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Livro da Rogéria

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01<br />

01 - INTRODUÇÃO<br />

Neste primeiro capítulo, tomo a liber<strong>da</strong>de de escreve-lo, não na forma impessoal dos verbos,<br />

como é recomen<strong>da</strong>do pelas normas de re<strong>da</strong>ção de trabalhos de pesquisa, mas sim na primeira pessoa<br />

do singular, pois farei aqui, inicialmente, uma breve revisão <strong>da</strong> minha trajetória, não apenas relembrando<br />

o meu caminho como estu<strong>da</strong>nte, mas também o meu percurso profissional até os dias de hoje.<br />

Minha infância foi vivi<strong>da</strong> em uma pequena ci<strong>da</strong>de do interior de Minas – Pirapetinga – MG – onde<br />

tudo era bastante restrito, inclusive as oportuni<strong>da</strong>des na área educacional.<br />

Cresci entre livros, cadernos, quadro, giz e um desejo enorme de ser professora. A minha vi<strong>da</strong><br />

escolar começou muito cedo. Aos seis anos, eu já era aluna <strong>da</strong> primeira série. Não fiquei no terceiro<br />

período, pois quando entrei para a escola já sabia ler, escrever, dominava a tabua<strong>da</strong> e as operações<br />

básicas. Tudo isso me foi ensinado pelos meus pais. Meu pai estudou e se formou em Contabili<strong>da</strong>de<br />

depois de casado e pai de dois filhos e minha mãe, costureira, cursou somente até a quarta série primária.<br />

A preocupação de ambos é que eu chegasse à escola já sabendo muitas coisas que iriam ser ensina<strong>da</strong>s<br />

para que não encontrasse dificul<strong>da</strong>de. O método usado pelos dois para essa iniciação escolar<br />

foi o método <strong>da</strong> decoreba para a tabua<strong>da</strong> (me vejo até hoje com um livrinho de tabua<strong>da</strong>, an<strong>da</strong>ndo pela<br />

casa “cantando” alto os fatos para poder decorar), <strong>da</strong> prova dos nove para a verificação <strong>da</strong>s operações<br />

e <strong>da</strong> cartilha para a alfabetização. Lembro-me até hoje: “O sapato é do vovô”. “Vivi viu a uva”. Nas quatro<br />

primeiras séries do Ensino Fun<strong>da</strong>mental, tive duas professoras: D. Apareci<strong>da</strong> e D. Ivete. Foram<br />

exemplos de educadoras e marcaram to<strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong>. Com seu carinho e dedicação, elas me incentivaram<br />

a ir atrás de um sonho: o de ser professora.<br />

Iniciei a quinta série na minha ci<strong>da</strong>de. Logo depois, meus pais foram para Volta Redon<strong>da</strong> e a<br />

sexta série cursei lá. Nos dois últimos anos do Ensino Fun<strong>da</strong>mental já havíamos mu<strong>da</strong>do para a ci<strong>da</strong>de<br />

de Mariana, onde estou até hoje, e é em Mariana que terminei o Ensino Fun<strong>da</strong>mental e fiz o Ensino<br />

Médio.<br />

Em 1978, com 14 anos, iniciei o curso de Magistério, no Colégio Providência, onde hoje atuo<br />

como professorado Ensino Médio. Aos 16 anos terminei o Magistério. Queria lecionar. Não conseguia.<br />

A pouca i<strong>da</strong>de era um problema e ficava sempre em último lugar nas colocações. Na época que terminei<br />

o curso de Magistério desejei fazer vestibular na Universi<strong>da</strong>de Federal de Ouro Preto, mas não tive<br />

como realizar. Diante de tal situação, me dediquei a aulas particulares, fazendo umas substituições<br />

aqui e ali, até completar 18 anos. Durante muitos anos trabalhei com crianças na Educação Infantil e no<br />

Ensino Fun<strong>da</strong>mental I. Nesse nível, trabalhei durante treze anos com crianças entre 9 e 10 anos, lecionando<br />

Matemática e Ciências. A minha paixão pela Matemática já vinha desde muito cedo e aumentou<br />

ain<strong>da</strong> mais nesse período.


04<br />

Há muito desejava fazer um curso superior que atendesse às minhas expectativas. Na<br />

região, nenhum curso me interessava até que surgiu, na Universi<strong>da</strong>de Federal de Ouro Preto, o curso de<br />

Licenciatura em Matemática. Já aluna do curso de graduação em Matemática <strong>da</strong> UFOP, tive a oportuni<strong>da</strong>de<br />

de conhecer professores que realmente se preocupavam com o ensino-aprendizagem <strong>da</strong> Matemática<br />

e tinham um novo olhar sobre a educação. Fiquei muito entusiasma<strong>da</strong>. Durante os quatro anos<br />

de curso tive a oportuni<strong>da</strong>de de conhecer novas propostas de ensino como as que o Projeto Matemática<br />

na Escola vinha realizando com professores <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Ouro Preto e Mariana. Participei de vários congressos,<br />

encontros e Semana <strong>da</strong> Licenciatura em Matemática. Foi nessa época que,pela primeira vez,<br />

foi me apresentado o termo Educação Matemática.<br />

Em 2004, fui convi<strong>da</strong><strong>da</strong> pela Diretora do Colégio onde trabalhava para assumir quatro turmas<br />

de 1a série do Ensino Médio. Foi um desafio! No princípio, enfrentei algumas dificul<strong>da</strong>des que são<br />

comuns quando se inicia um novo trabalho. Diante de tudo isso e a constante busca de melhorar minha<br />

formação é que ingressei no curso de especialização em Educação Matemática. Nesse curso novas<br />

in<strong>da</strong>gações foram surgindo.<br />

Depois de termina<strong>da</strong> a especialização muitas portas se abriram. Em fevereiro de 2005<br />

comecei a lecionar na Unipac- Uni<strong>da</strong>de Mariana- lecionando para o curso de Normal Superior e Pe<strong>da</strong>gogia.<br />

