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O Perfil Psicologico do Goleiro

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Autor: Roberto Valeiro<br />

Fotos: Shutterstock<br />

O TREINAMENTO<br />

DO GOLEIRO DE<br />

FUTEBOL DE BASE.<br />

PERFIL PSICOLÓGICO DO<br />

GOLEIRO.<br />

N<br />

o presente artigo exporemos as habilidades psicológicas<br />

que, em nossa opinião, deve reunir um goleiro para poder<br />

desempenhar sua função com êxito e como orientar a<br />

nossos pupilos no desenvolvimento das mesmas, sem<br />

esquecer-nos em nenhum momento de que não somos<br />

psicólogos e de que estamos trabalhan<strong>do</strong> com jovens.<br />

Para enumerar essas qualidades seguiremos a autores como<br />

Durán (1997) e Dosil (2008).<br />

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AGOSTO <strong>Goleiro</strong> © Artigo publica<strong>do</strong> em www.futbol-tactico.com<br />

<strong>Goleiro</strong><br />

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Durán (1997) propõe as seguintes habilidades<br />

Modelo de habilidades psicológicas em goleiros. Dosil (2008)<br />

1. Recursos intelectuais.<br />

A adequada formação técnica deve somar-se uma não menos importante formação tática e conhecimento<br />

<strong>do</strong> jogo.<br />

2. Estabilidade emocional.<br />

O goleiro deve ser um sujeito emocional estável, controla<strong>do</strong> e muito seguro de si mesmo. Com uma<br />

alta confiança em suas capacidades e uma grande<br />

autoestima.<br />

3. Tolerância à frustração.<br />

A frustração é algo muito frequente, já que qualquer<br />

situação que nos impeça a consecução de nossos<br />

objetivos pode ser considerada como frustrante. O<br />

goleiro é o joga<strong>do</strong>r com uma maior carga<br />

de responsabilidade em suas ações, um<br />

erro acostuma significar encaixar um gol.<br />

Uma ação desafortunada deste tipo não pode<br />

condicionar o rendimento <strong>do</strong> goleiro durante o resto <strong>do</strong> jogo.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, outra das características <strong>do</strong> posto é que<br />

acostuma jogar unicamente um <strong>do</strong>s goleiros e o resto<br />

esperar sua oportunidade. Os goleiros que não jogam<br />

devem sobrelevar esta situação da melhor forma<br />

possível e não perder intensidade nos treinamentos<br />

nem enturvar as relações com os companheiros<br />

ou o treina<strong>do</strong>r. Ainda que nas idades nas que nos<br />

centramos acostumam repartir-se os minutos a<br />

jogar entre os goleiros da equipe, conforme vaiam<br />

avançan<strong>do</strong> categorias, o reparto será menos equitativo<br />

e nas últimas etapas, o habitual é que jogue um <strong>do</strong>s goleiros.<br />

4. Líder centra<strong>do</strong> na tarefa.<br />

O goleiro não tem porque ser líder nas relações<br />

humanas é dizer, no vestiário. Em troca sim<br />

deve sê-lo dentro <strong>do</strong> campo, já que deve fazerse<br />

entender e obedecer pelo resto de seus<br />

companheiros.<br />

Segun<strong>do</strong> Dosil (2008) as habilidades psicológicas<br />

são condutas que contribuem ao melhorar<br />

o rendimento tanto no treinamento como na<br />

competição. Se o goleiro as utiliza corretamente,<br />

poderá desenvolver sua função com maior probabilidade<br />

de êxito. O autor propõe o seguinte esquema.<br />

O autor propõe um modelo hierárquico de três<br />

níveis. Na parte superior nos encontramos as<br />

habilidades avançadas: autocontrole e tomada<br />

de decisão.<br />

No nível mais alto nos encontramos a tomada<br />

de decisão, sobre a que incidem os elementos<br />

situa<strong>do</strong>s debaixo e se corresponde com a<br />

manifestação externa da conduta de um goleiro,<br />

as ações que podemos observar quan<strong>do</strong><br />

bloqueia a bola, se desloca ou dá instruções a<br />

um companheiro.<br />

É a habilidade que, a nosso mo<strong>do</strong> de ver, marca<br />

as diferenças no campo. Um goleiro pode ser<br />

muito potente, ágil, rápi<strong>do</strong> e <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> tecnicamente<br />

