23.06.2017 Views

PME Magazine - Edição 5 - Julho 2017

António Saraiva, presidente da CIP, é a figura de destaque da 5.ª edição da PME Magazine, que marca o primeiro aniversário da empresa. Leia na íntegra aqui.

António Saraiva, presidente da CIP, é a figura de destaque da 5.ª edição da PME Magazine, que marca o primeiro aniversário da empresa. Leia na íntegra aqui.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

julho <strong>2017</strong> | trimestral | <strong>Edição</strong> 5<br />

<strong>Edição</strong> Ano I - Distribuição Gratuita<br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

FACEBOOK.COM/<strong>PME</strong>MAGAZINE.PORTUGAL<br />

WASHSTATION<br />

LAVANDARIAS PORTUGUESAS<br />

CHEGAM À NOVA<br />

ZELÂNDIA<br />

DOME STORE<br />

A LOJA DOS PRODUTOS<br />

ETICAMENTE RESPONSÁVEIS<br />

PRIMAVERA BSS<br />

A DIGITALIZAÇÃO CHEGOU,<br />

E AGORA?<br />

ANTÓNIO<br />

SARAIVA<br />

O MUNDO EMPRESARIAL VISTO PELO PATRÃO DOS PATRÕES


CENTRO DE<br />

MEDICINA FÍSICA<br />

E DE REABILITAÇÃO<br />

ABERTO AO PÚBLICO EM GERAL.<br />

VENHA CONHECER OS NOSSOS SERVIÇOS.<br />

SERVIÇOS PRESTADOS<br />

Cuidados de Saúde no âmbito da Medicina<br />

Física e de Reabilitação a doentes agudos,<br />

subagudos e crónicos.<br />

Cuidados no âmbito da Reabilitação:<br />

· Cinesioterapia<br />

· Eletroterapia<br />

· Ensino e treino de doentes e familiares<br />

· Fisioterapia<br />

· Fototerapia<br />

· Hidroterapia<br />

· Massoterapia<br />

· Mecanoterapia<br />

· Ozonoterapia<br />

· Snoezelen<br />

· Terapia da Fala<br />

· Termoterapia<br />

· Treinos Terapêuticos<br />

· Ventiloterapia<br />

· Outras Técnicas Terapêuticas<br />

SERVIÇO DE MEDICINA CHINESA<br />

· Consultas de Medicina Chinesa<br />

· Acupuntura<br />

· Emagrecimento Localizado<br />

MASSAGEM (SPA)<br />

· Massagem com Pedras Quentes<br />

· Massagem Ayurvédica<br />

· Tui-Na<br />

· Drenagem Linfática Manual<br />

PROGRAMAS INTENSIVOS<br />

DE RECUPERAÇÃO DE AVC’S<br />

Direção | Dr. João Catarino | 918113029<br />

HORÁRIO<br />

A definir com o Cliente<br />

PISCINA AQUECIDA A 33 GRAUS<br />

AULAS DE:<br />

· Hidroterapia | Para todos<br />

· Hidroginástica | Para todos<br />

· Sessões de Relaxamento<br />

· Adaptação ao Meio Aquático para Bebés<br />

HORÁRIO<br />

De segunda a sexta-feira<br />

das 9h às 13h e das 14h às 19h<br />

Sábados das 9h às 13h<br />

CONTACTOS GERAIS<br />

Morada: Rua Quinta do paraíso<br />

Alto Moinho I 2610-316 Amadora<br />

Tel.: 214724040<br />

E-mail: fundação@fund-afid.org.pt<br />

www.fund-afid.org.pt<br />

www.facebook.com/fundacaoafid<br />

RESPONSÁVEL CLÍNICO:<br />

Dra. Clara Loff<br />

ACORDOS | Ocidental, Medis-ac, Médis-saúde, CTT, Serviços<br />

Sociais (CGD), SAMS- Quadros, INCM – Imprensa Nacional<br />

Casa da Moeda, Fidelidade Mundial, Multicare, Medicare


Editorial<br />

Um ano e tanto por descobrir<br />

Com esta quinta edição celebramos um ano de <strong>PME</strong> <strong>Magazine</strong>.<br />

Iniciámos este percurso com o presidente da Confederação.<br />

Empresarial da CPLP, Salimo Abdula, o primeiro que gentilmente<br />

acreditou neste projeto o suficiente para ser a nossa figura de<br />

capa. Chegamos aqui com a certeza de que ainda somos<br />

pequenos, mas que a nossa perseverança talvez um dia seja<br />

igual à das empresas portuguesas, aquela que nunca desiste, por<br />

mais desafios que encontre. E foi, precisamente, para falar sobre<br />

esses desafios que convidámos António Saraiva, presidente da<br />

CIP – Confederação Empresarial de Portugal para ‘batizar’ este<br />

primeiro aniversário.<br />

Tal como nós, também António Saraiva passou por muitos<br />

infortúnios e desafios, ficando com muito para contar e para dar<br />

de beber a outros. A sua experiência de vida, resiliência e<br />

coerência mostram aquilo que um verdadeiro empresário deve<br />

ter: carácter. Coroamos esta edição ainda com outros exemplos<br />

de carácter e inovação: a DOME Store na responsabilidade social<br />

e a eCooltra na eficiência ecológica; o LisboaBiz pela vocação<br />

para o empreendedorismo e a Rittal pela presença vincada ao fim de 15 anos em Portugal.<br />

Como não somos alheios à revolução digital que está a passar-se nas empresas contamos ainda com o<br />

apoio da diretora-geral da Primavera BSS, Felicidade Ferreira, que nos fala das conclusões do barómetro<br />

de digitalização às empresas que a tecnológica levou a cabo.<br />

Vimos, ainda, como uma ideia portuguesa de lavandarias self-service consegue vingar lá fora. Falamos da<br />

Washstation. Com a ajuda de Khalid Jamal, percebemos que o Médio Oriente pode ser um mundo de<br />

vantagens para o investimento das empresas portuguesas, e João Paulo Tavares, da Brain Alive,<br />

explica-nos a importância dos mapas mentais na produtividade das equipas de trabalho. Tudo o que um<br />

bom empresário deve ter também passa por saber o seu propósito no mundo, como defende Teresa<br />

Botelho, da Business Clinik. Já o advogado Diogo Lopes Barata alerta das empresas para o novo<br />

regulamento da proteção de dados e Hugo Pascoal, da E-Goi, diz-nos o que fazer e não fazer para ter um<br />

bom sistema de email marketing.<br />

Celebramos assim o nosso aniversário com informação relevante, de e para empresários, com a sensação,<br />

porém, que temos ainda muito que aprender e descobrir no mundo empresarial português. A todos os que,<br />

até agora, aceitaram o nosso convite para serem entrevistados pela <strong>PME</strong> <strong>Magazine</strong> e para nos ensinarem<br />

com a vossa bravura deixamos o nosso enorme agradecimento. Sem vocês esta revista não teria sentido de<br />

existir.<br />

Boas leituras e bons negócios!<br />

ANA RITA JUSTO | EDITORA<br />

3


p6 | figura em destaque<br />

António Saraiva e os desafios do tecido<br />

empresarial português<br />

p20 | CASOS DE SUCESSO<br />

Rittal e os 15 anos a liderar o mercado das<br />

indústrias<br />

p48 | Opinião<br />

Diogo Lopes Barata e as novas regras de<br />

proteção de dados<br />

FIGURA de DESTAQUE<br />

p22 | Investimento<br />

Khalid Jamal e os investimentos no Médio<br />

Oriente<br />

p24 | Internacional<br />

Washstation no caminho da<br />

internacionalização<br />

p27 | ambiente<br />

eCooltra e as scooters elétricas em Lisboa<br />

p30 | Responsabilidade Social<br />

Dome Store e as compras responsáveis<br />

p31 | Empreendedorismo<br />

Lisboa BIZ e a expansão em Lisboa<br />

p34 | rh<br />

João Paulo Tavares e a importância dos<br />

mapas mentais<br />

p36 | Lenovo tem nova diretora de canal<br />

p38 | Medir para gerir<br />

Teresa Botelho e o sentido da existência para<br />

os negócios<br />

p40 | Marketing<br />

Hugo Pascoal e os dos and don’ts do email<br />

marketing<br />

p42 | Tecnologia<br />

Primavera BSS e os desafios da digitalização<br />

p46 | Agenda<br />

Lisboa recebe Clicksummit<br />

4<br />

DIRETORA: Mafalda Marques<br />

EDITORA: Ana Rita Justo<br />

REDAÇÃO: Denisse Sousa<br />

FICHA TÉCNICA<br />

VÍDEO E FOTOGRAFIA: CN Media e Inês Antunes<br />

DESIGN GRÁFICO: Inês Antunes<br />

DIGITAL MANAGER: Filipa Capela<br />

COLABORADORES: Khalid Jamal, João Paulo<br />

Tavares, Teresa Botelho, Hugo Pascoal<br />

e Diogo Lopes Barata<br />

ESTATUTO EDITORIAL<br />

(leia na íntegra em www.pmemagazine.com)<br />

DEPARTAMENTO COMERCIAL<br />

EMAIL: publicidade@pmemagazine.com<br />

PROPRIEDADE: Massive Media Lda.<br />

NIPC: 510 676 855<br />

MORADA SEDE ENTIDADE PROPRIETÁRIA/EDITOR:<br />

Urb. Nova do Tereco, 7 – Tourinha<br />

2665-018 Azueira<br />

REDAÇÃO<br />

LisboaBiz<br />

Av. Engenheiro Arantes e Oliveira, n.3 R/C – Sala 4<br />

1900-221 Lisboa<br />

TELEFONE:<br />

211 934 140 | 96 453 31 02 | 934 952 854<br />

EMAIL: info@pmemagazine.com<br />

N. DE REGISTO NA ERC: 126819<br />

EDIÇÃO N.º: 5<br />

DEPÓSITO LEGAL N.º: 427738/17<br />

TIRAGEM: 1000 exemplares<br />

IMPRESSÃO: Ondagrafe – Artes Gráficas Lda.<br />

DISTRIBUIÇÃO: Massive Media Lda.


“<br />

Figura<br />

de destaque<br />

SER CRIADOR DE RIQUEZA<br />

NESTE PAÍS CONTINUA<br />

A SER MAL VISTO<br />

“<br />

ANTÓNIO<br />

P<br />

residente da CIP desde 2010, António Saraiva tem-se assumido como a<br />

voz agregadora na defesa dos direitos dos patrões. O trabalho associativo<br />

começou quando, em 1984, concebeu o primeiro contrato social em Portugal.<br />

Do salário mínimo aos problemas de financiamento das empresas, o empresário<br />

traça os maiores desafios da economia portuguesa.<br />

Texto: Ana Rita Justo e Denisse Sousa<br />

Fotos: Inês Antunes<br />

<strong>PME</strong> <strong>Magazine</strong> – Como se dá o seu percurso até se tornar<br />

administrador e dono da Metalúrgica Luso-italiana?<br />

António Saraiva – Entrei para a Lisnave muito novo, com 17 anos, para<br />

aprendiz de serralheiro mecânico, um trabalho muito duro, mas que me deu<br />

muita endurance para o resto da minha vida. Passei, ainda antes do serviço<br />

militar, para a secção de planeamento na divisão comercial e aí estive até ao<br />

serviço militar. Faço o serviço militar três dias antes do 25 de abril de 1974,<br />

foi uma experiência riquíssima, também já de associativismo, porque logo<br />

após o 25 de Abril fui eleito pela minha companhia, nas<br />

Caldas da Rainha, para delegado do MFA. Regresso à Lisnave em 1975,<br />

igualmente para o planeamento, e aí me mantive até 1986, altura em que a<br />

administração da Lisnave, que pertencia ao Grupo José de Mello,<br />

me convidou para diretor comercial da [Metalúrgica] Luso-Italiana para<br />

as torneiras Zenite. Houve uma transformação a 180 graus na minha vida,<br />

porque, como costumo dizer, tinha nascido no estaleiro, e ir para diretor<br />

comercial de um produto que eu utilizava todos os dias, mas não conhecia –<br />

não sabia como se faziam torneiras – foi um desafio que aceitei, devo dizer,<br />

com alguma angústia, porque já estava na minha zona de conforto<br />

profissional naquele estaleiro e ir para uma realidade completamente<br />

diferente era um desafio.<br />

6


JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

António Saraiva começou a trabalhar na Lisnave com apenas 17 anos<br />

7


Figura de destaque<br />

De qualquer maneira aceitei, solicitei que não me<br />

nomeassem diretor comercial de um produto de<br />

que eu não percebia nada. Aceitei ir à experiência<br />

como assessor da direção comercial e, seis meses<br />

depois, passaram-me então a diretor comercial.<br />

Faço-o durante cinco anos, sou nomeado<br />

administrador e o Grupo resolve vender a empresa.<br />

Quando me chamam, já como administrador, para<br />

preparar a empresa para ser vendida ao principal<br />

concorrente que tínhamos, a Cifial, e o dr. Salvador<br />

de Mello me anunciou que iam vender a<br />

empresa tive um clique e disse: ‘Se querem vender<br />

eu estou disponível para comprar’. Ainda hoje<br />

estou para saber porque tive aquele clique, a<br />

verdade é que o tive. Negociámos, andámos uma<br />

série de tempo entre valores, condições de<br />

pagamento, e passei de empregado por conta de<br />

outrem, para empresário com a compra em<br />

Management By Out da empresa e desde 1996 que<br />

sou o único dono da Metalúrgica<br />

Luso-Italiana, que é mais conhecida pelas<br />

torneiras Zenite, a marca comercial.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Foi uma mudança muito radical<br />

para si?<br />

A.S. – Foi, porque ser empresário não é fácil, não é<br />

fácil num país que tem sobre os patrões, sobre os<br />

empresários algum estigma.<br />

Ser criador de riqueza lamentavelmente neste país<br />

continua a ser mal visto, ao contrário de outros<br />

países onde acarinhamos a iniciativa privada, os<br />

empresários, já que são eles que criam emprego,<br />

geram riqueza… Em Portugal, lamentavelmente,<br />

há um estigma sobre os patrões, os<br />

empreendedores. Há muita inveja, tiques<br />

ideológicos e isto prejudica, de alguma maneira,<br />

os pequenos empresários – situação em que me<br />

caracterizo. O país tem grandes empresários, mas<br />

a maioria são donos de micro e pequenas<br />

empresas. Das 400 mil empresas que nós temos,<br />

97% são micro e pequenas empresas. Por isso,<br />

muitas vezes, tal como eu, o dono da empresa vive<br />

da empresa, do salário que tira da empresa. É um<br />

trabalhador que, se não é por contra de outrem é<br />

por conta própria, mas vive da sua empresa e este<br />

estigma que existe sobre os empreendedores,<br />

lamentavelmente dificulta esta atividade.<br />

Não podemos baixar os braços.<br />

8<br />

Aqueles que, como eu, acreditamos que<br />

conseguimos, temos um objetivo, uma missão e<br />

temos de a perseguir. Gostaria que o país tivesse<br />

mais empreendedores, acho que era uma disciplina<br />

que se deveria dar desde muito cedo nas escolas, o<br />

fomento do empreendedorismo, despertar em cada<br />

um dos alunos e das alunas esta iniciativa, gerar<br />

estímulos que os levem a arriscar, a ousar, porque<br />

muito do novo país que temos de criar passa por<br />

ousarmos, acreditarmos e desenvolvermos um<br />

país diferente, com novas condições, com novas<br />

oportunidades e não esperar que os outros façam<br />

aquilo que podemos fazer por nós. É um pouco este<br />

espírito de acreditarmos em nós, de realizarmos e<br />

de construirmos que deve ser ensinado muito cedo.<br />

Começam a existir transformações a esse nível.<br />

Veja os pequenos negócios que vão florescendo.<br />

Hoje já, de alguma maneira, esse espírito começa<br />

a aparecer. Na altura não era fácil, ainda por cima<br />

eu sou de origens humildes, nasci no Alentejo, sou<br />

filho único, [tive] muitas dificuldades.<br />

“ESTOU GRATO AO<br />

GRUPO JOSÉ DE MELLO,<br />

PORQUE DERAM-ME<br />

A POSSIBILIDADE DE<br />

PAGAR A METALÚRGICA<br />

AO LONGO DE ANOS”<br />

Quando comprei a empresa não tinha dinheiro para<br />

a pagar, aquilo que me foi oferecido pelos anos<br />

que levava de Lisnave e pela confiança que esses<br />

anos tinham gerado, foi as condições de<br />

pagamento. Ainda hoje estou grato ao Grupo José<br />

de Mello, porque deram-me a possibilidade de<br />

pagar a empresa ao longo de anos, fatiando em


JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

cada ano uma prestação, do valor negociado,<br />

porque obviamente não tinha riqueza pessoal para<br />

o pagar. O ponto de partida foi duro. Há aqueles<br />

que, numa corrida, já partem 200 metros à frente,<br />

há aqueles, como é o meu caso, que partem do<br />

ponto zero. Mas porque é mais difícil, quando se<br />

ultrapassa a linha de chegada, independente de<br />

chegarmos em primeiro ou em terceiro, temos<br />

muito mais satisfação, muito mais orgulho de ter<br />

feito isso. Razão pela qual, ao longo da minha vida,<br />

tenho ido buscar este orgulho, esta motivação que<br />

me anima, porque as provas que vou<br />

marcando ao longo da minha vida, tenho<br />

conseguido superá-las, até de vida.<br />

Há quatro anos tive um incidente de saúde, em que<br />

estive à beira da morte, mas até esse, felizmente,<br />

consegui superar e por isso, com a família que<br />

tenho e os quatro netos que adoro, tenho motivos<br />

acrescidos para acreditar que quando temos este<br />

espírito conseguimos fazer obra.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Também entrou cedo no mundo<br />