Muitas coisas que estudei na graduação e na Especialização me aju<strong>da</strong>ram nesse novo desafio.<br />

Lecionar para as turmas de Normal Superior e Pe<strong>da</strong>gogia me levou a estu<strong>da</strong>r mais e procurar<br />

conhecer melhor como se <strong>da</strong>va o processo de ensino-aprendizagem de Matemática e como aju<strong>da</strong>r<br />

no processo de formação de professores e pe<strong>da</strong>gogos que fossem capazes de atuar melhor nessa área.<br />

Em agosto de 2005, fui convi<strong>da</strong><strong>da</strong> pela Facul<strong>da</strong>de de Administração de Mariana (FAMA) a<br />

lecionar para o segundo período de Administração. A turma era de pessoas que já haviam terminado o<br />

Ensino Médio há mais tempo. Foi uma experiência nova. Muito estudo e dedicação. Atualmente, leciono<br />

para os cursos de Engenharia Ambiental, Produção e Civil, com as disciplinas de Cálculo I e II.<br />

.A formação de um ci<strong>da</strong>dão crítico e consciente são desafios que têm tornado ca<strong>da</strong> vez<br />

mais crescente o movimento <strong>da</strong> Educação Matemática nas últimas déca<strong>da</strong>s.As reformulações no currículo,<br />

os novos métodos de ensino que visam a propiciar ao aluno elementos que desenvolvam suas<br />

potenciali<strong>da</strong>des e sua capaci<strong>da</strong>de crítica, têm gerado to<strong>da</strong> essa mu<strong>da</strong>nça. O futuro e a sobrevivência <strong>da</strong><br />

civilização vai depender <strong>da</strong> imaginação criadora do homem de hoje e <strong>da</strong>s próximas gerações.Em 2000,<br />

o professor Antônio Carlos Brollezzi, no curso de Licenciatura em Matemática, dizia em suas aulas que<br />

ofuturo será <strong>da</strong>queles educadores que souberem usar sua criativi<strong>da</strong>de. Agora, como fazer surgir essa<br />

imaginação criadora em nós educadores e em nossos alunos? Qual será a nossa prática de ensino, de<br />

agora em diante, com uma visão para o que vier mais a frente?<br />

A Matemática, como alicerce de quase to<strong>da</strong>s as áreas do conhecimento, tem sua utilização<br />

defendi<strong>da</strong> por desenvolver os níveis cognitivo e criativo, nos mais diversos graus de escolari<strong>da</strong>de,<br />

como meio para fazer surgir essa habili<strong>da</strong>de em criar e resolver problemas. O que precisamos é encontrar<br />

meios para desenvolver nos alunos, a capaci<strong>da</strong>de de ler e interpretar o domínio <strong>da</strong> Matemática.<br />

Durante meu curso de Especialização realizei um trabalho com professores de Matemática<br />

e vi que muitos ain<strong>da</strong> não conheciam e, se conheciam, não utilizavam as novas propostas para o ensino-aprendizagem<br />

de Matemática. A participação em eventos de caráter científico, particularmente Congressos<br />

e Seminários sobre Educação Matemática, é que me possibilitaram acompanhar as discussões<br />

atuais e pesquisa nessa área, verificando que há muitas questões para seremestu<strong>da</strong><strong>da</strong>s.


É a busca constante por novas práticas pe<strong>da</strong>gógicas, uma formação contínua<br />

e os processos de ensino-aprendizagem em Matemática que me levaram, em 2015, a fazer um mestrado.<br />

O objetivo de fazer a inscrição no Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemáticapela<br />

Pontifícia Universi<strong>da</strong>de Católica de Minas Gerais (PUC-MINAS) é aliar a minha prática profissional<br />

aos novos conhecimentos acadêmicos, através de pesquisas e estudos acerca do ensino <strong>da</strong> Matemática.Afinal,<br />

reafirmando as palavras de Paulo Freire (1998), “Sou professor a favor <strong>da</strong> boniteza<br />

de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que<br />

devo ensinar”.<br />

05<br />

1.1 A Escolha do Tema<br />

Atualmente, resido em Mariana, primeira ci<strong>da</strong>de e capital de Minas Gerais, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 16<br />

de julho de 1696 como arraial de Nossa Senhora do Carmo e eleva<strong>da</strong> à ci<strong>da</strong>de em 1745. Mariana abriga<br />

importantes riquezas do tempo Brasil Colônia, liga<strong>da</strong>s à religiosi<strong>da</strong>de, à produção do ouro e do minério<br />

de ferro. Foi a primeira ci<strong>da</strong>de planeja<strong>da</strong> do estado de Minas Gerais e isso é notado pelas suas ruas retas<br />

e praças retangulares. Nesta ci<strong>da</strong>de está localizado o Seminário de Mariana, fun<strong>da</strong>do em 20 de dezembro<br />

de 1750 onde se encontra uma <strong>da</strong>s bibliotecas de filosofia e teologia mais importantes do Brasil, não<br />

somente pela diversi<strong>da</strong>de de títulos, mas também pela grande quanti<strong>da</strong>de de obras raras, liga<strong>da</strong>s a<br />

essas duas áreas do conhecimento.<br />

Em todo o parágrafo anterior, procureiexplicitar uma <strong>da</strong>s razões que levaram-me a pesquisar<br />

um tema relacionado, também, com a história <strong>da</strong> Educação Matemática. É certo que o ambiente em<br />

que moro e todo o contato direto com parte <strong>da</strong> história de Minas e do Brasil exerceram influência na<br />

minha escolha.Outro ponto motivador para a realização dessa pesquisa foi uma conversa que tive, em<br />

sala de aula, com a minha orientadora Elenice Zuim após mostrá-la um livro, editado em 1971, cujos<br />

autores são Nicolau D`Ambrósio e Ubiratan D´Ambrósio, tendo como título “Matemática Comercial e<br />

