uma interpretação do autor frente à personagem de Chaplin.<br />

[D] Esta alternativa mostra um ponto de vista apresentado por Bandeira, que Carlito, mesmo diante das agruras,<br />

mantinha o discernimento, faz um contraponto com a visão dos americanos que consideram o personagem um tolo,<br />

logo, trata-se de uma opinião subjetiva do autor.<br />

[E] Segundo a avaliação do autor, é naquele determinado momento que o personagem nasce inteiro para<br />

posteriormente ganhar o mundo, exceto para os americanos que viam nele um fracassado sonhador.<br />

07. a<br />

A incompreensão do narrador sobre a conversa com Conceição, no fragmento, diz respeito à movimentação da<br />

personagem na sala, pois “de costume tinha os gestos demorados e as atitudes tranquilas”.<br />

08.<br />

a) Enviamos EM ANEXO os dados solicitados por V. Sa. e COLOCAMO-NOS à SUA inteira disposição para


Material <strong>ITA</strong><br />

QUAISQUER outros pedidos.<br />

b) O diretor havia ACE<strong>ITA</strong>DO a tarefa de reformar a escola.<br />

09. e<br />

O trecho IV apresenta um fato que vai ser comentado posteriormente. Com base em estudos mencionados em I e<br />

retomados em II, o autor aponta o resultado que justifica a conclusão apresentada em V.<br />

10.<br />

11.<br />

12.<br />

a) O conceito de “verdade”, analisado por Anatol Rosenfeld, permite distinguir o primeiro texto como literário e<br />

o segundo, jornalístico. Afonso Arinos explora a percepção da realidade através da linguagem conotativa,<br />

criando uma “verdade subjetiva” sobre a palmeira. O segundo, jornalístico, pois mostra preocupação em<br />

descrever o objeto através do uso da linguagem denotativa.<br />

b) O conjunto de termos metafóricos e a adjetivação subjetiva (“Velha palmeira solitária, testemunha<br />

sobrevivente do drama da conquista“, “tu te ergues altaneira, levantando ao céu as palmas tesas”) permitem<br />

classificar o texto I como literário, enquanto que a linguagem denotativa usada no II o caracteriza como<br />

jornalístico.<br />

a) Sim, pois a expressão latina comum a textos relativos aos assuntos da retórica, “adequatio orationis ad rem,”<br />

refere-se aos aspectos linguísticos de produções de diversas naturezas textuais, como ocorre no texto de Anatol<br />

Rosenfeld.<br />

b) A expressão “situações miméticas” sugere a reprodução de situações de forma verossímil, ou seja, a recriação<br />

harmônica entre os elementos fantasiosos ou imaginários que são determinantes no texto.<br />

a) Remeteremos, em seguida, os pedidos que NOS encomendaram. (Que é partícula atrativa).<br />

b) Ela veio, de MODO que você agora está dispensado.<br />

13. d<br />

A palavra “sorriso” consta no primeiro e último versos como a enfatizar o mistério, o enigma subjacente de quem o<br />

expressa e cuja decifração se torna impossível (“ansiosos, em vão, por decifrá-lo”), ou polêmica ao longo do tempo<br />

(“alonga-se em silêncio para contemporâneos e pósteros”). Assim, a opção d) está incorreta.<br />

14. c<br />

As características gerais do concretismo na literatura são: a abolição do conceito tradicional de verso na construção<br />

poética, a sua substituição por um signo verbivocovisual, ou seja, a exploração semântica da palavra com<br />

diversidade de interpretações, resultantes de leituras através de diferentes ângulos, a valorização do conteúdo<br />

sonoro e o aproveitamento do espaço do papel para emissão da mensagem. Estas características estão presentes<br />

no poema de Ronaldo Azeredo: a aliteração de “v” reproduz a sensação de velocidade e sua disposição no papel<br />

sugere o movimento vertical ou horizontal, dependendo da perspectiva de quem o interpreta. Desta forma, as<br />

afirmações contidas em I, III e IV são válidas. Na ausência de opção que contemplasse TODAS as corretas, restaria<br />

a c) que apresenta pelo menos duas.<br />

15.<br />

a) Na frase, o autor considera que, em primeiro lugar, o ser humano busca reconhecimento de seus feitos pelo<br />

outro, evidenciando sua vaidade. Posteriormente, ele se volta para si e reconhece seus atos, gerando, ou não,<br />

o orgulho, preocupando-se então consigo.<br />

b) O homem prefere ser elogiado, valorizado, enaltecido etc. por aquilo que não é a ser menosprezado,<br />

desvalorizado, desestimado etc. por aquilo que é.<br />

16. a<br />

O eu lírico desenvolve nostalgicamente o tema do saudosismo de raiz romântica ao evocar sensações do passado<br />