associativo. Sempre foi algo que se viu a fazer?<br />

A.S. –Surgiu naturalmente. Depois do 25 de Abril<br />

era necessário eleger um delegado da<br />

companhia dos milicianos ao MFA e, como a maior<br />

parte deles eram de fora de Lisboa,<br />

Presidente da CIP ocupa o cargo desde 2010<br />

9


Figura de destaque<br />

alguns tímidos, e eu já tinha alguma facilidade de<br />

expressão, era atrevido – acho que fui<br />

atrevido muito cedo – e logicamente essas<br />

características levaram a que me tivessem eleito<br />

para os representar junto do MFA.<br />

Quando regresso à Lisnave, no pós-25 de Abril,<br />

o estaleiro estava muito politizado – greves,<br />

paralisações, manifestações… Não havia uma<br />

manifestação onde a Lisnave não entrasse, umas<br />

por razões próprias, outras por solidariedade.<br />

Nós ganhávamos, na moeda antiga, 2600<br />

escudos, mas recebíamos 100 escudos, 200<br />

escudos ao fim do mês. A Lisnave tinha um<br />

capital social, na altura de dois milhões de<br />

contos e só de salários em atraso tinha 2,2<br />

milhões de contos, só os salários já<br />

ultrapassavam o capital social da empresa, que<br />

caminhava a passos largos para a falência.<br />

Todos os anos eu era convidado para integrar as<br />

listas para as comissões de trabalhadores<br />

e rejeitava, porque não me sentia vocacionado<br />

para isso e, como já tinha 25 anos, propus-me<br />

entrar para o Técnico e fiz o ad hoc, entrei para<br />

Engenharia Mecânica, estudava à noite, já tinha<br />

família e filhos e não estava desperto para essa<br />

atividade. Até que um dia lá me conseguiram<br />

convencer e integrei uma lista de oposição àquele<br />

estado de coisas. O estaleiro era maioritariamente<br />

dirigido por forças da CGTP, a Lisnave tinha dez<br />

mil pessoas e nos sindicatos afetos à UGT estariam<br />

1500 pessoas. Eu resolvi integrar uma lista<br />

representando os minoritários, e, a partir daí,<br />

comecei uma atividade na comissão de<br />

trabalhadores e comecei a desenhar o contrato<br />

social que, entretanto, se veio a fazer na<br />

Lisnave. Falamos hoje muito na Autoeuropa, mas<br />

o primeiro contrato social que se fez no país foi na<br />

Lisnave, em 1984. No primeiro ano, dos 11<br />

elementos para a comissão de trabalhadores<br />

entrámos dois, no ano seguinte três e, três anos<br />

depois vi-me maioritário na comissão de<br />

trabalhadores. Como o voto para a comissão de<br />

trabalhadores era secreto, de um dia para o outro<br />

vejo-me líder da comissão de<br />

trabalhadores da Lisnave e com toda aquela<br />

responsabilidade, que era salvar aquele<br />

Acesso a crédito é uma das preocupações<br />

do patrão dos patrões<br />

estaleiro. Consegui, com peripécias várias – um dia<br />

escreverei um livro – fazer aprovar numa<br />

assembleia-geral, de braço no ar, o contrato<br />

social. Através desse contrato o estaleiro<br />

salvou-se, em dois anos recuperámos os salários<br />

em atraso, readquirimos a confiança dos<br />

armadores. Isto para lhe dizer que essa tarimba,<br />

primeiro enquanto delegado do MFA muito jovem,<br />

com 20 anos, depois no regresso ao estaleiro como<br />

membro da comissão de trabalhadores durante<br />

seis anos, foi solidificando em mim este bichinho<br />

deste ato de cidadania de representação e o<br />

associativismo começou a cimentar-se.<br />

Quando compro a empresa, o engenheiro José<br />

Manuel Fernandes, dono da Frezite, estava<br />

presidente da Associação dos Industriais<br />

Metalúrgicos e convidou-me para integrar a<br />

direção da Associação, e integrei como<br />

vice-presidente. Quando o mandato do José<br />

Manuel Fernandes terminou os colegas<br />

entenderam que eu teria condições, perfil –<br />

aquelas coisas que as pessoas dizem… - e<br />

vejo-me presidente da Associação dos Industriais<br />

Metalúrgicos. O engenheiro Francisco Van Zeller,<br />

presidente da CIP na altura, convidou-me para a<br />

direção da CIP. Faço o cargo durante quatro, cinco<br />

anos, e, quando o sr. Francisco Van Zeller terminou<br />

o mandato, os colegas entenderam que eu tinha o<br />

10


JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

perfil para presidir à CIP e desde 2010 que estou a<br />

presidir à CIP.<br />

“A CIP TEM DE SER<br />

PERMANENTEMENTE<br />

O FAROL AVISADOR<br />

DA NAVEGAÇÃO<br />

DAS ATIVIDADES<br />

EMPRESARIAIS”<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Como é que vê, atualmente,<br />

o setor associativo em Portugal?<br />

A.S. – O associativismo, tal como uma empresa,<br />

tem de se modernizar. Tem de se reestruturar,<br />

acrescentar valor ao seu produto. Eu presto um<br />

serviço aos meus associados e tenho que o inovar,<br />

acrescentar valor a esse produto, se não porque é<br />

que o associado me paga uma quota? Tenho de ser<br />

o farol avisador da navegação das atividades<br />

empresariais. A CIP tem esta condição de ser<br />

transversal a todas as atividades<br />

económicas. Temos aqui a indústria, agricultura,<br />

turismo, serviços, enfim, representamos 115 mil<br />

empresas das 82 associações que nos integram,<br />

além das maiores empresas – temos aqui a EDP, a<br />

Galp, a REN… A CIP tem de saber ser<br />

permanentemente o farol avisador da navegação<br />

das atividades empresariais, sendo que algumas<br />

delas têm interesses opostos, porque o que é bom<br />

para a grande distribuição pode não ser bom para<br />

os pequenos distribuidores. Há aqui, por vezes,<br />

conflitos internos que temos sabido, felizmente,<br />

gerir internamente, não indo para os jornais ou para<br />

a comunicação social com guerras que não<br />

levariam a nada.<br />

É esta banda larga de representação, esta<br />

heterogeneidade que é preciso permanentemente<br />

percecionar os problemas, antecipar as soluções,<br />

porque os perigos são vários.<br />

Portugal tem um modelo de desenvolvimento que<br />

tem de ser alterado. Nós saímos de um modelo de<br />

desenvolvimento de baixos salários, de produtos<br />

pouco inovadores, de micro e pequenas<br />

empresas. Precisamos de ganhar escala para<br />

podermos internacionalizar a nossa economia. Não<br />

são as pequeninas empresas que têm capacidade<br />

de ir a feiras, de ir vender lá fora, temos de ter<br />

associações de empresas, temos de fazer acordos<br />

entre empresas na complementaridade da oferta…<br />

Há aqui um mundo enorme de desafios que uma<br />

confederação empresarial, com esta<br />

heterogeneidade de interesses, tem de<br />

permanentemente percecionar. Costumo dizer que<br />

temos de, permanentemente, antecipar e<br />

participar e é este jogo que, cada vez mais, é<br />

fundamental ter no terreno com eficácia, por isso o<br />

associativismo tem de incorporar estas<br />

transformações em que o mundo se encontra<br />

– a digitalização, o que isso vai trazer de novas<br />

profissões, a ameaça ao desemprego, porque há<br />

competências que vão ficar desadequadas, há<br />

novas competências que vão ser criadas. Nós que<br />

temos centros de formação profissional, temos de<br />

gizar corretos currículos para que as competências<br />

dos nossos recursos humanos estejam sempre<br />

adaptadas às necessidades, ou se preparem para<br />

as novas necessidades. Temos aqui um mundo<br />

de desafios e é isso que o associativismo tem de<br />

percecionar, incorporar e encontrar as melhores<br />

respostas para aqueles que representa, porque<br />

esse é o seu papel, antecipar problemas,<br />

participar nas soluções.<br />

António Saraiva foi condecorado por Cavaco Silva<br />

11


Figura de destaque<br />

<strong>PME</strong> Mag.– Quais as grandes mudanças que<br />

tem sentido ao nível empresarial?<br />

Entrevista decorreu na CIP, em Lisboa<br />

A.S. – As mudanças que a própria sociedade tem<br />

incorporado, porque na sociedade portuguesa,<br />

Europa e o mundo de um modo geral, nestes<br />

últimos dez anos, mudou muita coisa. Passámos<br />

por um programa de ajustamento, tivemos<br />

algumas reformas, estamos a ultrapassar um<br />

conjunto de problemas. A Europa, de um modo<br />

geral, e Portugal, pela situação a que se deixou<br />

chegar, de uma dívida pública muito elevada, de<br />

uma dívida privada mais elevada ainda, de um<br />

tecido empresarial que está descapitalizado, isto<br />

tem provocado desafios e aquilo que tenho sentido<br />

é que a sociedade portuguesa tem sido obrigada a<br />

dar resposta a estes novos desafios, que<br />

nestes últimos dez anos têm vindo a ocorrer.<br />

Tenho assistido a transformações<br />

interessantíssimas do tecido empresarial. Há dez<br />

anos as empresas nem despertas estavam para as<br />

ameaças que a realidade dos tempos lhes trouxe.<br />

E vejo com satisfação que ajudámos de alguma<br />

maneira, não só a CIP, mas as estruturas<br />

associativas, os meus outros parceiros sociais,<br />

a CAP, a CCP, a CTP, temos vindo a encontrar<br />

formas, em concertação social, no diálogo com o<br />

Governo, entre nós próprios, articulando soluções,<br />

estudos que sustentem as nossas posições.<br />

Não chega pedir a reforma do Estado, a reforma<br />

da justiça, no nosso caso da justiça económica,<br />

não chega pedir a desburocratização da economia,<br />

é preciso dizer onde temos a dor. Há que definir<br />

com rigor a doença para que a terapia seja a mais<br />

adequada. E, durante os últimos dez anos, acho<br />

que temos, com algum resultado, ajudado com<br />

as nossas posições, com as nossas propostas,<br />

a transformar a economia portuguesa que hoje,<br />

apesar dos enormes desafios que tem pela frente,<br />

está mais preparada, mais estruturada. Temos uma<br />

rede empresarial – apesar da microrealidade que<br />

lhe caracterizei – mais preparada para<br />

incorporar mais rapidamente a mudança e<br />

responder mais eficazmente a estes desafios,<br />

sendo que não temos mil mezinhas, não temos<br />

soluções mágicas para os ultrapassar.<br />

Estamos coletivamente melhor preparados, temos<br />

empresas que são líderes mundiais nos produtos<br />

ou nos serviços que oferecem, houve uma<br />

transformação do país para melhor. Temos<br />

enormes desafios, temos ainda dificuldades: a<br />

qualificação profissional das pessoas,<br />

desigualdades sociais que ainda se vivem,<br />

a igualdade de género… Temos uma questão de<br />

natalidade que é preocupante, a questão das<br />

competências para este novo mundo<br />

da digitalização da economia, temos que estar<br />

preparados. Dez anos após ter chegado – e não<br />

chamo isto à CIP – temos hoje uma sociedade<br />

mais preparada, embora com problemas que têm<br />

de ser ainda resolvidos e com reformas que têm<br />

de ser feitas, mas Portugal é hoje uma sociedade<br />

mais preparada para o mundo moderno que temos<br />

à porta.<br />

12


“A ECONOMIA NÃO SE GERE<br />

POR OBJETIVOS POLÍTICOS”<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Depois de os parceiros sociais<br />

