REBOSTEIO Nº 2
Revista REBOSTEIO DIGITAL número dois - entrevistas, arte, cultura, poesia, literatura, comportamento, cinema, fotografia, artes plásticas.
Revista REBOSTEIO DIGITAL número dois - entrevistas, arte, cultura, poesia, literatura, comportamento, cinema, fotografia, artes plásticas.
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O fotojornalismo é um seguimento da fotografia que aborda um pouco<br />
de tudo, desde coluna social, passando por esportes e política até<br />
chegar a guerras e questões sociais. Eu ainda não cheguei a guerras, mas<br />
exploro um lado da vida que a meu ver não se distancia muito disso: é<br />
a guerra pela sobrevivência na selva de pedra. E como em qualquer<br />
guerra, nesta também há caos e degradação humana.<br />
Eu passei a explorar os antros decadentes da cidade de São Paulo logo<br />
quando comecei a fotografar, essa sempre foi a minha intenção, o caos,<br />
a sujeira e a degradação humana sempre me atraíram. O idoso que<br />
sobrevive do lixo, o jovem que passa sua vida fumando crack e morando<br />
nas ruas, o travesti que faz programa em hotéis baratos... Tudo isso é<br />
uma guerra silenciosa, não há bombas nem minas terrestres, mas a<br />
guerra está ali, perante nessas faces. Quando eu começo a me aproximar<br />
do local onde vou fotografar e se trata de um local onde a coisa é<br />
extrema (como Cracolândia, por exemplo), eu já dou início à estratégia<br />
de sobrevivência: me aproximo com cautela e discrição e faço o meu<br />
melhor. Ora tenho que ir bem devagar e esperar, ora tenho que fazer<br />
dois ou três cliques o mais rápido possível e me afastar. A adrenalina é<br />
grande quando vou me aproximando do local onde serão realizadas<br />
as fotos, quando olho de longe e vejo que há viciados por ali<br />
consumindo a droga. Isso é perigoso, faz soar o alerta dentro de você,<br />
mas é uma sensação sensacional, me sinto com se estivesse mesmo em<br />
uma zona de conflito, pois tudo pode acontecer. Tem os momentos mais<br />
tranquilos, como abordar um travesti de rua, conversar e fazer as fotos.<br />
Muitas vezes eu encontro pessoas muito legais nesses lugares. Ou escutar<br />
as histórias de vida de um senhor que busca sua sobrevivência no lixo...<br />
Sou novo nisso, mas já escutei de tudo nesses lugares. Uma figura ilustre<br />
que é conhecida como “Paizão”, que sobrevive do lixo na região da<br />
Cracolândia, além de seringas e outros tipos de lixo hospitalar, me disse<br />
que chegou a encontrar fetos enquanto procurava algo que pudesse<br />
comer ou ser vendido, no lixo.<br />
Quero seguir fazendo isso, nunca me aconteceu nada.<br />
Não sei se por sorte ou por adotar táticas eficazes. Tenho a certeza que<br />
daqui desse caos urbano para uma zona de conflito será só questão de<br />
tempo, então eu espero e faço o que dá pra fazer, me embrenho nos<br />
lugares mais decadentes que eu puder. Eu não consigo viver longe dessa<br />
decadência toda, me entristece. Algumas vezes eu fico uma semana sem<br />
visitar esses locais e quando os visito, percebo que perdi tempo demais,<br />
que muita coisa aconteceu e eu não estava lá.<br />
Rodrigo Boerin<br />
fevereiro/2012<br />
http://www.otaboo.com.br/sites/nucleo_fot03/index.html<br />
rodrigoboerin@hotmail.com