Financeira”. Nessa conversa a Professora Elenice perguntou-me: “Já que você gosta de obras antigas<br />

de matemática, porque você não estu<strong>da</strong> algum tema que exigiria a utilização de obras mais antigas”?<br />

Imediatamente, interessei-me pela proposta de trabalho, pois possuia em casa, obras de autores importantes<br />

tais como Ary Quintella, Manoel Jairo Bezerra e Thales Mello de Carvalho. Outras obras, em uma<br />

rápi<strong>da</strong> pesquisa na Internet, poderiam ser adquiri<strong>da</strong>s com relativa facili<strong>da</strong>de. Adicionalmente, em Ouro<br />

Preto, há a Biblioteca de Obras Raras na Escola de Minas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Ouro Preto.<br />

Dessa forma, a linha de pesquisa já estava defini<strong>da</strong> e restava a escolha do tema central. Essa escolha<br />

também não foi difícil. Como professora de Matemática em to<strong>da</strong>s as séries do Ensino Médio, sempre<br />

percebi a dificul<strong>da</strong>de de vários alunos com o conteúdo função exponencial e <strong>da</strong><strong>da</strong> a importância que<br />

essa função apresenta hoje como ferramenta em vários ramos do conhecimento, senti-me curiosa em<br />

estu<strong>da</strong>r esse tema e perceber de que forma os livros didáticos o apresentavam. Essa foi a minha motivação<br />

inicial e já com a certeza de que outras motivações surgiriam, pois tenho um interesse pessoal pelo<br />

tema e a certeza de que trata-se de um conteúdo importante, aliado ao fato de tratar-se de uma pesquisa<br />

que tem originali<strong>da</strong>de e que oferece uma farta documentação, disponível nos livros didáticos, que poderia<br />

ser utiliza<strong>da</strong> como fonte de pesquisa.


06<br />

1.2 Objetivo geral e objetivos específicos<br />

O objetivo geral desse trabalho foi verificar, através de livros didáticos, as formas utiliza<strong>da</strong>s<br />

por diversos autores para apresentar um conteúdo específico de matemática entre os anos de 1930 e<br />

1980. Do ponto de vista acadêmico, a presente pesquisa se estabelece como mais uma fonte sobre a História<br />

<strong>da</strong> Educação Matemática e poderá agregar conhecimentos à questão já que a história dos conteúdos<br />

é importante e desejável ao ensino de Matemática.


02<br />

02 DISCIPLINAS ESCOLARES<br />

Nos dicionários <strong>da</strong> língua portuguesa, encontra-se comumente o significado de<br />

disciplina como sendo obediência aos preceitos, às regras; respeito a um regulamento; submissão ou<br />

respeito às regras, às normas, àqueles que são seus superiores e, finalmente, diz respeito à matéria<br />

ensina<strong>da</strong> na escola, ou seja, disciplina escolar. Esses são alguns conceitos de disciplina que são utilizados<br />

no dia a dia <strong>da</strong>s pessoas.<br />

LourençoFilho (2013), ao dissertar sobre as disciplinas escolares, inicia o seu texto<br />

com três questões importantes e que norteiam to<strong>da</strong> a discussão sobre as Instituições Escolares: “ O que<br />

é, como e onde surge uma disciplina escolar?”. Essas questões, aparentemente simples, trazem uma<br />

riqueza enorme de temas de pesquisa sobre vários pontos <strong>da</strong> Educação e um deles é a história <strong>da</strong>s disciplinas<br />

escolares que encontra suporte em várias pesquisas desenvolvi<strong>da</strong>s, envolvendo de modo particular<br />

a história <strong>da</strong> matemática escolar.<br />

O francês André Chervelem seu artigo “História <strong>da</strong>s disciplinas escolares: reflexões<br />

sobre um campo de pesquisa” relata que:<br />

demasiado vagas ou demasiado restritas, as definições que dela [disciplina] são <strong>da</strong><strong>da</strong>s de<br />

fato não estão de acordo a não ser sobre a necessi<strong>da</strong>de de encobrir o uso banal do termo, o<br />

qual não é distinguido de seus “sinônimos”, como “matérias” ou “conteúdos” de ensino. A<br />

disciplina é aquilo que se ensina e ponto final.(CHERVEL, 1990, p.177, grifo do autor).<br />

Revelando, deste modo, outros aspectos <strong>da</strong> disciplina escolar, o autor acrescenta que:<br />

A disciplina escolar é então constituí<strong>da</strong> por uma combinação, em proporções variáveis,<br />

conforme o caso, de vários constituintes: um ensino de exposição, os exercícios, as<br />

práticas de incitação e de motivação e um aparelho docimológico, os quais, em ca<strong>da</strong><br />

estado <strong>da</strong> disciplina, funcionam, evidentemente, em estreita colaboração, do mesmo<br />

modo que ca<strong>da</strong> um deles está,à sua maneira, em ligação direta com as finali<strong>da</strong>des<br />

(CHERVEL, 1990, p. 207).