chegarem a acordo para o aumento do salário<br />

mínimo para 557 euros este ano o Governo já<br />

fala nos 580 euros para o ano. Qual a posição<br />

da CIP?<br />

A.S.– O Governo tem um objetivo de chegar a<br />

600 euros em 2019, acordo que tem com um dos<br />

partidos, o Bloco de Esquerda. Há de facto esse<br />

compromisso político do Partido Socialista e hoje,<br />

como é governo, de o cumprir, mas, sendo certo<br />

que o salário mínimo é baixo e todos o<br />

reconhecemos, temos de perceber que o salário,<br />

seja o mínimo, seja outro qualquer da grelha<br />

salarial das empresas, tem de estar<br />

inevitavelmente indexado a ganhos de<br />

produtividade. Não podemos crescer os salários<br />

se não houver ganhos de produtividade que os<br />

sustentem. É muito bom passarmos de 900 euros<br />

para 1200 euros se no mês seguinte não tivermos<br />

desemprego. De que me serve aumentarem-me<br />

300 euros o meu salário, se no mês seguinte a<br />

empresa perde condições de mo pagar e eu vou<br />

para o desemprego? Então vamos, numa<br />

discussão séria, honesta, com dados objetivos,<br />

fazer evoluir o salário mínimo com base em<br />

indicadores que sejam mensuráveis e essa tem<br />

sido a nossa preocupação. De uma forma leal,<br />

honesta, transparente, com os elementos que<br />

estejam disponíveis, variar os salários em função<br />

de três critérios objetivos: crescimento económico,<br />

inflação e produtividade.<br />

O salário hoje é 557. Vamos-lhe incorporar estes<br />

três fatores objetivos para evolução. Quanto é o<br />

crescimento económico? 1,8%, 2%? Muito bem.<br />

Quanto é o ganho de produtividade? Igual?<br />

Muito bem. Quanto é a inflação? Com base nisto,<br />

definimos que o salário deve aumentar, para que<br />

a economia o sustente, para 580? Muito bem, se<br />

for esse o valor que se encontrar, seja 580. Então<br />

e se for 575? E se for 590? Se for 590 toda a gente<br />

concordará, mas se for 575 não pode ser, porque<br />

há um objetivo político que seja 580.<br />

JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

“QUANDO CHEGARMOS<br />

A OUTUBRO, O GOVERNO<br />

VAI QUERER DISCUTIR<br />

O SALÁRIO MÍNIMO<br />

APONTANDO 580”<br />

A economia não se rege por objetivos políticos.<br />

A economia, a capacidade das empresas, o<br />

crescimento económico, é que deve gerar<br />

sustentadamente uma correta politica salarial.<br />

É evidente que não podemos ter desigualdades,<br />

temos de ter uma preocupação social e o salário<br />

mínimo incorpora uma componente social que não<br />

pode ser esquecida, mas essa componente social<br />

deve ser o próprio Estado a incorporá-la. E por isso<br />

é que o diálogo deve ser tripartido, Governo,<br />

empregadores, sindicatos, para, com base nestes<br />

critérios, definirmos o escalonamento da evolução<br />

do salário mínimo, não pode ser por decreto!<br />

Eu não posso chegar a uma empresa e decretar<br />

que a empresa agora deve pagar 600 euros.<br />

Se a empresa não puder pagar mais do que 500 eu<br />

vou fechar a empresa, tenho que ter esta lucidez,<br />

vou provocar desemprego. Então vamos, numa<br />

discussão honesta, com base em indicadores que<br />

todos conhecemos e que todos possamos<br />

valorizar – não pode ser com fatores de<br />

malandrice negocial, mas coisas objetivas,<br />

mensuráveis. Se dá dez é dez, mas se der sete é<br />

sete! É esta discussão séria que deve ser feita em<br />

sede de concertação social. Obviamente que não<br />

vamos ser ingénuos, sabemos que o Governo,<br />

tendo este objetivo político, quando chegarmos<br />

a outubro, vai querer começar a discutir o salário<br />

mínimo do ano que vem, apontando 580. Tem uma<br />

componente social, tem um objetivo político em<br />

que nós não interviemos – não fomos tidos nem<br />

achados nesse objetivo político.<br />

13


Foi um objetivo político que o PS, por contas que<br />

deve ter feito, encontrou. Expliquem-nos<br />

o racional, discutamos a matéria onde ela deve ser<br />

discutida, em sede de concertação social e, numa<br />

discussão séria, cheguemos a um valor. Se o<br />

Governo vem impor, vem apenas informar os<br />

parceiros sociais que o valor do salário não é<br />

negociado, é imposto, teremos alguma dificuldade<br />

em incorporar essa imposição. Se, como nós<br />

desejamos, for negociado, tiver critérios objetivos,<br />

todos chegaremos a um valor. Se for 580, como foi<br />

este ano os 557, vamos ver que contrapartidas é<br />

que o Governo dá. Quando se fala em<br />

contrapartidas não é para dizer que os patrões só<br />

estão disponíveis para aumentar o salário mínimo<br />

se tiverem contrapartidas.<br />

Há empresas que já pagam acima dos 600 euros<br />

por isso, mesmo que o salário passe para 580 não<br />

os afeta. Há empresas, contudo, em que a<br />

mão-de-obra é intensiva, que têm uma<br />

concorrência internacional perversa e eu dou<br />

sempre o caso das confeções. Aqueles senhores<br />

que pregam botões, põem fechos: quanto é que<br />

se paga em Portugal? ‘X’. Quanto é que se paga<br />

na Polónia? Na República Checa? Nem vamos<br />

para a China… Mesmo dentro do espaço europeu<br />

temos salários mínimos muito abaixo dos nossos.<br />

Não nos podemos nivelar por aqueles que estão<br />

abaixo, mas são esses que concorrem connosco<br />

em algumas profissões. Se eu não obtiver as mil<br />

camisas para pôr fechos ou botões elas vão para a<br />

República Checa, porque hoje o mundo é global. E<br />

os clientes, porque é que vêm colocar em Portugal<br />

a encomenda se têm condições de preço mais<br />

favoráveis, mesmo dentro do espaço europeu,<br />

numa outra geografia? Há setores e dentro de<br />

setores há empresas que têm de ser acauteladas<br />

na sua sobrevivência, encontrando formas de as<br />

compensar a sobreviverem para que não fechem e<br />

levem pessoas para o desemprego.<br />

<strong>PME</strong> Mag.– De que forma é que a CIP defende<br />

os interesses das micro e pequenas empresas,<br />

sendo esta a maioria do tecido empresarial<br />

português?<br />

A. S. – Tal como temos feito em sede de<br />

concertação social, no diálogo com o Governo e<br />

no diálogo bipartido que vamos fazendo com os<br />

14<br />

Figura de destaque<br />

sindicatos – aquilo que é mais mediático são as<br />

reuniões de concertação social, aí estamos a<br />

discutir o salário mínimo, as TSU, o Plano Nacional<br />

de Reformas, o simplex… Mas nós temos muitas<br />

reuniões bilaterais, com a CGTP, com a UGT, ou<br />

mesmo com os outros parceiros sociais patronais,<br />

temos muitas reuniões bilaterais para discussão<br />

de ene matérias. A questão do Brexit, da saída do<br />

Reino Unido da União Europeia, que ameaças é<br />

que traz para a economia portuguesa? Para que<br />

setores? Há ene temas que nos preocupam e para<br />

os quais tentamos encontrar as melhores<br />

respostas. Temos uma burocracia asfixiante para<br />

a atividade empresarial, mas dizer isto é genérico.<br />

Que aspetos devem ser removidos?<br />

O licenciamento? Não estarmos oito anos à espera<br />

para licenciar um projeto? Hoje posso criar uma<br />

empresa na hora, mas depois para licenciar o<br />

projeto da minha empresa chego a esperar três,<br />

quatro ou cinco anos. Isto afasta qualquer<br />

investidor. Temos uma carga fiscal elevada, onde<br />

é que podemos agir? Vamos ao IRC e baixamo-lo?<br />

Vamos ao escalonamento do IRS? Há um conjunto<br />

de matérias que, para as empresas, umas são mais<br />

importantes, outras podem esperar mais algum<br />

tempo. Ultimamente uma das preocupações é o<br />

financiamento das empresas.<br />

As empresas não têm acesso a crédito. Há dez<br />

anos, as empresas estavam inundadas de


JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

“PORTUGAL TEM DE SER<br />

AMIGO DO INVESTIMENTO<br />

E AINDA TEMOS A ESSE<br />

NÍVEL MUITO<br />

QUE REFORMAR”<br />

António Saraiva pede discussão séria sobre salário mínimo<br />

crédito: o crédito era fácil, barato, os critérios de<br />

risco eram muito amplos, hoje, o critério de risco<br />

da banca é muito, muito afinado.As supervisões,<br />

as regulações bancárias, quer da União Europeia<br />

quer dos próprios bancos, hoje, é completamente<br />

diferente. As empresas não têm acesso a crédito.<br />

Como é certo que a maior parte das empresas tem<br />

estruturas de capitais muito débeis, e deficitárias<br />

até, a banca olha para elas em risco e houve uma<br />

redução substancial do crédito concedido às<br />

empresas. Acesso a crédito às empresas viáveis,<br />

mas que estão estranguladas financeiramente, é<br />

um dos nossos capitais de caixa junto da banca,<br />

junto do Governo.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – O acesso ao crédito continua então<br />

a ser uma das questões mais prementes para<br />

resolver?<br />

A.S.– Os chamados custos de contexto, uma<br />

justiça económica mais célere, onde não<br />

estejamos três, quatro anos à espera de decisões<br />

de tribunal, uma burocracia menos asfixiante,<br />

uma previsibilidade fiscal e uma carga fiscal… Nós<br />

próprios, os cidadãos, temos uma carga fiscal<br />

enorme sobre nós! Andamos, dependendo do nível<br />

salarial onde nos encontramos, cinco, seis meses<br />

a trabalhar para o Estado. E todos os anos mudam<br />

os impostos. Agora é o imposto sobre o imobiliário,<br />

aquela sobretaxa, amanhã são os escalões de IRS<br />

que têm uma sobretaxa a partir de determinado<br />

nível, agora é o IRC que já não baixa para 21%<br />

sobe para 23%, por exemplo. Há aqui uma<br />

imprevisibilidade e as empresas não podem viver<br />

em imprevisibilidade. Tal como nós temos de ter<br />

uma razoável esperança do que vai acontecer,<br />

uma garantia de como é que as nossas<br />

receitas vão ter de ser distribuídas, as empresas é<br />

a mesma coisa. Tenho de saber que carga fiscal é<br />

que vou incorporar no meu investimento para ter a<br />

garantia se faço ou não esse investimento, porque,<br />

mais uma vez, no radar de atratividade do investimento,<br />

porque é que um investidor vem investir em<br />

Portugal? Paga um IRC de 21%, espera dez meses<br />

por uma solução de licenciamento – ou dez anos<br />

às vezes, em casos de hotelaria. Tem esta<br />

imprevisibilidade… Vai à Irlanda 12% [de IRC],<br />

Hungria baixou agora para 9 a taxa de IRC, os<br />

salários mínimos mais baixos, ajudas desta e<br />

daquela natureza em termos de derramas<br />

municipais. Portugal, somos um país simpático,<br />

temos uma gastronomia excecional, mas isto para<br />

investimentos empresariais, pode distinguir em<br />

igualdade de circunstâncias, mas não é fator<br />

distintivo no radar de atratividade, por isso o país<br />

tem de ser amigo do investimento e ainda temos a<br />

esse nível muito que reformar, dar<br />

sustentabilidade para sermos amigos do<br />

investimento.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Qual é que será o impacto do Brexit<br />

para o tecido empresarial português?<br />

15


Figura de destaque<br />

António Saraiva termina último mandato na CIP em 2019<br />

A.S.– Como tudo na vida, tem ameaças e tem<br />

oportunidades. Nós criámos aqui dentro uma task<br />

force para avaliar os impactos do Brexit na<br />

economia portuguesa. Temos setores de atividade<br />

que podem sofrer alguma perturbação, e temos,<br />

na avaliação que fizemos até agora, vantagens que<br />

temos de saber explorar. Estamos a tentar trazer a<br />

Agência Europeia do Medicamento para Portugal,<br />

estamos firmemente empenhados nesse objetivo.<br />

Sendo a praça londrina uma praça importante em<br />

termos financeiros, o Brexit está a provocar algum<br />

abandono e procura de outras regiões dentro do<br />

espaço europeu para parquear muitas dessas<br />

atividades. Há empresas do Reino Unido que<br />

querem manter dentro do espaço europeu algumas<br />

vantagens que hoje se tem como<br />

Estado-membro – o próprio Reino Unido tem<br />

graves conflitos, porque o Brexit provocou-lhes<br />

três grandes brechas: geracionais, territoriais e<br />

políticas, com os efeitos que temos estado a<br />

assistir, porque a Irlanda, a Escócia, têm todos<br />

aqueles problemas e aquele Reino Unido está a<br />

ficar um pouco desunido.<br />

Teremos acrescidas vantagens em poder captar<br />

para Portugal muitos investimentos, muitas<br />

deslocalizações do Reino Unido em várias áreas<br />

de negócios. Portugal tem excelentes condições,<br />

somos um país seguro, veja o fenómeno turístico.<br />

O que está a sustentar muito o nosso crescimento<br />

turístico, independentemente do clima, da<br />

gastronomia, da nossa simpatia, do domínio de<br />

idiomas que todos temos, é a segurança. Estamos<br />

a ser favorecidos pelo azar de outras regiões, que<br />

infelizmente, pelos terrorismos, pelos fenómenos<br />

que lá vão ocorrendo estão a ser abandonados –<br />

Egitos, Tunísias e outras geografias – e Portugal<br />

está a ser descoberto, ou redescoberto, e,<br />

felizmente para nós, o turismo tem tido essa<br />

explosão, que penso que é sustentada, porque<br />

quem vem volta, passa a palavra ao amigo, há o<br />

boca a boca. Mas é essa segurança também que<br />

valida a decisão de parquear em Portugal<br />

atividades que, esperamos nós, nos venham a<br />

favorecer.<br />

16


“UNIFICAR O MOVIMENTO<br />

ASSOCIATIVO”<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Foi reeleito presidente da CIP.<br />

Quais os seus objetivos para o próximo triénio<br />

e até quando fica à frente da CIP?<br />

A.S.– Eu estou limitado, enquanto presidente da<br />

CIP, a três mandatos. Iniciei agora o terceiro e<br />

último mandato a que, estatutariamente, me<br />

poderia propor. Acho que três mandatos, sendo<br />

que cada um deles é de três anos e tenho um<br />

máximo de nove anos, é o número ideal. Porque,<br />

atendendo que as eleições serão realizadas até<br />

março do ano seguinte, estarei aqui dez anos<br />

enquanto presidente – no final estarei 16,<br />

somando [o tempo] enquanto estive<br />

vice-presidente. Nove anos à frente desta casa é o<br />

tempo que acho suficiente. Dois mandatos de seis<br />

anos é pouco: no primeiro apreendemos a função,<br />

no segundo executamos a visão e no terceiro<br />

consolidamos tudo isso e preparamos a sucessão,<br />

que é isso que começarei a fazer. E, ao fim de nove<br />

anos, o mundo muda muito, independentemente<br />

das qualidades ou dos defeitos, é necessário<br />

rejuvenescer, trazer outra visão, adaptar o<br />

comandante aos tempos. Por muita arte, por muita<br />

competência, por muitos skills que se tenha, o<br />

tempo encarrega-se sempre de nos mostrar que<br />

atrás de nós vem quem tem outra visão, outras<br />

ideias, mais adaptadas àquele tempo.<br />

Ao fim de algum tempo, formatamo-nos e não<br />

conseguimos gerar ruturas. E estas instituições<br />

devem saber gerar ruturas, disfunções, no<br />

sentido de revolucionar conceitos, aprender novas<br />

formas… Fazer ruturas no bom sentido, porque se<br />

não habituamo-nos, viciamo-nos em<br />

comportamentos. Três mandatos de três anos é o<br />

ideal. Vou fazê-los, terminarei o meu mandato em<br />

2019, em março de 2020 realizaremos eleições e<br />

teremos outra pessoa à frente dos destinos da CIP,<br />

liderando uma equipa que fará diferente,<br />

seguramente. Pretendo consolidar este trabalho<br />

que foi feito no meu tempo, gostaria de unificar<br />

mais o movimento associativo. Proliferam, hoje, na<br />

sociedade portuguesa muitas associações,<br />

muitas confederações. Nós vamos a Espanha e<br />

JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

temos uma confederação, a COE, vamos a Itália<br />

e temos a Confindustria, vamos a França e temos<br />

uma grande confederação, em Portugal temos seis<br />

confederações. Chega a ser ridículo lá fora<br />

quando falamos nesta realidade. É provinciano,<br />

até. Não sei se terei tempo, mas desde a<br />

primeira hora que assumi o cargo de presidente da<br />

CIP estou a tentar unir mais o movimento<br />

associativo empresarial numa confederação<br />

patronal forte, coesa. Não a uma voz, porque<br />

temos setores de atividade diferentes, mas pelo<br />

menos a uma voz coesa. Há matérias em que todos<br />

partilhamos os mesmos objetivos – formação<br />

profissional, custos de contexto, Segurança<br />

Social – em que não precisamos de ter seis vozes.<br />

Devemos caminhar nesse sentido de uma maior<br />

concentração, uma maior coesão do movimento<br />

associativo empresarial. Dignificar o empresário,<br />

naquela figura que lhe dei lá atrás, de que a<br />

sociedade portuguesa ainda hoje estigmatiza<br />

muito o empresário, o patrão. Gostaria de, ainda<br />

no meu tempo, dignificar o empreendedorismo, o<br />

empresário, dando-lhe o valor que ele deve ter na<br />

sociedade e gostaria de concluir um conjunto de<br />

trabalhos de reformas que o país deve promover,<br />

desde logo na burocracia, na reforma do Estado,<br />

que é a grande reforma de que o país continua a<br />

necessitar.<br />

“HÁ MATÉRIAS EM QUE<br />

TODOS PARTILHAMOS<br />

OS MESMOS OBJETIVOS<br />

E NÃO PRECISAMOS<br />

DE TER SEIS VOZES”<br />

17


<strong>PME</strong> Mag. – Como é, para si, ser patrão dos<br />

patrões, e assumir um papel de mediador junto<br />

de tantas frentes?<br />

A.S.– Todos temos as características que temos,<br />

cada ser humano é único e é isso que nos<br />

distingue. O ser humano é de uma riqueza enorme.<br />

Eu adoro relações humanas, porque cada pessoa é<br />

única, tem aspetos interessantíssimos, tem outros<br />

obviamente que não advogamos, mas cada ser<br />

humano é único. E esta função tem esta riqueza de<br />

estarmos sempre em interação com novos<br />

mundos, novas maneiras de ver, porque cada<br />

pessoa ensina-nos sempre qualquer coisa. O facto<br />

de eu estar sempre certo não implica que o<br />

outro esteja errado e eu parto sempre muito dessa<br />

premissa. Posso estar certo e estar muito seguro<br />

da minha razão, mas não me posso esquecer que<br />

o outro tem seguramente as razões dele. Se eu<br />

tivesse de me adjetivar diria que sou um<br />

construtor de pontes. E é esta capacidade, esta<br />

humildade que temos de permanentemente ter e<br />

não ser donos da razão. Temos de ter convicções,<br />

de ser determinados naquilo em que acreditamos,<br />

mas saber demonstrar ao outro a legitimidade, a<br />

justeza do nosso ponto de vista, mas ter a<br />

humildade de perceber que o outro também tem<br />

as razões dele e temos é de fazer aqui um mix das<br />

razões que nos movem, se tivermos num<br />

diálogo honesto, se não houver maldades desta ou<br />

daquela natureza a subverterem a boa intenção.<br />

Posso ter à minha frente um sindicalista, um líder<br />

patronal, mas tenho sempre à minha frente um ser<br />

humano, independentemente do seu registo de<br />

interesses.<br />

Tenho encontrado bom e mau em todos os lados.<br />

Nem todos os patrões são pessoas excecionais,<br />

nem todos os sindicalistas são diabos. Eu já fui<br />

dirigente de uma comissão de trabalhadores, já<br />

estive do outro lado e sou a mesma pessoa. Não<br />

mudei, não fiz nenhuma lavagem cerebral. Sou um<br />

defensor de causas, da mesma maneira que salvei<br />

aquela empresa com o primeiro contrato social<br />

que foi feito no país, é nessa posição que hoje me<br />

encontro, ajudando salvar as empresas<br />

portuguesas, a tentar encontrar caminhos,<br />

soluções para os problemas, por isso, um lutador<br />

de causas. É esta riqueza de todos os dias<br />

encontrar motivos diferentes, pessoas diferentes,<br />

18<br />

Figura de destaque<br />

com quem aprendo e, já agora, humildemente, mas<br />

também sem falsas modéstias, a quem ensino,<br />

e é neste diálogo permanente, neste encontrar de<br />

soluções diárias e constantes que há muita riqueza<br />

em funções como esta. Temos de ter este espírito:<br />

construir pontes, sabendo que o facto de eu ter<br />

razão não retira a razão que o outro pode ter. É um<br />

diálogo de percebermos a razão que nos assiste e,<br />

se assim fizermos, as coisas são fáceis. O mundo<br />

é fácil, nós é que o complicamos.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Pretende continuar ligado ao<br />