que sem as decisões que toma no treinamento e,<br />

ainda mais importante, em competição não são<br />

as adequadas, seu rendimento não será ótimo.<br />

No escalão imediatamente inferior nos<br />

encontramos com o autocontrole, é dizer, o<br />

controle das emoções.<br />

É o nexo entre as habilidades básicas e a tomada<br />

de decisão. Esta habilidade serviria de filtro para<br />

que as emoções não incidam excessivamente<br />

sobre a tomada de decisão.<br />

Um erro, uma decisão arbitral ou um resulta<strong>do</strong><br />

desfavorável podem incidir sobre as emoções<br />

<strong>do</strong> goleiro, desestabilizan<strong>do</strong> e merman<strong>do</strong> sua<br />

autoconfiança ou concentração, com o que<br />

a tomada de decisão se pode ver afetada<br />

negativamente.<br />

No seguinte escalão nos encontramos com as<br />

habilidades básicas, que devem formar parte <strong>do</strong><br />

perfil psicológico de um goleiro de futebol.<br />

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1. O controle da ativação é necessário para manter esta em um nível ótimo. Se estiver muito baixo<br />

corremos o risco de não entrar no jogo e não ser<br />

competitivos. Pelo contrário, se está demasia<strong>do</strong><br />

elevada, pode afetar negativamente por excesso<br />

de ímpeto, agressividade ou precipitação.<br />

2. A comunicação é essencial para relacionar-se<br />

com os companheiros e dar instruções durante o<br />

jogo. Conforme o goleiro vai corren<strong>do</strong> etapas, em<br />

um primeiro momento incrementa a quantidade de<br />

instruções que proporciona a seus companheiros para<br />

depois, com a orientação adequada, aprender a selecionar<br />

que informação é relevante e necessário transmitir em cada<br />

situação, assim como a forma de fazê-lo.<br />

3. A autoconfiança é imprescindível para poder intervir com êxito<br />

nos momentos decisivos, e vital para todas aquelas ações que<br />

implicam sair da trave.<br />

4. A atenção/concentração deve ser máxima nos momentos que<br />

assim o requeiram. São habilidades de grande relevância já que lhe<br />

frequência de participação no jogo <strong>do</strong> goleiro é reduzida e a ausência<br />

de intervenções pode provocar perdida de concentração ou dispersão<br />

da atenção em elementos alheios ao jogo.<br />

Em nível inferior se situará a motivação, autêntico cataliza<strong>do</strong>r das<br />

habilidades básicas. Se nosso jovens goleiros estão motiva<strong>do</strong>s, terão<br />

vontade de treinar, aprender e pôr-se a prova.<br />

Uma vez descrevemos o perfil psicológico que deveria ter um goleiro,<br />

veremos como podemos tentar desenvolver essas habilidades.<br />

O mo<strong>do</strong> de abordar as intervenções neste campo de deve ser<br />

ascendente. Iniciaremos fortalecen<strong>do</strong> a motivação, passaremos<br />

as habilidades básicas para, uma vez desenvolvidas estas<br />

centraremos nas avançadas.<br />

A motivação é uma habilidade que acostuma estar associada ao<br />

prazer inerente a prática <strong>do</strong> futebol. Se as tarefas a desenvolver nos<br />

treinamentos são variadas e divertidas e nossos pupilos são conscientes da melhoria de<br />

sal prestação como consequência <strong>do</strong> processo de treinamento, provavelmente logremos<br />

que sua motivação se mantenha a um nível ótimo na maioria <strong>do</strong>s casos. Nas últimas<br />

etapas, outra forma de motivação é o estabelecimento de objetivos, que devem<br />

ser difíceis, mas a sua vez alcançáveis.<br />

A autoconfiança podemos reforça-la <strong>do</strong>tan<strong>do</strong> ao jovem goleiro de <strong>do</strong>mínio sobre as situações que se<br />

pode encontrar em competição e fazen<strong>do</strong>-lhe consciente de seus progressos. Se souber o que tem<br />

que fazer e como levá-lo a cabo, afrontará com maior segurança os treinamentos e jogos.<br />