08<br />

Pode-se perceber, assim, que a disciplina escolar é, ver<strong>da</strong>deiramente, a célula fun<strong>da</strong>mental do<br />

ensino, uma vez que engloba, conforme bem pontuado pelo autor, a existência de quatro pilares que<br />

sustentam todo o processo dinâmico do ensino, quais sejam: exposição de conteúdos, os exercícios, a<br />

motivação que deve ser <strong>da</strong><strong>da</strong> ao aluno, evitando um ensino árido, que não fornece a percepção <strong>da</strong><br />

importância do conhecimento e, por fim, as avaliações (CHERVEL, 1990).<br />

Chervel (1990) acredita que o acompanhamento <strong>da</strong> forma, ao longo dos anos, pela qual uma<br />

disciplina escolar foi ministra<strong>da</strong> fornece parâmetros e <strong>da</strong>dos importantes:<br />

Desde que se compreen<strong>da</strong> em to<strong>da</strong> a sua amplitude a noção de disciplina, desde que se<br />

reconheça que uma disciplina escolar comporta não somente as práticas docentes <strong>da</strong><br />

aula, mas também as grandes finali<strong>da</strong>des que presidiram sua constituição e o fenômeno<br />

de aculturaçãoem massa que ela determina, então a história <strong>da</strong>s disciplinas escolares<br />

pode desempenhar um papel importante não somente na história <strong>da</strong> educação mas na<br />

história cultural (CHERVEL, 1990, p. 184).<br />

Entretanto, pesquisas em História <strong>da</strong> Educação e naHistória <strong>da</strong> Educação Matemática pode muito<br />

bem se alicerçar no estudo <strong>da</strong>s apresentações dos vários conteúdos que foram desenvolvidos nos livros<br />

didáticos ao longo dos anos.<br />

2.1 A Criação <strong>da</strong> Disciplina Matemática<br />

O que se observou no Brasil nas duas primeiras déca<strong>da</strong>s dos 1900, segundo pesquisadores como<br />

Valente (1997, 2003, 2004), Miorim (1995) é que o ensino de matemática era realizado de forma<br />

compartimenta<strong>da</strong>, conforme afirmou Dassie (2008), ou seja, aos alunos eram apresenta<strong>da</strong>s quatro<br />

disciplinas ao longo dos anos, no ensino secundário: Aritmética, Álgebra, Geometria e Trigonometria.<br />

Dessa forma, os livros didáticos eram específicos para ca<strong>da</strong> um desses ramos, ou seja, não havia um<br />

texto de matemática único, abor<strong>da</strong>ndo essas áreas (figura 1).<br />

Segundo Dassie(2008), “não havia um livro de matemática destinado a ca<strong>da</strong> um dos anos,<br />

mas sim um livro para ca<strong>da</strong> ramo descrito acima; alguns livros didáticos que eram indicados ou que<br />

simplesmente circulavam no Brasil eram de autores estrangeiros” (p. 25). Há também a afirmação de que<br />

os conteúdos apresentados eram desligados do cotidiano dos alunos, ou seja, não havia uma ligação<br />

entre o assunto apresentado e a vivência prática do dia a dia ou alguma aplicação em outros ramos do<br />

conhecimentoVERIFICAR QUAL ÉPOCA E QUAL LUGAR A QUE SCHUMBRING SE<br />

REFERE(SCHUBRING, 1999, p. 30).


09<br />

Figura 1 - <strong>Livro</strong>s didáticos de Aritmética, Álgebra e Geometria <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1920<br />

Fonte: Valente (2003)<br />

Fonte: Marin (1923), Coleção FTD (1925), Pereira (1927)<br />

Concomitantemente, nos períodos que antecederam o ano de 1929, ocorreu um movimento<br />

internacional que objetivou discutir o ensino de Matemática.<br />

A primeira manifestação desse movimento ocorreu em Roma, em 1908, em um evento internacional<br />

de Matemática. Nesse congresso, “pela primeira vez, matemáticos dão importância a questões<br />

liga<strong>da</strong>s ao ensino” (VALENTE, 2005, p. 89). Foi cria<strong>da</strong>, nesse congresso, uma Comissão Internacional<br />

de Ensino <strong>da</strong> Matemática, IMUK que contava com um comitê central dirigente ao qual pertenciam<br />

os matemáticos Félix Klein, Henri Fehr e George Greenhill (VALENTE, 2005, p. 89).<br />

No ano de 1912, foi realizado, em Cambridge, o V Congresso Internacional de Matemática e,<br />

nesse evento, deliberou-se que o comitê constituído no congresso anterior deveria<br />

elaborar relatórios “a respeito do estado <strong>da</strong> instrução matemática nos diversos países”<br />

(VALENTE, 2005, p. 89). A partir desse mesmo evento, nasceu uma proposta de reforma do ensino de<br />

Matemática.<br />

No Brasil, essas questões liga<strong>da</strong>s à renovação do ensino de Matemática<br />

começaram a ser discuti<strong>da</strong>s apenas no final dos anos 1920. Essa<br />

estrutura de ensino <strong>da</strong> Matemática foi questiona<strong>da</strong> pelo professor<br />

Euclides Roxo, importante educador brasileiroque, na época, era Diretor<br />

do Colégio Pedro II e gerenciou to<strong>da</strong> a proposta de mu<strong>da</strong>nça, dirigi<strong>da</strong><br />

à Congregação desse colégio e apresentou mu<strong>da</strong>nças radicais no<br />

ensino <strong>da</strong> Matemática nessa escola. Essas alterações tinham o objetivo<br />

de refletir na disposição dos conteúdos, na metodologia aplica<strong>da</strong> e<br />

nas finali<strong>da</strong>des do ensino.<br />

Euclides Roxo


10<br />

Em 1929, é publicado no Diário Oficial <strong>da</strong> União o Decreto 18.564, de 15 de janeiro, que dá o<br />

aceite à proposta modernizadora do Prof. Euclides Roxo:<br />

Art. 1º Fica approva<strong>da</strong> a alteração <strong>da</strong> seriação do curso secun<strong>da</strong>rio, proposta pela<br />