117


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

(“Quando escutei essa cantiga/ era hora do almoço, há muitos anos”). A ambientação reproduz a cultura popular<br />

de onde emergem as lembranças (“A voz da mulher cantando vinha de uma cozinha,/ai ciganinha, a voz de bambu<br />

rachado/continua tinindo, esganiçada, linda”), característica frequentre na estética romântica. O tom confessional<br />

advém sobretudo dos verbos e pronomes em 1ª. pessoa do singular (“escutei”, “acho”, “meu”, “mim”, “minha”)<br />

que denotam a subjetividade da descrição do passado. Assim, é inválida a opção a).<br />

17. c<br />

O título que contempla o conteúdo abordado é “Spam: perda de tempo e prejuízos financeiros”, pois, de acordo<br />

com o texto, “Cada trabalhador perde, em média, sete minutos por dia limpando a caixa de mensagens, e essa<br />

quebra na produtividade custa €828 – pouco mais de R$ 2,3 mil – anuais às empresas”.<br />

18. d<br />

Uma das definições de “simplório” ou “simples” é de aquilo que não apresenta complexidade ou dificuldade. Assim,<br />

é correta a alternativa [d].<br />

19.<br />

20.<br />

21.<br />

a) Correto.<br />

b) Correto. Ambas as alíneas apresentam informações corretas, de acordo com o que é mencionado no texto e<br />

na representação das figuras. O contador de histórias tem a preocupação de trabalhar a afetividade, a<br />

emoção e o imaginário do ouvinte, desenvolvendo a narrativa com imagens, movimentos e sons, muitas vezes<br />

através da improvisação. A literatura de cordel, gênero literário originado em relatos orais e depois impresso<br />

em folhetos, constitui um rico registro histórico da cultura nordestina, repercutindo-se nas mais diversas<br />

manifestações artísticas.<br />

a) Correto.<br />

b) Incorreto.<br />

c) Correto. Apenas é incorreto o que se afirma em [b], pois o emprego de adjetivos em estruturas comparativas<br />

repetidas acentua o valor das propriedades negativas atribuídas à humanidade.<br />

a) Uma das possibilidades de reescrita é:<br />

“Ele disse que tinha no bolso um caderno de notas e perguntou se queriam que lhes descrevesse aquelas<br />

montanhas e vales, e o que faziam os seres humanos naquele tempo de primavera”.<br />

b) Por estar o autor no Hemisfério Norte, local onde se encontrava como correspondente da Segunda Guerra<br />

Mundial, o mês de abril corresponde à estação da Primavera. Dessa forma, o uso do pronome “neste” está<br />

correto, uma vez que se refere ao tempo presente em relação à anunciação.<br />

22. b<br />

A opção [b] é a única que conserva o sentido da frase original e apresenta coesão, correta estrutura sintática e<br />

pontuação adequada.<br />

23. a<br />

O fato de a raposa se recusar a entrar depois de perceber que os rastros de vários animais se dirigiam apenas para<br />

o interior da gruta permitiu-lhe inferir que algo devia ter impedido o seu retorno, o que evitou que o leão a<br />

devorasse. Assim, a opção [a] expressa a moral depreendida pela leitura do texto: os homens sensatos, tendo prova<br />

dos perigos, podem prevê-los e evitá-los, como se afirma em [a].<br />

24. c<br />

As opções [a], [b], [d] e [e] são incorretas, pois: [a] a conjunção “se” seguida do advérbio de negação “não”<br />

introduz uma oração subordinada condicional com verbo na negativa, enquanto que “senão” é elemento coesivo<br />

com significado equivalente a “de outro modo”, “de contrário”;<br />

[b] o pretérito imperfeito do indicativo, no contexto, exprime um fato passado contínuo e habitual;<br />

118


Material <strong>ITA</strong><br />

[d] o uso de “por que” é correto na frase da fábula de Esopo, pois trata-se de uma expressão formada por<br />

preposição e pronome relativo, diferente do que acontece na frase “Ele explicou novamente todos os exercícios por<br />

que os alunos pediram”, em que seria correto o emprego da conjunção subordinativa porque para exprimir noção<br />

de causa;<br />

[e] os termos “leão” e “raposa” são hipônimos, portanto têm sentido mais restrito que os hiperônimos “animais” e<br />

“feras” (com sentido mais abrangente).<br />

Assim, é correta apenas [c], pois a troca de posição da palavra “certa” alteraria o sentido para alguma e exata,<br />

respectivamente.<br />

25. [d] Trata-se de uma fábula, narrativa em que os personagens são animais que apresentam características humanas.<br />

