Livro de Química Cidadã Vol. 1
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Coleção Química Cidadã
QUÍMICA
Cidadã
VOLUME 1
PEQUIS – PROJETO DE ENSINO DE QUÍMICA E SOCIEDADE
ENSINO MÉDIO – QUÍMICA – 1 a - série
Wildson Luiz Pereira dos Santos (coord.)
Professor Adjunto do Instituto de Química da UnB.
Licenciado em Química pela Universidade de Brasília, mestre em Educação em
Ensino de Química pela Unicamp e doutor em Educação em Ensino de Ciências pela UFMG.
Gerson de Souza Mól (coord.)
Professor Adjunto do Instituto de Química da UnB.
Bacharel e licenciado em Química pela Universidade Federal de Viçosa, mestre em Química Analítica
pela UFMG e doutor em Ensino de Química pela Universidade de Brasília (UnB).
Siland Meiry França Dib
Professora do Ensino Médio da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal.
Licenciada em Química pela Universidade Católica de Brasília (UCB) e mestre em
Educação pela Universidade Católica de Brasília (UCB).
Roseli Takako Matsunaga
Professora do Ensino Médio da Secretaria de Educação do Distrito Federal.
Licenciada em Química pela Universidade Católica de Brasília (UCB) e mestre em
Ensino de Ciências pela Universidade de Brasília (UnB).
Sandra Maria de Oliveira Santos
Professora do Ensino Médio da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal.
Licenciada em Química pela Universidade Católica de Brasília (UCB) e mestre em
Ensino de Ciências pela Universidade de Brasília (UnB).
Eliane Nilvana F. de Castro
Professora do Ensino Médio da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. Licenciada em
Química pela Universidade Católica de Brasília (UCB).
Gentil de Souza Silva
Professor do Ensino Médio da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal e químico
industrial. Licenciado em Química pela Universidade Estadual da Paraíba e especialista em
Química pela Universidade Federal de Lavras.
Salvia Barbosa Farias
Professora do Ensino Médio da Secretaria de Educação do Distrito Federal.
Licenciada em Química pela Universidade Católica de Brasília (UCB).
São Paulo – 2013
2ª- edição
MANUAL DO
PROFESSOR
Título original: Química Cidadã – Volume 1
© Editora AJS Ltda, 2013
Editores: Arnaldo Saraiva e Joaquim Saraiva
Projeto gráfico e capa: Flávio Nigro
Pesquisa iconográfica: Cláudio Perez
Produção editorial: Maps World Produções Gráficas Ltda
Direção: Maurício Barreto
Direção editorial: Antonio Nicolau Youssef
Gerência editorial: Carmen Olivieri
Coordenação de produção: Larissa Prado
Edição de arte: Jorge Okura
Editoração eletrônica: Alexandre Tallarico, Flávio Akatuka, Francisco Lavorini, Juliana Cristina Silva,
Veridiana Freitas, Vivian Trevizan e Wendel de Freitas
Edição de texto: Ana Cristina Mendes Perfetti
Revisão: Adriano Camargo Monteiro, Fabiana Camargo Pellegrini, Juliana Biggi,
Luicy Caetano e Thaís dos Santos Coutinho
Pesquisa iconográfica: Elaine Bueno e Luiz Fernando Botter
Ilustrações: AMJ Studio, José Yuji Kuribayashi, Osvaldo Sequetin e Paulo Cesar Pereira
Ilustração da capa: Moacir Knorr Guterres (Moa)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Química cidadã : volume 1 : ensino médio : 1º
série / Wildson Luiz Pereira dos Santos, Gerson
de Souza Mól , (coords.) . -- 2. ed. --
São Paulo : Editora AJS, 2013. -- (Coleção química
cidadã)
PEQUIS - Projeto de Ensino de Química e
Sociedade.
"Componente curricular: Química".
Vários autores.
Suplementado pelo manual do professor.
Bibliografia
1. Química (Ensino médio) I. Santos, Wildson
Luiz Pereira dos. II. Mól, Gerson de Souza.
III. Série.
ISBN:978-85-62482-85-4 (Aluno)
ISBN:978-85-62482-86-1 (Professor)
13-06557 CDD-540.7
Índices para catálogo sistemático:
1. Química : Ensino médio 540.7
2013
Editora AJS Ltda. – Todos os direitos reservados
Endereço: R. Xavantes, 719, sl. 632
Brás – São Paulo – SP
CEP: 03027-000
Telefone: (011) 2081-4677
E-mail: editora@editoraajs.com.br
APRESENTAÇÃO
A você, estudante
Ingressar no Ensino Médio signifi ca iniciar a etapa fi nal de sua formação básica que lhe capacitará a
ingressar no mercardo de trabalho, a participar da sociedade e a avançar em estudos superiores. Com essa
formação, você terá uma base mais sólida para compreender a dinâmica do mundo, reivindicar seus direitos
e atuar com ações positivas na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Para isso é que você precisa estudar Ciências, pois seu estudo nos fornece modelos que permitem
a previsão de fatos, possibilitando intervenções que trazem melhor qualidade de vida. A Química engloba
conhecimentos sobre produtos químicos e suas transformações, que têm permitido a humanidade lidar com
as diversidades de sua existência.
Participar da sociedade é ter o direito a ingressar em um mercado de trabalho que garanta os recursos
materiais mínimos para uma vida digna. Para isso, são exigidos conhecimentos e habilidades que permitam
uma atuação produtiva. Sem dúvida, o domínio dos princípios da matéria nos capacita para o exercício
profi ssional com maior qualifi cação e potencial para auferir melhores salários. E esse domínio também nos
qualifi cará para o progresso em estudos superiores.
Com essas fi nalidades este livro foi escrito. O conhecimento científi co por ele veiculado foi cuidadosamente
selecionado para que você entenda os princípios do estudo das substâncias, dos materiais e
de suas transformações. Fazemos uso de conceitos dos diversos campos da Ciência, sobretudo da Física
e da Biologia, e trabalhamos com as ferramentas da Matemática para bem compreender a complexidade
do mundo físico.
Os autores deste livro, com larga experiência no ensino de Química, buscaram estratégias e conteúdos
relevantes para sua formação como cidadão. Acreditamos que o Ensino Médio esteja mudando, assim
como o Ensino Superior precisa de mudanças, selecionando estudantes que, mais do que o domínio de
fórmulas, saibam resolver problemas desafi adores da existência da vida no planeta. As provas do Enem vêm
se consolidando nesse processo de mudança, exigindo capacidade de leitura e interpretação. É com essa
perspectiva que vamos prepará-lo com este livro.
Isso tudo está exigindo um novo perfi l de estudante. Entendemos que aprender Química não é
simplesmente memorizar fórmulas, decorar conceitos e resolver exercícios. Aprender Química é entender
como essa atividade humana tem se desenvolvido ao longo dos anos, como os seus conceitos explicam os
fenômenos que nos rodeiam e como podemos fazer uso de seu conhecimento na busca de alternativas para
melhorar a condição de vida do planeta.
Com o propósito de formar um cidadão crítico, nos três volumes da coleção trataremos das relações
entre a Química, as suas tecnologias, a sociedade e o ambiente. Neste primeiro volume, vamos estudar
os materiais e as substâncias: suas propriedades, suas transformações e seus constituintes. Nesse estudo,
veremos os modelos dos constituintes e as suas interações, bem como as suas proporções nas reações
químicas. Estudaremos, ainda, o que é Química, seus vários campos de atuação e suas relações com as
demais Ciências.
Em nossa abordagem temática, daremos um enfoque à Química ambiental por meio de temas
que demonstram os impactos da tecnologia química na sociedade e que possibilitam desenvolver ações que
conciliem desenvolvimento tecnológico, qualidade de vida, preservação ambiental e justiça social. Para isso,
precisamos compreender os problemas relacionados às mudanças climáticas que ameaçam a nossa existência
e buscar uma mudança de atitude em relação ao consumismo, ao destino do lixo, à poluição atmosférica, ao
uso indiscriminado de agrotóxicos e de produtos químicos. Estudaremos esses temas discutindo problemas
sociais e atitudes para assegurar a vida das nossas e das futuras gerações.
Esperamos que o início de seu aprendizado em Química seja muito prazeroso com essa nova abordagem.
Um forte abraço.
Os autores
CONHEÇA SEU LIVRO
Tema em foco
Este livro é dividido em três Unidades, e em cada
uma, abordamos um tema social, que contextualiza o
conhecimento químico. Mesmo que o seu professor não
tenha tempo de discutir os textos desses temas em sala de
aula, mantenha-se informado lendo todas as informações
contidas nas Unidades.
Debata e entenda
Para buscar um mundo melhor é preciso aprender a
participar dos debates sobre o nosso futuro. Neste livro,
esperamos que você participe o tempo todo apresentando
e defendendo suas ideias, além de ouvir e respeitar as de
seus colegas. Aprenda a participar, tentando explicar tudo o
que lhe é perguntado com as suas próprias palavras.
Pense
Ao se deparar no texto com uma questão com o comando
Pense, pare a leitura, reflita e tente responder antes de
prosseguir. Procurar explicações e expressá-las com as
próprias palavras ajuda a entender melhor o que está sendo
ensinado, pois você pode comparar a sua ideia original com
os novos conceitos que estão sendo introduzidos.
A Ciência na História
Sempre que você encontrar a chamada A Ciência na
História, leia o texto atentamente e procure observar a
contextualização histórica do surgimento das definições e
conceitos relativos aos conteúdos estudados, bem como as
circunstâncias em que os cientistas citados contribuíram para
o desenvolvimento da Química e da Ciência.
Ação e cidadania
Os temas fazem parte de sua vida. Por isso, propomos
atividades de Ação e cidadania com o objetivo de você
conhecer a sua comunidade e procurar pensar em alternativas
para seus problemas. Participe das atividades com espírito
de cooperação, solidariedade, responsabilidade, respeito e
tolerância à opinião do outro. Assim, você estará contribuindo
para a construção de uma sociedade em que os interesses da
coletividade estejam acima dos interesses individuais.
Química na escola
Em Química na escola você se depara com uma série
de experimentos investigativos. Muitos poderão ser feitos
na própria sala de aula. Todos poderão ajudar o professor a
conseguir os materiais necessários. Ao discutir os resultados,
você aprenderá a usar tabelas e gráficos. Pense sempre sobre
as conclusões que poderão ser extraídas de suas observações.
Caso seja muito difícil realizar os experimentos, procure
analisar os dados que fornecemos. Aprender a observar e
explicar o que está ao seu redor ajudará você a entender
melhor o mundo em que vivemos.
Alertamos para que, ao realizar os experimentos,
você siga rigorosamente as normas de segurança da última
página do livro. Nunca tente fazer qualquer experimento
sem a orientação e supervisão de seu professor. Lembre-
-se também de usar o mínimo possível de materiais para
gerar poucos resíduos. Assim você estará contribuindo
para a preservação do ambiente.
Atitude sustentável
Em Atitude sustentável você encontra um rico conjunto de
sugestões, cuidados e orientações para a prática da Cidadania,
sobretudo no que se refere aos impactos ambientais, nos quais
estão envovidos diversos conceitos estudados em nosso curso
de Química.
Exercícios
O aprendizado dos conceitos da Química ocorre a partir da
leitura dos textos e da realização dos Exercícios e Atividades,
apresentados nos capítulos. Lembre-se da importância da
realização dos exercícios e das atividades, mas tenha sempre
em mente que o aprendizado depende também das leituras e
revisões de todos os textos e das diversas discussões propostas
ao longo do desenvolvimento do conteúdo.
Ao terminar o estudo de cada capítulo, faça uma revisão de
tudo que aprendeu. Para isso, verifique ao final do capítulo, na
seção O que aprendemos neste capítulo, se você compreendeu
claramente todos os conceitos ali apontados, revendo no capítulo
as explicações que foram fornecidas na sua apresentação.
SUMÁRIO
UNIDADE 1 Consumo sustentável ..................................................................................8
CAPÍTULO 1
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES
DAS SUBSTÂNCIAS ............................................. 10
1. Transformações químicas ................................. 13
2. Química, tecnologia e sociedade ....................... 16
3. Propriedades das substâncias ........................... 21
4. Identificação das substâncias ............................ 38
Tema em foco
• Consumismo: mal do século XXI ........................ 10
CAPÍTULO 2
MATERIAIS E PROCESSOS DE SEPARAÇÃO ............ 42
1. Materiais e substâncias ................................... 50
2. Processos de separação de materiais ................ 54
Tema em foco
• Reutilizar e reciclar:
Retornando o material ao ciclo útil .................... 42
CAPÍTULO 3
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS,
QUÍMICA E CIÊNCIA ............................................ 68
1. Da Alquimia à Química .................................... 74
2. Conhecimento científico e senso comum ........... 79
3. Constituintes da matéria .................................. 81
4. A Química e sua linguagem .............................. 96
Temas em foco
• Lixo: tratamento e disposição final .................... 68
• Em busca do consumo sustentável .................... 89
UNIDADE 2 Poluição atmosférica .............................................................................. 104
CAPÍTULO 4
ESTUDOS DOS GASES ........................................ 106
1. Medidas, fenômenos e modelos .....................113
2. Grandezas do estado gasoso ..........................119
3. Propriedades dos gases ................................. 123
4. Leis dos gases .............................................. 131
5. Lei geral dos gases ....................................... 136
6. Teoria cinética dos gases ............................... 138
Tema em foco
• Poluição atmosférica e
aquecimento global....................................... 106
CAPÍTULO 5
MODELOS ATÔMICOS ........................................ 142
1. Modelos e teorias ......................................... 148
2. Modelo atômico de Dalton ............................ 150
3. Modelo atômico de Thomson ..........................151
4. Modelo atômico de Rutherford ...................... 153
5. O átomo e suas partículas ...............................161
6. Modelo atômico de Bohr ............................... 167
7. Modelo quântico
para o átomo ................................................171
8. Configuração eletrônica ..................................175
Temas em foco
• Camada de ozônio
e radiação solar .................................. 142
• Mercado de carbono!
O que é isso? ..................................... 166
UNIDADE 3 Agricultura .................................................................................................. 182
CAPÍTULO 6
CLASSIFICAÇÃO
PERIÓDICA ...................................................... 184
1. Elementos químicos: síntese,
descoberta e simbologia ............................. 192
2. Breve histórico da classificação
dos elementos ........................................... 198
3. Classificação moderna dos
elementos químicos ..................................... 202
4. A Lei Periódica ........................................... 208
5. Propriedades periódicas ...............................211
Tema em foco
• Química e agricultura .................................. 184
CAPÍTULO 7
LIGAÇÕES
QUÍMICAS ....... 218
1. Ligação
iônica ................. 225
2. Regra do octeto .................... 231
3. Representação das
substâncias iônicas ............................ 233
4. Ligação covalente ...............................237
5. Tipos de ligação covalente .................. 238
6. Fórmula estrutural ............................. 240
7. Constituintes moleculares e
amoleculares .....................................241
8. Representação geométrica
das moléculas ....................................247
9. Polaridade das moléculas ................... 250
10. Ligação metálica ................................253
CAPÍTULO 8
SUBSTÂNCIAS
INORGÂNICAS ................................................ 258
1. Interações entre constituintes ...................... 258
2. Forças intermoleculares ............................... 266
3. Substâncias inorgânicas .............................. 272
4. Ácidos e bases ........................................... 272
5. Teorias de ácidos e bases ............................ 283
6. Nomenclatura de
ácidos e bases ........................................... 286
7. A neutralização de
ácidos e bases – sais ................................... 290
8. Óxidos ...................................................... 308
Tema em foco
• Agricultura sustentável:
opção inteligente ....................................... 302
Gabarito ........................................................ 315
É bom ler ....................................................... 316
Bibliografia ....................................................317
Tabela periódica
dos elementos ............................................... 319
Segurança no laboratório ............................. 320
Tema em foco
• Produção de alimentos
e ambiente: faces da
mesma moeda ...................................218
Química
cidadã
UNIDADE 1
Consumo
sustentável
Renato Velasco/Prensa Três
O artista plástico Sérgio Luiz Cezar, que utiliza vários
materiais encontrados no lixo para fazer maquetes.
8
Como conciliar desenvolvimento,
qualidade de vida, distribuição
de renda, justiça social e
preservação ambiental?
Capítulo 1 Transformações e propriedades
das substâncias
1. Transformações químicas
2. Química, tecnologia e sociedade
3. Propriedades das substâncias
4. Identifi cação das substâncias
Capítulo 2 Materiais e processos
de separação
1. Materiais e substâncias
2. Processos de separação de materiais
Capítulo 3 Constituintes das
substâncias, Química
e Ciência
1. Da Alquimia à Química
2. Conhecimento científi co e senso comum
3. Constituintes da matéria
4. A Química e sua linguagem
Divulgação
Temas em foco:
• Consumismo: mal do século XXI
• Reutilizar e reciclar: retornando o material ao ciclo útil
• Lixo: tratamento e disposição fi nal
• Em busca do consumo sustentável
9
Capítulo 1
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
TRANSFORMAÇÕES E
PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
Tema em foco
Como identificamos uma reação química?
Transformação sustentável do planeta
CONSUMISMO: MAL DO SÉCULO XXI
A palavra “desperdício” pode ser entendida em vários contextos e podemos defini-la como “o que é gasto sem
proveito”. Isso tem relação com os valores consumistas da sociedade industrializada em que vivemos. No início do
século XX, a indústria tinha como meta buscar novos mercados para seus produtos, abastecendo-os e crescendo.
Logo, os produtos deveriam ser bons, duráveis e baratos. Mas, com o tempo, os consumidores já tinham os produtos
e não precisavam mais comprá-los. A solução para a indústria foi lançar no mercado novos produtos, mais modernos,
com novos designs, com novas funções, tornando os anteriores obsoletos e fora de moda.
Hipermercados, centros de compras, feiras, shoppings, cada dia novas possibilidades, sofisticados, elegantes e reluzentes.
Cada vez mais, verifica-se a existência de mais e mais prateleiras com uma variedade crescente de produtos.
Quantas marcas de detergentes sintéticos existem? Quantos diferentes tipos de automóveis, celulares, câmeras digitais,
equipamentos domésticos? Para ganhar o mercado, cada indústria lança um novo tipo de produto acrescentando
novidades para o consumidor, como diferentes odores, embalagens, consistências, aspectos, funções e recursos etc.
Imagine quantas transformações ocorrem diariamente
no planeta. Essas transformações provocadas
por mais de 7 bilhões de pessoas geram custos de impac-
tos no planeta que precisam ser avaliadas por todos nós!
Associada ao processo
de lançamento de novos
produtos está a preocupação
com a estética.
Muitas vezes, a única mudança
que o produto ganha
é a embalagem.
Hely Demutti
Kurhan/Dreamstime
Talvez você ainda tenha alguns
desses modelos de celulares em
casa guardados em algum lugar.
Será que nenhum deles
pode ser usado? Será que o
modelo que não tenha câmera
fotográfica de três megapixels,
MP10, TV etc. não serve mais
como um aparelho de celular?
Fotos: Hely Demutti
10
A estrutura econômica hoje, na qual estamos inseridos, se organiza de modo a favorecer o aumento do consumo,
que concorre para a criação de um modelo de economia fundamental para o desenvolvimento econômico do país.
Mas, se o consumo assumir uma dinâmica progressiva de crescimento, aonde vamos parar?
A ideia dominante do ponto de vista econômico é a de que o crescimento está alicerçado no aumento contínuo da
produção e do consumo de bens e serviços, reconhecidos como meios de promover a prosperidade e a qualidade de
vida para o maior número possível de pessoas. Isso se fundamenta no modelo de desenvolvimento contínuo da ciência
e tecnologia, que para muitos implica desenvolvimento social.
No entanto, sabe-se que nem sempre o desenvolvimento econômico acarreta desenvolvimento social. Atualmente,
com o processo de globalização, o que ocorre é a concentração de riqueza e o aumento da pobreza. Essa ordem de
crescimento não é sustentável a médio e longo prazo. A atual dinâmica de consumo desenfreado tem provocado a
destruição em larga escala da natureza em um ritmo superior ao que o planeta pode se ajustar. A Terra já dá sinais
de que o preço a ser pago com esse descontrole será altíssimo. Há indícios de que a área terrestre e marinha necessária
para regenerar o ambiente natural e dispor os resíduos gerados pelo ritmo de consumo em vigor já ultrapassa
a área da superfície terrestre.
O presente modelo econômico introduziu o que chamamos consumismo, que significa a expansão da cultura do
“ter” em detrimento da cultura do “ser”. O estilo de vida norte-americano provocou a expansão do consumo, que,
estimulado pelas forças do mercado, da moda e da propaganda, se transformou em compulsão. Tal dinâmica influenciou
a personalidade social. Na cultura do consumo, os indivíduos passaram a ser reconhecidos, avaliados e julgados
pelo que consomem, vestem e calçam, pelo carro e celular exibidos em público. Isso chegou a tal ponto que até felicidade
e qualidade de vida passaram a ser avaliadas por muitos com base no que o indivíduo consome.
Podemos dizer que o consumo é necessário, afinal precisamos manter nossas necessidades básicas de sobrevivên-
cia. Entretanto, existem dificuldades em se diferenciar consumo e consumismo, o limite entre necessidades básicas e
supérfluas relacionam-se com características culturais das sociedades.
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
Pense
Para você, o que significam necessidades básicas e necessidades supérfluas?
É difícil estabelecer a diferença entre consumo e consumismo,
pois o que é básico para alguns pode ser supérfluo para outros.
Podemos dizer que consumo é a utilização de bens e serviços
para satisfazer necessidades individuais e coletivas. Somos consumidores
de alimentos, água, energia elétrica, transporte etc.
O consumismo, por sua vez, está associado ao consumo supérfluo
e inconsciente, sob influência de empresas, grupos e políticas
públicas e privadas diversas. Consumismo é o consumo
extravagante. É o consumo além do necessário para se ter um
bem-estar individual, grupal e social. Isso é percebido durante
o processo da compra.
Associadas com o consumo além das necessidades naturais,
existem três espécies de compra: a não planejada (feita em virtude
da pressão do tempo ou por lembrar-se de comprar ao ver
exposto), a impulsiva (súbita vontade de comprar algo que não
estava nos planos) e a compulsiva (compras em excesso em resposta
a sentimentos de tensão, ansiedade, aborrecimentos, autoestima
etc.).
Muito do que é comprado pelas pessoas é para atender à vontade momentânea de compra
e não para atender a alguma necessidade real. Esse tipo desnecessário de compra
caracteriza o consumista patológico.
AMj Studio
11
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÊNCIAS
AMj Studio
As propagandas vendem
a imagem do consumidor
feliz, mas na realidade o
que ele enfrenta no dia
a dia não é lá um modelo
de felicidade! Atualmente,
muita gente opta por
um modelo de vida
mais simples na busca
de maior felicidade.
No entanto, o consumismo pode causar má qualidade de vida às pessoas. Uma mania
que prejudica o bem-estar de um ser humano é a oniomania (impulso compulsivo de comprar),
considerada psicopatológica. Outro fator que afeta a qualidade de vida é o conhecido
“mal do século XXI”, ou seja, o tecnoestresse – ansiedade diária, nervosismo e cansaço
por excesso de informações por meio da utilização de computadores, notebooks, celula-
res e outros. Existem pessoas que querem ter produtos tecnológicos de última geração e
ficam ansiosas para adquiri-los. Para fabricantes, publicitários, mídia e comerciantes, esse
tipo de indivíduo é essencial aos seus negócios. E para o planeta, será um bom negócio?
Sem dúvida, a publicidade é um meio eficiente para tornar um bem de consumo conhecido.
No entanto, como ela atende a interesses da indústria e do comércio, busca artifícios
para atingir pontos vulneráveis do consumidor – vaidade, desejo, gosto
e outros. As mulheres das propagandas de cosméticos são muito bonitas,
atraentes, magras – parecem ideais. E quando a mídia explora produtos de
limpeza, parece que estamos vivendo em uma casa modelo, brilhando e
com mobílias novas. Já a imagem do homem é, geralmente, a de pessoa
viril, simpática, alinhada, com carro esportivo etc.
Infelizmente, existem grupos publicitários que produzem propagandas
enganosas ou abusivas, explorando a credibilidade dos consumidores. Nesse
caso, como bons cidadãos, devemos denunciá-los à Procuradoria de Proteção
e Defesa do Consumidor (Procon) ou ao Ministério Público, pois essa prática
é proibida pelo Código de Defesa do Consumidor.
Para mudar essa situação, a sociedade precisa ter clareza de que o consumo
desenfreado e a mentalidade de utilizar produtos descartáveis representam
uma ameaça à presente e às futuras gerações. É preciso aprender
a cuidar adequadamente do planeta Terra. É necessário mudar nossos hábitos
e nos tornar mais críticos em relação à publicidade. Precisamos aprender
a avaliar não só o custo financeiro de um bem, mas também seu custo
ambiental e social. Porém o fundamental, e talvez o mais difícil, é consumir
apenas o necessário, sem extravagância.
Debata e entenda
FAÇA NO CADERNO. NÃO ESCREVA EM SEU LIVRO.
1. O texto fez referências ao “consumo compulsivo”, existente na sociedade moderna e tecnológica. Quais são os
aspectos éticos que devem ser discutidos no contexto da sociedade de consumo?
2. Discuta em sala de aula situações do dia a dia em que o consumismo prejudica a qualidade de vida do ser humano.
3. Discuta com os colegas a afirmação “O consumo é fundamental para o desenvolvimento econômico de um país”.
4. O desperdício é um fator que deve ser evitado para a manutenção da economia de empresas, residências, indústrias
e vários outros espaços da sociedade; diversos fatores também estão relacionados ao desperdício, como a
poluição ambiental, intoxicações etc. Observando o dia a dia de sua casa e de sua escola, cite alguns exemplos
de desperdícios e como se pode combatê-los.
5. Ainda com relação ao desperdício, dê uma olhada detalhada na despensa de sua casa e faça uma pequena lista,
apenas para não esquecer, dos produtos que você utiliza no cotidiano. Em sala de aula, discuta com os colegas,
num grande grupo, as questões abaixo e depois comente os resultados com a família:
a) que produtos poderiam ser retirados da lista de compras de sua casa sem maiores prejuízos?
b) que produtos poderiam ser substituídos por outros com o mesmo efeito gerando menor impacto ambiental?
6. Debata com os colegas como a expansão da cultura do “ter” em detrimento da cultura do “ser” afeta (influencia)
o seu relacionamento com os amigos e com a família.
12
1 TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS
A Química está intimamente relacionada ao consumo da sociedade atual por possibilitar
a produção de novos bens de consumo. Para isso, é fundamental compreendermos
como são desenvolvidos novos materiais e como se mudam as propriedades
dos já existentes. A Química também nos ajuda a compreender melhor as consequências
ambientais do alto consumo humano. A partir daí, podemos pensar em ações para
melhorar as condições de vida na Terra por meio da economia de energia e matéria-
-prima e da diminuição das consequências do descarte do lixo em diferentes ambientes.
Pense
Que transforma ções acontecem, com o passar do tempo, com os materiais descartados no lixo? Que materiais,
aparentemente, não sofrem transformações no lixo?
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
Com o passar do tempo, o lixo sofre uma série de transformações. Muda de cor, de cheiro
e de aparência. Um bom exemplo dessas transformações é a degradação de restos de alimentos.
Não há dúvida de como as características de um alimento mudam quando descartado.
Identificar as transformações que acontecem com os materiais é parte fundamental da
Química. Para aprendermos como isso pode ser feito, vamos realizar as atividades abaixo.
Os cientistas denominam os objetos ou os processos que estão sendo estudados de
sistemas, e as características e propriedades que os sistemas apresentam, de estado
do sistema. Portanto, a evidência de uma transformação está na mudança de estado
do sistema. O conjunto de características anteriores à transformação é denominado
estado inicial do sistema e o conjunto de características posterior à transformação é
denominado estado final do sistema.
Atividades
1. Cite cinco exemplos de transformações de materiais que ocorrem na natureza.
2. Reproduza a tabela abaixo no caderno, relacionando, como no exemplo, as transformações que você identificou acima
com características que permitam a identificação.
IDENTIFICAÇÃO DE TRANSFORMAÇÕES
Ordem Termo anterior Valor do termo
2 1 1 + 2 = 3
3. Você poderia dizer se na queima e no corte de uma folha de papel ocorrem transformações do mesmo tipo? Justifique.
Pense
Qual é a diferença entre
as transformações sofridas
por alimentos e a transformação
ocorrida em uma
lata ao ser amassada?
Hely Demutti
Iguais ou diferentes?
O que você acha?
13
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
Ao compararmos o estado inicial de uma lata normal com o estado final, após ser
amassada, verificamos que ocorreu uma mudança nas características. Porém, o que mudou
foi só a forma física do material. A lata continua sendo constituída de liga de alumínio,
sem alterar características, tais como cor, cheiro, textura etc.
Já os alimentos, depois que sofrem decomposição, apresentam outra constituição.
Os processos em que não ocorrem mudanças na constituição das substâncias presentes no
material são denominados processos físicos. Os processos em que ocorrem mudanças na
constituição do material por causa de formação de nova(s) substância(s) são denominados
transformações químicas, também chamados
reações químicas.
Para entendermos o que é uma transformação química, vamos fazer o experimento a seguir.
Química na escola
Como sabemos que ocorreu uma
reação química?
Nesse experimento, você fará uma série de testes com o objetivo
de observar ocorrências que permitam a identificação de reações
químicas. Faça os testes em grupo. Se necessário, os tubos de ensaio
podem ser substituídos por pequenos frascos de vidro transparentes,
como aqueles usados para acondicionar medicamento injetável.
Consulte as normas de segurança no
laboratório, na última página deste livro.
Hely Demutti
O uso de equipamentos de segurança é fundamental
no trabalho do químico em laboratório.
Materiais
• 5 tubos de ensaio
• conta-gotas
• estante para tubos de ensaio
• pinça de madeira
• lamparina
• água
• gelo
• açúcar
• solução de hidróxido de sódio (NaOH)
0,1 mol/L (pode-se usar 1 colher de café de
soda cáustica para 0,5 litro de água)
• vinagre branco
• 1/4 de comprimido efervescente
• solução de fenolftaleína, 10 g/L (pode-se usar 1 colher
de café para 100 mL de álcool etílico comercial)
Procedimento
1. Numere os tubos de ensaio de 1 a 5.
2. Reproduza no caderno a tabela apresentada a seguir e complete-a ao realizar cada teste.
DADOS DE DESCRIÇÃO DO ESTADO DO SISTEMA
Tubo Estado inicial Estado final Observações
1 z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z
2 z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z
3 z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z
14
3. Em cada tubo, adicione os materiais indicados nos itens seguintes e observe as propriedades que os
caracterizam (cor, estado de agregação, forma de apresentação, odor). Essas propriedades devem ser
anotadas na coluna “estado inicial” da tabela.
4. Após a realização dos procedimentos indicados, observe novamente as propriedades dos materiais e anote-as na
coluna “estado final”.
5. Observe atentamente se houve mudança de cor, liberação de gás, exalação de odor, aparecimento de um novo
estado de agregação, mudança de temperatura ou outras alterações e anote-as na coluna das “observações”.
6. No tubo 1, coloque um fragmento de gelo e observe ao final de todos os testes.
7. No tubo 2, coloque um pouco de água e ¼ do comprimido efervescente. Observe.
8. No tubo 3, coloque água e aqueça. Observe.
9. No tubo 4, coloque um pouco de açúcar e água e misture. Observe.
10. No tubo 5, adicione 1 mL (20 gotas) de solução de hidróxido de sódio (NaOH) e algumas gotas de
fenolftaleína. Observe. Guarde este tubo para o próximo teste.
11. No tubo 5, goteje o vinagre branco. Observe.
12. O restante das soluções de hidróxido de sódio e fenolftaleína deve ser acondicionado em embalagens limpas, fechadas
e devidamente rotuladas, para reutilização em outras atividades práticas.
Destino dos resíduos
1. Os resíduos dessa atividade podem ser descartados no sistema de coleta de esgoto.
2. No tubo 5, deve-se adicionar vinagre até que a cor da fenolftaleína desapareça por completo antes de descartar
seu conteúdo.
Análise de dados
1. Considerando os fenômenos observados, indique em quais dos procedimentos realizados houve indícios de formação
de novas substâncias. Justifique a resposta.
2. Procure relacionar as transformações observadas com outras situações da sua vida diária.
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
A todo instante ocorrem transformações à nossa volta. Você já viu que muitas dessas
transformações são processos físicos, como o ocorrido quando uma lata de alumínio é prensada,
que não mudam a natureza do material. Mas pegue uma lata de ferro sem pintura e
deixe-a alguns dias em ambiente úmido para ver o que acontece. Ela será oxidada, ou seja,
enferrujará. A ferrugem é uma substância que tem propriedades bem diferentes do metal original.
Ou seja, no enferrujamento há formação de novas substâncias. As transformações desse tipo
são chamadas transformações químicas ou reações químicas. Podemos dizer, então, que:
Hely Demutti
Transformações químicas são processos em que há formação de novas
substâncias. As substâncias iniciais são chamadas reagentes e as substâncias formadas
são chamadas produtos.
A característica central das reações químicas está na formação de novas substâncias.
Isso acontece em nosso corpo o tempo todo. A partir dos nutrientes contidos nos alimentos
ingeridos, ele produz diversas substâncias que farão parte da constituição de nossas células.
Outras reações químicas estão presentes no cotidiano: no cozimento dos alimentos, na
queima de combustíveis, na produção ou degradação de materiais dos mais diversos etc.
Na reação do ferro com o
oxigênio, surge uma nova
substância: o óxido de
ferro (ferrugem).
15
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
Pense
É por meio de reações químicas que obtemos diferentes materiais a serem utilizados
em nossas atividades. É também a partir das reações químicas que adquirimos energia
para diferentes atividades como transporte, preparação de alimentos e até mesmo realização
de outras reações químicas.
No entanto, a partir dessas transformações que realizamos no planeta, diminuímos as
quantidades das substâncias utilizadas como reagentes e aumentamos as quantidades das
que originam os produtos. Como diminuimos as quantidades de determinadas substâncias
e materiais e aumentamos as quantidades de outras, podemos dizer que estamos mudando
o estado do planeta. Quais as consequências dessa mudança de estado global? Embora
haja muitas previsões, especulações e até mesmo constatações, não sabemos ao certo o que
pode acontecer. Daí a necessidade urgente de reduzirmos o ritmo dessas transformações.
Por isso, entre outros motivos, o estudo da Química é fundamental em nossas vidas.
Afinal, vivemos em uma sociedade tecnológica em que a quase totalidade dos materiais
utilizados é obtida por meio de processos químicos. Vamos, a seguir, estudar um pouco
como a Química está inserida nesse mundo tecnológico.
2 QUÍMICA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE
Em nossa vida diária, é muito comum ouvirmos os termos “tecnológico” e “tecnologia”. Para você, o que significam?
Catwalker/Shutterstock
Todas as tecnologias mais
avançadas, como a robótica,
são derivadas de conhecimentos
da estrutura
dos materiais.
Da mesma maneira que podemos dizer que a Química começou a se desenvolver a
partir de técnicas primitivas de domínio do fogo, é possível considerar que a tecnologia
nasceu quando o ser humano descobriu que podia fazer ferramentas a partir de
diferentes materiais, tais como paus, ossos e pedras. Modernamente, o conceito de tecnologia
está associado ao conhecimento especializado para produzir e aprimorar bens de
consumo (alimentos, roupas, cadeiras, televisores etc.), mercadorias (produtos químicos,
ferramentas, máquinas etc.) e serviços (tratamento odontológico, construção civil etc.),
geralmente em processos industriais que envolvem máquinas e grandes organizações.
Essa tecnologia moderna teve desenvolvimento acelerado após a Revolução Industrial,
por causa da introdução de novos modelos de produção e de exploração da natureza.
Esses modelos foram, pouco a pouco, substituindo o trabalho dos artesãos. A troca
gradativa do trabalho humano pela máquina reduziu custos e aumentou a produção.
Esperava-se que a industrialização diminuísse o tempo de trabalho humano, liberando as
pessoas para desenvolver mais atividades culturais e de lazer.
Será que tudo isso aconteceu? O que você acha? Por quê?
De fato o modelo tecnológico atual tem uma contradição: ao mesmo tempo que
contribui para a melhoria da qualidade de vida também traz diversos problemas para a
sociedade. Ao longo desta coleção, discutiremos uma série de questões relativas a esse
modelo de desenvolvimento e as relações entre a Ciência Química e nossa sociedade. Veja
um pouco mais sobre a tecnologia.
Tecnologia: fruto da Ciência e da sociedade
O conhecimento tecnológico e o científico são intimamente ligados. Com o avanço do
conhecimento acerca da estrutura dos materiais, por exemplo, é possível gerar todo um
aparato tecnológico para processar informações por meio de máquinas incríveis, conhecidas
como computadores.
16
Hoje, todos dependem do computador. O trânsito das grandes cidades, os caixas de
supermercados, a contagem de votos em uma eleição, as transmissões de TV e até mesmo
o fornecimento de água e luz são exemplos de atividades controladas por computadores.
Enfim, os computadores provocaram uma verdadeira revolução na vida das pessoas:
mudaram hábitos, relações de trabalho nas empresas, relacionamento humano e até
formas de lazer.
CAPÍTULO
1
2
Alexandr Steblovskiy/Dreamstime
Jagadeesh NV/Corbis/Latinstock
ENIAC Museum, SEAS, UP
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6
7
8
Todo esse desenvolvimento tecnológico surgiu devido, entre outros fatores, às novas
necessidades humanas e está associado também ao desenvolvimento científico. A partir,
por exemplo, do conhecimento das propriedades dos materiais foi possível produzir novos
produtos químicos com uma infinidade de aplicações na medicina, na agricultura, na
engenharia e até mesmo em nossas residências. A grande quantidade de produtos que
surge diariamente, por sua vez, tem sido projetada conforme as exigências de consumo
da população. Muitas vezes, porém, em vez de a sociedade determinar quais são os bens
de consumo (mercadorias e serviços) de seu interesse, as próprias empresas criam, por
meio da mídia, necessidades de consumo de produtos os quais poderiam ser considerados
supérfluos e que são consumidos como se fossem essenciais.
Pode-se dizer que a Ciência avança também em função das necessidades geradas
pela sociedade. Muitas pesquisas se desenvolvem na tentativa de solucionar problemas
sociais, como a aids, a desnutrição, a falta de energia, a poluição etc. Por sua vez,
o aperfeiçoamento tecnológico contribui para o desenvolvimento da Ciência. Cálculos
que os cientistas, às vezes, levavam dias para realizar, atualmente, graças aos computadores,
são feitos em alguns minutos. Esses mesmos computadores permitem que os
químicos da atualidade projetem e modelem materiais pulando diversas etapas antes
feitas em bancadas de laboratórios.
A Ciência, a tecnologia e a sociedade têm
caminhado na busca de soluções de grandes
problemas. No entanto, as transformações geradas
também têm provocado consequências
desastrosas ao equilíbrio no planeta.
Os primeiros tadores chegavam a
compuocupar
uma sala inteira.
O desenvolvimento
dos chips, minúsculos
circuitos eletrônicos que
substituíram as válvulas,
possibilitou a redução
contínua do tamanho dos
computadores, apesar do
aumento da capacidade
de processamento.
Hely Demutti
A cada dia são lançados novos materiais de limpeza.
Alguns têm novas formulações e são mais eficientes. Outros
são iguais aos existentes, mas com embalagens novas e mais
bonitas. Cuidado com esse truque de marketing!
17
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
Juca Varella/Folha Imagem
Pense
O desenvolvimento da agroindústria associado ao uso de
maquinários especiais aumentou a produtividade agrícola,
mas trouxe também sérios problemas ambientais.
A Química na sociedade
Debata com os colegas os efeitos da Química na sociedade. Vocês acham que ela deve ser vista como causadora
dos problemas ambientais?
Hely Demutti
A síntese do náilon lucionou a indústria têxtil,
revopermitindo
uma diversificação
na produção de roupas,
apropriadas a diferentes
tipos de clima, tipos de
serviço profissional e até
mesmo estilo de moda.
Materiais plásticos foram utilizados para substituir diversas peças metálicas
dos carros antigos, permitindo maior leveza aos automóveis, menor consumo
de combustível, maior velocidade, mais conforto e segurança.
A vida em si já é um fantástico processo químico, no qual
transformações de substâncias nos permitem andar, pensar,
sentir, viver. As diversas sensações biológicas, como dor, cãibra
e apetite, e as diversas reações psicológicas, como medo, alegria
e felicidade, estão associadas com as substâncias presentes
no organismo. O nosso corpo é um verdadeiro laboratório de
transformações químicas.
Estudar Química possibilita-nos compreender não só os fenômenos
naturais, mas também entender o complexo mundo
social em que vivemos.
A Química tem garantido ao ser humano uma vida mais longa
e confortável. O seu desenvolvimento permite a busca para
solução de problemas ambientais, o tratamento de doenças antes
incuráveis, o aumento da produção agrícola, a construção de
prédios mais resistentes, a produção de materiais que possibilitam
a confecção de novos equipamentos etc.
A produção de medicamentos com base em estudos
da química de produtos naturais (ramo da Química responsável
pelo isolamento e determinação da estrutura
de substâncias de origem natural) tem evitado a morte
prematura de milhares de pessoas.
Picsfive / Dreamstime
Divulgação
Contudo, o progresso tem um preço e está associado a uma infinidade de desequilíbrios
ambientais. Vazamento de gases tóxicos, contaminação dos rios e do solo e envenenamento
por ingestão de alimentos contaminados, entre outros, são problemas divulgados, todos
os dias pela imprensa, como os das manchetes das reportagens a seguir.
18
Anvisa proíbe formol nos
salões de beleza
A moda do cabelo liso popularizou um tratamento
conhecido como escova progressiva, que
pode provocar problemas graves e inclusive a morte,
se o tratamento incluir produtos à base de formol,
um produto tóxico que provoca câncer, lesões nos
olhos, pele, ferimentos nas vias respiratórias, edema
pulmonar, pneumonia, reação alérgica, além de
debilitação da visão e aumento do fígado…
Notícia extraída do jornal Diário da Amazônia, 2 jul. 2009.
Um novo remédio contra
o diabetes
Vem do Rio Grande do Sul o mais recente alento
para quem luta contra o diabetes tipo 2, que atinge
15% da população mundial acima de 65 anos.
Depois de 10 anos de estudos, um químico gaúcho
desenvolveu um novo medicamento para combater
a enfermidade. O remédio, que promete revolucionar
o tratamento da doença, tem como base
uma substância especial chamada resveratrol, encontrada
na uva, no suco da fruta e no vinho tinto…
Notícia extraída do jornal Zero Hora, 21 jun. 2009.
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
Na verdade, o que as manchetes apresentadas anteriormente revelam é o paradoxo
do desenvolvimento científico e tecnológico, que tanto traz benefícios para a
sociedade, como também riscos para a própria sobrevivência humana.
Já mencionava o conhecido cientista Albert Einstein [1879-1955]: “A Ciência não
tem sentido senão quando serve aos interesses da humanidade”. No entanto, quantas
vezes a Ciência, em nome de interesses econômicos e políticos, é utilizada em
guerras tecnológicas? Quantas vezes, em nome do desenvolvimento, enriquece pequenos
grupos de pessoas, sem gerar benefícios para a sociedade como um todo e
ainda causando catástrofes ambientais? Quantos realmente têm acesso aos benefícios
do desenvolvimento científico e tecnológico, em um planeta no qual a maior
parte da população vive abaixo da linha da pobreza?
Com a finalidade de mudar essa situação, todos nós, cidadãos, deveríamos
buscar desenvolver ações na sociedade que contribuam para que as aplicações da
Ciência e da tecnologia possam proteger a vida da nossa e das futuras gerações e
propiciar condições a fim de que todos tenham acesso a seus benefícios.