Congregação do Collegio Pedro II e homologa<strong>da</strong> pelo Conselho Nacional do Ensino,<br />

em sessão de 26 de julho de 1928, substituindo-se a discriminação constante do art.<br />

47 do citado regulamento pela seguinte: 1º anno: 1) Portuguez, 2) Francez, 3)<br />

Mathematica, 4) Geographia Geral, 5) Desenho; 2º anno: 1) Portuguez, 2) Latim, 3)<br />

Francez, 4) Inglez ou Allemão, 5) Mathematica, 6) Chorographia do Brasil, 7)<br />

Desenho; 3º anno: 1) Portuguez, 2) Latim, 3) Francez, 4) Inglez ou Allemão, 5) Historia<br />

Universal, 6) Mathematica, 7) Desenho; 4º anno: 1) Portuguez, 2) Latim, 3) Inglez ou<br />

Allemão, 4) Historia Universal, 5) Mathematica, 6) Phiysica, 7) Historia Natural, 8)<br />

Desenho, 9) Chimica; 5º anno: 1) Latim, 2) Phiysica 3) Chimica, 4) Historia Natural, 5)<br />

Philosophia, 6) Cosmographia, 7) Instrucção Moral e Civica, 8) Historia do Brasil; 6º<br />

anno: 1) Sociologia, 2) Historia <strong>da</strong> Philosophia, 3) Litteratura (especialmente a<br />

brasileira e as <strong>da</strong>s linguas latinas), 4) Italiano (facultativo), 5) Curso complementar de<br />

mathematica (para os alumnos que se destinem ás escolas militares e Polytechnica),<br />

6) Curso complementar de Sciencias Physicas e Naturaes (para os alumnos que se<br />

destinem ás escolas de Medicina), 7) Curso complementar de Geographia (Social e<br />

Economia). (BRASIL, 1929).<br />

As modificações trazi<strong>da</strong>s pelo decreto 18.564 foram segui<strong>da</strong>s apenas pelo Colégio Pedro II,<br />

uma vez que não existia uma legislação em nível nacional no campo <strong>da</strong> educação.<br />

Para atender à legislação referente ao Colégio Pedro IIque preconizava a fusão dos ramos<br />

aritmética, álgebra e geometria, foram elabora<strong>da</strong>s três coleções: Como se aprende mathematica, em<br />

dois volumes, de Savério Cristofaro, publica<strong>da</strong> a partir de julho de 1929; o Curso de Mathematica<br />

Elementar, em três volumes, de Euclides Roxo (figura 3) a partir de setembro de 1929; e, Mathematica,<br />

em três volumes, de Cecil Thiré e Mello e Souza, em 1930.<br />

Fonte: Cristófaro (1925) e Roxo (1930)<br />

Contracapa dos livros: Como se aprende Mathematica e Curso de Mathematica Elementar


11<br />

É importante salientar, e pode-se comprovar no prefácio <strong>da</strong> obra de Savério Cristofaro,<br />

a preocupação em se adotar o programa oficial:<br />

Temos o prazer <strong>da</strong> apresentar ao professorado dos cursos secundários o presente<br />

trabalho. É o desenvolvimento do programma official de Mathematica, para o<br />

primeiro anno gymnasila, approvado pela congregação do Collegio D. Pedro II, e<br />

publicado a 24 de Março deste anno. Lembramos a <strong>da</strong>ta, para mostrar que em tão<br />

curto espaço de tempo não nos teria sido possível improvisar compendio desta<br />

natureza, se não tivessemos, quasi prompta, to<strong>da</strong> a materia que o compõe. Prova<br />

isto virmos, de ha muito, seguindo a orientaçãoora recomen<strong>da</strong><strong>da</strong> (CRISTOFARO,<br />

1925, p.5).<br />

No prefácio de sua obra, Euclides Roxo expressa de forma clara as novas diretrizes para o ensino<br />

de Matemática. Enfatizando a importância do momento vivido no final dos anos 20 e dos novos rumos<br />

dirigentes, transcrevemos, <strong>da</strong> obra de Roxo (1930), algumas considerações:<br />

1- TORNAR ESSENCIALMENTE PREDOMINANTE O PONTO DE VISTA<br />

PSICOLÓGICO. - Significa isso que o ensino não deve depender unicamente <strong>da</strong><br />

matéria ensina<strong>da</strong>, mas deve atender antes de tudo ao indivíduo a quem se tem de<br />

ensinar. Um mesmo assunto deve ser exposto a uma criança de seis anos de modo<br />

diferente porque o é a uma de dez e a esta ain<strong>da</strong> de maneira diversa que a um<br />

homem maduro. Aplicado particularmente ao ensino <strong>da</strong> matemática, esse princípio<br />

geral nos conduz a começar sempre pela intuição viva e concreta e só pouco a<br />

pouco trazer ao primeiro plano os elementos lógicos e adotar, de preferência, o<br />

método genético, que permite uma penetração lenta <strong>da</strong>s noções.<br />

