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Perfil<br />

Sessenta anos de carreira de<br />

rosamaria<br />

murtinho<br />

Ela se descobriu atriz por um convite de Paulo Francis<br />

e só entendeu o que era fazer televisão quando uma multidão<br />

a impediu de sair do supermercado. Essa e outras histórias<br />

da grande diva do teatro brasileiro<br />

Texto Leonardo Valle Fotografias Gui Gomes<br />

Adivinhar a idade da atriz Rosamaria Murtinho quando ela está no palco é uma tarefa difícil. Sua potência<br />

em cena confunde a todos, principalmente a quem acompanha a sua trajetória artística desde o início. O fato<br />

é que Rosinha – como é chamada pelos amigos – comemora, em 2017, incríveis 78 anos de idade e seis décadas de<br />

carreira. Um grande feito para uma aspirante a bailarina e advogada que nem sequer imaginou que um dia seria atriz.<br />

“Um problema no menisco me afastou da dança. Meu irmão Carlos fazia parte de um grupo no<br />

Teatro de Bolso, no Rio de Janeiro, com o Paulo Francis. Às vezes, eu ia assistir ao ensaio, mas nunca me passou<br />

pela cabeça estar no palco. Até que, dez dias antes da estreia, uma das atrizes teve um ataque de anemia. Aí<br />

o Francis falou para o Carlos com estas palavras: ‘Murtinho, se não tem ninguém, bota a sua irmã mesmo’.<br />

Topei e nunca mais saí do teatro”, relembra.<br />

Amor de teatro<br />

O talento de Rosamaria foi abrindo uma porta atrás da outra. O amigo Alfredo Souto de Almeida<br />

levou-a ao Teatro dos Sete, trupe de Fernanda Montenegro, Sérgio Britto, Fernando<br />

Torres e Nathália Timberg. De lá, foi convidada para excursionar por Portugal com o<br />

Teatro Maria Della Costa. Abílio Pereira de Almeida, o autor mais montado pelo<br />

Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), viu-a em cena e convidou-a para se juntar<br />

ao seu time. Por fim, Zé Celso Martinez encantou-se com a sua atuação no<br />

TBC e ela teve uma rápida passagem pelo Teatro Oficina.<br />

“Fui colega e aluna do grande Eugenio Kusnet. O Kusnet não gostava<br />

que a gente brincasse de ‘enterrar a peça’ no último dia. Consistia em fazer<br />

algumas coisas diferentes, que o público não notava: somente os colegas<br />

entendiam”, relata. “Na última cena, ele apontava o dedo para mim. Eu fiz<br />

uma tesoura com meus dois dedos e ‘cortei’ o dele. Kusnet ficou possesso.<br />

Quando a sessão acabou, o elenco todo dizia: ‘Corre, Rosinha, que ele está<br />

atrás de você’”, diverte-se.<br />

70 ESPRESSO

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