Revista CriticArtes 7 Ed

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<strong>Revista</strong> Criticartes | 2º Trimestre de 2017 / Ano II - nº. 07 O fio da escrita Erigir Jani Brasil Brasília, DF, Brasil @: janibrasil7@gmail.com Rogério Fernandes Lemes Dourados, MS, Brasil @: rogeriociso@gmail.com É um movimento solitário E de persistência linear. Cada subjetividade, A seu modo, Encontram, na escrita, A mesma essência E extensão de si mesma. Uma linguagem translúcida, Atemporal; Compreensível a qualquer tempo, Em qualquer época. Encontramos na escrita O divinal poder da criação. Escrita esta, que une nações; Aproxima as culturas; Cria mitos e lendas; Revela o mais profundo Do espírito humano. A escrita existe Para equilibrar gerações. Os horrores passados da guerra Revividos em uma sequência de palavras Amontoadas... Escritas nas páginas do tempo. A escrita diz muito Daquilo que não fora escrito. E, o fio que a conduz, Começa com um nó E desenrola-se dentro De cada um de nós. Erigir pra a vida... É cada dia renovar os sonhos É alimentar esperanças É acreditar em si! Erigir para a vida... É esquecer-se das adversidades É enxergar o brilho das estrelas Em dias de tempestade! Erigir para a vida É ver o oásis Estando no deserto É fazer o seu bolo É vestir sua melhor roupa Usar seu perfume preferido Colocar flores na mesa E cantar parabéns a você mesmo Estando em casa sozinho No seu aniversário! Ah... Erigir para a vida... É olhar-se no espelho E contemplar ali A melhor pessoa do mundo! É negar-se a estar deprimido É sorrir... cantar...dançar... Mesmo querendo chorar! Erigir para a vida É achar-se bonito... Cheiroso...Gostoso... É ser forte...Mesmo sendo dengoso! Erigir para a vida... É amar a si mesmo É negar-se a estar em vôos rasantes É ter a certeza que podes e deves Alçar vôos tão altos e belos Quanto aos vôos de águia! - 28 - www.revistacriticartes.blogspot.com.br
I A Província Oeste da Tarde Ensolarada só tinha sua paz quebrada quando a temporada dos ventos anunciava a mudança da fonte vital. Para observar o ritual que definia o destino da fonte os homens da Távola Redonda Eclesial mandaram para aquele lugar, como prêmio ou castigo um Jovem Ultimador da Imparcialidade e Zelo. Reza a lenda que num destes rituais o enviado, por vingança, pirraça, tédio, ideologia ou mesmo só para preencher o tempo da sua estada naquele fim de mundo, quis brincar de Zeus. II A determinação do local onde ficaria a fonte vital em cada ciclo era de suma importância para os habitantes da Província Oeste da Tarde Ensolarada. Deste modo, a cada ritual de mudança, grupos organizados rezavam e ofereciam oferendas aos deuses para que direcionassem os ventos, notadamente os vespertinos, para a sua porção territorial que, ao final da temporada, determinava onde se localizaria a tal fonte. Cabia ao ultimador da imparcialidade e do zelo, que daquela vez era um jovem tavolense, observar se a direção das ventanias era fruto das naturais correntes eólicas e se os modos de rezar estavam em consonância com os ritos previstos na grande cartilha. Cansado daquelas atribuições por demais burocráticas, o enviado da Távola Redonda Eclesial decidiu que desta vez não seria um mero legitimador de mudança de fonte determinada pelos desígnios de Éolo. III O Jovem Ultimador da Imparcialidade e Zelo dizendo interpretar a grande cartilha começou a angariar a desconfiança e antipatia dos vários grupos de provincianos em disputa pela mudança da fonte vital. Em nome do Olimpo proibiu os homens a saírem para a pesca diária antes que o mesmo despertasse de seu sono juvenil. Segundo ele, estes homens não pescavam somente o alimento cotidiano. As mulheres estavam proibidas de permanecerem nas janelas das suas casas em qualquer hora do dia ou da noite ou se reunirem em conversas nas calçadas e sob a copa das árvores: era preciso que a segurança da província estivesse a salvo da <strong>Revista</strong> Criticartes | 2º Trimestre de 2017 / Ano II - nº. 07 Quando a História é mera lenda… Ou seria o contrário? Carlos Augusto Pereira dos Santos Camocim, CE, Brasil @: augustus474@hotmail.com perspicácia feminina. As crianças não poderiam portar no corpo e nas vestes, sob hipótese alguma, nenhuma divisa identitária dos clãs familiares em nome da lisura do evento mudancista. Em breve tempo, o ultimador carreou para si a unanimidade dos solitários. IV Refestelado numa rede típica da Província Oeste da Tarde Ensolarada, após um lauto almoço à base de crustáceos, pescados naquele dia após suas determinações quanto ao horário de pesca, o Jovem Ultimador da Imparcialidade e Zelo arquitetava as proibições do dia. Em suas andanças pela ilha observara alguns comportamentos dos habitantes que lhe chamaram a atenção. Consultou a cartilha e determinou que a partir de então, os praticantes, do que séculos depois se convencionou chamar de "vício italiano", não poderiam mais exibir suas fantasias coloridas nem exagerar nos trejeitos ao andar pelas ruas. Quanto às mulheres ditas públicas, estavam proibidas de passear na feira livre, nas imediações do porto, dos templos e repartições do Estado. Deveriam se restringir ao espaço do Beco do Prazer e somente até meia-noite. Contudo, a proibição mais absurda estaria por vir. V Não satisfeito, o Jovem Ultimador da Imparcialidade e Zelo resolveu que sua próxima proibição deveria atingir o maior número de pessoas, fossem de que clãs fossem. Deste modo, o edito fixado nos portões do mercado deixou a população da Província Oeste da Tarde Ensolarada em polvorosa. A partir daquela data quem fosse visto vendendo ou comprando o "mingau" provinciano, tanto na manhã friorenta ou na tarde ventilada, estaria sob as penas da lei. O "mingau" era uma espécie de caldo, beberagem ou chá feito à base de cereais típicos do lugar, que segundo dizem, davam sustança suficiente para a lida diária. Desprovidos da comida (ou da bebida, como queiram), raciocinou o ultimador, seria mais fácil controlar aquela população ignara da bestialidade cotidiana! O fim seria trági- - 29 - www.revistacriticartes.blogspot.com.br
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