2- NA ESCOLHA DA MATÉRIA A ENSINAR TER EM VISTA AS APLICAÇÕES DA<br />

MATEMÁTICA AO CONJUNTO DE OUTRAS DISCIPLINAS, - procurando aliviar o<br />

estu<strong>da</strong>nte de uma grande sobrecarga de estudo cujo interesse é puramente formalístico<br />

e tornar o ensino mais vivo e mais produtivo.<br />

3- SUBORDINAR O ENSINO DA MATEMÁTICA À FINALIDADE DA ESCOLA<br />

MODERNA: - “tornar os indivíduos moral e intelectualmente aptos a cooperarem na<br />

obra <strong>da</strong> civilização hodierna, essencialmente orienta<strong>da</strong> para o sucesso prático”. Daí<br />

decorre a necessi<strong>da</strong>de de se terem em vista, no ensino <strong>da</strong> matemática, as suas<br />

aplicações às ciências físicas e naturais e à técnica (ROXO, 1929, p. 7 – 8, grifos do<br />

autor).<br />

Nos próprios dizeres de Euclides Roxo, “essas três tendências apresenta<strong>da</strong>s se harmonizam e se<br />

fortalecem mutuamente” (ROXO, 1930).<br />

Quanto às características cita<strong>da</strong>s na obra e que são consequências dessas tendências, o autor<br />

(ROXO, 1930) ain<strong>da</strong> destaca no prefácio:<br />

a) A fusão <strong>da</strong> aritmética, álgebra e geometria (incluí<strong>da</strong> a trigonometria). A esse<br />

respeito diz Klein: "Não quero dizer que essas partes devam ser completamente<br />

fundi<strong>da</strong>s, mas não devem ser tão separa<strong>da</strong>s como sucede hoje freqüentemente nas<br />

escolas, contra o que é natural: um exemplo instrutivo é o estudo <strong>da</strong>s proporções<br />

que primeiro se explicam aritmeticamente e depois - muitas vezes sem nenhuma<br />

relação com o estudo anterior -ensina-se novamente sob forma geométrica". (...)<br />

b) Introdução precoce <strong>da</strong> noção de função, que, para Klein, é o âmago do moderno<br />

movimento de reforma apresenta<strong>da</strong> - o que se não deve perder de vista – sob forma<br />

geométrica e expressa, eficazmente, pelas representações gráficas, <strong>da</strong>s quais diz<br />

Klein: "Penetram não somente através a grande literatura moderna <strong>da</strong>s ciências<br />

exatas, mas, pode-se dizer, surgem em to<strong>da</strong>s as cogitações <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> atual". (,..)<br />

c) Abandono, em parte, <strong>da</strong> rígi<strong>da</strong> didática de Euclides ("die starre euklidische<br />

Manier") com a introdução <strong>da</strong> idéia <strong>da</strong> mobili<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> figura, por meio <strong>da</strong> qual<br />

em ca<strong>da</strong> caso particular, se torna compreensível o caráter geral <strong>da</strong> geometria.


12<br />

d) Introdução, desde cedo, de noções de coordena<strong>da</strong>s e de geometria analítica, a<br />

qual "é acessível à compreensão dos meninos desde as primeiras séries e, por<br />

isso, deveria penetrar em todo o ensino <strong>da</strong> Matemática", ao invés de, como se faz<br />

atualmente, "sobrepor-se como uma nova construção à parte, ao estudo já concluído<br />

<strong>da</strong> geometria elementar".<br />

e) Introdução de noções de cálculo diferencial e integral, apoia<strong>da</strong>s de modo preponderante<br />

em métodos geométricos, e, portanto, intuitivos.<br />

f) Maior desenvolvimento do ensino do desenho projetivo e <strong>da</strong> perspectiva, ain<strong>da</strong><br />

em conexão com o estudo <strong>da</strong> geometria elementar.<br />

g) A introdução de recursos de laboratório (constituindo o que os americanos<br />

chamam "laboratory method") como sejam regras gradua<strong>da</strong>s, compassos, instrumentos<br />

de medir ângulos (prancheta, trânsito, etc.), papel milimetrado, esferas<br />

negras, balanças, termômetros, alavancas, planímetros, polias, aparelhos de<br />

demonstração, figuras e sólidos de vidro, de fios de se<strong>da</strong>, etc.). Esses recursos,<br />

aliados ao método heurístico, permitem a experimentação e auxiliam a selfdiscovery,<br />

além de concorrerem para <strong>da</strong>r vivaci<strong>da</strong>de e interesse ao ensino e um<br />

certo apoio concreto e, talvez, um tanto divertido, ao raciocínio do adolescente,<br />

aju<strong>da</strong>ndo-o a galgar, o mais suavemente possível, a íngreme rampa <strong>da</strong> abstração<br />

matemática.<br />

h) Finalmente, um princípio que preside a todos os que precedem, o método<br />

histórico no desenvolvimento <strong>da</strong> Matemática, princípio pe<strong>da</strong>gógico de ordem geral,<br />

por todos francamente reconhecido mas raramente respeitado (ROXO, 1930)<br />

Essas inovações experimenta<strong>da</strong>s pelo ensino <strong>da</strong> Matemática serão o alicerce para a Reforma<br />

Francisco Campos, no primeiro período <strong>da</strong> Era Vargas, uma vez que o próprio Euclides Roxo é chamado<br />

pelo Ministro <strong>da</strong> Educação e Saúde Pública, para fazer parte de uma comissão para a elaboração de um<br />

projeto de reforma do ensino brasileiro.<br />

A seguir, faz-se uma descrição <strong>da</strong>s principais reformas no ensino brasileiro a partir de 1930,<br />

finalizando em 1980.