Fatos como o listado acima
têm feito um mal danado à
reputação da Química,
quando deveriam apenas
alertar para sua má utilização.
Essa imagem tem sido
tão forte que, muitas vezes,
as pessoas não dão importância
para as notícias positivas,
como a apresentada
acima, que também são frequentemente
veiculadas na
imprensa. Por exemplo, todos
conseguem se lembrar
com facilidade do acidente
radioativo com o césio-137,
mas poucos se recordam
das milhares de pessoas
que tiveram a vida prolongada
graças ao tratamento
com césio-137.
Exercícios
1. Classifique os testes que você fez no experimento anterior,
em Química na escola, em função da transformação
ocorrida, como química ou física.
2. No teste do tubo 1 do experimento anterior, o gelo se
transformou em água e, no teste do tubo 3, a água
se transformou em vapor. Nos testes dos tubos 2 e 4,
também houve o aparecimento de um novo estado de
agregação. Com base nas observações, comente se o
surgimento de um novo estado de agregação é indicador
preciso de reação química.
FAÇA NO CADERNO. NÃO ESCREVA EM SEU LIVRO.
3. Classifique as possíveis transformações, apresentadas
a seguir, em físicas ou químicas:
a) sobras de alimentos transformados em adubo;
b) garrafas de vidro reutilizadas para acondicionar novos
materiais;
c) frascos de vidro reciclados para obtenção de novos
frascos e garrafas;
d) reciclagem de latas de alumínio;
e) queima de madeira em uma fogueira.
19
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
4. Com relação às transformações acima, em qual(is) você
pode afirmar que houve a formação de novas substâncias?
Justifique a resposta.
5. A todo instante estão ocorrendo transformações à nossa
volta. Dê exemplos de outras reações químicas que você
identifica no dia a dia, além das citadas na questão 3.
6. Os efeitos maléficos do lixo podem ser classificados por:
a) agentes físicos: caso do lixo acumulado às margens
de curso-d’água ou de canais de drenagem e em encostas,
provocando assoreamentos e deslizamentos;
b) agentes químicos: poluição atmosférica causada
pela queima de lixo a céu aberto, a poluição do
solo e a contaminação de lençóis-d’água por substâncias
presentes no lixo.
Com base no conceito de transformação física e química,
diferencie os agentes físicos dos químicos.
7. Classifique os processos a seguir em físico e químico e
justifique.
a) Produção siderúrgica de aço com base no minério
de ferro.
b) Produção de peças de automóveis com base no aço
fabricado em metalúrgicas.
8. A Química está tão presente na vida humana, que é
difícil imaginar a vida sem ela. Os produtos químicos
têm inúmeras aplicações, entre as quais se ressalta
fabricação dos computadores, que constituem a revolução
dos tempos atuais. Considerando a presença
da Química no cotidiano, julgue os itens a seguir,
marcando C para os corretos e E para os errados.
1) Apesar dos benefícios que os produtos químicos
trazem para a indústria, deve-se evitar a ingestão
de quaisquer deles.
2) Um aquário com muitos peixes deve ter sua água
borbulhada com ar para repor o oxigênio que os
peixes consomem. Nesse sistema, ocorrem tanto
transformações físicas como químicas.
3) Um produto alimentício considerado natural sofre
somente transformações físicas para ser produzido.
9. O estudo central da Química baseia-se nas reações
químicas. Por isso, dizemos que a Química é a Ciência
que estuda as transformações das substâncias. O grande
desafio do químico está em desenvolver métodos
de obtenção de novas substâncias que possam, entre
outras coisas, propiciar a fabricação de materiais para
reduzir o tempo de trabalho das pessoas ou melhorar
sua qualidade de vida. Com relação às transformações
das substâncias, julgue os itens marcando C para os
corretos e E para os errados.
1) A palha de aço úmida, com o passar do tempo, de
acinzentada torna-se avermelhada, o que indica a
ocorrência de um fenômeno químico.
2) Uma lata de alumínio, depois de amassada e descartada,
enferruja com o passar do tempo, pois
sofre uma transformação física.
3) O nosso organismo sintetiza, com base em substâncias
contidas nos alimentos ingeridos, milhares
de outras substâncias que vão fazer a constituição
das nossas células. Essas transformações são certamente
químicas.
4) O papel é um material reciclável. Devido a algumas
facilidades desse processo, papelão, papéis de todo
tipo e de toda cor podem ser reciclados. A mudança
de cor desses materiais nas etapas de reciclagem é
uma transformação química.
10. (UnB-DF) Julgue os itens a seguir, marcando C para os
corretos e E para os errados.
1. As reações químicas são definidas como processos
artificiais.
2. As reações químicas em um sistema podem ser
identificadas pela mudança de propriedades físicas
desse sistema.
3. A transformação química é caracterizada pela impossibilidade
de se obter novamente os materiais iniciais.
11. O uso da palavra “tecnologia” é cada vez mais comum
em nosso dia a dia. O que você entende por tecnologia?
12. Como a Ciência influencia a tecnologia?
13. Como os computadores mudaram os hábitos das pessoas,
as relações de trabalho nas empresas, o relacionamento
humano e as formas de lazer?
14. Procure lembrar-se de exemplos de descobertas químicas
que alteraram os hábitos de vida das pessoas.
15. O desenvolvimento da Química permitiu um aumento
da expectativa e da qualidade de vida das pessoas.
Por que então dois terços da população do planeta
estão sujeitos a doenças, cujo controle já é de domínio
da Ciência, moram em residências sem as condições
mínimas de habitação e não têm acesso à alimentação
mínima exigida pelos padrões de saúde?
16. Comente sobre os eventos que seriam os responsáveis
pelos problemas ambientais decorrentes do uso
da Química.
17. Procure artigos de revistas ou de jornais que contenham
informações que ilustrem a presença da Química na
sociedade e prepare cartazes para montar um mural
na sala de aula.
20
3 PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
A
identificação da ocorrência de transformação química se dá pela constatação da
formação de novas substâncias, que vão apresentar propriedades específicas diferentes
das propriedades das substâncias iniciais. Mudanças de cor, formação de precipitados,
liberação de gases, alteração de temperatura, são indícios que os químicos
utilizam para constatar a ocorrência de reações. Em alguns casos, essas e outras transformações
podem ser nítidas como as chamas de uma fogueira. Em outros, pode ser de
difícil percepção como a chama incolor do metanol. É comum o químico agir como um
detetive à procura de provas que confirmem ou contestem suas hipóteses. Os químicos
criminalísticos representam a junção dessas duas formas de investigação, trabalhando
com os materiais encontrados pela perícia.
Como verdadeiros detetives, os químicos trabalham nos laboratórios, identificando os
materiais por meio de suas propriedades. Ao determinar as propriedades, eles podem, por
exemplo, identificar a composição de alimentos e medicamentos. Conseguem também
investigar a existência de substâncias tóxicas ou de adulterações.
Na atividade a seguir, você terá a chance de aprender a identificar as propriedades de
alguns materiais.
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
Atividades
Observe os pares de materiais apresentados nas fotos a seguir. Quais são as diferenças? Copie no caderno a tabela a seguir
e, com base em suas análises, complete-a:
Hely Demutti
Hely Demutti
Hely Demutti
Hely Demutti
Objetos de alumínio e de cobre.
Água e álcool.
Sal e açúcar.
Anéis de ouro e de prata.
DIFERENÇA VISUAL ENTRE MATERIAIS
Materiais
Diferença
Álcool e água
z z z z z z z z z z z z z
z z z z z z z z z z z z z
Não há.
z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z
z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z
21
Propriedades químicas e físicas
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
Os materiais apresentados na tabela da atividade anterior podem ser diferenciados
por meio de propriedades que percebemos utilizando os sentidos. Assim, podemos distinguir
um anel de ouro de um de prata simplesmente pela cor. Para isso, utilizamos a visão.
Podemos distinguir a água do álcool utilizando o olfato. E qualquer criança é capaz
de diferenciar o açúcar do sal colocando uma pitada de cada um deles na boca, ou seja,
por meio do paladar. Podemos, ainda, descobrir se um objeto é de alumínio ou de aço
inox pelo brilho característico deste último.
Essas propriedades percebidas pelos sentidos são chamadas propriedades
organolépticas.
Pense
Será que sempre poderemos utilizar as propriedades organolépticas para diferenciar os
materiais? Por quê? Será que podemos utilizar as propriedades organolépticas para separar
os componentes do lixo? Justifique a sua resposta.
E, no caso de substâncias desconhecidas, como podemos diferenciá-las?
Hely Demutti
Hely Demutti
Os produtos potencialmente
perigosos
trazem, nas embalagens,
alertas e cuidados que se
devem ter ao utilizá-los.
A efervescência é um
exemplo de propriedade
química.
Apesar de bastante úteis, as propriedades organolépticas nem sempre podem ser cadas pelo químico, pois muitos materiais são potencialmente tóxicos.
apli-
Por isso, preste atenção:
NUNCA cheire nem coloque na boca materiais de laboratório. Eles podem ser
tóxicos e prejudiciais à saúde.
Em um laboratório, todo cuidado é pouco. Mesmo substâncias conhecidas, como o
açúcar, podem estar contaminadas com substâncias tóxicas.
No dia a dia, também devemos tomar muito cuidado com substâncias desconhecidas.
Como não sabemos se são tóxicas, não devemos tocá-las, cheirá-las ou prová-las.
Nos laboratórios, os químicos utilizam as propriedades químicas ou físicas, e não as
organolépticas, para identificar as substâncias.
As propriedades químicas são aquelas relacionadas com as transformações químicas
das substâncias, ou seja, que são observadas e medidas quando comparadas com outras
substâncias. Uma substância pode ser, por exemplo:
• combustível – o álcool reage com o oxigênio do ar; a água, não;
• oxidável – uma barra de ferro oxida em contato com a umidade; muitas frutas oxidam
ao contato com o ar. Uma joia de ouro praticamente não oxida;
• explosiva – o gás hidrogênio pode explodir; o gás nitrogênio, não;
• corrosiva – ácidos corroem metais; óleos, não;
• efervescente – o mármore libera gás quando em contato com ácido clorídrico, o quartzo não.
Já as propriedades físicas dizem respeito a características inerentes às substâncias,
ou seja, características particulares que independem de transformação em outra substância.
A densidade, a cor, as temperaturas de fusão e de ebulição e a condutividade térmica
ou elétrica são alguns exemplos de propriedades físicas.
Lembramos que nem todas as propriedades permitem a identificação de substâncias.
Algumas propriedades são comuns a diferentes materiais e, por isso, são denominadas
propriedades gerais. Por exemplo, massa e volume são duas propriedades intrínsecas
da matéria e que não diferenciam um material de outro. Em outras palavras, não se pode
22
identificar um material pela informação de que ele tem massa de 1 quilograma ou o volume
de 1 litro. Esse aspecto não identifica de que material se trata, pois qualquer tância pode ter essa massa ou esse volume.
subs-
Vale lembrar que a uma propriedade (característica) de algo do universo físico que pode
ser medido chamamos grandeza. . Como massa e volume são propriedades que podem ser
medidas, são chamadas grandezas. A medida de massa, por exemplo, é feita com o auxílio
de balanças. É o que fazemos, por exemplo, quando subimos em uma balança de farmácia:
compara-se a quantidade que se tem de matéria em relação a um padrão que equilibra a balança.
O padrão internacional de unidade de massa empregado atualmente é o quilograma (kg).
As propriedades que permitem a identificação de substâncias são chamadas propriedades
específicas. Vamos ver mais adiante exemplos de propriedades específicas e como
elas podem identificar as substâncias.
Densidade
Dê uma olhada nas imagens a seguir. Elas apresentam o que acontece quando colocamos
cubos de gelo em um copo com água e, em outro, com álcool (etanol). Se você
quiser, pode repetir em casa, tomando cuidado ao manipular o álcool, que é inflamável.
Pense
Por que o gelo se comporta de
maneira diferente quando mergulhado
nos diferentes líquidos mostrados
nas imagens?
O que você imagina que pode
acontecer se misturarmos em um
único copo a água e o álcool e depois
adicionarmos o gelo?
Água e gelo.
Álcool e gelo.
Hely Demutti
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
Química na escola
Por que os materiais afundam ou flutuam?
O experimento a seguir pode ser realizado em grupo, na escola ou em casa. Ele serve para que você aprenda a distinguir
diferentes materiais usando uma propriedade que está relacionada à flutuação de objetos em líquidos.
Materiais
• proveta de 200 mL
• água
• uma pequena peça de material plástico
• xarope de groselha
• um pedaço de metal (prego, parafuso, porca etc.)
• um pedaço de isopor ou cortiça
• óleo de soja
• uma uva (de preferência uva itália)
Consulte as normas de segurança no
laboratório, na última página deste livro.
Hely Demutti
23
Procedimento
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
1. Em uma proveta (ou em um recipiente
transparente e comprido),
coloque xarope de groselha até
atingir um quarto de altura.
Pense
O que acontecerá ao adicionarmos
o óleo na proveta?
2. Adicione o mesmo volume de
óleo de soja.
Pense
Onde a água vai se posicionar
em relação ao xarope e ao óleo?
4. Adicione, nessa sequência, os seguintes objetos: um pedaço de metal, uma uva, uma pequena
peça de material plástico, um pedaço de isopor ou cortiça.
5. Se for possível em sua escola, meça o volume e a massa dos materiais apresentados na tabela
a seguir. Lembre-se de que o volume é uma grandeza correspondente ao espaço que a
matéria ocupa. No caso de sólidos regulares, o volume pode ser calculado a partir da medida
das dimensões, considerando-se as relações geométricas e que 1 cm
3 corresponde a 1 mL. No
caso de líquidos, utilizam-se instrumentos volumétricos graduados, como uma proveta. Para
o caso de sólidos irregulares, é possível determinar o volume pelo método de deslocamento
de volume de um líquido, geralmente água (Veja foto a seguir).
3. Acrescente a seguir, lenta e cuidadosamente,
o mesmo volume
de água.
Pense
Onde cada material vai se posicionar
em relação aos líquidos?
Hely Demutti
Hely Demutti
Muitos sólidos podem ter o volume medido pelo
deslocamento de líquidos. O volume da pedra
será igual ao volume de água deslocado, ou seja, à
diferença entre o volume final e o inicial.
Por que será que materiais
diversos flutuam
de forma diferente?
6. Reproduza no caderno, substituindo os valores indicados e completando os demais itens solicitados. Caso você não
possa obter os dados, utilize o que é fornecido pela tabela a seguir.
DADOS DE MASSA E VOLUME DE DIFERENTES MATERIAIS
Material Massa (m) Volume (V) m – V m + V m · V m/V
Água líquida
Óleo
10,0 g 10,0 mL z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z
29,2 g 30,0 mL z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z
48,9 g 50,0 mL z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z
9,37g 10,0 mL z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z
18,74 g 20,0 mL z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z
1 uva 10,58 g 9,3 mL z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z
3 uvas 31,2 g 27,5 mL z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z
24
Destino dos resíduos
1. Os resíduos líquidos dessa prática podem ser descartados no sistema de esgoto.
2. O óleo de soja não deve ser descartado na pia. Ele pode ser estocado e utilizado posteriormente na mesma
prática ou utilizado para fazer sabão.
3. A uva deverá ser descartada em coletor de lixo orgânico. Os demais sólidos (isopor ou cortiça, plástico e metal) devem
ser lavados com sabão e guardados para uso futuro.
Análise de dados
1. Desenhe, no caderno, os materiais e a sua disposição na proveta.
2. Por que os materiais ficaram dispostos da forma observada?
3. Será que se adicionarmos os materiais em ordem diferente a disposição será outra? Justifique.
4. O que é possível observar nos dados obtidos na tabela construída?
5. Que coluna apresenta dados que não dependem da quantidade de amostra?
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
Pense
Qual dos dois cilindros tem
massa maior, o de alumínio
ou o de cobre? Por quê?
Qual dos dois metais é
mais denso, o alumínio ou
o cobre? Por quê?
Dois cilindros de mesmo volume,
sendo o da esquerda de cobre e
o da direita de alumínio.
Hely Demutti
Se analisarmos a tabela do experimento, apresentada no
início desta página, vamos verificar que os valores de massa
e volume de cada material podem variar em função da tidade, mas a razão entre esses valores (m/V) será constante.
quan-
Os dados da tabela nos indicam também que podemos ter uma
mesma massa ou um mesmo volume para diferentes materiais,
mas a razão entre a massa e o volume será diferente.
Como já vimos, massa e volume são propriedades gerais
da matéria, ou seja, são propriedades que qualquer
material tem em função da quantidade. Já a razão entre a
massa e o volume de um objeto depende do material do
qual é feito, ou seja, é uma propriedade específica de cada
substância, à qual se dá o nome densidade. Por ser uma
propriedade específica que expressa uma relação de medidas,
a densidade é considerada uma grandeza.
Densidade é uma grandeza que expressa quanto há de massa por unidade
de volume de dado material.
Para calcular a densidade de um material utiliza-se, então, a equação:
d = m V
em que d representa a densidade, m a massa e V o volume.
Pense
Qual é a unida de da grandeza den sidade?
Que metal vai ocupar maior volume, 1 kg de alumínio ou 1 kg de chumbo? Por quê?
25
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
Hely Demutti
Os densímetros das bombas
de álcool combustível
medem a densidade, de
modo que o consumidor vai
identificar se o combustível
foi adulterado.
Observe que toda grandeza é representada por um número seguido de uma
unidade de medida (padrão de medida: metro, polegada, milha etc.). O número representa
quantas vezes nossa grandeza é maior que o padrão. No caso da densidade, a unidade
será sempre uma grandeza de massa (grama ou quilograma) por unidade de volume
(cm 3 ou mL, 1 mL = 1 cm 3 ).
A densidade dos materiais varia de acordo com a composição. Por isso, os químicos
usam os valores da densidade para determinar a qualidade de alguns produtos que são
consumidos pela população em geral.
É o caso do controle de qualidade do leite, um material que contém várias substâncias.
O leite produzido pelas vacas e utilizado para o consumo humano tem densidade que varia
em uma faixa limitada. A adição de água ou de outras substâncias altera a densidade
do leite. Essa adulteração pode ser identificada pelo uso de um densímetro, equipamento
específico para medir densidade de líquidos.
A determinação da densidade é empregada também para o controle de qualidade
do álcool combustível. De acordo com especificações da Agência Nacional de Petróleo
(ANP), o álcool combustível comercializado nos postos deve apresentar valor de densidade
entre 0,805 e 0,811 g/cm 3 , que pode ser verificado por meio de diferentes dispositivos
transparentes, que se localizam ao lado das bombas de combustível. Em um tipo desses
dispositivos, encontram-se duas esferas de densidades definidas, posicionadas de maneira
diferente dentro do recipiente. Quando se adultera o álcool combustível, a densidade
é modificada, e as posições das bolas sofrem alterações. Dessa maneira, fica fácil para o
consumidor observar se o álcool está fora de padrão, já que existem instruções ao lado
do recipiente sobre a padronização da densidade.
Exercícios
FAÇA NO CADERNO. NÃO ESCREVA EM SEU LIVRO.
1. Calcule, com base nos dados da tabela abaixo, a densidade
dos seguintes materiais:
MEDIDAS DE MASSA E VOLUME
DE DIFERENTES MATERIAIS
Material Massa Volume
Xarope de groselha 13,6 g 10,0 mL
Metal (alumínio) 13,19 g 5,0 mL
Cubo de plástico com 1 cm de aresta 2,85 g 3,0 mL
Isopor 6,16 g 423,0 mL
Cortiça 0,97 g 2,0 mL
Esfera de aço de raio igual a 2 cm 75,4 g **
Cubo de alumínio com 2 cm de aresta 21,6 g ***
Os valores apresentados na tabela são referentes às
amostras específicas. Outras amostras podem apresentar
diferentes resultados.
** Calcule o volume da esfera (V = 4/3 πr 3 )
*** Calcule o volume do cubo (V = a 3 )
2. Quando jogamos uma pequena e leve pedra num rio,
ela imediatamente afunda. Entretanto, se jogarmos
um grande e pesado tronco de árvore em um rio, ele
flutuará. Como podemos prever a flutuação ou não de
um material em água?
3. Sabendo que o ferro possui densidade maior do que a da
água, como é possível que um barco ou mesmo um grande
navio feito de chapas de aço (liga de ferro) flutue?
4. (FMTM-MG) Considere as substâncias e as respectivas
densidades à temperatura ambiente:
Substância
Densidade (g/mL)
Ácido sulfúrico 1,8410
Tolueno 0,8669
Acetona 0,7899
Há maior massa em um litro de:
a) ácido sulfúrico que em dois litros de tolueno.
b) tolueno que em dois litros de acetona.
c) acetona que em dois litros de tolueno.
26
d) ácido sulfúrico que em três litros de acetona.
e) tolueno que em dois litros de ácido sulfúrico.
5. Qual é a densidade de uma chapa de aço de 1 m 2 de
área por 1 cm de espessura que pesa 55 kg?
6. (Unicamp-SP) Três frascos de vidro transparentes,
fechados, de formas e dimensões iguais, contêm a
mesma massa de líquidos diferentes. Um contém água;
o outro, clorofórmio; e o terceiro, etanol. Os três líquidos
são incolores e não preenchem totalmente os frascos,
os quais não têm nenhuma identificação. Sem abrir os
frascos, como você faria para identificar as substâncias?
A densidade (d) de cada um dos líquidos, à temperatura
ambiente, é: d(água) = 1,0 g/cm 3 , d(clorofórmio) =
= 1,4 g/cm 3 e d(etanol) = 0,8 g/cm 3 .
7. (UFMG) Um limão foi espremido em um copo contendo
água e as sementes ficaram no fundo do recipiente.
A seguir, foi adicionado ao sistema um pouco de açúcar,
que se dissolveu completamente. Em consequência
dessa dissolução do açúcar, as sementes subiram
e passaram a flutuar. Assinale a alternativa em que se
explica corretamente a flutuação das sementes após
a adição do açúcar.
a) A densidade do líquido aumentou.
b) A densidade das sementes diminuiu.
8. (UnB) Em condições ambientes, a densidade do mercúrio
é de aproximadamente 13 g/cm 3 . A massa desse
metal, da qual um garimpeiro de Poconé (MT) necessita
para encher completamente um frasco de meio litro de
capacidade, é de:
a) 2 500 g.
b) 3 200 g.
c) 4 800 g.
d) 6 500 g.
e) 7 400 g.
9. (Fuvest-SP)
Material
Densidade (g/cm 3 ) à
temperatura ambiente
Alumínio 2,7
Bambu 0,31 – 0,40
Carvão 0,57
Osso 1,7 – 1,8
Ao adicionar à água pura, à temperatura ambiente,
pedaços de cada um desses materiais, observa-se flutuação
apenas de:
a) alumínio.
b) alumínio e osso.
c) bambu.
d) bambu e carvão.
e) carvão e osso.
10. (Unicamp-SP) Dois frascos idênticos estão dos abaixo. Um deles contém uma certa massa de água
esquematiza-
(H 2
O) e o outro, a mesma massa de álcool (CH 3
CH 2
OH).
A
Dado:
Usando-se uma bolinha de densidade
adequada, fez-se o experimento ao lado. água álcool
B
Qual das substâncias está no frasco A e qual está no
frasco B? Justifique.
J. Yuji
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
Temperaturas de fusão e de ebulição
Pense
Será que vamos conseguir diferenciar os materiais pela forma com a qual se apresentam, ou seja, sólida, líquida ou gasosa?
Na natureza, encontramos os materiais em diferentes estados de agregação. Vejamos
alguns exemplos: o oxigênio e o nitrogênio estão presentes em nossa atmosfera na forma
de gás; o álcool e a gasolina apresentam-se como líquidos; e os metais, à exceção do
mercúrio, são sólidos. No entanto, sabemos que um mesmo material pode apresentar-se
em mais de um estado de agregação. O exemplo mais comum é a água, que pode ser
encontrada nos três estados de agregação.
O estado de agregação de um material é uma propriedade que depende das condições
de temperatura e pressão em que se encontra.
27
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
Um sólido, quando aquecido, ao atingir determinada temperatura, começa a se fundir,
tornando-se líquido. Esse líquido, continuando sob aquecimento, chegará a uma temperatura
em que se inicia a vaporização, ou seja, a passagem do estado líquido para o gasoso.
Alguns materiais ou substâncias podem passar diretamente do estado sólido para o
gasoso e vice-versa. No esquema a seguir, apresentamos as possíveis mudanças de estado
dos materiais e os respectivos nomes.
sublimação
fusão
vaporização
Fotos: Hely Demutti
SÓLIDO
LÍQUIDO
GASOSO
solidificação
liquefação
sublimação
O esquema acima resume as seguintes definições:
Fusão é a passagem de um material do estado sólido para o líquido.
Solidificação é o contrário da fusão, é a passagem do estado líquido para o sólido.
Vaporização é a passagem do estado líquido para o gasoso.
Liquefação é a passagem de um gás para o estado líquido.
Quando a passagem do estado gasoso para o líquido ocorre a partir do vapor, ela
é chamada de condensação.
Sublimação é a passagem do estado sólido diretamente para o estado gasoso, ou
vice-versa.
Evaporação e ebulição são conceitos parecidos. Ambos se referem à passagem do estado
líquido para o estado gasoso. Mas existe uma diferença fundamental. A ebulição
ocorre quando a substância atinge a temperatura de mudança de estado. É o que acontece
com a água quando atinge os 100 °C. Já a evaporação ocorre em temperaturas inferiores.
A água de um lago, por exemplo, está em constante processo de evaporação,
mesmo a uma temperatura de 30 °C.
Existe também uma diferença entre vapor e gás, embora os dois estejam no estado
gasoso. O estado gasoso é um estado de agregação da matéria em que os constituintes
estão muito afastados, com baixa interação entre si. Uma substância no estado gasoso
pode passar para o estado líquido (liquefação) pelo abaixamento de temperatura ou pelo
aumento da pressão, como ocorre com o gás liquefeito de petróleo – GLP –, que se encontra
a uma alta pressão. Dados experimentais demonstram que para cada substância
28
Hely Demutti
existe a temperatura crítica acima da qual ela somente pode retornar ao estado líquido
com o abaixamento de temperatura, ou seja, variações na pressão não provocam a mudança
para o estado líquido. Nesse caso temos um gás. Abaixo da temperatura crítica, a
substância pode facilmente mudar para o estado líquido, pelo resfriamento ou por ples compressão; temos, então, um
simvapor.
Montagem para medida da temperatura durante o aquecimento
de uma amostra de água.
No caso do vapor, a mudança do estado gasoso para
o líquido (condensação) se dá facilmente; já a mudança de
estado de um gás (liquefação) vai exigir uma temperatura
muito baixa. Assim, em temperatura ambiente, temos gás
oxigênio e vapor de água. Ambos estão no estado gasoso.
No entanto, o oxigênio que você respira vai deixar de ser
gás no ambiente, pois isso somente pode ocorrer a uma
temperatura de –218 °C, enquanto o vapor de água pode
se condensar se encontrar uma parede fria no caminho.
Vejamos agora como varia a temperatura de um material
quando muda de estado de agregação. Essa observação
pode ser feita experimentalmente na escola. Não
havendo condições de realizá-la, analise os resultados que
poderiam ser encontrados e que apresentamos a seguir.
VARIAÇÃO DA TEMPERATURA DURANTE
O AQUECIMENTO DA ÁGUA DESTILADA
Tempo Temperatura
Estado de
agregação*
0 min –4 °C sólido
1 min –4 °C sólido
2 min –3 °C sólido
3 min –1 °C sólido
4 min 0 °C sól. e líquido
5 min 0 °C sól. e líquido
6 min 0 °C sól. e líquido
7 min 0 °C sól. e líquido
8 min 1 °C líquido
9 min 6 °C líquido
10 min 9 °C líquido
11 min 14 °C líquido
12 min 21 °C líquido
13 min 30 °C líquido
14 min 42 °C líquido
15 min 53 °C líquido
16 min 63 °C líquido
17 min 73 °C líquido
18 min 82 °C líquido
19 min 88 °C líquido
20 min 92 °C líquido
21 min 95 °C líquido
22 min 95 °C líquido
23 min 95,5 °C líquido e vapor
24 min 95,5 °C líquido e vapor
25 min 95,5 °C líquido e vapor
26 min 95,5 °C líquido e vapor
27 min 97 °C vapor
28 min 100 °C vapor
29 min 102 °C vapor
30 min 103 °C vapor
31 min 105 °C vapor
* Estado de agregação de maior predominância no sistema.
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
29
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
Em um primeiro experimento, aqueceram-se pedaços de gelo picado de água destilada;
a tabela mostra os dados obtidos.
Em um segundo experimento, aqueceu-se uma solução preparada a partir da dissolução
de 10 g de cloreto de sódio (sal de cozinha) dissolvido em 100 mL de água. Os valores
de temperatura foram lidos de 1 em 1 minuto e são apresentados na tabela a seguir.
VARIAÇÃO DA TEMPERATURA DURANTE O AQUECIMENTO DE 100 ML
DE SOLUÇÃO DE CLORETO DE SÓDIO (NACL) 100 G/L
Tempo Temperatura Estado de agregação* Tempo Temperatura Estado de agregação*
0 min –5,5 °C sólido
12 min 69,0 °C líquido
1 min –2,0 °C sólido e líquido
13 min 76,0 °C líquido
2 min –1,5 °C sólido e líquido 14 min 80,0 °C líquido
3 min –1,0 °C sólido e líquido 15 min 84,0 °C líquido
4 min 7,0 °C líquido
16 min 88,0 °C líquido
5 min 18,0 °C líquido
17 min 91,0 °C líquido
6 min 27,5 °C líquido
18 min 93,0 °C líquido
7 min 35,0 °C líquido
19 min 94,5 °C líquido
8 min 42,0 °C líquido
20 min 95,5 °C líquido
9 min 49,5 °C líquido
21 min 97,0 °C líquido e vapor
10 min 56,0 °C líquido 22 min 98,0 °C líquido e vapor
11 min 64,0 °C líquido 23 min 98,0 °C líquido e vapor
Atividades
* Estado de agregação de maior predominância no sistema.
1. Desenhe, em uma folha de papel milimetrado, gráficos da variação da temperatura em função do tempo para os dois
experimentos (aquecimento da água destilada e aquecimento da solução de cloreto de sódio). Utilize os dados da tabela
ou os dados que você obteve no laboratório, caso tenha realizado a experiência.
2. Desenhe, em uma folha de papel milimetrado, um gráfico da variação da temperatura em função do tempo, durante o
aquecimento da solução de cloreto de sódio. Empregue os dados da tabela anterior ou os seus dados, caso você tenha
feito o experimento.
Com base nos dados obtidos nos experimentos, responda às questões a seguir.
a) Em que faixas de temperatura a água destilada encontra-se em cada estado de agregação?
b) Em que estado de agregação a água vai estar quando exposta a uma temperatura de –50 °C?
c) Como a temperatura varia durante a mudança de estado no caso da água destilada?
d) Analise os gráficos do aquecimento da água destilada e da solução de cloreto de sódio e compare-os, comentando
as diferenças entre as curvas (gráficos) obtidas.
A temperatura na qual uma substância muda do estado sólido para o líquido ou do líquido
para o sólido é denominada temperatura de fusão. A temperatura na qual uma substância
muda do estado líquido para o gasoso e vice-versa é denominada temperatura de ebulição.
As temperaturas de fusão e de ebulição são determinadas experimentalmente por meio
de curvas de aquecimento ou de resfriamento. Quando temos uma única substância, como
no caso da água destilada, o gráfico de variação da temperatura apresenta um aumento
gradual constante. Depois de determinado patamar, apesar de o sistema continuar em
aquecimento, a temperatura não varia. Esse patamar existe tanto na fusão como na ebulição
e ocorre, respectivamente, quando se atingem as temperaturas de fusão e de ebulição.
30
Ao nível do mar, a água pura entra em ebulição a 100 °C e congela a 0 ºC. Essas transformações
podem ser observadas pela curva do gráfico a seguir:
CAPÍTULO
Curva de aquecimento da água
J. Yuji
1
Temperatura (°C)
Início da
fusão (0 °C)
Fim da
fusão (0 °C)
Início da
ebulição (100 °C)
Fim da
ebulição (100 °C)
2
3
4
t e
= 100 °C
t f
= 0 °C
gelo
Gelo sendo
aquecido.
Temperatura
crescente.
gelo + água
Fusão.
Temperatura
constante.
água
Água sendo
aquecida.
Temperatura
crescente.
água + vapor
Ebulição.
Temperatura
constante.
vapor-d’água
Vapor sendo
aquecido.
Temperatura
crescente.
5
6
7
8
Tempo (min)
Na curva do gráfico anterior, observa-se que os dois patamares (trechos da curva em
horizontal) correspondem aos períodos em que ocorrem a fusão e a ebulição, nos quais
a temperatura do sistema permanece constante. No primeiro patamar ocorre a fusão do
gelo em uma temperatura constante de 0 °C, chamada temperatura de fusão do gelo.
Somente após todo o material passar do estado sólido para o líquido haverá aumento
da temperatura do sistema. Assim, o segundo patamar indica a ebulição da água a uma
temperatura constante de 100 °C, chamada temperatura de ebulição da água.
No caso do resfriamento da água, a curva do gráfico vai apresentar o inverso do aquecimento.
Curva de resfriamento da água
Temperatura (°C)
J. Yuji
vapor-d’água
água + vapor
t e
= 100 °C
Vapor resfriando.
Condensação.
água
gelo + água
t f
= 0 °C
Líquido resfriando.
Fusão.
gelo
Gelo resfriando.
Tempo (min)
31
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
Curva de aquecimento de água com sal
Temperatura (°C)
01_G38_1Q_AJS
Quando temos mais de uma substância, como no caso da mistura água e sal, verifica-
-se uma alteração nas curvas dos gráficos de aquecimento ou de resfriamento. A temperatura
passa a apresentar pequenas alterações nas faixas de fusão e de ebulição. Nesse
caso, a curva não apresenta patamar de temperatura constante característico, pois, em
vez disso, há variação de temperatura durante a mudança de estado, como se pode observar
na curva do gráfico a seguir.
vapor
faixa de ebulição
ebulição
líquido
J. Yuji
faixa de fusão
sólido
Pense
Tempo (min)
A tabela abaixo apresenta os valores das temperaturas de fusão e de ebulição de algumas
substâncias. Essas propriedades são características das substâncias? Por quê?
Enquanto a água funde
a 0 °C, o ferro funde a
1 538 °C.
TEMPERATURA DE FUSÃO E DE EBULIÇÃO DE ALGUMAS SUBSTÂNCIAS
Substância Temperatura de fusão Temperatura de ebulição
Marcelo Spatafora/Pulsar Imagens
Água 0 °C 100 °C
Cloreto de sódio 804 °C 1 400 °C
Cloro –101,6 °C –34,5 °C
Clorofórmio –63,0 °C 61,74 °C
Hidróxido de sódio 318,4 °C 1 390 °C
Nitrogênio –209,86 °C –195,8 °C
Oxigênio –218,4 °C –183,0 °C
Naftaleno 80,55 °C 218,0 °C
Em resumo: as temperaturas de fusão e de ebulição das substâncias permanecem
constantes enquanto ocorre a mudança de estado. Já em sistemas que contêm
materiais, ocorrem variações de temperaturas durante a fusão e a ebulição.
32
Alexandre Bueno
Existem misturas com características especiais, pois se comportam como se fossem
uma única substância durante a fusão/solidificação ou durante a ebulição/condensação.
No primeiro caso, são chamadas misturas eutéticas, que fundem/solidificam a uma temperatura
constante. No segundo caso, temos as misturas azeotrópicas, que densam a uma temperatura constante.
fervem/con-
Curva de aquecimento de uma mistura eutética
Curva de aquecimento de uma mistura azeotrópica
˚
˚
Alexandre Bueno
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
Gráfico 1 Gráfico 2
8
Mistura eutética, como uma liga de bronze (mistura dos metais cobre e estanho), apresenta
uma curva de aquecimento semelhante à ilustrada no Gráfico 1. Como apresenta
baixa temperatura de fusão, o bronze é bastante utilizado em diversos processos siderúrgicos.
Nesse tipo de mistura, durante o processo de fusão a temperatura permanece
constante (T 1
), enquanto a temperatura de ebulição varia em uma faixa que vai de T 2
a T 3
.
Na mistura azeotrópica, o comportamento da curva é semelhante e o patamar em
que a temperatura fica constante é o da temperatura de ebulição, enquanto a fusão vai
ocorrer durante uma faixa de temperatura (veja Gráfico 2). Como exemplos de misturas
azeotrópicas, temos a mistura de acetona e clorofórmio e a mistura de etanol e benzeno.
Como se observa, as temperaturas de fusão e de ebulição variam de substância para
substância. Para determinar a temperatura de ebulição, um fator externo importantíssimo
deve ser considerado: a pressão atmosférica. A água é o melhor exemplo dessa situação.
Ao nível do mar ela entra em ebulição a 100 °C. O mesmo não acontece quando estamos
a uma altitude elevada, pois a pressão atmosférica é menor. À medida que a altitude aumenta,
a temperatura de ebulição da água diminui, pois a pressão atmosférica também
vai diminuindo. Isso ocorre porque, para um líquido entrar em ebulição, a pressão de vapor
das bolhas formadas no processo de aquecimento deve ser maior ou igual à pressão
atmosférica externa. E o inverso também vai ocorrer: quando a pressão atmosférica for
maior, a temperatura de ebulição do líquido também será maior.
Pressão atmosférica é definida como a pressão exercida, por
causa da massa de ar da atmosfera, sob determinada área. É a
força, por unidade de área, exercida pelo ar contra uma superfície.
Medida por meio de instrumentos denominados barômetros,
está relacionada com as condições ambientais, como radiação
solar, temperatura, altitude e latitude.
Um exemplo prático da variação da temperatura de ebulição
com a pressão é a panela de pressão. Nesse caso, como o sistema
é fechado, a pressão interna aumenta com o aquecimento,
o que eleva a temperatura de ebulição da água. Por estarem a
uma temperatura maior do que se estivessem em uma panela
comum, os alimentos são cozidos mais rapidamente.
Na panela de pressão a
água ferve a uma temperatura
superior a 100 °C
por conta do aumento
da pressão.
Jacek/Kino
33
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
Exercícios
1. Quais são as temperaturas de fusão e de ebulição da
água destilada apresentadas na tabela da página
29 – “Variação da temperatura durante o aquecimento
da água destilada”?
2. Como será a variação de temperatura durante a fusão
ou a ebulição de materiais que contêm duas ou mais
substâncias das apresentadas na tabela da página 32?
3. Com base na curva de aquecimento, tente explicar por
que em leiteiras com sistema de banho-maria (aquelas
que assobiam quando aquecidas) o leite não derrama.
4. Sabendo-se que a temperatura de ebulição da água
destilada é 100 °C, explique que motivo justificaria o
fato de o valor apresentado na tabela “Variação da
temperatura durante o aquecimento da água destilada”
(página 29) ser diferente.
5. A temperatura de ebulição do isoctano à pressão de
1 atmosfera é 99 °C e a temperatura de fusão é –107 °C.
À mesma pressão, indique o estado de agregação do
isoctano quando estiver nas seguintes temperaturas:
a) –125 °C. c) 25 °C. e) 99 °C.
b) –25 °C. d) 125 °C.
6. (Unicamp-SP) Evidências experimentais mostram que
somos capazes, em média, de segurar por um certo
tempo um frasco que esteja a uma temperatura de
60 °C, sem nos queimarmos. Suponha a situação em
que dois béqueres contendo cada um deles um líquido
diferente (X e Y) tenham sido colocados sobre uma
chapa elétrica de aquecimento, que está à temperatura
de 100 °C. A temperatura normal de ebulição do líquido
X é 50 °C e a do líquido Y é 120 °C. Após certo
tempo de contato com essa chapa, qual dos frascos
poderá ser tocado com a mão sem que se corra o risco
de sofrer queimaduras? Justifique a resposta.
7. (UFV-MG) O gráfico abaixo representa a variação de
temperatura observada ao se aquecer uma substância
A durante cerca de 80 minutos.
J. Yuji
Temperatura (°C)
50
40
30
20
10
0
2 4 6 8 10
Tempo (min)
a) Qual é a faixa de temperatura em que a substância A
permanece sólida?
b) Qual é faixa de temperatura em que a substância A
permanece líquida?
c) Qual é a temperatura de ebulição da substância A?
8. Analise o gráfico a seguir, correspondente à curva de
aquecimento de um material, na qual estão representadas
diferentes fases (s = sólido, l = líquido e
v = vapor) e julgue os itens seguintes, marcando C
para os corretos e E para os errados.
Temperatura (°C)
T 2
T 1
s+l
s
l
l+v
v
Tempo (min)
1) T 2
corresponde à temperatura de ebulição.
2) Se, no estado líquido, essa porção de matéria fosse
resfriada, se solidificaria à temperatura T 1
.
3) A temperatura referente ao patamar l + v será elevada
com o aumento da pressão atmosférica.
4) Segundo o gráfico, essa porção de matéria é constituída
por uma mistura de três substâncias.
9. (UFRN) Considere a seguinte tabela, cujos dados foram
obtidos à pressão de 1 atmosfera. Quantas
dessas substâncias são líquidas a 25 °C e à pressão
de 1 atmosfera?
Substância
Temperatura de
fusão (°C)
Temperatura de
ebulição (°C)
Etano –171 –93
Propano –190 –45
Butano –135 0,6
Pentano –131 36
a) Nenhuma.
b) 1.
c) 2.
d) 3.
e) Todas.
FAÇA NO CADERNO. NÃO ESCREVA EM SEU LIVRO.
J. Yuji
34
10. (Ufes) Uma mistura eutética é definida como aquela que
funde à temperatura constante. O gráfico que melhor
representa o comportamento dessa mistura até sua
completa vaporização é:
a)
b)
T(K)
L
s
t(min)
T(K)
L
s
t(min)
c)
d)
e)
T(K)
L
s
T(K)
L
s
T(K)
L
s
t(min)
t(min)
t(min)
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
Solubilidade
8
Pense
Quando uma onda “arrebenta” na praia, a água salgada mistura-se com a areia. Aos poucos, a areia separa-se da
água que continuará salgada. Se a areia se separa da água, por que o sal não?
Será que essa diferença de comportamento entre o sal e a areia, na presença de água, permite a diferenciação
das substâncias?
Para discutir essas questões, vamos realizar uma atividade relacionada a essa propriedade.
Química na escola
Que material é mais solúvel?
Consulte as normas de segurança no
laboratório, na última página deste livro.
Realize esse experimento em grupo para verificar como alguns materiais se comportam quando colocados em água ou
em outros líquidos. Se na escola não houver os materiais, cada aluno pode consegui-los em casa. Esse experimento pode
ser realizado em sala de aula.
Materiais
• suporte para tubos
• tubos de ensaio (podem ser substituídos por copinhos
descartáveis transparentes ou pequenos frascos de vidro
transparentes)
• 3 béqueres de 50 mL
• bastão de vidro
• isopor
• água
• açúcar refinado
• sal
• talco
• enxofre (pode ser encontrado em farmácias
de manipulação)
• sulfato de cobre penta-hidratado
[CuSO 4
· 5H 2
O] (pode ser comprado
como produto para tratamento de piscina)
• solvente para remover esmalte
• espátula pequena (ou tampa
de caneta com ponta
comprida)
35
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
Procedimento
Parte A
1. Coloque em um tubo de ensaio aproximadamente 5 mL de água.
2. Com a espátula, adicione ao tubo com água uma pequena quantidade de açúcar.
3. Agite e observe se dissolveu.
Hely Demutti
Quando adicionamos um sólido a um líquido
e ele se dissolve totalmente, dizemos
que esse sólido é solúvel no
líquido em questão. Observe que, dependendo
da quantidade de sólido adicionado,
parte deste ficará depositada no
fundo. Se apenas uma pequena quantidade
do sólido adicionado se dissolver,
dizemos que ele é pouco solúvel, se uma
grande quantidade do material se dissolver,
dizemos que ele é muito solúvel.