movimento associativo no final deste mandato?<br />

Não tenho nenhuma perspetiva disso. Para o<br />

movimento associativo, enquanto ser humano, já<br />

dei largamente o meu contributo. Eu tenho este<br />

bichinho, reconheço, tenho esta inquietude cívica<br />

de participar, faço isso na reunião de condomínio…<br />

Enfim, tenho essa inquietude cívica, que acho que<br />

todos devíamos ter – se todos os portugueses<br />

tivessem inquietude cívica acho que a sociedade<br />

portuguesa estaria um pouco melhor, porque não<br />

deixamos aos outros aquilo que temos de ser nós a<br />

fazer, porque nós vamos, votamos e depois<br />

alguém trata. Não podemos fazer isso. Esta<br />

inquietude cívica não vai, de certeza,<br />

abandonar-me. É público que fui convidado, antes<br />

de iniciar este mandato, a ser presidente de<br />

câmara por três partidos – imagine o leque de<br />

aceitação que as minhas características geram. E<br />

de grandes câmaras! Não vou escondê-lo, deu-me<br />

satisfação pessoal, o convite, mas não tive nenhum<br />

apelo para o fazer.<br />

Vou fazer este ano 64 anos, tenho quatro netos<br />

que adoro. Tenho, por esta minha atividade<br />

permanente, tido muito pouco tempo para gerir os<br />

meus afetos e eu sou uma pessoa de afetos. Vou<br />

querer ter tempo para mim nessa partilha de<br />

afetos, sendo certo que não vou dedicar todo o<br />

tempo – porque a minha inquietude cívica não mo<br />

vai permitir. Vou continuar a ser inquieto e por isso<br />

tenho desafios profissionais que já hoje vou<br />

gerindo. 90% do meu tempo é dedicado a esta<br />

causa, mas tenho uma empresa, à qual não vou<br />

praticamente – tenho uma equipa que felizmente<br />

ma vai gerindo – mas à qual tenho de estar atento,<br />

tenho responsabilidades pessoais com ela e tenho


outros desafios que aceitei e que começo a<br />

desenvolver. Vou fazer aqui uma descida em<br />

termos de presidência da CIP e vou tentar fazer<br />

uma subida em termos de outros desafios<br />

profissionais, para no final de mandato as coisas<br />

estarem equilibradas – isto é a minha deformação<br />

profissional, porque como sou de planeamento,<br />

planifico tudo a alguma distância – para,<br />

quando chegar a março de 2020, ter as coisas bem<br />

JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

doseadas, ter garantia de continuidade do meu<br />

sucessor aqui e eu próprio já estar<br />

suficientemente imerso numa outra atividade<br />

profissional. Quero ver se esta experiência de vida<br />

me dá a sensatez de dividir melhor os meus<br />

tempos, coisa que gostaria de fazer para que os<br />

afetos, a profissão e a inquietude cívica se<br />

misturem nas doses perfeitas.<br />

António Saraiva vai voltar à vida empresarial depois de deixar a CIP<br />

Nasceu em Ervidel, Beja, em 1953 e é presidente<br />

da CIP – primeiro Confederação da Indústria<br />

Portuguesa e desde 2011 Confederação<br />

Empresarial de Portugal – desde 2010.<br />

Começou a sua carreira profissional aos 17 anos,<br />

como operário metalúrgico na Lisnave e enquanto<br />

trabalhava concluiu o Curso da Escola Industrial e<br />

ingressou no Instituto Superior Técnico, mas<br />

nunca terminou o curso.<br />

Em 1989, é convidado pelo Grupo Mello,<br />

proprietário da Lisnave, para mudar para outra<br />

empresa do Grupo – a Metalúrgica Luso-Italiana,<br />

onde assume a direção comercial, passando mais<br />

tarde a administrador. Adquiriu a empresa em 1996<br />

e assumiu a sua liderança, sendo atualmente o<br />

presidente do conselho de administração.<br />

Tem dois filhos e quatro netos.<br />

19


Casos de sucesso<br />

Rittal celebra 15 anos<br />

em Portugal<br />

Rittal emprega 16 pessoas na sua subsidiária em Portugal<br />

Começou por ser uma pequena empresa tecnológica na Alemanha, mas rapidamente se expandiu pelo<br />

mundo. Em 2002 abriu a Rittal Portugal, que se tornou líder de mercado no fornecimento de estruturas<br />

tecnológicas à indústria.<br />

Por: Ana Rita Justo<br />

Fotos: Rittal<br />

Em 1961 nascia na Alemanha a Rittal, integrada no<br />

grupo Friedhelm Loh, com a invenção e comercialização<br />

do primeiro armário de distribuição de série. Em 2002<br />

dá-se a entrada em Portugal, com a criação da Rittal<br />

Portugal, que é hoje líder na distribuição de<br />

equipamento tecnológico à indústria.<br />

Jorge Mota, diretor-geral da subsidiária portuguesa,<br />

revela que o “marketshare na área industrial é de mais de<br />

65%”.<br />

“Se em novembro de 2002 a Rittal era uma empresa quase<br />

desconhecida em Portugal, muito centrada na<br />

atividade com meia dúzia de empresas de grande dimensão,<br />

em finais de 2008 era já líder de mercado no<br />

setor industrial e tinha forte presença na área das<br />

infraestruturas de tecnologias de informação”, explica o<br />

gestor.<br />

20<br />

Apesar da grande incidência no setor industrial, os<br />

serviços da empresa cobrem todos os setores de<br />

atividade. Ao todo, a empresa conta já com mais de 700<br />

clientes ativos em Portugal.<br />

No balanço dos 15 anos de atividade em terras lusas,<br />

Jorge Mota considera que a “chegada da Rittal ao<br />

mercado português trouxe consigo uma completa transformação<br />

na forma como este é olhado<br />

e trabalhado”.<br />

A transformação digital dos últimos anos tem levado a<br />

alterações ao nível do armazenamento da informação<br />

das empresas e também esse tem sido um desafio<br />

para a Rittal, que apresenta hoje diferentes soluções<br />

de centros de dados nos chamados modelos híbridos,<br />

que funcionam com sistemas de processamento local e<br />

também na cloud.


JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

“O tipo de serviço que a cloud presta às empresas é de tal<br />

forma vasto que dificilmente estas voltarão ao<br />

modelo anterior. No entanto, nem tudo é perfeito e o<br />

aumento das latências nas comunicações tem vindo a<br />

acentuar-se, fazendo com que muitas empresas estejam<br />

a optar por sistemas mistos”, sublinha Jorge Mota.<br />

Por esta razão, o responsável considera que “a segurança<br />

da informação é tão crucial para a existência de uma<br />

empresa como o coração é para os seres humanos”.<br />

Para o futuro, Jorge Mota admite grandes mudanças<br />

no panorama de serviços, uma vez que “80% do portefólio<br />

atual da Rittal será substituído por novos produtos<br />

e soluções”, esperando assim “alargar a influência a toda<br />

a indústria de Portugal e aumentar significativamente a<br />

presença na área das TI”.<br />

“Por outro lado, queremos, no âmbito dos investimentos<br />

industriais relacionados com a implementação do conceito<br />

indústria 4.0, contribuir para que os fabricantes de<br />

quadros elétricos e de automação industrial automatizem<br />

os processos de fabrico, desde a fase de projeto, com o<br />

software EPLAN, até à eletrificação propriamente dita,<br />

passando pela fase de mecanização dos armários”,<br />

conclui.<br />

“APOIAR A EXPORTAÇÃO<br />

NACIONAL”<br />

Com um total de 16 trabalhadores, a Rittal oferece, na<br />

ótica do diretor-geral, uma “equipa flexível” de apoio a<br />

clientes e “parceiros certificados internacionalmente”<br />

pela marca para assim “dar resposta às necessidades<br />

do mercado”.<br />

“As empresas portuguesas têm que estar preparadas para<br />

competir com as congéneres na Europa, Ásia ou América<br />

e assim darem continuidade ao crescimento das<br />

exportações nacionais. Por isso, trabalhar com uma<br />

empresa que garante a integração digital de todo o<br />

processo produtivo é essencial e eleva o nível de<br />

competitividade para padrões nunca antes alcançados”,<br />

advoga.<br />

Jorge Mota está à frente da Rittal desde 2004<br />

21


investimento<br />

Médio oriente para as Pme: sonho<br />

ou pesadelo?<br />

Por: Khalid Sacoor D. Jamal, vogal da Direção da<br />

Comunidade Islâmica de Lisboa<br />

Com a azáfama habitual precedente a qualquer viagem<br />

dita comum, e com os afazeres profissionais e<br />

despedidas a amontoarem-se, pouco mais levo na<br />

bagagem que a escaszsa informação que fui recolhendo<br />

aqui e ali. Afinal, os Emirados são a terra de muitos com<br />

quem tenho o prazer de conviver. Levo igualmente uma<br />

grande abertura de espírito e de horizontes, leia-se,<br />

compatível com a Nação para a qual me dirijo.<br />

Deixo aqui uma nota a este respeito: é imperativo<br />

máximo um partipris limpo, como pressuposto para um<br />

julgamento sensato, justo. Doutro modo, cairemos na<br />

condição do ser comum, vulgar que, ao invés de<br />

aproveitar a oportunidade de estreitar ligações e<br />

embarcar neste mundo de multiculturalidade, está<br />

sempre preocupado com o seu umbigo, vindo ao de<br />

cima a mesquinhice e tacanhice próprias desta gaiola.<br />

Entro num longo voo da Emirates com destino ao Dubai,<br />

emirado que, embora sendo algo artificial, é a nova terra<br />

dos sonhos e faz inveja a muitas cidades europeias.<br />

Conhecido pelo seu exotismo, cumpre assim o outrora<br />

ensejo dos seus Emires, fazendo mesmo pensar que<br />

dos seus céus jorram gotas de petróleo de forma<br />

particularmente abundante.<br />

Dentro desta viagem de avião, acontece uma outra<br />

viagem. Como se a vida me desse a oportunidade de<br />

partilhar segredos que, noutras circunstâncias, teriam<br />

ficado sem verbo. Longe do chão e acima das nuvens,<br />

há uma nação de que ninguém toma posse nunca. Essa<br />

ausência de lugar convida-nos a rebuscar o baú das<br />

lembranças e a confessarmos intimidades que<br />

acreditaríamos não partilhar nunca com ninguém.<br />

Khalid Jamal colabora pontualmente com a <strong>PME</strong> <strong>Magazine</strong><br />

(Foto: D.R.)<br />

22


JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

O que é afinal o Médio Oriente e quais as<br />

potencialidades deste mercado, tão caracterizado<br />

pelo Islão?<br />

Investir no estrangeiro não é tarefa fácil. Para além das<br />

típicas adversidades que qualquer empreendedor tem<br />

de enfrentar nos dias que correm, somam-se as<br />

dificuldades de compreensão que o próprio tem em<br />

inteleccionar o modus operandi de uma circunscrição<br />

territorial que nada tem, por vezes, a ver com a sua<br />

herança cultural e empresarial.<br />

Como se combate este fenómeno? Já Einstein dizia que:<br />

“O único local onde o sucesso vem antes do trabalho é no<br />

dicionário”. E, portanto, a primeira arma a usar é a labuta<br />

árdua, hostilizando a ignorância, através de acções que<br />

procurem conhecer o próximo e obter o máximo de<br />

informação, tendo em vista esse propósito.<br />

É preciso não esquecer que o Dubai, por exemplo, não<br />

é um mercado caracterizado apenas pela presença dos<br />

árabes, que são os nativos, mas também por um<br />

importante e numeroso grupo de trabalhadores e<br />

imigrantes de ascendência e origem asiáticas, donde<br />

relevam sobretudo os Indianos, Chineses,<br />

Paquistaneses, Filipinos.<br />

O desafio é, hoje, compreender o mundo global e, para<br />

compreender o Médio Oriente (MO), é preciso<br />

compreender o Islão. Propendemos para a ideia de que<br />

a religião não é um óbice na criação de perspectivas de<br />

negócio com o MO, no entanto, e no âmbito<br />

agro-alimentar, por exemplo, se pretendermos vender<br />

bebidas alcoólicas ou carne de porco para estes<br />

mercados, corremos o risco da inglória e de sermos<br />

considerados blasfemos.<br />

E não basta ler meia dúzia de trípticos feitos pelas<br />

agências de turismo que, legitimamente, procuram<br />

esclarecer o seu público-alvo ou inscrever-se na<br />

próxima missão empresarial da câmara de comércio<br />

mais próxima. É preciso estar no terreno, conviver com<br />

a realidade local, observar como realmente se fazem<br />

negócios naquelas geografias.<br />

Dito isto, qualquer empreendedor, quando desenvolve<br />

uma estratégia de expansão e de internacionalização,<br />

deve ter bem claro o mercado para que vai e as<br />

tradicionais questões do “Porquê? Para quê? Como?<br />

Onde? Quando?” devem ter um esboço de resolução<br />

claro, sob pena desta jornada não lograr êxito.<br />

É verdade que, nos dias de hoje, existe uma espécie de<br />

nomadismo empresarial, ainda que involuntário, que faz<br />

com que andemos a deambular além-fronteiras. À<br />

justa aspiração de qualquer empresário em fazer crescer<br />

o seu negócio, juntam-se a imposição do crescimento<br />

no ecossistema empresarial, a pequenez do globo<br />

actual, a escassez de oportunidades locais, por vezes,<br />

e a mudança de paradigmas inclusivamente nos<br />

transportes, que nos deixam o apetecível Dubai, outrora<br />

longínquo, cada vez mais à mão de semear.<br />

Acresce a isto, do ponto de vista cultural, que<br />

os Emiratis prezam muito a confiança nos negócios e é<br />

difícil criar laços de afectividade num simples encontro,<br />

sendo por isso indispensável que se faça um follow up e<br />

estreitamento de laços constantes.<br />

Por outro lado, é preciso, naturalmente, ter boas ideias<br />

dado que o povo é atento e sensível a estas e primar pela<br />

singularidade pois tudo o que de melhor existe e se<br />

inventa já lá está, fruto da magia e espírito do povo,<br />

próprios daquele local.<br />

Se a esta ideias juntarmos a atitude de compromisso e a<br />

resiliência, qualidades inegáveis que qualquer<br />

empreendedor terá de ter, temos, pois, a receita ideal<br />

para expandir o seu negócio para o Médio Oriente, com<br />

amplo sucesso.<br />

The sky ‘s the limit! Bons negócios!<br />

**Nota: este artigo foi escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico<br />

23


internacional<br />

Lavandarias self-service<br />

portuguesas dão cartas<br />

na Nova Zelândia<br />

Projeto nascido em 2008 em Portugal, as lavandarias Washstation rapidamente cresceram e<br />

espalharam-se pelos vários cantos do país. Atualmente com cerca de 100 lojas em Portugal Continental<br />

e ilhas, a Washtation garante não ficar por aqui e levar a maior rede de lavandarias do país além-fronteiras.<br />

