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contra o deputado. Na ocasião, em uma reação típica, Cunha rompeu<br />
com o governo, juntando-se à oposição e ameaçando o governo com a<br />
aceitação de um dos muitos pedidos de impeachment sob sua análise.<br />
Além disso, desde o final de setembro, sabia-se que Cunha tinha<br />
contas bancárias na Suíça e, por essa razão, enfrentava processo na Comissão<br />
de Ética na Câmara dos Deputados. Ironicamente, os votos do<br />
pt poderiam lhe garantir a absolvição na Comissão. A possibili<strong>da</strong>de de<br />
um acordo entre pt e Cunha, uma troca entre os dois engavetamentos,<br />
o do impeachment e do processo de quebra de decoro, estavam <strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
e foram discuti<strong>da</strong>s abertamente. A precipitação dos acontecimentos<br />
após a prisão de Delcídio impediu que o acordo fosse feito.<br />
Com a delação do operador do pmdb, Fernando Baiano, acerta<strong>da</strong><br />
em setembro, e que veio a público em outubro, o cerco sobre Cunha<br />
havia se fechado. Mas, no caso desses depoimentos, ain<strong>da</strong> que as provas<br />
mais robustas apontem para o presidente <strong>da</strong> Câmara, os relatos<br />
traziam informações sobre uma rede mais ampla de lideranças partidárias<br />
envolvi<strong>da</strong>s nos desvios, incluindo o presidente do Senado,<br />
Renan Calheiros, e o esquema mantido por seu apadrinhado, Sérgio<br />
Machado, na Transpetro.<br />
Michel Temer, o vice-presidente <strong>da</strong> República, cuja imagem e reputação<br />
até então não haviam sido arranha<strong>da</strong>s seriamente pelas investigações,<br />
passou a ter razões para se preocupar. O vice-presidente sabia<br />
que a delação de Fernando Baiano apontava em sua direção, revelando<br />
suas relações com os esquemas do partido que presidia. Sabia também<br />
que Cerveró poderia mencionar, como de fato veio a fazê-lo, sua<br />
intermediação nas negociações ocorri<strong>da</strong>s quando de sua substituição<br />
na diretoria internacional <strong>da</strong> Petrobras. Se Temer não se lembrou desses<br />
fatos ou manteve sua habitual fleuma, Cunha, fiel a seus métodos,<br />
deve ter se encarregado de lembrá-lo.<br />
A prisão de Delcídio e André Esteves repercutiu como um terremoto,<br />
provocando um ver<strong>da</strong>deiro tiroteio entre escombros. A sucessão<br />
de eventos é impressionante. Delcídio e Esteves foram presos em 25<br />
de novembro de 2015. Uma semana depois, em 2 de dezembro, o pt<br />
declarou que votaria contra o deputado na Comissão de Ética. No dia<br />
seguinte, Cunha retrucou e acatou o pedido de impeachment. Em 7 de<br />
dezembro, Michel Temer definiu seu lado no conflito, publicando sua<br />
carta-desabafo. No dia seguinte, Cunha comandou a votação secreta<br />
para a composição <strong>da</strong> Comissão <strong>Especial</strong>, na qual derrotou o governo.<br />
A chapa que apoiara recebeu 272 votos, contra míseros 199 <strong>da</strong> base<br />
governamental. No dia 12 de dezembro, com a Operação Catilinárias,<br />
consequência direta <strong>da</strong>s revelações de Delcídio, Esteves e <strong>da</strong> delação<br />
de Fernando Baiano, a Polícia Federal cumpriu man<strong>da</strong>dos de busca<br />
nas casas de Eduardo Cunha. Em 16 de dezembro, Janot apresentou<br />
pedido de afastamento de Cunha de suas funções ao ministro<br />
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