Hely Demutti
Quando adicionamos um
sólido a um líquido e ele
não se dissolve, dizemos
que esse sólido é insolúvel
no líquido em questão.
4. Reproduza a tabela a seguir no caderno e anote o resultado da dissolução na coluna do açúcar, linha da água. Se
todo o açúcar se dissolveu, registre como resultado: solúvel; se não se dissolveu, registre: pouco solúvel ou insolúvel.
Solvente
SOLUBILIDADE DE DIFERENTES SUBSTÂNCIAS
Soluto
Açúcar Sal Talco Enxofre Sulfato de cobre Isopor
Água z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z
Solvente para remover esmalte z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z z
5. Repita os procedimentos de 1 a 4 com os demais sólidos e anote na tabela.
6. Repita os procedimentos de 1 a 5, substituindo a água pelo solvente para remover esmalte e também
anote na tabela.
Parte B
1. Coloque em um béquer de 50 mL aproximadamente 20 mL de água gelada. Em outro béquer, coloque 20 mL de água
à temperatura ambiente. Em um terceiro béquer, coloque 20 mL de água em ebulição.
2. Adicione um pouco de sulfato de cobre, agite com o bastão de vidro. Observe e registre o resultado observado.
Guarde essas soluções para a atividade prática da página 168.
Destino dos resíduos
1. As soluções aquosas de açúcar, sal e talco podem ser descartadas no sistema de esgoto.
2. A solução de água e enxofre deve ser filtrada para o reaproveitamento do enxofre e o líquido pode ser descartado na pia.
3. A solução aquosa de sulfato de cobre, das partes A e B, deve ser acondicionada em embalagem compatível, limpa e
à prova de vazamento, para ser reutilizada em outras atividades práticas.
4. As soluções preparadas com solvente de removedor de esmalte, em pequenas quantidades e misturadas à água, podem
ser drenadas pela pia com um volume de água de lavagem dez vezes superior.
36
Análise de dados
O sólido dissolvido é chamado soluto. O líquido que o dissolve é o solvente. Os dois compõem um material chamado
solução. . A quantidade de soluto que uma quantidade de solvente pode dissolver é limitada. Se for adicionado soluto
além dessa capacidade, mesmo após agitação, parte do soluto deposita-se no fundo do recipiente e recebe a nação precipitado.
denomi-
No primeiro experimento da página 14, o material identificado como solução de hidróxido de sódio (NaOH) corresponde
ao hidróxido de sódio dissolvido em água. As soluções cujo solvente é a água são chamadas soluções aquosas.
Agora, com o auxílio da tabela da Parte A, responda às questões seguintes:
1. Quais solutos se dissolveram melhor em água?
2. Quais solutos se dissolveram menos em água?
3. Que solvente solubilizou melhor o isopor?
4. Em qual solvente você observou que o sulfato de cobre se dissolve melhor?
5. Na Parte B, a que temperatura o sulfato de cobre se dissolveu melhor?
6. Como você pode diferenciar as substâncias pelos dados da tabela anterior?
7. O que você pode concluir sobre a dissolução de um material em diferentes solventes?
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
A solubilidade é uma importante propriedade das substâncias. No experimento anterior,
foi possível observar que a solubilidade de um material é uma característica que de também do solvente. Assim, uma substância pode ser solúvel em um solvente e não
depensolúvel
em outro, ou seja, uma substância tem solubilidade diferente em cada solvente.
Enquanto o sal é solúvel em água, ele é praticamente insolúvel em acetona ou acetato de
etila (solvente usado para remover esmalte). Da mesma forma, um mesmo solvente dissolve
substâncias distintas de maneira diferente. Enquanto a água dissolve com facilidade
o sal, ela não dissolve o talco.
Normalmente, a solubilidade das substâncias é expressa em gramas por litros, mas
também pode ser expressa em gramas por 100 mL ou 100 g de solvente. A tabela a
seguir representa os valores de solubilidade a 20 °C de algumas substâncias em água e
álcool (etanol).
Quando preparamos uma limonada, observamos que o açúcar não se dissolve com facilidade
na água gelada. Observamos também que, ao preparar café, o açúcar se dissolve
melhor se a água estiver quente.
SOLUBILIDADE DE DIFERENTES SUBSTÂNCIAS
Solubilidade em 100 mL
Substâncias
Água Álcool
Açúcar 179 g insolúvel
Cloreto de sódio 35,9 g insolúvel
Bicarbonato de amônio (presente no sal amoníaco) 25 g insolúvel
Fenolftaleína 0,018 g 20,9 g
Iodo 0,029 g 20,5 g
Ácido ascórbico (presente no comprimido de vitamina C) 33,3 g ~3 g
37
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
J. Yuji
Analisando o gráfico abaixo, o que você pode concluir sobre a dissolução de uma substância em um mesmo solvente a ferentes temperaturas? Que substâncias apresentadas no gráfico diminuem a solubilidade com o aumento de di-
temperatura?
Solubilidade de diferentes substâncias em função da temperatura
130
120
110
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Pense
Coeficiente de solubilidade (g/100 g de H 2 O)
Brometo
de
potássio
Clorato
de
potássio
Sulfato
de
sódio
Oxalato
de
cálcio
10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Temperatura (°C)
A solubilidade de um material
em determinado solvente
depende da temperatura
em que o sistema se encontra.
O gráfico anterior apresenta
a variação de solubilidade de
algumas substâncias em gramas
por 100 g de água, a diferentes
valores de temperatura.
De modo geral, a solubilidade
das substâncias aumenta
com o aumento da temperatura.
Porém, há casos em
que isso não ocorre, como o
do sulfato de sódio: a partir
de determinada temperatura,
a solubilidade dele diminui
em vez de aumentar.
Solubilidade é a quantidade máxima de uma substância que se dissolve em
100 g de um solvente específico à determinada temperatura.
A quantidade de um material que conseguimos dissolver em determinada quantidade
de solvente específico é também uma propriedade que pode servir para diferenciá-lo de
outros materiais que nos rodeiam. Essa propriedade é chamada solubilidade.
A solubilidade é muito utilizada pelos químicos na separação das substâncias que constituem
os materiais. Um exemplo da utilização dessa propriedade no cotidiano é o processo
de preparação do café, em que a água dissolve uma série de substâncias presentes no
pó e que são solúveis a quente, conferindo sabor característico à bebida. Processo semelhante
é empregado na extração de substâncias contidas em plantas utilizadas em chás.
4 IDENTIFICAÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS
As propriedades que você determinou nos experimentos anteriores auxiliam na caracterização
de substâncias. Como você constatou, substâncias diferentes possuem
densidades, temperaturas de ebulição, temperaturas de fusão e solubilidades diferentes.
Sendo tais propriedades características das substâncias, elas foram denominadas propriedades
físicas específicas. Existem mais de trinta propriedades específicas, mas o químico utiliza
com mais frequência a densidade, as temperaturas de ebulição e de fusão e a solubilidade.
Propriedades químicas também são muito utilizadas para identificar substâncias.
Podemos diferenciar uma amostra de água de outra de álcool verificando qual delas se
queima. Podemos identificar os gases hidrogênio, oxigênio e dióxido de carbono pelo
38
comportamento diante do fogo: enquanto o hidrogênio explode, o oxigênio aviva uma
chama e o dióxido de carbono a apaga. A identificação de amido em alimentos pode ser
feita adicionando-se iodo: se houver amido, obtém-se um forte azul-escuro. Os ácidos
podem ser distinguidos pelo uso de diferentes indicadores ácido-base. Várias análises
clínicas e patológicas fornecem informações sobre o funcionamento do organismo por
meio de reações químicas características de certas substâncias nele presentes.
Se as substâncias são identificadas pelas propriedades específicas, isso significa que a
identificação de uma transformação química pode ser feita pela constatação da mudança
de propriedades de um sistema reacional. A constatação de mudanças de propriedades
do sistema indica que houve formação de nova(s) substância(s).
Em alguns materiais, as propriedades físicas são constantes; em outros, não. Enquanto a
temperatura de ebulição da água destilada é constante, no processo de ebulição da solução
de água e sal é possível notar variação nos valores. Essa diferença de comportamento se
deve à presença de outras substâncias que alteram o comportamento previsto para a substância.
Somente têm propriedades específicas definidas os materiais puros, ou seja, formados
por um mesmo tipo de constituinte. Esses materiais puros são denominados substâncias.
Os materiais em que as propriedades específicas variam não são puros, ou seja, são formados
por mais de um tipo de matéria. Esses materiais que não são puros são constituídos
por mais de uma substância e, por isso, são geralmente denominados materiais.
Veja na tabela a seguir as propriedades específicas de algumas substâncias.
Substância
PROPRIEDADES ESPECÍFICAS DE ALGUMAS SUBSTÂNCIAS
Fórmula química Densidade
Temperatura
de fusão
Temperatura
de ebulição
Acetato de metila C 3
H 6
O 2
0,93 g/cm 3 –98 °C 57 °C
Propanona (acetona) C 3
H 6
O 0,79 g/cm 3 –95 °C 57 °C
Metanol CH 4
O 0,79 g/cm 3 –98 °C 64,7 °C
Etanol C 2
H 6
O 0,79 g/cm 3 –117 °C 78,3 °C
Pense
O mineral pirita é
conhecido como “ouro
de tolo”, por seu brilho
amarelo característico.
Mas diferenciá-lo do
ouro não é difícil: a pirita
contém sulfeto de ferro,
que reage com ácido
clorídrico. Basta pingar
umas gotas do ácido e
observar se ocorre reação.
Analise os dados da tabela anterior e responda: as propriedades específicas das substâncias são iguais?
Justifique a resposta. Que propriedade específica pode ser utilizada para diferenciar as quatro substâncias?
Utilize os dados da tabela anterior e empregue as propriedades específicas das substâncias, diferenciando o metanol do etanol.
Hely Demutti
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
Como se pode constatar pela tabela anterior, a caracterização de uma substância não
pode ser feita por apenas uma propriedade específica. Ela depende da avaliação de um
conjunto de propriedades específicas.
Por meio de várias propriedades, o químico pode identificar, por exemplo, a presença de
substâncias poluentes. Análises químicas, feitas em amostras de adubos orgânicos produzidos
em usinas de compostagem de lixo, já detectaram até mesmo a presença elevada de metais pesados,
que são altamente tóxicos e podem contaminar o solo e os lençóis de água subterrâneos.
Portanto, ao utilizar os conhecimentos e as técnicas da Química, é possível identificar substâncias
que causam problemas ambientais. É com base nessa identificação que se estabelecem
leis como as do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Uma dessas leis institui que
baterias industriais constituídas de chumbo, cádmio e seus compostos, destinados a telecomunicações,
usinas elétricas, sistemas ininterruptos de fornecimento de energia, alarme, segurança,
movimentação de cargas ou pessoas, partida de motores diesel e uso geral industrial,
após seu esgotamento energético, deverão ser entregues pelo usuário ao fabricante ou ao
39
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÂNCIAS
importador ou ao distribuidor da bateria, as recolher e dar destino às pilhas depois de usadas.
Os legisladores puderam criar essa lei com base no momento em que os químicos identificaram
os efeitos ambientais provocados pela quantidade de metal pesado existente em tais baterias.
Além das baterias, diversos outros materiais contêm substâncias tóxicas e deveriam também
ter um destino adequado. Acompanhe a seguir.
MATERIAIS DOMÉSTICOS CUJO DESCARTE É POTENCIALMENTE PERIGOSO
Tipo
Produtos
Material para pintura • tinta • pigmentos • solventes • vernizes
Produtos para jardinagem e animais
• pesticidas • repelentes • inseticidas • herbicidas
Produtos para automóveis • baterias • fluidos de freio e transmissão • óleos lubrificantes
Outros itens • pilhas • frascos de aerossóis em geral • lâmpadas fluorescentes
Fonte: D’ALMEIDA, M. L. O. (Coord.) Lixo municipal: manual de gerenciamento integrado. 2. ed. São Paulo: IPT/Cempre, 2000.
Exercícios
Enfim, o estudo das propriedades dos materiais têm nos dado várias respostas sobre o
quanto temos de fazer para que o consumo de nossa sociedade não altere de forma drástica
as características de nosso planeta.
1. Sabe-se hoje que as distribuidoras de combustíveis misturam
à gasolina uma quantidade de aproximadamente
20% em volume de álcool para melhorar a qualidade
dela. Identifique nessa mistura o solvente e o soluto.
2. Em um medicamento encontramos a expressão: “própolis
em solução alcoólica”. O que ela significa?
3. A solubilidade identifica o soluto ou o solvente? Justifique
a resposta.
4. Para preparar o cafezinho, utilizamos água fervente.
Será que se usarmos água fria o café terá o mesmo
sabor? Justifique a resposta.
5. Por que é necessário especificar o valor da temperatura
na determinação da solubilidade?
6. Como podemos identificar dois líquidos diferentes usando
um sólido conhecido?
7. Sabendo que a solubilidade do cloreto de sódio a 20 °C
é de 36,0 g em 100 g de água, o que aconteceria se
adicionássemos 80 g desse sal a 200 g de água mantendo
a mesma temperatura?
8. O refrigerante é uma solução que tem como solvente a
água e um dos solutos é o gás carbônico (CO 2
). Comparando
o que acontece quando abrimos uma garrafa de
refrigerante à temperatura ambiente e quando abrimos
uma garrafa que estava na geladeira, explique como
varia a solubilidade desse gás em relação à temperatura.
9. (UnB-DF) Examine a tabela seguinte, com dados sobre a
solubilidade da sacarose (C 12
H 22
O 11
), do sulfato de sódio
(Na 2
SO 4
) e do clorato de potássio (KClO 3
) em água a
duas temperaturas diferentes e julgue os itens seguintes,
marcando C para os corretos e E para os errados.
SUBSTÂNCIA
FAÇA NO CADERNO. NÃO ESCREVA EM SEU LIVRO.
SOLUBILIDADE EM ÁGUA (g/L)
40 °C 60 °C
C 12
H 22
O 11
2 381 2 873
Na 2
SO 4
488 453
KClO 3
12 22
1) A solubilidade de uma substância em determinado
solvente independe da temperatura.
2) A dada temperatura, a quantidade-limite de um
soluto que se dissolve em determinado volume de
solvente é conhecida como solubilidade.
3) Nem todas as substâncias são mais solúveis a quente.
10. (Fuvest-SP) Quatro tubos contêm 20 mL (mililitros)
de água cada um. Coloca-se nesses tubos dicromato
de potássio (K 2
Cr 2
O 7
) nas seguintes quantidades:
Massa de Tubo A Tubo B Tubo C Tubo D
K 2
Cr 2
O 7
1,0 3,0 5,0 7,0
A solubilidade do sal, a 20 °C, é igual a 12,5 g por 100 mL
de água. Após agitação, em quais dos tubos coexistem,
nessa temperatura, solução saturada e fase sólida?
a) Em nenhum. d) Apenas em B, C e D.
b) Apenas em D. e) Em todos.
c) Apenas em C e D.
40
11. O que são propriedades específicas? Dê exemplos.
12. Em um laboratório, um estudante encontrou sobre a bancada
dois frascos contendo substâncias incolores, aparentemente
iguais. Como ele poderia identificar as substâncias?
Ele poderia utilizar as propriedades organolépticas?
13. Defina propriedades químicas e propriedades físicas.
14. Dê exemplos de substâncias ou materiais que você pode
identificar por meio de propriedades químicas (procure
outros exemplos, além dos apresentados no texto).
Indique as propriedades utilizadas para cada exemplo.
15. Dê um conceito para substância.
16. Redija um parágrafo para justificar ou não o descarte
de baterias de celular no lixo doméstico.
17. (Mack-SP) Certas propagandas recomendam determinados
produtos, destacando que são saudáveis por serem
naturais, isentos de QUÍMICA. Um aluno atento percebe
que essa afirmação é:
a) verdadeira, pois o produto é dito natural porque
não é formado por substâncias.
b) falsa, pois as substâncias são sempre benéficas.
c) verdadeira, pois a Química só estuda materiais
artificiais.
d) enganosa, pois confunde o leitor, levando-o a crer
que “química” significa não saudável, artificial.
e) verdadeira, somente se o produto oferecido não
contiver água.
18. (Fuvest-SP) Quais das propriedades abaixo são as mais
indicadas para verificar se é pura certa amostra sólida
de uma substância conhecida?
a) Cor e densidade. c) Temperatura e densidade.
b) Cor e dureza. d) Cor e temperatura de fusão.
CAPÍTULO
1
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3
4
5
6
7
8
Transformações químicas
b A Química é uma ciência que estuda as substâncias e as transformações. Desse modo, essa ciência pode colaborar
com a proteção do ambiente e para a melhoria da qualidade de vida.
b As transformações químicas, ou reações químicas, são processos em que há formação de novas substâncias, evidenciada
por mudanças de cor, odor, textura ou temperatura, pela formação de um precipitado ou de um gás.
b Nas reações químicas, as substâncias iniciais são denominadas reagentes e as substâncias finais, denominadas produtos.
b São consideradas transformações físicas os processos nos quais não há formação de novas substâncias.
Química, tecnologia e sociedade
b A Química começou a se desenvolver fundamentada nas técnicas primitivas de domínio do fogo. É possível
considerar que a tecnologia nasceu quando o ser humano descobriu que podia fazer ferramentas com base em
diferentes materiais.
b A Ciência, a tecnologia e a sociedade têm caminhado na busca de soluções de grandes problemas, mas as transformações
geradas também têm provocado consequências ao equilíbrio no planeta.
Propriedades das substâncias
b Propriedades físicas são aquelas propriedades das substâncias ou materiais que podem ser medidas sem alterar a
identidade de seu constituinte.
b Propriedades químicas são propriedades das substâncias ou materiais relacionadas com a interação com outras
substâncias e que mudam a identidade de seus constituintes.
b Densidade é uma grandeza que expressa a relação entre massa e volume de dado material.
b Temperatura de fusão é a temperatura na qual a substância muda de estado de sólido para líquido, ou vice-versa.
b Temperatura de ebulição é a temperatura na qual a substância muda de estado líquido para gás, ou vice-versa.
b Solubilidade é a quantidade de um soluto que pode ser dissolvida em um solvente e depende de suas características,
do solvente e da temperatura do sistema.
b As substâncias podem ser identificadas por propriedades específicas, tais como temperatura de fusão e ebulição,
que são bem definidas.
b Os materiais não apresentam propriedades específicas bem definidas.
41
Capítulo 2
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÊNCIAS
Tema em foco
MATERIAIS E PROCESSOS
DE SEPARAÇÃO
Como isolamos substâncias contidas em materiais?
Como reutilizar e reciclar materiais?
REUTILIZAR E RECICLAR:
RETORNANDO O MATERIAL AO CICLO ÚTIL
Quando o problema é o lixo, uma questão é ponto-chave! O tempo necessário para que os materiais se decomponham
quando são descartados no ambiente. De modo geral, analisando a composição química dos resíduos do
lixo da nossa sociedade, esse tempo é relativamente demasiado. Então, o que fazer?
O MATERIAL E O TEMPO GASTO PARA A DECOMPOSIÇÃO
3 a 6 meses de 6 meses a um ano mais de 5 anos mais de 13 anos mais de 20 anos
Jesus Keller/Shutterstock
Luckyraccoon/Shutterstock
Quang Ho/Shutterstock
Berents/Shuttertsock
Gena96/Shutterstock
Daffodilred/Shutterstock
Givaga/Shutterstock
Jesadaphorn/Shutterstock
PzAxe/Shutterstock
mais de 100 anos mais de 200 anos mais de 400 anos mais de 1 000 anos indeterminado
9comeback/Shutterstock
Fonte: Consumo sustentável : manual de Educação. Brasília: Consumers International/MMA/MEC, 2005.
Tempo de vida médio do brasileiro é de aproximadamente 73 anos (IBGE, 2009).
42
O lixo da sociedade atual é cheio de materiais cuja decomposição é muito lenta. Resta, então, encontrar alternativas
que minimizem esse efeito e as consequências para o ambiente.
Um caminho para a solução desse problema é apontado pelo Princípio dos Três Erres (3 Rs) – Reduzir, Reutilizar
e Reciclar.
ALTERNATIVA PARA O LIXO = 3 Rs
REDUZIR AO
MÁXIMO A
PRODUÇÃO DE
LIXO
REUTILIZAR
TUDO QUE
FOR POSSÍVEL
AMj Studio
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
FACILITAR
A RECICLAGEM
8
Esses princípios são alicerçados em um novo conceito sobre o que vem a ser lixo. Em geral, entende-se por lixo
restos de tudo aquilo que fazemos, no dia a dia, e que consideramos inútil, indesejável ou descartável. Ocorre que
boa parte do lixo, na verdade, não é lixo, pois muitos materiais que estão no lixo são materiais que ainda poderiam
ser utilizados ou reciclados e estão, ali, no local inadequado.
Assim, um dos objetivos do gerenciamento dos refugos urbanos é a REUTILIZAÇÃO de alguns produtos descartáveis.
Frascos de vidro que foram usados para acondicionar produtos alimentícios podem ser reaproveitados na própria
cozinha, ou servir de potes para guardar miudezas. Um sapato furado, uma roupa que ficou larga ou o rádio que
quebrou também não precisariam ser descartados: toda cidade tem pessoas especializadas
no reparo desses objetos. Pneus velhos de carros podem ser reutilizados de várias formas:
recauchutados, ganham nova vida útil; recortados, podem virar sola de sapatos e outros
artefatos; triturados, podem ser utilizados para fabricar tapetes ou misturados ao asfalto
para pavimentação de estradas.
É claro que o reaproveitamento nem sempre é viável. Existem materiais que, se reaproveitados,
podem oferecer riscos à saúde. Frascos de produtos de limpeza ou de agrotóxi-
cos, por exemplo, devem ser descartados. Basta usar o bom senso e seguir a orientação
do fabricante, assim temos que nos preocupar se a reutilização do material é devidamente
higiênica e respeitar as características dos materiais.
Outra opção para a diminuição do refugo urbano é RECICLAR. O material
pode ser aproveitado como matéria-prima na produção de novos bens. Com
isso, economizam-se energia e matéria-prima original. A reciclagem consiste
na recuperação de materiais, modificando-os em suas propriedades físicas
e químicas em processos de obtenção de novos materiais. Muitos
desses processos são conduzidos por meio da fusão dos materiais
com posterior solidificação em um processo de moldagem para
obtenção de novos objetos, como na reciclagem de metais,
plásticos e vidros. Nesses processos, são adicionados outros
materiais para conferir novas propriedades aos novos materiais
que se deseja. Outros processos são caracterizados
pelo desenvolvimento de reações químicas, como a reciclagem
de papéis.
O uso de canecas é uma
prática ambientalmente
correta, pois evita o consumo
desnecessário de
copos descartáveis.
Hely Demutti
43
O quadro a seguir apresenta informações básicas para a compreensão da importância da reciclagem.
INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE MATERIAIS QUE PODEM SER RECICLADOS
Material
Matéria-
-prima
Processos de produção
Processos de
reciclagem
Vantagens da reciclagem
MATERIAIS E PROCESSOS DE SEPARAÇÃO
Papel
Plástico
Madeira
(80% do
papel do
Brasil é
produzido
a partir da
madeira).
Petróleo ou
gás natural,
ou carvão
mineral.
Cultivo da madeira
(eucalipto e pínus).
Tratamento por processos
químicos e mecânicos
para a obtenção da pasta
de celulose.
Fabricação de papel.
Extração do petróleo.
Refinação do petróleo,
obtendo a nafta por
destilação fracionada.
Craqueamento da
nafta, que consiste
na decomposição em
substâncias menores.
Transformação de
substâncias por meio da
polimerização.
Moldagem.
Catação.
Moagem
(pasta de
celulose).
Fabricação
do papel.
Catação de
plásticos no
lixo.
Fusão do
plástico.
Filtragem das
impurezas.
Modelagem.
Redução de lixo (o papel demora no mínimo três
meses para se biodegradar; jornais e revistas ficam
intactos por décadas).
Economia de recursos naturais, como matéria-prima,
energia, água (reciclar uma tonelada de papel poupa
22 árvores, consome 71% menos de energia elétrica
e polui o ar 74% menos do que fabricá-lo).
Redução do volume de lixo (o saco plástico demora
quarenta anos para desaparecer, e as garrafas de
plástico, cem anos).
Economia de energia (1 kg de plástico equivale a 1 L
de petróleo em energia).
Economia de petróleo (uma tonelada reciclada
economiza 130 kg de petróleo).
Menor preço dos artefatos produzidos.
Melhoria no processo de decomposição da matéria
orgânica nos aterros sanitários.
Obtenção de outros produtos, como calça jeans,
carpetes, mangueiras, cordas, sacos e para-choques.
Vidro
Areia.
Barrilha.
Óxido de
sódio.
Calcário.
Feldspato.
Extração da areia.
Mistura das demais
matérias-primas.
Fusão.
Conformação ou
moldura.
Recozimento.
Acabamento.
Coleta
seletiva.
Limpeza.
Prensamento
e enfardamento.
Fusão.
Recozimento.
Acabamento.
Diminui o volume de lixo nos aterros (uma garrafa
de vidro leva 5 mil anos para decompor).
Aproveitamento de 100% do material.
Para cada tonelada de vidro reciclado, gastam-se
70% menos do que na fabricação.
Diminui o processo de extração de areia em
rios, o qual devasta matas, provoca erosões e
assoreamento de rios.
Para cada tonelada de vidro reciclado, economiza-se
1,2 tonelada de matéria-prima.
Metal
Minérios
que contêm
o metal
combinado
com outros
elementos
químicos.
Carvão.
Extração do minério.
Britagem, moagem e
classificação.
Transformação do
minério para o estado
metálico, reagindo com
carvão em altos-fornos.
Fusão do metal.
Conformação do metal.
Seleção de
sucatas no
lixo.
Fusão.
Conformação.
Economia de energia gasta na redução de minérios
(no caso do alumínio, o consumo de energia é vinte
vezes menor e, no caso do ferro, 3,7 – para uma
lata de refrigerante reciclada, a economia de energia
equivale a uma televisão ligada por três horas).
Economia na extração, transporte e instalação de
siderúrgicas.
44
PERCENTUAL DO MATERIAL QUE É RECICLADO
Material Matéria-prima Material
Matéria-prima
CAPÍTULO
resíduos orgânicos
domésticos
1,5%
embalagens de vidro
45%
Fotos: Hely Demutti
1
2
3
4
plástico
20%
resina plástica PET
(polietilenotereftálico)
47%
5
6
7
8
óleo lubrificante
22%
papelão ondulado
77% (volume total)
papel
37%
latas de alumínio
92,2%
Fonte: . Dados de 2005.
Apenas 11% dos resíduos urbanos são reciclados no Brasil.
Um bom e conhecido exemplo de reciclagem é o do alumínio. O impacto ambiental de sua reciclagem equivale
a 10% do impacto causado pela produção com base no minério, matéria-prima original. Por isso, seu sucesso. No
processo de extração do alumínio do minério, consome-se grande quantidade de energia para se obter um nível de
pureza desejado. Medem-se, assim, os benefícios da reciclagem, considerando os diferentes impactos ambientais
que vão da produção até a reciclagem.
A reciclagem resulta de inúmeras atividades, como coleta, separação e processamento. Os materiais que antes
achávamos descartáveis podem tornar-se matéria-prima na manufatura de bens, evitando a utilização de matéria
virgem. Mas antes se deve analisar se a recuperação do resíduo é viável técnica e economicamente. Por exemplo, na
atualidade existem poucas empresas especializadas na reciclagem de isopor; por isso, esse material acaba virando
lixo. O fato de o material ser potencialmente reciclável não quer dizer que a reciclagem vai ocorrer. Nesse sentido,
um ponto fundamental é evitar o consumo de materiais que tenham pouca possibilidade de ser reciclado. Abolir o
uso de isopor em trabalhos escolares é uma importante medida ambiental, a menos que seja para reutilizar isopor
de embalagens.
Devemos ainda tomar cuidado em campanhas de materiais recicláveis que induzem ao consumo de materiais
“sem o sentimento de culpa”. Lembre-se: mesmo o processo de reciclagem consome energia e quanto maior
for o consumo do material, maior será a quantidade de matéria-prima a ser consumida. Esse é o problema de
campanhas de coleta de garrafas PET e de latas de refrigerante: o resultado sempre contribui para o aumento
desnecessário do consumo. Ao participar dessas campanhas ou de oficinas de material de sucata, lembre-se de
que o foco deve ser a coleta de materiais que já foram descartados. Comprar materiais para reaproveitar as embalagens
não é uma medida ambientalmente sustentável.
45
Destino dos resíduos não reutilizáveis ou recicláveis
MATERIAIS E PROCESSOS DE SEPARAÇÃO
Todo material que não puder ser reutilizado nem reciclado deverá ter um destino adequado. No presente capítulo,
vamos tratar do que fazer com os resíduos sólidos da atividade humana, que são chamados lixo. Como já
vimos, antes de tudo devemos pensar em formas de reduzir a produção dos resíduos, depois do reaproveitamento
ou da reciclagem. O destino dos resíduos que sobram vai depender muito da natureza dos materiais, por isso
o lixo recebe classificações que são muito úteis em termos de planejamento de disposição final. Veja a classificação
na tabela a seguir.
CLASSIFICAÇÃO DO LIXO
Critério Classificação Características/observações
Exemplos
Natureza
física
Seco
Úmido
Material seco: se separado adequadamente,
poderá ser isolado com facilidade para
reciclagem.
Material úmido: o contato direto com o
lixo seco leva muitos dos materiais a não
serem reaproveitados.
Papéis, plásticos, metais, couros tratados, tecidos,
vidros, madeiras, cerâmicas, guardanapos e
toalhas de papel, pontas de cigarro, isopor,
lâmpadas, parafina, porcelana, espumas, cortiças.
Pó de café, chá, cabelos, sobras de alimentos,
cascas e bagaços de frutas, verduras, ovos e
legumes, alimentos deteriorados, ossos, podas de
jardim.
Origem
em
Orgânico Materiais originados de organismos vivos. Restos de comida, cascas e bagaços de frutas,
verduras, ovos e legumes, alimentos estragados.
relação
a seres
Inorgânico Materiais de produtos manufaturados. Plásticos, vidros, borrachas, tecidos, metais,
vivos
alumínio, isopor, lâmpadas, velas, parafina,
cerâmicas, porcelana, espumas, cimento.
Origem
em
relação à
atividade
humana
Domiciliar
Comercial
Originado da vida diária das residências,
podendo conter alguns resíduos tóxicos.
Originado dos diversos estabelecimentos
comerciais e de serviços, como
supermercados, estabelecimentos
bancários, lojas, bares, restaurantes etc.
Produtos deteriorados, jornais, revistas, garrafas,
embalagens em geral, papel higiênico, fraldas
descartáveis, sobras de alimentos, pilhas.
Papéis, plásticos, embalagens diversas e resíduos
de asseio dos funcionários e usuários, tais como
toalhas de papel, guardanapos, papel higiênico.
Setor público
e de serviços
de saúde
Hospitalar
Portos,
aeroportos,
terminais
rodoviários e
ferroviários
Originado dos serviços de limpeza urbana,
incluindo todos os resíduos de varrição
das vias públicas, limpeza de praias,
galerias, córregos, sobras de podas de
plantas, limpeza de feiras livres etc.
Descartado por hospitais, farmácias, clínicas
veterinárias: merece cuidado especial
no acondicionamento, manipulação e
disposição final, devendo ser incinerado e os
resíduos levados para aterro sanitário.
Constituem resíduos sépticos, ou seja,
que contêm ou potencialmente podem
conter germes patogênicos.
Restos de vegetais diversos, embalagens.
Algodão, seringas, agulhas, restos de remédios,
luvas, curativos, sangue coagulado, meios de
cultura e animais utilizados em testes, resina
sintética, filmes fotográficos de raios X.
Basicamente originam-se de material de higiene
pessoal e restos de alimentos, que podem
hospedar doenças de outras cidades, estados
e países.
46
CLASSIFICAÇÃO DO LIXO
Critério Classificação Características/observações
Exemplos
Origem
em
relação à
atividade
humana
Industrial
Originado das atividades industriais:
nessa categoria inclui-se grande
quantidade de lixo tóxico que necessita de
tratamento especial, dado o potencial de
contaminação.
Cinzas, lodos, óleos, resíduos alcalinos ou ácidos,
plásticos, papéis, madeiras, fibras, borrachas,
metais, escórias, vidros, cerâmicas.
CAPÍTULO
1
2
3
Radioativo
Resíduos provenientes da atividade nuclear,
os quais permanecem em atividade por
milhares de anos: têm tratamento e
disposição final bastante específica.
Resíduos de atividades com urânio, césio, tório,
radônio, cobalto.
4
5
6
Espacial Lixo cósmico. Pedaços de satélites, foguetes, tanques de
combustível, parafusos, ferramentas, luvas
perdidas por astronautas.
7
8
Agrícola
Entulho
Resíduos sólidos das atividades agrícolas
e pecuárias (as embalagens dos
agroquímicos são lixo tóxico e têm de ser
tratadas adequadamente).
O entulho é geralmente um material
inerte, passível de reaproveitamento.
Embalagens de adubos, defensivos agrícolas,
ração, restos de colheita.
Resíduos da construção civil: demolições e restos
de obras, solos de escavações.
Fonte: . Acesso em: 26 jan. 2001. (Adaptado)
No lixo domiciliar, por exemplo, encontramos diversos materiais que podem ser reciclados. O lixo industrial precisa
passar por processos especiais de tratamento para isolar os agentes poluentes. Já o lixo radioativo, perigosíssimo, tem
de ser armazenado em locais muito bem isolados e protegidos.
O lixo orgânico se refere a restos de animais e vegetais, principalmente sobras de alimentos. Esses materiais se decompõem
em curto prazo e, por isso, podem ser transformados em algum tipo de adubo. Essa classificação de “orgânico”
não coincide com a utilizada na Química. Em Química, Orgânica é a área que estuda as substâncias de carbono;
e Inorgânica, a área que estuda as substâncias dos demais elementos químicos. Durante o estudo da Química, em
outros capítulos, vamos discutir com mais propriedade essa diferenciação de Química Orgânica e Química Inorgânica.
Os materiais do lixo seco apresentam grande potencial para reaproveitamento ou reciclagem, mas podem
ser prejudicados quando em contato com o lixo úmido. Em geral, o lixo úmido tem origem em seres vivos (lixo
orgânico). Por isso, recipientes de plásticos e
latas devem ser secos antes de colocados no
lixo. Conclusão – regra básica para separação
do lixo domiciliar: nunca misture lixo úmido
com lixo seco.
Os diferentes tipos de lixo têm propriedades
físicas e químicas diferentes. O conhecimento
das propriedades permite o desenvolvimento de
tecnologias adequadas para tratamento. Esse
estudo implica a necessidade do conhecimento
da composição dos materiais.
Alexandre Tokitaka/Pulsar Imagens
A classificação do lixo visa separar diferentes tipos
de resíduos para que cada um deles tenha tratamento
adequado à sua natureza.
47
MATERIAIS E PROCESSOS DE SEPARAÇÃO
Atitude sustentável
Destino de resíduos sólidos domésticos
b Separe o lixo seco, como papéis, papelões, vidros, metais e plásticos, e entregue-os a um catador ou aos postos de coleta seletiva.
b Nunca coloque lixo úmido junto a lixo seco destinado à coleta seletiva.
b Preste atenção na separação do lixo seco nos coletores de coleta seletiva; muitos plásticos de embalagens, às vezes, são confundidos
com papel, por exemplo, os chamados “papel de bala” que são de plástico, assim como há garrafas plásticas que
se confundem com vidro.
b Materiais de madeira, de tecido e de isopor, em geral, devem ser reaproveitados e só são destinados à coleta seletiva quando
envolvidos no processo de empresas especializadas no reaproveitamento ou reciclagem desses materiais.
A rota do lixo
Osvaldo Sequetin
1. Consumimos e geramos lixo…
2. separamos…
3. coletamos…
4. reciclamos…
5. os produtos
reciclados voltam
ao mercado…
6. o que
não é reciclado vai para
o aterro sanitário.
Fonte: www.cempre.org.br
b Plásticos aluminizados, espelhos e vidros planos, lâmpadas incandescentes, esponjas de aço, espumas, cerâmicas e canos
são materiais de difícil reciclagem pelo elevado custo operacional, ou seja, pela inexistência de empresas recicladoras.
b Papel higiênico, guardanapos, lenços de papel e fraldas descartáveis sujos não são recicláveis. Devem ir para o lixo orgânico.
b Pilhas de uso comum que receberam o selo de descarte e as do tipo botão usadas em relógios, calculadoras e brinquedos
ainda podem ser descartadas em lixos domésticos, segundo resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
b Baterias de celulares, automóveis e industriais devem ser devolvidas à rede de assistência técnica autorizada e indicada pelas indústrias.
b Disquetes e CDs devem ser separados como lixo seco para reciclar como plástico normal.
b Cartuchos de impressoras – tente sempre a recarga, caso não seja mais possível, separar como lixo seco para reciclar como plástico.
b Roupas, brinquedos, materiais escolares e utensílios domésticos ainda em condições de reaproveitamento devem ser destinados
a instituições sociais que os encaminhem adequadamente para comunidades assistidas.
48
Debata e entenda
FAÇA NO CADERNO. NÃO ESCREVA EM SEU LIVRO.
1. Tudo o que se joga fora pode ser considerado lixo? Justifique a resposta.
2. Identifique alguns dos problemas ambientais e de saúde causados pelo acondicionamento inadequado do lixo.
3. Procure o serviço de limpeza urbana de sua cidade e tente descobrir quanto lixo, em média, cada habitante produz
por dia. Compare os dados obtidos com os dados apresentados na tabela abaixo e indique os fatores que
podem contribuir para a diferença entre a produção diária per capita
de diferentes municípios.
Quantidade diária de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) em algumas capitais do Brasil
Capitais Área (km 2 ) Quantidade diária RSU (t/dia) População Quantidade per capita
(g/dia)
Palmas (TO) 2 465 240,0 228 543 1 050
Rio Branco (AC) 9 877 379,5 314 390 950
Aracaju (SE) 181 592,0 579 563 1 021
João Pessoa (PB) 210 786,5 730 393 1 077
Maceió (AL) 511 1023,7 942 478 1 086
Salvador (BA) 325 3679,5 2 692 869 1 366
Brasília (DF) 5 802 4031,0 2 522 692 1 599
Cuiabá (MT) 3 971 570,0 545 857 1 044
Belo Horizonte (MG) 331 2990,8 2 385 639 1 254
Rio de Janeiro (RJ) 1 261 8263,0 6 355 949 1 300
São Paulo (SP) 1 525 14261,3 11 196 263 1 274
Vitória (ES) 89 342,0 330 526 1 035
Curitiba (PR) 430 2175,4 1 764 540 1 233
Porto Alegre (RS) 496 1635,5 1 413 094 1 157
Fonte: ABREPEL, 2011 e IBGE, 2011.
4. Analise atentamente, na tabela abaixo, os dados sobre a evolução histórica da caracterização dos resíduos no
município de São Paulo.
Variação na composição dos resíduos sólidos em São Paulo (%)
Tipos de material 1927 1957 1969 1976 1991 1996 1998 2000 2003
Matéria orgânica 82,5 76 52,2 62,7 60,6 55,7 49,5 48,2 57,88
Papel, papelão, jornal 13,4 16,7 29,2 21,4 13,9 16,6 18,8 16,4 10,45
PET, isopor, plástico
mole e duro
— — 1,9 5 11,5 14,3 22,9 16,8 17,04
Trapos e panos 1,5 2,7 3,8 2,9 4,4 5,7 3 3,9
Vidro 0,9 1,4 2,6 1,7 1,7 2,3 1,5 1,3 1,61
Metais e latas 1,7 2,2 7,8 4 3,5 2,8 2,9 3,3 2,15
Fonte: Dados de resíduos LIMPURB, 2006. Dimensões de Gênero no Manejo de Resíduos Domésticos em Áreas Urbanas e Peri Urbanas.
Responda:
a) Quais foram as mudanças que você observou em relação aos materiais jogados no lixo durante o período de
1927 a 2003 citado na tabela? Como você justificaria as mudanças?
b) Que mudanças ocorreram no século passado em relação às embalagens dos produtos de consumo?
5. Relacione as embalagens que não devem ser reaproveitadas e justifique o motivo da restrição. (Cuidado!
A reutilização indiscriminada de garrafas, potes e outros vasilhames constitui risco potencial à saúde.)
6. Cite as principais contribuições ambientais da reciclagem.
7. Seguindo a recomendação dos 3Rs, como você avalia o comportamento de pessoas que compram refrigerantes em
lata para recolhê-las para reciclagem a fim de receber prêmios de campanhas promovidas pelas fábricas produtoras?
8. O lixo de portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários podem ser reciclados? Como esse processo
deveria ser feito?
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
49
MATERIAIS E PROCESSOS DE SEPARAÇÃO
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÊNCIAS
Hely Demutti
Hely Demutti
A composição química
do café inclui, além da
cafeína, outras substâncias:
as lactonas, que agem sobre
o sistema nervoso central e
são tão estimulantes quanto
a cafeína; a celulose, que
estimula os intestinos; os
minerais, importantes para
o metabolismo; os açúcares
e o tanino, que acentuam
o sabor; e os lipídios, que
caracterizam o aroma.
Os reagentes usados pelos
químicos em laboratório
apresentam um grau
de pureza muito elevado;
no entanto, nem esses
são 100% puros.
1 MATERIAIS E SUBSTÂNCIAS
R eduzir o consumo de materiais tem sido o foco desta unidade. Do ponto de vista
da Química, o que vem a ser um material?
Pense
Qual é a diferença entre material e substância?
Os materiais e as substâncias são objetos de estudo da Química. Para um estudo mais
eficiente, é fundamental que tenhamos bem claro esses e outros conceitos. Para a Química,
material é qualquer porção de matéria. De modo geral, podemos dizer que os materiais
são misturas de substâncias. Por exemplo, o solo é formado pela combinação de minerais,
óxido de ferro (FeO), silicatos (SiO 2
), água (H 2
O) etc.; o ar é formado pela mistura de gases
nitrogênio (N 2 ), oxigênio (O 2 ), hidrogênio (H 2
) etc.; e o leite é uma mistura de substâncias:
água (H 2 O), ácido láctico (C 3 O 3 H 6
), cloreto de sódio (NaCl) etc. Na natureza, poucas são
as substâncias encontradas dissociadas de outras. O ouro (Au), dissociado do diamante e
do grafite, que são formas do carbono (C), são exemplos raros dessas situações.
Do ponto de vista operacional da Química, podemos definir
material como porção
da matéria que contém mais de uma substância. Em geral, a matéria se apresenta como
material, e não como substância.
Normalmente, as substâncias podem ser extraídas de minérios. O ferro é obtido a partir
da hematita e o cobre, da cuprita. Esse processo consiste em purificar o material, ou seja,
reduzi-lo a uma substância. Para os químicos, puro significa que contém uma só substância.
A pureza é um conceito relativo. A água da bela cachoeira pode ser pura o suficiente
para tomar banho e lavar roupa, mas talvez não seja potável para consumo humano, como
a água de uma mina. Por sua vez, a água mineral, que é ótima para consumo humano, não
serve para ser colocada em uma bateria de chumbo, usada em automóveis, por conter substâncias
que diminuem a sua vida útil. Para tal finalidade, é utilizada água destilada. Essa água
destilada poderá, no entanto, não ser suficientemente pura para determinadas aplicações
químicas. Pode ser necessário o uso de água bidestilada. Esta, por sua vez, ainda conterá,
em menores quantidades, outras espécies químicas que não a própria água.
Como se pode notar, o conceito de substância é um conceito ideal. É possível obter
graus de pureza maiores do que 99,99%, mas nunca teremos 100% de pureza.