03<br />

03 - REFORMAS DE ENSINO DE 1930 a 1980<br />

3.1 A Reforma Francisco Campos<br />

Na déca<strong>da</strong> de 1920, o Brasil vivia uma crise generaliza<strong>da</strong>, fruto de uma recessão<br />

econômica que se desencadeou pelas baixas no preço do café, principalmente. Os investimentos<br />

estrangeiros no país, após a Primeira Guerra Mundial, foram reduzidos. Simultaneamente, havia uma<br />

grave crise mundial. Dessa forma, até mesmo as elites <strong>da</strong> época foram atingi<strong>da</strong>s, vendo suas ren<strong>da</strong>s<br />

reduzi<strong>da</strong>s. Com essa insatisfação, instalou-se, em pouco tempo, um risco à ordem vigente, pois havia a<br />

possibili<strong>da</strong>de de uma ruptura política que se instaurou no momento em que o país se preparava para<br />

escolher o presidente no período de 1930 a 1934. Como candi<strong>da</strong>tos, o paulista Júlio Prestes e o gaúcho<br />

Getúlio Vargas, pela Aliança Liberal, apoia<strong>da</strong> pelo movimento tenentista. Com a vitória de Júlio Prestes,<br />

houve denúncias de fraudes, desencadeando um processo revolucionário com o assassinato do vice de<br />

Vargas, João Dantas. Dessa forma, o então presidente, Washington Luis, foi deposto e assumiu, no dia 3<br />

de fevereiro de 1930, Getúlio Vargas como chefe do Governo Provisório (BRAICK e MOTA, 2007).<br />

O então Governo Provisório instituiu o Ministério <strong>da</strong> Educação e <strong>da</strong> Saúde Pública que já<br />

existira no início <strong>da</strong> República, porém, com curta duração. Na época, o primeiro Ministro <strong>da</strong> Educação e<br />

Saúde Pública, Francisco Campos, instituiu seis decretos, efetivando a chama<strong>da</strong> reforma que ficou<br />

conheci<strong>da</strong> como Reforma Francisco Campos:<br />

Ÿ - Decreto n.o 19.850, de 11 de abril de 1931, que instituía o Conselho Nacional de Educação.<br />

Ÿ - Decreto n.o 19.851, de 11 de abril de 1931, que dispunha sobre a organização do ensino<br />

superior no Brasil e abarca o regime universitário.<br />

Ÿ - Decreto n.o 19.852, de 11 de abril de 1931, que dispõe sobre a organização <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de do Rio de Janeiro.<br />

Ÿ - Decreto n.o 19.890 ,de 18 de abril de 1931, que regulamentava a organização do ensino<br />

secundário.<br />

Ÿ - Decreto n.o 20.158, de 30 de junho de 1931, que organizava o ensino comercial, fornece<br />

regulamentação à profissão de contador e fornece outras providências.<br />

Ÿ - Decreto n.o 21.241, de 14 de abril de 1932, que consoli<strong>da</strong>va as disposições sobre a<br />

organização do Ensino secundário.


14<br />

Na exposição de motivos que acompanhou o último decreto, Francisco Campos ressaltou o<br />

caráter inovador <strong>da</strong> proposta elabora<strong>da</strong>, deixando claro os objetivos que realmente deveriam nortear os<br />

rumos <strong>da</strong> educação no Brasil:<br />

A finali<strong>da</strong>de exclusiva do ensino secundário não há de ser a matrícula nos cursos<br />

superiores; o seu fim, pelo contrário, deve ser a formação do homem para todos os<br />

grandes setores <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de nacional, constituindo no seu espírito todo um sistema<br />

de hábitos, atitudes e comportamento que o habilitem a viver por si e tomar, em<br />

qualquer situação, as decisões mais convenientes e mais seguras (BRASIL, decreto<br />

número 21241 de 1932).<br />

Romanelli (1980) afirma que:<br />

A Reforma Francisco Campos teve o mérito de <strong>da</strong>r organici<strong>da</strong>de ao ensino<br />

secundário, estabelecendo definitivamente o currículo seriado, a frequência<br />

obrigatória, dois ciclos, um fun<strong>da</strong>mental e outro complementar, e a exigência de<br />

habilitação neles para o ingresso no ensino superior. Além disso, equiparou todos os<br />

colégios secundários oficiais ao Colégio Pedro II, mediante a inspeção federal e deu<br />

a mesma oportuni<strong>da</strong>de às escolas particulares que se organizassem, segundo o<br />

decreto, e se submetessem à mesma inspeção (ROMANELLI, 1980, p. 135).<br />

Através <strong>da</strong> Reforma Francisco Campos, o ensino secundário ficou dividido em dois ciclos,<br />

sendo um fun<strong>da</strong>mental, de 5 anos, e o outro, complementar, de 2 anos. O ensino fun<strong>da</strong>mental ficou<br />

obrigatório para o ingresso em qualquer escola superior e, o segundo, obrigatório em algumas escolas.<br />

Dessa forma, para esse ciclo complementar, foi efetua<strong>da</strong> uma subdivisão que compreendia “um certo<br />

grau de especialização, conforme se tratasse de curso preparatório para ingresso nas Facul<strong>da</strong>des de<br />

Direito, Ciências Médicas e Engenharia”.(ROMANELLI, 1980, p. 135).<br />

O artigo terceiro do Decreto 21.241 distribui as disciplinas do curso fun<strong>da</strong>mental em cinco anos<br />

de acordo com a seguinte seriação:<br />

1ª série: Português - Francês - História <strong>da</strong> Civilização - Geografia - Matemática -<br />

Ciências físicas e naturais - Desenho - Música (canto orfeônico).<br />

2ª série: Português - Francês - Inglês - Hitória <strong>da</strong> Civilização - Geografia -<br />

Matemática - Ciências físicas e naturais - Desenho - Música (canto orfeônico).<br />

3ª série: Português - Francês - Inglês - Hitória <strong>da</strong> Civilização - Geografia -<br />

Matemática - Física - Química - História Natural - Desenho - Música (canto<br />

orfeônico).<br />

4ª série: Português - Francês - Inglês - Latim - Alemão (facultativo) - História <strong>da</strong><br />

Civilização - Geografia - Matemática - Física - Química - Historia Natural - Desenho.<br />

5ª série: Português - Latim - Alemão (facultativo) - História <strong>da</strong> Civilização - Geografia<br />

- Matemática - Física - Química - Historia Natural - Desenho. (BRASIL, 1932).