A comunicação e a liderança centrada na tarefa: Para poder dar instruções a seus companheiros,<br />

o goleiro deve possuir os conhecimentos táticos e <strong>do</strong> jogo necessários e ter claro que quer o<br />

treina<strong>do</strong>r para poder transmiti-lo a seus companheiros. Passaremos <strong>do</strong> simples aviso<br />

da presença de um rival desmarca<strong>do</strong> das etapas iniciais a coordenação da linha<br />

defensiva e inicio da fase ofensiva nas etapas finais.<br />

No referente ao controle da ativação, cada individuo tem um nível de<br />

ativação idônea para poder render a seu máximo nível. Ao longo <strong>do</strong><br />

processo de treinamento deveremos ajudar a nossos pupilos a descobrir<br />

qual é o adequa<strong>do</strong> para cada um, assim como estratégias básicas para<br />

poder baixa-lo (p.e. respiração ab<strong>do</strong>minal) ou subi-lo (p.e. música,<br />

conversas, ações explosivas repetidas).<br />

Quan<strong>do</strong> nos centremos na atenção e a concentração, temos que<br />

fazer conscientes os jovens goleiros que quan<strong>do</strong> a bola está<br />

distanciada da sua trave não devem estar estão ven<strong>do</strong> o jogo,<br />

senão viven<strong>do</strong>-o. Ainda que não se entre em contato direto com a<br />

bola, em um jogo de futebol sempre tem algo que fazer: localizarnos<br />

adequadamente para poder realizar coberturas em caso de<br />

contra-ataque, avisar a nossos companheiros para que realizem<br />

vigilâncias, etc.<br />

O autocontrole e a tolerância à frustração são os filtros que nos<br />

permitirão aplicar em competição o que somos capazes de<br />

realizar nos treinamentos.<br />

To<strong>do</strong>s temos conheci<strong>do</strong> infinidade de joga<strong>do</strong>res com uma<br />

magnifica prestação nos treinamentos semanais e com<br />

um rendimento em competição que não é acorde ao<br />

demonstra<strong>do</strong> nas sessões preparatórias. Erros próprios,<br />

de companheiros, decisões arbitrais ou <strong>do</strong> treina<strong>do</strong>r,<br />

ações <strong>do</strong>s adversários, o público, um resulta<strong>do</strong> adverso, a<br />

transcendência <strong>do</strong> jogo ou a entidade <strong>do</strong> rival são fatores<br />

que podem mermar a capacidade competitiva de nossos<br />

pupilos.<br />

Para isso devemos fazer finca-pé na importância <strong>do</strong><br />

processo, em fazer as coisas bem, e não centrarnos<br />

exclusivamente no resulta<strong>do</strong> final.<br />

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O goleiro deve saber sobrelevar um erro e<br />

que este não incida negativamente sobre seu<br />

rendimento posterior. Agora bem, temos que<br />

lograr que nossos goleiros convivam com<br />

naturalidade com as características <strong>do</strong> posto.<br />

Todas suas ações podem resultar determinantes,<br />

com o que carrega de responsabilidade que ele<br />

associa. Devemos tentar que o goleiro conviva<br />

com dita responsabilidade. Com um erro não se<br />

acaba o mun<strong>do</strong>, mas não é indiferente se comete<br />

ou não. Devemos fazer finca-pé na importância<br />

<strong>do</strong> processo, de fazer as coisas bem, e não<br />

exclusivamente no resulta<strong>do</strong> final.<br />

Nestas etapas merecem menção especial os<br />

pais, pela grande influencia que têm.<br />

Smoll (2001) distingue entre três tipos de pais em<br />

função <strong>do</strong> seu comportamento no campo:<br />

1. Pais treina<strong>do</strong>res na banda, excessivamente<br />

críticos e vociferantes detrás <strong>do</strong> banquinho<br />

ou a trave.<br />

2. Pais sobre-protetores.<br />

3.Pais desinteressa<strong>do</strong>s.<br />

Dosil (2004) distingue outro grupo á maiores<br />

<strong>do</strong>s anteriores, os pais participativoscolaborativos,<br />

com uma implicação adequada<br />

e que cooperam ativamente com o treina<strong>do</strong>r na<br />

educação esportiva de seus filhos.Chegamos à<br />

tomada de decisão, sobre a que incidem todas<br />

as anteriores.<br />

Para poder decidir com êxito, o goleiro deve ter<br />

um bom conhecimento <strong>do</strong> jogo que lhe leve a<br />

poder perceber adequadamente a situação de<br />

jogo que se lhe apresenta discernir qual é a<br />

informação relevante que deve processar.<br />

Neste processamento deve ter em conta muitos<br />

fatores (companheiros, adversários, esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> terreno de jogo, condições climatológicas,<br />

pontos fortes e débeis próprios...) para poder<br />

tomar a decisão mais adequada para solucionar<br />

a situação que o jogo lhe planteia.<br />

A sua vez, o resulta<strong>do</strong> das decisões tomadas<br />

em treinamento e competição proporcionará<br />

uma valiosa informação que se somará a<br />

facilitada pelo treina<strong>do</strong>r para poder resolver<br />

situações similares em futuras ocasiões.<br />

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