Na linguagem cotidiana, empregamos o termo “puro” para indicar que o material não
foi adulterado, ou seja, não foi falsificado, é de boa qualidade, ou não está contaminado.
Geralmente, essa denominação é usada também para indicar que o material é de origem
natural e não passou por adição de outras substâncias ou materiais.
Dessa maneira, o grau de pureza para classificação de um material como puro é relativo.
Assim, por exemplo, o álcool 95° (95 mL de álcool e 5 mL de água) é considerado puro
para determinados fins farmacêuticos. Para o químico, é uma mistura de água e álcool.
Empregamos o termo substância quando o material tem um grau de pureza adequado
aos parâmetros experimentais a que se destina.
É muito difícil encontrarmos substâncias isoladas na natureza. A purificação dos materiais
é frequentemente realizada em laboratórios. Assim, como vimos, os materiais encontrados
na natureza ou nos produtos que consumimos são, em geral, misturas de substâncias.
No presente capítulo, veremos mais adiante como podemos isolar as substâncias
existentes nos materiais.
50
Hely Demutti
Hely Demutti
Hely Demutti
Hely Demutti
CAPÍTULO
1
2
3
mel puro
açúcar puro café descafeinado
banha pura
Muitos desses materiais são identificados nos rótulos como “puros”. Mas, apesar de puros quanto à origem, são misturas de várias substâncias.
Classificação dos materiais
Pense
Analise os materiais apresentados nas fotos abaixo e procure classificá-los em dois grupos, usando critérios de aparência.
4
5
6
7
8
Fotos: Hely Demutti
água e óleo sal e açúcar água e álcool
água e areia
Os químicos classificam os materiais quanto ao aspecto em duas grandes categorias: materiais
homogêneos e materiais heterogêneos. Os materiais homogêneos apresentam aspecto
uniforme em toda a extensão, ou seja, de ponto a ponto. Os materiais heterogêneos
apresentam mais de um aspecto na extensão, ou seja, são multiformes de ponto a ponto.
Material homogêneo: é um tipo de material cujo aspecto é uniforme de ponto
a ponto.
Material heterogêneo: é um tipo de material cujo aspecto é multiforme de
ponto a ponto.
Quando temos um material heterogêneo, cada região do material que apresenta os
mesmos aspectos é denominada fase. Os materiais homogêneos têm apenas uma fase,
por isso, são também chamados monofásicos.
Muitos materiais homogêneos podem se tornar heterogêneos, dependendo da
variação da quantidade de um dos seus componentes. Por exemplo, se adicionarmos
uma quantidade de sal superior à sua solubilidade em água em determinada temperatura,
ou seja, superior à quantidade que a água pode dissolver àquela temperatura, este vai se
depositar no fundo do recipiente, e teremos aí um material heterogêneo. Vemos, assim,
que misturas de muitas substâncias podem ser homogêneas ou heterogêneas, dependendo
das quantidades presentes no material.
51
MATERIAIS E PROCESSOS DE SEPARAÇÃO
Hely Demutti
Óleo e água. Tipo de material
heterogêneo com
duas fases.
Hely Demutti
Existem, porém, substâncias que, se misturadas a outras em quaisquer proporções,
formam sempre um sistema homogêneo. Então, podemos concluir que temos,
propriamente dito, uma mistura, pois a dispersão das substâncias umas nas outras
independe de quantidades. Dessa forma, os químicos denominam misturas apenas os
materiais homogêneos que assim o são independentemente das proporções das substâncias
presentes. Portanto, são denominados misturas os materiais como o ar e a água com
álcool, nos quais, independentemente das proporções, sempre se obtém uma única fase.
Os materiais que somente são homogêneos até determinada proporção de substâncias são
denominados soluções. Assim, quando há limite para proporção entre as substâncias, a partir
do qual há separação de fases, temos as soluções, como no caso do sal dissolvido em água.
Mistura: material que se apresenta na
forma homogênea independentemente da
proporção em que estão as substâncias nele
contidas.
Muitos materiais são homogêneos
em uma faixa
de proporção entre as substâncias
que os constituem.
Esses materiais são denominados
soluções. Nas
soluções, um material em
menor quantidade, o soluto,
está dissolvido em outro
em maior quantidade, o
solvente. Para os químicos,
o preparado de leite em pó
não é uma mistura, pois
ele só é homogêneo em determinada
quantidade de
leite adicionado em água.
Se a proporção não for adequada,
o que teremos é um
material heterogêneo.
Solução: material que se apresenta
na forma homogênea somente dentro do
limite de proporção entre as substâncias
nele contidas.
A uniformidade de aspecto de um material depende do instrumento de observação utilizado.
O que parece homogêneo a olho nu pode não o ser quando observado com uma lupa
ou com um microscópio. Nesse sentido, os químicos classificam os materiais heterogêneos
em coloide e agregado. O coloide é um tipo de material cujo aspecto multiforme somente
é constatado com instrumentos ópticos de alta resolução, ou seja, por instrumentos que
conseguem distinguir dois pontos diferentes, ainda que estejam bem próximos. O agregado
é um material cujo aspecto multiforme é percebido a olho nu ou com instrumentos ópticos
de baixa resolução. Já os materiais cujo aspecto é uniforme, mesmo quando utilizados instrumentos
ópticos de alta resolução, são classificados como homogêneos.
Percebe-se, assim, que a identificação de agregado é muito fácil. Já a diferenciação
entre coloi de e material homogêneo depende da utilização de instrumentos ópticos.
Como são poucos os materiais coloidais, trataremos os materiais em geral com aspecto
uniforme como homogêneos.
Agregado é um tipo de material heterogêneo
cuja multiformidade é constatada por meio de
instrumentos de baixa resolução.
Coloide é um tipo de material heterogêneo cuja
multiformidade é constatada apenas por meio de
instrumentos de alta resolução.
Hely Demutti
Os agregados são materiais heterogêneos
facilmente identificados a olho nu. No copo ao
lado temos um material heterogêneo, constituído
por várias fases cuja multiformidade pode
ser percebida a olho nu: material argiloso
(terra) depositado ao fundo, fragmentos de
rocha (pedras), material argiloso em suspensão
na água (terra) e fragmentos de vegetais
flutuando na superfície.
Os coloides como a gelatina
apresentam aspecto uniforme
a olho nu, mas com instrumentos
ópticos de maior resolução
se apresentam com mais
de uma fase.
Hely Demutti
52
Esse sistema de classificação dos materiais é operacional, ou seja, depende do observador
e do instrumento utilizado para observação. Não há uma regra geral que permita
definir se dois materiais, quando misturados, vão formar um agregado ou um sistema coloidal.
Esse tipo de imprevisibilidade é que dá à Química seu caráter experimental.
As substâncias geralmente se apresentam em sistemas monofásicos, mas também podem
se apresentar em sistemas heterogêneos. Isso acontece quando, por exemplo, temos
um copo com água destilada nos estados líquido e sólido. Veja, então: não temos como
diferenciar substância de materiais pelas aparências, pois os sistemas homogêneos podem
ser uma substância ou um material. E ainda é possível ter sistemas heterogêneos em que
se encontra apenas uma substância.
Os materiais, portanto, podem ser classificados conforme o sistema a seguir.
material
homogêneo
heterogêneo
solução mistura
agregado
coloide
Uma substância geralmente
se apresenta em
um sistema monofásico.
Em alguns casos, porém,
pode se apresentar com
mais de uma fase, como
esse copo que contém
água destilada nos estados
líquido e sólido.
Hely Demutti
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
Exercícios
1. Explique por que não podemos identificar pela aparência
a pureza dos materiais que são lançados no lixo.
2. Qual é a importância de diferenciar material de
substância?
3. A água de torneira é uma solução ou uma substância?
Justifique.
4. Em que sentido geralmente se emprega o termo pureza?
5. Como o químico identifica o grau de pureza de um material?
6. (UnB-DF) Julgue os itens abaixo, marcando C para os
corretos e E para os errados.
1) A água é um material heterogêneo que resulta da
reunião de hidrogênio e oxigênio.
2) Materiais quimicamente puros são de origem natural.
3) Produtos químicos, como detergentes e loções para
a pele, contêm mais de uma substância.
4) Uma substância sempre constituirá um sistema
monofásico.
7. (FEI-SP) Num tubo graduado A, adicionaram-se água,
óleo de cozinha e álcool etílico, nessa ordem. Em um
tubo B, adicionaram-se álcool etílico, água e óleo de
cozinha, nessa ordem. O número de fases nos tubos
A e B são, respectivamente:
(Dados: densidade da água > densidade do óleo >
densidade do álcool)
FAÇA NO CADERNO. NÃO ESCREVA EM SEU LIVRO.
a) 3 e 3. c) 2 e 3. e) 1 e 1.
b) 2 e 2. d) 3 e 2.
8. (Fuvest-SP-Adaptado) Em alguns países, o lixo orgânico
e o lixo inorgânico são colocados em recipientes
diferentes. Devem ser colocados no recipiente rotulado
“lixo inorgânico”, seguindo a classificação de lixo
quanto à origem de seres vivos:
a) cacos de vidro e latas de refrigerante.
b) trapos de limpeza e cacos de louça.
c) cascas de ovos e de frutas.
d) embalagens de plástico e de alumínio.
e) papel e flores murchas.
9. (PUC-SP) Considere as substâncias que se seguem e os
correspondentes estados de agregação nas condições
ambientais:
I – cloreto de potássio (sólido).
II – bromo (líquido).
III – água (líquido).
IV – monóxido de carbono (gasoso).
V – nitrogênio (gasoso).
Entre essas substâncias, aquelas que, misturadas em
quaisquer proporções, sempre formam sistemas monofásicos
são:
a) IV e V. c) II e III. e) III e IV.
b) I e III. d) III e V.
53
MATERIAIS E PROCESSOS DE SEPARAÇÃO
10. (UFRGS-RS) Analise os sistemas materiais abaixo, estando
ambos na temperatura ambiente.
Sistema I: mistura de 10 g de sal de cozinha, 30 g de areia
fina, 20 mL de óleo e 100 mL de água.
Sistema II: mistura de 2,0 L de CO 2 , 3,0 L de N 2 e 1,5 L
de O 2 .
Sobre esses sistemas é correto afirmar que:
a) ambos são heterogêneos, pois apresentam mais de
uma fase.
b) em I, o sistema é bifásico, após forte agitação, e,
em II, é monofásico.
c) em I, o sistema é trifásico, após forte agitação, e,
em II, é monofásico.
d) ambos apresentam uma única fase, formando sistemas
homogêneos.
e) em I, o sistema é trifásico, independentemente da ordem
de adição dos componentes, e, em II, é bifásico.
11. (Mack-SP) Granito, refresco de xarope de groselha, água
mineral fluoretada e sangue visto ao microscópio são,
respectivamente, exemplos de materiais:
a) homogêneo, homogêneo, heterogêneo e heterogêneo.
b) heterogêneo, heterogêneo, homogêneo, homogêneo.
c) homogêneo, heterogêneo, heterogêneo e homogêneo.
d) heterogêneo, homogêneo, homogêneo e heterogêneo.
e) heterogêneo, homogêneo, homogêneo e homogêneo.
12. (FGV-SP) Uma mistura de açúcar, areia e sal de cozinha
é tratada com água em excesso. Quantas fases existirão
no sistema final resultante?
a) 5. b) 4. c) 3. d) 2. e) 1.
13. (Uema) Constitui um sistema heterogêneo o material
formado de:
a) água e acetona.
b) gases N 2
e CO 2
.
c) querosene e óleo diesel.
d) cubos de gelo e solução aquosa de açúcar (glicose).
e) água e xarope de groselha.
2 PROCESSOS DE SEPARAÇÃO DE MATERIAIS
Como vimos anteriormente, é raro encontrarmos na natureza materiais puros. A água
encontrada em rios, lagos e mares, por exemplo, é uma solução cujos solutos são
sais minerais e gases dissolvidos.
Contudo, de modo geral, os químicos precisam controlar muito bem as reações e os
processos desenvolvidos em seu trabalho, o que exige, normalmente, o uso de substâncias.
Para obtê-las, são utilizados dois processos básicos: a síntese química (processo químico)
ou a extração de materiais (processo físico). Muito comumente, esses dois processos são
empregados de forma combinada.
A síntese química é o processo a partir do qual reagentes e condições físicas são
controlados de forma a se obterem novas substâncias ou materiais desejados. Ela ocorre,
por exemplo, nos processos de fermentação, na produção de sabão e na indústria
petroquímica.
Nos processos físicos não há formação de novas substâncias, mas obtêm-se substâncias
por meio de sua extração de materiais nos quais elas estão presentes associadas a
outras substâncias. Como exemplos de processos físicos, podemos citar a extração de essências
de vegetais para produzir perfume, a destilação da garapa fermentada para produção
de álcool e a extração de diferentes componentes do petróleo. Geralmente, após
a extração, os materiais são purificados até se obter o produto nas condições desejadas.
Os processos utilizados para a extração de substâncias, chamados separação de mistura
ou purificação de materiais, correspondem a uma das atividades básicas do químico. Muitos
desses processos são empregados diariamente por você.
Pense
Enumere exemplos de processos de separação de materiais utilizados no dia a dia.
54
Entre os processos utilizados diariamente para separar materiais, podemos citar: coar o
café, catar o feijão, centrifugar a roupa na máquina de lavar, aspirar a poeira do chão, peneirar
areia, fazer coleta seletiva de lixo etc. Todos esses métodos envolvem técnicas simples e
podem ser explicados por meio das propriedades dos materiais. Por exemplo, a coleta seletiva
exige a separação correta de materiais, que muitas vezes confundem as pessoas. Por exemplo,
o “papel de bala” atualmente é feito de plástico e deve ser separado como plástico. Mais
do que a aparência, temos de observar atentamente as demais propriedades dos materiais.
Nas indústrias e nos laboratórios
de Química, são
empregados diversos processos
de separação e de
extração para purificação
dos materiais.
CAPÍTULO
1
2
3
Tuca Vieira/Folha Imagem
Helia Scheppa/JC Imagem
4
5
6
7
8
A seguir, vamos conhecer os principais processos usados pelos químicos em rios, muitos deles empregados por você em
laboratócasa.
Filtração
Pense
Qual é o método convencional para separar partículas e pequenos
organismos da água que bebemos em nossa casa?
Hely Demutti
Toda vez que você pega um copo
de água do filtro de sua cozinha,
você está diante de uma operação
largamente utilizada nos laboratórios
de Química para separar um líquido de
um sólido insolúvel.
No processo de filtração, o sólido
fica retido no filtro, enquanto o líquido
passa. Existem vários tipos de filtros com
espessuras diferentes, que são usados
de acordo com as propriedades dos
materiais que se quer separar. A filtração
também pode ser utilizada para separar
determinado sólido de um gás. É o que
faz o aspirador de pó e o filtro de ar
dos automóveis. Os filtros são muito
utilizados tanto em laboratórios como
em indústrias.
Hely Demutti
A filtração em talhas ou
filtros de barro é feita
por velas constituídas de
material poroso que retém
impurezas presentes
na água.
A técnica de filtração é também muito empregada
em laboratórios.
55
MATERIAIS E PROCESSOS DE SEPARAÇÃO
Química na escola
Separando materiais sólidos de líquidos
Esse experimento é bem simples e faz parte do dia a dia. Na falta dos materiais listados, você poderá usar a criatividade
para substituir alguns deles (por exemplo, preparando um funil utilizando garrafa PET de refrigerante).
Materiais
• anel metálico
• papel-filtro
• 2 béqueres
• funil de vidro
• água
• bastão de vidro
• areia
Procedimento
Parte A – Aprendendo a dobrar o papel-filtro
1. Dobre o papel-filtro ao meio formando um semicírculo.
Consulte as normas de segurança no
laboratório, na última página deste livro.
2. Faça uma segunda dobra não exatamente ao meio, mas de tal modo que as duas extremidades fiquem afastadas mais
ou menos meio centímetro.
3. Coloque o papel-filtro no funil e molhe-o com água. Coloque o conjunto sobre o anel metálico preso à haste metálica.
Parte B – Aprendendo a filtrar
1. Coloque no béquer cerca de uma colher de areia e de 100 mL de água (aproximadamente meio copo).
2. Filtre a suspensão preparada, vertendo-a lentamente no funil e coletando o líquido no outro béquer.
3. Cuidadosamente, com o auxílio do bastão de vidro, retire a areia do papel-filtro, colocando-a em outro béquer.
Destino dos resíduos
1. O resíduo sólido dessa atividade deve ser devolvido à origem ou descartado no lixo seco. O material
filtrado pode ser descartado no sistema de esgoto.
2. Como a água não será utilizada para consumo, o papel-filtro pode ser lavado, secado e
reaproveitado em outras práticas.
Análise de dados
1. As propriedades físicas específicas são características das substâncias, sendo
as mais utilizadas a densidade, a solubilidade, a temperatura de fusão e ebulição.
Com base no que você observou, de qual propriedade específica depende
o processo de filtração?
2. Qual é a propriedade, ou seja, a característica que um material deve ter para ser usado
como filtro?
Hely Demutti
A filtração é uma prática muito comum
em laboratórios de Química. Dependendo
do que se quer filtrar, usam-se filtros com
porosidades diferentes.
56
Decantação
Pense
Como você pode separar uma mistura de areia e água? O que você faria para separar o óleo
e a água contidos em um recipiente?
CAPÍTULO
1
2
Além da filtração, pode-se separar a areia da água por decantação. É um processo físico
natural que permite separar um material sólido ou líquido de outros materiais que têm
densidades diferentes e não são miscíveis (não se misturam). A decantação diferencia-se
da filtração por não utilizar nenhum tipo de filtro e por ser feita a partir da separação natural
das fases. A filtração não poderia ser utilizada para separar dois líquidos como água
e óleo porque os dois passariam pelo filtro.
No laboratório, para separar dois líquidos imiscíveis, como água e óleo, utiliza-se um
funil de decantação como o mostrado na foto. Se possível, faça essa separação no laboratório
da escola ou na sala de aula, em mesa apropriada. Se necessário, o funil de separação
pode ser substituído, de forma rudimentar, por uma garrafa descartável de refrigerante,
cortando-se o fundo e utilizando a tampa para abrir e fechar, a fim de que apenas
o líquido de baixo escoe.
Nas indústrias, são utilizados tanques de decantação,
onde os materiais mais densos são depositados.
Esses tanques são encontrados também no
sistema de tratamento de água e neles ficam depositados
areia e outros materiais sólidos.
O funil de decantação
possibilita a separação de
líquidos imiscíveis com
densidades diferentes pelo
controle da torneira.
Hely Demutti Hely Demutti
3
4
5
6
7
8
Nos tanques de decantação dos sistemas de tratamento
de água são depositados os materiais sólidos. No caso dos
plásticos, eles serão separados por grades metálicas. Alguns
materiais dificultam o funcionamento do sistema, por isso, não
jogue, no vaso sanitário, sólidos, como areia, plásticos, fraldas
descartáveis etc., pois esses materiais poderão entupir o esgoto
ou vão onerar seu tratamento no processo de decantação.
Centrifugação
A centrifugação nada mais é do que a decantação forçada, quando
esta é muito lenta ou não ocorre naturalmente. O material é submetido a
um movimento circular, medido em rotações por minuto (RPM), que, pela
força centrífuga, leva o material mais denso a se depositar no fundo do tubo.
Hely Demutti
Pense
O vinho é uma solução ou uma substância? Por quê? É possível extrair o
álcool do vinho por decantação? Que propriedade específica pode ser usada
para separar o álcool do vinho? Justifique.
A centrífuga é muito utilizada em análises clínicas de sangue. Nela são colocados tubos
de ensaio com sangue que, ao serem rotacionados em alta velocidade, causa decantação
de material sólido no fundo dos tubos, os quais são separados para análise.
57
Destilação
MATERIAIS E PROCESSOS DE SEPARAÇÃO
O processo usado para separar o álcool do vinho é a destilação. Ela se baseia na di-
ferença de temperatura de ebulição dos componentes dos materiais. Durante o aquecimento,
as substâncias que atingem a temperatura de ebulição evaporam-se. Depois, por
refrigeração, voltam ao estado líquido e são recolhidas.
A destilação é um processo largamente utilizado na sociedade em que vivemos. A partir
da destilação de caldo de cana fermentado se obtém cachaça. Nesse caso, a destilação
ocorre por meio de alambiques.
Alambiques são destiladores feitos de cobre, vidro ou aço inox. Os alambiques, como
o ilustrado abaixo, são constituídos de uma base (1), chamada caldeira ou panela, na
qual se coloca o material a ser destilado, conectada ao capitel ou capacete, que tem a
função de resfriar os gases liberados. O capacete (2) é ligado a um tubo no formato de
pescoço de cisne (3), que transporta os vapores até a serpentina. A serpentina (4) é um
tubo no formato de espiral, disposto em um recipiente, no qual circula água fria. Nesse
local, os vapores serão condensados por resfriamento e apresentam grande quantidade
de álcool etílico. O líquido, então, é recolhido em um recipiente adequado (5).
Para entender como se dá esse processo, acompanhe atentamente a demonstração
do experimento a seguir.
3
Osvaldo Sequetin
2
4
No alambique ocorre a
destilação do caldo de cana
fermentado, chamado mosto,
produzindo a cachaça ou
aguardente.
1
5
Química na escola
Separando álcool do vinho
Experiência demonstrativa
Esse experimento deve ser feito com o auxílio do professor no laboratório da
escola ou em uma sala apropriada. Caso a escola não disponha dos equipamentos
necessários, procure visitar algum laboratório que tenha um sistema de destilação.
Você também pode montar um sistema de destilação artesanal.
Consulte as normas de segurança no
laboratório, na última página deste livro.
Hely Demutti
58
Osvaldo Sequetin
Termômetro
Destilação simples
CAPÍTULO
1
Saída de água
2
Suporte
metálico
Material
a ser
destilado
Bico de
Bunsen
Tripé
Balão de
destilação
Tela de amianto
Suporte
metálico
Condensador
Entrada de água
Erlenmeyer
Líquido
destilado
O balão de destilação pode
ser substituído por uma jarra
de cafeteira elétrica, que resista
ao aquecimento, e o condensador,
por uma mangueira
enrolada no interior de uma
garrafa descartável de refrigerante
do tipo PET. Use a criatividade
para substituir alguns
desses materiais, mas tenha
sempre muito cuidado.
3
4
5
6
7
8
Materiais
• bico de Bunsen
• béquer
• suporte metálico
• anel metálico
• tela de amianto
• condensador
• balão de destilação
• termômetro
• mangueiras de borracha
• erlenmeyer
• garras metálicas
• vinho tinto
Procedimento
1. Monte a aparelhagem para a destilação (cuidado para não submeter o vidro a pressões excessivas).
2. Coloque o vinho no balão de destilação.
3. Abra com cuidado a entrada de água para o condensador e depois inicie o aquecimento do balão.
4. Colete o destilado em um béquer e observe.
5. Anote a temperatura durante a destilação.
Destino dos resíduos
O resíduo dessa atividade pode ser descartado no sistema de esgoto, em água corrente.
Análise de dados
1. De acordo com o que você observou durante a ebulição do vinho, a temperatura permaneceu constante? Justifique com
base em seus conhecimentos.
2. Qual é a temperatura de ebulição do vinho nessa destilação?
3. Explique como o álcool foi separado do vinho.
4. A temperatura de ebulição do álcool será sempre a mesma? Justifique.
5. Qual é a finalidade da passagem da água no condensador?
6. Qual é a propriedade física utilizada para separar substâncias por meio da destilação?
59
MATERIAIS E PROCESSOS DE SEPARAÇÃO
Hely Demutti
Na destilação fracionada
são separadas substâncias
que apresentam diferentes
temperaturas de
ebulição. Observe que, no
caso, o tubo acima do balão
de destilação é mais
comprido do que o tubo da
destilação simples. Assim,
os vapores das substâncias
com menor temperatura
de ebulição condensam
antes de entrar no
condensador, e somente
depois que as substâncias
mais voláteis forem condensadas
é que as outras
vão se condensar.
Rubens Chaves/Pulsar Imagens
Destilação fracionada
A destilação fracionada é um processo de separação que se baseia na diferença
da temperatura de ebulição dos componentes da mistura. Os materiais são colocados
em recipientes e aquecidos. As substâncias que possuem temperaturas de ebulição
mais baixas entram em ebulição e são expulsas do líquido. À medida
que a temperatura aumenta, outras substâncias atingem temperaturas de
ebulição e mudam de estado físico, sendo expulsas do líquido.
Os vapores que são expulsos do líquido passam por uma alta coluna de
fracionamento. A temperatura da coluna diminui gradativamente da base
ao topo. Dessa forma, os líquidos mais voláteis se liquefazem primeiro e são
retirados da coluna por saídas laterais. As substâncias mais voláteis sobem
mais e são retiradas da coluna na sequência. Nesse sistema cada substância,
ou grupo de substâncias com valores de temperatura de ebulição próximos,
sai a determinada altura da coluna, permitindo a separação de misturas
formadas por grandes variedades de substâncias.
Uma das aplicações mais comuns da destilação fracionada é no refino
do petróleo. Nesse caso, a destilação industrial é realizada em uma coluna
cilíndrica, chamada torre de destilação, que apresenta escoadouros, onde a
cada espaço são retirados frações ou produtos com diferentes temperaturas
de ebulição. No caso do petróleo, as frações mais comuns são: gás natural, gás
liquefeito de petróleo (GLP), éter de petróleo, benzina, gasolina, querosene,
óleo diesel, óleo lubrificante, vaselina, parafina, asfalto e coque.
Cromatografia
As frações do petróleo
são separadas por
meio de torres de refinação,
nas quais cada
fração, que contém
uma mistura de substâncias,
é condensada
em temperatura diferente
e recolhida em
tubulações diferentes.
O princípio é o mesmo
da destilação fracionada
realizada com pequenos
destiladores.
A cromatografia é um processo de separação muito utilizado pelos químicos. Ela é
realizada utilizando um material capaz de reter em sua superfície as substâncias que estão
sendo separadas. O procedimento é feito pela utilização de duas fases: fase estacionária
e outra móvel. A fase móvel consiste de um líquido ou gás que passa pela fase estacionária,
arrastando o material a ser separado. Como as substâncias constituintes do material
têm propriedades diferentes, algumas são arrastadas mais rapidamente do que outras.
Por causa dessa diferença de tempo de arraste, as várias substâncias da mistura migram
60
de forma diversa por causa da interação com a fase fixa, como
veremos no experimento a seguir.
A cromatografia é muito utilizada em laboratórios de análise
de substâncias orgânicas na identificação, por exemplo,
de substâncias encontradas nos vegetais.
Os cromatógrafos, , como o da foto, são largamente usados na medicina, no
processo de separação e posterior identificação de diversas substâncias. Esse
equipamento é bastante sofisticado, mas se baseia no mesmo princípio do no experimento a
ilustraseguir.
Química na escola
Separando componentes da tinta de caneta
Esse experimento pode ser feito em grupo no laboratório, na sala de aula ou em casa.
Materiais
• papel-filtro
• caneta preta ou caneta hidrocor (azul, roxa ou verde)
• vidro de relógio (ou pires)
Procedimento
• álcool
• béquer ou copo
1. Corte, no formato de retângulo de 1 cm por 6 cm, um pedaço do papel-filtro (pode ser filtro para café).
2. Desenhe, com a caneta preta, uma pequena bolinha a uma altura de 2 cm da borda do papel-filtro.
3. Ponha álcool em um copo até a altura de 0,5 cm.
4. Coloque o papel dentro do copo, de forma que a bolinha pintada fique próxima ao álcool, sem tocá-lo. Tampe o copo
com um vidro de relógio (ou pires).
5. Espere por dez minutos e retire o papel-filtro de dentro do copo.
6. Observe.
Destino dos resíduos
O resíduo líquido dessa atividade pode ser descartado no sistema de esgoto, em água corrente, e o resíduo sólido
pode ser descartado no lixo seco.
Análise de dados
7. A tinta de caneta preta é uma substância ou uma mistura? Justifique.
8. Quantos componentes você pode perceber na tinta de caneta utilizada?
9. Qual dos componentes é mais solúvel em álcool? Justifique.
10. De que propriedades específicas das substâncias depende o processo de cromatografia?
A tinta é um material constituído por
várias substâncias que podem ser separadas
por cromatografia.
Consulte as normas de segurança no
laboratório, na última página deste livro.
Hely Demutti
Hely Demutti
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
61
Extração por solventes
A preparação do cafezinho é um processo no qual se utiliza mais de um método
de separação.
Pense
MATERIAIS E PROCESSOS DE SEPARAÇÃO
Hely Demutti
O sabor e o aroma terísticos do café vêm das
substâncias que se dissolvem
na água quente.
Quando separamos essas
substâncias do pó de café
e evaporamos a água, por
processo industrial, temos
o café solúvel.
carac-
O cafezinho que tomamos é um material homogêneo ou heterogêneo?
Como as substâncias são extraídas do pó de café?
Que propriedade das substâncias permite essa extração?
O que acontecerá se tentarmos preparar um cafezinho com água fria?
Na preparação do café, além do processo de filtração, utilizamos um processo denominado
extração por solvente. Tal processo consiste em extrair uma ou mais subs-
tâncias de um material utilizando-se uma de suas propriedades químicas: a solubilidade.
Na preparação do café, quando a água quente passa pelo pó extrai substâncias solúveis,
restando as não solúveis, como a borra de café. Portanto, o café é uma solução
cujo solvente é a água e os solutos são substâncias presentes no pó de café, que são
solúveis em água quente.
A extração por solvente também é muito utilizada para extrair essências de plantas
para o preparo de perfumes.
Recristalização
Ricardo Azoury/Olhar Imagem
Ricardo Azoury/Pulsar Imagens
Nas salinas, a água do
mar é colocada em tanques
para que a água evapore e
os sais recristalizem.
A recristalização, ou extração por cristalização, baseia-se na diferença de solubilidade
de substâncias presentes em materiais, utilizando-se da variação dessa propriedade com
a temperatura. Para isso, o material é dissolvido em solvente adequado a uma temperatura
elevada. Em seguida, a solução é resfriada lentamente, levando as substâncias menos
solúveis a precipitar-se formando cristais.
Um exemplo de aplicação da extração por cristalização é a produção do sal marinho.
Nas salinas, a água do mar é bombeada para tanques de evaporação a céu aberto.
O vento e o sol forte aceleram a evaporação da água, deixando uma mistura de sais, antes
dissolvidos na água, que é raspada e conduzida às refinarias.
62
O trabalho do químico no processo
de separação de substâncias
Com as informações apresentadas e os experimentos realizados,
você conheceu um pouco dos métodos de separação utilizados pelos
químicos. Primeiro, eles buscam identificar as substâncias presentes por
meio das propriedades e, então, selecionam métodos mais adequados
para separá-las. Com frequência, é necessário o uso de uma série de
processos de separação até isolar as diferentes substâncias. O passo
seguinte é a identificação de cada substância isolada. As atividades a
seguir ilustram esse trabalho do químico.
Conforme o material a ser separado, o químico utiliza
diversos equipamentos e técnicas de separação.
Lanxess AG
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
Atividades
SIMULANDO O TRABALHO DO QUÍMICO NO LABORATÓRIO
Imagine agora que você é um químico e recebeu uma amostra de material heterogêneo para determinar a composição.
Esse material apresenta duas fases líquidas. Para que possa determinar a composição, você necessita inicialmente separar
os componentes do material.
1. Pense como você poderia separar os componentes do material
e faça um esquema (diagrama), indicando os processos de
separação que você poderia usar.
Depois de separadas as fases, você determinou as temperaturas
de fusão e de ebulição de cada uma delas e obteve
os dados ao lado.
TEMPERATURA DE FUSÃO E DE EBULIÇÃO
DE FASES DIFERENTES
Fase Temperatura de fusão Temperatura de ebulição
1 –15 °C a –19 °C 85 a 91 °C
2 –63,2 °C 61,2 °C
2. Com base nos dados fornecidos, diga se cada fase corresponde a uma substância ou a um material. Justifique.
Você determinou que a densidade do material da fase 2 é igual a 1,48 g/cm 3 .
Consultando as tabelas, descobriu que se tratava da substância clorofórmio. Por ter apresentado temperaturas de
fusão e de ebulição variáveis, concluiu, ainda, que a fase 1 se tratava de um material.
3. Faça um esquema (diagrama) de separação e proponha um método de separação que poderia ser utilizado para separar
os componentes da fase 1.
Depois de realizada a separação, foram obtidos dois materiais com as propriedades abaixo.
8
Fase
PROPRIEDADES FÍSICAS DOS MATERIAIS
Temperatura
de fusão
Temperatura
de ebulição
Densidade
1 0 °C 100 °C 1 g/cm 3
2 –117 °C 78,3 °C 0,79 g/cm 3
4. Ao analisar os dados encontrados para os materiais citados acima, você poderia defini-los como substância ou material?
Justifique a resposta. Consultando tabelas das propriedades físicas das substâncias, em livros de Química,
você verificou que o material 2 se tratava da substância álcool etílico.
5. Ao analisar as propriedades físicas fornecidas pela tabela anterior, qual substância representa o material 1?
6. De que era constituído o material inicial que você analisou?
7. Os processos desenvolvidos foram químicos ou físicos? Justifique.
8. Qual é a finalidade de se conhecer as propriedades físicas dos materiais obtidos?
63
MATERIAIS E PROCESSOS DE SEPARAÇÃO
Exercícios
1. Diferencie separação de materiais de síntese química.
Cite exemplos.
2. Copie no caderno o quadro apresentado a seguir e
complete-o com os principais métodos de separação
que você estudou.
Método de
separação
MÉTODOS DE SEPARAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS
Propriedade utilizada
para separar as
substâncias
Exemplos de
aplicação do método
Decantação Densidade Separar água da areia
3. Seria possível utilizar a decantação para separar substâncias
de materiais homogêneos? Justifique.
4. Identifique os métodos de separação de substâncias
utilizados no tratamento de lixo.
5. Qual é a importância da utilização de métodos de separação
de substâncias para os químicos?
6. Tem-se um material que contém água, alumínio em pó e
sulfato de cobre (sólido azul solúvel em água). Responda:
a) Quantas fases tem o material?
b) Como você faria para separar essas substâncias,
recolhendo-as, sem perdê-las?
7. Com relação aos materiais e aos processos de separação,
julgue os itens, marcando C para os corretos e E
para os errados.
1) Na filtração, as partículas sólidas, por terem tamanho
maior que os poros do filtro, ficam retidas
nesse material.
2) O sulfato de cobre (sólido azul solúvel na água)
pode ser separado do enxofre (sólido amarelo insolúvel
na água) por meio da dissolução fracionada
seguida de decantação.
3) Um sistema, formado por sólidos, pode ser homogêneo
e heterogêneo, dependendo da natureza dos sólidos.
4) A separação de serragem e areia pela água é exemplo
de decantação, pois a serragem flutua e a areia
precipita-se.
8. A Estação de Tratamento de Esgoto de Brasília, uma
das melhores do mundo, consegue reduzir a poluição
do lago Paranoá, onde é lançada a maior parte do
esgoto da cidade. O sistema de tratamento utilizado
nessa estação é ilustrado pelo esquema a seguir.
No esquema apresentado a seguir, observamos que a
água dos esgotos passa pelas seguintes etapas:
Esgoto
Água
tratada
1) Tratamento primário – remove grandes objetos e
materiais insolúveis nos esgotos.
2) Tratamento secundário – processo biológico que
trata da matéria orgânica em solução para remoção
de fósforo, nitrogênio e matéria orgânica.
3) Tratamento terciário – aplicação de produtos químicos
para retirar a sujeira que as bactérias não
conseguiram consumir. A água do esgoto recebe
uma dosagem de sulfato de alumínio, Al 2
(SO 4
) 3
, e
outros coagulantes para flotar o material.
Unidade 1
Aterro sanitário
ETAPAS DE TRATAMENTO DE ESGOTO
Iodo químico
Tratamento primário
Etapa
preliminar
Unidade 2
(Desarenador)
FAÇA NO CADERNO. NÃO ESCREVA EM SEU LIVRO.
Decantador
primário
areia
terra
pedregulho resíduos sólidos bactérias
Iodo
primário
Decantador
secundário
Tratamento terciário
Produtos
químicos
(coagulantes)
Biodigestor
Câmara
de flotação
Desidratação mecânica
Tratamento secundário
Reator
biológico
Iodo ativado
Adubo
Marque C para os corretos e E para os errados.
1) O tratamento apresentado consiste somente em
diminuir a quantidade de materiais que possam
provocar problemas ambientais, como microrganismos
patogênicos.
2) No processo primário ocorrem transformações físicas
e químicas que visam a preparar o material
para as próximas etapas.
3) No tratamento secundário ocorre a ação das bactérias
que farão a decomposição do material orgânico.
4) Ao receber uma dosagem de sulfato de alumínio e
outros coagulantes, o material orgânico remanescente
agrega-se aos flocos na câmara de flotação.
5) No tratamento do esgoto são desenvolvidos os seguintes
métodos de separação dos materiais: decantação
e flotação.
9. (UnB-DF) Julgue os itens a seguir, marcando C para os
corretos e E para os errados.
1) A evaporação permite a separação de dois líquidos
bastante voláteis.
AMj Studio
64
2) É possível a separação de um material homogêneo
líquido-líquido por destilação fracionada.
3) A separação de componentes do petróleo é feita
com base na diferença entre as respectivas raturas de ebulição.
tempe-
4) O princípio da destilação fracionada fundamenta-se na
diferença de solubilidade dos sólidos de um material.
10. (UFG-GO) A maioria das substâncias é encontrada na natureza
sob a forma de misturas, tais como: rochas, solo, gases
da atmosfera, água do mar, minerais, alimentos, água
dos rios etc. A separação de uma substância pode ocorrer,
dependendo das características do material, de diferentes
maneiras. Assim sendo, assinale as afirmativas corretas:
a) A separação da água dos rios, lagos e mares, na
formação da chuva, ocorre por destilação natural.
b) A separação do resíduo (pó de café) da solução de
café é feita por filtração.
c) A separação do sal de cozinha da água do mar é
feita por evaporação.
d) A separação da coalhada do leite é feita por
decantação.
e) A retirada de uma mancha de gordura de uma roupa,
usando sabão, é feita por filtração.
f) A separação dos gases de bebidas gaseificadas
ocorre por evaporação.
11. (Cesgranrio-RJ) Foram acondicionados, acidentalmente,
em um único recipiente, areia, sal de cozinha, água e óleo
de soja. Para separar adequadamente cada componente
desse material, devem ser feitas as seguintes operações:
a) destilação simples seguida de decantação e
centrifugação.
b) destilação simples seguida de centrifugação e
sifonação.
c) filtração seguida de destilação simples e catação.
d) filtração seguida de decantação e destilação
simples.
e) decantação seguida de catação e filtração.
12. (UFRGS-RS) Qual dos métodos de separação seguintes
se baseia na diferença de densidade?
a) Decantação. d) Cristalização.
b) Destilação fracionada. e) Sublimação.
c) Peneiração.
13. (UFPE) Associe as atividades do cotidiano abaixo com
as técnicas de laboratório apresentadas a seguir:
a) Preparar café com pó solúvel.
b) Preparar chá de saquinho.
c) Coar um suco de laranja.
1. Filtração. 3. Extração.
2. Solubilização. 4. Destilação.
A sequência correta é:
a) 2, 3 e 1. c) 3, 4 e 1. e) 2, 2 e 4.
b) 4, 2 e 3. d) 1, 3 e 2.
14. (UFRGS-RS) Um sistema heterogêneo bifásico é formado
por três líquidos diferentes A, B e C. Sabe-se que:
A e B são miscíveis entre si;
C é imiscível com A e com B;
A é mais volátil que B.
Com base nessas informações, os métodos mais adequados
para separar os três líquidos são:
a) centrifugação e decantação.
b) decantação e fusão fracionada.
c) filtração e centrifugação.
d) filtração e destilação fracionada.
e) decantação e destilação fracionada.
15. (UFV-MG) O equipamento esquematizado
a seguir pode ser utilizado
para separar os tes de:
componena)
um sistema homogêneo
líquido/líquido.
b) qualquer sistema
heterogêneo.
c) uma mistura de álcool e água.
d) uma mistura de limalha de ferro e areia.
e) um sistema heterogêneo sólido/líquido.
16. (UFBA) Com base no diagrama abaixo, é correto afirmar:
Aquecimento
CO 2
(g)
Sólido A
Sistema trifásico
Processo mecânico
de separação X
CaO(s)
Processo de separação Y
(com base na diferença de densidade)
Sistema C
(monofásico)
PF = 16,3 °C
a) O processo X é a filtração.
b) O sólido A é o carbonato
de cálcio, CaCO 3
.
c) O processo Y é a decantação.
Sistema B
(mistura líquida heterogênea)
Água
d) O sistema C é um material homogêneo.
e) O sistema D tem uma substância.
f) O processo Z é uma destilação simples.
g) A água destilada é um material.
Sistema D
(monofásico)
Processo de
separação Z
CaCO 3
(s)
J. Yuji
CAPÍTULO
1
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7
8
65
MATERIAIS E PROCESSOS DE SEPARAÇÃO
17. (Unisinos-RS) Considere os sistemas materiais abaixo
indicados:
Sistemas
Componentes
I
água e óleo
II
areia e álcool
III
água e sal de cozinha
IV
água e álcool
V
gás carbônico e oxigênio
Assinale a alternativa que apresenta apenas sistemas
homogêneos:
a) somente I e III.
b) somente I e II.
c) somente III e V.
d) somente I, III e IV.
e) somente III, IV e V.
18. (UFBA) Com relação a processos de separação de materiais,
pode-se afirmar:
a) na obtenção do cloreto de sódio, a partir da água
do mar, utiliza-se a cristalização fracionada.
b) na separação dos constituintes de um material
gasoso usam-se liquefação e destilação fracionada.
c) para acelerar a decantação, utiliza-se a centrifugação.
d) na separação dos constituintes de um material formado
por água, areia e óleo, usam-se a filtração e
a destilação fracionada.
e) os materiais homogêneos são desdobrados em
seus componentes por meio de processos mecânicos
de separação.
19. (Uneb-BA) Considere os seguintes sistemas:
I – ar + poeira
II – mercúrio metálico + água
III – água + nitrato de potássio
Os componentes desses sistemas podem ser separados por:
I II III
a) filtração destilação decantação
b) destilação filtração decantação
c) filtração decantação filtração
d) decantação destilação filtração
e) filtração decantação destilação
20. (Unimep-SP) Temos um material heterogêneo constituído
de açúcar, iodo e areia. As maneiras mais adequadas
para separar esses componentes são:
a) ímã, adição de água, destilação simples e filtração.
b) aquecimento, adição de água, destilação e centrifugação.
c) adição de água, ímã, aquecimento e peneiração.
d) centrifugação, esfriamento, destilação e filtração.
e) aquecimento, adição de água, filtração e destilação
simples.
21. (Uema) Constitui um sistema heterogêneo o material formado
de:
a) água e acetona.
b) gases N 2
e CO 2
.
c) querosene e óleo diesel.
d) cubos de gelo e solução aquosa de açúcar (glicose).
e) água e xarope de groselha.
22. (Unicamp-SP) Têm-se os seguintes materiais:
I – areia e água
II – álcool (etanol) e água
III – sal de cozinha (NaCl) e água, nesse caso um material
homogêneo
Cada um desses materiais foi submetido a uma filtração
em funil com papel e, em seguida, o líquido resultante (filtrado)
foi aquecido até sua total evaporação. Pergunta-se:
a) Que material deixou um resíduo sólido no papel após
a filtração? O que era esse resíduo?
b) Em qual caso apareceu um resíduo sólido após a evaporação
do líquido? O que era esse resíduo?
23. (UFV-MG) Consideram-se os materiais A, B e C:
A – óleo/água (proporção 1: 1);
B – NaCl/água (proporção 1:100);
C – etanol/água (proporção 1:1).