Falámos com Sidónia Faustino, sócia-gerente da Kitsec, sobre os feitos da marca e desafios da<br />

internacionalização.<br />

Por: Denisse Sousa<br />

Fotos: Kitsec<br />

A Washstation é uma marca portuguesa que tem<br />

alcançado sucesso desde da primeira instalação. Criada<br />

por Sidónia e Vítor Faustino em 2008, esta rede de<br />

lavandarias portuguesas, inspirada no modelo<br />

americano, nasceu de uma parceria comercial entre a<br />

Kitsec, empresa de assistência técnica e comércio de<br />

equipamentos para lavandarias e do fabricante de<br />

equipamento Krebe Tippo. Aquela que é hoje a maior<br />

rede de lavandarias em Portugal nasceu num mercado<br />

praticamente inexistente no país.<br />

Apesar daqueles que nunca acreditaram que a ideia<br />

tinha fruto, Sidónia e Vítor Faustino, nunca deixaram de<br />

acreditar que a Washstation viria a ser uma marca<br />

pioneira de sucesso.<br />

“Ouvimos muitas pessoas que nos diziam que não iria<br />

funcionar, que os portugueses jamais iriam lavar a sua<br />

roupa fora de casa,” recorda Sidónia Faustino,<br />

sócia-gerente da Kitsec.<br />

“Houve dias em que nos sentíamos ET quando olhávamos<br />

para a reação das pessoas ao explicar a nossa visão<br />

e dizíamos que as lavandarias self-service seriam<br />

uma realidade no nosso país nos próximos anos.<br />

Acreditámos que os hábitos dos portugueses iriam ser<br />

24


JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

diferentes e que as pessoas iriam usar as lavandarias<br />

self-service com a mesma frequência que iam tomar café.”<br />

O projeto acabou por se concretizar e, hoje em dia,<br />

os portugueses cada vez mais são adeptos das<br />

lavandarias que estão cada vez mais presentes<br />

no mercado nacional.<br />

NOVA ZELÂNDIA E ESPANHA<br />

COMO PLATAFORMAS DA<br />

INTERNACIONALIZAÇÃO<br />

Sidónia e Vítor Faustino criaram a Washstation<br />

Com cerca de 100 lojas em Portugal Continental e ilhas,<br />

a Washstation olha para o mercado internacional como<br />

um passo natural no crescimento da marca. Atualmente<br />

encontram-se na Nova Zelândia, onde já detêm uma<br />

loja na cidade de Auckland, enquanto em Espanha dão<br />

os primeiros passos.<br />

Como maior desafio para entrar nestes mercados,<br />

Sidónia Faustino destaca a concorrência já existente e<br />

enraizada nesses países.<br />

“Os maiores desafios são as marcas que já estão<br />

enraizadas nesses países. Nós vamos como uma nova<br />

e diferente opção, o que pode causar desconforto<br />

às empresas já existentes, mas é uma mais-valia para<br />

o mercado, pois tem mais oferta.”<br />

Suíça, França e Luxemburgo são os próximos<br />

mercados onde o franchising pretende estabelecer-se.<br />

Quanto ao modelo de exploração internacional, terá<br />

como base inicial Portugal e depois, numa segunda<br />

fase, um master franchisor em cada país.<br />

LAVAR ROUPA A QUALQUER<br />

HORA<br />

Em comparação com as demais lavandarias que<br />

surgiram no mercado, a Washstation consegue<br />

demarca-se por uma série de variantes. A começar pela<br />

disponibilidade de serviço 24 horas por dia, ao<br />

equipamento com tecnologia de ponta e máquinas de<br />

lavar resistentes, versáteis e fáceis de utilizar.<br />

Washstation conta já com cerca de 100 lojas em Portugal Continental e ilhas<br />

25


internacional<br />

Espanha é o mercado que se segue<br />

Todas as lojas Washstation oferecem, incluídos na<br />

lavagem, o detergente higienizante e amaciador.<br />

Para Sidónia, o sucesso de todas as unidades deve-se<br />

“à fiabilidade e confiança”. “A Washstation oferece ao<br />

cliente final um serviço distinto.” , defende.<br />

No que toca ao negócio em si, a Washstation<br />

considera-se um franchising diferente de todos<br />

os outros no mercado. Com uma rede de negócio sólida,<br />

repleta de partilha de know how e imagem, o modelo de<br />

negócio aposta na melhoria continua para os seus<br />

parceiros.<br />

“O nosso conceito não é um franchising tradicional. Não<br />

tem direitos de entrada nem royalites, os nossos parceiros<br />

são autónomos,” explica a sócia-gerente.<br />

Com isto, a marca procura não só otimizar os recursos<br />

de quem usa os seus serviços, poupando dinheiro,<br />

tempo e utilidades para lavar a roupa, mas também os<br />

recursos do planeta e reduzir o tempo de uso<br />

dos clientes.<br />

“Apostamos na evolução e na melhoria contínua<br />

e os nossos parceiros usufruem disso como é natural.<br />

É um trabalho em conjunto onde temos sempre em conta<br />

as melhores negociações para os nossos parceiros, por<br />

forma a oferecer ao utilizador final uma experiência<br />

profissional e de qualidade”, acrescenta a responsável.<br />

“Apostamos na evolução e na melhoria contínua e os nossos<br />

parceiros usufruem disso como é natural” Sidónia Faustino<br />

Ainda este ano deverão abrir mais vinte lojas no país.<br />

26


Ambiente<br />

JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

Aluguer de scooters elétricas<br />

revoluciona mobilidade em Lisboa<br />

eCooltra é a mais recente plataforma de scootersharing (aluguer e partilha de scooters) em<br />

A Lisboa. Lançada primeiramente em Espanha, a vinda para Lisboa tem-se revelado um<br />

sucesso com um crescimento constante. Em entrevista à <strong>PME</strong> <strong>Magazine</strong>, Pedro Pinto, responsável<br />

pelas operações nacionais, fala sobre o crescimento da marca em Portugal e passos a seguir.<br />

Por: Denisse Sousa<br />

Fotos: eCooltra<br />

<strong>PME</strong> <strong>Magazine</strong> – Como surgiu a oportunidade<br />

de trazer a eCooltra para Portugal?<br />

Pedro Pinto – Portugal é um país com uma<br />

excelente qualidade ao nível das infraestruturas<br />

e da mobilidade. Lisboa é atualmente uma das<br />

cidades mais vibrantes da Europa, pelo que esta<br />

complementaridade na resposta aos transportes<br />

públicos e partilhados encaixa totalmente com o<br />

target da eCooltra.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Quais os maiores desafios<br />

de trazer algo tão inovador para Lisboa?<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Quais os maiores desafios<br />

de trazer algo tão inovador para Lisboa?<br />

P.P.– Seria bom trabalhar e ter consciência do<br />

tema da contaminação e do tráfego. Nas grandes<br />

cidades existe um elevado grau de contaminação<br />

que as tornará insustentáveis, assim como pela<br />

saturação dos veículos que se tem verificado.<br />

É algo que sempre nos preocupou e por isso a<br />

Cooltra investe em soluções eco sustentáveis,<br />

apostando tanto em frotas elétricas como neste<br />

novo serviço de scootersharing que estamos a<br />

lançar em Lisboa.<br />

27


Ambiente<br />

<strong>PME</strong> Mag.– Qual o investimento para criar<br />

a primeira frota?<br />

Vinda para Portugal revelou-se um sucesso<br />

P.P. – O valor do processo de expansão a Lisboa<br />

foi de 750 mil euros.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Porquê as scooters e não carros ou<br />

bicicletas?<br />

P.P. – As scooters estão pensadas para percursos<br />

curtos e rápidos. Pretendemos que as pessoas que<br />

valorizam a conveniência, rapidez e<br />

sustentabilidade utilizem o nosso serviço como um<br />

complemento aos transportes alternativos<br />

existentes.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Quantas motos estão disponíveis e<br />

quais as zonas abrangidas?<br />

P.P. – Lisboa conta já com a frota de 170 scooters<br />

previstas para este ano e o objetivo será ampliá-la<br />

em 2018. A circulação é livre, no entanto, as<br />

viagens apenas podem começar e terminar na zona<br />

de serviço assinalada: de Algés à Expo, do Terreiro<br />

do Paço ao Lumiar. Criámos, adicionalmente, uma<br />

ilha de estacionamento no Parque P3 do<br />

aeroporto de Lisboa para os clientes que utilizam a<br />

ponte aérea com frequência.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Quanto custa e por quanto tempo é<br />

possível o aluguer?<br />

P.P. – O utilizador poderá usufruir do serviço por<br />

0,24 euros por minuto, sem limite de tempo por<br />

aluguer, tendo a possibilidade de usufruir do<br />

serviço à vontade, seja para trajetos curtos ou<br />

longos, desde que termine a utilização dentro da<br />

zona de serviço. Em média, cada scooter tem uma<br />

autonomia de 45 quilómetros e permite atingir uma<br />

velocidade máxima de 45km/h.<br />

respeitam mais o meio ambiente. Em termos<br />

ecológicos esta dimensão significa uma<br />

poupança de até 70 toneladas de CO2 num ano.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Acredita que o próximo passo na<br />

mobilidade nas cidades passa pelos veículos<br />

elétricos?<br />

P.P – As pessoas optam cada vez mais por<br />

veículos pequenos como scooters, bicicletas e<br />

carros, de forma a moverem-se de forma mais ágil<br />

e diminuir o tempo na procura de<br />

estacionamento. Ao mesmo tempo, a preferência<br />

por modelos elétricos aumenta devido aos seus<br />

benefícios para o ambiente e aos incentivos para<br />

promovê-los. E por último, verifica-se o auge dos<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Esta é uma iniciativa para facilitar a<br />

mobilidade dos cidadãos, mas quais<br />

as vantagens a nível ambiental?<br />

P.P. – As emissões atmosféricas e os níveis de<br />

ruído destas scooters elétricas são nulas<br />

comparativamente às emissões e ruídos<br />

das scooters a gasolina e, desta forma,<br />

28<br />

Pedro Pinto


JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

promovê-los. E por último, verifica-se o auge dos<br />

serviços partilhados à frente da propriedade<br />

individual.<br />

Seria bom trabalhar e ter consciência do tema da<br />

contaminação e do tráfego. Nas grandes cidades<br />

existe um elevado grau de contaminação que as<br />

tornará insustentáveis, assim como pela saturação<br />

dos veículos que se tem verificado. É algo que<br />

sempre nos preocupou e por isso a<br />

Cooltra investe em soluções eco-sustentáveis,<br />

apostando tanto em frotas elétricas como neste<br />

novo serviço de scootersharing que estamos a<br />

lançar em Lisboa.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – A eCooltra trabalha com<br />

o Centro de Excelência para a Inovação da<br />

Indústria Automóvel (CEiiA), de Matosinhos,<br />

como vêem esta parceria?<br />

P.P. – Escolhemos o CEiiA como um dos nossos<br />

parceiros tecnológicos pela relevância<br />

e especialização dedicada à aeronáutica,<br />

automação e mobilidade. Nas scooters utilizadas<br />

em Lisboa, Madrid, Barcelona e Roma, toda a parte<br />

tecnológica ficou a cargo do CeiiA, como<br />

o desenvolvimento da app, a otimização, gestão<br />

e funcionamento do serviço de forma a aumentar<br />

a experiência para o utilizador. Através de um<br />

sistema free float, ou seja, levantar e deixar a<br />

scooter onde quiser, o utilizador torna-se<br />

proprietário por alguns minutos de uma das<br />

scooters elétricas eCooltra.<br />

O CEiiA, ao envolver-se neste projeto,<br />

desenvolveu soluções tecnológicas de última<br />

geração que otimizam a gestão e funcionamento<br />

do serviço, unificando as operações através da<br />

app para o smartphone: o utilizador reserva, utiliza<br />

e paga o serviço. As scooters, sendo totalmente<br />

elétricas, incorporam tecnologia de<br />

geolocalização, comunicações e uma unidade<br />

lógica – computador de bordo – que regula o seu<br />

funcionamento.Esta parceria vem permitir<br />

geolocalização, estão conectadas por 3G,<br />

Bluetooth e GPS.<br />

P.P. – Desde o início da marca eCooltra até<br />

então, não registamos quaisquer questões ao nível<br />

da segurança. O serviço contempla ainda<br />

um seguro contra terceiros que permite aos<br />

utilizadores estarem descansados no caso de se<br />

verificar alguma questão. Assim que chegar ao<br />

destino, o condutor deve estacionar a scooter em<br />

qualquer zona devidamente autorizada e dentro<br />

da área abrangida pela eCooltra para devolução e<br />

utilizar o smartphone para desligá-la.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Em termos de downloads<br />

e utilização, é possível ter uma imagem de quem<br />

são os utilizadores do eCooltra?<br />

P.P. – Os nossos utilizadores são estudantes e<br />

profissionais, entre os 25 e os 40 anos,<br />

maioritariamente homens, que valorizam<br />

a conveniência, tecnologia e rapidez nas<br />

deslocações. Utilizam quer para mobilidade<br />

pessoal quer por motivos de trabalho.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Quais os objetivos futuros<br />

da marca?<br />

P.P. – Em <strong>2017</strong>, a eCooltra pretende focar-se em<br />

Lisboa para consolidar a sua posição no panorama<br />

de mobilidade urbana.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Além de Espanha, Itália<br />

e Portugal, que países estão nos objetivos<br />

da marca<br />

P.P. – A nível de expansão futura, gostaríamos<br />

de salientar que a partir do momento que<br />

o modelo de negócio fique provado que funciona<br />

fora da cidade-berço (Barcelona), o grupo Cooltra<br />

tem o músculo financeiro para expandir de forma<br />

autónoma para qualquer capital europeia ou<br />

mesmo para outros continentes.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – As scooters não precisam de chave<br />

e podem ser estacionadas no local de destino.<br />

Como é assegurada a segurança das scooters?<br />

Lisboa conta já com a frota de 170 scooters<br />

29


esponsabilidade social<br />

Comprar de forma<br />

ética<br />

Vive online, comercializa e distribui produtos eticamente responsáveis. A DOME Store chega este verão<br />

ao mercado e promete ser a montra dos produtores da responsabilidade social.<br />

Por: Ana Rita Justo<br />

Fotos: Dome Store<br />

Quando vai a uma loja, sabe de onde vem o produto que<br />

comprou? Quem o fabricou? E porquê? A DOME Store<br />

nasce com esse propósito, mostrando que é possível<br />

fazer compras eticamente mais responsáveis.<br />

Iniciativa da Blindesign, consultora em projetos de<br />

design e inovação, a DOME Store ‘abriu’ este mês e vive<br />

online com o objetivo de “apostar na pesquisa e<br />

descoberta de peças de excelência que assentassem<br />

nos princípios sociais, ambientais e sociais”, explica Rita<br />

Cortes, responsável pelo projeto.<br />

“Todos os projetos, sem exceção, passam por critérios<br />

apertados de seleção, que serão devidamente<br />

explicados. Queremos inspirar a mudança, ao disponibilizar<br />

possibilidades de consumo mais conscientes,<br />

desmistificando conceitos e contribuindo para uma<br />

alteração no paradigma de consumo”, explica.<br />

Nesse sentido, a DOME Store identificou pequenos<br />

produtores que cumpram estes requisitos de<br />

responsabilidade social, proteção ambiental<br />

e preservação cultural, e que necessitem de um canal de<br />

comercialização e distribuição dos seus produtos.<br />

Para já, estão à venda produtos de moda feminina e<br />

masculina, acessórios para casa, objetos utilitários,<br />

30<br />

havendo ainda uma secção para os mais novos. “No<br />

futuro, iremos criar novas gamas, entre as quais a de<br />

higiene pessoal. O design, a excelência e a qualidade<br />

serão sempre denominadores comuns a todos eles”, frisa.<br />

“PAGAR O JUSTO”<br />

Uma das finalidades deste projeto é, também, que “cada<br />

pessoa receba justamente por aquilo que produziu” e que<br />

“o desperdício se torne numa oportunidade de criar algo<br />

novo”, adianta Rita Cortes.<br />

Porém, uma das questões que mais surge na compra de<br />

produtos eticamente responsáveis é o custo elevado.<br />

Rita Cortes refuta e justifica que com este projeto<br />

pretende-se “explicar às pessoas que não estão a pagar<br />

a mais, mas sim a pagar o justo”.<br />

Por outro lado, a responsável pela DOME Store<br />

considera que “o público está cada vez mais sensível em<br />

relação ao consumo ético” e que esta nova loja<br />

responsável irá “facilitar a vida de todos aqueles que<br />

querem conhecer mais para comprarem melhor e dar<br />

o exemplo para que novas lojas e marcas se possam<br />

desenvolver com os mesmos princípios”


JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

O projeto colheu o apoio do Portugal 2020, no programa<br />

Qualifica, o que permitiu alavancar as operações. Para o<br />

futuro, Rita Cortes espera um movimento já consistente<br />

na compra eticamente responsável.<br />

“Queremos continuar na vanguarda da curadoria deste<br />

tipo de produtos e ter presença a nível europeu. Além<br />

disso, queremos começar a desenvolver produto próprio<br />

com estas características.”<br />

“PARA QUE EXISTAM<br />

AS ‘PECHINCHAS’ O COMUM<br />

É HAVEREM VÍTIMAS<br />

SILENCIOSAS, SEJAM ELAS<br />

PESSOAS OU O AMBIENTE”<br />

Projeto é detido pela Blindesign, consultora de design e inovação<br />

Objetivo do projeto é dar voz aos pequenos produtores<br />

Nuno Mesquita, Rita Melo e Rita Cortes,<br />

equipa da Blindesign<br />

Acessórios de moda entre os produtos à venda<br />

31


EMPREENdeDORISMO<br />

DAS TECNOLOGIAS<br />

AO CENTRO DE NEGÓCIOS<br />

Depois de uma vida ligada à informática,<br />

Artur Salada Ferreira decidiu, aos 70 anos,<br />

aventurar-se no negócio dos centros de<br />

escritórios. Com apenas três anos de existência,<br />

o LisboaBiz já reforçou a posição no mercado<br />

e prepara-se agora para abrir um novo espaço.<br />

Texto: Ana Rita Justo<br />

Fotos: Inês Antunes<br />

Há três anos nascia, no coração das Olaias,<br />

em Lisboa, o LisboaBiz, um business center concebido<br />

para apoiar pequenos e médios empresários a elevar os<br />

seus negócios. Um projeto que conta atualmente com<br />

30 escritórios, mas que abrirá, em breve mais 21<br />

espaços de aluguer.<br />

Artur Ferreira, de 73 anos, economista de formação, é o<br />

responsável pela criação do LisboaBiz, propriedade da<br />

sua empresa familiar, a ARSOFI, que também se dedica<br />

a investimentos imobiliários.<br />

A ideia nasceu depois de o economista vender a sua<br />

participação no Instituto de Tecnologias Avançadas<br />

para a Formação (ITA), dono do Instituto Superior de<br />

Tecnologias Avançadas (ISTEC) que funcionava<br />

no espaço do atual LisboaBiz: “Decidi vender as quotas<br />

da escola e fiquei com o prédio e, numa reunião familiar,<br />

achámos que uma boa aposta seria fazer o investimento<br />

nesta área de escritórios com serviços partilhados”.<br />

O centro funciona, atualmente em 1000 metros<br />

quadrados de área, com 30 escritórios, duas salas de<br />

formação e duas salas de reunião.<br />

“A empresa que está aqui sediada tem um serviço tão bom<br />

como se fosse uma grande empresa, porque pode<br />

usufruir de um conjunto de infraestruturas e de pessoas<br />

que, sozinha, não poderia sustentar”, sublinha.<br />

Artur Ferreira abriu o LisboaBiz a 1 de julho de 2014<br />

Com o aumento da procura surgiu, então, a necessidade<br />

de alargar o espaço a mais um andar, onde vão agora<br />

surgir mais 21 escritórios para aluguer, numa área total<br />

de 500 metros. O espaço foi totalmente recuperado,<br />

num investimento que ronda os 130 mil euros.<br />

Apesar de não ser o principal objetivo, o LisboaBiz<br />

pondera, ainda, reverter um dos escritórios num espaço<br />

de coworking e assim apoiar algumas startups.<br />

“No início daremos um desconto especial às startups que<br />

se apresentem com projetos que achemos que têm<br />

interesse, e podemos até encarar a hipótese de participar<br />

no capital dessas startups”, acrescenta.<br />

O novo espaço deverá estar operacional ainda em julho<br />

e Artur Ferreira espera que “até ao final do ano” a<br />

ocupação esteja nos 70% a 80%.<br />

32


JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

Centro de negócios abre em breve mais 21 escritórios<br />

DAS TECNOLOGIAS PARA<br />

O INVESTIMENTO<br />

O empreendedorismo não escolhe idades e é por isso<br />

que, aos 73 anos, Artur Ferreira, entre o golfe e a escrita<br />

de poesia, continua a dar mostras de dinamismo<br />

empresarial.<br />

Formado em Economia, Artur Ferreira trabalhou<br />

sempre na área da informática, primeiro como<br />

programador e, depois, como diretor do departamento<br />

de software da Regisconta. Passou ainda pela Control<br />

Data Corporation, que detinha inicialmente o ITA –<br />

juntamente com os CTT e a antiga TLP (Telefones<br />

de Lisboa e Porto) – do qual se tornou diretor. Aquando<br />

da falência da Control Data Corporation, o economista<br />

resolve então, em 1988, através da ARSOFI comprar<br />

o ITA, juntamente com outro sócio minoritário.<br />

A aventura durou até 2011, altura em que vendeu a sua<br />

quota e começou a planear o LisboaBiz.<br />

Apesar de saber que se tivesse investido noutra<br />

atividade “talvez o negócio fosse mais rentável”, Artur<br />

Ferreira não se arrepende e quer continuar a ajudar o<br />

tecido empresarial português.<br />

“Não há muita oferta [de aluguer de escritórios] com<br />

qualidade e preço acessível às pequenas e médias<br />

empresas. As ofertas que existem, ou são de má<br />

qualidade e baratas, ou são de boa qualidade, mas muito<br />

caras. Creio que, se olharmos para o mercado, nos<br />

posicionamos a um nível de bom serviço”, remata.<br />

LISBOABIZ, UM BUSINESS<br />

CENTER CONCEBIDO PARA<br />

APOIAR PEQUENOS E MÉDIOS<br />

EMPRESÁRIOS<br />

Foto: D. R.<br />

33


RH<br />

MINDMAPS – A FERRAMENTA<br />

PERFEITA PARA ESTE NOVO<br />

“SÉCULO DO CÉREBRO”<br />

Por: João Paulo Tavares, sócio fundador da Brain Alive<br />

Fotos: D.R.<br />

Num inquérito recente a diversas pessoas,<br />

questionou-se sobre que momento julgariam que o<br />

mundo estaria atualmente a viver. A larga maioria<br />

posicionou a evolução da nossa sociedade<br />

mundial na “Era da Informação” ou das “Tecnologias”.<br />

Esta ideia representa um atraso de, pelo menos, 20<br />

anos em relação ao momento que vivemos atualmente!<br />

Quantas empresas não estarão assim hoje<br />

condicionadas na sua estratégia por lideranças e<br />

equipas com esta visão do século passado?<br />

A Humanidade evoluiu de uma Era Agrária, onde ter<br />

uma família com muitos filhos representava uma clara<br />

mais-valia em termos de sobrevivência pelo apoio que<br />

todos davam no campo, para a Era Industrial em finais<br />

do século XVIII. Nesse novo período, o foco foi,<br />

claramente, disciplinar, rapidamente uma mão-de-obra<br />

que estava essencialmente no campo e convertê-la para<br />

as indústrias respeitando hierarquias, horários e regras<br />

muito precisas, repetidas e sequenciais. Surgem assim,<br />

por exemplo, as escolas tendo por base um modelo de<br />

formação militar que, infelizmente, ainda hoje se<br />

mantém.<br />

Esta Era Industrial foi bastante mais curta que a<br />

anterior, regulando a vida em sociedade durante<br />

cerca de 200 anos.<br />

Por volta da última metade do século XX começam a<br />

surgir os primeiros computadores, processando e<br />

armazenando quantidades enormes de dados para a<br />

tomada de decisão, nomeadamente empresarial.<br />

Tínhamos entrado na Era da Informação. Mas por volta<br />

de 1990, o mundo “moderno” entrou, discretamente,<br />

João Paulo Tavares é instrutor de Mind Mapping,<br />

licenciado pela ThinkBuszan<br />

na Era do Conhecimento, onde o poder estava<br />

essencialmente no acesso e posse de informação e<br />

conhecimento. Saber muito e, principalmente, antes<br />

dos outros, representava uma mais valia estratégica.<br />

Esta Era durou apenas cerca de 20 anos e, por volta,<br />

do início do século XXI entrámos, finalmente, na Era da<br />

Inteligência (ou multi-inteligências). A informação e o<br />

conhecimento estão à distância de um “clique” e por isso<br />

o importante é percebermos que o grande valor está na<br />

nossa capacidade de perceber e, consequentemente,<br />

utilizar todo o potencial que o nosso cérebro tem.<br />

O mundo digital permite um acesso à informação sem<br />

grandes custos e sempre disponível, mas a imaginação,<br />

a criatividade, a capacidade de tomada de decisões,<br />

de criar empatia com diferentes pessoas que têm, por<br />

sua vez múltiplos interesses, isso só é possível quando<br />

sabemos como funciona o nosso cérebro e<br />

tiramos assim partido das suas capacidades infinitas.<br />

34


JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

Neste novo e recente enquadramento evolutivo,<br />

infelizmente ainda desconhecido por muitos, os<br />

mindmaps, ou mapas visuais, são a ferramenta perfeita<br />

nesta nova Era das Inteligências, porque potenciam a<br />

criatividade, a imaginação e associação, e<br />

consequentemente, a produtividade de qualquer<br />

pessoa, quer seja no seu contexto profissional ou<br />

pessoal. De Bill Gates, à Boeing ou IBM, a governos de<br />

diversos países, os mindmaps são usados como suporte<br />

para a tomada de decisões, geração de ideias,<br />

estabelecimento de objetivos, planeamentos<br />

estratégicos, comunicação interna ou, simplesmente,<br />

organização pessoal. Tendo por base a exata natureza<br />

de como o nosso cérebro está estruturado, um mindmap<br />

inicia-se com uma ideia principal no centro de uma folha<br />

em branco, de onde partem ramos com as ideias-chaves<br />

associadas.<br />

Uma só palavra por ramo, porque o nosso cérebro é<br />

capaz de construir desta forma uma história, um mínimo<br />

de 3 cores, porque o nosso cérebro é multicolor e não<br />

monocromático e muitas imagens que, como todos<br />

sabemos, valem por mil palavras. Depois, usando a<br />

imaginação e a associação – as mesmas ferramentas do<br />

nosso cérebro – construir um mindmap é fácil, divertido<br />

e… “aprovado pela natureza”!<br />

“CONSTRUIR UM<br />

MINDMAP É FÁCIL,<br />

DIVERTIDO E…<br />

“APROVADO PELA<br />

NATUREZA”!“<br />

35


RH<br />

BI<br />

YOLANDA MORCILLO É<br />

A NOVA DIRETORA DE<br />

CANAL DA LENOVO DCG<br />

Por: Denisse Sousa<br />

Fotos: D.R.<br />

A Lenovo nomeou como nova Diretora de Canal<br />

da Lenovo DCG Ibéria Yolanda Morcillo, no âmbito<br />

da estratégia de investimento no negócio de Data<br />

Center (Servidores, Armazenamento, Networking<br />

e Soluções específicas de Data Center).<br />

Yollanda Morcillo conta com uma experiência<br />

profissional de mais de 20 anos no setor de TI,<br />

ligada inclusive ao negócio de canal.<br />

Yolanda Morcillo assume novas funções na Lenovo<br />

UZINA COM NOVA DIRETORA<br />

CRIATIVA<br />

Susana Albuquerque junta-se à Uzina como<br />

diretora criativa da agência tanto em Portugal<br />

como em Espanha.<br />

OGMA TEM NOVO CEO<br />

Com 30 anos de experiência na indústria<br />

aeronáutica, Marco Tulio Pellegrini ocupa agora<br />

o cargo CEO e presidente do conselho<br />

de administração da OGMA.<br />

36


JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

SYLVIAN GILLS É NOVO DIRETOR<br />

COMERCIAL DA MAKRO PORTUGAL<br />

O novo responsável deixa o seu cargo de head of<br />

regional operations na Metro Cash & Carry, em<br />

França, para assumir novas funções em Portugal.<br />

PEDRO DE ALMEIDA É O NOVO<br />

ADMINISTRADOR EXECUTIVO<br />

DA SIVA<br />

Pedro de Almeida assume as funções<br />

de administrador executivo no âmbito do novo<br />

conselho de administração da SIVA – Sociedade<br />

Importadora de Veículos Automóveis – para o<br />

quadriénio <strong>2017</strong>-2020.<br />

JOSEP RAVENTÓS LIDERA<br />

SAGE EM PORTUGAL<br />

Josep Maria Raventós é o novo country manager<br />

da Sage em Portugal.<br />

37


Medir para gerir<br />

A IMPORTÂNCIA DE DESCOBRIR<br />

O SEU PROPÓSITO DE VIDA<br />

Por: Teresa Botelho, partner na Business Clinik<br />

Fotos: D.R.<br />

Hoje em dia muitas são as pessoas que se sentem<br />

perdidas…ou que sentem que vão numa direção com a<br />

qual não se identificam…. Se é este o seu caso …então<br />

este artigo é para si.<br />

O que é o propósito de vida? Muitas vezes as pessoas<br />

perguntam-me em que consiste… Acredito que cada<br />

um de nós tem algo especial a fazer nesta vida… E só<br />

descobrindo em que é que consiste podemos atingir<br />

níveis mais altos de realização pessoal…<br />

Chamo a isso descobrir o seu propósito de vida.<br />

O coaching ajuda profissionais e pessoas comuns<br />

a descobrir e a alinhar em função desse propósito de<br />

vida e, ao fazê-lo, permite que a pessoa viva com mais<br />

sentido.<br />

Mas descobri-lo não é fácil. Por isso, aqui ficam três<br />

dicas para se aproximar mais de si mesmo e ser uma<br />

pessoa mais alinhada e mais feliz.<br />

1. DEFINA QUAIS SÃO AS SUAS<br />

ÁREAS DE PAIXÃO<br />

Descubra os assuntos ou temas:<br />

1. Que o fazem perder a noção do tempo?<br />

2. Que o fazem sorrir de orelha a orelha?<br />

3. Que o apaixonam?<br />

Esta reflexão vai permitir aprofundar o conhecimento<br />

que tem de si mesmo. Este é um exercício muito<br />

poderoso e que poucas pessoas fazem, deixando-se<br />

levar pela vida e seguindo muitas vezes rumos que<br />

foram traçados por outros.<br />

Teresa Botelho é business e executive coach<br />

38


JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

Concentre-se naquilo em que você é bom e que faz sem<br />

esforço, perdendo muitas vezes a noção de<br />

tempo quando está a fazer esses tipos de atividade.<br />

2. DEFINA QUAIS SÃO AS SUAS<br />

MELHORES COMPETÊNCIAS<br />

Fale com os seus melhores amigos, colegas, familiares<br />

e faça um apanhado do que eles consideram que são as<br />

suas melhores competências. É organizado? É criativo,<br />

adora conhecer outros lugares? Tem jeito para falar com<br />

todo o tipo de pessoas? Lembre-se, é normal que nunca<br />

tenha pensado nisto e que não saiba as suas<br />

competências, mas é fundamental que agora tome<br />

consciência delas.<br />

Este exercício é muito revelador e vai seguramente ser<br />

uma boa surpresa! Se não conseguir fazer sozinho peça<br />

a alguém próximo para o ajudar.<br />

Como posso criar uma rampa de lançamento e fazer a<br />

passagem de forma gradativa?<br />

Se de facto já está a perceber qual é o seu propósito de<br />

vida, ao trazê-lo para o consciente muito provavelmente<br />

o Universo vai fazer surgir novas oportunidades nesse<br />

campo.<br />

Se isso acontecer não fique em pânico. Não dê<br />

desculpas do tipo: ‘Ah, eu gostava, mas não posso<br />

porque… blá blá blá’.<br />

Sentirmos que estamos alinhados com o nosso<br />

propósito de vida dá-nos uma vida nova, dá-nos<br />

muito mais energia e permite-nos sermos jovens<br />

por muito mais tempo!<br />

Por isso agarre essas oportunidades e avance.<br />

Fazermos o que mais gostamos é algo que não tem<br />

preço.<br />

3. ESCREVA UM TEXTO QUE<br />

COMECE COM ‘A MINHA VIDA<br />

PROFISSIONAL DE SONHO ERA...’<br />

Liberte-se. Permita à sua mente desligar-se por uns<br />

momentos da realidade. Deixe o seu coração mandar no<br />

momento em que está a escrever, é ele que sabe o que<br />

verdadeiramente gosta. Tome nota de tudo…<br />

Visualize este tipo de vida com o maior pormenor que<br />

conseguir, veja quem seria, o que o faria rir, com quem<br />

estava, que tipo de tarefas fazia… Deixe que a sua mente<br />

o surpreenda.<br />

Depois, ligue o seu coração a estas imagens, sinta esta<br />

vida como se fosse real e deixe que a sensação de prazer<br />

tome conta deste momento…. Quando cumprimos estes<br />

passos o nosso inconsciente manifesta-se e dá-nos<br />

indicações importantes.<br />

Depois devemos aos poucos integrar esta informação<br />

na nossa vida. Será que de facto o que eu gostava era de<br />

ser escritor? Se sim, como posso transformar a<br />

escrita num hobby e conseguir que aos poucos me<br />

dedique cada vez mais a ele?<br />

39


Marketing<br />

EMAIL MARKETING: O MENINO DOS SEUS<br />

OLHOS E KIT DICAS PRÁTICAS<br />

PARA IMPLEMENTAR JÁ<br />

Por: Hugo Pascoal, departamento de Marketing da E-Goi<br />

Fotos: E-Goi<br />

Hugo Pascoal integra o departamento de Marketing da E-Goi<br />

Se há algo que é comum a todos os negócios é a<br />

necessidade de comunicar. Como vou fazer com que<br />

a minha ideia, projeto, loja, marca, seja conhecida?<br />

A verdade é que pode ter o melhor produto ou serviço do<br />

mundo, mas se ninguém o conhecer você não vai<br />

conseguir ver a sua ideia florescer. O seu negócio vingar.<br />

Cumprir o seu sonho.<br />

É consultor? Freelancer? Trabalha numa empresa e tem<br />

um pequeno negócio paralelo? É empresário em nome<br />

individual? Tem uma ideia de negócio e não faz ideia do<br />

que fazer para comunicar?<br />

Pois bem, o email marketing é um excelente ponto de<br />