O leão e a raposa representam o poder e a esperteza, e protagonizam uma curta trama que conduz a uma<br />

conclusão de onde se extrai um ensinamento moral de caráter instrutivo. Assim, todas são corretas, como se afirma<br />

em [d].<br />

26. [a] São incorretas as opções [b], [c], [d] e [e], pois: [b] a narrativa apresenta também discurso direto, assinalado com<br />

aspas o diálogo entre a raposa e o leão;[c] no excerto, os termos verbais “respondesse” e “perguntasse” remetem a<br />

um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido, diferente de “ganhasse” que sugere hipótese;<br />

[d] o pronome pessoal oblíquo “os” remete ao termo “animais” citado anteriormente, constituindo, assim, coesão<br />

textual anafórica; [e] o advérbio “já” denota temporalidade relacionada a um momento no passado.<br />

Assim, é correta apenas [a].<br />

27. [e] A autora vale-se de um fato relacionado com uma personalidade do mundo científico do século XIX para<br />

comprovar que a dificuldade de concentração de pessoas é comum e não é derivada da falta de tempo da<br />

sociedade atual. Assim, é correta a opção [e].<br />

28. [c] Na frase “A década era a de 1870 e o aparelho que ele usava para mandar e receber mensagens, um<br />

telégrafo”, a vírgula é utilizada para indicar a elipse do verbo. O mesmo acontece na alternativa [c].<br />

29. a) Quantos sonhos HAVIA naquela INGÊNUA cabecinha...<br />

b) Cheguei HÁ dois dias e voltarei daqui A quatro meses.<br />

30. a) Incorreto.<br />

b) Correto. É incorreto o que se afirma em [A], pois o sujeito não expresso das orações adverbiais finais<br />

reduzidas de infinitivo (passíveis de serem desenvolvidas e substituídas por para que estimulem, para que<br />

aumentem, para que compensem) não é indeterminado e sim, desinencial, estabelecendo relação anafórica<br />

com “China e outros países emergentes”.<br />

31.<br />

a) O conselho de Brás Cubas a Quincas Borba revela a hipocrisia do personagem-narrador que, nascido em<br />

família abastada e amparado pelos privilégios concedidos à elite burguesa do Segundo Reinado, nunca tivera<br />

de trabalhar para garantir a sua sobrevivência.<br />

b) Brás Cubas assume comportamentos diferentes relativamente a Quincas Borba e a D. Plácida. Enquanto que<br />

ao primeiro, num gesto vaidoso e paternalista, lhe dava uma pequena esmola e aconselhava a trabalhar para<br />

conseguir mais dinheiro, à segunda, movido pelo interesse em manter uma aliada para os seus encontros<br />

clandestinos com Virgília, oferecia quantias generosas sem nenhum sentimento de culpa.<br />

32. [d] Os dois quadros que compõem a charge mostram personagens que pertencem a duas classes distintas: os do<br />

primeiro celebram euforicamente o bom desempenho da economia brasileira com a abertura de uma garrafa de<br />

champanhe, enquanto que os do segundo ostentam a miséria extrema de quem sobrevive dos resíduos<br />

considerados descartáveis e inúteis pela sociedade de consumo. No texto de Cora Coralina, assiste-se à ação das<br />

pessoas que acorrem em auxílio de Nhola, a qual só se recupera de um quadro clínico de desnutrição (“vertige de<br />

119


<strong>Português</strong> – <strong>Livro</strong>1<br />

fraqueza, falta de cumê”) pela intervenção generosa dos vizinhos. Assim, é correta a opção [D], pois a temática da<br />

pobreza surge associada a uma questão político-social nos quadrinhos e a um entrave social suavizado pela<br />

caridade no texto de Cora Coralina.<br />

33.<br />

34.<br />

a) Dentre as características do gênero dramático a que se encontra no poema é a reprodução da história em<br />

forma de diálogos, divididos em atos e cenas. No poema há o diálogo entre o EU e o FANTASMA dividido em<br />

estrofes, dando assim uma dinâmica dialógica típica da dramaturgia clássica.<br />

b) Do sonho e da morte como forma de evasão de uma realidade adversa em que o eu lírico não encontrava<br />

consonância.<br />

a) Analisando os dois textos, pode-se observar que, no poema, o eu lírico acredita ainda na possibilidade de<br />

transformar o mundo apesar das idiossincrasias inerentes à realidade. Enquanto no romance, o protagonista<br />

se mostra conformado com as mudanças sonhadas que não aconteceram historicamente, entretanto, mostrase<br />

saudoso com o fato de um dia, ao menos, ter sonhado com a possibilidade de um mundo mais justo.<br />

35. Ambos os poemas abordam temática existencial através de um eu lírico fragmentado, expressando inadequação<br />

com o momento presente. Enquanto Cacaso escapa para a infância em busca da paz e da felicidade, Ana Cristina<br />

Cesar vê a adolescência como uma etapa plena de desafios que incitam à aventura.<br />

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