Pede-se:
a) a indicação de um método físico para separar os
componentes de cada material.
b) a classificação dos materiais A, B e C em homogêneo
ou heterogêneo.
c) o conceito de material homogêneo e heterogêneo.
24. (F. Visconde de Cairu-BA) Sobre processos de separação
de materiais, indique a alternativa correta.
a) Coar café, um processo de separação de materiais,
é um fenômeno físico.
b) Fase de um sistema são os componentes que formam
esse sistema.
c) Um dos processos frequentemente usados para separar
água do mar do sal é a filtração.
d) Quando as substâncias passam do estado sólido para
o líquido, há evidência de que ocorreu reação química.
e) A destilação fracionada é um processo usado frequentemente
para se separar dois sólidos.
25. (UFRS) Qual dos métodos de separação seguintes se
baseia na diferença de densidade?
a) decantação.
b) destilação fracionada.
c) peneiração.
d) cristalização.
e) sublimação.
66
26. (Osec-SP) Um dos estados brasileiros produtores de
cloreto de sódio é o Rio Grande do Norte. Nas salinas,
o processo físico que separa a água do mar do sal é:
a) filtração. d) evaporação.
b) sublimação. e) ebulição.
c) destilação.
27. (PucCamp-SP) A obtenção do álcool etílico hidratado,
a partir da cana-de-açúcar, pode ser representada pelo
esquema seguinte:
Cana-de-
-açúcar
I
Vinhoto
Garapa
Mosto
IV
II
Álcool
hidratado
Melaço
Em I e IV, que envolvem processos de fracionamento,
são realizadas, respectivamente:
III
a) filtração e destilação.
b) destilação e decantação.
c) filtração e decantação.
d) destilação e filtração.
e) decantação e decantação.
28. (PUC-MG) Para separação dos materiais água/álcool
e enxofre/água, os processos mais adequados são,
respectivamente:
a) decantação e destilação.
b) filtração e decantação.
c) destilação e filtração.
d) liquefação e sedimentação.
e) decantação e filtração.
29. (UEL-PR) De um material heterogêneo de dois líquidos
imiscíveis e de densidades diferentes podemos obter
os líquidos por:
I – sublimação II – decantação III – filtração
Das afirmações, apenas:
a) I é correta. d) I e II são corretas.
b) II é correta. e) II e III são corretas.
c) III é correta.
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
Materiais e substâncias
b Determinado material pode ser definido como uma
porção da matéria que tem mais de uma substância.
b Substância é uma porção de matéria que contém apenas
um tipo de componente.
b Material homogêneo é o tipo de material cujo aspecto
é uniforme de ponto a ponto.
b Material heterogêneo é o tipo de material cujo aspecto
é multiforme de ponto a ponto.
b Solução é um tipo de material homogêneo formado
Processos de separação de materiais
pela combinação de duas ou mais substâncias até
determinadas proporções (exemplo: água e cloreto
de sódio).
b Agregado é um tipo de material heterogêneo cuja
multiformidade é constatada por meio de instrumentos
de baixa resolução.
b Coloide é um tipo de material heterogêneo cuja
multiformidade é constatada apenas por meio de
instrumentos de alta resolução.
b Os materiais podem ser separados por diferentes métodos.
Ao se escolher o mais adequado, deve-se considerar
o estado físico, o número de fases, além das propriedades
das substâncias que compõem o material.
b A filtração é empregada na separação de um material
sólido-líquido ou sólido-gasoso utilizando um filtro.
b A decantação é empregada na separação de materiais
heterogêneos sólido-líquido ou líquido-líquido
(imiscíveis) e baseia-se na diferença de densidade dos
componentes.
b A centrifugação é um processo de separação que
utiliza a força centrífuga para acelerar a decantação.
b A destilação é um processo físico de separação de materiais
homogêneos com base na diferença de temperatura
de ebulição dos componentes.
b A cromatografia é uma técnica de separação com
base na diferença de interação das substâncias que
formam um material com uma fase fixa.
b Na extração por solvente, o material é colocado em
contato com um solvente que dissolve parcialmente
algumas das substâncias constituintes.
b A recristalização baseia-se na dissolução de substâncias
presentes no material, em solvente e temperatura
adequados, e a seguir precipitação por resfriamento.
67
Capítulo 3
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS,
QUÍMICA E CIÊNCIA
Tema em foco
Como é constituída a matéria?
Como consumir de maneira sustentável?
LIXO: TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO FINAL
No Atelier da Alegria
(SP), muitos materiais
deixam de ser lixo. Pense
nessa opção e em outras
para diminuir a quantidade
de lixo que geramos
diariamente.
O que fazer com os resíduos sólidos que não podem ser reaproveitados nem reciclados?
Diversas tecnologias foram desenvolvidas para dar o tratamento adequado a esse material.
No entanto, o problema maior reside no fato de que junto a esses resíduos está uma
quantidade enorme de materiais que não deveria ter sido descartada, pois poderia ter sido
reaproveitada ou reciclada. Dados revelam que 95% da massa total dos resíduos urbanos
têm um potencial significativo de reaproveitamento, o que significa que apenas 5% do lixo
urbano são, de fato, lixo.
Apesar de o Brasil não apresentar na média de consumo valores tão altos como
os de outros países, apresenta uma grande produção de lixo que, dependendo
da região, pode ultrapassar a mais de 1 kg de lixo por habitante. Muitas cidades
brasileiras já têm sistemas bem avançados de tratamento do lixo; no entanto,
a realidade da maioria de nossas cidades ainda se marca pela
falta de uma política de investimento público na disposição
adequada dos resíduos urbanos sólidos, resultando no triste
fim dos chamados lixões.
Fotos: Hely Demutti/Atelier da Alegria
68
Arnaldo Carvalho/JC Imagem
Lixões
Esse é o local destinado a centenas de milhares de toneladas de lixo produzidas diariamente e que não receberam
tratamento adequado. Mantidos em grandes áreas a céu aberto, normalmente afastadas dos centros urbanos,
esses lugares são completamente tomados por toda sorte de resíduos vindos dos mais diversos lugares, como dências, indústrias, feiras e hospitais.
Nos lixões, todo tipo de resíduo permanece livre no ambiente. Em consequência, sérios inconvenientes ambientais
são gerados, como a contaminação do solo e dos lençóis subterrâneos de água, além de contribuir
para a proliferação de insetos e ratos transmissores de doenças. Infelizmente, lixões não são os únicos espaços
que recebem resíduos urbanos, o que é preocupante, pois qualquer lugar em que o lixo esteja acumulado inadequadamente
é propício à disseminação das mais diversas e graves doenças. Dengue, febre amarela, disenteria,
febre tifoide, cólera, leptospirose, giardíase, peste bubônica, tétano, hepatite A, malária e esquistossomose
resisão
apenas alguns exemplos.
Nos lixões, dezenas de pessoas disputam restos que possam ser reaproveitados, garantindo o mínimo necessário
à sobrevivência. Adultos, crianças e animais domésticos misturam-se aos dejetos, propiciando um ambiente vorável à vida humana.
desfa-
Na maioria das cidades brasileiras ainda existem
lixões nos quais se encontram milhares de pessoas
trabalhando, incluindo crianças e adolescentes. Esse
tipo de atividade leva a um dos maiores níveis de
degradação humana. As pessoas que ali trabalham
são expostas aos perigos dos deslocamentos de caminhões
e tratores, a doenças infecciosas, poeira, a
objetos cortantes etc. A saúde desses trabalhadores
é agravada pela desnutrição e por doenças frequentes
que adquirem, tais como pneumonia, doenças de
pele, diarreia, dengue e leptospirose. De acordo com
o documento do Fundo de Emergência das Nações
Unidas para a Infância (Unicef), dessas crianças do
lixão em idade escolar, cerca de 30% delas nunca
foram à escola: “O lixo é sua sala de aula, seu parque
de diversões, sua alimentação e sua fonte de renda.
Vivem em condições de pobreza absoluta. Realizam
um trabalho cruel. São crianças no lixo. Uma situação
dramática e comum no Brasil” (Criança, catador,
cidadão: experiência de gestão participativa do
lixo. Unicef, 1999).
O principal motivo de milhares de pessoas optarem
por esse meio de vida é a situação socioeconômica
do Brasil, resultante do baixo nível de escolarização
da população, da não qualificação profissional
e da má distribuição de renda.
Para resolver grande parte dos problemas relacionados
ao lixo, bastaria que se implementassem
procedimentos eficientes que reduzissem a
produção, reaproveitando-o e acondicionando-o
corretamente.
E então: você teria alguma ideia de como fazer
Há justiça social em um país onde existem crianças que trabalham em isso sem pensar em recorrer ao apoio da Ciência, da
vez de brincar ou receber educação escolar?
tecnologia e de toda a sociedade?
CAPÍTULO
1
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8
69
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS, QUÍMICA E CIÊNCIA
Marcello Casal Jr./ABr
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando encontrava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Poema de Manuel Bandeira, em Obras poéticas, 1956.
Marcello Casal Jr./ABr
Marcello Casal Jr./ABr
Marcello Casal Jr./ABr
O trabalho em lixões reduz a condição humana à inadmissível situação de vida que não deveria existir em uma sociedade humanamente
justa.
O conjunto de ações que tem por objetivo a minimização da geração de lixo e a diminuição da periculosidade
constitui a fase de tratamento dos resíduos, os quais representam uma forma de torná-los menos agressivos para a
disposição final. Conheça os sistemas mais utilizados no Brasil.
70
Eduardo Knapp/Folha Imagem
Sistemas de tratamento do lixo
Aterro sanitário – É projetado por engenheiros
para reduzir bastante o impacto do lixo sobre
o meio ambiente. O lixo é reduzido ao menor volume
possível e coberto periodicamente com uma
camada de terra. O local é isolado e impermeabilizado
para evitar a contaminação das águas superficiais
e subterrâneas por metais pesados e pelo
chorume, líquido escuro e malcheiroso, resultante
do processo de decomposição anaeróbica (sem a
presença de oxigênio) de material orgânico.
Montanha de lixo vista Aterro controlado – É um sistema intermediário entre o lixão a céu aberto e o aterro sanitário.
Não possui estrutura adequada de impermeabilização que trate o chorume. Embora
no aterro sanitário
de Caieiras (SP), que
não seja a solução ideal para o destino do lixo, os aterros controlados podem, em curto
recebe 4 500 toneladas
prazo e com investimento relativamente baixo, reduzir a agressão ambiental e a degradação
social gerada pelos lixões a céu aberto. Nesses aterros, o lixo é recoberto periodica-
de lixo produzido em São
Paulo (SP). Nesse aterro,
o lixo é compactado e
mente, reduzindo a proliferação de insetos. O local para implantação deve ser escolhido
depois enterrado com uma
de forma muito criteriosa para diminuir o risco da contaminação de mananciais de água.
camada de terra.
Incineração – O lixo é queimado em alta temperatura (acima de 900 °C), o que reduz
o volume. Em algumas usinas, essa queima é conduzida de modo a transformar o calor
liberado em energia elétrica. Nesse processo, há necessidade do tratamento final dos gases altamente poluentes
emitidos pelo incinerador por meio de filtros.
Compostagem – É um dos métodos mais antigos e consiste na decomposição natural de resíduos de origem
orgânica em reservatórios instalados nas usinas de compostagem. Nesse processo, o material orgânico (restos de
alimentos, folhas, cascas de legumes etc.) é transformado por microrganismos em húmus (composto orgânico), que
pode ser usado como adubo. Na natureza, o húmus resulta da decomposição de vegetais, formando um material de
cor escura que recobre a primeira camada do solo.
Tanto na incineração como nas usinas de compostagem, o lixo passa por uma etapa inicial de separação de materiais
que não serão incinerados ou transformados em adubo. Esses processos são conduzidos nas usinas por meio
de sistemas mecânicos de esteiras, garras e eletroímãs (veja o esquema a seguir). Os materiais isolados nessa etapa
inicial são enviados para indústrias de reciclagem.
CAPÍTULO
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Etapas de processamento de usina de compostagem
Pátio de recepção
(1 a catação)
Fosso
AMj Studio
Triagem manual
(2 a catação)
Rejeitos
(aterros sanitários)
Separador
magnético
Compostos orgânicos
(fertilizantes)
Peneiras vibratórias
Biodigestor
71
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS, QUÍMICA E CIÊNCIA
Coleta seletiva – A coleta seletiva é uma
atitude sustentável que trata do recolhimento
de materiais recicláveis na origem, ou seja, em
casa, na escola, no escritório, na fábrica, nos
hospitais etc. Os materiais recicláveis são acondicionados
em recipientes adequados, coletados
e enviados para as indústrias de reciclagem.
Em um programa de coleta seletiva, recuperam-se,
em geral, cerca de 90% dos materiais
para reciclagem (papéis, plásticos, vidros
e metais). Os 10% restantes são rejeitos, ou
seja, materiais que não podem ser reaproveitados,
como isopor, trapos, papel carbono,
fraldas descartáveis, couro, louça, cerâmica e
objetos produzidos com muitas peças de diferentes
materiais.
Todos os sistemas de disposição do lixo descritos anteriormente apresentam vantagens
e desvantagens e a implantação depende de uma pesquisa detalhada das condições de
cada cidade, que deve incluir um estudo de impacto ambiental. A tabela a seguir apresenta
algumas vantagens e desvantagens de três desses processos de disposição de lixo.
A coleta seletiva facilita o
processo de separação
final dos materiais a serem
reciclados.
credito
Hely Demutti / Cooperativa de Reciclagem Crescer
VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS PROCESSOS DE DISPOSIÇÃO DO LIXO
Processo Vantagens Desvantagens
Aterro sanitário
Evita o contato humano direto com o lixo.
Diminui o risco de contaminação das
águas subterrâneas quando executado
adequadamente.
Controla a proliferação de ratos e insetos.
Pode aproveitar áreas topograficamente
inutilizadas.
Tem um baixo custo operacional.
Não reaproveita materiais para reciclagem
quando não é precedido de coleta seletiva ou
tratamento prévio.
Contamina o meio ambiente pelo chorume
quando não é conduzido adequadamente.
Inutiliza grandes áreas físicas.
Aumenta, geralmente, o custo com transporte
em razão da necessidade de longa distância
de áreas urbanas.
Incineração
Reduz consideravelmente o volume do lixo.
Produz material estéril, que evita a
contaminação por agentes patogênicos.
Possibilita o aproveitamento de energia.
Diminui a distância de transporte pela
possibilidade de instalação em áreas próximas
aos centros urbanos.
Tem custo operacional muito elevado.
Apresenta problemas operacionais.
Pode contaminar o ar com gases poluentes,
caso não empregue sistemas de filtros
apropriados.
Não reaproveita materiais para reciclagem
quando não é precedido de coleta seletiva ou
tratamento prévio.
Compostagem
Produz adubo para a agricultura.
Reduz o número de agentes patogênicos.
Implica obrigatoriamente a separação inicial
de materiais que podem ser reciclados.
Pode contaminar as plantações com metais
pesados que ficam retidos no adubo.
Demora vários dias para processar o lixo.
Pode emitir gases malcheirosos, caso não seja
bem controlada.
Fonte: JARDIM, N. S. (Coord.) Lixo municipal: manual de gerenciamento integrado. São Paulo: IPT/Cempre, 1995.
72
Debata e entenda
FAÇA NO CADERNO. NÃO ESCREVA EM SEU LIVRO.
1. Quais são os benefícios da reciclagem de materiais do lixo?
2. Com base nas vantagens e desvantagens de cada sistema de tratamento de lixo, indique qual seria o sistema mais
adequado do ponto de vista ambiental para cada um dos seguintes tipos de lixo: domiciliar, público, hospitalar,
industrial e agrícola (veja a classificação do lixo na página 47 do capítulo 2).
3. Debata o argumento de algumas pessoas: “A coleta seletiva é um processo trabalhoso que somente beneficia a
indústria de reciclagem, que não nos paga pelo trabalho que realizamos”.
4. Que propriedade é utilizada para selecionar os materiais ao passar pelos separadores eletromagnéticos nas nas de compostagem?
usi-
5. Que propriedade é utilizada para separar o lixo em peneiras de usinas de compostagem?
6. Classifique os processos de aterro, incineração e compostagem do lixo em transformação química e em cesso físico.
pro-
7. Com base nos gráficos a seguir (IBGE, 2000), debata sobre a problemática do destino do lixo brasileiro e aponte
medidas para amenizar essa questão.
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
Porcentagem de
municípios que
destinam o lixo
em aterros e
lixões.
não informados
9%
outros 31%
60%
lixões
aterros
controlados
aterros
sanitários
Destino final do lixo coletivo
no país em massa.
22%
47%
31%
lixões
8. Analise os dados apresentados na tabela abaixo, procurando identificar a situação da coleta de lixo em cada
estado. Em seguida, debata as possíveis razões para as diferenças observadas.
PORCENTAGEM DE DOMICÍLIOS POR ESTADO DA FEDERAÇÃO SEM COLETA DIRETA OU INDIRETAMENTE DO LIXO
Estado
Domicílios sem
coleta (%)
Estado
Domicílios sem
coleta (%)
Estado
Piauí 43,2 Acre 19 Mato Grosso do Sul 9,9
Maranhão 33,9 Pernambuco 18,8 Paraná 9,2
Alagoas 24,9 Pará 18 Goiás 9,1
Rondônia 24,7 Roraima 15,2 Rio Grande do Sul 8,3
Tocantins 24,2 Sergipe 14,1 Santa Catarina 7,7
Bahia 23,8 Rio Grande do Norte 13,7 Amapá 2,7
Ceará 22,5 Amazonas 13,3 Rio de Janeiro 1,3
Mato Grosso 19,5 Espírito Santo 12,6 São Paulo 1,2
Paraíba 19,4 Minas Gerais 11,3 Distrito Federal 1,2
Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio, 2001-2009.
Domicílios sem
coleta (%)
9. Quais são os problemas que a população da sua cidade enfrenta em relação ao lixo? Debata essa questão com
os colegas de classe.
10. Debata com os colegas por que, mesmo em situações de grande risco para a saúde da população e contaminação
do meio ambiente, os lixões são utilizados para o acondicionamento do lixo. Qual é a responsabilidade dos
governantes e da população em relação a essa situação?
73
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS, QUÍMICA E CIÊNCIA
Pense
1 DA ALQUIMIA À QUÍMICA
Por que substâncias diferentes possuem propriedades diversas? Do ponto de vista microscópico, como serão as substâncias?
P erguntas como essas sempre intrigaram o ser humano. É da natureza humana buscar
respostas sobre questões relativas à nossa existência e ao mundo que nos cerca.
O que sou? Onde estou? O que é o mundo? O que faço e o que devo fazer neste mundo?
Essas são algumas das questões para as quais, há muito tempo, buscamos respostas
por meio de diversos modos de pensar. O pensamento mágico e mitológico é uma das
formas mais antigas de resposta a essas questões. O mito é uma forma de pensamento
que se impõe pela emotividade ou, como consideram alguns, por explicações atribuídas a
forças superiores. Esse tipo de pensamento manifesto em narrativas mitológicas, como as
encontradas na mitologia grega, esteve presente em sociedades primitivas e se manifestava
como uma crença coletiva que não era questionada e simplesmente acreditada por
atos de fé, sendo transmitida de geração a geração. Essa forma de interpretar o mundo
ainda está presente nas sociedades atuais.
Assim foram, por exemplo, muitas explicações atribuídas à origem e à natureza do fogo,
tido como um fenômeno divino. Um passo importante na evolução de nossa civilização foi,
contudo, quando esse pensamento mágico começou a ser substituído pelo pensamento
racional, como o da Filosofia, que busca respostas para as questões apresentadas anteriormente.
Desse pensamento racional, surgiu o pensamento científico, ao qual a Química está
vinculada. A Química, uma ciência moderna, fornece-nos explicações sobre as substâncias,
suas transformações, suas propriedades e constituição. Vejamos um pouco dessa história.
Derby Museum and Art Gallery – Derby (UK)
WRIGHT Joseph. O alquimista
em busca da pedra
filosofal. 1771. Óleo
sobre tela, 127 cm 101,6
cm. Pintura representando
Henning Brand e a descoberta
do elemento fósforo.
Das artes práticas de
transformação à Alquimia
Os processos químicos, nos quais substâncias se transformam em outras, sempre
fascinaram a humanidade. Na busca de dominá-los, desde os primórdios da humanidade,
uma série de tecnologias químicas foi desenvolvida: o controle da combustão, a obtenção de
metais com base nas transformações químicas de seus minérios, o cozimento de alimentos,
o processo de curtição do couro, a fabricação de vidros e cerâmicas, a obtenção de drogas
e medicamentos etc. O domínio dessas tecnologias possibilitou maiores intervenções no
ambiente e contribuiu para melhorar as condições de vida do ser humano.
O domínio desses conhecimentos práticos de transformações de materiais
por civilizações primitivas se deu muitas vezes por técnicas executadas em
rituais religiosos ou de magia. Assim, se consolidaram as técnicas dos
curandeiros, dos mineiros, dos ferreiros, entre outros.
A esses conhecimentos práticos se somaram conhecimentos
de sábios que permitiram melhor compreensão e maior
domínio de diferentes processos de transformação.
Surgiram então as bases da Alquimia em diversas civilizações,
diferenciando-se pelas concepções de mundo
de cada cultura. Desse modo, desde a Antiguidade até a
Idade Média, tivemos, entre outras, a Alquimia chinesa, a
hindu, a egípcia, a árabe, a europeia.
74
Como se vê, a Alquimia não teve uma única base de conhecimento. Por isso, historiadores
têm até dificuldade de defini-la claramente, considerando-a como doutrina, como
filosofia ou como arte. O fato é que sua origem sempre esteve relacionada ao ofício prático
de transformações de materiais. Com relação a seu nome, alguns consideram que teve
origem na civilização egípcia, advinda da palavra khemeia, arte relacionada com mistérios,
superstições, ocultismo e religião. Outra hipótese é que tenha surgido da palavra grega
chyma, , que significa fundir ou moldar metais. A concepção mais aceita é que o nome veio
do grego chemya, palavra de origem egípcia: kam it ou kem it
= “negro”. A explicação
para essa origem pode ser atribuída ao solo negro do Egito (berço das artes alquímicas),
ou a uma etapa de enegrecimento no processo de transmutação desenvolvido pelos
alquimistas, ou, ainda, por significar a Arte Negra, secreta ou divina.
A Alquimia passou para a História por seus ideais inatingíveis: a busca
de uma fórmula que poderia transformar metais em ouro, a chamada
“transmutação”, e de um elixir da longa vida, que permitiria a imortalidade.
Embora nunca tenham sido alcançados pelos alquimistas, esses objetivos
trouxeram ganhos bastante concretos: permitiram o desenvolvimento
de aparelhos, técnicas laboratoriais e substâncias fundamentais para o desenvolvimento
da Ciência. Hoje não somos imortais, mas temos uma expectativa
de vida cada vez maior. As conquistas tecnológicas obtidas pela
sociedade trouxeram riqueza e melhor qualidade de vida, embora esses
benefícios não estejam disponíveis a todos.
Cadinho de porcelana,
destilador de cobre
(alambique) e forno de
altas temperaturas são
instrumentos usados hoje,
mas que já eram utilizados
pelos alquimistas.
Ricardo Azoury/Pulsar Imagens
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
Hely Demutti
Hely Demutti
O método científico e o nascimento da
Ciência Moderna
Creative Commons
No século XVII, começa a se estabelecer um novo modo de justificar os
conhecimentos, com base em um moderno método experimental, centrado
em observações meticulosamente controladas que pudessem desenvolver
teorias demonstráveis matematicamente. O inglês Francis Bacon
[1561-1626] e o francês René Descartes [1596-1650] estão entre os vários
pensadores que contribuíram para o estabelecimento desse modo de pensar:
o método científico. O físico italiano Galileu Galilei [1564-1642] e o
químico Robert Boyle [1627-1691] estão entre os primeiros estudiosos a
fazer uso dessa metodologia.
Em Discurso do Método, obra publicada em 1637, Descartes apresenta um modelo de
pensamento que contribuiu para consolidar a nova forma de pensar que caracterizou a
Ciência Moderna.
75
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS, QUÍMICA E CIÊNCIA
TRANSFORMAÇÕES E PROPRIEDADES DAS SUBSTÊNCIAS
Hely Demutti
Não existe um método
único de investigação em
Ciências: enquanto alguns
cientistas coletam
dados em equipamentos,
outros analisam resultados
obtidos em entrevistas.
As análises são feitas
de forma diferente, mas,
sejam quais forem os métodos
utilizados, deverão
ser reconhecidas por suas
comunidades científicas.
O novo método científico se consolidou e caracterizou o que chamamos hoje Ciência
moderna. Essa nova forma de interpretar o mundo revolucionou diferentes campos de
estudos e influenciou o modo de vida das pessoas. Seu objetivo é explicar a natureza e
o universo no qual estamos inseridos. Enquanto os filósofos pensam sobre a causa da
existência dos corpos, os cientistas se preocupam em explicar como eles se comportam.
A principal característica dos campos de conhecimento que se tornaram Ciência, como
as Ciências Sociais (História, Geografia, Sociologia) e as Ciências da Natureza (Física, Biologia,
Química), está na forma sistemática de desenvolver seus estudos: o método científico.
Não existe um único método em Ciências, cada uma pode ter métodos diferentes, os
quais são acordados entre os próprios cientistas que decidem a forma como aceitam ou
refutam os estudos de sua área. Esses métodos estabelecidos pela comunidade científica
estão em constante mudança.
Hely Demutti
Science Photo Library/Latinstock
Marie Curie [1867-1934]
em seu laboratório. O conhecimento
que temos sobre
radiação deve-se, em grande
parte, às arriscadas experiências
que custaram a
saúde dessa dedicada cientista
polonesa e lhe conferiram
o Prêmio Nobel.
Um método clássico e ainda utilizado nas Ciências Naturais, apesar de não ser o único,
consiste na realização da sequência organizada de etapas para o estudo de fenômenos:
observação do fenômeno, elaboração de hipóteses, teste das hipóteses, generalização
e proposição de uma teoria explicativa para o fenômeno. Vejamos em que consistem
essas etapas.
A hipótese apoia-se em uma afirmação prévia para explicar determinado fenômeno.
É a explicação proposta, com base nos conhecimentos já existentes, antes de se realizar
o estudo. Para explicar a combustão, por exemplo, poderíamos formular algumas hipóteses:
ela ocorre pela combinação do combustível com
o oxigênio ou ocorre pela combinação com outro tipo
de gás. Essas e outras explicações são consideradas hipóteses
até que possam ser testadas e comprovadas.
As hipóteses podem ser testadas por meio de
experimentos. No caso da combustão, teríamos
de repeti-la diversas vezes, fazendo observações
meticulosas sobre a sua ocorrência. Para testar as
hipóteses citadas, a combustão deveria ser realizada
inicialmente na presença de ar, depois na presença
de diferentes tipos de gases, como o gás carbônico,
o nitrogênio, entre outros.
76
A análise dos resultados desses experimentos pode levar à aceitação de uma hipótese
inicial ou à elaboração de novas hipóteses a serem também testadas. A comparação
de resultados de diferentes experimentos pode levar a generalizações, que em Ciência
chamamos leis ou regras científicas. . Por exemplo, no caso da combustão, os resultados
experimentais indicam que ela não ocorre na ausência de oxigênio. Assim, o enunciado
“para haver combustão deve haver oxigênio” corresponderia a uma lei, pois se trata
de uma generalização. Após os testes, as explicações que estiverem de acordo com
os resultados encontrados passam a constituir as teorias científicas. Teoria científica é
o conjunto de afirmações consideradas válidas pela comunidade científica para explicar
determinado fenômeno.
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
O nascimento da Química Moderna
Os estudos sobre processos químicos eram desenvolvidos por diversos filósofos e, sobretudo,
pelos alquimistas. Até a Idade Média, tais estudos se fundamentavam em teorias
obscuras, mas aos poucos novos estudiosos adotaram os métodos experimentais da Ciência
moderna e novas teorias foram surgindo para explicar as transformações químicas. Por
exemplo, o médico, filósofo e alquimista suíço Paracelso, Philipus Aureolus Theophrastus
Bombast von Hohenheim [1493-1541], mesmo ainda ligado à Alquimia, desenvolveu estudos
que deram início à Química médica (quimiatria ou iatroquímica). Vários outros, entre
os quais se destaca o físico e químico irlandês Robert Boyle, desenvolveram técnicas
experimentais na produção metalúrgica e na preparação de diversos materiais.
Muitas das novas teorias permaneceram ainda impregnadas de velhos conceitos e modelos
da Alquimia. Uma das mais marcantes foi a teoria do flogístico, proposta pelo
alemão Georg Ernst Stahl [1660-1734]. Em 1731, ele aventou uma teoria explicativa para
a combustão. De acordo com ela os corpos combustíveis teriam como constituinte um
“elemento”, denominado flogístico, liberado durante a queima.
Embora as explicações com base na teoria do flogístico fossem razoáveis, ela apresentava
incongruências em relação à variação de massa. Mesmo assim, foi muito aceita na época.
No século XVIII, surgiram melhores explicações para a combustão. Antoine Laurent
Lavoisier [1743-1794] percebeu a importância do oxigênio para esse processo. Com base
em experiências bem elaboradas e controladas, utilizando balanças de alta precisão
(cujas sensibilidade e precisão poderiam rivalizar com balanças modernas), ele mediu a
variação de massa durante a combustão de diversas substâncias. Os resultados dos experimentos
demonstraram que havia conservação de massa durante as reações e permitiram
que ele demonstrasse que a queima é uma reação com o oxigênio e que a cal
metálica da teoria do flogístico era, na verdade, uma nova substância.
Lavoisier contribuiu de maneira significativa para o surgimento da Química, como
ciência experimental, ao propor uma alternativa à teoria do flogístico e consolidar um
novo método de investigação coerente com os métodos científicos. O seu trabalho e o
de outros químicos da época, como o escocês Joseph Black [1728-1799], contribuíram
para demonstrar a necessidade do uso de balanças nos estudos da Química.
Essa nova forma de estudar processos químicos já era aplicada por vários cientistas
e tem os trabalhos de Lavoisier como um marco na mudança de paradigma
no estudo dessa área de conhecimento. Paradigma é o padrão ou o modelo
que norteia nosso modo de viver, trabalhar, fazer Ciência. É pela mudança
de paradigmas, de acordo com o físico e filósofo alemão Thomas Kuhn
[1922-1996], que a Ciência se desenvolve. Essas mudanças são também
chamadas Revoluções Científicas.
A teoria do flogístico, que
teve importância histórica
na busca da compreensão
da natureza da matéria, foi
proposta pelo químico alemão
Georg Ernst Stahl
[1660-1734].
School of Chemical Sciences, Illinois
6
7
8
77
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS, QUÍMICA E CIÊNCIA
Metropolitan Museum of Art, New York.
Historiadores das Ciências divergem quanto ao período e aos fatos que marcaram
a Revolução Química. Porém muitos concordam que essa revolução culminou de
fato com o Traité élémentaire de Chimie
(Tratado elementar de Química), publicado
por Lavoisier em 1789. Essa revolução se caracterizou pelo fato de os químicos passarem
a utilizar um método característico de investigação, uma linguagem própria e
um sistema lógico de teorias para estudar e explicar os processos. Contribuíram para
o surgimento da Química as profundas mudanças culturais e sociais daquela época,
advindas com a Revolução Industrial e com a Revolução Francesa, inspirada nos ideais
dos iluministas do chamado Século das Luzes.
Portanto, podemos dizer que a Química é uma ciência nova com pouco mais de
duzentos anos. Há quem defenda que ela derivou da Alquimia, mas, na verdade, se originou
de uma revolução do modo de pensar a matéria. Nesse sentido é que a Química
tem propósitos e métodos bem diferentes da Alquimia.
A Ciência na História
DAVID, Jaques-Louis. Retrato de Antonie-Laurent e Marie-Anne
Lavoisier. 1788. Óleo sobre tela, 256 cm 195 cm. Marie-Anne teve
um papel importante nos trabalhos de pesquisa de Lavoisier.
A CABEÇA DE LAVOISIER
Antoine Laurent Lavoisier nasceu em Paris
em 1743 e lá morreu guilhotinado
em 1794. Durante seus estudos no Collège des
Quatre-Nations, ele estabeleceu contato com
cientistas famosos. Ele adorava Matemática e
se interessava por todas as Ciências. Provavelmente
o primeiro trabalho científico dele tenha
sido uma descrição de exatidão notável de uma
aurora boreal. Em 1768, com 24 anos, conseguiu
uma vaga de químico-adjunto, tornando-se
membro da Academia de Ciências. Logo ele começou
a ganhar notoriedade com seus trabalhos
contra a teoria dos quatro elementos. No mesmo
ano, Lavoisier se tornou membro da Ferme
Générale, uma companhia cujos sócios arrendavam
do governo o privilégio de coletar os impostos. Eles eram obrigados a entregar ao rei uma quantia
fixa estipulada e o excedente correspondia aos lucros dos fiscais. Os membros da Ferme Générale eram
suspeitos de corrupção e detestados pelo povo em geral. O Tribunal da Revolução Francesa o sentenciou
à morte em razão dessas acusações. O tribunal que o condenou não demorou a reconhecer sua inocência
e devolver à sua esposa seus documentos e instrumentos de laboratório, permitindo a publicação de trabalhos
ainda inéditos. Sua obra – que trata de procedimentos experimentais, como o uso da balança – foi
fundamental para o desenvolvimento da Química, sendo Lavoisier considerado por muitos historiadores
o responsável por tornar a Química uma Ciência experimental. Sobre sua morte, comentou o matemático
e físico italiano Joseph-Louis Lagrange [1736-1813]: “Foi preciso somente um momento para cortar sua
cabeça e, provavelmente, cem anos não serão suficientes para produzir outra como aquela”.
78
2 CONHECIMENTO CIENTÍFICO
E SENSO COMUM
Pense
O que diferencia o conhecimento científico do senso comum, isto é, do conhecimento não científico?
Será que o conhecimento do cozinheiro e do oleiro também são conhecimentos científicos? Por quê?
A s transformações químicas não são estudadas apenas pelos químicos. Os cozinheiros,
por exemplo, estudam constantemente melhores maneiras de combinar diferentes
temperos e técnicas para transformar alimentos em apetitosos pratos. Muitos dos
processos desenvolvidos por eles são de natureza química. Assim ocorre com o carvoeiro,
que transforma a madeira em carvão, e com o oleiro, que transforma o barro em tijolo.
Podemos dizer que muitos dos objetos de estudo dos cientistas são também estudados
por pessoas que não têm conhecimentos científicos sobre o assunto. Sabemos, por exemplo,
que os índios podem conhecer mais sobre o ciclo de plantas e os hábitos de animais
de sua região do que os biólogos. Todavia, o que diferencia o conhecimento científico do
senso comum é a maneira como ele é construído e organizado. Os cientistas utilizam rígidos
critérios e métodos de investigação para obter, justificar e transmitir o conhecimento
científico. No senso comum, o conhecimento é conquistado sem, necessariamente, seguir
métodos e técnicas específicos. No senso comum não existe uma organização sistematizada
do conhecimento.
Apesar da sua larga aplicação, as teorias científicas têm seus limites. Não conseguem
explicar tudo. Compreender a natureza e as limitações do conhecimento científico é fundamental
para sabermos até que ponto e como poderemos usar esse conhecimento. Por
isso, é preciso antes de tudo reconhecer que a Química, como toda Ciência, não expressa
uma verdade absoluta. Ela apresenta a explicação que é mais bem-aceita pela comunidade
científica. Isso pode valer em um período histórico e não ser aceito em outro período.
O conhecimento científico é elaborado com rigor e permite muitas vezes, com bastante
precisão, prever e explicar novos fenômenos. Todavia, dependendo do que se pretende,
isso pode ser feito também por outros tipos de conhecimento. Embora o conhecimento
prático culinário de uma dona de casa seja suficiente para preparar excelentes refeições,
ele não é capaz de explicar os princípios químicos envolvidos no processo, sendo insufi-
ciente para garantir a qualidade exigida para a produção industrializada.
O conhecimento das transformações
químicas não
é de domínio exclusivo dos
químicos.
CAPÍTULO
1
2
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4
5
6
7
8
Hely Demutti
79
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS, QUÍMICA E CIÊNCIA
Exercícios
1. Cite algumas transformações químicas conhecidas desde
o início da humanidade e sua utilização.
2. Em que acreditavam os alquimistas? Quais as suas principais
atividades?
3. Pesquise, em livros de História, a influência dos iluministas
no surgimento de Ciências modernas como a
Química.
4. Pesquise, em livro de História, a Revolução Industrial
e a Revolução Francesa e identifique as contribuições
desses períodos históricos para o desenvolvimento da
Química como Ciência.
5. Em que consistia a teoria do flogístico?
6. Qual é a diferença entre a explicação da combustão
pela teoria do flogístico e pela teoria de Lavoisier?
7. Cite uma das contribuições de Lavoisier para o surgimento
da Química como Ciência.
8. Que mudanças aconteceram na sociedade, com a Revolução
Industrial, que favoreceram o desenvolvimento
da Química?
9. O que é método científico?
10. Existe um único método científico? Por quê?
11. Em que a Alquimia contribuiu para o desenvolvimento
da Química?
12. Estabeleça a principal diferença entre a Alquimia e a
Química.
13. Para você, qual é a diferença entre magia e Ciência?
14. O que diferencia os conhecimentos químicos do senso
comum?
15. O conhecimento químico expressa a verdade absoluta?
Justifique sua resposta.
16. Zé Limpim é o fabricante do sabão mais vendido na sua
região. Seu produto é fabricado por várias gerações
da família. No momento, sua produção já está sendo
vendida até na capital. Você poderia afirmar que Zé
Limpim é um cientista e, por isso, seu sabão é de boa
qualidade? Justifique sua resposta.
17. Durante alguns anos, médicos receitaram medicamentos
à base de talidomida para amenizar os enjoos de
mulheres grávidas. Mas aconteceu uma tragédia: bebês
de mães que fizeram uso desse medicamento nasceram
com deformidades nos membros superiores e inferiores.
FAÇA NO CADERNO. NÃO ESCREVA EM SEU LIVRO.
Sobre tal acontecimento, debata:
a) O que poderia ter sido feito para evitar essa
tragédia?
b) Se a Medicina é uma Ciência, devemos ou não confiar
nos medicamentos prescritos pelos médicos?
Justifique.
18. (AEUDF) Analisando os resultados de vários experimentos,
um aluno chegou à seguinte conclusão: “quando
se coloca uma vela acesa em um recipiente fechado,
ela se apaga”. Essa conclusão é:
a) uma hipótese.
b) uma experimentação.
c) uma generalização.
d) uma teoria.
e) um modelo.
19. (UnB-PAS-DF) Sobre o conhecimento científico e a Química,
julgue os itens a seguir, marcando C para os itens
corretos e E para os errados.
1) O conhecimento químico representa o avanço da
Ciência, a qual permite descobrir a verdade acerca
dos fenômenos, fornecendo as certezas a respeito
do como e do porquê dos fatos observados.
2) As transformações químicas são realizadas exclusivamente
em laboratórios especializados.
3) A Química é uma Ciência milenar que surgiu desde
os primórdios da humanidade com a Alquimia.
4) A Alquimia é um tipo de conhecimento mágico que
não é considerado científico.
5) O conhecimento científico é estruturado em um
mé todo sistemático de investigação denominado
método científico, o qual varia com o passar
dos tempos.
20. (UnB-DF) Julgue cada um dos itens a seguir, marcando
C para os itens corretos e E para os errados.
1) Numa experiência química qualitativa, o cientista
limita-se a verificar o que acontece, sem efetuar
medições.
2) As hipóteses formuladas nos domínios da Química
são testadas experimentalmente e podem resultar
em leis.
3) O método científico, aplicado em Química, baseia-
-se em experimentação, observação e análise.
4) No caso da Química, o trabalho em equipe é sempre
desaconselhável.
80
3 CONSTITUINTES DA MATÉRIA
Pense
Como é formada microscopicamente a matéria?
Seria possível enxergar as partículas que constituem a matéria?
M uita gente pensa que na matéria não existem espaços vazios, ou seja, ela é chida ininterruptamente.
Mas, se a matéria fosse contínua como um bloco maciço sem nenhum espaço vazio,
como explicar o aroma de café que sai da cafeteira e se espalha pelo ar? Como explicar o
fato de o grão de permanganato de potássio ou de uma gota de tinta colorir igualmente
preencerta
porção de água contida em um recipiente?
Muitos sólidos, ao se dissolver na água, dão a impressão de que desaparecem
completamente. No entanto, podemos explicar a dissolução como um processo em
que o sólido se divide em partículas minúsculas que se dispersam pelo líquido. Os sólidos
tingem líquidos nos quais são dissolvidos, por causa da cor de suas partículas.
Ao adicionar o cristal de permanganato de potássio ao béquer, a ideia que surge é
a de movimento. Você observou que a coloração violeta se distribuiu lentamente no
líquido incolor, ou seja, as partículas do permanganato se distribuíram entre as partículas
constituintes da água.
As observações da segunda parte do experimento nos permitem pensar que assim
como entre os grãos de feijão existem espaços vazios, nos quais se alojaram as partículas
de açúcar, também entre as partículas constituintes do açúcar há espaços vazios onde
se alojaram partículas constituintes da água. A ideia de que os constituintes da água
também são partículas pode ser deduzida, pois é possível dissolver diversos sólidos
na água, como o permanganato de potássio, o sal de cozinha, o açúcar etc. O que
ocorre é que as partículas desses sólidos, infimamente pequenas, distribuem-se entre
as também infimamente pequenas da água. Essas partículas são tão pequenas que não
são perceptíveis pela nossa visão nem por microscópios ópticos.
Química na escola
Há espaço vazio na matéria?
Esse experimento é para ser feito em grupo na própria sala de aula, com materiais que você pode conseguir em casa.
Observe um pedaço de ferro ou a água em um copo. Temos a impressão de que a matéria é toda contínua. Será que é
mesmo? Faça a atividade a seguir e verifique tal ideia utilizando o “método científico” clássico: observe, elabore hipóteses,
teste essas hipóteses e proponha uma teoria ou um modelo para guiar seu pensamento.
Materiais
• 2 béqueres, ou frascos de vidro transparente de volume próximo, de 100 mL
• água
• espátula
• grãos de feijão
• açúcar cristal
• “grãos” de permanganato de potássio (pode ser encontrado em farmácias) ou pó para preparar refresco de uva.
Pense bem: se um meio
é contínuo, como ele poderia
ser atravessado por
outros?
Consulte as normas de segurança no
laboratório, na última página deste livro.
Hely Demutti
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
81
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS, QUÍMICA E CIÊNCIA
Procedimento
Parte A
1. Em um béquer ponha água até a marca dos 50 mL.
2. Pegue com uma espátula um pequeno cristal de permanganato de potássio e adicione-o ao béquer com água.
Observe.
Pense
O que aconteceu com o cristal de permanganato adicionado à água? Por que a água ficou colorida quando se adicionou
o permanganato de potássio? Justifique do ponto de vista microscópico.
Parte B
1. Em um béquer ou frasco de vidro correspondente de 100 mL, coloque um punhado de grãos de feijão até a marca dos
50 mL.
2. Acrescente açúcar cristal ao béquer com o feijão até a marca dos 50 mL, dando pequenas batidas até não conseguir
adicionar mais açúcar cristal sem ultrapassar o limite dos 50 mL.
Pense
Será que ainda cabe mais algum material no béquer até a marca dos 50 mL? Existem espaços vazios entre os grãos?
Seria possível adicionar algum outro material? Qual?
3. Acrescente água ao béquer com o feijão e o açúcar cristal até a marca de 50 mL.
Pense
Existe água na região que contém feijão e açúcar cristal? Como a água pôde ser adicionada?
Ainda há espaços vazios onde se encontram feijão, açúcar e água? Seria possível adicionar algum outro material? Qual?