partida.<br />

Sabia que o email é umas das ferramentas mais baratas<br />

e mais lucrativas para comunicar e colocar o seu negócio<br />

a render? Dados de 2016 apontam para um retorno de,<br />

em média, 122% em relação ao montante investido.<br />

Se investir 100€ ganha 222€. Parece-me um bom<br />

negócio, não acha? E até pode subtrair esses 100€<br />

porque há ferramentas gratuitas no mercado...<br />

Então vamos ao que interessa.<br />

BASE DE DADOS<br />

Antes de começar precisa de uma base de dados.<br />

E pode começar por comprar uma, certo? Errado!<br />

40


JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

Deixe-se disso. Só lhe vai dar chatices. É como entrar na<br />

casa de alguém e só depois de já lá estar perguntar se<br />

podia entrar. Não está já cansado de receber na sua<br />

caixa de correio emails de quem nunca sequer ouviu<br />

falar? Então, como fazer para ter uma base de dados<br />

consentida para comunicar o seu negócio?<br />

1. COMECE POR SI E PELA SUA<br />

EMPRESA<br />

Você e os seus colegas ou colaboradores têm todos os<br />

dias que conversar com clientes, fornecedores, etc..<br />

Assegure-se de que eles solicitam autorização para que<br />

os contactos possam ser utilizados para ações de<br />

marketing ou comunicação.<br />

Outra possibilidade é usar os seus cartões de visita (bem<br />

como o de todos os seus colaboradores). Aqui na E-goi<br />

os nossos cartões têm até um QR Code com os<br />

contactos de cada colaborador que pode ser scaneado.<br />

caixa onde os seus visitantes possam colocar o seu<br />

próprio cartão de visita ou disponibilize um smartphone<br />

ou tablet que lhe permita inserir os contactos via<br />

formulário (requisitando previamente a permissão)<br />

na sua ferramenta de email marketing. Nós usamos o<br />

Goidini, que permite inclusive recolher os contactos<br />

mesmo que não tenha acesso à Internet.<br />

E online?<br />

3. SITE, EMAIL E REDES SOCIAIS<br />

Da mesma forma que contacta por telefone com clientes<br />

e fornecedores também usa o canal email. Coloque na<br />

assinatura um link de registo na sua newsletter.<br />

Se tem um site ou uma página de Facebook pode<br />

aproveitar para colocar um formulário de registo. Mais:<br />

o formulário que vai publicar no seu site não tem que ser<br />

estático e pode surgir em formato pop up. Não<br />

desperdice as visitas que tem no seu site ou nos seus<br />

perfis sociais e aproveite para pedir o email. Assim não<br />

perde de vista uma oportunidade de negócio. Um<br />

curioso pode perfeitamente mais tarde vir a<br />

transformar-se num cliente.<br />

O seu visitante vai se embora? Esse é um bom momento<br />

para exibir um exit pop up. Ofereça uma recompensa.<br />

Verá que a sua base de dados vai crescer a olhos vistos.<br />

4. PROMOÇÕES, DESCONTOS E AFINS<br />

2. FEIRAS E EVENTOS<br />

Ainda nos canais offline, feiras e eventos da sua área de<br />

negócio, ou até mesmo um Seminário ou Workshop<br />

promovidos por si são uma excelente oportunidade<br />

para contactar com centenas de pessoas que procuram<br />

os seus produtos ou serviços ou simplesmente<br />

informações sobre a sua área de negócio. É normal que<br />

não consiga falar com todos durante os eventos, mas<br />

não pode desperdiçar a oportunidade de contactá-los<br />

mais tarde.<br />

É normal que não consiga falar com toda a gente que o<br />

aborda numa feira, por isso, deixe, por exemplo, uma<br />

Dê coisas às pessoas. Um desconto em troca da<br />

inscrição na sua newsletter, ou envie um email e apele<br />

à inscrição. Exemplo: Recomende esta newsletter a 10<br />

amigos e receba um desconto.<br />

Existem várias outras formas de apelar ao aumento da<br />

sua base de dados. Umas mais simples outras mais<br />

complexas. Estas são algumas que pode começar a implementar<br />

já, porque tudo começa com a base de dados.<br />

E o envio? E os relatórios? Fica para o próximo artigo!<br />

Entretanto pense: Quão valioso pode ser saber quem,<br />

quantas vezes e onde abriu e clicou nos seus produtos<br />

ou serviços?<br />

41


Tecnologia<br />

“NÃO ACREDITO QUE COM OS PROCESSOS<br />

DIGITAIS AS EMPRESAS DEIXEM DE TER<br />

PESSOAS”<br />

Diretora-geral da Primavera BSS para<br />

Portugal, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e<br />

Guiné-Bissau há um ano, Felicidade Ferreira<br />

fala-nos sobre o barómetro de transformação<br />

digital realizado ao tecido empresarial português.<br />

Como não ficar de fora e que transformações vão<br />

ocorrer nas empresas? Eis as respostas.<br />

Por: Ana Rita Justo<br />

FELICIDADE FERREIRA<br />

<strong>PME</strong> <strong>Magazine</strong> – Com base no vosso<br />

barómetro, qual o setor de atividade com maior<br />

nível de digitalização?<br />

Felicidade Ferreira – O setor que tem um nível<br />

de digitalização superior é o retalho, tem muito a<br />

ver com a venda online, que é um fator<br />

fundamental da digitalização, no fundo, um<br />

modelo de negócio que passe pela venda online.<br />

Mais de 50% já tem venda online no retalho, o que<br />

é muito significativo. O retalho, nesse nível, já está<br />

muito à frente de outros setores, porque os<br />

próprios canais de distribuição que precisa de<br />

ter são já digitalizados, é um setor que está já<br />

bastante acima daquilo que são os níveis de<br />

digitalização, por exemplo, dos vários tipos de<br />

indústria, que têm ainda níveis de digitalização<br />

relativamente baixos. O nosso estudo diz-nos isso,<br />

nomeadamente das <strong>PME</strong> – 75% das respostas que<br />

tivemos foram de empresas com menos de 25<br />

colaboradores, são nitidamente <strong>PME</strong>, mas esse<br />

é que é o grosso do mercado das empresas em<br />

Portugal. O nível de digitalização é muito baixo,<br />

por exemplo, uma das coisas que se deteta logo,<br />

porque é o pilar de qualquer início de digitalização<br />

é o paper free. E o que nós detetamos é que as<br />

empresas, em termos de documentações<br />

comerciais, administrativas, estão ainda muito<br />

longe do paper free. Funciona muito com arquivos<br />

físicos e este é o pilar fundamental de qualquer<br />

42<br />

Felicidade Ferreira dirige operações em Portugal<br />

desde 2016 (Foto: Primavera BSS)<br />

digitalização. Temos de começar por aí, para a<br />

seguir tratar dos processos, dos modelos, de tudo<br />

isso.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – E qual é que é a razão para isso<br />

acontecer?<br />

F.F. – Há dois fatores importantes: primeiro é uma<br />

questão cultural, de gestão. A digitalização tem de<br />

partir do topo e depois tem de chegar a toda a<br />

organização, mas tem de haver uma vontade<br />

expressa do topo de iniciar um processo de<br />

digitalização. O segundo aspeto é das<br />

competências. É preciso haver toda uma<br />

remodelação do ponto de vista de competências<br />

de trabalho.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Alguma vez teremos empresas<br />

100% paper free? muitas vezes ainda precisamos<br />

da prova no papel...


JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

F.F. – Sim, mas vai acontecer. A melhor prova,<br />

e onde o nível de digitalização está altíssimo, é<br />

na relação com a Autoridade Tributária (AT). Por<br />

imposição da AT, relativamente à entrega do SAFT<br />

[n. d. r. ficheiro com documentação da empresa] por<br />

meios digitais, 33% das empresas já<br />

comunicam com a AT via webservice ou por outro<br />

modelo de digitalização. Entregam o SAFT, o<br />

modelo de inventariação, tudo digitalmente. E esta<br />

é a melhor prova de que empresas que acharíamos<br />

que nunca vão fazer isto, hoje estão a fazê-lo por<br />

imposição da AT. O caminho é mesmo esse, as<br />

empresas não vão ter como fugir e esse foi um bom<br />

mote. Aí, as entidades governamentais deram uma<br />

grande ajuda. É uma questão de transportar isso<br />

para as outras áreas da empresa.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Essa questão cultural está<br />

relacionada com a renovação de gerações<br />

no topo da empresa?<br />

F.F. – Essa é uma questão muito engraçada. O que<br />

notamos é que é na passagem da geração da<br />

empresa que vemos uma vontade enorme de<br />

mudança do ponto de vista da tecnologia, dos<br />

modelos adotados. Por vezes, chegamos a<br />

empresas em que a geração seguinte tomou<br />

conta e tem uma visão diferente. As novas<br />

gerações trazem isso. Há coisas que não vão<br />

desaparecer, mas aquilo que a digitalização vai<br />

trazer é eficiência, maior produtividade. A<br />

digitalização vai trazer a todos os processos maior<br />

eficiência e produtividade, retirando tudo o que<br />

são tarefas repetitivas, sem valor acrescentado, é<br />

aí que tem de se tirar partido da digitalização e não<br />

partir para uma conceção em que tudo o que é<br />

papel desaparece. O objetivo não é esse. O<br />

objetivo é que se consiga aumentar a eficiência e a<br />

competitividade, as pessoas serem mais<br />

produtivas. E fazerem outro tipo de função de<br />

maior valor. Não acredito que agora com os<br />

processos digitais as empresas deixem de ter<br />

pessoas, acho é que as pessoas vão ter funções<br />

diferentes, vão acrescentar valor às coisas. E até<br />

agora muitas das funções que existem são funções<br />

que não acrescentam valor. Perde-se muito tempo<br />

em tarefas repetitivas.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Sentem alguma resistência das<br />

empresas em relação à digitalização?<br />

F.F.– Sentimos muito interesse em saber o que é<br />

isso de que toda a gente anda a falar sobre<br />

digitalização, indústria 4.0. Mas há uma parte<br />

ínfima das empresas que têm software em cloud.<br />

Apercebemo-nos de que existia aqui um processo<br />

de transformação, mas vai ser lento. De facto, uma<br />

empresa que tem um software todo instalado<br />

localmente nos seus servidores tem muita<br />

dificuldade em dizer: ‘A partir de amanhã isto<br />

desaparece tudo e vais ter o software todo na<br />

cloud’… Não é assim que acontece. O que<br />

acontece é o que temos trabalhado, são os<br />

modelos híbridos: começar a trabalhar algumas<br />

áreas na cloud, integradas com os softwares que<br />

estão localmente e isto depois começa a ser<br />

gradual. As áreas em que as pessoas têm mais<br />

receio são as mais ligadas a informação do<br />

negócio: contabilidade, informação sobre números<br />

do negócio. Mas, por exemplo, uma área que nós<br />

temos que está na cloud e integrada com o que se<br />

passa internamente é um portal do colaborador,<br />

que permite acesso a todos os colaboradores à<br />

marcação de férias, dizer que mudaram a<br />

morada, visualizar os recibos de vencimento,<br />

introduzir despesas e isso depois integra com os<br />

recursos humanos do produto que está instalado<br />

localmente, mas tudo o resto está na cloud. Outra<br />

área que tem muita recetividade é um portal de<br />

compras. Uma empresa que tenha<br />

espalhadas filiais por várias zonas do país, que<br />

precisam de fazer encomendas de compras, em<br />

vez de aceder ao ERP [n. d. r. software de<br />

planeamento de recursos] tem um portal onde faz<br />

a nota de encomenda, ela entra no ERP que está<br />

instalado na empresa e sai uma nota de<br />

encomenda. São pequenas coisas em que a<br />

mobilidade dá muito jeito e não são críticas do<br />

negócio. Temos trabalhado nos tais modelos<br />

híbridos que nos permitem dar passos no sentido<br />

da cloud em empresas já de média dimensão, que<br />

já têm ERP há muito tempo. Se estivermos a falar<br />

de empresas de média dimensão, que já têm ERP<br />

há muito tempo. Se estivermos a falar de empresas<br />

pequeninas, recém-nascidas, já é tudo em cloud.<br />

As empresas que estão a ser criadas hoje com<br />

esta nova geração, dos 20, 30 e poucos anos, só<br />

querem trabalhar na cloud. Querem pagar por um<br />

serviço, está na cloud e não têm mais chatices.<br />

43


Tecnologia<br />

“ENTIDADES GOVERNAMENTAIS<br />

TÊM PAPEL IMPORTANTE”<br />

<strong>PME</strong> Mag. – A que outras conclusões chegaram<br />

com este estudo?<br />

F.F. – As empresas ainda estão muito longe do que<br />

é ERP na cloud. Depois, chegámos à conclusão de<br />

que ainda estamos longe do paper free, as<br />

empresas ainda estão muito agarradas aos<br />

arquivos físicos. Por isso, precisamos de ajudar as<br />

<strong>PME</strong> a perceberem que há um caminho a fazer e<br />

este caminho significa mais competitividade, mais<br />

eficiência. Compete-nos a nós, produtores das TI,<br />

informar as empresas sobre as vantagens.<br />

Concluímos, também, que nas áreas de<br />

fiscalidade e legalidade as coisas estão muito bem,<br />

porque as empresas viram-se obrigadas pela AT a<br />

dar passos que não teriam dado se não tivessem<br />

sido obrigadas a entregar o SAFT e afins da forma<br />

como têm de o fazer hoje. Mas também nos leva a<br />

uma conclusão: as entidades governamentais têm<br />

um papel muito importante. Podem ser o motor da<br />

digitalização, porque isto vai significar mais<br />

competitividade.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Em comparação com o estudo de<br />

2012, aumentou a confiança para investir nestes<br />

processos?<br />

F.F. – O que mudou é que já não há dúvidas da<br />

parte de ninguém que não pode ficar de fora,<br />

independentemente da dimensão da empresa.<br />

Toda a gente já percebeu que é um processo<br />

irreversível, em que não podem ficar de fora e a<br />

competitividade vai medir-se por aí. E os<br />

processos de digitalização também trazem novos<br />

modelos de negócio e os novos modelos de<br />

negócio são fundamentais. As empresas estão<br />

interessadas e querem mudar, o que acontece é<br />

que muitas delas ainda não sabem como o<br />

fazer e precisam de ajuda. As empresas não sabem<br />

efetivamente como o fazer, sabem que é<br />

possível, percebem que há mais-valias, mas<br />

precisam de ajuda. Daí que os recursos, que são<br />

escassos para estas áreas, é algo que nos<br />

preocupa, porque temos de ter pessoas capazes<br />

de discutir modelos de digitalização em empresas.<br />

Já não estamos a falar do processo A ou B,<br />

44<br />

estamos a falar de chegar a uma empresa e<br />

perceber como é que se vai montar o processo<br />

de digitalização.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – O custo da transformação do<br />

arquivo em papel para digital é um dos entraves?<br />

F.F. – A questão que se deve colocar não é o custo<br />

que vai ter, mas qual é o meu custo hoje por ter 10<br />

ou 20 pessoas que têm de tratar de papel e que<br />

posso substituir por uma ou duas. São tarefas sem<br />

valor acrescentado e [essas pessoas] podem estar<br />

a fazer outro tipo de coisas . Os escritórios de<br />

contabilidade, por exemplo, têm um batalhão de<br />

pessoas, porque chegam as empresas com<br />

centenas de documentos por mês que têm de ser<br />

introduzidos manualmente. Nos escritórios que<br />

hoje têm uma visão diferente isso deixa de existir,<br />

porque têm sistemas de faturação integrados com<br />

a contabilidade do escritório e os documentos são<br />

introduzidos da empresa, não é uma tarefa<br />

repetitiva e elimina tarefas que não têm valor<br />

nenhum. Hoje, o que vemos são escritórios de<br />

contabilidade que prestam um serviço<br />

completamente diferente: limitam-se a tratar das<br />

questões fiscais, entregar o IVA, fazer o IES [n. d. r.<br />

Informação Empresarial Simplificada] e já fazem um<br />

trabalho de aconselhamento, de gestão. No fundo,<br />

entregar contas, rácios que alertam as<br />

empresas. Mudou o tipo de serviço prestado.<br />

Muitas vezes, quando vamos a uma empresa<br />

perguntamos quantas pessoas é que tem a<br />

fazer a tarefa A e vamos comparar com aquilo que<br />

estamos a propor e o que pode ganhar. É a única<br />

forma, caso contrário as pessoas dizem que o<br />

custo é elevado. Quem passa para ter tudo na<br />

cloud, normalmente, pega na mensalidade,<br />

multiplica por 12 e pensa: ‘Isto é caríssimo’. Porque<br />

se esquece de fazer contas ao que significa ter um<br />

servidor internamente, que precisa de<br />

manutenção, de uma pessoa que tome conta, de<br />

uma empresa que preste serviços no servidor, esse<br />

serviço todo deixa de o ter e está incluído nessa<br />

mensalidade. É um processo que tem de ser<br />

explicado.