15<br />

Para o curso complementar, objetiva-se a preparação para as Facul<strong>da</strong>des de Direito,<br />

Facul<strong>da</strong>des de Medicina, Odontologia e Farmácia e Facul<strong>da</strong>des de Engenharia e Arquitetura. O artigo<br />

quarto estabelece:<br />

O curso complementar obrigatório para os candi<strong>da</strong>tos à matrícula em determinados<br />

institutos de ensino superior, será feito em dois anos de estudo intensivo, com<br />

exercícios e trabalhos práticos individuais, e compreenderá as seguintes disciplinas:<br />

Alemão ou Inglês, Latim, Literatura, Geografia, Geofísica e Cosmografia, História <strong>da</strong><br />

Civilização, Matemática, Física, Química, História Natural, Biologia Geral, Higiene,<br />

Psicologia e Lógica, Sociologia, Noções de Economia e Estatística, História <strong>da</strong><br />

Filosofia e Desenho (BRASIL, 1932).<br />

Pode-se observar que o ciclo fun<strong>da</strong>mental procurou fornecer uma formação básica geral,<br />

enquanto, o complementar, buscou estruturar-se como um curso propedêutico (ROMANELLI, 1980).<br />

Quanto aos programas de Matemática e suas instruções pe<strong>da</strong>gógicas, a Reforma Campos<br />

apenas apropriou-se <strong>da</strong>s inovações que vinham sendo implementa<strong>da</strong>s de forma paulatina, desde 1929,<br />

no Colégio Pedro II, tendo como protagonista, conforme citado anteriormente, o professor Euclides<br />

Roxo.<br />

3.1.1 Os programas de Matemática para o curso fun<strong>da</strong>mental<br />

Campos são:<br />

Os programas de Matemática, para o curso fun<strong>da</strong>mental, implantados pela Reforma Francisco<br />

Primeira Série<br />

Iniciação geométrica<br />

Aritmética<br />

Álgebra<br />

Principais noções sobre formas geométricas; Área do quadrado, retângulo,<br />

paralelogramo, triângulo e trapézio; circunferência e área do circulo; Volumes<br />

do paralelepípedo retângulo, do cubo, do prisma triangular, do cilindro e do<br />

cone circular (retos). Fórmulas;<br />

Prática <strong>da</strong>s operações fun<strong>da</strong>mentais. Cálculo abreviado. Exercício de cálculo<br />

mental; Noção de múltiplo e de divisor. Caracteres de divisibili<strong>da</strong>de;<br />

Decomposição em fatores primos; aplicação ao m. d. c. e ao m. m. c.; Frações<br />

ordinárias e decimais. Operações com as frações. Explicação objetiva pelo<br />

fracionamento de objetos ou de grandezas geométricas; Sistema métrico<br />

decimal. Prática <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s de comprimento, superfície, volume e peso;<br />

Sistema inglês de pesos e medi<strong>da</strong>s; Quadrado e raiz quadra<strong>da</strong> de números<br />

inteiros e decimais; aproximação no cálculo <strong>da</strong> raiz; Traçado de gráficos.<br />

Símbolos algébricos; fórmulas; noção de expoente; Números relativos ou<br />

qualificados.Operações. Explicação objetiva <strong>da</strong>s regras dos sinais; Cálculo do<br />

valor numérico de monômios e polinômios. Redução de termos semelhantes;<br />

adição e subtração; Multiplicação de monômios e polinômios, em casos<br />

simples. Explicação objetiva pela consideração de áreas; Potências de<br />

monômios. Quadrado de um binômio; Primeira noção de equação com uma<br />

incógnita; resolução de problemas numéricos simples.


16<br />

Segun<strong>da</strong> Série<br />

Iniciação<br />

Geométrica<br />

Noção de ângulo e de rotação; ângulos adjacentes, complementares,<br />

suplementares, opostos pelo vértice; Medi<strong>da</strong> dos ângulos. Uso do transferidor;<br />

Paralelas e perpendiculares; problemas gráficos sobre seu traçado; Triângulos:<br />

alturas, medianas, e bissetrizes; soma dos ângulos internos e externos; Estudo<br />

sucinto dos quadriláteros; Noções sobre figuras semelhantes; escala; Medi<strong>da</strong><br />

indireta <strong>da</strong>s distâncias; Razões entre lados de um triângulo retângulo. Seno,<br />

coseno e tangente de ângulo agudo. Uso de tabelas de senos, co-senos e<br />

tangentes<br />

naturais.<br />

Aritmética e<br />

Álgebra<br />

Noção de função de uma variável independente. Representação gráfica; Estudo<br />

<strong>da</strong>s funções: y= ax e y= a/x; exemplos; Proporções e suas principais<br />

proprie<strong>da</strong>des; Resolução de problemas sobre grandezas proporcionais.<br />

Porcentagens, juros, desconto (comercial), divisão proporcional, câmbio;<br />

Equações do 1º grau com uma incógnita. Problemas. Interpretação <strong>da</strong>s<br />

soluções negativas; Sistemas de equações do 1º grau com duas incógnitas.<br />

Problemas; Representação gráfica <strong>da</strong> função linear de uma variável. Resolução<br />

gráfica de um sistema de duas equações com duas incógnitas; Divisão<br />

algébrica. Expoente zero. Expoente negativo; Decomposição em fatores;<br />

Frações algébricas. Simplificações.

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