Destino dos resíduos
O resíduo sólido dessa atividade pode ser descartado no lixo seco e o resíduo
líquido no sistema de esgoto.
Análise de dados
1. O que vai acontecer com o permanganato de potássio com o passar do tempo?
2. Na parte B, o que você pôde observar?
3. Se imaginarmos um modelo em que a constituição da matéria é considerada
contínua, sem espaços vazios, como poderíamos explicar os resultados desse
experimento?
4. Usando o modelo que você considera mais plausível para compreender os resultados
obtidos, explique o que ocorreu no experimento.
5. Considerando suas conclusões, apresente um modelo para a constituição
da matéria.
Será que há espaços vazios na água,
nos quais possam ser inseridas partículas
minúsculas como as de sal?
Hely Demutti
82
Do ponto de vista macroscópico, a matéria aparenta ser contínua. Do ponto de vista
microscópico, porém, é formada por partículas, é descontínua. Isso significa que a matéria
é de natureza corpuscular. Os químicos denominam as partículas constituintes do açúcar
de molécula de sacarose e as partículas constituintes da água de moléculas de água.
Nem todas as partículas constituintes da matéria são moléculas, conforme você verá mais
adiante em nosso estudo na segunda unidade do livro. Para facilitar nosso estudo, vamos
inicialmente pensar nas partículas constituintes que são moléculas.
Pense
De que são formadas as moléculas?
Vamos avançar com mais informações para que possamos responder a essa questão.
Substâncias simples e compostas
Pense
Será possível decompor uma substância em outras? Como isso seria possível?
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
Estudos demonstram que as substâncias podem ser constituídas por mais de um tipo
de partícula. Vejamos como essa constatação pôde ser deduzida.
Um experimento relativamente simples que permite responder às questões acima é a
eletrólise da água, descrita a seguir.
Eletrólise da água
A eletrólise da água é feita aplicando-
-se uma corrente contínua a uma solução
condutora de eletricidade, comumente hidróxido
de sódio dissolvido em água. Esse
é um experimento simples que você pode
fazer com orientação do professor e utilizando
fios e pilhas.
Na eletrólise da água, a corrente elétrica
gera duas novas substâncias gasosas, uma
delas em cada eletrodo. Testando-se os gases
produzidos, observa-se que o de maior
volume pega fogo ao contato com um fósforo
aceso. O de menor volume não pega fogo,
mas aviva um palito de fósforo em brasa.
Pense
pontas
desencapadas
tubo 1
pilhas
tubo 2
solução de
água e sal
fios
encapados
Os gases que ocuparam os dois tubos são iguais? Por quê? Se análises químicas revelaram
que o eletrólito não sofreu alteração durante a eletrólise, de onde se originaram
os gases coletados nos tubos? Como foi possível a formação dessas duas novas
substâncias? A eletrólise da água é uma transformação química ou um processo físico?
J. Yuji
83
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS, QUÍMICA E CIÊNCIA
Madeleine Openshaw/Shutterstock
A maioria dos veis, como a parafina,
combustí-
é constituída por substâncias
compostas que,
ao serem queimadas, se
decompõem em outras
substâncias, como o gás
carbônico (CO 2
), outra
substância composta, e a
fuligem (C).
A eletrólise da água permite uma melhor compreensão da constituição das substâncias.
Se de uma substância obtêm-se outras, significa que essa substância tem uma composição
que pode ser desmembrada em outras substâncias mais simples. Assim, podemos dizer
que existem duas categorias de substâncias: as que podem ser desmembradas em outras,
chamadas substâncias compostas, e as que não possibilitam desmembramento, as
substâncias simples.
A eletrólise da água provoca um processo de decomposição química. Muitas outras
substâncias podem sofrer decomposição, ou seja, podem ser transformadas em mais de
uma substância por processos químicos. É o caso do açúcar, por exemplo, que ao ser aquecido
produz carvão, gás carbônico e água; do peróxido de hidrogênio (água oxigenada),
que se decompõe em água e gás oxigênio; ou dos óxidos metálicos, que se decompõem
em metais e oxigênio. Essas substâncias são, portanto, compostas.
De outro modo, muitas outras substâncias não podem ser decompostas em outras.
Os gases hidrogênio e oxigênio são exemplos de substâncias que não se decompõem.
Outros exemplos são os metais (cobre, alumínio, zinco, ouro, prata etc.), os gases (nitrogênio,
hélio, neônio, argônio etc.), o enxofre e a grafita. Todas essas são substâncias simples.
Essa conceituação de substância simples e composta pela possibilidade de seu desmembra-
mento não é precisa, pois há substâncias simples que podem se desmembrar em outras substâncias
simples. Por isso, essa conceituação será definida com mais precisão posteriormente.
Hely Demutti
Alguns exemplos de substâncias simples: cobre (Cu), zinco (Zn) e alumínio (Al).
A definição mais adequada vem ao se responder a questão sobre a constituição das moléculas.
Essa questão sobre a constituição da matéria sempre instigou a humanidade. Vamos
observar como, ao longo da História, diferentes respostas foram dadas a essa questão.
Dos elementos aristotélicos ao modelo
atômico de Dalton
As primeiras ideias propostas para a natureza da matéria surgiram ainda na Antiguidade.
Os filósofos gregos foram os pioneiros no mundo ocidental a elaborar teorias para explicar
a natureza do mundo e nossas relações com ele. Esses filósofos buscavam respostas a
questões enigmáticas. Algumas persistem até hoje: De onde viemos? Para que existimos?
Como tudo funciona?
Assim, buscando compreender a natureza, o filósofo grego Tales de Mileto procurava respostas
à questão que já instigava os pensadores de sua sociedade: do que é constituída a matéria?
84
Para ele, a água era a causa material, ou seja, o “elemento” do qual se originavam todas
as coisas. Assim, o entendimento da natureza estava relacionado com esse “elemento”
primordial, constituinte básico para formação dos demais materiais. Note-se aqui que o
conceito de elemento para esse filósofo é diferente do conceito que a Química considera
atualmente e que vamos estudar.
Outros filósofos gregos propuseram que mais três “elementos” deveriam constituir a matéria
básica. Anaxímenes [VI a.C.] propôs que o ar seria o “elemento” constituinte do Universo.
Heráclito [cerca de 540-480 a.C.] considerou que, se a natureza é caracterizada pela mudança,
então o “elemento” essencial deveria ser o que apresentasse uma mudança notável. Propôs
então o fogo como “elemento” básico. Empédocles [cerca de 490-430 a.C.] juntou essas propostas
e considerou que esses três “elementos” deveriam ser a base de todo o Universo. Em
seus estudos posteriores, concluiu que não existiam apenas três “elementos”, mas quatro, e
acrescentou a terra como quarto “elemento”.
Aristóteles, filósofo grego, modificou a doutrina de Empédocles, desenvolvendo uma
teoria que passou a ser aceita pela maioria dos estudiosos da época (século IV a.C.) e
continuou a ser durante muito tempo. De acordo com ele, o Universo seria formado
pela combinação do que chamou “elementos fundamentais”: água, ar,
fogo e terra.
Tais “elementos” podiam se transformar uns nos outros pela mudança de suas propriedades
e ao se combinarem davam origem a todos os materiais.
Para Aristóteles, toda matéria seria formada por um substrato, o qual se modifica pela
mudança de suas propriedades e qualidades, que seriam em número de quatro: quente,
frio, seco e úmido. Essas qualidades se dispõem em pares contrários, resultando formas
diferentes: quente-seco (fogo), quente-úmido (ar), frio-úmido (água) e frio-seco (terra).
Trocando-se uma dessas qualidades, muda-se a forma da matéria. Ao ser aquecida, a
água se transforma em ar, o qual pode inflamar quando perde a qualidade de úmido, se
transformando no fogo e assim por diante, como demonstra a figura a seguir.
Aristóteles foi um dos mais
influentes filósofos gregos.
Contribuiu para a consolidação
do pensamento
lógico, que marcou a filo-
sofia ocidental.
University of Freiburg im Breisgau, Germany
Drachma Bank Notes e Coins
CAPÍTULO
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8
quente-seco
fogo
Demócrito.
frio-seco
terra
água
frio-úmido
ar
quente-úmido
Para Aristóteles, as
transformações
dos elementos
podem ocorrer pela
troca de uma qualidade
ou pela troca
de suas qualidades,
como as indicadas
pelas setas do meio.
Wikimedia Commons
Cerca de quatrocentos anos antes da Era Cristã, o filósofo grego Demócrito [470-360 a.C.]
e seu discípulo Leucipo [século V a.C.] propuseram uma teoria que também se referia à
natureza da matéria. Para eles, a matéria não poderia ser dividida infinitamente, ou seja,
qualquer porção de matéria poderia ser repartida em partes menores até atingir um limite.
Ao atingir esse limite chegar-se-ia a pequenas partículas indivisíveis, as quais foram denominadas
átomos (a = prefixo de negação, tomo = “divisão”). Essa teoria filosófica ficou
conhecida como atomismo e, mais do que explicar a natureza do Universo, ela buscava
dar resposta às angústias humanas sobre sua natureza, apresentando uma explicação
materialista para sua existência.
Leucipo.
Demócrito e Leucipo
foram os precursores da filosofia
do atomismo, que explicava
a natureza das coisas
pela existência de partes
indivisíveis: os átomos.
85
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS, QUÍMICA E CIÊNCIA
Science Photo Library/SPL DC/Latinstock
A teoria do flogístico, que
teve importância histórica
na busca da compreensão
da natureza da matéria, foi
proposta pelo químico alemão
Georg Ernst Stahl
[1600-1774].
Muitos estudiosos defenderam a existência de par tí culas indivisíveis que comporiam
a matéria, denominando-as átomos, porém, durante séculos, a filosofia de Aristóteles se
impôs no mundo ocidental.
Muito mais tarde, uma nova teoria introduziu outro “elemento” primordial: o
flogístico. Esse era tido como “espírito ígneo” que se desprendia nas combustões
(“ígneo” quer dizer, justamente, algo que tenha a natureza ou a cor do fogo). Essa teoria
possibilitou explicar melhor o antigo e intrigante fenômeno da combustão ao afirmar
que o flogístico seriam pequenos corpúsculos que se desprendem na combustão. Essa
teoria reforçava as ideias da natureza corpuscular para a matéria.
No século XVIII, a teoria do flogístico começou a ser negada por causa da afirmação
de Lavoisier, com base em dados experimentais, de que é o gás oxigênio o
responsável pela combustão. O pensamento químico foi avançando no entendimento
de que cada substância tem um tipo de constituinte, abandonando-se a ideia dos
elementos primordiais (água, ar, fogo e terra), que foi sendo substituída pela ideia
da existência de diferentes partículas constituintes. Como acontece nas Ciências, a
resposta a uma questão traz à tona novas questões. O que seriam essas partículas?
Como elas seriam?
Muitos estudos se desenvolveram até se chegar à teoria atualmente aceita para
responder de forma convincente a essas questões. Vamos verificar que teoria foi essa.
A Teoria Atômica de Dalton
Em 1808, John Dalton [1766-1844] publicou o livro Novo sistema de filosofia química,
no qual apresentava sua teoria para a constituição da matéria. Dalton defendia que
a matéria era formada por pequenas partículas que ele denominou átomo. Ele desenvolveu
essa teoria com base em estudos de diversos outros cientistas. A afirmação que
hoje parece óbvia, na época não foi facilmente aceita e provocou intensas discussões
e ferrenhos adversários. Somente na segunda metade do século XIX, os químicos começaram
a aceitá-la ao perceber que o modelo de Dalton era bastante plausível. Em
seguida, esse modelo atômico tornou-se a base de várias teorias químicas que constituem
a Química atual.
A Teoria Atômica de Dalton pode ser resumida nos seguintes princípios:
1. A matéria é constituída de partículas denominadas átomos.
2. As substâncias simples são constituídas de apenas um tipo de átomo (elemento
químico) e as substâncias compostas, por mais de um tipo de átomo (diferentes
elementos químicos).
3. As substâncias compostas são constituídas pela combinação de átomos de diferentes
elementos químicos em proporções fixas.
Veja que, para John Dalton, as substâncias são constituídas de pequenas partículas
denominadas átomos. As substâncias simples possuem átomos do mesmo tipo, ou seja,
do mesmo elemento químico, e as substâncias compostas possuem átomos de diferentes
tipos (elementos químicos diferentes).
Conforme esse modelo, a matéria é de natureza corpuscular, quer dizer, formada por
partículas. Chegamos à mesma conclusão realizando o experimento “Há espaço vazio
na matéria?” Assim, podemos dizer que, apesar de uma barra metálica ter aparência
contínua, ela é constituída de bilhões de partículas. Estas, estando juntas, parecem um
todo contínuo quando observadas pelos nossos olhos, que não percebem os pequenos
espaços vazios entre elas. Por exemplo, uma folha de papel possui diversos espaços vazios,
que podem ser facilmente visualizados em um microscópio.
86
As partículas não são iguais para todos os materiais. É por isso que materiais diferentes
possuem propriedades diferentes – suas propriedades estão relacionadas com a
natureza de suas partículas constituintes.
As substâncias possuem o mesmo tipo de partículas; portanto, substâncias diferentes
possuem diferentes partículas. A partícula da substância pode ser o átomo, como
no caso de muitas substâncias simples, pode ser a combinação de mais de um átomo
do mesmo tipo (átomos do mesmo elemento químico) ou pode ser a combinação de
átomos de diferentes tipos (átomos de elementos químicos diferentes). Como poderíamos
denominar essas partículas constituintes das substâncias?
CAPÍTULO
1
2
3
4
As substâncias simples têm como
constituintes partículas formadas por apenas
um tipo de átomo.
As substâncias compostas têm como
constituintes partículas formadas por mais de
um tipo de átomo.
5
6
7
J. Yuji
J. Yuji
8
Em 1860, um congresso científico resolveu essa questão.
Adotou-se uma proposta apresentada pelo químico italiano
Stanislao Cannizzaro [1826-1910] e desenvolvida décadas
antes pelo químico italiano Amedeo Avogadro [1776-1856]:
a designação de molécula para as partículas que constituem
as substâncias. Contudo, hoje, o termo “molécula” tem outros
significados, que serão discutidos à medida que avançarmos
nosso conhecimento no curso. Por enquanto, por motivos
didáticos, adotaremos o termo constituinte, que é mais
abrangente do que o termo molécula. Considere, portanto,
constituinte o átomo ou grupo de átomos que formam a
partícula da substância.
Os químicos podem caracterizar as substâncias por um
conjunto de propriedades ou pela sua constituição. O mais
comum é utilizar a constituição como referência e, assim,
representar as substâncias por fórmulas que indicam seus
constituintes.
Nesse sentido, temos uma nova definição para as substâncias
do ponto de vista de sua constituição:
Edgar Fahs Smith Memorial Collection/University of Pennsylvania Library
Substância é uma porção de matéria constituída de um,
e somente um, tipo de constituinte.
Stanislao Cannizzaro foi quem defendeu a utilização do
conceito de molécula, apresentado por Amedeo Avogadro.
87
Os constituintes das substâncias são formados por átomos isolados ou combinados
entre si. Conhece-se hoje mais de cem tipos de átomos. Cada tipo de átomo é denominado
elemento químico. Dessa forma, do ponto de vista da constituição das substâncias,
podemos definir as substâncias simples e compostas da seguinte maneira:
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS, QUÍMICA E CIÊNCIA
Library of Congress
A Ciência na História
Dalton deu várias contribuições
para a Ciência,
entre elas a proposição
de uma importante teoria
sobre a constituição
da matéria, conhecida
como Teoria Atômica
de Dalton.
Substância simples é um tipo de substância formada por átomos de apenas
um tipo, ou seja, de um mesmo elemento químico.
Substância composta é um tipo de substância formada por átomos de mais
de um tipo, ou seja, de mais de um elemento químico.
DALTON, O HOMEM COM VISÃO ESPECIAL
J ohn
Dalton era um homem com uma visão muito particular das coisas:
via tudo em tons azulados, até as pessoas. É claro que, a princípio, ele
não notou que era diferente dos outros, já que ele e o irmão enxergavam
dessa forma desde o início da vida. Mas, por volta dos 26 anos de idade,
Dalton percebeu que ele e o irmão sofriam de uma anomalia visual que os
impedia de perceber as cores. Então, ele estudou intensamente essa anomalia,
que recebeu o nome daltonismo.
O empenho com que se dedicava a tudo que fazia era uma marca
fundamental desse inglês nascido em 6 de setembro de 1766, em uma casa de
sólida formação quaker, uma denominação religiosa protestante. Aos 6 anos,
foi matriculado na única escola da vila, onde os professores ensinavam tópicos
relacionados com a Ciência. Aos 11 anos, já tendo concluído os estudos, começou
a dar aula em uma escola montada em sua casa. Em 1781, aos 15 anos, fechou
sua escola particular e empregou-se como professor de Ciências Naturais na
cidade de Kendall. O que realmente projetou Dalton na história da Ciência foi
sua especial visão de mundo; mas dessa vez não falamos do daltonismo, e sim de sua capacidade de
enxergar e considerar a possibilidade do novo. De sua curiosidade e perspicácia nasceram alguns trabalhos
fundamentais para a Ciência, como as leis das pressões parciais, publicadas em 1803. De 1808 é o
primeiro volume do Novo sistema de filosofia química, no qual apresentou, de maneira formidável, sua
hipótese atômica de constituição da matéria. Os maiores químicos da época realizaram pesquisas para
demonstrar tal hipótese. Nesse trabalho, apresenta uma primeira tabela de massas atômicas relativas,
considerando referência o hidrogênio, ao qual foi atribuído o valor de massa igual a 1. Vários cientistas,
em seus estudos, encontraram falhas na teoria proposta, mas Dalton os rebatia com fervor. Nos anos
de 1810 e 1827, publicou os outros dois volumes de seu Novo sistema de filosofia química. Faleceu em
27 de julho de 1844, aos 77 anos, sendo sepultado com honras oficiais. O trabalho de John Dalton é
considerado um dos pilares da Química atual. Uma frase dele reflete bem o estilo de vida que adotou:
“Cientista é aquele que abandona tudo para mergulhar na pesquisa e na experiência”.
88
EM BUSCA DO CONSUMO SUSTENTÁVEL
Tema em foco
Como vimos no início desta unidade, a estrutura econômica de nossa sociedade está organizada de forma a favorecer
o consumismo, afetando o comportamento das pessoas. O paradigma dominante do ponto de vista econômico
é de que o crescimento depende do aumento contínuo da produção e do consumo de bens e serviços, assim
como a melhoria da qualidade de vida.
Podemos dizer que paradigma corresponde aos conteúdos de uma visão de mundo, os valores e os “preconceitos”
que cada um possui em relação a seu modo de vida e ao entendimento de como funciona a sociedade. Então, o
paradigma atual se fundamenta no estímulo constante ao consumismo. O que estamos desenvolvendo na presente
unidade é exatamente um paradigma ambiental contrário a esse consumismo. A cada ano, o consumo supera mais
rapidamente a capacidade de regeneração do planeta.
O consumismo pode ser analisado
de vários aspectos. Podemos
considerar, por exemplo, o consumo
de água, energia, a biodiversidade,
minerais e bens manufaturados. Os
efeitos resultantes desse consumo excessivo
são as mudanças climáticas, a
poluição e o desgaste de diferentes
ambientes, além da extinção de espécies
vivas, animais e vegetais. Esses
problemas tornam o planeta insustentável
ambientalmente e acirram
as desigualdades na distribuição dos
recursos indispensáveis para a vida.
Em geral, o usufruto do consumo fica
com uma minoria mais rica e os efeitos
negativos refletem mais diretamente
na maioria desprovida de condições
para enfrentar as adversidades
provocadas pelas mudanças.
americanos
5,1
franceses
3,1
ingleses
3,1
espanhóis
3,0
O conceito de consumo sustentável surgiu, em 1992, durante a Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de
Janeiro. Na ocasião, discutiu-se o tema que foi construído com base no termo
desenvolvimento sustentável, divulgado no documento Agenda 21. Consumo
sustentável significa saber usar os recursos naturais para satisfazer as nossas
necessidades sem comprometer as necessidades e aspirações das gerações
futuras. Ou seja, saber usar para nunca faltar. Pensar coletivo sobre atos de
consumo é a ideia do consumo sustentável! A utilização do termo “recurso”
tem sido criticada por ambientalistas por passar a ideia de que a Natureza está
a serviço da humanidade e não o que se considera correto: a humanidade é
parte da Natureza; não sua “dona”.
O consumo sustentável significa que todos têm direito ao acesso mínimo a
condições que garantam um padrão básico de qualidade de vida digna. Não
se pode admitir um padrão superior que comprometa a vida de outros nem
é eticamente aceitável e socialmente justo que se pense em um consumo em
que as pessoas não tenham suas necessidades básicas de vida, de educação,
saúde, moradia e lazer satisfeitas.
alemães
2,5
japoneses
2,4
chineses
0,9
Estimativas apontam que, se toda a população mundial tivesse o padrão de vida médio de alguns
povos, seriam necessários vários planetas para suprir as necessidades.
A princípio não teria problema se o padrão adotado fosse o chinês. No entanto, eles, assim
como todo o Terceiro Mundo, querem ter padrões parecidos com os dos países desenvolvidos.
Como ficaria o planeta Terra?
Somos todos responsáveis pela preservação
do nosso planeta. Você está fazendo
a sua parte?
J. Yuji
Rodrigo Baleia/Agência Estado/AE
CAPÍTULO
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5
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7
8
89
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS, QUÍMICA E CIÊNCIA
Osvaldo Sequetin
Creative Commons
Teto de consumo
Piso de consumo
Os consumidores devem adotar, em suas escolhas de compra,
um compromisso ético, uma consciência e uma responsabilidade
quanto aos impactos sociais e ambientais que suas escolhas e seus
comportamentos podem causar a ecossistemas e a outros grupos
sociais, às vezes, geográfica e temporariamente distantes.
Pense
“A Terra possui recursos
suficientes para prover as
necessidades de todos, mas
não a avidez de alguns.”
Mahatma Gandhi
Até quando a Terra suportará esse consumo do? Qual é a nossa parcela de culpa nesse
desenfreaproblema?
Devemos colocar limite em nosso consumo: mesmo que tenhamos condições financeiras
favoráveis ao consumo, devemos considerar o direito de os demais cidadãos também
consumirem. Então, você se dá conta de que, se não começar a pensar e agir, você
poderá comprometer a vida de outras populações e de gerações futuras? Concorda que
esse consumismo desenfreado deve ser revisto? Somos chamados a repensar nossas ações
cotidianas. É impossível ficar parado vendo nossa “morada” sendo destruída aos poucos.
Precisamos mudar nossas atitudes. Cada indivíduo tem chance efetiva de escolha: contribuir
para minimizar os efeitos danosos ao meio ambiente ou contribuir para sua destruição.
O que precisamos é de uma mudança de paradigma! Mudar de paradigma é mudar de
estilo de vida. Por exemplo, no início dos anos 1970, no mundo, gasolina não era problema.
A ideia que as pessoas tinham era de que o petróleo fosse uma fonte inesgotável. Para
ter combustível em seu carro bastava pagar por ele e pronto, até porque a gasolina não
custava caro! Os motores dos carros não eram econômicos, alguns carros chegavam a
gastar 1 litro de gasolina para rodar três quilômetros; o que importava era a potência
do motor. A maioria não dava importância, por exemplo, a carros mais econômicos, de
pequeno porte, com motores mais leves. Atitudes de economia não eram importantes nem
necessárias. Até que um fato mudou o rumo dessa história! Uma crise no fornecimento
de petróleo, em 1973, provocou um grande aumento de preço do petróleo, sinalizando
para a possibilidade de esgotamento das reservas e uma maior valorização desse mineral.
A ideia da possibilidade da falta de petróleo alterou o comportamento das pessoas
e significou uma mudança em alguns paradigmas. Os carros econômicos passaram a ser
as vedetes do momento, os modelos mais procurados. Foram desenvolvidos motores
com melhor relação custo-benefício, novas fontes alternativas de combustível, álcool,
biodiesel, entre outros. Carros menores com melhor desempenho mantêm o mercado
de veículo automotivo. No Brasil, popularizou o carro “mil”, tipo flex, mais econômico
– afinal, atualmente a gasolina é muito cara! O que aconteceu: as pessoas mudaram?
O preço do desperdício
pode ser pago mais rápido
do que se imagina.
AMj Studio
90
O paradigma que as orientava sim. Do modelo de um mundo com petróleo infinito, passamos a uma outra descrição,
outro modelo. Mudaram-se os paradigmas!
Essa mudança não foi completa, pois o paradigma dominante das pessoas é movido mais por condições econômicas
do que ambientais. Ou seja, buscam um modo de vida que traz mais benefícios para elas. O novo paradigma que se
quer implantar é o de se pensar em um modo de vida que não apenas beneficie economicamente o indivíduo, mas
que considere um custo social aceitável.
Pense
Será que se o preço dos combustíveis continuasse elevado, as pessoas teriam optado por carros econômicos?
Essa opção foi por motivos ambientais?
CAPÍTULO
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3
4
5
J. F. Diorio/Agência Estado/AE
Divulgação
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8
Rodrigo Baleia/Folhapress
Carros muito poluentes, motos caríssimas, joias e casacos de couro
são bens de consumo de
luxo dispensáveis e ambientalmente inadequados em uma sociedade sustentável.
Hely Demutti
Hely Demutti
Uma forma de saber se o que estamos consumindo é adequado
é nos habituarmos a ler os rótulos dos produtos.
Você pensa que sozinho não vai mudar o mundo? Ghandi disse que
“Não é preciso entrar para a história para fazer um mundo melhor”.
Faça sua parte: evite o desperdício. Você já pensou na quantidade de
água que diariamente escoa pelos ralos em atividades como escovar
os dentes, tomar banho e lavar louça, roupa e carro? E eletricidade
desperdiçada com luzes acesas desnecessariamente e nos banhos demorados?
Na quantidade de papel não reaproveitado? Nas compras
desnecessárias? Você adquire realmente o que necessita, ou compra
de modo compulsivo? Na sua casa, comida é suficiente ou sempre
sobra e se joga fora?
Devemos realmente pensar antes de consumir. Afinal, se em nossa
casa não cabe o velho, onde caberia? Imagine se você ficasse trocando
de geladeira, de TV, de computador toda vez que saísse um
modelo novo no mercado. Um único produto para ser fabricado demanda
matéria-prima e energia em grande escala. Para fabricar um
computador de 24 kg são gastos, aproximadamente, 22 kg de produtos
químicos, 240 kg de combustíveis fósseis e 1,5 tonelada de água.
E reaproveitam-se, aproximadamente, apenas 10% dos computadores
e seus componentes. É muito descarte! Não acha?
Pensar coletivo sobre seus atos de consumo é a ideia do consumo
sustentável! E você pode ir mais adiante se achar que tem essa responsabilidade!
Divulgue essa ideia na sua escola, no seu trabalho, na
sua rua. Seja um consumidor consciente e faça parte do grupo de pessoas
que vai ajudar a tornar o mundo mais justo e mais sustentável.
Embora seja permitido o descarte de pilhas no lixo doméstico, lembre-
-se de que, na maioria de nossas cidades, essas pilhas vão parar em lixões
91
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS, QUÍMICA E CIÊNCIA
e, somadas com todas as demais pilhas descartadas, vão provocar um efeito danoso ao ambiente. Procure usar pilhas recarregáveis,
use até o máximo as suas pilhas e, após o esgotamento, procure destiná-las a empresas que fazem a reciclagem.
Que tal começar? O que o planeta agora precisa é de gente suficientemente corajosa e criativa que programe novas
alternativas que garantam a sustentabilidade da vida.
Pense
Você tem alguma ideia de como isso pode ser feito? Sabe pelo menos por onde pode começar? Construa sua opinião
sobre o assunto!
Há uma atitude simples que você pode adotar, que tem sido chamada por ambientalistas
de “preciclar”. Não, não está escrito errado, é isto mesmo: PRECICLAR!
Preciclar refere-se à atitude de pensar antes de comprar. Significa “pensar que a
história das coisas não acaba quando a jogamos no lixo. Tampouco acaba a nossa
responsabilidade”.
Cerca de 40% do que consumimos estão acondicionados em embalagens não
aproveitadas depois e, é claro, descartadas no lixo, sem nenhum benefício. O impacto
de milhares de toneladas de sacos plásticos que nós, brasileiros, lançamos
anualmente no ambiente é muito grande. Um único brasileiro joga fora, por ano,
cerca de 880 sacolas plásticas dessas de supermercado. Absurdo? É quase um
carrinho de supermercado cheio!
A plasticomania cresceu com o consumismo da sociedade moderna. As colas plásticas são feitas de substâncias originadas do petróleo, não biodegradá-
saveis,
e levam séculos para se decompor. Os países da Europa já começaram uma
“guerra contra os sacos plásticos”. As pessoas adotaram as sacolas de algodão
para ir aos supermercados. Aqui, no Brasil, também existem vários locais que difundem
essa ideia.
Atitudes simples fazem a diferença!
Quando efetuamos uma compra, devemos pensar não somente nas mercadorias,
mas também nas embalagens e no uso de objetos plásticos descartáveis.
Leve sempre sua sacola quando for
ao supermercado.
Como fazer isso?
Atitudes simples como um “não precisa, obrigado(a)”, dispensando as “sacolinhas”, ao se comprar objetos pequenos,
também são formas de contribuir muito para a preservação do planeta.
Além da redução do consumo, devemos pensar na reutilização de materiais, o que pode ser feito de diversas maneiras,
como a doação a entidades assistenciais. Pensar em consumo sustentável é pensar em redução de consumo
e na reutilização de materiais. Veja outras atitudes no boxe da próxima página que exemplificam atitudes desse tipo.
Acreditamos que o estudo da Química
vai ajudar você a compreender a necessidade
da mudança de comportamento.
Que tal estudar e conhecer alguns aspectos
importantes dos materiais? A Química se
valeu do estudo das propriedades de matérias
para favorecer a qualidade de vida
das pessoas. Mas ela sozinha não fez nada!
Por trás dela sempre havia alguém, com
muita vontade de resolver um problema!
Hely Demutti
Eugenio Moraes/Hoje em dia/AE
Doação de roupas a entidades assistenciais deve
ser uma atitude constante e não apenas em campanhas
emergenciais em situações de calamidade pública.
92
Atitude sustentável
Atitudes para o consumo sustentável
Reduzir
b Evitar imprimir documentos que podem ser lidos na telas do computador.
b Reduzir o uso de papel, reduzindo margens, tamanho de letras e espaçamento.
b Evitar consumo desnecessário, programando as compras com uma lista de necessidades, não se deixando levar por
promoções nem anúncios apelativos.
b Verificar a data de vencimento dos produtos para evitar que eles se estraguem antes de usá-los.
b Diminuir o consumo de pilhas e utilizar pilhas recarregáveis.
b Evitar excesso de embalagens. Use sacolas de tecido.
b Não utilizar sacolas plásticas quando comprar algo que possa ser carregado na mão ou em outra sacola.
b Dar preferência a produtos que tenham embalagem retornável, refil ou que sejam recarregáveis.
b Substituir materiais descartáveis por materiais duráveis.
b Diminuir o consumo de tudo o que for possível! Pensar antes da compra: será que preciso mesmo disso?
Reutilizar
b Reutilizar tudo o que se puder.
b Consertar objetos e equipamentos em vez de descartá-los.
b Procure trocar, reformar ou vender roupas, móveis, aparelhos eletrodomésticos, brinquedos, objetos de decoração
e outros antes de substituir por novos.
b Fazer doações de roupas, calçados, brinquedos.
b Evitar comprar produtos que tenham muitas embalagens.
b Carregar caneca para evitar o uso de copos descartáveis.
b Utilizar como rascunho as folhas que já foram usadas em um lado.
b Reutilizar envelopes.
b Reutilizar potes de vidro e de plástico, embrulhos, embalagens de presente, sacolas plásticas, caixas de papelão etc.
b Aproveitar cascas de legumes e frutas no preparo de alimentos alternativos ou separá-las para compostagem de
adubo orgânico.
Reciclar
b Favorecer a reciclagem.
b Usar produtos recicláveis. A reciclagem é uma alternativa que demanda menos processo de industrialização e, consequentemente,
menos emissão de gases poluentes.
b Separar os resíduos para sua coleta seletiva.
Contribuir para a educação e para as ações de cidadania
b Ajudar a conceber medidas para a sustentabilidade como uma melhoria que garanta o futuro de todos e não como
uma limitação, impulsionando o reconhecimento social das medidas positivas.
b Respeitar e fazer respeitar a legislação de proteção do meio ambiente para defesa da biodiversidade.
b Evitar contribuir para a contaminação sonora, luminosa ou visual.
b Não deixar resíduos em parques, na praia, nos lagos.
b Ter cuidado para não danificar a flora e a fauna.
b Reivindicar e apoiar políticas de corresponsabilidade no destino adequado de resíduos.
b Reivindicar maior durabilidade dos produtos.
b Engajar-se em grupos de consumo ético e solidário.
Kasia Bialasiewicz/Shutterstock
CAPÍTULO
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3
4
5
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93
Debata e entenda
FAÇA NO CADERNO. NÃO ESCREVA EM SEU LIVRO.
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS, QUÍMICA E CIÊNCIA
1. Discuta com os colegas a questão ética sobre o direito de todos os habitantes do planeta de utilizar conscientemente
os bens de consumo para ter uma vida mais igualitária.
2. Sabemos que existe uma infinidade de bens de consumo. Mas como saber quando devemos trocar um desses bens?
Um aparelho eletrônico, por exemplo?
3. Analise a afirmação: “Cada indivíduo tem chance efetiva de contribuir para minimizar os efeitos danosos ao meio
ambiente, assim como pode contribuir para destruí-lo”.
Indique exemplos de ações que podem salvar ou destruir o meio ambiente.
4. Relacione o maior número possível de materiais descartáveis e monte um quadro identificando o material, a finalidade
de seu uso e possíveis alternativas para substituí-lo por outros não descartáveis, ou medidas para diminuir
seu consumo.
5. Debata alternativas para diminuir o consumo de papéis, plásticos, metais e vidros.
6. Relacione possíveis materiais que possam ser reaproveitados e a forma do seu reaproveitamento. Debata com os
colegas se todos os materiais podem ser reaproveitados.
7. Ordene os itens abaixo, considerando o que você julga mais importante na hora de decidir sobre qual material usar:
•••
••
8. De cada par de materiais apresentados abaixo, qual você escolheria? Por quê?
•
•
•
9. Discuta com os colegas quais são as dificuldades observadas para ter uma atitude sustentável. Como vencer e superar
essas limitações?
Ação e cidadania
Discuta com a turma ações para melhorar as condições de vida de sua comunidade, por exemplo:
1. Elabore e aplique questionário para pesquisar como tem sido o comportamento das pessoas em relação a atitudes
sustentáveis apresentadas nesta unidade e discuta os resultados, buscando medidas que possam reduzir os problemas
constatados.
2. Pesquise na administração pública de sua cidade como funciona o sistema de tratamento de lixo, incluindo os
lixos hospitalar e industrial, e organize visita aos locais para onde é levado o lixo, como estação de tratamento
de coleta seletiva, usinas de compostagem ou lixão. Se possível, fotografe ou filme e depois monte um mural ou
exiba o vídeo, apresentando relatório com aspectos positivos e negativos observados com relação aos problemas
ambientais e sociais.
3. Proponha campanhas educativas para a disposição correta do lixo pela comunidade, mutirões de limpeza
urbana para remover entulhos, envolvendo as autoridades responsáveis por esse serviço. Se for o caso, faça
abaixo-assinados dirigidos a autoridades ou correspondências para os Conselhos Municipais de Saúde, de
Meio Ambiente e de Conselhos Tutelares da Criança e do Adolescente, pedindo providências em relação aos
problemas identificados.
4. Proponha um projeto de coleta seletiva do lixo na sua escola, tendo como base a leitura do texto “Sugestões para
implantação de programas de coleta seletiva em escola”, a seguir.
94
Sugestões para implantação de programas
de coleta seletiva em escolas
1. Reúna a comunidade escolar e, se todos “toparem” separar lixo, divida as tarefas. Lembre-se de que a queima de
lixo é proibida, pois é fonte de poluição.
2. Pesquise o mercado para recicláveis, consultando prefeitura, catadores, sucateiros e entidades assistenciais. Então,
prepare um esquema de retirada dos materiais da escola. Doar os recicláveis dá um caráter socioambiental ao trabalho.
A eventual venda de recicláveis não deve ser buscada como fonte de “renda” para a escola, caso contrário, poderá incentivar
geração proposital de resíduos. A periodicidade da coleta depende do espaço disponível para armazenamento.
3. Para o descarte seletivo e o armazenamento dos materiais, escolha um local coberto, de fácil acesso aos coletores e
bem à vista. Os recipientes podem ser cedidos pela Prefeitura, sucateiros ou empresas, comprados ou confeccionados
pela própria escola. As cores-padrão dos recipientes para descarte seletivo são: azul-marinho para papéis, vermelho
para plásticos, amarelo para metais e verde-escuro para vidros. O jornal pode ser enfardado, separado dos demais
papéis: ele vale mais para venda. Caixas de ovos também podem ser empilhadas e vendidas em feiras ou quitandas.
Poderão ser coletados outros materiais para uso nas aulas de Educação Artística. Deve-se estimular a troca de livros
usados e a doação de roupas usadas, brinquedos e outros a comunidades ou entidades assistenciais. Não inicie o
programa sem antes ter garantido o local para o destino do material e os recipientes para a coleta seletiva.
4. Promova reuniões com todos os alunos e convide a comunidade (pais, funcionários e moradores, caso a escola possa receber
material do bairro) para apresentar a importância ambiental da separação de recicláveis. Enfatize que o sucesso do programa
depende diretamente da participação de todos. Qualquer eventual arrecadação de fundo deve ser apresentada como
mera consequência do programa e não como meta a ser alcançada. O objetivo maior deve ser sempre o nosso ambiente.
5. Coloque, nas salas, recipientes distintos para o descarte de lixo orgânico e de reciclável gerados pelos alunos. Combine
quem esvaziará os recipientes diariamente, de forma estimulante para que todos se revezem na tarefa.
6. Estabeleça um dia da semana para que todos tragam recicláveis para a escola. Explique como deve ser feita a coleta
seletiva e peça que sejam lavadas as embalagens nas casas para não atrair insetos e animais. Comente sobre materiais
não recicláveis (celofane, isopor entre outros), em razão da inexistência de “mercado” para esses materiais.
Debata alternativas para o destino do lixo orgânico, como compostagem ou destino ao serviço de limpeza urbana.
7. Verifique periodicamente a higiene dos recipientes e se a sistemática de separação está sendo feita corretamente,
criando uma equipe de “fiscais da coleta seletiva”. Resolva sempre em grupo os problemas detectados, tomando
cuidado com os riscos à saúde.
8. Prepare atividades educativas para aprofundar
o estudo do lixo e manter o “pique”.
Promova reuniões com a comunidade
escolar para avaliar a evolução do programa:
quanto material foi juntado por
período; quem foi beneficiado, social ou
monetariamente; quanto foi arrecadado
e aplicado (no caso de venda); as dificuldades
encontradas e as propostas para
resolvê-las. Conversar com a comunidade
regularmente e promover reuniões são
atividades fundamentais para o desenvolvimento
de uma mentalidade participativa,
duradoura e “ecológica”.
Daniel Augusto Jr/Pulsar Imagens
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
Adaptado de: REVISTA PÓLIS: estudos,
formação e assessoria em políticas sociais.
São Paulo: Instituto Pólis, n. 31, 1998. p. 43.
Projetos de coleta seletiva beneficiam o ambiente e promovem mais empregos.
Participe de projetos dessa natureza em sua comunidade.
95
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS, QUÍMICA E CIÊNCIA
Plásticos
Ferro (ímã)
Ouro
Cobre encapado
com plástico
4 A QUÍMICA E SUA LINGUAGEM
V imos, ao longo desta primeira unidade, os conceitos relativos aos campos básicos
de estudo da Química. Aprendemos, neste capítulo, como a Química se consolidou
historicamente como uma Ciência moderna. Vamos recapitular o que ela estuda.
Os químicos sentem um inconfessável prazer em transformar as coisas. É claro que
ninguém jamais conseguiu criar algo a partir do nada – esse ainda é um mistério insondável...
–, mas, mesmo assim, os químicos contribuem para a transformação do mundo
em que vivemos. Diariamente, eles descobrem e sintetizam (produzem
em laboratório) novas substâncias por meio de reações
químicas. Muitas são posteriormente utilizadas na fabricação
de novos materiais; outras entram na composição de medicamentos,
de produtos de limpeza, de alimentos (para conservar
e melhorar o sabor, a aparência ou o teor nutritivo) e de uma
infinidade de outros produtos que consumimos diariamente.
Além de serem utilizadas para a obtenção de novos materiais,
as reações químicas também são importantes fontes de energia:
você já imaginou como seria difícil nossa vida sem as fontes de
energia? Haveria vida?
Hely Demutti
Hely Demutti
Poliamida
Liga
metálica
Algodão
Os materiais que usamos
diariamente são resultado
de transformações químicas
desenvolvidas por
indústrias químicas.
Borracha
Náilon
A bateria de telefone celular produz energia com base
em reações químicas ocorridas em seu interior.
Pois é graças às reações químicas que obtemos a maior
parte da energia que consumimos. O estudo da Química envolve,
portanto, conhecimentos sobre processos de transformações
das substâncias e sobre a energia associada a essas
transformações.
As reações são o principal foco de estudo da Química,
mas não o único. A identificação de substâncias, por meio da
determinação de suas propriedades químicas e físicas, é outra
importante linha de pesquisa. Para entender as propriedades
das substâncias e dos materiais, os químicos estudam a sua
constituição. Podemos, portanto, conceituar a Química da
seguinte forma:
Química é a Ciência que estuda as substâncias, suas
constituições, suas propriedades e suas transformações em
novas substâncias, além dos efeitos e modelos explicativos
relacionados a tais transformações.
96
O químico e suas atividades
O químico é o profissional que estuda a Química. Ele atua em processos
de investigação e no desenvolvimento de processos de análises,
separação e síntese de substâncias e materiais. Existem diversos campos
de trabalho do químico, vejamos alguns desses a seguir.
A Bioquímica, , ramo de estudo que une a Química à Biologia,
estuda as substâncias presentes nos seres vivos e como elas atuam
sobre os organismos. Entre as atividades desenvolvidas pelos
bioquímicos está a identificação de agentes causadores das mais
diversas patologias, como a aids, por exemplo, além de outras
pesquisas, como no campo da genética. Mais de 400 cientistas de várias partes do mundo
participaram do Projeto Genoma que mapeou o genoma humano, abrindo perspectivas
para pesquisas na prevenção e tratamento de doenças. Com esses conhecimentos
derivados da Química, a Ciência vem contribuindo para o aumento da longevidade,
antigo sonho dos alquimistas. Enquanto no fim do século XIX a expectativa de vida era
de 41 anos, no início do século XXI ela aumentou para 65 anos.
Os bioquímicos trabalham
tanto na identificação das estruturas
químicas presentes no corpo
humano como no reconhecimento
de moléculas de DNA.
Science Photo Library/Latinstock
O químico consegue fazer
previsões de estruturas
químicas com o uso
de computador acoplados
a equipamentos de análise
química.
Hely Demutti Hely Demutti
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
Hely Demutti
Na Engenharia, profissionais da área mecânica e civil estudam as propriedades dos materiais
empregados na fabricação de automóveis ou na edificação de casas, rodovias, pontes
etc. E na indústria química, químicos e engenheiros químicos determinam as composições
de diferentes matérias-primas, otimizam métodos de produção, buscam soluções para problemas
ambientais etc.
Na Geologia, Ciência que estuda a forma e a composição exterior e interior da Terra, os
processos químicos são usados para determinar a composição de minerais. Na Agronomia, são
feitas análises químicas do solo que determinam os adubos necessários à melhoria da produção.