<strong>PME</strong> Mag. – As empresas portuguesas estão,<br />

então, preparadas para a indústria 4.0 e suas<br />

consequências?<br />

F.F. – A grande maioria está consciente de que<br />

tem de entrar nisso, não sabe é muito bem de que<br />

forma, nem quais são as consequências disso. No<br />

tecido empresarial, as grandes empresas estão<br />

mais do que cientes e preparadas, no entanto, a<br />

maior parte do tecido empresarial português são<br />

<strong>PME</strong> e aí ainda há um trabalho muito grande a<br />

fazer, mas depende muito da capacidade das TI de<br />

ajudar nestes processos.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Quantas pessoas trabalham<br />

na Primavera BSS e qual o serviço para o qual<br />

são mais solicitados?<br />

F.F. – Somos 280. O nosso core é o<br />

desenvolvimento de soluções de gestão, que vão<br />

desde o ERP, a solução de gestão base –<br />

faturação, contabilidade, recursos humanos…<br />

Temos outras soluções em áreas mais<br />

especializadas, como a da manutenção, logística e<br />

gestão de armazéns, temos soluções mais<br />

verticais para o retalho e construção. Também<br />

estamos a trabalhar nos modelos híbridos, em que<br />

aparecem soluções na cloud a integrar com o ERP,<br />

pois temos muitos milhares de clientes de há<br />

muitos anos – são 40 mil clientes em todas as<br />

geografias que estamos presentes. O nosso<br />

percurso tem sido acompanhando a tecnologia e<br />

desenvolvendo soluções à luz das novas<br />

tecnologias. Fizemos o lançamento de um produto<br />

100% cloud, o Jasmin, que é a génese daquilo que<br />

vai ser o ERP todo na cloud. Temos três áreas, em<br />

termos faturação: a área do produto, do<br />

licenciamento e contratos associados ao<br />

licenciamento; consultoria e formação.<br />

Nitidamente, a grande fatia está no produto, são<br />

mais de 50% [de faturação].<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Como é ser uma mulher<br />

trabalhadora no mundo das TI?<br />

F.F. – Confesso que nunca me passou pela<br />

cabeça vir para o mundo das TI [risos]. Sou<br />

licenciada em Economia e vim para as TI por mero<br />

acaso. Comecei por trabalhar na Luso-atlântica,<br />

uma empresa de aluguer de longa duração, do<br />

Banco Português do Atlântico, e depois, fui para<br />

a antiga Infologia, agora é a SAGE. Ao fim de uns<br />

JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

anos fui convidada para ir para a Primavera BSS.<br />

Estive sempre ligada às TI, mas não com uma<br />

vertente tecnológica. Passei por áreas<br />

comerciais, de marketing, gestão, a certa altura<br />

estive no planeamento do que era o programa de<br />

canal para todos os países. A partir daí, aquilo que<br />

gosto é de trabalhar com pessoas, numa empresa<br />

em que trabalhamos muito em equipa, não temos<br />

uma cultura individualista. Por outro lado, é uma<br />

empresa que, ao trabalhar com canal, – temos<br />

cerca de 170 parceiros diretos – é um trabalho de<br />

relação. Mais de 50% do nosso canal está<br />

connosco há mais de dez anos e cerca de 20% ou<br />

30% está connosco há mais de 18 anos. É isso que<br />

me atrai. Podemos ter os melhores produtos do<br />

mundo, mas se não tivermos relação com as<br />

pessoas não conseguimos nada.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Que balanço faz do primeiro ano<br />

como diretora-geral para Portugal, S. Tomé e<br />

Príncipe, Cabo Verde e Guiné-Bissau?<br />

F.F. – 2016 tive um ano de aprendizagem, porque<br />

abarquei áreas com as quais nunca tinha<br />

trabalhado. A novidade foi trabalhar com<br />

equipas de consultoria, foi um momento de muita<br />

aprendizagem e ainda hoje está a ser. 2016 foi um<br />

ano de pensar como é que queríamos que a equipa<br />

funcionasse, em <strong>2017</strong> estamos mais estabilizados,<br />

há ainda muito trabalho a fazer com o mercado,<br />

com os parceiros, onde é que se pode trabalhar<br />

mais... Este ano temos de trabalhar para fora,<br />

introduzir modelos novos. A tecnologia evolui, mas<br />

é preciso evoluir tudo o resto. <strong>2017</strong> é o ano para<br />

isso.<br />

<strong>PME</strong> Mag. – Alguma novidade em cima da<br />

mesa?<br />

F.F. – Estamos a trabalhar num modelo de<br />

simplificação de modelos comerciais, regras<br />

comerciais, ter tudo mais transparente, mais<br />

simples. Uma empresa com 23 anos precisa de<br />

repensar culturalmente muitas das coisas que<br />

criou. Estamos a trabalhar nisso e é um processo<br />

que abrange todas as áreas da empresa. Porque a<br />

simplificação leva a uma coisa de que nós somos<br />

muito defensores, a transparência: quem nos<br />

compra tem de saber exatamente o que está a<br />

comprar, quanto está a pagar, o que vai ter.<br />

45


Agenda<br />

RISE SUMMIT LEVA EMPREENDEDORISMO<br />

PARA HONG KONG<br />

Por: Denisse Sousa<br />

Produzida pela mesma equipa por detrás do Web Summit, a Rise decorre entre 11 e 13 de julho em Hong<br />

Kong e contará com personalidades das maiores empresas e startups do mundo. Estarão presentes<br />

também meios de comunicação a nível global, centenas de investidores e milhares de participantes<br />

durante três dias de puro networking. Mais informações aqui.<br />

WORKSHOP: “GESTÃO DE PÁGINA<br />

FACEBOOK”<br />

DATA: 26 e 27 de <strong>Julho</strong><br />

LOCAL: CFE - Centro de Formação Empresarial<br />

da ANJE – Porto<br />

A ANJE promove o workshop “Gestão de Página<br />

Facebook” no Centro de Formação Empresarial da<br />

ANJE no Porto.<br />

Os interessados podem inscrever-se aqui.<br />

WORKSHOP: “TRADE MARKETING”<br />

DATA: 18 e 19 de Setembro<br />

LOCAL: IFE Portugal - Lisboa<br />

O workshop de formação “Trade Marketing”<br />

permite aos participantes aprender metodologias<br />

que os irão preparar para a elaboração dos seus<br />

planos de ação. Para mais informações e inscrições<br />

clique aqui.<br />

46


JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

EVENTO: B2RUN <strong>2017</strong><br />

DATA: 20 de Setembro<br />

LOCAL: MEO Arena - Lisboa<br />

A B2Run convida o mundo empresarial a<br />

participar e a fazer parte de um movimento<br />

nacional que apela ao espírito de equipa, à saúde e<br />

a motivação dos colaboradores.<br />

Mais informações aqui.<br />

FEIRA: EMPACK & LOGISTICS <strong>2017</strong><br />

DATA: 21 e 22 de Setembro<br />

LOCAL: Exponor - Matosinhos<br />

A principal feira de embalagem e logística regressa<br />

ao Porto com ainda mais força para mais uma<br />

edição cheia de oportunidades de negócio.<br />

Mais informações no site oficial.<br />

EVENTO: “BUSINESS PLAN”<br />

DATA: 26 a 29 de Setembro<br />

LOCAL: AIP-CCI - Lisboa<br />

AIP-CCI organiza um workshop direcionado para<br />

os profissionais que necessitem de desenvolver e<br />

apresentar planos de negócios.<br />

Mais informações no site oficial deste evento.<br />

47


Opinião<br />

REGULAMENTO<br />

DA PROTEÇÃO DE DADOS<br />

Diogo Lopes Barata colabora pontualmente com a <strong>PME</strong> <strong>Magazine</strong><br />

Por: Diogo Lopes Barata, advogado na Lopes Barata & Associados Sociedade de Advogados, R. L.<br />

Fotos: D.R.<br />

O novo Regulamento Geral sobre a Proteção de<br />

Dados (RGPD) foi publicado no Jornal Oficial da<br />

União Europeia em 4 de maio de 2016, sendo<br />

apenas aplicável a partir do dia 25 de maio de 2018.<br />

O novo regulamento vem mudar o paradigma da<br />

proteção de dados, uma vez que o tratamento de<br />

dados pessoais passará a ter um impacto constante<br />

e relevante na organização das empresas e no<br />

desenvolvimento da sua atividade, pelo que urge<br />

deixar algumas notas para que as empresas<br />

possam adaptar-se a um novo enquadramento<br />

jurídico. O RGPC vem estabelecer as regras de<br />

proteção das pessoas singulares no que diz<br />

respeito ao tratamento de dados pessoais e à livre<br />

circulação, dos mesmos, na medida em que vem<br />

regular o tratamento destes dados, quer por meios<br />

automatizados, quer por meios não automatizados<br />

contidos em ficheiros ou a eles destinados,<br />

incluindo o tratamento de dados pessoais por<br />

instituições, órgãos, organismos ou agências da<br />

União Europeia. Com a introdução do RGPD, as<br />

empresas enfrentam uma nova realidade, uma vez<br />

48<br />

que terão que passar de uma lógica de compliance<br />

para uma lógica de gestão de riscos. Nos termos do<br />

RGPD, dados pessoais significam informação<br />

relativa a uma pessoa singular identificada ou<br />

identificável. Desta forma, o conceito de<br />

identificável inclui o nome, número de<br />

identificação, dados de localização, identificadores<br />

por via eletrónica, bem como um ou mais<br />

elementos específicos da identidade física,<br />

fisiológica, genética, mental, económica, cultural<br />

ou social dessa pessoa singular. Os dados<br />

genéticos e biométricos também são considerados<br />

como dados pessoais. Para que o tratamento seja<br />

lícito, os dados pessoais deverão ser tratados após<br />

a obtenção de um consentimento do titular dos<br />

dados. O consentimento, que poderá assumir<br />

a forma de uma declaração escrita,<br />

inclusive em formato eletrónico, ou uma declaração<br />

oral, deverá ser conferido mediante um ato<br />

positivo claro que indique uma manifestação de<br />

vontade livre, específica, informada e inequívoca


de que o titular de dados consente no tratamento<br />

dos dados que lhe digam respeito.<br />

O regulamento apresenta dois novos princípios<br />

que devem nortear o tratamento de dados<br />

pessoais e que devem ser incorporados em todos<br />

os processos e departamentos das empresas,<br />

inclusive na conceção de novos produtos e<br />

serviços assentes em dados pessoais, de forma<br />

a proteger os direitos dos titulares dos mesmos:<br />

proteção de dados desde a conceção (privacy by<br />

design) e proteção de dados por defeito<br />

(privacy by default). As empresas deverão ter um<br />

maior cuidado com os procedimentos de<br />

tratamento de dados pessoais, nomeadamente<br />

com os direitos dos titulares dos dados pessoais,<br />

onde se incluem os seguintes direitos: direito à<br />

transparência, direito à informação, direito de<br />

acesso, direito de retificação, direito de<br />

apagamento (direito a ser esquecido), direito à<br />

limitação do tratamento, direito à notificação,<br />

direito de portabilidade dos dados, direito de<br />

oposição e decisões individuais automatizadas<br />

(profiling), direito de oposição a marketing direto,<br />

e ainda direito de apresentar reclamações junto<br />

das Autoridades de Controlo (CNPD). Todas as<br />

entidades sujeitas ao tratamento de dados<br />

pessoais estão sujeitas ao princípio de<br />

Accountability (Prova e Evidência de<br />

Cumprimento), pelo que estão obrigadas a<br />

demonstrar que cumprem com o Regulamento,<br />

nomeadamente que os dados pessoais que<br />

possuem são legítimos, estão adequados e<br />

limitados à sua finalidade, estão exatos e<br />

atualizados e que foram tratados de uma forma<br />

segura e confidencial. Este princípio traz uma<br />

mudança de paradigma, uma vez que deixa de<br />

existir a obrigação de notificar a CNPD, para<br />

passarem a ser as empresas a deter a<br />

responsabilidade de demonstrar o cumprimento do<br />

regulamento, a qualquer momento, às entidades<br />

fiscalizadoras. Outra das novidades é a criação da<br />

figura de um encarregado de proteção de dados<br />

(Data Protection Officer – DPO). Este encarregado<br />

deve ser designado sempre que: o tratamento for<br />

efetuado por uma autoridade ou um organismo<br />

público; as atividades principais do responsável<br />

pelo tratamento ou do subcontratante consistam<br />

em operações de tratamento que, devido à sua<br />

JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />

natureza, âmbito e/ou finalidade, exijam um<br />

controlo regular e sistemático dos titulares dos<br />

dados em grande escala; ou as atividades<br />

principais do responsável pelo tratamento ou do<br />

subcontratante consistam em operações de<br />

tratamento em grande escala de categorias<br />

especiais de dados. Esta figura pode ser um<br />

elemento do pessoal da entidade responsável pelo<br />

tratamento ou do subcontratante, ou exercer as<br />

suas funções com base num contrato de prestação<br />

de serviços, ainda que possa exercer outras<br />

funções e atribuições, desde que não haja nenhum<br />

conflito de interesses. É também criado um<br />

sistema de balcão único (on e stop shop), no caso<br />

de grupos multinacionais com vários<br />

estabelecimentos na Europa, em que a autoridade<br />

de proteção de dados do local do estabelecimento<br />

principal do grupo passa a assumir a liderança no<br />

controle e supervisão de todos esses<br />

estabelecimentos.Sempre que se verificar uma<br />

violação de dados pessoais (data breaches), os<br />

responsáveis pelo tratamento de dados têm a<br />

obrigação de notificar quer a autoridade de<br />

controlo, quer os indivíduos afetados (incluindo<br />

clientes). Esta notificação deverá ser feita,<br />

no prazo máximo de 72 horas, após o responsável<br />

ter tido conhecimento da violação, e deve conter: a<br />

descrição da natureza da violação dos dados<br />

pessoais (incluindo as categorias, o número de<br />

titulares de dados afetados, o número de<br />

registos de dados pessoais em causa), o contacto<br />

do encarregado da proteção de dados, a descrição<br />

das consequências prováveis da violação de dados<br />

pessoais e quais as medidas a adotar para reparar<br />

ou atenuar os potenciais efeitos negativos. O<br />

registo detalhado de todas as atividades de<br />

tratamento de dados pessoais, bem como a<br />

realização de avaliações de impacto sobre a<br />

proteção de dados são outros dos procedimentos<br />

obrigatórios que estão previstos no RGPD.<br />

“DADOS PESSOAIS DEVERÃO<br />

SER TRATADOS APÓS<br />

UM CONSENTIMENTO<br />

DO TITULAR”<br />

49


Opinião<br />

No caso das avaliações de impacto, apenas são<br />

obrigatórias quando um certo tipo de tratamento<br />

utilize novas tecnologias e tendo em conta a sua<br />

natureza, âmbito, contexto e finalidades, e for<br />

suscetível de implicar um elevado risco para os<br />

direitos e liberdades das pessoas singulares.<br />

No que se refere à matéria laboral, o RGPD prevê<br />

que os Estados-Membros possam estabelecer,<br />

no seu ordenamento jurídico ou em convenções<br />

coletivas, normas mais específicas para garantir a<br />

defesa dos direitos e liberdades no que<br />

respeita ao tratamento de dados pessoais dos<br />

trabalhadores no contexto laboral, nomeadamente<br />

para efeitos de recrutamento, execução do<br />

contrato de trabalho, incluindo o cumprimento das<br />

obrigações previstas no ordenamento jurídico ou<br />

em convenções coletivas, de gestão, planeamento<br />

e organização do trabalho, de igualdade e diversidade<br />

no local de trabalho, de saúde e segurança<br />

no trabalho, de proteção dos bens do empregador<br />

ou do cliente e para efeitos do exercício e gozo,<br />

individual ou coletivo, dos direitos e benefícios<br />

relacionados com o emprego, bem como para<br />

efeitos de cessação da relação de trabalho.<br />

O incumprimento do RGPD pode implicar coimas,<br />

que podem ir até 20.000.000 euros ou, no caso de<br />

uma empresa, até 4% do seu volume de negócios<br />

anual. No que respeita às matérias de<br />

responsabilidade criminal, as mesmas continuarão<br />

a ser reguladas pela Lei de Proteção de Dados (Lei<br />

67/98 de 26 de outubro).<br />

“EMPRESAS DEVEM TER MAIOR<br />

CUIDADO COM DADOS”


JULHO <strong>2017</strong><br />

WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM


ASSESSORIA MEDIÁTICA<br />

Redação e envio de notas de imprensa, visitas<br />

e conferências de imprensa, lançamento de novos<br />

produtos, inaugurações,eventos, serviço de recorte<br />

de imprensa (clipping), planos de situação de crise.<br />

PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS<br />

Para redes sociais, websites, newsletters, revistas<br />

corporativas, apresentações, discursos, palestras,<br />

conferências.<br />

DESIGN GRÁFICO<br />

Concepção gráfica, criação de marca,<br />

tratamento de imagem, paginação, redes sociais.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!