Hely Demutti
A determinação da
quantidade de materiais
presentes em soluções,
por meio de reações químicas,
por um método de
titulação, é uma das atividades
desenvolvidas pelos
químicos.
Fiatpress
A identificação de minerais, feita pelos geólogos,
exige também conhecimentos químicos.
Os agrônomos utilizam conhecimentos
químicos para orientar os agricultores sobre
adubação.
Na produção de automóveis, os
químicos contribuem para o desenvolvimento
de materiais mais resistentes,
seguros, leves e atraentes.
97
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS, QUÍMICA E CIÊNCIA
Em todas essas áreas, diferentes métodos são usados tanto para identificar as substâncias
presentes nos materiais como para determinar a quantidade de cada uma delas,
funções específicas da Química Analítica. Esse ramo da Química é responsável pelo de-
senvolvimento de técnicas e instrumentos de análise da composição dos materiais.
Os modelos obtidos com o apoio da tecnologia computacional são largamente utilizados
na Química Teórica, cujo objetivo é descrever com mais precisão a constituição
da matéria. Enquanto no passado a previsão de reações químicas era feita somente com
base em experimentos realizados em laboratório – e é por isso que a chamamos Ciência
experimental –, hoje a Química pode não somente prever a ocorrência de reações pelo
computador, mas também propor novos materiais por esse estudo.
Por isso, além de conhecer técnicas de laboratório, o químico precisa estudar modelos
teóricos da constituição da matéria e dominar a linguagem da simbologia química,
ferramentas básicas desse profissional.
SÍMBOLOS DE ALGUNS ELEMENTOS QUÍMICOS E
APLICAÇÕES DE SUAS SUBSTÂNCIAS
Elemento
Símbolo
Aplicações de substâncias que
contêm o elemento
Alumínio
Al
Utensílios domésticos, papel-alumínio,
ligas metálicas.
Chumbo Pb Baterias, chapas.
Cloro Cl Desinfetante, bactericida, alvejante.
Cobalto Co Radioterapia, determinação da umidade do ar.
Cobre Cu Fios condutores de eletricidade, moedas.
Enxofre S Produção de pneus, inseticidas.
Ferro Fe Aço, ferro fundido.
Hélio He Utilizado em balões meteorológicos.
Hidrogênio H Combustível alternativo.
Magnésio Mg
Liga metálica utilizada na confecção de rodas
de automóveis.
Neônio Ne Luz avermelhada de letreiros.
Ouro Au Confecção de joias, lâminas, ligas.
Oxigênio O Respiração dos seres vivos, solda.
Prata Ag Confecção de joias, moedas, contatos elétricos.
Urânio U Fonte de energia nuclear.
Fórmulas químicas
Linguagem química
Como toda Ciência, além de seus
métodos investigativos e suas teorias e
modelos, a Química apresenta uma linguagem
própria, rica em símbolos e regras
diferentes da linguagem comum.
Durante seu estudo, você irá aos pouco
se familiarizando com essa simbologia
química.
Para facilitar a comunicação entre os
cientistas de todo o mundo, os elementos
químicos são representados por símbolos
que derivam de seus nomes em
latim. O símbolo é, normalmente, a primeira
letra do nome em latim, escrita
em maiúscula. No caso de haver dois ou
mais elementos que começam pela mesma
letra, uma segunda letra do nome é
usada, sendo esta minúscula.
O quadro ao lado apresenta uma lista
de elementos mais familiares.
Enquanto os elementos químicos são re pre sentados por símbolos, as substâncias
são representadas por fórmulas. Nas fórmulas, representamos os símbolos dos elementos
químicos que estão presentes no constituinte de cada substância e, por meio de
índices numéricos colocados um pouco abaixo do símbolo do elemento, indicamos o
número de átomos de cada elemento que compõe o constituinte. Para os elementos
químicos que aparecem apenas uma vez no constituinte da substância não é necessário
indicar o índice. O quadro a seguir apresenta as fórmulas químicas de algumas
substâncias simples.
98
ALGUNS EXEMPLOS DE SUBSTÂNCIAS SIMPLES E SUAS FÓRMULAS
Substância Elemento químico Fórmula
Hidrogênio hidrogênio (H) H 2
Nitrogênio nitrogênio (N) N 2
Oxigênio oxigênio (O) O 2
Enxofre enxofre (S) S 8
Ferro ferro (Fe) Fe
Iodo iodo (I) I 2
Alumínio alumínio (Al) Al
Átomos de alguns elementos químicos podem formar substâncias simples diferentes.
Nesse caso, essas substâncias simples recebem o nome de alótropos. O gás oxigênio (O 2 )
e o gás ozônio (O 3 ) são formas alotrópicas do elemento químico oxigênio.
I 2
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
EXEMPLOS DE SUBSTÂNCIAS ALOTRÓPICAS
Elemento químico
Alótropos
Oxigênio (O) oxigênio (O 2 ), ozônio (O 3 )
Carbono (C)
grafite (C), diamante (C)
fulereno (C 60
), nanotubos (C n
)
Fósforo (P)
fósforo branco (P 4
)
fósforo vermelho (P n
)
Confira os quadros abaixo. Compare as fórmulas do diamante e da grafite (ou grafita).
São iguais, não é mesmo? Como é possível haver dois materiais tão distintos com a
mesma fórmula? De fato, a grafite e o diamante são ambos formados pela combinação de
átomos de carbono. No entanto, a configuração espacial, ou seja, o arranjo dos átomos de
carbono no constituinte da grafite é diferente da configuração dos átomos no constituinte
do diamante. Portanto, são substâncias diferentes, pois possuem constituintes diferentes.
Obviamente, as propriedades físicas e o valor comercial também são diferentes.
Conforme os modelos,
o arranjo dos átomos na
grafite é bem diferente
do arranjo de átomos
no diamante, por isso
as propriedades dessas
substâncias são diferentes.
J. Yuji
J. Yuji
Modelo de arranjo de átomos de carbono do diamante.
Modelo de arranjo de átomos de carbono da grafite.
Pense
O que representa a fórmula H 2
O?
99
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS, QUÍMICA E CIÊNCIA
ALGUNS EXEMPLOS DE SUBSTÂNCIAS COMPOSTAS E
SUAS FÓRMULAS
Substância
Fórmula
Água
H 2 O
Ácido sulfúrico H 2 SO 4
Cloreto de sódio (sal)
NaCl
Hidróxido de sódio (soda cáustica)
NaOH
Amônia NH 3
Carbonato de amônio (sal-amoníaco) (NH 4 ) 2 CO 3
Metano (gás dos pântanos) CH 4
Equação química
Você já sabe que o símbolo H representa o elemento
químico hidrogênio e o símbolo O representa
o elemento químico oxigênio. Logo, pela fórmula,
podemos afirmar que a água é formada por átomos
de hidrogênio e de oxigênio. O índice 2 indica
que cada constituinte possui dois átomos de hidrogênio.
A não existência de índice após o símbolo
do oxigênio indica que cada constituinte da água
possui apenas um átomo de oxigênio. Fácil, não?
O quadro ao lado apresenta as fórmulas de algumas
substâncias compostas.
No primeiro capítulo, estudamos que as reações químicas são processos em que novas
substâncias são formadas. Agora, vamos aprender a reapresentar essas reações de maneira
simplificada, usando a simbologia química. Essa representação simbólica da reação
é chamada equação química.
Equação química é a representação simbólica da reação química.
Na equação química, as substâncias que reagem, denominadas reagentes, e as substâncias
que são formadas, denominadas produtos, são representadas por suas fórmulas químicas.
Os reagentes são separados dos produtos por uma seta, como é mostrado a seguir:
reagente(s) ( produto(s)
No caso de existir mais de uma substância como reagente ou como produto, suas fórmulas
são separadas pelo sinal de soma (+), indicando que os reagentes devem estar em
contato para que a reação ocorra e que os produtos sejam formados simultaneamente.
Ao se apresentar uma equação química, deve-se também especificar o estado de
agregação de cada substância envolvida. O estado gasoso é representado por (g), o estado
líquido por (l), o estado sólido por (s) e as substâncias dissolvidas em água por (aq). As letras
que reapresentam os estados de agregação devem ser colocadas ao lado dos símbolos
das substâncias e não como índices, como era utilizado antigamente.
Além de representar as substâncias reagentes e os produtos, é necessário também representar
as proporções entre todas elas. A proporção de cada substância é indicada numericamente
na frente da fórmula de cada constituinte e é denominada coeficiente estequiométrico
ou simplesmente coeficiente. Tal coeficiente indica a proporção relativa dos constituintes das
substâncias participantes da reação. Quando o coeficiente é 1, ele não precisa ser indicado.
Outras convenções também adotadas nas equações químicas são:
• Δ indica que a reação ocorre a elevadas temperaturas;
• F indica que a reação é reversível, ou seja, os produtos reagem entre si originando novamente
os reagentes.
Veja, agora, exemplos de equações químicas e seu significado.
Seja a equação:
C(s) + O 2
(g) ( CO 2
(g)
.
Essa equação indica que o carvão, substância simples constituída de átomos do elemento
químico carbono, que se encontra no estado sólido, reage com o gás oxigênio,
substância simples constituída de moléculas que contêm dois átomos do elemento químico
oxigênio, produzindo a substância composta dióxido de carbono, também chamado gás
100
carbônico, constituída de moléculas que contêm um átomo do elemento químico no ligado a dois átomos do elemento químico
carbooxigênio.
Veja agora esta outra equação: N 2
(g) + 3H (g) F 2NH (g) .
2 3
Esta equação indica que o gás nitrogênio, substância simples constituída de moléculas
que contêm dois átomos do elemento químico nitrogênio, reage com o gás hidrogênio,
substância simples constituída de moléculas que contêm dois átomos do elemento químico
hidrogênio, produzindo a substância composta amônia no estado gasoso, constituída
de moléculas que contêm um átomo do elemento químico nitrogênio ligado a três átomos
do elemento químico hidrogênio. Essa equação indica ainda que, nessa reação, para
cada molécula nitrogênio, são necessárias três moléculas hidrogênio e são formadas duas
moléculas de amônia. Além disso, a equação indica que tanto os reagentes como os produtos
dessa reação são gases e que essa reação é reversível, ou seja, o produto amônia
transforma-se nos reagentes nitrogênio e hidrogênio.
Exercícios
1. De acordo com Aristóteles, explique como um elemento
de sua teoria se transformava em outro, por
exemplo, como a água se transformava em ar e este
em fogo.
2. Considere o esquema ao lado.
Entre as alternativas abaixo,
indique as corretas sobre ele.
a) Temos cinco componentes.
b) É formado por duas substâncias simples.
c) Foram usados apenas dois elementos.
d) É um material.
e) Temos cinco substâncias simples e duas substâncias
compostas.
3. O que é descontinuidade da matéria?
4. (UnB-DF) Um aluno fez, em sala de aula, uma dissolução,
realizando os seguintes procedimentos:
I – Colocou um grânulo (pequeno grão) de permanganato
de potássio (sólido violeta cuja fórmula química
é KMnO 4
) em um primeiro béquer (béquer 1)
contendo 50 mL de água.
II – Agitou o sistema até que todo o sólido se
dissolvesse.
III – Mediu, com uma proveta, 5 mL dessa solução, transferindo-os
para um segundo béquer (béquer 2).
IV – Completou o volume desse segundo béquer com
água até a marca de 50 mL.
V – Agitou o sistema e mediu, com uma proveta, 5 mL
da solução, transferindo-os para um terceiro béquer
(béquer 3).
VI – Completou, com água, o volume desse terceiro
béquer, até a marca de 50 mL.
O aluno registrou, no caderno de dados, as observações
que se seguem.
FAÇA NO CADERNO. NÃO ESCREVA EM SEU LIVRO.
Béquer
Coloração da solução
1 violeta-intenso
2 violeta-claro
3 incolor
Com base nas informações acima e considerando a
natureza corpuscular da matéria, julgue os itens a seguir,
marcando C para os corretos e E para os errados.
1) Os átomos constituintes do permanganato de potássio
não estão presentes no béquer 3, uma vez
que a água mudou uma das propriedades – cor –
daquela substância (incolor).
2) De acordo com o modelo atômico de Dalton, pode-se
afirmar que a estrutura representada pela
fórmula KMnO 4
é divisível e composta por três diferentes
tipos de partículas de massas distintas.
3) O experimento realizado pelo aluno demonstra que
a matéria é formada por átomos, os quais são exatamente
como Dalton visualizou em suas experiências,
isto é, esferas maciças e indivisíveis.
5. O constituinte da amônia tem quantos átomos?
6. Quantos átomos e de quantos elementos existem no
constituinte do ácido sulfúrico (H 2
SO 4
)?
7. Que informações obtemos da fórmula do carbonato de
amônio – (NH 4
) 2
CO 3
?
8. Qual é a diferença entre Co e CO?
9. Qual é a diferença entre as representações do item a e
as do item b?
a) H 2
+ O 2
b) H 2
O 2
10. Escreva sentenças que expliquem o significado de cada
equação química a seguir, indicando os reagentes e
os produtos:
a) 2H 2
(g) + O 2
(g) ( 2H 2
O(l)
b) 2H 2
O 2
(l) ( 2H 2
O(l) + O 2
(g)
c) 2C 2
H 2
(g) + 5O 2
(g) ( 4CO 2
(g) + 2H 2
O(l)
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
101
CONSTITUINTES DAS SUBSTÂNCIAS, QUÍMICA E CIÊNCIA
11. Com relação à composição química das substâncias,
julgue as afirmações abaixo, marcando C para os itens
corretos e E para os errados.
1) Ao verificar que a água é representada pela fórmula
H 2 O, é correto concluir que essa se constitui numa
mistura de hidrogênio e oxigênio.
2) As substâncias representadas pelas fórmulas O 2 ,
O 3 , P 4 e S 8 são substâncias simples.
3) A nicotina, cuja fórmula é C 10 H 14 N 2 , é um alcaloide
existente no fumo e tem a sua denominação derivada
do nome de Jean Nicot. A fórmula desse alcaloide
possui 26 átomos e 3 elementos químicos.
4) A água oxigenada, (H 2 O 2 ), e a água, (H 2 O), são
substâncias iguais, já que são formadas pelos mesmos
elementos químicos.
5) O corpo do ser humano, por ser um produto natural,
não possui elementos químicos em sua constituição
até que ele comece a ingerir remédios.
12. (UnB-DF) Examine as fórmulas representadas a seguir e
julgue os itens abaixo, marcando C para os corretos e E
para os errados.
P 4 , S 8
, Br 2 , CaBr 2
, Zn, He
1) O número de substâncias simples representadas
é dois.
2) O número de substâncias compostas representadas
é quatro.
3) O número de substâncias poliatômicas é um.
4) CaBr 2
é uma mistura das substâncias Ca e Br 2
.
5) A fórmula S 8
indica que oito átomos estão ligados
formando uma única molécula.
13. (UnB-DF) A investigação química é uma atividade humana
que tem grande influência na sociedade. Com relação a
essa atividade e suas características, julgue os itens a seguir,
marcando C para os itens corretos e E para os errados.
1) A Alquimia era uma atividade científica da Idade Média
que se caracterizava pelo uso do método científico
de observação, experimentação e generalização.
2) Os modelos científicos desenvolvidos pelo método
científico usado em Quí mi ca possuem limitações
e não explicam todos os fenômenos.
3) Acabar com o problema mundial da fome é uma
decisão de competência dos químicos, pois somente
eles podem dedicar a maior parte do seu tempo ao
desenvolvimento de novas tecnologias que aumentem
a produtividade agrícola.
4) Para a preservação da saúde dos indivíduos, deveria
ser proibido o uso de produtos químicos nos alimentos.
14. (Osec-SP) Um estudante estava pesquisando um fenômeno
e queria seguir corretamente as etapas do método
científico. Em qual das sequências abaixo estão
citadas, em ordem correta, porém, não necessariamente
consecutiva, quatro etapas que ele teria seguido?
a) Observação, experimentação, formulação de leis e
criação de teoria.
b) Criação de teoria, formulação de leis, experimentação
e observação.
c) Experimentação, levantamento de hipóteses, criação
de teoria e observação.
d) Levantamento de hipóteses, organização de dados,
observação e formulação de leis.
e) Observação, criação de teoria, formulação de leis
e organização de dados.
15. (UFSCar-SP) Até 1772 acreditava-se que o fogo era um
elemento químico. Foi quando um cientista nascido em
1743 e guilhotinado em 1794, durante a Revolução
Francesa, transformou a pesquisa química de qualitativa
em quantitativa, formulando explicitamente a Lei
da Conservação da Matéria. Este cientista, também
conhecido como o pai da Química moderna, é:
a) John Dalton. d) Antoine Lavoisier.
b) Linus Pauling. e) Niels Bohr.
c) Robert Boyle.
16. Cada conjunto de esquemas abaixo representa substâncias
de diferentes sistemas. Classifique cada sistema
em material ou substância e classifique todas as
substâncias em simples ou compostas.
A B C
D E F
17. (UnB-DF) Julgue os itens, marcando C para os itens
corretos e E para os itens errados.
1) O ar é um material homogêneo constituído de substâncias
simples.
2) Das substâncias álcool, ouro, diamante e acetona,
somente o ouro é uma substância simples.
3) Por meio de medidas das temperaturas de fusão
e ebulição, é possível fazer a distinção entre substâncias
simples e compostas.
J. Yuji
102
4) Os processos de separação de materiais são utilizados
para a obtenção de substâncias simples a partir
de substâncias compostas.
18. (UFF-RJ) Considere os seguintes sistemas:
I
II
III
água água + álcool água + óleo
Da Alquimia à Química
b As transformações químicas sempre fascinaram a humanidade.
O homem aprendeu a cozer e a fabricar alimentos, a tingir
fibras, a extrair corantes, a produzir metais a partir de rochas,
entre outras transformações.
b Dos rituais de magia ou religião surgiu a Alquimia, um conjunto
de conhecimentos baseados em crenças, mistérios,
ocultismo e religião.
b Os alquimistas, que buscavam transmutação de metais e
o elixir da longa vida, criaram e desenvolveram aparelhos
e técnicas laboratoriais e descobriram substâncias e matérias
utilizados pelos químicos.
b O alquimista Georg Ernst Stahl propôs a teoria do
flogístico, na qual a combustão seria a liberação do
Conhecimento científico e senso comum
b A Química é uma Ciência e com seus conhecimentos
explica muitos fenômenos.
b Em muitos casos, o conhecimento prático é suficiente
para a realização de atividades, por exemplo, a produção
de pão. Para isso, o padeiro utiliza uma forma
de conhecimento, denominado senso comum, que é
baseada em experiências empíricas e não em teorias
científicas.
b A tecnologia e as Ciências progridem, juntos, de acordo
Constituintes da matéria
b Os primeiros modelos sobre a constituição da matéria
surgiram na Antiguidade. Os filósofos acreditavam que
a matéria seria formada por quatro “elementos fundamentais”
-- água, terra, fogo e ar -- que combinados
dariam origem a todos os materiais.
b A ideia de que a matéria é constituída de pequenas
partes indivisíveis (átomos) foi proposta pelo filósofo
grego Demócrito [470-360 a.C.] e seu discípulo Leucipo
[século V a.C.].
b Em 1808, John Dalton apresentou uma nova teoria na
A Química e sua linguagem
b A Ciência Química apresenta uma linguagem própria:
os elementos químicos são representados por símbolos
J. Yuji
Os sistemas I, II e III correspondem, respectivamente,
a:
a) substância simples, material homogêneo, material
heterogêneo.
b) substância composta, material heterogêneo, material
heterogêneo.
c) substância composta, material homogêneo, material
heterogêneo.
d) substância simples, material homogêneo, material
homogêneo.
e) substância composta, material heterogêneo, material
homogêneo.
“elemento” flogístico.
b Novas explicações para a combustão foram propostas
no século XVIII por Lavoisier, que realizou experiências
bem controladas e elaboradas com o uso de balanças
precisas, demonstrando a conservação da massa nas
reações químicas e contribuindo para a derrubada da
teoria do flogístico.
b A revolução química estabeleceu-se quando os químicos
passaram a utilizar um método sistemático de investigação
dos fenômenos, uma linguagem própria e
um sistema lógico para explicar os eventos observados.
b Apesar de sua grande importância, as teorias científicas
apresentam limitações e não conseguem explicar tudo.
com demandas existentes e criadas pela sociedade.
b A Química está diretamente relacionada com o mundo
em que vivemos, além de possibilitar uma vida mais
longa e confortável. Estudar Química favorece a
compreensão dos fenômenos naturais, bem como do
complexo mundo social em que vivemos.
b O desenvolvimento tecnológico e científico tanto pode
trazer benefícios como risco à sobrevivência humana,
dependendo da forma como é aplicado.
qual a matéria é formada por partículas denominadas
átomos (esferas maciças e indivisíveis), as substâncias
simples são constituídas de apenas um tipo de átomo
(elemento químico) e as substâncias compostas
de mais de um tipo de átomo (diferentes elementos
químicos).
b Substância simples é um tipo de substância formada
por átomos de apenas um elemento químico.
b Substância composta é um tipo de substância formada
por átomos de mais de um elemento químico.
que derivam de seus nomes em latim; as substâncias são
representadas por fórmulas.
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
103
UNIDADE 2
Poluição
atmosférica
P.BAEZA; PUBLIOPHOTO DIFFUSION/SCIENCE PHOTO LIBRARY/SPL DC/Latinstock
Poluição do ar. Smog sobre Santiago, Chile. A cidade faz
fronteira com a Cordilheira dos Andes, ao fundo, impedindo
a poluição de se dissipar.
104
Como explicar a poluição dos gases
pelos modelos de partículas?
Aquecimento global: como
reverter essa onda?
Capítulo 4 Estudo dos gases
1. Medidas, fenômenos e modelos
2. Grandezas do estado gasoso
3. Propriedades dos gases
4. Leis dos gases
5. Lei geral dos gases
6. Teoria cinética dos gases
Capítulo 5 Modelos atômicos
1. Modelos e teorias
2. Modelo atômico de Dalton
3. Modelo atômico de Thomson
4. Modelo atômico de Rutherford
5. O átomo e suas partículas
6. Modelo atômico de Bohr
7. Modelo quântico para o átomo
8. Confi guração eletrônica
Hely Demutti
Temas em foco:
• Poluição atmosférica e aquecimento global
• Camada de ozônio e radiação solar
• Mercado de carbono! O que é isso?
105
Capítulo 4
ESTUDOS DOS GASES
Como se comportam os gases?
Como os gases têm poluído a atmosfera?
Tema em foco
POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA E AQUECIMENTO GLOBAL
Pense
O que é poluição?
Rogério Rogério Cassimiro/Folha Cassimiro/Folha Imagem
Imagem
Existem vários significados para a palavra poluição. O que é considerado poluição para uma pessoa pode não
ser para outra. Isso nos dá uma pista para qualificar poluição: é uma modificação ambiental que contraria os interesses
da coletividade.
Quando os efeitos ambientais de uma ação prejudicam os demais indivíduos, podemos dizer que há alguma forma
de poluição. Nesse sentido, a poluição ambiental é vista sempre como uma interferência no equilíbrio da natureza.
No ambiente, energia e matéria são utilizadas de forma equilibrada, de acordo com as necessidades de cada ecossistema.
Porém, quando um ecossistema não consegue assimilar uma quantidade de matéria e/ou energia, ele fica
sobrecarregado e desequilibra-se. Dizemos, então, que ele está poluído. Dessa forma, o conceito de poluição ambiental,
do ponto de vista biológico, é a colocação de matéria ou energia em lugar errado.
Poluição pode ser vista também como qualquer atividade que prejudique a saúde, a segurança ou o bem-estar
da população, que crie condições adversas para as atividades sociais e econômicas ou, ainda, que cause degradação
do ambiente. A poluição química provocada por substâncias ou materiais que prejudicam a natureza é um bom
exemplo: ela pode afetar o ar, as águas e o solo.
Mas nem sempre é fácil definir o quanto de uma substância
é capaz de prejudicar o ambiente. Quanto lixo industrial
um rio pode receber até que o chamemos poluído? Depende
do padrão de tolerância adotado, ou seja, dos valores
máximos permitidos para os níveis de contaminação de
diferentes substâncias.
A má qualidade do ar custa pelo menos US$ 1 bilhão aos cofres públicos
brasileiros a cada ano, principalmente com mortes ou tratamentos de
doenças associadas direta e indiretamente à poluição.
Fonte: Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Universidade de São Paulo (USP).
106
A definição de poluente também está ligada a determinadas condições e à concentração da substância no ambiente.
Podemos dizer que toda substância é tóxica em potencial, pois seu grau de toxicidade dependerá de sua concentração
em um determinado lugar. Até o gás oxigênio em excesso mata. Isso mesmo: se respirado em elevadas
concentrações, esse gás tão essencial à sobrevivência pode agredir nossas células.
Há poluição atmosférica quando ocorre um aumento da quantidade de determinados gases ou de materiais sólidos
em suspensão acima de limites definidos. A concentração de poluentes na atmosfera depende de mecanismos
de retenção ou dispersão. Como o volume da atmosfera é muito grande, a fumaça que sai de uma chaminé pode
se espalhar por uma área vasta, atenuando seus efeitos poluidores no local da emissão. Contudo, se a liberação de
gases tóxicos for muito elevada e a dispersão não ocorrer adequadamente, instala-se um quadro mais sério de poluição
atmosférica, com grandes danos à saúde da população (veja quadro abaixo).
POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA × DANOS À SAÚDE
Contaminante Efeitos à saúde
Principais fontes
Monóxido de carbono (CO)
Óxidos de enxofre
(SO 2
e SO 3
)
Óxidos de nitrogênio
(NO e NO 2
)
Hidrocarbonetos
(C n
H m
)
Macromoléculas
Fonte: Organização Mundial da Saúde.
Impede o transporte de oxigênio no sangue, causa danos
aos sistemas nervoso central e cardiovascular.
Doenças cardiovasculares e respiratórias.
Danos ao aparelho respiratório.
Alguns têm propriedades cancerígenas, teratogênicas ou
mutagênicas.
Danos aos sistemas respiratório, gastrointestinal, nervoso
central, renal, entre outros.
Queima de combustíveis
fósseis.
Combustão de carvão
e petróleo com enxofre.
Combustão do gás nitrogênio
a altas temperaturas na queima
de combustíveis.
Uso de petróleo, gás natural
e carvão.
Atividades industriais,
transporte e combustão.
CAPÍTULO
1
2
3
4
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6
7
8
A poluição atmosférica teve início com a Revolução Industrial. Nos primórdios da industrialização, o produto
lançado ao ar pelas chaminés das fábricas era símbolo de prosperidade, poder, progresso. Um grande industrial de
Chicago, em 1892, comentou: “O fumo é incenso queimado nos altares da indústria”. Com o crescimento populacional,
o aumento exagerado do consumo e a pouca importância dada às questões ambientais agravaram os desequilíbrios
causados à atmosfera, aumentando a concentração de partículas sólidas e de diversos gases, como dióxido
de carbono, e diminuindo outros como o ozônio, em certas regiões da termosfera.
Atualmente, as alterações climáticas causadas pela poluição atmosférica são fator de grande preocupação. Já se
sabe que uma de suas alterações como pequenas variações na temperatura do planeta pode desencadear catástrofes,
como o derretimento de geleiras e a inundação de cidades litorâneas.
Catástrofes que alteram a atmosfera e a biosfera não são novas na história da evolução da Terra.
Podemos dizer que o planeta Terra é resultado dessas transformações e que possibilitaram atingir
o equilíbrio que permite a vida como conhecemos. É bem verdade que a regeneração após
cada catástrofe leva milhares de anos. Mas esse tempo, não é nada se considerarmos
a idade do planeta. Assim, com o passar do tempo, a superfície e atmosfera
terrestres se moldaram e estabeleceram condições favoráveis ao surgimento
da enorme variedade de espécies de seres vivos. Ao mesmo tempo,
outras espécies foram dizimadas, como os dinossauros, e o que resta
delas hoje são somente marcas de um passado de existência.
Nasa
“A Terra perdeu, em pouco mais de um quarto de século, quase um
terço de sua riqueza biológica e recursos. No atual ritmo, a humanidade
necessitará de dois planetas em 2030 para manter seu estilo de vida.”
Fonte: Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Genebra, 2008.
107
ESTUDO DOS GASES
Hely Demutti
Yang Lei/XinHua/Xinhua Press/Corbis
Dunas e Lagoa da Gaivota no Parque Nacional dos Lençóis
Maranhenses, Barreirinhas (MA), 2009. Não há quem não se deixe
apaixonar pela beleza da diversidade da Terra.
A poluição atmosférica torna o ar nocivo e impróprio à saúde humana
e à vida de animais e plantas. Será que é mesmo preciso pagar
um preço tão alto pelo progresso? Cidade de Chongqing, China, 2008.
Mesmo levando em consideração a capacidade de regeneração que o planeta possui,
há de se considerar as consequências em razão do rápido ritmo de consumo de matéria
e energia produzidas pela humanidade. Que o planeta pode estabelecer novas formas
de equilíbrio não há dúvidas. A grande questão é quem serão os habitantes dessa “nova
Terra”. A poluição gerada pode deflagrar outra grande transformação e a Nova Terra
pode oferecer condições inadequadas para diferentes espécies que hoje a habitam, como
a espécie humana. Esse tipo de situação já ocorreu em várias outras ocasiões. Conhece a
história dos dinossauros?
Ocorre que, no início do século XX, a utilização em larga
escala do petróleo como fonte de energia deu início a grandes
mudanças climáticas que poderão ser um novo marco na história
do planeta. Veja a seguir como essas transformações têm
sido associadas com a produção de uma diversidade de substâncias
resultantes do processo de industrialização.
Fumaça-neblina, inversão térmica
e névoa seca
A partir do fim do século XVIII, o carvão, cuja combustão
gera grandes quantidades de gases poluentes, passa a ser
intensivamente usado para fins industriais e domésticos. Num
momento posterior, a utilização de combustíveis derivados do
petróleo passa a contribuir para essa emissão de gases poluentes.
Assim, começaram a surgir aos primeiros sinais da poluição
atmosférica até então quase desconhecidos pela humanidade. Na
Europa, em meados do século passado, ocorreram combinações
de fumaça (smoke) e neblina (fog) que fizeram dias virarem
noites, por não permitirem que a luz do sol iluminasse algumas
grandes cidades. Esse fenômeno foi denominado smog.
A neblina é um fenômeno natural resultante da condensação
de vapor-d’água que fica suspenso na atmosfera, junto
à superfície terrestre. No entanto, nos grandes centros urbanos,
esse fenômeno pode ser ocasionado pelo aumento
de substâncias e materiais resultantes de atividades humanas.
Essa neblina, contendo resíduos de atividades humanas,
pode ser tóxica aos seres vivos.
A foto mostra o smog de
1952, em Londres. Muitas
vezes, o smog é tão forte
que os carros precisam
circular com faróis acesos
durante o dia. Dá para imaginar
o que isso pode causar
à nossa saúde?
Monty Fresco/Dailymail.co.uk
108
O smog tem trazido sérios problemas às grandes cidades.
Em Los Angeles, em 1942, causou graves complicações
respiratórias aos habitantes e matou grande parte da vegetação
de jardins. Em Londres, em 1952, provocou a morte de 3,5 mil
a 4 mil pessoas, tendo se repetido em outros anos. Em Tóquio,
em 1970, levou mais de 8 mil pessoas a hospitais e postos
de saúde. Às vésperas das Olimpíadas de 2008, em Pequim,
tomou-se um conjunto de medidas para combater o nevoeiro
de poluição que ensombraria a capital chinesa. O smog fica
pior na época do inverno, em virtude da inversão térmica.
No Brasil, em São Paulo, também é comum ocorrer o fe-
nômeno da inversão térmica. . Esse fenômeno pode ser plicado pelo esquema ao lado.
A superfície terrestre é aquecida constantemente pela
radiação solar. Assim, as camadas atmosféricas mais próximas
da superfície são mais quentes do que as superiores.
O ar mais quente é menos denso do que o ar mais frio.
Associados, esses dois fatores irão produzir correntes de convecção:
o ar quente sobe e o ar frio desce (veja esquema 1
exda
figura ao lado).
Posição do ar frio em dias normais,
à noite e em dias com inversão térmica
1. DIA
radiação solar
ventos
correntes de ar frio
laterais
convecção
ar quente
2. NOITE
ar frio
ar frio
superfície terrestre esfriando-se por irradiação
névoa
J. Yuji/Hely Demutti
CAPÍTULO
1
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Hely Demutti
3. INVERSÃO
TÉRMICA
radiação solar
smog
ar quente
ar frio
No fenômeno da inversão térmica, a cidade fica encoberta por gases
tóxicos aprisionados pelo smog. São Paulo vista a partir do Pico do
Jaraguá (SP), 2008.
Na inversão térmica (3), a formação do smog impede a penetração
da radiação solar que aqueceria o ar frio e retém os gases
poluentes. Na região da inversão térmica, ao invés de o ar quente
ficar embaixo e o ar frio ficar em cima como ocorre em dias normais
(1), o ar frio fica abaixo do smog e o quente, acima.
Por meio das correntes de convecção, os gases poluentes são facilmente dispersos na atmosfera superior. À noite,
porém, o processo se inverte: a superfície terrestre esfria, produzindo uma camada de ar frio estático (veja esquema
2 da figura acima). Se nesse processo houver a condensação da fumaça-neblina (smog), a luz solar matutina não
penetrará a camada de névoa. Como resultado, ocorrerá a inversão térmica (3), o ar que ficar preso sob o smog
permanecerá frio e reterá todos os gases poluentes emitidos na cidade por automóveis, fábricas etc. (veja esquema 3
da figura acima). A não dispersão dos gases provoca um aumento elevado da concentração de poluentes, agravando
o problema atmosférico.
Das interações entre as substâncias que constituem o smog, consideradas como poluentes primários, podem
surgir poluentes secundários, ou seja, substâncias que não foram lançadas diretamente na atmosfera, mas sim produzidas
com base em outros gases poluentes. Um exemplo é o dióxido de nitrogênio, que pode formar o ácido
nítrico, substância altamente corrosiva que reage com metais, mármores, granitos e outros materiais.
Outro exemplo é o ozônio, que em altas concentrações, na atmosfera, torna-se tóxico e reage com plásticos, borrachas,
fibras têxteis, tintas, entre outras, provocando a decomposição desses materiais.
109
ESTUDO DOS GASES
Além do ozônio, outros gases são formados pelo smog
fotoquímico, como o dióxido de nitrogênio (NO 2
), o peró-
xido de hidrogênio (H 2 O 2 ), o nitrato de peroxiacetil (CH 3 CO 2 NO 3
) e o ácido nítrico (HNO 3
). Esses poluentes provocam
irritações nasais e oculares, dificuldades de respiração e prejudicam a visibilidade.
A névoa seca é um outro fenômeno associado com a poluição, comum no Sul e Centro-Oeste do Brasil e da
América do Sul, sobre o Oceano Atlântico e mesmo em certas regiões da África, nos meses de inverno (principalmente
em agosto). Quando ela ocorre, a atmosfera fica com um espesso nevoeiro que não contém aerossóis (denominação
química para pequenas partículas, líquidas ou gasosas, dispersas num meio gasoso). Por não conter partículas líquidas,
esse tipo de nevoeiro é chamado névoa seca. Como a névoa seca coincide com a época da queimada de pastagens
e campos, supõe-se que ela provenha da presença de material particulado, composto de sólidos ou líquidos
dispersos em gases, que ficam suspensos no ar. Com a chegada das chuvas de setembro, a névoa seca desaparece,
o céu readquire o tom azul e a visibilidade normaliza-se.
Paulo Cesar Pereira
Efeito estufa e aquecimento global
A composição do ar atmosférico seco, em volume, é aproximadamente: 78% de nitrogênio, 21% de oxigênio e
1% de outros gases, entre os quais o dióxido de carbono (gás carbônico), com teor aproximado de 0,035%. Além
desses gases, temos a presença de vapores-d’água uma porção de água em quantidade variável conforme a região
do planeta e a época. A presença desses vapores é medida pela chamada umidade relativa do ar.
Que o oxigênio é um ingrediente vital, você já sabe. No entanto, vamos destacar a importância de outros dois componentes
da atmosfera: água e dióxido de carbono. Eles mantêm a Terra aquecida, possibilitando a existência de vida animal e
vegetal no planeta. Esse processo é representado no esquema ao lado. A fonte de energia da Terra é, naturalmente, o Sol.
Dos raios solares que incidem sobre nosso planeta, cerca de 30% não atravessam a atmosfera e são refletidos de
volta para o espaço (radiação 1). A outra parte, 70%, entra na atmosfera (radiações 2). Parte dessa energia radiante
que chega, a qual inclui a luz visível e a radiação ultravioleta, é absorvida pelos átomos e moléculas dos materiais
raios
solares
radiação
infravermelha
(radiação 3)
Retenção de radiação infravermelha
por gases de efeito estufa
radiações 2
absorção de
infravermelho
CO 2
H 2
O
radiação 1
radiação
infravermelha
Parte da radiação solar que contém raios ultravioletas é absorvida
pela superfície terrestre, que após absorção emite radiação
infravermelha. Parte dessa radiação que sairia do planeta
é absorvida pelos gases do efeito estufa, retendo calor que
mantém a Terra aquecida.
da superfície terrestre que a transformam em energia vibracional.
Devido a essa absorção, os átomos e moléculas
mudam seus estados vibracionais e emitem radiação infravermelha
(radiação 3), menos energética do que a radiação
ultravioleta.
A radiação infravermelha emitida pelos materiais da superfície
terrestre sai do planeta, mas parte dela pode ser
absorvida por moléculas de dióxido de carbono, água e
outros gases, como mostra o esquema de nossa representação
na figura ao lado.
A água e o dióxido de carbono presentes na atmosfera
atuam como um filtro que retém parte da radiação infravermelha
emitida pela superfície terrestre. Essa radiação retida
provoca um aquecimento desses gases e, consequentemente,
o aquecimento da atmosfera. Esse fenômeno natural é conhecido
como efeito estufa e evita grandes variações de temperatura
entre o dia e a noite.
É o efeito estufa que mantém o clima terrestre ameno, sem
grandes variações entre o dia e a noite, permitindo que a vida se
mantenha. Sem ele, a temperatura média da superfície terrestre
seria de –18 °C e não de 15 °C, como é atualmente. Como
consequência, uma parte muito maior da superfície do nosso
planeta seria permanentemente coberta de gelo.
O dióxido de carbono (CO 2
) é produto de vários processos
naturais que se desenvolvem na Terra e é o gás que mais
contribui para o efeito estufa. Ele permanece na atmosfera
por aproximadamente 100 anos.
110
Desde o século XIX, vários fatores contribuíram para elevar a quantidade de dióxido de carbono presente na atmosfera
25% acima do normal. Entre esses fatores, os mais significativos são: queima de combustíveis fósseis, os grandes
desmatamentos e as queimadas de florestas. No entanto, com mais dióxido de carbono, a atmosfera absorve maior
quantidade da radiação infravermelha emitida pela superfície terrestre, aquecendo mais do que deveria. O resultado é
o aumento da temperatura em todo o planeta, o chamado aquecimento global.
Outros gases que também contribuem para esse fenômeno são o monóxido de carbono (CO), o monóxido de
nitrogênio (NO), o ozônio (O 3
), o metano (CH 4 ) e os clorofluorcarbonos (CFCs). Os CFCs, gases utilizados em radores, condicionadores de ar e sprays, , também absorvem parte do calor refletido pela Terra, contribuindo para o
aumento da temperatura. Todos esses gases são chamados gases de efeito estufa (GEE).
Um desses gases, o metano, tem a capacidade de reter calor 23
vezes maior do que o gás carbônico. Além disso, sua permanência
na atmosfera é de cerca de 12 anos. Esse fatores fazem com
que ele seja responsável por um terço do aquecimento do planeta.
Diariamente, milhares de toneladas de metano são liberadas para a
atmosfera por diferentes fontes: flatulências do gado; decomposição
de lixos orgânicos e de esgotos; culturas inundadas de arroz; escape
do gás natural, de carvão e de materiais vegetais, entre refrigeoutros.
National Science Foundation (NSF)
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
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8
POTENCIAL DE AQUECIMENTO GLOBAL DE ALGUNS GASES
DO EFEITO ESTUFA (GEE)
GEE
Potencial de Aquecimento
Global (100 anos)
Dióxido de carbono (CO 2
) 1
Metano (CH 4
) 21
Óxido nitroso (N 2
O) 310
Hexafluoroetano (C 2
F 6
) 9 200
Hexafluoreto de enxofre (SF 6
) 23 900
Para calcular o efeito dos GEE, foi estabelecida a medida
de Potencial de Aquecimento Global, , medida relativa que
compara os efeitos de uma quantidade de cada gás com mesma
quantidade de dióxido de carbono cujo potencial é definido
como 1. O Potencial de Aquecimento Global é calculado sobre
um intervalo de tempo específico, e esse valor deve ser do para a comparação.
As causas do aumento da temperatura no planeta ainda são
objeto de controvérsias e debates acirrados nos meios científico
e político. Essas discussões envolvem tanto os que afirmavam ser
esse processo de aquecimento global um processo natural quanto
defendem que o fenômeno é acelerado por ações da sociedade e da cultura do consumo.
Em 1992, foi realizado no Rio de Janeiro um Congresso Mundial, denominado
Eco 92, para discutir os problemas ambientais. Durante o evento, 155 países
assinaram uma Convenção Climática comprometendo-se a reduzir
emissões atmosféricas intensificadoras do efeito estufa.
Essa convenção deveria ser ratificada e assinada por
todos os países em 1997, na cidade de Kyoto – Japão.
Considerando questões econômicas e desconsiderando
questões ambientais, vários países recusaram-se a assinar
declarao
Protocolo de Kyoto e somente em 2005 ele entrou
Um dos tristes sinais das recentes alterações climáti-
cas é o recuo de grandiosas massas geladas nos glaciares
e nas montanhas de gelo a grandes altitudes. A contagem
do derretimento é sempre muito além do normal.
No Ártico, o gelo marítimo reduziu de 16% a 20% nos
últimos 30 anos. Alguns pesquisadores alertam que a
aceleração do degelo em campos de terra firme ainda é
a mais preocupante, pois o aquecimento global tem se
manifestado com invernos menos rigorosos e que não
estão conseguindo recompor toda a massa derretida no
período do verão. Na Groenlândia (foto acima), o degelo
duplicou entre os anos de 1996 e 2005 e chega a atingir
uma área de 224 km 2 , o que corresponde a 10% do
volume de água contido em todos os rios do planeta.
Rogério Reis/Olhar Imagem
Segundo relatório da FAO em 2006, a pecuária
prejudica mais o ambiente do que os carros. Tudo
culpa do metano que o gado é capaz de produzir pela
fermentação dos alimentos ingeridos.
111
ESTUDO DOS GASES
em vigor quando se completou a adesão de 55 países, mas ainda sem contar com a participação de grandes nações
poluidoras como os Estados Unidos.
Em junho de 2012, foi realizada, na cidade do Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável, Rio+20. A Conferência foi marcada pela participação de várias ONGs, pela mobilização mundial em prol
da sustentabilidade e pela falta de compromisso dos governos em ratificar acordos internacionais. Diante da dificuldade,
os documentos não avançaram de forma significativa como se esperava.
Dessa forma, as metas de redução anual das emissões de gases causadores do efeito estufa estão longe de
serem atingidas. Assim, a temperatura global média continua aumentando, como revelaram os relatórios de 2007
do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Esses relatórios elaborados com a contribuição de cientistas de vários países destacaram pontos importantes sobre
as alterações climáticas atuais, entre eles o de que há pouca probabilidade de o aquecimento global ser de causa
exclusivamente natural.
Ainda que permaneça a dúvida entre os cientistas sobre a origem principal do aquecimento global, o fato é que o
não comprometimento dos governos dos países em reduzir atividades humanas poluidoras contribui para o agravamento
de diversos outros problemas ambientais, além do aquecimento global, como os exemplificados nas fotos abaixo.
De certa maneira, pode-se dizer que todos esses movimentos e estudos têm demonstrado a importância de se
buscar atitudes que visem reduzir as mudanças causadas pelas atividades humanas no planeta.
A temperatura média do planeta está subindo, causando derretimento das geleiras; furacões e ciclones mais fortes; expansão das áreas
de secas; inundações e ondas de calor intenso mais frequentes; avanço do mar sobre cidades litorâneas; aumento do número de
espécies em
extinção: se providências sérias e imediatas não forem tomadas, as possibilidades de tragédias e extinção de espécies tendem a aumentar.
Hely Demutti
Hely Demutti
Hely Demutti
Hely Demutti
NASA
Tom Dowd/Dreamstime
Somos todos responsáveis pela preservação de nosso planeta. Você está fazendo a sua parte? As mudanças necessárias vão desde questões
de políticas nacionais até questões relacionadas a hábitos corriqueiros.
Será que os químicos poderão contribuir para reverter essa situação? Haverá uma maneira de evitar as consequências
desse aumento de temperatura?
112
Debata e entenda
FAÇA NO CADERNO. NÃO ESCREVA EM SEU LIVRO.
1. Explique, com suas palavras, o que é poluição. Dê exemplos de poluição encontrada em seu dia a dia.
2. A prática de grafitagem e de pichação é considerada crime pelo Código Penal brasileiro. Há, no entanto, estudiosos
que veem as pichações e grafitagens como formas de manifestações culturais. E você, o que pensa a
respeito? Por que essa prática leva à poluição visual?
3. Por que rodoviárias devem ter telhados bastante elevados? Por que as indústrias têm chaminés bem altas? Você
acha que elas resolvem o problema da poluição? Justifique sua resposta.
4. Explique, com suas palavras, por que os gases do efeito estufa contribuem para manter a atmosfera mais quente.
5. Debata os fatores que têm provocado o aumento da concentração dos gases do efeito estufa.
6. Debata as seguintes questões:
a) Por que as medidas adotadas em convenções internacionais não têm evitado o aumento do aquecimento global?
b) Por que os governantes alegam os aspectos econômicos como prioritários em relação aos ambientais?
c) Quais as dificuldades políticas para resolver os problemas ambientais?
7. Como o smog é formado? O que poderia ser feito para diminuir os efeitos do smog
e da inversão térmica nos grandes
centros urbanos?
8. Explique, com suas palavras, como ocorre a inversão térmica. Em seu texto, inclua também os fatores que buem para a inversão
contritérmica.
CAPÍTULO
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8
1 MEDIDAS, FENÔMENOS E MODELOS
A
possibilidade de alterar as estruturas químicas das substâncias permitiu o desenvolvimento
e a síntese de uma diversidade de substâncias presentes nas sociedades
modernas. Muitas dessas novas substâncias têm provocado mudanças significativas
no delicado equilíbrio de nosso planeta. Compreender esse equilíbrio e suas mudanças
é fundamental para que possamos pensar em modelos de desenvolvimento que preservem
a vida em nossa delicada residência terrestre. Para essa compreensão, é fundamental
que saibamos a química dessas mudanças: quais as substâncias envolvidas, suas propriedades
e transformações.
A compreensão da química dessas mudanças só é possível a partir da compreensão
da estrutura básica da matéria. Ou seja, a compreensão do átomo. O estudo da presente
unidade deste livro visa a consolidar o entendimento desse conceito. Se o átomo não
pode ser visualizado por instrumentos ópticos, que fatos nos levam a acreditar em sua
existência? O que já conhecemos sobre sua estrutura?
No presente capítulo, procuraremos responder à primeira questão e no próximo, à segunda.
Para apresentar os fatos que levaram os cientistas a crerem na existência de átomos,
vamos desenvolver estudos que fornecem a base experimental para a consolidação
desse modelo. Acreditamos nos modelos que conseguem explicar de modo satisfatório os
fenômenos investigados. O comportamento dos gases e a ocorrência de reações químicas
são fenômenos largamente analisados pelos químicos e podem ser explicados por modelos
que consideram que a matéria é constituída de partículas, as quais denominamos átomos.
Esses estudos são feitos por meio de medidas precisas relativas ao comportamento dos
gases e à ocorrência de reações químicas. Inicialmente, vamos considerar alguns pontos sobre
113
ESTUDO DOS GASES
o estudo das medidas. Depois, sobre medidas que permitem o estudo do comportamento
dos gases, e, ao final, vamos analisar medidas relacionadas à ocorrência de reações
químicas. Durante esses estudos sobre os gases e as reações químicas, veremos como
o modelo para a constituição da matéria de átomo idealizado por Dalton consegue explicar
satisfatoriamente os resultados encontrados.
Ainda que incertos – até porque se baseiam em medidas também incertas –, esses
modelos continuam sendo fundamentais para a Química.
Vejamos um pouco mais sobre medidas e suas grandezas.
Grandeza
Qualquer quantidade física que possa ser medida é denominada grandeza. Procuramos
sempre utilizar as grandezas que são mais convenientes para o que se deseja medir. Os líquidos,
por exemplo, são medidos por seus volumes, embora também possam ser medidos
por suas massas. Podemos utilizar diferentes unidades de medida para uma mesma grandeza.
Para o comprimento, por exemplo, é possível usar o metro, a polegada, a légua etc.
Pense
Onde é mais comum as pessoas desperdiçarem
maiores quantidades de mida, em restaurantes pagos por quilo
coou
naqueles self-services, com preço
único? Por quê?
O hábito de colocar no
prato só o que se vai comer
pode ser estimulado
pelo uso da balança.
Hely Demutti
AFP/ Getty Images
Antigamente, as unidades de medidas eram imprecisas porque se baseavam no corpo
humano: palmo, pé, polegada, braça, côvado. Isso causava muitos problemas, em razão
das diferenças físicas entre as pessoas, e tornava as unidades de medida pouco confiáveis.
A necessidade de converter uma medida em outra era tão importante quanto a necessidade
de converter uma moeda em outra. Era comum que a casa da moeda de cada país,
como a do Brasil, também cuidasse de um sistema de medidas próprio.
Atualmente define-se metro como sendo o comprimento do trajeto percorrido pela
luz no vácuo durante um intervalo de tempo de 1/299 792 458 de segundos.
Para padronizar as medidas e facilitar o comércio de mercadorias entre diferentes povos,
em 1789 a Academia de Ciência da França criou o Sistema Métrico Decimal (inicialmente
O cilindro-padrão de
com três unidades básicas: o metro, o litro e o quilograma), oficializado em 1960 como
massa é uma liga de platina
Sistema Internacional de Unidades, identificado pela sigla SI.
(90% Pt e 10% Ir) e está
guardado na França. Uma O Sistema Internacional de Unidades utiliza as seguintes sete grandezas de base com
pessoa que pesa 65 kg é as suas respectivas unidades:
65 vezes mais pesada do que
esse cilindro. Grandeza Unidade Plural Símbolo
Comprimento metro metros m
Massa quilograma quilogramas kg
Tempo segundo segundos s
Corrente elétrica ampère ampères A
Temperatura termodinâmica kelvin kelvins K
Quantidade de matéria mol mols mol
Intensidade luminosa candela candelas cd
114
A grandeza quantidade de matéria é uma grandeza utilizada pelos químicos para
quantificar a quantidade de constituintes da matéria. Essa grandeza tem como unidade
mol, o qual se refere à quantidade de entidades existentes em 12 gramas de átomos
de carbono-12.
Além das unidades de base e outras derivadas, o SI adota também prefixos que são
usados como múltiplos e submúltiplos para as unidades, conforme a tabela a seguir.
Nome Símbolo Fator de multiplicação da unidade
yotta Y 10 24 = 1 000 000 000 000 000 000 000 000
zetta Z 10 21 = 1 000 000 000 000 000 000 000
exa E 10 18 = 1 000 000 000 000 000 000
peta P 10 15 = 1 000 000 000 000 000
tera T 10 12 = 1 000 000 000 000
giga G 10 9 = 1 000 000 000
mega M 10 6 = 1 000 000
quilo k 10³ = 1 000
hecto h 10² = 100
deca da 10 1 = 10
deci d 10 –1 = 0,1
centi c 10 –2 = 0,01
mili m 10 –3 = 0,001
micro µ 10 –6 = 0,000 001
nano n 10 –9 = 0,000 000 001
pico p 10 –12 = 0,000 000 000 001
femto f 10 –15 = 0,000 000 000 000 001
atto a 10 –18 = 0,000 000 000 000 000 001
zepto z 10 –21 = 0,000 000 000 000 000 000 001
yocto y 10 –24 = 0,000 000 000 000 000 000 000 001
Fonte: Inmetro. Disponível em: . Acesso em: 25 mar. 2013. (Adaptado)
Medidores caseiros
não são precisos para comercialização
nem para
estudos científicos.
Hely Demutti
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
Erros nas medidas
Existem três possíveis fontes de erro quando se trata de medidas: o próprio instrumento,
o método e o observador.
Por mais preciso que seja um instrumento, ele sempre vai apresentar uma medida
próxima do real, mas nunca com total exatidão.
A precisão de um instrumento é sua fidelidade às próprias medições. Por exemplo,
se, numa primeira medição, uma balança mostra que determinado objeto pesa 100 g,
ela deverá apresentar valores muito próximos a esse em todas as demais medições do
mesmo objeto. Se, numa segunda medição, a balança registrar 115 g e, numa terceira,
95 g, significa que ela não é precisa.
115
ESTUDO DOS GASES
Pense
A exatidão de um instrumento está relacionada com a capacidade de medir um
valor o mais próximo possível do real. Uma balança pode ser muito precisa, mas não
ser exata. Ela pode, por exemplo, fornecer sempre um valor de 115 g para um objeto
de 100 g.
Considerando que a qualquer medição está associado um erro e que muitas leis e teorias científicas são elaboradas com
base em resultados de medidas, o que você pode dizer sobre a confiabilidade das teorias científicas?
A pessoa que atirou os dardos
foi muito precisa, pois
eles atingiram praticamente
o mesmo ponto, estando
muito próximos uns dos
outros. Note, porém, que
ela não foi exata.
A pessoa que atirou os dardos
nesse caso teve uma
exatidão maior do que a outra,
pois estão mais próximos
do alvo. No entanto, ela não
foi precisa como a primeira,
pois os dardos ficaram mais
distantes uns dos outros.
Fotos: Hely Demutti
Hely Demutti
A precisão de uma medida
depende da leitura
criteriosa do instrumento
utilizado.
Existem diferentes métodos para fazer uma medição.
Alguns são mais precisos, outros são menos precisos. Mesmo
os mais sofisticados sempre apresentarão alguma imprecisão.
Outra possível fonte de erro nas medidas está associada
ao próprio pesquisador. Um iniciante na prática de leitura
de volumes de líquidos certamente cometerá erros que um
técnico mais experiente não cometeria. Porém, mesmo o “olho
clínico” do técnico está sujeito a erros.
O desenvolvimento da Ciência depende da construção de
aparelhos cada vez mais precisos. Lavoisier só pôde elaborar
a Lei de Conservação da Massa com o aperfeiçoamento
das balanças. Os dados então obtidos em suas pesquisas
demonstravam que, na natureza, havia conservação de massa, e que esta se mantinha
constante. Atualmente, medidas mais precisas demonstram, porém, que em explosões
atômicas a massa não se conserva e transforma-se em energia.
O béquer, por ser um
recipiente largo, é muito
menos preciso do que
as pipetas e os balões
volumétricos, que são
estreitos e identificam
com facilidade a variação
de pequenas gotas no
volume do recipiente.
pera
béquer
balão volumétrico
pipeta
Fotos: Hely Demutti
116
A tabela periódica, por sua vez, foi elaborada com base em uma lei que relacionava
as propriedades das substâncias simples com sua massa molar. Apesar do papel decisivo
que essa lei teve na organização do conhecimento de Química, ela apresentava “furos”:
as medidas de massa de algumas substâncias apresentavam grandes erros.
Esses fatos históricos nos mostram que todo conhecimento revela limitações. Sabemos
que quanto maior a precisão das medidas, mais confiança poderemos ter nos resultados.
Mesmo assim, os resultados e as leis geradas por eles jamais serão verdades incontestáveis:
outros modelos e teorias sempre poderão superá-los.
A conversão de unidades de medidas
Pense
Como podemos saber quanto representa a distância de 100 milhas se a unidade que utilizamos é o quilômetro?
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
Um padrão de medida é um valor que carrega a história e a cultura do povo que o
criou. Por isso, mesmo com a oficialização do Sistema Internacional de Unidades (SI), alguns
padrões tradicionais resistem. É o caso da milha, padrão de medida de distância que
continua a ser usado por ingleses e norte-americanos.
Como todas as medidas são relacionadas com padrões, sempre existirá uma relação
entre os diferentes padrões de medida de cada grandeza. Confira na tabela a seguir.
ALGUMAS UNIDADES DE MEDIDA PARA AS GRANDEZAS MASSA E COMPRIMENTO E SUAS RELAÇÕES COM O SI
Grandeza Unidade Símbolo Relação com a unidade
angström Å 1 · 10 –10 m
polegada in (’) 2,54 · 10 –2 m
Comprimento
pé ft (”) 3,048 · 10 –1 m
milha mi 1609,344 m
légua légua 6600 m
grão grão 6,479891 · 10 –5 kg
onça oz 2,8691 · 10 –2 kg
Massa
dálton dálton 1,647 · 10 –27 kg
libra lb 4,53592 · 10 –1 kg
arroba arroba 14,688 kg
Fonte: ROCHA F o , R. C.; SILVA, R. R. da. Introdução aos cálculos da Química. São Paulo: Mc Graw Hill/Makron Books,1992.
Quando fazemos operações envolvendo diferentes grandezas, é preciso que todas as
unidades de medidas sejam compatíveis. Essa padronização requer, muitas vezes, a realização
de cálculos de conversão. O método usual de conversão de unidades é a regra de
três simples, mas existe ainda outro, chamado análise dimensional. Vamos aprender a trabalhar
com esse método diferente do convencional.
117
ESTUDO DOS GASES
O método de análise dimensional
A análise dimensional baseia-se na conversão sucessiva das unidades até a obtenção
do resultado esperado. Isso é feito por meio de fatores de conversão, que são igualdades
originadas de relações entre duas unidades. Por exemplo, sabe-se que:
1 h = 60 min
Se dividirmos a igualdade acima nos dois lados por 1 h, teremos:
1h 60 min 60 min
V 1 = 1h = 1h
1h
Logo, o quociente (60 min/1 h) é uma identidade, pois o seu valor corresponde a um
(sem unidade de medida). Assim, tal quociente corresponde a um fator de conversão: converte
a unidade hora na unidade minuto. Para a conversão, basta multiplicar a unidade
que se deseja converter pelo fator de conversão apropriado.
Vamos ver alguns exemplos de conversão de unidades por análise dimensional.
1. A quantos segundos correspondem 45 minutos?
Comecemos identificando o fator de conversão, estabelecendo a relação entre as unidades envolvidas no exercício. Coloque
no lado esquerdo da igualdade a unidade que irá ser transformada – nesse caso, minutos – e no lado direito a
unidade que se deseja – ou seja, segundos.
1 min = 60 s
Divida a relação por um valor que apresente como resultado do primeiro termo da igualdade o valor unitário. No caso,
divida os dois termos da igualdade acima por 1 min.
1min
1min
= 60 s
1min V 1 = 60 s
1min
Assim, o fator de conversão será 60 s/min. Para resolver o problema, basta multiplicar o valor que se deseja transformar
pelo fator de conversão. A grandeza a ser determinada é o tempo, cujo símbolo é a letra t. Então:
60 s
t = 45 min ·
1min = 2 700 s
Observe que a unidade minuto é cancelada por apresentar-se no numerador e no denominador. Dessa forma, resta
apenas a unidade segundo (s), conforme solicitado.
2. Quantos minutos existem em 3 dias?
Comecemos encontrando o fator de conversão. A unidade a ser transformada é o dia. Esta deverá aparecer no lado esquerdo
da igualdade e, depois, do outro lado, a unidade minuto, que é a que desejamos. Observe que, nesse caso, precisaremos
de dois fatores de conversão, a partir das relações:
1 dia = 24 h e 1 h = 60 min
Para encontrar os fatores de conversão, temos que dividir as igualdades de forma que o valor do primeiro membro da igualdade
seja igual a um. Teremos então:
1 dia
1 dia = 24 h
1 dia V 1 = 24 h
1 dia e 1 h
1 h
=
60 min
1 h
V 1 =
60 min
1 h
O primeiro fator de conversão (24 h/1 dia) será usado para converter o dia em horas e o segundo, para converter a hora
em minutos. A grandeza a ser determinada é o tempo. Então:
t = 3 dias . 24 h . 60 min
= 4 320 min
1 dia 1 h
As unidades dia e h são canceladas por apresentarem-se no numerador e no denominador. Dessa forma, resta apenas a
unidade min, que é exatamente a que se espera como resposta.
118
2 GRANDEZAS DO ESTADO GASOSO
T anto para o estudo do comportamento dos gases, que permite a compreensão do
modelo atômico, quanto para o estudo dos problemas relacionados com a poluição
atmosférica, precisamos entender o comportamento dos gases. Para esse estudo
será necessário trabalhar com três grandezas: pressão, volume e temperatura. São essas
grandezas que caracterizam o estado gasoso. Vamos agora rever alguns conceitos
relacionados a elas.
David Lees/Corbis/Latinstock
CAPÍTULO
1
2
3
4
Pressão
O físico e matemático italiano Evangelista Torricelli [1608-1647] sugeriu que
a atmosfera, constituída por gases em constante movimento, é capaz de exercer
pressão sobre a superfície terrestre. Para medi-la, ele inventou um instrumento
chamado barômetro.
O barômetro de Torricelli consiste de um longo tubo de vidro com mercúrio
(Hg) dentro de uma bacia cheia do mesmo metal (que é líquido em temperatura
ambiente), de tal modo que uma extremidade do tubo fica emborcada na bacia
e a outra, fechada.
Na época da sua invenção, o barômetro foi considerado uma descoberta de ex-
cepcional importância para a Ciência: com ele é possível fazer previsões das condições
climáticas. Mais tarde, baseado no princípio do barômetro, seria desenvolvido
o manômetro, que serve para medir a pressão de gases e líquidos. Além do manômetro
de mercúrio, existem diferentes mecanismos utilizados para o mesmo fim
e que recebem o mesmo nome.
Um tipo particular de manômetro, denominado esfigmomanômetro, é utilizado para
medir a nossa pressão arterial.
A pressão é uma grandeza física que expressa a força exercida sobre um corpo
por unidade de área. No caso dos gases, pressão é o resultado da força exercida em
conjunto por suas partículas sobre a área do recipiente que os contém. Fisicamente,
a pressão (P) é definida pela relação entre as grandezas força (F) e área (A), sendo
expressa pela equação:
A foto mostra uma reconstrução
do barômetro
de Torricelli.
5
6
7
8
P = F A
Evangelista Torricelli,
o inventor do barômetro.
Scientific-web.com
Pense
Como funciona o barômetro de Torricelli? Por que a coluna de mercúrio (Hg) não escoa
totalmente para o recipiente de baixo?
A tendência é que o líquido escoe para a bacia. Todavia, existe uma pressão do ar
sobre o líquido que está na bacia, ou seja, as moléculas do ar exercem uma força sobre
a área do líquido. Essa pressão impede que todo o mercúrio da coluna escoe para
a bacia. Se essa pressão diminuir, maior quantidade de mercúrio vai escoar. Portanto,
quanto menor a pressão do ar sobre a superfície do líquido encontrado na bacia, mais
119
A pressão do ar sobre
o líquido na bacia impede
que o mercúrio da coluna
escoe.
o mercúrio escoa e, consequentemente, menor será a coluna de mercúrio no tubo. Por
outro lado, quanto maior a pressão exercida pelo ar, menos líquido vai escorrer e maior
será a coluna de mercúrio.
Pense
ESTUDO DOS GASES
J. Yuji
atmosfera
atmosfera
mercúrio
Por que a pressão atmosférica varia com a altitude?
A pressão atmosférica varia em função de uma série de fatores, como a movimentação
do ar (correntes de massas gasosas), a temperatura e a altitude. Assim, por exemplo,
quanto maior a quantidade de ar que está sobre um líquido, maior será a pressão. Em
elevadas altitudes, a quantidade de ar sobre a superfície terrestre é bem menor do que
ao nível do mar e, por isso, na serra a pressão é menor do que na praia.
Uma vez que a pressão atmosférica varia de acordo com a altitude, definiu-se inicialmente
como unidade de medida de pressão a atmosfera (atm), a qual corresponde à pressão que
equilibra uma coluna de mercúrio de 760 mm de altura a 0 °C e a 0 m de altitude (a referência
é o nível do mar). Essa unidade de medida corresponde no SI a 101325 pascals (Pa).
Hely Demutti
Esfigmomanômetro
Hely Demutti
Manômetro
Luiz Claudio Marigo/Opção Brasil Imagens
Barômetro
Diferentes aparelhos permitem a
medida de pressão. O esfigmomanômetro
mede a pressão arterial;
o barômetro, um tipo de
manômetro, a pressão atmosférica;
e outros manômetros,
como da foto, medem a pressão
de líquidos ou gases em sistemas
fechados.
UNIDADES DE MEDIDA DA GRANDEZA PRESSÃO
Grandeza Unidade de medida Símbolo da unidade Relação da unidade com o SI
pascal (SI)
Pa
Pressão (P)
milímetro de mercúrio mmHg 760 mm de Hg = 101 325 Pa
atmosfera atm 1 atm = 101 325 Pa
Luiz Claudio Marigo/Opção Brasil Imagens
Em elevadas altitudes,
como no Pico da Neblina
(2993,8 m), a pressão será
maior ou menor? Por quê?
Com os dados da tabela acima podemos fazer algumas conversões de unidade de
pressão. Vejamos um exemplo:
Na cidade de Brasília, a uma altitude de 1200 metros, um boletim meteorológico anunciou
uma pressão atmosférica de 99602 Pa. Qual é a pressão em milímetros de mercúrio?
Usando o fator de conversão, estabeleça a relação entre unidades começando pela
fornecida. Teremos:
101325 Pa = 760 mmHg
101 325 Pa
760 mmHg
= 101 325 Pa 101 325 Pa
V 1 =
760 mmHg
101 325 Pa
Então, P = 99 602 Pa ·
760 mmHg
101 325 Pa
= 747 mmHg.
120
Volume
O volume é uma grandeza que mede o espaço ocupado por um determinado corpo.
O cálculo do volume para objetos regulares, como um cubo e um cilindro, é dado por
área · altura. No caso:
V (cubo) = A · h e V (cilindro) = π · r 2 · h
A unidade de medida no SI da grandeza volume é o metro cúbico (m 3 ). A tabela a
seguir apresenta outras unidades utilizadas para medir volume.
Apesar de a unidade de volume do SI ser o metro cúbico, os químicos usam, na
maioria das vezes, a unidade litro (L) e mililitro (mL), pois o metro cúbico (equivalente a
1000 L) é uma quantidade muito grande para se trabalhar.
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
J. Yuji
A
h
π · r 2
h
J. Yuji
7
8
V (cubo) = A · h
V (cilindro) = π · r 2 · h
UNIDADES DE MEDIDA MAIS UTILIZADAS PARA A GRANDEZA VOLUME
Grandeza Unidade de medida Símbolo da unidade Relação da unidade com o SI
metro cúbico (SI) m 3
Volume (V)
litro L 1 L = 10 –3 m 3 (1 mL = 1 cm 3 )
galão (EUA) galão 1 galão = 3,785 · 10 –3 m 3
Temperatura
Temperatura é definida, de forma simplificada, como a quantidade de calor de um material,
substância ou corpo. Assim como acontece com outras grandezas, existem várias unidades de
medidas de temperatura. As escalas mais usadas são apresentadas na tabela a seguir.
UNIDADES DE MEDIDA MAIS UTILIZADAS PARA A GRANDEZA TEMPERATURA
Grandeza Unidade de medida Símbolo da unidade Relação da unidade com o SI*
T Kelvin (SI) K
Temperatura
t Grau Celsius °C T/K = (t/°C) + 273,15
θ Grau Fahrenheit °F T/K = [(θ/°F – 32)/1,8] + 273,15
* A conversão da escala de temperatura Fahrenheit (θ) para a temperatura Celsius (°C) é: t/°C = (θ/°F – 32)/1,8.
No Brasil, a escala comumente utilizada é a Celsius (°C). Ela é baseada nas temperaturas
de fusão e de ebulição da água. A primeira recebe valor arbitrário igual a zero
(temperatura de fusão da água = 0 °C) e a segunda, valor igual a cem (temperatura de
ebulição da água = 100 °C).
121
ESTUDO DOS GASES
Nos Estados Unidos e na Europa, utiliza-se a escala Fahrenheit (°F), que é definida
de forma similar à escala Celsius, com a diferença de que foi convencionado 32 °F como
temperatura de fusão da água e 212 °F como temperatura de ebulição. O zero dessa escala
corresponde à temperatura de fusão de uma mistura de água, gelo picado, cloreto
de sódio e amônia. A variação de 1 °C equivale à variação de 1,8 °F.
A escala oficial de temperatura do Sistema Internacional de Unidades é a
termodinâ-
mica, também denominada temperatura termodinâmica. O significado dessa escala
será discutido mais adiante neste capítulo. Ela é similar à escala Celsius, com a diferença
de que a temperatura de fusão da água é 273,15 K, e a de ebulição é 373,15 K. Quando
há variação de 1 °C, também há variação de 1 K.
Com base nos dados da tabela anterior, podemos fazer algumas conversões de unidade
de temperatura. Vejamos os exemplos a seguir.
a) Em um hospital europeu, foi constatado que uma pessoa estava com temperatura
igual a 104 graus Fahrenheit. Essa pessoa está com febre ou não?
Considerando a relação entre unidades: t/°C = (θ/°F – 32)/1,8, teremos:
t
(104 °F / °F – 32)
= = 40 V t = 40 °C
°C 1,8
Logo, a pessoa está com febre.
Observe que as unidades °C e °F estão presentes no fator de conversão, de forma
que na resolução se obtenha a unidade correta.
b) Num dia muito quente de verão, os termômetros estavam marcando 41 °C. Qual será
a temperatura no SI?
Considerando a relação entre unidades: T/K = (t/°C) + 273,15
T 41 °C
= + 273,15 = 314,15 V T = 314,15 K
K °C
c) Converta 110 °F em temperatura na escala Kelvin.
Considerando a relação entre unidades: T/K = [(t/°F – 32)/1,8] + 273,15, teremos:
T (110 °F / °F – 32)
K = + 273,15 = 314,15 T = 316,48 K
1,8
Volozhanin Ivan/Shutterstock
Igor Masin/Shutterstock
Exercícios
1. Por que medidores de cozinha não poderiam ser usados
em um laboratório de análises científicas?
2. Em um experimento científico, é recomendável que todas
as medidas de uma grandeza sejam feitas pela
mesma pessoa. Justifique.
3. Qual é a diferença entre precisão e exatidão?
4. Por que todas as grandezas devem ser seguidas de uma
unidade?
5. Sabendo que a densidade do chantili é muito menor
do que a do creme de leite, explique por que o primeiro
é vendido em unidade de volume e o segundo em
unidade de massa.
FAÇA NO CADERNO. NÃO ESCREVA EM SEU LIVRO.
6. Embora tenha sido pioneiro na adoção do sistema métrico,
o Brasil ainda hoje convive com mais de um sistema de
unidades. Por exemplo, no comércio compramos ferro na
unidade barra e tinta na unidade galão, e na lavoura os
agricultores usam unidades como arroba e saca. Por que
ainda são usados esses diferentes sistemas de unidade?
Utilizando as relações indicadas na tabela da página 117,
resolva os exercícios a seguir.
7. De quantos minutos é constituído um ano?
8. Converta os valores de comprimento das medidas a
seguir na unidade de base do SI:
a) 6,8 Å; c) 48 pés;
b) 75,3 polegadas; d) 3,5 léguas.
122
9. Converta os valores de massa das medidas a seguir na
unidade de base do SI:
a) 750 libras; b ) 8 235 ⋅ 10 9 dáltons.
10. Em um filme, um guarda de trânsito para um motorista
que dirigia a 70 milhas/h. Esse motorista seria multado
por excesso de velocidade em uma rodovia no Brasil
cuja velocidade máxima é 110 km/h?
11. A pressão atmosférica medida em uma cidade foi de
912 mmHg. Calcule o valor dessa pressão em:
a) atmosferas (atm); b) pascals (Pa).
12. Onde a pressão atmosférica é maior: em Brasília (a
aproximadamente 1050 m de altitude) ou no Rio de
Janeiro (ao nível do mar)? Justifique.
13. Qual é a relação existente entre a altura da coluna de
mercúrio e a pressão atmosférica?
14. O balão meteorológico, conhecido como balão-sonda,
é munido de aparelhagem para observar as condições
do tempo. Ele tem 21700 L de gás. Converta seu volume
em metros cúbicos.
15. Qual é a referência do ponto zero na escala de temperatura
de termodinâmica proposta por Kelvin?
16. Dois enfermeiros aferiram a temperatura de diferentes
pacientes e preencheram as fichas anotando os seguintes
valores, sem unidade: 311,15 e 96,8.
a) Qual a unidade de medida que cada enfermeiro
utilizou?
b) Com base nesses valores, qual a temperatura de
cada paciente na escala Celsius?
17. Converta as temperaturas abaixo em graus Celsius:
a) 25 °F. b) 135 °F. c) 270 K. d) 350 K.
18. Converta as temperaturas abaixo em temperatura absoluta
(K):
a) 37 °C. c) 100 °F.
b) –25 °C. d) 15 °F.
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
3 PROPRIEDADES DOS GASES
Você sabia que a atmosfera da Antártida sofre um processo de degradação, embora
praticamente não haja atividade humana no local? É que as moléculas dos gases estão
em constante movimento e dispersam-se por toda a atmosfera. A dispersão atenua os
efeitos de alguns gases tóxicos em determinadas regiões, mas não elimina o problema e se
globaliza. É por esse motivo que o acidente nuclear de Chernobyl contaminou vários países
da Europa. É por isso também que o fenômeno de chuvas ácidas, provocado pela produção
de gases de enxofre em usinas termelétricas no Sul do Brasil, afeta o Paraguai. Portanto, uma
propriedade básica dos gases, como a dispersão, é um dos motivos que tornam a poluição
atmosférica um problema de caráter mundial, envolvendo aspectos políticos e econômicos.
Para buscar soluções para tais problemas, é preciso compreender bem as propriedades
dos gases. Por isso, vamos estudá-las.
Com base na observação de vários fenômenos, elaboraremos um modelo científico,
ou seja, uma representação do mundo real que nos permitirá compreender o comportamento
dos gases e, de forma geral, da matéria.
Gases de enxofre produzidos
pelas usinas termelétricas
no Sul do
Brasil são responsáveis
pela chuva ácida que atinge
o Paraguai. Usina termelétrica
a gás de Araucária
(PR), 2008.
Paul Thur/National Science Foundation
Paul Thur/National Science Foundation
Por causa da dispersão dos gases, até a atmosfera da Antártida
está em processo de degradação. Via de Leverett Glacier, na Antártida,
2009.
123
Compressibilidade dos gases
Vamos começar este estudo desenvolvendo o experimento a seguir.
ESTUDO DOS GASES
Química na escola
Teste do êmbolo: ele se move sozinho?
Esse experimento pode ser feito individualmente ou em grupo, na própria
sala de aula ou em sua casa, ou de forma demonstrativa pelo seu professor.
Materiais
• duas seringas de 10 mL
• lamparina
Consulte as normas de segurança no
laboratório, na última página deste livro.
Hely Demutti
Procedimento
1. Em uma das seringas, coloque água até a marca de 7 mL. Com uma lamparina, aqueça a sua ponta, lacrando-a.
Deixe esfriar.
2. Encha a outra seringa com ar até a marca de 7 mL e aqueça a ponta para lacrá-la. Deixe esfriar.
3. Agora, tente empurrar os êmbolos e observe o comportamento de cada seringa.
Destino dos resíduos
Essa atividade não gera resíduos. As seringas devem ser guardadas para serem utilizadas por outras turmas.
Análise de dados
Observe que é mais fácil empurrar o êmbolo
da seringa com ar do que o da seringa com água.
1. O que você observou?
2. Em qual das seringas foi mais fácil para você empurrar o êmbolo?
3. Proponha um modelo, por meio de desenhos, para os constituintes (partículas) dos materiais contidos em cada seringa.
4. Cite exemplos do seu cotidiano em que você observa o comportamento dos gases similar ao do experimento e explique-os
com base nesse modelo que você propôs.
No experimento acima, você deve ter notado que foi mais fácil comprimir o êmbolo
da seringa cheia de ar do que daquela com água. Por que isso ocorreu? Que modelo explicaria
esse comportamento?
Se você considerar que tanto a água quanto o ar são formados por partículas – no
caso, moléculas –, você já tem aqui o esboço de um modelo científico, ou seja, uma representação
da realidade. Imagine agora essas partículas sendo comprimidas. É possível
comprimir mais as moléculas do gás porque há mais espaços vazios entre elas.
Isso nos leva à primeira conclusão:
As moléculas dos gases estão bastante afastadas umas das outras.
124
Pense
De acordo com o modelo partículas, explique por que os sólidos e os líquidos não são compressíveis como os gases, desenhando
como estariam as partículas da matéria em cada estado de agregação.
CAPÍTULO
1
Ilustrações: J. Yuji
Utilizando o nosso modelo, podemos representar os três estados de agregação da
matéria por partículas. No estado gasoso, elas estão muito afastadas. Nos estados sólido
e líquido, as partículas estão mais próximas umas das outras, sendo que, no primeiro, elas
estão mais organizadas do que no estado líquido. Com esse modelo, é possível explicar
por que os líquidos e gases têm formas variáveis, enquanto os sólidos têm forma fixa.
A B C
sólido líquido gasoso
Modelo representando os
constituintes de um material
em diferentes estados
físicos:
a) No estado sólido, os constituintes
se apresentam
muito próximos.
b) No estado líquido, esses
constituintes estão muito
próximos, mas de forma
desorganizada.
c) No estado gasoso, esses
constituintes têm uma liberdade
maior em relação
aos outros estados físicos.
2
3
4
5
6
7
8
Observe que o modelo elaborado explica não somente uma das propriedades dos
gases, a compressibilidade, mas também as propriedades dos três estados de agregação
apresentadas no quadro abaixo.
COMPARAÇÃO DAS PROPRIEDADES DOS SÓLIDOS, LÍQUIDOS E GASES
Propriedade Sólidos Líquidos Gases
Volume definido (fixo) definido (fixo)
Forma
definida (fixa)
forma do recipiente em que está contido sem,
necessariamente, ocupar todo o seu volume
(variável)
Compressibilidade relativa muito pouca muito pouca grande
Densidade relativa grande grande pequena
Difusão dos gases
Existem pessoas de olfato tão sensível que consegue perceber a aproximação de outra
pessoa pelo perfume que ela usa.
Pense
forma do recipiente que o
contém (variável)
forma do recipiente em que
está contido (variável)
Por que sentimos o cheiro de um móvel feito de madeira verde (recém-cortada) e não sentimos o cheiro de um móvel de ferro?
Para entender esse processo, vamos analisar um experimento muito curioso, que poderá
ser demonstrado pelo seu professor, caso sua escola possua um laboratório de Química
dotado de uma capela.
125
ESTUDO DOS GASES
J. Yuji
Anel de cloreto de
amônio: produto sólido
formado pela reação
entre vapores de NH 3 e HCl.
chumaço de
algodão umedecido
com amônia (NH 3 )
Um tubo de vidro bem limpo e seco, de um metro de comprimento, é fixado na
horizontal em um suporte. Simultaneamente, coloca-se em uma extremidade um chumaço
de algodão umedecido com ácido clorídrico (HCl) e na outra extremidade um chumaço
umedecido em amônia (NH 3 ). Após cerca de 15 segundos, nota-se a formação de um anel
branco. Em um experimento desse tipo, observou-se que o anel foi formado a 59,4 cm
do algodão com amônia e a 40,6 cm do algodão com ácido clorídrico.
ATENÇÃO! Não tente reproduzir em casa esse experimento, pois nele se utilizam substâncias
potencialmente perigosas.
O anel branco observado no tubo é a substân-
chumaço de algodão cia cloreto de amônio (NH 4
Cl), que, em tempera-
umedecido com
tura ambiente, é um sólido. Essa substância é pro-
ácido clorídrico (HCl)
duzida na reação, conforme a equação química:
HCl(g) + NH 3
(g) ( NH 4
Cl(s).
Para a reação ocorrer, é necessária a interação
entre as moléculas do cloreto de hidrogênio
e as da amônia, o que só aconteceu a uma certa
distância das extremidades.
Pense
Por que o cloreto de amônio não foi formado
nas extremidades do tubo e sim próximo
à região central?
Esse experimento demonstrou, portanto, que as moléculas dos gases têm ampla liberdade
de movimento. Essa propriedade explica o odor dos perfumes: as suas moléculas se espalham
rapidamente pelo ar e sentimos o aroma porque algumas delas chegam ao nosso nariz.
O ácido clorídrico (HCl) e a amônia (NH 3
) são gases que estão dissolvidos em água.
Ao abrirmos um frasco de uma dessas soluções, rapidamente percebemos o seu forte odor
característico, pois esses gases se difundem no ambiente. No experimento em questão,
tivemos uma evidência desse processo. No tubo, as moléculas dos gases difundiram-se,
ou seja, elas se movimentaram.
A diferença de velocidade dos gases deve-se à diferença de massa de suas moléculas.
A massa de uma molécula de ácido clorídrico é maior do que o dobro da massa de uma
molécula de amônia. Por isso, o deslocamento das moléculas de ácido clorídrico é bem
mais lento. O que nos leva à segunda conclusão de nosso modelo científico:
J. Yuji
A compressibilidade e a difusão dos gases podem
ser explicadas pela baixa interação e pelo movimento
desordenado das moléculas.
As moléculas dos gases estão em constante movimento. Por isso, eles podem
se expandir, ocupando todo o volume do recipiente.
126
Expansibilidade
A expansibilidade decorrente de variações de temperatura é outra importante propriedade
dos gases e poderá ser observada no próximo experimento.
Pense
Será que o volume de um gás está sujeito a variações de temperatura? Nesse caso, como
varia o volume de um gás se aumentarmos a temperatura? E se a diminuirmos?
Química na escola
Brincando com bexiga: o que acontece quando
mudamos sua temperatura?
Verifique a relação entre temperatura e volume dos gases e tente elaborar um modelo
que explique o seu comportamento.
Materiais
• duas garrafas descartáveis de água mineral (500 mL)
• dois balões de festa (bexigas)
• dois recipientes de tamanho suficiente para colocar as garrafas mergulhadas em água
• água quente
• água e gelo
Procedimento
1. Adapte um balão à boca de cada garrafa.
2. Aperte uma das garrafas e observe. O que acontece? Justifique.
3. Mergulhe uma garrafa em um recipiente com água quente (próxima a 80 °C).
4. Deixe por pelo menos 3 minutos, retire a garrafa da água quente, observe e anote.
5. Mergulhe a outra garrafa no outro recipiente com água e gelo.
6. Deixe por pelo menos 3 minutos, retire a garrafa, observe e anote.
Destino dos resíduos
Essa atividade não gera resíduos. O material deve ser guardado para ser utilizado por outras turmas.
Análise de dados
Consulte as normas de segurança no
laboratório, na última página deste livro.
1. O que aconteceu com o gás contido na garrafa quando esta foi mergulhada em água quente? E em água fria?
2. Represente, por meio de desenhos, o que aconteceu com as moléculas de gás em cada caso, após a variação de temperatura.
3. O número de moléculas aumentou ou diminuiu após o aquecimento e o resfriamento dos gases? Justifique.
4. Represente graficamente essa relação, ou seja, faça um gráfico da variação do volume em função da temperatura. Considere
que você tem três pontos (situações diferentes): quente, temperatura ambiente e frio.
5. Baseando-se no gráfico confeccionado, indique qual das relações abaixo você pode estabelecer entre o volume (V) e a
temperatura (T) de um gás:
a) volume é igual à temperatura (V = T); c) V é inversamente proporcional a T (V α 1/T);
b) V é proporcional a T (VαT); d) V independe de T.
6. Descreva uma hipótese que justifique as variações observadas.
Hely Demutti
CAPÍTULO
1
2
3
4
5
6
7
8
127
ESTUDO DOS GASES
O aumento de volume de
uma bexiga de ar pode ser
explicado, se considerarmos
que as moléculas dos gases
do ar estão em constante
movimento.
Paulo César Pereira
Você já sabe que as moléculas dos gases estão em constante movimento.
Consequentemente, elas devem chocar-se contra as paredes do recipiente que as contém.
Quando sopramos uma bexiga, injetamos nela moléculas de ar que a pressionam,
fazendo-a aumentar de tamanho.
Pense
O que poderá produzir a variação de volume do gás?
No caso de um balão lacrado, a quantidade de moléculas
que ele contém é constante.
Vamos verificar se o modelo que estamos utilizando
pode justificar essa variação.
Sabe-se que um corpo em movimento possui
energia cinética. Energia é a capacidade de um
sistema de realizar trabalho, ou seja, de produzir uma
força para deslocar um corpo.
Pense
Que veículo em movimento produzirá maior trabalho, ou seja, será capaz de provocar um
maior deslocamento de outro carro, se houver um choque entre eles:
a) Um fusquinha ou um caminhão?
b) Um carro em uma rodovia na velocidade regulamentar de 80 km/h ou um carro de Fórmula 1
em um autódromo à velocidade de 200 km/h?
Pela análise das questões acima, percebe-se que a energia cinética está relacionada
com a massa e a velocidade.
Estudos físicos sobre a energia cinética demonstram que ela pode ser descrita pela
equação matemática:
E= mv 2
c
2
em que E c
representa a energia cinética; m, a massa da partícula; e v, sua velocidade.
As moléculas gasosas estão em constante movimento, ou seja, possuem energia
cinética. Em nosso modelo, para explicar os resultados experimentais, podemos acrescentar
a ideia de que a energia cinética das moléculas está associada com a temperatura. Quanto
maior for a temperatura de um gás, maior será a energia cinética e a velocidade de suas
partículas gasosas e, consequentemente, maior será o volume ocupado por este, ou seja,
maior será a sua expansão. Daí chegamos à seguinte conclusão:
Quanto maior a temperatura, maiores serão a energia cinética e a velocidade
das partículas gasosas.
Estudos mais detalhados sobre o comportamento dos gases demonstram que a energia
cinética média das partículas de um gás é proporcional à temperatura. Dessa forma,
podemos considerar que a temperatura corresponde a uma dada energia cinética média
das moléculas dos gases.
128
Se dois gases encontram-se a uma mesma temperatura, suas moléculas têm a mesma
energia cinética média. Demoramos a perceber o cheiro de certas substâncias porque suas
moléculas são mais pesadas e, consequentemente, de velocidades menores. No caso do
experimento apresentado na página 126, percebeu-se que as moléculas do ácido clorídrico
apresentaram uma menor velocidade de difusão do que as moléculas de amônia. Se
ambas estavam na mesma temperatura, então, de acordo com o nosso modelo, tinham
a mesma energia cinética média (E c
), ou seja:
E c
(HCl) = E c
(NH 3
)
Logo, m 2
⋅ v
= m 2
⋅ v
HCl HCl NH 3 NH3 .
2
2
Para manter essa igualdade, se a massa de HCl é maior do que a massa de NH 3 , então a
velocidade das moléculas de NH 3 terá que ser maior do que a velocidade das moléculas de HCl.
Essa teoria também explica por que é mais fácil sentirmos o cheiro das substâncias a